i
Memorial Requerida
São Paulo, 10 de agosto de 2015
Equipe 118
ii
SUMÁRIO
ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES ............................................................................................ vi
ÍNDICE DE REGRAS ....................................................................................................... vii
ÍNDICE DE AUTORIDADES......................................................................................... viii
ÍNDICE DE CASOS JUDICIAIS ..................................................................................... xiv
BREVE RELATO DOS FATOS .......................................................................................... 1
1. O CONFLITO NÃO É ARBITRÁVEL ....................................................................... 3
1.1. O objeto da controvérsia não satisfaz os requisitos legais para ser submetido ao
procedimento arbitral ...................................................................................................... 3
1.1.1. O conflito não é arbitrável em vista da indisponibilidade do dano ambiental .... 3
1.1.2. Os danos morais decorrentes do prejuízo do meio ambiente e da segurança
coletiva não têm natureza patrimonial .......................................................................... 4
1.2. A coletividade titular do direito à indenização pelos danos morais coletivos não é
representada pela Requerente ......................................................................................... 5
1.3. O compromisso arbitral é nulo porque padece de erro substancial em sua
formação ........................................................................................................................... 6
1.4. A ação civil pública é o foro específico e adequado para a discussão dos danos
ambientais ........................................................................................................................ 7
2. O TRIBUNAL ARBITRAL DEVE INTERROMPER O PROCEDIMENTO
ARBITRAL ........................................................................................................................... 8
2.1. Há ordem judicial eficaz que vincula o Tribunal Arbitral determinando a
interrupção do presente procedimento ............................................................................ 8
2.1.1. A liminar concedida na ação civil pública produz efeitos desde logo ................. 8
2.1.2. Os árbitros poderão responder por crime de desobediência ............................... 9
2.1.3. O Poder Judiciário é competente para ordenar a interrupção de procedimento
ilegal .............................................................................................................................. 9
iii
2.2. Decidir pelo prosseguimento da arbitragem acarreta prejuízo às partes ................ 11
3. A REQUERIDA NÃO DEVE SER RESPONSABILIZADA PELOS DANOS
AMBIENTAIS DECORRENTES DO DESMORONAMENTO DA BARRAGEM DA
PCH, POIS AS FORTES CHUVAS CONFIGURAM FORÇA MAIOR ........................... 12
3.1. A responsabilidade ambiental da Requerida não é regida pela teoria do risco
integral, sendo possível a exclusão de responsabilidade por força maior ..................... 12
3.1.1. A teoria do risco integral é atécnica e não possui previsão legal ........................ 12
3.1.2. O caso não guarda semelhança com julgados do STJ nos quais se aplicou a
teoria do risco integral .................................................................................................. 14
3.2. As chuvas configuram força maior no caso concreto .............................................. 16
3.2.1. As chuvas foram a causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da
PCH do Distrito do Vale do Cacique ........................................................................... 16
3.2.2. As chuvas constituem fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade
da Requerida ................................................................................................................. 17
4. A QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS NÃO DEVE TER CARÁTER
PUNITIVO.......................................................................................................................... 18
4.1. O sistema brasileiro de responsabilidade decorrente de danos ambientais
estabelece a reparação integral do dano como única medida de indenização civil ...... 18
4.2. A punição na esfera civil resultaria em “bis in idem”, pois no direito ambiental já
estão previstas punições nas esferas administrativa e penal ......................................... 20
4.3. É contraditório tratar de aplicação do caráter punitivo em responsabilidade
objetiva por dano ambiental ........................................................................................... 21
4.4. A Requerida foi prudente, tomando todas as medidas possíveis para dirimir os
danos gerados pelo sinistro ambiental .......................................................................... 22
PEDIDOS ........................................................................................................................... 24
iv
Para:
O TRIBUNAL ARBITRAL
Dra. Alice Flórique
Dr. Carlos Agos
Dra. Diane Loquerrarte
C.c.:
ADVOGADOS DA REQUERENTE
e
SECRETARIA GERAL DA CÂMARA DE ARBITRAGEM EMPRESARIAL - BRASIL
(CAMARB)
Sr. Felipe Ferreira M. Moraes
Rua Paraíba, n.º 1.000, 16.º andar – Belo Horizonte/MG
Ref. Procedimento Arbitral n.º 00/2015
v
ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO DISTRITO DO VALE DO CACIQUE
X
VILA RICA ENERGIA S.A.
vi
ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES
p./pp. Página/Páginas
§/§§ Parágrafo/Parágrafos
Art./Arts. Artigo/Artigos
CAMARB Câmara de Arbitragem Empresarial – Brasil
Caso Caso da VI Competição Brasileira de Arbitragem Petrônio Muniz
Requerente Associação dos Amigos do Distrito do Vale do Cacique
Requerida Vila Rica Energia S.A.
STJ Superior Tribunal de Justiça
TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo
TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais
TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
Tribunal Arbitral Tribunal Arbitral constituído no presente procedimento pelos
árbitros Dra. Alice F., Dr. Carlos A., Dra. Diane L.
v. Versus (contra)
vii
ÍNDICE DE REGRAS
CF Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CC Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002
Código Civil Brasileiro
CDC Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990
Código de Defesa do Consumidor
CPC Lei nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973
Código de Processo Civil
CP Decreto-lei no 2.848, de 7 de Dezembro de 1940
Código Penal
LArb. Lei nº 9.307 de 23 de setembro de 1996
Lei de Arbitragem Brasileira
Lei nº 7.347/85 Lei nº 7.347/85 de 24 de Julho de 1985
Lei nº 9.709/98 Lei nº 9.709/98 de 18 de Novembro de 1998
Lei nº 6.938/81 Lei nº 6.938/81 de 31 de Agosto de 1981
Lei nº 9.605/98 Lei nº 9.605/98 de 12 de Fevereiro de 1998
Regulamento da
CAMARB/Regulamento
de Arbitragem
Regulamento de Arbitragem da CAMARB – Câmara de
Arbitragem Empresarial – Brasil
viii
ÍNDICE DE AUTORIDADES
Aguiar Dias, 1979 AGUIAR DIAS, José de. Da Responsabilidade Civil. 6.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, v. II.
§ 93
Andrade, 2009 ANDRADE, André Gustavo de. Dano Moral e
Indenização Punitiva: os Punitive Damages na
Experiência do Common Law e na Perspectiva do
Direito Brasileiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2009.
§ 96
Araújo Rocha, 2014 ARAÚJO ROCHA, Thalyson Inácio de.
Responsabilidade civil ambiental: críticas à aplicação da
teoría do risco integral. São Paulo: Revista de Direito
Ambiental, vol. 74/2014, p. 241-267, 2014
§ 66, 68
Ávila, 2012 ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre
permanência, mudança e realização no direito
tributário. São Paulo: Malheiros Editores, 2012.
§ 68
Becker, 2014 BECKER, Annelise. Subjetividade e Objetividade em
sede de Responsabilidade Civil. Publicado em:
FRADERA, Vera, MARTINS-COSTA, Judith.
Estudos de Direito Privado e Processual Civil – em
homenagem a Clóvis do Couto e Silva. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2014.
§ 114
Benacchio, 2012 BENACCHIO, Marcelo. A evolução da indenização
por dano moral e a aplicação da indenização punitiva.
Temas Relevantes do direito civil contemporâneo:
reflexões sobre os 10 anos do Código Civil. São Paulo:
Atlas, 2012.
§§ 93, 112,
113
Benetti, 2013 BENETTI, Giovana Valentiniano. Os Remédios da
Sentença Arbitral. Publicado em: BASSO, Maristela;
POLIDO, Fabrício Bertini Pasquot. Arbitragem
Comercial: princípios, instituições e procedimentos; a
§ 108
ix
prática no CAM-CCBC. São Paulo: Marcial Pons; São
Paulo: CAM-CCBC, 2013.
Benjamin, 1998 BENJAMIN, Antonio Herman V. Responsabilidade
Civil pelo Dano Ambiental. São Paulo: Revista de
Direito Ambiental, jan. - mar/1998.
§ 62
Carmona, 2009 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo:
um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª Edição. São
Paulo: Atlas, 2009.
§§ 20, 31
Cavalieri Filho, 2014 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de
Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2014.
§ 20, 75, 80
Couto, 2010 COUTO, Jeanlise Velloso. Árbitro e estado: interesses
divergentes? São Paulo: Atlas, 2010.
§ 20
Cruz, 2005 CRUZ, Gisela Sampaio da. O Problema do Nexo
Causal na Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005.
§ 92
Didier Jr, 2015 DIDIER JR, Fredie;
Curso de direito processual civil. 17ª Edição. Salvador:
JusPodivm, 2015.
§ 47
Didier Jr; Zaneti Jr, 2014 DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR, Hermes. Curso de
direito processual civil: processo coletivo. 9ª Edição.
Salvador: JusPodivm, 2014.
§ 27
Fiorillo, 2006 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito
ambiental brasileiro. 7ª ed. ver. atual. e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2006.
§ 73
Frangetto, 2005 SILVA, Bruno Campos (coord.); MOURÃO, Henrique
A.; MORAES, Marcus Vinicius Ferreira de;
WERNECK, Mário; OLIVEIRA, Walter Soares,
MOURÃO, Henrique Augusto, et al. Direito
ambiental: Visto por nós Advogados. Belo Horizonte:
§ 73
x
Del Rey, 2005.
Gagliano, Pamplona Filho,
2012
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO,
Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3:
responsabilidade civil. 10ª ed. rev., atual. e ampl. – São
Paulo: Saraiva, 2012.
§ 67
Gonçalves, 2007 GONÇALVES, Eduardo Damião. “O Papel da
Arbitragem na Tutela dos Interesses Difusos e
Coletivos”. Arbitragem: Estudos em Homenagem ao
Prof. Guido Fernando da Silva Soares, In Memoriam.
São Paulo: Atlas S.A., 2007.
§§ 20, 27
Grinover et al., 2011 GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo;
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Defesa do
Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto.
10ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2011, vol. II.
§ 27
Leite, Ferreira, Melo, 2005 SILVA, Bruno Campos (coord.); MOURÃO, Henrique
A.; MORAES, Marcus Vinicius Ferreira de;
WERNECK, Mário; OLIVEIRA, Walter Soares,
MOURÃO, Henrique Augusto, et al. Direito
ambiental: Visto por nós Advogados. Belo Horizonte:
Del Rey, 2005.
§ 74
Leite, Ayala, 2011 LEITE, José Rubens Morato. AYALA, Patryck de
Araújo. Dano ambiental: do individual ao coletivo
extrapatrimonial: teoria e prática. 4ª Edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011.
§§ 20, 24, 34
Lemes, 2007 LEMES, Selma Ferreira. A Arbitragem na
Administração Publica: Fundamentos Jurídicos e
Eficiência Econômica. São Paulo: Quartier Latin, 2007.
§§ 20, 27
Leonardo, 2014 LEONARDO, Rodrigo Xavier. Associações sem fins
econômicos. 1ª Edição. São Paulo; Revista dos
Tribunais, 2014.
§ 27
xi
Lima, 2010 LIMA, Bernardo. A Arbitrabilidade do Dano
Ambiental. São Paulo: Atlas, 2010.
§ 29
Martins, 2008 MARTINS, Pedro A. Batista. Apontamentos sobre a
Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
§§ 20, 31
Martins, Lemes, Carmona
1999
MARTINS, Pedro A. Batista; LEMES, Selma M.
Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto. Aspectos
fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro:
Forense, 1999.
§ 20
Martins-Costa, 2003 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao novo
Código Civil: do inadimplemento das obrigações. Rio
de Janeiro: Forense, 2003, v. 5, t.II.
§§ 85, 86
Martins-Costa, Pargendler,
2005
MARTINS-COSTA, Judith, PARGENDLER, Mariana
Souza. Usos e Abusos da Função Punitiva (punitive
damages e o Direito brasileiro). Brasília: R. CEJ, n. 28,
jan./mar/, 2005.
§§ 92, 107,
108, 109,
110
Mattos Neto, 2005 MATTOS NETO, Antônio José de. Direitos
patrimoniais disponíveis e indisponíveis à luz da lei de
arbitragem. Revista de Processo, São Paulo: Revista dos
Tribunais, nº 122, Ano 30, abril de 2005.
§ 20
Mendes, Branco, 2015 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo
Gonet. Curso de Direito Constitucional. Saraiva, 2015.
§§ 41, 48,
49, 52
Mukai, 2005 MUKAI, Toshio.Direito ambiental sistematizado. 5. ed.
rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
§ 100
Noronha, 2013 NORONHA, Fernando. Direito das Obrigações. São
Paulo: Saraiva, 2013.
§ 106
Pantoja, 2006 PANTOJA, Teresa Cristina Gonçalves. Anotações
sobre arbitragem em matéria ambiental. Revista de
Arbitragem e Mediação. RArb 11/81, out/2006.
§ 20
xii
Pereira, 2002 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade
Civil. 9ª ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
§§ 67, 68
Pontes de Miranda, 1958 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.
Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi,
1958, t. XXIII, § 2.792.
§ 85
Pontes de Miranda, 1977 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.
Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo XV.
Rio de Janeiro: Forense, 1977.
§ 32
Pontes de Miranda, 1984 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.
Tratado de direito privado: Parte especial, Tomo XXII,
Direito das obrigações : Obrigações e suas espécies,
fontes e espécies de obrigações. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1984, pp. 206 e 216.
§ 92
Sanseverino, 2010 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da
reparação integral. Indenização no Código Civil. São
Paulo: Saraiva, 2010.
§ 93
Sanseverino, 2014 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. O princípio
da reparação integral e o arbitramento equitativo da
indenização por dano moral no Código Civil. In:
MARTINS-COSTA, Judith. Modelos de Direito
Privado. São Paulo: Marcial Pons, 2014.
§§ 93, 113
Steigleder, 2011 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade
Civil Ambiental: as dimensões do direito ambiental no
direito brasileiro. 2. xiid. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2011.
§ 100
Talamini, 2005 TALAMINI, Eduardo. A (in)disponibilidade do
interesse público: consequências processuais
(composições em juízo, prerrogativas processuais,
arbitragem e ação monitória). Revista de Processo, São
Paulo: Revista dos Tribunais, v. 30, nº 128, outubro de
§ 20
xiii
2005.
Teotônio, 1990 TEOTÔNIO, Luís Augusto Freire. Suspensão
Condicional da Pena e Livramento Condicional: dupla
punição no direito brasileiro.Revista dos Tribunais. ano
80. vol. 662. São Paulo: Ed. RT, dezembro 1990.
§ 101
Zavascki, 2011 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de
direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 5. ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011.
§ 27
xiv
ÍNDICE DE CASOS JUDICIAIS
STF
STF, RE 554.088
AgR/SC, 2008
Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº
554.088/SC. Julgado em 03/06/2008 pela Segunda
Turma. Relator Min. Eros Grau.
§ 27
STF, RE 470.135 AgR-
ED/MT, 2007
Embargos de Declaração em Agravo Regimental no
Recurso Extraordinário nº 470.135/MT. Julgado em
22/05/2007 pela Segunda Turma. Relator Min. Cezar
Peluso.
§ 27
STF, AgRg em Sentença
Estrangeira 5.206-7/1996
Agravo Regimental em Sentença Estrangeira nº
5.206-7/Reino da Espanha. Julgado em 08/05/1997
pelo Tribunal Pleno.
§ 49
STJ
STJ, HC 37279/MG,
2004
Habeas Corpus nº 37279/MG. Julgado em
28/09/2004 pela Terceira Turma. Relator Min.
Humberto Gomes de Barros.
§ 44
STJ, HC 22721/SP, 2003 Habeas Corpus nº 22721/SP. Julgado em
27/05/2003 pela Quinta Turma. Relator Min. Felix
Fischer.
§ 44
STJ,Rcl 9.030/SP, 2012 Reclamação nº 9.030/SP. Julgado em 29/06/2012.
Relatora Nancy Andrighi.
§ 45
STJ, REsp 606.345/RS,
2007
Recurso Especial nº 606.345/RS. Julgado em
17/05/2007 pela Segunda Turma. Relator Min. João
Otávio de Noronha.
§ 20
STJ, REsp 612.439/RS,
2005
Recurso Especial nº 612.439/RS. Julgado em
25/10/2005 pela Segunda Turma. Relator Min. João
Otávio de Noronha.
§ 20
xv
STJ, SEC 874/CH, 2006 Sentença Arbitral Estrangeira nº 874/CH. Julgado
em 19/04/2006 pela Corte Especial. Relator Min.
Francisco Falcão.
§ 20
STJ, REsp 1.005.587/PR,
2010
Recurso Especial nº 1.005.587/PR. Julgado em
02/12/2010 pela Primeira Turma. Relator Min. Luiz
Fux.
§ 21
STJ, REsp 974.489/PE,
2008
Recurso Especial nº 974.489/PE. Julgado em
25/11/2008 pela Primeira Turma. Relator Min. Luiz
Fux.
§ 21
STJ, REsp1.180.078/MG,
2010
Recurso Especial nº 1.180.078/MG. Julgado em
02/12/2010 pela Segunda Turma. Relator Min.
Herman Benjamin.
§ 24
STJ, REsp
1.410.698/MG, 2015
Recurso Especial nº 1.410.698/MG. Julgado em
23/06/2015 pela Segunda Turma. Relator Min.
Humberto Martins.
§ 24
STJ, REsp 1.289.609/DF,
2014
Recurso Especial nº 1.289.609/DF. Julgado em
12/11/2014 pela Primeira Seção. Relator Min.
Benedito Gonçalves.
§ 27
STJ, REsp 1.209.633/RS,
2015
Recurso Especial nº 1.209.633/RS. Julgado em
14/04/2015 pela Quarta Turma. Relator Min. Luis
Felipe Salomão.
§ 27
STJ, REsp 1.120.117/AC,
2009
Recurso Especial nº 1.120.117/AC. Julgado em
10/11/2009 pela Segunda Turma. Relatora Min.
Eliana Calmon.
§ 28
STJ, REsp 91.604/SP,
1998
Recurso Especial nº 91.604/SP. Julgado em
12/03/1998 pela Primeira Turma. Relator Min. José
Delgado.
§ 28
STJ, AgRg no REsp
1.389.193/MS, 2014
Agravo Regimental no Recurso Especial nº
1.389.193/MS. Julgado em 11/11/2014 pela Quarta
Turma. Relator Min. Raul Araújo.
§ 31
xvi
STJ, AgRg em AgRg no
REsp 1.190.367/RJ, 2011
Agravo Regimental em Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1.190.367/RJ. Julgado em
02/06/2011 pela Primeira Turma. Relator Min.
Benedito Gonçalves.
§ 31
STJ, REsp 605.323/MG,
2005
Recurso Especial nº 605.323/MG. Julgado em
18/08/2005 pela Primeira Turma. Relator Min. Teori
Albino Zavascki.
§ 34
STJ, AREsp 478.537/DF,
2014
Agravo em Recurso Especial nº 478.537/DF. Julgado
em 07/03/2014 pela Quarta Turma. Relator Min.
Marco Buzzi.
§ 88
STJ, AREsp 530.390/RJ,
2014
Agravo em Recurso Especial nº 530.390/RJ. Julgado
em 04/08/2014 pela Segunda Turma. Relator Min.
Humberto Martins.
§ 88
STJ, REsp 1.114.398/PR,
2012
Recurso Especial nº 1.114.398/PR. Julgado em
08/02/2012 pela Segunda Seção. Relator Sidnei
Beneti.
§ 64, 72
STJ, REsp
1.374.284/MG, 2014
Recurso Especial nº 1.374.284/MG. Julgado em
27/08/2014 pela Segunda Seção. Relator Min. Luis
Felipe Salomão.
§ 64, 71
STJ, AgRg no AREsp
469.420/RJ, 2014
Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial
nº 469.420/RJ. Julgado em 11/03/2014 pela Segunda
Turma. Relator Min. Humberto Martins.
§ 88
SJT, REsp 1.107.314/PR,
2010
Recurso Especial nº 1.107.314/PR. Julgado em
13/12/2010 pela Terceira Seção. Relator Min.
Napoleão Nunes Maia Filho.
§ 101
STJ, REsp 1.478.439/RS,
2014
Recurso Especial nº 1.478.439/RS. Julgado em
25/03/2015 pela Primeira Seção. Relator Min. Mauro
Campbell Marques.
§ 101
STJ, REsp 1.086.492/PR,
2010
Recurso Especial nº 1.086.492/PR. Julgado em
13/10/2010 pela Primeira Seção. Relator Min. Luiz
Fux.
§ 101
xvii
STJ, REsp 1.012.903/RJ,
2008
Recurso Especial nº 1.012.903/RJ. Julgado em
08/10/2008 pela Primeira Seção. Relator Min. Teoria
Albino Zavascki.
§ 101
STJ, REsp 1.357.614/SE,
2012
Recurso Especial nº 1.357.614/SE. Julgado em
13/04/2015 pela Quarta Turma. Relator Min. Luis
Felipe Salomão.
§ 99
STJ, REsp 1.354.536/SE,
2012
Recurso Especial nº 1.354.536/SE. Julgado em
26/03/2014 pela Segunda Seção. Relator Min. Luis
Felipe Salomão.
§ 64, 67, 72,
92, 95, 107
STJ, REsp 1.513.156/CE,
2015
Recurso Especial nº 1.513.156/CE. Julgado em
12/06/2015 pela Segunda Turma. Relator Min.
Humberto Martins.
§ 102
TRF4
TRF4, HC
000278155201444040000
/PR, 2014
Habeas Corpus nº 0002781-55.2014.4.404.0000/PR.
Julgado em 20/10/2014 pela 8ª Turma. Relator Min.
Gilson Luís Inácio.
§ 44
TJSP
TJSP, Apl.
00068879620128260125,
2015
Apelação Cível nº 0006887-96.2012.8.26.0125.
Julgado em 30/06/2015 pela 3ª Câmara
Extraordinária de Direito Público. Relator Des.
Eutálio Porto.
§ 81, 88
TJSP, Apl.
00057611120128260125,
2014
Apelação Cível nº 0005761-11.2012.8.26.0125.
Julgado em 27/10/2014 pela Décima Câmara de
Direito Público. Relator Des. Torres de Carvalho.
§ 81
TJMG
TJMG, AC
10024133214825003,
Ação Cautelar nº 1.0024.13.321482-5/33
Julgado em 11/11/2014 pela Décima Câmara Cível.
§ 54
xviii
2014 Relator Álvares Cabral da Silva.
TJMG, Apl.
10439070742549001,
2012
Apelação Cível nº 1.0439.07.074254-9/001. Julgado
em 28/11/2012 pela Décima Primeira Câmara Cível.
Relator Des. Wanderley Paiva.
§ 71
TJRS
TJRS, Apl. 70060242732,
2014
Apelação Cível nº 70060242732. Julgado em
03/07/2014 pela Vigésima Segunda Câmara Cível.
Relator Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro.
§ 24
TJRS, Apl. 70005797774,
2003
Apelação Cível nº 70005797774. Julgado em
03/04/2003 pela Décima Segunda Câmara Cível.
Relator Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro.
§ 31
1
ILUSTRÍSSIMOS MEMBROS DO TRIBUNAL ARBITRAL
1. A Requerida, VILA RICA ENERGIA S.A., (“Requerida”), parte neste Procedimento
Arbitral, do qual é Requerente a ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO DISTRITO DO VALE
DO CACIQUE (“Requerente”), por seus advogados, vem, atendendo o disposto no Termo de
Arbitragem (Caso, p. 40, § 4.3.1), apresentar sua IMPUGNAÇÃO ÀS ALEGAÇÕES
INICIAIS, com base nos argumentos de fato e de direito a seguir expostos.
BREVE RELATO DOS FATOS
2. Em 2009, foi celebrado contrato de empreitada entre Vila Rica Energia S.A (“Requerida”),
empresa especializada em construção e operação de centrais hidrelétricas, e BACAMASO
Construções S.A (“BACAMASO”), construtora brasileira, visando à construção de barragem
da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) próxima ao município de Córrego das Chuvas, no estado
brasileiro de Vila Rica.
3. No dia 14 de janeiro de 2012, devido a chuvas excepcionalmente fortes, ocorreu o
desmoronamento da ombreira natural da barragem (Caso, p. 18, § 2), causando inundação parcial
do distrito do Vale do Cacique e redução significativa do ecossistema do Parque Estadual Vila do
Ouro (Caso, p. 9, §§ 2-3).
4. A inundação causou transtornos aos moradores da região. Diante do estado de necessidade
no qual a comunidade se encontrava, a Requerente organizou campanha de doações de produtos
básicos para garantir a sobrevivência da população. A Requerida, juntamente com a
BACAMASO e a Prefeitura do Município de Córrego das Chuvas, uniu esforços à Requerente
para dirimir o dano ambiental causado pelas fortes chuvas (Caso, p. 9, § 2).
5. Infelizmente, passados alguns dias, ocorreu novo desmoronamento na mesma região,
devido a chuvas excepcionais, novamente, causando o assoreamento de parte do córrego das
Águas Claras (Caso, p. 10, § 2).
6. Um ano após o ocorrido, em 2013, a Prefeitura de Córrego das Chuvas instaurou
Procedimento Administrativo Ambiental n. 13/13 (Caso, pp. 18-21), para identificar a extensão
dos danos provocados pelos desmoronamentos (Caso, p. 15, § 2).
7. Em maio do mesmo ano, BACAMASO e Requerida retomaram as obras da barragem da
PCH. Em outubro de 2014, o Procedimento Administrativo Ambiental foi concluído.
8. No ano seguinte, dados os resultados da investigação municipal, foi instaurado Inquérito
Civil Público pelo Ministério Público Estadual de Vila Rica (Caso, p. 16, § 5).
2
9. Diante da inércia do órgão estadual, a Requerente procurou a Requerida e BACAMASO
para negociação direta. Foi instaurada a mediação entre as partes. Não houve, porém, resolução
do mérito da questão, encerrando-se a mediação em 06 de abril de 2015, sem sucesso.
10. Na mesma oportunidade, a Requerente, representada por seu presidente, Luís Quenin,
propôs a submissão da questão à arbitragem, a ser regida pelo Regulamento da CAMARB.
BACAMASO recusou a proposta, contudo, a Requerida, por meio do seu representante,
Howard Lieman, concordou com os termos propostos. Foi firmado, então, Compromisso
Arbitral Extrajudicial (Caso, pp. 24-27).
11. Nos termos do Compromisso Arbitral celebrado, as partes procuram resolver as
divergências em relação à responsabilidade da Requerida pelos desmoronamentos de 2012, bem
como a quantificação da indenização devida pelo caráter punitivo (Caso, pp. 24-27).
12. Em seu arrazoado, a Requerente responsabiliza erroneamente a Requerida pelo sinistro,
ignorando as catástrofes climáticas que atingiram o Distrito do Vale do Cacique na ocasião.
Pretende, ainda, a sua condenação ao pagamento de indenização no valor de R$ 5.000.000,00, por
danos morais coletivos, tendo em conta o caráter punitivo.
13. A Requerida, por sua vez, defende sua falta de responsabilidade pelos danos ambientais e
morais. Subsidiariamente, requer seja a indenização ajustada em patamar inferior ao proposto
pela Requerente, excluindo-se o caráter punitivo (Caso, pp. 24-27).
14. Com a notícia da celebração do compromisso arbitral, o Ministério Público Estadual
ajuizou ação civil pública, em 20 de abril de 2015, requerendo, preliminarmente, a suspensão do
procedimento arbitral. O pedido restou deferido (Caso, pp. 28-32, 34).
15. Em 30 de abril de 2015, ocorreu a Audiência Inaugural do Procedimento Arbitral nº 00/15.
A nova representante da Requerida manifestou objeção à instauração da arbitragem (Caso, p. 36).
16. Em 04 de maio de 2015, foi entregue na CAMARB a liminar judicial sustando o
procedimento arbitral, dada a instauração de ação civil pública (Caso, p. 35). A Requerida
manifestou-se pelo cumprimento da ordem judicial, pedindo a suspensão do feito (Caso, p. 46). A
Requerente requereu o prosseguimento da arbitragem (Caso, p; 45).
17. Diante do impasse, a Requerida defende que a não arbitrabilidade do conflito implica na
sua extinção (1., abaixo). Ainda não sendo esse o entendimento do Tribunal Arbitral, é do
interesse da Requerida cumprir a ordem judicial prolatada em sede liminar para suspender o
procedimento instaurado (2., abaixo). Em relação aos danos morais reclamados pela Requerente, a
Requerida demonstra a falta de pressupostos para sua responsabilização, dadas as fortíssimas
chuvas que assolaram a região por ocasião do sinistro (3., abaixo). Se, todavia, houver condenação
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ao pagamento de indenização, a Requerida afasta a imposição do caráter punitivo, na sua
quantificação (4., abaixo).
1. O CONFLITO NÃO É ARBITRÁVEL
18. O presente conflito não é arbitrável em razão da indisponibilidade e da
extrapatrimonialidade do interesse jurídico (1.1., abaixo) e da ilegitimidade da Requerente para ser
parte no feito (1.2., abaixo). Ademais, o compromisso arbitral em que se baseia o procedimento
deriva de declaração de vontade viciada por erro substancial, devendo ser extinto o feito (1.3.,
abaixo) para ser discutido o conflito no foro mais específico e adequado qual seja, a ação civil
pública já distribuída (1.4., abaixo).
1.1. O objeto da controvérsia não satisfaz os requisitos legais para ser submetido ao
procedimento arbitral
19. Caso mantido, o presente procedimento resultará em sentença arbitral nula de pleno
direito, por violação aos dois únicos critérios objetivos estabelecidos pelo Art. 1º da Larb para
possibilitar o conflito a ser dirimido por procedimento arbitral, quais sejam, a disponibilidade
(1.1.1., abaixo) e a patrimonialidade (1.1.2., abaixo).
1.1.1. O conflito não é arbitrável em vista da indisponibilidade do dano ambiental
20. Ao contrário do afirmado pela Requerente a respeito da possibilidade de solucionar a
presente controvérsia por procedimento arbitral (Caso, p. 45, §4), o direito objeto do conflito é
indisponível, não havendo adequação ao primeiro requisito objetivo, estabelecido pelo Art. 1º da
Larb. A impossibilidade de ser afastada a disponibilidade do direito como requisito para
arbitragem já foi ratificada pelo STJ (STJ, REsp 606.345/RS, 2007; STJ, REsp 612.439/RS, 2005;
STJ, SEC 874/CH, 2006), vindo a caracterizar-se pela liberdade de seu titular em alienar,
transmitir, renunciar e transacionar (Pantoja, 2006; Mattos Neto, 2005, pp 154-163) dada a liberdade
individual e o seu imediato caráter pecuniário (Lemes, 2007, p. 124, §§ 1-3; Martins, 2008, p. 3, § 3).
Em sentido contrário, os direitos indisponíveis são inalienáveis, intransmissíveis e irrenunciáveis,
não podendo ser transacionados em razão da prevalência do interesse da sociedade sobre o do
particular (Cavalieri Filho, 2014, p. 132, § 2; Leite, Ayala, 2011, p. 251, §§ 3-4; Lemes, 2007, p. 131, §
1). Nesse sentido, tratando-se a tutela do meio ambiente de matéria de Ordem Pública, (Gonçalves,
2007, p. 152; Talamini, 2005 p. 59) exigindo a intervenção estatal, tais interesses não podem ser
objeto de sentença arbitral (Carmona, 2009, pp. 38-39) sob pena de esta ser nula de pleno direito e
insuscetível de produzir seus efeitos (Arts. 32, III, 26, II e 2º da LArb; Martins, Lemes, Carmona,
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1999, pp. 144-145; Couto, 2010, p. 108, § 5).
21. Assentada a indisponibilidade do direito ao meio ambiente sadio, incabível o pedido da
Requerente de ver a Requerida condenada ao pagamento de indenização por danos
extrapatrimoniais coletivos (Caso, p. 26, §3.1) decorrentes dos prejuízos ambientais causado pelas
fortes chuvas, no Vale do Cacique (Caso, pp. 9-10), em procedimento arbitral. Isso porque, a
supra-individualidade de um direito, ainda sendo individual homogêneo, como os danos morais
sofridos por idosos (STJ, REsp 1.005.587/PR, 2010), e a presença de relevante interesse social no
objeto do conflito, como a proteção ao direito do consumidor (STJ, REsp 974.489/PE, 2008),
são características que levam à sua indisponibilidade. Dessa maneira, com muito mais razão,
interesses difusos como a preservação do meio ambiente e suas repercussões (Art. 225, caput, CF),
discutidos no presente caso, são indisponíveis por sua transindividualidade, indivisibilidade e pelo
relevante interesse social neles investido.
22. Na tentativa de reputar arbitrável direito indisponível, afirma a Requerente ser o objeto da
discussão apenas a compensação pecuniária pelos danos morais coletivos. Todavia, tal argumento
não merece prosperar, porque seria necessário dissociar completamente os aludidos danos morais
coletivos dos eventos que lhes teriam dado causa, a saber, os danos ambientais decorrentes dos
desabamentos da PCH.
23. Dessa maneira, em sendo o direito ao meio ambiente sadio indisponível, logo não
arbitrável, o Tribunal Arbitral não pode conhecer dos danos a ele causados ou de suas
consequências sob pena de proferir decisão nula de pleno direito.
1.1.2. Os danos morais decorrentes do prejuízo do meio ambiente e da segurança
coletiva não têm natureza patrimonial
24. Ainda que se admita a disponibilidade de danos morais coletivos decorrentes de dano
ambiental, sua natureza extrapatrimonial impede o seu conhecimento pela via arbitral. Isto
porque o segundo requisito objetivo, estabelecido pelo Art. 1º da LArb, refere-se à natureza
patrimonial do direito em disputa (TJRS, Apl Cível Nº 70060242732, 2014), considerando o fato
de o ordenamento jurídico brasileiro vedar completamente o estabelecimento de compromissos,
cujo objeto não seja um direito de caráter estritamente patrimonial (Art. 852, CC). Nesse sentido,
cumpre salientar serem extrapatrimoniais os danos decorrentes da violação ao equilíbrio
ambiental (Leite, Ayala, 2011, p. 252), ou seja, os danos morais coletivos emergem da natureza
multifacetada dos danos ambientais e de sua necessidade de reparação integral, ainda que não in
natura (STJ, REsp 1.180.078/MG, 2010), bem como da ofensa direta ao direito ao meio ambiente
equilibrado e à moral da coletividade (STJ, REsp 1.410.698/MG, 2015).
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25. No presente caso, pretende a Requerente a condenação da Requerida ao pagamento de
indenização pelos danos morais decorrentes da violação ao equilíbrio ambiental do Vale do
Cacique (Caso, p. 26, § 3.1) em razão das catástrofes climáticas, producentes dos desabamentos da
PCH. Ocorre que, como ilustrado pelo entendimento do STJ, os danos ambientais têm caráter
extrapatrimonial por violarem uma miríade de direitos extrapatrimoniais inerentes à pessoa
humana e à sociedade, de maneira que, ainda fosse possível, de algum modo, superar a
indisponibilidade do interesse em discussão, sua natureza extrapatrimonial impediria seu
conhecimento pelo Tribunal Arbitral.
26. Assim, ainda que pudesse ser a discussão dos danos morais apartada da apreciação do dano
ambiental, a disputa continuaria sendo inarbitrável, em razão de sua natureza extrapatrimonial,
não satisfazendo o segundo e último requisito objetivo do Art. 1º da LArb.
1.2. A coletividade titular do direito à indenização pelos danos morais coletivos não é
representada pela Requerente
27. O cerne do conflito envolve o direito ao meio ambiente saudável, que é um interesse
difuso, porquanto de uso comum e essencial à qualidade de vida de todos (Art. 225, caput, CF).
Interesses difusos, nos termos do Art. 81, I do CDC, possuem natureza transindividual,
indivisível e dizem respeito a pessoas indeterminadas (Zavascki, 2011, p. 39), sendo a coletividade
a responsável pela sua proteção (Gonçalves, 2007, p. 154), dentre os quais o meio ambiente (Didier
Jr, Zaneti Jr, 2014, p. 74; Leonardo, 2014, p. 120, §§ 4-5; Art. 225, caput, CF). Estes interesses, por
sua indivisibilidade, não comportam atribuição a um segmento da sociedade, como moradores de
um município ou de um estado (Grinover et al., 2011, pp. 71-73), sendo o Ministério Público o
detentor de ampla legitimidade para representar a coletividade em defesa de tais interesses (Lemes,
2007, p. 138; STJ, REsp 1.289.609/DF, 2014), possuindo vocação constitucional para a defesa dos
objetivos da República e dos interesses difusos, como a proteção do meio ambiente (STF, RE
554.088 AgR/SC, 2008; STF, RE 470.135 AgR-ED/MT, 2007; STJ, REsp 1.209.633/RS, 2015;
Art. 129, III, CF).
28. Em sendo o direito ao meio ambiente sadio um interesse difuso por excelência (STJ, REsp
1.120.117/AC, 2009), caracterizado pela indeterminação de sua titularidade, não pode ser
fragmentado e conferido a parcelas menores dessa coletividade (STJ, REsp 91.604/SP, 1998). No
presente caso, a Requerente não tem legitimidade para buscar a condenação da Requerida à
indenização dos danos morais coletivos decorrentes dos danos ambientais no Vale do Cacique
(Caso, pp. 9-10). Assim o é, pois, ainda que tenha sido constituída em observância aos requisitos
6
legais presentes nos Arts. 53 e 54 do Código Civil, a Requerente representa apenas e unicamente
os seus associados (Caso, p. 11, Art. 3º) e não a coletividade, em sua totalidade.
29. Isso porque, embora tenham dessa maneira estatuído, as associações civis não têm
capacidade para defender os interesses da sociedade e sua legitimidade para propor ações civis
públicas decorre da natureza pública de tal instrumento processual. Nesse sentido, basta
comparar as poucas e simples exigências legais para representação em ação civil pública (Art. 5º,
V, Lei nº 7.347/85), dado o seu caráter público, com aquelas estabelecidas para a apresentação de
lei de iniciativa popular (Art. 13, Lei nº 9.709/98) para concluir-se que tanto a Requerente como
as demais associações civis não representam os interesses da sociedade. Ademais, sua
incapacidade de representação dos interesses da sociedade é igualmente bem ilustrada por sua
exclusão do rol de legitimados para celebração de Compromisso de Ajustamento de Conduta
(Art. 5º, § 6, Lei nº 7.347/85; Lima, 2010), situação de maior proximidade possível de uma
transação em se tratando de direitos coletivos extrapatrimoniais.
30. Dessa maneira, em se tratando de controvérsia acerca de direitos difusos e não somente de
discussão acerca dos danos morais sofridos apenas pelos moradores do Vale do Cacique,
associados da Requerente, esta não possui legitimidade para integrar o feito.
1.3. O compromisso arbitral é nulo porque padece de erro substancial em sua
formação
31. Devido à requisição de extinção do presente procedimento, a Requerente poderá
argumentar que o pedido é infundado e viola suas expectativas legítimas, configurando
comportamento contraditório por parte da Requerida. Todavia, o compromisso arbitral firmado
entre as partes funda-se em erro substancial e todos os negócios jurídicos que surgirem de
declarações de vontade dessa maneira viciadas são anuláveis (Art. 138, CC). Para tanto, é
substancial o erro quando interessar à natureza ou ao objeto principal do negócio, à qualidade da
pessoa ou quando for o motivo único ou principal do negócio (Art. 139, II , CC; STJ, AgRg no
REsp 1.389.193/MS, 2014; STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.190.367/RJ, 2011), sendo irrelevante se
escusável ou não (Jornada I DirCiv STJ 12). Dessa maneira, a sentença arbitral sobrevinda em
procedimento fundado em erro substancial será anulada (Art. 32, I, LArb; TJRS, Apelação Cível nº
70005797774, 2003) por força do vício contido no instrumento que lhe deveria conferir
legitimidade (Carmona, 2009, pp. 398-401; Martins, 2008, pp. 313-314).
32. Assim como os demais negócios jurídicos, o Compromisso Arbitral Extrajudicial é
igualmente passível de anulação (Pontes de Miranda, 1977, p. 258, § 2). No presente caso, tal
compromisso foi assinado por Howard Lieman, representante da Requerida (Caso, pp. 24-27),
7
que, por ser estrangeiro e não possuir formação jurídica (Caso, p. 46, § 2), desconhecia o fato de a
situação, por suas particularidades, não pode ser resolvida por procedimento arbitral. Dessa
forma, a única conduta que a Requerida pode assumir é a de impugnar a jurisdição arbitral, o que
já vem fazendo desde o seguinte momento oportuno (Caso, p. 36 e p. 39, § 3.1.2), pois, sendo o
Compromisso Arbitral Extrajudicial firmado anulável, improvável a capacidade do presente
procedimento arbitral tutelar o interesse das partes em razão da futura nulidade da sentença (Art.
32, I, LArb).
33. Portanto, deve ser reconhecida a nulidade do Compromisso Arbitral Extrajudicial e
decretada a extinção do presente procedimento arbitral, sob pena de se proferir decisão a ser
nulificada.
1.4. A ação civil pública é o foro específico e adequado para a discussão dos danos
ambientais
34. Ao contrário do que alega a Requerente ao afirmar que a arbitragem é a maneira mais célere
e especializada de solucionar este conflito (Caso, p. 45, § 4), o procedimento arbitral não é o meio
mais adequado para apreciar casos como as ações de responsabilidade por danos causados a
interesses difusos ou coletivos, pois tais ações são regidas pela Lei nº 7.347/85, que regulamenta a
ação civil pública. Dessa maneira, a ação civil pública é positivada como o instrumento processual
destinado à tutela aos interesses da sociedade (STJ, REsp 605.323/MG, 2005), principalmente,
quando o que se discute diz respeito a danos causados ao ambiente ou em detrimento deste
(Leite, Ayala, 2011, p. 290, § 1).
35. No presente caso, há ação civil pública para apurar a responsabilidade da Requerida pela
reparação dos danos ambientais causados e pelo pagamento de indenização a título de danos
morais coletivos (Caso, pp. 28-32). Dessa forma, se o Tribunal Arbitral decidir por manter o
presente procedimento existirá a possibilidade de ser a Requerida condenada mais de uma vez à
reparação de danos, pois submetida ao julgamento da mesma matéria em sede arbitral e sede
judicial (2.2.2., abaixo).
21. Ademais, a sentença arbitral proferida no presente procedimento não será útil para as
partes contratantes, porque não será capaz de produzir efeitos entre elas, pois: (i) não se discute
direito patrimonial disponível (1.1., acima); (ii) a Requerente não tem legitimidade para o conflito
(1.2., acima); (iii) o procedimento decorre de compromisso arbitral nulo (1.3., acima). Dessa
maneira, não há razão em prosseguir com procedimento suscetível de apresentar maior
onerosidade para os envolvidos e que em nada lhes beneficiará, porquanto não apresentará
qualquer forma de solução válida para a controvérsia.
8
22. Por conseguinte, a extinção do presente procedimento arbitral é medida que se impõe,
devendo a controvérsia ser dirimida pelo julgamento da ação civil pública, já proposta.
36. Em conclusão, o presente conflito não pode ser submetido à arbitragem porque versa
sobre matéria não disponível ou patrimonial, não atendendo a nenhum dos requisitos objetivos
estabelecidos pelo Art. 1º da LArb, e pela ilegitimidade da Requerente para representar os
interesses da coletividade. Além disso, deve o presente procedimento arbitral ser extinto em
razão da nulidade do Compromisso Arbitral Extrajudicial, em razão da existência de erro
substancial em sua formação volitiva, de maneira que deve ser remetida ao judiciário a apreciação
da matéria na ação civil pública já proposta, foro exclusivo para a discussão de questões de direito
ambiental, sob pena de tolerar-se a dupla condenação da requerida ou a existência de decisões
contraditórias.
2. O TRIBUNAL ARBITRAL DEVE INTERROMPER O PROCEDIMENTO
ARBITRAL
37. Ainda que o Tribunal Arbitral decida por não extinguir a arbitragem, o presente
procedimento não pode prosseguir. A arbitragem deve ser interrompida porque há ordem judicial
que assim determina (2.1., abaixo). Não fosse isso o bastante, o prosseguimento desse
procedimento arbitral causará prejuízos materiais para a Requerida (2.2., abaixo).
2.1. Há ordem judicial eficaz que vincula o Tribunal Arbitral determinando a
interrupção do presente procedimento
38. A decisão judicial em questão produz efeitos porque fundamentada e eficaz (2.1.1., abaixo),
de maneira que seu descumprimento leva à caracterização de crime de desobediência (2.1.2.,
abaixo). Ainda, o ato do Poder Judiciário é o único constitucionalmente legitimo para interromper
procedimento ilegal, caso da arbitragem em questão (2.1.2., abaixo)
2.1.1. A liminar concedida na ação civil pública produz efeitos desde logo
39. A decisão liminar na ação civil pública n. 001000-16.2015.8.28.0231 ordenou a interrupção
imediata do procedimento arbitral instaurado entre Requerente e Requerida (Caso, p. 34). Como
qualquer decisão judicial, esse provimento liminar deve ser cumprido.
40. Trata-se de decisão vigente, logo, eficaz, prolatada em sede liminar pelo Poder Judiciário,
na ação civil pública proposta pelo Ministério Público para a defesa de direitos coletivos e
indisponíveis (1.2., acima). Além de fundamentado (Caso, p. 34, § 3) o provimento contém
relatório (Caso, p. 34, §§ 1-2) e dispositivo satisfatórios (Caso, p. 34, § 4).
9
41. A liminar em questão é a manifestação do Poder Judiciário. Sendo constituinte dos três
Poderes do Estado Brasileiro (Art. 2º, CF), a atividade jurisdicional estatal produz efeitos desde
logo, não dependendo de intermediação legislativa para isso (Mendes, Branco, 2015, p. 154).
42. Assim, o descumprimento de determinação proveniente da manifestação da soberania do
Estado traz consequências imediatas, visto não haver hipótese de não-execução da ordem. De
maneira que o Tribunal Arbitral, ao optar pelo prosseguimento da arbitragem, estará cometendo
o crime de desobediência, tipificado no CP, com pena de privação de liberdade e multa (2.1.2.,
abaixo)
2.1.2. Os árbitros poderão responder por crime de desobediência
43. No caso de descumprimento da liminar suspendendo o procedimento arbitral (Caso, p. 34),
o crime de desobediência está tipificado no Art. 330 do CP.
44. Os requisitos de tipificação do crime de desobediência foram definidos pelo STJ como: (i) a
falta de sanções civis, processuais civis ou administrativas visando o cumprimento de
determinação judicial (STJ, HC 37279/MG, 2004) e (ii) a inexistência de sanção em lei específica,
no caso de descumprimento (STJ, HC 22721/SP, 2003). A decisão exaurida pela Vara Única da
Comarca de Córrego das Chuvas, determinando a interrupção do procedimento arbitral (Caso,
p.34, §4), não prevê condenação à multa ou a qualquer tipo de sanção civil em caso de seu
descumprimento. Logo, é provável a condenação dos árbitros, como ocorrido no julgado do
TRF4 (TRF4, HC 000278155201444040000/PR, 2014), no qual o Ministério Público obteve
permissão para verificar a ocorrência de crime de desobediência cometido por réu de ação civil
pública.
45. Tanto o risco é real no caso concreto que, em situação análoga, conhecida como “Caso
Jirau” (STJ, Rcl 9.030/SP, 2012), a prisão da diretoria do consórcio de construtoras foi decretada
por desacato à ordem da Corte Inglesa, quando se insistiu em continuar com o procedimento
arbitral no Brasil. A ordem emanada do Poder Judiciário gerou, portanto, consequências práticas
diretamente às partes do litígio.
46. Logo, os árbitros, ao optarem pelo prosseguimento do procedimento arbitral, estarão
enquadrados perfeitamente no tipo penal previsto no Art. 330 do CP.
2.1.3. O Poder Judiciário é competente para ordenar a interrupção de procedimento
ilegal
47. Em que pese a possibilidade, em procedimento arbitral regular, de o árbitro exercer função
de juiz de fato e de direito (Art. 18, LArb) o presente caso não se trata de procedimento regular,
10
dada a não arbitrabilidade do conflito (1., acima). Não está a se negar, aqui, a competência mínima
deste Tribunal Arbitral enquanto órgão jurisdicional, segundo o princípio da kompetenz-kompetenz,
(Didier Jr., 2015). Contudo, sua competência material é limitada à disponibilidade do direito
controvertido (Art. 1º, LArb). No presente caso, existindo uma ordem judicial a ser cumprida, os
árbitros têm o dever de fazê-lo, observando a inafastabilidade do Poder Judiciário, exercendo não
mais que sua competência mínima dentro do litígio.
48. A inafastabilidade do Poder Judiciário é garantida constitucionalmente (Art. 5 º, XXXV,
CF), de modo que, nem mesmo por força de lei, sua atuação pode ser afastada em relação a
qualquer lesão ou ameaça a direito. Ao contrário do exercício de jurisdição arbitral, “a garantia de
acesso ao Judiciário não prescinde de que a lei venha a dispor sobre o direito processual viabilizando a atuação do
Estado na resolução de conflitos” (Mendes, Branco, 2015, p. 155).
49. A garantia é relativizada na Lei de Arbitragem, conforme julgado do STF que reconheceu a
sua constitucionalidade (STF, AgRg em Sentença Estrangeira 5.206-7/1996). “A posição do STF permite
vislumbrar a compatibilidade da Lei n. 9.307/96 com o Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, dando
feição menos reducionista ao direito fundamental à proteção efetiva do Poder Judiciário” (Mendes, Branco, 2015,
p. 414).
50. A Corte estabelece, de maneira clara e unânime, duas condições para ser tal relativização
constitucionalmente aceita: a disponibilidade do direito controvertido e a voluntariedade do
acordo.
51. No caso concreto, o direito pleiteado pela Requerente é de natureza indisponível (1.1.1.,
acima) e o acordo entre as partes é voluntário, mas possui vício do erro (1.4., acima). Logo, a
jurisdição do árbitro no procedimento arbitral é incompatível com a garantia constitucional de
inafastabilidade do Poder Judiciário. Este, sim, detém competência totalmente imperiosa para a
resolução do conflito.
52. A Constituição garante ao Poder Judiciário competência para “defender direito violados ou
ameaçados de violência” (Mendes, Branco, 2015, p. 153). Sua função tem como essência a defesa dos
direitos fundamentais, (Mendes, Branco, 2015, p. 153) e sua atividade jurisdicional é caracterizada
pela “prolação de decisão autônoma, de forma autorizada e, por isso, vinculante, em casos de direitos contestados
ou lesados”. (Mendes, Branco, 2015, p. 961).
53. No caso, não bastasse a garantia concedida pelo constituinte, a legislação específica do
foro, a Lei 7.347/85, em seu artigo 12, possibilita ao juiz “conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.
54. A suspensão de procedimento arbitral buscada aqui já foi ordenada em caso semelhante no
TJMG (TJMG, AC 10024133214825003, 2014) no qual o requerente solicitava a interrupção do
11
procedimento arbitral em face da CAMARB. O pedido foi atendido com base (i) na duplicidade
de procedimentos sobre o mesmo fim e (ii) na falta de segurança jurídica imposta às partes.
Houve a caracterização da superveniência da competência do Poder Judiciário para dirimir a
controvérsia.
55. Logo, com base constitucional e jurisprudencial, não é possível arguir a sobreposição da
jurisdição arbitral sobre o Poder Judiciário, porque, tratando-se ou não de procedimento ilegal, o
juiz tem total competência para ordenar a sua interrupção, conforme garantia constitucional.
Ademais, o objeto do litígio é incompatível com a arbitragem, o que extingue a competência do
Tribunal Arbitral de decidir sobre o conflito.
2.2. Decidir pelo prosseguimento da arbitragem acarreta prejuízo às partes
56. A decisão a ser proferida por este Tribunal Arbitral já carrega aspectos de nulidade em sua
constituição, dada a não arbitrabilidade do conflito e a sua subsistência à sentença do foro
adequado à resolução do litígio (1., acima). Assim, o prosseguimento dessa arbitragem tem como
consequência única gerar custos para as partes.
57. O Art. 27 da LArb determina que a responsabilidade das custas será definida em sentença
arbitral, caso não haja disposição específica sobre o tema no compromisso arbitral. No caso, a
Requerida está comprometida com essas despesas nos termos do Termo de Arbitragem (Caso, p.
42, §§ 4.8.1, 9.4 e 9.5) e do Compromisso Arbitral (Caso, p. 24, §§1.4.1, 4.2 e 4.2.1).
58. As despesas são constituídas por custos de (i) publicação das decisões deste procedimento
na imprensa oficial, (ii) taxas de administração, (iii) honorários dos árbitros e (iv) outros custos de
arbitragem. A Requerida também está vinculada ao pagamento das custas do processo judicial,
devido à redação do Art. 20 do CPC.
59. É inegável, portanto, o grande prejuízo material a ser suportado pela Requerida em razão
do simples prosseguimento da presente arbitragem. As despesas decorrentes dessa decisão
acumulam-se de maneira sucessiva e desnecessária, paralelamente com as custas processuais
provenientes da ação civil pública. Assim, a Requerida deve ser poupada dos gastos expostos,
gerados por um procedimento arbitral que não encontra requisitos jurídicos para existir.
60. Em conclusão, se o procedimento arbitral não for extinto, diante de todas as razões
expostas, é inevitável a sua suspensão. Primeiramente, pelo simples fato de existir uma decisão
judicial válida e eficaz que assim o determina. Em segundo lugar, o prosseguimento de arbitragem
só trará prejuízos às partes.
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3. A REQUERIDA NÃO DEVE SER RESPONSABILIZADA PELOS DANOS
AMBIENTAIS DECORRENTES DO DESMORONAMENTO DA BARRAGEM DA
PCH, POIS AS FORTES CHUVAS CONFIGURAM FORÇA MAIOR
61. A Requerida não deve ser responsabilizada pelos danos ambientais envolvendo o
desmoronamento da barragem da PCH, próxima ao Município de Córrego das Chuvas, pois o
regime de responsabilidade civil aplicável leva em conta excludentes de responsabilidade (3.1.,
abaixo); e as fortes chuvas que acometeram a região entre o fim de 2011 e início de 2012
configuram força maior (3.2., abaixo).
3.1. A responsabilidade ambiental da Requerida não é regida pela teoria do risco
integral, sendo possível a exclusão de responsabilidade por força maior
62. Embora a Requerente postule a sujeição da Requerida ao regime de responsabilidade
objetiva de risco integral (Caso, p. 39, § 3.1.1), esse entendimento é inaplicável ao presente caso. A
teoria do risco integral é a mais gravosa modalidade de responsabilização civil, fundamentando-se
na ideia de que quem cria o risco deve sempre reparar os danos oriundos de seu empreendimento
(Benjamin, 1998, p. 122). Sob essa ótica, o dever de indenizar estará presente ainda que ocorra
força maior (Venosa, 2012, p. 16).
63. Essa disciplina extremada não é cabível em função de ser atécnica e de não contar com
previsão legal (3.1.1., abaixo); além disso, ainda sendo a teoria do risco integral entendida como
juridicamente correta, o presente caso não guarda semelhança com julgados que a aplicam (3.1.2.,
abaixo). Afastado o regime do risco integral, recai a Requerida na disciplina padrão da
responsabilidade objetiva, a qual contempla a incidência de força maior, manifesta excludente de
responsabilidade neste caso.
3.1.1. A teoria do risco integral é atécnica e não possui previsão legal
64. Embora haja entendimento jurisprudencial no sentido de dever ser aplicada a teoria do
risco integral a casos de lesões a interesses jurídicos ambientais (STJ, REsp 1.374.284/MG, 2014,
STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014, STJ, REsp 1.114.398/PR, 2012), essa orientação deve ser
superada. Dentre as razões que legitimam sua superação, destacam-se: (i) a teoria não conta com
previsão legal; (ii) sua construção não se conforma ao Código Civil; (iii) o entendimento
jurisprudencial fundamenta erroneamente o nexo causal; e (iv) ao abalar a segurança jurídica, sua
aplicação desestimula a iniciativa econômica.
65. Quanto à (i) ausência de previsão legal, a teoria do risco integral não está positivada no
ordenamento jurídico pátrio. Há inclusive dispositivos legais que tratam especificamente sobre o
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dano ambiental, como o Art. 14 da lei 6.938/81 e o Art. 225 § 3º da CF. Não há texto legal,
porém, a partir do qual seja possível inferir que a responsabilização civil por danos ao meio-
ambiente será imputada sem análise de quaisquer excludentes de responsabilidade.
66. Em relação à (ii) não conformidade à legislação, evidencia-se que a teoria do risco assume
indevida nuance no entendimento jurisprudencial do risco integral. O CC adotou a teoria do
risco-criado (Araújo Rocha, 2014, p. 7), em que predomina a relação causal entre o dano sofrido
pela vítima e a atividade desenvolvida pelo causador do dano (Pereira, 2001, p. 287). A teoria do
risco-criado prevê a incidência de fenômenos capazes de excluir a responsabilidade objetiva,
sempre que desses eventos decorrer o rompimento do nexo causal entre a atividade e o dano
(Araújo Rocha, 2014, p. 9). Acrescenta-se que, além de a disciplina ambiental não prever a teoria do
risco integral, estão positivados no CC as excludentes de responsabilidade (Art. 393, CC), em
sentido exatamente oposto ao risco integral, sedimentando a adoção do risco-criado. Assim, não
há responsabilidade quando o nexo causal entre o dano e sua autoria é rompido, o que ocorre
diante da incidência de força maior (Pereira, 2001, p. 295).
67. Ademais, (iii) o entendimento jurisprudencial trabalha equivocadamente o conceito de nexo
causal. Superpõem-se inadvertidamente risco e nexo causal: “(...) o nexo de causalidade é o fator
aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato” (STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014). O nexo
causal, em verdade, é o liame que aglutina dano e ato (Venosa, 2012, p. 53; Pereira, 2002, p. 289).
Ao limitar-se às figuras do risco e do ato, o nexo causal não mais exprime uma relação de causa
(ato) e efeito (dano). Por conseguinte, esse entendimento permitiria a atribuição aleatória do
dever de indenizar: a responsabilização poderia ser imputada a atos que não guardam relação
alguma com o dano. Além disso, ao não aludir à figura do dano, a construção jurisprudencial dá
margem à interpretação de não existir dever de indenizar, ainda na ausência de dano. Contudo,
sem a ocorrência deste elemento não haveria o que indenizar, e, consequentemente, não haveria
responsabilidade (Gagliano, Pamplona Filho, 2012, p. 87). Em outras palavras, ao desfigurar o nexo
causal, a teoria confunde os pressupostos da responsabilidade civil.
68. Ademais, a teoria do risco integral (iv) ao abalar a segurança jurídica, consequentemente
desestimula a iniciativa econômica. Há segurança jurídica, quando o cidadão tem a capacidade de
conhecer e de calcular os resultados que serão atribuídos pelo Direito aos seus atos (Ávila, 2012,
p. 144). Nesse sentido, o cumprimento para com os requisitos da legislação ambiental pautou a
conduta da Requerida ao longo de toda a construção da PCH – a obra contava com licenças
ambientais, relatório de impacto ambiental e outros instrumentos previstos em lei (Caso, p. 51, §
8). A teoria do risco integral, por outro lado, desestimula o empreendedor em razão da
exacerbada insegurança jurídica acerca de suas possíveis responsabilizações (Araújo Rocha, 2014, p.
14
13). Eventos de força maior não decorrem de fatos planejados, mas de acontecimentos
escapando ao poder do agente (Pereira, 2002, p. 302). Nesse sentido, as chuvas producentes do
desmoronamento da ombreira natural da PCH destacam-se por sua intensidade, amparada em
índices pluviométricos extraordinários (Caso, p. 18, § 2) – desta sorte, conhecer e calcular tanto a
ocorrência quanto os efeitos das chuvas não era possível.
69. Portanto, em decorrência da falta de previsão legal e da atecnicidade da teoria do risco
integral, não há razão para aplicá-la. A construção jurisprudencial que a emprega deve ser
afastada.
3.1.2. O caso não guarda semelhança com julgados do STJ nos quais se aplicou a
teoria do risco integral
70. Ainda, se entendendo a teoria do risco integral como juridicamente correta, esse regime
não deve ser aplicado. O presente caso diferencia-se, sob diversos aspectos, de julgados impondo
a responsabilização objetiva pelo risco integral.
71. Embora haja julgado no STJ aplicando a teoria do risco integral em desmoronamento de
barragem (STJ, REsp 1.374.284/MG, 2014), o presente caso diferencia-se desse precedente a
partir de três aspectos. Primeiro, o precedente não trata de dano moral coletivo, apenas outorgou
balizas à quantificação das indenizações individuais devidas a cada cidadão lesado. Segundo,
figura no precedente uma mineradora exploradora de bauxita, cuja barragem destinava-se ao
armazenamento de rejeitos oriundos da atividade industrial, ao passo que a barragem da PCH
está inserida no complexo de uma pequena hidrelétrica (Caso, p. 2, § 1) – não represa resíduos
industriais, mas água, cujo potencial hídrico será convertido em energia elétrica. Terceiro, no
julgado o acidente decorreu de negligência da empresa, que armazenou milhões de litros de
rejeitos provenientes de sua atividade industrial, aumentando o risco do seu empreendimento
(TJMG, Apl. 10439070742549001, 2012) – a Requerida, por outro lado, manifestou precaução ao
longo da construção da PCH, em estrito respeito à legislação ambiental (Caso, p. 51, § 8).
72. Outros julgados do STJ também aplicaram a teoria do risco integral a danos ambientais
(STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014; STJ, REsp 1.114.398/PR, 2012). No entanto, ambos os julgados
têm como responsabilizadas empresas petrolíferas. No primeiro precedente, houve vazamento de
amônia; já o segundo trata acerca de vazamento de nafta, composto proveniente do petróleo.
Portanto, o presente caso diferencia-se também desses precedentes: não era objeto dos julgados
uma indenização moral coletiva; e a construção da PCH não oferece risco equiparável ao das
atividades de petrolíferas.
15
73. A título comparativo, pode-se aprofundar a análise do risco distinguindo a atividade da
Requerida da exploração de energia nuclear, atividade que uma parte da doutrina entende estar
submetida a regime não admitindo excludentes de responsabilidade (Fiorillo, 2006, p. 204). Dentre
os riscos inerentes à atividade nuclear, destacam-se a dificuldade de gestão dos resíduos gerados e
seu potencial emprego para fins bélicos (Frangetto, 2005, p. 497). Por outro lado, o sinistro
envolvendo a PCH não expôs a população local a substâncias tóxicas, o dano ambiental é bem
delimitado (Caso, p. 18, § 4) e já há medidas aptas e suficientes à sua completa reparação (Caso, p.
21). Assim, mesmo uma das piores catástrofes que poderiam ter acometido a PCH não ofereceu
risco à vida, além de os danos contarem com medidas reparatórias facilmente aferíveis e
executáveis, como limpeza da área, reintrodução de espécies vegetais, reparação da mata ciliar
(Caso, pp. 19-20).
74. Ademais, a própria legislação ambiental, cumprida pela Requerida (Caso, p. 51, § 8), conta
com artifícios para mitigar riscos. Estão previstos em nosso ordenamento a avaliação e estudo
prévio de impactos ambientais, instrumentos que aliados ao princípio da precaução permitem que
os riscos ambientais sejam adequadamente geridos na sociedade contemporânea (Leite, Ferreira,
Melo, pp. 415-416, 2005). Além disso, a construção da PCH, cujo próprio nome evidencia seu
pequeno porte, segue diretrizes sustentáveis: uma alternativa aos riscos de grandes usinas
hidrelétricas é sua substituição por várias usinas de pequeno porte, algo exigindo maior
investimento econômico, mas acaba diminuindo riscos e possíveis danos ao meio ambiente (Leite,
Ferreira, Melo, p. 417, 2005).
75. Dessa maneira, ainda em sendo a teoria do risco integral, entendida como juridicamente
correta, o caso não guarda semelhança com julgados que a aplicaram. Por conseguinte, recai a
Requerida sob o regime regular de responsabilidade objetiva, conforme disciplina o Art. 14, da
Lei 6.938/81, tendo como requisitos a atividade ilícita, o dano e o nexo causal (Cavalieri Filho,
2014, p. 179).
76. No entanto, sob esse regime, a Requerida não deve ser responsabilizada. O nexo causal –
liame unindo a conduta do agente ao dano (Venosa, 2012, p. 53) – está ausente neste caso. O dano
ambiental que acometeu Córrego das Chuvas no início de 2012 teria ocorrido ainda que a PCH
não houvesse sido construída – as chuvas extraordinárias são a causa do dano, configurando
força maior (3.2., abaixo). Em razão de o nexo causal ser imprescindível para ser configurada a
responsabilidade objetiva (Súmula n. 18 do Conselho Superior do Ministério Público de SP; Venosa, 2012,
p. 53), a ausência desse requisito exclui a responsabilidade da Requerida.
16
77. Portanto, a teoria do risco integral deve ser afastada diante das diferenças do julgado em
relação ao caso. Dessa maneira, a Requerida está sujeita ao regime padrão de responsabilidade
objetiva, do que decorre a exclusão de responsabilidade em razão de força maior.
3.2. As chuvas configuram força maior no caso concreto
78. A responsabilidade da Requerida deve ser afastada pela força maior, pois as chuvas foram a
causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da PCH (3.2.1., abaixo) e constituem
fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade da Requerida (3.2.2., abaixo).
3.2.1. As chuvas foram a causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da
PCH do Distrito do Vale do Cacique
79. A Requerente alega que catástrofes da natureza constituem risco inerente à atividade da
Requerida (Caso, p. 39, § 3.1.1). No entanto, os altos índices pluviométricos do fim de 2011 e
início de 2012, por se tratarem de índices atípicos na região, rompem o nexo causal entre o
empreendimento e o dano causado. A responsabilização da Requerida no caso concreto deve,
assim, ser afastada, pois as fortes chuvas foram a causa direta do desmoronamento da ombreira
natural da PCH (Caso, p. 2, § 2; p. 18, § 2).
80. O nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o
dano causado, de modo que a conduta seja a causa e o dano o efeito (Cavalieri Filho, 2014, pp. 61-
62). A força maior – evento inevitável ou irresistível – afasta o nexo causal por constituir causa
estranha à conduta do aparente agente, ensejadora direta do evento (Art. 393, CC; Cavalieri, 2014,
pp. 88-90).
81. Em casos semelhantes, julgados pelo TJSP, a despeito do desconforto psíquico de quem
sofreu o dano por ter seu imóvel inundado e todos seus bens destruídos –, não houve
responsabilização do município réu. A alegada omissão do município, por não tomar medidas
necessárias para a prevenção de enchentes – tais como recuperação e drenagem do leito do rio; e
realocação de moradores da área de proteção ambiental – não foi o fato causador do dano. Isso,
porque as consequências do volume de chuvas excepcional e imprevisível que atingiu o município
eram inevitáveis. Nestes casos, as chuvas foram consideradas força maior, afastando a
responsabilidade do município réu (TJSP, Apl. 00068879620128260125, 2015, Apl.
00057611120128260125, 2014).
82. No caso em tela, as fortes chuvas ocorridas no período do desmoronamento da ombreira,
foram essenciais para a ocorrência do sinistro e todos os danos dele provenientes (Caso, p. 9, § 9).
Porquanto, a barragem só chegou ao limite de sua capacidade devido ao alto índice
17
pluviométrico, bem como a saturação do solo decorrente de situação climática anormal (Caso, p.
18, § 2). A construção da Requerida não foi o fato causador do dano, mas, sim, as chuvas e a
saturação do solo. Do mesmo modo como no caso referido, tanto a Associação dos Amigos do
Distrito do Vale do Cacique, quanto a Prefeitura Municipal atestaram a situação emergencial local
(Caso, pp. 12-13).
83. Portanto, a Requerida não deve arcar com danos, cuja causa direta não esteve relacionada a
sua atividade. As chuvas atípicas foram causa direta para o desmoronamento da ombreira,
caracterizando a força maior no caso concreto.
3.2.2. As chuvas constituem fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade
da Requerida
84. As fortes chuvas ocorridas durante o período de desmoronamento da barragem fugiram da
esfera de controle da Requerida. A alegada previsibilidade e evitabilidade dessas chuvas (Caso, p.
39, § 3.1.1) não deve ser acolhida, pois as precipitações do fim de 2011 e início de 2012, devido às
suas proporções, geraram consequências inevitáveis.
85. Para efeitos do Art. 393 do CC, o fato deverá ser, ao mesmo tempo, externo à atividade da
empresa e inevitável a fim de que o dever de indenizar seja afastado por caso fortuito ou força
maior (Martins-Costa, 2003, p. 197-202; Pontes de Miranda, 1958, p. 79). Para tanto, o evento deve
ser analisado sob duas óticas: (i) a do fato necessário e (ii) a da inevitabilidade de seus efeitos.
86. Fato necessário (i) é o fato que, não provindo do devedor, nem sendo por ele causado, não
está na sua esfera de controle (Martins- Costa, 2009, p. 290). Diante disso, todo fato externo à
atividade do aparente agente causador do dano consiste fato necessário. Por sua vez, o evento
será inevitável (ii) tão somente quando, embora o agente possa resistir, não for possível evitar
suas consequências (Martins-Costa, 2003, pp. 202-205).
87. No caso em tela, os danos causados à Requerente ocorreram devido a chuvas muito acima
do normal, fato inclusive ressaltado pelo próprio Município (Caso, p. 18, § 2; pp. 9-10). A
Requerida, apesar de tomar todas as providências necessárias a fim de assegurar a obra (Caso, p. 7,
§ 1; p. 51, §§ 8-10) não teve como evitar a ocorrência do alto índice pluviométrico daquele
período, que dirá seus efeitos desastrosos. A necessidade de realocação dos moradores, o
assoreamento do córrego das Águas Claras, bem como a inundação do Parque Estadual Vila do
Ouro (Caso, p. 2, §§ 2-3, 5) foram ocasionados tão somente pela impossibilidade da Requerida de
evitar as consequências das chuvas.
88. Cumpre ressaltar que não se fala aqui de chuvas típicas de verão, como alegará a
Requerente. As chuvas que atingiram Vila Rica, naquele período, foram em volume
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extraordinário. Por esse motivo, a saturação do solo, causa de desmoronamentos em todo o país
durante os meses de verão (TJSP, Apl. 00068879620128260125, 2015; STJ, AgRg no AREsp
469.420/RJ, 2014; STJ, AREsp 478.537/DF, 2014; STJ, AREsp 530.390/RJ, 2014), foi fator
essencial para o desmoronamento da ombreira natural. Dessa forma, apesar de a Requerida ter se
mostrado diligente na segurança e conservação de sua obra, as proporções das chuvas fugiram de
sua esfera de controle.
89. Os danos oriundos do desmoronamento foram causados por fato alheio à atividade da
Requerida (i), a qual não pode evitar seus efeitos (ii). Portanto, não há como falar em dever de
indenizar por parte da Requerida, visto que a força maior rompe o nexo de causalidade entre a
conduta e o dano ocorrido.
90. Em conclusão, o Tribunal Arbitral deve afastar a teoria do risco integral, aplicando ao
caso a responsabilização objetiva, pois esta contempla a incidência de excludentes de
responsabilidade. Isto posto, o Tribunal Arbitral deve reconhecer as chuvas atípicas do fim de
2011 e início de 2012 como força maior, afastando a responsabilidade da Requerida.
4. A QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS NÃO DEVE TER CARÁTER
PUNITIVO
91. Caso a Requerida seja responsabilizada e condenada a pagamento de indenização pelos
danos morais, sua quantificação não deve ter caráter punitivo, uma vez que tal caráter é contrário
ao sistema jurídico brasileiro de reparação civil (4.1., abaixo) e sua presença configuraria bis in idem
(4.2., abaixo). Além disso, seria contraditório aplicar esse caráter em caso de responsabilidade
objetiva por dano ambiental (4.3., abaixo). Por fim, a Requerida realizou as medidas possíveis para
dirimir os danos gerados pela catástrofe climática (4.4., abaixo), não cabendo punição com caráter
pedagógico.
4.1. O sistema brasileiro de responsabilidade decorrente de danos ambientais estabelece
a reparação integral do dano como única medida de indenização civil
92. Embora a Requerente argumente serem cabíveis danos punitivos (Caso p. 39, § 3.1.1), no
ordenamento jurídico brasileiro não há previsão legal para a utilização do caráter punitivo
aplicado aos danos morais (Martins-Costa, Pargendler, 2005; REsp 1.354.536/SE, 2012). Assim, a
indenização deve ser quantificada considerando o dano da vítima, pelo espectro do interesse do
ofendido (Cruz, 2005 p. 320, Pontes de Miranda, 1984, Tomo 22, p. 206; REsp 1.354.536/SE, 2012).
Desse modo, a indenização decorrente do dano moral deve servir à extinção do dano (Pontes de
Miranda, 1984 Tomo 22, p. 216) e não como forma de punição ao agente causador.
19
93. O Art. 944 do Código Civil funda, como norma geral no direito brasileiro, o princípio da
reparação integral ou plena, estabelecendo que: “A indenização mede-se pela extensão do dano”,
reparando-o integralmente (Sanseverino, 2014 p. 430). Esse princípio funciona, assim, como teto
indenizatório (Sanseverino, 2010, p. 74). Nesse sentido, na medida em que o dano viola o equilíbrio
econômico-jurídico, deve o Direito atuar para restabelecer o estado anterior, exercendo sua
função reparatória ou compensatória (Benacchio, 2012, p. 648; Aguiar Dias, 1979, p. 422). Ou seja,
indeniza-se compensando o dano (Aguiar Dias, 1979, p. 422). No caso de danos extrapatrimoniais,
o juiz será responsável por quantificar a indenização de maneira compatível aos danos sofridos
(Sanseverino, 2010, p. 268).
94. Além de o Código Civil determinar o critério para mensurar o dano, também estabelece
vedações expressas a um critério especifico: a reprovabilidade da conduta do agressor (Martins
Costa, 2009, p. 497). Nesse sentido, o Art. 403 dispõe expressamente que, mesmo que o agente
tenha agido com dolo, as perdas e danos só incluem prejuízos efetivos e os lucros cessantes,
decorrentes direta e imediatamente. Desse modo, a indenização é balizada pela lógica de limitar a
indenização aos prejuízos efetivos e os lucros cessantes.
95. Em caso análogo ao presente, o Superior Tribunal de Justiça foi chamado a se manifestar
sobre o critério jurídico correto à mensuração do dano ambiental (REsp 1.354.536/SE, 2012). Na
ocasião, em decorrência de um derramamento de amônia, os moradores afetados ingressaram na
justiça buscando indenização pelos danos sofridos. Pretendiam fosse tal reparação majorada, em
razão da necessidade de se punir a responsável. Porém, ao decidir a questão, a Corte Superior
entendeu ser a punição inadmissível. Houve, desse modo, a reiteração da desnecessidade do
caráter punitivo da indenização e a permanência da mesma em valores mais baixos, porquanto
esse instituto não é consagrado no ordenamento jurídico, consiste em punição excessiva (4.2.,
abaixo) e não se configura em casos de responsabilidade objetiva (4.3., abaixo).
96. O alegado dano a ser indenizado, no caso, é moral e difuso, causado pela alegação de
desrespeito ao meio ambiente saudável e equilibrado (Art. 225, caput, CF). O dano é difuso, pois
o meio ambiente é patrimônio imaterial pertencente a toda a coletividade (Andrade, 2009, p.66;
Art 81, I, CDC), não comportando a atribuição a uma categoria (1.2., acima). A pretensão buscada
não consiste em preservar interesses individuais relacionados à saída forçada dos moradores de
Vila Rica de suas casas, mas de uma etérea moral coletiva à segurança e ao meio ambiente.
97. No presente caso, a Requerente pretende igualmente que o quantum indenizatório
extrapole o dano efetivamente ocorrido (Caso, p. 39, § 9). Assim, a exemplo da Corte Superior,
ainda que fosse possível, de algum modo, responsabilizar-se a Requerida pelas catástrofes
climáticas ocorridas, o Tribunal deve quantificar a indenização tendo como parâmetro único e
20
exclusivo o dano. O pedido por indenização de 5 milhões de reais claramente já engloba esse
caráter punitivo, e não somente o dano efetivo (Caso, p. 39, § 3.1.1). Por esse motivo, se o pedido
de indenização for deferido, deve ser muito reduzido e balizado pelas regras do ordenamento
jurídico brasileiro, não se levando em consideração aplicação do caráter punitivo. Somente deve
haver a compensação do dano com fins de impedir enriquecimento ilícito.
98. Dessa maneira, o deferimento do pedido resultaria em uma transposição do caráter
compensatório do dano, o único presente no ordenamento jurídico brasileiro.
4.2. A punição na esfera civil resultaria em “bis in idem”, pois no direito ambiental já
estão previstas punições nas esferas administrativa e penal
99. Mesmo que se considerando a aplicação do caráter punitivo no ordenamento jurídico
brasileiro, no direito ambiental, o espaço destinado pela lei à punição do infrator é amplo, mas
estritamente delimitado às esferas administrativa e penal. Já o Art. 225, § 3 da Constituição
Federal distingue expressamente as noções de reparação e de punição: prevê sanções penais e
administrativas para as condutas lesivas ao meio ambiente, independente da obrigação de reparar
os danos causados. Assim, tem-se que o caráter punitivo já é satisfeito pelas esferas administrativa
e penal, configurando bis in idem a dupla punição na esfera civil (REsp 1.357.614/SE, 2012).
100. Não resulta disso um regime frágil de prevenção ambiental. É que a punição mediante
sanções administrativas e penais de grande variabilidade na quantificação, previstas na lei
9.605/98, é suficiente para a prevenção necessária ao direito ambiental (Mukai, 2005, p. 95). Por
exemplo, a quantificação das multas administrativas pode chegar a 50 milhões de reais (Art. 75,
Lei nº 9.605/98). O Art. 225, § 3 atribui à sanção civil a mera responsabilidade de reparar o dano,
sendo o seu objetivo a recuperação do meio ambiente, não a penalização do poluidor (Steigleder,
2011, p. 250, 251).
101. O princípio do non bis in idem não tem previsão constitucional expressa, mas pode ser
deduzido do princípio da dignidade da pessoa humana e de outros dispositivos que vedam a
dupla punição. A Constituição a proíbe (Arts. 1º, 5º, XXXIX, CF) e, também, o nosso CP, em
diversos dispositivos, coíbe a dupla punição: Art. 1º (princípio da legalidade de crimes e penas)
(Teotônio, 1990). Além disso, possui extensa reiteração jurisprudencial (REsp 1.478.439/ RS, 2015,
REsp 1.107.314 / PR, 2010, REsp 1.012.903/RJ, 2008, REsp 1.086.492 / PR, 2010).
102. No REsp 1.513.156/CE, 2015, tem-se o caso de um dano ambiental que ensejou ação civil
pública por danos materiais, por danos morais difusos, pertencentes à população em geral, por
multas administrativas e por reparação in natura do meio ambiente degradado. Em instâncias
anteriores a multa e a reparação do meio ambiente já haviam sido garantidas. Já para a
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indenização dos danos materiais e morais, a decisão do STJ reiterou a sua desnecessidade, visto
que os danos não causariam prejuízos a gerações futuras, sendo a reparação in natura feita pelo
réu considerada suficiente para contemplar toda a indenização e que a condenação à indenização
em dinheiro seria excessiva.
103. No caso, já tramita na esfera cabível procedimento administrativo visando à apuração de
responsabilidade da Requerida para improvável aplicação de multas, pelo Município (Caso, p. 52, §
2).
104. Assim, a improvável punição administrativa, que pode, inclusive, chegar a valores dez vezes
superiores aos patamares ora requeridos, já albergaria o caráter punitivo, como no caso exposto
acima. A punição em esfera penal é impossível, posto não haver, no presente caso, a culpa
necessária para a responsabilização em âmbito penal (4.4., abaixo). A condenação a danos morais
com caráter punitivo consistiria, então, em um excesso de punição.
105. Desse modo, como eventual punição já ocorreria nas esferas competentes, quantificar a
indenização decorrente dos danos morais com vistas a outros critérios, que não o reparatório,
consistiria em uma violação ao princípio do non bis in idem.
4.3. É contraditório tratar de aplicação do caráter punitivo em responsabilidade objetiva
por dano ambiental
106. O pedido da Requerente é contraditório visto que, nos casos de responsabilidade por danos
ambientais, esta forma de quantificação, dentro da esfera da sanção civil, é incompatível com o
regime jurídico aplicável. Isso por que a legislação define que a responsabilidade por danos
ambientais é objetiva (Art. 14, § 1, da Lei 6.938/81; Art. 225, §§ 2-3, CF), de modo que prescinde
apreciação de culpa (Noronha, 2009, p. 508). Assim, não há como aplicar caráter punitivo, quando
não deve haver análise da culpa do agente agressor.
107. O caráter punitivo do dano moral é fixado com intuito de ser uma punição e um exemplo
ao agente e à toda coletividade (Martins-Costa, Pargendler, 2005), sendo definido pelo grau de culpa
do agente. Deste modo, a eventual indenização deve ser fixada de acordo com grau de culpa do
agente, sua capacidade financeira (REsp 1.354.536/SE, 2012). Se para a responsabilização
objetiva a análise da “característica subjetiva” (culpa) é prescindível, aplicar uma modalidade de
indenização que torna a analise desta e do grau de culpa envolvido necessária é, no mínimo,
paradoxal (Martins-Costa, Pargendler, 2005 p.23). Como não há apreciação dessa característica
subjetiva, é ainda mais incontroverso que o caráter punitivo da indenização não é aplicável em
casos de responsabilidade objetiva (Martins-Costa, Pargendler, 2005 pp. 23-24, REsp 1.354.536/SE,
2012).
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108. Ainda, os “punitive damages” são apenas aplicáveis no direito estrangeiro, basicamente em
países do Common Law, sendo inclusive incompatível com o sistema jurídico brasileiro (Benetti,
2013, p. 374). Historicamente, a função meramente indenizatória não foi o princípio da
responsabilidade civil, visto que essa tinha o caráter de pena privada. Tal caráter não subsiste, em
vista da aversão à ideia de pena privada (Martins-Costa, Pargendler, 2005, p. 18). Por isso, a
incompatibilidade com países de Civil Law, onde a função primordial da responsabilidade civil é
reparatória (Benetti, 2013, p. 374). Nesse âmbito, o caráter punitivo, como uma pena, teve origem
patrimonialista, no sentido de que era aplicado a danos à pessoa ou a seus bens (Martins-Costa,
Pargendler, 2005, p. 18).
109. Logo, à medida em que a finalidade da indenização passou a ser punição e prevenção, o
foco deixou de ser a espécie do dano para ser a conduta do seu causador (Martins-Costa, Pargendler,
2005, p. 19). Justamente por isso que o caráter punitivo na quantificação dos danos nos Estados
Unidos é vedado em casos de responsabilidade objetiva, pois não há análise da culpa do agente
agressor, por exemplo (Martins-Costa, Pargendler, 2005, p. 21).
110. Ainda, mesmo nos países onde a função punitiva da responsabilidade civil é regulamentada
e amplamente utilizada, como nos EUA, há uma progressiva limitação desse instituto, devido à
constante preocupação com a “hiper-prevenção” e a “supercompensação” (Martins-Costa,
Pargendler, 2005, p. 24), que podem causar enriquecimento ilícito. Inclusive, no caso em tela, se
considerado o caráter punitivo na quantificação dos danos morais, haveria enriquecimento ilícito
da Requerente, sendo a excessiva punição é indevida (Art. 884, CC).
111. Assim, no caso, mesmo sendo a Requerida responsabilizada pelos danos ocorridos à cidade
de Córrego das Chuvas (Caso, p. 7, §§ 4, 6), sua responsabilidade seria objetiva, já que os danos
foram ambientais (3.1., acima). Afastando-se a culpa da Requerida para imputação de
responsabilidade, considerando-se, assim, apenas a natureza do dano, não há como enquadrar o
caráter punitivo na reparação do dano, sendo esse definido pelo grau de culpa presente.
4.4. A Requerida foi prudente, tomando todas as medidas possíveis para dirimir os
danos gerados pelo sinistro ambiental
112. A Requerida tomou todas as medidas possíveis para tornar a obra segura e regular,
cumprindo seu papel garantidor da segurança de sua obra. A hipótese de aplicação da função
punitiva da responsabilidade civil a fins de quantificação dos danos morais resulta na imposição
de uma situação desfavorável ao responsável pelo dano, sendo a perda de um direito, sua
limitação, ou o pagamento de uma soma em dinheiro (Benacchio, 2012, p. 655) (valorada por sua
culpa), que se mostra como uma pena privada.
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113. Nesse sentido, a pena privada depende da avaliação de dolo, má-fé ou culpa grave do
responsável (Benacchio 2012, p. 657), o que não se pode ser notado no caso em questão. Ainda, há
previsão no Direito Brasileiro de redução equitativa da indenização, pelo julgador, em casos de
existência de desproporção entre a gravidade da culpa e o dano (Art. 944, parágrafo único, CC;
Sanseverino, 2014 p. 431).
114. A análise da culpa em casos de responsabilidade objetiva apenas serviria para a
determinação do quantum debeatur (Becker, 2014, p. 346). Se este Tribunal Arbitral decidir por
analisar o fator de imputação – dolo e culpa, apenas para fins de quantificação – a indenização
deverá ser reduzida devido à atuação prudente da Requerida.
115. A obra encontrava-se em perfeitas condições de funcionamento e de segurança, com todos
os licenciamentos necessários atualizados (Caso, p. 51, § 9). Ainda, a Requerida procurou auxiliar a
população de várias maneiras, tais como com auxílio com o atendimento de suas necessidades
básicas (alimentos, atendimento médico e realojamento) a fim de diminuir os danos causados
pelo desmoronamento da barragem (Caso, p. 18).
116. Dessa forma, a Requerida cumpriu seu dever de segurança, mantendo obras regulares,
licenciadas e seguras, não havendo, logo, necessidade de caráter punitivo, visto que sua conduta
foi a correta. Ou seja, não há como imputar-lhe uma pena privada, quando não houve má-fé,
dolo ou culpa grave nas ações da Requerida. Logo, não há que se falar em quantificação dos
danos morais pelo caráter punitivo.
117. Em conclusão, a Requerida, se responsabilizada, não deve ser condenada a indenizar a
Requerente por danos morais com caráter punitivo, visto que esses não estão previstos no
ordenamento jurídico brasileiro. Ainda, mesmo se aplicado o caráter punitivo, a punição em
esfera administrativa e penal somada ao caráter punitivo da indenização violaria o bis in idem.
Além disso, o caráter punitivo nos danos morais, quando aceitos, são definidos pela culpa, que
não deve ser analisada na responsabilidade objetiva. Sendo assim, a culpa necessária para a
configuração de indenização punitiva é inexistente no caso, devido à prudência das ações
realizadas pela Requerida, para minimizar os danos causados pela catástrofe ambiental.
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PEDIDOS
Por todo o exposto, considerando a ilegitimidade do Tribunal Arbitral para julgar a presente
controvérsia, a Requerida pleiteia que sejam reconhecidos os seguintes pedidos:
1. A extinção do presente procedimento arbitral pelas razões expostas, quais sejam, (i) a
indisponibilidade e a extrapatrimonialidade do interesse jurídico, (ii) a ilegitimidade da
Requerente e (iii) a nulidade do compromisso arbitral;
2. Subsidiariamente, a interrupção do procedimento arbitral em face da ordem judicial
exaurida em sede de ação civil pública. Se não pelo provimento do Poder Judiciário, que
seja suspensa a arbitragem dado o prejuízo por ela trazido às partes.
3. O reconhecimento da ausência de responsabilidade da Requerida pelos danos morais
coletivos causados aos residentes do Distrito do Vale do Cacique, em virtude da
ocorrência de força maior;
4. Subsidiariamente, a fixação do montante de indenização em patamares inferiores ao
defendido pela Requerida, pois não se aplica danos morais com caráter punitivo no caso;
5. Por fim, requer seja a Requerente condenada ao pagamento de todos os custos do
presente procedimento arbitral, incluindo-se as despesas administrativas da CAMARB e
os honorários dos árbitros e dos advogados ao final signatários.
Nesses termos,
Pede deferimento.
São Paulo, 10 de agosto de 2015
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EQUIPE 118