EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CVEL DA COMARCA DE SALVADOR DO ESTADO DA BAHIA
Maria Ednalva dos Santos Almeida, brasileira, portador (a) do CIRG n. 01679659-49 e do CPF n. 091.176.605-72, residente e domiciliada na Rua Pernambuco, n. 38, Bairro Tancredo Neves, Salvador, Bahia, por intermdio de seu advogado e bastante procurador (procurao em anexo), com escritrio profissional sito Rua Edgar Pereira da Cruz, n32a, Bairro Arenoso, Salvador, Bahia, CEP- 41.211-225 onde recebe notificaes e intimaes, vem mui respeitosamente presena de Vossa Excelncia propor
AO REVISIONAL DE ENCARGOS FINANCEIROS CUMULADA COM ANULAO E NULIDADE DE CLUSULAS, COM PEDIDO DE ANTECIPAO DE TUTELA C/C REPARAO POR DANOS MORAIS.
contra HIPERCARD BANCO MLTIPLO S/A, pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ n 03.012.230/0001-69, com sede na Rua Ernesto de Paula, n 187, Loja 01, Boa Viagem, Recife Pe, CEP: 51.021-330, e BANCO ITAUCARD, pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n17.192.451/0001-70, com endereo profissional Alameda PEDRO CALIL, n43, Vila das Acacias, cidade POA, So Paulo, CEP 08557105, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.
1.DAS PRELIMINARES
1.1. Da Justia Gratuita
ACarta Magnaassegura s pessoas o acesso ao Judicirio, vejamos:
CF/88 Art.5-LXXIV - oEstado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos.
No mesmo sentido, o art.4 da Lei n1.060/50 (lei da assistncia gratuita) bem com o art.56 da Lei 9.099/1995 (lei dos juizados especiais), garantem a assistncia judiciria gratuita a parte processual.
Desta forma, requer o demandante o deferimento dos benefcios da assistncia judiciria gratuita, pois como atesta, no tem condies de arcar com as custas e despesas processuais sem o comprometimento do sustento prprio e de sua famlia.
1.2. Do atendimento preferencial imediato
Reza a lei 10.741/2003 no art.3, pargrafo nico, inciso I, que assegurado ao idoso atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos rgo pblicos.
Razo pela qual, nos termos da lei, requer o demandante o deferimento da garantia de prioridade no trmite processual.
2.DO PEDIDO LIMINAR
Diante do fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao, nos termos do art.273 do CPC, requer a Vossa Excelncia a concesso da antecipao da tutela, para determinar a suspenso de todo e qualquer pagamento da demandante, at o julgamento do mrito, bem como suspenso de toda e qualquer medida extrajudicial coercitiva, sobretudo, se abstenha de incluir o nome da Autora nos cadastros de devedores (SPC e SERASA), oficiando-se para tanto os Rus.
3.DOS FATOS
A Requerente firmou com as Requeridas contrato de prestao de servios de administrao de carto de crdito.
Porm, os saldos imputados pelas Requeridas ficou em difcil condio de ser adimplido frente a ocorrncia de aplicao de taxas de juros acima do limite legal, cobrana de diversos encargos abusivos, dentre outros.
Neste passo, a Requerente forou a celebrao de acordo para parcelamento, no entanto, a requerida acresceu tambm encargos indevidos e ilegais.
As Requeridas impe a Requerente o pagamento de uma prestao atualizados at 30/04/1015 no valor de R$ 26.561,18, para o carto ITAUCARD e no valor de R$ 8.560,43 para o carto HIPERCARD atualizados at 30/04/2015, ocorre que no entanto, A Requerente j depois dos valores que efetuou os pagamentos, reconhece os valores devidos do que realmentefoi gasto, que de R$ 18.526,72 para o ITAUCARD e de R$ 6.763,13 para o HIPERCAD.
Ou seja uma disparidade muito grande entra o que foi gasto e os juros, abusivos cobrados pelas Requeridas, o que no condiz com a realidade de pagamento da Requerente uma vez que a mesma se encontra desempregada e idosa, dependendo da ajuda financeira dos filhos, o que mesmo assim, mantm total interesse em saldar suas dividas junto as Requeridas.
Assim, conforme o quanto exposto, destarte as fundamentaes legais que sero apresentadas, dever ser a presente julgada totalmente procedente.
4.DO DIREITO
4.1. Da competncia
competente para o processamento e julgamento do presente feito, este juizado, conforme inciso I, art.3 e art.4 da lei 9.099/1995, bem como, o inciso I, art.101 do CDC, faculta ao autor o lugar para propositura da demanda.
4.2. Do contrato em geral
Os contratos pressupem, antes de tudo, um negcio jurdico vlido e de acordo com a forma prescrita em lei.Nos dizeres deCaio Mario da Silva Pereira, osnegcios jurdicos so declaraes de vontade destinadas produo de efeitos jurdicos queridos pelo agente.Destarte, o negcio jurdico vlido requer forma prescrita em lei, a teor do disposto no inciso III do artigo 104 do Cdigo Civil. Feito o negcio jurdico, surge o contrato para regular e sacramentar a manifestao de vontade das partes.As normas gerais dos contratos, prescritas no Cdigo Civil, aplicam-se a todo tipo de contrato que se faa em territrio brasileiro.No caso em espcie, estamos tratando de um contrato de financiamento direto ao consumidor, ou seja, um contrato de adeso.Celebrado, ento, o contrato, surge o negcio jurdico perfeito e acabado, com todas as suas implicaes legais.
In casu, a caracterstica principal deste tipo de contrato resume-se no carter de financiamento. Como fica demonstrado nos docs. anexos (faturas mensais com os comprovantes de pagamento), o requerente vem tentando cumprir sua obrigao contratual, seja, efetuando o pagamento do valor integral da fatura/ms ou parcela do valor integral da fatura/ms.Porm, a Requerida, aproveitando do desconhecimento do autor das clusulas contratuais com relao ao pagamento indevido e abusivo da cobrana de encargos moratrios alm do permitido, vem compelindo o requerente ao pagamento das mesmas, o que no pode ser aceito por este D. Juzo.As clusulas contratuais que impem o pagamento dos encargos moratrios abusivos cobrados, luz dessas consideraes, alm de inexigvel pelo fato do Requente no possuir cpia do contrato, enquadra-se entre aquelas previstas no art. 51, IV, do Cdigo de Defesa do Consumidor, que impe a pena de nulidade de pleno direito s clusulas contratuais que estabeleam obrigaes consideradas inquas, abusivas, deixando o Requerente em desvantagem, o que incompatvel com o princpio da boa-f e equidade.
4.3. Do contrato de adeso
O contrato firmado com a parte Requerente fora elaborado unilateralmente pela instituio financeira, enquadrando-se, perfeitamente, como sendo de adeso peloCdigo de Defesa do Consumidor, seno vejamos:
Art. 54. Contrato de adeso aquele cujas clusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servios, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu contedo.(sem grifos no original)
No caso em tela, perceptvel a implacvel desvantagem da Requerente, posto que no participou da elaborao do contrato, no sendo observado o direito de discutir, aceitar e tampouco rejeitar os termos contratuais. Logo, pde a Requerida elaborar o contrato do modo que mais conveniente lhe fosse, deixando a Requerente na mais clara e excessiva desvantagem.
O art.46, doCDC clarividente, vejamos:
Os contratos que regulam as relaes de consumo no obrigaro os consumidores, se no lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prvio de seu contedo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreenso de seu sentido e alcance.
O contrato em tela, portanto, j nasceu desequilibrado, visto que, alm de ter sido criado unilateralmente, Requerente no foi dado o direito de uma cpia do contrato , o que consequentemente lhe acarreta desvantagem exacerbada (financeira e econmica), como est sendo demonstrado pelos fatos narrados.
Para evitar que a Requerente ao aderir ao contrato fique sujeita aos ditames impostos pela Requerida, impem-se algumas normas de ordem pblica e de natureza cogente que serviro para reger o contrato de adeso, tornando a relao a mais justa e equilibrada possvel.
Neste sentido, faz necessria que a Requerida fornea ao Requerente, de forma adequada (contrato escrito) todas as informaes sobre as caractersticas do contrato a que est se aderindo:
Art. 52 do CDC - No fornecimento de produtos ou servios que envolvam outorga de crdito ou concesso de financiamento ao consumidor, o fornecedor dever, entre outros requisitos, inform-los prvia e adequadamente sobre:(...)II - montante dos juros de mora e da taxa anual de juros;
O Cdigo de Defesa do Consumidor claro ao impossibilitar a imposio de clusulas leoninas, que provoquem o desequilbrio das partes na execuo de determinado contrato, e tampouco na admissibilidade de clusula que implique em evidente situao de enriquecimento sem causa, conforme artigo 6, III e V, 51, I, XI, 54.Neste sentido vem se posicionando os Tribunais Ptrios, in verbis:
CARTO DE CRDITO - AO REVISIONAL - Contrato de prestao de servio de administrao de cartes de crdito. Sistema ..................... Aplicabilidade das normas cogentes do CDC. Admissibilidade de reviso por conter o contrato clusulas nulas de pleno direito. Juros de ......% ao ano. Multa moratria em ......% Repetio de indbito corrigida pelo IGP0-ME, de forma simples e no em dobro, como pretendido. Ausncia de m-f. Desprovida a apelao da demandada. Provido em parte o recurso adesivo da autora. (TJRS - APC 70004211439 - 6 C. Cv. - Rel. Des. Carlos Alberto lvaro de Oliveira - J. 15.05.2002).
Portanto, atravs da presente ao, espera o Requerente encontrar resguardado seus direitos bsicos do consumidor, dentre outros, obter ampla informao do objeto contratado, bem como, reviso das clusulas que forem abusivas, uma vez que o contrato no foi apresentado pela requerida.
4.4. Da prova
Tendo em vista a vulnerabilidade e hipossuficincia tcnica do consumidor, e em conformidade com o disposto no inciso VIII, do art. 6, do CDC, pertinente ao direito do consumidor facilitao da defesa de seus direitos, requer a aplicao da clusula da inverso do nus da prova, para obrigar as Requeridas apresentarem todos os clculos descritivos da dvida, apontando as taxas e forma de aplicao dos juros e comisses, dos pagamentos efetuados pela Requerente.Sobre a inverso do nus da prova, vlido a transcrio do v. Acrdo, proferido sob a lavra do eminente Desembargador Asclepiades Rodrigues , que mutatis mutandis se aplica espcie:.
Prova. Exibio parcial de documentos. Litgio entre fornecedor de servio (banco) e consumidor (correntista). nus da prova. Verificada a hipossuficincia do consumidor, inverte-se o nus da prova, cabendo ao banco, fornecedor do servio, provar que os fatos alegados pelo correntista cobrana de tarifas abusivas e juros capitalizados no so verdadeiros (art. 3, pargrafo 2, e 52 c/c o artigo 6, VIII, do Cdigo de Defesa do Consumidor). Por isso, o juiz pode, de ofcio ou a requerimento do cliente, ordenar ao banco que apresente o contrato bancrio e os correspondentes extratos de conta corrente, devidamente especificados, relacionados, com a a demanda e comuns aos litigantes (artigo 382 do CPC). Agravo de instrumento desprovido.(Agravo de Instrumento 3982/1998, Reg. 23/10/1998 Fls. 23959/23964, Unnime, DES. Asclepiades Rodrigues, Julg. 01/09/1998).
Nessa esteira, requer tambm, que os Requeridos apresentem o(s) contrato(s) ora discutido(s), nos termos dos artigos 355 e 358 do CPC, que determina a exibio dos documentos comuns as partes.
4.5. Da legalidade da reviso contratual
Dispe o art. 4 do diploma consumerista que a Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparncia e harmonia das relaes de consumo sempre com base na boa-f e equilbrio nas relaes entre consumidores e fornecedores.
Com efeito, os princpios fundamentais das relaes de consumo da boa-f, da confiana, da equidade contratual no permitem que, exatamente a parte mais poderosa da relao, a detentora do poder econmico obtenha lucro desmedido e sem causa com o prejuzo da parte frgil, vulnervel, da relao: o consumidor.
No h dvida de que o objetivo de todas as atividades empresariais, o lucro, porm no se pode aceitar o abuso deste direito, sob pena de se violar regras bsicas previstas na Carta Magna, que determina no Captulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos que o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor (inciso XXXII, art. 5).
De outra parte, preciso lembrar que as instituies financeiras esto sujeitas ao Cdigo do Consumidor.Nesse sentido a Smula n 297 do STJ :
"OCdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras."
Como se no bastasse, no mesmo sentido o julgado pela Relatora Ministra NANCY:
(...) admitida a reviso das taxas de juros remuneratrios em situaes excepcionais, desde que caracterizada a relao de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art.51, 1, doCDC) fique cabalmente demonstrada, ante s peculiaridades do julgamento em concreto.(...)" (REsp 1.061.530/RS, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe de 10.03.2009) - grifei.
Em atendimento ao disposto na Constituio Federal (o citado inciso XXXII, art.5 e o inciso V, art.170), que o CDC prev no art. 6 como direito bsico do consumidor, a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais, ou seja, prestaes que contemple um desequilbrio nas obrigaes de cada parte, inclusive eivando de nulidade absoluta a clusula contratual considerada exagerada, entre outras, a que ofende os princpios fundamentais do sistema jurdico a que pertence, e tambm aquela que institui vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e contedo do contrato, o interesse das partes e outras circunstncias peculiares ao caso (art. 51, 1, incisos I e III, CDC).
5. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Pautado no princpio legal do equilbrio socioeconmico e contratual, bem como por acreditar fielmente na Justia brasileira que o Requerente vem, perante a Vossa Excelncia, requerer que:
a) seja deferida a gratuidade de justia;
b) seja deferido o atendimento preferencial imediato e individualizado do trmite processual, por se tratar de idoso;
c) a concesso da antecipao da tutela, para determinar a suspenso de todo e qualquer pagamento da demandante, at o julgamento do mrito, bem como suspenso de toda e qualquer medida extrajudicial coercitiva, sobretudo, se abstenha de incluir o nome da Autora nos cadastros de devedores (SPC e SERASA), oficiando-se para tanto os Rus.
d) declarar a nulidade das clusulas contratuais que oneram em demasia o contrato em foco;
e) Declarar nulas as clusulas potestativas fixadas, uma vez que foram estabelecidas unilateralmente e arbitrariamente, sem definir previamente os percentuais dos encargos aplicveis ao contrato;
f) Excluir qualquer multa contratual decorrente da moratria, uma vez que a Requerida cerceou o direito do Requerente ter conhecimento do contrato, aplicando valores aliengenas;
g) Reconhecer a natureza jurdica do contrato como a de contrato de adeso, conforme previsto no Cdigo de Defesa do Consumidor, aplicando-se as normas de interpretao relativas a esta espcie;
h) Reconhecer a onerosidade excessiva imposta ao Requerente, reduzindo-se os juros fixados para o limite legal de 12% ao ano, conforme previsto na lei 4.595/1964;
i) Em no sendo este o entendimento de Vossa Excelncia, requer-se a aplicao do artigo 406 do Cdigo Civil de 2002, que aplica a Taxa SELIC como juros legais;
j) Afastar a capitalizao de juros incidente sobre o contrato;
Requer por todos os meios de provas em direito admitidos, com a inverso do nus da prova, segundo o Cdigo de Defesa do Consumidor, especialmente pela prova pericial tcnica e contbil do valor cobrado, para que o Requerido comprove os ndices que compem a cobrana efetuada, quais sejam: a taxa de juros, a capitalizao de juros, o sistema de amortizao e taxas aliengenas incutidas no dbito, bem como, requer a apresentao do contrato.
D-se causa o valor de R$ 25.289,85
Nesses Termos,Pede Deferimento.
Salvador, 15 de maio de 2015.
DR.Davi OlintoOAB\BA 43.826