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Módulo 1

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Matuto no Cinema

Um causo de Jessier Quirino

E o matuto, rapaiz?...

Anarfabeto de pai e mãe – e parteira!

– e sai do Sertão pra Capital, pra

assisti um fíume istrangeêro

legendado! Quando ele volta pro

Sertão, pois ele nun conta o filme

todinho?

Ma rapai... Eu fui lá na capitá, rapai.

Eu assisti um filme autamente

internacioná! Pense num filme

internaciná? E tem uma coisa: um

filme mafioso! Um filme mafioso! Ói,

tinha dois Atista! Tinha um Atista qui

sufria e o Atista qui sauvava!

Meu cumpade, o Atista Qui Sufria:

pense num cabra corajoso! Rapai, o

caba nun tinha medo de nada não,

rapai! Rapaiz, o bandido, o bandido,

pirigoso que só buchada azeda,

invocado qui só um fiscal de gafieira,

séro qui só um porco mijano, tinha um

dedo da grussura de um cabo de

foimão.

Amarraro o Atista cum imbira. E tem

uma coisa: imbira dos Istado Zunido,

nun tem quem se solte não, rapai!

Amarraro o Atista cum imbira, butaro o

caba sentado, à força, numa cadeira.

Aí, chegou o Bandido. Butou o dedo na

cara do Atista, e disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, nun sei que lá, nun sei o

que lá!

Tá pensano que o Atista teve medo,

rapai? O Atista, amarrado cum imbira,

rapai, teve que uvi tudinho! Mai, muito

do tranquili, olhô pra cara do Bandido

e disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, o quê, mermão?...

Mai rapaiz, esse bandido inchô feito

um cururu no sal, nun sabe? Isfregô o

dedo na cara dele assim... e disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, nun sei que lá, seu fila da

puta!...

E tu tais pensano que o Atista teve

medo? Ô xent!... Amarrado cum

imbira, do jeito qui tava, ficô muito do

tranquili, olhô assim pu bandido e

disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, um carái!...

Mai meu cumpade, esse bandido pegô

um á!... Pense numa pegada de á!...

Ma rapai, foi uma pegada de á tão

muidida do pôico! Aí, puxô uma

chibata feita de virola de pineu de

caminhão, nun sabe? Mais cumprida do

que uma língua de manicure, de-lhe

uma chibatada tão aparentada a um

coice de besta parida, qui ficou escrito

assim, da taba dos quêxo pa o porta-

urelha do individo: F I R E S T O N

E!...

Eu sei qui nessa hora, no mêi dos

bandido, tinha um, qui era do time do

Atista, rapai. Do time da gente, nun

sabe? E ele tava camuflado, feito

rapariga de pastô. Nun tinha quem

discunfiasse, rapaiz. Camuflado lá pur

dênto! E ele tinha um relóge puxado

pá telefone. Aí, ele foi pum pé de

parede, cum o relóge dele, aí, passô o

bizu pra Puliça qui tava lá imbaxo. Ele

pegô o relóge e disse:

- Nun seio que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, nun sei que lá...

Conto tudo à Puliça! A Puliça lá

imbaxo, nos carro, uvino tudinho pelo

rádio! E a puliça dos Istado Zunido nun

se veste de puliça não! Se veste de

adevogado! Aí, a puliça, dento dos

carro, só feiz pegá o rádio e chamá os

carro tudin dos Istado Zunido, rapai!

-- Acunha, acunha, acunha, acunha!...

E todos os carro! Acunha qui o negóço

é séro!... Acunha, acunha, acunha...

Ai, os carro acunharo!... E os carro

acunharo, acunharo... Ói, era mais

carro em cima do préidio, de que

romêro in cima de Pade Ciço!

O préidio, rapai, era um préidio

grande! Tinha... uns dois ou três andá!

Ô era... um Colégio de Frêra, ô era

uma Prefeitura. Eu sei que nun tinha

quem entrasse. Um préidio todo de

vrido, infeitado feito pintiadêra de

rapariga, nun sabe? Aí, a puliça: tome

corda, tome corda, tome corda, tome

corda... Quando a gente pensava qui

era a puliça qui ia subi pu fora do

préidio, pa salvar o Atista, aí veio o

momento mais arripiadô do filme,

rapai!

Foi quando chegô o Atista Principau, o

Atista Salvadô!... E ele vei nun avião

daquele... daquele avião qui tem uma

penêra incima, nun sabe? Aí, o avião

vei... E o avião nun vuava não, era

parado! O avião ficô parado incima da

Prefeitura!

Pela capota de vrido, a gente já via o

Atista: o Atista forte, cum uns peitão,

dois cinturão de bala, uma ispingarda

da grussura de um cano de isgôto,

rapai. Aí, o Atista ficô assim na porta

do avião. Ó o nome do Atista: Arnô

Saginégui!... Agora, nun é desses Arnô

Saginégui do Sertão, qui dá no cu de

todo mundo não! É Arnô Saginégui

importado! Ô é da Chequilováquia, ô é

da Bolívia, tá intendeno?

Eu sei qui o Arnô Saginégui ficô na

porta do avião, aí o chofé do avião

olhô pra ele e disse:

- Acunhe!... Pode pulá!

Aí, ele pulô lá de cima! Pulô lá de cima,

bateu no telhado, furô a laje, bateu

memo no lugá aonde o Atista tava

preso, cum os bandido. Pegô os

bandido tudo disprivinido, cumeno

cuscuz cum leite, rapaiz!

Eu sei qui nessa hora, o Atista pegô a

ispingarda, disse:

- Nun sei que lá, nun sei que lá, nun

sei que lá, nun sei que lá....

Ói, ele matô tudinho!... Aí apariceu mai

bandido. Vixe!... E foi briga de sê

midida a metro! Ele deu um tabefe no

porta-urelha de um caba lá chamado

Mané Capado, qui ele bobuletou uns

dois palmo e caiu no chão, feito uma

jaca mole.

Aí teve um bandido, rapaiz, que omilhô

o Atista, com uma dedada aonde as

costa muda de nome. Meu cumpade,

êsse home, ofendido na região glútia,

virô uma fera! E, entre a rapidez da

dedada e imediatidade do êpa, deu-lhe

um berro nas oiça do sujeito, qui

iscurregô na froxura e caiu sentado!

Nessa hora, meu cumpade, o Atista

partiu pra cima dele, com o gênio de

cento e cinqüenta siri dento duma lata

de querosene, deu-lhe um supapo no

serrote dos dente, que choveu canino,

molar e incisivo por três dia no Sítio

Boca Funda!

Ai, nessa hora, meu cumpade, o

Bandido Principal saiu nun derrapo de

velocidade! Aí, o Atista deu-lhe um

chuvaréu de bala, meu cumpade, qui a

gente teve que se abaixar dentro do

cinema! Aquelas letrinha qui passa lá

no filme... Ele derrubô umas cento e

quarenta! E eu ainda peguei umas

quatro. Tá aqui, pra você vê!...

Variação Linguística:

Como falante do português, você já deve ter percebido

situações em que a língua é usada de forma bastante diferente

daquela que você se habituou a ouvir nos meios de comunicação

ou em outros espaços de convivência. Essa diferença pode

manifestar-se no vocabulário utilizado, na pronúncia, na estrutura

de palavras e de frases.

A variação lingüística é natural e decore do fato de que as línguas

são sistemas dinâmicos e extremamente sensíveis a fatores como a região

geográfica, o sexo, a idade a classe social dos falantes e o grau de

formalidade do contexto.

Variação Linguística: é cada um dos sistemas em que uma

língua se diversifica, em função das possibilidades de variação de

seus elementos( vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe).

Norma Culta: é a denominação dada à uma das variedades

lingüísticas, está é usada para reger a escrita e a fala em situações

mais formais em que se exige do interlocutor um certo grau de

formalismo.

Embora essa variação seja natural, os falantes de uma

comunidade lingüística têm, em geral, a expectativa de que todas

as pessoas falem de uma mesma maneira. Essa expectativa,

socialmente definida e difundida, pressupõe uma forma “correta”

de uso da língua, o que implica a existência de formas “erradas”.

Está é a base do preconceito lingüístico.

Preconceito Linguístico:é o julgamento negativo que é feito

dos falantes em função da variedade que utilizam.

Os estudos de variações lingüísticas registram pelo menos

seis dimensões de variação dialetal: a territorial, a social, a de

idade, a de sexo, a de geração e a de função.

Os dialetos na dimensão territorial, geográfica ou

regional representam a variação que acontece entre

pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma

língua.

Os dialetos na dimensão social representam as variações

que ocorrem de acordo com a classe social a que

pertencem os usuários da língua, isso porque há uma

“tendência para maior semelhança entre os dois atos

verbais dos membros de um mesmo setor sócio-cultural

da comunidade” (Camacho, 1988:32).

Os dialetos na dimensão de idade representam as

variações decorrentes da diferença no modo de usar a

língua de pessoas de idades diferentes, normalmente

em faixa etárias diversas.

Os dialetos de dimensão do sexo representam as

variações de acordo como sexo de quem fala. Algumas

diferenças são determinadas por razões gramaticais,

como certos fatos de concordância, assim, por exemplo,

um homem não diria a frase: Estou tão preocupada com

a festa.

Os dialetos na dimensão da geração representam

estágios no desenvolvimento da língua. Alguns

estudiosos preferem falar em variações históricas. As

variantes históricas dificilmente coexistem e são mais

percebidas na língua escrita.

Os dialetos na dimensão da função representam as

variações na língua decorrente da função que o falante

desempenha. Um exemplo dessa variação seria o plural

majestático, em que governantes ou altas autoridades

expressam seus desejos ou intenções com o pronome

“nós”, sinalizando sua posição de representantes do

povo.

A língua escrita e a oral apresentam cada uma um conjunto

próprio de variedades de grau de formalismo. As variedades de

grau formalismo da língua apresentam uma tendência para

maior regularidade e geralmente maior formalidade que as

línguas faladas, todavia importa lembrar que em cada caso existe

uma mesma relação entre os níveis de grau de formalismo

proposto para a língua falada e para a escrita. É necessário

lembrar que sempre que não é válida a distinção

freqüentemente encontramos enunciada por professores de que

a língua falada seria informal e a escrita formal. Isso não é

verdadeiro. Podemos ter textos altamente formais na língua

falada e textos totalmente informais na língua escrita.

Atividade

1)Identifique nas charges abaixo os tipos de variações lingüísticas

que você estudou e justifique sua resposta.

2)Discuta com seus colegas a respeito da linguagem utilizada nas

charges.

MÃE DE QUEM Comunicar é compreender Certo administrador recebeu o seguinte e-mail: “A galera do Prezinho dos macacos ta afins de armar 1 bonde pru sessebe.Quinze cabeças nessa 6ª é de+?”

Depois de muito penar, ele descobriu o significado da mensagem e respondeu: “Contestando seu pleito supra, reitero que o equipamento cultural comporta a audiência presumida para a eferméride.Fica o consentimento pendente da recíproca ratificação.”

[...]

Cá entre nós, dê a sua opinião:

a)Como o administrador fez para compreender o e-mail recebido? b) Por que ele respondeu daquele jeito? c) Os jovens foram ao CCBB naquela sexta-feira?

Pensando bem, o que essa correspondência fictícia revela é que, mesmo que os dois interlocutores tenham usado a língua portuguesa no diálogo, abriu-se um abismo entre seus modos de comunicação. E quem não se comunica... se estrumbica. Na gíria adolescente “estrumbicar” significa “se dar mal”. A palavra foi inventada por Abelardo Barbosa, o chacrinha, apresentador de televisão dos anos setenta. Para o empreendedor, a boa comunicação é a base da sua capacidade de negociação. Dê uma espiada na lista a seguir e depois confira de novo aquela troca inicial de e-mails. Faltou o que mesmo Preparação – Antes de começar a falar ou

escrever, dê uma conferida: tenho uma idéia clara? Qual é a mensagem principal que quero passar? Objetividade e Clareza – Seja objetivo e claro: procure ir direto aos pontos principais. Quando começar, tenha calma e procure o tom e a linguagem mais adequados (a quem vai receber a comunicação). Domínio – Demonstre que tem conhecimento do assunto, que buscou informações atualizadas. Escuta – Ouça com atenção a resposta a sua mensagem. Procure aprender com as críticas, notícias desagradáveis, ou idéias diferentes das suas. Interesses – Demonstre que seu interlocutor é importante, peça detalhes para entender melhor e mostre que está atento. Atenção – Observe a reação do interlocutor e, se precisar, corrija sua comunicação na mesma hora. Confirmação – Verifique se está sendo entendida, peça o retorno (perguntas ajudam, a saber, se você foi compreendido). Artigo retirado da revista “Empreendedorismo idéia+” da Coleção “Competências Transversais”, SENAI

Atividade:

1)Faça a interpretação dos dois e-mails acima de forma que fiquem claros e interpretáveis para os interlocutores. Leve em consideração o contexto.

2)Defina e dê exemplos de gírias que são muito

utilizadas pelos jovens na atualidade.

3)Você percebe diferença entre a linguagem dos

jovens e dos adultos? E entre a linguagem das meninas e dos

meninos. Explique o porquê dessa diferença e comprove

com exemplos.

Trabalhando a Variação linguística

Escolha uma das variações lingüísticas estudadas anteriormente e

produza em dupla um diálogo para ser apresentado para toda

turma.

Exercícios:

1)Escrever:

a- Para um colega, pedindo que entregue seu trabalho de

português ao professor, já que você viajou para fazer um

concurso em outra cidade:

b- Ao professor de historia justificando sua falta à aula do dia x.

Já que você viajou para fazer um concurso e neste dia haverá

uma prova;

c- à diretora do colégio, explicando que você falará à sua aula por

uma semana porque viajou para fazer um concurso em outra

cidade e pendido-lhe que comunique o fato aos demais

professores.

Como você falaria as mesmas coisas com cada uma das pessoas

acima?

2)Descreva o desabrochar de uma flor, ou pôr-do-sol, ou as fases

da lua:

a- Como cientista;

b- Como poeta;

3)Escolher uma casa que exista na comunidade e seja conhecida

por todos ou uma casa que apareça em uma revista de

arquitetura com plantas e fotos da casa pronta e pedir aos

alunos que façam um texto sobre esta casa:

a - Como se fosse um arquiteto para seu cliente, descrevendo a

casa que ele projetou para o mesmo.

b- Como se fosse um ladrão dizendo para seus comparsas como

é a casa, tentando convencê-lo a roubar a casa;

c- Como se fosse noivo dizendo para sua noiva como é a casa que

ele pretende comprar para os dois morarem após o seu

casamento;

d- Como se fosse um corretor de imóveis, tentando convencer

um cliente a comprar a casa.

4) Diga de uma maneira mais educada ou gentil, que mostre mais

consideração da sua parte para com a pessoa a quem você se

dirige:

a- Você é um animal!

b- Sai da minha frente!

c- Anda logo, sua pamonha!

d- Desembucha logo!

5) Procure o maior número de palavras e expressões que são

usadas pelas pessoas para dizer que alguém roubou algo e

palavras e expressões usadas para se referir a quem rouba.

Escreva frases com estas palavras ou expressões que possam ser

consideradas pequenos textos. Discuta com seus colegas

quando, em que tipo de situação e/ou por que tipo de pessoas

cada uma das palavras e expressões é utilizada.

Mãos à Obra!

Faça uma entrevista com pessoas da família, em especial

pessoas mais velhas ou alguém conhecido que tenha vindo de

outra região, com vista a uma análise das variações linguísticas

que você já conhece. Seria bom que essa entrevista fosse gravada.

Você poderá usar o celular, aparelho de MP3/MP4 ou outros

equipamentos de que dispuser.É interessante também gravar uma

conversa com alguém que não tenha frequentado a escola, que

conviva com pessoas de nível cultural distinto e que possua

profissões também diferenciadas.

Faça um comentário crítico, colocando além das perguntas e

respostas obtidas, um fichamento contendo as impressões que

você teve com as respostas do questionário, da seguinte maneira:

ENTREVISTA - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

*Nome do entrevistado:

*Ida de:

*Sexo:

*Naturalidade:

*Onde vive atualmente:

*Escolaridade:

*Profissão:

Perguntas ao entrevistado:

1) Você consegue mencionar alguma expressão da língua que é

típica do lugar onde você mora?

2) Você já foi criticado alguma vez por falar/escrever alguma

palavra errada? Lembra-se qual foi o erro cometido?

3) Você costuma corrigir as pessoas quando as ouve dizer/escrever

algumas coisa "errada"?

Conclusões do entrevistador:

Com a entrevista você descobriu alguma palavra que não faz parte

do seu vocabulário do dia-a-dia? Qual? A que tipo de variação

você atribui essa palavra:sociocultural, idade, sexo, geográfica,

profissional, etc.

Produzindo:

Produza um texto incorporando os novos conhecimentos

adquiridos com a sequência de aulas. O texto deve obedecer a

estrutura de um relato, em que você poderá falar sobre a

experiência de ter feito uma entrevista, sobre a conclusão a que

chegou em relação as variedades lingüísticas e ao preconceito

diante das várias formas de expressão da língua.

Trabalhando o gênero:

“O importante da educação não é apenas formar um mercado

de trabalho, mas formar uma nação, com gente capaz de

pensar”.

(José Arthur Giannotti)

Referências:

ABAURRE,Maria Luiza M. Gramática: texto:análise e construção

de sentido.São Paulo:Moderna, 2006

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o

ensino de gramática.13.ed.São Paulo:Cortez,2009.

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