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Relato protagonistas sbie2008

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UCA – Um computador por Aluno: um relato dos

protagonistas do Piloto de São Paulo

Valkiria Venâncio1, Edna de Oliveira Telles2, Jorge Ferreira Franco2, Edna

Aquino2, Irene Karaguilla Ficheman1, Roseli de Deus Lopes1

1Núcleo de Aprendizagem, Trabalho e Entretenimento do Laboratório de Sistemas Integráveis – Universidade de São Paulo (NATE –LSI/USP)

Av Prof. Luciano Gualberto, trav. 3, nº158 – 05508-970 – São Paulo - Brasil

2Prefeitura do Município de São Paulo – Secretaria Municipal de Educação (PMSP-SME)

Av. Interativa, 100 –02820-020 - Parada de Taipas – São Paulo – Brasil

{venancio, jfranco, irene, Roseli}@lsi.usp.br,

[email protected], [email protected]

Abstract. This report describes the implantation and attendance to pilot UCA-

São Paulo. This project’s protagonist reflections about the learning activities

within the school environment are presented. These include positive and

negative experiences from both pedagogic and technical point of view.

Resumo. Este relato descreve a implantação e acompanhamento do projeto

piloto UCA - São Paulo. Relatos das atividades pelos protagonistas deste

projeto na escola são apresentados com experiências positivas e negativas

tanto do ponto de vista pedagógico quanto técnico.

1. Introdução

A Informática na Educação Brasileira talvez não tenha caminhado como se esperava e o principal motivo talvez seja o objetivo complexo que os programas de informatização das escolas apresentavam - provocar grandes mudanças pedagógicas [Valente e Almeida, 1997]. Perguntava-se “por que o computador na escola?” E a resposta está na busca da ampliação da qualidade no ensino com alunos construtores de conhecimento em ambientes de aprendizagem enriquecedores [Valente, 1993].

Após vários projetos federais de Informática na Educação - EDUCOM, CIEDs e PROINFO observam-se maior quantidade de computadores e recursos tecnológicos em mais escolas, mas ainda não se contemplou suficientemente a formação e acompanhamento de professores [Cysneiros, 1999]. Assim “colocamos tecnologias nas universidades e nas escolas, mas, em geral, para continuar fazendo o de sempre com um verniz de modernidade” [Moran, 2003].

Hoje, com a evolução tecnológica, qualquer espaço é lugar de aprender, de diferentes formas e tempos e, a escola ainda é a organizadora do processo ensino-aprendizagem e o professor continua a se preocupar com seu aluno [Moran, 2003].

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Neste contexto, o programa Um Computador por Aluno (UCA) inicia outro patamar, o conceito de um-para-um e de mobilidade, aumentando ainda mais o desafio de ensinar e aprender com auxílio da tecnologia.

2. O programa UCA em São Paulo

O programa UCA teve suas origens em julho de 2005 quando alguns centros de pesquisa, o laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo (LSI/USP), o Centro de Pesquisas Renato Acher (CENPRA) e a Fundação Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI) tornam-se responsáveis por análises técnicas, de viabilidade econômica e aplicabilidade educacional.

A partir deste momento iniciam-se debates e encontros com especialistas em Informática na Educação, listas de discussão, além de uma avaliação de aceitabilidade baseada em um levantamento de perspectivas e percepção de estudantes, professores e gestores de escolas públicas e privadas brasileiras [Corrêa et al, 2006], [Franco et al, 2007]. O objetivo era de esclarecer a opinião pública sobre o projeto a fim de elucidar que não se trata de baratear um computador móvel comercial, mas sim conceber uma nova solução à luz dos recentes desenvolvimentos em comunicação sem fio e ambientes Web.

No primeiro semestre de 2007 surgem algumas plataformas móveis de baixo custo especificamente desenvolvidas para uso em ambientes escolares. Alguns destes equipamentos são doados para o Governo Brasileiro pelas diferentes entidades: a ONG One Laptop Per Children (OLPC), a Intel e a Encore, cada qual com um modelo de laptop (XO, Classmate e Móbilis). Os equipamentos são então divididos para implantação gradativa em cinco cidades: Brasília (DF), Palmas (TO), Piraí (RJ), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). Os laptops XO foram divididos em dois grupos, um no Rio Grande do Sul e outro em São Paulo, com o objetivo de verificar mudanças na Escola, seu impacto na gestão, no espaço físico, na comunicação intra e extra-escola, na família/comunidade e as dificuldades técnicas.

O grande desafio era implantar tal abordagem numa cidade do tamanho de São Paulo em escolas proporcionalmente grandes. A escola escolhida foi uma da Rede Municipal na periferia da cidade e, neste primeiro momento, devido ao número de equipamentos, estes seriam compartilhados e permaneceriam na escola, ou seja, sem a possibilidade inicial de serem levados para casa.

Pôde-se constatar que, apesar da escola dispor de um excelente laboratório de informática com 20 máquinas de 3GHz, 80 G de disco para uso com alunos, o contato da maioria dos professores da escola com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) é muito restrito e também cada turma usa o Laboratório de Informática Educativa (LIE) por apenas 45 minutos semanais, com a colaboração do Professor Orientador de Informática Educativa (POIE).

A hipótese formulada, juntamente com a direção e com a coordenação pedagógica da escola era a de que é importante modificar a dinâmica das salas de aula, a fim de torná-las mais interessantes e proporcionar aos estudantes experiências mais significativas e conseqüentemente mais propícias a uma aprendizagem efetiva. Entretanto quando um professor se depara com uma turma de 35 a 40 alunos e que

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normalmente tem alunos em quatro ou cinco níveis diferentes de aprendizagem, este tem muita dificuldade em desenvolver atividades que possam ser instigantes e estimulantes para toda a turma simultaneamente.

Decidiu-se investigar se, com computadores portáteis de baixo custo (XO), seria possível para um professor desenvolver atividades de aprendizagem capazes de envolver toda a turma respeitando sua diversidade. Foram escolhidas inicialmente duas turmas.

2.1. Descrição da Escola

A escola onde está sendo conduzido o piloto de São Paulo é a Escola Municipal de Ensino Fundamental “Ernani da Silva Bruno” localizada em Parada de Taipas, um bairro da periferia da Cidade. Ela é cercada de conjuntos habitacionais, de onde provêm seus 1244 alunos, com 48 professores e 22 funcionários.

Estruturalmente possui 9 salas de aula funcionando em 4 períodos; conta com um laboratório de informática, uma sala de leitura, quadra de esportes, pátio coberto e refeitório. Na ala administrativa possui uma sala de professores, uma sala para os encontros coletivos, a da coordenação pedagógica, da direção e a secretaria.

Em seu Projeto Pedagógico (PP) de 2007 apontava alguns objetivos como priorizar a leitura, escrita e produção de textos assim como valorizar os aspectos culturais da comunidade. Em 2008, após novas discussões a respeito do PP, a comunidade escolar detectou a necessidade de acrescer item sobre o uso da tecnologia.

2.2. A organização inicial na escola

Em março de 2007 iniciou-se as atividades com duas classes, um 2º ano com 35 alunos e uma professora e um 5º ano com 37 alunos e 7 professores.

Sugeriu-se que se poderia preparar alunos de 7ª e 8ª séries para atuarem como monitores a fim de que a Escola pudesse rapidamente desenvolver autonomia sem depender da equipe do Núcleo de Aprendizagem, Trabalho e Entretenimento (NATE) do LSI/USP. A coordenação da escola considerou a sugestão adequada inclusive para que fosse possível envolver mais alunos na experiência.

A formação dos professores na escola Ernani foi feita com o apoio da equipe do NATE-LSI/USP e colaboradores/as (pesquisadores/as da USP, PUC, etc.), a coordenação da escola e o POIE, nos horários coletivos e/ou individuais de alguns. No início priorizou-se a exploração e o conhecimento da máquina, na questão pedagógica, procurou-se desenvolver um trabalho em que o professor elaborasse seu próprio roteiro, dando sugestões, questionando e o grupo “formador” dava suporte e idéias da melhor forma de desenvolvê-lo. Um ponto positivo no desenvolvimento dessa primeira experiência de uso do laptop foi a questão da autoria do professor, provocando reflexão e criação do próprio grupo. Houve a preocupação de que o planejamento das atividades com o laptop fosse desenvolvido a partir do PP (Projeto Político) da escola. Neste ano, com uma equipe reduzida, prossegue a formação continuada, mesmo porque a escola conta com novos professores no grupo.

Do ponto de vista de infra-estrutura não foi encontrado nenhum problema em relação à energia elétrica, pois os laptops têm um consumo muito baixo e é possível carregar 40 laptops simultaneamente numa única tomada por meio de uma régua. Para a

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comunicação com a Internet de 40 laptops em qualquer ponto da Escola foi necessária apenas a instalação de um ponto de acesso (access point) na sala de informática e para uso simultâneo de 80 há necessidade de dois.

2.2. Os Observadores da Universidade

Membros da equipe do NATE-LSI foram alocados especificamente para observarem o andamento do projeto UCA, dentro e fora das salas de aula, durante 2 meses nos 4 períodos de funcionamento da escola e, em relatório ressaltaram:

No 1º e 2º períodos (6 a 12 anos de idade)

� Todos os professores que fizeram a utilização dos laptops viam-no como um instrumento que colaborava para sua maior exploração de quaisquer informações ou dúvidas perante a aula preparada previamente, não os utilizando para conter indisciplina ou substituir ausência;

� Os educadores utilizavam os laptops de forma contínua, ou seja, nas atividades do início ao fim para perceberem o que mudou nos conhecimentos prévios que as crianças tinham nas atividades com os laptops e depois;

� Tanto os professores quanto os alunos sempre mencionavam ao fim das aulas que os laptop lhes davam a oportunidade de aprender e conhecer aspectos jamais imaginados por eles, tais como o sistema operacional, jogos de raciocínio e lógica, como desenvolver desenhos gráficos mais elaborados com um programa específico e a oportunidade de quebrar distâncias geográficas e sociais, enviando cartas virtuais para o cartunista Ziraldo, por exemplo;

� Observou-se que os alunos que tinham maiores dificuldades em utilizar os laptops eram aqueles com problemas em escrita e leitura ou alunos com problemas de aprendizagem;

� Foi notório o processo de integração e maturidade pelo qual os monitores passaram em curto prazo, a organização, a responsabilidade e o trabalho em equipe. Foram realizadas reuniões semanais entre eles e a equipe do NATE-LSI, onde eram abordados de maneira descontraída os problemas que ocorriam na semana e possíveis soluções.

No 3º e 4º períodos (acima de 11 anos de idade)

� Identificadas as maiores complicações encontradas na primeira aula-uso do laptop, em média de três aulas obtinha-se uma adaptação plena ao equipamento e conseguia-se o resultado esperado;

� Os alunos apresentaram facilidade em manusear o equipamento, em pouco tempo eles já o dominavam. Alguns encontraram uma dificuldade maior, contudo, essa era vencida graças à figura do monitor;

� Muitos professores aprovaram a iniciativa do projeto, mas comentavam que tinham certa dificuldade em preparar suas aulas, pois precisariam se adaptar melhor ao novo material pedagógico, isto ocorreu natural e gradualmente, no próprio cotidiano escolar;

� Surgiram aplicações como um trabalho de tele-novela, um blog montado por eles, entre outros. Esses incentivos fizeram com que os estudantes começassem a

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identificar-se mais com o equipamento e a estimular um ao outro, surgindo trabalhos em equipes, e na falta dos monitores notou-se a solidariedade dos que já compreendiam para com aqueles que tinham dificuldades;

� Aulas diferenciadas foram dadas aos alunos, e os últimos tiveram acesso a conteúdos que eles normalmente não teriam sem o emprego de um computador;

� No curso da Educação de Jovens e Adultos - EJA, uma forte rejeição foi apresentada por parte dos alunos, justificada pelo fato de serem pessoas de baixa renda, que retomaram os estudos com uma idade avançada e a grande maioria nunca haviam tido contato algum com esse tipo de equipamento. No primeiro contato, alguns alunos se recusaram a usar o laptop, por se considerarem incapazes de aprender, outros consideravam perda de tempo;

� Surgiram algumas necessidades na EJA, várias alunas, donas de casa, começaram a copiar receitas de sites de culinária, enquanto os homens buscavam notícias de futebol, carros e outros itens conforme interesses deles. Graças a essas aulas os professores conseguiram quebrar o "gelo" inicial relacionado ao laptop, e só ai o equipamento passou a fazer parte da aula de artes, com os estudantes desenvolvendo desenhos como releituras de quadros famosos;

� Foi necessária uma conscientização para conservação dos equipamentos (os menores eram mais cuidadosos) para que o projeto pudesse seguir sem grandes danos à tecnologia empregada. Ainda assim, tais atitudes por parte dos alunos devem ser compreendidas como próprias da idade; em momento algum sinalizam aversão dos mesmos pelo projeto.

3. Os protagonistas da Escola Piloto

3.1. Os Gestores

A Coordenação Pedagógica

As Coordenadoras declaram que em muitas discussões e nas atividades desenvolvidas ficou evidente que o uso do laptop proporciona uma maior interatividade, cooperação entre alunos de diferentes idades e desenvolvimento de trabalhos colaborativos. Além disso, foi possível realizar trabalhos em grupos com diferentes níveis de aprendizagem (agrupamentos produtivos).

O uso do laptop constituiu-se em estímulo para aqueles que ainda não haviam adquirido a base alfabética, sentiram necessidade de escrever devido a possibilidade de autoria, de publicação no blog, entre outros. Dessa forma, os alunos puderam ver-se como produtores de conhecimento e não apenas meros receptores. Essa prática estimulou também o trabalho baseado em pesquisas no intuito de pesquisar para aprender e aprender para produzir algo. O que converge para a idéia tão defendida no âmbito educacional que é a aprendizagem significativa, onde há uma situação social real de uso da língua.

O Trabalho com múltiplas linguagens (fotos, vídeo, entre outras) contribuiu para além do enriquecimento do trabalho pedagógico, despertar interesse em alunos que antes se mostravam desmotivados, provando que a escola enquanto instituição preocupada em dar oportunidades a todos e todas considerando suas diferenças

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precisam, em primeiro lugar, proporcionar o acesso e a construção do conhecimento em diferentes linguagens, o que o uso do laptop, no caso o XO, ajuda consideravelmente.

O Professor Orientador de Informática Educativa - POIE

O POIE tem sido peça chave na implantação do projeto, ajudando a coordenar os alunos e as monitorias, apoiando e auxiliando os professores. Ele observou “engajamento cada vez maior de alguns educadores. Alguns compraram seus próprios laptops após a experiência inicial de manuseio do XO e usam seus equipamentos no cotidiano da escola para melhorar a qualidade de suas aulas”. Quanto aos professores mais resistentes ao uso da tecnologia, o processo de implantação do projeto tem provocado reflexões e transformações.

Cabe afirmar, aqui, que ele acredita que “o conceito de laptops mais baratos e de alta qualidade que está por trás da criação do XO é fantástico”. Exemplo disto é que o mercado de informática tem uma série de produtos similares inspirados no XO sendo comercializados com sucesso. Conforme recente visita da reportagem da rádio BBC a uma sala de 2º ano e reportagens produzidas por alunos de 6º e 8º anos durante I seminário Web Curriculum – PUC/SP, as crianças e adolescentes têm apreciado sua participação no projeto UCA e sob boas orientações, exercido seu protagonismo com consciência [BBC Digital Planet, 2008; Aprende Brasil 2008].

É uma excelente oportunidade para que o processo de aprendizagem se estenda a toda família, principalmente àquelas cujos recursos econômicos não possibilitam acesso mais amplo ao mundo digital do que o oferecido pela escola. É fundamental investir em inclusão digital e social com a melhor qualidade possível, proporcionando compartilhar saberes técnicos, pedagógicos e humanos.

O POIE costuma trabalhar no LIE, com ambientes tridimensionais e construção dos alunos, como modo de ampliar suas possibilidades de exercitar a mente, o poder criativo e aprender a dominar ambientes de programação visual via scripts com base em linguagens padrão da Internet cada vez mais utilizados nas diversas áreas do conhecimento [Pinho e Kiner 1997; Parent 2008]. Não é usual este tipo de uso da tecnologia nas escolas públicas, mas tem trazido oportunidades de inserção no mundo digital e participação em projetos pioneiros a toda comunidade escolar e é impossível de ser realizado no XO. A lei de diretrizes e bases, artigos 1º e 22º [LDB, 1996] embasa o uso destas e outras tecnologias como suporte ao desenvolvimento curricular.

3.2. Os Professores

O interesse e a aceitabilidade dos educadores quando perguntados sobre o motivo de ser importante participar do projeto e ter computação móvel em sala de aula, foram embasados nas possibilidades de acesso dinâmico a visualização de informação em tempo real e no momento necessário por eles e pelos estudantes [Franco, 2007].

Franco também cita o depoimento de uma professora após o uso do XO em um projeto desenvolvido com alunos da 6ª série: “para minha satisfação, as dificuldades

previstas não foram, nem de longe, obstáculos, foram dificuldades que, discutidas e

adaptadas às necessidades do projeto, foram facilmente transpostos. (...) Desenvolvi a

idéia do projeto sobre ONG para aplicação deste com minha 6ª série justamente por ter

a oportunidade e possibilidade de ter um instrumento de acesso tão atraente e eficaz

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que são os laptop (...). Os alunos mostram-se agora mais atentos às aulas

convencionais, não ficam ansiosos e na expectativa de a todo momento trabalhar com

os computadores e percebi que a cumplicidade e o retorno de outros trabalhos têm

aumentado”

Neste semestre em acompanhamento aos professores no horário coletivo, a equipe de pesquisadores levantou suas dificuldades como, por exemplo, o tempo de aula insuficiente no desenvolvimento de uma atividade, dificuldades de acesso a rede das versões anteriores do XO e assim havendo descontinuidade do planejado para a aula, eles também sugeriram apenas dois monitores por sala e continuidade das oficinas de formação para professores e monitores, estas estão em andamento.

3.3. Alunos e Monitores

Em entrevista com alunos e monitores, pudemos constatar que os mesmos refletiam sobre todas as questões pensadas por nós. Abaixo, transcrevemos algumas falas:

Sobre o trabalho na sala de aula...

� Igor (9 anos) e Gabriel (9 anos): “Vale a pena o trabalho. A gente pesquisava na Internet produtos e preços, salvava a foto do produto e o preço e produzia anúncios. Nós lemos muitos anúncios no jornal impresso antes de fazer o nosso”.

� Gabriel: “Valeu a pena porque além das atividades que a professora passava, ao mesmo tempo a gente estava se divertindo”.

� Mariane (8 anos): “O primeiro dia, a descoberta, foi o dia que eu mais gostei. Eu não conseguia abrir, aí o Igor abriu o dele e eu vi como fazia. Foi legal porque teve mistério. Tinha muitas coisas pra gente descobrir”.

� Carolina (9 anos): “Depois dos laptops, nós trabalhamos com vários projetos”

� Gabriel e Mariane: “A gente não entrava em qualquer site, a professora passava sites educativos como o racha-cuca, tinha desafios matemáticos. Orkut a gente não entrava, só no yahoo porque temos e-mail”.

� Gabriel: “O laptop é mais interessante que a sala de informática porque é diferente”.

Sobre o trabalho na sala de aula...

� Gabriela (12 anos): “Foi muito bom nos primeiros dias. Estávamos empolgados. As aulas ficaram mais diversificadas. Tínhamos História, Arte, matemática no laptop. Construímos gráficos...”

� David (11 anos): “É bom porque a gente aprende brincando”

Sobre as saídas do ambiente escolar...

� Gabriel: “Nós adoramos levar o laptop para a estação ciência, a gente tirou foto.

� Igor: “Nós fomos na grama pra ver se achava algum bichinho. Tiramos foto de uma formiga e um pássaro”.

� Mariane: “Foi ótimo levar pra casa e tirar fotos da nossa família”.

� Igor: “Eu gravei meu pai tocando violão”.

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� Gabriel: “Eu dormi e deixei o laptop carregando. Quando eu acordei, minha irmã estava na Internet na janela de casa. Ela conseguiu entrar na Internet, mas depois caiu a conexão. Meu pai deu uma volta no quarteirão com ela e o laptop, mas ele pegou melhor na janela de casa”.

Sobre as dificuldades...

� Alan (12 anos): “Era ruim as vezes porque o laptop estava descarregado, ficava sem sinal, não pegava Internet”

� Gabriela: “É bom cada um ter o seu senão dá confusão.

� David: “Um dia eu peguei o laptop e tinham apagado o meu trabalho”

Visão Política...

� Gabriel: “todas as crianças deveriam usar, não seria justo só a gente ter oportunidade”

Sobre as próximas crianças que usarão os laptops, seja lá onde estiverem...

� Mariane: “Eu acho que as próximas crianças que usarem os laptops vão ter dificuldades para usar o mouse que é no próprio teclado”.

� Gabriel: “Aproveitem muito até o último minuto que vocês puderem usar, porque vale a pena”.

� Mariane: “Tomem muito cuidado para não derrubar no chão”.

� Gabriela: “Tenha muita paciência e cuidado porque outra pessoa precisará usar”.

Sobre considerar a voz das crianças...

� Mariane: “Você vai conversar mais com a gente? É que a gente ainda tem muita coisa pra falar”.

A Monitoria

Em 2007 haviam muitos monitores na escola, até pela novidade que era o projeto, “a maioria vinha para bagunçar ou mexer na internet e nas suas comunidades” diz o monitor Felipe, o que ocasionava certa desorganização por um lado e por outro mais alunos tinham oportunidade de aprender a usar o XO.

Neste ano a escola conta com cerca de 10 monitores distribuídos em três períodos, com as tarefas de colaborar com os professores que utilizam os XO nas aulas, ensinando os alunos a mexerem nas máquinas, levando-as e buscando-as, fazendo trocas em caso de defeito (o que acontece pouco com a versão que chamamos B4), organizando a sala onde os mesmos são guardados, carregando as baterias, entre outras, além de ter acesso ao equipamento.

Comentam que ser monitor é bom, pois se sentem importantes na escola e aprendem com os monitores mais experientes. Declaram que ajudam os colegas para que estes possam ajudar outros.

3.4. A Família e a Comunidade

Nos últimos dois anos alguns professores enviaram os laptops para casa dos alunos com uso livre, após conversarem com os pais, que se prontificaram a buscá-los e devolvê-los

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na escola. Estes se mostraram felizes pela oportunidade dada aos filhos “de poderem utilizar um computador” e ressaltaram a importância deles saberem usá-lo.

4. Resultados Parciais, Conclusões Preliminares e Desafios Futuros

A implantação deste tipo de equipamento é muito mais simples uma vez que não possuem exigências especiais de infra-estrutura, pois podem ser instalados em qualquer tipo de sala de aula.

O tempo de apropriação, tanto pelos professores como pelos alunos, é menor do que de um desktop uma vez que são equipamentos muito mais simples, já que em caso de algum problema, basta desligar e religar a máquina para recomeçar sem o receio de danificar nada, e estão disponíveis para que cada um possa se apropriar no seu tempo.

Após essas primeiras experiências, observou-se a relevância de introduzir quase que simultaneamente o uso dos equipamentos para os professores e para os alunos para que os primeiros sejam instigados a avançar mais rapidamente pela constatação na prática da mudança de atitude e receptividade dos alunos e também engajar estudantes monitores, pois estes proporcionam uma ajuda fundamental para os primeiros meses para que os professores e alunos menores vençam os obstáculos de contato com as novas tecnologias e também porque estes passam a ter mais uma competência desenvolvida dentro do espaço escolar (tecnológico e de relacionamento humano).

A coordenação constatou junto ao grupo de professores da escola, um maior interesse e motivação dos alunos pelas atividades desenvolvidas, mesmo para atividades sem os laptops. O uso do equipamento ajudou significativamente no desenvolvimento das competências leitoras e escritora dos/as alunos/as, diminuiu o número de faltas, possibilitou 100% de acesso em relação ao uso da sala de informática (a oportunidade de aprender é mais justa), houve possibilidades de mudanças nas práticas pedagógicas, maior interação e cooperação entre os/as alunos/as e alguns professores, a mobilidade e a conectividade despertaram a necessidade de mudanças na organização do espaço e tempos escolares (o que gerou discussões para além do uso da tecnologia, formações que vão além do treinamento em informática e no uso de computadores e da Internet). O projeto proporcionou o aprendizado de metodologia de pesquisa tanto para professores quanto para alunos e a produção de textos de diferentes gêneros, além da possibilidade de alfabetização digital para as famílias das crianças que os levaram para casa e a comunidade. Observou-se, também, o aumento da auto-estima das crianças no contato com pessoas de diferentes Instituições e a imprensa, elas tornaram-se – em alguns momentos – autores e autoras de seu próprio conhecimento.

A coordenação também aponta como desafios futuros (desejável que aconteça, mas que ainda encontra-se em processo) o desenvolvimento de trabalhos com Projetos interdisciplinares, onde os alunos e alunas escolham o projeto que querem desenvolver. Para tanto, faz-se necessário repensar a organização do tempo (grade de horários) e a gestão do tempo e dos espaços em sala de aula, garantir o encontro de professores para planejamento e organização do trabalho.

Outra questão não menos importante e diretamente ligada à anterior são as mudanças no papel do professor que passa a estimular os alunos em projetos de pesquisas que envolvem várias disciplinas. Nesse sentido, a formação do professor

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precisa ser pensada não só na questão de conhecer a máquina, mas uma formação voltada para o pedagógico, portanto é necessário mudar o quadro da educação em escala nacional, investindo no professor. Assim, objetiva-se o uso do laptop como uma ferramenta, um instrumento a mais para auxiliar o educador no que ele faz, e não algo “à parte”, ele precisa ser um elemento facilitador da aprendizagem e não o objeto em si. O desafio futuro é também garantir o acesso do uso dessa nova tecnologia a todos os alunos e alunas da escola pública brasileira, dessa forma, a criança pode tornar-se multiplicadora do conhecimento que recebe na escola, levando para casa, por exemplo, e culminando em uma efetiva inclusão digital, o que requer vontade política e atuação na defesa da educação como espaço de inclusão social e tecnológica.

Referências

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BBC Digital News http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/7647114.stm ;

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Correa, A. G. D.; Assis, G. A.; Ficheman, I.K; Venancio, V.; Lopes, R. D. (2006) “Avaliação de Aceitabilidade de um Computador Portátil de Baixo Custo por Criança” - Anais do XVII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE, novembro 8-10, Brasília, p. 125-134;

Cysneiros, P.G.(1999) “Novas Tecnologias na Sala de Aula: Melhoria do Ensino ou Inovação Conservadora?”, http://www.colombiaaprende.edu.co/html/mediateca/1607/articles-106213_archivo.pdf (01/10/2008);

Franco, J.F.; Ficheman, I.K.; Alves, A.C.; Venancio, V.; Lopes, R. D. (2007) “Desenvolvendo uma experiência Educacional Interativa Usando Recursos de Viasualização de Informação e de computação Móvel como Estímulo à Construção Colaborativa e Continuada de Conhecimento”. RENOTE Revista Novas Tecnologias na Educação, CINTED-UFRGS, v.5, nº2, dez.2007;

Moran, J.M. (2004) “Os Novos Espaços de Atuação do Professor com as tecnologias”. Anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, in ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e conhecimento universal: Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2, Curitiba, Champagnat, páginas 245-253;

Projeto Pedagógico da EMEF “Ernani da Silva Bruno”, 2007;

Valente, J.A.; Almeida, F.J. (1997) “Visão Analítica da Informática na Educação no Brasil: a questão da formação do professor”, http://www.professores.uff.br/hjbortol/car/library/valente.html (01/10/2008);

Valente, J.A. (1993) “Por que o computador na Educação”. In: Computadores e Conhecimento: repensando a educação. Campinas, SP, p. 24-44.