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98 JEAN ]ACQUES ROUSSEAU

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curas. É então que é preciso recorrer a todas as pequenas astúci-as que eles denominam máximas de estado e mistérios de gabi-

-: nete. Todo o vigor que resta ao governo é empregado por seus. membros para arruinar-se e suplantar uns aos outros, enquan-to os negócios permanecem abandonados ou só são feitos na

! medida.em que o interesse pessoal o exige e os dirige. Enfim,: toda a habilidade dos grandes polí ticos é fascinar de tal modo! o~...<?l~~~~~ais n~~m, que_cada um crê trabalhar emseu próprio ifli.q~~J~E~~nto trabalha para o deles. Digo de-les, pois, com efeito, os verdadeiros interesses dos chefes sãoaniquilar os povos para submetê-los e arruinar seu próprio bem

(.. para assegurar-se de sua possessão.Mas, quando os cidadãos amam seu dever, e os deposi-

\1 [ tários da autoridade pública dedicam-se a alimentar este amor.c \ com seu exemplo e seus cuidados, todas as dificuldades desa-\ parecem, a administração ganha uma facilidade que a dis-

L'pensa desta arte tenebrosa, cujo mistério vem inteiramente desua obscuridade. Estes espíritos vastos, tão perigosos e tão admi-rados, todos estes grandes ministros cuja glória se confunde comos males do povo, uão são mais lamentados: os costumes públi-ços tom3:ffi-Elugar do gênio dos chefes; e..lqUª,Dto mais a virtude~ej.!!..<!L...f!!.~qsos ·tà'iê~tps.·.Slq}5~Ç!sshios.A própria ambição émais bem servida pelo dever do que pela usurpação: o povo,convencido de que seus chefes só trabalham para sua felicidade,

\ dispensa-os, por sua deferência, de trabalharem para fortalecer:cJ I seu poder. E a história nos mostra em mil lugares que a autori-, dade que o povo concede aos que ama e pelos quais é amado é. cem vezes mais absoluta do que a tirania dos usurpadores. Istonão significa que o governo deva ter medo de usar seu poder,mas que só deve usá-I o de maneira legítima. Encontraremos nahistória mil exemplos de chefes ambiciosos ou pusilânimes,

j' arruinados pela preguiça ou pelo orgulho, e nenhum que tenhase dado mal por ter sido justo. Mas não se deve confundir

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ECONOMIA (MORAL E POLíTICA) 99

1· A • d d c i . j~genCla com mo eração nem oçura com rragueza. Deve- \ ~'

((se ser severQ para s~sto: tolerar a maldade gu~odemos...de)I direito reprimir é ser mau também.

ão basta dizer aos cidadãos: sejam bons; é preciso I /ensiná-los a sê-lo. E até o próprio exemplo, que, neste caso, é i t!:-

a primeira lição, não é o único meio que se deve empregar: 01 -{amor pela pátria é o mais eficaz, pois, como eu já disse, todo;homem é virtuoso quando sua vontade particular é confor-\me em tudo à vontade geral, e desejamos voluntariamente o ~que desejam aqueles que amamos. -

Parece que o sentimento de humanidade se evapora e seenfraquece ao estender-se sobre toda a terra e que não conse-guiríamos ser afetados pelas calamidades da Tartária ou do Ja-pão como por aquelas de um povo europeu. De qualquermodo, deve-se limitar e comprimir o interesse e a cornisera-ção para lhe conferir atividade. Ora, como esta inclinação emnós só pode ser útil àqueles com quem devemos viver, é bomque a humanidade, concentrada entre os cidadãos, assumaneles uma nova força, pelo hábito de se ver e pelo interesse !

comum que os reúne. É certo que os maiores prodígios 4., Jvirtude foram produzidos pelo amor à pátria: este sentimen-,\'to doce e vivo, que une a força do amo1..próprio a toda abeleza da virtu.ge, lhe dá uma energia q,ue, §,emd~...fig!lrá-ht, .faz dela a mais berÓiÇ2, de todas as paixões. É ele que produztantas ações imortais cujo brilho ofusca nossos fracos olhos, etantos grandes homens cujas virtudes antigas são consideradasfábulas desde que o amor pela pátria tornou-se objeto de escár-nio. Não nos espantemos com isso; os entusiasmos de nossoscorações ternos parecem quimeras para aqueles que não os sen-tiram; e o amor pela pátria, cem vezes mais vivo e mais delici-oso do que o de uma amante, só pode ser concebido se o expe-rimentamos: mas é fácil de observar em todos os corações porele aquecidos, em todas as ações que ele inspira, este ardor fer-

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