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Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 26 n.228 p.1-62 2005

ISSN 0100-3364

Informe AgropecuárioUma publicação da EP AMIG

v.26 n.228 2005Belo Horizonte-MG

Apresentação

Editorial .............................................................................................................................. 3

Entrevista ........................................................................................................................... 4

Doenças do abacaxi

Aristoteles Pires de Matos, Danúzia Maria Vieira Ferreira e Zilton José Maciel Cordeiro ... 7

Doenças da banana

Zilton José Maciel Cordeiro e Aristoteles Pires de Matos ................................................. 12

Doenças dos citros

Natália A. R. Peres ............................................................................................................ 18

Doenças do mamão

Patrícia Cia e Eliane Aparecida Benato .......................................................................... 25

Doenças da manga

Selma Rogéria de Carvalho Nascimento .......................................................................... 30

Doenças do maracujá

Pedro Martins Ribeiro Júnior e Mário Sérgio Carvalho Dias ............................................... 36

Doenças do morango

Mário Sérgio Carvalho Dias, Renata da Silva Canuto, Leandra Oliveira Santos e

Ramilo Nogueira Martins .................................................................................................. 40

Doenças das rosáceas de caroço

Marise C. Martins e Lilian Amorim ................................................................................ 44

Doenças da uva

Elisangela Clarete Camili e Eliane Aparecida Benato ........................................................ 50

Aplicação de sistemas de controle de qualidade no manejo de

doenças pós-colheita de frutas

Sara Maria Chalfoun e Marcelo Cláudio Pereira ................................................................ 56

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

O Brasil tem-se destacado no rankingmundial como um dos maiores produtoresde frutas. O estado de Minas Gerais apresen-ta um grande potencial para a produção devárias espécies frutíferas, devido à sua di-versidade climática que varia desde o climafrio do Sul até o quente e seco que ocorre noSemi-Árido Norte mineiro. Os cultivos fru-tícolas, tanto nas áreas montanhosas do Sulde Minas, quanto nos perímetros irrigadosdo Norte, apresentam importância econômicafundamental por gerarem renda e empregosno Estado.

Altas tecnologias têm sido empregadasnessas culturas, visando elevar a produti-vidade aliada à boa qualidade das frutas.Entretanto, ainda ocorrem muitas perdas defrutas, principalmente durante a pós-colheita,provocadas por doenças de origem fúngica,bacteriana e de causa abiótica. Muitas dessasdoenças iniciam-se quando as frutas estãoainda no campo e manifestam os sintomassomente na pós-colheita, outras são capazesde infectar os frutos durante o processo deembalagem e armazenamento. Devido a issoé imprescindível adotar práticas de controleque visem a redução das doenças tanto nocampo como no packing house e durante oarmazenamento e transporte.

Nesta edição são abordadas as principaisdoenças pós-colheita das frutas produzidasno estado de Minas Gerais, destacando aspec-tos como identificação dos sintomas e formasde controle. Com estas informações espera-se colaborar para a redução das perdas pós-colheita e para o aumento da qualidade dasfrutas.

Mário Sérgio Carvalho Dias

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Governo do Estado de Minas Gerais

Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

Assinatura anual: 6 exemplares

Aquisição de exemplares

Setor Comercial de Publicação

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG

Telefax: (31) 3488-6688

E-mail: [email protected] - Site: www.epamig.br

CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047

O Informe Agropecuário é indexado naAGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

© 1977 EPAMIG

ISSN 0100-3364

INPI: 006505007

Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - BeloHorizonte: EPAMIG, 1977 - .

v.: il.

Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).

ISSN 0100-3364

1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - AspectoEconômico. I. EPAMIG.

CDD 630.5

CONSELHO DE

DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES

Baldonedo Arthur NapoleãoLuiz Carlos Gomes GuerraManoel Duarte XavierCarlos Alberto Naves CarneiroMaria Lélia Rodriguez SimãoArtur Fernandes Gonçalves FilhoJúlia Salles Tavares MendesCristina Barbosa AssisVânia Lacerda

DEPARTAMENTO DE TRANSFERÊNCIA

E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA

Cristina Barbosa Assis

DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES

EDITOR

Vânia Lacerda

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Mário Sérgio Carvalho Dias

REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA

Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO

Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira

PRODUÇÃO E ARTE

Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes,Maria Alice Vieira e Fabriciano Chaves Amaral

Capa: Letícia MartinezFotos da capa: Eliane Aparecida Benato, Natália A. R. Perese Mário Sérgio Carvalho Dias

PUBLICIDADE

Décio CorrêaAv. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade NovaCaixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MGTelefone: (31) [email protected]

Informe Agropecuário é uma publicação daEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

EPAMIG

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem

autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à

EPAMIG.

Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro

da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.

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para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da

EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos

técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.

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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAISAécio Neves da Cunha

Governador

SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA,PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Silas BrasileiroSecretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas GeraisPresidência

Baldonedo Arthur NapoleãoDiretoria de Operações Técnicas

Manoel Duarte XavierDiretoria de Administração e Finanças

Luiz Carlos Gomes GuerraGabinete da Presidência

Carlos Alberto Naves CarneiroAssessoria de ComunicaçãoRoseney Maria de Oliveira

Assessoria de Desenvolvimento OrganizacionalRonara Dias Adorno

Assessoria de InformáticaRenato Damasceno Netto

Assessoria JurídicaPaulo Otaviano Bernis

Assessoria de Planejamento e CoordenaçãoJosé Roberto Enoque

Assessoria de Relações InstitucionaisArtur Fernandes Gonçalves Filho

Auditoria InternaCarlos Roberto Ditadi

Departamento de Transferência e Difusão de TecnologiaCristina Barbosa Assis

Departamento de PesquisaMaria Lélia Rodriguez Simão

Departamento de Negócios TecnológicosArtur Fernandes Gonçalves Filho

Departamento de Prospecção de DemandasJúlia Salles Tavares Mendes

Departamento de Recursos HumanosJosé Eustáquio de Vasconcelos Rocha

Departamento de Patrimônio e Administração GeralMarlene do Couto Souza

Departamento de Obras e TransportesLuiz Fernando Drummond Alves

Departamento de Contabilidade e FinançasCelina Maria dos Santos

Instituto de Laticínios Cândido TostesGérson Occhi

Instituto Técnico de Agropecuária e CooperativismoMarcello Garcia Campos

Centro Tecnológico do Sul de MinasEdson Marques da Silva

Centro Tecnológico do Norte de MinasMarco Antonio Viana Leite

Centro Tecnológico da Zona da MataJuliana Cristina Vieccelli de CarvalhoCentro Tecnológico do Centro-Oeste

Cláudio Egon FacionCentro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba

Roberto Kazuhiko Zito

A EPAMIG integra oSistema Nacional de Pesquisa Agropecuária,

coordenado pela EMBRAP A

Controle de doençasna pós-colheita de frutas

pode abrir novos mercadosO Brasil é um dos maiores produtores de frutas do mundo.

Em 2004, segundo dados do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) e do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram

exportadas 850 mil toneladas de frutas, com geração de 370 milhões

de dólares em divisas.

Como os outros países em desenvolvimento com grande po-

pulação, o Brasil coloca a maior parte da sua produção de frutas no

mercado interno e enfrenta grande competitividade no mercado

externo. Os principais importadores de frutas brasileiras são a Europa

e os Estados Unidos. Somente a Europa importa 63% das frutas

nacionais, enquanto os Estados Unidos, devido à imposição de barrei-

ras fitossanitárias, vêm impedindo a importação de diversas frutas

brasileiras. Essas barreiras visam proteger a população de resíduos de

agrotóxicos presentes nas frutas e também evitar a entrada de frutas

infectadas por doenças ou pragas capazes de contaminar as lavouras

daquele país.

No Brasil, as doenças pós-colheita são responsáveis por perdas

significativas de produtos agrícolas durante as etapas de comer-

cialização. Diminuem não apenas a quantidade comercializada, mas

também a qualidade dos produtos no mercado. As perdas causadas

por essas doenças são variáveis e oscilam entre 10% e 50% em fun-

ção do produto, da região e da tecnologia empregada na produção.

A falta de controle dessas doenças constitui sério prejuízo, tanto para

produtores, como para comerciantes e, muitas vezes, atinge o

consumidor.

A EPAMIG publica esta edição do Informe Agropecuário com o

objetivo de minimizar essas perdas, através da disponibilização de

informações sobre doenças de frutas e orientação aos produtores,

quanto à aplicação de programas de boas práticas agrícolas e do siste-

ma de análise de perigos e pontos críticos de controle na redução de

doenças na pós-colheita.

Baldonedo Arthur NapoleãoPresidente da EPAMIG

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Organização dos produtores contribuipara o sucesso da fruticultura nacional

A professora Anita de Souza Dias Gutierrezé formada em Agronomia pela Esalq-USP, commestrado e doutorado em Fitotecnia e especiali-zação em Agricultura Tropical pela AssociaçãoBrasileira de Educação Agrícola Superior (Abeas).

Trabalhou como pesquisadora na EmpresaCapixaba de Pesquisa Agropecuária (Emcapa),hoje Instituto Capixaba de Pesquisa, AssistênciaTécnica e Extensão Rural (Incaper). Foi superin-tendente do Centro de Desenvolvimento deAgricultura Tropical do Espírito Santo.

Na Companhia de Entrepostos e ArmazénsGerais de São Paulo (Ceagesp), é responsávelpela operacionalização do Programa Brasilei-ro para a Modernização da Horticultura, sendocoordenadora do Centro de Qualidade emHorticultura.

IA - Qual a importância das frutas

brasileiras no panorama nacional

e internacional?

Anita Gutierrez – O Brasil é um dos

maiores produtores de frutas do mun-

do. As frutas brasileiras ocupam cerca

de 2 milhões de hectares. São expor-

tados cerca de 2% da sua produção,

normalmente aproveitando janelas do

mercado internacional. O mercado

mundial de exportação de frutas é

muito competitivo e, na maioria dos

países, a produção está aumentando

proporcionalmente mais que o consu-

mo. O Brasil, como os outros países

em desenvolvimento com grande po-

pulação, coloca a maior parte da sua

produção de frutas no mercado interno.

O crescimento da exportação e a ne-

cessidade de atendimento das exigên-

cias dos importadores estão alavan-

cando a modernização da fruticultura

nacional e o estabelecimento de pro-

gramas de Boas Práticas Agrícolas, co-

mo o de Produção Integrada de Frutas

(PIF).

IA - Quais as principais frutas comer-

cializadas no País e quais os prin-

cipais entraves na comercialização?

Anita Gutierrez – As principais fru-

tas comercializadas no Brasil são laran-

ja, banana, maçã, abacaxi, mamão e uva.

A comercialização das frutas é extre-

mamente complicada e geradora de

grandes conflitos e insatisfações. O pro-

dutor tem um perfil individualista: há

grande dificuldade de associação para

a comercialização. A perecibilidade do

produto, a colheita trabalhosa e prolon-

gada (que impede ou, no mínimo, atra-

palha muito o adequado acompanha-

mento do processo de comercialização

pelo produtor isolado) e a inexistência

ou precariedade da cadeia de frio tor-

nam o produtor extremamente frágil em

suas relações comerciais. A caracterís-

tica mais importante e comum a todos

os elos da cadeia de produtos hortíco-

las frescos é a falta de confiança. O pro-

dutor não confia no atacadista, e este

não confia no produtor. O varejista não

confia no atacadista e o consumidor

não confia no produto. A adoção de

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uma linguagem comum de qualidade

(as normas de classificação) é passo

imprescindível para a transparência

e confiabilidade na comercialização.

A transparência na comercialização

não interessa a segmentos retrógrados,

como o é boa parte dos comprado-

res do grande varejo e dos atacadis-

tas: significa perda de poder. A falta

de transparência possibilita o repasse

da ineficiência, dos erros de pedido,

das perdas no transporte e na gôndo-

la, da troca de embalagem, das más

condições de armazenamento. O pro-

dutor paga pela ineficiência do siste-

ma.

IA - Quais as principais frutas expor-

tadas e quais os principais entraves

durante o processo?

Anita Gutierrez – As principais fru-

tas exportadas são melão, manga, uva,

mamão e laranja. Os programas de apoio

à exportação são desligados da reali-

dade global da cadeia de produção:

procura-se incentivar a produção espe-

cífica para exportação, o que obriga

os produtores a custos elevados sem

remuneração compatível ou os leva a

repetidos fracassos nos mercados exter-

nos. O sistema produtivo de frutas no

Brasil é muito diferente dos sistemas

de produção, voltados exclusivamente

à exportação, existentes para frutas no

Chile, e para flores de corte, na Colôm-

bia e no Equador, onde há rígida coor-

denação por grandes atacadistas inter-

nacionais e não há mercado interno.

As tentativas de imitar esses sistemas,

como o governo brasileiro tem feito, não

têm qualquer chance de sucesso con-

tinuado.

IA - Qual o porcentual de perdas que

ocorre durante o processo de comer-

cialização das principais frutas

produzidas no País?

Anita Gutierrez – É preciso muito

cuidado ao falar de perdas e não pode-

mos esquecer daquelas que acontecem

na roça, durante o sistema de produção

e descarte na colheita e na classificação.

Podemos dividir as perdas em: perdas

do produto (que vai para o lixo) e per-

das do valor do produto (depreciação).

As perdas do valor do produto são cer-

tamente muito mais importantes para

o produtor, mas de difícil mensuração.

A perda do produto (lixo) no mercado

atacadista é pequena – no Entreposto

Terminal, a porcentagem de lixo orgâni-

co é 1%. Os preços dos produtos desva-

lorizados com machucados pequenos

são rebaixados, até que se consiga ven-

der o produto. A grande quantidade de

vendedores ambulantes e a falta de

fiscalização tornam possíveis a comer-

cialização desses produtos por valores

muito baixos, concorrendo de forma

desleal com os produtos de melhor qua-

lidade. No varejo, a perda contabilizada

pelos supermercados está em torno de

7% a 10%.

IA - Quais os principais fatores que

provocam a depreciação dos frutos

na pós-colheita?

Anita Gutierrez – A podridão é o

principal fator de depreciação dos fru-

tos pós-colheita. Outros defeitos con-

siderados graves como dano aberto,

defeitos internos, murcha, defeitos de

casca, que ocupam grande parte desta,

frutos imaturos, defeitos que podem

transformar-se em podridão ou de-

preciam muito a aparência são causas

importantes de depreciação.

IA - Quais as principais frutas atingidas

pelas podridões pós-colheita pro-

vocadas por agentes patogênicos

e qual o efeito negativo dessas

podridões durante o processo de

comercialização?

Anita Gutierrez – Em algumas fru-

tas, como o pêssego e o morango, a

podridão desenvolve-se mais rápido.

Em outras, como o mamão, a podridão

aparece mais no varejo e na casa do

consumidor. A grande maioria das

podridões observadas na pós-colheita

é causada por microrganismos opor-

tunistas, que só conseguem penetrar e

desenvolver-se na fruta, se houver feri-

mentos que ocorram da colheita em

diante.

A ocorrência de frutos podres, mes-

mo com a retirada deles pelo atacadista,

diminui o valor de venda, em mais de

50% no varejo, devido ao potencial de

disseminação de podridão.

IA - O sistema de produção integrado

ou orgânico agrega valor às frutas?

Existe tendência no mercado brasi-

leiro em optar por frutas produzidas

sob este sistema?

Anita Gutierrez – O medo dos agro-

tóxicos faz com que o produto orgâni-

co seja mais valorizado e vendido nas

grandes redes com um valor 30% su-

perior. Mesmo na Europa, a área de

produção orgânica é 3,4% da área total

de produção agrícola. Hoje, o sistema

de produção integrado é desconhecido

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pelos consumidores, varejistas e ata-

cadistas. O grande desafio do PIF é

premiar o esforço do produtor, o que

só acontecerá com a sua valorização por

todos os elos da cadeia e a sua deman-

da pelo consumidor. Existe um esforço

grande neste sentido em parceria com

as Ceasas e as organizações de super-

mercados.

IA - A ocorrência de podridões em frutas

produzidas no sistema de produção

integrado ou no orgânico é menor

que no sistema convencional?

Anita Gutierrez – Provavelmente.

Ambos os sistemas têm como base a

prevenção de problemas e exigem um

sistema de produção e de manuseio

mais cuidadoso.

IA - Que medidas devem ser tomadas

para garantir o sucesso da fruti-

cultura nacional?

Anita Gutierrez – Podemos dividi-

las em medidas de longo e de curto

prazos.

As medidas de longo prazo têm por

escopo criar mecanismos para moder-

nizar a cadeia hortícola, institucio-

nalizados através de instrumentos le-

gais:

I. Implantação de instrumentos de

garantia de comércio justo, através

de um sistema de regras comer-

ciais específicas para o setor se-

melhante ao Perishable Agricul-

tural Commodities Act (PACA)

e ao Fair Trade Guidelines, nos

EUA. As principais finalidades

dessa medida são: estabelecer

um sistema de arbitragem comer-

cial; articular com todos os elos

da cadeia de produção a adoção

das normas de classificação e

outras medidas de ajuste inter-

no.

II. Organização dos produtores em

Comitês de Defesa por produ-

to, responsáveis pela coordena-

ção de cada cadeia de produção

hortícola. Os comitês devem ser

constituídos na forma de entidades

público-privadas, com direção

privada e poderes juridicamente

estabelecidos para viabilizar a

organização do setor. A princi-

pal finalidade dessa medida é

proporcionar ao segmento da

produção agrícola a assunção da

coordenação de cada cadeia de

produção hortícola: orientar a

pesquisa para a direção correta,

indicar a orientação correta das

ações de Defesa Agropecuária,

estabelecer as ações de marketing

(em seu sentido mais amplo de

preparação de um produto para

o mercado, incluindo o estabe-

lecimento de normas e padrões

em toda a cadeia, propaganda e

orientação ao consumidor).

As medidas de curto prazo têm por

escopo criar mecanismos que apóiem

no campo prático a melhoria do desem-

penho da cadeia hortícola:

I. Implantação de um sistema de

informação de mercado e de

tecnologias disponíveis, bases

essenciais para as tomadas de

decisões corretas pelo produtor

e por toda a cadeia de produ-

ção.

II. Viabilização da implantação de

barracões de classificação e co-

mercialização nas regiões produ-

toras. As características da pro-

dução e do produto exigem um

local de concentração do produ-

to, que garanta a destinação de

cada lote ao seu melhor nicho

de mercado e a adoção de méto-

dos modernos de comercializa-

ção. Isso garantirá ainda a exis-

tência de volumes de produto,

cuja melhor destinação seja a

industrialização, possibilitando

o surgimento de pequenas agro-

indústrias nas regiões produtoras;

a existência dessa rede de barra-

cões de classificação e comercia-

lização nas regiões produtoras

garantirá também o crescimento

sustentado das exportações.

III. Transformação das Ceasas em

centros eficientes de consolida-

ção e distribuição dos produ-

tos e em centros de informação,

desenvolvimento, capacitação,

controle de qualidade e de apoio

ao pequeno produtor, ao peque-

no varejo e ao pequeno serviço

de alimentação, com isso elimi-

nam-se ou diminuem-se as atuais

distorções em favor dos grandes

e favorecem a concorrência leal.

IV. Incentivo à exportação. Será mais

fácil encontrar, a custos realistas

e competitivos, produtos com

qualidade para exportação em

uma cadeia adequadamente coor-

denada; será também mais fácil

intensificar os esforços da Agên-

cia de Promoção de Exportações

(Apex) na promoção do produto

nacional no exterior com a partici-

pação dos Comitês de Defesa por

produto.Por Vânia Lacerda

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7Doenças pós-colheita de frutas

1Engo Agro, Pós-Doutorado Fitopatologia, Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA.Correio eletrônico: [email protected]

2Enga Agra, M.Sc., Agência Estad ual de Defesa Agropecuária da Bahia, R. Barão de Cotegipe, 638, CEP 47805-020 Barreiras-BA. Correioeletrônico: [email protected]

3Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

O abacaxizeiro, Ananas comosus var.comosus, membro da família Bromeliaceae,é originário do continente americano, ondefoi selecionado, domesticado e dispersou-se há milênios nas bacias dos Rios Ama-zonas e Orinoco. Constitui-se em uma dasmais antigas culturas da América. Terceirafruteira mais consumida no mundo, o aba-caxizeiro é cultivado, atualmente, em maisde 60 países. Cultura atacada por váriosagentes causadores de doenças, o abacaxi-zeiro apresenta problemas pós-colheita,que podem ter duas origens:

a) infecções das inflorescências emdesenvolvimento, durante a fase deflores abertas;

Doenças do abacaxi

Aristoteles Pires de Matos1

Danúzia Maria Vieira Ferreira2

Zilton José Maciel Cordeiro3

b) infecções via ferimentos no pedún-culo ou na superfície do fruto, nacolheita e/ou na pós-colheita.

Este artigo aborda aspectos gerais dasdoenças pós-colheita do fruto do abacaxi-zeiro, com ênfase para sintomas, agentecausal e medidas de controle.

MANCHA-NEGRA-DO-FRUTO

A mancha-negra-do-fruto do abacaxi-zeiro foi descrita no final do século 19.Amplamente difundida em todas as regiõesprodutoras de abacaxi do mundo, essadoença está também presente em todos osEstados produtores, no Brasil, com elevadaimportância para a abacaxicultura mun-dial. A mancha-negra-do-fruto é causada pe-

los fungos Penicillium funiculosum Thome/ou Fusarium moniliforme Sheldon.

Sintomas

Frutos infectados da cultivar SmoothCayenne, mais difundida no mundo, e dacultivar Pérola, de maior importância noBrasil, não expressam sintomas externosda doença. Já aqueles das cultivares Perole-ra e Queen apresentam coloração amarelo-alaranjada nos frutilhos infectados, quetambém se apresentam em nível inferiorem relação aos sadios que os circundam(Fig. 1A). A ausência de sintomas externosnas pri ncipais cultivar es não permite odescarte dos frutos infectados na sele-ção pós-colheita. Após a remoção da cas-ca para o consumo in natura, ou para o

Resumo - O abacaxizeiro é uma cultura originária do continente americano que se espa-lhou pela maioria dos países tropicais, e algumas regiões subtropicais. Problemas fitossa-nitários que ocorrem nessa cultura, a exemplo das doenças em pós-colheita, podemcausar redução acentuada na receita líquida, por depreciar a qualidade dos frutos comer-cializáveis. Doenças que afetam o abacaxi em pós-colheita podem ser causadas por agentesbióticos ou abióticos. Entre os agentes bióticos destacam-se a mancha-negra e a podridão-negra, ambas de etiologia fúngica e ocorrência generalizada, e a podridão-rósea, doençabacteriana ainda não relatada no Brasil. Em nível mundial, o brunimento-interno é aprincipal doença abiótica na pós-colheita do abacaxi, enquanto a mancha-chocolate,também de origem abiótica, constitui problema de importância relativa em algumasregiões produtoras do Brasil.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Mancha-negra-do-fruto. Podridão-negra-do-fruto.Podridão-rósea.

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8 Doenças pós-colheita de frutas

processamento industrial, é que os sin-tomas internos são detectados na formade podridão marrom-escura no frutilhoatacado (Fig. 1B).

Epidemiologia

A incidência da mancha-negra-do-frutovaria de uma região produtora para outra,assim como dentro de uma mesma região, adepender da época de produção e do po-tencial de inóculo. Essa sazonalidade édevida, p rincipalmente, à o corrência d eperíodos chuvosos, antes da abertura dasflores, o que contribui para o aumento dopotencial de inóculo, seguidos de per ío-dos secos, elevando a população do ácaro-vetor (MOURICHON, 1983). Outro aspec-to importante na epidemiologia da doençaé a maior suscetibilidade da inflorescênciaentre a primeira e a décima semana após aindução floral (ROHRBACH; PFEIFFER,1976). Maior intensidade de ataque é obser-vada em frutos de baixa acidez.

Medidas de controle

A mancha-negra-do-fruto tem seu con-trole fundamentado na aplicação de pro-dutos químicos, visando ao controle da

entomofauna presente na inflorescência,especialmente o ácaro Steneotarsonemusananas (LE GRICE; MARR, 1970). As pul-verizações devem iniciar logo após o trata-mento de indução floral e continuar até ofechamento das últimas flores.

Embora a intensidade de ataque d oagente causal da mancha-negra varie entreas cultivares, o controle da doença por re-sistência genética ainda não foi explora-do.

PODRIDÃO-NEGRA-DO-FRUTO

A podridão-negra-do-fruto é causadapor Chalara paradoxa (De Seynes) Sacc.= Thielaviopsis paradoxa (De Seyn.)Hohn., teliomorfa: Ceratocystis paradoxa(Dade) C. Moreau, um patógeno polífagoque é capaz de causar infecções em váriasculturas. Presente em todas as regiões pro-dutoras de abacaxi do mundo, essa doen-ça caracteriza-se pelo desenvolvimentode uma podridão mole, aquosa, especial-mente em frutos destinados ao mercado innatura. Perdas também podem ocorrer emfrutos destinados à indústria, porém, nessecaso, sua intensidade depende de vários

fatores, entre os quais o período decorridoentre a colheita e o processamento.

Sintomas

A infecção do fruto do abacaxizeiro porC. paradoxa pode ocorrer por duas vias:

a) através de ferimentos no pedúnculo,decorrentes do corte da colheita ouda remoção dos filhotes;

b) por ferimentos na casca, devidos aomanuseio e transporte inadequa-dos.

A partir do ferimento no pedúnculo opatógeno progride rapidamente pelo eixocentral e mais lentamente na polpa, resul-tando no desenvolvimento de uma lesãoem formato de cone (Fig. 2A). A infecçãovia ferimentos na casca do fruto originalesão que avança da casca em direção aoeixo central do fruto (Fig. 2B). Com o pro-gresso da doença, a polpa liqüefaz-se, osuco exsuda, restando no interior do frutoapenas as fibras dos feixes vasculares, decoloração escura, devido à ação do pató-geno.

Epidemiologia

A infecção dos frutos por C. paradoxaocorre de 8 a 12 horas após a colheita, ten-do sua incidência favorecida por condiçõesde umidade relativa elevada e temperatu-ras amenas, atingindo níveis mais altos emfrutos colhidos sob chuva (MATOS, 2000).A severidade da doença depende, também,do grau dos ferimentos na colheita e arma-zenamento, do nível de inóculo nos frutose da temperatura de armazenamento e trans-porte. O agente causal da podridão-negra-do-fruto expressa seu máximo desenvolvi-mento a 25oC, lento a 12oC e inexpressivo a8oC. Restos culturais nas proximidades dolocal de empacotamento dos frutos consti-tuem fontes significativas de inóculo.

Medidas de controle

O controle da podridão-negra-do-frutodeve ser uma atividade rotineira, iniciadano momento da colheita mediante a inte-gração de medidas como:

Figura 1 - Mancha-negra em frutos de abacaxi – cultivar Perolera

NOTA: Figura 1A – Sintomas externos. Figura 1B – Sintomas internos.

A B

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9Doenças pós-colheita de frutas

a) cortar o pedúnculo a, aproximada-mente, 2 cm da base do fruto;

b) manusear o fruto adequadamente,evitando ferimentos;

c) tratar imediatamente os ferimentosdo pedúnculo, usando fungicidascomo Triadimefon, registrados paraa cultura;

d) eliminar os restos de cultura nasproximidades da área de armazena-mento e e mpacotamento d os f ru-tos;

e) reduzir o tempo entre a colheita e oprocessamento dos frutos;

f) armazenar e transportar os frutos sobrefrigeração, temperaturas entre 7,5oCe 10oC.

PODRIDÃO-RÓSEA

A podridão-rósea dos frutos do abacaxi-zeiro é uma doença de etiologia bacteriana,descrita em 1915, no Havaí. Também deno-minada pink disease , a podridão-rósea éuma das doenças da pós-colheita maisimportante do abacaxizeiro, que manifes-ta sintomas após o aquecimento duranteo processamento (KADO, 2003). Além doHavaí, a podridão-rósea está presente tam-bém na África do Sul, Austrália e Filipinas.Não há relato dessa doença no Brasil.

Agente causal

A podridão-rósea foi por muito tem-po considerada decorrente da infecção dosfrutos do abacaxizeiro por quatro bacté-rias: Erwinia herbicola, Enterobacteragglomerans, Gluconobacter oxydans eAcetobacteraceti (ROHRBACH; PFEIFFER,1976). Recentemente, por meio de estudosmoleculares, o agente causal da podridão-rósea do abacaxizeiro foi identificado comosendo Pantoea citrea (CHA et al., 1997).

Sintomas

A podridão-rósea caracteriza-se pelodesenvolvimento de uma coloração aver-melhada na polpa, facilmente observadaapós o aquecimento, durante o processa-mento dos frutos (ROHRBACH; PFEIFFER,1976). De maneira geral, em condições decampo, nenhum sintoma externo pode serdetectado nos frutos infectados. A colo-ração avermelhada na polpa dos frutosinfectados por P. citrea é resultante daconversão da glicose em gliconato, que éoxidado a 2-ketogliconato composto que,também por oxidação, passa a 2,5-diketo-gliconato, o qual, quando aquecido, expres-sa coloração avermelhada (KADO, 2003).

Epidemiologia

O ciclo da podridão-rósea ainda não foicompletamente esclarecido. A constataçãoda redução da incidência da doença em

plantios, onde se aplicam inseticidas du-rante o período da floração, indica o envol-vimento de insetos na disseminação des-sa doença. Transportada até a cavidadefloral, P. citrea sobrevive saprofiticamen-te, utilizando, como nutrientes, produtosdo metabolismo de leveduras, até que, sobcondições favoráveis, infecta o ovário e atin-ge a polpa do fruto em maturação. O fatode os plantios de abacaxi serem instaladosanualmente e em várias épocas durante oano, constitui fator importante na dispersãode P. citrea, assegurando a propagação dadoença.

Medidas de controle

O controle da podridão-rósea fundamenta-se na aplicação de inseticidas durante operíodo de flores abertas. Além do contro-le químico, essa doença também pode sereficientemente controlada estabelecendo-se um programa de indução floral, que pos-sibilite a produção e a colheita dos frutosem épocas desfavoráveis à sua incidên-cia. Outra medida cultural de controle dapodridão-rósea consiste em proceder àcolheita dos frutos antes de sua completamaturação (PY et al., 1984).

GREEN RIPE

O green ripe é uma anomalia caracteri-zada por alterações na polpa do fruto, queapresenta coloração amarelada e aumentona translucidez, mesmo com a casca man-tendo a coloração verde, car acterística defruto que não atingiu a maturação fisio-lógica. Os sintomas do green ripe iniciam-se na polpa, próximo do eixo central, nabase do fruto, espalhando-se gradativa-mente por toda a polpa. Um fruto afetadopela anomalia do green ripe apresentaquantidades anormais elevadas de álcooletílico, alto teor de açúcar e baixa acidez, oque faz com que a relação sólidos solú-veis/acidez seja mais alta do que o normal(HUERT, 1953). Em decorrência do desen-volvimento da anomalia, a polpa torna-sefrágil, inviabilizando tanto a exportaçãocomo fruta fresca, quanto o aproveitamentoindustrial. Apesar de todas as alterações

Figura 2 - Sintomas da podridão-negra-do-fruto do abacaxi

NOTA: Figura 2A – Infecção pelo pedún-culo. Figura 2B – Infecção por feri-mento na casca.

B

A

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10 Doenças pós-colheita de frutas

que se processam internamente, frutos afe-tados pelo green ripe não expressam sin-tomas externos, o que impede sua seleçãovisual. Porém, apresentam densidade maiselevada que a normal, cara cterística estaque faz com que afundem na água, enquan-to os sadios flutuam, o que possibilita seudescarte (PY et al., 1984).

MANCHA-CHOCOLATE

Em alguns estados do Brasil, produto-res de abacaxi, como Maranhão, Pará e To-cantins, tem sido verificada uma anomaliadenominada mancha-chocolate, que incideem frutos da cultivar Pérola, caracterizando-se pela descoloração da polpa, inicialmentemarrom-clara, que escurece com o progressoda doença (Fig. 3). Análises realizadas noLaboratório de Fitopatologia da EmbrapaMandioca e Fruticultura, não resultaram emisolamento de qualquer agente patogênico,sugerindo o não envolvimento de agentesbióticos na etiologia do problema. Estudosposteriores indicaram que frutos afeta-dos apresentam teores mais elevados decompostos fenólicos e mais baixos desólidos solúveis totais e ácido ascórbico,caracterizando essa anomalia como sendode natureza fisiológica (BOTREL et al.,2002). Observações de produtores, emnível de campo, indicam que a ocorrênciada mancha-chocolate é maior no início doperíodo chuvoso.

BRUNIMENTO-INTERNO

Doença de causa abiótica, o brunimento-interno é um distúrbio fisiológico, associa-do à exposição do fruto, antes ou depoisda colheita, a temperaturas inferiores a 7oC,por uma semana ou mais (KADER, 2002).Essa anomalia começa com o aparecimentode manchas pequenas, translúcidas e aquo-sas na polpa do fruto, próximas ao eixo cen-tral, a cerca de 2cm da base da coroa. Essasmanchas tornam-se de cor marrom-escuro(Fig. 4), devido à oxidação de compostosfenólicos, aumentam gradativamente detamanho e podem, em casos de ataque se-vero, ocupar toda a polpa, restando sadia

Figura 4 - Sintomas de brunimento-interno na polpa do fruto do abacaxizeiro

Figura 3 - Fruto do abacaxizeiro, cultivar Pérola, que evidencia descoloração na polpa,característica da mancha-chocolate, anomalia de natureza fisiológica

apenas uma faixa estreita entre a lesão e acasca, faixa esta suficiente para manter aconsistência do fruto, conferindo-lhe umaaparência externa sadia. Além do efeito daalternância de baixas e altas temperaturassobre o desenvolvimento do brunimento-interno, frutos com baixos teores de acidez,em especial de ácido ascórbico, são maissensíveis ao desenvolvimento dessa ano-malia. Teores elevados dessa substânciana polpa do fruto evitam a oxidação de com-postos fenólicos e, por conseguinte, o de-senvolvimento da anomalia.

A incidência do brunimento-internovaria com a cultivar e a região produtora,sendo, em geral, intensificada com o aumen-to no período de armazenamento. Sua inci-dência pode ser reduzida por meio de prá-ticas culturais capazes de elevar a acidezdos frutos, a exemplo do maior suprimentode potássio (LACOEUILHE, 1978). Outraprática de controle consiste em manter osfrutos, por um dia, a 35oC, após terem sidotransportados a 7oC. Essa condição inibe aatividade da polifenoloxidase, resultandono controle da anomalia (KADER, 2002).

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11Doenças pós-colheita de frutas

REFERÊNCIAS

BOTREL, N.; CARVALHO, V.D. de; OLIVEIRA,E. F.; SOARES, A. G.; CENCI, S. A. Efeito da“mancha-chocolate” nas características físico-químicas e químicas de frutos de abacaxizeiro -‘Pérola’. Revista Brasileira de Fruticultura ,Jaboticabal, v.24, n.1, p.77-81, abr . 2002.

CHA, J.S.; PUJOIL, C.; DUCUSIN, A.R.;MACION, E.A.; HUBBARD, C. H.; KADO, C.I.Studies on Pantoea c itrea, the causal agent ofpink disease of pineapple. Journal of Phyto-pathology, Berlin, v .145, p. 313-319, 1997.

HUERT, R. Contribution à l’étude du “jaune”de l ’ananas em Guineé. Fruits, Paris, v .8, n.11,p. 5 44-546, n ov. 1 953.

KADER, A.A. Pineapple recommendationsfor maintaining postharvest quality . Dispo-nível em: <http://Produce/ProduceFacts/Fruits/pineapple.shtml>. Acesso em: 4 jul. 2003.

KADO, C.I. Pink disease of pineapple. St. Paul:American P hytopathological S ociety, 2 003.Disponível em: <http://www .apsnet.org/online/feature/pineapple>. Acesso em: 4 jul. 2003.

LACOEUILHE, J.J. La fumure N-K de l’ananasen Cote d’lvoire. Fruits, Paris, v.33, n.5, p.341-348, mai 1978.

LE GRICE, D.S.; MARR, G.S. Fruit disease con-trol in pineapple. Farming in South Africa ,Pretoria, v.46, n.1, p. 9-12, 1970.

MATOS, A. P. de. Doenças e seu controle. In:REINHARDT, D. H.; SOUZA, L. F. da S.; CABRAL,J.R.S. (Org.). Abacaxi produção: aspectos técni-cos. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruti-cultura/Brasília: Em brapa Comunica ção paraTransferência de Tecnologia, 2000. p.17-51.(Embrapa C omunicação p ara T ransferência d eTecnologia. Frutas do Brasil, 7).

MOURICHON, X . C ontribution à l ’étude d estaches noires (fruitlet core rot) et leathery pocketde l ’ananas c ausé p ar Penicillium funiculosumThom. en Côte d’Ivoire. Fruits, Paris, v.38, n.9,p.601-609, sept. 1983.

PY, C.; LACOEUILHE, J. J.; TEISSON, C.L’ananas, sa cultur e, ses pr oduits. P aris:Maisonneuve & Larose, 1984. 561p.

ROHRBACH, K.G.; PFEIFFER, J.B. The interactionof four bacteria causing pink disease of pineapplewith several pineapple cultivars. Phytopathology,St. Paul, v .66, n.4, p.396-399, Apr. 1976.

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12 Doenças pós-colheita de frutas

1Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletrônico: [email protected]

2Engo Agro, Pós-Doutorado Fitopatologia, Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA.Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

As perdas pós-colheita de banana sãoestimadas em até 40% da produção. Dessetotal, um percentual desconhecido é c re-ditado às doenças que ocorrem ainda nocampo, determinando o descarte de frutosna casa de embalagens, e àquelas que ocor-rem na pós-colheita. O crescimento das exi-gências do mercado pela qualidade geraldos frutos tende a mudar esta estatística.Essa nova realidade reflete-se no númerocada vez maior de consultas recebidas pe-los técnicos, sobre o assunto, o que de-verá pressionar as instituições a geraremmais informações técnicas sobre este tema.As manchas de frutos são atribuídas a umcomplexo de agentes bióticos e abióticos,aos quais se inclui um grande número defungos, insetos e os agroquímicos de modogeral, entre eles os utili zados no contro le

Doenças da banana

Zilton José Maciel Cordeiro1

Aristoteles Pires de Matos2

da Sigatoka, principalmente as misturascom óleo e os coquetéis (GAUHL, 2000;SPANHOLZ et al., 2001). Neste trabalho se-rão apresentadas de forma clara e objetivaas manchas que ocorrem durante ou apósa colheita dos frutos de banana, as medidasde controle indicadas para impedir ou re-duzir a presença dessas doenças, contri-buindo assim para a melhoria da qualidadeda banana produzida.

DOENÇAS DE PRÉ-COLHEITA

Pinta-de-Pyricularia

A pinta-de-Pyricularia é considerada umdos problemas mais importantes em culti-vos de banana na América Central, pro-vocando perdas na pré e pós-colheita. NoBrasil, foi relatada sua ocorrência de formasevera em bananais paulistas (MARTINEZ;

POLAZZO, 1976). É causada pelo fungoPyricularia grisea, um importante pató-geno manchador de frutos, como tambémum colonizador saprofítico comum em fo-lhas (STOVER, 1972). Os sintomas constamde lesões escuras, deprimidas, redondascom até 5 mm de diâmetro. Em estádio maisavançado da doença, a coloração passade parda a quase preta, apresentando-seenvolta por um halo verde. Freqüentemen-te, a depressão central da lesão tende atrincar-se longitudinalmente, podendo con-fundir-se com a mancha-losango. As man-chas são observadas sobre frutos com maisde 60-70 dias e, quando ocorre em pós-colheita, geralmente é resultante de infec-ção latente, recebendo o nome de pittingdisease. O fungo ocorre ainda com freqüên-cia sobre a coroa, o pedicelo e as bainhasda folha (STOVER, 1972).

Resumo - A preocupação dos produtores de banana com as manchas que ocorrem emfrutos é cada vez maior. Isso é resultado do crescimento das exigências do mercado emrelação à aparência geral da fruta durante a comercialização. Os principais problemas decausa biótica que ocorrem nos frutos durante a fase de pré e pós-colheita da banana são:pinta-de-Pyricularia, causada por Pyricularia grisea; mancha-parda, causada por Cercosporahayi; mancha-losango, cujo invasor primário é Cercospora hayi seguido por Fusariumsolani, F. roseum e possivelmente outros fungos; pinta-de-Deightoniella, causada porDeightoniella torulosa; ponta-de-charuto, cujos agentes principais são Verticillium theobromaee Trachysphaera fructigena; mancha-de-Chloridium, causada pelo fungo Chloridium musae;podridão-da-coroa, causada pela associação de vários patógenos como Fusarium roseum,Verticillium theobromae, Gloeosporium musarum (Colletotrichum musae) e a antracnose, causadapor Colletotrichum musae. Incluem-se ainda as medidas gerais de controle para essesproblemas.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Pinta-de-Pyricularia. Mancha-parda. Antracnose.

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13Doenças pós-colheita de frutas

Mancha-parda

A mancha-parda é um defeito comumem frutos desenvolvidos durante períodoschuvosos e quentes. Sua incidência variagrandemente de um país para outro, sendoporém maior no México, na Guatemala eem Honduras. É causada por Cercosporahayi, um saprófita comum, sobre folhas debanana já mortas e sobre folhas de plantasdaninhas senescentes ou mortas (STOVER,1972). Sintomas similares aos da mancha-parda foram observados em alta severi-dade sobre banana ‘Prata Anã’, no Nortede Minas Gerais (Fig. 1), todavia não fo-ram completados os postulados de Koch(CORDEIRO; MESQUITA, 2001). Os sinto-mas são descritos como manchas marronse ocorrem sobre a ráquis, coroa e dedos.Variam da cor palha a pardo-escura e apre-sentam margem irregular circundada porum halo de tecido encharcado. Também va-riam em tamanho, geralmente em torno de5-6 mm de comprimento. As manchas nãosão deprimidas e também não ocorre racha-

dura da casca lesionada como em mancha-losango e pinta-de-Pyricularia. As man-chas só aparecem em frutos com idade igualou superior a 50 dias. Em contraste com apinta de P. grisea, não ocorre aumento dafreqüência ou tamanho das manchas namaturação (STOVER, 1972).

Mancha-losango

A mancha-losango tem ap arecido deforma esporádica em cultivos de bananano Brasil. A ocor rência mais severa foiobservada em plantios de Mato Grosso doSul, ocorrendo sobre a cultivar Caipira(CORDEIRO; MATOS, 2000). O aparecimen-to das l esões é f avorecido pela ocorrên-cia de períodos chuvosos prolongados.O nome da lesão é em razão do seu formato,cujo invasor primário é Cercospora hayi,seguido por Fusarium solani, F. roseum epossivelmente outros fungos. O primeirosintoma é o aparecimento, sobre a cascado fruto verde, de uma mancha amarelaimprecisa que mede de 3-5 mm de diâmetro.

aproximam-se do ponto de colheita, po-dendo aumentar após esta fase (STOVER,1972).

Pinta-de-Deightoniella

Embora seja comum em frutos, folhasvelhas e bainhas, a pinta-de-Deightoniellanão é considerada uma lesão grave, excetoem condições de alta umidade e quandoos frutos não são devidamente ensaca-dos. É causada pelo fungo Deightoniellatorulosa, um habitante freqüente de fo-lhas e flores mortas. A maior incidência dadoença coincide com períodos de chu-vas prolongadas e alta umidade relativa.Maior severidade ocorre nas plantaçõesmalconduzidas, onde se deixam grandesquantidades de folhas penduradas, oucuja drenagem é deficiente. Todas as varie-dades de banana são afetadas pela pinta.Os sintomas podem aparecer sobre fru-tos em todos os estádios de desenvolvi-mento. Consistem em manchas pequenas,geralmente com menos de 2 mm de diâ-metro, de coloração que vai de marrom-avermelhada à preta. Um halo verde-escurocircunda cada mancha. As pintas aumen-tam, quando o fruto aproxima-se do pontode colheita (Fig. 3). Os frutos com 10 a30 dias de idade são mais facilmente infec-tados que os de 70 a 100 dias (STOVER,1972). Não confundi-las com manchas re-sultantes de oviposição de tripes nas flo-res.

Figura 1 - Mancha-parda Figura 2 - Mancha-losango

Como as células infectadas nãose desenvolvem e o tecido sadioem torno da lesão cresce, surgeuma rachadura circundada porum halo amarelo. Esta aumentade extensão além do halo e alarga-se no centro. O tecido expostopela rachadura e o halo amarelotornam-se necróticos, entram emcolapso e escurecem. A manchaaparece então como umalesão em forma de lo-sango, preta, deprimi-da, com 1,0 a 3,5 cm decomprimento por 0,5 a1,5 cm de largura (Fig. 2).As manchas pequenasraramente estendem-sealém da casca; já no ca-so de manchas grandes,a p olpa f ica e ventual-mente exposta. As man-chas começam a apa-recer, quando os frutos

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14 Doenças pós-colheita de frutas

Ponta-de-charuto

Além do subgrupo Cavendish, o pro-blema da ponta-de-charuto aparece comfreqüência em variedades do subgrupoTerra. Em consultas recentes, produtoresdo Triângulo Mineiro têm sentido a neces-sidade da aplicação de fungicidas para ocontrole da doença em banan a ‘Terra’.Vários fungos são tidos como causadoresda podridão, porém os mais consistente-mente isolados das lesões são Verticilliumtheobromae e Trachysphaera fr uctigena.A ocorrência de períodos de alta umida-de está relacionada com a maior incidên-cia da doença. Os sintomas caracterizam-se por uma necrose preta que começa noperianto e progride até a ponta dos frutosainda verdes. O tecido necrótico corruga-do cobre-se de fungos e faz lembrar a cin-za da ponta de um charuto (Fig. 4), daí o

Controle cultural

Cordeiro e Matos (2000), Stover (1972)e Gauhl (2000) referem-se à utilização depráticas que visam à redução do potencialde inóculo e do contato entre patógeno ehospedeiro, com as seguintes práticas:

a) eliminação de folhas mortas ou emsenescência;

b) eliminação periódica de brácteas, prin-cipalmente durante o período chu-voso;

c) eliminação precoce de restos floraisno campo (despistilagem);

d) eliminação do coração;

e) ensacamento dos cachos com sacode polietileno perfurado, tão logoocorra a formação dos frutos;

f) implementação de práticas culturaisadequadas, orientadas para a ma-nutenção de boas condições de dre-nagem, nutricionais, de densidadepopulacional, bem como para o con-trole de plantas daninhas, a fim deevitar um ambiente muito úmido naplantação.

Controle químico

A aplicação de fungicida em frutos nocampo é um recurso extremo e, quando ne-cessário, deve ser aplicado em frutos jo-vens, uma vez que a infecção ocorre nes-ta fase. Além disso, o objetivo é evitar oaparecimento de manchas, que, uma vez

Figura 3 - Pinta-de-Deigthoniella

Figura 4 - Ponta-de-charuto Figura 5 - Mancha-de-Cloridium

nome da doença. A podri-dão espalha-se lentamentee raras vezes afeta mais quedois c entímetros da pontado fruto e, geralmente, apa-rece em frutos isolados nocacho (STOVER, 1972).

Mancha-de-Chloridium

Manchas escuras sobrefrutos têm sido atribuídas

ao fungo Chloridium musae, um patógenocomum sobre folhas velhas de bananeirasestabelecidas em áreas úmidas, principal-mente próximas a florestas. Sobre os frutos,os sint omas aparecem como manch asescuras, formadas pela junção de dimi-nutas lesões, densamente distribuídas so-bre a casca dos frutos ainda em formação(Fig. 5). Frutos desenvolvidos em períodosmuito úmidos, que geralmente coincidemcom o período chuvoso, apresentam altadensidade de manchas, que podem cobrirquase totalmente a sua superfície, tornando-os de aparência ruim e, conseqüentemen-te, de baixo valor comercial (CORDEIRO;MESQUITA, 2001).

Controle

As doenças descritas como de pré-colheita apresentam características de so-brevivência e ocorrência que permitem oagrupamento das recomendações de con-trole.

formadas, não maisdesaparecem. A preo-cupação maior deveconcentrar-se na pro-teção de frutos duran-te os primeiros 60 diasde idade. Em relaçãoaos fungicidas, é im-portante lembrar queeles podem ser agen-tes abióticos de man-chamento, como é ocaso dos produtos pa-ra o controle do mal-

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15Doenças pós-colheita de frutas

Thiabendazole Tecto 600 Deigthoniella/Fusarium/ 40-80 g/100 L de água Benzimidazol

Thielaviopsis/Verticillium/

Gloeosporium

Thiabendazole (1)Tecto SC Fusarium roseum/F. oxysporum/ 41-92 mL/100 L de água Benzimidazol

F. moniliforme/

Thielaviopsis paradoxa/

Gloeosporium musarum

Mancozeb Persist SC Thielaviopsis paradoxa 4,5 L/ha Ditiocarbamato

Mancozeb Frumizeb Colletotrichum musae 90 g/100 L de água Ditiocarbamato

Oxicloreto de cobre Cuprozeb Thielaviopsis paradoxa 250 g/100 L de água Cúprico

Imazalil (1)Magnate 500 CE Colletotrichum gloeosporioides 200mL/1000 L de água Imidazól

QUADRO 1 - Fungicidas registrados para uso no controle de patógenos que ocorrem em frutos na pré e/ou em pós-colheita de banana

Grupo químico

(1) São os únicos produtos com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para tratamento de frutos na pós-colheita

de banana.

Nome técnico Produto comercial IndicaçãoDose

(produto comercial)

de-Sigatoka. Para isso, recomenda-se oteste prévio do produto ou da mistura a serutilizada, a fim de evitar tais problemas(GAUHL, 2000). O Quadro 1 traz os produ-tos registrados no Brasil, para o controlede manchas em frutos de banana.

DOENÇAS PÓS-COLHEITA

Podridão-da-coroa

A comercialização da banana em pen-cas ou em buquês gera ferimentos na co-roa ou almofada expondo-a ao ataque demicrorganismos, geralmente oportunistas,mas capazes de causar a decomposiçãodos tecidos . A podridão-da-coroa é umaanomalia economicamente importante napós-colheita, exigindo a adoção do con-trole químico. De modo geral, a podridãorestringe-se à coroa, mas eventualmenteestende-se ao pedicelo e aos frutos. O pro-blema nor malmente r esulta da a tividadecombinada de vários fungos, tais como:Fusarium roseum (Link) Sny e Hans.,Verticillium theobromae (Torc.) Hughes,

Gloeosporium musarum Cooke e Massel(Colletotrichum musa e Berk e Curt.) eoutros em menor freqüência (STOVER,1972). Os sintomas manifestam-se peloescurecimento dos tecidos da coroa, sobrea q ual p ode-se d esenvolver u m m icéliobranco-acinzentado (Fig. 6).

Antracnose

As lesões de antracnose em frutos debanana representam o mais grave problemana pós-colheita. Embora manifeste-se nafase de maturação, pode ter início no cam-po, ocasião em que os esporos do agentecausal, dispersos no ar, atingem e infectamos frutos. Não há, entretanto, desenvolvi-mento de sintomas em frutos verdes. Essainfecção permanece quiescente até o inícioda maturação. Identificam-se duas formasdistintas da doença: a antracnose de f ru-tos maduros, originária de infecção latente,e a antracnose não latente, produzida pelainvasão do patógeno, principalmente porintermédio dos ferimentos ocorridos sobrefrutos verdes em trânsito. Os frutos ataca-dos pela doença amadurecem mais rápidodo que os sadios, representando granderisco para toda a carga. A doença é causa-da por Colletotrichum musae, que podeinfectar frutos com ou sem ferimentos.Os sintomas caracterizam-se pela forma-ção de lesões escuras deprimidas. Estas,Figura 6 - Podridão-da-coroa

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16 Doenças pós-colheita de frutas

Figura 7 - Antracnose

REFERÊNCIAS

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sob condições de alta umidade, cobrem-sede frutificação rosada, que são acérvulosde Colletotrichum. As lesões aumentamde tamanho com a maturação do fruto epodem coalescer, formando grandes áreasnecróticas deprimidas (Fig. 7). Geralmente,a polpa não é afetada, exceto quando osfrutos são expostos a altas temperaturas, ouquando se encontram em adiantado estádiode maturação.

Controle

O controle deve começar no campo, comboas práticas culturais, conforme recomen-dadas para os patógenos de pré-colheita.Na fase de colheita, pós-colheita e preparoda fruta todos os cuidados devem ser to-mados para evitar ferimentos, que maximi-zam a penetração do patógeno. Além disso,é importante a calibragem dos frutos, umavez que os de maior calibre favorecem oaparecimento da doença durante o trans-porte. Um dos passos importantes no ma-nejo da fruta na pós-colheita é o controlequímico que pode ser feito por imersão oupor atomização dos frutos (STOVER, 1972;STOVER; SIMMONDS, 1987; CORDEIRO;MESQUITA, 2001). No Quadro 1, estão lis-tados dois produtos com registro na Se-

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cretaria de Defesa Sanitária Vegetal doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (MAPA), para uso no tratamen-to de frutos de banana em pós-colheita.Novas tentativas de controle incluem a qui-mioterapia, na busca de novos produtos(BASTOS et al., 2001; MORAES et al.,2000), e a termoterapia (MORAES et al.,1999), que, apesar dos bons resultados,ainda não foi viabilizada. No caso de expor-tação, é importante estar atento para utili-zar produtos que sejam aceitos pelo paísimportador (SILVA; CORDEIRO, 2000), umavez que as exigências são variáveis.

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18 Doenças pós-colheita de frutas

1Enga Agra, D. Sc., Profa Assist. University of Florida – Gulf Coast Research and Education Center, 14.625 CR 672, Wimauma, FL, USA, 33598.Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor mundial defrutos cítricos e apresenta uma área esti-mada de 1 milhão de hectares plantados.A maior parte desta produção destina-se àindústria de suco concentrado e apenasuma pequena parte é destinada ao con-sumo in natura, por isso as doenças pós-colheita são consideradas de menor impor-tância para a cultura dos citros.

Os patógenos causadores de doençaspós-colheita podem ser divididos em trêscategorias, de acordo com o tipo de infec-ção. No primeiro grupo, estão os patóge-nos que infectam frutos imaturos e per-manecem na forma de infecção quiescenteaté que algum estádio de maturação tenha-se completado, incluindo Colletotrichumgloesporioides, Diaporthe citri, Alternariaalternata e Diplodia natalensis. No segun-do grupo, estão os patógenos que infectamos frutos através de ferimentos mecânicos

Doenças dos citros

Natália A. R. Peres1

No manejo da cultura dos citros, algu-mas práticas culturais podem reduzir demaneira significativa o inóculo no campoe, conseqüentemente, a incidência das po-dridões pós-colheita. No caso das infec-ções quiescentes, a poda e a remoção dosramos secos da planta e o plantio em solosbem drenados desfavorecem a produçãode inóculo e reduzem a incidência de do-enças pós-colheita. O inóculo causador daantracnose, da podridão-peduncular e dapodridão-de-Diplodia é produzido nasuperfície dos ramos e dos galhos secos edisseminado pela chuva para a superfíciede frutos imaturos. Por isso, geralmente, aincidência dessas doenças é maior em po-mares mais velhos e com maior quantidadede ramos secos.

Outras práticas culturais p ré-colheita,como a remoção de frutos caídos no chãodo pomar, ajudam a reduzir o inóculo dospatógenos que infectam os frutos através

na sua superfície. Os sintomas aparecemrapidamente após a infecção, incluindo bo-lores causados por Penicillium digitatume P. italicum. No terceiro e último grupo,estão os patógenos que causam a denomi-nada infecção incipiente que pode ocorrerantes ou depois da colheita, incluindo apodridão-parda, causada por espécies dePhytophthora e a podridão-amarga, causa-da por Geotrichum candidum.

A ocorrência de podridões pós-colheitaé influenciada por diversos fatores, comocondições climáticas, suscetibilidade da va-riedade e tratos culturais e fitossanitários,já que o manejo inadequado da cultura nocampo predispõe à ocorrência de podridõespós-colheita. Entre as estratégias de con-trole de doenças pós-colheita estão a redu-ção do potencial de inóculo, a prevenção eerradicação das infecções, a inativação dainfecção por ferimentos e a supressão dodesenvolvimento do patógeno.

Resumo - Podridões pós-colheita dos citros podem causar danos significativos tanto parafrutas produzidas para o consumo in natura, quanto para produção de suco. Envolveminvestimentos desde o início da produção até o produto final, como custos de colheita,transporte e armazenamento. Perdas após a colheita dos citros podem ocorrer porinúmeras causas físicas, mecânicas, fisiológicas e patológicas. São descritas podridõespós-colheita de origem patogênica, divididas entre aquelas que estão associadas a infecçõesquiescentes provenientes do campo, ou que são provocadas por ferimentos ocorridosdurante a colheita, transporte e armazenamento. Entre as principais doenças pós-colheitados citros estão a antracnose (Colletotrichum gloeosporioides), os bolores verde (Penicilliumdigitatum) e azul (Penicillium italicum), a podridão-peduncular (Diaporthe citri), a podridão-negra (Alternaria alternata), e a podridão-parda (Phytophthora spp.). Além destas, outrospatógenos, de menor importância econômica, podem causar moléstias nos frutos após acolheita, como Aspergillus, Diplodia, Geotrichum e Fusarium.

Palavras-chave: Fruta. Citricultura. Doença. Antracnose. Bolor. Podridão.

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de ferimentos e auxiliam no controle daspodridões. O inóculo do fungo causadordo bolor verde, Penicillium d igitatum, éproduzido em frutos caídos no chão e dis-seminado via aérea para os demais frutosdas árvores circunvizinhas. A remoçãodesses frutos ajuda a reduzir o inóculo nocampo e, conseqüentemente, as infecçõespós-colheita, porém outras práticas desanitização são também necessárias.

As pulverizações para o controle dedoenças no campo também auxiliam nocontrole das podridões pós-colheita, co-mo por exemplo as aplicações de cobrepara o controle da melanose, que servemtambém para reduzir o inóculo causadorda podridão-pedun cular, assim como asaplicações de cobre ou fosetyl-Al, quandoos frutos já estão completamente desenvol-vidos, que controlam também a podridão-parda. Estas pulverizações, entretanto, nãosuprem a necessidade de aplicações poste-riores para o controle das podridões pós-colheita.

Os cuidados durante a colheita dosfrutos são extremamente i mportantes naprevenção das infecções, pois os ferimen-tos causados durante esse processo ser-vem como sítio de entrada para certospatógenos, como os causadores dos bolo-res e da podridão-amarga. O processo deretirada dos frutos da árvore deve ser o maiscuidadoso possível para evitar o despren-dimento do cálice do fruto, o que favore-ceria a penetração dos fungos causadoresdas podridões-pedunculares. O período dodia em que a colheita é efetuada tambémpode interferir na suscetibilidade dos frutosa certas pod ridões. Aqueles colhi dos naparte da manhã, quando as células estãomais túrgidas, estão mais suscetíveis à ocor-rência da podridão-amarga do que os frutoscolhidos no final da tarde, quando a cascaestá menos túrgida. O atraso da colheitapor alguns dias após um longo período dechuvas a juda a d iminuir a i ncidência dapodridão-parda.

O desverdecimento da casca, atravésda utilização de etileno, geralmente pre-

dispõe à ocorrênci a da antracnose e dapodridão-de-Diplodia. O atraso da colhei-ta, visando o desenvolvimento natural dacoloração do fruto, pode diminuir ou evitara necessidade de desverdecimento, dimi-nuindo também a ocorrência das podridões.Caso seja necessário efetuar o tratamentocom etileno, procura-se colher os frutos deárvores com pequena quantidade de galhossecos e que possuem uma menor quanti-dade de inóculo.

Após a colheita, os frutos devem sertransportados rapidamente para evitar quefiquem muito tempo expostos ao sol ou aocalor. As caixas ou sacolas para o transpor-te devem estar limpas de resíduos ou terra,que podem provocar abrasões mecâni-cas. Deve-se evitar o excesso de frutos noscontêineres, para que não ocorram danosfísicos a eles.

A redução de fontes de inóculo atravésde sanitização no packing-house e câmarasde armazenamento pode ser efetuada coma utilização de fungicidas não seletivoscomo cloro ativo, carbonato de sódio, bicar-bonato de sódio e ácido sórbico. No entan-to, estas medidas não eliminam a necessi-dade de utilização de fungicidas.

A aplicação de fungicidas em frutaspós-colheita pode ser por fumigação, pul-verização, termonebulização ou imersão.Os tratamentos são mais eficientes, quandoos frutos são tratados até 24 hor as após acolheita, o que pode ser a té mais impor-tante do que a concentração do fungicida.Os fungicidas podem ser aplicados em so-luções aquosas antes da aplicação de cera,ou em emulsões juntamente com a cera.A vantagem da aplicação separada é permi-tir um melhor efeito sistêmico do fungicida,principalmente no caso do imazalil, a ativi-dade erradicante é melhor e a quantidadede resíduo menor. Em contrapartida, quandoa aplicação é feita separadamente, os frutosprecisam ser secos antes da aplicação dacera e tem que retornar mais uma vez para alinha de tratamento. Alguns cuidados, co-mo o efeito residual, fitotoxicidade, espectrode ação e resistência, devem ser levados

em consideração, quando os frutos sãotratados com fungicidas após a colheita.

A aplicação de ceras tem como objetivoprincipal retardar a perda de umidade e me-lhorar a aparência da fruta. A incorporaçãode 2,4-D junto com a cera ajuda a retardar asenescência do cálice e pode d iminuir aincidência da podridão-negra em frutosarmazenados.

ANTRACNOSE

Colletotrichum gloeosporioides(Penz.) Penz. & Sacc. in Penz.

A antracnose ocorre em todas as espéciese variedades de frutas cítricas. Geralmente,o patógeno é proveniente de infecções quies-centes oriundas do campo, que penetraatravés de ferimentos durante o ma nuseioe transporte dos frutos e desenvolvem -sedurante o armazenamento. Os sintomasatravés de ferimentos também podem serobservados em frutos ainda na planta, assimcomo em folhas e galhos. A antracnosepode causar também um outro tipo de sin-toma s uperficial r esultante d o d esenvol-vimento dos apressórios em frutos dealgumas variedades, principalmente astangerinas, que são submetidas ao tra-tamento com etileno para o desverdeci-mento.

Sintomas

As lesões da antracnose geralmenteestão associadas a algum dano mecânicona casca dos frutos, como picada de inse-tos, ferimentos causados por chuvas degranizo, queimaduras de sol ou, ainda, porpulverizações inadequadas. Neste caso, ossintomas aparecem como manchas de colo-ração marrom-escura que são, inicialmente,superficiais e secas, tornando-se deprimi-das, conforme a lesão avança. Em condi-ções de elevada umidade, pode-se obser-var uma massa de esporos de coloraçãosalmão-alaranjada na superfície das lesões.Em condições secas, estas estruturas apre-sentam coloração marrom ou preta. Os sin-tomas em frutos tratados com etileno para

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desverdecimento, ou em frutos que nãoapresentam ferimentos, geralmente sãosuperficiais e apresentam uma coloraçãoprateada que se torna, posteriormente,marrom ou cinza e, eventualmente, ocorreo amolecimento da casca (Fig. 1).

BOLOR VERDE E BOLOR AZUL

Penicillium italicum Wehmer. ePenicillium digitatum Sacc.

Os bolores verde e azul são considera-dos doenças de grande importância econô-mica na pós-colheita dos citros. Afetam,praticamente, todas as variedades cítricas,tanto na pós-colheita, como nos pomarescom frutos em estádio final de maturação.Os esporos causadores dos bolores sãoproduzidos na superfície dos frutos infec-tados e facilmente disseminados atravésde correntes de ar no campo, packing-house, câmaras de armazenamento e con-têineres. Nas regiões citrícolas do Brasil, obolor verde é o mais freqüente.

Sintomas

Os bolores iniciam como pequenos pon-tos ligeiramente aquosos que não apresen-tam uma coloração distinta. A área afetadadesenvolve-se rapidamente e é encobertade esporos verdes ou azuis, dependendoda espécie do fungo, circundada por umafaixa de micélio branco que separa esta dotecido sadio. O bolor verde desenvolve-semais rapidamente e as lesões são irregula-res, enquanto que o bolor azul desenvolve-se mais lentamente e as lesões são maisarredondadas (Fig. 2). No estádio final dainfecção, os tecidos entr am em colapso,caracterizando uma podridão mole e aquo-

sa que ataca todo o fruto. Em condições debaixa umidade relativa, os frutos tomamuma aparência seca e mumificada. Em mui-tos casos, podem-se encontrar frutos queapresentam mais de um tipo de bolor.

Controle

Os frutos com sintomas devem ser eli-minados dos pomares, packing-house,veículos e equipamentos de colheita e trans-porte, visando reduzir o inóculo. Os equi-pamentos de colheita e transporte devemser desinfestados rotineiramente com pro-dutos à base de cloro, amônia quaternária,formaldeído ou álcool. A penetração dosbolores ocorre através de ferimentos nacasca dos frutos e, por isso, deve-se evitardanos mecânicos durante o seu manuseio.Geralmente, a infecção não se disseminados frutos infectados para os frutos sadiosem condições de armazenamento. O trata-mento químico com produtos benzimida-zóis como carbendazim, thiabendazole outiofanato metílico, assim como imazalil eprochloraz controlam os bolores de formaeficiente, entretanto deve- se evitar o usoexcessivo desses produtos, devido à pos-sibilidade de as espécies de Penicilliumspp. desenvolverem resistência a certosgrupos de fungicidas. O armazenamento eo transporte dos frutos sob temperaturaabaixo de 10oC reduzem significativamenteo desenvolvimento dos sintomas.

PODRIDÃO-NEGRA

Alternaria alternata (Fr.:Fr.) Keissl.

A podridão-negra pode infectar todasas variedades de frutos cítri cos, tanto nocampo como na fase pós-colheita. Porém,geralmente as variedades de umbigo sãomais favoráveis à penetração do fungo. Estadoença normalmente causa maiores pro-blemas, quando os frutos são armazenadospor muito tempo, além de afetar tambémo processamento da fruta, pois como ossintomas só aparecem na parte interna dosfrutos, a utilização daqueles infectados po-de danificar o sabor, o aroma e a aparênciado suco.

Controle

Práticas culturais de bom manejo, co-mo a eliminação de ramos secos da planta,geralmente auxiliam no controle da doençapós-colheita, pois diminuem a quantidadede inóculo disponível no campo. Os frutosdevem ser manejados com cuidado duranteo processo de colheita e de transporte paraevitar ferimentos, e também o armazena-mento prolongado. A lavagem dos frutosno packing-house ajuda a eliminar partedos apressórios do fungo presentes nasuperfície da casca na forma de infecçãoquiescente, reduzindo, assim o risco de pe-netração do patógeno, porém a lavagemprévia não é recomendada caso os frutossejam tratados com etileno para desverdeci-mento. O tratamento químico com produ-tos benzimidazóis, pré ou pós-colheita, e oarmazenamento dos frutos em temperaturaabaixo de 10oC também auxiliam no controleda antracnose.

Figura 1 - Sintomas de antracnose emtangor Murcott submetido atratamento com etileno paradesverdecimento

L. W

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mer

Figura 2 - Sintomas de bolor verde emlaranja

J. Z

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21Doenças pós-colheita de frutas

Sintomas

Os frutos infectados no campo ama-durecem prematuramente e podem apre-sentar um escurecimento na região estilar.Em condições severas, pode ocorrer a que-da prematura dos frutos infectados. Os sin-tomas iniciam pela região estilar e normal-mente são notados somente quando a frutaé cortada, observando-se uma coloraçãonegra que inicia em uma das extremidadese avança para columela central e tecidosadjacentes (Fig. 3).

Controle

Algumas práticas culturais, como nãocolher os frutos muito maduros, ajudam aevitar a ocorrência da doença. A aplicaçãode 2,4-D atrasa a senescência da fruta, re-tarda ou restringe o desenvolvimento dopatógeno. A maioria dos fungicidas nãotem efeito sobre esta doença, mas algumcontrole pode ser obtido com a aplicaçãodo fungicida imazalil sozinho ou em com-binação com 2,4-D. O armazenamento dosfrutos sob temperaturas abaixo de 10 oCtambém auxilia no controle da podridão-negra.

cer mumificados. Quando a infecção ocorrepouco antes da colheita, seus sintomassomente aparecem durante o armazena-mento e podem disseminar-se para as de-mais frutas sadias. Os frutos infectadosnormalmente apresentam um odor rançosocaracterístico, que d istingue e sta doençadas demais podridões.

Controle

Deve-se evitar que a colheita seja feitadurante os períodos chuvosos, principal-mente em regiões com solos maldrenados.Em condições favoráveis à doença, a co-lheita dos frutos deve ser adiada até quetodas a s f rutas a fetadas t enham c aído.Os fungicidas à base de cobre, fosetyl-Alou ácido fosfórico podem ser aplicadospara prevenir a infecção no campo, direcio-nando as aplicações para a parte inferiorda copa. Na pós-colheita o controle podeser feito com o fungicida metalaxyl. O arma-zenamento dos frutos sob temperatura apro-ximada a 5 oC reduz significativamente odesenvolvimento da doença.

PODRIDÃO-PEDUNCULAR

Diaporthe citri (Faw.) Wolf.

O agente causal da podridão-peduncular,Diaporthe citri, que tem como fase anamór-fica Phomopsis citri , é o mesmo agentecausador da melanose dos citros. A podridão-peduncular ocorre quando o fungo infectaa superfície do cálice e disco floral e perma-nece quiescente até a ocasião da colheita.Todas as espécies de citros são suscetí-veis e a doença é prevalecente em regiõesprodutoras com clima tropical e úmido.

Sintomas

A podridão-peduncular afeta somentefrutos após a sua maturação, normalmenteentre 10 e 20 dias após a colheita, quan-do eles são armazenados em temperaturaambiente. A penetração do patógeno ocor-re pelas aberturas naturais na região dopedúnculo, que são provocadas pela dete-rioração do cálice. Inicialmente, a infecçãoavança na parte interna do fruto e provo-

PODRIDÃO-PARDAPhytophthora citrophthora(R.E. Sm. & E.H. Sm.) Leonian e

Phytophthora palmivora(E. J. Butler) E. J. Butler

A podridão-parda-dos-frutos, apesar denão ser uma doença que apresenta grandeimportância econômica, pode causar da-nos, quando o período de chuvas coinci-de com o estádio final de desenvolvimentodos frutos, sendo particularmente impor-tante para os limões. A doença está associa-da a fungos do gênero Phytophthora,causadores também da gomose dos citros.

Sintomas

Os frutos atacados pela podridão-parda perdem a coloração verde ou alaran-jada, dependendo do estado de matura-ção, e observa-se uma coloração marrom-abronzeada na superfície da casca. Quandoas condições de umidade são elevadas,pode-se observar a formação de um micéliobranco na superfície do fruto (Fig. 4). Empomares, os sintomas geralmente apare-cem nos frutos da parte mais baixa da copa,que geralmente caem ou podem permane-

Figura 3 - Sintomas de podridão-negra na região estilar e parte interna em laranjas

A. B

hatia

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ca necrose dos tecidos. A área infectadatorna-se bronzeada e pode-se observar umaclara demarcação entre a área dos tecidosinfectados e sadios (Fig. 5). Em condiçõesde alta umidade, pode-se desenvolver umacamada de micélio na superfície do fruto,mas a doença não se dissemina dos frutosdoentes para os sadios.

ControlePráticas culturais para eliminar os ramos

secos das plantas reduzem a quantidade deinóculo no campo e, conseqüentemente, re-duzem a ocorrência da podridão-peduncular.Normalmente, o controle pós-colheita sóprecisa ser efetuado quando os frutos sãoarmazenados por um longo período. Nessecaso, a refrigeração dos frutos em tempera-turas abaixo de 10oC retarda o desenvolvi-mento da doença. As aplicações de fungici-das benzimidazóis ou imazalil misturados

em água promovem um controle efetivo dadoença.

PODRIDÃO-DE-DIPLODIA

Diplodia natalensis Pole-Evans eBotryodiplodia theobromae Pat.

A podridão-de-Diplodia apresenta rela-tiva importância econômica e encontra-seamplamente distribuída, principalmente emregiões com elevada precipitação. O desen-volvimento desse tipo de podridão ocorreprincipalmente após o tratamento com etile-no para desverdecimento.

Sintomas

Os sintomas geralmente aparecem emfrutos maduros, cerca de duas semanas apósa colheita, em condições de temperaturaacima de 20oC. A doença aparece, inicial-mente, como um abrandamento suave dos

tecidos ao redor do pedúnculo, que rapida-mente avança até a base do fruto e adquireuma coloração marrom. Essa podridão, dife-rentemente d a p odridão-peduncular, n ãoavança igualmente pelo fruto, formando man-chas desuniformes na superfície da casca(Fig. 6). Em condições com alta umidaderelativa, pode-se observar o desenvolvimen-to de micélio esbranquiçado na superfícieda lesão, porém a doença não se disseminapara os demais frutos armazenados.

Controle

Práticas culturais de remoção de ramossecos no campo ajudam a reduzir a quanti-dade de inóculo e a incidência da doença.O atraso da colheita para esperar o desen-volvimento natural da coloração da cascaevita ou diminui a necessidade de desver-decimento. Caso necessário, a concentra-ção de etileno para o desverdecimento nãodeve ser maior do que 10 ppm e o tempode aplicação não deve exceder a 36 horas.O controle químico efetivo pode ser feitocom fungicidas benzimidazóis no campoaté três semanas antes da colheita, ou emaplicações pós-colheita. O armazenamen-to dos frutos sob temperaturas abaixo de10oC também inibe o desenvolvimento dadoença.

PODRIDÃO-AMARGAGeotrichum citri-aurantii (Ferraris)Butler

A podridão-amarga normalmentedesenvolve-se em frutos colhidos muito

Figura 4 - Sintomas de podridão-parda em laranjas

J. Z

hang

Figura 5 -Sintomas de podridão-peduncularem pomelo

Figura 6 - Sintomas de podridão-de-Diplodia em laranjas

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maduros, p rincipalmente d urante épocasmuito chuvosas. A doença pode ocorrerem todas as espécies de citros armazena-das por longos períodos. Em alguns casos,o agente causal dessa doença pode e starassociado ao Penicillium d igitatum e P.italicum.

Sintomas

Os sintomas iniciais da podridão-amarga aparecem como pequenas lesõesaquosas, amareladas e ligeiramente levan-tadas, que se confundem com os sintomasiniciais dos bolores causados por Penicillium.O fungo produz enzimas que degradam aparede celular, desintegrando tanto a cas-ca, quanto as vesículas de suco e fazemcom que o fruto se desmanche em uma mas-sa aquosa. Em condições de alta umidadepode-se formar uma camada de micélio decoloração creme, com aspecto enrugado esemelhante ao das leveduras. O odor amar-go causado pela podridão costuma atrairas moscas das frutas que podem auxiliarna disseminação do patógeno para outrosfrutos.

Controle

A colheita dos frutos deve ser cuidado-sa para evitar danos mecânicos e o contatodos frutos com o solo. Os equipamentos,caixas de colheita e packing-house devemser desinfectados rotineiramente com pro-dutos à base de cloro, amônia quaternária,formaldeído ou álcool, e os frutos infecta-dos devem ser imediatamente removidos.O tratamento químico com ortofenilfenatode sódio (SOPP) aplicado na lavagem dosfrutos auxilia no controle da doença, assimcomo o armazenamento dos frutos sob tem-peraturas abaixo de 10oC.

PODRIDÃO-DE-ASPERGILLUS

Aspergillus niger v. Tieghem

A podridão-de-Aspergillus afeta princi-palmente frutos muito maduros que apresen-tam algum tipo de ferimento. Normalmenteocorre quando os frutos são armazenadossob altas temperaturas, porém a doençanão tem grande importância econômica.

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Sintomas

Inicialmente, a doença produz umalesão ligeiramente aquosa e amarelada, se-melhante aos sintomas da podridão-amarga.Conforme a doença se expande, o tecidotoma um aspecto mais profundo e enru-gado, que se encobre pelo micélio do fun-go e, posteriormente, por uma camada deesporos negros.

Controle

O processo de colheita e manuseio dosfrutos no packing-house deve ser cuida-doso para evitar danos mecânicos. O tra-tamento químico com benzimidazóis ouimazalil e o armazenamento dos frutos sobtemperaturas abaixo de 15oC fornecem umcontrole efetivo dessa doença.

PODRIDÃO-DE-FUSARIUM

Fusarium oxysporum Schlecht. eFusarium moniliforme (J. Sheld.)

A podridão-de-Fusarium pode afetar to-dos os frutos cítricos, apesar de não apre-sentar muita importância econômica.

Sintomas

Os sintomas da podridão-de-Fusariumdesenvolvem-se a partir do pedúnculo ououtras partes da superfície dos frutos, sen-do que, em alguns casos, o patógeno po-de causar uma podridão interna. O tecidoinfectado adquire uma coloração bege oumarrom-clara que apresenta textura flexível.Em condições de elevada umidade, pode-se observar o crescimento de micélio esbran-quiçado na superfície da lesão. No caso depodridão interna, pode-se observar o cres-cimento micelial na parte central da colume-la, quando os frutos são cortados.

Controle

O tratamento dessa doença somente énecessário quando os frutos permanecemarmazenados por muito tempo. Condiçõesde armazenamento em locais com boa venti-lação e temperaturas abaixo de 5oC reduzemefetivamente o desenvolvimento da podri-dão. O controle químico eficiente pode serobtido com a aplicação do fungicida imazalil.

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1Enga Agra, D.Sc., IAC-Centro de Engenharia e Automação, Caixa Postal 26, CEP 13201-970 Jundiaí-SP. Correio eletrônico: [email protected] Agra, Dra, Pesq. Científica ITAL-FRUTHOTEC, Caixa Postal 139, CEP 13070-178 Campinas-SP. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

O Brasil é o primeiro produtor mundialde mamão, tendo participado, em 1998, com33,5% na produção total, com o México, aMalásia e os Estados Unidos. Encontra-seentre os principais países exportadores des-se fruto, em especial para o mercado euro-peu. No ano de 2001, o volume exportadoatingiu 22.804 t, com um valor de US$ 18.503milhões (MAMÃO, 2003). Entretanto, omercado interno absorve mais de 99% dovolume produzido. Trata-se de uma cultu-ra com caráter eminentemente social, poisabsorve um elevado contingente de mão-de-obra em praticamente todas as suas ope-rações. O Brasil tem enfrentado barreirasno mercado internacional, provocadas portarifas impostas aos produtos e por restri-ções f itossanitárias existentes nos princi-pais mercados importadores. Apesar dosproblemas citados, o Brasil possui vanta-gens comparativas que, no caso do mamão,se resumem na possibilidade de produçãoda fruta durante todo o ano, permitindo a

Doenças do mamão

Patrícia Cia1

Eliane Aparecida Benato2

exportação durante alguns meses, pratica-mente sem concorrência.

Um dos fatores que afetam a qualidadedo mamão é a ocorrência de podridões, den-tre as quais destaca-se a antracnose, cau-sada por Colletotrichum gloeosporioides,considerada a principal doença dos frutosno Brasil, no Havaí e em outros países.Outros prejuízos são causados por Phomacaricae-papayae, Rhizopus stolonifer ,Alternaria alternata , Lasiodiplodiatheobromae e Fusarium spp. (SNOWDON,1990).

Os problemas, devido às doenças, têmsido maximizados pela seleção de patóge-nos resistentes a fungicidas e pelo reduzidonúmero de produtos permitidos para apli-cação em mamão. Além disso, nota-se umabusca crescente pelos consumidores por fru-tos livres de resíduos químicos. Em con-seqüência, h á u m c onsiderável i nteresseem estratégias de controle, como o uso deantagonistas, compostos naturais e trata-mentos físicos, com mecanismos que pro-

Resumo - O Brasil, juntamente com o México, Malásia e Estados Unidos, encontra-seentre os principais países exportadores de mamão, principalmente para o mercadoeuropeu. Entretanto, o mercado interno absorve mais de 99% do volume produzido.Um dos fatores que afetam a qualidade do mamão é a ocorrência de podridões, dentre asquais destaca-se a antracnose, causada por C. gloeosporioides, considerada a principaldoença dos frutos no Brasil, no Havaí e em outros países. Outros prejuízos são causadospor Phoma caricae-papayae, Rhizopus stolonifer, Alternaria alternata, Lasiodiplodia theobromae eFusarium oxysporum. Torna-se indispensável o tratamento dos frutos após a colheita,visando à prevenção de infecções fúngicas. Este tratamento dependerá das restrições domercado-destino com relação ao uso de produtos fitossanitários.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Carica papaya L. Fungos. Podridão. Antracnose.

movam a indução de resistência nos tecidosvegetais a patógenos e possam comple-mentar ou substituir o uso de fungicidas eprolongar o período de armazenamento dosfrutos.

Este artigo tem como objetivos descre-ver e ilustrar as principais doenças pós-colheita do mamão e traçar medidas geraisde controle.

PRINCIPAIS DOENÇAS DE MAMÃOPÓS-COLHEITA E CONTROLE

As perdas na pós-colheita do mamão,devido a doenças, variam de 1% a 93%, de-pendendo do manuseio e das práticas deembalagem. As doenças podem ser dividi-das, basicamente, em três tipos: podridõessuperficiais, podridões-pedunculares einfecções internas do fruto (AL VAREZ;NISHIJIMA, 1987). Há dois tipos de podri-dões superficiais em mamão. O primeiroinclui aquelas podridões causadas por fun-gos, que infectam frutos imaturos e intac-tos ainda no campo, como por exemplo,

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antracnose, mancha-chocolate, mancha-de-Cercospora e podridão-de-Phytophthora.No entanto, para essas duas últimas, os sin-tomas aparecem antes da colheita e, dessaforma, os frutos podem ser eliminados antesde ser embalados. O segundo tipo inclui aspodridões causadas por fungos que infectamos frutos através de ferimentos ocorridosantes ou durante a colheita e manuseio dosfrutos, como por exemplo, Phoma caricae-papayae,Phomopsis,Alternaria,Stemphyliume Fusarium. As podridões-peduncularesmanifestam-se após a colheita, quando osfungos desenvolvem-se na região de cortedo pedúnculo, nas rachaduras e/ou nosferimentos que ocorrem durante a colheitae o manuseio dos frutos. Vários deles po-dem ser responsáveis por estas podridões,incluindo C. gloeosporioides, P. caricae-papayae, Fusarium sp., Alternaria sp.,Lasiodiplodia theobromae , Phomopsissp., S. lycopersici e Mycosphaerella sp.(CENCI et al., 2002). A podridão interna dosfrutos é caracterizada por uma massa deesporos que ocupa a cavidade da semen-te do mamão e ocorre, espor adicamente,quando a r egião dos restos florais não seencontra completamente fechada. Fungoscomo Cladosporium sp., Penicillium sp. eFusarium spp. podem penetrar no frutoatravés da estreita passagem que leva àcavidade das sementes e destruir estas, bemcomo os tecidos ao seu redor . Os frutosinfectados freqüentemente apresentam umpequeno orifício nos restos florais circun-dado por um halo verde-claro. Frutos comesses sintomas geralmente não amadure-cem e, normalmente, são descartados antesda operação de embalagem. Os principaispatógenos que incidem em pós-colheita sãodescritos a seguir.

Antracnose

A antracnose é considerada uma dasmais importantes doenças do mamão, co-nhecida em todos os países produtores,incluindo o Havaí, a região Caribenha, lestee oeste africanos, a Índia, o Taiwan, a Sin-gapura e a Austrália. Sua nocividade paraa economia é muito grande, pois os frutos

atacados pela antracnose tornam-se impres-táveis para a comercialização e para o con-sumo. Ainda que os frutos colhidos nãoapresentem s intomas d a d oença, e la s emanifesta na fase de embalagem, transpor-te, amadurecimento e comercialização, cau-sando grande porcentagem de perdas.

O fungo Colletotrichum gloeosporioides(Penz.) Penz. & Sacc. sobrevive de um anopara outro nas lesões velhas de restos decultura, principalmente nas folhas. Os feri-mentos causados nos frutos, por insetosou por via mecânica, favorecem a penetra-ção do fungo (OLIVEIRA et al., 1994).

Estudos epidemiológicos e fisiológicosdemonstraram que a infecção ocorre empré-colheita por penetração direta, atra-vés da di ssolução da cutícula dos f rutos,por ação de enzimas líticas, como cutinase,produzidas pelo fungo. Após a penetração,o fungo permanece em estádio quiescenteaté que a fruta amadureça (DICKMAN;ALVAREZ, 1983). Os sintomas da antracno-se caracterizam-se por pontos escuros nacasca dos frutos, os quais evoluem forman-do manchas deprimidas, medindo até 5 cmde diâmetro. Em torno das manchas, forma-se um halo de tecido aquoso, com colora-ção diferente da parte central. As manchasespalham-se pela superfície do fruto eaprofundam-se na polpa, ocasionando apodridão-mole. A frutificação do fungo,representada pela massa de conídios,concentra-se na parte central da lesão,que toma um aspecto gelatinoso de colora-ção rósea, produzidos em anéis concêntri-cos (Fig. 1) (PLOETZ et al., 1994; CHAU;ALVAREZ, 1983).

Patil et al. (1973) relataram que o com-posto benzil isotiocianato, presente emmamões, participa da resistência naturaldos frutos, quando verdes, ainda no cam-po, contra patógenos de pós-colheita, masseu papel na quiescência ainda não foidemonstrado. Dickman e Alvarez (1983)relatam que C. gloeosporioides permaneceem estádio quiescente, na forma de hifa sub-cuticular nos frutos, até que estes atinjama fase climatérica. Esses autores encontra-ram dificuldades em explicar o mecanismo

de quebra da quiescência por mudançasnutricionais ou de substratos disponíveisnos frutos, pois, Colletotrichum sp. po-de utilizar tanto a sacarose, como a glico-se ou a f rutose, como substrato para seudesenvolvimento. Ao realizar um estu-do histológico da antracnose em mamão,Chau e Alvarez (1983) observaram que C.gloeosporioides f orma apressório ( estru-tura de aderência), que emite uma hifa infec-tiva, responsável pela penetração cuticu-lar nos frutos, três a quatro dias após ainoculação. Forma-se, então, uma hifa entrea cutícula e a parede epidérmica. O micéliocresce intra e intercelularmente e, de formaeventual, as células infectadas separam-se,colapsam e formam lesões deprimidas quese tornam visíveis cerca de cinco dias apósa inoculação. A cutícula do fruto rompe-se durante o processo de frutificação.

O inóculo primário é disseminado pelovento ou pela chuva. O patógeno infectainicialmente frutos imaturos, ainda no cam-po, e não necessita da presença de ferimen-tos par a que isso ocorra . As condiçõesambientais que favorecem o desenvolvi-mento do p atógeno são altas t emperatu-ras (ótima de 28°C) e umidade. Os esporosrequerem água livre para germinar, sendoeste processo pouco eficiente sob umida-de relativa abaixo de 97% (PLOETZ et al.,1994).

Figura 1 - Sintomas da antracnose emmamão

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Como métodos de controle, a sanidadedo pomar é importante e frutos e folhascaídos devem ser coletados e destruídos.Um programa de aplicação de fungicidasem pré-colheita deve ser adotado, seguidopor tratamentos de pós-colheita, como otérmico e fungicidas (SNOWDON, 1990).A refrigeração dos frutos inibe o desenvol-vimento da antracnose.

Mancha-chocolate

Alguns autores sugerem que a mancha-chocolate pode ser causada por uma ra-ça diferenciada fisiologicamente do fungoC. gloeosporioides (CENCI et al., 2002).Esse fungo tem a capacidade de infectar,principalmente, frutos verdes, o que nãoocorre com a antracnose. Os sintomas dadoença caracterizam-se pela presença depequenas lesões circulares superficiais, decoloração marrom-avermelhada, que me-dem de 1 a 10 mm de diâmetro. Essas lesõespodem-se tornar maiores e profundas como amadurecimento do fruto e atingir 20 mmde diâmetro. As bordas das lesões maisvelhas apresentam um halo aquoso. Duran-te o transporte e o armazenamento, os sin-tomas intensificam-se, tornando os frutosinadequados para o consumo (CENCI etal., 2002; PLOETZ et al., 1994).

Podridão-secaou podridão-negra

Os ascósporos e os conídios do fungo(Phoma caricae-papayae (Tarr) Punith.,teleomorfo: Mycosphaerella caricae H. &P. Sydow) são capazes de infectar ferimen-tos superficiais no mamão, principalmente,no momento da colheita, quando o pedún-culo é cortado, porém são incapazes depenetrar diretamente pela cutícula do fruto(CENCI et al., 2002).

Esta doença caracteriza-se por uma po-dridão firme, escura e seca que se desenvol-ve no fruto a partir da região do pedúnculo.As lesões são pouco profundas, circularese podem medir até 4 cm de diâmetro, pos-suindo margem de coloração marrom-clarae translúcida (PLOETZ et al., 1994). Peque-nas manchas aquosas podem aparecer na

superfície do fruto, tornando-se escuras,profundas e irregulares no formato. O fun-go produz tanto o estádio sexual (perité-cios dando origem aos ascósporos), quan-to o assexual (picnídios dando origemaos conídios), mas somente os picnídiossão encontrados nos frutos (SNOWDON,1990).

O fungo coloniza folhas e pecíolos se-nescentes e produz abundantes estruturasde frutificação sobre folhas e pecíolos mor-tos, que servem como fonte primária deinóculo no campo. Os conídios e ascóspo-ros são depositados sobre a superfície dosfrutos durante a chuva e permanecem atéque ocorra um ferimento, que é necessá-rio para que o processo de infecção tenhainício (PLOETZ et al., 1994). Ferimentoscriados durante a colheita ou manuseiopós-colheita são rapidamente colonizadosno armazenamento, se condições para agerminação dos esporos e crescimento dashifas forem favoráveis.

Para o controle da doença, em regiõesúmidas, há a necessidade de aplicação defungicidas desde o pegamento do fruto pa-ra a redução do potencial de inóculo. Medi-das de controle em pós-colheita incluem otratamento térmico (SILVA, 1993), o qualpode ser combinado com fungicida ou coma irradiação (SNOWDON, 1990).

Podridões-pedunculares

As podridões-pedunculares manifestam-se após a colheita, quando os fungos se

dúnculo, torna-se descolorida e pode ha-ver o desenvolvimento de mofo e espo-ros ou corpos de frutificação (picnídios).As lesões causadas por L. theobromaepossuem uma ampla margem aquosa e, su-perfície rugosa e escura recoberta por picní-dios. As causadas por P. caricae-papayaesão firmes, enrugadas e escuras, limitadaspor uma margem, recobertas por picnídiosesféricos não unidos. Phomopsis sp. é ca-racterizado por uma podridão mole e aquo-sa, com crescimento de um mofo esbran-quiçado recoberto por picnídios escuros(SNOWDON, 1990). A podridão causada porC. gloeosporioides geralmente manifesta-se em frutos maduros, mas o fungo pode terpenetrado neles ainda verdes e permaneci-do quiescente até que condições propíciaspara seu desenvolvimento se estabeleçam.

Todos esses fungos são favorecidospor clima úmido, que estimula a liberação edispersão dos esporos no pomar . O cortedo pedúnculo expõe esta região à contamina-ção durante e logo após a colheita, e a infec-ção pode ocorrer antes que o ferimentocicatrize. O controle da podridão-peduncularimplica na redução do potencial de inóculono pomar, através da aplicação de fungi-cidas. Com relação às técnicas de colheita,estas devem ser realizadas deixando-se partedo pedúnculo aderido ao fruto, evitando-sedanos mecânicos. Em pós-colheita, a infec-ção pode ser evitada pelo tratamento hidro-térmico dos frutos, tão logo sejam colhi-dos.

Figura 2 - Sintomas da podridão-peduncular em fru-tos de mamoeiro

desenvolvem no local do cortedo pedúnculo, e nos ferimentosque ocorrem durante a colheitae manuseio dos frutos. É umadoença causada por um comple-xo de fungos, sendo os princi-pais agentes: C. gloeosporioides,F. solani, L. theobromae e P.caricae-papayae (NERY-SILVAet al., 2001). Os sintomas são ca-racterizados pelo apodrecimentodo pedúnculo, que fica recobertopor estruturas dos patógenosenvolvidos (CENCI et al., 2002)(Fig. 2). A casca, ao redor do pe-

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Podridão-de-Rhizopus

A podridão-de-Rhizopus, também conhe-cida como podridão-mole, é uma doençade pós-colheita comum em mamão, sendoimportante somente durante o armazena-mento e transporte. Raramente é encontra-da no campo. O fungo R. stolonifer (Ehrenb.Ex Fr.) Lind pode causar uma podridãodestrutiva nos frutos em todas as regiõesprodutoras de mamão. Os sintomas sãocaracterizados por uma podridão mole eaquosa e sob condições úmidas há o de-senvolvimento de um mofo branco coto-noso, que pode passar a cinza-escuro, emfunção da quantidade de esporulação, su-portando esporos escuros visíveis a olhonu. Os esporos desse fungo penetram nofruto somente com a presença de ferimen-tos, que podem ocorrer durante a colheitaou manuseio. Os frutos infectados colap-sam rapidamente e ocorre o vazamento desuco resultante da intensa infecção que po-de atingir frutos adjacentes durante o arma-zenamento ou transporte (SNOWDON,1990). As hifas secretam enzimas pecno-líticas que destroem a l amela média dostecidos infectados e causam a podridão-mole. Os frutos afetados podem ser rapida-mente colonizados por leveduras e bacté-rias, produzindo odor azedo característico.

O f ungo é fa cilmente e ncontrado n osolo, em compostos e em partes de plantasem decomposição. Os esporos são dispersospelo vento e encontrados em pomares epacking-houses. A incidência da podridãoaumenta durante os períodos chuvosospelo maior nível de inóculo, maior umidadee pelo aumento do número de lesões causa-das por outros fungos. Alta umidade e tem-peratura de aproximadamente 25°C durante oarmazenamento ou transporte são ótimas con-dições para o desenvolvimento da podridão-de-Rhizopus (PLOETZ et al., 1994).

Medidas de controle têm como basecuidados durante a colheita e manuseiodos frutos, para se evitarem cortes e abra-sões na casca e na sanitização do packing-house. Frutos podres devem ser removidose destruídos. Em pós-colheita é importanteo tratamento térmico, sendo mais eficientecom a adição de fungicida, pois o primeiroé eficiente em matar o micélio do fungo, mas

não os esporos. O armazenamento refrigera-do (10°C) inibe o desenvolvimento da doen-ça (PLOETZ et al., 1994; SNOWDON, 1990).

Podridão-de-Alternaria

A podridão-de-Alternaria pode ser umproblema em regiões de clima seco. O sinto-ma dessa doença é caracterizado por le-sões circulares a ovais, de coloração preta,devido à presença de uma massa escura deesporos de A. alternata (Fr.) Keissler. Geral-mente, as lesões ficam restritas à superfícieda fruta e não causam podridões extensi-vas nos tecidos do parênquima. Se os fru-tos forem comercializados em poucos diasapós a colheita, a podridão-de-Alternariageralmente não será um problema. No entan-to, o uso da refrigeração durante o armaze-namento e/ou transporte aumenta o riscode desenvolvimento da doença e os sinto-mas raramente desenvolvem-se sobre as fru-tas não refrigeradas (ALVAREZ; NISHIJIMA,1987). O patógeno infecta pecíolos senescen-tes e produz grande número de conídiossobre a superfície dos frutos. Aplicaçõesde fungicidas durante o cultivo reduzema incidência da doença, mas não podemeliminá-la (SNOWDON, 1990). O tratamentotérmico dos frutos também pode contribuirpara a redução da doença.

Podridão-de-Fusarium

Algumas espécies de Fusarium causampodridão em mamão, mas F. solani (Mart.)Sacc. é a espécie mais comum. É um pató-geno fraco que requer algum fator de pre-disposição que estresse ou danifique a fru-ta antes que o fungo se estabeleça. É visto,freqüentemente, como um invasor secundá-rio de lesões causadas por outros fungos,como C. gloeosporioides e F. moniliforme.

Os sintomas são caracterizados por lesõespequenas e deprimidas, que podem mediraté 15 mm de diâmetro. Geralmente, essaslesões são recobertas por uma combinaçãode micélio, de coloração branca, e de coní-dios, que pode ocorrer na superfície das fru-tas e na região do pedúnculo (Fig. 3). F. solanitambém pode causar a podridão interna defrutos jovens, principalmente durante pe-ríodos de clima úmido. O fungo invade acavidade das sementes, através dos restosflorais, de onde rapidamente se es palhapara o interior do fruto e causa o aborto e que-da deste (PLOETZ et al., 1994). O tratamentotérmico dos frutos é recomendado comomedida de controle (SNOWDON, 1990).

Podridão-úmida

Nos estádios iniciais, a podridão-úmidalembra a podridão-de-Rhizopus. Sua inci-dência é esporádica, mas os danos podemser extensivos, quando ela ocorre. Esta do-ença surge mais freqüentemente como umapodridão-peduncular, mas outras partes dafruta podem ser afetadas. O agente causaldessa podridão é Phomopsis sp. A áreainfectada é levemente deprimida, mole etranslúcida. O fungo desenvolve-se rapi-damente e causa lesões que se expandemfacilmente para a cavidade das sementes.A cutícula sobre a área infectada permane-ce intacta e desenvolve um padrão enru-gado. O tecido infectado é mole e úmido,mas diferente dos tecidos infectados porRhizopus, não há extravasamento de líqui-dos. Sob condições de alta umidade, a áreainfectada pode-se tornar recoberta por ummicélio de coloração branca a cinza. O fun-go esporula abundantemente em pecíolossecos que permanecem aderidos à árvore.Durante períodos úmidos, os conídios são

Figura 3 - Sintomas da podridão-de-Fusarium

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liberados e depositados sobre a superfíciedos frutos e penetram somente através deferimentos, pois são incapazes de produzircutinases (PLOETZ et al., 1994). Os méto-dos de controle iniciam-se no campo e têmcomo base aplicações regulares de fungi-cidas protetores, para reduzir o nível deinóculo. Folhas mortas devem ser removi-das das ár vores, sendo mais eficiente seperiodicamente for realizado o corte dospecíolos. A prevenção de ferimentos mecâ-nicos durante e após a colheita é uma impor-tante medida de controle. O tratamentotérmico dos frutos mostra-se efetivo, quan-do utilizado em conjunto com pulveriza-ções preventivas ainda no campo.

Mancha-de-Stemphylium

A mancha-de-Stemphylium ocorre, nor-malmente, em frutas com injúrias provoca-das durante o armazenamento e/ou trans-porte refrigerado. A infecção dos frutosocorre no campo, porém, os sintomas ge-ralmente não são evidentes. A doença ra-ramente se manifesta nas frutas mantidassob temperatura ambiente (CENCI et al.,2002). Os primeiros sintomas da mancha-de-Stemphylium são o desenvolvimentode lesões circulares pequenas de coloraçãomarrom-escura. As lesões tornam-se pro-fundas e uma margem marrom-avermelhadadesenvolve-se durante o crescimento de-las. Uma massa de esporos verde-escurosforma-se no centro das lesões. Quandoem estádio avançado, um micélio branco-acinzentado desenvolve-se sobre as le-sões. Internamente, o tecido afetado, deaparência s eca, apresenta coloração ver-melha a marrom-escura. O agente causaldessa doença é o fungo Stemphyliumlycopersici (Enjoji) W. Yamamoto (syn. S.floridanum Hannon & G. F. Weber) (PLOETZet al., 1994). As frutas são pouco resisten-tes à infecção. Danos ou estresses, comoferimentos mecânicos, tratamento térmicoe armazenamento refrigerado, aumentam asuscetibilidade, sendo que frutos madurossão mais prope nsos à infecção. Pul veri-zações regulares com fungicidas proteto-res durante a produção ajudam a manter obaixo nível de inóculo no campo. Ferimen-tos e armazenamento refrigerado prolonga-do devem ser evitados e, após o tratamen-

to térmico, as frutas devem ser resfriadasimediatamente.

Dessa forma, fica evidente que o contro-le de doenças pós-colheita dos frutos domamoeiro deve seguir as recomendaçõesque se iniciam na fase de pré-colheita, mastorna-se indispensável o tratamento dosfrutos após a colheita, visando à prevençãode infecções fúngicas. Este tratamento de-penderá das restrições do mercado-destinocom relação ao uso de produtos fitossanitá-rios. O tratamento térmico, embora recomen-dado para uma série de frutas, é comercial-mente empregado em mamão, a 49°C, por20 min, visando o controle, principalmente,da antracnose e da podridão-peduncular .Além disso, é uma exigência quarentená-ria para o controle de mosca-das-frutas poralguns países importadores (BENATO, 2001).Nesse caso, recomenda-se o tratamento de-nominado double-dip, que consiste na imer-são inicial dos frutos a 42 oC, por 30 min,seguido de outra imersão a 49 oC, por 20min (ALVAREZ; NISHIJIMA, 1987). Noentanto, esses t ratamentos tornam-se maiseficientes, quando seguidos pela apli caçãode um fungicida, como thiabendazole eprochloraz (NERY-SILVA et al., 2001).

Segundo Paull et al. (1997), o tratamentotérmico pode reduzir, mas raramente elimi-nar as infecções, uma vez que elas estejamestabelecidas. De acordo com Lurie (1998),esse tratamento, além de exercer efeito di-reto sobre o patógeno, pode induzir a sínte-se de compo stos como fitoal exinas e/ouproteínas r elacionadas com a patogênese(quitinase e β-1,3-glucanase) nos frutos.

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1Enga Agra, D.Sc., Profa Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), Caixa Postal 137, Rod. BR 110, km 47, CEP 59600-970 Mossoró-RN.Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

Originária da Índia, a manga (Mangiferaindica L.) é uma das fr utas mais conheci-das e apreciadas em todo o mundo. A pro-dução no Brasil apresentou, nos últimosanos um significativo incremento, devidoàs condições climáticas favoráveis que oPaís oferece, aliadas às novas tecnologiasque possibilitaram maior rendimento porárea, e à expansão dos mercados internose externos (CUNHA et al., 1993). As perdasquantitativas e qualitativas, devidas, entreoutras causas, às doenças pós-colheita,representam um grande entrave à produ-tividade e necessitam ser minimizadas, paraque os frutos brasileiros possam atingirmaiores valores, principalmente no merca-do externo (CARRARO; CUNHA, 1994).

ANTRACNOSE

A antracnose é a principal doença dacultura da manga, na pré e pós-colheita,em todas as áreas de produção do mundo

Doenças da manga

Selma Rogéria de Carvalho Nascimento1

ra a formação de apressório (DODD et al.,1997). Períodos prolongados de chuva quecoincidem com o florescimento são as con-dições ideais para a ocorrência de epide-mias. O período de umidade necessário pa-ra que ocorra a infecção é de 3 a 8 horas emtemperaturas entre 25oC e 30oC, sendo queeste tempo aumenta com o decréscimo datemperatura. A infecção ocorre diretamenteatravés da superfície íntegra do hospedei-ro, não necessitando de ferimento. O fungofixa-se através de apressório e lança-se parao interior da célula através de uma hifa maisfina, denominada peg de penetração, queperfura a cutícula, recuperando suas di-mensões ao atingir o lúmen da célula, deonde retira seus nutrientes (JEFFRIES etal., 1990).

Infecções quiescentes em frutos ima-turos são comuns, podendo o fungo per-manecer por meses no fruto, sem que hajamanifestação de sintomas. Apresenta apa-rência sadia durante a colheita e signifi-cante sintoma de antracnose durante o

Resumo - Perdas pós-colheita em manga são expressivas e atribuídas, na maioria, afungos que atacam durante o transporte, a estocagem e a comercialização desses frutos.Dentre as doenças pós-colheita, a mais importante é a antracnose, devido a maiorincidência, seguindo-se a podridão-peduncular, podridão-de-Alternaria e as causadaspor patógenos secundários. Para que o controle de doenças pós-colheita seja satisfatórioé necessária a implantação de medidas de sanitização do pomar, para diminuir o poten-cial de inóculo nos frutos, infecções quiescentes e injúrias causadas por insetos que servirãode portas de entradas a patógenos, além da sanitização de caixas, água de lavagem dasfrutas, câmaras de armazenamento, seleção rigorosa das frutas, além de evitar danosmecânicos. Medidas adicionais de controle pós-colheita são normalmente necessárias,além daquelas empregadas no campo, envolvendo refrigeração, tratamentos térmico,químico e biológico.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Mangifera indica. Antracnose. Podridão.

(DODD et al., 1997). É causada pelo fungoColletotrichum gloeosporioide (Penz.)Penz. & Sacc, que pertence à ordem Melan-coniales, família Melanconiaceae. Produzacérvulos subepidérmicos dispostos emcírculos. Os conídios são hialinos e gutu-lados, uninucleados, com 12-19 μm decomprimento por 1,0-6,0 μm de largura,arredondados nas extremidades e levemen-te curvos (DODD et al., 1997). A fase teleo-mórfica corresponde ao fungo Glomerellacingulata (Stonem) Spauld. & Schrenk, quepertence à subdivisão Ascomycotina, cujopapel no ciclo da doença não é conhecido(PLOETZ, 1994).

Os conídios ficam retidos em acérvulosatravés de uma massa mucilaginosa decoloração r osada, se ndo a c huva i mpor-tante para sua l iberação e d isseminação.A produção de conídios ocorre durante oano todo, é maior em condições de alta umi-dade relativa, acima de 95%, ou em águalivre em uma larga faixa de temperatura quevai de 10oC a 30oC, sendo 25oC a ideal pa-

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amadurecimento. Após a colheita, a disse-minação ocorre de fruto para fruto, devidoà proximidade deles, dentro das embala-gens (PLOETZ, 1994).

Os sintomas nos frutos pós-colheitasão mais importantes durante o amadure-cimento. Manchas de coloração marrom-escura, levemente deprimidas, inicialmentepequenas, podem coalescer , envolvendograndes áreas do fruto (Fig. 1) . Às vezes

é a podridão-peduncular . No Brasil, foiconstatada nos estados de Pernambuco,Bahia, Rio Grande do Norte, Minas Gerais,São Paulo, Goiás e Distrito Federal. É umagrave doença nas áreas irrigadas do Nor-deste brasileiro, sendo favorecida quandoas plantas são submetidas a estresse hí-drico ou nutricional (CUNHA et al., 1993;RIBEIRO, 1997).

É causada pelo fungo Lasiodiplodia

estriado longitudinalmente, sendo libe-rados do picnídio através de um ostíoloapical na forma de massa escura (RIBEIRO,1997).

O fungo Lasiodiplodia theobromaesobrevive na planta em ramos secos re-manescentes, ou em restos da cultura co-mo saprófita. Apesar de poder penetrardiretamente nos tecidos sadios do hospe-deiro, seu desenvolvimento é muito maisintenso, quando a infecção ocorre atra-vés de um ferimento. Lesões causadas poroutros patógenos como Colletotrichumgloeosporioides, Oidium mangiferae eXanthomonas campestris pv. mangiferaeindicae favorecem a penetração do fun-go que também pode ocorrer por aberturasnaturais (RIBEIRO, 1997).

Temperaturas entre 27°C e 32°C eumidade relativa do ar que varia de 80%-85% são condições ideais para a infec-ção. O fungo frutifica nos ramos doentesou secos, onde sobrevive como saprófi-ta, sendo disseminado pelo vento, insetosou ferramentas de poda. Mudas contami-nadas são importantes agentes dissemi-nadores a longas distâncias (RIBEIRO,1997). Nos frutos, a podridão é extensiva esuave começando pela região peduncular,que apresenta coloração escura, com bor-das bem definidas, e estendendo-se com-

essas lesões causam rachaduras na cas-ca. As manchas são irregulares, algumasvezes arredondadas, e distribuem-se portoda a superfície do fruto, porém, algumasvezes estão mais concentradas ao redor dopedúnculo e estendem-se para a base dofruto, formando manchas escorridas, devi-do ao trajeto do inóculo, junto com a águada chuva, no mesmo sentido (PLOETZ,1994).

No centro das lesões é possível obser-var pontuações parda-amareladas, que sãoas frutificações do patógeno, e a presençade massa de conídios de coloração rosada(DODD et al., 1997).

PODRIDÃO-PEDUNCULAR

Outra doença pós-colheita de grandeimportância, constatada em vários paísesprodutores de manga no mundo, comoÍndia, Paquistão, Austrália, Egito, Áfricado Sul, El Salvador, Porto Rico e Barbados,

Figura 1 - Antracnose em manga

Figura 2 - Podridão-peduncular em manga

theobromae (Pat.) Griff &Maubl. (sin. Botryodiplodiatheobromae Pat.), cuja faseteliomórfica corresponde aofungo Botryosphaeria spp.Apresenta um crescimentovigoroso, coloração verde-clara, quando novo, escure-cendo com a idade (Fig. 2).A h ifa é s eptada, h ialinano início, granular e depoisgutulada, tornando-se deverde-escura a preta. Picní-dios ocorrem isolados ouem gru pos num estromaescuro, p rotuberante, r os-trado, globoso ou subglo-

boso. Os conídios são hialinos, ovais, nãoseptados, quando imaturos. Na maturi-dade, adquirem coloração pardo-escuracom um septo transversal, não constrito e

pletamente no fruto,em dois ou t rês d ias(YAHÍA, 1997). Fruti-ficações do fungo po-dem ser observadas,em condições de altaumidade e tempera-tura, constituindo-sede uma grande quan-tidade de minúsculaspontuações escu rasna parte central daslesões. Com o tempoos tecidos lesiona-dos podem rachar ,expondo a p olpa d ofruto (CUNHA et al.,1993).

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32 Doenças pós-colheita de frutas

PODRIDÃO-DE-ALTERNARIA

A podridão-de-Alternaria ocorre emfrutos após a colheita em estádios de ama-durecimento. Muitas cultivares apresentamsuscetibilidade e a doença já foi constata-da em vários países como Austrália, Egito,Índia, Israel e África do Sul (PRUSKY, 1994;DODD et al., 1997). A doença é causadapelo fungo Alternaria alternata (Fr.: Fr.)Keissel. Pertence à classe dos Hyphomycetese ordem Moniliales, os conidióforos podem-se apresentar em grupos ou individualmen-te, retos ou curvos com um a três septos(20-46 X 4,6 μm). Os conídios medem de 20a 36 μm X 9 a 9,5 μm, são multicelulares,com septos longitudinais e transversais,clavados com uma das extremidades ponti-aguda, com ou sem apêndice e de coloraçãomarrom-esverdeada (DODD et al., 1994).

Fontes de inóculo para as infecções nosfrutos provêm de folhas e ramos infectadosou de folhas caídas no chão. Os conídiosdo fungo alcançam os frutos através dovento ou orvalho, germinam e penetram nofruto através das lenticelas, não sendo ne-cessário ferimentos. Um tempo mínimo de350 horas, em condições de umidade rela-tiva acima de 80%, é necessário para queocorra infecção quiescente, aumentando-se o índice de infecções, se esse tempo seestender (PRUSKY, 1994; DODD e t a l.,1997).

Os sintomas nos frutos são pontosescuros ao redor das lenticelas, que cres-cem e coalescem, tornando-se uma úni-ca mancha que cobre boa parte do fruto.No início, a lesão é firme e penetra poucona polpa do fruto (1 a 2 mm). Posteriormen-te, o fruto torna-se mole. Os centros daslesões tornam-se ligeiramente afundadose, em alta concentração de umidade, espo-ros de coloração oliva-escura se desenvol-vem. As manchas produzidas por Alternariasão mais escuras e firmes que as manchasde antracnose (PRUSKY, 1994).

OUTROS PATÓGENOS

Vários outros patógenos secundáriosestão envolvidos em podridões pós-colheitaque, de modo geral, exigem ferimentos para

a infecção como os fungos Hendersonulatoruloidea, Diploidia sp., Diploidianatalensis, Diaporthe citri , Pestalotiamangiferae, Aspergillus flavus, Dothiorellaribis, Dothiorella dominicana, Penicilliumcyclopium , Phomopsis mangiferae(RIBEIRO, 1997) e Rhizopus spp. e as bacté-rias Erwinia spp. e Xanthomonas campestrispv. mangiferaeindicae (DODD et al.,1997).

PROCESSO DE INFECÇÃO

De acordo com a velocidade com quese desenvolvem as infecções, elas podemser imediatas ou quiescentes. Na infecçãoimediata, os frutos mostram os sintomasda doença em pouco tempo. Nesse caso ainfluência dos fatores ambientais é decisi-va e as condições fisiológicas do hospe-deiro podem retardar, mas não inibir o de-senvolvimento da infecção (WILLS et al.,1989). Esse tipo de infecção ocorre em fru-tos maduros, portanto, sem resistência àcolonização pelos patógenos, tanto na pré-colheita como na pós-colheita, sendo maiscomum em condições comerciais na pós-colheita. A infecção ocorre, devido ao inó-culo presente nos frutos, nas caixas ousuperfícies, onde é depositado durante otransporte, armazenamento ou comerciali-zação. A disseminação é facilitada pelaproximidade dos frutos infectados com ossadios, dentro das embalagens. A pene-tração dos patógenos ocorre principalmen-te por ferimentos, mas para a lguns delesessa condição não é necessária, já que ambi-entes favoráveis são aqueles com altastemperaturas e umidade (DODD et al.,1997).

Nas infecções quiescentes o patógenopenetra a cutícula do hospedeiro e perma-nece subepidermicamente sem promoveros sintomas. A inibição do desenvolvimen-to do patógeno decorre de condições fisio-lógicas imposta pelo hospedeiro até quealgum estádio de maturação tenha-se com-pletado (DODD et al., 1997). Frutos imatu-ros possuem mecanismos de resistência àcolonização dos patógenos, devido à pre-sença de compostos tóxicos, como fenóise taninos, ou substâncias complexas ina-

dequadas à nutrição dos patógenos, oupelo fato de as enzimas produzidas pelosfungos serem inadequadas ou insuficien-tes para degradar substâncias pépticas daparede celular desses frutos (JEFFRIES etal., 1990). Esse tipo de infecção é produzidopor vários fungos como Colletotrichum(PLOETZ, 1994), Lasiodiplodia (DODD etal., 1997) e Alternaria (PRUSKY, 1994).

CONTROLE DE DOENÇASPÓS-COLHEITA EM MANGA

Para que o controle de doenças pós-colheita seja satisfatório é necessária aimplantação de um programa de monito-ramento no campo que vise à sanitizaçãodas plantas através de medidas culturaisde controle, incluindo limpeza, adubação eirrigação adequada, controle de insetos epulverizações com fungicidas, para reduziro nível de infecções, desde o florescimentoaté o final do período de crescimento dosfrutos (SANTOS FILHO et al., 2002). Tam-bém fazem parte das estratégias de contro-le d e d oenças p ós-colheita a s anitizaçãode caixas, da água de lavagem das frutas,das câmaras de armazenamento, além deuma seleção rigorosa das frutas e da pre-venção de danos mecânicos (BENA TO,1999).

No entanto, medidas adicionais de con-trole pós-colheita são normalmente neces-sárias, além das já empregadas no campo(PLOETZ, 1994).

Os métodos químicos de controle dedoenças pós-colheita abrangem fungici-das, que podem ser de contato ou sistêmi-cos, atuam sobre patógenos que pene-tram através de ferimentos ou sobre aquelescom infecções quiescentes. Apresentam avantagem do efeito residual que garante aproteção durante o armazenamento prolon-gado das frutas, no entanto, traz precau-ções quanto à fitotoxidade, resíduo, espec-tro de ação e resistência dos patógenos(BENATO, 1999). Para a manutenção dosníveis de resíduo de agrotóxicos dentro doslimites aceitos pelos organismos internacio-nais de saúde deve-se respeitar o período dedez dias de carência (BLEINROTH, 1994).

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33Doenças pós-colheita de frutas

No Brasil, há poucos produtos quími-cos registrados para uso em pós-colheita,o que representa dificuldades para a co-mercialização a longas distâncias. Paramanga, o único produto registrado é o pro-chloraz sistêmico, do grupo dos imidazoles,recomendado na dosagem de 110 mL/100L(KIMATI et al., 1997).

Dentre os métodos de controle em pós-colheita para manga, o tratamento térmicoé o mais eficiente. Nos pomares com gran-de infestação, para uma maior efetividade,pode-se adicionar ao tratamento térmico oquímico, utilizando-se princípios ativos,tais como prochloraz, thiabendazole e tria-zóis (CUNHA et al., 1993; PLOETZ, 1994;PROTRADE, 1992; SANTOS FILHO et al.,2002). O tratamento hidrotérmico quarente-nário para mosca-das-frutas exigido pelosEstados Unidos, importador de mangasbrasileiras (46,1oC/70 a 90 min) é tambémeficiente para o controle da antracnose(CUNHA et al., 1993).

Várias cultivares são tolerantes ao trata-mento com água quente, mas geralmente,não deve exceder a 55°C por 5 min (PLOETZ,1994; SAMPAIO, 1983; BOTREL, 1994;EVANGELISTA et al., 1996; BLEINROTH,1994; PROTRADE, 1992). Após o tratamen-to térmico, os frutos devem atingir nova-mente a temperatura ambiente antes doarmazenamento refrigerado, para evitarinjúrias, constituídas por manchas verdesque surgem durante o amadurecimento(PROTRADE, 1992).

A irradiação em combinação com fungi-cidas e tratamento hidrotérmico tambémtem sido utilizada para o controle da antrac-nose (PLOETZ, 1994). A destruição de mi-crorganismos pelos raios gama baseia-seno fato de que a passagem de partículasionizantes, através ou nas proximidadesdas porções sensitivas das células micro-bianas, resulta em morte (CHIT ARRA;CHITARRA, 1990). A melhor dosagem pa-ra a manga é de 30 krad, o que permite seuarmazenamento em estado verde à tempera-tura de 25°C durante duas semanas, quan-do, então, a fruta começa a amadurecer ,encontrando-se em condições de consumo

cinco dias depois. A irradiação diminuibastante a podridão causada por fungosaté 75 dias de armazenamento, sem signi-ficativo efeito na composição bioquímica(BLEINROTH, 1994).

O controle biológico de doenças pós-colheita, por meio do uso de antagonistas,tem apr esentado resultado s p romissores.Estudos com microrganismos diversoscomo leveduras, actinomiceto e fungos dogrupo Trichoderma estão em andamento.O controle biológico representa um poten-cial do controle integrado, que permite umamedida mais racional, eficiente, econômicae de menor impacto ambiental (SANTOSFILHO et al., 2002).

A refrigeração e o uso de atmosfera con-trolada ou modificada podem atuar direta-mente sobre os patógenos, suprimindo seucrescimento e, de modo indireto, sobre afisiologia da fruta, retarda ndo o seu ama-durecimento e, conseqüentemente, man-tendo a sua resistência (BENATO, 1999).A atmosfera controlada combina os efeitosda baixa concentração de O 2, que inibe arespiração dos frutos e em conseqüênciaretarda os processos de maturação e senes-cência e a alta concentração de CO 2 queinibe o crescimento dos patógenos. O nívelde CO2 em manga, no entanto, não podeultrapassar a 10%, pois, acima desse per-centual pode provocar o processo fermen-tativo do fruto, com produção de álcool(BLEINROTH, 1994).

A atmosfera modificada é obtida atravésda utilização de filmes poliméricos, onde apermeabilidade a gases proporciona maiordurabilidade aos frutos, permitindo queocorram simultaneamente os processos derespiração e permeabilidade. Na respira-ção, o oxigênio é continuamente consumi-do pelo fruto e o gás carbônico é liberado,formando um gradiente de concentraçãoentre o interior e o exterior da embalagem.O oxigênio permeia para dentro da embala-gem e o gás carbônico em sentido contrá-rio. Esta troca de gases pelo filme é ideal,quando r esulta em uma redução na con-centração de oxigênio e numa elevação noteor de gás carbônico, sem ultrapassar os

limites de tolerância a esses gases (ALVESet al., 1998; BLEINROTH, 1994).

As temperaturas de armazenamento demanga devem estar dentro das exigênciasespecíficas d e c ada v ariedade e g rau d ematuridade da fruta. Mangas destinadasao transporte marítimo que são colhidascom um grau de maturação menor do queas colhidas para o transporte aéreo, nãopodem ser refrigeradas abaixo de 12°C.Lotes mais maduros para o transporte aéreopodem ser resfriados a 10°C. A umidaderelativa deve ser em torno de 90%, paraevitar perda de água do fruto (PROTRADE,1992).

Para armazenagem de frutos em câmarasrefrigeradas na ausência de etileno podem-se utilizar temperaturas entre 13°C e 15°C.Devendo-se evitar armazenagens com outrasfrutas que liberam etileno. Quando as man-gas estão no ponto de maturação óti mopara o consumidor, são mais resistentes aofrio e suportam por vários dias baixas tem-peraturas, em torno de 5°C (PROTRADE,1992).

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1Engo Agr o, Bolsista CNPq, Doutorando UFLA-Dep to de Fitopatologia, Caixa Postal 37, CEP 39200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Doenças do maracujá

Pedro Martins Ribeiro Júnior1

Mário Sérgio Carvalho Dias2

Resumo - Após a colheita, o maracujá é sensível a uma série de doenças, que causamperdas na qualidade, depreciam e dificultam sua comercialização. Para o controle des-sas doenças, não existem fungicidas registrados para o uso em pós-colheita no Brasil.O controle deve começar ainda no campo, para reduzir a fonte de inóculo e evitar da-nos nos frutos durante o manuseio. Em pós-colheita, devem-se utilizar medidas alternati-vas para o controle dessas doenças, como o tratamento hidrotérmico e a refrigeração.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Passiflora. Antracnose. Verrugose. Mancha-parda.

INTRODUÇÃO

O maracujazeiro pertence à famíliaPassifloraceae, composta por 12 gêneros,sendo o mais importante o gênero Passi-flora. A espécie mais cultivada no Brasilé a Passiflora edulis Sims. f. flavicarpaDegenes (maracujá-amarelo ou maracujá-azedo) e, em menor escala, a Passifloraalata Dryand (maracujá-doce). O Brasil éo principal produtor mundial dessa fruta,seguido pelo Peru, Venezuela, África doSul, Sri Lanka e Austrália, com produçãoanual em torno de 485,3 mil toneladas cul-tivada em 53,1 mil hectares (PRODUÇÃO...,2004). Na comercialização dessa fruta, aaparência é um dos parâmetros de avalia-ção qualitativa mais utilizados pelos consu-midores, sendo as doenças pós-colheita umdos principais fatores de perda da quali-dade de frutos de maracujá. Essas doenças,freqüentemente, provêm de infecções queiniciam no campo, causadas por microrga-nismos que produzem grande quantidadede inóculo que sobrevive em partes de plan-tas doentes, restos de cultura, no solo eem utensílios agrícolas. Como agentes etio-

lógicos dessas doenças têm-se destacadovários fungos dos gêneros Colletotrichum,Cladosporium, Alternaria, Penicillium,Phomopsis, Fusarium, Rhizopus e Aspergillus(SNOWDON, 1990; GAMA et al., 1991;SAÉNS et al., 1991; BENATO et al., 2001;ZAMBOLIM, 2002).

ANTRACNOSE

A antracnose é encontrada em todasas regiões produtoras do País. É conside-rada a principal doença pós-colheita domaracujá, cujo agente etiológico é o fungo

Sintomas

Os frutos são contaminados ainda ver-des. Ocorre o aparecimento de manchas deaspecto aquoso, que evoluem para colora-ção parda, de formas arredondadas e depri-midas. Geralmente, ocorre murcha e quedados frutos. Em frutos maduros, verifica-seo aparecimento de lesões arredondadase grandes de cor escura, bordas elevadase centro deprimido, com pontuações ne-gras referentes à frutificação do patóge-no (Fig. 1). Em condições de alta umida-de, ocor re a formação de uma massa de

Figura 1 - Sintomas de antracnose em maracujáazedo

Colletotrichum gloeosporioidesPenz, ou Glomerella cingulata(Stonem.) Spaud & Schrenk,comoseu teleomorfo.

As pesquisas realizadas porLima Filho et al. (2003) e por Munizet al. (1998) revelaram que somenteisolados de C. gloeosporioidesobtidos de frutos de maracujazei-ros são capazes de provocar le-sões em outros frutos da mesmaespécie, o que sugere a existênciade especialização patogênica.

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37Doenças pós-colheita de frutas

conídios de coloração rósea no centro daslesões (DIAS, 2000).

Condições favoráveis

A ação da antracnose é favorecida porumidade alta e temperatura por volta de26oC a 28oC. Segundo Ruggiero et al. (1996),com a chegada do inverno a importânciada doença diminui, sendo pequena suaincidência nessa época, mesmo que ocorrachuva. A infecção ocorre através de feri-mentos, aberturas naturais ou por penetra-ção direta (ZAMBOLIM, 2002; BENATO,2002). A disseminação do patógeno no cam-po é favorecida pela água da chuva, vento,sementes e mudas infectadas. Ele podesobreviver em restos de cultura e tecidosdoentes do maracujazeiro. Cultivos acimade dois anos são mais afetados pela doençado que aqueles recém-implantados.

Controle

A redução do inóculo no campo é umadas principais formas de controle da antrac-nose, que pode ser realizada por meio dautilização de mudas sadias, da adoção desistema de tutoramento que propicie bomarejamento da planta, das podas de limpezapara eliminação de partes doentes da plan-ta e da aplicação preventiva de fungicidascúpricos com espalhante adesivo semanal-mente nos períodos chuvosos e, de acordocom a pluviosidade, com intervalo maior .As aplicações curativas podem ser reali-zadas utilizando os fungicidas do grupodos benzimidazóis, triazóis e chlorothalonil(LIBERATO, 2002).

Para reduzir o murchamento e a incuba-ção das podridões, os frutos devem ser co-lhidos diretamente da planta, com pecíolode 1-2 cm. Após a colheita, de 8-12 horas,devem ser imediatamente selecionados,preparados e lavados. N a seleção, os fru-tos murchos, sem pedúnculo, lesionados,verdes, com sintomas de ataque de mos-ca ou com doenças devem ser eliminados.Recomendam-se também eliminar os restosflorais e aparar o pedúnculo em 0,5 cm. Paraa lavagem utilizam-se detergente e água clo-rada a 100 mg L-1 (RUGGIERO et al., 1996).

Apesar de alguns autores indicaremfungicidas para o controle de doenças pós-colheita em maracujá, no Brasil não existenenhum produto registrado no Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA) (SILVA; DURIGAN, 2000). Comoalternativa eficiente, tem-se utilizado trata-mento hidrotérmico, que consiste na imer-são dos frutos em água quente a 47oC, por5 minutos (AULAR-URRIETA, 1999) e42,5oC ou 45oC, por 8 minutos (BENATO etal., 2001). Esse tratamento é eficaz no con-trole de podridões, quando os esporos eas infecções quiescentes estão presentesna superfície ou nas primeiras camadascelulares da casca dos frutos.

A refrigeração é o processo mais indi-cado para prolongar a vida útil das fru-tas e m p ós-colheita, p ois a s a tividadesmetabólicas tanto do patógeno como dohospedeiro possuem processos que sãoregulados por faixas de temperatura coinci-dentes (ZAMBOLIM, 2002). Para conserva-ção do maracujá-amarelo sob refrigeração,por 15 dias, recomendam-se temperaturasque variam de 10oC a 12oC e umidade relati-va de 85% a 90%. Temperaturas de armaze-namento abaixo de 7oC provocam chiling,que se caracteriza por descoloração aver-melhada e grande suscetibilidade no de-senvolvimento de podridões (RUGGIEROet al., 1996; AULAR-URRIETA, 1999).

Após a colheita, os f rutos tendem amurchar e, para evitar esse murchamento,recomenda-se o tratamento com parafinafundida ou com filmes plásticos. A utili-zação de embalagens plásticas em maracujáaumenta a umidade interna e favorece oaparecimento de podridões como a causa-da por Penicillium, também observada emtratamento com parafina. Segundo Ruggieroet al. (1996) isso pode ocorrer, quando sãoutilizados sacos de polietileno acima de40 micras e sem perfurações, recomendan-do, assim, sacos plásticos de baixa densi-dade (25 a 40 micras de espessura) perfu-rados (aberturas de 0,5 cm de diâmetro, acada 60 cm2 de superfície). De acordo comSaénz et al. (1991), embalagens plásticassem perfurações podem ser recomendadas,

se associadas com armazenamento refri-gerado a 12oC e 90% de umidade relativa,o que prolonga por 30 dias a vida pós-colheita do fruto.

VERRUGOSE

A verrug ose ou cladosporios e, cau-sada pelo fungo Cladosporium herbarumLink., é uma importante doença pós-colheitado maracujá. Foi p rimeiramente descritana Austrália e ocorre em todas as regiõesprodutoras do Brasil. Apesar de não afetara qualidade do suco, há uma redução novalor comercial do fruto por causa da suaaparência.

Sintomas

O principal sintoma que ocorre na su-perfície dos frutos é a verrugose, caracte-rizada pelo desenvolvimento do tecido dacasca adjacente à margem das lesões quese iniciam como pequenos pontos marrom-claros, levemente deprimidos, que crescematé atingir 3 mm de diâmetro.

A área afetada é ligeiramente elevadaacima da superfície, originando calombosdenominados verrugas, de coloração palha,que podem coalescer e permanecer até amaturação do fruto (Fig. 2). A infecção ocor-re quando os frutos ainda estão em iníciode desenvolvimento (LIBERATO, 2002).

Condições favoráveis

Segundo Pio-Ribeiro e Mariano (1997),a verrugose é favorecida por temperaturas

Figura 2 - Sintomas de verrugose em ma-racujá azedo

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38 Doenças pós-colheita de frutas

amenas e baixa umidade, sombreamento eplantas estressadas.

O patógeno pode ser transmitido atra-vés do vento e de mudas doentes. Em con-dições extremamente favoráveis, o fungocausa lesões em brácteas e cálices de frutos,sem prejuízo à frutificação, constituindo-se em fonte de inóculo para posterior infec-ção do fruto (YAMASHIRO, 1980).

Controle

Semelhante à antracnose, o controle daverrugose consiste na utilização de mudassadias, no bom arejamento da parte aérea,nas podas de limpeza e na queima do ma-terial infectado, evitando o seu transportepela plantação. Como medida preventi-va, faz-se aplicação de fungicidas cúpricoscom espalhante adesivo semanalmente nosperíodos chuvosos e, de acordo com a plu-viosidade, pode ter intervalo maior entreas aplicações. Os fungicidas curativos dosgrupos do benzimidazóis, triazóis e chloro-thalonil também são efetivos no controleda doença. Na colheita, os frutos devemser colhidos diretamente da planta, compecíolo de 1 a 2 cm. Após a colheita, de 8 a12 horas, devem ser imediatamente sele-cionados, preparados e lavados. Na sele-ção, frutos murchos, sem pedúnculo, lesio-nados, verdes, com sintomas de ataque demosca ou com doenças devem ser elimina-dos, bem como os restos florais. O pedún-culo deve ser aparado em 0,5 cm e lavado,posteriormente, c om d etergente e á guaclorada. Tratamentos pós-colheita reco-mendados para a antracnose também sãoeficientes no controle da verrugose.

MANCHA-PARDA

A mancha-parda é causada pelo fun-go Alternaria alternata (Fr.:Fr.) Keissl eAlternaria passiflorae Simmonds. Ocorrede forma esporádica. Quando as condiçõesambientais forem favoráveis, a mancha-parda pode causar grandes prejuízos.

Sintomas

Nos frutos, ocorrem áreas necróticas,deprimidas de 1 a 5 cm de diâmetro, de

formato circular e coloração pardo-averme-lhada a pardacenta, que podem aprofundarafetando totalmente a polpa. Após a meta-de de seu desenvolvimento, os frutos nãosão mais afetados pela doença. Quandoocorre ataque severo nos fr utos, a super-fície das manchas fica quebradiça e, noprocesso de industrialização, pedaços dotecido da casca podem-se desprender con-taminando o suco e alterando seu sabor .Pode ocorrer queda prematura, se as lesõesestiverem localizadas perto do pedúnculo(PIZA JÚNIOR, 1994).

Condições favoráveis

A mancha-parda pode ocorrer em con-dições de alta temperatura e umidade. Seusconídios podem ser disseminados atravésde correntes de ar e água de chuva ou irriga-ção (Quadro 1).

Controle

As medidas culturais recomendadaspara o controle da antracnose e verrugo-se, associadas ao uso, ainda no campo, defungicidas são eficientes no controle damancha-parda. Os fungicidas cúpricos sãorecomendados para o controle da doen-

ça no c ampo. Esses prod utos devem seraplicados no início do aparecimento dossintomas, geralmente nas épocas mais úmi-das (DIAS, 2000). As aplicações devem serrepetidas em intervalos de 7 a 14 dias, deacordo com a intensidade da doença. Empós-colheita, a s m edidas r ecomendadaspara a antracnose também são eficientesno controle da mancha-parda.

OUTRAS DOENÇAS PÓS-COLHEITA

Há relatos de outros fungos causado-res de doenças pós-colheita em maracujá,como o Penicillium, Phomopsis, Fusarium,Rhizopus e Aspergillus. Esses fungos po-dem penetrar nos frutos por meio de feri-mentos causados a eles no manuseio edurante o transporte. São favorecidos portemperaturas em torno de 20 oC a 25 oC(ZAMBOLIM, 2002). Como método de con-trole recomenda-se, na pós-colheita, o des-carte dos frutos murchos, sem pedúnculo,com ferimentos ou com doenças. A utili-zação do tratamento hidrotérmico e darefrigeração, indicados para outras doen-ças pós-colheita do maracujá, é eficienteno controle desses patógenos.

Alternaria Conídio Ar, água Direta

Aspergillus Conídio, hifa Ar, solo e água Ferimentos

Colletotrichum Ascósporos, conídios Ar, água Direta, injúria

Phomopsis Ascósporos, conídios, hifa Ar, água Direta, injúria

Penicillium Conídios, hifa Ar, solo, água e fruto Injúria, contato

Rhizopus Esporangiósporos, hifa Ar, solo, água e fruto Injúria, contato

QUADRO 1 - Forma de inóculo, modo de transmissão e infecção de fungos em pós-colheita de

maracujá

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InfecçãoPatógeno Inóculo Transmissão

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40 Doenças pós-colheita de frutas

1Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: [email protected] em Agronomia, Bolsista CNPq/EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Por teirinha-MG. Correio eletrônico:

[email protected] em Agronomia, Bolsista CNPq/EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Por teirinha-MG. Correio eletrônico:

[email protected] Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

Perdas pós-colheita podem alcançaraltos valores, dependendo da espécie, mé-todos de colheita, tempo de armazenamen-to, condições de comercialização, entreoutros (IPPOLITO; NIGRO, 2000). Em paí-ses subdesenvolvidos as perdas são par-ticularmente altas, quase 50%, sendo amaioria dessas devido a ataques de pató-genos (WILSON; WISNIEWSKI, 1989).Doenças pós-colheita são responsáveispor grande parte de perdas da produçãono Brasil, causando grandes prejuízos pa-ra os produtores.

Apesar das excelentes característicasorganolépticas, o morango é um fruto alta-mente perecível e apresenta limitada vidapós-colheita. Doenças pós-colheita afetamdiretamente o produto comercial e são fa-vorecidas por injúrias mecânicas durantetratos culturais, irrigação e colheita.

quando não se praticam medidas preventi-vas de controle. As condições ambientaisdas regiões mineiras, onde se cultiva omorango, favorecem a ocorrência dessasdoenças, o que torna necessário o controleperiódico, quase sempre realizado atravésde pulverizações preventivas de defensi-vos agrícolas. Cabe aos técnicos e aos pro-dutores racionalizarem o uso dos defensi-vos, adotando medidas alternativas quepossam reduzir o uso desses produtos, umavez que o morango é uma das frutas queapresenta os maiores níveis de resíduosde pesticidas. A pesquisa também tem avan-çado neste campo e, brevemente, o pro-dutor disporá de técnicas que permitirãoa p rodução de f rutos de al ta qualidade elivres de resíduos tóxicos. Neste artigo se-rão abordadas as principais doenças queocorrem na pós-colheita e também as me-didas de controle recomendadas.

Doenças do morango

Mário Sérgio Carvalho Dias1

Renata da Silva Canuto2

Leandra Oliveira Santos3

Ramilo Nogueira Martins4

Resumo - As principais doenças que afetam o morango na pós-colheita são a antracnosee as podridões causadas por Rhyzopus nigricans Ehr e por Botrytis cinerea Pers. & Fr.Devido à sensibilidade dos frutos, estas doenças podem provocar perdas irreparáveisdurante o processo de armazenamento e comercialização, havendo necessidade de con-trole fitossanitário periódico, por meio do uso de fungicidas e de práticas culturais, quevisam à prevenção e à redução de inóculo dos patógenos. É apresentada uma abordagemdessas doenças, as condições favoráveis para suas ocorrências e suas formas de controle.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Antracnose. Mofo-cinzento. Podridão.

Várias tecnologias vêm sendo desen-volvidas para prevenir e minimizar perdaspós-colheita, garantir a manutenção daqualidade e prolongar a v ida útil de mo-rangos. Dentre elas estão a colheita nosestádios iniciais de maturação, o controlede atmosfera e a temperatura de armaze-namento, a irradiação, o controle biológicoe as práticas culturais (LIMA, 1999).

No estado de Minas Gerais a antracno-se, doença causada por fungos do gêneroColletotrichum, afeta os morangais, tor-nando o cultivo totalmente inviável, quan-do não são tomadas medidas de controle.Além de afetar as plantas no campo, os sin-tomas da doença manifestam-se também napós-colheita depreciando os frutos e invia-bilizando a comercialização. A podridão-de-Rhizopus e a podridão-de-Botrytis sãooutras doenças que danificam drastica-mente os morangos depois de colhidos,

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41Doenças pós-colheita de frutas

ANTRACNOSE

A antracnose é a principal doença domorangueiro em todas as regiões produto-ras do Brasil. Provoca danos consideráveisnos cultivos, pois os agentes causais dadoença destroem as flores, os frutos e atémesmo as plantas, quando encontram con-dições ambientais favoráveis para a infec-ção. Existem dois tipos de antracnose queocorrem no morangueiro, coração-vermelhoou chocolate, causada por Colletotrichumfragariae Brooks, e flor-preta, causadapor Colletotrichum acutatum Simmonds.O primeiro ataca o rizoma, pecíolos, esto-lhos e frutos. Já C. acutatum afeta as flo-res e os frutos e dificilmente ataca o rizoma(DIAS, 1993, 1999).

Sintomas

Os sintomas no rizoma iniciam-se peloaparecimento de uma coloração avermelha-da no seu interior, devido ao apodrecimen-to dos tecidos, o que leva as plantas ataca-das a murcharem e a morrerem. Nos frutos,inicialmente o corre o a parecimento d emanchas de coloração bronze a castanho-clara, de forma circular, grandes e de aspectoaquoso. Estas manchas adquirem, poste-riormente, coloração mais escura, tornam-se compactas e com as bordas ligeiramenteelevadas (Fig. 1). O tecido afetado fica ca-racteristicamente firme e seco, sendo pos-

faz com que estes curvem-se, escureçam esequem. Nas folhas, os sintomas somentemanifestam-se em caso de alta incidênciada doença e geralmente no final do ciclo.Podem ocorrer dois tipos de manchas nasfolhas do morangueiro: mancha- preta emancha-irregular-da-folha. As manchas-pretas são arredondadas, geralmente comdiâmetro de 0,5 a 1,5 mm e de colorações quevariam de acinzentadas a pretas. As man-chas-irregulares são lesões secas de colo-ração castanho-escura a preta, diâmetrovariável, ocorrendo no ápice e nas margensdas folhas jovens. Outro sintoma caracte-rístico da antracnose é a flor-preta, poisC. acutatum infecta botões florais e flo-res, provocando o aparecimento de lesõesescuras, que se formam primeiramente noscálices, atingindo, posteriormente, todo obotão ou a flor, tornando-os secos, mumifi-cados e de coloração castanho-clara. As flo-res infectadas apresentam pistilo, ovário ecálice totalmente secos e pretos.

Condições favoráveis

As duas espécies de Colletotrichum queocorrem no Brasil desenvolvem-se numafaixa de t emperatura entre 25oC e 30 oC,entretanto, temperaturas mais altas favo-recem C. fragariae e aquelas mais baixasfavorecem C. acutatum (SMITH; BLACK,1990). Temperaturas elevadas, superiores

a 21oC, favorecem a incidência da antrac-nose que provoca grandes perdas na pro-dução em morangais da Flórida e Califórnia(HOWARD,1972; HOWARD et al., 1984,1992). As espécies de Colletotrichum sãodisseminadas principalmente pela chuva.A incidência de C. acutatum é maior noscanteiros cobertos com plástico que naque-les cobertos com serragem ou palha queabsorvem as gotas de água, evitando, assim,os respingos que disseminam os esporos.

Controle

O uso de mudas comprovadamente sa-dias é a melhor medida preventiva de con-trole de C. fragariae , pois este patógenodificilmente sobrevive nos canteiros entreum cultivo e outro. O mesmo não acontececom C. acutatum , pois, segundo Yang e tal. (1990) e Eastburn e Gubler (1990), estefungo pode sobreviver em resto de plantasinfectadas, tornando os canteiros de culti-vos anteriores potenciais fontes de inóculopara novos plantios. O controle preventi-vo da flor-preta baseia-se na eliminação derestos culturais e na utilização do sistemade irrigação por gotejamento que não per-mite o molhamento da parte aérea da plan-ta, evitando, assim, a disseminação do pató-geno. No Rio Grande do Sul, os produtoresde morango têm obtido resultados satisfa-tórios com a cobertura dos canteiros com

Figura 1 - Antracnose em morangos

sível observar, em condições dealta umidade, os sinais do pa-tógeno, através de uma massade esporos rósea que se formasobre as lesões, tanto de frutosverdes como de frutos maduros,sendo que estes ainda podemficar totalmente mumificados.Nos estolhos e pecíolos, verifica-se o aparecimento de pequenasmanchas de coloração marrom-escura, que se tornam negras,secas, deprimidas e expandem-se até que todo o órgão seja afe-tado. Outro sintoma caracterís-tico da antracnose nos estolhose pecíolos é a formação de umanel de colo ração escura, que

microtúneis, durante a noite eem dias de chuva, o que evita,também, o molhamento da parteaérea da planta pelo orvalho epela água das chuvas, respecti-vamente. A eliminação de plan-tas e de inflorescências atacadaspermite uma redução na inci-dência das antracnoses. O con-trole químico deve ser realizadopreventivamente com o uso dotratamento das mudas antesdo plantio, no caso do coração-vermelho. Para flor-preta,recomendam-se aplicações se-manais de folpet (Quadro 1).Devido ao uso indiscrimina-do de fungicidas na cultura do

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42 Doenças pós-colheita de frutas

morangueiro, estão surgindo técnicas quevisam à redução de suas aplicações. Umadelas é solarização do solo, técnica que sebaseia na cobertura dos canteiros com plás-tico transparente durante os meses em queestes estão sem a cultura, geralmente entreos meses de dezembro e fevereiro. Esta téc-nica permite elevar a temperatura do solo atais n íveis que inviabilizam as estruturasde C. acutatum, permitindo, assim, a redu-ção na incidência da flor-preta.

Outras práticas de controle são o usode variedades resistentes, instalação deviveiros longe de áreas de produção, nãorealizar adubação nitrogenada em exces-so, evitando a amônia como fonte de nitro-gênio, pois as plantas ficam mais susce-tíveis que quando é usado nitrato de cálcio,o qual aumenta a r esistência da planta aoataque.

MOFO-CINZENTO

O mofo-cinzento provoca danos gra-ves na produção em todas as áreas de cul-tivo do mundo, chegando a destruir emcasos graves até 70% dos frutos. O agentecausal é o fungo Botrytis cinerea Pers. &Fr. que ataca vários órgãos da planta, porémos maiores danos ocorrem nos frutos emvários estádios de desenvolvimento sendomais comum nos frutos maduros após acolheita. A diversidade de hospedeiros dopatógeno propicia a ocorrência periódicade fontes de inóculo durante todas as épo-cas do ano.

loridas que se expandem por todo o órgão,tornando-os impróprios para o consumo,pois apresentam sabor e odor desagradá-veis. Estes frutos ficam também recobertospelo mofo cinzento e apodrecem rapidamen-te (Fig. 2).

Quando ocorre alta incidência da do-ença, os sintomas manifestam-se tambémnas folhas e nos ápices vegetativos. Nasfolhas, ocorre o aparecimento de manchasnecróticas de contornos indefinidos e, nosápices vegetativos, verifica-se um seca-mento, quando ocorrem condições altamen-te favoráveis para o desenvolvimento dopatógeno (LATORRE GUSMÁN, 1995).

Condições favoráveis

O patógeno pode sobreviver em res-tos culturais na entressafra e também emoutras plantas hospedeiras. Desenvolve-se em temperaturas relativamente baixas,ao redor de 5oC a 10oC, entretanto necessi-ta de alta umidade. A doença é facilmentepropagada de um fruto para outro, tantona planta como nas caixas de embalagem,depois de colhidos. Segundo Branzanti(1989), dois a três dias de chuva são sufici-entes para favorecer a infecção. A água dachuva e a da irrigação por microaspersão,comumente usada nos plantios no Sul deMinas Gerais, é o principal veículo de dis-seminação da doença.

Controle

Algumas medidas ado tadas no cultivodificultam o desenvolvimento da doença, taiscomo: plantar em novas áreas; drenar o terre-no; evitar o contato do fruto com o solo, como uso de cobertura plástica ou mulching;eliminar os restos culturais, onde o patóge-no possa estar presente na fase saprófita;manusear os frutos delicadamente para nãoferi-los durante a colheita e pós-colheita; lim-par e desinfeccionar utensílios usados nosgalpões de embalagem. O controle químicopode ser realizado com aplicações de fungi-cidas indicados para a cultura (Quadro 1).

Cercobin 700 PM Thiophanate methyl Mofo-cinzento 70g

Folpan Agricur 500 PM Folpet Antracnose e 270g

mofo-cinzento

Manzate GrDa Mancozeb Antracnose 400g

Manzate 800 Mancozeb Antracnose 400g

Orthocid 500 Captan Mofo-cinzento 240g

Rovral SC Iprodione Mofo-cinzento 150mL

Sialex 500 Procimidone Mofo-cinzento 50 - 100g

Sumilex 500 WP Procimidone Mofo-cinzento 50 - 100g

Tiofanato Sanachem 500 SC Thiophanate methyl Mofo-cinzento 100mL

QUADRO 1 - Principais fungicidas recomendados para o controle das doenças do morango

Dose p.c./100L de água

FONTE: Brasil (2003).

NOTA: p.c. - Produto comercial.

Produto comercial Ingrediente ativo Doenças visadas

Figura 2 - Mofo-cinzento em morangos

Sintomas

Os frutos podem ser atacadosainda verdes, maduros ou após acolheita. Nos verdes os sintomasiniciam-se com o aparecimento demanchas marrons, que se expan-dem até atingir toda a superfície.O fruto adquire uma coloraçãoacinzentada e apresenta-se reco-berto por um mofo cinzento carac-terístico do crescimento e frutifica-ção do patógeno. Sobre os frutosmaduros, inicialmente ocorre oaparecimento de manchas desco-

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43Doenças pós-colheita de frutas

PODRIDÃO-DE-RHYZOPUS

A podridão-de-Rhysopus é a principaldoença pós-colheita do morango. Manifesta-se durante o transporte e armazenamentodo fruto. O agente causal é o fungo Rhyzopusnigricans Ehr., que ataca também váriosoutros frutos. Embora a infecção raramentepossa ser observada no campo, os frutoscolhidos carregam na sua superfície estru-turas do fungo, que constituem o inóculo.Após a colheita, o fungo pode-se dissemi-nar rapidamente, pelo contato do suco queescorre dos frutos infectados para os sa-dios, dentro das embalagens.

Sintomas

Inicialmente os frutos atacados apre-sentam uma alteração na cor, acompanhadade podridão mole, aquosa, com o escorri-mento de suco. Posteriormente, sob condi-ções de alta umidade, observa-se sobre osmorangos um crescimento micelial denso ebranco, entremeado com esporângios eesporangióforos escuros do fungo (Fig. 3).

Condições favoráveis

O patógeno sobrevive em restos cul-turais ou no solo. A infecção ocorre atra-vés de ferimentos presentes nos frutos.Os esporos existentes nos frutos infecta-dos são facilmente disseminados por inse-tos ou pelo ar. Os frutos podem ser contami-nados no campo e a infecção ocorrer apósa colheita. Temperaturas inferiores a 10oCinibem o desenvolvimento do fungo, já queé inibida a produção de esporângios.

Controle

As boas práticas culturais realizadas nocampo são fundamentais para a reduçãoda ocorrência da podridão-de-Rhizopusnapós-colheita. O desbate, visando o areja-mento das plantas, a utilização de mulchingnos canteiros para evitar o contato dosfrutos com o solo e um bom manejo fitos-sanitário para controle de pragas e doen-ças influenciam, decisivamente, na reduçãodesta podridão na pós-colheita.

Durante a colheita também devem serevitados os ferimentos nos frutos e, na fasede pós-colheita, estes deverão ser armaze-nados em temperaturas inferiores a 10oC.

Figura 3 - Podridão-de-Rhizopus em morangos

REFERÊNCIAS

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44 Doenças pós-colheita de frutas

1Enga Agra, Dra, Responsável pela Clínica Fitopatológica da USP-ESALQ, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba-SP. Correio eletrônico:[email protected]

2Enga Agr a, Dr a, Profa Tit. Setor de Fitopatologia da USP-ESALQ, Caixa Postal 9, CEP 13418-900 Piracicaba-SP . Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

Doenças pós-colheita são responsáveispor perdas significativas de produtos agrí-colas durante as etapas de comercialização.Diminuem não apenas a quantidade comer-cializada, mas também a qualidade dos pro-dutos no mercado (ALVAREZ; NISHIJIMA,1987; WILSON et al., 1994). Apesar da faltade dados de perdas causadas por essasdoenças, as poucas estimativas existentesmostram que a magnitude dessas perdas ébem variável, oscilando de 10% (ALVAREZ;NISHIJIMA, 1987) a 50% (WILSON et al.,1994; BENATO, 1999), em função do pro-duto, da região produtora e da tecnologiaempregada na produção.

As perdas médias pós-colheita estima-das durante três anos no mercado atacadis-ta de pêssego nos EUA variaram de 2,3% a12,3 %, dependendo da região de comer-cialização (CAPPELLINI; CEPONIS, 1984),das quais 0,7% a 2,4% foram devidas a

Doenças das rosáceas de caroço

Marise C. Martins1

Lilian Amorim2

as principais doenças pós-colheita de ro-sáceas de caroço, discorrendo sobre seusaspectos etiológicos, epidemiológicos, sin-tomatologia e controle. Para finalidade di-dática, essas doenças foram divididas emdois g rupos:

a) doenças cujos patógenos infectam ofruto no seu estádio de formação ecrescimento, mesmo na ausência deferimentos, manifestando os sintomasno amadurecimento, como podridão-parda e antracnose;

b) doenças cujos patógenos precisam deferimento para infecção, como podridão-mole, podridão-de-Cladosporium,podridão-de-Alternaria e podridão-de-levedura.

Essas informações visam auxiliar nadiagnose correta das doenças, para esco-lha das medidas adequadas de controle aserem utilizadas.

Resumo - Doenças pós-colheita causam perdas significativas na quantidade e/ou qualidadedos produtos agrícolas, desde a colheita até seu uso pelo consumidor final. São relatadasas principais doenças pós-colheita das rosáceas de caroço (pêssego, ameixa e nectarina),seus aspectos etiológicos, epidemiológicos, sua sintomatologia e seu controle. As doençasabordadas foram divididas em dois grupos: a) doenças cujos patógenos infectam o frutono seu estádio de formação e crescimento, mesmo na ausência de ferimentos, manifestandoos sintomas no amadurecimento, como podridão-parda e antracnose; b) doenças cujospatógenos precisam de ferimento para a infecção, como podridão-mole, podridão-de-Cladosporium, podridão-de-Alternaria e podridão-de-levedura.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Antracnose. Podridão.

doenças. No varejo, os valores foram me-nores, com 1% a 2% de perdas ocasionadaspor doenças. Apesar de percentualmentebaixa, a incidência no mercado varejistacorresponde a um volume de 360 a 720 to-neladas de pêssegos perdidos anualmentepor doenças pós-colheita. Em levantamen-tos similares realizados nas safras 2001 a2002 e 2002 a 2003, na Companhia de Entre-postos e Armazéns Gerais de São Paulo(Ceagesp), foram estimadas, respectiva-mente, perdas médias de 8,3% e de 29,8%dos pêssegos amostrados, d as quais 5%na primeira safra e 8,8% na segunda foramcausadas por doenças (MAR TINS et al.,2003), valores considerados altíssimos, secomparados àqueles dos EUA. As doençaspós-colheita em pêssego são as principaisresponsáveis pela curta duração do tem-po de armazenamento e pela curta vida deprateleira dessa fruta.

O objetivo de ste trabalho é descrever

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45Doenças pós-colheita de frutas

DOENÇAS CUJOS PATÓGENOSINFECTAM O FRUTO INTACTO

Podridão-pardaMonilinia fructicola (Wint.) Honey

A podridão-parda é causada pelasespécies de fungos Monilinia fructicola,M. laxa e M. fructigena (BLEICHER;TANAKA, 1982; SNOWDON, 1990;OGAWA et al., 1995). As doenças causa-das pelas espécies M. fructicola e M. laxareceberam o nome de podridão-americanae aquelas causadas por M. fructigena, depodridão-européia (BLEICHER; TANAKA,1982), sendo a primeiraa única relatada noBrasil (Fig. 1). Essa doença é consideradaa principa l das rosáceas de caroço, tantoem pré como pós-colheita. No Rio Gran-de do Sul, a doença já foi responsável porperdas de até 25% dos frutos de pêssegodestinados à industrialização (ANDRADE,1995). Sua ocorrência é resultado da sobre-vivência do patógeno no inverno, épocade repouso vegetativo das plantas, sobrefrutos mumificados, presos na árvore oucaídos no solo, ou ramos doentes, que ser-vem de fontes de inóculo na primavera eno verão. A disseminação do patógeno apartir dessas fontes de inóculo ocorre porrespingos de água, vento e insetos. A infec-ção pode iniciar-se na flo r ou nos frutos.As infecções em frutos imaturos, resultan-tes da penetração do fungo por estômatosou diretamente pela cutícula, permanecemquiescentes, com o patógeno que se tornaativo somente com o amadurecimento dosfrutos. Infecções de frutos maduros tam-

bém podem ocorrer via estômatos ou cutí-cula, mas, normalmente, o fungo penetraatravés de ferimentos causados em pré-colheita, por insetos ou clima adverso,como ocorrência de granizos, ou atravésde injúrias causadas durante a colheita emanuseio dos frutos.

Sintomas

O primeiro sintoma da doença é umapequena mancha encharcada circular, de co-loração parda, na superfície dos frutos. Ra-pidamente aumenta de tamanho, tornando-se, sob alta umidade, recoberta de esporosdo fungo, de cor cinza (Fig. 2). Em poucosdias o fruto apodrece completamente.

Sintomas

A doença causa lesões circulares, decoloração marrom a castanha, levementedeprimidas e firmes ao toque. Sob con-dições de alta umidade, há a formação demassa de esporos de coloração alaranjada,arranjada em círculos concêntricos, no cen-tro das lesões (Fig. 3).

Figura 1 - Conídios de Monilinia fructicolaproduzidos em cadeia

Figura 3 - Antracnose em pêssego

Figura 2 - Podridão-parda em pêssego

AntracnoseColletotrichum spp.

A antracnose é uma doença esporádi-ca em rosáceas de caroço, sendo muito de-pendente da ocorrência de altas umidade etemperatura (ANDRADE, 1995; OGAWAet al., 1995). As espécies Colletotrichumgloeosporioides e C. acutatum são relata-das como causadoras da doença (OGAWAet al., 1995), embora apenas a primeira espé-cie seja mais freqüentemente relatada comoo agente causal. As principais fontes deinóculo são cancros nos ramos e frutos do-entes. A disseminação do patógeno ocorrepreferencialmente pela chuva e ocasional-mente pelo vento. A penetração do fun-go no fruto pode ser direta, pela cutícula,embora a infecção ocorra mais rapidamentevia ferimentos. Freqüentemente, os frutossó manifestam os sintomas da doença aochegarem na indústria ou no mercado.

DOENÇAS CUJOS PATÓGENOSNECESSITAM DE FERIMENTOPARA INFECTAR O FRUTO

Podridão-moleRhizopus spp.

A podridão-mole, juntamente com apodridão-parda, é considerada uma dasmais importantes doenças pós-colheitade pêssego e nectarina. Ocorre tambémem ameixas (SNOWDON, 1990). Segun-do Ogawa et al. (1995), essa doença já foiresponsável por danos superiores a 50%.O fungo Rhizopus stolonifer (Fig. 4) é o

Figura 4 - Estruturas reprodutivas (esporan-gióforos, esporângios e esporos)de Rhizopus stolonifer

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46 Doenças pós-colheita de frutas

Podridão-de-Alternaria

Alternaria alternata (Fr.) Keissler

A podridão-de-Alternaria, causada pelofungo Alternaria alternata , é uma t ípicadoença pós-colheita, embora possa ocorrerno campo sobre outras rosáceas de caroço,como abricó e cereja (OGAWA et al., 1995).Sua ocorrência em pêssego e nectarina éesporádica, sendo mais comum em ameixa(SNOWDON, 1990). O patógeno sobrevivesaprofiticamente ou como parasita sobremuitas plantas. A concentração de esporosdo fungo na atmosfera aumenta durante eapós a ocorrência de chuvas. O fungo éum parasita fraco, que penetra nos frutosexclusivamente via ferimentos.

mais comum agente causal da doença, em-bora as espécies R. arrhizus e R. circinans,citadas por Ogawa et al. (1995), e R. oryzae,por Snowdon (1990), também tenham si-do relatadas como causadoras da doença.O patógeno sobrevive no solo, é altamenteprolífero e facilmente disseminado pelovento. A penetração nos tecidos vegetaisé realizada apenas na presença de ferimen-tos.

Sintomas

A doença causa uma podridão mole eaquosa na polpa do fruto. A superfície ficarevestida de grande quantidade de estru-turas fúngicas (esporangióforos, esporân-gios e esporos), que visualmente parecemalfinetes com cabeça preta (Fig. 5). A podri-dão toma todo o fruto em poucos dias e ofungo cresce vigorosamente sobre frutosvizinhos, ocupando, inclusive, a superfícieinterna das embalagens. Usualmente, osfrutos apodrecidos desintegram-se.

Figura 5 - Podridão-mole em pêssego

Figura 7 - Podridão-de-Cladosporium em pêssegoNOTA: A - Sintoma típico; B - Sintoma em estádio avançado, semelhante ao causado

pela podridão-de-Alternaria.

Figura 6 - Conídios e conidióforo de Cladosporium herbarum

para que a infecção ocorra, uma vez que ofungo é considerado um parasita fraco, nãoconseguindo penetrar na superfície intactados frutos.

Sintomas

Os s intomas da podridão-de-Cladosporium são l esões pequenas, reco-bertas de esporulação do fungo, de colo-ração verde-escura, limitadas geralmenteà superfície dos frutos, podendo even-tualmente atingir a polpa (Fig. 7). Os sinto-mas são semelhantes aos causados pelapodridão-de-Alternaria, havendo a ne-cessidade, em alguns casos, de examesmicroscópicos para distinguir as duasdoenças.

Podridão-de-CladosporiumCladosporium herbarum(Pers.) Link

A podridão-de-Cladosporium é rela-tada como mais freqüente em ameixas.Ocorre também em pêssegos e nectarinas(SNOWDON, 1990). Seu agente causal éo fungo Cladosporium herbarum (Fig. 6),que sobre vive em restos de cultura, deonde é d isseminado pelo a r a té a tingir asuperfície de um fruto injuriado. A presençade ferimentos nos frutos é indispensável

BA

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47Doenças pós-colheita de frutas

Sintomas

A podridão-de-Alternaria é caracteri-zada por lesões circulares, levemente de-primidas, de margens bem definidas, firmes,cobertas por esporulação do fungo de corverde-oliva a preta (Fig. 8).

de caroço. Em pêssegos, esses danos po-dem ser de 3%. Observações realizadaslevantam a hipótese dessa levedura nãoidentificada ser um organismo epífita sobreos frutos, o qual os infecta na presençade algum ferimento. Segundo Butler (1960),somente frutos maduros são sujeitos àinfecção.

Sintomas

A doença causa uma podridão enchar-cada, profunda, revestida de esporulaçãoesbranquiçada do fungo, rente à super-fície, de aspecto leitoso (Fig. 10).

três, também são recomendadas (aproxima-damente 21, 14 e 7 dias antes da colheita).O tratamento realizado para podridão-pardaé eficiente para controle da antracnose.Para a podridão-parda, a boa sanitizaçãodo pomar é medida essencial para reduzir oinóculo, necessário para início da infecçãona primavera. Para isso, recomendam-se aremoção de frutos mumificados e ramosdoentes e a aplicação de fungicidas, já dis-cutida. Cuidados adicionais no decorrer dacolheita, como a l impeza dos recipientesde acondicionamento dos frutos, com hi-poclorito de sódio, e o armazenamento

Figura 8 - Podridão-de-Alternaria em pês-sego

Podridão-de-levedura

A ocorrência de podridão-de-levedura,pouco relatada em rosáceas de caroço, foiobservada constantemente durante levan-tamentos semanais de perdas pós-colheitaem pêssegos, realizados na Ceagesp, nasafra 2002-2003 (MARTINS et al., 2003).Além do Geotrichum candidum (Fig. 9),foi detectado um outro fungo levedurifor-me ainda n ão identificado associado àslesões. Segundo Wells (1977), G. candidume Monilia implicata causam a doençaconhecida como podridão-amarga, consi-derada de importância secundária, uma vezque causa danos esporádicos em rosáceas

Figura 9 - Conídios de Geotrichum candidum

Figura 10 - Podridão-de-levedura em pêssego

MEDIDAS GERAISDE CONTROLE

O controle de doenças, cujos patóge-nos são capazes de infectar frutos intactos,depende da adoção de medidas pré-colheita,como pulverização das plantas com fun-gicidas específicos nos estádios fenológi-cos de maior suscetibilidade. No caso dapodridão-parda, o florescimento é o perío-do crítico para a infecção, estádio fenoló-gico em que invariavelmente recomenda-se o tratamento químico. Pulverizaçõessubseqüentes são dep endentes da con-dição cl imática da regiã o produtora: emépocas secas, apenas um tratamento emplena floração é suficiente. Já em épo caschuvosas, mais pulverizações fazem-senecessárias, como no início do florescimen-to, em plena floração e com a queda dassépalas. Pulverizações no período que ante-cede a colheita, geralmente em número de

desses frutos em local are-jado ajudam a diminuir asperdas durante a comercia-lização ou no processamen-to industrial.

Doenças que têm fun-gos como agentes causais,que só penetram por meiode ferimento, podem sercontroladas com medidaspreventivas. Cuidados nacolheita e na manipulaçãodos frutos, a fim de evitarabrasões e outras injúriasque sirvam de porta de entra-

da para o patógeno, são essenciais. Há umasérie de cuidados que deve ser tomada nacolheita (EPAGRI, 1996) como: realizar acolheita nas horas mais frescas do dia, comtodo o cuidado para não machucar os fru-tos com as unhas e com batidas; manter osfrutos colhidos em locais sombreados; usarsacolas e caixas plásticas de colheita novasou bem limpas, desinfestadas com soluçãode hipoclorito de sódio (1%); utilizar equi-pes diferentes para a colheita de frutossadios e de f rutos doentes, evitando-se omanuseio simultâneo deles, o que propiciaa contaminação dos frutos sadios. Alémda colheita, os cuidados no manuseio dasfrutas devem continuar durante a seleção,a embalagem, o transporte e a comercializa-ção. Embalagens inadequadas podem aju-dar a disseminar patógenos pós-colheita(Fig. 11), o que aumenta a incidência dos fru-tos doentes, mesmo após o empacotamento.

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48 Doenças pós-colheita de frutas

Quando o destino das frutas for distan-te do local de produção, recomenda-se umpré-resfriamento a 10 oC, antes do embar-que. O transporte e o armazenamento refri-gerados são também recomendados.

Tratamentos térmicos, químicos e bio-lógicos aplicados pós-colheita em pêsse-gos, nectarinas e ameixas têm sido extensi-vamente estudados no exterior , mas suaaplicação prática não é significativa. O tra-tamento físico, com aplicações de raiosUV-C e de microondas também é objeto depesquisa recente, embora ainda sem apli-cação p rática. N o e stado d e S ão P aulo,nenhum tipo de tratamento pós-colheita éaplicado nas rosáceas de caroço.

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Figura 11 - Caixa de madeira utilizada na comercialização de pêssego

NOTA: A - Vista geral da caixa de madeira; B - Detalhe de estruturas de fungos aderidos à sua superfície.

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A B

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1Enga Agra, M.Sc., UNESP-FCA, Caixa Postal 237, CEP 18603-970 Botucatu-SP. Correio eletrônico: [email protected] Agra, Dra, Pesq. Científica ITAL-FRUTHOTEC, Caixa Postal 139, CEP 13073-001 Campinas-SP. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

Perdas pós-colheita de uvas em conse-qüência de podridõe s são significativas,visto que a fruta é frágil, pode ser facilmen-te atingida por danos f ísicos e o formatode cacho dificulta os tratamentos e promo-ve maior desidratação. A conservação sobbaixas temperaturas e alta umidade relativanão suprime o desenvolvimento de algunspatógenos, como Botrytis cinerea .

Diversos patógenos podem atingir uvaspós-colheita. A maioria infecta os cachosdurante a produção, os quais manifestamsintomas apenas na fase de amadurecimentoe senescência. Tratamentos adequados du-rante a produção são primordiais, mas nãosão suficientes para eliminar as infecçõesde pós-colheita, que requerem medidas pre-ventivas e curativas para reduzir as perdas.

PRINCIPAIS DOENÇAS DE UVAPÓS-COLHEITA

Aspectos relativos às principais do-enças em uvas pós-colheita e medidas decontrole são abordados a seguir.

Doenças da uvaElisangela Clarete Camili1

Eliane Aparecida Benato2

Mofo-cinzentoBotrytis cinerea Pers.:Fr.

O mofo-cinzento é a mais importantecausa de deterioração das uvas de mesa napós-colheita, acarretando perdas signifi-cativas, especialmente após uma e staçãode crescimento chuvosa. De acordo comTavares et al. (2000), em condições favo-ráveis ao desenvolvimento da doença, asperdas chegam a mais de 50% nas culti-vares suscetíveis e com cachos mais com-

Resumo - Perdas de uva pós-colheita podem ser significativas, devido, principalmente, àocorrência de podridões, que, na maioria das vezes, são causadas por fungos. Botrytiscinerea, agente causal do mofo-cinzento, é o fungo de maior incidência pós-colheita.Além desse patógeno, outros podem ocorrer como Colletrotrichum gloeosporioides,Melanconium fuligineum, Alternaria alternata, Lasiodiplodia theobromae, além de espécies dePenicillium, Aspergillus, Cladosporium, Rhizopus e leveduras. Para maior eficiência nocontrole de podridões pós-colheita em uvas de mesa e redução de perdas, são recomen-dáveis medidas adequadas de condução da cultura, de tratamentos fitossanitários, deprocedimentos de colheita e manuseio, embalagem, transporte e armazenamentorefrigerado.

Palavras-chave: Fruta. Doença. Vitis vinifera. Fungo. Podridão.

dante esporulação do fungo, dá a aparên-cia de mofo-cinzento (Fig. 1). É tambémdenominada slip skin, por ser característi-co o desprendimento da cutícula da bagainfectada. A infecção por B. cinerea pro-voca uma redução acentuada nas caracte-rísticas físico-químicas dos cachos de uva(PEARSON; GOHEEN, 1990; SNOWDON,1990; BENATO, 2003).

Esse fungo saprófita facultativo produzabundante micélio de coloração pardo-

Figura 1 - Mofo-cinzento em uva Itália

pactos. Entretanto, em algu-mas regiões produto ras deuva do Brasil, de clima quen-te e seco, este patógeno pas-sa a ser de menor importân-cia (CHOUDHURY, 1996;BENATO et al., 1998).

Essa doença caracteriza-se por produzir manchas cir-culares arroxeadas nas bagas,que, posteriormente, tornam-se pardas. Com a evoluçãoda doença, essas manchasficam deprimidas e, a abun-

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clara; as hifas variam em diâmetro (11-23 μm)e anastomoses são freqüentemente obser-vadas. Os conídios (10-12 x 8-10 μm) sãomultinucleados, ovóides, unicelulares, ligei-ramente acinzentados, formando-se sobreesterigmas no ápice dos conidióforos ere-tos que apresentam ramificações não ver-ticilares. Em condições desfavoráveis, ofungo produz esclerócios (2-4 x 1-3 mm),podendo germinar a temperaturas de 3oC a27oC. B. cinerea pode produzir também mi-croconídios (2-3 mm de diâmetro), hialinose unicelulares, formados em cadeia e envol-vidos por mucilagem (COLEY-SMITH et al.,1980; PEARSON; GOHEEN, 1990).

O fungo sobrevive em restos de cultu-ra e matéria orgânica do solo, além de serpatogênico a uma série de outras frutífe-ras, hortaliças e plantas ornamentais. Sobcondições favoráveis, esclerócios e micé-lio produzem conidióforos e conídios, queconstituem a maior fonte de inóculo parainfecção de flores, folhas e cachos jovens,sendo disseminados, principalmente, pelovento e pela chuva. O mecanismo de infec-ção mais característico do patógeno é a pe-netração direta do micélio pela epidermedas bagas, que pode ocorrer durante todoo estádio de desenvolvimento. Outro me-canismo importante de infecção pelo fungoé através das flores, onde ele penetra nascicatrizes provocadas pela queda das peçasflorais ou por outros ferimentos. Os coní-dios permanecem quiescentes até o iníciodo amadurecimento, quando surgem osprimeiros sintomas (PEARSON; GOHEEN,1990; SNOWDON, 1990). Bagas verdes apre-sentam substâncias que inibem a penet ra-ção direta do fungo. Porém, quando maduras,ferimentos e aberturas naturais, ainda quemuito favoreçam a infeçcão, não são conside-rados necessários (PÉREZ-MARIN, 1998).

O conídio, ao germinar, produz um tubogerminativo e apressório semelhante a umestilete que, provavelmente, rompe a cutí-cula das bagas de forma mecânica. Após apenetração, há crescimento lateral do mi-célio que se ramifica em hifas inter e intra-celulares, degradando os tecidos pela pro-dução de enzimas pectinolíticas - celulases

e poligalacturonases. Durante o armazena-mento da uva, o patógeno propaga-se deuma baga infectada para outra e, ocasional-mente, para outros cachos, causando apa-rência de ninho (KUHN; GRIGOLETTIJUNIOR, 1985; CARVALHO, 1994).

Tanto a temperatura como a umidaderelativa têm ação determinante sobre a ger-minação do conídio e nos processos deinfecção. A infecção ocorre numa faixa detemperatura ótima de 15oC a 20oC, na pre-sença de umidade relativa superior a 90%,após um período de 15 h; a 1,7oC, a infecçãoocorre após 72h, mostrando que esse fun-go pode-se desenvolver em baixas tempe-raturas. As cultivares diferem na suscetibili-dade à doença com base em fatores como:anatomia do cacho, espessura da cutículada baga e da camada de cera (pruína), com-posição química (antocianinas e compos-tos fenólicos) e capacidade de s íntese defitoalexinas. As cultivares européias são,geralmente, m ais s uscetíveis d o q ue a samericanas (PEARSON; GOHEEN, 1990).

Podridão-da-uva-maduraColletotricum gloeosporioides(Penz.) Penz. & Sacc.

Esta doença, reportada pela primeira veznos Estados Unidos, em 1891, tem sidoencontrada na maioria das regiões produ-toras de uva. As perdas variam em funçãoda região, da estação do ano e da suscetibi-lidade da cultivar , causando sérios pro-blemas nas áreas úmidas, podendo atingir50% da produção (BALLINGER; NESBITT,1982; MILHOLLAND, 1991; SILVA, 1998).

Em uvas maduras surgem, inicialmente,pequenas manchas superficiais, circulares,ligeiramente deprimidas, de coloração mar-rom, que aumentam de diâmetro até causar,eventualmente, o enrugamento de toda abaga. Esta pode-se desprender ou não docacho. Sob condições cl imáticas f avorá-veis, aparecem pontuações cinza-escuras,em círculos concêntricos, constituídas deestruturas do fungo. Posteriormente, estaspontuações abrem-se exibindo uma massade conídios de coloração rosada e mucila-ginosa (SNOWDON, 1990; PEARSON;

GOHEEN, 1990; GALLOTTI; GRIGOLETTIJUNIOR, 1990; BENATO, 2003).

O fungo C. gloeosporioides, fase teleo-mórfica: Glomerella cingulata (Stonem.)Spauld. & Schrenk, produz acérvulos sub-epidermais e arranjados em círculos, queliberam uma massa viscosa e rosada deconídios. Os conídios (9-24 x 3-4,5 μm) sãohialinos, unicelulares, alongados, obtusosnas extremidades e ligeiramente curvados.A formação de setas nos acérvulos é fre-qüentemente variável e controlada por fato-res ambientais. Kummuang et al . (1996)constataram a ocorrência também de C.acutatum, como agente causal da podridãoda uva madura no Mississippi, destacan-do que os sintomas são idênticos aos deC. glo eosporioides.

O patógeno sobrevive de uma estaçãopara outra como micélio dormente em restosde cultura. A presença de frutas maduras,que contêm esporulação do fungo próximoà colheita, aliada a um período chuvoso,aumenta significativamente a disseminaçãodo inóculo e a ocorrência da doença na pós-colheita. A penetração direta, através daepiderme das bagas, é característica dessepatógeno, que pode penetrar também pelasflores, por ferimentos e por aberturas natu-rais. O desenvolvimento da doença é favo-recido por temperaturas que variam de 25oCa 30oC e elevada umidade relativa (PEARSON;GOHEEN, 1990). Ahmed (1985) e Silva(1998) não observaram crescimento miceliale esporulação do fungo em temperaturasinferiores a 10oC.

Podridão-amargaMelanconium fuligineum(Scribner & Viala) Cav.

A podridão-amarga afeta as bagas emamadurecimento ou armazenadas e causamgrandes perdas, principalmente nas uvasrústicas. É uma doença típica de uvas ma-duras. Relatada comumente nos EstadosUnidos, Austrália, Brasil, Grécia, Índia,Japão, Nova Zelândia e África do Sul.

O fungo M. fuligineum, embora ocorracom maior freqüência nas bagas, pode apa-recer algumas vezes nos ramos e na ráquis,

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prejudicando o livre fluxo de seiva para asbagas, que se tornam enrugadas e mumi-ficadas e caem com facilidade (CHALFOUN;ABRAHÃO, 1984). O ataque direto do fun-go sobre as bagas produz uma descolo-ração da epiderme, que, com a evolução,torna-se de cor pardacenta. Sobre o teci-do afetado aparecem as pontuações pretasdos corpos de frutificação, acérvulos doMelanconium, em círculos concêntricos.As uvas vermelhas e azuladas apresentamaparência translúcida, esbranquiçada e áspe-ra pela presença dos acérvulos. Na cultivarNiágara Branca, o centro do tecido atacadotorna-se de cor ligeiramente rósea. As lesõescom o tempo envolvem toda a baga, os cor-pos de frutificação se rompem e transformam-se em verdadeiras pústulas, das quaisexsudam os esporos na forma de uma massapreta. Nos estádios finais da doença, a sbagas enrugam e mumificam. Além dessascaracterísticas, as bagas adquirem um sa-

bor amargo bastante pronunciado (BRAGA,1988).

Os respingos de chuva exercem impor-tante papel na disseminação da doença,dando início à infecção primária. As bagaspodem ser infectadas ainda verdes, per-manecendo o fungo em quiescência até oamadurecimento. A penetração ocorre,geralmente, pela região do pedicelo ou porferimentos nas bagas provocados porinsetos, rachaduras em épocas chuvosasou danos mecânicos pela colheita e manu-seio. A infecção pode ocorrer numa faixade temperatura entre 12 oC e 36 oC, sendode 28oC a 30oC a faixa ótima. Temperaturasacima de 36oC inibem o crescimento mice-lial (CHALFOUN; ABRAHÃO, 1984;PEARSON; GOHEEN, 1990).

Podridão-mole - Rhizopus spp.

A podridão-mole inicia-se com umamancha circular aquosa e a cutícula desfaz-

se com facilidade. É caracterizada pelo cres-cimento intenso do patógeno, que formaum micélio branco com esporângios esféri-cos carregados de esporos, que a princípiosão brancos e brilhantes e depois tornam-se opacos e negros, visíveis a olho nu. O te-cido afetado da fruta torna-se mole, aquo-so, libera um suco com forte odor ácido oufermentado e, em pouco tempo, toma asbagas adjacentes (Fig. 2). A infecção pri-mária ocorre geralmente via ferimentos e,posteriormente, com a exsudação do sucoda fruta, misturado com enzimas pectino-líticas, o fungo passa a penetrar a cutículaintacta das bagas adjacentes. A condiçãofavorável para o crescimento está entre30oC e 35oC para o R. oryzae e entre 20oC e25oC para R. stolonifer, com período con-tínuo de chuvas de 24h a 30h na épocade amadurecimento (SNOWDON, 1990;PEARSON; GOHEEN, 1990; BENA TO,2003).

Figura 2 - Podridão-mole em uva Itália

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Podridão-de-DiplodiaLasiodiplodia theobromae(Pat.) Griffon & Maubl.(= Botryodiplodia theobromaePat. e Diplodia natalensisPole-Evans)

A podridão-de-Diplodia, além de cau-sar a morte de ramos e t roncos de videi-ras, pode afetar também uvas maduras.A infecção ocorre normalmente durante oflorescimento, e o fungo permanece quies-cente até o amadurecimento dos cachos.De maneira menos comum, uvas madurassão infectadas diretamente. Bagas afetadasapresentam, inicialmente, manchas de aspec-to encharcado. Cultivares de bagas bran-cas tornam-se levemente rosadas e, com oprogresso da doença, a cutícula racha e asbagas liberam suco celular e tornam-se re-cobertos por uma massa de micélio brancocotonoso, favorecendo também a prolifera-ção de microrganismos secundários, atrain-do moscas e outros insetos (SNOWDON,1990). Na ausência de outros patógenos,as bagas ficam mumificadas com a erupçãode picnídios pretos na superfície. O fun-go sobrevive no solo em restos de cultura,com as condições climáticas favoráveis,produz conídios que são disseminados pe-la água da chuva ou de irrigação. A doençaé característica de climas quentes. A ampli-tude de temperatura para o desenvolvi-mento do fungo situa-se entre 9oC e 39oC.Condições ótimas de temperatura ficamem torno de 27oC a 33oC (TAVARES et al.,2000; BENATO, 2003).

Podridão-de-Alternaria

Alternaria alternata (Fr.) Keissl.

A infecção da podridão-de-Alternariaocorre durante a colheita e em anos comausência de chuvas. O fungo penetra nabaga através do pedicelo, produzindo umaregião de coloração café, fazendo com quea união das bagas à ráquis fique debilita-da, de tal forma que elas podem-se des-prender dos cachos. Caracteriza-se porformar manchas marrons a pretas nasbagas. Sob condições favoráveis de umida-

de constata-se a presença de frutificaçõesdo fungo em mofos, que vão de acinzen-tados a verde-oliva, evoluindo para negros(PEARSON; GOHEEN, 1990). O fungo écapaz de penetrar nas bagas maduras poraberturas naturais na ausência de chuva,mas verões úmidos resultam também emmaior incidência da doença (SNOWDON,1990). Portanto, alta incidência dessa doen-ça pode ser verificada após um períodoprolongado de armazenamento refrigerado(BENATO et al., 1998).

Podridão-de-CladosporiumCladosporium herbarum(Pers.: Fr.) Link

A podridão-de-Cladosporium, tambémconhecida como mal-negro, é uma doençaque ocorre em cachos de uva, mantidossob armazenamento refrigerado por longoperíodo, sendo hábil o patógeno em cresceraté 0oC. Apresenta-se como manchas cir-culares escuras bem delimitadas (5-7 mm),não penetrando profundamente no teci-do dos frutos. Sob condições de umidade,um mofo verde-oliva-aveludado pode-sedesenvolver sobre as lesões, devido à pre-sença de conidióforos e conídios (Fig. 3).Infecções primárias ocorrem antes da co-lheita e o fungo é capaz de penetrar direta-mente através da cutícula intacta; alta inci-dência da doença é associada a estaçõeschuvosas. O patógeno pode-se desenvol-

ver em temperaturas de armazenamento eas infecções desenvolvem-se entre 4 oC e30oC, com ótimo de 20oC a 24oC (WINKLER,1970; SNOWDON, 1990; CHOUDHURY,2000).

Podridão-ácida

A podridão-ácida é causada por umcomplexo de microrganismos, incluindobactérias ( Acetobacter sp. e Kloeckeraapiculata) e leveduras ( Saccharomycopsisvini). O líquido exsudado da fermentaçãoprovocada pelos patógenos espalha-seentre os cachos colhidos e rapidamentetodo o lote entra em decomposição. A do-ença tende a afetar os cachos mais densos,principalmente, de cultivares com bagasde epiderme mais fina. As bagas afetadasdecompõem-se internamente e o sucoextravasa, conservando apenas a epider-me seca presa à ráquis. Uma característi-ca que diferencia esta podridão das outrasé o odor pi cante de v inagre que vem doácido acético produzido pela bactériaAcetobacter. Esta podridão está muitorelacionada com temperatura e umidadeelevadas (SNOWDON, 1990; BENATO etal., 1998; TOLEDO PAÑOS, 1998).

Outras podridões

Outras podridõ es p odem ocorrer emuvas pós-colheita causadas por Penicilliumspp., Aspergillus nig er van Tieghem ,

Figura 3 - Podridão-de-Cladosporium em bagas de uvaItália

Phomopsis viticola (Sacc.)Sacc., etc. Essas podridões,embora de menor impor-tância, ocasionalmente le-vam a perdas significativas(PSCHEIDT; PEARSON,1989; SNOWDON, 1990;MILHOLLAND, 1991;BENATO et al., 1998).

Um levantamento dosfungos pós-colheita foi rea-lizado em amostras de uva‘Itália’, produzidas na re-gião do submédio São Fran-cisco, durante o período1994/1996, e constatou-se

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com maior freqüência os gênerosAlternaria,Cladosporium, A spergillus, P enicillium eRhizopus (CHOUDHURY, 1996).Semelhan-temente, em outro levantamento de fun-gos causadores de podridões pós-colheitaem uvas n a região de Jales (SP), safra de1997, verificou-s e a ocorrência de C.gloeosporioides, A. alternata, R. stolonifer,L. theobromae, Penicillium sp., Aspergillussp. e leveduras, não sendo constatada tam-bém a ocorrência de B. cinerea (BENATOet al., 1998).

Penicillium spp.

Conhecido como mofo-azul, durante oarmazenamento refrigerado ou transporte,o fungo pode crescer intensamente sobrea ráquis e, caso os cachos não tenham si-do fumigados com dióxido de enxofre (SO2)a doença atingirá as bagas através do pedi-celo. A princípio, o mofo é branco e torna-se, com o passar do tempo, verde-azulado.O tecido infectado com esse fungo torna-se mole e umedecido, adquirindo caracte-rístico odor de mofo. Alta umidade, prin-cipalmente no interior das embalagens, etemperatura mais amena favorecem o de-senvolvimento do fungo. Os ferimentoscausados na colheita e manuseio da frutapredispõem as bagas à infecção (WINKLER,1970; SNOWDON, 1990).

Aspergillus niger

Esta podridão caracteriza-se por formaruma massa pulverulenta de esporos comcoloração marrom-café, conhecida comomofo-negro. Os esporos são facilmente li-berados ao atingir a maturidade. O odorazedo acompanha a deterioração. As culti-vares com cachos compactos são maissuscetíveis a este patógeno. Normalmente,os esporos do patógeno estão por todaparte, mas são favorecidos pelo rompimen-to da cutícula das bagas, microfissuraspróximas ao pedicelo ou por condições dealta umidade durante a maturação. A infec-ção pode iniciar-se através de ferimentosprovocados na colheita, manuseio e racha-

duras comuns em época chuvosa. Tempera-turas entre 25 oC e 35oC favorecem o de-senvolvimento do patógeno (WINKLER,1970; SNOWDON, 1990).

MEDIDAS DE CONTROLE

Cultivares com menor suscetibilidadea podridões devem ser selecionadas nosprogramas de melhoramento, assim comoaquelas com outras características desejá-veis. Cultivares de menor compacidade decacho, mais resistentes a danos e infecçõespela anatomia e composição das bagastambém são requeridas.

Medidas preventivas de controle de-vem ser tomadas, como: evitar danos nasbagas; favorecer a boa aeração do par-reiral; controlar moscas, pássaros, insetose oídio. Efetuar adubação adequada, semexcesso de nitrogênio; proceder ao trata-mento de inverno para reduzir o potencialde inóculo e fazer um programa preven-tivo de pulverizações com produtos de-vidamente recomendados para a cultura,pragas e doenças, região e condições cli-máticas. Com esta finalidade, é aconse-lhável o Programa Produção Integrada deFrutas (PIF), elaborado pelo Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA), na Instrução Normativa no 20, de27/09/2001 (BRASIL, 2001), que visa aten-der à demanda por produtos de qualida-de, seguros e com rastreabilidade, tantopara o mercado interno como para a expor-tação.

Durante todo o processo de colheita epós-colheita, devem ser tomadas medidaspara evitar a contaminação da uva, comredução do potencial de inóculo. Deve-serealizar a sanitização das caixas de colheita,tesouras, equipamentos, galpão de embala-gem, embalagens, câmaras de armazena-mento, veículos, etc. É fundamental, ainda,a adoção de medidas para redução de danosmecânicos nas frutas, os quais favorecemo desenvolvimento de microrganismos. Efi-ciente medida para redução de perdas estána adoção das Boas Práticas Agrícolas.

Entre os processos físicos para pre-servação da qualidade da uva e r eduçãodas deteriorações estão o pré-resfriamentoe o armazenamento refrigerado. Para evi-tar a manipulação excessiva dos cachos,emprega-se a gaseificação de uvas comdióxido de enxofre (SO2), seja em câmaras,por meio de sachês geradores de SO 2 oupistola dosadora caixa-a-caixa. O empregodo SO2 depende da cultivar, temperatura eumidade de armazenamento, entre outrosfatores, que apresentam diferenças quantoà eficiência e níveis de resíduo, cujo limi-te de tolerância é de 10 μg g-1, segundo asnormas do Food and Drug Administration(WARNER et al., 2001), dos Estados Uni-dos. Pode, no entanto, causar danos às fru-tas (branqueamento), que se desenvolvemsempre que o gás consegue penetr ar nacutícula, através de microfissuras ou r a-chaduras d a e piderme ( MUNOZ e t a l.,2000).

Diante da restrição cada vez maior dapresença de resíduos químicos nos produ-tos hortícolas, o uso de SO2 em uvas pós-colheita também vem sofrendo restrições.Assim, várias opções de controle de podri-dões podem ser empregadas, de forma com-binada, e dão melhores resultados, como:vapor de ácido acético (SHOLBERG etal., 1996) e irradiação ultra-violeta - UV-C254 nm (NIGRO et al., 1998), irradiaçãoionizante (CIA et al., 2000), quitosana(ROMANAZZI et al., 2002), ozônio, bio-controle, entre outros.

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1Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]ólogo, Doutorando, Bolsista CNPq/EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: marcelo.claudio@

posgrad.ufla.br

INTRODUÇÃO

Perdas pós-colheita são aquelas queocorrem após a colheita sem, contudo, sig-nificar que nesta etapa tenham início, meioe fim. O campo pode ser origem de muitosproblemas que resultarão em perdas quanti-tativas e qualitativas das frutas. Nesta fase,podem ocorrer contaminações de origemdiversas, tais como por microrganismos pa-togênicos, defensivos e toxinas microbia-nas. Estes problemas podem evoluir nas di-ferentes etapas, da produção ao consumo.

Aplicação de sistemasde controle de qualidade no manejo

de doenças pós-colheita de frutas

Sara Maria Chalfoun1

Marcelo Cláudio Pereira2

extensiva e usualmente completa dos teci-dos do hospedeiro, que atingem montantesexpressivos, somam-se as perdas qualita-tivas particularmente importantes em frutasdestinadas à exportação, tendo em vista ascrescentes exigências dos mercados quan-to ao fornecimento de produtos com quali-dade padronizada e constante (CHITARRA;CHITARRA, 1990).

Aproximadamente, um terço dascommodities colhidas é descartada devi-do à deterioração resultante de podridões

Referindo-se, especificamente, às per-das atribuídas a microrganismos, como fun-gos, bactérias e, em menor extensão, a vírus,o padrão de ataque usualmente é uma infec-ção inicial por um ou vários patógenos, aqual pode, subseqüentemente, ser poten-cializada por uma infecção secundária, de-corrente de microrganismos saprófitos.

Em produtos perecíveis como as frutas,às perdas qualitativas associadas às doen-ças, que resultam do rápido ataque dos pa-tógenos ao t ecido sadio, com maceração

Resumo - Os sistemas normatizados de gestão de qualidade, internacionalmente reco-nhecidos como aqueles da série International Organization for Standardization (ISO), Análisede Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), Produção Integrada de Frutas (PIF)e outros, vêm-se inserindo gradativamente no setor frutícola brasileiro. O Brasil possui aseu favor, recursos hídricos, de solo, de luminosidade que, combinados com diferentestemperaturas, possibilitam o cultivo das mais variadas espécies de norte a sul, posi-cionando o País como o terceiro maior produtor mundial de frutas. Cabe às instituiçõese às equipes multidisciplinares nacionais, que representam o País junto aos fórunsinternacionais, subsidiar e disponibilizar resultados exatos e representativos, quanto àrealidade das cadeias produtivas brasileiras, de tal forma que, em harmonia com resul-tados apresentados por representantes de outros países, sejam estabelecidos normas epadrões de aceitação que garantam o objetivo máximo de segurança alimentar, sem,contudo, inviabilizar a produção, a indústria e o comércio das nações. Cabe às instituiçõesde pesquisa apoiarem ativamente os órgãos reguladores nacionais através da imple-mentação de linhas de pesquisa, que visem determinar perigos potenciais à saúde dosconsumidores, dos trabalhadores e do ambiente nas cadeias produtivas das frutas.

Palavras-chave: Fruta. Doença. APPCC. Segurança alimentar. Padrão de qualidade.

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pós-colheita dos produtos armazenados.De acordo com Wilson e Wisniewski (1989),perdas devido a doenças pós-colheita sãosignificantes em países em desenvolvi-mento. Já em países menos desenvolvidoselas podem ser catastróficas.

Cita-se, por exemplo, que, com mangasin natura, um dos principais produtos deexportação do Haiti para os Estados Uni-dos, somente 30% da produção possui qua-lidade adequada para exportação, o res-tante é rejeitado. Um acréscimo de 20% novolume de exportação resultaria em umadicional de US$ 2 milhões em renda. Istopode ser atingido pelo aprimoramento dainfra-estrutura de campo e das práticas demanejo em empacotadoras.

Segundo Lichtemberg (1999), no casode bananas, em países onde não se adotamcuidados nas fases de colheita e pós-colheita,são comuns perdas de 40% a 60% da frutaproduzida, em razão do manejo inadequa-do e conseqüentes podridões.

As acentuadas perdas provocadas pelomofo-cinzento, causado por Botryts cinereaPers. (ex Fr.), resultam em sérios danos eco-nômicos sobre as frutas nos estádios finaisda produção e derivados da habilidade dopatógeno em desenvolver e causar podri-dões durante o armazenamento.

O mercado de frutas frescas, por suavez, já é grande e continua a se expandirem uma taxa fenomenal, superior a 30% acada ano para alguns tipos de produtos.Esse mercado envolve frutas que apresen-tam um mínimo processamento, tal comodescascamento, fatiamento ou apresenta-ção em pedaços, para torná-las prontaspara o uso sem cozimento adicional.

Produtos de todos os tipos, minimamen-te processados, são considerados frescos,saudáveis e de alta qualidade pelos consu-midores. Isso agrega um prêmio em termosde valor para aqueles que os produzem ecomercializam. São vistos como uma alter-nativa para a ingestão de algo próximo aonatural.

As campanhas educativas continuama ressaltar a importância das frutas em uma

dieta saudável. A crescente evidência dopapel dos frutos e vegetais na prevençãode alguns tipos comuns de câncer e doen-ças cardiovasculares (KRIS-ETHERTON etal., 2002) significa que esse setor continuaráa desenvolver-se, a menos que afetado porameaça de segurança alimentar. A confor-midade rigorosa com padrões microbioló-gicos e práticas altamente cuidadosas sãorequeridas nesse setor .

As frutas processadas também estãosujeitas a controle de qualidade e inspeção,principalmente nos produtos destinadosà exportação, com o objetivo de assegurarque tenham sido processadas em estabele-cimentos registrados, que sejam construí-dos, equipados e que operem sob condi-ções adequadas de higiene; que estejamem conformidade com os regulamentospara a exportação de frutos processados eque preencham os re quisitos dos paísesimportadores, no que diz respeito a clas-sificação, defeitos, ingredientes, materiaisde embalagem, estilos, aditivos, contami-nantes, enchimento do contêiner e confor-midade com os requerimentos de rotula-gem.

Em ambas as vertentes, produção defrutas para consumo in natura ou proces-sadas, fica evidente a importância da inser-ção dos vários segmentos das cadeias pro-dutivas, desde a produção primária a té oconsumo, em programas de gestão dequalidade, condição imprescindível para aampliação do setor em um mercado globa-lizado.

SEGURANÇA ALIMENTARE QUALIDADE

A qualidade tem sido há muito um fatordeterminante no sucesso do comércio dealimentos, em geral, e de frutas, em parti-cular. Entretanto, temas envolvendo a segu-rança alimentar têm posicionado o controlede qualidade no centro do interesse doscomércios nacional e internacional, tornando-se um item de agregação de valor aos pro-dutos aumentando a sua competitividadeentre os compradores.

A despeito de seu uso corrente, o termoqualidade não é facilmente definido. A me-nos que se refira a critérios ou padrões par-ticulares, o termo qualidade, de maneirageral, é subjetivo. No sentido mais genéricoqualidade refere-se à combinação de carac-terísticas para estabelecer a aceitabilidadede um produto.

Há dois aspectos na gestão da qualida-de, embora estejam correlacionados. O pri-meiro aproxima qualidade em t ermos deconformidade com certos requerimentos domercado, tais como uma perceptível supe-rioridade de peculiaridades ou caracterís-ticas, tais como tamanho, coloração e carac-terísticas organolépticas. A segunda, definequalidade como um sinônimo de segurançaalimentar, o que pode ser também utilizadocomo uma ferramenta de marketing, parapromover o produto nos países que exigemaltos padrões de segurança alimentar.

A partir da década de 90, verificou-seum período de revisão de conceitos e alte-ração de perspectivas para os pesquisado-res, profissionais da área da saúde, epide-miologistas, bem como para os produtorese compradores. Novas posturas foramassumidas diante de uma cadeia global dealimentos que possibilitou aos consumi-dores um acesso a uma disponibilidade evariedade de frutas jamais vistas. Por outrolado, despertou a consciência seletiva des-ses mesmos consumidores para certosaspectos anteriormente menos considera-dos, tais como a necessidade de conhecera origem dos produtos, informações sobreos processos produtivos e de processa-mento, entre outros.

De maneira geral, as frutas comocommodities perecíveis têm um a cessolimitado a tratamentos pós-colheita. Entreestes tratamentos disponíveis encontram-se a irradiação (NIGRO et al., 1998; STEVENSet al., 1997) e a fumigação, associadas ounão a medidas de controle químico e bioló-gico, muitos dos quais apresentam umapelo negativo aos consumidores. Uma re-cente pesquisa demonstrou que a grandemaioria dos entrevistados estava preocupa-

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da com os resíduos químicos nos alimentosque ingeriam (VANCE RESEARCH ANDMARKET FACTS, 1990 apud STEVENS etal., 1997). Assim, sobrep õe-se à necessi-dade de controle das perdas pós-colheita.Este controle poderá ser através de um ma-nejo bem-sucedido dos recursos que sãoaplicados em todas as etapas, até o consu-midor, visando atender às necessidadesvariáveis da humanidade, mantendo oumelhorando a qualidade do meio ambientee conservando os recursos naturais.

A melhor possibilidade consiste emfocalizar o potencial de contaminação du-rante as fases de cultivo, colheita e pós-colheita dos frutos. Existem vários métodospreventivos aplicados, visando à reduçãode riscos de contaminações microbiológi-cas, químicas e f ísicas. As Boas PráticasAgrícolas (BPAs), Boas Práticas de Preparoe Análise de Perigos e Pontos Críticos deControle (APPCC) são os métodos maisutilizados como parte de uma forte ten-dência dos mercados mais desenvolvidosque estão cada vez mais exigindo sua apli-cação.

PADRÕES DE QUALIDADE

O risco de rompimento de mercadosinternos e externos, devido a problemascom segurança alimentar , é considerável.A emergência de normas e padrões inter-nacionais para a produção e processamentode alimentos possibilita a celebração deacordos contratuais e comerciais de talforma que minimizem a freqüência dessesrompimentos. A elaboração dessas nor-mas e padrões resulta da atuação harmô-nica de fóruns internacionais que atuamcomo órgãos reguladores, tais como CodexAlimentarius, International Organizationfor Standardization (ISO), OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) e outras, queintegram vários países com a dupla missãode proteger a saúde dos consumidores epromover a sustentabilidade do comérciointernacional de produtos in natura e pro-cessados.

Padrões legais

Os padrões legais estabelecidos pelosgovernos são geralmente relacionados comsegurança. São freqüentemente mandató-rios e representam os padrões mínimos dequalidade e segurança. Tem como objeti-vo assegurar que os produtos não estejamadulterados ou não apresentem contamina-ções por microrganismos, insetos, defensi-vos ou aditivos potencialmente tóxicos.

Padrões dos consumidores

Outra importante área da padronizaçãoestá relacionada com a informação apresen-tada para o consumidor. Neste caso não serefere propriamente ao produto, mas se asua descrição encontra-se em conformida-de com um padrão particular. Muito esforçotem sido dispensado à harmonização dasinformações contidas nos rótulos, que po-dem variar de um país para o outro, depen-dendo da filosofia de cada um sobre o pa-pel dos alimentos na dieta. Esses padrões,portanto, não têm como base temas sobresegurança, mas referem-se principalmenteao conteúdo, à aparência ou ao sabor.

O consumidor europeu tem um padrãode consumo diferente do padrão do consu-midor brasileiro. Assim, a manga com man-chas p retas na casca, s intoma de antrac-nose, é rejeitada na Europa, enquanto queno Brasil, é consumida sem problema(SILVA, 1994).

Padrões industriais

Os padrões industriais são normalmen-te estabelecidos por associações ligadasàs indústrias com a finalidade de estabeleceruma identidade para um produto particular.Em geral, tais padrões tornam-se efetivos,porque a maioria dos produtores concordacom eles. São freqüentemente relacionadoscom segurança, mas, sobretudo, com umacaracterística de qualidade que a indústriasinta ser útil para estabelecer credibilidadede seu produto no mercado.

Padrões i nternacionais e d emandascrescentes por qualidade, partindo de mer-cados desenvolvidos, requerem dos países

em desenvolvimento um exame rigoroso deseus conceitos de manejo de qualidade, seeles aspiram participar daqueles mercados.

Segundo Silva et al. (2001), somente aqualidade e os instrumentos de normati-zação e de certificação farão com que ospadrões sejam adquiridos em função da cer-teza de segurança, atestada pelo produtorpor meio de selos de certificação idôneosafixados aos rótulos dos produtos ofere-cidos e comprovada pelo dia a dia de con-sumo.

SISTEMA DE ANÁLISE DEPERIGOS E PONTOS CRÍTICOSDE CONTROLE (APPCC)

A APPCC, instrumento de manejo queobjetiva controlar os perigos que ameaçama segurança alimentar, tem sido reconheci-da como a melhor e o meio mais difundidopara atingir esse objetivo (EHIRI et al., 1995apud KHANDKE; MAYES, 1998). A APPCCnão é um novo conceito, mas foi primeira-mente relatado no início da década de 70,culminando com a publicação do primei-ro documento orientador para o setor , em1973, o Food Safety Through the HazardAnalysis and Critical Control Point System(BAUMAN, 1974). Entretanto, apenas como desenvolvimento dos sete princípios(NATIONAL..., 1992), conforme ilustradona Figura 1, da padronização internacio-nal do sistema (CODEX ALIMENTARIUS,1993, 1997 apud KHANDKE; MA YES,1998), o conceito do APPCC obteve crescen-te aceitação internacional.

Atualmente, a aplicação do APPCCencontra-se firmemente estabelecida emtodo o mundo como principal meio de asse-gurar alimentos seguros em toda a cadeiaprodutiva. Os governos nacionais e a Co-missão do Codex Alimentarius encontram-se, ativamente, promovendo a harmoniza-ção dos princípios e aplicações genéricasdo APPCC, estimulando, assim, o debatequanto à an álise global de riscos no deli-neamento de planos específicos referentesaos vários processos.

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Uma das características básicas do con-ceito APPCC é que, uma vez o sistema tersido adequadamente concebido, implemen-tado, monitorado, verificado e revisto, eleproporciona uma melhor segurança, quantoao estado microbiológico dos produtos edemais aspectos associados à segurança

alimentar do que quando se baseia em aná-lises do produto final (JOUVE, 1994).

Nesse sentido, o Sistema APPCC temvárias vantagens sobre o modelo tradicio-nal de amostragem do produto final para ocontrole microbiológico, entre elas: previ-ne e não se baseia em procedimentos de

pós-testes para resolver os problemas; éflexível e pode ser parte de todos os está-dios da produção e distribuição dos alimen-tos; todas operações e procedimentos sãodocumentados para assegurar a obtençãode produtos dentro de rigorosos limites decontrole; especialistas de muitas áreas dife-

Figura 1 - Conceito de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e suas sete etapas

Materiaisfrescos

Plano deprocessamento

Composiçãodo produto Embalagem Armazenamento

e distribuiçãoPreparação

para o consumo

APPCCpatógenoscontaminantes químicoscontaminantes físicos

Análise de perigos

Determinação dos CCPs

Especificação de critérios

Ação corretiva

Verificação

Documentação

Implementação do sistemade monitoramento

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rentes dentro da cadeia produtiva são envol-vidos (SMITH et al., 1990; NA TIONAL,1992).

Verifica-se, portanto, que o Sistema deControle de Qualidade APPCC é proativo,enquanto que os demais são reativos, istoé destinam-se a identificar os problemasantes que eles se materializem, prevenindoa sua ocorrência.

Um plano de aplicação da APPCC deveser avaliado quanto à sua utilização emtodos os segmentos essenciais da cadeiade produção dos alimentos, processamen-to, armazenamento, distribuição e consu-mo, onde perigos, sejam eles de origem bio-lógica (microrganismos e outros), química(fitoxinas, micotoxinas, resíduos de defensi-vos, conservantes, etc.), sejam física (impu-rezas), possam entrar nos alimentos ou tero seu desenvolvimento potencializado,determinando-se, assim, os Pontos Críti-cos de Controle (PCCs).

Dessa forma, os princípios de aplica-ção do APPCC concentram esforços nocontrole dos PCCs, que são definidos comoetapas nas quais medidas de controle dosperigos devem ser aplicadas para prevenir,eliminar ou reduzir um perigo a um nívelaceitável.

Em síntese, o Sistema APPCC, que temcomo pré-requisitos as BPAs, as Boas Prá-ticas de Fabricação (BPFs) e os Procedi-mentos Padrões de Higiene Operacional(PPHO), identifica os perigos potenciais àsegurança do alimento, desde a obtençãode matérias-primas até o consumo, estabe-lecendo em determinadas etapas (Pont osCríticos de Controle), medidas de controlee monitorização que garantam, ao final doprocesso, a obtenção de um alimento segu-ro e com qualidade.

As ações corretivas, os processos deverificação e documentação complemen-tam o Sistema conferindo-lhe um aspectodinâmico e atendendo, através da manuten-ção dos registros, o suprimento de informa-ções confiáveis que podem ser apreciadaspor ocasião das auditorias e, principalmen-te, garantindo a característica de rastreabi-

lidade, que possibilita o acesso a tod os ospassos envolvidos na cadeia produtiva.

A aplicação do Sistema de Gestão deQualidade APPCC contribui, portanto, parauma maior satisfação do consumidor, tornaas empresas mais competitivas, amplia aspossibilidades de conquista de novos mer-cados, além de propiciar a redução de per-das de matérias-primas, embalagens e pro-duto, sendo recomendado por organismosinternacionais como a Organização Mun-dial do Comércio (OMC) e pelo MercadoComum do Cone Sul (Mercosul) e sendoexigido pela Comunidade Européia e pelosEstados Unidos.

No Brasil, o Projeto APPCC foi criadoem 1998 através de uma parceria entre aConfederação Nacional da Indústria/Ser-viço Nacional de Aprendizagem Industrial(CNI/Senai) e Serviço Brasileiro de Apoioàs Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),para divulgar o Sistema APPCC e seus pré-requisitos (BPAs e PPHO), no País, bemcomo apoiar as empresas na implantaçãodesse sistema, com foco especial em microe pequenas empresas. Algumas delas demaior porte, principalmente nas que atuamna área de exportação, o Sistema APPCC jáfoi implantado, visando atender à exigênciados compradores.

Considerando-se que o Sistema APPCCe seus pré-requisitos são as ferramentasutilizadas para o controle dos perigos bio-lógicos (microrganismos e outros), quí-micos (agrotóxicos e outros) ou físicos(fragmentos de metais, vidros e outros),conforme enfatizado anteriormente, nãodeve ser restrito a um segmento, devendoser efetuado em toda a cadeia produtiva,com uma visão do campo à mesa, apesarde ter sido iniciado pelo segmento indus-trial em outros países e no Brasil.

Atualmente, o Projeto APPCC conta coma parceria da Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa), que tem apoiado asações de treinamento para as empresas dealimentos, proporcionando a oportunidadede elas implantarem as ferramentas paraprodução de alimentos seguros. O Conse-

lho Nacional de Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq) tem sido a insti-tuição que apóia o Projeto com bolsas paraconsultores que atuam com apoio à implan-tação do Sistema APPCC/BPF em empre-sas. O projeto vem at uando também naprodução primária, inicialmente em leite,frutas, hortaliças e café.

No setor frutícola, o Sistema APPCCfoi juntamente com as normas das ISO 9001e ISO 14001, incorporados estrategicamen-te ao Sistema de Acompanhamento daProdução Integrada (Sapi), como alicercesdos pilares que sustentam o Sistema Pro-dução Integrada de Frutas (PIF) (SILVA etal., 2001).

Análise de Perigos ePontos Críticos de Controle(APPCC) como instrumentode apoio à ProduçãoIntegrada de Frutas (PIF)

A exemplo do ocorrido com o Sistemade Gestão de Qualidade APPCC, a PIF éum conceito que vem evoluindo no Brasil,através da demanda dos consumidores porprodutos de alta qualidade, obtidos prio-ritariamente com métodos ecologicamentemais seguros, m inimizando os efeitoscolaterais indesejáveis do uso de agroquí-micos, para reduzir riscos ao ambiente e àsaúde humana.

No bojo de sua aplicação, utiliza prin-cípios preconizados em um Programa deGestão de Qualidade, como o APPCC, emaspectos como atuação preventiva, quan-to à ocorrência de patógenos causadoresde podridões na fase pós-colheita e utiliza-ção criteriosa de agroquímicos, no que dizrespeito à escolha dos produtos, épocas edoses de aplicação, reduzindo os riscos deaplicação indiscriminada aos aplicadores,ambiente e consumidores, além de outrosque convergem para a obtenção de um pro-duto final dotado de características e altaqualidade do sistema produtivo e seguro,do ponto de vista alimentar.

O tema PIF já foi amplamente aborda-do em edição anterior do Informe Agro-

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pecuário (2001), merecendo citação no pre-sente artigo, devido à sua importância e aoentrelaçamento de objetivos e estratégiasem relação ao Sistema de Gestão de Quali-dade APPCC.

No Brasil, a aplicação desse Sistemajá s e encontra apoiada em seus a spectosnormativo e legislativo, pelos Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA)/Secretaria de Apoio Rural e Coope-rativismo (SARC) que, por sua vez, contamcom o subsídio da Comissão Técnica paraProdução Integrada de Frutas (CTPIF), Bra-sília-DF, na implementação e regulamenta-ção de atos complementares previstos nasDiretrizes Gerais da Produção Integrada deFrutas (DGPIF).

Cita-se, como exemplo, o caso da maci-eira, primeira cultura com diretrizes e normastécnicas específicas definidas e regulamen-tadas pelo MAP A. As frutas processadasatravés do Sistema PIF estão sendo identifi-cadas com o selo de conformidade emitidopelo MAPA e pelo Instituto Nacional deMetrologia (Inmetro), através dos Orga-nismos de Avaliação de Conformidade(OACs).

Para outras espécies frutíferas, os pro-gramas que visam o enquadramento dospomares e casas de embalagem ( packinghouses) nas normas de conformidade doPIF, além de pleitearem certificação em outrosprogramas de qualidade, como o ISO 14000,encontram-se em diferentes estádios dedesenvolvimento. O marco legal da Pro-dução Integrada de Frutas no País, com achancela Integrated Fruit Productions inBrazil (IPF/Brazil), já foi remetido para aOMC.

Ressalta-se que o ano de 2003 foi o pra-zo limite para a importação de frutas tempe-radas produzidas pelo sistema convencio-nal. Para as tropicais, a data é 2005 (BEZERRA,2003). Quem não se adequar e não passarpelo crivo das certificadoras credenciadaspelo Inmetro, não poderá ofertar sua pro-dução no exterior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo apresentou os Siste-mas de Gestão de Qualidade como APPCCe a PIF, os programas de certificação (sérieISO 9000 e 14000, EUREP GAP e outros),como instrumentos de inserção do setor fru-tícola brasileiro dentro do mercado globali-zado, aumentando a competitividade do pro-duto brasileiro e, ao mesmo tempo, agilizandoe aprimorando os processos produtivos,desde a produção primária até a colocaçãodos produtos nos pontos de comercializa-ção ou mesmo na mesa dos consumidores.Embora aparentemente complexo, uma vezque regido por normas ditadas por diferen-tes órgãos reguladores, nacionais e interna-cionais, t orna-se extremamente seguro econfiável, entendendo-se que todo e steuniverso repousa sobre a necessidade degarantir um produto final dotado de atribu-tos de segurança exigidos pelos consu-midores através de medidas proativas, aoinvés de reativas, acrescentando agilidadee lucratividade à atividade frutícola no País.

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