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A psicopatia é uma das perturbações da personalidade mais estudada, atendendo ao impacto negativo que os comportamentos associados a esta perturbação possuem na comunidade onde o psicopata vive, nomeada- mente a forte relação com o cometimento de comportamentos criminais. Nos estudos criminológicos aparecem referidos, desde de sempre, determinados indivíduos que dispõem, de forma continuada, de uma grande capacidade de agressão, tanto no sentido físico como no psicológico, e que englobam comportamentos de hostilidade e manipulação. Na verdade, a identificação de indivíduos que são responsáveis por agressões sistemáticas, em muitas ocasiões com grave dano para as suas vítimas, e que se caracterizam por serem cruéis, irresponsáveis e por não terem vida emocional real, nem sintomas característicos de enfermidade mental, possuem todos os indicadores para se inserirem num diagnóstico de psicopatia. De um modo geral, os estudos indicam que a psicopatia se manifesta numa série de condutas que são resultado de factores biológicos e da personalidade, relacionados com uma série de antecedentes familiares e outros factores ambi- entais. No entanto, a definição do conceito de psicopatia, e o impacto que esta perturbação apresenta nos contextos forense e clínico, impli- cam o desenvolvimento de mais investigações. No sentido de enquadrar a importância deste conceito e definir o seu “estado de arte”, serão apresentados neste artigo os aspectos que definem o conceito de psicopatia e a sua evolução. Procura-se assim, contribuir para uma sistematização deste conceito tão importante para a compreensão do fenómeno da crimina- idade, e para a prevenção e intervenção nos contextos da criminalidade com contornos de maiores índices de reincidência e violência. O CONCEITO DE PSICOPATIA Definir psicopatia, reveste-se de grande complexidade. Na verdade, a definição deste conceito foi alvo de várias influências, quer em termos da sua evolução na vertente científica, quer em termos da sua utilização ao nível da linguagem de senso comum, onde este conceito surgiu como sinónimo de “louco” ou “criminoso” (Gonçalves, 1999b). A evolução científica do conceito apresentou vários percursos determinados por aspectos sociais, morais e estereótipos associados à comunidade científica (Gonçalves, 1999a). A falta 227 Análise Psicológica (2010), 1 (XXVIII): 227-240 O estado de arte do conceito de psicopatia CRISTINA SOEIRO (*) RUI ABRUNHOSA GONÇALVES (**) (*) Escola de Polícia Judiciária; Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz; e-mail [email protected]. (**) Escola de Psicologia, Universidade do Minho, Braga, Portugal; e-mail: [email protected].

O estado de arte do conceito de psicopatia

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Criminologia

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A psicopatia é uma das perturbações dapersonalidade mais estudada, atendendo aoimpacto negativo que os comportamentosassociados a esta perturbação possuem nacomunidade onde o psicopata vive, nomeada-mente a forte relação com o cometimento decomportamentos criminais. Nos estudoscriminológicos aparecem referidos, desde desempre, determinados indivíduos que dispõem,de forma continuada, de uma grande capacidadede agressão, tanto no sentido físico como nopsicológico, e que englobam comportamentos dehostilidade e manipulação. Na verdade, aidentificação de indivíduos que são responsáveispor agressões sistemáticas, em muitas ocasiõescom grave dano para as suas vítimas, e que secaracterizam por serem cruéis, irresponsáveis epor não terem vida emocional real, nem sintomascaracterísticos de enfermidade mental, possuemtodos os indicadores para se inserirem numdiagnóstico de psicopatia.

De um modo geral, os estudos indicam que apsicopatia se manifesta numa série de condutasque são resultado de factores biológicos e dapersonalidade, relacionados com uma série de

antecedentes familiares e outros factores ambi-entais. No entanto, a definição do conceito depsicopatia, e o impacto que esta perturbaçãoapresenta nos contextos forense e clínico, impli-cam o desenvolvimento de mais investigações.

No sentido de enquadrar a importância desteconceito e definir o seu “estado de arte”, serãoapresentados neste artigo os aspectos quedefinem o conceito de psicopatia e a suaevolução. Procura-se assim, contribuir para umasistematização deste conceito tão importantepara a compreensão do fenómeno da crimina-idade, e para a prevenção e intervenção noscontextos da criminalidade com contornos demaiores índices de reincidência e violência.

O CONCEITO DE PSICOPATIA

Definir psicopatia, reveste-se de grandecomplexidade. Na verdade, a definição desteconceito foi alvo de várias influências, quer emtermos da sua evolução na vertente científica,quer em termos da sua utilização ao nível dalinguagem de senso comum, onde este conceitosurgiu como sinónimo de “louco” ou“criminoso” (Gonçalves, 1999b).

A evolução científica do conceito apresentouvários percursos determinados por aspectossociais, morais e estereótipos associados àcomunidade científica (Gonçalves, 1999a). A falta

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Análise Psicológica (2010), 1 (XXVIII): 227-240

O estado de arte do conceito de

psicopatia

CRISTINA SOEIRO (*)RUI ABRUNHOSA GONÇALVES (**)

(*) Escola de Polícia Judiciária; Instituto Superiorde Ciências da Saúde Egas Moniz; [email protected].

(**) Escola de Psicologia, Universidade do Minho,Braga, Portugal; e-mail: [email protected].

de consenso relativamente à designação atribuídaà perturbação em análise e aos indicadores que acaracterizam são os aspectos que marcaram estafase de definição do conceito. Na verdade, comoalternativa ao termo de psicopatia, surgiramdesignações como perturbação de carácter(Millon, 1981), perturbação da personalidade anti-social (American Psychiatric Association – APA,1980), perturbação da personalidade dissocial(World Health Organization – WHO, 1965, citadopor Gonçalves, 1999b) e sociopatia (Partridge,1930) diversidade que introduziu limitações noenquadramento conceptual e avaliativo destaperturbação grave da personalidade.

Estas definições integravam indicadoresdiversos da perturbação, sendo, por exemplo, oconceito de perturbação de carácter muitoabrangente, enquanto os conceitos de perturbaçãoda personalidade anti-social e de personalidadedissocial e sociopatia se referiam principalmenteaos indicadores comportamentais associados aesta perturbação.

A definição clara de psicopatia é algo funda-mental, devido às suas implicações na investiga-ção, diagnóstico, avaliação, intervenção e replica-bilidade de resultados na área de estudo referenteàs perturbações da personalidade (Gonçalves,1999b). Atendendo à importância de uma claradefinição deste conceito, serão analisados, nopresente artigo, os aspectos mais relevantes quesurgem associados a esta problemática.

A evolução da definição do conceito depsicopatia pode ser dividida em dois grandesmomentos que são marcados pelo trabalhoefectuado por Cleckley (1941/1976) e pelodesenvolvimento, a partir de 1952, da classifi-cação das perturbações mentais realizada pelaAssociação Americana de Psiquiatria (AmericanPsychiatric Association) (cf. DSM-I; AmericanPsychiatric Association, 1952, citado por Soeiro,2006), trabalhos que marcaram as definições maisrecentes.

AS PRIMEIRAS ABORDAGENS DOCONCEITO DE PSICOPATIA

É pacífico que o conceito de psicopatia surgiudo trabalho desenvolvido por Pinel em 1809, quede forma mais específica introduziu o conceito

de “mania sem delírio” para designar aquelesindivíduos que mostravam acções atípicas eagressivas. Em 1812 o americano Rush nos seustrabalhos atribuiu a insensibilidade dospsicopatas a um defeito congénito que, noentanto, não identificou (Cantero, 1993).

Pritchard, um psiquiatra inglês, introduziu em1835, o termo de insanidade moral para se referiraos sujeitos cuja moral ou princípios de condutaeram fortemente pervertidos e indicadores decomportamento anti-social. Prichard, seguidor daescola ambientalista, foi o primeiro a atribuir aesta perturbação a influência do meio, propondocomo meio de intervenção, na psicopatia, orecurso a medidas ambientais que possibilitas-sem a estes indivíduos integrar-se num meioadequado e ultrapassar assim o problema(Cantero, 1993).

Esta concepção contribuiu para o desenvol-vimento de escolas educativas para jovens comcomportamento desviante. A designação deinsanidade moral, apresentada por Pritchard, foiposteriormente colocada em causa, já que estetermo surgia associado, igualmente, a outrasanomalias psíquicas que não integravam apsicopatia e porque o termo moral foi questio-nado por vários actores sociais, desde a áreajurídica até à religiosa.

Koch, psiquiatra alemão, como resposta àproblemática introduzida por Pritchard, apre-sentou em 1888 uma outra proposta de conceitopara esta perturbação da personalidade. Assim,este autor apresentou o conceito de “inferiori-dade psicopática”, que definiu como umaanomalia de carácter, em grande parte devido aaspectos congénitos ou ainda a aspectosresultantes de enfermidade psíquica (Gonçalves,1999a).

Mas é Kraepelin entre 1896 e 1915, queintroduziu o termo de “personalidade psico-pática”, conceito utilizado até aos dias de hoje.Esta designação surgiu integrada numa tipologiamais vasta de treze categorias base, elaboradapor este autor, e que procurava descrever um tipode indivíduos com indicadores de comporta-mento criminal anormal ou imoral (Lykken,1995).

O início do século XX é marcado por umconjunto importante de desenvolvimentosrelativamente ao estudo da psicopatia,

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identificando-se uma maior orientação para oestudo dos indicadores comportamentais destaperturbação (Cantero, 1993).

Entre 1923 e 1955 Schneider realizouimportantes contribuições no campo da psico-patia. Este autor utilizou o termo “personalidadepsicopática” como uma entidade integradora decertas patologias, apresentando uma claradistinção entre os conceitos de doença mental ede psicopatia. O autor considerou ser erradodefinir como doença mental uma perturbaçãoque tem por base traços psíquicos (Cantero,1993). A sua classificação baseava-se, então, nostraços disposicionais associados ao estudo dapersonalidade e das vivências que determinavamo desenvolvimento da mesma. Nesta perspectiva,a psicopatia está relacionada com desviosquantitativos das características normais dapersonalidade, salientando-se, desta forma, aimportância dos aspectos predisposicionais(Gonçalves, 1999a). Este conjunto deindicadores está na base da sua tipologia daspersonalidades psicopáticas.

Schneider (1923/1955), classificou aspersonalidades psicopáticas em 10 categoriasdistintas: (1) Hipertímicos; (2) Depressivos; (3)Inseguros; (4) Fanáticos; (5) Carentes de valor;(6) Lábeis de humor; (7) Explosivos; (8)Apáticos; (9) Abúlicos; (10) Asténicos. Apesardesta tipologia, o autor chamou ainda a atençãopara a identificação de diversas combinaçõescom gradações diferentes. Segundo Gonçalves(1999a), este trabalho corresponde a uma tenta-tiva de precisão do diagnóstico da psicopatia,que teve já o contributo de outros autores comoKoch e Kraepelin.

As definições até aqui apresentadas podem serconsideradas como as primeiras tentativas dedefinir este conceito. Segue-se uma análise dasdefinições mais actuais do conceito.

AS ABORDAGENS CONTEMPORÂNEASDO CONCEITO DE PSICOPATIA

A perspectiva clínica do conceito

Uma das contribuições mais importantes nadefinição actual de psicopatia deve-se aotrabalho de Cleckley, que proporcionou uma

descrição clínica mais detalhada da psicopatia esuas diversas manifestações. São os critériosclínicos a base da investigação desenvolvidapor este autor. No seu livro “The Mask of Sanity”(1941/1976) apresentou um perfil da psicopatia,indicando os traços mais significativos daperturbação: (1) Encanto superficial e boainteligência; (2) Inexistência de alucinações oude outras manifestações de pensamentoirracional; (3) Ausência de nervosismo ou demanifestações neuróticas; (4) Ser indigno deconfiança; (5) Ser mentiroso e insincero; (6)Egocentrismo patológico e incapacidade paraamar; (7) Pobreza geral nas principais relaçõesafectivas; (8) Vida sexual impessoal, trivial epouco integrada; (9) Ausência de sentimentos deculpa ou de vergonha; (10) Perda específica daintuição; (11) Incapacidade para seguir qualquerplano de vida; (12) Ameaças de suicídioraramente cumpridas; (13) Raciocínio pobre eincapacidade para aprender com a experiência;(14) Comportamento fantasioso e poucorecomendável com ou sem ingestão de bebidasalcoólicas; (15) Incapacidade para responder nageneralidade das relações interpessoais; (16)Exibição de comportamentos anti-sociais semescrúpulos aparentes. Para este autor a principalcaracterística do psicopata é a deficiente respostaafectiva face aos outros, o que explicaria a forterelação com condutas anti-sociais.

É no trabalho de Cleckley (1941/1976) que sebaseiam as definições mais recentes de psico-patia, principalmente as que se inserem numavertente clínica do conceito. São os critériosclínicos definidos por este autor que estão nabase das investigações desenvolvidas, e queassentam sobretudo no recurso a questionáriosde personalidade, entre os quais se destacam oMinnesota Multiphasic Personality Inventory –MMPI (Hare, 1996; Hare & Cox, 1978).

Buss (1966) descreveu a psicopatia de acordocom dois componentes distintos: sintomas etraços da personalidade. Os sintomas consistiamem comportamentos centrados na busca deestimulação, desrespeito pelas convenções,incapacidade para controlar impulsos ou adiargratificações, rejeição da autoridade e disciplina,raciocínio pobre na avaliação de comporta-mentos mas bom em situações e comporta-mentos associais e anti-sociais. Os traços de

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personalidade referem-se a relações interpessoaisdefeituosas ou uma incapacidade fundamentalpara amar ou para estabelecer amizadesverdadeiras, inexistência de intuição própria,ausência de culpa ou vergonha e, por último,uma fachada de competência e maturidade quemascaram uma inconsistência geral e aincapacidade para ser digno de confiança.

Buss (1966) propôs ainda um padrãotridimensional de características manifestas dapsicopatia. Assim o psicopata é: (a) uma pessoavazia e isolada; (b) não tem uma identidadebasilar e (c) não tem perspectiva de controlo dotempo.

McCord e McCord (1964) efectuaram umaextensa revisão de literatura relativa ao conceitode psicopatia, de onde resultou a identificação deum conjunto de características que melhor defineesta perturbação. Segundo estes autores apsicopatia estaria relacionada com a “incapa-cidade para amar” e a “ausência de sentimentosde culpa”. Estas características estariam na basedos comportamentos anti-sociais apresentadospelos indivíduos com este tipo de perturbação.

McCord e McCord (1964) caracterizaram ospsicopatas como pessoas associais, agressivas,altamente impulsivas, egocêntricas, com baixolimiar de tolerância à frustração e incapazes demanter laços afectivos com outros humanos. Opsicopata é assim descrito como possuindo umapersonalidade desajustada e regulada por desejosprimitivos e por uma busca exagerada desensações.

Perante este conjunto vasto de alterações dapersonalidade que surgem associadas ao conceitode psicopatia, na sua vertente mais clínica,muitas áreas de investigação deste tipo deperturbação abandonam a utilização do mesmo,considerando-o como inoperante e moralista(Doren, 1987). Este contexto levou ao desenvol-vimento de outras perspectivas de investigaçãocom impacto na definição do conceito depsicopatia.

As classificações nosológicas e a perspectivacategorial de psicopatia

Pichot (1978, citado por Soeiro, 2006) aoprocurar fazer um ponto de situaçãorelativamente à definição de psicopatia,

identificou a influência de duas posiçõesdistintas na sua caracterização: uma das posiçõesbaseava-se no trabalho de Pritchard (1985,citado por Gonçalves 1999a) e do seu conceitode insanidade moral, e a outra no trabalho deSchneider (1923/1955), relativo ao termo de“personalidade psicopática” (Gonçalves, 1999b).Para Pichot a confusão surgiu quando aperspectiva inglesa recorreu ao termo germânicoe lhe atribui um significado que nem sempre lheera aplicado, já que para Schneider a psicopatianão resultava forçosamente de uma inadequaçãosocial. Segundo Pichot, esta confusão no uso dostermos acabou por influenciar a elaboração dasclassificações nosológicas das doenças mentais.

As classificações nosológicas das doençasmentais permitiram o desenvolvimento de umaabordagem categorial no que se refere àdefinição de psicopatia. Assim, nesta vertente deestudo da perturbação salientou-se, em primeirolugar, a influência do conceito de personalidadesociopática de Partridge (1930, citado porGonçalves, 1999a), que foi adoptado pelaAmerican Pychiatric Association, na 1ª ediçãodo Manual de Diagnóstico e Estatística dosTranstornos Mentais (DSM-I; APA, 1952, citadopor Cantero, 1993).

Partridge (1930) referiu-se ao conceito depersonalidade sociopática para designar aincapacidade ou falta de vontade de algunssujeitos para se sujeitarem às leis da sociedade.O uso deste conceito perdurou até à edição de1980, ano em que a DSM-III passou a utilizar otermo de “perturbação da personalidadeantisocial”, recorrendo ao conceito original-mente empregue por Prichard e aos trabalhosdesenvolvidos por Robins (1966, 1978).

Robins (1966) desenvolveu uma descriçãocomportamental da psicopatia focalizada noscomportamentos observáveis, e, por conse-quência, mensuráveis, não sendo necessário paradefinir a perturbação, inferir sobre os processospsicológicos subjacentes. Através destaabordagem a autora procurou clarificar odiagnóstico de psicopatia, excluindo os indica-dores que poderiam remeter para o diagnósticode esquizofrenia, atraso mental, lesão orgânicaou comportamentos anti-sociais relacionadoscom os consumos de substâncias.

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Segundo Robins (1966) esta opção visavaresponder à necessidade de se estabeleceremcritérios psicológicos para um diagnóstico maisobjectivo desta perturbação. Deste trabalhoresultou um diagnóstico de psicopatia baseadoem aspectos comportamentais, que podem serobservados e medidos, não considerando osfactores de natureza clínica que definem estaperturbação da personalidade.

Deste modo, na versão da DSM-III-R(American Psychiatric Association, 1987) foramapresentados os indicadores fundamentais para adefinição desta perturbação. Assim, o conceitoapresentado definiu a perturbação a partir de umconjunto de comportamentos anti-sociais, jáidentificados antes dos 15 anos de idade, mas quepersistiam ou se alteravam para outro tipo decomportamentos anti-sociais. Os comportamentosque definiam a perturbação englobavam: a mentirafrequente, roubo, absentismo escolar, vandalismo,fugas de casa e crueldade para com os animais eas pessoas. Estes comportamentos evoluíam paraoutro tipo de problemas mais complexos como aausência de responsabilidade financeira e familiar,incapacidade para efectuar projectos futuros emanter um posto de trabalho de forma contínua,envolvimento em actos anti-sociais e criminaisque poderiam culminar na prisão.

Do ponto de vista comportamental eram aindareferidos como indicadores importantes aagressividade e impulsividade e o envolvimentoem experiências de risco, como condução velozsob a influência do consumo de substânciascomo álcool ou drogas. No que se refere aosaspectos emocionais, foram definidos comocentrais a ausência de sentimentos de culpa e adificuldade em estabelecer relações afectivasestáveis.

As edições posteriores desta classificação dasperturbações psicopatológicas, a DSM-III-R(APA, 1987) e a DSM-IV (American PsychiatricAssociation, 2002) mantiveram a noção de“perturbação da personalidade anti-social”, sebem que a última edição incluía já característicasda psicopatia definidas por Cleckley (1976) eapresentadas no trabalho de Hare (1991).

As versões mais recentes, DSM-IV (APA,1994, citado por Soeiro, 2006) apresentam,assim, algumas alterações que correspondem auma agregação, simplificação e alteração dos

critérios que definem a perturbação. Osindicadores que são considerados nestas versõescentram-se claramente em aspectos relativos aoestilo de vida anti-social, e não em indicadoresclínicos (sintomas interpessoais e afectivos)(Hart, Cox, & Hare, 1995). Na verdade, estesaspectos têm sido alvo de polémica já que,segundo esta noção, se por um lado se reduz ogrupo de indivíduos que podem ser classificadoscom esta perturbação, a verdade é que osindicadores integram mais facilmente indivíduosque apresentam comportamentos criminais (Hart,Cox, & Hare, 1995; Hare, Hart, & Harpur,1991). Tal como o refere Gonçalves (1999a,b),cerca de ¾ dos indivíduos presos em Portugalapresentam comportamentos que permitem quesejam classificados como possuindo umaperturbação da personalidade de cariz anti-social. Assim, na prática o que acontece, éincluir os delinquentes comuns reincidentes,com um alargado historial delituoso, nessaclassificação, mas excluir muitos sujeitosrealmente psicopatas que não mostraram essaactividade tão marcadamente anti-social.

Apesar de a DSM-IV (APA, 1994, citado porSoeiro, 2006) considerar importante os sintomasinterpessoais e afectivos, na prática nãoapresenta uma orientação no modo como podemser avaliadas (Hart, Cox, & Hare, 1995)1. Estalimitação mantém-se na versão mais recentedesta classificação a DSM-IV-TR (APA, 2002).

A DSM não constituiu a única classificaçãodas perturbações psicopatológicas com impactona definição da psicopatia. Na verdade, aInternational Classification of Diseases (ICD-8,World Health Organization, 1965; ICD-10,World Health Organization, 1987, citado porGonçalves, 1999b), baseando-se na terminologiade Schneider, coloca o conceito de psicopatiacomo termo genérico para este grupo deperturbações. O conceito de perturbação de

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1 “A ausência de empatia, imagem inflamada de sipróprio e o charme superficial são indicadores que têmsido incluídos nas concepções tradicionais de psicopatiae podem ser particularmente distintivos da perturbaçãoanti-social da personalidade, e factores de predição derecidiva na prisão, ou nos contextos forenses onde osactos criminais, delinquentes e agressivos podem nãoser específicos” (American Psychiatric Association,1994, citado por Soeiro, 2006).

personalidade dissocial, surge como umadesignação específica, que em última análisepassou a ser considerado como sinónimo doconceito de personalidade anti-social apresen-tada pela classificação da American PsychiatricAssociation. Atendendo ao maior impacto dotrabalho desenvolvido pela American PsychiatricAssociation, e considerando que no contextodos EUA o termo dissocial possuía um enqua-dramento diferente de anti-social2, o últimotermo passou a ser mais utilizado nos trabalhosde natureza científica sobre as temáticas da anti-socialidade (Gonçalves, 1999b).

O impacto da perspectiva tipológica

Para além das concepções que se inseremnuma vertente clínica e categorial, pode aindaser identificado um conjunto de definições quese inserem numa abordagem tipológica.

Nos anos sessenta surgiram as definições eclassificações de psicopatia que procuravamarticular os indicadores da realidade com adefinição do conceito. Inserido principalmentenuma abordagem clínica de psicopatia, cadaautor tendia a descrever esta perturbação emfunção da importância que dada a uma ou váriascaracterísticas a ela associadas (Cantero, 1993).A maior parte das definições eram centradas nostraços clínicos relativos ao egocentrismo,ausência de empatia e sentimentos de culpa e deestabelecimento de relações afectivas com osoutros (Hare, 1970).

Nesta linha de investigação, Karpman (1961,citado por Gonçalves, 2000) definiu o psicopatacomo uma pessoa instável e emocionalmenteimatura. As suas reacções surgem simples eprovocadas por situações de frustração ou dealgo que incomoda o psicopata. Não experi-mentam ansiedade nem medo, as suas relaçõessociais e sexuais são superficiais, as recom-pensas/castigos não têm qualquer efeito sobre oseu comportamento imediato. Este autor refere,no entanto, que estes indivíduos, apesar de serem

simples nas suas reacções emocionais, sãocapazes de simular estados emocionais e afectospara com os outros sempre que isso lhes permitaatingir os objectivos que pretendem.

Karpman (1941, citado por Gonçalves, 2000)distinguiu dois tipos de psicopatas: o sintomáticoe o ideopático. Posteriormente, este autorapresentou uma outra tipologia que definiu portipo agressivo-predador e tipo passivo-parasita(Karpman, 1955, citado por Gonçalves, 1999b).Procurando definir, de um modo geral, cada umdos tipos apresentados por este autor, verifica-seque o primeiro corresponde a indivíduos com umcomportamento frio, agressivo e insensível ecom o objectivo de se apropriarem de tudo o quedesejam, enquanto no segundo possuem umaaparente necessidade de ajuda e simpatia,alcançando os seus propósitos de forma parasita.

Nesta linha de investigação podem serigualmente consideradas as concepções depsicopatia que possuem por base os estudosefectuados a partir de tratamentos estatísticos,principalmente com recurso à análise factorial.Estes estudos procuraram identificar grupos(clusters) de traços de personalidade quepermitissem definir os vários tipos depersonalidades psicopáticas. Os trabalhosdesenvolvidos nesta linha de investigaçãotiveram por base análise da história de vida dosindivíduos, rating scales, questionários de auto-relato e inventários de personalidade (Gonçalves,1999a). Importa considerar aqui os trabalhosdesenvolvidos por Jenkins (1960, citado porGonçalves, 2000), Quay e colaboradores (Quay,1965; Quay & Parsons, 1971) e Blackburn(1971, 1978, 1986).

Considerando o trabalho desenvolvido porJenkins (1960, citado por Gonçalves, 2000),este tinha por base a análise de grupos decrianças com história de comportamentodelinquente. Da análise dos resultados do estudo,o autor obteve três tipos distintos de psicopatas:o primeiro grupo, que definiu como “nãosocializado-agressivo” era definido portendências agressivas, crueldade, desafio àautoridade e sentimentos inadequados de culpa;o segundo grupo, definido por “sobre-ansioso”,caracterizava-se por timidez, apatia, sensibi-lidade e submissão; o terceiro grupo, designadopor “socializado”, surge associado a grupos anti-

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2 Nos EUA dissocial refere-se aos contextos ondeos indivíduos apresentam dificuldades nocumprimentos de regras sociais, enquanto o conceitode anti-social se refere aos indivíduos que seapresentam incapazes quanto à tolerância das regrassociais, entrando em ruptura com as mesmas.

-sociais, com envolvimento em grupos comhistória de roubo e ausências da escola e de casa(Gonçalves, 1999a).

Quanto ao trabalho de Quay e colaboradores(Quay, 1965; Quay & Parsons, 1971), estepermitiu a identificação de dois factores quepermitiram definir a psicopatia: a delinquênciapsicopática, que integrava aspectos como fracamoralidade, rebeldia, impulsividade, e ausênciade laços familiares; e a delinquência neurótica,que correspondia a tendências agressivas eimpulsivas, sentimentos de culpa, remorsos,tensão e depressão. Posteriormente foi identifi-cado por Quay (1977, citado por Gonçalves,1999a) mais dois grupos de indivíduos, levandoao desenvolvimento de uma tipologia definidapor quatro factores: “sub-socialização” e “socia-lização”, “défice de atenção” e “ansiedade--retraimento-disforia”. Estes trabalhos deramsuporte aos estudos da perspectiva clínica,desenvolvidos por Karpman (1955, citado porGonçalves, 1999b) e de Lykken (1957), já quereplicaram uma divisão factorial para definirpsicopatia semelhante à apresentada pelosautores da vertente clínica. Assim, o psicopataagressivo corresponde à designação de psicopataprimário, enquanto o psicopata neurótico corres-ponde à caracterização do psicopata secundário.

Os trabalhos desenvolvidos por Blackburn(1971, 1975, 1986), com base em amostras deagressores violentos e com recurso ao MMPI,confirmaram igualmente os dados anteriores.Nos seus estudos Blackburn conseguiu obterduas dimensões distintas em que os agressorespodeiam ser diferenciados: os sub-controlados eos sobre-controlados. Destes trabalhos resultouuma tipologia que subdividia os psicopatas emquatro subgrupos: (1) psicopatas primários; (2)psicopatas secundários; (3) psicopatas inibidos;(4) psicopatas conformados (Blackburn, 1984).

Howells e Hollin (1988, citado porGonçalves, 2000) afirmaram que estes quatrosubgrupos podiam ser encontrados na populaçãoprisional e que existiam diferenças napersonalidade e no comportamento entre ossubgrupos. Assim, os psicopatas primáriosapresentavam baixa ansiedade e elevada extro-versão, ao contrário dos psicopatas secundáriosque eram definidos como introvertidos e comelevada ansiedade. Blackburn (1984) verificou

que 52% de psicopatas primários e 8% depsicopatas inibidos tinham história de reinci-dência de actos violentos.

Estes dados foram igualmente confirmadospor trabalhos desenvolvidos posteriormente porLykken (1995), Levenson, Kiehl, e Fitzpatrick(1995) e Ross, Lutz, e Bailley (2004). Destesestudos resultou uma tipologia que define ospsicopatas primários como indivíduos insen-síveis, pouco ansiosos, calculistas, manipulativose mentirosos, e os psicopatas secundários, quegenericamente se considera que sofrem de umadesordem neurótica, que estimula o comporta-mento impulsivo por eles apresentado.

Estes trabalhos envolveram uma abordagem doconceito de psicopatia, que desencadeou odesenvolvimento de uma tipologia que dicotomizao comportamento destes indivíduos em psico-patas primários e secundários, e que ainda hoje éalvo de discussão e controvérsia (Blackburn,1993; Blackburn & Coid, 1998; Ross, Lutz, &Bailley, 2004), já que autores como Hare (1991,2003) defendem uma definição do conceitounidimensional (Soeiro, 2006).

A abordagem dimensional do conceito depsicopatia

Enquadrando uma abordagem unidimensionaldo estudo do conceito de psicopatia, surgem ostrabalhos desenvolvidos por Robert Hare. Esteautor é um dos investigadores que mais contribuiupara o estudo do conceito de psicopatia e para asua avaliação.

A noção de psicopatia que Hare (1991, 2003)apresenta opõe-se a uma abordagem tipológica doconceito, tal como é apresentado pelos trabalhosde Levenson, Kiehl, e Fitzpatrick (1995) e Ross,Lutz, e Bailley (2004). Na verdade, estes autoresreferem que a sua tipologia, associada à definiçãoda psicopatia, corresponde ao mesmo tipo dedados obtidos por Hare (1991), apesar de nãoconsiderarem o conceito de psicopatia comounidimensional. Contudo, Hare (1980, 1991) nãoaceita esta divisão dos psicopatas em dois tipos deindivíduos, já que os seus estudos são reveladoresdos vários critérios/dimensões que definem adesordem e não de tipos diferentes de perfis a elaassociados.

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Hare (1970) caracterizou o psicopata comoalguém incapaz de mostrar empatia oupreocupação genuína por outrem, que manipula eusa os outros para satisfazer os seus própriosdesejos. Estes indivíduos, segundo este autor,apresentam ainda uma sinceridade superficial,que os torna capazes de convencer aqueles queusou e a quem prejudicou, da sua inocência ouda sua motivação para mudar.

O trabalho desenvolvido por Hare (1991)apresenta claramente a influência dos estudos deCleckley (1941/1976) e de McCord e McCord(1964). Assim, para este autor, a psicopatia édefinida como um constructo unidimensionalcomposto por dois factores correlacionados(Hare, 1980, 1991; Harpur, Hasktian, & Hare,1988; Hart, Hare, & Harpur, 1992): um dosfactores está associado aos aspectos clínicos(interpessoais e afectivos) que definem estaperturbação da personalidade e o outro maisassociado aos aspectos comportamentais quedefinem o termo de estilo de vida anti-social.Hare apresenta uma definição de psicopatia queengloba um conjunto de traços de personalidadee comportamentos socialmente desviantes,devendo os indivíduos apresentar característicasdos dois tipos de indicadores para seremclassificados como psicopatas. Este modelo dedois factores torna-se, na última década, odominante no que se refere à definição depsicopatia (Skeem, Mulvey, & Grisso, 2003).

Na sequência do trabalho desenvolvido porHare (1980, 1991) e Hart, Cox, e Hare (1995), enuma tentativa de estudar a replicação desteconstructo de dois factores em termostransculturais, foram desenvolvidas investiga-ções que defendem que o conceito de psicopatiadeve ser definido não por dois mas por trêsfactores (cf. Cooke, 1997, 1998; Cooke &Michie, 2001): o primeiro factor foi definido porestilo interpessoal arrogante e dissimulado; osegundo factor corresponde a uma deficienteexperienciação dos afectos; e o terceiro factor foidefinido por estilo de comportamento impulsivoe irresponsável. Nesta perspectiva, a definição depsicopatia integra três facetas distintas, umarelativa a aspectos de natureza interpessoal,outra relativa a aspectos afectivos e outra queconsidera indicadores de natureza comporta-mental (Cleckley, 1941/1976; Cooke & Michie,

2001; Hare, 1991). Tal como é referido porCooke e Michie (2001), para definir psicopatia éimportante considerar o contributo dos trêsindicadores, que possuem igual peso na carac-terização do constructo.

A proposta de definição do conceito depsicopatia a partir de um modelo de três factores,em substituição do modelo de dois factores deHare (1991), introduz um debate em torno dopapel do comportamento anti-social na carac-terização do constructo psicopatia. Na verdade, opapel do comportamento anti-social, definidocomo um sintoma no modelo bi-factorial de Hare(1991), é apresentado como uma consequência dapsicopatia nos resultados obtidos pelos trabalhosde Cooke e Michie (2001) e Cooke, Michie, Hart,e Clark (2004). A forte relação estabelecida entrepsicopatia e a variável comportamento anti-socialsurgiu da associação que existe entre estaperturbação da personalidade e a criminalidade e aviolência típica das amostras estudadas (Hare,Cooke, & Hart, 1999, citados por Cooke, Michie,Hart, & Clark, 2004; Hart & Hare, 1997, citadospor Cooke, Michie, Hart, & Clark, 2004). Estarelação, tal como já foi referido, surge relacionadacom a psicopatia, não apenas no modelo de Hare(1991), mas também nos critérios de diagnósticoapresentados pelos diferentes sistemas nosoló-gicos. Contudo, a natureza da associação entrepsicopatia e comportamento anti-social não éclara (Cooke, Michie, Hart, & Clark, 2004;Cooke, Michie, & Hart, 2006).

Assim, a diferença apresentada pelo modelodos três factores de Cooke e Michie (2001), nãoestá relacionada apenas com a subdivisão emduas partes do Factor 1 do modelo de Hare(1991), que integra os aspectos clínicos daperturbação e que separa os indicadores inter-pessoais dos afectivos. A principal discussãocentra-se na eliminação dos indicadores relativosaos comportamentos anti-sociais, mantendoapenas os aspectos comportamentais relativos àimpulsividade e irresponsabilidade. Esta posiçãoé igualmente defendida por autores comoLilienfeld, Purcell, e Jones-Alexander (1997,citado por Soeiro, 2006), que partindo dosaspectos definidos por Cleckley (1941/1976),consideram que o comportamento antisocial nãoé necessário nem suficiente para o diagnósticoda psicopatia. Deste modo, estes autores

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consideram que esta definição, centrada nosdois factores de Hare (1991), se encontra conta-minada por factores não específicos relativos aocomportamento desviante e anti-social.

Como resposta a esta posição apresentadapor Cooke e Michie (2001) e ao modelo de trêsfactores para definir o conceito de psicopatia,Hare (2003) apresenta um novo modelo dequatro factores com a mesma finalidade decaracterização da psicopatia. Assim, Hare (2003)apresenta uma nova proposta relativamente aossintomas de psicopatia e que engloba os trêsfactores apresentados por Cooke e Michie (2001)e um quarto factor que considera os indicadoresrelativos ao comportamento anti-social. Aanálise dos indicadores que definem o conceitode psicopatia segundo esta estrutura de quatrofactores é aprofundada e confirmada em Hare eNeuman (2006), ao serem comparados os indica-dores que caracterizam os instrumentos criadospara a avaliação da psicopatia a partir daPsychopathy Checklist-Revised (PCL-R – Hare,1991).

Cooke, Michie, Hart, e Clark (2004) estudama adequação de cada um dos modelos referidosanteriormente e defendem que os indicadoresrelativos ao comportamento anti-social nãopodem ser considerados como uma manifestaçãodirecta da perturbação psicopatia, para amostrascom características culturais distintas. Naverdade, não confirmam a adequação do modelode Hare (2003) relativamente à introdução de umquarto factor que integra os indicadores relativosao comportamento anti-social e desviante.

Considerar o comportamento anti-social comoum sintoma, implica integrá-lo como um indi-cador importante para a avaliação e diagnósticoda psicopatia. Os dados empíricos obtidos porCooke e Michie (2001) e Cooke, Michie, Hart, eClark (2004) na análise das qualidades psico-métricas de um dos instrumentos mais utilizadospara a avaliação da psicopatia, a PCL-R (Hare,1991, 2003) e a sua versão reduzida PCL:SV(Hart, Cox, & Hare, 1995) permitem, contudo,aceitar a possibilidade do comportamento anti--social ser considerado como uma consequênciada psicopatia.

Mas, para além dos indicadores empíricos,Cooke, Michie, Hart, e Clark (2004) referemainda quatro argumentos de natureza teórica na

defesa da “hipótese de consequência”, quando seconsidera o papel dos indicadores relativos aocomportamento anti-social, na definição doconceito de psicopatia.

Em primeiro lugar, estes autores defendemque as definições clínicas mais clássicas depsicopatia (Cleckley, 1941/1976; Karpman,1961, citado por Gonçalves, 2000; McCord &McCord, 1964) não definem o comportamentoanti-social como um sintoma central nacaracterização da perturbação. Este aspecto éreforçado por Schneider (1950/1958, citado porGonçalves, 1999b) e por Cleckely (1941/1976)que consideraram a possibilidade de que muitosindivíduos com psicopatia não apresentamhistória de comportamento anti-social, tendoScnheider afirmado que o comportamento anti--social deve ser considerado como secundáriopara a definição desta perturbação da personali-dade. Esta mesma posição foi apresentada porLykken (1995) ao considerar que, apesar dospsicopatas apresentarem risco elevado para seenvolver em actos criminosos, nem todossucumbem a este risco.

Em segundo lugar, Cooke, Michie, Hart, eClark (2004) defendem que existem indicadoresde que determinados sintomas da psicopatia sãoa causa da exibição de condutas anti-sociais: ossintomas interpessoais como grandiosidade,implicam os psicopatas em actos criminosossádicos, motivados por desejos de controlo;limitações afectivas como a ausência de empatiae a ansiedade resultam numa dificuldade eminibir os pensamentos violentos; a impulsividade,por sua vez, surge associada ao cometimento deactos criminosos sem que o sujeito tenhapresente a consequências associadas a este tipode actos (e.g., Blackburn, 1993; Blackburn &Coid, 1998)

Cooke, Michie, Hart, e Clark (2004) referemcomo terceiro ponto fundamental a análise dosaspectos qualitativos que definem o comporta-mento anti-social, e que se distinguem dossintomas da psicopatia. Na verdade, enquanto ocomportamento anti-social está relacionado comactos, os restantes sintomas da psicopatiarelacionam-se com traços de personalidade.Blackburn (1987) defendeu que um diagnósticobaseado em actos e traços da personalidade éfeito recorrendo a critérios que integram domí-

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nios conceptuais distintos. A mesma posição éapresentada por Widiger e Lynam (1998) eLilienfeld (1994).

O quarto aspecto de natureza conceptualsugere que o comportamento anti-social resultada influência de um conjunto variado de factoresde natureza biológica, psicológica e social. Naverdade, no estudo do comportamento criminal,indica que a psicopatia é apenas uma das causas,podendo encontrar-se igualmente como fonte decausalidade as desordens psicóticas, o atrasomental, uso e dependência de substâncias ououtras perturbações da personalidade (Cooke,Michie, Hart, & Clark, 2004).

Perante este conjunto de dados conceptuais eempíricos, a definição do conceito de psicopatianecessita, segundo a perspectiva de Cooke et al.(2004) e Cooke, Michie, e Hart (2006) de umaredefinição que deve considerar os factores docomportamento desviante e anti-social comoconsequência da psicopatia e não como umsintoma desta desordem da personalidade. Adefinição de psicopatia deve, segundo esta pers-pectiva, eliminar os critérios que se encontramrelacionados com o comportamento desviante eanti-social.

Nesta perspectiva Cook, Hart, Logan, eMichie (2004) apresentam uma nova proposta noque se refere à identificação de domínios quedefinem e permitem avaliar a psicopatia. Aavaliação compreensiva da personalidadepsicopática (Comprehensive Assessment ofPsychopathic Personality – CAPP) correspondea um modelo que define a psicopatia em cincodomínios: (1) Domínio da vinculação, que avaliaas dificuldades do psicopata em estabelecerrelações interpessoais; (2) Domínio comporta-mental, que analisa os problemas relativos aoplaneamento e cumprimento das tarefas eresponsabilidades; (3) Domínio cognitivo, quereflecte os problemas com a adaptabilidade eflexibilidade mentais; (4) Domínio dadominância, relacionado com questões de gestãodo poder e controlo; (5) Domínio do Self, quedefine problemas relacionados com a identidadee individualidade do psicopata.

O CAPP pretende diferenciar os domínios ouáreas da psicopatia dos seus sintomas, procu-rando elaborar um instrumento de avaliação que

seja discriminatório em termos de diagnóstico dapsicopatia.

Esta separação entre os aspectos da personali-dade e os critérios relativos ao comportamentoanti-social podem facilitar, em termos teóricos, oestudo da relação entre a psicopatia e ocomportamento desviante e, em termos práticos,a clarificação dos critérios de avaliação facilitama decisão a ser tomada relativamente àclassificação, avaliação de risco de violência etratamento dos indivíduos em contexto clínico//forense (Soeiro, 2006).

O “ESTADO DE ARTE” DO CONCEITO DEPSICOPATIA

Após a análise dos aspectos relacionados coma definição de psicopatia, verifica-se que sãodiversas as influências que se encontramassociadas à sua caracterização e que, por isso,originaram várias definições do constructo.Apesar desta diversidade, observa-se, no entanto,uma evolução relativamente ao consenso sobreos indicadores deste constructo (Gonçalves,2000; Soeiro, 2006).

Como forma de sistematização, Blackburn(1992) identifica três formas distintas de utilizaçãodo conceito de psicopatia, na literatura. Uma quese relaciona com a ideia de desvio/deterioração,pessoal ou psicológica, em relação à normalidade,baseada na tradição de Schneider e reconhecida naICD-10 (World Health Organization, 1987, citadopor Gonçalves, 1999b). A segunda define oconceito como um desvio/deterioração social,apresentando o comportamento desviante e anti-social um lugar de destaque na explicação daperturbação. Esta influência está presente naDSM-IV-TR (American Psychiatric Association,2002). A terceira perspectiva de psicopatia édefinida por Blackburn como híbrida, já queconjuga os aspectos da deterioração dapersonalidade, enquanto desvio social, com oscritérios clínicos associados à perturbação. Osautores que melhor exemplificam esta concepçãosão Cleckley (1951/1976) e mais recentementeHare (1991, 2003).

Segundo Gonçalves (1999a) as definições depsicopatia podem ser agrupadas em quatroabordagens distintas: as concepções tipológicas,

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dimensionais, categoriais e clínicas. Para esteautor, os trabalhos desenvolvidos por Hareinserem-se na abordagem dimensional, apesar desalientar a forte influência de autores oriundosda vertente clínica.

De uma forma geral, e como resultado do queaté aqui foi exposto, pode considerar-se que oconceito de psicopatia pode ser definido por umconjunto de características ou traços depersonalidade (Cleckley, 1951/1976; Hare, 1991,2003) que podem estar presentes em indivíduoscom ou sem história de anti-socialidade e quesurgem desde a infância, piorando na adoles-cência e persistindo na fase da adultez(Gonçalves, 2000). Deste modo, define-se aqui ocontorno de uma perturbação da personalidade,salvaguardando-se os aspectos relacionados como papel do comportamento anti-social comosintoma ou como consequência desta pertur-bação (Soeiro, 2006).

Quanto à articulação, quando se considera oconceito de psicopatia, entre uma abordagemdimensional (e.g., Hare, 1991, 2003) e umaabordagem tipológica (e.g., Blackburn, 1971,1984, 1986) os dados relativos aos estudos sobrea psicopatia primária e secundária parecemindicar que esta abordagem apresenta umcontributo importante para a compreensão dofenómeno. Para alguns autores (cf. Gonçalves,1999a,b), estas duas abordagens podem mesmoser vistas como conciliáveis, principalmentequando se considera o estudo de populaçõescom história criminal.

DISCUSSÃO

De um modo geral, pode considerar-se queexistem várias definições de psicopatia. A suautilização é influenciada por vários aspectoscomo sejam, o país, a legislação e a tradiçãocientífica.

Um dos aspectos interessantes que ressaltamda análise da área de estudo da psicopatia, querem termos teóricos, quer práticos, é o grandeimpacto, nas últimas décadas, que o trabalhodesenvolvido por Hare (1991) possibilitou narealização concertada de investigações emdiferentes contextos (forense, clínico-forense eclínico) e em diferentes realidades culturais.

Esta diversidade de estudos permitiu analisarquais os indicadores que melhor definem estaperturbação da personalidade, possibilitando odesenvolvimento de uma forte relação entre osaspectos empíricos relacionados com a avaliaçãodos indicadores de psicopatia e os aspectosconceptuais, relacionados com a definição doconstructo. A revisão do modelo e do respectivoinstrumento que o originou, pode então levar aalterações na vertente teórica do constructo,demonstrando a importância da articulação quepode ser estabelecida entre a prática e a teoria.

Do ponto de vista teórico, considerando osaspectos referidos ao longo deste artigo, ficampor analisar dois problemas fundamentais noestudo da psicopatia: um, é se o conceito depsicopatia deve ser definido de uma formacategorial ou dimensional; e outro é se existemdois tipos de psicopatas – primários esecundários.

Quanto ao estudo da relação entre umaabordagem categorial, centrada num conjunto decritérios que definem a desordem (e.g., DSM-IV-TR; APA, 2002) e a dimensional, que consideraos atributos clínicos específicos da psicopatia, osresultados das investigações, parecem mostrarque não faz sentido reduzir esta perturbação aaspectos relativos ao estilo comportamental, talcomo é apresentado pela abordagem categorial.

No contexto da discussão relativa à existênciade uma divisão entre psicopatas primários esecundários, autores como Hare não consideramos segundos como psicopatas verdadeiros. Noentanto, alguns dos estudos mencionados (e.g.,Lykken 1995; Blackburn & Coid, 1998) mostramque esta distinção faz sentido (cf. Soeiro, 2006).

Cook, Hart, Logan, e Michie (2004) defendemque um modelo de 5 factores se encontra maispróximo do trabalho desenvolvido por Cleckley(1941/1976) e por McCord e McCord (1964), jáque ao centrar a definição de psicopatia emindicadores específicos relativos à personali-dade, permite afastar o impacto de índices nãoespecíficos relativos ao comportamento anti--social e colocar de forma mais firme o conceitode psicopatia, no domínio das perturbações dapersonalidade. A contra proposta de Hare (2003)e Hare e Neumann (2006), com a apresentaçãode uma estrutura de quatro factores, insere-seclaramente na problemática da definição de qual

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o papel do comportamento anti-social naexplicação do conceito de psicopatia, definindoesta variável como um sintoma de psicopatia.Assim, a questão persiste: o seu papel será desintoma ou de consequência da perturbação?Esta é uma questão importante, para esta área deestudo e para a compreensão do comportamentocriminal, que merece uma análise mais detalhadaem investigações futuras.

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RESUMO

Este artigo tem como objectivo efectuar umaanálise do conceito de psicopatia, tendo presente a suaevolução e as principais questões que se colocam nasua relação com o estudo do comportamento criminal.São analisados os principais indicadores quecaracterizam as perspectivas clínica, categorial,tipológica e dimensional do conceito de psicopatia,assim como os principais aspectos que as diferenciam.No final do artigo é discutido o impacto, quer emtermos teóricos quer empíricos, dos aspectos que sãodefendidos como centrais, na definição de psicopatia,para cada uma das abordagens apresentadas.

Palavras-chave: Comportamento criminal,Personalidade anti-social, Psicopatia.

ABSTRACT

The aim of this article is to make an analysis of theconcept of psychopathy, bearing in mind theimplication of the concept in the study of criminalbehaviour. We analyze the most important factorsthat characterize the several perspectives related withthe conceptualization of psychopathy: the clinical,categorical, typological and dimensional perspectivesof the concept. Is also discussed the impact, boththeoretical and empirical, of the aspects that aredefined as essential in the definition of psychopathy,for each of the approaches presented.

Key-words: Anti-social personality, Criminalbehavior, Psychopathy.

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