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Simone elkeles [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

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SIMONE ELKELES

How to Ruin a Summer Vacation

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Como é que uma adolescente moderna termina em uma fazenda no

meio de Israel, com seu pai quase desconhecido? Bem, nem vem ao caso

descrevê-lo.

Moshav? O que é um Moshav? Será que é shopping em hebreu?

Quero dizer, pelo que Jéssica me disse, as lojas de Israel têm as melhores

roupas da Europa. Esse vestido preto que tem é realmente lindo. Sei que

seria terrível sair para comprar com o doador de esperma, mas continuo

pensando em todas as roupas incríveis que podia trazer quando voltasse.

Infelizmente para Amy Nelson de 16 anos, Moshav está longe de

ser um shopping. Pense em cabras, não em Gucci. Ir a Israel com seu pai

quase desconhecido é a última coisa que Amy quer fazer neste verão. Amy

tem um grande rancor de seu pai a quem chama de “Doador de Esperma”

por quase não estar presente na sua vida. E que agora a está arrastando a

uma zona de guerra para que conheça uma família que nem sabia que tinha,

onde provavelmente será alistada no exército. Finalmente será presa em

uma casa sem ar condicionado e com apenas um banheiro para sete pessoas,

sem melhor amiga, sem namorado, sem shopping, sem telefone celular...

Adeus orgulho, olá Israel.

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Capítulo 1

Em questões de segundos os pais podem mudar o curso da

sua vida.

Como uma garota de 16 anos relativamente inteligente é presa em

uma situação da qual não pode sair? Bem, penso nisso enquanto estou

sentada no aeroporto internacional O’Hare em Chicago na tarde de uma

segunda-feira, durante uma hora e quarenta e cinco minutos de atraso,

pensando nas últimas 24 horas da minha nova “ferrada” vida. Estava sentada

no meu quarto ontem, quando meu pai biológico, Ron, ligou.

Não, você não entende... Ron nunca liga. Bem, a não ser que seja meu

aniversário, e isso foi há oito meses. Veja, depois de sua aventura na

universidade, minha mãe descobriu que estava grávida. Ela vinha de uma

família com dinheiro, e Ron.. Bom, ele não. Com seus pais pressionando-a,

minha mãe disse a Ron que seria melhor se não tivesse um papel importante

nas nossas vidas. Pessoal, estavam errados. Mas o pior é que ele desistiu,

sem sequer tentar.

Eu sei que ele coloca dinheiro numa conta para mim. Ele também

vem pra me levar para jantar no meu aniversário. Mas e daí? Eu quero um

pai que está sempre lá pra mim.

Ele costumava vir um pouco mais, mas finalmente lhe disse pra me

deixar em paz, assim minha mãe poderia encontrar um verdadeiro pai. Não,

sério, suponho que só estava apenas tentando testá-lo. Ele falhou

miseravelmente.

Bem, o cara ligou desta vez para dizer a minha mãe que quer me

levar a Israel. Israel! Você sabe aquele pequeno país do Oriente Médio que

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causa tanta controvérsia. Você não tem que assistir às notícias no TiVo1 para

saber que Israel é um foco de hostilidade internacional.

Sei que estou me distraindo, assim, vamos voltar ao que sucedeu.

Minha mãe me deu o telefone sem ao menos dizer “é seu pai” ou “é o tipo

com quem tive uma aventura de uma noite, mas não me casei”, para me

advertir que era ele.

— Olá , Amy. É Ron.

— Quem? — pergunto.

Não tento ser uma sabe-tudo, simplesmente não registro que o cara

que me deu 50% dos meus genes está ligando.

— Ron... Ron Barak — diz um pouco mais forte e mais lento, como se

eu fosse uma completa imbecil.

Congelo e acabo dizendo nada. Acredite ou não, às vezes dizer nada

realmente funciona a meu favor. Aprendi com o decorrer dos anos. Isso

normalmente deixa as pessoas nervosas, mas antes elas do que eu. Bufo com

força para que saiba que ainda estou na linha.

— Amy?

— Sim?

— Hum, só queria que soubesse que sua avó está doente — diz com

seu sotaque israelense.

Uma imagem anônima de uma pequena mulher de cabelos brancos

que cheira a talco de bebê e mofo, e qual objetivo na vida é assar biscoitos

com lascas de chocolate, passa brevemente pela minha mente.

1 Aparelho de vídeo que permite aos usuários capturar a programação televisiva para

armazenamento em disco rígido.

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— Não sabia que tinha uma avó — digo, acentuando o “ó” porque

Ron, como todos os outros israelenses que conheci, não podem dizer “ó”

porque esse som agudo não está na sua língua.

A minha avó materna morreu pouco depois que eu nasci, assim que

fui uma dessas garotas sem avó. Uma pontada de dor e pena de nunca saber

que tinha uma avó e agora saber que está “doente” fez-me sentir doente.

Porém empurro esses sentimentos na parte de trás da minha mente, onde

estão seguros.

Ron pigarreia.

— Ela vive em Israel. Estou indo para lá pra passar o verão. Gostaria

que fosse comigo.

Israel?

— Não sou judia — deixo escapar.

Um pequeno som, como um de dor, escapa da sua boca antes que

diga.

— Não tem que ser judia para ir à Israel, Amy.

Não é preciso ser um gênio pra saber que Israel está no meio de uma

zona de guerra. Uma zona de guerra!

— Agradeço a oferta, mas vou para o acampamento de tênis este

verão. Diga à avó que espero que melhore de sua doença. Adeus — digo e

desligo.

Quando faço isso, menos de quatro segundos se passam e o telefone

toca de novo. Sei que é Ron. Um pouco irônico, quando ele liga duas vezes

por ano e aqui está ligando duas vezes em questão de segundos.

Minha mãe atende ao telefone na sala de estar. Trato de escutar

através da porta do meu quarto. Não posso escutar muito. Só sussurros,

sussurros, sussurros. Depois de cerca de quarenta minutos, ela bate na

minha porta e me diz para fazer as malas para ir à Israel.

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— Está brincando, não é?

— Amy, não pode evitá-lo pra sempre. Não é justo.

Não é justo? Cruzo os braços na frente do meu peito.

— Desculpe, o que não é justo é vocês dois nem tentarem viver como

pais. Não fale sobre justiça.

Eu sei que tenho dezesseis anos e deveria ter superado isso, mas não.

Nunca disse que era perfeita.

— A vida não é simples, saberá quando for mais velha — disse —

Todos cometemos erros no passado, mas é tempo de repará-los. Você irá.

Está resolvido.

O pânico começa a me dominar e decido tomar o caminho pelo

sentimento da culpa.

— Vão me matar. A não ser que isso não seja a última coisa que

queira.

— Amy, pare o drama. Ele me prometeu que te manterá segura. Será

uma grande experiência.

Trato de falar por mais duas horas pra sair disso, realmente tento.

Deveria saber que tentar argumentar com minha mãe não ganharia nada,

tirando uma dor de garganta.

Decido ligar pra minha melhor amiga, Jessica. Procurando apoio e

compreensão de Jessica.

— Hey Amy, o que aconteceu? — responde uma voz alegre do outro

lado da linha. Você tem que amar o identificar de chamadas.

— Meus pais decidiram arruinar minha vida — digo.

— O que quer dizer com seus pais? Ron ligou?

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— Oh, sim, ele ligou. E de alguma maneira convenceu minha mãe a

cancelar meus planos de verão para poder me levar pra Israel. Posso

morrer?

— Hm, realmente não quer escutar minha opinião, Amy. Confia em

mim.

Franzo minhas sobrancelhas enquanto lentamente começo a

entender Jessica, minha mais querida amiga no mundo, não vai me apoiar

110%.

— É uma zona de guerra! — digo lentamente para que ela receba o

impacto.

É uma risada que escuto do outro lado da linha?

— Está brincando? — Jessica diz — Inferno, minha mãe vai à Tel

Aviv2 todo ano para fazer compras. Disse que eles têm os diamantes mais

caros que alguma vez já cortaram. Sabe aquele vestido preto que amo? Ela

comprou pra mim lá. Eles têm os melhores estilos europeus e...

— Necessito ajuda aqui, Jess, não dou a mínima para os diamantes e

as roupas — digo, cortando seu discurso de “Israel é tudo”. Deus!

— Sinto muito. Têm razão — diz.

— Nunca vê as notícias?

— Claro que Israel tem seus problemas. Mas meus pais dizem que

muito do que vemos na TV é propaganda. Simplesmente não vá a um ponto

de ônibus e lojas de café. Ron te manterá salva.

— Ah! — digo.

— Está brava comigo? — pergunta Jess. — Podia mentir e dizer que

sua vida está arruinada definitivamente. Isso faria se sentir melhor?

Jessica é a única pessoa que pode tirar sarro de mim e sair intacta.

2 Cidade de Israel.

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— Você apenas riu por um instante, Jess. Sabe que nunca poderia

ficar brava com você, é minha melhor amiga.

O que dizer da nossa relação de amizade, quando minha melhor

amiga não tem problema em me enviar para uma zona de guerra?

E, menos de vinte e quatro horas depois, estou sentada no aeroporto

esperando nosso vôo da El Al Israel Airlines iniciar o embarque.

Olho meu pai biológico, o homem quase inexistente na minha vida,

que está lendo o jornal. Ele tentou falar comigo no caminho até o aeroporto.

Eu o cortei, colocando meus fones e escutando meu iPod.

Como se sentisse que estou olhando-o, ele abaixa o jornal e olha para

mim. Seu cabelo é curto. É espesso e escuro, como o meu. Sei que se fosse

maior seria encaracolado, também. Tão difícil como é, desembaraçar meus

cabelos todas as manhãs. Não gosto do meu cabelo.

Os olhos da minha mãe são verdes, os meus são azuis. As pessoas

dizem que meus olhos são de um resplendor azul brilhante. Considero que

meus olhos são o meu melhor recurso. Infelizmente, o mais importante que

herdei da minha mãe foram peitos grandes. Além de mudar meu cabelo,

gostaria de ter peitos menores. Quando jogo tênis, eles ficam no caminho.

Alguma vez já tentou um revés a dois3 com peitos grandes? Eles seriamente

deveriam ter vantagens no tênis para pessoas com peitos grandes.

Quando for mais velha talvez consiga uma redução. Jessica me disse

uma vez que durante uma redução de mama, o médico corta e retira toda a

auréola.. Você sabe, essa parte rosada no meio do seio, e então, depois de

tirarem todo o excesso, eles a colocam de volta no lugar. Não creio que goste

de minhas partes rosadas separadas do restante.

Enquanto penso em auréolas separadas, me dou conta que Ron ainda

me olha. Olhando para a expressão do seu rosto provavelmente pensa que

estou chateada com ele. Provavelmente não posso explicar que estou

pensando em partes rosadas separadas.

3 Passe de jogo de tênis. É quando, por exemplo, um jogador segurando a raquete com a mão direita tem

que rebater uma bola ao seu lado esquerdo, tendo que posicionar a raquete em frente ao peito.

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De toda forma, ainda estou brava com ele por me trazer para esta

viagem estúpida em primeiro lugar. Graças a ele, tive que abandonar o

acampamento de tênis neste verão. O que significa que possivelmente não

estarei na equipe do colégio quando as audições começarem em outubro.

Totalmente quero participar da equipe do colégio.

Para piorar a situação, Mitch, meu namorado, nem sequer sabe que

fui embora. Ele foi acampar com seu pai por algumas semanas em umas

férias “livres de celulares”. Todavia, ainda é um relacionamento novo. Se não

estivermos juntos o resto do verão, ele poderá encontrar alguém que esteja

lá para ele.

Não sei por qual razão Ron quer que eu vá com ele. Eu nem gosto

dele. Provavelmente minha mãe me queria fora de casa para que ela pudesse

ter privacidade com seu último homem. Seu atual namorado, Marc com “c”,

acredita que é o único. Como se fosse. Não se dá conta de que uma vez que

ela encontrar alguém maior, ou melhor, ele estará fora do jogo?

— Vou ao banheiro — digo a Ron.

Realmente não tenho que ir, mas pego minha bolsa e caminho pelo

corredor. Quando saio da visão de Ron, pego meu telefone celular e continuo

andando. Mamãe me deu um telefone “só para emergências.”

Definitivamente sinto uma emergência chegando.

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Capítulo 2

Ficar dentro de um avião durante doze horas deveria ser

proibido.

Caminho pelo corredor e ligo para Jessica.

— Por favor, você tem que estar em casa. — Rezo enquanto vejo

através das janelas aviões parados no estacionamento. Normalmente não

rezo, não está na minha natureza. Porém tempos desesperados pedem

medidas desesperadas e eu sou flexível. Bem, às vezes.

— Amy?

Sinto-me melhor ao escutar sua voz.

— Sim, sou eu. Meu vôo está atrasado.

— Diga-me, você ainda está louca?

— Sim. Diga-me outra vez, porque eu não deveria estar preocupada?

— Amy, não vai ser tão ruim. Se houver algo que eu possa fazer...

É a hora de dizer a Jess meu plano. Acabo de pensar nisso.

— Tem uma coisa...

— O que é?

— Venha até o aeroporto. No Terminal Internacional. Eu estarei

escondida ali, hm, vem ao Air Ibéria. Espere-me ali.

— Então, o quê?

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— Depois de algum jeito conseguirei ir ao acampamento de tênis e..

Oh, não sei se Ron quer que eu seja uma filha perfeita, mas ele é o pai mais

horrível que alguma vez...

O celular é arrancando da minha mão, cortando o discurso de “pai de

merda”. O ladrão, é claro, não é outro a não ser o próprio pai de merda.

— Hey, me devolva ele! – digo.

— Olá. Quem é? – Ron grita no telefone como um comandante do

exército com um impedimento de fala.

Não posso ouvir Jessica. Espero que ela não fale para ele.

— Jessica, ela te ligará quando puder — diz, e em seguida desliga o

telefone.

Nem sequer me deu a oportunidade de ligar pra Mitch para que

saiba aonde fui no verão.

— Por quê? Por que quer estragar meu verão me levando pra Israel?

Ele guarda o telefone no bolso de trás da sua calça.

— Porque quero que conheça sua avó antes que seja tarde demais.

Por isso.

Assim, isso não tem nada a ver com Ron querer me conhecer e

passar algum tempo comigo. Não, de agora em diante, quero que seja o pai

que sempre deveria ter sido.

Não deveria estar desapontada, mas estou.

— Dirijam-se para o vôo 001 de El Al à Tel Aviv com escala em

Newark. — Uma voz com sotaque israelense continua falando através do alto

falante.

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— Os passageiros das fileiras trinta e cinco e quarenta e cinco

tenham seus cartões de embarque e passaportes para mostrar aos

funcionários, por favor.

— Te direi algo – diz Ron. — Devolverei o telefone se cooperar e

entrar no avião. Pode tentar? — Como se tivesse outra opção.

— Ok — digo e estendo minha mão. Pelo menos tenho minha

pequena conexão com a sabedoria e a independência.

Ele me entrega o telefone, e relutantemente, eu o sigo até o avião.

Ron e eu somos resignados para a fila sessenta, a última fila. Tenho um

minuto de felicidade, porque ninguém sentará atrás de mim, assim posso

descansar confortavelmente durante dozes horas até chegar a Tel Aviv. A

menos, é claro, que uma bomba seja plantada no avião ou terroristas nos

assaltem e nos matem antes que cheguemos à zona de guerra. Quando penso

em terroristas no avião, olho pra Ron.

— Ouvi falar que chefes da polícia aérea estão em todos os vôos da El

Al — digo e empurro minha mala embaixo do banco a minha frente. — É

verdade?

Não lembro de alguma vez ter começado uma conversa com Ron

antes, e ele parece aturdido. Olha ao redor para ver se estou falando com

outra pessoa antes de responder.

— El Al sempre tem chefes de polícia aéreos.

— Quantos? — Porque se houver apenas um chefe de polícia aéreo

contra cinco terroristas, a polícia aérea estará perdida.

— Muitos. Não se preocupe, a segurança da El Al é insuperável.

— Uh huh — digo não muito convencida. Quando olho à minha

esquerda, vejo um cara com uma sobrancelha levantada que parece muito

suspeito. O Sr. Apenas-uma-sobrancelha sorri para mim.

Seu sorriso desaparece quando percebe que Ron o está olhando.

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Depois de tantos anos com Ron agindo como uma figura de “apenas

aniversários”, sinto que não tem nenhum direito de dizer que é meu pai.

Quando era pequena e vinha para me levar para a minha saída de

aniversário anual, adorava o chão que ele pisava. Era como um super-herói

que concedia cada um dos meus desejos e me tratava como uma “princesa

por um dia”.

Porém quando me dei conta que um pai na realidade deveria estar

ali para você todos os dias, comecei a ressentir-me dele. No ano passado eu

realmente explodi com ele. Fugi de casa, deixando um bilhete pra minha mãe

avisando que tinha saído com amigos, e que voltaria à noite.

Minha mãe não é fácil. Ela descarta homens por esporte. Mas o que

eu sei de Ron, é que ele já foi uma vez comandante das Forças de Defesa

Israelense. Um comandante que foi covarde demais para lutar pelo

casamento com uma mulher que engravidou não vale muito no meu livro.

Eu não vou ser como minha mãe quando for mais velha. Não serei

como Ron tampouco.

Pouco depois aterrissamos em Newark para pegar mais passageiros.

Eu nunca havia comido sardinha, mas quando as pessoas começaram a

ocupar cada espaço vazio do avião, os pequenos peixes asquerosos vieram à

minha memória. Minha mente estava perturbada por ver quantas pessoas

entravam no avião para voar pra um lugar que está na lista de alerta aos

cidadãos americanos.

Enquanto decolamos, empurro aquele pequeno botão para reclinar

meu banco porque começo a ficar cansada. Percebo rapidamente que desde

que estamos na última fileira, os bancos não se reclinam. Bem, agora isto não

é engraçado. Este não é um vôo curto para Orlando. Este é um vôo de doze

horas para um lugar que não quero ir, em primeiro lugar, para encontrar

uma avó doente que eu nem sequer sabia de sua existência, em primeiro

lugar. (Estes são dois pontos, eu sei, mas neste momento da minha vida, tudo

o que me incomodava e estava em segundo lugar... especialmente agora,

tomou o primeiro lugar.)

Continuo tentando e forço o banco para reclinar-se pela quinta vez e

a pessoa na minha frente se reclina totalmente, agora praticamente só tenho

espaço para as minhas pernas, esse sentimento na boca do meu estômago

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me fez querer chorar. Eu não posso fazer nada. Odeio este avião, odeio

minha mãe por me obrigar a ter essa viagem estúpida, e odeio Ron por quase

todo o resto.

Depois de algumas horas consigo me levantar para ir ao banheiro,

esta vez de verdade. Infelizmente, pelo menos uma centena de pessoas já

havia utilizado e o chão estava coberto de pedaços de papel higiênico. Além

do mais o chão está cheio de pequenas gotas. Será urina ou água? Meus

sapatos Dansko4 não estão acostumados a serem submetidos a tais abusos.

Volto ao meu lugar e, para minha surpresa, sou capaz de pegar no

sono mesmo que em posição vertical. O sonho é o momento de felicidade

pura. O capitão apaga as luzes e logo fecho meus olhos.

Alguém grita, e de repente sou acordada do país dos sonhos. Justo na

minha frente, praticamente na minha cara, está um judeu hassídico5. Você

sabe, um daqueles caras que vestem um chapéu preto e um casaco, cabelos

longos, bigode e costeletas no rosto quase chegando ao pescoço. Jessica (ela

é judia) me disse uma vez que são ultra, ultra religiosos e que tratam de

seguir as seiscentas, ou algo assim, regras de Deus. Custa-me muito seguir as

regras da minha mãe, pra não falar das seiscentas de Deus.

Demoro um minuto para perceber que seus olhos estão fechados e

que está orando. Porém ele não está orando no seu assento, está orando

praticamente à direita do meu assento. Se balança, com os olhos fechados, e

seu rosto está totalmente concentrado. Na verdade, quando meus olhos se

ajustam à escuridão, me dou conta de que todos os judeus hassídicos

reuniram-se na parte de trás do avião para orar.

Percebo, porém, que as orações de todos soam mais como uma

música mesclada com sussurros. Eles podem até não estar orando. Mas,

então, um dos homens, que acredito ser o líder, diz algumas palavras em voz

alta e todos respondem e seguem fazendo sua canção entre dentes. Sim,

estão orando.

Será que todos têm que fazer ao mesmo tempo?

4 Marca de sapato.

5 Membro do hassidismo, um movimento religioso ortodoxo e místico dentro do judaísmo.

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E o que são essas listras ao redor de suas mãos e braços ou aquele

quadro na frente?

Agora que olho com mais atenção, admiro esses homens por serem

tão dedicados a sua religião, orando ao invés de dormir. Não me entendam

mal, os admiro, mas não faria isso.

Olho Ron, dormindo profundamente. É um homem bonito, se você

gosta do tipo escuro, um tipo mediano. Embora para mim não seja. Minha

mãe é de pele clara com cabelos loiros e olhos verdes. Possivelmente estava

na sua fase “oposta” quando ela e meu pai se conheceram naquela fatídica

noite.

Pergunto-me se Ron desejava que eu não nascesse. Se ele tivesse

optado por ficar no dormitório do seu primo na Universidade de Illinois, ao

invés de seguir minha mãe para sua casa de irmandade há dezessete anos

atrás, então, não teria sido preso com uma garota que o incomodava.

Seus olhos se abrem de repente e me recosto no meu banco, fingindo

que estou tentando ver algo na televisão que está na minha frente sem os

fones de ouvido nas orelhas. Tenho algo de bom pra dizer do avião de El Al

Israel, eles têm telas de televisão integradas na parte de trás de cada

assento. Um milagre mesmo.

— Penso que gostará – diz Ron. — Mesmo que eu tenha vivido nos

Estados Unidos durante dezessete anos, Israel sempre será parte de mim.

— E... — digo.

— E sua avó vai querer ser parte de você também. Não a desaponte.

Viro-me e lhe dou minha famosa encarada, a qual meu lábio superior

se torce na quantidade certa.

— Deve estar brincando. Não desapontá-la. Eu não sabia que ela

existia até antes de ontem. E se eu me decepcionar? Se você não se esqueceu,

ela não foi uma avó amorosa.

Acredite, conheço pessoas que tem avós carinhosas. A avó de Jessica,

Pearl, gastou quatro anos tecendo uma manta. Quatro anos! E logo depois

começou a sofrer de artrite.

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Eu me pergunto o que a avó Pearl pensaria se soubesse que Jessica

perdeu sua virgindade com Michael Greenberg sob a manta que ela gastou

trabalhando quatro anos com os dedos tortos.

Ron suspira e volta à atenção a pequena tela de televisão pessoal.

Noto que não está usando os fones, também. Encosto-me. Há um largo

silêncio, acho que se eu olhar o encontrarei dormindo novamente.

— Como a chamo? — pergunto, sem deixar de olhar a tela na minha

frente.

— Ela gostará que a chame de Safta. Significa avó em hebraico.

— Safta — digo a mim mesma em voz baixa, vendo com o som da

palavra sai da minha boca. Olhando para o doador de esperma, me dou conta

que está assentindo com a cabeça. Levanta seu queixo e me dá um pequeno

sorriso, como se estivesse orgulhoso. Ugh!

Olhando para frente, coloco minha televisão pessoal no canal que

mostra quanto tempo falta para chegar a Israel. Quatro horas e cinqüenta e

cinco minutos.

Neste momento os judeus hassídicos já voltaram aos seus lugares.

Fecho novamente meus olhos, agradecendo que foram dormir. Antes que eu

perceba, a aeromoça diz algo em hebraico. Espero que a informação se

repita em inglês.

— Daqui a pouco estaremos aterrissando em Tel Aviv, por favor,

coloquem seus bancos em posição vertical.

Notícia de última hora, meu assento já tem estado em posição

vertical todo o vôo de doze horas!

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Capítulo 3

Não sou grosseira, apenas sou uma

adolescente com atitude.

A oficial de Imigração do aeroporto Bem Gurion em Tel Aviv

pergunta a Ron (que tem dupla nacionalidade: israelense e americana) quem sou.

— Minha filha — diz.

— Está registrada como cidadã israelense? — pergunta.

A mulher está brincando? Eu? Uma cidadã israelense? Embora

quando olhe para o rosto sério da oficial de Imigração, entre em pânico. Já

ouvi falar de casos de garotos americanos que são pegos nos países do

Oriente Médio e que não são permitidos voltarem. Não quero ser israelense.

Quero ir para casa, agora mesmo!

Dou a volta, andando em direção ao avião. Esperando que o capitão

me permita voltar... Irei dentro do avião, dentro de uma mala, dentro de uma

maldita mala que carrega animais. Só me tire daqui!

Quase estou na porta. A liberdade está na minha frente quando sinto

uma mão em meu ombro.

— Amy — diz o familiar tom melancólico da voz de Ron atrás de

mim.

Viro e o enfrento.

— Não vão me deixar voltar pra casa, certo? Você me sequestrou pra

este país que quer que eu seja uma cidadã. Oh, Deus. Eles fazem com que

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todos, inclusive garotas, sejam mandadas para o exército com dezoito anos,

certo? Escutei isso, não tente me enganar.

Sei que estou soando como uma louca de dezesseis anos agora

mesmo, minha voz está um oitava mais alta que o normal. Não posso evitar e

continuo falando.

— Vai me fazer ficar aqui e serei recrutada no exército, não?

Eu posso vê-los trocando as minhas Abercrombie & Fitch6 por

uniformes. Meu coração está batendo rápido e pequenas gotas de suor

começam a escorrer pelo meu rosto. Juro que não são lágrimas e sim gotas

de suor.

— Ron, para ser honesta, nem tenho certeza que seja sua filha.

Alguma vez fez um teste de paternidade? Porque vi uma foto de um cara com

quem minha mãe saiu na Universidade, que era quase igual a mim.

Ron mira o teto e solta um suspiro. Quando volta a me olhar, seus

olhos marrons estão mais escuros que o normal. Sua mandíbula se aperta

com firmeza.

— Não se preocupe Amy. Está fazendo uma cena.

— Amigo — digo duro, tentando controlar minha voz. Agora sou

como Angelina Jolie, na parte do filme onde ela chuta a bunda de todo

mundo que cruza com ela. — Nem sequer comecei a fazer uma cena.

Um soldado com uma metralhadora muito, muito grande caminha

entre as pessoas. Tem a cabeça quase raspada e posso dizer somente o

olhando que tem um dedo no gatilho. Fantástico, minha vida está acabada,

vou ser presa num país de terceiro mundo pelo resto dos meus dias... que

provavelmente estão contando desde agora.

— Mah carrah? — fala o soldado a Ron em hebraico. Soa mais como,

“Macarena” ou “Mata a Amy?” para mim.

— há’kok b’ seder — responde Ron.

6 Marca de roupas.

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Nunca pensei que lamentaria não saber hebraico. No colégio, peguei

espanhol.

Meu coração, no entanto está batendo acelerado quando pergunto:

— O que está dizendo? O que está acontecendo? — Tenho medo da

resposta, mas trato de ser valente para poder dizer aos Agentes do Serviço

Secreto toda a informação que obtiver antes de escapar. O Governo

Americano vai querer saber o que está acontecendo aqui, estou segura disso.

— Não é uma cidadã israelense — diz Ron. — E não será recrutada

em nenhum exército.

— Então, o que disse o soldado?

— Perguntou-me o que está errado e lhe disse que tudo estava bem.

Isso é tudo.

História provável, acredito. Porém volto ao encontro da senhora da

Imigração, sobretudo porque ele agarrou meu braço com força. Ele fala com

a mulher em hebraico desta vez, provavelmente para assegurar que eu não

entenda. Pelo que sabemos, está negociando um acordo para me vender

para ser escrava infantil. Às vezes me considero bastante atualizada sobre os

acontecimentos mundiais, na verdade nunca ouvi falar da escravidão infantil

israelense.

Pouco depois, a mulher pega meu passaporte (minha mãe havia

conseguido com propósitos de emergência havia um ano e a tonta aqui,

aceitou, pensando que ela estava secretamente planejando me levar à

Jamaica ou às Bahamas) e nos dirigimos à área de bagagens. Só temos que

caminhar doze passos antes de chegarmos lá.

— Venha, irei conseguir um carro — ordena Ron.

— Esperarei aqui — digo, por que quero que ele saiba que me recuso

a seguir as ordens dele.

Ele cruza seus braços sobre o peito.

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— Amy, com o drama que acaba de fazer ali atrás não vou interpretar

um pai que confia em você neste momento.

Estou sem saída, mas não posso resistir.

— Não tem sido bom interpretando um amoroso pai, tampouco. —

digo, as palavras passando pela minha língua como se alguém estivesse me

fazendo dizê-las. Que tipo de pai pode interpretar Ron? Você sabe, para que

eu possa reconhecer quando o vir.

Ron não se mostra muitas vezes irritado, mas mesmo com a pequena

quantidade de tempo que passei com ele, sei os sons que faz ou as mudanças

respiratórias quando algo está entalado na sua garganta.

— Não acredite que é velha demais para ser castigada, mocinha.

Tenho meu famoso ar depreciativo preparado.

— Uma pista, Papai Querido. Estar aqui com você já é castigo

suficiente.

Na maioria das vezes não sou tão grosseira, de verdade, não sou.

Porém meu ressentimento em relação à Ron e a insegurança a respeito do

seu amor paternal me fazem atuar como uma cadela. Eu nem sequer sou

consciente disso metade do tempo. Suponho que se sou grosseira com ele,

estou dando uma razão para não me amar.

Mudança no padrão respiratório.

— Espere. Aqui. Ou. Do. Contrário... — diz.

Ele vai embora, mas eu não posso ficar aqui. Olho o aeroporto e meus

olhos se concentram em uma das coisas que a maioria dos adolescentes não

consegue resistir: Uma máquina de Coca-Cola. (Insira música de Harpa aqui,

porque é isso que está tocando na minha cabeça).

Caminho no meio das pessoas como se estivesse em transe. Coca-

Colas geladas estão me chamando. — Amy, Amy, Amy. Sei que você está

irritada e quente. Amy, Amy, Amy. Sei que está suando como um porco

nojento. Amy, Amy, Amy. Resolverei seus problemas.

Page 22: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

22

Toco a máquina de Coca-Cola e imediatamente me tranquilizo. Estou

pronta pra colocar meu dinheiro na abertura e pela primeira vez em vinte e

quatro horas sinto um sorriso vindo. É reconfortante que até mesmo a Coca-

Cola está disponível no Oriente Médio. Logo, olho o preço. Meu vício de

Coca-Cola está a ponto de custar-me uma quantidade considerável de

dinheiro.

Minha boca se abre e dou um pequeno grito.

— Sete dólares e oito centavos?! Isso é um roubo!

— Esse preço é em shekels7 — diz uma mãe com acento israelense e

dois filhos pendurados nela. — Sete shekels e oito ah-goo-roat.

— Shekels? Ah goo-roat? — Não tenho shekels. E estou segura como

o inferno que não tenho ah-goo-roats. Ou cabras8 se foi isso que ela disse.

Tenho apenas dólares americanos, mas encontro um cartaz que

indica que um banco se encontra no aeroporto. Sigo o cartaz, andando

diretamente a ele. Ele é do outro extremo do terminal. Se me apressar, Ron

nem sequer notará que saí.

No entanto quando chego ao banco, há uma fila. Para piorar a

situação, o maior grupo de preguiçosos está na minha frente. Deveria

retornar para a área de bagagem, mas não quero perder meu lugar na fila. Se

somente essas pessoas fossem um pouco mais rápidas, teria meus shekels e

ah-goo-roats para minha Coca-Cola rapidamente.

Quando olho no relógio, me pergunto quantos minutos estou

esperando. Dez? Vinte? É tão fácil perder a noção do tempo. Finalmente, sou

a próxima. Pego minha nota de vinte dólares e entrego ao amigo banqueiro.

— Passaporte? — diz.

— Só quero trocar esse dinheiro — digo.

7 Dinheiro israelense.

8 Cabra em hebraico é “goats”. Por isso a confusão com o “ah-goo-roats”.

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23

— Sim, entendo. Preciso do seu número de passaporte para trocá-lo.

— Meu... Pai o tem. — digo. Ron pegou depois que não era mais

necessário para que não perdesse. — Não pode simplesmente dar-me

shekels sem ele?

— Não. Próximo — diz, enquanto devolve minha nota de vinte

dólares e olha atrás de mim para o próximo cliente.

Minha boca fica aberta. Perdi todo esse tempo por uma Coca-Cola e

mesmo assim não terei uma. Incrível.

Caminho de volta à área de bagagens e encontro Ron. Está falando

com dois soldados e quando me vê, minha primeira reação é correr na

direção contrária. Não fiz nada de errado. Sim, ele disse que esperasse, mas

juro que pensei que seria apenas um minuto.

Chame de intuição adolescente, mas de alguma maneira não penso

que Ron escutará minha explicação com uma mente aberta. Diz algo aos

soldados e logo caminha na minha direção, deliberadamente lento. Penso

que está demorando tanto porque é muito provável que esteja pensando nas

maneiras que pode me desmembrar e matar. Ensinam Desmembramento

101 na escola de comando?

Ron finalmente me alcança e preparo a mim mesma. Soa como “arrr”

e “yuh” saindo da sua boca, mas depois se volta dando alguns passos para a

esteira de bagagens pegando as nossas malas. Percebo que nossas malas são

as últimas que sobraram. Ele as pega e coloca num carrinho como se

pesassem dois quilos.

Minha mala estava acima do peso permitido. Sei disto porque ele

teve que pagar mais de cem dólares pelas malas extras para que subisse no

avião. Nota para mim mesma: Ron é muito forte.

Continuo olhando-o, esperando sua ira chegar. Acredite, sei que está

chegando. O que dá medo é que está demorando pra chegar. Um pai

previsível é bom. Por outro lado, um pai imprevisível é o pior pesadelo de

um adolescente.

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24

Agora Ron vai em direção à área marcada com “saída” empurrando o

carrinho com nossas malas. E eu, no entanto estou parada aqui, meus pés

plantados no chão deste aeroporto estranho. Justo agora percebo que meu

querido pai simplesmente me deixou pra trás.

Maldição.

Normalmente esperaria tanto quanto pudesse e o faria suar.

Deixaria-o pensar que nunca iria segui-lo. Porém quando olho os soldados

que agora estão andando na minha direção, viro as costas e ando em direção

à saída.

Adeus orgulho, olá Israel.

Page 25: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

25

Capítulo 4

Mudanças me dão coceiras.

Vejo Ron através dos carros parados. Ele nem ao menos está

preocupado comigo ou vendo se o estou seguindo. Paro na frente dele, mas

ele não reconhece minha presença.

Bufo com força.

Ele continua sem notar-me.

A mulher do departamento lhe entrega uma chave e fala algo em

hebraico. Ele lhe sorri, dizendo.

— Todah.9 — E começa a puxar o carrinho com nossas malas dentro.

— Desculpe-me ok? — digo. — Agora pare de me ignorar.

Ele se detém.

— Alguma vez te ocorreu que eu poderia estar preocupado com

você?

Podia mentir, mas que bem isso faria?

— Francamente, não — digo.

Ele passa as mãos pelo seu cabelo. Porque homens fazem isso

quando estão frustrados? Por acaso pensam que serão mais homens? Eu sei

por que as mulheres não fazem. Elas desarrumariam os cabelos que

9 Obrigado em hebraico.

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26

demoraram meia hora para arrumar, por isso. E também as mulheres não

têm pretensões de serem homens.

— Vamos — diz. — No momento que alcançarmos Moshav estará

escuro.

— Moshav? O que é um Moshav? Será que é shopping em hebraico?

Quero dizer, pelo que Jéssica me disse, as lojas de Israel têm as melhores

roupas da Europa. Esse vestido preto que tem é realmente lindo. Sei que

seria terrível sair para comprar com o doador de esperma, mas continuo

pensando em todas as roupas incríveis que podia trazer quando voltasse.

É engraçado, quando penso no shopping, esqueço as bombas

terroristas que poderiam estar lá.

À medida que passamos pela avenida em nosso Subaru10 alugado, é

fácil esquecer que esta é uma zona de guerra. Parece uma avenida no meio

do Novo México ou algo assim.

Quando chegamos à área de Tel Aviv, o caos no trânsito começou. Eu

olho pela janela os edifícios. Ron aponta para a direita.

— Essa é a torre Azrieli. É o edifício mais alto no Médio Oeste — diz

orgulhosamente.

Talvez seja bom ter um bom olho de boi11 sobre ele.

— Que ótimo alvo terrorista — murmuro, mas logo percebo que Ron

me olha de lado.

— Bem, isso é. — Espero que esteja bem protegido, porque 11/912

mudou todos os americanos que conheço. Eu olho para fora enquanto

passamos os edifícios de alta tecnologia com nomes de companhias

americanas neles.

— Israel não se parece com um país de terceiro mundo — digo.

10

Marca de carro. 11

Acho que ela quer dizer sobre aquela lâmpada no alto do prédio para sinalizar a altura do edifício. 12

Referindo-se ao ataque terrorista aos EUA em 11 de setembro de 2001.

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— Ela não é um país de terceiro mundo.

Ela? Israel é “ela”? Bom, ela é muito moderna. Na verdade, o tráfego

parece como se estivéssemos voltando para casa. Enquanto isso, dou-me

conta rapidamente que os israelenses precisam ir à escola por esse caminho

feio.

Todos estavam gritando pelas janelas e mostrando o dedo uns para

os outros. Eu grito quando uns grupos de pessoas que estão em scooters e

motocicletas entram no meio dos carros. Eles nem sequer estão andando na

linha; eles estão dirigindo sobre elas!

— Estamos neste carro há uma hora. Quando vamos chegar? — lhe

digo.

— Daqui uma hora ou algo assim.

— Não me respondeu. O que é um moshav? É um shopping ou algo

assim?

Ele ri e começo a achar que um moshav não é um shopping.

— Já escutou alguma vez sobre um kibutz? – me pergunta.

— Você se refere às comunidades onde vivem pessoas e

compartilham tudo? Escuta, se está me levando à uma dessas comunidades

saudáveis...

— Por que sempre faz isso?

— Isso o quê?

— Exagerar.

— Para sua informação, eu não exagero. Mamãe exagera,

especialmente quando trato de chegar em casa logo depois do meu toque de

recolher. Oh, sim, você não sabe disso porque não está lá — digo

sarcasticamente.

Silêncio.

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28

— Então, porque não vem viver comigo por um tempo? — Me

desafia.

Eu, viver com ele?

— Tem namorada? — pergunto. Quero que diga que não porque

tenho planos pra ele e minha mãe. E será mais fácil se não houver restrições.

— Não. Você tem namorado?

Ok, espere um segundo. Quando ele começou a fazer perguntas?

— Talvez.

— Amy, quando vai aprender a confiar em mim? Não sou seu

inimigo, você sabe.

— Então, me diga o que é um moshav.

— Um moshav é uma comunidade muito unida. É similar ao kibuts,

mas cada um possui seu território e propriedades. O dinheiro tampouco se

compartilha ou não.

Ainda soa como uma comunidade para mim.

— Espero que não fiquemos lá por muito tempo — digo. — Eu tenho

que tomar um banho de hotel e desfazer minhas malas. Tenho coisas nela

que provavelmente estão derretendo nesse calor.

— Não iremos ficar num hotel – diz.

Agora eu vou exagerar.

— O quê? — digo muito alto.

— Nós ficaremos com sua tia, tio, primos e Sofia. — Faz uma pausa.

Sei o que vê, eu sei. Porém não estou mentalmente preparada quando ele

acrescenta. — No moshav.

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29

— Vamos esclarecer as coisas Ron. Sou uma garota completamente

americana com sangue vermelho, branco e azul correndo pelas minhas veias.

Eu não fico em lugares chamados moshavs. A menos que tenha me inscrito

para as garotas Scouts(bandeirantes), o que eu nao fiz. Eu preciso de

serviços. Serviços! Sabe o que é isso?

— Sim. No entanto não espere muito de onde vamos. A última vez

que visitei, só uma família tinha eletricidade e era a minha.

Abro o porta-luvas do carro.

— O que está fazendo? — pergunta Ron.

— Buscando um mapa para assim saber que direção tomar quando

escapar do moshav — respondo.

Ele ri.

— Ha, Ha, engraçado, muito engraçado. Não acredito que parecerá

engraçado quando acordar um dia e se dar conta de que eu voltei à

civilização.

Ron me deu uns tapinhas no joelho.

— Estava brincando, Amy. Eles têm eletricidade.

Brincando? Ron estava brincando comigo?

— Sabia que era brincadeira. Acredita que sou tão crédula?

Ele não responde, mas sei que sabe a verdade pelo modo que sua

boca se move.

— Vai dar-me as chaves para que possa ir sozinha ao shopping?

— Me desculpe. Mas a idade para dirigir aqui é somente com dezoito.

— Quê?!

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30

— Eu te levarei aonde quiser. Não se preocupe. E também, se você se

perder não saberá como voltar.

Ótimo, penso comigo mesma. Perder soa como uma grande ideia.

Concordo e olho pela janela. De um lado do carro está o mar mediterrâneo e

no outro lado há montanhas com casas construídas ali. Se estivesse de

melhor humor talvez pensasse que essa paisagem era bonita, porém estou

irritada, cansada e minha bunda está dormente.

Começo a fazer meus exercícios de glúteos. Estava vendo um show

tarde da noite, há alguns anos atrás, quando uma estrela de ação, talvez

Seagal ou Antonio Banderas, estava falando como fazia exercícios de glúteos

quando estava em um carro. Apenas apertar, logo relaxar. Apertar. Relaxar.

Apertar. Relaxar. Estou “sentindo que queima”, mas logo depois de dez

minutos minhas nádegas começam a doer por estar apertando e relaxando,

assim deixo de fazer.

Por agora, damos uma distância do mar e tudo que nos cerca são

pequenas árvores enfileiradas.

— O que é isso? — pergunto.

— Oliveiras.

— Odeio oliveiras.

— Eu as amo.

Eu imagino.

— Espero que não seja desses cuspidores.

— Huh?

— Você sabe, essas pessoas que cospem as sementes na mesa na

frente de todos. É totalmente desagrádavel.

Ele não responde. Poderia apostar a roupa de baixo da mãe de Ron

que ele era um desses.

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31

— Gosta de que tipo de comida? — me pergunta — Estou seguro que

posso consegui-la.

— Sushi.

— Se refere ao peixe cru? – pergunta, fazendo uma careta.

— Sim.

Eu costumava odiar. Quando minha mãe me deu pra provar, tive

nauseas e cuspi. (Em um guardanapo, muito discretamente tenho que dizer,

bem diferente daqueles que cospem as sementes de azeitonas).

Minha mãe ama sushi. Eu acredito que é como o álcool. Quer vomitar

a primeira vez que experimenta, mas logo você cresce e gosta. É por isso que

dizem que há uma linha tênue entre o amor e o ódio. Agora não só gosto de

sushi, como o desejo. Ron definitivamente precisa ser apresentado ao sushi

com uma comedora profissional como eu.

Agora estamos dirigindo através das montanhas em uma estrada

com várias curvas e estou ficando tonta. A última vez que vi a civilização foi

há cerca de quinze minutos. Descemos um morro e paramos em uma estrada

que nos leva à outra. Eu li um cartaz com as palavras “Moshav Menora” em

inglês e outras palavras em hebraico.

Ron toma a estrada para Moshav Menora. Agora o local se parece

com a Suíça, com algumas montanhas cobertas de relva que nos cercam por

todos os lados. Ele para em uma parada de descanso cênica construída na

montanha.

— Isso é tudo? — pergunto.

Ele se vira para mim e tira a chave da ignição.

— Estes são os Altos de Golan, um lugar muito especial e bonito.

Vamos apreciar a vista.

— Tenho que fazer? — pergunto. — Tenho que ir ao banheiro.

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32

— Pode aguentar um pouco mais? Realmente preciso falar com você

antes que conheça a minha família.

Eu tinha que ouvi-lo. Abri o carro e saí. Caminhamos em silêncio até

a borda da montanha. Quando olho ao longo da borda, me lembro de uma

cena de cartão postal.

— Eles não sabem de você — Ron exclama.

Huh?

— Quem não sabe sobre mim?

— Minha mãe, meu irmão e sua esposa...

Uma pontada de dor se crava no meu peito como se o estivesse

atravessando. Meu coração começa a bater mais rápido e minha respiração

se torna pesada.

— Por quê? — sussurro, apenas pra que entenda as palavras.

— É complicado — diz, então olha pra longe de mim. — Você sabe,

quando fui para a América queria provar a todo mundo que tinha

conseguido. Você sabe, o sonho americano.

— E você não esperava que eu chegaria e arruinaria seu sonho —

falo.

— Conheci a sua mãe na primeira semana que estive nos EUA,

quando era um arrogante israelense que só queria passar um bom tempo.

Poucos meses depois eu descobri que ia ser pai.

Começo a andar para longe dele. O que queria de mim, um pedido de

desculpas por ter nascido?

— Te odeio — eu digo enquanto volto para o carro. Eu seco as

estúpidas lágrimas que estão no meu rosto.

— Amy, por favor. Apenas uma vez deixe-me explicar as coisas.

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— Basta abrir a porta. — Ouço o clique dentro do carro. Ele me olha

como se quisesse explicar mais coisas, mas não quero ouvi-lo.

— Vamos logo! — grito.

Ele entra no carro e dirige entre as montanhas. Pensei que estava

pronta pra conhecer a família de Ron, mas agora tudo o que quero fazer é

cavar um buraco.

Porque ele não só vai apresentar-me pra eles, como vai dizer pela

primeira vez que tem uma filha ilegítima.

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Capítulo 5

Se eu fechar meus olhos, a vida deixará de girar fora de

controle?

Chegamos à frente de uma porta e um cara com uma metralhadora

se aproxima do nosso carro. Nunca tinha visto uma metralhadora antes e

tremo cada vez que penso para quê serve.

Ron diz algo em hebraico. O homem sorri e acena para que abramos

a porta. Dirigimos por uma estrada de terra no meio da montanha e

passamos por seis fileiras de casas. Há entre sete a dez casas por estrada em

ambos os lados. Ron vai para uma delas e se detém em frente a uma casa.

— Não entrarei até que você diga quem sou — digo.

Penso que irá discutir e me preparo para uma briga. Porém Ron

simplesmente diz:

— Ok.

Passado o estado de choque fico parada. O observo entrando na

pequena casa térrea.

As janelas do carro estão abertas, mas não há brisa. Não está apenas

quente, eu acho que o próprio diabo deve ter vivido nessa montanha, porque

o suor escorre pelo meu rosto, pescoço e peito. Minha camiseta da

Abercombrie & Fitch tem marcas repugnantes de suor.

Como pode essas pessoas suportarem esse calor? Eu olho para

minha unha antes de roê-la.

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35

O que Ron está falando? Estará suando tanto como eu? Espero que

sim.

Saio do carro e me apoio contra ele, tentando ouvir a repreensão que

Safta deveria estar dando em Ron. O cara vai conseguir. Se eu fosse Safta lhe

rasgaria em dois por negar, bem, a mim. No entanto eu não o ouvi gritar. Na

verdade, você não ouve quase nada vindo daquela casa.

Em seu lugar, algo golpeia meu braço. Com força.

— Hey! — grito me assustando.

Não sou estúpida. Sei que não é uma bala. Não que ficaria

surpreendida se a família de Ron decidisse “acabar” com sua filha ilegítima

uma vez que escutassem a verdade.

Logo que acabo de pensar nisso, olho para baixo e vejo o objeto de

ofensa.

Uma bola de futebol.

— Tizreki le’kan.13 — Uma voz fala atrás do carro. Como se eu

pudesse entender. Contudo eu não posso, assim o ignoro. Além disso, eu já

sinto uma contusão formando-se no meu braço.

O som de passos correndo ressoa antes que esteja cara a cara com

um garoto israelense da minha idade.

— Shalom14 — diz ele.

Ele usa jeans, está com uma camiseta branca rasgada e empoeirada e

usa sandálias gregas. Porém isso não é a pior parte. O garoto usa meias

brancas com sandálias. Meias com sandálias! Vendo que me faria rir, olho

para o seu rosto em vez dos seus pés. Não queria insultá-lo.

— Olá — digo.

13

“Jogue desta forma” em hebraico. 14

Oi em hebraico.

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36

Fala inglês? Não sei, por que está aqui em silêncio.

Dois garotos chegam correndo em nossa direção. Um começa a falar

com esse garoto em hebraico, mas fica em silêncio quando me percebe.

— Eu, Estados Unidos — digo devagar e em voz alta como se

estivesse falando com um chimpanzé. Estou esperando por um milagre pra

que ele me entenda.

Eles se olham com um olhar confuso nos seus rostos e me dou conta

que os próximos três meses vão ser como viver em uma bolha.

Uma bolha com pessoas que não entendem uma palavra do que

estou dizendo, à exceção do Doador de Esperma. Poderiam minhas férias de

verão estarem mais arruinadas?

O primeiro garoto dá um passo na minha direção. Seu cabelo é loiro

escuro e tem um áspero sorriso jovial. Eu sei, eu sei, áspero e jovial

realmente não combinam. Mas esse tipo é assim, acredite em mim.

— Fala inglês? — pergunta com um sotaque pesado.

Hein?

— Sim. E você?

— Sim. No entanto o que significa “Eu, Estados Unidos”?

— Nada. Só esqueça.

— É uma amiga dos outros, não? — pergunta.

Huh? É evidente que seu inglês não é bom. Estava perguntando se eu

sou uma amiga ou não? Tenho quase medo de dizer que não.

— Sim.

O segundo garoto se vira para mim.

— Como se chama?

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37

— Amy.

— Oi Amy, sou Doo-Doo – diz. Em seguida aponta para os outros

garotos. – E estes são Moron e O’Dead.

Agora, nunca tinha dito essas quatro palavras numa linha antes. Na

verdade eu não acho que alguém com menos de sessenta anos dissesse, mas

saíram da minha boca automaticamente.

— Você quer pedir desculpas? — digo. Meus olhos se estreitam como

se isso limpasse meus ouvidos para poder ouvir melhor.

Todos me olham como seu eu fosse a pessoa com problema. Tenho

esse desejo de rir. Contudo suprimo porque eles provavelmente não

entendem a brincadeira. O que na verdade torna tudo isso mais engraçado.

Bem, algumas partes da minha viagem serão realmente divertidas.

Entretanto minha surpresa acaba quando outro garoto se aproxima

de nós. Ele tem o cabelo castanho escuro que combina com seus olhos. É

alto, bronzeado, e não está com camisa. Os jeans modelam seus delgados

quadris, um tanquinho, e olhando pra ele, é o adolescente mais forte que já

vi alguma vez.

— Americayit15 — Moron, diz apontando.

O garoto sem camisa diz algumas coisas a Doo-Doo, Moron e O’Dead

em hebraico e me ignoram por completo. O que só demonstra uma das

minhas muitas teorias... Os garotos bonitos sempre são os mais idiotas. Pelo

menos os outros garotos sorriram e se apresentaram. Esse garoto sem

camisa só falou algumas palavras aos seus amigos e se afastou.

— Quanto tempo você ficará? — Moron pergunta, olhando as malas

no banco traseiro do carro. Por um fodido tempo, mais do que eu quero,

penso.

— O verão inteiro.

15

Americana em hebraico.

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38

— Vamos para a praia amanhã à noite. Quer se juntar a nós? — Doo-

Doo pergunta.

— Claro — digo.

Olho para a porta aberta e há uma multidão de quatro estranhos com

Ron de pé. Todos me olham fixamente. Como posso ter esquecido porque

estava aqui, em primeiro lugar?

Ron se aproxima de mim. Quero perguntar: — Como foi? — Contudo

não pergunto.

Então, agora me encontro caminhando por este caminho lamacento,

em direção a essa pequena casa que será minha residência durante os

próximos três meses. Como a cereja em cima do bolo da minha vida, vou

viver com membros de uma família que nunca havia conhecido antes e um

pai biológico que não conheço.

— Amy, este é meu irmão, Chaim.

Meu tio estende a mão e estendo a minha. É um tipo alto, com uma

semelhança clara com Ron. Ambos têm a mesma estrutura forte e

musculosa.

O homem ri, mas posso dizer que há tensão por trás dessa fachada.

Raiva também, só não sei se dirigida a mim ou ao DE(simplifiquei Doador de

Esperma, estou com muito calor e suando para pensar em algo mais do que

DE).

— Me chame de Dodor tio Chaim — diz ele.

Como se pudesse dizer este nome. A pronúncia de C-h é como se

estivesse a ponto de cortar o catarro. Juro que não posso fazer esses sons de

novo com a garganta na minha vida sem fazer de mim uma completa idiota.

Só irei chamá-lo de Tio Chaim e deixar de fora o barulho borbulhante de

volta na minha garganta.

A senhora ao lado de Tio Chaim dá um passo pra frente.

Surpreendentemente quando se aproxima e me abraça com força. Meu

primeiro instinto é empurrar os braços, mas seu abraço é tão cálido e

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amoroso. Me encontro apoiada em seus braços. Em seguida me libera após

um largo tempo, coloca suas mãos sobre meus ombros, e se sustenta com um

braço estendido.

— Garota bonita — diz com um profundo sotaque israelense.

Ela tem aqueles brincos parecendo sinos e nenhuma maquiagem no

rosto. Minha mãe não seria pega nem morta fora de casa sem maquiagem.

Ou com brincos parecendo sinos. A verdade é que esta mulher é bonita sem

maquiagem e os sinos só fazem seus olhar parecer angelical ao invés de

estúpido.

Ela me solta e diz com um sorriso.

— Eu sou sua tia Yikara. Só me chame de doda Yucky, de acordo?

— Okay — digo em uma voz cantante para alertar ao DE que não me

sinto confortável em chamar a esta mulher de Yucky.

— Doda é “tia” em hebraico. — DE explica como se isso fosse parte

deste intercâmbio conjunto que necessita explicação.

Há mais duas pessoas de pé ali. Uma delas é um menino pequeno,

provavelmente por volta de três anos, com cachos louros em espiral na sua

cabeça como se fosse as serpentes de Medusa. Estava usando nada mais que

um par de cuecas do Power Rangers.

— Shalom, ani Matam — diz com uma voz graciosa. Não tenho ideia

do que está falando, mas é tão adorável e seus cachos balançam enquanto

fala. Dou um passo e sacudo sua pequena mão carinhosamente.

A última, uma adolescente loira um pouco mais alta que eu, está ali

com os braços cruzados sobre o peito. Ela está usando a calça jeans mais

apertada que já vi alguma vez em um ser humano e uma camisa vintage que

mostra a maior parte da sua barriga lisa. Eu não preciso de um sexto

sentindo para saber que está claramente chateada.

— Esta é sua prima, O’snot.

Desta vez, meu riso sai sem aviso prévio. No entanto quando me dou

conta que ninguém mais ri, eu paro rapidamente. O’snot não está apenas

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chateada, ela obtém MINHA famosa piada “uma de um tipo” como se ela

mesma tivesse inventado.

Não ofereço minha mão em sinal de comprimento, porque estou

bastante segura de que minha prima ignorará. Assim que simplesmente

digo.

— Oi.

— Oi — diz ela entre dentes. Genial.

— Vamos entrar para que conheça sua SAFTA – diz Tio Chaim.

Consigo um pequeno pedaço de satisfação quando me dou conta que

as axilas de Ron estão úmidas através da camisa. Minhas axilas estão

molhadas do tamanho de uma toranja16, enquanto as de Ron são do tamanho

de melancias pequenas. Ele também é o que está mais nervoso por causa de

eu conhecer minha avó.

Ha!

16

É o cruzamento entre um pomelo e uma laranja. É igual uma laranja só que com o interior

avermelhado.

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Capítulo 6

Pode escapar de alguns problemas, mas logo encontrará

outros.

Entrei vagarosamente na casa. Uma cozinha está na minha frente.

Sigo Ron na direção esquerda quando encontro uma mulher sentada junto a

uma janela. Tem cabelos grisalhos.

Ela me olha com olhos azuis tão claros que quase brilham. Nossos

olhares se encontram e sinto que estou olhando meus próprios olhos em um

espelho. Estou tão emocionada que quase me sufoco. O ar está mais pesado?

Começo a respirar pesadamente, tratando de levar ar aos meus pulmões.

Minha avó.

Minha avó doente.

Parece pequena e fraca. Será que está morrendo?

Olho novamente para o resto da família, e me dou conta que todos

estão me olhando. Parece que estou sendo julgada em algum tipo de

programa de televisão pelo modo que me olham. A voz de um apresentador

animado está na minha cabeça, “Amy cometerá algum erro, arruinando o

primeiro encontro? Assistam na próxima semana o episódio de Filhos

Ilegítimos e descubra se a avó doente a aceitará ou negará na frente de

milhares de espectadores.

Antes mesmo de me dar conta, dou a volta e corro para fora da casa

para que ninguém note minhas lágrimas. Continuo correndo até minhas

pernas quererem parar. Passo em frente a uma fileira de casas, celeiros,

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cavalos, vacas e ovelhas como se estivesse em alguma fazenda produzida em

Hollywood.

Quando paro de correr e começo a andar, penso que Safta deve achar

que sou uma estúpida. Queria abraçá-la, de verdade, queria. No entanto não

em frente ao resto da família. Sentia que estavam analisando cada

movimento que fazia.

Continuo andando chateada com DE fazer meu primeiro encontro

com Safta um espetáculo. Uma pequena cerca me detém, e enquanto eu

tento passar por cima dela, uma voz me para.

— Não pode fazer isso.

Congelo e dou a volta para encontrar a áspera voz. É o garoto sem

camiseta de pé num palheiro de três andares. Uma camada de suor faz com

que seu peito brilhe no sol, mas eu tento não prestar atenção nisso. Em vez

disso, penso em algo repugnante. Como por exemplo que está fedendo a

ovelhas e suor e como necessita desesperadamente de um banho. Porém, se

esse for o caso, eu também preciso. Eu enxugo as lágrimas que caem pelo

meu rosto com meus dedos.

— Não é um país livre? — digo com atitude.

A última coisa que preciso é um adolescente detestável pensando

que eu sou fraca.

Ele se vira e lança um feixe de feno nos alimentadores das ovelhas.

— O letreiro diz que atrás da cerca há um campo minado. Se quiser

arriscar-se, não a deterei — diz o idiota-lindo-sem-camiseta quando entra no

curral de ovelhas.

A esse ponto, entretanto estou na borda da cerca. Diabos. Está é uma

zona de guerra. Olho meu pé do outro lado da cerca, me sentindo sortuda de

que não passei. Levanto meu pé lentamente e volto para o campo sem minas.

— Não sabe onde está, certo? — Pergunta bruscamente enquanto

pega outro feixe de feno.

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—Claro que sei — digo — Estou no topo de uma montanha no meio

de Israel. – Duh.

— Na verdade, está na parte norte de Israel, não no centro. Em Golan

Heights.

— E..?

— Americanos — sussurra, logo sacode lentamente a cabeça em

desgosto.

— Ok, o que tem de especial Golan Heights?

— Só digamos que a Síria está a dez quilômetros de distância – diz,

apontando. — Para uma garota judia, você não parece saber muito sobre a

terra judaica.

Sim, mas não sou judia. Não lhe digo isto, provavelmente tenha algo

para me dizer sobre o assunto. Fico encantada quando dá a volta e retorna

ao curral de ovelhas.

— Argh!

Pulo ao escutar um som perto dos meus pés. Um filhote de cachorro

peludo e cheio de sujeira, que eu acho que alguma vez já foi branco, está

abanando o rabo furiosamente contra mim. Uma vez que fazemos contato

visual, tenta pular deixando suas patas no ar.

— Sinto muito – digo ao animal — Não sou uma pessoa de cachorros.

Ache outro idiota que passe suas mãos por esse pêlo sujo e cheio de

pulgas e por sua barriga. Não sou uma pessoa de gatos, tampouco. Na

verdade, eu não gosto de nenhum animal específico. E estar rodeada por um

ambiente cheio de animais me dá coceira.

Começo a me afastar. Infelizmente o cachorro me persegue.

— Argh! – diz a coisa de novo.

Continuo andando.

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— Não sabe que os cães dizem “ruff”, não “argh”? – pergunto — Está

tentando ser um pirata?

O cachorro responde com outro “Argh”, esta vez mais forte que a

última, como se estivesse tratando de me chatear de propósito. Hey, depois

do dia que estou vivendo, não duvidaria.

— Ruff! Ruff! Ruff!

Pensaria que o cão está de verdade brincando comigo, certo? No

entanto quando dou a volta, profundos latidos me fazem dar conta que a

pequena praga tem amigos. Muitos amigos.

Em primeiro lugar, estava equivocada ao pensar que o cão estava

sujo. Estes cinco cães estão cobertos de lama e definitivamente mais sujos

que o cachorro praga. Também (em primeiro lugar) são muito, muito

grandes.

Estão correndo em direção a mim, latindo como se eu tivesse

sequestrado seu pequeno filhote.

Pânico não é a palavra para descrever como me sinto nesse

momento. Enquanto minha vida passa diante dos meus olhos, reviso minhas

duas opções rapidamente. Podia andar ao campo de minas ou pular dentro

do curral de ovelhas.

Não tenho tempo para perder, então só posso correr tão rápido

quanto minhas suadas, cansadas e sentidas pernas podem correr. Enquanto

corro, nem sequer estou ciente da opção que escolhi.

Corro mais e mais rápido, apenas posso notar os sons “argh” aos

meus pés e os incansáveis latidos não muito longe de mim. Só um pouco

mais, digo à minha mente nublada. Acredito que estou gritando e xingando

obscenidades, mas não estou muito segura porque estou muito ocupada

preocupando-me com o que minhas pernas estão fazendo e eu não posso ser

incomodada para me preocupar com a minha boca, também.

Parece ter passado muito tempo, assim quando alcanço o curral meu

ritmo não muda. O Sr. Haraldson, meu professor de educação física, estaria

muito orgulhoso do meu ritmo. Não estava certa de conseguir um prêmio

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presidencial em atividade física no ano passado, mas provavelmente estou

fazendo um recorde mundial de salto.

Realmente não estou prestando atenção pra onde estou indo, tudo

está nublado. E quando aterrisso, fecho meus olhos. Espero não ter

esmagado uma ovelha durante minha aterrissagem forçada.

No entanto ao invés de colidir com uma ovelha, algo duro e macio

aguenta minha queda.

Tenho medo de abrir os olhos, assim não posso ver, mas meu sentido

de olfato está intensificado. Eu sei, porque a essência de suor de um garoto

me rodeia. Não é um odor ruim, este odor almiscarado me faz querer inalar

mais profundamente.

Tudo bem, agora me dou conta do que estou fazendo, onde estou, e a

quem estou sentindo – como se fosse uma maldita pétala de rosa —

entretanto na realidade é só um garoto. Abro finalmente meus olhos.

Não me perguntem como terminei sobre este idiota-lindo-sem-

camiseta. Suas mãos estão ao meu redor. Para ser específica, uma delas está

nas minhas costas e a outra no meu quadril. Fico surpresa olhando para

estes olhos surpresos que poderiam colocar qualquer uma em transe.

Estou a ponto de levantar-me, quando escuto a voz de alguém

caminhando pelo gramado ao lado do curral de ovelhas. Olho para ver quem

é. Estou plenamente consciente de que a posição que estou se vê realmente

promíscua e provavelmente me colocará em muitos problemas.

Quando finalmente me separo dele, consigo ver quem presenciou

minha luta. Dou-me conta que é a última pessoa que quero ver.

O’snot.

Quando vejo seus lábios apertados numa linha fina e suas mãos

acusadoramente paradas no seu quadril chego à única conclusão que

consigo.

O idiota-lindo-sem-camiseta é namorado da minha prima O’snot.

Oh, merda.

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Capítulo 7

Eu nunca me acostumarei a ser humilhada.

— Eu juro Ron, não é minha culpa.

— Você tem falado muitas vezes essas palavras ultimamente, Amy –

diz. — Agora, me explique de novo por que fugiu antes de se encontrar com

Safta e logo em questão de quinze minutos, acaba em cima de um garoto. No

meio de um monte de feno, nada menos que isso.

Eu tiro um pouco da sujeira que está nas minhas unhas, enquanto o

Doador de Esperma está falando muito sério.

— De fato, tecnicamente caí sobre ele — digo, limpando uma parte

do meu cabelo que estava com barro. — Na verdade não recordo exatamente

como caí sobre ele.

Estamos sentados no gramado da frente da casa da minha

avó/tio/tia/primos. Ron faz essa coisa novamente de passar as mãos no

cabelo.

Há um silêncio interminável. Devo explicar o que aconteceu? Não

tenho medo de admitir que tenho o controle da minha vida.

Não me pergunte o porquê, eu só sei.

— Senti como se todos estivessem me observando e me analisando,

me cansei disso e fugi.

— Beijou o Avi?

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— Quem é Avi?

Ele me olha com aquela cara de você-deve-estar-brincando.

Levanto-me.

— Não! Por quê? A prima Snotty disse que eu o fiz? Escuta, havia

cachorros me perseguindo...

Olho para baixo, Mutt não tinha se dado conta que meus pés não são

seu pátio particular de diversão.

— Como este? – diz.

Sacudo para que saia da minha perna.

— Não. Sim. Bom, parecia com ele, mas eram bem maiores. E, então,

corri e caí em cima do namorado de Snotty.

— Seu nome é O.S.N.O.T. O’snot. É um nome bonito.

— Não sei de onde veio.

— Só... apenas lhe dê uma oportunidade. Não a julgue antes de

conhecê-la.

Eu realmente gostaria de argumentar, dizer ao DE que foi Snotty que

me odiou antes de conhecer-me, no entanto fico em silêncio. Agora mesmo

vou atribuir a minha falta de capacidade de argumentar à privação do sono,

porque normalmente estou pronta para uma boa guerra verbal.

— Ok — digo.

— E pare de chamá-la de Snotty.

Deus, você dá ao cara um pouco e como um aspirador ele quer

absorver toda a sujeira, não só os pequenos pedaços de pano.

— Ok. Onde está Safta? Estou pronta pra conhecê-la agora, já que

não tem mais expectadores.

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— Está descansando no seu quarto. Sem expectadores, eu prometo.

Este deveria ser o momento que eu ganho um abraço do DE.

Entretanto, me sentiria estranha porque não o abraço em anos. O DE se

levanta e eu o sigo pra dentro de casa. Uma vez que entramos, o cheiro de

pão recém saído do forno está em toda a cozinha fazendo com que meu

estômago ronque.

— Venha comer — Dodo Yucky diz. Ela perdeu um pouco do seu

caráter alegre. Será porque pensa que beijei o namorado de O.S.N.O.T?

— Obrigada, mas não estou com fome. – Estou muito nervosa pra

comer.

Ron me leva a uma pequena habitação de madeira na parte de trás

da casa, eu dou uma olhada através da porta.

Safta está deitada na sua cama. Quando me vê entrar, se senta.

Respiro fundo quando a porta se fecha atrás de mim. O quarto é pequeno, o

piso é como se fosse de telhas, e as paredes de cimento branco estão

marcadas. As cortinas foram fechadas, então estava um pouco escuro. No

entanto foi essa a maneira que eu queria, porque não quis que o mundo

ficasse olhando secretamente minha conversa.

— Oi, Safta. Sou Amy – digo. Minha voz se quebra enquanto digo e

me sinto um pouco tonta. Ela concorda com a cabeça e acaricia o espaço ao

lado dela na cama.

— Venha aqui, Amy. Sente ao meu lado.

Dou pequenos passos lentos até sua cama. Quando alcanço,

cuidadosamente me sento na beirada. Para minha surpresa, ela pega minha

mão entre as suas.

— Está realmente doente? – pergunto timidamente.

— Vou ficar bem. Você sabe que os médicos gostam de fazer um

grande alarde por nada.

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— Ron pensa que está muito doente — digo, e logo quero empurrar

essas palavras de volta para minha boca.

Ela nega com a cabeça.

— Necessitam examinar a cap do seu pai. Isto significa “cabeça” em

Yiddish. Imagine, manter distante de mim minha neta durante dezesseis

anos.

— Sim — falo, a apoiando. Imediatamente gosto da minha Safta.

— Como é sua mãe? — pergunta, mudando de assunto.

Como descrever minha mãe?

— Ela é bonita, para uma mãe – digo — E tem um trabalho onde

ganha bem. Não tem muitos amigos, por sempre estar trabalhando.

Estou observando como Safta recebe isto.

— E o que me diz de você?

— Vou bem na escola, acredite. O nome da minha melhor amiga é

Jessica... é judia — falo para fazer uma conexão com Safta em relação à

religião. — Gosto de jogar tênis, esqui, e ir às compras.

Assente com a cabeça.

— Vou gostar de conhecê-la Amy. Aparenta ser uma garota muito

enérgica e interessante.

— Devo adiantar que não tenho uma atitude muito positiva – digo

nervosa enquanto mordo meu lábio inferior. Quero dizer, a menina que

imagina irá sumir mais cedo ou mais tarde, assim tinha que mostrar

diretamente a ela.

— Talvez essa viagem sirva para mudar isso.

Duvido muito, mas não digo.

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— Acredito que sim – Apenas para fazê-la crer que esta viagem

poderia milagrosamente mudar minha visão da vida.

— Eu era como você na sua idade – diz.

— Como assim? Era ilegítima, também?

— Não – diz ela, segurando minha mão — Porém minha família

passou por momentos difíceis e não tivemos uma casa por alguns anos.

— Onde viveram?

— Na praia. Já faz muito tempo. A vida te surpreende quando menos

espera.

Essa informação ainda está em processamento no meu cérebro,

quando Safta me diz para ir relaxar e desfazer as malas. Eu sorrio como se

tivesse sido minha avó desde sempre. Não posso continuar culpando-a por

não estar para mim nos últimos dezesseis anos. A pobre mulher nem sequer

sabia da minha existência.

— Onde está minha mala? — pergunto a Ron depois da minha

conversa iluminadora com Safta.

— No quarto de O’snot – diz.

Talvez não tenha escutado bem. Ele não podia ter dito isso.

— Está brincando, não é?

— Existem poucos quartos aqui – explica o DE — Irá dormir no

quarto de O’snot. E eu ficarei no sofá.

— E onde fica o menino?

— Matan? Dorme em uma cama no quarto dos seus pais.

Estava a ponto de sugerir dormir no chão, mas vi três formigas no

azulejo. Asqueroso. E quando olho Doda Yucky, tem esse olhar patético no

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seu rosto como se ela fosse ganhar na loteria se meu medidor de felicidade

alcançasse certo nível.

Dou-lhe um pequeno sorriso e ao que parece funciona porque se

dirige à cozinha cantando uma canção alegre.

Agora falando sério, se há uma coisa que uma adolescente americana

necessita, é privacidade. Eu posso pedir a O’snot que saia do quarto? Sim, de

fato é seu quarto, assim, não creio. Graças a Deus eu não tenho uma gêmea.

Por exemplo, existem estas gêmeas na minha escola, Marlene e Darlene, elas

não só tem que compartilhar o mesmo quarto, como também o dividem com

sua irmã mais velha, Charlene. Não pergunte.

O DE me leva a um quarto na parte de trás da casa. Caminho pro

quarto enquanto Snotty está maquiando-se na sua cama. Ela sabia que

estava ali, mas fingiu, como se não tivesse me reconhecido.

O Doador de Esperma fica ao meu lado.

— Precisa de ajuda?

— Não, estou bem – respondo.

Ele toma isso como um sinal para sair. Gostaria que tivesse ficado.

Apenas para passar por essa barreira entre mim e Snotty.

— Olhe, sinto muito pelo seu namorado – digo.

Ela levanta a cabeça e me olha e eu vejo como está exagerada a

maquiagem nos seus olhos. É como se tivesse delineado seus olhos com

carvão e agora minha prima parece ter vinte anos ao invés de parecer uma

adolescente. Que idade têm, de todo modo? Poderia utilizar alguns conselhos

sobre aplicação de maquiagem.

Um dos clientes de mamãe é de uma empresa de cosméticos. De fato

me usaram em um dos lançamentos da sua linha para adolescentes. Aprendi

muito sobre como a maquiagem deve ressaltar suas melhores características

e não parecer Gloppy e escura (como Snotty). Depois que minha foto

apareceu na maioria das revistas para adolescentes, meu grupo me apelidou

de guru da maquiagem.

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Coloco minha mala na cama, supondo que é aquela que seria minha

pelos próximos três meses e escolho alguma roupa para trocar-me por algo

que não esteja coberto de barro e palha.

— Avi não é meu namorado.

Não estava segura se foi Snotty que falou, ou se minha imaginação

estava brincando comigo.

Encaro minha prima.

— O quê?

Ela olha com seus olhos de carvão na minha direção.

— Eu não tenho namorado.

Escolho um par de shorts curtos roxos iguais à cor da minha mala. A

palavra “CADELA” está escrita na parte da frente com grandes letras

brancas. Jessica me deu esses shorts em razão do meu aniversário como uma

brincadeira, junto com uma tornozeleira que não era uma brincadeira.

Nunca pensei que alguma vez os colocaria de novo, mas também nunca

pensei que estaria em um sítio em cima de uma montanha no meio de uma

zona de guerra.

No entanto, para ser honesta comigo mesma, Israel na realidade não

se parece como uma zona de guerra. Bom, exceto pelos guardas fortemente

armados no aeroporto e o campo de minas que eu quase pisei.

Olho para baixo, vendo meus shorts curtos. Acreditava que ninguém

aqui seria capaz de falar inglês, assim o levei. Estive tentada a oferecê-lo a

Snotty em vez de perguntar.

— Avi tem uma namorada?

Bem, me desculpe pela minha grosseria, acabei de “meter os pés pela

cabeça”. Não me importo se esse garoto tem uma namorada ou não, mas

aqui estou eu perguntando a Snotty sobre ele.

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Às vezes minha boca vai numa direção, a qual não tinha intenção de

ir.

O pior é que minha prima faz caso omisso da minha pergunta. Assim

mesmo que eu não tivesse intenção de fazer essa pergunta, estou mais

curiosa do que nunca pra saber a resposta. Porém nunca lhe daria a

satisfação de perguntar sobre Avi duas vezes. Ela havia inventado falsos

rumores sobre eu estar em cima de um garoto. Seria um porre se realmente

pensasse que me interessava se tinha namorada.

Coloco minha roupa sobre a cama, e penso no ÚNICO banheiro de

toda a casa. Estou tratando de não pensar sobre o que acontecerá nos

próximos três meses em uma casa com sete pessoas e apenas um banheiro.

Assustador, não? Em casa temos três banheiros... E só eu e minha mãe

vivemos ali (junto com Marc com “c” às vezes).

Tenho uma amiga, Emily. Ela está obcecada com o cheiro de TUDO.

Como quando você cheira a comida antes de colocá-la na boca. Eu odeio

almoçar com ela porque cada vez que escuto seus sons para comer, me irrito

extremamente. E eu não gosto de nada quando estou irritada, exceto talvez

Jessica. Ao entrar no banheiro, meu medidor indicava leituras baixas de

qualquer cheiro estranho que emanava do meu próprio corpo. Cara, Emily

terá um dia de campo comigo.

Estou TÃO ansiosa para conseguir ficar limpa. Se pensar no tempo

que passou desde que eu tomei um banho, dá pra ficar tonta. Fecho a porta

do banheiro e olho para a maçaneta buscando uma fechadura. O problema é

que não existe uma. Apenas um buraco, como se houvesse um buraco no

tempo.

Isso não é legal. Há sete pessoas que vivem nessa casa e não tem

fechadura na porta do banheiro. E a maldita porta tem uma rachadura onde

deveria estar a fechadura.

Tenho que ir para a cama rápido antes que este dia piore. Não queria

que existisse a visão de eu ficar nua, então fecho a cortina e tiro minha

roupa. Fico imaginando como ligar a água. Afortunadamente, um pouco de

água quente sai forte e rápido. Não posso deixar escapar um gemido da

minha boca. As duchas de água quente são as melhores. Estou tão cansada

que apenas suporto, assim rapidamente me lavo.

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Depois do banho vou em direção ao quarto, perguntando-me porque

não levei a muda de roupa comigo ao banheiro-que-não-fecha. Estou segura

que não quero me trocar na frente de Snotty. Enquanto penso em como

colocar meu pijama, envolvo uma toalha firmemente ao meu redor.

Não quero fazer contato visual com ela, porque quero evitar ter que

fazer gestos faciais alegres, como um sorriso. Não tinha nenhum gesto

positivo, pelo menos por hoje. De fato, todos meus gestos positivos amanhã

também estarão esgotados.

Então eu olho para o chão quando entro no quarto, fecho a porta e

vou diretamente para a mala. Sabia que Snotty se encontrava no quarto,

podia ouvir sua respiração. Pego uma camiseta e a roupa íntima da minha

bolsa. Não poderia voltar ao banheiro porque seria uma grande idiota por

estar envergonhada de me trocar na frente dela ou podia suportar e me

trocar aqui, de costas.

Deixo cair a toalha e coloco minha roupa íntima, depois os shorts

curtos que dizem “CADELA”. Quando pego minha camiseta branca, a porta

abre. Rapidamente cubro com minha camiseta meus grandes seios e me

preparo para gritar com o intruso. O intruso suponho que não seja outro

além do DE.

— Se importa? – digo. No entanto a pessoa que entra no quarto não é

DE. É Snotty. O que significa que tem alguém mais na sua cama. Viro minha

cabeça e encontro Avi sentado ali.

— Aaahhhh! – grito com toda a força dos meus pulmões.

Avi acaba de escutar um grande grito protagonizado sinceramente.

Desafortunadamente, meu grito apenas avisa o DE e o tio Chime, que entram

no quarto. Os olhos do DE vão de Avi pra mim, meio nua com meus shorts

que dizem “CADELA”.

— O que está acontecendo aqui? – grita DE, acusando-me com os

olhos.

Com certeza Avi me viu nua... minha bunda, meus seios, minhas

coxas, minhas celulites. Minha língua está em estado de choque, igual o resto

de mim. Mesmo se pudesse falar, não saberia o que dizer.

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Salvo que estou cheirando bem.

Olho Snotty, que tem um pequeno sorriso de satisfação no seu rosto.

Ela é uma ratazana, não há dúvidas sobre isso.

Tio Chime olha acusadoramente para Ron. Sei que não disse nada,

mas me sinto horrível, de verdade. Pelo canto dos meus olhos me dou conta

que Avi se levantou. Ele diz algo em hebraico para DE que não posso

entender.

Ron lhe responde com irritação.

Snotty começa a discutir com Ron.

Tio Chime está tão reto como um soldado, bloqueando a porta, com

as mãos na cintura. E eu só estou aqui em pé, meio nua. Empurro tio Chime e

corro para o banheiro. Depois de colocar a camiseta, ainda escuto as altas

conversas que vem do quarto de Snotty.

Sento na borda da banheira até que parem de discutir.

Se este é meu começo em Israel, tenho medo de descobrir o que

acontecerá nos próximos três meses aqui.

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Capítulo 8

Você pode atrair abelhas com mel, mas porque você gostaria de fazer isso?

A desculpa do fuso horário serve para enganar Doador de Esperma e

continuar sonhando no meu segundo dia em Israel, com o benefício adicional, consigo dormir quase o dia inteiro. Porém agora está bem tarde e já estou totalmente descansada.

Depois de comer alguma coisa, coloco minha roupa de corrida pego o

meu Ipod e vou pra fora. Enquanto subo a estrada, vejo Safta sentada numa cadeira à beira da montanha. Quando me vê, move as mãos para me cumprimentar.

Ando pelo caminho de terra e paro ao lado dela, olhando as

montanhas, o lago ao lado, e as montanhas ao longe, me fazendo perder o fôlego.

— Chicago é tão reta quanto... – Estou a ponto de dizer “Snotty”, mas

não digo. Ao invés falo outra coisa. — Não tem montanha onde vivo. Eu acho que é por isso que fazemos

arranha-céus, são como as montanhas de Chicago. — Nunca estive em Chigaco. – diz Safta.

— Bem, você tem que ir me visitar. Poderia te levar à Sears tower17.

Pode ver quatro estados do último andar. É totalmente genial. E tem também o Lago Michigan. É tão largo que não pode ver através dele.

Emociono-me só de pensar em dar um passeio com ela em Chicago

quando for me visitar. Ela vai amar o parque Millennium, onde pode ver várias pessoas e almoçar no parque justo no centro da cidade. Aposto que

17

É um arranha-céu localizado em Chicago, nos Estados Unidos, sendo o mais alto edifício da

América do Norte desde 1974, quando foi inaugurado.

http://www.eluniversal.com.mx/img/2009/07/Nue/torreSears.jpg

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gostaria do instituto de Arte de Chicago e o Museu de Ciência e Indústria. O museu tem exposições geniais. Minha favorita é do bebê morto.

Na verdade é chamado de exibição Neonatal, mas a chamo do que ela

é. É muito real, bebês mortos em todas as etapas, todos envolvidos em formol e outros líquidos. Têm por volta de trinta embriões e fetos que vão de uma semana de vida até nove meses. Ainda mais, mostram embriões de gêmeos idênticos. É a coisa mais genial que já vi.

Sim, isso seria adicionado à lista quando Safta me visitar. Eu olho, tentando aproveitar o momento. — Sinto como se pudesse olhar o país inteiro daqui. — No entanto,

logo penso sobre os shoppings que estão tão longe daqui – Mas aqui é tão longe de tudo.

— É uma garota da cidade, não? — Do começo ao fim. Dê-me uma bolsa Kate Spade e um jeans Lucky

e sou uma garota feliz. Ela ri, o som é suave e cálido no ar. — Amo estar aqui. Longe de ruídos, longe da multidão. É o lugar

mais perfeito em todo o mundo para uma mulher velha como eu. Também, na minha idade não preciso de uma bolsa Kate Spades e jeans Lucky.

— Estou segura que foi uma mãe quente quando era adolescente –

digo, e imediatamente desejo não ter falado estas estúpidas palavras. Falar com ela como se fosse uma das minhas amigas é algo estúpido de fazer.

— Me casei com seu avô quando tinha dezoito anos. — Foi amor à primeira vista?

— Não. Não, suportava nem olhá-lo. Até o dia em que me levou

flores.

Flores? É o truque mais velho do livro. — Então te levou algumas rosas e se apaixonou? É uma linda

história, só que algo chato. Safta segurou minhas mãos.

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— Não, motek me levou por toda a floresta e o pobre homem era

alérgico a pólen. — Wow. — Estaria vendida se um homem me levasse à minha

própria loja de Abercombrie&Fitch. Agora, isso deveria ser amor verdadeiro. Safta começou a ficar de pé, então agarrei seu cotovelo para ajudá-la.

Mesmo quando me disse que estava bem, tive um sentimento que não estou sabendo toda a história.

— Vou me deitar — me diz quando para — Vá e explore o moshav,

seu pai já deve estar chegando com a comida. Fico observando-a enquanto toma o caminho de casa. Respirando

fundo, me dirijo à entrada do moshav. É um sinuoso caminho para correr. Enquanto chego com segurança a casa, um garoto enfia a cabeça pra fora da janela.

— Vou correr — digo.

Ele assente com a cabeça e abre a porta. Quando começo a correr, o

ar fresco nos meus pulmões me dá energia. A vista das montanhas é como se tivesse saído de um filme, e a música nos meus ouvidos me lembram de casa. Eu estou no céu quando meus passos se sintonizam com a canção que estou escutando.

Se apenas Mitch pudesse me ver agora, correndo abaixo de uma

montanha. É um louco por natureza. Minha melhor amiga Jessica também é. Ela provavelmente estaria com inveja de mim.

Enquanto penso em Mitch e Jess, passo por uns sacos brancos. Depois de passar por eles me dou conta do que eram. Colmeias.

Que diabos estão fazendo as colmeias ao lado da estrada? Penso que estou segura, até ver que uma das abelhas está me

seguindo. — Vá embora — digo correndo mais rápido. A abelha me segue, e

está fazendo círculos ao meu redor. Eu paro tão quieta como posso, assim como os guardas de Londres

que ficam do lado de fora dos palácios, esperando que vá embora. No entanto ela não vai, isso só atrai outra abelha. E outra. E outra. Sinto como se

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o tempo tivesse parado, exceto porque meu Ipod segue tocando nos meus ouvidos.

— Socorro! — grito. Estou movendo minhas mãos como uma mulher

louca, tratando de manter as abelhas longe de mim. Desagradável, penso quando uma delas entra no meu cabelo.

Estou correndo.

Movendo minhas mãos.

E movendo minha cabeça.

Quando vejo um carro vindo pela estrada, estou esperando que seja

Ron. Porém como estou movendo minha cabeça de um lado para outro não consigo ver quem é. O carro me passa, então ouço o carro frear. Corro para onde o carro está, até que vejo quem sai do lado do condutor.

Avi.

A última pessoa do mundo que queria ver. — Entra — me diz abrindo a porta do passageiro. Tenho duas opções: entrar no carro com um idiota que me viu quase

nua ou ser picada por sete abelhas. Chame-me de louca, estúpida, mas eu escolho a opção número dois.

— Vai pro inferno — digo enquanto corro para baixo pela montanha. Mais ou menos depois de três quartos do caminho, as abelhas

finalmente me deixam só. Por algum milagre, consegui evitar ser picada. No entanto agora

estou presa no meio da montanha. E eu não quero voltar e passar pelas colmeias novamente. Tenho uma ideia brilhante. Vou esperar o Doador de Esperma. Safta disse que chegaria logo. Assim que espero. E espero.

Quarenta e cinco minutos e continuo esperando.

Juro que estas férias estão sendo um total desastre. Se estivesse em minha casa estaria jogando tênis e saindo com meus amigos. Demora uma hora antes que um carro passe na estrada. Reconheço que é Doo-Doo. Movo meus braços no ar como um desses tipos que controlam o tráfico, para fazê-

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lo parar. Há uma garota dentro do carro com ele. A garota coloca a cabeça pra fora da janela.

— Precisa de uma carona?

— Uh, sim.

— Entra. Doo-Doo me apresenta a garota enquanto entro no banco de trás.

Seu nome é Ofra, e também vive em Moshav. Inclino-me para trás e desfruto o ar condicionado do carro.

— O’Dead disse que você vai à praia com os outros esta noite — Ofra

se vira e me encara — É uma ocasião especial.

— Seu aniversário? – adivinho.

— Não. Moron vai para o exército.

Isso é algo que tenha que se comemorar? Ofra parece emocionada quando diz.

— Tem que levar algo seu para dar a ele, e logo oferecer um

conselho. É um ritual do Moshav. Ritual?

Creio que sou alérgica a rituais.

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Capítulo 9

Antes de falar, assegure-se de saber o que diz.

A praia que vamos é arenosa, e está rodeada por um lago que

segundo me disseram se chama Kineret. Somos sete essa noite: Ofra, Snotty, Avi, Moron, Doo-Doo, O’Dead e eu. Os garotos fizeram uma grande fogueira e estamos sentados ao redor dela.

Avi guia Moron para uma cadeira que está colocada na areia. Logo

tira uma camiseta do bolso com letras hebraicas escritas nela. Quando a mostra, todos riem. Exceto eu, claro, porque não tenho a mínima ideia do que está escrito na camiseta.

— O que diz? – pergunto a Ofra. — Onde é o banheiro? – fala. — Não sei – digo — Suponho que vai ter que esperar ou urinar na

areia. Todos riem ainda mais forte. E me dou conta que estão rindo de

mim. — O quê? — pergunto. Ofra me dá um tapa nas costas. — Não estava te perguntando aonde é o banheiro, estava te dizendo

o que é que diz a camiseta. Oh, Deus.

— Avi, fale em português para que a Amy possa entender — diz Ofra. Ele fica parado ali, totalmente intimidante.

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— Beseder18 — diz relutante — Meu amigo aqui presente, Moron, se

perdeu em muitas ocasiões. Seu senso de lugar é lendário, se não o pior. Assim com esta camiseta, pode não ser capaz de encontrar o caminho de casa, mas será capaz de encontrar o sheruteem mais próximo. — Então me olha e diz — Isso significa banheiro.

Todos riem e aplaudem.

— E meu conselho é.. Não flerte com nenhuma das instrutoras

femininas. Todas elas têm acesso a uma arma maior que a sua.

Isso entretém a todos. Assumo que Moron tem uma reputação por flertar com garotas. Depois que Avi se senta, Ofra e Snotty param na frente de Moron para dar um presente que está embrulhado. Ele o abre e segura um par de shorts tipo boxer na frente de todos. Na frente é todo branco, mas atrás tem um mapa de Israel desenhado.

— Desta maneira — diz Snotty — Quando se perder poderá

encontrar seu caminho de volta para casa. — Sim, mas ele precisará ficar nu para ver o mapa – diz Doo-Doo,

rindo.

Eu rio também. Imaginando Moron ocioso no meio do deserto, perdido, vestindo uma camiseta que diz Onde está o banheiro? Enquanto está nu da cintura pra baixo examinando o mapa na sua cueca, é bastante hilário.

Ofra se senta em uma das pernas de Moron e Snotty na outra.

— Nosso conselho é... Deixe-nos raspar sua cabeça ao invés de

alguém no exército fazer isso. Vejo Ofra tirando um barbeador do seu bolso. Moron sorri nervoso

para nós. Para ser honesta, tem um cabelo grande. É marrom arenoso, quase chegando aos seus ombros e é realmente fino. Permitirá que raspem?

Ofra liga o barbeador, logo Snotty se move e fica atrás dele.

— Tire a camiseta – sugere Doo-Doo. Moron tira a camiseta sobre a cabeça e logo levanta a cabeça.

18

Significa Ok em hebraico.

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— Sejam gentis comigo, garotas – brinca.

— Fique com as calças – brinca Ofra e todos, inclusive eu, riem. Snotty faz a primeira linha justa no meio da cabeça de Moron quando

ele fecha seus olhos. O’dead tira fotos quando Snotty termina com uma linha. Logo Ofra toma o barbeador e faz outra linha. Todos estão passando um bom momento. Até eu, tenho que admitir.

—Dê uma oportunidade a Amy – sugere Doo-Doo, logo me dá um

empurrão de animo. Nego com a cabeça.

— Não sou muito boa com barbeadores – digo. Especialmente não

sou bom com os elétricos.

Ofra e Snotty terminam de raspar a cabeça de Moron. Divertem-se fazendo desenhos em sua cabeça enquanto fazem o trabalho.

Depois de terminado, O’Dead se move pro lado de Moron.

— Temos sido amigos desde os três anos, e sei o quanto tem medo

do escuro. –O’Dead pega uma pequena lanterna. – Assim, agora, quando estiver no deserto Negev, não terá nada a temer.

— Exceto as serpentes venenosas — diz Doo-Doo, fazendo com que

todos riam novamente. — Contanto que sempre tenham mulheres na minha unidade — diz

Moron — Não precisarei de nenhuma luz, se é que me entende.

— O que nos leva ao meu presente — diz Doo-Doo, que logo tira um pequeno urso cor de rosa. — Isto é para você dormir com ele e abraçá-lo quando se sentir solitário à noite e necessitar alguém para abraçar.

— Nosso conselho é... Quando dormir armado, tenha certeza que a arma esteja travada.

Moron assente com a cabeça. — Bom conselho, garotos.

— Agora é a vez da Amy — diz Ofra.

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Olho para Snotty. A garota nem sequer me olha. Logo volto para Ofra. — Em frente — diz me oferecendo a mão para ficar de pé. Caminho nervosa até Moron, sustentando um pedaço de pano. — É uma bandana – explico — Com um signo de paz nela. Ele a pega da minha mão e observa.

— Todah, obrigado. — Disseram-me que deveria lhe dar um conselho – digo. Logo limpo

minha garganta. Todos estão me olhando, até Snotty. Sinto que estou suando. Nem fale de pressionada.

— Meu conselho é...

Juro que tinha algo para dizer, mas esqueci. Minha mente está em

branco. Merda. Olho para longe, onde o sol está refletindo na água. A primeira coisa que penso é o que falo.

— Não nade depois de comer.

Oh meu Deus. Não acredito que acabei de dizer isso. O garoto vai pro

deserto pra seu treinamento básico. Quais são as probabilidades de que irá nadar no deserto em pleno treinamento militar?

Meu conselho é recebido com silêncio.

— Isto foi muito... Profundo, Amy – diz Snotty, claramente brincando

com a minha cara. — Está brincando?

Se soubesse como voltar ao Moshav, iria agora mesmo. Porém, não

posso, assim me sento e trato de me esconder o melhor possível. — Bom, suponho que deveria dizer algo – diz Moron, colocando-se

de pé — Obrigado por essa festa, pelos presentes e os conselhos. A amizade de vocês significa muito para mim. Agora, se supõe que vocês têm que me jogar no Kineret, mas nem sequer tentem.

— Você tem que se molhar – diz Avi como se fosse um fato,

apontando para o lago.

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Doo-Doo e O’Dead estão prontos para enfrentar Avi enquanto ele

está perseguindo Moron pela praia. Assombro-me quando vejo que o alcançam e o jogam na água, salpicando muita água. Moron está completamente molhado, mas não está bravo. Eu estaria se meus amigos me jogassem, com roupa e tudo, dentro de um lago. No entanto ele ri junto com os outros.

Ofra oferece a mão para ajudar Moron a sair da água, mas ele pega

seu braço e a puxa para dentro também. Snotty se une ao grupo. Observo como envolve seus braços ao redor de Avi dentro do lago. Que seja. Estas pessoas não sabem que para nadar precisam de roupas de banho ao invés de roupa normal? Claro que não estou com inveja de que eles estejam na água, rindo e divertindo-se. Estou absolutamente feliz de estar aqui sozinha.

— Amy, venha com a gente — Moron me chama.

— Sim — diz Ofra — A água está ótima.

— Não, obrigada — digo.

A primeira a sair do lago é minha prima. Para em frente à fogueira, se

aquecendo. Trato de evitar contato visual, com medo de que minha boca me meta em problemas.

No entanto deveria tentar conhecê-la como disse Ron. Apesar de ter

sido rude, poderia não saber o quanto sou grandiosa e divertida. Suponho que não dei uma oportunidade de me conhecer. Tratei de tentar corrigir algumas coisas em primeiro lugar.

— Osnat, de verdade gostei de conhecer seus amigos — digo,

lembrando como Ron disse que pronunciava seu nome. Juro que mereço uma medalha por ser tão amável. Ela

provavelmente irá dizer que está encantada que tenha tentado criar laços entre nós. Provavelmente no final do verão, ela será a irmã que nunca tive. Meus pensamentos são afastados quando a vejo me olhando, balançando seu cabelo.

— Só se lembre Amy. São meus amigos, não seus.

E desta maneira volta a ser a mesma Snotty.

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Capítulo 10

Às vezes temos que demonstrar aos outros que somos

muito mais fortes do que na realidade.

Estou em Israel há três semanas até agora. Felizmente sou capaz de

evitar Snotty e Avi. Isso significa que estou passando muito tempo em casa

com Safta, que é muito boa comigo.

Ela me contou histórias sobre quando era criança aqui em Israel e

sobre meu avô, que morreu antes que eu nascesse. Também me disse que

seus pais escaparam da Alemanha durante Segunda Guerra Mundial.

Aprender sobre minha extensa família tem aberto meus olhos pra outro

mundo.

No entanto, enquanto eu acordo uma manhã, Ron me diz

alegremente.

— Acorde e brilhe dorminhoca! — Só quero voltar a dormir.

Que hora é, de todo modo?

As palavras do DE giram ao redor da minha cabeça como uma

daquelas abelhas que não queriam me deixar sozinha. Olho de relance pro

meu relógio.

— Seis e meia! — digo com uma voz vacilante. — Por favor, tem que

haver uma boa razão para que esteja me acordando antes que o brilho do sol

atravesse a janela.

Agora, sei que estou de mau humor, mas não sou uma madrugadora.

Nunca fui, nunca serei. Na minha opinião, seis e meia da manhã nem pode

ser considerado manhã, acredito que continua sendo o meio da noite.

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— Amy, temos estado aqui há algum tempo e te deixei sozinha. Se

continuar dormindo todo o dia, nunca superará o fuso horário. Além do que,

existe trabalho para fazer por aqui e todos trabalham. Quero que ao menos

atue como minha filha e me ajude.

Sento-me e digo.

— Escute, ainda estou cansada e de mau humor. Só volte hein,

digamos daqui a algumas horas e podemos discutir qualquer coisa que

deseje.

— Sempre está cansada e de mau humor, e precisa sair da cama para

que Yucky possa lavar os lençóis. Provavelmente tem algo crescendo sobre

eles.

— Muito engraçado.

— Prometi ajudar seu tio a vender algumas das ovelhas nestas

semanas. Depois disso quero te mostrar meu país.

— Sim, vamos fazer isso. Daqui a algumas semanas — digo apenas

para que me deixe em paz.

Deito de novo e coloco a coberta por cima da cabeça. Eu só preciso

dormir um pouco mais, não trabalhar durante minhas férias ou passear.

Deixo escapar um suspiro quando peço para que saia do quarto.

Olhando a cama de Snotty, vejo que está vazia. Provavelmente está na casa

de Avi.

Não que eu seja ciumenta, não sou. Apenas não sei por que ele é

amigo dela. Ela pode ser bonita, mas é má.

Ou apenas comigo seja má, o que me faz odiá-la ainda mais.

Fecho meus olhos e trato de pensar em coisas boas, como voltar para

casa.

Nada realmente me faria mais feliz agora. É disso que se trata ter

dezesseis anos? Se for assim, posso entender porque os adolescentes se

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expressam de muitas maneiras diferentes. Não é como se fôssemos

estúpidos, só estamos tratando de descobrir aonde pertencemos.

Eu? Não pareço encaixar em nenhum lugar esses dias. Sou como um

pino quadrado tentando me encaixar em uma sociedade redonda. Agora que

penso mais, não sou quadrada ou redonda. Mais como um octógono. E eu

não me encaixo em nenhum lugar agora. Eu pensei no que havia dito, mas

meu bonito e super-ditado mundo tem complicado tudo isso. Pergunto-me

como está Mitch sem mim. Será que sente saudades?

Durmo de novo, e quando acordo meu estômago grunhe, então vou

pra cozinha. Todo mundo já saiu e a casa está em completo silêncio.

Olho de relance pra Sofia, que está sentada em uma cadeira de

veludo lendo algum livro.

— Boker Tov, Amy — diz com uma voz solene enquanto abro a

geladeira procurando alguma coisa.

— Sinto muito — digo. — Não sei o que isso significa.

Finalmente aprendi que shalom significa três coisas: oi, adeus e paz.

Meu conhecimento de hebreu é patético, na melhor hipótese.

— Boker Tov significa “bom dia”.

— Oh. Boker Tov pra você também.

A avó parece estar tranquila esta manhã. Sentarei com ela e

conversarei enquanto tomamos café da manhã, talvez isso a anime. De fato,

vou preparar algo especial pra ela.

Enquanto pego um prato de frutas, tomo meu tempo e corto

pequenos pedaços de banana e melão com formas que a mãe de Jessica me

ensinou. Jessica chama essas coisas de delírios das pessoas sobre “prazeres

da multidão”. Um pouco de fruta picada em forma de uma cara de palhaço é

um deleite ao público definido.

Coloco o prato diante dela em uma mesa ao lado.

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— Todah — diz ela.

— De nada — Olho minha obra. — É uma cara de palhaço.

— Muito criativo. Gosta de cozinhar?

— Na verdade não. Gosto de comer. Vamos a todos os restaurantes

perto de casa.

— Seu pai não cozinha pra você?

Sei o que está pensando. Essa é uma grande oportunidade para eu

dizer a Sofia o que realmente acontece em casa. No entanto, quando olho

seus brilhantes olhos azuis de uma velha mulher, me sinto protetora com

ela. Por mais que gostaria que minha avó tivesse vergonha do Doador de

Esperma, não posso lhe dar um mal-estar.

— Bom, quando vai me ver faz uma grande lasanha — digo, minha

boca movendo-se sem que meu cérebro pense muito tempo nisso. — E sua

picatta de frango19 é de outro mundo. Até faz muffins de blueberry assados

para mim nas manhãs de domingo.

— Picatta de frango, huh? — diz.

Oh, merda. Ela está me olhando. Provavelmente deveria ter deixado

de lado os muffins ou deveria ter dito churrasco ao invés de Picatta.

Entretando continuo com minha história para o bem ou para o mal.

— Sim. Estou segura que se pedir te fará alguns – digo enquanto olho

meus pés e vejo que meu esmalte está descascado.

Ouço a porta abrir e Doda Yucky vem entrando pra dentro de casa.

— Amy, Safta começa seu tratamento de quimioterapia em uma hora

— diz. Ambas ajudamos minha avó a se levantar. — Todo mundo está com

as ovelhas — diz Doda Yucky. — Estão te esperando.

19

Piccata é um método de preparação de alimentos: a carne é cortada, empanadas, douradas, servidos

em um molho

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Sou lançada para uma terrível sensação de preocupação por Safta.

Quimioterapia? Oh, não... isso significa câncer.

— Posso ir com você? — pergunto. — Posso, se você quiser.

Safta acaricia as costas da minha mão suavemente.

— Não se preocupe, estarei bem. Vá com os jovens e desfrute de sua

estadia aqui. Não quer ficar dando voltas por um hospital durante o dia todo.

Está bem?

— Ok.

Quero ir com ela para assegurar que o médico saiba que ela é minha

Safta e necessita da melhor atenção possível. Sabem como ela é importante?

Doda Yucky sai com Safta pela porta e estou sozinha de novo.

Continuo evitando as ovelhas hoje. Ron quer me ajudar, mas por que me dá

um trabalho que não posso fazer?

Não quero lhe dar uma razão para se ressentir de sua filha. E se

ocorre o contrário, se é que presume a todos o quão ótima eu sou, não quero

que a verdade apareça, que sou tudo, menos perfeita.

Na verdade, apesar de que tenhamos problemas importantes para

superar, quero que se orgulhe de mim. Sei que é uma ideia boba, mas é

verdade.

Passo a hora seguinte reorganizando meu lado do armário. Meu olho

vê a pouca roupa do outro lado. Seguramente Snotty gosta de mostrar muita

pele.

Caminho para fora sem saber que um filhote de cachorro me

esperava na porta. Genial, o único que gosta de mim aqui é um cachorro.

— Arg!

— Estúpido Mutt — murmuro.

— Arg!

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O ignoro, mas ele continua seguindo os meus pés. Meu estado de

ânimo aumenta um pouco quando o vejo na frente de casa, justo debaixo de

uma grande árvore, uma rede. Sento-me nela e coloco minhas mãos detrás

da minha cabeça como uma almofada.

— Arg!

Olho pelos buracos da rede e observo Mutt debaixo de mim.

— O que quer? — pergunto.

— Arg! Arg! Arg!

Grunho. Os cachorros não são meus. No entanto apenas para calá-lo,

abaixo a rede e me rendo ao aborrecimento. Volto para rede com a coisa em

meus braços. Tive que colocá-lo sobre mim porque podia cair através dos

buracos. Ele encontra um lugar cômodo em meu estômago e suspira

satisfeito.

Contra meu bom juízo, me encontro acariciando-o. Provavelmente

tem pulgas e outros insetos que vivem em seu corpo, mas é suave e

esponjoso, como um edredon.

— I-me!

Olho pra baixo e descubro uma cara angelical que sorri para mim. É

meu pequeno primo Matan. Ele não consegue dizer meu nome e me chama

de “I-me”. Acredito que é lindo, assim não o corrijo.

Mutt sai do meu colo e me sento. Vejo que Matan recolheu flores, e

são para mim. Meu coração gelado começa a derreter-se e as flores silvestres

que me dá são de cores amarela, púrpura e branco(ou ervas daninhas,

mesmo assim fico olhando).

Seu sorriso se amplia quando pego as flores, as cheiro, e digo.

— Mmmm.

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É surpreendente o pouco esforço que se necessita para fazer um

garoto feliz. Por desgraça, todos crescem e se convertem em cínicos

adolescentes de dezesseis anos, como eu.

Levanto Matan e o coloco ao meu lado na rede. Ele ri quando nos

balançamos. Pego uma das flores e coloco no seu cabelo, ela se sobressai

sobre seus cabelos longos e encaracolados.

— Bonito — digo, rindo.

Eu sei que ele não entende uma palavra em inglês, mas ri de novo,

logo toma uma flor das minhas mãos e coloca no meu cabelo. Ficamos

fazendo isso durante uns dez minutos, até que nós dois estamos cheios de

coloridas flores silvestres em nossos cabelos.

Ele fala em hebreu pra mim e eu falo inglês de novo. Não importa

que nós dois não saibamos o que o outro está dizendo, estamos nos

divertindo. E diversão é universal em qualquer idioma.

Uma senhora que eu não tinha visto antes se aproxima e diz algo a

Matan. Ele salta da rede e corre de volta pra ela.

— Yucky o deixou comigo, mas ele queria te ver. Espero que esteja

tudo bem — diz.

— Está bem — digo. — O que significa o nome Matan em hebreu?

— Significa “presente” — explica antes de levá-lo.

Ele olha pra trás, corre até mim, e me dá um grande abraço.

— Shalow, I-me — diz, movendo seu cabelo.

— Shalow, Matan.

Quando olha para trás com o cabelo cheio de flores e acenando para

mim, me dou conta que acabo de fazer meu segundo amigo em Israel(Mutt é

o primeiro).

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Capítulo 11

Não confie em homens, humanos ou outra forma.

Entrando em casa, pego meu esmalte e o fico segurando. “Coton

Candy” é o nome da cor dele. É um brilhante e reluzente rosa que se destaca

na luz do sol. Acredito que será genial quando refletir na luz do sol.

Decido pintar minhas unhas do lado de fora, no sol, depois de acabar

com um esmalte velho. Sentada na frente de casa, abro o vidro. Sinto-me

melhor. Suponho que fazer algo que estou acostumada a fazer em casa me

ajuda.

Mutt se aproxima de mim e fica ao meu lado, usando-me como sua

árvore de sombra. Deixo, apenas porque me irritará de qualquer jeito. Pinto

as unhas dos pés até que escuto um som vindo de trás de Mutt que parece

surpreendentemente como um peido.

— Eww — digo.

Ele não se levanta, só me olha como se eu estivesse irritando ele.

— Escuta. Se for ficar ao redor de mim, há regras. Regra número um:

latir como um cão. Regra número dois: tomar um banho antes de aparecer

na minha frente. Regra número três: não quero um cachorro, então pode ir

atrás de quem perdeu você. Regras números quatro, cinco e seis: sem peidar.

Entendeu?

Mutt se move vagarosamente e vai. Eu disse algo ruim? Talvez

devesse brincar com ele mais tarde. Só pra não haver ressentimento.

Volto a pintar minhas unhas quando escuto alguém caminhar dentro

de casa. Eu olho e vejo que é Avi, o último garoto do universo que eu gostaria

de ver. E ele está me olhando.

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Molho o pincel no vidro de esmalte.

— O que está olhando? Você já me viu sem roupa — digo, tentando

não olhar na sua direção. É muito difícil, porque ele parece um modelo da

Abercrombie.

Entretanto, logo que recordo que me viu seminua, quero-o longe da

minha linha de visão. Não posso andar porque minhas unhas dos pés ainda

não estão secas e não quero borrá-las. De todo modo, por que tenho que ser

eu a ir embora?

Mutt decide voltar nesse momento. Espero que venha em minha

direção, mas vai para perto de Avi.

Traidor.

— Não tocaria nessa coisa — digo. — Está mais sujo que meu tio

Bob.

Tio Bob trabalha numa fábrica. Se limpa bem, mas não importa

quantas vezes lave as mãos, sempre estão pretas com sujeira debaixo das

unhas.

Avi se agacha e o cachorro traidor balança o rabo com tanto

entusiasmo que poderia pensar que é uma bandeira em um desfile. Logo, me

olha. Não o traidor, e sim Avi.

— Você não é de muita ajuda, não é verdade? — diz.

Nem sequer tento rir. Seu comentário me faz apertar os lábios.

— Que seja — digo.

Em seguida volto a aplicar uma segunda mão na unha dos pés.

Porém agora estou com tanta raiva do que Avi me disse que minha mão

começa a tremer e estou passando esmalte em toda a pele do dedo do pé.

Parece agora como se cada pincelada tivesse sido feito por uma criança de

dois anos.

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O cachorro começa a andar ao meu redor e enterra seu nariz úmido

debaixo da minha mão.

— Vai embora — digo.

Não me deixa, apenas fica na minha frente. Olho para Avi outra vez,

que continua olhando para mim. Por que está fazendo isso?

— Arg!

— Traidor — me queixo com os dentes apertados pra Mutt.

— Arg!

Se eu disser o que Mutt fez depois não vai acreditar. Começa a

balançar o rabo como se estivesse tratando de brincar comigo ou algo assim.

Quando não mordo a isca, pega meu sapato com os dentes e sai correndo.

Agora veja, não é um sapato. É meu primeiro e único par de sandálias

de Ferragamo20.

— Devolve-me — digo. — Tem uma ideia do quanto custa?

Tento agarrá-lo, mas o pequeno diabo começa a sacudi-lo como se

fosse um brinquedo mastigável.

— Para — digo, com um ruidoso tom de aviso.

No entanto ele não obedece. Começa a correr. Levanto-me, tentando

não arruinar minhas unhas dos pés no processo. Porém não adianta nada. À

medida que chego mais perto do cachorro, ele começa a ir na direção oposta.

Agora é guerra.

À maioria das vezes corro em um ritmo relativamente lento, mas isso

não quer dizer que não posso correr mais rápido de vez em quando. O único

problema é que meus seios movem-se pra cima e pra baixo quando corro

20

marca de um estilo de sandália

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rápido. Entretanto tento não pensar nisso. Estou concentrada em salvar

minha sandália de Ferragamo.

Mutt para ao lado de uma das casas e faço como se eu não estivesse

vendo ele. Escondo-me atrás de um limoeiro com os limões mais grandes

que já vi na vida. São tão grandes como a cabeça de um bebê.

Quando acredito que deve ter se esquecido que estou atrás da

árvore, o olho escondida. Seu rabo está no ar outra vez e começa a correr a

mil por hora. Está olhando diretamente para mim.

E minha sandália continua na sua sarnenta e babada boca.

— Deveria ser castrado — digo, e dou um passo para frente da

árvore. Talvez ele tenha um pouco de respeito por Ferragamo.

— Grrr.

— O quê? Não é “arg”? — Enquanto estou falando, continuo

escondida dele. — Deixa de abanar esse rabo para que eu possa ter onde

agarrar quanto te pegar Mutt sarnento.

— Grrr.

— Não tenha medo – continuo, cada vez mais perto. Estou quase o

alcançando. Grrr.

Minha concentração é unicamente na sandália até que dou um passo

e sinto algo pressionando contra a sola dos meus pés. Olho para baixo e me

dou conta que acabo de pisar em um pepino podre. Porém dando uma

segunda olhada, me dou conta que não é um pepino e sim uma COBRA

MORTA. É negra, mas parece verde florescente na luz do sol.

Nunca havia me sentido tão asquerosa como estou agora, correndo

em direção à casa de meus tios. Obscenidades completas saem da minha

boca. Tentando ser forte e não pensar nas tripas da serpente que deviam

estar entre os dedos dos meus pés, corro tão rápido quanto minhas pernas

permitem.

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— Man... — digo a Avi entre náuseas. Por favor Deus querido, me

deixe dizer mais uma palavra antes da próxima náusea. — Man... — Náusea.

— Mangueira! — Aponto para meus pés caso ele não estiver entendendo.

Escuto uma risada curta (atrás de mim) e o sigo até atrás da casa.

Quando vejo a mangueira, corro até ela tão rápido quanto os resquícios da

cobra no meu pé permitem.

Avi abre a água e rapidamente um jato de água é apontado aos meus

pés descalços. Pequenos pedaços negros de tripa fibrosa estão no meio dos

dedos dos meus pés. As unhas estão secas agora, com rastros de grama e

feno nelas permanentemente.

Todavia tenho náuseas, não posso evitar. Acho que se parar de olhar

meus pés, posso sair disso. Quando a água começa a sair da mangueira, a

pego e molho meus pés. Meu olhar vai em direção a Avi.

— Obrigada por tudo que está fazendo pra ajudar com minha

sandália — digo sarcasticamente.

— Obrigado por tudo que está fazendo pra ajudar com os rebanhos

— diz.

— É rebanho, não rebanhos. Não importa se é uma ovelha ou mil,

continua sendo rebanho.

Avi caminha na minha direção e tira a mangueira das minhas mãos.

Vejo com olhos totalmente abertos como se ajoelha e levanta meu pé

descalço e o coloca em suas mãos. Então, mesmo que não acredite, lava meu

pé totalmente.

Estou a ponto de perder o equilíbrio. E não é porque quero que Avi

me sustente ou algo. Não gosto de bancar a donzela em perigo cada vez que

está perto de mim.

Estou aturdida porque o calor não tem piedade conosco e porque

machuquei a parte de trás depois que Mutt me roubou o Ferragamo. Tirando

tudo isso, o garoto que estou decidida a odiar tem um dos meus pés em suas

mãos.

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— Pode parar com as náuseas, qualquer coisa que tinha no seu pé

não existe mais.

— Era uma cobra!

Encolhe os ombros, como se não fosse muito importante.

— Alguma vez já pisou numa cobra?

— Normalmente olho por onde caminho.

Tiro de uma vez meu pé das suas mãos.

— Bom, onde vivo não existem cobras, mortas ou de outro modo.

Avi levanta-se, o que não é tão legal já que estava me sentindo

superior quando estava ajoelhado. Porém provavelmente tem cerca de

1,83m e quando baixa o olhar pra mim, me sinto pequena. Em vez de

responder, tira gentilmente uma flor do meu cabelo.

— Lindo – diz, girando o talo da flor em suas mãos.

— Hein? — esqueci que Matan colocou flores silvestres no meu

cabelo. Brancas, roxas, amarelas. Devo parecer como um pássaro.

— Teu pai quer que te diga que todos estão em minha casa comendo

o que chamamos de almoço. Se quiser ir, me siga.

Dou um passo ao seu lado enquanto está caminhando, e logo paro.

— Por que ele mesmo não me disse?

Avi me olha com desdenho.

— Também queria que me desculpasse por te olhar quando estava

se trocando na primeira noite que esteve aqui.

— Então?

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— Os israelenses não se desculpam por algo que não estão

arrependidos.

Agora de verdade estou ficando irritada.

— Não vai se desculpar?

Ele olha diretamente nos meus olhos.

— O que eu vi foi bonito e natural, assim qual a razão que deveria

dizer que sinto muito?

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80

Capítulo 12 Garotos são idiotas ou sem noção. Escolha.

— Ron, preciso ligar para casa. Meu celular não funciona. — Já estou

em Israel há quase seis semanas e preciso ligar para casa mais uma vez. Em

primeiro lugar, Mitch voltou de sua viagem de acampamento e preciso falar

com ele. Em segundo lugar, preciso ligar para mamãe e Jessica.

Ron está sentado no sofá vendo algum canal de notícias em hebraico.

O tio Chime está com ele, junto com Matan.

Matan está semi nu e vem estado assim durante a maior parte da

minha viagem até agora. Quem sou eu para levantar a questão de que seu

filho não está vestido, e que seu amiguinho está aparecendo pra que todo o

moshav veja? Poderiam se dar conta que não estamos vivendo em uma

colônia nudista.

— Acho que sua mãe iria sair da cidade — disse Ron, com seu rosto

ainda mirando a TV.

— Então, ligarei pra um amigo.

— Qual é o número? — diz, enquanto vai em direção ao telefone da

cozinha.

Obviamente, como em todo canto aqui, não existe privacidade.

Falo o número de Mitch e então ele me passa o telefone. Acabo me

aproximando do refrigerador, e me encosto ali pra falar.

— Olá — responde uma voz áspera.

— Mitch? — digo.

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81

— Sim?

— É Amy.

— Ahn?

— Você sabe, sua namorada – digo começando a me envergonhar.

— Hey, carinho. Lamento não ter ligado antes. Sabe que horas são?

— diz, sua voz, no entanto chega cortada.

— Estou em Israel, Mitch. E não, não sei que horas são em Chicago

porque estou praticamente do outro lado do mundo.

— Espera, acabei de me perder. Israel?

— Está dormindo ou me escutando? Porque aqui eu só posso fazer

uma chamada e escolhi você. É como uma prisão.

Ouço Mitch bocejar e posso dizer que está tratando de se sentar ao

invés de deitar na cama. Espero que agora preste alguma atenção ao que

estou dizendo.

— Mitch?

— Espera, tenho que mijar.

Tenho vontade de bater minha cabeça na parede.

— Não pode esperar?

— Não.

Estou tratando de disfarçar minha raiva na frente do restante da

família.

— Bom, pode se apressar um pouco? É uma ligação de longa

distancia, sabe?

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— Estou tentando, carinho.

Ao fundo ouço um barulho de urina golpear a água e Mitch deixa

escapar um satisfatório e longo suspiro. Não sei se deveria me sentir

estranha de que ele esteja suficientemente cômodo para que urine quando

está no telefone comigo, ou enojada.

— Terminou? — pergunto depois de escutar a descarga.

— Sim – diz. — Estou de volta ao meu quarto.

— Não lavou as mãos.

Quero dizer, se o ouvi urinar e apertar a descarga, definitivamente

teria que ter escutado lavar as mãos.

— Acabo de dizer que terminei. Se lavar as mãos tenho que baixar o

celular. Quer esperar?

— Suponho que não. Só lembre-se de lavá-las quando se livrar de

mim — digo. — E depois, desinfete seu telefone com um spray

antibacteriano.

— Deixo isso para você, diga as coisas como estão, Amy.

Por desgraça Snotty abre a porta e caminha pra dentro de casa com

Ofra. Avi, Doo-Doo, e Moron as seguem pra dentro. Ótimo. Que sorte a

minha. Agora tenho uma plateia maior para escutar a conversa com meu

namorado.

Olhando de relance vejo Avi me olhando com a mandíbula tensa. Não

tenho falado com ele desde que deliberadamente não se desculpou por me

olhar quase nua. Na realidade, acredito que estamos nos evitando. O que eu

considero uma boa ideia.

Volto-me para que eu fique cara a cara com a parede e digo com voz

mais baixa no telefone.

— Sabe que eu gosto de você, certo?

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83

— Merda — diz Mitch. — Acabo de bater o dedo do pé na tábua do

skate.

Não é a resposta que esperava.

— Está bem? — pergunto, tentando não perder a paciência.

— Acho que estou sangrando. Espera um minuto.

Fico me perguntando quanto custa um minuto numa chamada

Israel/EUA, e então começo a enrolar o cabo de telefone no meu dedo.

Enquanto espero é difícil não me virar e dar uma olhada no que

fazem os demais. Estão falando em hebraico em voz alta.

Não posso suportar mais. Dou uma olhada em Avi. Ele está vestindo

uma camiseta preta com algumas palavras em hebraico e jeans desgastados

com buracos em ambos os joelhos. Ele também está usando uma corrente de

prata em volta dos pulsos.

Agora, já vi garotos usando joias antes, e nunca imaginei que

realçava sua masculinidade, ao contrário. Porém Avi levava a pulseira como

se fosse um acessório másculo. Com certeza faz com que outros garotos

pareçam tontos por não ter uma pulseira de prata em volta do pulso.

Quando olho para cima, me sinto uma voyerista quando me dou

conta que estava o olhando de cima a baixo. Avi levanta a mão com a

pulseira, me dá um oi irônico.

Sinto que meu rosto começa a ficar vermelho e que meu sangue

começa a golpear com força na minha cabeça. Ele me viu o olhando. Quero

morrer agora, ainda mais quando Snotty se aproxima e lhe agarra a mão.

Essa mão que sustenta a mão de Snotty é a mesma que segurou meu pé

coberto de tripas de serpente há algumas semanas.

— Bem, voltei — diz Mitch. — Não há sangue, no entanto dói que é

uma merda.

Esqueci que ainda estava esperando, e que para ser honesta não

estava prestando atenção no que Mitch acabara de dizer. Voltando-me à

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parede, dou algumas risadas baixas. Avi está tentando se concentrar em

Snotty, mas eu sei com uma olhada que está escutando o final da minha

ligação.

— O que é tão engraçado? — pergunta Mitch. — Estou sentindo dor

aqui e tudo que pode faz é rir?

Já tentou alguma vez fingir aos demais que está passando por um

momento quando não está? É uma merda quando a outra pessoa não capta.

Necessito seguir no jogo, mas eu não posso lhe dizer por medo de ser

descoberta. Acompanhe-me no jogo Mitch.

— Não posso esperar pra ir ao acampamento com você — digo.

Deixemos que Snotty e todos eles se deem conta que tenho alguém

me esperando quando voltar pra casa. Por alguma razão, me sinto menos

perdedora por sair sozinha desde que cheguei aqui.

— O que está acontecendo com você? — Odeia acampar.

As risadas veem naturalmente, no entanto faço um trabalho bastante

decente fazendo-as soar como autênticas.

Embora agora meu namorado pense que sou estranha.

— O que acontecerá com nossas entradas para o concerto de

BoDeans em Ravinia no próximo fim de semana? — diz. — Gastei quatorze

dólares nos boletos, junto com os trinta extra que gastei nos boletos de

Renaissance Faire21. Você disse que iria comigo.

Afortunadamente o grupo se dirige pra fora, assim posso ser eu

mesma novamente.

Olho novamente na sala e observo uma coisa em formato de aranha

que está presa no teto.

21

Fertival Renascença é um encontro de fim de semana ao ar livre, geralmente realizada nos Estados

Unidos, aberto ao público e, normalmente de natureza comercial, que imita um período histórico para a diversão de seus convidados.

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— Sim, bem, isso foi antes que fosse obrigada a vir pra um país

infestado de cachorros roubadores de Ferragamos e aranhas voadoras.

— O quê?

— Esqueça. Gostaria de estar aí com você, de verdade.

Deus, espero que não peça a Roxanne Jeffries que vá com ele. É sua

vizinha e tem estado flertando com ele durante todo o ano. Até me disse que

ela se troca com as cortinas abertas.

— Olha, tenho uma ideia genial. Leve a Jessica. Ela não está fazendo

nada este verão, tirando trabalhar em um acampamento de dia para

meninos. Irá com você — E te vigiará pra mim.

— Não acha que seria estranho que fosse com sua melhor amiga?

— Não é como se fosse ser romântico ou algo assim.

Jessica nem sequer pensa que Mitch é lindo. Ela disse que ele lembra

um caniche empastelado22. Todo mundo tem direito a uma opinião. Mamãe

sempre disse: “As opiniões são como bundas, todo mundo tem uma e todo

mundo pensa que a do outro fede. — É correto.

— Suponho que posso chamá-la — diz finalmente.

— Diga que sinto saudades.

— Claro. Quando vai voltar?

Se puder manipular Ron, bem rápido.

— Antes que comecem as aulas, mas quem sabe. — Ambos

estudamos na Academia Chicago, uma escola preparatória privada.

Ele boceja.

— Divirta-se.

22

Como um cachorro felpudo amontoado

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Como se pudesse.

— Você também. Não sinta muitas saudades de mim.

Dou uma pequena risada antes de dizer.

— Adeus, Amy.

Parece que ouço o click de ligação caiu antes que eu pudesse

responder.

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Capítulo 13

Uma estrela é só uma estrela. O que significa?

São nove da manhã do dia seguinte e estou irritada, como de

costume. Tomo o café da manhã, quando estou prestes a comer novamente

vejo Safta sentada na sua cadeira. Snotty voltou tarde da noite ontem, com

todos os seus amigos rindo e fazendo barulho em plenas duas da manhã.

Odeio admitir, mas estou arrependida de ficar em casa. Com exceção de

Snotty e Avi, ficar com o grupo é divertido.

— Seu aba quer que vá ao curral das ovelhas. Está te esperando —

diz Safta.

— Não quero.

Sei que isso me faz parecer uma criança, mas por que entrar em

detalhes e feri-la?

— Ele sente sua falta.

O quê? Ele não sentiria minha falta mesmo que eu desaparecesse da

Terra.

— Não acredito — digo enquanto como um pedaço de comida com

homus23.

— Ele ama sua pátria, e quer compartilha-la com você.

Estou com a boca cheia de homus, mas deixo escapar.

23

pasta de grão de bico

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— Por que não volta a morar aqui se ama tanto esse lugar?

— Aposto que sabe a resposta dessa pergunta Amy. Ele continua

longe daqui por você. Você é a sua família. Seu futuro. Seu sangue. Onde você

estiver essa será sua casa.

Aproximo-me e fico ao seu lado enquanto escuto sua voz. É calmante,

e quando ela fala quase parece uma cantiga. Eu sou ruidosa. Minha mãe é

ruidosa. Eu falo alto.

Caminho pesadamente. Sou apenas uma pessoa ruidosa. No entanto

esta mulher mais velha é como algodão, tudo nela é suave e silencioso. Então

ela se inclina e tira algo do seu bolso.

— Abra sua mão Amy — diz.

A estendo. Vejo algo cair algo dentro dela e ela fechando suavemente

meus dedos sobre minha palma.

— O que é? — pergunto.

— Olhe.

Abro minha mão e vejo uma pequena estrela judia de diamantes e

ouro brilhando no centro dela. Está unida a uma corrente de ouro fino. A

estrela é menor que uma moeda, mas grande o suficiente pra que eu saiba o

que é, porém suficientemente pequena para ser quase... Particular.

Não sei o que dizer. Ser judia não é uma parte de mim. Mamãe não

acredita em religião então eu nunca tinha estado numa igreja a não ser pela

boda do meu primo. Tampouco fui a uma sinagoga, exceto para o bar

mitzvah de Jessica.

— Gostaria que ficasse — diz Safta. — É chamada Magen David, a

estrela de Davi.

Sério, eu quero. Não sei por que a quero, mas não posso. Não sou

judia e me sentiria como uma grande farsante se aceitasse. Quero dizer,

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nunca poderia usá-la ou algo assim. É que é tão brilhante e resplandecente, e

realmente significa algo para Safta.

— Não posso ficar — digo. Quando noto a decepção em seus olhos

que são uma réplica dos meus, continuo. — É muito bonito.

— Tem algo mais que quer dizer, não?

— Como sabe?

Paro e digo.

— Não sou judia.

Não posso vê-la. Se o faço, poderia ver que está brava porque uma

garota não-judia é sua neta. Não sei como se sentem os israelenses sobre os

não-judios. Por alguma razão não quero que fique brava comigo. Porque

gosto de Safta. Muito.

— Olha-me, minha querida Amy.

Eu? Querida? Levanto meus olhos e a olho diretamente.

Está sorrindo, as rugas ao redor de seus olhos fazem pregas

profundas enquanto pega minha mão na sua, a mesma que segura o colar

com a pequena estrela judia.

— Ser judia é mais algo de seu coração do que sua mente. Para

alguns ser judeu é seguir fielmente as leis e costumes de nossos

antepassados. Para outros é ser parte de uma comunidade. A religião é

muito pessoal. Sempre estarei ali para você se precisar. Pode escolher adotar

o judaísmo, ou decidir que não é necessário. Nada pode impor a religião em

você ou ela não será verdadeira.

Olhando para o colar na minha mão, digo.

— Então, posso ficar com ele? Só por um tempo. Devolverei,

prometo.

Ela acaricia minha cabeça.

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— Eu sempre me perguntava por que meu filho continuava longe de

Israel por tanto tempo, mas eu vejo a maneira que te olha. Ele quer te

proteger, evitar que seja ferida ou machucada enquanto tenta respeitar esse

fogo interior que possui. Esse fogo é genuíno e puro. Pegue o colar — diz,

enquanto afasta a mão. — Fique o tempo que quiser com ele.

Olhar esta mulher – que tem olhos parecidos com os meus e que diz

palavras que põem meu mundo ao contrário – perturba meu eu interior.

Aperto o colar em minha mão. Logo me viro e caminho até a geladeira

buscando um pouco de água. Embora ela esteja na frente do meu rosto

quando abro a porta, meus membros se sentem paralisados.

Fecho a geladeira e me volto a Safta enquanto caminho pra porta.

— Acho que vou dar um passeio — digo.

Dou mais uma olhada no colar antes de colocá-lo gentilmente no

bolso de trás da minha calça.

Encontro-me andando a caminho das ovelhas. Quando me aproximo

dos currais, o ladrão-sujo-de-Ferragamo se move na minha direção. Sua

cauda suja está se movendo furiosamente, ventilando suas partes de trás.

Recordo meus pés cheios de tripas de serpente, e caminho passando por ele

e o ignorando, fazendo caso omisso das suas tentativas patéticas de fazer as

pazes.

— Arg!

Olho para baixo pra ver a coisa.

— Arg para você. Onde está minha sandália?

— Arg! — Continua — Arg!

Ele vai para fora onde há uma área de colinas além dos currais, e

penso no quão afortunado é esse cachorro por ser livre e fazer o que quiser.

Mesmo roubando o sapato dos outros, não há repercussões.

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Caminho em direção aos currais, o som de gemidos de ovelhas e o

barulho das máquinas de tosar me levam a acreditar que estou na direção

correta. Vejo Ron, e vou na sua direção. Tento me convencer de que quanto

mais tempo fique por aqui, não há razão de que Ron pense que sou

incompetente e lamente que seja sua filha.

— Amy, carinho, por aqui!

Meus olhos vagam na direção da voz de Ron. Ele nunca me tinha

chamado de ‘carinho’ antes e isso me surpreende. De todo modo, que

significa isso? Carinho. É doce, mas também pegajoso e não deixa tuas mãos

facilmente. Molestamente doce. Essa sou eu? Não nesta vida.

Ele está se inclinando, e seus joelhos se fecham sobre uma ovelha

enquanto tosa seu pelo. Para as ovelhas não parece importante, mas pra

mim sim.

— Ron, isso é desumano.

Ele termina de passar a máquina de tosar através da pelagem da

ovelha enquanto os tufos caem ao seu lado. Por último libera ao pobre e

desnudo animal e me olha.

— Existe uma maneira melhor? – pergunta.

É então que me dou conta que Ron não é o único tosando ovelhas.

O’dead está ao lado de Ron, Doo-Doo ao lado de O’dead, Tio Chime ao lado de

Doo-Doo, e Avi ao lado do meu tio. Todos estão esgotados, posso dizer pela

forma que estão respirando com dificuldade e suas camisetas estão

molhadas por causa do suor. Não apenas nas suas axilas e peitos, suas

camisas inteiras estão empapadas de suor.

E todos estão me olhando, tirando O’dead. Ele está olhando Snotty do

outro lado do curral. Hmmm.

Os sons das máquinas de tosar param e sinto como se o mundo

também o fizesse. Penso em algo rápido pra dizer.

Algo vem a mim como um raio e deixo escapar.

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— Por que não as deixam com sua pelagem?

Duh. Isso parece tão simples que dou uma breve risada curta.

As risadas do meu lado direito me alertam de minha prima e Ofra.

Snotty está com uma camisa justa de cor escura, e sua maquiagem escura

está correndo por suas bochechas enquanto alimenta um cordeiro com uma

mamadeira. Nunca ouviu falar de rímel à prova d’água? Ou o termo de que

menos é mais?

— Estarão com muito calor durante os meses de verão — explica

Ron.

Sento-me numa das grades de metal e observo. Há cães no meio do

curral, comendo alguma coisa vermelha e pegajosa que está no chão. Meus

lábios tremulam.

— O que os cães estão comendo? – pergunto. Talvez eu não queira

saber, mas minha curiosidade leva a melhor.

— Uma das ovelhas teve um bebê esta manhã.

— Eles estão comendo um cordeiro?

— Não, a placenta. É muito nutritiva.

— Ewww! — digo.

Não deveria ter perguntado. Se não tivesse perguntado não saberia.

ASQUEROSO! Placenta de um bebê ovelha. Urg! Deixa de pensar nisso Amy,

deixa de pensar nisso.

No entanto quanto mais trato de deixar pensar nisso não posso tirar

os olhos. Bem parecido como nessas cenas de crimes sangrentos que

mostram na TV. Não quero vê-las, mas não posso evitar.

Pelo rabo de olho vejo Mutt entrando no recinto. Ele é

suficientemente pequeno pra passar debaixo das barras de metal. Quando

me olha, me aproximo dele.

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— NÃO coma placenta de ovelha — digo.

Ele assente, como se entendesse o que eu digo. Logo anda até a

placenta e começa a lambê-la, então pega uma parte da coisa pegajosa e

sangrenta em sua boca e tira de lá. Não posso olhar mais.

Se apenas Jessica estivesse aqui poderíamos rir pela situação

asquerosa. Mas ela não está.

Aproximo-me do lugar onde as ovelhas recém-nascidas estão. Um

cordeiro bebê tropeça em mim e o acaricio.

— Oi, carinho — digo.

Acho que é a primeira vez que sorrio desde que Matam colocou as

flores no meu cabelo.

— Não fique muito apegada, ele vai morrer logo.

Meu coração se funde e meu sorriso some tão rápido como apareceu.

Volto-me pra Snotty enquanto seguro o cordeiro bebê.

— O que? — digo.

— Temos que matá-los aos três meses de idade. Esse é um macho,

assim será o primeiro.

Olho nos olhos do recém-nascido pequeno e indefeso e o aproximo

de mim protetoramente.

Sou carnívora. Ver de tão perto e pessoalmente o animal que vou

comer me faz sentir dor de estômago. É tão lindo. Como sequer posso pensar

que o pobre será sacrificado? Talvez não corte os carboidratos depois de

tudo.

Matan vem andando em nossa direção com Doda Yucky detrás dele.

Está desnudo, como de costume. O engraçado é que estou me acostumando a

ver o garoto sem roupa que nem sequer me importo.

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Então ele entra no curral e corre ao redor dos cordeiros. Está

brilhando de alegria enquanto corre e trata de pegá-los.

Depois de um minuto os cordeiros começam a correr atrás dele. Mas

não é para brincar, me dou conta de que eles pensam que seu pequeno

‘passarinho’ é outro bico de mamadeira. Ele estava rindo e fugindo dos

cordeiros que estavam tentando obter leite de sua pequena coisa como se

fosse um jogo. Olhando ao redor, noto que Doda Yucky está rindo, assim

como o resto das pessoas que pararam de tosar as ovelhas.

Corro até Matan e levanto seu pequeno corpo desnudo para protegê-

lo dos cordeiros pervertidos.

Depois de levá-lo de volta em segurança, digo em voz alta pra que

qualquer um possa me escutar.

— Isso. Não. Está. Bem.

Matan não se importa, e mais ninguém também. Na verdade eles

estavam rindo. Doda Yucky conversa com tio Chime antes que ela e Matan

caminhem felizmente de volta pra casa. Graças a Deus.

As máquinas de tosar são ligadas de novo, e todos os homens exceto

Ron estão inclinados sobre as pobres ovelhas. Ele diz algo a tio Chime em

hebreu antes de vir em minha direção.

— Tenho um trabalho pra você — diz.

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Capítulo 14

A determinação e a habilidade fazem a metade do trabalho.

A estúpida da sorte faz a outra metade. O sigo ao outro extremo do curral, que felizmente está na sombra. — Quando terminarmos de barbear as ovelhas, traz o rebanho até

aqui. Olho aos finos e nus animais. Céus, pareciam tão gordos, acolhedores

e grandes com esse pelo suave, é incrível o quão vulneráveis e pequenos que se viam depois de serem tosquiados. Posso perceber como se sentem enquanto um calafrio corre pelos meus ossos.

Mas estou determinada a ajudar. Acredito. Não arruíne Amy. Meus

olhos procuram Snotty, que alimenta os bebês com garrafas de leite. Isso sim parece divertido. Porque eu estou levando as ovelhas sem pelo até um curral?

O que acontece se ficam rudes comigo? Pior, o que acontece se ficam

rudes entre elas? Ugh! — É capaz de fazê-lo? — Ron pergunta. — Claro — digo com mais convicção do que sinto. — Moleza—

adiciono. Se fizer isto, ele talvez fique orgulhoso de mim. O tio Chime deixa uma das ovelhas ir e esta corre. É um macho, me

certifico pelas coisas pendurada que tem entre suas pernas. E está me olhando fixamente desde o outro canto do curral.

— Vamos — lhe digo. Mas com todo o som ao redor posso apostar que não me escutou.

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A ovelha me olha com seus grandes e assustadores olhos cinza.

Pergunto-me se está me cobrando algo. Movo-me um passo mais próximo. Ela não se move.

— Vamos — lhe digo um pouco mais forte desta vez. Sinceramente espero que ninguém esteja me olhando, me aproximo

do animal outro passo mais. Ele afasta-se. — Por aqui tontinho — digo. O animal não quer me escutar. Maldição. Olho para Ron, mas

felizmente ele não está prestando atenção. Sou eu contra a ovelha. Mencionei que a coisa parecia mais

vulnerável e pequena depois de ser tosquiada? Pois retiro o que disse. Antes de me aproximar da ovelha barbeada, ameaçadora, com quatro patas e com umas coisas penduradas entre suas patas, vejo que outra ovelha se levanta e se aproxima da primeira. Agora tenho que lidar com duas.

Avi se levanta e vai em busca de outra ovelha peluda e gordinha para

ser tosquiada. Nisso, nossos olhos se encontram. Ainda não o perdoei pelo incidente com as tripas de serpente. É incrível que ele não pense em se desculpar por me ver tão nua como as ovelhas sem pelo. Um pouco irônico certo? Eu supliquei com os olhos, me ajuda.

Olhou-me com desprezo. Não nessa vida Amy. Está sozinha. Idiota,

não é que ele pronunciou essas palavras, mas sei que as estava pensando. Que apodreça. Dou mais outro passo para a ovelha. Talvez se

canalizar suas emoções, elas fariam o que eu quisesse. Meus olhos se abrem ao máximo e olho fixamente a ovelha maior intensamente. Entra no curral, lhe insisto com minha mente. Concentre-se Amy, digo a mim mesmo. Coloco meus dedos em minhas têmporas para canalizar meus pensamentos até a maldita criatura de quatro patas que me olha como se eu houvesse me tornado louca.

Sinto uma presença ao meu lado. Viro-me abruptamente e quase me

choco com Avi. A confusão em seu rosto, o cenho franzido e seus olhos cor de chocolate me dizem que ele pensa que sou purê de batatas (apenas no caso de que não está familiarizado com a expressão, significa que sou um humano sem cérebro).

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— Yah! — grita batendo seu pé contra o chão. Isto vem de um garoto que pensa que sou um purê de batatas.

Virei-me para a ovelha, que correu para o curral adjacente pelo

comando. Avi agora tem esse arrogante sorriso em seu rosto como se houvesse feito uma grande coisa.

— Aposto que seu namorado não pode fazer isso — disse. Como se atreve a mencionar Mitch nisso... Nisso... Nisso... — Aposto que ele nem sequer se daria ao trabalho — respondi. Pelo resto da tarde, copiei a técnica de bater-gritar que Avi me

ensinou e me converti em uma verdadeira pastora. Em um momento Ron disse. — Bom trabalho carinho. — Nunca saberá o quanto essas palavras

significaram para mim. Logo depois que os adultos abandonaram os currais pelo dia, olhei

os jovens juntarem-se sobre as pilhas de feno com mais de dois metros de altura.

Caminho perto deles até que Ofra grita. — Amy, vem aqui. — Snotty a olha, mas Ofra a ignora. — Não, obrigada — digo. Avi estava ali em cima, sentado como se houvesse nascido para estar

desta altura. — Ela teme subir até aqui — disse. — Tem muitas palavras, mas

pouca coragem. Incrível. Um minuto ele está tentando me ajudar e no outro está

sendo o maior idiota me insultando. Não faz mais nada para me fazer subir a amarelada e áspera palha.

Quando chego lá em cima, não sei aonde me sentar. Deixo meus pés

pendurados na borda do feno e dou um passo atrás. Todos os olhos estão sobre mim. Volto-me para Avi para lhe dar algo em que pensar.

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— Porque me odeia? — pergunto. Sei que não deveria jogar essa acusação em público, mas não pude

evitar. Preciso saber, preciso saber já. Avi não responde e todos estão olhando para qualquer parte longe

dele. — Não leve como pessoal — Doo-Doo disse. — Tem estado assim

por um tempo. — Por quê? — dirijo minha pergunta a Doo-Doo, mas continuo

olhando para Avi. Ninguém diz nada. A tensão está tão intensa como o sol batendo em

minhas costas. Avi joga umas palavras em hebreu e eu obviamente não entendo nada. Meu hebreu está limitado a aproximadamente cinco palavras. Ele sabe disso. Snotty sabe. Diabos, todos eles sabem.

O que me faz sentir como uma aranha-voadora olhando ao interior

de uma casa sem poder entrar. Não é uma aranha, nem uma mosca. Apenas uma mistura das duas.

Todos começam a discutir. Ao mesmo tempo. Muito forte. Soa como

se fosse um festival de catarro porque ao que parece cada palavra em hebreu tem esse som com “ch” saindo da garganta.

Seria genial saber o que estão falando. Estão discutindo porque Avi

me odeia? Parece que sim. Mas estão discutindo. É óbvio que Avi e Snotty me odeiam, estou encantada com os outros

garotos que são gentis. O´dead se aproxima mais de Snotty quando fala. Uma observação interessante que guardei para depois. Pergunto-me, o que tem ela que atrai todos os garotos? Todas poderiam ter excesso de maquiagem no rosto.

Levantei-me, pronta para descer desta pilha de feno. Sinto-me tão

incomodada ao redor de Avi e Snotty. — Quer acampar conosco? — Doo-Doo pergunta. Minhas sobrancelhas se levantaram. Antes de poder responder Avi

me interrompe. — Mah-pee-tome! — Avi disse a Doo-Doo.

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— Lama-low? — Doo-Doo responde a seu amigo. — Olá? Porque não falam inglês? — disse finalmente. — Não sabem

que é de má educação falar em particular enquanto estou de frente a vocês? Ofra cruza seus braços e assente. — Ela tem um ponto. Meus olhos pestanejam. Poderia beijar essa garota nos lábios por me

apoiar tanto. Embora eu não vou por esse lado. Mas se o fizesse a beijaria. Avi grunhiu. — Eu não acampo — digo. — Disse que iria com seu namorado. A escutei ao telefone — Avi me

desafia. Pensa rápido Amy. Ele te pegou. — Sim, bom, vou apenas com ele. Mitch tem sido parte dos

exploradores desde que tinha cinco anos ou algo assim. Snotty assovia. — Amy, você inventa coisas para tentar ficar bem. O que é real e o

que não é? Avi tem razão sobre você. Silencio. Até que sinto que minha paciência se quebra dentro de

mim. Sei que não deveria começar com a que compartilho o quarto. E sei

que não é o mais inteligente atacar minha prima na frente de uma audiência. Ela talvez não entenda o que direi por questões de idiomas. Mas não posso evitar, estou sobrecarregada de adrenalina correndo por meu cérebro.

Mesmo quando digo a mim mesma para manter minha boca fechada,

me escuto dizer: — Não se cansa de ser toda uma puta? Porque desde que te conheci

tem me tratado como um pedaço de merda. — Estou feito um pacote e minha boca trabalha além da conta. — Não te suporto, suas saias curtas,

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suas calças apertadas... Ou sua triste desculpa de peitos. Isso não pode ser real, certo?

Apontei com meu dedo para Avi. — E você, tudo o que tem a oferecer é uma má atitude e ser um peso

em meus ombros. Irei acampar, apenas para... Te incomodar! Se não gosta, não vá. Dessa maneira pode ser um Israelense com muitas palavras e pouca coragem.

— Você acredita que é valente? — Avi me desafia. — Maldito seja. Poderia lhe empurrar dessa pilha de feno sem

pensar duas vezes. Levanta-se, sua boca esconde um sorriso. — A desafio. Está bem, eu penso. Mas apenas por um momento. Depois o empurro

pelo peito com toda a força que tenho. Não se balança, o garoto é como uma rocha. Quando o escuto rir, me viro e salto a pilha de feno até estar em terra

firme. Não imaginam o sentimento de racionalidade que me oprimiu. Eu penso.

Não sei por que as lágrimas caem por minhas bochechas. Não sei por que incomodei as duas pessoas com as quais terei que

viver o mês seguinte. E estou tão certa como o inferno que não sei por que aceitei acampar

com ele no meio de uma zona de guerra com gente que me odeia. Deus estou em Israel, a Terra Sagrada. Onde você está?

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Capítulo 15

Quando tem pouco onde escolher, pega o que pode. Essa noite, depois da cena, estava vendo televisão com Doda Yucky

quando os amigos de Snotty irromperam pela porta. Porque o povo daqui não fecha as portas?

Snotty e Ofra saíram do quarto vestidas com vestidos curtos. Avi,

Doo-Doo e O´dead estavam usando jeans com camisetas de manga comprida. Não pergunto aonde vão essa noite, porque não me importa. Sou

muito feliz sentada diante da televisão todo o dia. Tenho ficado gratamente surpreendida, tem um montão de shows na televisão americana em Israel. Isso é provavelmente porque os israelenses sabem tanto inglês.

Ron, que estava falando no telefone a maior parte da tarde, se

aproxima de mim. — Os garotos vão a uma disco. Uma disco? Disco, isso soava como os anos setenta. — Bom para eles — lhe digo. — Não quer ir? — Não. — Pode ser divertido sair do moshav. Se soubesse o que disse a O´snot antes. Insultei sua roupa e seus

peitos. Não vou admitir esses pequenos fatos a Ron. — Vou lhes pedir que te leve — disse, e antes que pudesse detê-lo

se levantou e se aproximou de Snotty. Ele disse algo em hebreu para ela.

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Ela disse algo em troca. Neste ponto Doda Yucky a interrompeu, sua voz um tom de censura.

Então minha tia se aproximou e pegou minha mão. — O´snot quer lhe levar com seus amigos. Sim, claro. Mas a senhora apenas lutou em meu nome, e não tenho o

coração para discutir com ela. Em troca dei um olhar furioso para Ron, a pessoa que me meteu nessa bagunça em primeiro lugar.

Dez minutos mais tarde me encontro no carro de Avi, conduzindo

pela montanha. Avi e Snotty me ignoram, mas não os culpo. Os odeio, eles me odeiam. Trata-se de uma mutua relação de ódio-e-ódio.

Quando paramos na “disco”, saí do carro e segui Snotty, Ofra, Doo-

Doo, O´dead e Avi para a entrada. Parece como um grande armazém. A música é forte, a todo o volume desde o lugar e colorido, as luzes intermitentes estão brilhando através de grandes janelas.

Paro logo que posso examinar a longa fila de pessoas esperando

para entrar. — É seguro? — pergunto. — Prometo que não há serpentes no interior para que

acidentalmente as pise. — Snotty diz, em seguida ri de mim. Meus olhos brilharam com tanta indignação que me concentrei em

Avi. Como podia ter dito a Snotty sobre o acidente com as tripas da serpente? Que traição. Agora me sinto humilhada por ele.

— Vamos — Ofra disse, pegando o meu braço com o dela quando me

levou para a fila. Jogo meu cabelo para trás e faço o rabo. Quando chego à parte

dianteira, um guarda do exército me faz abrir minha bolsa e comprova o conteúdo. Espero que me peça identificação, mas não o faz. Suponho que em Israel não há restrição de idade para os clubes de dança. Quando os militares fazem sinais para que avance, tenho que passar por um detector de metais para entrar na “disco”.

Garoto, eles não estão permitindo nenhum risco. Se tivéssemos um

soldado na entrada de cada cidade, cada centro comercial em um bar nos

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Estados Unidos estaríamos sem soldados. Não teria ninguém a quem proteger nosso país.

Entrei o chão vibrando ao ritmo da música porque é muito forte.

Snotty, Ofra, O´dead e Doo-Doo vão diretamente a pista de dança e começam a dançar. Avi está apoiado em um corrimão, melancólico como de costume. Mas está rodeado de garotas enquanto está ali de pé, assim não se parece como um solitário.

Eu? Bom, estou aqui sozinha porque não tenho vontade de dançar

neste momento. De parede a parede há gente, mas me disponho a passar através da multidão, em direção ao bar. Preciso de uma Coca-Cola, ou ao menos algo em mão, assim não fico de pé olhando ao redor das pessoas.

Por sorte, pego uma banqueta vazia, antes que alguém mais pudesse

por seu traseiro nela. Levei um momento para assimilar tudo dentro. As pessoas da

discoteca estão usando roupa muito da moda. Também estão dançando, rindo e bebendo. O ar cheira a cigarros, obviamente não há leis anti-fumo aqui.

Não vou a clubes perto de casa porque tenho apenas dezesseis anos

e não me deixam entrar até que tenha vinte e um. Mas quando puder, vou ter tanta diversão como os Israelenses.

O garçom me diz algo em hebreu e coloca uma garrafa de cerveja

diante de mim com o líquido amarelado interior. — Falo inglês — digo a cima com meus pulmões para que possa me

escutar acima da música. Inclina-se para frente e diz ao meu ouvido. — O garoto ali te pagou uma bebida. Assinala o outro lado do bar, onde um homem com uma camisa

branca e a maioria dos botões sem fechar está sentado. Está brincando? O homem olha como se estivesse na idade de Avi, e tem o cabelo longo. E não está bem o cabelo longo, parece que tem sido engraxado atrás com muito gel para cabelo. É provavelmente o tipo menos genial em todo lugar.

Grandioso. Sou um ímã para o garoto menos genial.

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Para o meu horror, o homem está caminhando para mim como algum tipo machista. Tem um enorme sorriso em seu rosto, parece que não se barbeou a uma semana.

Preciso de ajuda aqui. Snotty e os demais estão na pista de dança o que não seria de muita

ajuda. Procuro na sala por Avi, que obviamente se afastou do corrimão. Se o encontrasse poderia fingir que é meu encontro para que este cara me deixe em paz.

Quando meus olhos finalmente pousam em Avi, me dou conta que já

não está melancólico. Está dançando com alguma imitação de Hilary Duff. Para piorar as coisas, é um bom dançarino. Não como esses tipos que

apenas se movem de um lado a outro. Não, Avi se move como se houvesse nascido para dançar com uma garota em seus braços.

Vejo com desgosto que se inclina para frente e diz algo ao ouvido,

depois os dois riem. Por alguma razão gostaria que não houvesse tanto barulho assim não teria que estar tão perto dela para falar. Não me importa, apenas estou incomodada que ele esteja passando um bom momento e eu não.

— Alio, cusit ay zeh. — O garoto menos genial me diz uma vez que

abriu passo entre a multidão e agora está de pé diante de mim. — Falo inglês — lhe digo, dando de ombros como desculpa. — Meu inglês não tão bom — disse. — Você Americana? — Sim. Seus olhos se iluminaram. — Quer dançar comigo? Minha dança é melhor que meu inglês. O olho cuidadosamente e lanço um olhar para Avi que continua

dançando com sua loira idiota. Pego a mão do tipo e o levo até o meio da pista de dança.

Tenho tido aulas no Estúdio de Dança de Julie desde que tinha

quatro anos, assim não tenho medo de me dar rédea solta. Hoje, não escolheria esse tipo de dança, mas nesse momento não posso ser exigente.

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Ao escutar a música, finjo que estou dançando com meu namorado. Quando o tipo põe suas mãos ao redor da minha cintura, quero pensar que são as mãos de Mitch que me sustentam contra ele.

Fecho os olhos. E o único problema é que na minha imaginação não

são as mãos de Mitch. São as de Avi. O tipo que odeio está rondando meus pensamentos puros meus e do meu namorado.

Espera um minuto. Acredito que o tipo com o que estou dançando

está tocando minhas costas, tentando localizar o fecho do meu sutiã. Abro os olhos e golpeio a cara do pervertido. Por sorte para mim, meu sutiã se fecha na parte da frente.

Deixo de dançar. O pervertido se inclina para frente para falar

comigo, está muito alto para escutar a menos que a pessoa esteja gritando em seu ouvido. Acredito que está a ponto de pedir desculpas, até que sinto essa coisa úmida e viscosa tentando subir pelo meu canal auditivo.

Que diabos é isso? Quando me dou conta que o tipo menos genial está tentando deslizar

sua língua de Gene Simmons ao redor do meu ouvido e tentando empurrar por meu condutor auditivo esterno, grito e o empurro para trás. Qualquer coisa para conseguir sua língua tão longe de meu ouvido como seja possível.

Por infelicidade, eu o empurrei em algumas pessoas que estavam

dançando. Eles não estavam muito contentes comigo ou o lambedor e o empurraram para trás. Este começou a empurrar mais, e logo o lugar estava fora de controle.

Oh merda. Estou perdida na multidão, incapaz de me mover porque as pessoas

se converteram em uma multidão. Quando alguém pegou minha mão e me levou para a saída, estou agradecida.

Até que reconheço a pulseira de Avi atada a essa mão. Tropeço fora com Avi e o resto da multidão. Estão limpando o clube.

Quando veio um carro de polícia com suas luzes brilhantes, me assusto. Porque alguém perto do carro de polícia está falando com os soldados e policiais, enquanto me assinalam.

— Merda. Amy não diga nada — Avi disse. — Me deixa falar.

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Quando os soldados e um policial chegam até nós, mantenho a boca fechada.

— Mah aseet — o soldado disse. Quando Avi começa a falar, o homem levanta uma mão e me assinala. Queria manter a boca fechada, realmente o queria. Minha intenção

era ficar aqui e permanecer em silêncio. — Falo inglês — deixo escapar. — Você começou a empurrar as pessoas na pista de dança? — O

soldado pergunta bruscamente. — Apenas por culpa do lambe-ouvidos. Quero dizer, em primeiro

lugar tentou me tocar, mas depois, bom, pensei que ia pedir desculpas. Pelo contrário, meu ouvido começou a ser lambido e me dei conta que não estava se desculpando, ele estava dando um banho de língua no meu ouvido.

Sei que estou divagando. Tenho medo, e sei que mereço ser castigada

por ter causado tudo, desocuparam o clube por minha culpa. Um nó frio estava se formando em meu estômago e tento agarrar a mão de Avi fortemente.

Então de repente, pelo canto do meu olho avisto ao tipo com a língua. — Ali está! — gritou. O lambedor retrocedeu e desapareceu atrás de um carro. O soldado gritou ordens a Avi e se foi. — O que disse? — Que a leve para casa agora ou do contrario a prenderá. Vamos —

disse. — Tem um Q-tip? — lhe pergunto. — Porque? Duh! — Assim posso desinfetar os germes desse tipo fora do meu ouvido.

Aposto que já tenho uma infecção nele devido a esse otário.

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Está caminhando tão rápido que posso apenas me manter com ele. — Não me culpa pelo que passou ali atrás, verdade? Quando chegamos ao carro, Avi se vira para mim. — Estava atiçando esse tipo com sua dança. O que esperava? Encontrei seus olhos acusadores sem pestanejar. — Ele sabia que era Americana, talvez os Israelenses gostem de

línguas úmidas na orelha, mas na América... — Sabia que era Americana? — Sim. Eu disse quando me comprou uma cerveja. — Cerveja? Estava bebendo álcool com esse tipo? Não é de estranhar

que pensasse que era fácil. As garotas Americanas tem essa fama por aqui. — Deixa de me usar como prova dos seus estereótipos Avi. Não é

justo. Além disso, você estava se sacudindo muito essa noite. Está ciumento porque sua loira idiota não queria chupar sua orelha.

Snotty e seus amigos estavam caminhando para nós. Cruzei os

braços na frente do meu peito, esperando que pudéssemos voltar para casa. — Alguém começou uma luta dentro da discoteca — Ofra me disse,

oferecendo sua explicação para a comoção. Mordo a língua e me calo, mas Avi me olha de lado. — Você — Snotty disse. — Você começou, não? Deveria ter

adivinhado. Não pode fazer nada direito. — Deixa-a em paz — Doo-Doo disse. Quero lhe dar um beijo agora

mesmo por dar a cara por mim. Sentindo como se tivesse seu apoio, eu digo a Snotty desafiante. — Posso fazer qualquer coisa que você pode fazer. — E logo, devido

a adrenalina que flui através do meu corpo posso adicionar — E posso fazer melhor.

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A expressão do seu rosto não tem preço. Está pensando. Quase posso escutar seu cérebro oxidado, crepitando como se estivesse trabalhando.

— Tosquiar uma ovelha — deixa escapar. — Amanhã pela manhã. — Não tem problema — lhe digo com confiança, apesar de que no

interior estou tremendo ante a ideia de prender uma pobre ovelha indefesa enquanto corto a lã até que fique nua.

Mas o farei, apenas para provar a cada um que não me saio mal em

tudo. Apenas espero não fazer-me ficar como uma total idiota.

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Capítulo 16

Posso fazer qualquer coisa que você possa fazer, e posso fazê-lo melhor. Acredite.

Somente tem que me chamar de Amy, a Tosquiadora de Ovelhas. Isso

é o que tenho estado tentado me convencer a manhã toda, depois que encontrei o recado de Snotty. Quer se encontrar comigo depois do café da manhã para nosso pequeno desafio? É isso.

Infelizmente, a noite não foi um pesadelo. Realmente e

verdadeiramente desafiei Snotty, e nem sequer tinha tido algo de cerveja que me acusou de consumir. Bom, me dou conta que sou a única estúpida aqui, mas ainda estou decidida a demonstrar-lhe que não estou à margem de tudo.

Vesti-me com jeans e uma camiseta de manga longa para uma

proteção total. Não tenho óculos de proteção, mas coloco meus óculos esportivos. Caminho para fora, vejo Mutt brincando para mim.

— Não encontrou minha sandália favorita ainda? Para me responder, roda sobre suas costas. Sua língua está

pendurada em sua boca como um pedinte. — Não se humilhe — lhe digo. — Não é atraente. Recolho o vira-lata e o levo comigo. Poderia se voltar útil quando se

está tentando acurralar as ovelhas. — Está bem — lhe digo. — Vamos ter um plano de jogo. Faz-me

parecer bem, e esquecer o incidente da sandália. De acordo? A resposta de Mutt é um grande peido. Este não vai ser o meu dia.

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Ao chegar aos currais de ovelhas, Ofra é a primeira pessoa que vejo. — Não tem que fazer isso — ela diz. Oh sim, tenho que fazer. Por mim. Por Mutt. Pelos americanos em

todo o mundo. A falta de confiança de Ofra em mim apenas favorece minha resolução.

— Isso está bom. Quero fazê-lo. — lhe asseguro. Doo-Doo se aproxima e me dá conselhos. — Mantém a ovelha pressionada. Mantém seus olhos nela. Não deixe

cair a máquina de tosquiar em seu pé. Ele é como um treinador de boxe, e o ringue é o meu oponente. Tem colocado uma ovelha no curral, junto com uma máquina de

tosquiar pendurada no teto. Doo-Doo me ajuda a pegar a correia da máquina em minha mão.

Analiso a minha volta. Snotty está sentada em cima de um corrimão

com O´dead a seu lado. Ofra e Doo-Doo, meus apoios, estão ao meu lado. Avi não está à vista. Surpreende-me que não veio me ver ser comida

viva por uma ovelha. Do outro lado do curral está outra ovelha. A de Snotty. Juro que

parece muito menor que a minha. Tomando uma respiração profunda, entro no curral com o animal

desprevenido. É ainda maior do que pensava. Alguém pensaria que Snotty teria compaixão o suficiente para me dar um cordeiro como a da canção infantil, mas não.

Este definitivamente não é o pequeno cordeiro de Maria. E sua lã é

tão suja quanto à de Mutt, e não é branca como a neve. Snotty entra no outro curral. Pula exatamente dentro, como o faz

todos os dias. Depois se vira para mim. — Vai realmente passar por isso?

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— Claro que sim. — Uma vez vi um adesivo que mostrava a foto de uma bandeira estadunidense e o título abaixo Estas Cores Não Correm. Não estou a ponto de sair como uma galinha. Mesmo que realmente o queira.

— Está bem — disse com pura incredulidade no rosto. — No três

começaremos. Quem terminar primeiro ganha. — Muito bem. — Um. Dois. Três. Coloquei Mutt para baixo e sussurrei. — Vá fazer o seu. Imediatamente Mutt começou a latir e as ovelhas escapuliram para o

canto. Ligando a máquina me encaminho para o animal ameaçador. Até que me olha com esses grandes olhos de cor cinza. Continuo

pensando no que Ron me disse, que é muito quente para eles todo esse pelo espesso.

Entendo e concordo. Bom, estou tentando convencer a mim mesma

que entendo e concordo. Não está funcionando. Olho para baixo, para Mutt, que me olha como se dissesse. Faz! Ele

tem razão. Não vou me acovardar agora. Tenho que enfrentar meus medos e apenas fazê-lo. Tenho a máquina como uma espada e a cabeça em batalha.

Exceto que a ovelha estúpida foge com medo. Quando me passa

seguro a máquina feito uma idiota. Agora a coisa tem uma risca calva em suas costas.

Tento não escutar ou ver o progresso no outro curral. Estou

tentando me concentrar unicamente em minha missão. Mutt está latindo um montão, por isso as ovelhas estão nervosas.

— Luta contra ele no chão e o mantenha ali. — escuto da minha

seção de animadores. Devo lhes dar a notícia que nunca tive um irmão que me ensinasse a

lutar? Ou uma irmã por acaso.

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— Mutt, tem que me ajudar aqui. Mutt é um grande pastor de ovelhas. Dou-me conta disto quando o

animal tenta se mover. Mutt espertamente o encurrala no canto de novo. Com um movimento rápido, tenho meu peso contra a criatura de lã e

começo a tosquiar. Não tem sentido ou razão para isso, estou tão feliz quando a lã suja começa a voar.

Escuto um monte de risos, alguns aplausos e varias instruções de

Doo-Doo. Não paro, sou como uma animada sineta de ovelhas selvagens. Dou um passo para trás e olho ao pobre animal. Bom, não tenho feito

um trabalho tão quente. Tem um penteado mohawk e seu corpo parece como se fosse um mapa de rotas. Mas o fiz e me sinto vitoriosa.

Até que escuto o grito de Ron. — Que demônios está acontecendo aqui?

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Capítulo 17

Essa montanha-russa chamada vida está me deixando tonta.

— Amy, precisamos conversar.

Eu odeio quando os pais pensam que eles podem se sentar e dizer o

que você tem feito de errado, e eles esperam que você fica quieta como uma

estátua de boneco bobblehead24.

— O que você quer?

Agora eu estou sentada para fora de casa acariciando Mutt. Estou

orgulhosa dele, ele é um grande pastor de ovelhas. Eu posso ouvir o tio

Chime gritando para Snotty dentro da casa. Ele não parecia muito feliz

quando Ron explicou a nossa pequena competição.

— Eu quero saber o que está acontecendo com você. — diz Ron,

sentando ao meu lado.

— Nada, eu digo.

Ele coloca uma das mãos no meu braço.

— Acredite ou não, eu quero que você seja feliz. Você não tem que

tosar as ovelhas para provar nada para mim.

Eu dou de ombros com sua mão de cima de mim.

24

Aqueles bonequinhos que mechem a cabecinha.

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— Se você quer que eu seja feliz, me dê a passagem para ir embora

agora. Eu não pertenço aqui — eu digo. Então eu acrescento, — e eu não

pertenço a você.

Eu não sei por que eu disse isso. Eu sabia que as palavras que saíram

da minha boca iriam machucá-lo. Talvez no fundo eu quisesse magoá-lo por

não estar lá para mim nos últimos dezesseis anos de minha vida. Eu

continuo olhando para Mutt e esfregando sua barriga para que eu não tenha

que olhar para a maior decepção da minha vida.

— Está bem.

Espere. Será que ele acabou de dizer "Está bem?" Eu acho que ele

disse, mas a palavra não se processou ainda.

Quando eu olho para cima, Ron está de costas para mim. Ele está

voltando para dentro da casa. Minhas pernas estão um pouco dormentes por

ter segurado o vira-lata no meu colo por muito tempo, mas eu o tiro e

levanto e começo a segui-lo.

Quando eu entro na casa, eu vou até ele. Ele está vasculhando sua

mala.

— O que você disse? —Eu pergunto.

Ele olha de soslaio para mim antes de vasculhar sua mala

novamente. — Eu disse 'Está bem,' Amy.

— Bem como em...

— Em me excluir de sua vida, se isso vai fazer você feliz, então isso é

o que eu quero para você.

Ele tira os papéis para fora da mala e os estende para mim.

— Aqui está sua passagem de volta para os EUA.

Eu hesito por um momento. Então minha mão alcança e pega o papel

da sua mão.

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Uma onda de tristeza e confusão me faz congelar. Então eu corro

para longe da casa e vou para o lugar onde Safta e eu conversamos sobre seu

amor por este lugar.

Sento na beira da montanha, eu penso sobre tudo o que vou deixar

para trás se eu for embora. Como Matan. Como a minha tia e tio, que eu

acabei de conhecer. E Mutt.

Mas acima de tudo, eu quero estar aqui por Safta. Eu a amo, e não

pode simplesmente ir embora enquanto eu sei que ela está passando por

tratamentos de quimioterapia.

Abraço os meus joelhos junto a mim, penso sobre minha vida aqui

em Israel. É uma parte de mim, mas ao mesmo tempo não é.

Voltando para casa, eu olho para Ron. Eu tenho que dizer a ele que

eu quero ficar aqui por outra razão, também: para descobrir onde eu me

encaixo em sua vida. Quando eu o vejo falando no telefone, eu me sento na

cadeira da cozinha, e espero.

Ron me dá o telefone. — É sua mãe. Eu liguei para ela.

— Nós precisamos conversar, está bem? — eu digo a Ron antes de

pegar o telefone da mão dele.

Eu observo que ele balança a cabeça, põe as mãos nos bolsos, e sai.

Eu coloco o telefone ao meu ouvido.

— Olá?

— Amy, você está bem? Ron apenas me disse que você quer voltar

para casa.

— Eu disse, mas não vou mais.

— Você mudou de ideia?

— Sim, eu acho. — eu digo.

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Eu a ouvi sair da cama e fechar uma porta. Aposto que ela se trancou

no banheiro, porque Marc com um "c" está em sua cama e ela não quer

acordar o nerd idiota.

Depois de um minuto ela me diz com uma voz muito borbulhante —

Eu tenho uma grande notícia.

— Você terminou com Marc? — Eu digo com um suspiro de alívio.

Finalmente.

— Não, sua boba. Marc me pediu em casamento na noite passada. E

eu disse que sim.

—O quê! — Eu digo e meu coração se afunda em meu peito. Isso não

está acontecendo comigo.

— É tão emocionante. — ela diz, ignorando o fato de que eu estou

totalmente pirando aqui.

— Ele fez um jantar especial. O anel estava no fundo da minha taça

de champanhe.

— Ele é um idiota, mãe. Definitivamente ele NÃO é original. O anel na

parte inferior da taça champanhe é tão cliché.

— Ele é uma das principais incorporadoras imobiliárias do país. O

novo projeto na Gold Coast, o local mais procurado em Chicago, está sendo

feito por sua empresa.

— Então? Nós só temos uma vaga de estacionamento no nosso

condomínio. Não há espaço para sua Mercedes. — eu digo.

— Eu pensei em dar uma olhada no Subúrbio. Você sabe, algo

maior... Com um quintal e tudo mais.

Huh?

— Como, você vai mudar para o subúrbio?

— Isso não é maravilhoso?!

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— E como eu fico? Sem teto?

— Claro que não, querida. Não seja ridícula. Sua casa é comigo e

Marc.

Desde quando "você e eu" se converteu em "você, eu, e Marc"?

É bom saber que sou importante o suficiente para ser consultada.

— Marc me odeia, mamãe. — Agora eu sinto como se todo mundo

me odiasse.

— Ele não te odeia. Você não tem dado a ele uma chance.

Eu engulo em seco e tento não chorar.

— Eu sei que é uma surpresa para você, mas eu juro que é a melhor

coisa para nós. Nós vamos ser uma família.

Eu juro que eu vou vomitar. Uma família? Mas Marc não é a minha

família.

— Eu pensei que você ficaria feliz. Depois de voltar de Israel, você

pode me ajudar a planejar o casamento e procurar uma nova casa. Nós

vamos fazer um novo começo, nós três.

Eu não quero um novo começo, eu quero uma nova idade.

— Eu te amo. — ela diz.

Se ela me amasse tanto, ela teria pensado antes de seguir em frente e

estragar meus planos.

Eu sinto um caroço enorme na minha garganta quando eu digo: —

Parabéns. Eu também te amo.

— Tchau, querida. Me liga na próxima semana, ok? — ela diz. — Eu

só quero que sejamos felizes.

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Eu saio para fora de casa e vejo Ron em um trator velho, verde

estacionado na parte de trás da casa.

— Você estragou tudo! — Eu grito.

Ele tem a audácia de olhar para mim sem dizer nada.

Eu cruzo os braços na frente do meu peito.

— Apenas fique parado em silêncio, Ron. Você faz isso muito bem.

— O que você está falando?

— Eu só fui informada de que o namorado idiota da mamãe a propôs

em casamento e você não pode fazer nada? Teria sido bom ter meus pais

juntos casados! Pelo menos para dizer que meus pais se casaram depois de

um longo tempo. Mas você é muito egoísta e preocupado sobre garantia do

sonho americano enquanto se desfruta de ser solteiro. Você nunca lutou por

nós. Pior, você nunca lutou por mim.

Ali, eu finalmente disse. Pode ter me levado dezesseis anos e como

uma atitude para cobrir as minhas inseguranças, mas eu finalmente

derramei a verdade.

Ele pisca várias vezes, então diz:

— Ela vai se casar?

— Eu disse isso, não disse?

Ele respira fundo, depois senta no pára-choque do trator.

— Não pense que eu não lutei, Amy. Pedi para se casar comigo. E não

apenas uma vez. Antes de você nascer e praticamente toda vez que eu a vi

após o seu nascimento eu me ajoelhei. Você estava muito ocupada fugindo

de mim para perceber isso.

— Se, e eu quero dizer se, você a propôs, por que não se casaram?

Você estava num comando, pelo amor de Deus. Você foi especialmente

treinado para cumprir missões.

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Ele dá um suspiro longo e profundo.

— Ela disse que não queria que você crescesse vendo um casamento

sem amor. Ela queria encontrar um cara sólido para ser seu pai, e não um

imigrante israelense. Toda vez que eu vinha vê-la, eu recebia uma carta de

seu pai ameaçando entrar em contato como INS para cancelar meu visto. Ele

me acusou de tê-la engravidado de propósito, para proteger a minha

cidadania americana ao me casar com ela. Não era verdade, mas eu temia

nunca mais ver você de novo. Ele era um homem poderoso, Amy.

Ele olha para mim com uma expressão de dor.

— Eu não espero que você entenda.

— Eu, eu não entendo. — eu digo, confusa.

— Quando você me disse que iria parar de vir aqui, eu não sabia o

que eles tinham dito sobre mim. Eu só queria um relacionamento com você,

mesmo que fosse uma vez por ano.

— Você é uma verdadeira decepção. — eu digo.

Espero a palestra me respeitam-porque-sou-o-seu-pai, mas em vez

disso, Ron diz:

— Você está certa.

Estou chocada, mas digo:

— Dane-se se não estou certa. Talvez ainda haja uma chance com a

minha mamãe. Você pode chamá-la e...

— Não vai mudar nada — ele diz, — e você sabe disso. No fundo,

você sabe que ela não vai se casar comigo.

— Eu me sinto tão sozinha. — digo, quase num sussurro.

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120

— Eu te amo — ele diz. — Não importa que você não me chame de

"pai" ou queira me abraçar. Eu queria isso, mas eu quero a sua amizade e

confiança ainda mais.

Isto é muita informação para mim em um dia. Eu preciso de algum

tempo para digeri-lo.

— Eu vou ficar em Israel para o verão. — eu finalmente digo. —

Talvez possamos, oh, eu não sei.

O começo de algum sorriso aparece no canto de sua boca.

Com um aceno de cabeça eu digo:

— Não fique muito entusiasmado, eu ainda estou chateada.

— Estou feliz que você vai ficar.

Eu me viro e volto para a casa e vou para o meu quarto.

Snotty está lá.

Sinceramente, ela é a última pessoa que eu quero ver. Eu lembro que

eu lhe disse algo sobre ter peitos pequenos ou algo parecido, mas parece que

foi há muito tempo. Eu me atiro na minha cama.

— Você tem embalagens? — ela pergunta, curvando-se sua mochila

enquanto colocar as coisas dentro.

Eu me inclino para trás em meus cotovelos.

— Para quê?

Ela se vira, esses círculos de carvão-preto dirigem-se diretamente

para mim.

— Acampar. Você disse que estava indo.

Deitada na cama, eu digo. — Eu menti.

Page 121: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

121

— Assim como um americano.

— Desculpe-me? O que isso quer dizer?

— Os israelenses dizem o que querem dizer. Vocês americanos

apenas falam sem querer qualquer coisa que dizem querer.

— Nós não fazemos! — Nossa, todo mundo está no meu pé

ultimamente. — Para sua informação, tenho orgulho de ser americana. Nós

não podemos sempre fazer ou dizer a coisa certa, mas o que se pode

esperar? Ninguém quer policiar o mundo, porque eles querem que façamos

por ele. Nós salvamos a bunda de todos do mundo e depois culpam-nos por

isso. Não é realmente justo?

Agora eu sou como uma embaixadora dos EUA.

Snotty levanta a mochila por cima do ombro e sai da sala.

— Shalom, Amy. Estamos saindo em dez minutos.

Ela me deixa com duas opções: provar a Snotty que ela está errada e

ir ao acampamento para salvar a cara. Ou ficar no moshav sem nada para

fazer, exceto ovelhas carecas com Ron e tio Chime.

Eu ando no quarto de Safta e sento na beira da cama. Minha vida

ferrou-se por inteiro e eu estou completamente confusa.

— Eu preciso de seus conselhos.

Ela sorri calorosamente para mim, como sempre. Estou tão feliz de

tê-la em minha vida, mesmo que foi um início tardio em conhecer uns aos

outros.

— Você vê, é assim. — eu digo. Eu respiro fundo e boto tudo para

fora quando eu falo. — Minha mãe quer se casar com seu namorado, esse

cara que eu particularmente não gosto. Ron... Você sabe, seu filho, tem sido

uma decepção para mim, porque para ser honesta, ele não tem sido um

elemento permanente em minha vida. Eu me ressinto dos dois, e estou

confusa sobre quem eu sou e onde eu me encaixo. E ainda por cima, O'snot

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122

está indo em uma viagem com os seus amigos, e eu meio que quero ir e

provar a ela que sou capaz, então eu estou pensando.

Safta acena com a cabeça pensando, obviamente tentando entender

minha situação e me dar um conselho certo. — Para uma menina de 16 anos

de idade, você tem muito com que lidar.

Soltei outro longo suspiro.

— Isso não é verdade. Talvez você precise de algum tempo afastada.

Eu acho que o acampamento é uma boa ideia. Israel é um lugar mágico, Amy.

Você simplesmente pode achar o que está procurando.

Ela está certa. Eu preciso fugir da realidade por um tempo. Eu beijo

Safta na bochecha e coloco a cabeça para fora do quarto. Mas eu paro na

porta, viro e digo:

— Estou feliz que você é a minha Safta.

Ela inclina a cabeça e sorri.

— Eu também.

Page 123: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

123

Capítulo 18 Você já se sentiu em menor número?

Meu coração está disparando enquanto observo uma mochila vazia

nos pés da minha cama. Eu talvez não tenha percebido que estava ali. Foi,

provavelmente, deixada por mim. Apresso-me e soco algumas roupas na

bolsa e vou para fora.

Quando chego à frente da casa, todos os adolescentes estão subindo

na parte de trás de um Jeep. É como uma caminhonete com caçamba, mas

não. O carro tem uma parte de táxi na frente e atrás, é como uma caçamba,

mas tem bancos nos dois lados e corrimãos em cima da caminhonete.

Avisto Snotty e ela me dá esse meio-sorriso. Tá, tá. Eu sei. Ela

percebe agora que tem vantagem porque ela meio que me enganou para ir

nessa viagem. Meio que. Foi realmente minha decisão vir.

Ron me alcançou. — Eu não quero que você vá. — ele disse. — Você

é muito nova e está passando por muita coisa agora.

Percebendo que todos já estão no carro e nos observando, congelo.

— Você está me dizendo que não posso ir?

— Eu não estou dizendo isso… exatamente.

— Eu quero ir.

Avi, que estava no banco do motorista, sai do carro e caminha até

Ron. Ele leva Ron até o lado da casa, longe do meu campo de visão. Quero

saber o que ele está dizendo. Quero saber o que os dois estão dizendo.

Eu vejo como Ron e Avi apertam as mãos depois de alguns minutos.

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124

Então Avi caminha até mim. Posso dizer que ele não está de bom humor.

— O quê? — eu digo.

— Avi me assegurou que cuidará de você. — Ron diz, então volta

para casa, pois Doda Yucky o está chamando.

— Eu posso cuidar de mim mesma. — Eu asseguro a Avi, quando

Ron está fora do campo de visão.

— Entra no carro — Avi manda.

— Eu não gosto de receber ordens de você.

— E eu não gosto de uma vadia Americana mimada atrasando

minhas férias. — ele diz baixo o suficiente para que apenas eu possa ouvir.

Se meu olhar matasse, eu estaria encarando um garoto morto agora

mesmo. Vadia Americana uma ova. Eu não sou mimada. Sei disso porque tive

dois pais que querem destruir minha vida. Eu explico isso. Um me colocou

nessa viagem para que pudesse provar para mim que é um bom pai. Mas

aposto que, depois da viagem, voltará para sua confortável vida de solteiro.

A outra quer se livrar de mim no verão para que possa ficar noiva de um

babaca.

Se eu fosse mimada, estaria cercada por pessoas que me amam.

Como Jessica. Os pais dela estragam seus podres. E eu digo podres com P

maiúsculo. Ela não só tem dois irmãos e uma irmã, ela tem dois pais que

vivem juntos. Eles gostam um do outro, tanto que até dão as mãos enquanto

assistem TV. Eu até já os vi se beijando. E isso depois de terem quatro filhos.

E eles são velhos, em seus quarenta e poucos anos.

Para completar, a mãe de Jessica faz aqueles cookies fofinhos de

baixa caloria que derretem na boca. E você sabe por que ela os faz? Eu lhe

direi por que. Pelo simples motivo de que Jessica gosta deles. Eu não só não

tenho cookies fofinhos de baixa caloria que-derretem-na-boca, mas também

Mamãe nunca comprará nada de baixa caloria nas lojas. Por quê? Porque

minha mãe não acredita em dietas de baixas calorias.

Como Avi se atreve a me chamar de mimada?

Page 125: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

125

Avi caminha de volta para frente do carro e acho que ele pode

apenas partir sem esperar por mim. É como um teste.

Odeio testes.

Pior, eu sinto como se essa viagem inteira estivesse cheia de testes.

Ponho a mão no bolso e sinto a estrela judia que Safta me deu. Ela

me disse que o guerreiro ancião judeu, Judah Maccabbee, pôs uma estrela de

seis-pontas em seu escudo. As seis pontas fincam em minha palma. Eu estou

guardando isso em meu bolso onde quer que eu vá… como meu próprio

escudo.

Quando escuto a caminhonete dar a partida novamente, não leva

muito tempo até jogar a mochila na caçamba e subir.

Dentro de minutos, estamos numa estrada suja, a sujeira atrás de nós

é prova da nossa jornada. Tenho que segurar nas laterais da caminhonete, as

pedras na estrada fazem o caminho parecer uma montanha-russa

acidentada.

E meus peitos estão rodopiando como loucos. Como se não

estivessem presos em meu corpo. Pensei que fosse ruim o suficiente eu ter

uma mochila e ser responsável por não atirá-la para fora da caminhonete.

Agora tenho que ter certeza de que meus peitos fiquem dentro da

caminhonete, também.

Pelo menos, é o que parece. Um rodopia de um jeito, um, de outro.

Toda vez que cruzo meus braços na frente do peito para mantê-los em um

lugar, perco meu equilíbrio e bato em Doo-Doo (que está de um lado) ou

Ofra (que está no outro).

Avi não consegue dirigir um pouco devagar? Parece que essa estrada

suja e empedrada nunca foi viajada antes.

O Sol está se pondo além das montanhas. É muito bonito ver os

vermelhos, laranjas e amarelos descolorirem atrás das montanhas,

contornando a paisagem antes de, finalmente, desaparecerem para a noite.

Está ficando escuro enquanto dirigimos, a luz sumindo com cada minuto que

passa. Logo, está escuro.

Page 126: Simone elkeles   [ruin 01] - como arruinar as férias de verão

126

Uma hora depois, nós finalmente paramos. Não há nada por aqui,

embora eu possa ver luzes brilhantes das cidades distantes como estrelas na

noite.

Eu me esqueci, desde que comecei essa jornada selvagem, de que

estou em Israel. Também conhecida como zona de guerra.

Ninguém parece se importar enquanto se empilham atrás da

caminhonete. Sondo a área o tanto que consigo, o que não é muito. Ainda

estou na caminhonete quando Avi vem para a parte de trás dela.

Nossos olhos se encontram. — Você vem? — pergunta.

Ainda tenho um sentimento ruim, como se houvesse algo que eu não

entendesse. E ainda não superei o fato de que ele me chamou de vadia

americana mimada.

Quando não respondo, ele dá de ombros e começa a caminhar. Não

consigo ver para onde ele está indo, pois está muito escuro. Mas sei que está

caminhando, porque posso ouvir o cascalho moer sobre seus pés.

— Espere! — digo.

Ouço o cascalho parar. Então o ouço se aproximar da caminhonete.

Está me encarando, posso sentir.

— Eu, ah, preciso de ajuda para descer da caminhonete — digo

desajeitadamente.

Sinto sua mão aparecer e procurar pela minha. Agarro-a e ele me

leva gentilmente até a ponta da caminhonete. Antes que eu perceba, está

soltando minha mão e sinto as suas envolverem minha cintura então me

levanta da caminhonete e me deixa cuidadosamente no chão.

Nós dois estamos lá, em pé, cara a cara, enquanto ele mantém as

mãos em minha cintura e não me solta. Sua força quase parece carícia e não

quero que ele me deixe. Sinto-me segura com seu toque, mesmo que no

fundo da minha cabeça, ainda posso ouvi-lo me chamar de vadia americana

mimada.

Apenas pensar nisso me faz endireitar e dou um passo para trás.

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127

— Você se importa de deixar suas mãos com você? — me encontrei

dizendo.

Ele deixa cair suas mãos e diz: — Cuidado com as cobras.

— Cobras?

Como se eu não estivesse tensa o bastante no momento. Ele vai para

longe de mim e o ouço dar uma pequena risada. Cobras? Ele está brincando?

— Não se preocupe. — Doo-Doo diz enquanto me entrega uma

lanterna. — Ele está apenas tentando te assustar.

— Bem, ele está fazendo um bom trabalho — resmungo sob minha

respiração.

Olho as meninas se sentarem, perto de onde os garotos tentam

acender um fogo. E estou aqui, de pé, perto do Jeep.

Eu deveria ter trazido Mutt, ele me protegeria das cobras e de

garotos estúpidos. Ficar apegada ao cachorrinho não era minha ideia, ele

meio que entrou em mim. Mesmo que ele seja um animal irritante, ladrão de

Ferragamo.

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128

Capítulo 19

Odeio quando outros sabem mais de mim do que eu.

— Você está bem, Amy? — perguntou Ofra. Sentando perto da

fogueira.

— Super. — eu disse.

Guardei minha mochila na parte de trás do jipe e me juntei às

meninas. Estão falando em hebraico. Estou acostumada a isso, mas ainda me

incomoda.

Eu tenho que sentar lá e sorrir quando sorriem e como uma idiota

gargalhar quando elas gargalham. Sou como uma mímica idiota, porque nem

mesmo sei o que estão falando!

Pelo que sei, estão dizendo. — Amy tem uma meleca pendurada no

nariz. — Então vou e sorrio junto, tornando mais divertido para elas, mas

fazendo de mim e meu muco pendurado grandes perdedores. Quando penso

nisso, cada vez que sorriem finjo coçar meu nariz e procuro algo estranho

pendurado nele.

— Então, me diga sobre os rapazes americanos? — perguntou Ofra,

eu poderia beija-la só por começar uma conversa comigo. — São tão lindos

como eu vejo na televisão? Eu gosto dos que aparecem no The young and the

restless 1325.

Acredite ou não, eu vejo The young and the restless 13. Talvez eu

tenha algo em comum com uma garota Israelense depois de tudo.

25

13“The young and the restless”: Série de televisão.

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129

Depois de todas as primeiras novelas. Não posso acreditar como

estão tão atrasados com os episódios aqui.

— Gosto muito — disse Ofra.

Sinto-me um pouco melhor agora, graças a Ofra. Até mesmo Snotty

parece estar escutando sem o famoso desprezo em sua cara.

Depois de uma hora de rir, conversar, beber e comer, Ofra e eu

estamos indo encontrar um lugar para urinar. Como não há banheiros no

meio do nada, temos que nos abaixar. Felizmente Ofra trouxe um pouco de

papel higiênico, ou não saberia o que fazer.

Deixamos o grupo para encontrarmos um bom lugar para ficarmos

em privado. Nós duas com nossas lanternas acesas. Estou com tanto medo

de pisar em uma cobra ou em outro animal que mantenho a luz se movendo

de um lado para o outro.

Agora que estamos um pouco separadas do grupo, deveria apagar

minha lanterna para que Ofra não tenha que assistir ao espetáculo de me ver

agachada? O que importa? Eu seguro a lanterna entre meu queixo e pescoço,

para poder ver o que estou fazendo.

Percebo rapidamente que não sou boa abaixada, muito menos com

uma lanterna debaixo do meu queixo. Na verdade, sou péssima. Claro que,

com um banheiro eu não tenho problemas. As meninas não foram feitas

biologicamente para isso.

Enquanto me ponho de joelhos tanto quanto posso, tento relaxar.

Porém posso sentir a urina escorrendo por minhas pernas, então me coloco

rapidamente em uma posição de caranguejo, com minhas mãos e pés no

chão. Pelo menos assim a gravidade pode trabalhar ao meu favor.

Será que da para ver a Ofra? Ela pode me ver? Deveria apagar minha

lanterna, mais é impossível na posição que estou e estou me sentido um

pouco tonta. Eu sei o que está pensando, que provavelmente vou cair justo

sobre a urina, porque estou em uma posição de caranguejo e estou me

sentindo um pouco desequilibrada.

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130

Porém para minha surpresa, sou capaz de manter minha posição de

caranguejo-urinando muito bem. E quando acabo de me limpar o melhor

que posso, coloco de novo meus shorts.

Estou absolutamente orgulhosa de mim mesma por esta realização.

Provavelmente agora poderia fazer uma audição para o programa Survive26,

agora que consegui ficar sem um banheiro apropriado.

— Por que O”snot me odeia? — pergunto a Ofra enquanto nós

caminhamos de volta para o acampamento. Eu não quero saber, mas eu acho

que pensando bem, sim eu quero.

Ela para e olha para mim pensativa.

— É uma coisa de orgulho.

— Poderia ser mais específica.

— Bom, Avi e O”snot tem uma história...

— Eu sabia! — digo em voz alta.

— Não, não como isso. Bom, é como, uh...

Eu fico esperando pacientemente para que ela termine. Bom, não

tão pacientemente. Acho que ela nem se deu conta.

Ofra começa a morder uma unha.

— Me matará se eu lhe disser — disse

— Eu vou te matar se você não me falar.

— Eles sempre foram mais do que apenas amigos. Eles eram como

irmãos. Avi sempre saiu com muitas meninas, mas não tem feito por um ano.

— E...

26

Survive: Programa de sobrevivência.

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131

— Avi está passando por um momento difícil agora. Tem sido um

idiota com todos. O”snot pensou que se ela e Avi fossem um casal, ele

superaria o que for que o está roendo por dentro. Ele a rejeitou e acho que

ela ainda está magoada com isso.

— Me odeia sem sequer me conhecer.

— Bem, não esteve planejando dividir um quarto para o verão com

uma Americana.

— Que há de errado em ser Americana? Eu pensei que os Estados

Unidos e Israel eram aliados.

— Nós somos — ela diz quando começamos a voltar para o fogo. —

Eu acho que nos incomoda um pouco que as crianças americanas não

tenham que entrar para o exército, enquanto que nós temos que ir assim que

completamos 18. As meninas por 2 anos, os meninos por 3. Não me

interprete mal, eu quero ir. Porém vocês judeus americanos se sentam em

suas lindas casas, seus lindos pedaços de terra e fazem parte em suas

universidades, enquanto os judeus de Israel colocamos nossas vidas em

risco, para evitar a destruição de nossa gente e nossa pequena parte de

terra.

— Sério? É tão pequeno?

— Todo o estado de Israel é do tamanho de New Jersey.

— Não está brincando?

— Não.

Homem, como parece, estou começando a pensar que as crianças

americanas realmente levam a maior parte do palito.

Ofra e eu caminhamos de volta para a fogueira, onde o resto do

grupo está colocando sacos para dormir.

Agora eu estou com medo.

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132

Eu não fiz planos para sacos de dormir. Onde estão as tendas?

Quando as pessoas vão acampar em casa há tendas. Ou cabanas. Ou

teepees27.

— Não trouxe um saco de dormir. — digo suavemente a Ofra.

— Está bem — disse ela. — Tenho certeza que Avi compartilhará

com você.

Pisco, como se assim eliminasse meu problema de audição.

— Vamos, Amy — disse Ofra empurrando meu ombro para trás. —

Sabe que Avi gosta de você.

Avi? Gosta de mim? Acho que não.

— Odeia-me — digo.

Olho ao tipo, e está sentado sobre seu saco de dormir em estilo

indiano, com uma guitarra descansando sobre sua perna.

— Ele me chamou de vadia americana mimada — digo para provar

meu ponto.

— Talvez ele goste das vadias mimadas americanas — ela disse

antes de sair caminhando para se juntar com Snotty, Doo-Doo e O”dead.

— Claro — murmuro em resposta, quando sei que não pode me

ouvir.

E pela primeira vez desde que cheguei a Israel, estou realmente

confusa, ao ponto de ter essa estranha sensação em meu estômago cada vez

que vejo Avi.

Sim, ele é sexy tanto quanto possível.

27

teepees : Tenda em forma cônica feita de pele de animais, típicos

das tribos africanas e nativas norte-americanas durante o período colonial.

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133

Sim, me ajudou com as entranhas da serpente e pastoreando as

ovelhas.

Porém também é arrogante, grosseiro e totalmente ignorante.

Poderia um cara assim se sentir atraído por mim.

Por outro lado, eu poderia realmente ser atraída por uma cara como

ele?

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Capítulo 20

Fingindo... É uma outra maneira de manipular as pessoas

para fazer o que queremos.

Estamos todos sentados em frente à fogueira, que está acesa agora,

graças aos três garotos. E nós estamos ouvindo Avi tocar seu violão. Eu

tenho que admitir, sua voz é muito reconfortante. Claro que eu não tenho a

menor ideia do que ele está cantando porque é em hebraico. Quem sabia que

o idioma catarro poderia realmente se tornar um som harmonioso na

música?

Ele não está olhando para mim enquanto canta. O'dead e Snotty

estão cantando a música, tudo muito suave devido ao clima da noite. Doo-

Doo e Ofra estão de mãos dadas e estão balançando ao som do violão.

Snotty e O'dead estão sentados perto um do outro. Ele está olhando

para ela com olhos carinhosos enquanto canta. Ela é indiferente.

Quando a música acabou, eu pergunto para Avi. — Essa é uma bela

canção. Você escreveu isso?

Ainda posso ouvir o zumbido da última nota quando Avi responde:

— Sim.

— É sobre o quê? — Eu pergunto.

Sua expressão fica séria. — Um cara que perde uma pessoa

importante em sua vida.

Eu automaticamente presumo quem seja essa menina e uma onda de

ciúme toma conta de mim. Eu não respondo. O silêncio enche o ar. Eu acho

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135

que ele me odeia, mas de alguma forma tenho a estranha sensação de que há

um pouco de dor por trás de suas palavras.

Pensando sobre o que Ofra disse, não posso deixar de me perguntar

como eu posso descobrir sobre seus verdadeiros sentimentos para mim. Não

que eu me importe com o que são, mas escute, uma menina informada é uma

garota inteligente.

Todas as indicações até agora dizem que ele se ressente da minha

presença em Israel e ele pensa que eu sou mimada (que eu não sou).

Silêncio ainda paira no ar. É como se todo mundo estivesse

esperando que algo aconteça entre mim e Avi. Amar ou odiar. Paz ou guerra.

Eu não vou dar-lhe a satisfação de saber o que eu estou sentindo. Heck, eu

nem sei o que estou sentindo metade do tempo ou onde minha vida está

indo, graças a meus pais.

Eu venho tentando colocar para fora da minha mente o fato de que

minha mãe quer se mudar para os subúrbios. A próxima coisa que você sabe

é que ela vai querer ter bebês com esse cara. Eu posso ser apenas uma

garota de dezesseis anos de idade, mas eu sei uma coisa: eu não vou, repito,

não vou trocar fraldas sujas.

Apenas o pensamento de mudar faz meu estômago ficar fraco. Talvez

os pais de Jéssica me deixem ficar em seu condomínio para o ano júnior e

sênior. Eu poderia até pagá-los com o dinheiro que Ron coloca no banco para

mim. Normalmente eu não tocaria no dinheiro, mas o orgulho não tem sido

uma palavra no meu vocabulário desde que cheguei em Israel. Por que

deveria haver algo diferente quando eu voltar para casa?

Enquanto eu estive sonhando acordada, percebo o resto do grupo

começou a entrar em seus sacos de dormir.

Só que eu não tenho um. Eu faço a varredura da área. Há três rapazes

e três meninas, agora que Moron foi embora para o serviço militar. Eu podia

dormir com Ofra, mas ela e Doo-Doo encontraram um lugar um ao lado do

outro e têm fechado seus sacos de dormir juntos. Eu nem sabia que eles

eram um casal até esta noite.

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136

Avi está colocando seu violão de volta em sua capa. Não há nenhuma

maneira de eu pedir para Snotty se eu podia dormir com ela, ela é a pessoa

que me manipulou para vir aqui nessas pequenas férias estilo sobrevivente,

em primeiro lugar.

Avi sabe que eu estou de pé aqui assistindo todos. Isto é uma droga,

porque eu quero fazê-lo se contorcer. Oh, ótimo. Agora ele está caminhando

até mim. Em vez de esperar por ele, uma lâmpada acende-se no meu

cérebro.

Agora eu tenho um plano.

Ok, não é bem pensado e exige alguma manipulação, mas eu acho

que vai ter o resultado desejado.

Ignoro Avi chegando perto de mim e às pressas eu agacho ao lado de

O'dead.

— O'dead. — eu digo docemente. Imagino Avi observando cada

movimento meu. Seus olhos são como os lasers na parte de trás da minha

cabeça.

O'dead finalmente olha na minha direção. — Huh?

Agora que eu estou fazendo isso eu bocejo bem alto e alongo o braço

e tudo. Isso pareceu autêntico, eu acho. E começa definitivamente despertar

a atenção de todos, exceto Ofra e Doo-Doo. Eles ainda estão dentro dos sacos

e provavelmente não vai sair por um tempo.

— Estou muito cansada e eu esqueci de trazer um saco de dormir. —

eu digo, certificando-se-sabe-quem ouve. — Você se importaria em

compartilhar o seu?

O'dead agora se parece com um rato encurralado por um gato. Por

outro lado, eu sou o gato. Meow! O'dead olha através de mim para Avi.

Estou tão tentada a olhar para trás para ver a expressão de Avi. Eu

também estou querendo saber o que pensa Snotty, ela parece estar alheia a

tudo por aqui.

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137

Antes que o pobre rapaz possa me responder, eu digo: — Obrigada.

— e volto para o carro onde há um pouco de privacidade para colocar os

meus PJs (pijamas).

Eu tenho um enorme sorriso no meu rosto e eu nem sei por quê. Eu

sei que Avi ia oferecer seu saco de dormir para mim, como ele estivesse

bancando o herói ou algo assim. Então, ele poderia ter mais munição e eu

sou uma cadela mimada americana que está arruinando suas férias. Confuso

isso. Eu vou ficar longe dele, tanto quanto possível nesta viagem.

Começando a dormir com O'dead.

Claro que eu não estou realmente dormindo com O'dead. Apenas

dormir com ele. Embora, eu penso sobre como quão pequeno o saco de

dormir é, eu provavelmente não vou conseguir dormir muito esta noite.

Eu não posso acreditar que está ficando tão frio. É muito quente

durante o dia eu poderia fritar um ovo em uma pedra em segundos. Mas

agora, quando eu tiro o meu sutiã debaixo da minha blusa e rapidamente

troco para uma outra blusa, eu tenho arrepios por todo meu corpo. Brr! Eu

gostaria de ter trazido blusa e calças compridas.

Eu amarro o meu cabelo em um rabo de cavalo alto, escovo os dentes

com água mineral da parte de trás do caminhão, e percorro rapidamente de

volta ao saco de dormir de O'dead. Estou esfregando meus braços com as

mãos para me aquecer, mas não adianta.

— Está tão frio. — eu digo para ninguém em particular.

Avi está sozinho com seu saco de dormir. O resto foi para quem sabe

onde.

Eu abro o saco e examino por dentro.

— O que você está fazendo? — Avi pergunta.

— Verificando se tem cobras. — digo antes de ter certeza que o saco

está seguro e começo fechar de volta.

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138

— Você sabe, você deve fazer o mesmo. Eu não quero que você

receba uma mordida ou algo assim.

Ele se senta e encara-me com aqueles grandes olhos escuros.

— Aposto que você gostaria eu recebesse uma mordida.

— Não. O que eu gostaria é que você me deixasse sozinha. Você tem

18. Você não tem que se juntar ao exército ou algo assim? — Eu digo quando

eu resolvo entrar no saco de dormir do O'dead.

De repente percebo que tento me deitar, mas estou sem travesseiro.

Isso significa sem nenhum. Avi lança um para mim, o que me bate no rosto.

Eu sorrio e o pego enquanto Avi vira e deita, com a cabeça apoiada no braço

dobrado. Eu deveria me sentir culpada por tomar seu travesseiro, mas eu

não sinto.

— Em dois meses. — ele murmura.

Sento-me. — O quê?

Ele não responde. Em vez disso, ele diz: — Lyla tov, Amy.

Eu não sei muito hebraico, mas eu estive em Israel tempo suficiente

para saber lyla tov significa "boa noite". Ele está tentando me irritar. Eu sei

disso.

Eu descompacto o saco de dormir e me levanto. Então eu estou de pé

perto de Avi e agacho ao lado dele. Seus olhos estão fechados. Falso.

— Oláaaaaaa?

Ele abre um olho. — O quê?

Suspiro alto. — Um segundo atrás, você disse dois meses. O que tem

em dois meses, além de ser eu a deixar este lugar horrível que é tão quente

como o inferno de dia, mas gelado como o Pólo Norte à noite.

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139

Ele não se mexe, diz apenas com os olhos fechados como se ele

estivesse falando em seu sono. — Eu começo o treinamento básico para o

IDF, em setembro.

— O que é o IDF? — Eu pergunto.

— Forças de Defesa de Israel.

A formação básica das Forças de Defesa de Israel? Eu me sinto um

pouco mal por Avi, ele tem que ir se juntar ao exército, ele queira ou não.

— Sinto muito. — eu digo.

Desta vez, ele abre os olhos. — Por quê? Tenho orgulho de ser capaz

de proteger o meu povo, meu país. O que você faz para proteger o seu?

Que cara amargo, amargo.

— Eu faço o suficiente. — digo. — Se Israel não irritasse todos os

seus vizinhos, em seguida, talvez...

Ele se inclina para frente, sua expressão é dura. — Não se atreva a

julgar o meu país. Até que você ande em nossos sapatos — ele diz, — você

não tem ideia o que é ser israelense.

Eu estou tentando não ficar nervosa, mas do jeito que ele está

falando faz-me tremer um pouco.

— Sim, bem, não julgue o meu país também. — eu digo de volta.

Eu começo a levantar. Ele agarra meu pulso e me puxa de volta para

baixo.

— Essa é a diferença entre nós. Eu sou do meu país. Você é apenas

um produto do seu.

Puxo meu braço eu digo: — Essa não é a única diferença, Avi. Eu vou

para a faculdade e serei bem sucedida após o colegial. E você, você

provavelmente vai ser apenas um criador de ovelhas de Israel pelo resto de

sua vida.

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Piso de volta ao saco de dormir de O'dead, sinto melhor em pensar

que agora eu realmente provei para ele que eu sou uma cadela.

Eu desfaço o saco de dormir mais uma vez para verificar se há

criaturas com presas que decidiram fazer ninho no lugar que eu vou dormir.

Felizmente, não há nada, eu fecho a coisa e volto para cima e entro dentro.

Olhando para trás, vejo Avi virado de costas é para mim. Boa.

Infelizmente, assim que eu estou ficando confortável O'dead e a

turma voltam. Eu estou tentando pegar o mínimo de espaço possível, mas

não adianta. Este saco não foi feito para duas pessoas.

O'dead se ajoelha e entra no saco comigo. Dou-lhe um pequeno

sorriso. Eu não quero que ele pense que eu não sou grata por ele concordar

em compartilhar o seu saco de dormir quente comigo. Mas eu

definitivamente não quero que ele pense que eu estou tendo uma queda por

ele também.

Ele pode suspeitar que eu vá rasgar suas roupas ou algo assim. Como

se eu fosse. Eu nem sequer fiz mais do que beijar o meu próprio namorado.

Eu sou o que vocês chamam de uma garota sexualmente lenta. Porque eu sei

que o que eles ensinam na educação sexual é realmente verdade. Há

consequências na vida e em ter relações sexuais antes do casamento.

Como a AIDS.

Como outras doenças sexualmente transmissíveis que duram para

sempre.

Como um bebê indesejado – como eu!

Não há nenhuma maneira no inferno que eu vou correr o risco de

trazer um bebê ao mundo sem ser casada com o homem que eu amo. Ao

contrário de meus pais. Quer dizer, o que eles estavam pensando? Não me

interpretem mal, eu estou feliz por estar viva. Mas a merda que eu tive que

passar por toda a minha vida, incluindo a viagem e a mente de vento da

minha mãe, ao concordar em se casar com Marc e arruinar a minha vida.

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141

Quero dizer, se fôssemos uma família normal eu estaria no céu - e

não em Israel.

Ótimo. Agora eu estou descansando em estilo com um cara que eu

não estou nem remotamente interessada. Na verdade, eu sei que ele gosta da

minha prima.

Como faço para me meter nessas situações, em primeiro lugar? Este

saco de dormir é muito pequeno para nós dois. E eu estou dolorosamente

consciente que meus peitos grandes estão sendo pressionados contra as

costas de O'dead.

Fechando os olhos, rezo para o sono venha rápido. Mas agora que eu

não posso ver, os meus outros sentidos estão intensificados. Como o som do

fogo crepitando, os grilos cantando. Como o cheiro almiscarado e másculo de

Avi impregnado em seu travesseiro. Como meus peitos cutucando as costas

de O'dead, porque está um frio maldito lá fora. É tudo para me manter

acordada, o que me dá uma ótima ideia.

Espero cinco minutos antes de eu começar a roncar.

Claro que eu estou acordada, mas eu preciso fazer soar autêntica. Eu

certifico se minha boca está perto da orelha de O'dead antes de eu começar.

Primeiro, eu faço um ronco bem lento que realmente não soa como um

ronco, mais como um chiado.

Mantenho os olhos fechados, eu respiro e expiro em voz alta com as

costas da minha língua vibrando contra o teto da minha boca.

O'dead se move, provavelmente tentando me acordar. Só que eu

realmente não estou dormindo para que isso funcione.

Eu ronco um pouco mais alto, e dessa vez adiciono um pouco de

nariz e alguns ruídos extras com um toque certo.

E continuou por vários minutos, ignorando sua agitação e

movimentação pelo saco de dormir por mais da metade. Na verdade, eu

deveria ganhar até um Oscar por este desempenho. Alguns diriam que não é

bom enganar as pessoas. Mas ouça, o sono é mais importante do que

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qualquer coisa. E se não dormir o suficiente, eu vou estar mais

temperamental do que eu sou normalmente no período da manhã.

Respiração pesada. Expire alto. Combinando nariz e garganta. Expire

mais suave. Nariz apenas. Expire alto. Respiração pesada. Expire normal.

Eu estou misturando a ordem para que o som seja autêntico. Genial,

certo?

O fim está próximo. Eu sei, mas ninguém mais sabe.

Respiração pesada. Expire suavemente.

Lá vai...

Imitando o tipo de apneia do sono tão forte quanto possível... Expiro

normal. Eu sei como fazer isso porque Marc ronca. Mamãe acha que eu não

posso dizer quando ele dorme porque ele sai às cinco da manhã ou algo

parecido. O cara ronca mais alto do que um desastre de trem. Pergunto-me

como minha mãe pode suportar, isso me mantém acordada até a metade da

noite e meu quarto fica no caminho do corredor.

Faço mais um som daqueles de apneia de sono e ronco desagradável

e O'dead começa a se contorcer para fora do saco de dormir.

Missão cumprida.

Eu ouço O'dead ficar de pé e eu abro um olho para espiá-lo. Eu sei

que ele vai pedir para Snotty para dormir em seu saco de dormir. Ha! Eu sou

tão inteligente...

Mas, como meu olho passa a área discretamente, eu percebo um

sentimento estranho de que alguém está me observando. Então eu percebo

porque me sinto assim. Avi está me olhando diretamente, e ele me dá aquele

olhar de eu-sei-que-você-é–uma- fingida com apenas a profundidade de seus

olhos castanhos.

Ele está começando a se tornar um verdadeiro pé no saco.

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Eu dou um harrumph, e rapidamente fecho meus olhos e volto a

fingir que estou dormindo.

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Capítulo 21 Se os seres humanos estivessem destinados a estar na água,

teríamos nascido com barbatanas. — Amy, acorda. Olhei de soslaio em direção ao som da voz da minha prima e para o

sol da manha. — Estou dormindo — lhe digo, então fecho os olhos e dou a volta. — Pode dormir mais tarde — Snotty disse. — Partimos em cinco

minutos. Reclamo, porque como disse antes não sou uma pessoa

madrugadora. Eew, às vezes nem sequer sou uma pessoa diurna. Virei de novo e olhei de soslaio, abrindo os olhos de novo quando a olho.

— Pensei que isso de acampar supunha-se serem umas férias. — Sim. E daí? — Sim, assim que... Porque me despertar tão cedo? — digo. Snotty se agacha e desliza a almofada debaixo da minha cabeça. O

qual, diga-se de passagem, me atira na pedra debaixo dela. — Ai! — grito. — Devolve! Mas não me escuta, porque as costas da minha querida prima estão

de frente a mim enquanto se afasta. Com, certamente, minha almofada debaixo de sua axila fedida.

Bom, não é exatamente minha almofada. Mas foi por hoje à noite e

era muito macia e esponjosa e cheirava muito reconfortante. Sei que provavelmente não é possível. Mas é assim como me sentia.

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De má vontade me levanto e me dirijo para o jeep onde o resto do grupo passa o tempo.

— É muito cedo — digo em um gemido, com voz de idiota. Ninguém me responde, todos estão empacotando suas coisas. E estão

todos vestidos. O que acontece com essa gente, de se levantar e se vestir ao amanhecer?

— Pronto para ir — me disse Avi. Abro os braços, lhe mostrando meu pijama. — Pareço preparada? — Talvez tenha falta de comunicação. Não lhe perguntei se estava

preparada para ir. Estou dizendo que vamos. Agora. Não é sempre sobre você Amy.

Dou-lhe minha famosa olhada de desprezo. — Não acredito que se trate de mim — lhe digo. Vejo como uma de suas sobrancelhas se levanta com divertido

desprezo. Então ele tem a audácia de buscar minha mochila e jogá-la para mim.

— Te aconselho a colocar um traje de banho — disse. — Porque, aonde vamos? — lhe pergunto. — Remar de caiaque. Abaixo no rio Jordão. Quando devo lhe dar a notícia de que não vou navegar de caiaque

pelo rio Jordão ou qualquer outro rio por acaso? Não faço caiaque. Não vou à canoagens. Nem sequer sei nadar bem.

Mas apenas para lhe mostrar que não acredito que tudo se trata de

mim, furtivamente decido me trocar atrás de alguns arbustos. Quando volto, tudo está empacotado e no caminhão. O´dead está

conduzindo e próximo dele na parte dianteira está O´snot. Claro, Ofra se aconchega próxima a Doo-Doo. E isso significa que tenho que me sentar perto de Avi.

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Super, somente o que eu precisava na primeira hora da manhã. Sento-me junto a ele e me asseguro de não fazer contato visual. Está começando a fazer calor lá fora, mas estou de shorts e a parte superior de um biquíni.

Mas à medida que começamos a nos mover, me dou conta de que

minha escolha na parte superior não é a melhor. Maldito seja, se me esqueci de que o caminho rochoso pelo que estamos conduzindo não pressagia nada de bom para os meus peitos.

A parte superior do biquíni que uso não é um sutiã com sustentação,

nem sequer está próximo. E quando O´dead começa a conduzir mais rápido, não tenho mais remédio do que me segurar no corrimão. O que significa que meus peitos estão pulando como boias em um dia de ventania. Talvez vá fazer uma redução de peitos, depois de tudo, partes rosadas a separar ou não.

Suponho que Avi se dá conta de que estou incomoda, porque muda

para mais próximo de mim e coloca seu braço ao redor dos meus ombros. Ele me tem com tanta força que não tenho mais que segurar em qualquer coisa e meus seios são esmagados com tanta força que não se movem.

Afasto-me dele. Devia lhe dar uma bofetada por me sustentar como

se lhe pertencesse. Mas me sinto tão bem... Estável estando contra ele. Nada pula fora do controle e isso é algo bom. Assim fico onde estou.

Até que, minutos mais tarde, finalmente nos desviamos para um

caminho pavimentado. Saio de seu abraço e empurro os ombros para trás de uma maneira digna. Ou, o mais digna que posso enquanto estou usando esse biquíni.

Por sorte, quando olho Ofra e Doo-Doo, estão muito envolvidos

olhando-se nos olhos para se darem conta do que está acontecendo. Bem. Em pouco tempo entramos em um grande estacionamento. Todo

mundo sai do Jeep e se dirige para a entrada do lugar. Exceto eu. — Vamos — Snotty diz enquanto coloca sua mochila. — Eu não vou. — Por quê? — Vou esperar até que voltem.

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— Vai ficar esperando muito tempo Amy. Moron vai se encontrar conosco no final do rio. Não vamos voltar aqui por vários dias.

Meu coração começa a bater rapidamente. — Disse um par de dias? — Sim. Não tenha medo. Fazer caiaque é divertido. Dou-lhe um ligeiro bufar quando penso nas rápidas águas brancas e

todas as diferentes formas que poderia morrer na água. — Não tenho medo. Apenas... Bom, não gosto muito de água. Talvez

tenha um telefone por aqui e posso... Ela colocou suas mãos nos quadris e me interrompeu dizendo. — Tem medo, mas não quer admitir. Se for tão covarde, vou viajar

com você. Pego minha mochila e pulo da caminhonete, meus pés aterrissam no

estacionamento de cascalho com um ruído surdo. Coloco meus óculos de sol e olho para ela.

— Não sei do que fala. — Sei que acredita que é forte, mas realmente não é. Começo a caminhar para a entrada do lugar de caiaque e digo. — E eu sei que gosta de O´dead muito mais do que como amiga. Ela corre para me acompanhar. — O que disse? — Que gosta de O´dead. — Apenas como amiga. Puxo minha mochila sobre meu ombro. — Vejo a forma que lhe olha. É definitivamente mais que amizade.

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— Pode se saber a ciência exata? — pergunta com esperança em sua voz.

Dou de ombros. — É israelense — lhe digo — Porque não vai diretamente a ele e

pergunta? Mantenha na lembrança que os israelenses não mentem ou não se vão pelas filiais.

— Eu... Não posso. Irrito-me em voz alta, zombando dela como ela zomba de mim o

tempo todo. — Está bem, eu vou perguntar por você. — Começamos a caminhar

para o rio juntas. — Claro, não acredito que sou forte — lhe digo — Sou forte.

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Capítulo 22

Ser um bom beijador tem uma conexão direta com o quanto

você gosta da pessoa que está beijando.

Caminhar com determinação para o lugar onde o caiaque está é

difícil, enquanto eu tenho um sentimento afundando em meu estômago de

que eu não vou sair desta situação viva. Mas pelo menos Snotty vai vir em

meu caiaque, eu vejo que eles são feitos para dois.

Escuta, eu sei, se eu afundar todos ficarão felizes, incluindo minha

prima. Será muita ruindade com ela que se eu cair, ela vai comigo.

Eu observo atentamente como Doo-Doo e Ofra entram no caiaque

primeiro. Parece instável, para dizer o mínimo. O caiaque não é feito por

aqueles plásticos duros, é uma borracha inflável. Quem diabos pensou em

um caiaque inflável é um otário idiota. Eles não sabem que um pedaço de

madeira afiado ou uma piranha com fome fará o caiaque estourar?

— Você está bem? — Avi pergunta. Eu olho para ele e ele está

vestindo um traje de banho azul da Nike com uma listra branca dos lados.

Eu dou-lhe um olhar. — Claro que eu estou bem. — eu digo. — O que

faria você pensar que eu não estou bem?

Eles estão todos olhando para mim como se fosse um puré de batata.

— Entre. — Snotty diz enquanto joga as mochilas para o caiaque.

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Meus olhos giram de um lado e do outro entre ela e o cara que está

lançando os caiaques infláveis. Parece que ele vai me empurrar em um se eu

não andar mais rápido.

— Você precisa de um colete salva-vidas? — o cara me pergunta.

Sim. — Não. Mas esse caiaque está com problemas. — eu digo

apontando para a coisa flutuante. — Eu acho que tem um buraco no meio.

O cara do caiaque tem a audácia de achar graça maliciosamente de

mim até Avi tirar o colete salva-vidas da mão do cara e me dizer: — Entre, eu

vou te ajudar.

— O'snot vai comigo. — eu aponto. Então eu olho para Avi por cima

dos meus óculos de sol. —Você vai com O'dead.

Digo isso eu coloco os meus óculos de sol de volta.

Antes de eu perceber o que ele está fazendo, Avi me pega e me joga

como um fardo de feno por cima do ombro. Em seguida, ele pula direto para

o caiaque. É instável e eu estou assustada e eu estou agarrando-o e eu estou

gritando obscenidades.

Ele me deixa de lado no fundo do caiaque e empurra com um dos

remos.

— Por que você fez isso? — Eu grito, obviamente, recuperando um

pouco de tempo para controlar o meu medo.

Ele me ignora e mantém o nosso caiaque rio abaixo, deixando O'dead

e O'snot passar por nós.

— Coloque o colete. Vai ficar difícil. — diz ele depois de ter remado

por alguns minutos.

Eu enfio os braços através dos buracos, mas não posso fechar o cinto.

— Meus seios são grandes demais para isso. — eu digo irritada. —

Ela não encaixa.

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Ele dirige o caiaque para o lado do rio e se agarra a um ramo para

nos impedir de avançar. — Incline-se para mim. — Avi diz.

Eu espero que ele faça algum comentário sobre meu decote agora

que graças ao colete salva-vidas, se assemelha a um bumbum. Mas ele não

faz. Em vez disso, ele se inclina para frente e solta a corrente, e volta a remar.

Quando percebo que não estamos em movimento e ainda estamos

contra a margem do rio, eu olho para cima. Avi ainda está perto de mim, seu

rosto a centímetros do meu.

De repente eu começo a sentir alguma coisa na boca do meu

estômago. Como se fosse ficar doente, mas não.

Ele está me olhando intensamente e sua proximidade está me

deixando tonta. Em seguida, ele se inclina cada vez mais perto.

— O que você está fazendo? — Eu pergunto.

Ele toca com os dedos levemente em meu rosto e tudo o que posso

pensar é a suavidade de seus dedos na minha pele.

— Eu vou te beijar. — ele explica.

No início, eu fico sem ar.

— Eu tenho um namorado. — eu deixo escapar suavemente.

— Eu sei. — ele diz, enquanto esfrega o meu lábio suavemente com o

polegar.

— E... E você é um idiota a maior parte do tempo.

Seus lábios estão tão perto que eu posso sentir o calor deles.

— Amy?

— Sim — eu digo nervosa.

— Pare de falar para que eu possa te beijar.

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Antes que eu possa responder com algum comentário inteligente, os

seus lábios estão nos meus. E se eu disser que é algo que eu já senti antes,

estarei mentindo.

Eu tenho que detalhar isso para que você obtenha toda a imagem.

Então, uma mão dele está no meu rosto, colocando-a suavemente

como se eu fosse de porcelana e pudesse quebrar ao menor toque. Então ele

lentamente esfrega seus lábios contra os meus, quase como se estivesse

pintando cada parte da minha boca com a sua.

É maravilhoso. É inebriante. E é totalmente intenso ao ponto de que

minha mente está ficando fora de controle. Mitch nunca me beijou assim.

Como se ele apreciasse e memorizasse os meus lábios para sempre.

Quando ele me puxa lentamente para trás e os dedos saem do meu

rosto, eu digo: — Por que você fez isso?

Sua boca torce-se num sorriso irônico. — Por que eu te beijei ou por

que eu parei de beijar você?

— O primeiro.

Ele se instala em seu lugar no caiaque e se inclina para trás. Eu ouço

os pássaros cantando nas árvores e o vento balançando as folhas. Como se

eles estivessem sussurrando sobre o que aconteceu entre mim e Avi. Eu me

pergunto o que estão dizendo.

— Você precisava disso. — ele finalmente diz.

Em algum lugar em tudo isto meus óculos de sol caíram e estão

sobre a parte inferior do caiaque. Eu os pego, os coloco de volta antes que ele

possa dizer o que eu estou realmente sentindo.

— Desculpe-me? — Eu digo. Eu precisava ser beijada? Que

comentário é esse?

Ele empurra o caiaque para longe da margem do rio, pega um remo,

e começa a remar. Então ele me entrega o outro remo. O que eu realmente

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quero fazer é bater-lhe na cabeça com isso. Em vez disso, eu arranco meu

remo de suas garras e digo estupidamente: — Você me beijou.

Ele encolhe os ombros e a pá um pouco mais, os músculos em seus

braços flexionando cada vez que ele pincela contra a corrente pequena. —

Apenas esqueça sobre isso.

Como se eu pudesse. Isso não era apenas algum beijinho - era como

um gol de placa nos jogos playoffs da NBA. E não era um beijo francês, mas

era mais íntimo. Eu não sei exatamente o que eu estava sentindo durante.

Todo o meu ser, meu espírito inteiro, estava envolvido. Não apenas os meus

lábios. Eu sei que estou soando como uma nerd, mesmo assim. E antes que

você pense nisso, não era a palavra de quatro letras chamada amor.

— Espere.

— Como em espere, eu tenho algo a lhe dizer? — Eu pergunto.

— Como em segure o caiaque, estamos atingindo as corredeiras.

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Capítulo 23 Se você começar uma briga, eu a terminarei.

Se eu te contar que minha vida simplesmente reluziu diante dos

meus olhos, estaria lhe contando a verdade. Até o beijo de Avi parece que foi

há um milhão de anos quando me viro e vejo as ondas correntes, a água

borbulhante e o topo branco, espumoso das corredeiras.

— Não quero morrer! — grito.

— Você não vai morrer — ele diz alto sobre o som pesado da

agitação da água. — Só fique naquele lado do caiaque para que não viremos.

— Eu não sei nadar. — admito a ele.

— Você está vestindo um colete salva-vidas. Relaxe. Se virarmos,

você estará segura.

— Estou com medo. — E tudo que quero fazer é que ele me abrace

para que me sinta segura. Fecho meus olhos com força enquanto agarro com

um aperto mortal os lados do caiaque.

— Não se preocupe, eu nunca deixaria algo acontecer com você. Fale

comigo e isso estará acabado antes que você perceba.

— O que você quer que eu fale? — digo.

Ele quer que eu lhe diga onde eu queria ser enterrada ou quem que

eu gostaria que fizesse minha homenagem depois que MORRERMOS nesse

rio? Acho que ele talvez não esteja conseguindo me ouvir porque sei que

está trabalhando duro pela forma como o caiaque é manobrado em torno

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das corredeiras.

— Conte-me sobre sua mãe.

Não é o melhor começo de uma conversa no momento. Acho que é

melhor do que falar sobre meu enterro.

— Ela vai se casar com o namorado.

— Você não gosta do cara?

— Não muito. — digo enfaticamente.

— Então se mude com seu aba.

Abro meus olhos. — Meu aba?

— Você sabe... Ron. Aba é pai em hebraico.

— Eu sei disso. Mas eu com certeza não me mudarei com ele.

— Ele não mora em Chicago?

— Sim.

— Então qual é o problema?

— O problema é que ele não é meu pai. Biologicamente falando,

talvez. Temos muito que melhorar entre nós antes que possa ser

considerado um pai de verdade.

— Se você diz. — ele diz com naturalidade.

De repente, estou consciente que passamos das corredeiras e

estamos agora deslizando pelo rio.

— Não me diga que Moisés sobreviveu indo por esse rio numa cesta

quando recém-nascido. — digo.

Ele jogou a cabeça para trás e deu uma risada alta, a primeira que eu

vejo e ouço dele.

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— Aquele seria o Rio Nilo, Amy.

— Sim, bem, eu vou ficar com as banheiras. Elas são muito menos

perigosas.

Nós vamos pelo resto do caminho em silêncio e descanso minha

cabeça no aro do caiaque. Espero que alguns raios de Sol me deem um

bronzeado dourado e não queimem minha pele como uma batata-frita.

Acredite ou não, estou tentando não pensar sobre aquele comentário que

Avi me disse depois de nosso beijo. Mas, na verdade, estou obcecada por

isso.

Você precisava disso. Sim, foi o que ele disse. Você acredita?

Talvez ele precisasse. De qualquer maneira, não vai acontecer de

novo. O que eu diria para Mitch? Talvez eu não devesse nem dizer que beijei

outro cara. Não é como se ele fosse descobrir sozinho ou qualquer coisa; foi

só uma vez inocente.

Se comida caindo no chão tem a regra dos cinco segundos, não

deveria um beijo inocente ter a regra do uma vez? É claro que sim, embora

eu ache que exista essa partezinha do meu cérebro me resmungando que

não foi um beijo inocente.

E estou definitivamente ignorando o fato que exista essa partezinha

de mim que quer tentar de novo. Mas não porque eu precise, isso é pela

minha maldita certeza.

Eu me sento. Quando eu estou quase perguntando a Avi o que ele

quis dizer com seu comentário sobre o beijo, aproximamo-nos dos outros

dois caiaques.

— O que fez vocês demorarem tanto? — Sotty pergunta.

Instantaneamente, ruborizo quando todos focam em nós. Meus olhos

correm de Avi para o resto do grupo culposamente.

Um sorriso manhoso atravessa o rosto de O’dead e ele ergue as

sobrancelhas algumas vezes.

Ao invés de admitir que nos beijamos e pensando em maneiras de

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desviar da atenção dos outros, pego meu remo (o qual até agora não usei) e

bato na água para molhar Snotty e O’dead.

Batida certeira!

Minha prima e O’dead estão chocados, e me sinto triunfante. Há! Isso

os ensinará por se intrometer nos meus negócios.

Snotty e O’dead tentam remar perto de nós e eu remo

freneticamente para longe deles. Olhando para o meu parceiro de caiaque,

percebo que seu remo nem está na água.

— Ajude-me! — grito, rindo.

— Essa é sua briga, não minha. — ele diz.

Em resposta, enfio meu remo na água e bato em sua direção. Avi está

agora ensopado com a água do Rio Jordão.

Mostro a língua para ele, então digo — Agora é sua briga.

Oh, eu sei o que está por vir. Eu não sou estúpida o suficiente para

pensar que ficarei seca por muito tempo. Quando o remo de Avi entra na

água e longe do canto do meu olho, vejo o caiaque de O’dead e Snotty se

aproximar, só fico batendo meu remo no rio como louca.

Água de todos os lados está vindo para mim. Ofra e Doo-Doo devem

estar participando do caos. Não que eu pudesse ver qualquer coisa, na

verdade, porque meus olhos estão fechados com força. Pelo que sei, poderia

estar batendo toda a água sobre mim com todos os outros.

De repente, está quieto, exceto pelo meu remo batendo na água.

Então paro e abro os olhos.

Claro que quando abro, percebo que esse é o truque mais velho do

livro. Porque assim que abro meus olhos, água me molha com a vingança de

todos.

— Trégua! — grito, especialmente quando percebo quanta água está

no fundo de nosso caiaque. — Vamos afundar!

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A água para e percebo que estamos todos rindo juntos. E isso me faz

pensar que eu sou realmente parte do pequeno clube de amigos deles.

Quando Avi e eu alcançamos o trapiche, nosso caiaque está

milagrosamente ainda flutuando. E esperando por nós está um soldado com

uma metralhadora sobre seu ombro.

Primeiramente, estou chocada. Então percebo quem o soldado é... É

Moron, amigo de Avi do moshav. E a bandana que dei a ele com o símbolo da

paz está enrolada em volta da ponta de sua arma.

Wow. Meu presente significa alguma coisa para ele.

— Oi, Moron. — digo quando saio do caiaque.

Ele sorri para mim. — Oi, Amy.

Desejo poder tirar uma foto dele sorrindo assim, em seu uniforme e

arma com um símbolo da paz. Ele parece tão... Legal e sem maldade, não

como alguém que atiraria com aquela arma em pessoas. Eu poderia ver

agora a legenda em alguma revista nacional: Moron, soldado israelense.

Do jeito que a mídia gosta de distorcer as coisas por aí, a legenda

provavelmente seria assim: soldado israelense Moron. Como se ele fosse um

completo idiota ao invés de perceber que esse é o nome do cara.

Moron caminha até mim e diz: — Serei a escolta militar de vocês

pelo resto da viagem.

Escolta militar? Por que precisamos de escolta militar?

— Você está brincando, né?

— Não.

Não quero que ninguém ria de mim, então não faço as outras

perguntas que estão correndo pela minha cabeça. Olha, eu só comecei a me

sentir confortável com essas pessoas e não quero fazer de mim uma excluída

de novo.

Pegamos um micro-ônibus e dirigimos por horas e horas. A paisagem

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dessa ilha bonita é de tirar o fôlego... Num minuto estamos dirigindo pelas

montanhas gramadas que se assemelham com as colinas onduladas de O

Som da Música e então estamos no meio de uma cidade grande e populosa.

Se aquele não fosse contraste suficiente, em outra hora estamos bem no

meio do deserto sem nenhuma árvore ou casa à vista.

Da janela, vejo o pastoreio dos Beduínos Árabes no deserto. É como

se eu estivesse olhando um pedaço de vidro em centenas de anos no

passado.

Meio hora depois, vejo tanques militares no chão do deserto,

atirando.

— O que eles estão fazendo com aqueles tanques? — pergunto,

nervosa.

— Prática de alvo. — Avi diz

Espero que a mira deles seja precisa.

Em menos de dois meses, Avi será um soldado, também, aprendendo

a atirar com uma arma. E ele é menos de dois anos mais velho que eu.

É a coisa mais estranha. Estou, na verdade, acostumando-me em ver

soldados à volta e armas e tanques diariamente... Isso confunde minha

cabeça com o quão diferente a vida é aqui.

Paramos numa pequena loja para pegar Cocas (graças ao poderoso

Deus) e lanches.

Eu vejo pela janela da loja Avi sair do estacionamento sozinho. Pago

pelo meu Kit Kat com os poucos shekels que Snotty me deu e vou atrás dele.

— Ok, vamos resolver isso. — digo.

Ele se vira para mim como se, surpreso, estou o encurralando. — O

que quer dizer?

— Dã! Por que você me disse no caiaque que me beijou porque eu

precisava? Se isso não fosse o maior blefe, não sei o que é.

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160

— O que é um blefe?

Reviro os olhos. — Você sabe, usar o caminho fácil ao invés de

admitir que gostou de me beijar. Admite, Avi.

— Eu disse ao seu aba que cuidaria de você nessa viagem e que nada

aconteceria a você.

— Sim, você pode jogar essa promessa pela janela.

— Desculpe-me se te conduzi além, mas isso não vai acontecer

novamente entre nós.

Estou cansada de discutir. Em vez disso, para provar minha teoria, o

alcanço e agarro a parte de trás de sua cabeça e o puxo para frente de mim.

Instantaneamente, nossos lábios tocam e é como se estivesse naquele

caiaque com ele de novo. Fecho os olhos e envolvo meus braços em volta de

seu pescoço, feliz quando seus braços vão para minha cintura e ele me puxa

para mais perto. Não me importo com quem está olhando. Eu não mudaria

isso por nada.

Mas, de repente, ele deixa cair suas mãos da minha cintura e se

afasta. Então assisto com horror quando ele bate em sua boca com as costas

da mão, como se quisesse apagar o beijo de seus lábios.

— Eu não posso fazer isso, Amy. Não dificulte para mim.

Lágrimas estão brotando dos meus olhos e nem estou tentando

impedi-las ou enxugá-las.

— Não chore. — ele diz, estendendo a mão para enxugar uma

lágrima escorrendo pelo meu rosto. — Você é uma ótima garota

— Não diga isso apenas para me fazer sentir melhor. Na verdade,

não diga nada para mim. Eu entendi, alto e claro.

Começo a me afastar dele e vou para o micro-ônibus.

— Amy, deixe-me explicar. — ele diz, segurando-me pelo braço.

Eu fico lá, esperando por palavras que, com certeza, não quero ouvir.

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Olho seu rosto e, pela primeira vez, vejo algo que nunca tinha visto antes

nele. Aflição. Está tão prevalecente que me deixa com medo.

Ele fecha os olhos por um segundo, como se as palavras saindo de

sua boca causassem dor só por serem ditas.

— Meu irmão Micha morreu ano passado num bombardeio.

Ele olha para mim pela minha reação, mas estou muito atordoada

para dizer qualquer coisa. Em vez disso, abraço Avi forte, desejando que eu

conseguisse tirar parte de sua dor, ainda que, no meu coração, eu não posso.

— Sinto muito. — sussurro em seu peito.

Ficamos assim por muito tempo. Quando ele se afasta, percebo que

seus olhos estão vermelhos. Ele os cobre com a palma das mãos.

— Odeio ser emocional. — diz.

— Sou, provavelmente, uma das pessoas mais emocionais que

conheço. — admito.

Ele me dá um de seus raros sorrisos, então sua expressão fica séria.

— Gosto de você, Amy. Provavelmente mais do que quero admitir,

até mesmo para mim. Mas não quero ter nada sério com ninguém agora.

Tenho um sobrinho sem pai e uma cunhada que fica em casa de luto pelo seu

falecido marido. Vou estar no exército mês que vem. Se alguma coisa

acontecer...

— Se eu prometer não ficar de luto se você morrer, você ficará

melhor? — digo.

Ele balança a cabeça. — Não é engraçado, Amy. Vou ser treinado

como um comando.

— Ouça, estou falando apenas de um lance de verão, não um caso de

amor para vida toda. — Não estou nem pensando em Mitch agora. E tenho a

sensação de que Mitch não está pensando em mim, também. Avi e eu temos

uma conexão. Não posso ignorar.

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— Você está muito emocional para não se envolver. Você nunca

poderia ter um lance de verão. Não da maneira que tem sido entre nós, pelo

menos.

— Então que tal terminarmos isso quando essa pequena viagem de

aventura acabar. Se você quer ser um covarde pelo resto de sua vida,

continue. Mas se você quer ter um tempo ótimo com uma garota foda, você

terá que enfrentar seus medos. — Eu quero dizer por favor, por favor, por

favor, mas não faço. Olha, uma garota precisa ter um pouco de dignidade se

ela é rejeitada pelo cara de quem ela gosta.

— Quem é a garota foda? — ele pergunta, fingindo procurar por

uma.

Brincando, soco-o no estômago.

Nada mais é dito sobre nosso não-relacionamento, mas ele me beija e

diz: — Você está pronta para isso?

Eu pisco para ele e digo, brincalhona: — Absolutamente.

Quando ele segura minha mão e me leva para o resto do grupo, não

estou surpresa que os olhos deles estejam cheios de espanto. Olha, se eu

estivesse no lugar deles, acharia que o mundo girou sobre seu eixo um pouco

rápido demais para ver a mim e a Avi tentando um relacionamento de

verdade. Mesmo que seja apenas um não-compromisso, um lance rápido.

A única coisa me incomodando no fundo da mente é... Como serão os

acampamentos de dormir hoje à noite?

Avi tem dezoito, e mais experiência que eu.

Ele espera de mim mais do que estou disposta a dar?

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163

Capítulo 24

Fazendo coisas más algumas vezes nos sentimos tão bem.

Moron nos conduziu a um hotel. Para ser honesta, não sei como ele

encontrou este lugar. É no meio do deserto com nada em quilômetros ao

redor, pelo menos isso é o que parece.

Todo o caminho a Beersheva, Avi e eu ficamos realmente próximos,

é como se uma parede invisível tivesse sido levantada de entre nós.

Descansei comodamente em seus braços e até dormi em seu colo durante a

viajem. E adivinhem? Acariciou meus cabelos, como se lhe agradasse. Senti-

me tãooooooo bem, quase bem demais, porque tinha aquela sensação de

formigamento em todo o meu corpo só de pensar que logo nos beijaríamos

outra vez.

Porém quando estávamos no hotel e estávamos na recepção do hall

de entrada, eu fiquei um pouco nervosa. Dormindo junto com o O’dead eu

estava segura e tranquila. Para ser justa, nunca dormimos juntos, por isso o

meu falso ronco.

Olhei para Avi. Sei que com ele não poderia fingir um falso ronco,

sabe quando estou fingindo. Além disso, eu não quero ser falsa com ele.

Estou nervosa do que ele espera de mim. Não quero ser uma dessas

garotas que se envolvem com um garoto e logo diz “Sim, dormi na cama com

ele, mas não esperava que ele se descontrolasse...” Eu sempre penso “Não

deveria ter dormido na cama com ele em primeiro lugar, idiota”.

— Quais são os arranjos para dormir? — eu perguntei a Ofra.

— Com quem você quer dormir? — diz com um tom de sarcasmo em

sua voz.

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Snotty balança três chaves em nossos rostos e diz.

— As meninas vão dormir com as meninas e meninos com meninos.

Estou aliviada que os meninos e as meninas vão dormir em quartos

separados. De algum modo tenho um pressentimento de que as coisas

podiam se descontrolar comigo e Avi. Nosso relacionamento é tão explosivo

em outras maneiras, que tenho certeza que vai seguir esse caminho se

estivermos sozinhos.

Estabelecemos-nos em nossos quartos, tiramos uma soneca e fomos

para o restaurante do hotel para jantar à noite.

Depois do jantar, fui sentar perto de O’dead que estava no lobby do

hotel.

— O’dead, você poderia me ajudar com algo? — eu perguntei.

Ele encolheu os ombros.

— Claro.

Pisquei o olho para O’snot e o levei para meu quarto de hotel. O qual

estou compartilhando com Ofra e O’snot . Quando chegamos ao quarto me

movi para a cama e disse.

— Sente-se.

Ele arrastava os pés, desconfortável.

— Amy, eu não estou interessado em você dessa maneira.

Apoiei-me contra a parede.

— Existe alguém em quem você está interessado? Como O’snot ?

Ele ficou boquiaberto.

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— Como você sabe?

Revirei os olhos.

— É óbvio. E você precisa de um chute na bunda para que algo

aconteça entre vocês dois.

Uma batida na porta nos interrompe. Quando abriu, era Avi. E ele

não parecia muito feliz.

— O que está acontecendo aqui? — pergunta Avi.

Coloco meus braços ao redor de Avi e o beijo nos lábios para

acalmar-se.

— Está com ciúmes?

Só ficou olhando em meus olhos sem dizer nada.

— Tento corrigir algo com O’dead e O’snot. — eu explico.

Os olhos de Avi vão de mim a O’dead, cujo o gesto confirma o que eu

disse.

Eu digo a O’dead.

— O’snot quer saber como você se sente, então vá atrás dela e

desembucha. — Quando apareceu sulcos em sua testa me dei conta que meu

modismo o deixou confundido. — Vá atrás dela e lhe diga o que você sente.

Agora, antes que ela encontre a outro rapaz.

Ele saiu do quarto mais rápido do que eu já tinha visto alguém se

mover antes.

Avi sorriu.

— O que? — eu perguntei.

— Você fez algo muito bom, Amy. Totalmente desinteressada.

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166

Eu fico longe dele.

— Não, não o fiz. Só estava doente e cansada de ver como ele a vê,

como se fosse morrer se ela não prestasse atenção nele. — Deus me livre de

ser vista como caridosa.

Ele ficou atrás de mim e colocou os braços em volta da minha

cintura.

— Vamos dar um passeio?

Concordo.

Ele pega minha mão e saímos do hotel, caminhamos sem rumo

através de um caminho de cascalho. Eu tenho uma doce sensação que vibra

no meu coração apenas por estar perto de Avi.

— Conte-me mais de seu irmão.

O ritmo de Avi se desacelera e toma um profundo suspiro.

— Não falo muito sobre ele.

— Por quê?

Ele duvida antes de dizer.

— Dói. Aqui no fundo. — ele aponta para o coração. — Eu sei, não é

o melhor.

Aperto sua mão.

— Não, é o melhor. Quero dizer, isso mostra que você quer. Mas tem

que falar sobre isso. Se não, parte do espírito do seu irmão morre com ele.

Ele para e pensa sobre isso por um minuto. Logo assente lentamente

com a cabeça.

— Amava jogar futebol. Era muito melhor que eu, mas ele me

deixava ganhar a maioria das vezes para aumentar meu ego.

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— Soa como um irmão maravilhoso. Você tem sorte.

— Sim. — Sacode a cabeça e suspira. — Preferia que eu estivesse

morto em seu lugar.

— É por isso que é o Sr. Furioso todo o tempo?

— Eu não sei — disse. — Eu acho.

— Não pode mudar o passado, Avi. Acredite, eu tentei. Não funciona.

— Essa conversa é profunda.

Eu sorrio.

— Tem razão.

— Vamos falar de outra coisa. Como quanto eu gosto de você.

Quero dizer que gosto dele completamente, mas em vez disso, digo

isso:

— Ofra disse que já namorou com um monte de meninas. É verdade?

Este sentimento em meu coração me dá medo e acho melhor não

pensar. Se eu encontrar suas outras namoradas, será mais fácil para

proteger-me, porque eu estou indo para me distanciar emocionalmente com

ele.

— Já namorei — responde. — Porém não desde algum tempo. Tive

medo de que no caiaque fosse um beijo ruim, já faz muito tempo.

— Seu beijo estava bom — digo. Mais que bem. Começamos a subir

uma rochosa colina perto do hotel. — Quero saber mais de você — digo

enquanto me ajuda a alcançar uma grande rocha que fica no topo da colina.

Avi se sentou vendo através do deserto escuro de um lado e luzes piscando

como diamantes do outro, das pessoas na distância. É um lugar muito

romântico e me pergunto se Avi trouxe outras garotas aqui. Ele me guia e me

senta na frente dele, entre suas pernas estendidas.

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— O que quer saber? — pergunta ele.

Muito, para ser honesta. Mas devo fazer as perguntas mais comuns

que uma garota faz a um rapaz, odeio que não consigo pensar em algo

original ou que soe mais maduro.

— Com quantas meninas você já esteve?

— Estive? — disse atrás de mim. Sinto sua respiração quente atrás

em minha cabeça enquanto se inclina para mais perto de mim. Resisto à

tentação de curvar e fechar os olhos. — Beijado?

Não quero pensar em outras coisas que ele fez com as meninas então

eu digo.

— Sim. Beijando.

— Incluindo minha mãe?

— Não, bobo, não tua mãe. Sabe ao que me refiro. Um beijo

verdadeiro.

— Um cara não pode sair falando com quantas garotas ele beijou. Só

direi que se você me disser, eu o digo.

Dou-lhe um olhar como se eu fosse matá-lo se ele não abrisse a boca.

— Você primeiro.

— Acho que cerca de oito — admite finalmente.

— Oito! — digo, atordoada.

— Por quê? — ele pergunta, eu posso sentir o alarme em sua voz. —

Com quantos você beijou? Aposto que é muito mais pela forma que me

beijou no caiaque.

Sorrio pelo elogio, mas disse.

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— Menos que você.

São dois, embora o primeiro não devesse contar, porque esse foi

durante um acampamento para mochileiros e aconteceu acidentalmente no

escuro.

Pode perguntar-se como alguém acidentalmente beija. Bom, pensei

que estava beijando um menino que eu gostava, durante “sessão de

acasalamento com as luzes apagadas” e provou ser o rapaz que beijou

metade das meninas em todo acampamento. Ainda me lembro do gosto de

sabão na minha boca quando lavei para tirar os germes. Sabem o que

dizem... É como haver beijado a todas que ele beijou. Asqueroso!

Infelizmente, quando as luzes voltaram novamente, durante a

“sessão de acasalamento com as luzes apagadas” eu estava lábio com lábio

com o Sr. Equivocado, porém o Sr.Correto nos olhou e terminou com Jessica

em vez de comigo.

— Sete?

— Não, não sete, prostituto — falo.

— Sabe o que, não fale. Não quero pensar em outros meninos que te

beijaram. Eu não sou o que vocês chamam de prostituto. Além disso, só

quero que concentre seus pensamentos em mim... Em nós.

— Pensei que você me odiava.

— Eu só queria te afastar porque não conseguia deixar de te ver. —

Sua voz era rouca e cheia de emoção. — Às vezes não consigo dormir à

noite, só fico pensando em você — disse com seu acento mais profundo que

o normal.

— Pensa em mim todas as noites? — Pergunto e por erro digo

pensa em vez de pensava. — Por quê? — Por favor, não diga por causa de

meus seios.

— Primeiro de tudo — disse enquanto acariciava os cachos no final

de meu cabelo que tinha começado a enrolar pelo calor do deserto. — Você

é linda. Mas é a maneira que você lida com cada situação com seu próprio

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estilo é que me fascina. Você é forte, é exageradamente honesta, tem essa

personalidade de espírito que eu nunca sei o que você vai fazer ou falar.

Você é inquietante. E ainda por cima, tem um coração enorme, embora não

abra com frequência.

Virei para olhar para ele.

— Nunca ninguém me descreveu assim.

— Quando você tentou me empurrar no palheiro no moshav, isso me

impressionou completamente.

— Sim, exceto que não funcionou. Você é quase uma massa de

músculo.

Ele começou a rir.

— Não alimente meu ego. Agora me diz o que te atrai em mim. Além

da minha grande massa de músculos.

— Tá, tá. É sério. — digo, então levantei meu dedo e lentamente

traço uma rota a partir do canto do olho, para a barba no queixo e

terminando nos seus lábios grossos. — Além de que você é um belo

exemplar masculino, eu gosto que você sempre esteja ali por mim quando

me torno louca. Apesar de que você fez isso parecer uma tarefa, me ajudou

com todos os desafios que tive aqui. Deixou-me cair sobre você quando os

amigos de Mutt estavam a ponto de atacar-me. — eu digo e beijo

suavemente sua boca. — Me ajudou com o rebanho de ovelhas — continuei

e o beijei outra vez. — E foi meu herói tirando as tripas da cobra.

Antes de poder beijá-lo outra vez e continuar lhe dizendo as coisas

incríveis agora que vejo e que não podia ver antes, ele esmaga seus lábios

contra os meus.

— Amy — disse contra meus lábios. — Acho que vamos entrar em

problemas. Quantos anos você tem?

— Em breve terei dezessete — falo sem conseguir respirar.

Ele disse algo em hebreu que obviamente não consegui entender.

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— Não deveríamos estar fazendo isso.

— Não estamos fazendo nada exceto nos beijarmos.

— Sim, mas...

— Podemos nos beijar, não? — digo passando meus lábios em seu

pescoço.

— Sim — disse com voz tensa e baixa. — Podemos nos beijar.

Não quero que ele pense sobre minha idade agora. Quero que

desfrute do momento e dos beijos. Especialmente os beijos. Pressiono meus

lábios com os deles, porque não posso imaginar ficar sem tocar seus lábios

nos meus. Ele intensifica o beijo e eu o sigo, sou apenas consciente de que

trocamos de posição e agora estamos deitados lado a lado.

Bem, nunca em meus dezesseis (quase dezessete) anos me senti

assim antes. É como se houvesse cruzado o ponto de ser uma menina, a uma

mulher só experimentando a sensação estranha e desconhecidamente

quente e profunda do meu corpo. Minhas reações corporais aumentaram

dez vezes, quando o meu cavalheiro israelense com sotaque, acariciou

minhas costas. Sinto que vou morrer se parar e eu tenho a sensação de que

ele sente o mesmo.

— Vou lembrar desta noite quando eu estiver no treinamento básico

— disse beliscando o nódulo da minha orelha. — Quando me porem à prova

e estiver exausto, vou lembrar desse momento e vou superar tudo.

Meu corpo parece uma tortura doce e quer assimilar tudo sobre Avi

e seu corpo agora mesmo. Agarro sua cabeça para mais perto de mim e

depois acaricio seu corpo com as mãos. Nossos lábios e bocas se explorando

uns aos outros e as nossas mãos estão fazendo o mesmo.

Quando eu o toco de volta, seus músculos tensos contra meus dedos.

Minha mão se move ao redor da frente de sua camisa e puxa para cima pra

sentir sua pele suave e seu abdômen bem formado contra minha mão. Seu

coração estava batendo rápido, eu podia sentir bombear em um ritmo

irregular.

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Baixando minha mão, cheguei ao cós da calça jeans e deslizei o dedo

indicador dentro do cinto. Pouco a pouco, meus dedos se moveram mais

para baixo.

Avi reclamou em voz baixa e gentilmente pega a minha mão.

— Não podemos... — ele disse.

— Porque não? — pergunto sem fôlego, ainda agitada pelos nossos

beijos intensos. Sinto-me bêbada (embora eu nunca estive bêbada, tenho

certeza que é assim como se sente) e fora de controle.

— Além de seu aba me matar?

Grande, o meu pai nem sequer está aqui e ainda pode arruinar minha

vida.

— Não me importa o que Ron pensa.

— Talvez você não. — ele diz e se senta. — Mas eu sim. Não quero

nenhum de nós nos arrependendo amanhã.

Sento-me também.

— Não me arrependerei de nada. — Nunca.

Ele beija minha testa.

— Deixa eu te levar para o seu quarto. Já está ficando tarde.

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Capítulo 25

Aproxime-me de seu próprio risco.

— Boker tov. — Avi diz bom dia para mim na fila do café-da-manhã.

Ele se inclina para me beijar, mas eu me afasto.

— O que há de errado? — ele pergunta.

Duh! Ele totalmente me rejeitou ontem à noite.

— Nada.

Eu continuo colocando o que está na minha frente em meu prato. Eu

mal percebo que essa coisa cremosa com pedaços inteiros de sardinhas

pequenas - como peixes dentro (com as escamas de prata conectados, muito

obrigada) DEFINITIVAMENTE, não é como sushi. É nojento, mas agora que

eu já o coloquei no meu prato, eu vou ter que ficar olhando enquanto eu

como.

Antes que eu possa acrescentar mais na minha bandeja, Avi toma o

prato da minha mão e coloca na mesa mais próxima.

Eu coloco minhas mãos em meus quadris. — Hey! Esse é o meu café-

da-manhã.

Eu percebo que eu estou fazendo uma cena. Eu não me importo.

Ele agarra a minha mão e me leva para a saída. — Ele vai esperar.

Nós precisamos conversar.

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Ele me leva para fora. Uma lufada de ar quente do deserto me dá um

tapa na cara.

— Ok, fale. Antes que eu me derreta, por favor.

Ele esfrega seus olhos em frustração. A próxima coisa pra você saber

que eles terão de enfrentar a frustração é que ele está correndo os dedos

pelos cabelos.

Ele olha diretamente para mim e diz: — Você acha que a noite

passada eu parei para pensar antes que as coisas ficassem fora de controle

porque eu não queria ter mais intimidade com você?

— Bingo. — eu digo sarcasticamente. — Mas eu estou mais sábia

esta manhã e não me atirei em você. Além disso, não é como se nós fôssemos

fazer sexo ou qualquer coisa.

— Onde você e eu estamos fisicamente, nossas emoções estão fora

do controle. Eu não posso lidar com isso.

— Você está certo. Deus me livre, devemos ser pessoas racionais.

Devemos apenas nos chamar ‘amigos com benefícios’. Ou, melhor ainda,

porque não simplesmente acabamos com tudo isso para que você possa

encontrar outra garota que você não se emocione? — eu digo quando eu

volto para dentro antes que minhas axilas comecem a molhar a camisa que

estou usando. Em retrospecto, eu estou feliz por ter decidido pedir a

blusinha de alças de Snotty.

— Você é tão teimosa. — ele diz.

Eu me viro e o enfrento antes de eu chegar à porta. — Eu não sou.

— Amy, você é a pessoa mais teimosa que já conheci. Você joga em

sua mente e cria um drama que não existe, só para irritar todo mundo,

incluindo você.

Acabo olhando incrédula para ele.

Ele toma minhas mãos nas suas. — Olhe para mim. — Quando eu não

olho, ele diz novamente: — Olhe para mim.

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Eu levanto os meus olhos e olho para os seus, que são grandes e

sinceros.

— Eu queria mais na noite passada. — diz ele. — Não minta para si

mesma achando que não te quero. Eu me bati cerca de um milhão de vezes

depois que eu deixei você ir. Acredite em mim, eu quero fazer isso com você.

Mas essa coisa entre nós é mais séria do que podemos admitir. Você está

indo embora em algumas de semanas querendo ou não. E eu vou ficar no

exército durante três anos.

Eu não posso discutir os seus pontos, então eu fico ali parada

olhando em seus olhos castanhos.

Ele deixa minhas mãos de lado e diz: — Você quer acabar com isso,

basta dizer.

Então ele simplesmente volta para o hotel e me deixa aqui no quente

calor do deserto, axilas suadas e tudo.

Porra. Por que Avi tem que ser tão lógico sobre tudo? Eu odeio ser

lógica. Mas eu estou muito quente para ter uma atitude realista e Avi está

certo. Estamos ficando muito apegados já.

Lentamente eu ando de volta para o hotel e entro no restaurante. Avi

está sentado em uma mesa, conversando com seus amigos. Há um lugar

vazio ao lado dele com o meu prato na mesa em frente a ele.

Eu sei que é um fato que eu não quero terminar com ele agora. Eu

quero manter isso o maior tempo possível.

Nossos olhos se encontram e ele me dá um pequeno sorriso. O

problema é que todo mundo está olhando para mim, também. Ok, eu acho

que eu mereço por causar uma cena. Quero me encolher de vergonha, mas

eu mantenho minha cabeça erguida e sento ao seu lado.

Eu desvio meus olhos de todos ao nosso redor, incluindo Avi. Mas

quando ele pega a minha mão debaixo da mesa e dá um aperto, eu aperto de

volta. Eu posso lidar com essa relação, eu digo a mim mesma. Mesmo com

seus altos e baixos.

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— Você já foi a uma fazenda de alpaca? — Ofra me pergunta.

— O que é um alpaca? — Eu pergunto.

— Parece como uma espécie de lhama. — Avi responde.

— Legal.

Ofra dá um tapinha nas minhas costas. Saímos depois do almoço

para ter certeza de eu estar pronta.

Por volta das dez da manhã, estamos estacionados na entrada da

fazenda de alpaca. Então, nós compramos sacos de comida para alimentar os

altos animais peludos com pescoços longos. Espero que as alpacas estejam

em gaiolas, mas estão todas abertas. Na verdade, entramos no grande salão

com eles.

Examino as Alpacas com cuidado. Eles são todos com tons de

marrom, vermelho, preto e castanho. E seus dentes inferiores são tão

grandes que parecem caipiras de alpaca.

Eu assisto avidamente como Avi detém um punhado de comida para

um grande salpicado cinza e preto. Ele come direto da sua palma da mão.

— Cuidado. — advirto. — Ele poderia arrancar sua mão fora com os

seus dentes salientes e maciços.

— Eles são inofensivos. — ele diz. — Eles não te morderão. Tente

isso.

Eu olho para o saco marrom de comida que eu acabei de pagar dez

sheckels (nome do dinhiero de israel ). Dez sheckels para o risco de ter um

enorme dente de alpaca na palma da mão. Não muito obrigado. Eu ando até

um bebê alpaca e apenas o acaricio. Sua pele é macia, mas um pouco dura. E

dou uma risada quando ele me olha com seus grandes olhos e grandes

dentes tortos. Meu ortodontista, Dr. Robbins (também conhecido como

Milagre de seus pacientes), poderia ter um dia de campo com este animal.

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Eu sinto que eu posso tentar alimentá-lo, porque ele é pequeno. E ele

olha para a minha bolsa marrom do mesmo jeito quando eu vejo um bom

restaurante de sushi. Pego meu saco e retiro alguma 'Comida'. O pestinha

não pode mesmo esperar eu colocá-los em minha mão antes de enfiar todo o

seu rosto e pegar tudo com sua língua.

— Ei, você não tem boas maneiras?

A alpaca começa a mastigar a comida de uma forma muito vulgar;

pequenos pedaços de alimentos estão caindo fora de sua boca a cada

mastigação.

— Cuidado. — diz Ofra andando atrás de mim.

— Com o quê? — Eu passo para trás em várias etapas, longe do

animal. — Avi... Avi me disse que eles são inofensivos.

— Eles são. — Moron advertiu. — Mas eles cospem.

— O que você quer dizer em 'cospem'? — Eu digo, me movendo mais

para trás longe do cuspidor dentuço.

— Bem. — diz Snotty. — É mais parecido com um grunhido, um

arroto, depois cuspe. Pelo menos você receberá um aviso.

Como se alimentando um alpaca pequeno com todo o saco de comida

não fosse suficiente, uma vez que eles ouviram eu fechar a minha bolsa, ouço

o som de alerta de uns 10 vindo atrás de mim, também.

— Eu não sou uma pessoa animal — eu digo quando eu corro para

Avi. — Eu não sou uma pessoa animal. — Eu grito várias vezes até eu chegar

a ele.

— Eles te amam. — diz Avi. — Olhe, eles estão todos seguindo você.

Eu coloco o saco de papel pardo com 'Comida' (o que é exatamente

que tem dentro desse material para torná-lo 'Comida'?) na sua mão e me

escondo atrás dele.

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O destemido Avi pega o saco inteiro e despeja-o em uma de suas

mãos. Quando ele os alimenta, eu ouço o que Snotty estava falando... Este

som de um grunhido alto, como um arroto. Eu agacho mais atrás de Avi com

medo.

— Merda. — Eu o ouço dizer.

— O quê? — Eu não posso ver nada, porque eu ainda estou atrás

dele.

— Ele me pegou.

— Quem tem você?

Ele se vira e eu o vejo, preso no cabelo Avi, uma baba de catarro com

pequenos pedaços de algo mastigado no cabelo dele.

— Eca, nojento! — Eu digo, afastando-me dele.

— Cuspiram-me por tentar protegê-la.

— Você é meu herói, agora fique longe de mim. Você está nojento. —

eu digo, então sorrio para ele.

— Não foi há muito tempo eu tirei a serpente de seu pé. Isso foi

muito desagradável. Agora me dê um beijo. — ele diz, se movendo em

direção a mim.

Eu me escondo atrás de uma Ofra rindo. — Eu não lhe pedi para me

beijar depois do incidente de cobra.

Ele para. E parece tão bonito mesmo com toda a 'alimentação'

pegajosa nele. Eu ando até ele, mantenho a distância, e arco e só toco os

meus lábios nos dele. Então, me puxo de volta.

— Agora você tem que lavar o cabelo. — Então eu acrescento —

Duas vezes.

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Capítulo 26 A história é para ser lembrada, mas não para ser repetida.

Nossa seguinte parada (depois que Avi lavou o cabelo na pia da

fazenda de lhama) é um lugar chamado Monte Masada. Nunca tinha escutado sobre ele e me perguntava por que um “monte” podia ser um lugar onde muita gente queria ir.

Mas enquanto dirigíamos (me dei conta de que a maioria de Israel é

um deserto. Realmente me pergunto por que é muito procurado) e chegamos ao Monte Masada, eu perguntei a Avi.

— Porque vamos a esse lugar? — Para lhe mostrar uma parte da história da sua gente. Imagino que

gostará. Minha gente? Exatamente quem é minha gente? Não estou muito

segura, mesmo se os demais pensam que sou judia. O interessante é que fui criada como nada. Mamãe não acredita em religião como nem mesmo acredita nas dietas de baixa caloria.

Decorávamos a árvore de natal até que me dei conta de que Papai

Noel não existe. Deveriam dizer aos mais velhos que no ônibus da escola não lhes diga aos menores sobre Papai Noel ou a Fada dos dentes. Poderia se surpreender com o que se aprende nesses ônibus amarelos.

Bom, depois de descobrir que Papai Noel não existia, eu pedi para

minha mãe que já não o colocasse. A árvore não simbolizava o cristianismo ou o Natal. Simbolizava o Papai Noel. E como a crença em Papai Noel tinha ido, não havia razão para ter a árvore. Isso era toda a minha experiência religiosa, que não era religiosa em primeiro lugar.

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Olhei para essa coisa vermelha de massa que chamavam de Monte Masada enquanto saía do carro. Todos estavam tirando suas garrafas de água do carro e me perguntei por que ninguém estava olhando o monte.

— Quantos anos têm? — perguntei a ninguém em particular. Moron com sua arma que sempre trazia no ombro disse. — A guerra aqui foi em setenta e três. O olhei. — Mil novecentos e setenta e três? — Tentei adivinhar. — Não. Antes. — Mil quatrocentos e setenta e três? — Não — Doo-Doo disse. — Simplesmente em setenta e três. Simplesmente em setenta e três? — Se refere a, como, há quase dois mil anos? — Sip. A olhei outra vez, desta vez mais cuidadosamente, este importante

monte em meio ao deserto de Israel. Tentei imaginar aqui uma guerra faz dois mil anos antes entre os judeus e seus inimigos.

— Pergunto-me como se sente ali em cima — disse. — Bom, está a ponto de descobrir — Avi disse enquanto me

entregava uma garrafa de água. — Precisa tomar água regularmente ou se desidratara durante a subida.

— Imagina que posso subir essa coisa? — perguntei. — Sei que pode Amy. Como seus ancestrais antes de você. Vê esse

caminho em forma de serpente? — O chama de caminho da serpente porque tem serpentes? —

Porque sou rude, mas já tive o suficiente de serpentes por uma viagem, muito obrigada.

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— É chamado assim por sua forma — disse apenas temporariamente tranquilo.

Caminhamos próximos da parte inferior do monte e pude ver o

caminho longo e sinuoso que conduzia para cima. Estava vendo como Doo-Doo, Snotty, Ofra, O´dead e Moron começavam sua subida para a montanha. À minha esquerda vi um cabo grande que ia para cima na parte superior. Sigo até onde conduz e no final era um teleférico, localizado ao pé da montanha.

— Porque não pegamos o teleférico? Avi começou sua caminhada para o não-infectado caminho da

serpente. — Porque então, perderia o sentimento de vitória ao ter chegado lá

em cima por sua conta. Eu o fiz muitas vezes, e se sente grandioso. Segui Avi até o início da rota da serpente. No princípio é fácil...

Apenas coloco um pé diante do outro e chegarei lá em cima em muito pouco tempo.

Mas vinte minutos mais tarde, estou arquejando e meus músculos

das coxas começam a tremer. Dizem-me que em Illinois não tem muitos montes, apenas colinas, e eu não estou acostumada a isso. Paro, e Avi fica comigo. Sei que ele pode subir mais rápido ao monte.

— Continua — lhe digo quando chegamos perto do meio ponto da

coisa. — Se não morro de cansaço, vou morrer afogada em meu próprio suor.

Nega com sua cabeça. — Digo a sério. — Sei que o faz, assim, mova esses pés para chegar antes do

anoitecer. O faço, somente porque ele agarra minha mão e me guia. — A quem os judeus combateram aqui? — perguntei. — Os

palestinos. — Não. Os romanos.

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Porque os romanos queriam vir aqui? — Então, porque os judeus odeiam aos palestinos? Ele para e vira para me ver. — Não odiamos a todos os palestinos. Bufou com incredulidade. — Pensei isso quando o vi na CNN — lhe digo. Finalmente, o topo do Monte Masada está à vista e somente levou

uma hora para subir a coisa. Não posso acreditar que na realidade cheguei a escalá-la.

Quando chego lá em cima, as ruínas antigas me surpreendem. — Aqui mesmo que os judeus ganharam a batalha contra os

romanos? — pergunto. O´dead disse. — Não realmente, os judeus cometeram suicídio aqui. — Eh? — disse em choque e um pouco assustada. Ofra se coloca diante dele. — Nossos antepassados subiram ao Masada e viveram aqui durante

a guerra. Os romanos iam perder, eles não podiam subir a montanha sem ser atacados de cima do Masada.

Avi me leva para uma das ruínas. — Se diz que novecentos e dezesseis judeus viveram aqui. Eles

lutaram o melhor que puderam, mas sabiam que com o tempo as armas dos romanos seriam capazes de chegar aqui em cima. Se fossem capturados pelos romanos, os teriam matado ou vendido como escravos.

Olhei para Moron que olhava para baixo, ao colorido mosaico dentro

de uma das casas construída no Monte. Era absolutamente lindo e comoveu meu coração que as pessoas vivessem no Monte para salvar a si mesmos e suas famílias.

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— Assim cometeram suicídio? — perguntei. Avi continuou. — Eles concordaram que os judeus somente deviam servir a Deus e

somente a Deus. Ser vendidos como escravos não era uma opção. Preferiram morrer com orgulho, como pessoas livres a serem convertidos em escravos pelos romanos.

— Destruíram todas as suas coisas, exceto sua comida, assim os

romanos saberiam que a fome não os levou à morte, mas sim lhes mostrar que preferiam a morte a serem escravos.

Meus joelhos se debilitaram pela história e um calafrio percorreu

meu corpo. Não podia acreditar quão forte os judeus tinham sido... E continuavam sendo. Eu continuo sem rumo caminhando o Monte e desfrutando as meias paredes de pedra que meus antepassados construíram.

Toquei o azulejo com meus dedos, imaginando as mulheres e

homens que faz dois mil anos conheceram que suas probabilidades de sobreviver eram escassas, mas tiveram coragem o suficiente para construir casas lindas para eles que durariam milhares de anos.

Enquanto examinava o Monte, vi um grupo de soldados chegarem à

cima e felicitar. Fixei-me que tinha uns pequenos bolsos nas laterais de suas botas.

— O que são esses pequenos bolsos em suas botas? — perguntei a

Moron. — Os Americanos têm identificações ao redor do pescoço dos

soldados? — Sim. — Bom, os soldados de combate Israelenses levam a identificação no

pescoço e em suas botas. No caso de partes do seu corpo sejam separadas durante o combate e possam identificá-las. É um costume judeu que cada pessoa seja enterrada com todas as partes do seu corpo, mesmo que seja impossível ocorrer com nossos soldados.

Wow. Que coisa tão sombria é pensar nisso.

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— O que estão fazendo? — lhe perguntei, enquanto os via junto recitando umas palavras em hebreu.

— Eles estão fazendo um juramento para que o Masada não volte a

cair outra vez — Moron me explica. — Este é um lugar muito espiritual para a gente judia.

Como se a rocha que estivesse queimada me retirei. — Oh meu Deus. — digo e tropeço para trás. — O que? — Avi diz consternado. — Nada. — Não quero admitir que Masada fosse um lugar espiritual

para mim também. E pela primeira vez desde que cheguei em Israel sei porque estou aqui e me assusta.

Lembrei o que Safta disse. Ser judeu está mais em seu coração que em sua mente. A religião é

pessoal. Sempre estará ali para quando a queira e a necessite. Pode escolher segui-la...

Meu passado talvez seja borrado e está com sombras, mas meu

futuro está claro, graças a esta horrível, maravilhosa viagem a uma terra muito diferente, mas uma parte dela também é parte de mim.

Olhando montanha abaixo e tentando entender como os judeus...

Meus antepassados... Se sentiram com os poderosos soldados romanos estando abaixo, e me dou conta de que esta terra tem sido uma zona de guerra desde o início dos tempos.

Porque o século vinte e um deve ser o primeiro diferente?

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Capítulo 27

Às vezes, nossos inimigos são nossos amigos mais próximos.

— Onde você está me levando? — Eu pergunto a Avi.

Enquanto os outros estavam tomando café da manhã na nossa última

manhã no sul de Israel, ele alugou um carro no hotel e está me levando para

um passeio. Ele não vai me dizer para onde estamos indo, embora, por isso

estou nervosa.

— Para encontrar um amigo.

Nós dirigimos pela estrada de terra estéril, ele olha para mim com

aqueles olhos escuros e misteriosos.

— Está com medo?

— Eu deveria estar? — Eu pergunto.

— Não. Você nunca deve ter medo de mim.

Deus, a maior parte do tempo eu estou com medo de estar com ele.

Mas principalmente é porque eu tenho medo de meus próprios sentimentos,

que ficam fora de controle quando estou com ele.

Eu coloquei minhas mãos no meu colo e olho para a bela paisagem.

Quem adivinharia que rochas e a paisagem do deserto poderiam ser tão

bonitas e tão diferentes das montanhas verdejantes do moshav.

Estamos ouvindo uma música israelense no rádio, mas eu preciso me

livrar da minha energia nervosa. Eu começo meus exercícios de glúteo.

Aperte. Solte. Aperte. Solte.

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— O que você está fazendo? — Avi pergunta.

Olho para ele e digo casualmente. — Exercícios de glúteo.

Ele me olha por um segundo, então começa a rir.

— Não é engraçado. — Eu me oponho. — Se você ficar sentado por

um longo tempo, a sua bunda vai parecer como uma bolha enorme de geleia.

— Nós não queremos isso, queremos? — ele diz.

Mostro o dedo para ele. — Vá em frente e tire sarro de mim. Você vai

se arrepender quando você tiver a maior bunda do moshav. — Eu me inclino

para trás no assento do carro. — Antes de tirar sarro de mim você deve

experimentá-lo primeiro.

— Você tem um bumbum legal. — Os lábios de Avi se contorcem em

diversões. — Ok, me diga como fazê-lo.

— Não, se você vai tirar sarro de mim. — Eu não quero fazer um

papel de tola novamente.

— Vamos lá. — ele insiste. — Eu não vou tirar sarro de você. Eu

prometo.

— Tudo bem. — eu digo.

Eu respiro fundo e percebo que estou prestes a dizer a um menino

muito masculino como fazer exercícios de glúteo. Estou morrendo de

vergonha, mas ele realmente parece sério.

Eu digo logo: — Você vai só apertar os músculos do glúteo assim e

depois solta. Quanto mais você segurar a parte interna, mais duro ficará.

Tento demonstrar a ação sem me sentir como uma idiota completa.

Mas então eu olho para ele e ele está realmente tentando o exercício.

Eu posso dizer pelo olhar concentrado em seu rosto.

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— Você já pode variá-la, apertar uma bochecha depois a outra? —

ele pergunta.

Eu tento reprimir uma risadinha, mas não posso. Na verdade, eu não

consigo parar de rir quando vejo Avi tentando apertar cada bochecha no

ritmo da música tocando no rádio. Ele está tirando sarro de si mesmo,

enfatizando cada movimento de sua bunda junto com o ritmo da música.

Tento, também, e não posso parar de apertar o ritmo da música. É

contagiante, e eu estou tendo um dos melhores momentos da minha vida.

— Eu não sabia que você podia ser tão engraçado. — digo-lhe, ainda

tentando manter meus risos parecerem mais sérios para ele.

— Sim, bem, você me pegou desprevenido.

— Seja desprevenido com mais frequência. — eu digo de uma forma

muito sedutora e sorrio para ele quando ele olha para mim.

Ele balança a cabeça e suspira, resignado. — Você vai me causar

problemas com Ron. Eu lhe disse que ia cuidar de você.

— Você está.

Eu quero dizer isso. Avi era realmente um pé na minha bunda (com o

perdão do trocadilho) quando cheguei a Israel. Mas agora que ele abriu e me

deixou entrar em sua vida pessoal, eu me sinto mais perto dele do que eu

senti com ninguém há muito tempo. Mesmo Mitch.

E agora percebo que Mitch e eu não somos compatíveis. Na verdade,

ele provavelmente nem me conhece. Eu mantenho uma parede sobre mim

para não me machucar. Eu gosto de Mitch. Mas eu achava que se ele me

conhecia, eu quero dizer REALMENTE achava, ele nem sequer considera ser

meu namorado.

Por quê? Porque eu sou de alto sustento, em primeiro lugar. E em

segundo lugar eu preciso de um cara forte para pegar minhas merdas e

entregar de volta corrigido para mim. Acho Avi um pouco parecido com Ron

a esse respeito. Poderia ser compatível com um cara que é igual ao meu

doador de esperma?

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Voltamo-nos para um pequeno caminho pavimentado e

movimentação por mais de quinze minutos.

— Onde estamos? — Eu pergunto quando ele estaciona o carro na

frente de uma casa pequena.

Ele abre a porta do carro. — Aqui.

— Onde é aqui?

Ele sorri aquele sorriso bem grande, vem para o meu lado do carro, e

abre a minha porta. Eu sei que é considerada a coisa cavalheiresca de fazer,

mas vamos ser honestos. Eu não sou uma dama, e Avi... Vamos, ele não é

nenhum cavalheiro. Ele é um áspero, áspero israelense que pode chicotear

fardos de feno com pouco de esforço. Do jeito que eu gosto.

Eu saio do carro e olho em volta. Eu estava errada antes - moshav é o

Pólo Norte em relação a este lugar no meio do deserto. Acredito seriamente

que se eu quebrasse um ovo na rua, vai ficar cozido no sol quente em menos

de dez segundos.

Há casas em frente a mim, feitas de cimento, e elas são todas iguais.

Com isso, quero dizer as casas são todas brancas. Sem tijolos, sem pintura...

Apenas cimento todo branco.

— Quem mora aqui? — Eu pergunto silenciosamente. É como uma

pequena aldeia no meio do nada.

Ele caminha em direção à entrada para uma das casas primitivas, e

eu sigo em silêncio.

— Palestinos. — ele responde.

O QUE?!

Por que um israelense me leva para uma casa de pessoas palestinas?

Eu quero fazer perguntas, mas eu não tenho tempo suficiente, porque a

porta da frente da casa começa a se abrir.

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Um adolescente, de nossa idade, abre a porta. Sua pele é mais escura

que a minha, com o mesmo tom de Avi. Na verdade, se Avi não tivesse me

dito que este cara era um palestino, eu teria pensado que ele era israelense.

Eu sei os eventos atuais. Você teria que viver em uma caverna para

não saber que palestinos e israelenses não veem olho no olho em qualquer

coisa. E isso é dizer pouco.

Mas enquanto eu assistia esse cara palestino apertar a mão de Avi e

puxá-lo para um abraço curto, mais uma vez o que eu sei está inclinado em

seu eixo.

— Tarik, esta é minha amiga, Amy Barak. Ela é uma americana.

Ninguém nunca me chamou Amy Barak antes e eu estou surpresa. Eu

nasci com o nome de Amy Nelson, porque esse era o nome de solteira de

minha mãe. Eu sou Amy Barak?

Alguma parte de mim, bem no fundo, gosta do jeito como isso soa. Ou

talvez eu goste do jeito que soa saindo dos lábios carnudos de Avi.

De qualquer maneira, não importa. Estou nervosa. Eu faço tudo ao

meu alcance para não roer as unhas ou agir tão chocada quanto eu sinto por

dentro.

Mas Tarik sorri para mim, pondo-me um pouco à vontade. E é um

sorriso verdadeiro, e não um daqueles falsos que as pessoas fazem apenas

para ser educado (como Marc faz). Não, este sorriso de Tarik chega a seus

olhos.

—Venha! — Tarik diz ansiosamente. — Tem sido um longo tempo,

amigo. — ele diz para Avi que lhe dá um tapinha no ombro.

— Como está a caça à universidade? — Avi pergunta.

Tarik ri. — Não vale a pena falar. Apesar de eu receber uma carta do

UCLA e Northwestern. Então me diga, Amy, o que a traz aqui? — ele

acrescenta enquanto nos leva a uma pequena sala.

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Há almofadas no meio do chão e na parede revestida. Tarik nos

indica para sentarmos. Eu assisto Avi quando ele se senta em um travesseiro

laranja e eu sigo o seu exemplo, sentando em uma luz azul.

— Eu vim com meu pai para o verão. — eu digo.

Eu vejo uma mulher, com a cabeça coberta e em traje tradicional

muçulmano completo, trazendo uma bandeja de frutas e entrega para Tarik.

Ela não diz nada, apenas entrega e sai.

Tarik pega uma laranja e as indica para mim. — Da nossa árvore.

Aposto que é melhor do que na América.

Eu olho para Avi, que tira um cacho de uvas da bandeja e começa a

comê-los. Só depois que eu comecei a descascar a minha laranja Tarik

começou a comer a sua. É costume, deixar seus convidados comer primeiro?

Eu simplesmente não posso acreditar que estou sentada em uma

casa de palestinos e ele está alimentando um judeu israelense e uma

estranha americana. Com um sorriso no rosto, nada menos.

— Vocês dois estão namorando? — Tarik pergunta.

— Somente no verão — Eu gritei e meu rosto fica quente com

embaraço. — Isso é tudo.

Tarik ri. — E depois do verão?

Ele dirige a pergunta para mim, mas Avi diz: — Depois do verão, ela

vai voltar para seu país. Ela tem um namorado lá.

— Ah, a história fica mais interessante agora. Eu acho que eu gosto

destas mulheres norte-americanas.

Avi com uma uva verde grande em sua boca fala. — Por favor, Tarik,

não deixe ela te enganar. Amy Isanha Taweel.

— Desculpe-me? — Eu digo. — Se você vai falar de mim, fale em

Inglês para que eu possa me defender.

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Tarik olha para mim com um olhar malicioso no rosto. — Ele diz que

você tem uma língua afiada, como uma cobra.

Minha boca se escancara e eu digo: — Eu não tenho. Como é que é?

— digo a Avi.

— Amy, você deve saber que este cara não pede desculpas — diz

Tarik. — Não está em sua natureza.

Avi ri e coloca outra uva verde em sua boca, terminando o último. —

Tarik, você tem que ser um advogado, em vez de um médico. Você gosta de

argumentar ambos os lados, confundindo a todos.

Um arranhar da porta interrompe-nos quando duas garotas entram

no quarto com xícaras e um bule. Elas estabeleceram os copos na frente de

nós.

— Estas são as minhas irmãs, Madiha e Yara.

Meu Deus, minha vida é tão diferente dessas meninas. Elas sorriem e

se curvam ligeiramente em saudação e eu levanto e faço o mesmo, embora

eu me sinta um pouco mal vestida. Eu me pergunto o que elas pensam de

mim. Eu não cubro a cabeça ou uso roupas compridas como elas fazem e

imagino o quão diferente as nossas vidas são.

Depois que saem, eu me sento para baixo e dou uma mordida da

minha laranja. Ela é tão doce como se eu tivesse lambido uma colher de

açúcar. Yum!

Quando as irmãs nos deixam sozinhos, Avi diz a Tarik : — Amy acha

que todos os israelenses odeiam os palestinos.

A última coisa que quero fazer é começar uma discussão política com

estes dois. Avi iluminou-se. Eu quase engasguei com a minha laranja.

Quando eu finalmente fui capaz de engolir, eu abro minha boca para dizer

alguma coisa. Não sai nada.

Tarik se inclina para trás e diz: — Os palestinos tem o mesmo direito

à terra que os israelenses. Não há maneira de contornar esse fato.

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— Mas — Avi continua — nem todo palestino odeia todos os

israelenses e não todos os israelenses odeiam todos os palestinos.

— Como vocês podem ser amigos? — Eu pergunto. Viro-me para

Tarik e digo: — Ele vai para o exército israelense!

Tarik encolhe os ombros. — Esta é a sua vida, a minha não é tão

diferente, mas o meu povo escolheu lutar de uma maneira diferente. É a

única maneira que meu povo achou ser mais eficaz.

— Ninguém ganha. — eu digo. — Por que você não pode

simplesmente chegar a algum tipo de acordo e ficar com ela?

— Esperamos que no futuro as coisas vão mudar. — Tarik admite. —

Para alguns, a paz com os israelenses não é uma opção. Para mim? Eu quero

paz, mas também quero o meu povo vivendo suas vidas com respeito.

Avi olha para mim e diz: — Muitos israelenses querem a mesma

coisa, Amy. Paz, mas com a garantia de nossas mulheres e crianças possam

andar nas ruas e ônibus de passeio sem ter que se preocupar com sua

segurança.

— Mas o que vem primeiro? — Tarik pergunta.

— No Oriente Médio, nada jamais foi simples — diz Avi.

— Certo. — Tarik concorda. — Nós dois somos pessoas fortes em

nossas crenças.

Eu me movi desconfortavelmente sobre o travesseiro. — Se você

visse Avi no campo de batalha, você o mataria?

Tarik olha diretamente para Avi e diz com uma voz sombria: — Sim.

E eu não poderia esperar nada menos dele.

Avi se inclina e pega a minha mão na sua. — Eu trouxe você aqui

para lhe mostrar que não estamos todos cheios de ódio e você está aqui

perguntando se dois amigos se matariam. Boa forma de fazer esse encontro,

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querida. Ouça, nós dois fazemos o que tem que fazer para sobreviver. É a

nossa forma de vida.

Ficamos na casa de Tarik um pouco mais, os caras sorriam sobre a

escola e suas famílias e me perguntaram sobre meus amigos de casa. Eles

pararam o debate político, parece que eles sabem seus limites em falar sobre

isso. É bom discutir coisas sem pensar como se eu não tivesse que agir de

determinada maneira ou responder a uma determinada maneira para me

encaixar.

Eu gosto de Tarik. E eu tenho novo conceito por Avi, porque eu sei

que ele deixa de lado suas crenças políticas e é amigo de Tarik, porque ele é

um cara com um bom coração e cabeça. A notícia soa tão diferente da

realidade, acho que programas de notícias devem mostrar os lados positivos

das pessoas ao invés de se concentrar no negativo.

Quando estamos prontos para sair, Tarik me dá um abraço de adeus

e diz: — Cuide do meu amigo.

Deus, eu me sinto um peso sobre meus ombros agora. A vida em

Israel é difícil em comparação com a vida de um adolescente na América.

Nossas maiores preocupações de volta para casa são o filme que veremos ou

que roupa vamos comprar. E depois do colégio, ficamos obcecados por qual

faculdade vamos entrar. 11 de Setembro mudou nossas vidas, mas ainda é

mais fácil do que para as pessoas no Oriente Médio.

Israelenses nem sequer vão para a faculdade após o ensino médio.

Eles têm de colocar suas vidas em risco e entrar para o exército. Cuide do

meu amigo, Tarik acabou de dizer.

Não é tão fácil como se poderia pensar, especialmente quando essa

afirmação vem de um cara que está do outro lado.

Minha própria vida e a maneira que separei de Ron passa diante dos

meus olhos e me sinto um pouco doente. Eu tenho uma família aqui em

Israel, talvez eu devesse agir como se me preocupasse com eles. Se Avi e

Tarik podem cuidar uns dos outros, talvez eu possa encontrar um pedacinho

do meu coração para amar Ron. E Safta. E me atrevo a pensar até em Snotty.

Quero dizer, Osnat.

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Mas e se eles me decepcionarem?

Eu vejo como Avi e Tarik dão tampinha nas mãos e batem nas costas.

Um sorriso atravessa em meu rosto. Porque eu sei que, mesmo se não o

fizerem, iriam proteger um ao outro com toda a sua força, mesmo que

estiverem cara a cara no campo de batalha. Ambos os meninos têm alma

pura e verdadeira.

Paz entre israelenses e palestinos? Quem sabe? Tudo é possível.

Talvez, apenas talvez, a forte amizade entre esses dois caras seja um sinal de

esperança para o futuro.

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Capítulo 28 Há muito o que aprender por se aventurar fora do caminho

planejado.

— Como você conheceu Tarik? — pergunto quando estamos no

carro, voltando ao hotel.

— Vamos apenas dizer que eu o ajudei quando ele precisava de um

amigo, e ele fez o mesmo.

— Estou feliz que você me fez conhecê-lo. — digo.

— E estou feliz que você esteja aqui comigo — ele diz, então

completa, — eu sabia que você não acreditaria em mim se eu lhe dissesse

que nem todos os israelenses odeiam os palestinos. Você é do tipo de garota

que precisa de provas. Você não deveria acreditar tanto na televisão.

— Não confio nas pessoas em geral.

— Aposto que se você confiasse, abriria seus olhos para um mundo

mais colorido lá fora.

— Provavelmente, mas ao menos eu não me decepciono, porque já

sei que as pessoas vão me decepcionar.

Ele diminui a velocidade e para no acostamento. Então se vira para

mim. — Quero lhe agradecer.

De repente, minha boca está seca. — Pelo o quê?

— Por me lembrar que há um mundo aí fora que vale a pena viver.

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— Como eu fiz isso? — pergunto.

— Você é a primeira pessoa que fez a dor da morte do meu irmão

suportável. — Ele me beija aqui mesmo no carro ao lado de um uma estrada

deserta e improdutiva. — Quando estou com você, estou inteiro novamente.

Sorrio, por dentro e por fora. Mas estou envergonhada, então olho

para baixo e coloco o dedo na corrente de prata suspensa em seu pulso.

— Você quer? — ele pergunta.

— Se você quiser me dar. — respondo, timidamente.

Ele tira e prende a corrente no meu pulso.

— É como se você dissesse para todo mundo que é minha. — ele diz.

— Pelo menos por enquanto.

Inclino-me para Avi e retomo seus lábios com os meus. Como antes,

seus beijos estão me drogando e me sinto sonhadora e delirante.

Antes que eu perceba, estou deitada em cima dele. Posso sentir seu

corpo forte debaixo de mim, o calor e a força de seus músculos sob os meus.

— Devemos parar. — ele diz.

Mordisco sua orelha e digo. — Aham.

Ele joga a cabeça para trás e geme. — Quero dizer, Amy. Estamos

num carro alugado no meio da estrada.

Dessa vez eu lambo o caminho do lóbulo de sua orelha até sua boca.

— Aham.

— Você quer me consumir, não quer?

— Aham.

Gosto do jeito como eu o faço se sentir quando estamos juntos.

Também gosto muito das sensações selvagens correndo pelo meu corpo

agora mesmo, também, quando movo meu corpo contra o dele.

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Quando o sinto começar a se entregar a minhas mãos e boca, paro e

sento. Quero dizer, estamos em público e qualquer um poderia espiar pela

janela. Será que as janelas se embaçariam se continuássemos? Não acho que

ficaria mais quente dentro do carro do que fora, mas estou me sentindo

muito quente, mesmo com o ar condicionado ligado.

Ele lambe os lábios lentamente e abre os olhos. — Não consigo me

mover.

Eu rio. — Eu fiz você se esquecer de estar com raiva o tempo todo?

— Definitivamente.

— Bom. Posso fazer isso para sempre se isso o faz feliz.

Seus dedos se movem para o meu ombro e deslizam a alça da minha

blusinha para baixo. — Eu gostaria... — diz, inclinando a cabeça para frente e

beija meu ombro lentamente.

Eu sei o que ele quer dizer. Quero que ele diga, mas então me lembro

de nosso pequeno acordo. Não se envolver demais.

Muito ruim, eu já estou tão na dele que assusta.

Mas sei que ele se arrependeria se fôssemos longe demais. E

estamos, na verdade, estacionados no acostamento da estrada. — Se você

não parar de me beijar assim, vou rasgar todas as suas roupas. — digo.

Um pequeno gemido escapa de sua boca e ele se inclina para trás. —

Sou louco por você.

— Que bom. Lembre-se disso quando alguma garota israelense

bonita olhar você depois de eu ir embora. Agora vamos voltar para os

outros, ou eu realmente vou seguir minha promessa.

Meia hora depois, quando nós voltamos para a estrada que leva ao

hotel, Avi diz: — Então, qual é a história dos seus pais? — ele me faz essa

pergunta pesada e me viro para a janela. — Não quero falar sobre isso.

— Por que não? Muitos pais se divorciam.

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Sim, só que meus pais nunca foram casados, para começar. Tente

contar essa história para seus colegas na escola. Eu sempre acho que eles

pensam que minha mãe dormiu com um cara qualquer na faculdade e

engravidou. E a pior parte é que isso não está muito longe da verdade.

— Conte-me sobre os seus pais. — oponho-me. — Eu nunca escuto

muito sobre eles de Ron ou meus tios.

— Não há muito a dizer. Minha mãe trabalha como professora no

moshav e meu pai é sócio de seu tio. Ok, sua vez.

Respiro fundo. — Meus pais nunca se casaram e eu nunca deveria ter

nascido. Eu fui, digamos, um erro. Um erro muito grande de dezesseis anos.

Pronto, eu disse. Meu rosto está quente e meus olhos estão úmidos.

Estou me segurando junto da melhor forma possível sob as circunstâncias.

Pensei sobre a minha vida e que erro ela é mais um milhão de vezes. Eu

nunca tinha dito isso alto antes, na verdade.

Chegamos ao hotel e Avi estaciona o carro no estacionamento. — Eu

não sou um cara muito religioso — ele diz, — mas eu sei que existe uma

razão muito importante para você ter nascido.

— Você soa como um rabino. — digo.

— Não, sou apenas um criador de ovelhas.

— Avi, você é MUITO mais que isso e você sabe. — inclino-me para

trás no banco do passageiro e suspiro. — Não quero que hoje acabe.

Ele me reluz um de seus sorrisos deslumbrantes. — Eu também não.

Olho em seus olhos e ele segura meu olhar por um longo minuto. Não

dizemos mais nada, não existem palavras que possam dizer o que quero

dizer a ele. Ou existem? — Avi...

— Shh. — ele sussurra, cobrindo meus lábios com seus dedos. — Eu

sei.

Eu relutante saio do carro e sigo para o saguão do hotel.

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199

O resto do grupo está esperando por nós.

Quando reconheço Snotty... Corrijo para Osnat... Sentada sozinha no

canto, vou até ela. — Desculpe-me por eu ter dito que você veste saias

curtas, calças apertadas e tem uma lamentável desculpa para peitos.

Osnat mexe a cabeça, em confusão.

Mudo meus pés e olho para o chão. — Quero dizer, você realmente

usa calças apertadas... E seus peitos são menores que os meus. Mas são

peitos atraentes. Tenho certeza de que é estiloso em Israel ter calças

apertadas.

Suas sobrancelhas estão levantadas e ela diz: — Você está tentando

pedir desculpas a mim? Se estiver, você está fazendo um péssimo trabalho.

Abro meus braços largamente e digo: — Dê-me um tempo aqui, não

estou acostumada a ser sentimental e pedir desculpas.

Osnat se levanta e diz: — Desculpe-me por dizer que seus peitos são

caídos. Seus seios caídos não são ruins, também. — Então ela levanta a mão

para eu apertar. — Trégua?

Espero só um segundinho.

— Você nunca me disse que meus peito são caídos! — digo,

ignorando sua trégua falsa.

— Na sua frente, não. — ela admite.

Acho que mereci esse insulto. E vou guardar para mim mesma que

eu a chamava de Snotty desde que a conheci.

Nós duas começamos a rir histericamente e todos estão olhando

para nós como se fôssemos purê de batatas. Duas primas purês de batata.

— Podemos dar uma volta? — ela pergunta, chateada.

Saímos do hotel e começamos a caminhar sem rumo no

estacionamento.

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200

Chuto uma pedra na estrada enquanto ando. — Eu não quis vir a

Israel neste verão. — digo. — E não quis gostar de ninguém aqui.

Ela chutou a mesma pedra, continuando seu caminho pela estrada.

— E eu fiquei chocada que Ron tivesse uma filha secreta. Acho que, de

alguma maneira, eu tive ciúmes de você.

Eu? Uma filha secreta? Ser pensada como um segredo com certeza

bate ser pensada como ilegítima. — Acredite, você não tem nada do que

sentir ciúmes. Ao menos você tem pais que se amam.

— Mas Ron tem o melhor emprego de todos. Você deve estar tão

orgulhosa dele.

Ok, você deve estar imaginando o que Ron faz da vida. Tudo que sei é

que ele está em negócios de segurança.

— Não é grande coisa. — digo. Afinal, todo mundo está nos negócios

de segurança nesses dias.

Osnat puxa meu ombro para trás e me impede de caminhar. — Você

está brincando? — ela diz. — Minha mãe me disse que ele foi contratado

como consultor do Diretor de Segurança dos E.U.A.

O quê? Eu não sabia disso. Acho que nunca tinha perguntado a ele, ao

menos. Estive muito ocupada estando chateada com ele por não ser um

Superpai.

— Sim, bem, ele não fala muito sobre isso.

— Ele provavelmente não pode porque isso é secreto.

Estou tendo um tempo difícil pensando em Ron como um super

consultor de segurança contratado pelo governo dos E.U.A... Afinal, estou

acostumada e pensar nele como um Doador de Esperma.

Osnat se vira para mim e diz: — Você não sabia o que ele fazia até eu

lhe contar, né?

— Eu não sou chamada de garotinha do papai, se é isso que quer

dizer. — digo. — Na verdade, não sou chegada a ninguém em minha família.

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201

Minha mãe meio que está em seu próprio mundo e Ron não é exatamente o

melhor pai. Eu nem ao menos tenho um primo que goste de mim. Bem, além

do seu irmão, mas porque ele nem fala inglês. Se ele falasse, provavelmente

não gostaria de mim, também.

— Você não é exatamente a pessoa mais divertida por aí. — Osnat

diz.

— Você está brincando? Eu tenho muito a oferecer. — digo. — Por

exemplo, posso lhe mostrar como colocar maquiagem e não vai parecer

exagerado nem manchar. Sou um gênio quando se trata de penteados. Posso

até fazer uma trança francesa. E posso bater a maioria das pessoas que

conheço em tênis. O que você tem a oferecer? — pergunto, colocando

minhas mãos na cintura enquanto esperava por uma resposta.

— Posso andar de cavalo sem sela e sou muito boa em dança. E sou

uma pessoa ótima uma vez que você me conhece. — ela diz, absolutamente

certa de que me conquistou.

Posso imaginar que andar a cavalo sem sela não é muito diferente do

que andar naquele jeep sobre as pedras, mas tem seu mérito.

— E?

— E posso dizer que Avi mudou desde que conheceu você. Ele sorri

agora... Algo raro desde que seu irmão morreu. Acho que não me importo

que vocês estejam juntos, desde que você o faça feliz.

Nós nos abraçamos e me senti com sorte em ter uma prima que

consegue andar de cavalo sem sela. E ser uma amiga, também.

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202

Capítulo 29 A ameaça de perder alguém, nos faz apreciarmos mais um

ao outro.

Dois dias depois, sete de nós voltamos para o jipe de moshav. Estou

ansiosa para ver Ron e dizer a ele que quero começar de novo.

Entramos na casa de Osnat e parecia que todas as pessoas do bairro

estavam lá dentro. E todos tinham seus olhos na tela da televisão. Vi a cabeça

cacheada do meu pequeno primo Matan e a Doda Yucky. Não vi o Ron nem o

tio Chime.

O clima é sombrio.

— O que está acontecendo? — pergunto. Eu não consigo entender o

apresentador, obviamente, está cobrindo uma notícia muito importante.

A casa explode em hebraico, todo mundo explicando a Osnat, Ofra,

Avi, Doo-Doo, O’dead e Moron o que eles estão tão irritados. Só que eu não

entendo nada disso.

— Houve um atentado — Avi me explica depois de escutar os outros.

— Em Tel Aviv.

— Onde está meu pai? — entro em pânico. — Onde está Ron? Eu

preciso dele agora mais do que nunca.

Avi me dá um abraço.

— Amy, vai ficar tudo bem.

As lágrimas enchem meus olhos e volto a dizer, desta vez dirigindo a

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pergunta a Doda Yucky.

— Onde ele está? — Não tenho nenhuma resposta e sinto o aumento

da bílis em minha garganta. Saio do abraço de Avi. — Quero vomitar.

— Seu aba foi com Chime a Tel Avi para entregar carnes em alguns

restaurantes — explica.

— Eles estão bem, Doda Yucky? — digo, chorando totalmente agora,

sem me preocupar por isso. Lágrimas escorrem pelo seu rosto também.

— Eu não sei. Está uma grande confusão. Depois do bombardeio, as

pessoas correram para ajudar um terrorista... Uma segunda bomba...

— Oh meu Deus — digo.

Eu não posso saber se Ron está bem, mas eu definitivamente sei que

se alguém ficou ferido, ele é um dos primeiros a correr para ajudar. A

segunda bomba... Não posso pensar nisso.

— Não sabemos onde estão. — disse. — O telefone celular não

funciona.

Vou ao quarto de Osnat e freneticamente mecho em minha mochila.

Em um dos bolsos da minha calça jeans pego a estrela judaica que Safta me

deu. Os diamantes estão brilhando para mim, quase como se me dissessem

que sou judia como o resto de minha família. Temos sobrevivido a milhares

de anos, embora tenhamos sofrido a maior parte deles, recordo a mim

mesma.

Caminhando de volta à sala principal, coloco as mãos sobre meu

rosto. Não quero que ninguém olhe para mim agora. Sinto-me tão impotente.

Quantas pessoas foram feridas ou mortas hoje? Fico doente só de pensar.

Tento afastar a imagem de Ron estendido na rua da minha mente. Porém e

se estiver e eu não estar lá para ajudá-lo? Preciso de forças, pois acredito

que perdi as minhas. Abaixo as mãos e olho para Avi.

Eu preciso dele.

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Eu preciso tanto que não sei o que fazer comigo mesma.

— Avi — eu digo, correndo ao seu encontro para que me abrace em

seu peito e me mantenha apertada. — Por favor não me deixe, não acho que

posso lidar com isso sem você.

— Eu estou aqui — me assegura com uma voz suave e acaricia meus

cabelos. — Eu não te deixarei.

Ele perdeu seu irmão em um atentado. Deve estar sofrendo pela dor

de sua própria perda. Podemos ajudar um ao outro nisso.

— Posso ter isso? — eu digo, segurando o colar.

Esperamos pelo tempo mais longo de minha vida, por sua vez, Avi e

eu nos sentamos ao lado de Safta em seu quarto e evitamos ver a cobertura

das notícias. Ela me contou de sua infância em Israel e de sua experiência

quando chegou ao que chama de “Terra Santa”. Posso dizer que tem medo. A

perda de dois filhos a assombra.

Quando o telefone toca, pulo e corro para a cozinha.

Doda Yucky pega o telefone e me olha diretamente enquanto

responde. Meu coração acelera.

— Amy — disse e me apoio em Avi, me preparando para as más

notícias. — É a tua mãe.

Minha mãe! Corro ao telefone e o coloco no meu ouvido.

— Mamãe!

— Oi, querida. Ouvi no noticiário que houve um atentado em Israel.

Liguei para me certificar que você estava bem. Jessica ligou, também está

preocupada.

— Estou... Estou bem — eu digo, mal capaz de fazer que as palavras

saiam através de meus soluços. — Porém... Eu estava viajando e Ron estava

em Tel Aviv... E não sabemos nada dele e eu estou ficando louca. Não sei o

que fazer. Estamos esperando um telefonema, mas...

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— Oh, não. Isso é terrível, nunca pensei...

— Mamãe, tenho que desligar, se ele ligar.

— Está bem, está bem — diz em pânico. — Vou desligar. Ligue para

mim assim que você souber algo... Qualquer coisa? Certo? E fique em casa.

Eu preciso de você de volta em um único pedaço.

— É o que eu quero, mamãe — digo.

Assim que desligo, o telefone volta a tocar. Eu passo para Osnat, que

está tão ansiosa e assustada como eu.

— Ze aba! — Grita para a multidão depois de falar com a pessoa do

outro lado da linha. — Hakol beseber!

Avi me pega em seus braços e me gira ao redor.

— Estão bem!

Eu não posso acreditar. Volto ao quarto de Safta para contar as boas

notícias. Sei por Doda Yucky que o tio Chime e Ron ficaram no local de

bombardeio para ajudar os mais de quarenta feridos.

Há um monte de abraços e alegria, apesar de que todos sofrermos

pelas pobres almas que perderam as vidas no atentado. É uma coisa

estranha ficar feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não sei como tratar com os

israelenses o tempo todo.

Avi espera na porta de entrada do moshav comigo, junto com Mutt. O

pequeno está encostado junto comigo, como se fosse meu protetor.

— Não posso acreditar no que aconteceu. Foi um pesadelo — digo.

— Eu quase perdi o meu pai. Antes de sequer realmente conhecê-lo.

É muito aterrorizante para pensar.

— Porém você tem uma segunda chance — disse Avi pensativo.

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Eu me inclino sobre ele.

— Sim, eu tenho. E a partir de agora vou aproveitar cada segundo.

— Eu também — disse e me dá um de seus incríveis beijos para

comprovar.

Quando a porta se abre e eu vejo os faróis de um carro, me coloco de

pé. O carro para e meu pai, cuja camisa tem sangue salpicado, salta para fora

e me aperta em seus braços.

— Você está bem? — Estou olhando sua camisa manchada.

— Não se preocupe, estou bem.

— Aba — digo em hebraico. — Eu te amo tanto.

— Oh, Amy, eu também te amo.

Aperta-me de novo e limpa minhas lágrimas com as costas de sua

mão.

— Sinto muito por não haver dito antes. Eu sei que tenho te tratado

mal. Quero que seja uma parte importante da minha vida agora. Quero ser

judia também. E quero aprender hebraico. Pode me ensinar?

— Reduz a velocidade, não posso te alcançar. Ainda estou

desfrutando do “Te amo, Aba” — Eu vejo que seus olhos estão vermelhos e

lacrimejantes. — Não quero que pense que não lutei para estar com você,

querida. Eu errei em muitas maneiras.

Ele enxuga uma lágrima escorrendo pelo rosto e estou chocada.

— Tinha a esperança que esta viagem a Israel iria mudar tudo. Não

quero te perder para Marc. Você é minha filha, não dele — diz enquanto me

abraça.

Está chorando como um bebê. E eu também.

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— Eu pensei que tivesse perdido você — digo, enquanto

caminhamos de volta para casa, deixando o tio Chime conduzindo.

Avi nos deixou sozinhos também, dando a mim e meu pai

privacidade.

— Te perdi há muito tempo, filha. Fico feliz que finalmente nos

encontramos.

— Será que pode encontrar um quarto em seu apartamento para

mim?

— O que você quer dizer? Eu amaria que você se mudasse comigo.

Durante um ano. Os finais de semana. Para sempre. Vou receber o que você

quer me dar.

— Isso é, se não estiver muito ocupado como o Diretor de Segurança

dos Estados Unidos.

Ele ri e coloca o braço ao redor de meus ombros.

— Sempre terei espaço em minha casa para minha filha número um

e eu não vou esquecer.

— Certeza que não tem namorada? — pergunto.

— Ninguém importante o suficiente para trazer para casa, filha.

— Eu acho que você precisa de alguém... Que tire essa infelicidade de

você.

— E a quem devo agradecer por tirar infelicidade da minha filha de

tão longe?

— Ele tem sido um perfeito cavalheiro.

— Quem? Doo-Doo?

— Você pode me imaginar com um cara chamado assim?

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— Seu verdadeiro nome é David.

— Huh?

— Doo-Doo é um apelido para David.

Apelido estúpido se você me perguntar.

— É o Avi.

O rosto de Ron se torna sério agora.

— Tem dezoito anos, Amy. E perdeu a seu irmão...

— Sei tudo isso. Temos nos ajudado um ao outro durante a viagem e

eu... O amo.

Papai aperta a mandíbula e o músculo começa a tremer.

— Não é assim. Ele me respeita e eu o respeito. Talvez até demais.

— Tenho que me acostumar em ter uma filha adolescente — diz.

Olho fixamente em seus olhos.

— Não. Tem que se acostumar comigo.

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Capítulo 30 Você nem sabe o que quer até que ele é colocado em seu colo.

Bem, é o penúltimo dia antes de ir para Chicago. Avi e eu estamos

indo em um encontro duplo com Osnat e O'dead.

Olho para a minha prima, que parece ótima agora que eu mostrei

como colocar uma maquiagem, para que ela não se pareça com um alvo.

Ela está me olhando a escolher roupas para vestir. Eu posso dizer

pelo jeito que ela está olhando ansiosamente para o meu vestido de verão da

Ralph Lauren que ela gosta.

— Eu não gosto desse vestido. — eu digo. — Você o quer?

Seus olhos se iluminam. — Sério?

— Absolutamente. Não faz meu olhar ficar chocado. — eu digo, e

jogo para ela.

Eu estou vestindo uma saia curta e apertada e uma blusa azul

marinho com branco e mangas e babados... É a primeira vez que eu o visto

desde que eu estive em Israel. Espero que Avi goste - tudo no que ele me viu

foi em jeans e shorts.

Quando eu ouço a voz de Avi no corredor, meu corpo inteiro fica

cheio de expectativas e eu não aguento.

Mitch realmente vai ficar puto quando ele perceber que eu me

apaixonei por outro cara, mas seria impossível ignorar a emoção que eu

sinto quando sequer penso em Avi.

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Assim que eu estou prestes a sair pela porta do quarto, meu aba

entra no quarto. Ele se senta na minha cama e me agarra de surpresa. —

Você está linda. — diz ele. — Como sua mãe. Isso me assusta.

— Você prefere que eu seja feia?

Sua boca se curva em um sorriso torto. — Talvez.

— Você quer que eu cancele o meu encontro para fazer você se

sentir melhor? — Pergunto séria.

Ele olha para cima. — Não, não é claro.

— Bom. Porque eu não iria.

— Amy... — ele diz em um tom de aviso.

— Controle-se, papai. Eu não vou fazer qualquer coisa que você não

faria na minha idade.

Ele se levanta e diz: — É isso. Você está cancelando esse encontro.

Osnat sai da sala e volta com sua mãe. Doda Yucky diz algo para o

papai em hebraico. Ele se senta novamente, obviamente derrotado, e, em

seguida, Doda Yucky leva-me para o vestíbulo.

Avi dá uma olhada para mim, sorri, e coloca a mão em seu coração.

— Wow.

Grande reação.

Então ele pega a minha mão, e a aperta e me leva até seu carro. Osnat

e O'dead já estão esperando no banco de trás.

— Aonde vamos? — Eu pergunto.

— Na discoteca. — ele responde.

Na discoteca? Eu realmente não tenho visões de passar minha última

noite em Israel em um alto, bar, lotado de fumaça. Mas eu guardo as minhas

opiniões para mim mesma. Ele está tentando, mesmo que meu coração

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esteja um pouco vazio no momento.

Quando chegamos ao lugar, percebo que a fila está ainda maior do

que a última vez que estivemos aqui. Ótimo, agora eu vou passar a maior

parte desta noite em uma fila. Que lástima.

Avi dirige-se para frente do clube. Osnat e O'dead saem, e eu abro a

porta do carro.

— Onde você vai? — Avi pergunta.

— Uh, esperar na fila como o resto das pessoas que querem entrar.

— eu digo sarcasticamente.

— Vou levá-la em outro lugar.

Eu ergo minhas sobrancelhas. — Você disse que nós estávamos indo

para a 'discoteca'. Eu ouvi você dizer especificamente a palavra 'discoteca'.

Ele diz: — Nós estávamos. Mas só deixar e Osnat O'dead.

Quando Avi pisca para mim, eu resolvo voltar para o carro e fecho a

porta. Eu realmente tenho borboletas no estômago, porque agora eu estou

sozinha com ele. Eu nunca me senti assim com mais ninguém na minha vida.

Ele segura minha mão quando afastamos do clube e fomos até uma

estrada de terra sinuosa que provavelmente não foi percorrida em séculos.

Ele para o carro, se vira para mim, e me mostra um lenço.

— O meu nariz está escorrendo? — Eu pergunto. — Quero dizer, é

uma dica ou o quê?

— É para vendar você, Amy. Feche os olhos.

Eu fecho, apoio-me nele e sinto-o amarrar a venda em torno de

minha cabeça, enquanto ele esfrega um beijo suave em meus lábios. Depois

que ele me ajuda a sair do carro, ele me leva a algum lugar.

Isso é emocionante, é emocionante. Eu não posso esperar para todas

as surpresas que ele planejou para mim.

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Ele desamarra o lenço. — Abra seus olhos.

Eu pisco algumas vezes antes que eu possa focar no escuro.

Velas. Muitas delas. Dois travesseiros. E entre os travesseiros está

um prato vazio.

— Sente-se.

Eu sigo as suas instruções.

— Ok, espere aqui. — Ele parece nervoso, o que é tão fofo.

Normalmente ele é tão calmo e tranquilo.

Eu olho ao meu redor. Estamos no meio do nada, em um terreno

estéril, deserto com grilos cantando para nós. Sento-me em uma das

almofadas e espero. Avi volta com uma caixa de isopor.

Ele hesita antes de abrir. — Você está com fome?

— De quê?

Uma de suas sobrancelhas levanta. — Você sabe que tem comida

aqui, mas se você está com fome de algo mais...

— Comida está ótimo. — eu digo, interrompendo-o.

Ele me dá um de seus sorrisos impressionantes, senta ao meu lado, e

abre a embalagem. Quando vejo o que está lá dentro, eu fico tão emocionada

que eu tenho de engolir um caroço na minha garganta.

— Você comprou sushi! Minha comida preferida no mundo inteiro.

Como você sabia?

Os rolos de sushi são pequenos, redondos com rostos felizes

sorrindo para mim.

Ele me entrega um conjunto de pauzinhos. — Ron me disse.

— Desejei comer sushi nestes últimos meses. — eu explico. — Você

sabe o que um peru frio pode fazer a uma pessoa?

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Ele está olhando para mim como se eu fosse louca. Mas eu não me

importo.

— Quer um pouco? — Eu pergunto, minha boca já está cheia com um

rolo de atum picante. Eu estou gemendo de prazer enquanto eu como o rolo,

doce e picante, o som vem da minha garganta automaticamente.

Avi admite que nunca comeu sushi, então eu irei treiná-lo. Nós

compartilhamos da refeição, Avi provisoriamente tenta dar pequenas

mordidas, enquanto eu estou devorando em minha boca. Vou ter que

lembrar Jessica de dizer aos israelenses para fazerem sushi.

Quando termino a refeição, Avi se levanta. — Tenho outra surpresa

para você.

— O que é? — Eu pergunto, totalmente animada. Até agora, esta

noite está absolutamente perfeita.

— Pô, eu esqueci alguma coisa. — Ele sai e volta com um pequeno

buquê de flores.

Ok, eu não estou tentando ser uma cadela. Mas Safta ganhou uma

floresta inteira do meu avô. E o que Avi espera que eu faça com flores

quando eu vou pegar um vôo de 12 horas amanhã? Eu tento não mostrar

minha decepção quando ele coloca na minha frente, então eu sorri tão

docemente quando pude.

— Você não gosta de flores?

— Eu gosto. — eu digo.

Ele pega uma rosa vermelha para fora do bouquet e quebra parte do

tronco. Em seguida, ele se ajoelha ao meu lado e coloca a rosa no meu cabelo.

— Eu queria ter algo para se lembrar de mim, mas eu não sabia o que você

gostaria.

— Então você me dá flores. Isso é bom.

Ele ri. — As flores eram da minha mãe. Ela é antiquada. Para ser

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honesta, ela comprou para eu dar a você.

Este não é o cara romântico que eu achava que ele era.

— O sushi foi ótimo. — eu digo. — Mas você está perdendo pontos

rapidamente, amigo.

— Espere aqui. — diz ele. —Eu tenho uma última surpresa. —

Quando ele volta e vejo que ele está segurando, eu não posso acreditar.

Avi está segurando Mutt. O cachorro tem uma fita azul no pescoço. E

ele está lindo.

— Você o lavou. — eu digo, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Ele é oficialmente seu agora. — ele diz, e coloca Mutt no meu colo.

— Eu tenho arranjado para você levá-lo de volta para os EUA.

Eu não posso acreditar o quão fofo e macio, ele está agora que está

limpo.

— Arg!

— Posso realmente levá-lo para casa?

— Sim. Ele provavelmente vai ter que passar por um período de

quarentena, mas...

Eu abafo suas palavras com meus lábios, porque esta é a noite mais

perfeita da minha vida.

Passamos o resto da noite conversando, beijando, sendo boba, e

brincando com Mutt.

Logo antes de arrumar as almofadas e velas, eu sei que temos que ter

a conversa.

— Então... Eu acho que nosso caso de verão é longo. — eu deixo

escapar, dedilhando a sua pulseira ainda no meu pulso. Eu desfaço o fecho e

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seguro para ele.

Avi se inclina para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos

dobrados.

— Fique com ele. Então você não se esquecerá de mim.

Como se eu fosse.

— Eu nunca vou te esquecer. E eu percebo que eu sou uma cadela

mimada americana.

— Amy, eu sinto muito, eu nunca disse que...

— Não. — eu digo. — Eu sou mimada porque eu quero que nós

mantenhamos contato e talvez um dia, depois de terminar o exército,

poderíamos, você sabe, ficar juntos novamente.

— Está muito longe. — ele diz. — E se você estiver namorando com

alguém?

— E se você estiver? — Eu me oponho.

Ele ri.

— Você me ensinou muito sobre mim.

Ele delicadamente pega o cabelo perdido no meu rosto e enfia atrás

da minha orelha, seus dedos remanescentes na minha orelha. Quando seus

dedos arrastam até a estrela judaica ainda em torno de meu pescoço, ele diz:

— Você realmente é um dom de Deus, Amy.

— Não, você é.

Quando ele se inclina para me beijar pela última vez, eu sei de fato

que em algum lugar, algum dia, em algum lugar, eu vou estar beijando Avi

novamente.

E da próxima vez, ele só poderá estar no topo do Monte Massada.

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Epílogo O fim de uma coisa é apenas o começo de outra.

Estou voltando para minha casa em Chicago... Yep, papai e eu

fazemos a longa viagem de volta no avião.

Estava um pouco nervosa em dizer a Mitch sobre Avi, mas quando

Jéssica derramou as favas e me disse que ela e Mitch meio que ficaram

juntos depois de sua noite na Ravinia me senti muito melhor. Claro que fiz

ambos suarem um par de horas. Então derramei minhas próprias favas e

lhes falei sobre Avi.

Meu não-namorado israelense está no exército agora, treinando para

estar em um comando estúpido. Escreve quando pode, o que é

aproximadamente uma vez por semana.

Dou-me conta em suas cartas que o nome de O´dead se escreve Oded

e Moron se escreve na realidade Moran (graças a Deus por eles). Doo-Doo

ainda vai por seu apelido, mas espero que mude no próximo verão.

Avi nunca disse que me amava, mas ele não tem que dizê-lo. Sei que

se preocupa por eu estar preocupada por ele e me ama. Tem algo difícil dizê-

lo em voz alta.

Meu pai e eu vamos passar minhas férias de verão em Israel no

próximo ano. Desta vez estou planejando uma viagem de acampamento de

duas semanas de duração em todo o país. Posso ensinar ao papai um par de

coisas desta vez, como quando uma lhama começa a fazer ruídos de

gorgolejo. Avi será capaz de pegar duas semanas de descanso logo, não

posso esperar para vê-lo. Safta está bem, começa sua seguinte série de

tratamentos de quimioterapia no mês que vem. Estou enviando-lhe um

pacote de cuidados hoje em dia.

O casamento de minha mãe e Marc com “c” estava bem. Marc e eu

tivemos uma conversa antes do casamento. Ele disse que poderia ser um

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amigo para mim, mas eu já tenho um pai. Levou a notícia melhor do que o

esperado. Ron estava no casamento, era um parceiro de dança para mim.

Tenho vivido no apartamento do meu pai até que Marc e a nova casa

de mamãe nos subúrbios (a que decidiu construir do zero) esteja pronta, já

passaram meses até agora. Enquanto estou aqui, tenho muito trabalho por

fazer... Como ensinar Ron a se vestir para impressionar uma mulher. Não

está pronto ainda, mas está no caminho para se converter em um

aposentado graduado. Tudo o que tenho que fazer é encontrar a mulher

adequada para ele. Enquanto isso, está me ensinando hebreu e jura a seus

amigos que tenho um dom natural quando se trata da criação de ovelhas.

Eu e minha religião? Bom, estou tendo aulas de conversão com o

rabino Glassman mais a Bait Chaverin (que para você que não fala hebreu

significa casa de amigos). Mamãe se surpreendeu quando lhe disse que estou

me convertendo em judia. O fato é que me prometeu se assegurar que não há

produtos com carne de cervo ou mariscos na comida para mim. Manter-me

assim é parte do que sou agora.

— Arg!

Sim, esse é o Mutt. E sim, meu cachorro tem um impedimento de fala.

Não pude deixar de amar ao pequeno filhote. Come a maior parte dos

sapatos de mamãe, mas sabe deixar apenas os meus. Também acredita que é

um cachorro de colo, apesar de que vai estar perto dos noventa quilos

quando estiver maior. Temos passado por muitas coisas juntos e ele me

ensinou a amar os animais.

Meu nome é Amy Nelson Barak e fui a Israel para minhas férias de

verão. Eu aprendi o significado minha família, minha herança, uma linda

terra cheia de rica história e o amor. Você não sabe, mas as arruinadas férias

de verão resultaram ser os melhores três meses da minha vida.

Fim…

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Próximo Livro:

How to Ruin My Teenage Life Nesta sequência de How to Ruin, toda a vida de Amy Nelson de

dezesseis anos de idade vai mal. Sua mamãe se casou e se mudou para os

subúrbios, e agora vai ter um bebê. Amy se mudou com seu papai para

Chicago e lhe contratou um serviço de encontros por telefone. Seus

primeiros quatro encontros eram essa noite...

O que mais? Seu cachorro Mutt deixou grávida a preciosa poodle do

seu vizinho resmungão, assim Amy teve que encontrar tempo para

conseguir um trabalho de meio período para pagar a metade do veterinário.

E agora este garoto totalmente chato, Nathan Rubin, se mudou ao seu

edifício de apartamentos. Felizmente Amy tem um namorado lindo chamado

Avi. Apesar de que mais parece sem namorado considerando que Avi estará

no exército israelense durante os próximos três anos.

O que pode fazer uma jovenzinha, quando todo o mundo está

conspirando para arruinar sua vida?

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Tradução

PatiPlm Micaah

Anju Cris

Kitten

Revisão Inicial Lud

Revisão Final

Leidy

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Sobre o Autor:

Simone Elkeles nasceu e cresceu em Chicago. Foi designada Autora

do Ano pela Associação de Professores de Língua de Illinois. Entre seus

livros publicados destacam-se: Leaving Paradise, How to Ruin a Summer

Vacation e How to Ruin My Teenage Life.

Em Química Perfeita, para dar vida a Fairfield, Simone se inspirou

em um subúrbio próximo a sua casa, onde duas comunidades muito

diferentes compartilham um mesmo instituto.

Atualmente Simone reside com sua família em Illinois.

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