Curso Ciência e Fé Módulo VIII – Darwin e a Igreja Católica © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com
Curso Ciência e Fé
! I – Introdução
! II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
! III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
! IV – Inquisição e Ciência
! V e VI – O Caso Galileu
! VII – A Revolução Científica
! VIII – Darwin e a Igreja Católica
! IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
! X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
! XI – Milagres e Ciência
! XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
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1. Introdução
2. Charles Darwin e o darwinismo
3. A Igreja Católica e a evolução
4. O processo evolutivo
5. Conclusão
Índice
Introdução
! Criacionismo? ! Uma palavra ambígua ! Em sentido lato: Deus criou o Universo ! Em sentido estrito: Teoria da Terra jovem e/ou da criação imediata das espécies por Deus
! Evolucionismo? ! Outra palavra ambígua ! Aplicada à teoria científica evolucionista (selecção natural + genética mendeliana) ! Aplicada à tese filosófica que nega propósito ou finalidade na evolução ! Aplicada à tese filosófica ou teológica que nega a Deus acção sobre o processo evolutivo
! Evolução? ! Origem etimológica: do Latim “evolutio”, “evolvere”, traduzível como “desenrolar” ! Etimologicamente, “evoluir” é o actualizar de potencialidades latentes ! Significado corrente, longe do original: quase sinónimo de “progresso”, “desenvolvimento”,
no sentido de aumento de sofisticação, qualidade ou complexidade ! Problema filosófico deste significado corrente: do “menos” não pode sair o “mais”! ! Como é que a vida, com toda a sua complexidade, surge a partir da matéria inanimada? ! Como é que todos os seres vivos podem descender de um primeiro organismo primitivo?
Problemas de terminologia…
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! Richard Dawkins (1941-), biólogo britânico, “evangelista” do “novo ateísmo”:
! O darwinismo não oferece uma explicação científica para a existência de vida
! O “propósito” (ou a finalidade) pertence ao domínio da filosofia e não da ciência
Introdução
«A selecção natural, o processo automático cego e inconsciente que Darwin descobriu, o que agora sabemos ser a explicação para a existência e aparente propósito de toda a vida, não tem qualquer propósito em mente. Não tem qualquer mente nem qualquer visão mental. Não planeia o futuro. Não tem visão, não tem previdência, não tem vista de todo. Se se pode dizer que desempenha o papel de um relojoeiro na natureza, é o relojoeiro cego (…) Darwin tornou possível ser-se um ateu intelectualmente realizado.» - O relojoeiro cego
Um excelente exemplo de distorção da Ciência para fins alheios a ela!
O darwinismo usado para legitimar o ateísmo
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! Dawkins re-define assim a Biologia: «A Biologia é o estudo de coisas complicadas que dão a aparência de terem sido projectadas com um propósito»
! Dawkins dedica a sua carreira ao objectivo de provar que não há objectivo no Universo
! Jaki, padre beneditino, doutorado em Teologia e em Física, e historiador de Ciência, considerava prioritário libertar o darwinismo de tudo o que não fosse estritamente Ciência
Introdução
«O maior problema com esta opinião é este: um processo evolutivo, supostamente sem finalidade, leva a um resultado que é um ser, o homem, que tudo faz com uma finalidade. Os próprios evolucionistas negam o fim com uma finalidade: o seu fim é promover o materialismo, o qual não é seguramente ciência, mas uma anti-metafísica» - Stanley L. Jaki (1924-2009)
É fundamental distinguir a teoria científica evolucionista da filosofia materialista que costuma receber o mesmo nome
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1. Introdução
2. Charles Darwin e o darwinismo
3. A Igreja Católica e a evolução
4. O processo evolutivo
5. Conclusão
Índice
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! Epicuro (341-270 a.C.) ! Materialista e atomista, segundo o pensamento de Demócrito ! Defende uma existência de felicidade despreocupada e busca do prazer
! Aristóteles (384-322 a.C.) ! Fundou a Filosofia Natural ! É o “pai” do hilemorfismo (“hyle”+”morphos”)
! Tito Lucrécio Caro (c. 99 a.C. – c. 55 a.C.), filósofo romano ! Escreveu De rerum natura (“Da natureza das coisas”) ! A obra é uma defesa do epicurismo, do atomismo e da aleatoriedade (“fortuna”) ! Quer libertar o Homem do temor dos deuses, com uma explicação “naturalista” para tudo ! Para salvaguardar o livre arbítrio, propõe o indeterminismo do movimento dos átomos (“clinamen”)
! São Tomás de Aquino (1225-1274) ! Herdou de Aristóteles o hilemorfismo
! William Paley (1743-1805) ! Metáfora do “relógio” e do “relojoeiro”: precursor do actual “intelligent design”
! Charles Darwin (1809-1882)
O darwinismo tem raízes antigas....
Charles Darwin e o darwinismo
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! Lucrécio, um precursor de Darwin?
! Do Livro V da sua obra De rerum natura:
! Exceptuando diferenças na forma, esta é a proposta do evolucionismo materialista
Charles Darwin e o darwinismo
O darwinismo tem raízes antigas…
«Porque não foi certamente por reflexão, nem sob o império de um pensamento inteligente, que os átomos ocuparam o seu lugar; eles não concertaram entre si os seus movimentos. Mas como eles são inumeráveis e se movem de mil maneiras, submetidos durante [toda] a eternidade a impulsos [que lhes são] estranhos, e que movidos pelo seu próprio peso eles se aproximam e se unem de todas as formas, para incessantemente tentarem tudo o que pode ser gerado pelas suas combinações, sucedeu que depois de terem vagueado durante séculos, tentado infinitamente uniões e movimentos, chegaram por fim às súbitas formações maciças que estão na origem destes grandes aspectos da vida: a terra, o mar, o céu, e as espécies animais.»
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A filosofia de Darwin vem de Demócrito, de Epicuro e de Lucrécio
! Lucrécio, um precursor de Darwin?
! Quatro factos fundamentais:
1. Darwin não “descobriu” a evolução porque a ideia vem de Lucrécio
2. Lucrécio dava uma explicação materialista de toda a realidade, através do movimento aleatório de átomos desde tempos imemoriais
3. Os primeiros cristãos conheceram esta visão de Lucrécio e rejeitaram-na
4. A partir do século XV, a Europa redescobriu Lucrécio e a sua visão evolutiva
(fonte: Benjamin Wiker, “The Catholic Church and Science”, pp. 63-64)
! O materialismo de Lucrécio também lhe permitiu ser um ateu intelectualmente realizado!
! O materialismo de Lucrécio nasce do seu ateísmo e não de conhecimento científico
! O cristianismo rejeitou esta visão materialista muito antes de Darwin
! Isso explica porque é que a Igreja Católica nunca aceitará um darwinismo materialista
Charles Darwin e o darwinismo
O darwinismo tem raízes antigas…
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Charles Darwin e o darwinismo
O contexto intelectual: a tese do conflito entre religião cristã e Ciência
John William Draper (1811-1882)
“History of the Conflict between Religion and Science” (1875)
! Cientista, médico e professor universitário (NYU)
! Presidente da American Chemical Society
! Fundador da NY University School of Medicine
! Obra escrita num tom anticatólico
Andrew Dickinson White (1832-1918)
“A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom“ (1896, 2 vols.)
! Fundador (com Ezra Cornell) e primeiro Presidente da Universidade Cornell (EUA)
! White pretendia combater a “teologia” e não a “religião”: a Ciência vista como purificadora da religião organizada
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! Darwin, na sua Autobiografia (1876), cria a lenda da sua fé cristã
! Teria sido a sua viagem no Beagle (1831-1836) a fazê-lo perder essa fé
! Essa lenda reforçava a ideia de um conflito entre fé cristã e Ciência
! Darwin já era evolucionista (e materialista) antes de embarcar no Beagle
! O seu avô Erasmus Darwin (1731-1802), um deísta do Iluminismo, escreveu três obras evolucionistas (falando da “transmutação”):
! Botanic Garden (1791), obra de poesia
! Zoönomia (1794-96), obra científica
! The Temple of Nature (1803), obra de poesia
! O seu pai Robert Darwin (1766-1848), era médico e ateu
! Enquanto aluno de medicina em Edimburgo, Charles entra para a Plinian Society, um grupo de debate onde se discutia o materialismo
! Darwin foi assistente do médico e biólogo Robert Grant (1793-1874)
! Grant, figura de proa da Plinian Society, era materialista e evolucionista
Charles Darwin e o darwinismo
O darwinismo tem raízes antigas…
«(…) os animais mais fortes e activos devem propagar a espécie, que assim se torna melhorada.» - Zoönomia
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Charles Darwin e o darwinismo
Wallace e Darwin
! Alfred Russell Wallace (1823-1913), brilhante antropólogo e biólogo britânico
! Em 1858, com base na sua extensa pesquisa biogeográfica no Arquipélago Malaio, Wallace fica convencido da realidade da evolução
! Num ensaio escrito em Fevereiro de 1858, e enviado para Charles Darwin, Wallace propõe uma teoria de evolução por selecção natural, tal como Darwin
! A 1 de Julho, Darwin apresenta o ensaio de Wallace, juntamente com textos seus anteriores (para proteger a sua prioridade) à Linnean Society de Londres
! No seu ensaio, Wallace apresenta a selecção natural (sem usar essa expressão de Darwin) como um processo auto-regulado pelo qual a pressão ambiental garante a extinção de indivíduos com eventuais deficiências
! Enquanto que Darwin dava maior ênfase à competição entre indivíduos, Wallace destacava a pressão ambiental que levava à selecção natural
! 24 de Novembro de 1859: “On the Origin of Species”, de Darwin
! Wallace saiu várias vezes em defesa de Darwin e do seu livro
! Em 1863, Wallace refuta um artigo que Samuel Haughton, professor de Geologia no Trinity College, tinha escrito contra Darwin, alegando que os favos hexagonais das colmeias não podiam surgir por selecção natural
! Em 1867, Wallace escreve o artigo “Creation by Law”, em defesa de Darwin, contra a obra “Reign of Law”, do Duque de Argyll 13
Charles Darwin e o darwinismo
Wallace e Darwin
! Em 1864, Wallace publica o artigo “The Origin of Human Races and the Antiquity of Man Deduced from the Theory of 'Natural Selection'“, louvado por Darwin
! No Verão de 1865, sempre atraído por ideias novas, Wallace adere ao espiritismo
! Na sociedade vitoriana, o espiritismo era considerado por muitos como científico e visto como alternativa atractiva ao cristianismo para quem rejeitava o materialismo
! Para Wallace, a selecção natural não explicava o surgimento da vida, a consciência e a razão humana
! A partir de 1869, Wallace torna públicas as suas dúvidas sobre o poder explicativo do evolucionismo:
«Nem a selecção natural nem a mais geral teoria da evolução podem explicar o que quer que seja acerca da origem da vida sensitiva ou consciente. [Elas] podem ensinar-nos como, através de leis naturais químicas, eléctricas ou superiores, o corpo organizado se pode construir, crescer, e reproduzir o seu semelhante; mas essas leis e esse crescimento não podem sequer ser concebidos como dotando os recém-organizados átomos com consciência. Mas a moral e a superior natureza intelectual do homem é um fenómeno tão único como foi o da vida consciente aquando da sua primeira aparição no mundo, e aquelas são quase tão difíceis de conceber como originando por uma qualquer lei da evolução como esta. Podemos ir mais longe, e defender que há certas características puramente físicas da raça humana que não são explicáveis com a teoria da variação e da sobrevivência dos mais aptos.» - Alfred Wallace, num comentário a dois artigos de Charles Lyell
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! The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex (1871)
! Darwin escreve esta obra como reacção à mudança de ideias de Wallace
! Nesta obra, Darwin defende a eugenia, o apuramento da espécie humana:
! Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, é o “pai” do eugenismo
Charles Darwin e o darwinismo
Os perigos morais do darwinismo
«Nós, os homens civilizados, por outro lado, fazemos o nosso melhor para deter o processo de eliminação [darwiniana, por selecção natural]; construímos asilos para os imbecis, os mutilados, e os doentes; instituímos leis para a pobreza; e os nossos médicos exercem a sua máxima perícia para salvar a vida de cada um até ao último momento. Há razões para acreditar que a vacinação preservou milhares, que devido à sua fraca constituição teriam sucumbido à varíola. Assim, os membros fracos das sociedades civilizadas propagam a sua variedade. Ninguém que tenha tomado parte na criação de animais domésticos duvidará que isto deve ser altamente prejudicial para a raça do homem. É surpreendente quão cedo um desejo de cuidar, ou de um cuidar mal direccionado, leva à degeneração de uma raça doméstica; mas exceptuando o caso do próprio homem, dificilmente alguém é tão ignorante ao ponto de permitir que os seus piores animais procriem.»
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1. Introdução
2. Charles Darwin e o darwinismo
3. A Igreja Católica e a evolução
4. O processo evolutivo
5. Conclusão
Índice
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A Igreja Católica e a evolução
Textos do Magistério
! Humani Generis, Pio XII (12 de Agosto de 1950): «Por isso o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são directamente criadas por Deus)»
! Mensagem à Academia Pontifícia das Ciências, João Paulo II (22 de Outubro de 1996): «Hoje, cerca de meio século após a publicação da Encíclica [Humani Generis de Pio XII], novos conhecimentos levam a não considerar mais a teoria da evolução como uma mera hipótese»
! Mas, mais adiante…: «se o corpo humano tem a sua origem na matéria viva que existia antes dele, a alma espiritual é imediatamente criada por Deus (…) as teorias da evolução que, em função das filosofias que as inspiram, consideram o espírito como emergente das forças da matéria viva ou como um simples epifenómeno desta matéria, são incompatíveis com a verdade do Homem»
! Comunhão e Serviço – A pessoa humana criada à imagem de Deus, Comissão Teológica Internacional, 23 de Julho de 2004: «Uma vez que foi demonstrado que todos os organismos vivos da Terra são geneticamente relacionados entre si, é praticamente certo que estes descendem todos desse primeiro organismo.»
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1. Introdução
2. Charles Darwin e o darwinismo
3. A Igreja Católica e a evolução
4. O processo evolutivo
5. Conclusão
Índice
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! Causa final ! P: Para que é que foi feita a coisa? ! R: Para retratar a a beleza feminina / divina
! Causa formal ! P: O que é a coisa? ! R: Uma estátua de mármore da Vénus de Milo
! Causa eficiente ! P: Como surgiu (ou como foi feita) a coisa? ! R: A técnica do escultor no manusear do martelo e escopo
! Causa material ! P: De que é feita a coisa? ! R: De mármore
Os quatro tipos de causas das coisas naturais
O processo evolutivo
Por vezes, as causas coincidem na mesma coisa: p.ex.: a alma, que para Aristóteles é a forma dos seres vivos, pode ser causa final, formal e eficiente.
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O processo evolutivo
Síntese evolutiva neodarwiniana (neodarwinismo) ! Mutação: variação introduzida num ou mais genes (no ADN) de uma célula reprodutora
! Selecção natural:
! Certas variações no ADN de uma célula reprodutora podem aumentar a aptidão (“fitness”) do novo ser vivo (quer por reprodução sexuada ou assexuada)
! Esse ser vivo mais apto tem maior probabilidade de transmitir o seu ADN para a sua descendência
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O processo evolutivo
Algoritmos genéticos
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O processo evolutivo
Algoritmos genéticos ! Aplicação computacional do neodarwinismo na resolução de problemas de optimização
! Parte de um conjunto (“população”) de possíveis soluções para o problema que são geradas aleatoriamente (chama-se a esse passo inicial a “inicialização da população”)
! Cada solução é codificada com um “cromossoma” e considerada membro da “população”
! A1-A2-B2-C2…
! A1-B1-C1-C2…
! ….
! Em cada “geração” do algoritmo, altera-se uma parte da “população”:
! Através de “mutações” : o “cromossoma” A1-A2-B2-C2 passa a A1-A2-B2-A2…
! Através de “cruzamentos” : A1-A2-C1-C2, A1-B1-B2-C2
! Em cada “geração”, todos os “cromossomas” são pontuados por critérios de optimização:
! Pontuação baixa para os que não resolvem o problema
! Pontuação alta para os que resolvem o problema
! Pontuação mais alta para os que resolvem o problema de forma mais eficiente
! Ao longo das “gerações”, os melhores “cromossomas” (soluções) “sobrevivem” e multiplicam-se
! Ao final de algum tempo, o Algoritmo Genético pode chegar a uma solução óptima 22
Algoritmos genéticos: as causas do processo evolutivo
O processo evolutivo
! Causa final ! P: Para que tende o algoritmo (processo)? ! R: Maximizar a aptidão (“fitness”) dos elementos da população…
! … em termos da sua “sobrevivência” e da sua “reprodução” ! Ambas relacionadas com a optimização dos objectivos do algoritmo
! Sem um bom critério de optimização, o algoritmo (processo) não converge para resultados óptimos (ou sub-óptimos)!
! Causa formal ! P: O que é o algoritmo (processo)? ! R: “População” de vectores “cromossomáticos” que representam possíveis soluções
(“cromossomas”) para o problema de optimização são avaliadas iterativamente ! Sem uma boa codificação dos “genes” o algoritmo (processo) também não
converge: a solução óptima tem que ser codificável num “cromossoma”
! Causa eficiente ! P: Como surge e como se desenrola o algoritmo (processo)? ! R: Intervenção do programador; execução do “software” do algoritmo genético,
simulando mutações, cruzamentos (reprodução) e selecção natural
! Causa material ! P: De que é feito o algoritmo (processo)? ! R: De correntes e cargas eléctricas dentro de um computador
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Interpretação aristotélico-tomista do processo evolutivo ! As essências (das espécies) não são platónicas: não existem separadamente dos seres vivos
! Tal como diz o darwinismo, não há transmutação de essências ou espécies
! Tal como diz o darwinismo, não há transmutação de indivíduos
! Nada impede, em princípio, mudanças substanciais nos seres vivos
! Em Física e em Química, mudanças substanciais ocorrem frequentemente
! No entanto, a variação biológica não parece surgir por mudanças substanciais num ser vivo mas por mutação, cruzamento, deriva genética, entre outros mecanismos biológicos
! Como diz o darwinismo, um indivíduo de uma espécie pode gerar, por reprodução com introdução de variação nos gâmetas, um indivíduo cuja essência já não é idêntica à sua
! Assim, o aristotelismo-tomismo é compatível com os dados científicos acerca da evolução
! É compatível com a extinção de espécies: a essência de uma espécie é o que ela é, ou o que ela era, caso se tenha extinto
! O aristotelismo-tomismo, com a sua defesa das essências, dá sentido ao termo “espécie”
! De outro modo, a interpretação filosófica do processo evolutivo é a de um fluxo heraclitiano
! Vista estritamente do ponto de vista genealógico, a “árvore da vida” não oferece uma base para a definição rigorosa de “espécie” nem para a classificação das espécies (taxonomia)
O processo evolutivo
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Interpretação aristotélico-tomista do processo evolutivo ! Porfírio (234-c.305 d.C.), filósofo neoplatónico fenício (de Tiro), comentou as Categorias
! A árvore de Porfírio é uma esquematização da categoria aristotélica “Substância”
O processo evolutivo
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Interpretação aristotélico-tomista do processo evolutivo ! As árvores cladísticas são esquematizações filogenéticas (genealógicas) dos seres vivos ! Reflectem, pela genealogia, as causas eficientes (transientes) dos seres vivos
! Ao contrário da árvore de Porfório, as árvores cladísticas não têm em conta às causas formais (imanentes) dos seres vivos, e não servem como base consistente para a taxonomia
O processo evolutivo
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Interpretação aristotélico-tomista do processo evolutivo ! As árvores cladísticas são omnipresentes no evolucionismo contemporâneo e são muito úteis ! No entanto, impedem uma correcta classificação dos seres vivos pelas suas causas formais ! Por exemplo, as bactérias e as arqueas móveis são animais (sentientes e locomotores) ! Apesar de serem animais, estão num ramo diferente do dos animais (no domínio “Eukarya”)
O processo evolutivo
Saber como surgiu um ser vivo não é o mesmo que saber o que ele é! 27
Interpretação aristotélico-tomista do processo evolutivo ! Problemas filosóficos do evolucionismo materialista
! Surgimento da vida: o evolucionismo pressupõe o ADN para haver selecção natural ! Surgimento de seres sentientes a partir de seres não sentientes (vegetais) ! Surgimento de seres racionais a partir de seres irracionais
! Será que a selecção natural se aplica à matéria inanimada? Como? ! Como é que a finalidade poderia surgir da ausência de finalidade?
! Se houver uma explicação evolutiva para o início da vida, não estará ela “ancorada” na “afinação” das condições iniciais do Universo, também elas altamente específicas?
! O aristotelismo-tomismo resolve alguns destes problemas, sendo uma boa moldura filosófica:
! A “plasticidade” da molécula de ADN, que está na base da variedade morfológica de todos os seres vivos, pode resolver o dilema filosófico do evolucionismo: o “mais” não evolui a partir do “menos”, porque a molécula de ADN já permite, em potência, toda essa variedade
! Se a molécula de ADN já permite, em potência, todos os seres vivos adaptados à Terra, então o processo evolutivo apenas actualiza essas potências inerentes ao ADN
! A causa formal de um ser vivo inclui (mas não se reduz a) a informação presente num genoma específico feito de um aglomerado de cadeias de ADN
! A causa final de um ser vivo inclui (mas não se reduz a) a adaptação desse ser vivo a um determinado conjunto de condições ambientais, e no planeta Terra (e talvez algures no Universo) há uma variedade enorme desses ambientes propícios à vida
O processo evolutivo
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O processo evolutivo
E o “intelligent design”? ! O conceito não é novo e data do século XIX, tendo sido usado por Darwin e Wallace
! Como movimento, surge nos anos 80 do século XX entre os defensores da “creation science”
! A “creation science” visa conciliar a leitura literal da Bíblia (sobretudo do Génesis) com Ciência
! 1987: o Supremo Tribunal (E.U.A.), caso Edwars vs. Aguillard, considerou inconstitucional o ensino da “creation science”, revogando uma lei do Louisiana que decretava o seu ensino a par do evolucionismo nas escolas públicas
! Esta decisão leva os defensores da “creation science” a adoptar o termo “intelligent design”
! 1990: Fundação do Discovery Institute, dedicado à defesa do “intelligent design”
! 1996: O livro “Darwin’s Black Box” de Michael Behe:
! Defende o conceito de “complexidade irredutível” como indicativo de “intelligent design”
! Um sistema exibe complexidade irredutível quando é “composto de várias partes bem adaptadas e interactivas entre si que contribuem para uma função básica, sendo que a remoção de qualquer das partes causa a perda de funcionamento do sistema”
! 1998: O livro “The Design Inference” de William Dembski:
! Defende o conceito de “complexidade especificada” como indicativo de “intelligent design”
! Baseia-se num limitar probabilístico para um determinado evento abaixo do qual não se pode atribuir esse evento ao acaso
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O processo evolutivo
E o “intelligent design”? ! Aspectos positivos
! Agita o debate científico, estagnado num evolucionismo materialista que se tornou dogma
! Relembra o facto de que há finalidade em Biologia, que os organismos exibem finalidade
! Combate a excessiva secularização do ensino público
! Ajuda a combater a excessiva exclusão do cristianismo da esfera pública
! Aspectos negativos
! As propostas do ID são filosóficas, mas são defendidas como se fossem científicas
! “Propósito”, “finalidade”, e até a genuína “inteligência”, são termos exteriores à Ciência
! O ID não assume uma clara confissão cristã que o motiva; o ID não diz quem é o “designer”
! A filosofia por detrás do ID não é boa: descende de um deísmo iluminista que vê o Universo como uma “máquina”, e de certa teologia protestante que vê Deus como um “relojoeiro”
! O argumento de “complexidade irredutível” de Michael Behe é uma versão moderna do argumento do “relojoeiro” de William Paley e sofre dos mesmos problemas filosóficos
! Em suma, o “Intelligent Design” nem é boa ciência nem é boa filosofia
! O aristotelismo-tomismo, como filosofia verdadeira, permite uma boa conciliação com a Ciência 30
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1. Introdução
2. Charles Darwin e o darwinismo
3. A Igreja Católica e a evolução
4. O processo evolutivo
5. Conclusão
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Evolucionistas cristãos (e críticos do “intelligent design”) ! Francis Collins, médico e geneticista norte-americano, dirigiu o Projecto do Genoma Humano;
desde 2008 é o director dos National Institutes of Health (E.U.A.)
! Simon Conway Morris, paleontólogo britânico, membro da Royal Society, Univ. de Cambridge
! Martin Nowak, matemático e bioquímico austríaco, Professor de Biologia e Matemática em Oxford, Princeton e Harvard e Director do Programa de Dinâmica Evolutiva em Harvard
Evangélico Anglicano Católico
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