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[ ] lamas, josé m. garcia, morfologia urbana e desenho da cidade, fundação calouste gulbenkian, 2004 parte 2 (2)

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TEXfOS UNNERSrrÁRIOS DE CIÊNCIAS SOCIAIS EHUMANAS

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MORFOLOGIA URBANA EDESENHO DA CIDADE

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José M. Ressano Garcia Lamas

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FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN IUNDAÇAo PAlIA AatNCIA ( A nCNOlOGlA

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2º Volume
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Ii "Título: Morfologia Urbana e Desenho da Cidade

Autor: José Manuel Ressano Garcia Lamas

Edição: Fundação Calouste Gulbenkian

Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Tiragem: 2000 exemplares

Junho 2004

Impressão e Acabamento: ORGALlmpressores - Porto

Distribuição: Dinalivro - Distribuidora Nacional de Livros, Lda Audil - Distribuição de Livros e Material Audiovisual

Depósito legal: 215921/04

ISBN: 972-31-0903-4

© Fundação Calouste Gulbenkian 'I

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PARTE V I

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CONFIGURAÇAO EMORFOLOGIA DA CIDADE MODERNA

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cA arquitectura moderna ~ o estudo de um modelo novo de cidade, distinto da 5.1 INTRODUÇÃO - ACIDADE tradicional, e começa quando os «artis· tas. e os «tknicos. chamados a colabo­ MODERNA rar na gestão da cidade p6s.liberal são capazes de propor um novo método de I

trabalho, livre das anteriores divisões Arevolução industrial havia já introduzido as primei­institucionais (...).• ras grandes modificações estruturais nas cidades. O pe­

ríodo moderno irá produzir uma ruptura radical na estru­BENEVOLO

tura, na forma, na organização distributiva e nos conteú­Storia deli'Architettura Moderna dos e propósitos da urbanística e da cidade.

A formulação da «cidade moderna», como todas as transformações históricas importantes, processou-se em

moldes difíceis de sintetizar, compreendendo um grande número de experiências e for­mulações teóricas que não seguiram um processo linear nem tiveram origem num único lugar, tempo ou ambiente cultural.

Arriscando alguma falta de rigor, designaria por «cidade moderna» o resultado das experimentações e formulações teóricas que, na primeira metade do século XX, irão re­pudiar a cidade tradicional e substituí-Ia por um novo modelo. Após a Segunda Grande Guerra e até aos anos sessenta e setenta e com a intensa construção e reconstrução das cidades destruídas, esse conjunto de ideias e experimentações irá ter aceitação no es­calão técnico e administrativo, influenciando definitivamente as realizações e substi­tuindo rapidamente todos os resíduos do urbanismo formal.

O ambiente de reconstrução do pós-guerra, que se prolonga até aos anos cinquenta-sessenta, detém as condições que permitirão a implementação generalizada dos princípios e postulados modernos e demais propostas de transformação da cidade.

Aavaliação dos resultados dessas propostas só foi possível após a experimentação maciça, e menos qualificada, realizada pela «urbanística operacional».

Aburocracia conformista, mais preocupada com os resultados quantitativos do que qualitativos, tornarão o «planeamento operacional» motor de destruição da vida urba­na e da cidade e farão ressaltar os aspectos mais negativos da cidade moderna. O que antes fora polémico, inovador, contributo de grandes mestres com o seu prestígio, esta­tura cultural e a qualidade do seu desenho, ao ser utilizado indiscriminadamente por projedistas menores e na prática rotineira, acabará por gerar a monotonia e a banali­dade.

Existem dois períodos que interessa ter presentes para compreender a configuração e génese da cidade moderna e a crítica que lhe é produiida.

O primeiro, essencialmente situado entre as duas guerras, é o período «heróico» das formulações teóricas e experimentações, em que os arquitedos «modernos» se lan­

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çam no árduo tarefo de oposição à urbanístico· formo! e na organização da estruturo e morfologia da novo cidade. Têm esses arquitectos consciência de viverem uma novo era e uma grande fé nos modificações em curso e nos contributos que o tecnologia, os ciências, o máquina e os próprios movimentos sociais trarão à cidade. Estavdm tam­bém convictos de que tonto o urbanístico existente, académico e consagrada, como os estruturas urbanos tradicionais não forneciam respostas eficazes aos problemas do sé­culo XX.

Énesta etapa que se formulam todos os experiências de destruição e abandono do quarteirão, do ruo e até do próprio praça; que em seu lugar se propõem as tipologias do torre, do bando e do bloco; que a cidade deixo de se organizar como misturo fun­cionai para se dividir em zonamentos rígidos; e em que se dó o quebro de integração redproca dos vários elementos morfológicos que constituem a estrutura urbano. .

Sem dúvidá que boa porte dos energias de afirmação do Movimento Moderno per­tencem também à arquitectura de edifrcios e ao fasdnio e à força que a novo estético arquitectónica vai exercer sobre os intelectuais e o público em geral. A urbanística não estava só. lo pelo mão do arquitectura e em conjunto com os artes plásticas, num mun­do em convulsão intelectual e social e onde o despojamento e simplicidade estético en­tusiasmo e seduz pelo suo cargo de modernidade.

Asegunda etapa abarca o período desde o fim da Segundo Grande Guerra até aos anos setenta. A reconstrucão dos cidades e os tremendos necessidades habitacionais (em porte motivados pelo 'guerra, em porte pelo industrialização e demais fenómenos sociais) irão precisar de habitações, bairros, novas cidades e reconstrução dos centros urbanos, em quantidades e o ritmos nunca antes conhecidos.

Desde logo, os executivos do reconstrução europeia serão levados o encontrar no «urbanístico moderno» o resposta rápida e eficaz paro os seus problemas facilitado pe­lo ascensão dos arquitectos «modernos» aos cargos de decisão. Éassim que, após um período inicial em que o reconstrução na Europa segue tanto o urbanismo «formal» como o «moderno», acabará, nos anos cinquenta, por alinhar inteiramente por este úl­timo. Sucedem-se, então, em ritmo e quantidades até então desconhecidos, bairros, grandes conjuntos e cidades novos que desenham as hipóteses da moderna urbanística.

A vulgarização da morfologia moderno virá o fazer-se sem o brilho dos grandes mestres e dos quálidqdes do seu desenho, entregue oarquitectos menos talentosos ou à rotina burocrático dos organismos de decisão. Nesta avalanche de planos e projectos acabará por se instalar a rotina e o monotonia, porque o próprio sistema facilita o to­mado de decisões fraccionada por sistemas, remetendo os questões menos arquitectó­nicás poro os mãos do Administração ou dos engenharias. Einteressante é, por exem­plo, verificar como em França ou em Portugal o separação do composição urbano por sistemas independentes - com preponderância paro o sistema viário - tornará o en­

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5·1 Gropius e Scharoun: o bairro Siemensstadt (Berlim. 1930). Plano. visto de um sector e tipos construtivos

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genharia de tráfego motor do planeamento, com os traçados de vias antecedendo os traçados urbanos e dando papel condutor aos engenheiros em detrimento dos arqui­tectos urbanistas (lI.

Àforça plástica do Movimento Moderno no seu perrodo inicial, sucederá o «sonam­bulismo» da planiflcação burocrática e administrativa, em que se controlam as quanti­dades e usos, e pouca acção se concede à forma fIsica e estética das cidades.

~ neste perlodo, que designaria por URBANrSTICA OPERACIONAL, que se cons­truirão os grandes conjuntos modernos, cujos resultados irão por sua vez provocar as violentas crrticas e reacções dos últimos vinte anos.

Assim, para compreender o debate dos últimos vinte anos, interessa analisar as mo­diAcações da forma urbana, desde as primeiras propostas modernas até à banalidade da urbanrstica operacional dos anos sessenta. .

Esta evolução passou por etapas, debates e hipóteses tão diversas como a cidade­-jardim, a unidade de vizinhança ou o urbanismo anglo-sax6nico, as experiênciasho­landesas, alemãs e austrracas dos anos vinte-trinta, o racionalismo e funcionalismo da Carta de Atenas, as propostas de Le Corbusier, os postulados e condusões dos CIAM, e, finalmente, o rol numeroso dos an6nimos repetitivos e das extensões periféricas das cidades europeias dos anos cinquenta até aos anos setenta.

No seu conjunto, existe um denominador comum atoda5 essaS experiências, reali­zações e formulações te6ricas: a recusa da cidade tradicional, das suas formas e da sua con'figuração, e a procura de novos modelos de organização do espaço urbano. A«ci­dade moderna» acabará por não ter conexões com a cidade tradicional, porque, em definitivo, toda a morfologia tradicional será abandonada e dela nada restará.

Em última análise, o conhecimento das caraderrsticas da cidade moderna é indis­pensável para, no estirador, se abordar odesenho contemporâneo e consciente aceita­ção ou repúdio das morfologias que conhecemos da hist6ria da cidade.

A QUESTÃO DO ALOJAMENTO

Novas tipologias construtivas - Novas formas urbanas

A necessidade de fornecer casas a todos em condições de higiene e salubridade e permitindo diferentes standards de vida constituem um dos maiores problemas a en­frentar. O urbanismo moderno é de inrcio um urbanismo habitacional, quer pela im­portância do alojamento e da área habitacional quer porque estes temas conduzirão até à invenção de novas tipologias construtivas: o bloco, a torre, o conjunto.

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5-2 Unidades habitacionais modernas. 1. Superblocos soviéticos. 2. Superquadras em Brasrlia­Lúcio Costa, 1958.3. Complexo Pedregulho no Rio de Janeiro - A. E. Reidy, 1947-1952.4. Uni· dade residencial Wupperthal atelier 40 - 1966)

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Benevolo e outros autores, num texto famoso (2), resumem a três vectores fundamen­tais os modelos de pesquisa projectual na cidade moderna:

• Ainvestigação sobre o alojamento na sua organização e estrutura interna e nas for­mas de agrupamento em edifícios. Este vector estudará as áreas standard do fogo, a sua racionalização e melhor organização distributiva. Simultaneamente, irá conside­rar o alojamento como a célula-base de organização da cidade e, através dos siste­mas de agregação desta unidade-base, atingirá as tipologias do bloco, da torre, do complexo habitacional, ou ainda, utilizará, em alguns casos, a viven~a unifamiliar.

• Apesquisa sobre o bairro entendido como a unidade urbana a partir da qual existe vida comunitária e social. Esta pesquisa abordará essencialmente .os aspectos quanti­tativos e distributivos: a dimensão óptima do bairro como unidade de vida urbana e a sua organização funcional. Produzirá as múltiplas variantes da «unidade de vizi­nhança» ou da unidade de habitação de «dimensão eficaz».

• Ainvestigação sobre a cidade, como unidade urbana de dimensão máxima qu,e ain­da permite o seu funcionamento como organismo vivo e correctamente organizado. Esta pesquisa irá conduzir a realizações como as «cidades-novas», os grands ensem­b/es e outros conjuntos cuja dimensão não deveria ultrapassar os limiares de um fun­cionamento eficaz. A forma urbana irá decorrer das considerações habitacionais, em detrimento da

composição de espaços urbanos. O espaço urbano não é considerado como objecto de investigação e torna-se no «resíduo» resultante das exigências habitacionais. Explico melhor: a partir do alojamento como unidade-base, estruturam-se as tipologias habita­cionais: o bloco, a banda, a torre, o complexo, a moradia. Estas, por sua vez, dispõem-se no terreno em função de necessidades higiénicas, de insolação, de areja­mento e de acessos. O edifício em lote, esquerdo e direito, oquarteirão e a rua, univer­salmente utilizados na cidade oitocentista e na urbanística formal, são os principais al­vos da crítica, pela sua desadequ~ão, às formas de agregação da habitação e a fac­tores de conforto e salubridade. Os edifícios deixam de pertencer à estrutura superior do quarteirão e autonomizam-se. As ruas deixam de pertencer às relações ·físico­espaciais da cidade e reduzem-se a traçados de circulação e serviço. A.s implantações dos edifícios decorr~m das melhores condições para a habitação, e não da posição no quarteirão. Etoda a cidade será pensada em função da unidade-base - o alojamento - e do seu agrupamento em hierarquias superiores.

Como se viu, tanto na cidade tradicional como na urbanística formal, o alojamento e o edifício de habitação eram determinados pelo lote - portanto gerados pela posi­ção e implantação previamente determinadas pela forma urbana.

Na cidade moderna, pelo contrário, será o alojamento e as tipologias da sua agre­

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gação (edifícios, blocos, torres) que determinarão as formas urbanas. Neste caso, oes­paço entre os edifícios torna-se apenas um espaço residual. ~ o resultado que sobra da implantação dos edifícios no terreno. Já não é objecto de desenho urbano.

Não me alongo mais sobre este assunto, porque esta questão será retomada e de­senvolvida ao tratar da urbanEstica dos CIAM. Posso concluir que esta ruptura é muito grande, .quer em termos conceptuais quer nos resultados morfológicos.

FUNCIONALISMO E ZONAMENTO

A simplificação dos problemas

Alógica do funcionalismo, não sendo nenhuma novidade (desde Vitruvio a Palla­dio ou a Viollet-de-Duc (3) que existem preocupações funcionalistas), vai exercer grande influência na arquitectura e urbanEstica modernas.

Criticando a cidade oitocentista e novecentista, em que a mistura funcional gerava numerosos problemas, a urbanEstica moderna preocupar-se-á obsessivamente pela boa arrumação e distribuição dos usos do solo.

O funcionamento da cidade constituirá um vector fundamental de planeamento. Como caso extremo, os postulados da Carla de Atenas obrigariam a isolar, separar e arrumar as principais funções na cidade: habitar, trabalhar, lazer (cultura do espfrito e do corpo) e as deslocações necessárias ao desempenho destas actividades.

Alógica funcionalista zoniflca a cidade por funções e determina a concepção urba­na por sistemas independentes - o sistema de circulações, o sistema habitacional, o sis­tema de equipamentos, o sistema de trabalho, o sistema do recreio, etc. - sistemas es­ses que se localizam no território autonomamente, em função de lógicas próprias e de problemas espedflcos. Aconsequência deste processo será a autonomização e inde­pendência física dos vários sistemas entre si, ou seja, os vários elementos que estrutu­ram a cidade deixarão de se relacionar espacial e formalmente. De tal modo que até a representação dos planos autonomizará cada sistema em desenhos independentes: a planta do sistema viário, a planta dos equipamentos, a planta das estruturas verdes, e assim por diante. As vias só servem o tráfego; os edifícios servem para conter aloja­mentos e pessoas e não participam da deflniçãQ do espaço urbano; os equipamentos prestam serviços e distribuem-se abstractamente, de acordo com as grelhas e áreas de drenagem e assim por diante. Todos estes sistemas não se encontram numa matriz co­mum que na cidade tradicional era o sistema de espaços urbanos. Este será, de resto, um dos aspectos mais profundos da ruptura da cidade moderna com a cidade tradicio­nal.

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Esta maneira de entender a cidade constitui também uma forte simplificação dos problemas, tanto na fase conceptual como no estaleiro e na realização da obra. Na fa­se conceptual, é um claro esquema em «árvore» (~I - e como tal repleto de simplifica­ções mentais e conceptuais, reduzindo o esforço de integração entre elementos.

No estaleiro da obra, a simplificação é ainda mais evidente. Exemplifico: conceber um edifício relacionado com uma rua inclinada representaria, no mínimo, os complexos acertos de cotas de pavimentos, de entradas, de cérceas e relações espaciais e altimé­tricas, ou seja, uma grande carga de trabalho e minúcia de pormenores. Em contrapar­tida, no bloco livremente implantado no terreno, o acerto entre as soleiras e a via faz­-se naturalmente durante a obra, com movimentos de terra, sem grande esforço...

Seria igualmente mais fácil projectar edifícios com programa repetitivo em todos os pisos do que com sobreposição de funções (acertos de estrutura, de áreas, de condutas e infra-estruturas, etc.). Também seria mais fácil organizar um bairro só habitacional do que com mistura de usos e assim por diante.

Deste modo, a concepção da forma urbana atingiu por vezes autêntica paranóia, como no caso da construção prefabricada, em que as implantações dos edifícios eram determinadas por razões de economia e rapidez, através do percurso da grua e sua área de acção (SI.

Na cidade antiga, as diferentes funções misturavam-se e coexistiam no mesmo bair­ro, no mesmo quarteirão, no mesmo prédio. Nos anos sessenta, ocupar os bairros dos edifícios habitacionais com lojas constituía quase uma heresia ou tinha sabor a inova­ção...

Convém também notar que estas regras de zonamento funcionalista retirariam às cidades a complexidade distributiva e consequentemente a complexidade formal, ge­rando a monotonia visual e a falta de significação dos espaços.

Recordo as relações dialécticas entre forma e função e estabeleço o paralelo entre a complexidade funcional e a riqueza formal nas antigas cidades. Acidade moderna consumirá grandes áreas para bairros habitacionais (tantas vezes dormitórios), sem lhes integrar funções significantes e, portanto, sem enriquecimento morfológico. Esta questão voltou a colocar-se recentemente, quando o «novo urbanismo» procura a for­ma sem a correspondente complexidade funcional e significativa.

A QUESTÃO FUNDIÁRIA

Parcelamento e solo público

Na cidade tradicional, o desenho urbano assimila o parcelamento e a divisão ca­dastrai, separando o solo privado do solo público. A urbanística moderna está associa­

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5·3. Adimensõo máximo do cidade moderno. Plantas esquemáticos dos cidades novos inglesas do primeiro geraçõo: 1. Stevenage. 2. Crawley. 3. Corby. 4. Harlow. Planto de duas unidades residenciais de vizinhança em Hatfield e Crawley

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da a operações em que o Estado ou a municipalidade detêm Q totalidade do solo (ad­quirido por compra ou expropriação) e urbanizam sem redivisão fundiária, ou, quanto muito, privatizando só o espaço de implantação do edifrcio.

Nos edifrcios em pilotis, como na Unidade de Habitação de Le Corbusier, este siste­ma vai ainda mais longe e o próprio solo sob o edifrcio é também solo «público•.

Ao escalão do bairro, esta questão estende-se à área de intervenção. Intervindo no interior de uma propriedade adquirida para o efeito, os arquitectos modernos vão preenchê-Ia na totalidadé - e a sua tarefa vai ser facilitada pela .livre disposição dos edifícios. Deste modo, a forma do bairro resultará também da forma da parcela.

Muitas das urbanizações modernas são contidas nos limites da parcela, embora no seu interior todo o terreno seja público: Dommerstock, de Gropius (1927-1928); Ro­m~rstod, de Ernst May (1926); Pessoc, de LeCorbusier (1925), ent~e outros.

Esta possibilidade de encher facilmente a parcela será posteriormente aproveitada até à exaustão tanto por Administrações públicas como por promotores privados, pelas vantagens especulativas de rentabilização do solo.

Este processo abriu a possibilidade de loteamentos independentes, organizados no interior de cada propriedade, embora não garantisse a continuidade espacial entre parcelas contfguas. Quanto muito, as vias (que podiam ser independentes do construí­do) assegurariam a continudade dos percursos.

Aquestão fundiária assume um lugar conceptual, ideológico e político importante. Não se trata apenas de dispor edifrcios isolados no terreno (<</e ;eu merveilleux des for­mes ou solei!») (6) e dar aos habitantes um máximo de solo livre. Trata-se também do es­tatuto da propriedade relacionada com as ideologias sociais democráticas e socialistas e o seu entendimento da cidade. Não é por acaso que o debate nos CIAM é intensa­mente politizado, sobretudo pelos arquitectos centro-europeus e alemães. Nem é por acaso que muitos arquitectos modernos simpatizam ou aderem às ideologias e aos recém-criados Estados socialistas, como May, que parte para a URSS a trabalhar nos programas de construção. Inicialmente, a «cidade moderna. esteve ligada a uma visão ideológica e política da sociedade. Depois, uma tal visão foi recuperada e utilizada in­distintamente por outros sistemas sociopolíticos. Nos países de economia capitalista mais avançados e democráticos, o próprio urbanismo tem sido um processo regulador de interesses públicos e privados.

Por estas razões e durante algum tempo, espíritos menos esclarecidos, ou mais radi­cais, terão identificado a urbanística formal e os processos de loteamento com os siste­mas capitalistas, enquanto a urbanística moderna, com a abolição do espaço privado e máximo espaço público, seria considerada defensora dos interesses colectivos. Comum era também, nos anos trinta-quarenta a rotulação de «socialista. ao urbanista...

Deste modo, a questão fundiária entronca profundamente na morfologia da cidade

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moderna, constituindo um dos seus alicerces fundamentais: sem necessidade de lotear, com o solo livre de parcelamento, arquitectos e urbanistas tinham facilitada a tarefa de dispor os edifícios no terreno, organizando livremente a forma do bairro e da cidade.

oFASCÍNIO PELOS EDIFÍCIOS ISOLADOS

AArquitectura Moderna de Joedickle (7), publicada em 1966, fala unicamente de edifícios, sendo rara a apresentação de exemplos urbanos.

Zevi, Gideon ou Benevolo aproximam-se em maior ou menor grau da mesma pers­pectiva e as suas «Histórias da arquitectura modernal são sobretudo histórias dos cedi­fícios modernosl - não abordando a arquitectura da cidade.

O fascínio dos historiadores do Movimento Moderno pela arquitectura de edifícios em detrimento da arquitectura da cidade não é apenas estético, e neste campo há que reconhecer que a alta qualidade arquitectónica dos edifícios modernos seria suficiente para absorver a atenção da História. Será difícil não admirar a Maison jaou/, a Unité d'Habitation, de le Corbusier, o pavilhão de Barcelona, de Mies, o Seagram, de Gro­pius, e outros edifícios modernos. As suas proporções, estética e rigor de desenho são na realidade fascinantes. Mas há que reconhecer que as suas qualidades arquitectóni­cas necessitam de isolamento para poderem ser apreciadas, e como tal foram projecta­das. Contribuem para a cidade enquanto objectos interessantes e singulares.

Aprópria Carta de Atenas faz a apologia do edifício alto e isolado em lugar de des­taque, que se impõe à paisagem e proporciona ar, sol, vistas e salubridade.

A morfologia da cidade moderna assentará em colecções de objectos isolados, al­bergando as suas funções e bem orientados pelo Sol, arejados e afastados uns dos ou­tros. Não é uma morfologia de espaços urbanos,. de ruas, praças, avenidas, largos, mas de volumes e objectos pousados no território.

Desde logo, estes ingredientes conduzem a exacerbar a pesquisa autónoma do 'ob­jecto arquitectónico, o qual oferece a cada arquitecto excelentes possibilidades para o seu desenho, criatividade e afirmação pessoal, sem os constrangimentos da integração urbana.

Todavia a qualidade arquitectónica de diferentes edifícios isolado~ ou justapostos nunca poderia por si só dar forma ao meio urbano. Um conjunto de qualidade, se não for integrado num contexto, surge desarticulado e desprovido de verdadeira significa­ção, tal como um conjunto de belas palavras não chega para construir uma frase. O discurso arquitectónico pressupõe a relação dos edifícios com o espaço urbano e o seu enquadramento numa estrutura.

Os historiadores modernos, ao privilegiarem os edifrcios projectados pelos arquitec­

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tos, contribuiriam para aumentar a separação entre arquitectura e urbanística. Sepa­ração que correspondia à visão que críticos e teóricos detinham da arquitectura e do lugar do projecto e do plano na actividade disciplinar.

Esta questão é também importante para se compreender a situação actual e os seus lapsos culturais.

RUPTURA COM A HISTÓRIA

Aarquitectura e a urbanística modernas pretenderam também romper com as for­mas tradicionais de construção dos edifícios e das cidades. Não se tratava apenas de estabelecer diferenças de processos construtivos, materiais ou de estilo entre os novos projectos e os antigos; mas, antes do mais, construir uma arquitectura diferente, liberta e oposta a qualquer continuidade histórica.

A ruptura com o passado correspondeu a uma visão «moderna» da cultura, mani­festando-se nos diversos campos artísticos. A própria arte moderna, identificando-se como arte abstracta, ou, no sentido menos restritivo, arte não figurativa, opõe-se radi­calmente às estéticas que a haviam antecedido. O ensino da arquitectura na Bauhaus, e de Gropius no seu período americano, exemplificam esta questão.

Aquestão estética e cultural é também extensiva à urbanística e parece ter obceca­do os arquitectos modernos. As morfologias tradicionais são também recusadas por ati­tudes culturais.

A atitude an'l'i-histórica 'traduz-se no desenho urbano pela recusa de formas com­prometidas com a cidade antiga e prolonga-se às posições assumidas para com os pró­prios centros históricos.

Como escreveu Tafuri: «Quer para Le Corbusier quer para Wright - deixando por agora as diferenças

óbvias que separam as suas concepções globais da cidade moderna - um fenómeno é indiscutível: os centros históricos usados como 'peças' da cidade contemporânea, são um perigo para a vida. Pode parecer singular essa concepção para quem vive a polé­mica quotidiana contra o atentado da civilização de consumo às preexistências históri­cas urbanas e territoriais. Todavia as posições de Le Corbusier e de Wright são sólida­mente consequentes...»(8)

Consequentes, mas também com quota parte nas responsabilidades pelos estragos causados às antigas cidades nos últimos cinquenta anos, diria eu.

Certo é que nem sempre o pensamento de Le Corbusier ou de Wright ter6 sido cor­rectamente entendido. Mas, em última an6lise, produziram uma ideologia anti·histó· rica que foi grosseiramente utilizada, com menos escrúpulos e sem dúvida menos quali­dade.

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5·4. Edifícios isolados. 1. le Corbusier: a «unidade de habitação» de Marselha. 2. Mies V. der Rohe: o Seagram Building. 3. F. L. Wright - O Museu Gugenheim.

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OS NOVOS MATERIAIS E TECNOLOGIAS

Todavia a questão não é apenas estética ou cultural. Com o primeiro quartel do sé­culo XX e até à Segunda Grande Guerra, ocorrem mudanças estruturais na sociedade que geram a fé e confiança na época moderna, em termos sociais, morais, técnicos, tecnológicos, e nos contributos positivos que essas mudanças trariam para a arquitectu­ra e a urbanística.

Uma dessas mudanças é, sem dúvida, o aparecimento e desenvolvimento dos novos materiais e tecnologias - ferro, aço, betão armado, vidro, industrialização da constru­ção, ascensores, etc. -, que permitem construir de outra maneira. Essas possibilidades e facilidades inebriam os arquitectos pela ruptura de formas e de escala que possibili­tam.

Na Carta de Atenas:

«Os edifrcios altos, que conquistam a vista, a luz, o ar, espaçados entre si, tornam­-se as únicas formas correctas de construção moderna.»

«Até ao século XIX, a arte de construir casas não conhecia senão as paredes mestras de pedra ou de tijolo, ou os tabiques de madeira e pavimentos feitos com ripas de fer­ro (...).

«No século XIX, um período intermédio registou os ferros perfilados; depois, vie­ram, enfim, no século XX, as construções homogéneas, todas de aço ou cimento arma­do. Antes desta inovação, perfeitamente revolucionária na história da construção de casas, os construtores não podiam elevar sem perigo um imóvel acima dos seis anda­res. O tempo presente não conhece estes limites e pode atingir já os sessenta e cinco andares (...).• (9)

Para terminar, diria que a cidade moderna formou-se através de pesquisas concre­tas em momentos determinados e com certas personalidades que desempenharam um papel importante na destruição da morfologia urbana tradicional e na edificação da FORMA MODERNA da cidade.

Para a compreensão deste processo, seleccionei alguns percursos e etapas que me parecem essenciais: a cidade-jardim, o impasse e a implantação de Radburn; os conceitos-génese e formalização da unidade de vizinhança; as experiências holandesas e a reforma do quarteirão; as experiências habitacionais sociais-democratas na Alema­nha e na Áustria; as teorias dos CIAM e da Carta de Atenas; a personalidade de Le Corbusier e as suas teorias.

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5.2 ACIDADE-JARDIM, O IMPASSE E AIMPLANTAÇÃO DERADBURN

Podem encontrar-se formas urbanas de baixa densidade e moradias unifamiliares nos subúrbios que se formam nos finais do século XIX como alternativa à concentração dos centros urbanos e suas deficientes condicões de salubridade. Todavia, e como se. viu (lO), o quadro de relações entre os elementos urbanos mantém-se.

Amorfologia do subúrbio no século XIX estabelece apenas algumas alternativas à morfologia tradicional. As ruputuras só surgirão a partir da cidade-jardim.

O conceito da «cidade-jardim» forma-se no ambiente britânico do último quartel do século XIX, na procura de soluções para o crescimento das grandes cidades, e consubstancia-se no livro de Howard, publicado em 1898, Tomorow, a Peacefvl Path to Real Reform (11). No texto de Howard, a cidade-jardim constituía um diferente mode­lo de organização social, económica e territorial. A sua concretização implicaria um novo ambiente residencial de baixa densidade com predominância de espaços verdes.

Howard concretiza as suas ideias em Letchworth (1904), Hampstead (1909) e Welwyn (1919), que deveriam envolver Londres como pólos alternativos de desenvol­vimento e fixação habitacional. As teorias de Howard e o exemplo destas realizações encontram grande sucesso e vão influenciar o urbanismo em numerosos países.

Howard concretiza as suas ideias em Letchworth (1904)~ Rcimpstead (1909) e Welwyn (1919), que deveriam envolver Londres como pólos alternativos de desenvol­vimento e fixação habitacional. As teorias de Howard e o exemplo destas realizações ~ncontram grande sucesso e vão influenciar o urbanismo em numerosos países.

Howard confia as primeiras realizações a dois jovens arquitectos - Raymond Un­win e B. Parker. O primeiro publicaria os resultados das experiências de Letchworth e Hampstead no livro Town Planning in Practice, constitui um verdadeiro manual de com­posição urbana. Asua estrondosa divulgação contribuirá para a teorização do dese­nho urbano e também para a divulgação das ideias da cidade-jardim. As teorias de Howard e os prinçípios de desenho urbano de Unwin terão importantes repercussões no meio intelectual, influenciando o urbanismo do período entre as duas guerras.

Não posso deixar de sublinhar a distinção entre os conceitos de Howard e as morfo­logias urbanas utilizadas por Unwin e B. Parker nas três primeiras cidades-jardim, por­que foi corrente a confusão e identificação de qualquer bairro de baixa densidade com espaços verdes com o modelo de cidade pensado por Howard.

Como alternativa à cidade ir.dl.i~trial, e integração da casa com o campo, a

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«cidade-jardim. traduzir-se-ia no conjunto de vivendas em largos espaços arborizados. Mas isto tudo seria incompleto sem a existência de diferente org"anizaçãosocioeconó­.mica. .

Acidade-jardim teria um ambiente dominado por superfkies arborizadas, planta­das e ajardinadas que permitiriam o máximo acesso visual e físico a todos 'os espaços. Mas Unwin continua a morfologia tradicional, introduzindo-lhe alterações que abrem novas pistas e preparam algumas ideias modernas. Antecipando a unidade de vizi­nhança, Unwin procura constituir pequenas comunidades humanas, pesquisando no­vas tipologias urbanas como o c/ose, ou o impasse - agrupamento de edifícios­vivenda que envolvem um terminal que parte da rua. Este sistema obriga à abertura do interior do quarteirão, «reinterpretando. o pátio de quinta anglo-saxónico como espa­ço de convivência e estrutura das construções que o envolvem. As práticas sociais e al­gumas funções da rua como local de convrvio e de acesso aos edifídos deslocam-se pa­ra o impasse. A rua, vai tornar-se apenas lugar de circuláção. O impasse ou o c/ase cria uma categoria intermédia entre o espaço público da rua e o espaço privadoda ha­bitação, oferecendo um espaço semipúblico para as relações sociais de «vizinhança•.

O antigo beco adquire uma significação nobre no acesso às casas, dando tranquili­dade ao lugar. As habitações deixam de contactar com a rua barulhenta e buliçosa. O quarteirão perde a forma fechada e compacta com a criação dos impasses interio­res. Por economia de terreno, na sua bordadura vão ainda surgir casas unifamiliares que se implantam sobre a rua.

As numerosas experiências de «cidade-jardim., ou bairros residenciais de baixa densidade, projectados segundo os modelos de Unwin, farão evoluir as experiências de Letchworth, Hampstead e We/wyn. Será, todavia, em Radburn que Stein e Henri Wright proporão a total separação entre a circulação de automóveis e de peões e a re­dução ao mrnimo do logradouro privado em favor de um espaço livre público ou par­que colectivo no qual se dispõem as habitações agrupadas a duas. Este novo esquema, inovador e diferente, adopta a designação de «implantação de Radburn•.

Acrise económica dos anos trinta não permitiu a conclusão de Radburn.Apenas fi­cou construrdo um fragmento, de 400 habitações que testaria os prindpios do projecto.

Stein expôs esses prindpios em cinco pontos: a substituição dos quarteirões por blo­cos habitacionais, não cortados por vias; a hierarquização das ruas; separação da cir­culação de peões da circulação automóvel, criando uma rede de caminhos pedonais que se cruzam em desnrveis com as ruas; orientação dos espaços principais das casas para jardins; criação de faixas de verdura formando um parque ramificado a toda a ci­dade. Asuperfície dos jardins individuais é reduzida ao mrnimo, em proveito de vastas áreas livres para a utilização pública e os desportos.

O sistema de Radburn resolvia necessidades de difrcil compatibilização: a utilização

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5·5. Lefchworfh: cidade-jardim. Arq. Louis de Soissons, 1909. Vista aéra em 1960

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5·6. Barry Porker e Raymond Unwin: We/wyn Garden City. Variações sobre o tema do impasse e a fragmentação dos contlnuos construídos (ver também o plano geral, cap. IV,~g. 4.15)

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5·7. Clarence Stein: plano de Radburn, 1929. Plano geral com indicação das unidades de vizi· nhança. Pormenor de um impasse e planta de um grupo de habitações e diagrama esquemática da «Implantação de Radbum.

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dos automóveis, permitindo-lhes acesso directo à· habitação mas protegendo os habi­tantes dos seus perigos e inconvenientes. Assegurava o isolamento na habitação e fa­vorecia o aproveitamento colectivo de espaços livres e instalações desportivas.

Por estas razões, parece-me oportuno considerar a cidade-jardim, o impasse ea im­plantação de Radbun como momentos de ruptura com a cidade tradicional, propondo modelos alternativos para a cidade moderna.

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5.3 A UNIDADE DE VIZINHANÇA: A SOCIOLOGIA DESENHA A CIDADE

Aideia de «unidade de vizinhança» é de extrema singeleza: constatando que as re­lações sociais entre vizinhos, que existiam nos antigos bairros, tendem a desparecer nas novas urbanizações e grandes metrópoles, pretendia-se recriá-Ias através da planifica­ção urbana.

Assim, as unidades habitacionais deveriam ser controladas no número de habitan­tes e extensão territorial, tendo equipamentos e serviços dispostos de tal modo que a população estabelecesse espontaneamente relações sociais e comunitárias.

Ateorização deste conceito tem origem no início do século XX pelos estudos de so­ciólogos americanos, como Park e Burgess (13), Horton Cooley, Woods e Ward (l4), que verificam que o enfraquecimento das ligações sociais nas cidades de rápido crescimen­to são substituídas por relações indirectas entre os cidadãos.

Os mesmos autores apoiam-se nos ideais de reconstrução e planificação social e na planificação da rede escolar decorrente da extensão do ensino a toda a população.

Sentem também algum saudosismo pela vida comunitária nas pequenas aldeias ou na cidade medieval, confrontada com as grandes cidades do princípio do século XX.

Nos anos vinte, o americano Clarence Artur Perry, ao estudar as relações entre ha­bitantes e os equipamentos, apresenta um conjunto de trabalhos sobre a «unidade de vizinhança» (l5). Perry parte da convicção de que os principais equipamentos devem situar-se próximo das habitações, em terreno que designa de the fami/y neighbour­hood (16). Acirculação automóvel não deve cortar os acessos aos serviços e perturbar a vida comunitária. Perry considera que a vida social se desenvolve graças à utilização dos serviços comuns, à sua organização e estrutura, e prevê serviços muito diversifica­dos: desde a escola primária a lojas, terrenos de jogos e, em zonas mais ricas, a igreja, salas de reuniões e de teatro, clube e piscinas. Na unidade de 10 000 habitantes preco­niza ainda um pequeno museu, teatro e outros edifícios de utilização social.

Enquanto Perry formulava a sua teoria das unidades de vizinhança, Henry Wright e C\arence Stein con,struíam, perto de Nova Iorque, os conjuntos habitàcionais de Sunny­side Gardens e Radburn, em que aplicavam princípios semelhantes. Clarence Stein defi­ne a unidade de vizinhança como «área residencial que deve fornecer locais de habita­ção para uma população que tem geralmente necessidade de uma escola elementar. A sua superfície depende da densidade utilizada. (...) A unidade dê vizinhança deve ser delimitada por todos os lados por vias suficientemente largas para permitir ao trânsito passar pela unidade sem a atravessar. Deve incluir um sistema de pequenos parques e

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áreas recreativas. Deve ser arranjada com um sistema espacial de vias destinadas a fa­cilitar a circulação no interior, desencorajando -o trânsito de passagem.• (17)

Pora Queen Carpenter, ou Ruth Glass, «a unidade de vizinhança. é, antes do mais, um conceito sociológico: ca unidade de vizinhança é uma área na qual os residentes se conhecem pessoalmente e têm o hábHo de se visitar, trocar objectos ou serviços e reali­zar coisas em conjunto. ~ um grupo territorial no qual os membros se encontram em ter­reno conhecido, no seio da sua área própria, para desenvolver actividades sociais pri­márias e contactos sociais espontâneos ou organizados.• (tS)

Não resisto a lembrar que Cerdá, em Barcelona, havia pensado na relação entre as áreas de habitação e os equipamentos como meio de estabelecer igualdade nas opor­tunidades sociais e na vida de bairro. Tanto no plano de Barcelona como na Teoria Ge­neral de la Urbanización, a distribuição dos equipamentos era já presente. E, em parte por isso, Cerdá rompe com o quarteirão paro aumentar o espaço colectivo.

Pese embora a diferença de culturas, espaço e tempo entre a Catalunha da segun­da metade do século XIX e a América do primeiro quartel do século XX, estas questões reflectem idêntica consciência dos problemas sociol6gicos e comunitários nas cidades.

Aos autores que teorizaram os conceitos de «unidade de vizinhança., interessavam mais as questões sociais e a organização funcional da cidade (dimensão quantitativa e extensão da unidade habitacional, o posicionamento e distribuição dos equipamentos e percursos), secundarizando as referências dos traçados aos espaços e à forma urbana.

Ateoria da «unidade de vizinhança., quer pela clareza dos conceitos, quer pelos resultados das primeiras experimentações, conheceu um inegável sucesso e influenciou a organização das áreas habitacionais, a partir dos anos vinte. A reconstrução habita­cional do pós-guerra provocou um intenso debate sobre a organização habitacional, dando enorme importância aos modelos de funcionamento e organização. A necessi­dade de estabelecer comunidades com populações novas e desenraizadas dominou a cena urbanística. Os urbanistas de todos os países e em qualquer sistema político­ideológico ou económico-social acabam por aderir aos conceitos da unidade de vizi­nhança e utilizá-los indiscriminadamente. Tanto assim que Gibberd afirma que «o prin­dpio da unidade de vizinhança se adapta a qualquer plano urbanístico. Éum princípio universal cuja validade social e espacial poderá ser comprovada em qualquer situação, criando um ambiente agradável, cómodo e identificável fisicamente (19)••

Aorganização por unidades de vizinhança, ou unidades habitacionais, foi um dos principais instrumentos de planificação da cidade moderna e influenciou também reali­zações que se reclamavam de tradição urbana. Enquanto, na cidade moderna, a uni­dade de vizinhança se torna o motor da organização e desenho da área habitacional, na urbanística formal é um processo mais ténue de organização funcional e social. Aca­baria, na urbanística operacional dos anos cinquenta-sessenta por se tornar determi­

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5·8. Unidade de vizinhança. 1. Plano teórico de EGS Elliot. 2. Modelo esquemótico, segundo C. A. Perry. 3. Plano de uma U.V. desenhada por Perry, em 1929. Unidade de vizinhança em HotField (Grã-Bretanha)

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nante na organização urbana. Por este processo, a sociologia comandava o desenho da cidade.

Duas grandes correntes vão perfilhar a utilização dos conceitos de unidade de vizi­nhança: .

1. A corrente de raiz anglo-saxónica centra-se essendalmenfe nas pesquisas do modelo sociológico de comunidade habitadonal, do qual deriva o model6 espa­cial que lhe corresponde.

2. Outra corrente, mais ligada ao racionalismo europeu e a Le Corbusier, parte das tipologias arquitect6nicas e procura o modelo edificado que seja simultanea­mente unidade habitacional e integre os correspondentes equipamentos.

Aprimeira corrente informa e orienta as realizações do Plano da Grande Londres, a partir de 1944-1945, e as cidades novas inglesas da primeira (1947-58) e da segunda ge­rações (1958-1965). No Plano da Grande Londres, de Patrick Abercombrie, a «unidade de vizinhança» é o elemento-base e prindpio elementar de toda a organização urbana e do planeamento da cidade.

Este modelo anglo-saxónico interliga-se às baixas densidades e à' ideia de «cidade­-jardim». Aunidade de vizinhança é um «bairro» habitadonal, separado das vias por zo­nas verdes e com o centro de equipamentos no interior.

Na segunda corrente, incluiria as realizações do racionalismo europeu, com a unité d'habitation de Le Corbusier em primeiro lugar, e outras semelhantes: as superquadras em BrasRia, os Dom Komplex soviéticos, Alton Estate (GeL) em Inglaterra, Lalce Meadows (SOM), em Chicago, etc. Esta corrente utiliza as possibilidades de construção de edifícios em altura. No modelo mediterrânico de Le Corbusier a unidade habitacional é um grande edifício inspirado nas utopias sociais (falanstérios) ou no grande navio (/e paquebot), pro­curando integrar o maior número de serviços no seu interior. Na «cidade radiosa», cada edifício constitui, de certo modo, uma «unidade de vizinhança».

Ambas as correntes consideram o alojamento como a unidade de base que, agrupada e integrando equipamentos e serviços, constituir6 a unidade habitacional. Ambas as cor­rentes supõem que a vida social ou colectiva se polariza essencialmente nos equipame~tos e serviços, e, como tal, pode ser planrncada a partir dos parâmetros urbanísticos.

Na sua abstracção e segurança «científica», a unidade de vizinhança constituía um prin­cípio sedutor, com ~s vantagens da universalidade. Universalidade e clareza que desde lo­go fascinou planeadores e urbanistas, como a fórmula m6gica de constituir comunidades de habitantes no seu bairro e resolver o funcionamento da cidade.

O conceito de unidade de vizinhança dominou quatro décadas de urbanismo, como processo simples (ou melhor simplista) de ordenar a expansão urbana, permitindo o crescimento em «cacho de uva» por agregação de unidades aut6nomas em unidades maiores, e assim sucessivamente.

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5-9. «Unidades de vizinhaça»: 1. Dom Komplex soviético (casa comum). Arq.os Barch e Vladimi­rof, 1929.2. Superquadros em Brasília - Lúcio Casta, 1957.3. Roehompton - plana de Hubert Bennet, G. L. c., 1952-1955. 4. Loke Meodows em Chicago - Arq. S. O. M.

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Por este caminho, a urbanrs~ca secundarizava o desenho urbano e sacrificava a morfo~

logia urbana ao funcionamento da cidade. O esquema conceptual da «unidade de vizi~

nhança» foi notável abstracção da complexidade urbana. Asua u1ilização sistemática iria rapidamente criar a reflexão, e, logicamente, as primeiras reacções.

Após alguns anos de experimentação «ao vivo» dos conceitos da unidade de vizinhan· ça, verificQva-se que a ambicionada vida social não ~nha sido conseguida, nem tal proces­so implicava ne<:essariamente o bem-estar e sa~sfação dos habitantes.

O fracasso resukava de dois aspectos: o primeiro, da própria desagregação dos con· ceitos u~lizados, ficcmdo clara a impossibilidade de impor a con~tuição de grupos sociais através do planeamento. As relações sociais nas cidades tendem a matrizes mais alargadas e complexas que a proximidade dentro do bairro; os transportes e as comunicações alar­gam os horizontes dessas relações, onde também pesam outros meios de comunicação, co­mo a rádio, a televisão, etc; o segundo é a desadequação das formas urbanas utilizadas, que impossibilitavam a evolução, integrando outras funções, nomeadamente postos de tra­balho no terciário, a pequena indústria e o artesanato.

Estas duas críticas resumem os aspectos neg~vos da unidade de vizinhança. Nos anos sessenta, as crr~cas teóricas de Alexander (20) ou de Jane Jacobs (21) e novas

realizações como Hook e Cumbernauld iniciam o progressivo abandono da unidade de vi­zinhanca até aos nossos dias.,

Permaneceriam, todavia, alguns métodos de planificação dos equipamentos em meio urbano, como processo racionalizado, lógico e económico de igualizar a oferta e o acesso aos serviços pora toda a população. Grelhas de equipamentos, áreas de drenagem, distçmcias-Iimite, etc., são hoje técnicas pacíficas e clássicas de planificação urbana que provaram ser compatíveis com o desenho da cidade. Verificou-se também que parte das teorias da unidade de vizinhança foram u~lizados pela urbanrs~ca formal (como no plano de Rio de Janeiro, de Agache, ou do bairro de Alvalade, de Faria da Costa), sendo com­patíveis com as preocupações morfológicas.

Acrr~ca da cidade moderna'revelaria também os absurdos da aplicação indiscrilTlina~

da dos conceitos de «unidade de vizinhaça». Para fazer cidode e, para lhe dar forma, é preciso muito mais que relações abstractas entre população, equipamentos e serviços. Ale­xander, de resto, é quem primeiro teria percebido esta questão (22).

Hoje, poder~s~ia sorrir com condescendência da boa-fé das gerações de urbanistas que acreditaram que a vida social e comunitária pudesse ser criada do es~rador

para a cidade... Asociologia revelou não saber desenhar a cidade e, por mais válidos que sejam os seus pressupostos, não chegam para constituir verdadeiro espaço urbano.

Mas interessa ter presente os aspectos das relações equipamentos-população que ain­da hoje devem ser usadas no desenho da cidade.

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5.4 AS EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS HOLANDESAS: A REFORMA DO QUARTEIRÃO

Aurbanfstica holandesa na primeira metade do século XX é marcada por objectivos progressistas e meios fora do comum para a época: preocupações sociais; construção maciça de alojamentos; produção em série; planeamento a longo prazo; municipaliza­ção do solo (231.

Em paralelo desenvolve-se intensa pesquisa que incide sobre o alojamento, os edifí­cios e o quarteirão, o qual vai sendo progressivamente modificado até dele nada res­tar.

Este será um dos processos mais importantes de evolução da morfologia urbana em direcção à «cidade moderna».

Amesterdão atinge, no infcio do século XX, um grande crescimento demográfico, motivado pelo desenvolvimento econ6mico, pelo comércio com as colónias e pelos efei­tos da industrialização. Esse crescimento demográfico vai de par com uma situação ca6tica no campo habitacional.

Uma tal situação s6 poderia ser resolvida com forte intervenção dos poderes públi­cos e municipais, que, a partir de 1896, iniciam os processos de construção de habita­ção social, travagem da especulação imobiliária, compra sistemática de terrenos e es­tabelecimento de renda resolúvel. Estas medidas culminam, em 1901, com a lei da ha­bitação e a concessão de créditos financeiros para que os munidpios com mais de 10 000 habitantes possam estabelecer os seus planos, expropriar as zonas de aloja­mento degradadas e insalubres, comprar terrenos e construir directamente ou através de associações e de cooperativas. Adicionam-se a este quadro os problemas pr6prios da construção na Holanda, nos terrenos conquistados às águas, de cotas inferiores ao nível do mar, necessitando de técnicas sofisticadas e minuciosas. Todas estas questões exigiram, desde logo, serviços técnicos competentes e criaram uma mentalidade de for­te controlo técnico nas realizações urbanfsticas.

Neste contexto, são realizados os planos de extensão de Amesterdão e de outras ci­dades holandesas ~ construídas expansões habitacionais que a um tempo permitem o saneamento dos antigos centros insalubres e a fixação dos excedentes demográficos decorrentes da industrialização e desenvolvimento econ6mico.

Basicamente, são utilizadas duas tipologias urbanas: a da «cidade-jardim», que se­gue o modelo anglo-sax6nico desenhado por Unwin, e a da cidade tradicional, com traçado regular e quarteirões, os quais vão evoluindo progressivamente em cada reali­zação.

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5·11. J. J. P. OUD: bairro de Tusschendijken, 1920·1923. Plano geral mostrando as aberturas nos quarteirões. Perspectivas do espaço urbano de um interior de um quarteir60 com espaços colectivos

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Organiza-se um sistema urbano principal, de grandes traçados, e um sistema secun~

dário, com perspectivas cortadas voluntariamente e suportando os equipamentos co~

ledivos. A malha determinada pela sobreposição dos dois sistemas acusa tanto o ca~

rácter local como o geral e principal dos vários espaços. Em Amesterdão, os quarteirões do plano de Ber/age não são unidades autónomas,

mas sim o resultado do sistema viário e das malhas urbanas. A rua ou a praça concen~ tram a unidade de tratamento arquitectónico, admitindo que um mesmo quarteirão, reúna edifícios projectados diferentemente como resultado das características de cada rua que o margina. O quarteirão é um instrumento de organização dos edifícios na malha viária, articulando três ordens de elementos:

- os lados e os ângulos (gavetos); - a borda (exterior); - o centro (interior) (24).

Os ângulos merecem um tratamento particular, quer arquitectónico quer fundiário. Arquitectónico, porque acusam o seu posicionamento em aspectos particulares de tex­tura, ritmo e volume; fundiário, porque a porcela do gaveto coloca problemas de ihJmi· nação e privacidade que obrigam à pesquisa de novas sóluções.

No centro do quarteirão, processam-se evoluções mais significativas: na tradição holandesa, as habitações de rés-do-chão, directamente abertas para a rua, são pro­longadas por um pequeno jardim nas traseiras.

Numa primeira fase, é criada uma rua de serviço permitindo acesso pelo interior do quarteirão aos logradouros-jardins privados. Um arco ou passagem coberta liga es~

sa rua às ruas públicas. Num segundo tempo, a dimensão dos jardins-Iogradouros privados diminui, au­

mentando a largura da rua interior, que se transforma em espaço semicolectivo, terre­no de jogos de crianças ou jardim. .

Aevolução deste modelo transforma o interior' do quarteirão de logradouro priva~

do em espaço colectivo. Mais tarde, será também acessível da rua, chegando a acolher equipamentos: a biblioteca, como em Cooperatiehot, a escola ou outros serviços. O in­terior do quarteirão torna-se assim um espaço ou pátio público.

Apartir de 19,30, esta evolução atinge o seu limite, quando um dos lados do quar­teirão desaparece. O interior prolonga directa e visivelmente a rua e torna-se um espa­ço verde público. Aforma do quarteirão reduz-se a um simples U.

Apartir desta forma, chega-se posteriormente à destruição do quarteirão: o espaço rectangular entre quatro ruas é ocupado por blocos paralelos ou por um único bloco (de alojamentos ou de ateliers de artistas como em Zoinerdikstraad - 1934), desapare­cendo a identificação com o quarteirão.

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5-12. J. J. P. OUD: bairro Kiefhock. Roterdom, 1925. Visto aéreo e planto gerol

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5-13. C. Von Eesteren: Plano de Amesterdão: 1934. Perspectivas aéreos do porte norte

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Em sucessivas etapas e numa evolução contínua, processa-se a reforma do quartei­rão até ao bloco habitacional.

Algumas observações são pertinentes sobre a evolução do quarteirão holandês. Em primeiro lugar, não se estabelecem rupturas nos momentos de realização da cidade entre o plano do bairro e o projecto dos edifícios. O requinte dos projectos, a sua inte­gração e prolongamento das intenções do plano, permitiram obter um resultado final extremamente elaborado e de grande qualidade. Constituem entre 1914 e 1930 a evo­lucão de um urbanismo de raiz tradicional sem renúncia aos modelos de referência,. apontando uma via reformista que consegue manter as virtudes da cidade tradicional e fornecer respostas aos novos problemas de espaço, saneomento, circulação e equipa­mentos da cidade do século XX. Mas atingem os limites dessa evolução quando o ali­nhamento da Holanda pelo Movimento Moderno vem interromper essas experiências. Durante quase vinte anos foi a Holanda modelo de referência, e as experiências reali­zadas iriam constituir também suporte das propostas dos CIAM e do urbanística moder­na: no conteúdo social de forte intervenção pública na resolução habitacional, munici­palização do solo, privilegiando o espaço colectivo público, em detrimento do espaço privado; na transformação das formas urbanas tradicionais com a subversão do quar­teirão.

Ao tornar acessível à utilização pública uma quantidade apreciável de solo que, na cidade tradicional, era privado e quase invisível, procedia-se à revisão da cidade oito­centista burguesa (de grande privatização do espaço), reformando um dos seus princi­pais elementos morfológicos - o quarteirão - e abrindo o caminho à morfologia ur­bana moderna.

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5-14. Ernst May em Frankfurt. Esquema ilustrando a evolução do quarteirão urbano, publicado no Das Neue Frankfurt em 1930. Capa do n. o 45 do mesmo jornal. Plano das expansões residen­ciais do outro lado do vale do rio Nida. Em negro, a parte já construrda anteriormente, e a trace­jado a parte projectada por Ernst May

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5.s EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS NA EUROPA CENTRAL - AS SIEDLUNGEN E AS HOFF

ERNST MAY EM FRANKFURT E AS SIEDLUNGEN RACIONALISTAS

Ap6s a Primeira Grande Guerra, a Alemanha debate-se com uma forte crise econó­mica s6 invertida a partir dos anos vinte. Desse período, até à ascensão do fascismo e início da Segunda Guerra, as condições históricas e socioecon6micas permitem uma forte experimentação no campo urbanfstico, arquitectónico e habitacic:mal, com a reali­zação de planos para as principais cidades e a construção maciça de habitação social.

Apolítica dos Governos sociais-democratas permitiu conjugar a produção de habi­tação com a experimentação de novas teorias, nos programas urbanístico-habita­cionais. Os casos de Berlim e sobretudo Frankfurt são os mais significativos, concreti­zando concretizando os ideais dos arquitectos modernos: controlo urbanístico, indus­trialização da construção, a produção de alojamentos sociais, e grande sintonia entre arquitectura, gestão e políticas urbanísticas municipais.

Em Franlcfurt, Ernst May é chamado para a direcção dos serviços de construção muni­cipais. May assume o comando das operações com apoio incondicional do Município, rea­lizando um vasto conjunto de tarefas, desde a preparação do plano aos projectos dos bair­ros de habitação popular e à direcção da empresa municipal de construção. A municipali­dade de Franlcfurt dota-se dos instrumentos técnicos e fundiários necessários: aquisição de solos, elaboração de planos e projectos, concretização de indústrias de prefabricação, fi­nanciamento das operações, gestão e política fundiária mais adequada, até, finalmente, à informação do público através da Comunicação Social.

Entre 1925 e 1930, são construídas cerca de 15000 habitações, num conjunto de bairros (siedlungen), em actuações fragmentadas, mas coerentes.

Aformação dos arquitectos chamados ligada ao Movimento Moderno, bem como as orientações definidas por May tornam Frankfurt campo de experimentação de no­vas formas de agr~gação dos alojamentos e de novas formas de organização dos teci­dos residenciais.

Num artigo publicado em 1930 na revista criada por May para informação da po­pulação - Das Neue Frankfurt (25) -, o próprio May esquematiza a evolução do quar­teirão desde a cidade tradicional até às experiências de Frankfurt. Nesses quatro dese­nhos, May traça a «hist6ria» do tecido urbano até 1930: os edifícios em barras parale­las representam a conclusão do processo de evolução do quarteirão.

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5-15. Ernst May: 1. 5iedlung Wesfhausen - cadastro actual. Pormenor do plano com o organi· zação do espaço. Corto esquemático e visto aéreo. 2. E. May: 5iedlung Niederrad - plano e vis­to do interior do quarteirão, com o logradouro colectivo

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5-16. Siedlungen em Frankfurt: Siedlung Praunheim, 1930. Arq.os E. May e H. Bõhmi E. Kauf­mano. Planta e duas vistas. Siedlung Riedhof West, 1927-1930. Arq.os E. May, F. Roeckle. Sie­dlung Hel1erof, 1929-1931. Arq.° Mart Stam

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Para May, esta evolução dá-se, numa primeira fase, com a libertação do interior do quarteirão, que passa a espaço público ou semicolectivo. Numa segunda fase, rompe­se a continuidade da bordadura, embora se mantenha a superfície de construção. Nu­ma terceira fase, a densidade baixa e dois lados do quarteirão são suprimidos. Ficam duas filas de edifícios paralelos entre si e com as ruas, e tendo duas fachadas: o princi­pal, pública, sobre a rua; a traseira, mais privada~ sobre o interior do quarteirão.

Ainda subsistem logradouros privados, adstritos ao rés-do-chão dos edifícios, o que posteriormente virá a ser abandonado em proveito de jardins e espaços púb1icos.

Mais alguns «progressos» e os edifícios abandonarão a direcção das ruas, passando a orientar-se pelo movimento solar na planta livre.

As realizações de May serão interrompidas pela crise económica e a ascensão dos nazis ao poder, que encerrariam a Bauhaus.

Énos CIAM que os arquitectos alemães transmitirão as suas experiências, influen­ciando o pensamento urbanístico e a morfologia da cidade moderna.

AS HOFF NA ÁUSTRIA

o conjunto Karl Marxi-foff, projectado por Karl Elm em 1927, é a hoff mais conheci­da, quer pelas suas vicissitudes (25) quer pela sua dimensão. Num total de 15 hectares,. os blocos residenciais ocupam 18% do solo, com 1382 habitações e 5000 habitantes.

As hoff foram conjuntos de habitação social promovidos pelo Estado social-democrata austríaco nos anos vinte (26). Particularmente em Viena, localizaram-se em zonas de expan­são e intersticiais a áreas construídas. Asua dimensão corresponde a uma unidade resi­dencial que permita a vida comunitária e o funcionamento de equipamentos.

As hoff estabelecem um modo particular de ruptura com a morfologia do quartei­rão. Ocupam áreas que ficaram livres, completam e rematam zonas parcialmente construídas, articulam traçados já delineados. As formas propostas decorrem do urba­nismo tradicional, mas, como instrumentos de uma política habitacional socialista, im­plicam a apropriação colectiva do solo e a eliminQção do loteamento. O interior do quarteirão torna-se logradouro colectivo, lugar de equipamentos, espaço livre ou verde.

Em técnicas e materiais de construção, não propõem grandes inovaçÕes. Já no que se refere ao dese'nho urbano, afastam-se do sistema de quarteirões repetitivos, optan­do por uma unidade física com relativa autonomia social e comunitária. Atrevo-me a avançar a hipótese de as hoff constituirem uma etapa intermédia entre a ideia de fa­lanstério ou familistério dos utópicos socialistas e a unidade de habitação de Le Corbu­sier. Em última análise, constituem mais um contributo para a solução do problema ha­bitacional com um modelo próprio.

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5-18. 1. Walter Gropius: bairro Dommerstock, 1928 - Korlshuhe. 2. L. Hilberseimer: proposta para Berlim, 1930. 3. A. Klein: bairro Bod Durrenberg, 1930

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5.6 A CIDADE DOS CIAM E DA CARTA DE ATENAS

A URBANíSTICA DOS CIAM

o concurso para a Sociedade das Nações, em 1928, e a exposição de arquitectura de Stuttgart, em 1929, permitiram verificar a semelhança de métodos e objectivos com que muitos arquitectos trabalham em diferentes parses. A ideia de aglutinar esta identi­dade numa associação profissional nasce em 1928, no castelo de La Sarraz, com a pri­meira reunião dos arquitectos que comungam dos ideais modernos.

Assim se formam os Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna (CIAM), que vão promover e publicitar as ideias da arquitectura e da urbanfstica modernas,

-rcom o objectivo de «comparar periodicamente as experiências, a fim de aprofundar os problemas tratados e apresentar ao público as soluções encontradas» (27).

Desde La Sarraz, até 1959, em Watterloo (28), durante trinta anos, realizam-se onze congressos, que são marcas importantes na configuração da «cidade moderna».

Como nota Benevolo, as discussões havidas nos CIAM tiveram duas vertentes: «a in­terna, polémica, apaixonada, tantas vezes contraditória, e que envolveu os diversos arquitectos intervenientes, reflectindo as suas diferentes tendências, sensibilidades, po­sições e contradições; e a exterior, para conhecimento público e divulgação dos ideais comuns, portanto, clara na exposição e no conteúdo, mas necessariamente redutora, porque consensual» (29).

Ésobre esta vertente, ou seja, as conclusões, recomendações e textos produzidos, que se pode realizar o balqnço dos CIAM - porque é essa a parte mais conhecida e pela qual as propostas modernas mais influenciaram a arquitectura e o urbanismo.

Para os CIAM, a nova urbanfstica não poderia reduzir-se à melhoria técnica da ur­banfstica corrente, mas constituir uma alternativa com inspiração ideológica e polftica distinta.

Na sua produção teórica, os trabalhos dos CIAM passaram por três fases. Aprimei­ra, de 1928 a 1933, incluiu os Congressos de Frankfurt (II) e Bruxelas (III), e tratou so­bretudo os problemas habitacionais, ampliando progressivamente o campo de estudo. Asegunda fase, entre 1933 e 1947, é fortemente influenciada por Le Corbusier. Éno Congresso de 1933, recorde-se, que terá sido redigida a Cartaâe Atenas. Neste pedo­do são abordadas as questões do planeamento urbano sob uma óptica funcionalista. Éo perlodo que mais influência terá na urbanfstica e na organização das cidades.

Aterceira fase tendeu a ultrapassar a abstracta «cidade funcional», apontando a necessidade de um ambiente físico que satisfazesse as necessidades emocionais e mate­

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riais do homem. O VIII Congresso aborda o tema do «coração da cidade» e questiona jó a eficócia das formas urbanas modernas, desenterrando a validade dos espaços da cidade tradicional e iniciando a crítica do racionalismo e do funcionalismo.

Os CIAM «morrem» no penúltimo congresso, em 1956, em Dubrovnik, com o apa­recimento do grupo TEAM X(30), cuja consagração seró confirmada em 1959, em Wa­terloo, noutra reunião que encerraró definitivamente o ciclo CIAM.

Apartir deste período, a pr6pria concepção da cidade moderna entraró em crise, enquanto pela Europa do pós-guerra se reconstroem as cidades e grandes conjuntos ao gosto da urbanística operacional.

AS UNIDADES DE COMPOSIÇÃO DA CIDADE MODERNA

Aquestõo da habitação é o problema maior e domina a ,arquitectura e a urbanísti­ca no período entre as duas guerras e mais fortemente a partir de 1945.

Éatravés da pesquisa habitacional que são experimentados as novas morfologias e tipologias urbanas. Das experiências holandesas às siedlungen alemãs e até à «cida­de-jardim», a organização do alojamento e da sua agregação, bem como a higiene, a salubridade e os problemas sociQis vão dominar as preocupações dos arquitectos.

Écom o tema O alojamento para o nível mfnimo de vida, que Ernst May intervém no II CIAM, em 1929 (31), trazendo os resultados das experiências em Frankfurt.

Construir para o maior número a menores custos obriga a reduzir ao mínimo asu­perfície do alojamento, proporcionando a repartição do investimento público pelo maior número de habitantes. Esta pesquisa parte das necessidades socioecon6micas ­dar casa a toda a população - e coloca a habitação no centro das preocupações da urbanística, considerando o alojamento como a célula-base da organização da cidade.

Éo facto de as classes menos favorecidas não poderem pagar uma caso sem a inter­venção do Estado que obriga a pensar o alojamento como um problema de mínimos, dado que qualquer acréscimo «supérfluo» se traduziria em maior iniustiça social.

Na mesma ordem de ideias, o edifício é definido pelo modo de agregação dos alo­jamentos, ou seja, as tipologias residenciais decorrem de combinações na vertical ou na horizontal, ~ntre elementos de ligação e serviços comuns: entradas, galerias de circulação, escadas, elevadores, condutas de infra-estrutura, que permitem a produ­ção de tipologias bem precisas: edifícios unifamiliares em banda, habitàção colectiva, em galeria, isolados, altos ou baixos, torre, bloco ou complexo residencial, etc.

De igual modo, os gastos gerais com terreno, ruas e infra-estruturas devem-se redu­zir ao mínimo - conduzindo as questões da tipologia edificada para o problema do bairro, com forte dependência da economia.

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_mrtl 5-19. 1. Evolução comparativo dos formas urbanas tradicionais até às modernos, segundo An­toine Prieur, in Habitafion Collective et Urbanísme. Artigo publicado na ArchitechJre d'Au­jourcl'huí, n.o 16, 1947. 2. Confronto entre uma composição tradicional e uma composição mo­derna num bairro residencial, segundo o Volckers, ín WohnbouFibel, 1931

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Éo alojamento que organiza o edifício, e a agregação de edifrcios que forma con­juntos habitacionais num processo de colagens sucessivas.

«Casas altas, médias ou baixasb, é a questão de Gropius, em Bruxelas, no III Con­gresso 132), passando da tipologia da edificação para a forma do bairro.

ÉGropius quem traz para a discussão as regras de implantação e afastamento dos edifícios e as suas relações com a altura e a densidade habitacional, que ficariam céle­bres na hist6ria. Aquestão posta por Gropius é analisada nas suas implicações econ6­micas e sociais. Investiga qual o número 6ptimo de andares dos edifrcios como um pro­blema econ6mico, que poderia variar, mas limitado no ponto em que o excedente de custos deixasse de ser compensado pela libertação do solo e economia de terreno e infra-estruturas. A morfologia urbana é assim determinada pela questão do alojamento.

Anos mais tarde, em 1967, a unidade de habitação de Moshe Sofdie, em Mon­tréal (33), atingirá as hip6teses-limite deste raciodnio, gerando o complexo de células habitacionais agrupadas em cacho, sem qualquer intervenção na forma do bairro.

Como se vê, a metodologia da concepção moderna da cidade é completamente di­ferente. Na cidade tradicional, a dimensão e a organização do alojamento resultavam da forma do edifício, e este da forma do lote e da sua posição no quarteirão. Para o ur­banismo moderno, a célula habitacional é o elemento-base de formacão da cidade.. Agrupa-se para constituir edifícios (tipologias construtivas), e estes agrupam-se para formar bairros, numa relação unívoca. O agrupamento de células habitacionais deter­mina a forma do edifício, e o agrupamento de edifícios determina a forma do bairro.

As relações estabelecidas na cidade tradicional entre lote, quarteirão e cidade são substituídas pela relação entre alojamento, edifício, bairro, cidade.

Amorfologia urbana moderna resulta, também da crítica à cidade tradicional, me­nosprezando o potencial dos espaços urbanos na vida colectiva e na organização dos edifícios.

S6 já no final dos CIAM, Alison, Peter Smithson e Van Eyck, questionando as quatro categorias funcionalistas da Carta de Atenas, escreviam: «(...)A rua curta e estreita do bairro miserável triunfa onde uma redistribuição espaçosa fracassa.» (34) Era o início da crise da morfologia urbana moderna, mas os arquitectos não estavam ainda em condi­ções de desenhar ruas ou formas tradicionais - apenas podiam estabelecer críticas te6ricas e questionar os seus pr6prios dogmasl

O escalão seguinte do debate sobre a cidade centra-se sobre a dimensão e estrutu­ra da unidade habitacional que permita formas de vida social e colectiva elementares.

Para os arquitectos modernos, a vida colectiva resultava fundamentalmente das re­lações quantitativas e distributivas entre habitação e equipamentos, estabelecidas por uma grelha abstracta que, aplicada à cidade, produziria o seu bom funcionamento.

As diferentes actividades como o trabalho, a indústria, os escrit6rios, os grandes

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5·20. 1, Walter Gropius: Diagrama ilustrando o questão: «casos unifomiliares, edifícios médios ou blocos altos., apresentado nos CIAM, em 1930. Desenvolvimento de um terreno rectangular com filos paralelos de blocos de diferentes alturas, relacionando o superfrcie, o insolação, ovisto, a distância 00 bloco vizinho e a libertação de solo. 2. le Corbusier: desenhos ilustrando o comi· nho percorrido pelo urbanismo e os formos do cidade, ;n Maneira de Pensar o Urbanismo

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equipamentos e outras funções são exclurdas do tecido residencial, sendo assim retira­dos à cidade factores de complexidade funcional, ambiental e visual. A cidade passa a dividir-se nas quatro áreas elementares: trabalho, lazer, circulação e habitação.

Aausência parcial, sobretudo nos primeiros CIAM e na redacção da Carla de Ate­nas dos arquitectos anglo-sax6nicos e a presença maciça de alemães, franceses e medi­terrânicos contribuirá para um certo afastamento das pesquisas da unidade de vizi­nhança, em favor do bairro. Esta questão poderá explicar as poucas referências de do­cumentos como a Carla de Atenas à unidade de vizinhança e, pelo contrário, a insistên­cia na «unidade de habitação de grandeza eficaz., influenciada por Le Corbusier.

De resto, as realizações habitacionais efectuadas pelos arquitectos dos CIAM estão confinadas à parcela fundiária, com a qual é tantas vezes identificado o bairro. Em Dammerstock, Gropius cria o bairro sobre a parcela fundiária, e o mesmo sucede em numerosas outras experiências da época (351.

Aterceira preocupação dos CIAM refere-se à dimensão máxima da cidade. Preo­cupação antiga, nascida ao tempo da revolução industrial e da convicção de que os males urbanos advêm da excessiva dimensão das metr6poles, e que se havia expressado em três vertentes: as comunidades dos ut6picos socialistas, como Fourrier, Owen ou Godin; as ci­dades auto-suficientes dos higienistas, como Buckingham ou Richardson; e os modelos ur­banos como a vil/e industrieI/e, de Garnier, ou a «cidade-jardimlt, de Howard.

Adimensão máxima da cidade terá sido difrcil de sistematizar nos CIAM, quer pela ausência de experiências concretas (excepto na Holanda) onde se verificasse esta ques­tão pudesse ser verificada quer pelas posições divergentes assumidas pelos participan­tes. Estes não se encontravam envolvidos em experiências concretas de planeamento' urbanrstico nem directamente ligados à gestão urbana. Conheciam a desordem das ci­dades e estavam aptos a enunciar os prindpios de organização e funcionalidade que a corrigissem. Não eram urbanistas no sentido da palavra, e ainda menos na sua prática profissional. Quem se ocupava do urbanismo e do planeamento ainda eram os arqui­tectos oriundos das escolas de urbanismo, cultivadores da morfologia urbana tradi­cional. ~ neste contexto que o IV Congresso examina trinta e três cidades existentes, e não trinta e três experiências de planeamento, e conclui com a Carla de Atenas, do­cumento abstracto, generalista e universal. S6 no p6s-guerra, as experiências de re­construção das cidades europeias e a polrtica das «cidades novas. permitirá testar o controlo da dimensão da cidade. Esse controlo não ultrapassa as preocupações quanti­tativas e distributivas, incidindo sobre o número de habitantes e os seus equipamentos, e não sobre a cidade como estrutura frsica. A problemática da dimensão máxima da ci­dade resulta também da consciência dos perigos e contradições geradas pelo agrupa­mento de unidades habitacionais ultrapassando os limiares admissrveis de adição em «árvorelt (361.

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5·21. Le Corbusier: Lo Ville Radieuse. Dois painéis apresentados no Congresso CIAM de 1930 ­os Redents e o confronto entre o cidade tradicional e os novos propostos urbanos

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Como é evidente, esta metodologia nunca poderia ser conduzida ao infinito, tendo implfcito o seu controlo num patamar superior. Mas deveria também corrigir a cidade tradicional onde esta demonstrara grandes falhas: na excessiva dimensão, que inviabi­lizava o seu corredo funcionamento.

CARTA DE ATENAS

ACarta de Atenas, divulgada quase oito anos ap6s ser redigida, constitui uma srn­tese das posições dos CIAM sobre a organização e planeamento das cidades.

Éum texto mais dogmático e polémico do que analftico e demonstrativo, formulan­do exigências e estabelecendo os critérios para a organização e gestão das cidades.

A Carta terá resultado do trabalho desenvolvido nos oito dias do IV C1AM, em 1933, a bordo do navio Patris, navegando entre Marselha e Atenas. Como tal, nunca poderia ter sido um estudo em profundidade sobre o planeamento urbano mderno, mas apenas um conjunto de constatações, por vezes evidentes, de recomendações, al­gumas de simples bom-senso, e de exigências que os arquitectos deveriam formular às instâncias administrativas e governamentais.

Tornada pública s6 em 1941, por iniciativa de Le Corbusier, que redige o texto final e terá sido o seu principal mentor (e, ao que hoje se sabe, acrescentado muito de seu e modificado com total liberdade o rascunho inicial), a Carta evidencia a coincidência de posições e identificação da sua obra com os CIAM.

Amorfologia contida nos postulados da Carta, vai ter forte influência na produção te6rica e nas realizações do pós-guerra de 1945 até finais dos anos sessental Não que­ro com isto assimilar ingénua e precipitadamente a cidade moderna à Carta de Atenas, o que seria redutor e perigosamente simplista.

Agrande divulgação, aliada ao dogmatismo, clareza e sistematização com que os pontos doutrinários são redigidos estarão na origem do impacte deste texto polémico e apaixonado.

Seria também ingénuo supor que todas as propostas da Carta foram universalmen­te aceites. Ainda hoje se está longe da aplicação daqueles prindpios de caráder social e humano já contidos na Carta, como as simples recomendações de justiça social na prioridade dos interesses públicos sobre os interesses individuais. Em muitos aspedos, a Carta enuncia verdades evidentes que na nossa época já são banais, mas não ultrapas­sadas, e que ainda são utilizadas em regulamentos.

Seria abusivo atribuir aos CIAM e à Carta de Atenas a total responsabilidade pelos desastres urbanfsticos nos últimos cinquenta anos, muito embora se possam estabelecer algumas consequências negativas: as conclusões do alojamento mrnimo conduziram

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em muitos países aos piores regulamentos e realizações de habitação social; a utiliza­ção indiscriminada das formas urbanas racionalistas e dos edifícios altos e·espaçados influenciaram numerosos conjuntos habitacionais sem vida, desprovidos de espaço e de identidade; a organização distributiva da cidade em áreas funcionalmente especializa­das provocou a perda de residência nas áreas centrais e perda de outras funções nas áreas habitacionais, retirando vida e animação às primeiras nos períodos nocturnos e fins-de-semana e gerando a monotonia e problemas sociais nas segundas; e também congestionamentos de trânsito e custosos movimentos pendulares da população. Mas será abusivo considerar os princípios da Carta como os únicos responsáveis desta situa­ção, até porque a prática urbanística os foi aplicando parcial e incorredamente, desligando-os sempre do quadro global de aduação nela proposto.

Desde 1946 até aos anos sessenta, os planos evidenciam conteúdos bem diferentes dos decénios anteriores e pode-se reconhecer alguma influência da Carta de Atenas, embora por vezes reticente ou fragmentada. Também raras vezes as condições permiti­riam a sua utilização integraU

Mesmo assim, parece desejável e pertinente avaliar as consequências da Carta de Atenas na forma das cidades, porque tem sido contra os seus postulados que mais reac­ções se fizeram sentir - de modo redutor, como se os CIAM e a Carta de Atenas, e apenas estes, fossem os responsáveis pelos problemas urbanos aduais.

A cidade funcionalista

As quatro funções principais (chaves do urbanismo) - habitar, trabalhar, recrear­se e circular - engendrariam áreas específicas. Acada função a sua área de solo ex­clusiva. Aárea residencial ocupa o lugar principal no urbanismo, enquanto a circula­ção deverá organizar a cidade existente. O grande objectivo será circular bem, em vias hierarquizadas que privilegiem a deslocação e separando os percursos entre o peão e o autom6vel. «Os planos determinarão a estrutura de cada um dos sectores atribuídos às quatro funções-chave e fixarão a localização respediva dentro do con­junto.• (37)

Aaplicação ex~ustiva destes postulados conduziria à «cidade funcionalista., com as funções bem arrumadas em lugares pr6prios, sem sobreposições - o contrário da ci­dade tradicional, com a mistura e promiscuidade funcional.

Hoje, parece já existir consenso sobre as malfeitorias do funcionalismo: áreas cen­trais vazias de noite e cidades dormit6rio, são problemas já denunciados até à sacieda­de, e abandonados na prática do planeamento.

De igual modo, se pode questionar a excessiva separação entre tráfegos, sobretudo

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entre peões e autom6veis. As experiências realizadas em Cumbernauld, La Défense, Italie, e outras, acabariam inevitavelmente em autom6veis em baixo, no solo, e peões por cima, em laje, criando novos problemas de vigilância, delinquência, dificuldades de contactos e desertificação em certas horas. A necessidade de circular rapidamente provocou estragos irreparóveis nas cidades, pela destruição de bairros e tecidos so­ciais, lançando vias e n6s desnivelados, alargando ruas, destruindo edifícios, etc., em terapêuticas que foram afastando os congestionamentos para pontos cada vez mais longe, e exigindo cada vez mais sacrifícios. Hoje, estas estratégias de tr6fego estão a caminho de serem substituídas por atitudes mais sensatas, de controlo do trânsito, utili­zação de transportes públicos e, finalmente, de integração das vias como uma das componentes da estrutura urbana, em suma de «domesticação do autom6vel».

O funcionalismo conduziria ao absurdo de em cada edifício existir apenas uma função... originando tipologias construtivas bem precisas, determinadas pelos pro­gramas. Prédio de habitação, centro comercial, prédio de escrit6rios, etc... Todavia esta separação de funções facilitava grandemente a produção de construção e a sua gestão.

Recordo-me de visitar, há doze anos, bairros recém-construídos na RDA. Seguindo escrupulosamente estes princípios, havia no bairro a zona de escrit6rios e a de habita­ção, a escola isolada e o centro cívico-comercial em edifício pr6prio. O pequeno pré­dio com lojas ou a rua comercial eram um verdadeiro sacrilégio. Isto, que hoje poderó parecer aned6tico, existiu, e os resultados são fáceis de adivinhar.

Acrítica ao quarteirão, à rua e à morfologia da cidade tradicional

Écontra a morfologia da cidade tradicional que a urbanística moderna assesta as suas baterias e trava um combate sistemático. Nessa batalha, o quarteirão e a rua se­rão alvos principais, na medida em que constituem a sua expressão essencial.

Como se demonstrou, é por via da pesquisa habitacional que os arquitectos moder­nos concluirão pela necessidade de abandonar por completo o quarteirão e a rua." Servem-se das experiências realizadas na Holanda, na Alemanha, na Áustria, e apoiam-se em investigações como as realizadas por Gropius na Bauhaus sobre a dis­tância entre edifícios, a sua altura e os ganhos de solo público.

Com efeito, ao abordarem o desenho da cidade a partir do alojamento, os arqui­tectos deparam-se imediatamente com questões de higiene, salubridade e funciona­mento. Inconvenientes de trânsito (ruídos, poeiras, gases) e a necessidade de insolação condenavam o alinhamento dos edifícios ao longo das ruas. Tal alinhamento obrigava a formas e perímetros edificados, nem sempre os mais adequados para os agrupamen­tos de alojamentos.

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OS CENTROS mSTÓRICOS E A CIDADE ANTIGA

A Carta de Atenas situa-se nos antípodas das doutrinas actuais de reabilitação e conservação dos centros históricos das cidades.

Nem ao de leve a conservação integral é aflorada. Pelo contrário, refere essencial­mente a salvaguarda de edifícios isolados ou conjuntos urbanos, mas sob reserva de se­rem fta expressão de uma cultura anterior e corresponderem a um interesse geral (•••) ou se asua conservação não implicar o sacriffcio de populações mantidas em condições insalubres» ("2).

Obviamente, os duas noções são elásticas, porque correspondem a definições abs­tradas, como o número de horas de sol por dia. eassim que a Carta aceita fta destrui­ção dos bairros miseráveis à volta dos monumentos históricos, para dar ocasião a criar superffcies verdes, em que os vestfgios do passado ficarão banhados por um novo am­biente, talvez inesperado, mas certamente tolerável, e com o qual, de qualquer forma, beneficiarão largamente os quarteirões vizinhos» (43), o que desvirtuaria os monumen­tos no seu enquadramento histórico e social construído ao longo dos séculos...

Relembro que estes postulados se situavam antes das bombas da Segunda Guerra, como antes da renovação imobiliária dos anos quarenta-cinquenta (que quase se igua­laram na destruição das cidades) e antes também das acções de qualificação e equipa­mento dos centros antigos e históricos, operadas a partir dos anos sessenta.

Em contrapartida, é necessário reconhecer que as polrticas urbanas de renovação imobiliária, com destruição dos bairros insalubres, foram em boa parte legitimadas pe­la urbanística moderna. Penso, entre outros casos, na demolição da" zona do Martim Moniz, motivada pela insalubridade física e moral dessa área, deixando um buraco enorme na Baixa lisboeta, numa acção hoje impensável, mas à época legitimada.

Acidade histórica ou antiga, na sua forma, na poética dos seus espaços, na comple­xidade e «promiscuidade» dos usos, não tem lugar na Carta de Atenas, que acreditava que a beleza e a alta qualidade estética e ambiental da arquitectura moderna iguala­riam e superariam os conjuntos históricos degradados ou insalubres.

Pensavam certamente os mentores da Carta que à demolição dos conjuntos e edifí­cios insalubres se sucederia a construção de grandiosos projectos, com a nova estética e arquitectura. MO$ tal não veio a acontecer e, em substituição, surgiu o «museu dos horrores. pela lapiseira de projectistas, nem sequer arquitectos, como em Portugal, que, nos propósitos, se reclamava de ideais modernos. Inocentemente, os ideais mo­dernos iriam servir a especulação imobiliária destruidora da paisagem urbana...

Esta questão mereceria ser mais estudada. Tomados à letra, os postulados da Car­ta, podem induzir em confusão. Não me parece que os arquitectos modernos fossem propriamente selvagens. Asua crença na nova arquitectura impedia-os de apreciar as

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obras an6nimas e simples, como os conjuntos urbanos de acompanhamento, e a s6 considerar os monumentos do passado. le Corbusier vai buscar muitos ensinamentos ao passado e às singelas arquitecturas. Os seus álbuns de esquisses (44) atestam -esta preocupação constante. Noutras ocasiões, como na proposta para o centro cívico de Bogotá" supondo que o movimento revolucionário de 1948 havia semidestruído a cida­de, propõe um novo centro cívico, ampliando em dois quarteirões a praça principal. Mas, quando se apercebe de que os seus desenhos iriam demolir a Praça Bolívar, afinal intacta, arrepia caminho bem mais depressa do que os seus admiradores colombianos, que talvez não tivessem hesitado em destruir a cidade hist6rica em troca da novidade (45).

Atenho-me a estes exemplos e à necessidade de maior aprofundamento destes pro­blemas, até porque ainda hoje, em muitos espíritos dirigentes, predominam algumas iaeias da Carta de Atenas que interessaria questionar em definitivo..

o CONTROLO DO SOLO E A LmERTAçÃO MÁXIMA DE ESPAÇO LIVRE

Aenumeração das necessidades formuladas pela urbanística moderna chega inevi­tavelmente a uma consequência política: a disponibilidade do solo em detrimento da propriedade privada. Para este objectivo, as autoridades deveriam criar os mecanis­mos pr6prios. «Perante as manifestações incontestáveis, indiscutfveis do programa mo­derno, a autoridade aparecerá sob a forma adequada. Mas respeitemos a cronologia dos acontecimentos: os técnicos devem formular, a autoridade aparecerá.» (46)

O conflito entre propriedade privada e pública conduz ~ necessidade do controlo do solo com predomínio dos interesses públicos sobre os privados. Tal questão viria a ser uma das regras do urbanismo como acção polrtica de regulação dos conflitos entre interesses públicos e individuais: «O direito individual não tem relações com o vulgar interesse privado (...). Deve ser em tudo subordinado ao interesse colectivo, tendo cada in­dividuo acesso às alegrias fundamentais: o bem-estar do lar, a beleza da cidade.» (47)

Tais princípios seriam consagrados em textos legais na maioria dos países e nos fun­damentos do urbanismo; mas eram também exigências da morfologia moderna: edifí­cios altos, espaçados uns dos outros, num terreno público em zona verde e de utiliza­ção colectiva máximal Tais princípios são contradit6rios com a urbanística formal e o processo de loteamento como meio de organizar a cidade e repartir o solo entre parte pública e parte privada, e onde o desenho urbano seria um instrumento de loteamento.

Ao abolir o loteamento como processo de fazer cidade, a urbanística moderna en­contra novos argumentos para repudiar a urbanística tradicional.

Aquestão fundiária constitui assim outro vector de ruptura e profunda transforma­cão na forma da cidade.,

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5·22. Os centros históricos a cidade antiga e o urbanismo moderno. le Corbusier: propostas pa­ra o centro de 809ot6, 1934, e proposta para o reordenamento do ilo' insalubre n. o 6, de Paris. Faria da' Costa: plano para o Martim Moniz, 1934.

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5.7 LE CORBUSIER, A UNIDADE DE HABITAÇÃO E A ((CIDADE RADIOSA»

o lugar de Le Corbusier no Movimento Moderno é de tal modo importante que se­ria incorrecto não lhe reservar um papel de primeiro plano. Asua influência deriva da obra realizada, sobretudo da enorme actividade desenvolvida, pelos conceitos e ideias que divulgou com e'mpenhamento militante e convicção profética. De todos os mestres modernos foi certamente o mais polémico e provocador, o mais apaixonado e contro­verso. Os reflexos da sua obra poderão ainda ser observados nas cidades ou na teoria urbanística dos anos quarenta aos sessenta. Foi objecto de incompreensão e polémica em vida e ainda agora; nos anos setenta, foi o bode expiatório de todos os males das cidades europeias, para finalmente o podermos encarar hoje com serenidade.

Le Corbusier foi, sem dúvida, um arquitecto e criador de enorme talento. O Arqui­tedo do Século foi o título da exposição que em 1987 lhe consagrou a Tate Gallery de Londres na celebração do centenório do seu nascimento. Grandiosas exposições em to­das as capitais da arquitectura e monografias nas revistas da especialidade recoloca­'ram a verdadeira dimensão da sua obra numa justa homenagem e reflexão objectiva sobre as suas propostas.

Haveró desde jó que distinguir o Le Corbusier «arquitecto., do «urbanista., ou me­lhor, os edifícios, cujo valor é excepcional, das propostas urbanas, com as quais não poderei estar de acordo. Distinção difícil, de tal modo é sempre o arquitecto predomi­nanteem Le Corbusier e de tal modo arquitectónica é a sua visão da cidade. Sempre e em qualquer escala, Le Corbusier actua como um arquitecto da monumentalidade, da­do o seu afastamento da prótica urbanística e da gestão das cidades. Quanto muito, in­terviró em projectos (e não planos) de grande escala, como em Saint-Dié, Chandigard, ou na América do Sul.

O primeiro plano de Le Corbusier data de 1922. ~ o Plano de Cidade Contemporâ­nea para Três Milhões de Habitantes (0481. Estudava fundamentalmente o centro de uma' grande cidáde, com edifícios públicos, escritórios e habitações. Apresentava então três modelos tipológicos e construtivos de novos edifícios: a grande construção de escritó­rios, a habitação em redents (denteada) e a habitação em immeubles vil/as (edifícios­-palócios) com jardins suspensos.

Acidade era apenas esboçada, mas o centro, com 600 000 habitantes, era apre­sentado em pormenor. Seria envolvida por uma faixa verde a partir da qual se situa­

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riam «cidades-jardim. que alojavam grande parte da população. As vias de comunica­ção organizavam-se em três níveis hierarquizados. Mais interessado em expor uma visão arquitectónica da cidade do que em analisar o organismo urbano, a atenção de le Corbusiercentra-se no desenho dos edifícios e a sua envolvente imediata.

O Plan Voisin {49} é apresentado em 1925, três anos mais tarde. le Corbusier advertia que, embora trabalhando sobre uma zona de Paris, tal projecto não se desti­nava a uma realização directa e imediata, tão-somente a indicar o caminho aseguir e a discussão crítica e metodológica. O Plan Voisin propunha arrasar o tecido urbano, conservando apenas os edifícios históricos, que ficariam envolvidos por zonas verdes. Sobre o terreno assim libertado, le Corbusier traçava as vias e dispunhas os grandes edifícios de habitação e escritórios.

A «cidade radiosa. {SO}, que é mostrada em 1930, no II Congresso dos CIAM, em Bruxelas, continha já os prindpios dou'trinais da organização urbana de le Corbusier: uma cidade verde com forte percentagem de solo livrei grandes construções pontuais, assentes em pilotis que libertavam o solo para os peões e prolongavam os espaços ver­des sob as construções; edifícios dispostos em função do eixo heliotérmico e monofun­cionais; unidades de habitação que incluiam os equipamentos elementares.

A«cidade radiosa. servirá de trtulo a outros projectos. Os conceitos permanecem no essencial, variando nas formas e no relacionamento das construções com oterritó­rio. Acriação de conjuntos desenvolvidos axialmente, em redents e correndo o risco de se confundirem com a rue corridor, é progressivamente abandonada, enquanto pouco a pouco vai surgindo um novo modelo de edifício - a «unidade de habitação de gran­deza eficaz. para cerca de 1800 habitantes, integrando os equipamentos elementares com creche e escola pré-primária na cobertura e rua comercial a meia altura. ~ assente no solo por pilotis e orientado pelo Sol. ~ este o modelo de unité d'habitation que le Corbusier desenvolveria em outros projectos e construiria em Marselha e Lyon.

No conjunto de escritos, conferências e debates, nos projectos e obras construídas, le Corbusier defende a sua concepção de «cidade da época maquinista•. ~ (I total opo­sição à cidade tradicional. Cidade tradicional contra a qual lutou encarniçadamente, criticando a rue corridor, o quarteirão e o plano marginal, propondo novas e diferen­tes formas urbanas. O quarteirão é suprimido, sendo substituído pela «unidade de ha-' bítação. - contraponto arquitectónico da «unidade de vizinhança•.

A«unidade dê habitação. representa para le Corbusi~r o elemento morfológico de organização da cidade. Subverte todos os sistemas da cidade tradiCional: o espaço de implantação do edifício torna-se espaço público permitido pelos pilotis; a orientação dos edifícios já não depende da sua posição na estrutura urbana, mas da orientação solar; integra no interior do edifício funções que na cidade tradicional se localizavam nos baixos das construções e em lugares próprios - desde o comércio aos equipamen­

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5·23. Le Corbusier.•Lo Ville Contemporoine». Planto geral, pormenor do centro, vistos do eixo central e do zona residencial

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tos elementares; finalmente, propõe relações totalmente diferentes para os comércios, as ruas, os espaços livres e os acessos à habitação (51).

A«unidade de habitação» passa a constituir a unidade-base de organização e com­posiçã,o da «cidade radiosa». «Cidade radiosa» que, no essencial, se constitura como um mar de verdura percorrido por vias de circulação e do qual emergiam grandes construções de habitação, equipamentos, serviços. O conjunto receberiCJ o Sol e pro­porcionaria uma vida feliz aos seus habitantes. Ea aplicação personalizada dos princí­pios e ideias consagradas na Carta de Atenas, com o impacte e a força que os dese­nhos de le Corbusier lhes emprestam...

Propõe também diferentes modos e práticas sociais de viver na cidade que de­correriam das relações entre as funções básicas (habitar, trabalhar, lazer, desloca­ções), das concepções próprias de le Corbusier e do fasdnio que as máquinas e o progresso exercem sobre ele. Num certo sentido, a diferença de modo de vida e de habitar está já contida na ideia de societé de I'époque machiniste (52) e decorre tam­bém da fé na civilização técnica e nas possibilidades construtivas do betão armado, do aço, dos novos materiais e das proezas tecnológicas. le Corbusier crê firmemen­te nas transformações que a técnica operará na História e nas condições de vida hu­mana - e consequentemente nas cidades: Algo da utopia social é também retoma­da, e não é por acaso que a dimensão da unité d'habitation é semelhante à do fa­lanstério.

Frequentemente, o discurso de le Corbusier imagina como seria a vida urbana nu­ma «civilização maquinista». Os edifrcios altos seriam as mais adequadas expressões da urbanística moderna - «Vos gratte-ciel sont trop petits., afirmará em Nova Iorque - e manifesta indiferença pela cidade antiga como no Plan Voisin, apenas considerando al­guns monumentos que seriam isolados e admirados como objectos autónomos.

Autilização sistemática de edifrcios altos justificava-se pelo valor dos terrenos, que viabilizariam os planos mais ambiciosos. Se a tecnologia moderna podia construir pré­dios em altura, assim se podia aumentar a intensidade da construção e o valor dos ter­renos. «Urbanizar não é gastar dinheiro, mas ganhar.» (53)

O campo também não é poupado: «Si, par ci par lá, quelques beaux hangars, que/­ques écuries neuves demeurent acceptables et peuvent être conservés, le reste est à abaffre el à reconstruire plus grand. (5.4).

Mas, como é evidente, muitas das suas propostas têm um sabor de pôlémica e mani­festo, com a evidente finalidade de agitar os esprritos e motivar o debate, e, como tal, são exageradas e provocatórias.

O próprio le Corbusier as considerava como catalisadoras do debate sobre a cida­de moderna, como o Plan Voisin, que talvez nem ele próprio desejasse ver construrdo. Acidade deixa de ser o lugar da arquitectura urbana, para ser o lugar da arquitectura

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5·24. Le Corbusier: o Plan Voisin, 1925 - proposta para reestruturação do centro de Paris

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dos grandes ediffcios isolados e autónomos, os principais elementos que concentram o esforço estético e projectual do arquitecto.

Esta sobreposição de actuações entre a arquitectura e a urbanística traduz-seno forte sentido arquitectural das suas propostas urbanísticas, ou melhor, na escala urba­na da sua arquitectura. Avisão da cidade é em Le Corbusier essencialmente arquitectó­nica e altamente personalizada, embora mantendo relações entre o nível urbanístico e o nível arquitectónico. Em Argel, Rio de Janeiro, Montevideu, o que propõe é uma ar­quitectura de escala territorial que dialoga de igual para igual com á paisagem e a ela se impõe como obra colectiva da humanidade.

Esta visão unitária prolonga-se a outras áreas disciplinares - ao desenho de inte­riores e de mobiliário, à pintura e à escultura - que toda a vida praticou. O ambiente seria um todo determinado por uma estética global sem limites de escala· nem secções disciplinares. Só na aparência a sua estética é funcionalista, porque as formas, embora déterminadas pelos usos, decorrem sobretudo da exploração criativa, dos meios tecno­lógicos e do potencial plástico dos espaços construídos. Nesta procura, a planta livre é um instrumento de trabalho que permite liberdade de expressão e de composição.

A influência de Le Corbusier na formação do pensamernto urbano-arquitectónico moderno foi muito grande, estendendo-se da Europa ao Brasil e ao Japão, marcando profundamente arquitectos como Niemeyer, Reidyou Lúcio Costa, em realizações co­mo Brasma; ou arquitectos japoneses como Maki e Mayekawa. Brasília ou Chandigard são as concretizações ex nuovo das ideias de Le Corbusier (e dos CIAM). Em Chandi­gard, ele próprio orienta o plano e reserva o centro para intervenção pessoal.

A unité d'habitation e a cité radieuse foram modelos que influenciaram o pós-guerra até aos anos setenta, até em realizacões britânicas como Alton Estate, West London,. Shefield, Park Hill ou Golden Lake, este último de Alison e Peter Smithson.

Poderíamos também encontrar em todos os países discípulos de Le Corbusier, mais qualificados uns, mais medíocres outros.

Mas a influência de Le Corbusier não pode ser unicamente medida pelas realiza­ções que inspirou directamente. Há que observar as repercussões da sua obra escrita e do seu pensamento, que se situam em níveis tantas vezes insuspeitos.

Tal análise (repito) conduziria a considerar aspectos como a crrtica da cidade tradi­cional e dos seus v~lores, admitindo a destruição da memória do passado e a renova­ção integral; a apologia do funcionalismo e da planta livre; a proposta de fragmenta­ção e independência dos elementos morfológicos do sistema urbano; a apologia dos edifícios altos; a crença cega na civilização maquinista e na tecnologia; a defesa dos grandes blocos habitacionais, soltos no terreno, em detrimento dos contfnuos construí­dos e da arquitectura integrada no desenho urbano; e a crença de que a grande arqui­tectura e o jogo plástico «das formas ao sol. poderia solucionar a organização urbana.

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1. Ruas interiores 2. Ginásio 3. Caté-soUrio 4. Restaurante 5. Jogos infantis 6. Centro de saude 7. Creche 8. Pré-prbária

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5-25. le Corbusier - 1 - Acidade radioso - esboço mostrando os blocos construIdos em am­plos zonas verdes; 2 - AUnidade de Habitação de Marselha - Perspectivo/corte explicativo. 3 - A Rue Corridor

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Mas o que na visão e nas propostas de le Corbusier ia de par com a altíssima quali­dade da expressão arquitectónica, e ainda é presente nas realizações feitas por disd­pulos talentosos, torna-se pavoroso quando absorvida pela urbanística corrente. ~ as­sim que muitos autores acusam - com dogmatismo e também com alguma razão ­le Corbusier de acabar por servir a especulação imobiliária e dar argumentos, cober­tura ideológica e cultural a tantos desastres urbanísticos dos anos cinquenta e sessenta.

De facto, das ideias de le Corbusier utilizadas de modo·sectorial e fragmentado se terão aproveitado todos os que especulavam com o solo ou, noutros contextos, todos os que defendiam a construção da cidade por grandes ediffcios~ abrindo as portas à es­peculação imobiliária e a um modo de actuação fócil e imediato. Neste campo, «utili­zaI'» le Corbusier será o mesmo que utilizar as propostas dos CIAM, ou da cidade mo­derna; só que a crítica ao grande mestre é facilitada pela frontalidade com que se ex­pôs e se lançou na polémica, pela contradição e controvérsia da sua obra. Assim como foi fácil tantos reclamarem-se das ideias de le Corbusier para justificarem os seus dispa-· rates, também foi fócil à crítica pós-moderna dos últimos vinte anos atacá-lo pelas mes­mas razões - o bode expiatório, identificável -, portanto, fácil de atacar.

Outro grande erro terá sido, justamente, o tomar à letra o que não seria mais que debate provocatório.

As realizações que influenciou, ou que o imitam, sem o génio criativo e qualidade arquitectónica, caem rapidamente na banalidade e mediocridade. Aconstrução da ci­dade por edifícios soltos teria de ser acompanhada de um alto grau de qualidade ar­quitectónica, sem o qual seria uma uniforme e banal justaposição de volumes.

Seria no entanto irracional acusar le Corbusier dos males da cidade contemporâ­nea, ou como terá sido dito: «le Corbusier, o responsável directo de Sarcelles», acusando-o de originar todos os problemas dos grands ensembles e da renovação imo­biliária. Prefiro situar a influência de le Corbusier na transformação geral que o Movi­mento Moderno produziu no pensamento urbanístico e nas cidades.

le Corbusiet era também um idealista que pretendia construir o mundo segundo as suas próprias concepções - as únicas que considerava válidas para os problemas da sua época e do futuro. Os seus argumentos chocaram também contra a vontade e as aspirações do homem, ao atacar a «cidade horizontal» ou a cidade tradicional. A uto­pia urbanística é frágil porque pressupõe complexos mecanismos de adesão social ou então é totalitária. O tempo revelaria que afinal essa utopia não serviFia as aspirações da sociedade. Hoje haverá que pensar a obra de le Corbusier com sentido crítico, sem a rejeição emocional dos primeiros manifestos «pós-modernos», mas procurando tam­bém os seus valores espaciais e arquitectónicos.

Ficaria, no mínimo, a grande unidade conceptual e estética entre urbanismo e ar­quitectura. Verdade inquestionável que há que retomar.

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Proposta para Bueoos AIres. te CortJus,gr, 1929 (OC).

... para Momvid6u. • I.B Cor!lusie< 1929 (lC8).

'fta mta desde Salta Teresa. I A'Jfif 1. Jtlusiel: 1929 (LCe). Yf\~ l VI P/OPOSIB para o RIO de Janeiro. Le

Corbusie( 1929 (LCe).

5·26. Le Corbusier: propostas poro São Paulo, Montevideu, Buenos Aires e Rio de Janeiro. Es­quisses - 1929

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5·27. A. Reais Pinto: urbanização de Santo António dos Cavaleiros - prefabricação pesada 1968. Planta de implantação dos blocos e esquema de circulação das gruas

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5.s A URBANÍSTICA OPERACIONAL - A BUROCRACIA CONSTRÓI A CIDADE

oPÓS-GUERRA E A ADOPÇÃO DA URBANÍSTICA MODERNA

Se, até à Segunda Guerra, coexistem na Europa a urbanística formal com as expe­riências modernas, a partir dos anos cinquenta a situação modifica-se. Numerosas ci­dades encontravam-se destruídas, a falta de habitações crescera consideravelmente, as populações sofreram grandes êxodos e a Europa arrasada necessi'ava de grandes investimentos na reconstrução - consignados em programas como o Plano Marshall. Era necessário reconstruir as cidades, construir novos bairros e novas expansões e no­vas cidades numa escala e ritmos anteriormente desconhecidos.

Estes programas obrigavam a profundas reflexões sobre a adequação da urbanísti­ca às exigências da população e à procura de novos métodos de trabalho.

Aquestão da habitação continuava o problema maior, agravado pela devastação da guerra. Tratava-se de construir rapidamente e a menores custos a máxima quanti­dade de alojamentos, dando novas condições de vida à população e permi­tindo-lhe ultrapassar o trauma de uma grande guerra, e recuperar a esperança no fu­turo.

Para estas tarefas, dispunham os arquitectos, urbanistas e as administrações dos modelos de urbanismo tradicional (que, entretanto, integrara inúmeras inovações) e, no pólo oposto, a oferta «agressiva» dos esquemas conceptuais do urbanismo moderno.

No imediato pós-guerra, a urgência das tarefas atenua o debate técnico-ideológico entre a urbanística formal e a moderna. Mas rapidamente a urbanística moderna assu­me a supremacia, não apenas por via dos arquitectos mais novos chamados a traba­lhar na reconstrução, mas também pela facilidade técnica e operativa que oferecia pa­ra a construção rápida, económica e em grande quantidade.

Com efeito, a possibilidade de projectar e construir a cidade por sistemas indepen­dentes (vias, infra-estruturas, prédios, equipamentos...) revela-se de grande eficácia, permitindo, antes do mais, trabalhar com rapidez no estirador e no estaleiro: no estira­dor, permitia desenhar a cidade por sistemas independentes, como as ruas, os edifícios, e o espaço residual entre ambos. As vias serviam a circulaçãO, os prédios implantavam­-se livremente no terreno. Entre ambos, não havia acertos. O terreno sobrante ligava as entradas dos edifícios às vias de acesso ou dos parqueamentos. A tarefa dos arqui­tectos estava facilitada. No estaleiro, as obras podiam ser lançadas por empreitadas

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independentes, sem grande necessidade de cooJdenação e inter-reloção. Por outro la­do, as novas formas urbanas rompiam, em termos ambientais e ideológicos, com os an­tigos sistemas urbanos, permitindo o ar, o sol e a verdura indispensáveis à higiene e sa­lubridade, e favoráveis à cura do traumatismo psicológico da guerra. A modernidade perspectivava uma nova era, depois do pesadelo e do caos!

Ainda hote, pOJa muitos cidadãos, em comparação com a antiga cidade, os bairros modernos significam o status de vida de maior conforto e comodidade.

Não negligenciável foi também a pressão exercida pelos jovens arquitectos que fo­ram colocados em cargos de chefia e de direcção nas tarefas de reconstrução. Em França, foi a nova geração chamada a reconstruir o país quem, em definitivo, liquidou os «velhos» urbanistas e impõe a urbanística dos CIAM.

Progressivamente, o pós-guerra europeu aderiu à urbanística moderna e rejeitou de vez a cidade tradicional. Todavia, a urbanística dos CIAM não havia produzido rea­lizações suficientemente testadas, mas apenas esquemas conceptuais e realizações par­ciais, em alguns bairros e conjuntos, sem responsabilidades no ordenamento em vasta escala. E, nessas realizações exemplares construídas, a qualidCJde arquitectónica dos projectos dos mestres secundarizavam outros níveis de problemas.

Éassim que a adopção generalizada do urbanismo moderno em tantas e tão vastas realizações conduziu à aceitação do trabalho de arquitectos e de projectistas de segun­do plano, com a consequente produção de obras de inferior qualidade, e também à rá­pida banalização dos princípios que antes eram polémicos e inovadores.

DAS IMPLANTAÇÕES RACIONAIS À PLANTA LIVRE

Os métodos racionais nos anos trinta alinhavam com rigor os edifícios pela orienta­ção solar mais favorável. Para os proteger dos inconvenientes da circulaçãO, situavam­-nos perpendicularmente às ruas e longe das vias de serviço. Mais tarde, para diminuir os custos de construção, utilizariam a repetição exaustiva dos mesmos edifícios.

Nos processos de prefabricação pesada, a lógica económica e mecanicista irá até ao ponto de determinar a implantação dos edifícios em função dos movimentos e raio de acção da grua sobre um carril. Recordo a satisfação com que os .arquitectos dos anos sessenta enéaravam os resultados desta experiência e o seu orgulho em ter resol­vido assim mais um problema (espaciali).

Na revista Arquitedura (55), era apresentada uma urbanização em Santo António dos Cavaleiros, fig. 5.27, com prefabricação pesada em que a implantação dos blocos resultava dos movimentos com que a mesma grua construía o maior número de blo­cos... Aninguém ocorria a forma do espaço urbano resultante quando a tal grua fosse

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5-28. Z. Malicki, S. Tworkowski: bairro de Mokotow. Varsóvia, 1948. Plano geral, plano de uma unidade residencial e vista aérea. P. creche; S. escola; VH. Centro comercial

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desmontada... Esta singela anedota dá conta do tipo de planeamento «operacional., cujo fim era construir, construir rapidamente, e a baixos custos..

Aforma urbana tornava-se assim o resultado da resposta a uma somatório de re­quisitos e obrigações que nada tinham a ver com problemas de espaço urbano.

Areacção contra o excessivo funcionalismo e a excessiva repetição dos elementos e a geometrização abstracta dos conjuntos começou pela denúncia das formas urbanas assim engendradas. Amultiplicação dos volumes geométricos deixava de provocar emoção estética, suscitando a atenção crítica para a sua pobreza plástica e monotonia. O racionalismo sara maltratado nas suas primeiras realizações!

Para remediar estes aspectos, a partir do pós-guerra, realizam-se diversas expe­riências, mais centradas na críti<;a do racionalismo do que na composição urbana. . Num primeiro tempo, renuncia-se à insolação óptima das habitações. Aorientação

dos edifícios é mais flexrvel e tem em conta outras variáveis, como·o tipo de habitantes ou a forma dos quartos.

Para aumentar a complexidade da composição, os edifícios deixam de ser repeti­ções de um único modelo, admitindo-se a diferenciação de tipologia.s, volumes e gru­pos de habitações, a diferenciação pela cor, texturas, materiais ou pormenores cons­trutivos. Num segundo tempo, a implantação dos edifícios procurará valorizar os espa­ços exteriores. O espaço público será novamente objecto de preocupação.

Num terceiro tempo, o abandono parcial das regras racionalistas foi ainda julgado insuficiente: quanto mais vastas fossem as urbanizações, maiores seriam os perigos da rigidez e da monotonia. Aoposição contra o racionalismo funcionalista foi crescendo com o tempo. Nos anos cinquenta surgem os exemplos daquilo a que Ostrowski (56) cha­mou de «funcionalismo humanizado., que também não chegou a resolver satisfatoria­mente a monotonia dos espaços construídos.

A primeira grande diferenciação surge nos países escandinavos, através da inte­gração dos edifícios com a paisagem, do respeito pelo sítio e da vontade em não evi­denciar a aparência de qualquer esquema conceptual predeterminado.

As urbanizações dispõem os edifícios na paisagem, respeitando as características do sítio, com implantações em aparente desordem para quebrar qualquer relação com o sistema racional ou geométrico. Os edifícios de habitação colectiva são envolvidos por vastos espaços verdes. Os volumes combinando altos e baixos e geometrias dife­rentes. Os espaços exteriores são cuidadosamente tratados e plantados.

Aescolha de um belo srtio qualificava e individualizava o conjunto. Mas, quando o sítio preexistente não possui características excepcionais, procura-se a valorização de um edifício ou conjunto, introduzem-se formas sinuosas ou onduladas, por vezes até com desatenção pela organização interna dos alojamentos, utilizam-se materiais, co­res, formas e texturas e variadas, anima-se o espaço com o mobiliário urbano, peças

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5·29. Giorgio Astengo e colaboradores: bairro Falchera, perto de Turim, 1955. Vista aérea e planta das construções

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5-30. Avenida E. U. América-Lisboa, 1954. Implantação de blocos modernos contrariando o «desenho formal. do plano de Faria da Costa - 05 blocos assentam em pilares e dispõem-se pre­pendkularmente à rua. ArqOl. Manuel Laginha, Vasconcelos Esteves e Pedro Cid

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01 Carlos Duarte e José Rafael Botelho. Ver também• . S '1960-1961. Arq . F' 15 5·31. PlanodosOhvals u(1957-19581 noCaprtulo I. Ig.. o Plano dos Olivais Norte

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de arte ou outros artifícios. Tanto numa situação como na outra as implantações dos edifícios dão a sensação de desordem, acaso, ou de traduzirem meros caprichos ou abstracções.

Noutras situações, a monumentalidade é utilizada como factor de personalização, através de grandes volumes e fortes contrastes: grandes torres contrapõem-se a com­pridas construções horizontais...

Os parses escandinavos e a França seguiram esta corrente, sobretudo a França, on­de os vestígios de monumentalidade foram sempre presentes na hist6ria das cidades, de lurs XIVa Haussmann.

Todavia este conjunto de realizações já distanciadas das experiências de May, em Frankfurt ou de le Corbusier, sofreram fortes críticas dos seus utilizadores: os caminhos de peões traçados em grandes espaços livres não se adaptavam ao clima, que os tor­nava inúteis durante o Inverno e não conseguiam substituir a rua tradicional. Além dis­so, a análise sociopsicol6gica da população que vivia em tais bairros revelou existir a sensação generalizada de isolamento e solidão.

Outras críticas referiam os inconvenientes da concentração da população em gran­des edifrcios e a subordinaçãO da organização urbana à visão abstracta do plan mosse.

Estas críticas começaram a produzir os seus efeit~s a partir da década de sessenta, sobretudo nos países europeus: os edifícios aproximam-se uns dos outros e passam a dispor de caminhos pedonais na sua proximidade; a densidade aumenta, pela localiza­ção na periferia dos grandes espaços livres e verdes - campos de jogos e equipamen­tos desportivos. As vias organizam-se segundo um reticulado mais regular e legível, e, em alguns casos, procuram o equivalente moderno da rua tradicional.

Torna-se evidente um retorno à regularidade. Dir-se-ia que nos anos cinquenta­sessenta o urbanismo tacteia experiências, abandona o dogmatismo racionalista e pro­cura novos caminhos dentro da doutrina do Movimento Moderno.

Numa primeira fase, esta procura de novas formas urbanas resulta algo ca6tica e gratuita. Realizações como Falchera, em Turim, ou Grigny, La Grande 8orgne, dão­-nos a impressão de um tactear às escuras ou atirar de barro à parede. Cada arquitec­to tenta levar ao máximo a originalidade, o contributo individual e a invenção de novas soluções e «espaços» diferentes. Todavia estas tentativas acabam por se aproximar do «gratuito», desprovidas de regras de desenho urbano. Com o solo totalmente livre de restrições fundiárias, podendo actuar com grande liberdade em operações de carácter público, e sem a obrigatoriedade das regras do racionalismo, as realizações da déca­da de cinquenta e sessenta tornam-se um mostruário quase exaustivo das possibilida­.des infinitas de dispor edifícios, vias, árvores e equipamentos num terreno determina­do. As vias servem a circulação, os edifícios, as funções de habitar ou outras, os equi­pamentos asseguram os serviços. Os três sistemas fisicamente independentes orga­

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5·32. Plano de Cheios, 1970. Plano geral.'

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nizom-se com autonomia e liberdade. Qualquer referência morfológica à cidadetradi­cional é ainda inexistente. Aqui e ali, surgem espaços que lembram a rua. No conjunto de Bishopfie/c/, em Harlow (arqo. M. Neylan e colaboradores), em 1966, sãopropos­tas ruas estreitas, bordejadas de muros de tijolo escurecido. Porém essas «ruas» s6 ser­vem a habitação, sem qualquer outro dos factores que animavam a rua tradicional.

Em Toulouse, La Mirail (Candilis, Josic~ Woods - 1961)157), recriam-se percursos de peaes, sobreelevados, que acedem directamente aos edifrcios. Ao longo da estrutura central de peões, estende-se o centro principal, local de contactos ,sociais envo'lvido por construções densas. No entanto, este percurso é antes do mais um caminho organizõ: do, tornado obrigatório para o acesso a bens e serviços. Não é ainda uma verdadeira rua nem existe ainda relação entre o espaço de circulação pedonal e os volumeS'edifi­cados. Aseparação entre veículos e peões (e ambos eram utilizadores da rua tradicio­nal} domina obsessivamente estas composições e subjuga os outras preocupações.

Neste contexto, a morfologia urbana é pensada como a resolução de sistem~s de circulação, de habitaçõo e serviços. Uma vez organizados tais sistemas, os volumes construrdos podem ter qualquer fo'rma, perrmetro ou disposição no solo, consoante a imaginação dos arquitectos ou as mudanças ditadas pelas variações de programas, in­vestimentos, compromissos fundiários ou outros.

Nesta aparente diversidade, as «formas urbanas» são variações de um mesmo te­ma, pela exploração habilidosa das potencialidades da «planta livre».

Aplan!? livre foi uma conquista modema contra as regras de composição académi­cas das Beaux-Arts (58). Na composição urbana, o sistema académico nõo se afastava demasiado das composições clássicas, em que imperava a simetria da organização es­pacial e o predomrnio da imagem e da cenografia sobre as considerações funcionais.

Aplanta livre resultava do primado da organização funcional sobre as outras com­ponentes, dentro de regras estéticas em tudo diferentes das regras e académicas.

Como se compreende facilmente, a organização'distributiva e formal permitida pe.,; la planta Uvre vai consolidar a separação e independência morfol6gica entre os vários elementos da cidade: vias, edifrcios, espaços urbanos.

A ESTÉTICA DO PLAN MASSE

o plan mosse, instrumento de apresentação gráfica dos planos, adquire neste con­texto grande importância como sistema de representação volumétrico - espécie de vis­ta aérea com sombras em que os raios de luz correm na diagonal do cubo, permitindo igualar a extensão da sombra à altura do volume que a produz.

O plan mosse é uma forma de representação e também da «ideologia» de proiec­

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5-33. Bairro de Roehompfon - projecto do G. L. C. -Londres, 1950. Planto geral e visto aéreo parcial

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tar. o efeito de representação grófica pretende a ilusão dos volumes através da repre­sentação das suas sombras. Enquanto, no desenho da cidade tradicional, as relações físicas se estabelecem pelas regras de traçados, planos marginais e cérceas, e uma sim­ples indicação marca a altura do edifício, as regras de composição do plon mosse arti­culam outra maneira de projectar. As relações inteligfveis concentram-se no jogo de volumes e no seu equilrbrio abstracto ou sensorial- equilrbrio que vive autonomamen­te no estirador e no espaço urbano. Apresenta extrema flexibilidade, porque não exis­tem regras que determinem o lugar de cada edifício, o seu volume, forma e altura. Por isso qualquer plon mosse poderó variar indefinidamente com resultados satisfatórios, seguindo as variações de programa ou a fantasia criativa dos arquitectos.

De processo de representação gráfica, o plon mosse torna-se um instrumento de trabalho e metodologia de composição urbana. Desde logo, as implantações e volume­trias dos edifícios podem diversificar-se em diversos feitios e combinações - em LeU, em dominó, em «cacho» ou desordenadas, vivendo autonomamente no terreno.

o PREDOMÍNIO DAS DISCIPLINAS NÃO ESPACIAIS NO PLANEAMENTO

Areconstrução europeia após a Segunda Grande Guerra implicou a reconstrução económica e social e a reorganização de vastas regiões. Os urbanistas, inicialmente confrontados apenas com as cidades, viam-se forçados a alargar os limites da sua in­tervenção e a trabalhar numa escala mais vasta. Os planos de urbanismo integr9ram­-se no domfnio da planificação, que engloba o pafs, as regiões, as seus aglomerados.

O planeamento urbanístico desenvolve o seu interesse disciplinar para questões de programas, quantidades, esquemas distributivos e funcionamento, decisões polfticas e económicas, estratégias financeiras e sociais.

No alargamento da escala do planeamento do território, e consequentemente do escalão e da complexidade dos problemas, a autonomia do desenho urbano e da ar­quitectura perde importância face ao conteúdo determinante e mais «dentffico» das dis­ciplinas sociais, económicas, ou simplesmente técnicas.

Alógica destas preocupações, que se tornam predominantes, conduziu a uma pro­gressiva separação dos campos disciplinares entre a urbanística (planeamento) e a ar­quitectura. .

Aarquitectura de escalão urbano deixa de ser o prindpio da organização territorial para se remeter à arrumação dos dados da planificação económica, social e demográ­fica. As grandes questões do urbanismo deslocam-se para a estrutura económica e fun­cionai dos conjuntos e dos programas quantitativos e distributivos.

Estes objectivos do urbanismo tenderão a isolar em dois momentos autónomos o

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1 ---Il1 5·34. Bairro do Pasteleiro - Porto. Plano dos serviços municipais de 1955 e vistos do bairro

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«planeamento. da «arquitectura»: o planeamento, que evolui da arte urbana para uma disciplina «científica. englobando outras disciplinas não espaciais (sociologia, econo­mia, geografia, ecologia, etc.), em igualdade com a arquitectura; a arquitectura, que se desvincula do desenho urbano e se centra nas questões do alojamento - céluJa ha­bitacional, unidade habitacional- e na projectação dos edifícios. Ao desenho urbano é cometida a tarefa de ordenar edifícios no território, orientando-se por critérios abs­tractos como a movimentação solar, a densidade, as distribuições funcionais, as infra­-estruturas... e desinteressandp-se de desenhar espaços urbanos.

A separação das duas disciplinas (urbanística e arquitectura) traduz-se na prática pela eliminação'do plataforma de integração da urbanística com a arquitectura, ou se­ja, a eliminação do desenho urbano ou da arte urbana.

Paralelamente, os instrumentos arquitect6nicos da ideologia moderna vão revefar­-se aptos a arrumar no territ6rio qualquer programa-e quaisquer funções - permitindo passar rapidamente do programa à construção dos edifrcios, vias, jardins, etc.

Mas o avolumar de questões vai fazer com que os arquitectos percam rapidamente terreno. Para já, os mestres do Movimento Moderno estavam mais preocupados com o desenho dos edifícios do que com o desenho do espaço urbano e lutavam para se im­porem aos antigos urbanistas académicos e aos seus planos de traçados, perspectivas e aguarelas, certamente não «científicos» face a sociologias, economias, demografias.

Por outro lado (repito), os arquitectos dos CIAM não tinham assim tanta experiência de realizações urbanas. Asua fé nas pr6prias ciências e disciplinas sociais, aliada ao «terrorismo» funcionalista, fazia-os admitir a primazia do programa (funções) sobre a forma - ou seja, que a cidade ficasse determinada nas instâncias socioecon6micas.

As técnicas de planeamento por sistemas independentes garantiam a coesão do produto final, arrumando esses sistemas no territ6rio, pela 16gica do funcionamento.

Nesta ordem de ideias, aarquitectura vai perder importância no planeamento por­que fica remetida ao final do processo - arrumando docilmente no territ6rio os dados da planificação socioecon6mica. Paralelamente, ao arquitecto (ou à arquitectura), que se responsabilizava pela imagem do produto final e visível do planeamento - a cida­de, o bairro ou o edifício -, seriam sempre cometidas as responsobilidades pelos erros, fracassos (ou êxitos) das operações de planeamento. Aarquitectura é assim acusada de todos os mal~s urbanos, catalisando a situa~ão em que se deixara enredar.

Enquanto isto, nas equipaspluridisciplinares, o arquitecto perde o comando como «maestro - chefe de orquestra., porque a estética, a arte urbana e o desenho vão ten­do pouco valor face aos «graves e sérios» problemas quantitativos, demográficos, so­ciais, etc.; e, mais ainda, quando a própria estética recomendava convictamente a subordinação das formas às funções, ou (o que vem a dar no mesmo) ao programa.

Nas equipas pluridisciplinares, o urbanista arquitecto iguala-se e nivela-se com ou­

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5·35. Tapiola. Helsínquia, 1952. Plano de uma unidade de vizinhança com centro local e visto aéreo

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tros técnicos, tornando-se aquele que, sabendo desenhar, está mais apto a formalizar e acabar os planos pondo no papel as decisões de outrem.

Neste contexto, o urbanista anula-se e integra-se como um simples técnico igual a tantos outros.

Recordo-me dos anos de formação em Aix-en-Provence (59) e das relações pluridisci­plinares entre estudantes e professores e do «terrorismo» cultural exercido pelas disci­plinas cientrficas e sociais. Os problemas de arquitectura eram secundarizados. Pouco importante era o traçado e o desenho perante a discussão exaustiva de questões como a reflexão sociológica ou os determinantes macroeconómicos...

Aimagem pública do arquitecto urbanista degrada-se também, não só por se res­ponsQbilizar pelo produto final do planeamento, como por tentar assumir. a pluridisci­plinaridade em detrimento da sua própria linguagem e metodologia. Saberá falar de questões urbanas, sociológicas, económicas, demográncas, mas esquecer-se-á do con­trib~to próprio do desenho. A anedota de «urbanista que é o arquitecto que não sabe des~nhar» reflecte o perfil dos arquitectos urbanistas desse período.

A URBANÍSTICA OPERACIONAL E O PLANEAMENTO BUROCRÁTICO

Por via da planificação económico-social, surgiria também a ideologia do «planea­mento flexível», que conduziria ainda mais à anulação da forma, que assim poderia mudar constantemente.

Aideologia do plano f1exrvel, de inspiração socioeconómica, conduzia a nunca con­siderar qualquer forma projectada como finita. Na prática, esta ideologia servia opti­mamente quer ao sistema burocrático de planeamento, permitindo à Administração mudar constantemente de objectivos e programas, quer à morfologia «moderna», sem­pre apta a modificações no traçado das vias ou na disposição dos volumes construídos.

A planta livre e o plan mosse abriam infindáveis possibilidades de modificação e adaptação das formas ao mesmo programa e no mesmo território. Explico-me. O mes­mo traçado viário admitia inúmeras disposições dos edifícios e vice-versa, sendo irrele­vante que um edifício se desviasse para a esquerda ou para a direita, ou que um largo cedesse o lugar a uma construção; que uma banda de ediffcios se fraccionasse em blo­cos; ou que dois blocos se fundissem numa torre. Ao cumprimento do plano, bastaria o respeito pelos parâmetros e variáveis funcionais e quantitativas.

Um tal sistema não exigia compromissos maiores de ordem espacial ou arquitectóni­ca, porque as partes constituintes não se estruturam através de um desenho rigoroso; gerador de relações, integração e encaixe recfproco entre ediffcios e espaços urbanos.

Operacional e flexfvel, o planeamento permitirá constantes modificações apenas

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5-36. Lúcio Costq; Plano de Brastlia, 1957. Esquema do concurso IPlano-piloto) e esquema re­

gional em 1976

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controladas burocraticamente. Aminha experiência tem-me permitido constatar o des­tino inexorável deste tipo de planos.

Tenho verificado que a livre e solta disposição de edifícios no terreno pode permitir 00 longo de anos uma infindável sucessao de hip6teses. Eque, no plano, se dissociam facilmente a realização das vias da realização dos ediffcios. O mesmo traçado viário e disposição dos edifícios admitem inúmeros arranjos decorrentes de compromissos fundiários e de oportunidade de invest~mentos ou de ajustamentos de toda a ordem. O plano contém em si mesmo a noção de «indisciplina».

Lembro-me, de nos anos sessenta trabalhar nulil ateli&r, colaborando na realização de um plano em Lisboa. Trabalhava-se em maqueta de pJasticina e todos os di,Os a solu.. ção sé reeonstrufa numa experimentação permanente de várias soluções. As' torres e volumes iam mudando de forma e local, na pro.cura do equiUbrio abstracto de uma composiçao estética e escultoricamente agradável.

Quando alguma solução parecia satisfazer os objectivos, era passada a desenhos em plantas, cortes e alçados e assim por diante.

Hoje não é diffcil reconhecer que a solução arquitectónica poderia ter sido outra qualquer. Os projectos que deveriam materializar os vários volumes certamente não ti­nham relações muito definidas e articuladas com o plano. Este não era arquitectura, mas um jogo abstracto de volumes.

As hipóteses de se controlar a forma deste tipo de urbanização são praticamente nulas, na medida em que os únicos parâmetros identificáveis são numéricos e abstrac­tos: densidade, número de fogos, parqueamento, equipamentos...

Acada nova situação, problema ou necessidade, tudo se pode alterar: é um ediffcio novo que se introduz, é uma propriedade que obriga a modificar os limites cadastrais, é umg ligação viária que deixa de se poder realizar, ou outra que se torna necessária, etc... Para tudo, existem sempre·«alternativas» (60). Ainda os planos não estão prontos, conclufdos e executados, e já se encontram abertos às mais variadas e «imaginativas» modificações. Aausência de uma disciplina desenhada com a clara definição do espa­ço e forma e a ausência de regras de desenho tornam-se um convite aberto às altera­ções, à especulação fundiária e imobiliária. o

Um tal sistema está em permanente movimento. Pode variar até à realização da obra. Permite jogos, acordos e substituições a quem controla a cidade. Por último, des­vincula a necessi~ade de aperfeiçoado controlo e fiscalização, e não exige grande re­quinte na realização.

Certamente que seria injusto pensar que estas consequências fossem sequer suspei­tadas pelos arquitectos modernos no seu entusiasmo e fé. Hoje à distância, pode-se fa­zer a constatação das repercussões produzidas pela má utilização e consumo fácil, e da flexibilidade do Plan Mosse, comandada burocraticamente.

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5·37. C. Van Esteren 1935. Urbanismo racionalista na Holanda. Cidade nova de Bil;mermeer­Amsferdam. Holanda, 100 000 habitantes

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5·38. Urbanismo operacional. Cidade nova de Mélun Sénarf. Região de Paris, 1973. Plano do primeiro bairro (Plessis·/e-Ro/)

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5·39. Fronkfurt·Am-Moin. Cidade norfe-oeste. Arq.O\ W. Schwagenscheidt, T. Sittman, Plenner e E. Haeke. Plano geral - esquema sectorial com a implantação dos blocos e vista aérea

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Nas mãos de gestores operacionais,-tecnocratas e aparentemente ceficazen, o pla­neamento tornou-se uma espécie de jogo de domin6 em que se acrescentam, tiram ou substituem peças, permitindo levar às suas últimas consequências o fazer da cidade por sistemas independentes, a que também correspondem, na organização burocrática da Administração, departamentos sectoriais e estanques.

O sistema viário é realizado pelo departamento de vias, com os seus engenheiros de tráfego e a sua lógica de fazer circular veículos rapidam.ente; o departamento esco­lar vai fazendo escolas onde encontra terrenos livres - geralmente nas periferias -, sem grande conexão com a organização urbana; o departamento de habitação cons­tr6i casas e bairros nas propr;edades que adquiriu, e assim por diante!. ..

Um tal sistema, que claramente desligava o planeamento da arquitectura, também facilment~ dispensaria os arquitectos. Qualquer técnico (que não arquitecto) se encon­tra apto a praticar as manipulações habilido!tas desta morfologia urbana, e, de resto, esta banalização do urbanismo ia de par com o desprestígio do arquitecto urbanista perante os contributos disciplinares socioecon6micos do planeamento.

Tratava-se e trata-se, sem dúvida, de uma perversão das ideias que os CIAM ti­nham sobre a cidade, e há que recC?nhecer que as propostas dos mestres modernos ha­viam oferecido, em contrapartida, grande qualidade arquitectónica nos edifícios. Ehá também que reconhecer que, ao apoderar-se do planeamento, a burocracia, sob a aparência da operacionalidade, o entregou às mãos do amadorismo, quando não da incompetência. Basta percorrer as periferias das cidades, para verificar in loco os resul­tados físico-espaciais desta «burocrática operacionalidade», ainda agravada .no caso português pela intervenção de projectistas menos qualificados e construtores menos es­crupulosos, e pelo desleixo urbano que caracteriza as nossas administrações munici­pais.

Assim, a urbanística operacional, burocrática, que nos últimos anos conduziu o or­denamento territorial, destruiu a forma urbana e, paralelamente, conduziu à crise ur­banística. Crise a todos os nrveis - programática, funcional e morfol6gica, gerando a perda de fé dos arquitectos e do público no urbanismo e numa cidade, sem espaços identificáveis e significantes, com tudo funcionalmente resolvido, mas insatisfat6rio.

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PARTE VI I

oNOVO URBANISMO

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«The city of today is primari/y aprivate city. Most of its open space, most of its transpor· 6.1 INTRODUÇÃOtation, most of its bui/dings, indeeá most of the forces that shape it are private, that is what makes recent urban design so note­worthy. Reasserting the primacy of public DO REPÚDIO DA CIDADE MODERNA AO NOVO URBA­space, pub/ic transportation, and the pub/ic NISMO interest, this work uses the traditiona/ e/e· ments of cities - streets, squares, and pro· As primeiras reacções contra a urbanística modernamenades - and organizes them in traditio­

surgem na década de sessenta, primeiro em termos teóri­na/ ways - a/ong datums, around axes, and within grids. The resu/t: pub/ic p/aces cos, conjugando diversos enfoques disciplinares, e só de­that are not iust the residue ofprivate deve· pois através de pesquisas sobre ambientes urbanos que /opment, but the dominant figures in the recriassem a variedade e a animação dos bairros anti­city. gos.«The ideas behind this approach to urban .

As posições de então resumem-se à recusa da cidadedesign are not new. They tap a rich vein of thought that runs from de 19th·Century ur­ moderna, ao diagnóstico e enumeração dos seus males, ban ana/yses of Camillo 5itte, through the à análise dos problemas de alguns bairros como Sarcel­early 2Oth-Century writings of Werner Ha· les (1) e à denúncia da pobreza formal e social das produ­gemenn, to the teachings of Co/in Rowe be· ções urbanísticas recentes. .ginning in the 1960s. What is new is the wi·

Acidade antiga é desde logo o termo de referência,despread acceptance of this approach among architects and ifs steady rea/ization exemplo de qualidades espaciais e de potencial de vida in bui/t form .• humana, como na crítica de Jane Jacobs, que parecia re­

propor o modelo das antigas aldeias italianas (2).lhe New Urban Design De início, a crítica teórica e a prática profissional an­THOM,A,sF,SHER

dam desfasadas: a crítica exerce-se sobre as realizações Artigo em Progressive Architecture, n. o3.88 recém-construídas e sobre a urbanística moderna, refe­

renciando e elogiando as cidades. antigas; a prática pro­fissional tenta reinventar e imaginar espaços e formas que contivessem o equivalente

.das qualidades e atributos dos espaços tradicionais. Outra série de acontecimentos iria evidenciar, nos"anos sessenta, a necessidade de

estratégias diferentes para o desenho da cidade: a crítica multidisciplinar contra a cons­trução em altura; a realização de conjuntos habitacionais de baixa altura, como a Sie­dlung Hallen (3); e/finalmente, a constatação da impossibilidade de se organizar a cida­de como objecto finito, culturalmente significante, onde a arquitectura interviesse a uma escala global. .

A crítica à construção em altura fez ressaltar inconvenientes vários, desde a segu­rança aos prejuízos psicológicos e sociais na população, nomeadamente na formação intelectual das crianças que habitavam longe do solo. Outras investigações demonstra­vam que, aumentando o perímetro das construções, se atingiam densidades elevadas

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sem quebra dos pressupostos económicos e da mais-valia fundiária. Por outro lado, os edifícios excessivamente altos introduziam nas cidades e nas paisagens transformações nem sempre desejáveis.

Aimpossibilidade de intervenção arquitectónica à escala gtobal da cidade criaria o descrédito nos grandes planos-directores e faria ressaltar a importância dos ambientes e espaços onde realmente vive o cidadão, remetendo progressivamente para o traba­lho de pormenor sobre a «forma urbana» e o desenho do espaço público.

Simultaneamente, arquitectos, sociólogos, outros profissionais, e a população em geral constatavam a probreza espacial, funcional e qualitativa das perUerias organiza­das pelo urbanismo operacional, sempre pouco criativo, e descobriam o desperdício do território e da paisagem e do seu potencial para fazer cidade.

Ligando-se a esta questão, estará a redescoberta, em meados dos anos sessenta, dos valores visuais e da imagem do espaço urbano em estudos de grande impacte: Gordon Cullen valoriza as sequências espaciais, a pequena escala e seus pormenores, desde os pavimentos ao mobiliário urbano, enquanto Kevin lynch e outros do M. /. T. apelam para o desenho da cidade, a fim de melhorarem a sua imagem visual. A«ima­gem da cidade», arredada das preocupações do urbanismo, reaparece no debate co­mo um objectivo determinante para o bem-estar intelectual e social dos cidadãos.

Esta atenção ao pormenor urbano e à imagem da cidade interliga-se com o interes­se que será consagrado à cidade histórica, cujos centros comprovavam um potencial inequívoco para a utilização social e a vida colectiva. Acidade antiga deixa de ser en­carada como um território insalubre de «ruas-corredor», mero campo de renovação ur­bana e imobiliária, passando a ser um bem precioso, insubstituível e de grande valor. Este processo teve um marco importante na destruição da Maison du Peuple de Victor Horta, em Bruxelas, e dos pavilhões Baltard, nas Halles, em Paris, que em grande polé­mica demonstrariam os equivocos e a selvajaria dos renovações urbanas gratuitas.

Também na década de sessenta surge um importante contributo provindo da inves­tigação italiana nas escolas de Milão e Veneza, envolvidas com o movimento que se de­nominaria de Tendenza. Refiro-me a Rossi e outros arquitectos, como Aymonino, Cera­si, Grassi e Gregotti e o próprio Tafuri (4), em trabalhos como a Arquitectura da Cidade, os famosos Rapporti tra la Morfologia Urbana e Tipologia Edilizia, O Território da Ar­quitectura e num~rosas investigações sobre cidades italianas (cujas conclusões eram fa­cilmente extensíveis às cidades europeias), sobre as polrticas de conservação e restauro como em Bolonha (S) e sobre a integração formal entre as periferias e os centros urba­nos. No seu conjunto, a produção italiana desse período contribuiria fortemente para chamar a atenção para a cidade histórica, para a presença da arquitectura no dese­nho da cidade e a reabilitação das formas urbanas tradicionais. Contribuiria também para a redescoberta de autores da urbanística formal e da geografia urbana, como

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Poete, Lavedan e Tricart; para a demonstração das contradições do funcionalismo in­génuo e primário e, finalmente, para a abertura de um campo estruturado para o de­senho da cidade onde se recolocasse a integração da arquitectura e da urbanlstica.

Um pouco posteriormente aos movimentos italianos, os trabalhos da escola de Bru­xelas, comandados por Maurice Culot, ou a produção dos irmãos Krier, atingem um re­vivalismo obcecado pela cidade antiga. Robert Krier (6) inicia, no prindpio dos anos setenta, a cruzada pela cidade tradicional europeia etal como se ia formando no sécu­lo XIX., com a qual se propõe reatar a continuidade morfológica. O seu irmão Léon e a escola de Bruxelas, com Maurice Culot, exarcebam o regresso ao passado, repropon­do os materiais tradicionais na construção, repudiàndo o automóvel, luxo desnecessá­rio face ao equilíbrio funcional da cidade, numa utopia social qJe renuncia à industria­lização e imagina a população feliz no seu bairro, entregue a tarefas artesanais...

A escola de Bruxelas organiza um intenso debate, realiza contraprojedos, envolve­-se em lutas urbanas nas zonas mais ameaçadas da capital belga, defendendo com mis­ticismo as suas ideias e divulgando-as nos Archives d'Architedure Moderne. Num dos congressos, é declarada por Fernando Montes a frase polémica: .A única maneira de permanecermos modernos é aplicarmos à arquitectura moderna o mesmo tratamento que esta aplicou à arquitectura académica. (7), ou seja, a sua supressão pura e simplesl

É este o perlodo mais vivo de contestação à cidade moderna, que culminará em 1980, na Bienal de Veneza, que integrava pela primeira vez uma secção de arquitec­tura. Sob o signo da Presença do Passado, a grande atracção seria a Strada Novíssi­ma, uma rua em que as fachadas eram projedadas pelos arquitectos convidados.

Esta crua» simbolizava o conteúdo programático e ideológico da mostra, enquanto as fachadas pretendiam, no traço e fantasia dos seus autores, afirmar a libertação esté­tica face à pureza moderna, e ao estilo internacional e a abertura ao contextualismo e ao reencontro com a História.

No mesmo período, o crítico Charles Jencks descrevia a morte da arquitectura mo­derna com a aparatosa demolição do bairro de Pruitt Ig08, de Minoru Yamasaki, «ocorrida às quinze horas e trinta e dois minutos dEI tarde de 15 de Julho de 1972. (8),

após a acusação comprovada de o desenho do bairro ser responsável pelos problemas sociais e morais da sua população. Ultrapassando a anedota bem humorada de Jencks, este acont~cimento paradigmático reconhecia as incidências da forma urbana no ambiente social e moral dos cidadãos.

De facto é no início da década de setenta que a urbanística moderna, já gravemen­te ferida, começaria mesmo a «morrer».

Nessa mesma década, surgia a designação de «arquitectura pós-moderna», inter­ligando-se aos movimentos filosóficos e estéticos em outras áreas do pensamento, co­mo oposição à cultura moderna. Tal designação foi rapidamente absorvida pelos

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meios crrticos e profissionais para abranger um conjunto de manifestações diferentes na arquitectura, mas com um pólo comum: a recusa da cidade moderna.

As arquitecturas «pós-modernas», que se desenvolveram a partir dos anos setenta, acabariam na utilização esclerosada de feitios clássicos - arcos, frontões, colunas, ja­nelas, quadrados, etc. -, pervertendo e banalizando os manifestos iniciais.

Aquilo que num primeiro tempo fora uma revigorante oposição iria cair em fórmu­las de utilização fácil ou de «pronto a vestir» que se traduziriam no desenho-urbano, pe­la utilização indiscriminada de ruas, quarteirões e praças, por vezes com inconsistente avaliação dos pressupostos culturais e funcionais, tomando o «feitio» pela forma, sem o seu conteúdol

Hoje, fazendo óbalanço ao que se designou de «pós-modernismo», verifica-se a se­dimentação de alguns vectores no projecto arquitectónico, como a recuperação do prazer sensorial da arquitectura e do espaço urbano, a reintrodução da figuração e a utilização de valores que haviam sido banidos, como a simetria, a cor, a «complexida­de e a contradição» (9). O «pós-modernismo» permitiu, sobretudo aos arquitectos mais jovens, afirmarem-se no campo projectual e superarem a contradição e antagonismo entre a tradição e o contemporâneo.

Neste ambiente de crítica là cidade moderna, a recuperação do passado parece ter sido a tónica dominante.

Éassim que arquitectos proeminentes, estudantes de arquitectura e tantos outros profissionais voltaram a projectar ruas, quarteirões, praças e contínuos construídos.

Esta questqo leva-me a pensar que o principal denominador comum das várias ten­dências que têm cruzado o panorama arquitectónico nos últimos vinte anos será justa­mente a mudança radical de atitude nas relações -entre arquitectura ecidade, e no mo­do como os programas e edificações se inserem no tecido urbano. Tal aspecto é, sem dÚvida, muito mais importante do que questões superficiais, como feitios, linguagens ou estilos (lO), que se têm sucedido de ano para ano ou de autor para autor. Terá sido nesta área que o pensamento e a teoria arquitectónica mais evoluíram e em bases cultural­mente mais sólidas, sendo mais promissores os resultados obtidos.

Este entendimento do urbanismo vai de par com as abert\lras contextualistas, histo­ricistas, revivalistas, ou pela recusa das relações primárias entre a forma e função (com a subalternização da primeira), conferindo grande importância às preexistências, ao património e à História na gestação do projecto.

Estas linhas de força significam uma «maneira diferente de pensar a arquitectura e o urbanismo», que rotularia de «Novo Urbanismo» (11), em antítese com a designação de «Urbanismo Moderno», e que paradoxalmente retoma o percurso da «Urbanística For­mai», interrompido vai para cinquenta anos.

Terá sido a generalização até à banalidade da «urbanística operacional» e a obser­

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vação dos seus resultados que constituiu (como tentarei demonstrar) o melhor caldo cultural para a crítica ao «Urbanismo Moderno» e a gestação do «Novo Urbanismo».

Os postulados do Movimento Moderno, que produziram as piores perversões da urbanística operacional, foram denunciados e abandonados: a orientação solar, na disposição dos edifícios; a livre disposição de torres e blocos segundo abstractos plans mosse; a separação funcional dos programas e o zonamento da cidade; a hierarquiza­ção do tráfego e a separação por níveis entre o peão e os automóveis, e assim por diante, atingindo toda a vulgata da urbanística dos anos cinquenta-sessenta.

Todavia, assim como o Movimento Moderno havia condenado a «rua-corredor» e o quarteirão sem uma análise profunda das suas particularidades e relações com a cida­de, os primeiros repúdios da Cidade Moderna provieram também de uma reacção emotiva e de um reencontro também emotivo com a cidade antiga e a História.

As referências à cidad~ barroca-oitocentista assumidas nos anos setenta deveriam ser questionadas, na medida em que induziram à perda de valores, como a insolação dos alojamentos, a generosidade dos espaços livres e outros contributos modernos. Everifica-se, em contrapartida, a banal repetição da nova vulgata morfológica, em qualquer situaçãc., seja habitação social, complexo turístico ou centro cultural, modelos de ruas, quarteirõE s e praças para «todo o terreno». Muitas propostas de desenho ur­bano dos anos setenta-oitenta parecem ter saído dos carvões de Nash ou de Eugénio dos Santos. Parecem os arquitectos vestir roupagens dos seus antecessores barrocos ou do barão Haussmann, ao seguirem sem reflexão os modelos dessas épocas.

Estas reacções foram mais apaixonadas que racionais e por vezes faltou-lhes um su­porte cultural mais sólido. Com o tempo, viriam a sofrer inevitável desgaste.

Tiveram, apesar de tudo, um papel importante nas novas atitudes para com a cida­de, o urbanismo e o desenho urbano.

Neste debate, sinto a necessidade de retomar o percurso da «urbanística formal» no ponto em que esta havia sido interrompida e atrevo-me a pensar que a nossa formação pode enfermar de lacunas e omissões semelhantes às demonstradas pelos arquitectos modernos. Estaremos a seguir docilmente a boutade de Fernando Montes {121i. ..

Não me parece tão neéessário recuar no tempo até à cidade do século XVIII ou XIX, quando dispomos de modelos mais recentes que, em tantos casos, darão melhores res­postas. Eserá necessário promover os debates sobre a Urbanística Formal, que lhe possibilite servir de reflexão para o desenho urbano contemporâneo!

O «Novo Urbanismo» significa, antes do mais, a contestação à urbanística opera­cional burocrática e às suas formas, procurando novos caminhos no desenho da cidade.

Esta procura atingiu hoje um patamar rico de ideias e propostas, a que não faltam também algumas contradições.

O Novo Urbanismo encaminha-se para uma posição mais ecléctica e com maior

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abertura aos contributos da História, mesmo os mais recentes, aí incluindo a reavalia­ção do moderno.

Muito haverá a esperar de experimentações realizadas desde os modelos de qualifi­cação da cidade no ISA, em Berlim, a planos como em Madrid, Barcelona e o~tros aglomerados, algumas realizações francesas, como a ZAC Guilleminot-Vercin­getorix, ou experiências nacionais, e, finalmente, a prática de concursos para conjun­tos urbanos, que têm estimulado a criatividade e a inovação.

Neste leque de soluções, tem sido evidente a influência das relações morfológicas presentes na cidade tradicional - o que distingue claramente o Novo Urbanismo do Urbanismo Moderno, e mais ainda do urbanismo burocrático e operacional.

Não se pode conceber do nada e não se pode desenhar a cidade só a partir da ima­ginação fervilhante. Acultura urbana e o conhecimento dos modelos e tipologias dis­poníveis são também muito importantes.

Chegado a este ponto, e antecedendo as conclusões que preferiria remeter para a última parte, ocorre-me questionar quais os materiais, instrumentos e métodos culturais hoje presentes no estirador para o exercício do desenho urbano.

Em primeiro lugar, há que reconhecer que o entendimento actual da cidade é dife­rente das crenças e das atitudes modernas. Nos países e meios em que a cultura urbana e arquitectónica tem evoluído com mais vitalidade e sensibilidade, existe de novo a con­vicção de que a urbanística e o desenho urbano poderão (e deverão) ser as disciplinas de reconciliação do homem com a cidade, capazes de produzir ambientes de grande qualidade, esteticamente estimulantes e acolhedores das actividades humanas. Nesta óptica, a urbanística e o desenho urbano readquirem o papel que tiveram no passado.

Por outras palavras, parece existir de novo a fé e capacidade de a FORMA URBA­NA contribuir a vários níveis para a qualidade de vida dos cidadãos, recuperando as relações morfológicas que haviam caracterizado a cidade tradicional.

No seu conjunto, os programas que têm alimentado o debate teórico, o ensino e a prática profissional mais evidente podem agrupar-se em dois vectores principais:

• o interesse pela cidade antiga, sua preservação, conservação, restauro e revitaliza­ção, entendendo-a e recuperando-a na sua integridade física, funcional e social;

• a reavaliação das relações morfológicas existentes na cidade tradicional para o de­senho do crescimento e expansão ou para as intervenções no seu interior.

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6.2 AS CRÍTICAS TEÓRICAS À CIDADE MODERNA

A forma de bairros e cidades tem implicações profundas na vida e comportamento dos habitantes. Esta verdade hoje tão evidente levou anos a estruturar-se desde os pri­meiros estudos de Perry, Stein, Park e Burgess sobre a vida nas cidades americanas (13).

Será pelo estudo dos comportamentos que se manifestarão as primeiras críticas con· tra o urbanismo moderno. Sarcelles, em França (\.4), foi o campo de batalha contra os grands ensembles e as urbanizações modernas, o exemplo do que não se devia fazer: Neurastenia, delinquência juvenil, crimes e prostituição, um enorme tédio e isolamento social da população, tais eram, entre outros, os resultados de um bairro-dormitório iso­lado, longe do centro de Paris, com edifícios repetitivos e espaços urbanos residuais. O caso de Sarcelles correu mundo, exemplificando os tristes resultados sociais e psico­lógicos da urbanística operacional moderna.

A análise sociológica do comportamento dos habitantes nas novas urbanizações foi um tema forte nos anos cinquenta-sessenta e produziu interessantes estudos que contri· buíram para a procura de outras soluções.

Neste contexto, situaria as críticas contra Le Corbusier - talvez as mais apaixona­das -, pelo que o mestre constituía de fácil alvo. Le Corbusier, que havia procurado a polémica e o confronto, tornou-se, a partir dos anos 60, o bode expiatório. Criticá-lo era como que uma profissão de fé para o urbanista e arquitecto «bem informado».

Assim, de Sarcelles até ao excelente trabalho sobre Pessac (15), foram produzidas importantes reflexões sobre o urbanismo moderno, Le Corbusier e a Carta de Atenas.

PIERRE FRANCASTEL E HENRI LEFEBVRE

P. Francastel é um dos primeiros que, já em 1956, combate o urbanismo contemporâ­neo ao criticar a obra de Le Corbusier: cO universo de Le Corbusier é um universo con­centracionário. No melhor será um ghetto Ninguém tem o direito de construir à força a felicidade do seu vizinho. A isso chama-se Inquisiçãp... Um conjunto de células forma uma unidade de habitação. Várias unidades de habitação formam uma cidade. Várias ci­dades, um mundo. Cada um tem o seu lugar e aí fica assignado, e todos são felizes... No fundo de todas as construções lógicas, o que triunfa não éde modo algum... a ordem na· tura/, é o sistema militar, a caserna, forma privilegiada da vida comunitária que supõe o abandono da alma entre as mãos daqueles que estão encarregados da ordem colectiva das sãs distracções e da vida ao ar livre. A caserna, os claustros, os campos, as prisões,

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os falanstérios... Le Corbusier 13ertence à estirpe dos que, através dos tempos, quíseram fazer a felicidade dos outros, mesmo quando à custa da sua liberdade...»(16)

Acrítica de Francastel constitui o inrcio das manifestações que centram numa primeira fase o dilema entre caos ou ordem, contrapondo as vivências de bairros mais ou menos espontâneos, mais ou menos orgânicos, desde a favela até às habitações marginais e clandestinas, à fria racionalidade e falta de calor humano dos bairros planificados ope­racionalmente.

Cruzando-se com esta questão, surgem na América as correntes partidórias da não ,intervenção, defendendo a necessidade de limitar ao máximo o controlo dos planos de urbanismo (17). Estas posições norte-americanas contrapunham-se ao outro extremo - a intervenção total essencialmente sustentada nos países socialistas, de economia planifica­da. Esta discussão incidia também no planeamento territorial, de base económica, social e industrial. Representava, em primeira análise, a confrontação do liberalismo e do lais­sez faire contra a planificação, em todos os níveis urbanísticos. Entre o bairro «espontâ­neo», certamente desordenado, caótico, mas pleno de vida, de contactos sociais e valo­res humanos, e o grand ensemble ordenado, em que tudo estó arranjado, no seu lugar, mas os habitantes se sentem desenraizados, incapazes de se apropriarem do espaço e identificarem com o lugar, o contraste é enorme e motivador de críticas acesas ao urba­nismo como imposição de uma ordem autocrática e redutora dos habitantes.

Esté:1 questão de fundo irá seguidamente deslocar-se para o campo da morfologia e do desenho urbano. Autores como Henri Lefebvre, Jane Jacobs e Christopher Alexan­der, embora por vias diferentes, abordam os mesmos problemas.

Henri Lefebvre compara a cidade tradicional face aos resultados do urbanismo mo­derno. Num artigo publicado na revista Architecture d'Au;ourd'hui, em 1966(18), defen­de a restituição da rua como espaço da vida social - a circulação, as trocas, os encon­tros, a animação. Por esta análise sociológica, chega à denúncia das urbanizações mo­dernas e o seu discurso alarga-se à cidade como o campo da acção social dos grupos, das classes, dos poderes. Cada sociedade «segrega» ou produz (19) o espaço que lhe é próprio, de que necessita para as suas práticas sociais e que a reflecte.

ELefebvre demonstra o desfasamento entre o espaço contemporâneo e as práticas sociais que nele não se conseguem processar. Acrítica de Lefebvre entronca directamen­te nas questões d~ desenho urbano.

JANEJACOBS A MORTE E A VIDA NAS GRANDES CIDADES AMERICANAS

Publicado em Nova Iorque, em 1961, AMorte e a Vida das Grandes Cidades Ameri­canas (201, de Jane Jacobs, tornou-se rapidamente um clássico da crítica urbanística.

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6-1. Sarcelles - Grand ensemble da região de Paris. Vista do décimo quinto andar de uma torre - 1966

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Jane Jacobs tenta demonstrar que a «pseudociência da construção das cidades» se baseia sobre dados políticos, abstractos, não demonstráveis e cuja aplicação traduzida pela supressão da rua tradicional, bordejada de habitações, lojas, bares e restaurantes, produz nefastas consequências para os habitantes.

Tais ruas seriam o lugar primordial para os contactos sociais quotidianos. Os pas­seios, vigiados pelos vizinhos e pelos transeuntes, formariam espaços de jogos para as crianças melhor adaptados que os espaços verdes e os squares públicos. Bastariam pas­seios com 10 a.12 metros de largura para todas as actividades infantis, a arborização, o trânsito pedonal, e-a vida social dos adultos. Poucos passeios teriam tal largura, sendo portanto inadequados. Em contrapartida, afirma que é nos parques públicos, sem con­traio social, que se nota a maior incidência da delinquência juvenil.

Jacobs combate também as ideias de E. Howard, Pattrick Gueddes e Mumford (21 1, co­mo a .Cidade-Jardim» e as baixas densidades com grandes espaços verdes.

Para Jacobs, o verde público (no urbanismo moderno) é um vazio nocivo no meio dos edificios. De igual modo, os centros sociais estragam as relações sociais, as diferentes ac­tividades e o clima humano no bairro.

Anecessidade principal das grandes cidades reside, para Jane Jacobs, na mistura de funções. Os urbanistas cometem grandes erros querendo tudo prever com antecipação. Na rua, no bairro, na cidade, na metrópole ou na região, a integração de várias funções é de enorme importância, porque formo um organismo social e económico.

tA critica da Jacobs é excelente (refere Alexander), mas, quando se lêem as suas pro­postas concretas, tem-se a impressão de que o autor deseja que a grande cidade moder­na seja uma mistura de Greenwich Vil/age com uma pequena cidade italiana alcandora­da numa colina e cheia de casas com fachadas estreitas e pessoas sentadas na rua.» (22)

As propostas de Jacobs não contêm o mesmo valor e densidade da sua crítica. Enem seria esse o seu propósito, mas antes o de criticar os erros do urbanismo moderno, denunciando os seus maiores pecados: a supressão da rua e da praça, como entidades espaciais com conteúdo próprios.

Jacobs demonstraria também o efeito redutor da extensão das periferias e subúrbios, sem forma nem estrutura, nem locais de estímulo à vida social.

Jane Jacobs aproximava-se das questões da morfologia urbana e dava um dos pri­meiros passos no sentido de recuperação das formas tradicionais do urbanismo. Alguma coisa ficaria deste sinal de alarme!

ALEXANDER - «A CIDADE NÃO É UMA ÁRVORE»

Pequeno texto, de meia dúzia de páginas, publicado na Architectural Forum e tra­duzido na maior parte das revistas de arquitectura (23), obteve o prémio da Kaufmann

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International Design Award, em 1965. Constituiu um dos mais importantes contributos para a crítica do funcionalismo e da cidade moderna.

Alexander começa por distinguir entre cidades «naturais» e «artificiais.: as primei­ras, crescendo «espontaneamente.; as segundas, sendo criadas por plano ou projecto. Entre as primeiras, contar-se-iam Sienna ou Monhattan, e, entre as segundas, Chandi­gard ou as cidades novas brit6nicas. As cidades artificiais (e os bairros planificados) compõem-se de unidades distintas, segundo o modelo em «árvore•. Nas cidades natu­rais, os diferentes elementos do conjunto interpenetram-se reciprocamente.

Analisando muitos planos conhecidos, Alexander demonstra o erro comum: a sua total artificialidade, contrária à Natureza.

Na cidade «natural., a população vive ligada aos diferentes bairros por laços di­versos: habitação, trabalho, convívio, relações sociais e outros. Asubdivisão da cidade em unidades distintas como, por exemplo, na unidade de vizinhança impõe aos habi­tantes uma disciplina rígida, impedindo a criação de tais laços.

Alexander contesta também a «obrigatória separação entre peões e automóveis, quando, em boa verdade, os dois tráfegos se deviam interligar•. Acrítica de Alexander ataca mais os grandes dogmas do urbanismo moderno, que as questões de desenho ur­bano. ,A Cidade Não t Uma ArvoreI não é porém um texto isolado. Em trabalhos an­teriores, como Comunidade e Privacidade (74), ou posteriores, como Urbanismo e Parti­cipação (75), utilizando a observação de comportamentos e um conjunto de regras de evidente justeza, Alexander critica o urbanismo moderno, «liquidando. Le Corbusier e a Carta de Atenas, o Funcionalismo, o Zonamento e a Unidade de Vizinhança.

Paradoxalmente, a crítica de Alexander a Jane Jacobs aplica-se-Ihe também. Ale­xander não apontou nenhum método explícito de como se devia organizar a cidade. Talvez nem esta questão tivesse razão de serl Tanto num caso como no outro, os alvos são os conceitos e os ideias. Acada um, a interpretação próprio e a utilização que pu­der realizar. No mais, os exemplos de cidades espontâneas ou naturais, como a de Sienna, em boa verdade não o foram. A Praça do Campo obedeceu também a planos cujo pormenor descia a igualizar a forma das janelas. Ejá previa (600 anos antes da Carta de Atenas) a separação entre peões e veiculos através de umo via de que desvia­va o tráfego rodado da Praça...

E as três praças de Sienna (Catedral, Campo e Mercado) desempenhavam cada qual as suas funções específicas e diferentes...

Todavia o interesse da critica de Alexander não pode ser examinado pela busca de um método de projectar, mas, principalmente, pelo enfoque sobre «verdades» que pa­reciam inquestionáveis.

Crítica perturbadora, na medida em que o sistema «árvore» é fácil de aprender pela inteligência humana, contém regras esquemáticas, facilmente utilizáveis e repetíveis.

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Ao demolir tal sistema e entender a cidade como «retrcula ou grelha», Alexander lança a complexidade onde tudo parecia simples e confortavelmente adquirido.

As suas ideias induziram diferentes concepções do desenho da cidade. Por várias razões. A primeira, questiona o funcionalismo e os seus corolários morfológicos. Se a cidade não pode ser arrumada por zonamentos funcionais, a forma também não segui­rá a função de modo linear e unívoco, permitindo-se maior riqueza e diversidade formal-funcional. A segunda, nega a organização da cidade em unidades de vizinhan­ça - logo induz ao abandono de valores sólidos do urbanismo moderno.

O próprio Alexander refere a importância de ainda não se ter conseguido dar ex­pressão física à estrutura em semi-retícula.

«Porque os designers, limitados como estão pela sua capacidade mental de organi­zar estruturas acessíveis intuitivamente, não podem abranger a complexidade de uma semi-retícula num só acto mental. (...) A estrutura «árvore» é mentalmente acessível e facilmente manejável. A semi-retrcula é difícil de reter como imagem mental e, portan­to, difícil de manejar. (...) O trabalho de tentar compreender qual a forma de intersec­ção que a cidade moderna requer e tentar exprimi-Ia em termos físicos e plásticos está ainda em processo.» (26)

No entanto, está por demonstrar que a realidade física que Alexander pretendia para o sistema «árvore» ainda não foi encontrada, e se não a podemos assimilar a mui­tas estruturas urbanas tradicionais. Uma questão parece evidente: «a maneira de pen­sar o urbanismo» mudava com Alexander.

A aproximação à cidade tradicional e aos seus espaços seria o passo seguinte, con­sequência lógica, porque a semi-retícula se encontrava nos esquemas urbanos tradicio­nais, onde Alexander encontrava inúmeras virtudes.

A Cidade Não ÉUma Arvore foi, e ainda é, um texto importante pela pertinência do tema e ideias e pela síntese de meios como se exprimiu. Constituiu um momento bri­lhante do pensamento urbanístico contemporâneo.

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6.3 (RE)LEITURA VISUAL E ESTÉTICA 00 ESPAÇO ESPAÇO URBANO

GORDON CULLEN

A MORFOLOGIA E A IMAGEM À ESCALA DA RUA

Em 1963, aparece na Architectura/ Review um conjunto de artigos de G. Cullen, G. Nairn e Ivor de Wolfe intitulados Outrage e Counter Attack, que, em 1966, seriam reunidos e desenvolvidos num livro: Townscape (27). Segue-se outra publicação, mais restritiva no tema e menos ambiciosa na metodologia - «Italian Townscape» (28) -, que constituía também uma observação minuciosa da paisagem das cidades históricas ita­lianas para lá do olhar superficial e tudstico.

Cul/en reage contra os estragos causados nos centros históricos pelas transforma­ções da vida moderna: invasão indiscriminada do automóvel, saturação de «elementos parasitários» (29) que a cidade não conseguia «digerir. e falta de cuidado estético no de­senho dos novos objectos e construções que iam povoando as cidades.

Desde logo, apoia-se quase totalmente em elementos colhidos na urbanística ant~­rior à primeira guerra. Atitude clara que se alia de imediato à crítica da urbanística operacional, onde Cul/en não consegue encontrar a escala humana e acolhedora que procura.

Cullen é, de certa maneira, um continuador de Camillo Sitte, quer pelo modo como lê a cidade - à pequena escala ou à «escala do pitoresco» - quer pelos exemplos que escolhe, distanciando-se claramente dos sistemas reticulados mais racionalistas e prefe­rindo (pelo menos na aparência) a cidade orgânica medieval. Pretende, em primeiro lugar, demonstrar a possibilidade de emoção estética pela vivência da cidade - a exis­tência de um «drama. nos factos urbanos sedimentados no tempo. O ambiente provo­ca uma reacção emocional no homem por três vias: a óptica, o lugar e o conteúdo, e aponta uma das finalidades da urbanística: o «de manipular os elementos de uma cida­de de modo a provocarem impacte nas nossas emoções•.

Éum enunciado antifuncionalista que dá corpo à possibilidade de trabalhar na ci­dade com objectivos diferentes da simples organização das actividades.

As categorias espaciais de Cul/en (visão, lugar, conteúdo) desdobram-se em subca­tegorias ou múltiplas categorias (morfológicas) do espaço urbano, nos seus aspectos de complexidade, acumulação e matéria: a cor, a textura de edifícios, paredes e pavimen­tos, os pormenores construtivos, os elementos vegetais (da árvore às flores), o mobiliá­

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rio ulbano (do banto de jardim ao canchteiro ou ao poste de sinali%oção)1 ou até ti ea(­qui_dOra parasitáriat como os elementos postiços, apostos e colados aos édiftcios.

Todos estes elementos adquirem nova valorização como resultado ao sedimentação dos factos urbanos, portanto, valorização estético.

Esta última qoestao dominaró o trabalho pelas referências constantes aos efeitos es­padais originados pelo acuso. Mos, para Cunen, o acaso resulta de um sóbio e pacien­te trabalho durontt! Qt\o$sobrea éstrutura urbana e a sva aparência visual.

 pêquena escala ou dimen:sao sectorial, cuio universo é a ruo, ê revalorizada co­mo (i êScalohumana por excelência, em que a cidade se oferece nas suas portiC\Jlarido­des e riq\J9%<Js,. O movimento sequencial evidencia a cretfculo. de relações formais eo pohtn<:iCli simbólico que todo o elemento arquitectónico estabelece com o contexto ur· bano em qu' se insere e com os outros elementos arquitectónicos que o envolvem.

O Townscope actuou desde logo em gerações de arquitéctos ensinando-lhes a olhar a cidade, campo ines-gotóvel da aprendizagem profissional.

foi um manifesto contro a simplificação func::ionalisto e racionalista -ingénuo., exemplifltondo que Q fonno tem razões mbis profundos e complexos que Q simpl&s res­posto funtionot.

ContribiJiu também para o movimento de recuperação da História e dos tn,sino~

mento' do passado, que influenciariam decididamente os conceitos de património his­ ...... tórico e arquitectónico; 0'0 demonstrar que mesmo as realizações modestas são verda­deiros l1ç6és na cidade antiga. Por esta via, O'S elisinQ",ento~ do História e do passado podfam r~greuar nos -estiradores dos orqUittttO'Si de onde nunto deviam tw sardol

Pata aprender 'CI projectar, há primeiro que aprender a ler 'Q cidade. Hoje, a nossa fonnoç60 de arquitectos muito dé'(e Q ~sse livro e aos $eus beUsslmosdesenhos.

LYNCH E A IMAGEM DA CIDADE

Hoie um dós$i(:o, 'Thê Imagem of The City foi um trabalho tão inovador, provocató­rio, como fetmen'to de importante reflexão {30I. •

Cértomente que os orquittttos e os urbt2ni1tos nnham obrigoçõo de saber \) qut lynch diz. E, se já nõo sabiam nos Qnos sessento1 rinhatn sabtdo, e bem" no passado. Mos Lynch sistematizo e torno «cientIficolt o que antes seria empJrico esubiectivo. Aporte mois rejevante do seu trabalho refere-se à demonstração do interesse que p'ara os cidadãos constitui Q imagem do cidade, alargando tal intem.se para fora do campo proflssional: a imagem é ,determinante para o comportamento social e psicológico dos habitantM. Mais, lynch demonstro a existência de uma «imagem (olectiva. - denomi· nador comum das inúmeras imagens pessoais de cada habitante - 8 estabelece os mé­

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o pelC'lIfSO de 1llJ\ U.lre.fl1Q. ~ OVIro da pJ.n1a. a pasSQ "ni~nnt. fevcla um.- suc<sslo de. PQnIQ$ c1:e vista, conforme. ~'C! proçura e~(llIpli~ar "rav~s ~sla ~rie ~ de~Í1hçs (~i4-$C ~a e5q,,~!da p.ara a 4irei1a,. N, pJanla., ça4a seta repre~nta um ponlQ ~c visl•. A. pnl8ressjQ uoí(QOI1e do camjnl\a.nte va! $e.ndo poIlluada. por· Ilm.a ~rie 4e <:t)ntraSles slÍb.ilOs qII.c Itm ~flInde impacl\l visual, dia vida 110 pelt\l.fSQ (corno a leve <:Qlovelalil que S.e 4. aQ vi~inlJo que ~$\4 p,RS\es a ado~cer na misu). OS l1It\lS ~senhos nlo c~st!Qn~m ~ local illdiqdo n. planta ~ c$CEllh\..a plRjlle me pareceu ~Ianle. sllle~liva, Re~·~ que. os. m.fnim<!l tles\/ios 10

alinha""nto.• as pequc:nl$ \/l(ia.çõcs, nu $l1~IIcias eret!llfin.c:i-.s. em planla, I~.m um eJeit.ll drarnjljco n~ proportiQflal lia le.~in

~illlC!lsào.

6.2. Gordon (allen: Townscope. Análise da visão serial num pequeno percurso

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6-3. Kevin lynch: Imagem da Cidade, Ilustrações dos propósitos do texto de K, lynch

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todos para que estas preocupações se inscrevam na prática urbanística, estabelecendo a dialéctica entre a «imagem» que o arquitecto procura e as «imagens» que os habitan­tes percebem. Lynch, ao contrário de Cullen, opera à grande escala e estabelece inter­ligações entre elementos maiores e menores, e os canais de correspondências entre imagens e comportamento urbano.

A tese de Lynch evidencia a importância da imagem como elemento da concepção urbanística e como antítese funcionalista, uma vez que pode ser determinada por facto­res diversos da correspondência da forma à função. AImagem da Cidade e outro tra­balho - The View From The Road - constituíram a seu tempo um contributo perturba­dor para a «consciência tranquila» dos arquitectos urbanistas. A «imagem», durante muito tempo arredada das suas preocupações, voltava a constituir um campo autóno­mo de investigação e decisões.

A demonstração das teses de Lynch, apoiadas em inquéritos sociológicos, e os dese­nhos sintéticos, mas muito expressivos, conferem ao trabalho a respeitabilidade e serie­dade que não teria um simples enunciado de ideias ou experiências pessoais.

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6-4. Atelier 5 (E. Fritz, S. Gerder, R. Hesterberger, H. Hostetler, N. Motgentholer, A. Pirini). Siedlung; Hallen. Berna, 1957. éorte, plano e Visto aérea

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6.4 REALIZAÇÕES DIFERENTES EEXPERIMENTAÇÕES NOS ANOS SESSENTA

Passado o dramático perlodo da reconstrução maciça das destruições da guerra, vão surgir na Europa alguns projectos e realizações que questionam os dogmas do ur­banismo moderno e se interligam com as crrticas referidas anteriormente.

Tais experiências são realizadas por alguns arquitectos mais inquietos e inconforma­dos e surgem nas oportunidades dos grandes trabalhos que lhes são oferecidos.

Anoto também a necessidade de procurar o discurso desses autores. Em suas ideias, que (como sempre) existiram primeiro do que o traçado, pode-se encontrar a vontade de romper com a uniformidade e banalidade da urbanrstica dos anos sessenta. Mesmo quando tais ideias saem empobrecidas pela dificuldade de encontrar as formas mais adequadas, sente-se o vontade de experimentar diferentes modelos, abandonando e corrigindo os excessos e errOs da cidade moderna, dos CIAM e da Carta de Atenas. Çomo anotei no capítulo próprio, o próprio debate interno dos CIAM conduziria à sua autocrrtica e desagregação. Recordo também que, nos anos sessenta, a denúncia da rue corridor estava ainda muito viva e os arquitectos não desacreditavam totalmente nos postulados irrefutáveis do urbanismo nem nas possibilidades formais e tecnológicas oferecidas pelo grande desenvolvimento económico.

As primeiras tentativas de inovação no desenho urbano surgem aproveitando as oportunidades de realizações de obras. Alguns exemplos me pareceram mais significa­tivos, começando por um pequeno conjunto -- a Sied/ung Hallen - projectado, em 1957, pelo Ate/ier 5 (31). Sessenta e seis casas unifamiliares com equipamentos e servi· ços, num terreno inclinado, envolvido por um bosque frpndoso. No centro do conjunto, é criada uma rua, bordejada de um lado por muros de suporte e do outro pela parede que fecha os pequenos pátios·antecâmara e cujos aberturas são as portas de entrada nas habitações. Apesar da pequena dimensão, o conjunto marcaria a vontade de reto· mar· os modelos da rua e do largo ou praça. Ainterpretação da morfologia tradicional é serena e de gra'1de regularidade, servida pela altíssima qualidade do projecto. Con­tra a moda dominante, o Ate/ier 5 interpreta com modernidade as formas tradicionais de ocupação da encosta. Elemento isolado, na produção europeia de cinquenta­-sessenta, o conjunto de Hallen frutificaria mais tarde, influenciando outras experiências.

Outra tentativa de inovação será Tou/ouse-/e-Mirai/(32}, projectado em 1961 por Candilis-Josic-Woods. Um grand ensemb/e para 100 000 habitantes e um importante programa de equipamentos e serviços constituíam a grande extensão de T%use.

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~ experimentada a rua e o contínuo construído: a rua comercial percorre o conjun­to, num percurso sobreelevado destinado a peões e interligando os serviços. Tenta parecer-se com a rua tradicional, corrigindo-a funcionalmente: os autom6veis não exis­tem, e é elevada em relação ao solo. Não é certamente a rue corridor, mas interpreta modernamente a rua das velhas cidades, com a sua complexidade visual e comercial, constituindo o eixo dos serviços e dos principais contactos sociais e humanos.

Afragmentação das construções em blocos, torres ou volumes isolados, é abando­nada em favor de um contínuo construído que acompanha a rua e se vai ramificando e repetindo em direcções hexagonais. Em cada hexágono, surge um espaço livre ou -des­tinado a equipamentos, bolsas de acesso e estacionamento. ~ uma megaestrutura que se organiza como um cacho de uvas, mas procura de organizações espaciais diferentes.;

Em 1965, a equipa de G. L. C. dirigida por Hubert Bennet apresenta o projecto de Hook, cidade nova da segunda geração. Hook não se construiu, mas a excelente publi­cação do trabalho (33) permitiu influenciar os arquitectos e estudantes dos anos sessenta. ­

O plano de Hook prosseguia orientações já esboçadas anteriormente em Cumher­naud (34) propondo modificações flagrantes na urbanística anglo-sax6nica e europeia. Abandona a «unidade de vizinhança» em favor de uma quadrícula mais homogénea e da continuidade física dos bairros, construções e equipamentos, estruturados segun­do uma rede de percursos convergentes na área central. A continuidade construtiva bordeja os caminhos e estabelece os limites visuais dos percursos. Os sistemas viários, embora mantendo a separação entre autom6veis e peões, recriam o conceito de rua e organizam os comércios e serviços, abandonando a hierarquia abstracta de centros, subcentros e esquemas de relação em «árvore». Surge uma área central, de forma alongada, envolvida e continuada pelas áreas habitacionais mais densas.

Embora separando rigidamente os peões das viaturas através' da laje, que (como sempre na época) metia peões em cima e carros em baixo, o plano tentava recriar a complexidade visual e funcionàl dos centros das cidades.

Aapresentação do plano juntava, desde o início, a visão arquitect6nica à visão ur­banística numa correspondência controlada e voluntária entre plano e projecto - de­senho urbano e desenho dos edifícios.

Fico-me por aqui. Hook respondia à sua maneira a muitas interrogações de Alexan­der, em A Cidade não ÉUma Árvore: abolia os esquemas tradicionais da unidade de vizinhança e dava um passo importante na ponderação da morfologia urbana.

Outra experiência que a seu tempo polemizou os debates terá sido o grand ensem­h/e de Grigny - La Grande Borgne -/ onde Emille Aillaud pretendeu afastar-se dos princfpios da Carta de Atenas. A sua pesquisa formal, que hoje nos poderá parecer mais de «feitio» que de forma, ensaiava à época (1966) a ruptura com diversos postula­dos modernos. Era pelo menos a intenção do seu autor, quando dizia:

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6·5. Candilis, Josic, Woods. Tou/ouse /e Miroi/, 1961. Maqueta e esquemas distributivos

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6·6, Sir Hubert Bennet e equipa do G, L C: Plano de Hook, 1965, Planta geral, apr~·

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6·7. Sir Hubert Bennet e equipo do G. L. c.: Plano de Hook. Esquema dos troçados viários e de peões. Desenhos de simulo~::;;} .;!os ambientes construídos

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cOs prindpios do que se convencionou enfaticamente chamar Carta, e mais abusi­vamente ainda de Atenas, estão na origem da obtenção de pelo menos uma certeza: o tédio. Aseparação das funções comerciais da habitação são uma das maiores tristezas das novas cidades (...), bem como o anonimato e a monotonia da repetição.» (35)

Em alternativa, Aillaud propunha edifí~ios de quatro pisos com rés-dó-chão comer­ciai {misturando funções) e recriava ruas de peões - canais entre edifícios - e praças como espaços fechados. Compunha o espaço com contínuos curvilíneos em forma de cesparguetesl (uma solução já experimentada por Aillaud, em Pantin) e, com grande li­berdade, a disposição serpenteante deixava espaços verdes e criava efeitos dinâmicos de volumes e perspectivas, em alguns casos atingindo tensões quase barrocas.

Outra inovação consistia na individualização de cada grupo de construções através da cor e das artes plásticas intervindo no espaço urbano e nas empenas cegas. Adeco­r.ação com murais e a cor no edificado procuravam a identificação de (ada lugar. Des­respeitava também a orientação solar dos edifícios, o «eixo heliotérmicol, pela implan- -' tação sinuosa e estabelecendo relações diferentes entre os alojamentos e o espaço ex­terior. Os alojamentos abriam-se para «ruas» pedonais ou para espaços verdes, con­soante as orientações determinadas pelas plantas curvilíneas.

O projecto de Grigny parecerá hoje, com alguma injustiça, relativamente ingénuo e até gratuito. A impressão que nos fica é mais de um capricho e feitio que de uma forma controlada. De permeio com os cesparguetes», continua a sobrar espaço livre em ex­cesso e descontrolado, aonde é difícil a orientação. Mas, a seu tempo, foi uma inova­ção, apesar de ser um grand ensemble com 15 000 habitantes, isolado, a 25 quilóme­tros de Paris, sem locais de trabalho, repetindo a imagem de bairro dormitório.

Um pequeno conjunto - Bishopfield -, em Harlow, projectado entre 1964 e 1966, com o objectivo de densificar a new town do pós-guerra, procuram também a regulari­dade e a recriação de ruas estreitas, servindo apenas as habitações. Apesar da quali­dade arquitectónica, dão uma impressão bem diferente da rua tradicional. Esta expe­riência procurava, através das formas urbanas, recriar ambientes humanos, espaços identificáveis e uma pequena comunidade, no cemjunto habitacional.

Em Thamesmead, na área da grande Londres, projectado em 1968, o urbanismo anglô-saxónico continuava à procura de novas morfologias urbanas, num conjunto pa­ra 60 000 habitantes numa zona ainda livre, com restos de antigas docas desafecta­das. Adensidade de construção, os contínuos construídos, os esboços de largos e pra­ças, a introdução de factores de animação, como espelhos de água, e a procura de uma imagem de verdadeira cidade, colocam Thamesmead numa orientação diferente da tradicional urbanística anglo-saxónica e na sequência do projecto interrompido de Hook.

Alaje «moderna» que separa veículos e peões não é abandonada. Ainda não são

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6.8. Hugh Wilson e colaboradores: Cumbernould Newtown, 1958-1960. Plano geral, corte pe­lo edifício do centro, planta da zona central e perspectiva

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6-9. Emille Aillaud. Grígny./o.Gronde-Borgne. arredores de Paris, 1967. Plano do grond en· semb/e e pormenor dos spoghettís

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6-10. 1. Emille Alllaud: Grigny-/a·Grand-Borgne - vistos do espaço urbano. 2. M. Neyland e colaboradores: Brishopfie/d, conjunto habitacional em Har/ow, 1966. Plano e corte pelo zona central.

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6-11. Thamesmead. Projecto do G. L. C. Maqueta

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6·12. Le Vaudreuil. O plana da cidade e as princípios orientadores

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desenhadas verdadeiras ruas e praças, apesar do resultado obtido com bandas edifi­cadas em que o pormenor e a estética brutalista conseguem expressão, diversidade e um razoóvel sentido urbano.

No plano da cidade nova de Le Vaudreuil, uma equipa de arquitectos desenvolveu estudos conceptuais de organização distributiva e desenho, procurando novas morto­logias urbanas. As ideias-base centravam-se nos processos de crescimento da cidade a partir de um embrião (o «germe da cidade.) que se desenvolvia segundo uma quadrí­cula de 500 metros de lado e que se adaptaria à topografia do terreno. As constru~ões

dispunham-sé em contínuos, segundo duas direcções ortogonais e acompanhavam a malha viária. Um sistema de caminhos de peões seguia as mesmas direcções das vias, que cruzava em desnível, e, ao longo dessa rede quadriculada de caminhos pedonais e viários, localizavam-se os equipamentos, hierarquizados pela acessibilidade.

O esquema teórico 'apresentado demarcava-se de outras experiências da época e demonstrava a vantagem das relações em «grelha. (contfnuos construrdos, eixos e qua­drrculas, etc.). Todavia, na passagem à realização, a flexibilidade e as inovações vão perder-se na banalidade. Registo Le Vaudreuil como uma das tentativas de recriar a complexidade das antigas cidades e pela exemplaridade da investigação teórica.

Finalmente, outra realizacão a reter é o bairro ZEN, em Palermo,' de Vittorio Gre­. gotti, vencedor de um concurso em 1970.e que parecia responder às interrogações do número monográfico da revista Edilizia" Moderna (36) sobre a «Forma do Território». Com uma dimensão de 20 00 habitantes, o bairro organizava com regularidade e compactação um conjunto de dezoito quarteirões de três pisos, alongados e dispostos segundo uma geometria ortogonal rrgida. Amalha de quarteirões só se desfaz na área do centro dvico, numa faixa que atrC!vessa o bairro na direcção do lado menor do quarteirão.

Acompacidade e o perímetro do bairro individualizam-no como um objecto arqui­tectónico, tanto pela forma como pelo processo de realização - a encomenda pública de habitação social. Recordando o que foi dito sobre a diferença entre plano e projec­to, o bairro ZEN inclui-se logicamente neste último. Àépoca, o bairro marcava certa­mente um caminho de desenho urbano que nortearia posteriores pesquisas italianas, espanholas e anglo-saxónicas. ZEN é o início de um percurso que chegaria até hoje.

Fico-me por aqui para não alongar demasiado a exposição e a enumeração de exemplos, que, ria segunda metade dos anos sessenta, se inicia a redescoberta da for­ma urbana que irá permitir mais tarde o reencontro com a cidade tradicional.

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6-13. Vittorio Gregotti e associados: bairro ZEN. Palermo 1969 . 1972. 15 000 habitantes. A unidade·base é um quarteirão - bloco com rés-do-chão livre que será ocupado pro­gressivamente por lojas

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6.5 CRISE ECONÓMICA, GESTÃO URBANA E VANTAGENS DOS ESPAÇOS TRADICIONAIS

No início da década de setenta, as crises energéticas dos choques petrolfferos e ou­tros problemas conjunturais marcam o fim do crescimento económico que sucede à se­gunda guerra e vão condicionar os programas urbanfsticos.

Pela diminuição do crescimento, grandes conjuntos e cidades novas são questiona­dos. Tais programas dependiam do aumento demográfico, de necessidades habitacio­nais e de constante crescimento económico, consumindo grandes investimentos públi­cos e privados. Tais empreendimentos haviam-se caracterizado mais pela quantidade e extensão e necessitavam de qualificação, tratamento de espaços, equipamentos públi­cos e aproveitamento de infra-estruturas. Absorveram grandes energias em detrimento dos centros das cidades.

Desde logo, os grandes temas do planeamento deslocar-se-ão do escalão regional para o escalão do bairro e do lugar. Os planos territoriais e regionais e com programas de longo prazo são questionados, como também é questionado o controlo da cidade por planos-directores. A necessidade de pequenas intervenções de equipamento e reabilitação dos bairros é evidenciada pela maior operacionalidade e resultados ime­diatos. Por via da crftica sociológica e ambiental, aparece a necessidade de cerzir e re­mendar as destruições urbanas provocadas pelas operações imobiliárias de renova­ção.

Por outras palavras, a diminuição do crescimento económica e demográfico retira suporte à expansão urbana constante e conduz o urbanismo a interessar-se pelo inte­rior das cidades, pelo completamento de zonas inacabadas e pela ,qualificação do es­paço.

Paralelamente, as mudanças económicas empobrecem os municípios e levam a questionar os gastos na manutenção dos vastfssimos e suliutilizados espaços livres das urbanizações modernas.

Explico melhor. Os numerosos espaços livres e intersticiais aos edifrcios nas urbani­zações modernas têm baixas utilizações, mas necessitam de constante tratamento ­jardinagem, limpeza, rega, controlo, vigilância, etc., e, não sendo constantemente tra­tados, degradam-se rapidamente. As ruas de Campo de Ourique, mesmo que não se­jam constantemente varridas, aguentam a recuperação em qualquer momento. Mas os espaços livres dos Olivais não podem ter qualquer interrupção de tratamento e custam mais à cidade de Lisboa em jardinagem, rega e limpeza do que uma órea como o Par­que Eduardo VII, que é utilizada por muito mais gente...

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Esta questão vem ao de cima com as modificações económicas dos anos sessenta­setenta e começava logo na própria construção, sendo difrcil fornecer bairros acaba­dos com tantos espaços exteriores. Cem anos antes, o barão Haussmann havia dado aos parisienses, numa semana, avenidas tratadas e acabadas, com árvores plantadas e já crescidas. Os bairros modernos, apesar do avanço tecnológico, levavam muito tempo a acabar, com dificuldades na manutenção dos espaços livres residuais. Chegava-se à conclusão de que os custos de construção e manutenção dos espaços pú­blicos tradicionais na cidade eram bastante inferiores e muito mais controláveis. Desde logo existiam argumentos para que a gestão urbanística aceitasse as formas urbanas tradicionais. Este aspecto tem por vezes passado desapercebido, mas foi certamente uma razão de peso. Asimples árvore plantada em caldeira, alinhada ao longo de pas­seios pavimentados, revelava-se mais útil e benéfica sob o ponto de vista ambiental e climático do que maciços de plantas, canteirinhos e outros elementos vegetais. Umas fi­las de árvores bem posicionadas qualificam muito mais o espaço urbano do que muitos pequenos espaços verdes residuais e dispersos no meio de prédios dispersos. Esta lição de desenho e integraçã9 da árvore e vegetação na cidade passou a estar presente no estirador dos arquitectos. Não porque fosse moda dispor árvores em fila, mas pelo co­nhecimento dos resultados dessa disposição.

Todavia terão de ser ainda esclarecidos alguns equrvocos nesta questão. Na cidade tradicional, o espaço livre reparte-se entre o espaço público e o espaço privado. O solo público é percentualmente inferior ao solo privado (37). Por outro lado, será difrcil admi­tir que uma das principais conquistas da urbanrstica moderna - a forte redução do es­paço privado em favor do espaço público - seja questionada quando a tendência cor­re no sentido da utilização do interior dos quarteirões como espaços semipúblicos, de condómino, ou públicos. Para terminar, diria que ocusto dos espaços livres (construção e manutenção) deverá ser também um elemento de desenho urbano. Por exemplo, no plano do Martim Moniz, essa questão estava subjacente ao desenho dos espaços públi­cos e integrava-se na forma projectada, mas pressupunha que se plantassem árvores já com alguns anos de crescimento e bom porte.

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6.6 os CENTROS mSTÓRICOS - (REVALORIZAÇÃO E DESCOBERTA DA CIDADE ANTIGA)

Asalvaguarda e reabilitação dos centros históricos e das antigas cidades é hoje tão natural para os meios cultos e civilizados que dá para esquecer que nem sempre terá si­do assim. Um longo caminho foi percorrido desde os tempos em que se admitia destruir o casco antigo, os seus quarteirões e conjuntos arquitectónicos para alargar ruas, sa­near e arejar os bairros, e desafogar e isolar os monumentosl

Vejamos: Em meados do século XIX quase todas as cidades europeias sofrem transformações

ditadas pela necessidade de resposta ao crescimento demográfico e ao desenvolvimen­to industrial. Novos equipamentos, novos transportes e necessidades de circulação ­como o caminho-de-ferro e o eléctrico, novas estratégias militares, e, enfim, novos con­ceitos de higiene e conforto. Estas necessidades criam as grandes expansões na segun­da metade do século XIX e também os traçados e renovações que esventram o casco antigo das cidades.

As condições de vida e a degradação dos antigos e populosos bairros eram focos de doenças e epidemias e reproduziam a miséria social e a promiscuidade. O casco an­tigo das cidades não tinha valor. Quanto muito, alguns movimentos de revalorização neogóticos, neo-românticos ou neomedievais, de que ViolJet le Duc é um exemplo, va­lorizavam o monumento singular e excepcional, o pclócio, o castelo, as muralhas ­sem se preocuparem com os conjuntos construídos. As novas avenidas e boulevards que por toda a Europa vão rasgar e atravessar as cidades antigas são consideradas benéficas, salutares e «higiénicas», mesmo quando obrigam ao êxodo da população operária para a periferia ou quando destroem espaços e edifrcios medievais, c1óssicos ou simplesmente anteriores. Mas não foi só em Paris que as avenidas de Haussmann destrufram o tecido medieval. Em Viena, foi a demoliçãO das muralhas que permitiu a construção do ring e uma sistematização do tecido intramuros a partir de 1858; Bruxe­las, de 1850 até 00' início do sécuJo XX, é submetida a idêntica reformulação. Em Barce­lona, após a extensão de Cerdá, o plano Joussely, de 1903, traça três grandes eixos que atravessam o casco histórico; Roma sofre o mesmo processo, a partir de 1870, com a abertura do corso Vittorio Emmanuefe. Em Milão, a construção da Galeria Vittorio Emmanue/e e a abertura de um conjunto de novas vias, entre 1860 e 1915 renova o centro medieval em profundidade. Nápoles é saneada e renovada a partir de 1880, com a demoliçãO e reconstrução de velhos bairros insalubres e a abertura de novas

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ruas, avenidas e praças. Em Marselha, os grands travaux - levados a cabo entre 1835 e 1864 - criam o boulevard Longchamp, a Gare Saint Charles, a promanade du Pha­ro, os boulevards Chave, Baile, o Cours Liautaud, Rue de la République e a reconstru­ção do Quartier de la 80urse, o Pont Transbordeur, e outras obras que adaptam e transformam a velha cidade ao gosto e às necessidades de Oitocentos.

Em Lisboa, também durante o século XIX, inúmeras personagens públicas reclamam na Imprensa estas terapêuticas como forma de melhoramento da capital. Ea lista po­deria continuar.

Saneamento, circulação, embelezamento, funcionamento e adaptação das velhas cidades à nov.a vida social são as premissas dessa intensa actividade de destruição­renovação que marca a segunda metade do século XIX na Europa e se prolonga pelo início do século XX até à Segunda Guerra Mundial, nesse último período já apoiadas pelas ideias modernas e pela Carta de Atenas. Em Lisboa, a demolição da áreQ do Martim Moniz data dos anos trinta-quarenta e manifesta claramente essa tendência (38).

Idêntica situação terá sido a renovação do centro da cidade de Ponta Delgada, reali­zada sob o plano de João Aguiar (1944), propondo uma marginal em aterro e a ressis­tematização do centro, destruindo o antigo porto e cais, um dos mais interessantes e primeiros conjuntos urbanos da cidade e do seu contado com omar.

Nesta febre renovadora, escapam os monumentos, sendo até alguns objecto de obras de valorização e enquadramento: criação de espaço livre envolventt com demo­lição dos edifícios mais pr6ximos, como nas catedrais de Reims e Charlres.

S6 na primeira metade do século XX se encetam as políticas de pequena cirurgia, ou de curetage, inicialmente realizadas também com grande6-vontade nas modificações do tecido urbano, procurando certo mimetismo com a morfologia urbana existente, o que resulta em parte da influência da estética de revalorização do espaço medieval de­finida por Sitte (39).

Aurbanística formal, se por um lado aceita a renovação dos centros hist6ricos e a destruição dos tecidos urbanos antigos, por outro, propõe em seu lugar morfologias se­melhantes embora «arejadas» e salubres introduzindo conceitos higienistas. No fundo, prossegue as atitudes já enunciadas no século XIX.

Por seu lado, o Movimento Moderno nunca equacionou definitivamente a questão dos centros hist6ricos, hesitando entre a sua destruição-renovação total e a conserva­ção parcial e limitada aos monumentos e fragmentos urbanos mais significativos. Atitu­de consagrada nos postulados da Carta de Atenas.

Seguem-se os estragos da Segunda Guerra Mundial, em que algumas cidades da Europa são irremediavelmente destruídas e, no pós-guerra, os centros históricos des­truídos assistem a um profundo debate sobre o seu destino.

Para a reconstrução dos centros destruídos perfilam-se duas correntes:

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- uma, aponta para a reconstrução em moldes totalmente novos, aproveitando a oportunidade para refazer moderno. Saint-Dié, de le Corbusier, resumiria esta atitu­de, também utilizada em numerosos casos da Europa central: na França e em Itália;

- outra, reconhece a necessidade da reconstrução da identidade das cidades e o valor das imagens sedimentadas durante séculos e, logicamente, aceita os valores dos espaços urbanos e dos antigos edifícios. Tem na reconstrução do centro de Varsóvia (a cidade medieval intramuros) o seu caso mais radical.

Sistemática e cientiflcamente destruído pelos alemães, o antigo centro de Varsóvia não era mais que um monte de ruínas que será reconstruído fielmente nos métodos e no espírito ao ponto de se utilizarem as antigas técnicas, materiais e processos construti­vos. São edifícios de época - «originais construídos alguns séculos mais tarde» (401, dirão com orgulho os Polacos. Violentamente discutido na época, o centro de Varsóvia é hoje um exemplo paradigmático que encontrou na história o seu devido lugar...

Apartir dos anos sessenta, a questão dos centros históricos entra nas preocupações urbanísticas, tornando-se objecto de estudos e metodologias específicas de trabalho. A principal mudança refere-se à troca das estratégias de renovação pelas de reabilita­ção com entendimento progressivo dos valores espaciais, culturais, urbanísticos e so­c!ais dos tecidos urbanos. Críticas como as de Jane Jacobs, os estragos da guerra e ain· da maiores estragos causados pelas renovações imobiliárias estarão certamente na gé­nese desta atitude.

O interesse e valorização da cidade antiga vai-se impondo paralelamente com o alargamento do conceito de património cultural, arquitectónico e urbanístico.

Outro marco importante terá sido a polémica internacional que, entre gigantescos protestos em França e no Mundo, acompanhou a demolição dos pavilhões Baltard, das Halles de Paris, em 1967, ou a Maison du Peuple, de Víctor Horta, em Bruxelas, em 1968.

Vinte anos mais tarde, e demonstrando o atraso cultural da administracão munici­pal em Lisboa, repetia-se idêntica situação com a demolição do cinema M~numental, marco arquitectónico dos anos cinquenta, edifício de grande qualidade construtiva, em bom estado de conservação. Recentemente repete-se o mesmo caso, com a demolição do cinema Éden, este ainda agravado pela inequívoca qualidade arquitectónica.

Adimensão da polémica dos Halles - e a justo" título - contribuiu fortemente para reacender o intere$se pela conservação e reutilização dos antigos edifícios, indo de par com a evolução da arquitectura, que entretanto se organizava metodologicamente com técnicas e meios para introduzir novas funções em velhos edifícios, explorando a «complexidade e contradição» daí resultantes. Dava-se também por esta via uma ma­c~adada nas ortodoxias modernas e funcionalistas, ao verificar-se que os antigos edifí· cios se adaptavam (e bem) a novas e diferentes funções, podendo a função também adaptar-se à forma... (41)

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De 1967 até hoje, a batalha pela cidade histórica ou pela cidade antiga tem sido constante. Acrise energética e económica deu uma forte ajuda.. Bem feitas as contas, demonstra-se que os custos globais da reabilitação são menores do que os da expan­sõo urbana periférica, enquanto adminstrações urbanrsticas e populações vão reco­nhecen~o a necessidade de reutilizar e dar vida aos centros das cidades.

Aconstatação de que as novas urbanizações flcavam aquém das antigas cidades em qualidade e riqueza formal e estética; de que as cidades antigas formavam tecidos sociais difíceis de recriar seriam mais contributos para esta tomada de posição - con­substanCiada depois em documentos como a Carla de Veneza, e nos apoios de organis­mos internacionais reconhecidos: a Unesco, o Icomos, e o Conselho da Europa.

Aacção desenvolvida por estes organismos culmina no reconhecimento dos conjun­tos urbanos e de cidades inteiras como património mundial ("21.

Arecuperação do! centros históricos ia também chamar a atenção sobre a qualida­de ambiental e a «riqueza» da vida nos antigos espaços urbanos, lembrando que «o ha­bitat natural do homem é a cidade» ("31 e só em comunidade o homem se desenvolve plenamentel

A recuperação da cidade histórica iria de par com a abertura da arquitectura à «presença do passado» e à influência da História e dos lugares no processo criativo, libertando-a da uniformização estética do estilo internacional.

Esta revalorização da antiga cidade legitimaria e daria um forte impulso à adopção das formas urbanas tradicionais.

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6.7 ROSSI E A ARQUITECTURA DA CIDADE

Publicado em 1965, AArquitectura da Cidade (44), foi um texto com enormes reper­cussões nos meios cu'lturais e profissionais, sobretudo na Europa mediterrânica. Passa­dos mais de vinte anos, é possrvel constatar a sua influência no pensamento urbano ac­tuaI. O ensaio de Rossi surgiu integrado num conjunto de trabalhos de autores italianos da mesma época, como Gregotti, Aymonino, Grassi e também Tafuri (45); de estudos da Faculdade de Arquitectura de Veneza e do Politécnico de Milão sobre as «relações en­tre morfologia urbana e tipologia construtivalt (46), outras investigações historiográficas e geográficas sobre os factos urbanos e a sua formação e, finalmente, no movimento denominado Tendenza, de cariz neo-racionalista, cujo propósito pretendia salvar a ar­quitectura do discurso esmagódor da técnica e da economia.

O pensamento de Rossi não pode ser separado dos projectos que realizou: os con­cursos para o Centro Direccional de Turim (1962), e para o complexo residencial de San Rocco, em Monza (1966), o cemitério de Modena (1971-78) e o concurso para o Centro Direccional de Florença (1977) reflectem no seu microcosmo a ideia de cidade «rossiano»: o anonimato da função residencial formada por tipos habitacionais que es­tabelecem o pano de fundo no qual sobressaem as tipologias arquitectónicas dos equi­pamentos de nrvel superior e representativos da ordem social - a escola, o hospital, a prisão. O monumento e o cemitério completam esta visão (quase obsessiva): o primei­ro, constituindo-se como elemento primário da estrutura urbana; o segundo, reprodu­zindo «na cidade dos mortos» o ordenamento (neo-racionalista) da cidade dos vivos.

Rossi utiliza o rigor da geometria e das formas puras, continua o neo-racionalismo de Boullée ou de ledoux, reintroduz no desenho urbano o rigor do traçado e formas tradicionais.

Rossi opõe-se ao funcionalismo como relação determinista entre a forma e função, proclamando a autonomia do desenho arquitectónico. Desenho cujas motivações de ordem cultural encontram no sítio - no locus - a energia criativa e projectual da liga­ção do objecto ao território que o suporta. Mas, para Rossi, o locus, mais do que o sí­tio, será o seu pr6prio potencial para gerar formas idênticas ou a relação singular e universal que existe entre certa situação local e as construções que a ocupam» WJ.

Rossi retoma, também, o pensamento Poete e Lavedan, ou da geografia francesa, como Tricart no Cours de Géographie Urbaine, desenterrando a teoria das permanên­cias, dos monumentos, das escalas de leitura do espaço urbano; o pensamento dos tra­tadistas do século XVIII, como Milizia, Quatremére de Quincy e Durand (48) e os seus en­foques sobre as relações entre os edifícios e a cidade.

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Outra parte da obra de Rossi está contida no trabalho sobre as Relações entre Tipo­logia Construtiva e Morfologia Urbana (491. Rossi e os outros autores demonstram que as relações entre a forma urbana ea tipologia construtiva são dialécticas. Denunciam o determinismo que o Movimento Moderno imprimiu à forma urbana ao fazê-Ia depen­der, de modo unívoco, da tipologia habitacional. Produzem um rude golpe no edifício conceptual moderno e acendem uma «luz» para urbanística dos anos sessenta. Com os Rapporti, concluía-se que a forma urbana é interdependente com as tipologias constru­tivas e que trabalhar sobre a forma urbana é determinar essas tipologias e vice-vena. O universo estudado - as cidades de Pádua e de Veneza - interligava as conclusões do estudo à morfologia tradicional e demonstrava as diferenças com a morfologia mo­derna. Retenho ainda alguns pontos-chave do seu trabalho:

• A afirmação de que a cidade é constituída por arquitectura, sendo esta a chave da leitura e interpretação dos factos urbanos, obras de arte colectivas;

• A relação da forma da cidade com a tipologia do edificado, corolário da anterior, que reforça a relação entre cidade e arquitectura;

• A continuidade com o pensamento de Marcel Poete e Lavedan na sua análise morfo­lógica - reinterpretando os princípios das permanências e da individualidade e au­tonomia da arquitectura na constituição da cidade; .

• A crítica frontal ao funcionalismo, na demonstração de que entre forma e função se estabelecem relações mais complexas e dialécticas do que as de causa e efeito;

• A explicação, através da morfologia, dos diferentes fenómenos e leituras da cidade.

Rossi não aborda o desenho urbano, no sentido de um manual ou conjunto de prin­dpios, para as questões imediatas da prática profissional. O seu contributo para a revi­são e abandono do urbanismo moderno é dado enquanto legitima a revalorização das formas urbanas tradicionais - da rua ao quarteirão, da praça ao monumento -, bem como da geometria e do traçado, no acto de projectar a cidade.

Para Rossi, a arquitectura da cidade não é a arquitectura do edifício isolado, como na urbanística moderna, mas o princípio ordenador no qual se desenvolvem e estrutu­ram as tipologias que integrarão a forma urbana.

A influência da Tendenza e da obra de Rossi terá sido mais efectiva na planificação urbana em Itália e em países como a Espanha e Portugal.

Essas influências podem ser vistas no planeamento recente de cidades como Ma­drid, Barcelona ou Milão, cujas opções de programas funcionais e de «planos morfoló­gicos», ou a actuação urbanística por intervenções arquitectónicas qualificadoras, bair­ro a bairro, rua a rua, revelam o entendimento da cidade como conjunto de factos ur­banos e «arquitectura», em detrimento dos esquemas de planeamento e controlo das variáveis abstractas e quantitativas dos grandes planos-directores.

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6-14. 1. Aldo Rossi: Concurso para o Centro Direccional de Turim, 1962. Plano de volumes. 2. Concurso para o complexo residencial de São Rocco, em Monza, 1966. Maqueta.

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6·15. Aldo Rossi: cemitério de Modeno, 1971.1978, articulado 00 cemitério neocl6ssico lã direi· to) de Costa. Planto e desenho do porte central

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6.8 ROBERT KRIER E OESPAÇO DA CIDADE

Os estudos de Rossi e da Tendenza interligam-se com a actividade dos irmãos Krier, arquitectos e luxemburgueses de nascimento, cuja obra de início teve raízes comuns, acabando por seguir vias divergentes - a de léon, mais radical e teórica, a de Robert, mais prática e, em certa medida, pragmática.

Aactividade deste último reparte-se entre o ensino universitário, a actividade teóri­ca e a prática profissional.

Publicado em 1975, L'Espace de la Vil/e (SOl, de Robert Krier, resumia alguns anos de investigação na Universidade de Stuttgart sobre as morfologias urbanas tradicionais.

Através de análises, de observações e de exemplos, Robert Krier afirmava uma grande admiração e entusiasmo pela cidade europeia, «tal como se ia configurando antes da sua desagregação motivada pela urbanística moderna» (51), e uma crença ine­gável e sincera no desenho urbano como processo de resolução dos problemas da ci­dade. Servido por um conjunto de magníficos desenhos, o estudo de Krier elege a ar­quitectura como método de trabalho para a organização e qualificação da cidade.

Robert Krier pa.rte de uma constatação extremamente simples: «Nas nossas cidades modernas, a noção tradicional de espaço urbano desapareceu» (52), o que pode ser até facilmente entendido pelos cidadãos. Nessa ordem de ideias, interessa avaliar as con­sequências deste processo, como o desaparecimento das funções desempenhadas pela rua e a praça, incluindo a perda de conteúdo estético, formal e social da cidade!

Através da análise dos tipos de espaços urbanos, Krier estabelece as relações entre cidade e arquitectura. Acidade não é apenas lugar de arquitectura, mas ela própria é arquitectura. A geometria euclidiana, as formas geométricas puras ou compostas e mais complexas desempenham um papel essencial no desenho, quase propondo um formulário das possibilidades combinatárias de cada tipo de espaço. Para R. Krier, trata-se de «compor» por tipos e estudar as inúmeras variedades possíveis dentro de ca­da tipo. As praças podem ser circulares, ovais, triangulares, abertas, fechadas, semi­abertas, em variedades inesgotáveis. As composições demonstram, ao longo da Histó­ria, as infinitas po~sibilidades de diferenciação de espaços e zonas urbanas dentro do mesmo método de composição. Ruas e praças são as regras de composição do «jogo urbano». Com tais regras se compõe e inventam as mais diversas e imaginativas combi­nações. Para R. Krier a riqueza do espaço urbano não vai apenas residir na qualidade de cada um dos espaços, mas na maneira como os vários espaços se encadeiam e se organizam, e ainda nas diferentes geometrias que cada um dos tipos espaciais admite.

Aapresentação por Robert Krier de exemplos de praças, ruas e avenidas e das suas

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múltiplas variações geométricas - quase como um catálogo de modelos em «pronto a vestir», é um modo singelo e evidente de demonstrar os argumentos desenvolvidos no Espaço da Cidade» (53).

Krier aponta também a herança histórica que significa «o acumular de conhecimen­tos durante séculos, cuja força de testemunho não pode ser esquecida» (~).O estudo das cidades históricas ou antigas é o caminho certo para a aprendizagem da interven­ção na cidade actual. «Jó nada resta para inventar em arquitectura: na nossa época os problemas, quanto muito, mudaram de escala.» (55)

Asua ideia de cidade é fundamentalmente morfológica, exprimindo-se num contf­nuo de espaços construfdos em que os elementos primórios são a rua, a praça e (tal co­mo Rossi) incorporando os monumentos como «marcos urbanos» e pontos de referência na estrutura urbana.

Em Berlim, no concurso para a Rauchstrasse, em Tiergarten sul, onde o terreno as­segurava jó a unidade fundiória, Robert Krier propõe a redivisão do solo em pequenos lotes para recriar os tradicionais esquemas de produção da cidade. Assegurando a ba­se cadastral, estariam assegurados os modos de produção da cidade e, portanto, a sua morfologia e os seus valores urbanos.

Prosseguindo nesse objectivo, Krier propõe também que o desenvolvimento dos projectos seja confiado a vórios arquitectos, um por cada lote, para melhor reproduzir a diversidade arquitectónica da cidade tradicional.

Cada edifício e cada arquitectura são assim identificados com a sua parcela, como na cidade «burguesa» do século XIX.

Mais recentemente, no concurso para o plano de ordenamento do sector norte do centro de Amiens (1984), em plena maturidade, Krier dó uma visão clara do método de tratamento da cidade e do entendimento que tem da morfologia neoclóssica centro­europeia, pela dialéctica entre tecidos e espaços urbanos (561.

Define a forma física da cidade, trabalhando por quarteirões, e aceita que os volu­mes (cheios) sejam preenchidos por funções diferenciadas. O traçado é definido pelo perímetro dos quarteirões, compactos e fechados nos quatro lados, que acolhem tipo­logias residenciais modernas; os seus interiores geometrizados e regulares constituem espaços domésticos, também focos de ordenamento e da' imagem do edificado.

Mas os quarteirões de Robert Krier são adaptados à utilização do espaço interior. Desde a lição holandesa dos anos trinta que o deslino do interior dos quarteirões se tem dividido em duas opções fundamentais: uma atitude funcional que os utiliza como área de maneio para necessidades urbanas (parqueamento, equipamentos, construções, etc.); outra atitude que integra o miolo do quarteirão como espaço colectivo (público, semiprivado ou condómino). Robert Krier opta claramente por esta hipótese, e do quarteirão apenas utiliza a geometria e os perfmetros porque na realidade compõe a

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6-16. Robert Krier: proposto poro o reconstrução dos bairros destrurdos pelo guerra em Stutt­garf. Maqueta 1970-1974. Desenhos poro intervenções em Karlsrhuhe - Ronde/l Plafz e Praça do Mercado, 1912

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6·17. Robert Krier: concurso para o bairro residencial de Rauchtrasse. Berlim, 1980. Plano definitivo e oxonométrica

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6· 18. Robert Krier: proposta seleccionado poro o reordenamento do centro de Amiens (concurso) - 1984

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cidade por edifrcios e espaços urbanos nos quais inclui os interiores do quarteirão. «Aceita» o automóvel «quanto baste» e para serviço dos edifrcios, controlando o tráfe­go de superfrcie para que este não destrua o ambiente. Com parqueamento coberto ou subterrâneo, elimina a presença de automóveis estacionados por todo o lado. Aceita a utilização de técnicas actuais e evolurdas na construção dos edifrcios, ao contrório de seu irmão Léon e da escola de Bruxelas.

A opção de Krier pela pequena escala facilita também a actuação por pequenas unidades arquitectónicas, edifrcio a edifício, quarteirão a quarteirão, que, como em Berlim, admitem a intervenção de diferentes arquitecturas e diferentes arquitectos.

E, neste conte)Çto de formas e actuações, se estrutura a relação entre arquitectura e cidade, em que o desenho urbano é já a própria arquitectura da cidade...

Apesar de Krier referenciar preferencialmente a cidade do século XVIII ou a cidade burguesa tardo-oitocentista, as propostas que introduz para dotar a cidade das como­didades necessárias aproximam-no inexoravelmente da urbanrstica formal. Robert Krier está muito próximo da cidade europeia anterior aos anos vinte, mas está também muito próximo da urbanística formal do perrodo entre as duas guerras, à qual, no en­tanto, não faz referências.

Krier parece ter chegado a um ponto alto no retorno ao urbano iniciado hó pouco mais de duas décadas. A sua influência no actual pensamento urbanístico europeu é inegável- pese embora que, por vezes, tenham sido mais facilmente copiadas as apa­rências e imagens exteriores do que a complexidade da metodologia que propõe.

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6.9 CULOr E LA CAMBRE EM BRUXELAS - RADICALMENTE NO PASSADO

Aobra de Robert Krier deveria ser relacionado com a de seu irmão Léon, também interessado nos mesmos problemas, mas distanciado pela crftica radical ao desenvolvi­mento e ao progresso tecnológico.

Para Léon Krier, «os fenómenos da industrialização e do capitalismo nas suas pró­prias contradições geram a impossibilidade de salvaguarda dos centros históricos, e a sua destruição física e social. (57). Ou seja, a industrialização não criou nem melhores tecnologias de edificação, nem condições satisfatórias para os trabalhadores, nem se­quer a redução dos custos de construção, integrando a edificação num ciclo de produ­ção e destruição acelerada.

«o corpo intelectual e teórico da arquitedura terá sido diminuldo à medida que ia sendo destruido a cultura artesanal e manual da construção, e é apenas no renovar das técnicas artesanais que a arquitedura e a construção poderão reencontrar condi­ções indispensáveis ao seu desenvolvimento.» (58)

Para Léon Krier, ou a cidade é constitufda só por ruas, praças e outras tipologias de espaços identificáveis, ou não poderá conter vida social e humana. Esta atitude, ainda mais radical do que a de seu irmão Robert, atinge plena expressão no desinteresse des­te arquitecto pela realizaçao de obras, preferindo assumir-se como «agitadon c.ultural e ideológico, polémico e apaixonado propagador de ideias, e não como projectista.

Mais recentemente, Léon Krier, tornado o arquitecto preferido do prfncipe Carlos de Inglaterra, encontrou no seu mecenas a possibilidade de construir, enquanto ali­mentava com as suas ideias a cruzada principesca contra a arquitectura contemporâ­nea.

Já muito próximo de Léon Krier se encontrou a escola de Bruxelas, orientada por Maurice Culot, que, no final dos anos setenta, iniciou um trabalho de extremo radicalis­mo (59), também dominado pela recusa da sociedade industrial, propondo métodos ar­tesanais na construção da cidade e dos ediffcios. As teses desenvolvidas por Culot e a escola de Bruxelas podem resumir-se em três pontos, essenciais:

• A constatação de que a sociedade industrial avançada engendra inevitavelmente um processo de destruição ffsica e social das sociedades e do campo, da mesma ma­neira que destrói a História e a liberdade.

• Aresístência anti-industrial - contra tal processo destruidor - só pode ser um acto

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6·19. Léon Krier: proposto poro novos bairros ne» Holles de Paris, 1979. Perspectivo oxonomé­trico

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6·20. Léon Krier: proposta para o reordenamento da zona central de Washington. Perspectiva aérea e pormenor de zona antes e depois da intervenção

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de recusa que se deve apoiar sobre um projecto de sociedade e não apenas em reali­zações exemplares de arquitectura.

• O exerdcio de arquitectura não visa criar uma alternativa à produção contemporâ­nea, mas participa de um projecto mais vasto, integrando as inquietações da época. Só ar adquire a sua significação histórica e a sua ligação com a realidade.

O postulado dos meios artesanais na construção da cidade parece uma idiossincra­sia, na medida em que a própria indústria europeia possui jó um tal grau de racionali­zação dificilmente adaptóvel ao «artesanato», ainda que de boa qualidade.

Esta insistência parece acompanhar as metodologias de restauro e recuperação de edifícios antigos, mas já não parece evidente nem demonstróvel quando se pensa nas crescentes evoluções tecnológicas, informóticas e ambientais. Assim como Culot e léon Krier afirmaram que «o primeiro dever de um arquitecto é de NÃO CONSTRUIR» (601, a recusa de toda a industrialização também é no fundo um boutade (61) inofensiva.

Com grande tenacidade e apoiados nas actividade pedagógicas e na militância dos estudantes da escola de Bruxelas e nas publicações dos Archives d'Archifecture Moder­ne, o impacte das suas ideias teve o ponto culminante com a Declaração de Bruxelas (62)

na transição dos anos setenta-oitenta, mas tem vindo a esmorecer pelo impàsse a que conduziu o radicalismo e a pretensão utópica de transformação social. Com efeito, as propostas de léon Krier-Culot ultrapassam o desenho urbano e avançam decididamen­te na reforma social. Assim, recusam a motorização, considerando os automóveis um luxo dispensóvel na cidade. Em pequeno número, com uso controlado, até poderiam estacionar-se ao longo das vias, sem qualquer necessidade de outro parqueamento...

Para ló do radicalismo destas propostas e dos interessantes contraprojectos para Bru­xelas apresentados na Exposição de Veneza em 1980, têm sido momentos provocató­rios de reflexão. Permitem visualizar outra cidade onde seria mais humano e menos es­tereotipado viver em bairros integradores de todas as actividades, onde a rua de esca­la humana seria o espaço público de eleição. Amistura funcional (como em Isphaan, ci­dade onde os seus habitantes viviam felizes (63)) seria o modelo de organização urbana.

Com o passar dos tempos, a produção teórica e as experiências de Krier-Culot ten­dem cada vez mais a isolar-se na contemplação de si próprias. O sabor polémico e pro­vocatório da novidade e diferença, tem vindo a cair em repetições estéreis, esgotadas as possibilidades da fórmula ensaiada. A revista de combate Archives d'Architecture Moderne vai aos poucos constituindo-se em academismo elitista cada vez mais desliga­do da complexidade dos problemas da cidade. O seu interesse militante reduziu-se ulti­mamente à apresentação de projectos de restauro e reabilitação ou de trabalhos de ta­lentosos arquitectos 'tradicionais esquecidos pelos meios de divulgação.

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6-21. Maurice Culot com a escola da La Cambre - Bruxelas. "0 Prazer da Rua". Exerclcio de reconstrução do trilingulo da Rue de l'Arbre Benit - Bruxelas, 1980. Pespediva axonométrica e plano da intervenç60

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6.10 TENDÊNCIAS ACTUAIS - O NOVO URBANISMO

Hoje, em numerosos países da Europa, como a França, a Alemanha, a Itália e a Espanha, parece consolidar-se a inversão do desenho urbano, das políticas urbanísti~

cas e do modo de entender a cidade. A progressiva implantação do «novo urbanismo» já saltou dos estiradores dos arquitectos mais promissores e das escolas de arquitectura para a prática conduzida pelas administrações públicas e municipais. Um longo e pe­noso caminho terá sido percorrido até à aceitação da FORMA URBANA no desenho da cidade. Representa também um significativo e crescente interesse que se vem dedi­cando às cidades, aos ambientes construídos e ao planeamento urbano.

Em Itália, a influência da Tendenza marcou profundamente as estratégias de pla­neamento, por acção dos arquitectos mais proeminentes e das numerosas publicações editadas nesse país. Intervenções em Milão, Veneza, ou em Bolonha e em Roma, são testemunho, desde há anos, do «novo urbanismo» e do entendimento da cidade.

Em França, o exemplo citado adiante da ZAC Guilheminof, é um caso entre tantos de modificação das ideias erealizações, certamente também correlacionadas com a re­novação da arquitectura. As intervenções em Paris ea produção de um conjunto de ar­quitectos permitiu à França colocar-se de novo no palco da arquitectura europeia.

A Alemanha tem apresentado nos últimos anos quer uma produção teórica polémi­ca e justificadora, com Robert Krier, Ungers e outros, quer um conjunto de obras de inegável qualidade. Todavia serão as realizações do IBA (64), em Berlim, que mais con­tributos trouxeram para o pensamento urbano-arquitectónico.

Em Espanha, apesar dea tradição moderna na arquitectura ser ainda muito viva, tem-se sucedido um conjunto de planos, projectos e realizações em que a morfologia do Novo Urbanismo foi decididamente adoptada. Em Barcelona e sua região, a reali~

zação de um conjunto de planos municipais motivada pela legislação urbanística (lei deI suelo de 1975) permitiu recolocar a morfologia urbana no planeamento e retomar as formas urbanas tradicionais, enquanto são introduzido's diferentes processos de con­trolo na oferta de solo urbano pelos zonamentos dos planos.

Equipas de arquitectos próximos do laboralório de Urbanismo da Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona conduziram os planos dos municípios da Barce­lona metropolitana: Banyoles, Torroel/a de Monfgri, Palafrugel, Sanf Sfurni d'Anoia, Vil/a Franca deI Penedes, Sanf Feliu de Guixols, Manleu, Figueres, são exemplos.

Estes planos posteriores à realização do Plano de Barcelona, o Plã General Mefro­polifã de 1976, vão consagrar, a partir de 1980, a estratégia de actuação por projec­tos urbanos de média e pequena dimensão, pela intervenção na parte portuária e ou­

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6·22. Planos catalões. Plano de Sanl Fé/iu de Guixo/s, 1983. Arq.os R. Pié, UM Vilanova, R. Barbosa. Plano de Man/eu - zona central, 1982. Arq.os M. de 5016 Morales, X. Eizagurre

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6-23. António Cruz-António Ortiz: bairro de Pino Montano, Sevilha 1985·1988. Fotografia aérea da parte realizada e esquema do plano - reformulações e proposta final, 1981

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tras intervenções, complementadas por «planos especiais de reforma interiOr» sobre os bairros históricos a serem recuperados, e também pela Regulamentação Urbanrstica.

Aconclusão das intervenções e obras na capital catalã, preparando-a para os Jo­gos Olrmpicos, evidenciaram claramente um novo entendimento da cidade e do seu es­paço público, num conjunto de trabalhos que marcam a produção urbanrstica da déca­da de oitenta. Novos jardins e praças; arborização sistemática de árvore alinhada a cordel; reforço da ideia de rua, de praça e do espaço público; construção de equipa­mentos como pólos qualificadores da cidade; devolução de áreas estratégicas ao uso público, como a frente de mar e o porto; e, finalmente, o próprio desenho da Aldeia Olrmpica.

Em Madrid, o Plano Geral de Ordenamento Urbano, conclurdo nos princípios dos anos oitenta,-consagra decididamente uma inversão na polrtica e estratégia urba'nas. As intervenções no casco urbano antigo seguem o modelo de qualificação pelo dese­nho e programas de equipamento, serviços, habitaçãO e espaços colectivos, enquanto para as novas expansões são adoptadas as geometrias e formas tradicionais da rua, avenida e praça, traçados regulares, parcelamentos e quarteirões, estes revitalizados no seu interior, segundo a tradição da urbanrstica formal de entre as duas guerras.

Uma das propostas mais significativas da nova orientação em Madrid será a opera­ção ATOCHA, em que é proposta a supressão de um viaduto e vias rápidas co.nstrurdas nos anos sessenta, ironicamente designados por Scalextric - um dos nós com maior in­tensidade de tráfego da capital espanhola -, e se reconstrói a praça, devolvendo a sua superfkie à utilização urbana e restituindo-lhe a escala arquitectónica.

As transformações em Sevilha, preparando-a para receber a EXPO-92 e arti­culando-a com esse acontecimento, são outros exemplos do novo urbanismo. A cria­ção de espaços de uso colectivo, a arborização e o arranjo de ruas e praças, o traçado de novas vias e, finalmente, a morfologia urbana utilizada no desenho das extensões periféricas testemunham a aplicação e os resultados já visíveis do «novo urbanismo».

Em experiências já realizadas como o bairro de Pino Montano (65), em Sevilha, são claramente adoptadas as formas do quarteirão «aberto», como unidade projectual e arquitectónica (cada quarteirão é confiado a um arquitecto), integrando o nível urba­nrstico ao nrvel do projecto arquitectónico e recuperando para o uso colectivo os inte­riores dos quarteirões. A solução compacta e contínua do quarteirão-pátio confere ao bairro um forté sentido de urbanidade, unificando os conjuntos construrdos.

o IBA EM BERLIM

A vontade da administração e dos arquitectos municipais logrou encetar, em Ber­

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Iim, uma das polfticas urbanas de maior. alcance cultural dos últimos anos, que elevou a cidade a «museu vivo. da arquitectura contemporânea O IBA (M), constituído em 1979, ousava preparar uma exposição de construção de arquitectura subordinada ao tema «O centro da cidade como área residencial. e simultaneamente produzir um modelo de intervenção urbana artfstica e humanamente válido, em contraste com as deficiências bem conhecidas da urbanística burocrática, rotineira e operacional.

Este objectivo seguiria dois caminhos integrados: a exposição de ediffcios projecta­dos por arquitectos prominentes na cena internacional; actuações urbanas por partes da cidade (em vez da orientação por um plano-director), intervindo pontualmente se­gundo programas estabelecidos que depositavam largas responsabilidades na solução arquitectónica (conseguida através de concursos de ideias) . Tais concursos (passando por de cima do discutível recurso sistemático aos arquitectos do star system internacio­nal) representavam a procura do contributo da arquitectura para a qualificação da ci­dade e nessa tarefa-objectivo voltar a dar-lhe forma.

Concretizava também novas hipóteses de trabalho, renunciando às tipologias mo­dernas (torre, bloco, complexo) para subordinar as construções a umo visão urbanfsti­co de reutilização dos espaços tradicionais (rua, praça, avenida, largo) actuando por alinhamentos construfdos e cerzindo os vazios da reconstrução do pós-guerra.

O IBA demonstrava as possibilidades e limites de actuação na cidade existente, sem quebrar as suas caracterfsticas morfológicas e identidade, e os resultados da introdu­ção de novas construções que recompunham e reinventavam os tecidos interrompidos ou fragmentos desaparecidos da cidade.

Outro aspecto relevante seria a procura de equilíbrios funcionais organizando pon­tualmente programas habitacionais que no seu conjunto equilibrariam a rigidez dos zo­nàmentos. Anoto ainda outras teses pretendidas pelo IBA: • A construção de ediffcios e con;untos com os quais os habitantes se identifiquem,· en­

tendendo que a identificação dos utilizadores com a cidade e a arquitectura em que vivem é um processo permanente e não pode ser planificado de cima para baixo, de­pendendo da capacidade do arquitectura em gerar essa identificação.

• A impossibilidade de planear ou construir o História com antecipação. O futuro sig­nifico contradição, e não a;ustamento, e o que hoie é feito perlencerá à História, amanhã.

• Tudo o que é «necessário» preciso de contribuição estética, ou seia, em outros ter­mos, o planeamento não é legrtimo sem a composição urbano, assim como a arqui­tectura não é legftíma sem a sua componente arlrstíca. O planeamento urbano não abrirá novas oportunidades (e não contribuirá para o bem-estar da humanidade) en­quanto constituir apenas aiustamentos e concessões a todas os contradições e rotinas do dia a dia... {67}

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6-24. IBA. Berlim. Algumas propostas dos concursos para zonas de reconstrução. Reformulação dos quarteirões, ruas e praças. Reconstruçáo da cidade tradicional

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6-25. IBA. Berlim. Algumas propostas dos concursos para zonas de reconstrução. Reformulação dos quarteirões, ruas e praças. Reconstrução da cidade tradicional

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Aexperiência de Berlim mostrada em 1987 - na celebração dos quinhentos anos da cidade - foi um marco do «novo urbanismoJ e permitirá a reflexão sobre os modos de intervir na cidade. Lição importante para casos como Lisboa, onde as polrticas urba­nas têm sido radicalmente contrárias à formulação teórica dos últimos anos.

UMA EXPERIêNCIA FRANCESA: AZAC GUILLEMINOT

Ahistória de ZAC Guilleminof-Vercingecforix, na zona de renovação de Monfpar­nasse em Paris é outro exemplo da involução dos sistemas de intervenção urbana.

A história do décimo quarto arronáissemenf começa na Paris de Haussmann em 1860, com a sua anexação ao perímetro administrativo da capital, em rápido desen.. volvimento de habitação e pequena indústria. Depois da segunda guerra, a zona entra em decadência, até que em 1961 o Plan á'Urbanisme Direcfeur (PUD), no espirito do urbanismo operacional, propõe a renovação urbana por um complexo de escritórios e apartamentos na contiguidade da célebre operação do Maine-Montpamasse.

O primeiro estudo para a ZAC de P. Novarina é conclurdo em 1974 e consubstancia os prindpios do urbanismo moderno operacional e da construção industrializada.

Como em tantas outras operações dessa época, apontava uma laje contfnua eleva-, da a 4 metros do solo, que separaria os peões dos automóveis, demolindo os edifícios existentes, reconstruindo blocos e torres assentes em pódio sobre a laje.

Antes do plàno acabàdo, é conclurda a .famosaJ torre Maine-Montparnasse, que de imediato levanta protestos públicos. Amunicipalidade de Paris decide então rever a sua polrtica urbana, questionando as desastrosas rupturas com a cidade tradicional.

O plano de ocupação dos solos (POS), de 1974, escorraça as torres sobre pódios e restabelece, de certo mod.o, a rua e o lote como unidades de planeamento. Novos pia­nos feitos em 1975 e 1977, abandonam as vias rápidas, mas mantêm a estrutura pro­jectada. Mas, de 1974 a 1979, nenhuma construção é iniciada, adegradação do bair­ro acelera-se e um novo plano é estudado pelo APUR (Afelier Parisien-cJ'Urbanisme), o qual respeita a continuidade histórica na sua diversidade e consagra a tradição. Quase todas as ruas sã~ conservadas, vários edifícios antigos são preservados e recuperados, e as novas construções são realinhadas com as ruas, com cérceas uniformizadas a sete pisos. Novos espaços públicos são criados ao longo dos eixos viários. Arealização dos edifícios é confiada a uma dúzia de arquitectos, de modo a recriar a diversidade de lin­guagens. O bairro seria mais reconstrurdo do que renovado.

Comparado este plano com os planos dos anos sessenta, ve~ifica-se que existe um grande esforço de controlo sobre o desenho dos edifícios: alt~ra, alinhamentos, im­

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plantações, volumes, materiais, fachadas e cores, numa tónica contextualista, não sem tensões e contradições entre orientações urbanisticas e os projectos de arquitectura.

Para os responsáveis do plano, a estrutura fundiária e as funções são mais impor­tantes do que a estética arquitectónica. Este «Novo Urbanismo» apela ainda para be­neficios sociais e psicológicos na procura de uma «vida de bairro» favorecida pela per­manência de habitações, comércios, pequenas indústrias e serviços, e também pela dis­ponibilidade de espaços de convivio. O modelo cultural aproximar-se-ia da vie de quartier do Paris de antes da guerra, onde a vida privada e o convivio social se entre­cruzavam com os espaços privados e públicos, onde as crianças ainda brincavam na rua (a Sr.a Jane Jacobs também desejava isto) e as mães se encontravam no merca­do...

Ainda para os responsáveis do plano, a morfologia influenciará positivamente a vi­da social, evitando a alienação provocada pelos blocos modernos. Provar-se-á no tem­po se o retorno à estrutura tradicional conseguirá recriar verdadeiras comunidades no interior de um processo de renovação urbana.

AZAC Guilleminot-Vercingedorix é um exemplo do «Novo Urbanismo» pelas suas propostas e pela ligação a uma das operações mais discutidas na história do urbanismo (Main~Montparnasse), pela participação de arquitectos proeminentes - BofRl, Port­zampac, Grumbach, Novarina, Bernard, Zublena e outros - e também pelo significa­do preciso na involução das politicas urbanisticas francesas. Um pouco por toda a par­te o «Novo Urbanismo» implanta-se e a morfologia tradicional substitui a morfologia moderna. Por vezes, é certo, tomando mais o feitio e a aparência do que a forma, ou­tras vezes indo ao fundo das questões, como no programa Banlieues 89(68), que se pro­pas intervir nas periferias, redesenhando-as e reequipando-as, pretendendo dotá-Ias de vida urbana através de nova morfologia e dinâmica funcional.

Tanto em Berlim como na ZAC Guilleminot, trata-se, em ~tima análise; do processo de «desenhar» sobre o desenhado, de construir sobre o construrdo, aceitando a organi­zação do território por acumulação de intervenç&es e sobreposição de contributos, mantendo a procura da forma como objectivo qualificador.

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1974 PLAN. ZAC GUlllEMINOT

6·26. ZAC Guilleminot, Vercingectorix. Paris. Plano da Zac em 1974 (ainda com volumes soltos e espaços públicos residuais). Imagens das intervenções recentes. I. R. Boffil: reconstituição da praça circular. 2. A. Grumbach: reformulação da rua tradicional. 3. J. C. Bernard (idem)

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6-27. ZAC Gui//eminot, Vercingectorix. Paris. Maqueta da intervenção da recente reconstrução da rua e praça e projectos de vários arquitectos

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6·28. O. M. Ungers: proposta vencedora do concurso para o complexo residencial Forellenweg, em Salisbúria, 1983. Plano e perspectivas

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6·29. Gregoffi, associados: proposta para a sistematização da órea oriental e industrial portuária de Nápoles - concurso de ideias promovido pela Faculdade de Arquitectura de Nápoles, em 1986. Plano geral e perspectiva do terminal portuário e grande praça

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o NOVO URBANISMO EM PORTUGAL

Fazer um balanço do novo urbanismo exigiria talvez colocar uma série de questões a montante,tais como a situação caótica da urbanística em Portugal, o desinteresse ge­neralizado que a Administração central e a municipal votam ao planeamento urbano, a debilidade do debate disciplinar nos meios profissionais e, finalmente, a ausência de escolas de urbanismo a funcionarem continuadamente e com orientação definida.

Deste conjunto de questões, depreende-se, logicamente, que a prótica urbanística portuguesa não é animadora, nem nos processos nem nos resultados. Para a Adminis­tração a execução de planos é o preço para cumprir formalidades legais, viabilizar ini­ciativas ou obter dividendos políticos. Os planos são «males necessórios», mas que se alteram facilmente e se abandonam sempre que não convêm a interesses menos claros. Para os arquitectos, o planeamento urbano é uma tentativa frustrante de controlo do território, um meio de subsistência e trabalho, ou um processo de conquista de posições no mercado de trabalho como veículo de outros projectos. Em vinte anos de actividade profissional, pude acabar e ver construída uma dezena de edifícios, enquanto dos nu­merosos planos executados quase nem uma só rua ou espaço urbano vi construídos.

Tonto assim é que as realizações citadas mais adiante enquadram-se quase sempre mais na órea do projecto a grande escala do que no plano urbanístico, como os Planos Integrados e outras realizações que só envolvem um único promotor - Estado ou Mu­nicípio -, e em condições de total domínio fundiário.

Outra questão se coloca: a dificuldade de obter documentação, pela falta de regis­to sistemático em arquivos e publicações, apesar da acção das poucas publicações exis­tentes, como as revistas Arquitectura e Arquitectura Portuguesa, ou outros menos ar­quitectónicas como Sociedade e Território e Cadernos Municipais.

Neste contexto desmotivador, têm sido os profissinais mais envolvidos e inquietos quem tem acompanhado a evolução das ideias, e as poucas realizações efectuadas obrigam-me a reconhecer que com melhores oportunidades de trabalho, a urbanística portuguesa andaria de par com as suas congéneres europeias... .

Em Portugal, não existiram condições como no resto da Europa para a obsessiva implantação das doutrinas modernas; nem Portugal teve os grandes programas públi­cos de renovação e reconstrução das cidades provocados pela devastação de uma guerra em que não entrou. Nestes últimos quarenta anos, os problemas tiveram natu­reza diversa, como também diverso foi o ambiente cultural e social. Afirmar esta dife­renciação pode ser um lugar-comum, mas ajuda a compreender muita coisa.

Os ideais e estética do Movimento Moderno entraram com atraso em Portugal e só conseguiram impor-se a partir de 1950, com o progressivo enfraquecimento doutrinó­rio do regime salazarista. As orientações estéticas do regime filiavam-se, não sem polé­

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6-30. João Paciência: Plano Integrado do Monte da Caparica, Almada. Célula do plano. Projecto, 1975

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micas e contradições (veja-se Duarte Pacheco, António ferro), nos modelos daAlema­nha e da Itália. Um bairro como Alvalade, propunha morfologias habitacionais aceitá­veis pelos poderes públiéos, embora contivesse inúmeras inovações (691.

Já no complemento da Avenida Estados Unidos da América, os arquitectos conse­guiram (apesar das oposições municipais) dispor os blocos em ângulo com a ave~ida; o Bairro das Estacas marcava também uma orientação claramente racionalista e moder­na. Nos anos sessenta, os Olivais (arq. C. Duarte) receberiam influências, sem dúvida, dos modelos n6rdicos, o «moderno humanizado. (70), e em algu-mas zonas surgem ruas e praças, enquanto uma escala humana predominará em todo o conjunto.

Em Cheias, outra urbanização que se sucederia aos Olivais, é nítida a influência de Toulouse-Ie-Mirail, através da organização de percursos e da volumetria construída, embora sem a rua comercial e sem abandonar o zonamento e separação de funções. Os resultados visíveis redundam num conjunto de megaestruturas e volumes descontí­nuos, e disléxicos, cujo efeito é agravado pela segregação social do bairro.

Até meados de setenta, os planos e realizações públicas são largamente influencia­das pelas correntes que vão surgindo pela Europa. São dessa época os Planos Integra­dos, seguindo os modelos dos grands ensembles e enfermando dos mesmos problemas. Em Sines (1970-1972) o modelo de planeamento decorre das «grelhas neutras. experi­mentadas em Milton Keynes e nessa mesma época nota-se a influência britânica em al­guns sedores proflssionais. No Monte da Caparica, surgem conjuntos mais articulados e contínuos, ainda sem o sentido de rua, aproximando-se de congéneres anglo­sax6nicos e n6rdicos nas vias serpenteantes e implantação das construções.

Já nas urbanizações privadas a «urbanística operacional. frutificou largamente. Aimplantação solta e desconexa de blocos, torres e bandas resolvia bem os objectivos dos promotores em construir na sua parcela sem preocupações de conjunto, densifican­do sucessivamente, vendendo fogos, antes dos espaços livres e arruamentos concluí­dos, etc.

Éna iniciativa privada que o pior «moderno operacional. vai existir. Bairros como Carnaxide exemplificam os resultados desse modelo de composição, apesar da abun­dante arborização, vegetação e até cuidadoso tratamento dos espaços exteriores.

O declínio do regime, marcado pela guerra colonial, e o Governo de Marcelo Cae­tano, de abertura neocapitalista, trará a perda da autoridade do Estado, o enfraqueci­mento da intervenção pública e o aumento da sua incapacidade em ordenar o territ6­rio. Os arquitectos são progressivamente remetidos para um papel secundário e a ur­banística operacional e burocrática instala-se, sendo incapaz de controlar não s6 a for­ma do territ6rio, mas também as infra-estruturas e os programas. Neste contexto, pia­nos de pormenor e planos de loteamento, uns de iniciativa pública-municipal, outros de iniciativa privada, não serão mais do que abstradas disposições no solo de bioc();), ror­

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6-31. Manuel Vicente: Operação SAAl- Bacalhau-Monte Coxo - Olaias-Lisboa, 1974-1975. Maqueta da proposta. Duarte Cabral de Melo, Miguel Chalbert, Vicente Bravo Ferreira, Maria M. d'Almeida: bairro cooperativo em Alverca 1976·1983. Plano; alçado de um dos edifícios e vista da rua pedonal (es­cadinhas)

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res, edifkios, vias, equipamentos e espaços verdes, sem forma e sem conteúdo. Esta situação prolongou-se e acentuou-se ap6s a revolução de 1974, com a ainda

menor intervenção pública e a entrega das tutelas urbanfsticas nas mãos de imprepara­dos, executivos municipais, e autarquias com serviços insuficientes e mal apetrechados. Soma-se a estas questões a elaboração burocrática de planos sem planeamento, desti­nados apenas a legalizar compromissos, a dispersa legislação nunca cumprida e a pul. verização das actuações sem qualquer denominador cultural ou arquitect6nico.

A orientação estética e morfol6gica dos planos tem ficado ao sabor da intervenção dos seus autores, sem que se perceba qualquer posição institucional sobre este assunto. De resto, o numeroso grupo de autores não qualificados de planos e projectos (constru­tores civis, engenheiros e outros) que dominam a construção portuguesa e produzem o espaço urbano ainda não foram tocados pela problemática da morfologia urbana e encontram na composição moderna e operacional a fácil resolução dos seus projectos.

Uma das primeiras realizações que abordaram o retorno às tipologias tradicionais parece ter sido o Plano do Bairro do Restelo, dos arquitectos Nuno Teot6nio Pereira, Nuno Portas e João Paciência.

O Plano do Restelo, elaborado em 1971.1972, constituía uma certa inovação em Portugal. Hoje, o bairro ainda inacabado, já permite uma apreciação global dos resul· tados espaciais e físicos. Basicamente, o plano prevê a ocupação de 12 hectares de propriedade municipal com um centro de serviços e comercial, separado da habitação que se organiza, segundo diversas tipologias, em blocos estreitos que definem ruas. Os blocos parecem-se com quarteirões estreitos e compridos, de baixa altura, sendo nítida a releitura dos bairros holandeses dos anos trinta, acentuada pela linguagem arquitec­tónica dos edifícios. As ruas dispõem-se perpendicularmente às curvas de nível, reto­mando as formas lisboetas de ocupação de encosta. O «quarteirão» é rectangular, su­jeitando a altura da construção à largura da rua. A densidade obtida por este processo é relativamente elevada (100 fogos/hectare) e permite a contençãb dos espaços públi­cos. Os estacionamentos em garagens pr6prias ou sob os edifícios evitam em parte os inconvenientes da habitação no piso térreo. O ambiente público é colmo e tranquilo, poro o que contribui o isolamento do bairro em relação às vias de passagem e o apro­veitamento do paisagem distante do rio no orientação dos ruas.

O bairro div,:,lgado no revisto Arquitectura (71), transportava para Lisboa os preocu­pações de outros países, como a Itália, a Espanha e o Grã-Bretanha, abordando os questões da formo urbano. Demonstrava também a possibilidade de obter óreas den­sas com baixa altura; bastaria para tonto redimensionar o perímetro dos construções.

As grandes transformações profissionais ocorridas logo ap6s a Revolução de Abril de 1974 vão constituir uma possibilidade poro o debate destes problemas. A atenção e prioridade dado às questões habitacionais consubstanciaram um conjunto ~e progra·

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6-32. 1. Pedro Ramalho, Francisco Lima, Pedro Araújo: Operação SAAL. Antas-Porto, 1975. Planta antes e depois da intervenção na zona das .ilhas., pormenor e cortes. 2. Fernando Tévo­ra, B. Ferrão, Jorge Barros: Operação SAAL. Miragaia-Porto, 1975. Planta - reconstituição das ruas

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mas de intervenção urbana e habitacional (o SAAL) que em alguns casos, como Lisboa e Porto, incidiram em áreas no interior do perfme'tro urbano, conduzindo ao completa­mento de fragmentos interrompidos da cidade, projectando os conjuntos ou os novos bairros, a que não eram alheias as referêriéias da história desde as Hoff às 5iedlvngen, ou aos bairros sociais de antes da segunda guerra.

Ponho deliberadamente de lado a questão social, polrtica e ideológico do SAAL pa­ra só me ocupar das questões de «desenho». As operações SAAL permitiram a experi­mentação de morfologias urbanas tradicionais e a recuperação de espaços da cidade considerados mais aptos a incrementarem as relações sociais entre os moradores: a rua, a praça .ou o.agrupamento de fogos em quarteirão. As condições programáticas eliminavam a componente fundiária: os arquitectos trabalhavam em terreno público e punham deliberadamente de lado o loteamento ou qualquer forma de privatização do solo. Como tal, as operações oscilavam entre planos e projectos. Em parte pelas razões expostas as morfologias tradicionais foram uma opção quase generalizada.

Na operação Bacalhau-Monte Coxo, Manuel Vicente propõe quarteirões-pátio abertos de um lado, organizando um conjunto de espaços reservados, ou pátios inte­riores, e restituindo o plano marginal e a rua. Raul Hestnes Ferreira, no Bairro das Fon­secas, opera também com quarteirões, ou quadras, abertas aqui e ali num dos lados ou nos ângulos, permitindo a utilização colectiva do seu interior, enquanto o somatório de quarteirões vai definir verdadeiras ruas e espaços urbanos caracterizados.

Siza Vieira, ao abordar pela primeira vez a escala urbana (S. Vftor e Bouça no Por­to), propõe formas e tipologias próximas da vila operária ou da ilha portuense, re­cusando claramente os blocos modernos soltos e desintegrados.

Em outras operações também S. A. A. L., outros autores seguem caminhos seme­lhantes, tantas vezes sugeridos pela intervenção e programa muito ligados ao comple­tamento de tecidos urbanos.

Mais tarde (1977), projecta Siza Vieira o Plano da Malagueira para Évora (721.

AMalagueira era um plano difrcil de entender: pela morfologia tr~dicional, neste caso recuperando a rua alentejana da aldeia (que não da vila ou ~a cidade) pelas tipo­logias construtivas que, ao introverterem o alojamento sobre o pátio interior, desligando-o da rua, colocariam um sem-número de interrogações e até o desajuste com as aspiraçõ~s sociais e culturais das populações. Siza propõe um conjunto de es­treitas ruas que definem dalhões. e sobre essas ruas abre muros de fachada que ace· dem ao pátio que organiza a casa.

AMalagueira explorava também outro elemento - talvez o mais interessante e rico de poética e inovação: a construção da infra-estrutura como monumento, um «aquedu­to» que, transportando a energia, os telefones e a água em arcada sobreelevada, constituiria um «monumento» à maneira romana, tipologia tantas vezes presente nas

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6-33. Álvaro Siza Vieira: Bairro da Malagueira - Évora. Planta geral e vista do monumen· to - "o aqueduto"

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6·34. José Charters Monteiro, J. Sousa Martins, Jorge C. Ferreira, José L. Prata, José C. Henriques: Plano Integrado do FHH - Setúbal. Plano geral, perspectiva aérea e projecto do conjunto Bacalhau, projectado com Aldo Rossi

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'·35. AJberto Ol••i.., ,,"t.oio S"Ide, ~.... lo'....do d. A"i,•. FFH, 197'.1979

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terras do Sul. Outras propostas do plano retomava-m a produção da cidade por fases e acréscimos - ao que corresponderia o próprio processo de execução. Arelação com a cidade de Évora: resolve..se na baixa volumetriá, na recusa de qualquer elemento de ski/ine que perturbe a imagem da cidade histórica e na própria morfologia dos espaços interiores.

Hoje, passados mais de dez anos sobre o inkio de realização do plano, as sucessi­vas construções e partes realizadas vão encaixando no srtio as ideias do autor, e o aca­bamento das infra-estruturas, o aparecimento aqui e ali de alguns serviços conferem al­guma vida ao bairro e atenuam certa rigidez, de resto compensada pelo rigor estético e qualidade do desenho.

Outras grandes intervenções habitacionais de iniciativa estatal, dominadas pelos Planos Integrados (Aveiro, Setúbal, Zambujal), embora de preparação anterior, são iniciadas na segunda metade dos anos setenta.

Destas, os planos mais marcantes serão os de Setúbal e Aveiro, o primeiro de auto­ria de Charters Monteiro, e, o segundo, de Alberto Oliveira e António Smide. Em am­bos se retoma a ideia de fazer grandes partes de cidade recorrendo a formas e espaços tradicionais, porém rigorosa e racionalmente geometrizados. Em Setúbal, a influência de Rossi (73) de forte racionalismo, gera contradições entre a excessiva repetição dos blocos-quadras e a vida sociocolectiva da população. Mas a maior contradição parece ser a impossibilidade de constituir verdadeiras partes da cidade só com habitação so­cial e nesse aspecto ambos os planos decorrem do grand ensemb/e ou bairro-dormi­tório moderno.

Esse terá sido, de resto, o resultado do modo de produção do FFH, que impunha programas bem pouco «integrados» de habitação sem serviços, gerando bairros desti­tuídos de actividades e com uniforme composição socioeconómica, o «bairro-dor­mitório para classes' desfavorecidas». Os planos integrados arrumam-se melhor na área do megaprojecto do que no plano urbanrstico, já que a~ condições de _programa impuseram a reprodução extensiva de algumas tipologias habitacionais, desequilibran­do as restantes componentes urbanas.

Ainda em Setúbal, são reconhecíveis outras tipolõgias como a «ilha» ou «vila operá­ria» de início de Novecentos, e sobretudo na maior parte do plano são os quarteirões ­concebidos como um edifrcio ou peça de arquitectura de grande rigidez formal, com o seu interior em pàtio colectivo. Mas a excessiva repetição do modelo cria certamente uma visão angustiante, agravada pela falta de arborização (haverá espaço para as ár­vores?) e a degradação decorrente dos níveis económicos dos moradores.

Em 1980-1981, o concurso promovido pela Câmara Municipal de Lisboa para a re­novação urbana do Martim Moniz permitiu aos concorrentes a abordagem da morfo­logia urbana, da intervenção no casco histórico e do completumento de um vazio na

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6.36. Raul Hestnes Ferreiro: conjunto habitacional (SAAl e cooperativo). Quinto dos Fonsecas - Lisboa, 1975

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6rea central da cidade. A proposta de Carlos Duarte e de José Lamas, escolhida noo concurso, propõe um conjunto de espaços que retomam a morfologia tradicional- a rua, a praça, a alameda arborizada - e reinterpreta formas de ocupação da encosta e espaços de tradição lisboeta: as escadinhas e os p6tios. Àépoca, o Martim Moniz foi um dos poucos concursos de desenho urbano. No meio de polémica, significou um marco no percurso do novo urbanismo em Portugal.

Este concurso de plano marca a ruptura com a urbanrstica moderna e com outras realizações portuguesas que os antecederam.

Em 1983, a exposição Depois do Modernismo, orquestrada sem grande rigor nas présenças, pretendia ser a ruptura com o passado recente moderno, trazendo para Lis­boa a agitação e, polémica internacionais. Mais centrada sobre questões de formas, feitios, estilos e aparências da arquitectura, ar se apresentavam, todavia, alguns pIa­nos, todos desenhados com a evidente procura comum da forma urbana. Os planos de pormenor de Vrtor Mestre para Castro Verde, de João Paciência para o Plano Integra­do de Almada-Monte da Caparica, ou de Cabral de Melo, Vicente Bravo e outros para a Cooperativa Chasa, em Alverca, e outros, demonstraram o modo de fazer cidade re­correndo às formas urbanas reconhecfveis.

Anos mais tarde, em 1985, a mesma tendência era evidenciada na Primeira Exposi­ção Nacional de Arquitectura. Aprodução de largos sectores profissionais havia aderi­do a essa nova (e ao mesmo tempo tão antiga) maneira de fazer cidade.

eque as escolas de arquitectura haviam dedicado um largo espaço pedag6gico à questão do desenho urbano. Em Lisboa, esse debate foi animado nas cadeiras de Pla­neamento e Projecto pelos docentes, que haviam ingressado em 1977, enquanto a di­vulgação da cultura vinda do estrangeiro abria novas pistas e inquietações. Rapida­mente os jovens discentes aderiram com entusiasmo às novas morfologias e é forçoso reconhecer o papel dessas gerações mais perme6veis a novas estéticas na transforma­ção do panorama urbanrstico português. Nas escolas, e depois na vida profissional, te­rá sido sem dúvida essa geração de 1977 a 1984 que possibilitou um forte impulso ao novo desenho urbano. Terá faltado, como já anotei, uma activiodade crrtica sistemótica para que se adquirisse o verdadeiro domrnio cultural e projectual dessas questões.

Espero que este trabalho contribua nesse sentido. Ao apontar alguns exemplos (sem qualquer sistematização obsessiva), quis exemplificar as mutações que em Portllgal se têm verificado no desenho urbano. Os pr6ximos anos poderão ser reveladores de uma possrvel inversão da degradação e descaracterização do territ6rio - da forma urbana e da paisagem.

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6.11 EXPERIiNCIAS EREALIZAÇÕES PESSOAIS

Deliberadamente guardei para o final algumas referências a trabalhos reali­zados em mais de 20 anos de actividade profissional. As ideias e argumentos desta dissertação resultam também de uma prática de desenho urbano cruzada com a actividade docente e a investigação sobre o urbanismo.

À descoberta e aprendizagem do urbanismo com Meyer-Heine sucedeu, entre 1978 e 1993, a prática no atelier realizada conjuntamente com Carlos Duarte, associado e amigo, e de 1993 até hoje o trabalho individual ajudado pelo esforço dos meus colaboradores.

Dessa prática resultaram numerosos trabalhos de urbanismo, desde a abor­dagem da grande escala territorial na Cova da Beira, até aos planos de pormenor e conjuntos edificados que relevavam do desenho urbano. Ao longo desses 20 anos "de planeamento e arquitectura" os trabalhos serviram os propósitos desta dissertação e naturalmente seleccionei aqueles que melhor correspondiam às ideias apresentadas - pelo seu impacto, pelas suas propostas e pela inter-relação com os temas da morfologia urbana. Certamente, e é natural, que as referências sejam diferentes da primeira edição. Alguns trabalhos então referidos não tiveram prosseguimento, como o Plano Director da EXPO 98 (1992). Outros planos concretizaram se e em outras situações o desenho de alguns equipamentos públicos, extensivos no território, relacionou-se com os temas do desenho urbano.

Escolhi assim trabalhos de referência: • O Plano da Costa de Caparica (1978/81), o primeiro em que ao escalão

territo-rial tentei ultrapassar as tradicionais limitações de zonamentos e traçados viários para definir intenções de desenho urbano.

• O Plano de Renovação Urbana da Área do Martim Moniz (1980-81), pelo programa, tema e situação no centro de Lisboa, mal conduzido na realização desde as primeiras obras, adulterado logo de início e desfigurado antes de ser abandonado pela autarquia. Mas, momento importante na sua época, pela inflexão dos conceitos sobre a forma urbana e o desenho da cidade.

• O Estudo do Alto do Parque Eduardo VII (1986), proposta rejeitada pela C.M. Lisboa, assim desprezando um remate para o inacabado (desde as propostas de Keil do Amaral e Cristino da Silva) Alto do Parque.

• O Plano de Urbanização de Ponta Delgada (1986- 1997) e os planos de pormenor realizados na sua continuidade - S. Gonçalo-Papaterra e Zona Nascente do Hospital (1990-99), vastos exercícios de desenho urbano numa

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paisagem magnrfica no contexto insular de S. Miguel, oportunidade de desenhar verdadeiras partes da cidade na perspectiva da sua execução.

• O Plano de Urbanização e o Plano de Recuperação e Salvaguarda da Zona Antiga da Cidade da Horta (1992), com a sua primeira realização qualificadora • a reabilitação do teatro IIFaialensell

., conjunto de realizações que mereceram à Câmara Municipal da Horta o Prémio de Mérito Especial do Conselho Europeu de Urbanistas • Comunidade Europeia, 1997/98.

• Os planos dos centros históricos de Tavira (1983), Ponte da Barca (revisão· 1997) e Moura (1987), como abordagem sistemótica e metodológica da forma urbana da cidade histórica, sua salvaguarda e valorização.

• O Plano Director Preliminar da EXPO 98 (1992), com o qual a candidatura portuguesa saiu vencedora, e logo de seguida desdenhosamente abandonado pelos comissórios promotores da Exposição Mundial 98, que retomava o contraponto da Baixa Pombalina 250 anos depois com a sua grande praça aberta sobre o Tejo.

• O Plano de Pormenor do QuarteirOo da Garagem Militar (1993), desenhado para a Câmara Municipal de Lisboa, que permitiu repensar as soluções de quarteirão com espaço de uso público no interior e reflectir sobre o controlo das transformações urbanas das '~venidas de Lisboa".

• O Plano de Pormenor do Recinto dos Olivais (EPAL-1997) que, para o conjunto imobiliório pretendido, propunha retomar a definição da forma urbana e espaço público ao nível do solo como factor de qualificação, afirmação e identificação do conjunto.

• O Projecto de Valorização da Cerca do Castelo de Óbidos (1991-99), exercício arriscado de desenho urbano e desenho do solo em órea histórica de mura· lhas, livre e disponível na vila de Óbidos.

• Finalmente, o proiecto de alguns edifícios desenvolvidos como conjuntos urbanos e em que a composição urbana à sua escala sobreleva o pormenor da arquitectura, como o Projecto da escola Secundória da Horta / Parque Desportivo do Faial, ou os projectos das Escolas Secundárias de Lagoa e de Ponta Delgada.

Muitos outros. trabalhos ficaram por citar e seró correcto dizer que a escolha reflectiu a emotividade pessoal e a vontade de repensar os exemplos face à edição de 1993. Escolha que evitou deliberadamente a citação de projectos de edifícios, embora alguns, pelas suas propostas, dimensão e inserção urbana, decorram das ideias desenvolvidas sobre a forma do território e as relações entre espaço construído e espaço livre. Mas existe nesta escolha a opção deliberada 'pelo desenho urbano em detrimento do projecto de construção.

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Estes trabalhos reflectem também, no seu conjunto, a dificuldade que sinto em separar o desenho da cidade do desenho de edificios.

Na diversidade de temas, programas, srtios e contextos, estes exemplos relacionam-se com os raciodnios debatidos - a prótica do urbanismo, o desenho da cidade e a morfologia urbana.

Tanto assim que alguns prindpios estarão sempre presentes, implfcita ou ex­plicitamente. Primeiro que tudo o entendimento cultural e arquitectónico da urbanrstica e a consideração e o respeito humilde do passado. Trabalhando a memória do território, reinterpretando-o com programas, materiais e estruturas actuais. Entendendo que a intervençOo contemporOnea se sedimenta e continua nos territórios pré-existentes, e que por sua vez poderó ter novas sedimentações e continuações no futuro. O plano e o projecto são etapas da organização arquitectural do território, elos de ligação entre o passado que devem respeitar e o futuro que devem construir. A arquitectura tem o seu verdadeiro significado como componente ou parte do território que transforma e organiza. A forma é o verdadeiro objectivo de toda a composição urbana, arquitectónica ou construtiva, e é o que permanece do uso e utilização do espaço em acumulações e se­dimentações progressivas.

Nest~s trabalhos o desenho constituiu o processo e método de produção da forma para organizar as transformações do território no tempo da sua construção.

Com estes exemplos havia que dar a entender a continuidade entre o discurso teórico e a prótica profissional, afinal um dos métodos desta dissertação.

Detenho-me agora com pormenor sobre alguns desses exemplos.

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6·37. Plano da Área da Trataria·Costa da Caparica. Esquemas dos Equipamentos de praia e da Organização do Espaço e Corte Esquemótico com Sugestões de Arquitectura e Desenho Urbano para a zona da "frente de mar", no actual dique da Costa da Caparica (1980). Plano de Pormenor da Frente Urbana sobre o Tejo na Trafaria (1987) com as novas construções e o passeio marginal arborizado. Perspectiva axonométrica.

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PLÁNO DA TRAFARIA-COSTA DA CAPARICA (74)

Realizado em 1979, a escala da intervenção (2000 hectares) obrigava a conter as indicações do desenho e a remeter muitas intenções para planos de pormenor comple­mentares, onde seria possrvel trabalhar verdadeiramente o espaço urbano.

Procurou-se desde o inkio encontrar as referências para a forma territorial, nos li­mites rigorosos das áreas urbanas, nos traçados das vias, na definição de eixos e qua­drkulas desenhadas a partir de um estudo exaustivo e minuciosos do território existen­te, nas suas diversas particularidades e problemas, parte de uma paisagem de grande escala: a penrnsula de Setúbal e as extensas praias até ao b:Jbo EspicheI.

Para as áreas mais sensrveis, o plano actuava com ideias de definição arquitectóni­ca (cortes, secções, volumes e perspectivas).

Assim, na extensa faixa que se designou por «frente de mar» e aproveitando o dique existente, propunha-se uma zona pedonal com equipamentos, serviços e o usufruto e aproveitamento das excepcionais qualidades dessa área. Em indicações gráficas, adiantava-se uma visão arquitectónica e morfológica que prepararia o «plano de por­menor. para essa área e os projectos de arquitectura.

O modo como o plano viria a ser implementado pelo Município afastou os autores do acompanhamento e implementação do plano com todas as incorrecções e distor­ções que estes afastamentos significam...

Apenas na zona da Trafaria se desenvolveu em pormenor uma proposta de frente urbana sobre o Tejo, na resolução da conAituósa contiguidade com o terminal cerealr­fero. A frente urbana constituiria uma imagem visual inspirada nos perfis industrial­portuários, permitindo uma pequena marginal à beira-Tejo, contemplando Lisboa.

Reconstituiram-se também os quarteirões, acertando os sistemas de fachadas pelas dimensões dos lotes. Tanto assim que as formas de fachada posteriores admitiam modi­ficações e variações pelos projectistas e construtores locais, sem que o conjunto perdes­se forca e unidade..

Marcaram-se também planos marginais rectilrneos e contrnuos construrdos, alinha­mentos de árvores, arcadas, ou, na área do limite de intervenção, «torres. quadradas de baixa altura e isoladas no terreno. Consoante as situacões, favorecia-se a utilizacão. ,

controlada de tipo.logias contemporâneas. Mais de 20 anos após a realização do Plano, vejo com satisfação a

implementação através do programa Pólis das ideias propostas para a frente de mar da Costa da Caparica. A requalificação dessa faixa e de parte da área urbana adjacente, tal como proposto em 1979, já sem a presença do autor do Plano da Costa da Caparica, mas certamente positiva para uma parte degradada e com grande potencial, da margem Sul.

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•­• .. 6-38. Plano da Área da Trafaria-Costa da Caparica. Planta geral - Proposta final ­Utilizaçáo do Solo (1980). Ver também figuras 2-5, 2-22 e 2-41

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o PLANO DO MARTIM MONIZ (75)

No centro de Lisboa, a órea do Martim Moniz permanecia desocupada desde as demolições efectuadas nos anos quarenta, na perspectiva da renovação urbana, se­gundo o plano de Faria da Costa, que não se realizou:

Para encontrar a solução, a CML e a EPUL promoveram um concurso público que viria motivar um extenso debate na Imprensa. Aselecção final recairia sobre a propos­ta de Carlos Duarte e de José Lamas (761.

A proposta, além da reformulação do programa com o objectivo de reequilibrar a evolução negativa da Baixa, qualificando-a com equipamentos culturais e serviços de interesse público, propunha uma estrutura de espaços que definiriam uma nova ima­gem e a continuidade com as áreas urbanas envolventes. O plano estrutura-se a partir da sequência de espaços identificáveis: a praça, a rua, a avenida, o passeio, o pátio, as «escadinhas». Aamarração à cidade recose os bordos da «ferida» (o vazio resultan­te das demolições) e é acentuada pela consideração das linhas de força, eixos, perma­nências e preexistências.

A morfologia tradicional é assumida, considerando que a cidade e os espaços urbanos são definidos pela arquitectura das construções numa inter-relação dialéctica.

Basicamente, o plano organiza a zona de intervenção com três elementos principais: . • Uma praça reservada ao uso pedonal, limitada num dos lados pelo centro cultural e

sobreelevada em relacão ao sistema viário envolvente.. • Uma avenida que prolonga a Avenida Almirante Reis e que, canalizando todo o

trânsito de passagem, atravessa o espaço e corta na diagonal os eixos da estrutura urbana. Remata na praça, é marginada por faixas arborizadas ou alamedas, à ima­gem do boulevard do século XIX, agora em moldes contemporâneos.

• Um anel de circulação envolvente que distribui o trânsito, constitui a rua de anima­ção e acesso directo aos edifkios.

A partir destes três elementos básicos, desenvolvem-se outros espaços urbanos, co­mo a rua pedonal - que reconstitui a Rua da Mouraria - e a rua comercial coberta, que remata na estação do metropolitano e constitui o eixo central de um conjunto edifi­cado; o conjunto da encosta da Pena, limitado a poente pela Rua do Arco do Sol à Graça e, a nascente, pela rua de animação, tendo no seu interior e a meia encosta um percurso horizontal de nível que une os pátios e o jardim existente, e é cortado trans­versalmente por «escadinhas» de tradição lisboeta.

A analogia com a Baixa Pombalina está presente através do controlo de cérceas,

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definição de alinhamentos e planos marginais rectilíneos, recorrendo à retkula ortogo­nal que ordena toda a composição e é quebrada em diagonal pelo prolongamento da Avenida Almirante Reis, «reconstituindo» o antigo troço da Rua da Palma.

Aestrutura fundiária concorre para reforçar a imagem da forma urbana,.na medi­da em que os 5 hectares de propriedade municipal são subdivididos em sectores a se­rem construídos por promotores privados em «direito de superfície».

Aos lotes correspondem edifícios de forma e dimensão variável, porque resultam da definição dos traçados e dos espaços urbanos pretendidos. Os cheios resultam da defi­nição dos vazios e vice-versa, numa interligação dialéctica que exclui, pela natureza do terreno e do programa, qualquer módulo prévio e repetitivo.

Nesta disciplina de desenho urbano se encaixaram, segundo lógicas funcionais, os diversos programas e serviços, com a necessória flexibilidade. O centro cultural delimi­ta a praça a poente e prolonga-se em actividades de ar livre; o novo hotel fecha o quarteirão do Hotel Mundial e reconstitui no logradouro uma galeria para peões como as passages parisienses; os quarteirões da encosta da Pena têm no seu interior pátios semipúblicos e são ocupados com programas de cinemas, teatro, comércios e habita­ção; o edifício junto à capela da Senhora da Saúde reconstitui a Rua da Mouraria e contribui para organizar o espaço central e as alamedas arborizadas; a rua comercial coberta remata na estação do metropolitano do Socorro, organiza um grande edifício de comércio e escritórios, à imagem da Galeria Vittorio Emmanuelle, em Milão, e nas s~as caves situam-se os parques de estacionamento.

Os graus de liberdade conseguidos permitiram espaços de grande complexidade que se inter-relacionam entre si e com o sítio. Assim, a praça possui três níveis de leitura e definição espacial. O primeiro, definido pelo centro cultural e espaço de permanên­cia imediato, pqvimentado, arborizado e elevado em relação às ruas envolventes. O segundo nível inclui as vias envolventes, é limitado pelo plano marginal do novo ho­tel e dos edifícios da Rua da Mouraria e pelo eixo arborizado que segue o traçado da antiga Muralha Fernandina no sentido nascente-poente. Um terceiro nível de leitura é já constituído pela encosta da Mouraria e o castelo de São Jorge, as colinas envolven­tes, ou seja, a paisagem de Lisboa visível do vale.

Outros aspectos da morfologia urbana da Baixa e de Lisboa são retomados, na dis­ciplina geral dos fraçados, na adopção de formas e tipologias espaciais como as esca­dinhas que vencem as encostas; nos percursos de nível a meia encosta; nos pótios ou na própria escala e expressão das ruas, rectilíneas e de cércea controlada. O tratamento dos espaços exteriores utiliza o empredrado de preto e branco na melhor tradição lis­boeta, o mobiliário urbano e ainda a órvore isolada em caldeira, definindo alinhamen­tos, espaços e percursos e integrando os sistemas construtivos.

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6-39. Carlos Duarte, José Lamas: Plano de Reconversão Urbana do Martim Moniz, 1980. Proposta de Concurso

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o plano organizou assim três níveis de intervenção:

I O projecto do solo, ou seja, a organização técnica e formal da superfície do terreno onde surgem os perímetros edificados, os passeios, os empedrados;

I O desenho dos elementos que preenchem o solo, desde as árvores ao mobiliário urbano como complemento e ordenamento do próprio espaço.

I O desenho dos edifícios, a sua implantação, características, volume e arquitectura, e que definirõo os vazios, ou seja, o espaço urbano.

A oportunidade do concurso permitiu a experimentação desde 1980 do desenho urbano integrando cidade e arquitectura. O plano deveria prolongar-'Se pelos projectos dos edifícios e estes começavam desde logo na definição do pr6prio plano. Plano e projecto deveriam constituir dois momentos do mesmo processo - defrontando, como é 6bvio, o jogo de forças e questões de índole política e conjuntural a que qualquer plano deve responder como processo no tempo. As vicissitudes do plano e o afastamento dos seus autores da realização dos projectos dos edifícios (77) geraram um profundo desfasamento dos resultados finais em relação às previsões e propostas de planeamento.

O primeiro edifício a ser construído, e único no período entre 1981 e 1989 (o que questiona a pr6pria evolução das ideias do plano), contém já alterações de programa (a introdução do centro comercial) que obrigaram 00 aumento de cérceas e volumes, embora mantendo os planos marginais e eixos inicialmente previstos. A Rua da Mouraria é refeita num traçado sinuoso que permite algumas gradações de volumes, integra a capela da Senhora da Saúde e o casario. O edifício construído uso a contradit6ria expressão de duas fachadas: uma plana mais monumental, de fenestrações repetitivas, volta-se, a poente, à praça e à alameda, e abre a entrado principal; a outra fachada graduada nos volumes, quebrada em planos e cérceas, retoma a escala da Rua da Mouraria. A ligação é assegurada pela fachada norte, rigorosamente simétrica, o único desenho possível para ligar partes táo distintas. A cor verde-água proposta como tonalidade para todo o edifício que teria permitido enfatizar melhor a composição, foi substituída por imposição municipal pelo amarelo burocrático e pouco imaginativo.

Enquanto isto, e nesse mesmo edifício, o programa inicial é sucessivamente alterado. SOo suprimidos os factores de animação, como restaurantes, cafés e esplanadas para a Rua da Mouraria, e as lojas de comércio ocasional dão lugar a armazéns de revenda de comerciantes indianos e paquistaneses.

Posteriormente, li revelia do plano e já na fase de inexplicável ruptura entre a EPUl/Camara Municipal de Lisboa e os autores do plano, seria construído o edifrcio do centro comercial do Martim Moniz, junto ao hospital de S. José,

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6-'40. Plano de Renovação Urbana do Martim Moniz. Corte II, ao longo do prolongamen­to da Avenida Almirante Reis, passando pela praça e interior do novo hotel; Corte FF, transversal pelo antigo traçado da Muralha Fernandina, olhando para Norte; maquette (vista do Castelo de São Jorge) com indicação das ocupações e programas proposto (1980)

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caricatura das propostas do Plano, a que se seguiu o edificio do hotel NMundial". Estes edificios, com aumento de volumetria (mais 2 pisos) e um desenho de fachadas discordante, confirmavam a mesma vontade da EPUl e da Camara Municipal de Lisboa em aumentar os indices de ocupação e construção previstos no Plano e de en'tregar o Martim Moniz à direcção e apetites dos investidores imobiliórios.

No inicio da década de noventa, quando se justificava plenamente uma revisão do Plano do Martim Moniz, a C.M.L. e a EPUl abandonam-no definitivamente, modificam o traçado viório e destroem a parte jó realizada (a diagonal prolongando o eixo da Av. Almirante Reis), transformando o largo do Martim Moniz com um anel viório envolvente e uma ·placa central atafulhada de elementos construtivos, fontes, repuxos, mobiliório urbano e ainda quiosques e niinilojas que pretendem sustentar algum comércio local.

É assim que em 1992/93 morre o plano escolhido no apaixonado concurso público de 1980/81 (tal como os seus antecessores). 13 anos de um trabalho que se foi degradando nas expectativas e na relação dos autores do plano com o dono de obra (EPUl/C.M.L.) e se tornou desgastante até à saturação, tendo culminado com uma intervenção apressada e exuberante, jó desprovida de qualquer visão de desenho-composição urbana tal como pretendido em 1980.

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6·41. Plano..de Renovação Urbano do Martim Moniz. Propostos do desenho de pavimen­tos executados no equipo pelo pintor Eduardo Nery. 1. Proposto inicial do concurso; 2. Desenvolvimento em projedo poro o sedor jó realizado (capelo de Nosso senhora do Saúde) e parcialmente destruido em 1992-93.

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6-42. Proposta poro o Alto do Parque Eduardo VII . o plano de pormenor. Planta e Corte. • em Lisboa - 1986. Esquema base para

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ESTUDO DO ALTO DO PARQUE EDUARDO VII (76)

Da encomenda muniCipal de um "relatório-parecer" sobre os empreendimentos do alto do Porque Eduardo VII, em Lisboa (hotel "Hilton" e centro comercial, Palácio dos Congressos e nova Catedral de Lisboa), resultou uma proposta para essa zona da cidade.

O alto do parque Eduardo VII seria estruturado por uma praça em arcada semi­circular em patamar-miradouro sobre Lisboa, envolvida por arborização. Alguns exemplos, como a esplanada do Trocadero, em Paris, constituíram referência para o espaço público de permanência e contemplação da cidade. A praça abrir-se-ia sobre o parque, na panorâmica de Lisboa, interligando o Palácio dos Congressos e a catedral. O hotel e o centro comercial seriam contidos no quarteirão definido pelas Av. António Augusto de Àguiar e Sidónio Pais.

Ao espaço público da praça miradouro monumental ffcavam interligados os grandes equipamentos, também públicos, então comprometidos para aquele sítio de Lisboa.

A catedral, compromisso municipal com a Igreja Católica, arrumada no lado esquerdo ascendente do parque; o Centro de Congressos no lado direito, colado à Av. Sidónio Pais. Ao centro, e mantendo livre o topo do Parque Eduardo VII, assentava a praça, vasto espaço público monumental, plataforma livre e debruçada sobre a cidade, a ser desenvolvida em pormenor a partir da forma cir­cular proposta. Animariam essa praça funções que ancorassem a permanência do cidadão na contemplação da 'lista grandiosa. A praça restabeleceria a conti· nuidade do Parque Eduardo VII como espaço público. até à Rua Marquês da Fronteira e eventualmente prolongar.se-ia em alameda pelos espaços livres entre o Palácio da Justiça e os jardins do palacete Mendonça.

Construída em laje sobre a Alameda Cardeal Cerejeira, a praça descia em patamares até ao Parque Eduardo VII. No subsolo localizava-se um vasto parqueamento público, fácil de articular ao sistema de transportes e acessi­bilidades da zona.

A proposta acompanhava um parecer sobre anteriores projectos de ocupa­ção e, entre outras recomendações, justificava a necessidade da realização de um plano de pormenor que estabelecesse as regras dos projectos dos edifícios e, finalmente, o projecto de construção do espaço público.

As estratégias político-partidárias da gestão municipal viriam a aprovar a pro­posta, para depois a anularem, mediante a entrega do projecto a outros autores com ideias diametralmente opostas.

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Nesse outro projecto o Centro de Congressos implantava-se no topo do parque, rematando-o e fechando o espaço livre.

Também essa solução viria a ser abandonada e pbsteriormente definitivamente substitufda por um projecto do Prof. e Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Teles, em curso de realização, que assim afasta a ideia de qualquer programa de equipamento público ou construção no Alto do Parque. A criação de uma grande praça é substitufda por ajardinamento e tratamento paisagfstico diferente, traduzindo outro entendimento para o desenho dessa parte da cidade.

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PLANEAMENTO EM PONTA DELGADA - ILHA DE S. MIGUEL, AÇORES (77)

• PLANO DE URBANIZAÇÃO -. PLANO DE CIRCULAÇÃO VIÁRIA E ESTACIONAMENTO • PLANOS DE PORMENOR DE S. GONÇALO·PAPATERRA E DA ZONA DO

HOSPITAL DO DIVINO EspíRITO SANTO • ESCOLA EB 23 E ENSINO ARTíSTICO E PRAÇA FRONTEIRA

Desde o Plano de Urbanização realizado em 1944 pelo Arq. João Aguiar, e que produziu a renovação urbana da frente de mar, destruindo o velho porto e criando a marginal em aterro, não se havia realizado um plano completo e eficaz para a cidade de Ponta Delgada.

De então para có os vórios planos realizados não passaram de fases preli­minares, de esbocetos ou anteplanos, não atingindo a aprovação nem con­seguindo o controlo da cidade e do seu crescimento urbano.

Em 1988 a Administração Regional seleccionou a equipa dos Arquitectos José Lamas e Carlos Duarte para a realização de um novo plano de urbanização. O plano é iniciado em 1989, entregue em anteplano em 1991 e o plano definitivo para aprovação em 1996.

A oportunidade de enfrentar um vasto território, organizar a expansão urbana e o controlo da cidade consolidada e do seu centro histórico permitia reequacionar os métodos e os instrumentos de controlo da produção do território contidos na legislação que regulamenta este tipo de planos.

A par do tratamento dos grandes problemas da cidade, desde a organização das óreas de expansão, infra-estruturas e equipamentos, o Plano de Urbanização adoptou metodologias que integraram o desenho urbano nesse escalão de planea­mento, através de algumas orientações fundamentais: 1. A substituição dos obsoletos zonamentos pelo desenho das óreas urbanas com

marcação intencional do traçado de arruamentos e dos espaços públicos ­praças, largos, rotundas, alamedas e óreas verdes - e da colocação estratégica dos equipamentos articulados aos espaços públicos como partes significantes da cidade.

2. O controlo da zona histórica, através de regulamentação precisa de uso e ocupação do solo e preservação do edificado existente, procurando que a zona histórica desempenhe um papel fulcral como zona de vida social e habitacional, de permanência e usufruto dos cidadãos.

3. Em contraste com a conservação sistemótica e intransigente do tecido histó­rico de Ponta Delgada, o desenho das óreas de expansão afirmaria a vontade

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de uma nova escala, fixada em primeiro lugar nos espaços públicos e mais significativos que deverão constituir a cidade do início do séc. XXI. Nas possibilidades da cartografia à esc. 1:5.000 (apropriada aos planos de

urbanização), o Plano utiliza as regras do desenho urbano como meio fun­damentai da definição e controlo da cidade. O recurso à definição objectiva do espaço público através dos perfis viários, da arborização em linha e alameda, de planos marginais e alinhamentos, e de uma quadrícula de dimensões variáveis, prosseguindo as tinhas cadastrais e a direcção do parcelário, permitiu ultrapassar o conteúdo mais restritivo dos zonamentos normativos e regulamentares e afirmar um plano morfológico e fundamentado no IIdesenho" da cidade.

Para as áreas do crescimento urbano mais imediato e a breve prazo realiza­ram-se planos de pormenor abrangendo uma superfície vasta, toda a zona da envolvente à via de S. Gonçalo-Papaterra e a zona a nascente do novo hospital de Ponta Delgada (Hospital de Todos-os-Santos).

Os planos de pormenor permitiram uma continuidade de trabalho concreti­zando e desenvolvendo as intenções do Plano de Urbanização.

Nos planos de pormenor projectaram-se com minúcia e rigor as formas ur­banas, os espaços públicos e o solo da cidade, ensaiando modelos para o desenvolvimento urbano. As formas utilizadas com pragmatismo decorrem do contexto particular de cada porção do território, variando desde a implantação de blocos de racionalismo moderno até ao quarteirão em contínuo construído e espaço de uso colectivo ou público no interior.

As vias são definidas como espaços públicos devolvendo a Ponta Delgada a arborização alinhada em arruamentos que a cidade possuiu em épocas passa­das. São alamedas arborizadas, marginadas de contínuos construídos em tipologia de arcada {de comprovada adaptação ao dima açoriano). O interior das quadrículas fornece à cidade vastos espaços de utiHzaçóo pública e parqueamento. Todos os eixos da composição e traçados, quer do Plano de Urbanização, quer dos Planos de Pormenor, articulam-se ao parcelório rural nas direcções ortogonais nascente-poente e norte-sul, e nesta última permitem trazer a visto do mar e o desafogo aos espaços urbanos.

Ponta Delgo'da, em trabalho continuado, embora intermitente, IIlaboratório permanente de desenho urbano" desde 1988 até hoje e talvez nos anos futuros, permitiu ensaiar nas formas urbanos uma vasto reflexão sobre a cidade tradicional e a cidade moderna, e a criação de um modelo de IIcidade médiaH com uma escala humana e qualificada. Amadurecimento também das investigações sobre a cidade realizadas com a equipa e confrontadas nas hipóteses desta dissertação.

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6.43 - Plano de Urbanização de Ponta Delgada e Áreas Envolventes. Proposta - Plano Definitivo 1996 - Planta de Slntese e pormenor de zonas com indicações de Desenho Urbano. Na imagem da direita vê-se o espaço destinado à Escola EB 2,3 e as indicações de praça desenvolvidas posteriormente em projecto. Ver figuras 6-47 e 6-48

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Paralelamente, outros sectores do planeamento urbano eram objecto de trabalho, como as questões da circulação e estacionamento e a dotação da cidade antiga de regras que permitissem a circulação pedonal num tecido urbano de ruas demasiado estreitas.

Algumas propostas permitirão marcar a cidade do início do pr6ximo milénio, como a grande alameda ou campo fronteiro ao hospital, vasto espaço livre acompanhado por arruamentos e construções que configuram um parque rectangular alongado e organizarão as actividades do terciário e um novo p610 direccional e de serviços.

No termo oposto, a qualificação da Avenida Marginal, construrda há 50 anos pelo "Plano Aguiar", pretende resolver um dos problemas criados nos anos quarenta e reaproximar a população, a vida urbana e a cidade do seu porto. Propõe-se a construção de um percurso com equipamentos à cota da água e a ampliação da marina devolvendo as docas de recreio para o saco do porto e voltando a colocar as embarcações junto ao tecido urbano.

Para as zonas mais imediatas do crescimento urbano, os Planos de Pormenor de S. Gonçalo-Papaterra e da área a nascente do Hospital do Divino Espírito Santo concretizam no desenho de pormenor as intenções do Plano de Urbanização - reforçadas pela possibilidade de se concretizar um troço da cidade em projecto de execução.

Esses planos de pormenor organizam uma vasta área - faixa nascente - po­ente - desenhando os espaços, fixando a geometria e a implantação do sistema viário e dos espaços públicos, e a parte mais complexa e menos garantida, a volumetria e forma das edificações.

Nos planos de pormenor projectaram-se com rigor e minúcia as formas ur­banas e o desenho dos espaços públicos, definindo-se os modelos para o desenvolvimento da cidade.

Uma das oportunidades de concretização do Plano de Urbanização e dos Planos de Pormenor para o desenho do crescimento da cidade - a construção de novos espaços públicos significantes, novas praças articuladas com os grandes traçados viários e o assentamento de equipamentos - tomou forma com a realização do projecto da Escola EB 2,3 e Ensino Artístico em Ponta Delgada.

O projecto confirmou e aprofundou as ideias do Plano de Urbanização e dos Planos de Pormenor, concretizando no espaço fronteiro da nova escola uma grande praça pública que enquadrasse e dignificasse o equipamento, lhe acentuasse o carácter utilitário e significativo para a cidade e interligasse o equipamento com as áreas urbanas a sul.

A nova praça é desenhada como local de permanência e estada e também de

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6-44. Plano viário de circulação e estacionamento de Ponta Delgada. Slntese - proposta, 1994. Plano de Urbanização de Ponta Delgada e Áreas Envolventes. Esquema de grandes Obras Públicas e Equipamentos Municipais. Esquema de apresentação do Plano em des­dobrável á população

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passagem no acesso à escola pelos estudantes da cidade. É remate e pólo de cruzamento de traçados e local afirmado e personalizado. Deveró pontuar e marcar a estrutura urbana e constituir plataforma da visão sobre a cidade e o mar, a sul. O suave declive, o tratamento paisagistico, a arborização da praça e, finalmente, os equipamentos ligeiros (quiosque, esplanada) concretizarão essas intenções.

Aguardo com impaciência, contenção e expectativa a sua construção.

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......... -­6·45. Plano de Urbanizaç60 de Ponta Delgada e Áreas Envolventes. Desenhos-propostas de qualificaç60 da Avenida Marginal - arborizaç60 e passeios

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6·46. Ponta Delgada· Plano de Pormenor da Zona Nascente do Novo Hospital. Planta de apresentação e perspectiva do Parque Central 1998

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6-47. Ponto Delgado - Plano de Pormenor das zonas de expansõo de S. Gonçalo ­Popaterra, Zona Poente - Rua do Carvõo

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6·49. Escola Secundária EB 2.3 e Ensino Artistíco de Ponta Delgada; maquette do conjunto inserida no Plano de Pormenor e desenho da Praça fronteiro à Escola e Zonas Envolventes,

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PLANEAMENTO NA CIDADE DA HORTA - ILHA DO FAIAL, AÇORES (78)

• PLANO DE URBANIZAÇÃO • PLANO DE RECUPERAÇÃO E SALVAGUARDA DA ZONA ANTIGA DA CIDADE

DA HORTA • RECUPERAÇÃO DO TEATRO FAIALENSE • ESCOLA SECUNDÁRIA GERAL E BÁSICA E PARQUE DESPORTIVO DO FAIAL

Em 1990 iniciava com o Plano de Recuperação e Salvaguarda da Zona Antiga da Cidade da Horta um trabalho continuado e gratificante com o Munidpio faialense, que se traduziu até hoje num conjunto de trabalhos que prosseguem e que obtiveram para a C.M. Horta o Prémio Especial de Mérito do Conselho da Europa / Concelho Europeu de Urbanistas nos Concursos Europeus de Urbanismo de 1997/98.

Ao plano da zona histórica sucedeu-se a realização do Plano de Urbanização da cidade e posteriormente o projecto de uma das principais "apostas" do Plano de Salvaguarda e primeira acção municipal para a requalificação da zona antiga: a recuperação do Teatro Faialense, construído em 1918 ao gosto da época, fechado hó mais de uma década e a caminho da ruína.

A recuperação do velho Teatro "Faialense", tema de reabilitação de equi­pamentos, consubstanciou uma inflexão na condução da política urbanística do munidpio.

O Município da Horta e o Governo Regional souberam rejeitar um anterior plano de urbanização, produzido nos anos setenta, e que, implementava a renovação urbana demolindo os singelos edifícios e substituindo-os por prédios altos, aproveitando a mais valia da vista sobre o "canal" (de Vitorino Nemésio) e a montanha do Pico, fascinante e majestosa.

Com a elaboração dos Planos de Urbanização e Salvaguarda dava-se corpo a "novas ideias sobre o desenvolvimento da cidade, iniciava-se a estratégia da conservação e restauro dos edifícios, salvaguarda e valorização da zona histórica. Colocava-se a problemótica do desenho urbano em continuidade com a morfologia urliana tradicional.

Este conjunto de planos e projectos, implementados pela acção municipal, seriam justamente reconhecidos e estimulados pelo Prémio Especial de Mérito da Comissão Europeia de Urbanismo da Comunidade Europeia 1997/98.

Preservação da delicada paisagem urbana "delicate street scape", assim apeli­dou a CE, rotulando em emblema as acções empreendidas.

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o trabalho na Horta tem sido também uma relação afectiva com uma das mais belas e singelas cidades do mundo, perdida no meio do oceano, num cenário magnífico, disposta em anfiteatro sobre o mar dominada pela presença da montanha do Pico, tranquilizadora diferente, a cada hora cobrindo-se de nuvens e desnudando-se em permanente surpresa. Relação afectiva com as suas gentes, que souberam tão bem fazer a cidade, e sobretudo com os mais próximos com quem o trabalho de urbanismo tem sido um elo duradouro.

Gente martirizada pelos sismos e outras adversidades da geografia e da terra, onde estó presente a força da Natureza e a humilde pequenez do Homem. Cidade que vai saber reconstruir-se e qualificar..se no esforço da recuperação do último abalo sísmico (9 Julho de 1998).

De novo, e paralelamente a outros trabalhos, tanto no Plano de Urbanização como no Plano de Recuperação e Salvaguarda da Zona Antiga se aplicaram os princípios de desenho urbano aqui defendidos para o planeamento.

Na Horta, sem uma grande dinâmica de construção e com uma escola urbana mais humana e intimista, o Plano de Urbanização apontou a construção de alguns grandes espaços públicos (praças) que pontuariam e sinalizariam pólos de crescimento, sempre articulados com a construção de equipamentos colectivos.

A relação do espaço público com os equipamentos retomava os prindpios de organização urbana da própria cidade da Horta e suas congéneres europeias.

A oportunidade de projectar um grande conjunto de equipamentos - a Escola Secundória Geral e Básica da Horta e o Parque Desportivo do Faial - na zona definida pelo Plano de Urbanização irá permitir implementar uma das principais propostas de desenho urbano do Plano, a realização de um grande praça. Trata­se, como em Ponta Delgada, de situações em que os equipamentos colectivos interligam-se e rematam os grandes espaços públicos. A praça, definida no cru­zamento de vias importantes constitui enquadramento e frente ao equipamento escolar.

A escola organiza-se ao jeito de uma composição urbana, definida por grande eixos de circulação - corredores - como as ruas que se entrecruzam em largos ou praças, como o átrio de entrada e o grande pátio/claustro interior. Sobre estes principais espaços públicos vão-se articular os "equipamentos", ou seja, as partes do programa funcional que correspondem às zonas mais públicas do edifício.

Assim, a grande circulação interior remata no auditório e serve o refeitório e o complexo desportivo escolar. Em redor do pátio central/claustro dispõe-se o refeitório, a zona polivalente dos alunos e o polidesportivo coberto de ar livre.

O grande átrio "foyer" de entrada é o espaço mais significante da escola e nele confluem as zonas de serviço público.

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A composição desenvolve-se de nível paralela à costa, ttrando partido da excepcional paisagem sobre o oceano, a longínqua montanha do Pico e, mais próximo, o Monte Carneiro.

A partir do eixo da direcção E-O cruzam-se os outros eixos N-S, voltados ao mar, protegendo do clima e abrigando dos ventos os espaços da escola.

A composição prolonga-se a Poente pelo Parque Desportivo do Faial que, obedecendo aos mesmos princípios compositivos, exacerba o potencial paisagís­tico sobre o oceano, num cenário magnifico de grandiosidade açoriana.

Entrecortando os espaços e zonas dos equipamentos construíram-se as es­truturas urbanas, arruamentos de circulação, zonas/páteos de estada e acesso às entradas do Parque Desportivo. Zonas públicas da cidade, ruas e praças e composição arquitectónica dos conjuntos edificados constituem um todo em que se procurou fazer uma parte da cidade para o séc. XXI e que marcará a recuperação do sismo e traumatismo das populações.

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6-53. Planos de Urbanização e Salvaguarda da Cidade da Horta. Elementos gróficos da Candidatura seleccionada no Prémio Europeu de Urbanismo - C.E.. Conselho Europeu de Urbanistas 1997·98

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6·55. Escola Secundória EB 2,3 da Horta, 1997. Maquette e desenho da praça fronteira à Escola, prosseguindo as intenções do Plano de Urbanização

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6-56. Projedo de Recupera<;ão do Teatro Faialense, Horto, 1994-95. Planto 00 nlvel do solo, corte e imagem do edifício em fase de recupera<;ão. Obro 1997-2000

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PLANOS DOS CENTROS HISTÓRICOS (19)

TAVIRA - MOURA - PONTE DA BARCA

A oportunidade voluntariamente procurada de trabalhar no planeamento e valorização dos centros históricos - concretizada com os Planos de Salvaguarda de Tavira, Moura, Ponte da Barca e Horta - permitiu uma vasta reflexão e investigação sobre as formas urbanas tradicionais e os valores espaciais, construtivos e arquitedónicos das cidades antigas.

Desde sempre me fascinou a simplicidade e humildade das antigas cidades portuguesas, anónima mas sabiamente construidas. Nelas aprendi tanto como com grandes e indiscutiveis mestres, e nelas encontrei tantos elementos, espaços, propostas dificilmente concebíveis, ou sequer imaginóveis com os métodos e ferramentas do trabalho de desenho e da Geometria Descritiva.

Tragicamente em poucos anos (nos últimos anos) alterou-se radicalmente a forma e imagem do território português sem qualquer consideração pelo que essa forma e imagem representavam de séculos de acção humana. Nesse contexto, a salvaguarda e valorização dos centros históricos é um vector que permite manter ainda vivo o contado com a memória e história urbanas, aprendizagem e reinter­pretação do passado. Centros históricos e óreas consolidadas das antigas cidades, percentagens jó ínfimas e bem reduzidas da órea urbana portuguesa, e no entanto zonas onde se encontram valores e poética da cidade tradicional, ameaçados pela reconstrução e renovação urbana desenfreadas, ignorantes e selvagens.

A metodologia utilizada na salvaguarda e valorização e que se aperfeiçoou de plano para plano desenvolveu-se em vórias escalas e níveis de trabalho, desde a anólise urbana de espaços, traçados e elementos morfológicos que ao longo da História construiram a cidade, até aos materiais e processos construtivos-dos edificios e elementos particulares que em cada cidade caracterizam a forma urbana e definem o centro histórico e a sua identidade cultural.

O conjunto de planos de salvaguarda e valorização representou um grande investimento e r~flexão sobre a cidade histórica, as técnicas, os processos e métodos para a sua defesa e recuperação. Em alguns casos, pequenos projedos de equipamentos e de arranjo de espaços públicos prosseguiam as intenções dos planos. Permitiram também consubstanciar a reflexão sobre a continuidade de intervenções na cidade, qualificando-a e adaptando-a às exigências actuais sem perda de identidade nas regras de desenho e na simplicidade como foram construidos os antigos espaços.

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6-57. Plano do Centro Histórico de Tavira, 1980-83. Imagens do Centro Coordenador de Transportes - Vista sobre o rio Gilõo vendo-se ao fundo à esquerda o Palócio da Galeria, Imagens do Guia do Construtor

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6-58. Centro Histórico de Tavira. Projecto de Restauro e Adaptação do Palócio da Galeria a Centro Cultural de Tavira. Planta de conjunto, cortes e perspectiva 1989-99, sem o depósito da ógua

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6-59. Plano do Centro Histórico de Moura. 1983 - 87.Proposta. Ver Também figuras 2.23 e 3.13

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6-60. Plano do Centro Histórico de Moura. Plano de Pormenor da zona dos Quartéis (1997 - 98). Desenho Urbano do enquadramento ao edifício do séc. XVII • XVIII e criação da Praça dos Quartéis

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6·61. Plano de Pormenor de Salvaguarda e Valorização do Centro Histórico de Ponte da Barca. Planta geral do conjunto das Piscinas Municipais e Centro de Venda de Produtos Regionais - Restauro da antiga Cooperativa - sobre o rio lima, 1997

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6-62. Ponte do Barca - maquette do conjunto dos Piscinas Municipais e Centro de Vendo de Produtos Regionais - Restauro do antiga Cooperativa, restabelecendo o relação entre o centro histórico e o rio Lima. Projecto 1994·97. Obra 1998·2000

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Os planos de salvaguarda e valorização destes centros hist6ricos constitulram também uma oportunidade única de reflexão sobre as metodologias da salvaguarda e reabilitação, de análise da cidade tradicional e do seu desenho. Contribuíram para consolidar a ideia de que a cidade é um todo, desde a sua forma geral aos pormenores dos seus ediffcios, das técnicas construtivas utilizadas á expressão da sua arquitectura. Que entre a forma geral da cidade e o pormenor das fachadas e coberturas e as tipologias edificadas há um todo coerente e contínuo que se tem de entender sob pena da perda de coerência, identidade e qualidade. Intervir hoje na cidade hist6rica deve ser antes de mais valorizar o que existe, discretamente, com humildade e respeito, aceitando que o que se possa fazer agora não pode ser nem será superior ao que foi produzido em sécu'os de trabalho e acumulação.

Mas dos planos dos centros históricos realizados nem todos tiveram a mesma eficácia. Aprovados e eficazes, os de Moura e Ponte da Barca (este já objecto de revisão em 1996/98) têm permitido evitar os males maiores, enquanto o de Tavira, nunca aprovado, foi servindo de contraponto quando necessário e IIrefeito" quando também "necessário". O da Horta, inscrito numa acção mais vasta, e face ao ritmo de construção local menos agressiva e dinâmica, tem tido uma acção largamente positiva na consciencialização do poder local e na disciplina introduzida nas regras da construção, de resto gratamente reconhecido pelo Conselho Europeu de Urbanismo em 1997/98.

Em Tavira, o Plano permitiu, apesar de tudo, alguma contenção na destruição que a cidade certamente teria tido sem Plano. Pelo menos evitou as grandes renovações urbanas.

Talvez uma das acções mais positivas na continuidade do Plano constitua a realização da recuperação do Palácio da Galeria e Adaptação a Centro Cultural, início de uma .transformação qualificadora da colina genética da cidade.

Com este conjunto de planos aprenderam-se as lições da cidade tradicional, da sua arquitectura e dos seus valores espaciais, e configurou-se um escalão pr6prio e específico do desenho urbano no trabalho de salvaguarda e valorização. Foram lições e aprendizagem da cidade tradicional, certamente influenciadoras das reflexões deste trabalho.

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o PLANO DIRECTOR DA EXPO 98 (80)

(ESTUDO PRELIMINAR)

o Plano Director da EXPO 98, realizado em 1991 por encomenda do então Comissariado Técnico da Exposição (Eng. Rui Silva e Santos), integrou a candidatura portuguesa na competição com o Canadá (Toronto) e certamente terá contribuído com a sua modesta quota parte para a escolha de Portugal/Lisboa para a realização dessa Exposição.

Foi então um importante trabalho, que tanto me motivou como ao Carlos Duarte, no entusiasmo (julgávamos nós) de poder contribuir para a realização desse empreendimento ...

Tratava-se, como é natural, do primeiro passo, da primeira ideia para a rea­lização da Exposição, que fundamentava sob o ponto de vista urbanísfico a candidatura portuguesa.

Para além do desenho do recinto da Exposição, o plano propunha já a reuti­lização desse mesmo recinto como parte da cidade após o fecho da Exposição, permitindo organizar uma vasta frente urbana sobre o Tejo. Uma proposta - ideia forte presidia à polarização do desenho urbano nessa vasta praça aberta sobre o rio: conjuntamente com o Terreiro do Paço e a Praça do Império, em Belém, Lisboa dotava-se de 3 janelas sobre o Tejo, cada qual motora de 3 zonas onde Lisboa conseguia romper as barreiras, aproximar-se e ver o Tejo - Belém/ Alcântara, Cais do Sodré/Terreiro do Paço e, finalmente, na zona oriental, a Doca dos Olivais/Expo 98.

A grande praça sobre o rio seria um pouco maior que o Terreiro do Paço, com 250 m de lado, e constituia o ponto fulcral de uma quadrícula de direcções perpendiculares e paralelas ao rio, na tradição da Baixa e na vontade de contrapor à desordem e caos urbano do crescimento de Lisboa, uma área qualificada pela disciplina das construções e geometria regular dos espaços.

A praça, a rua coberta, as portas da Exposição, a Doca dos Olivais, a marginal! /percurso pedonal junto ao rio com a "ilha da Gastronomia" e os pavilhões temáticos, seriam outros tantos elementos que, estruturados por uma disciplina geométrica, organizariam os espaços públicos e a ocupação construída.

Na envolvente da Exposição as grandes ·vias de acesso, desenhadas como alamedas arborizadas, propunham uma quadrícula primeiro ocupada por estacionamento e progressivamente substituída no IIpÓS exposiçãoll por construção de habitações, escritórios e equipamentos.

Outro grande elemento da composição urbanística seria o eixo que, no sentido

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nascente/poente, uniria as duas grandes estruturas de acesso e também portas da Exposição: a estação ferroviária (que seria posteriormente a Gare do Oriente) e ó cais fluvial (este posteriormente menos enfatizodo). A praça seria atravessada por um percurso unindo esses dois pólos direccionais e de transportes e encaixaria o Pavilhão de Portugal, dando-lhe um soberbo enquadramento e vistas sobre o Tejo. A praça rematava sobre o rio em patamares galgados pela maré da baixa-mar à preia-mar - consoante a progressão das águas permitissem a estada próximo da água.

A doca permaneceria intacta, já que os edifícios que viriam a ser os Oceanários ou outros equipamentos se localizavam sobre o rio em implantações palafitas, prefigurando o que viria a ser utilizado para esses mesmos pavilhões.

Completava o Plano da EXPO 98 e as propostas de desenho urbano uma pré­figuração da arquitectura que, embora esquemática nessa fase, se iniciava nas propostas dos espaços públicos e continuava nos projectos dos edificios através de regras de disciplina, rigor e unidade arquitectónica baseada no uso de materiais, ritmos de estruturas, cotas, cérceas, alinhamentos e também na preocupação sistemática de oferecer zonas de sombra aos visitantes nos previsiveis dias de calor.

Não resisto (com alguma ironia) a estabelecer a comparação entre as propostas da EXPO 98 de Carlos Duarte/José Lamas e a construção que vira a ser realizada sem a nossa participação.

Em primeiro lugar, um pouco de história, e para que "fique na história". Após a vitória portuguesa (se é que lhe podemos chamar assim), os novos

Comissários do evento recusaram-se a receber, e nem sequer aceitaram qualquer contacto com os autores do Plano, ignorando ostensiva e deliberadamente o trabalho realizado.

Sem qualquer explicação, a recusa em ouvir ou conhecer os autores do Plano não terá sido uma atitude devedora à inteligência, ou ao investimento que o Pais então realizou no trabalho de 2 arquitectos e da sua equipa, trabalho esse cujo mérito fora pelo menos reconhecido pelo Bureau Internacional das Exposições. Os autores desse plano viam-se assim positivamente afastados da continuação do seu trabalho e da "orgia" de encomendas então implementada. Demonstrava-se a tese hoje corrente de que os arquitectos só se conseguem manter em trabalhos públicos de grande envergadura se interligados e/ou apadrinhados por forças políticas ou outros interesses inconfessáveis. De resto, os escândalos que se descobriram na gestão da EXPO 98 não fizeram mais do que alimentar suspeitas sobre este tipo de procedimentos.

Não havendo propriamente bases legais ou contratuais, mas apenas morais e

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lXP 98� COMiSSÃO o E PROMOCAO o A EXPOSICAO INTERNACiONAL DE LlsaOA 1 99 8

1 - CRAlIoE PRAÇA 2 - RIJA PalliCIPAL COBERTA 3 - sEctOR TIIlÁTICO

6 - AUDlTóRID AR LIVRE 1 - ESPELHO OE AGUA 8 - PRAÇA lliTERIOR

14 - PORTAS DA EXPOSIç.l.O lU - PORTA PRIMCIPAL DA 148 - PORTA PWVIAL

PRAÇA 19 - AV.E/O - LIGAÇAO CP.­ EXPO 98 20 - ALOJAIlEHTO PESSOAL E SERVIços

COMPLEMENTARES 3A - PAVIU!AO 1 3B - PAVIUlAO 2

9 - IlJiA GASTRONOMIA/RESTAURA..,'E 10 - LADo SUL PRAÇA - CArtS REST.

14C - PORTA POEHTE 14D - PORTA NORTE

(SEC) 21 - SERVIÇOS/ADMIMISTRAÇÃO 22 - ESTACIOliAll!IlTO

3C - PAVIUlAO 3 coMtacIO TURISMO 22A - AlITOCAl!ROS 30 - PAVlOOO 4

4 - PAVlOOO POIl'nJCAL MUSEU CIVILIZ. IlAAtTlllAS

I - SEctOR REPRES. NACIONAIS E EMPRESAS

11 - LAZER 12 - CAIS FWVIAL 1l - ZOHA DE EXPOSIÇÃO BARCOS/

MUSEU E PERCURSO PLUTUANTE

15 - PRAÇA NORTE 16 - AVEIIIDA PRINCIPAL/

PERCURSO ELtCTlllCO 11 - DOCA OLIVAIS

228 - AUTOMÓVEIS 23 - CORTlliA VERDE 24 - IlARlliA/DESPORTO/RECREIO

HAUTlCO 5A - REPRESENTAçõES NACIONAIS 5B - REPRESENTAÇÕES OE EMPRESAS

18 - ESTAÇAO C.P. - COMBOIOS 25 - LINHA ELtCTRlCO

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6-63. José Lamas e Carlos Duarte. Plano Director da Expo 98 • Proposta preliminar 1991, com a qual Portugal apresentou a sua candidatura e foi escolhido. Planta do Recinto e Cortes esquemáticos. Transversais à Alameda de peões coberta (Ver Também figura 2.32)

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éticas, sem apoio da Associação profissional (dos Arquitectos), provavelmente comprometida com os comissórios, não foi possivel aos autores do plano evitar o seu afastamento e deixar prosseguir os acontecimentos, sabendo que a história arquivaró sempre memórias e factos, e que o mérito do trabalho realizado permaneceria para além dos comportamentos humanos, que a mesma história sempre acaba por julgar.

Passando à comparação do nosso plano com a realização, não resisto a sa­lientar que, se algumas propostas se mantiveram (claro estó, com a distãncia entre um Estudo Preliminar e uma obra construída), outras foram abandonadas, empobrecendo fortemente aquela zona da cidade.

Em primeiro lugar, a supressão da grande praça. Da observação dos planos é por demais evidente que o Pavilhão Multiusos ocupa precisamente o espaço da praça - uma ocupação à medida e sem critério, que rebentou com a oportunidade de Lisboa dispor das "três janelas" sobre o rio e desqualificou a todos os títulos a implantação do Pavilhão de Portugal, em que a obra de Siza Vieira merecia melhor enquadramento.

Falta à zona da EXPO 98 um grande espaço público, uma grande praça. Lisboa perdeu em definitivo a oportunidade de realizar esse grande espaço à escala do séc. XXI, o qual lhe ancoraria os usos necessórios. Quando falo de espaço público é mesmo um espaço, e não de grandes empreendimentos ou realizações construídas. É claro que a EXPO 98 foi, e é, um grande empreendimento , mas não possui~ no pensamento desta dissertação, um espaço de desenho urbano à sua escala, à escala do virar do século, da capital e do País.

Mantenho assim a tese de que os grandes espaços públicos em Portugal não existiram na segunda metade do séc. XX. Lisboa teve o Terreiro do Paço/Praça do Comércio, que marcou a Reconstrução Pombalina, teve a Av. da Liberdade, a Praça do Marquês de Pombal, o Parque Eduardo VII e o Saldanha na expansão do séc. XIX de Ressano Garcia, e com Duarte Pacheco ganhou grande espaços, alguns ainda não concluídos, desde a composição monumental da Alameda Dom Afonso Henriques, Instituto Superior Técnico e a Fonte Luminosa, as Praças do Império e Afonso de Albuquerque, em Belém, à Alameda da Universidade, e, de dimens6es mais modestas mas não menos significativas, as Praças do Areeiro e de Alvalade.

Com a gestão municipal dos anos noventa, com os Comissórios da EXPO 98 e os seus arquitectos, e com tanto dinheiro disponível não foi possível criar um espaço significativo e significante, apesar do gigantesco estaleiro em que se tornou a capital. Em contrapartida, e no próprio desenho da EXPO 98, proliferaram pequenos espaços imbricados e interligados que, (apesar de

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COMiSSÃO DE PROMOCÃO DA EXPOSICAO INTERNACIONAL DE LISBOA 1998

AXONOMETRIA DA PROPOSTACulo, Dw.n•• Jo .. lUI", E"udo. d. Pl.n...ento • AIQulltc:lun, ld •. OUTUBRO lU1

6·64. José Lamas e Carlos Duarte. Plano Diredor do Expo 98 • Proposto preliminar 1991. Perspectivo geral do zona do Recinto

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qualidade) nOo informam do grande "gesto e generosidade criadora" capaz de fa­zer um espaço público e monumental, e como tal aberto à apropriação colectiva.

Em segundo lugar quase diria (embora, e por tal, seja suspeito) que o produto final actualmente construído retoma muitas das ideias do Plano Director da EXPO 98 que desenhei com Carlos Duarte em 1991 - desde as acessibilidades fluviais (carreiras ao longo da costa) de Algés à EXPO 98, com paragens em Belém, Alcóntara, Cais do Sodré, Terreiro do Paço e Sta Apolónia, à implantaç60 da estaç60 ferroviória, actual Gare do Oriente, às intenções e assentamento dos traçados em quadrícula, a algumas rotundas e portas da Exposiç60, à implantação de zonas de restaurantes em plataformas sobre o rio, como na Ilha da Gastronomia, etc..

Esta tese vai de par com a sensação de que, apesar da qualidade do espaço público da EXPO 98, essencialmente centrada no revestimento e tratamento do solo, as ideias de um forte contacto com o rio se perderam na obstrução progressiva dos espaços dessa comunicação, e a outro nível algumas avenidas da parte urbana sofreram a mesma reduzida dimensão de passeios e óreas pedonais que tem caracterizado o "urbanismo" nacional.

Faço ressalva, e porque me pareceram dos elementos mais inovadores, qualificados e significativos, os magníficos ajardinamentos que acompanham o rio, os "Jardins Garcia de Orta" (Jardins da Canela, da Pimenta), do Arq. Paisagista Gomes da Silva).

Mas, e como é evidente, um espaço urbano, e mais ainda uma parte da ci­dade, necessitam de tempo para sedimentarem e a outro nível adquirirem a sua forma definitiva. Neste caso, a forma definitiva não escapará à intensa construção sem espaços de escala apropriada, tendência que depois se prolonga e afirma nos planos de pormenor das envolventes do recinto, atingindo em alguns casos alguma alienação compositiva, servidora da especulação imobiliária e da rentabilidade obsessiva do solo.

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6-65. José Lamas e Carlos Duarte. Plano Director da Expo 98 • Proposta preliminar 1991. Intenções do projecto e pormenor do esquisso de ideias para a praça principal, vendo-se a topo, paralelo ao rio, o Pavilhão de Portugal, quase na posição em que foi construído o projedo de Siza Vieira

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6-66. José lomos e Carlos Duarte. 1. Plano Director Expo 98. Estudo Preliminar· 1992. Perspectivas.

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6-67, Plano do Expo 98. 1- Maqueta do proposto definitivo, Planto do recinto do Expo,1996. Arq.s M. Salgado e Luis Vassalo Rosa. 2- Plano Director· Estudo Preliminar (1992)de José Lamas e (arlos Duarte. Salvaguardando o diferenço de escolas e fases de traba­lho, o comparaçôo de imagens revelo os semelhanças e diferenças dos propostos

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PLANO DE PORMENOR 00 "QUARTEIRÃO DA GARAGEM MILITAR" EM USBOA (81)

o Plano de Pormenor do "Quarteirão da garagem Militar" foi realizado em 1992/93 para a Câmara Municipal de Lisboa, aprovado e tornado eficaz em 1995. (Publicado em Oiório da República n.O 275, de 28/11/1995)

As novas construções foram desenvolvidas por promotores imobiliórios com base em projectos de arquitectura realizados por outros autores e cuja expressão arquitectónica é jó diferente da proposta urbanística. Como é corrente em certa construção lisboeta, a prossecução do trabalho realizou-se sem que o autor do plano tivesse intervenção na implementação do mesmo ...

Para uma pequena zona de Lisboa este plano tinha como objectivo resolver um conjunto de compromissos municipais com os proprietórios dos terrenos da antiga "Garagem Militar· Instituto Português da Higiene", cujas parcelas representavam a maior parte da superfície de solo disponível.

A pequena dimensão do plano obrigou a equacionar questões que são tratados nesta dissertação:

•� A reformulação da tipologia do quarteirão em que se mantém o perímetro exterior construído e se aproveita o interior como espaço de utilização pública, oferecendo ao bairro maior superfície para uso colectivo.

•� O ensaio de desenho do pótio interior como espaço de pequena "praça" pedonal fechada, relacionada com as ruas envolventes por percursos uescavados" na massa da construção envolvente.

•� O desenho do solo, com alargamento de passeios, arborizaç60, estacionamento disciplinado e mobiliório urbano, aumentando a superfície de uso pedonal.

•� A manutenç60, preservação e reabilitação das construções dos séc. XVIII, XIX e início do séc. XX que ainda restam, procurando estabilizar o ambiente e uso do solo e pôr cobro ao incessante e especulativo processo de renovação imobiliória lote a lote, sem visão urbanística qualificada e de conjunto.

O plano trad~z também as reflexões sobre o planeamento e controlo das transformações do tecido urbano das avenidas de Lisboa (de Ressano Garcia), reflexões essas iniciadas em 1980 com um artigo no n. o 139 da revista UArquitectura" (Oez/1980) (82) .

As possibilidades q.ue existiram para a reabilitação com algumas renovações imobiliórias do tecido urbano das avenidas ficavam demonstradas. Em vez da renovação feita parcela a parcela, sem qualquer ligação ou visão de conjunto e

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apenas com construção para cima, baixo e em profundidade até ao limite do logradouro, o plano propôs alterações controladas e interligadas que, após concluídas, trariam contrapartidas de uso e superfície para a cidade.

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6·69. Plano de Pormenor da zona do Quarteirão da Garagem Militar em Lisboa - 1993, Maqueta da zona do terreno da antiga Garagem Militar· Vista sobre a Rua Viriato

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6-70. Plano de Pormenor da zona do Quarteirão da Garagem Militar em Lisboa· 1993. Maqueta e desenhos do plano. localização na cidade e perspectiva do gaveto Rua Viriato/ /Rua Tomós Ribeiro

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6·71. Plano de Pormenor da zona do Quarteir60 da Garagem Militar em Usboa • 1993. Perspectiva

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PLANO DE PORMENOR E ORDENAMENTO DO RECINTO DA EPAL NOS OLIVAIS (83)

Acompanhando as profundas transformações da envolvente da área da EXPO 98 e da gare do Oriente, a EPAL conduz um plano de pormenor para o ordenamento do recinto que possui nos Olivais aí construindo também um conjunto imobiliário sobre a Av. de Pódua,

O plano contraria a tendência actual de construção segundo a tipologia de conjuntos formados por grandes embasamentos extensivos em "podiums" suportando volumes paralelepipédicos de grande altura. Em alternativa recoloca as formas urbanas de grande densidade que caldeiam o urbanismo morfológico com as implantações modernas de blocos assentes em pilotis e galerias comerciais.

O desenho urbano desta reduzida parcela sobre a Av. de Pádua constitui-se como um conjunto que procura, através da relação e alinhamento dos volumes construídos, uma disciplina desenhada. Empenas sobre a Av. de Pódua, corredores arborizados no enfiamento e valorização do edifício da Estação Elevatória (obra emblemática da EPAL e de qualidade arquitectónica do período de transição '/Beaux-Arts" para o '/Modernismo").

Pretendeu-se a qualificação deste conjunto pela formalização do espaço ur­bano ao nível do solol com enfiamentos e perspectivas livres sobre o céu, o horizonte, o Tejo e os espaços arborizados do recinto dos Olivais; pela disciplina do plano marginal e do arruamento; e pelo desenho e afirmação do espaço pú­blico ao nível do solo. A disposição dos volumes atenuará para o "bairro" os ruídos das grandes vias rápidas (Av. Infante o. Henrique).

A comparação com outros empreendimentos imobiliários da envolvente permitirá afirmar diferentes conceitos de desenho da cidade que traduzem o conteúdo desta dissertação.

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6-72. Plano de Pormenor do conjunto imobiliórío sobre a Av. de Pódua, no recinto dos Olivais, da EPAl. 1997· Planta geral e cortes

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6·73. Plano de Pormenor do conjunto imobiliório sobre a Av. de Pódua, no recinto dos Olivais, da EPAL. 1997 - Planta ao nível do solo e cortes

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6-74. Cerco do Castelo de Óbidos. Visto aéreo antes do intervenção. Imagem do maqueta de concurso visto do mesmo ãngulo

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PROJECTO DE VALORIZAÇÃO DA CERCA DO CASTELO DE ÓBIDOS (83)

Do projecto vencedor em concurso público de ideias realizado em 1991 ini· ciou-se a construção em 1997, que se prolongaró para ló do ano 2000.

Trabalho difícil, arriscado e complexo pela instalação de um programa con­temporôneo no ambiente histórico da fortificação medieval. No espaço deserto, desarranjado e livre da cerca do castelo nasceró uma nova utilização, com auditório de ar livre, café-bar e esplanada e zonas de estada e percursos de contemplação.

A preocupação de encaixar este programa através de elementos simples e construfdos com materiais robustos, capazes de dialogarem com as muralhas medievais: muros de pedra seca e betão descofrado, pavimentos em paralelepípedos e lajes de pedra em desenho abstracto, fragmentado e aparentemente inacabado, ferro e madeira e vegetação sóbria de oliveiras, alfazemas e rosmaninho.

Trabalho de desenho de exteriores e de construção, lento e meditado no en­caixar das partes funcionais que lhe dão um novo sentido, mas que se pretende surgirem naturalmente, com o rigor de vórias geometrias ajeitadas à topografia, à rocha e às muralhas.

No exterior da cerca e da porta da muralha, desce pela encosta a poente, um escadório traçado a cordel de um gesto único até à capela da Sr" do Moxarro. O escadório a direito é entrecruzado por uma serpentina caminho sinusoidal, mais suave, que ameniza o percurso na poética do jogo das curvas e contracurvas cortadas pela escadaria recta. Oposição e complementaridade.

Na base da capela, um adro construído em aterro e muro de suporte na colina recebe o escadório e o percurso sinuoso e acolhe uma "Casa de Chó/Café" en· castrada no terreno e só visível de frente, na fachada de vidro aberta a poente.

Aguarda ainda decisão a proposta do elevador ou funicular que traró em percurso oblrquo ascendente os visitantes do sopé da colina junto ao CF. e rio Arnoia à plataforma da Porta Norte da Cerca.

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6-75. Projecto de Valorização da Cerca do Castelo de Óbidos. Planta geral de todo o Projedo. Cerca e encostas, indicando o acesso à Capela de N. Sra. do Moxarro, o elevador/funicular desde o sopé/rio Arnoia à porta norte

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6-76. Projecto de valorização da cerca do Castelo de óbidos. Planta geral da cerca. Projecto definitivo (1999) e Maquette da mesma zona. Proposta do concurso (1991)

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6-77. Projecto de valorização da cerco do castelo de 6bidos/Projecto definitivo. Zona da Cerco. Cortes. Zona da Capelo de N. Sra. do Moxarro. Planta de acesso com a escadaria e a serpentina entre a muralho e a capelo. Corte pela escadaria

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6-78. Projecto de Valorização da Cerca do Castelo de Óbidos. Imagem da la fase da intervenção (2000).

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6-79. Projecto de Valorização da Cerca do Castelo de Óbidos. Imagens da ]0 fase da intervenção.

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PARTE VII� I�

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cUma obra de arte - e o plano de uma cio CONCLUSÃO�dade é uma obra de arte - não pode ser criada por comissões ou gabinetes, mas so­ - O DESENHO DA CIDADE mente por um individuo... Porque não man­dar executar projedos de catedrais, fazer pintar quadros históricos, ou compor sinfo­nias, por via administrativa?.. Seria igual­ Termino este trabalho, fatigado pela extensão atingi­mente criteriosoI. da, mais longa e exaustiva do que inicialmente previra, e

com a suspeita de ter repetido argumentos, repisado te­SmE, CAMIllO

mos, recalcado ideias, na difkil tarefa de destrinçar o A Arfe de Desenhar as Cidades� emaranhado de questões que se prendem com o desenho

urbano. Sem que fosse meu objectivo, também me apro­ximei involuntariamente de uma «história do desenho ur­

bano», embora reconheça a necessidade da experiência histórica no quotjdiano do exercício da arquitectura.

Uma série de conclusões parciais foi sendo estabelecida nos capftulos anteriores e neste final pouco mais terei a dizer, senão relembrar aspectos essenciais e acrescentar conclusões que só agora têm razão de ser apresentadas.

Verifico, em primeiro lugar, que, desde há séculos, a arquitectura, em diferentes contextos e situações, retoma incansavelmente a mesma questão de fundo, ainda hoje em aberto: como colocar os ediffcios no terreno, articulando-os, dando-lhes significa­ção e resolvendo as organizações funcionais e distributivas necessárias às actividades humanas. Por outras palavras, como formar espaço urbano ou construir a cidade e o território.

Certo é que a simples existência de duas construções em proximidade é suficiente para que se estabeleçam relações visuais, estéticas e ambientais que são do domfnio da arquitectura.

Como conclusão fundamental, devo afirmar que a produção da cidade e do territó­rio são do domínio arquitectónico, num processo que deveria ser liderado pelo dese­nho, desde as fases de programação e planeamento até à realização das construções.

O desenho significa a unidade do método arquitectónico, sem o qual não poderá existir verdadeira criação de espaços urbanos ou transformações qualitativas do terri­tório. Para além do seu contributoespedfico como disciplina criativa, a arquitectura as­segurará a continuidade entre os vários escalões de organização do território e nfveis de produção do espaço.

Aquestão reside em recolocar o DESENHO e a MORFOLOGIA URBANA no centro da produção da cidade.

Trata-se de inverter a tendência da planificação operacional de apenas gerir e administrar o consumo de espaço indiferente à forma física, e contrariar a ideia de que

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a arquitectura já não pode pretender intervir numa escala territorial. Trata-se de reco­locar a arquitectura como fio condutor da organização territorial, contrapondo os seus modelos ambientais aos modelos essencialmente funcionais, econ6micos e administrati­vos, cuja falência tem sido demonstrada ao assegurarem o crescimento do produto à custa da destruicão do ambiente e da cidade hist6rica.,

Não é mais possfvel aceitar a intervenção da arquitectura s6 no final do processo de produção da cidade, esquecendo o momento fundamental que é o desenho urbano e as suas implicações a montante e jusante desse mesmo processo.

Mas a revalorização do desenho urbano implica também, como se viu, a preocupa­ção pela morfologia urbana, ou seja, que se considere os ediffcios como partes funda­mentais da cidade, onde assumem o seu pleno significado, e que o projecto do edifrcio comece no «desenho da cidade•.

Aarquitectura deverá estar presente e intervir, qualquer que seja a escala ou o tem­po de intervenção, desde a vasta região à mais pequena habitação; desde o plano de largo horizonte temporal ao projecto de rápida execução; desde uma via rápida ou infra-estrutura ao bairro habitacional, ao equipamento, ao mobiliário urbano ou ao desenho de pavimentos.

Todavia é preciso que exista um entendimento mais universal dos métodos, objecti­vos e conteúdos disciplinares para que a urbanfstica actue em ordem aos pressupostos anteriores. Questão tanto mais difrcil e complexa porquanto esses métodos, objectivos e conteúdos resultam de processos estéticos, ideol6gicos e culturais que são mutáveis, evolutivos e susceptfveis de controvérsia. Énecessário atingir um consenso, ainda que alargado, sobre o modo de entender a cidade, a sua morfologia e os processos de in­tervenção, tanto nas estruturas existentes como nas novas óreas urbanas e expansões.

O urbanismo deve reconstituir, com a arquitectura, um conteúdo disciplinar de base cultural, técnica e metodol6gica comum sobre a qual possa assentar em bases s61idas o .exerdcio do desenho urbano.

A'esta questão deverá o NOVO URBANISMO responder superando o dualismo en­tre planos e projectos e assumindo a arquitectura como a chave de leitura e organiza­ção do territ6rio. A esta questão tentei dar um contributo evitando a receita de uma única via método ou processo como reody mode ou pronto a vestir, receituários de morfologias, ou tipologias urbanas que se possam aplicar a qualquer situação. Como tal, pretendi afastar este trabalho de tentações dogmáticas, preferindo manter o dis· curso como estfmulo à discussão e à avaliação das ideias.

Creio que o amadurecimento e consolidação do «Novo Urbanismo. deveró abor­dar alguns vectores a lançar no debate disciplinar: o primeiro, será a redescoberta e continuidade com a urbanfstica formal da primeira metade do século XX, que permitirá numerosas achegas à reflexão actual, tanto mais que já nesse perfodo se defrontavam

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questões próprias do século XX; o segundo, será o aprofundamento da reflexão crítica sobre a cidade moderna, como atitude cultural inteligente, banindo a recusa simplista. Este vector sai agora favorecido pelas celebrações dos centenários de alguns arquitec­tos modernos, como o de Mies, Van der Rohe (1986) ou Le Corbusier (1987), que per­mitiram de novo aos profissionais reconciliar-se com esses defuntos colegas e as suas ideias. De resto, no campo arquitectónico, sente-se de novo a reinterpretação artística e cultural da estética moderna. O terceiro, decorre dos resultados da experimentação do Novo Urbanismo, quando alguns anos de vida e de aprendizagem das obras permi­tirem aos arquitectos reflectir sobre os resultados das suas propostas.

Neste contexto se insere a morfologia urbana e o interesse pela FORMA FfslCA DA CIDADE e as diversas alternativas que hoje se colocam ao desenho urbano, desde a ci­dade tradicional à cidade moderna.

Com efeito, a estratégia de reconstituição da forma urbana, como o contexto .possí­vel para uma civilização e cidade significativas, dispõe hoje de um conjunto diversifi­cado de morfologias. Entre essas possibilidades contam-se também as tipologias das torres, bandas e blocos, isolados e livremente dispostos no terreno, tal como forQm inventados pelos CIAM e pelo Movimento Moderno, e que não podem ser banidos do vocabulário do desenho urbano, sob pena de um empobrecimento formal e projectual da própria cidade. No mais, certas combinações entre quarteirões, blocos e até torres poderão revelar-se extremamente ricas e significativas para a organiÍação da cidade.

A reconstituição da forma urbana tradicional, proposta nestes últimos anos, tam­bém não se pode tornar a vulgata do desenho para qualquer parte da cidade, como se se tratasse de pronto a vestir de utilização em todo o terreno. Correr-se-ia o risco de «matar o doente com o abuso da terapêutica» e seria insensato esquecer as contribui­ções da urbanística moderna, que constituiram esforço considerável do pensamento criativo na equação dos problemas urbanos e habitacionais e nas condições de vida dos habitantes. ,

Uma vez reabilitadas as formas urbanas tradicionais na sua capacidade de dar significação à cidade e apaziguada a primeira fase apaixonada e sectária dessa reabi­litação, a cultura urbanística encontra-se em condições de proceder a uma· profunda reflexão sobre os seus materiais, instrumentos e processos de trabalho, pesquisando novas formas e tip~logias urbanas e ponderando as condições de utilização e de trans-. formação da cidade existente - tanto a cidade tradicional como a cidade moderna.

Quero com isto dizer que a morfologia urbana moderna constitui hoje também par­te integrante da cultura urbanística; em boa. verdade, parte também da experiência histórica do urbanismo que não seria honesto ignorar.

OS CIAM e o Movimento Moderno têm já mais de cinquenta anos de idade, o que permite.a sedimentação cultural e a entrada "na História. De resto, em alguns países, a

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tradição moderno tem permanecido viva, sabendo evoluir, e, por outro lado, no cansaço que a repetição monótona dos «feitios» da cidade clássica irá provocar, não se poderá evitar a prazo o crevivalismo moderno». A reflexão crítica e até a própria experimenta­ção das formas tradicionais permitirão concluir que o que deverá ser procurado não são os «feitios» ou imagens exteriores, mas a relação dialéctica entre os diferentes elementos morfol6gicos, ~ntre as estruturas formais e as organizações distributivas.

Essencial será também o reencontro com a Hist6ria (incluindo nesta os seus períodos mais recentes) na mais alargada reflexão sobre a cidade contemporânea e futura, e dela extrair metodologias para o urbanismo e o desenho urbano.

Continua a ser necessário pensar a cidade, investigando as formas disponíveis, as quais deverão cobrir um leque muito vasto, desde o clássico, o barroco, o tradicional ao moderno, e - por que não? - novas formas, a serem inventadas.

Assim como Unwin dissecava sem complexos as vantagens e inconvenientes dos tra­çados regulares e irregulares, apontando a escolha dessas alternativas, assim hoje se trata de reflectir sobre as formas urbanas da cidade tradicional e da cidade moderna. Neste contexto, assume particular relevância a consideração da urbanística formal, académica, que, como se viu, se relaciona inequivocamente com a problemática da forma urbana e do «novo urbanismo». Esta questão deverá encontrar local de ancora­gem nas Escolas de Arquitectura, nas quais existem condições para o debate crítico, ul­trapassando a simples adopção gráfico de geometrias e feitios.

Ainda aqui, a informação estrangeira que circula abundantemente não é suficiente para permitir uma formação completa neste domínio, deixando a lacuna sobre as reali­zações nacionais como o bairro de Alvalade, os planos de Faria da Costa, os Olivais e outras interessantes áreas urbanas construídas nos últimos cinquenta anos, que será forçoso reestudar, dando-lhes o devido valor e significado.

O urbanismo tem de continuar a interrogar-se sobre como se viverá amanhã na ci­dade, como enquadrar a vida de uma população crescentemente urbanizada no inte­rior de áreas crescentemente construídas e como recuperar, manter e desenvolver a reconciliação do homem com a cidade e com o espaço urbano. A este conjunto de questões e a tantas outras poderá o desenho dar uma resposta determinante com os seus modelos pr6prios, certamente mais capazes de entenderem as necessidades hu­manas e culturais que os determinantes econ6micos e administrativos.

Nesta ordem de ideias, torna-se diffcil adivinhar como será a forma das cidades no futuro, a qual certamente resultará de trabalhos experimentais, de concursos e de ex­periências da prática profissional.

Como antevisão do futuro, parece-me de reter algumas linhas de orientação que re­sultam dos temas aqui abordados: a negação da cidade sem forma determinada pela urbanística operacional; a revalorização da cidade tradicional e das suas tipologias ur­

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banas, a por da reconsideração com os contributos do Movimento Moderno; o. crescente interesse pela significação das vórias partes da cidade conseguido pelo desenho como etapa e processo privilegiado de organizar a cidade; o crescente interesse pela cidade como «meio naturah) do homem.

Nesta ordem de ideias, seró de recusar a tradicional separação entre o urbanista organizador dos usos, quantidades, fluxos, traçados e outros parâmetros mensuráveis na cidade, e o arquitecto fazedor de edifícios. Ambos entrincheirados nas suas .posições e prejudicando~se mutuamente: o arquitecto, espartilhado e castrado pelos regulamen­tos do urbanismo; o urbanista, vendo o seu plano ultrapassado pela liberdade concep­tual do arquitecto. No limite desta tensão, a anedota de «o urbanista que é o arquitecto que não sabe desenhar»...

Ora, entre plano (de urbanismo) e projecto (de arquitectura) deve existir uma uni~

dade de métodos, de linguagem e de objectivos. Isto implica que o plano de desenho urbano defina com o máximo de rigor as formas urbanas e as tipologias edificados, com clara marcação e definição das cérceas, planos marginais e tipos de fachadas, li­mitações construtivas, utilização de materiais, cores, etc., e de todas as regras necessá~

rias à correcta integração da arquitectura. Parece-me claro que, ao defender o rigor do plano e a sua ligação à arquitectura,

estou alinhando pela necessidade de planos com definição de desenho e de regras, e me estou afastando claramente dos planos flexíveis, adaptáveis, evolutivos e de toda uma série de adjectivos inventados para tranquilizar as consciências, satisfazendo os apetites dos especuladores imobiliários e executivos municipais ao seu serviço.

Certamente que outro tipo de planos, ou melhor dizendo, outro tipo de propostas de cidade também poderão admitir grande variedade de formas edificadas e de dife­rentes arquitecturas, tendo como critério a «riqueza» da diversidade, a constante varia­ção das construções, fachadas, cérceas, planos marginais, materiais e cores. Mas, e este é um problema crucial, a permissividade pode conduzir à dislexia formal e arqui­tectónica em que os edifícios se justapõem sem que qualquer relação inteligrvel os rela­

o o

clone. Com efeito, não se trata de violentar ou cercear a intervenção arquitectónica no de­

senho dos edifícios, mas de estabelecer as regras de composição e do projecto. Este problema é tanto ":Iais importante quanto as possibilidades actuais de expressão estéti­ca e de linguagem arquitectónica são diversificadas, e a crença no exibicionismo arqui­tectónico torna difícil, se não impossível, conseguir a unidade arquitectónica por um processo .natural» e espontâneo.

Neste contexto ocorre o abandono das ideologias de planeamento flexível e meto. dologias do plan mosse, com todas as implicações que acarretam para a ausência de forma da cidade. Pelo contrário, a recuperação do traçado e da inter-relação entre to.

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dos os elementos morfológicos parece-me ser a conquista do «novo urbanismo» como instrumento para dar forma à cidade, face à indiferença e insensibilidade' com que as administrações, com os seus métodos burocráticos e «operacionais», tratam a cidade.

Não é mais desejável que, por um lado, se desenhe a cidade e, posteriormente, se desenhem os edifrcios em dois momentos distintos e separados no tempo.

Énecessário que o plano ultrapasse o objectivo de divisão cadastral do solo - de loteamento - para se constituir como um verdadeiro instrumento arquitectónico de produção da cidade. O próprio plano morfológico contém na metodologia do desenho a sua melhor defesa e eficácia. Não pode ser substituído aos poucos e continuamente. Tem de formar um todo claro, legível e coerente, de fácil leitura e compreensão, permi­tindo o controlo do crescimento urbano e a clara definição das regras de integração de cada edifrcio.

No mais, os espaços identificáveis e figurativos como a praça, a rua, o jardim, o im­passe, etc., têm não só virtudes arquitectónicas e a capacidade de gerarem vida urba­na, como de serem identificáveis e compreendidos por quem habita a cidade.

Estou em crer que a generalização deste tipo de planos permitiria articular a defini­ção da arquitectura, pelo menos em determinadas áreas, num processo semelhante ao da Baixa Pombalina, a Rue de RivoJi ou os crescents de 80th, cujas propostas são ainda hoje ricas de ensinamentos.

O controlo de implementação do plano é tanto mais bem conseguido quanto as suas características e propostas estabelecem unidade e interligação entre os vários componentes: sistemas viários, espaços urbanos (vazios) e edificações; quando cada edifício com o seu volume, cota, cobertura, fachada e materiais tem um posicionamen­to único e bem definido; quando a quebra dessa posição não é possível.

O plano morfológico não permite (sob pena de destruição total) a constante altera­ção e modificação física. As hipóteses de correspondência da realidade ao plano são bastante maiores na medida em que os graus de liberdade diminuem, num quadro em que as hipóteses de modificação não deixam tão grandes margens para o jogo de for­ças económico-sociais e político-administrativas a que qualquer plano está sujeito no perrodo da sua implementação e concretização.

Significa isto um primado do URBANO com forte compromisso com as propostas de FORMA FrSICA DA CIDADE, na medida em que este será um dos elementos mais capa­zes de interpretar os processos sociais e de os vincular a uma instância operativa. Aar­quitectura será nestes planos a chave de leitura do território, tornando-se importante a combinação simultânea de várias escalas de trabalho: o estudo pormenorizado do ter­ritório, da paisagem, das comunicações e dos seus sistemas de dependências, oferec~n­do uma nova base de conhecimento territorial. Noutro escalão, torna-se necessária grande minuciosidade na interpretação da cidade existente, elaborando novas bases

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cartográficas que superem as deficiências das existentes e com ênfase nos estudos do parcelamento, nas alterações de topografia e nas áreas homogéneas.

Ainterpretação histórica estará presente, incidindo no estudo cuidadoso dos planos anteriores e na sua influência sobre a forma da cidade e nos problemas gerados pela quantidade de solo anteriormente comprometido.

Os estUdos sectoriais, desde o mobiliário à habitação e ao tráfego, ou as necessida­des sociais, tornam-se neste quadro sectores específicos de apoio à compreensão e à acção urbanrstica sobre a cidade.

Finalmente, o projecto do espaço ou do solo público - projecto de construção e execução - completará o desenho urbano na minúcia dos pormenores e de todos os elementos de conforto do utilizador.

-Termino e deixo voluntariamente em aberto como será a forma da cidade do futuro e as metodologias do seu desenho. Provavelmente, estarão contidas em algumas refle­xões e ideias deste trabalho ou serão completamente diferentes. Algures, no Planeta, estarão nascendo as ideias que definirão como será pensada e organizada a cidade de amanhã...

Pela minha parte, desejaria ter dado algum contributo, com a experiência da práti­ca profissional e a reflexão cultural, que permita clarificar ideias, discutir conceitos, avançar hipóteses e explicações e, sobretudo, tornar racional e significante o risco e o traçado sobre o papel no desenhar da cidade.

Lisboa, Janeiro de 1989. Revisto em Junho de 1992. Revisto para a 2° Edição. Março 2000

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NOTAS À PARTE I

INTRODUÇÃO

(1)� VIOLLET LE Due, Eug~ne - Entretiens sur I~Architedure.Paris, 7863·7972. ~ditions A. MOREl. Reedi· ção recente desta obra em Edit. Pierre Madarga. Bruxelles, 7977.

(2)� Ate~ que reallzei no InstiM d'Aménagement Regional d'Aix·en·Provence para a obtenção do grau de Dodeur-en.Specialité-l\I""- Cycle - Aménagement du Territoire intitulava-se Aménagement et Produc­tion Morphologique de I'espace, ~tude du R61, de I'Architecte. Aix-en-Provence, 7974.

(3)� Tradução: ft~tua/mente( o "nico forma que nos resta de ser moderno. ~ opÜcor à arquitedura moder­na o mesmo tratamento que esta oplicou ao academismo, - MONTES, F.",allÓo. Num texto do livro organizada par Andr~ BOI'ry inh'tulado Propos sur la Reconstrudion de lo Vde Européenn.e - Declara­tion de Bruxelles. Bruxelles, 7980, 720 pp. iII. Archives d'Archifedure Moderne.

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NOTAS À PARTE fi

A MORFOLOGIA URBANA

(1)� Podem-se encontrar definições da expressão «morfologia urbanalf em: TRICART, l., Cours de Géogra­phie Humaine, tomo 1/; Cadernos do IAURP, vol. 24. Tissus Urbains et Rêglements d'Urbanisme, vol. 34, Consommation des Espaces par I'Habitat et les ~quipementsi AYMONINO, Cor/o; ROSSI, Aldo; e outros - Rapporti tra la Morfologia Urbana e la Tipologia Edilizia, Edit. CLUVA, Veneza.

(2)� Utilizo a palavra paisagem no sentido de «parte de um território ou pars que a natureza apresenta ao observadorlf, portanto no sentido da descrição dos aspectos exferiores de uma realidade. Como exem­plo, a paisagem alentejana é apenas a aparência Visual de uma região, e nõo a realidade alenfejana.

(3)� CERASI, Maurizio - Lettura dei Ambiente, pág. 26. Trad. do autor..Para Cerasi, uma leitura objectiva seria necessariamente «topológicalf, mas impossrvel, porque eliminaria as relações entre o objecto e o observador.

(4)� Aeste propósito, ver lEVI, Bruno. - Saper Vedere I'Architettrura. A arquitectura revela uma complexi­dade de significações que correspondem às forças morais e outras que a produziram e que podem ser evidenciadas segundo o modo como se interpreta o objecto arquitectónico. Para uma total compreensão da arquitectura, levi utiliza instrumentos de leitura evidenciando a com­plexidade das significações: polrticas, filosóficas, religiosas, cientfficas, económicas, sodais, materiais, psicológicas, etc. Esta questão permanece válida para o espaço urbano ou arquitectura urbana.

(5)� AYMONINO, Cor/o, e vários. - Rapporti tra la Morfologia Urbana e la Tipologia Edilizia: Aymonino demonstra que a forma urbana se constitui medianfe relações precisas entre os elementos morfológicos (ediffcios) e o espaço que definem. Estas relações são dialéctica$ e evoluem ao longo da História, não sendo id8nticas da Idade Média até ao per/odo barroco. ~ através de tais diferenças que se diferenciam as formas urbanas em épocas diferentes. Para os tecidos urbanos habitacionais, a forma urbana é definida pela tipologia das habitações.

(6)� AYMONINO, Carlo, e vários. - Rapporti tra la Morfologia Urbana e la Tipologia Edilizia. Op. cit.; DEVILLJERS, C. - Typologie de I'Habitat et Morphologie Urbainei PANERAI, Philippe,. - Typologies, in Eléments d'Analyse Urbaine.

FORMA URBANA

(7)� ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittó. A Arquitectura da Cidade de ROS$i prolongo a tradição infer· pretafíva da geografia urbana de Po~te, Lavedan e Tricari, estabelecendo as ligações entre as difer,n­t~s realizações arquitecturais e a cidade. Rossi valoriza a obra $ingular e o monumento como um dos elementos fundamentais da história e evolução da cidade.

(8)� ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittó. Op. cit., pág. 59: Trad. do autor. (9)� ALEXANDER, Chri~topher - Notes on the Synthesisof the Form. Embora não se ocupando directamen·

te da noçõo de forma, esta obra confém definições que se aplicam quer ao meio urbano quer a todo o espaço humanizado. Alexander define a forma como tuma parte do mundo sobre a qual temos o con· trolo e decidimos modelar, deixando tal qual o resto do mundolf, pág. 15, tradução do autor.

(10)� ALEXANDER, Christopher. Op. cito (11)� Considero que os contributos das diferentes disciplinas se reencontram na produção da forma do meio

urbano, porque a organização formal do espaço não é gratuita e corresponde à ordenação dos dife­rentes objectivos do urbanismo.

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(12)� Os mais recentes debates sobre o arquitectura consagram o carácter essencialmente formal do concep­ção arquitectónico. Citei Rossi, e poderio ter referido também Robert Krier (L'Espace de la Ville), ou ou­tros. Poro Le Corbusier, «I'architedure est le ;eu mervei/leux des formes ou soleil», in Le Corbusier Vers Une Architecture. Poro Gregotti, /1(. ..) A natureza do concepção arquitectónico é essencialmente for­mai. Todos os outros aspectos (estilísticos ideológicos, técnicos, económicos) são unicamente meios ou materiais, embora como materiai! p<mam ser particularmente decisivos». GREGOTTf, Vittorio - 1/ Ter­ritorio deli'Architettura, pág. 31, tradução do autor. Sobre este assunto, ver também A/exander: Notes on the Synthesis of The Form. Op. cito

(13)� ALEXANDER, Christopher. Op. cit., pág. 12. Poro A/exander, o «contexto» é o con;unto de critérios e exigências que o formo deve satisfazer. Ver capitulo Forma e Função.

(14)� «Desenho», aqui utilizado no sentido do termo anglo-saxónico design, portanto, programo e pro;ecto (desenho).

(15)� Um ambiente cómodo não é necessariamente um ambiente esteticamente válido. Aos critérios que defi­nem o qualidade do meio urbano (comodiclodes) ter-se·ão de acrescentar (diria eu) os valores estéticos, como significações capazes de criar uma emoção intelectual. A este propósito, ver o trabalho de Co/lin Buchanan Traffic in Towns, ou o suo tradução francesa, L'Automobile dons la Ville, Paris, 1963, em que se indico, segundo a óptica da adaptação da cidade ao automóvel, um coniunto de critérios que permi­tem definir um ambiente de qualidade. Por exemplo, a acessibilidade dos veículos às entradas dos edifí­cios, os ruídos da circulação, o conflito físico entre peões e veículos, etc.

(16)� Ver o capítulo sobre Forma e Figura (aspectos estéticos do urbanismo). (17)� Ver o capitulo Elementos Morfológicos do Espaço Urbano.

FORMA E CONTEXTO

(18)� ALEXANDER, Christopher - Notes on the Synthesis of the Form. Op. cito Utilizo a terminologia de Ale­xander, cuia definição de contexto é bastante clara. Ocontexto está sempre presente na concepção ar­quitedónica.

FORMA E FUNÇÃO

(19)� Apalavra «função» pode aqui equivaler-se a adividade ou utilização. Poro os ob;edos, a função é so­bretudo o utilidade. Um copo tem o utilidade (função) de permitir beber. Épor isso diferente de uma garrafa, cu;a utilidade é conter ou guardar um líquido e de o despe;ar com precisão. Terão por isto rduas formos diferentes. Pela mesma razão, um bairro habitacional teria uma forma diferente do de um� bairro industrial.�

(20)� ALBERT/, Leone Baffista - De Re Aedificatoria. Alberti, arquitecto, humanista florentino do século XV r -� 1404-1472 -, continua, nos seus escritos sobre arquitectura e urbanismo, os textos de Vitruvio.

(21)� VAN DER ROHE, Mies, citado em MOULlN, Raymonde - Avons-Nous Besoin d'Architectes~

(22)� Ver o este propósito BENEVOLO, Leonardo - História de la Arquitectura Moderna.

(23)� BLAKE, Peter - Form Follows Fiasco. Boston - Toronto, 1975, citado porfOR TOGHESE, Paolo in De­pois da Arquitectura Moderna.

(24)� TAUT, Bruno - Die Neue Baukunst in Europa und Amerika, Stuttgart, 1929. Citado por Benevolo in His­. tório da Arquitectura Moderna.

(25)� Carta de Atenas, tradução publicada na revista Arquitectura.

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Cito também a este propósito algumas passagens da Carta de Atenas. .. 15. Esta repartição parcial da habitação estó sancionada pelo uso e por disposições camarórias consi· deradas como ;ustificadas: o zooning é a operação feita sobre um plano de cidade com o fim de atribuir a cada função e a cada indivíduo o seu ;usto lugar. ..Tem por base a discriminação necessária entre as diversas actividades humanas, reclamando cada uma o seu espaço privado: locais de habitação, centros industriais ou comerciais, salas ou terrenos des­finados aos divertimentos. ..Mas se a força das circunstâncias diferencia a habitação rica da habitação modesta. não se tem o di· reito de transgredir regras que deveriam ser sagradas, não reservando senão aos favorecidos da forlu· na, somente, o beneficio das condições necessórias para uma vida sã e ordenada. Éurgente modificar cerlos usos: tornar, atavés de uma legislação implacóvel, uma cerla qualidade de bem·estar acesslvel a qualquer, aparle qualquer questão de dinheiro; e proibir, por uma estreita regulamentação urbana e para sempre, que famdias inteiras se;am privadas de luz, de ar e de espaço. .. 16. As construções erigidas ao longo das vias de comunicação e das proximidades das encruzilhadas são pre;udiciais à habitação: ruldos, poeiras e gases nocivos. ..Se se quiser ter em boa conta esta interdição, deverão atribuir-se, de ho;e em diante, zonas indepen­dentes à habitação e às circulações. A casa, a parlir de então, não estó ;amais soldada à rua pelo seu passado. ..A habitação er'1ir-se-á no próprio meio onde desfrutará de sol, de ar puro e de silêncio. ..A circulação desc1obrar-se-á por meio de vias de percurso lento para uso dos peões e de vias de per· curso rápido para uso das viaturas. Estas vias cumprirão a sua função, não se aproximando nunca da habitação, senão 'JCasionalmente. ..61. Os cruzamentos de grande movimento serão construídos permitindo uma circulação contínua por meio de mudanças de nível. ..Os vefculos em trânsito não deveriam ser constrangidos ao regime das paragens obrigatórias em cada cruzamento, retardando o seu percurso. ..Mudanças de nfvel, em cada via a cruzar, são o melhor meio de lhes assegurar uma!marcha contínua. Sobre as grandes vias de trânsito e a distâncias calculadas para obter o melhor rendimento, serão esta­belecidas concordâncias unindo·as às vias destinadas à circulação secundária. ..62....que o peão possa seguir caminhos diferentes dos do automóvel. ..Esta medida constituiria uma reforma fundamental da circulação nas ocidades. Nenhuma outra seria mais ;udiciosa nem susceptfvel de abrir uma era de urbanismo mais nova e mais férlil. Esta exigência, no que diz respeito à circulação, pode ser considerada tão rigorosa como a que, no domínio da habita­ção, condena toda a orientação do.alo;amento a norle.» -Ver os capftulos da Parle V- 5.6 - ACidade dos ClAM e da Carta de Atenas; 5.7 - le Corbusier, a ci­dade radiosa e a unidade de habitação.

(26)� BLAKE, Peter - Form Follows Fiasco, Boston - Toronto, 1975. Citado por PORTOGHESE, Paolo, in Depois da Arquit~tura Moderna. \

(27)� Aprótica de recuperação e reutilização de edif(cios tem produzido pro;ectos e obras de grande comple­xidade e ambiguidade, na medida em que as mesmas formas vão permitir funções diferentes, tendo-se tornado actualmente uma área parlicular do pro;ecto arquitectónico. (28) SCRUTTON, Roger, Estético da Arquitectura. Edições 70. Citando Scrutton, ..o funcionalismo tem muitas formas. A forma mais po­pular é a teoria estética de que a verdadeira beleza na arquitectura consiste na adaptação da forma à função (...). Porlanto, o valor de um edif(cio é determinado pela extensão com que cumpre a função, e não por quaisquer teorias iestéticas' (...)>>.

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o texto de Scrvtton é de grande importóncia para esta e outras questões estéticas, ;á pelo rigor com que adiscussão é sustentada e os argumentos invocados, ;á pelo facto de oautor, sendo filósofo e professor de filosofia, e não arquitecto, ~ontribuir com um enfoque exterior à disciplina da arquitectura.

FORMA E FIGURA (ASPECTOS ESTtncos 00 URBANISMO)

(29)� GREGOTTI, Vittorio - II Territorio deli'Architectura, pág. 30. Trad. do autor. (30)� Não se trata aqui de fazer um estudo sobre a teoria da percepção. Todavia é útil relembrar que a escoo

la ghestaltica (ghestalthéorie) se diferencia da escola clássica, admitindo a separação entre sensação e percepção. Anoção de forma pressupõe a exist~ncia de comunicação estética entre a obra (ob;ecto) e o observador, f1 essa comunicação é da ordem da percepção.

(31)� Sabre esta matéria, poder·se-á consultar o estudo de PERLOFF, Harvey S., The Quality of the Urbon En· . vironnment, ou Ó trodução castelhana La Calidad dei Medio Ambiente Urbano, CoI. de Urbanismo. OIKOS·TAU, e também RAPPORT, Amos, Human Aspects of Urbon Form, ou a tradução castelhana Aspectos Humanos de la Forma Urbana. Ed. G. Gili.

(32)� LYNCH, Kf1vin - The Image of the City. Sobre os problemas visuais da forma urbana, ver também, do mesmo autor, Site Planning, The city as an Environnment, Quality in City Design, The View From the Road, City Design and City Appearence, também KEPESH, G., The New Landscape in Art and Science; TUNNARD, C. e PUSHKAREV, B., Man Made America; VENTURI L., SCOTT BROWN, D., Leorning From las Vegas; CESARI, M., lettura dei Ambiente, e FORTE~ M., Analisi dei ValoriAmbientali.

(33)� HAROLD, W. Himes - Space as a Component of Environnment. University of Michigan. (34)� Os estudos são os referidos na nota 31. (35)� Ver, a este propósito, LYNCH, Kevin; APPLEYARD, Donald; MEtER, Richard, The View From the Rood.

Ver, sobre este mesmo assvnto, CULEN, Gordon, Townscape. (36)� GREGOTTI, Vittorio - II Territorio deli'Architettura. Op. cito

PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE - PRODUÇÃO E FORMA 00 TERRITÓRIO

(37) ROBERT - Dictionnair. de Langue Françoise. (3B) «Espaço natural, será o"paço que nunca foi transformado pelo homem. Em cada vez mais vastas re·

giões do globo terrestre, o espaço natural ;á não existe, porque tende a ser humanizado, mesmo se as transfarmaç6es que suporta não fim a aparlncia de construções. Para se encontrarem verdadeiros «espaços naturais"~ será necessário caminhar até regiões como a Amazónia, os Pólos, ou outras.

(39)� Sublinho a noção de forma de A/exander: «A forma é essa parte do mundo de que temos o controlo (...),. Alexander, Christopher - Notes on the Sinthesys of the Form. - Op. cito

(40)� R055I, Aldo - L'Architettura della Cittó. - Op. cito (41)� Noção também utilizada por Tricart no seu Cours de Géographie Humaine. Op. cito (42)� Exceptuando casos como a Roma Imperial, que contava mais de um milhão de habitantes, a «metrópo­

I., ero antigamente um facto excepcional. (43)� Conftrvar tamb~m é actuar sobre o ob;ecto·território. Neste sentido, adefesa e conservação de espa·

ços é também uma aeção flsiea sobre o território. (44)� Anoção de .Forma do território, apareceu pela primeira vez nos n. os B7 e BB da revista italiana Edilizio

Moderna nllm artigo de Vittorio Gregotti intitulado La Forma dei Territorio e em outros artigos sobre o mesmo assunto e mais tarde numa obra do mesmo autor - II Territorio deli'Architectura.

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Sobre a forma do território, ver também CORBOZ, André, II Territorio cómme Palinsesto, in Casabella, n. 0516.

DlMENS()ES ESPACIAIS 00 TERRITÓRIO

(45)� Quero designar os espaços públicos, considerando que o urbanismo e o desenho urbano se devem inte­ressar por todos os lugares públicos, quer exteriores quer interiores a ediffcios. O átrio de um edifício público (gare, serviço, etc.) ou de um metropolitano pode ter o mesmo significado na vida colectiva que uma praça ou parque urbanol

(46)� CULEN, G.i NAIIlN, Y.i BIlOWN, Kenneth - Outrage e Counter Attack - números especiais de Archi­tectural Review (Junho 1955 - Dezembro 1956): CULLEN, Gordon - Townscape. O townscape (pai­sagem urbana) pode ser entendido como porção de paisagem urbana que acidade oferece à visão do observador.

(47)� WOLFE, Ivor - Italian Townscape. (48)� As perspectivas aéreas, fotográficas, etc., são elementos de trabalho e compreensão quer na 'eitura do

espaço quer no seu proiecto, mas não são obiectivos da produção ou análisft espacial. Do mesmo mo­do, a cartagrafia corresponde a uma forma de abstracção que permite representar parte dos dados ou das caracterfsticas espaciais da cidade ou do ediffcio. t arepresentação de uma parte da realidade que necessita de um flinstrl,lmento de 'eitura. para ser entendida.

(49)� Ver TIlICAIlT, J. - Cours de Géographie Humaine - lI'me Partie - L'Habitat Urbain. Paris, 1963. Ver também 1l0SSI, Aldo - L'Architettura della Cittá. Op. cito

(50)� 1l0SSI, Aldo - Op. cito As relações entre aparcela cadastral e o ediffcio serão abordadas mais adiante. (51)� Ver a legislação correspondente: decreto-lei 69/90

DOS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS 00 ESPAÇO URBANO

(52)� Asemiologia arquitedónica teve um grande desenvolvimento dos finais dos anos sessenta até meados dos anos sfttenta, após o que parece ter desencantado os teóricos e os profissionais. Deixou pelo menos um vasto campo de ensaio para a leitura da cidade, relacionando-se com o estrutu­ralismo. Aeste propósito, citaria os trabalhos de Françoise Choay e Iloland Barthes, enquadrados pela semiologia estruturalista. CHOA Y, Françoise - Remarques à Propos de Sémiologie Urbaine e Sémiolo­gie et Urbanisme, Janeiro de 1971, in Architecture d'Aujourd'hui, n. o 153.

(53)� Sobre as relações entre a fllinguagem. arquitectónica e a fllinguagem. da fala, citaria os trabalhos de Iloland Barthes Elément de Sémiologie e a teoria lingufstica de Chomsky Aspects of the Theorie of Syntax. A questão da linguagem da arquitedura vem também abordada com bastante clareza em SCIlUTTON, Iloger - Estética da Arquitectura, cap. o 7 - ~ linguagem da Arquitectura. Mas Scruffon diz que flse a arquitedura fosse uma verdadeira IinglJagem (ou talvez uma série de linguagens)., então saberfamos como compreender cada ediffcio e o significado humano da arquitectura iá não estaria em questão•. Outro teórico importante da semiolagia arquitectónica é Umberto Eco, de quem a Obra Aberta terá si­do um dos textos mais polémicos e influentes dos anos sessenta.

(54)� KIlIEIl, Ilobert, - L'Espace de la Ville. Bruxelas, 1970. Archives d'Architecture Moderne. Uso a desig­nação que Krier adopto nesse trabalho.

(55)� AYMONlNO, Carloi 1l0SSI, Aldoi CIlISTOFOLL/, c., - Rapporti Tra la Morfologia Urbana e la Tipolo­gia Edilizia. Edit. Leonardo da Vinci, Bari, 1967. Op. cito Sobre esta mot~rio, ver tombém: DEVILLlEIlS, c., - Typologie de I'Habitat e Morphologie Urbaine. No

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trabalho Eléments d'Analyse Urbaine, de Panerai, Depaule, Demorgon e Veyrenche, publicado pelos A.A.M.

(56)� DURAND, J.N.L. - Recueil et Paraletle des ~difices de Tout Genre, Anciens et Modernes, Remarqua­bles par leur Beauté, par leur Singularité et Dessinés sur Une Même ~chelle, Paris 1801. DURAND, J.N.L. - Précis des Leçons d'Architecture Données à I'~cole Polytechnique. Paris, 1802.

(57)� LEWIS, D. - EI Crecimiento de las Ciudades. Os estudos do LUB (Laboratório de Urbanismo de Barce­lona) sobre esta matéria, publicados neste livro e em outras ed;ções próprias da Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, deram um importante contributo à sistematização das operações urba· nlsticas do crescimento urbano, avançando com a grelha classificativa: Parcelaci6n, Urbanisación, Edi· ficaci6n, através da qual os diversos bairros e formas de crescimento urbano podem ser agrupados e classificados. .

(58)� CARLOS DUARTE e JOSÉ LAMAS - Plano de Renovação Urbana da Área do Martim Moniz, proposta seleccionada no concurso de ideias promovido pela Câmara Municipal de Lisboa em 1980-1981, e pu­blicada na revista Arquitectura, n. o 146. Maio, 1982. Ver também, na Parte /V, O Novo Urbanismo, as referências ao Plano do Martim Moniz, cap. o 6.12 - Experiências Pessoais.

(59)� ZEVI, Bruno - Sapere Vedere I'Architettura.

(60)� Citado por BENEVOLO, Leonardo - História da Arquitectura Moderna. Ed. G. Gili (traduzido do ita­liano - Storia della Architettura Moderna).

(61)� POETE, Marcel- Introduction à l'Urbanisme. Editions Antropos. Paris, 1967. LA VEDAN, Pierre - Histoire de l'Urbanisme. Editions Henri Laurens. Paris, 1959. TRICART - Cours de Géographie Humaine, fascicule II. Paris, 1962 (295 pp.). L'Habitat Urbain. Cen· tre de Documentation Universitaire. ROSSI, Aldo - L'Architettura delia Cittó, Padova, 1967. Edit. Marsilio.

(62)� KRIER, Robert - L'Espace de la Ville, Théorie et Pratique. Bruxelas, 1980. Ed. A.A.M..

(63)� POÊTE, Marcel. - Op. cito (64)� ROSSI, Aldo. - Op. cito

(65)� ALEXANDER, Christopher - City is Not a Tree. Trad. portuguesa in Arquitectura. Prefácio de Carlos Duarte.

(66)� ALEXANDER, Christopher - City is Not a Tree.

EVOLUÇÃO DO TERRITÓRIO

(67)� QUARONI, Ludovico - La Torre de Babel. Trad. castelhana de La Torri di Bobeie. Edit. G. Gili.

(68)� ALEXANDER, Christopher - Notes on the Synthesis of the Form, p. 24. (69)� A noção de contexto aqui utilizada segue o que já foi dito quando defini a forma urbana. (70)� POÊTE, Marcel- obras já citadas: Introduction à l'Urbanisme (nota 8j,. Évolution des Villes; La Leçon

de I'Antiquitéi Comment s'est Formé Paris; Paris son ~volution Créatrice.

(71)� LAVEDAN, Pierre - obras citadas: nota 8 e outras: Histoire de l'Urbanismei Géographie des Vil/es.

(72)� ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittó. Rossi considera que a «impossibilidade de comparar a conti­nuidade dos factos urbanos resulta do facto de as modalidades de permanência poderem ser 'patológi­cas' ou 'propulsoras',.

(73)� ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittó. Op. cito

(74)� MEYER HEINE, Georges, arquitecto urbanista (1905-84). (Ver nota 39 - Parte IV).

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NOTAS À PARTE IH�

A LIÇÃO 00 PASSAOO - CRESCIMENTO ORGÂNICO E RACIONAL

(1)� Refiro-me fundamentalmente a dois trabalhos: A História da Urbanistica, de Paolo Sicca, e A História da Forma Urbana, de AE.J. Morris. O primeiro aborda de modo exaustivo toda a produção urbanlsti­ca desde o século XVII até à Segunda Guerra Mundial, com inúmeras referências a planos e realiza­ções, sem exclusões ditadas por enfoques ideológicos ou critérios de natureza estética.

(2)� Esta classificação, já adoptada por Mumford e retomada por Alexander, refere-se essencialmente aos aspectos morfológicos ou físicos do crescimento urbano. Actualmente, quase todos os autores são unâ­nimes em aceitar e usar a distinção entre o crescimento orgânico e o crescimento racional. MUMFORD, 'Lewis - The City in History. ALEXANDER, Christopher - Notes on the Synthesis of the Form; City is not a Tree. MORRIS, AE.J. - História de la Forma Urbana.

(3)� Ver, a este propósito, os seguintes trabalhos:� Nuevas Ciudades: de la Antiguedad a Nuestros Dias, de Galantay. Edit. G. Gili.� Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar, de Luís Silveira.�

(4)� No que se refere à praça, Robert Krier apresenta-nos uma lista quase exaustiva de praças rectangula­res ou derivadas do rectângulo, praças octogon~is, praças abertas ou fechadas por um edifício isola­do, praças redondas, praças com ou sem construções incluídas no seu interior, praças definidas por sis­temas geométricos complexos, praças triangulares, poliédricas, etc. A listagem, apesar de parecer exaustiva, certamente não o é. Será a partir do conceito de praça que se pode identificar qualquer .-no­vo» elemento dessa colecção. As suas características primárias permanecem e são sempre identificá· veis. Existe algo que as reduz a uma categoria comum. KRIER, Robert - L'Espace de la Ville. Bruxelles, 1977. A.A.M.

A MORFOLOGIA URBANA NA GRÉCIA E EM ROMA

(5)� Esta atribuição é, de resto, um dos mitos da história do urbanismo que não resiste a uma visão mais cri· teriosa. Hipodamus foi até venerado como «pai do urbanismo e inventor da quadrícula», o que é pelo menos incorrecto, dado que a quadrícula já seria utilizada em partes de cidades pelo menos desde épo­cas como 2670 a.c. A Hipodamus foram atribuídos alguns planos de ordenamento, para além de Mile­to, como o da cidade de Pireu (450 A.C). Thurii, no Sul da Itália, e Rodes.

(6)� MORRIS, AE.J. - Historia de la Forma Urbana. Op. cito (O urbanismo grego, teoria e prótica, p. 55).

(7)� MORRIS, AE.J. - Historia de la Forma Urbana.' Op. cito

(8)� BACON, Edmund - Design of Cities. As análises de F. Bacon e os estudos e reconstituições realizadas na Universidade de Filadélfia dão uma ideia precisa e analítica do espaço urbano romano e do modo como era produzido.

O DESENHO URBANO MEDIEVAL

(9)� MORRIS, AE.J. - Historia de la Forma Urbana. Op. cito

(10)� SITTE, Camilfo - L'Art de Dessiner les Villes. Mais adiante, na parte sobre o urbanismo formal (Parte IV), são feitas referências pormenorizadas à obra e ao pensamento de Camil/o Sitie.

(11)� MUMFORD, Lewis - The City in History. Ao contrário de Morris, que é mais céptico quanto à intencionalidade estética do desenho urbano me·

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dieval, Mumford é um grande defensor do qualidàde ambiental voluntário do urbanismo medieval. Ambos os autores estão de acordo em que essa intencionalidade terá existido pelo menos nos grandes opções e decisões. Poro Morris, os preocupações estéticos voluntariamente assumidos seriam Funda­mentalmente apanágio dos cidades italianos, pressagiando o Renascimento, e também provo do in­fluéncia do passado romano em Itália. Poro tis grandes decisões colectivos, parece incontestável o exis­tência de preocupações estéticos e o participação do população, ficando por esclarecer, como temo de investigação ainda não comprovado, o existência de iguais preocupações no dia·a-dia do construção do cidade medieval. Sempre em Itália, são de recordar os factos como o do cidade de Bolonha, que ti­nha arquitectos contratados poro supervisor o construção dos ediffciC)s públicos; em Sienna, quando, em 1310/ se decreto que os ediflcios do Piazza dei Campo devem ter ;anelas iguais; ou em Sienna, tam­bém em 1309/ quando o população pediu aos dominicanos poro demolirem um muro que ocultava parcialmente o grandioso igre;a de S. Domingos (tn MORRIS, A.E.J., Historio de lo Formo Urbano, ap. dt.). De resto, o vida intelectual, como demonstrou Pirenne, existiu com grande intensidade no Idade Média, que não pode ser considerado como um perfodo de trevos (PIRENNE, Henri - Les Villes du Moyen.Age).

(12)� SITTE, Camillo - L'Art de Oessiner des Villes. Op. cito (13)� UNWIN, Raymond - Town Planning in Practice. (14)� ZEVI, Bruno - II linguaggio Moderno deli'Architettura.

RENASCIMENTO E BARROCO

(15)� Como é evidente, estas dotas são aproximados e referem-se o uma análise essencialmente cultural e es­tético/ dado que em quatro séculos - de 1500 o 1900 - os variações serão enormes. Ver, o este propósito, Morris, AE.J. - Historio de lo Formo Urbano. Op. cito

(16)� A quedo de Constantinopla é tomado por muitos autores como o final do Idade Médio. Marco também um momento importante nos estratégias de defeso dos cidades - com o supremacia do canhdo, que torno obsoletos os muralhas medievais. Perante o utilização dos canhões pelos turcos/ os muralhas de Constantinopla, considerados inexpugnáveis poro assaltos tradicionais, acabariam por ceder,

(11)� A Imprenso debuta/ao que parecei nos Pafses Baixos, mos só é utilizada, cerco de 1450/ por Johan Gu­tenberg/ em Mayenda. A invenção do Imprensa, permite divulgar o arquitectura desenhado e o difu­são de tratados de urbanfstica e desenho dos cidades.

(18)� São numerosos os trotados de arquitectura e de~nho de cidades que surgem no inicio do Renascimen­to/ numa prático que ;amais será abandonado até ho;e. Em primeiro lugar, o edição dos livros de Vitru­vio, condensados no compêndio De Arch1tectura. As passagens de De Architectura mais significativos poro o formo urbano encontram-se no livro primeiro, nos capitulas quarto 00 sétimo. Nessas partes, Vi­truvio estabelece os princlpibs fundamentais o que deveria obedecer o troçado de núdeos urbanos e descreve uma cidade desenhado segundo um plano circular. Vitruvio propõe uma formo radioconcên­trica, encerrado no muralho octogonal, com torres nos vértices do octógono. Oito ruas conduzem às torres desse vértice,' e não às portas, o fim de evitar o estabelecimento de correntes de ar desagradá­veis. Embora ingénuo no seu funcionamento, este argumento servia o estratégia militar, porquanto difi­cultava o acesso directo 00 centro do cidade. Outro aspecto importante refere-se às considerações so­bre o tecido residencial, que, poro Vitruvio, devia seguir retlculas regulares. Outro tratadista é Leone Battista Alberti (1404-1412)/ que escreve De Re Aedificatoria - doze livros sobre arquitectura e temos de construção. De Re Aedificatoria só seria publicado em 1485/ elevando Alberti poro o lugar de .pri­meiro teórico de planeamento urbano» e iniciador do .urbanismo consciente». Alberti critico vivamente

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Vitruvio, • terá sido talvez esta a mofWGção que o determinou a escrever o tratado. Todavia os textos de AIb«1i preocupam-se mais em expor a sua Filosofia arquitedónica do que os conceitos de planea­mento IIrDano. António Averlino (1404-1472), man conh«kJa por Ântónio Filarete, apresenta a ideia de uma cidade ideal totalmente planificado, clescrifG • desenhado no seu Trattato d'Architettura, escrito entre 1457 e 1464, • s6 publicaclo no s«ulo XIX, • em parle, mas iá anteriormente divulgado no Europa através de cópiof tnGIIUKritas. O plono da ckJacJe sforzinda, em homenagem ao seu mecenas Francesco Sforza, é umo cidade obtido por cIois quadrados sobrepostos que originam um octógno inscrito num cfrculo. A cio doc/e tleMnvolv.-. com Jd proços secundárias, 76 vias radiais euma via anelar. As praças recebem as prindpGis ~ re/igioJaJ • comerciais. Giorgio Morlini(1429-15D2) eKntVe o NU Tratatto d'Architettura em 7495, em cuio quinto livro inicia novos mMocJos de abordor Q engenharia e as defesas cios cidades contra a artilharia, colocando-se, se· gunc/o alguns autora, como antecessor de Vaubon. rlelro Cataneo MCfeve e publica em 1554 outro tratado - Quatro Libri dei Architettura, incluindo nu­merosa .rie de planos de cidades ideais, geometrizadas e regulares. BuonaMo Lorini publica O8lle Fortificatione Libre Cinque, que trato essencialmente da fortificação das ddades. Leonardo do Vinci desenha numerosos esquemas orquitedónicos e urbanfsficos, com indicações sobre planeamento de aglomerados, ou até esquemas de 6mbito regional. Na sua cidade ideal, Leonardo propõe ;á (1 separação de tráfego entre pe6es e viaturas. Vicenzo ScamoBi (7557-7676) é talvez o único teórico do urbanismo do Renascimento italiano que vê as .uos piOPQstas urbanfsticas construIdos 00 ser-lhe atribufda a construção da pequena cie/ade fortifi· cada da Palmo Nuova, iniciada em 7593. Em 7675 publicou em dez volumes a obra l'ldea deli Archi­tettur~ Universcile, da qual nove livros trotam esp6Fificamente do tema das fortificaçdes militares com exfimPlos verrJadeiros colhidos na Europa. No seu tratado, Scamozi inclui um plano minucioso de cida­

o� oele ideal fomficada, de resto semelhalJtea Palmo Nuovq.� Citiiria tamWm, em Portugal, Francisco de Holanda (7577. 7584), que escreve em 7571 Do Fábrica que� Falece à Cidade de li5boa - verdadeiro tratado eis arquitectura ~ urbanfsfica, quase um Plano Direc­�tor pora Lisboa; muito pr6ximo culturolmente dos seus congéneres italianos.� As «cidades ideais. desta primeiro fas~ cio Rena$CÍmento teriam povea influência na forma dos cidades,� exc.epto nos realizações de cidades novas e no contributo para ~ melhoria dos sistemas defensivos, mu­�ralhas e forfificaçdes. NM1I um s6 pToi«to de cidade ideal contém indicações acerca de edifícios.� ge1ere,m-s.e aptmas a traçados de ruas, praças e muralhas, tornados os principais elementos mc>rjo/ógi.� cos a partir cio genascimento.�

o (79)� ALqERTI, Leone Battista - De Re Aedificotori.Op. cit., nota 78. (20)� FILARfT~ An~nio, nome por que se tornou mais conhecido António Aver/ino (7404- 7472). A cidaJe

icJeal de Filarete, sforzinda, vem referenciada na nota 18.• (27)� t um facto que, iniçiaJENnIe, a teoria I,Irbanfsfico renaJ.cenfista se consubstancia em textos e obras te6ri­

cas que só serão utilizcK/os anos mais larde, condicionadas pelos oportunidades de construção de reali­zações. Todavia, em escritos e fratadOs, a forma urbana é abordada nos seus elementos preponderan­tet: o troçado qeral, as muralhas, as t'IJOS e 0& praça.s.

(22)� BENEVOLO, Leonordo - 8ioggio Rossetti a ferrara, \I Primo Urbanista Moderno Europeo. A. expan­são tle ferrOlo, reo/izocla no s«ulo Xv, S8fltmdo plano de B. Rossetti, obedece iá aos princfpios renas­cenIis#as. v. tomhctm BENEVOLO, Leon«cIo, Slorío deli'Architetturo dei Rinascimento.

(23)� WOLFFLlN, Heinrich - Renaissance und Barock no vetsão lafino mois pt'Óxima do português, a tradv­

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ção castelhana Renascimento y Barroco. Edit. G. GiIi. (24)� Sébastien Le Preste de Vaubon (1633-1707) ferá sido um dos maiores engenheiros militares que a Histó­

ria conheceu. Ao serviço de Luis XIV, terá fortificado 300 povoações, desenhado 30 flnovas cidades., dirigido 53 cercos e participado em 150 batalhas (Morris, Historia de la Forma Urbana). O sistema de defesas proposto por Vauban iriasubstifuir por completo as muralhas criadas ant~rior­menfe. Combinando as fortificações com o planeamenfo urbano, nas novas praças'fortes que dese­nhou, como em Neuf Brisach, Vauban iria utilizar o esquema quadriculado regular. Na1 outras cida­des, Vauban deixa intactos os traçados existentes e concentra o esforço nas obras de defesa, instituindo as fortificações de perfil poligonal e desenho esfrelado, com sisfemas de rampas.

(25)� A rua é um elemento urbano muito mais antigo, mas é definida como alinhamento e percl!rso rectillneo a partir do Renascimento: Em algumas cidades portuguesas como Tavira, cuja estrutura urbana fica de­ferminada no século XVI, os alinhamenfos recti1fneos marcam as expansões renascentistas. Algumas ruas atestam na toponlmia essa intenção - fia rua direita. -, claramente originada no século XVI, co­mo elemento novo do traçado de crescimento da cidade e que vai ordenar as suas funções comerciais. Acidade de Angra do HeroIsmo um interessante exemplo de cidade organizada segundo os princlpios renascentistas, nos traçados rectillneos e disp'osição dos monumentos. Aestrutura geral urbana fica lo­go organizada até final do século XVI, partindo do primeiro assentamento entr~ 1450-1474.

(26)� MORRIS, A. E. J. - Historia de la Forma Urbana. Op. cito Aclassificação de Morris, tIpica de um autor anglo-saxónico, é oportuna, já que permite alargar o siste­ma classificativo a espaços que, não sendo praças, a elas se assemelham.

(27)� Citei aqui estes dois exemplos, e a lista quase padia ser infindável. Em quase todas as praças, a partir do Renascimento, a determinação significativa e estética sobrepõe-se à ordem funcional e decorre de um entendimento alargado da estrufura urbana, em que a praça tem razão de ser como contraponto ao sistema de quadrfculas e traçados.

(28)� A Place des Vosges inaugura uma das mais interessantes propostas de desenho urbano renascentista e clássico de integração urbana e arquitectónica ao definir a regularidade e uniformidade das fachadas, que aceitam por detrás ediflcios com programas diferentes. A Place des Vosges é projectada no final do século XVI e é terminada em 1612. Este tipo de urbanismo será retomado na Place Vendôme, na Place des Victoires, na Baixa Pombalina e em numerosos momentos altos do urbanismo clássico.

(29)� POETE, Marcel. Op. cito ROSSI, Aldo - L'Architettura della Citta. Op. cito

(30)� Uma descr.ição dos numerosos tratados de arquitectura e urbanlstica realizados no Renascimento foi já feita na nota 18.

(31)� Informação completa e estruturada sobre os planos para a Baixa poderá ser encontrada em José Au­gusto França, A Reconstrução de Lisboa, ou, do mesmo autor, Une ViIle des Lumieres: la Lisbonne de Pombal (edição francesa e portuguesa) e também nos catálogos da exposição de 1982 realizada no Museu da Cidade,. Lisboa e o Marquês de Pombal.

(32)� SICCA, Paolo - Storia deli Urbanistica - ii Setecento. Op. cito MORRIS, A. E. J., - Historia de la Forma Urbana. Op. cito BACON, Edmund - Town designo Op. cito No Outono de 1706, a administração de 80th obtém autorização parlamentar para proceder a uma primeira renovação da cidade, cujas obras só começam em 1727e para as quais serão chamados o ar­quitecto John Wood e seu filho John Woad Junior. Durante quase cinqueta anos os dois Wood, pai e fi­lho, trabalharão nas transformações da cidade como arquitectos e promotores. Os trabalhos dos

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Wood processam-se como um somat6rio de intervenções unitórias, atentas à qualidade ambiental e ao rendimento, posto que agem como arquitectos dos seus pr6prios empreendimentos. Assim nascem os con;untos de Queen Square, Gay Street, King's Circus, Brook Street e o mais conhecido, o Royal Cres­cento S6 por detrós da fachada, cu;o desenho é repetido e igual, são possfveis as variações reservadas aos utilizadores, a cada um dos habitantes. De resto, os pr6prios Wood estudam logo à partida seis plantas diferentes para diversos standards de qualidade. Na realidade, os arquitectos construirão as fachadas deixando liberdade interior aos construtores e proprietórios em cada lote.

DESENHO E FORMAS URBANAS NO SÉCUW XIX

(33)� Veia-se, por exemplo, aconstrução em Lisboa do Passeio Público, que seró mais tarde transformado na Avenida da Liberdade. O «passeio público. - espécie de largo corredor urbano arborizado e fechado nos topos - surgirá em muitas cidades europeias: o corso italiano, o cours provençal como o Cours Mi· rabeau de Aix-en-Provence é um destes exemplos. A refer&ncia ao passeio público anota a invenção de uma outra tipologia urbana.

(34)� Ver BACON, Edmund - Town Design, Op. cito SICCA, Paolo - Storia dei Urbanistica - ii Setecento. Op. cito

(35)� As intervenções urbanas de Napoleão I realizam-se quer em Paris quer em outras cidades francesas ou integradas no Império napoleónico, num vasto programa de obras públicas: as transformações do Lou· vre e a construção da Rue de Rivoli e dos Jardins das Tulherias, segundo desenho da fachada de Percier e Fontaine, at~ós dos quais os construtores e proprietários tinham liberdade de construir; o famoso Arco do Triunfo do Carrousel, a construção de grandes edifícios, a Bolsa, monumentos, canais; e fora de França, desde o Cairo à Itália (projectos para Milão, como o Forum napole6nico) ou a sistematização da Praça de São Marcos, em Veneza, e tantas outras.

(36)� Algumas obras permitem compreender a génese e formação do subúrbio: lhe Anglo American Su­burbs, vórios artigos em A. D. Profile, 1981; PAOLO - Storia deli Urbanistica. Op. cito As referências iniciais à tipologia do subúrbio anglo-saxónico poderão ser encontradas, no infcio do sé­culo XIX, em Henbury, Gloucestershire, de John Nash, 1811, no Regent's Park, em Londres, de Nash, 1813, em New Brighton, 1836, Henellyn Park, 1853, e, a partir da segunda metade do século XIX, nos Garden- Citys e loteamentos habitacionais na periferia das cidades inglesas;

(37)� Ver a este propósito Benevolo, Leonardo - Le Origine dell'Urbanistica Moderna. Op. cito

(38)� As «ilhas. são sistemas de construção de máximo aproveitamento do lote, construídas no interior do lo­gradouro dos quarteirões e reolizadas no Porto no final do século XIX e princfpios do século XX. As «vi­las. realizadas em Lisboa no mesma época seguem um esquema semelhante, por vezes com melhores condições de habitalidade.

(39)� Consultar BENEVOLO, Leonardo - Le Origine dell'Urbanistica Moderna. Op. cito (40)� Aimportôncia dos /alanstérios tem sido sobrevalorizada por muitos autores fascinados pelo carácter de

reforma social que estas experiências continham. No entanto, as suas influências no desenvolvimento posterior da urbanfstica parecem não ter tido grande impacte. Tanto os familistérios como os falansté­rios partiam de reformas sociais e económicas profundas, com a constituição de sociedades socialistas, para as quais foram encontradas formas construtivas que as possibilitassem. Curiosamente, sob o ponto de vista estético, as arquitecturas realizadas vão buscar inspiração aos palácios aristocráticos no aspec­to exterior, ;á que o interior segue o programa de organização social que as habita.

(41)� O Dom Komplex (de dom - comuna) soviético segue também as determinações do colectivismo e da re­

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forma socialista, constituindo uma unidade habitacional colectiva em que as áreas individuais são redu­zidas ao mlnimo. Ver BENEVOLO, Leonardo - Historia de la Arquitectura Moderna. Barcelona. 1919. Edit. G. Gili.

(42)� Referem-se aqui os bairros e assentamentos urbanos construidos por industriais filantropos para os seus operórios, os industri<;J1 vil/ages, model villages, em Inglaterra, as cités ouvrieres, em França, ou arbei· terkolonein, na Alemanha, e outros exemplos europeus como os quartieri di fabrica e, de certo modo, as .vilas» em Lisboa: As cidades dos tempos livres desenvolvem-se através da difusão das férias e dos tempos livres e tlm a sua origem em Bath. No século XIX, com o inicio da moda dos banhos de mar; desenvolvem-se as áreas urbanas balneares na costa e também as zonas de águas termais, como Biarritz e Deauville.

(43)� Soria y Mata, tlpica figura do intelectual do século XIX, afeito à experimentação, à especulação intelec­tual e ao diletantismo progressista, propõe uma estrutura urbana infimamente ligada a um sistema de transportes e em 1894, após ter constituído uma sociedade madrilena de urbanização, tenta a aplica­ção do seu modelo linear, enquanto movimenta a opinião pública em prol da construção de cidades li· neares publicando a revista Cidade linear. .

PARIS DE HAUSSMANN - TRAÇADOS BARROCOS E QUARTEIRÕES

(44)� O Plan des Artistes foi elaborado por uma comissão de peritos, entre 7193 e 1191, nomeada pela Con· venção, e, na realidade, não teve aplicação prática imediata, se bem que em alguns aspedos propu­sesse os traçados clássicos barrocos, cruzados em praças estreladas, que Haussmann viria a sistemati· zar. No geral, o plano retoma as ideias setecentistas de traçados e praças, mas significa um consenso de vários autores sobre a transformação da cídade com percées et étoiles.

(45)� Na realidade, os traçados de Haussmann continuam as ideias setecentistas de organização da cidade por traçados e praças. Agrande inovação resulta da sua aplicação a uma cidade preexistente, à qual são impostas as metodologias da renovação - o que é uma novidade - e também uma sistematização dos processos fundiários e técnicos necessários a uma realização em grande escala. Ver, a este propósito, SUTTCLlFE, Anfhony - Ocaso y Fracaso dei Centro de Paris. Edit. Gili. Trad. cas­telhana.

BARCELONA DE CERDÁ. EXTENSÃO DA QUADRiCULA E SUBVERSÃO DO QUARTEIRÃO

(46)� O primeiro gronde esquema de expansão devido ao arquitedo Miguel Garriga y Roca é elaborado em 7858, organizando o crescimento de Barcelona até Gracia com quarteirões e praças quadradas. En­quanto este plano é enviado a Madrid para aprovação, o Rei encomenda outro plano a Ildefonso Cer­dó e posteriormente a municipalidade protesta, encomendando outro plano a Antonio Rovira y Trias. Todavia o plano de Cerdá será escolhido pelo Rei, com autoridade absoluta e imposto ao Municfpio .

•(41)� CERDÁ, Ildefonso - Teoria General de la Urbanización y Aplicación de sus Principios y Doctrina a la

Reforma y Ensanahe de Barcelona. Madrid, 7861.

AS AVENIDAS DE LISBOA DE RESSANO GARCIA

(48)� Ver, a este propósito, Rodrigues, Maria João Madeira - O Plano de Extensão de Lisboa no Último Quartel do Século XIX, in revista Arquitectura, n. o 738,4. a série. Outubro, 1980; e o texto publicado no Boletim da Junta Distrital de Lisboa, n. a 84, ano de 1918. Ver também o catálogo da exposição Lisboa de Frederico Ressono Garcia - 1874·1909 - CML· Fundação Calouste Gulbenkian. Abril·Maio de 7989.

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NOTAS À PARTE IV�

4.1� A DISCIPLINA URBANiSTICA. DO I~tCIO AO URBANISMO FORMAL DE ENTRE AS DUAS GUER­RAS

(1)� ZEVI, Bruno - Biaggio Rossetti Architetto Ferrarese, ii Primo Urbanista Moderno Europeu.� Edit. Einaudí, Turim, 1960.�

(2)� Retomo aqui uma designação utilizada por autores franceses. De resto, a ;usteza, da designação pro­vém do interesse que os urbanistas consagravam à cidade como estrutura ffsica e à imagem visual.

(3)� Apalavra «urbanismo. apareceu pela primeira vez em França, em 1910, num artigo de Paul Clerget no Bulletin de la Societé Géographique de Neufchâtel. Em 1914, é fundada em França a Sociedade Fran­cesa de Urbanistas, e em 1924 é constituído o Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris. Uma série de iniciativas haviam precedido a criação do Instituto de Urbanismo de Paris: a criação, em 1903 do Cours d'lntroduction à I'Histoire de Paris, na Biblioteca da Cidade de Paris. O Seminário de História de Paris na Sorbonne, e o Instituto de História, Geografia e Economia Urbanas, que inaugura· va a pesquisa urbana para todas as cidades, formado por Marcel Poete em 1914.

(4)� Depois de decidir apoiar a nova legislação para a capital da (ndia, o rei Jorge Vproclama a transfer~n­cia, da sede do governo indiano de Calcutá, para Deli. Acomissõo nomeada para dar o parecer sobre a localizaçõo é integrada por Sir Edwin Lutyens, que é encarregado do plano e reserva para si o pro­;ecto do palácio e residência do governador.

(5)� ANDERSON, Lars - A. Speer - Le Plan de Berlin 1937-1943. Edições d'Architecture Moderne. Foi necessário esperar pela última década para que fossem editados trabalhos e ensaios sobre a arte e a arquitectura do 11/ Reich, e neste trabalho Larsson evidencia que, para além das questõespo/(ticas e ideológicas ligadas ao nacional-socialismo e ao regime nazi, Speer trata realmente da arquitectura e urbanfstica numa linha da grande transformação da capital que poderia reconhecer-se desde Hauss­mann.

(6)� Ver a este propósito: GONÇAL VES, Fernando - Urbanística à Duarte Pacheco, in Revista Arquitectura, n. o 142. Julho, 1981. Etambém a revista Técnica, Lisboa, ano XX, n. o 151, 1945; Boletim da Direcção-Geral dos Ser­viços de Urbanização, ano 1945·56, vol 1.

(1)� SITTE, Camillo - Der Stadtebau Nach Seine Kunstlerischen Grundsatzen IA Arte de Construir as Cida· des Segundo Princlpios Artísticos). Vien,a, 1889. Tradução castelhana recente: Construccion de Ciuda­des Segun Principios Artísticos, Con Camilo, Sitte y el Nacimiento deI Urbanismo Moderno GR/Ch. c., Edit. G. Gili - Barcelona 1982. Ver também Wierzorek, Daniel- Camillo Sitte et les Debuts de l'Urba­nisme Moderne. Edit. Pierre Madraga. Paris, 1982. Unwin, Rarmond. - Town Planning in Practice, an Introduction to the Designing Cities and Suburbs. Primeirõ ediçãO, Londres, 1909. Mais recentemente, consultar a reedição da Gustavo Gili - Barcelona 1984 - La Pratica dei Urbanismo, Una Introducci6n ai Arte de Projectar Ciudades y Barrios. Ver também as reedições francesas da Dunod.

(8)� GIDEON, Siefried - Space Time and Architecture. Harvard University Press. Cambridge, Massachu­setts, U.S.A. Versão castelhana em Hoepli, Barcelona. Zevi, Bruno - Saper Vedere I'Architettura•. Ei­naudi, Torino, 1948. Zevi, Bruno -lIlinguaggio Moderno deli'Architettura. Einaudi, Torino, 1913. Ze­vi, Bruno - Saper Vedere l'Urbanistica. Einaudi, Torino, 1913. Benevolo, Leonardo - Storia deli'Ar· chitettura Moderna. Laterza, Bari. Versão castelhana in G. Gili.

(9)� SICCA, Paolo - Storia dell'Urbanistica. Editori Laterza. Roma, Bari, 1980. Vários volumes.

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T�

4.2 CAMlLWSlTfE, UNWlNEOSTRATADISTASOOINicrOOOSÉCULO XX. A VALORIZAÇÃOOO DESENHO URBANO

(10)� Ver as edições em castelhano e francês referenciadas na nota 7. UNWIN, Raymond - La Pradica deli Urbanismo, Una Introduccion aI Arte de Projedar Ciudades e Barrios. G. Gili. Barcelona, 1984, op. cit, ou a edição francesa na Dunod.

(11)� SITTE, Camillo - Construccion de Ciudades Segun Principios Artisticos. G. Gili ;untamente com Coniks GR/Ch C. Camillo Sitte y el Urbanismo Moderno e tt?mb~m a edição francesa da Dunod.

(12)� STUBBEN, Joseph - Der Stadtebau, Handbuch der Architectur. Berlim, 1880. (13)� CULLEN, Gordon - Townscape. Architectural Press, 1971. Trad. portuguesa: Paisagem Urbana. Edi­

ções 70. Lisboa, 1983. (14)� SITTE, Camillo. Op. cito

Aeste prop6sito, ver o importante texto de Brooks, H. Allen - Jeanneret e Sitte - la Prima Idée di Le Corbusier sulla Construzione della Cittó. Casabella, n. o 514. Junho, 1985. Com introdução de Pierre Alain Croset. Neste texto a influlncia de Sitte ~ revelada atrav~s dos primeiros esquisses de Le Corbu-' sier e análises de cidades, em documentos de viagem que atestam a sua ligação inicial ao urbanismo formal.

(15)� SITTE, Cami/lo. Op. cit.. Edições espanhola de G. Gili, e francesa de Dunod. (16)� UNWIN, Raymond. Op. cito (17)� Unwin tem sido considerado por muitos autores como um dos pioneiros do urbanismo moderno. Toda­

via, e pelas razões que se expõem, a urbanfstica dos CIAM, moderna, daria um corte radical na linha de investigação de Unwin. O aproveitamento do seu trabalho será realizado preferencialmente pelos urbanistas formais·flacad~micos. do s~culo XX.

(18)� Refiro-me às edições francesa e castelhana;á citadas nas notas 7 elO. (19)� LYNCH, Kevin - The Image of the City. Massachusetts Institute ofTechnology. 1960. Trad. portuguesa'

em Lynch, Kevin: A Imagem da Cidade. Edições 70. Porto, 1982.

4.3 A ESCOLA FRANCESA. URBANISMO FORMAL E T.RADIÇÃO PARISIENSE

(20)� S. F. U. - Société Française des Urbanistes. ASociété Française des Urbanistes teró sido uma das primeiras, senão a primeira associação profissio­nal de urbanistas e demonstra o interesse que à época despertava em França o urbanismo, como ciên­cia e prótica profissional. Entre os fundadores da S. F. U. contavam-se DonnatAlfredAgache,. Marcel Auburtin (II Grand Prix de Rome, 1898); André Berard, Ernest H~brard (Grand Prix. 1904); Leon Jausse/y (Grand Prix, 1904),­Leon Jausse/y (Grand Prix, 1903), Albert Parenty,. Henri Prost (Grand Prix. 1902),- Eugene Henard (pri­meiro presidente da SFU) e Georges Risler (presidente honorário).

(21)� Apalavra urbanisme terá sido utilizada pe/~ primeira vez num artigo de C/erget (Paul) no Bulletin de la Société Geographique de Neufchãtel, em 1910, para designar acilncia da organização da população no solo - ou ciência de planeamento das cidades. Na mesma ~poca e ;á anteriormente se utilizava a expressão urbanisateur para designar o urbanista.

(22)� POlTE, Marcel- Introdudion à l'Urbanisme. Boivin. Paris, 1929. (23)� POlrE, Marcel- Introdudion à l'Urbanisme. Boivin. Paris, 1929, op. cito (24)� BARDET, Gaston - Problemes d'Urbanisme. Gaston Bardet escreveu diversas obras sobre urbanismo,

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embora os seus escritos não possuam rigor e claridade de pensamento como em Poete e Lavedan. Bar­�det assimilo e integro propostos e ideias provindos dos mais diversos origens.� Bardet esteve em Portugal entre 1940-1950 pronunciando algumas confer'ncias no I. S. T.�

(25)� DElNA/, V. - Relatório à Confer8ncia Internacional do União dos Cidades. lyon, 1939, citado por BARDET, Gaston, in Problêmes d'Urbanisme. Op. cit., noto 24.

(26)� Uma listo breve e não exaustivo de alguns trabalhos realizados no estrangeiro pelo primeiro geração de urbanistas académicos Franceses dá conto do extensão do suo influ'ncia no mundo: LEON JAUSSELY - Plano de Barcelona 1903. Planos de Briançon, Toulouse, Grenoble Vittel. HENRY PROST - permaneceu quinze anos em Marrocos, onde dirigiu os planos dos principais cidades: Casablanca, Fez, Marrakech, Meknes, Kenitra, EI Jadida, Rabot e, posteriormente, elaborou o plano de Istambul e, em 1933, dirige o 1. o Plano do Região Parisiense. AGACHE - Plano de Camberra, 1913. Planos do Rio de Janeiro, 1928-1930, e intervenções em Lisboa - Costa do Sol, 1933. J. GREBER - Plano de Filadélfia, 1917, e Otawa e Montreal. Plano de Marselha.� HEBRARD - Plano de Guyaquil, 1910.� FORESTIER - Planos poro o Porlo e Vila Novo de Gaio. Plano poro o prolongamento do Porque� Eduardo VII em Lisboa, 1927. Plano de Buenos Aires, 1923.� DE GROER - Planos de Lisboa, Costa do Sol, tvora, Coimbra, Braga, Abrantes, Almada, Vila Franco� de Xira.� Citaria também os planos realizados poro os cidades coloniais Francesas, como os cidades argelinos,� com o capital Argel, do Tunlsia (funis, Sfax Bizerla, os cidades marroquinas;6 citados, os cidades afri·� canos como Dakar, Abidjan e cidades dos colónias francesas no Oriente como Hanói, Saigão, Hai­�phong, Dalat e Phnom·Pen.� Sobre este assunto consultor SICCA, Paolo - Storia dell'Urbanistica. Op. cito�

(27)� Comunicação de Liautey 00 Congresso de Altos Estudos Marroquinos, em 1921, em Rabat. Citado em SICCA, Paolo - Storia dell'Urbanrstica. l'Ottocento - 2.°, op. cito

(28)� GARNIER, Tony - Une Cité Industrielle, ~tude pour la Construction des Villes. Paris, 1917. O pro;ecto publicado por Garnier era composto por 5 páginas de texto e 164 desenhos, que representavam o ci­dade e os seus ediflcios.

(29)� Refiro·me 00 trabalho de PAWLOWSKI, K. - Tony Garnier et les Débuts de l'Urbanisme Fonctionnel en France. Paris. C.R.U., 1967. Talvez o mais imporlante trabalho sobre o obro de Tony Garnier.

(30)� S.F.U. - Já referido no noto 20. (31)� Enfre os obras de Pierre Lavedan citaria os que mais se relacionam com os questões aqui abordados.

LAVEDAN, Pierre - Histoire de l'Urbanisme, Antiquité, Moyen Age, ~poque Classique. Laurens, 1926·1940. LA VEDAN, Pierre - Introduccion à une Histoire de. I'Architecture Urbaine. laurens. Paris, 1926. LAVEDAN, Pierre - Geographie des Villes. Gallimard. Paris, 1936.

(32)� POETE, Marcel- .Introduccion à l'Urbanisme. Edition Antropos. Paris, 1967. Com prefácio de Huberl Tonka e vários reedições posteriores.

(33)� AGACHE, Donnat Alfred - ACidade do Rio de Janeiro - Remodelação, Extensão e Embelezamento. Foyer Bresilien Ed. Paris, 1930. la Remodelation d'une Capitale. Aménagement, Extension, Embellisse· ment. Collection Urbaniste. Société Cooperative d'Architectes. Paris, 1932.

(34)� AGACHE, Donnat AIFred - op. cito Tradução dÇl autor. (35)� Idem - frad. do autor.

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I (36)� Idem - trad. do autor.

(31)� Agache pro;ectou alguns equipamentos como La Maison de Tous, na Exposição de Artes Decorativas 1925; La Boucherie Modele E.CO. Paris, 1911, e outras. Seria interessante apurar a autoria dos ediff· cios semicirculares das Arcadas do Jardim do Estoril, que eventualmente podem ser de Agache.

4.4� A URBAMSTICA FORMAL EM PORTUGAL FARIA DA· COSTA E OS BAIRROS DE ALVALADE E AREEIRO

(38)� Ver SICCA, Paolo - Storia dell'Urbanistica. L'Ottocento. Laterza. Bari, 1980. GONÇALVES, Fernondo - Urbanlstica à Duarte Pacheco - in Revista Arquitectura n. o 138.

(39)� Georges MEYER-HEINE é convidado, no infcio dos anos sessenta, para elaborar o Plano Director da Ci­dade de Lisboa. ÉAuzelle quem é primeiramente convidado, devido às suas relações com Portugal no Plano do Porto. Auzelle recusa, alegando impossibilidade de tempo, e sugere o nome de Georges Meyer-Heine, que inicia o Plano de Lisboa em 1965, tendo terminado em 1961, e acompanhado a im­plementação do Plano e coordenação das «Unidades de Ordenamento» até finais de 1914. Mas tanto Auzelle como Meyer-Heine não se poderão enquadrar no urbanismo formal, embora ambos perten­cessem à escola de Paris. Georges Meyer-Heine (1905-1984) foi arquitecto e urbanista em França, .Ins­pedor Geral do Urbanismo», «Urbanista Chefe» do Ministério da Reconstrução e Urbanismo, .Inspector-Geral da Construção», secretário-geral do Comité de salvaguarda da Provence­Côte-d'Azur·Córsega, perito das Nações Unidas para o planeamento da República de EI Salvador, e perito da OCDE. Membro da Sociefé Française des Urbanistes e da SADG, dirigiu o Plano Director de Lisboa de 1965 a 1915 e foi professor e director de estudos no Institut d'Amenagement Régional d'Aix­en-Provence. Uma biografia completa poderá ser encontrada na revista Urbanisme, n. o 204, Outubro-Novembro, 1984.� Dos trabalhos publicados, sublinharia Urbanisme et Esthétique - in La Vie Urbaine, n. o38-39 - 1931.� Nos Villes Sont-Elles Condamnées?, in Urbanisme, n. o54 - 1951. Au Delà de l'Urbanisme. CRU. Pa­�ris, 1961. Pour un Urbanisme de Sincerérité, in Metropolis, n. o26-21- 1911. Reflexions sur una Peda­�gogie de l'Aménagement, in Urbanisme, 142 - 1914.�

(40)� Sobre Faria da Costa ver: GONÇALVES, Fernando - Urbanística à Duarte Pacheco - in Arquitectura, n. o 138.� COSTA, Isabel- Formas e Factores do Crescimento Urbano de Lisboa. Universidade Técnica de Lis­�boa, Curso de Planeamento Regional e Urbano. Lisboa, 1918.�

(41)� Refiro-me aos edifícios que formam um con;unto de 3blocos com os n. o. 123, 125, 121 enviesados ao ei­xo da Avenida dos Estados Unidos da América (do lado direito de quem sobe). Pro;ectados em 1956 pelos arquitedos J. CroH de Moura, Henrique Albino, N. Craveiro Lopes.

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NOTAS À PARTE V�

U� INTRODUÇÃO

(7)� Ainda hó bem pouco tempo, ao iniciar o plano da cidade de Ponta Delgada, verificava que todo o grande sistema viário ;á se encontrava traçado e decidido, embora a cidade esperasse por um plano desde os anos cinquenta-sessenta. Sobre este assunto, ver QUARONI, Ludovico - La Torre di Bobeie; e também a revista Urbanisme, n. o 200. Fevereiro-Março, 1984;

(2)� BENEVOLO, Leonardo, GIURA Longo, T, MELOGRANI, Cario. - IModelli di Progettazione dello Cittá Moderna. Tre Lezioni. Edizioni Cluva. Venezio, 1969.

(3)� Cito aqui três momentos distantes no tempo e que permitem comparar a constante importância da rela­ção da forma com a função. Vitruvio, nos tempos romanos, PaI/adio, na Renascença, e Viollet le Duc, no século XIX, em pleno romantismo. Sobre o pensamento de Viol/et-le·Duc, ver os seu escritos, sobretu­do Entretiens sur I'Architecture. Edit. A. MoreI. Paris, 1863·1872, e a reedição recente, Edil. P. Modo· go. Bruxelles, 1977.

(4)� Retomo aqui a designação de Christopher Alexander no célebre artigo City is not a Tree (A Cidade Não ÉUma Árvore). Sobre este artigo ver na parte VI o capftulo consagrado à intervenção de Alexander.

(5)� A este propósito, recordo a realização nos anos sessenta de um bairro da ICESA em Santo António dos Cavaleiros, nos arredores de Lisboa, e segundo sistemas de prefabricação pesada. Na publicação feita na revista Arquitectura, n. o 104, Julho/Agosto, 1968, os autores apresentavam, nas razões sobre o modo como implantavam os ediffcios, o peso importante da organização do estaleiro e do percurso das gruas que deviam transportar as paredes e peças prefabricadas, e cu;o raio de acção, sendo limitado, obrigava a engenhosa implantação dos ediffcios, para que, com o mínimo de percursos e montagem de carris, a mesma grua construfsse o maior número de prédios.

(6)� LE CORBUSIER - Vers une Architecture. Paris, 1958. (7)� JOEDICKLE Jurgen - Arquitectura Contemporânea. Tendências y Evolucion. Edit. G. Gili. Barcelona,

1970. Tradução castelhana da edição alemã Karl Kramerverlag. Stuttgort, 1969. (8)� TAFURI, Manfredo - Teorias e História da Arquitectura. Edit. Presença-Martins Fontes. Lisboa, 1979.

300 pp. Tradução do italiano Laterza Bari, 1968. (9)� ACarta de Atenas. Ver la Charte d'Athenes, Éditio", Minuit. Paris, 1957. Reedição recente: Points. Pa­

ris, 1971. Seguida de Entretiens avec les Étudiants d'Architedure. A traduç~o portuguesa aparece pu­blicada na revista Arquitectura com tradução de Maria de Lurdes e F. Castro Rodrigues. Utilizo aqui es­sa tradução.

5.2.� A CIDADE'JARD~, O IMPASSE E A IMPLANTAÇÃO DE RADBURN

(70)� Ver na parte /I o capftulo O Subúrbio e a Periferia.

(71)� HOWARD, Ebenezer - Tomorrow, a Peaceful Path to a Real Reform. Londres, 1898. Reeditado em 1902 com o lfIulo Garden Cities of Tomorrow.

(12)� Uma referência pormenorizada às cidades-;ardim e primeiros bairros suburbanos poderá ser encontra· da no excelente número monográfico da Architectural Design, The Anglo American Suburb, organiza­do por Robert A. M. Stern. A. D. Architectural Design Prome, 1981.

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5.3.� A "UNIDADE DE VIZINHANÇA» - A SOCIOLOGIA DESENHA A CIDADE

(13)� PARK, Robert; E. BURGESS; ERNEST, W. - The City. The University of Chicago, 1925. Reedição: The University Chicago Dren Lta. Chicago and London, 1961·1919.

(14)� COOLEY, Charles Horton - Social Organization. WOODS, Robert A. - The Neighborhood in Social Reconstruction, 1913, WARD - The Social Center. N.Y. Londres, 1915. Referências também em PARK, BURGESS, The City, op. cito

(15)� Terá sido provavelmente a filosofia de educação de Charles Dewey e Genderque do inicio do século XIX que terá sugerido a Perrya ideia da extensão do sistema escolar. Perry defende a ideia de que a escola é um componente essencial da educação pública, e a construção do edificío escolar, como centro comu­nitário, deveria preencher os papéis de centro social, recreativo e cfvico. Assim, Perry virá a estabelecer a ideia de «Unidade de Vizinhança. em redor da escola, fixando o número de habitantes da flU. V... em função da capacidade de uma escola primária.

(16)� PERRY, Clarence, Artur - The Neighborhood Unit (in: Regional Survey of New York and its Environs), New York, 1929.

(11)� STE/N; Oarence - Toward New Towns for America. (18)� CARPENTER, Queen. (19)� GIBBERD, Frederick - Towndesign. Architectural Press, 1953. Nova edição em 1961. Metric Editíon,

1910. London, 280 pp., in: (20)� ALEXANDER, Christopher - City is Not a Tree. Artigo publicado na revista Architectural Forum, Maio

de 1965, e que ganhou o prémio da Kaufman International Design Award, em 1965. O~'tras traduções in Architecture Mouvement Continuité, n. o 161. Paris, 1961. Ou a tradução de Carlos Duarte, publica­da na revista Arquitectura, 1968.

(21)� JACOBS, Jane - lhe Death and Life of Great American Cities. New York. Random House (1961). (22)� ALEXANDER, Christopher - The City is Not a Tree - op. cit.; ALEXANDER, Christopher - Notes on

the Synthesis of the Form - op. cito

5.4 AS EXPERItNCfAS HABITACIONAIS HOLANDESAS ATÉ À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - A REFORMA DO QUARTEIRÃO

(23)� Sobre a urbanistica holandesa da primeira metade do século XX, consultar: CASTEX, Jean; DEPAULE, J. Charles; PANERAI, Phillipe - Formes' Urbaines. De 1'lIot à la Borre. Du­nodo Paris, 1977. O capitulo Les extensions d'Amsterdom, 1913-1934, e o trabalho colectivo OLANDA, 1870·1940. Cittó Caso Architecture. Electo Editrice. Milono, 1980.

(24)� CASTEX, J; DEPAULE, J. Chi PANERA/, Ph. - Formes Urboines de 1'lIot à lo Borre....: op. cito

5.5 AS EXPEmNCIAS HABITACIONAIS SOCIAIS-DEMOCRATAS NA EUROPA CENTRAL

(25)� Sobre o trabalho de Ernest May, em Frankfurt, consultar Formes Urboines, de 1'lIot à lo Borre. Op. cit.; S/CCA, Paolo - Storio dell'Urbonistico. II Novecento. Op. cito

(26)� Sobre as Hoff, ea Karl Marx Hoff, ver S/CCA, Paolo - Storio dell'Urbonistico. II Novecento. Op. cito BENEVOLO, Leonardo - Storio deli'Architectvro Moderno. Op. cito

5.6� A URBANÍSTICA DOS CIAM E DA CARTA DE ATENAS

(21)� BENEVOLO, Leonardo - Storio deI Architecturo Moderno. Op. cito

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(28)� Por ordem cronológica: os vários congressos do CIAM, e os temas abordados foram: ,. o Congresso - 1928 - La Sarraz. 2. o Congresso - 1929 - Frankfurt - Avivenda mlnima. 3. o Congresso - 1930 - Bruxelas - Aestrutura e dimensão do bairro. 4. o Congresso - 1933 - navio Patris - Atenas - Marselha - ,A cidade funcional. do qual resulta a Carta de Atenas. 5. o Congresso - 1937 - Paris - Ahabitação e o lazer. 6. o Congresso - 1947 - Brigwater - O ambiente físico que satisfaça as necessidades emocionais e materiais do homem. 7. o Congresso - 1949 - Bérgamo. 8. o Congresso - 1951 - Hoddesdon - O coração da cidade. 9. o Congresso - 1953 - Aix·en·Provence - critica as quatro categorias fundamentais da Carta de Atenas. 10. o Congresso - 1956 - Oubrovnik aborda o tema da ,Relação entre form'a f(sica e a necessidade so­ciológica.. ,� Este foi praticamente o último congresso, após o qual só existiu uma reunião em Watterloo, em 1959.�

(29)� FRAMPTON, Kenneth - História Critica de la Arquitectura Modema. Edit. G. Gili. Op. cito Trad. do autor. (30)� O Team Xvai suceder à dissolução oficial dos CIAM, propondo a critica ao funcionalismo da Carta de

Atenas e tombém a cr(tico à aduação dos CIAM. OTeam Xfoi constitufdo por Alison e Peter Smithson, Bakema, Van den Brock, Van Eyck, Condi/is, Shadrach Wood, John Voelcker e William e GiH Howel. Publicaram em 1962 a obra Teom XPrimer

(31)� Ver a nota 28. As caracterfsticas da habitação m(nima são estabelecidas com bases sociologicas, fundamentada em observações estatfsticas ou teorias evolucionistas, concluindo pela possibilidade de diminuição da di. mensão do alo;amento e aumento das condições de iluminação, ventilação e luz solar, bem como pela tend'ncia de habitação colectiva em detrimento da unifamiliar, que corresponderia a tendências de so­lidariedade, pelo menos nas áreas industriais.

'(32)� Idem, nota 28. (33)� SAFOIE, Moshe - Beyond Habitat. M.!.T. Press Mass., 1970. Unidade habitacional na exposição de

Montreal, 1967. (34)� Comunicação ao IX Congresso pela geração dirigida por Allison e Peter Smithson in FRAMPTON, Ken·

neth - História crítica de la Arquitectura. Op. cito (35)� CASTEX, J.; OEPAULE, J. Ch.; PANERA/, Ph. - Formes Urbaines de /'lIot à la Barre. ch. 3 les extensions

d'Amesterdam 1913·1934. Op. cito Como por exemplo o bairro Spaardammer Buurt. ,Triângulo. en· cravado entre as docas oeste do porlo e o caminho-de-ferro ~mesterdam·Harlem.

VÁRIOS - Olanda 1870-1940. Cittá, Casa, Arquitectura, Electra Editrice, op. cito (36)� Volto a utilizar a terminologia de Cristopher A/exander em City is Not a Tree. Op. cil. (37)� La Charte d'Athênes. Editions, 1957. ReediçãO 1971. Tradução portuguesa publicada na revista Arqui­

tectura. Op. cito (38)� t Gropius quem coloca no 11/ Congresso dos CIAM a questão ,Casas altas, baixas ou médias•. Ver nota

32. Apresentando o diagrama que demonstrava a crescente densidade e espoço livre utilizando ediffcios·blocos de alturas variáveis. Sobre os estudos da altura de edif(cios e densidade habitacional, ver FRAMPTON, Kenneth - História

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critica de la arquitectura moderna, op. cito BENEVOLO, Leonardo - História de la Arquitectura Mo­derna. GIDEON, Siegfried - Space Time Architecture. Tradução castelhana: Espacio, Tiempo, Arqui­tectura. Hoepli. Barcelona, 7968.

(39)� Citações da Carta de Atenas. Op. cit. (40)� O eixo heliotérmico ir6 determinar para cada região a melhor direcção de implantação dos ediffcios,

estabelecida a partir das relações entre o movimento do Sol e o número de horas de insolação de cada fachada. Logicamente, para aadopção do eixo heliotérmico, pressupunha-se que os ediffcios seriam li­vremente implantados no terreno. Ver, a propósito, Le Corbusier: Vers une Architecture e Maniare de Penser l'Urbanisme.

(47)� Carta de Atenas. Op. cito

(42)� Carta de Atenas. Op. cito (43)� Carta de Atenas. Op. cito

(44)� Carta de Aten~s. 'cp. cito (45)� Supondo que o movimento revolucionário dp, 7948 havia semidestrufdo a cidade, Le Corbusier propõe

um novo centro cívico, ampliando em dois quarteirões na direcção leste a praça principal. Todavia, quando verifica que destruiria a Praça Bolfvar - um conjunto histórico da arquitectura de Bogotá -, conclui pela desadequação da proposta, considerando inapropriados os seus desenhos. Todavia este caso vem tornar mais complexa a atitude de Le Corbusier perante as cidades históricas e estabelecer a confrontação e a diferença enfre manifestos radicais como a Carta de Atenas e a sua pr6tica profissio­nal quando intervêm. Camilo Pardo Galvis - Le Corbusier em Bogotá - Ou a chegada do futuro entre nós, in revista Projec­to, n. o 702, 7987.

(46)� Carta de Atenas. Op. cito (47)� Carta de Atenas. Op. cito

5.7 LE CORBUSIER, A "UNIDADE DE HABITAÇÃO» E A ..cIDADE RADIOSA"

(48)� Acidade contemporânea nasce como resposta polémica ao pedido de projectar uma fonte decorativa a edificar no Salão de Outono de 7922 e pretende constituir uma proeza demonstrativa de um modelo cr(fico de confronto com a cidade real existente. FRAMPTON, Kenneth - História Critica de la Arquitectura Moderna, op. cit.; SICCA, Paolo - Storia dei Urbanistica ii Novecento. Op. cito

(49)0 Plan Voisin para Paris é executado por Le Corbusier com a colaboração de P. Jeanneret e é apresen­tado na Exposição Internacional de Artes Decorativas, na rotunda anexa ao pavilhão do Esprit No· veau. Financiado pelo industrial construtor de automóveis VOISIN, que emprestava o nome ao plano, mostrando o seu interesse em reconverter a sua capacidade industrial na construção civil. SICCA, Paolo - Storia deli Urbanística ii Novecento. Op. cito

(50)� ACidade Radiosa - La Ville Radieuse, nome de batalha que Le Corbusier encontra para a sua cidade moderna. O projecto completo, realizado entre 7929 e 7930, é apresentado em 77 folhas, que Le Cor· busier transporta para apresentar em inúmeras ocasiões. Em 7935, Le Corbusier publicará o livro com o mesmo título, la Ville Radieuse, onde a fórmula urbanística é apresentada em sugestivos desenhos e textos apaixonados e que reúne também os seus numerosos planos e propostas realizadas anteriormen· te e nunca aceites. Referências constantes à Ville Radieuse serão também feitas na obra escrita de Le

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Corbusier: Quand les Cathedrales etaient Blanches; l'Urbanisme des Trois etablishements Humains; Oeuvres Completes; e outras posteriores a 1935.

(51)� A anólise comparativa entre a cidade tradicional e a «Unidade de Habitação» de Le Corbusier, elabo­rada por Castex P. e outras no trabalho Formes Urbaines, de 1'lIôt à la Barre. Dunod, op. cit., apresen­ta o seguinte quadro comparativo:

TECIDO TRADICIONAL� LE CORBUSIER

Acesso à habitação Na fachada ao ar livre No interior e escura

Comércio No rés-do-chão sobre a rua Andar na galeria

Equipamentos No rés-do-chão, sobre a rua ou No cimo (maternelles) ou em no interior do quarteirão outro lugar, isolados, sem

espaço verde

Espaços livres Interior e escondidos (no pátio) Exterior e à vista (pilotis)

Rua Exterior, contfnua, com varia­ Interior e fechada, obscura e ções de insolação e de clima condicionada

o que, de certo modo, corresponde ao pro;edo social de Le Corbusier, que implicaria a modificação completa do modo de vida dos habitantes.

(52)� Le Corbusier concebeu a noção de «época maquinista» nos anos vinte. Em Vers Une Architecture (1923), descreve a nova era onde a grande indústria se deve ocupar da construção. Na Pintura Moder­na (1925) fala de «revolução maquinista». Em 1928, publica um artigo intitulado Vers le Paris de l'Épo­que Machinistei e mais tarde esta noção é empregada frequentemente na Ville Radieuse. Ver também Maneira de Pensar o Urbanismo, op. cito .

(53)� Précisions Sur un etat Present de l'Architecture et de l'Urbanisme. Paris Crés, 1930. (54)� Précisions Sur un etat Present de I'Architecture et de l'Urbanisme, op. cit., e Maneira de Pensar o Urba­

nismo. Op. cito

5.8 A URBANisTIcA OPERACIONAL A BUROCRACIA CONSTRÓi A CIDADE

(55)� REAIS PINTO - A Primeira Experiência de Prefobricaçõo Pesada em Portugal, in Arquitectura, n. o 104. Julho-Agosto, 1968. Op. cito

(56)� OSTROWSKI, Waclaw - L'Urbanisme Contemporain, 2 vols.: 1- Des Origines à la Corte d'Athenes, 2 - Tendances Aduelles. Centre de Recherche d'Urbanisme CRU. Paris, 1968.

(57)� O Grand Ensemble,'ou Cidade Nova de Toulouse-Ie-Mirai!' foi pro;edado em 1961 pela equipa dos ar­quitedos Candilis, Josic e Sh., Woods. Apontava um con;unto de 100 000 habitantes e um importante programa de serviços. Toulouse-Ie­Mirail seria construfdo nos anos sessenta e referido em numerosas publicações, nomeadamente no tra­balho de Joedickle, J. Candilis, Josic, Woods Kramer, Stutgard/Bern, 1968, posteriormente traduzido em castelhano pela Edit. G. Gili, com o mesmo nome.

(58)� A Arquitectura e Urbanística, Beaux Arts - é diffcil de definir e inteQra-se no estilo formalista e clássico

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do final do s~culo XIX, embora tenha outras manifestaçaes anteriores eposteriores. Sobre esta questão referenciaria o excelente número monogr6Fico da A.D. preparado par Robin Middleton lhe Beaux Arts, AD Profiles 17. 1977.

(59)� Refir~me ao curso de p6s-graduação que frequentei em Aix-en-Provence no Institut d'Aménagement Regional, onde trabalhei sob a direcçõo, entre outros/ de Georges Meeger-Heine. Referido tamb~m na Parte I- Introdução.

(60)� Com efeito a imagem das «alternativas. - como soluçaes equivalentes - que podem substituir a solu­ção original tem intoxicado a linguagem dos polfticos e executivos municipais e at~ dos pr6prios arqui­tedos. Sempre que algum plano ou pro;edo levanta aqui ou ali alguma dificuldade de execução - tan· tas vezes par apenas contrariar interesses privados especulativos - se afronta com a panaceia das «al­ternativas». Tornada mansa «linguagem corrente. para tudo poder transformar .e alterar dentro de uma ideologia em que os planos não precisam de ser cumpridos.

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NOTAS À PARTE VI�

6.1' INTRODUÇÃO. DO REPúDIO DA CIDADE AO NOVO URBANISMO

(1)� SARCELLES, grand ensemble de 10000 alojamentos construido no Final dos anos cinquenta na região parisiene. O termo «sarcellite» viria a ser consagrado para descrever o fenómeno da monotonia dos� «grandes. conjuntos», a banalidade da sua arquitedura, falta de serviços, lojas e empregos e o rol de� problemas sociais como a prostituição, a criminalidade juvenil, etc.� A este propósito citaria o estudo contido em MERLlN, Pierre - Les Villes Nouvelles. P.U.F. Paris, 1969,� e o relatório especifico sobre as condições de Sarcelles. CINAM (Cie d'~tudes Industrielles et d'Aména­�gement du Territoirei La Vie des Ménages de Quatre Nouveaux Ensembles de la Région Parisienne,� 1962·1963.�

(2)� JACOBS, Jane - Death and Ufe in The Great American Cities. Uma anólise e os extrados mais significativos do texto de J. Jacobs podem ser lidos em CHOA Y, Fran­çoise - L'Urbanisme, Utopies et Realités. Seuil. Paris, 1965, pp. 361-318.

(3)� Conjunto habitacional projedado pelo atelier 5 (Erwin Fritz, Samuel Gerder, Rolf Hesterberg Hans Hos­tetler, Nik!aus Morgenthaler, Alfredo Pi"i) perto de Berna em 1951-1961. Ver OSTROWSKI, Waclaw - L'Urbanisme Contemporain, C.R.U. Paris. Op. cito

(4)� ROSSI, Aldo; AYMONINO, CarIo; CRISTOFOLl, C. - Rapporti Tra la Morfologia Urbana e la Tipolo­gia. Edilizia. Bari, 1961. ROSSI, Aldo, AYMONlNO, Carla e outros - La Cittá di Padova, Sagggío di Analisi Urbana. Padua, 1910.

ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittá. Padua, 1961. GREGOTTl, Vittorio - II Territorio deli Architettura. Op. cito GREGOTTl,. Vittorio - La Fonna dei Territorio (Edilizia Moderno, 1965). CANELLA, Guida - Teoria Della Progettazione Architettonica, 1910. BLASI, Cesare - StrutturaUrbana deli Architettura. Milano, 1968. SERENI, E. - Storia dei Paesagio Agrario Italiano, 1963.

(5)� Ver a este propósito: Bol09na. Política e Metodologia dei Ristauro, in G. Gili, Barcelona, 1916. (6)� KRIER, Robert - l'Espace de la Ville. Trad. de Stadtraum in Theorie und Praxis, 1915. Op. cito (1)� Ver BAREY, André - Propos sur la Reconstruction de la Ville Européenne - Déclaration de Bruxelles,

Ed. AMM. Bruxelles, 1980. (8)� JENCKS, Charles - Ellenguage de la Arquitectura Posmoderna. Primeira parte. la muerte de la arqui­

tectura moderna. Ed. G. Gili. Barcelona, 1981. Trad. de The Language of Post-Modern Architecture. Op. cito

(9)� Reutilizo o titulo do famoso e indispensável trabalho de Robert VENTURI Complexity and Contradition in Architecture. M:O.M.A. New York, 1914. Trad. castelhana: Complejidad e Contradiccion en la Ar­quitectura. Edit G. GiIi. Barcelona, 1914.

(10)� Por exemplo, os trabalhos de Jencks como Arquitectura Tardo Moderna y Outros Ensaios. Ed. G. Gili. EI Lenguage de la Arquitectura Posmoderna. Edit. G. Gili. Architecture Today. Academy Editionsi e ou­tros, vão estabelecendo um discurso de nitido privilégio sobre os àspedos visuais exteriores e da ima­gem da arquitectura, onde necessóriamenfe pesarão as noções de «linguagem e estilo».

(11)� Adesignação de «NOVO URBANISMO» tem aparecido ultimamente em alguns autores para designar

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as recentes atitudês morfológicas de desenho da cidade. Adopto-a aqui integralmente porque é para­doxalmente «nova», embora tenha profundas raizes no passado.

(12)� MONTES, Fernando. Op. cito

6.1 AS CRiTICAS TEÓRICAS ti CIDADE MODERNA

(13)� PARK, Surgess - The City. Op. cito STEIN, Clarence, Towards new Towns for America. Op. cito

(14) Ver nota 3.� (l5) BOUDON, Philippe - Penac de Le Corbusier. ColI aspects de I'urbonisme. Dunod. Paris, 7970,�

Boudon, analisa as transformações introduzidas pelos habitontes nos ediflcios do célebre bairro de Peso sac, próximo de Bordéus, pro;ectado por Le Corbusier em 1925 e construído em 1926·1930.

(16)� FRANCASTEL, Pierre - Art. et Technique. ~ditions de Minuit. Paris, 1956, p. 34. (11)� «A posição de base é de não agir completamente, seguindo apenas as tendências e corrigindo aqui e

ali, fazendo o melhor com tudo o que acontece. Nenhuma outra solução deve ser escolhida, se não as· segurar melhores resultados que a 'intervenção nula', t preci~o saber determinar aonde conduzem as forças existentes, sem esquecer que é mais f6cil nadar a favor da corrente, que contra esto, se se quiser chegar próximo do ob;ectivo.» Escreveria London Wingo, in Cities and Space. Essay from the Fourth R.F.F. Forum. Baltimore Hopkins, 1966, p. 11.� Ver também a este propósito OSTROWSKI, Waclaw - L'Urbanisme Contemporain. Op. cito�

(18)� LEFEBVRE, Henri - Ploydoyer, Pour la Vil/e, in Architecture d'Au;ourd'hui, n. o 109, 1966. (19)� Adopto aqui a expressão utilizada por LEFEBVRE (Henri) em La Production de l'Espace. ~ditions Anth·

ropos, Paris, 1974. (20)� JACOBS, Jane - Deoth And life of Great American Cities. Op. cit. Ver também acrítico e os estratos do

trabolho de 1. Jacobs em CHOA Y, Françoise - L'Urbanisme Utopies et Reolités. Paris. Seui/, 1965, pp. 367-378.

(21)� GEDDES, Paffrick - Cities in Evolution, (1915). MUMFORD, Lewis - The Cu/ture of Cities (l93B). The City in History (1961). Patrick Geddes (1854-1932) defendeu as teorias de que o desenvolvimento das comunidades humanas necessita de planos que se baseiem no conhecimento da populaçãO, do ambien­te e dos reloções dialécticas entre ambos. Lewis Mumford (1895.1978) é muito influenciado por Geddes, tendo-se envolvido nos anos vinte no movimento em favor do planeamento urbano. Mumford é também influenciado pelas ideias de EBENE­lER HOWARD, Unwin. P. Abercombrie, fi na tradiç~o desses escritores, advogou frequenfemente os princlpios da «unidade de vizinhanço» e do planeamento regional como remédios po;a os problemas do congestionamento urbano e do excessivo crescimento das ddades.

(22)� ALEXANDER, Christopher - City is Not a Tree. Op. cit. Citação da tradução na revista Arquitectura.

(23)� Cito M)tre outras a revista Arquitectura em Portugal (trad. C. Duarte), e, de um modo gera" todas as re­vistas importantes no panorama das publicações internacionais. Ex.: Architecfural Forum. Moio, 1965. Architecture, Mouvement Continuité, n. o 161. Paris, 1967.

(24)� CHERMAYEF, Serge; ALEXANDER, Christopher - Community and Privacy, Toward a New Architecfu­re of Humanism. Peliêan Book, Penguin Books. Middlesex, 1963.

(25)� ALEXANDER, Christopher e outros - Urbanismo y Participaci6n. EI Caso de la Universidad de Oregon. Tradução castelhana. Ed. G. GilL Barcelona, 1976. TItulo original: lhe Oregon Experirnenf. New Yor~

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1975.� Etambém Notes on the Synteses of the Form. Op. cito�

(26)� ALEXANDER Christopher - City is Not a Tree. Op. cito

6.3 (RE)LEITURA VISUAL E ESTÉTICA DO ESPAÇO URBANO

(27)� CULLEN, Gordon ~ Townscope. Architecturol Press, 1971.

(28)� WOLFE, Ivor (com desenhos de Kenneth Browne) - The Itolion Townscope. Architecturol Press. Lon· don, 1963.

(29)� CULLEN, Gordon - Townscope. Op. cito Aexpressão de Cullen «elementos parasitários» será posteriormente utilizada também por Robert Krier in L'Espace de la Ville. A.A.M. Bruxe/as, 1975.

(30)� LYNCH, Kevin - The Imoge of the City. M.I.T. Press, 1960. Refiro o tradução francesa L'lmoge de la Cité. Dunod, 1971, e a portuguesa: A Imagem da Cidade. Edições 70, 1982.

6.4 REALIZAÇÕES DIFERENTES E EXPERIÊNCIAS DOS ANOS SESSENTA

(31)� Ver nota 5 deste capitulo. (32)� Ver nota 57, cap. V. (33)� lhe Planning of a New Town. Greoter London Council. London, 1965.

(34)� Acidade de Cumbernould, na Escócia, marcava, a seu tempo, uma evolução nos conceitos e resultados de pltmeomento urbano e teorias de cidades novas inglesas. Autores: H. Wilson e equipa. O Centro de Cumbernauld seguia principios diametralmente diferentes do relatório Barlow, de 1946 (que recomendava as «Unidades de Vizinhança. e QS green belts). O Centro é entendido como edif/cio ou grande construçC;o. Ver Q este propósito a revisto A.D., n. o 1963, e Wilson, L. H. ~ Policies for the New Towns, in People ond Cities. LQndon, 1963, e também Pierre MERLlN - les Villes Nouvelles. Op. cit.

(35)� AILLAUD, Emile - Techniques et Architecture, 1968i l'Architecture Françoise, Novembro·Dezembro, 1969.

(36)� Edilizia Moderno, número especial monográfico 1987·1988. la Forma dei Territ6rio. Milo~o, 1965, 176 p., com textos de Vittorio Gregotti, entre outros.

6.5 CRISE ECONÓMICA, GESTÃO URBANA E AS VANTAGENS DOS ESPAÇOS TRADICIONAIS

(37)� Ver, o este propósito os estudos apresentados por MARTIN, Li MARCH Li ECHENIQUE M- la Estruc­tura dei Espacio ~rbano. Tradução castelhana de Urban Spaces and Structures. Cambridge University Press, 1972. Sobretudo o capitulo la trama como generadõr, de Leslie Martin.

6.6.� A SAL VAGUARDA E A DEFESA DOS CENTROS mSTóRIcos (RE)VALORlZAÇÃO E DESCOBERTA DA CIDADE ANTIGA

(38)� Ver, o este propósito, os textos de José Lamas e de José Manuel Fernandes no número monográfico da revista Arquitectura sobre o concurso do Plano de Renovação Urbana do Martim Moniz. Arquitectura, n. o 146. Maio, 1982.

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(39)� SITTE, Camilo - A Arte de Desenhar as Cidades. Op. cito (40)� Retenho a expressão do guia que me conduziu atrav~s do centro histórico de Varsóvia, e visita ao Palá­

cio Real, também reconstruido. (41)� Relembro a expressão de Sullivan Form Follows Function, nota 21 da Parte II e a sua contraditória Func·

tion Follow Form - de Peter Blake e Léon Krier, nota 23, Parte 1/. Ver capitulo Forma e Função, e Forma e Contexto da Parte II.

(42)� A classificação como Património Mundial, feita pela Unesco para os conjuntos históricol ainda conser­vados e significativos na história da humanide abrange hoje mais de 120 sltios. Ver O que é a Protecção do Património Mundial e Natural, UNESCO, sem data, e a Carta Europeia do Património Arquitectóni· coo - Comité dos Monumentos e dos Sitias do Conselho da Europa. 1975..

(43)� REISSMAN, L- EI Processo Urbano. Edit. G. Gili. CoI. Ciência Urbanística. Compartilho a posição de Reissman, que coloca a cidade _como o maior criaçóc> do humanidade.

6.7 ROSSI E A ARQUITECTURA DA CIDADE

(44)� ROSSI, Aldo - L'Architettura Della Cittá. Op. cito (45)� Ver notas 5, 6, 7, 12 e 54 da parte II. -­

GRASSI, Giorgio - La Construzione Logica deli Architettura. Padova, 1957. TAFURI, Manfredo - Teoria e Storia deli Architeffura. Laterza. Bari, 1968. Tradução portuguesa em Editorial Presença, 1979. TAFURI, Manfredo - La Esfera y elLaberinto. Tradução castelhana. G. Gili. Barcelona, 1978.

(46)� AYMONINO, Carla, ROSSI, Aldo, CRISTOFOFI, L. e outros - Rapporti Tra La Morfologia Urbana e La Tipologia Edilizía. Op. cito

(47)� ROSSI, Aldo - L'Architettura della Cittá. Op. cito (48)� MIL/l/A, Fracesco, arquitecto italiano, 1725-1798, e arqueólogo. Escreveu Le Vite dei Piu Celebri Ar­

chitetti d'Ogn; Nazione e d'Ogn; Tempo, precedente da um Saggio Sopra L'Architettura (1768) e Deli'Arte di Vedere Nelle Belle Arti, e Princlpios de Arquitectura Civil. Os tratados de Milizia influenciaram o racionalismo de Boullée, Ledoux e QuatreMere de Quincy, ar­quitecto e arqueólogo francés (1755-1849). A sua obra mais relacionada com a arquitectura será o Es­sai sur la Nature, le But et les Moyens de L'limitaton dans les Beaux-Arts. Paris, 1805. ReediçãO dos A.A.M. Bruxelas, 1981.� OURANO, Jacques Nicolas Louis - arquitecto e engenheiro francés, 1760-1840. Professor de arquitec­�tura da Academia. Publicou: Recueil et Parallele des Edifices de Tout Genre Anciens, et Modernes, Re­�marquables par leur 8eauté, par leur Grandeur ou par leur Singularité, et Dessines Sur Une Même� Échelle. Paris an IX (1801), reedição em 1883. (Também chamado Le Grand Durand.)� OURANO, Jacques Nicolas Louis - Précis des Leçons d'Architecture Données à l'École Polytechnique.� Paris, an X (1802). JChamado Petit Durand.)� Para Ourand, a centralização, que atinge o apogeu com NapoleãO e a reorganização da FrOllça, in­�correria na construção rápida de muitos ediflcios públicos com novos programas: hospitais, liceus, pri·� sões, mercados, sedes de polícia, etc. e os arquitectos, pouco numerosos ainda, poderiam rapidamente� projectar e fazer construir um equipamento, a partir da aplicação do «tipo arquitectónico» correspon­�dente. Apartir de ideias sucintas, mas gerais, o método infalível de Ourand, apresenta uma tipologia� para a geração do pro;ecto que permitirá, caso a caso, uma infinidade de variações, adaptadas aos� costumes, processos de construção e caracteristicas locais.�

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(49)� Raportti Tro la Morfologia Urbana e la Tipologia Edilizio. Op. cito

6.8 ROBERT KRJER E O "ESPAÇO URBANO..

(50)� KRIER, Robert -l'Espace de la Ville. A.A.M. Bruxelles. 1915, Op. cito Tradução francesa de Stodtroum in Theorie und Praxis. Stuttgort, 1975.

(51)� KRIER, Robert.Op. cito (52)� KRIER, Robert. Op. cito

(53)� KRIER, Robert. l'Espace de la Ville. Op. cito (54)� KRIER, Robert. Op. cito (55)� KRIER, Robert. Op. cito (56)� O trabalho para Amiens foi publicado, entre outras, na revista U.R., Urbanismo Revista, n. o 2.Maio,

1985. Publicação do Laboratório de Urbanismo de Barcelona. Robert Krier - Aménagement du Sec­teur Nord du Centre de la Ville d'Amiens - concurso por convite.

6.9 CUWT E LA CAMBRE EM BRUXELAS RADICALMENTE NO PASSADO

(57)� KRIER, Léon - in BAREY, André. -la Declaration de Bruxelles. AA.M. Bruxelles, 1980; e KRIER, Leon - Drawings, 19<i7·1980. Com Introdução de Maurice Cul/ot. AAM. Bruxelles, 1980.

(58)� KRIER, Leon. Op. dto (59)� A escola de Bruxelcs, continuadora da tradição de La Cambre, afirmou-se a partir de meados dos anos

setenta pela defesa intransigente do retorno ao passado, pela crítica radical da cidade moderna e re· curso à História, pela acção pedagógica muito para além do ensino, pelos contrapro;edos e lutas urba­nas para a cidade de Bruxelas, destruido por acções de renovação imobiliária; e pelas publicações dos Archives d'Architecture Moderne, tanto dos livros como da conhecida revista, ambos empenhados mili­tantemente.

(60)� KRIER, Leon. CULLOT, Maurice - Drawings. A.A.M. Op. cito (61)� Boutade expressão francesa intraduzlvel em português. «Título ou expressão satírica, exagerada e con­

traditória destinada a expressar uma reacção ou expressão nova, imprevista e imperiosa com algo de original, caprichoso ou humorlstico•. (Dicionário.)

(62)� la Declaration de Bruxelles. Op. cito (63)� Exemplo dado em la Declaration de Bruxelles, op. cito na referência de que a mistura funcional na cida­

de islômica permitia trabalhar, habitar e exercer outras funções no mesmo local, o bairro, a rua, com plena satisfação para os habitantes.

6.10� TENDtNCIAS ACTUAIS ALGUNS EXEMPLOS EUROPEUS DO NOVO URBANISMO

(64)� Intemationale Bauhousstellung, Berlim (Exposição Internacional de Construção em Berlim), a exposição periódica em Berlim, pensada para 1984 e posteriormente adiada para 1987. Sobre o IBA, ver a revis­ta The Architedurol Review, n. o 1982 Abril, 1987 e o artigo Berlim, origins to IBA

(65)� Ver o artigo de Joan Busquets Pino Montano3 Un proyecto actual~ em Urbanismo Revista, n. o 3. Se­tembro, 1985. Sobre o «Novo Urbanismo. na Catalunha e em Espanha, ver o n. o 2 da mesma Urbanismo Revista con­

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sagrado a .Nove Planos CatalãeSl, realizados nos municfpios da periferia de Barcelona. (66)� Internotionale Bauaussetellung - Berfin. Ver nota 64. (67)� Citação do arligo de Joseph Paul Kleuhues - Architecture this was what Iwanted to say, Needs the care

and support of us ali, publicado no volume Internationale BauaussteUung. Berlln, 1984. Die Neubange­biete - Dokumente. Projekte 2. Berlim 1981, sobre a mostra de Berlim para 1984/1987. (Tradução do autor.)

(68)� O programa Banlieues 89 - pretendia revitalizar, equipar, dar forma, integrar na cidade as periferias urbanas meáiante programas de intervenção urban(stica, arquited6nica e qualificação. Ver a este pro­p6sito a revista Urbanisme, n. o 205 - Banlieues, 89. Dezembro, 1984, Janeiro, 1985.

6.11 O NOVO URBANISMO EM PORTUGAL

(69)� Retomo as infortnaçi5es prestadas na parle IV desta dissertação Faria da Costa e os bairros de Alvalade e Areeiro.

(70)� Segundo a expressão utilizada por Ostrowski, para designar as experi~ncias urbon(sticas n6rdicas, lin­. landesas e suecas. OSTROWSKI, Waclaw - l'Urbanisme Contemporain. CRU. Paris, 1968. Op. cito

(71)� O bairro do Restelo foi publicado na revista Arquitectura, n. o 130, de Maio de 1974. (72)� O projecto do Bairro da Malagueira, em tvora, é dado a conhecer primeiro no número 132 da revista

Arquitectura, seria posteriormen~e publicado até 6 exaustão por quase todas as revistas internacionais, à mec!;da da ascensão internacional de Siza Vieira.

(73)� A influlncia de Rossi traduz·se em Setúbal de um modo n(tido, quer no esp(rito do bairro quer na sua forma e organização. Um dos seus autores, o arq. o José Charters Monteiro (respons6vel pelo plano e projecto), formou-se em It6lid, tendo sido aluno do pr6prio Rossi, que posteriormente acompanhou a elaboração do plano, tendo chegado a projectar um gra"de eáif(cio não constru(do - .o Bacalhau» (projecto de Aldo Rossi com G. Braghieri, M. Borshad, A Canta Fora J. Chaters; J. da N6brega). Consultar o n. o 655 da revista Domus, Novembro, 1984, consagrado à produção de alguns arquitectos em Portugal, e no qual é apresentodo o bairro do F.F.H. - Pldno Integrddo d. Setúbal.

6.12 EXPERItNCIAS PESSOAIS

(74)� PLANO GERAL DE URBANiZAÇÃO DA ÁREA DE TRAFAR/A - VILA NOVA - COSTA DE CAPARICA Camaro Municipal de Almada. Plano iniciado em 7978. Concluldo em 7980. Aprovado pela C. M. Almada e pelo Ministél'io de Obras Públicos em 7981. O Plano do Trofaria Vila Novo • Costa do Caparica foi publicado no nO 798 do revista Arquitectura. Direcçõo e Coordenação: Jos{, lamas e Carlos dos Santos Duarte. Colaboração: António Perestrflo, Madalena Cunha Motos. Georges Meyer­Heine (consultor) - Cesur - José Manuel Viegas, Manuel Reis Ferreiro, José Carlos Brito Sftima. PLANO DE PORMENOR DA ZONA ENVOLVENTE À EXPANSÃO PORTUÁRIA DA TRAFAR/A TERMINAL OE CEREAIS Camaro Municipal de Almada. Adminlstr'ação do Porto de Lisboa. Plano iniciado em 7983. Concluído em 1985. Direcção e Coordenação: José Lamas. Colaboração: Filomena Barbosa e Pedro Figueira (WW-Consultores). •

(75)� PlANO DE RENOVAÇAO URBANA DA ÁREA DO MARTIM MONIZ EPUL - Empresa Público de Urbanização de Lisbaa. CML - Camara Municipal de Lisboa. Trabalho vencedor em concurso público de ideias em 7980. Plano executado em 7987. Aprovado pela C. M. Lisboa. Após o selecção feito no concurso público, em 7987, o plano foi aprovado em definitivo e os seus autores começaram o desenvolver os pro;ectos dos ediflcios, até à fase de pro;ecto de execução. O ediflc/o construldo lunto à capelo do Senhora do Saúde foi assim projectado.

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Posteriormente a EPUL muda de orientaçóes e entrega o desenvolvimento e condus60 dos prolectos aos promotores privados com os seus projectistas próprios. Ver a publicaç60 do Plano do Martim Moniz no nO 146 da revista Arquitectura. Maio de 1982. Dlrecç60 e Coordenaç60: José Lamas, Carlos S. Duarte; Cesur - Manuel Costa Lobo, José M. Viegas, Antunes Ferreira; Cesl • Consultores EngO Sanitória.

(76) Parecer sobre os empreendimentos do alto do Parque Eduardo VII e Estudo Preliminar para a Cc~mara Municipal de Usboa - 1986. Carlos Duarte e José Lamas.

(77) PLANO DE URBANIZAÇÃO DE PONTA DELGADA EÁREAS ENVOLVENTES Secretaria Regional do Equipamento Social. Direcç60 Regional de Habltaç60, Urbanismo e ÂITIblente. Regl60 Autónoma dos Açores. Proposta seleccionada em concurso público realizado em 1987 - Plano iniciado em 1988. Anteplano conduldo em 1990 e apresentado publicamente em 1991. Plano eonduldo em 1996 e aprésentado publicamente em 1997. Aprovado pela SRES e pela C. M. Ponta Delgado. Aguatda publicação em D. R. Direcçóo e Coordenaç6o do Plana: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Cola&oraç60 - Coordenação: Usete Valente de Almeida e Franscisco António O. de Almeida Ricorfe. Co/aboroç60: Carlos Dias Coelho, Mario de F6tima Rego Mendes Jorge, Luis Manuel Morgado Santiago Baptista, Ano de Assis Pacheco, Isabel Canto e Castro, Gabriela Paiva LOpfS (Paisagismo. estudo d. solos), Femado António Marques Carla (Economia e Demografia); António 8eHencourt Raposo (Geografia Urbana), Joaquim Mendes Ribeiro da Cunha (Geologia e Geomorfolog/a), Luis Filipe Job/ing Ad60 e Silvo (Tr6fego e Transportes), José Alberto de Almeida Torres (Inlra.estruturos de Saneamento Bósico), Rui Manuel Pinheiro da Silva e Santos (Infro-estru. turas Eléctricas), J060 Francisco de Menetes Ferreira Pltschie"" (Consultor jurfdico), Ana Lulsa

_\. Viçoso Runa Ferreira e Gonçalo Marques dos Santos Belo (Financiamento e Gestóo). PLANO DE ORDENAMENTO VIÁRIO, CIRCULAÇÃO EESTACIONAMENTO DE PONTA DELGADA Cómara Municipal de Ponta Delgoda. Plano iniciado em 1995. Condulda em 1996. Apro'fOdo pelaCÓmara Municipal de Ponto Delgada em 1997. Em curso de Implementaç60. Direcç60 e Coordena­ção: LuIs Filipe Jobling AdéJo e Silva, EngO Trólego e José Lamas, Urbanismo. ColaboraçãO e Execu· ç60: Lizette Va/ent. Almeidà. PLANO DE PORMENOR DA ZONA ENVOLVENTE À AV. DE S. GONÇALO· PAPATERRA (PONTA DELGADA - AÇORES) Cómara Municipal de Ponto Delgoda - Regi60 Autónomo dos Açores. Estudo Iniciado em 1991. Coneluldo o Ant.plano. Estudo rMomado em 1998. Aconcluir .m 2000. Direcção e Coordenação: José Lamas. Colaboraç6o: Llzette Valente Almeida (Desenho Urbano) e António Femondes, Sofia P. dos Reis Rodrigues Pires (Arquitectura Poisoglstica). PLANO DE PORMENOR DA ZONA ENVOLVENTE DO HOSPITAL DO DMNO Esp/R/TO SANTO PONTA DELGADA - AÇORES. . Secretaria RegIonal de HabitaçGo, Obros públicas e Transportes Terrestres. Direcç6o- Regional de Obras Públicos. Plano Iniciado em 1997. Em curso de elaboraçao. Direcção e Coord.naç6o: José Lamas. Colaboraç4o: Uzette Vol.nte Almeida, Antero Paix60 Fonte e Andr6 Marques. Arquitectura Paisagfstica: Sofia P. dos Reis Rodrigues Pires. ESCOLA E8 2.3 E ENSINO ART/STICO EM PONTA DELGADA • ILHA DE S. MIGUEL - AÇORES Stemaria Regional de Habitoç60 e Equipamentos. Direcção Regional de Obras Públicos. Proposta selecdonodo em cOncurso público di ideias realizado em 1997 (10 prémio). Pro;ecto iniciado em J998. Arquitectura: José Manu.1 Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Filipa Manuela Gomes Lourenço, Mónica Maria OliveIra Nunes. Luis Manu.1 Santiago Baptista. Sistemas de Segurança integrada e Prevençe'o de Inclndlos: António Mario Madeley de Portugal. Fundaç6e. e Estruturas: Heitor José Ponte. Nun.s. Instalaçóes e Equipamentos de Águas, Esgotos: José António Gueif60 de Ollveiro. Instolaç6es e Equipamentos Eléctricos: Rui Manuel PInheiro da Silva e Santos. Instalaç6es e Equipa­mentos Mec6nlcos e AVAC: Celesflno Augusto Viegas Rodrigues. Acústica: Pedro Martins do Silva e Associados. Arquitectura Poisoglstica: Solia Pereira dos Reis Rodrigues Pires. Arquitectura e Técnicos d. Cena: Flóvio Andr6 Tlrone. Med/çóes, Orçamentos: D. Ponces.

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(78)� PLANO OE URBANIZAÇÃO DA HORTA C6mara Municipal do Horto. Plano iniciado em Outubro de J992. Concluldo em J995. Aprovado pelo C. M. Horto em J998. Realizado inquérito público Trabalho distinguido pelo Comunidade Euro­peia com Prémio Especial de Mérito no 8mbito dos Prémios Europeus de Urbanismo e Planeamento Regional. J997/98 (Grand Prix Européen d'Urbanisme), em conjunto com o Plano do Salvaguardo do Zona Histórico do Horto e o Projecto de Restauro e Adaptação do Cine·Teatro Faialense o Auditório/Solo ele Congressos, Centro de Conferências, Teatro e Cinema. Coordenação e Direcçeío: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Carlos Franscisco Lucas Dias Coelho, J060 Pedro Teixeira de Abreu Costa, Luis Manuel Morgado Santiago Baptista, Fernando António Marques Corla (Economia e Demografia), Mario do Graça dos Santos Antunes Moreira (Geografia Urbano), Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires (Paisagismo e Estudo de Solos), Nllde do Conceição Dinis Pinto (Cartografia), Gonçalo Marques dos Sontos Belo e Ano Lulsa Viçoso Runa Ferreira (Plano Financia­mento e Gestão). PLANO OE SALVAGUARDA EVALORIZAÇÃO DA ZONA HISTÓRICA DA CIDADE DA HORTA C8mara Municipal do Horto - Ilho do Faial - Açores. Proposto seleccionado em concurso público. Plano iniciado em J990. Concluldo em J993. Coordenação e Direcção: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Luis Miguel Pignatelli de Carvalho Palmo Ruivo e Mario de Fótima Rego de Freitas Mendes Jorge. História Urbano e Demografia: Luis Menezes. Economia: Fernando António Marques Cario. RESTAURO EADAPTAÇÃO 00 CINE-TEATRO FAIALENSE AAUDITÓRIO/SALA OE CONGRESSOS, CENTRO OE CONFER~NC/AS, TEATRO E CINEMA. C8mara Municipal do Horto. Pro;edo iniciado em Outubro de J994. Concluldo em J995. Obro iniciado em J997. JO fase - Conclusão em 2000; 20 fase· Ampliação/Conclusão em 2001. Arquitectura e Coordenação: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Co/abaroçeío: Luis Manuel Morga­do Santiago Baptista, João Pedro Teixeira de Abreu Costa e Gian Paolo Cilurzo. Fundações e Estrutura: Heitor José Pontes Nunes. Instalações e Equipamentos de Águas, Esgotos e Gós Lusosu/: Adelino José Borrados Leitão. Instalações e Equipamentos Elédricos: Rúben Manuel Correio Sobral. Instalações Mecânicos e AVAC: Celestino Augusto Viegas Rodrigues. Segurança Integrado: António Madeler de Portugal. Acústico: Pedro Martins do Silvo e Associados. Arquitedura de Cena/Organi. zação do Palco: Flóvio André Tirone. ESCOLA SECUNDARIA GERAL EBÁSICA DA HORTA ECOMPLEXA DESPORTIVO ILHA 00 FAIAL AÇORES Secretario Regional de Habitoção e Equipamentos. Direcção Regional de Obras Públicos. Proposto seleccionado em concurso público de ideias realizado em J997 (Jo prémio). Projedo iniciado em 1998. Concluldo em 2000. Inicio do obro em 200J. Arquitectura Coordenação: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: José Diogo Douwens do Costa e Filipa Sousa Lanço Colado. Sistemas de Segurança Integrado e Prevenção de Incêndios: António Mario Madeler de Portugal. Fundações e Estruturas: Heitor José Pontes Nunes. Insta/aç6es e Equipamentos de óguas, Esgotos: José António Gueifão de Oliveira. Instalações e Equipamentos Elédricos: Ruben Manuel Correio Sobral. Instalações e Equipamentos Mecânicos e AVAC: Celestino Augusto Viegas Rodrigues. Controlo Acústico e Ambiental: Pedro Martins do Silvo. Arquitectura Poisoglstica: Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires. Arquitectura e Técnicos de Cena: Flóvio André TIrone. Medições, Orçamentos: D. Ponces.

(79)� PLANO EGRA00 OE RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO 00 CENTRO HISTÓRICO OE TAVIRA Direcçã Geral do Equipamento Regional e Urbano (DGERU). Plano iniciado em J983. Concluldo em J987. rov o pelo C.C.R., pelo DGOT e pelo IPPC. Não publicado em Diório do Repúblico. Plano retomado m J999 pelo C8mara Municipal do Tavira, com o designação de PLANO OE PORMENOR DE SAlVAGUAllDA EVAlORIZAÇÃO 00 CENTRO HIsrÓIlICO OE TAVIRA. Em curso de realização. Arquitedura e Coordenaçeío: José Manuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Francisco António Ricarte, Luis Manuel Ruivo e Diana Roth. História de Arte e Intervenção em Centros Históricos: José Eduardo Horto Correio. Demografia e Sociologia: Margarida Perestre/o. CENTRO COORDENADOR OE TRANSPORTES EM TAVIRA Câmara Municipal de Tavira. Direcção-Geral de Transportes Terrestres. Projedo iniciado e concluído

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em 1985. Edificlo construido entre 1986 e 1991, com diversas paragens de obra e revisões do projecto devido a problemas de fundações. Arquitectura e coordenação: José Manuel Ressano Garcia Lamas. Colaboração: Maria Luisa Lucas Rodrigues Pires e Conceição Pinto. RESTAURO E ADAPTAÇÃO DO PALÁCIO DA GALERIA A CENTRO CULTURAL DE TAVIRA Cómara Municipal de Tavira. Projedo iniciado em 1988. Concluido o Estudo Prévio em 1989. In­terrompido por dificuldades financeiros da C. M. Taviro. Projecto retomado em 1997 com ampliação do progroma e arranjos exteriores dos espaços urbanos envolventes. 1° fase· Adaptação do palócio da galeria - Projecto concluido em 1998. Obra iniciada em 1999 2° fase - Ampliação na cerca do palócio • Projecto a concluir em 1999. Obra a iniciar em 2001 3° fase - Arranjos exteriores/Espaços urbanos envolventes - Projedo a concluir em 2000. Obra a iniciar em 2000. Arquitectura e Coordenação: José Manuel Ressano Garcia Lamas. Colaboração: Diogo Douwens da Costa Filipa Sousa Lança Calado e José Aguiar. Fundações e Estruturas: José Heitor Pontes Nunes. Instalações e Equipamentos Eléctricos: Ruben Manuel Correia Sobral. Instala­ções e Equipamentos de Águas, Esgotos e Bós: José Gueifão Oliveira. Instalações e Equipa· mentos Mecónicos/AVAC: INSTEC - Celestino Augusto Viegas Rodrigues. Segurança: António M. Madeley Portugal. Acústica: Pedro Martins da Silva e Associados. Arquitectura de Cena/Organi. zação do palco: Flóvio André Tirone.� PLANO DE RECUPERAÇÃO ESALVAGUARDA DO CENTRO HISTÓRICO DE MOURA� Cómara Municiapl de Mouro. Plano seleccionado em concurso limitado. Plano iniciado em 1987.� Concluido em 1990. Plano eficaz. Aprovado e publicado em Diório da República de 72.10.93.� Coordenação e Direcção: José Manuel Ressano Garcia Lamas. Colaboração: Francisco António� Ricarte, Luis Miguel Ruivo e Aurora Sobrinho Sampaio. História da Arte e Intervenção em Centros� Históricos: José Eduardo Horta Correia. Geeografia, Estudos Sócio·Económicos: Elisabete Ferreiro Freire.�

PLANO DE PORMENOR DA ZONA DE RECONVERSÃO DOS QUARTÉIS DE MOURA� Desenvolvimento e pormenorização do plano de recuperação e salvaguarda do centro histórico de� Moura. CÓmara Municipal de Moura. Plano iniciado em 1996. Concluido em 7997. Em fase de� apredação pela C. M. Moura, pelo IPPMR e pela CCRA. Direcção/Coordenação: José Manuel� Ressano Garcia Lamas. Colaboração: LizeHe Valente de Almeida. Arquitectura Paisagistica: Sofia� Pereira dos Reis Rodrigues Pires.� PLANO INTEGRADO DE RECUPERAÇÃO EREY1T,4J.JZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE PONTE ~ BARCA Direcção.Gerol do Equipamento Regional e Urbano (DGERU). Plano iniciado em 7983. Concluido em 1988. Aprovado e publicado em Diório da República de 27.10.90 por Despacho nO 278. Revisão do Plano Integrado de Recuperação e Revitalização do Centro Histórico de Ponte da Barca realizado em 7983/1988. Revisão iniciada em 1995. Concluida em 1998. Em curso de aprovação. Equipa do Plano de Recuperação e Salvaguarda (1983-88) - Direcção e Coordenação: Carlos dos Santos Duarte. Colaboração: Madalena Cunha Matos, Helena Pinto, Manuel Alberto dos Santos (lntraestruturas) e João Paulo Lopes Ferreira. Equipa da Revis60 do Plano da Salvaguarda e Valori­zação (1995-96) - Direcção e Coordenação: José Manuel Ressano Garcia Lamas. Colaboração: Sandra Riscado Pacheco, José Diogo Douwens da. Costa e Fernando Jorge da Cómara Pereira. Geografia, Estudos Sócio-Económicos: Luisa Manuela Soares Araújo. Trófego e Planeamento: Luis Filipe Jobling Adão e Silvo. Infraestruturas - Financiamento e Gestão: Ana Lufsa Viçoso Runa Ferreiro e Gonçalo Marqués dos Santos Belo. COMPLEXO DE PISCINAS MUNICIPAIS NA MARGEM DO RIO LIMA, EM PONTE DA BARCA CISmara Municipal de Ponte da Barca. Projecto iniciado em 1996. Concluido em 7997. Inicio da obra em 7999. Arquitectura- Coordenação: José Manuel Ressano Garcia Lomas. Colaboração: Luis Manuel Santiago Baptista, Filipa Maria Salema Roseta, Margarida Oliveira Bernard,!, Francisco Eloy Cardoso e Sandra Pacheco. Fundações e Estruturas/Instalações e Equipamentos de Aguas, Esgotos e Gós: ENGIUMA, Lufs Brito. Instalações e Equipamentos Eléctricos, Telefones, Telecomunicações e Instalações de Segurança: Rui Manuel Pinheiro da Silva e Santos. Instalações e Equipamentos Mec6­nicos AVAC: INSTEC, Celestino Augusto Viegas Rodrigues. Arranjos Exteriores: José Manuel Ressano

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r Garcia Lamas, Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires e Sandra Riscado Pacheco. RECUPERAÇÃO EADAPTAÇÃO DA ANTIGA COOPERATIVA ACENTRO DE EXPOSIÇÓES EVENDA DE PRODUTOS ARTESANAIS E LOCAIS DE PONTE DA BARCA Cómara Municipal de Ponte da Barca. Associação para o desenvolvimento Regional do Vale do Uma. Projedo iniciado e cone/urdo em 1998. Obra Iniciada em 1999. Arquitectura e Coordenaç6o: JoslJ Manuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Francisco Eloy Cardoso, Filipa Maria Solemo Roseta, Filipa Manuela Gomes Lourenço, Sandra Riscado Pacheco, JoslJ Diogo Douwens da Costa, José de Barros Aguiar, Filipa Sousa Lança Calado e José Carlos Barros Silva. Fundaç6es e Estrutu­ras/lnsta/aç6es e Equipamentos de Águas e Esgotos: ENGILlMA, Lu(s Brito. Insta/aç6es e Equipa­mentos Eléctricos, Telefones e Insta/aç6es de Segurança: Rui Manuel Pinheiro da Silva e Santos. Insta/aç6es e Equipamentos Mecónicos de AVAC: Celestino Augusto V1egas Rodrigues.

(80) PLANO DIRECTOR DA EXPO 98 - ESTUDO PRELIMINAR Com/ssao de Promoção da Expos/ç60 Internacional de Lisboa de 1998. Estudo inidado em Junho de 1991. Conclusão do estudo preliminar em OUT/1991. Apresentado ao Bureau Internacional das Expos/ç6es - Poris 1991/92. Integrou a candidatura portuguesa Õ realização da EXPO 98, que foi vencedora. Abandonado pelo Comissariado da EXPO 98 em 1993 sem explicaç6es. At.lier Carlos Duarte-José Lamas, Estudos de Planeamento e Arquitectura, LeIa. Equipa Urban(stica - Coordenaçdo: José Lamas e Carlos dos Santos Duarte. Co/oboraçóo: Gabriel Palma Dias, Lu(s Miguel Ruivo, Fótimo Jorge.

(81) PLANO OE PORMENOR DO QUARTEIRÃO DA ANTIGA GARAGEM MILITAR Câmara Municipal de L1sboo. Proposto seleccionado em concurso limitodo promovido pelo C. M. Lisboa em 1991. Plano iniciado em 1992. Conc/u(do em 1993. Aprovado em 1996 pelo C. M. Lisboa. Plano eficaz. Publicado em diórlo do República nO 275, de 28.11.1995. Equipa do Plano ­ Direcç6o-Coordenaç6o: José Manuel Ressono Garcia Lamos. Colaboração: JQQ. quim Lu(s da Costa Gomes, Joõo Pedro Teixeira de Abreu CoskI, Lu(s Memuel Morgado Santiago Baptista, Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires, Joóo Paulo Antunes de Mesquita e Noémla de MIt(a.

(82) Lamas, José. • Para que serve os planos? " (a propósito do Plano Morfológico e de cerceas da Av. da Liberdade). Revista Arquitec:tura, nO 139 • o.z/1980. Lamas, José. ~ Um Plano para as Avenidas " Editorial. Revisto Arquitectura, nO 138 • Out11980. Lamas, José. " A Lisboa de Ressono Garcia ".

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Migo, Jornal Expre$So, Sábado 29 de Abri/f1989. (83) PLANO DE ORDENAMENTO (PLANO OE PORMENOR) DAS INSTALAÇÓES DA EPAL NO RECINTO

DOS OLIVAIS - Empresa Portuguesa das Águas de Livres, S.A. Consto de 3 portes: - 1 • Plano de ponnenor do recinto - Plano iniciado em Setembro de 1995. Cone/ulda o lC1 fase em 1998. - 2 - Projecto de loteamento de conjunto Imobl/lório e Serviços sobre o Av. de Pódua, tomelando o Av. Infante D. Henrique. Inicio do projecto em 1995. Em curso de real/zaçdo. 3 • Projecto de edif(cio de serviços administrativos Inicio do projecto em 1996. Em curso de realizaçãO. Direcção-Coordenação: JosétManuel Ressono Garcia Lamas. Colaboração: Filipa Manuela Gomes Lourenço, João Pedro Abreu Costa, Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires e Antero Jorge Montez Paixão Fonfe.

(84) PROJECTO OE VALORIZAÇÃO DA CERCA DO CASTELO DE ÓBIDOS CÓmora Municipal de Óbidos. Instituto Portugufs do Património Cultural (1.P.P.c.). Projecto vencedor em concurso público realizado em Março de 1991. Concurso de Ideias para o Vo/orizaç6o do Cerco do Castelo de Óbidos. 1° PrlJmio. Pro;ecto iniciado em 1992. Conc/u(do em 1998. 1° fase - cerco do costeIo - in(cio da obro 1997. Cone/usão da obro - Maio 2000; ZJ fase • CJguardcJ o (nido do obra. Equipo Projedo - Arquitedura e Coordenaç6o: JoslJ Manuel Ressono Garcio Lomas.Co/aboraç6o: Mario Lufsa Lucos Rodrigues Pires, Ricardo Back Gordon, Carlos Vilela Lúcio (Fase Concurso), Nuno Freitas Lopes e Margarida Bernardo (Pro;ecto Execuçdo). Fundaç6es e Estruturas: José Heitor Pontes Nunes. Instalações e equipamentos de Aguas, Esgotos e Drenagem: Adelino José Borrados Leitão. Instalações e Equipamentos EIlJdricos: Rúben Manuel Correio Sobro/. Arquitedura Paisag(stico: Sofia Pereira dos Reis Rodrigues Pires. Insta/aç6es e Equipamentos Mecónicos/AVAC: INSTEC, Celestino Viegas Rodrigues.

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íNDICE BffiLIOGRÁFICO DAS FIGURAS·

1- i. R. Grosjean - Filitosa, Haut lieu de la Corse Pré·Historique. Centre de Prê-Histoire Corse,� 1973.� 1-2. Desenho do autor, segundo Guflcind - Urban Development in Southern Europe - Spain� ond Portugol.� 1·3. Civitatis Orbi, Terrorum, de Georges Braun, século XVI, consultado na Biblioteca Pública de� Ponta De/QacJa.� 1-4. Cosobello, n. 0530, 1987.� l-S. Boletim GTH.� 1-6. E. Galantary - Nuevos Ciudades de la Antiguidad a Nuestros Dias. Ed. G. Gili.� 1-7. Documentação do autor.� 1-8. Architetture Rotionelle. A. A. M. 1-9. Documentação do autor.

2-1. Plano de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico de Tavira, de Carlos Duarte-José� Lamas, 1986.� 2-2. Cohiers de 1'1. A. U. R. P., vol. 34.� 2-3. Theo Crosby - City Sense.� 2-4. Isabel Costa - Formos e Foctores de Crescimento Urbono de Lisboa. U. T.L. Curso de Pla­�neamento Regional e Urbano. Dissertação de pós-graduação, 1979.� 2·5. Carlos Duarte-José Lamas - PGU da Área de Trafaria, Vila Nova Costa de Caparica ­�Cômara Municipal de Almado, 1980.� 2-6. Crêr dans le Crée, l'Architetture Contemporaine dons les aôtiments Anciens. Electo Mon;­�teur. Milão·Paris, 1986.� 2-7. Carlos Duarte.José Lamas - Projecto de Restauro, Ampliação e Adoptoção do Antigo COo� légio dos Jesultos o Biblioteco Público e Arquivo de Ponto Delgado. Secretaria Regional de Edu­�cação e Cultura - Região Autónomo dos Açores, 1987.� 2-8. Revistd Arquitectura, n. o 150. Arquitectura: Catálogo da Exposição Depois do Modernis­�mo. Whonen Tabk. Novembro, 22·23/83 e documentação do autor.� 2-9. La Alhambra y el Generalífe. M. Sanchez Editor. Granada, 1978.� 2-10. Kevin Lynch - A Imagem da Cidade.� 2·11. Desenho do autor, 1987.� 2-12. Vieira da Silvo - Plantas de Lisboa.� 2·13. Ilho de Moçambique - Relatório, 1982·1985: Secretaria de Estado da Cultura - Moçam­�bique. Arkitektskolen; Aarhus - Donmork; Ailho de Moçambique em perigo de desaparecimen.� to. F. C. G., Agosto, 1983.� 2·14. Cézanne ColI. des Moitres. Ed. Brawn et Cle. Paris, 1950.� 2-15. Reduçãa da Corta Militar dos Serviços Cartográficos do Exército, escala 1:25.000.� 2·16. Planos para Tavira - CãmaraMunicipol de Tavira, de Carlos Duarte·José Lamas, Estudos� de Planeamento e Arquitectura, Lda.� 2-17. Peter Hafl- Urbon and Regional Planning. Pelikan Books. London, 1975-1977.� 2-18. Plano Integrado de Reabilitação do Centro Histórico de Tavira, D. G. E. R. U. - Carlos� Duarte-José Lamas, Estudos de Planeamento e Arquitecturo, Lda., 1985.� 2-19. 8enevolo - A Cida~ e o Arquitecto.� 2-20. Tomás Taveira. Acodemy Editions, 1990.� 2·21. Jean Nicolas, Luis Durand - Précis des Leçons d'Arthitectture Donnés à I'~cole Polytech­�nique. Ediçoo de /813 - 2. o edição, revista e completada.�

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2·22. P. G. U. da Área de Trafaria, Vila Nova, CoIta da Caparica - C"mara Municipal de Al­�mada.� Carlos Duarte-Jol~ Lamal, 1980.� 2·23. Carlos Duarte·José Lamas - Plano de Recuperação e Salvaguarda do Centro Hist1rico de� Moura - C6mara Municipal de Moura, 1988.� 2-24. Carlos Duarte·José Lamas - Plano Integrado de Recuperação e Salvaguarda do Centro� Histórico de Tavira, D. G. E. R. U., 1985.� 2-25. Carlos Duarte·José Lamas - Plano do Centro Histórico de Tavira, 1985.� 2-26. Desenhos segundo os plantas de Lisboa: José Vltor Adragõo, Natólia Pinto, Rui Rosquilha� - Lisboa.� 2-27. Ed. Jayant. Traité d'Urbanisme. Paris, 1929. Cahiers de lo Recherche Architecturale,� n. O 8.� 2·28. Carlos Duarte-José Lamas. Plano do Centro Histórico de Tavira, 1985.� 2·29. Benevolo - Storia dell'Architectura Moderno, Lisboa e o Marqu6s de Pombal- Exposi­�ção Museu da Cidade, 1982. Carlos Duarte-Jos~ Lamas - Plano do Centro Histórico de Tavira.� 2-30. Exposiçõ.o Lisboa e o Marquês de Pombol- Museu do Cidade, 1982. Benevolo - Storia� deli'Architectura Moderno.� 2-31. Robert Krier - L.Espace de lo Ville, A. A. M.� 2-32. Documentação do autar.� 2-33. José A. França - A Lisboa de Pombal. Arquitectura Portuguesa, n. o7. Maio-Junho,� 1986.� 2.34 Carlos Duarte-José Lamas - Plano de Renovação Urbana da Marfim Moniz. EPUL ­CML, 1980. 2.35 Revista Urbanisme, n. o 224. Abril, 1988. 2.36 Desenho do autor, s~undo Aix-en-Provence - Plan de Souvegarde et de Mise en Valeur. Ministere des Affaires Culturelles-Minístere de I'~quipement, 1968. 2-37. Documentação do putor. 2.38 Desenho do autor sobre Bacon, Design of Cities, apresentado na tese /. A. R.� 2-39. Lisboa e o Marquês de Pombal- Exposição do Museu da Cidade 1982.� Amos Rapoport- Aspectos Humanos de lo Formo Urbano.� 2-40. Desenho autor e Architecture d'Aujourd'hui, n. o 164.� 2·41. P. G. U. da Trafaria - Vila Nova - Costa da Caparica - Carlos Duarte-Jos~ Lamas,� 1980. Desenho do autor.� 2-42. Arquitectura Portuguesa, n. o 12.

3-1. Desenho do autor sobre Plantas de Lisboa, de Vieira da Silva.� 3-2. Catálago exposição e o Marquls de Pombal- Museu da Cidade, 1982.� 3·3. E. Bacon - Design of Cities.� 3-4. A. L. N. Oekonomides - Texto explicativo da Corte Guide. Atenas, 1975.� 3-5. Galantay - Nuevas Ciudades de lo Antiguidada Nuestros Dias. Edit. G. GiIL� 3-6. A. E. J. Morris - Historio de lo Formo Urbano.� 3-7. A. E. J. Morris - Historio de lo Formo Urbano.� 3-8. Bacon -' Design of Cities.� 3·9. A. E. J. Morris - Historio de lo Forma Urbano.� 3·10. Bacon - Design of Cities. Catálogo da Exposição Lisboa e o Marqu6s de Pombal. Museu� da Cidade, 1982.� 3·11. Civitatis Orbis Terrarum, de Georges Braun (Biblioteca Pública de Ponta Delgada). Duarte� d'Armas.� 3-12. Carlos Duarte-José Lamas - Plano do Centro Histórico de Tavira, 1985.� 3-13. Desenhado autor sobre plànta D. G. P. U. Sir Raymond Unwin - Town Planning in Prac·� tice.�

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3-14. o..enho do autor sobre planto D. O. ,. U. 3-15. A. E. J. Mo"ÍI - Historio de lo Formo Urbano. 3-16. Sir 'aymond Unwin - Town P1annlng ln ~roctice.

3.17. Deltnhó do autO/" op,..••nh:ldo no ""IA'.� 3-18. 'runo Zevi -II Unguagio Moderno dell'Archittctura. Eit'laudi. Torino, 1913.� 3·19. L. QlJaroni - Lo Tórri di Bobeie.� 3-20. A. E. J. Mo"i. - Historio de lo Formo Urbano.� 3·21. Fund~o Calou.,. Gu/bfttikian - Guio de Portugal.� Ccrio. DuaHe-Jos. Lomas -- Plano do Centro Histórico d. Moura.� 3·22. Documentaçdo do autor.� 3-23. Ed. Joyant - Trait' d'Urbanisme. Auzel/e - Encyclopédie d'Urbanisme.� 3·24. o.senho do outor, segundo L. 8enevolo - L'Arte i la citt6 deli YN ai YNIII Secolo.� 3-25. B.nevolo - L'Me i la Cittá dei YN ai XVIII Stcolo.� 3-26. Dolumentaçôo do autor.� 3-27. L. Quaróni - Lo Torri di Bobeie.� 3·28. A. E. J. Morris - Historio de la Formo Urbana.� 3·29. Desenho do autor - segundo LuIs da Silv.iro: Ensaio de Iconografia das Cidades Portu·� guesas, e planto actual.� 3-30. LuIs do Silveira - Ensaio de Iconografia dos Cidades Portuguesas do Ultramar.� 3·31. Luis dó Silveira - Ensaio de Iconografia dos Cidades Portuguesas do Ultramar.� ,3·32.� Lu/. do Silveira .... Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesos dó Ultramar. 3·33. Planto C. M. L. Escola: 1:2000. 3·34. Últ6I6go do Ex~.içõo Lisboa e o Marquês de Pombol. Mu.eu d" Cidade, 1982­3·35. Ctitdlogo do Expo.içõo Lisboa e o Marquês de Pombol. MuHU do Cidade, 1982. 3·36. Moria Jaao M. 'odrigues - Tradição, Transição li MudonÇCI- A Ptodu~ão do ~SPélÇO Urbano na Lisboa Oitocentista. Boletim Cultural, n. 084, 1979. A...mb/eitl Diatritol de LidxkJ. Desenho. do alltor, 1974. 3-37. Paola Sicca - Storia dell'Urbanistica. II Settecento. 3·3B.. HeId., Corita·Homem Cardo.o - Trotado da Grandeza dos Jardins em Portugal ou dei Originolídode e Detalt. dtsto Arte. 3·39. Df••nho do 0lIt0r Ulbfl Mapa de Aix-en-Provenci. 3-40. /k,(on .... o.tign MCHies. AlJzell. - Encyclof*lle d'Urbanlsme. Paa/o Sicca ..... Storia d,lI'Urbonl.tica. .' . 3-41. A. E. J. Mor,;, - Historia d. Ia Formo Urbana. R. Unwin ~ Town Planning in Practice. 3-42. A. E. J. Mo"';' - Historio dela formo Urbana. ,. Unwin - Town Planning in Practic•. Pa% Skca - Storia dell'Urbanistko. 3-43. s.n.voIo -:; L'Arte i la Cittb ContemporaneQ. Poolo Sicca - Storia delNJrbonistica. 3-44. M. Teíxeiro - As 'Ilhas' Opfrtlrias do Porto, in A. C/.mfflti e M. 'amirez- Abitazione e Perlferie Urbane nei Paesj in VIQ di Sviluppo. 3-45. A. D. Prome - lhe Anglo American Suburbs. 3,46. PooIo Sicco - Storia dell'Urbanistica. 3-47. D. Gossing - Urben Design. Benevolo - Storia deli'Architecturo Moderna. 3-48. CMtex Ppneroi - Formes Urbanin.s. De 1'lIot b la Barre. 3-49. IId.fonso Cerda ... Teoria General dela Urbanización. 3-50. Ildefonso Cfr(/a - Teoria General dela Urbanizoción. Vtnão frane..". Edit. Seuil. 3·51. Ildefonso Cerdo, 1815·1876, arquitecto, engenheiro urboni.ta. S. N. B. A., 1980. 3-52. Mario JodO Modeiro 'odrigues - O Plano de Extensão de Lisboa no Último Quartel do século XIX. Revisto Arquitectura, n. cl 138, 1980. . 3·53. Maria Jodo Modeira 'odrigues - O Plano de Extensão de Lisboa no Llltimo Quartel do Sécula XIX. '.visto Arquitectura, n. o 138, 1980. 3-54. Mària Jodo Modeira 'odrigue. - O Plano de Extensão de Lisboa na Último Quartel do

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Século XIX. R.vista Arquitectura, n. o 138, 1980.� 3·55. Cat61ogo do Exposiçõo Lisboa de Frederico Ressono Garcia, C. M. L. • Fundação Calous­�te Gulbenkian, 1989.� 3·56. IDEM.�

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