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2º Módulo Regional Centro-Oeste.Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.

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2°MÓDULO DO CURSO DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES E EDUCADORAS EM CONCEPÇÃO, PRÁTICA SINDICAL E METODOLOGIA DA FORMAÇÃO.

(REGIÃO CENTRO OESTE) Data: 16 a 22 de setembro de 2007Local: Cesir Endereço: SMPW Quadra 1 Conjunto 02 Lote 02.

MATRIZ PEDAGÓGICA

Objetivo Geral:

Contribuir com a formação de militantes do MSTTR, de modo que aprimorem sua capacidade multiplicadora e potencializadora da ação formativa em suas áreas de atuação.

Objetivos Específicos:

Socializar e aprofundar referenciais teóricos, políticos e ideológicos que fundamentam e alimentam os ideais e a luta sindical e popular.

Re-avaliar e fortalecer a luta sindical , numa visão e ação sindical transformadoras, estimulando processos de mudanças de atitudes, comportamentos e práticas individuais e coletivas, coerentes com as exigências de implementação do PADRSS.

Favorecer a experimentação, sistematização e apropriação de novas metodologias pedagógicas que realimentem a prática formativa do movimento sindical.

Contribuir para a constituição de uma rede de formadores/as que assumam e implementem o projeto de formação do MSTTR.

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EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, CONCEPÇÃO, ESTRUTURA E PRÁTICA SINDICAL. EIXOS PEDAGÓGICOS: PEDAGOGIA PARA UMA NOVA SOCIABILIDADE E MEMÓRIA E IDENTIDADE.

Observação: utilizar alinha do tempo como principal recurso pedagógico. Dia/

períodosTema e Sub-temas. Objetivos Metodologia Responsávei

s 16/09 (manha)

Até as 09:00h - Chegada dos/as estudantes

10:00h – Abertura - acolhida (dinâmica que dialogue com o eixo memória e identidade)

Conversa pedagógica sobre matriz do curso e sua lógica política

Acordo de convivência Organização das Equipes de

Trabalho

Refletir sobre a vivência sindical, suas motivações, tempos e significados para a organização dos trabalhadores/as rurais.

Dialogar com o Itinerário do povo andarilho (Ingresso no mundo sindical e seus significados) considerar os tempos, motivações, fatos e significados.

Equipe de Estudantes do DF e Equipe Escola

Almoço Tarde 14:00h – Diálogo sobre a Política

Nacional de Formação – PNF, PADRSS e Projeto Político Pedagógico.

Reapropriação do primeiro módulo: temas geradores e

Construir pontes e identificar possíveis lacunas de um módulo para outro.

Mapa mental

Cochicho e

Equipe Escola

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possíveis lacunas Socialização e atividades inter-

módulo.

Socializar os resultados das atividades inter-módulo e identificar aspectos a serem refletidos durante o módulo.

exposição

17/09(Manha)

08:30h - Identidade social, ideologia e luta de classe.

Desigualdade e luta de classe Gênero, Raça e Etnia.

Compreender como são reproduzidas as relações desiguais.

Exposição dialogada e reflexões em grupos

Edson Cardoso Professor da UNB

12:30h Almoço

Tarde 14:30 - História do sindicalismo no mundo e no Brasil.

Contexto e significado da revolução industrial

As primeiras formas de organização da classe trabalhadora

As diferentes concepções existentes

Compreender como e porque surgiram as primeiras formas de organização da classe trabalhadora. Compreender o papel do sindicalismo no contexto histórico enquanto meio de transformação social.

Exposição dialogada

Jeová de Lima – assessor da CONTAG

18/09 (manha)

8:30h - A Organização dos trabalhadores/as no Brasil: Refletir sobre o contexto, Exposição Manoel José

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contexto e significados Das primeiras lutas ao

surgimento do sindicalismo rural

A implantação da estrutura sindical no Brasil no contexto do estado novo.

Concepção, características e conseqüência para a organização dos trabalhadores/as

O sindicalismo durante e pós-ditadura militar. A criação da Contag, Fetags e STRs.

A organização das mulheres no sindicalismo rural.

as diversas concepções sindicais existentes, as formas de organização dos trabalhadores a as estratégias de lutas adotadas.

Compreender a lógica e o porquê da intervenção do Estado na organização dos trabalhadores/as

dialogada com depoimentos intercalados.

Retomar aspectos da apresentação do grupo.

dos Santos – presidente da CONTAG. Jonas Pereira – depoimento.

Juacy da Silva – fazer exposição dialogada.

12:30h Almoço.Tarde 14:00h - As concepções sindicais

que caracterizaram o sindicalismo da região Centro Oeste.

Refletir sobre as características do sindicalismo rural na região Centro Oeste.

Mesa redonda e júri simulado

Geraldinho – presidente Fetag/MS;Jonas Pereira/MTGO/DF ??

19/09 (manha)

8:30h –As Centrais Sindicais e a luta da classe trabalhadora.

As Centrais Sindicais no Brasil e na região.

As origens históricas da CUT O MSTTR na CUT

Compreender a papel das centrais sindicais na luta da classe trabalhadora.

Refletir sobre os princípios que motivaram a criação

Mesa redonda com representantes da CUT/DF e CONTAG

Rejane -Presidenta da CUT/DF. Carmen Foro – Vice Presidenta da

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da Central Única dos Trabalhadores – CUT.

CUT e Coordenadora da CNMTR da CONTAG.

12:00h Almoço19/09(tarde) 8:00h – Contexto e perspectiva

da Gestão SindicalRefletir sobre a política de gestão, seus limites e desafios na atualidade.

Exposição Dialogada

Juraci Moreira Souto – Secretaria de Finanças e Administração da CONTAG.

20:00h NOITE CULTURAL

20/09(manha) DESCANSO

20/09(Tarde)

14:00h - O sindicalismo na atualidade e seus Desafios.

A organização sindical e sues desafios.

A configuração regional - o Projeto Hegemônico e a Ação Sindical.

Os espaços de poder Relação campo e cidade

Refletir sobre o espaço regional na atualidade e os desafios da ação sindical.

Exposição dialogada

Gilberto Antonio Viegas - UNIVAG

12:30h Almoço

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21/09(manha)

14:00h - A política nacional de formação – PNF

Os referenciais políticos e pedagógicos (PADRSS e PPP)

A estratégia formativa e sua articulação interistitucional (Contag, Federações e STRs)

Os sujeitos e a relação teoria prática.

Refletir sobre a ação formativa - seus princípios políticos e pedagógicos, estratégia formativa -, e sua relação com a organização e a ação política e sindical.

Rodas de Conversa

Equipe Escola

12:00h Almoço 21/09Tarde

14:00h - Dialogo pedagógico – atividades inter-módulo.

Dialogar sobre as atividades inter-módulo.

22/09(manha)

Avaliação e sistematização Fazer avaliação do processo pedagógico vivenciado durante o módulo e sistematizar as principais questões apreendidas.

Oficina de avaliação e sistematização

Equipes de Estudantes e equipe Escola

Tarde Encerramento

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Origem e papel dos sindicatos

Altamiro Borges1

Desde a divisão da sociedade em classes, após a superação da comuna primitiva, a história das sociedades é marcada pela luta entre explorados e exploradores. Isto ocorreu no sistema escravista, no modo de produção asiático, no feudalismo e ocorre até hoje no capitalismo. É nesse último sistema econômico, entretanto, que a luta de classes atinge a sua plenitude.

O Sindicato, objeto de nosso estudo, é um fenômeno típico desse sistema. Ele só surge no modo de produção capitalista. A palavra surge do francês - syndic - que significa “representante de uma determinada comunidade”. Com a queda do feudalismo na Europa, num longo processo iniciado a partir do século 17, a sociedade se divide claramente em duas classes. De um lado, a burguesia, dona dos meios de produção - instalações, máquinas, matérias primas etc. O termo burguesia deriva de burgos, que eram as pequenas localidades nos arredores dos feudos, onde viviam os comerciantes e os artífices - os germes dos futuros industriais. Do outro, o proletariado, desprovido de tudo, obrigado a vender a sua força de trabalho aos capitalistas. A expressão proletariado vem do latim da antiga Roma e designa os cidadãos que viviam à beira da miséria e que tinham uma prole numerosa.

Lênin, dirigente da revolução russa de 1917, sintetiza de maneira simples as características desse sistema. “Denomina-se capitalismo a organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os instrumentos de produção etc., pertencem a um pequeno número de latifundiários e capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma ou quase nenhuma propriedade e deve, por isso, alugar sua força de trabalho. Os latifundiários e industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir tais ou quais artigos que eles vendem no mercado. Os patrões pagam aos operários exclusivamente o salário indispensável para que estes e suas

1 Jornalista

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famílias mal possam sub-existir. Tudo o que o operário produz acima dessa quantidade de produtos necessária a sua manutenção, o patrão embolsa isso: isso constitui o seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa do povo trabalha para os outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um salário. Compreende-se que os patrões tratem de reduzir o salário, quanto menos aos operários, mais lucro lhes sobra. Em compensação, os operários tratam de receber o maior salário possível para poder sustentar sua família com uma alimentação abundante e sadia, viver numa boa casa e não se vestir como mendigos. Portanto, entre patrões e operários há uma constante luta pelo salário”.

É dessa luta cotidiana, inerente ao capitalismo, que surgem as primeiras formas de organização dos trabalhadores. Elas nascem como resultado do esforço espontâneo dos operários para impedir ou atenuar a exploração. Não aparecem por inspiração de “subversivos”, como a burguesia propaga, mas sim por uma necessidade natural dos que vivem de salário. Para elevar os seus lucros, o capitalista necessita extrair o máximo de mais-valia, que é o trabalho excedente não repassado ao operário na forma de salário.

Essa é a lógica do sistema, em que a concorrência leva os empresários a uma incessante busca por maiores lucros - com a redução dos custos operacionais e a elevação da produtividade. Por sua vez, os trabalhadores têm a necessidade de lutar pela diminuição da taxa de mais-valia, pelo aumento do seu poder aquisitivo, e por condições humanas de trabalho. Nessa luta, o operariado conta com a vantagem de se constituir em grande quantidade.

Para cumprir esse papel, os sindicatos se tornam centros organizadores dos assalariados, focos de resistência à exploração capitalista. Num primeiro momento, eles vão congregar os operários das oficinas e das fábricas, os que produzem diretamente as riquezas - o setor dinâmico da sociedade capitalista. Posteriormente, com o desenvolvimento do próprio sistema, eles se generalizam, atingindo outros setores econômicos. Para Marx, “se os sindicatos são indispensáveis para a guerra de guerrilhas

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cotidianas entre o capital e trabalho, são também importantes como meio organizado para a abolição do sistema de trabalho assalariado”.

Berço do capitalismoOs primeiros sindicatos nascem exatamente na Inglaterra -

considerada o “berço do capitalismo”. Foi nesse país que se realizou a primeira revolução burguesa da história - dirigida por Cromwell, em 1640. Após muitas marchas e contramarchas, a burguesia se consolidou no poder, acumulou capital e pode realizar a primeira revolução industrial - no século 18. O capitalismo inglês vai viver a partir daí um intenso processo de desenvolvimento, com a superação do trabalho artesanal, posteriormente da produção manufatureira e, a partir da introdução de novas máquinas, com o surgimento das grandes fábricas. É nesse momento, meados do século 18, que o capitalismo encontra plenas condições para se expandir e virar o sistema predominante.

O desenvolvimento do capitalismo deixará evidente a contradição desse sistema. Para extrair a mais-valia, fonte dos lucros, a burguesia inglesa imporá jornada de trabalho que atingiam até 16 horas diárias. Os salários serão os mais reduzidos e as condições de trabalho, as mais precárias. Com o objetivo de atrair mão-de-obra livre, ela promoverá os famosos “cercamentos” no campo, nos séculos 17 e 18, expulsando os servos das glebas rurais para torná-los “homens livres”, aptos ao trabalho assalariado. Nesse período, são constituídos enormes contingentes de desempregados nos centros urbanos, que Marx chamará de exército industrial de reserva, como forma de baratear o custo do trabalho através da concorrência.

A introdução das novas máquinas, que representa a consolidação definitiva desse novo modo de produção, também agravará as contradições entre capital e trabalho. Através desses novos instrumentos, a burguesia golpeia os artesãos e suas corporações, que tinham grande poder de barganha. Com as máquinas, ela não necessita mais de mão de obra especializada do artesão, pode introduzir a mulher e o menor no mercado de trabalho, com salários mais aviltados e em piores condições de trabalho. Leo Huberman, no livro “História da Riqueza do Homem”, descreve esse brutal processo de rebaixamento do nível profissional. Ele cita, por exemplo, o

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depoimento de uma criança de 11 anos a uma comissão do parlamento inglês, em 1816: “Sempre nos batiam se adormecíamos. O Capataz costumava pegar uma corda da grossura do meu dedo polegar, dobrá-la e dar-lhe em nós. Trabalhei toda a noite, certa vez”.

Todas essas condições de exploração, próprias do novo sistema econômico, vão gerar resistências entre os explorados. Esse processo de luta passará por longas experiências. As greves e os sindicatos, por exemplo, não aparecerão num estalo de dedos. Antes, a classe operária passará por um longo processo de aprendizado até encontrar as formas mais eficientes de luta e concluir que sua união é fundamental para se contrapor ao poder do patronato. Um das principais formas de luta foi o Luddismo, também conhecido como o movimento dos quebradores de máquinas. Inexperiente, a jovem classe operária viu nas máquinas o seu principal inimigo. Afinal, aparentemente a máquina é que era responsável pelo desemprego dos trabalhadores especializados, pela inserção da mulher e do menor nas fábricas em condições degradantes etc.

O termo Luddismo deriva do nome do operário têxtil Ned Ludd, que trabalhava numa pequena oficina em Nottingham, cidade próxima de Londres. Segundo pesquisas, esse operário destruiu totalmente os teares mecânicos da fábrica num sinal de revolta contra os efeitos da Revolução Industrial. Sua atitude, apesar de individual, refletia o estado de espírito dos artesões. Em pouco tempo, seu gesto foi imitado em várias cidades da Inglaterra e atingiu também a França. “Entre 1811 e 1812, os Luddistas espantaram a burguesia”, informa José Cândido Filho, autor do livro “O Movimento Operário: O Sindicato e o Partido”. O parlamento Inglês, que nunca tratara da questão operária, discutiu o assunto e aprovou, em 1812, uma lei que punia com a pena de morte os “quebradores de máquinas”.

A legislação repressiva não conteve o Movimento Luddista, que quatro anos depois foi retomado com novas máquinas quebradas em Londres, Glasgow, Newcastle, Preston, Dundee e outras cidades. Segundo José Cândido, os Luddistas ingleses costumavam cantar uma música que se tornou conhecida, quando quebravam as máquinas. “De pé ficaremos todos/E com firmeza juramos/Quebrar tesouras e válvulas/E arrasar todas as

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máquinas”. A revolta operária repercutiu também entre a intelectualidade da época, que passou a dar maior atenção às condições de vida e de trabalho do proletariado. Dessas primeiras lutas da classe operária nasceram belos escritos e poemas, como o de Shelley, “Os homens da Inglaterra”, reproduzido no livro de Leo Huberman, “A História da Riqueza do homem”.

Aos poucos, entretanto, o Luddismo começou a ser superado como forma de luta da jovem classe operária. Mas experiente, ela constatou que não era a máquina a sua inimiga, mas sim o uso que o patrão fazia dela. Que era um erro se contrapor ao desenvolvimento do próprio conhecimento humano, expresso os avanços da tecnologia. O movimento dos quebradores de máquinas também caiu no isolamento diante da sociedade, reduzindo-se a pequenos grupos de trabalhadores que destruíam máquinas e espancavam os cientistas que as inventavam. A própria burguesia que num primeiro momento aprovou a pena de morte, começou a dar sinais de assimilação dessa forma de luta. É nesse período que se generalizava o seguro de patrimônio na Inglaterra e alguns patrões inclusive são flagrados destruindo suas máquinas para adquirir outras mais modernas.

Outra forma de luta que será utilizada na infância da classe operária, será o boicote - palavra que deriva do nome de um oficial inglês encarregado de administrar os negócios do conde Erne, da Irlanda, Sir Boycott era conhecido por seus métodos truculentos no tratamento com os empregados. Ele se recusava a negociar e os trabalhadores passaram a fazer o mesmo, propondo que os moradores do povoado não consumissem os produtos do Conde Erne. Este teve um grande prejuízo e afastou o oficial inglês do cargo. A sabotagem também será usada nesse período como mecanismo de pressão dos trabalhadores por seus direitos. O termo tem origem francesa e significa "tamanco". Os operários franceses usavam esse tipo de calçado para danificar as máquinas, emperrando a produção.

O salto na ação desse jovem proletariado vai se dar com o recurso da greve - uma forma de luta mais avançada para pressionar o patronato. Segundo José Cândido, “A origem do termo, liga-se à Praça da Greve (place de grève), atualmente praça do Hotel De Ville, em Paris. Quando desempregados ou para tratarem de assuntos relativos ao trabalho, os

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operários costumavam reunir-se ali. Faire grève (fazer greve) significava, portanto, reunir-se na praça da greve. A greve foi o recurso de luta de maior eficácia nesse período, tanto na Inglaterra, como nos demais países em que o capitalismo foi introduzido. Esse recurso se espalhou pelo mundo, sendo encarado de diversas formas. Para alguns, defensores da manutenção do sistema capitalista, como simples mecanismo regulador do mercado de trabalho. Para outros, no caso dos Anarquistas, como um fim em si mesmo. “A greve é tudo”, dirá Bakunin - um dos principais teóricos do movimento ácrata.

Já para os revolucionários, a greve será vista como uma das principais armas na luta de guerrilha entre capital e trabalho e como poderoso instrumento de elevação da consciência e do nível de organização do proletariado. O dirigente da revolução russa de 1917, Vladimir Ilitch Lênin, escreveu um texto sobre as greves.

Sindicato ClandestinoÉ nesse processo da luta que a classe operária sentirá a

necessidade de se organizar. É dele que surgirão os sindicatos que na Inglaterra têm o nome de trade-unions - que significa união de ofício, de profissões. Essas jovens entidades de trabalhadores não terão as mesmas características dos sindicatos atuais - que conquistaram o reconhecimento legal, têm sedes, diretores afastados e gozam do direito de negociar com o patronato. Pelo contrário. No século 17, período de surgimento das trade-unions, elas serão clandestinas, com muita dificuldade de atuação. A burguesia verá nelas um grande perigo. Seu temor é que elas unam o grande número de trabalhadores, até aqui dispersos e vivendo em concorrência entre si pelo emprego. Há registro de associações de trabalhadores com caráter sindical desde 1699. Nesse ano em Londres, uma greve dos operários têxteis assustou o governo e a jovem burguesia - que ainda se constituía enquanto classe. É só no século 18, quando a revolução industrial tomou impulso na Inglaterra, que os sindicatos vão se generalizar para evitar seu crescimento, o parlamento inglês aprova em 1799 a combination law, a lei sobre associações que proíbe o funcionamento de sindicatos.

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A violência da burguesia se dará em vários terrenos. No campo legal, elas serão proibidas. A primeira lei que garantirá a livre associação dos trabalhadores só será aprovada em 1812, na câmara dos Lordes, em Londres. Além de usar o aparato policial do Estado para reprimir essas entidades, a burguesia inglesa - e posteriormente de outros países - também utilizará as milícias privadas. Os jagunços, que hoje são uma marca do campo em nosso país, já foram muito usados pelo patronato nos centros urbanos. Alguns se tornaram famosos como o bando Pinkerton, dos EUA - uma poderosa agência de pistoleiros contratada para reprimir greves e assassinar lideranças operárias.

Para se proteger dessa violência, no inicio as trade-unions agem totalmente na clandestinidade. As reuniões são secretas; não há sedes sindicais, campanhas massivas de sindicalização, nem mesmo negociação direta com o patronato. Algumas trade-unions inclusive formulam “códigos de participação”, com normas para garantir a sobrevivência da entidade. Elas fixam a triagem dos trabalhadores que devem ser convidados para as reuniões clandestinas. A entidade dos têxteis, por exemplo, prevê um período de observação de dois anos para avaliar se o trabalhador não é dedo-duro, infiltrado do patrão. Só depois ele é convidado a participar das reuniões. O seu código fala também de justiçamento dos delatores, compondo um braço armado para amedrontar os traidores em potencial.

Aos poucos, no entanto, as trade-unions inglesas vão se consolidando. Elas dirigem mais greves, maiores protestos. Deixam o patronato num dilema. Já que são proibidas, o empresário não tem como negociar em momentos de greve. Isso gera grandes prejuízos, principalmente quando não há estoques e surgem encomendas de produtos. Diante desse crescimento das lutas operárias, é que o parlamento da Inglaterra irá aprovar, em 1824, a primeira lei sobre o direito de organização sindical dos trabalhadores. Essa conquista permitirá um poderoso aumento da força do sindicalismo. Em todos os ramos industriais formam-se trade-unions. Também surgem as “caixas de resistências” para apoiar financeiramente os grevistas.

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O outro avanço nesse período será a organização de federações que unificam várias categorias. Em 1830 é fundada a primeira entidade geral dos operários ingleses - a associação nacional para a proteção do trabalho. Ela reunirá têxteis, mecânicos, ferreiros, mineiros e outras profissões. Chegará a ter cerca de 100 mil membros e editará um periódico, A Voz do Povo. Na vanguarda do movimento operário inglês dessa época estarão os têxteis, principalmente os da concentração industrial de Lancashire. Em 1866, com o avanço da industrialização em outros países, será realizado o primeiro congresso internacional das jovens organizações de trabalhadores de vários países. Ela representará um grande salto na unidade dos assalariados, que será materializado com a fundação da associação internacional dos trabalhadores (AIT), também conhecida como a primeira internacional.

Apesar de possibilitar um avanço da organização sindical, a lei de 1824 é contraditória, tendo duas características distintas. Em primeiro lugar, reflete a própria pressão organizada dos trabalhadores. Em segundo, também indica uma mudança estratégica da burguesia inglesa. Tanto que a lei foi aprovada na câmara dos Lordes, que reunia apenas a aristocracia inglesa. Com ela a burguesia procura novos métodos para controlar o movimento operário. Ela não poderia abandonar o seu projeto de dificultar a luta e a união dos trabalhadores - fundamental para sua sobrevivência enquanto classe.

Como não era mais possível proibir as trade-unions, ela adota novos meios de interferir. Como a história vai demonstrar, mesmo legalizados, os sindicatos podem ser reprimidos. Neste período, muitos industriais pressionarão os operários exigindo a renúncia formal à participação das trade-unions, como forma de garantir o emprego. A força policial continuará a ser acionada, deixando um rastro de sangue em toda a trajetória do movimento sindical. A legalização também permitirá identificar as lideranças, o que pode facilitar o trabalho de cooptação e corrupção - processo muito usado até hoje pelo patronato. Além disso, é possível implantar toda uma legislação de controle dos sindicatos - como a que existiu no Brasil após o governo de Getúlio Vargas.

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Ainda nesse período, fruto da experiência concreta, o proletariado também desenvolverá a luta política, superando a pressão apenas por reivindicações de caráter econômico e específico. Surge o movimento cartista na Inglaterra, que representou um salto na ação operária. O nome deriva de uma “carta”, elaborada em 1837-38, em que os trabalhadores reivindicam maiores liberdades políticas: direito de voto para todos, abolição do sistema pelo qual só podiam se candidatar os que tivessem renda, voto secreto etc. Em seu conteúdo, o cartismo já expressara a luta por liberdades democráticas e socialistas. Ele será duramente reprimido - com inúmeros cartistas, sofrendo processo criminal - de “alta traição” - e muitas condenações.

Em outros países, o proletariado participará de ações políticas, sendo a mais célebre participação na Comuna de Paris. Essa foi a primeira experiência em que a classe operária alcançou o poder político. Sua duração foi curta - de fim de março a fins de maio de 1871. Num primeiro momento, a sede do novo poder se instalou na Câmara Federal dos Sindicatos franceses que também era o local de reuniões da sessão parisiense da AIT. Essa experiência, que não se alastrou e serviu de base para novos estudos dos marxistas, foi violentamente reprimida. As tropas do exército francês, que pouco antes havia sido derrotadas e tornadas prisioneiras pelos alemães, foram libertadas e colocadas a disposição do governo da França, de Thiers, por ordem e Bismarck. A burguesia superava as suas divergências para esmagar o movimento operário. A luta contra a comuna durou uma semana. Mais de 14 mil combatentes foram mortos na guerra ou foram sumariamente fuzilados; 5 mil operários foram deportados e outros 5 mil encarcerados.

O próprio Karl Marx, um dos idealizadores da AIT, já havia apontado essa necessidade de ação política ao proletariado. “O fim imediato dos Sindicatos concretiza-se nas exigências do dia a dia, nos meios de resistência contra os incessantes ataques do capital”. Numa palavra, na questão do salário e da jornada de trabalho. Essa atividade não só é justificada, como necessária. Não podemos privar dela enquanto perdure o modo atual de produção. Ao contrário, é preciso generalizá-la, fundando e organizando sindicatos em todos os países. Por outro lado, os Sindicatos, sem

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que estejam conscientes disso, chegaram a ser o eixo da organização da classe operária. “Se os sindicatos são indispensáveis para a guerra de guerrilhas cotidianas entre o capital e o trabalho, são também importantes como meio organizado para a abolição do próprio sistema de trabalho assalariado”.

Papel dos SindicatosNessa primeira fase de existência, o sindicalismo vai demonstrar

que é um instrumento indispensável para os assalariados. Com a expansão do capitalismo, que se torna o sistema predominante a partir do século passado, os sindicatos vão se espalhar pelo mundo. Deixam de ser um fenômeno na Inglaterra. Num processo dialético, em que o capital impera, suas contradições aparecem, as lutas operárias têm início e, conseqüentemente, surgem os sindicatos. Todos os avanços sociais, mesmo que pequenos ou parciais, serão fruto dessa luta e da formação dos sindicatos. Nada será dado de mão-beijada pelo capital; nada cairá do céu. Cada nova reivindicação apresentada pelos trabalhadores representa, num primeiro momento, a redução da taxa de mais-valia do patrão. Por isso, depende de luta, de pressão organizada. A história da legislação trabalhista no mundo será a história da luta de classes, em que os sindicatos jogarão um importante papel.

PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA LUTA DOS TRABALHADORES E NO MOVIMENTO SINDICAL

Maria Valéria Junho Penna2

Em 1872, ainda durante o Império, foi realizado o primeiro recenseamento da população brasileira. Naquele ano, constatou-se que ela era composta, por 9.700.187 pessoas, das quais 4.694.943 eram mulheres e,

2 Este texto foi distribuído pela Nalú Farias da SOF, durante o Curso de Formação de Educadores/as em Concepção Prática Sindical e Metodologia da Formação, realizado pela ENFOC/CONTAG.

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dessas, 689.998 mulheres escravas. Mais de cem anos depois, o Censo Demográfico de 1980 mostra que a população brasileira é de 119.070.865 pessoas, das quais 59.146.099 do sexo feminino. Mas às diferenças; é claro, não são apenas demográficas e numéricas: em 1888 extinguiu-se a escravidão, um, ano após proclamou-se a República, o país industrializou-se alterou-se a composição de sua população com a absorção intensa da imigração espanhola, italiana, alemã e japonesa; formou-se um proletariado urbano rural e a classe média assumiu claros contornos sociais e políticos.

Nos longínqüos 1872, as mulheres compunham aproximadamente 45% do que o Censo considerava trabalhadores e, então, como agora, não se considerou as donas de casa nesse conjunto. Das mulheres que trabalhavam oficialmente, a agricultura empregava 25%, os serviços domésticos 33%. No entanto, se observarmos o total de pessoas absorvidas, naquela ocasião, tanto nos· serviços, quanto na indústria, constataremos que elas eram mulheres em sua maioria. De fato, as mulheres eram dominantes na prestação de serviços pessoais· (81 % do total de pessoas no setor); contudo, diferentemente de agora, eram 78% ,dos trabalhadores industriais: Elas perdiam para os homens na agricultura, que' consistia na atividade econômica mais importante.

O que esses dados do século passado mostram é que muitas mulheres trabalhavam, embora parte substancial, desse trabalho fosse realizada dentro da família, como donas de casa e serviçais domésticas. Política e economicamente, a família, a propriedade territorial e a escravidão eram eixos do mesmo fenômeno, o latifúndio, com sua produção voltada para o mercado externo. No latifúndio, sinhás e escravas eram partes da mesma comunhão doméstica. Às fazendeiras, embora sob o jugo masculino e interminavelmente explorando as escravas, cabia, não obstante, desempenhar várias ocupações: supervisionava e controlava todas as ativi-dades caseiras, como cuidar das crianças, cozinha e costura e, ainda, a produção de sabão e velas, freqüentemente comercializados nas vilas mais próximas. No caso das mulheres escravas, elas partilhavam, desde pequenas, com as crianças do sexo masculinas, as tarefas mais duras e pesadas, tanto domésticas quanto na agricultura. Elas roçavam plantavam e colhiam

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algumas cultivavam ainda, alimentos em pequenos pedaços de terras que vendiam e assim, logravam comprar sua liberdade.

Na periferia da grande propriedade territorial estavam os antepassados dos atuais bóias-frias: homens e mulheres pobres e brancos, sem propriedade, e que, eventualmente, eram incorporados às atividades do latifúndio: Nesse grupo, disperso pelo território brasileiro e desprovido de terras, as mulheres ficavam com o encargo dos filhos, freqüentemente abandonados pelos pais, dedicando-se ao comércio ambulante de mercadorias feitas em casa, à prestação de serviços pessoais como costura ou cozinha e, finalmente, à prostituição. A mulher taboleira, por exemplo, teve origem nesse pequeno comércio ambulante, onde se vendia sonhos, café torrado, flores, refrescos, cestos, palmitos, aves, milho assado, bolo, angu, etc.

Foi também no século passado que tomou impulso a constituição de um campo de trabalho fundamental para a jovem de classe média: o en-sino primário. Inicialmente, o ensino era uma esfera de atividades masculina, mesmo porque, até o inicio do século XIX, um conjunto de medidas legais restringia o acesso das mulheres às escolas e, portanto, à habilitação profissional. Apenas em 1827 surgiu a primeira regulamentação que permitia às mulheres freqüentarem o ensino elementar, mas apenas esse. As primeiras Escolas Normais (a da Bahia, fundada em 1835, e a de São Paulo, fundada em 1836) destinavam-se exclusivamente a rapazes. Não podendo ser alunas, não podiam ser professoras. Aos poucos, no entanto, as vagas foram se abrindo às mulheres e, finalmente, em 1871, reorganizou·se o ensino de formação para o magistério, aceitando-se a participação feminina, desde que com um currículo específico que incluísse bordado branco, em filó, de matizes, flores de contas e aplicação, cortes de roupas brancas e lisas.

Como se sabe, as restrições progressivas ao tráfego negreiro, a libertação de escravos sexagenários, a Lei do Ventre livre, começaram a configurar uma crise na oferta de mão-de-obra e a estimular o comércio interno de escravos, principalmente em direção às regiões fluminense e paulista, para absorção nas lavouras de café. No mesmo período, expandiu-se a cultura do algodão em São Paulo e surgiram as primeiras fábricas

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têxteis. Em resumo, a expansão econômica da lavoura para exportação provocou uma crise na lavoura para o abastecimento interno e uma demanda não suprida por mão-de-obra. A longo prazo, promovida pelo Estado em estreita conexão com os empresários, a imigração européia seria a solução para a questão da força de trabalho nas lavouras de exportação e consumo interno e, ainda, para a indústria em expansão. A curto prazo, mulheres e crianças das periferias pobres das cidades forneceram os primeiros braços para essa indústria.

MULHERES E CRIANÇAS NA FÁBRICA O panorama da convivência das mulheres e crianças com as

fábricas foi, desde o início, desolador: viviam nelas, trabalhando uma jornada de até dezesseis horas diárias, dormindo e se alimentando entre máquinas; eram obrigadas, após incontáveis horas de trabalho, a aprender corte e costura e, freqüentemente, não faziam jus a nenhum salário. As condições de trabalho supunham, ainda, a sujeira, a insalubridade, os espancamentos e estupros.

À medida que o século XX se avizinhava, vilas operárias foram sendo construídas, os homens - freqüentemente imigrantes estrangeiros - passaram, paulatinamente, a substituir as mulheres nas oficinas, os salários generalizaram-se no interior da indústria, iniciando-se o hábito de pagamento diferenciado entre os sexos, com os homens recebendo salários maiores que as mulheres.

Uma operária, Luzia Ferreira de Medeiros, da fábrica têxtil Bangu, no subúrbio do Rio, contou como eram as condições de trabalho já depois da virada do século: "Entrei para a fábrica Bangu no período da primeira guerra mundial com sete anos de idade. Iniciava o trabalho às seis e terminava por volta das 17 horas - sem horário para almoço de definido. Era o critério dos mestres o direito de comer e tendo ou não tempo para almoçar, o salário era o mesmo. Isso, evidentemente, depois de passada a fase do trabalho gratuito, que chamavam de aprendizado. Não tínhamos lugar para comer. As refeições eram feitas entre as máquinas. A Penas uma pia imunda servia· nos de bebedouro. Nunca recebíamos horas extras, mesmo trabalhando além do

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horário estabelecido. Mestre Cláudio fechava as moças no escritório para força-la à praticar relação sexual. Muitas moças foram prostituídas por aquele canalha. (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)

O fato é que as mulheres: além de estarem submetidas, como os homens trabalhadores, a condições de trabalho corrosivas, diferentemente desses, ainda sofriam maus tratos corporais e auferiam salários mais baixos. Dados de 1912, do Departamento Estadual do Trabalho de São Paulo, revelam que foram visitadas, para confecção de um relatório, fábricas que contavam com 1.943 trabalhadores brasileiros, 7.499 estrangeiros e 862 de nacionalidade ignorada. Dos 10.304 recenseados, 6.80I eram do sexo feminino. A jornada de trabalho iniciava-se por volta das cinco e meia da manhã e terminava treze horas depois. O salário médio das mulheres era bastante mais baixo que o dos homens: o salário médio masculino na fiação era de 4$500 réis e o das mulheres, 2$000 réis. Na seção de acabamento, em média, os homens recebiam 4$900 réis e as mulheres recebiam 3$000 réis.

O PROTESTO FEMININO

No entanto, por mais dramática que fosse a vida da mulher operária, dividida entre seus afazeres domésticos e a longa jornada do trabalho assalariado, esse fato não a fez abdicar da sua capacidade de reação à injustiça e da ação política. No Brasil, no início do século, anarquistas e socialistas foram os arquitetos da questão social - uma questão de polícia para o Estado. Assim, foi no interior desses dois movimentos que as mulheres procuraram demarcar um território para sua luta. Porque luta houve. O jornal A Terra Livre, de tendência anarquista, foi o veículo utilizado pelas costureiras das confecções para articular suas demandas e organizar seus sindicatos. Dois manifestos, assinados por Teresa Cari, Teresa Fabri e Maria Lopes, ficaram célebres. Neles, por exemplo, podia-se ler: "Devemos demonstrar, enfim, que somos capazes de exigir o que nas pertence; e se todas forem solidária, se todas nos acompanharem nessa luta, se nos derem ouvidos, nós começaremos por desmascarar a cupidez dos patrões sanguinolentos". (A Terra Livre, 19.07I 906.)

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Conjuntamente ao apelo em nome dos' "direitos", vinham reivindicações mais concretas e imediatas, mas não menos importantes, exigindo melhores salários e menor jornada. Ao mesmo tempo muitas mulheres encabeçaram alguns dos mais importantes movimentos grevistas do período.

Em 1901 e 1903, na Álvares Penteado, paralisaram o trabalho em protesto contra as condições de trabalho e os salários; na mesma época, na Companhia Industrial de São Paulo, fizeram uma paralisação contra a diminuição de tarefas; em 1902, na Anhaia, em São Paulo, entraram em greve por solidariedade a uma companheira despedida; em 1903, na Cruzeiro, no Rio de Janeiro, pelas mesmas razões, com o agravante de que a operária em questão, recém-parida, fora dispensada pelo mestre que a engravidou; em 1906 e 1907, em fábricas por todo o país, pela diminuição da jornada.

Em 1917, as mulheres pararam os trabalhos nas Fábricas Matarazzo, Fábrica de ligas Peterson, Fábrica de tecidos Mariângela, Fábrica de cigarros Trajano; e em 1919, em Porto Alegre, tecelãs da Cia. Têxtil Rio Grandense, Companhia de Fiação e Tecidos Porto-Alegrense e trabalhadoras da fábrica de chapéus F. C. Kessler & Cia., participaram de nova greve geral por aumento de salário, além das havidas no Rio e em São Paulo.

MULHERES ENTRAM PARA OS SINDICATOS Embora houvesse inúmeros fatores freando a participação

feminina na vida sindical..,. de um lado, a relutância masculina em aceitá-Ias como companheiras e, de outro, as exigências de sua dupla jornada de trabalho que não Ihes deixava tempo para a política - ainda assim, existem numerosos registros mostrando que um esforço considerável nessa direção foi realizado: não apenas vários sindicatos femininos foram fundados, quanto há evidências de freqüência de mulheres, inclusive discursando, em alguns congressos operários. ,

Dos sindicatos constituídos, um dos mais importantes foi a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, com sede na rua Senhor dos Passos, no Rio de Janeiro, onde já funcionava a União dos Alfaiates da mesma

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cidade. Â União foi fundada por 50 operárias e sua primeira medida foi deflagrar uma greve pela redução da jornada de trabalho a oito horas diárias. Uma de suas inspiradoras, Elvira Boni, lembra que o trabalho começava às 8 h da manhã, terminando às 19 h, isso "quando a dona do atelier não prorrogava a jornada até às 20 ou 22 horas, sempre pelo mesmo salário". (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)

Por sua vez, em alguns Congressos Operários, sua presença foi destacada. No 2º Congresso Operário do Rio Grande do Sul, realizado em 1920, lima operária delegada, de nome Alzira, discursou sobre as condições do trabalho feminino, destacando como essas eram tão árduas que impediam um companheirismo mais vigoroso como o dos homens na vida sindical: “Quando tomamos conta que a jornada de trabalho é de 8 horas e mais, pois ainda há casas em que se trabalham 14 a 16 horas, como por exemplo as chapeleiras, costureiras sob medida, etc., podemos ainda lembrar o estado de ânimo em que se encontram nossas irmãs, que após tão fatigante trabalho em troca de um mísero salário ,tem necessidade de fazer seus ser-viços domésticos. Como já disse, a maioria é composta por mães de famílias, necessitando sustentar os seus e ampará-los contra as misérias da vida (...) " (Em Edgar Rodrigues, Alvorada Operária.)

De fato, embora a presença de mulheres não tenha sido usual nos Congressos, sendo mesmo obstaculada em alguns casos, desde as primeiras reuniões de trabalhadores formou-se um certo consenso sobre quais deveriam ser as condições de seu trabalho extra-doméstico. Uma resolução do 3º Congresso Operário Brasileiro, realizado entre 23 e 30 de abril de 1920, resume esse consenso: "O 3º Congresso Operário, confirmando as resoluções do 1º Congresso quanto à situação do elemento feminino no meio proletário, aconselha vivamente as associações obreiras a se esforçarem para interessar diretamente as operárias na vida sindical, preocupando-se com a sua educação social e intelectual e para que se estabeleça no trabalho um ambiente de respeito, repelindo as brutalidades dos patrões e encarregados de serviços intensificando-se a campanha no sentido de que para elas seja abolido o trabalho noturno e o seus salários sejam equiparados aos dos homens."

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A demanda por uma legislação especial, de caráter protetor, embora discutível para muitos em virtude dos embaraços que terminou por causar para a contratação e a carreira das mulheres, acabou por prevalecer e, em 1932, foi reconhecida pelo Estado, pelo Decreto 21.417, que tanto proi-bia seu trabalho noturno, quanto criava condições mais favoráveis à gravidez e estabelecia o princípio do salário igual para trabalho igual.

AS MULHERES COMO FORÇA DE TRABALHO O censo demográfico de 1920 mostrava que então 1.434.000

mulheres trabalhavam oficialmente, apresentando 15% da força de trabalho. Deste total de mulheres trabalhadoras, 42% estavam na agricultura, 31 % na indústria (inclusive em serviços de reparação) e 26% em serviços.

No entanto, tomando o total de pessoas trabalhando nos diversos setores da economia, constata-se que, na agricultura as mulheres eram 9% da força de trabalho; na indústria de transformação 36%; na prestação de serviços, 81 %. Comparando os dados de 1872 com os de 1920, a conclusão mais importante é que, à medida que a indústria se expandiu, diminuiu a participação das mulheres no seu interior. Outras informações demonstram que, não obstante esse decréscimo, elas permaneceriam, desde então, em torno da metade do proletariado têxtil e seriam majoritárias no setor de confecções.

Assim, vale a pena lembrar que durante toda a década dos vinte, e no início dos anos 30, principalmente ma condição de tecelãs e costureiras, elas militaram no movimento dos trabalhadores: a título de exemplo, eclodiram greves na Fábrica de Tecidos Santa Maria, em Sorocaba, em I 922 no mesmo ano, no Rio, participaram da tentativa de uma greve geral da categoria: em 1925, bordadeiras, costureiras e trabalhadoras de fábricas de fósforos em Niterói deram testemunho em A Classe Operária sobre suas condições de trabalho e salários e tentaram ganhar a solidariedade mas-culina para suas reivindicações; fizeram greves na Fábrica de Tecidos Irmãos Tognato, em São Bernardo, em 1931.

PIONEIRAS DA LUTA SOCIAL

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Algumas mulheres destacaram-se na vida pública e em sua participação junto às organizações operárias. Dentre várias, cabe destacar Maria Lacerda de Moura, Isabel Ferreira Bertolucci e Bertha Lutz.

Maria Lacerda de Moura; mineira de Manhuaçu nascida em 1877, professora e escritora, organizou a Vila Dom Viçosa, em Barbacena, na qual 22 casas foram construídas para favelados e, ainda, fundou a Liga Contra o Analfabetismo. Convidada para discursar na Federação Operária Mineira, afirmou na ocasião: "A questão social, a questão do bem-estar para todos resume-se no seguinte: 1º) Formar um núcleo de resistência feminina, cujo objetivo será protestar contra a escravidão da mulher, trabalhar para a reivindicação de seus direitos e para sua emancipação mental. 2.°) Pregar e exigir a educação popular, a instrução obrigatória, a educação racional feminina por todo o país. 3.°) Trabalhar para a criação de uma ou mais universidades femininas, sob esses moldes, a fim de preparar o pequenino exército das trabalhadoras que deverão sair para o interior em demanda de outras mulheres de boa vontade, educando-as num sonho de Paz futura para toda a gente. 4.°) Abrir escolas do caráter e da boa vontade, escolas que despertem a iniciativa, escolas de força moral, porquanto é a força moral que conduz o mundo no dizer de Binet. 5.°) Promover o estudo da psicologia das forças ancestrais, da higiene, da fisiologia, da educação e da ética, das ciên-cias enfim, da filosofia, das artes - para o conhecimento da humanidade e das leis evolutivas em favor da beleza e da perfeição dos costumes. 6.°) Tra-balhar pela juventude e pelo exemplo para dar à criança, fazendo crescer na juventude a necessidade de ideal mais amplo - de justiça e eqüidade entre os homens. 7.°) Falar, pregar e protestar contra as mentiras convencionais, contra a hipocrisia protocolar, detestar a política. 8.°) Pregar a Paz, abominar a guerra, ampliar o amor à Pátria, fazê-Ia atravessar as fronteiras e olhar a Humanidade de uma só vez, abrangendo as nacionalidades como membros da família humana".

Isabel Bertolucci celebrizou-se pelo seu "Manifesto à Mulher Paulista", publicado em A Plebe, em 03/12/1932, por ocasião do movimento constitucionalista. Segundo ela própria, sua origem social estava na classe dos que tudo produzem e nada possuem. No seu manifesto procurou,

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ultrapassando sua condição social e dirigir-se a todas as classes de mulheres, de forma a persuadí-Ias de sua crença pacifista e da imoralidade das guerras.

Bertha Lutz, já em 1919, juntamente com Olga de Paiva Meira, representou o Brasil no Conselho Feminino Internacional, da Organização In-ternacional do Trabalho, em cuja Primeira Conferência foram aprovados os princípios "de salário igual, sem distinção de sexo, para o mesmo trabalho; e a obrigação de caia Estado organizar um serviço de inspeção, incluindo mulheres, a fim de assegurar a aplicação das leis e regulamentos para a frr0teção dos trabalhadores". Em 1922, fundou a Federação Brasileira Para o Progresso Feminino, em cujo estatuto se esclareciam seus objetivos:

Promover educação da mulher e elevar seu nível de instrução; Proteger as mães e a infância; Obter garantias legislativas e práticas para o trabalho feminino; Auxiliar as boas iniciativas das mulheres e orienta-Ias, na escolha

de urna profissão; Estimular o espírito de sociabilidade e de cooperação entre as

mulheres e interessá-Ias pelas questões sociais e de alcance público; Assegurar à mulher os direitos políticos que a nossa Constituição

lhe oferece e prepará-Ia para o exercício inteligente desses direitos; Estreitar os laços de amizade com os demais paises americanos, a

fim de garantir a manutenção perpétua da Paz e da Justiça no Hemisfério Oci-dental.

Em 1936, Bertha passou a integrar a Câmara Legislativa Federal, como suplente da vaga deixada por outro Deputado, elaborando, na ocasião, o Estatuto da Mulher, apresentado por ela e pela Deputada Carlota Pereira de Queiroz. O Estatuto ampliava a licença especial na época do parto para três meses; concedia à trabalhadora o direito de dois períodos diários para amamentação, de meia hora cada um, durante os seis meses iniciais de vida do bebê; reduzia de 30 para 20 o número de empregadas no local de trabalho cuja presença exigia creches. Com o golpe de 1937 e o Estado Novo, fechado o Congresso, as reivindicações de Bertha Lutz tiveram de esperar por melhores oportunidades, e algumas delas somente foram concedidas em 1962.

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Mas outras mulheres, de extrações ideológicas e partidárias diversas, procuraram igualmente organizar-se, participando da vida pública. Em 1934, como parte da Aliança Nacional libertadora, fundou-se a União Feminina que, no entanto, em 1935 foi considerada ilegal, assistindo-se à prisão de várias de suas integrantes. Por sua vez, durante a II Guerra Mundial, organizou-se o Departamento Feminino da Liga de Defesa Nacional, cujos objetivos, além de recolher dos nativos e roupas para os soldados, eram, no âmbito do estritamente econômico, lutar contra os aumentos no custo de vida e, no âmbito do político, combater o nazi-fascismo e sua influência no país.

PARTICIPAÇÃO FEMININA NO PÓS-GUERRA

Terminada a guerra, promoveu-se um encontro nacional de várias associações femininas, com representantes de vários estratos sociais, incluindo mulheres de classe média, operárias e faveladas. Nessa ocasião, duas delas, participando do Primeiro Congresso Internacional de Mulheres, em Paris, ressaltaram em discurso os males do fascismo e a necessidade de proporcionar-se instrução política às mulheres, "a fim de possibilitar-lhes participação efetiva nos movimentos de combate à guerra e aos regimes de força". (Idem.) Todo esse esforço acabou por resultar, em 1949, na constituição da Federação das Mulheres do Brasil, que consistiu em forte impulso para outros núcleos locais, freqüentemente organizados em comitês de bairros.

No final dos anos 40 e durante a década seguinte, a participação feminina foi intensa no movimento contra a carestia: no então Distrito Federal, onde se fundou a Associação Feminina, mais de mil mulheres se congregaram para, nas palavras de uma estudiosa, "lutar pela solução dos problemas especificas dos bairros, pela paz, contra a elevação do custo de vida, pelos direitos das mulheres, pela defesa e proteção da infância". (Idem). Também vale a pena ressaltar o papel que elas cumpriram na organização do

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movimento de anistia para aquelas pessoas perseguidas ou presas pelo Estado Novo.

Embora as mulheres tenham participado de formas variadas, da dinâmica do movimento operário no período pós Estado Novo, destaca-se seu desempenho na greve de 1953, em São Paulo, que paralisou aproximadamente 300 mil trabalhadores e, cuja comissão central a tecelã Mariana Galgaitez terminou por integrar. Na ocasião, várias outras grevistas foram indiciadas em processos por sua presença em piquetes. (Ver José Álvaro Moisés, Greve de Massas e Crise Política, Ed. Polis, São Paulo). De fato, a greve teve como origem a luta pelo aumento do salário mínimo, congelado desde 1951 e desvalorizado pelos constantes aumentos no custo de vida (que Celso Furtado estima como sendo de 50% entre 1949-52). A greve de São Paulo não foi isolada e dados coletados por José Álvaro Moisés lhe permitiram falar em 264 paralisações no período 1951-1952, eclodidas em todo país, cujas principais motivações eram a necessidade de aumentos nos salários, pagamento de salários atrasados, solidariedade, melhores condições de trabalho e, em número menor, bonificação de Natal e o protesto contra a carestia.

Os Censos Demográficos de 1940 e 1950 continuavam, então, acusando queda da participação feminina na indústria e sua persistência na prestação de serviços pessoais. Em 1940, o trabalho industrial das mulheres caíra para 26.4% e em 1950 para 23.9% do total de trabalhadores.

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HISTÓRIA DO MOVIMENTO SINDICAL3

De 1964 aos nossos dias

O golpe militar de 1964 colocou às escuras os movimentos sociais e grevistas que tiveram grande atuação no período 1959/1963. As fortes repressões não permitiram que entre 1964 e 1977 houvesse praticamente nenhuma greve ou outras formas quaisquer de manifestação.

Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentaram, desde a instauração da ditadura militar no Brasil em 1964, uma forte repressão às organizações que lutavam contra as políticas salariais que arrochavam o poder de compra e as condições de vida de toda a classe. O governo ditador procurou atacar as cúpulas dos sindicatos realizando intervenções nas organizações, desmantelando as estruturas já construídas anteriormente e impedindo qualquer tipo de articulação dos operários que intuísse a formação de um grupo opositor organizado.

Mas, mesmo sobre forte pressão os trabalhadores e trabalhadoras se organizam e realizam, em 1967, a II Conferência Nacional de Dirigentes Sindicais, marcando posição contrária à política de arrocho salarial e buscando construir junto aos operários as comissões sindicais de trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, mesmo com a manifestação contrária de alguns grupos de trabalhadores e trabalhadoras que paralisavam

3 Cartilha de Formação CNTE. Jones Dori Goettert

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isoladamente algumas fábricas afrontando e contestando a política econômica do governo militar ditador, a luta sindical perdurou durante um grande período do pós-64 sem atingir plenamente os seus objetivos.

O movimento dos trabalhadores e trabalhadoras organizados em sindicatos ainda conseguiu causar grandes problemas para os ditadores em 1968, sobretudo, com a greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Belgo Mineira em Contagem-MG, e com os metalúrgicos de Osasco que, com um forte sindicato, desempenharam um papel importante na organização das ações dos trabalhadores e trabalhadoras.

As ações do governo também se tornavam duras em relação a qualquer manifestação ou postura de contestação, por mais “irrelevantes” que fossem. Em 1969, o Ministro Jarbas Passarinho através de um decreto intervém em vários sindicatos, afastando os seus dirigentes que, em sua opinião, não conseguiram disciplinar as entidades com a ordem social vigente4.

Essa situação de perseguição de lideranças e de intervenção nas entidades por parte do governo ditatorial continuou, mas sem eliminar totalmente o “germe” da subversão que se manteria vivo e crescente até o final dos anos 70, quando as manifestações ganham as ruas e o interior das fábricas.

Por outro lado, é importante registrar o papel que a União Nacional dos Estudantes (UNE) desempenhou nesse período. A UNE, fundada em 1937, tem logicamente desempenhado um papel importante na história política nacional. Em vários momentos dessa história, principalmente num passado recente, firmou-se como uma entidade de força política na coordenação das mobilizações e ações dos estudantes.

No período pós-60, em que o país viveu um momento político e econômico conturbado, com a manifestação constante do operariado e com a insatisfação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais exigindo reforma agrária, a UNE procurava demarcar as suas posições ideológicas considerando, é claro, a diversidade interna dos grupos que a compunham,

4 Cf. SANTANA, 2001.

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mas comungando com os ideais de transformação social (o que pouco tempo depois colocaria a entidade na mira dos ditadores).

Apesar das suas várias tendências internas, que claramente se posicionavam contrárias ao regime ditatorial militar imposto em 1964, e mesmo sendo formada em grande parte por estudantes de classe média, um pouco distantes da dura realidade vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras, a UNE se uniu aos demais oposicionistas à ditadura (como o PCB, PSB, PTB, FPN, Confederação Geral dos trabalhadores e trabalhadoras e as Ligas Camponesas), trilhando em conjunto o caminho da luta pela redemocratização.

A posição da UNE frente ao governo continuou sendo a de desaprovação, organizando manifestações e sofrendo uma violenta repressão como resposta, que procurava remodelar e enquadrar o movimento estudantil na “nova ordem social” ditada pelos militares5.

A perseguição e repressão sobre os estudantes, sindicalistas, trabalhadores e trabalhadoras e intelectuais, acentuou-se drasticamente com o Ato Institucional número 5, o AI – 5, de 1968.

O AI-5 anulou o Estado de Direito no Brasil firmando um governo de direita autoritário. Suas práticas, agora, estavam institucionalizadas; práticas de repressão política contra todos aqueles que pudessem ser enquadrados ou que se caracterizassem minimamente como subversivos, como inimigos da ordem estabelecida. Uma ordem que não trouxe para a maior parte da população, e claramente para a grande parte da classe trabalhadora, nenhuma melhora em suas condições de vida6.

Ao fechar o Congresso e instituir um bi-partidarismo que forjava uma falsa idéia de democracia com o MDB como “oposição” consentida à ARENA, partido do governo, a ditadura militar demonstrava ainda mais sua truculência e arbitrariedade. Já para os militantes de esquerda envolvidos em ações políticas, manifestações e organizações contrárias à ditadura, o AI - 5 instaurou a prisão arbitrária, a violência sem limites, à tortura e, em diversos casos, o assassinato.

5 Cf. SANFELICE, 1986.6 Cf. SEGAL, 2001.

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Mas, mesmo durante esse período vários sindicatos tentaram, mesmo que timidamente, orientar as bases para continuar reivindicando e se contrapondo às políticas de arrocho salarial, através da organização no “chão das fabricas” fazer frente ao processo de controle sobre o aumento de salários baseado no AI-5.

As greves começaram a ressurgir no ano de 1978, quando os trabalhadores e trabalhadoras, já no máximo de sua condição de exploração e percebendo o momento político favorável, começam a se manifestar e a exigir melhorias no salário que possibilitassem a melhoria das suas condições de vida e de trabalho. Essas manifestações aconteciam e continuaram seguindo esta lógica durante algum tempo, nos momentos de negociação de salários (a data base de cada categoria), que passou a ser o momento mais propício para o enfrentamento político, que também procurava abarcar outras questões, além das salariais.

As greves passaram a ter um crescimento anual considerável, envolvendo cada vez mais categorias de trabalhadores e trabalhadoras e tendo à frente os operários das fábricas produtoras de automóveis, os metalúrgicos. Nascia o “novo sindicalismo”. A partir de 1978, constitui-se um amplo movimento social de massas, de democratização interna, de inserção no processo de luta da democracia, de confronto com os limites impostos pelo autoritarismo no Brasil ao pleno exercício da cidadania dos trabalhadores e trabalhadoras. O “novo sindicalismo” extrapolava, portanto, “o terreno de suas funções sindicais, e redefiniu-se em face do conjunto de agentes que, no Brasil, lutam pela democracia: fala-se hoje, abertamente, que os trabalhadores e trabalhadoras são a espinha dorsal do movimento democrático brasileiro”, porque sem eles qualquer “abertura” ou “liberalização” apenas reconstruiria o círculo vicioso da crise do regime autoritário7.

As manifestações dos trabalhadores e trabalhadoras que se avolumam no final da década de 70, e que tem o ABC paulista como palco inicial, estão ligadas não só à resistência política contra a ditadura, mas

7 MOISÉS, 1982, p. 31.

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também se contrapõem às investidas político-econômicas do capital que arrochavam os salários e aumentavam a exploração do trabalho.

O acontecimento primeiro desse período de grande movimentação foi à greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Saab-Scania, com início em 12 de maio de 1978. Os operários enfatizavam que a empresa não havia cumprido o acordo de readmissão de trabalhadores e trabalhadoras dispensados em protestos anteriores, em 1977. O movimento alastrou-se extrapolando o ABC e chegando a outros municípios como São Paulo e Osasco, acabando por atingir outros setores da economia, mesmo com a decisão do Tribunal Regional do Trabalho de considerar a greve ilegal.

Estas manifestações continuariam crescendo durante o ano de 1979, de forma a aumentar a participação e a atuação dos trabalhadores e trabalhadoras na política nacional. Com a greve iniciada em 1978 o movimento expande-se e ganha força em outros estados brasileiros, alcançando Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Contudo, é em seu “centro nervoso”, o ABC paulista, que o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras assume outros patamares, indo além das questões trabalhistas dos primeiros movimentos e estabelecendo a bandeira da democratização política do país8.

No início de março de 1979, os trabalhadores e trabalhadoras do ABC entram em greve: são por volta de cinqüenta mil trabalhadores e trabalhadoras parados. A greve estende-se para o interior e o governo a declara ilegal; mesmo assim os trabalhadores e trabalhadoras mantêm a posição e conseguem novas adesões ao movimento que se espalha para o interior, e em alguns dias são mais de 170 mil trabalhadores e trabalhadoras parados. Com o passar de dias de greve o Ministério do Trabalho resolve intervir na negociação, elaborando propostas que não convencem os trabalhadores e trabalhadoras. O governo, então, declara a intervenção nos sindicatos e deflagra uma série de confrontos em praça pública entre trabalhadores e trabalhadoras e policiais. O movimento continua até o dia 27 de março quando os trabalhadores e trabalhadoras resolvem aceitar a

8 Cf. SANTANA, 2001.

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proposta feita pelo patronato, que estabelecia o prazo de 45 dias para negociação de um piso satisfatório.

A insubordinação dos sindicatos e o crescimento do movimento grevista, que continua nos anos 80 do século XX, tiveram então como grande elemento aglutinador da classe trabalhadora a questão salarial. A inflação crescente combinadas ao baixo rendimento dos salários deteriorava as condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras, que viam o seu poder de compra diminuído a cada mês. É nesse momento de agitação e de organização dos trabalhadores e trabalhadoras que surgem a Central Única dos trabalhadores e trabalhadoras - CUT e o Partido dos Trabalhadores e trabalhadoras - PT, sinalizando para uma nova forma de sindicalismo.

O PT surge como instrumento necessário de organização e de luta dos trabalhadores e trabalhadoras na política nacional; contudo, sempre articulado a outras formas de luta organizada como os sindicatos e demais associações populares, sendo a participação dos sindicalistas o elemento fundamental para a formação e a caracterização do partido. Segundo Ozai da Silva (2000), essa afirmação pode ser feita com base na análise da formação da primeira Comissão Nacional Provisória, de 1979, que era composta por 12 dirigentes sindicais, dos 16 membros que a compunham.

O contexto de formação do Partido dos Trabalhadores, no começo dos anos 80, tem como pano de fundo o crescimento dos movimentos sociais organizados no Brasil e as intensas lutas dos operários do ABC paulista, que colocavam em questão o regime de governo autoritário dos militares. O PT levanta bandeiras que extrapolavam as questões salariais e que visavam transformações políticas e sociais bastante profundas, demarcando fortemente nesse período uma tendência ideológica socialista, que se baseava de forma clara em um projeto político anticapitalista.

Será, em especial, esta a tendência do PT: a busca da democracia plena exercida pela massa organizada e participativa, que tem gravado em seu manifesto de fundação as idéias básicas de um projeto que visa à construção de uma sociedade igualitária, sem explorados nem exploradores9.

Já a CUT - Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983, ainda

9 Cf. SILVA, 2000.

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no regime militar, aglutinava as correntes sindicais mais ativas, fazendo frente às políticas de degradação das condições de vida da classe trabalhadora, estabelecendo-se nesse período como uma importante organização política e social e fazendo frente de forte oposição ao governo Figueiredo e depois ao governo Sarney. A CUT tornou-se o inimigo número um das políticas governistas e se firmava como a Central que aglutina o maior número de entidades filiadas.

A ascensão da CUT, nos anos 80, assim como o crescimento do PT, na esfera da política institucional, é impulsionada pelo momento histórico-político de grandes transformações, com o fim da ditadura e com a crise do Estado e da economia hiperinflacionada. Nesse período, de acordo com Alves (2000), o sindicalismo brasileiro caminha na contramão dos sindicatos no resto do mundo, inclusive em relação a alguns países na América Latina como a Argentina. Enquanto nesses países os sindicatos entravam em depressão por falta de participação e por perder poder político, no Brasil vivia-se o que se denominou a década de explosão do sindicalismo.

Com uma atuação política constante, a CUT procurou na década de 1980, firmar um projeto de organização e ação dos trabalhadores e trabalhadoras, classificado como “sindicalismo defensivo”, mantendo uma postura reivindicatória e que tinha como principal instrumento de ação e pressão e a greve. Com as mudanças políticas e econômicas ocorridas até o começo dos anos 90, com a implantação do modelo econômico neoliberal, a CUT procurou estabelecer, após o seu IV Congresso realizado em São Paulo, em 1991, uma ação estratégica mais propositiva, elaborando propostas de políticas que poderiam ser discutidas em fóruns que contassem com a presença de representantes não só dos sindicalistas, mas também do governo e do empresariado.

Antes de prosseguirmos, é importante destacar a criação das duas outras maiores Centrais Sindicais brasileiras: a CGT – Confederação Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras e a FS – Força Sindical.

A Confederação Geral dos Trabalhadores - CGT10, segundo informações em seu site, é uma sigla histórica, datando de 1929, quando foi

10 Site: www.cgt.org.br

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criada a Confederação Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras Brasileiros passando por mudanças, em 1945, passou a Confederação Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras; em 1962, para Comando Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras (esmagado pelo golpe de 1964); em 1986, para Central Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras (início da reestruturação) e 1988, para Confederação Geral dos Trabalhadores e trabalhadoras.

 A CGT, hoje abrange todo território brasileiro, com filiais em 21 Estados e conta com  1.056  entidades sindicais, filiadas que representam 8.669.000 trabalhadores e trabalhadoras (dos quais 30% são sindicalizados, o que corresponde a 2.600.000 filiados), representados por: 1.017 sindicatos de base; 04 confederações nacionais e 35 federações nacionais /regionais e estaduais

A Força Sindical11, segundo informações em seu site, foi criada em 1991 a partir de Congresso em São Paulo, surge a partir de críticas ao sindicalismo em curso no Brasil. De um lado, a crítica recaia sobre um sindicalismo de “radicalismo estéril”12 (crítica, em especial, à CUT) e, por outro, sobre um sindicalismo de “conformismo paralisante”. A superação dessas formas de sindicalismo seria possível na medida que se lançasse “o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros à modernidade, para construir uma central forte, capaz de endurecer quando preciso, mas também de saber negociar, autônoma, livre, pluralista, aberta ao debate interno e com a sociedade”.

A Força Sindical passou, então, a empreender esforços no sentido de pragmatizar as lutas com “conquistas reais para os trabalhadores e trabalhadoras”. O Centro de Solidariedade ao (a) trabalhador (a), a Qualificação Profissional, o “1º de Maio pelo Emprego” em 1998, e o “1o de Maio pelo Brasil – por Emprego, Educação e Qualificação Profissional”, em 1999, assim como “a luta pela aposentadoria, pelas grandes reformas – previdenciária, agrária, do judiciário, política, fiscal e sindical e pela flexibilização das leis trabalhistas – dando-se status à negociação livre entre empregadores e empregados com o apoio dos sindicatos e das centrais”, 11 Site: www.forçasindical.org.br12 A referência base das informações sobre a Força Sindical foi o site da Central.

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foram resultados dessa forma de se construir e de se fazer sindicalismo. A Força Sindical se assenta sobre um discurso que acentua o moderno, a pluralidade e a democracia.

*Mesmo que o processo de surgimento e desenvolvimento do

“novo sindicalismo” “não tenha sido suficiente para desmontar totalmente a estrutura sindical corporativa erigida desde os anos 30, tendo em vista que suas bases fundamentais – como o imposto sindical, o monopólio da representação pelo sindicato, o princípio da unicidade sindical e a estrutura confederativa – foram mantidas, ele permitiu um significativo aumento da liberdade de organização e ação sindical. Na verdade, embora a proposta pela qual os setores de ponta do sindicalismo vinham lutando ao longo de todos esses anos – de superação da estrutura sindical corporativa e de sua substituição por uma institucionalidade sindical democrática, baseada no contrato coletivo de trabalho – tivesse sido derrotada pelo empresariado e pelos setores mais conservadores do próprio movimento sindical, suas lutas deixaram marcas”13 profundas.

Pode-se afirmar, nesse sentido, “que o movimento sindical brasileiro esteve na contramão da tendência histórica predominante durante a década de 1980, ao conquistar uma capacidade de intervenção política inédita na história do país, quando, em nível internacional, os sindicatos viviam um processo generalizado de enfraquecimento”14.

Essa resistência dos trabalhadores e trabalhadoras ia de encontro às políticas de exploração do trabalho estabelecidas pelo capital industrial brasileiro da época, que se utilizava dos baixos salários pagos ao operariado como principal elemento da competitividade da indústria nacional. Com isso, conseguia colocar seus produtos no mercado a um preço menor que os internacionais. O aumento de salário requerido pelos trabalhadores e trabalhadoras, portanto, não era visto como um bom negócio para o capital.

Apesar do crescimento e da força do movimento operário dessa época, a classe trabalhadora, sobretudo o operariado fabril dos anos 80, começava a sofrer as transformações nas relações de trabalho e de produção 13 LEITE, 1997, p. 17.14 LEITE, 1997, p. 17.

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que sinalizavam para transformações que iriam reestruturar o processo produtivo fabril. Essa reestruturação tinha como um de seus principais aspectos a inserção de novas tecnologias que visavam à diminuição quantitativa da exploração da força de trabalho e a verticalização da exploração qualitativa, tornando-se um dos elementos mais importantes da constituição da hegemonia do capital sobre o trabalho nos anos 80 e 90 do século XX.

Essa reestruturação produtiva do capital que começava a se desenhar no Brasil nos anos 80 e que já estava a pleno vapor nos países de centro da economia capitalista, vinha a reordenar a organização e a gestão da produção fabril que até então estava montada totalmente nos moldes do esquema de produção taylorista/fordista. Nesse modelo o descontentamento e a organização dos operários era crescente, colocando em risco o processo de acumulação e reprodução do capital.

Para os capitalistas, esse era o começo da implantação da acumulação flexível baseada no toyotismo, organização do processo produtivo criada no Japão e exportada como modelo para os demais países capitalistas, e que ganharia força no Brasil a partir dos anos 90, com a abertura e a liberalização da economia realizada por Fernando Collor de Mello.

Esse novo arranjo do capital encontra ainda uma força de trabalho organizada, que procurava fazer resistência à ação avassaladora do capital. Uma das formas de resistência foi à proposição da instalação das Comissões de Fábrica e a intervenção sindical no processo de decisão da inserção de novas tecnologias no processo produtivo, procurando minimizar os danos e os prejuízos que o operariado sofreria com esse novo modelo de produção. Mas, o ritmo de instalação das novas tecnologias foi bastante forte e agravado pela falta de condição e de tempo que os trabalhadores e trabalhadoras tinham para se contrapor a esse movimento. É que, se esse movimento seguiu um processo temporalmente mais lento nos países de primeiro mundo, possibilitando a luta dos trabalhadores e trabalhadoras concomitantemente às transformações, no Brasil as transformações

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aconteceram rapidamente, com a reformulação tecnológica de parques industriais em pouquíssimo tempo.

Devemos lembrar que, o período de 1980 a 1990, é marcado pelo fim da ditadura militar (1985), e pela instalação de um governo civil proclamada como a retomada da democracia no Brasil. Por outro lado, a década foi também um período de inflação muito alta e de recessão econômica com aumento do desemprego, fatores que colaboraram para uma diminuição das ações reivindicatórias dos trabalhadores e trabalhadoras que se viam pressionados pelo crescente desemprego estrutural.

Um dos mais importantes fatos desse momento foi, sem dúvida, o processo eleitoral que elegeria, pelo voto direto, o novo presidente do Brasil. Em 1989 tivemos o enfrentamento, no segundo turno, de duas frentes bastante diferentes. Uma que tinha como candidato Luís Inácio “Lula” da Silva, ex-líder operário e um dos fundadores do PT, que contava com o apoio de uma ampla gama de organização dos trabalhadores e trabalhadoras, sindicatos e demais organizações; do outro lado, era candidato Fernando Collor de Melo, fantoche criado pela burguesia e pelo poder político conservador e demais larápios nacionais, com amplo e irrestrito apoio da imprensa nacional (leia-se Rede Globo).

O desfecho não poderia ser pior: Fernando Collor de Melo é eleito presidente com o discurso da necessidade da abertura econômica. Implanta uma política de importação de bens de consumo e de produção, dando os primeiros retoques para liberalização da economia ao iniciar o processo de privatização das empresas estatais brasileiras. Dois anos depois tem o mandato cassado por corrupção. Mas o estrago já estava feito.

O processo de abertura da economia brasileira seguiu tornando-se mais agudo com os governos posteriores. É claro que os prejuízos desse processo foram transferidos para a classe trabalhadora, que mais uma vez se viu arcando com o ônus necessário a ser pago para o “bom desempenho” dos indicadores da economia nacional, agora na era da mundialização dos capitais.

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Nesse sentido, a situação do movimento operário muda significativamente com a chegada dos anos 90. “A política econômica neoliberal inaugurada pelo governo Collor em 1990 jogou o país numa profunda crise recessiva, aumentando de maneira extremamente rápida os níveis de desemprego no país, ao mesmo tempo em que, ao abrir abruptamente a economia brasileira, forçou as empresas a acelerar seus processos de reestruturação produtiva, gerando novos desafios para os quais o movimento sindical, de maneira geral, não se encontrava preparado”15.

A partir de 1994, com a eleição do Presidente, Fernando Henrique Cardoso, a política adotada foi a de continuidade da implementação das políticas neoliberais iniciadas por Fernando Collor de Melo, com o governo se empenhado em seguir amplamente a “cartilha” do Fundo Monetário Internacional, privatizando as empresas estatais, diminuindo gastos na esfera social e contribuindo na soma das transformações estruturais do processo de produção capitalista em nível mundial. Com as dificuldades políticas e econômicas conjunturais locais, tem-se um aumento da miserabilidade de grande parcela da população brasileira.

Neste novo contexto de reestruturação do capital mundial, houve um número crescente de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros vivendo o drama do desemprego, um fenômeno que afetou e afeta, sobretudo as regiões de grandes indústrias, como a automobilística. Mas, que tem reflexos, também, noutras regiões e setores do país devido à implantação de políticas econômicas que abrem o mercado brasileiro para produtos externos, diminuindo o consumo de produtos internos e desencadeando um processo gerador de mais desemprego. Conseqüentemente, mais trabalhadores e trabalhadoras buscam na informalidade formas de ocupação.

A implementação pelo governo federal de um modelo político econômico centrado no neoliberalismo, tornou a relação entre capital e trabalho mais injusta no Brasil, favorecendo sobremaneira o primeiro. Montado no discurso de geração de postos de trabalho, as ações do governo FHC procurou estimular o surgimento de relações de produção, que se contrapunham às Leis Trabalhistas vigentes. Com a criação de contratos

15 LEITE, 1997, pp. 17-18.

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temporários que deixaram o trabalhador e a trabalhadora desprovidos de qualquer direito, impedindo que este tivesse qualquer benefício estipulado por Lei. Isso acabou barateando o custo do Trabalho para o Capital.

As transformações do modo capitalista de produção têm se realizado no Brasil com mais força no âmbito da implantação de políticas de cunho neoliberal e procuraram, dentre outras ações, acabar com os “entraves” gerados pelas leis trabalhistas na relação Capital/Trabalho, garantindo às empresas maior flexibilidade no uso e desuso da força de trabalho, sem impedimento legal e reduzindo a contestação no campo institucional formal por parte dos sindicatos.

As ações das instituições governamentais revelaram a face intervencionista das instâncias burocráticas do Estado, que de acordo com os princípios liberais não deveria intervir no movimento do mercado, mas o faz, desde que seja para utilizar o poder político institucional para a otimização das condições de reprodução do Capital.

Nesse período, ficou evidente uma outra contradição na forma de atuação do Estado, no trato das questões relativas ao Trabalho e à economia informal. Enquanto o discurso oficial pregava a regularização e a regulamentação dos trabalhadores e trabalhadoras e das transações econômicas informais, o discurso ideológico que sustentava as ações governamentais estava fundado no liberalismo econômico, que tem como diretriz a desregulamentação, que precariza o emprego e, conseqüentemente, reduz o poder de luta organizada da classe trabalhadora, se refletindo no esvaziamento dos sindicatos.

Desta forma, tornou-se crescente o desemprego, o que colabora para a degradação das condições de trabalho daqueles que continuam formalmente empregados. Os que continuam formalmente empregados passam, neste contexto de precarização das relações de trabalho, a sofrer pressões sobre os seus salários e seus direitos trabalhistas, cuja existência passa a ser denunciada como obstáculo à expansão do emprego formal16.

O fenômeno crescente do desemprego e da precarização do trabalho, longe de serem uma anormalidade pelas forças econômicas e

16 Cf. SINGER, 1998.

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políticas dominantes, são vistos, até pelos discursos oficiais, como conseqüências naturais da nova ordem política e econômica estabelecida para a organização e participação dos atores econômicos no mercado capitalista.

Pautado em pressupostos liberais, o governo FHC sempre procurou justificar a aceitação do crescimento contínuo da precarização das relações de trabalho alimentando uma política de desregulamentação do mercado, como forma de evitar o aumento do desemprego, que de outra maneira só poderia ser conseguido com o crescimento econômico. Neste sentido, os pronunciamentos e as atitudes tomadas pelo governo, foram de estimular a informalidade e a precarização do trabalho. Esse fato pode ser constatado se analisarmos os projetos que visavam modificações nas leis que regiam os contratos de trabalho, ou que permitiam que houvesse contratos de trabalho que não atendessem aos princípios da legislação, estimulando a ampliação das condições para o aproveitamento e exploração da força de trabalho, contando muitas vezes com a participação de algumas organizações sindicais.

Desta forma, fica evidente o desmonte do já insuficiente aparato institucional de proteção ao trabalhador e a trabalhadora, frente à “intempéries” do mercado e das investidas extremas de espoliação dos empregadores.

Esta situação demonstra o poder de influência da classe dominante sobre os aparelhos do Estado, que se reconfiguram modificando a legislação ou mesmo desobedecendo-a, para melhor colaborar com o atual contexto organizativo do Capital. O mesmo Estado que em outros momentos procurou mostrar-se como mediador ou imparcial frente ao confronto Capital X Trabalho, corrobora sem disfarce à sua vinculação com o Capital.

Assim, é no crescimento do desemprego, do trabalho informal, da desregulamentação e do desmantelamento do aparato institucional que garantia alguns direitos básicos à classe trabalhadora, que se mostra o desgaste e a fragilidade das atuais formas de organização dos trabalhadores

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e trabalhadoras, que são em sua maior parte sindicatos que organizam, representam e defendem os direitos de determinada categoria17.

Combinada a terceirização ao desemprego, a precarização torna-se um elemento corrosivo da base sob a qual se assenta a legitimidade e representação dos sindicatos, que por serem reconhecidamente institucionais trabalham dentro de normas que não permitem, ou não tornam interessante, organizar os trabalhadores e trabalhadoras que estão fora do mercado de trabalho formal, seja pelo desemprego ou pela informalidade.

Como instituição, os sindicatos, estão fracionados para representar as diferentes categorias, organizando, em tese, estes trabalhadores e trabalhadoras, também legalmente contratados como uma força conjunta frente ao capital. Logicamente, temos que considerar a fragmentação existente entre os sindicatos instituídos de acordo com a categoria de trabalho, pois como sabemos os sindicatos acabam por representar um fragmento da classe trabalhadora, uma categoria específica e não a todos os trabalhadores e trabalhadoras. Esta fragmentação colabora para que os problemas enfrentados por determinada categoria que cumpre sua função na divisão social do trabalho, pareça não dizer respeito a outras categorias de trabalhadores e trabalhadoras, o que tem impedido por vezes a participação conjunta de toda a classe trabalhadora em suas reivindicações.

E por estar organizado política e estruturalmente desta forma fragmentada e institucionalizada, que privilegia a dimensão de categoria e profissional, é que os sindicatos perdem atualmente o seu poder de representação. Com o aumento do desemprego e da informalidade do trabalho tem uma diminuição considerável de sua base de representação, já que os desempregados e os trabalhadores e trabalhadoras precarizados, informais, estão fora da sua área de atuação legal. No aumento da informalidade e de seus efeitos sobre os sindicatos, a representatividade sindical é corroída à medida que sua pretensão de falar pelo mundo do

17 Atualmente os sindicatos têm lutado muito mais para a manutenção do emprego do que por melhorias nas condições de trabalho e de salário, como acontece atualmente com os metalúrgicos do ABC. Há uma preocupação maior em reintegrar o desempregado ao mercado de trabalho, e não um projeto de organização dos trabalhadores e trabalhadoras para o enfrentamento da atual política econômica.

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trabalho ou ao menos de sua parcela majoritária torna-se crescentemente insustentável.

A diminuição da participação dos trabalhadores e trabalhadoras nos sindicatos, pelos motivos aqui apontados, somada à insegurança no emprego gerada pela reestruturação produtiva, que tem no avanço tecnológico uma maneira de poupar quantitativamente a força de trabalho, leva, com o enfraquecimento da entidade representativa, a maior exposição de algumas categorias de trabalhadores e trabalhadoras às investidas dos capitalistas no sentido de diminuir o custo do trabalho, sobretudo no que diz respeito aos direitos trabalhistas conquistados através da luta organizada.

Todo esse novo contexto, como não poderia deixar de ser, tem se refletido nas atuações dos sindicatos, ou no não-enfrentamento por parte destes das atuais condições de exploração do trabalho. As greves, em grande medida, têm deixado de ser um instrumento de luta dos trabalhadores e trabalhadoras frente ao Capital para passar a realizar ações, como temos visto nos últimos anos, de manutenção de empregos e de alguns dos direitos conquistados historicamente.

*Necessário se faz, ainda, apresentar com maior profundidade a

atuação da CUT nas décadas de 1980 e 1990, principalmente em relação às greves.

O sindicalismo do Brasil nos anos 80 inovava nas suas reivindicações pela criação das comissões de fábrica e desafiava o capital, que procurava a manutenção do controle sobre o trabalho no lugar da produção, colocando em questão o controle exercido durante todo período de implantação do capitalismo industrial no Brasil.

A CUT, composta nesse período pelas correntes sindicais mais ativas, teve grande expressividade no movimento operário dos anos 80, organizando as greves gerais em oposição às políticas adotadas pelo governo brasileiro. Adotava uma postura oposicionista franca e direta de maneira a

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construir uma estratégia sindical combativa em relação à política pró-monopolistas, pró-imperialistas e pró-latifundiária do governo.

As greves gerais arquitetadas pela CUT resultaram em fortes movimentos de contestação e foram de grande importância política, enquanto forma de organização unificada dos trabalhadores e trabalhadoras. Ao todo foram quatro greves gerais nesse período. A primeira acontece em 1983, em pleno regime militar e protestava contra um decreto que modificava a política salarial, tendo a participação de dois a três milhões de trabalhadores e trabalhadoras. A segunda aconteceu em 1986, em protesto contra o Plano Cruzado II, particularmente contra o fim do congelamento de preços. A terceira greve geral comandada pela CUT realizou-se em 1987, contrapondo-se ao Plano Bresser e que tinha como motivação as modificações nas políticas salariais, mas o movimento dava também ênfase a palavras de ordem como: não ao pagamento da dívida externa, reforma agrária, semana de quarenta horas e estabilidade de emprego. A quarta greve aconteceu em 1989, protestando contra mais um plano de estabilização do governo, o Plano Verão, que modificava a política de indexação dos salários; o número de grevistas nesta greve dobrou em relação à de 1987, chegando a vinte milhões de trabalhadores e trabalhadoras18.

Essa última greve também contou com a participação ativa de vários setores: os metalúrgicos e trabalhadores e trabalhadoras da indústria automobilística e química, os petroleiros, os professores da rede pública de ensino federal e estadual, entre outros. A principal característica da greve foi a de ser uma reação ofensiva da classe trabalhadora brasileira no sentido de se contrapor às investidas do capital e conquistar direitos para a classe trabalhadora, que nesse período também sofria as conseqüências das ações políticas e econômicas comandadas pelo governo, que visavam dar maior espaço e criar melhores condições para o desenvolvimento capitalista no Brasil19.

É justamente no período dos anos 80, que o surto de reestruturação produtiva no Brasil sofre um novo avanço, de maneira a 18 Cf. BOITO, 1999.19 Cf. ALVES, 2000.

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incorporar as novas tecnologias nos processos produtivos e implementar novas formas de gestão e controle da produção baseadas, sobretudo, nas técnicas utilizadas nas fábricas japonesas e que correspondiam melhor as vontades do capital internacional.

A partir dos anos 90, a luta sindical, e logicamente a CUT, participam de um novo contexto histórico e social no Brasil. Com a vitória de Fernando Collor de Mello nas urnas e pelo voto popular, é eleito também um projeto neoliberal para a política econômica brasileira. Um projeto que visava criar as condições para instauração do neoliberalismo e que, mesmo com a saída vergonhosa de Collor via Impeachment, continuou a ser orquestrada pelos seus sucessores Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

A abertura da economia para o capital estrangeiro, o aumento das importações, o desmantelamento do parque industrial nacional e o crescimento da miséria e do desemprego, são produtos conhecidos e visíveis desse processo de liberalização da economia. Tais fatores, somados à reestruturação do processo produtivo com base na aplicação de novas tecnologias, tem colaborado para a precarização das relações de trabalho no Brasil e, conseqüentemente, para o enfraquecimento das formas organizativas e de luta da classe trabalhadora. As greves deste período foram muito mais na busca de manter os direitos sociais conquistados historicamente, ou na intenção de manter os empregos existentes, do que movimentos de reivindicação e de tomada de controle do processo produtivo ou de contestação ideológica.

Essa crise da organização sindical brasileira acabou por colaborar para a instauração do novo modelo político e de acumulação, pois, o sindicalismo classista e unificado que havia sido obstáculo durante os anos 80, nos anos 90 desarticula-se e se torna debilitado em sua capacidade de movimentação e organização da classe trabalhadora, o que permitiu uma investida mais dura do capital sobre os trabalhadores e trabalhadoras, apoiado pelas políticas do governo nacional que estimulou e legalizou a precarização das relações de trabalho.

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A HISTORIA DAS NOSSAS RAÍZES: ITINERÁRIO DAS LUTAS DOS TRABALHADORES (AS) RURAIS NO BRASIL E O SURGIMENTO DO SINDICALISMO RURAL

Maria do Socorro Silva20

"Da desparecença dos tempos aprendo as tranças e tramas das novas lições."

20 Pedagoga e Psicóloga. Professora da Faculdade de Educação da UnB/UFCG. Doutoranda em Educação da UFPE.

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GonzaguinhaPARA INICIO DE CONVERSA Nos colocamos, nesse momento, diante do desafio de trazer ao

debate questões que se inserem nas reflexões em torno do enraizamento histórico do sindicalismo rural no Brasil, ou seja, o processo no qual é gestado a dinâmica do movimento sindical dos trabalhadores(as) rurais (MSTTR), que se traduz, concretamente, num amplo imbricamento de ações. Porém, considerando os limites a que nos propomos discutir o assunto em pauta, nesse texto, restringeremos nossa análise a elencar alguns movimentos ou lutas que contribuíram para esse processo, como se constituiu a estrutura sindical oficial no Brasil.

Os movimentos sociais do campo vem se constituindo ao longo da nossa história, como sujeitos coletivos, onde constroem uma identidade e organizam práticas que visam defender direitos, interesses e projetos. Esse processo se dá através de lutas de resistências, de organização, mobilização que se constroem nos locais de trabalho, na roça e na comunidade. É na teia de constituição dessas lutas que se forjam as condições para a tomada de consciência do que significa ser trabalhador(a) rural.

Desde a chegada dos colonizadores portugueses que tivemos, em nosso país conflitos e rebeliões populares formados por complexa composição étnica, social e ideológica – índios, caboclos, camponeses, escravos, alfaiates, barqueiros, religiosos, seleiros, etc - com proporções e alcances distintos, ora manifestando-se como amplos movimentos de massa construindo novas formas de organização social, política e econômica, ora manifestando-se como ações específicas e localizadas ou movimentos messiânicos, de confronto com a opressão, a miséria, a dependência, a ausência de direitos, a luta pela posse da terra e por melhores condições de vida e de trabalho nas sociedades Colonial, Monárquica21 e Republicana22

21 No período Imperial tivemos apenas o nascimento das primeiras organizações operárias. No começo do século XIX já existiam algumas associações de artesãos, mas organizadas sob a forma de irmandades religiosas. As primeiras organizações operárias, sem um caráter essencialmente religioso, foram associações voltadas para a ajuda mútua em situações de doença, acidentes no trabalho, invalidez, etc.. 22 A primeira constituição republicana foi a de 1891 - assegura o direito à associação e a reunião deixando em aberto qual seria o tipo de organização, surgiram então às primeiras organizações de socorros mútuos, caixas beneficentes, sociedades de

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A proclamação da República (1889), juntamente com a Abolição da escravidão (1888), marcam um dos momentos de maior transformação social já vivido pelo país. A chamada Primeira República, que se segue, é o período de delineamento da identidade social e política do trabalhador brasileiro. Evidentemente, havia anteriormente trabalhadores, mas não uma classe trabalhadora. Até então, quem trabalhara no Brasil foram os escravos e a sociedade imperial escravista desmerecera inteiramente o ato de trabalhar.

No século XIX, começamos a ter uma nova configuração, primeiro com a chegada dos primeiros colonos europeus não-portugueses, para o cultivo do café, a partir de 1819, suíços, alemães, italianos, todos agricultores pobres atraídos para o Brasil por promessas de terra, que passaram a ocupar áreas ainda não utilizadas, nas regiões Sul e Sudeste, principalmente sobre a forma de parceria ou colonato, com isso tivemos uma intensificação dos conflitos por terra e pela libertação dos escravos.

Juntamente com o processo de luta contra a escravidão vamos ter a afirmação das leis de locação de serviços que visam regular o trabalho assalariado, (1830, 1837), os trabalhadores não poderiam romper seus contratos a não ser que pagassem ao patrão quantia correspondente e se não o fizessem estariam sujeitos à prisão com trabalhos forçados até pagar suas dívidas.

Em 1850, o império restringiu o direito de posse da terra por meio da Lei de Terras. Essa Lei significou o casamento do capital com a propriedade de Terra, pois a partir desse momento a terra foi transformada em uma mercadoria a qual somente quem já dispunha dela e de capital pudesse ser proprietários, isso impedia que os ex-escravos, brasileiros pobres, os posseiros e os imigrantes pudessem se tornar proprietários, mas sim constituísse a mão de obra assalariada necessária nos latifúndios, segundo José de Souza Martins, professor da USP: “Enquanto o trabalho era escravo, a terra era livre. Quando o trabalho ficou livre, a terra ficou escrava”.

Nesse mesmo período, milhares de nordestinos, fugindo da seca e resistência, bolsa de trabalho.

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da crise econômica dos engenhos de açúcar, foram para o norte, trabalhar na extração dos produtos da floresta, principalmente a borracha e a castanha, que tiveram um grande peso na formação da atual população de agricultores familiares amazônicos.

O resgate do itinerário de algumas dessas lutas que são raízes da organização do campo brasileiro, e do surgimento, do sindicalismo rural brasileiro, podem sinalizar para descobertas importantes na construção de uma sociedade mais justa, e no fortalecimento das organizações no momento atual.

PRIMEIRO MOMENTO: DAS LUTAS PELA LIBERDADE AO SURGIMENTO DO SINDICALISMO RURAL

“O movimento para a liberdade, deve surgir e partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente será " aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade". vê-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata-se de um trabalho de conscientização e politização.”

Paulo Freire1.Lutas e mobilizações pela liberdade

A luta dos trabalhadores (as) rurais brasileiros pela posse da terra, visando garantir melhores condições de trabalho e de vida fazem parte da história do povo brasileiro: lutas de tribos indígenas, movimentos de escravos, revoltas como da Cabanagem e Balaiada, litígios e reações de parcela das populações pobres foram uma constante ao longo da nossa história.

Durante todos esses períodos tivemos ações populares de intervenção na ordem social, práticas reprimidas de participação social e política do povo que colocaram em ebulição os direitos políticos e sociais, antes que a cidadania e a sociedade civil se estabelecessem entre nós, e que

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tiveram nos camponeses (as) sujeitos protagonistas de várias dessas lutas e mobilizações.

a) Quilombos Nos quilombos refugiavam não só escravos foragidos, como

também índios e pobres livres. Um dos mais importantes quilombos de nossa história foi Palmares foi construído no fim do século XVI e resistiu até o fim do século XVIII, chegou a reunir mais de 20 mil habitantes, localizava-se na Serra da Barriga entre Pernambuco e Alagoas, e era governando por um rei (sendo o mais conhecido Zumbi) e um conselho formado por chefes dos quilombos. O sistema de vida e produção organizado em Palmares pode resistir a economia patriarcal e escravocrata, com uma cultura e economia baseada na policultura, na organização coletiva da produção e na resistência e combate a escravidão.

Durante sua existência foram feitas varias tentativas de destruir Palmares. Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição para derrotar os fugitivos. Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas não desistiu. Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque. Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que a luta durou perto de três anos.

Os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados. Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora, principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam. É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar. Quando isto se deu, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou renderam-se aos atacantes.

b) Missões A luta dos indígenas ao longo da nossa história apresenta raízes

de uma organização camponesa, principalmente por meio das missões, os exemplos mais conhecidos são: a Confederações dos Tamoios, Guerra dos Guaranis e a Guerra dos Bárbaros.

A Confederação dos Tamoios

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Em 1562, aliaram-se aos franceses tomaram a Baía de Guanabara. Não fora difícil aos franceses conquistar os tamoios, homens altivos, que há tempos lutavam contra portugueses, que pretendiam escravizá-los. A paz foi conseguida pelos padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega.

Guerra dos GuaranisEm 1750, o Tratado de Madrid determinou novos limites entre os

impérios coloniais de Portugal e Espanha. Na área do estuário do Prata, pelo novo acordo, a Espanha trocava os Sete Povos das Missões, na margem esquerda do rio Uruguai, pela Colônia do Sacramento, dos portugueses. Os governos de Madrid e Lisboa tomaram decisões sem levar em conta os interesses dos jesuítas e guaranis. Em 1752, enviaram comissões para tornar efetivas as mudanças previstas no Tratado.

Os Guaranis se revoltaram e se organizaram para defender suas terras. Mas os portugueses e espanhóis se uniram contra os rebeldes. Em 1754, começou a Guerra Guaranítica, que durou dois anos. Melhor equipado, o exército europeu massacrou os guerreiros guaranis, liderados por Nicolau Ñeenguiru e Sepé Tiaraju. Obrigados a sair, alguns sobreviventes foram para as reduções da margem direita do Uruguai.

A guerra não resolveu as questões de limites, pois, além dos índios, os portugueses da Colônia do Sacramento também não estavam satisfeitos com a troca de terras. Portugal e Espanha voltaram atrás, anulando o Tratado de Madrid em 1761. Com isso, os Guaranis continuaram a ocupar a área dos Sete Povos. Mas já não existia o entusiasmo de antes e as mesmas condições de resistência e luta.

Guerra dos Bárbaros Essa guerra durou vinte anos, a partir de 1682, e foi empreendida

pelos cariris. O cenário dessa guerra foi uma extensa área do Nordeste, particularmente nos vales do Rio Açu (atual Piranhas) e Jaguaribe. Todavia, estes bravios guerreiros, apesar das degolas, dos aprisionamentos, cativeiros e reduções em aldeamentos jesuíticos que sofreram ao longo dessa história que lhes fora imposta, resistiram por cerca de mais vinte anos sempre lutando como podiam pela posse de suas terras e na tentativa de vencer as

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injustas estratégias da dominação colonial.2. Lutas messiânicas – 1888 e a década de 1930 As lutas messiânicas se caracterizam pela existência de

uma liderança messiânica. Isso significa que a fé era a ligação entre ele e seus seguidores. Ë por isso que alguns autores chamam as revoltas camponesas do período de lutas messiânicas. Dentre essas podemos destacar:

a) Canudos a terra prometida Os/as trabalhadores rurais e escravos peregrinavam pelo sertão,

atrás do beato Antônio Conselheiro, até se estabelecerem no Arraial do Canudos. Criou-se um povoado em que o trabalho cooperado foi essencial para a preservação da comunidade. Todos tinham direito a terra e desenvolviam a agricultura para auto-consumo, envolvendo todos os membros da família. Na comunidade havia um fundo comum destinado a proteção dos velhos e aos doentes. Chegou a ter cerca de 10 mil habitantes. Entre outubro de 1896 e outubro de 1897, mais de 5 mil soldados do exercito e armamentos pesados de guerra foram envolvidos no ataque ao arraial.

b) Guerra do ContestadoEm 1912, o governo concedeu uma enorme extensão de terras à

empresa norte-americana Brasil Railway Company, no trecho previsto para a construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul. Ao final da construção da ferrovia, cerca de 8 mil trabalhadores ficaram desempregados e passaram a perambular pela região a procura de trabalho. Nesse momento surgiu na região de Campos Novos e Curitibanos, em Santa Catarina, um movimento camponês de caráter político-religioso, liderado pelo monge José Maria. Inicialmente ficaram numa área de disputa entre Paraná e Santa Catarina, por isso chamado de Contestado, que chegou a cerca de 20 mil pessoas. Em 1915, os lideres lançaram um manifesto monarquista e declararam a “guerra santa” contra os coronéis, as companhias de terras e as autoridades governamentais. O arraial foi dizimado quando o governo enviou cerca de 07 mil soldados do exercito, até mesmo aviões foram utilizados pra localizar os redutos rebeldes.

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c) Guerra do CaldeirãoUma luta de resistência camponesa, contra os latifundiários, que

aconteceu no Ceará, na Chapada do Araripe, no período de 1926-1937, quando foram assassinadas mais de 400 pessoas. O nome Caldeirão refere-se a uma depressão no relevo, onde se encontrava água cristalina durante todo o ano. A área pertencia ao padre Cícero - famoso religioso e político da época - que a entregou ao beato Zé Lourenço e seus seguidores para trabalharem na terra. O Caldeirão ficou auto-suficiente. Sua fama crescia e já influenciava outras cidades, porque tinham uma produção diversificada: agricultura, artesanato, confecção de redes, roupas, calçados, etc. Todas as ferramentas necessárias para o trabalho eram feitas na própria comunidade. Os produtos excedentes eram vendidos em Juazeiro e no Crato. Ninguém se considerava dono de alguma coisa. Todavia, a grande concentração de camponeses naquelas terras chamou a atenção dos fazendeiros, que, temendo o aumento da organização dos trabalhadores e uma possível ocupação de suas terras, iniciaram uma guerra contra os camponeses para destruir Caldeirão. A força militar chega ao sítio e os moradores resistem à destruição, casas são incendiadas e pessoas mortas, mais não conseguem vencer a comunidade. Dias depois, retornam usando dessa vez aviões, acontece o segundo bombardeio aéreo sobre civis na história do Brasil. (o primeiro foi em 1912, Contestado), destruindo assim o povoado.

3. As lutas pré-sindicalistas a) As colônias anarquistas A chegada dos imigrantes para trabalhar nas lavouras do café dos

grandes fazendeiros vai trazer mudanças no perfil do campesinato brasileiro. Além de ser explorado com baixa remuneração (a família toda precisava trabalhar para a subsistência), o colono ainda sofria a especulação do fazendeiro, pois era obrigado a comprar o que precisava pelo dobro do preço, nos seus armazéns, desta forma estava sempre devendo ao fazendeiro. Recebiam um preço de terra onde desenvolvia uma cultura de auto-consumo, no entanto, ao chegar à época da colheita, muitos eram expulsos, sofrendo as mais variadas injustiças e perseguições. A exploração imposta faz com que

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se organizem ainda que de forma clandestina (já que o Ato Adicional de 1834 proibia toda e qualquer associação de ofício): surgem as primeiras associações de socorro mútuo, os mutirões, e a organização de núcleos e colônias que serão precursores do sindicalismo brasileiro.

A formação de núcleos ou colônias, tais como a Colônia Cecília, Colônia Leopoldina, Colônia Nova Itália, organizadas sem propriedade individual, sem lei e sem religião, e onde começaram a funcionar as “Escolas Internacionalistas”, que depois se espalharam por outras áreas de imigração do sul do Brasil.

Além disso, os anarquistas começaram a se organizar nos sindicatos, cuja ação deveria ser voltada para o desenvolvimento da consciência da classe, com repudio a idéia de organizar os trabalhadores em partido político, recusa intransigente ao assistencialismo e mobilização permanente dos trabalhadores para ação direta contra os patrões. Para os libertários a educação ocuparia um papel de destaque, pois era considerado um veículo de conscientização e transformação das sociedades, sendo responsável pela formação de novas mentalidades e ideais revolucionários. Articulavam a educação entre si, em três dimensões: a educação político-sindical23, a educação escolar e as práticas culturais de massa.

Em 1907, é aprovada a Lei Adolfo Gordo para expulsar lideranças sindicais estrangeiras (1907/1913- governo Hermes da Fonseca). Esse processo vai ser intensificado em 1917, quando a nível internacional, ocorria a Primeira Guerra Mundial, e os anarquistas e socialistas faziam intensa propaganda anti-militarista, além disso, a situação econômica para os trabalhadores (as) estava insuportável: carestia, desemprego, recessão, reinava fome e miséria, culminando com a Greve Geral, sendo desencadeada um processo de repressão e o uso intensivo da Lei Adolfo Gordo.

b) Posseiros da Rodovia Rio-Bahia.A valorização das terras da Região de Governador Valadores - MG

devido à perspectiva da construção da rodovia Rio - Bahia em 1940, ali

23 Desde esse período a necessidade de formação sindical já se fazia presente entre as organizações, já colocavam a educação em suas diferentes dimensões sinalizando para o que chamamos hoje de formação programada (cursos, seminários, oficinas, etc), e a formação na ação que ocorre no cotidiano da organização, nas comunidades, no trabalho, mobilizações, intercâmbios, pesquisas, sistematização coletiva de experiências.

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viviam muitos posseiros, sem perda de tempo, os supostos donos das terras começaram a aparecer de todos os lados e impuseram aos posseiros a condição de derrubar a mata para formação de pasto, eles só podiam plantar para subsistência. A partir de 1955 com a construção das rodovias, começou o processo de expulsão dos posseiros. Eles começaram então a juntar os posseiros para formar uma associação (visto que os sindicatos rurais ainda não eram reconhecidos), essa organização foi até a década de 1964, quando foram presos e torturados pela ditadura militar.

c) Trombas e FormosoEm 1948, a construção da Transbrasiliana e o projeto de

colonização dos governo federal valorizaram as terras da região de Uruaçu, no norte de Goiás. Trabalhadores provenientes do Maranhão e Piauí chegaram ao local liderado por Jose Porfírio e estabeleceram posses numa área de terra devoluta, que estavam sendo griladas, por um grupo de fazendeiros, um juiz e um dono de cartório da região. Eles queriam que os posseiros saíssem das terras, e eles pagariam as benfeitorias feitas, a recusa foi geral. Então os grileiros queimaram as roças e as casas dos camponeses, inclusive acarretando a morte da mulher de José Porfírio. No final da década de 1950, com a contribuição do PCB, toda a região estava organizada na Associação dos Lavradores de Trombas e Formoso, a organização foi se afirmando, até a região se tornar um município e Jose Porfírio foi eleito deputado estadual em 1962. Os posseiros ganharam muita força na região e formaram vários sindicatos, o que foi desmentalado em 1964, com o golpe militar. Depois de viver na clandestinidade, José Porfírio, foi preso em 1972, foi solto no ano seguinte e desapareceu.

c) Influência do Partido comunista formação do Bloco Operário e Camponês (BOC)

A mudança de ênfase no PCB sobre a realidade brasileira, que identifica a realidade brasileira como sendo de um capitalismo agrário semi-feudal, leva o partido a formar o Bloco Operário e Camponês (BOC) em 1927, incorporar a luta contra a política da oligarquia, buscar aliança com a Coluna Prestes e atuar na área rural brasileira.

A análise da sociedade como sendo um país semi-feudal, onde a

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revolução seria feita por etapas: a primeira, de caráter nacional e democrático, seria anti-imperialista e anti-feudal, para isso teria que fazer alianças entre o operariado e o campesinato; a segunda, de caráter socialista. Essa tese se fundamenta na revolução leninista, pois para Lênin, a etapa primeira representada pela revolução democrático-burguesa é constituída pelo desenvolvimento do capitalismo. Embora esse processo revolucionário deva estar sob a direção política do proletariado, suas tarefas consistem em desenvolver as forças produtivas capitalistas (modernas), a fim de que possam ser eliminadas as antigas formas de produção ainda existentes nessas sociedades atrasadas. Por isso, a estratégia fundamental no operariado não pode basear-se na luta contra o capital, mas sim numa aliança com o campesinato para enfrentar o feudalismo. É esse caráter democrático-burguês que a proposta do BOC confere, a partir de 1928, à luta de classes.

As divergências com relação a essa aliança, os resultados da revolução de 1930 e as definições do comunismo internacional levaram a uma re-orientação para a “obreirizaçao”, que consistia em substituir os intelectuais por operários nos cargos e instâncias partidárias e o fim do BOC.

Na verdade essa aliança acabou tendo uma dimensão mais eleitoral de assegurar candidaturas que assegurassem a defesa dos interesses proletários, daí a necessidade de ampliar sua ação e se aproximar de outras organizações progressistas. Daí os acenos a setores da pequena burguesia como forma de romper o bloqueio à ação política que lhe era imposto não só pelas classes dominantes como também pela sua própria fraqueza interna. Com isso entendemos porque o BOC vai centrar sua ação nas questões sociais, sem questionar o sistema social vigente, pleiteando, reformas modernizadoras.

Essa aliança retoma na ação do partido na década de 1960 com a participação na organização das Ligas Camponesas e dos sindicatos rurais.

SEGUNDO MOMENTO: A IMPLANTAÇÃO DA ESTRUTURA SINDICAL NO BRASIL NO CONTEXTO DO ESTADO NOVO

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“Ninguém tem liberdade para ser livre, pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem”

(Freire, 1978).

O fim da primeira guerra mundial (1914-1918), a revolução russa (1917), a quebra da bolsa de Nova York (1929), a crise do café, o movimento tenentista e a coluna Prestes marcou uma grande seqüência de manifestações de operários, artistas, militares, camponeses que começaram a reinvidicar a suspensão do pagamento da dívida externa, a reforma agrária, a elaboração de uma legislação protegendo os trabalhadores rurais e colonização em terras devolutas com base em pequenas propriedades.

A revolução de 1930, inaugura as condições que permitiriam no decorrer dos anos seguintes, a modernização conservadora e a construção do Estado Moderno, criador de classes sociais modernas (burguesia industrial e proletariado), e o fortalecimento de uma classe média urbana, que insatisfeita com o domínio imposto pelas oligarquias agrárias. Lideradas pelo seu segmento mais radical, os “tenentes”, desencadeiam um ciclo de movimentos armados, cujo início é a revolta do Forte de Copacabana (1922), sucedendo-lhe a chamada Revolução de São Paulo, que culmina com a formação da Coluna Prestes (1924-1927).

As oligarquias agrárias, ligadas á lavoura de exportação, entram enquanto classe, num persistente processo de decadência econômica, embora o sistema político continue fortemente influenciado por ela, que mostrou uma capacidade insuspeita de se manter no controle do poder político ate 1964. É importante notar que a oligarquia agrária foi capaz de diversificar seus negócios expandindo-se em atividades urbanas, e aproveitar-se do capital industrial, através de associações, sem perder sem abrir mão do autoritarismo e conservadorismo, e sua vinculação com o rural, o que lhes garantia e fortalecia seus currais eleitorais.

Os industriais que querem controlar o poder, o Estado, não tem força para fazê-lo sozinhos; apelam, então, para uma aliança com a classe operária e a chamada “classe média”, tendo Getúlio Vargas com seu

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representante, constituindo a aliança entre desiguais – populismo brasileiro- para permitir a consolidação do poder dos industriais contra o poder da oligarquia rural, essa aliança que se afirma na Região Sudeste, não consegue se estruturar no restante do Brasil.

É dentro desse contexto que o Governo Vargas assina em 15 de março de 1931, o decreto conhecido como Lei de Sindicalização (decreto 19.770, de 19 de março de 1931). Até essa época todos os sindicatos eram formados por iniciativa de trabalhadores de uma profissão ou categoria e se mantinham através das contribuições de seus associados. Os sindicatos eram livres, independentes e funcionavam como organismos de luta por melhores condições de vida e salário.

A lei de sindicalização definindo o sindicato como órgão de colaboração com o poder público, servindo de pára-choques entre tendências conflitivas nas relações do capital com o trabalho. Os diretores só podiam ser brasileiros natos ou com mais de 20 anos de residência, sendo obrigação do ministério do trabalho fiscalizar as assembléias e contabilidade dos sindicatos.

A nova lei de sindicalização visava oficializar, ou seja, atrelar os sindicatos ao recém criado Ministério do Trabalho. Pelo projeto governamental, os sindicatos deveriam funcionar como um órgão de conciliação entre os trabalhadores e os patrões e como um órgão de caráter assistencialista.

De fato, os objetivos básicos da Lei de Sindicalização eram claros: 1) transformar o sindicato, de arma autônoma dos trabalhadores, em agência colaboradora do Estado; 2) disciplinar o trabalho, considerando-o como mero fator de produção; e 3) evitar a emergência da luta de classes, utilizando o sindicato como “para-choque, entre o capital e o trabalho.

O projeto sindical populista de Vargas previa a adoção de leis que, na verdade, eram conquistas ou reinvidicações dos trabalhadores ao longo de anos de luta, as chamadas leis sociais: pensões de aposentadoria, jornada de trabalho de 08 horas, proteção ao trabalho das mulheres e das crianças. A constituição corporativista de 1937 e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) consolidam a política varguista para o movimento operário, com a

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instalação da justiça do trabalho e a criação do imposto sindical. A CLT exclui os trabalhadores rurais do direito a sindicalizar-se apesar de lhes assegurar o direito ao salário mínimo.

A inexistência de uma organização no campo que aglutinasse essas bandeiras, à época, foi um dos fatores que impediram a elaboração e a implementação de uma legislação especifica para o campo.

A construção da estrutura sindical oficial (e a ideologia corporativista que lhe dá suporte) não foi somente produto da repressão e do silêncio a que foram subjugados os setores mais combativos e de esquerda do movimento sindical brasileiro. Foi também resultado de uma série de medidas legais e político-ideológicas que engenhosamente articuladas, dentre as quais a educação constituiu um dos mecanismos de propaganda e de convencimento.

O estimulo a sindicalização era acompanhada por uma propaganda doutrinaria que envolvia benefícios sociais advindos de um conjunto de leis trabalhistas, e a divulgação de um regime sindical especifico, o regime corporativista, principalmente por meio das práticas de formação sindical incentivadas pelo Ministério do Trabalho, nos sindicatos dirigidos por ministerialistas ou ‘amarelos’.

Uma vez constituído o sindicato de acordo com a lei, exigia-se ainda, para o seu reconhecimento o envio de seus estatutos ao Ministério do Trabalho para aprovação, além da presença permanente nos sindicatos em assembléias e no controle das finanças. Portanto, significando progressivamente a implantação de um projeto totalitário de poder.

No entanto, as influências das correntes comunistas e anarquistas criaram organizações paralelas como foi o caso do Pacto da União Intersindical (PUI), organizado a partir da greve de 1953, em São Paulo que chegou a aglutinar não só sindicatos mas federações de mulheres, associações de bairro, entidades estudantis. Também o Pacto de Unidade e Ação (PUA), de 1957, ou o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), de 1962, deram certa autonomia e permitiram articular melhor as lideranças e deram mais vigor as lutas dos trabalhadores (Abreu e Lima, 2005).

No que se refere à defesa dos direitos trabalhistas na área rural,

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foram organizados sindicatos de forma localizada e isolada, além de associações mais voltadas aos interesses dos pequenos produtores, como arrendatários, parceiros, posseiros e pequenos proprietários. Embora existisse uma legislação que permitia a criação de sindicatos, somente em 1944 através do Decreto 7.038 se autoriza de forma explicita a sindicalização rural, porém esta lei não foi implementada. Assim até 1955, o Ministério do Trabalho só tinha reconhecido o sindicato rural de Campos, Rio de Janeiro (que tinha sido criado em 1938), o mais antigo do país, e em seguida: Barreiros, Rio Formoso e Serinhaém, em Pernambuco; Belmonte, Ilhéus e Itabuna, na Bahia; Tubarão em Santa Catarina.

Muitas eram as dificuldades para esse tipo de organização: a legislação trabalhista era feita para os trabalhadores urbanos, não considerando a especificidade do trabalho no campo, quase não existiam juntas de conciliação e julgamento nas cidades do interior, o código civil não permitia a organização de sindicatos rurais, e os proprietários rurais agiam de forma repressiva, inclusive acionando a polícia para reprimir qualquer tentativa de organização e mobilização dos trabalhadores (as) rurais.

TERCEIRO MOMENTO: OS CAMPONESES ORGANIZADOS COMO CLASSE

Somos gente nova vivendo a união Somos povo, semente de uma nova

nação, ê, ê Somos gente nova vivendo o amor

Somos comunidade, povo do Senhor, ê, ê

Vou convidar os meus irmãos trabalhadores

Operários, lavradores, biscateiros e outros mais

E juntos vamos celebrar a confiança Nesta luta na esperança de ter terra, pão

e paz.

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Zé Vicente

Após a segunda guerra mundial, houve uma aceleração do processo de penetração capitalista, no campo, com a construção de grandes obras e expansão de crédito.

Nesse processo, foram duramente atingidos os foreiros, parceiros, pequenos proprietários e moradores de engenho (que tinham direito a cultivar a lavoura branca e a obrigação de prestar três dias de serviço por semana ao proprietário).

Através da expulsão do morador, da supressão do direito do cultivo do sitio, do aumento dos dias de cambão. Como reação a esse processo, as organizações camponesas passaram a se contrapor, de forma articulada, contra as ações de despejo acionadas pelos usineiros e latifundiários.

No período de 1954 a 1964, surgiram três grandes organizações camponesas que deram uma outra fisionomia ao debate e as lutas dos camponeses (as) no País:

a) Ligas camponesas Em 1955, os donos do Engenho Galileia, em Vitória de Santo

Antão, impuseram o aumento do foro e tentaram expulsar os foreiros da terra, que resistiram ao processo de despejo, e começaram a participar da formação da Sociedade Agrícola dos Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco (SAPPP), fundada inicialmente com fins basicamente assistenciais, para fornecer assistência médica, jurídica, criar escolas e uma caixa funerária para seus associados, e posteriormente, se tornando um movimento de luta pela Reforma Agrária que se espalhou por vários Estados do Nordeste. “A repressão atribuiu o nome de Ligas à organização desses trabalhadores para caracterizá-los como comunistas, em alusão ao nome por estes utilizados para certas organizações populares”(Abreu e Lima, 2005).

A partir das Ligas os camponeses organizados faziam um trabalho de denúncia, agitação, resistência na terra e mobilizações. As ligas utilizavam diferentes estratégias para organizar e formar os trabalhadores: conversas na feira, na missa, nos locais de trabalho, boletins, cordéis, etc.

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As Ligas se organizavam em “delegacias ou núcleos, por município, distritos ou fazendas. Em âmbito local, eram compostas só de camponeses; no nível estadual além das lideranças camponesas, envolvia profissionais liberais, intelectuais, estudantes, parlamentares”. (Abreu e Lima, 2005).

b) União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas – ULTAB

Mesmo na ilegalidade, o PCB manteve algum trabalho no campo, e em 1954, na II Conferencia Nacional de Lavradores, foi fundada a ULTAB, com a presença de 303 representantes de 16 estados, tendo-se discutido o direito a organização dos trabalhadores rurais em associações e sindicatos, o direito de greve, a reforma agrária, previdência social, adoção de medidas de apoio a produção etc.., sendo a primeira experiência na perspectiva sindical no campo brasileiro.

c) Movimento dos Agricultores Sem Terra – MASTER Surgiu no Rio Grande do Sul em 1950, a partir da

resistência de 300 famílias de posseiros, inovava com relação às formas de luta, pois executava a ocupação de terras, formando acampamentos e organizando estratégias de defesa, dentro das terras dos latifundiários, em áreas previamente escolhidas.

Essas três organizações durante sua existência assumiram algumas lutas de forma unificada, como por exemplo, a greve no setor canavieiro em Pernambuco, em 1963, que obteve conquistas significativas para a categoria ou a participação em Congressos como o I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, realizado em 1961, que embora explicitasse as divergências, marcou o reconhecimento social e político da categoria camponesa e o reconhecimento do seu potencial organizativo dentro da sociedade brasileira.

A partir, o movimento camponês cresceu e as discussões sobre a questão fundiária ampliaram-se, atingindo outros setores da sociedade, inclusive a Igreja Católica, que passou a atuar na perspectiva de fortalecer a posição da Igreja entre os camponeses através da criação de sindicatos24. 24 No Rio Grande do Norte, o então Bispo Dom Eugenio Sales funda em 1960 o Serviço de Orientação Rural (SAR) uma organização beneficente da Igreja destinada a fundar

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A década de 1960 chega com o país falando de reformas de bases. As principais eram a reforma agrária, reforma na educação e no sistema bancário. Nesse período foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural (1963), que concedia aposentadoria por invalidez ou por velhice como resultado das lutas lideradas pelas Ligas Camponesas no Nordeste, que aliavam as lutas por direitos trabalhistas e reforma agrária e do surgimento dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, das federações e da CONTAG, o que já era o bastante para deixar os latifundiários muito aborrecidos com o governo.

SURGE A PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO SINDICAL NACIONAL NO CAMPO: CONTAG

Ainda que o gesto me doa, não encolho a mão: avançolevando um ramo de sol.Mesmo enrolada de pó, dentro da noite mais fria, a vida que vai comigo é fogo: esta sempre acesa

Thiago de Mello

A existência das Ligas Camponesas, da ULTAB, do Master e a influência do PCB e da Ação Popular- AP25, fizeram com que a organização dos sindicatos. Até 1962 48 sindicatos foram fundados e 16 deles foram reconhecidos. Em Jaboatão (PE) o padre Crespo e o Padre Antonio Melo no Cabo (PE) passam a criar sindicatos com um objetivo declarado de enfraquecer o avanço das Ligas Camponesas e do PCB. 25 Foi formada em Belo Horizonte (MG), em 1962, a partir de grupos de operários e estudantes ligados à Igreja Católica: a Juventude Operária Católica (JOC), Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Estudantil Católica (JEC). Nos primeiros anos da década de 1960, ainda fortemente influenciada pelo ideário humanista cristão, vinculada às estruturas formadas pela Igreja junto aos movimentos populares, a AP possuía penetração entre operários, camponeses e estudantes, principalmente entre os últimos. A AP deslocou militantes para as fábricas e para o meio rural, sendo efetuadas experiências em meios populares como o ABC paulista, da Zona Canavieira em Pernambuco, da região Cacaueira da Bahia, da área de Pariconha e Água Branca em Alagoas, e do Vale do Pindaré, no Maranhão. Foi da Juventude Estudantil Católica que partiram as primeiras discussões que operaram mudanças políticas e ideológicas e sua transformação em uma organização marxista-leninista. Em março de 1971, a AP formalizou a influência do marxismo e se proclamou partido com a denominação de Ação Popular Marxista-

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trabalhadores(as) rurais em sindicatos fosse acelerada, as bandeiras de lutas atualizadas e ampliadas e estabelecidas linhas de ação comum.

Esse processo culminou na realização do 1º Congresso Nacional dos Lavradores e trabalhadores agrícolas, em 1961, em Belo Horizonte coordenado pela ULTAB, que reuniu 1.600 delegados de várias organizações. Articular nacionalmente as lutas passou a ser uma das principais preocupações, apesar das diferentes correntes de pensamento, de concepções e de formas de organização.

Em 1962, já existiam 42 federações, em alguns estados mais de duas: de assalariados, de lavradores, de pescadores, de agricultores, de trabalhadores rurais, sendo que 27 eram reconhecidas oficialmente pelo Ministério, que solicitou a realização de um Congresso Nacional para criação da Confederação, o que ocorreu em 22 de dezembro de 1963, com a participação de trabalhadores rurais de 18 estados, distribuídos em 29 federações, sendo reconhecida em 31 de janeiro de 1964, pelo Decreto Presidencial 53.517.

“A CONTAG torna-se a primeira entidade sindical camponesa de caráter nacional reconhecida legalmente. Ajustou em seu interior diversas concepções e correntes de pensamentos, desde os setores mais à direita, setores da Igreja, provenientes das Ligas e os comunistas”. (Revista dos 40 anos da CONTAG).

A mobilização popular a favor das reformas amedrontou a classe dominante, temiam que fosse apenas o começo de uma série de transformações radicais no país. A resposta das elites veio de imediato no dia 31 de março de 1964, as tropas militares ocuparam os pontos estratégicos do país, autoritarismo, desrespeito a constituição, perseguição militar, prisão e tortura para os opositores e censura prévia nos meios de comunicação, esse foi o quadro político criado pelo regime militar para arrasar toda oposição a sua forma de governar o país.

Recém criada a CONTAG, na busca pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores do campo, pela reforma agrária, sofre de imediato a violência do golpe militar sobre as lideranças de sua organização, que viu

Leninista (APML), que continuou sua ação política durante a ditadura (ACO, 1985).

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bandeiras de lutas políticas dos trabalhadores, em especial, a da reforma agrária, serem colocadas em segundo plano.

Já em 1964, foi decretada a Primeira Lei de Reforma Agrária do Brasil elaborada ainda no Governo João Goulart, acabou sendo promulgada com modificações, pela ditadura militar, sendo denominada Estatuto da Terra, que por um lado definiu regras para os contratos de arrendamento e parceria, como resposta as reinvidicações do movimento sindical, e por outro incentivou o pacote da Revolução Verde, que obrigou muitos agricultores familiares a saírem do campo, com um grande aumento da miséria na área rural e nas cidades.

Logo na sua criação tinha sido constituída uma equipe de “educação sindical” com o objetivo de capacitar lideranças e dirigentes a fim de mantê-los informados, nas temáticas do movimento e da realidade social e política do país. A formação sindical centrava sua ação na alfabetização dos trabalhadores (as), na difusão de práticas agrícolas e cursos políticos para formar novas lideranças, que durante a ditadura tiveram que atuar de forma quase clandestina.

“Após a intervenção, foi constituída uma Junta Governativa que durante um ano administrou a CONTAG. No ano seguinte, uma diretoria foi eleita para administrar a entidade durante o período de 1965 a 1968, tendo como interventor José Rotta.”(Revista 40 anos da CONTAG).

A partir de 1966, trabalhadores que resistiam à ditadura buscaram retomar o controle da entidade, e superar as dissidências alimentadas durante o período de intervenção, buscando a organização dos sindicatos e federações. A formação se traduzia em práticas educativas para garantir núcleos organizados nos locais de trabalho e para fortalecer o processo de retirada dos interventores e sindicalistas pelegos, impostos nos sindicatos e federações pela ditadura.

Os materiais de comunicação sindical foram fundamentais para garantir minimamente uma ação articulada nacional, regional e estadual. Eram boletins, revistas e jornais, que tinham como objetivo central a conscientização e a socialização das vitórias e lutas do MSTTR. A criatividade marcou esse período. O cerceamento das liberdades individuais e coletivas

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inibia qualquer divulgação de trabalhos que pudessem, em seu conteúdo, ser interpretado como “ofensivo” ao governo e a “ordem pública”.(Revista 40 anos da CONTAG)

O cotidiano e o estímulo à organização dos trabalhadores (as) rurais eram reproduzidos por meio de personagens. Também reproduziam as poesias, prosas e cordéis, escritas pelos trabalhadores (as) rurais, dialogando com os desafios do dia-a-dia, sem serem perturbados pela Policia ou pelo Ministério do Trabalho. Os autores das histórias utilizavam pseudônimos, caso a repressão militar resolvesse censurar os textos, os autores estariam protegidos.

Outro instrumento utilizado no final da década de 1960 e meados de 1970, foi o sócio-drama. Priorizava a oralidade e a expressão corporal, para estimular uma visão crítica daquele momento que o país vivia sem chamar a atenção do poder público (Revista CONTAG 40 anos).

O trabalho comunitário e de pequenos grupos foi á estratégia adotada durante muitos anos para resistir e formar novas lideranças durante a fase da ditadura. Eram organizações quase clandestinas em grande parte fomentadas ou apoiadas pela Igreja. Portanto, esse período nos ensinou a importância da comunidade, da formação de base, do trabalho em grupos, da importância do ambiente cultural na formação do ser humano, por exemplo, na Amazônia, as relações comunitárias de parentesco e de vizinhança foram à base da organização dos “posseiros”, durante toda a década de 1970. Os núcleos formados por famílias extensas e vizinhos, liderados pelos mais antigos, formavam uma rede importante de relações através das quais se recrutavam os membros das comunidades para as ações coletivas. Foi na experiência de comunidades já existentes, na sua organização já construída e na solidariedade que novos migrantes foram rompendo as fronteiras do latifúndio na região, e foram ficando na terra e produzindo.

De meados da década de 60 até o final da década de 70, as lutas camponesas eclodiam por todo o território nacional, os conflitos fundiários triplicaram e o governo, ainda na perspectiva de controlar a questão agrária determinou a militarização do problema da terra. A militarização

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proporcionou diferentes e combinadas formas de violência contra os trabalhadores. A violência do peão que é o jagunço da força privada, muitas vezes com o amparo da força pública. A violência da polícia, escorada na justiça desmoralizada, que decretou ações contra os trabalhadores, utilizando recursos dos grileiros e grandes empresários, defendendo claramente e tão somente os interesses dos latifundiários. No ano derradeiro do governo militar, 1985, os jagunços dos latifundiários e a polícia assassinavam um trabalhador (a) rural a cada dois dias.

Essas diferentes ações fomentam a resistência e a luta por uma sociedade justa e solidária até os nossos dias. As desigualdades sociais e a exclusão continuam acirrando as contradições de nossa sociedade, portanto, a luta pela terra, pelo meio ambiente, pela cidadania, a soberania alimentar, os valores humanistas, a participação popular, a educação, a saúde, as relações igualitárias de gênero e etnia, vinculadas à luta por uma sociedade economicamente justa, ecologicamente sustentável com equidade e justiça social continuam na agenda do dia para tecer o amanhã.

Tecendo a manhã

João Cabral de Melo NetoUm galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que ele lançou e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes lançou e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos

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TRAJETÓRIA POLÍTICA DA CONTAG - AS PRIMEIRAS LUTAS26

Na década de 50, as organizações camponesas passaram a se contrapor, de forma articulada, contra as ações de despejo acionadas pelos usineiros (Porecatu/PR) e da luta dos posseiros e arrendatários de Trombas e Formoso, em Goiás, onde várias lideranças se destacaram.

Em Pernambuco, fundaram a Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores, promovendo uma das mais importantes lutas da época, no Engenho Galiléia, município de Vitória de Santo Antão, nos limites da região Agreste com a Zona da Mata de Pernambuco. Foi quando surgiu a primeira experiência de Ligas Camponesas e, conseqüentemente, de resistência camponesa articulada a objetivos políticos mais definidos (...). A luta camponesa passa a ter uma postura politizada e politizadora. No processo de organização e luta, foram criadas outras organizações como o Movimento dos Agricultores Sem Terra – MASTER na região sul do país. As várias formas de organizações camponesas passaram a sentir a necessidade de uma articulação nacional que representasse os interesses e as demandas específicas.

Em 1954, surgiu a União dos Lavradores Agrícolas do Brasil – ULTAB, durante a II Conferência Nacional dos Lavradores, realizada em São Paulo. O primeiro presidente foi Lyndolpho Silva, que, uma década depois, viria a ser o primeiro presidente da CONTAG. Nessa conferência, foram identificadas as bandeiras prioritárias entre elas o ”estímulo à criação de sindicatos de trabalhadores rurais”.

CONTAG – PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO SINDICAL NACIONAL NO CAMPO

As Ligas Camponesas, O MASTER, A Ação Popular – AP (ligada aos católicos radicais) e a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil – ULTAB, dentre outros, fizeram com que a organização dos trabalhadores rurais em sindicatos fosse acelerada.

26 Publicação – Revista Contag 40 anos

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As organizações de esquerda com atuação no campo buscaram atualizar e ampliar as bandeiras de luta e estabelecer linhas de ação comuns. Neste sentido organizaram: o 1º Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (1961) – convocado e coordenado pela ULTAB; em 1962 acontece o 1º Congresso de Trabalhadores na Lavoura do Nordeste; em 1963 a ULTAB organizou a 1ª Convenção Brasileira de Sindicatos Rurais (Natal-RN).

Em 1963 uma greve no setor canavieiro envolveu a Federação dos Lavradores, as Ligas Camponesas e sindicatos autônomos.

Em 22 de dezembro de 1963, trabalhadores rurais de 18 estados, distribuídos em 29 federações, decidiram pela criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, reconhecida em 31 de janeiro de 1964, pelo Decreto Presidencial 53.517.

A CONTAG torna-se a primeira entidade sindical camponesa de caráter nacional legalmente reconhecida. A CONTAG nasceu em um momento crítico da atividade política do país, resistindo ao regime imposto pelos militares.

O golpe militar de 64 foi uma contra-revolução que barrou mudanças estruturais de democratização da sociedade brasileira. O golpe foi deflagrado contra o governo de João Goulart. Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu setores politicamente mais mobilizados à esquerda como, por exemplo, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP).

Os dirigentes sindicais mais combativos foram cassados, presos, torturados e substituídos por interventores que conduziam os sindicatos como órgãos de colaboração do Estado. Com o golpe militar, a direção da CONTAG foi deposta e alguns dirigentes foram presos.

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Milhares de pessoas foram presas e casos de tortura transformaram-se em atos comuns. As pessoas também foram atingidas em seus direitos individuais e coletivos. O Ato Institucional (AI) foi criado pelo governo militar – cujo objetivo era justificar os atos de execução. Os militares justificavam sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e deter a “ameaça comunista”. Com o golpe, deu-se início à implantação de um regime político marcado pelo “autoritarismo”.

O Estatuto da Terra, elaborado durante o governo de João Goulart, foi promulgado devido às pressões internacionais e internas, mas, com profundas modificações. Ainda assim, marcou uma nova etapa em relação à legislação existente, permitindo, dentre outras coisas, a intervenção do Estado no setor fundiário, mediante a desapropriação de terras por interesse social.

O governo militar concentrou-se na modernização das relações capitalistas no campo e nos projetos de colonização nas áreas de fronteira, preocupando-se com um projeto agrícola afinado com sua política econômica. Colocou à margem a pequena produção e favoreceu a ampliação ainda da concentração de terra e de renda no país. Houve um estímulo à especulação com a terra e de concessões a grandes empresas para atuarem no campo. A idéia aguçou o conflito em torno da propriedade, em especial nas áreas de fronteira agrícola. A política salarial, controlada pelo governo, impedia os aumentos reais e garantia ao patronato à crescente exploração de mão-de-obra barata. A repressão à atuação sindical não permitia que os assalariados rurais pleiteassem seus direitos trabalhistas.

Os pequenos e médios produtores foram incentivados a se modernizarem, adquirindo máquinas e equipamentos mediante financiamentos que, mais tarde, não conseguiram saldar. Essa situação, aliada à ausência de uma política diferenciada de créditos, resultou na perda de muitas propriedades, tornando irreversível o processo de concentração fundiária. As lideranças políticas sindicais comprometidas com a luta por direitos e liberdade, resistiram como puderam ao regime

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militar e no 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CNTR.

No 1º Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais da CONTAG, realizado em São Paulo, estava clara a existência de dois grupos políticos, um ligado ao interventor e, outro ligado a trabalhadores e lideranças que se mostravam comprometidos com as lutas dos trabalhadores.

Em 1967, o Rio de Janeiro é transformado em sede da Conferência Nacional Intersindical, congregando representantes dos trabalhadores rurais, bancários e industriários. Nessa conferência, a defesa da reforma agrária foi unânime, contando com a presença de sindicalistas rurais de quase todos os estados. Foi o início de uma articulação ampla, urbana e rural, de consolidação de uma chapa para concorrer às eleições da CONTAG.

Fruto da união operária e camponesa, por apenas um voto de diferença, a chapa encabeçada por José Francisco da Silva impõe a derrota ao interventor e então presidente da CONTAG, José Rotta. Empossada, a nova diretoria (1968) convocou todas as federações para um encontro, em Petrópolis (RJ), a fim de elaborar um Plano de Integração Nacional - PIN. A preocupação maior era criar um instrumento capaz de garantir a unidade do MSTR diante da divisão política revelada no processo eleitoral.

O PIN elegeu a reforma agrária como uma das bandeiras de luta capaz de propiciar a unidade do movimento, pois seria de fundamental importância não apenas para os diretamente envolvidos nos conflitos pela terra, mas também para o pequeno produtor e o assalariado.

O PIN previu ações específicas para cada setor. No caso dos assalariados, por exemplo, foram incentivadas as ações coletivas, em grande número, para abarrotar as Juntas de Conciliação e Julgamento, forçando uma tomada de posição favorável aos trabalhadores. Essa proposta, quando levada à prática, causaria uma reação violenta do patronato e do poder público, que ameaçavam e puniam os líderes

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sindicais, por promoverem reuniões dos grupos nos Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

A formação de líderes era essencial para o futuro do MSTR. Por meio de cursos sobre a realidade brasileira, legislação trabalhista, agrária, agrícola, cooperativismo e de organização sindical, iniciou um contínuo trabalho de conscientização dos trabalhadores rurais sobre os seus direitos, qualificando-os para a luta cotidiana.

O PIN marcou a singularidade do MSTTR dentro do sindicalismo brasileiro. Enquanto as outras confederações urbanas existentes tinham dúvidas entre resistir ou aceitar a intervenção no movimento sindical, a CONTAG optou pelo enfrentamento ao poder econômico e político em uma de suas principais bases: a democratização da terra e a organização política dos trabalhadores rurais, por meio da formação de lideranças.

Durante os ‘anos duros’ do regime ditatorial militar, 1968 e 1969, os dirigentes do MSTR aceleraram o processo de organização e politização da categoria. Lançaram o periódico “O Trabalhador Rural”, informativo que levava as idéias e propostas da direção da CONTAG acerca das bandeiras de lutas e da organização sindical às Federações.

Nesse período, a direção da CONTAG qualificou ainda mais a sua forma de comunicação com a base, lançando a revista mensal “O Trabalhador Rural”, apresentando análises sobre a conjuntura nacional e sugerindo encaminhamentos para reflexão nos estados.

Num dos primeiros números dessa revista, foi transcrita a carta ao Papa Paulo VI, assinada por José Francisco, que reafirmava: “É, para vencer barreiras centenárias de irracionalidades geradas pelo latifúndio, sinônimo de um poder político, econômico, social e cultural que contrariam a função social de propriedade, é necessária uma decisão drástica e enérgica pela reforma agrária”. Os textos reproduzidos no periódico demonstram explicitamente o enfrentamento da CONTAG diante das políticas do governo militar.

A necessidade de organizar os trabalhadores nos municípios e constituir sindicatos era uma das grandes demandas do movimento

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sindical naquele momento. A revista “o Trabalhador Rural” era um dos meios utilizados para chamar os trabalhadores para organização sindical. Um espaço chamado “Conversa de Caboclo” que contavam estórias sobre o cotidiano dos trabalhadores rurais, criadas pela equipe técnica da Contag e assinadas com nomes fictícios, para chamar a atenção dos camponeses sobre a importância da organização sindical. Em uma dessas estórias consta esse trecho: “E quem é esse sindicato, que vai dar nosso valor? É uma sociedade composta de agricultor. Nós vai lá se reunir, pra acabar com a tal de meia. Que sempre nos tem trazido amarrado no nó da peia.”

A luta essencialmente corporativa, nunca foi a marca do movimento sindical coordenado pela CONTAG, já em 1968, preocupados com a importância da educação para o desenvolvimento do campo, foi organizado um Encontro Nacional em Petrópolis. Reunindo diversos representantes das Federações concluíram que: a) o diálogo deve ser a base para a construção de uma proposta educativa para o campo; e b) o método a ser utilizado, deve levar em conta o conhecimento da realidade, que será criticada, para daí se chegar à escolha da ação e a própria ação, conhecimento e crítica.

Na revista “O Trabalhador Rural”, a direção da CONTAG politizou o debate sobre o papel da organização sindical e utilizou repetidamente o lema “Sindicalismo autêntico, é Sindicalismo livre”. Denunciou a intenção de cooptação do governo através do assistencialismo. Demonstrou que o conceito de desenvolvimento do governo era diferente da idéia do MSTR: “milhões de camponeses continuam morrendo de fome (...), mas o Brasil está em franco crescimento. Sim, porque crescer é bem diferente de desenvolver”.

Levantamento elaborado pela CONTAG, em 1971, demonstraram que a estratégia adotada pelo MSTR foi acertada, conforme a tabela abaixo:

Levantamento numérico do movimento sindical em 22 estados, inclusive Brasília e Guanabara, de 1960 a 1971.

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Municípios brasileiros

Municípios com sindicatos

Municípios semsindicatos

Média de sócios por sindicato

Inicio de 1969

3959

705

3254

800

Final de 1971 3959

1045

2914

1132

Fonte: Revista O Trabalhador Rural

Em março de 1971, ocorreu a Reunião do Conselho Deliberativo que escolheu a diretoria da CONTAG para o triênio 1971/1974, tendo como presidente José Francisco/PE, esta foi a 4ª eleição da CONTAG.

A CONTAG segue sua trajetória e realiza seu 2º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR em 1973, que representou um marco para a organização da classe trabalhadora rural, logo o governo militar buscou impedir a posse da diretoria eleita. Em maio de 1977 foi empossada a direção para o triênio 1977/1980.

Em 1979 acontece o 3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, dando visibilidade nacional ao sindicalismo de trabalhadores coordenados pela CONTAG. Em abril de 1980, foi empossada a direção para o triênio 1980/1983 e a festa de posse contou com a presença dos ex-dirigentes Lyndolpho Silva e José Pureza da Silva, ambos fundadores da CONTAG, de volta ao país após vários anos de exílio.

Durante o 3º Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais, em 1979, em seu discurso de abertura, o presidente José Francisco recordou: “apesar das condições desfavoráveis para o trabalho sindical entre o último Congresso e os dias atuais, passamos de 19 para 21 Federações, de 1.500 sindicatos para 2.275, de dois milhões e meio de associados para mais de cinco milhões”.

A CONTAG estava consolidada, não como um espaço desse ou daquele ‘modo de pensar o sindicalismo’, mas de todas as correntes políticas existentes. Rompeu com a visão imediatista da luta sindical e buscou atender às outras dimensões e necessidades do ser humano, inclusive, apontando o conceito de desenvolvimento que se queria para o campo: “O

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desenvolvimento deve vir acompanhado de transformações sociais e políticas”.

O mesmo aconteceu com o estímulo à participação, em registros internos, vê-se que reuniões de avaliação e planejamento sempre estiveram presentes na história dessa entidade, inclusive, com a participação da assessoria nesses momentos, demonstrando como praticar democracia interna, mesmo em momentos difíceis e sob ameaça constante dos militares.

No 4º CNTR em 1985 o debate sobre o modelo de reforma agrária defendido pelo MSTR foi o ponto alto. Os delegados aprovaram a realização de eleições da CONTAG e Federações em Congresso, com mandato de três anos. Em dezembro de 1985 aconteceu a 1ª Eleição Congressual da história da CONTAG.

Apesar da deliberação do 4º CNTR, a eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal da CONTAG, gestão 1989/1992, não aconteceu em congresso. As urnas foram colocadas nas sedes das federações. A votação foi de um delegado por sindicato. A Diretoria Efetiva teve como presidente Aloísio Carneiro/BA. Nessa eleição foi eleita a primeira mulher, Gedalva de Carvalho/SE, enquanto suplente da direção da entidade.

No 5º CNTR, em novembro de 1991 a participação da base foi ampliada qualitativa e quantitativamente. Elegeram o dirigente Francisco Urbano/RN como presidente da CONTAG.

Em agosto de 1994 foi realizado o 1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais – CNETR. Neste congresso participaram a direção executiva da CONTAG, a direção efetiva das federações e os delegados eleitos em número correspondente a 10% dos sindicatos filiados a cada federação. Foi assegurada a participação das diretoras da CONTAG, como delegadas, e de duas trabalhadoras rurais por estados.

O 6º CNTR acontece em maio de 1995 explicitando a necessidade da classe trabalhadora rediscutir a sua prática de luta e de convivência democrática com as divergências. O 6º CNTR foi um marco, pois a partir daí o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais –

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MSTTR incorporou o conceito de agricultura familiar às suas formulações, dando os passos iniciais para a construção de um projeto alternativo de desenvolvimento rural, a participação efetiva das mulheres na Diretoria da CONTAG e uma maior abertura para os jovens e as pessoas da 3ª idade. No 6º CNTR também foi aprovada a filiação da CONTAG à Central Única dos Trabalhadores - CUT. Em 1995 foi oficializada estatutariamente a Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, cuja Coordenadora passou a integrar a Diretoria da CONTAG. A Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais – CNMTR elege a sua Coordenadora Nacional, Margarida Maria Alves da Silva (Hilda) do STTR de Surubim/PE.

Dois anos (1997) depois foi realizada a 1ª Plenária Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais que discutiu as lutas específicas das mulheres e a sua relação com as lutas do conjunto da categoria.

O 7º Congresso representou um marco, em 1998 mais de 1.400 delegados e delegadas debateram e aprovaram um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável – PADRS. Nascia o PADRS representando um passo significativo para a articulação e unificação das lutas da categoria na esfera nacional e para o fortalecimento de um novo tipo de interseção campo e cidade.

O projeto ampliou a visibilidade política das mulheres coordenadas pela CNMTR, que já haviam conquistado a inclusão da Coordenação da Comissão Nacional no Estatuto da CONTAG. Incluíram mais um “T” no nome do congresso, que passou a ser 7º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR. Foi aprovada também a cota de, no mínimo, 30% de mulheres em todas as instâncias do sindicalismo rural. Foi eleito como presidente Manoel José dos Santos/PE.

Neste Congresso os trabalhadores e trabalhadoras rurais aprovaram: o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS, tendo por princípio a realização de uma ampla e massiva reforma agrária, expansão, valorização e fortalecimento da agricultura em regime de economia familiar, centrado na inclusão social, no

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desenvolvimento social, econômico, ecologicamente sustentável e no fim de todas as discriminações, em especial as de gênero, de geração, raça e etnia. Para a implementação do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS desenvolveu-se um trabalho de formação de lideranças em desenvolvimento local, através do Programa de Desenvolvimento Local Sustentável – PDLS, voltado para a animação e estímulo a processos de desenvolvimento sustentável ao nível local, possibilitando uma maior intervenção nas políticas públicas e nos Planos Municipais.

Em outubro de 1999 foi realizado o 2º Congresso Extraordinário buscando atualizar e potencializar o MSTTR para o desafio de implementação do PADRS. o 2º CNETTR discutiu e deliberou especificamente sobre estrutura, organização, gestão e auto-sustentação do MSTTR. Este processo de avaliação e discussão interna tem possibilitado continuar na construção de um movimento sindical autônomo, combativo, ético e participativo.

Em Março de 2001 acontece o 8º CNTTR , onde o MSTTR reafirmou a estratégia de continuidade e o avanço no processo de implementação do PADRS, indicando a necessidade de atuação efetiva na organização da produção e comercialização. Foi criada a Comissão Nacional de Jovens Trabalhadoras e Trabalhadoras Rurais e a Coordenadora da Comissão, Simone Battestin/ES foi eleita junto com a Direção Efetiva da CONTAG. Neste congresso foi deliberada a necessidade do MSTTR participar articuladamente das Eleições Eleitorais e de eleger representantes dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Os Congressos da CONTAG garantiram o debate, a socialização e a integração nacional das políticas do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR. Ver anexo I sobre a trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG.

Desde então, o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais vem aperfeiçoando suas proposições e ações em torno da construção e implementação do PADRS, se contrapondo aos padrões dos sucessivos modelos de desenvolvimento implementados no Brasil. Modelos estes, que embasados na preservação do latifúndio e na produção de

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monoculturas para exportação, fizeram aprofundar a exclusão social, o desemprego, a concentração da terra e renda, sendo responsáveis, também, pela violência no campo e pela alta degradação ambiental.27

Como também, implementando e ajustando, permanentemente, o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável - PADRS. Sua última atualização ocorreu no 9º Congresso Nacional da CONTAG, realizado em Brasília, no ano de 2005. Dentre os vários ajustes, ressalta-se a reflexão sobre o princípio da SOLIDARIEDADE. Durante o 9º Congresso, as trabalhadoras e trabalhadores rurais entenderam não ser possível se opor ao neoliberalismo sem implementar profundas mudanças nas relações sociais estabelecidas entre homens e mulheres, de todas as idades, raças e etnias que vivem e trabalham no campo.

Logo, a solidariedade foi compreendida enquanto principal elemento para a construção de relações fraternas entre a classe trabalhadora rural, na perspectiva de um mundo melhor. Nosso projeto passou a ser denominado: Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário – PADRSS.

A construção do PADRSS foi a primeira iniciativa concreta de unificar as demandas do campo, considerando as diferenças e especificidades regionais, culturais, produtivas, ambientais, organizativas, de gênero, geração, raça e etnia. E ainda propõe alternativas específicas que consideram as demandas das pessoas no âmbito das suas características produtivas, a exemplo das assalariadas e assalariados rurais, das agricultoras e agricultores familiares, assentados, acampados, meeiros, posseiros, extrativistas, dentre outros.

A incorporação das propostas do PADRSS no dia-a-dia do MSTTR estimulou profundas mudanças em nossas entidades, garantindo um salto qualitativo e dinâmico às respostas necessárias ao atendimento das demandas da base. A ampliação das frentes de lutas do MSTTR foi uma delas. Não bastava atuar nas questões trabalhistas, previdenciárias, de acesso à terra e crédito, sem articular essas lutas com outras políticas necessárias e

27 PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar como base para o desenvolvimento rural – Sustentabilidade e qualidade de vida, Reforma Agrária e Meio Ambiente, Instituto Socioambiental, 2003, p.107

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estratégicas para garantir o desenvolvimento rural sustentável que se pretende.

A ampliação das frentes de lutas acabou estimulando o MSTTR a expandir e qualificar suas direções. Foram criadas as secretarias específicas, primeiramente na CONTAG, em seguida nas Federações, e em muitos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

Essas mudanças apontaram para a necessidade de investir na formação política, sindical e profissional de novas lideranças sindicais e técnicas do MSTTR. Essas ações formativas deram visibilidade a um público estratégico para as mudanças, a juventude e as mulheres trabalhadoras rurais.

Ainda hoje, esse processo formativo busca conjugar a formação política sindical com as demandas por melhoria das condições de trabalho, aumento da renda e dos salários, direitos trabalhistas e previdenciários, elevação dos níveis de escolaridade, de formação e requalificação profissional, habitação rural, saneamento básico, saúde pública e de qualidade, educação do campo e lazer.28 Conjugadas com as demandas estruturantes do desenvolvimento rural sustentável, como o acesso à terra, crédito, infra-estrutura social e produtiva, condições de comercialização, tecnologias de produção adaptada à agricultura familiar e aos ecossistemas.

A estratégia do MSTTR se orientou pelo estímulo à participação política e à gestão democrática na comunidade, município, território ou região, levando os excluídos e marginalizados do campo a serem protagonistas de uma outra realidade, sem perder de vista a articulação entre o local, o regional e o territorial com o global, o rural com o urbano, na perspectiva de uma sociedade justa, democrática, igualitária e solidária.

Tal estratégia exige uma participação efetiva nos processos políticos e eleitorais, nos espaços de concepção e gestão de políticas públicas e, o permanente debate com a sociedade sobre a concepção de espaço rural e do desenvolvimento que propomos, tendo como um dos principais objetivos reverter o processo neoliberal e viabilizar políticas públicas necessárias à implementação do PADRSS.

28 Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – Novembro 2003

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Não queremos dizer que o projeto vá resolver num passe de mágica os desafios históricos que estão postos para trabalhadores e trabalhadoras rurais brasileiras. Mas, sem dúvida, representa um salto qualitativo para nossa organização, mobilização, luta e ampliação das possibilidades concretas de implementarmos e consolidarmos o PROJETO ALTERNATIVO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTAVEL E SOLIDÁRIO – PADRSS.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – CONTAG, em seus 43 anos de existência, com o esforço e a participação de milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais, tem contribuído, de maneira decisiva, para a construção de uma sociedade mais justa, democrática, igualitária e solidária em nosso País.

Em sua história de luta, a CONTAG continua engajada na defesa permanente dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. É a maior entidade camponesa da América Latina organizada em 27 Federações Estaduais de Trabalhadores na Agricultura e 4.100 Sindicatos de Trabalhadores Rurais. Essa organização se constitui no Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - MSTTR. É essencial que tenhamos viva, unida e ativa essa grande estrutura de representação construída ao longo desses 43 anos, em prol do bem - estar da representatividade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do nosso país.

A CONTAG foi fundada no dia 22 de dezembro de 1963 em 01 Congresso Nacional. Desde então, foram realizados mais 08 Congressos Nacionais de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 02 Congressos Nacionais Extraordinários de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 01 Plenária Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, 03 Plenárias Nacionais de Mulheres Trabalhadoras Rurais, 01 Congresso Nacional da Terceira Idade, 03 Encontros Nacionais de Juventude.

A CONTAG nestes 43 anos se engajou nas principais lutas do povo brasileiro: contra a ditadura militar, pela anistia política, pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte, por eleições diretas para presidente e governadores, no Movimento “Diretas Já”, na Constituinte de 1988 e foi

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participante do Comitê em Defesa da Ética na Política que levou ao “Impeachment” o presidente Fernando Collor de Mello.

Os Congressos da CONTAG adquiriram cada vez maior importância política e capacidade no aprofundamento das questões de interesse da categoria.

A história da CONTAG é marcada também por ações de massa em defesa dos interesses da categoria. A partir de 1995, o MSTTR passou a se mobilizar anualmente no “Grito da Terra Brasil” - nacional, estaduais e municipais - que hoje é considerado como a “data-base” para a categoria trabalhadora rural, marcada pela mobilização, proposição, reivindicação e negociação das políticas essenciais para o meio rural.

A Marcha das Margaridas é outra ação de massa importante no contexto do MSTTR, em sua primeira edição mobilizou milhares de trabalhadoras rurais dos municípios, estados e regiões, contando também com a adesão das trabalhadoras urbanas. Foi reconhecidamente, a maior mobilização nacional de mulheres já realizada na história do país. Os principais objetivos da Marcha, foram o fortalecimento das organizações e comissões de mulheres nos STTRs, Pólos/Regionais, FETAGs, CONTAG, e principalmente a inclusão e organização das mulheres trabalhadoras de base; dar visibilidade e reconhecimento ao papel político, econômico, social e cultural das mulheres trabalhadoras rurais no Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – MSTTR e na sociedade. A próxima Marcha das Margaridas acontecerá em agosto de 2007.

A CONTAG procurou se estruturar como uma entidade legítima de representação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais em defesa dos interesses da classe camponesa, contribuindo para a ampliação e o fortalecimento da organização e representação sindical no meio rural: reivindicando, mobilizando, propondo e negociando políticas agrícolas diferenciadas, direitos trabalhistas e políticas sociais que resgatam a área rural enquanto espaço de vida, de luta, de trabalho e de construção de conhecimentos capazes de promover as transformações necessárias para um desenvolvimento sustentável em nosso país.

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Nossa trajetória é fruto de organização, trabalho, articulação e mobilização dos Sindicatos e Federações de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais que, em cada município e estado, vêm, desde a fundação da CONTAG construindo o MSTTR.

ANEXO ITrajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG1ª

Eleição da CONTAG

Em Congresso participativo, democrático e de construção de estratégias comuns, as organizações que atuam no campo criam a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG. O congresso contou com a participação de 29 federações, de 18 estados. Ao final, foi eleita a primeira Direção Executiva: Lyndolpho Silva/RJ, Sebastião Lourenço de Lima/MG, e Nestor Vera/SP.

2ª Eleição da CONTAG

Com o golpe militar, a direção da CONTAG foi deposta e alguns dirigentes presos. Uma Junta Governativa foi indicada pelo Ministério do Trabalho e, no ano seguinte foi eleita para o período de 1965 a 1968 a diretoria composta por: José Rotta/SP; Euclides A. do Nascimento/PE; Joaquim B. Sobrinho/PA; João de A. Cavalcante/PA; José Lazaro/PR; Nobor Bito/; Agostinho J. Neto/RJ; Joaquim Damasceno/RN e Antonio J. de Faria/RJ. Para o Conselho Fiscal, foram escolhidos: Jose Felix Neto/SE; José Palhares/RN e João Jordão da Silva/PE.

3ª Eleição da CONTAG

Em 1968, as eleições contaram com duas chapas. Uma encabeçada por José Rotta, que representava a influência do Ministério do Trabalho e, a outra chapa por José Francisco, contando com o apoio de entidades sindicais urbanas e da base do movimento sindical de trabalhadores rurais.

A eleição ocorreu na reunião do Conselho Deliberativo da CONTAG, onde apenas 11 Federações votavam. Por apenas 01 voto de diferença, a chapa encabeçada por José Francisco saiu vitoriosa. Foram eleitos para o mandato de 1968/1971: José Francisco/PE; José Felix Neto/SE; Joaquim A. Damasceno/RN; José Ari Griebler/RS; Geraldo F. Miqueletti/PR; João de A. Cavalcante/PB; Agostinho José Neto/RJ; José Benedito da Silva/AL e Otavio F. Gomes/CE. O Conselho Fiscal: Joaquim Coutinho/RN; Tarciso G. Mendes/CE e Manoel P. da S.

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Filho/PB.4ª

Eleição da CONTAG

Em março de 1971, ocorreu a Reunião do Conselho Deliberativo que escolheu a Diretoria da CONTAG para o triênio 1971/1974, composta pelos diretores efetivos: José Francisco/PE; Otávio F. Gomes/CE; Francisco Urbano de A. Filho/RN; Zacarias Pedro/SC; Acácio F. dos Santos/RJ; Agenor P. Machado/SP e José Felix Neto/SE.

2º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, a classe trabalhadora faz valer sua vontade.

O congresso deliberou sobre: Legislação Rural, Educação, Previdência, Reforma Agrária e Desenvolvimento Agrícola. No encerramento, o presidente da CONTAG enfatizou a necessidade de cumprimento do Estatuto da Terra para: “estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a Justiça Social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio”.

Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG5ª

Eleição da CONTAGEm março de 1974, o Conselho de Representantes

da CONTAG elegeu a nova diretoria para o triênio 1974/1977. A Diretoria Efetiva foi composta por: José Francisco da Silva/PE; Octavio Adriano Klafke/RS; Paulo F. Trindade/ES; Jonas P. de Souza/MT; Francisco Urbano A. Filho/RN; José Felix/SE; Leocadio N. de Oliveira; Acácio F. dos Santos/RJ e José B. da Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; Euclides D. Canalle e João Tavares da Silva.

6ª Eleição da CONTAG

Em maio de 1977, foi empossada a Direção para o triênio 1977/1980. A Diretoria Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; Paulo F. Trindade; Orgenio Rott/RS; Francisco Urbano A. Filho/RN; José Felix/SE; Henrique Gomes Vilanova/PI; Acácio F. dos Santos/RJ e José B. da Silva/AL. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; Euclides D. Canalle e Jonas P. de Souza.

3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR – “Um marco na História da classe trabalhadora rural”.

7ª Em abril de 1980, foi empossada a direção para

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Eleição da CONTAG triênio 1980/1983. A Diretoria Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; André Montalvão/MG; José B. da Silva/AL; Gelindo Zulmiro Ferri/RS; Jonas P. de Souza/MT; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ; Francisco Urbano A. Filho/RN e Henrique Gomes Vilanova/PI. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; João F. de Souza e Norberto Kortmann

8ª Eleição da CONTAG

Em abril de 1983, foi empossada a direção para o triênio 1983/1986. A Direção Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP; André Montalvão/MG; Estevam N. de Almeida/BA; Gelindo Zulmiro Ferri/RS; Jonas P. de Souza/MT; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ; Francisco Urbano A. Filho/RN e Osmar Araújo/PI. O Conselho Fiscal foi composto por: Álvaro Diniz; João F. de Souza e Norberto Kortmann.

4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - CNTR, “Reforma Agrária para acabar com a fome e o desemprego no campo e na cidade”. “a democratização da terra é a base para a democracia no Brasil”.

9ª Eleição da CONTAG

“1ª Eleição da história da CONTAG em Congresso”

A Direção Efetiva era composta por: José Francisco da Silva/PE; Ezidio V. Pinheiro/RS; Divino Goulart/GO; Francisco Sales/MA; André Montalvão/MG; Jonas P. de Souza/MT; Elio Neves/SP; Eraldo Lírio de Azevedo/RJ; Francisco Urbano A. Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA; Pedro Ramalho/MS e José Amadeu Araújo/CE. O Conselho Fiscal foi composto por: Henrique Gomes Vilanova; João F. de Souza e Norberto Kortmann.

10ª Eleição da CONTAG

“Eleição da CONTAG de 1989 não ocorreu em Congresso”.

A Diretoria Efetiva eleita era composta por: Aloísio Carneiro/BA; José Francisco da Silva/PE; José Amadeu Araújo/CE; Antenor Beni/PR; Erny Knortst/RS; André Montalvão/MG; Norberto Kortmann/SC; Vidor Jorge Faita/SP; Francisco Sales/MA; Francisco Urbano A. Filho/RN; Pedro Ramalho/MS e Adevair N. de Carvalho/ES. O Conselho Fiscal foi composto por: Jonas P. de Souza; Eraldo Lírio de Azevedo e Henrique Gomes Vilanova.Nessa eleição foi eleita a primeira mulher, a sergipana Gedalva de Carvalho, enquanto suplente da direção da entidade. As mulheres conquistam a Comissão Nacional

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Provisória da Trabalhadora Rural, que apesar de subordinada à presidência da entidade, dava os primeiros passos para consolidar a organização das mulheres trabalhadoras rurais.

Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG11ª

Eleição da CONTAG5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais –

CNTR. “TERRA, PRODUÇÃO, SALÁRIO”. “apesar das tentativas de desarticulação das

organizações sociais promovidas pelo governo, o MSTR reuniu mais de dois mil delegados (as) de todo o país, para rediscutir e redefinir suas lutas”.

A Direção Efetiva eleita era composta por: Francisco Urbano A. Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA; José Francisco da Silva/PE; Juarez L. Pereira/MG; Tereza Silva/MG; Hilário Gottselig/SC; José Fialho/MS; Itálico Cielo/RS; José Raimundo de Andrade/PB e Francisco Sales/MA. Conselho Fiscal: Antonio Zarantonello; Wilson Paixão e Osmar Araújo.

1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais – CNETR“... não podemos sacrificar a nossa intervenção nos processos eleitorais

gerais que o país viverá, convocando um congresso massivo em Brasília. As eleições de agora terão a responsabilidade de construir o amanhã...”.

Constatando que o próximo congresso aconteceria na segunda quinzena de novembro, no mesmo período em que ocorreriam as eleições gerais de 1994, o Conselho Deliberativo aprovou a realização de um Congresso Extraordinário, em Brasília, em agosto de 1994. O Congresso Extraordinário foi coordenado pelo Presidente em exercício, Aloísio Carneiro. Francisco Urbano estava licenciado para concorrer a uma vaga para o Senado Federal, pelo Rio Grande do Norte

12ª Eleição da CONTAG

6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR. “Nem fome, nem miséria. O campo é a solução”.

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Francisco Urbano A. Filho/RN; Avelino Ganzer/PA; Gerônimo Brumatti/ES; Francisco Miguel de Lucena/CE; Maria Santiago de Lima/RO; Hilário Gottselig/SC; Norival Guadaghin/SP; Francisco Sales/MA; Alberto Ercílio

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Broch/RS; Guilherme Pedro Neto/GO; Airton Luiz Faleiro/PA e Sebastião Rocha/MG. Conselho Fiscal: Antonio Zarantonello; Divino Goulart e Almir José Feliciano.

13ª Eleição da CONTAG

7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Rumo a um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.

A partir do 7º – CNTTR, passou a ter três dirigentes na direção efetiva da CONTAG. As novas diretoras ocuparam a Coordenação da CNMTR e as Secretarias de Políticas Sociais e a Secretaria de Organização e Formação Sindical.

Esse congresso aprovou a cota mínima de 30% de mulheres trabalhadoras rurais em todas as instâncias do movimento; estabeleceu a auto-sustentação com base nas contribuições voluntárias; iniciou o debate sobre a inclusão de Jovens e a Terceira Idade nas entidades sindicais.

Uma chapa foi encabeçada pelo pernambucano Manoel José dos Santos, o Manoel de Serra. A outra, pelo gaúcho, radicado no Pará, Airton Faleiro.

A direção da CONTAG teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos/PE; Gerônimo Brumatti/ES; Francisco Urbano A. Filho/RN; Agnaldo dos Santos Meira/BA; Maria do Ó do Nascimento/AL; Hilário Gottselig/SC; Mario Plefk/PR; Alberto Ercílio Broch/RS; Sebastião Rocha/MG; Guilherme Pedro Neto/GO; Maria da Graça Amorim/MA; Maria de Fátima R. da Silva/PI e Raimunda Celestina de Mascena/CE. Conselho Fiscal: José Roberto de Assis; Antonio Zarantonello e Maira Bottega.

Trajetória das Eleições e Congressos Nacionais da CONTAG2º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais – CNETTR“A prioridade será a discussão na base, os trabalhadores e trabalhadoras

rurais deverão determinar qual o tipo de sindicalismo que irá representá-los no próximo milênio”.

14ª 8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e

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Eleição da CONTAG Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Avançar na Construção do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.

“entre tantas deliberações, vale destacar a criação da Comissão Nacional da Juventude Trabalhadora Rural e da estrutura cooperativista ligada ao MSTTR, é o futuro sendo construído hoje”

Duas chapas concorreram à eleição da direção da CONTAG. Uma chapa encabeçada por Manoel de Serra e, outra, encabeçada pelo baiano Edson Pimenta.

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos/PE; Alberto Ercílio Broch/RS; Manoel Candido da Costa/RN; Hilário Gottselig/SC; Maria do Ó do Nascimento/AL; Juraci Moreira Souto/MG; José de Jesus Santana/BA; Airton Faleiro/PA; Guilherme Pedro Neto/GO; Maria da Graça Amorim/MA; Francisco Miguel de Lucena/CE; Maria de Fátima R. da Silva/PI; Raimunda Celestina de Mascena/CE e Simone Battestin/ES. Conselho Fiscal: Francisco Sales, Gilson Francisco da Silva e Maria Helena Baungarten.

15ª Eleição da CONTAG29

9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNTTR. “Consolidando o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.

A direção eleita teve a seguinte composição: Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos /PE; Alberto Ercílio Broch/RS; Manoel Cândido da Costa/RN; David Wilkerson Rodrigues/BA; Regina Rodrigues de Freitas/AC; Juraci Moreira Souto/MG; Pedro Mário Ribeiro/MG; Antoninho Rovaris/SC; Paulo de Tarso Caralo/ES; Alessandra da Costa Lunas/RO; Antonio Lucas Filho/GO; Raimunda Celestina de Mascena/CE; Carmem Helena Ferreira Foro/PA; Maria Elenice Anastácio/RN. Conselho Fiscal: Francisco Sales de Oliveira/MA; Ademir Mueller/PR e Elizete Hintz/RS.

Suplentes: Joel José Farias/SE; Simone Battestin/ES; Antonio Soares Guimarães/CE; Maria Lucinete Nicácia de Lima/AM; Maria José de Carvalho/PE; Liberalino Ferreira de

29 Fonte: Ata de Posse da Diretoria e do Conselho Fiscal da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, para o quadriênio 2005/2009

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Lucena/PB; Wilson Hermuth Gottens/GO; Domingos Albuquerque Paz/MA; Cláudia Pereira Farinha/DF; Maria da Glória da Silva/MT; Maria do Ó do Nascimento Melo/AL; Josefa Rita da Silva/BA; Manoel Carlos Dantas/RO; Paulo César Ventura Mendonça/RJ;

Suplentes do Conselho Fiscal: Maria das Graças Darós/SC; Geraldo Teixeira de Almeida/MS e Antonio Vitorino da Silva/AL.

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Bibliografia:

Anais do 4º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais - 1985

Anais do 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – 1991

Anais do 1º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais - 1994

Anais do 6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – 1995

Anais do 7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 1998

Anais do 2º Congresso Nacional Extraordinário dos Trabalhadores Rurais - 1999

Anais do 8º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 2001

Anais da 1ª Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – Novembro 2003

Anais do 9º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 2005

Publicação – Revista Contag - 40 anos Ata de Posse da Diretoria e Conselho Fiscal da

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, para o quadriênio 2005/2009.

Manfredi, Sílvia Maria – Formação sindical no Brasil : história de uma prática cultural / Silvia Maria Manfredi – São Paulo : Escrituras Editora, 1996.

1. Sindicalismo – Brasil – História 2. Sindicatos – Brasil – História I. Título

PORTO, Cleia Anice. “Reforma Agrária e Agricultura familiar como base para o desenvolvimento rural – Sustentabilidade e qualidade

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de vida, Reforma Agrária e Meio Ambiente, Instituto Socioambiental, 2003, p.107

O Golpe Militar de 64 e a Instauração do Regime Militar – CPDOC – Fundação Getúlio Vargas – FGV.

HISTÓRICO DA CUT NACIONAL

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Fonte: www.cut.org.br

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é uma organização sindical de massas em nível máximo, de caráter classista, autônomo e democrático, adepta da liberdade de organização e de expressão e guiada por preceitos de solidariedade, tanto no âmbito nacional, como internacional. A CUT foi fundada em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, no 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora.

O QUE QUEREMOS?

A defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora, melhores condições de vida e trabalho e o engajamento no processo de transformação da sociedade brasileira em direção à democracia e ao socialismo.

Organizar, representar sindicalmente e dirigir numa perspectiva classista a luta dos trabalhadores brasileiros da cidade e do campo, do setor público e privado, dos ativos e inativos.

NOSSOS PRINCÍPIOS

Defender que os trabalhadores se organizem com total independência frente ao Estado e autonomia em relação aos partidos políticos, e que devem decidir livremente suas formas de organização, filiação e sustentação material;

Garantir a mais ampla democracia em todos os seus organismos e instâncias, assegurando completa liberdade de expressão aos seus filiados, desde que não firam as decisões majoritárias e soberanas tomadas pelas instâncias superiores e seja garantida a unidade de ação;

Desenvolver sua atuação de forma independente do estado, do governo e do patronato, e de forma autônoma em relação aos partidos e agrupamentos políticos, aos credos e às

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instituições religiosas e a quaisquer organismos de caráter programático ou institucional;

Considera que a classe trabalhadora tem na unidade um dos pilares básicos que sustentarão suas lutas e suas conquistas. Defende que esta unidade seja fruto da vontade e da consciência política dos trabalhadores da cidade e do campo;

Solidariedade com todos os movimentos da classe trabalhadora, em qualquer parte do mundo, desde que os objetivos e princípios desses movimentos não firam os princípios da CUT. Defenderá a unidade de ação e manterá relações com o movimento sindical internacional, desde que seja assegurada a liberdade e autonomia de cada organização.

NOSSO COMPROMISSO

Desenvolver, organizar e apoiar todas as ações que visem a conquista de melhores condições de vida e trabalho para o conjunto da classe trabalhadora da cidade e do campo;

Lutar para a superação da estrutura sindical coorporativa vigente, desenvolvendo todos os esforços para a implantação de sua organização sindical baseada na liberdade e autonomia sindical;

Lutar pelo contrato coletivo de trabalho, nos níveis geral da classe trabalhadora e específico, por ramo de atividade profissional, por setores, etc.;Apoiar as lutas concretas do movimento popular da cidade e do campo, desenvolvendo uma relação de unidade e autonomia de acordo com os princípios básicos da Central;

Defender e lutar pela ampliação das liberdades democráticas como garantia dos direitos e conquistas dos trabalhadores e de suas organizações;

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Construir a unidade da classe trabalhadora baseada na vontade, na consciência e na ação concreta;

Promover a solidariedade entre os trabalhadores, desenvolvendo e fortalecendo a consciência da classe, em nível nacional e internacional;

Defender o direito da organização nos locais de trabalho, independentemente das organizações sindicais, através das comissões unitárias, com o objetivo de representar o conjunto dos trabalhadores e dos seus interesses;

Lutar pela emancipação dos trabalhadores como obra dos próprios trabalhadores, tendo como perspectiva a construção da sociedade socialista.

QUEM REPRESENTAMOS?

A CUT é a maior central sindical da América Latina e a 5.ª maior do mundo, estando presente em todos os ramos de atividade econômica. Segundo os dados de março de 2004 somava:

3326 - Entidades Filiadas

7.468.855 - Trabalhadoras e Trabalhadores Associados

22.487.987 - Trabalhadoras e Trabalhadores na Base

NOSSA ORGANIZAÇÃO

A CUT se organiza em dois níveis:

1 - Organização Vertical

Parte dos locais de trabalho, buscando aglutinar as atividades afins em suas formas organizativas, dela fazem parte as organizações sindicais de base, as entidades sindicais por ramo de atividade econômica e as federações e confederações, também por ramo atividade econômica.

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2 - Organização Horizontal.

Tem por objetivo construir a unidade dos trabalhadores promovendo sua organização intercategoria profissional enquanto classe em âmbito regional, estadual e nacional. Além da estrutura nacional, a CUT está organizada em todos os 26 estados e no Distrito Federal.

INSTÂNCIAS DE DELIBERAÇÃO E ÓRGÃOS DE APOIO

O Congresso e a Plenária Nacional são os órgãos máximos de deliberação da Central. O Congresso Nacional é realizado a cada três anos, quando é eleita a Executiva Nacional composta por 25 membros efetivos e 7 suplentes . A Direção Nacional é composta pela Executiva Nacional e mais 83 membros efetivos representando as estaduais da CUT e a Estrutura Vertical., escolhidos conforme o estatuto da Central.

Para cumprir eficazmente os seus objetivos e as deliberações, a CUT tem uma estrutura interna complexa com funções vinculadas a Administração, Comunicação, Formação, Políticas Sociais, Política Sindical, Mulher Trabalhadora, Relações Internacionais e Organização. Conta ainda com comissões sobre a Amazônia, Meio Ambiente e Combate a Discriminação Racial.

Os organismos para o desenvolvimento de políticas específicas e assessoria são:

Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)

Observatório Social,

Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST)

Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos (DESEP).

Tem ainda sete escolas sindicais:

Escola Sul (Florianópolis-SC)

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Escola São Paulo

Escola 7 de Outubro (Belo Horizonte- MG)

Escola Amazônia (Belém-PA)

Escola Chico Mendes (Porto Velho-RO)

Escola Centro-Oeste (Goiânia-GO)

Escola Sindical da CUT no Nordeste Marise Paiva de Moraes (Recife-PE).

POTENCIAL E LIMITE DAS DISPUTAS POLÍTICAS: PONTOS PARA REFLEXÃO

Sara Pimenta e Domingos Corcione - Agosto de 2006

2º Módulo Regional Centro-Oeste.Brasília/DF, 16 a 22 de setembro de 2007.

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Dirigentes e lideranças sindicais constroem projetos políticos ou se identificam com um entre aqueles já existentes, assumindo sua defesa no cotidiano da vida sindical.

É comum a existência de projetos diferenciados em suas origens e concepções político-ideológicas. Isso resulta em disputas pela predominância e hegemonia de um sobre o outro.

As disputas políticas não se limitam aos antagonismos entre trabalhadores e classes dominantes, mas têm lugar no interior do próprio Movimento Sindical e entre este e outros movimentos e organizações populares. Em muitos casos as disputas internas se tornam de tal forma acirradas que geram rupturas e levam à criação de novas entidades e movimentos. Mas há disputas “menores” - não menos importantes - que caracterizam o cotidiano do MSTTR: disputas de idéias, de espaços, de reconhecimento, de protagonismo e liderança. Afinal, disputas permanentes de poder.

A dimensão positiva das disputas políticasAs disputas podem ser vistas como elementos que integram a

dinâmica política do MSTTR, em sua dimensão positiva e construtiva, favorecendo a qualificação dos projetos políticos e a aquisição - pelos dirigentes e lideranças - de maior habilidade na defesa de suas posições.

A pluralidade ideológica e de posicionamento político confere um novo dinamismo à luta sindical e aos processos de mudança, pois pode sinalizar o surgimento e a consolidação de novas práticas. As posições são demarcadas de modo a assegurar os interesses relacionados com o projeto defendido, colocando em destaque pontos divergentes, conferindo maior clareza às idéias e facilitando a comunicação.

Idéias, posições e projetos, quando em disputa, ganham maior relevância, são apresentados e defendidos na perspectiva de fazerem adeptos e construírem sua hegemonia.

Todo esse processo promove fortes motivações para se avançar com maior garra, perseguindo as estratégias necessárias para vencer as

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posições antagônicas ou diferenciadas e conquistar novos espaços de poder.

Práticas a serem transformadasApesar dos aspectos positivos acima ressaltados, é preciso

reconhecer que no campo das disputas políticas ainda persistem posturas e atitudes equivocadas, que ferem a ética e acabam por comprometer o avanço da organização sindical e a construção de projetos de mudança social, tais como:

Dificuldade de reconhecer o outro como um legítimo interlocutor e de construir um diálogo aberto, que implica, sobretudo, na escuta atenta das posições ou correntes adversárias.

Utilização de palavras e gestos ofensivos, que acabam por incorrer em desrespeito pessoal com quem esteja representando posições políticas diferenciadas ou adversárias.

Dificuldade de identificar e reconhecer valores e aspectos positivos nas idéias, posicionamentos e pessoas que estejam defendendo posições ou projetos diferenciados. Forte tendência a distorcer o que se vê e se ouve e a evidenciar somente aquilo que se considera equivocado, contraditório e incorreto no lado adversário.

Tendência a forjar oportunidades para denegrir a imagem da posição adversária e – em certos casos – humilhar e desqualificar as pessoas que a defendem.

A formação como espaço estratégico para a construção de novas práticas

As disputas, tão comuns no cotidiano sindical, acontecem também nos “espaços de formação programada”, como Seminários, Oficinas ou Encontros de caráter formativo, voltados para o estudo, para a reflexão mais aprofundada ou a capacitação. Nesses espaços, mesmo entre pessoas de uma mesma corrente político-ideológica, ocorrem debates, mais ou menos acirrados, que reproduzem posturas positivas ou equivocadas, como aquelas anteriormente citadas.

As atividades de formação têm uma importância primordial na vida sindical. Sem formação não há como qualificar a luta. Um curso de formação, um seminário ou uma oficina podem contribuir muito para

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esclarecer idéias e projetos, avaliar a caminhada, fazer repensar e aprimorar estratégias e métodos de trabalho. A ação formativa, portanto, tem um grande rebatimento na ação mobilizadora e transformadora da luta sindical.

Contudo, para que esse rebatimento tenha um impacto realmente positivo, é preciso fazer das ações e atividades formativas espaços estratégicos, reconhecendo-os em seu potencial catalisador de novas concepções e práticas, o que demanda alguns compromissos como os abaixo relacionados:

Respeitar a pluralidade de concepções e idéias e buscar compreendê-las de modo a compor uma visão crítica e construtiva, frente a todas elas.

Resgatar, em primeiro lugar, a história, explicitar o significado e prever os possíveis desdobramentos de cada concepção e prática, pautando-se pelo estudo e pesquisa.

Refletir e aprofundar o debate, para identificar insuficiências e valores de cada posição. Cada prática ou concepção revela fragilidades, mas também tem contribuições a dar. Para isso se fazem necessários uma postura aberta ao diferente e o exercício da escuta sempre atenta ao que a outra posição ou corrente tem a transmitir. Nessa perspectiva, é fundamental reconhecer as próprias limitações e se dispor a rever posições.

Fazer da formação um campo profícuo de debates e oportunidades de aprendizado e aprimoramento das idéias e concepções ideológicas, primando por uma postura ética e respeitosa para com as pessoas e grupos.

Tratar as disputas políticas como elementos constitutivos de um desafiador processo de construção de consensos.

Na medida em que nos dispormos a construir e assumir novas posturas e práticas para as quais os espaços de formação nos convocarem, certamente estaremos dando largos passos para transformar o cotidiano de nossas relações políticas no movimento sindical.

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Portanto, não se trata de acabar com a disputa, pois – reiteramos - ela pode ser positiva e dinamizadora da ação social transformadora. O desafio é conferir às nossas disputas uma dimensão mais humana e humanizadora, coerente com nossos sonhos e utopias, de modo que isso nos faça crescer em todas as dimensões: na política, nas relações inter-pessoais, nas relações de gênero... Uma disputa que nos aproxime cada vez mais da nova sociedade que queremos construir: justa, igualitária, solidária e respeitosa das diferenças, onde se conviva – ao mesmo tempo – na unidade e na diversidade.

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