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1 A Agenda 21 do Mercado de Seguros Brasileiro Eng° Antonio Fernando Navarro A proposta de se criar uma Agenda 21 para o Mercado de Seguros partiu da identificação da necessidade de criar-se mecanismos de incentivo para que a Sociedade como um todo saia da inércia em que se encontra e adira a um programa razoável e eficiente com foco na questão maior que é a da Sustentabilidade. A Sustentabilidade passou, de repente, a ser o lugar comum e ser um dos primeiros itens das pautas de discussões não só dos grandes conglomerados, como também dos países, isso tudo iniciado com a publicação de relatórios do IPCC que davam como certo que nós, os humanos, estávamos acelerando um processo de aquecimento global e que, no ritmo em que as coisas estavam em 50 anos o nível dos mares iria crescer e inundar boa parte das cidades costeiras, e aí segue. (...) Quando uma palavra se torna tão popular que começa a pipocar em todos os lugares, em todo tipo de contextos minimamente relacionados, ou até mesmo nos não relacionados, isso quer dizer uma de duas coisas: ou ela se tornou um clichê sem sentido ou tem uma consistência conceitual verdadeira. "Ecológico" (ou, pior ainda, "virar ecológico") cabe inteiramente na primeira categoria. Mas "sustentável", que à primeira vista remete a um sentido igualmente vago de virtude ambiental, pertence à segunda. É verdade que ouvimos a palavra se referindo a qualquer assunto, de carros à agricultura e à economia. Isso ocorre, porém, porque o conceito de sustentabilidade é, em essência, tão simples, que se aplica legitimamente a todas essas áreas e a outras ainda. (...) Michael D. Lemonick (Revista Scientific American Brasil – Terra 3.0 – ed.1) Sem entrar no mérito específico da questão relativa ao Aquecimento Global, por entendermos que, contrariamente ao que foi previsto nosso pequenino mundo tem suas mudanças periódicas e nós temos o poder de influenciar essas mudanças em percentuais diminutos, vamos avaliar um pouco melhor a questão da Sustentabilidade. A palavra Sustentabilidade terminou virando uma expressão, chegando a ser o lugar comum de muitos dos discursos dos CEOs das grandes empresas. Temos os empreendimentos sustentáveis, construções sustentáveis, empresas sustentáveis, enfim, quase tudo de repente passou a

A agenda 21 do mercado de seguros brasileiro

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No artigo trata-se da aplicabilidade dos critérios estabelecidos e aprovados na elaboração da Agenda 21, associando-a à atuação das empresas que atuam no mercado segurador, corretoras de seguros, seguradoras, resseguradoras e prestadoras de serviços.

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A Agenda 21 do Mercado de Seguros Brasileiro

Eng° Antonio Fernando Navarro

A proposta de se criar uma Agenda 21 para o Mercado de Seguros partiu da

identificação da necessidade de criar-se mecanismos de incentivo para que a Sociedade como um

todo saia da inércia em que se encontra e adira a um programa razoável e eficiente com foco na

questão maior que é a da Sustentabilidade.

A Sustentabilidade passou, de repente, a ser o lugar comum e ser um dos

primeiros itens das pautas de discussões não só dos grandes conglomerados, como também dos

países, isso tudo iniciado com a publicação de relatórios do IPCC que davam como certo que nós,

os humanos, estávamos acelerando um processo de aquecimento global e que, no ritmo em que as

coisas estavam em 50 anos o nível dos mares iria crescer e inundar boa parte das cidades costeiras,

e aí segue.

(...) Quando uma palavra se torna tão popular que começa a pipocar em todos os

lugares, em todo tipo de contextos minimamente relacionados, ou até mesmo nos não relacionados,

isso quer dizer uma de duas coisas: ou ela se tornou um clichê sem sentido ou tem uma consistência

conceitual verdadeira.

"Ecológico" (ou, pior ainda, "virar ecológico") cabe inteiramente na primeira

categoria. Mas "sustentável", que à primeira vista remete a um sentido igualmente vago de virtude

ambiental, pertence à segunda. É verdade que ouvimos a palavra se referindo a qualquer assunto, de

carros à agricultura e à economia. Isso ocorre, porém, porque o conceito de sustentabilidade é, em

essência, tão simples, que se aplica legitimamente a todas essas áreas e a outras ainda. (...)

Michael D. Lemonick (Revista Scientific American Brasil – Terra 3.0 – ed.1)

Sem entrar no mérito específico da questão relativa ao Aquecimento Global, por

entendermos que, contrariamente ao que foi previsto nosso pequenino mundo tem suas mudanças

periódicas e nós temos o poder de influenciar essas mudanças em percentuais diminutos, vamos

avaliar um pouco melhor a questão da Sustentabilidade.

A palavra Sustentabilidade terminou virando uma expressão, chegando a ser o

lugar comum de muitos dos discursos dos CEOs das grandes empresas. Temos os empreendimentos

sustentáveis, construções sustentáveis, empresas sustentáveis, enfim, quase tudo de repente passou a

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se sustentável. Muitas são as explicações para a expressão: Sustentabilidade é a habilidade de

sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém. É uma característica ou

condição de um processo ou de um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, por um

determinado prazo. Em anos recentes, o conceito tornou-se um princípio, segundo o qual o uso dos

recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das

necessidades das gerações futuras, o que requereu a vinculação da sustentabilidade no longo prazo,

um "longo prazo" de termo indefinido, em princípio1.

Não faz muito tempo e lemos um folder de um lançamento imobiliário, um

condomínio de casas de alto padrão, nas proximidades do mar, onde o maior apelo era o do

lançamento empregar os conceitos de sustentabilidade no projeto. Intrigados perguntamos ao

corretor quais seriam as ações que foram incorporadas ao projeto? Ele enumerou que os telhados

estavam preparados para a coleta das águas de chuva, o mesmo ocorrendo com a quadra de esporte.

Também salientou que a iluminação externa provinha de baterias solares. Ressaltou que toda a

madeira empregada era proveniente de florestas certificadas, e de árvores plantadas para esse fim.

Alguns de seus argumentos eram interessantes. Porém, quando questionamos o fato de que a

construção do empreendimento à beira mar “barrava” a circulação do vento marinho ele não

concordou, da mesma forma que também não concordou que para a implantação do

empreendimento removeu-se parte da restinga, que continha a areia.

Para que tudo isso não chegasse a um grande atrito encerramos a questão. Porém,

lembro-me de um prédio edificado quase no final da avenida Presidente Vargas, na cidade do Rio

de Janeiro, na década de 80, onde foi construída uma fábrica de gelo no alto do prédio. Depois do

horário de pique de consumo a fábrica entrava em operação, produzindo o gelo que depois era

empregado no circuito de água gelada do prédio. Seria essa uma ação relacionada com a

sustentabilidade? A princípio não, já que o projeto foi elaborado para reduzir o consumo de energia

elétrica com o condicionamento de ar do prédio.

Ora, reduzir o consumo de energia é um dos aspectos da sustentabilidade. O

conceito deve ser ampliado, não apenas para o projeto, mas sim para o minicípio, estado, país e

porque não, o mundo. Nossos recursos naturais são finitos e precisamos aprender como gastá-los de

modo eficaz. O petróleo é finito. Alguns especialistas fala em drásticas reduções daqui a 30 anos e

outros vão um pouco mais além, citando 50 anos. Na verdade ninguém ainda tem a certeza de

quanto ou qual é o volume de petróleo que temos no mundo. De vez em quando um país anuncia

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade

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novas descobertas. Mas, podemos ter a certeza de que um dia ele vai acabar. Quando o Brasil

começou a explorar o minério de ferro para a exportação alardeava-se que nossas reservas durariam

500 anos. Ora isso é muito tempo, mas mesmo assim demonstra que o minério não será eterno.

Quando vemos o que vem a ser sustentabilidade temos que imaginar que se trata

de um conjunto de ações que, isoladas ou em conjunto podem fazer com que o rítmo da exaustão de

nossas fontes de recursos naturais prossiga em uma velocidade menor. E para que isso? Para que

possamos criar alternativas de substituição.

Os dois maiores países poluidores do mundo e que não se engajam nessas

políticas de redução das emissões dos gases do efeito estufa são os Estados Unidos e a China.

Nesses a matriz energética é proveniente do Carvão Mineral. Esse aumenta o volume dos gases do

efeito estufa, produzindo o aquecimento global. De um lado tem-se um pais que compra mais de

25% de tudo o que é produzido no mundo e do outro, um pais que tem quase 25% da população

mundial. Estranho contraste, não? Se ficarmos pensando dessa maneira, esperando que essas nações

que mais poluem sejam o exemplo a ser seguido, reduzindo suas emissões de gases talvez lelemos

menos tempo neste mundo.

O Mundo precisa, da mesma forma que a Sociedade, de ações simples e concretas.

Como um país irá mudar sua matriz energética se não tem melhores opções de substituição? Difícil,

não? Nos aqui no Brasil vimos dando exemplos brilhantes e não de agora. Só como exemplos, a

Petrobras gastou, investiu, bilhões de dólares alterando seu processo de produção do diesel,

reduzindo o teor de enxofre. O mesmo processo já havia sido empreendido na produção da gasolina.

Também a mesma empresa praticamente gera toda a energia que consome nas suas unidades

industriais. Muito desses excedentes retorna para a rede pública e alimenta com energia elétrica

muitos lares. Muitas construtoras estão mudando seus projetos empregando materiais cuja produção

requer menos energia para a fabricação. Na reforma do estádio do Maracanã, grande parte da terra

do campo de futebol foi reciclada em viveiros, e parte do concreto utilizado como sub base de

pavimentação de ruas. Em Curitiba, em finais da década de 90 a Prefeitura já utilizava os restor de

pneus moidos para juntá-los ao asfalto das ruas. Em Joinville a Prefeitura incentivou a criação de

catadores de lixo a separar as garrafas PET, no início dos anos 2000, para, através de filetamento,

fabricar vassouras, que eram compradas pela própria Prefeitura para a varrição das ruas. Na década

de 70 um morador do bairro de São Francisco, Sr. Tarqüínio, foi o pioneiro na segregação do lixo,

recolhendo papeis e papelões e depois garrafas que eram recicladas posteriormente. O Brasil, só

para concluir, é hoje o maior país em reciclagem de latas de alumínio.

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Falamos de ações pontuais? Sim, mas todas somadas fazem diferença. Serviram

de exemplos. Emaqui pedimos desculpas por não haver citado outras ações tão importantes quanto,

por não nos lembrarmos no momento.

Assim, passamos a entender que Sustentabilidade não é uma Palavra, mas sim um

Conceito. A origem da expressão “desenvolvimento sustentável” vem do termo “Nachhaltigkeit”,

palavra alemã que significa perenidade, permanência, continuidade, manutenção. O desafio em

torno da sustentabilidade surgiu na fronteira da Alemanha com a Áustria, em meados do século

XVII, início do século XVIII, no período da Revolução Industrial. A madeira era usada para queima

em caldeiras, processo que fazia parte das mudanças que surgiram com a Revolução Industrial,

utilizada na construção civil, artesanato e em outras atividades que existem até hoje. Sua utilização

como combustível comprometeu o potencial madeireiro existente na Europa e os bosques foram

dizimados em pouco tempo. Isto causou enorme preocupação às elites que se serviam dos bosques

para atividades de lazer, principalmente a caça. O risco de ser prejudicada com a ausência de caça

(costume e cultura da época) criou na nobreza européia uma forte resistência ao uso da madeira,

criando assim a necessidade de resolver o problema. A alternativa foi designar ao comércio e à

comunidade em geral um percentual das florestas, suficiente para manter a necessidade do uso da

madeira e conservar os bosques, permitindo a continuidade do lazer e os prazeres que este

proporcionava à nobreza. O percentual destinado ao uso comum, naquela época, foi apenas 8% do

potencial madeireiro. Assim, para continuar retirando madeira dos bosques e florestas, a população

devia REPLANTAR na proporção de 12 árvores para todos as que eram extraídas.

As grandes empresas fabricantes de celulose no Brasil e no mundo têm suas

florestas para a fabricação da polpa de celulose. No manejo dessas florestas, há sempre um longo

intervalo de tempo de modo que só sejam cortadas as árvores dos talhões com idade superior a sete

anos.

Os grandes conglomerados industriais e uma grande parcela dos países do mundo

estabeleceram, nos últimos anos, ações voltadas à questão da responsabilidade social. Muitas dessas

foram voltadas para as questões relacionadas ao Meio Ambiente, como por exemplo, a redução dos

índices de desmatamento, a utilização de tecnologias mais limpas e que agridam menos ao meio

ambiente, o emprego de materiais reciclados, a utilização de pesquisa e desenvolvimento de novas

alternativas de produção, a substituição de processos fabris por outros com menos gastos de energia,

e mais.

Além dessas alternativas sistêmicas, surgiram as alternativas pontuais, que mesmo

não representando grandes impactos financeiros ou ambientais, não deixaram de ser importantes,

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como por exemplo a substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas frias, a prática de

substituição de torneiras comuns por outras com fluxo controlado e limitado de água, a substituição

de descargas sanitárias contínuas por outras com caixas externas e volume de água limitado, o

emprego de materiais de construção com melhores capacidades térmicas, dentre outras ações.

Todas essas ações terminaram por conduzir o repensar sobre os tempos futuros.

Os grandes problemas relacionados ao aquecimento global foram os indutores dessa mudança de

rumo. Durante a Rio 92 muitas foram as ações propostas pelos países participantes, que culminaram

com a propositura da Agenda 21, ou seja, dos compromissos a serem seguidos no próximo século, o

21. A Agenda 21 não foi uma unanimidade dos países, principalmente daqueles mais

desenvolvidos, pois significava uma rápida redução dos fatores causadores da poluição ambiental e

isso representava, segundo esses, uma retração no desenvolvimento e um grande investimento em

novas tecnologias. Todavia, ao longo dos anos, muitas foram as empresas que passaram a

considerar em suas agendas outras questões, como a da Responsabilidade Social, por exemplo.

Estamos nos aproximando da Rio+20, ou seja vinte anos depois da Rio 92,

concluindo que muito do que se discutiu não passou de mera falácia. As nações não vão se

comprometer em fazer algo impossível, como já comentamos anteriormente.

Respondendo às crescentes pressões da sociedade civil organizada para

implementação de diretrizes estabelecidas nos instrumentos de comprometimento internacionais

voltadas à promoção do desenvolvimento sustentável, estados nacionais vêm elaborando suas

estratégias e planos de desenvolvimento sustentável.

Esforços também vêm sendo dispensados na proposição de indicadores para

acompanhar resultados e impactos na implementação de políticas. Em 2002, o Brasil aprovou sua

Agenda 21, elaborada por meio de processo participativo, que é uma experiência significativa num

contexto de grande diversidade social, ambiental e econômica, embora o Governo brasileiro não

tenha ainda um sistema consolidado de monitoramento e avaliação da Agenda 21 brasileira.

Seguindo orientação e incentivo da Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas,

o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou em 2002 os Indicadores de

Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2002. Apesar de ambos os esforços terem se desenvolvido

em momentos concomitantes e possuírem como foco a mesma temática – desenvolvimento

sustentável do Brasil – a não priorização da integração desses processos gerou lacunas no conjunto

de indicadores, enfraquecendo oportunidade de se criar condições para a avaliação e a revisão da

implementação do plano nacional de desenvolvimento sustentável e das agendas 21 locais. Esse é o

foco deste documento, ao apresentar uma análise integrada sobre a elaboração da Agenda 21

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brasileira, entendida como um Plano Nacional Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável, e a

construção dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Brasil, propostos pelo IBGE,

apresentando pontos positivos, avanços, oportunidades, lacunas e perspectivas.

(Agenda 21 Nacional e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: contexto

brasileiro, Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.1, p.7-20, 2008)

Na década de 1990, diversos países elaboraram seus planos nacionais estratégicos

de desenvolvimento sustentável e se esforçaram na construção de indicadores nacionais para a

avaliação de avanços nesse processo.

Dalal-Clayton e Bass (2000) definem estratégia nacional de desenvolvimento

sustentável como um processo ou sistema que torna possível a implementação de estrutura e

atividades estratégicas para responder aos princípios e desafios do desenvolvimento sustentável.

A Inglaterra foi um dos primeiros países a construir sua estratégia nacional de

desenvolvimento sustentável, em 1994 (UK, 2005, p.13), e, em 1999, atualizou-a focando na

melhoria da qualidade de vida, com o documento A better quality of life. Em 2005, com o

documento Securing the future, estabeleceu novas estratégias e metas que foram sendo

aperfeiçoadas com o auxílio de indicadores de sustentabilidade e consulta a amplos setores da

comunidade (UK, 1999, 2005).

O processo de construção de indicadores de desenvolvimento sustentável da

Inglaterra procurou alinhar os indicadores com a estratégia nacional de Desenvolvimento

Sustentável adotada. Desta forma, delineou-se um conjunto de 68 indicadores nacionais (UK, 2006)

diretamente ligados à estratégia nacional, que abrangiam um sub-conjunto de 20 indicadores chaves

compartilhados pelo governo do Reino Unido e das administrações da Escócia, País de Gales e

Irlanda do Norte. Também foram desenvolvidos indicadores internacionais, regionais e locais.

Na elaboração dos indicadores houve a preocupação em estabelecer as relações

entre os diversos indicadores, de modo a condicionar o crescimento da economia em direção à

modernização do sistema de ensino e sua infra-estrutura, bem como focar a atenção no que

desenvolvimento sustentável significa, dando aos indicadores-chaves a missão de checar se uma

melhor qualidade de vida está sendo atingida ou não.

Outra experiência que merece destaque em função de seu pioneirismo é o

processo de construção de indicadores nacionais para o Canadá, associado à sua agenda 21 Federal

Sustainable Development Strategies, publicada em 1995. A discussão sobre indicadores ambientais

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para o âmbito nacional foi iniciada há mais de dez anos, quando foi formado um grupo, conduzido

pela Environment Canada, que realizou, por meio da opinião-chave de líderes e usuários potenciais,

ampla pesquisa para definir critérios para seleção de indicadores.

Inicialmente foi proposta uma lista de 43 indicadores ambientais, posteriormente

revisada e atualizada, tendo sido sua última versão publicada em 2003 como Environmental Signals

– Canada’s National Environmental Indicator Series 2003. Este último relatório apresenta um

conjunto de 13 indicadores, dentro de quatro temas: Sistemas Ecológicos de Suporte à Vida, Saúde

Humana e Bem-Estar, Sustentabilidade dos Recursos Naturais e Atividades Humanas. Os esforços,

nesse último período, foram direcionados à criação de um conjunto compacto de core indicators

para 10 Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.1, p.7-20, 2008 medir de forma mais integrada políticas

ambientais e econômicas. O documento ainda destaca que a pouca disponibilidade de informações

ambientais representa, para o Canadá, significante barreira no estabelecimento de indicadores de

desenvolvimento sustentável (Environment Canada, 2003).

Observa-se, assim, nesta última década uma profusão de esforços na construção

de indicadores de desenvolvimento sustentável (IISD, 2007), alguns deles integrados a processo de

construção de Agendas 21 locais, em âmbito de países e municípios.

Partindo do entendimento de que este alinhamento de esforços de estabelecimento

de visão de futuro e avaliação de progresso é fator-chave na estruturação de base para a

sustentabilidade do desenvolvimento, este artigo resgata os temas Agenda 21 e Indicadores de

Desenvolvimento Sustentável, tendo como objetivo discutir os indicadores de desenvolvimento

sustentável de âmbito nacional propostos pelo IBGE, como ferramenta de avaliação estratégica da

Agenda 21 nacional, apresentando pontos positivos, avanços, oportunidades, lacunas e perspectivas.

Nessa década passada ocorreram vários encontros dos países realizados pela

ONU, preocupados com as questões mundiais, como: Infância (Genebra, 1990); Meio Ambiente e

Desenvolvimento Humano (Rio de Janeiro, 1992); População e Desenvolvimento (Cairo, 1994);

Pobreza e Desenvolvimento Social (Copenhague, 1995); Assentamentos Humanos Habitat II

(Istambul, 1996); Mulher (Beijing, 1997).

De acordo com o documento: Agenda 21 Brasileira: bases para discussão,

elaborado Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional,

comissão essa criada por Decreto presidencial em 26/02/1997, “A Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, aprovou um

documento contendo compromissos para a mudança do padrão de desenvolvimento no próximo

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século, denominando-o Agenda 21. A idéia era tornar possível a construção de um plano de ação e

de um planejamento participativo em nível global, nacional e local, capaz de permitir, de forma

gradual e negociada, o nascimento de um novo paradigma de desenvolvimento.”

A estruturação da Agenda 21 Brasileira se deu através de seis temas centrais, de

forma a abarcar a complexidade do país e suas regiões dentro do conceito da sustentabilidade

ampliada, permitindo planejar os sistemas e modelos ideais para o campo. Esses temas foram:

� Agricultura Sustentável;

� Cidades Sustentáveis;

� Infra-estrutura e Integração Regional;

� Gestão dos Recursos Naturais;

� Redução das Desigualdades Sociais;

� Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.

Os principais obstáculos encontrados na trajetória prevista decorrem do próprio

caráter singular de uma agenda para o desenvolvimento sustentável, que deve ser inovadora,

criativa, cooperativa, multidisciplinar, além de integrar a malha institucional, aspectos que,

freqüentemente, não estão contemplados, de forma conjunta, na experiência de planejamento

nacional. Dessa forma, podemos mencionar como importantes desafios:

� desenvolver processo participativo em um país de dimensões continentais e sem tradição de

participação em processos de elaboração de políticas públicas;

� desnivelamento do conhecimento e das informações sobre os entraves à sustentabilidade e

sobre as potencialidades do país, com vistas à construção de um caminho para um novo modelo

de desenvolvimento. Essas dificuldades são devidas à diversidade socioeconômica e cultural,

fruto da grande desigualdade social ainda prevalecente;

� dificuldade imposta pela cultura dominante no Ocidente, de perceber o mundo a partir de

setorialidades e/ou de reivindicações de casos particularizados;

� dificuldade de criação de sonhos comuns, para um horizonte de tempo que vá além da vida de

cada indivíduo;

� criar um sonho comum num país de demandas regionais específicas, fruto das desigualdades a

serem reduzidas.

(Construindo a Agenda 21 Brasileira, Ministério do Meio Ambiente, 2001, disponível em

www.mma.gov.br)

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O que era apenas um compromisso futuro aplicado às questões ambientais, ou

com maiores reflexos na área ambiental, passou a ser empregado para as questões envolvendo a

Responsabilidade Social das empresas, razão de a estarmos sugerindo para o Mercado Segurador

Brasileiro.

Para a estruturação dos temas relacionados à área de seguros, empregamos 6

temas, seguindo a mesma filosofia daqueles empregados pela Agenda 21 Brasileira. Nessa proposta

de estruturação consideramos algumas regras como:

Primeira regra – os temas devem servir para o nivelamento das ações das empresas. Isso significa

que as ações devem ser estabelecidas e cumpridas por todas as empresas do setor, desde os grandes

conglomerados financeiros até as empresas de menor porte.

Segunda regra - as ações propostas devem ser facilmente acompanhadas e avaliadas. Para tal é

importante o emprego de indicadores do tipo balanced scorecard.

Terceira regra - as ações devem ser empreendidas independentemente das regiões nacionais,

características locais, produtos comercializados, ou seja, as ações podem ser estabelecidas e

implementadas independentemente de questões regionais.

Quarta regra - as ações estabelecidas devem ser capazes de causar impactos positivos de

Responsabilidade Social.

Quinta regra – a questão do desenvolvimento sustentável deve passar necessariamente pela

implementação de Ciência e Tecnologia.

Sexta regra – as empresas do setor devem buscar a redução das desigualdades sociais.

Antes de prosseguirmos é importante fechar esta questão. Quando o Mercado

Segurador Brasileiro se movimenta, desloca uma parcela significativa do PIB. Assim, propomos

que nos grandes seguros industriais essas questões de Sustentabilidade, associadas a outras, como

por exemplo a de Certificações comprovadas em normas de Gestão, como a NBR ISO 14.001 e a

OHSAS 18.001, possam ter benefícios nas renovações de suas apólices. Se uma empresa tem uma

grande frota de veículos todos com rastreador, suas taxas são menores, pois a experiência com os

riscos é mais favorável. Se uma empresa preocupa-se com as questões de Sustentabilidade,

ampliadas agora para ambientais, sociais, entre outras, por que não incentivá-las a prosseguir nesse

caminho através de negociações mais favoráveis?

A Responsabilidade Social no Brasil

Quando se aborda a questão da fixação de agendas para setores da sociedade

deve-se considerar a questão da Responsabilidade Social. Esse tema tem merecido por parte dos

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especialistas e mesmo da imprensa um destaque considerável. A professora Maria Elisabeth Pereira

Kraemer, em artigo intitulado Responsabilidade Social – Uma alavanca para sustentabilidade trata

assim da questão:

Em 1960, foi constituída a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas

(ADCE), com sede em São Paulo, iniciando assim uma pregação sobre responsabilidade social nos

dirigentes das empresas. Em 1977, ADCE organizou o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de

Empresas, tendo como tema central o Balanço Social da Empresa. Em 79, a ADCE passa a

organizar seus congressos anuais e o Balanço Social tem sido objeto de reflexão.

Foi elaborado em 1984 o primeiro trabalho acadêmico do professor João Eduardo

Prudêncio Tinoco, que é uma dissertação de mestrado do Departamento de Contabilidade e Atuaria

da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA-

USP com o título de: Balanço Social: uma abordagem socioeconômica da Contabilidade.

Em 1991, foi encaminhado ao Congresso um anteprojeto propondo publicação do

Balanço Social pelas empresas, porém, não foi aprovado. Foi publicado pelo Banespa, em 1992, um

relatório divulgando as suas ações sociais. Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho,

lançou a Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, com o

apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), que constitui o marco da

aproximação dos empresários com as ações sociais. Em 1997, Betinho lançou um modelo de

Balanço Social e, em parceria com a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social, estimulando

as empresas a divulgarem seus resultados na participação social.

Foi criado, em 1998, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

pelo empresário Oded Grajew. O Instituto serve de ponte entre os empresários e as causas sociais.

Seu objetivo é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial por meio de publicações,

experiências, programas e eventos para os interessados na temática. Em 1999, a adesão ao

movimento social se refletiu na publicação do seu balanço no Brasil por 68 empresas. No mesmo

ano, foi fundado o Instituto Coca-Cola no Brasil, voltado à educação, a exemplo da fundação

existente nos Estados Unidos desde 1984.

Segundo Toldo (2002), a Câmara Municipal de São Paulo premiou em 1999, com

o selo Empresa Cidadã as empresas que praticaram a responsabilidade social e publicaram o

Balanço Social e a Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) incluiu em

sua premiação o prêmio Top Social. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança destacou-se pelo

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trabalho de erradiação do trabalho infantil, exemplo que atraiu um número crescente de adeptos. A

empresa que combate o abuso contra criança ganhou o selo Empresa Amiga da Criança.

O primeiro dado relevante a se destacar na comparação entre 2000 e 1999 é que a

média de gastos por empregado cresceu em praticamente todos os indicadores sociais internos, ou

seja, o valor gasto com empregados em alimentação, previdência privada, saúde, segurança e

medicina no trabalho, educação, cultura, participação nos lucros e capacitação e desenvolvimento

profissional foi 80,1% maior em 2000. A média do gasto em previdência privada foi 2,3 vezes

maior e a participação nos lucros quase dobrou. A única exceção foi em creche, com redução de

8%. Este crescimento, porém, não quer dizer que o investimento social destas empresas esteja

compatível com o que delas se espera. Em todo caso, é um dado positivo.

Dessa forma, Torres (2002) diz que para conquistar um diferencial e obter a

credibilidade e aceitação da sociedade e das diversas partes interessadas dentro do universo

empresarial, além de novas práticas e da publicação anual dos balanços e relatórios sociais e

ambientais, as corporações têm buscado certificações, selos e standards internacionais na área

social. Entre os exemplos brasileiros mais significativos, estão o 'Selo Empresa Amiga da Criança',

conferido pela Fundação Abrinq; o 'Selo Empresa-Cidadã', que é uma premiação da Câmara

Municipal da Cidade de São Paulo; e o 'Selo Balanço Social Ibase/Betinho', do Instituto Brasileiro

de Análises Sociais e Econômicas desde 1998.

Neste sentido, A Corporate Social Responsability apud Vassallo (2000) diz que

não existe uma fórmula geral de responsabilidade social quando se trata de negócios. Mas alguns

passos básicos podem ajudar muito na implantação de uma estratégia de boa cidadania corporativa.

A seguir, alguns deles:

→ Desenvolva uma missão, uma visão e um conjunto de valores a serem seguidos.

→ Para que a responsabilidade social seja uma parte integrante de cada processo decisório, é

preciso que ela faça parte do DNA da companhia – seu quadro de missões, visões e valores.

Isso leva a um comprometimento explícito das lideranças e dos funcionários com questões

como ética nos negócios e respeito a acionistas, clientes, fornecedores, comunidades e meio

ambiente.

→ Coloque seus valores em prática – é básico. De nada adianta ter um maravilhoso quadro de

valores na parede do escritório se eles não são exercitados e praticados a cada decisão tomada.

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→ Promova a gestão executiva responsável – esse é um exercício diário e permanente. É preciso

fazer com que cada executivo leve em consideração os interesses dos seus partícipes antes de

tomar qualquer decisão estratégica.

→ Comunique, eduque e treine – as pessoas só conseguirão colocar valores de cidadania

corporativa em prática se os conhecerem e souberem como aplicá-los no dia-a-dia.

→ Publique balanços sociais e ambientais – elaborados por especialistas e auditores externos, eles

garantem uma visão crítica de como acionistas, funcionários, organizações comunitárias e

ambientalistas enxergam a atuação da empresa.

→ Use sua influência de forma positiva – o mundo corporativo é formado por uma grande rede de

relacionamentos. Use os valores cidadãos de sua empresa para influenciar a atuação de

fornecedores, clientes e companhias do mesmo setor.

Referências

ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

BATESON, G. Natureza e Espírito. Lisboa: Dom Quixote, 1987.

BERTALANFFY, L. V. Teoria Geral dos Sistemas. São Paulo: Vozes, Petrópolis, 1977.

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