BACTÉRIAS: DA MICROBIOTA
NORMAL A PATOGENICIDADE
E VIRULÊNCIA
GIROLAMO FRACASTORO
Médico italiano em 1546 definiu que o contágio ocorria:
1) Pelos contatos;
2) Através de fômites
ou objetos
3) A distância
(através do ar).
POSTULADOS DE ROBERT KOCK
(Descritos por volta de 1875)
1) Um microrganismo específico deve sempre está associado a uma doença
2) O microrganismo deve ser isolado e cultivado em cultura pura, em condições laboratoriais
3) A cultura pura do microrganismo produzirá a doença quando inoculada em animal susceptível
4) É possível recuperar o microrganismo inoculado do animal infectado experimentalmente
(Em 2009)
1) Nem todos os microrganismos estão
associados a doenças
2) Nem todos são isolados em culturas
tradicionais
3) Nem todos produzem doenças em
animais experimentais
4) Conseqüentemente nem todos são
isolados de animais experimentais
MICROBIOTA NORMAL
O corpo humano é continuamente habitado por vários microrganismos diferentes, em sua maioria bactérias que, em condições normais e em um indivíduo sadio, são inofensivos e podem até ser benéficos.
Comensal: organismos que se alimentam juntos
Órgãos e sistemas internos são estéreis, incluindo o baço, o pâncreas, o fígado, a bexiga, o SNC e o sangue.
Récem-nascido sadio adquire sua microbiota normal a partir da alimentação e do ambiente (canal do parto), incluindo outros seres humanos.
Microbiota (flora) normal sofre influência de vários fatores, como:
- constituintes e o número da microbiota varia em diferentes áreas do corpo e em diferentes idades.
- quantidade e o tipo de nutrientes
- pH
Essa microbiota implantada no organismo humano, é simbiótica e beneficia o organismo.
Benefícios referentes a constituição da microbiota normal
Apresenta uma ação defensiva quando a microbiota está
equilibrada por exemplo: Microbiota intestinal composta por Escherichia coli
protege o intestino contra infecções causadas por Salmonella, a mesma protege contra infecções causadas por Clostridium difficile.
Porém o desequilíbrio causado por fontes diversas como exemplo, uso de antibiótico, pode resultar em manifestações que resultem no quadro de doença.
Ativação Imunológica
Tipos de Microbiota Normal
RESISTENTES OU PERMANENTES (colonizadora)
São aquelas caracterizadas por uma permanência longa, geralmente de meses a anos. Uma vez eliminada, reconstitui-se rapidamente. Colonizam as camadas mais profundas da epiderme e são mais resistentes à remoção pelas técnicas de higienização.
É composta por bactérias normalmente presentes na superfície cutânea: estafilococos, difteróides e micrococos.
Tipos de Microbiota Normal
TRANSITÓRIAS OU TRANSIENTES (contaminante)
São aquelas que colonizam o hospedeiro por um tempo mais curto, apresentando tendência a ser substituída pela forma RESISTENTE, por meio de competição, resposta imune do hospedeiro, entre outros. Colonizam camadas mais superficiais e são, geralmente, removíveis pela higiene com água e sabão ou destruídos/inativados pelo uso de anti-sépticos.
São geralmente adquiridos durante o cuidado aos pacientes e estão relacionados freqüentemente às infecções hospitalares. Estafilococos aureus, enterococos, bactérias Gram-negativas, fungos e vírus.
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (PELE)
# Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (10-40%)
- vulva, fossas nasais e portadores de dermatoses
Staphylococcus epidermididis ( 90%)
Streptococcus spp. (irregular) – S.pyogenes
Staphylococcus saprophiticus
- infecções urinárias em mulheres jovens
# Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp. (++)
Propionibacterium acnes
- atividade secretora da gg. sebáceas
Eritrasma por Corynebacterium minutissima.
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (CONJUNTIVA)
# Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (irregular)
Staphylococcus epidermidis (comum)
Streptococcus spp.(irregular)
# Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium xerosjs (comum)
# Cocos Gram-negativos:
Moraxella e Neisseiria spp. (comum)
Haemophillus spp. (irregular)
# Bastonetes Gram-negativos:
Escherichia coli (irregular)
Proteus mirabilis (irregular)
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (BOCA e FARINGE) # Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (comum)
Staphylococcus epidermidis (comum)
Streptococcus spp.(proeminente)
Enterococcus spp.(irregular)
# Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp. (comum)
# Cocos Gram-negativos:
Neisseria ssp. (comum)
Haemophillus spp. (irregular)
# Bastonetes Gram-negativos: Pseudomonas aeruginosa (irregular), Escherichia coli (irregular) e Proteus mirabilis (irregular)
Indivíduos em tratamento com antibióticos β-lactâmicos
- Colonização por Klebsiella pneumoniae, E. coli,
Pseudomonas aeruginosa e Staphilococcus aureus.
- Supressão da microbiota normal da região oral
- Riscos de gravidade: doenças periodontais e endocardites
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (INTESTINOS)
Número de bactérias 10x maior que o número de células.
Cerca de 500 espécies
Luz intestinal (delgado e grosso), camada de muco e epitélio
A flora intestinal se estabiliza aos 2 anos de idade.
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (INTESTINOS) # Bacilos Gram-negativos (principalmente Enterobactérias)
Escherichia coli (proeminente)
Proteus mirabilis (comum)
Pseudomonas aeruginosa (comum)
# Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp. (comum)
Clostridium tetani (irregular)
# Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (proeminente)
Staphylococcus epidermidis (comum)
Componentes da flora intestinal
Regularmente benéfico
- lactobacilos, estreptococos lácticos, bifidobactérias
- Aumenta resistência à colonização e defesa imune, produção de vitaminas, inativação de cancerígenos e transformação de colesterol.
Nem sempre benéfico
- Enterobactérias e enterococos
- Infecção x aumento de defesa imune
Nocivo
- Clostrídeos e bactérias sulforedutoras (toxinas e H2S)
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (VAGINA)
Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus spp. (comum)
Streptococcus spp. (comum)
Enterococcus spp. (comum)
Bacilos Gram-positivos:
Lactobacilos (proeminente)
Bacilos Gram-negativos:
Escherichia coli, Klebsiella spp. , Proteus mirabilis,
Pseudomonas aeruginosa (comum)
MICROBIOTA NORMAL DO CORPO HUMANO (URETRA)
Cocos Gram-positivos:
Staphylococcus aureus (irregular)
Staphylococcus epidermidis (proeminente)
Streptococcus spp. (comum)
Bacilos Gram-positivos:
Corynebacterium spp. (comum)
Bacilos Gram-negativos:
Escherichia coli (comum/irregular)
Proteus mirabilis (comum/irregular)
DETERMINANTES DE PATOGENICIDADE DA MICROBIOTA
1) Virulência
2) Habilidade de crescimento no hospedeiro
3) Reação as defesas imunes do hospedeiro
4) Capacidade de adesão
5) Condições nutricionais em geral
6) Resistência aos antibióticos
7) Resposta bacteriana (síntese de cápsula)
PATOGENICIDADE (PELE)
Staphylococcus epidermidis (colonização de ponta de cateter → sepse)
J. Pediatr. (Rio J.) vol.85 no.1 Porto Alegre Jan./Feb. 2009 / doi: 10.1590/S0021-75572009000100014 Camila MarconiI; Maria de Lourdes Ribeiro de Souza da CunhaII; João C. LyraIII; Maria R. BentlinIV; Jackson E. N. BatalhaV; Maria
Fátima SugizakiII; José E. CorrenteVI; Lígia M. S. S. RugoloIV
Utilidade da cultura da ponta de cateter no diagnóstico de infecção neonatal
PATOGENICIDADE (PELE)
Staphylococcus aureus
* Abscessos
* infecções de feridas operatórias
* furúnculo →
Streptococcus pyogenes
← * Escarlatina
PATOGENICIDADE (OCULAR)
Staphylococcus aureus
* conjutivite →
Neisseria gonorrhoeae
← * conjuntivite
Arq. Bras. Oftalmol. vol.65 no.3 S o Paulo June 2002
doi: 10.1590/S0004-27492002000300007
Microbiota aeróbia conjuntival
nas conjuntivites adenovirais Ocular flora in adenoviral conjunctivitis
Eliane Mayumi Nakano / Denise de Freitas / Maria Cecília Zorat Yu / Lênio Souza Alvarenga / Ana Luisa Hofling- Lima
* A conjuntivite adenoviral causa uma modificação na microbiota conjuntival ocular e em sua vigência as culturas conjuntivais têm índice de positividade maior. Isto invalida o exame como comprovação etiológica. Os achados também não mostram correlação com a evolução clínica.
PATOGENICIDADE (BOCA)
Staphylococcus aureus
* Abscesso (mandíbula)→
PATOGENICIDADE (FARINGE)
Streptococcus pyogenes
← * Faringite
PATOGENICIDADE (FOSSAS NASAIS)
Staphylococcus aureus
* Portadores assintomáticos
-- furúnculos
Streptococcus pneumoniae
← * inflamações de fossas nasais
Pneumonias
PATOGENICIDADE (INTESTINO)
Staphylococcus aureus
* Enterotoxinas produzidas em alimentos
(Intoxicação alimentar)
O MUNDO DAS DOENÇAS INFECCIOSAS
Historicamente são causa de mortes, não apenas limitando
melhorias no conforto pessoal, mas também impedindo o avanço do bem-estar social e geral.
Somente no século 20 as melhorias das condições de vida, sanitarismo e intervenção médica tiraram as sociedades das conseqüências destas doenças.
Década de 50 = sucessos da medicina e da saúde pública pareciam tão impressionantes que os mais renomados cientistas estavam propensos a predizer a conquista das doenças infecciosas e a erradicação das “pestes” como causa de miséria da face do planeta.
O MUNDO DAS DOENÇAS INFECCIOSAS
Em 1969 William H. Stewart
“É o momento de fechar o livro
sobre doenças infecciosas” (diretor nacional de saúde dos EUA)
Infelizmente estes sábios homens subestimaram muito a capacidade de adaptação das multifárias formas de vida que compartilham o planeta conosco.
Como resultado a lista de doenças infecciosas novas e reemergentes é longa e ainda crescente.
ANTIMICROBIANOS Sulfonamidas (1913) – eram usadas como
corantes – Gerhard Domagk (1932) – sulfamidocrisoidina foi utilizada em infecções
de camundongos. E utilizado, com sucesso, pela primeira vez em humanos, na própria filha
(infecção estreptocócica grave).
Penicilina (1928) – Alexander Fleming notou que uma o crescimento de uma cultura de Staphylococcus aureus teria sido inibida ocasionalmente pelo fungo Penicillium.
BENEFÍCIOS DA MICROBIOTA NORMAL
Grande quantidade de bactérias saprófitas no intestino e na boca dificulta a instalação de um patógen
Colonização do recém-nascido é um estímulo para o desenvolvimento do sistema imune
Bactérias intestinais são produtoras de vitamina K, e auxiliam na digestão e absorção de nutrientes
BENEFÍCIOS DA MICROBIOTA NORMAL
Dos probióticos mais conhecidos fazem parte espécies de bactérias intestinais como a Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus, Bifidobacterium longum, Bifidobacterium bifidum. Cada um destes probióticos tem funções específicas, mas a sua interacção potencia os benefícios de cada espécie.
MALEFÍCIOS DA MICROBIOTA NORMAL
Microrganismos deslocados do seu sítio normal no corpo humano (Ex: S. epidermidis em cateter)
Quando patógenos potenciais ganham vantagem competitiva devido a população diminuída de competidores inofensivos (Clostridium difficile)
Quando algumas substâncias alimentares inofensivas comumente ingeridas são convertidas em derivados carcinogênicos pelas bactérias no colo (Ex: ciclamato – cicloeximida)
Pacientes imunocomprometidos – microbiota normal pode multiplicar em excesso e causar infecções.
CATEGORIAS DE DOENÇAS INFECCIOSAS:
Doença comunicável: transmitida de uma fonte externa, animada ou inanimada, a um paciente.
Doença contagiosa: transmitida de paciente para paciente
Doença infecciosa: causada por um agente externo que replica ou multiplica
CATEGORIAS DE DOENÇAS INFECCIOSAS:
Infecção iatrogênica: produzida por intervenções médicas
Infecção nosocomial: adquirida em uma instituição de cuidados de saúde
Infecção oportunista: Infecção em um paciente com defesas comprometidas por um agente de baixa virulência que não produziria infecção em um paciente normal
Infecção subclínica: Infecção que produz uma resposta imunológica, mas sem sintomas clínicos
( também chamada de infecção assintomática).
CONCLUSÕES: Complexo Burkholderia cepacia e Stenotrophomonas
maltophilia – bactérias de microbiota normal em vias aeréas superiores → podem causar pneumonias em pacientes imunocomprometidos .
Pseudomonas aeruginosa – microbiota normal de fezes → envolvida em vários tipos de infecções hospitalares
Staphylococcus aureus – profissionais de saúde portadores em fossas nasais devem ser descolonizados para dimimuir a prevalência de infecções em pacientes hospitalizados.
Enterococcus spp. – microbiota normal de fezes e irregular em orofaringe → infecções de ferida cirúrgica.
CONCLUSÕES:
A lavagem das mãos pelos profissionais de saúde é indispensável.
Mesmo que se inicie a terapia antimicrobiana monitorar o tratamento com cultura e exames complementares
A capacidade dos microrganismos em adquirir resistência a antimicrobianos jamais se esgotará
Usar racionalmente os antimicrobianos para evitar a seleção de estirpes multiresistentes
“Nunca sem boas razões admita um microrganismo como contaminante porque ele não é um patógeno aceito.”
“Nunca sem boas razões aceite um microrganismo como a causa necessária de uma doença infecciosa meramente porque é um patógeno aceito.”
** Principais armas contra a infecção hospitalar:
LAVAGEM (CORRETA) DAS MÃOS
USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS
BACTÉRIAS: DA MICROBIOTA NORMAL A PATOGENICIDADE Professora Zilka Nanes (Universidade Estadual da Paraíba)