REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 35
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
RBPsicoterapiaRevista Brasileira de PsicoterapiaVolume 21, número 2, agosto de 2019
ARtigo oRiginAl
treinamento de habilidades sociais em adolescentes com transtorno de ansiedade social: uma revisão sistemática
Social skills training in adolescents with social anxiety disorder: a systematic review
Capacitación en habilidades sociales en adolescentes con trastorno de ansiedadsocial: una revisión sistemática
Rafaela Fava de Quevedoa
Mariana Nunes Andreollab
Francine Guimarães Gonçalvesc
Ilana Andrettad
a MestreemPsicologia,EspecialistaemTerapiaCognitivo-Comportamental(Psicóloga)–CaxiasdoSul–RS–
Brasil.
b GraduandaemPsicologia–(IniciaçãoCientífica).
c MestreemPsiquiatria–(ProfessoraeSupervisora).
d DoutoradoemPsicologia–(Pesquisadora,professora,supervisoraeorientadora).
DOI10.5935/2318-0404.20190017
Instituição:UniversidadedoValedoRiodosSinos
Resumo
OTranstornodeAnsiedadeSocial caracteriza-seporummedopersistenteemsituaçoesdeexposiçaoou
interaçaosocial.Parafinsterapêuticos,faz-seimportantedesenvolverumrepertóriodehabilidadessociais,
36 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
favorecendoadiminuiçaodossintomas.Esteestudotemporobjetivoidentificarostreinamentosdehabilidades
sociaisemadolescentes com transtornodeansiedade social,bemcomoseus resultadosatravésdeuma
revisaosistemáticadeartigos.Foramincluídosartigospublicadosentre2006e2016nasbasesScienceDirect,
PubMedCentral,SCOPUS,LILACSePsycINFO.OrelatoeanálisedositensseguiramasrecomendaçoesPRISMA.
Dos236artigosencontrados,cincoforamanalisados,considerandoascaracterísticasdaamostra,conteúdo
daintervençao,resultadoselimitaçoesdecadaartigo.Osestudos,emsuamaioria,realizaramintervençoes
baseadasnoprotocoloSET-C,asquaisresultaramnamelhoradoTranstornodeAnsiedadeSocialdecrianças
eadolescentes.Noentanto,nenhumdosestudosrealizouumaanáliseespecíficadashabilidadessociaispós-
tratamento.Salienta-seanecessidadesdeestudosbrasileiroscomatemática,bemcomosesugerepesquisas
direcionadasàinvestigaçaoespecíficadascontribuiçoesdotreinamentodehabilidadessociaisparaotratamento
doTranstornodeAnsiedadeSocial.
Palavras-chave:TranstornosFóbicos;Criança;Adolescente;Revisão
Abstract
TheSocialAnxietyDisorderischaracterizedbyapersistentfearduringexpositionorsocialinteractionsituations.
Fortherapeuticends,itisimportanttodeveloparepertoireofsocialskills,favoringthesymptomsdecrease.
Thisstudyaimstoidentifythesocialskillstraininginadolescentswithsocialanxietydisorder,alongwithits
results,throughasystematicreviewofarticles.Therewereincludedarticlespublishedbetween2006and
2016inScienceDirect,PubMedCentral,SCOPUS,SciELO,LILACSandPsycINFOdatabases.Theitemsreport
andanalysisfollowedPRISMArecommendations.Ofthe236articlesfound,fivewereanalyzed,considering
thesamplecharacteristics,interventioncontent,resultsandlimitationsofeacharticle.Themajorityofthe
studiesperformedinterventionsbasedontheSET-Cprotocol,whichresultedintheimprovementoftheSocial
AnxietyDisorderofchildrenandadolescents.However,noneof thestudiesperformedaspecificanalysis
ofposttreatmentsocialskills. It isemphasizedtheneedforBrazilianstudiesaboutthetheme,aswellas
researchesaresuggested,directedtothespecificinvestigationofthecontributionsofsocialskillstrainingfor
thetreatmentofSocialAnxietyDisorder.
Keywords:Child;Adolescent;Review;PhobicDisorders
Resumen
Eltrastornodeansiedadsocialsecaracterizaporunmiedopersistenteensituacionesdeexposiciónointeracción
socialParafinesterapéuticos,esimportantedesarrollarunrepertoriodehabilidadessociales,favoreciendo
lareduccióndelossíntomas.Esteestudiotienecomoobjetivoidentificarlacapacitacióndehabilidadesen
adolescentescontrastornodeansiedadsocial,asícomosusresultadosatravésdeunarevisiónsistemáticade
artículos.Artículospublicadosentre2006y2016enScienceDirect,PubMedCentral,SCOPUS,LILACSyPsycINFO.
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 37
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
LosinformesyanálisisdelosítemssiguieronlasrecomendacionesdePRISMA.Delos236artículosencontrados,
cincofueronanalizados,considerandolascaracterísticasdelamuestra,elcontenidoLaintervención,resultados
ylimitacionesdecadaartículo.Lamayoríadelosestudiosrealizaronintervenciones.basadoenelprotocolo
SET-C,queresultóenlamejoradeltrastornodeansiedadsocialenniños.yadolescentesSinembargo,ninguno
delosestudiosrealizóunanálisisespecíficodelashabilidadessocialesposparto.tratamientoHacemoshincapié
enlanecesidaddeestudiosbrasileñossobreeltema,asícomola investigación.dirigidoa la investigación
específicadelaformaciónenhabilidadessocialesdeltrastornodeansiedadsocial.
Palabras clave: Trastornosfóbicos;Niño;Adolescente;Revisar
OTranstornodeAnsiedadeSocial(TAS),tambémconhecidocomofobiasocial,éconceituadocomo
ummedomarcanteepersistentedeumaoumaissituaçõessociaisoudedesempenho,deacordocomas
característicasdiagnósticasdoDSM-51.Emdiversassituações,oindivíduoseesquivadeinteraçõesesituações
sociaisnasquaispodeseravaliadoporoutraspessoas.Considerandoasdificuldadesqueacarretanavida
social,quantomaiscedoforrealizadoodiagnóstico,melhoressãoasperspectivasdeprevençãoetratamento
doquadro1-3.
SegundoLeahy2,apredisposiçãoaoTASpodeserobservadanainfância.Comportamentosdetimideze
inibiçãocomportamental,cansaçoedesgostopormudanças,bemcomoadinâmicafamiliarpodeminfluenciar
odesenvolvimentodotranstorno.Umambientefamiliarconstituídoporpaissocialmenteansiosospoucovai
estimularosfilhosainteragircomoutrascrianças.Ainda,segundoomesmoautor2,característicasdepais
críticosecontroladoresreverberamemmenorapoioaosfilhos.Esseconjuntodecircunstânciasdainfânciaé
influentenodesenvolvimentodoTAS,vistoquenavidaadultaaspessoascomTAStendemacriarcircunstâncias
deisolamento,reforçandoacrençadelasseremrejeitadas.Emrelaçãoaotratamento,salienta-sequesão
necessáriasmúltiplasintervençõesparamelhoraclínicadeindivíduoscomTAS.Semintervenções,ossintomas
persistemegeramimpactosignificativonavidadosindivíduos4.Otranstornoapresentaboarespostaàstécnicas
dereestruturaçãocognitiva,associadasàexposiçãoetreinodehabilidadessociais2,35.
Habilidades sociais sãoaprendidasno contextoemqueos indivíduosestão inseridos, atravésde
exposiçãoadiferentes situações,bemcomoapartirdaobservaçãode interações sociais6.Dessa forma,
crianças inibidaspodemdemonstrarum repertório social empobrecidoou ineficazdevidoaoambiente
oferecerpoucasoportunidadesdeaprendizagem,práticaereforçodecondutassociais7,8.Noentanto,essas
habilidadestambémpodemseraprendidaspormeiodetreinamento,práticaeensaiocomportamental8. De
acordocomHalls,CoopereCreswell9,criançascomTASpossuemmenoreshabilidadesdecomunicaçãosocial
quandocomparadasacriançascomoutrostranstornosdeansiedade.
Nessesentido,umfoconotreinamentodehabilidadessociais(THS)podebeneficiarotratamentodoTAS,
umavezquevisafacilitarumainteraçãoverbalmaisefetiva.Diferentesautores,aotrataremdodiagnósticode
38 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
TAS,utilizamoTHS,oqualincluiensinoepráticadehabilidadessociais10-12.AsintervençõescomoTHStambém
podemserrealizadasnosentidodeprevençãodeeclosãodesintomas,oqueatuanamelhoradosfatoresque
sustentamounãoodiagnóstico12.Taltreinamentoproporcionaaaprendizagemdenovoscomportamentos,
osquaisserelacionamasaúdefísicaementaldoindivíduo13.
AlgunselementosdesenvolvidosduranteoTHSsão:treinamentodecomportamentosespecíficosquesão
ensinadoseintegradosaorepertóriodoindivíduo;reduçãodaansiedade,comoresultadodecomportamentos
maisadaptativoseassertivosnassituaçõessociais;reestruturaçãocognitiva,atuandonamodificaçãodecrenças
epensamentosdisfuncionaisdoindivíduosobreseucomportamentoeinteraçãosocial;e,treinamentode
soluçãodeproblemas,atravésdoqualoindivíduoéensinadoaidentificarasvariáveisqueenvolvemseus
problemas,processá-lasecriarrespostas,selecionandoamaisfuncionalparaatingirseusobjetivos3,8,13. Esses
elementossãoimportantesparaaeficáciadotreinamento,visandomelhoranaqualidadedevidadosque
delesebeneficiarem.
EmexperiênciasdeintervençãocomapopulaçãoadultadiagnosticadacomTAS14,15,oTHSaparececomo
partedoprotocolodetratamento.Asintervençõesforamfeitasnasuamaioriaemgrupo,apresentandoem
conjuntosessõesindividuaisetarefasdecasa.Aduraçãodasintervençõesdestesestudosédeduassessões
semanaisde90minutos,comduraçãode12semanas.Ainda,destaca-sequepartedotratamentoenvolvendo
habilidadessociaisenvolveterapiadeexposição.EmboraoTHSfosseconstituídocomopartedetratamentos
parao TAS,os resultadosdosestudosdemonstramqueháefetividadenopós-tratamento, atuandono
decréscimodesintomascaracterísticosdodiagnóstico.OstópicosrelacionadosaoTHScomapopulaçãoadulta
abordamhabilidadesbásicasdeconversação,assertividade,estabelecimentodenovosamigosehabilidades
defalarempúblico.
Aescolhapelaadolescênciacomofaixaetáriaparaestapesquisadecorredequealiteraturaapontaessa
fasedodesenvolvimentocomomaisprevalentenoiníciodasintomatologiadoTAS.Alémdisso,segundoa
TerapiaCognitivo-Comportamental,aconstituiçãoereforçodascrençasdisfuncionaisocorrementreainfância
eaadolescência,sendoplausívelumestudoquecontemple,então,talpopulação.Nessesentido,oobjetivo
desteestudoéidentificarosTreinamentosdeHabilidadesSociaisrealizadosemadolescentescomTranstorno
deAnsiedadeSocialeseusresultados.
Método
Trata-sedeumarevisãosistemáticadaliteraturanaqualfoirealizadaumabuscanasbasesdedados
ScienceDirect, PubMed Central, SCOPUS, LILACS e PsycINFO sendoconsideradosos seguintesdescritores:
“socialskillstraining”e“phobicdisorders”,utilizandoorecursodepesquisabooleanaANDnocruzamento
entredescritores.Foramincluídosartigosempíricoscompletospublicadosemlínguaportuguesaeinglesa,
compreendendooperíodoentre2006e2016.Foramexcluídosestudosteóricos,incompletoseindisponíveis.
Osartigosforamanalisadospordoisjuízesindependentes,osquaiscontavamcomaavaliaçãodeumterceiro
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 39
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
revisornocasodedivergências.Paraorelatoeanálisedositensutilizou-seasrecomendaçõesdoPRISMA
(PrincipaisItensparaRelatarRevisõessistemáticaseMeta-análises)16.
Resultados
Abuscainicialnasbasesevocou236itens.Destes,87preenchiamocritérioreferenteaoperíodode
análise,ouseja,2006a2016.Comaexclusãodosarquivosteóricos,indisponíveis,incompletosequenão
contemplassemosidiomasdeinclusão,osarquivosresumiram-sea40.Apósaretiradadearquivosrepetidos
entreasbasesreferenciadas,restaram33,osquaisforamlidososresumos.Emseguida,seteartigosrestaram
paraleituranaíntegra.Adecisãoparaositensselecionadosrepercutiuemcincoartigosparacomporessa
revisãosistemática,emacordodeelegibilidadedecritériosdeinclusãoeobjetivospropostos.Ofluxograma
representadonaFigura1permitevisualizarmelhoraconduçãodestarevisão.
Figura 1
Todososestudosquecompuseramarevisão,apresentadosnaTabela1,forampublicadosemlíngua
inglesa.Osestudosobjetivaramdeterminaroresultadoemlongoprazo(3,4e5anosdepois)emumaamostra
deadolescentestratadoscomSocial Effectiveness Therapy for Children (SET-C)17;avaliarautilidadedeum
ambientevirtualinterativoparaotratamentodoTASemcriançaspré-adolescentes18;avaliaroscomportamentos
sociaisespecíficosemcriançascomTAStratadascomSET-C,juntamentecomtratamentofarmacológicocom
fluoxetinaoupílulaplacebo19;examinarmediadoresemoderadoresdarespostaaotratamentoemcriançase
adolescentescomdiagnósticodefobiasocial20;eavaliarseumcursodeeducaçãodepaismelhorariaoresultado
paracriançascomumdiagnósticodefobiasocialeseacomorbidadenoiníciodotratamentoprejudicaria
40 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
oresultadodafobiasocial21.TodasasintervençõesforamrealizadasnosEstadosUnidos,excetoadeÖstet
al21,quefoirealizadonaSuécia.Ainda,todososestudosincluídosnaanálisetêmdelineamentoquantitativo.
tabela 1. Estudos selecionados para esta revisão
AutoreanodepublicaçãoIntervençãoBeideletal.17(2006)Alfanoetal.20(2009)Scharfsteinetal.19(2011)
Social Effectiveness Therapy for Children (SET-C)
Wong et al.18(2014)Modified Treatment with Virtual EnvironmentsÖstetal.21(2015)Social Skills Training (SST)
Referenteàamostra,osestudosdiferemquantoà idadedosparticipantes.Os intervalosde idade
foramde13a20anosdevida–referenteaofollow updecincoanos17,oitoa12anos18,setea16anos19, sete
a17anos20eoitoa14anos21.Dessaforma,houvepoucadiversificaçãoquantoàidade,abrangendofaixas
etáriassemelhantes,oquedelimitouasintervençõesquantoaoperíododesenvolvimentaldavida.Emquatro
estudos17-19,21,maisdametadedosparticipanteserammeninas,sendosomentenoestudodeAlfanoetal.20
amaioriameninos.Asamostrasforamcompostasporcriançase/ouadolescentescomdiagnósticoprimário
deTAS,oqualocorreuatravésdeentrevistasdiagnósticas semiestruturadas comospaiseas criançase
adolescentes,baseadasnoAnxiety Disorders Interview Schedule for Children/Parents(ADIS-C/P)17-21.Quantoà
quantidadedeparticipantes,asamostrastiveramconsideráveldiferença,sendoqueoestudodeBeideletal.17
inicioucom31participantes,entretantofinalizaramoprocessocompleto26adolescentes;noestudodeWong
et al.18,aamostrafoide11crianças;noestudodeScharfsteinetal.19,participaram90criançaseadolescentes;
oestudodeAlfanoetal.20contoucom88participantes;porfim,noestudodeÖstetal.21,participaram55
criançaseadolescentes.
Emrelaçãoàsmedidasdeavaliação,foramutilizadasmedidasdeautorrelatocomooInventáriodeFobia
SocialeAnsiedadeparaCrianças(SPAI-C),oInventáriodeDepressãoInfantil(CDI)17,20,21;aEscaladeSolidão
(LS)17,20;aEscalaMultidimensionaldeAnsiedadeparaCrianças(MASC)17,21;oQuestionáriodePersonalidade
Eysenck–Junior(EPQ-J)17;eoCronogramadePesquisadeMedoparaCrianças–Revisado(FSSCR),assimcomo
oInventáriodeQualidadedeVidaparaCrianças(QOLI-C)21.Paraosparticipantesquetinhamentre18e20
anos,Beideletal.17fezusodoInventáriodeDepressãodeBeck(BDI),doInventáriodeFobiaSocialeAnsiedade
(SPAI)edoQuestionáriodePersonalidadeEysenck–Revisado(EPQ-R).Östetal.21fezusodeumaescalade
quatroitensrespondidapelosparticipanteseseuspaisafimdemediracredibilidadequeelesperceberam
dotratamento.Emtrêsestudosforamaplicadasmedidasderelatosdospaisdosparticipantes,sendoelasa
ListadeVerificaçãodosComportamentosdaCriança(CBCL)17,21,oInventáriodeFobiaSocialeAnsiedadepara
Crianças–versãoparapais(SPAI-C-P)21eaEscaladeSatisfaçãodeAtendimentoAmbulatorialdeCharleston18.
OsestudosdeWongetal.18eScharfsteinetal.19sediferenciamemrelaçãoaavaliação.Paraavaliara
habilidadesocial,Scharfsteinetal.19fezusodeumesquemadecodificaçãodocomportamentosocial,através
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 41
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
deumaescalatipoLikertdequatropontosrespondidaporobservadores independentesparaclassificara
habilidadesocialgeralemumatarefadeavaliaçãocomportamental.Comisso,11comportamentossociais
foramagrupadosemtrêscategorias.Ainda,paraoscomportamentosindividuaisquerestaram,foiutilizada
outraescalaLikertdequatropontos.JánoestudodeWongetal.18,aviabilidadedotratamentofoimedida
atravésdascontagensdefrequênciadeacessoàtecnologiausadanoestudo,bemcomopelafrequênciade
dificuldadestécnicas.Foiutilizadaumaescaladeclassificaçãoaofinaldecadasessãoclínicapelosparticipantes
eaavaliaçãodaprobabilidadedosparticipantesrecomendaremoprogramadeambientevirtualaoutras
criançasparamediraaceitabilidadedotratamento.Porfim,acredibilidadedotratamentofoimedidaatravés
deescalasdeavaliaçãoLikertpadronizadas.
Oslocaisdasintervençõesforamdiversos,porexemplo,Wongetal.18realizaramnumaclínicapsicológica
universitária,bemcomonacasadosparticipantes,vistoqueoestudocontemplavaousodeumsoftware. O
recrutamentodosparticipantestambémocorreudediversasformas,porexemplo,Beideletal.17recrutaram
ereavaliaramadolescentestratadosemestudosanterioresemfollow up detrês,quatroecincoanosapósa
intervençãodoSET-C.Já,Wongetal.18recrutaramosparticipantesosquaiserampacientesemumaclínica
psicológicauniversitária.Emdoisestudosorecrutamentodeparticipantessedeuapartirdeanúnciosrealizados
namídia(jornal,rádioetelevisão)etambémpelaindicaçãodeprofissionaislocais19,20.Porfim,noestudode
Östetal.21,osparticipantesforamrecrutadosatravésdeencaminhamentosdeserviçospsiquiátricosinfantis
eserviçosdesaúdeescolar.
Aquantidadedeencontroseotempodeduraçãovariaramentreosprotocolosaplicados,entretanto,
entreosqueutilizaramomesmoprotocolodeintervençãomantiveramessesaspectosidênticos.Porexemplo,
o programa SET-CfoiutilizadoporBeideletal.17,Scharfsteinetal.19eAlfanoetal.20eostrêsestudoscontinham
12sessõessemanaisdeexposiçãoindividualgraduada(60a90minutos)e12sessõessemanaisdeTHS(90
minutos)maissessõesdegeneralizaçãocompares(90minutos).NoestudodeÖstetal.21,foramusadosos
primeirosdoiscomponentesdoprogramaSET-C,comomesmonúmerodesessõessemanaisdosestudos
anteriores,noentantoaduraçãonãofoiinformadaenãoforamrealizadasassessõesdegeneralizaçãocom
pares.OprotocolodeWongetal.18,emboratambémfosseconstituídopor12sessõessemanais,apresentou
variaçãoquantoaotempo,emquecadasessãotinhaaproximadamenteentre30e40minutos,alémdotempo
destinadoàutilizaçãodosoftwareemcasa,ouseja,30minutoscomfrequênciadetrêsvezesporsemana.
QuantoaodiagnósticodeTAS,aindaforamencontradascomorbidadesentreosadolescentes.Alfano
et al.20encontraramcomorbidadesemmetadedaamostra,sendoasprincipais:TranstornodeAnsiedade
Generalizada,FobiasEspecíficaseTDAH.NoestudodeWongetal.18,ascomorbidadesencontradasforamde
SíndromedeAsperger,TranstornodeAnsiedadedeSeparaçãoeDistimia,tambémemmetadedosparticipantes.
Beideletal.17tambémencontraramcomorbidadesemquasemetadedaamostranoperíododefollow up de
cincoanos,entretanto,nãocitamquaisforamosdiagnósticos.NoestudodeÖstetal.21,maisdametadeda
amostratinhapelomenosumacomorbidadeeasmaiscomunsencontradasforamFobiaEspecífica,Transtorno
42 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
deAnsiedadeGeneralizadaeTranstornodeAnsiedadedeSeparação.SomentenoestudodeScharfsteinet
al.19nãoforamcitadascomorbidadesdiagnósticas.
OsassuntosabordadosnasintervençõesreferentesaoTHSforambaseadosnoSET-Ceincluíramdiversos
aspectos,como:instrução,modelagem,ensaiodecomportamento,técnicasdefeedback,habilidadesbásicas
deconversação,habilidadesdecompreensãoempática,habilidadesdeamizadeeresoluçãodeconflitos17,18,20
etreinamentodeassertividade17,18,20,21;sessõesdeexposiçãoparadiminuiraexcitaçãofisiológica(habituação)
eevitaçãocomportamental (extinção),permitindomaiorconfortoparaentrareengajar-seem interações
sociais19; apresentar-se, iniciar uma conversa, fazerperguntas a estranhos, juntar-se aumgrupo, fazer
telefonemas,fazerumpedidoemumrestauranteeperformancesverbaisdediferentestipos21;realização
decenasdedramatizaçãoetarefasdeleituraemvozalta,role-playincluindoiniciarumaconversacomum
adolescentedesconhecido,oferecerajuda,darumelogio,receberumelogioeresponderafirmativamentea
umcomportamento17.Aexposiçãoinvivofoiutilizadacomorecursonotratamento,deformaindividual17-21
como,porexemplo,napresençadetemoressociaisespecíficos19,20,incluindoconversastelefônicas,leituras
eperformancescomportamentaisnapresençadeoutrosadolescentes,oufazerperguntasparaestranhos19.
Paratestaroscomportamentosdesegurançadacriança,foramutilizadosexperimentoscomportamentais,
principalmenteparasituaçõescomoleremvozaltaefazerapresentaçãooral21.Diferentedaexposiçãoinvivo
clássica,tambémseutilizouaestratégiadeumambientevirtualcomsituaçõesdeexposiçãoinvivo,aqual
foidescritacomoalternativapromissoraàsexposiçõesinvivopresenciais18.Oscincoestudosapresentamem
comumofatodequeasexposiçõesinvivoeramdirecionadasaquestõesúnicasdosparticipantes,acessando
asparticularidadesdecadaumemrelaçãoàperformancesocialdificultosa,característicadodiagnósticode
TAS17-21.
Como tópicos relacionados à generalização compares, estas seguiramdiretamenteos gruposde
habilidades sociais, afimdepermitirqueas crianças comTASpraticassemhabilidadesemumambiente
naturalista.Asatividades comospares variaramdependendoda idadedoparticipantenogrupo, sendo
incluídasatividadescomoboliche,brincadeirasdegrupo,idasàpizzaria19,20eparticipaçãoemencenações
dedramatizaçãoderepertóriosocial17.OsparesnãopossuíamodiagnósticodeTASeforamtreinadospara
essa função, sendocriançaseadolescentes recrutadosseguindoocritérioda idadedoparticipante,bem
comoresidiamnacomunidadepróximadaintervenção17,19,20.Ageneralizaçãocomparesfoisubstituídapelo
recursodoambientevirtualemumdosprotocolosdeintervenção,aqualfoirealizadacomauxíliodeum
softwareespecíficocontendoumaidentidadevirtualepersonagensadultosqueatuaramcomopares,porém
ageneralizaçãofoirealizadadeformaindividual,tendocomoapoiooterapeutaresponsávelqueacompanhou
aintervenção18.Umúnicoestudonãocontemplouocomponentedegeneralizaçãocompares21.
Informaçõesarespeitodosterapeutasaplicadoresdaintervenção,comocaracterísticaseexperiência
prévia com fobia social, foramdescritasapenasnoestudodeÖstetal.21.Os terapeutasqueaplicarama
intervençãoforamquatropsicólogasclínicasdosexofemininoquepossuíamexperiênciadeumacincoanos
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 43
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
notratamentodecriançascomfobiasocial.Ainda,essasterapeutasreceberamsupervisãosemanal,afimde
auxiliá-losaseguiremosmanuaiseasolucionarproblemas21.
QuantoaosresultadosdasintervençõesdostrêsestudosqueutilizaramoSET-C,observou-sequena
intervençãodeBeideletal.17,setedos21(26,9%dototal)tiveramdiagnósticodeTASnopós-tratamento,mas
indicandomelhoraduranteoperíodo.Quatroadolescentes(15,4%daamostra)mantiveramseudiagnóstico
defobiasocial,tantonopós-tratamentoquantonofollow-upde5anos,enquanto1Adolescente(3,8%da
amostra)semdiagnósticonopós-tratamentorescindiuapós5anos.Seteparticipantes(26,9%daamostra)
obtiveramcritériosparaoutrodistúrbionomomentodofollow-up,sendoquepara5participantes,oinício
dadoençaocorreuapósaconclusãodotratamentocomSET-C.Osautoresconcluíramqueashabilidades
adquiridasnoSET-Cnãosãomantidas5anosapósotratamento.Ainda,ashabilidadessociaisdogrupode
respostaaotratamentonãodiferiramdaquelasdogruposemoTAS.Esseresultadofoiexaminado,inferindoque
amelhoranashabilidadessociaiséavariávelcomportamentalmaisresistenteàmudança.Omesmoprotocolo,
aplicadonoestudodeScharfsteinetal.19,indicouquenopós-tratamento,osparticipantestratadoscomSET-C
mostraramcapacidademaisefetivanotópicoconversacional–comportamentossociaispragmáticos–emais
movimentosmotoresapropriados,comoorientaçãofacialepostura,doquecriançastratadassomentecom
fluoxetinaouplacebo.Alémdisso,apenasosparticipantestratadoscomSET-Cmelhoraramemtodasastrês
variáveisdehabilidades.Osachadosdoestudosugeremqueasintervençõesquevisamapenasareduçãoda
excitaçãoansiosademaneirafarmacológicanãotemimpactonosdéficitsdecompetênciassociaisepodem
nãoseradequadasparatrataroTAS.ParaAlfanoetal.20,asmudançasnaansiedadesocialforamavaliadaspelo
relatodeisolamentodascriançaseosresultadosnãoforammoderadospelaidadeousintomasdepressivos.
Osresultadosrevelaramqueapontuaçãoparaisolamentoeeficáciaemhabilidadessociaisrealizadasdurante
umadramatizaçãoderole-play predizemmudançasnoTASenofuncionamentoglobalnopós-tratamento.Dessa
forma,entende-sequeamelhoranashabilidadessociaisrepercutenamelhoradesintomasdeisolamentoe
noTAS.
Jáemrelaçãoaos resultadosdosdoisestudosquesediferenciampela intervenção, foivistoquea
intervençãodeWongetal.18proporcionoudiminuiçãodosofrimentoansioso.Todasosparticipantesdesse
estudo(100%)classificaramoambientevirtualcomoumtratamentoespecíficoaajudá-losatornar-semenos
ansiosos.Amaioriadaamostra(75%)tambémrelatouqueotratamentoajudouamelhoraroutrasáreasde
seufuncionamento,bemcomonorelacionamentocomospais,eainda,querecomendariamestetratamentoa
umamigoansioso.Ascriançasrelataramqueoambientevirtualeraumprogramadealtaqualidadeeútilpara
aaquisiçãodehabilidadessociais.NoestudodeÖstetal.21,osresultadosforamobtidosatravésdeavaliações
deavaliadoresindependentesedemedidasdeautorrelato,realizadasnopré-tratamento,pós-tratamento
e follow-updeumano.Nãofoiencontradadiferençasignificativaentreosdoistratamentosativos(criança
apenasecriançacomospais)eambosmostrarammelhoresresultadosdoqueogrupolistadeespera.Os
efeitosdotratamentoforammantidosouatéexpandidosnofollow-up.Ainda,osresultadosmostraramque
acomorbidadenãoprejudicouoresultadodafobiasocial.Alémdisso,osdistúrbioscomórbidosmelhoraram
44 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
significativamentedopréparaopós-tratamentoedopós-tratamentoparaofollow-up,mesmoqueesses
distúrbiosnãotenhamsidoalvodotratamento.
Os autores apontaramdiversas limitações nos seus estudos, dentre elas a baixa quantidadede
participantesque receberam tratamentoe faltadegrupo controlepara comparaçãodos resultadosem
relaçãoàparticipantesquenãoreceberamoTHS17,21;acondiçãonãocegadospais,adolescenteseclínicosno
pré-tratamentodoSET-Ccomosadolescentes17;limitaçõestecnológicas,vistoquefoiutilizadoumsoftware
paraoTHS,afaltadeumamedidaqueavalieausabilidadedoprogramautilizado,poisoprogramapossui
diferentestiposdeusuárioseausabilidadevariadeacordocomelese,também,adificuldadeemprevera
aceitaçãoeadaptaçãodospesquisadoreseclínicosaoambientevirtual18;afaltadeumaclassificaçãodeadesão
edecompetênciasparaaplicaçãodoTHS,vistoqueoprogramaeranovonopaís,nãohavendosupervisores
especializadosdisponíveisquepudessematuarcomoavaliadores independenteseanãopossibilidadede
detecçãodenovosdistúrbiosquepudessemtersidodesenvolvidosentreasavaliações,devidoaousoda
versãoabreviadadaescalaADIS-C/Pnopós-tratamentoenofollow-up21;diferentescondiçõesdecomparação,
emfunçãodosdadosteremsidoretiradosdeintervençõesdetratamentoseparadasenãoidênticas,oque
ocasionaramaincertezadoimpactopotencial,assimcomonãotersidoavaliadaaassociaçãotemporalcomo
mediadoraanalisadajuntocomosresultadosenãoterrealizadoumaanáliseespecíficadosaspectosdas
relaçõesentreparesedasatividadessociaisdascrianças,aqualcontribuiriaparaummelhorentendimento
daformaemqueasmudançasnasolidãoestãorelacionadasacertosaspectosdasocialização20;aavaliação
deapenasumagentefarmacológico,considerandoqueoutrosmedicamentospodemapresentarumimpacto
diferencialnosdéficitsdehabilidadessociais,anãoavaliaçãodosefeitosdaTerapiaCognitivo-Comportamental
semoTHS,sendoquepoderiaserpossívelumamelhoranahabilidadesocialmesmosemoTHSe,porfim,
adescontinuaçãodamedicação,emfunçãodoestudoter12semanasdeduração,sendoqueumresultado
diferentepoderiatersidoobtidoseousodamedicaçãofosseprolongado19.
Discussão
Oobjetivodestarevisãosistemáticafoiidentificarostreinamentosdehabilidadessociaisemadolescentes
comtranstornodeansiedadesocial,bemcomosuaeficácia.Deacordocomosresultados,todososestudos
apresentaramcaracterísticasdeamostraparecidasquantoàidadedosparticipantes,tendopoucavariação,
vistoquecompreendiamafasedaadolescência.Poroutrolado,houvediferençaemrelaçãoàquantidadede
participantes,sendoqueoestudocommenornúmerocompreendeuumaamostracom11adolescentes18
eoestudocomquantidademaiordeparticipantes foi constituídopor90adolescentes19.Algunsestudos
apresentaramquantidadebaixadeparticipantesna intervenção,oquepode interferir inclusivenopoder
estatísticodasanálisesrealizadas21.Estedadoéconsideradoumalimitação,umavezqueénecessárioum
númeroamostralmaiorparaqueosefeitosdaintervençãosejamvisualizados22.
Quantoaoformato,atodasasintervençõesforamaplicadasemgrupo,diferindoapenasemrelaçãoà
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 45
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
exposiçãoinvivo,aqualfoirealizadaindividualmenteemtodososprotocolos17-21.Algumasvantagenspodem
serencontradasna intervençãogrupal,porexemplo,osparticipantespodemreceberapoiopelospares,
compartilharinformaçõesefacilitaodesenvolvimentoeaplicaçãodeestratégiassimilaresparaosparticipantes
daintervenção.Umestudodemeta-análisedemonstrouumaequivalênciadapsicoterapiaemgrupoparao
TASemrelaçãoaoutrasmodalidadesdetratamento,sendoconsideradaumtratamentoeficaz23.Alémdisso,
aabordagememgrupodaTerapiaCognitivo-Comportamentalpossibilitaqueoprópriogrupocontribuacom
ospacientescomTAS,poisdiminuio isolamento,agindocomoumaformadeexposição3,5,24.Noentanto,
podemaparecerdesvantagens,vistoqueogruposegueumcronogramaedesenvolveseupróprioritmode
funcionamento,oquepodedificultaroengajamentodealgunsparticipantes.Poroutrolado,intervenções
individualizadaspermitemqueoterapeutaeoadolescenteestabeleçamaintervençãodeumaformamais
personalizada, levandoemconsideraçãoas singularidadeseasdificuldadesdehabilidade socialde cada
participante,conformerealizadonasexposiçõesinvivo17-21.
Ainda,énecessárioatentaraospossíveisriscosdeviésenvolvidosemestudoscomooscontemplados
nestarevisão.Nessesentido,destaca-seaimportânciaderelatarosaspectosrelacionadosaosefeitosnão
específicosdasintervençõesafimdeevitartaisriscos.Porexemplo,odetalhamentodeinformaçõesarespeito
dofuncionamentodosgrupos,comoperiodicidade,quantidadedeparticipantes,rapport eorientaçõesquanto
aosconteúdostrabalhadosnasintervenções,podemserfatoresqueinfluenciaramosresultadosprovenientes
dasintervenções.Alémdisso,aqualidadeeproximidadenasinteraçõesentreosparticipanteseosprofissionais
queaplicaramaintervençãotambémpodempromoveralgumimpactonosresultados.Comisso,aomissãoou
imprecisãodessasinformaçõespodecausarumriscodeviésconsideráveletercomprometidoaconfiabilidade
dosresultadosobtidosemtaisestudos16.
Observou-sequeosestudosincluíramoTHScomopartedoprotocolodeintervenção,porémnãohouve
umaanáliseexclusivadotreinamentonessesparticipantes.Pondera-sesobreumalacunaquantoàsintervenções
nosentidodeabrangeremmaisdeumitemquantoaoconteúdo,repercutindoemmenorinvestimentonoTHS.
Dessaforma,nãoseobservaumaclarezadacontribuiçãoespecíficadotreinamentonosresultadosobtidos,
mesmosendoapontadopelaliteraturaopotencialbenéficododesenvolvimentodehabilidadessociaisno
tratamentodestetranstorno9.Alémdisso,osinstrumentosavaliaramoTASpós-intervenção,masnãoincluíram
aavaliaçãodashabilidadessociaisemsi,oquepodesercaracterizadocomooutralimitação,umavezquenão
esclarecesehouvemudançaoumelhoradetaishabilidades.Demarca-seanecessidadedainvestigaçãoda
eficáciadasintervençõesparaalémdotranstorno,ampliandoasanálisesparaqueosbenefíciosespecíficos
emrelaçãoaoTHSsejaminvestigados.
IntervençõescomadolescentescomdiagnósticodeTASsemostrarampertinentes,nainclusãodoTHS
comointervenção.Entretanto,evidencia-seanecessidadedepesquisassobreotemaemdiferentespaíses,afim
deampliaroconhecimentosobreatemáticaemdistintoscontextossociais,históricoseculturais.Assimcomo
osestudosquefizerampartedestarevisão,identificou-sequeoSET-Ctemsidousadoemdiversaspesquisas
comintervençõesenvolvendooTAS25.Estapodeserconsideradaumalimitação,umavezqueosestudosficam
46 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
restritosaumúnicoprotocoloe,dessaforma,nãosãodescritosoutrosmodelosdetratamentoparaTASque
elucidemashabilidadessociais,oquerestringeaamplitudedeconhecimentoacercadaspossibilidadesde
tratamento para esse transtorno.
Recomenda-sequefuturaspesquisasrelacionadasàtemáticaapresentemosprotocolosdetalhadosde
maneiraaincluirositensanalisadosnestarevisãosistemática:descriçãoapuradadosparticipantes,incluindo
questões sociodemográficasafimde caracterizarmelhorapopulaçãonaqual a intervençãoestá sendo
realizada;enumeraçãoreferenteaoprotocoloqueestásendoaplicado,especialmenteorganizandooprocesso
noqualeleocorreu;detalhessobreaformaçãoprofissionalouacadêmicadosaplicadoresedosavaliadorese
aplicadoresdaintervenção,vistoqueháanecessidadedeconhecerotreinamentoeconhecimentodosque
estãorealizandoaintervenção,especialmentetendoemvistaquepossamocorrerdiferençasemaplicadores
experientesemdetrimentodeaplicadoresiniciantes.
Alémdisso,sugere-sequeosresultadosdosestudospossamserapresentadosdeformaarepresentar
asmudanças,ganhosealteraçõesquantoaodiagnósticoequantoaorepertóriodehabilidadessociais.Para
isso,propõe-sequesejamutilizados instrumentosespecíficos,validadosparaapopulaçãoamostraleque
possamavaliartaismudanças,direcionadostantoàavaliaçãodashabilidadessociais,quantoaodiagnóstico
deTAS.Ainda,incluindoositensanalisadosnestarevisão,quepossamserdiscutidaslimitaçõesoulacunas
nosestudossendoelasrelacionadasàsintervenções,eaindaaoutrosaspectos,comoporexemplo,condições
apresentadasnomomentodaintervenção,condiçõesdaamostra,instrumentosutilizadosparaavaliaçãoda
eficáciadoprotocoloetambémquantoaosaplicadoresdaintervenção,diantesuascaracterísticasdeformação.
Dessa forma,quantomelhoradescriçãodosestudosempíricos,maioraprobabilidadedoprotocolo ser
compreendidoeatémesmoreplicadoporoutrospesquisadores,contribuindotambémparaaampliaçãodo
conhecimentodotratamentodoTASemadolescentes,assimcomoparaaexploraçãodenovaspossibilidades.
Considerações finais
EstarevisãosistemáticadescreveuintervençõesemqueestãosendorealizadosTHSemadolescentescom
TAS.Osestudosempíricosapresentaramresultadospositivosfrenteàshabilidadessociaisnessesadolescentes.
Frenteàspropostaseconclusõesvislumbradasnaliteratura,aponta-seanecessidadedetrabalhosfuturos
quecontemplemotemadotreinamentodehabilidadessociaisparaadolescentescomdiagnósticodeTAS,
seguindooscritériosdevalidadeeaplicabilidadeemoutroscontextos,comoporexemplo,naclínica,nas
escolaseemlocaispossíveisdeaglomerarindivíduosnaadolescência.Osprotocolosanalisadosnestarevisão
foramdeaplicaçãoexclusivaempesquisa,aqualexigerigordiferenciadometodológico.Reitera-sequeoTHS
foiutilizadoapenascomopartedaintervençãonessesestudosanalisados,osquaisapresentaramresultados
daintervençãocomoumtodo,semfornecerumaanáliseexclusivadacontribuiçãodotreinamentoparao
tratamento.Comisso,sugere-sequenovosestudosinvestiguemeforneçamdadosespecíficosdascontribuições
doTHSparaotratamentodoTAS.
REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), , 35-48, 2019 47
TreinamenTo e habilidades sociais em adolescenTes com TransTorno de ansiedade social: uma revisão sisTemáTica
ISSN 2318-0404I
Referências
1. AmericanPsychiatricAssociation(APA).DSM-5:manualdiagnósticoeestatísticodetranstornosmentais.PortoAlegre:Artmed;2014.
2. LeahyRL.Livredeansiedade.PortoAlegre:Artmed;2011.
3. PiconP,KnijnikDZ.Fobiasocial.In:KnappP.TerapiaCognitivo-Comportamentalnapráticapsiquiátrica. PortoAlegre:Artmed;2004.p.226-47.
4. JazaieriH,MorrisonAS,GoldinPR,GrossJJ.Theroleofemotionandemotionregulationinsocialanxietydisorder.CurrPsychiatryRep.2015;17(1):531.
5. HopeDA,HeimbergRG, TurkCL. Terapia cognitivo-comportamental para ansiedade social:Guiadoterapeuta.2.ed.PortoAlegre:Artmed;2012.
6. DelPretteZAP,DelPretteA.Psicologiadashabilidadessociaisnainfância:teoriaeprática.Petrópolis,RJ:Vozes;2017.
7. CaballoVE.O treinamentoemhabilidades sociais. In: CaballoVE.Manual de técnicasde terapia emodificaçãodocomportamento.SãoPaulo:Santos;1996.p.361-98.
8. CaballoVE.Manualdeavaliaçãoetreinamentodashabilidadessociais.SãoPaulo:LivrariaSantos;2003.
9. HallsG,CooperPJ,CreswellC.Social communicationdeficits: specificassociationswithsocialanxietydisorder.JAffectDisord.2015;172:38-42.
10. HudsonJL,RapeeRM,LynehamHJ,McLellanLF,WuthrichVM,SchnieringCA.Comparingoutcomesforchildrenwithdifferentanxietydisordersfollowingcognitivebehaviouraltherapy.BehavResTher.2015;72:30-7.
11. SeligmanLD,OllendickTH.Cognitive-behavioral therapy foranxietydisorders inyouth.ChildAdolescPsychiatrClinNAm.2011;20(2):217-38.
12. MaromS,AderkaIM,HermeshH,Gilboa-SchechtmanE.Socialphobia:maintenancemodelsandmaincomponentsofCBT.IsrJPsychiatryRelatSci.2009;46(4):264-8.
13. LunkesFP,SoaresRL,PergherGK.InterfacesentreTreinamentoemHabilidadesSociaiseAcompanhamentoTerapêuticonoTratamentodaFobiaSocialedaDependênciaQuímica.In:WainerR,PiccolotoNM,PergherGK.NovasTemáticasemTerapiaCognitiva.PortoAlegre:Sinopsys;2011.p.147-60.
14. GrosDF,SarverNW.AninvestigationofthepsychometricpropertiesoftheSocialThoughtsandBeliefsScale(STABS)andstructureofcognitivesymptomsinparticipantswithsocialanxietydisorderandhealthycontrols.JAnxietyDisord.2014;28(3):283-90.
15. BeidelDC,AlfanoCA,KoflerMJ,RaoPA,ScharfsteinL,SarverNW.Theimpactofsocialskillstrainingforsocialanxietydisorder:Arandomizedcontrolledtrial.JAnxietyDisord.2014;28(8):908-18.
16. MoherD,LiberatiA,TetzlaffJ,AltmanDG,ThePRISMAGroup.PreferredReportingItemsforSystematicReviewsandMeta-Analyses:ThePRISMAStatement.PLoSMed.2009;6(7):e1000097.
17. BeidelDC,TurnerSM,YoungBJ.Socialeffectivenesstherapyforchildren:Fiveyearslater.BehavTher.2006;37(4):416-25.
48 REV. BRAS. PSICOTER., PORTO ALEGRE, 21(2), 35-48, 2019
rafaela fava de Quevedo eT al.
IISSN 2318-0404
18. WongN,BeidelDC,SpitalnickJS.Thefeasibilityandacceptabilityofvirtualenvironmentsinthetreatmentofchildhoodsocialanxietydisorder.JClinChildAdolescPsychol.2014;43(1):63-73.
19. ScharfsteinLA,BeidelDC,FinnellLR,DistlerA,CarterNT.Dopharmacologicalandbehavioralinterventionsdifferentiallyaffecttreatmentoutcomeforchildrenwithsocialphobia?.BehavModif.2011;35(5):451-67.
20. AlfanoCA,PinaAA,VillaltaIK,BeidelDC,AmmermanRT,CrosbyLE.Mediatorsandmoderatorsofoutcomeinthebehavioraltreatmentofchildhoodsocialphobia.JAmAcadChildAdolescPsychiatry.2009;48(9):945-53.
21. ÖstLG,CederlundR,ReuterskiöldL.Behavioraltreatmentofsocialphobiainyouth:Doesparenteducationtrainingimprovetheoutcome?.BehavResTher.2015;67:19-29.
22. SampieriRH,ColladoCH,LucioPB,MuradFC,GarciaAGQ.Metodologiadepesquisa.5.ed.SãoPaulo:McGraw-Hill;2013.
23. BarkowskiS,SchwartzeD,StraussB,BurlingameGM,BarthJ,RosendahlJ.Efficacyofgrouppsychotherapyforsocialanxietydisorder:Ameta-analysisofrandomized-controlledtrials.JAnxietyDisord.2016;39:44-64.
24. D’ElReyGJF,PaciniCA.Terapiacognitivo-comportamentaldafobiasocial:modelosetécnicas.PsicolEstud.2006;11(2):269-75.
25. IsolanL,PheulaG,ManfroGG.Tratamentodotranstornodeansiedadesocialemcriançaseadolescentes.RevPsiqClin.2007;34(3):125-32.
Contribuições:RafaelaFavaQuevedo–Desenhoeconcepçãodomanuscrito,revisãodaliteratura,realização
dasbuscasnasbasesdedados,análisedosdados,redaçãodoartigoepadronizaçãodasnormasdeacordo
comarevista;
MarianaNunesAndreolla–Revisãodaliteratura,realizaçãodasbuscasnasbasesdedados,análisedosdados,
redaçãodoartigoepadronizaçãodasnormasdeacordocomarevista;
FrancineGuimarãesGonçalves–Revisãodotextoeadiçãodepartessignificativas;
IlanaAndretta–Revisãodotextoeadiçãodepartessignificativas.
Correspondência
ProgramadePós-GraduaçaoemPsicologia,
UniversidadedoValedoRiodosSinos,
SaoLeopoldo,RS,Brasil
Submetidoem:05/03/2018
Aceitoem:10/07/2018