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Escola Secundária de Santa Maria da Feira Outubro 2012 Quem foi Padre António Vieira? "Os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem. "

Quem foi Padre António Vieira

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Escola Secundária de Santa Maria da Feira

Outubro 2012

Quem foi Padre António Vieira?

"Os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem. "

Trabalho realizado por:

Cátia Daniela nº8, Daniela Filipa nº9, Henrique Pinho nº14, Sabrina Santos nº24 11ºE

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Introdução

Com este trabalho pretendesse introduzir o estudo do Sermão de Santo António aos Peixes, descobrindo referências cronológicas da sua vida e a importância que este teve na época em que viveu e que tem nos dias de hoje.

António Vieira viveu durante grande parte do século XVIII. Foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Tinha origem alentejana e sua mãe tinha descendências africanas. Este era o mais velho de quatro filhos. Viveu no Brasil imensos anos mas viajava para Portugal e outros países europeus sempre que necessário. Destacou-se como missionário nas terras brasileiras sendo uma das personagens mais influentes do século nos assuntos de política. Defendeu incondicionalmente os direitos humanos dos povos indígenas do Brasil (índios), combatendo e acabando com a sua exploração e escravização. Era conhecido por muitos como “Paiaçu”, que traduzindo de tupi para português significa Grande Pai/Padre. Defendeu também os judeus, provocou com deixasse de haver distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos, aboliu a escravatura e criticou a própria Inquisição. Este foi acusado de traição por defender os índios e os judeus convertidos (novos-cristãos). Os sermões que escreveu possuem referências importantes ao barroco brasileiro.

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Vida de Padre António Vieira

«A vida é uma lâmpada acesa, vidro e fogo. Vidro que com um sopro se faz e fogo que com um sopro se apaga.»

Padre António Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608 em Lisboa. Aos seis anos (1614), emigrou para a Baía, no Brasil, com a sua família. Estudou no Colégio dos Jesuítas da Baía onde teve um ensino rígido. Com quinze anos, fugiu dos pais para ingressar na Companhia de Jesus. A 5 de maio desse ano (1623), inicia um noviciado. Passados três anos, tomava uma posição importante na Companhia. Aos dezoito anos foi convidado para escrever a anua, isto é, escrever o relatório anual dos feitos do colégio, em latim, que seria enviado para o papa de Roma. Em 1633, com vinte e cinco anos, iniciou-se oficialmente como pregador. Tornou-se sacerdote, passando a exercer a função de pregador em algumas aldeias baianas durante cinco anos. Os sermões desta altura tinham como temas principais a religião, política e os problemas da época. Em 1641, partiu para Portugal acompanhando o filho do vice-rei do Brasil com a intenção da colónia aderir ao novo rei e à restauração. Este tornou-se amigo fiel de D. João IV e ainda inicia a sua carreira pública e política. Iniciou, em 1646, várias missões

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diplomáticas oficiais (tentou negociar com chefes políticos e comunidades judaicas a fim de cativá-los para a fundação de companhias comerciais portuguesas) por toda a Europa. Em 1649, formou uma política com novos ideais constituídas pelos cristãos-novos de todo mundo. No ano de 1653, regressa ao Brasil como missionário no estado de Maranhão, após vários conflitos na companhia de Jesus, que quase lhe valeram a expulsão. Torna-se ativo no secular antagonismo entre jesuítas e colonos com o propósito de utilizar mão-de-obra indígena. A 13 de junho de 1654, prega o Sermão de Santo António e parte ilegalmente para Lisboa. Volta ao Brasil, em 1655, com a lei que beneficiava a autoridade dos jesuítas sobre os índios. Passado um ano, redige a carta Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo, defendendo as trovas de Bandarra e prevendo a ressurreição de D. João IV. Esta carta foi a base do processo que o Santo Ofício levantou contra ele, visto que constava as suas opiniões profanas. Com cinquenta e três anos de vida, é, juntamente com todos os jesuítas, expulso de Maranhão. Padre António Vieira é desterrado no Porto. (1663) Após dois anos, entra na prisão do tribunal do Santo Ofício em Coimbra.

Citando a sua sentença: “ (…) seja privado para sempre de voz ativa e passiva e do poder de pregar, e recluso no colégio ou casa de sua religião que o Santo Ofício lhe ordenar, e de onde, sem ordem sua não sairá.”

Um tempo depois, foi perdoado e recomeçou com as suas pregações em Lisboa. Em 1669, embarcou para Roma, onde obteve bastante êxito. Realizou uma campanha de desmascaramento, contra o tribunal do Santo Ofício, lutando a favor das missões no Brasil. Com setenta e um anos, é publicado o primeiro volume dos seus Sermões. Entre 1681 e 1688, retorna para a Baía, já que não encontrava um bom ambiente em terras portuguesas. Lá é nomeado Visitador da Província do Brasil. Morre, aos oitenta e nove anos, na Baía, após ter revisto o décimo terceiro volume dos Sermões, sem conseguir finalizar a obra Clavis Prophetarum.

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Obras

As obras de Padre António Vieira podem ser divididas em profecias, cartas e sermões. Este escreveu cerca de quinhentas cartas que relatam assuntos acerca da relação entre Portugal e Holanda, sobre a inquisição e os judeus convertidos (cristãos-novos) e cerca de duzentos sermões, com o estilo barroco brasileiro presente. Algumas das suas obras são:

Sermão da Sexagésima

“(…) Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo, disse-lhes desta maneira: Euntes in mundum universum, praedicate omni creaturae: «Ide, e pregai a toda a criatura». Como assim, Senhor?! Os animais não são criaturas?! As árvores não criaturas?! As pedras não são criaturas?! Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?! Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz S.Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achas homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras. (…)”

Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra Holanda

“Com estas palavras piedosamente resolutas, mais protestando, que orando, dá fim o Profeta Rei ao Salmo quarenta e três. Salmo, que desde o princípio até o fim, não parece senão cortado para os tempos e ocasião presente. O Doutor Máximo S. Jerónimo, e depois dele os outros expositores, dizem que se entende à letra de qualquer reino ou província católica, destruída e assolada por inimigos da Fé. Mas entre todos os reinos do Mundo a nenhum lhe quadra melhor que ao nosso Reino de Portugal; e entre todas as províncias de Portugal a nenhuma vem mais ao justo que à miserável província do Brasil. Vamos lendo todo o Salmo, e em todas as cláusulas dele veremos retratadas as da nossa fortuna: o que fomos e o que somos. Deus, auribus nostris audivimus, Patres nostri annuntiaverunt nobis, opus, quod operatus es in diebus eorum, et in diebus antiquis. Ouvimos (começa o profeta) a nossos pais, lemos nas nossas histórias e ainda os mais velhos viram, em parte, com seus olhos as obras maravilhosas, as proezas, as vitórias, as conquistas, que por meio dos portugueses obrou em tempos passados vossa omnipotência, Senhor. Manus tua gentes disperdit, et plantasti eos; afflixisti populos et expulisti eos. “

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Sermão de Santo António aos peixes

“Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal. (...)”

Carta nº 16

“Ao Padre Francisco de Morais Do Maranhão, a 6-V-1653

Enfim, amigo, pôde mais Deus que os homens, e prevaleceram todos os decretos divinos a todas as traças e disposições humanas. A primeira vez vinha contra a vontade de El-rei; desta segunda vim até contra a minha, para que nesta obra não houvesse vontade mais que a de Deus. Seja ele bendito, que tanto caso faz de quem tão pouco vale, e, tanto ama a quem tanto mal lho merece. Ajudai-me, amigo, a lhe dar infinitas graças, e a pedir a sua divina bondade ma dê, para que ao menos neste último quartel da vida lhe não seja ingrato, como fui tanto em toda. Ah! Quem pudera desfazer o passado, e tornar atrás o tempo e alcançar o impossível, que o que foi não houvera sido! Mas já que isto não pode ser, Deus meu, ao menos seja o futuro emenda do passado, e o que há de ser emenda do que foi. Estes são, amigo, hoje todos os meus cuidados, sem haver em mim outro gosto mais que chorar o que tive, e conhecer quão falsamente se dá este nome aos que, sobre tantos outros pesares, ou hão de ter na vida o do arrependimento ou na eternidade o do castigo.”

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Conclusão

Podemos concluir no final deste trabalho que Padre António Vieira foi um homem importantíssimo no século XVIII e que este ainda é valorizado e admirado nos dias de hoje. Fernando Pessoa chamava-o de Imperador da Língua Portuguesa devido à riqueza e qualidade das suas obras. Para além de todas as obras que escreveu, Padre António Vieira provocou um grande impacte no mundo devido aos seus feitos. Este defendeu os povos indígenas do Brasil, percorrendo fronteiras para conseguir com que a lei acerca dos escravos mudasse e também defendeu os judeus convertidos, mais conhecidos por cristãos-novos, que eram perseguidos pela Inquisição.

“ As obras de um herói, postas a uma luz escura da razão e da vontade, são borrões que ofendem; à melhor luz do entendimento são primores que admiram.”

Bibliografia

Mendes, Margarida Vieira – “Sermões do Padre António Vieira”, Seara Nova Saraiva, António José – “História Ilustrada das grandes Literaturas”, Editorial

Estúdios Cor Lisboa http://www.rtp.pt/play/p49/e14280/alma-e-a-gente http://www.brasiliana.usp.br/node/418