28

Click here to load reader

Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Este artigo analisa alguns indicadores selecionados sobre as condições de inserção do jovem baiano no mercado de trabalho, utilizando para isso as informações do Censo Demográfico 2010, e da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) para a faixa etária entre 16 a 29 anos e para os níveis geográficos metropolitanos e não metropolitanos da Bahia. Para situar esta análise no contexto das noções e concepções de juventude foi feita uma breve sistematização introdutória a este respeito a partir da visão de autores consagrados nesta temática.

Citation preview

Page 1: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Jovens baianos na primeira década dos anos 2000: trabalho, estudo e inserção no mercado de trabalho1

Lavínia Maria de Moura Ferreira2

Resumo

Este artigo analisa alguns indicadores selecionados sobre as condições de inserção do jovem baiano no mercado de trabalho, utilizando para isso as informações do Censo Demográfico 2010, e da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) para a faixa etária entre 16 a 29 anos e para os níveis geográficos metropolitanos e não metropolitanos da Bahia. Para situar esta análise no contexto das noções e concepções de juventude foi feita uma breve sistematização introdutória a este respeito a partir da visão de autores consagrados nesta temática.

Palavras-chave: Educação; Juventude; Mercado de Trabalho; Trabalho.

1 Este artigo foi elaborado para a disciplina Trabalho e Questão Social ministrada pela Prof a Dra Ângela Borges do Programa de Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania, da Universidade Católica do Salvador.2 Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Bahia e mestranda do Programa de Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania, da Universidade Católica do Salvador (UCSAL) [email protected].

1

Page 2: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Este artigo analisa alguns indicadores selecionados sobre as condições de inserção do

jovem baiano no mercado de trabalho, utilizando para isso as informações do Censo

Demográfico 2010, e da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) para a faixa etária entre

16 a 29 anos e para os níveis geográficos metropolitanos e não metropolitanos da Bahia.

Além da conclusão o artigo está organizado em mais quatro sessões. A primeira

sistematiza as noções e concepções de juventude a partir de autores consagrados na

tematização da juventude. Esta sistematização teve como objetivo situar a análise dos

indicadores da inserção dos jovens baianos no mercado de trabalhado a partir deste marco

conceitual. A sessão seguinte analisa a relação trabalho escola a partir das informações sobre

a situação de trabalho e estudo da população jovem. Na sequencia as duas últimas sessões

antes da conclusão apresenta e descreve as ocupações juvenis por posição na ocupação e

categoria de emprego, concluindo com uma avaliação dos rendimentos juvenis por

escolaridade.

A população juvenil baiana entre 16 e 29 anos totalizou aproximadamente 3,7 milhões

de pessoas em 2010, representando 26,1% da população total do estado. Do total de jovens,

26,2% residiam na região metropolitana de Salvador e 73,8% na região não metropolitana.

Em relação aos três subgrupos etários, 14,7 % tinham entre 16 e 17 anos, 49,5 % estavam na

faixa de 18 a 24 anos e 35,8 possuíam entre 24 e 29 anos. A juventude baiana era composta

ainda de 49,6% homens e 50,4% mulheres, sendo 78,2% negros e 21,8% não negros

(DIEESE, 2012).

O parágrafo 1º do artigo 1º da redação final do substitutivo do Senado ao Projeto de Lei

que institui o Estatuto da Juventude define como jovem as “pessoas com idade entre 15 (quinze) e

29 (vinte e nove) anos de idade”. Esclarece ainda que aos adolescentes entre 15 e 18 anos aplica-

se prioritariamente o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069, de 13 de julho de

1990 e excepcionalmente o Estatuto da Juventude “quando [este] não conflitar com as normas de

proteção integral do adolescente” (BRASIL, 2013, p.1). A menção ao ECA, é importante porque

este proíbe o trabalho penoso, insalubre ou perigoso aos jovens adolescentes antes dos18anos.

Para a análise a ser realizada neste artigo será considerada a faixa etária entre 16 e 29 anos.

A adoção deste intervalo etário tem como base a idade mínima legal de 16 anos, para qualquer

trabalho, estabelecida na Constituição Federal (Art. 7º, inciso XXXIII) que admite o trabalho

a partir do 14 anos apenas na condição de aprendiz. Quanto ao limite superior como já

2

Page 3: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

mencionado adotou-se aquele estabelecido pelo Estatuto da Juventude. Os dados sobre a

condição de trabalho e estudo foram desagregados ainda em três subgrupos etários: 16 e 17;

18 a 24; e, 25 a 29 anos. O gráfico, tabelas e demais informações foram elaborados a partir

dos resultados do Censo Demográfico 2010, e da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED)3

para a região metropolitana de Salvador, sistematizadas em Dieese (2012).

Condição Juvenil: Noções e Concepções

A concepção de juventude enquanto um intervalo de tempo entre a adolescência e a vida

adulta, é o que comumente é definido. Nesta visão ser jovem corresponde a um período

transitório na vida de cada um. Bourdieu (1993, p. 113) em sua notável entrevista – A

“juventude” é apenas palavra – assevera:

É por isso que os cortes, seja em classes de idade ou em gerações, variam inteiramente e são objeto de manipulações. [...] O que quero lembrar é simplesmente que a juventude e a velhice não são dados, mas construídos socialmente na luta entre os jovens e os velhos. As relações entre a idade social e a idade biológica são muito complexas.

Citando autores reconhecidos na temática: Abramo, (2005); Dayrell, (2003); Gorz,

(2009); León, (2005); Martins, (2001); Weller, (2007), Rodrigues e Silva (2011, p.157)

corroboram:

Em outros termos, juventude não se resumiria à similaridade e à linearidade das mesmas experiências vivenciadas nos mesmos intervalos de tempo. Neste sentido, abordá-la, portanto, a partir da sincronia de eventos vividos é naturalizar a condição juvenil. Logo, é desconsiderar que esta é uma condição social, histórica, cultural, relacional.

Analisando dois documentos: Política nacional de juventude: diretrizes e perspectivas,

produzido pelo Conjuve (Conselho Nacional de Juventude), e o Relatório de desenvolvimento

mundial 2007: o desenvolvimento e a próxima geração, assinado pelo Banco Mundial (BM),

Castro, (2007, p.20) assinala que, “[...] a abordagem do BM é focada em como “modelar”

esse grupo de pessoas, para que constituam a chamada “próxima geração””. A autora

completa acrescentando que o próprio subtítulo do relatório “o desenvolvimento para a

próxima geração” não o referencia como um documento voltado para os jovens, mas

preocupado com a “próxima geração”. Desta visão deriva para o BM que os [...] “jovens

devem ocupar papeis na produção e na vida político-civil, ou ainda se tornarem os

3 Pesquisa mensal realizada através do convênio DIEESE/Seade, MTE/FAT com o governo do estado da Bahia através da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.

3

Page 4: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

“trabalhadores, empresários, pais, cidadãos e líderes de amanhã””. Já o documento do

Conjuve segue em outra direção:

Mais do que se fixar no marcador “geração”, [...] destaca a juventude como uma “condição social” e orienta-se por desconstruir noções do senso comum que viriam cercando o tema e alimentando a tendência de considerar os jovens como o problema destes tempos, além de se fixar nas vulnerabilidades, o que complicaria a formulação de políticas. (CASTRO, 2007, p.21).

A partir da análise feita por Castro (2007), as duas perspectivas, BM e Conjuve podem

ser resumidas em algumas expressões de certo modo dicotômicas: enquanto este último

concebe a juventude como um sujeito de direitos, o primeiro vislumbra-a como sujeito do

desenvolvimento. Para o BM a noção é de transição, para o Conjuve, trajetórias é o que

caracterizam a condição juvenil. Para o BM o atual momento demográfico abre uma “janela

de oportunidades”, sendo “necessário ampliar as oportunidades como emprego e educação

apropriada às demandas do mercado”, já que esta condição é transitória e a tendência é termos

uma população mais longeva. Para o Conjuve o “destaque é a diversidade”, trajetórias

irregulares, como a combinação entre trabalho e estudo, condição que iremos abordar nas

próximas sessões.

Depreende-se, naturalmente, que estas distintas abordagens do que significa ser jovem

vão engendrar diferentes concepções de políticas e ações direcionadas a este segmento

populacional. Entretanto é possível combinar “transições” e “trajetória” nas políticas juvenis.

Sobre isso em outro texto Castro (2004, p.16), afirma que as políticas existentes nem “[...]

contemplam a diversidade dos beneficiários em termos de geração e não possuem uma

orientação universalista”. Para esta autora além de ter os jovens como público alvo, “[...] há

que mais investir sobre que política se quer em termos de enfoque ‘geracional’/juvenil, assim

como as feministas investiram, em enfoque de gênero”.

Afirma, entretanto, que muitos são os complicadores decorrentes de uma visão de

política “de/para/com” a juventude. Em políticas “de” há que se considerar tanto a

universalidade quando a diversidade da “geração jovem” contemplando as reivindicações dos

“distintos movimentos sociais de jovens”. Nesta categoria de políticas os jovens devem ser

vistos como atores com identidade própria - adultos, crianças e adolescentes, em

contraposição ao jovem como “quase adultos ou ex-criança e adolescente”. Já nas políticas

“para”, cuja responsabilidade é do Estado, há que considerar que o jovem tem “[...] menor

4

Page 5: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

poder de competição em uma sociedade orientada pelo mercado [...]” nesta perspectiva as

políticas devem ser orientadas para o exercício e o investimento em “formação de autonomia

e capital critico-social”. Por último as políticas “com” devem ser direcionadas para a

“participação” e “empoderamento” dos jovens inclusive no acompanhamento e na formulação

de políticas.

Nesta mesma direção, Abramo (2005, p.20/22, apud, Krauskopf, 2003), afirma que a

literatura latino-americana já consolidou uma classificação das diferentes concepções que

fundamentam as políticas juvenis. Estas concepções podem ser sistematizadas em quatro

abordagens:

a) a juventude como período preparatório para a vida adulta, portanto um período de

transição. Nesta concepção as políticas educacionais aparecem como a principal política, as

demais, esporte e lazer são complementares e buscam ocupar o tempo livre, garantindo uma

formação sadia. O serviço militar se insere nesta perspectiva, visando o senso de

responsabilidade;

b) a juventude como etapa problemática, onde o jovem aparece como uma ameaça à

ordem social. Neste caso as políticas de saúde justiça ganham destaque, com foco em

questões tais como “[...] gravidez precoce, drogadição, DST e AIDS, envolvimento com

violência, criminalidade e narcotráfico”;

c) o jovem como ator estratégico do desenvolvimento busca a superação do “jovem

como problema” para o “jovem como solução”. Nesta perspectiva as políticas devem ser

orientadas para a formação do “capital humano” como forma de enfrentar a exclusão. Esta

concepção toma como base o bônus demográfico ainda vigente. Apesar de avançar no

reconhecimento do jovem como ator social, esta abordagem ignora os conflitos e a disputa em

torno de qual modelo de desenvolvimento está se falando, ou mesmo se os jovens serão

chamados a esta escolha.

d) o jovem como sujeito de direitos, nesta concepção a condição juvenil deixa de ser

caracterizada por suas incompletudes. Esta visão muda os enfoques anteriores, pois supera a

visão negativa sobre os jovens, alçando a condição de sujeitos integrais. As políticas deixam

de ser compensatórias e passam a ser centradas na noção de cidadania.

5

Page 6: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Afirma a autora que estas noções coexistem na sociedade brasileira tanto historicamente

como nas ações dos distintos atores e,

“muitas vezes o sentido da formulação das ações não corresponde exatamente ao sentido da ação [...] a noção do que significa, de fato, tomar o jovem como sujeito de direitos está ainda na fase da construção social e política no nosso país” (ABRAMO, 2005, p.22).

Ainda segundo Abramo (2005, p.23) historicamente a noção de juventude esteve

associada à categoria de estudante, justamente porque entendida a juventude como um

período de preparação, marcado pela formação escolar, entretanto os jovens de outros extratos

sociais que entravam cedo no mundo do trabalho não eram identificados como jovens. Nesta

perspectiva o jovem tornava-se alvo da política pública apenas quando dentre estes últimos

existiam aqueles que se desviavam deste caminho natural.

Corroborando com esta discussão Aquino (2009, p.25) destaca que a juventude como

questão social era vista a partir de duas abordagens principais:

[...] pela via dos “problemas” comumente associados aos jovens – como a delinquência, o comportamento de risco e a drogadição, entre outros –, que demandariam medidas de enfrentamento por parte da sociedade. [...] e como fase transitória para a vida adulta, o que exigiria esforço coletivo – principalmente da família e da escola – no sentido de “preparar o jovem” para ser um adulto socialmente ajustado e produtivo.

Afirma ainda que embora estas duas concepções se consolidem em “contextos

ideológicos” já distantes, ainda assim se fazem presentes nas discussões sobre juventudes.

Entretanto o novo contexto marcado pelo crescimento vertiginoso dos jovens no final do

século XX evidenciou as limitações analíticas destas duas abordagens exigindo uma nova

forma de pensar a juventude. O chamado bônus demográfico resulta deste aumento relativo da

população em idade ativa propiciado pela onda jovem. Neste contexto a tematização juvenil

ganha duas novas aborgadens, o jovem como ator “estratégico do desenvolvimento” e o

jovem como protagonista político (AQUINO, 2009).

O aproveitamento do bônus demográfico foi comprometido pela crise do emprego nos

anos 80 no mundo e nos anos 90 e seguintes no Brasil, reduzindo as oportunidades de

emprego para todos e também para os jovens. Na questão juvenil duas tendências se

configuravam neste contexto. De um lado os “jovens abastados” têm a escolha de retardar seu

ingresso no mercado de trabalho enquanto que os jovens pobres se vêm obrigados a aceitar

uma inserção precária neste mercado. As duas situações acabam bloqueando a emancipação

6

Page 7: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

juvenil e acabam por prolongar a juventude adiando a passagem para a vida adulta. É

importante assinalar que este prolongamento da juventude não se relaciona apenas à crise no

mercado de trabalho e as dificuldades de inserção juvenil (AQUINO, 2009).

Aquino (2009) alerta ainda que este retardamento da transição para a idade adulta

coloca em cheque a centralidade da inserção no mercado de trabalho enquanto “marco

necessário e definitivo para a transição para a vida adulta”, além disso, “obscurece” a própria

noção de juventude enquanto etapa transitória. O que foi projetado para o futuro transfere-se

para o presente, então juventude passa a ser compreendido enquanto uma etapa própria da

vida.

Retomando a questão da inserção no mercado de trabalho como elemento central na

emancipação juvenil, isto é, na passagem para a vida adulta, Guimarães (2005, p.6), vai tratar

deste tema argumentando que:

[...] cortes etários ou geracionais são o reflexo das regras circunstanciais de

envelhecimento em seus respectivos campos, o trabalho, entre eles [...]. Do

ponto de vista do mercado de trabalho, por certo, podemos falar de distintas

formas de socialização profissional relativas aos diversos grupos de jovens,

variados por sua origem social, regional, étnica, ou mesmo por sua condição

de gênero ou seu capital escolar. “Juventudes” antes que “juventude”.

A partir da afirmação acima e não sendo a juventude homogênea era de esperar que

“variassem as percepções4, representações, pertenças, aspirações, interesses e

comportamentos dessas diferentes “juventudes””. Conclui a autora que não foi este o

“achado” da pesquisa, as “percepções juvenis” sobre os sentidos do trabalho coincidem entre

a maioria dos jovens pesquisados no dizer da autora:

[...] a centralidade do trabalho para os jovens não advém dominantemente do seu significado ético (ainda que ele não deva ser de todo descartado), mas resulta da sua urgência enquanto problema; ou seja, o sentido do trabalho seria antes o de uma demanda a satisfazer que o de um valor a cultivar. [...] o trabalho se manifesta como demanda urgente, como necessidade, no coração da agenda para uma parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não-trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca (GUIMARÃES, 2005, p.12).

4 Sobre estas “percepções” a autora está se referindo à pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira” patrocinada pela Fundação Perseu Abramo. (GUIMARÃES, 2005, p.3).

7

Page 8: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Situação de trabalho e estudo

Várias pesquisas comprovam que a população jovem é mais escolarizada que a adulta,

fruto da universalização da educação básica e também como resposta dos jovens às exigências

do mercado de trabalho por trabalhadores mais escolarizados. Ainda assim quando se analisa

o nível de escolaridade da população juvenil de nosso estado constata-se que este ainda é

muito baixa. Em 2010, 38,2%, dos jovens baianos entre 16 a 29 anos, não tinham instrução ou

possuíam apenas o ensino fundamental incompleto, enquanto que apenas 25,1% deste mesmo

universo completaram o ensino fundamental, mas não concluíram o ensino médio. O mesmo

fenômeno, embora em menores proporções observa-se entre os jovens metropolitanos de

Salvador (IBGE. Censo Demográfico, in DIEESE, 2012, p.63-65).

As informações do Gráfico 01 revelam o quanto é difícil para os jovens conciliar

trabalho e estudo. Para uma grande parte deles esta combinação é impossível, submetidos à

extensas jornadas o abandono da escola é a única alternativa. Apenas 32,1% dos jovens

baianos frequentavam a escola em 2010, ainda assim parte deles (15,6%) conciliava o estudo

com o trabalho ou sua procura. Enquanto que 47,9% desta população apenas trabalha ou

procura trabalho, sem estudar. Na região metropolitana de Salvador a proporção dos jovens

que estão exclusivamente trabalhando ou procurando emprego chega à metade. Considerando

que grande parte dos jovens não concluíram os estudos é preocupante a situação desta

população que está fora da escola, ou seja, apenas trabalha ou procura trabalho sem estudar.

Gráfico 01- Distribuição dos jovens de 16 a 29 anos segundo situação de trabalho e estudo, Bahia, Região Metropolitana de Salvador e Região não Metropolitana da Bahia - 2010 (em %)

Fonte: IBGE. Censo Demográfico.In DIEESE, Anuário da educação profissional da Bahia, p.111.Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. – Salvador: DIEESE,

8

Page 9: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

2012.v. II, 208 p. Elaboração própria

Para uma análise mais detalhada da situação de trabalho e estudo da população juvenil é

necessário analisar esta faixa etária de forma desagregada. Com se verá as situações variam

conforme os subgrupos etários juvenis. A Tabela 01 reúne estas informações para a região

metropolitana de Salvador. Observa-se uma melhora da situação de frequência à escola entre

2005 e 2011em todas as faixas etárias, evidenciada pelo aumento da proporção dos jovens

apenas estudavam, neste período. Entretanto como se verá as repercussões nas demais

situações são distintas entre os subgrupos.

Com efeito, a faixa etária juvenil que mais se beneficiou desta mudança foram os jovens

adolescentes (16 e 17 anos). Para estes a redução da proporção daqueles que combinavam

estudo e trabalho ou procura de trabalho, favoreceu a condição de dedicação exclusiva aos

estudos em detrimento da condição de dedicação integral ao trabalho ou a sua procura,

observa-se que para esta última situação nesta faixa etária, a amostra não permitiu a sua

desagregação em 2011. Muito provavelmente esta melhora é resultado das políticas

educacionais e da melhoria das condições de inserção dos pais destes jovens no mercado de

trabalho neste período.

Entretanto para os jovens nas faixas etárias de 18 a 24 anos e 25 a 29 anos a situação de

trabalho e estudo neste período piorou entre 2005 e 2011. Nestes dois subgrupos etários

apesar de uma elevação da proporção daqueles que se dedicam exclusivamente aos estudos

houve uma redução da proporção de jovens que conseguem combinar as duas situações,

frequentar a escola e trabalhar ou procurar trabalho. De outro lado a proporção de jovens

destes dois subgrupos que apenas trabalham ou dedicam-se à sua procura aumentou assim

como aqueles que apenas cuidam de afazeres domésticos e outras atividades sociais.

As informações parecem indicar que se por um lado a melhora das condições do

mercado de trabalho, no período, caracterizada pela redução das taxas de desemprego e

aumento do emprego formal contribuíram para uma melhora da frequência à escola no

subgrupo etário entre 16 e 17 anos, esta mesma dinâmica fez com que os dois subgrupos

etários superiores abandonassem os estudos dedicando-se exclusivamente ao trabalho e à sua

procura, como dito anteriormente a maior pressão exercida pela sociedade. Como afirma

Borges (2008b, p.158):

9

Page 10: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Nas sociedades capitalistas, a variável idade é particularmente fundamental na configuração das preferências dos empregadores, as quais moldam e, ao mesmo tempo, são moldadas pelas normas sociais vigentes, reforçando desse modo o papel central desempenhado pelos adultos jovens na força de trabalho diretamente subordinada ao capital.

Este mesmo “papel central” é negado a estes jovens adultos pelo Estado através das

políticas públicas mediante ações garantidoras de uma transição segura e adequada entre a

escola e o mundo do trabalho. Como constatado anteriormente, através dos níveis incompletos

de escolaridade, esta transição que deveria ocorrer entre os 18 e 24 anos foi interrompida. Tal

característica irá contribuir para os níveis precários de inserção desta juventude no mercado

de trabalho a ser analisada nas sessões seguintes.

Tabela 01. Distribuição dos jovens de 16 a 29 anos segundo situação de trabalho e estudo, por faixa etária - Região Metropolitana de Salvador 2005 e 2011 (em %)

Ano Só estudaEstuda e

trabalha e/ou procura trabalho

Só trabalha e/ou procura trabalho

Apenas cuida dos afazeres domésticos

Outros Total

16 a 29 anos

2005 16,7 24,0 48,9 4,5 5,9 100,0

2011 20,5 14,0 52,2 6,1 7,2 100,0

16 e 17 anos

2005 61,1 24,4 7,2 (1) 5,9 100,0

2011 74,8 13,8 (1) (1) (1) 100,0

18 a 24 anos

2005 16,0 29,1 44,8 3,9 6,2 100,0

2011 19,4 17,4 49,9 5,3 7,9 100,0

25 a 29 anos

2005 2,6 15,8 69,8 6,4 5,4 100,0

2011 3,2 9,6 71,6 8,7 6,9 100,0

Fonte: DIEESE/Seade, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de emprego e desemprego in DIEESE, Anuário da educação profissional da Bahia. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. – Salvador: DIEESE, 2012.v. II, 208 p. p.112. Nota: (1) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria. Elaboração própria

10

Page 11: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Condição de atividade e ocupação

A tabela 01 reúne um conjunto de indicadores da condição de atividade e ocupação da

população acima dos 16 anos, e a população juvenil de 16 a 29 anos, abrangendo três níveis

geográficos, Bahia, Região Metropolitana de Salvador (RMS) e Região não Metropolitana da

Bahia.

De acordo com o Censo Demográfico 2010, a população baiana acima dos 16 anos, ou

seja, apta legalmente ao trabalho, era de 10,1 milhões de pessoas, das quais, a população

juvenil, entre 16 e 29 anos, representava 36,1%, (3,6 milhões). Nas demais regiões,

metropolitana de Salvador e não metropolitana da Bahia, a população juvenil correspondia,

aproximadamente, às mesmas proporções da população cuja faixa etária situava-se acima dos

16 anos. Analisando o perfil dos demais extratos populacionais, População Economicamente

Ativa (PEA), Ocupada e Desocupada e comparando-se o perfil da população juvenil ao da

população de 16 anos e mais, observa-se que não existem diferenciações significativas entres

as três regiões estudadas. Os extratos destas populações enquanto proporções da população

total em cada uma das regiões parecem configurar certo padrão.

Entretanto a análise das taxas de participação e desocupação evidencia comportamentos

distintos entre as faixas etárias e entre as regiões. A taxa de participação apresenta níveis

semelhantes entre a população jovem e a população de 16 anos e mais em cada uma das

regiões analisadas. Porém quando a análise é feita entre as regiões o destaque é para a região

metropolitana de Salvador cujas taxas de participação da população acima dos 16 anos, e da

população juvenil é de 67,9% e 67,4% respectivamente. A taxa de participação revela o nível

de pressão exercido pela população em idade ativa sobre o mercado de trabalho. A maior taxa

de participação da região metropolitana de Salvador é explicada pela concentração das

atividades produtivas e por um maior dinamismo econômico nesta região, resultando em mais

oportunidades ocupacionais frente às que são oferecidas pela região não metropolitana da

Bahia5.

Quando o indicador analisado é a taxa de desemprego a diferenciação tanto ocorre entre

as faixas etárias quanto entre as regiões. Com efeito, as maiores taxas de desocupação estão

entre os jovens em todas as regiões analisadas. Na comparação entre as regiões, mais uma vez

5 Nesta análise não se ignora a diversidade e heterogeneidade que caracterizam a região não metropolitana da Bahia, resultando em importantes diferenciações que não cabem no escopo deste artigo.

11

Page 12: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

a região metropolitana de Salvador apresenta a maior taxa de desocupação, tanto na

população de 16 anos e mais (13,5%), quanto na população juvenil (22,4%). Observa-se

também nesta região uma maior distância entre as taxas de desemprego destas duas

populações, indicando que os jovens metropolitanos encontram mais dificuldades de se

inserirem no mercado de trabalho do os jovens não metropolitanos. Paradoxalmente a região

que mais oferece oportunidades ocupacionais apresenta uma situação de desocupação mais

elevada, e de maiores dificuldades de inserção juvenil, ou seja, a maior pressão da força de

trabalho não resulta em uma situação de maior emprego da população economicamente ativa.

Tabela 02. População de 16 anos ou mais por condição de atividade e ocupaçãoBahia, Região Metropolitana de Salvador e Região não Metropolitana da Bahia - 2010

Indicadores

BahiaRegião Metropolitana

de SalvadorRegião Não

Metropolitana da Bahia

16 anos e mais

16 a 29 anos16 anos e mais

16 a 29 anos16 anos e mais

16 a 29 anos

Nos

abs.Em %

Nos

abs.Em %

Nos

abs.Em %

População de 16 anos ou mais

10.146 3.660 36,1 2.732 958 35,1 7.414 2.702 36,4

População Economica-mente Ativa (PEA)

6.362 2.311 36,3 1.856 646 34,8 4.507 1.665 37,0

Ocupados 5.680 1.910 33,6 1.606 501 31,2 4.074 1.409 34,6

Desocupados 682 401 58,8 250 144 57,8 432 257 59,4

Inativos 3.783 1.349 35,7 876 312 35,6 2.907 1.037 35,7

Taxa de participação (PEA/PIA)

62,7 - 63,1 67,9 - 67,4 60,8 - 61,6

Taxa de desocupação (Desocupados/PEA)

10,7 - 17,4 13,5 - 22,4 9,6 - 15,4

Fonte: IBGE. Censo Demográfico. In DIEESE, Anuário da educação profissional da Bahia, p. 27 a 29.Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. – Salvador: DIEESE, 2012.v. II, 208 p. Elaboração própria.

Estas mesmas informações podem ser apresentadas conforme subgrupos da população

juvenil de 16 a 29 anos de idade. A comparação entre os subgrupos etários revela, em todas as

regiões analisadas, que as menores taxas de participação são observadas no primeiro subgrupo

entre 16 e 17 anos, assim como as maiores taxas de desemprego verificam-se também neste

mesmo subgrupo etário, com destaque para região metropolitana de Salvador cuja taxa de

participação e desemprego são respectivamente 28,0% e 44,5%. Apesar das maiores taxas de

desemprego neste subgrupo, os subgrupos etários superiores caracterizam-se por elevadas

taxas de participação e desemprego. A primeira chega 80,1% na faixa etária entre 25 e 29

12

Page 13: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

anos e a segunda atinge a proporção de 26,2% entre os jovens de 18 a 24 anos de idade

(IBGE. Censo Demográfico, in DIEESE, 2012, p.27-29).

Posição na Ocupação

A posição na ocupação permite avaliar a qualidade da inserção no mercado da força de

trabalho uma vez ocupada. Analisando a população juvenil ocupada (Tabela 03) verifica-se

que a proporção de jovens assalariados, inclusive os trabalhadores domésticos, representa

mais de 70,0% da ocupação, na região metropolitana de Salvador esta representação chega a

85,0%. Na comparação com a população ocupada de 10 anos e mais verifica-se que o nível de

assalariamento desta população, embora seja significativo mais de 60,0% , é inferior ao

verificado no subgrupo juvenil.

Quando se analisa a qualidade deste emprego segundo a sua categoria verifica-se que

para o jovem metropolitano a principal forma de inserção é como empregado com carteira

assinada (56,8%), proporção superior à registrada na população de 10 anos e mais (51,3). As

informações sobre esta mesma condição por subgrupo juvenil não estão disponíveis,

entretanto avalia-se que existam diferenciações neste indicador entre os subgrupos assim

como já constatado para outros indicadores em sessões precedentes.

Para os jovens dos subgrupos inferiores (16 e 17 e 18 e 24 anos) muito provavelmente a

inserção em uma ocupação estável e protegida, considerada como paradigma desta posição as

ocupações com carteira de trabalho assinada, só é alcançada em idades mais avançadas.

Borges (2008b, p.164), embora analisando outras regiões e coorte juvenis diferentes, mas em

período semelhante, constata: “O emprego precário, “sem carteira assinada”, constitui-se na

principal forma de inserção dos adolescentes e jovens entre 15 e 19 anos, reduzindo a sua

importância a partir dos 20 anos”.

Embora a proporção dos jovens com carteira assinada em todas as regiões seja superior

ao total da população ocupada de 10 anos e mais, o mesmo se verifica quando a categoria

analisada é o emprego sem carteira, nesta condição os jovens também são maioria,

sinalizando uma dualidade na inserção da população juvenil no mercado de trabalho, quando

analisada pela ótica da sua posição na ocupação. Ressalte-se ainda a inserção ocupacional dos

jovens não metropolitano é extremamente precária, situação que pode ser constatada pela

elevada proporção de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada vis a vis a reduzida

proporção daqueles cuja ocupação estava nesta categoria. As situações descritas sugerem que

13

Page 14: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

a qualidade da inserção do jovem no mercado de trabalho, assim como nos demais extratos

populacionais, também é condicionada por outros atributos e fatores (sexo, nível de

escolaridade, raça/cor, situação socioeconômica entre outros), e não apenas pela faixa etária.

Outra posição na ocupação de relevância no mercado de trabalho são os trabalhadores

por conta própria. Entre os jovens esta não é uma posição de destaque comparativamente ao

verificado para a população ocupada de 10 anos e mais. Entre os jovens metropolitanos,

significa apenas 12,5% e entre os jovens não metropolitanos esta ganha mais relevância,

16,9%6. Analisando os trabalhadores juvenis por conta própria Borges (2008b, p.164) explica

esta sub-representação:

A conquista de uma posição estável em uma atividade por “conta própria” exige pré-requisitos que a maioria dos jovens trabalhadores ainda não dispõe: algum capital, domínio de um ofício ou profissão, rede de relações e toda a experiência e maturidade necessárias para disputar um espaço no chamado “setor informal”, o qual, embora apresente menores “barreiras à entrada” do que o segmento organizado da economia é bem mais restrito do que o imaginado pelos ideólogos do empreendedorismo.

Ainda sobre as posições ocupacionais juvenis, o trabalho doméstico é relevante no total

das ocupações, mas é menos representativo entre os jovens metropolitanos do que entre os

não metropolitanos. O peso relativo do emprego doméstico constitui-se em um dos

indicadores de inserção precária desta população, posto que os trabalhadores domésticos

como informa a Tabela 03, em sua grande maioria (entre 60,0% e mais de 90,0%, conforme a

região e faixa etária) não possui carteira de trabalho assinada.

Tabela 03. Distribuição da população ocupada de 10 anos e mais e dos jovens de 16 a 29 anos ocupados por posição na ocupaçãoBahia, Região Metropolitana de Salvador e Região não Metropolitana da Bahia - 2010 (em %)

Posição na ocupaçãoBahia

Região Metropolitana de

Salvador

Região Não Metropolitana da

Bahia

10 anos e mais

16 a 29 anos

10 anos e mais

16 a 29 anos

10 anos e mais

16 a 29 anos

Empregados com carteira 31,1 35,4 51,3 56,8 23,4 27,8

Militares e estatutários 4,2 2,5 4,3 1,9 4,1 2,7

Empregados sem carteira 22,0 28,9 13,0 18,7 25,4 32,6

Trabalhadores domésticos com carteira 1,5 1,2 3,6 2,7 0,7 0,7

6 As ocupações autônomas nas áreas metropolitanas são distintas daquelas verificadas nas áreas não metropolitanas. No caso do estado da Bahia estas últimas possuem estreita relação com o peso significativo das ocupações agrícolas no total da ocupação do Estado.

14

Page 15: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Tabela 03. Distribuição da população ocupada de 10 anos e mais e dos jovens de 16 a 29 anos ocupados por posição na ocupaçãoBahia, Região Metropolitana de Salvador e Região não Metropolitana da Bahia - 2010 (em %)

Posição na ocupaçãoBahia

Região Metropolitana de

Salvador

Região Não Metropolitana da

Bahia

10 anos e mais

16 a 29 anos

10 anos e mais

16 a 29 anos

10 anos e mais

16 a 29 anos

Trabalhadores domésticos sem carteira 5,5 6,3 5,4 4,8 5,5 6,8

Conta própria 22,6 15,7 18,8 12,5 24,1 16,9

Empregadores 1,4 0,6 1,8 0,7 1,2 0,5

Trabalhadores para o autoconsumo 9,3 6,8 0,7 0,5 12,6 9,0

Não remunerados 2,4 2,7 1,1 1,4 2,9 3,1

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE. Censo Demográfico in DIEESE, Anuário da educação profissional da Bahia. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. – Salvador: DIEESE, 2012.v. II, 208 p. p.41-44.Elaboração própria

Rendimentos e escolaridade

Um dos indicadores da qualidade da inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho,

quando ocupados, é o nível de rendimentos. Aproximadamente 61,8% (Tabela 04) dos jovens

baianos ocupados recebiam até 1 salário mínimo mensal em 20107, independente do nível de

escolaridade e ainda, 10,8% destes jovens não tinham rendimentos. A escolaridade passa a ser

determinante no nível de rendimentos dos jovens quando estes completam o ensino médio e

ingressam no ensino superior. Somente ao adquirir estas credenciais é que uma proporção

maior de jovens consegue auferir rendimentos mensais superiores ao mínimo. E apenas ao

completarem o ensino superior é que a maioria dos jovens (53,9%) consegue superar a faixa

de rendimento de 2 salários mínimos mensais.

Mesmo quando se considera os jovens metropolitanos, não há uma diferença

significativa na comparação com o estado, os rendimentos da grande maioria dos jovens

permanecem situados nos abaixo do mínimo. A mesma situação é observada quando a análise

é feita para os jovens metropolitanos assalariados, isto é, mesmo na condição de uma melhor

inserção, os baixos rendimentos parecem ser uma questão estrutural do mercado de trabalho,

tanto para os jovens quanto para os adultos (DIEESE, 2012, p. 128-129).

7 Apesar dos ganhos reais que o salário mínimo vem incorporando nos últimos anos o seu valor ainda situa-se abaixo daquele mínimo necessário para a satisfação das necessidades básicas do trabalhador conforme determina o preceito constitucional.

15

Page 16: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

Conclusões

As noções de juventude como transição para a vida adulta, ou como uma etapa

problemática da vida parecem ter sido superadas diante das limitações destas concepções em

compreender a questão juvenil. A juventude como questão social ganha força a partir do

fenômeno conhecido como onda jovem que eclode em fins do século XX. Neste contexto

surgem as concepções do jovem como sujeito e ator estratégico do desenvolvimento e

também como sujeito de direitos. Esta última supera todas as anteriores, pois nesta, o jovem

não é visto mais de forma negativa e sim como um sujeito em sua integralidade. As atuais

concepções e noções da condição juvenil irão contribuir não apenas para balizar

conceitualmente os estudos e pesquisas nesta temática como também irão subsidiar a

formulação de políticas na perspectiva, como diria Castro (2004), “de/para/com” a juventude.

Diante da crise do emprego no mundo nos anos 80, e no Brasil, nos anos 90 e seguintes,

o aproveitamento do chamado bônus demográfico ficou comprometido resultando no

prolongamento da juventude e consequente no retardamento da passagem para a vida adulta.

Este fenômeno atingiu tanto os jovens abastados, que podiam realizar esta escolha, quanto os

jovens mais pobres, inseridos de forma precária no mercado de trabalho, também tiveram sua

emancipação interrompida.

Apesar de a população jovem ser mais escolarizada que a população adulta muitas são

as dificuldades encontradas pelos jovens para conciliarem trabalho e estudo. O trabalho vem

sempre em primeiro lugar, e diante da inexistência de políticas públicas que garantam uma

transição adequada entre a escola e o mundo do trabalho, esta população se insere neste

mundo de forma frágil e vulnerável resultando em indicadores extremamente precários desta

inserção, como se constatou ao longo deste artigo na análise da população juvenil baiana.

Referências

16

Page 17: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

ABRAMO, Helena Wendel. O uso das noções de adolescência e juventude no contexto

brasileiro. In: FREITAS, Maria Virgínia (Org.). Juventude e adolescência no Brasil:

referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005, p.19-39.

AQUINO Luseni Maria C. de. A Juventude como foco das Políticas Públicas, In CASTRO,

Jorge Abrahão de; AQUINO Luseni Maria C. de; ANDRADE, Carla Coelho de; (org.).

Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: IPEA, 2009, p.23-39.

BORGES, Ângela. Deficits Juvenis ou Deficit de Lugares? O Desemprego e a Ocupação dos

Jovens nos Mercados de Trabalho das Metrópoles do Nordeste e do Sudeste. Revista ABET

vol. VII - n. 2/2008a p.167-188.

________. Os jovens nos anos 1990: desemprego, inclusão tardia e precariedade. In Bahia

Análise & Dados. Políticas sociais: experiências, avaliações e subsídios. Salvador, v.18,

n.1, p.157-170, abr./jun. 2008b.

BOURDIEU, P. A juventude é apenas uma palavra. In: BOURDIEU, P. (Org.). Questões de

Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983, p. 112-12.

Brasil. Senado Federal. Estatuto da Juventude - Redação final do Substitutivo do Senado

ao Projeto de Lei da Câmara nº 98, de 2011 (nº 4.529, de 2004, na Casa de origem).

Comissão Diretora, Parecer Nº 229, 16 de abril de 2013.

CASTRO, Mary Garcia. Políticas públicas por identidades e de ações afirmativas, acessando

gênero e raça na classe, focalizando juventudes. In: NOVAES, Regina; VANUCCI, Paulo.

Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Instituto

Cidadania e Fundação Perseu Abramo, 2004, p. 275-303.

________; ABRAMOVAY, Miriam; DE LEON Alessandro. Juventude: tempo presente ou

tempo futuro? Dilemas em propostas de políticas de juventudes – São Paulo: GIFE –

Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, 2007, 189 p.

DIEESE. Juventude: Diversidades e desafios no mercado de trabalho metropolitano. Estudos

&Pesquisas. São Paulo: DIEESE, nº 11 – setembro de 2005.

_______. Trajetórias da juventude nos mercados de trabalho metropolitanos: mudanças

na inserção entre 1998 e 2007. São Paulo: DIEESE, 2008,108 p.

_______. Os jovens e o trabalho no Brasil. In: A Situação do trabalho no Brasil na

primeira década dos anos 2000. São Paulo: DIEESE, 2012, 233-263.

GUIMARÃES, Nádia Araújo. Trabalho: uma categoria chave no imaginário juvenil? In:

ABRAMO, Helena Wendel e BRANCO, Pedro Paulo Martoni (orgs.). Retratos da

juventude brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005, p. 149-174.

17

Page 18: Juventude e mercado de trabalho na Bahia

RODRIGUES, Flávia Santana; SILVA, Jair Batista da. Juventude, desigualdades e mercado

de trabalho na Bahia. In Bahia Análise & Dados, Juventude: Mercado de Trabalho e

Políticas Públicas. Salvador, v. 21, n. 1, jan./mar. 2011, p. 155-175.

18