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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS ARTHUR EMYLIO FRANÇA DE MELO A ADMISSIBILIDADE DA PSICOGRAFIA COMO PROVA JUDICIAL NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO PALMAS 2007

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

ARTHUR EMYLIO FRANÇA DE MELO

A ADMISSIBILIDADE DA PSICOGRAFIA COMO PROVA JUDICIAL NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

PALMAS 2007

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ARTHUR EMYLIO FRANÇA DE MELO

A ADMISSIBILIDADE DA PSICOGRAFIA COMO PROVA JUDICIAL NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

Monografia apresentada à Coordenação de Monografia do Curso de Direito da Fundação Universidade Federal do Tocantins como exigência parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação da Professora Maria do Carmo Cota.

PALMAS

2007

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Dedico este trabalho a Rosana Adorno Xavier e a Lucas Adorno França pela compreensão e apoio nos momentos difíceis.

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Agradeço, A Jesus, nosso exemplo maior; A minha esposa Rosana pela dedicação e apoio nesta caminhada; Ao meu filho Lucas pelo estímulo; A minha estimada professora orientadora Maria do Carmo Cota pela atenção, paciência e confiança dispensadas; A colega Áurea Maria Barbosa e a Beatriz Barbosa Cordeiro pelo incentivo e apoio pedagógico. As amigas Su e Danielle pela atenção dispensadas.

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RESUMO

O presente trabalho visa ao procedimento de um exame doutrinário da bibliografia jurídica, científica e espírita, objetivando o levantamento de questões técnicas e de acontecimentos práticos onde foi admitido material psicografado como meio de prova em processos judiciais e analisar a viabilidade da utilização da psicografia como prova judicial no direito processual penal brasileiro.

Palavras-chave: Admissibilidade – Psicografia – Prova - Direito Processual Penal.

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ABSTRACT The present work aims at the procedure of a doctrinal exame of the juridical, scientific and spiritist bibliography, objectifying the rising of techniques subjects and a practical events where it was admitted psychographied material as evidence in lawsuits and to analyze the viability of the use of the psichography as judicial evidences in the Brazilian penal processual right.

Keywords: Admitted – Psichography – Evidences - Brazilian Penal Processual

Right

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………… 08 1 A VERDADE.................................................................................................. 11 1.1 A Verdade no Direito................................................................................. 13 2 A PROVA....................................................................................................... 15 2.1 A prova no Direito..................................................................................... 15 2.1.1 Introdução................................................................................................ 15 2.1.2 Conceito de prova................................................................................... 16 2.1.3 Ônus da prova......................................................................................... 17 2.1.4 Preparação.............................................................................................. 17 2.1.5 Elemento da prova.................................................................................. 17 2.1.6 Meio de prova.......................................................................................... 18 2.1.7 Momentos da prova.................................................................................. 20 2.1.8 Presunções, indícios e máximas de experiência .................................... 20 2.1.9 A apreciação ou valoração da prova....................................................... 23 2.1.10 O juiz perante a prova .......................................................................... 25 2.1.11 Objeto da prova..................................................................................... 25 2.1.12 Princípios da prova................................................................................ 26 2.1.13 Prova emprestada ................................................................................. 26 3 A LIBERDADE DA PROVA .......................................................................... 28 3.1 Provas ilícitas e provas ilegítimas........................................................... 29 4 DOCUMENTOS............................................................................................. 32 5 O PAPEL DA CIENCIA EM RELAÇÃO A PROVA....................................... 33 5.1 Perícias...................................................................................................... 36 6 A PSICOGRAFIA.......................................................................................... 38 6.1 Histórico da psicografia........................................................................... 38 6.2 Conceito e classificação.......................................................................... 50 6.3 A psicografia no Direito – meio de prova............................................... 52 6.3.1 Juristas dizem porque a psicografia não pode ser aceita....................... 53 6.3.2 Juristas dizem porque a psicografia pode ser aceita............................... 56 6.3.3 Casos de aceitabilidade da psicografia por Tribunais no Brasil.............. 58 CONCLUSÃO................................................................................................... 61 REFERENCIAS................................................................................................ 63 ANEXOS........................................................................................................... 67

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MELO, Arthur Emylio França A Admissibilidade da Psicografia como prova judicial no Direito Processual

Penal brasileiro / Arthur Emylio França de Melo – Palmas, 2007. 66 páginas. Monografia (TCC) – Universidade Federal do Tocantins, Curso de Direito,

2007. Orientadora: Professora Maria do Carmo Cota 1.Admissibilidade. 2. Psicografia. 3. Prova. 4.Direito Processual Penal. I. Título

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INTRODUÇÃO

De nada adianta o direito em tese ser favorável a alguém se não consegue demonstrar que se encontra numa situação que permite a incidência da norma. Aliás, no plano prático é mais importante para a atividade das partes a demonstração dos fatos do que a interpretação do direito, porque esta ao juiz compete, ao passo que os fatos a ele devem ser trazidos.( GRECO FILHO, 1997, p.196)

Com esta declaração o professor Vicente Greco Filho, inicia a sua

explanação sobre um dos elementos primordiais para compor o convencimento do

juiz, a prova. O renomado autor conceitua a prova como sendo todo meio destinado

a convencer o juiz a respeito da verdade de uma situação de fato, ou seja, seu

objetivo é buscar a convicção do magistrado. Para que isto ocorra, a parte deve

valer-se de meios juridicamente possíveis e previstos na legislação.

A Constituição Federal, consoante com este pensamento, em seu

artigo 5º declara que: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Muito se tem falado, publicado e estudado sobre a comunicação entre

os “vivos” e os “mortos” e grande parte da população acredita nesta hipótese,

mesmo sem levar em consideração a crença religiosa.

Para os praticantes da doutrina Espírita e Afro-brasileira este

intercambio é tido como verdade absoluta.

Uma das formas utilizadas para a comunicação entre os dois planos da

vida é o da psicografia, descrita como sendo a escrita dos Espíritos pela mão do

médium. (FERREIRA, 1988).

O direito deve refletir o momento e o modus vivendi, da sociedade da

época e a própria coletividade pede que o mundo jurídico se manifeste de forma

técnica e sem preconceitos.

O presente tema será desenvolvido sob o ângulo jurídico e de forma

alguma enfocará o ponto de vista religioso, pois o Estado brasileiro é laico e

nenhuma religião, portanto, pode exercer pressão ideológica junto aos cidadãos.

A separação entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica Apostólica

Romana ocorreu no início da república.

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Segundo o professor Ricardo Mariano, da PUC-RS (1999): A separação praticamente põe uma pá de cal sobre as pretensões dos grupos religiosos em impor suas normas ao conjunto da sociedade. Mais que isso, a secularização do aparato jurídico-político, além de tornar o direito a um só tempo autônomo e supremo em relação às outras formas de ordens normativas, relativiza, relega a segundo plano e, em grande parte, desqualifica as outras fontes de normatividade, haja vista que a dominação racional-legal do Estado moderno submete os grupos religiosos ao império da lei, domínio secular ao qual todos os agentes sociais, incluindo os dirigentes da burocracia e dos poderes estatais, devem se subordinar.

Esta separação ocorreu com a edição do Decreto nº. 119-A. de 17 de

janeiro de 1890 sendo recepcionado pela Constituição Federal de 1988, que em seu

artigo 19 assim leciona: Artigo 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.

Desde os tempos remotos tem–se informação de comunicação entre

Espíritos e entes ainda vivos.

Os discípulos de Sócrates referem-se, com admiração e respeito, ao

amigo invisível que o acompanhava constantemente. Naquela época, aliada à

prática pura e simples de evocar os mortos, havia um verdadeiro comércio com os

adivinhadores, associadas às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas até

de sacrifícios humanos. ( BARCELLOS, 1991).

Estes excessos levaram Moisés a condenar este intercambio.

A realidade nos dias atuais é outra, muitas famílias procuram os

centros espíritas em busca de consolo devido a perda de um ente querido. Eles

gostariam que o ser amado voltasse a eles pelas páginas psicografadas.

Estas cartas trazem, algumas vezes, não só o conforto de receber

notícias da pessoa adorada, mas também detalhes e revelações que podem

repercutir no meio jurídico por apresentarem fatos novos ou confirmar teses sobre os

delitos penais advindos de sua “morte”.

O professor Tourinho Filho (2000, p. 221) inicia sua explanação sobre a

prova com a seguinte indagação: o que se entende por prova? Essa indagação

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constitui a primeira dificuldade para aquele que aborda o tormentoso problema das

provas judiciais.

É sabido, diz Brichetti, que a finalidade do Direito Processual, em geral,

e do Direito Processual Penal, em particular, é reconhecer e estabelecer uma

verdade jurídica. (apud, TOURINHO FILHO 2000).

Considerando que o Direito Penal guarda a tutela dos bens jurídicos de

grande relevância, como a vida e a liberdade, há a exigência - no processo penal -

da busca pela verdade real; sujeitando - se, segundo Kátia de Souza Moura (2006),

”inclusive ao aparecimento de novas possibilidades de meios que traduzem a

dinâmica do tema”.

A psicografia é colocada pela autora como uma dessas novas

possibilidades que poderão ser utilizadas como prova nos meios jurídicos.

O material psicografado esta presente nas diversas livrarias do território

nacional, sendo um dos segmentos literários que mais cresce no Brasil; segundo

levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros com

freqüentadores da Bienal do Rio de Janeiro, em 2001, os livros espíritas foram a

segunda categoria mais procurada, atrás somente dos romances.

Na comunidade jurídica ainda é um tema polêmico.

Ainda que desde a década de 70 as cartas psicografadas estejam

sendo utilizadas por advogados como forma de provar a inocência de seus clientes

em processos penais.

O professor Roberto Serra da Silva Maia (2006) da Universidade

Católica de Goiás alega a inadmissibilidade deste meio de prova; já o professor de

Direito Processual Penal Ismar Estulano Garcia (2006) admite sua utilização.

Estes dois mestres refletem o pensamento da comunidade jurídica

brasileira, suscitando o seguinte questionamento: A psicografia pode ser admitida

como prova judicial no Direito Processual Penal?

A presente monografia visa ao procedimento de um exame doutrinário

da bibliografia jurídica, científica e espírita, objetivando o levantamento de questões

técnicas e de acontecimentos práticos onde foi admitido material psicografado como

meio de prova em processos judiciais e analisar a viabilidade da utilização da

psicografia como prova judicial no direito processual penal brasileiro.

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1 A VERDADE

O termo verdade significa conformidade com o real; exatidão,

realidade. (FERREIRA, 1988).

Hilton Japiassu na obra “Questôes Epistemiológicas” , citado por Leda

Miranda Huhne (1988, p. 32) diz que: Do ponto de vista epistemiológico, nenhum ramo do saber possui a verdade. Esta não se deixa aprisionar por nenhuma construção intelectual. Uma verdade possuída não passa de um mito, de uma ilusão ou de um saber mumificado (...). Ao invés de vivermos das evidências e das teorias certas como se fôssemos proprietários da verdade. Porque somos pesquisadores, e não seus defensores. A este respeito torna-se imprescindível uma opção crítica. Esta só pode surgir da incerteza das teoria estudadas . Se estas fossem certas não haveria possibilidade de se fazer uma opção. Por isso creio ser um atentado contra o processo de maturação intelectual toda tentativa de ministrar ou transmitir ‘a’ verdade. O que precisamos fazer é relativisar as produções intelectuais e os produtores de conhecimento. Vejo como algo extremamente saudável, fonte de saúde mental e intelectual, os gosto amargo das incertezas e a dor íntima do desamparo face a posturas intelectuais relativizadas, incapazes de se ampararem em parâmetros absolutos.

O mesmo autor na referida obra diz que “no mundo plural em que

vivemos não existe a verdade, mas verdades sempre produzidas e elaboradas

dentro desse contexto”. (1988, p. 29).

Este pensamento mostra que o mundo não é imóvel, há necessidade

de conhecimento para se chegar ao que mais se aproxima da verdade.

Segundo o filósofo Francisco Antonio Garcia (2001) há três concepções

diferentes, advindas das línguas grega, latina e hebraica sobre o que seria a

verdade. Em grego, verdade tem o significado de aletheia, o mesmo que não-oculto, não - escondido; dessa forma, é aquilo que se manifesta aos olhos do corpo e do Espírito. Em latim, verdade se diz veritas, que se refere à precisão, ou seja, relaciona-se ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz, com detalhes, com pormenores e com fidelidade, o ocorrido. Em hebraico, verdade se diz emunah, e significa confiança, a verdade é uma crença com raiz na esperança e na confiança, relacionadas ao futuro, ao que será ou ao que virá. Sua forma mais elevada é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.

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Leciona o mesmo educador, que as concepções filosóficas sobre a

natureza do conhecimento verdadeiro dependerão de qual das três idéias originais

da verdade é a predominante.

Se predominar a aletheia considera-se que a verdade está na

evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade tal como é em si mesma,

alcançada pelas operações de nossa razão ou de nosso intelecto.

Caso haja o predomínio do latim veritas, considera-se que a verdade

depende do rigor e da precisão.

Quando predomina a emunah, considera-se que a verdade depende de

um acordo ou de um pacto de confiança entre os pesquisadores, que definem um

conjunto de convenções universais sobre o conhecimento verdadeiro, que deve

ser respeitado por todos.

Não é suficiente que nossos juízos sejam verdadeiros, há necessidade

da certeza de que o são. Para saber se são verdadeiros ou falsos entra a questão

do critério de verdade.

Segundo Francisco Antonio Garcia (2001 apud HESSEN, 1980) se não

houver contradição é um critério de verdade, mas válido somente para uma classe

determinada de conhecimento, que ele define como a esfera das ciências formais ou

ideais. Mas quando se trata de objetos reais ou de consciência esse critério

fracassa. Ele propõe se detenha nos dados da consciência.

Jupiassu (1996, p. 269) em seu dicionário nos ensina que há várias

teorias para explicar a verdade.

Segundo a teoria consensual, a verdade resulta do acordo ou do

consenso dos indivíduos de uma determinada comunidade ou cultura quanto ao que

consideram aceitável ou justificável em sua maneira de encarar o real e não se a

partir da correspondência entre o juízo e o real.

Já na teoria da coerência, a verdade é considerada em um juízo ou

proposição como resultando de sua coerência com um sistema de crenças ou

verdades anteriormente estabelecidas, não havendo assim contradição dentro do

sistema, sendo o critério de verdade interno a um sistema ou teoria determinada.

Seguindo esta teoria Bradley (1893) diz que aquilo que é contraditório

não pode ser real; isso o levava a admitir que verdade é a coerência perfeita.

(ABBAGNANO, 2000, p.998).

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Na teoria pragmática, verdade de uma proposição se estabelece a

partir de seus resultados, de sua verificação pela experiência.

Na mesma obra o autor conceitua aquelas verdades evidentes e

indemonstráveis como verdades primeiras, é caso de dizer que “o todo é maior que

as partes’’, não há necessidade de demonstração porque é uma verdade

inquestionável. (Jupiassu, 1996, p. 269).

Os autores clássicos também se preocuparam com este tema. Platão

diz que “ao tomar como fundamento o conceito que considero mais sólido, tudo o

que me pareça estar de acordo com ele será por mim posto como verdadeiro, quer

se trate de causas, quer se trate de outras coisas existentes; o que não me pareça

de acordo com ele será por mim posto como não verdadeiro”. (ABBAGNANO, 2000,

p. 997).

Aristóteles dizia: “a medida da verdade é o ser ou a coisa, não o

pensamento ou o discurso; de modo que uma coisa não é branca porque se afirme

com verdade que ela assim é, mas afirma-se com verdade que ela é branca porque

é.” (ABBAGNANO, 2000, p. 994).

Santo Agostinho segue o mesmo raciocínio ao afirmar que acima de

nossa mente há uma lei chamada verdade. (ABBAGNANO, 2000, p. 997).

1.1 A Verdade no Direito

No mundo jurídico também há busca da verdade, princípio

importantíssimo do Direito Processo Penal.

Segundo o Prestigiado Professor Fernando da Costa Tourinho Filho

(1999. p. 40) na obra Processo Penal - Volume I O Processo Penal é regido por uma série de princípios e regras que outra coisa não representam senão postulados fundamentais, da política processual penal de um Estado, e que informam o conteúdo das normas que regem o processo em seu conjunto", dizendo respeito, pois, ao seu conteúdo material, aos poderes jurídicos de seus sujeitos e à sua finalidade imediata. (...). Podemos salientar que, dentre os princípios e regras excogitadas nas diversas classificações, destacam-se o da verdade real, o da imparcialidade do Juiz, o da igualdade das partes, o do livre convencimento, o da publicidade, o do contraditório, o da iniciativa das partes (...).

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O Princípio da Verdade Real diz que no processo se busca a verdade.

A reprodução dos fatos deve ser como realmente aconteceu. O processo é o

instrumento de apreciação da verdade. O Processo Penal deve averiguar e

descobrir a verdade real ou verdade material, como fundamento da sentença.

No Processo Civil há a figura da Verdade formal ou convencional que

seria um acordo surgido das manifestações formuladas pelas partes, o qual exclui

no todo ou em parte a verdade real.

Nesta linha de raciocínio, leciona o Mestre Fernando Costa Tourinho

Filho (1999, p. 41). Enquanto o Juiz não penal deve satisfazer-se com a verdade formal ou convencional que surja das manifestações formuladas pelas partes, e a sua indagação deve circunscrever-se aos fatos por elas debatidos, no Processo Penal o Juiz tem o dever de investigar a verdade real, procurar saber como os fatos se passaram na realidade, quem realmente praticou a infração e em que condições a perpetrou, para dar base certa à justiça. No Processo Penal, há motivos peremptórios para sair da órbita de uma verdade subjetivamente limitada e dar à investigação a maior amplitude e a maior profundidade possível.

Nesta busca pela verdade a obra MANUAL DE PROCESSO PENAL

do professor Vicente Greco Filho (1997 p. 75) esclarece que: é princípio do processo penal, que interfere na garantia da ampla defesa, a aferição, pelo juiz, da verdade real, e não apenas da que formalmente é apresentada pelas partes no processo. O poder inquisitivo do juiz na produção das provas permite-lhe ultrapassar a descrição dos fatos como aparecem no processo, para determinar a realização ex offcio de provas que tendam à verificação da verdade real, do que ocorreu, efetivamente, no mundo da natureza. Essa faculdade faz com que o juiz exerça, inclusive sobre a defesa, uma forma de fiscalização de sua eficiência, podendo destituir o advogado inerte ou determinar as provas para descoberta da verdade, ainda que sem requerimento do réu. No processo penal, o conteúdo da sentença deve, o mais possível, aproximar-se da verdade da experiência.

As partes devem procurar demonstrar a verdade usando todos os

meios possíveis e aceitos em lei; Este confronto de alegações visa levar a

verificação dos fatos que mais se aproximem da verdade real, que é o objetivo do

processo.

Levando em conta tudo que foi apresentado pelos litigantes e usando o

seu cabedal de conhecimentos e experiências pessoais o juiz formará seu livre

convencimento.

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2 A PROVA

Segundo o Dicionário Aurélio Básico (1988) a palavra prova pode ser

conceituado em 19 formas, sendo que para este estudo pode-se usar: 1.Aquilo que atesta a veracidade ou a autenticidade de alguma coisa; demonstração evidente. 2. Ato que atesta ou garante uma intenção, um sentimento; testemunho, garantia. [...] 15. Dir. Jud. Civ. e Pen. Atividade realizada no processo com o fim de ministrar ao órgão judicial os elementos de convicção necessários ao julgamento. 16. Dir. Jud. Civ. e Pen. O resultado dessa atividade. 17. Dir. Jud. Civ. e Pen. Cada um dos meios empregados para formar a convicção do julgador. 18. Filos. O que leva à admissão de uma afirmação ou da realidade de um fato [...] (destaques originais) (FERREIRA, 1988, p. 535).

No entendimento de Teixeira Filho (1983, p.22), o vocábulo prova, é

originário do latim “proba”; denota tudo o que demonstra a veracidade de uma

proposição ou a realidade de um fato.

Jupiassu (1996, p. 224) em seu Dicionário de Filosofia descreve a

prova em sentido lógico como a demonstração da validade de uma proposição, de

acordo com determinados princípios lógicos e regras dedutivas.

Relata o mestre que ela também pode ser conceituada como uma

argumentação que nos leva a reconhecer ou a aceitar a verdade de uma proposição.

(Jupiassu,1996, p. 224)

O filósofo Nicola Abbagnano em seu Dicionário de Filosofia (2000, p.

805) define prova como o “procedimento apto a estabelecer um saber, isto é, um

conhecimento válido”.

Constituindo prova todo procedimento deste gênero, qualquer que seja

sua natureza: mostrar uma coisa ou um fato, exibir um documento, dar testemunho,

efetuar uma indução.

Kátia Souza Moura (2006) afirma que “provar é demonstrar

irrefutavelmente a verdade do fato argüido, considerando-se, todavia, as

observações restritivas lançadas sobre o vocábulo verdade”.

2.1 A Prova no Direito

2.1.1 Introdução

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Ao declarar a procedência ou improcedência de um pedido, o

magistrado deverá levar em consideração o direito e o fato.

O juiz na sentença usa o raciocínio silogístico, ou seja, utiliza o

raciocínio formado por três proposições: a premissa maior, a premissa menor e a

conclusão. (GRECO FILHO, 1997).

Para o autor “a premissa maior é a norma jurídica, norma geral de

conduta; a premissa menor é a situação de fato concreta; a conclusão é a decisão

de procedência ou improcedência do pedido”.

Para que haja a interpretação do direito é necessário que uma situação

de fato seja trazida ao juiz.

2.1.2 Conceito de prova

Segundo o professor Tourinho Filho (2000 p. 221) na obra Processo

Penal “A palavra prova significa, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes

ou pelo próprio Juiz, visando a estabelecer, dentro do processo, a existência de

certos fatos.”

O mesmo autor faz uma diferenciação no sentido que a palavra é

empregada. Às vezes ela é empregada com o sentido de ação de provar. Para ele

significa fazer conhecer a outros uma verdade conhecida por nós. Ou seja, nós a

conhecemos; os outros não”.( TOURINHO FILHO, 2000).

José Frederico Marques (1997, v. II, p. 253.), considera que: a demonstração dos fatos em que assenta a acusação e daquilo que o réu alega em sua defesa é o que constitui a prova. [...] A prova é, assim, elemento instrumental para que as partes influam na convicção do juiz e o meio de que este se serve para a averiguar sobre os fatos em que as partes fundamentam suas alegações.

No processo, a prova é todo meio dedicado a persuadir o juiz a respeito

da verdade de uma situação de fato. (GRECO FILHO, 1997).

Segundo Rosemiro Pereira Leal na obra Teoria Geral do Processo

(2004, p 181-182) “o instituto jurídico da prova é constituído da articulação entre as

categorias do elemento de prova, meio de prova e do instrumento de prova, que são

os aspectos de sua configuração teórica”.

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Ensina o jurista que caso no momento da produção da prova não

ocorram essas categorias ela não estará configurada no sentido jurídico –

processual, pois a prova resulta do concurso destas.

Para Jorge de Figueiredo Dias (2004, v. I, p. 197) A legalidade dos meios de prova, bem como as regras gerais de produção da prova [...] são condições de validade processual da prova e, por isso mesmo, critérios da própria verdade material.

2.1.3 Ônus da prova

O artigo 156 do Código de Processo Penal, diz que a prova da alegação incumbirá a quem a

fizer.

O Juiz poderá no curso da instrução determinar de ofício a produção de qualquer prova sobre o

ponto relevante para a decisão da causa. Ou seja, a prova incumbe ao autor da tese que deve ser provada.

(GRECO FILHO, 1997).

Cumpre àquele que faz uma afirmação em Juízo prová-la. Cabe ao autor da ação (Ministério

Público ou Particular) provar a existência do fato e a autoria e ao réu cabe provar qualquer circunstância

impeditiva a pretensão do autor. (GRECO FILHO, 1997).

2.1.4 Preparação

Quanto à preparação, as provas podem ser casuais ou simples e pré-

constituídas, sendo estas as previamente criadas com a finalidade probatória em

futura demanda hipotética. (GRECO FILHO, 1997).

2.1.5 Elemento da prova

O elemento de prova refere-se aos dados da realidade objetiva,

existentes na dimensão do espaço, concernente ao ato, fato, coisa ou pessoa, tal

como um cadáver ou um elemento qualquer existente na faticidade, (LEAL, 2004, p.

178.).

Por si só ele não é prova; há necessidade de ser obtido por meio de

prova lícita e legal e que haja sua fixação nos autos do processo pelo instrumento da

prova.

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São elementos de prova todos os fatos ou circunstâncias em que

assenta o convencimento do Juiz.

Manzini diz que provas podem ser classificadas em diretas (quando se

referem ao próprio fato) ou indiretas quando se referem a outro, mas que, por ilação,

levam ao fato probando. (apud, TOURINHO FILHO 2000).

Leal (2004, p. 178.) explica como colocar o elemento de prova nos

autos do processo para que os elementos obtidos sejam materializados: Pelo instituto da perícia judicial que, como meio de prova autorizado em lei, há de se fazer, através de perito, pela coleta intelectiva de elementos de prova existentes na realidade objetiva, sendo que o laudo é o instrumento (documento) expositivo do trabalho realizado.

2.1.6 Meio de prova

Meio de prova é tudo que pode ser usado, direta ou indiretamente, à

verificação da verdade que se procura no processo. (Tourinho Filho, 2000).

A apresentação dos elementos necessários à comprovação das

alegações lançadas pelas partes dá-se através de certos meios, adequados,

apropriados e idôneos para a formação da convicção do julgador. São os chamados

meios de prova. (GRECO FILHO, 1997).

Eles são os instrumentos que trazem os elementos de prova aos autos.

É a categoria que disciplina a obtenção dos elementos de prova.

São exemplos de meio de prova no processo penal brasileiro o

Interrogatório (artigo 185 ao 196, alterados pela Lei n.º 10.792/03), a

Acareação(artigo. 229 e 230), o Depoimento do Ofendido ( artigo 201), o depoimento

das Testemunhas (artigos 202 ao 225), a Perícia (artigo. 158 ao 184), o

Reconhecimento de Pessoas e Coisas (artigo 226 a 228), e a Busca e Apreensão

(artigo 240 ao 250 do CPP). (GRECO FILHO, 1997). Além desses meios chamados legais outros meios também são admissíveis, mas devem

respeitar os valores da pessoa humana e a racionalidade. (GRECO FILHO, 1997).

A busca sem limites pela verdade há de ser contida pelos limites dos

meios de obtenção da prova legalmente permitidos.

Mesmo que se tenha uma certeza inegável, esta não autoriza por si só

a obtenção de prova contra a lei. Isto é um preceito constitucional para defesa da

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democracia contra a arbitrariedade e pelo segurança da privacidade do cidadão.

(GRECO FILHO, 1997).

Se a prova for baseada em crença que escape as limitações da razão

são inadmissíveis. (GRECO FILHO, 1997).

Há três hipóteses de ilicitude de provas. . (GRECO FILHO, 1997)

A primeira diz que é ilícita quando o meio não é previsto na lei e não é

consentâneo com os princípios do processo moderno.

A segunda hipótese de ilicitude é a decorrente da imoralidade ou

impossibilidade de produção de prova.

Já a terceira hipótese de ilicitude é a que decorre da ilicitude da

obtenção do meio de prova.

Conforme o art.5º., LVI, da Constituição da República Federativa do

Brasil são inadmissíveis os meios de prova obtidos por meio ilícito.

Este inciso representa a opção do texto constitucional pela tese mais

rigorosa no que diz respeito a ilicitude do meio de prova, observando a ilicitude da

origem ou da obtenção. (Grinover, 1982)

Outras correntes doutrinárias e jurisprudenciais alegam que a produção

de prova obtida de forma ilícita poderia ser admitida se o bem jurídico alcançado

com a prova fosse de maior valor que o bem jurídico sacrificado pela ilicitude da

obtenção. (GRECO FILHO, 1997)

O Supremo Tribunal Federal já deu decisões judiciais de acordo com

esta corrente doutrinária. (GRECO FILHO, 1997).

Por conviver com outras regras constitucionais, nenhuma regra

constitucional é absoluta e por esta convivência há a necessidade do confronto entre

os bens jurídicos, para ver a possibilidade ter admissão ou não da prova obtida por

meio ilícito. (GRECO FILHO, 1997)

O mestre Vicente Greco Filho (1997, p. 201) exemplifica seu brilhante

raciocínio através da hipótese de uma prova decisiva para a absolvição ser obtida

por meio de uma ilicitude de menor monta. Segundo a visão do autor deve

prevalecer o princípio da liberdade da pessoa, logo a prova será produzida e

apreciada, afastando-se a incidência do inc. LVI do art. 5º. da Constituição, que vale

como princípio, mas não absoluto.

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20

2.1.7 Momentos da prova

A prova pode ser apresentada em três momentos: primeiro no

requerimento ou propositura, segundo no momento do deferimento e por último na

produção. (GRECO FILHO, 1997)

Leciona o mestre Vicente Greco Filho (1997, p. 207) “que os princípios

da verdade real e da ampla defesa permitem uma maior elasticidade quanto à

propositura da prova, isto porque ela pode ser proposta a qualquer tempo se for

necessária para a obtenção da verdade”.

O momento para a propositura ou requerimento da prova, para a

acusação, é o da denúncia ou queixa, no caso da defesa o momento de requerer ou

propor é na defesa prévia. (GRECO FILHO, 1997)

O juiz irá examinar sua pertinência deferindo ou indeferindo sua

produção. Este exame visa eliminar do processo atos inúteis. (GRECO FILHO, 1997)

No caso das provas periciais serão produzidas na fase policial ou em

juízo; as orais em audiência e as documentais a qualquer tempo. (GRECO FILHO,

1997).

Estas últimas terão exceção nos artigos 406 e 475 do Código de

Processo Penal que assim reza:

Artigo 406 Terminada a inquirição das testemunhas, mandará o juiz dar vista dos autos, para alegações, ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, e, em seguida, por igual prazo, e em cartório, ao defensor do réu.

§ 1o Se houver querelante, terá este vista do processo, antes do Ministério Público, por igual prazo, e, havendo assistente, o prazo lhe correrá conjuntamente com o do Ministério Público.

§ 2o Nenhum documento se juntará aos autos nesta fase do processo. Artigo 475 Durante o julgamento não será permitida a produção ou leitura de documento que não tiver sido comunicado à parte contrária, com antecedência, pelo menos, de 3 (três) dias, compreendida nessa proibição a leitura de jornais ou qualquer escrito, cujo conteúdo versar sobre matéria de fato constante do processo.

2.1.8 Presunções, indícios e máximas de experiência

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21

O Código Penal Brasileiro em seu artigo 239 conceitua indício como

sendo “a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize,

por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias".

Prova direta é aquela que traz ao conhecimento do juiz o próprio fato

previsto, pela lei como necessário a que se produza determinada conseqüência

jurídica. (GRECO FILHO, 1997).

Às vezes a prova direta não é possível, por serem os fatos

clandestinos, ou subjetivos, ou por ela não mais existir. (GRECO FILHO, 1997)

Neste caso, a prova indireta terá que ser utilizada.

Uma característica desta prova é que ela apresenta como objeto fatos

que não estão previstos em lei como geradores de conseqüências jurídicas, mas

mesmo assim poderão ser utilizados com o objetivo de se obter a verdade. (GRECO

FILHO, 1997)

Vale ressaltar que há casos em que num mesmo fato pode ter prova

direta e prova indireta.

Os indícios são fatos ou circunstâncias que podem levar a confirmação

da existência de outros fatos.

Eles serão aceitos se forem pertinentes a confirmação ou negação dos

fatos previstos em lei.

Ensina Tourinho Filho (2000, p. 224) que as presunções (juris et de

jure) dispensam ser provadas pelas partes que as alegam.

Ele explica com um exemplo de estupro de menor: “se o querelante

afirma que Tício estuprou Pafúncia, menina de 9 anos, muito embora seja

indispensável a violência para a configuração do estupro, está o acusador

dispensado de prová-la, pois, nos termos do art. 224, a, do Código Penal, presume-

se a violência quando a ofendida for menor de 14 anos.

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Expõe o mesmo autor que se o acusador e defensor acordarem quanto

à sua existência ou inexistência não priva o Juiz de fazer diligências a respeito para

formar sua convicção. (TOURINHO FILHO 2000).

Pode-se conceituar presunção como sendo regras, que podem ser

legais ou decorrentes de experiência, que são utilizadas para obter a confirmação da

existência de determinado fato, ou seja, um fato sendo provado leva a convicção da

existência de outro. (GRECO FILHO, 1997).

As regras legais são aquelas decorrentes cuja convicção é fruto de

uma imposição legal; já as decorrentes da experiência são obtidas através de,

segundo Vicente Greco Filho (1997, p. 209), observação técnica ou de observação

do que acontece no comportamento humano.

Se não admitirem prova em contrário as presunções legais poderão ser

absolutas, caso admitam poderão ser relativas.

A prova de indícios é utilizada se não houver a regra de presunção

legal ou a se não for possível a prova direta do fato. Eles são circunstâncias que

levam a conclusão da existência de um fato.

Para Tourinho Filho (2000, p. 224) as denominadas máximas da

experiência, ou "noções e conhecimentos ministrados pela vida prática e os

costumes sociais". São juízos formados ante o quod plerumque accidit (o que

normalmente acontece) "e que, como tais, podem ser formados em abstrato por

qualquer pessoa de cultura média".

Um exemplo bastante elucidativo a este respeito é o trânsito dos

caminhões e treminhões nas estradas das regiões produtoras de açúcar e álcool

durante a safra canavieira.

Vale ressaltar que estas máximas de experiência com o tempo podem

alterar-se.

A este respeito Couture (1972 apud TOURINHO FILHO, 2000, p. 224)

faz um comentário bastante pertinente com respeito a evolução da tecnologia

alterando uma máxima da experiência: “observava que uma máxima da experiência

para um Juiz romano do tempo de Augusto dispensava a prova de que uma mesma

pessoa não podia estar presente no mesmo dia em Atenas e em Roma.

Hoje com os vôos continentais e intercontinentais esta máxima já não

pode ser aplicada.

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23

Em 1800 a população católica no Brasil era quase a totalidade, e seu

pensamento refletia nas decisões dos tribunais. Hoje com o crescimento das

religiões “evangélicas”, e o movimento espírita esta mudança, obviamente, também

pode ser refletida nos tribunais.

É através da experiência técnica ou comum que se chega a conclusões

quando se utilizam os indícios.

As regras da experiência técnica são ditadas pelas ciências da

natureza e, de regra, são trazidas aos autos pela prova pericial. No caso de algumas

que são do conhecimento geral como, por exemplo a lei da gravidade, não há

necessidade do auxilio do perito. (GRECO FILHO, 1997)

Já nas regras da experiência comum o magistrado se fundamenta no

comportamento humano.

A regra de experiência se forma fora do processo pela observação do

comportamento humano ou das leis da natureza utilizando o processo lógico

indutivo, e após esta regra se formulada ela tende a ser aplicada em casos futuros

quando há semelhança. (GRECO FILHO, 1997).

As presunções advindas das regras de experiência, seja ela técnica ou

comum, permitem a prova em contrário, mas cabendo a parte que pretende desfazer

a conclusão decorrida da presunção o ônus da demonstração.

Embora fato notório não se confunda com as regras de experiência, é

possível que deste surjam aquelas.

Vicente Greco Filho (1997, p.212) exemplifica: 7 de setembro é feriado nacional. Dos fatos notórios, porém, ao que habitualmente acontece, é possível surgirem regras da experiência: 7 de setembro é feriado nacional ; ora, habitualmente nesse dia há parada militar em determinado lugar, o que leva à conclusão que, em todo o dia 7 de setembro naquele lugar há um determinado tipo de aglomeração de pessoas, independentemente de se provar de forma direta que em certo 7 de setembro houve essa aglomeração.

2.1.9.A apreciação ou valoração da prova

Reza o artigo 156 do Código de Processo Penal: Artigo 156 - A prova da alegação incumbirá a quem a fizer; mas o juiz poderá, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

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Ou seja, às partes compete a iniciativa de enunciar os fatos e de

produzir as provas de suas alegações.

Ao juiz caberá valorar estas provas e decidir sobre a procedência ou

improcedência do pedido.

Três sistemas podem orientar a conclusão do juiz: o sistema da livre

apreciação ou da convicção íntima, o da prova legal e o sistema da persuasão

racional. (GRECO FILHO, 1997).

No de convicção íntima ele tem livre arbítrio para decidir chegando a

verdade dos fatos por critérios de valoração íntima. Vale frisar que esta conclusão

independe do que consta nos autos e não há necessidade de fundamentação. É

desta forma que decide o tribunal do júri.

O sistema de prova legal não apresenta esta liberdade; neste sistema

cada prova apresenta seu valor, devendo o juiz calcular os pesos e o valor das

provas apresentadas. O magistrado fica vinculado às provas apresentadas.

(GRECO FILHO, 1997).

No Brasil é utilizado o sistema de persuasão racional, que dá ao juiz a

liberdade de apreciação, mas vincula o convencimento do magistrado às provas dos

autos, devendo o mesmo fundamentar suas decisões. (GRECO FILHO, 1997)

Neste sistema vale o que esta nos autos, ou seja, o que não está nos

autos não existe. Este é o princípio da verdade formal.

Por este sistema o juiz decide pela verdade dos autos e não pela

verdade real. Apesar da verdade real ser a ideal, devendo por isto ser sempre

perseguida, a justificativa do uso da verdade formal é porque a real não foi

submetida ao contraditório e conhecimento das partes, o que pode causar prejuízo

ao princípio do contraditório e da ampla defesa. (GRECO FILHO, 1997).

É importante que todos os fatos relevantes sejam levados aos autos

porque desta forma a verdade real pode ser atingida através da verdade formal, que

é a dos autos.

O artigo 157 do Código de Processo Penal traz a seguinte redação, in

verbis: Artigo 157. “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova.”

Da análise deste artigo há a pressuposição de que há uma liberdade de

apreciação da prova, mas se o confrontarmos com a Constituição Federal haverá a

conclusão de que o sistema de persuasão racional é o que prevalece.

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25

Art. 93. IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes;

Através da fundamentação do juiz as partes poderão aferir se a

convicção do magistrado foi extraída dos autos e que motivos o motivaram à

conclusão.

Esta segurança permite que, em grau de recurso, se faça um reexame

devido a novas alegações apresentadas. (GRECO FILHO, 1997).

Apenas o júri decide, por convicção íntima, sem fundamentar suas

decisões.

2.1.10 O juiz perante a prova

Devido à busca da verdade real, o juiz tem poderes inquisitivos. Isto é

justificado pelo interesse público envolvido, ou seja, a necessidade social da

repressão penal confrontando com o direito a liberdade. (GRECO FILHO, 1997).

Para que esta verdade real seja alcançada, o juiz deverá buscá-la, isto

independe de iniciativa das partes e pode, inclusive, suplantar a verdade colocada

pelas partes nos autos. (GRECO FILHO, 1997).

Esta visão está bem clara no artigo 156 do Código de Processo Penal.

Apesar deste poder dado ao juiz para poder determinar prova de ofício,

deve-se ressaltar que estes são complementares à iniciativa das partes, pois como

reza o Artigo 156 do CPP “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer”.

2.1.11 Objeto da prova

O objeto de prova, diz Manzini ( 1951), são todos os fatos, sejam eles

principais ou secundários, que reclamem uma apreciação judicial e que também

exijam uma comprovação. (apud, TOURINHO FILHO 2000).

O objeto da prova é a demonstração dos fatos; esta demonstração visa

formar o convencimento do juiz.

Conforme ensina o professor Vicente Greco Filho (1997, p. 197):

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ela pode ser dividida em diretas ou indiretas. As diretas são as destinadas a demonstrar o próprio fato principal da demanda, ou seja, aquele cuja existência, se comprovada, determina a conseqüência jurídica pretendida; as provas indiretas são as destinadas à demonstração de fatos secundários ou circunstanciais, dos quais se pode extrair a convicção da existência do fato principal. A prova indireta é a prova de indícios”.

É importante frisar que apenas os fatos pertinentes ao processo é que

devem ser objeto de prova; os fatos impertinentes, devem ter sua prova recusada

pelo juiz, por não trazer nada de útil ao processo. (GRECO FILHO, 1997).

Também só devem ser provados os fatos relevantes, que são os que

podem influenciar na decisão da causa.

Os fatos notórios também necessitam de prova, isto se corresponder a

elementares do tipo penal. Exemplo disto é quando a morte de alguém seja fato

notório; mesmo assim não poderá ser dispensado o exame de corpo de delito.

(GRECO FILHO, 1997).

A este respeito Tourinho Filho (1999, p. 189) comenta que “somente os

fatos que possam dar lugar a dúvida, isto é, que exijam uma comprovação, é que

constituem objeto de prova. Desse modo, excluem-se os fatos notórios”.

Acrescenta que “Provar a notoriedade é tarefa de louco”. Tanto a

evidência como a notoriedade não pode ser posta em dúvida. Ambas produzem no

Juiz o sentimento da certeza em torno da existência do fato.

Manzini (1952 apud Tourinho Filho 2000, p. 224) afirma que se um fato

é evidente, não pode o Juiz desconhecê-lo, pois sua discricionariedade na valoração

da prova se exercita no terreno da dúvida, não se podendo admiti-Ia no da certeza.

Também não será dispensada a prova se não houver controvérsia

sobre determinado fato. Como exemplo pode ser citado a confissão que elimina a

controvérsia sobre a autoria do fato. As outras provas deverão corroborá-la. Conforme preleciona Vicente Greco Filho (1997), o objeto da prova, referida a determinado

processo, são os fatos pertinentes, relevantes, e não submetidos a presunção legal.

2.1.12 Princípios da prova

As provas são regidas por diversos princípios; pode-se destacar o da

oralidade; o da comunhão da prova ( após produzida a prova, esta pode ser

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aproveitada tanto pela acusação como pela defesa, pois a prova pertence ao

processo); o do contraditório (produzida a prova, a parte contrária tem o direito

constitucional de poder manifestar-se sobre ela; se produzida pelo Juiz, sobre ela

têm as partes o direito não só de tomar ciência da sua produção, como, também, o

de se pronunciar sobre ela. (TOURINHO FILHO, 2000)

2.1.13 Prova emprestada

A prova emprestada é aquela colhida num processo e trasladada para

outro.

Pode ser um testemunho, uma confissão, uma perícia, um documento,

enfim, uma prova qualquer produzida num processo e transferida para outro.

Deverão ser respeitados os princípios do contraditório e da ampla

defesa, caso contrário ela se tornará ilícita, pois foi obtida com violação de princípios

constitucionais. (TOURINHO FILHO 2000).

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28

3 A LIBERDADE DE PROVA

No Processo Penal brasileiro vigora o princípio da verdade real, disso

decorre que não deve haver limitação à prova, caso contrário o interesse do Estado

na justa aplicação da lei seria prejudicado.

O juiz no Processo criminal deverá procurar a verdade por si mesmo,

caso ela não se encontre pronta.

No Código Penal Brasileiro os meios probatórios estão dispostos dos

artigos 158 a 250. Mas este rol é taxativo?

Conforme o entendimento de grande parte da doutrina esta

enumeração não é taxativa; isto porque seria muita pretensão do legislador não

prever sua própria falibilidade. (TOURINHO FILHO, 2000).

Exemplificando esta visão doutrinária está o artigo 332 do Código de

Processo Civil que reza: Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

Os autores que defendem a tese da não-taxatividade deste rol fazem

restrição a todo e qualquer meio de prova que atente contra a moralidade ou viole o

respeito à dignidade humana.

A tendência de abolir a taxatividade, tem o cuidado de proibir qualquer

meio probatório que atente contra a moralidade ou violente o respeito à dignidade

humana. ( TOURINHO FILHO, 2000).

O Código de Processo Penal Brasileiro não limita os meios de prova,

não havendo restrição a produção de provas além das indicadas no Código. O

controle que é feito aos atentados a moralidade e dignidade da pessoa humana

decorre, principalmente dos princípios constitucionais.

É clara esta não limitação no artigo 155 do Código de Processo Penal

que diz “in verbis”:

Artigo 155 No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas as restrições à prova estabelecidas na lei civil.

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29

No artigo 6˚ do mesmo código, nos incisos III a IX, esta liberdade pela

procura do princípio da verdade real está bem clara. O inciso III chega a dizer

claramente “ colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e

suas circunstâncias”. Sempre se deve lembrar que há os princípios constitucionais a

serem respeitados.

A este respeito Ada Pellegrini Grinover (1976, p. 200) leciona É, assim, nas normas constitucionais e nos princípios gerais da Lei Maior que se devem subsumir a avaliação substancial do ilícito extrajudicial e a qualificação processual de sua repercussão dentro do processo, deduzindo-se a proibição de admitir as provas obtidas contra a Constituição e sua ineficácia, diretamente desta

Daí concluir a não aceitação das provas conseguidas por meio de

hipnose, narcoanálise, lie-detector, retinoscópio, soro da verdade, e também a quais

quer outros processos para obtenção de prova que cause alterações psicofísicas na

pessoa. (GRECO FILHO, 1997).

A lei impede que se produza prova em certa fase procedimental. Como

por exemplo o que ocorre nos processos de crimes da competência do júri: na fase

das alegações nenhum documento será juntado aos autos (CPP, art. 406, § 2.) e

também no art. 475 do mesmo código proíbe a leitura em plenário de documento

cujo conteúdo não tiver sido comunicado à parte contrária, com antecedência

mínima de 3 dias, se relacionado com o fato objeto do processo. (TOURINHO

FILHO, 2000).

Isto mostra que a liberdade de prova no Processo Penal não é tão

absoluta a ponto de permitir todas e quaisquer espécies de meios probatórios.

3.1 Provas ilícitas e provas ilegítimas Silvia Saraiva (2006) ensina que a prova é ilícita quando sua obtenção

viola normas materiais. E cita o exemplo do uso do detector de mentiras e da

narcoanálise.

Alega que ela é prova Ilegítima quando for proibida por norma

instrumental ou processual. O exemplo citado pela autora se refere a exibição de

documentos que a defesa não teve vista nos autos, de acordo com o artigo 475 do

Código de Processo Penal.

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Quando a prova começa a ser obtida por meios ilícitos alguns autores

afirmam que as suas conseqüências geram a ilicitude em toda sua plenitude, é o

que reza a Teoria do Fruto da Árvore Envenenada.

As posições doutrinárias variam, de acordo com o artigo 5o, inciso LVI,

que deixa claro a inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

A Teoria da Rejeição é defendida por parte da doutrina que prega a

nulidade absoluta da prova, pois ofende ao Princípio da Moralidade.

Esta teoria sustenta que mesmo do ponto de vista processual, não é

possível ao Juiz colocar, como fundamento da sentença, prova obtida ilicitamente.

Seria um contra-senso o Magistrado valer-se de uma prova obtida criminosamente

como razão para a sua sentença. ( TOURINHO FILHO, 2000).

Vélez Mariconde (1982, p. 127), ensina que o processo penal tem

dupla função de tutela jurídica: proteger o interesse social pelo império do direito, ou

seja, repressão do delinqüente, e o interesse individual pela liberdade pessoal

(apud, TOURINHO FILHO 2000).

A Teoria da Admissibilidade aceita este tipo de prova somente para os

efeitos de absolvição. A prova ilícita será admitida se for a única prova existente no

processo.

Há uma parte da doutrina que entende que se a prova foi conseguida

com transgressão a normas de Direito Penal, de Direito Civil ou de Direito

Administrativo, o seu autor sujeitar-se-á às sanções respectivas, nada impedindo

sua admissão no processo. Ou seja, ela poderá ser introduzida no processo se

alguma lei processual não a impedir. (TOURINHO FILHO, 2000).

Já a Teoria da Proporcionalidade reza que nenhuma regra

constitucional é absoluta, pois deverá conviver com outras regras e princípios

constitucionais.

Segundo esta teoria cada caso é particular e depende da gravidade do

crime.

Silvia Saraiva (2006) dá como exemplo quando se pega como prova

uma correspondência alheia (crime de violação de correspondência) mas, o

conteúdo mostra-se como uma prova de crime.

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O interesse do particular não poderá sobrepor-se ao interesse público.

Nesse sentido, analisa-se se o interesse agride mais a sociedade do que a violação

em si. Esta teoria procura buscar o equilíbrio entre o interesse social e individual.

( GRECO FILHO, 1997).

A constituição de 1988 no artigo 5˚, LVI diz que são inadmissíveis, no

processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Se a Lei Maior assim o diz evidente

não mais poderem ser admitidas aquelas provas obtidas em afronta à dignidade

humana e àqueles direitos fundamentais de que trata a Lei das Leis. (TOURINHO

FILHO, 2000)

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4 DOCUMENTOS

O doutrinador Vicente Greco Filho (1997, p. 237) conceitua documento

como sendo ”todo objeto ou coisa do qual, em virtude de linguagem simbólica, se

pode extrair a existência de um fato”.

Ele é composto por dois elementos, o físico e a linguagem simbólica.

O elemento físico ou material é qualquer coisa que preserva símbolos

(escrita, gravação de som ou dados e fotografias).

Os documentos para serem usados no processo de forma que tenham

pertinência e relevância e também possam servir de prova devem ter duas

qualidades: veracidade e autenticidade. (GRECO FILHO, 1997).

A autenticidade pressupõe integralidade documental e a veracidade

implica integralidade material e deve refletir a verdade. (GRECO FILHO, 1997).

Não devem ser apresentados documentos nos casos descritos nos

artigos 406 e 475 do Código de Processo Penal que tratam das alegações finais no

tribunal do júri e plenária de julgamento.

Artigo 406 - Terminada a inquirição das testemunhas, mandará o juiz dar vista dos autos, para alegações, ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, e, em seguida, por igual prazo, e em cartório, ao defensor do réu.

§ 1o - Se houver querelante, terá este vista do processo, antes do Ministério Público, por igual prazo, e, havendo assistente, o prazo lhe correrá conjuntamente com o do Ministério Público.

§ 2o - Nenhum documento se juntará aos autos nesta fase do processo. Artigo 475 - Durante o julgamento não será permitida a produção ou leitura de documento que não tiver sido comunicado à parte contrária, com antecedência, pelo menos, de 3 (três) dias, compreendida nessa proibição a leitura de jornais ou qualquer escrito, cujo conteúdo versar sobre matéria de fato constante do processo.

Exceção feita a estes dois momentos, a juntada de documentos é livre,

sendo que se deve respeitar sempre o contraditório e a intimação prévia da parte

contrária para, se desejar, apresentar contraprova. (GRECO FILHO, 1997).

Se os documentos forem obtidos por meios ilícitos, deverão ser

desconsiderados, conforme dita o artigo 5˚, LVI da Constituição Federal.

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5. O PAPEL DA CIÊNCIA EM RELAÇÃO À PROVA.

A verdade não é privilégio de religiões ou sistemas. A convicção vem

com os fatos revelados à luz da razão, portanto o pesquisador consciente procura

com paciência e perseverança a verdade dos fatos.(SEVERINO, 1990).

A médica Marlene Nobre (2000) no prefácio da obra Saúde e

Espiritismo falando sobre os sentimentos dos ‘homens de ciência” diz que: os cientistas sempre se sentiram atraídos por enigmas fascinantes, como a origem do universo e da vida [...], buscando alargar as fronteiras do conhecimento. Afirma ainda: por treino e temperamento, sempre foram ciosos de suas prerrogativas, ciumentos de sua liberdade, não admitindo a aceitação tácita de qualquer afirmação, sem submetê-la ao ônus da dúvida.

A ciência pode ser conceituada como um conjunto de conhecimentos

coordenados relativamente a determinado objeto. ( FERREIRA, 1988).

Para a comprovação de fatos há necessidade algo que dê um grau de

confiabilidade para atingir a verdade. Esta segurança é conseguida com o auxilio da

ciência, que embora seja falível e esteja sempre em evolução ainda hoje apresenta

– se como um norte a ser seguido.

Carlos Friedrich Loeffler (2005, P. 39) ensina que:

o conhecimento científico se caracteriza pela imposição de uma série de requisitos à construção do saber, entre os quais destaca-se a presença de métodos precisos de obtenção e avaliação da veracidade da informação, bem como sua adequada análise, organização e classificação. É esta forma estruturada de saber que, obediente a certos princípios e limitado numa área de atuação. Conduz ao conceito de ciência, representada por suas diversas disciplinas.

A ciência através de sua fundamentação experimentada comprova a

ocorrência ou inexistência de eventos.

Através desta sua característica ela se liga a prova e

consequentemente ao Direito.

A prova necessita da ciência e o Direito não pode prescindir da prova.

Como ter meio de prova sem o auxilio da ciência?

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34

Hoje já possível ter certeza, praticamente absoluta acerca da

paternidade de uma criança graças aos avanços científicos com o DNA. Algo

impensável a um século atrás hoje é um meio de prova e consequentemente uma

ferramenta eficaz para chegar ao convencimento do juiz e a sempre perseguida

verdade real. (LOEFFLER, 2005).

A ciência evolui e o Direito como tal também deve avançar. As

metodologias estão sendo aprimoradas; protocolos são traçados por outros mais

modernos e confiáveis.

Kátia de Souza Moura (2006) entende que o Direito não é estático e

também não pode sê-lo quando se pensa na adoção de meios de prova. Investigar

para se chegar o mais próximo quanto possível da verdade real é a meta.

Para fazer ciência há necessidade de despir de preconceitos e pensar

por si próprio, com total independência.

A este respeito Epes Sargent (1989, p. 254-255) opina com grande

propriedade lecionando:

o primeiro recurso para obter-se uma prova científica das coisas será o conhecimento das próprias coisas em si mesmas, empregando-se aquela grande independência mental que leva o homem a pensar por si mesmo. Assim aprenderá a fazer suas observações e verificá-las contra qualquer autoridade que as patrocine. Achou-se que a primeira e indispensável condição para se obterem idéias justas era a mente ocupar-se diretamente do assunto que tem de ser elucidado. Por esse modo, o inquérito avança, apoiado no método de formar juízos que sejam caracterizados pelas mais vigilantes e disciplinadas precauções contra o erro. O método científico é aplicável a todos os assuntos que se referem à constância das relações de causas e efeitos, e à sua conformidade com a operação da Lei. Ele é aplicável sempre que se tem que aquilatar uma evidência, de banir um erro sobre fatos determinados ou princípios estabelecidos”.

Loeffler (2005 p. 112) desmistifica a visão equivocada sobre o que é

cientifico e que não é, ele explica de maneira inequívoca que nem sempre os fatos

podem ou devem ser provados por meios laboratoriais ou matemáticos:

Para o autor é comum a alegação de que é fundamental a exigência de

prova material ou experimentação equivalente a uma demonstração matemática

para assegurar a realidade de um fenômeno. Somente assim seria digno de

aceitação científica e poderia submeter-se ao exame intelectual gabaritado, do qual

resultariam teorias explicativas.

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Conforme ele ensina este modo de pensar, atualmente anacrônico, é

resultante de concepções materialistas, que o positivismo veio a sedimentar, através

de certos formalismos, no século dezenove.

E prossegue sua argumentação. [...] De fato, a física, a segunda disciplina científica a se consolidar, inaugurou a era da experimentação repetitiva como elemento de prova [...]. Logo, não é difícil entender a origem da herança intelectual que exige como prova de algo, mesmo situado fora do âmbito da realidade concreta, o teste em laboratório e a demonstração matemática.

Falando da física quântica o autor esclarece: há muitas décadas que as características dos objetos da física deixaram de ser os corpos rígidos de Newton e Galileu. Não existem testes de laboratórios que mostrem a realidade inquestionável desses fenômenos. Muitos são exatamente suposições para explicar algo que destoa no resultado das experiências [...] É mais chocante ainda, com ousadia, a física quântica chega a afirmar que, no nível das partículas ínfimas, o comportamento delas é influenciado pelo observador [...] Mesmo diante de tanta complexidade, suposição e incerteza, não se deixa de admitir que tais objetos de análise e seus pensamentos não sejam pertinentes à ciência.

Neste ponto ele toca no calcanhar de Aquiles da ciência ainda

positivista. [...] E qual é a objetividade do inconsciente psicológico sob o ângulo positivista? Nenhum. Mas o tempo e o progresso mostraram que não adianta negar a complexidade da mente, os porões da memória e a força dos fatores emocionais na composição da personalidade. O objeto da psicologia também é etéreo e muito ardiloso, mas não adianta negar-lhe mais qualquer status científico [...]. (2005, p. 113-115).

Segundo o renomado autor há poucas décadas o problema de

metodologia foi discutido, dissecado e resolvido. Estudaram o problema da

relatividade do conceito da prova e a transposição de metodologias das ciências

formais para as outras ciências.

A inserção das ciências humanas nas disciplinas cientificas também

corroborou bastante para este contexto.

A ciência hoje é dividida em ciências biológicas, físicas, psíquicas,

matemáticas etc.

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36

Depois desta explanação não mais dúvidas que as ciências são

diferentes e com muitas peculiaridades e por isto o próprio conceito de prova hoje

está mais flexível, mas com a mesma precisão.

É neste novo contexto científico se coloca a psicografia como meio

científico de prova.

5.1 Perícias

As perícias são elaboradas por técnicos com formação profissional

para tanto.

Estes exames são, geralmente, formados de uma parte descritiva, onde

é relatado o que foi observado pelos peritos e a parte conclusiva onde eles

respondem aos quesitos. (GRECO FILHO, 1997).

O juiz e as partes poderão formular questionamentos, mas estes serão

analisados pelo magistrado quanto a pertinência. (GRECO FILHO, 1997).

Caso haja contradição entre os laudos, o juiz nomeará um terceiro

perito para que a dúvida se desfaça. (GRECO FILHO, 1997).

É importante frisar que uma perícia não anula a outra, devendo ambas

ser colocadas nos autos para a apreciação do magistrado.

No processo penal é nulo o exame realizado por apenas um perito, isto

está preceituado na súmula 361 do Supremo Tribunal Federal. A necessidade de

mais de um perito se justifica pela segurança da perícia. (GRECO FILHO, 1997).

Vale relatar que a despeito de seu conteúdo técnico, o juiz não fica

restrito ao laudo pericial, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte, quer

na parte descritiva, quer na parte conclusiva. Deverá, porém, como é óbvio,

demonstrar as razões de seu convencimento em contrário. (GRECO FILHO, 1997).

O artigo 174 do Código de Processo Penal trata do reconhecimento de

escritos por comparação de letra: Artigo174 - No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o seguinte: I-a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada; II-para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida;

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II-a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados; IV-quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

A ciência está em constante evolução, portanto as técnicas periciais

também acompanham estes progressos científicos.

O professor Carlos Augusto Perandréa da Universidade Estadual de

Londrina, Estado do Paraná, desenvolveu um trabalho inédito no Brasil e no mundo,

através da elaboração de exames científicos, que permitiram comprovar a autoria

das mensagens psicografadas.

Ele aprofundou os estudos na área da psicografia, a partir da aplicação

da Grafoscopia, definida por ele como "o conjunto de conhecimentos norteadores

dos exames gráficos, que verificam as causas geradoras e modificadoras da escrita,

através de uma metodologia apropriada para a determinação da autenticidade

gráfica".(1991, p. 23).

Daí se pode aferir que ela pode verificar a autenticidade e a autoria de

uma mensagem manuscrita através da psicografia...

Para a realização deste trabalho, é necessário ao perito o domínio de

causas modificadoras do grafismo, mão guiada, pivô da escrita e exames da gênese

gráfica. (Perandréa, 1991).

Nas pesquisas, foram analisados como material os originais oriundos

de mensagens psicografadas unicamente pelo médium Francisco Cândido Xavier.

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38

6 A PSICOGRAFIA

6.1 Histórico da psicografia

Para estudar a psicografia há necessidade de se entender como

começou este fenômeno.

A professora Terezinha Acioli Lins (1998) no artigo “O caso das irmãs

Fox”, faz um histórico detalhado destes acontecimentos iniciais da psicografia

incipiente.

Ela narra os que entre 1843 e 1844, Hydesville era uma vila no estado

de New York e, num casebre das proximidades vivia um casal da família Bell.

Um dia quando o marido ficou sozinho em casa, porque sua mulher

havia viajado, um mascate apareceu e pediu pousada, entrando para dormir e, para

sempre, desapareceu. (LINS, 1998).

Ela conta que em 1847, os Bell tomaram rumo desconhecido e a casa

foi alugada para a família Weekmann. Que teria abandonado a casa por motivo de

ocorrências estranhas, pancadas noturnas no solo e nas paredes, que não os

deixavam dormir.

Nesse mesmo ano, o metodista John D. Fox mudou-se para a casa

com a família. Os fenômenos continuaram e as meninas Margaret e Kate, de quinze

e onze anos, respectivamente, envolveram-se com os mesmos.

Continua a autora dizendo que a esposa de John, Margaret Fox

assinou uma declaração, narrando o que acontecia: Na noite dos primeiros ruídos nós nos levantamos, acendemos uma vela, e procuramos a razão daquilo pela casa toda... Embora não muito fortes, aquelas batidas produziam sacudidelas nas camas e nas cadeiras e, quando deitados, podíamos senti-las, bem como quando estávamos de pé. Os ruídos voltaram no dia 30 de março de 1848, continuando durante toda a noite. (...) Ouvíamos ruídos de passos no solo e como que subindo as escadas. Não podíamos descansar. Cheguei, então, à conclusão de que a casa devia estar assombrada por algum espírito infeliz e inquieto.

Ainda conforme a professora Terezinha Acioli Lins (1998): O senhor e a senhora Fox, colocaram as camas de Margaret e Kate em seu próprio quarto, após o início dos misteriosos ruídos. Os ruídos recomeçaram, quando eles se deitaram. A noite era de vento, segundo afirmara o congressista Robert Dale Owen, que entrevistou a senhora Fox e suas duas filhas. John Fox pensou que o ruído

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poderia vir dos caixilhos das janelas estremecidas pelo vento e foi à janela tentar, com as mãos, reproduzir o mesmo ruído. De repente, Kate, então com onze anos, reparou que, a cada vez que o pai sacudia a janela, as pancadas pareciam responder. Estalando os dedos, exclamou para espanto de sua irmã: "Vamos, senhor do Pé Rachado (referia-se ao Diabo) faça o que eu estou fazendo !" As pancadas repetiram imediatamente o estalo de seus dedos! Kate ficou tão assustada que enterrou a cabeça sob as cobertas da cama.

Conta a autora que Margaret, aceitou o desafio e disse: "Faça o que

faço !" Bateu palmas quatro vezes e, instantaneamente, quatro pancadas ocas

vieram da parede oposta. Quando Kate Fox recuperara a coragem, atirou longe as

cobertas e gritou para à mãe: "Amanhã é o dia 1o de abril, dia dos tolos. Alguém

está tentando fazer truques conosco!"

Para se certificar do fenômeno, a senhora Fox pediu a quem estava

produzindo os ruídos, um desconhecido, que batesse a número de pancadas

correspondentes à idade das meninas. Imediatamente, começou a bater o numero

de catorze pancadas, que seria a idade de Margaret. Após um breve silêncio foram

ouvidas mais onze pancadas, a idade de Kate. (LINS, 1998).

Descreve Terezinha Acioli Lins que a partir deste fato a família perdeu

o medo do início, notando que o “espírito batedor” não lhes queda mal, mas apenas,

entrar em comunicação.

Para facilitar a comunicação, em 31 de marco de 1848, a menina Kate

pediu que as pancadas se repetissem e acordo com determinados números, já pré-

estabelecidos, e através deste processo manteve diálogo com as pancadas

misteriosas. Para facilitar ainda mais o diálogo, foram convencionadas letras que

representariam certo número de pancadas. (LINS, 1998).

Descobriram através desta metodologia o que, segundo o professor

Delanne (1998, p. 24), passou a se chamar telegrafia espiritual.

Descreve a professora que através deste método descobriram que o

Espírito pertencia a um homem de 32 anos, chamado Chades Rosma, vendedor

ambulante que havia sido assassinado no local por latrocínio.

Ele Indicou a local em que o corpo e o seu baú haviam sido enterrados.

A escavação foi feita, mas apenas encontraram restos de um cadáver, com

fragmentos de ossos e cabelos. O baú não foi encontrado.

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40

Em 1904, cinqüenta e seis anos depois, ruiu uma parede falsa da casa,

no cômodo do porão indicado pelas pancadas, e ali foi encontrado o esqueleto de

Rosma. (DOYLE, 2001)

A notícia do Caso de Hydesville espalhou-se por toda nação, com a

publicidade dos jornais. Kate e Margaret, por insistência de Leah Fox Fish, sua irmã

mais velha, iniciaram sessões públicas, nas quais faziam supostamente, contato

com espíritos, que produziam batidas como resposta. (LINS, 1998).

A autora Terezinha Acioli Lins expõe que com os fenômenos formaram-

se dois grupos: milhares de pessoas vieram e acreditaram; outras denunciaram as

jovens. Algumas pessoas chegaram a invadir a casa dos Fox e ameaçaram linchar

as meninas, acusando-as de cumplicidade demônio.

Mas a publicidade de Hydesville convenceu outras pessoas de que elas

também poderiam conversar com os mortos. Descreve a articulista que centenas

delas apresentaram-se como médiuns.

O fenômeno tomou outro aspecto quando as pancadas, ao invés de

ocorrerem nas paredes, passaram a ocorrer na mesa onde estavam reunidos os

expectadores. ( DELANNE, 1998).

Kardec (2003, p. 17) na obra “O Livros dos Espíritos” diz que as

primeiras manifestações inteligentes se produziram por meio de mesas que se

levantavam e, com os pés, davam certo número de pancadas, respondendo deste

modo sim ou não, conforme convencionado a uma pergunta feita.

Começaram a obter respostas mais desenvolvidas com o auxilio das

letras do alfabeto, o móvel dava o numero de pancadas de acordo com a ordem das

letras. E a partir deste método chegaram a palavras e frases que respondiam as

frases formuladas. (KARDEC 2003).

Um fato bastante importante ocorreu em uma das comunicações;

quando perguntado sobre sua natureza, o comunicante disse ser um Espírito ou

Gênio. Vale salientar, que ninguém imaginou os Espíritos como meio de explicar o

fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. (KARDEC, 2003).

Este acontecimento começou nos Estados Unidos e depois se

espalhou na Europa.

Zeus Wantuil (1984 p 6-7). Explica que em 1853, a Europa inteira tinha

as atenções gerais convergidas para as chamadas mesas girantes ou dançantes.

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Este foi considerado o maior acontecimento do século pelo Padre

Ventura de Raulica ( na época o mais ilustre representante da teologia e da filosofia

católicas). (Wantuil 1984 p 6-7).

Segundo o mesmo autor, estes fenômenos chamaram atenção

inclusive do físico inglês Faraday e do químico Chevreul.

Após esta fase da tiptologia (escrita através de pancadas), a

comunicação evoluiu para o que Allan Kardec, na Revista Espírita de janeiro de

1858, chamou de psicografia indireta que, segundo ele funcionava assim: o médium faz a imposição das mãos sobre um objeto convenientemente disposto e munido de um lápis (...). Os objetos mais empregados são as pranchetas ou as cestas dispostas para este efeito. A força oculta, que age sobre a pessoa, se transmite ao objeto que se torna, assim, um apêndice da mão, e lhe imprime o movimento necessário para traçar os caracteres.

Na mesma obra Kardec relata que o intercambio com os Espíritos

evolui para a chamada psicografia.

Esta não mais necessita de pranchetas ou cestas, o médium escreve

sob a influência do Espírito comunicante.

A Profa. Dra. Eliane Moura Silva da ensina que ainda, durante o século XIX, junto com o movimento espírita, surgiu uma abordagem para o estudo da morte, da sobrevivência espiritual e dos chamados fatos sobrenaturais. Junto ao conhecimento e ao estudo das religiões, filosofias orientais e da Antiguidade, aliaram-se os avanços da ciência positiva para identificar, sob um ponto de vista objetivo, os acontecimentos sobrenaturais. Indagava-se a História; antigas religiões e filosofias eram estudadas ao lado das ciências empíricas e experimentais. Acreditava-se que esta conjugação de saber levaria à certeza final, ao conhecimento definitivo do que era a morte e os destinos da alma.

Já na segunda metade do século XIX, segundo a referida

pesquisadora, a fé e a razão pareciam ter entrado em colisão definitiva. Colocava-se

sobre a razão uma expectativa de que ela salvaria a humanidade e traria o

conhecimento da natureza humana e de todo o Universo. Enquanto as antigas

teorias desmoronavam pela avalanche de novos conhecimentos, as verdades de

antes não mais procediam.

Havia um contraste claro entre o materialismo a crença na

sobrevivência da consciência após a morte e nas possibilidades de comunicação

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entre esta consciência sobrevivente a morte do corpo biológico e os chamados

vivos.

Espiritismo e Espiritualismo forneciam solução para as pessoas que

não se sentiam a vontade com o materialismo e ateísmo. Estes materialistas se

escondiam sob o manto do chamado “rigor cientifico” para justificar suas opiniões

extremadas. (SILVA, 2007).

Narra a referida professora que Edmund White Benson (apud SILVA,

2007)., que mais tarde se tornaria bispo da igreja anglicana, Funda em 1852 a Ghost

Sociey, o objetivo de estudar os fenômenos ditos supranormais de forma científica.

Em 1882 sob o nome de Society for Psychical Research, ela já é

formada de cientistas de renome, médicos, psiquiatras, psicólogos, entre outros.

Eles começam pesquisas científicas dos fenômenos psíquicos na mesma época em

que Freud iniciava seus estudos de psicanálise.

Os cientistas da época utilizavam os médiuns como matéria-prima para

a produção dos fenômenos de ectoplasmia, telepatia, curas psíquicas,

comunicações espirituais, levitações, fenômenos luminosos. Utilizavam a tecnologia

disponível para extrair o máximo possível dos ensaios científicos. (SILVA, 2007).

Foram registrados levitações, aparições e formação de ectoplasmas.

Estes estudos tiveram rigorosos controles com o objetivo de prevenir tentativas de

engodos. (SILVA, 2007).

O que começou como diversão nos salões passou a se objeto de

estudo e oportunidade de sobre fenômenos naturais até então tidos como mágicos

ou religiosos.

Um dos grandes homens da ciência da época foi Charles Richet, que

afirmava que a ciência não poderia ignorar aqueles fenômenos excepcionais. Ele

propôs o estudo destes fenômenos através do metapsiquismo objetivo, que avaliaria

fenômenos físicos, como por exemplo, aparições, materializações e movimento de

objetos, metapsiquismo subjetivo para analisar os fenômenos intelectuais, com, por

exemplo, a intuição, a psicografia, e as telepatias. ( BOZZANO, 1983)

Continua a narrativa falando que os estudos continuaram em

universidades e centros de pesquisa, chegando a ser questão de segurança na

antiga URSS, durante a guerra fria. A parapsicologia teve seu maior avanço

justamente no bloco ideologicamente materialista. (SILVA, 2007).

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Segundo a Profa. Dra. Eliane Moura Silva o estudo dos fenômenos

paranormais estão separados em duas correntes; a majoritária é mais espiritualizada

com reflexões filosóficas e psicológicas más sem conotações religiosas e outra

minoritária é cientificista e sem qualquer contato com o misticismo.

Nas décadas de cinqüenta a sessenta a ciência vivia uma ortodoxia

científica, e os cientistas que utilizavam qualquer pensamento que não fosse o

esposado pela ciência dominante eram vistos com ressalvas.

Devido ao avanço das pesquisas sobre consciência do espírito, como

por exemplo, a Experiência de Quase Morte (EQM), o panorama atual é outro,

tendo, de acordo com a professora Eliane Moura, um predomínio das hipóteses de

que a consciência humana realmente sobrevive à morte.

Após milhares de pessoas serem estudadas com rigor cientifico, uma

dúvida ainda pairava na cabeça dos pesquisadores do final do século XIX e início do

século XX: aqueles sensitivos eram médiuns, ou seja, atuavam sob a influência de

Espíritos ( inteligências externas ) ou eles atuavam através da telepatia ?

Nas experiências aconteciam fenômenos físicos (como mesas

movendo, formação de ectoplasma, pancadas em paredes e mesas) e intelectuais

como a psicografia e a psicofonia.

Para os espíritas, a comunicabilidade com os Espíritos já não

necessitava de provas, pois para eles já estava mais que comprovada pelo método

racional-intuitivo utilizado por Allan Kardec.

Na tese “Vida e Morte: O Homem no Labirinto da Eternidade a

professora Eliane Moura relata que a sociedade de parapsicologia inglesa (

Sociedade de Pesquisas Psíquicas ) publica um artigo em 1904 intitulado “Twenty

Years of Psychical Research” em que afirmam que: com o tempo, a SPR dará provas tão claras e insofismáveis de clarividência, de escrita mediúnica, de aparições de espíritos, e de várias formas de fenômenos físicos, do mesmo modo que as deu sobre a transmissão de pensamentos. Há, porém, um certo conhecimento - em relação aos fatos, a respeito dos quais a SPR não pode confessar possuir qualquer conhecimento. A SPR está preocupada apenas com fenômenos, buscando provas de sua realidade.

Para eles, a idéia de comunicação com os espíritos, não apresenta

interesse atual.

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Deste texto pode-se aferir que a SPR não nega a tese da

comunicabilidade entre Espíritos e encarnados, apenas diz que no momento não

apresenta interesse para o referido grupo de estudos.

No início do século XX, para serem aceitos pela comunidade cientifica

dominante, os estudos sobre esta fenomenologia eram focados nas experiências de

laboratório, ao contrário das experiências espontâneas iniciais, mas elas

enfrentavam como barreira a impossibilidade de repetição dos fenômenos, a

dificuldade de controlar o processo e ainda tinham que enfrentar problemas com os

médiuns.

Na década de 30, com a introdução da parapsicologia em

universidades, começaram a surgir investigações metódicas e em razão disto,

começaram a ser aceitas teses com temas relacionados a parapsicologia em

departamentos de instituições universitárias. (SILVA, 2007).

Segundo a professora Eliane Moura, a ciência parapsicológica

procurou atender a certas indagações de ordem mais objetiva, sem implicações de

natureza metafísica ou religiosa.

As pesquisas sobre formas de energias e poderes da mente foram bem

exploradas neste período.

Esta ciência, através de estudos e experimentos, conseguiu melhorar

sua metodologia e ratificar limites teóricos, criando uma classificação para os

fenômenos psíquicos, ou fenômenos PSI. Eles foram dispostos em: Percepção

Extra-Sensorial (ESP) e Psicocinese (PK). (SILVA, 2007).

A Percepção Extra-Sensorial foi dividida em Telepatia, Telestesia e

Fenômenos de Ego-Expansão.

Pode-se conceituar a telepatia como a transmissão do pensamento

(compreendida na significação clássica de um sistema de vibrações psíquicas que

se espalham por ondas concêntricas de um cérebro a outro). Ou seja, é a

transmissão de pensamento a distância entre dois cérebros.( Bozzano, 1983)

Estes fenômenos são intelectuais e são caracterizados por

sentimentos, sensações, expansões de consciência, sentimentos, etc. Vale ressaltar

que são inconscientes. Nesta classificação estão, entre outras, a xenoglossia ( falar

em língua estrangeira ), profetismo intuitivo e a psicografia.

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O professor Charles Richet definiu a Telestesia como o conhecimento

que tem o indivíduo de qualquer fenômeno não perceptível nem cognoscível pelos

sentidos normais, e estranhos a toda e qualquer transmissão mental, consciente ou

inconsciente. ( BOZZANO, 1983)

Nesta definição se enquadram, entre outros, os fenômenos da vidência,

profetismo telestésico e radiestesia.

Os fenômenos de ego-expansão são os desdobramentos fora do corpo

que promovem vivências de expansão do “eu”. São os chamados transes ou

nirvana. Vale salientar que estes fenômenos são acompanhados de estados

emocionais profundos e com elementos afetivos. ( BOZZANO, 1983).

A psicocinese consiste na ação direta da mente sobre a matéria. É

nesta classificação que estão os fenômenos de movimento de objetos, a gravação

magnética, em vídeos e computadores de vozes e imagens da outra dimensão. A

transcomunicação instrumental encontra nestes fenômenos seu objeto de estudo.

(CERVINO, 1989).

O estudo destes fenômenos coloca em evidência a tese da

sobrevivência após a morte do corpo físico e os fenômenos mediúnicos como a

psicografia, a psicofonia e as chamadas possessões (tão comuns em alguns

movimentos pentecostais). Pois, segundo a Doutora Elaine Moura, estes fenômenos

apresentam, aparentemente, um dinamismo intencional e inteligente vindos de

outras dimensões espirituais.

Por volta do ano de 1930 o Dr. Joseph Banks Rhine (apud SILVA,

2007), psicólogo e professor na universidade de DUKE, na Carolina do Norte, nos

Estado Unidos da América, estudou a Percepção Extra-Sensorial ( PES ) nos

laboratórios da referida universidade, submetendo os resultados obtidos a modelos

matemáticos comprovados e analisando-os também a luz de outras disciplinas como

a biologia, a física e a química.

Após três anos de pesquisas milhares de testes ele publicou a

monografia denominada “Percepção Extra-Sensorial”. Para a professora Eliane

Moura este trabalho marca a dissociação da paranormalidade do misticismo e da

religiosidade.

Na tese da referida Doutora ela alega que para Rhine existia um Novo

Mundo que a ciência parapsicológica descobriu, uma nova área de pesquisas,

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46

daquilo comumente chamado de região do espírito, do inconsciente, além dos cinco

sentidos e de realidade distintamente mental, porém capaz de ser conhecida,

testada, submetida e provada em bases objetivas e estritamente científicas,

ampliando os limites do conhecimento humano: É que, parece-me, o conceito de psi amplia, ao invés de contrair os limites da vida humana; dilata mais do que restringe a visão do lugar do homem na natureza; sugere potencialidade humana e, finalmente, vem em apoio com a própria ciência ao conceito de uma força espiritual no homem, e tal é, sem dúvida, o conceito em que se baseiam os valores e as instituições sociais.

Na década de setenta o psiquiatra e professor da Universidade de

Lund, na Suécia, Nils O. Jacobson, publicou um livro intitulado Vida sem Morte?

Introdução à Parapsicologia, Misticismo, Possessão Demoníaca e Fenômenos

Sobrenaturais. Neste livro ele discute temas como a sobrevivência espiritual e

apresenta hipóteses para questões como a sobrevivência da consciência individual.

Ele buscou demonstrar, através de relatos comprovados, como algumas pessoas

narravam suas vivências extracorpóreas, seja através do sonho ou outros situações

especificas. (apud SILVA, 2007).

Após estudos de relatos comprovados de manifestações e

comunicações com a presença de “mortos” , tanto na presença de médiuns como de

aparelhos (transcomunicação instrumental - TCI ) o professor Jacobson, afirmando

que estes fenômenos fazem parte da natureza assevera que a ocorrência de fenômenos paranormais implica que os seres humanos são algo mais que máquinas complicadas. O homem pode se comunicar com o mundo que o cerca e com os demais além de suas limitações sensoriais. Ele não está completamente isolado, imune ao contato e aos envolvimentos. O ser humano está ligado ao mundo que o cerca de uma maneira mais profunda, potente e misteriosa. Isto não precisa significar algo "sobrenatural', mas apenas que o nosso conhecimento da natureza não está completo.

Para Jacobson, pela quantidade de material estudado e pesquisado,

apesar de ainda não provar a sobrevivência após a morte, ele já pode motivar uma

crença baseada na sobrevivência da consciência após a morte. (apud SILVA, 2007).

O médico Michael Sabom (apud SILVA, 2007) na década de setenta

publicou suas pesquisas no livro “Reflection of Death: a Medical Investigation” após

estudar 116 casos de pacientes com morte clinica declarada. Essas pesquisas

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levaram a conclusão que durante e após a morte a consciência continuava lúcida e

viva.

Ainda segundo a professora Eliane Moura Silva (2007) na década de

sessenta começaram a surgir, através de aparelhos eletrônicos, mensagens dos

chamados “mortos”. Estas comunicações são conhecidas como transcomunicação

instrumental e tem como vantagem a não necessidade de utilização de médiuns ou

paranormais, o que acaba com a subjetividade das experiências mediúnicas e das

entrevistas que sempre levam um caráter pessoal e humano.

Nas experiências de quase morte (EQM) há, ainda que

inconscientemente, um reflexo da personalidade da pessoa depoente. No caso dos

fenômenos intelectuais como a psicografia e a psicofonia há necessidade de um

aprimoramento do médium para que a comunicação possa ser o mais próximo

possível da mensagem original do Espírito comunicante e não sofram interferências

do intermediário.

O pioneiro foi o Sueco Friedrich Juergenson, em 1959 que ao gravar o

canto dos pássaros em Mohlno, localidade próxima de Estolcomo, Suécia, ouviu

vozes humanas misturadas ao gorjeio de pássaros. Após descartar interferência

natural como rádio, notou que as vozes refletiam a intenção de tentativa de

comunicação por parte de pessoas já falecidas. (apud SILVA, 2007).

Este relato encontra-se na obra “Telefone para o Além” do próprio

Juergenson. (apud SILVA, 2007).

Estas gravações eram obtidas com o uso de gravadores e rádios, mas

o principal era a comprovação das vozes, que podiam ser repetidas e controladas

através de protocolos científicos, transformando-se em mais uma prova da

subrevivência da consciência após a morte do corpo físico.

O Dr. Konstantin Raudive juntamente com o físico suíço, Alex

Schneider, aperfeiçoou a técnica de comunicação, utilizando a técnica do play-back.

Com esta metodologia eles conseguiram gravar e estudar mais de 70.000 vozes.

Este trabalho esta na Europa. (apud SILVA, 2007)

O engenheiro inglês da Metascience Foundation Inc, Dr. George Meek

trabalhou com uma máquina que ficou famosa e era conhecida como Spiricom; ele

era destinado a facilitar a comunicação com os Espíritos. (apud SILVA, 2007)

Foi justamente Meek quem construiu os aparelhos mais precisos. Um

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caso interessante narrado pela professora Eliane Moura é o de que o cientista já

falecido Dr. William Francis Gray Swann, físico da Carnegie Institution e professor de

física em Yale iria ajudar o Dr. Meek a desenvolver um aparelho para melhorar a

comunicação entre o plano físico e o espiritual. (apud SILVA, 2007)

Em 1985 Klaus Schreider consegue gravar através de vídeos as

imagens transmitidas pela televisão. Entre os rostos gravados está o do então já

falecido Dr. Raudive. (apud SILVA, 2007)

A doutora Eliane Moura descreve um caso bastante interessante

ocorrido com o professor Ken Webster. Segundo a autora desde 1984, após a reforma da velha casa onde habitava, uma série de fenômenos começaram a acontecer: móveis arrastados, objetos desaparecidos e outros acontecimentos telecinéticos mantinham os moradores em suspense. Após isto, o seu computador aparentemente começou a enlouquecer. Mensagens surgiam na tela e em disquetes alterados por processos paranormais. O principal "interlocutor" espiritual de Webster identificou-se como Thomas Harden, e afirmava ter vivido à época de Henrique VIII. Este nome foi verificado e constava nas anotações do Oxford Brasenose College, onde recebeu, em 1534, um título especial que lhe foi confiscado por ter se recusado a eliminar o nome do papa dos missais. Nesta época ele era decano da capela desse colégio em Oxford. Várias outras mensagens transmitiram detalhes históricos. O analista Peter Trinder analisou as cerca de duas mil palavras das comunicações e enquadrou-as no inglês medieval dos séculos XIV e XVI. O "espírito" de Harden afirmou que ele transmitia, pela "caixa de luz", seus desejos e imaginações, suas lembranças e curiosidades.

O professor Hernani Guimarães Andrade (1991) no prefácio do Livro “

A psicografia a Luz da Grafoscopia “ diz que a psicografia, entre as manifestações

atribuíveis aos mortos, é uma das mais importantes, não só pela simplicidade e

facilidade prática como pela importância histórica do conhecido episódio das

“correspondências cruzadas”.

Estas correspondências ocorreram entre 1901 e 1932.

O engenheiro Hernani relata o caso no prefácio da obra acima referida: Logo após o desencarne de três importantes vultos da Society for Psychical Research – SPR, em Londres, Edmund Gurney ( 1847 – 1888 ), Henry Sidgwick ( 1838 – 1900 ) e Frederick Myers ( 1841 – 1901 ), começaram a surgir, em lugares diferentes e através de diversas médiuns psicografas, mensagens enviadas do além por aqueles falecidos membros da SPR. Quem iniciou este tipo de correspondência foi Myers, cuja cultura clássica era reconhecidamente do mais alto nível, portanto muito superior a das médiuns”. Seguindo o relato ele revela que as mensagens, captadas por diferentes psicógrafas e situadas a grandes distâncias umas das

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outras, separadas não faziam sentido, mas quando juntadas formavam uma peça única com significado e refletiam grande cultura do Espírito comunicante ( que no caso era de Myers ). Logo após começaram a surgir outras mensagens de outros membros da referida sociedade já falecidos, como por exemplo Gurney e Sidgwick, todas com as características dos autores quando em vida. Estes fenômenos duraram aproximadamente 30 anos. O objetivo destas correspondências era provar aos companheiros ainda vivos a sobrevivência da consciência após a morte.

A revista “isto é”, em reportagem denominada “falando com o além” na

edição número 1918 fala sobre a pesquisadora brasileira Sonia Rinaldi que utiliza

tecnologia digital, além das ciências matemáticas em seus estudos de comunicação

com o plano espiritual.

Esta brasileira conseguiu um marco para a ciência que estuda este

fenômeno. Ela conseguiu o primeiro caso autenticado por um laboratório

internacional de um contato com um espírito.

O laboratório em questão é um centro de pesquisas em Bolonha, na

Itália, o Laboratório Interdisciplinar de Biopsicocibernética,.

Foi encaminhada uma gravação da voz de uma jovem morta em um

acidente e outra fita com um recado deixado por pela jovem, antes de morrer, numa

secretária eletrônica. O resultado é um laudo técnico de 52 páginas, cuja conclusão

diz: a voz gravada por meio da transcomunicação é a mesma guardada na

secretária eletrônica.

A este respeito, na mesma reportagem, o físico Cláudio Brasil, mestre

pela Universidade de São Paulo afirma que “Temos que abrir a mente e aceitar que

a ciência não tem explicação para tudo”, diz ele. “É um trabalho puramente

matemático, à prova de fraudes”.

Na Classificação Internacional de Doenças da OMS – ONU (CID 10),

há no código F44, que se refere a Transtornos Dissociativos, o subitem F44.3

Estados de Transe e Possessão. Este estado é caracterizado por uma perda

transitória da consciência de sua própria identidade, entre outros sintomas. Se a

própria medicina reconhece este fenômeno, como pode o mundo jurídico ficar a

parte desta realidade?( grifo do autor)

Como falar em comunicação com os Espíritos sem falar no médium

Francisco Cândido Xavier?

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Este sensitivo foi o maior médium psicógrafo do século XX. São mais

da 400 obras psicografadas, desde romances, poemas, mensagens até textos

filosóficos. Só pela editora da Federação Espírita Brasileira são mais de 88 títulos e

mais de 17 milhões de livros vendidos.

Para o Padre Fronçois Brune, em entrevista a FOLHA ESPÍRITA, a

questão da alma e de sua imortalidade devem ser indagadas de forma tenaz e

isenta de preconceitos: Segundo a tradição mais antiga (que reencontramos assim), a alma é um outro corpo, uma sorte de duplo do nosso corpo material, um duplo animado e consciente, dotado da mesma personalidade, mas constituido de uma matéria bem mais sutil e que não podemos habitualmente perceber aqui por que ele se situa em uma outra dimensão (...) E a conclusão que se impões: são mesmo os mortos que falam (...) Que posso eu, acrescentar a isto? Todavia se pelo menos nossos contemporâneos terminassem por se render à nova evidência, isso seria já um enorme progresso. Sim, existe uma sobrevivência. Sim, existe um Além. Nós o encontramos.

6.2 Conceito e classificação

A psicografia é definida por Carlos Imbassahy (1989, p. 280) como

sendo a escrita psíquica onde o Espírito se manifesta escrevendo a sua mensagem,

e a manifestação é tanto mais perfeita quanto menos consciente é o médium.

Allan Kardec (KARDEC, 1966, p. 36) em "Introdução ao Estudo da

Doutrina Espírita" define a psicografia como "transmissão do pensamento dos

Espíritos por meio da escrita pela mão do médium. No médium escrevente a mão é

o instrumento, porém a sua alma ou Espírito nele encarnado é o intermediário ou

Intérprete do Espírito estranho que se comunica" (KARDEC, 1966).

Valter Lana Borges (2006) em seu artigo “A Parapsicologia e suas

Relações com o Direito”, explica a tese da parapsicologia para a psicografia de

alguns médiuns que foram aceitas em tribunais brasileiros.

Segundo a hipótese da latência psigâmica,

o agente psi, por telepatia, recolheu informações sobre o crime do inconsciente da vítima, ainda quando ela estava viva.a informação telepática pode permanecer no inconsciente do agente psi, durante dias ou meses após o falecimento da pessoa de onde se originou, sendo afinal conscientizada sob forma de "mensagem mediúnica", como se fosse produzida por aquela pessoa na condição de espírito. Assim, a mensagem mediúnica, trazida como prova subsidiária em juízo, constituiria testemunho de pessoa enquanto viva, e não depois

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de sua morte. Poder-se-ia, no caso, argumentar que a vítima, no momento dramático de sua morte, percebeu, de seu ponto de vista, a inocência do réu na prática do ato que lhe tirou a existência. Esta experiência traumática foi captada telepaticamente por um agente psi e, posteriormente, explicitada sob forma de psicografia.

A psicografia se classifica em psicografia direta ( também conhecida

como manual ou involuntária ) e psicografia indireta. (KARDEC, 1984)

Segundo o mesmo autor na psicografia direta

a mão é agitada por um movimento involuntário, quase febril; pessoas com esta mediunidade tomam o lápis mau grado seu, e assim o largam: nem a vontade, nem o desejo as podem fazer prosseguir , caso não o devam fazer”. Já na psicografia indireta “a escrita é obtida pela imposição das mãos sobre um objeto colocado de modo conveniente e mundo de um lápis ou qualquer outro instrumento para escrever. Os objetos mais geralmente empregados são as pranchetas ou as cestas convenientemente preparadas . A força oculta que age sobre a pessoa transmite-se ao objeto, o qual se torna, destarte, uma espécie de apêndice da mão e lhe imprime um movimento necessário para traçar os caracteres.

Hoje a psicografia evoluiu e não mais se utiliza a psicografia indireta,

apenas a direta. Os médiuns que possuem esta mediunidade recebem a

denominação de médiuns psicógrafos.

No “Livro dos Médiuns” Kardec faz a classificação dos médiuns

psicógrafos: médiuns mecânicos, médiuns intuitivos e médiuns semimecânicos.

(KARDEC, 1984).

Na psicografia mecânica o Espírito comunicante atua diretamente

sobre a mão do médium, dando-lhe impulso, independe da vontade do médium. A

mão escreva ininterruptamente até a conclusão da mensagem ditada pelo Espírito.

Segundo mesmo autor o que caracteriza o fenômeno é que o médium

não tem a menor consciência do que escreve. Quando se dá a inconsciência

absoluta, têm-se os médiuns chamados passivos ou mecânicos.

Kardec chama a atenção para este tipo de comunicação por não

permitir dúvida alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve.

(Kardec, 1984)

Este tipo de intercambio é importante porque o Espírito comunicante

utiliza os próprios recursos intelectuais.

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Na psicografia intuitiva o comunicante espiritual não atua sobre a mão

do médium, atua sobre a mente do medianeiro que captando a idéia do comunicante

a escreve. Em tal circunstância, o papel da alma ( do médium ) não é o de inteira

passividade; ela recebe o pensamento do Espírito livre ( livre do corpo físico ) e o

transmite. Ele tem consciência do que escreve, embora não exprima o seu próprio

pensamento. É o que se chama de médium intuitivo. (KARDEC, 1984).

Na psicografia semimecânica, segundo o mesmo autor, um impulso é

dado na mão do médium, sem o seu controle, mas, instantaneamente ele tem

consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam.”

Importantíssimo para este trabalho é a abordagem de Kardec em “O

Livro dos Médiuns” sobre a mudança de caligrafia, importante porque é um dos

meios para que se possa provar, através da perícia, a autenticidade do documento

apresentado.

Assim leciona Kardec: um fenômeno muito comum nos médiuns escreventes é a mudança de caligrafia, conforme os espíritos se comunicam. E o que há de mais notável é que uma certa caligrafia se reproduz constantemente com determinado Espírito, sendo às vezes idêntica `a que este tinha em vida. [...] a mudança da caligrafia só se dá com os médiuns mecânicos ou semimecânicos, porque neles é involuntário o movimento da mão e dirigido unicamente pelo Espírito. O mesmo já não sucede com os médiuns puramente intuitivos, visto que, neste caso, o Espírito apenas atua sobre o pensamento, sendo a mão dirigida, como nas circunstancias ordinárias pela vontade do médium. Mas a uniformidade da caligrafia, mesmo em se tratando de médium mecânico, nada absolutamente prova contra a sua faculdade, porquanto a variação da forma da escrita não é condição absoluta na manifestação dos Espíritos: deriva de uma aptidão especial, de que nem sempre são dotados os médiuns, ainda os mais mecânicos. Aos que a possuem damos a denominação de Médiuns polígrafos.

Em O livro dos médiuns, Kardec (1984) ensina que o papel do médium mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como faria um intérprete. Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro.

Kardec (1984), já familiarizado com a metodologia das comunicações

mediúnicas escreve em "O Livro dos Médiuns" [...] já nos achamos em condições de comunicar com os Espíritos, tão fácil e rapidamente, como o fazem os homens entre si e pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. A escrita, sobretudo, tem a

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vantagem de assinalar, de modo mais material, a intervenção de uma força oculta e de deixar traços que se podem conservar, como fazemos com a nossa correspondência.

Após estas breves explanações sobre a psicografia é importante

analisar a possibilidade de seu emprego como meio de prova.

6.3 A psicografia no Direito – meio de prova. O Brasil é um terreno bastante fértil em fenômenos paranormais e

estes fatos estão repercutindo no Direito, pois este acaba por refletir o que ocorre na

sociedade.

Daí surge indagações que necessitam de respostas: Os fenômenos

paranormais podem repercutir no Direito? A psicografia pode ser utilizada como

prova principal, subsidiária ou não pode ser utilizada de forma alguma?

Para o ex-promotor Dr. Valter da Rosa Borges (2006) o Direito deve se

posicionar, pois ele tem, por conteúdo, o dever ser, é um constructo de situações

possíveis nas relações sociais e merecedoras de disciplinação legal, definindo

responsabilidades e determinando direitos e obrigações.

É importante a visão pertinente do Dr. Rosa Borges, colocando que a

simples possibilidade da ocorrência de determinado fato é já motivo para legitimar a

sua existência preservando de logo a tutela jurídica na hipótese de sua ocorrência.

Mas as os juristas estão divididos sobre a aceitabilidade deste meio de

prova.

6.3.1 Juristas dizem por que a psicografia não pode ser aceita

A jornalista Ana Paiva (2004) na matéria intitulada “Juristas rejeitam

provas espíritas” ouviu diversos profissionais ligados ao Direito.

A opinião do jurista Dalmo Dallari é de que não há consistência em

provas deste tipo e cartas psicografadas não são objetos confiáveis. E ainda

complementa: esta prova só pode ser usada como efeito psicológico e para

impressionar o jurado. Do ponto de vista jurídico, não tem validade. (PAIVA, 2004).

O jurista Eduardo Silveira de Melo Rodrigues, segue o mesmo

raciocínio alegando que utilizar cartas psicografadas como provas é um absurdo e

uma negação da estrutura básica do direito penal. E afirma que o direito não supõe

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revelações do além, é entre vivos. Ele termina afirmando que, apesar do juiz usar

suas convicções na confecção da sentença, ele não pode acolher prova imprestável.

(PAIVA, 2004).

Segundo a matéria, o advogado criminalista Roberto Podval concorda

que a psicografia não pode ser utilizada como prova objetiva no direito.

Materialmente falando, não é prova válida. Mas pode ter um caráter subjetivo e

indicar ao juiz algum caminho.

O advogado Márcio Benjamin Costa Ribeiro em seu artigo intitulado

“As cartas psicografadas e o Tribunal do Júri” acredita que não há como saber a

veracidade da alegação da influência deste tipo de carta nos rumos do julgamento,

afirmando que não há como ter certeza se o material psicografado afetou ou não a

decisão dos jurados, pois estes não fundamentam seu voto visto que a votação é

secreta.

Devido a este motivo ele opina que não se deve aumentar a polêmica

sobre esta influência, pois não haverá como ter uma certeza objetiva.

Assim não há como alegar, com absoluta certeza se ela pode ser

considerada uma prova decisiva ou não, embora, segundo Costa Ribeiro, seria uma

ingenuidade sem tamanho desprezar o peso psicológico de tal documento, visto que

o júri é formado de verdadeiros representantes da sociedade ( segundo o artigo 436

do Código de Processo Penal ) e alguns desses cidadãos podem ser influenciados

pelo força do desconhecido que a vida após a morte representa no inconsciente

coletivo.

Para o professor Roberto Serra da Silva Maia (2006), em artigo

publicado na revista jurídica Consulex, o Código Civil de 2002, em seu artigo 6º

estabelece que “a existência termina com a morte”. Ou seja, não conjectura a

continuidade da vida após a morte e os atos daí advindos teriam que gerar

conseqüências, o que não é previsto pela legislação.

O Código Penal protege a vida desde a concepção e proibindo a sua

eliminação através de homicídio ( artigo 121 ), do aborto ( artigo 124 – 128), do

suicídio ( artigo 122 )e por fim o infanticídio ( artigo 123). E após a morte ainda prevê

a liberdade do culto, proibindo ultraje a objeto destinado a sua realização e o

respeito aos mortos ( artigo 138, § 2º, 208 – 212). Nada diz a respeito de

conseqüências jurídicas de atos praticados por Espíritos.

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55

Citando o autor José Afonso da Silva, o professor Silva Maia (2006)

alega que a Constituição Federal assegura em seu artigo 5º, caput, LV, os princípios

da igualdade, do contraditório e da ampla defesa, com os recursos a ela inerentes.

A norma assevera que todos são iguais perante a lei, significando que

os sujeitos processuais (acusação e defesa) têm os mesmos direitos sem que

qualquer crença religiosa possa ser levado em consideração.

Isto quer dizer que os sujeitos processuais têm o direito de contraditar,

contradizer, contraproduzir e até contra-agir processualmente, no caso voga, a uma

prova psicografada.

As provas trazidas, aos autos para permitir o convencimento do juiz,

por uma das partes deve dar oportunidade igual a outra parte.

Após esta explanação, surge a questão de como se dará a paridade

entre as partes no caso da aceitabilidade da psicografia como meio de prova no

Processo Penal.

Como assegurar juridicamente a impugnação, pela psicografia, do

escrito mediúnico anteriormente realizado? Ou seja, deverá ocorrer uma segunda

psicografia para impugnar a primeira psicografia apresentada pela outra parte

litigante?

As outras crenças religiosas que não admitem a escrita mediúnica são

um obstáculo a produção imparcial deste tipo de prova, pois o Estado brasileiro é

laico segundo o artigo 19, I, da Constituição Federal.

Outra consideração que deve ser levantada diz respeito a ocorrência

do incidente de falsidade documental ( artigos 145 a 148 do Código de Processo

Penal ). Segundo Fernando Capez (apud MAIA, 2006), “diz respeito à substância do

ato ou fato representado no documento”.

Quem deverá ser responsabilizado no caso da falsidade ideológica (

artigo 299 do Código Penal ) é o médium ou o Espírito?

Quanto ao fato do juiz poder formar sua convicção através da livre

apreciação da prova, conforme o artigo 157 do Código de Processo Penal; sistema

conhecido pela doutrina como “livre conhecimento motivado” neste caso ele pode

apreciar a prova sem valores pré-concebidos, mas não pode fugir a uma motivação

racional e lógica.

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56

Marco Antonio Barros (apud Maia, 2006) ensina que a livre apreciação

não significa que o convencimento a ser formado esteja isento do controle de

normas jurídicas. Ou seja, ele pode ouvir a própria consciência, mas deve também

respeitar os princípios jurídicos vigentes, principalmente o da igualdade, tolerância

religiosa, do contraditório e da ampla defesa.

No caso do Tribunal do Júri que não tem a necessidade de

fundamentar suas decisões, devem, em nome da segurança jurídica, analisar uma

prova que tenha passado pelo crivo dos princípios constitucionais, tais como o

contraditório e a ampla defesa. A este respeito José Frederico Marques ensina que

os jurados, apesar de sua soberania, não podem votar contra dispositivo da

Constituição Federal ou Lei Federal. (Maia, 2006)

O professor Silva Maia referindo-se a jurisprudência (

Desembargadora Luzia Galvão Lopes - 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de

Justiça de São Paulo – Processo 129.343-4/0 ) diz que o ordenamento jurídico está

voltado para o julgamento de “homens segundo a lei criada para regular o

relacionamento na sociedade terrena”.

A legislação Penal esta fora das discussões filosóficas acerca da

psicografia como meio de prova no Processo Penal. (Maia, 2006)

Na obra “Processo Penal: Parte Geral”, os autores Alexandre Cebrian

Araújo Reis e Victor Eduardo Rios Gonçalves opinam que não se admite a produção

de prova com a invocação do sobrenatural. (apud Maia, 2006)

O professor Silva Maia conclui pela não aceitabilidade da mensagem

psicografada por ela caracterizar-se como um instrumento particular, o que, segundo

o referido mestre, não é admitido como prova judicial, por afrontar o ordenamento

jurídico, principalmente o artigo 5º, caput e incisos VI, VIII e LV da Constituição

Federal.

6.3.2 Juristas dizem por que a psicografia pode ser aceita

É juridicamente admissível como prova judicial mensagens

psicografadas que digam respeito à determinação de responsabilidade penal? A

resposta é sim. É o ex-promotor Valter da Rosa Borges (2006) quem responde de

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forma afirmativa. Mas ele faz uma ressalva: desde que se trate de prova subsidiaria

e em harmonia com o conjunto de outras provas em direito admitidas.

Alguns argumentos utilizados a favor da utilização deste tipo de

material como meio de prova:

O Estado brasileiro é laico. Segundo o advogado André Luis N. Soares,

os juristas que utilizam esta argumentação parecem desconhecer a história das

pesquisas psíquicas, uma vez que já partem do pressuposto que a hipótese

“Espíritos” seja a realmente a única causa e, finalmente, confundem fato religioso

com fato científico, enquanto o primeiro é não-verificável, apenas intuitivo e motivo

de crença, o segundo pode ser examinado.

Para o professor Ismar Estulano Garcia (2006), em artigo publicado na

revista jurídica Consulex, é possível determinar, cientificamente, se a grafia é da

entidade comunicadora, mediante exame pericial.

Segundo o mesmo autor no exame pericial devem ser confrontadas as

grafias da mensagem psicografada e a da pessoa quando viva, seria o documento

questionado e o documento padrão. O professor Perandréa em sua obra “A

psicografia a Luz da Grafoscopia” leciona como são os procedimentos

metodológicos para se realizar esta perícia.

Vale ressaltar que a mediunidade não pertence a nenhuma religião

específica. A psicografia, psicofonia, a vidência, a xenoglossia, as curas são apenas

algumas das formas desta mediunidade.

A psicografia, no Brasil, é ligada ao Espiritismo devido principalmente,

às milhares de obras psicografadas que estão nas livrarias de todo Brasil e, vale

enfatizar que parte deste material, não pertence a autores praticantes da Doutrina

sistematizada por Allan Kardec.

A paranormalidade foi reconhecida no ordenamento jurídico brasileiro

através da Constituição do Estado de Pernambuco, promulgada em 5 de outubro de

1989, obrigou-se a prestar assistência à pessoa dotada aptidão paranormal,

conforme determina o seu Art. 174: O Estado e os Municípios, diretamente ou através de auxilio de entidades privadas de caráter assistencial, regularmente constituídas, em funcionamento e sem fins lucrativos, prestarão assistência aos necessitados, ao menor abandonado ou desvalido, ao superdotado, ao paranormal e à velhice desamparada.

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A existência da pessoa natural extingue-se com a morte. Este

argumento está de acordo com o artigo 6ª do Código Civil. Se o indivíduo não pode

mais ser titular de direitos e obrigações, a morte é causa extintiva da personalidade

humana.

Segundo André Luis N. Soares (2007), mesmo que não seja permitido

o reconhecimento judicial de permanência da personalidade após a morte física, isto

não exclui o conteúdo do documento que por ventura traga informações cuja

obtenção não seja explicável por meios normais.

Ele arremata alegando que: a norma legal em comento não tem

repercussão em aspecto processual penal e eventual aceitação de prova obtida por

psicografia não interfere na transmissão de direitos e obrigações relativos ao de

cujus.(SOARES, 2007).

Os princípios da Ampla defesa e do contraditório. Paulo Rangel (apud

SOARES, 2007)., assevera: No Estado democrático de direito, os fins não justificam

os meios. Esta visão deve ser respeitada para que se tenha segurança jurídica.

O mestre Greco Filho (1997) leciona que o princípio do contraditório e

da ampla defesa efetua-se pelo conhecimento da demanda por meio de ato formal de citação; pela oportunidade, em prazo razoável, de se contrariar o pedido inicial; através da oportunidade de produzir prova e se manifestar sobre a prova produzida pelo adversário; a oportunidade de estar presente a todos os atos processuais orais, fazendo consignar as observações que desejar; e pela oportunidade de recorrer da decisão desfavorável.

Utilizando-se da aula dada pelo professor Greco Filho, André Soares

(2007) alega que não haveria quebra de paridade por uma evidência descoberta

através de informação obtida por meio da psicografia, visto que há possibilidade de

refutação, em sede judicial, da própria prova material encontrada, sem violação dos

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

6.3.3 Casos de aceitabilidade da psicografia por tribunais no Brasil

Direito Penal Brasileiro, há seis casos conhecidos da aceitabilidade de

comunicações mediúnicas psicografadas. Os casos são os seguintes:

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O primeiro caso o correu dia 10 de fevereiro de 1976 e tendo como réu

João Batista França e vítima Henrique Emmanuel Gregoris, que obteve absolvição

sumária. O processo teve como juiz o Dr. Orimar Bastos. A psicografia utilizada foi

do médium mineiro Francisco Candido Xavier.

O segundo caso foi crime de homicídio, ocorrido em Goiânia, Goiás,

no dia 8 de maio de 1976, praticado por José Divino Gomes contra Maurício Garcez

Henriques. O Juiz de Direito da 6ª. Vara Criminal de Goiânia, Dr. Orimar Bastos,

absolveu o réu, sob fundamento de que a mensagem psicografada de Francisco

Cândido Xavier, anexada aos autos, merece credibilidade e nela a vítima relata o

fato e isenta de culpa o acusado.

No Terceiro caso, João Francisco Marcondes Fernandes de Deus foi

acusado de ter matado a sua esposa, a ex-miss Campo Grande, Gleide Dutra de

Deus, no dia 1º de março de 1980. Em março de 1982, o juiz Armando de Lima

remeteu o processo ao Tribunal do Júri. No primeiro júri realizado, os jurados

reconheceram, por unanimidade, que o réu não teve a vontade de matar, sendo

absolvido. Após a acusação recorrer, foi determinado novo júri e, no segundo

julgamento popular, já em 1990, João Francisco foi acusado por homicídio culposo,

ou seja, sem a intenção de matar.

No Quarto caso também foi crime de homicídio, ocorrido na localidade

de Mandaguari, Paraná, no dia 21 de outubro de 1982, praticado pelo soldado da

Polícia Militar, Aparecido Andrade Branco, vulgo "Branquinho" contra o deputado

federal Heitor Cavalcante de Alencar Furtado. Embora admitida como prova a

mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, na qual o espírito da vítima

inocentava o réu pelo tiro que deste recebera, o tribunal do júri, por cinco votos a

dois, o considerou culpado, tendo o Juiz de Direito, Dr. Miguel Tomás Pessoa Filho,

condenado o réu a oito anos e vinte dias de reclusão.

No quinto caso, ocorrido em julho de 2003, o tabelião Ercy da Silva

Cardoso, de 71 anos, foi encontrado morto com dois tiros na cabeça em sua casa

em Porto Alegre. A suspeita recaiu sobre uma mulher de 63 anos, Iara Marques

Barcelos, ex-amante de Cardoso. O advogado utilizou duas cartas psicografadas

pelo médium Jorge José Santa Maria, da Sociedade Beneficente Espírita Amor e

Luz. Os textos psicografados foram incorporados ao processo por terem sido

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60

"apresentados em tempo". Essa inclusão não foi contestada pela acusação. Iara foi

inocentada por cinco votos a dois.

O sexto caso ocorreu na cidade paulista de Ourinhos. O crime ocorreu

em 1997, quando o comerciante Paulo Roberto Pires foi baleado por dois homens. O

assassino Valdinei Ferreira, condenado por ser o mandante do crime, acusou o

cunhado de Paulo, Milton dos Santos, de ser co-autor. A carta da vítima inocenta

Milton de qualquer envolvimento nos crimes. O promotor pediu adiamento do

julgamento alegando que a carta provocaria comoção.

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CONCLUSÃO

Após consulta a bibliografia jurídica, científica e espírita, constatou-se

que a argumentação de que a psicografia tem apenas cunho religioso é sem

fundamentação e denota falta de conhecimentos acerca das outras ciências. Como

por exemplo, a parapsicologia, a psicologia, a física quântica e até mesmo a

medicina através da CID 10, quando se refere às possessões.

Averiguou - se através dos trabalhos da pesquisadora Sonia Rinaldi,

com a TCI e o professor Perandréia com a grafoscopia, que a comunicabilidade

entre o mundo espiritual e o físico deixou o campo da religião e da crendice popular

e passou para o campo da ciência.

Apurou - se que a constituição do Estado de Pernambuco ao amparar

as pessoas dotadas de paranormalidade foi extremamente feliz, pois será lembrada

como uma das primeiras atitudes dos legisladores em favor destas pessoas dotadas

de aptidões especiais.

Também foi verificado que se a psicografia estiver em harmonia com as

outras provas não vedadas no direito, não há porque não ser aceita como prova

subsidiária.

A existência da pessoa natural extingue-se com a morte, conforme está

no artigo 6ºdo Código Civil Brasileiro. Mas mesmo que ela já não possa ter a

personalidade reconhecida após a morte física, constatou-se que não há como

excluir o conteúdo de um documento que traga informações cruciais para a busca da

verdade real. Embora ele tenha sido obtido por meios ditos não normais.

No estudo foi apurado que a psicografia também não é prova ilícita

porquanto não é proibida.

Conforme as razões apresentadas anteriormente por André Soares e

embasadas na aula de Vicente Greco a psicografia não viola o princípio do

contraditório e da ampla defesa, pois não nega a oportunidade de contestação, no

processo, da prova apresentada. Se ela não pode ser submetida ao principio do

contraditório na produção ela será em juízo.

Uma das características da psicografia verificadas no trabalho é que

ela não pode ser provocada, pois como disse várias vezes o médium Chico Xavier o

telefone toca de lá para cá e não o contrário.

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Outra constatação verificada no presente estudo foi o fato da

psicografia ser obtida por pessoas que estão em busca de conforto após uma perda

traumática, e esta mensagem que trás consolo também pode trazer revelações que

tenham reflexo no meio jurídico.

Em suma, após esta avaliação entendemos que a psicografia pode ser

admitida como meio de prova no Processo Penal Brasileiro. Considerando que o

Direito Penal guarda a tutela dos bens jurídicos de grande relevância, como a vida e

a liberdade, acreditamos que estes bens não podem ser tolhidos pela resistência de

alguns operadores do direito.

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63

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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Anexo A

SENTENÇA PROFERIDA PELO JUIZ ORIMAR BASTOS, RECURSOS E DECISÃO

DEFINITIVA:

Da longa motivação da Sentença do Meritíssimo Juiz de Direito da Sexta Vara

Criminal, da Capital Goiana, Dr. Orimar Bastos, exposta às folhas 193/202 do

Processo:

"No desenrolar da instrução foram juntados aos autos recortes de Jornal e uma

mensagem Espírita enviada pela vítima, através de Chico Xavier, em que na

mensagem enviada do além, relata também o fato que originou sua morte."

"Lemos e relemos depoimentos das Testemunhas, bem como analisamos as

perícias efetivadas pela especializada, e ainda mais, atentamos para a mensagem

espiritualista enviada, pela vítima aos seus pais."

"Fizemos análise total de culpabilidade, para podermos entrar com a cautela devida

no presente feito "sub judice", em que não nos parece haver o elemento DOLO, em

que foi enquadrado o denunciado, pela explanação longa que apresentamos. O

Jovem José Divino Nunes, em pleno vigor de seus 18 anos, vê-se envolvido no

presente processo, acusado de delito doloso, em que perdeu a vida de seu amigo

inseparável Maurício Garcez Henrique."

"Na mensagem psicografada retro, a vítima relata o fato isentando-o. Coaduna este

relato com as declarações prestadas pelo acusado, quando do seu interrogatório, às

fls.100/vs. Por essa análise, fizemos a indagação:

"HOUVE A CONDUTA INVOLUNTÁRIA OU VOLUNTÁRIA DO ACUSADO, A FIM

DE SE PRODUZIR UM RESULTADO ? QUIS O ILÍCITO ?"

"Afastado o dolo, poderia aventar-se a hipótese de culpa, mas na culpa existe o

nexo de previsibilidade (...) José Divino, estando sozinho em seu quarto, no

momento em que foi ligar o rádio, estava cônscio de que ninguém ali se encontrava.

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Acionou o gatilho inconscientemente. Donde se afastar a culpa, pois o fundamento

principal da culpa está na previsibilidade."

"Julgamos improcedente a denúncia, para absolver, como absolvido temos, a

pessoa de JOSÉ DIVINO NUNES, pois o delito por ele praticado não se enquadra

em nenhuma das sanções do Código Penal Brasileiro, porque o ato cometido, pelas

análises apresentadas, não se caracterizou de nenhuma previsibilidade. Fica

portanto, absolvido o acusado da imputação que lhe foi feita.

Publique-se, Registre-se e Intimem-se.

Goiânia. 16 de julho de 1979

(a) ORIMAR DE BASTOS

Juiz de Direito, em plantão na 2ª Vara.

Aos 14 de agosto de 1979, o representante do MP, Dr. Ivan Velasco Nascimento,

em exercício na 20ª Promotoria de Justiça, alicerçado nas disposições contidas no

inciso VI, art. 581 do CPP, requereu ao Juiz de Direito, reforma da sentença ou a

subida dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para o

necessário reexame da mesma.

DA DECISÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

Do Acórdão exarado pelo Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás, constituído às fls.

246/256 do processo:

(...) Sobre a admissibilidade das Provas, dispõe o art. 155 do Código de Processo

penal:

"No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as

restrições à prova estabelecidas na Lei Civil".

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Verifica-se, então, que no Juízo penal NÃO HÁ LIMITAÇÕES DOS MEIOS DE

ROVA, SENDO AMPLA A INVESTIGAÇÃO, DILATADOS OS MEIOS

PROBATÓRIOS, VISANDO ALCANÇAR A VERDADE DO FATO E DA AUTORIA,

OU SEJA, DA IMPUTAÇÃO.

"Ensina Espínola Filho em seu Código de Processo Penal, vol. II/453:

"Como resultado da inadmissibilidade de limitação dos meios de Provas, utilizáveis

nos processos criminais, é-se levado à conclusão de que, para recorrer a qualquer

expediente, reputado capaz de dar conhecimento da verdade, não é preciso seja um

meio de prova previsto, ou autorizado pela Lei, basta não seja expressamente

proibido, se não mostre incompatível com o sistema geral do Direito Positivo, não

repugne a moralidade pública e aos sentimentos de humanidade e decoro, nem

acarrete a perspectiva de dano ou abalo à saúde física ou mental dos envolvidos,

que sejam chamados a intervir nas diligências.

JURI POPULAR :

Encerrados os debates, procedeu-se à votação secreta dos jurados, que absolveram

o réu por seis votos a um.

O DD Procurador da Justiça, Dr. Adolfo Graciano da Silva Neto, em Parecer Criminal

de nº 1/714/80, de 19 de setembro de 1980, acolheu a decisão dos jurados,

concluindo assim, sua assertiva :

"De fato, e seria temeroso negar a evidência, a decisão encontra apoio na versão

apresentada pelo réu que, por sua vez, tem alguma ressonância nos caminhos e

vasos comunicantes da prova. Inquestionável que não se pode perquerir e aferir o

grau valorativo dessa ou daquela versão, basta que o pronunciamento dos jurados

se esteie em alguma prova, para que seja mantido. Inarredável que o caso fortuito é

achadiço na prova, com a qual lidou o Juri e com base nela esteou o veredicto

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absolutório. Destarte, incensurável a decisão dos jurados. É o parecer que submeto

à apreciação da Colenda Câmara Criminal, para as considerações que merecer".

(fls.335/337).

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS, DE 23 DE OUTUBRO DE

1980:

Tomaram parte no Julgamento final, presidido pelo Exmo. Sr. Desembargador

Fausto Xavier de Resende, além do Relator, Des. Rivadávia Licínio de Miranda, os

Des. Joaquim Henrique de Sá e Juarez Távora de Azeredo Coutinho ( Fls.341/344).

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Anexo B

Entrevista com DR. Orimar Bastos

Informativo SERVIÇO ESPÍRITA DE INFORMAÇÕES

Lar Fabiano de Cristo Sábado, 20/11/2004 – Nº. 1912

“Tenho a convicção de que fiz justiça” – declarou Orimar de Bastos, que não é

espírita e na ocasião sofreu perseguição dos colegas de profissão.

O juiz, hoje aposentado, contou um fato curioso por ele vivido ao redigir a primeira

sentença.

“Havia batido à máquina as considerações iniciais e me lembro de ouvir o

relógio da cidade (Piracanjuba) bater 21 horas. Não sei se entrei em transe, mas,

quando dei por mim, estava escutando as badaladas das 24 horas. E a sentença

estava pronta. Não me recordo de ter redigido nada. Levei um susto. Havia escrito,

além das três páginas das quais me lembrava, seis sem sentir. E quando a gente

batia à máquina, era comum cometer alguns erros de datilografia, mas nas últimas

folhas não havia nenhum. Fiquei intrigado e resolvi ir embora. No dia seguinte, ao

me sentar no ônibus para reler a sentença antes de pronunciá-la, acabei dormindo.

Eu havia absolvido o rapaz” – revelou.

A explicação para o fato, inclusive sobre o seu envolvimento nos dois casos,

só veio depois, quando se encontrou com Chico Xavier. O médium mineiro

psicografou uma mensagem do juiz Adalberto Pereira da Silva, desencarnado em

1951, na qual revelava a Orimar que a sua transferência para Goiânia havia sido

planejada pelo Plano Espiritual, para que também pudesse atuar no caso do Divino.

O ex-juiz hoje ministra palestras em Goiânia sobre o caso e se prepara para

lançar um livro no qual contará a história de sua decisão.