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MDULO TCNICO DE MSTICA E TRADIES
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UNIDADE DIDTICA 1: MSTICA E TRADIES
Do dicionrio Michaelis:
Ms.ti.ca(gr mystik): sf 1 Tratado a respeito das coisas divinas ou espirituais. 2 V misticismo.
Mis.ti.cis.mo (mistico+ismo): sm 1 Filos Crena religiosa ou filosfica dos msticos, que
admitem comunicaes ocultas entre os homens e a divindade. 2 Aptido ou tendncia para
crer no sobrenatural. 3 Devoo religiosa; vida contemplativa.
Ms.ti.co (gr mystiks): adj 1 Que diz respeito vida espiritual. 2 Que se refere vida
religiosa. 3 Misterioso, alegrico, figurado (falando das coisas religiosas). sm 1 O que
professa o misticismo. 2 O que se d vida contemplativa, espiritual. 3 O que se escreve
sobre o misticismo.
Tra.di.o (lat traditione): sf 1 Comunicao ou transmisso de notcias, composies
literrias, doutrinas, ritos, costumes, feita de pais para filhos no decorrer dos tempos ao
sucederem-se as geraes. 2 Memria, recordao. Tradio oral: a que s consta pelo que
se diz. Tradies nacionais: os grandes fatos da histria de um pas.
Todo grupo humano estabelece elementos de ligao espiritual, que constituem o
que se denomina MSTICA. Essa ligao pode ser com uma entidade superior (deus protetor
do grupo, ancestral comum, animal-totem) ou entre os membros do grupo, constituindo oseu ethosou maneira de ser, sua identidade comum.
Podemos citar como manifestaes da mstica: os smbolos, os nomes, os rituais, as
tradies.
Smbolos so elementos, mais usualmente visuais e acsticos, que evocam ideias;
alguns, mais marcantes ou de associao mais direta, constituem aquilo que Jung chamou
imagens primordiais, ou arqutipos, cujo significado considerado universal. Exemplos: a
grande Me, o Redentor, a Trindade (Pai-Me-Filho; Pai-Filho-Esprito Santo; Brahma-Shiva-
Vishnu; F-Esperana-Amor...), o clice/caldeiro/Graal que alimenta ou que cura de todos
os males, a cruz sustica, a flor de lis, o V da vitria com os dedos, o om budista, os
hinos e bandeiras nacionais, o leno de Gilwell, as divisas dos militares, os gritos de guerra,
o tartande famlias escocesas, a Cruz de Lorena...
Os nomes so uma variedade de smbolos que evocam uma determinadapersonalidade (o prprio indivduo, ou seu totem). Ao escrever ou enunciar Epaminondas
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Silva Pereira, representamos esse Epaminondas e nenhum outro. Se ele adota um nome
mstico, digamos, Rondon, o Marechal da Paz o seu patrono, aquele que o nosso
amigo Epaminondas toma como referncia pelas suas aes e atributos de personalidade.
O nome brasileiro identifica aqueles naturais de certaporo do planeta. A antiga prtica
da mulher passar a usar o sobrenome do esposo vem da crena romana em que, pelo
casamento, ela assumia o culto dos laresdo marido, como relata Fustel de Coulanges.
Cartaz de propaganda da 2 Guerra Mundial (Tesoura vence Papel analogia do V da vitria de Churchill versus a
saudao nazista); amostras de tartansescoceses; um diagrama da Santssima Trindade crist; o Graal, a lana de Longino e
Excalibur; e as cores do 13/18 Regimento de Hussardos (Queens Own Cavalry), ao qual B-P pertenceu.
Rituais so sequncias de aes, de movimentos e/ou de sons, que podem ou no
ser associadas a smbolos visuais, que podem ter o objetivo de atrair a boa vontade dos
deuses ou evocar algum elemento de identidade do grupo. Exemplos: o cerimonial militar,
o rito forense, a missa catlica, a colao de grau acadmico, o cerimonial da Bandeira... O
prprio teatro comeou como rito de culto ao deus Dioniso, na Grcia antiga, em que se
encenava a morte e ressurreio do deus. O ritual tem uma forma estabelecida, que fica
como padro, e que reflete uma sequncia lgica ou a considerada correta paramovimentar as energias da maneira pretendida. Nos rituais de semeadura, havia os
encantamentos que tinham de ser recitados, um sentido certo de percorrer o campo; em
algumas culturas, a mulher menstruada no podia manusear alimentos por estar impura;
na missa, o ato penitencial vem antes do ofertrio, que por sua vez deve anteceder a
comunho, que coroa o ritual (pois o fiel deve limpar-se dos pecados antes de oferecer-se a
Deus e de fazer-se um com Ele na comunho).
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As tradies so aplicaes de carter repetitivo, perene, dos smbolos e rituais.
Temos, entre tantas, os trajes ditos tpicos (por exemplo, o kiltescocs ou o kefiehrabe) e
os j citados cerimoniais militares, religiosos e acadmicos. A chamada tradio
profissional familiar, por exemplo, de mdicos, advogados ou militares, nada mais que
uma afirmao da identidade daquele grupo familiar, ligado espiritualmente pela
identificao profissional com os antepassados (que os romanos denominavam manesou
lares, os deuses tutelares da casa). Pela sua importncia, convm ressaltar:
Tradio um ritual repetido em sua forma e
ocasio, que afirma a ligao espiritual entre
pessoas que tm smbolos comuns.
Assim, vemos que as tradies, elementos visuais/sonoros e rituais so marcos
simblicos: seu uso estimula uma comunho espiritual que estabelece ou refora a
identidade do grupo social.
Como toda construo cultural, uma tradio inventada em algum momento,
sendo convincentemente estabelecida sua origem imemorial, divina e firmando-se pela
repetio por vezes, a um ponto em que se pratica o ritual sem sequer saber o seu
significado, simplesmente porque sempre foi assim; sobre isso, diz Eric Hobsbawm:
Consideramos que a inveno de tradies essencialmente um processo
de formalizao e ritualizao, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que
apenas pela imposio da repetio. Os historiadores ainda no estudaram
adequadamente o processo exato pelo qual tais complexos simblicos e rituais so
criados. Ele ainda em grande parte relativamente desconhecido. Presume-se que
se manifeste de maneira mais ntida quando uma tradio deliberadamente
inventada e estruturada por um nico iniciador, como o caso do Escotismo, criado
por Baden-Powell. Talvez seja mais fcil determinar a origem do processo no caso
de cerimoniais oficialmente institudos e planejados, uma vez que provavelmente
eles estaro bem documentados, como, por exemplo, a construo do simbolismo
nazista e os comcios do partido em Nuremberg. mais difcil descobrir essa origem
quando as tradies tenham sido em parte inventadas, em parte desenvolvidas em
grupos fechados (onde menos provvel que o processo tenha sido registrado em
documentos) ou de maneira informal durante um certo perodo, como acontece
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com as tradies parlamentares e jurdicas. A dificuldade encontra-se no s nas
fontes, como tambm nas tcnicas, embora estejam disposio dos estudiosos
tanto disciplinas esotricas especializadas em rituais e simbolismos, tais como a
herldica e o estudo das liturgias, quanto disciplinas histricas warburguianas para o
estudo das disciplinas citadas acima. Infelizmente, nenhuma dessas tcnicas
comumente conhecida dos historiadores da era industrial (HOBSBAWM; RANGER,
1984, p.12).
Assim, a mstica inseparvel do ser humano, por corresponder sua forma de
expressar sua dimenso espiritual. Devemos ter em vista, entretanto, que a mstica
diferente do misticismo. A mstica, tendo o ritual e os smbolos como manifestao, faz
parte de um contexto, ajudando o indivduo a entrar no clima, a colocar-se em comunho de
espritocom seus companheiros; esse esprito comumlhes d referncias comuns, faz que
sejam do mesmo sangue. Ela meiode fortalecimento da identidade, na construo do self.
O misticismo, por sua vez, toma o ritual como fimem si mesmo; a persona msticaprevalece
sobre a pessoa real (mantendo-a num mundo parte), e o ritual apenas alimenta o prximo
ritual.
Os humanos so seres histricos, capazes de produzir e transmitir cultura,
educando-se no apenas para sobreviver individualmente, mas para conviver no grupo
social. Assim, a modelagem do indivduo se faz, alm das regras (pode/no pode), por
imitao do comportamento de pessoas tomadas como referncia, tanto por observao
direta quanto pelas narrativas (mitos fundadores, narrativas edificantes) e pela vivncia dos
rituais.
Os mitos fundadores relatam a origem do grupo social, seu relacionamento com o
animal-totem (um benfeitor, que lhes empresta seus atributos de carter: agressividade,pacincia, coragem, astcia, etc.) ou com outros entes significativos no caso do
Escotismo, o mito fundador a biografia de Baden-Powell, que, por mais que trate de uma
pessoa de carne e osso, recebeu alguns toques mticos, seja para atender ao self-marketing
de B-P, seja por parte de seus sucessores na liderana do Movimento, para fortalecer a
figura mtica, heroica do Fundador.
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As narrativas edificantes falam de pessoas que se destacaram como exemplo em
aes consideradas positivas coragem, abnegao, bondade, devoo (caso, por
exemplo, dos patronos militares ou dos santos padroeiros).
Atos solenes marcam feitos enobrecedores ou degradantes presentes ou
recordam feitos passados, destacando seus agentes positiva ou negativamente uma
cerimnia evocativa ou a entrega de medalhas so tpicos casos positivos; uma solenidade
de expulso ou a leitura de uma sentena condenatria em juzo so tpicos exemplos
negativos. Um gesto como a continncia representa o respeito entre militares: do
subordinado que a faz ao mais graduado (reconhecendo sua precedncia), e o deste ltimo
ao respond-la (reconhecendo a importncia do trabalho do outro e manifestando o dever
de responder a um cumprimento).
Militares e Escoteiros so exemplos notrios de emprego de marcos simblicos no
caso dos militares, as insgnias dos postos hierrquicos, a continncia, as flmulas e
distintivos regimentais; no caso dos Escoteiros, os distintivos, os gritos de Patrulha, asaudao, as cerimnias. Sendo o Fundador do Escotismo originariamente um militar, no
de se estranhar que aproveitasse no Movimento a sistemtica dos militares no uso dos
marcos simblicos, j que sentiu na carne a importncia dos laos corporativos no s para
que o trabalho fosse bem feito no enfear o nome da Companhia/do Regimento, no
deixar os companheiros na mo (a obra de S. L. A. Marshall expe isso com muita clareza)
, como tambm no fortalecimento psicolgico a recuperao ps-
traumtica/ressocializao melhor na companhia do grupo com o qual o indivduo tem
laos (conforme explica o estudo de Dave Grossman). Um exemplo prtico deste processo
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de recuperao a origem do Ramo Pioneiro: os ex-combatentes da Primeira Guerra
Mundial que haviam sido Escoteiros reuniam-se e faziam coisas juntos, inclusive prestando
servios na reconstruo do pas; isso lhes devolvia a percepo de pertencerem a um
grupo social em situao normal e dava-lhes a noo de que eram teis, portanto,
fazendo parte da comunidade. Velhos demais para serem Escoteiros, mas atuando
escoteiramente, no tardou que lhes fosse destinado um Ramo como etapa final do
processo educacional Escoteiro.
A validade do marco simblico sofre questionamentos, tanto devido ao misticismo,
que, autoalimentando-se, persegue a prpria cauda sem chegar a lugar algum, quanto
devido nfase materialista do mundo globalizado, pondo em xeque o aspecto espiritual
da construo do indivduo. Mas justamente esse lado espiritual que refora o processo
formativo afetivo e social, promovendo a integralidade psquica do indivduo. Portanto, tem
importante papel educativo e, mesmo, de preservao psquica do sujeito.
Como vimos, todo marco simblico, sendo uma construo cultural, tem uma
origem e um porqu. importante conhec-los, para que no pratiquemos rituais
mecnicos e sem significado situao em que, verdadeiramente, nos fazemos ridculos.
Conhecer origens e motivos dos nossos vrios marcos simblicos o objetivo das prximas
sees.
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UNIDADE DIDTICA 2: MITO FUNDADOR E ELEMENTOS DE HISTRIA
Se o ser humano histrico, a histria sob as mais diversas formas est em seu
processo formativo. Sua identidade dada pelos valores historicamente adquiridos e pelas
coisas que fez em sua vida (ningum tem histria pelo que far). Esses valores e a
identidade grupal tm em sua construo a forte influncia dos mitos fundadores e das
narrativas reais ou mticas, que se refletem na constituio moral do indivduo. O mito
fundador a narrativa primordial do grupo, de como o ancestral comum ou o grande
educador criou ou ofereceu dons ao grupo (como se criou o mundo, como se capturou o
fogo, como surgiu a mandioca...). As narrativas edificantes mostram os feitos nobres ou vis
dos indivduos e como a boa conduta contribui para o bem comum, fazendo a pessoa
valorizada no grupo.
O MITO FUNDADOR: A BIOGRAFIA DE BADEN-POWELL
Muita coisa se diz a respeito do que o Fundador do Escotismo teria dito e feito, por
vezes chegando, em exagero, a aproximar-se de um carter hagiolgico (relativo aos
santos), ou atribuindo-lhe citaes no confirmadas pelos seus textos publicados, para
atender a convenincias. B-P no era nem santo nem super-homem. Era um ser humanoque poderia ser considerado dentro dos parmetros psicolgicos de normalidade, oriundo
de um contexto de classe mdia da Inglaterra vitoriana e com o ethosdo rapaz educado em
internato, incorporando a cultura da profisso militar. Era, sim, dotado de uma viva
inteligncia, capaz de usar bem ambos os lados do crebro (atributo identificvel por sua
habilidade em escrever e desenhar com qualquer das mos), dado palhaada (os colegas
de Charterhouse gostavam de ficar perto do gol que ele guarnecia, nas partidas de futebol,
para ouvir os ditos espirituosos que soltava ao longo do jogo e assistir de perto s suas
arremetidas com gritos de pele-vermelha contra atacantes adversrios que chegassem com
a bola, procurando quebrar-lhes a concentrao do chute a gol) e com grande gosto pela
encenao teatral, o que o ajudou a desenvolver grande presena de esprito e criatividade,
alm de aguda percepo do carter das pessoas.
Uma das melhores fontes para se conhecer Lord Bathing -Towel (Lorde Toalha de
Banho) seu apelido em Charterhouse School, pela semelhana com a pronncia do nome
Baden-Powell a sua autobiografia, Lies da escola da vida, na qual, apesar de algum
polimento em trechos que poderiam ser menos inspiradores (como os apelidos ImpeesaeMhlalapanzi, segundo Tim Jeal), ele se apresenta com bastante sinceridade, no deixando
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de expor os pequenos atos no muito heroicos que, como humano e dentro da viso de
mundo de sua poca, por vezes praticou; destes, pode-se citar o dinheirinho extra que
conseguia quando serviu na ndia, treinando cavalos rejeitados e revendendo-os; ou o
perigoso esporte da caa ao javali com lana, contrrio ao artigo da futura Lei Escoteira
sobre bondade para com os animais; ou o caso da misso de reconhecimento nas Matopo
Hills, na qual, descoberto pelos Matabeles, deu no p com quantas pernas tinha para no
passar pela desagradvel experincia de ser torturado at a morte; ou, ainda, sua ordem de
executar por fuzilamento um lder Matabele, no contexto do esforo para sufocar a
rebelio.
B-P em representao teatral; fugindo dos Matabeles nas Matopo Hills; com seu Estado-Maior em Mafeking.
Aos olhos modernos, B-P poderia, por exemplo, ser execrado por ter condenado
fome os nativos em Mafeking durante o cerco, ao priorizar a distribuio de alimentos
para os brancos; mas muito fcil fazer isso do conforto de uma poltrona, mais de um
sculo depois dos fatos. Apesar de no se poder de maneira alguma caracterizar tal
conduta como humanitria, deve-se colocar os fatos no contexto para entender (o que no
significa justificar) que ele agiu em conformidade com a mentalidade da poca,
considerando que os brancos, por terem uma misso civilizadora, seriam mais importantes
para sobreviver que os no brancos, e tambm sob as contingncias de um cerco durante
uma guerra; nessa situao, o dever de B-P, como militar (mais ainda, comandante), era
colocar em primeiro lugar o interesse do Imprio Britnico. Outra possibilidade, aos olhos
modernos, seria considerar que B-P explorou o trabalho de menores e os exps a riscos
durante o cerco de Mafeking, ao empenh-los como mensageiros, municiadores,
socorristas e enfermeiros sob os tiros dos boers, esquecendo que se estava no fim do
sculo XIX e sob as contingncias de uma guerra, com necessidade de colocar o mximo do
pessoal militar em funes de combate e precisando que algum executasse as misses
auxiliares.
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O prprio acampamento experimental da ilha de Brownsea certamente teve seus
altos e baixos (algum seria capaz de crer que tudo foi perfeito como num conto de fadas,
sem sequer uma farpa enfiada num dedo?), e o processo de construo do Movimento
certamente no foi desprovido de problemas, seja por interpretaes distorcidas de algo
que ainda estava engatinhando, seja pela necessidade de eventuais aes de bloqueio
contra pessoas com intenes no muito altrustas que buscariam aproveitar-se de um
movimento de jovens pelas mais diversas formas (desde estelionatrios at pedfilos); para
tais problemas B-P estava atento e procurou prover antdotos quando no pudesse
fornecer vacinas.
As trs fotos de cima so do acampamento experimental de Brownsea. Embaixo, o smbolo da Boys Brigadee uma reunio de
alguns de seus membros, na 1 metade do sculo XX.
Ainda sobre a criao do Escotismo, B-P no o criou do nada: boa parte dos jovens
que foram a Brownsea vinha da Boys Brigade, e a construo do mtodo educativo deveu
muito pesquisa histrica e antropolgica e, mais ainda, s consultas a educadores do
porte de John Dewey e Edouard Claparde. Como seu compatriota Isaac Newton, B-P teve
boa e longa viso porque soube olhar de cima dos ombros de gigantes.
Convm ao adulto ler vrias biografias de B-P e relatos de histria do Escotismo,
para conhecer a percepo de outros, como Winston Churchill, William Hillcourt e Tim Jeal,
sobre sua personalidade e seus feitos. Poder, ento, apresent-lo aos jovens, no como
um semideus mtico, super-heri infalvel ou o modelo de todas as virtudes, mas como um
homem notvel pelo seu carter, pelas suas habilidades e pela sua viso de lder e de
educador. Afinal, sua trajetria de vida no pouco meritria: sem fortuna e sem ttulos denobreza, chegou a um nvel elevado em sua profisso (o generalato para poucos) e foi
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capaz de estruturar um Movimento juvenil que revolucionaria conceitos educacionais e
sobreviveria por mais de um sculo.
A escolha do termo Scoutveio da experincia de B-P no Exrcito. Na Cavalaria (B-P
era cavalariano), o Scout o esclarecedor, aquele que executa as misses de
reconhecimento, precisando ser habilidoso em aproximar-se e observar sem ser notado, em
construir informaes a partir de indcios passar perodos variveis usando suas prprias
habilidades para manter-se vivo e em condies de cumprir sua misso. Assim, pensando no
jovem que teria de ser capaz de conduzir-se na vida com seus prprios conhecimentos e
habilidades em terrenos desconhecidos, B-P escolheu esse termo de fortes evocaes
aventureiras.
Outros dados sobre a fundao do Escotismo, bem como de seu batismo de fogo
na Primeira Guerra Mundial (na qual morreram seis dos jovens do acampamento de
Brownsea, entre outros ex-Escoteiros e Chefes), sua concorrncia com organizaes
juvenis vinculadas aos regimes totalitrios dos anos 1920-30-40, sua prova de tmpera na
Segunda Guerra Mundial e seu papel no ps-guerra, podem ser encontrados em obras
como 250 milhes de Escoteirose O Chapelo.
Mussolini passa em revista uma brigada Balilla; cartaz da Juventude Hitlerista; cartaz do Komsomolsovitico.
INTRODUO DO ESCOTISMO NO BRASIL
O programa de construo naval idealizado pelo Ministro da Marinha Almirante
Jlio de Noronha e alterado pelo Ministro Almirante Alexandrino de Alencar prosseguia nos
primeiros anos do sculo XX, com a construo de Contratorpedeiros, Cruzadores ( Bahiae
Rio Grande do Sul) e dos Encouraados Minas Gerais e So Paulo, na Inglaterra. O
Encouraado Rio de Janeiro no chegou a ser entregue, pois foi incorporado Marinha
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Britnica ao iniciar-se a Primeira Guerra Mundial. Um ncleo de oficiais e praas estava havia
algum tempo na Inglaterra para acompanhar a construo dos navios e familiarizar-se com
os modernos equipamentos instalados a bordo.
Aquela poca coincidiu com o aparecimento do Movimento criado por B-P. Vrios
oficiais e praas tomaram conhecimento do Escotismo como um mtodo prtico e salutar
de educao extraescolar. Entre os militares que estavam em Newcastle, envolvidos com os
navios ali em construo, o Suboficial Amlio Azevedo Marques, do Minas Gerais,
entusiasmado com o Escotismo, fez com que seu filho ingressasse num Grupo Escoteiro,
naquela localidade. E foi, portanto, o jovem Aurlio Azevedo Marques, em terra
estrangeira, o primeiro boy scoutbrasileiro.
O ento Tenente Eduardo Henrique Weaver, do Contratorpedeiro Alagoas, que se
apresentara, em 13 de junho de 1907, na Comisso Naval do Brasil na Inglaterra, sediada em
Newcastle, tambm se entusiasmou pelo movimento de B-P, julgando sua introduo no
pas til para nossa Ptria. Chamado a escrever sobre a matria pelo Dr. Manoel Bonfim,
que se encontrava em misso de estudos pedaggicos na Europa, passou a estudar o
assunto. Na tentativa de traduzir o termo ingls Scouting, adotado por B-P, o oficial de
Marinha usou o verbo escrutarque deriva do latim scrutare, e o escreveu na forma scrutar.
Bons dicionrios registram seu significado: sondar, examinar a fundo os coraes e
conscincia, pressentir, fazer o possvel para entrar no perfeito conhecimento das coisas;
procurar descobrir o que oculto, encoberto; investigar, indagar. A primeira tentativa de
traduzir o Scouting for Boys para nossa lngua teve, portanto, a preocupao de que o
vocbulo, em portugus, tivesse as duas primeiras letras idnticas s da palavra inglesa.
O Tenente Weaver escreveu um artigo que foi publicado no n. 13 da revista
Ilustrao Brazileira, em dezembro de 1909, apreciando o trabalho de B-P sobre educao
dos jovens.
Citando alguns trechos desse artigo: Que este sistema, que esta educao
representa o ideal sob todos os pontos de vista, parece-nos indiscutvel, que o educarbrincando seja o meio mais fcil e mais seguro de conseguir resultados de boa vontade,
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sem repugnncia, parece-nos fora de dvida; e logo adiante: Para analisarmos do
interesse, entusiasmo e carinho com que o sistema tem sido acolhido, basta-nos citar que,
em um ano de existncia, se esgotou a primeira edio do livro Instruo para Scouts,
consistindo em 50.000 exemplares; j havia, to somente na Inglaterra, mais de 300.000
moos scouts. E to aparentes so as vantagens do sistema que a Alemanha, os Estados
Unidos da Amrica do Norte, a Rssia, a Argentina e o Chile, j tm organizaes
semelhantes.
Aps comentrios sobre problemas universais relacionados com a formao dos
jovens, o autor passou para o campo prtico: Na esperana de que a idia germine na
nossa Ptria e que do seu aproveitamento venhamos colher bons resultados, que tanto
temos necessidade, teremos dar idia da organizao, etc., etc. E em seguida:
Comearemos por bem frisar que os scoutsno so militares nem ao menos militarizados;
essencial que cada moo se compenetre de sua independncia, do que se espera de sua
iniciativa prpria, e da conscincia de sua responsabilidade que so os elementos
formadores de seu carter.
No final do artigo h sugestes para se passar um dia praticando e se divertindo e
cita como exemplo: Combinando-se, pois, e s 6 horas da manh se encontram e partem
para o Alto da Tijuca ou Corcovado ou qualquer lugar semelhante. O fech o do artigo foi
nos seguintes termos: QUE A IDIA FRUTIFIQUE, POIS, NA NOSSA PTRIA. UM POUCO DEBOA VONTADE. ESFORCEMO-NOS. Acompanhavam o artigo cinco fotos de concentrao
Escoteira no Palcio de Cristal, em Londres, em setembro de 1907.
Assim, os oficiais e praas que se entusiasmaram pelo Escotismo julgaram que os
jovens brasileiros gostariam das atividades dos boy scouts. Por isso, quando da vinda dos
navios para o Brasil, trouxeram consigo (no Alagoas) uniformes Escoteiros adquiridos na
Inglaterra, no valor de 30 libras esterlinas.
Tendo o Minas Geraischegado em 17 de abril de 1910 ao Rio de Janeiro, tomaram
logo aqueles pioneiros as providncias iniciais para organizao do primeiros Grupo de
Escoteiros do Brasil, nas mesmas bases do que haviam visto na Inglaterra. Em junho de
1910, reunidos os interessados na Rua Chichorro n 13, no Catumbi, Rio de Janeiro, foi
elaborado o primeiro estatuto do CENTRO DE BOYS SCOUTS DO BRASIL. No dia 14 de
junho de 1910, considerado como o dia da introduo do Escotismo no Brasil, os que
assinaram a ata de fundao avisaram os jornais e comunicaram a instalao da entidade.
Em 1912 e 1913, o entusiasmo inicial esfriou um pouco, ajudado pela falta de
disponibilidade dos militares para darem continuidade ao processo, devido s suasconstantes ausncias nas comisses embarcadas. Mas em 29 de novembro de 1914 foi
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fundada em So Paulo a Associao Brasileira de Escoteiros (ABE), que irradiou o
Movimento pelo Pas; em 1915, quase todos os Estados j tinham Associaes de Escoteiros.
Foi o Dr. Mrio Cardim, um dos fundadores da ABE, que institucionalizou o termo
Escoteiro como nossa verso de boy scoute Sempre Alerta como nossa verso de Be
Prepared. O termo no to discrepante, j que ir Escoteiro significa ir sozinho, tendo
como base de apoio seus prprios conhecimentos e habilidades.
Os primeiros Congressos Escoteiros (para adultos) e Jamborees (para jovens)
realizados no Brasil e devidamente relatados foram os de 1922 e 1923. Em 1924, no 2
Jamboree Mundial, na Dinamarca, registra-se a primeira participao de uma delegao
brasileira.
Vrias outras associaes foram criadas nesses primeiros anos, muitas delas de
carter regional, propondo-se aplicar o mtodo desenvolvido por Baden-Powell. Todas elas,
incluindo a ABE, seriam, em 4 de novembro de 1924, congregadas em uma nica entidade,
credenciada pela Organizao Mundial do Movimento Escoteiro como sua representante
no Brasil: a Unio dos Escoteiros do Brasil UEB.
HISTRIA DO ESCOTISMO DO MAR
Fundando-se o Escotismo na Inglaterra, em 1908, podia-se esperar que numa naoque construra forte tradio naval ( bom lembrar que a Marinha Britnica, poca, era a
mais poderosa do mundo), a marinharia seria uma rea de interesse de forte apelo para os
Escoteiros. Assim, j em 1909 a direo geral do Movimento concordou que fosse criada a
Modalidade do Mar, e seu primeiro guia seria escrito pelo irmo mais velho de B-P,
Warington.
Na Primeira Guerra Mundial, antigos Escoteiros e Chefes tambm foram ao combate
na Marinha, vrios deles tendo cumprido o dever com sacrifcio da prpria vida. Um
exemplo foi o de Jack Cornwall, morto na Batalha Naval da Jutlndia (1916), que mesmo
ferido manteve-se no posto de apontador junto ao seu canho at o fim do combate. B-P
citou o caso nas subsequentes edies do Escotismo para rapazes. O prprio B-P, com Lady
Olave, chefiou um posto de repouso para os soldados britnicos em Etaples (Frana). Os
Escoteiros do Mar exerceram funes auxiliares de vigilncia costeira e de resgate de
nufragos, alm das de venda de bnus de guerra e servios de estafeta. Na Segunda
Guerra Mundial, alm do exerccio das funes auxiliares ao esforo de guerra na frente
domstica, participaram do resgate das tropas anglo-francesas de Dunquerque (26 de maio
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a 4 de junho de 1940), em seu barco Minotaure em outras embarcaes no esforo dos
pequenos barcos.
No Brasil, apesar de a ideia do Scoutingter sido trazida por militares da Marinha, o
Escotismo do Mar s viria a ser estruturado anos depois, pela ao de um Tenente daquela
mesma Fora Armada, que em 1916 colocava em prtica os ensinamentos do Escotismo
com os atletas infanto-juvenis do Clube Botafogo de Futebol e Regatas: Benjamin Sodr
(1892-1982).
Em 1919, designado para servir na Flotilha do Amazonas, em Belm do Par, Sodr
fundou naquela cidade o 1 Grupo Escoteiro do Par com sede no Paisandu Sport Club, cuja
primeira Promessa foi feita em 21 de dezembro. Por feliz coincidncia, o Cruzador-Auxiliar
Jos Bonifcioestava em Belm, como parte de sua misso de organizar colnias de pesca
em diversos pontos do nosso litoral os pescadores atuariam como auxiliares na vigilncia
costeira ao sair para buscar o peixe. No foi difcil nascer a ideia de fundar Grupos
Escoteiros junto s colnias de pesca, e a percepo de Benjamin Sodr com seus colegas
Frederico Villar e Gumercindo Loretti de que as atividades dos jovens forosamente seriam
ligadas ao mar levou-os a imaginar que tais Grupos deveriam ser da Modalidade do Mar.
Entretanto, provavelmente por falta de quadros adultos capacitados, a maior parte dos
Grupos criados pela Misso Jos Bonifcio teve vida curta. Outros, entretanto, vingaram,
entre eles os de Santos, Cabo Frio, Jequi e 10 Grupo (Tiradentes).Em 1920, o Tenente Benjamin Sodr regressou ao Rio de Janeiro. Aps servir no
Cruzador Rio Grande do Sul, foi servir na Inspetoria de Portos e Costas, juntamente com
seus amigos Frederico Villar e Gumercindo Loretti. A reunio com os amigos, j entusiastas
do Escotismo, mais a amizade com o Professor Gabriel Skinner, resultou na fundao, em 7
de setembro de 1921, da Confederao Brasileira de Escoteiros do Mar em acampamento
realizado na enseada de Jurujuba, no Saco de So Francisco, Niteri, com a presena de
alguns Grupos Escoteiros j existentes, entre os quais Jequi e Jurujuba. Estavam presentes
os Almirantes Veiga Miranda, Ministro da Marinha, e Raja Gabaglia, Diretor de Portos e
Costas; Escoteiros municipais sob a chefia do Dr. Joo E. Peixoto Fortuna, o ento Capito-
Tenente Benjamin Sodr, Capito-de-Corveta Gumercindo Loretti e Sr. Gabriel Skinner. A
primeira sede da CBEM foi na travessa do Comrcio, 22 no Rio de Janeiro.
A primeira embarcao dos Escoteiros do Mar brasileiros de que se tem notcia foi o
escaler a quatro remos Escoteiro do Mar, oferecido pela populao da Ilha de Paquet.
Benjamin Sodr foi um dos grandes batalhadores pela reunio das diversas
Associaes e Federaes em uma entidade representante do Escotismo no Brasil, o que seconcretizou em 1924 com a fundao da UEB.
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HISTRIA DO ESCOTISMO DO AR
O Escotismo do Ar procura desenvolver nos jovens o gosto pelo aeromodelismo,
pelos planadores, pelos helicpteros e avies, pelos problemas de aeroportos,
aeronavegao e aeropropulso, pelo pra-quedismo e pelos esportes areos, pelo estudo
da meteorologia e da cosmografia, pelos foguetes espaciais, pelos satlites artificiais e pela
cosmonutica, incentivando o culto das tradies da nossa Aeronutica. Alm dos
conhecimentos conexos s atividades aeroespaciais e aos fenmenos meteorolgicos, tem
outras atividades voltadas ao estudo da natureza, nas quais a ornitologia (estudo das aves)
se destaca como rea de interesse com importantes reflexos sobre a aviao, a economia e
a ecologia. Busca, ainda, incentivar o estudo e a prtica das comunicaes via rdio
(radioamadorismo e faixa do cidado), como forma de prestao de servio e de
sociabilidade, pela possibilidade de fazer novos amigos ao redor do mundo.
A criao do Escotismo do Ar decorreu do prprio progresso da aviao, com sua
presena cada vez mais constante no cotidiano das pessoas. Especialmente no incio do
sculo XX, avies eram desenvolvidos em qualquer rea aberta com extenso suficiente
para decolar e pousar. Naturalmente, isso atraiu a ateno dos jovens e teve como grande
incentivador Baden Fletcher Smyth Baden-Powell, irmo caula do Fundador do Escotismo(falecido em 1937).
J em 1909, a Liga Area do Imprio Britnico consultara B-P sobre a possibilidade
de engajar os Escoteiros junto aviao, especialmente em tarefas de apoio e sinalizao
para aeronaves.
Vrios pases, inclusive a prpria Inglaterra, vinham desde a dcada de 1910
desenvolvendo com os jovens atividades conexas aviao, criando, mesmo, etapas de
progresso e especialidades nessa rea de interesse um marco significativo foi a criao
da insgnia de Aeronauta, em 1912, considerada o momento fundador da Modalidade.
Chegavam a existir Patrulhas denominadas do Ar, mas continuando nos Grupos das
Modalidades Bsica e do Mar. Vrios Grupos Escoteiros chegaram a ter seus prprios
planadores, voados pelos rapazes.
Durante a Primeira Guerra Mundial, B-P deu oportunidade a que jovens Escoteiros
se capacitassem em conhecimentos da rea de aviao, sem, no entanto, introduzir
alteraes no Programa Escoteiro com foco nesse campo de atividades.
A Grande Guerra evidenciou o elevado valor ttico e estratgico da aviao, e aevoluo operacional e doutrinria dos anos seguintes confirmaria e aumentaria esse valor.
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Nas dcadas de 1920 e 1930, pensadores como Giulio Douhet e Billy Mitchell embasariam a
doutrina militar de aviao do sculo seguinte.
As dcadas de 1920 e 1930 seriam conhecidas como a era de ouro da aviao por
terem sido de grande desenvolvimento tecnolgico e superao de recordes, e quando a
aviao permitiu que se passasse por reas inspitas como as regies desrticas e polares
em relativa segurana. Foi nesses anos que as linhas aeropostais desbravaram os caminhos
que poderiam tornar-se rotas de transporte de passageiros, fazendo travessias ocenicas
com e sem escalas, transposio de desertos e cordilheiras, e a circunavegao do globo.
Foi uma poca de um herosmo no necessariamente belicoso, mas calcado na entrada no
desconhecido, no desafio aos limites e em atributos pessoais de coragem e
determinao. So desses anos nomes como Lindbergh, Gago Coutinho e Sacadura Cabral,
Guillaumet e Saint-Exupry que poria como fundo de cena do Pequeno prncipeseu pouso
forado no Saara, quando empreendera um reide Paris-Saigon.
No obstante as tentativas em vrias partes do mundo (Inglaterra, Chile, Hungria,
Frana e tantos outros) de instituir um Escotismo Areo, Baden-Powell no considerava
necessria a estruturao de uma nova Modalidade, pois via as atividades areas mais como
uma moda, que poderia ser uma rea de interesse no Escotismo, mas no merecedora da
estrutura conceitual e operacional de uma Modalidade; nessa situao, o Brasil daria o
primeiro passo para institucionalizar o Escotismo do Ar.O principal idealizador e incentivador dos Escoteiros do Ar foi o Major-Brigadeiro
Godofredo Vidal, um homem apaixonado pela aeronutica e com uma variedade incontvel
de talentos e interesses. Estudou Engenharia, lnguas, geografia, histria, pintura,
interessava-se por esportes, radioamadorismo e educao, tendo escrito uma srie de
artigos e monografias. Juntamente com o Major Aviador Vasco Alves Secco e o 1 Sargento
Telegrafista Jayme Janeiro Rodrigues, Godofredo Vidal, na poca Tenente-Coronel Aviador,
estudou e avaliou profundamente o Escotismo, vislumbrando a possibilidade de aplicar
princpios da aeronutica no Movimento Escoteiro. Em 28 de abril de 1938, os trs militares,
poca servindo no 5 Regimento de Aviao, atual CINDACTA II, em Curitiba, registraram
formalmente junto Unio dos Escoteiros do Brasil a criao do Grupo Escoteiro do Ar
Tenente Ricardo Kirk, o primeiro oficialmente denominado da Modalidade no mundo. A
Inglaterra s adotaria oficialmente a Modalidade do Ar em 1941.
O batismo de fogo da recm-nascida Modalidade ocorreu na Segunda Guerra
Mundial, quando os Escoteiros do Ar (principalmente na Inglaterra) atuaram, entre outras
funes de apoio, como vigilantes do ar, exercitando as habilidades de identificao deaeronaves, meteorologia, aeronavegao e comunicaes, alm de atuarem na coleta de
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materiais diversos (reciclveis ou matrias-primas) que poderiam ser usados na fabricao e
na recuperao de aeronaves. Alm disso, Grupos Escoteiros do Ar instalados junto a
unidades do Air Training Corps serviam como etapa preparatria para que os jovens, ao
atingirem a idade mnima necessria, pudessem ingressar nessas escolas de pilotos que
forneceriam recompletamentos para a Royal Air Force.
Em abril de 1944, foi criada a Federao dos Escoteiros do Ar, que reunia todos os
Grupos desta Modalidade (poucos poca, restringindo-se aos Estados do Paran, Rio de
Janeiro e So Paulo). Em 11 de julho de 1951, o Brigadeiro Nero Moura, ento Ministro da
Aeronutica, determinou, pela Portaria n 262, que as unidades da Fora Area Brasileira
dessem total apoio aos Grupos Escoteiros do Ar, reconhecendo a importncia deste
Movimento de Jovens especialmente para o incentivo ao interesse pela aeronutica. Em 26
de setembro de 2003, o Comandante da Aeronutica, Tenente-Brigadeiro Luiz Carlos da
Silva Bueno, emitiu a Portaria n 914, reiterando tal determinao, na medida das
possibilidades das Organizaes Militares.
Durante as dcadas de 1960, 1970 e 1980 o Escotismo do Ar foi consolidado pelo
trabalho de Jayme Janeiro Rodrigues, que participara da criao da Modalidade e se tornara
Chefe Escoteiro. Foi ele o idealizador do Curso de Adestramento (hoje Aperfeioamento)
Tcnico do Ar, o CATAR, realizado pela primeira vez em 1979 e sendo ministrado at hoje
para a formao tcnica especfica de Escoteiros e Chefes da Modalidade do Ar.
O ESCOTEIRO CAMINHA COM AS PRPRIAS PERNAS: CAIO VIANA MARTINS
Nas frias escolares de 1938, o Grupo Escoteiro (a denominao da poca era
Associao de Escoteiros) da Escola Afonso Arinos, de Belo Horizonte, organizou uma
excurso a So Paulo. No dia 18 de Dezembro, s 17 horas, embarcaram no trem 12
Escoteiros e 6 lobinhos, sob a chefia de dois assistentes que eram tambm Pioneiros.
A viagem correu normalmente at Barbacena e Stio. O trem seguia para a estao
de Joo Ayres.
De repente, o imprevisto, a coliso terrvel entre o trem de passageiros e um de
carga. Eram 2 horas da manh, escurido completa e chuva.
No carro dos Escoteiros, ouvem-se os gritos angustiosos chamando pelos Chefes.
Um destes, Rubens, tinha sido lanado pela janela, mas levantou-se levemente ferido,
correu ao vago e lanou o Sempre Alerta!. Sem atropelos, em ordem, saem os
Escoteiros do vago destrudo. Muitos esto feridos. Faltam dois, um Escoteiro e um
Lobinho. Nos destroos, so encontrados os corpos mutilados do Escoteiro Gerson IssaSatuf e do Lobinho Hlio Marcus.
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Os corpos, envolvidos em lenis, so colocados do outro lado do trem, para que
no sejam vistos pelo resto do Grupo. A noite escura encobre a terrvel cena.
Chefe Rubens encara a situao de frente: entre seu vago a e mquina, cinco
carros espatifados; mais de quarenta mortos e mais de cem feridos. Os passageiros que
ficaram inclumes esto aterrorizados. H receio de uma exploso da mquina ou incndio
dos destroos. Gritos, gemidos e pedidos de socorro dos feridos. A escurido impedia
qualquer trabalho eficiente.
O Chefe Rubens pede a todos calma e os chama ao cumprimento do dever. Ele d o
exemplo, com o outro Pioneiro e dois Escoteiros. Acendem uma fogueira para iluminar o
local. Ao clarear o dia os Escoteiros iniciam o trabalho de salvamento, retiram os mortos e
feridos, improvisam padiolas e dos cobertores fazem ataduras.
O exemplo dos meninos seguido pelos passageiros. Os Escoteiros, quase todos
feridos, trabalham sem parar. Quando chega o trem de socorro, ainda auxiliam.
Partem todos para Barbacena em caminhes e carros, sem os seus dois camaradas
Hlio e Gerson.
Chegados a Barbacena, o nmero de feridos grande, as padiolas so poucas.
Caio Viana Martins desce do caminho no quartel do 9 Batalho de Caadores,
transformado em hospital de emergncia. Dois soldados querem carreg-lo na padiola; ele
olha em redor, verifica o nmero enorme de feridos que no podem andar, e diz: SouEscoteiro e um Escoteiro caminha com suas prprias pernas. Sem auxlio dos enfermeiros,
sobe a escada, e no alto, cai por terra. Operado de urgncia, verifica-se grande hemorragia
interna por leso do fgado. Quinze horas aps, falece, sem um gemido, sem uma queixa.
O presidente do Grupo, Dr. Floriano de Paula, que tinha chegado com o trem de
socorro, rene a Tropa e diz: Escoteiros, perdemos dois camaradas e um terceiro acaba de
morrer como heri. Coragem!
As lgrimas correm pela face dos meninos, uma prece feita pelos companheiros.
Chegam os pais, mas o Grupo resolve voltar unido, com seu material e seus mortos
queridos.
Impossvel descrever a cena da chegada em Belo Horizonte; um grupo de meninos
volta de uma viagem trgica, trazem seus mortos, seus feridos, todo seu material, suas
bandeiras e seus totens danificados. Desfilam pela cidade em direo sede.
A cidade em peso, triste, em silncio, abre alas aos meninos heris.
Nesta jornada trgica, todo o Grupo Escoteiro Afonso Arinos, Chefes, Escoteiros e
Lobinhos deram um exemplo notvel da prtica da Lei Escoteira: trabalharam juntos,serviram ao prximo, mantiveram a serenidade para bem fazer o que era necessrio.
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Caio Viana Martins, que se sacrificara pelos outros, foi o exemplo maior para os
Escoteiros do Brasil e a toda a juventude brasileira do cumprimento de seu papel de
Monitor, liderando por sua ao pessoal, e de sua Promessa Escoteira, aplicando o
mandamento de Cristo ao amar o prximo como a ele mesmo.
Caio Viana Martins e uma foto do desastre da Mantiqueira.
A Unio dos Escoteiros do Brasil resolveu faz-lo o Heri Escoteiro Nacional,
smbolo de honra e de herosmo. H esttuas de Caio Martins em Belo Horizonte, Juiz de
Fora, Belm do Par e Niteri. Nesta ltima cidade um estdio esportivo ostenta seu nome.
Em Minas Gerais, a Fundao Caio Martins destina-se a educar jovens de baixa renda na
escolarizao e no trabalho, e historicamente busca oferecer aos seus beneficirios
tambm o Escotismo a que pertenceu seu patrono.
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UNIDADE DIDTICA 3: SMBOLOS DO ESCOTISMO
Um emblema: a flor-de-lis
O emblema adotado pelo Escotismo desde a sua fundao a flor-de-lis. Foi usada
j no acampamento experimental de Brownsea (pequena ilha na baa de Poole, costa sul da
Gr-Bretanha), em 1907.
Encontramos a flor-de-lis na Histria e na Geografia. No ano de 496 Clvis, rei dos
francos, quando ia ser atacado pelos alamanos (povo que habitava parte do que hoje a
Alemanha), invocou o auxlio do Deus dos cristos; recebeu de um anjo um escudo com trs
flores de lrio, venceu a batalha e converteu-se ao cristianismo. Desde ento a flor-de-lis
passou a aparecer em cetros e mantos de reis e imperadores franceses, alemes,
lombardos e florentinos, entre outros, sendo associada nobreza. A flor-de-lis tambm era
usada nas bssolas, na ponta da agulha dirigida para o norte, como se v em desenhos de
antigos instrumentos nuticos.
As duas ideias nobreza e norte determinaram a adoo da flor-de-lis como
smbolo Escoteiro; suas primeiras ideias-fora lembradas so a nobreza de sentimentos e
aes e a orientao segura.
O desenho da flor-de-lis mais ou menos arbitrrio, de forma geral assemelhando-
se a um lrio. Seu formato peculiar permite estabelecer vrios elementos simblicos.A Organizao Mundial do Movimento Escoteiro (WOSM), mantendo a flor-de-lis
como smbolo, adotou uma determinada configurao, descrita a seguir.
Apontando para cima, lembra ao Escoteiro que deve guiar-se em direo
aos objetivos mais elevados.
As trs ptalas representam as trs partes da Promessa: deveres para com
Deus e a Ptria, ajuda ao prximo e obedincia Lei Escoteira; ou, ainda,
dever para com Deus, para com o prximo e para consigo mesmo.
Voltamos, aqui, a um nmero arquetpico, que o 3: dois opostos com um
equilibrador (mediador), os pratos da balana e o fiel, as trs partes da
Promessa, a Trindade, as trs fases da vida (criana-adulto-velho), os trs
mundos (Cu, Terra e Mundo Inferior), os trs ambientes (ar, terra, mar),
etc.
A ligao das ptalas a unio Escoteira, o lao de irmandade.
A agulha magntica, que se v ao centro, a orientao educativa.
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As duas estrelas (Verdade e Conhecimento) de cinco pontas apostas sobre
as ptalas laterais representam os dez artigos da Lei Escoteira.
A corda que circunda a flor-de-lis, fazendo uma mandala, expressa o sentido
de universalidade do Movimento, tendo as pontas unidas por um n direito
a recordar que somos todos iguais e firmemente unidos.
A flor-de-lis na cor branca evoca a pureza e a promoo da paz, e o fundo
roxo, a liderana e o servio.
A partir da flor-de-lis bsica, as associaes Escoteiras nacionais faziam variaes
colocando seus smbolos prprios. Abaixo, como exemplos, os smbolos de associaes
Escoteiras de Portugal, Cingapura e Etipia.
No caso da flor-de-lis da Unio dos Escoteiros do Brasil vigente desde 1950 e que
modificou ligeiramente as verses de 1930 e 1940, ela dourada com o contorno em verde;
no centro h um escudo azul como o das Armas da Repblica, com o Cruzeiro do Sul
circundado por uma faixa com estrelas representando as Unidades da Federao.
Caracteriza-se, assim, a presena das cores nacionais e do Cruzeiro do Sul, nossa
constelao-smbolo. Tem sob si um listel com as pontas para cima, assemelhando-se ao
sorriso do Escoteiro, e com o lema Sempre Alerta; sob o listel, um n que lembra a Boa
Ao diria.
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Em 2010, a Unio dos Escoteiros do Brasil decidiu dar um visual mais moderno sua
verso da flor-de-lis. O desenho foi simplificado nos contornos e deixou de ter o escudo
imitando o das Armas da Repblica, bem como o listel Sempre Alerta. O Manual de
identidade visual e otimizao da imagem de 2010 apresenta as diretrizes de emprego do
emblema. A metade esquerda da flor-de-lis (direita de quem olha; em herldica, o escudo
considerado como se fosse outra pessoa olhando para ns) em verde-floresta, e sua
metade direita tem quatro sees em contorno de rostos voltados para a metade verde-
floresta, sucessivamente em verde-broto, amarelo-sol, azul-gua e azul-estrela (anil); os
quatro rostos representam os quatro Ramos, e o rosto na extrema direita continuado
pela terceira ptala da flor-de-lis, na qual foi aposto, em branco, o Cruzeiro do Sul. Assim, o
emblema procurou preservar nossas cores nacionais e nossa constelao-smbolo, fazendo
a associao visual mais direta entre o smbolo consagrado do Escotismo e a Nao
Brasileira. Ao compor o logotipo, tem-lhe associada a expresso Escoteiros do Brasil. A
marca usada nos documentos oficiais da UEB e material publicitrio, peas de vesturio e
acessrios.
O Lema
Quando Baden-Powell estruturou a Fora Policial Sul-Africana (South African
Constabulary SAC), era necessrio ter como lema uma expresso simples que falasse daconduta que deveria caracterizar o membro da corporao: a capacidade de operar com
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independncia e iniciativa, valendo-se de suas habilidades para fazer valer a autoridade do
Estado, pronto para o que der e vier; a expresso escolhida foi Be prepared (esteja
preparado). Consta que os homens daquela fora haviam escolhido eles mesmos seu lema,
porque exprimia bem sua disposio de assumir qualquer encargo que se apresentasse.
Considerando que os Escoteiros teriam de se tornar tambm capazes de levar sua vida com
independncia e valendo-se de suas habilidades, B-P considerou muito adequado que
usassem tal lema. Outra coisa da SAC que B-P aproveitaria seria o uniforme (assunto para
outra seo). Noutras lnguas, o lema passou por adaptaes: em francs, Toujours prt
(sempre pronto). No Brasil, adaptamos para Sempre Alerta.
A constituio do Ramo Lobinho, em 1916, para atender aos irmos mais novos dos
Escoteiros, levou adoo de um lema prprio: Melhor possvel, lembrando criana a
importncia de fazer o seu melhor esforo naquilo que empreendesse. E a do Ramo
Pioneiro, em 1919, tambm trouxe um lema ligado ao trabalho do Ramo: Servir.
A Promessa e a Lei Escoteira
B-P conta ter recebido em 1902 uma carta de um menino que lhe fazia uma
promessa. Escreveu ele:
Prometo-lhe de todo o corao nunca beber nem fumar.
Que o Senhor seja sempre um bravo soldado e eu tambm serei.Afetuosamente, H.V... Halifax V.S...
B-P, ao pr em execuo seu projeto educativo, refletiu sobre juramentos
extremos, compromissos com a palavra nunca e leis proibitivas como os Dez
Mandamentos. Constatou que juramentos a ferro, fogo e sangue, ou com palavras como
nunca e sempre revelavam-se vazios porque humanamente impossveis de cumprir
(ou, se o corpo no pecasse, a mente pelo menos em algum momento o faria). Promessas
feitas a algum tambm ficam vinculadas a outra pessoa que no o promitente, quando o
compromisso tem de ser assumido perante si mesmo. Alm disso, regulamentos com
proibies ou com a palavra no convidam sua violao, no mni mo pelo esprito de
rebeldia e desafio do jovem. Por isso, procurou construir uma promessa que o jovem
conscientemente faria, de fazer um esforo honesto, da melhor forma possvel paraviver
conforme algumas sugestes de comportamento.
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Texto original Ingls da Promessa Escoteira
Scouting for Boys 1908 - Camp Fire yarn 3.
On my honour I promise that
I will do my duty to God and the King.
I will do my best to help others, whatever it
costs me.
I know the Scout Law, and will obey it.
Pela minha Honra prometo que:
Cumprirei meu dever para com Deus e o Rei.
Farei o melhor possvel para ajudar os
outros, qualquer que seja o custo.
Conheo a Lei Escoteira e a obedecerei.
Texto original da Lei Escoteira.
Na verso original de 1908 Baden Powell fez apenas 9 artigos, o dcimo foi includo na
quarta edio (outubro de 1911) de Scouting for boys.
1- Pode-se confiar na honra de um Escoteiro.
2- O Escoteiro leal.
3- dever do Escoteiro ser til e ajudar ao prximo.
4- O Escoteiro amigo de todos e irmo de qualquer outro Escoteiro, no importando a que
classe social pertena.
5- O Escoteiro corts.
6- O Escoteiro amigo dos animais.
7- O Escoteiro obedece s ordens.8- O Escoteiro sorri e assobia em todas as circunstncias.
9- O Escoteiro econmico.
10- O Escoteiro limpo de pensamento, palavras e aes.
Como curiosidade, apresentam-se aqui a Promessa e Lei Escoteira da Associao Brasileira
de Escoteiros, uma das que em 1924 se fundiriam para formar a Unio dos Escoteiros do
Brasil.
Juro pela minha honra fazer tudo que de mim dependa para cumprir os deveres
para com Deus e para com o Chefe de Estado, amar a minha Ptria, ser-lhe til em todos os
momentos e respeitar as suas leis e obedecer Lei do Escoteiro.
Lei
1 - O Escoteiro honrado, e sua palavra merece confiana absoluta.
2 - O Escoteiro no teme o ridculo, ainda que para executar obras nobres tiver de o
ser.
3 - O Escoteiro obediente, disciplinado e leal.
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4 - O Escoteiro um homem de iniciativa, mas tambm consciente da
responsabilidade dos seus atos.
5 - O Escoteiro tolerante, corts e servial.
6 - O Escoteiro amigo de todos e considera os outros Escoteiros como irmos, sem
distino de classe social.
7 - O Escoteiro valente e prontifica-se a ser til e ajudar os fracos.
8 - O Escoteiro faz uma boa ao por dia, por mais modesta que seja.
9 - O Escoteiro amigo dos animais, das rvores e das plantas.
10 - O Escoteiro asseado e alegre.
11 - O Escoteiro econmico, trabalhador tenaz e perseverante.
12 - A maior honra para o Escoteiro s-lo.
TEXTO OFICIAL DA PROMESSA E DA LEI ESCOTEIRA, CONFORME ADOTADO PELA UNIO
DOS ESCOTEIROS DO BRASIL
Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possvel para: cumprir meus deveres para com
Deus e minha Ptria; ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio; e obedecer Lei
Escoteira.
1) O Escoteiro tem uma s palavra; sua honra vale mais que a prpria vida.
2)
O Escoteiro leal.3) O Escoteiro est sempre alerta para ajudar o prximo e pratica diariamente uma
boa ao.
4) O Escoteiro amigo de todos e irmo dos demais Escoteiros.
5) O Escoteiro corts.
6) O Escoteiro bom para os animais e plantas.
7) O Escoteiro obediente e disciplinado.
8) O Escoteiro alegre e sorri nas dificuldades.
9)
O Escoteiro econmico e respeita o bem alheio.
10)O Escoteiro limpo de corpo e alma.
A Promessa e a Lei do Lobinho tm texto mais simples:
Prometo fazer o melhor possvel para cumprir meus deveres para com Deus e minha Ptria,
obedecer Lei do Lobinho e fazer todos os dias uma boa ao.
1) O Lobinho ouve sempre os velhos lobos.
2) O Lobinho abre os olhos e os ouvidos.
3)
O Lobinho pensa primeiro nos outros.4) O Lobinho alegre e est sempre limpo.
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5) O Lobinho diz sempre a verdade.
Na Gr-Bretanha, as histrias da Cavalaria Andante, mais notadamente as ligadas
lenda do Rei Arthur, constituam um importante conjunto de temas edificantes, e as Leis da
Cavalaria certamente tiveram sua influncia na formulao da Lei Escoteira.
Leis da Cavalaria:
Esteja sempre pronto, de armadura vestida, exceto enquanto estiver repousando
noite.
Em tudo o que estiver fazendo procure ganhar honra e fama pela honestidade.
Defenda os pobres e os fracos.
Ajude os que no puderem se defender sozinhos.
Nada faa para ferir ou ofender os outros.
Esteja preparado para lutar na defesa de sua Ptria.
Trabalhe antes pela honra que pelo proveito.
No volte atrs na palavra dada.
Defenda a honra de sua Ptria com a prpria vida.
Prefira morrer honestamente a viver vergonhosamente.
A Cavalaria exige que cada um esteja preparado para executar as tarefas mais
humildes e trabalhosas com alegria e boa vontade; e a fazer o bem ao prximo.
A saudao: uma continncia?
Na construo dos marcos simblicos do Escotismo, B-P agregou outro elemento de
sua formao militar ao nascente movimento: a saudao. No h como negar a
semelhana da saudao Escoteira com a continncia (na sua forma britnica, com a palma
da mo para a frente). Entretanto, sua adoo no teve o intuito de trazer ao Movimento
um carter pr- ou paramilitar, pois prestar continncia (continncia no se bate: faz-se
ou presta-se) para o militar uma obrigao regulamentar; para o Escoteiro, , assim como
o aperto de mo, um dos seus sinais peculiares e secretos, o tipo de coisa que o jovem gosta
de ter como marca de pertencimento a um bando especial. Mas o sinal Escoteiro no
secreto, j que francamente visvel quando feito! Correto, mas o seu significado s para
os iniciados. Os trs dedos estendidos representam as trs partes da Promessa (como as
trs ptalas da flor-de-lis). O polegar sobreposto ao dedo mnimo representa a unio dos
Escoteiros mais distantes, e o mais forte protege o mais fraco. O jovem que ainda no fez
sua Promessa Escoteira no deve ser impedido de fazer o sinal Escoteiro (com brutalidades
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do tipo agarrar-lhe o brao e baixar-lhe a mo), mas deve ser esclarecido de que o sinal tem
significado, e que faz-lo expressa no apenas o conhecimento desse significado, mas
tambm o compromisso de viver segundo os princpios que ele representa. Uma
justificativa para a semelhana da saudao com a continncia militar a origem desse tipo
de cumprimento: o gesto de levar a mo pala da cobertura vem da prtica dos cavaleiros
medievais de, aps o combate, levantarem a viseira do elmo para que seu comandante
pudesse identific-los. Mais um ponto de ligao da cavalaria medieval com o Escotismo...
Apenas como lembrete, a saudao feita Bandeira Nacional, a uma autoridade
quando num desfile ou evento similar, e como cumprimento entre membros do
Movimento. O sinal Escoteiro, no qual a mo no levada tmpora, mas posta na vertical
ao lado do corpo (apontando para cima), usado no ato da Promessa.
No caso do Ramo Lobinho, a saudao feita com os dois dedos da mo em V,
no porque, sendo mais jovem, ele s poder usar o terceiro dedo quando crescer efor
Escoteiro, mas porque os dedos representam as duas orelhas do lobo, em p, alertas.
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O aperto de canhota
Consta que B-P aprendeu o aperto de canhota na expedio de pacificao dos
Ashantis, quando, cumprimentando um chefe, este explicou-lhe que os guerreiros mais
bravos em seu povo cumprimentavam-se com a mo esquerda, como forma de saudar um
amigo ou reconhecer um inimigo valoroso. Quando cumprimentamos com a mo direita,
deixamos de lado a arma, que geralmente manejada com essa mo; ao cumprimentarmos
com a esquerda, fazemos mais do que isso: sendo o esquerdo o brao do escudo, abrimos a
nossa guarda, entregamos a nossa vida lealdade daquela pessoa. Ao construir o
Escotismo, B-P aproveitou essa ideia para instilar nos Escoteiros a confiana de uns nos
outros, por meio de mais um sinal secreto, de significado s conhecido pelos iniciados.
Variaes sobre o tema: uso, no Brasil e nos EUA, do entrelaamento do dedo
mnimo; nos EUA, o aperto de mo do Lobinho com a mo direita, com os dedos indicador
e mdio tocando o pulso do outro (representando a prontido para ajudar/boa ao e o
compromisso com a Lei do Lobinho).
O uniforme Escoteiro
Aps a bem-sucedida experincia de Brownsea e com a finalizao da redao de
Escotismo para rapazes, B-P agregou outro elemento de sua formao militar ao Escotismo:
o uniforme. Uma vez mais, no com o intuito de dar ao Movimento um carter pr- ou
paramilitar, mas sim por perceber que o uniforme eliminava visualmente as indicaes de
classe socioeconmica (o equivalente s atuais roupas de grife); em uniforme, no havia
rico ou pobre, mas apenas o Escoteiro. Naturalmente, considerando que o jovem faria
trabalhos, iria ao campo e participaria de jogos, sua vestimenta teria de ser confortvel efuncional. B-P aproveitou o chapu de abas largas e retas (Boss of the Plains), a camisa de
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brim folgada e com mangas dobrveis e o leno, j adotados na SAC, pois sua
funcionalidade j fora mais que testada. Decidiu-se, ainda, pela bermuda, similar usada
pelas tropas britnicas nas colnias, por consider-la arejada e propiciadora de boa
liberdade de movimentos, e pelo meio at logo abaixo dos joelhos. O uniforme na cor
cqui era discreto, no deixava aparecer qualquer sujeirinha e harmonizava-se com o
ambiente nas atividades de campo. Por dcadas, essas peas constituram o uniforme
mundial do Escoteiro, que viria depois a adequar-se s peculiaridades locais e temporais. A
criao do Ramo Lobinho, assim como a introduo das Modalidades do Mar e do Ar,
trouxe variaes sobre o tema. O bon do Lobinho, em numerosas associaes Escoteiras,
o principal elemento identificador do Ramo. O fez egpcio, o turbante indiano, o kilt
escocs so peas introduzidas pela tradio local. Mesmo a bermuda passaria a ser opo
cala comprida. As cores tambm, em algumas dcadas, receberiam o toque local,
variando do bege ao azul, passando pelo cqui, pelo verde e mesmo pelo branco; em
lugares onde a aquisio do uniforme economicamente pouco vivel, uma camiseta e o
leno valem como se fossem um traje completo.
O mais importante, visualmente, que o traje propicie correta identificao
combinada boa apresentao. B-P disse: Nenhuma importncia tem que um Escoteiro
ande uniformizado ou no! O que vale que ponha o corao no Escotismo, engaje nele o
seu esprito e cumpra a Lei Escoteira! Mas o fato que no existe um Escoteiro, que
podendo comprar o uniforme, deixe de faz-lo.
De fato, o uniforme continua a ser um meio de imediata identificao visual; o garbo
e elegncia no uso do uniforme visam a importantes objetivos pedaggicos. O primeiro a
identificao dos membros do Escotismo pela sua identidade comum, seres do mesmo
sangue, cuja condio socioeconmica irrelevante perante a sua condio de Escoteiros. O
segundo a boa representao da instituio a que pertencem, fortalecendo, portanto, o
esprito de corpo. Em terceiro lugar, podemos apontar o desenvolvimento da autoestima e
o estmulo ao cuidado consigo mesmo. Naturalmente, o despertar do orgulho dos jovens
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em envergar o uniforme que os denuncia como Escoteiros parte do exemplo do Chefe
no apenas em bem trajar, mas principalmente em suas atitudes.
O Leno
O leno Escoteiro , para comear, uma pea utilitria, que atende aos mais diversos
fins: da bandana para o sol atadura para ferimento, da tipoia ao escalpo para jogo, da
superfcie da padiola mscara de proteo respiratria. Alm disso, ele , pode-se dizer, a
pea mais caracterstica de nossa identificao visual. Independentemente de se adotar
leno de Grupo, de Regio, de Ramo ou de Associao Nacional, ou simplesmente o da
WOSM, ele a nossa cota darmas; deve, portanto, ser usado como um marco simblico da
nossa identidade no importa com que cor, quem usa o leno nosso irmo Escoteiro.
Bandeira de Seo/Ramo/Grupo
Se for o caso de se instituir uma Bandeira de Seo, Ramo ou Grupo, esta deve
seguir a regra do POR quanto a dimenses, cores e desenhos. Sua adoo e descrio
devem ser registradas por escrito, constando o nome, data, autoria, dados do patrono,
totem ou evento que d o nome Seo ou Grupo.
O Sistema de Patrulhas
O Sistema de Patrulhas uma caracterstica essencial do Mtodo Escoteiro, por
materializar a vida em equipe. Nisto o Escotismo difere de todas as outras organizaes. O
sucesso absolutamente seguro, desde que ele seja convenientemente aplicado.
Em Escotismo, a Patrulha sempre a unidade, seja para trabalho, seja para jogos,
seja quanto ao dever e disciplina. a escola da vida em sociedade, da liderana, da
aquisio progressiva de responsabilidades, j que cada jovem tem uma funo e tem de
desempenh-la a contento para que o conjunto funcione. a um tempo grupo formal e
grupo de amigos, no qual o Monitor exercita-se na liderana e no cuidado pelas pessoas e
bens a seu cargo.
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Atribuindo-se responsabilidade a um indivduo, obtm-se um notvel
desenvolvimento do seu carter. A simples indicao de um monitor como responsvel por
uma Patrulha j um grande passo nesse sentido. Depender tambm dele aproveitar e
desenvolver as qualidades de cada elemento de sua Patrulha.
Nas atividades, ao se incentivar a ao da equipe para obter o sucesso, constri-se o
esprito de Patrulha, o tipo de coeso s compreendido por quem trabalhou, dormiu,
comeu, sofreu e triunfou junto. Cada jovem, na Patrulha, passa a compreender que
pessoalmente responsvel e que a honra do grupo, depende em certo grau de sua prpria
capacidade em jogar o jogo.
Corte de Honra
A Corte de Honra parte importante do Sistema de Patrulhas nos Ramos Escoteiro
e Snior. Ela cercada de mstica, porque somente os Monitores conhecem seu ambiente e
o contedo de suas reunies, sendo uma situao muito especial algum ser convidado a
conhec-la ou participar de uma reunio. constituda, permanentemente, pelos Monitores
e, sob a orientao do Chefe, decide e resolve as questes da Tropa, sejam elas de natureza
administrativa, operacional ou disciplinar.
A participao na Corte de Honra ajuda a desenvolver respeito prprio e ideias
democrticas em seus membros, simultaneamente com a noo de responsabilidade erespeito autoridade; possibilita a prtica do procedimento e formas de conduta
semelhantes nas relaes humanas, constituindo, para os jovens um notvel treinamento
de cidadania.
A Corte de Honra encarrega-se dos assuntos de rotina, da direo e gesto de todos
os interesses da tropa, tais como jogos, divertimentos, distraes, esportes, etc. Dela
tambm podem participar eventualmente os Submonitores, que, alm de assim prestarem
sua colaborao, vo tambm adquirindo prtica e experincia em atuar dentro do
conjunto.
A Corte de Honra, quando se rene para assuntos de justia, composta somente
de monitores. Como seu nome indica, tem a excepcional misso de julgar, intervindo em
casos de disciplina e concesso de recompensas.
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UNIDADE DIDTICA 4: CERIMNIAS: RITOS DE INICIAO, DE CELEBRAO E DE
PASSAGEM
Por mais solene que seja uma cerimnia, ela tem um carter ldico: o ludus uma
representao, uma simulao do evento real; assim, quem preside a solenidade representa
um papel, digamos assim, sacerdotal; o jovem representa o papel, seja do lobo, seja do
escudeiro a se armar cavaleiro. Podemos, em consequncia, verificar que a participao em
um cerimonial assemelha-se quela em um jogo, considerando que: o participante vive
naquele momento uma realidade prpria do evento, com certos papis fora do mundo
profano; essa realidade prpria possui um tempo e um local determinados, com comeo e
fim, permitindo ao participante mergulhar no outro mundoe depois voltar tona(ao mundo
real), revestido dos princpios que o evento inspira; a situao tem reversibilidade,
permitindo sua repetio e mudanas de papis, facultando ao participante diferentes
percepes em diferentes momentos, preservando-se, entretanto, o esprito da cerimnia,
estabelecendo a comunho com os outros participantes e, em esferas mais amplas, com os
que a fazem noutros lugares e com os que a fizeram noutros momentos.
A ideia central, ao se pensar em qualquer cerimnia, significado. Se no tiver um
objetivo definido e no for significativa, marcante, ser, para os participantes, uma perda
de tempo, o ritual pelo amor ao ritual, na melhor das hipteses.
Para que uma cerimnia seja significativa, ela precisa ser SBS: SIMPLES BREVE SINCERA.
SIMPLES: quanto mais elementos se coloca num evento, mais coisas tm
possibilidade de dar errado, especialmente se estiverem articuladas entre si: um grupo que
entra marchando por um lado e passa, cruzando-se, intercaladamente, pelo outro; um
acionador por meio de rastilho de plvora, que acende os foguetes que vm dos quatro
pontos cardeais para acender a fogueira; o traje de Rei dos Nibelungos aliado a um
enorme texto (a ser lido ou decorado, tirando a naturalidade da cerimnia) e aparato
teatral numa investidura; uma coreografia e ornamentao do espao que fazem lembrar a
mudana da guarda no Palcio de Buckingham. A preocupao com a forma tanta que o
personagem principal se torna mero parafuso na engrenagem. A simplicidade significa,
portanto, ter os elementos materiais e humanos essenciais que caracterizem a cerimnia;
que o texto (no necessariamente escrito) seja claro, preciso e conciso, dirigindo-se ao
jovem que o centro da cerimnia; que a cerimnia seja compreendida pelos presentes;
que as aes caibam naquele espao e tempo.
BREVE: quem consegue manter a concentrao em um evento que se prolonga poruma hora ou mais, especialmente em p e/ou com cinco pessoas (que no so de nossas
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relaes) discursando, cada uma por uns quinze minutos? A perna di, o nariz coa, o sabi
no arbusto ali frente est construindo o ninho... Guardamos do evento mais o cansao, a
caceteao e o incmodo do que o seu real significado. A cerimnia no o momento de
subir no palanque e deitar falao. O centro dela no o orador. Os participantes querem
dar sua ateno ao foco da cerimnia: passagem de Ramo, Promessa, conquista de nvel de
progresso, sada do Ramo. Assim, devemos executar aqueles procedimentos que so
caractersticos e essenciais cerimnia e pronto. No devemos dar tempo ao cansao, nem
disperso.
SINCERA: quem est presente cerimnia e, especialmente, quem a preside, tem de
estar no espritodaquilo que se processa. No interessa se o Chefe est conduzindo a 1.437
cerimnia de Promessa: para o jovem (ou mesmo adulto) promitente, aquela a primeira e
nica (qualquer outra subsequente ser de renovao); um momento importante, que
deve ser valorizado. Se o Chefe no acredita no que est fazendo ali, melhor que procure
outra coisa para fazer.
A cerimnia deve ser preparada e contextualizada na atividade e no momento de
vida do indivduo; o local deve ser devidamente montado e acertado o dispositivo
previamente; os materiais necessrios devem estar no local ANTES do incio da cerimnia;
os presentes devem saber o objetivo da cerimnia, o que ocorrer e o que significa cada
ato; no deve haver nenhuma espcie de ao que submeta o indivduo a dano, vexame ouconstrangimento. Se algum convidado far alguma coisa, deve ter cincia do que vai fazer,
em que momento e como. Como em tantas outras situaes, o improviso, que demonstra
nossa flexibilidade e criatividade, deve ser a exceo, e no a regra . Ser que uma
cerimnia montada s pressas, com recursos locais de uso imediato e uma sequncia
conforme vem cabeaser positivamente marcante?
Imaginemos uma banqueta triangular. SIMPLICIDADE, BREVIDADE e SINCERIDADE
constituem o trip. A amarra o OBJETIVO DA CERIMNIA. Unindo as pontas e compondo
o assento, temos o SIGNIFICADO. Assim, o indivduo em prol de quem feita a cerimnia
ter uma superfcie estvel para apoiar sua nova condio, mais avanada que a anterior.
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A Promessa: um rito de iniciao
Os povos ditos primitivos afirmavam e reafirmavam sua identidade por meio de
ritos. A insero da pessoa no grupo era marcada pela participao em ritos conforme sua
evoluo, quer etria, quer pela aquisio de conhecimentos e habilidades. Com isso, ela
no s afirmava seu pertencimento sociedade, mas tambm tinha referenciais sobre o
tipo de conduta que lhe seria cabvel junto ao grupo. No caso do Escotismo, a
Investidura/Integrao e a Promessa so os grandes ritos de iniciao, seguidos dos nveis
de progresso. A Investidura ou Integrao, na qual a pessoa recebe o leno Escoteiro,
representa sua insero no Grupo Escoteiro. A entrega do leno feita pelo Diretor-
Presidente do Grupo justamente por ser ele quem, juridicamente, representa o Grupo
Escoteiro como unidade, a famlia da qual o indivduo comea a fazer parte; feita
publicamente (perante o Grupo ou, no mnimo, perante o Ramo), esta cerimnia
assemelha-se do reconhecimento dos novos lobos pela alcateia, no Livro da Jngal(olhai
bem, lobos).
A Promessa, por sua vez, o momento mais marcante de quem ingressa no
Movimento Escoteiro. a assuno voluntria do compromisso de pautar sua vida pelos
princpios Escoteiros. No , portanto, uma promessa de campanha eleitoral, v ou
temporria, mas um compromisso pessoal permanente, por cujo cumprimento a pessoa
responde unicamente perante seu mais severo juiz: sua prpria conscincia.Muitas datas so marcantes na vida Escoteira do indivduo, mas sobre todas est a
da Promessa. a ocasio em que a pessoa se liga Fraternidade Mundial Escoteira,
passando a ser do mesmo sanguepor ter assumido o mesmo compromisso. Portanto, um
momento que no pode ser encarado de maneira leviana. Deve ser marcante e nico para o
compromitente. Por isso que, salvo em situaes especficas (como a inaugurao do
Grupo Escoteiro), a cerimnia de Promessa deve ser individual. No precisa ser feita
perante todo o Grupo numa data determinada. Pode ser feita dentro da Seo, em sede ou
em atividade externa, desde que atendidos os requisitos de ser uma atividade formal, com
os participantes devidamente uniformizados/trajados, conduzida por adulto credenciado
para tal, com a Bandeira Nacional apresentada em conformidade com a lei. A cerimnia no
deve ser muito teatralizada ou rebuscada; deve ser simples, breve e sincerapara que seus
participantes lhe atribuam significado e possam recordar-se dela.
A cerimnia de Promessa (ou sua renovao na passagem de Ramo) deve ser
preferencialmente conduzida pelo Chefe da Seo (pois ele quem a representa), e no caso
dos Ramos Escoteiro e Snior, o Monitor do promitente deve estar junto a ele no RamoPioneiro, quem fica ao lado do recm-chegado o seu padrinho. Assim como o Chefe
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representa a Tropa, o Monitor representa a Patrulha pela qual responsvel; cabe a ele
entregar ao jovem seu distintivo de Patrulha e nela acolh-lo, explicando-lhe os atributos do
seu Totem. Na Promessa de um adulto, se ela no for presidida por um membro da
Diretoria, ao menos convm que haja algum presente, pois a instncia a quem o adulto se
reporta, como representantes institucionais da UEB, entidade a que o adulto se
compromete a servir.
A progresso, particularmente nos Ramos Snior e Pioneiro, pode ter um marco
simblico prprio, correspondente confirmao do jovem no Ramo. Era o caso das
cerimnias de Investidura (concluso do Estgio Probatrio), nas quais o jovem recebia seu
distintivo de progresso, reafirmava o seu compromisso e assumia responsabilidades pelos
que estavam em etapas anteriores e pela preservao da mstica da Seo (nomes msticos,
smbolos, histria da Seo). Estas cerimnias geralmente so reservadas Seo, sendo
vedado o acesso dos membros juvenis que ainda no tenham alcanado aquele nvel de
progresso, de modo a despertar-lhes o interesse por ter acesso como iniciado.
Ritos de passagem
Quando eu era criana, falava como criana, pensava como criana, raciocinava
como criana. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era prprio de criana (1 Carta de
Paulo aos Corntios, captulo 12, versculo 11).No Livro da Jngal, Kaa diz a Mowgli em sua partida da Jngal para a Aldeia dos
Homens: Depois que soltamos a pele velha no a podemos vestir de novo. da Lei.
Os ritos de passagem, notadamente os de passagem de Ramo, tm um objetivo cuja
importncia na construo do self j era mencionada por Jung. Como ele ressaltou, um
aspecto no qual as sociedades ocidentais, de naes industrializadas, ditas desenvolvidas,
perdem para as ditas primitivas, na integridade do processo de individuao.
Especialmente quando as presses do consumismo estimulam as crianas a adolescerem
mais cedo e os cronologicamente adultos a deixarem a adolescncia mais tarde, cria -se
uma situao psquica de indefinio. O jovem no sabe se ainda criana (com as
protees e impedimentos da criana), e o adulto no tem certeza de j ser adulto (com as
responsabilidades correspondentes a essa condio).
Os ritos de passagem das sociedades tradicionais ajudam os seus integrantes a
viverem a citao de Paulo que inicia esta seo. Quando o menino tinha a primeira
poluo, ou a menina, a menarca, passava por um rito no qual morria para o antigo status
e renascia para o novo, ingressando na sociedade dos adultos. Os atenienses tinham oritual da efebia, quando o jovem, mais ou menos aos 18 anos, cumpria determinadas tarefas
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para ser aceito como cidado. B-P conta que o jovem zulu, ao atingir certo estgio de
desenvolvimento fsico, considerado compatvel com os requisitos de adulto (por volta dos
16anos), passava, entre outros ritos, por uma etapa na qual era pintado de branco e tinha
de viver apenas com uma azagaia; a tinta s saa depois de um ms, e se ele fosse visto por
outro zulu enquanto pintado, poderia ser caado e morto. Processo similar era usado pelos
espartanos.
No caso das nossas sociedades, nas quais se percebe haver uma etapa na qual o
indivduo ainda no bem criana nem bem adulto (denominada adolescncia), porque
biolgica e psicologicamente ele ainda est em processo de amadurecimento, mostra-se
interessante marcar uma etapa de passagem a mais. Essa foi a ideia que norteou a primitiva
diviso dos Ramos no Escotismo: Lobinhos de 8 a 12 anos (criana e pr-adolescente, com
relativa autonomia e pr-pberes), Escoteiros de 12 a 18 (adolescentes, pberes ou quase e
em processo de maturao fisiolgica e definio psquica com a afirmao da
personalidade) e Pioneiros de 18 a 25 (jovens adultos inserindo-se plenamente na
sociedade).
Mesmo com as adaptaes que adotamos no Brasil, de diviso em quatro Ramos,
com idades um pouco diferentes das anteriormente apresentadas, procura-se agrupar os
jovens pelo estgio de seu desenvolvimento fisiolgico e psicolgico. E os nossos ritos de
passagem tm justamente o objetivo de marcar essas mudanas de etapa, de modo apermitir ao jovem enxergar com mais clareza em que fase de vida ele est, e o que de se
esperar dele nessa fase.
Assim, na passagem de Lobinho a Escoteiro, o jovem tem contato com a histria da
Embriaguez da primavera, indicando-lhe que tempo de sair da fantasia da Jngal e assumir
sua real condio humana, na sociedade humana. Usualmente, inclui-se na cerimnia de
passagem do Ramo Lobinho a transposio de um obstculo, representando a travessia do
Waingunga por Mowgli; voltando a Jung, como se ele morresse para a condio de
Lobo, ou fosse dela lavado para renascer na aldeia dos homens. Por volta dos 11 anos
de idade, coincide aproximadamente com a evoluo cognitiva do operatrio concreto para
o operatrio formal, na concepo piagetiana.
Na passagem de Escoteiro a Snior, essa morte e renascimento adquirem
outras caractersticas: o jovem, partindo do mundo das descobertas do Ramo Escoteiro,
entrar no do desafio, do Ramo Snior. Assim, a cerimnia pode envolver atividades
desafiadoras (podendo evocar os quatro desafios do Ramo: fsico, intelectual, afetivo-social
e espiritual), com cuja superao o jovem acolhido na tribo.
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Na passagem de Snior a Pioneiro, o jovem deixa a tribo uma vez mais, morte e
renascimento, ou a partida da Jngal com suas aventuras nas quais ainda havia um Chefe
a responsabilizar-se por ele, para ingressar no campo do Servio, no qual, como cavaleiro
andante, ter de caminhar por suas prprias pernas, j que passa a ser um indivduo
legalmente capaz.
Finalmente, na sada do Ramo Pioneiro, o jovem faz a sua despedida do papel de
beneficirio do Escotismo para a eventual assuno do papel de colaborador, como adulto.
Uma vez mais, deixa a Jngal para trilhar os caminhos da Aldeia dos Homens.
Como se v, os ritos de passagem ajudam o jovem a ter mais segurana para
enxergar que posio ocupa no grupo social, quanto a direitos, expectativas e
responsabilidades. E o muito alardeado choque da passagem, acusado como causa de
evaso, tem como origem principal a conduo deficiente da acolhida do jovem no Ramo
aliada negligncia das etapas de transio. Estas, especialmente nos Ramos iniciais, tm o
objetivo de fazer a aclimatao e progressivo entrosamento do jovem com os colegas donovo Ramo, podendo ser facilitadas pela participao junto aos jovens que foram seus
companheiros no Ramo anterior e o antecederam na passagem. Etapas de transio bem
conduzidas neutralizam o choque do novo Ramo.
As cerimnias de passagem de Ramo devem contar com a presena do Diretor-
Presidente do Grupo; ele acompanha o jovem que passa, personificando a unidade do
Grupo Escoteiro.
O Fogo de Conselho: um rito de celebrao
Os captulos do Escotismo para rapazestm o ttulo de Camp fire yarn, ou conversa
junto ao fogo de campo. A reunio ao p do fogo, em Brownsea, em todas as noites do
acampamento, era momento no qual se reviam os acontecimentos do dia, davam-se
algumas orientaes para o dia seguinte, e eram tambm momentos de contao de casos,
de teatralizaes, de diverso, mas tambm de conselho e reflexo. Foi algo que B-P
aprendeu com os povos primitivos, que faziam reunies noturnas junto ao fogo, nas
quais se danava, cantava ou relatavam-se histrias e experincias, reconhecendo os feitos
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de valor presentes ou passados e servindo para tanto para transmitir ensinamentos quanto
para edificao moral dos participantes.
Adotou-se o costume de fazer a cerimnia do Fogo de Conselho na ltima noite em
campo, fazendo dessa ocasio de alegria, reflexo e congraamento a despedida do campo.
Recomenda-se ser feito noite, por ser um horrio que convida ao descanso e reflexo;
no l muito inspirador contar ou representar uma histria, ou trazer um tema de reflexo
pessoal ou partilha no pino do dia, antes ou depois do almoo (antes, fome; depois,
sonolncia de jiboia; grande claridade e calor exigem maior esforo para construir um clima
de introspeco).
O Fogo de Conselho no deve se prender ao esquema esquete-palma-cano;
conquanto seja uma cerimnia, e tendo uma relativa estrutura bsica, ele bastante
flexvel. Pode ter como foco o relato das experincias do dia, ou uma histria relacionada
ao lugar/data/tema do acampamento, ou promover um momento de aproximao e
partilha entre os acampadores.
Como dito acima, a cerimnia do Fogo de Conselho feita predominantementena
ltima noite em campo, como despedida dos acampadores. No h nenhuma norma escrita
determinando imperativamente que seja nessa noite (nem mesmo que haja um Fogo de
Conselho em toda atividade com pernoite). A inteno, ao convencionar tal disposio no
tempo da atividade, de sincroniz-la com outras atividades de campo que estejam
ocorrendo na mesma data; remete-se, assim, proposta de comunho de esprito entre
acampadores, mesmo que sequer saibam da existncia uns dos outros, realando a ideia-fora de fraternidade mundial (no mnimo, entre os que esto no mesmo fuso horrio ou
em fusos vizinhos). Nada impede, na verdade, que essa cerimnia seja feita em outra noite,
pelas mais variadas circunstncias: aproveitar a presena de visitantes ou de alguma
autoridade; situao, na noite seguinte, que torne difcil ou invivel a reunio dos
participantes com o clima de Fogo de Conselho; dificuldades relativas ao local, ou outras
razes.
Como toda cerimnia, o Fogo de Conselho deve ser significativo, atendendo aos
requisitos de SIMPLICIDADE BREVIDADE SINCERIDADE; deve ser planejado e preparado
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em conformidade com o planejamento. Convm ter um tema relacionado atividade da
qual faz parte. Os participantes devem ter cincia de sua realizao e condies, de modo a
prepararem-se convenientemente. Deve haver um Dirigente do Fogo, encarregado da
coordenao geral, que prepara a programao, designa as equipes, abre, dirige e fecha a
cerimnia; e um animador, ou Mestre-de-Cerimnias, que deve estimular e manter a
animao dos participantes.
O Fogo pode ser:
De Seo: formal ou informal, reunindo os membros da Seo, com
programao mais, ou menos, estruturada.
Inter-Sees ou Grupal: congraando os membros de diferentes
Sees/Ramos.
De Famlia do Grupo: com a participao dos familiares dos jovens, mais
comum em ocasies festivas.
De Grande Atividade: quando h vrios Grupos presentes, necessita especial
ateno quanto aos requisitos de brevidade e simplicidade.
De Relaes Pblicas: quando h a assistncia por pessoas de fora do
Movimento.
Imaginando um Fogo de Conselho Grupal em um Grupo Escoteiro de grandeefetivo, ou Inter-Grupal, ou de Grande Atividade, ressalta a necessidade de uma adequada
programao, de modo a haver representatividade dos participantes sem que a cerimnia
se torne longa e maante (imagine o que seria uma sequncia de vinte e duas
apresentaes, por exemplo, num acampamento inter-Grupos com oito Patrulhas
Escoteiras, seis Patrulhas Snior e oito Matilhas; duraria pelo menos umas duas horas).
Especialmente no caso de termos a presena de pessoas que no esto habituadas
a atividades Escoteiras e ao cotidiano de Tropa, preciso atentar para a necessidade de a
cerimnia e os vrios