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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ACÓRDÃO N. 3 1 1 5 1

PETIÇÃO N. 77-12.2015.6.24.0000 - CLASSE 24 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CONCÓRDIA (LINDÓIA DO SUL) Relator: Juiz João Batista Lazzari Requerente: Rodinei Lóss Requeridos: Lindomar Pedroso; Partido da República (PR) de Santa Catarina;

Partido da República (PR) de Lindóia do Sul

- AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE MANDATO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - VEREADOR.

- PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA E DE PRESCRIÇÃO - REJEITADAS.

- Respeitadas as regras relativas à formação de coligações e ao pleito proporcional que constam da legislação eleitoral, a legitimidade para ingressar com a ação de decretação de perda de mandato eletivo é do suplente da coligação que, nos termos do disposto no § 2o do art. 1o da Resolução TSE n. 22.610/2007, possui interesse jurídico para a propositura da ação, pois deverá assumir o cargo porventura declarado vago.

- De acordo com a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, os órgãos de direção municipal e estadual dos partidos políticos possuem legitimidade concorrente nas ações de decretação de perda de mandato eletivo, razão pela qual não se há falar em ilegitimidade passiva do diretório estadual da agremiação.

- De acordo com o entendimento dos Tribunais Eleitorais, o prazo previsto no § 2o do art. 1o da Resolução TSE n. 22.610/2007 possui natureza decadencial, razão pela qual rejeito a preliminar de prescrição.

- DECADÊNCIA - APRECIAÇÃO DE OFÍCIO - NÃO FORMULAÇÃO DE REQUERIMENTO PARA A CITAÇÃO DO LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO NO PRAZO PREVISTO NO § 2o DO ART. 1o DA RESOLUÇÃO TSE N. 22.610/2007 -CONFIGURAÇÃO - EXTINÇÃO DO PROCESSO COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - ART. 269, IV, DO CPC.

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"Decorrido o prazo estipulado na Res.-TSE n° 22.610/2007, sem a citação do partido, que detém a condição de litisconsorte passivo necessário, deve o processo ser julgado extinto, em virtude da decadência" (Agravo Regimental em Recurso Ordinário n° 102074, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicação: DJE -Diário de justiça eletrônico, Data 23/10/2012, Página 7-8).

Vistos etc.,

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em rejeitar as preliminares e, de ofício, extinguir o processo com resolução de mérito, em razão da decadência (art. 269, IV, do CPC), nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão.

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 22 de janeiro de 204$.

Juiz JOÃO BATISTA LAZZARI Relator

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R E L A T Ó R I O

Rodinei Lóss, primeiro suplente da Coligação "União, Continuidade e Desenvolvimento" (PP/PT/PSD), que disputou a eleição proporcional em 2012 em Lindóia do Sul, propôs Ação de Decretação de Perda de Mandato Eletivo por Desfiliação Partidária em face de Lindomar Pedroso, vereador eleito pela mesma coligação, e dos diretórios estadual e municipal do Partido da República - PR, agremiação à qual ele se filiou após deixar o partido que viabilizou sua candidatura.

Sustentou que em 08/04/2015 o requerido informou à Justiça Eleitoral sua desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT), sem expor justificativa, não existindo "qualquer fato que possa subsumir-se a uma das hipóteses de desfiliação por justa causa" descritas na legislação. Asseverou estar, assim, evidenciada a prática de infidelidade partidária, requerendo seja o pedido julgado procedente, decretando-se a perda do mandato eletivo do Vereador Lindomar Pedroso e oficiando-se à Câmara de Vereadores de Lindóia do Sul, a fim de que emposse o primeiro suplente (fls. 2-7). Apresentou os documentos das fls. 8-12.

O Partido da República do Estado de Santa Catarina, o órgão de direção da agremiação no Município de Lindóia do Sul e Lindomar Pedroso apresentaram suas contestações, acompanhadas de documentos, respectivamente, às fls. 44-70, 71-92 e 93-114. Alegaram, em petições quase idênticas, as seguintes preliminares: a) ilegitimidade ativa do requerente, suplente da coligação, pois o mandato pertence ao partido; b) ilegitimidade passiva do Diretório Estadual do Partido da República; c) prescrição, pois o ajuizamento da demanda ultrapassou o prazo estabelecido na Resolução TSE n. 22.610/2007. No mérito, sustentaram que o PT de Lindóia do Sul não vinha observando os ideais partidários, presenciando o vereador requerido "várias situações que acarretam desrespeito com os compromissos assumidos pela sigla perante a população". Afirmaram que o vereador começou a questionar o partido, o que culminou com o início da discriminação sofrida, e que encaminhou documento ao vice-presidente da grei partidária em Lindóia do Sul, demonstrando sua insatisfação com os rumos da sigla, não possuindo condições de permanecer no partido, gerando a situação insustentável que compeliu o mandatário a migrar para outra agremiação. Aduziram que, apesar de o vereador ocupar a presidência do PT de Lindóia do Sul, passou a sofrer grave discriminação pessoal de parte das lideranças do partido, que minaram o seu espaço interno, "o que ensejou instransponíveis dificuldades de se avançar com projetos e ideais políticos junto à mencionada legenda". Asseveraram que o parlamentar foi excluído das reuniões deliberativas do diretório municipal e não era mais convocado para quaisquer tratativas, inexistindo possibilidade de convivência política entre ele e o PT de Lindóia do Sul. Narraram que um grupo de filiados do PT cometeu vários atos de discriminação contra o mandatário, que se viu obrigado a deixar o partido.

Foi realizada, no Juízo da 90a Zona Eleitoral, audiência para a oitiva,,. das testemunhas arroladas pela defesa (fls. 139-141). / ^

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Em seguida, o requerente e os requeridos apresentaram alegações finais (PR de Lindóia do Sul - fls. 149-157; PR de SC - fls. 158-167; Lindomar Cardoso-f ls. 168-177; Rodinei Lóss-f ls . 179-191).

Com vista dos autos, o Procurador Regional Eleitoral opinou pela rejeição das preliminares e, no mérito, pela procedência do pedido (fls. 193-202).

É o relatório.

V O T O

O SENHOR JUIZ JOÃO BATISTA LAZZARI (Relator):

Inicio pelas preliminares suscitadas pelos requeridos.

1. Ilegitimidade ativa do requerente, por ser suplente da coligação, e não do partido.

Aduzem os requeridos que o TSE assentou que os mandatos pertencem aos partidos políticos e, portanto, o suplente da coligação não possuiria legitimidade para propor ação de decretação de perda de mandato eletivo, pois, em caso de procedência da ação, será o suplente do partido que assumirá a vaga.

Estabelece a Resolução TSE n. 22.610/2007:

Art. 1o O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa.

(...)

§ 2o Quando o partido político não formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da desfiliação, pode fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subsequentes, quem tenha interesse jurídico ou o Ministério Público Eleitoral.

(...)

Portanto, na resolução foi conferida legitimidade ativa àquele que possua interesse jurídico.

Apesar de nos julgamentos que originaram o entendimento de que a infidelidade partidária enseja a perda do mandato eletivo ter sido veiculado que os mandatos pertencem aos partidos políticos, com o exame dos casos concretos submetidos a julgamento, este Tribunal concluiu que, em caso de perda de cargo eletivo por infidelidade partidária também há necessidade de se observar a ordem de suplência estabelecida no Código Eleitoral (arts. 105 a 113), respeitando as

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coligações formadas, de sorte que o suplente que deve assumir o cargo vago é o da coligação, que pode ou não pertencer ao mesmo partido do desfiliado.

Transcrevo ementa de julgado desta Corte que exemplifica o posicionamento:

- AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE MANDATO ELETIVO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA - TERCEIRO SUPLENTE DE VEREADOR PERTENCENTE À MESMA COLIGAÇÃO DO TITULAR DO CARGO, MAS A PARTIDO DIVERSO - PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL E ILEGITIMIDADE ATIVA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE SUPLENTES DE OUTRO PARTIDO EM POSIÇÃO ANTERIOR À DO REQUERENTE NA LISTA DE CANDIDATOS ELEITOS - SITUAÇÃO PECULIAR: PRIMEIRO SUPLENTE QUE JÁ ASSUMIU A TITULARIDADE DE OUTRO CARGO DE VEREADOR - SEGUNDO SUPLENTE QUE TAMBÉM SE DESFILIOU DA LEGENDA PELA QUAL FOI ELEITO, DEIXANDO TRANSCORRER IN ALBIS O PRAZO PARA EVENTUAL AÇÃO DECLARATÓRIA DE JUSTA CAUSA - VAGA QUE PERTENCE À COLIGAÇÃO - PRECEDENTE (ACÓRDÃO TRESC N. 22.007/2008) -SEGUNDO SUPLENTE CHAMADO A INTEGRAR A LIDE, JÁ QUE, EM SENDO PROCEDENTE O PEDIDO DE CASSAÇÃO DO TITULAR DO CARGO, DEVE SER-LHE GARANTIDA A POSSIBILIDADE DE PROVAR EVENTUAL JUSTA CAUSA PARA A MUDANÇA DE LEGENDA, POIS TAMBÉM INTERESSADO NO CARGO - INTERESSE PROCESSUAL E LEGITIMIDADE AD CAUSAM CONFIGURADOS - PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO E DE FALTA DE INTERESSE JURÍDICO POR HAVER-SE O REQUERENTE MUDADO DO MUNICÍPIO: REJEIÇÃO - GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL E MUDANÇA SUBSTANCIAL DO PROGRAMA PARTIDÁRIO NÃO COMPROVADAS - ENFRAQUECIMENTO DO PARTIDO EM ÂMBITO MUNICIPAL EM RAZÃO DA DESFILIAÇÃO DE LIDERANÇAS -QUEIXAS DE FALTA DE RECONHECIMENTO DENTRO DO PARTIDO, APESAR DA BOA VOTAÇÃO RECEBIDA NAS ELEIÇÕES - PRESSÃO DO PARTIDO PARA ADOTAR POSTURA DIVERSA DA PREVISTA NO ESTATUTO - FALTA DE PROVA - JUSTA CAUSA NÃO CONFIGURADA -PEDIDO PROCEDENTE.

(MATÉRIA ADMINISTRATIVA n° 487, Acórdão n° 22361 de 05/08/2008, Relator(a) Juiz ODSON CARDOSO FILHO, Publicação: DJE - Diário de JE, Tomo 149, Data 14/08/2008).

É certo que o TSE possuía entendimento contrário, como é o caso do Agravo Regimental em Petição n° 26864, Acórdão de 11/02/2010, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 47, Data 10/3/2010, Página 12.

Porém, mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal proferiu decisão em que entendeu que, celebrada aliança para disputar o pleito, a ordem de' f

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suplência a ser respeitada é a estabelecida considerando-se a formação da coligação. Eis o teor da ementa do referido acórdão:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. CONSTITUCIONAL. SUPLENTES DE DEPUTADO FEDERAL. ORDEM DE SUBSTITUIÇÃO FIXADA SEGUNDO A ORDEM DA COLIGAÇÃO. REJEIÇÃO DAS PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE ATIVA E DE PERDA DO OBJETO DA AÇÃO. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A legitimidade ativa para a impetração do mandado de segurança é de quem, asseverando ter direito líquido e certo, titulariza-o, pedindo proteção judicial. A possibilidade de validação da tese segundo a qual o mandato pertence ao partido político e não à coligação legitima a ação do Impetrante. 2. Mandado de segurança preventivo. A circunstância de a ameaça de lesão ao direito pretensamente titularizado pelo Impetrante ter-se convolado em dano concreto não acarreta perda de objeto da ação 3. As coligações são conformações políticas decorrentes da aliança partidária formalizada entre dois ou mais partidos políticos para concorrerem, de forma unitária, às eleições proporcionais ou majoritárias. Distinguem-se dos partidos políticos que a compõem e a eles se sobrepõe, temporariamente, adquirindo capacidade jurídica para representá-los. 4. A figura jurídica derivada dessa coalizão transitória não se exaure no dia do pleito ou, menos ainda, apaga os vestígios de sua existência quando esgotada a finalidade que motivou a convergência de vetores políticos: eleger candidatos. Seus efeitos projetam-se na definição da ordem para ocupação dos cargos e para o exercício dos mandatos conquistados. 5. A coligação assume perante os demais partidos e coligações, os órgãos da Justiça Eleitoral e, também, os eleitores, natureza de superpartido; ela formaliza sua composição, registra seus candidatos, apresenta-se nas peças publicitárias e nos horários eleitorais e, a partir dos votos, forma quociente próprio, que não pode ser assumido isoladamente pelos partidos que a compunham nem pode ser por eles apropriado. 6. O quociente partidário para o preenchimento de cargos vagos é definido em função da coligação, contemplando seus candidatos mais votados, independentemente dos partidos aos quais são filiados. Regra que deve ser mantida para a convocação dos suplentes, pois eles, como os eleitos, formam lista única de votações nominais que, em ordem decrescente, representa a vontade do eleitorado. 7. A sistemática estabelecida no ordenamento jurídico eleitoral para o preenchimento dos cargos disputados no sistema de eleições proporcionais é declarada no momento da diplomação, quando são ordenados os candidatos eleitos e a ordem de sucessão pelos candidatos suplentes. A mudança dessa ordem atenta contra o ato jurídico perfeito e desvirtua o sentido e a razão de ser das coligações. 8. Ao se coligarem, os partidos políticos aquiescem com a possibilidade de distribuição e rodízio no exercício do poder buscado em conjunto no processo eleitoral. 9. Segurança denegada.

(MS 30260, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado epí

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27/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-166 DIVULG 29-08-2011 PUBLIC 30-08-2011 RTJ VOL-00220- PP-00278 - original sem grifos).

No mesmo sentido, ARE 728180 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 18/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-160 DIVULG 15-08-2013 PUBLIC 16-08-2013.

Assim, o interesse jurídico e, portanto, a legitimidade para a propositura da ação, é do suplente que viria a ocupar a vaga em caso de procedência do pedido, que, de acordo com as normas eleitorais, é o suplente da coligação.

Por essas razões deve ser rejeitada a prefaciai.

2. O Diretório Estadual do Partido da República (PR) arguiu sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da ação.

Afirma que a jurisprudência reconhece a legitimidade das instâncias municipais para propor a ação, que são as interessadas imediatas.

De fato, enquanto o art. 11, parágrafo único, da Lei n. 9.096/1995 estabelece que os partidos podem ser representados nos Tribunais Regionais Eleitorais pelos delegados credenciados pelos órgãos de direção estadual e nacional - excluindo, assim, os órgãos de direção municipais - os Tribunais Eleitorais vêm reconhecendo a legitimidade dos diretórios municipais para propor as ações que tratam da infidelidade partidária.

Cito a decisão proferida pelo TSE no AgR-AC - Agravo Regimental em Ação Cautelar n. 45624 Montenegro/RS, Acórdão de 28/06/2012, Relator Min. Henrique Neves da Silva, cuja ementa diz o seguinte:

AÇÃO CAUTELAR. INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. RECURSO ESPECIAL ADMITIDO. PRESSUPOSTOS PARA CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA. PLAUSIBILIDADE. LIMINAR DEFERIDA.

1. Não há plausibilidade em relação à preliminar de ilegitimidade ativa. Os partidos políticos são representados pelos Diretórios Estaduais perante o Tribunal Regional Eleitoral (Lei n° 9.096, de 1995, art. 11). Isso não impede, contudo, que o Diretório Municipal também possa propor a ação prevista na Res.-TSE n° 22.610, de 2007 quando o cargo almejado é municipal. Precedentes.

2. A legitimidade concorrente do Diretório Municipal e do Diretório Estadual para requerer o mandato municipal não implica na dobra do prazo previsto no art. 1o da Res.-TSE 22.610, de 2007.

(...)

(original sem grifos) n — - "

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Embora o precedente diga respeito à legitimação ativa, entendo que é aplicável também ao polo passivo da ação de decretação de perda de mandato eletivo.

Imprescindível, nessas ações, caso tenha o mandatário migrado para outra sigla, sua citação, pois há litisconsórcio passivo necessário entre o parlamentar e a nova agremiação. Todavia, não é obrigatória a presença de mais de uma esfera partidária no polo passivo da ação, bastando que à agremiação seja garantido o exercício do direito de defesa, uma vez que a perda do mandato pelo parlamentar também a afeta.

No caso concreto, houve um pedido do autor da ação, deferido pelo Juiz Alcides Vettorazzi, de que fossem citados o órgão estadual e o municipal.

Tendo em vista a existência de legitimidade concorrente, segundo entendimento já sedimentado na Justiça Eleitoral, não há como declarar o diretório estadual parte ilegítima para figurar no polo passivo, razão pela qual o pedido foi deferido.

Ademais, qualquer provimento nesse sentido seria irrelevante para o deslinde da causa, além de a decisão proferida pelo relator originário não ter causado qualquer prejuízo aos requeridos, que, pelo contrário, tiveram oportunidade de defesa ampliada com a possibilidade de participação da esfera partidária superior no feito.

Dito isso, voto por rejeitar a preliminar.

3. Prescrição.

De acordo com os requeridos, como a desfiliação ocorreu no dia 8 de abril de 2015, o interessado teria que propor a ação até o dia 7 de junho de 2015, nos termos do art. 1o, § 2o, da Resolução TSE n. 22.610/2007. No entanto, a inicial foi protocolizada somente no dia 8 de junho, razão pela qual teria ocorrido a prescrição.

A jurisprudência eleitoral firmou-se no sentido de que os prazos previstos na Resolução TSE n. 22.610/2007 para a propositura da ação de decretação de perda de mandato eletivo possuem natureza decadencial (TSE. Consulta n° 1503, Resolução n° 22907 de 19/08/2008, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 10/12/2009, Página 12 RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume 20, Tomo 4, Data 19/8/2008, Página 309).

Por essa razão, rejeito a preliminar de prescrição

4. Decadência. í t /

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De outro lado, de ofício, examino, sob os mesmos argumentos, a configuração da decadência.

Estabelece a Resolução TSE n. 22.610/2007:

Art. 1o - O partido politico interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa.

§ 1 o - ( - )

§ 2o - Quando o partido político não formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da desfiliação, pode fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subsequentes, quem tenha interesse jurídico ou o Ministério Público Eleitoral.

(...)

Desses dispositivos extrai-se que a ação pode ser proposta pelo partido político no prazo de 30 dias, contado da desfiliação, e pelo Ministério Público Eleitoral e pelos que tenham interesse jurídico, nos 30 dias subsequentes.

A respeito da desfiliação, preconiza o art. 21 da Lei n. 9.096/1995:

Art. 21. Para desligar-se do partido, o filiado faz comunicação escrita ao órgão de direção municipal e ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito.

Parágrafo único. Decorridos dois dias da data da entrega da comunicação, o vínculo torna-se extinto, para todos os efeitos.

No caso em exame, de acordo com os documentos das fls. 12 e 64, a antiga agremiação e a Justiça Eleitoral foram comunicadas da desfiliação em 8 de abril de 2015. De acordo com o parágrafo único do art. 21 antes transcrito, decorridos dois dias o vínculo partidário tornou-se extinto, ou seja, a desfiliação ocorreu, na verdade, em 10 de abril de 2015. Logo, o Partido dos Trabalhadores poderia propor a ação de decretação da perda do cargo eletivo até o dia 10 de maio daquele ano. Encerrado o prazo para a grei partidária, abriu-se o prazo para a propositura da ação pelo Ministério Público e pelo interessado jurídico, que se encerrou em 9 de junho de 2015.

A inicial foi protocolizada em 8 de junho de 2015, dentro, portanto, do prazo previsto no § 2o do art. 1o da Resolução TSE n. 22.610/2007.

Entretanto, a ação foi proposta apenas contra o vereador, não promovendo o autor, na inicial, a citação do partido político para o qual o mandatário migrou, litisconsorte passivo necessário. Muito embora essa providência tenha sido / , requerida posteriormente, em cumprimento à determinação do Relator, o prazo ;

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decadencial já havia escoado, o que impõe a extinção da ação, nos termos do disposto no art. 269, IV, do CPC.

Nesse sentido, o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:

Pedido de perda de cargo eletivo. Infidelidade partidária. Decadência.

- Decorrido o prazo estipulado na Res.-TSE n° 22.610/2007, sem a citação do partido, que detém a condição de litisconsorte passivo necessário, deve o processo ser julgado extinto, em virtude da decadência.

Agravo regimental não provido.

(Agravo Regimental em Recurso Ordinário n° 102074, Acórdão de 09/10/2012, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 23/10/2012, Página 7-8 -original sem grifos).

Pedido de perda de cargo eletivo. Citação. Partido.

1. Nos processos de perda de cargo eletivo, o partido - ao qual o parlamentar tenha se filiado - detém a condição de litisconsorte passivo necessário, em conformidade com o art. 4o da Res.-TSE n° 22.610/2007, o qual estabelece que "o mandatário que se desfiliou e o eventual partido em que esteja inscrito serão citados para responder no prazo de 5 (cinco) dias, contados do ato da citação".

2. Conforme já decidido no Recurso Ordinário n° 2.204, "decorrido o prazo estipulado na Res.-TSE n° 22.610/2007, sem a citação de litisconsorte passivo necessário, deve o processo ser julgado extinto".

Agravo regimental a que se nega provimento.

(Agravo Regimental em Representação n° 169852, Acórdão de 18/09/2012, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE -Diário de justiça eletrônico, Tomo 196, Data 09/10/2012, Página 16).

Confirmando esse posicionamento, embora reconhecendo que nas situações analisadas não havia ocorrido a decadência, os seguintes julgados mais recentes: Petição n° 90023, Acórdão de 19/12/2014, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Relator(a) designado(a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 45, Data 06/03/2015, Página 64/65; e Recurso Especial Eleitoral n° 23517, Acórdão de 06/08/2015, Relator(a) Min. LUIZ FUX, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Volume -, Tomo 175, Data 15/09/2015, Página 62/63.

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Considerando que na hipótese em julgamento, na inicial, o requerente apenas mencionou que haveria notícia de que o vereador teria se filiado ao PR, mas não requereu a citação da agremiação (fls. 2-7), o que veio a fazer apenas em 22 de junho (fl. 16), quando já expirado o prazo previsto no § 2o do art. 1o da Resolução TSE n. 22.610/2015, deve ser reconhecida a decadência, extinguindo-se a ação com resolução de mérito, nos termos do disposto no art. 269, IV, do Código de Processo Civil.

Ante o exposto, voto por extinguir o processo com resolução de mérito, nos termos do disposto no art. 296, IV, do CPC, em razão de estar configurada a decadência.

É o voto.

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EXTRATO DE ATA

PETIÇÃO N° 77-12.2015.6.24.0000 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA - CARGO - VEREADOR - PEDIDO DE CASSAÇÃO/PERDA DE MANDATO ELETIVO - 90a ZONA ELEITORAL - CONCÓRDIA (LINDÓIA DO SUL) RELATOR: JUIZ ALCIDES VETTORAZZI

REQUERENTE(S): RODINEI LÓSS ADVOGADO(S): GUSTAVO HENRIQUE SERPA REQUERIDO(S): LINDOMAR PEDROSO; PARTIDO DA REPÚBLICA; PARTIDO DA REPÚBLICA DE LINDÓIA DO SUL ADVOGADO(S): GISLAYNE MARIA RUIZ; ARIANA SCARDUELLI; PATRÍCIA BRAZ GARCIA

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ ANTONIO DO RÊGO MONTEIRO ROCHA PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL

Decisão: à unanimidade, rejeitar as preliminares e, de ofício, extinguir o processo com resolução de mérito, em razão da decadência, nos termos do voto do Relator substituto. Foi assinado o Acórdão n. 31151. Presentes os Juízes Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Vilson Fontana, Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli, João Batista Lazzari, Davidson Jahn Mello e Ana Cristina Ferro Blasi.

SESSÃO DE 22.01.2016.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2016 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,

, Coordenador de Sessões, lavrei o presente termo.


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