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OBTENÇÃO DO CARVÃO DE PIRÓLISE A PARTIR DA TORTA DE FILTRO
PROVENIENTE DE USINAS SUCROALCOOLEIRAS
Cassiano Augusto Rolim Bernardino
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre
em Engenharia Civil.
Orientadores: Claudio Fernando Mahler
Gilberto Alves Romeiro
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2014
OBTENÇÃO DO CARVÃO DE PIRÓLISE A PARTIR DA TORTA DE FILTRO
PROVENIENTE DE USINAS SUCROALCOOLEIRAS
Cassiano Augusto Rolim Bernardino
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO
LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Claudio Fernando Mahler, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Gilberto Alves Romeiro, D.Sc.
________________________________________________
Profª. Márcia Cristina da Cunha Veloso, D.Sc.
________________________________________________
Profª. Mônica Regina Marques, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Francisco Jose Casanova de Oliveira e Castro, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
FEVEREIRO DE 2014
iii
Bernardino, Cassiano Augusto Rolim
Obtenção do carvão de pirólise a partir da torta de
filtro proveniente de usinas sucroalcooleiras. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2014.
VIII, 82 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Claudio Fernando Mahler
Gilberto Alves Romeiro
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa
de Engenharia Civil, 2014.
Referências Bibliográficas: p. 72 - 82.
1. Biomassa torta de filtro. 2. Pirólise. 3. Processo de
adsorção. I. Mahler, Claudio Fernando et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Civil. III. Título.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me concedido à permissão de vencer mais essa etapa da minha vida.
À minha mãe Alice Maria Rolim Bernardino, ao meu pai Ricardo Willian de Carvalho
Bernardino, a minha irmã Mayra Rolim Bernardino, aos meus amigos em especial
Rhégia Brandão da Silva e toda a minha família pelo apoio na minha vida.
À Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao Programa de Pós Graduação de
Engenharia Civil, COPPE, pela oportunidade e apoio na pesquisa.
À Universidade Federal Fluminense (UFF), ao Instituto de Química da UFF, pela
oportunidade e apoio na pesquisa.
Aos orientadores Prof. Dr. Claúdio Fernando Mahler (UFRJ) e Prof. Dr. Gilberto Alves
Romeiro (UFF), pela orientação constante, apoio e amizade.
À Profa. Dra. Márcia Cristina da Cunha Veloso (UFF), pela ajuda, incentivo e amizade
no decorrer da pesquisa.
Ao Prof. Dr. Fernando Ortiz, da Universidade de Almería (Espanha), pelas análises de
C,H,N, S e metais.
À Profa. Dra. Ana Maria Rangel (UFF), pelas análises termogravimétricas.
Ao Prof. Dr. Fábio Passos (UFF), pelas análises de área superficial e porosidade.
À Dra. Luiza Mercante (EMBRAPA), pelas análises de microscopia eletrônica.
Ao Laboratório Multiusuário de Espectroscopia (LAME - UFF) pelo uso do
Espectrômetro Cary 50 e às técnicas Rosanna Valitutto e Vânia Braz da Silva (UFF)
pelas análises de espectroscopia no UV e IV.
Aos alunos e funcionários do LABCON (UFF), em especial Isabella Alves, Taciani
Fernandes e a Ana Beatriz, pela amizade e colaboração.
Aos amigos e funcionários do laboratório de Geotecnia (UFRJ), em especial Rosa
Robertson pela amizade e colaboração.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
bolsa de estudo.
Ao Laboratório Multiusuário de Caracterização de Materiais (LAMATE - UFF) pelo uso
do Analisador Térmico TGA-60, coordenado pela Profa Célia Ronconi.
À banca examinadora pela avaliação da dissertação de mestrado.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
OBTENÇÃO DO CARVÃO DE PIRÓLISE A PARTIR DA TORTA DE FILTRO
PROVENIENTE DE USINAS SUCROALCOOLEIRAS
Cassiano Augusto Rolim Bernardino
Fevereiro/2014
Orientadores: Claudio Fernando Mahler
Gilberto Alves Romeiro
Programa: Engenharia Civil
Buscou-se nesta pesquisa estudar, o processo de pirólise para o tratamento do
resíduo torta de filtro da indústria sucroquímica, visando obter bioprodutos, com
prováveis aplicações no mercado. Apresenta-se neste trabalho um tratamento
alternativo para este resíduo que foi submetido ao processo de Conversão á Baixa
Temperatura (CBT). Obteve-se 68 % de carvão, 17 % de gás, 11 % de água e 4 % de
óleo. Foi realizada a caracterização da torta de filtro, do bio-óleo e do biocarvão. Os
resultados pelo método BET (Brunauer, Emmet, Teller) demonstraram que este carvão
possui característica de formação de sólidos mesoporosos e uma área superficial
baixa (19,7856 m² g-1), porém eficientes para remoção de compostos orgânicos que
apresentem moléculas grandes, como o corante azul de metileno, sem a presença de
metais pesados. Foi investigada a aplicação do biocarvão em adsorção para remoção
do corante azul de metileno em soluções aquosas. Foram estudados os modelos de
isotermas de adsorção de Langmuir e Freundlich. No estudo da cinética do processo
de adsorção, foram usados os modelos de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda
ordem. Os estudos da cinética e das isotermas de adsorção para o adsorbato (azul de
metileno) comprovaram que este carvão como adsorvente, possui uma alta taxa de
remoção (98%) em um tempo de 30 minutos. Observou-se que o carvão pirolítico
proveniente do resíduo da torta de filtro é um bioproduto promissor como adsorvente
para remoção de corantes a partir de rejeitos de água industrial.
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
OBTAINING CHAR PYROLYSIS FROM FILTER MUD OF SUGAR AND ALCOHOL
INDUSTRIES
Cassiano Augusto Rolim Bernardino
February/2014
Advisors: Claudio Fernando Mahler
Gilberto Alves Romeiro
Department: Civil Engineering
This work presents an alternative treatment to filter mud residue derived from
sugar and alcohol industries. This residue was submitted to a treatment of pyrolysis
(Low Temperature Conversion) and 68% char, 17% gas, 11% water and 4% oil were
obtained. The characterization of filter mud, bio-oil and biochar was performed. The
results by the BET (Brunauer, Emmett, Teller) method showed that this char has the
characteristic of mesoporous solids formation and a low surface area (19,7856 m² g-1),
being effective for removing organic compounds exhibit large molecules such as
methylene blue, without the presence of heavy metals. Char adsorption capability was
investigated for the removal of methylene blue dye in aqueous solutions. Langmuir and
Freundlich models of adsorption isotherms were studied. Kinetics of the adsorption
process was studied with models of pseudo-first order and pseudo-second order.
Studies of the kinetics and the adsorption isotherms for the adsorbate (methylene blue)
showed that this char as adsorbent has a high removal rate (98%) in a time of 30
minutes. It was observed that biochar from the filter mud obtained by pyrolysis is a
promising alternative as an adsorbent for removal of dyes from industrial wastewater.
vii
SUMÁRIO
1. Introdução.............................................................................................................. 1
2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 3
2.1. Biomassa Torta de Filtro ................................................................................. 3
2.2. Pirólise ............................................................................................................ 7
2.2.1. Pirólise Lenta ........................................................................................... 8
2.2.2. Pirólise Rápida ........................................................................................ 8
2.2.3. Pirólise Super-rápida ............................................................................... 8
2.2.4. Conversão à Baixa Temperatura ............................................................. 9
2.3. Processo de Adsorção .................................................................................. 13
2.3.1. Isotermas de Adsorção .......................................................................... 16
2.3.2. Isoterma Langmuir ................................................................................. 18
2.3.3. Isoterma de Freundlich .......................................................................... 19
2.3.4. Estudos Cinéticos ..................................................................................... 20
2.3.4.1. Modelo Cinético de Pseudo 1ª Ordem................................................ 21
2.3.4.2. Modelo Cinético de Pseudo 2ª Ordem................................................ 21
3. Objetivo ............................................................................................................... 23
3.1. Objetivos Específicos.................................................................................... 23
4. Metodologia ......................................................................................................... 24
4.1. Amostragem ................................................................................................. 24
4.2. Caracterização da Torta de Filtro .................................................................. 25
4.2.1. Teor de Umidade ................................................................................... 25
4.2.2. Teor de Cinzas ...................................................................................... 25
4.2.3. Poder Calorífico ..................................................................................... 26
4.2.4. Análise de Espectroscopia no Infravermelho (FTIR) .............................. 26
4.2.5. Análise Elementar.................................................................................. 26
4.2.6. Teor de Metais ....................................................................................... 27
4.2.7. Análise Termogravimétrica .................................................................... 28
4.3. Pirólise .......................................................................................................... 28
4.4. Caracterização do Óleo de Pirólise ............................................................... 30
4.4.1. Análise Elementar.................................................................................. 30
4.4.2. Poder Calorífico ..................................................................................... 30
4.5. Caracterização do Carvão Pirolítico .............................................................. 31
4.5.1. Material Volátil e Carbono Fixo .............................................................. 31
4.5.1.1. Material Volátil ................................................................................... 31
4.5.1.2. Carbono Fixo ..................................................................................... 32
viii
4.5.2. Análise da Área Superficial (BET) e Porosidade .................................... 32
4.5.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .......................................... 32
4.6. Aplicação do Carvão Pirolítico ...................................................................... 33
4.6.1. Ensaio de Adsorção ............................................................................... 33
4.6.2. Isoterma de Langmuir ............................................................................ 34
4.6.3. Isoterma de Freundlich .......................................................................... 34
4.6.4. Cinética de Adsorção ............................................................................. 35
4.6.5. Energia Livre de Adsorção ..................................................................... 35
5. Resultados e Discussões ..................................................................................... 36
5.1. Pirólise .......................................................................................................... 36
5.2. Análise Elementar da Torta de Filtro, do Carvão e do Óleo Pirolítico ............ 37
5.3. Poder Calorífico do Óleo de Pirólise ............................................................. 38
5.4. Análises de Metais da Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico ......................... 39
5.5. Teores de Umidade, Cinzas, Voláteis, Carbono Fixo e Poder Calorífico da
Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico ....................................................................... 41
5.6. Análises por Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) da Torta de
Filtro e do Carvão Pirolítico ..................................................................................... 42
5.7. Análise Termogravimétrica (TG) da Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico..... 44
5.8. Área Superficial BET (Brunauer, Emmet, Teller) do Carvão Pirolítico ........... 47
5.9. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) do Carvão Pirolítico ................. 48
5.10. Estudo de Aplicação do Carvão Pirolítico da Torta de Filtro ...................... 50
5.10.1. Ensaio de Adsorção ........................................................................... 50
5.10.1.1. Isoterma de Langmuir ........................................................................ 52
5.10.1.2. Isoterma de Freundlich....................................................................... 55
5.10.1.3. Cinética de Adsorção ......................................................................... 58
5.10.1.4. Modelo Cinético de Pseudo-Primeira Ordem ..................................... 61
5.10.1.5. Modelo Cinético de Pseudo-Segunda Ordem .................................... 63
5.10.1.6. Energia Livre de Adsorção ................................................................. 64
5.11. Perspectiva de Aplicação Carvão Pirolítico da Torta de Filtro ................... 65
5.11.1. Adubo Orgânico ................................................................................. 65
5.12. Balanço de Massa e Energia no Processo de Pirólise Branda .................. 68
6. Considerações Finais .......................................................................................... 70
7. Referências Bibliográficas ................................................................................... 72
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Introdução
1
1. Introdução
Atualmente, há uma grande preocupação com os resíduos sólidos domiciliares,
hospitalares, industriais, agrícolas, etc.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2010), instituída em 2010, foi
estabelecida para que haja um gerenciamento moderno e adequado de resíduos,
priorizando a diminuição na fonte geradora, a reutilização, a reciclagem e formas de
tratamento para a redução de resíduos sólidos antes de serem encaminhados para os
aterros sanitários (Mahler et. al., 2012).
As indústrias sucroalcooleiras produzem vários resíduos como o bagaço de
cana, palha, vinhoto e torta de filtro.
A torta de filtro é proveniente da filtração do caldo extraído das moendas no
filtro rotativo, composto da mistura de bagaço moído e lodo de decantação (Santos et
al., 2011).
Este resíduo tem elevado teor de matéria orgânica, composto pela mistura de
fragmentos de cana em diferentes tamanhos e sacarose. Também possui fosfato de
cálcio, magnésio, nitrogênio e materiais argilosos. Embora este resíduo seja usado
como adubo, muitas vezes é usado indiscriminadamente no solo antes e no pós-
plantio da cana. Assim, como a disponibilidade da torta de filtro é alta, na maioria das
vezes, a mesma é lançada no solo em uma grande dosagem, para que haja a sua
eliminação, trazendo impactos negativos ao meio ambiente. Portanto, a torta de filtro
pode ser muito poluente quando não armazenada e tratada de forma adequada (Silva
et al., 2006; Teixeira et al., 2006; Boeira e Souza, 2007; Blagodatskaya e Kuzyakov,
2008; Boechat, et al., 2012).
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Introdução
2
Pelos motivos relatados, é de fundamental importância uma alternativa de
forma renovável para o tratamento deste resíduo. Nesse contexto o processo de
pirólise, pode vir a ser uma excelente opção de tratamento, agregando valor ao
produto, principalmente na forma de carvão e de bio-óleo, que podem ser aplicados
como biocombustíveis. O carvão poderá ser utilizado como adubo orgânico em solos
agrícolas. Outra aplicação pode ser na adsorção de compostos orgânicos, como
corantes, para a despoluição de efluentes industriais.
Buscou-se nesta pesquisa estudar, o processo de pirólise branda para o
tratamento do resíduo torta de filtro da indústria sucroquímica, visando obter
bioprodutos, com prováveis aplicações no mercado. Será realizado a caracterização
da torta de filtro, do bio-óleo e do biocarvão. O estudo de aplicação deste carvão será
investigado, como a sua capacidade de adsorção para remoção de corante azul de
metileno em soluções aquosas. Serão estudados os modelos de isotermas de
adsorção de Langmuir e Freundlich. A cinética do processo de adsorção, será
estudada utilizando os modelos de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem.
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
3
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Biomassa Torta de Filtro
O Brasil é um grande produtor de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.),
além de ser o maior produtor e exportador mundial de açúcar refinado e também é
consumidor de etanol como combustível de veículos (Fravet et al., 2010). Dados da
CONAB (2012) revelam uma expansão no mercado de açúcar e etanol mostrando
uma previsão de 602,2 milhões de toneladas do total de cana moída na safra 2012/13,
com aumento de 5,4% em relação à safra 2011/12, que foi de 571,4 milhões de
toneladas, significando uma quantidade moída de 30,7 milhões de toneladas a mais
que a moagem da safra anterior.
Para atender a esta expansão, mais áreas são plantadas e consequentemente
maiores quantidades de resíduos (como a torta de filtro) são gerados. Cada tonelada
de cana moída gera em torno de 40 kg de torta de filtro (Fravet et al., 2010). Sendo
assim, haverá uma geração do resíduo torta de filtro na safra 2012/2013 de
aproximadamente 24,08 milhões de toneladas.
A torta de filtro é um resíduo composto da mistura de bagaço moído e lodo da
decantação, sendo proveniente do processo de clarificação do açúcar (Figura 1).
Neste processo, o caldo aquecido passa pela sulfitação e recebe uma solução de
hidróxido de cálcio, favorecendo a elevação do pH e possibilitando a floculação das
substâncias orgânicas coloidais. O caldo, clarificado e limpo, é evaporado para
produzir o açúcar, e o lodo, formado pelos compostos insolúveis após um período de
decantação, segue para filtração a vácuo, onde é recuperada a sacarose ainda
existente. Ao lodo, mistura-se bagaço de cana finamente moído para permitir a
consistência apropriada para a filtração a vácuo, que dá origem à torta de filtro (Santos
et al., 2011).
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
4
Figura 1: Fluxograma da produção de açúcar e álcool, destacando-se os resíduos
gerados (Rebelato et al., 2013).
A maior parte do resíduo da torta de filtro é constituída de matéria orgânica, em
torno de 85,1%, com composição média de 11% de lignina, 34% de hemicelulose e
38% de celulose e uma pequena fração mineral (Brady e Weil, 2002).
A sua composição química apresenta altos teores de matéria orgânica, fósforo,
nitrogênio, cálcio, além de teores consideráveis de potássio, magnésio, enxofre,
micronutrientes (Ferro, Manganês, Zinco, Cobre) e baixas concentrações de metais
pesados como: Cromo, Cádmio, Chumbo (Tabela 1).
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
5
Tabela 1 - Composição química da torta de filtro
Elemento
Químico
Chacón et al
(2011)
Santos et al
(2011)
Lima et al
(2009)
Unidade
C 358,9 n.a 277,72 g kg-1
N 17,3 9,5 18,7 g kg-1
H n.a n.a n.a g kg-1
S 3,4 7,2 3,48 g kg-1
P 19,1 3,3 9,62 g kg-1
Mg 1 2,5 4,68 g kg-1
K 1,6 4,6 117,11 g kg-1
Ca 8,8 9,1 11,88 g kg-1
Fe 11,86 23,8 0,17 g kg-1
Cd 0,99 n.a n.a mg kg-1
Mn 400,64 758 n.a mg kg-1
Zn 81,14 282 n.a mg kg-1
Cu 27,28 124 n.a mg kg-1
Pb 4,06 n.a n.a mg kg-1
Cr 19,06 n.a n.a mg kg-1
n.a – Não avaliado.
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
6
Atualmente o resíduo da torta de filtro rotativo tem aplicação com seu uso como
adubo orgânico de maneira rotineira em áreas de plantio de cana nas dosagens de 80
a 100 toneladas por hectare (torta úmida) (Miranda et al., 2003). O ponto negativo
deste resíduo é a complexidade de substâncias antropogênicas e a quantidade de
nutrientes aplicados através de resíduos orgânicos em solos exige o constante
monitoramento dos ecossistemas agrícolas.
Resíduos orgânicos utilizados em quantidades acima do potencial do solo ou
as necessidades das culturas podem causar problemas ambientais associados com
perda de nitrogênio, aumento de patógenos e metais pesados, com a acidificação ou
salinização dos solos agrícolas e ainda podem promover a imobilização do nitrogênio,
quando incorporado diretamente no solo, devido à estimulação da atividade
microbiana nativa (Silva et al., 2006; Teixeira et al., 2006; Boeira e Souza, 2007;
Blagodatskaya e Kuzyakov, 2008; Boechat, et al., 2012).
A expansão da indústria sucroquímica vai disponibilizar um aumento deste
resíduo em torno de 24 milhões de toneladas. A disponibilidade e o alto teor de
matéria orgânica mostram a potencialidade da torta de filtro para o estudo de pirólise
na obtenção de bioprodutos, uma nova fonte de biocombustível agregando valor a
este resíduo. Este estudo implica na criação de tecnologia de inovação, bem como, na
interação academia-indústria.
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
7
2.2. Pirólise
A literatura relata várias definições para o processo de pirólise, que varia
basicamente na faixa de temperatura envolvida no processo. Nestes processos de
pirólise, a biomassa é aquecida a temperaturas que variam de 400ºC até o de
gaseificação que é de 1000ºC (Goyal et al., 2008; Pedroza et al., 2010).
Mohan e colaboradores (2006), em um artigo de revisão, definiram: A pirólise é
a degradação térmica de qualquer material orgânico na ausência de oxigênio, ou em
concentrações menores que a necessária para uma combustão.
Segundo Bahng et al. (2009) a pirólise pode ser descrita como a decomposição
térmica direta dos componentes orgânicos de uma biomassa numa faixa de
temperatura de 300 ºC – 1000 ºC, em atmosfera inerte para produzir uma matriz de
produtos úteis como: líquidos, sólidos e gases combustíveis.
Atualmente o processo de pirólise pode ser dividido em três subclasses:
pirólise lenta ou convencional (carbonização), pirólise rápida (fast pyrolysis), e pirólise
super-rápida (flash pyrolysis). Os parâmetros operacionais importantes para os
processos de pirólise são apresentados na Tabela 2 (Demirbas e Arin, 2002; Neto,
2012).
Tabela 2 - Parâmetros para os processos de pirólise
Parâmetros Pirólise
Lenta
Pirólise
Rápida
Pirólise
Super-rápida
Temperatura de pirólise (ºC) 300-700 600-1000 800-1000
Taxa de aquecimento
(ºC min-1) 0,1-1 10-200 >1000
Tamanho de partícula (mm) 5-50 <1 <0,2
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
8
2.2.1. Pirólise Lenta
A pirólise lenta utiliza baixa taxa de aquecimento (0,1-1 ºC min-1), produzindo
uma menor quantidade de produtos líquidos e gasosos e maior de carvão. O tempo de
permanência de vapor varia de 5 a 30 minutos e a temperatura utilizada em média é
de aproximadamente 500ºC, podendo chegar a 700 ºC (Onorevoli, 2012).
2.2.2. Pirólise Rápida
A pirólise rápida utiliza taxas de aquecimento mais altas (10 – 200 °C s-1) e
reduzido tempo de residência. É um processo mais eficiente do que o convencional
para a produção de líquidos ou gases. Os processos de pirólise rápida, em geral,
produzem de 60,0 -75,0 % em peso de produtos líquidos, 15,0 - 25,0 % em massa de
carvão, e 10,0 - 20,0 % em massa de gases não condensáveis, dependendo da
matéria-prima utilizada (Bridgwater, 2003; Mohan, Steele e Pittman, 2006). A
temperatura utilizada, normalmente, é de aproximadamente de 650 ºC e tem como
objetivo maximizar o rendimento de produto líquido (Diniz, 2005).
2.2.3. Pirólise Super-rápida
A pirólise super-rápida utiliza taxas de aquecimento maiores que 1000 °C s-1,
com tempos de residências de poucos segundos, com o objetivo de produzir o “Bio-
óleo”. Os reatores atuais, utilizados para pirólise super-rápida, incluem: de leito
fluidizado; a vácuo; de cone rotativos e reatores de fluxo aprisionado (Bridgwater,
2003).
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
9
Os de leito fluidizado são considerados os melhores reatores para essa
finalidade, devido a capacidade de se obter altas taxas de aquecimento mais rápido e,
assim, obter tempos de residência mais curtos, sendo que, para melhores
rendimentos, este processo requer tamanho de partícula menor em comparação com
outros processos (Goyal, Chandra e Seal, 2009).
2.2.4. Conversão à Baixa Temperatura
O processo de conversão térmica, denominado Conversão a Baixa
Temperatura (CBT), teve avanços significativos na década de 80 pelos pesquisadores
Dr. Bayer e Dr. Kutubuddin (1987). Dados na literatura relatam que esta metodologia
começou a ser desenvolvida por Shibata em 1939, através da conversão de lodo
proveniente da estação de tratamento, produzindo fluidos (Campbell e Bridle, 1985).
Este processo, segundo Bayer e colaboradores (1988), tinha como objetivo a
produção de óleo com características que se aproximassem de derivados de petróleo,
a partir de biomassas, catalisado por silicatos, em tempo extremamente rápido. Bons
resultados foram alcançados com lodo de estação de tratamento, bem como outros
resíduos, como exemplos, rejeitos provenientes de indústrias de curtume; tecidos;
tintas; fábricas de celulose. Assim, o processo com CBT começou a surgir como uma
alternativa para a destinação final de biomassas.
O método de CBT consiste em aquecer o resíduo, previamente seco, a
temperatura de 380 – 420 ºC, em atmosfera livre de oxigênio, por um período médio
de 2 horas. Os produtos obtidos são: óleo, carvão, gás e água; com rendimento
variado em função da composição dos resíduos (Bayer e Kutubuddin, 1987; Romeiro
et al., 2002; Romeiro et al., 2009).
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Revisão Bibliográfica
10
Pesquisadores Canadenses, em 1985, aplicaram esta técnica em escala de
bancada para uma mistura de lodo primário e ativado de três diferentes estações de
tratamento de esgoto da cidade de Ontario, no Canadá (Tabela 3).
Tabela 3 - CBT de lodo residual doméstico (Campbell e Bridle, 1985).
Produtos de conversão do processo em
modo batelada (450ºC)
Rendimento
(%)
Poder Calorífico
(kcal.kg-1)
Fração orgânica 22,3 9290
Resíduo sólido 54,6 2245
Gases não condensáveis 12,1 n.a
Fração aquosa 11,0 n.a
n.a – Não avaliado.
Inicialmente formam-se os primeiros compostos voláteis, os gases CO, CO2 e
CH4. Antes que se atinja a temperatura de conversão de 380 ºC, os gases CO2, CO e
vapor de água resultam de reações de degradação como as que acontecem com a
hemicelulose de madeiras e outros vegetais para a formação do carvão pirolítico. Em
seguida, são formadas complexas misturas contendo ácidos graxos, cetonas,
aldeídos, ésteres, alcoóis, derivados heterociclicos. Materiais inorgânicos, como
silicatos, normalmente encontrados em todos os tipos de biomassa atuam como
catalisadores do processo (Silveira, 2009).
A composição química do óleo e a qualidade do carvão são funções da origem
do resíduo usado como matéria prima. A medida do poder calorífico é determinante na
avaliação para aplicação do óleo e do carvão, na sua forma bruta como combustível
(Romeiro et al., 2009).
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11
O produto líquido orgânico da pirólise de biomassas, o chamado bio-óleo ou
óleo de pirólise, pode ter várias aplicações. Há uma tendência em aplicar bio-óleos
como combustíveis ou adicioná-los à matéria-prima da refinaria do petróleo
(Bridgwater, 2005). Além disso, os bio-óleos contêm substâncias químicas valiosas,
em concentrações significativas, que podem ser utilizadas como matéria-prima na
química fina (Meier e Faix, 1999; Silva et al., 2011; Romeiro et al. 2012).
O carvão pode ser utilizado como combustível sólido, adsorvente de corantes
em efluentes industriais, na recomposição de solos agrícolas, em diversos tipos de
filtros, construção civil, processos catalíticos e química fina (Salgado et al., 2002;
Pereira et al., 2011).
O grupo de pesquisa do Laboratório de Conversão à Baixa Temperatura
(LABCON – UFF) vem desenvolvendo vários trabalhos utilizando biomassas agrícolas
(mamona, algodão, sabugo de milho, casca de coco), resíduos de lodo provenientes
de estação de tratamento de água (ETA), de esgotos (ETE) e de resíduos industriais
(borracha, pneu, couro), cujo o alto poder calorífico do carvão e do óleo de pirólise
justifica o uso deste método, como mostrado na Tabela 4 (Romeiro et al., 2000;
Romeiro et al., 2002; Romeiro et al., 2009; Romeiro et al., 2012).
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12
Tabela 4 - Poder calorífico superior (P.C.S), em MJ.kg-1 e os rendimentos médios
(R.M.), % em massa de produtos de algumas biomassas e resíduos obtidos por
pirólise.
Biomassa Óleo Carvão Gás Água
Ref.
R.M. P.C.S R.M. P.C.S R.M. R.M.
Torta de soja 18 31,0 32 18,9 28 22 Silveira, 2009
Casca de coco 32 22,3 37 27,5 18 13 Silveira, 2009
Borra de café
solúvel 50 34,3 29 33,0 6 15
Romeiro et. al.
2012
Bagaço de cana 9 26,8 34 30,5 32 29 Silveira, 2009
Semente de
mamona 50 27,7 23 27,5 13 14
Romeiro et. al.
2009
Sabugo de milho 15 21,7 33 31,3 27 25 Silveira, 2009
Lodo ativado ETE 28 33,9 54 29,7 9 9 Silva et. al. 2011
Blend industrial 28 37,6 54 30,1 11 7
Romeiro et. al.
2009
Com os dados obtidos do bagaço de cana de açúcar, pode-se prever um baixo
rendimento de óleo e um alto rendimento de carvão no processo de CBT para a torta
de filtro, por ser um resíduo composto da mistura de bagaço moído e lodo da
decantação. Sendo assim, estima-se que o carvão pirolítico da torta de filtro poderá
ser aplicado em processos de adsorções para níveis comerciais.
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13
2.3. Processo de Adsorção
A remoção de corantes sintéticos presentes em efluentes industriais é de
grande interesse, uma vez que alguns desses corantes e seus produtos de
degradação podem ser tóxicos e, consequentemente, o seu tratamento não pode
depender somente da biodegradação (Hameed et al. 2009). Neste sentido, a adsorção
se torna uma excelente tecnologia, podendo ser aplicada em processos de purificação
e separação, apresentando-se como uma alternativa importante e economicamente
viável em muitos casos.
A adsorção é um fenômeno que ocorre na interface entre duas fases, podendo
ser entre um sólido e um líquido, um sólido e um gás ou um líquido e um gás. É
caracterizada pelo aumento da concentração da substância líquida, gasosa ou em
solução na superfície da fase condensada (sólido ou líquido). A fase condensada é
chamada de adsorvente, e adsorve partículas da segunda substância ou solução em
seus poros; a substância ou solução que tem suas partículas adsorvidas na superfície
da fase condensada é chamada de adsorbato. Existem dois tipos de adsorção
física/físissorção ou química/quimissorção (Castellan, 1995).
A adsorção química é aquela na qual formam-se ligações químicas entre o
adsorvente e o adsorbato envolvendo o rearranjo dos elétrons do fluido que interage
com o sólido. Tende a alterar as propriedades das substâncias relacionadas e envolve
energias da ordem de ΔHad ≈ 10 a 200 kcal mol-1 (Netz e Ortega, 2002; Atkins e Paula,
2012; Rouquerol et al., 2013).
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14
A fisissorção é um processo que pode ser caracterizado pela fraca interação
das moléculas adsorvidas com a superfície do adsorvente. As forças envolvidas são
da mesma ordem de grandeza das forças de Van der Waals e a energia produzida
quando uma partícula é fisicamente adsorvida é da mesma ordem da entalpia de
condensação. A energia envolvida é de 2 a 5 kcal mol-1, insuficiente para o
rompimento das ligações e as moléculas mantêm, assim, sua identidade. Este tipo de
adsorção é sempre exotérmica e reversível. O equilíbrio é estabelecido rapidamente, a
menos que ocorra a difusão através da estrutura porosa. O aumento da temperatura
produz uma diminuição notável na quantidade adsorvida (Atkins e Paula, 2012;
Rouquerol et al., 2013).
Na Tabela 5, são apresentadas as diferenças entre a adsorção química e
física.
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15
Tabela 5 - Diferença entre adsorção física e química
Fisissorção Quimissorção
Causadas por forças de Van der Waals Causada por forças eletrostáticas e ligações
covalentes
Não há transferência de elétrons Há transferência de elétrons
Calor de adsorção = 2 – 5 kcal mol-1 Calor de adsorção = 10 – 200 kcal mol-1
Fenômeno geral para qualquer espécie Fenômeno específico e seletivo
A camada adsorvida pode ser
removida por aplicação de vácuo à
temperatura de adsorção
A camada adsorvida só é removida por
aplicação de vácuo e aquecimento a
temperatura acima da adsorção
Formação de multicamadas abaixo da
temperatura crítica Somente há formação a altas temperaturas
Lenta ou rápida Instantânea
Adsorvente quase não é afetado Adsorvente modificado na superfície
Fonte: Coutinho, 2001.
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16
A utilização de resíduos agroindustriais, transformados em carvão pirolítico é
uma alternativa para desenvolver adsorventes de baixo custo, contribuindo para a
redução dos custos na eliminação dos resíduos agrícolas (Bhatnagar e Sillanpaa,
2010).
A capacidade do carvão pirolítico em adsorver compostos orgânicos é
dependente de vários fatores, como: granulometria, área superficial, densidade, pH,
teor de cinzas, estrutura interna dos poros, presença de grupos funcionais na
superfície dos poros que conferem alta reatividade da superfície, dimensões dos poros
e alta resistência mecânica (Ahmedna et al., 2000; Lu et al., 2011).
Os materiais carbonosos ativados e pirolíticos são sólidos porosos com grande
capacidade de adsorção, se comparados com outros sólidos porosos. Em geral, estes
materiais ativados possuem alta área superficial (300 a 2500 m2 g-1) e grande volume
de poros acessíveis a gases. Já para os carvões pirolíticos a literatura relata baixa
área superficial, porém apresentam altas taxas de adsorções para moléculas grandes
de corantes (Ahmedna et al., 2000; Lu et al., 2011).
Os dados de uma adsorção física podem ser expressos, muitas vezes, por
meio de uma equação empírica. As equações mais comuns para as isotermas de
adsorção incluem: Freundlich e Langmuir (Atkins e Paula, 2012; Rouquerol et al.,
2013).
2.3.1. Isotermas de Adsorção
Na Figura 2 são apresentados quatro tipos de isotermas, interessantes para o
processo de adsorção. De acordo com a classificação proposta por Brunauer, Emmett
e Teller (Gregg e Sing, 1982), as melhores isotermas são as de tipo I, II e IV e a de
tipo VI que foi elaborado por PIERCE (Smíšek e Cerný, 1970).
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17
Figura 2: Isotermas de adsorção/dessorção (Coutinho, 2001).
A isoterma do tipo I é característica de sólidos com microporosidade, limitada a
poucas camadas moleculares, onde os poros excedem um pouco o diâmetro
molecular do adsorbato. As isotermas do tipo II e IV são típicas de sólidos não porosos
e de sólidos com poros razoavelmente grandes, respectivamente. A isoterma do tipo
VI é obtida através da adsorção do gás por um sólido não poroso de superfície quase
uniforme, o que representa um caso muito raro entre os materiais mais comuns
(Coutinho, 2001; Webb e Orr, 1997).
O processo de adsorção é analisado por uso de cálculos envolvendo as
isotermas de equilíbrio. Essas isotermas são obtidas por meio de ensaios, sob
temperatura constante, que relacionam a concentração no equilíbrio de uma
determinada substância versus a massa da espécie adsorvida pela massa de
adsorvente utilizada. Alguns modelos de estudo já estão consolidados nessas
pesquisas e os mais utilizados são os de Langmuir e Freundlich (Reddy e Lee, 2013).
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18
2.3.2. Isoterma Langmuir
A isoterma de adsorção de Langmuir, originalmente foi desenvolvida para
descrever a adsorção entre um sólido e um gás sobre carvão ativado, atualmente ela
tem sido usada para quantificar e contrastar o desempenho de diferentes bio-
adsorventes (Foo e Hameed, 2010).
A equação de Langmuir é aplicada a sistemas que aceitam as seguintes
hipóteses: as moléculas do adsorbato aderem-se na superfície do adsorvente em
locais definidos (sítios); cada sítio ativo apenas acomoda uma molécula do adsorvato:
isso significa que é formada apenas uma monocamada e não há interação entre as
moléculas de sítios vizinhos (Ahmed e Dhedan, 2012).
As expressões matemáticas para modelos de isotermas de Langmuir são
ilustradas na Tabela 6.
Tabela 6 - Modelos para isoterma de Langmuir.
Forma não linear Forma linear Representação gráfica
Onde, qe = Quantidade adsorvida na partícula no equilíbrio (mg g-1); qm = Capacidade
máxima de adsorção, relacionada à cobertura de uma monocamada (mg g-1); kl = Grau
de afinidade, constante de equilíbrio de adsorção (L g-1); Ce = Concentração na fase
líquida no equilíbrio (mg L-1).
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19
A constante de equilíbrio de Langmuir (KL) é obtida através da seguinte
equação:
Os parâmetros de Langmuir podem ser expressos pelo fator de separação
adimensional, RL que permite avaliar a forma da isoterma (Tabela 7).
Tabela 7 – Fator de separação (RL).
Equação Fator de separação (RL) Tipo de Isoterma
RL>1 Desfavorável
RL=1 Linear
0<RL<1 Favorável
RL=0 Irreversível
Onde, kl = Grau de afinidade da monocamada de Langmuir; C0 = Concentração inicial
da fase fluida.
2.3.3. Isoterma de Freundlich
A isoterma de Freundlich é a mais antiga relação que se conhece descrevendo
a adsorção reversível e não ideal, sendo não restrita a formação de monocamada.
Este modelo empírico pode ser aplicado em adsorção multicamada com distribuição
não uniforme do calor de adsorção e afinidades sobre uma superfície heterogênea.
Atualmente, a isoterma de Freundlich é amplamente aplicada em sistemas
heterogêneos, especialmente para compostos orgânicos ou espécies altamente
interativas em carvão ativado (Ahmed e Dhedan, 2012). A seguir, verifica-se o modelo
de Freundlich (Tabela 8).
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20
Tabela 8 - Modelos para isoterma de Freundlich.
Forma não linear Forma linear Representação gráfica
Onde, qe = Concentração de equilíbrio do sólido (mg g-1); Ce = Concentração de
equilíbrio do líquido (mg L-1); Kf e 1/n = Constantes de Freundlich.
O valor de Kf representa a capacidade máxima de adsorção de um adsorbato
em um adsorvente, e 1/n é uma constante que descreve a intensidade de adsorção,
sendo favorável na faixa de 0 a 1. Esses dois parâmetros obtidos são importantes para
determinar a capacidade de adsorção de diferentes adsorventes. Se 1/n < 1, existe
uma interação entre o adsorvente e o adsorbato (Guinesi et. al., 2007).
2.3.4. Estudos Cinéticos
As análises cinéticas permitem a estimativa da taxa de adsorção e conduz a
expressões de taxas satisfatórias características de um possível mecanismo de
adsorção. Os parâmetros cinéticos calculados são de grande importância no processo
de adsorção, pois descreve o tempo necessário para remover os contaminantes, a
quantidade adsorvida e o tempo de residência do adsorbato na interface sólido-líquido,
permite ainda calcular a velocidade de adsorção (Marczewska et. al., 2010).
Há diversos modelos cinéticos para descrever o mecanismo de adsorção, entre
os principais estão: a equação de Lagergren ou pseudo-primeira ordem e pseudo-
segunda ordem (Ahmed e Dhedan, 2012; Baccar et. al., 2013).
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21
2.3.4.1. Modelo Cinético de Pseudo 1ª Ordem
A equação cinética de pseudo 1ª ordem de Lagergren baseada na capacidade
de adsorção do sólido, descrita na Tabela 9, representa o modelo cinético de pseudo
1ª ordem. Para se obter a forma linearizada, a equação é integrada nas seguintes
condições: t = 0, t = t, qt = 0 e qt = qt. A constante de velocidade k1 pode ser obtida do
declive da reta do gráfico de log(qe – qt) vs t (Ahmed e Dhedan, 2012; Baccar et. al.,
2013).
Tabela 9 - Modelo pseudo 1ª ordem.
Equação Forma linear Representação gráfica
Em que, k1 = constante cinética de 1ª ordem (min-1); qe = quantidade de adsorbato
adsorvido no equilíbrio (mg g-1); qt = quantidade de adsorbato adsorvido pela
superfície no tempo t (mg g-1).
2.3.4.2. Modelo Cinético de Pseudo 2ª Ordem
A equação cinética de pseudo 2ª ordem também se baseia na capacidade de
adsorção do sólido, como descrito na Tabela 10. Para se obter a forma linearizada, a
equação é integrada nas seguintes condições: t = 0, t = t, q t = 0 e qt = qt. A constante
de velocidade k2 pode ser obtida do declive da reta do gráfico de t/q t vs t (Ahmed e
Dhedan, 2012; Baccar et. al., 2013).
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22
Tabela 10 - Modelo pseudo 2ª ordem.
Equação Forma linear Representação gráfica
Em que, k2 - constante cinética de 2ª ordem (g mg-1 min-1); qe - quantidade de
adsorbato adsorvido no equilíbrio (mg g-1); qt - quantidade de adsorbato adsorvido pela
superfície no tempo t (mg g-1); h - velocidade inicial de adsorção (mg g-1 min-1)
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Objetivo
23
3. Objetivo
Utilizar o processo de Conversão à Baixa Temperatura (CBT) para o
tratamento da Torta de Filtro
3.1. Objetivos Específicos
Testar condições de CBT para Torta de Filtro.
Desenvolver estudos químicos e físico-químicos do carvão.
Identificar estudos de aplicação do carvão pirolítico.
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24
4. Metodologia
4.1. Amostragem
A torta de filtro, proveniente da indústria sucroalcooleira, utilizada neste
trabalho, foi doada pela Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro
(COAGRO), localizada em Campos Goytacazes – RJ, com latitude de - 21.807799
(21º48’28” S) e longitude de -41.272371 (41º16’20” W).
Foram coletados 25 Kg do resíduo torta de filtro, Figura 3, e encaminhados
para a Universidade Federal Fluminense, onde foi realizado o processo de pirólise.
Figura 3: Resíduo torta de filtro na COAGRO – Campos Goytacazes, RJ..
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Metodologia
25
4.2. Caracterização da Torta de Filtro
4.2.1. Teor de Umidade
A torta de filtro foi seca em estufa a 105º ± 2 ºC. O teor de umidade é a
percentagem calculada a partir da diferença entre a massa inicial sem aquecimento e
a massa final após aquecimento, até massa constante, baseado na norma NBR-
8293/1983.
4.2.2. Teor de Cinzas
O teor de cinzas foi determinado pesando-se 1 g de material em um cadinho de
porcelana previamente tarado, em seguida, este foi colocado em uma mufla sob
aquecimento a 750 ºC, onde foi mantido até a calcinação completa do material. O teor
de cinza foi calculado a partir da seguinte equação (NBR 8289, 1983):
Considerando que,
TCi = Teor de cinzas (%).
P(ci.) = Massa do material incinerado (cinzas) a 750 ºC durante 6 horas (g).
P(c.s.) = Massa do material seco em estufa a 105º ± 2 ºC (g).
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26
4.2.3. Poder Calorífico
A amostra foi oxidada por combustão em uma bomba calorimétrica contendo
oxigênio sobre pressão. Após o fim da combustão foi determinado o poder calorífico
superior mediante a variação de temperatura (inicial e final), conforme a norma
internacional da ASTM D 7544 (2012).
4.2.4. Análise de Espectroscopia no Infravermelho (FTIR)
O resíduo da torta de filtro seco foi analisado por espectroscopia no
infravermelho (IV-FT). Os espectros de absorção na região do infravermelho (na faixa
de número de onda entre 4000 a 400 cm-1) foram obtidos em um Espectrômetro
Perkin-Elmer modelo 1420, utilizando pastilhas de KBr.
4.2.5. Análise Elementar
Foram analisados os teores de C, H, N e S, utilizando-se o analisador
Elemental marca ELEMENTAR Vario Micro CHNS (ASTM D 7544, 2012).
Foram colocados aproximadamente dois miligramas de cada amostra e
pesados dentro de uma cápsula de estanho, todos em duplicata. As amostras foram
carregadas em um amostrador automático. A amostra foi depositada automaticamente
no reator de combustão (1150 °C). De acordo com as condições especificadas foi
promovida uma reação violenta em atmosfera enriquecida temporariamente de
oxigênio (grau de 99,995 %), onde os materiais termicamente resistentes são
completamente oxidados.
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27
A mistura do produto de combustão foi forçado a passar por um catalisador de
oxidação de trióxido de tungstênio (1150 °C). Estes produtos da combustão e oxidação
(N2, NOx, CO2, H2O, SOx) passam através de um tubo de redução (850 °C) de cobre
metálico. O excesso de oxigênio é eliminado e os gases são reduzidos a SO2 e N2.
Então, há uma separação temporal de todos os gases (N2, CO2, H2O e SO2) através
de uma coluna de adsorção de gases libertando sequencialmente através de
aquecimento controlado. A quantidade de cada gás foi determinada por um detector
de condutividade térmica (TCD). Os gases produzidos pela combustão das amostras
são transportados usando Hélio (grau 99,9997 %) como gás arraste.
4.2.6. Teor de Metais
Foram realizadas as análises para os seguintes metais: P, K, Mg, Ca, Fe, Cd,
Cr, Mn, Cu, Zn, Pb. As análises de metais foram feitas utilizando-se a técnica de
Espectrometria de Absorção Atômica, com o aparelho VARIAN AA240FS. Para isto,
amostra foi digerida em forno micro-ondas, com auxilio de uma mistura ácida. Após a
digestão, completa-se o volume da amostra e as análises dos metais são efetuadas
através das leituras das respectivas absorbâncias.
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28
4.2.7. Análise Termogravimétrica
Para as determinações termogravimétricas foi utilizado um analisador térmico
modelo STA-409PC da marca Netzsch. O analisador térmico consiste de um conjunto
de termobalança analítica, um forno, um sistema de gás e um sistema de coleta de
dados. A balança foi padronizada com oxalato de cálcio que apresentam percentuais
de perda de massas conhecidos. Nas análises de caracterização térmica da torta de
filtro foram utilizados cadinhos de alumina com capacidade de 85 µL. O ensaio
termogravimétrico da torta de filtro foi iniciado com temperatura ambiente até 380 ºC,
quando chegou a 380 ºC foi deixado por 90 min, e logo em seguida, a temperatura foi
a 600 ºC, com taxa de 15 ºC.min-1 em atmosfera inerte (N2, 50 mL.min-1), assim foi
possível simular o processo de pirólise.
4.3. Pirólise
Os ensaios de conversão à baixa temperatura (CBT) foram realizados em um
reator de bancada consistindo de um forno de marca Heraeus R/O 100, um
controlador de temperatura, suprimento de nitrogênio, um leito fixo constituído de vidro
tipo boro-silicato com juntas esmerilhadas, de dimensões 1,40 cm x 10 mm, um
sistema de coleta de líquidos formado por um condensador, um funil de decantação
(500 mL) e três frascos lavadores de gases, localizado no laboratório de Conversão à
Baixa Temperatura (LABCON 1- Campus do Valonguinho), como mostrado na Figura
4.
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29
Figura 4: Esquema do reator termoelétrico modo batelada de conversão à baixa
temperatura: (1) reator pirolítico; (2) condensador; (3) controlador de temperatu e
temperatura; (4) cilindro de nitrogênio; (5) frascos lavadores de gases; (6) coletor de
fração líquida; (7) leito de borosilicato.
O resíduo torta de filtro sofreu um processo de secagem em estufa a 105 ºC
por 12 horas. Em seguida, as conversões foram efetuadas com amostras de 200g de
torta de filtro seca. A amostra foi introduzida em um tubo de borosilicato e fixada na
parte central deste com porções de lã de vidro. O tubo foi colocado no interior do
reator e acoplado ao sistema de condensação. Para obtenção de atmosfera inerte, foi
passado nitrogênio, em temperatura ambiente, pelo tubo com um fluxo de 0,5 L min-1
por no mínimo 10 minutos.
Após este tempo o aquecimento foi iniciado com uma taxa de 10 ºC min-1 até a
temperatura programada de 380 ºC, mantendo-se assim por 2 horas, até completar a
conversão.
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30
A conversão inicia-se a temperatura de 380 ºC. Os produtos de conversão, em
fase gasosa, são impelidos para a região de condensação, com refrigeração na faixa
de 5 - 15 ºC. A fase não condensada, é coletada em um sistema de lavagem de
gases, constituído por dois frascos lavadores contendo solução de NaOH 10 % (m/v) e
solução de HCl 10 % (v/v). A fase condensável, constituída de duas frações, aquosa
(água de pirólise) e orgânica (óleo de pirólise), foi coletada em um funil de separação e
isolada por diferença de densidade. Restando apenas no conversor o carvão pirolítico
que após resfriamento foi removido e analisado.
4.4. Caracterização do Óleo de Pirólise
4.4.1. Análise Elementar
O óleo de pirólise foi encaminhado para o Instituo Nacional de Tecnologia, no
laboratório de combustíveis e lubrificantes (LACOL) para a realização da análise
elementar (C, H, N, S), conforme a norma internacional ASTM D 7544 (2012).
4.4.2. Poder Calorífico
O óleo de pirólise foi encaminhado para o Instituo Nacional de Tecnologia, no
laboratório de combustíveis e lubrificantes (LACOL), para a realização do poder
calorífico superior, conforme a norma internacional ASTM D 7544 (2012).
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31
4.5. Caracterização do Carvão Pirolítico
Os teores de umidade, cinzas e as análises de poder calorífico, espectroscopia
no infravermelho (FTIR), elementar, metais, termogravimétrica estão descritos
respectivamente no item 4.2.
4.5.1. Material Volátil e Carbono Fixo
As análises químicas do carvão pirolítico se referem à determinação da
porcentagem dos teores de materiais voláteis (TMV), e de carbono fixo (TCF) contidos
no carvão, com base nas Normas NBR 8290, e NBR 8299 (1983).
4.5.1.1. Material Volátil
Para a determinação dos teores de materiais voláteis (TMV), foram utilizados
três cadinhos, anotando-se o peso dos mesmos: P(cad 1), P(cad2), P(cad3). Em
seguida, pesou-se cerca de 1 grama de carvão e submeteu-se à calcinação em um
forno mufla a 950 ºC, durante 6 minutos. O teor de materiais voláteis foi determinado
através da equação (NBR 8290, 1983).
Considerando que,
TMV = Teor de materiais voláteis (%)
P(c.s.) = Peso das partículas de carvão seco em estufa a 105º ± 2 ºC (g)
P(c.cal.) = Peso das partículas de carvão calcinado a 950 ºC durante 6 minutos (g)
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32
4.5.1.2. Carbono Fixo
A partir da obtenção de materiais voláteis e de cinza, o teor de carbono fixo foi
determinado indiretamente através da equação (NBR 8299, 1983).
.
Considerando que,
TCF = Teor de carbono fixo (%).
TMV = Teor de materiais voláteis (%).
TCi = Teor de cinzas (%).
4.5.2. Análise da Área Superficial (BET) e Porosidade
As isotermas de adsorção e dessorção de N2 foram realizadas a 77 K em um
equipamento ASAP 2020 V3.04 E. A amostra foi previamente tratada a 250 ºC por 12
h. A área superficial especifica foi calculada pelo método BET na região de baixa
pressão (p/po=0,200) e as porosidades específicas pelo método BJH.
4.5.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A morfologia da superfície das amostras de carvão pirolítico foi visualizada por
microscopia eletrônica de varredura (MEV). As imagens eletrônicas de varredura do
carvão ativado foram obtidas através do microscópio eletrônico de varredura, JEOL /
JSM-5800LV Scanning Micropore, usando uma tensão de 10,0 kV.
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33
4.6. Aplicação do Carvão Pirolítico
4.6.1. Ensaio de Adsorção
Para os ensaios de adsorção na fase líquida foi utilizado como adsorbato o
reagente azul de metileno, marca Merck (Fórmula Molecular: C16H18ClN3S – Massa
Molecular: 319,5).
Para este ensaio foram preparadas as seguintes soluções aquosas de azul de
metileno:
a) Solução estoque de 250 mg L-1
b) Solução de trabalho (0,5; 1,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0; 12,5; 15,0; 17,5 mg L-1)
As análises foram feitas no espectrofotômetro UV/VIS Varian Cary 50 Conc, em
λ = 665 nm. As curvas analíticas dos padrões na faixa de 0,5; 1,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0;
12,5; 15,0; 17,5 mg L-1 obtidas por regressão linear foram construídas representando-
se a absorbância vs concentração.
Para os ensaios de adsorção, foram utilizados 10 mg de carvão pirolítico, com
granulometria de até 0,045 mm (MESH/TYLER 325) e colocados em contato com 10
mL de soluções aquosas de azul de metileno em várias concentrações (0,5; 1,0; 2,5;
5,0; 7,5; 10,0; 12,5; 15,0; 17,5 mg L-1) por uma 1h, com agitação constante em placa
de agitação magnética, à temperatura ambiente (25 ºC) e pH de 6,2 das soluções
aquosas de azul de metileno. Após a adsorção, estas soluções foram centrifugadas a
velocidade de 4000 rotações/min e as absorbâncias foram medidas nas concentrações
restantes do azul de metileno no espectrofotômetro UV/VIS Varian Cary 50 Conc no
λmáx = 665 nm.
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34
Em que, qe é a quantidade de azul de metileno adsorvido no equilíbrio (mg g-1),
Co (mg L-1) e Ce (mg L-1) representam as concentrações iniciais e no equilíbrio (após
1h), respectivamente, V (L) volume de adsorbato (soluções de azul de metileno; 0,01
L) e m (g) a massa do material adsorvente (carvão pirolítico; 0,01 g).
4.6.2. Isoterma de Langmuir
O modelo de Langmuir foi realizado de acordo com o item 2.3.2, como
mencionado no tópico da revisão bibliográfica.
4.6.3. Isoterma de Freundlich
O modelo de Langmuir foi realizado de acordo com o item 2.3.3, como
mencionado no tópico da revisão bibliográfica.
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35
4.6.4. Cinética de Adsorção
Os ensaios cinéticos de adsorção foram realizados à temperatura ambiente (25
ºC). Nestes ensaios foram utilizados 10 mg de carvão juntamente com 10 mL de
soluções aquosas de azul de metileno (pH 6,2), com concentração de 10 mg L-1. Com
variação do tempo de 15, 30, 60, 120 e 180 min. E agitação constante em placa
magnética. Após a adsorção, estas soluções foram centrifugado em uma centrífuga
sob a velocidade de 4000 rotações min-1 e as absorbâncias foram medidas nas
concentrações restantes do azul de metileno em diferentes tempos, no
espectrofotômetro UV/VIS Varian Cary 50 Conc no λmáx = 665 nm.
A interpretação dos dados foi realizada pelos modelos cinéticos pseudo 1ª
ordem e pseudo 2ª ordem, com descritos nos itens 2.3.4.1 e 2.3.4.2, respectivamente.
4.6.5. Energia Livre de Adsorção
A partir das equações das isotermas de Langmuir e Freundlich, foi calculada a
energia livre de adsorção (ΔG), com a seguinte equação (Silva, 2013):
Onde:
T = Temperatura em Kelvin (298K);
R = 8,3144 J grau-1 mol-1 (constante de gases);
K = Grau de afinidade de Langmuir (Kl) ou constante de Freundlich (Kf), em L mol-1.·.
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36
5. Resultados e Discussões
5.1. Pirólise
Devido ao percentual elevado de umidade da torta de filtro (54,57 %), foi
necessário submeter o resíduo ao processo de secagem, antes da conversão por
pirólise.
A Conversão à Baixa Temperatura (CBT) da torta de filtro foi feita sob fluxo
constante de nitrogênio (0,3 L min-1), com uma taxa de aquecimento de 15 ºC min-1 até
estabilização da temperatura, 380ºC. O tempo de residência do material no reator foi
de 2h. Ao fim do procedimento obtiveram-se quatro frações: óleo, carvão, água e gás.
O rendimento médio das cinco conversões dos produtos obtidos está descrito na
Tabela 11.
Tabela 11 - Dados percentuais dos produtos obtidos por pirólise branda da torta de
filtro.
Conversões Massa Inicial (g) Carvão (%) Óleo (%) Água (%) Gás (%)
1 200 65 5 12 18
2 200 66 4 11 19
3 200 63 4 14 19
4 200 71 4 11 14
5 200 74 4 8 14
Média
67 4 11 16
Desvio Padrão
4,0 0,4 2,0 2,0
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37
Observou-se um rendimento da fração sólida (carvão) bastante elevado. Tal
percentual nos levou a investir principalmente na obtenção de carvão que poderá vir a
ser um produto com potencial para diversas aplicações. O rendimento da fração
gasosa também é bastante promissor e poderá suprir as necessidades do processo no
aquecimento do reator de pirólise. A água e o pouco óleo obtido podem voltar ao
processo ou serem utilizados separadamente (Figura 5).
Figura 5: Rendimento médio dos produtos obtidos por CBT da torta de filtro.
5.2. Análise Elementar da Torta de Filtro, do Carvão e do Óleo Pirolítico
A Tabela 12 apresenta as análises elementares da tora de filtro, do biocarvão e
do óleo de pirólise. Observa-se um baixo teor de carbono do biocarvão (27,32 %). A
agência nacional de energia elétrica (2005) considera que a turfa constitui um dos
primeiros estágios do carvão, com baixo teor de carbono na ordem de 45%; o linhito
apresenta um índice que varia de 60 % a 75 %; o carvão betuminoso (hulha), mais
utilizado como combustível, contém cerca de 75 % a 85 % de carbono, e o mais puro
dos carvões; o antracito, apresenta um conteúdo carbonífero superior a 90 %.
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38
O teor de carbono do bio-óleo (61,5%) foi considerado satisfatório, porém seu
baixo rendimento (4 %) impede sua utilização como biocombustível.
Tabela 12 - Análises elementares da torta de filtro, do biocarvão e do óleo de pirólise.
Elemento Químico Torta de Filtro (%) Carvão (%) Óleo (%)
C 22,52 27,32 61,50
N 2,06 2,20 5,96
H 3,36 2,35 9,08
S 0,79 0,83 0,52
O 66,08 59,98 22,94
5.3. Poder Calorífico do Óleo de Pirólise
O poder calorífico é expresso pela quantidade calor produzido na combustão
por unidade de massa deste produto. O valor encontrado para o poder calorífico
superior do bio-óleo foi de 6321 kcal kg-1. Na Tabela 13 pode ser verificado que o
poder calorífico superior do óleo pirolítico está um pouco abaixo, em relação a
combustíveis alternativos, como por exemplo, do etanol (Costa et. al., 2000).
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39
Tabela 13 - Comparação do poder calorífico do óleo de torta de filtro com outros
combustíveis.
Fontes de Energia Poder Calorífico (kcal kg-1)
Óleo diesel* 10748
Biodiesel da soja* 9315
Etanol* 7165
Óleo de pirólise da torta de filtro 6321
*Fonte: Costa et. al., 2000.
5.4. Análises de Metais da Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico
A Tabela 14 apresenta o teor de metais da torta de filtro e do carvão pirolítico.
Observa-se que houve um um pequeno aumento no teor de P, K, Ca, Mg e Fe do
carvão pirolítico em relação à torta de filtro.
Também observa-se que não há presença de metais pesados como Cr, Pb,
Cd, Zn e Cu. Estes resultados são promissores para a utilização deste carvão, pela
sua qualidade e aplicabilidade, não poluindo os solos e mananciais hídricos por metais
pesados.
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40
Tabela 14 - Composição química da torta de filtro, do carvão pirolítico e do óleo obtido
por pirólise.
Elemento Químico Torta de Filtro (%) Carvão (%)
P 1,04 1,36
Mg 0,51 0,76
K 0,54 0,76
Ca 1,78 2,48
Fe 1,19 1,80
Cd n.d n.d
Mn 0,10 0,14
Zn 0,01 n.d
Cu 0,01 0,01
Pb n.d n.d
Cr n.d n.d
n.d – Não detectado
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41
5.5. Teores de Umidade, Cinzas, Voláteis, Carbono Fixo e Poder Calorífico
da Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico
A Tabela 15 apresenta os teores de umidade, cinzas, material volátil, carbono
fixo e poder calorífico do carvão pirolítico e da torta de filtro.
Tabela 15 - Teores de umidade, cinzas, voláteis, carbono fixo e poder calorífico da
torta de filtro e carvão pirolítico.
Propriedades Torta de
Filtro
Carvão
Pirolítico
*Carvão
Industrial
Umidade (%) 54,57 3,11 n.a
Cinzas (%) 42,50 57,96 1,30
Voláteis (%) n.a 22,51 17,20
Carbono fixo (%) n.a 16,42 81,50
Poder calorífico superior
(kcal kg-1) 1845 2097 6626
Poder calorífico inferior
(kcal kg-1) n.a 1973 n.a
*Fonte: Pereira et. al., 2000
n.a – Não avaliado.
Pode ser observado que a torta de filtro apresentou um teor de umidade médio
de 54,57 % e teor de cinzas de 42,50 %. O teor de cinzas foi considerado alto, devido
à presença de fósforo, potássio, magnésio, etc.
O carvão pirolítico apresentou um baixo teor de umidade (3,11 %) devido ao
tratamento do resíduo da torta de filtro, através da pirólise, com temperatura de 380ºC.
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42
O alto teor de cinzas do carvão pirolítico também pode estar relacionado com a
presença de elementos minerais, e assim, influenciando no baixo teor de carbono fixo
encontrado (16,42 %) em relação ao carvão industrial (81,50 %).
Quanto ao material volátil, o carvão pirolítico apresenta 22,51 %, bem próximo
do carvão industrial (17,20 %). A matéria volátil influi diretamente na área superficial
específica e porosidade do carvão, ou seja, um alto teor de material volátil significa
uma menor área superficial específica.
Também pode ser observado o poder calorífico superior do carvão pirolítico
que foi de 2097 kcal kg-1, abaixo do carvão industrial. Porém para que um resíduo seja
considerado um combustível sólido alternativo o poder caloríf ico deve ser superior
1700 kcal kg-1. O poder calorífico inferior apresentou um variação pequena em relação
ao poder calorífico superior, devido a pouca quantidade de hidrogênio (2,38%) no
carvão pirolítico (Silveira, 2009).
5.6. Análises por Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) da
Torta de Filtro e do Carvão Pirolítico
O resíduo da torta de filtro seco e o carvão pirolítico foram analisados por
espectroscopia na região do infravermelho (FTIR). A seguir são apresentados os
espectros de IV da torta de filtro (Figura 6), do carvão pirolítico (Figura 7) e a Tabela
16 com as suas principais absorções.
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43
Figura 6: Espectro na região do IV da torta de filtro.
Figura 7: Espectro na região do IV da fração sólida (carvão).
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44
Tabela 16 - Principais absorções dos espectros de IV.
Produto Ѵ (cm-1)
Torta de
Filtro
3696 (m, OH livre); 3621 (m, OH livre); 3391 (largo, F, OH); 2919 (m,
CH); 1647 (F, C=O); 1422 (m); 1034 (F, CH); 913 (m)
Carvão
Pirolítico
3695 (m, OH livre); 3620 (m, OH livre); 3406 (largo, m, OH); 2925 (m,
CH); 1606 (m); 1438 (m); 1035 (F, CH); 913 (m)
Houve uma considerável redução da absorção no espectro de IV na região de
3400 cm-1 relativa à deformação axial da ligação OH no carvão pirolítico,
demonstrando a diminuição de açúcar contida na torta de filtro.
5.7. Análise Termogravimétrica (TG) da Torta de Filtro e do Carvão
Pirolítico
Na Figura 8 verifica-se a curva TG (perda de massa em função do tempo –
curva preta); DTG (curva derivada da curva TG – verde) e a curva de temperatura em
vermelho, da torta de filtro. As condições utilizadas para simular as condições do
reator de pirólise foram as seguintes: atmosfera de N2, taxa de aquecimento de 15 ºC
min-1 até 400 ºC, seguida de uma isoterma nesta temperatura por 10 min.
Verifica-se que na curva TG há perda de massa a medida que o resíduo torta
de filtro está sendo aquecido e a curva DTG auxilia a definição do início e fim de cada
evento de perda de massa. Observa-se que a perda total de massa foi de 57,3 % até
uma temperatura de 634,5 ºC.
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45
Segundo Bridgwater (2006), o processo pirolítico pode ser dividido em zonas
de temperaturas. A primeira zona de temperatura para este caso corresponde a uma
perda de massa de 30,34 %, com temperatura variando de 24,8 ºC a 115,5 ºC, devido
a perda de umidade.
A segunda zona é devido à decomposição da hemicelulose, havendo uma
variação de temperatura de 115,5 ºC a 271,1 ºC, com uma perda de massa de 3,66 %.
A terceira e quarta zona correspondem a hemicelulose/celulose e celulose,
respectivamente, pois a temperatura da decomposição da hemicelulose vai até 320 ºC
e inicia-se a decomposição da celulose até a temperatura de 400 ºC, a perda de
massa para as zonas 3 e 4 foi de 12,22 % e 2,87 %, respectivamente.
Na quinta zona, houve uma perda de massa de 10,21 %, com a temperatura
variando de 400,1 ºC a 634,5 ºC, relativo a decomposição da lignina.
Figura 8: Curva TG e DTG da amostra da torta de filtro (10 mg) em N2 (50 mL min-1) na
taxa de 15 ºC min-1 e isoterma por 10 min.
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46
Na Figura 9, observa-se a curva Termogravimétrica (TG) do carvão pirolítico da
torta de filtro, em atmosfera inerte (N2), a fim de verificar sua estabilidade térmica. Esta
decomposição acontece em quatro estágios entre as temperaturas de 26,3 ºC a 674,3
ºC. No primeiro estágio a perda de massa que foi de 5,82 % em uma faixa de
temperatura que variou de 26,3 ºC a 142,7 ºC. No segundo estágio a perda de massa
foi de 2,54 %, com uma faixa de temperatura que variou de 142,7 ºC a 332,5 ºC. Em
seguida, ocorre o terceiro estágio com perda de massa intensa de 34,23 %, que se
inicia em 332,5 ºC até 615,4 ºC, devido à eliminação de gases voláteis. Por fim, ocorre
o quarto estágio, onde a perda de massa foi de 2,38 % com uma temperatura variando
entre 615,4 ºC a 674,3 ºC.
Figura 9: Termograma do carvão pirolítico da torta de filtro.
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47
5.8. Área Superficial BET (Brunauer, Emmet, Teller) do Carvão Pirolítico
Na Figura 10 verifica-se a isoterma de adsorção/dessorção de N2 a 77 K que
fornece informações qualitativas preliminares sobre o mecanismo de adsorção e da
estrutura porosa do carvão. De acordo com a classificação BET, observa-se que a
isoterma é do tipo IV, característica de formação de sólidos mesoporosos, ou seja,
poros com diâmetros entre 20 Å a 500 Å. As isotermas de adsorção para sólidos
mesoporosos normalmente mostram o fechamento da histerese na faixa de 0,4 a 1,0
P/P0, A área superficial determinada pelo método BET foi de 19,7856 m² g-1, um área
superficial baixa, porém eficiente para remoção de efluentes que apresentem
moléculas orgânicas grandes.
Figura 10: Isoterma de adsorção/dessorção de N2 à 77 K para o carvão pirolítico da
torta de filtro.
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48
A distribuição do diâmetro de poros é mostrada na Figura 11, segundo as
classes: microporos ∅ < 20 Å, mesoporos 20 Å < ∅ < 500 Å e macroporos ∅ > 500 Å. A
análise da distribuição do volume de poros em função do diâmetro indicou que o
carvão pirolítico proveniente da torta de filtro é principalmente constituído de
mesoporos com diâmetro entre 20 Å e 500 Å.
Figura 11: Distribuição do diâmetro de poros para o carvão pirolítico da torta de filtro.
5.9. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) do Carvão Pirolítico
A micrografia obtida por MEV do carvão pirolítico da torta de filtro (Figura 12)
demonstra uma superfície porosa formada pela intensa eliminação de voláteis e
gases, resultado que pode ser atribuído à presença de material mineral, que causa
uma maior desintegração nas partículas do carvão. Este comportamento foi observado
por Wang e colaboradores (2010) para a pirólise de madeira de pinus.
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49
(a)
(b)
(c)
Figura 12: Micrografia obtida por MEV do carvão pirolítico da torta de filtro: (a) 500x,
(b) 1000x, (c) 5000x.
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50
5.10. Estudo de Aplicação do Carvão Pirolítico da Torta de Filtro
5.10.1. Ensaio de Adsorção
Na Figura 13 é mostrado a curva analítica utilizando soluções aquosas de azul
de metileno, com absorbância máxima no comprimento de onda de 665 nm, baseada
na Lei de Lambert-Beer em diferentes concentrações (0,5; 1,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10,0;
12,5; 15,0; 17,5 mg L-1). O modelo apresentou um coeficiente de correlação de 0,9961,
sendo adequado para este ensaio. Verifica-se pelo gráfico linear de Absorbância (Abs)
x Concentração, que a equação para a realização da isoterma de adsorção foi Abs =
0,1737C0 + 0,0553.
Figura 13: Absorbância máxima versus concentração de soluções aquosas de azul de
metileno (λmáx=665 nm; soluções aquosas de azul de metileno 0,5; 1,0; 2,5; 5,0; 7,5;
10,0; 12,5; 15,0; 17,5 mg L-1 ; Temperatura de 25 ºC e pH 6,2).
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51
A Tabela 17 apresenta os parâmetros que foram utilizados para plotar isoterma
de adsorção. Os ensaios foram realizados no tempo de 1h, com diversas
concentrações iniciais (C0), concentrações de equilibrio (Ce), absorbâncias iniciais
(Abs0), absorbâncias no equilibrio (Abse) e a quantidade de azul de metileno adsorvido
no equlibrio (qe), a partir da equação:
Em que, V (L) é o volume de adsorbato (soluções de azul de metileno, 10 mL)
e m (g) é a massa do material adsorvente (carvão pirolítico, 10 mg).
Tabela 17 - Dados para a realização da isoterma de adsorção do azul de metileno, no
carvão pirolítico de torta de filtro.
Tempo (h) Abs0 Abse C0 (mg L-1) Ce (mg L-1) qe (mg g-1)
1 0,1501±0,11 0,056±0,03 0,5 0,0053 0,495
1 0,1934±0,15 0,057±0,04 1,0 0,0116 0,988
1 0,5566±0,57 0,060±0,00 2,5 0,0295 2,471
1 0,9348±0,56 0,066±0,01 5,0 0,0625 4,937
1 1,2611±0,64 0,072±0,04 7,5 0,0943 7,406
1 1,8890±0,73 0,078±0,01 10,0 0,1307 9,869
1 2,1260±1,00 0,084±0,02 12,5 0,1676 12,332
1 2,6850±1,50 0,095±0,04 15,0 0,2278 14,772
1 3,1221±1,39 0,105±0,06 17,5 0,2880 17,212
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52
A Figura 14 mostra a isoterma de adsorção do azul de metileno pelo carvão
pirolítico, a partir de solucões com diferentes concentrações. Com os dados obtidos foi
possível realizar as isotermas Langmuir e Freundlich.
Figura 14: Isoterma de adsorção do azul de metileno em carvão pirolítico (10 mg de
carvão; 10 mL de soluções aquosas de azul de metileno, a 0,5; 1,0; 2,5; 5,0; 7,5; 10;
12,5; 15,0; 17,5 mg L-1; T = 25 ºC, pH = 6,2 e t = 1 h).
5.10.1.1. Isoterma de Langmuir
Para a realização da isoterma de Langmuir, foram processados os dados
obtidos no ensaio de adsorção, com as seguintes expressões matemáticas, como
verificados na Tabela 18:
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53
Tabela 18 - Modelos para isoterma de Langmuir.
Forma não linear Forma linear Representação
gráfica
Constante de
Langmuir
Onde, qe = Quantidade de azul de metileno adsorvido no equilíbrio (mg g-1); qm =
Capacidade máxima de adsorção, relacionada à cobertura de uma monocamada (mg
g-1); kl = Grau de afinidade (L g-1), constante de equilíbrio de adsorção; Ce =
Concentração na fase líquida no equilíbrio (mg L-1); KL = Constante de equilíbrio de
Langmuir
Para aplicar o modelo de Langmuir, foi necessário fazer uma linearização da
equação não linear. Para isso, aplicou-se o conceito dos mínimos quadrados, onde os
valores são plotados em uma reta y = ax+b, onde y é a variável dependente, x é a
variável independente, “a” o coeficiente angular e “b” o coeficiente linear, assim pode-
se fazer a seguinte relação matemática, onde 1/qm = “a” (coeficiente angular) e 1/(klqm)
= “b” (coeficiente linear). Em seguida, foi obtida a constante de equilíbrio de Langmuir
(KL).
Os dados de equilíbrio obtidos na isoterma de adsorção foram processados de
acordo com o modelo de Langmuir (Figura 15). Observa que a isoterma de Langmuir
linearizada segue a seguinte equação:
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54
Figura 15: Isoterma de Langmuir para o adorbato de azul de metileno em carvão
pirolítico.
Os parâmetros de Langmuir foram expressos pelo fator de separação
adimensional, RL que permite avaliar a forma da isoterma (Tabela 19).
Tabela 19 – Fator de separação (RL).
Equação Fator de separação (RL) Tipo de Isoterma
RL>1 Desfavorável
RL=1 Linear
0<RL<1 Favorável
RL=0 Irreversível
Onde, kl = Parâmetro de afinidade da monocamada de Langmuir; C0 = Concentração
inicial.
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55
Os parâmetros físico-químicos de adsorção obtidos a partir do ajuste ao
modelo de Langmuir para o adsorbato de azul de metileno são apresentados na
Tabela 20. Os resultados demonstraram que o equilíbrio é bem descrito por este
modelo, devido ao coeficiente de correlação ser 0,9591. O valor de qm, que mede à
capacidade máxima de adsorção de um adsorbato em um adsorvente, foi de 54,64
mg.g-1 para o adsorbato azul de metileno no adsorvente carvão pirolítico. O fator de
separação (RL) foi de 0,0572, mostrando que a adsorção foi favorável (0<RL<1).
Tabela 20 - Parâmetros físico-químicos de adsorção obtidos a partir do ajuste ao
modelo de Langmuir para o adsorbato de azul de metileno a 25 ºC, em carvão
pirolítico.
Adsorvente Adsorbato
Isoterma de Langmuir
qm (mg g-1) Kl (L mg-1) R2 RL
Carvão pirolítico Azul de Metileno 54,64 1,65 0,9591 0,0572
5.10.1.2. Isoterma de Freundlich
Para a realização da isoterma de Freundlich, foram processados os dados
obtidos no ensaio de adsorção, com as seguintes expressões matemáticas, como
verificadas na Tabela 21.
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56
Tabela 21 - Modelos para isoterma de Freundlich.
Forma não linear Forma linear Representação gráfica
Onde, qe = Quantidade de azul de metileno adsorvido no equilíbrio (mg g-1); Ce =
Concentração na fase líquida no equilíbrio (mg L-1); Kf e 1/n = Constantes de
Freundlich.
O valor de Kf representa à capacidade máxima de adsorção de um adsorbato
em um adsorvente, e 1/n é uma constante que descreve a intensidade de adsorção,
sendo favorável na faixa de 0 a 1. Esses dois parâmetros obtidos são importantes para
determinar a capacidade de adsorção do carvão pirolítico em relação ao azul de
metileno (Guinesi et. al., 2007).
Para aplicar o modelo de Freundlich, foi necessário fazer uma linearização da
equação não linear. Para isso, aplicou-se o conceito dos mínimos quadrados, onde os
valores são plotados em uma reta y = ax+b, onde y é a variável dependente, x é a
variável independente, “a” o coeficiente angular e “b” o coeficiente linear, assim pode-
se fazer a seguinte relação matemática, onde 1/n = “a” (coeficiente angular) e log(Kf) =
“b” (coeficiente linear).
Os dados de equilíbrio obtidos na isoterma de adsorção foram processados de
acordo com o modelo de Freundlich (Figura 16). Observa-se que a isoterma de
Frendlich linearizada segue a seguinte equação:
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57
Figura 16: Isoterma de Freundlich para o adsorbato de azul de metileno em carvão
pirolítico.
Na Tabela 22 observam-se os parâmetros físico-químicos de adsorção obtidos
a partir do ajuste ao modelo de Freundlich para o adsorbato azul de metileno. Os
resultados demonstraram que o equilíbrio foi bem descrito pela isoterma de
Freundlich, devido ao coeficiente de correlação ser 0,9978. Este modelo apresentou
uma correlação melhor em comparação com a isoterma de Langmuir
O valor de Kf foi de 59,69 mg.g-1 para o adsorbato azul de metileno no
adsorvente carvão pirolítico. Este mede a capacidade máxima de adsorção de um
adsorbato em um adsorvente. A constante 1/n descreve a intensidade de adsorção,
sendo favorável na faixa de 0 a 1. Neste caso, o valor de 1/n foi de 0,91. Esses dois
parâmetros obtidos são importantes para determinar a capacidade de adsorção de
diferentes adsorventes. Como 1/n < 1, existe uma interação entre o adsorvente e o
adsorbato, isto é, o carvão pirolítico adsorve o azul de metileno, em proporções
significativas. Esta adsorção adapta-se melhor ao modelo de Freundlich, o que
induz que esta adsorção ocorre em múltiplas camadas (Guinesi et. al., 2007).
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58
Tabela 22 - Parâmetros físico-químicos de adsorção obtidos a partir do ajuste ao
modelo de Freundlich para o adsorbato de azul de metileno a 25 ºC.
Adsorvente Adsorbato
Isoterma de Freundlich
1/n Kf (mg.g-1(L mg-1)1/n) R2
Carvão pirolítico Azul de Metileno 0,91 59,69 0,9978
5.10.1.3. Cinética de Adsorção
Avaliou-se a cinética de adsorção através da aplicação dos dados obtidos no
ensaio de remoção de azul de metileno pelo carvão pirolítico com modelos cinéticos
de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem. As formas lineares das
equações cinéticas do modelo pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem são
mostradas na Tabela 23.
Tabela 23 - Modelos Cinéticos.
Pseudo 1ª ordem Pseudo 2ª ordem
Onde, qe = Quantidade de azul de metileno adsorvido no equilíbrio (mg g-1); qt =
Quantidade de azul de metileno adsorvido no tempo “t” (mg g-1); K1 = Constante de
equilíbrio de pseudo primeira ordem (min-1); K2 = Constante de equilíbrio de pseudo
segunda ordem (g mg-1 min-1); h = Velocidade de adsorção inicial (mg g-1 min-1), para t
= 0.
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Para aplicar o modelo cinético pseudo-primeira ordem, aplicou-se o conceito
dos mínimos quadrados, onde os valores são plotados em uma reta y = ax + b, onde y
é a variável dependente, x é a variável independente, “a” o coeficiente angular e “b” o
coeficiente linear, assim pode-se fazer a seguinte relação matemática, onde -K1/2,303
= “a” (coeficiente angular) e log (qe) = “b” (coeficiente linear).
Para o modelo cinético pseudo-segunda ordem, aplicou-se o conceito dos
mínimos quadrados, onde os valores são plotados em uma reta y = ax + b, onde y é a
variável dependente, x é a variável independente, “a” o coeficiente angular e “b” o
coeficiente linear, assim pode-se fazer a seguinte relação matemática, onde 1/qe = “a”
(coeficiente angular) e 1/(K2qe2) = “b” (coeficiente linear).
A capacidade de adsorção do azul de metileno pelo carvão pirolítico é função
do tempo de contato entre o adsorvente e adsorbato, descrito na cinética de
adsorção.
A Tabela 24 apresenta os parâmetros que foram utilizados para plotar a
cinética de adsorção. Os ensaios foram realizados variando o tempo (15, 30, 60, 120,
180 min), com concentração inicial de solução aquosa de azul de metileno (C0) de 10
mg L-1, concentrações de equilibrio (Ce), absorbância inicial (Abs0) de 1,8890,
absorbâncias no equilibrio (Abse), a quantidade de azul de metileno adsorvido no
equlibrio (qe) e a porcentagem de remoção do azul de metileno pelo carvão pirolítico.
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Tabela 24 - Parâmetros utilizados para plotar a cinética de adsorção (10 mg de carvão;
10 mL de solução aquosa de azul de metileno a 10 mg L-1; T = 25 ºC, pH = 6,2).
Tempo
(min) Abs0 Abse
C0
(mg L-1)
Ce
(mg L-1)
qe
(mg g-1) Remoção (%)
15 1,889±0,73 0,244±0,03 10,00 1,0883 8,9117 89,11
30 1,889±0,73 0,079±0,01 10,00 0,1345 9,8655 98,65
60 1,889±0,73 0,078±0,01 10,00 0,1307 9,8693 98,69
120 1,889±0,73 0,078±0,02 10,00 0,1304 9,8696 98,69
180 1,889±0,73 0,078±0,02 10,00 0,1307 9,8693 98,69
A adsorção de azul de metileno pelo carvão pirolítico, obtido da torta de filtro,
demonstrou uma excelente taxa de remoção. Pode-se observar que o processo de
adsorção é rápido. O equilíbrio foi atingido em 30 min. (Tabela 25).
Tabela 25 - Resultados da adsorção do corante azul de metileno pelo carvão pirolítico
da torta de filtro.
Solução Aquosa Tempo
(min)
Absorbância
(λmáx665 nm)
Concentração
(mg L-1)
Remoção
(%)
Azul de metileno
inicial 0 1,889 10 -
Azul de metileno
após adsorção 30 0,0859 0,176 98,24
A Figura 17 apresenta a cinética de adsorção de azul de metileno pelo carvão
pirolítico. Observa-se que após 30 min houve uma remoção média de 98% para
solução aquosa de azul de metileno a 10 mg L-1.
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Figura 17: Cinética de adsorção de azul de metileno no carvão pirolítico (10 mg de
carvão pirolítico; 10 mL de solução do corante; T = 25 ºC; pH = 6,2).
A cinética do processo de adsorção do corante azul de metileno pelo carvão
pirolítico foi investigada através dos modelos de pseudo-primeira ordem e pseudo-
segunda ordem.
5.10.1.4. Modelo Cinético de Pseudo-Primeira Ordem
A partir da quantidade de azul de metileno adsorvida no equilíbrio (qe) e da
quantidade de azul de metileno adsorvida no tempo “t” (qt), obtidos no ensaio de
adsorção, foi possível avaliar o ajuste dos pontos no modelo de pseudo-primeira
ordem. A Figura 18 mostra o resultado obtido para este modelo cinético.
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Figura 18: Ajuste dos dados de adsorção para o modelo de pseudo-primeira ordem (10
mg de carvão pirolítico; 10 mL de solução do corante azul de metileno; T = 25 ºC; pH =
6,2).
Os valores dos coeficientes de correlação obtidos para a concentração inicial
de 10 mg L-1 de azul de metileno a 25 ºC foi de 0,8952, o que demonstra que não
houve um bom ajuste dos dados utilizando este modelo, como demosntrado na Tabela
26.
Tabela 26 - Parâmetros do modelo de primeira-ordem
qe (experimental)
(mg.g-1)
qe(teórico)
(mg.g-1)
K1
(min-1) R2 Equação
9,8655 5,6480 0,26853 0,8952 y = -0,1166x + 0,7519
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5.10.1.5. Modelo Cinético de Pseudo-Segunda Ordem
O modelo cinético de pseudo-segunda ordem foi investigado, conforme o
gráfico na Figura 19.
Figura 19: Ajuste dos dados de adsorção para o modelo de pseudo-segunda ordem.
A partir da reta obtida foi possível obter a constante de velocidade de pseudo-
segunda ordem (k2) através do coeficiente linear, e o valor da quantidade adsorvida no
equilíbrio (qe) através do coeficiente angular, sendo que este último pode ser
comparado ao valor obtido experimentalmente, conforme mostrado na Tabela 27.
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Tabela 27 - Parâmetros do modelo de pseudo-segunda ordem.
qe (experimental)
(mg g-1
)
qe(teórico)
(mg g-1
)
K2
(g mg-1
min-1
)
h
(mg g-1
min-1
) R
2 Equação
9,8655 10,3412 0,26853 9,1575 0,9981 y = 0,0967x + 0,1092
Analisando os dados foi possível observar que o coeficiente de correlação
obtido para este modelo cinético foi de 0,9981, indicando claramente um processo de
pseudo-segunda ordem. O valor da quantidade adsorvida no equilíbrio (qe) teórico
apresenta um valor muito próximo ao obtido experimentalmente, o que ratifica a
validade do modelo. Também nota-se que a velocidade inicial de adsorção (h) foi de
9,1575 mg g-1 min-1, indicando que o processo de adsorção é extremamente rápido.
5.10.1.6. Energia Livre de Adsorção
O cálculo da energia livre de adsorção (ΔG) distingue o processo de adsorção
entre químico e físico. A literatura relata que valores menos negativos do que -25 kJ
mol-1 identificam a adsorção física, valores que variam na faixa de -25 kJ mol-1 a -40
kJ mol-1 é uma adsorção mista e valores mais negativos que -40 kJ mol-1 identificam a
adsorção química. Os valores negativos (ΔG<0) indicam que o processo é espontâneo
à temperatura e pressão constantes (Morris et. al., 1962; Silva, 2013).
Na Tabela 28 verifica a energia livre de adsorção (ΔG) para os modelos de
Langmuir e Freundlich. Observou-se que para ambos os modelos a adsorção foi
espontânea e química, devido aos seus ΔG serem - 42,60 kJ mol-1 e -51,49 kJ mol-1.
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65
Tabela 28 - Energia livre de adsorção (ΔG) para os modelos de Langmuir e Freundlich.
Modelo de Langmuir Modelo de Freundlich
R2 ΔG (kJ mol-1) R2 ΔG (kJ mol-1)
0,9591 -42,60 0,9978 -51,49
5.11. Perspectiva de Aplicação Carvão Pirolítico da Torta de Filtro
5.11.1. Adubo Orgânico
O desenvolvimento de processos que permitam transformar resíduos agrícolas
em carvão pirolítico com características apropriadas para o uso como condicionantes
do solo e adubos orgânicos, não só é altamente desejável como também estratégico
para a agroindústria. Um carvão pirolítico com tais características pode agregar valor,
tanto por criar um uso inovador, quanto por ser objeto de captação de recursos
destinados ao mecanismo de desenvolvimento limpo, uma vez considerado sua
capacidade de transferência de carbono da atmosfera para compartimento estável,
que é a matéria orgânica do solo.
Cerca de 90 % da matéria seca de uma planta consistem de C, H e O. As
plantas necessitam de água e de diferentes moléculas orgânicas para sua
sobrevivência. Portanto, os elementos que compõem a água (H2O) e qualquer
molécula orgânica (C, H, O) obviamente têm sua essência totalmente comprovada.
Esses elementos são absorvidos pelas plantas a partir da água absorvida pelas raízes
e do CO2
absorvido, via fotossíntese. O N geralmente é exigido em grandes
quantidades pelos vegetais, encontrando-se em concentrações que variam de 1 a 5 %
da matéria seca.
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66
A concentração de P pode variar de 0,10 a 1,0 % da matéria seca, e o K
encontra-se na faixa de 1,0 a 3,5 %. A Tabela 29 mostra a concentração média de
elementos essenciais da matéria seca de um vegetal, segundo dados da Embrapa.
Tabela 29 - Concentração média de elementos essenciais da matéria seca de um
vegetal (EMBRAPA, 1997).
Elemento Químico Concentrações (%)
C 42
N 2,0 - 3,5
H 6
S 0,2 - 0,3
O 44
P 0,12 - 0,22
Mg 0,2 - 0,4
K 1,5 - 3,0
Ca 1,0 - 2,0
Fe 0,5 - 1,5
Cd n.a
Mn 0,5 - 1,5
Zn 0,5 - 1,5
Cu 0,5 - 1,5
Pb n.a
Cr n.a
n.a – Não avaliado
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67
Analisando a composição química do carvão pirolítico do resíduo torta de filtro
(Tabela 30), observar-se que este tem uma boa perspectiva para ser utilizado como
adubo orgânico em solos agrícolas, pois apresentam quantidades adequadas de N, P
e K. O carvão pirolítico apresenta características que aumentam a capacidade de
retenção de água e nutrientes no solo devido à sua natureza porosa e forma
relativamente estável da matéria orgânica, e promove também a absorção de
compostos orgânicos solúveis.
Tabela 30 - Composição química do carvão pirolítico da torta de filtro.
Elemento Químico Carvão (%)
C 27,32
N 2,20
H 2,35
S 0,83
O 59,98
P 1,36
Mg 0,76
K 0,76
Ca 2,48
Fe 1,80
Cd n.d
Mn 0,14
Zn n.d
Cu 0,01
Pb n.d
Cr n.d
n.d – Não detectado.
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68
5.12. Balanço de Massa e Energia no Processo de Pirólise Branda
Na Tabela 31 é feita uma comparação entre o poder calorífico superior (PCS)
da torta de filtro seca e de seus produtos obtidos na conversão por pirólise branda.
Tabela 31 – Poder Calorífico dos produtos por pirólise branda
Parâmetro Torta de
Filtro Óleo Carvão Gás Água
Rendimentos
(%) 100 4 68 17 11
PCS (MJ kg-1) 7,72 26,46 8,78 4,07 0
A Tabela 32 mostra o balanço de massa do processo por pirólise branda,
considerando a massa inicial da torta de filtro seca de 0,200 kg. É importante salientar,
que para se obter 1 tonelada de torta de filtro seca, são necessários 1,83 toneladas do
resíduo úmido, devido ao teor de umidade ser 54,57 %.
Tabela 32 – Balanço de massa do processo por pirólise branda.
Torta de Filtro
Seca Óleo Carvão Gás Água
0,200 kg 0,008 kg 0, 136 kg 0,034 Kg 0,022 kg
1 tonelada 40 kg 680 kg 170 kg 110 kg
Com os valores apresentados, pode-se calcular a quantidade de energia para 1
tonelada de torta de filtro, como observado na Tabela 33.
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69
Tabela 33 - Balanço energético para o processo de pirólise branda.
PCS
(MJ kg-1) Massa (kg)
Energia produzida (MJ) a
partir de 1 kg da Torta de
Filtro seca
Torta de Filtro
(seca) 7,72 1,00 7,72
Óleo 26,46 0,04 1,058
Carvão 8,78 0,68 5,970
Gás 4,07 0,17 0,692
É importante ressaltar que a estimativa de geração total do resíduo da torta de
filtro foi de aproximadamente 24 milhões de toneladas na safra de 2012/2013, no
Brasil (CONAB, 2012). Teoricamente a potencialidade deste resíduo no tratamento por
pirólise branda é de aproximadamente 13 milhões de toneladas de torta de filtro seca
por ano, devido ao teor de umidade ser de 54,57%. A estimativa total dos seus
respectivos bioprodutos são: 0,52 milhões toneladas de óleo; 8,8 milhões de toneladas
de carvão; 2,2 milhões de toneladas de gás e 1430 milhões de toneladas de água.
Sendo assim a energia estimada para o processo por pirólise branda seria
aproximadamente de 13.759.106 MJ de óleo, 77.264.106 MJ de carvão e 8.954.106 MJ
de gás.
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70
6. Considerações Finais
Como visto, os objetivos em relação ao carvão pirolitico foram alcançados.
A torta de filtro necessita de secagem antes de ser aplicada ao processo por
Conversão à Baixa Temperatura (CBT), por possuir um alto teor de umidade (54 %),
pois o ideal para este processo é que a biomassa tenha no máximo 10 % de umidade.
O processo CBT da torta de filtro gerou um rendimento da fração sólida
(carvão) bastante elevado (68 %). O rendimento da fração gasosa (17 %) também foi
bastante promissor e pode suprir as necessidades do processo no aquecimento do
reator de pirólise. A água (11 %) e o pouco óleo (4 %) obtido podem voltar ao
processo ou serem utilizadas separadamente.
A vantagem do processo por pirólise branda para a torta de filtro foi que gerou
grande quantidade de carvão (68%), com boa quantidade de macronutrientes e
micronutrientes, sem presença significativa de metais pesados. Com isso, foi possível
visualizar que o carvão pirolítico pode ser um bom adsorvente na despoluição de
efluentes industriais e indicar para possíveis aplicações como adubo orgânico, para
solos agrícolas.
Os estudos mostraram que este carvão possui característica de formação de
sólidos mesoporosos, ou seja, poros com diâmetros entre 2 nm a 50 nm e uma área
superficial baixa (19,7856 m² g-1), que podem ser eficientes para remoção de
compostos orgânicos que apresentem moléculas grandes, como o corante azul de
metileno.
Os estudos da cinética e das isotermas de adsorção para o adsorbato (azul de
metileno) comprovaram que este carvão como adsorvente, possui uma alta taxa de
remoção (98 %) em um tempo de 30 minutos.
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Considerações Finais
71
Os modelos de Langmuir e Freundlich descreveram bem o processo de
adsorção, porém a isoterma de Freundlich foi mais adequada, devido ao coeficiente de
correlação ser mais elevado, que induz que esta adsorção ocorre em múltiplas
camadas.
Em relação à cinética foi possível verificar que o modelo de pseudo-segunda
ordem foi o mais adequado e demonstrou que o processo de adsorção foi
extremamente rápido.
Os ensaios de adsorção do carvão pirolítico com soluções aquosas de azul de
metileno se mostraram um processo químico, pelo cálculo da energia livre de
adsorção.
O balanço energético do carvão e do gás pirolítico mostrou-se pouco eficaz
para a utilização dos mesmos como combustíveis alternativos, com uma estimativa de
gerar 5,97 MJ e 0,69 MJ, respectivamente.
O estudo de adsorção mostrou que o carvão pirolítico proveniente do resíduo
da torta de filtro é um bioproduto promissor como adsorvente para remoção de
corantes orgânicos a partir de rejeitos de água industrial.
Recomendações de Pesquisas Futuras
Devem-se aprofundar estes estudos de adsorção do carvão pirolítico,
utilizando-se outros corantes orgânicos, bem como, a sua ativação por métodos
químicos e físicos e desenvolvimento de novos estudos de sua utilização na adsorção
de metais pesados, gases etc.
UFRJ – COPPE – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Referências Bibliográficas
72
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