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2 Fevereiro · 2015

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Clivonei Roberto [email protected]

Luciana [email protected]

CÁ ENTRE NÓS

Em 27 de janeiro de 2015, a cidade de

Sertãozinho, no interior paulista, se

uniu para pedir socorro, especialmen-

te contra as políticas adotadas pelo governo

federal que levam o setor sucroenergético a

uma das crises mais longas de sua história.

Empresários e funcionários da indús-

tria de base, representantes de entidades

patronais e de trabalhadores, comerciantes

e comerciários marcharam juntos para pedir

apoio à retomada da cadeia sucroenergética.

Em polos que oferecem tecnologia

e serviços para a agroindústria canaviei-

ra, como Sertãozinho, Piracicaba, Matão, as

empresas da cadeia contabilizam prejuízos,

pátios ociosos e inúmeras demissões, além

da queda da arrecadação dos municípios.

Há quem diga que esse grito pela reto-

mada do setor veio tarde. Deveria ter acon-

tecido em 2014, ano eleitoral e, por isso,

com mais chances de as reivindicações se-

rem ouvidas. E se fossem atendidas, o remé-

dio talvez ainda chegasse a tempo de salvar

muitas empresas.

Outros dizem que antes tarde do que

nunca. E ainda há os que questionam: o que

acontece após a marcha de Sertãozinho?

A situação não está crítica apenas para

o setor sucroenergético, a Petrobras atra-

vessa o caos. E ao tomar medidas para ali-

viar o caixa da estatal, como não reduzir o

preço dos combustíveis, mesmo com o va-

lor do petróleo despencando; aumentar o

valor da gasolina; e a volta da Cide, o go-

verno acaba minimizando o sufoco do setor

sucroenergético.

Mas são ações tímidas. São necessá-

rias políticas públicas que ofereçam estabili-

dade para promover os investimentos, prin-

cipalmente em bioeletricidade. É nisso que

foca nossa matéria de capa, o setor precisa

muito mais do que lampejos de possibilida-

des para retomar o curso.

E se a realização de marchas de reivin-

dicação contribuir para salvar a agroindús-

tria sucroenergética, então: Pé na estrada.

Vamos para Brasília!

Segundo os organizadores, evento reuniu 15 mil pessoas, parando duas rodovias que cortam a cidade

O setor foi às ruas

Capa

Lampejos no fim do túnel

Holofote- Quando começa a

safra da cana 2015/16?

Insectshow- Uma doença

silenciosa

Soluções Integradas-Setorabraçaodesafio

da máxima produtividade

ÍNDICE

Tendências- As oportunidades e

os investimentos no

Agronegócio Brasileiro

Herbsishow- Manejo de qualidade

Economia- Endividamento e problemas

operacionais marcam

próxima safra sucroenergética

Editores: Luciana [email protected]

Clivonei Roberto [email protected]

Redação: Adair [email protected]

Leonardo [email protected]

MarketingRegina Baldin

[email protected]

Editor gráficoThiago Gallo

Pesquisa & Desenvolvimento- As quatro novas variedades de

cana da Ridesa/ UFSCar são

resistentes às principais doenças

Mecanização- Agricultura de Precisão melhora

qualidade das operações

e aumenta rendimento

Tecnologia Industrial- Na São Manoel, a água vale ouro

Tecnologia- Gerenciamento das partes

interessadas em projetos

Sustentabilidade- A cana mineira

ecológica

Cana Substantivo Feminino- Pré-programação do IV Encontro

Cana Substantivo Feminino

-Debatedoresconfirmados

Aproveite melhor suanavegação clicando em:

Áudio LinkFotosVídeo

Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: [email protected]

www.canaonline.com.br

CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora

6 Fevereiro · 2015

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Safra começa em março

No Paraná, a safra 2015/16 deverá ter

uma produção próxima de 46 mi-

lhões de toneladas e vai começar em mar-

ço. Inclusive, a unidade Jussara, do Gru-

po Melhoramentos, deve começar antes

do dia 15 de março. Se por um lado algu-

masunidadesqueestãocommaisdificul-

dades financeiras vão reduzir um pouco

a moagem, isso será compensado pelos

grupos mais estáveis, que deverão ter sa-

fra maior. A próxima safra deverá ser um

pouco maior do que a última, que foi de

42,949 milhões de toneladas. No ge-

ral, em 2014, o estado não teve pro-

blema de seca. Inclusive usinas

mais ao centro do estado e abaixo

de Maringá tiveram mais chuva

que a média. Mas no nor-

te paranaense, perto da

divisa com São Paulo,

chegamos a ter usina

que sofreu um pouco com a estiagem. Na

média, tivemos uma boa produção no ano

passado.Miguel Tranin, presidente da Alcopar

(Associação dos Produtores de Bionergia do Estado do Paraná)

Início de moagem pode ser postergado

Estamos mantendo nossa previsão de

data para as usinas do Grupo, que é de

14 de abril, mas há possibilidade de iniciar

mais tarde a moagem por causa do desen-

volvimento dos canaviais e

de uma menor dispo-

nibilidade de canas

de 18 meses. A de-

cisão sobre o adia-

mento ou não do

início da moagem ainda está sendo ava-

liada. A previsão de moagem para a pró-

xima safra é de 3,3 milhões de toneladas

na Usina S. João (Araras, SP) e de cerca de

7 milhões de toneladas na SJC Bioenergia

(duas unidades em Goiás).Narciso Bertholdi, diretor executivo

da Usina São João, em Araras, SP

A vertente começa em 15 de abril

A falta de chuva afetou significati-vamente a produtividade e foi um

grande desafio,mas houve uma boa re-

cuperação que contribuiu para a retoma-

da de estabilidade. Por isso, nossa previ-

são é iniciar a safra 2015/16 em 15 de abril

e a expectativa é atingir a marca de 2,2 mi-

lhões de toneladas de cana moída. Na sa-

fra 2014/15 moemos 2 milhões de tone-

lada, nosso recorde.

Resultado de um plano

de expansão iniciado

em 2013 e de cana

bisada que fi-

cou da safra

2013/14, o

que equi-

librou o

8 Fevereiro · 2015

impacto negativo da longa estiagem que

penalizou a lavoura.Hugo Cagno Filho, diretor-

executivo da Usina Vertente, localizada em Guaraci, SP

Expectativa de boa safra

Nossas expectativas para a safra

2015/16 são as melhores, levando-se

ainda em consideração as renovações re-

alizadas em nossos canaviais e a amplia-

ção de nossa área plantada com varieda-

des melhores adaptadas aos nossos solos

e às condições climáticas de nossa região,

acrescido do constante entrosamento dos

gestores com suas equipes, determinando

e acompanhando metas a serem atingidas.

Esperamos, com base em nossos planeja-

mentos, uma safra com significativo au-

mento de produção e melhoria nas nossas

eficiênciasagrícolaeindustrial.Aprevisão

de início é para o dia 20 de abril de 2015,

com término em 31 de outubro de 2015.

Ocorre tradicionalmente nesse período,

diferentemente de outras regiões produ-

toras,pelabaixa incidênciadechuvasna

região nesses meses, facilitando nossa lo-

gística de colheita e

transporte.João Bastos

Colaço, diretor presidente daAgrovale, em

Juazeiro, BA

Tentativa de começar a safra em março

No Mato Grosso do Sul, o principal

foco é a recuperação de produtivida-

de, tanto agrícola quanto industrial. Esses

índices foram afetados por conta dos pro-

blemas climáticos que enfrentamos nas 4

últimas safras. Muitas unidades do esta-

do tentarão iniciar as operações da safra

2015/16 já em março e existe cana dispo-

nível, mas a grande incógnita é o clima. Roberto

Hollanda Filho, presidente

da Biosul-MS (Associação

dos Produtores de Bioenergia

de Mato Grosso do

Sul)

2 de abril

A safra de etanol de milho no Mato

Grosso já está a todo vapor. Já a pri-

meira unidade começa a moer cana no

estado em 2 de abril e as demais ao lon-

godomêsdeabril.Demodogeral,asa-

fra 2015/16 no Mato Grosso será

igual à anterior, com exceção

ao incremento de etanol trazi-

do pela entrada em funciona-

mento da terceira unidade

de grãos do estado.Jorge dos Santos,

diretor executivo do Sindálcool-MT

HOLOFOTE

9

10 Fevereiro · 2015

MG algumas unidades iniciam

na segunda quinzena de mar-

ço e tem unidades que come-

çam só em abril, mas é di-

fícil falar agora. Quem

teve sobra de cana

pode começar mais

cedo. Mas tudo

depende da previsão de chuva. No ano

passado muita usina postergou o início

da safra porque sabia que a produtivida-

de estava baixa.Mário Campos Filho, presidente

executivo da Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG)

Boas expectativas

Na Usina Jalles Machado a previsão de

início da safra é 1º de abril. As nossas

expectativas para o próximo ciclo são boas,

principalmente com a alta no preço do eta-

nol. A estimativa de produção de 4.350.000

toneladas de cana também é maior do

que a safra anterior, que foi de 4.250.000

toneladas. Porém, devido à falta de chu-

vas no mês de janeiro, esperamos uma

pequena queda na

produtividade.Otávio Lage de Siqueira Fi-

lho, diretor pre-sidente da Usina

Jalles Macha-do, situada em Goiané-sia, GO

Dentro da normalidade

A moagem da safra 2014/2015 foi den-

tro das nossas estimativas: tivemos

uma moagem e ATR maior que a safra

2013/2014, e conseguimos manter a pro-

dutividade média, pois tínhamos muita

área de 1° corte. Poderíamos ter tido me-

lhores resultados, pois tivemos os meses

de janeiro e fevereiro de 2014 com o me-

nor índice pluviométrico dos últimos 15

anos, mas não podemos reclamar, pois sa-

bemos que temos regiões que a frustração

foi muito maior. Além do problema da es-

tiagem, o aumento do custo de pro-

dução foi outro fator acontecido

nesta safra. A previsão é de come-

çar a moagem da safra 2015/2016

no início de abril, dentro da

normalidade. Para nós,

até o momento, não te-

remos problema com

disponibilidade de

matéria-prima. A previsão de moagem

para a próxima safra é de 3,8 milhões de

toneladas, 6% superior à última. Isto é só

uma estimativa, sabemos que depende-

mos do fator clima.Rodrigo Piau, engenheiro agrônomo

e coordenador agrícola da Canacampo, de Campo Florido, MG

Ainda é difícil falar

Tenho a impressão de que a safra em

Minas Gerais nesse ano começa no

seu período normal. Historicamente, em

HOLOFOTE

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12 Fevereiro · 2015

Vocêsabiaqueépossívelqueseu

canavial esteja totalmente com-

prometido por uma doença que

muitos não dão atenção devido ao fato

INSECTSHOW

Uma doença silenciosa

Leonardo Ruiz

O RAQUITISMO DAS SOQUEIRAS É UM PROBLEMA BEM MAIOR DO QUE

MUITAS USINAS IMAGINAM. A DOENÇA PODE INFECCIONAR ATÉ 100%

DO CANAVIAL E CAUSAR PREJUÍZOS DE 5% A 30% DA PRODUTIVIDADE

de ela não apresentar sintomas caracte-

rísticosquepermitamsuaidentificaçãono

campo, mesmo para os especialistas mais

experientes? Trata-se do raquitismo das

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BIO

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O raquitismo das soqueiras pode contribuir para a diminuição da longevidade dos canaviais

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Alfredo Seiiti Urashima: “Acredito que seria difícil citar

alguma usina no Brasil que não tenha cana com essa doença”

soqueiras, uma doença que já se instalou

nos canaviais do Brasil e que reduz a pro-

dutividade dos mesmos.

Ocorreque,devidoàausênciadesin-

tomas característicos, uma planta doente

pode dar origem a toletes aparentemente

sadios que serão, posteriormente, usados

na multiplicação de mudas. Segundo le-

vantamentos do Laboratório de Genética

Molecular (LAGEM), da Universidade Fede-

ral de São Carlos (UfSCar), com amostras

de canas enviadas para análise no período

2009-2011, a bactéria Leifsonia xyli subsp.

Xyli, responsável por causar a doença, foi

detectada numa porcentagem que variou

de 23,6% a 27,1% nesses anos.

O professor associado Alfredo Seiiti

Urashima,responsávelpeloLAGEM,afirma

que, possivelmente, a dissemi-

nação nos canaviais brasilei-

ros seja ainda maior, se for le-

vado em consideração que as

amostras examinadas são as

melhores, visto que serão em-

pregadas como matrizes na

produção de mudas (sofrendo

seleção para as mais sadias).

Confirmando essa suposição,

levantamentos sobrea incidênciadado-

ença em canaviais do Espírito Santo, sul da

Bahia e oeste de Minas Gerais, realizados

em 2003 e 2004, mostraram contaminação

de 67,6% dos talhões analisados e em 28

das 34 variedades amostradas. “Acredito

que seria difícil citar alguma usina no Bra-

sil que não tenha cana com essa doença”,

afirmaUrashima.

Estudos apontam que, ao longo dos

últimos anos, o raquitismo das soqueiras

causou quebra de produtividade de até

41% na África do Sul, de 12% a 37% na

Austrália, de 9% a 33% nos Estados Uni-

dos e de 50% na Índia. Considerando es-

ses números, é fácil afirmar que o Brasil

também deve sofrer sua parcela de danos.

Emboranãoexistamtrabalhoscientíficos

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14 Fevereiro · 2015

INSECTSHOW

é bem maior do que muitos imaginam,

principalmente pelo fato de não haver no

mercado variedades resistentes à doença.

“Além disso, nem todas as usinas e pro-

dutores independentes fazem análises dos

materiais a serem empregados como ma-

trizes para produção de mudas. Com isso,

a mecanização, adotada largamente nos

canaviais do Centro-Sul do Brasil, dissemi-

naeficientementeabactériaapartirdeum

único tolete doente presente no campo”.

Características

Os engenheiros agrônomos da área

de Qualidade Fitossanitária do Centro de

Tecnologia Canavieira (CTC), Aline Cristi-

neZavagliaeEnricoDeBeniArrigoni,afir-

mam que, por não apresentar sintomas

evidentes, o raquitismo das soqueiras é

uma doença subestimada que se agrava

com o corte das soqueiras, diminuindo a

produtividade ao longo dos anos, princi-

palmente quando aliado a outros fatores

Devido ao crescimento retardado causado

pelo ataque da bactéria, os entrenós

se tornam mais curtos

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Para Enrico De Beni Arrigoni, do CTC, o raquitismo das soqueiras é uma

doença subestimada

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CTC

que mensurem a quebra de produtivida-

de no país, pesquisadores apontam que as

perdas podem chegar a 30% em TCH.

Outro agravante da doença é rela-

cionado ao aumento do custo de produ-

ção da cana, devido à necessidade de se

realizar reformas antecipadas no canavial,

já que os danos aumentam em função do

númerodecortes,justificandoonomera-

quitismo das soqueiras para a doença.

Urashima ressalta que o problema

15

Pontuações coloridas, conhecidas como vírgulas, podem aparecer em variedades muito suscetíveis

causadores de estresse.

“A doença não apresenta sintomas

evidentes, porém os colmos se tornam

maisfinoseosentrenósmaiscurtos,de-

correntes do crescimento retardado cau-

sado pelo ataque da bactéria. Além disso,

podem ser vistos pontos avermelhados no

interior dos colmos em função do entupi-

mento dos vasos. Porém, esse sintoma não

éespecíficoepodesercausado,também,

por outras bacterioses que atuam em va-

sos, como a Escaldadura das Folhas”. Des-

sa forma, apenas com exames laborato-

riais é possível ter certeza da infestação do

raquitismo das soqueiras.

Com relação à disseminação, os pes-

quisadores do CTC afirmam que, por se

tratar de uma bactéria que coloniza os va-

sos do xilema, a propagação ocorre, prin-

cipalmente, por mudas contaminadas e

instrumentos de corte, como facões e co-

lhedoras que, ao cortar um colmo infecta-

do, acabam levando seiva com a bactéria

para outro colmo sadio.

O pesquisador da UfSCar, Alfredo

Seiiti Urashima, conta que, como não é

possívelidentificaroproblemanocampo

comsegurança,édifícilafirmarquecertas

regiões ou condições

de clima favoreçam

o surgimento da do-

ença. Porém, segun-

do ele, existem rela-

tos que enfatizam que

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Plantas raquíticas com colmos menores e mais finos podem estar entre as características de uma planta atacada pela doença

16 Fevereiro · 2015

os sintomas associados à doença podem

ser mais pronunciados quando a cana está

submetida ao estresse climático (seca, por

exemplo). Entretanto, isso não quer dizer

que plantas que não estejam nessas con-

dições não sofrem com a doença. “Os da-

dos de queda de produtividade nos dife-

rentes países mostram que o raquitismo

das soqueiras causa perda independente

do clima, região ou solo do local”.

Para evitar que a doença se instale

em áreas comerciais, é essencial o uso de

mudas reconhecidamente sadias, sendo

que isso só será obtido através da análise

prévia das canas que fornecerão as gemas.

“Aqui está o ponto principal, pois, geral-

mente, as análises são feitas por amostra-

gem e podem não representar todas as

plantas. Na produção de mudas é funda-

mental que as matrizes estejam todas sa-

dias”, relata Urashima.

Porém, o pesquisador ressalta, ainda,

a importância de uma correta análise. “A

bactéria causadora da doença é fastidiosa,

sendoqueumadasprincipaisconsequên-

cias desse fato é o longo período neces-

sário para a visualização de sua presença

numa cana. Dessa forma, para que o exa-

me laboratorial consiga fazer uma diagno-

se correta, é preciso que a cana tenha ida-

de adulta. Atualmente, o LAGEM/UfSCar,

assim como todos os laboratórios ao redor

do mundo que fazem exame diagnóstico

de rotina (onde grande número de amos-

tras é examinado), emprega a técnica soro-

lógica de seiva de cana, cuja idade mínima

é de nove meses. Se a idade for antecipa-

da existe o risco de se ter falso negativo”.

Controle

Infelizmente, é correto afirmar que

o controle do raquitismo das soqueiras,

uma vez instalado, é quase impossível.

Urashima conta que o combate deve ser

feito através de mudas sadias associada à

termoterapia, empregando as condições

de 50°C/2h. Porém, segundo ele, mesmo

nessas condições, a eliminação da bacté-

ria pode não ser total. “Infelizmente, mui-

tos não fazem tratamento térmico para

erradicar a bactéria dos toletes e mesmo

aqueles que o fazem empregam 52°C/30

min, que apresenta alta taxa de escape, ou

seja, não mata toda a bactéria”. Outra téc-

nica que deve ser utilizada é a desinfesta-

ção dos instrumentos de corte com uso de

calor ou Amônia Quaternária.

Diferença na altura da planta é um dos danos causados pelo raquitismo das soqueiras

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18 Fevereiro · 2015

SOLUÇÕES INTEGRADAS

Cana-soca ganha o reforço de defensivos da BASF que, além de controlarem doenças, pragas e plantas daninhas, contribuem para o aumento de produtividade

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O 1º DESAFIO DE PRODUTIVIDADE DA CANA

CANAMAX CTC/BASF - SOCA DA SAFRA 2014/2015

SUPERA A EXPECTATIVA DE UNIDADES INSCRITAS

Setor abraça o desafio da máxima

produtividade

20 Fevereiro · 2015

SOLUÇÕES INTEGRADAS

Em setembro de 2015, o Centro de

Tecnologia Canavieira (CTC), em par-

ceria com a BASF, lançou o 1º Desa-

fiode ProdutividadedaCanaCANAMAX

CTC/BASF - Soca da Safra 2014/2015. Uma

iniciativa de cunho técnico com o objeti-

vo de incentivar as unidades sucroenergé-

ticas a buscarem superações por meio de

soluções integradas.

Na época, Virgílio Vicino, gerente de

marketingdoCTC,salientouqueoDesafio

visa disseminar que é possível melhorar a

produtividade atual apenas utilizando as

ferramentas que já estão no mercado e

planejando melhor as atividades. E expli-

cou que o CANAMAX pretende criar um

ambiente que estimule as equipes técni-

cas das usinas a ousarem em suas ideias, e

práticas de cultivo inovadoras, que possi-

bilitem extrair o potencial máximo da cul-

tura, com sustentabilidade e rentabilidade.

Carulina Oliveira, gerente de Marke-

ting Cultivos (cana, citros e amendoim) da

BASF, ressaltou que a proposta é convidar

osprofissionais ligadosàáreadeprodu-

ção a colocar seu conhecimento em práti-

Luciana Paiva e Clivonei Roberto

Área de cana-soca com CTC 15, na usina Vertente

(Grupo Guarani), em Guaraci, SP. Unidade

participante do Desafio CANAMAX. Visita realizada

em novembro de 2014

CTC

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ca. “Levaremos para o setor a mensagem

de que é possível alcançar o tão deseja-

do 3 dígitos, produzir acima de 100 tone-

ladas de cana por hectare. Vamos em bus-

ca de superações e consequentemente da

redução no custo por tonelada produzida,

como ocorre em outras culturas”, disse.

Inscrições superam

expectativas

O primeiro módulo do CANAMAX foi

dirigido às áreas de cana-soca e ofereceu

duas categorias:

1. Cana-Soca CTC15

em Solo Restritivo

2. Cana-Soca de CTC2,

4 ou 20 em Solo Responsivo.

As inscrições, dirigidas aos clientes

CTC e BASF, aconteceram entre 01 de se-

tembro a 31 de outubro e a expectativa

era atingir 30 participantes, mas o resulta-

do superou as expectativas, segundo Vir-

gílio, totalizando 41 participantes. Hou-

ve também os que se inscreveram fora

do prazo, não puderam participar e foram

aconselhados a esperar o próximo Desa-

fio,queserálançadoagoraemFevereiro.

Após o encerramento das inscrições

e o anúncio dos participantes, profissio-

nais do CTC e da BASF iniciaram as visitas

às unidades participantes para realizarem

o georreferenciamento das áreas e conferir

Área de cana-soca com CTC 15, na usina São José (Grupo Guarani), em Colina,

SP. Participante do Desafio CANAMAX. Visita realizada em novembro de 2014

CTC

22 Fevereiro · 2015

SOLUÇÕES INTEGRADAS

seatendemàsexigênciascontidasnore-

gulamentodoDesafio,comotalhãodeno

mínimo 20 hectares, cana-soca de até ter-

ceiro corte com as variedades CTC indica-

das, e as áreas de solo restrito e responsivo.

A missão dos participantes é elevar a

produtividade desses talhões. As práticas

de manejo para alcançar a máxima pro-

dutividadeficamacargodosprofissionais

das empresas participantes. É permitido

qualquer espaçamento, manejo ou trato

cultural, menos irrigação com água. Mas é

liberada na área inscrita a fertirrigação por

vinhaça,usodetortadefiltroouqualquer

outro substrato. Também é livre o uso de

qualquer fertilizante ou insumo registrado

para a cultura da cana, de qualquer marca,

desde que utilizado dentro de sua reco-

mendação de rótulo. Já em relação ao uso

de herbicidas e fungicidas, são propostas

as soluções BASF, que devem ser seguidas

conforme o regulamento.

Meta da Usina Mandú é maior

produtividade e longevidade

“Queremos instigar os profissionais

das usinas a participar, a buscar alternati-

vas para produzir melhor”, disse Carulina

no lançamento do CANAMAX, e é o que

está acontecendo na Usina Mandu, unida-

Área de cana-soca com CTC 15, na usina Andrade (Grupo

Guarani), em Pitangueiras, SP. Participante do Desafio CANAMAX. Visita realizada

em novembro de 2014

CTC

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24 Fevereiro · 2015

SOLUÇÕES INTEGRADAS

de do Grupo Guarani, localizada em Gua-

íra, SP. O propósito de atingir o patamar

dostrêsdígitosdeprodutividadeeman-

ter-se nele estimulou a empresa a aderir

aoDesafiopropostopelaBASFepeloCTC.

Segundo o engenheiro agrônomo

Douglas Ogassawara Nakano, responsável

pela Área de Desenvolvimento Técnico da

Mandu, o fato de a BASF e o CTC se uni-

A Mandu aderiu ao CANAMAX e

começou a fazer o acompanhamento

de uma área de cana de 40 hectares

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Área de cana-soca com CTC 4, na usina Nardini,

em Vista Alegre do Alto, SP. Participante do Desafio CANAMAX. Visita realizada

em novembro de 2014

CTC

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remparadesafiarasunidades industriais

de que é possível aumentar a produtivi-

dade é um estímulo para o setor buscar a

sustentabilidade da atividade.

A Mandu aderiu ao CANAMAX e co-

meçou a fazer o acompanhamento de

uma área de cana de 40 hectares a par-

tir do final de outubro do ano passado.

Nakano observa que nesta primeira fase

doDesafio a intenção é adotar tecnolo-

gias e manejos que elevem a produtivida-

de em áreas de cana-soca. “Para isso, uti-

lizamos variedades CTC com ferramentas

como Opera® com efeito AgCelence® para

incremento de produtividade.”

Virgílio Vicino salienta que, ao reali-

zar esse bom manejo operacional, a Man-

du favorece o potencial genético das va-

riedades com alto potencial. Em muitas

variedades mais produtivas podem haver

ocorrênciaeventualdedoenças,asquais

são controladas usando-se de tecnolo-

gia, permitindo que estas variedades con-

tinuem colaborando com o aumento mé-

dio de produtividade.

Na área dedicada ao projeto, a Man-

du fez análise química voltada para agri-

cultura de precisão e realizou todos os

tratos culturais na cana, para colheita em

julho. “Além do nosso pacote tecnológico

existente, sempre investimos em agricul-

tura de precisão”, diz Nakano, destacan-

doqueoGrupoGuaranibuscaaexcelên-

cia operacional em suas atividades. “E, por

isso, sempre contamos com tecnologias

de ponta e ferramentas inovadoras junto

a nossos parceiros.”

A Guarani já investe muito em tecno-

logias que favoreçam a produção, com o

objetivodebuscarexcelênciainternapara

ganho de produtividade, como agricultura

deprecisão.“Por isso,seestaexperiência

comoDesafioCANAMAXforviável,nain-

tençãodecaminharemdireçãoaostrêsdí-

gitos, com certeza vamos aderir às tecno-

logiasaplicadas.Tendoretornofinanceiro

positivo para o Grupo, podemos adotar

como padrão e expandir para áreas comer-

ciaisdetodacompanhia”,afirmaNakano.

Usina São José da Estiva

quer aprimorar suas

práticas e melhorar os

índices de produtividade

O supervisor de planejamento agrí-

cola da Usina São José da Estiva, de Novo

26 Fevereiro · 2015

Horizonte, SP, Marcelo da Rocha, também

elogia o esforço da BASF e do CTC em rea-

lizaremoDesafioCANAMAX.Segundoele,

a Estiva pretende aproveitar sua participa-

çãonoDesafioparaaprimorarsuaspráti-

cas e melhorar os índices de produtividade.

Para o Desafio, a Estiva escolheu

duas áreas de cana-soca em propriedades

diferentes: uma de 22,5 hectares de CTC

20 e outra de 20 hectares de CTC 15. “De-

senvolver conhecimento e técnicas nes-

sa fase da cana-de-açúcar, que representa

em média 80% do tempo de um canavial

(considerando o período entre a fundação

atéareforma),écrucialparaelevarsignifi-

cativamente a produtividade da empresa”,

explica Rocha.

A Estiva já teve médias de produti-

vidade superiores às que tem registrado

ultimamente, e hoje almeja não apenas

retomar os índices que já atingiu, como

superá-los.

Para alcançar o objetivo de explorar

o máximo do potencial da cana-de-açúcar

noDesafioCANAMAX,Rochasalientaque

a Estiva conta com ferramentas de peso:

o suporte tecnológico da BASF e do CTC.

“A BASF é das maiores empresas parceiras

da Estiva. Acreditamos muito nas soluções

que nos oferece. Independente do Desa-

fio,nãoéapenasnesta área selecionada

que utilizamos o sistema AgCelence®, que

SOLUÇÕES INTEGRADAS

São José da Estiva quer superar seus índices

SÃO

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27

além de controlar pragas e doenças, pos-

sibilita ganhos no rendimento industrial.”

Além disso, o supervisor de planejamen-

to agrícola salienta que a Estiva é uma das

unidades que mais utilizam as variedades

CTC no país.

Como a Estiva pretende obter o me-

lhordesempenhopossívelnoDesafioCA-

NAMAX, a unidade está atenta a todas as

técnicasnecessáriasparaconferirexcelên-

cia de produtividade, além de inovar. “Em

umadasáreas,fizemosaplicaçãoaéreade

adubo, complementando a adubação cor-

riqueira. Foi algo além do planejado para

vermos se conseguimos retorno”, explica

Rocha. Esse exemplo, segundo Carulina,

vai ao encontro de um dos objetivos do

CANAMAX: possibilitar que nesses talhões

os técnicos das usinas possam ousar, colo-

car em prática o que pensam ser bom, mas

que nunca tiveram oportunidade de apli-

car em grandes áreas.

O aprendizado será replicado

A colheita das áreas participantes do

1ºDesafioCANAMAXdeveocorrerentre

julho e setembro de 2015. A usina precisa

comunicarcomantecedênciaadatapre-

vista para a colheita, pois será acompa-

nhada pelos técnicos do CTC ou da BASF.

“A colheita dos dois talhões inscritos no

programa será realizada de forma contí-

nua, no mesmo dia, totalmente separada

das demais áreas adjacentes”, explica Vir-

Área de cana-soca com CTC 4, na usina Ruette, em Paraíso, SP. Participante do Desafio CANAMAX. Profissionais do CTC, da BASF e da Ruette em visita realizada em dezembro de 2015

CTC

28 Fevereiro · 2015

SOLUÇÕES INTEGRADAS

O anocomeçacomo2º.DesafioCANAMAXestendidoparaasáreasdeca-na-planta. “É a possibilidade de elevar ainda mais a produtividade, pois as

áreas receberão variedades com alto potencial, manejo e tratos culturais

inovadores desde o início, o que pode não ter acontecido com as áreas de cana-so-

ca, no 1º. CANAMAX”, salienta Virgílio Vicino.

As inscrições para o Desafio de Produtividade CANAMAX CTC/BASF para

Cana-planta vão de 15 de Fevereiro a 30 de Abril de 2015. Podem participar as usi-

nas da região Centro-Sul. A inscrição, disponível a partir de 15 de Fevereiro, se dará

pelosite:www.desafiocanamax.com.br,noqualtambémseencontraoregulamen-

to completo deste novo ciclo do CANAMAX.

gílio. O resultado do 1º Desafio CANA-

MAX será anunciado até 30 de novembro

de 2015.

Todo o aprendizado adquirido na

condução das áreas registradas no Desa-

fioCANAMAXpoderásertransferidopara

o restante das lavouras, se comprovada a

sua viabilidade, sustentabilidade e renta-

bilidade. Assim, tornando-se uma fonte

de inspiração para os vizinhos, e gerando

uma onda positiva de inovação que pode-

rá ser adotada nas áreas comerciais.

Agora é a vez do 2º. Desafio de Produtividade CANAMAX CTC/BASF para cana-planta 2015

CANAMAX - Cana-planta é a oportunidade de empreender inovações desde o preparo do solo

29

TENDÊNCIAS

Em 2050, com uma população de 9,3

bilhões de pessoas, o mundo irá pre-

cisar de uma quantidade 50% maior

de alimentos. Portanto, a necessidade de

Ana Malvestio1 e Luiz Barbosa2

Em 2050, o mundo terá uma população de 9,3 bilhões de pessoas

As oportunidades e os investimentos no Agronegócio Brasileiro

uma ampliação robusta da oferta de pro-

dutos agropecuários, seja para o consu-

mo humano, seja para subsidiar a pro-

dução de proteína animal, ou até mesmo

30 Fevereiro · 2015

para a produção de bioenergia, é urgente

e necessária.

O Brasil é um dos poucos países onde

ainda há muita área para ser incorporada

à produção. Além das áreas de fronteira

agrícola, que ainda estão disponíveis para

serem exploradas, existem áreas que po-

dem ser melhores aproveitadas, como no

caso das áreas de pastagem extensiva ou

pastagem degradada.

Existem cerca de 100 milhões de hec-

tares disponíveis para utilização na agro-

pecuária, de acordo com a Empresa Brasi-

leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),

dos quais 65 milhões de hectares são ap-

tos a usos agrícolas diversos e 35 milhões

de hectares possuem aptidão para pasta-

gens, estando excluídas deste cálculo as

áreas de preservação ambiental, unidades

de conservação e terras do Governo.

Somado à disponibilidade de terras

produtivas, também não se pode esquecer

as excelentes condições brasileiras de cli-

ma, água, relevo e solo, existindo até mes-

moapossibilidadedeocorrênciadeduas

safras ao longo do ano, como no caso do

milho.

Contudo, a exploração de todo esse

potencial do agronegócio brasileiro passa

por relevantes investimentos que propor-

cionem a superação de importantes desa-

fios,comoodetecnologia,essencialpara

TENDÊNCIAS

31

garantir alta produtividade e qualidade; o

de infraestrutura, que possibilite a supera-

ção dos gargalos logísticos e desenvolvi-

mento de áreas de fronteira agrícola e; a

estruturaçãodeumagestãoprofissionali-

zada, que proporcione aos produtores oti-

mização de processos, captação com me-

nores custos e melhoria na margem de

rentabilidade.

Tecnologia

Em relação à tecnologia, a otimiza-

ção dos fatores de produção como terras,

insumos e recursos hídricos, cria oportu-

nidades para o desenvolvimento de novos

produtos e serviços alinhados com a rea-

lidade brasileira de produção e mercado.

Nesse contexto, destaca-se a necessidade

de adoção pelas empresas do agronegó-

cio, desde insumos até a distribuição de

alimentos, de tecnologias que garantam a

origem, qualidade e padrões de produção,

visando assegurar a sustentabilidade e a

segurança dos alimentos. Por isso, ferra-

Para produzir mais na mesma área é preciso ter investimento em pesquisas

32 Fevereiro · 2015

TENDÊNCIAS

mentas que auxiliem na rastreabilidade e

certificaçãodeverãoganharespaço.

Infraestrutura

O investimento em infraestrutura lo-

gística do Brasil será um dos pilares de

sustentação do desenvolvimento do agro-

negócio brasileiro. A melhoria no escoa-

mento da safra, tanto interna como exter-

namenteseconfiguramhojenoprincipal

gargalo do agronegócio brasileiro.

Adicionalmente, as regiões de fron-

Armazenamento é um dos gargalos

33

teira agrícola, localizadas no Norte e Nor-

deste do país, necessitam de suporte e or-

ganização para se desenvolverem, pois

além da falta de infraestrutura relaciona-

da com a própria produção agrícola e es-

coamento da mesma, nessas áreas há ain-

da uma carência de infraestrutura para

atender a população local e a população

migrante que vão para essas regiões em

busca de oportunidades. As regiões de-

mandam negócios como rede de alimen-

tação, moradia, hotéis, escolas, comércio

e outros.

Gestão

Operando cada vez mais em um am-

biente globalizado, produtores e empresas

dos diversos elos da cadeia agroindustrial

devem se adequar aos conceitos de ges-

tão aplicados internacionalmente. Práticas

como gestão de riscos na cadeia de su-

primentos, planejamento tributário, ges-

tão de custos e de capital humano, plane-

jamento estratégico e auditoria contábil e

financeiraestãoentreaspráticasquede-

vem ser incorporadas para o crescimento

sustentável do negócio.

Ainda no campo da gestão, a im-

plantação e melhor aproveitamento de

softwares são essenciais para a moderni-

zação dos negócios, visando ampliar as

vendas e os processos operacionais, redu-

zir custos, automatizar processos, ganhar

agilidadeeseadequarasexigênciasdos

consumidores globais.

Assim, as oportunidades e investi-

mentos abrangem toda a cadeia do agro-

negócio: antes da porteira (insumos), den-

tro da porteira (produção agropecuária)

e depois da porteira (armazenagem, dis-

tribuição e processamento). Além disso,

o desenvolvimento do agronegócio bra-

sileiro gera reações em cadeia, impulsio-

nando a demanda de outros produtos e

serviços e abrindo ainda mais o leque de

possibilidade de negócios no Brasil, com

oportunidades em segmentos que não es-

tão estritamente relacionadas à produção

no campo.

Não há dúvidas que empresas e in-

vestidores dos mais variados segmentos

e países encontrarão oportunidades no

agronegócio brasileiro. É preciso, porém,

entender as peculiaridades desse setor no

Brasil para identificar amelhor formade

atuação e de fato, fazer os investimentos

necessários para que se possa aproveitar

todo o seu potencial.

2Luiz Barbosa, Gerente do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio

1Ana Malvestio, Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas

34 Fevereiro · 2015

HERBISHOW

Manejo de qualidade

Leonardo Ruiz

O CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS É UMA PRÁTICA DE GRANDE

IMPORTÂNCIA PARA GARANTIR A PRODUTIVIDADE DA CULTURA. MAS

SERÁ QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO O MANEJO DA MELHOR FORMA?

Tiririca, grama-seda, brachiárias, cor-

da-de-viola, capim-marmelada, ca-

pim-colchão. Enfim, o portfólio de

espécies de plantas daninhas que infes-

tam os canaviais é imenso. As citadas não

são as únicas que geram dor de cabeça aos

produtores, mas aquelas que podem eclo-

dir em qualquer parte do Brasil. Além des-

A Corda-de-viola é uma das principais espécies de plantas daninhas encontradas no Brasil

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sas, existem, ainda, as espécies que são

mais localizadas, que atacam os canaviais

de determinadas regiões, como o capim-

camalote, problema nos municípios paulis-

tas de Igarapava, Piracicaba, Mococa e Por-

to Ferreira. Já em Itapira, também em São

Paulo, o problema é o capim-massambará.

Caso não esteja atento ao manejo,

oprodutorpode terdanossignificativos.

Lembrando, é claro, que isso depende da

magnitude da infestação. Uma área bas-

tante afetada (10 a 12 daninhas por metro

quadrado) pode ter perdas que chegam a

85%. A longevidade do canavial também

é comprometida, levando o produtor a

ter que reformar a área antecipadamente.

Outros aspectos negativos decorrentes de

grandes infestações são: queda na quali-

dadeindustrialdamatéria-primaedificul-

dade nas operações de corte, carregamen-

to e transporte. Além disso, estas plantas

servem também como hospedeiras de ne-

matoides, doenças e pragas, aumentando

apopulaçãodestasnaculturaedificultan-

do as estratégias de controle das mesmas.

Dessa forma, é importante que o

produtor se muna de ferramentas e técni-

cas para realizar um manejo de qualidade,

Uma área bastante afetada (10 a 12 daninhas por metro quadrado) pode ter perdas que chegam a 85%

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36 Fevereiro · 2015

HERBISHOW

afimdeconseguirconvivercomasplan-

tas daninhas infestantes e obter produtivi-

dades mais elevadas.

PPI

Segundo o pesquisador do Instituto

Agronômico de Campinas (IAC), Carlos Al-

berto Mathias Azania, o manejo de plantas

daninhas pode ser segmentado em dois

fatores: áreas agrícolas muito e pouco in-

festadas. Em áreas de elevada infestação,

a recomendação é que se faça aplicação

em PPI (Pré-Plantio Incorporado), de 60 a

30 dias antes do plantio. “O objetivo aqui

é uma atenuação da pressão do banco de

sementes.”

Ocorre que, durante a fase de prepa-

ro de solo, o revolvimento acaba estimu-

landoaemergênciadeplantasdaninhas,

ou seja, quebrando a dormência da se-

mente. Se o banco for muito intenso, a in-

festação da área será grande. Nessa hora,

é possível aplicar doses maiores de herbi-

cidas, pois não existe a questão da sele-

tividade para com a cultura. “O produtor

deveficaratentoparasaberqualproduto

será aplicado. Um herbicida que dura mais

tempo no solo deve ser utilizado com 60

dias de antecedência. Já os que duram

menos, com 30 dias”. Esse tempo é neces-

sário para que o produto se posicione no

solo, fazendo com que, conforme as dani-

nhas forem eclodindo, elas absorvam os

princípios ativos.

Na hora do plantio, Azania afirma

que o produtor deve fazer uma aplicação

depré-emergênciae, se forocaso,uma

aplicação de complemento antes do fe-

chamento do canavial. “Com isso, os her-

bicidas aplicados em pré ou pós irão ser

mais eficazes, pois não há uma pressão

muito grande de mato.”

A Usina Ester, localizada em Cosmó-

polis, SP, é uma das unidades que adotam

a prática do PPI. Segundo Lucas Tanaju-

ra, coordenador de produção agrícola da

empresa, com o avanço da colheita me-

canizada, a quantidade e a qualidade das

plantas daninhas foram alteradas. Por isso,

foi necessário buscar novas soluções para

combatê-las.

Segundo Carlos Alberto Mathias Azania, a aplicação em PPI (Pré-Plantio Incorporado) tem como objetivo atenuar a pressão do banco de sementes

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Tanajura explica que o PPI era utili-

zado pela maioria das usinas apenas para

aaplicaçãodatrifluralina–moléculamais

indicada para o controle de gramíneas.

Apesar disso, a equipe da Usina Ester en-

xergou no PPI uma ferramenta interessan-

te para combater toda a gama de dani-

nhas incidentes na lavoura.

Segundoele,o índicedeeficiência

no controle de emergência das plantas

daninhas após a aplicação do PPI é muito

positivo. “Começamos um trabalho mais

agressivo em 2013. Não montamos cam-

po de experimentação ainda, mas campos

de observação. Nessas áreas, consegui-

mos um controle satisfatório, eficiente”,

diz ele, lembrando que a técnica permi-

te ainda atrasar um pouco a entrada com

herbicida pós-plantio por conseguir um

residual maior.

O resultado é que a tecnologia su-

prime o banco de sementeiras e de tubér-

culos, havendo redução na necessidade

de mão de obra futuramente para fazer re-

passe ou catação. “É uma ferramenta que

ajuda no controle de custos e no aumen-

to de produtividade, uma vez que as in-

tervenções realizadas através de trabalha-

dores rurais, como repasses com químicos

ecapinas,têmsidocadavezmaisonero-

sas em função dos custos trabalhistas e

da escassez deste trabalhador, que vem

Caso o banco de sementes esteja atenuado, não é necessária uma aplicação antes do plantio; apenas a de pré-emergência será suficiente

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38 Fevereiro · 2015

Para Lucas Tanajura, o resultado é que o

PPI suprime o banco de sementeiras e de

tubérculos, reduzindo a necessidade de mão

de obra para fazer repasse ou catação

HERBISHOW

especializando cada vez mais em outras

funções”.

Outras técnicas

Se, ao longo das soqueiras, o produ-

tor foi mantendo um controle efetivo de

plantas daninhas, ou seja, aplicando os

herbicidas na época correta, seja em pré

oupós-emergência,nahorade reformar

o canavial, o banco de sementes estará

atenuado. Nesse cenário, não é necessá-

ria uma aplicação antes do plantio, apenas

adepré-emergênciaserásuficiente.Lem-

brando que, havendo necessidade, deve-

rá ser realizada uma aplicação de pós-e-

mergênciaantesdofechamento. “Porém,

infelizmente, são poucos os produtores

que fazem aplicações corretas em todas

assoqueirascomodeveserfeito”,afirma

Azania.

Outra técnica utilizada em pequenas

infestações é a catação química, necessária

quando ocorre a eclosão de daninhas es-

paçadas no canavial antes do fechamento

do mesmo. Porém, a fer-

ramenta está caindo em

desuso devido ao fato

de ter se tornado one-

rosa em virtude das legislações. “Sem ela,

teremos que realizar aplicações em pré-e-

mergênciaouempósemáreatotalmuito

bemconduzida”,afirmaAzania.

Já nas áreas de pousio da Usinas

Itamarati, localizada na cidade de Nova

Olímpia, MT, o foco é evitar que as plan-

tas invasoras completem seu ciclo, impe-

dindo, dessa forma, o incremento do ban-

co de sementes. Outro ponto importante,

ressaltado pelo engenheiro agrônomo

da empresa, Rafael Charlier, é não utilizar

mudas de áreas com infestação de plan-

tas, como capim-camalote, Bucha e Mucu-

na, principalmente no plantio mecaniza-

do, em que a colheita da muda pode levar

sementes para novas áreas. “Um canavial

sadio e sem falhas também contribui para

o controle das plantas daninhas”.

Charlier afirma que o manejo de

plantas daninhas é como a construção

de uma casa, a qual precisa ter um alicer-

ce forte, sendo que esse será construído

através do manejo do banco de sementes. A

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39

“Evitar o incremento de sementes ou pro-

págulos de plantas daninhas trazidos de

outras áreas por implementos agrícolas,

colheita ou transporte de mudas e a uti-

lização da aplicação de herbicida residual

em PPI é fundamental no manejo do ban-

co de sementes”.

Produtos

Porém, de nada adianta essas téc-

nicas se o produtor não entender a im-

portância de utilizar o herbicida certo no

momento certo. Segundo o engenheiro

agrônomo da Usinas Itamarati, é funda-

mental conhecer as características físico-

químicas de cada produto, como Koc, Kow,

solubilidade e pressão de vapor. Além dis-

so, deve-se, ainda, entender o comporta-

mento do herbicida, ter em mãos o his-

tórico de infestação da área e saber qual

será o alvo (planta ou solo) para, com base

nisso, adotar a tecnologia de aplicação

mais adequada.

“Outro ponto fundamental é res-

peitar as condições climáticas durante as

aplicações (velocidade do vento, tempe-

ratura e umidade relativa). Assim, quando

não for possível trabalhar dentro das con-

dições ideais, devemos ajustar a tecnolo-

gia de aplicação para minimizar as perdas

causadas em condições climáticas adver-

sas”,afirmaRafaelCharlier.

Todas essas técnicas são de extre-

ma importância para combater o amplo

portfólio de plantas daninhas encontra-

do nos canaviais da empresa. Capim-col-

chão, capim-braquiária, capim-camalote,

fedegoso, cordas-de-viola, bucha e mucu-

na estão entre as principais invasoras. Es-

sastrêsúltimas,inclusive,figuramentreos

maiores problemas da unidade, pois, além

de reduzir a produtividade dos canaviais,

Segundo Rafael Charlier, é importante não utilizar mudas de áreas com infestação de plantas, como Capim Camalote, Bucha e Mucuna, principalmente no plantio mecanizado, pois a colheita da muda pode levar sementes para novas áreas

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40 Fevereiro · 2015

O levantamento de plantas daninhas

deve ser feito para obtenção de dados

sobre as espécies infestantes

daquela área

HERBISHOW

têm interferência di-

reta no processo de

colheita mecanizada,

causando perdas sig-

nificativasnosrendimentoseelevandoos

custos da atividade.

Levantamento

De grande importância, o levanta-

mento de plantas daninhas, popularmen-

te chamado de matologia, funciona como

um importante aliado do produtor, pois

ele irá escanear o canavial e mostrará da-

dos sobre as espécies infestantes daquela

área, como germinação, crescimento, de-

senvolvimento, morfologia, anatomia, re-

produçãoeconvivênciacomoutrasplan-

tas, além, é claro, dos níveis de infestação.

Esse conhecimento será essencial para

segurança e precisão nas tomadas de

decisões.

O pesquisador do IAC, Carlos Aza-

nia,afirmaqueesseprocedimentoéme-

nos trabalhoso do que muitos imaginam.

Segundo ele, o processo para a realização

de um levantamento de qualidade é o se-

guinte: o produtor deve separar uma área

de testemunha com cerca de 90 m² sem

aplicação de herbicidas a cada 50 hecta-

res de sua propriedade. A cada 30 dias, ele

deve ir a essas áreas e anotar as daninhas

que ali eclodiram. Lembrando que o pro-

cedimento deve ser feito até o fechamen-

to do canavial.

Com esses dados em mãos, ele vai

conseguir saber quais as principais espé-

cies infestantes daquelas áreas. No ano

seguinte, a aplicação de herbicidas pode-

rá ser feita de modo mais assertivo, pois

ela irá ser feita em função da matologia

registrada no ano anterior. “Dessa forma,

a cada ano, o produtor deve escolher áre-

as diferentes e realizar os mesmos pro-

cedimentos, pois novas espécies podem

surgir”.

A partir desses levantamentos, o

produtor terá um histórico completo de

sua propriedade, passando a entender os

padrões biológicos da área. “Dessa for-

ma, ele terá a certeza de que as formas de

combateadotadas serãoasmaiseficien-

tes possíveis”.

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41

Endividamento e problemas operacionais marcam próxima safra sucroenergética

ECONOMIA

Usina Albertina, em Sertãozinho, uma

das 80 unidades fechadas com a crise

DÍVIDA DO SETOR SUPERA R$ 60 BILHÕES

42 Fevereiro · 2015

A partir de 2008, o setor sucroe-

nergético teve agravada uma cri-

seoperacionalefinanceira,quejá

era anunciada devido ao alto grau de en-

dividamento das empresas, crise que se

estendeu para toda cadeia produtiva. Em

Sertãozinho, uma das cidades mais atingi-

dasnointeriordeSãoPaulo,emtrêsme-

ses registrou cerca de 2,2 mil demissões,

segundo o Ministério do Trabalho e Em-

prego (MTE). De acordo com pesquisa da

MBF Agribusiness, consultoria de Sertão-

zinho, especializada no agronegócio, até o

momento 67 usinas encontram-se em re-

cuperação judicial e as perspectivas ain-

da não são animadoras. Segundo a Unica

(União da Indústria da Cana-de-Açúcar),

desde 2008, cerca de 80 unidades já fe-

charam suas portas e em 2015, mais nove

usinas poderão encerrar suas atividades

devidoàgravesituaçãofinanceira.

“A recuperação do setor será lenta.

Carrega um alto endividamento e proble-

mas operacionais sérios, como baixa pro-

dutividade agrícola e elevados custos por

falta de investimentos na recuperação dos

canaviais, dos equipamentos industriais

e infraestrutura de apoio agrícola. Ainda

não é possível prever com qualidade o que

será da nova safra em relação à produti-

vidade agrícola, mas tende a ser próxima

ou menor que a safra que se encerra. Não

Andréia Moreno, da MBF Agribusiness

Aralco, em Araçatuba, uma das 67 unidades em recuperação judicial

ECONOMIA

43

houve o volume de investimento agríco-

la que se anuncia no mercado, até mes-

mo porque muitas empresas aguardam a

liberação de recursos das linhas subsidia-

das do BNDES (Banco Nacional de Desen-

volvimento Econômico e Social). Há mui-

to marketing sobre as linhas de crédito e

pouca efetividade na distribuição dos va-

lores”, revela Marcos Antonio Françóia, di-

retor da MBF Agribusiness.

Ele lembra que a dívida do setor su-

croenergético, em 2014, atingiu R$ 60 bi-

lhões e R$ 91,03/tonelada.

Françóia explica que, em 2015, o se-

tor ainda poderá ter reflexos positivos

nos preços, mas as condições do endivi-

damento em relação ao tamanho e exi-

gênciasquantoaprazosetaxas,deverão

forçar as empresas a venderem antecipa-

damente a safra, não auferindo resultados

com os preços melhores durante a tempo-

rada,resultadosqueacabamficandopara

poucos. “Como estamos falando do se-

tor como um todo e o volume de empre-

sas endividadas é alto, ainda veremos uma

boa fatia cambaleando durante o ano. Os

juros estão subindo e as linhas de crédito,

para um setor em descrédito, estão cada

vez mais escassas”, admite.

Mercado

Os preços devem melhorar em 2015,

segundo Jair Pires, diretor executivo da MBF

Agribusiness. “A queda do preço do Petró-

leo fará com que a gasolina se mantenha

mais barata, fato que limita o etanol. Quan-

to ao açúcar, o preço deve subir e ajudar um

pouco nas contas, porém, na média geral,

muitas unidades ainda contabilizarão preju-

ízos”,finaliza.(Fonte:MBFAgribusiness)

Françóia: “Há muito marketing sobre as linhas de crédito e pouca efetividade na distribuição dos valores”

44 Fevereiro · 2015

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ESSE

L. C

ORT

ESIA

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ICA

CAPA

45

Lampejos no fim do túnel

AÇÕES COMO A VOLTA DA CIDE E AUMENTO DA

MISTURA DE ETANOL NA GASOLINA PROPORCIONAM

CERTO ALÍVIO, MAS O MAIOR REFLEXO VIRÁ SE

HOUVER VALORIZAÇÃO DA ENERGIA DA BIOMASSA

46 Fevereiro · 2015

Para o setor sucroenergético, os últi-

mos seis anos foram marcados por

muitas tempestades e trovoadas.

Com remuneração inferior ao tamanho do

endividamento, mais de 80 usinas parali-

saram suas atividades e 67 estão em re-

cuperação judicial. Nesse período, milha-

res de trabalhadores foram demitidos por

unidades produtoras e empresas de bens

e serviços voltadas ao setor. Em 2014, ape-

sar de muita tentativa de diálogo com o

Palácio do Planalto, quase nada avançou.

Mas 2015 começa com lampejos no

fimdo túnel a favorda agroindústriada

cana-de-açúcar. Alguns avanços já vie-

ramnofinaldoanopassadoemdiferen-

tes estados da federação. Em dezembro

foi aprovada pela Assembleia Legislativa

de Minas Gerais a redução do ICMS (Im-

posto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços) sobre o etanol hidratado no es-

tado de 19% para 14%, o que tende a am-

pliar o potencial de consumo do biocom-

bustível em MG.

“Essa mudança vai inserir Minas Ge-

rais no mercado de etanol brasileiro,

que tem 10% da frota nacional, a segun-

da maior do país. E é um potencial muito

grande”, projeta Mário Campos, presiden-

te executivo da Siamig (Associação da In-

dústria Sucroenergética de Minas Gerais).

Em 2014, as usinas mineiras já dedicaram

57% da matéria-prima para o biocombus-

tível. O que deve acontecer, segundo ele,

éamudançadofluxologísticodoprodu-

to. “Hoje, Minas produz 1,5 bilhão de li-

Clivonei Roberto e Luciana Paiva

CAPA

Mário Campos: A expectativa de Minas Gerais é dobrar o consumo atual de etanol hidratado, de 750 milhões de litros para 1,5 bilhão de litros

47

tros de hidratado e tem um consumo de

cera de 750 milhões de litros. O excedente

do combustível ia para outros mercados,

especialmente São Paulo. Mas com o mi-

neiro utilizando mais o etanol, nossa ex-

pectativa é de que atinjamos um consumo

de pelo menos 1,5 bilhão de litros”, expli-

ca Campos. Será o dobro do consumo atu-

al, reduzindo a oferta e a pressão sobre o

preço do produto no estado de São Paulo.

O consumo de etanol em outros es-

tados brasileiros também deve crescer por

conta de mudanças na tributação do ICMS.

No Paraná, onde este imposto é de 18%

sobre o etanol, houve mudança do ICMS

sobre a gasolina: foi de 28% para 29%.

Em abril entra em vigor o aumento

do ICMS sobre a gasolina em outro estado

brasileiro, a Bahia. Em dezembro do ano

passado, a Assembleia Legislativa baiana

aprovou aumento da alíquota do imposto

de 27% para 30%.

Já no Distrito Federal, o governo dis-

trital apresentou uma proposta de redu-

zir o ICMS sobre o etanol, de 25% para

19%, e aumentar a mesma alíquota sobre

a gasolina, que subiria de 25% para 28%.

Esta proposta valerá para 2016, mas an-

tes depende de aprovação da Assembleia

Legislativa.

Mas para a competitividade do bio-

combustível, Marcos Fava Neves, profes-

sor da Faculdade de Economia, Adminis-

tração e Contabilidade da Universidade

de São Paulo (USP), o setor pede a equali-

zação das alíquotas do ICMS sobre o eta-

nol hidratado entre os estados ao menor

nível praticado. Segundo ele, “a redução

do ICMS para 12% em todos os estados”

é uma medida necessária para a recupera-

ção do setor sucroenergético.

Retorno da Cide e

aumento da mistura

O governo federal reajustou em 1º

defevereirooPISeoCofinsemR$0,22

por litro e anunciou o retorno da Cide

(Contribuição de Intervenção no Domí-

nio Econômico) sobre a gasolina. Em 1º de

Fava Neves: redução do ICMS sobre o etanol hidratado para 12% em todos os estados

48 Fevereiro · 2015

maio, quando a Cide passa a incidir sobre

o combustível (R$ 0,10 por litro), a alíquota

dePISeCofinsrecuanomesmovalorpara

evitar novo aumento de carga tributária.

A volta da Cide é um antigo pleito do

setor. Por suas externalidades, o segmento

entende que o etanol deve ter condições

tributárias diferenciadas em comparação

à gasolina. Quando foi criada, em 2001, a

Cide era de R$ 0,28 por litro de gasolina,

sendo zerada em 2012 para compensar o

aumento na cotação do combustível fóssil.

Agora o tributo volta no valor de R$ 0,10,

bem abaixo do patamar anterior.

De qualquer forma, o setor come-

morou a medida, pois ganha em compe-

titividade, segundo Elizabeth Farina, pre-

sidente da Unica (União da Indústria da

Cana-de-açúcar).

Plínio Nastari, presidente da con-

sultoria Datagro, observa que as recentes

medidas do governo criam um potencial

de aumento para o etanol hidratado de R$

0,15 por litro, o equivalente a 70% (parida-

de entre o preço do álcool e o da gasoli-

na) de R$ 0,22. Para ele, também há espa-

ço para aumentar o valor do etanol anidro,

que é misturado à gasolina. Nesse caso, o

aumento potencial passa a ser de R$ 0,22

por litro.

Outra decisão do Planalto que pode

entrar em vigor ainda em fevereiro de

2015, depois de aprovada pelo Planalto, é

o aumento da mistura de anidro à gasoli-

na, de 25% para 27%, mas que entra em

vigor após 90 dias. Esta medida já era plei-

teada pelo setor desde o início de 2014.

Segundo Elizabeth, as usinas estão

preparadas para atender uma demanda

maior por anidro. O aumento da mistu-

ra deve elevar em 1 bilhão de litros a de-

manda pelo biocombustível. “O estoque

quetemosésuficienteparaabastecermos

o mercado de combustíveis durante a en-

tressafra e a safra.”

Medidas insuficientes,

mas bem-vindas

De acordo com Antonio Padua Ro-

drigues, diretor-executivo da Unica, todas

estas novidades trazem ânimo para a safra

que vai começar em abril no Centro-Sul

(embora algumas unidades já iniciem as

operações em março). “São medidas pon-

Elizabeth Farina: o setor ganha em competitividade com as mudanças na tributação

CAPA

49

tuais, que terão efeito imediato. Primeiro

pelo aumento do tributo na gasolina, que

vai aumentar competitividade do hidrata-

do, dependendo de cada estado. Isso será

em algo como R$ 0,18 centavos por litro.

Mas é um aumento teórico. Vai depender

muito de como vai se comportar o mer-

cado. Mas esse aumento proporciona me-

lhora da competitividade do etanol.”

Padua observa que as medidas do

governo talvez estanquem o endivida-

mento. “Mas vamos ver por quanto tempo

se perpetua. Ainda tem muito a se fazer,

tanto em políticas públicas, tanto em estí-

mulo ao etanol e à cogeração de energia.

Houve uma situação pontual, uma sinali-

zação positiva. O que precisa é continuar

esse diálogo e criar regras de longo prazo

que estimulem a volta do investimento.”

Somente quando isso ocorrer que o setor

terá condições de ‘voltar às compras’.”

Mas se não haverá expansão, é cer-

to que as usinas continuam precisando re-

alizar manutenção, investir em melhoria

da produtividade do canavial, reduzir cus-

tos, renovar a frota. “Isto tudo é coisa na-

tural que uma usina precisa fazer sempre.

Mas vinha sendo realizado à custa do au-

mento do endividamento. Por isso o setor

chegou onde está. Faltava condição de ter

preço melhor. Mas a melhor rentabilida-

de dará condição de fazer estas atividades

com recursos próprios, dependendo me-

nosdefinanciamento.”

Para Padua, as mudanças de ICMS

nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pa-

raná, além do Distrito Federal, favorecem

o etanol. “No curto prazo, vão criar poten-

cial de demanda, a um preço razoável no

hidratado, na casa de 1 bilhão de litros.” Padua: o pacote de medidas traz ânimo para a safra que vai começar em abril no Centro-Sul

Ortolan: as medidas não contemplam todas as necessidades da cadeia, mas representam um avanço

50 Fevereiro · 2015

DeacordocomArnaldoLuizCorrêa,

diretor da Archer Consulting, a remunera-

ção melhor com o etanol é positiva para as

usinas, porque permite fazer dinheiro mais

rápido.

Manoel Ortolan, presidente da Ca-

naoeste e Orplana (Organização dos Plan-

tadores de Cana da Região Centro-Sul do

Brasil), ressalta que as medidas anuncia-

das, por si só, não contemplam todas as

necessidades da cadeia sucroenergética,

masrepresentamumavanço.Eosreflexos

dessas novidades, segundo ele, já pode-

rão ser percebidos de imediato, por conta

do aumento da gasolina, que abriu mar-

gem para uma melhor remuneração do

etanol. “E a relação de preço está boa para

o consumidor, favorecendo e estimulando

o uso do biocombustível.”

Ortolan está otimista quanto ao re-

torno dos investimentos, por conta do

melhor cenário trazido pelas mudanças na

tributação e no aumento da mistura. “Mas

acredito que os investidores vão apostar

mesmo na energia elétrica em função da

crise de energia que estamos vivendo.”

Já Antonio Eduardo Tonielo, presi-

dente da Copercana e presidente do Gru-

po Tonielo – detentor de três unidades

produtoras - é mais cauteloso. Acredita

que os investimentos até voltam, mas será

bem devagar por conta dos custos, dos ju-

ros e da complexidade para se conseguir

financiamento que se tem hoje. “Se não

fosseessadificuldadedeacessoaocrédi-

to, os investimentos voltariam mais rápi-

do. E quando voltarem, os investimentos

devem ser direcionados mais para a área

de etanol porque o produto trará melhor

remuneração.”

Para ele, as novas medidas do gover-

no federal vão melhorar o preço do eta-

nol,beneficiandoosetorindustrial.“Além

disso, provavelmente devem beneficiar

também o açúcar porque as empresas de-

verão fazer mais etanol, principalmente

neste começo de safra, para atender à de-

manda do produto e também porque os

preços serão melhores que os do açúcar”,

pontua.

O que se espera é que todo este mo-

vimentotenhareflexosobreoaçúcar.Mas

quando? Para Padua, o mercado está ain-

da receoso. Tem apostas e apostas. “Mes-

Tonielo: investimentos até voltam, mas ocorrerão bem devagar

CAPA

51

André Rocha: melhoria da eficiência energética dos motores flex continua sendo um dos pleitos do setor

mo com todas as medidas, o mercado de

açúcar ainda não reagiu, continua patinan-

do. Por que não reage? Talvez por conta

do câmbio.” Além disso, ainda existe exce-

dente de açúcar no mercado mundial. Mas

épossívelumdéficitdeaçúcarem2016,

segundo ele.

Comoajustefiscalqueaeconomia

brasileira vem passando, acessar os recur-

sos do BNDES (Banco Nacional de Desen-

volvimentoEconômicoeSocial)podeficar

ainda mais difícil. Na opinião de Padua, as

linhas de crédito vão continuar. “A mudan-

ça vai ser no aumento dos juros de merca-

do. E assim a usina vai avaliar se é viável

utilizar o BNDES. Certamente não vamos

ter juros abaixo da condição de mercado

que estimulem o setor produtivo.”

Já os benefícios para o fornecedor

de cana, segundo Ortolan, acabam sendo

indiretos. “A melhor remuneração do eta-

noleaçúcarrefletenopreçodacana”,diz.

Mas ele reconhece que não espera gran-

des melhorias, mas torce para que 2015

seja um ano me-

nos apertado do

que 2014.

Para André Rocha, presidente do Fó-

rum Nacional Sucroenergético e do Si-

faeg (Sindicato da Indústria de Fabricação

de Etanol e Açúcar do Estado de Goiás),

as lutas do setor continuam. Um dos de-

safioséoavançodoProgramaInovar-Au-

to, a fimde se atingirmotoresflexmais

eficientes. “Assim,poderíamosconquistar

mais mercado. No entanto, a melhoria da

eficiênciadomotorflexseriapositivapara

a sociedade como um todo.” Outra pau-

ta do setor é oferecer ao consumidor na-

cional, com a consolidação da tecnologia

dos carros híbridos, a opção de veículos

commotor flex, para que se possa utili-

zar etanol.

Com aumento da frota,

como abastecer o Ciclo Otto?

Outro ingrediente a este cenário que

Padua apresenta é a mudança de estrutu-

ra a que a Petrobras está passando, o que

pode dar novo estímulo ao setor sucroe-

nergético no médio e longo prazo. “A pre-

52 Fevereiro · 2015

sidênciaanteriordaPetrobrasjáanunciava

recuodeinvestimentoemnovasrefinarias

e no pré-sal. Ao mesmo tempo em que há

um cenário de incremento de combustí-

vel Ciclo Otto (veículos leves e de passeio)

para os próximos dez anos, uma projeção

que já está dada”, analisa o executivo da

Unica.

Segundo Corrêa, não se pode es-

quecer que, embora as vendas de veículos

nesse ano tendam a uma queda, a previ-

sãoédecrescimentodafrotaflex,emrela-

ção ao ano passado, de pelo menos 2,5%.

Ante a este cenário, o governo brasi-

leiro precisa ter posição clara sobre como

se vai abastecer a frota de veículos que vai

continuar crescendo nos próximos anos.

“Vai ter incremento de gasolina A ou ha-

verá estimulo de oferta de hidratado? Para

isso, é necessária a expansão da capaci-

dade de produção do etanol hidratado.

E aí vamos precisar de novos investimen-

tos, seja na agrícola ou indústria”, analisa

Padua.

ParaCorrêa, a arrefecidanos inves-

timentos da Petrobras pode ser positiva

para o setor sucroenergético dependen-

do do patamar de preço do barril de pe-

tróleo no mercado internacional. Segundo

ele, a ANP (Agência Nacional de Petró-

leo,GásNaturaleBiocombustíveis)afirma

que o Brasil consumiu quase 10% a mais

de barril de petróleo no ano passado. “O

incremento que houve no consumo nes-

ses doze meses foi de 5,1 bilhões de litros.

Desse total, apenas 1,3 foram de gasoli-

naA.”Atendênciaéde,havendoaumento

de consumo, qualquer incremento ocorra

com anidro e hidratado. Até porque o Bra-

silvaiterdificuldadelogísticadeimportar

Menor investimento na área de petróleo deve favorecer o etanol

CAPA

53

essa gasolina. “Temos limite para impor-

taçãodegasolina.Porisso,atendênciaé

que se olhe mais com carinho para o eta-

nol. Esta pode ser uma via de retorno de

investimentos para o setor, mas ocorre-

rá apenas se houver mudança na manei-

ra como o governo conduz a formação de

preço de combustível, o que traria segu-

rança jurídica.”

Medidas vieram tarde

Para o professor Marcos Fava Ne-

ves, as medidas são positivas para o se-

tor e ajudam na sua recuperação, mas vie-

ram muito tarde. “O estrago agora já está

feito! O endividamento cresceu tanto que

boa parte desta melhoria será consumida

para pagar serviços da dívida.”

Corrêa salienta que o pacote apre-

sentado pelo governo federal neste início

de ano não passa de um paliativo. “Tem o

mesmo efeito de dar azeitona para quem

está há meses sem comer nada. Hoje, pelo

nosso cálculo, o setor tem aproximada-

mente R$ 74 bilhões em dívidas e uma es-

timativa de faturamento de R$72 bilhões

na última safra. A dívida é maior do que a

receita.”

Segundo ele, quando um setor deve

mais de 100% do seu faturamento, ele te-

ria que primeiro equacionar essa dívida,

tentar alongá-la, de tal maneira que con-

siga, aos poucos, com recursos que vai ob-

tendo, amortizar esse montante.

“No entanto, o tamanho é tão gran-

dequeficadifícilhaveroequacionamento

de toda essa dívida. O que tem acontecido

é que não se consegue alongar dívida em

longo prazo. Para as dívidas vencidas, as

usinastêmenormetrabalhopararenovar

as linhas. E o mais difícil é encontrar linhas

novasdecrédito”,relataCorrêa.Quemen-

tra no mercado hoje para tentar dinheiro

novo para poder saldar seus compromis-

sos e manter a estrutura rodando, encon-

traenormedificuldade.“Etodaasituação

ruimdopaíshojeacabarefletindo.”

Na visão de Corrêa, outro compo-

nente que afeta o humor do mercado é a

conjuntura internacional difícil, marcada

Arnaldo Luiz Corrêa: “Pacote tem o mesmo efeito de dar azeitona para quem está há meses sem comer nada”

54 Fevereiro · 2015

pela diminuição da atividade econômica,

inclusive na China, e pela queda acentua-

da do preço da cotação do petróleo.

As medidas adotadas pelo governo,

de certa forma, melhoram o cenário do

setor,masnãoosuficienteparavoltarem

os investimentos. “O país continua muito

confuso”, diz Fava Neves.

Neste ano, o professor da USP acre-

dita que pode haver continuidade do pro-

cesso de consolidação do setor, além de

novos casos de empresas em recuperação

judicial. “Sem cenário de longo prazo, in-

vestimento em novas usinas não voltam.

Talvez um pouco sim em cogeração.” Mui-

to embora ele tema que não sejam efe-

tivadas políticas que beneficiem a coge-

ração, apesar das proporções da crise

hídrica e do risco do apagão. Este gover-

no atual tem uma gestão “sem tradição de

pensamento, de planejamento. Atua apa-

gandoincêndios.”

Por estes, entre outros motivos, Cor-

rêatambémnãoconfiamuitonoatualco-

mando do país. “Já estou pensando em

2018 e 2019, não tenho nada de positivo a

esperar desse governo atual”, dispara.

Portas se abrindo

O ex-ministro Roberto Rodrigues,

que até o início deste ano ocupou a pre-

sidênciadoconselhodaUnica,avaliaque

há uma nova postura do governo em rela-

ção ao setor sucroenergético. Na opinião

dele, está havendo uma abertura para o

diálogo entre o setor e o governo fede-

ral, especialmente pela pessoa do Minis-

tro Aloízio Mercadante. Diferente de antes,

Mais etanol em 2015

CAPA

55

56 Fevereiro · 2015

Injeção na veia da indústria de base

Bioletricidade pode turbinar a economia do setor

Para Antonio Eduardo Tonielo Fi-

lho, presidente do Ceise Br (Cen-

tro Nacional das Indústrias do

Setor Sucroenergético e Biocombustí-

veis), a situação para setor ainda é mui-

to complicada, pois o período de estag-

nação se arrasta por um período longo.

“Mas estas iniciativas recentes do go-

Mercadante tem sido uma porta de nego-

ciação no governo para o setor, segundo o

ex-ministro.

Esta também é a opinião de An-

dré Rocha. “Não apenas vejo com bons

olhos as medidas anunciadas neste iní-

ciodeano,comoafirmoqueainterlocu-

ção com o governo está melhor. Estamos

tendo apoio principalmente dos Ministros

Mercadante e Kátia Abreu [da Agricultu-

ra, Pecuária e Abastecimento], além do Mi-

nistro Armando Monteiro Neto [de Desen-

volvimento, Indústria e Comércio Exterior]

e Eduardo Braga [de Minas e Energia]. Por

isso, o cenário é mais animador.”

Para ele, o setor sucroenergético co-

meça 2015 muito mais otimista e esperan-

çoso em relação ao ano passado. “O hu-

mor do setor mudou, mas ainda temos

umasériedeconquistasedesafios.”

Este otimismo já pode ser percebi-

do nas palavras de Tonielo. Segundo ele,

com as boas notícias deste início de ano,

a expectativa para 2014 melhora. “E acho

que o ano será muito melhor do que se

esperava.”

CAPA

57

verno ajudam o setor como um todo,

pois possibilitarão o aumento da renta-

bilidade e competitividade deste com-

bustível. No entanto, não provocam al-

terações na geração de energia e nem

no preço do açúcar.”

Na opinião do presidente do Ceise

Br, se surtirem os efeitos desejados no

médio prazo, as medidas provocarão o

retorno de investimentos. O investidor

quer ter segurança, regras claras e só

investe onde existe possibilidade de re-

torno de seu capital aplicado. “Acredito

que, no curto prazo, o que possibilita-

rá um aquecimento de investimento no

setor é a geração de energia. As condi-

ções objetivas para um plano de expan-

são estão dadas.”

Ele lembra que o país tem tecno-

logia e matéria-prima (bagaço e pa-

lha) disponíveis. Um plano de aumen-

to de capacidade instalada de energia

gerada no setor, além de ajudar a so-

Antonio Eduardo Tonielo Filho: em tempos de crise hídrica, apoio efetivo à bioeletricidade é estímulo que a cadeia sucroenergética está esperando

lucionar o problema

nacional de abaste-

cimento de energia

elétrica, melhorará o

resultado financeiro

das usinas e movimentará toda a cadeia

produtiva sucroenergética. “Trará enco-

mendas para a indústria de base, que

encontra-se estagnada e com ociosi-

dade de aproximadamente 50% de sua

capacidade instalada.”

Segundo ele, a principal expecta-

tiva no curto prazo da cadeia de bens

de capital e serviços é a implementa-

ção imediata de um programa de ex-

pansão de geração de energia elétrica

voltado às usinas de açúcar e etanol já

em operação. “A efetivação deste pro-

grama será injeção na veia da indústria

de base, e produzirá resultados imedia-

tos, possibilitando o início de um círcu-

lo virtuoso no setor.”

“No médio e longo prazo, espe-

ramos investimentos em novas plantas

comoretornodaconfiançadosinves-

tidores, devido às medidas adotadas na

tributação, mistura e política de preço

do etanol”, conclui.

58 Fevereiro · 201558 Fevereiro · 2015

A luz para o setor virá com a energia da biomassa

O bagaço e a palha da cana-de-açúcar correspondem a mais de 80% de todas as fontes de biomassa utilizadas no país

Paranãoficarnoescuro,oBrasilpre-

cisa de mais oferta de energia, e a

biomassa da cana é a alternativa

maiseficiente:menorprazo,menorcusto

e é renovável. Mas para que a cana ilumine

o país, são necessárias políticas públicas

de incentivo. Se elas vierem, aí sim a recu-

peração do setor estará em curso.

A energia elétrica produzida a par-

tir da biomassa da cana-de-açúcar ocu-

pa participação cada vez maior na matriz

energética brasileira. Considerando dados

de 2013 e 2014, Zilmar de Souza, gerente

de bioeletricidade da Unica, destaca que

a biomassa é responsável atualmente por

aproximadamente 4,5% do consumo de

energia elétrica do Brasil, sendo que o ba-

gaço e a palha da cana-de-açúcar corres-

pondem a mais de 80% de todas as fontes

de biomassa utilizadas no país.

Somente em 2014, a biomassa gerou

20,732 GW/h para a rede elétrica do Sis-

tema Interligado Nacional (SIN). No Esta-

do de São Paulo, na safra 2013/14, para

CAPA

5959

A palha começa a se unir ao bagaço para gerar energia

uma moagem de 348 milhões de tonela-

das de cana, a biomassa produziu para a

rede 8,341 GW/h. Toda geração exportada

pelas usinas paulistas na última safra equi-

vale, segundo o Protocolo Agroambiental,

a 22% do consumo residencial anual do

estado.

Diante do incremento que a bioele-

tricidade pode oferecer ao sistema elétrico

nacional, o olhar sobre esta fonte energé-

tica já está mudando. “Atualmente o go-

verno federal está mais sensível aos bene-

fícios da biomassa”, na opinião de Zilmar.

Mas não na velocidade que poderia ser.

“A biomassa tem importância estra-

tégica para o país”, lembra Zilmar. E os nú-

meros deixam isso bem claro. Se em 2014

o setor sucroenergético gerou quase 21

mil GW/h para a rede, se todo o bagaço

e palha fossem aproveitados pelas usinas

seria possível gerar seis vezes mais ener-

gia do que este patamar de 21 GW/h.

“Este é um número teórico, e não

seria possível concretizá-lo da noite para

o dia. Mas se houver um sinal econômi-

co favorável, com dois ou três anos de

antecedência o setor sucroenergético

consegue ampliar a geração de energia

significativamente.”

Mas é possível afirmar que é rápi-

da a resposta do setor aos estímulos. Um

indicador deste potencial foi registrado

em 2010. “Com política favorável e algu-

maantecedência, chega-

mos a acrescentar ao sis-

tema num único ano 1,8

GW/h”, conta Zilmar. Em

2015, o setor vai instalar

0,5 GW/h.

Hoje, segundo ele,

Zilmar: se todo o bagaço e palha fossem aproveitados pelas usinas, seria possível gerar seis vezes mais energia do que o patamar atual de 21 GW/h

60 Fevereiro · 201560 Fevereiro · 2015

utilizar outras biomassas, que não ape-

nas a oriunda da cana, para gerar eletri-

cidade.Efizeram isso,aproveitandopara

vender energia em momento de alto pre-

ço no mercado de curto prazo. “Isso fez

com que quem quisesse energia contra-

tada ou quisesse gerar mais buscando pa-

lha ou biomassa de terceiros, como cava-

co de madeira, pudesse aproveitar o bom

momento, que perdurou por boa parte de

2014”, frisa Zilmar.

a biomassa tem capacidade ociosa

na indústria que pode ser aprovei-

tada para dar uma resposta ágil ao

incremento de energia que o país

precisa.

Valiosa biomassa

Para uma usina de cana-de

-açúcar que comercializa energia,

este negócio responde por algo

em torno de 10% a 12% da receita,

o que ajuda na competitividade da

empresa como um todo. E o que

se viu em 2014 foram muitas uni-

dades buscando ao máximo fazer

caixa com a bioeletricidade.

Com reservatórios baixos,

as hidrelétricas enfrentaram altos

custosparacobrirodéficitdege-

ração. Sem contar a necessidade

de acionar quase todas as termelé-

tricas,quetêmcustoelevado.Esta

conjuntura ajudou a elevar o preço

do megawatt/hora da energia elé-

trica no mercado spot.

As usinas que puderam aproveitar os

bons preços para vender o excedente, saí-

ram no lucro. Durante boa parte do ano o

Preço de Liquidação de Diferenças (PLD),

que é o balizador do preço no mercado de

curtoprazo,ficoupróximoaotetoadmiti-

dopelaAneel(AgênciaNacionaldeEner-

gia Elétrica), que era de R$ 822,23 – para

2015 este teto foi reduzido para R$ 338,48.

As usinas sucroenergéticas podem

Secador de bagaço: é preciso garantia para ter investimento

CAPA

6161

No entanto, segundo ele, a cogera-

ção de energia a partir da biomassa da

cana chamou atenção do setor sucroener-

gético em 2014 também por outro fator: a

visão de longo prazo, que corresponde ao

Ambiente de Contratação Regulada (ACR),

cujos preços são estabelecidos em leilão.

O ano de 2014 fez parte de um proces-

so de amadurecimento deste mercado de

longo prazo, depois da criação do produto

térmico em agosto de 2013, que separou

as biomassas das eólicas, no leilão chama-

do A-5.

Investimentos

pedem previsibilidade

O primeiro fator, da venda de ener-

gia spot, é mais imediatista, já o segun-

do (o mercado regulado) tem a ver com as

condições estruturantes que este merca-

do sucroenergético precisa. “Por isso, po-

demos dizer que 2014 foi um momento

importante para a biomassa”, diz Zilmar,

que reconhece que houve avanços nos úl-

timos anos nesta área, mas estes progres-

sostêmdecontinuar.“Issoéfundamental

para que consigamos fazer com que o in-

vestimento retorne de forma consolidada.”

O executivo da Unica destaca que é

preciso continuar melhorando o preço de

remuneração da biomassa nos leilões para

viabilizar projetos de retrofit e de apro-

veitamento de palha. “No último leilão, o

valor teto foi de R$ 209,00. É preciso que

este preço melhore. É difícil ter preço pa-

drão,poiscadausinatemumaeficiência

de projeto. Mas o mercado já sinaliza di-

zendo que o preço teto tem que ser bem

superior a esse patamar de R$ 209”, sa-

lienta Zilmar, pois essa remuneração, até

o momento, não conseguiu atrair o retro-

fitnosleilões.

Segundo ele, existem mais de du-

zentas usinas instaladas no país que não

comercializam, mas têm disponibilidade

de biomassa que poderia ser usada para

gerar energia para a rede. Dados da Uni-

ca apontam que, em dezembro de 2013, o

Brasil tinha 379 usinas em operação, sen-

do que deste total apenas cerca de 170 ex-

portavam energia elétrica para a rede.

Em2015estãoprogramadostrêslei-

lões e não se sabe qual será o preço teto

da biomassa. E aí reside a preocupação

do empresário sucroenergético. Falta cla-

rezasuficienteparaquesepossaapostar

na bioeletricidade, principalmente no lon-

go prazo.

Antonio de Padua Rodrigues, diretor

técnico da Unica, concorda que o gran-

de entrave da bioeletricidade são os pre-

ços praticados. “A atividade é mantida por

rentabilidade, por resultados.” Segundo

ele, embora cada unidade tenha seu preço

ideal para comercializar energia, muito se

falaentreprofissionaisdaáreaqueopre-

ço teto dos leilões para viabilizar a coge-

ração esteja entre R$ 250 e R$ 300. “E com

contratos de 15 anos, a um preço viável,

com política de correção. Isso requer ava-

62 Fevereiro · 201562 Fevereiro · 2015

liação correta pela usina. Mas com certe-

zaninguémvai investirpesadoparaficar

no spot, para em certos momentos rece-

ber bem e em outros ter de oferecer ener-

gia de graça.”

A política da bioeletricidade que o

setor reivindica inclui uma visão de lon-

go prazo, com leilões regionais e especí-

ficosparabiomassa.Aísim,segundoele,

será viável buscar na lavoura a palha, ou-

tra biomassa da cana preciosa que muitas

usinastêmpreferidodeixarnocampo.“Só

para recolher a palha, o custo sai por R$

80, R$ 90 para levar à usina.” Hoje a palha

para o fornecedor reduz o preço da cana

devido à quantidade de impurezas mine-

rais. Com preço da energia baixo, o pro-

dutor acaba sendo penalizado. “Se houver

uma mudança real na política de preço da

bioeletricidade, já amanhã poderíamos ter

mais energia. A palha está lá no campo, só

precisa ter preço para ser utilizada em lar-

ga escala.”

Gargalos a superar

Enquanto o nível dos reservatórios

das hidrelétricas cai e se gasta fábulas de

recursos com as térmicas, muito mais ca-

ras e poluentes, o país continua desper-

diçando um grande potencial energético

que poderia vir da cana-de-açúcar. Além

de a energia da biomassa ser limpa e re-

“Só para recolher a palha, o custo sai por R$ 80, R$ 90 para levar à usina.”

CAPA

6363

novável, gera riqueza e emprego em cida-

des do interior do país, além de uma série

de outras vantagens comparativas.

O gerente de bioeletricidade da Uni-

ca enumera algumas políticas públicas im-

prescindíveis para o estímulo da energia

da biomassa no Brasil:

- promover leilões dedicados à bio-

massa com preços remuneradores;

- extinguir o limite máximo de inje-

ção de energia na rede com direito a des-

conto. É que hoje quem exporta até 30 MW

tem desconto na tarifa de uso da rede. “Isto

é um incentivo, mas a energia da biomas-

sa tem crescido de tamanho. Se uma usina

injeta 31 MW perde o desconto, o que tem

sido trava tecnológica para o setor”;

- criar condições mais atrativas de

financiamento para aquisição de máqui-

naseequipamentospara retrofit e reco-

lhimento e uso da palha;

- desenvolver estudos para a cone-

xão de empreendimentos nas redes de

transmissãoedistribuição,afimdemiti-

gar o custo destes investimentos. Quem

paga a conexão é o gerador, e isto pode

representar 30% do investimento em um

projeto de bioeletricidade.

Além disso, para Zilmar é importante

que o governo mantenha esse processo de

melhoria do ambiente regulado dos leilões,

iniciado em 2013. “Esta é nossa principal

porta de entrada neste negócio. Aprimoran-

do o preço teto, certamente no futuro tere-

mos a bioeletricidade retornando ao certa-

me de forma mais consolidada e contínua.”

Enquanto nível dos reservatórios das

hidrelétricas cai, sobra energia nos canaviais

64 Fevereiro · 2015

PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

As quatro novas variedades de cana da Ridesa/ UFSCar são resistentes às principais doenças

DE GRANDE POTENCIAL, AS PRÉ-LIBERAÇÕES SE DESTACAM

PELA COMPETITIVIDADE E JÁ ESTÃO EM FASE ACELERADA

DE MULTIPLICAÇÃO NAS UNIDADES CONVENIADAS

Leonardo Ruiz

O Programa de Melhoramento Ge-

nético da Cana-de-açúcar da

Universidade Federal de São Car-

los (UFSCar), integrante da Rede Interuni-

versitária para o Desenvolvimento do Se-

tor Sucroenergético (Ridesa), anunciou, no

finalde2014,quatronovasvariedadesRB

de cana-de-açúcar que deverão, em bre-

ve, ser liberadas para o plantio, devido ao

fato de terem se destacado durante o pro-

cesso de seleção e experimentação. Uma

delas, inclusive, a RB975201, já foi a déci-

ma variedade mais plantada no estado do

Mato Grosso do Sul em 2014. Os materiais

já estão em fase acelerada de multiplica-

ção nas unidades conveniadas.

Segundo o pesquisador Roberto

Chapola, da Ridesa/UFSCar, é importan-

te que os produtores experimentem no-

vos materiais para que possam aumentar

suas opções para o plantio. “Nesse senti-

do, essas quatro pré-liberações mostra-

ram grande potencial durante as fases de

experimentação, muitas vezes superan-

do os resultados dos padrões (variedades

comerciais).”

Chapola ressalta que os novos ma-

teriais são muito competitivos e resisten-

tes às principais doenças da cultura. “Cada

produtorpossui necessidadesespecíficas

e, diante disso, a Ridesa tem trabalhado

e continuará trabalhando intensivamente

parasupriressascarências.”

Confiraaspré-liberaçõesdaRidesa/

UFSCar e suas principais características:

As quatro pré-liberações da Ridesa/

UFSCar foram apresentadas para profis-

sionais de usinas e produtores de cana no

finaldoanopassado,durante aReunião

Técnica Anual da instituição, em Ribeirão

Preto.

65

RB975242

Opçãoparaofinaldesafra,não

floresceedeveseralocadaem

ambientes médios a restritivos.

RB975952

Opção para o início de safra nos

melhores ambientes de produção.

RB985476

Possui altíssima produtividade,

devendo ser colhida

no meio de safra.

RB975201

Opçãoparaofinaldesafra,excelente

resposta nos melhores ambientes de

produçãoeausênciadeflorescimento.

66 Fevereiro · 2015

MECANIZAÇÃO

Agricultura de Precisão melhora qualidade das operações e aumenta rendimento

UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE CONTROLE DE VAZÃO, BARRA DE LUZ E

PILOTO AUTOMÁTICO TAMBÉM AUXILIA NA GESTÃO DAS ATIVIDADES DE CAMPO

Operador Paulo Gabriel Ribeiro auxiliado pelas

novas tecnologias

*Daniela Rodrigues

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A Jalles Machado e a Unidade Otá-

vio Lage, situadas em Goianésia,

GO, se destacam no uso da Agri-

cultura de Precisão, uma tecnologia agrí-

cola que utiliza GPS com correção de sinal

em tempo real (RTK), que garante maior

precisão e rendimento nas atividades de

campo, favorecendo o processo de gestão

das operações.

O piloto automático instalado nas

67

máquinas é capaz de fornecer, por exem-

plo, a velocidade do equipamento, em

quantos hectares a atividade foi realizada,

a sua posição exata no campo e dados de

altimetria. Essas informações são repassa-

das ao escritório, que tem toda a gestão

do processo.

Nas duas unidades, são utilizadas

as tecnologias de controle de vazão, bar-

ra de luz e piloto automático. O controla-

dor de vazão é utilizado para controlar a

quantidade de corretivos (calcário, fósfo-

ro e gesso), herbicidas e adubos, aplicados

no preparo de solo e nos tratos culturais.

Já a barra de luz está presente na irrigação

para esticar os carretéis de forma paralela

e reduzir possíveis erros de sobreposição

e/ou falhas na aplicação de vinhaça.

O piloto automático é a tecnologia

que abrange mais operações, desde a sul-

cação, plantio e tratos culturais, até a co-

lheita da cana. A sua utilização permite

maior precisão, diminui consideravelmen-

te as falhas e os erros de operação, além

de aumentar o rendimento.

O operador realizava as atividades

de forma manual e era praticamente im-

possívelfazercomqueossulcosficassem

perfeitamente paralelos. Hoje, a Topogra-

fiafazo levantamentodasáreas,asiste-

matização e gera o projeto para o plantio.

Os dados desse mapa, que contém coor-

denadasgeográficas,sãoinseridosnospi-

lotos automáticos de cada máquina.

“O equipamento realiza a sulcação,

garantindo o paralelismo das linhas, que

garante maior aproveitamento da área. A

partir daí, é possível realizar todas as ou-

tras atividades, como plantio, quebra-lom-

boecolheita,tendocomoreferênciaessas

Piloto automático é a tecnologia que abrange mais operações

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68 Fevereiro · 2015

MECANIZAÇÃO

linhas. Logo, essa tecnologia foi um gran-

de avanço que proporciona ótimos resul-

tados para a empresa”, explica o responsá-

vel pelo departamento de Agricultura de

Precisão, Jânio Lima.

O projeto

O início do projeto de Agricultura de

Precisão na Jalles Machado foi por volta de

2003, com a aplicação de taxa variada de

corretivos. Antes eram aplicadas dosagens

médias em toda a área. Com a amostra-

gem georreferenciada do solo, foi possível

detectarsuasdiversasmanchaseidentifi-

car as suas variações, passando a aplicar a

quantidade adequada de produto no local

correto, considerando a variabilidade es-

pacial do solo.

Posteriormente, a empresa foi adqui-

rindo pilotos automáticos para preparo de

solo e plantio, garantindo o paralelismo

das linhas. Depois, também passou a in-

vestir na aplicação de Herbicida em Taxa

Variável (HTV), aplicando a quantidade

adequada de produto em cada local ma-

peado. “Hoje, já expandimos o uso de pi-

loto automático para colhedoras de cana,

motoniveladoras e operação de quebra

-lombo, sendo uma das primeiras empre-

sas no Brasil a fazer uso dessa tecnologia

nessas atividades”, ressalta Jânio Lima.

“A implementação e utilização des-

ses equipamentos no campo passa por

um processo de mudança de cultura, pla-

nejamento e gestão de toda a equipe, que

hoje já consegue enxergar os benefícios

no uso dessas tecnologias”, ressalta o ge-

rente agrícola Edgar Alves.

O operador de máquinas agrícolas,

Paulo Gabriel Ribeiro, 42 anos, trabalha na

UnidadeOtávioLagecomosafristahátrês

anos, no setor de Tratos Culturais. Segundo

Quebra-lombo com uso de piloto

automático

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69

70 Fevereiro · 2015

Treinamento para minimizar barreiras

e resistência à implantação das

novas tecnologias

ele, em 2013, a atividade de quebra-lom-

bo (realizar o nivelamento do solo nas en-

trelinhas da cana planta, deixando a área

preparada para a colheita mecanizada) era

manual, cansativa e exigia mais cuidado e

atenção. “Fazíamos cerca de 7 hectares por

turno. Hoje, o uso de piloto automático fa-

cilita a realização da atividade, melhora a

eficiência, qualidade e aumenta o rendi-

mento, sendo possível fazer até 12 hecta-

res por turno. Então, foi a melhor coisa que

criaramparaosoperadores”,afirma.

Para a próxima safra, a intenção é

ampliar o uso de piloto automático na co-

lheita. Para isso, já está sendo feito o ma-

peamento de áreas, inclusive com suporte

defotografiastiradascomoauxíliodeum

veículo aéreo não tripulado (Vant).

Treinamentos

Paraminimizar barreiras e resistên-

cia à implantação das novas tecnologias, o

Departamento de Agricultura de Precisão

realiza cursos e treinamentos, que incluem

desde cargos de liderança até os operado-

res de máquinas.

A operadora de

máquinas Dulcineia Fer-

reira Moraes, 32 anos, que trabalha com a

tecnologia de barra de luz na Fertirrigação

daUnidadeOtávio Lage, também afirma

que o uso da Agricultura de Precisão fa-

cilitou a execução de suas atividades. “Re-

cebi o treinamento de como manusear o

GPS. No início, achei um pouco complica-

do lidar com os botões, mas com o tempo

a gente aprende. Hoje já considero fácil e

simples utilizar o sistema e consigo fazer o

trabalho com mais agilidade”, explica.

Vantagens da AP

•Maiorprecisãodasoperações

•Economia de produtos (adubos,

corretivos, herbicidas, etc)

•Identificaçãodopotencialdasáreas

•Maiorcontroleegestãodasoperações

•Reduçãodefalhasnasatividades

•Ganhosderendimento

•Ganhosdeprodutividadeagrícola

*Daniela Rodrigues

Coordenadora de Comunicação

da Jalles Machado S/A

MECANIZAÇÃO

71

Umdosgrandesdesafios ambien-

tais do Século XXI é o aperfeiço-

amento da gestão da água e isto

ficaaindamaisevidentecomaatualcrise

hídrica enfrentada por várias cidades do

Estado de São Paulo. Mas não apenas o

consumo doméstico de água deve ser re-

pensado. Também as empresas, tanto in-

dustriais como agrícolas, precisam inves-

tir nesta área.

Para a agroindústria sucroenergética

estaquestãonãoémenosdesafiadora.Usi-

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Na São Manoel, a água vale ouroA EMPRESA REDUZIU EM 22% EM RELAÇÃO À SAFRA 2012/2013

A CAPTAÇÃO ESPECÍFICA POR T/CANA MOÍDA, DECORRENTE DE

SÉRIE DE MELHORIAS INTRODUZIDAS; TAMBÉM REUTILIZA 96%

DA ÁGUA NECESSÁRIA AO PROCESSO DA INDÚSTRIA

Vista da Usina São Manoel

Clivonei Roberto

nas e fornecedores de cana assinaram no

Estado de São Paulo o Protocolo Agroam-

biental, que estabeleceu 2014 como pra-

zoparaofimdacolheitacomqueimaem

áreas mecanizáveis de cana-de-açúcar. E o

setor está em dia no cumprimento desta

meta, atingindo mais de 83% de mecaniza-

ção nas áreas de colheita neste ano.

Mas o Protocolo Agroambiental tam-

bém estabelece outras metas ao setor ca-

navieiro, como a redução do consumo de

água no processo de produção. Isto exige

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72 Fevereiro · 2015

investimentos e adequações, mas algumas

usinas do setor estão se adiantando, se-

guindo a passos largos em direção ao me-

lhor gerenciamento dos recursos hídricos.

Exemplo nesta área vem de uma das

usinas sucroenergéticas brasileiras mais

preocupadas com a sustentabilidade do

negócio: a São Manoel. A empresa acabou

de lançar o quinto relatório de sustentabi-

lidade consecutivo, desta vez referente ao

ciclo 2012/2013 e 2013/2014 e alinhado à

versão mais recente do Global Reporting

Initiative (GRI).

Menor captação

A água que abastece a Usina São

Manoel vem de circuito fechado, com alto

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Ponto de captação de água superficial

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73

Estação do sistema de tratamento de

águas residuais

porcentual de reuso. A empresa também

possui um dos menores índices de uso de

água do setor por tonelada de cana.

O cultivo de cana-de-açúcar, na re-

gião onde está a usina, se beneficia de

boas condições pluviométricas e de solo

para o plantio. Por isso, a irrigação plena

não é praticada nos canaviais. Há consu-

mo de água apenas no processo indus-

trial, em que a matéria-prima é processa-

da para se transformar em açúcar, etanol,

levedura seca inativa hidrolisada e autoli-

sada, e bioeletricidade. Para suprir a pró-

pria demanda, possui outorgas regula-

resparacaptaçõessuperficiaisedepoços

profundos.

A usina reduziu em 22% em relação à

safra2012/2013acaptaçãoespecíficapor

t/cana moída, decorrente de série de me-

lhorias introduzidas ao longo do período,

com destaque para a operação do sistema

de resfriamento de excedentes de conden-

sados de vapor vegetal. Na São Manoel, o

nível de captação de água está em menos

de 1 m³/t de cana. No ciclo 2012/2013, o

volume de água captado foi de 0,76 m3/t

de cana. Já na safra 2014/2015, a média

foi menor ainda, chegando a 0,57 m3/t de

cana.

Outra iniciativa adotada pela São Ma-

noel foi a substituição, no processo de des-

tilação, do vapor de escape borbotado nas

colunas B por vapor vegetal, o que econo-

miza vapor de escape e, consequentemen-

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74 Fevereiro · 2015

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

•Usodecircuitosfechadosderesfriamentodeáguanadestilariaemoenda,

com torres de resfriamento projetadas com margem extra (folga) nos gradientes de

temperatura.

•Circuitodeáguasfechadonosaspersoresdaáguanascolunasbarométricas.

•Circuitofechadoparaaáguadelavagemdecanainteiraereduçãodavazão

de água pela diminuição da entrada de cana inteira (em processo de eliminação to-

tal pela mecanização da colheita de cana).

•Incrementodaporcentagemdecanapicada,quenãoutilizaáguadelavagem.

•Utilizaçãoderegeneradoresdecalornaáreadetratamentodecaldo,redu-

zindo a necessidade de água de resfriamento.

•ReusodeáguasresiduáriastratadasnoSistemadeTratamentodeÁguasResi-

duárias, como fonte de reposição em circuitos de água de resfriamento de multijatos.

•Operaçãocomreboilers(aquecedoresindiretos)nadestilação,comaprovei-

tamento de condensados nobres de vapor de escape.

•Aplicação,desde2013,desistemaderesfriamento(viatorresderesfriamen-

to em série) de excedentes de condensados de vapor vegetal, os quais passaram a

ser totalmente reutilizados como água na seção de pré-fermentação e fermentação.

*Fonte: Secretaria do Meio Ambiente (Protocolo Agroambiental)

Captação m3/tcSafras

2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014Protocolo Agroambiental* 1,52 1,45 1,26 1,18Usina S. Manoel 0,82 0,86 0,86 0,67

RESULTADO DO EMPENHO DA SÃO MANOEL

EM REDUZIR O CONSUMO DE ÁGUA

Práticas adotadas para melhorar a gestão da água na Usina São Manoel

te, água. Porém, ainda sem alterar a relação

vinhaça/etanol. Esta era uma meta da orga-

nização, que foi atingida em maio de 2014.

Hoje, a São Manoel alcançou a reuti-

lização de 96% da água necessária ao pro-

cesso da empresa.

75

TECNOLOGIA

Juntamente com o gerenciamento das

comunicações e com o gerenciamen-

to dos recursos humanos, o gerencia-

mento das partes interessadas faz parte

do grupo de ‘soft skills’ da base de conhe-

cimento em gerenciamento de projetos.

O termo ‘partes interessadas’ é uma

tradução do termo em inglês stakehol-

Gerenciamento das partes interessadas em projetos

*Danilo Piccolo - Mestre em Engenharia de Processos, PMI-PMP® e gestor de projetos na Reunion Engenharia

ders,quebasicamentepodeserdefinido

como o conjunto de pessoas ou institui-

ções que podem afetar ou que são afeta-

das pela condução de um projeto.

Este conceito é bastante abrangen-

te e exige que a equipe gestora do projeto

olhe pra dentro (ambiente interno), para

frente (cliente), para os lados (outros se-

76 Fevereiro · 2015

TECNOLOGIA

tores da organização) e para fora do am-

biente organizacional (ambiente externo).

(Figura 1)

Partindo-se da formação técnica que,

normalmente, precede um líder de proje-

to, o exercício de enxergar com os olhos

dos outros é um dos mais complexos de-

safiosdagestão.

Dificuldades relativas à gestão das

partes interessadas podem comprome-

ter significativamente o desempenho de

um projeto. A importância do tema cres-

ceu de tal maneira que o estudo da rela-

ção do projeto com as partes interessadas

tornou-se uma nova área de conhecimen-

to do PMBoK.

Um exemplo prático deste tipo de in-

teração são os problemas enfrentados pe-

las equipes de projeto nas construções das

hidrelétricas do Norte do País. Além das di-

ficuldadestécnicasinerentesaumprojeto

destamagnitude,ainfluênciadepartesin-

teressadas externas tais como ONGs liga-

das ao meio ambiente, ativistas e tribos in-

dígenas que reivindicavam demarcação na

área dos empreendimentos, foi responsá-

vel por atrasos consideráveis nas obras.

Outro ponto bastante delicado que

deve ser considerado é que nem sempre

todos os envolvidos diretamente em um

projeto são necessariamente forças favo-

ráveis. Nem sempre os objetivos indivi-

duais se alinham aos objetivos das orga-

nizações, e isto pode ocorrer pelos mais

diversos motivos.

Desta maneira, é importante que se

dedique tempo ao gerenciamento dos

stakeholders desde a fase de planejamento

do projeto. Normalmente o planejamento é

feitocombaseemquatropilares(figura2):

•Quem são as partes interessadas

do projeto;

•Oqueesperamdoprojeto;

•Qualéograudeinfluênciaquepo-

dem ter sobre o projeto;

•Qual a estratégia de abordagem

para cada tipo de parte interessada.

77

Apartirdotrabalhodeidentificação,

o gerente de projetos deve planejar uma

estratégia para obter o melhor engaja-

mento das partes interessadas utilizando-

se de habilidades de comunicação e rela-

ções interpessoais.

Durante todo o projeto, a eficácia

das ações tomadas deve ser monitorada

econtroladaparaverificarsesãonecessá-

rias mudanças de curso.

Apesar de grande parte do trabalho

envolvido nesta área de conhecimento en-

volver aspectos intangíveis, existem algu-

mas ferramentas e técnicas que podem ser

aplicadas para obter máximo engajamento:

•Correta distribuição das informa-

ções do projeto. Sempre cuidando da for-

ma e mantendo o conteúdo simples, claro

e conciso e tendo em mente a adequabili-

dade das informações às pessoas a que se

destinam;

•Reuniões.Atualmente vivemosem

uma fase de excesso de reuniões. Estes

encontros para tratar do projeto devem

ser mais valorizados para não se tornarem

perda de tempo. É fundamental a convo-

cação das pessoas certas, a disciplina da

pauta, da duração, da objetividade e a ge-

ração de uma ata que tenha concordân-

ciadetodos(aatadeveserlidaaofinalda

reunião);

•Experiências pregressas (lições

aprendidas). Sempre se pode aprender

comexperiênciasdeoutrosprojetos;

Em um ambiente como o do setor

sucroenergético, a estruturação em bus-

ca do alinhamento de expectativas e o di-

recionamento da energia em benefício do

empreendimentopodemsignificaradife-

rença entre sucesso e fracasso de um pro-

jeto. Isto vale tanto para grandes proje-

tos de ampliação quanto para em esforços

para resolução de problemas operacionais

da planta.

A Reunion Engenharia acredita na

condução de projetos como um esforço

coletivo em que as expectativas do cliente

devem ser a medida do sucesso.

Para tal, a empresa busca sempre a

excelência na integração com clientes e

parceiros para garantir a criação de um

ambiente técnico colaborativo em que

haja concentração de esforços para bene-

fício do projeto.

*Danilo Piccolo - Mestre em Engenharia de Processos, PMI-PMP® e gestor de projetos na Reunion Engenharia

78 Fevereiro · 2015

SUSTENTABILIDADE

A cana mineira ecológicaSETOR MINEIRO CUMPRE “PROTOCOLO” DE ELIMINAÇÃO

DA QUEIMA DA CANA E TRAZ MAIS VIDA AOS CANAVIAIS

Mônica Santos

Tamanduá-mirim retorna aos canaviais mineiros

O setor sucroenergético de Minas

Gerais cumpriu em 2014 o com-

promisso de eliminar a quei-

ma da cana em 100% da área de colheita

com declividade abaixo de 12%, conforme

o “Protocolo de Intenções Agrosocioam-

biental do Setor Sucroalcooleiro”, assina-

do em 2008 com o governo do estado. Na

atual safra (2014/15), o setor comemora

97% da área de cana colhida sem queima

e mecanizada. Somente 3% da área com

declividade maior que 12% é que ainda

terão queima, mas até o desenvolvimen-

to de tecnologias para sua mecanização.

Os produtores investiram, nos úl-

timos seis anos, mais de U$ 3 bilhões na

compra de máquinas, implementos e trei-

namento da mão de obra, passando por

uma verdadeira revolução com o empre-

go de uma nova tecnologia bastante dife-

79

rente do que conheciam. Até então o se-

tor empregava um grande contingente de

mão de obra no campo na colheita manu-

al da cana.

O período de maiores dificuldades

da transição da queima para mecanização

já passou e, segundo o presidente da As-

sociação das Indústrias Sucroenergéticas

de Minas Gerais (SIAMIG), Mário Campos,

o que se destaca é o alto grau de externa-

lidades gerado pelo processo. “Podemos

citar, pelo menos, cinco itens de alta rele-

vância para a sustentabilidade como a re-

dução da emissão de gases de efeito estu-

fa; melhoria do solo com a palha; redução

dousodaáguanaindústria;qualificação

da mão de obra; e o retorno dos animais

doCerradoaocanavial”,afirma.

Mário Campos: alto grau de externalidades gerado pelo processo

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GRUPO CORURIPE

Processo de grande aprendizado na Coruripe

As quatro unidades em Minas Ge-

rais do Grupo Coruripe no Triân-

gulo Mineiro - Iturama, Campo

Florido, Limeira do Oeste e Carneirinho -

não queimam mais a cana e já mecaniza-

ram 100% da colheita, com investimen-

tos na compra de um total 37 colhedoras.

Um grande aprendizado aconteceu tam-

bém na superação de problemas que en-

volviam a sistematização do canavial para

a entrada das máquinas.

O diretor de Produção do grupo, Car-

80 Fevereiro · 2015

los Marques, ressalta que o avanço no pro-

cesso de mecanização foi grande, mas os

investimentosaindatêmsidoaltosnaagri-

cultura de precisão, GPS e piloto automá-

tico,afimdefacilitaracolheitaeotimizar

os ganhos. O treinamento da mão de obra

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Tamanduá-bandeira nos canaviais da Usina Coruripe, Unidade Iturama, no Triângulo Mineiro

Corredores ecológicos contribuem para o aumento dos animais

SUSTENTABILIDADE

81

também é constante na empresa, princi-

palmente, dentro do conceito da preven-

ção e segurança do trabalho, e devido ao

alto custo dos equipamentos, já que cada

colhedora e periféricos demandam inver-

sões em torno de US$ 1,5 milhão.

Mas se o investimento tem sido alto,

o processo de mecanização da lavoura na

Coruripe já está rendendo frutos. Marques

diz que a palha que não é mais queima-

da e fica no campo tem

provocado uma melhoria

significativa das proprie-

dades químicas e bioló-

gicas do solo, como fonte

de nitrogênio, potássio,

enxofre, cálcio e magné-

sio. Segundo ele, para

cada hectare de cana co-

lhida, ficam no solo cer-

ca de 10 a 12 toneladas

de palha, com inserção,

em média, de cerca de 36

quilosdenitrogênioe75quilosdepotás-

sio, por hectare.

“Isso fez com que a empresa reduzis-

se em 11% a quantidade de potássio apli-

cadoetemosfeitoanálisesparaverificar

se podemos economizar ainda mais nos

fertilizantes”, ressalta Marques. Ele diz que

é notável o aumento da produtividade da

cana,nosúltimostrêsanos,emfunçãoda

palha e do manejo.

O uso da água na indústria também

foi reduzido, já que a cana não é mais la-

vada. Em 2008, a unidade da Coruripe -Itu-

rama tinha 53% da área mecanizada e con-

sumia 0,96 metros cúbicos de água por

tonelada de cana. Hoje, com colheita 100%

mecanizada, está consumindo 0,80 metros

cúbicos/ tonelada de cana, ou seja, uma re-

dução de 17% no consumo. Quando a cana

era 100% queimada o uso da água era de

1,1 metro cúbico/ton de cana na indústria,

com uma redução no total, então, de 28%.

Os animais, que não são mais afugen-

tados pelo fogo, também já somam maior

número nos canaviais e áreas de preserva-

ção permanente (APPs), como ninhos de

siriemas e grande quantidade de tatus. “A

convivênciacomosanimaistemsidomui-

to tranquila e é bom ver que agora eles se

sentemprotegidosnocanavial”,afirma.

RPPN Porto Cajueiro do Grupo Coruripe, em Januária, Norte de Minas

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82 Fevereiro · 2015

Cana ganha alto graude sustentabilidade coma eliminação da queima1 - Redução da emissão de gases

do efeito estufa

Ao eliminar a queima desde 2008

até 2014, o setor em Minas Gerais dei-

xou de emitir 6,1 milhões de toneladas de

gás carbônico equivalentes na atmosfe-

ra, levando-se em conta a área mecaniza-

da que passou em torno de 250 mil hec-

tares para 900 mil hectares, no período.

Somente este ano, serão evitados 1,3 mi-

lhões de toneladas/ha/ano de CO2 equi-

valentes. Os dados são baseados em estu-

dos, demonstrando que a substituição da

queima pela mecanização evita a emissão

de gases do efeito estufa na atmosfera na

ordem de 1.484 quilos/ha/ano.

2 - Palha da cana vira matéria or-

gânica no solo

A palha que antes era queimada,

com a mecanização da lavoura fica no

campo conferindo umidade e material or-

gânico ao solo. Estudos indicam que o

corte mecânico deixa no campo um mí-

nimo de 20 toneladas de palha por hecta-

re, distribuídas em toda extensão da área

colhida.

Em Minas Gerais, de 2008 até 2014

ficaramnosolodocanavialmineiro83,4

milhões de t/ha de palha. Somente na sa-

fra 2014/15 somam 17,6 milhões de tone-

ladas/ha deixados no solo.

Estudos indicam que a cana é uma

das culturas que mais fornece matéria or-

gânica ao solo, protegendo-o do sol e da

erosão.

O lobo-guará também marca presença

SUSTENTABILIDADE

83

3 - Menos água no processo

industrial

A diminuição do uso da água no pro-

cesso industrial é também um dos desta-

ques resultante da eliminação da queima

da palha da cana durante a colheita.

A cana queimada era transportada

até a indústria e necessitava de uma gran-

de quantidade de água para limpeza, an-

tes de entrar no processo de moagem. No

processo produtivo atual é utilizado um

sistema de limpeza a seco, somente para

retirada das impurezas.

Somada ao reuso da água nas várias

etapas do processo produtivo industrial, a

eliminação da lavagem da cana propiciou

uma redução na utilização da água no se-

tor sucroenergético de 5 metros cúbi-

cos por tonelada de cana processada, nos

anos 90, para a quantidade atual em tor-

no de 1 m3 / ton de cana, segundo dados

do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

4 – Qualificação do trabalho no

campo

Com o fim da queima da cana de

açúcar, o facão e a estrutura utilizados du-

rante o corte manual foram substituídos

porcolhedoraseequipamentossofistica-

dos, necessitando de um forte investimen-

Siriema, ninho de Siriema, ninha de Ema, e as Emas

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tonaqualificaçãodostrabalhadores.

A migração de um grande conti-

gente de mão de obra para o corte ma-

nual foi, também, praticamente eliminada

e ocorreu um aproveitamento maior dos

trabalhadores locais, com maiores ganhos

salariais.

Os treinamentos envolveram recur-

sos próprios das usinas em parceria com

o Senai e Senar-Minas e tam-

bém através do Programa

Nacional de Acesso ao Ensi-

no Técnico e Emprego (PRO-

NATEC), com as mesmas enti-

dades do Sistema S. A SIAMIG

participa na intermediação

dos programas de qualifica-

ção do governo federal para

atendimento às necessidades

das Associadas.

Somente na operação

da colheita mecânica em Mi-

nas Gerais somam cerca de

12 mil trabalhadores para um

número em torno de 700 colhedoras, cen-

tenas de implementos e toda estrutura

de manutenção, abastecimento, preven-

çãodeincêndio,comofuncionamento24

horas/dia.

5 - Animais retornam ao canavial

sem queima

Os produtores de cana de açúcar de

Veados na área pós-colheita da cana, na Usina Santo Ângelo, em Pirajuba, no Triângulo Mineiro

Olha a Raposa

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SUSTENTABILIDADE

85

Minas Gerais convivem hoje

com o aparecimento de um

grande número de animais

no canavial em função da

eliminação da queima da

cana. Esse processo afugentava os animais,

queficavamrestritoseempoucaquanti-

dade nas áreas de preservação permanen-

tes (APPs) e reserva legal (RL).

Sem a queima, os canaviais, APPs e

reserva legal se transformaram em áre-

as de abrigo, reprodução e passagem dos

animais. Em muitas regiões, as áreas de

APPs e RL se uniram e formaram corredo-

res ecológicos, que abrigam grande quan-

tidade de mamíferos, répteis e aves, numa

proteção contínua à biodiversidade local.

Colheita Mecânica na Usina Vale do Tijuco, em Uberaba

no Triângulo Mineiro

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DESTILARIA RIO DO CACHIMBO

Melhorias no rendimento da indústria

A destilaria Rio do Cachimbo, em João Pinheiro (Noroeste de Minas) também

nãoqueimamaisacanaeasdificuldadesiniciaiscomoquedadeprodutivi-

dade e redução da vida útil do canavial, com a introdução da mecanização,

ficaramparatrás.DeacordocomoGerenteAdministrativo,DanielFazanaroCunha,

hojeamecanizaçãodalavoura,comoinvestimentoemtrêsconjuntosdemáquinas,

Tamanduá-mirim no canavial da Usina Rio do

Cachimbo, em João Pinheiro, no Noroeste de Minas

86 Fevereiro · 2015

só gera benefícios e a produtividade está sendo igualada ao sistema antigo.

Asmaioresmelhorias,segundoele,serefletemnaindústria,jáqueacanasem

queima proporciona um maior rendimento. Ele cita a economia de recursos e me-

lhoria dos processos principalmente no uso de antibióticos para combate a infecção

e melhor fermentação alcóolica.

Solo - Na parte agrícola, Daniel diz que o principal benefício é a retenção da

umidade do solo em função da palha e aumento de matéria orgânica. “A percep-

ção de melhoria do solo é imediata e o ano que vem iremos começar um monito-

ramentoafimdeverificarmossepodemoseconomizarnofertilizante”,afirma.Ou-

tro ponto positivo é a menor utilização da água na indústria, já que a cana não tem

mais que ser lavada.

A usina investiu também na capacitação dos trabalhadores para operar as má-

quinas modernas e os tratores, e grande parte do corte manual foi aproveitada na

oficinadesuporteàsmáquinas.“Issopropiciouumaqualificaçãomaiorparaostra-

balhadores e um importante ganho social”, destacou o gerente da Rio do Cachimbo

O retorno dos animais com a eliminação da queima foi imediato, destaca Da-

niel,eaconvivênciatemsidomuitotranquila.Segundoele,grandepartetransita

pelocanavial,masseabriganasflorestas,queocupam50%daáreadecanadausi-

na. São um grande número de siriemas, tatu, onça, anta, tamanduá bandeira, mirim,

raposa, lobo guará, veado campeiro e várias espécies de pássaros.

Tamanduás-bandeira desfilam nos canaviais mineiros

SUSTENTABILIDADE

87

A Agroindústria de Pompéu, Agro-

péu, na região Central de Minas,

conta com 90% de cana mecani-

zada e ainda haverá necessidade de quei-

ma e colheita manual em uma área de 10%

com declividade acima de 12%. Porém, de

acordo com o diretor presidente, Geraldo

Cordeiro, a mecanização já está totalmen-

te assimilada pela usina.

Além do investimento em 12 máqui-

nas, a Agropéu investiu pesado na capa-

citação dos trabalhadores e grande parte

USINA AGROPÉU

Aposta na evolução do trabalhador

Treinamento de trabalhadores na Usina Agropéu, em Pompéu, região Central do estado

do corte manual foi aproveitada na opera-

ção dos tratores e colhedoras. “O proces-

so de aproveitamento do pessoal foi na-

tural, os trabalhadores foram passando de

uma máquina mais simples como os trato-

resatéchegaràscolhedorasmaissofisti-

cadas”,afirmou.

Segundo Geraldo Cordeiro, a Agro-

péu tem um histórico de pessoas que ini-

ciaram no corte de cana e hoje estão na

função de supervisor de produção agríco-

la, motoristas, mecânicos e encarregados

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88 Fevereiro · 2015

Matéria publicada no jornal CANAVIAL – DEZ 2014 – nº 29Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG

de colheita. “Damos oportunidade para

quemquerevoluirnaempresa”,afirma.

O produtor ressalta que já nota tam-

bém a melhoria do solo com a palha que

ficanocampo,principalmente,naconser-

vação da umidade e aumento de matéria

orgânica. A redução do uso da água é tam-

bém semelhante em todas as outras usinas

que não queimam mais cana com uma eco-

nomia em torno de 20% na indústria, além

do aparecimento de animais de espécies va-

riadasnocanavialenasáreasdeflorestas.

GRUPO DELTA

Solo conservado

O Grupo Delta Sucroenergia já mecanizou 97% da colheita da cana e ainda

encontraalgumasdificuldadesdemecanizaçãodos3%restantesemfun-

ção da acentuada declividade do terreno. Assim como as outras empresas

já está auferindo externalidades positivas com a cobertura do solo pela palha, como

retenção de umidade por mais tempo (redução da evaporação), atenuação da com-

pactação, redução de erosões (a palha tem auxiliado na sistematização e conserva-

ção do solo), contribuição na construção e manutenção da fertilidade.

Grupo Delta já sente os benefícios da palhada no solo

SUSTENTABILIDADE

89

CANA SUBSTANTIVO FEMININO

8h00 às 8h45 - entrega do material

8h45 - abertura

9h00 às 10h30 – Cuidando de gente

A trajetória do social à sustentabilidade –

eseusreflexos:agregavaloràmarca;édi-

ferencial na comercialização dos produ-

tos;empresadesejadapelosprofissionais;

imagem valorizada pela comunidade

Mediadora – Maria Luiza Barbosa, di-

retora da Ecológica ID e consultora de

Responsabilidade Social da UNICA:

Confirmada

Debatedores:

- Sueli Aguiar, gerente de Serviço Social

e Comunicação da Pedra Agroindustrial;

Confirmada

- Luis Carlos Veguin, diretor de Recursos

Humanos para o segmento de Energia,

PRÉ-PROGRAMAÇÃO IV ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO

IV ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO

12 DE MARÇO DE 2015, NO CENTRO CANA DO IAC, EM RIBEIRÃO PRETO

AçúcareEtanoldaRaízen;Confirmado

- Márcia Cubas, diretora de Recursos Hu-

manos e Sustentabilidade do Grupo São

Martinho;Confirmada

- Carla Pires, diretora de sustentabilidade

daOdebrechtAgroindustrial;Confirmada

10h30 - Café

11h00 às 12h45 – A cana pode mais

As mulheres falam sobre práticas corretas,

inovações,profissionalismoecriatividade

- da pesquisa ao mercado -, para aumen-

tar a competitividade do setor

Mediadora – Luciana Paiva, editora da

revista CanaOnline

Debatedoras:

- Cristiane Pigatto, gerente Financeira do

GrupoSãoMartinho;confirmada

- Monalisa Sampaio, doutora em Genéti-

90 Fevereiro · 2015

ca e Melhoramento de Plantas e vice-co-

ordenadora da pós-graduação em Produ-

ção Vegetal e Bioprocessos Associados da

UFSCar;confirmada

- Raffaella Rossetto, doutora em Solos e

Nutrição de Plantas, diretora Técnica da

DivisãoAPTA-AgênciaPaulistadeTecno-

logiadosAgronegócios;confirmada

- Patrícia Fontoura, supervisora de Planeja-

mento e Desenvolvimento agrícola da SJC

Bioenergia,Quirinópolis,GO;confirmada

- Renata Morelli, gerente de tecnolo-

gia agrícola e inovação da Coplana;

confirmada

- Thais Fernanda Pedroso, encarregada de

laboratório da Companhia Müller de Bebi-

das;confirmada

- Tereza Peixoto, diretora Agrícola da Bio-

sev;confirmada

12h45 às 13h50 – Brunch

14h00 às 15h30 – Grandes executivos

falam sobre as mulheres em funções de

liderança e a participação feminina em

suas empresas

As mulheres já são 40% da força do traba-

lho no mundo, mas apenas 24% delas che-

garam à liderança

Mediadora – Ana Paula Malvestio, sócia

da PwC - Confirmada

Debatedores:

- Antonio Carlos Zem, presidente da FMC

CorporationAméricaLatina;Confirmado;

- Pedro Mizutani, vice-presidente de Açú-

car,EtanoleEnergiadaRaízen;Confirmado;

- Rui Chammas, diretor-presidente da Bio-

sev;Confirmado

- Otávio Lage de Siqueira Filho, dire-

tor-presidente da Usina Jalles Machado;

Confirmado;

15h30 – Café

15h45 às 16h00 – Núcleo da Mulher da

Coplana

Regiane Alves, gestora de Projetos de Co-

municação e de Responsabilidade Socio-

ambiental, Assessora de Comunicação

da Coplana – Cooperativa Agroindustrial

-Confirmada

16h00 às 17h30 – A atuação e as

oportunidades para as mulheres no

agronegócio

Apenas no Brasil, mais de 3,5 milhões de

mulheres atuam no agronegócio. Mas esse

principal segmento econômico do país

tem muito mais espaço para a participa-

ção feminina

Mediadora – Leila Alencar Monteiro de

Souza, presidente da Biocana - Associa-

ção de Produtores de Açúcar, Etanol e

Energia - Confirmada

Debatedores:

- Celso Torquato Junqueira Franco, presi-

dentedaUDOP;Confirmado

- Marli Dias Mascarenhas Oliveira, direto-

ra do Instituto de Economia Rural (IEA);

Confirmada.

- Renata Bezerra, Headhunter e diretora

da Agritalents - empresa especializada em

profissionaisdoagronegócio.Confirmada.

- Prof. Dr. Octavio Antonio Valsechi (Vico)

– professor no Departamento de Tecnolo-

gia Agroindustrial e Socioeconomia Ru-

raldoCentrodeCiênciasAgráriasdaUni-

versidade Federal de São Carlos- UFSCar.

Confirmado

CANA SUBSTANTIVO FEMININO

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Octavio Antonio Valsechi (Vico) – professor do CentrodeCiênciasAgráriasda Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Maria Luiza Barbosa, diretora da Ecológica ID e consultora de Responsabilidade Social da UNICA

Márcia Cubas, diretora de Recursos Humanos e Sustentabilidade do Grupo São Martinho

Ana Paula Malvestio, Líder Global de Agronegócio e Sócia da PwC

Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da UDOP

Cristiane Pigatto, gerente Financeira do Grupo São Martinho

Monalisa Sampaio, vice-coordenadora da pós-graduação em Produção Vegetal e Bioprocessos Associados da UFSCar

Patrícia Fontoura, supervisora de Planejamento e Desenvolvimento agrícola da SJC Bioenergia, Quirinópolis, GO

Raffaella Rossetto, doutora em Solos e Nutrição de Plantas, diretora Técnica da Divisão APTA

Pedro Mizutani, vice-presidente executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen

Rui Chammas,diretor-presidente da Biosev

Tereza Cristina Teixeira, diretora-agrícola da Biosev

Carla Pires, diretora de sustentabilidade da Odebrecht Agroindustrial

Luis Carlos Veguin, diretor de Recursos Humanos para o segmento de Energia, Açúcar e Etanol da Raízen

Sueli Aguiar, gerente de Serviço Social e Comunicação da Pedra Agroindustrial

Regiane Alves, gestora de Projetos de Responsabilidade Socioambiental, Assessora de Comunicação da Coplana

Otávio Lage de Siqueira Filho, diretor-presidente da Usina Jalles Machado

Renata Morelli, gerente de tecnologia agrícola e inovação da Coplana

Leila Alencar Monteiro de Souza, presidente da Biocana - Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Energia

Marli Dias Mascarenhas Oliveira, diretora do Instituto de Economia Rural (IEA)

www.facebook.com/cana.substantivo.feminino

Debatedores que já confirmaram presença

INSCREVA-SE GRÁTIS AQUI

www.canasubstantivofeminino.com.br

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CANA SUBSTANTIVO FEMININO

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