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O Conselho e os juros sobre capital próprio

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O Conselho e os juros sobre capital próprio

Por Roberto Goldstajn

A

flexibilidade e a tecnicidade dos tribunais administrativos, em especial a Câmara Superior de Recursos

Fiscais (CSRF) e o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), vem merecendo amplo destaque

nas discussões tributárias. Os mencionados órgãos têm possibilitado aos contribuintes oportunidades

para discutirem seu legítimo direito de planejar a administração de seu caixa até o último momento

antes do julgamento de seus pleitos evitando discussões junto aos órgãos judicantes.

Vale reforçar o conceito de planejamento tributário que, nesses casos, é a ação empresarial que inibe

e/ou posterga a ocorrência de fatos geradores por meio de práticas de caráter eminentemente

corporativas e legítimas. Nessa linha de raciocínio, os tribunais administrativos têm decidido

reiteradamente pela ocorrência de simulação, caso não reste comprovado o objetivo empresarial da

operação.

Dentre as discussões em destaque, o Carf trouxe à tona uma nova tendência jurisprudencial sobre o

direito de dedução de despesas com juros sobre o capital próprio transferidos aos acionistas das

empresas sujeitas à tributação pelo lucro real para apuração do Imposto sobre a Renda de Pessoa

Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

capital Carf deve buscar a essência na natureza contábil dada aos juros sobre o O

Destaca-se que o posicionamento majoritário anterior assegurava às empresas a possibilidade de

contabilizar retroativamente despesas incorridas com juros sobre o capital próprio e deduzi-las das

bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, sob o argumento de que não havia limite temporal para fruição

desse benefício fiscal, desde que respeitados os critérios e os limites estabelecidos pela legislação

vigente. Nesse ínterim, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por ocasião do julgamento do Recurso

Especial nº 1.086.752/PR, também se manifestou favoravelmente à possibilidade de dedução retroativa

dessas despesas, sob a alegação de que a Lei nº 9.249, de 1995, jamais impôs qualquer restrição nesse

sentido.

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Como se vê, o cenário jurisprudencial nas esferas administrativa e judicial indicava um desfecho

favorável aos interesses das empresas, o que transmitia certa segurança para a dedução retroativa das

despesas incorridas com juros sobre o capital próprio nas bases de cálculos do IRPJ e da CSLL.

Todavia, o Carf, contrariando as expectativas de todos, modificou o entendimento majoritário sobre a

matéria ao asseverar que "os juros sobre o capital próprio, como, de regra, as demais despesas, somente

podem ser levados ao resultado do exercício a que competirem" (Processo nº 19515.001145/2004-98).

Dito raciocínio está em consonância com o disposto no caput do artigo 29 da Instrução Normativa nº 11,

de 1996, da Receita Federal do Brasil, in verbis: "Artigo 29 - Para efeito de apuração do lucro real,

observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os juros pagos ou creditados

individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio,

calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros

de Longo Prazo (TJLP)".

Também vale a pena transcrever os ensinamentos do ilustre professor Edmar Oliveira Andrade Filho,

extraído de sua obra "Imposto de Renda das Empresas" (Editora Atlas, 2006): "(...) o período da

competência do encargo relativo aos juros sobre o capital é aquele em que ocorre a deliberação de seu

pagamento ou crédito de forma incondicional. Sem essa deliberação a sociedade não se obriga (não

assume a obrigação) e o sócio ou acionista nada pode exigir por absoluta falta de título jurídico que

legitime a sua pretensão. Do ponto de vista fiscal, é no momento (período) em que o valor dos juros é

imputado ao resultado do exercício que o sujeito passivo deverá observar os critérios e limites existentes

segundo o direito aplicável. Portanto, é fora de dúvida que enquanto não houver o ato jurídico que

determine a obrigação de pagar os juros não existe a despesa ou encargo respectivo e não há que se

cogitar de dedutibilidade de algo ainda inexistente (...)".

E, finalmente, convém lembrar que, conforme lição de L.C. Fabretti, "a dedução dos juros sobre o capital

próprio tem como objetivo de compensar a extinção da correção monetária de balanços, que visava

eliminar o efeito das perdas inflacionárias no patrimônio líquido e diminuir do lucro a parte referente à

inflação do período, sendo proibida a partir da Lei nº 9.249, de 1995" ("Contabilidade Tributária", 6ª

edição, Editora Atlas).

Com isso, o Carf deve buscar a essência na natureza contábil dada aos juros sobre o capital próprio,

nesse caso similar à correção monetária dos balanços, antes de bater o martelo sobre essa discussão.

Diante desse cenário, resta evidente a necessidade de cautela por parte das empresas para usufruir o

direito de dedução de despesas com juros sobre o capital próprio transferidos aos acionistas das

empresas sujeitas à tributação pelo lucro real para apuração do IRPJ e da CSLL e, consequentemente,

garantir segurança necessária ao incremento de seus negócios.

Roberto Goldstajn é advogado tributarista em São Paulo

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se

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prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações

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