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Universidade do Algarve Escola Superior de Educação e Comunicação Licenciatura em Educação Social Unidade Curricular de Educação de Adultos I 2º Ano 1º Semestre 2011/2012 A EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM PORTUGAL A EA EM SISTEMA PRISIONAL - O caso do EPR de Faro - Docente: Joaquim do Arco Discentes: Ana Abreu, aluna n.º 1757; Ricardo da Palma, aluno n.º 43043; Rita Gonçalves, aluna n.º 41807; Telvia Costa, aluna n.º 43728. Faro e UAlg-ESEC, Janeiro de 2012

Trabalho de grupo Ed. Adultos I

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Universidade do Algarve

Escola Superior de Educação e Comunicação

Licenciatura em Educação Social

Unidade Curricular de Educação de Adultos I

2º Ano – 1º Semestre

2011/2012

A EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM PORTUGAL

A EA EM SISTEMA PRISIONAL

- O caso do EPR de Faro -

Docente:

Joaquim do Arco

Discentes:

Ana Abreu, aluna n.º 1757; Ricardo da Palma, aluno n.º 43043; Rita Gonçalves,

aluna n.º 41807; Telvia Costa, aluna n.º 43728.

Faro e UAlg-ESEC, Janeiro de 2012

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

Índice

Introdução .......................................................................................................................................... 3

1. Evolução Histórica ...................................................................................................................... 5

2. Enquadramento temático .......................................................................................................... 7

3. METODOLOGIAS ........................................................................................................................... 13

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO RESULTADOS ............................................................................... 13

4.1 Ensino e Formação ................................................................................................................. 13

4.2 Seleção e Diagnóstico ............................................................................................................. 14

4.3 Protocolos .............................................................................................................................. 14

4.4 Expectativas/Necessidades .................................................................................................... 14

4.5 Dificuldades e aproveitamento no ensino ............................................................................. 14

4.6 Reinserção social .................................................................................................................... 14

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 15

Bibliografia ...................................................................................................................................... 17

Recursos Legais ............................................................................................................................ 17

ANEXOS ............................................................................................................................................ 19

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A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

PALAVRAS CHAVE: Educação de Adultos, Estabelecimento prisional,

Analfabetismo, Formação profissional, Participação, Reinserção, Inserção,

Mercado de trabalho.

Introdução

No âmbito da unidade curricular de Adultos de Adultos I, do 2º ano – 1.º semestre da

Licenciatura de Educação Social (pós laboral), orientada e coordenada pelo professor

Joaquim do Arco, foi-nos proposto como forma de avaliação a elaboração de um trabalho

de grupo sobre a Educação de Adultos em Portugal. Como tal, e após algum período de

pesquisa documental, decidimos incidir sobre a própria Educação de Adultos (EA),

relacionando duas realidades completamente distintas: O mundo livre e a realidade

prisional, ou, o chamado “mundo entre grades”.

Deste modo a escolha incidiu sobre o Estabelecimento Prisional de Faro, procurando

reflectir sobre o estado da Educação em Meio Prisional, saber como se organiza, se

responde ou não às necessidades da população prisional.

A actualidade e pertinência do tema, assim como a sua importância, influenciaram a

escolha na elaboração do presente trabalho, cujo objectivo principal do trabalho, será

identificar os processos educativos realizados pelas equipas pedagógicas da prisão.

Numa perspectiva de futuros Educadores Sociais, onde o “traço” marcante é, sem dúvida,

a capacidade para saber encontrar e ajudar a percorrer caminhos que vão no sentido do

bem-estar da pessoa e da sociedade” (Cardoso, 2006:14), pretendemos perceber se a

formação de adultos dada nas prisões corresponde à realidade, se é adequada às

necessidades dos reclusos, se contribui para a reinserção e integração social.

A estrutura deste trabalho divide-se em cinco capítulos, para além da introdução, que

apresenta o tema, os objectivos definidos e a organização escolhida para a elaboração

do trabalho; o primeiro capítulo: enquadramento teórico, que sintetiza o objecto de

estudo; o desenvolvimento, que incide sobre a evolução histórica dos programas de EA;

as suas práticas e toda a complementaridade e/ou dicotomia resultante dessas mesmas

relações; o segundo capítulo: a metodologia aplicada; terceiro capítulo: apresentação e

discussão dos resultados, procura-se evidenciar e analisar os pontos mais relevantes

sobre o sistema educacional em ambiente prisional; Considerações finais, em que é

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A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

apresentada a crítica fase ao assunto e qual a contribuição do mesmo artigo para o

conhecimento, quer científico quer literário/sociológico.

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A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

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1. Evolução Histórica

A educação na sociedade livre possibilita uma aquisição de competências profissionais

que permitem ao indivíduo integrar-se no meio laboral e em ambiente prisional possibilita

uma reintegração do recluso após cumprir a sua condena.

Os estabelecimentos prisionais, são também denominados, por certos autores, como a

escola da 3ª oportunidade, na medida que quando a pessoa chega a este meio é porque

todos os outros, chamados convencionais, não obtiveram sucesso. Esta designação esta

relacionada com as trajectórias de vida de alguns reclusos, que na sua maioria

fracassaram nas oportunidades anteriores, pela mesma causa comum, vítimas do

processo de exclusão.

Relativamente ao término “educação de adultos”, atribuindo-lhe o significado que resultou

da Conferência de Nairobi, em 1976, que dá à expressão educação de adultos um

significado bastante mais vasto. Assim ela passa a ser encarada como

“totalidade dos processos organizados de educação, qualquer que seja o

conteúdo, o nível ou o método, quer sejam formais ou não formais, quer

prolonguem ou substituam a educação inicial ministrada na nas escolas e

universidades ou sob a forma de aprendizagem profissional, graças aos quais

as pessoas consideradas como adultos pela sociedade a que pertencem

desenvolvem as suas aptidões, enriquecem os seus conhecimentos, melhoram

as suas qualificações técnicas ou profissionais ou lhes dão uma nova

orientação, e fazem evoluir as suas atitudes ou o seu comportamento na dupla

perspectiva de um desenvolvimento integral do homem e de uma participação

no desenvolvimento social, económico e cultural, equilibrado e independente”

(Canário,1999, pp.36-37 e Santos Silva, 1990, p.16).

Em Portugal a educação de adultos até à década de 1970 identifica-se pelo combate ao

analfabetismo. Já em 28 de Maio de 1926, procedeu-se a uma alteração das estruturas

existente e é promulgada a criação de uma Comissão de Educação Popular, com

funções consultivas no âmbito da promoção da instrução popular de redução do

analfabetismo, mas não teve efeitos práticos.

Segundo Candeias e Simões (1999), em 1930 quando a taxa de analfabetismo atinge os

61,8%, abrem-se os cursos nocturnos e extinguem-se as escolas móveis. Estes cursos

eram destinados a indivíduos maiores de 14 anos, de ambos os sexos e compreendiam

as três classes do 1º grau do ensino primário.

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Novamente com a nova legislação de 1932, confirma a existente e autoriza cursos

dominicais, alargando os cursos ao período diurno com o objectivo da presença das

mulheres.

Em 1940 o analfabetismo situa-se nos 49% e dez anos depois passa para 40,4%, mas

com maior incidência para o sexo feminino.

É na fase do Estado Novo que em Portugal se inicia uma intensa campanha para corrigir

essa situação tão desprestigiante, que colocava o nosso país em último lugar dos países

europeus.

Em 1952, foram publicados dois diplomas que criam o Plano de Educação Popular e a

Campanha Nacional de Educação de Adultos, sob a responsabilidade directa do Dr.

Henrique Veiga de Macedo, Subsecretário de Estado da Educação Nacional.

Esta campanha estava a cargo de uma comissão, que põe em prática um plano de

propaganda, através de cartazes e difundido pela rádio, cinema e imprensa.

Procedendo-se á publicação de um boletim “Campanha”, destinado

“a fornecer matéria acessível de leitura, a difundir os conhecimentos essenciais

entre os alunos (…) e ainda a desenvolver a doutrina específica da educação

de adultos, a informar e a registar os acontecimentos, as decisões e os

resultados resultantes do combate ao analfabetismo” (Barreto et al, 1999).

Durante os primeiros seis meses de Campanha, funcionaram 3600 cursos, tomando

como principio que o projecto não se deve apenas destinar a combater o analfabetismo,

mas que também deveria possuir todos os elementos de interesse para a valorização

humana e social do nosso povo.

A Campanha Nacional de Educação de Adultos decorreu até 1956. Apesar de não ter

atingido seus objectivos, possibilitou uma ligeira recuperação e partir de 1955-56

registou-se um acentuado declínio nos inscritos nos cursos de educação de adultos.

É, no entanto, após a segunda guerra mundial, num contexto de reconstrução europeia,

que se pode falar numa explosão da educação de adultos, duma forma generalizada. Nos

anos 60, na conferência internacional de Montréal (1960), os delegados estabelecem

uma ligação estreita entre a educação de adultos e o desenvolvimento económico, quer

no plano nacional, quer no plano internacional.

Segundo Bhola, citado por Canário, “a partir deste momento, o desenvolvimento passará

a estar no centro da ideologia da educação de adultos no Terceiro Mundo” (1999, p.13).

Esta interdependência entre desenvolvimento e educação dos adultos vai marcar as

próprias práticas educativas, sendo possível distinguir quatro subconjuntos destas. São

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A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

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elas a alfabetização, a formação profissional, a animação sociocultural e o

desenvolvimento local.

A alfabetização (e o ensino recorrente) organiza-se como sendo uma oferta educativa de

segunda oportunidade. Exemplo disto é a campanha lançada durante os anos sessenta

pela UNESCO, recorrendo ao método de alfabetização funcional, “cuja orientação

principal preconizava a combinação entre a aquisição da leitura e da escrita e a formação

de base, designadamente profissional, segundo estratégias intensivas (...) e segundo

programas diversificados e flexíveis” (Santos Silva, 1990, p.13).

Nos anos 70 ocorreu uma alteração nas concepções da política de educação de adultos,

com um esforço de autonomia quer no plano estrutural, quer pedagógico.

Criada a Direcção-Geral da Educação Permanente, a quem competirá “a educação extra-

escolar e as actividades de promoção cultural e profissional, tendo especialmente como

alvo a população adulta” (Barreto et al 1999).

A educação de adultos emerge, em especial, a partir do século XIX associada a dois

fenómenos sociais relevantes: O desenvolvimento de movimentos sociais de massas

(movimento operário) e o desenvolvimento e consolidação dos sistemas escolares

nacionais “que conduziu, segundo uma lógica de extensão ao mundo dos adultos, à

emergência de modalidades de ensino de segunda oportunidade” (Canário, 1999, p.12).

Em virtude do analfabetismo ainda persistir, principalmente nos grupos etários com mais

de 40 anos, procedeu-se a uma reestruturação dos cursos. Com relevância a uma

pedagogia especialmente dirigida aos adultos e preparação de programas específicos.

2. Enquadramento temático

A Educação de Adultos em meio prisional também possui todos estes princípios e

orientações. Assistimos agora a uma mudança da população que entra nas nossas

prisões. Apesar dos índices de analfabetismo ainda se manterem muito elevados

(principalmente com os reclusos pertencentes à etnia cigana) verificamos um aumento

gradual nas habilitações literárias destes indivíduos.

Escreveu Werner Stark, com grande rigor e claridade: “Antes que outros interesses

possam reclamar satisfação é indispensável que um interesse básico seja satisfeito, a

necessidade de viver num mundo compreensível”1.

1 “Sociología del Conocimiento”, Ed. Morata, Madrid, 1963

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O seio do ambiente prisional não foge às regras e vivências instruídas na sociedade da

qual todos fazemos parte. Partindo do princípio que o facto de qualquer indivíduo se

encontrar em reclusão, a única restrição que tem é aquela que o tribunal lhe imputa.

Sendo assim devem-lhe ser dadas condições que lhe permitiam continuar a sua

formação/educação.

“O Recluso mantém a titularidade dos direitos fundamentais do homem, salvo as

limitações resultantes da sentença condenatória ou as impostas em nome da ordem e

segurança do estabelecimento.”2

Tal como referiu em 1989, o Comité de Ministros do Conselho da Europa, reconhecendo

“que um grande número de reclusos tiveram uma experiencia escolar com muito pouco

sucesso, o que redunda com muitas necessidades educacionais…” e que essa deficiente

educação da base coloca um serio problema à reintegração social dos reclusos, adoptou

a Recomendação (89) 12, 13 de Outubro, sobre o ensino na prisão, considerando de

“grande importância a educação no desenvolvimento do indivíduo na comunidade”3.

Existe um conceito, que julgamos que deverá ser esclarecido, à luz das boas práticas

desenvolvidas nos estabelecimentos prisionais. É o termo “reinserção social”. É todo o

conjunto de factores que caracterizam a forma como é tratado um recluso desde o

momento que entra num Estabelecimento Prisional até à sua saída no final da pena, com

o objectivo de reintegra-lo na sociedade e de facilitar de novo o contacto com a mesma.

Podemos dizer, que se reformula uma nova vida ao indivíduo com várias vertentes: co-

responsabilizando-o na sua integração, reabilitando-o para que não volte a praticar o

crime e tendo sempre presente que a sua situação em reclusão é passageira.

A Direcção-Geral dos Serviços Prisionais nas reuniões da Comissão Paritária no âmbito

de um despacho conjunto dos Ministérios da Justiça e para a Qualificação e o Emprego,

estabelecendo o Programa de Acção para a Inserção Profissional de Reclusos e Ex-

Reclusos, que integra também o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), o

Centro Protocolar de Formação Profissional (CPJ) e a Direcção-Geral de Reinserção

Social (DGRS).

Neste sentido, o Comité de ministros recomenda que os governos dos estados membros

implementem políticas que proporcionem, não só o acesso de todos os reclusos a um

tipo de ensino semelhante ao ministrado no exterior, mas também que reconheçam que

2 Execução das Medidas Privativas de Liberdade – Dec. Lei nº 265/79, Ministério da Justiça, Artigo 4º,

Posição do Recluso, pág. 6, DGSP, 1996. 3 Considerandos da Recomendação (89) 12, do Comité de Ministros do Conselho da Europa, de 13 de

Outubro

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“a educação na prisão deve ter como objectivo o desenvolvimento da pessoa como um

todo, tendo em atenção o seu contexto social, económico e cultural.”4

A importância dada ao ensino é expressa no princípio de que “a educação não deve ter

um estatuto menor do que o do trabalho dentro do regime da prisão” e que “os reclusos

não devem ser prejudicados financeiramente ou de outra forma por tomarem parte em

programas de ensino”,5 devendo, mesmo, ser encorajados a participar.

O Comité recomenda ainda que os estados-membros estabeleçam programas de ensino

que assegurem que os professores que se ocupem da formação da população prisional

adoptem métodos educacionais compatíveis com as suas necessidades e que

estabeleçam, como objectivo da educação, o desenvolvimento das competências

individuais, tendo em conta as tendências do mercado de trabalho.

De modo a facilitar o seu regresso à comunidade, recomenda, também que a educação

do recluso inclua formação em competências sociais que lhe possibilitem lidar melhor

com o seu dia-a-dia na prisão, assim um regresso menos difícil à sociedade, devendo,

ainda, ser tomadas medidas que permitam a frequência do ensino escolar após a

libertação.

No contexto da especial ênfase que deve ser dada ao contacto do recluso com o mundo

exterior, defende-se que, sempre que possível, “os reclusos devem ser autorizados a

assistir às aulas fora da prisão” e, onde tal não for possível, que “a comunidade exterior

esteja envolvida o mais possível”6.

Mas o termo reinserção, colide de certa forma com o próprio conceito de estabelecimento

prisional, visto este ser um conceito muito recente. Como refere Pedro Dores, “os

sistemas prisionais são uma instituição moderna. Apesar de, ao longo dos séculos, as

sociedades terem lidado com os delinquentes de forma muito variadas, o objectivo tem

sido, sem grandes alterações o mesmo: afastar os delinquentes da vida social”(2003). Na

nossa opinião, e julgo que se mantém na mesma linha de pensamento deste autor, é a

seguinte: se os estabelecimentos pretendem reintegrar os indivíduos na sociedade após

cumprirem castigo porque cometeram um crime passível de punição. Porque se afasta a

prisão da comunidade onde deveria estar inserida? A resposta mais verosímil diz respeito

apenas aos mecanismos de segurança prisional.

4 Ponto 3 da Recomendação (89) 12, do Comité de Ministros do Conselho da Europa, de 13 de Outubro.

5 Ponto 5 da recomendação (89), do Comité de Ministros do Conselho da Europa, de 13 de Outubro.

6 Pontos 13 e 15 da Recomendação (89) 12, do Comité de Ministros do Conselho da Europa, de 13 de

Outubro.

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A educação e a formação profissional são dois vectores de tratamento penitenciário cuja

importância é comummente reconhecida (Cfr. Supra Recomendação (89) 12, de 13 de

Outubro, do Conselho da Europa).

“A frequência de aulas e de cursos de formação durante a reclusão tem várias

consequências positivas. É um dos factores mais importantes para o aumento

da possibilidade dos reclusos, uma vez em liberdade, encontrarem um

emprego e contribui para aumentar a auto-estima e a motivação pessoal”

(Alexandra Loureiro, 2009)7.

O ensino e a formação profissional têm, igualmente, efeitos muito importantes sobre as

taxas de reincidência. Os reclusos que frequentam aulas ou cursos de formação

profissional durante o período de encarceramento têm menor probabilidade de, uma vez

libertos, reincidirem.

Apesar das muitas vantagens, já enunciadas, a educação e a formação em meio prisional

têm sido encaradas, quer pelas administrações prisionais, quer pelos próprios reclusos,

apenas como uma forma de ocupação durante o período de reclusão.

Do trabalho empírico realizado, e do que se apurou em conversa informal com alguns dos

reclusos do EP de Faro, estes afirmam que não conferem muita importância aos cursos

de formação profissional. E isto porque apesar de terem consciência que lhes vai

possibilitar um acréscimo das suas competências, têm a perfeita noção que muitas das

áreas não tem aceitação no mercado de trabalho, alem de lhes permitir futuramente

constituir mais um elemento a considerar no momento da avaliação da liberdade

condicional, aporta uma enorme mais-valia, enquanto recluso.

Hoje em dia, o objectivo fundamental do ensino e da formação profissional em meio

prisional é entendido no sentido de proporcionar ao recluso meios credíveis para que,

após reclusão, possa ser economicamente independente e viver sua vida sem ter que

recorrer a actos criminosos para sobreviver.

“Mais do que de instituições especializadas, a educação permanente resultará do facto

que os indivíduos viverão constantemente em situações educativas...” (André

Gorz:1977)8.

Os estabelecimentos prisionais estimulam essas “situações educativas” de que o autor

nos refere. Como exemplo concreto de uma delas é a formação que decorre no

7 Alexandra Louleiro, Psícologa – Palestra sobre Reinserção Social da Semana Cultural do EP Porto, 2009.

8 Nóvoa, A. (1988). A formação tem, que de passar por aqui: as histórias de vida no Projecto Prosalus. In

Nóvoa & M. Finger.

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Estabelecimento Prisional Regional de Faro (ver grelha de análise da entrevista à

directora, em anexo).

“A formação é sempre um processo de transformação individual, na tripla dimensão do

saber (conhecimentos), do saber-fazer (capacidades) e do saber-ser (atitudes)” (Nóvoa,

1988).

Existe uma grande implicação do indivíduo, de forma a estimular uma estratégia de

autoformação, que se denomina também de “participada”. Esta ideia constitui o 2º de seis

princípios do mesmo autor.

No primeiro destes princípios, o autor refere que qualquer adulto em situação de

formação, é portador de uma história de vida e de uma experiência profissional. Todas

estas vivências são fundamentais para perceber o seu processo de formação.

O 4º princípio, gira em torno dos problemas, dando relevância à formação como uma

forma de “trabalhar” em grupo para a resolução destes “a formação faz-se na produção, e

não no consumo do saber” (Nóvoa:1988). Enquadra três conceitos fundamentais na

formação de adultos: Formação-Acção, formação-investigação e

formação-inovação. O primeiro da importância à constante relação entre reflexão e

intervenção. A segunda refere que a formação se deve basear no desenvolvimento de

um projeto de investigação. Enquanto a terceira relaciona a formação com uma

transformação individual e uma mudança institucional. Devem ser os formandos a

procurar soluções alternativas para a resolução dos problemas.

O 5º principio, enfatiza o cariz estratégico da formação, com vista a desenvolver nos

formandos as competências necessárias para utilizarem em situações concretas todos os

conhecimentos teóricos e técnicos adquiridos durante a formação.

O 6º principio, transcreve uma frase de Sarte: “E não nos esqueçamos nunca que, o

homem caracteriza-se, sobretudo, pela capacidade de ultrapassar as situações

pelo que consegue fazer com que os outros fizeram dele. A Formação tem de passar por

aqui”.

Os estabelecimentos prisionais tornam-se nestas instituições direcionadas para

promoverem a educação permanente dos indivíduos. Hoje “recluso” amanhã homem

livre.

Na sociedade atual, vivemos numa profunda transformação da realidade objetiva. É um

processo de ordem material onde deparamos com contradições de vários níveis e que se

torna imperioso superar e resolver, na linha da construção do homem por si próprio.

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Existe um problema que já se encontra devidamente identificado, tanto neste como nos

outros estabelecimentos prisionais, diz respeito à falta de incentivos à

participação do recluso nos programas de ensino. A tarefa de convencer o recluso a

comparecer às aulas é difícil, uma vez que a escola é algo para o que nunca se sentiram

motivados. Para além desta falta de motivação, não devemos esquecer as experiencias

escolares negativas, outros então consideram-se demasiados velhos, entendendo que a

escola já não é lugar para eles.

Outra situação diz respeito à própria postura do recluso perante a inscrição num curso de

formação profissional. Apesar de terem uma compensação que é a remuneração, a

frequência de um curso implica diariamente estarem disponíveis para a aprendizagem. O

que nem sempre se concretiza. Na grande maioria dos dias o recluso vive assombrado

pela sua situação penal e familiar, desmotivando-se para a frequência dos cursos.

O relatório da SEU, chama a atenção para o problema do frequente cancelamento de

aulas ou de atraso dos reclusos devido à falta de funcionários nas prisões. Apesar de

reconhecermos que numa prisão, a segurança é prioritária, alguns funcionários afirmam

que as aulas e a formação são sacrificadas muito facilmente e que alguns dos colegas

não consideram a educação e a formação como uma prioridade (SEU, 2002:49).

A eficácia da educação e formação dentro da prisão é medida pelos efeitos exercidos

quando da saída dos reclusos. No entanto, muitas vezes, não existe coordenação entre

os programas de ensino e formação em meio prisional com iguais oportunidades

existentes no exterior. Também não existem programas de apoio a ex-reclusos que lhes

permitam continuar os estudos depois de saírem da prisão, inviabilizando assim, algum

esforço, quer do recluso, quer do sistema prisional (SEU, 2002:50).

Ainda sobre este tema, Rodrigues (1999)9 considera que sendo fundamental obter o

consentimento do recluso para aceitar qualquer medida que seja considerada parte do

seu “tratamento”, esse consentimento assume uma importância capital, em especial

quando nos referirmos a programas de formação e de ensino cuja eficácia depende,

quase na totalidade, do empenho pessoal do recluso. Acrescentando a mesma autora,

que o recluso é um cidadão e que “o Estado contemporâneo de natureza laica e secular

não se encontra legitimado para impor aos cidadãos códigos morais. Por isso a pena de

prisão não pode ter por fim transformar o “homem criminoso”, num “bom pai de família”. A

liberdade de consciência não sofre qualquer restrição por via da sujeição a uma pena de

9 Professora na Faculdade de Direito de Coimbra - Professora do Curso de Direito do Porto da Universidade

Católica

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prisão” (1999:370), pelo que o ensino e a formação profissional ministrada durante a

reclusão deve sempre, respeitar este princípio fundamental.

O indivíduo enquanto recluso, pode também frequentar os estabelecimentos de ensino

públicos aos quais se candidate. Inclusivamente ter acesso ao ensino superior. Apesar de

constituir um processo bastante moroso, conheço casos que obtiveram sucesso. A

reinserção nestes casos passa muitas vezes pela frequência de cursos de formação

profissional e até mesmo pelo acesso ao ensino público.

3.METODOLOGIAS Para além de toda a pesquisa documental efectuada acerca deste tema, foi realizada

uma entrevista semi-estruturada (via email) à Directora do Estabelecimento Prisional de

Faro, que nos pareceu o mais adequado para atingir os objectivos definidos. Para esta

entrevista foi construído um Guião e os dados recolhidos foram alvo de uma análise de

conteúdo (temática) que é uma técnica documental que utiliza a análise dos documentos

escritos e retira as informações mais significativas (Bardin, 1977; Guerra, 2006).

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO RESULTADOS

Com o objectivo de facilitar a apresentação e discussão dos resultados, estes são

apresentados segundo as principais temáticas definidas.

4.1 Ensino e Formação

No EPR de Faro atualmente estão em funcionamento dois cursos EFA para obtenção de

equivalência do 6º e do 9º ano. Existem também a decorrer no estabelecimento aulas de

Inglês, aulas de apoio ao 1º ciclo e aulas de português para estrangeiros. Salientamos

neste último caso a preocupação em dar aulas aos reclusos estrangeiros que

actualmente são uma percentagem significativa nas prisões portuguesas. No caso da

formação profissional, ocorrem neste momento dois cursos: manutenção de edifícios e

empregados de restauração. Quanto à formação não formal, realizam palestras e

workshops de diversas temáticas e projectos de leitura e escrita com a finalidade de

estimular as mesmas. As competências pessoais e sociais são também desenvolvidas,

através de acções de curta duração, de modo a contribuir para uma melhor integração no

meio prisional e reinserção social.

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4.2 Seleção e Diagnóstico

A seleção dos reclusos para os diversos cursos é realizada pelo SAEP (Serviço de

Assistência Espírita ao Preso) pela chefia de guardas e pela direcção do Estabelecimento

prisional, cabendo a esta a decisão final.

No caso da educação formal os professores são destacados pela Direcção Regional de

Educação. Quanto à formação profissional, esta é ministrada por formadores externos.

4.3 Protocolos

O EP de Faro tem protocolos anuais com diversas entidades, tais como, Cruz Vermelha

Portuguesa, Administração Regional de Saúde do Algarve, Instituto da Droga e da

Toxicodependência, ALGAR, Câmara Municipal de Tavira e Associação Vida Abundante.

Quanto aos protocolos pontuais estes são efectuados com as ENGIÀEA (para os cursos

de restauração e hotelaria) GABINAE (para os cursos de manutenção de edifícios) e com

a Associação de Saúde Mental do Algarve (nos cursos de RVCC).

4.4 Expectativas/Necessidades

Segundo os dados apurados da entrevista efetuada, alguns reclusos consideram a oferta

educativa na prisão como uma redescoberta, como uma forma de ensino diferente e mais

apelativo, valorizando mais as componentes práticas. Por outro lado, estas novas

aquisições também contribuem para lhes aumentar a auto estima. Muitas vezes o que

acontece, tal como refere a nossa entrevistada, é que o recluso tem de ser primeiramente

motivado para que depois possa escolher e desenvolver o seu processo educativo com

os recursos existentes.

4.5 Dificuldades e aproveitamento no ensino

As maiores dificuldades e limitações encontradas nos processos de aquisição de

conhecimentos e aprendizagens, são o excesso de burocracia e os poucos programas de

tratamento aos reclusos toxicodependentes.

Relativamente ao aproveitamento, quer no ensino, quer na formação profissional, estes

apresentam aproveitamentos muito baixos, devido a comportamentos inadequados.

4.6 Reinserção social

Após a sua libertação, o sistema prisional nunca mais tem acesso ao recluso. Por isso,

não tem dados sobre a sua reinserção. A directora da prisão refere que a não

reincidência pode ser um indicador de sucesso.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que os atuais modelos educacionais no interior da prisão de faro, são mais

virados para o contexto profissional e inserção no mercado de trabalho. Entendemos que

estes modelos deveriam ser reavaliados, apostando numa formação na base do civismo

e cidadania, conscientização e humanismo.

Segundo as perspetivas de Paulo Freire, que durante toda a sua vida, procurou dar voz

aos grupos mais oprimidos da sociedade para que estes pudessem ter domínio sobre a

sua vida. No pensamento Freiriano, educar para intervir, refere-se a mudanças reais nas

relações das pessoas e na sua autonomia, no trabalho, na educação e na saúde. Estas

devem poder ter os meios para fazer uma reflexão constante sobre a sua vida e decidir

conscientemente sobre ela (Freire, 1983). O mesmo educador, também referiu que

“no ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de

vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele

reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, acção. Todas essas

coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente

adaptado à realidade e aos outros, mas integrado” (Freire, 1980).

Assim, ao adquirir sua própria liberdade, a pessoa liberta-se, resultando daí a percepção

do meio que o rodeia. A consciência humana, como é sabido, está intimamente ligada ao

mundo real, por isso a conscientização é a luta que os homens travam para livrarem-se

dos obstáculos que impedem uma boa percepção do mundo quotidiano (Gonzaga, 2006).

Consideramos que o EPR de Faro possui formações escolares e profissionais adequadas

as necessidades dos reclusos, tendo em vista o desenvolvimento das competências

pessoais, profissionais e sociais, de modo a contribuir para reinserção social e

consequente inserção no mercado de trabalho.

No entanto, o fenómeno da toxicodependência contribui de uma forma direta para o

escasso aproveitamento na formação dos reclusos do EPR de Faro, sendo que os

programas de tratamentos atuais são insuficientes para combater a toxicodependência.

Surge também como pista e interesse para uma futura investigação, entrevistar os

formadores e formandos (reclusos) em atividade no EPR de Faro, com a finalidade de

obter uma melhor perceção da participação dos reclusos, perceber quais as suas

opiniões sobre os benefícios que as formações podem trazer no futuro e se estes

entendem as formações como vantajosas para a sua reinserção social.

No nosso entender, seria interessante, também, futuramente, atendendo que o recluso

após a sua libertação deixa de estar sobre a tutela da Direção Geral dos Serviços

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

16

Prisionais (DGSP) e passa a ser orientado pela Direção Geral de Reinserção Social

(DGRS), perceber qual a relação existente entre ambas as Direções (se a informação e

os dados do recluso são cruzados pelas duas) e compreender se os modelos de

educação de adultos continuam a ser praticados pela DGRS, com o objetivo de obter

deste modo dados concretos quanto as taxas de sucesso ou insucesso na reinserção

social dos indivíduos.

Page 17: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

17

Bibliografia

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Educação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova

de Lisboa - Análise Psicológica, 1 (XVII), pp.163-194.

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da Europa, 1989.

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Educação de Adultos I

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18

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«Reducing Re-offending by Ex-prisioners». Office of the Deputy Prime Minister,

disponível em [URL]: http://www.socialexclusionunit.gov.uk, acedido em 14DEZ11.

Page 19: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

19

ANEXOS

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

20

Guião Entrevista

Apresentação e Objetivos da Entrevista

Estamos a contactá-la no sentido de nos conceder uma entrevista para um trabalho a

apresentar sobre a Educação de Adultos em Portugal, no âmbito da unidade curricular de

Educação de Adultos I, do 2º ano, Licenciatura de Educação Social. Neste caso

gostaríamos de conhecer e aprofundar as questões referentes aos projectos de

educação/formação dos reclusos do estabelecimento prisional de Faro.

1- Há quanto tempo é directora do EP Faro?

2 - Ensino e Formação

2.1 - Quais as modalidades de ensino/formação profissional que existem no EPR de Faro, desde quando e como surgiram??

3 - Seleção e Diagnóstico

3.1 - Quem faz o diagnóstico das necessidades de formação dos reclusos?

3.2 - Quem faz a selecção dos reclusos/formandos?

3.3 - Como é realizada a selecção dos formadores?

4 - Protocolos

4.1 - Quais as entidades com que têm protocolos?

5 - Expectativas/Necessidades

5.1 - Como é vista e sentida a formação de adultos pelos reclusos?

5.2 - A oferta formativa vai de encontro às necessidades e interesses dos reclusos?

6 - Dificuldades e taxas de Sucesso

6.1 - O relatório de actividades de 2010, refere que a nível da

educação e ensino, são apontadas dificuldades resultantes de

excesso de burocracia. Estas dificuldades dificultam as acções dos

técnicos. Será que nos pode explicar melhor estas dificuldades

sentidas?

Page 21: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

21

6.2 - Qual a taxa de sucesso, dentro de cada modalidade?

6.3 - No caso concreto do EP Faro, quais os resultados em termos de sucesso e insucesso aquando da reinserção social do recluso (após cumprir a pena)?

Dados resultantes da entrevista efetuada à Diretora do EPR de Faro – Dra. Ana

Salomão:

1. - “ 3 anos e 2 meses

2. - Presentemente e ao nível da escola

- encontram-se a funcionar 2 cursos EFA, B2 e B3, para

obtenção das equivalências ao 6º e ao 9º ano,

respectivamente e ainda

- Aulas de Inglês, aulas Português para Estrangeiros, e

finalmente aulas apoio para os que não têm o 1º ciclo,

aprenderem a ler e a escrever, estudarem e auto-proporem-se

a exame

Ao nível da formação profissional:

- Manutenção de Edifícios

- Empregados de restauração

Paralelamente são ainda organizadas Palestras e Workshp sobre

diversas temáticas (51 durante 2011), bem como projectos de

dinamização da leitura e escrita (em 2011, 2 projectos nesta área)

São igualmente desenvolvidas acções de curta duração (30 horas

para uma ciclo completo) no âmbito do desenvolvimento de

competências pessoais e sociais.

Em Janeiro, e após conclusão do curso de empregados de

restauração, iniciar-se-á um RVCC para obtenção de equivalência ao

9º ano.

3. - Tem desde sempre existido em todos os EP a preocupação de

organização de actividades que permitem ao recluso a aquisição de

competências pessoais, sociais e profissionais facilitadoras da sua

reintegração social.

3.1 - A sua programação e conteúdo poderá ir variando de acordo

com:

Page 22: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

22

- as características e perfil da população reclusa em concreto,

-os recursos disponíveis (humanos, financeiros e físicos) e

-dinâmica existente em cada EP.

- mercado de trabalho, da área onde o EP se localiza.

Por outro lado, também a evolução da sociedade, (origem e destino do

recluso) constitui obviamente um factor determinante da evolução dos

modelos de intervenção.

Explicitando um pouco, há 50 anos atrás, um recluso ter apenas 4

anos de escolaridade não constituía um handicap significativo para a

sua futura integração no mercado de trabalho. Hoje a habilitação

mínima é muito superior e, o que é mais importante, com a

modernização, as exigências ao nível da actividade profissional não

são compatíveis com escolaridades muito baixas. Não se pode pôr um

analfabeto ou quase analfabeto a trabalhar com muitos dos

equipamentos comuns em diversas actividades. Hoje alguém com

essas habilitações fica sujeito a apenas encontrar trabalho não

qualificado e, consequentemente mal remunerado.

Daí que hoje seja significativamente maior a aposta no ensino e na

formação profissional, até porque hoje continua-se a constatar que o

perfil da população prisional ao nível das habilitações é muito mais

baixo do que o da população geral. E a aquisição de hábitos de

trabalho tanto se faz pelo exercício de actividades laborais como pelo

estudo.

Acresce ainda que no respeitante à formação profissional, a

disponibilização de Verbas de Fundos Europeus, veio permitir um

acentuado aumento no nº de acções desenvolvidas.

A significativa alteração ao nível do perfil dominante do recluso de

hoje, também não é alheia à mudança de modelo referida. Fenómenos

como a toxicodependência, indivíduos mais violentos, criminalidade

organizada e “internacionalizada”, maior frequência de problemas ao

nível da saúde mental, comportam maiores riscos tanto ao nível de

tentativas de evasão, como ao nível da segurança (de funcionários,

colaboradores e outros reclusos) e obrigam a novas formas de

organização das actividades nos estabelecimentos. É por isso bem

Page 23: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

23

mais difícil a constituição de Brigadas de Trabalho para operar no

exterior dos Estabelecimentos.

Finalmente refira-se que na programação da formação profissional

também se tem que ter em conta necessidades específicas do

mercado de trabalho da zona do país onde o EP se localiza e para o

qual o recluso irá regressar.

3.2 - Normalmente serão os SAEP-Serviços responsáveis pelo

acompanhamento da Execução de Penas que, antes da recente

publicação do Código de Execução de Penas, eram designados por

SEE-Serviços de Educação e Ensino, e que com dimensões variáveis

existem em todos os Estabelecimentos. No caso do EP Faro conta

com 2 técnicos. É feita conjuntamente pelos SAEP, Chefia de Guardas

e Direcção do EP, cabendo a decisão e aprovação final à Direcção do

EP

3.3 - Não existe selecção de formadores porque:

- No que respeita ao Ensino, a Escola do EP é uma extensão da

Escola da zona em que está situado. Assim os professores são

designados pelas Direcções Regionais de Educação em função das

regras do Ministério da Educação e aceitação do professor.

- No caso da formação profissional os estabelecimentos

recorrem a empresas de formação profissional que são obviamente

quem selecciona os seus formadores

Tal não invalida que a qualquer tempo o estabelecimento possa

pedir o afastamento de alguém que mostra não ter perfil adequado ao

trabalho com reclusos.

4- Ao nível de Protocolos anualmente renovados:

- Cruz Vermelha Portuguesa (actividades no âmbito de Artes

Decorativas, Dinamização da Leitura, Dinâmicas de Grupo)

- ARS Algarve (diversos apoios ao nível da Saúde)

- IDT (Acções para toxicodependentes no âmbito das

competências pessoais e sociais e das problemáticas da

toxicodependência, integração e continuidade no programa da

Metadona, Apoio psicológico aos reclusos, etc.)

- ALGAR (colocação de reclusos em regime aberto no

Page 24: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

24

exterior)

- Câmara de Tavira (idem)

- Associação Vida Abundante (dinamização de grupos de

reflexão e entreajuda)

Ao nível de situações pontuais relativas ao desenvolvimento de

determinadas actividades, sobretudo da formação profissional,

também se fazem Protocolos pontuais.

No caso das formações atrás referidas, o EP está a trabalhar com a

ENGIÀREA (restauração e hotelaria) a GABINAE (Manutenção de

edifícios) e ASMAL (Cursos RVCC)

5 –

5.1 - Para alguns é uma redescoberta do estudo através de uma

forma/modelo de ensino diferente (e menos traumatizante).

Valorizam mais as componentes práticas da formação. Nalguns casos

a aquisição de novas competências habilitacionais e profissionais

também lhes aumenta a auto-estima e confiança em si próprios e nas

suas capacidades.

5.2 - Procura-se que assim seja. Quanto ao interesse dos reclusos é de

referir que muitas vezes, ele ainda tem que ser “descoberto” pelo

recluso, ou seja muitas vezes há que trabalhar primeiro a motivação.

6 –

6.1 - Presumo que essas considerações resultem de:

- Nº muito elevado de Mapas que os EP são obrigados a

remeter para os S.Centrais, nuns casos mensalmente,

noutros trimestralmente e ainda outros semestralmente, com

dados relativos a todas as actividades desenvolvidas e que

vão para além das aqui referidas (como é o caso dos PIR-

Plano Individual de Readaptação elaborados, datas de

aprovação em Conselho Técnico interno, data de

homologação pelo TEP etc)

- Aplicação informática (SIP Educação) que,

por um lado obriga ao registo de uma infinidade de

actos (como o simples atendimento de um recluso ou

recepção de um telefonema sobre assunto relacionado

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

25

com um recluso, a avaliação semanal na formação,

escola ou trabalho, os testes de consumo de

estupefacientes a que eventualmente sejam sujeitos e

respectivos resultados, os visitantes autorizados, etc.)

por outro, não está devidamente articulado com outras

componentes (SIP - Situação Jurídico-Penal) o que

leva a que se tenha de registar nessa aplicação, a

mesma informação que já consta da Situação jurídico-

penal, aliado ao facto de, por razões de estatísticas,

ser necessário obter e introduzir inúmeros elementos

identificativos e de percurso, como por exemplo, cada

uma das actividades laborais que um recluso teve no

exterior, identificadas por códigos, com base numa

tabela do Ministério de Trabalho

6.2 - Nesta data não tenho a possibilidade de dar essa quantificação

(daqui a 15 dias se ainda for útil).

De qualquer forma é possível adiantar que ao nível da Formação

profissional os insucessos, em 2010, resultaram apenas de questões

comportamentais que obrigaram ao afastamento de um ou outro

recluso no decorrer do curso.

No que respeita a RVCC, desenvolvidos em 2010, (certificações do 6º

e do 9º ano) também houve 2 casos, em que por falta de

aproveitamento numa disciplina, os reclusos não puderam ser

certificados no final do curso. Irão frequentar apenas essa disciplina

em próximo curso de RVCC.

Ao nível da Escola 2010/2011, foi muito baixa a taxa de sucesso ao

nível do 1º ciclo, nuns casos por transferência ou libertação do

recluso, mas na maioria por falta de aproveitamento.

6.3 - Não existem dados que permitam aos serviços prisionais analisar

e avaliar esse aspecto porquanto após a libertação os serviços já

não têm acesso a quaisquer dados. Mesmo no caso de saída em

Liberdade Condicional, o acompanhamento compete

exclusivamente à DGRS (Direcção-Geral de Reinserção Social) e

restringe-se à duração da liberdade condicional.

Page 26: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

26

Acresce ainda que para se avaliar a reinserção ter-se-á que ter em

conta um conjunto bem mais vasto de factores, que não apenas as

competências adquiridas, ou não, durante o tempo de prisão. (Será

uma trabalho importante que poderá ser feito por Universidades ?).

Da mesma forma, os casos de não reincidência também não poderão

ser automaticamente atribuídos ao trabalho feito durante o tempo de

prisão.

Em todo esse quadro não se pode deixar de referir o papel

determinante da Toxicodependências. São poucos os programas de

tratamento (em meio prisional ou no exterior), as taxas de recuperação

são muito baixas em todos os programas conhecidos, as recaídas são

frequentes, o indivíduo não tiver esse problema controlado (a

dependência é para toda a vida, a questão é manter a situação

controlada ou seja sem consumos) acabará sempre por retornar a um

percurso criminal, sejam quais forem as suas capacidades e

competências, sejam quais forem os seus apoios ao nível familiar,

sejam quais forem as suas oportunidades em termos de trabalho.”

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

27

GRELHA DE ANÁLISE – ENTREVISTA À DIRECTORA DO EPR DE FARO

Dimensões Excertos entrevista Análise

Formação escolar « […] ao nível da escola, encontram-

se a funcionar 2 cursos EFA, B2 e

B3, para obtenção das

equivalências ao 6º e ao 9º ano,

prospectivamente e ainda Aulas de

Inglês, aulas Português para

Estrangeiros, e finalmente aulas

apoio para os que não têm o 1º

ciclo, aprenderem a ler e a escrever,

estudarem e auto-proporem-se a

exame.»

Encontra-se a funcionar

dois cursos EFA (B2 E B3),

para obtenção de

equivalências do 6º e 9º

ano. Existe também aulas

de inglês, português para

estrangeiros e aulas de

apoio ao 1º ciclo.

Formação

profissional

«Manutenção de Edifícios,

Empregados de restauração;

Paralelamente são ainda

organizadas Palestras e Workshp

sobre diversas temáticas (51

durante 2011), bem como projetos

de dinamização da leitura e escrita

(em 2011, 2 projetos nesta área)

São igualmente desenvolvidas

ações de curta duração (30 horas

para uma ciclo completo) no âmbito

do desenvolvimento de

competências pessoais e sociais. »

Atualmente, existem dois

cursos profissionais: de

manutenção de edifícios e

de Empregados de

restauração. Realizam-se

palestras e workshops de

diversos temas e

organizam-se projetos para

estimular a leitura e a

escrita. Desenvolvem-se

também ações de curta

duração, para

desenvolvimento de

competências pessoais e

sociais.

Como e quando

surgiu

«Tem desde sempre existido em

todos os EP a preocupação de

organização de atividades que

permitem ao recluso a aquisição de

competências pessoais, sociais e

profissionais facilitadoras da sua

Existe preocupação em

todos os EP de

proporcionarem aos

reclusos a aquisição de

competências pessoais

sócias e profissionais para

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

28

reintegração social.» Por outro lado,

também a evolução da sociedade,

(origem e destino do recluso)

constitui obviamente um fator

determinante da evolução dos

modelos de intervenção.»

uma melhor integração

social.

A sociedade atual é

determinante na evolução

dos modelos de

intervenção.

Atividade

profissional/

habilitações

«[…] as exigências ao nível da

atividade profissional não são

compatíveis com escolaridades

muito baixas. Não se pode pôr um

analfabeto ou quase analfabeto a

trabalhar com muitos dos

equipamentos comuns em diversas

atividades. […] Daí que hoje seja

significativamente maior a aposta no

ensino e na formação profissional,

até porque hoje continua-se a

constatar que o perfil da população

prisional ao nível das habilitações é

muito mais baixo do que o da

população geral. E a aquisição de

hábitos de trabalho tanto se faz pelo

exercício de atividades laborais

como pelo estudo.

« […] respeitante à formação

profissional, a disponibilização de

Verbas de Fundos Europeus, veio

permitir um acentuado aumento no

nº de ações desenvolvidas.»

A exigência exigida para

inserção no mercado de

trabalho não é compatível

com baixos níveis

escolares, porque não se

iria adaptar a trabalhar com

muitos dos equipamentos

existentes nas diversas

atividades.

O nível de habilitação da

população prisional é muito

mais baixa que da

população em geral, por

esse motivo é necessário

reforçar a formação escolar

e profissional.

O aumento do nº de

formações profissionais

deve se à disponibilização

de verbas de fundos

europeus.

Organização e

planificação das

atividades de

formação no

interior e exterior

«[…] Fenómenos como a

toxicodependência, indivíduos mais

violentos, criminalidade organizada

e “internacionalizada”, maior

frequência de problemas ao nível da

A toxicodependência,

criminalidade organizada

doenças mentais levam a

uma nova forma de

organização das

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Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

29

saúde mental, comportam maiores

riscos tanto ao nível de tentativas de

evasão, como ao nível da segurança

(de funcionários, colaboradores e

outros reclusos) e obrigam a novas

formas de organização das

atividades nos estabelecimentos. É

por isso bem mais difícil a

constituição de Brigadas de

Trabalho para operar no exterior dos

Estabelecimentos.»

actividades de formação no

EP. Sendo cada vez mais

difícil a construção de

Brigadas de Trabalho para

trabalhar no exterior dos

estabelecimentos.

Seleção de

reclusos

« É feita conjuntamente pelos

SAEP, Chefia de Guardas e Direção

do EP, cabendo a decisão e

aprovação final à Direção do EP.»

É realizada pelo SAEP

(Serviço de Assistência

Espírita ao Preso), Chefia

de Guardas, Direção do EP,

sendo a decisão final da

Direção do EP.

Seleção de

formadores

«No que respeita ao Ensino, a

Escola do EP é uma extensão da

Escola da zona em que está

situado. Assim os professores são

designados pelas Direções

Regionais de Educação em função

das regras do Ministério da

Educação e aceitação do professor.

No caso da formação profissional os

estabelecimentos recorrem a

empresas de formação profissional

que são obviamente quem seleciona

os seus formadores

Tal não invalida que a qualquer

tempo o estabelecimento possa

pedir o afastamento de alguém que

mostra não ter perfil adequado ao

As escolas dos EP são

extensões da escola da

zona onde o mesmo se

encontra. Sendo os

professores escolhidos

pelas Direções Regionais.

No caso da formação

profissional recorrem a

empresas de formação e

estes são quem selecionam

as pessoas. No entanto, se

algum formador não tiver

perfil, o EP pode pedir o

afastamento do mesmo.

Page 30: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

30

trabalho com reclusos. »

Diagnóstico das

necessidades dos

reclusos

« Normalmente serão os SAEP -

Serviços responsáveis pelo

acompanhamento da Execução de

Penas que, antes da recente

publicação do Código de Execução

de Penas, eram designados por

SEE-Serviços de Educação e

Ensino, e que com dimensões

variáveis existem em todos os

Estabelecimentos. No caso do EP

Faro conta com 2 técnicos.»

SAEP (serviços

responsáveis pelo

acompanhamento da

execução de penas).

No EP de Faro existem dois

técnicos.

Protocolos «Ao nível de Protocolos anualmente

renovados: Cruz Vermelha

Portuguesa (atividades no âmbito de

Artes Decorativas, Dinamização da

Leitura, Dinâmicas de Grupo) ARS

Algarve (diversos apoios ao nível da

Saúde) IDT (Ações para

toxicodependentes no âmbito das

competências pessoais e sociais e

das problemáticas da

toxicodependência, integração e

continuidade no programa da

Metadona, Apoio psicológico aos

reclusos, etc.) ALGAR (colocação

de reclusos em regime aberto no

exterior) Câmara de Tavira (idem)

Associação Vida Abundante

(dinamização de grupos de reflexão

e entreajuda)

Ao nível de situações pontuais

relativas ao desenvolvimento de

determinadas atividades, sobretudo

Anualmente tem protocolo

com: Cruz Vermelha

Portuguesa, ARS Algarve,

IDT, ALGAR, Câmara de

Tavira, Associação VIDA

Abundante. Existe a

realização de protocolos

pontuais com ENGIÀREA, a

GABINAE e a ASMAL.

Page 31: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

31

da formação profissional, também

se fazem Protocolos pontuais.

(…) o EP está a trabalhar com a

ENGIÀREA (restauração e hotelaria)

a GABINAE (Manutenção de

edifícios) e ASMAL (Cursos

RVCC).»

Visão dos reclusos

sobre educação de

adultos

«Para alguns é uma redescoberta

do estudo através de uma

forma/modelo de ensino diferente (e

menos traumatizante).

Valorizam mais as componentes

práticas da formação. Nalguns

casos a aquisição de novas

competências habilitacionais e

profissionais também lhes aumenta

a autoestima e confiança em si

próprios e nas suas capacidades.»

Alguns recursos vêm este

modelo de ensino, como

uma redescoberta, pelo

facto de ser diferente. Os

reclusos valorizam mais as

práticas da formação. Para

alguns deles a aquisição de

novas competências

habitacionais e profissionais

aumenta-lhes a autoestima,

acreditando neles e nas

suas capacidades.

Oferta formativa

direcionada aos

reclusos

«Procura-se que assim seja. Quanto

ao interesse dos reclusos é de

referir que muitas vezes, ele ainda

tem que ser “descoberto” pelo

recluso, ou seja muitas vezes há

que trabalhar primeiro a motivação.»

Assim se pretende mas,

alguns deles tem que se

primeiro motivados.

Dificuldades para

pôr em prática as

estratégias de

educação/

Burocracia

«Nº muito elevado de Mapas que os

EP são obrigados a remeter para os

S. Centrais, nuns casos

mensalmente, noutros

trimestralmente e ainda outros

semestralmente, com dados

relativos a todas as atividades

desenvolvidas e que vão para além

das aqui referidas (como é o caso

Existem também

dificuldades devido ao

excesso de burocracia:

quer com o preenchimento

de inúmeros mapas

obrigatórios quer com o

preenchimento da

aplicação informática.

Page 32: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

32

dos PIR - Plano Individual de

Readaptação elaborados, datas de

aprovação em Conselho Técnico

interno, data de homologação pelo

TEP etc.) Aplicação informática (SIP

Educação) que, por um lado obriga

ao registo de uma infinidade de atos

(como o simples atendimento de um

recluso ou receção de um

telefonema sobre assunto

relacionado com um recluso, a

avaliação semanal na formação,

escola ou trabalho, os testes de

consumo de estupefacientes a que

eventualmente sejam sujeitos e

respectivos resultados, os visitantes

autorizados, etc.) por outro, não está

devidamente articulado com outras

componentes (SIP - Situação

Jurídico - Penal) o que leva a que se

tenha de registar nessa aplicação, a

mesma informação que já consta da

Situação jurídico - penal, aliado ao

facto de, por razões de estatísticas,

ser necessário obter e introduzir

inúmeros elementos identificativos e

de percurso, como por exemplo,

cada uma das atividades laborais

que um recluso teve no exterior,

identificadas por códigos, com base

numa tabela do Ministério de

Trabalho.»

Sucesso/insucesso

das modalidades

«[…] ao nível da Formação

profissional os insucessos, em 2010,

Os insucessos em 2010

nas formações profissionais

Page 33: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

33

resultaram apenas de questões

comportamentais que obrigaram ao

afastamento de um ou outro recluso

no decorrer do curso.

No que respeita a RVCC,

desenvolvidos em 2010,

(certificações do 6º e do 9º ano)

também houve 2 casos, em que por

falta de aproveitamento numa

disciplina, os reclusos não puderam

ser certificados no final do curso.

Irão frequentar apenas essa

disciplina em próximo curso de

RVCC.

Ao nível da Escola 2010/2011, foi

muito baixa a taxa de sucesso ao

nível do 1º ciclo, nuns casos por

transferência ou libertação do

recluso, mas na maioria por falta de

aproveitamento.»

derivaram apenas de

comportamentos

inadequados dos de um ou

outro recluso.

No RVCC o insucesso de 2

casos derivou de falta de

aproveitamento numa

disciplina.

A nível do 1º ciclo foi muito

baixa a taxa de sucesso,

verificou-se a libertação de

um recluso mas, a maioria

foi por falta de

aproveitamento.

Sucesso/insucesso

da reinserção

social dos reclusos

«Não existem dados que permitam

aos serviços prisionais analisar e

avaliar esse aspeto porquanto após

a libertação os serviços já não têm

acesso a quaisquer dados. Mesmo

no caso de saída em Liberdade

Condicional, o acompanhamento

compete exclusivamente à DGRS

(Direcção-Geral de Reinserção

Social) e restringe-se à duração da

liberdade condicional

Acresce ainda que para se avaliar a

reinserção ter-se-á que ter em conta

um conjunto bem mais vasto de

Não existe forma de

analisar e avaliar

sucesso/insucesso, porque

após libertação do recluso

já não existe acesso ao

recluso. No caso de

liberdade condicional o

recluso é acompanhado

pela DGRS (Direção Geral

de Reinserção Social) mas,

só enquanto se encontrar

em liberdade condicional.

Para analisar a reinserção

existe um conjunto de

Page 34: Trabalho de grupo Ed. Adultos I

Educação de Adultos I

A Educação de Adultos em Portugal A EA em Sistema Prisional

34

fatores, que não apenas as

competências adquiridas, ou não,

durante o tempo de prisão […] os

casos de não reincidência também

não poderão ser automaticamente

atribuídos ao trabalho feito durante o

tempo de prisão.»

fatores que tinham que ser

avaliados, e no caso de não

reincidência não pode ser

atribuído automaticamente

ao tempo que o recluso

esteve preso.

As não reincidências

podem ser um indicador de

sucesso.

Sugestões de

melhoria/

Necessidades

«[…] todo esse quadro não se pode

deixar de referir o papel

determinante da

Toxicodependências. São poucos os

programas de tratamento (em meio

prisional ou no exterior), as taxas de

recuperação são muito baixas em

todos os programas conhecidos, as

recaídas são frequentes, o indivíduo

não tiver esse problema controlado,

acabará sempre por retornar a um

percurso criminal, sejam quais forem

as suas capacidades e

competências, sejam quais forem os

seus apoios ao nível familiar, sejam

quais forem as suas oportunidades

em termos de trabalho. »

Existem poucos programas

de tratamento de

toxicodependência, e as

taxas de recuperação são

muito baixas em todos eles,

existindo recaídas

frequentes. Se o recluso

não tiver este problema

controlado retorna ao

percurso criminal,

independentemente das

suas capacidades, dos

apoios familiares que

recebe ou das

oportunidades de emprego.

Este problema interfere

com o sucesso das

aprendizagens educativas.

Devem existir mais

programas de combate à

toxicodependência.