19
A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA-MS: uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006 Wagner Suzano de Freitas Palavras-chave: Censo agropecuário, Nova Andradina-MS, Modernização 2.2 CANA DE AÇÚCAR Outro produto importante no setor agrícola do Estado é a cana de açúcar, sendo uma das primeiras atividades econômicas documentadas na história do Brasil. A cana‐de‐açúcar pertence à família Poaceae e sua origem geográfica é atribuída ao Sudoeste Asiático, Java, Nova Guiné e também à Índia. É cultivada na faixa territorial, compreendida entre os paralelos 30º de latitude Norte e Sul do Equador. Figura 01: Faixa territorial de cultivo da cana-de-açúcar entre os paralelos norte e sul Fonte: British Sugar, 2008

Produção agrop cap2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Censo agropecuário, análises de Nova Andradina-MS, produção agrícola da cana-de-açúcar.

Citation preview

Page 1: Produção agrop cap2

A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA-

MS: uma análise pelos censos agropecuários de 1995/1996 e 2006

Wagner Suzano de Freitas

Palavras-chave: Censo agropecuário, Nova Andradina-MS, Modernização

2.2 CANA DE AÇÚCAR

Outro produto importante no setor agrícola do Estado é a cana de

açúcar, sendo uma das primeiras atividades econômicas documentadas na

história do Brasil.

A cana‐de‐açúcar pertence à família Poaceae e sua origem geográfica é

atribuída ao Sudoeste Asiático, Java, Nova Guiné e também à Índia. É

cultivada na faixa territorial, compreendida entre os paralelos 30º de latitude

Norte e Sul do Equador.

Figura 01: Faixa territorial de cultivo da cana-de-açúcar entre os paralelos norte e sul

Fonte: British Sugar, 2008

As primeiras mudas chegaram ao Brasil em 1532, trazidas por grumetes

da expedição de Martin Afonso de Souza. Com o solo fértil, o clima tropical e a

mão-de-obra escrava trazida da África a planta se espalhou rapidamente pela

região.

Page 2: Produção agrop cap2

Na época da colonização o açúcar era um produto escasso devido à

falta de áreas cultiváveis na Europa, e muito valioso também, podendo-se

comparar seu preço com ouro e pedras preciosas. Portugal enriqueceu com o

repasse da produção de açúcar do Brasil-colônia para toda a Europa.

Os principais centros de produção açucareira do Brasil encontravam-se

onde hoje se localizam os estados de Pernambuco (Zona da Mata de

Pernambuco), Bahia (Recôncavo Baiano) e São Paulo (São Vicente)

Ayala (2006) se refere à cana-de-açúcar como a mais importante lavoura

do Estado, afirmando não haver dados para precisar quando se deu o início da

cultura em Mato Grosso, sendo que os antigos supõem que a planta foi

encontrada em estado nativo às margens do Rio São Lourenço.

Citando a fertilidade das terras do Mato Grosso dando início a plantação

de cana-de-açúcar, onde hoje é a cidade de Corumbá, Ayala relata uma

entrevista com um filho de produtor da região, do Engenho do Frey Manoel:

Não obstante haver tomado, desde a sua infância, parte ativa na administração do negócio da família, nunca viu-se plantar ali um canavial, tendo se feito apenas, nesse longo tempo, algumas replantas em alguns carreadores dos canaviais já existentes e que continuavam a fornecer boa cana. (AYALA, 2006, p. 269)

Tais relatos datam de 1914, compilados no Álbum Fotográfico de Mato

Grosso (2006), e trazem interessantes detalhes sobre as diversas culturas

produzidas no Estado por essa época, mostrando o lado artesanal do plantio e

colheita dos produtos. No caso do plantio da cana-de-açúcar, em cidades onde

a produção era mais desenvolvida, o sistema da cultura de plantação de mudas

era feita por vinte trabalhadores, divididos em três turmas, que podiam plantar

seis toneladas de mudas por dia, uma vez que já estivessem prontas as mudas

e as covas.

O primeiro centro açucareiro do Brasil foi implantado em Pernambuco,

considerada a principal região produtora do País, e até hoje a região Nordeste

responde pelo menos por 20% da produção brasileira de açúcar e etanol,

enquanto mais de 80% da produção vem das regiões Sudeste, Centro-Oeste e

Sul, especialmente o estado de São Paulo, conforme se observa na Figura

abaixo:

Page 3: Produção agrop cap2

Figura 02: Áreas de plantação de cana-de-açúcar, 2010

Fonte: NIPE-Unicamp, IBGE e CTC

A produção de cana-de-açúcar se concentra nas regiões Centro-Sul e

Nordeste do Brasil. O mapa acima mostra em vermelho as áreas onde se

concentram as plantações e usinas produtoras de açúcar, etanol e

bioeletricidade, segundo dados oficiais do IBGE, UNICAMP (Universidade

Estadual de Campinas – SP) e do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira).

Figura 03: Localização das usinas de álcool e açúcar no Brasil

Page 4: Produção agrop cap2

Fonte: Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe)

A exploração de recursos naturais e da mão de obra se estendeu

primeiro pela costa brasileira, com o povoamento e a ampliação do número de

engenhos, sendo que em 1610 foram registrados 600 engenhos no País.

(FUNDAJ, 2010)

Um fator de suma importância na plantação de cana-de-açúcar pelo

Brasil é com relação ao relevo, que apresenta tantas diferenças em cada

região, como pode ser verificado nas Figuras a seguir.

Figura 04: Plantação de cana-de-açúcar em Pernambuco

Page 5: Produção agrop cap2

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

A foto mostra uma plantação no Nordeste, com solo calcário de

massapé, bastante propício ao cultivo da cana, mas um terreno totalmente

acidentado, com as desvantagens geográficas desta área em Pernambuco.

Figura 05: Plantação de cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

Page 6: Produção agrop cap2

Contrastando com a foto anterior vê-se aqui a planície no Mato Grosso

do Sul, um solo muito mais favorável para a colheita em grande escala.

Um aspecto da cultura da cana-de-açúcar no Brasil, que nem sempre é

discutido diz respeito às condições de trabalho existentes nas plantações, os

salários, as épocas de colheita, os equipamentos de segurança, maquinário,

transporte dos trabalhadores, habitação, alimentação e demais fatores

relacionados aos indivíduos empregados nessa cultura.

As casas construídas para os empregados, feitas com os piores

materiais, moradias precárias, apenas para abrigar as pessoas, não ofereciam

conforto algum.

Figura 06: Colheita da cana antes da mecanização

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

Nessa fase anterior à mecanização eram usados tratores pequenos,

para os quais não eram necessários conhecimentos específicos para seu

manejo, porém, nessa Figura 06, vemos o trabalhador sem qualquer tipo de

Page 7: Produção agrop cap2

acessório de proteção, nem ao menos um macacão, totalmente exposto ao sol

e a outros riscos.

Figura 07: Trabalhadores da cana-de-açúcar

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

Nestas imagens fica evidente a falta de instalações apropriadas,

uniforme, luvas, capacete, material de proteção, extintores e demais acessórios

obrigatórios aos trabalhadores.

Page 8: Produção agrop cap2

Figura 08: Trabalhadores da cana-de-açúcar

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

Nessa Figura 08 é possível ver que o trabalhador está usando luvas,

mas não tem qualquer outro acessório de proteção, ficando bem próximo da

entrada da moagem da máquina.

Figura 09: Moita

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, 2010

Page 9: Produção agrop cap2

Dentro do engenho ficavam as máquinas para o processamento da

cana, como a “moita”, na Figura 09, construída artesanalmente para a

finalidade.

Baseado em dados de 2008, estima-se que o Brasil possui uma área

total de 851 milhões de hectares, dos quais 15,9 milhões de hectares estão sob

lâmina de água. Dos 835,1 restantes, aproximadamente 6,96 milhões, ou 0,8%,

foram plantados com cana‐de‐açúcar na safra 2007. (FARIA e FRATA)

As condições ideais para cultivo da cana-de-açúcar, considerando clima,

relevo e demais fatores necessários, estão na área chamada de Bacia

Hidrográfica do Rio Paraná, composta por 88 milhões de hectares,

aproximadamente 10,3% do território brasileiro, como se pode observar nas

Figuras 10 e 11:

Figura 10: Bacia do Paraná

Fonte: Instituto Ciência Hoje, 2007

A região hidrográfica do rio Paraná tem uma área de 879,86 mil Km2 ou

quase 88 milhões de hectares, e abrange os estados de São Paulo (25% da

Page 10: Produção agrop cap2

região), Paraná (21%), Mato Grosso do Sul (20%), Minas Gerais (18%), Goiás

(14%), Santa Catarina (1,5%) e Distrito Federal (0,5%).

Algumas regiões alcançam alta tonelagem por hectare devido à boa

disponibilidade de água e à insolação, mas não são as mais apropriadas para a

produção, pela falta de um período de estiagem e temperaturas mais baixas,

considerados elementos climáticos fundamentais para concentrar a sacarose.

O jornal O Estado de São Paulo publicou a matéria “Canaviais e

queimadas já desafiam a Amazônia”, explicando que cada tonelada rende no

máximo 90 quilos de açúcar na Amazônia, enquanto no Sudeste são 135 quilos

por tonelada. (O Estado de São Paulo, 08/10/2007), percebe-se assim as

diferenças que ocorrem resultado das condições climáticas e variações de solo

em toda a área plantada com cana-de açúcar no país.

Figura 11: Áreas de plantio de cana-de açúcar

Fonte: Instituto Ciência Hoje, 2007

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –

MAPA, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de

Page 11: Produção agrop cap2

alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados, sendo

que há 91 milhões de hectares de áreas não exploradas e disponíveis para a

agricultura, e a pecuária ocupando 220 milhões de hectares. (MAPA, 2011)

Ainda segundo dados da MAPA (2011), na safra 2006/07 a

industrialização das 475 milhões de toneladas colhidas produziu 17,5 bilhões

de litros de álcool e 30,2 milhões de toneladas de açúcar.

A produtividade da cana‐de‐açúcar é medida em toneladas por hectare e

também pela quantidade de açúcar (sacarose) presente quando colhida, pois é

isto que determina quanto de açúcar industrializado ou etanol será produzido.

A preocupação com áreas de preservação, com o cerrado, também i

fluência fortemente a escolha de novas áreas para plantio da cana, pois cada

vez mais a exploração desenfreada e não planejada traz prejuízos para a fauna

e flora locais.

Na figura a seguir é mostrado onde estão as áreas de conservação, com

alta prioridade, e (em rosa) os melhores lugares para plantio da cana-de-

açúcar.

Figura 12: Áreas para produção de cana-de-açúcar e áreas de conservação

Fonte: Instituto Ciência Hoje, 2007

As áreas com potencial para produção de cana-de-açúcar (em rosa),

quando comparadas com as áreas prioritárias de conservação com importância

Page 12: Produção agrop cap2

extremamente alta (em verde), mostram que a expansão da cultura da cana-

de-açúcar representa um grande risco para o cerrado, provocando também

efeitos indiretos sobre a biodiversidade: empurraria as plantações de soja e a

pecuária para áreas florestadas (inclusive na Amazônia) e provocaria o

surgimento desordenado de cidades, conforme pesquisas do Instituto Ciência

Hoje. (ICH, 2007)

O plantio da cana-de-açúcar ocupa menos de 1% das terras

agriculturáveis do Brasil, segundo a EMBRAPA, mas mesmo assim o país é

hoje o maior produtor e exportador de açúcar do mundo e o segundo maior

produtor de etanol. O governo tem tomado diversas medidas para garantir o

crescimento da produção sem agredir o meio ambiente, e para tanto lançou o

Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar (ZAE Cana), após inúmeros

estudos realizados pela EMBRAPA, que traz muitas restrições ambientais,

econômicas e sociais para o plantio da cana, conforme pode-se observar no

mapa da Figura 12. Este estudo prevê ainda o uso de terras de pecuária para a

produção de cana-de-açúcar.

Figura 13: Alternância de uso da terra, para pasto e plantação

Fonte: o autor

A área de pasto, tanto natural quanto plantado, aos poucos está sendo

substituída pelo plantio da cana-de-açúcar. Apesar da impressão de o estado

ter a cultura predominante de criação de bovinos, o principal produto, em nível

Page 13: Produção agrop cap2

histórico, é a cana-de-açúcar. Com a elevação constante dos preços do açúcar

no mercado internacional e o aumento da demanda de álcool combustível no

mercado interno, o rebanho bovino estabilizou-se, mas a área de plantio de

cana-de-açúcar aumentou sensivelmente nos últimos anos.

A rotação das culturas, fator essencial na recuperação do solo, que

ocorre com obrigatória freqüência, tem sido reduzida a alternância entre a soja

e a cana de açúcar, como pode ser observado na figura a seguir:

Figura 15: Lavoura de soja e cana-de-açúcar - MS

Fonte: o autor

A pecuária ocupa cerca de 20% do território ou 172,3 milhões de

hectares, abrigando 169,9 milhões de cabeças, que geram uma produção de

21,43 bilhões de litros de leite18, 8,6 milhões de toneladas de carne e 42,4

milhões de unidades de couro19.

A média de 0,98 cabeças de gado por hectare para o país é considerada

muito baixa, segundo a EMBRAPA, e por isto é um tema extensamente

debatido e sempre apresentado como indicador da ineficiência do setor: toma

um imenso território para retornar baixíssimo desempenho econômico. Cerca

de 80% das pastagens no país têm algum nível de degradação e 60% estão

totalmente degradadas.

Page 14: Produção agrop cap2

A cana-de-açúcar tem, atualmente, um significado bem mais amplo do

que um único produto, pois trata-se da matéria prima para a produção de álcool

anidro, álcool hidratado, energia natural, bebidas, cosméticos, plásticos,

papéis, ração animal e uma gama de outros produtos.

No aspecto mundial o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar,

seguido pela Índia e Austrália, tendo números expressivos no setor

sucroalcooleiro, contando com 320 indústrias de açúcar e álcool; 5,5 milhões

de hectares de terras cultivadas; produção de 1,5 milhões de toneladas de

cana anuais, gerando por volta de 1 milhão de empregos diretos, conforme

dados apresentados pela ÚNICA – União da Agroindústria Canavieira de São

Paulo, com dados da safra de 2004. Por outro lado, a renda do setor

sucroalcooleiro é a terceira maior do agronegócio brasileiro, ficando atrás

apenas dos produtores de soja e milho.

Outro aspecto importante da participação da cana na matriz energética

do país é a possibilidade de geração de energia elétrica através do

processamento da biomassa, se tornando uma alternativa viável para geração

de excedentes de energia, principalmente para o setor agroindustrial.

O estado de Mato Grosso do Sul teve um crescimento significativo do

cultivo da cana nos últimos anos, em especial na região sul do Estado, em

terras antes destinadas à pecuária e em áreas de pastagens degradas.

Segundo o IBGE 2006 os principais municípios produtores são: Sonora, Rio

Brilhante, Nova Alvorada, Maracajú, Itaquiraí, Naviraí, Nova Andradina e

Sidrolândia.

As políticas agrícolas atuais permitem plantio de cana de açúcar em toda

a bacia do Rio Paraná, não sendo permitido o cultivo em escala industrial no

Pantanal, mas existe uma forte pressão empresarial para que se formulem leis

permitindo transformar tudo num imenso canavial. (ALMEIDA, 2008).

Com economia mais forte no setor primário, sua produção é

transportada através de rodovias que cortam o Centro Oeste para escoar a

produção para portos do estado de São Paulo e Paraná e no caso dos

derivados da cana de açúcar, geralmente abastecem os mercados internos

destes estados.