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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ RETOMADA/CONSOLIDAÇÃO (A PARTIR DA IDÉIA DE PROGRESSÃO EM ESPIRAL) DAS DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA DE GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS MACAPÁ-AP DEZ/2007 1

Generos textuais

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Texto sobre gênero textual.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

RETOMADA/CONSOLIDAÇÃO (A PARTIR DA IDÉIA DE PROGRESSÃO EM ESPIRAL) DAS DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA DE GÊNEROS

TEXTUAIS/DISCURSIVOS

MACAPÁ-APDEZ/2007

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CHARLIE RITTER DE LIMA CARDOSOMAURISÂNGELA DOS SANTOS NERES

RETOMADA/CONSOLIDAÇÃO (A PARTIR DA IDÉIA DE PROGRESSÃO EM ESPIRAL) DAS DISCUSSÕES SOBRE A TEORIA DE GÊNEROS

TEXTUAIS/DISCURSIVOS

MACAPÁ-APDEZ/2007

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Trabalho apresentado à Universidade Federal do Amapá para fins avaliativos na disciplina Produção de Textos II, do Curso de Graduação em Letras, ministrada pela Professora Adelma Barros-Mendes.

Compreende-se que se configuram gêneros textuais, à luz da teoria

bakhtiniana, as várias produções textuais circundantes na sociedade e que foram

sócio-historicamente produzidas a partir de necessidades, de atividades sócio-

culturais e de inovações tecnológicas, cada uma na sua esfera específica, chegando

a atingir o leitor que interage com uma ou outra das diversas esferas da

comunicação.

Uma tese de doutorado ou um artigo científico, por exemplo, requerem tanto

de quem os produz tanto do leitor que pretende interagir com eles um alto grau de

conhecimento acerca do assunto neles tratado, só assim ocorrerá aquilo a que

Bakhtin teorizou como atitude ativo/responsiva.

De acordo com Bakhtin os gêneros textuais discursivos circulam em mais

de uma esfera, podendo ser de linguagem mais simples como é o caso dos gêneros

cotidianos, a saber, receita de alimentos; talão de luz, água, telefone; bilhete, cartas

pessoais, ou nas produções de linguagem ou estilo mais formal onde a linguagem

não varia, como no caso dos gêneros da esfera burocrática (ofício, memorando),

esfera científica (teses, livros), esfera jornalística (jornal, charge).

Os elementos se definem a partir do assunto (tema) a ser tratado. Como

exemplo, podemos citar a política, a economia, a segurança, onde a forma de

composição pode variar de acordo com o estilo, pois esta é a forma de linguagem

utilizada para falar do tema ao leitor de tal esfera.

A estabilidade relativa dos gêneros textuais está diretamente ligada à

circulação de textos em várias esferas e estilos como, por exemplo: o tema

jornalístico falando de corrupção pode ser facilmente revertido ao estilo paródia,

satirizando tal atitude referente ao tema.

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Com o advento das inovações tecnológicas, sobretudo na escrita,

diversificou-se a transmissão das idéias e dos pensamentos. O que se dava quase

que exclusivamente pela oralidade, ampliou-se em virtude dos modos de transporte

e de fixação das mensagens, por exemplo, o rádio, a televisão e, hodiernamente, a

internet.

O processo de comunicação prescinde os diferentes suportes, que, embora

ainda em meio a controvérsias, de alguma forma, alteram, sim, um gênero textual.

Pode-se dizer que gênero e suporte se complementam. Um exemplo disso é a

conversa virtual (bate-papo), que por suas particularidades, sobretudo da rapidez

com que se tem que interagir no diálogo, promoveu verdadeiras inovações em

certas palavras, que passaram a apresentar formas típicas desse tipo de gênero. Se

se deseja escrever a palavra “você”, basta digitar “vc”; “axo” em vez de “acho”, “pq”

no lugar de “porque”, pois o internauta que tiver familiaridade com esse tipo de

gênero certamente compreenderá. Se esse mesmo internauta for escrever uma

carta familiar, é pouco provável que utilize as palavras nas formas acima

apresentadas.

Sabe-se que a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) traz

em seu bojo uma série de mudanças nas quais se percebe nitidamente a voz de

Bakhtin e que, uma vez engendradas, promoverão uma nova visão e,

consequentemente, uma nova postura em relação ao que se tem como ensino da

língua materna. Em síntese, os PCN’s colocam que, em vez de insistência nos

exercícios mecânicos e estruturados em frases soltas, de valorizar a gramática

normativa como única possibilidade de expressão da língua e de utilizar o texto

como pretexto, o ensino da Língua Portuguesa deveria priorizar a formação de

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sujeitos pensantes com competência para entender e se expressar nas diferentes

esferas sociais.

Justifica-se, então, desde o ensino fundamental, o trabalho com os

diferentes gêneros que circulam na sociedade. Segundo Marcushi (2001), vivencia-

se uma “explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação” na oralidade e

na escrita, sobretudo na atual fase da cultura eletrônica. Imersos num universo

textual, não se pode ficar alheio a este processo. Assim, o aluno, melhor ainda, o

cidadão precisa conhecer esse universo textual e interagir nele e com ele; precisa

saber que existem gêneros que emanam das esferas jornalística, escolar, religiosa,

literária, cientifica, publicitária, burocrática, cotidiana e artístico-cultural, cada um

com suas especificidades, atendendo a necessidade, a atividades sócio-culturais

repletas de intenções, não muito raras, sutilmente proferidas nos discursos.

Cada uma dessas esferas que compõem a sociedade produz, na sua

dinâmica, gêneros que apresentam características próprias referentes a estilo,

estrutura e intenção. Ao primeiro contato com um gênero de uma esfera com a qual

ainda não se tenha interagido, percebe-se uma limitação, principalmente, do pleno

exercício da cidadania. Com efeito, é grande, por exemplo, a parcela de pessoas

que não conhecem e não conhecerão a Lei Magna ou o Código de Defesa do

Consumidor por serem gêneros provenientes da esfera jurídica e apresentarem uma

linguagem típica e não-habitual da maioria da população.

Dessa forma, cabe também à escola, na qualidade de locus de ensino-

aprendizagem da língua materna, permitir a seus educandos o contato com os

diversos gêneros e, antes de tudo, construir com eles a competência comunicativa

para que possam interagir nas esferas sociais e ter uma postura crítico-reflexiva em

relação aos discursos nelas produzidos.

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Dentre os gêneros que deveriam penetrar no ambiente escola, mesmo no

ensino fundamental, este grupo vê no artigo de opinião um gênero que, devido sua

intenção de produção, estimula a argumentação e a postura crítica.

A atividade a seguir propõe um trabalho com artigos de opinião que poderia

ser elaborado com turmas de 5ª e 6ª séries do ensino fundamental.

Com base numa seqüência didática, o primeiro momento é o momento do

contato com o gênero. É importante que o professor leve para a sala de aula não os

recortes, mas os textos nos seus devidos suportes (jornais, revistas, etc.). Assim, os

alunos já tenham noção da esfera social a que pertencem os textos que lerão, pois,

“a identificação do gênero é um dado valioso para a interpretação do texto”

(BAKHTIN, 1953/1997) e permitem a construção do intertexto, onde estão os

conhecimentos prévios sobre o gênero.

Neste momento, trabalha-se a capacidade de ação. Com a leitura dos

artigos de opinião, vão sendo construídas as idéias de que esses gêneros são

produzidos com a intenção de defender uma opinião acerca de alguma questão

polêmica ou de relevância social e que são basicamente estruturados sobre

argumentos.

Um texto bem interessante (claro, dentre muitos outros) de linguagem

acessível e com uma discussão bem envolvente, principalmente para a idade dos

alunos aos quais está voltada a atividade, é o artigo “Abolir celular pode ser o

primeiro acordo do ano” (Folha de São Paulo, São Paulo, 5 fev. 2004. Folha

Equilíbrio, p. 9), de Rosely Sayão, onde a autora defende a opinião de que escola

não é lugar adequado para levar telefone celular.

Concluído o momento da observação dos modelos, da estrutura, da forma,

da esfera de circulação e dos suportes dos artigos de opinião, os alunos são

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encorajados a escrever seus próprios artigos, supondo, por exemplo, que seus

textos serão publicados num jornal de circulação na cidade ou até mesmo realmente

publicá-los à comunidade escolar num jornalzinho da turma ou num mural-jornal.

O momento seguinte é o da construção textual, da produção dirigida, onde

se trabalham as capacidades discursiva e lingüístico-discursiva, ou seja, os

elementos necessários à formação de um produtor de textos competente:

planejamento, controle do que está escrito, revisão, entre outros.

Pode-se iniciar a produção dos textos com uma questão polêmica do tipo “o

uso do uniforme escolar deve ser obrigatório?”. A partir daí, os alunos são

orientados a levantar opiniões junto à comunidade (alunos, professores, pais de

alunos, administradores e coordenadores escolares, etc.) para conhecer as

diferentes opiniões com o objetivo de embasar a própria e defendê-la.

Após os alunos terem assumido uma posição em relação à questão

proposta, inicia-se a elaboração dos artigos. Eis, aí, um bom motivo para se

trabalhar a gramática, pois surgirão dificuldades relacionadas à coerência textual, à

partição de palavras no final da margem, às concordâncias verbal e nominal,

elementos exigidos de um texto que será publicado, principalmente no ambiente

formal que possui um jornal.

Textos estruturados, é hora de avaliá-los. O aluno precisa analisar se sua

posição está claramente definida, se sua opinião se baseia em argumentos

convincentes e se seu texto provoca no leitor a reflexão sobre o assunto e uma

postura diante dele. Se as respostas a essas questões não forem plenamente

satisfatórias, é importante que se promova a refacção, outro momento importante da

construção de textos, pois é coerente que não se apontem as falhas simplesmente,

mas, acima de tudo, que se apontem horizontes de fluência para os textos.

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Superada a fase de reconstrução dos textos, segue-se a publicação dos artigos,

conforme o definido no planejamento.

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