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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS LICENCIATURA EM GEOGRAFIA JOSÉ RAFAEL DE LIMA ENTRE OS RISCOS NATURAIS E OS DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS: EXERCÍCIO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA CIDADE DO RECIFE RECIFE 2015

ENTRE OS RISCOS NATURAIS E OS DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS: EXERCÍCIO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA CIDADE DO RECIFE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

JOSÉ RAFAEL DE LIMA

ENTRE OS RISCOS NATURAIS E OS DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS: EXERCÍCIO SOBRE AS

CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA CIDADE DO RECIFE

RECIFE

2015

JOSÉ RAFAEL DE LIMA

ENTRE OS RISCOS NATURAIS E OS DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS: EXERCÍCIO SOBRE AS

CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA CIDADE DO RECIFE

Trabalho apresentado à Coordenação do Curso de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Geografia

Orientador: Profª Dra.Edvânia Torres Aguiar Gomes

RECIFE 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

FOLHA DE APROVAÇÃO

JOSÉ RAFAEL DE LIMA

ENTRE OS RISCOS NATURAIS E OS DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS: EXERCÍCIO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA CIDADE

DO RECIFE

Trabalho apresentado à Coordenação do Curso de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito obrigatório para obtenção do título de Licenciado em Geografia. Recife, 23 de Fevereiro de 2015

____________________________________________________ Orientadora: Profª Dra. Edvânia Torres Aguiar Gomes - UFPE

____________________________________________________ Profª Mariana Zerbone Alves de Albuquerque – UFRPE

____________________________________________________ Profº Gevson Andrade – UPE

Dedico este trabalho a minha mãe, Sra. Josefa Maria de Lima, que em toda a sua vida fez todos os esforços, mesmo com a distância, para que eu e minha irmã pudéssemos atingir nossos objetivos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter atingido mais um objetivo e conseguir concluir minha segunda graduação.

Agradeço aos meus pais, Sr. José Sebastião e Sra. Josefa Maria, por todo o apoio que sempre me deram na conquista dos meus objetivos, sempre com seus incentivos.

Agradeço minha irmã Ana Rafaela, sempre prestativa e companheira, principalmente nos momentos mais difíceis.

A ProfªEdvânia Torres pelo apoio e orientação neste trabalho e na área de Geografia Urbana.

A Universidade Federal de Pernambuco por ter me dado mais uma oportunidade de conseguir alcançar meus objetivos e sempre melhorar meus conhecimentos.

A Fábio Lelis pela ajuda e apoio dado nos momentos de maior sufoco principalmente na realização deste trabalho e na conclusão do curso.

Aos colegas e professores do curso de Licenciatura em Geografia pela construção coletiva do conhecimento.

Aos meus gerentes da Regional Sul da Secretaria Executiva de Defesa Civil da Prefeitura da Cidade do Recife, Selma Borges e ErmesonSuame, pelo apoio dado nos momentos difíceis e durante o curso.

Aos meus amigos e colegas de Secretaria Executiva de Defesa Civil da Prefeitura da Cidade do Recife, em especial a Taciara Dutra e Cynthia Tenório da regional Sul e a Keila Ferreira, gerente geral de atenção social, pelo apoio, ajuda e orientações durante mais esta trajetória.

Visto que o processo de produção do conhecimento é coletivo, a constituição da

Geografia Urbana deve ser colocada nessa perspectiva.

Ana Fani

RESUMO

LIMA, José Rafael de. Entre os Riscos Naturais e os Desastres Socioambientais: exercício sobre condições de vulnerabilidade na cidade do Recife. Trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Geografia – Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2015.

O processo acelerado de urbanização ocorrido no Brasil durante a segunda metade do século XX não veio acompanhado de investimentos em infraestrutura nas cidades brasileiras, acarretando grandes problemas urbanos. O objetivo deste trabalho é apresentar a realidade das ocupações nas áreas de morro do Recife assim como as ações que vem sendo realizada para se minimizar os problemas relativos a essa ocupando como forma de diminuição dos riscos ambientais. A ocupação de áreas ambientalmente frágeis, como margens de rios e nos morros com declives acentuados, realizada pela população de baixa renda gera o surgimento de assentamentos subnormais, constituída por habitações precárias e com a ausência de infraestrutura urbana como saneamento ambiental, coleta de resíduos sólidos, além da precarização dos serviços sociais como saúde e educação. Os investimentos nos programas habitacionais durante o governo militar e no atual momento ainda não conseguiram suprir o alto déficit habitacional, assim como melhorar significativamente as infraestruturas das localidades já consolidadas. Alguns marcos jurídicos foram implementados durante as últimas décadas, tendo o Estatuto da Cidade a principal lei federal que trata da Política Urbana e os Planos Diretores Municipais a principal lei municipal ao qual as cidades podem implementar o processo de planejamento e gestão do solo urbano. Diante dos grandes problemas enfrentados pela população de baixa renda residentes nas áreas ambientalmente frágeis localizadas em morros, decorrentes da forma inadequada de ocupação, ocasionando principalmente os deslizamentos de barreiras, ainda pode-se levantar alguns mecanismos que possibilitam um monitoramento e mesmo minimização de acidentes. O Recife possui um grande histórico de deslizamentos, mas que vem sendo revertido com a implementação de ações estruturais e não-estruturais que tem evitado a ocorrência de grandes desastres. A diminuição dos fatores de risco tem sido um dos objetivos a serem alcançados no intuito de se evitar a ocorrência de vítimas nesses desastres.

Palavras-Chave: Geografia Urbana. Área de Risco. Vulnerabilidade. Recife.

ABSTRACT

LIMA,JoséRafael. The Environmental Risks and Social Vulnerability: Case study by Occupancy of Recife hill areas. Geography Course Final Paper-FederalUniversity of Pernambuco.Recife,2015.

The accelerated process of urbanization that happened in Brazil during the second half of the twentieth century did not come accompanied by investments in infrastructure in Brazilian cities, leading to major urban problems. The objective of this paper is to present the reality of occupations in the hill areas of Recife as well as the actions that have been performed to minimize the problems related to this occupation as a way to reduce environmental risks. The occupation of environmentally fragile areas such as riverbanks and in the hills with steep slopes, held by the low-income population generates the emergence of substandard settlements, consisting of substandard housing and with the lack of urban infrastructure such as: environmental sanitation, solid waste collection in addition to the precariousness of social services like health and education. Investments in housing programs during the military government and currently have not meet the high housing deficit yet, as well as significantly improve the infrastructure of the locations already consolidated. Somelegal frameworkshave been implementedduringthepast decades havingCity Statutethemainfederal law thatdeals with theUrban Policyand the MunicipalMaster Plansthe mainmunicipal lawto whichcities canimplementthe process ofplanning andurban landmanagement. Given the major problems faced by low-income residents in environmentally fragile areas located on hills, resulting from inadequate occupation, mainly causing landslides barriers, still can raise some mechanisms which enable monitoring and even minimizing accidents. Recife has a long history of landslides, but that has been reversed with the implementation of structural and non-structural actions that have avoided the occurrence of major disasters. The reduction of risk factors has been one of the objectives to be achieved in order to avoid the occurrence of victims in these disasters.

Keywords: UrbanGeography. Risk Area. Vulnerability.Recife.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Ciclo de Gestão da Defesa Civil......................................... 48 Figura 02 – Ação Estrutural - Obras de Contenção de Encosta........... 49 Figura 03 – Ação Não-Estrutural – Ação Informativa nas Escolas........... 50 Figura 04 – Área atingida pela enchente em Palmares........................ 51 Figura 05 – Mapa de Risco do Recife................................................... 53 Figura 06 – Setorização dos Pontos de Risco Zona Norte e Zona Sul do Recife............................................................................................................. 54 Figura 07 – Vulnerabilidade e suas interações...................................... 55 Figura 08 – Área vulnerável a desastre – Realização de Monitoramento... 56 Figura 09 – Diagrama de Desastre Natural............................................ 58 Figura 10 – Mapa de Localização da Cidade do Recife............................ 61 Figura 11 – Mapa de relevo........................................................................ 62 Figura 12 – Climograma do Recife........................................................ 64 Figura 13 – Mapa hidrográfico....................................................................... 66 Figura 14 – Mapa do Recife no século XVI................................................... 67 Figura 15 – Vista de Olinda para o Porto do Recife no século XVII....... 68 Figura 16 – Cidade Maurícia em 1644....................................................... 69 Figura 17 – Mapa geral da cidade do Recife, com as vilas construídas pela Liga Social Contra o Mocambo de 1939 e 1942.................................... 73 Figura 18 – Mocambos do Recife 70..................................................... 73 Figura 19 – Mapa das Zonas Especiais de Interesse Social do Recife..... 86 Figura 20 – Ocupação desordenada em área ambientalmente frágil no Bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife................................................ 88 Figura 21 – Mapa Geológico do Recife....................................................... 90 Figura 22 – Residência em situação de Risco Muito Alto............................. 91 Figura 23 – Presença de Lixo despejado diretamente no talude............ 92 Figura 24 – Cano de Águas servidas diretamente sobre a barreira............. 92 Figura 25 – Deslizamento de Barreira na Lagoa Encantada em 2010....... 94 Figura 26 – Abordagem nos Morros - Ciclo de Intervenção.......................... 95 Figura 27 – Ações Estruturais de Retaludamento no Bairro do Jordão...... 96 Figura 28 – Obra de Contenção e Drenagem no Bairro do Jordão.......... 97 Figura 29 – Colocação de Lona Plástica em área de risco...................... 98 Figura 30 – Aplicação de Gel Impermeabilizante em área de risco......... 98 Figura 31 – Ação Porta-a-porta na localidade de Costa Porto, Bairro do Jordão....................................................................................................... 99 Figura 32 – Ação Informativa na Escola...................................................... 100 Figura 33 – Oficina de Capacitação do Nudec-Jovem............................. 101

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – População Brasileira.............................................................. 27 Tabela 02 – Índice de Urbanização.............................................................. 27 Tabela 03 – Sistema Financeiro da Habitação (1964-1986) Produção de Unidades Habitacionais por períodos.................................. 30 Tabela 04 – Necessidades Habitacionais conforme o Plano Nacional de Habitação.................................................................................................. 36 Tabela 05 – Distribuição dos municípios conforme a quantidade de seus moradores (2014)........................................................................................ 39 Tabela 06 – Liga Social Contra os Mocambos – Casas Projetadas, construídas e a construir....................................................................... 74 Tabela 07 – População do Recife................................................................. 77 Tabela 08 – Características dos Domicílios Particulares Ocupados - Situação de aglomerados subnormais........................................................ 79 Tabela 09 – Condição de ocupação do domicílio........................................ 79 Tabela 10 – Forma de abastecimento de água.......................................... 80 Tabela 11 – Tipo de Esgotamento Sanitário.............................................. 81 Tabela 12 – Destino do Lixo.................................................................. 82 Tabela 13 – Existência de Energia Elétrica................................................. 82 Tabela 14 – Características e localização predominantes do sítio urbano... 87

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – População Brasileira........................................................... 26 Gráfico 02 – Evolução da Taxa de Urbanização................................... 27 Gráfico 03 – Déficit Habitacional no Brasil............................................. 38 Gráfico 04 – Evolução da População do Recife.................................... 77 Gráfico 05 – Mortes por Deslizamento........................................................ 93

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Classificação dos Riscos.................................................. 45 Quadro 02 – Principais ações do ciclo de gestão de risco e gerenciamento de desastres............................................................................................. 48 Quadro 03 – Definição dos Níveis de Risco.......................................... 52 Quadro 04 – Classificação dos desastres quanto a sua intensidade, evolução e origem....................................................................................... 59

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 12

2. A URBANIZAÇÃO ACELERADA NO BRASIL............................... 18

2.1 Problemas Ambientais Urbanos...................................... 39

3. ENFOCANDO CONCEITOS.............................................................. 43

3.1 Risco Socioambiental................................................... 43

3.2 Susceptibilidade e Vulnerabilidade................................... 54

3.3 Desastres Socioambiental................................................. 57

4. O PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RECIFE................................................................................................... 61

4.1. Caracterização Geral........................................................ 61

4.2 Caracterização Física do Recife........................................ 62

4.3 Síntese da Ocupação do Recife.......................................... 66

4.4 Caracterização Habitacional e Populacional do Recife.... 77

5. A ocupação irregular do solo nas áreas ambientalmente frágeis: Ocupando vazios..................................................................... 84

5.1 Caracterização da ocupação das áreas de Morro do Recife................................................................................................... 84

5.2 Problemas Urbanísticos da Ocupação dos Morros do Recife.................................................................................................... 87

5.3 Ações para enfrentar os problemas de Ocupação dos Morros............................................................................................ 94

5.3.1. Ações Estruturais............................................................ 96

5.3.2. Ações Não-estruturais................................................... 97

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 102

REFERÊNCIAS................................................................................... 104

APÊNDICE 01 – PLANO DE AULA

APÊNDICE 02 – EXERCÍCIO DIDÁTICO

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1. INTRODUÇÃO O processo de ocupação das cidades brasileiras ensejou em modos de

ocupação do espaço urbano com características bem marcantes e bastante

particularizadas em relação à realidade local. Partindo do litoral, ainda durante

o período colonial, a ocupação do território brasileiro foi marcada pela

constituição de pontos estratégicos ao que concerne a questão político-

administrativa. Nas primeiras décadas, o modo de apropriação da nova terra

por parte dos portugueses se desenvolveu através de feitorias ao longo de

determinado trecho do litoral brasileiro, no intuito de explorar uma riqueza

natural então encontrada – pau-brasil. Algumas dessas feitorias deram no

momento seguinte à origem das primeiras aglomerações populacionais, se

tornando pontos estratégicos do ponto de vista econômico. O fator econômico

tendeu a influenciar ao longo dos séculos o modo de ocupação do espaço

brasileiro, principalmente ao que se refere às áreas urbanas, partindo da

escolha privilegiada de determinadas porções de terra, até a extensão da

ocupação territorial por parte de restritos grupos familiares, principalmente

durante o período colonial com as plantações de cana para a produção de

açúcar nos engenhos.

Dentro do processo de ocupação das cidades brasileiras, o ponto de

destaque se dá na rápida inversão da taxa de urbanização verificada na

segunda metade do século XX, em especial durante os censos de 1960 e

1970. A acelerada urbanização brasileira no século XX se baseia em alguns

fatores principais, dentre os quais a crescente industrialização de algumas

cidades se destaca, como no caso de São Paulo, que deixa de ser um simples

vilarejo no fim do século XIX para se tornar a principal cidade do país,

concentrando 5% de toda a população nacional no começo do século XXI, o

que vem a representar aproximadamente 10 milhões de habitantes de acordo

com dados do IBGE1 apenas na capital paulista, e um montante de 18 milhões

em sua Região Metropolitana. A rápida industrialização de São Paulo resultou

em diversos processos urbanos, dentre os quais, o êxodo rural e a forte

1 De acordo com o Censo Demográfico do IBGE realizado em 2010, o município de São Paulo possuía uma população de 11.253.503 habitantes. O Estado de São Paulo detinha uma população de acordo com o mesmo censo de 41.262.199 habitantes.

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migração interna, com grandes contingentes populacionais advindos de outras

regiões do país, como do Nordeste; a expansão periférica da cidade, atrelado

ao crescimento desordenado, com falta de infraestrutura básica (serviços

urbanos como as redes de água, esgoto, energia, assim como de serviços

sociais de educação e saúde, entre outros).

Ao longo do século XX, o mesmo fenômeno verificado na cidade de São

Paulo pode ser presenciado em diversas outras cidades brasileiras, com maior

intensidade nas principais capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto

Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília (esta última teve sua construção

efetivada a partir de 1956 com grande contingente populacional advindo dos

diversos Estados do país, principalmente de nordestinos).

A cidade do Recife verificou na segunda metade do século, assim como

as demais cidades citadas anteriormente, o rápido crescimento urbano, com

uma população migrante das cidades menores do Estado de Pernambuco, com

o objetivo de alcançarem novas oportunidades de serviços e empregos. Desde

o período colonial, em decorrência do cultivo da cana para a produção de

açúcar nos engenhos espalhados pela atual Zona da Mata, o Estado sempre

teve destaque no cenário nacional, vindo sua capital a perder importância no

século XIX, com a entrada de novos produtos na cadeia produtiva, como o café

na Região Sudeste, fator que impulsionou o desenvolvimento do Estado de

São Paulo.

“O dinamismo da cidade, que era grande em princípios do século XIX,

começa a cair com a perda do dinamismo da economia açucareira e com o

surgimento da cultura do café, no Centro-Sul do País, transferindo-se o centro

dinâmico da economia para essa região.” (ALVES, 2009, pg.50)

Ao longo da segunda metade do século XX, diversas indústrias foram se

instalando em Recife e na sua Região Metropolitana, com a formação de

distritos industriais instalados ao longo dos grandes eixos de desenvolvimento,

como na BR-101 e na BR-232.

“O processo de industrialização do setor açucareiro, iniciado no final

do século XIX, as secas que afetaram o setor rural, sendo decisivas

as de 1915 e 1919, e o processo de industrialização experimentado

na cidade motivam uma grande migração de população “expulsa” do

campo ou em busca de emprego nas fábricas que se pretendiam

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instalar, o que supõe absorver um grande contingente.” (ALVES,

2009, pg.53).

Do ponto de vista urbano, a primeira metade do século XX marcou

diversas transformações na configuração da cidade do Recife, com especial

destaque para a Reforma Urbana implementada no Bairro do Recife a partir de

1909. O processo então aplicado tinha como objetivo principal a modernização

do bairro com foco no embelezamento e higienização da cidade. A

preocupação habitacional e o direcionamento às populações de baixa renda

foram negligenciados durante esse período. Apenas na década de 1930, o

então governador Agamenon Magalhães cria um programa no intuito de

erradicar determinados tipos habitacionais, com baixa qualidade construtiva e

localizados em áreas com potencial imobiliário alto por se localizarem próximos

às áreas centrais, os denominados Mocambos (BONDUKI, 2014). Atrelado à

expansão industrial esta a necessidade de promover uma expansão da cidade

com a construção habitacional, vindo com a instalação de diversos conjuntos

habitacionais durante o período militar, através dos chamados Conjuntos

Habitacionais (COHABs) por meio da construção de diversas Unidades

Residenciais (UR’s) (BONDUKI, 2014; LIMA, 2012). A valorização das terras

nas áreas mais centrais da cidade e a ausência de terrenos em condições

ambientais favoráveis faz com que a população de baixa renda comece a

ocupar áreas cada vez mais distantes do centro e consequentemente,

ambientalmente frágeis.

O processo de urbanização do Brasil atrelado à baixa capacidade de

Planejamento Urbano dos entes governamentais resulta na soma constante de

problemas nas cidades brasileiras, tais como a baixa qualidade dos serviços

públicos como transportes, habitação, saneamento, saúde, educação, assim

como ausência de marcos regulatórios como legislação urbanística que

discipline o uso e ocupação do solo atrelado a uma fiscalização eficiente. Os

problemas nas cidades brasileiras decorrentes da falta de um planejamento

urbano efetivo resulta na ocupação de áreas com grandes vulnerabilidades

sociais e ambientais, vindo a ocasionar possíveis desastres com perdas

econômicas, sociais e principalmente de vidas humanas.

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A estruturação de órgãos específicos como as Defesas Civis nas três

esferas de governo tem possibilitado nos últimos anos uma melhor organização

administrativa no enfrentamento dos problemas urbanos na tentativa de se

minimizar a ocorrência de desastres. Um marco importante decorre de diversos

desastres ambientais que resultou na perda de vidas humanos já neste século

como as enchentes ocorridas em 2008 em Santa Catarina, em 2010 em

Alagoas e Pernambuco, e os deslizamentos de terra ocorridos no Rio de

Janeiro entre os anos de 2010 e 2011. (Guia do Estudante – Atualidades, 2011,

pg.114)

A percepção do risco por parte da população também faz com que a

mesma comece a cobrar dos governos locais uma maior preocupação ao que

concerne a implementação de políticas públicas referentes à proteção e defesa

civil. De acordo com as diretrizes e princípios definidos na 2ª Conferência

Nacional de Proteção e Defesa Civil realizada em Brasília em Novembro de

2014:

A Proteção e Defesa Civil deve fazer parte do currículo escolar em

todos os níveis de ensino, sendo: a) incorporada na matriz curricular

como tema transversal e/ou capacitação, utilizando os agentes de

proteção e defesa civil como multiplicadores do conhecimento; b)

implementada à LDB e na matriz curricular dos municípios e dos

estados e demais políticas, nas três esferas de governo, respeitando

as peculiaridades municipais, estaduais e regionais; c) articulada

junto à universidade (pública e privada) e entidades de pessoas com

deficiência, a partir do fomento à formação continuada, pesquisa e

extensão, com ênfase na sustentabilidade planetária. (Princípio 82,

2ªCNPDC)

O processo de ocupação irregular do solo enseja alguns conceitos que

irão embasar o desenvolvimento do referido trabalho. Os principais conceitos

que consubstanciarão os processos antrópicos do solo, aos quais irão

influenciar a forma de tratamento e percepção dos condicionantes

socioambientais dizem respeito ao risco, vulnerabilidade e desastre, que irão

reverberar na forma como a população irá participar da gestão do risco

juntamente com os agentes governamentais, na tentativa de construção de

modelos de cidades resilientes.

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A conceituação de risco de acordo com o Ministério da Integração

Nacional, do Governo Federal, se baseia nos conceitos básicos proposto pela

ONU (Organização das Nações Unidas), servindo de base no gerenciamento

de Risco.

Segundo a Secretaria Executiva de Defesa Civil do Governo Federal,

risco vem sendo conceituado como a “possibilidade de danos causados por

eventos físicos ou fenômenos da natureza ou atividade humana, que podem

resultar em perdas de vidas ou ferimentos, danos à propriedade, rupturas

sociais e econômicas ou degradação ambiental.” (Ministério das Cidades,

2008, pg.14)

A conceituação de risco está envolta em algumas definições

particularizadas de acordo com os fenômenos aos quais estarão relacionados.

Partindo da definição de riscos naturais como sendo os processos ou

fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e podem resultar em danos,

podem ser classificados de acordo com sua origem em: geológicos,

hidrometeorológicos ou biológicos.

O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar a realidade das

ocupações nas áreas de morro do Recife assim como as ações que vem sendo

realizadas para se minimizar os problemas relativos a essa ocupando como

forma de diminuição dos riscos ambientais.

Serão enfocados os seguintes objetivos específicos:

Conceituais

Apresentar os conceitos de risco, vulnerabilidade e desastre ambiental,

como forma de associar à realidade social da população que habita os

ambientes vulneráveis e com iminência da ocorrência de desastres.

Abordar teórica e empiricamente o entendimento do modo de ocupação

do espaço urbano na cidade do Recife.

Procedimentais

Discutir o processo de urbanização acelerada ocorrido no Brasil, assim

como as suas consequências para o espaço urbano;

Apresentar os principais problemas urbanos decorrentes da ocupação

de áreas ambientalmente frágeis;

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Associar as práticas dos moradores das áreas de risco com a ocorrência

de desastres na cidade do Recife.

Atitudinais

Despertar nos alunos o senso crítico sobre o processo de ocupação do

espaço urbano;

Associar as formas de minimização de desastres com o seu ambiente

cotidiano;

Apresentar técnicas de como melhorar o meio urbano onde os alunos

residem com a inserção de novas práticas de preservação, objetivando a

diminuição de acidentes.

O trabalho está estruturado no capítulo 02 na conceituação de

urbanização, descrição do processo de urbanização ocorrido no Brasil e as

consequências dessa aceleração com apresentação dos principais problemas

urbanos, principalmente aqueles relacionados ao modo de ocupação do

espaço. O capítulo 03 irá enfocar nos conceitos de risco, vulnerabilidade e

desastres como forma de embasamento teórico para fundamentar os

problemas existentes no processo de ocupação das áreas ambientalmente

frágeis. O capítulo 04 irá abordar de forma descritiva a caracterização geral

com enfoque nas questões físicas, históricas, populacional e habitacional do

Recife. O capítulo 05 irá abordar a questão do risco existentes nas áreas de

encosta da cidade do Recife, assim como as ações estruturais e não-

estruturais que vem sendo realizadas pela prefeitura no intuito de se minimizar

a ocorrência de acidentes com vítimas na cidade. Por fim, as considerações

finais irão abordar de modo crítico os problemas decorrentes da falta de um

planejamento efetivo que possibilitou a existência de habitações em

assentamentos subnormais e a existência de riscos socioambientais

decorrentes das ocupações nas áreas ambientalmente frágeis.

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2. A URBANIZAÇÃO ACELERADA NO BRASIL

O presente capítulo tem como objetivo apresentar a conceituação de

urbanização, descrição do processo de urbanização ocorrido no Brasil e as

consequências dessa aceleração com apresentação dos principais problemas

urbanos, principalmente aqueles relacionados ao modo de ocupação do

espaço. O capítulo irá enfocar de forma sucinta o processo de urbanização no

Brasil que veio resultar em alguns problemas ambientais urbanos, com

destaque para a ocupação de áreas ambientalmente frágeis como a encosta de

morros, resultando em graves desastres ao longo das últimas décadas.

A definição do processo de urbanização no Brasil parte da conceituação

inicial de urbanização como forma de delimitação temática. “Urbanização

refere-se ao aumento da porcentagem de população urbana em relação à

porcentagem da população rural” (TERRA, 2011, pg. 361). A mesma autora

ainda define como sendo “o processo de crescimento da população urbana em

ritmo mais acelerado que o crescimento da população rural. Esse processo

sinaliza a transição de um padrão de vida econômico apoiado na produção

agrícola para outro, baseado na indústria, no comércio e nos serviços”

(TERRA, 2011, pg. 358). “Em geografia, urbanização é um conceito

populacional que indica o crescimento da parcela da população que vive nas

cidades, em comparação com a das zonas rurais (GUIA DO ESTUDANTE –

ATUALIDADES, 2010, pg.55). Em outras áreas do conhecimento, a definição

de urbanização ganha novos conceitos, complementando a conceituação

definida em geografia. “Em arquitetura e urbanismo, refere-se aos recursos que

a cidade oferece, como água encanada, asfaltamento, aterro sanitário e

transportes públicos.Nesse sentido, urbanizar é dotar uma área de

infraestrutura urbana”(GUIA DO ESTUDANTE – ATUALIDADES, 2010, pg.38).

Para o IBGE, é considerada uma área como sendo urbana a sede dos

municípios (denominada cidade) e a sede dos distritos (denominada de vila),

independente do tamanho ou infraestrutura oferecida.

No Brasil é considerada zona urbana toda sede de município ou

distrito, não importando a concentração de pessoas que vivem no

local [...]. Assim, se um grupo pequeno de pessoas vive na sede de

19

um distrito, elas são consideradas população urbana,

independentemente da densidade populacional (total de pessoas por

área) e dos recursos que o local oferece (GUIA DO ESTUDANTE –

ATUALIDADES, 2010, pg. 38).

De ocupação inicial partindo do litoral, com a instalação de vilas ao longo

da costa brasileira, a população residente nesses núcleos urbanos ainda era

bastante incipiente face às condições de vida ali presentes. Até o século XIX

viver nas áreas rurais era o principal habitat da população brasileira. Apenas

com a virada do século e a melhoria das condições de infraestrutura das

cidades, as mesmas passam a ganhar destaque e servir de atração para a

população brasileira.

Alguns fatores contribuíram para o processo de urbanização no Brasil,

que decorre principalmente do chamado êxodo rural, ou seja, da migração

rural-urbana ocorrida com maior aceleração na segunda metade do século XX.

O êxodo rural decorre de alguns fatores como:

Industrialização das cidades;

Melhoria da infraestrutura urbana;

Trabalhador livre (decorrente do fim da escravidão e a

implantação de leis trabalhistas ainda na primeira metade do século XX);

Mecanização do campo;

Como explicado por Maricato (2002, pg.17),

[...] Considerando o universo das Américas, o Brasil já apresentava

cidades de grande porte desde o período colonial, mas é somente a

partir da virada do século XIX e das primeiras décadas do século XX

que o processo de urbanização da sociedade começa realmente a se

consolidar, impulsionado pela emergência do trabalhador livre, a

proclamação da República e uma indústria ainda incipiente que se

desenrola na esteira das atividades ligadas à cafeicultura e às

necessidades básicas do mercado interno.

A primeira metade do século XX ainda e marcada pela forte influência do

campo nas relações sociais, econômicas e políticas, a exemplo das relações

de poder na definição dos presidentes centrada na política do Café-com-Leite

(São Paulo – Minas Gerais). Com o início do processo de industrialização

20

verificado na década de 1930, o país começa a presenciar novos fenômenos,

principalmente ao que concerne o modo de vida da população. Os fatores

apresentados acima começam a se acelerar nesse período, em decorrência

dos problemas enfrentados pelo país diante da grave crise econômica

internacional, explodida em 1929 nos Estados Unidos, do pós Primeira Guerra

Mundial e eminência de uma Segunda Grande Guerra, que veio expor o

problema da dependência do país a produtos industrializados advindos do

exterior e impôs ao Brasil a necessidade de produção local aos produtos então

importados. A economia manteve seu epicentro no setor agrário exportador até

1930, quando ocorre o que Florestan Fernandes denomina de a

revolução burguesa no Brasil. O Estado passa então a investir

decididamente em infraestrutura para o desenvolvimento industrial

visando à substituição de importações. A burguesia industrial assume

a hegemonia política na sociedade sem que se verificasse uma

ruptura com os interesses hegemônicos estabelecidos. (MARICATO,

2002, pg. 17)

A população antes residente nas áreas rurais começa definitivamente a

migrar para os núcleos urbanos, principalmente para as regiões de maior

desenvolvimento do país, como o eixo centro-sul e as capitais dos Estados,

como Recife e Salvador, que já dispunham de certo desenvolvimento regional

desde o período colonial.

As indústrias da Região Sudeste, especialmente na cidade de São

Paulo, exerceram enorme poder para atrair a força de trabalho para

os centros urbanos. Mas regiões como o Centro-Oeste,

especialmente com a fundação de Brasília (1960), e o Sul também

possuem muitos habitantes nas cidades. Os menores níveis de

urbanização encontram-se na Amazônia e no Nordeste. (GUIA DO

ESTUDANTE – GEOGRAFIA, 2011, pg. 93)

As cidades começam a ganhar novos contornos com o aumento da sua

população e as novas atividades que passam a exercer. O advento de novos

meios de transporte com a chegada das ferrovias, e novos meios de

comunicação como o telégrafo e o telefone, possibilitaram novos horizontes

21

para os que residiam nas áreas urbanas, o que impulsionou o processo de

migração campo-cidade.

O processo de urbanização no mundo decorre da Revolução Industrial

desde o século XVIII e verificada principalmente no século XIX na Europa e nos

Estados Unidos, fazendo com que a população diante de novos desafios

começasse a migrar para as cidades atrás de novas perspectivas de vida. A

urbanização iniciada ainda nos fins do século XVIII possibilitou uma gradativa

modificação na estrutura urbana das cidades, que foram se adaptando ao

elevado contingente população que começavam a receber.

Na Europa, o desenvolvimento da indústria durou muito tempo e

levou a uma urbanização lenta, que permitiu maior planejamento no

crescimento das cidades, seja no projeto de áreas residenciais, seja

na construção de redes de água e esgoto, de eletricidade, de ruas e

avenidas, de linhas de trem e metrô, além de serviços públicos como

escolas, hospitais etc. (GUIA DO ESTUDANTE – ATUALIDADES,

2010, pg. 37)

Diferente do processo ocorrido nos países desenvolvidos, os países da

América Latina apresentam um processo de urbanização concentrado na

segunda metade do século XX, ocasionando sérios problemas urbanos, com o

inchaço das cidades que não apresentavam infraestrutura urbana e social

adequadas e não tiveram tempo suficiente para se adaptarem as novas

exigências advindas da população. “Nos atuais países em desenvolvimento, a

industrialização ocorreu de forma mais acelerada apenas após a II Guerra

Mundial, como é o caso do Brasil e provocou maior urbanização nos últimos 60

anos”. (GUIA DO ESTUDANTE – ATUALIDADES, 2010, pg. 37).

A intensificação do processo de urbanização no Brasil inicialmente

ocorre em algumas poucas cidades. Conforme descrito por SANTOS (2009)

apenas três cidades possuíam população superior a cem mil habitantes nos

anos de 1890: Rio de Janeiro com 522.651, Salvador com 174.412 e Recife

com 111.556 e São Paulo possuía apenas 64.934 habitantes. Mas ao passo de

10 anos, o crescimento populacional nessas cidades se avolumou, com São

Paulo chegando a crescer a cifras de aproximadamente 26% ao ano, chegando

a um contingente de 239.820 habitantes na virada do século XX e se tornando

22

a segunda maior cidade do país, apenas atrás da então capital da República, a

cidade do Rio de Janeiro.

Pode-se grosseiramente admitir que a base econômica da maioria

das capitais de estado brasileiras era, até o fim da Segunda Guerra

Mundial, fundada na agricultura que se realizava em sua zona de

influência e nas funções administrativas públicas e privadas, mas,

sobretudo públicas. É o que explica as oscilações indicadas ou uma

relativa estagnação do crescimento populacional, mediante

influências diretas do que se passava nas áreas não-urbanas. [...] Até

a Segunda Guerra Mundial, o peso das capitais no processo urbano e

na população urbana sobreleva, tanto do ponto de vista quantitativo

como qualitativo. (SANTOS, 2009, pgs. 27-28)

Santos ainda complementa enfocando a grande fragmentação

apresentada no país de dimensões continentais, com problemas de interligação

terrestre entre os principais pontos. A principal ligação realizada entre as

capitais dos Estados se realizava através do transporte marítimo, pois havia

uma grande ausência de estradas e as ferrovias começavam a ser construídas,

mas que não possibilitaram uma efetiva interligação nacional.

O Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago, formado

por subespaços que evoluíam segundo lógicas próprias, ditadas em

grande parte por suas relações com o mundo exterior. Havia, sem

dúvida, para cada um desses subespaços, polos dinâmicos internos.

Estes, porém, tinham entre si escassa relação, não sendo

interdependentes. (SANTOS, 2009, pg. 29)

Aos poucos o país começa a apresentar certa integração nacional,

partindo primeiramente pelo eixo formado pelos Estados do Rio de Janeiro

(então capital federal), São Paulo e Minas Gerais (maiores produtores e

exportadores de café do país, em ascensão no final do século XIX), conforme

observado por Santos (2009, pg. 29). Este momento perdura quase inalterado

até os anos de 1930, quando começa a se verificar uma maior pulverização do

processo industrial para outros pontos do país.

23

[...] Não há como não reconhecer que a industrialização que se afirma

a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra Mundial constituiu

um caminho de avanço relativo de iniciativas endógenas e de

fortalecimento do mercado interno, com grande desenvolvimento das

forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e

modernização da sociedade, como nota Caio Prado. (MARICATO,

2002, pg. 18)

A nação brasileira ainda se encontrava em construção e os

acontecimentos históricos externos como a crise de 1929 ocorrida nos Estados

Unidos e as duas Grandes Guerras Mundiais proporcionaram ao país grandes

avanços internos.

Em 1950, o processo de industrialização entra em nova etapa. O país

passa a produzir bens duráveis e até mesmo bens de produção. No

entanto, segundo Celso Furtado, com essa ‘nova dependência’ o

centro das decisões é cada vez mais externo ao país e seu epicentro

se distancia cada vez mais das necessidades internas. A

dependência se aprofunda em relação à fase anterior, e se amplia a

inserção subalterna do país na divisão internacional do trabalho.

(MARICATO, 2002, pg. 19)

Segundo a afirmação de Celso Furtado, exposta por Maricato, mesmo

com a industrialização do país, as ações externas tendem a influenciar de

forma mais direta os acontecimentos ocorridos no país, principalmente do

ponto de vista político. A dependência do país ás ações exteriores,

principalmente aos Estados Unidos e aos países europeus se aprofunda, e o

processo de industrialização se intensifica, acarretando na aceleração da

urbanização do país, verificado principalmente nas décadas de 1960 em diante.

De acordo com SANTOS (2009, pg,25), o processo de urbanização

começa a acelerar entre os anos de 1920 e 1940,

Se a urbanização pouco se alterou entre o fim do período colonial até

o final do século XIX e cresceu menos de quatro pontos nos trinta

anos entre 1890 e 1920 (passando de 6,8% a 10,7%), foram

necessários apenas vinte anos, entre 1920 e 1940, para que essa

taxa triplicasse, passando a 31,24%. A população concentrada em

24

cidades passa de 4,552 milhões de pessoas em 1920 para 6,209

milhões em 1940.

Os acontecimentos internacionais relatados acima no período entre

guerras acarretaram na aceleração demográfica apresentada no país e em

outros pontos do mundo. As novas relações trabalhistas advindas com a

formulação de diversas leis no Brasil, durante a década de 1930 possibilitou

uma nova dinâmica urbana, que veio resultar numa aceleração ainda maior nas

décadas seguintes, tanto dos pontos de vista político e econômico, quanto

demográfico e social.

SANTOS (2009, pg. 26) citando Rossini relatam o processo de

urbanização ocorrido em São Paulo e a chegada de novos serviços de

infraestrutura que passaram a atender a população,

No Estado de São Paulo, a expansão da urbanização nesse período

é marcante, com um crescimento de população urbana da ordem e

43%. Segundo Rossini (1988, pg.74), no final da década de 1920 [...]

a urbanização no interior, evoluindo de forma acelerada e atomizada,

foi reforçada pelo movimento de capitais mercantis locais propiciando

investimentos de origem privada de companhias de energia, de

telefone, de meios de transporte, bancos, instituições de ensino etc.

As décadas seguintes presenciam um novo momento na urbanização

brasileira com o fenômeno da aceleração econômica, marcada pelo avanço no

processo de industrialização que ganhou novas vertentes, passando a abarcar

áreas que antes não trabalhavam dentro do processo fabril. Avanços em obras

de infraestrutura também marcaram o desenvolvimento econômico do país,

com a construção de grandes rodovias interligando diferentes pontos do Brasil,

assim como obras urbanas nas grandes cidades brasileiras, associada a

amplos projetos habitacionais, principalmente no período militar.

De 1940 a 1980, o PIB brasileiro cresceu a índices superiores a 7%

ao ano, um dos maiores do mundo no período. A riqueza gerada

nesse processo permaneceu concentrada, embora mesmo com a

concentração da renda, o alto grau do crescimento econômico tenha

influído na melhoria da qualidade de vida de toda a população,

25

especialmente aquela que abandonou o campo buscando melhores

oportunidades nas cidades. (MARICATO, 2002, pg. 20)

O rápido crescimento econômico possibilitou uma maior migração da

população para certas áreas como visto anteriormente, no caso da migração

campo-cidade, migração para as capitais e principalmente para as cidades de

São Paulo e Rio de Janeiro. No período de 40 anos, o Brasil presenciou um

acelerado processo de urbanização que resultou no inchaço das cidades e o

agravamento dos problemas urbanos, principalmente os relacionados com a

ausência de infraestrutura e as questões de habitação.

Até a Segunda Guerra Mundial, o peso das capitais o processo

urbano e na população urbana sobreleva, tanto do ponto de vista

quantitativo como qualitativo. [...] O Brasil foi, durante muitos séculos,

um grande arquipélago, formado por subespaços que evoluíam

segundo lógicas próprias, ditadas em grande parte por suas relações

com o mundo exterior. Havia sem dúvida, para cada um desses

subespaços, pólos dinâmicos internos. Estes, porém, tinham entre si

escassa relação, não sendo interdependentes. (SANTOS, 2009,

pg.28-29)

Dentro da formação econômica brasileira, o processo de industrialização

apresentado pelo país, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,

proporcionou uma nova dinâmica para as cidades, vindo a significar não

apenas a instalação de indústrias em pontos estratégicos do território, mas

uma verdadeira mudança no sentido de país. Os subespaços citado por Santos

no parágrafo acima começa a se inter-relacionarem a partir do momento em

que a infraestrutura do país passa a ser instalada.

A partir dos anos 1940-1950, é essa lógica da industrialização que

prevalece: o termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em

seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos

lugares, mas e sua mais ampla significação, como processo social

complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacional,

quanto os esforços de equipamento do território para torná-lo

integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que

impulsiona a vida de relações (leia-se terceirização) e ativa o próprio

processo de urbanização. Essa nova base econômica ultrapassa o

26

nível regional, para situar-se na escala do país; por isso, a partir daí,

uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no

território dá-se com o crescimento demográfico sustentado das

cidades médias e maiores, incluídas, naturalmente, as capitais de

Estados. (SANTOS, 2009, pg. 30)

A partir desse momento citado por SANTOS (2009), as políticas

implementadas durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek,

proporcionaram a mudança de rumo na situação do país, que passou de

agrícola e rural para um país industrial e urbana, fato ratificado durante o

Regime Militar com a expansão das políticas voltadas as grandes obras de

infraestrutura. Entre 1940 e 1980, dá-se verdadeira inversão quanto ao lugar de

residência da população brasileira. Há meio século atrás (1940), a

taxa de urbanização era de 26,35%, em 1980 alcança 68,86%.

Nesses quarenta anos, triplica a população total do Brasil, ao passo

que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia.

(SANTOS, 2009, pg.31)

Fonte: Dados Censitários - IBGE

020406080

100120140160180

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

28,3 33,2 38,9 41,6 39,1 36,0 31,8 29,812,9 18,8

32,0

52,9

82,0

110,8

137,8

160,9

Popu

laçã

o (m

ilhõe

s/ha

b)

Anos do Censo do IBGE

Gráfico 01 - População Brasileira

Rural

Urbana

27

Tabela 01 – População Brasileira

População Total População Urbana Índice de Urbanização 1940 41.326.000 10.891.000 26,35 1950 51.944.397 18.782.891 36,16 1960 70.992.343 32.004.817 45,08 1970 94.508.583 52.904.744 55,98 1980 121.150.573 82.013.375 67,70 1991 146.917.459 110.875.826 75,47 2000 169.590.693 137.755.550 81,23 2010 190.755.799 160.925.792 84,36

Fonte: Dados Censitários - IBGE

Fonte: Dados Censitários - IBGE

Tabela 02 – Índice de Urbanização

Ano Pop. Urbano Pop. Rural 1940 26,35 73,65 1950 36,16 63,84 1960 45,08 54,92 1970 55,98 44,02 1980 67,70 32,30 1991 75,47 24,53 2000 81,23 18,77 2010 84,36 15,64

Fonte: Dados Censitários – IBGE

26,35

36,16

45,08

55,98

67,7075,47

81,23 84,36

73,65

63,84

54,92

44,02

32,3024,53

18,77 15,64

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Perc

entu

al

Anos do Censo do IBGE

Gráfico 02 - Evolução da Taxa de Urbanização

Pop. Urbano

Pop. Rural

28

Como visto no gráfico acima, o país começa apresentar um aumento na

sua taxa de urbanização com maior intensidade a partir da década de 1960,

onde verifica-se uma inversão da população que residia nas áreas rurais

passando de 54,92% em 1960 para 44,02% em 1970, enquanto as taxas

referentes a população urbana apresentam um aumento passando de 45,08%

em 1960 para 55,98% na década seguinte.

Esse crescimento global foi acompanhado de uma reversão da

proporcionalidade entre população rural e população urbana (na

definição dada pelo IBGE), com seu ponto de inflexão nos anos de

1960. A curva da população urbana, que tinha começado seu

crescimento mais rápido na década precedente, em função do

crescimento vegetativo dos citadinos e do êxodo rural, interceptou a

curva da população rural, que iniciava uma lenta descida. (THÉRY,

2009, pg.92)

Entre os anos de 1940 e 1991, de acordo com os dados censitários do

IBGE representado na Tabela 02, a taxa de urbanização cresce numa média

de 10% no período intra-censitário. A segunda metade do século XX até os

dias atuais pode-se verificar inúmeras mudanças dentro das cidades

brasileiras, principalmente com a implantação de programas e projetos voltados

para o desenvolvimento dessas cidades. Mesmo diante das iniciativas tomadas

durante o período, ainda verifica grandes problemas urbanas em decorrência

de equívocos no modelo de planejamento então adotado, vindo a ocasionar

ainda grandes déficits no setor habitacional e nas infraestruturas então

instaladas.

Primeiramente, uma nova politica econômica marca o país com a

instalação do Regime Militar em 1964, vindo a modificar a estrutura social e

urbana do país, que já vinha ganhando novos contornos desde a era Vargas

com o processo de industrialização do país. Do ponto de vista urbano, e como

caminho para desmistificar a frieza dada pelo sistema político então instalado,

e com isso ganhar apoio da população, é estruturado dentro do governo federal

políticas de investimento em infraestrutura associada a criação de programas

habitacionais no intuito de se diminuir o alto déficit habitacional instalado no

29

país, principalmente face a aceleração da urbanização presenciada no período

de 1940 em diante.

O golpe de Estado de 1964 todavia aparece como um marco, pois foi

o movimento militar que criou as condições de uma rápida integração

do País a um movimento de internacionalização que aparecia como

irresistível, em escala mundial. A economia se desenvolve, seja para

atender a um mercado consumidor em célere expansão, seja para

responder a uma demanda exterior. (SANTOS, 2009, pg. 39)

Complementando a citação feita por Santos, Bonduki retrata a questão

habitacional no tocante de tentativa de aproximação do regime então instalado

com a opinião pública.

O novo quadro político imposto pelos militares em 1964, com o apoio

das elites conservadoras do país e do governo norte-americano,

particularmente interessado em bloquear os governos progressistas

na América Latina, representou um ponto de inflexão muito

importante na ação do Estado brasileiro na questão habitacional.

(BONDUKI, 2014, pg. 63)

Como forma de suprir o grande déficit habitacional no país, em

decorrência da aceleração do processo de urbanização verificado acima

através das taxas do IBGE, o governo militar, ainda em 1964 implanta o

Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) e cria em agosto

daquele ano o Banco Nacional de Habitação – BNH, como agente financiador

do Sistema Financeiro de Habitação – SFH, formulado desde o segundo

governo Vargas (BONDUKI, 20140).

As iniciativas do novo regime procuravam, por um lado, angariar

apoio entre as massas populares urbanas, segmento que era uma

das principais bases de sustentação do populismo afastado do poder,

e, por outro, criar uma política permanente de financiamento, capaz

de estruturar em moldes capitalistas o setor da construção civil

habitacional, objetivo que acabou por prevalecer. (BONDUKI, 2014,

pg. 63)

30

O país presenciou durante o período de funcionamento do Sistema

Financeiro de Habitação – SFH (1964-1986) o maior programa habitacional

implementado até então. Mesmo diante das críticas ao que concerne o modelo

de planejamento então adotado, aos quais os projetos executados não

contemplavam diversos investimentos em infraestrutura e geralmente

localizados em áreas bastante afastadas dos grandes centros urbanos, com a

constituição de bairros distantes que dificultavam os deslocamentos da

população. Durante o período de vigência do Sistema Financeiro da Habitação

foram construídas mais de 2,3 milhões de habitações em todo o Brasil,

concentradas principalmente nas grandes cidades das Regiões Metropolitanas,

mas também pulverizadas em loteamentos realizados em cidades de pequeno

e médio porte.

Tabela 03 – Sistema Financeiro da Habitação (1964-1986) Produção de Unidades Habitacionais por períodos

Período Presidente Habitação Popular

Cohab Outros Cooperativas Total de

Habitação Popular

1964-1969 Castelo Branco 178.895 64.727 61.223 304.845 1970-1974 Garrastazu Médici 77.902 55.833 100.227 233.962 1975-1979 Ernesto Geisel 593.777 31.134 178.008 802.919 1980-1984 João Figueiredo 655.888 112.842 156.493 925.223 1985-1986 José Sarney 71.402 19.984 14.656 106.042 Total 1.577.864 284.520 10.607 2.372.991

Fonte: Bonduki, 2014

A partir do final da década de 1970 e durante toda a década de 1980 o

país presencia um grande recessão econômica, atrelada a alta inflação e

endividamento externo, impossibilitando o andamento de diversas políticas de

cunho desenvolvimentista implementadas no país desde os anos de 1950 e em

especial as desenvolvidas durante o Regime Militar, como o caso da política

habitacional, que viu o Sistema Financeiro da Habitação entrar em falência e

obrigado a ser extinto durante o governo Sarney em 1986.

A crise do modelo econômico implementado pelo regime militar, a

partir do início dos anos 1980, gerou recessão, aumento de

31

desemprego e queda dos níveis salariais. Esse processo teve enorme

repercussão no Sistema Financeiro da Habitação, provocando forte

redução da sua capacidade de investimento e grande inadimplência.

Em um clima de mobilização popular pela redemocratização, as

críticas ao Banco Nacional de Habitação se acirraram, articulando-se

com a luta contra o regime autoritário ao qual a instituição estava

muito associada. (BONDUKI, 2014, pg. 82)

As cidades começam a mudar seu padrão de ocupação ganhando novos

arranjos urbanísticos. A estrutura das grandes cidades passa por formulações,

com aumento nos investimentos em obras públicas, principalmente as

relacionadas com o sistema viário de cunho rodoviário, face ao aumento no

número de veículos automotores por parte da população, e em decorrência das

grandes distâncias as quais essa população começava a passar diante do

trajeto casa-trabalho (o primeiro localizado nos novos loteamentos distantes

dos centros urbanos, e o segundo localizado principalmente nas áreas

centrais). Além das distâncias, verifica-se também a introdução de novos

padrões de ocupação do espaço, com a disseminação de edifícios verticais,

tanto dentro do modelo de construção das habitações no Sistema Financeiro

da Habitação, quanto em relação as moradias para a população de classe

média alta, em localizações mais privilegiadas e de maior custo.

Maricato (2002, pg. 20) afirma que,

“[...] as cidades brasileiras passaram a ocupar o centro de uma

política destinada a mudar seu padrão de produção. A drenagem de

recursos financeiros para o mercado habitacional, em escala nunca

visa no país, ocasionou a mudança no perfil das grandes cidades,

com verticalização promovida pelos edifícios de apartamentos. [...]

Além da imagem das cidades, mudaram também o mercado fundiário

e vários aspectos da cadeia produtiva (que apesar disso não

abandonou suas características de atraso em relação ao processo de

trabalho).”

Mesmo com o grande impulso dado durante o regime militar em relação

a implantação de uma política habitacional, o problema nas grandes cidades

persistem até os dias atuais, principalmente em decorrência da grande

32

recessão pelo qual o país passou durante as décadas de 1980 e 1990, onde

pode-se verificar uma diminuição nos investimentos em políticas urbanas. Os

principais problemas urbanos tendem a aumentar com a aceleração do

processo de urbanização do país verificado após os anos de 1960, quando se

verifica a reversão da população rural para maioria urbana. Uma parcela da

população é beneficiada pelos programas habitacionais implementados, mas

uma grande maioria se vê obrigada a utilizar de outros métodos para

adquirirem suas habitações, sendo obrigadas a residirem em áreas

consideradas do ponto de vista ambiental, bastante vulneráveis, localizadas

nas margens dos cursos d’água ou nas encostas dos morros, sofrendo riscos

de alagamentos ou desmoronamentos de terra respectivamente.

A despeito das críticas que devem ser feitas ao BNH e ao sistema

financeiro por ele preconizado, que gerou uma intervenção urbana

equivocada, com consequências que afetaram as cidades brasileiras

de modo quase irreversível, sua importância e seu caráter estratégico

na estruturação de uma política habitacional para o país são

indiscutíveis. Esse período foi único – pelo menos até o início do

século XXI – em que o país teve, de fato, uma Política Nacional de

Habitação. (BONDUKI, 2014, pg.63).

Entre os anos de 1986 e 2002 o país presencia uma espécie de

“apagão” ao que concerne a elaboração de políticas públicas urbanas por parte

do governo federal, onde o único grande fato importante no período condiz com

a aprovação da Lei Federal 10.257 em 2001, denominada de Estatuto da

Cidade, e que veio regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal

que tratavam da política urbana e defendida por diversos movimentos sociais.

Apenas fontes de financiamento como o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço) que subsidiava alguns programas, é que foram seguidos durante a

década de 1990.

Na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)

não se conseguiu implementar uma política habitacional consistente,

mas os documentos elaborados pelo governo já apontavam para uma

nova abordagem da questão urbana e habitacional, com

pressupostos fundamentalmente diversos daqueles que vigoraram

33

desde o período do BNH. Aos poucos, com a estabilidade econômica

alcançada com o real e a substancial redução dos investimentos do

SFH que ocorreu durante os anos 1980 e 1990, houve uma

recuperação do FGTS, o que permitiu uma lenta e gradual retomada

dos financiamentos de habitação e saneamento, depois de vários

anos de paralização. No entanto, a política macroeconômica,

marcada pela restrição ao crédito e ao gasto público, impediu uma

atuação governamental mais contundente e massiva para enfrentar

os problemas habitacionais, que se agravaram significativamente no

período. (BONDUKI, 2014, pg. 102)

Em contrapartida as ações em âmbito federal, as políticas

implementadas a nível estadual e principalmente municipal ganha força, com

destaque para a introdução de iniciativas que visavam à participação direta da

população na elaboração e definição de políticas públicas como descrito por

Bonduki (2014, pg. 81),

[...] ao longo dos anos 1990, experiências concretas de

administrações municipais introduziram novos programas e formas

participativas de gestão, que inspiraram os movimentos de moradia a

propor um projeto de lei de iniciativa popular visando à criação de um

fundo nacional de moradia para subsidiar a produção de habitação de

interesse popular.

Diversos programas que possibilitavam a participação da população na

definição de projetos ou na execução dos mesmos foram implementados,

principalmente dentro de gestões municipais de cunho progressista, como no

caso da gestão da Prefeita Luiza Erundina do PT na cidade de São Paulo

durante os anos de 1989-1992 (BONDUKI, 2000; BONDUKI, 2014). Durante

este período, dois grandes programas exitosos foram implementados durante a

gestão Erundina. O primeiro programa diz respeito a produção de habitação

por mutirão e autogestão com ampla parceria de diversos movimentos sociais

gerando a construção de 109 empreendimentos. O outro programa era a

urbanização de favelas, que visava à regularização urbanística e ao acesso à

infraestrutura básica (BONDUKI, 2014).

O autor ainda complementa abordando as raízes que deram subsídio

para a criação das políticas urbanas durante o governo seguinte.

34

O Projeto Moradia (2000), proposto pelo Instituto Cidadania (atual

Instituto Lula), que formatou uma proposta para equacionar o déficit

habitacional no país, base da nova Política Nacional de Habitação,

incorporou essa trajetória, que culminou na criação do Ministério das

Cidades (2003), encarregado de coordenar em nível nacional uma

nova política urbana, articulando as políticas de habitação,

saneamento habitacional e mobilidade. (BONDUKI, 2014, pg. 81)

Maricato (2002) associa os principais problemas ocorridos durante as

décadas de 1980 e 1990 ao fato da crise econômica presenciada no país e a

um aumento da pobreza concentrada agora nas cidades. O aumento da

pobreza nas áreas urbanas acarreta o surgimento de novos problemas, como

algumas questões já tratadas anteriormente, como as distâncias decorrentes

da criação de inúmeros loteamentos em áreas longínquas aos centros urbanos

ou áreas ambientalmente frágeis como os cursos d’água ou encostas de

morros.

Nessas décadas, conhecidas como “décadas perdidas”, a

concentração da pobreza é urbana. Pela primeira vez em sua história,

o Brasil tem multidões, que assumem números inéditos, concentradas

em vastas regiões – morros, alagados, várzeas ou mesmo planícies –

marcadas pela pobreza homogênea. Segundo estudo o IPEA

(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada), 33% dos pobres

brasileiros se concentram no Sudeste, predominantemente nas

metrópoles. (MARICATO, 2002, pg. 22)

Maricato ainda discorre sobre os principais problemas urbanos e o

aumento da pobreza a questões relativas ao trabalhador livre, pois sem ter

condições de prover sua própria habitação de forma condizente com uma boa

qualidade de vida, a população tende a procurar as áreas remanescentes do

processo de urbanização oficial e passa a residir nos chamados vazios

urbanos. Áreas consideradas vulneráveis do ponto de vista ambiental por

apresentarem sérios riscos às moradias e, por conseguinte, a própria vida dos

moradores.

As décadas perdidas não são as únicas a registrarem as origens do

que podemos chamar de tragédia urbana brasileira – enchentes,

35

desmoronamentos poluição dos recursos hídricos, poluição do ar,

impermeabilização do solo, desmatamento, congestionamento

habitacional, reincidência de epidemias, violência, etc. O crescimento

urbano sempre se deu com exclusão social, desde a emergência do

trabalhador livre na sociedade brasileira, que é quando as cidades

tendem a ganhar nova dimensão e tem início o problema da

habitação. (2002, pg. 22)

Apenas em 2003, com a posse do Presidente Lula e a criação do

Ministério das Cidades, a agenda da Reforma Urbana e a ampliação nos

investimentos públicos relativo às políticas para as cidades voltam a entrar na

agenda do governo federal e dos demais entes federativos. A criação do

Ministério das Cidades em 2003 proporcionou a aplicação direta de

investimentos em diversos setores das políticas urbanas como saneamento

ambiental, mobilidade, intervenções em sítios históricos, ampliação do

planejamento urbano com a elaboração dos Planos Diretores Participativos, e a

partir de 2009 com a criação do Programa Minha Casa Minha Vida, que

possibilitava a retomada dos investimentos em habitação e um planejamento a

longo prazo através do PlanHab - Plano Nacional de Habitação (Site do

Ministério das Cidades). “Uma das principais tarefas do MCidades foi estimular

a implementação do Estatuto da Cidade, entendido como fundamental para

garantir o acesso à terra e viabilizar a produção de habitação social”

(BONDUKI, 2014, pg. 110).

Várias articulações foram realizadas durante o governo Lula para

implementar e consolidar as políticas urbanas no país, mesmo com grandes

desafios a serem enfrentados em decorrência dos anos de recessão

presenciados durante as duas décadas anteriores e que ainda resultavam em

entraves ao avanço de programas e projetos, como os relacionados com a área

habitacional. Em paralelo com as ações que o Ministério das Cidades tentavam

articular, os problemas urbanas tendiam a aumentar e a causar mais

transtornos a população em geral, com especial destaque para os moradores

das áreas mais afastadas, localizadas em áreas ambientalmente frágeis.

De acordo com relatório do Ministério das Cidades sobre a questão

habitacional com demonstrativo do déficit habitacional e da demanda futura por

habitação no país.

36

Foram quantificadas, pela primeira vez, de modo consistente, as

necessidades habitacionais do país considerando a dinâmica

demográfica. Assim, no horizonte temporal viável para se enfrentar o

problema, levantaram-se não apenas os déficits quantitativos e

qualitativos, como também as necessidades futuras, resultantes do

crescimento da população e de sua demanda habitacional, e das

migrações. (BONDUKI, 2014, pg. 116)

A demanda habitacional se dá em várias vertentes, partindo desde a

ausência habitacional por parte das famílias, passando pela utilização de

residência cedida ou alugada, até a demanda em relação à precariedade

habitacional. Ainda se mede a necessidade por demanda de novas habitações

em decorrência do aumento populacional.

Tabela 04 – Necessidades Habitacionais conforme o Plano Nacional de Habitação

Déficit acumulado (2006) e Demanda Futura (2007-2023)

Modalidade de Necessidade Habitacional Número de Unidades (em milhões)

Déficit acumulado de unidades novas (2006) 7,9 Necessidade de novas unidades geradas pela urbanização de assentamentos precários 0,9

Demanda Futura de novas unidades habitacionais (2007-2023) 27,0

Necessidades Habitacionais Totais (2007-2023) 35,8 Necessidades de Urbanização de Assentamentos Precários 3,2

Necessidade de complementação de infraestrutura 10,8

Fonte: BONDUKI, 2014

Chegou-se à conclusão de que até 2023 seria necessário produzir

cerca de 34,9 milhões de unidades habitacionais, sendo 7,9 milhões

para eliminar o déficit existente e 27 milhões para atender as

necessidades futuras, além da urbanização de assentamentos

precários onde vivem 3,3 milhões de famílias e da complementação

de infraestrutura em assentamentos que reúnem 9,8 milhões.

(Ministério das Cidades, apud BONDUKI, 2014, pg. 116)

37

Conforme dados do Ministério das Cidades em relação ao principal

programa habitacional implementado durante o governo Lula (2003-2010) o

Programa Minha Casa Minha Vida entre os anos de 2009 e 2012 nas suas

duas etapas, a meta inicial seria a construção de 3,4 milhões de habitações,

tendo sido contratado um total de 2,2 milhões, o correspondente a 64% da

meta para o período. O volume de contratações para o período de 2009-2012

se apresenta equivalente ao total de habitações populares construídas durante

todo o período do Sistema Financeiro da Habitação (1964-1986) equivalente a

2,37 milhões, ou seja, o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV se

propunha realizar em 04 anos um volume de construção equivalente ao que foi

realizado pelo antigo SFH em 22 anos. Associado ao PMCMV estava o

aumento do crédito para financiamento da casa própria e de programas de

incentivo por meio dos bancos estatais como a Caixa Econômica Federal e o

Banco do Brasil, com crédito para a aquisição de materiais de construção e

para a aquisição de mobiliário.

Mesmo diante dos grandes avanços presenciados no país na última

década e meia, ainda verifica-se grandes problemas urbanos na aquisição de

habitação por parte da população de baixa renda, principalmente em

decorrência da ausência de terras em áreas mais centrais, resultado da forte

especulação imobiliária implantada por grandes construtoras, que reservam

parte dessas terras para a construção de empreendimentos voltados

exclusivamente para as classes média e alta aumentando a segregação sócio

espacial já bastante marcante no país (MARICATO, 2002; SANTOS, 2009).

As cidades, e sobretudo as grandes, ocupam, de modo geral, vastas

superfícies entremeadas de vazio. Nessas cidades espraiadas,

características de uma urbanização corporativa, há interdependência

do que podemos chamar de categorias espaciais relevantes desta

época: tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de

infraestruturas, especulação fundiária e imobiliária, problemas de

transporte, extroversão e periferização da população, gerando,

graças às dimensões da pobreza e seu componente geográfico, um

modelo específico de centro-periferia. (SANTOS, 2009, pg. 106)

38

Santos faz a associação entre os diferentes problemas resultantes do

processo de urbanização presenciado no país nas últimas décadas e ressalta o

problema da especulação fundiária e imobiliária como determinando para os

demais problemas de espraiamento urbano e, por conseguinte, das relações

sociais e espaciais que marcam fortemente a segregação da população.

Fonte: IBGE e Fundação João Pinheiro

De acordo com a classificação dada pela Fundação João Pinheiro (GUIA

DO ESTUDANTE – ATUALIDADES, 2014, pg. 145) em parceria com o IBGE o

déficit habitacional no Brasil está concentrado principalmente no nicho dos

moradores que residem de aluguel, correspondendo a 46,01%, seguido do

nicho de famílias que dividem residência com outras pessoas e gostariam de

viverem em domicílios separados (geralmente membros das mesmas famílias,

como filhos que constituíram famílias próprias, mas ainda residem na casa dos

pais) representam um montante de 32,15%.

O processo de urbanização no Brasil apresentou uma diminuição no

ritmo de crescimento urbano, em face de já elevada taxa de urbanização, mas

que não chegou a apresentar estagnação ao que concerne o aumento no

número de habitantes. O país apresentava de acordo com o censo demográfico

do IBGE em 2010 uma taxa de urbanização de 84,37%, equivalente a 160,9

milhões de habitantes residindo nas cidades brasileiras.

A distribuição da população nas cidades brasileiras se concentra em 04

grandes blocos de cidades, conforme Tabela 05.

382.926

2.669.348883.777

1.865.457

Gráfico 03 - Déficit Habitacional no Brasil

Adensamento excessivo

Aluguel muito caro

Habitação Precária

Famílias em coabitação

39

Tabela 05 – Distribuição dos municípios conforme a quantidade de seus moradores (2014) Número de Habitantes Número de Municípios Até 5.000 hab. 1.247 De 5.001 a 10.000 hab. 1.227 De 10.001 a 20.000 hab. 1.378 De 20.001 a 50.000 hab. 1.080 De 50.001 a 100.000 hab. 339 De 100.001 a 500.000 hab. 260 Mais de 500.000 hab. 39 Total 5.570

Fonte: IBGE

Conforme verificado acima, mesmo diante dos avanços presenciados, a

questão habitacional ainda se torna o principal problema urbano brasileiro.

Outros problemas podem ser constituídos como agregados à questão

habitacional, principalmente em decorrência da falta de efetivação do

planejamento urbano, realizado por vezes devido a pressões de órgãos

superiores como forma de liberação de verbas, mas que não se efetiva como

prática constante dentro das prefeituras das pequenas e médias cidades, e as

vezes, nas grandes cidades e metrópoles do país, vindo a ocasionar uma

espécie de caos urbano.

2.1 Problemas Ambientais Urbanos

As exigências por infraestrutura advinda da pressão demográfica fez

com que as cidades começassem a apresentar sérios problemas.

Primeiramente com a falta de habitação que pudesse suprir a necessidade do

contingente populacional somado ao ambiente urbano. A questão habitacional

torna-se o primeiro grande problema urbano, pois ainda em decorrência do

grande déficit habitacional e com o ritmo de provisão de habitação que não

acompanha o crescimento da população faz com que estes novos habitantes

passassem a procurar áreas não-ocupadas para poderem residir.

O primeiro impacto nas áreas urbanas diz respeito á forma como o solo

é ocupado, sofrendo grandes modificações na sua geomorfologia, vindo a

ocasionar sérios problemas que não serão resolvidos de imediato e com a

construção das moradias tende a aumentar.

40

À medida que as cidades se expandem e novas áreas são ocupadas,

ocorrem mudanças ao seu redor, como a ocupação de terras

agricultáveis, perda de áreas de vegetação e o consequente aumento

da erosão dos solos, obstrução do leito de rios, contaminação de

fontes de água, etc.

A principal consequência da expansão do espaço urbano é a

impermeabilização do solo, principalmente devido à cobertura

asfáltica das vias públicas e ao adensamento construtivo provocado

pela verticalização das edificações. (TERRA, 2011, pg. 370)

Com a ausência de um efetivo planejamento urbano que pudesse suprir

as necessidades da população, começa a ser construída uma cidade informal,

ou seja, uma cidade construída em paralelo com as ações governamentais,

sem um planejamento prévio do Estado, com total ausência de infraestrutura e

em áreas ambientalmente frágeis. A cidade informal não conta com serviços

e equipamentos urbanos e ocupa áreas desvalorizadas [...] traduz uma

segregação ao mesmo tempo social e espacial (TERRA, 2011, pg.368). As

habitações urbanas informais podem ser consideradas aquelas “habitações

improvisadas ou inacabadas, construídas com restos de materiais, como

tábuas, papelão ou alvenaria. Frequentemente, essas habitações situam-se em

zonas degradadas (ou como dito anteriormente em áreas ambientalmente

frágeis), como vertentes de morro sujeitas a deslizamentos de terra, mangues

ou áreas susceptíveis a enchentes, e não contam com serviços como

saneamento básico ou iluminação pública”. (TERRA, 2011, pg.368).

Como dito por TERRA (2011) na citação acima, partindo-se

primeiramente da questão habitacional, verifica-se a precarização da moradia,

por vezes, construídas com materiais inadequados do ponto de vista técnico, o

que resulta em problemas de habitabilidade, pois a mesma não apresenta

condições técnicas adequadas para a sua utilização. Outro fator condiz com os

locais de assentamento destas habitações, implantadas geralmente em áreas

vulneráveis do ponto de vista ambiental, localizadas em terrenos com solos não

propícios ao assentamento humano em decorrência de sua geologia e

geomorfologia.

41

Associado ao problema do terreno, a ocupação desordenada do solo

das cidades brasileiras tende a aumentar outros problemas já presentes como

a baixa capacidade das infraestruturas como o saneamento ambiental e a

coleta de resíduos. A população sem ter onde despejar o seu esgoto ou lixo,

acaba jogando em terrenos baldios, nas encostas dos morros e principalmente

nos cursos d’água, acarretando sérios problemas à saúde dessa população.

As respostas para essa realidade típica do crescimento das grandes

cidades são refletidas na interação entre sociedade e natureza onde

o ambiente é sujeito a alterações realizadas pelos seres humanos,

principalmente, na forma desigual de apropriação dos solos urbanos

e pelos fenômenos naturais, gerando mudanças na paisagem, no

lugar e no espaço. (Ministério das Cidades, 2008, pg. 33)

A ocupação de áreas ambientalmente frágeis tem gerado nas últimas

décadas o aumento no número de acidentes devido o deslizamento de

barreiras vindo a ocasionar perdas materiais e de vidas humanas em todo o

país.

Outros problemas do ponto de vista ambiental interferem na qualidade

de vida da população, principalmente as diversas formas de poluição (ar, água,

solo, sonora), mas que de certa forma se inter-relacionam e se agravam nas

áreas onde os investimentos públicos em infraestrutura não acompanharam o

crescimento da população de baixa renda, por conseguinte, a mais afetada

social e economicamente.

A periferização do processo de urbanização resultou no aumento das

distâncias entre as áreas habitacionais ocupadas pela população de baixa

renda e os centros de trabalho, fazendo com que a população tenha que

percorrer grandes distâncias através de meios de transportes coletivos de

baixa qualidade, principalmente por não conseguirem atender adequadamente

a demanda crescente. Com a baixa qualidade do transporte público está o

aumento na oferta no mercado de meios de transportes individuais como

carros, através de subsídios governamentais, fazendo com que a população

consiga adquirir automóvel com preços acessíveis, resultando no aumento de

veículos nas vias, ocasionando em engarrafamentos e aumento no tempo de

percurso casa-trabalho.

42

Ainda como resultado da periferização, coloca-se a baixa cobertura dos

serviços urbanos relativos a infraestrutura básica, face a grande demanda por

abastecimento d’água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e da rede de

drenagem.

A desigualdade social acaba sendo a marca principal nas áreas

habitadas pela população de baixa renda, face os problemas ambientais

urbanos se tornarem mais presentes na dicotomia alta demanda x baixa

capilaridade dos serviços ofertados, o que resulta no não atendimento de todos

os serviços a toda população residente nas áreas mais periféricas das cidades.

A desigualdade social é uma marca da urbanização brasileira. Quanto

mais baixa a renda mensal por morador de uma casa, menor é o

percentual dos domicílios com saneamento básico: apenas 40% dos

lares com renda per capita baixa de meio salário mínimo possuem os

serviços básicos de saneamento, mas essa participação sobe para

81,9% nas casas em que a renda per capita é maior que cinco

salários mínimos. (GUIA DO ESTUDANTE – ATUALIDADES, 2010)

43

3. ENFOCANDO CONCEITOS

A ocupação do solo em áreas ambientalmente frágeis possibilita o

aumento na probabilidade de efetivação de alguns acontecimentos que podem

acarretar em perdas sociais, econômicas e ambientais do ponto de vista

material, ou mesmo, em perdas de vidas humanas. O gerenciamento das áreas

vulneráveis por parte dos entes governamentais, assim como por parte da

sociedade civil enseja um ciclo de ações que possibilita à diminuição dos riscos

eminentes apresentados nos cenários de maior vulnerabilidade.

Primeiramente, antes de se enfocar nos processos aos quais às áreas

ambientalmente frágeis, com destaque para a cidade do Recife, se encontram

expostas, serão apresentados os principais conceitos envoltos no

gerenciamento dessas áreas. A multidisciplinaridade das ações dentro do

processo de gestão de risco faz com que haja uma intercambiação entre os

conceitos apresentados, onde cada área de conhecimento pode enfocar

determinado ponto, fazendo com que haja enfoques diferenciados. Dentro do

ciclo de gerenciamento de risco, vários conceitos são trabalhados para que se

haja o melhor entendimento das ações a serem expostas. Para tal, como forma

de sintetização serão apresentados de forma mais detalhada os principais

conceitos a serem desenvolvidos dentro do presente trabalho2. Parte-se da

conceituação de risco socioambiental e suas vertentes, vindo a destacar o

conceito de vulnerabilidade e o conceito de desastre ambiental.

Como forma de melhor embasamento teórico-conceitual, serão

apresentados os conceitos utilizados pelos órgãos governamentais como o

Ministério da Integração Nacional, através da Secretaria Nacional de Proteção

e Defesa Civil e na bibliografia especializada de diversos órgãos de pesquisa

nacional e internacional.

3.1. Risco Socioambiental

Partindo da conceituação desenvolvida pela Estratégia Internacional

para Redução de Desastres-EIRD da Organização das Nações Unidas (2009)

2 Os conceitos de risco, vulnerabilidade e desastre são apresentados no presente capítulo, os demais conceitos estarão expostos no Apêndice 01 deste trabalho.

44

utilizada pelo Ministério da Integração Nacional através da Secretaria Nacional

de Proteção e Defesa Civil, entende-se Risco como sendo:

A probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas esperadas

(mortes, lesões, propriedades, meios de subsistência, interrupção de

atividade econômica ou ambiente ameaças naturais ou

antropogênicas e condições de vulnerabilidade). Convencionalmente,

o risco é expresso por Risco = Ameaças x Vulnerabilidade. (EIRD,

2009, pg.17)

Ainda partindo da definição de risco da EIRD-ONU (2009),

Algumas disciplinas também incluem o conceito de exposição para

referir-se principalmente aos aspectos físicos da vulnerabilidade. Mas

além de expressar uma possibilidade de dano físico, é crucial

reconhecer que os riscos podem ser inerentes, aparecem ou existem

dentro de sistemas sociais. Igualmente é importante considerar os

contextos sociais nos quais os riscos ocorrem, pois a população não

necessariamente compartilha as mesmas percepções sobre o risco e

suas causas subjacentes.

O Ministério da Integração Nacional através da Secretaria Nacional de

Proteção e Defesa Civil adota o mesmo conceito complementando a

caracterização de risco a partir do momento em que o mesmo existirá “em

menor ou maior grau, quando elementos vulneráveis estiverem localizados em

uma área que apresente ameaça a um tipo de fenômeno.” (Ministério da

Integração, 2014, Cap. 02, pg16).

Ainda segundo o Ministério da Integração “o risco representa uma

estimativa do dano potencial a que pessoas, bens e atividades econômicas

estão sujeitos, levando em consideração a probabilidade de ocorrência de um

evento adverso nesse período (um ano, por exemplo) e a vulnerabilidade dos

elementos expostos” (Ministério da Integração, apud FELL et al. 2008).

Segundo texto da Professora Margareth Alheiros para a Capacitação em

Gestão e Mapeamento de Riscos Socioambientais do Ministério das Cidades

realizado em 2008 “A possibilidade de danos causados por eventos físicos,

fenômenos da natureza ou atividade humana, que podem resultar em perdas

45

de vidas ou ferimentos, danos à propriedade, rupturas sociais e econômicas ou

degradação ambiental.” (Ministério das Cidades, 2008, pg. 14).

Alheiros (1998, pg. 13) em sua Tese de Doutorado faz o paralelo entre

Perigo e Risco como termos intimamente relacionados. “Enquanto o primeiro

refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre, o segundo expressa

às consequências em termos de danos e perdas de vidas, propriedades e

serviços, caso esse desastre venha a ocorrer.”

De acordo com a classificação internacional os riscos podem ser

classificados como naturais ou tecnológicos, tendo os riscos naturais

subdivididos em hidrometeorológicos, geológicos ou biológicos conforme

especificado na Tabela 06 a seguir:

Quadro 01 – Classificação dos Riscos Riscos Naturais: Processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e podem resultar em danos, podem ser classificados de acordo com sua origem em: geológicos, hidrometeorológicos ou biológicos. Origem Fenômenos Riscos Hidrometeorológicos Processos naturais ou fenômenos de ordem atmosférica, hidrológica ou oceânica.

Inundações, fluxos de detritos ou de lama, erosão hídrica e costeira, ciclones tropicais, tempestades, ventos, chuvas e outros eventos climáticos severos, raios relâmpagos, secas, desertificação, incêndios florestais, temperaturas extremas, tempestade de areia e poeira, solos congelados (permafrost), avalanches de neve.

Riscos Geológicos Fenômenos terrestres naturais associados a processos endógenos tectônicos ou exógenos, como os movimentos de massa.

Terremotos, maremotos (tsunamis), atividade e emissões vulcânicas, movimentos de massa: deslizamentos, queda de rochas, corridas de lama, deslizamentos submarinos, colapsos e atividades de falhas geológicas.

Riscos Biológicos Processos de origem orgânica decorrentes de vetores biológicos, incluindo exposição a microrganismos patogênicos, toxinas e substâncias bioativas.

Surtos de doenças epidêmicas, contágio por planta ou animal e infecções extensivas (pragas de gafanhotos).

Riscos Tecnológicos: Perigo associado a acidentes tecnológicos ou industriais, falhas estruturais ou humanas que possam causar perdas de vidas, ferimentos, danos à propriedade, ruptura social ou econômica, ou danos ambientais, quase sempre associados a riscos antropogênicos. Exemplos: poluição industrial, emissão nuclear e radioatividade, lixos tóxicos, ruptura de barragens, acidentes de transportes ou acidentes tecnológicos (explosões, incêndios, derramamentos).

Fonte: ALHEIROS, apud Ministério das Cidades, 2009

46

Como verificado, o conceito de risco está relacionado com a

probabilidade de algum acidente, seja natural ou provocado por ações

humanas acontecer e consequentemente ocasionar danos sociais, econômicos

e ambientais.

Todo e qualquer sistema está direta ou indiretamente submetido por

algum risco em potencial, podendo variar a sua intensidade de acordo com

fatores intrínsecos aos fenômenos incidentes sobre esse sistema,

principalmente ao que concernem os riscos naturais classificados como

hidrometeorológicos e geológicos. Esses dois tipos de risco estão intimamente

relacionados, pois em grandes proporções, os dois tipos acabam ocorrendo

simultaneamente, a exemplo de fenômenos climáticos que afetam áreas

vulneráveis do solo e vem ocasionar movimentações de massa (deslizamentos,

desmoronamentos, escorregamentos, etc.). Os dois tipos de fenômenos podem

ocorrer independentemente da ação antrópica, mas devido ao processo de

ocupação do solo, principalmente nas áreas urbanas, afetadas pelo

desmatamento e por modificações no seu relevo, os fenômenos climáticos

tendem a atingir com maior intensidade e consequentemente a afetar áreas

maiores com aumento nos danos sociais e econômicos.

Quando um determinado fenômeno tende a atingir determinada área

sem causar danos, o mesmo é classificado apenas como evento. De acordo

com o Glossário apresentado pelo Ministério da Integração Nacional3

conceitua-se evento como sendo ”em análise de risco, ocorrência externa ou

interna ao sistema, envolvendo fenômeno da natureza, ato humano ou

desempenho do equipamento, que causa distúrbio ao sistema”. (Ministério das

Cidades, 2009, pg. 77).

Para Alheiros (1998, pg.16) “a gestão de risco compreende um sistema

que inclui a percepção do perigo, a análise de risco, a divulgação da

informação e o suporte gerencial, como instrumento operativo que implementa

todas as decisões do sistema”. Ainda segundo a mesma autora (ALHEIROS,

1998, pg. 16) “o grau de insegurança da população (percepção) é o elemento

que desencadeia o processo e que demandará a realização de estudos dos

fenômenos e das suas consequências, com vistas ao zoneamento (análise de 3 Disponível em: http://www.integracao.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=71458606-5f48-462e-8f03-4f61de3cd55f&groupId=10157. Acessado em: 06 de Janeiro de 2015.

47

risco). Esses resultados subsidiarão o diálogo social (informação sobre o risco)

para a orientação do gerenciamento entre intervir e não intervir”. Baseando-se

no exposto, todo o processo que envolve a gestão de risco está relacionado

com a realização prévia de um Planejamento, com a elaboração de Planos de

Ação cuja finalidade condiz com a prevenção de risco e no intuito de se

minimizar possíveis desastres.

De acordo com a Estratégia Internacional de Redução de Desastres

(EIRD/ONU, 2009) o ciclo de gestão de risco de desastres se divide em duas

grandes etapas: a Gestão de Risco de Desastres e o Gerenciamento de Desastres. Partindo primeiramente para a definição de Gestão de Risco

(Ministério da Integração, 2014, Cap. 01, pg.02)

Caracteriza-se pelo conjunto de decisões administrativas, de organização e de

conhecimentos operacionais desenvolvidos por sociedades e comunidades

para estabelecer políticas, estratégias e fortalecer suas capacidades e

resiliência a fim de reduzir os impactos de ameaças e, consequentemente, a

ocorrência de possíveis desastres. Em outras palavras, a gestão de riscos

consiste na adoção de medidas para reduzir os prejuízos e danos ocasionados

por desastres, antes que estes ocorram.

A segunda etapa do ciclo é entendida como o gerenciamento de

desastres que

Contempla a organização e gestão de recursos e responsabilidades para o

manejo de emergências quando o desastre se concretiza. Essa etapa,

também denominada como gestão de emergências ou gestão de desastres,

inclui planos, estruturas e acordos que permitem coordenar os esforços do

governo, de entidades voluntárias e privadas para responder as necessidades

associadas às emergências.

No Brasil, segundo o Artigo 3º da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei nº 12.608, de 10 de Abril de 2012), a gestão de risco e o gerenciamento de desastres estão baseados nas seguintes ações:

48

Prevenção; Mitigação; Preparação; Resposta; e Recuperação.

Figura 01 – Ciclo de Gestão da Defesa Civil

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2014

Quadro 02 - Principais ações do ciclo de gestão de risco e gerenciamento de desastres.

Gestão de Risco Gerenciamento de Desastre Prevenção Mitigação Preparação Resposta Recuperação

Ações destinadas a

reduzir a ocorrência e a intensidade de desastres, por

meio da identificação,

mapeamento e monitoramento

de riscos, ameaças e

vulnerabilidades, bem como a

capacitação da sociedade

Medidas estruturais e

não estruturais para limitar os

danos e prejuízos visto

que não é possível

prevenir todos os impactos adversos das

ameaças

Medidas tomadas antecipadamente

para assegurar uma resposta

eficaz aos desastres, como

planos de contingência,

simulados, monitoramento,

emissão de alertas e a evacuação da população

Ações de socorro, ações de

assistência às vítimas e ações

de restabelecimento

de serviços essenciais

Envolve principalmente

as ações de reconstrução, que são ações

de caráter definitivo

destinadas a restabelecer o

cenário destruído pelo

desastre

Fonte: Brasil (2010); EIRD/ONU (2009)

49

As três primeiras etapas do ciclo ocorrem relacionadas à prevenção do

risco, com a realização de ações no intuito de minimizar a probabilidade de

ocorrência de algum desastre. A gestão de risco é realizada através do

conhecimento dos fenômenos envolvidos na área de ação, tornando possível a

estruturação de um planejamento com a definição de prioridades e estratégias

que permitam reduzir o risco. As ações focam principalmente no levantamento

da área de atuação do órgão responsável com a realização do mapeamento de risco. O mapeamento prevê a realização de mapas de suscetibilidade,

perigo, vulnerabilidade e risco. Num segundo momento, ainda dentro das

etapas citadas e após a realização de um mapeamento e planejamento prévio

das ações, são realizadas as chamadas ações estruturais (realização de obras

de infraestrutura como obras de contenção de barreiras e redes de drenagem

de águas fluviais) (Figura 02) e ações não-estruturais (ações de planejamento

e voltadas a informação à população com a realização de capacitações e

implantação de sistemas de alerta) (Figura 03).

Figura 02 – Ação Estrutural - Obras de Contenção de Encosta

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em: http://www.recife.pe.gov.br/2010/07/27/prefeito_entrega_obra_de_contencao_no_alto_do_mandu_172910.php. Acessado em 10 de Fevereiro de 2015.

50

Figura 03 – Ação Não-Estrutural – Ação Informativa nas Escolas

Fonte: Arquivo Regional Sul / SEDEC – Recife, 2014

As duas últimas etapas do ciclo ocorrem no momento de ocorrência de

algum desastre e nos momentos seguintes no intuito atender

emergencialmente a população atingida por determinado desastre e

reestabelecer as condições de normalidade da área atingida. Conforme

visualizado na Figura 04, onde após as enchentes que atingiram o Estado de

Pernambuco em 2010, foram realizados levantamentos para verificar a real

situação das edificações e a possibilidade de retorno dos moradores onde

havia possibilidade.

51

Figura 04 – Área atingida pela enchente em Palmares

Fonte: José Rafael, 2010

Ainda na definição de Mapeamento de Risco, os mapas de risco tem

como finalidade setorizar determinada área de acordo com a avaliação prévia

do grau de risco.

Segundo a definição do Ministério da Integração Nacional (2008, pg.15)

“o Grau de Risco dimensiona a probabilidade de ocorrência de acidentes,

segundo uma escala de intensidade. Usualmente vêm sendo adotados 4

intervalos (1 – Risco Baixo; 2 – Risco Médio; 3 – Risco Alto; e 4 – Risco Muito

Alto)”.

A seguir verifica-se a definição dos quatro níveis de risco, segundo

quadro presente no Plano Municipal de Redução de Risco da Prefeitura do

Recife:

52

Quadro 03 – Definição dos Níveis de Risco

NÍVEL DE RISCO

DEFINIÇÃO

Risco Muito Alto

(R4)

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes e a falta

de intervenção no Setor são de muito alta potencialidade para o

desenvolvimento de processos de deslizamentos e erosão. As

evidências de instabilidade são expressivas e estão presentes em

grande número ou magnitude. Processo de instabilização em

avançado estágio de desenvolvimento. É a condição mais crítica.

Mantidas as condições existentes, é muito provável a ocorrência de

eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e

prolongadas, no período de 1 ano.

Risco Alto (R3)

Os condicionantes geológicos-geotécnicos predisponentes e a fala

de intervenção no Setor são de alta potencialidade para o

desenvolvimento de processos de deslizamentos e erosão.

Observa-se a presença de significativas evidências de

instabilidades. Processo de instabilização em pleno

desenvolvimento. Mantidas as condições existentes, é possível a

ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas

intensas e prolongadas no período de 1 ano.

Risco Médio

(R2)

Os condicionantes geológicos-geotécnicos predisponentes e a fala

de intervenção no Setor são de média potencialidade para o

desenvolvimento de processos de deslizamentos e erosão.

Observa-se a presença de algumas evidências de instabilidade.

Processo de instabilização em estágio inicial de desenvolvimento.

Mantidas as condições existentes, é reduzida a possibilidade de

ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas

intensas e prolongadas no período de 1 ano.

Risco Baixo

(R1)

Os condicionantes geológicos-geotécnicos predisponentes e a fala

de intervenção no Setor são de baixa potencialidade para o

desenvolvimento de processos de escorregamentos e erosão. Não

se observa(m) evidência (s) de instabilidade ou processo de

instabilização de encostas. É a condição menos crítica. Mantidas

as condições existentes, não se espera a ocorrência de eventos

destrutivos no período de 1 ano. Fonte: Plano Municipal de Redução de Risco – PMRR – Recife

53

Ainda seguindo a mesma definição Setor de Risco é entendido como

“uma porção do território, analisado em escala de detalhe (>1:5.000) que

apresenta características similares quanto ao processo gerador de desastres e

quanto à sua probabilidade de ocorrência. São mapeados polígonos fechados,

aos quais são atribuídos os graus de risco” (Ministério da Integração, 2008, pg.

15).

Figura 05 - Mapa de Risco do Recife

Fonte: Base Cartográfica da Prefeitura do Recife, Secretaria Executiva de Defesa Civil. Adaptado por José Rafael, 2015

54

Figura 06 – Setorização dos Pontos de Risco Zona Norte e Zona Sul do Recife

Fonte: Base Cartográfica da Prefeitura do Recife, Secretaria Executiva de Defesa Civil. Adaptado por José Rafael, 2015

3.2. Susceptibilidade eVulnerabilidade

Partindo-se inicialmente do conceito de susceptibilidade, entende-se

como sendo a “característica inerente ao meio, que expressa à probabilidade

de ocorrência de eventos ou acidentes” (Ministério das Cidades, 2008, pg 15).

O conceito de vulnerabilidade está relacionado com a “predisposição de

um sujeito, sistema ou elemento, ser afetado por ocasião de um acidente.”

(Ministério das Cidades, 2008, pg. 15)

De acordo com o Glossário do EIRD-ONU (2009), vulnerabilidade ganha

as seguintes conceituações:

55

1. Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação

com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos,

medidos em termos de intensidade dos danos prováveis.

2. Relação existente entre a magnitude da ameaça, caso ela se

concretize, e a intensidade do dano consequente.

3. Probabilidade de uma determinada comunidade ou área geográfica

ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre, estabelecida a

partir de estudos técnicos.

4. Corresponde ao nível de insegurança intrínseca de um cenário de

desastre a um evento adverso determinado. Vulnerabilidade é o inverso da

segurança.

Ainda segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,

O termo vulnerabilidade está associado à condição dos elementos sob ameaçaou em perigo (indivíduos, comunidades ou cenários

expostos) e pode ser avaliado através do grau esperado de danos e prejuízos no caso do evento acontecer (Figura 7). Sendo assim, a

vulnerabilidade indica como as condições preexistentes fazem com

que os elementos expostos sejam mais ou menos propensos a ser

afetados por um processo perigoso.

Figura 07 – Vulnerabilidade e suas interações

Fonte: Alheiros, 1998; adaptado por José Rafael, 2015

56

Enquanto o termo susceptibilidade está relacionado com as

características das áreas a serem afetadas, o termo vulnerabilidade está

relacionado com os sistemas a serem expostos.

Baseando-se nos conceitos expostos, afirma-se que a vulnerabilidade

está relacionada com a predisposição de determinado cenário em ser

acometido por algum acidente de acordo com a exposição a determinadas

condições ou fenômenos externos, a exemplo de um determinado ambiente

urbano com alta densidade construtiva que devido a modificações acentuadas

no seu relevo, em períodos de maior precipitação pluviométrica, ocasiona a

ocorrência de deslizamentos de massas, podendo ocasionar acidentes e, por

conseguinte, em perdas materiais e humanas.

De um modo geral, a análise de qualquer modalidade de risco, deve

contemplar a suscetibilidade da área e a vulnerabilidade dos sistemas (sociais,

econômicos, ecológicos) presentes na área ameaçada. (ALHEIROS, 1998,

pg.25)

Figura 08 – Área vulnerável a desastre – Realização de Monitoramento

Fonte: Arquivo Regional Sul / SEDEC – Recife, 2013

57

As características da área de exposição podem interferir diretamente na

vulnerabilidade, a exemplo de uma construção de tijolos localizada numa área

estável, sem a incidência de determinados fenômenos climáticos (como

vendavais, furacões, grandes precipitações), assim como as condições

geomorfológicas como o tipo de relevo (inclinação dos taludes), tipo de solo, ou

mesmo a cobertura vegetal. A mesma construção localizada próxima às

margens de cursos d’água, ou numa encosta com grandes modificações do

seu relevo, ou mesmo numa área com incidência de variações climáticas ou

ocorrência de determinados fenômenos podem aumentar a vulnerabilidade

para ocorrência de desastres e, por conseguinte, a ocorrência de perdas

sociais, econômicas e ambientais que afetem diretamente determinado sistema

urbano.

3.3. Desastres Socioambiental

O conceito de desastre socioambiental está relacionado com o resultado

de processos adversos naturais ou provocados pelo homem, sobre um sistema

vulnerável causando danos humanos, ambientais e / ou materiais e

consequentes prejuízos econômicos e sociais (EIRD-ONU, 2009, pg.08).

Segundo a conceituação do EIRD-ONU apresentada acima ainda define-

se ainda desastre como sendo:

[...] uma séria interrupção no funcionamento de uma comunidade ou sociedade que ocasiona uma grande quantidade de mortes e igual perda e impactos materiais, econômicos e ambientais que excedem a capacidade de uma comunidade ou sociedade afetada para fazer frente à situação mediante o uso de seus próprios recursos (EIRD-ONU, 2009, p13-14.)

Continuando a definição do EIRD-ONU:

“os desastres são quantificados, em função dos danos e prejuízos, em termos de intensidade, enquanto que os eventos adversos são quantificados em termos de magnitude. A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado. Normalmente o fator preponderante para a intensificação de um desastre é o grau de vulnerabilidade do sistema receptor. Os desastres classificam-se quanto à Intensidade, Evolução e Origem.”

58

A definição apresentada pela EIRD-ONU “enfatiza a capacidade da

comunidade ou da sociedade afetada de enfrentar a situação mediante seus

próprios recursos, apontando a condição de vulnerabilidade como aspecto

primordial na compreensão dos desastres, sejam eles decorrentes de ameaças

tecnológicas, ambientais, meteorológicas, geológicas ou outra” (MINISTÉRIO

DA INTEGRAÇÃO, 2013, pg.53).

A conceituação de desastre pode ser representada pela Figura 09, onde:

Figura 09 – Diagrama de Desastre Natural

Fonte: Alheiros, 1998; adaptado por José Rafael, 2015

Entendem-se como eventos extremos aqueles que destoam da

normalidade ocasionando danos e prejuízos à população ou ao ambiente.

Quando uma sociedade não se encontra em condições favoráveis do ponto de

vista ambiental, com baixa capacidade de suas infraestruturas básicas (redes

de abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos,

além de estarem assentadas em áreas ambientalmente frágeis com ocorrência

de grandes modificações geomorfológicas – existência de desmatamentos

associados a cortes incorretos nos taludes) a vulnerabilidade instalada na

localidade apresenta-se mais favorável à ocorrência de eventos adversos,

sendo intensificadas com a ocorrência de eventos extremos (com intensidades

superiores as médias e de frequência mais esporádica). A associação dos

chamados eventos extremos numa sociedade vulnerável implica no aumento

da probabilidade de ocorrência de um desastre natural com sérias implicações

à população e ao ambiente (esse já modificado pelas intervenções humanas).

De acordo com a classificação determinada pela Defesa Civil Nacional,

os desastres são classificados segundo a sua intensidade, evolução e origem.

A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do

evento adverso e o grau de vulnerabilidade, sendo que, na maioria das

Eventos Extremos

Desastre Natural

Sociedade Vulnerável

59

vezes, o fator preponderante para a intensificação de um desastre é o grau de

vulnerabilidade dos elementos expostos (CASTRO, 2003).

Quadro 04 – Classificação dos desastres quanto a sua intensidade, evolução e origem

Inte

nsid

ade

Nível I – média intensidade: os danos e prejuízos são suportáveis e

superáveis pelos governos locais e a situação de normalidade pode ser

restabelecida com os recursos mobilizados em nível local ou

complementados com recursos estaduais e federais.

Nível II – grande intensidade: os danos e prejuízos não são superáveis

e suportáveis pelos governos locais, e o restabelecimento da situação

de normalidade depende da mobilização e da ação coordenada das três

esferas de atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

(SINPDEC) e, em alguns casos, de ajuda internacional.

Evol

ução

Súbitos ou de evolução aguda: se caracterizam pela velocidade com

que o processo evolui e pela violência dos eventos adversos, podendo

ocorrer de forma inesperada e surpreendente ou ter características

cíclicas e sazonais.

Graduais ou de evolução crônica: se caracterizam por evoluírem em

etapas de agravamento progressivo.

Orig

em

Naturais: causados por processos ou fenômenos naturais.

Tecnológicos: originados de condições tecnológicas ou industriais,

incluindo acidentes, procedimentos perigosos, falhas na infraestrutura

ou atividades humanas específicas.

Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012

Segundo ALHEIROS (1998, pg.14) Os acidentes ou desastres naturais são eventos catastróficos,

envolvendo perdas materiais ou de vidas. São fatos consumados,

cujo estudo permite entender o comportamento do meio frente aos

processos que nele atuaram, avaliar as perdas materiais e humanas

resultantes e conhecer a maior ou menor fragilidade dos sistemas ali

implantados.

60

Em análise, os conceitos apresentados se inter-relacionam a partir do

enfoque dado ao grau de intensidade do evento e o consequente prejuízo

social e material dado à determinada localidade.

61

4. O PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RECIFE

4.1. Caracterização Geral Como foco do presente trabalho, tem-se como recorte espacial a cidade

do Recife. Este capítulo irá apresentar a caracterização da cidade do Recife

com a síntese descritiva dos dados gerais, físicos e do processo de ocupação

da cidade.

A cidade do Recife desde o início de sua ocupação apresenta grande

importância regional e nacional devido a sua localização e a influência política,

social e econômica, correspondendo a capital do Estado de Pernambuco. O

Recife possui uma área de 217,01km² de extensão, estando localizado na

porção central da extremidade leste, às margens do Oceano Atlântico. De

acordo com dados do censo do IBGE, a cidade se constitui como sendo uma

das 10 mais populosas do país, com uma população de 1.537.704 habitantes.

A localização da cidade na porção leste da Região Nordeste do Brasil, em

posição estratégica constituiu um dos fatores importantes para a sua

instalação, o que veio fazer com que ganhasse rápido destaque desde o início

da sua colonização, principalmente com a existência de um porto que

possibilitava a comunicação do lugar com o restante do mundo, em especial

com o Portugal, então sede da colônia. Figura 10 – Mapa de Localização da Cidade do Recife

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em: http://www2.recife.pe.gov.br/o-recife/caracterizacao-do-territorio/. Acessado em: 10 de Janeiro de 2015.

62

4.2. Caracterização Física do Recife O relevo do Recife é compreendido basicamente por duas unidades

distintas, sendo a primeira unidade formada pela Planície Flúvio-Marinha,

compreendendo de terrenos sedimentares do período geológico do

Quartenário. A segunda unidade de relevo é compreendida pelas colinas

dissecadas, conhecidas como morros e que ocupa grande porção territorial da

cidade. Os morros circundam a cidade com concentração nas porções norte,

oeste e noroeste numa formação semelhante a um anfiteatro, de formação

sedimentar, com terrenos anteriores as áreas de planície. Os depósitos

sedimentares fazem parte do grupo Barreiras, de idade plio-pleistocênica, com

solos areno-argilosos (ANDRADE, 2009, pg. 176).

Figura 11 – Mapa de relevo

Fonte: Base Cartográfica da Prefeitura da Cidade do Recife, adaptado por José Rafael, 2015

63

De acordo com Andrade (2009, pg. 177) em texto adaptado da Prefeitura

do Recife, pode-se dizer que a cidade estava compartimentada em 05 grandes

unidades ambientes naturais, sendo:

Ambiente Litorâneo: Situado entre o canal de Setúbal, os manguezais do Pina e o oceano, o ambiente litorâneo do Recife se estende sobre 6km². O solo de areias é intensamente ocupado nos bairros de Boa Viagem, Brasília Teimosa e do Pina.

Ambiente da Planície: A planície, situada entre os morros e o baixo estuário, estende-se sobre 50km². Por ser a área de solo massapé, até o século XIX, era quase exclusivamente ocupada por canaviais e os aglomerados que nela existiam eram ligados à agricultura.

Ambientes Aquáticos: Os ambientes aquáticos compreendem as águas superficiais, formadas pelas águas salgadas do oceano Atlântico e pelas águas doces dos rios, canais, lagoas e açudes. Quase todos os bairros são atravessados por rios, entre os quais se destacam o Capibaribe, o Beberibe, o Tejipió e o Jordão; por canais, riachos ou córregos, açudes, como o de Apipucos, e lagoas, como a do Araça.

Ambientes do Baixo Estuário: Situado entre os ambientes da planície e o litorâneo, o ambiente de baixo estuário se estende por uma área de 30km² de extensão. Nesse ambiente há uma intensa troca entre a água doce dos rios e a água salgada do mar. A maior parte do solo resulta de aterros que, ao longo do tempo, interligaram ilhas, ilhotas e coroas.

Ambiente dos Morros: Os ambientes dos morros se estendem a norte, a Oeste e a Sudoeste da cidade, sobre mais da metade da área do município. A partir do Bairro de Cajueiro, passado pelos morros de Casa Amarela, Macaxeira, Dois Irmãos, Curado, Tejipió, Ibura, Cohab, até o Jordão, as colinas, com variação aproximada de cinquenta a oitenta metros de altura, elevam-se sobre a planície e se prolongam nas chãs/ tabuleiros dos bairros da Guabiraba e Pau Ferro, a Noroeste do município, uma área que apresenta ainda grandes espaços semirrurais. As vertentes e os fundos de vale mantêm a sua cobertura vegetal, necessária à preservação da qualidade das aguas dos numerosos riachos, que lá têm suas nascentes. Os desmatamentos e a ocupação das colinas mais próximas da cidade, originalmente periferias das grandes propriedades dos plantadores de cana-de-açúcar, ocorrem neste século, a partir dos anos quarenta, nos morros da Zona Norte e a partir dos anos sessenta, nos morros da Zona Sul.

Do ponto de vista climático, Recife está inserido no domínio climático

Tropical Chuvoso, de classificação As’ com clima quente e úmido com chuvas

de outono-inverno, segundo a classificação de Köppen.

64

De acordo com dados colhidos da Estação Meteorológica do Recife,

localizada no Curado e pertencente ao INMET – Instituto Nacional de

Meteorologia, a temperatura média anual no Recife é de 25,5ºC, com máxima

média anual de 29, 1ºC e mínima média anual de 21,9ºC (CPRM, 2003). O

período com maiores temperaturas abrange os meses de dezembro a março

(verão no hemisfério sul), enquanto os meses de junho a setembro (inverno no

hemisfério sul) compreendem os meses com as menores temperaturas.

A precipitação média no Recife compreende 2.200mm. Conforme o

climograma da Cidade do Recife, representado na Figura 12, o período

compreendido entre os meses de março a julho apresenta médias

pluviométricas acima da média, com grande concentração de chuvas. O

trimestre entre maio e julho concentra 47% do total anual, enquanto o trimestre

entre outubro e dezembro concentra apenas 7,5% da precipitação. Os demais

meses do ano, os índices pluviométricos se apresentam abaixo da média,

apresentando para o mês de novembro índice médio inferior a 50mm de chuva.

(ALHEIROS, 2003; ANDRADE, 2009; CPRM, 2003)

Figura 12 – Climograma do Recife

Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/53349/# - Slide 38.

Na associação da intensidade de chuva em determinados meses do

ano, com o relevo acidentado, de solo areno-argiloso, e com os processos

65

erosivos intensificados em decorrência da forte ocupação do solo urbano por

habitações com baixa técnica construtiva, observa-se uma maior intensidade

de deslizamentos de encostas nos períodos de maior intensidade

pluviométrica. “Essas características favorecem o intemperismo químico das

rochas graníticas e dos sedimentos feldspáticos, aumentando o conteúdo de

argilas nos solos, o que leva a uma maior probabilidade de ocorrência de

escorregamentos.“ (ALHEIROS, 2003, pg. 34).

Do ponto de vista hidrográfico, a cidade do Recife é banhada pela Bacia

do Capibaribe e por rios que formam algumas bacias litorâneas como o Rio

Beberibe ao norte e o Rio Tejipió ao sul. Associado a esses três rios principais,

a cidade ainda é cortada por diversos canais e riachos, que desaguam nos rios

principais e, por conseguinte no estuário principal que forma as Ilhas do Recife

e Martim Vaz na região central da capital pernambucana (PFALTZGRAFF,

2007, pg, 59).

Os rios que cortam a cidade se caracterizam como perenes, tendo as

suas vazões aumentadas nos períodos de maior precipitação. Em decorrência

do relevo e do processo de ocupação urbana, as margens dos principais

cursos d’agua se encontram ocupadas, o que possibilita a ocorrência de

transbordamentos e consequentemente, enchentes em diversos pontos da

cidade.

Devido às características citadas acima, a Prefeitura da Cidade do

Recife, através da atual Secretaria Executiva de Defesa Civil tem intensificado

na última década diversas ações de prevenção com o intuito de se reduzir

drasticamente a ocorrência desses acidentes, objetivando a diminuição ou

mesmo zerar o número de vítimas fatais.

66

Figura 13 – Mapa hidrográfico

Fonte: Base Cartográfica da Prefeitura da Cidade do Recife, elaborado por José Rafael, 2015

4.3. Síntese da Ocupação do Recife A ocupação do Recife parte da instalação de um porto. Partindo das

áreas planas ao longo dos cursos d’água como a foz dos Rios Capibaribe e

Beberibe, o processo de ocupação do solo da cidade do Recife se processou

por eixos radiais que partem da área central em direção ao interior, decorrentes

da instalação de antigos engenhos de cana-de-açúcar durante o período

colonial até o século XIX.

A síntese da ocupação do Recife remonta as primeiras décadas de

colonização do Brasil ainda em 1537, através do Foral de Olinda, quando se

tem o primeiro registro da existência de um núcleo inicial com a constituição de

um porto natural, que servia de atracadouro de barcos na extensão de Olinda.

O porto iria servir de ancoradouro dos barcos que iriam fazer o transporte de

cana-de-açúcar produzida nos engenhos localizados na então Capitania de

67

Pernambuco. Inicialmente a ocupação nas imediações do porto era formada

apenas por trabalhadores e alguns pescadores, vindo a localidade começar a

ganhar destaque com a chegada dos holandeses no século XVII (ALVES,

2009, pg. 30).

Figura 14 – Mapa do Recife no século XVI

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/cidade/projetos/bairrodorecife. Acessado em 10 de Janeiro de 2015.

A ocupação inicial se dava no istmo que ligava o porto a vila de Olinda,

sendo uma estreita faixa de terra onde foram construídas poucas casas para

abrigar os trabalhadores do porto e alguns comerciantes e pescadores. Com o

passar dos anos, o então istmo começa a sofrer vários aterros, principalmente

no século XVII com a chegada dos holandeses, vindo a se expandir,

possibilitando a construção de novas edificações e abertura de novas vias.

68

Figura 15 – Vista de Olinda para o Porto do Recife no século XVII.

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccr/historia/. Acessado em 10 de Janeiro de 2015.

Em 1931 a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais se lança na

conquista e exploração das terras pertencentes à colônia portuguesa,

aportando no povoado do Recife, onde ali se instalam e durante 24 anos

estabelecem um domínio holandês no novo território. Com aproximadamente

70 casas e algumas poucas vielas que davam sustentação ao porto ali

instalado, Recife ainda não apresentava estrutura urbana com porte para a

fixação de um comando como os holandeses queriam instalar, mas diante das

boas condições do terreno, o solo era propício para o crescimento de um

povoado e da sua posterior expansão, fato que veio acontecer, fazendo com

que o lugar se desenvolvesse nos anos posteriores. (ALVES, 2009)

Durante os anos de ocupação holandesa, o território do Recife se

expande com a realização de sucessivos aterros e a constituição de uma nova

organização urbana com a ocupação da Ilha de Martin Vaz localizada no outro

lado do Rio Capibaribe (atual bairros de Santo Antônio e São José), onde o

governo holandês instala e ali constrói a “Cidade Maurícia” durante o período

governado pelo Conde Maurício de Nassau. Com a chegada dos holandeses,

Recife começa a ganhar nova configuração espacial, e o traçado espontâneo

presente no Istmo do Recife (atual bairro do Recife), começa a conviver com

69

um traçado planejado, retilíneo e monumental, proposto para os atuais bairros

de Santo Antônio e São José. (Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccr/historia/cap3/cap3-box4.html.

Acessado em: 10 de Janeiro de 2015).

Figura 16 – Cidade Maurícia em 1644.

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/cidade/projetos/bairrodorecife/mapas_xvii.htm. Acessado em: 10 de Janeiro de 2015.

Com a expulsão dos holandeses em 1654 a configuração urbana do

Recife se apresenta completamente diferente do período em que os mesmos

aportaram naquela povoação em 1631, tendo apresentado uma grande

expansão urbana e a implantação de um novo modelo de cidade, com a

configuração de um traçado regular, retificação dos seus canais, e a realização

de sucessivos aterros, que continuaram ao longo dos séculos seguintes.

Recife se constituiu como cidade em 1823 e veio tornar capital do

Estado de Pernambuco em 1827 (Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível

em:http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccr/historia/ Acessado em: 15 de

janeiro de 2015), quando devido o seu desenvolvimento comercial e a

importância do seu porto para as exportações de cana-de-açúcar advinda dos

inúmeros engenhos da então província de Pernambuco e das províncias

vizinhas, já se destaca como uma das vilas mais importantes do país, junto

com Salvador (primeira capital da colônia) e Rio de Janeiro (então capital do

império português no Brasil, após a vinda da família real em 1808).

70

No início do século XX, com inspiração europeia, Recife passa por

novas transformações urbanísticas, e começa o processo de remodelação da

cidade com a redefinição do seu desenho urbano, com especial destaque para

as regiões centrais que sofreram inúmeras transformações, com o intuito

higienista, que tinha a função de abrir novas ruas e demolir as antigas

construções que não apresentavam condições adequadas de higiene e

salubridade (Prefeitura da Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccr/historia/cap7/cap7-box3.html.

Acessado em 15 de Janeiro de 2015). Inúmeras outras modificações ocorreram

na cidade ao longo do século XX com o mesmo objetivo higienista inspiradores

nas proposições de Saturnino de Brito. “O projeto e a instalação do sistema de

saneamento idealizado pelo engenheiro Saturnino de Brito colocava o Recife

na posição de um centro urbano moderno.” (Prefeitura da Cidade do Recife.

Disponível em: http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccr/historia/cap7/cap7-

box3.html. Acessado em 15 de Janeiro de 2015). A expansão da cidade

começa a abarcar novas áreas como a faixa sul do litoral da cidade, com os

bairros do Pina e Boa Viagem, assim como pelos antigos corredores de ligação

dos engenhos, como o eixo no sentido da Várzea e nas imediações de Casa

Amarela e Torre, onde ali foram edificados antigas fábricas têxteis.

Ainda no século XIX, começa o processo de industrialização da cidade

com a implantação de algumas fábricas, dando novas configurações aos

antigos engenhos.

Algumas fábricas começam a ser implantadas na cidade e marcam

uma conformação diversa da existente, ocupando áreas dos antigos

engenhos. Assim, instala-se a indústria têxtil no Recife, em 1874,

constrói-se, em terras do antigo engenho da Madalena, a Fábrica de

Fiação e Tecidos Madalena, e em terras do antigo engenho da Torre,

a Fábrica da Torre 1 (1884) e a Fábrica da Torre 2 (1889). Em 1895,

instalam-se as fábricas da Várzea e de Apipucos. Outras se instalam

nos municípios próximos, que hoje forma parte da Região

Metropolitana do Recife, em Paulista (1891), em Camaragibe (1891)

e em Jaboatão (1910). (Alves, 2009, pg. 51)

A configuração então existente até o século XIX de casa-grande,

senzala e engenho, passa a dar lugar a fábrica e as chamadas vilas fabris,

71

onde os operários residiam. As vilas fabris constituem nos primeiros conjuntos

habitacionais construídos no intuito de prover habitação para os operários das

fábricas com a possibilidade de estarem localizados próximos das mesmas.

(ALVES, 2009, pg. 51).

No princípio do século XX, a ocupação da cidade ainda permanecia

bastante concentrada nos bairros centrais. [...] é por intermédio dos

tentáculos que a cidade se expande incorporando as partes nodosas

ou povoações periféricas aos trechos iniciais, preenchendo os vazios,

concentrando e consolidando povoações de maior porte. (LIMA,

2012, pg. 48)

Durante o século XX vários processos de remodelação e expansão da

cidade passam a ser verificados, com a formação de núcleos urbanos ao longo

da malha urbana existente, principalmente com a construção de diversas linhas

férreas que remodelaram a estrutura viária da cidade e deram a configuração

dos principais eixos existentes atualmente.

A expectativa da população no final do século XIX e início do século XX

com o processo de industrialização verificado com a instalação de diversas

fábricas, atrelado a crises no meio rural em decorrência de fortes estiagens,

abolição do trabalho escravo e modernização dos engenhos que começaram a

se constituir como usinas, impulsionaram fortes migrações da população para a

capital do Estado.

A modernização do parque açucareiro e as frequentes secas no

sertão, além do processo mais geral de urbanização por que passou

o país a partir da revolução d 30, colaboraram para o crescimento da

população do Recife, que, como as demais cidades brasileiras que se

expandiram no período, não possuía infraestrutura capaz de atender

tal explosão demográfica. (BONDUKI, 2014, pg. 288)

As populações mais abastadas conseguiram ao longo do tempo se

instalarem adequadamente, principalmente nos novos eixos como os bairros de

Casa Forte, Graças, e imediações. Diferentemente dessa população, os

habitantes de menor poder aquisitivo, que não possuíam condições para

adquirirem uma habitação, foram habitar nos cortiços existentes nas áreas

72

centrais, ou começaram a ocupar as áreas menos valorizadas como os

mangues e as encostas dos morros. (ALVES, 2009; LIMA, 2012; BONDUKI,

2014)

A expansão da cidade esta bastante associada, desde o início da sua

ocupação com a realização de sucessivos aterros, como observado no início

deste capítulo, e que começa a ganhar novas proporções ao longo do século

XX, principalmente ao longo dos cursos d’água, nas áreas consideradas

alagadas, com o assentamento de uma população pobre advinda de diferentes

áreas do Estado. Essa população começou a construir os chamados

mocambos, que se caracterizavam como sendo habitações feitas com restos

de materiais, como madeiras e palha, e estavam localizados em áreas

precárias do ponto de vista de assentamento e infraestrutura.

Desprovidos de infraestrutura, com condições precárias de

habitabilidade e higiene, distantes do padrão recomendado de

moradia saudável, os mocambos proliferaram como a principal

alternativa de moradia para a população de baixa renda pela

facilidade de execução e disponibilidade de mão-de-obra. (BONDUKI,

2014, pg. 288)

Como forma de promover uma “renovação urbana” de cunho higienista

que visava principalmente a retirada daqueles habitantes das áreas próximas

ao centro e que poderiam sofrer certa valorização imobiliária com a realização

posterior de novas edificações, foi criado em 1938 pelo então governador

Agamenon Magalhães a Liga Social Contra os Mocambos – LSCM, que visava

a erradicação desse tipo de moradia. De acordo com levantamento feito,

existiam na cidade 45.581 mocambos com população de aproximadamente

165 mil habitantes, o que representava um terço da população total do Recife

segundo o censo demográfico de 1940.

Do total de mocambos, 77% eram cobertos com palha ou capim, 83%

tinham piso de terra, 72% tinham três cômodos ou menos e 91% não

contavam com sistema de coleta de esgoto. Uma informação, no

entanto, surpreendente: apenas 9% dos mocambos eram próprios,

enquanto 34% eram alugados e nada menosque 48% tinham

construção própria sobre uma terra alugada, mostrando a força do

73

patrimonialismo nas cidades brasileiras e a expressão do mercado

em áreas de assentamento informal já nos anos de 1940. (BONDUKI,

1914, pg. 288)

Figura 17 - Mapa geral da cidade do Recife, com as vilas construídas pela Liga Social

Contra o Mocambo de 1939 e 1942

Fonte: Relatórios da Liga Social Contra o Mocambo, julho/1941 a julho/1942. Recife:

Imprensa Oficial, 1942, apud BONDUKI, 2014.

Figura 18 – Mocambos do Recife

Fonte: BONDUKI, 2014

Diante de tal realidade, em 1939 foi criada a primeira instituição pública

durante o regime varguista com a finalidade específica de construir casas

populares, e que contou com grande participação da iniciativa privada. A

principal função da Liga Social Contra os Mocambos foi promover uma

reorganização espacial, com a construção de habitações populares e a retirada

das antigas habitações com a liberação dos terrenos para posterior

74

intervenção. Mesmo com toda a propaganda, tanto do governo quanto da

iniciativa privada, pouco se foi feito ao que concerne a construção de novas

habitações, enquanto por outro lado, houve uma grande limpeza social dos

moradores dos mocambos, que foram obrigados a se mudarem para áreas

mais distantes onde os riscos sociais persistiam.

Tabela 06 – Liga Social Contra os Mocambos - Casas projetadas, construídas e a

construir

Casas Projetadas

Casas Construídas

Casas a construir

Recife - total de casas populares 6.483 3.212 3.362 Recife - casas de classe média 899 899 - Interior 6.222 6.222 - Total 13.604 10.242 3.362

Fonte: BONDUKI, 2014

Mesmo com a construção de casas, o efetivo construído e a real

necessidade da população se mostravam bastante distinto, pois o número total

de habitações construídas (admitindo que todas as edificações localizadas no

interior fossem destinadas a população de baixa renda), menos 20% das

famílias teriam sido beneficiadas com habitações adequadas.

Em 1945, depois de mudanças no modelo de construção e com a falta

de recursos para prosseguimento do programa, a LSCM foi transformada em

autarquia governamental, mas que não teve os mesmos objetivos anteriores.

A intervenção realizada pela LSCM, como nenhuma outra ação

habitacional do período, esteve profundamente articulada com as

propostas de renovação e expansão urbana da cidade do Recife.

Infelizmente, não foi implementada na perspectiva de garantir o

direito à cidade, mas, ao contrário, como instrumento para aprofundar

a segregação socioterritorial. (BONDUKI, 2014, pg. 293)

A política habitacional no Estado após o período varguista tem uma

paralização, voltando a ser retomada com a implantação das políticas

habitacionais durante o Regime Militar através do Banco Nacional de Habitação

– BNH. Durante os anos de 1965 a 1978 foram erguidos no Estado 63.665

habitações, através da constituição de vários conjuntos habitacionais no Recife,

75

Região Metropolitana e alguns municípios do interior. O primeiro conjunto

habitacional foi construído na extremidade sul da capital pernambucana, no

atual bairro da Cohab, a chamada UR-01 (Unidade Residencial 01) com um

total de 1.051 unidades entregues em outubro de 1966 (Jornal do Comércio.

1999. Entre os anos de 1979 e 1986 foram entregues mais 33.835 habitações e

13.618 intervenções em áreas pobres.Disponível

em:http://www2.uol.com.br/JC/_1999/1107/ec1107o.htm. Acessado em 15 de

Fevereiro de 2015).

Durante a década de 1980, mesmo com a continuidade na construção

de habitacionais (em grande maioria nos demais municípios da Região

Metropolitana do Recife, principalmente em Paulista e Abreu e Lima), novas

formas de intervenção começam a ser implementadas na capital do Estado. A

década de 1980 é marcada pela constituição de um marco jurídico e pelo

reconhecimento por parte do poder público municipal das áreas pobres da

cidade. Nesta década o poder público do Recife adquire e regulariza o

equivalente a 36% da área dos assentamentos pobres existentes. Em parte, o

reconhecimento desses assentamentos se desenvolve em decorrência da forte

pressão dos movimentos sociais de luta por moradia, juntamente com diversos

organismos institucionais, como a Igreja Católica e o meio acadêmico (LIMA,

2012; NETO, 2013).

Em levantamento feito pela Fundação de Desenvolvimento

Metropolitano - FIDEM em 1978 foram registrados 27 assentamentos de baixa

renda, que veio posteriormente a ser constituídos como Áreas Especiais de

Interesse Social – AEIS, e institucionalizados como Zonas Especiais de

Interesse Social – ZEIS pela Lei de Uso e Ocupação do Solo 14.511 de 1983.

Este foi o primeiro passo para o reconhecimento legal desses assentamentos

pobres e uma forma de consolidação dessas áreas. Em 1987 é criado, através

de pressão dos movimentos sociais organizados o Plano de Regularização das

Zonas Especiais de Interesse Social – PREZEIS. A constituição dessas áreas

como ZEIS tem como principal objetivo a regularização fundiária e

posteriormente a consolidação dessas áreas com a implantação de

infraestrutura urbana e a inibição da especulação imobiliária devido o

estabelecimento de lotes mínimos e proibição de remembramentos. Mesmo

com todo o marco jurídico implementado e a expansão das ZEIS para outros

76

níveis de governo, a exemplo o reconhecimento por parte do governo federal

com a incorporação de artigos na Lei Federal nº10.257/2001 – Estatuto da

Cidade, ainda verifica-se grande pressão do setor imobiliário por diversas

áreas, a exemplo de bairros como Brasília Teimosa e partes do Pina na cidade

do Recife, objetivando a aquisição dessas áreas e a posterior “expulsão” de

seus moradores para áreas mais distantes, aumentando a segregação

socioespacial já presente na cidade (LIMA, 2012; NETO, 2013).

De acordo com o Plano Diretor do Recife (Lei Municipal nº17.511/2008),

a cidade apresenta 61 áreas consideradas como Zonas Especiais de Interesse

Social – ZEIS. A configuração dessas áreas como ZEIS possibilita para os seus

habitantes uma maior segurança jurídica sobre a posse da terra, ao passo que

também contribui para a fixação dos mesmos nas áreas em que habitam,

impedindo o processo de especulação imobiliária, principalmente nas ZEIS

localizadas em áreas mais valorizadas, como os bairros de Boa Viagem, Casa

Forte, Pina, entre outras áreas. A configuração de áreas como ZEIS também

tem a pretensão de proporcionar a regularização fundiária e urbanística das

áreas dotando-as de infraestrutura urbana e social, o que deveria ser

consolidado através do Fórum do PREZEIS (Programa de Regularização das

ZEIS).

De acordo com dados do censo demográfico do IBGE em 2010, a cidade

do Recife apresentava um déficit habitacional de 12,5%, equivalente a 47.327

habitações e um total de 167.613 habitações (44,4%) com condições

inadequadas por infraestrutura. Dentro do contexto sociopolítico, os programas

implementados se constituíram como insuficientes para acabar com o déficit

habitacional, ou ao menos, estimar uma diminuição gradativa dos problemas

habitacionais existentes na cidade do Recife.

Atualmente, Recife se constitui como sendo uma das cidades mais

importantes do país, e destaque dentro da Região Nordeste junto com Salvador

e Fortaleza, por atrair grandes instituições governamentais de nível nacional,

assim como polo de grandes empresas de diversos ramos da economia. Com

uma área total de 218,50km², segundo dados da Prefeitura do Recife, a cidade

está compartimentada segundo o seu relevo, tendo sua formação territorial

compreendida por 67,43% de morros; 23,26% de planícies; 9,31% de

aquáticas; e 5,58% de Zonas Especiais de Preservação Ambiental – ZEPA.

77

4.4. Caracterização Habitacional e Populacional do Recife A cidade do Recife possuía de acordo com o censo demográfico do

IBGE realizado em 2010 uma população total de 1.537.704 habitantes,

compreendendo uma densidade demográfica de 7.039,64hab/km².

Tabela 07 – População do Recife

Ano População 1872 116.671 1890 111.556 1900 113.106 1920 238.843 1940 348.424 1950 524.682 1960 797.234 1970 1.084.459 1980 1.240.937 1991 1.296.995 2000 1.421.993 2010 1.537.704

Fonte: Censos Demográficos do IBGE – Sistema de Recuperação de Dados / SIDRA

Fonte: Censos Demográficos do IBGE – Sistema de Recuperação de Dados / SIDRA

Recife, que em 1900 tinha 113.106 habitantes, em 1950 já contava

com 524.682 habitantes, apresentando um crescimento nesses

cinquenta anos de quase 464%. Sua maior taxa de crescimento se

deu entre as décadas de 1900 e 1920, quando apresentou uma taxa

de 211%. Entre os anos de 1920 e 1940, teve uma taxa de 146% e,

entre 1940 e 1950, de 150%. (ALVES, 2009, pg. 45)

116.671111.556113.106238.843348.424

524.682797.234

1.084.4591.240.9371.296.995

1.421.9931.537.704

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

187218901900192019401950196019701980199120002010

Popu

laçã

o

Anos do Censo

Gráfico 04 - Evolução da População do Recife

78

Conforme o gráfico apresentado acima observa-se uma aceleração na

evolução da população do Recife, principalmente na primeira metade do século

XX, com continuidade entre as décadas de 1950 e 1970, onde a população

dobra de tamanho, acompanhando uma aumento nas taxas de natalidade e em

decorrência da forte migração advinda do interior do Estado e de Estados

vizinhos devido às fortes secas presenciadas no período.

De acordo com o censo demográfico do IBGE realizado em 2010 a

população da cidade do Recife era de 1.537.704 habitantes, o que fazia da

capital pernambucana uma das 10 cidades mais povoadas do país. Entre os

censos de 2000 e 2010, houve um acréscimo de 115.711 habitantes, o

equivalente a 7,52%, taxa bastante inferior a apresentada em grande parte do

século XX.

Em 2000, Recife apresentava um contingente de 377.068 domicílios

ocupados, compreendendo uma média de 3,78 moradores por domicílio . Do

ponto de vista habitacional, de acordo com o censo demográfico do IBGE de

2010, Recife possuía um total de 471.210 domicílios particulares ocupados,

compreendendo uma média de 3,25 moradores por domicílio. Observa-se um

grande aumento no número de domicílios no período de 10 anos, ao passo que

há uma diminuição no número de habitantes por domicílio, o que vem

representar uma diminuição nas taxas de crescimento médio da população,

associada a uma maior independência dos moradores.

Do total de habitantes da cidade, o equivalente a 22,85% residiam em

aglomerados subnormais, totalizando 349.920 habitantes. Foram

contabilizados um total de 102.392 domicílios localizados em aglomerações

subnormais, com percentual corresponde a 21,73% do total de domicílios

existentes no Recife, localizados de acordo com o IBGE em 109 Aglomerações

Subnormais especializadas em todo o território municipal. A média de

moradores por domicílio nessas localidades se apresentava superior à média

geral do município, totalizando 3,42 moradores por domicílio. Constata-se

ainda o grande contingente habitacional residindo em habitações sem

condições de habitabilidade, com grande deficiência nas condições das

habitações e na infraestrutura urbana instalada, como abastecimento de água

79

deficitário, rede de esgotamento sanitário e coleta de resíduos sólidos

inadequados. Tabela 08 – Características dos Domicílios Particulares Ocupados - Situação de aglomerados subnormais Domicílios particulares ocupados (Unidades) 471.210 Domicílios particulares ocupados em aglomerados subnormais (Unidades) 102.392 População residente em domicílios particulares ocupados (Pessoas) 1.531.394 População residente em domicílios particulares ocupados em aglomerados subnormais (Pessoas) 349.920 Número de aglomerados subnormais (Unidades) 109

Fonte: Censo Demográfico do IBGE - 2010

A presença dos assentamentos pobres, como elemento constante na

construção da cidade, em busca pelo direito de morar, encontra

desde os primórdios o contraponto de indução à propriedade de uma

casa, o que dá uma dimensão reducionista do problema social e,

ainda assim, é combatido de modo relativamente ineficaz. (NETO,

2013, pg. 20)

Em relação à condição dos domicílios, segundo dados do censo

demográfico do IBGE de 2010, verifica-se na Tabela 09 que a maioria dos

domicílios era própria e se configuravam como casa. Mas ainda verifica-se um

grande contingente de domicílios considerados alugados ou cedidos,

equivalendo a 26,19% do total (123.267 domicílios). Tabela 09 - Condição de ocupação do domicílio

Tipo de domicílio

Total Casa Casa de vila

ou em condomínio

Apartamento

Habitação em casa de

cômodos ou cortiço

Total 470.754 335.534 6.844 124.355 4.021 Próprio 344.154 253.346 4.240 84.558 2.010 Próprio já quitado 328.206 251.310 3.685 71.216 1.995 Próprio em aquisição 15.948 2.036 555 13.342 15 Alugado 104.659 65.811 2.297 35.158 1.393 Cedido 18.608 13.918 271 4.194 225 Cedido por empregador 1.845 1.086 11 733 15

Cedido de outra forma 16.763 12.832 260 3.461 210

Outra condição 3.333 2.459 36 445 393

Fonte: Censo Demográfico do IBGE - 2010

80

Do ponto de vista das infraestruturas básicas, como abastecimento

d’água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e energia elétrica observa-se

também um menor quantitativo de domicílios sendo atendidos nas áreas

consideradas aglomerações subnormais em relação à média da cidade.

Conforme verificado na Tabela 10, do total de domicílios existentes na

cidade, um percentual de 86,74% tem como forma de abastecimento de água

proveniente da rede geral de distribuição. Em relação aos domicílios

localizados em aglomerados subnormais, a abrangência de domicílios chega a

90,85%, sendo o serviço com melhor cobertura em relação ao total de

domicílios da área em estudo.

Tabela 10 – Forma de abastecimento de água Domicílios particulares

permanentes Aglomerados Subnormais

Unidades Percentual Unidades Percentual

Total 470.754 100 102.271 100

Rede geral de distribuição 408.329 86,74 92.916 90,85

Poço ou nascente na propriedade 50.635 10,76 4.131 4,04

Poço ou nascente fora da propriedade 5.423 1,15 2.215 2,17

Carro-pipa ou água da chuva 807 0,17 183 0,20

Rio, açude, lago ou igarapé 248 0,05 199 0,19

Outra 5.312 1,13 2.627 2,57

Fonte: IBGE - Censo Demográfico – 2010

Em relação ao tipo de esgotamento sanitário, assim como nas demais

áreas da cidade, a abrangência de domicílios atendidos por rede geral de

esgoto ou que despejam na rede fluvial é considerada baixa, com um

percentual de 54,99% para a cidade do Recife, e o correspondente a 40,01%

em relação aos domicílios localizados em assentamentos subnormais. Verifica-

se segundo os dados da Tabela 10 que 27,50% dos domicílios despejam seus

esgotos em fossas rudimentares, sem nenhum tratamento, e que cerca de 10%

81

dos domicílios despejam diretamente nos cursos d’agua da cidade.” Cabe

registrar os bairros Cohab, Ibura e Jordão, onde ocorreu crescimento

populacional elevado na última década, que apresentam maiores índices de

domicílios com essa forma precária de escoamento sanitário” (Prefeitura da

Cidade do Recife. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/planodiretor/diagnostico_ii.html.

Acessado em: 20 de Janeiro de 2015).

Em relação à destinação dos resíduos sólidos, mais de 95% dos

domicílios possuem seus lixos coletados pelo serviço de limpeza. Cerca de

3,6% tem seus resíduos coletados através de caçamba, sendo a grande

maioria localizados em áreas de difícil acesso para os caminhões, estando em

áreas de assentamentos subnormais, como encostas, em palafitas ou áreas

cujas as vias não possuem dimensões adequadas para a entrada de

caminhões de coleta. Destaca-se o percentual de domicílios que despejam

seus resíduos em terrenos baldios ou logradouros, cerca de 3,5% com 3.561,

correspondendo a quase metade dos domicílio da cidade que se utiliza deste

tipo de destinação para seus resíduos.

Tabela 11 – Tipo de Esgotamento Sanitário Domicílios particulares

permanentes Aglomerados Subnormais

Unidades Percentual Unidades Percentual

Total

470.754

100,00 102.271 100 Rede geral de esgoto ou pluvial

258.867

54,99 40.917 40,01

Fossa séptica 73.395 15,59 15.933 15,58

Fossa rudimentar 101.747 21,61 28.125 27,50

Vala 11.823 2,51 4.763 4,66

Rio, lago ou mar 19.242 4,09 10.266 10,04

Outro tipo 3.229 0,69 1.102 1,08 Não tinham banheiro ou sanitário 2.451 0,52 1.165 1,14

Fonte: Censo Demográfico do IBGE - 2010

82

Tabela 12 – Destino do Lixo Domicílios particulares

permanentes Aglomerados Subnormais

Unidades Percentual Unidades Percentual

Total 470.754 100,00 102.271 100,00

Coletado 460.679 97,86 97.184 95,03 Coletado diretamente por serviço de limpeza 445.779 94,69 93.517 91,44 Coletado em caçamba de serviço de limpeza 14.900 3,17 3.667 3,59

Queimado 687 0,15 255 0,25

Enterrado 54 0,01 12 0,01 Jogado em terreno baldio ou logradouro 7.358 1,56 3.561 3,48 Jogado em rio, lago ou mar

1.310 0,28 924 0,90

Outro destino 666 0,14 335 0,33 Fonte: Censo Demográfico do IBGE – 2010

Tabela 13 – Existência de Energia Elétrica

Domicílios particulares

permanentes Aglomerados Subnormais

Unidades Percentual Unidades Percentual

Total 470.754 100,00 102.271 100

Tinham 470.100 99,86 101.985 99,72 Tinham - de companhia distribuidora

466.464 99,09 100.017 97,8

Tinham - de outra fonte 3.636 0,77 1.968 1,92

Não tinham 654 0,14 286 0,28 Fonte: IBGE - Censo Demográfico

Do ponto de vista da rede de energia elétrica, os percentuais de

domicílios abastecidos com energia da companhia de distribuição são

superiores a 99,7%. A problemática da habitação, com forte rebatimento sobre os

segmentos de mais baixa renda na formação social urbana do

Recife, gera um campo de luta, embate e resistência como

alternativa de instalação dos pobres e garantia de sua

83

permanência na cidade. Afigura-se essa problemática de modo

expressivo no processo de ocupação de terras no espaço

citadino que, no transcurso da história, assume diferentes

feições e manifesta-se também na moradia habitada pelos

segmentos populares. (LIMA, 2013, pg. 84)

O déficit habitacional do Recife ainda se apresenta bastante alto,

principalmente em decorrência do processo histórico de ocupação da cidade,

onde os terrenos localizados nas áreas mais estáveis são destinados à

construção de empreendimentos de grande porte cujo foco das construtoras

existentes no Estado, tem como principal público alvo a população de renda

média e alta, ficando a população de renda baixa excluída. A deficiência nas

infraestruturas também acompanha o déficit habitacional, principalmente nas

áreas periféricas, nos aglomerados subnormais. (ALVES, 2009; LIMA, 2013)

84

5. O DESAFIO DA OCUPAÇÃO DO SOLO NAS ÁREAS AMBIENTALMENTE FRÁGEIS: OCUPANDO VAZIOS 5.1 Caracterização da ocupação das áreas de morro do Recife

A ocupação do solo no Recife e nas grandes cidades brasileiras enseja

um movimento de expansão urbana cada vez mais predatória do ponto de vista

social e ambiental. A expansão das grandes cidades brasileiras tem se

verificado na ocupação de áreas periféricas e com grandes fragilidades

ambientais. De um lado encontram-se áreas susceptíveis a deslizamentos de

massas devido a sua formação geológica e aos tipos de solo presentes,

atrelado à baixa qualidade técnica das edificações, construídas sem

acompanhamento técnico de profissional habilitado (arquiteto, engenheiro ou

geólogo). Do outro lado, não menos impactante, está à ocupação ao longo dos

cursos d’água, susceptíveis a alagamentos constantes, atrelado a construções

realizadas com materiais de baixa resistência, como madeira ou resíduos

advindos de lixo.

O processo de ocupação irregular e informal do solo por parte da

população de baixa renda na cidade do Recife remonta desde o século XIX, se

intensificando no século XX como descrito no capítulo 4 do presente trabalho.

Algumas ações foram tomadas pelo poder público municipal e estadual no

intuito de se minimizar a situação de irregularidade e informalidade destas

ocupações, mas que mesmo se passado décadas, as ações não surtiram o

efeito desejado, principalmente do ponto de vista jurídico, onde ainda se

presencia a expansão da cidade informal com ocupações da população de

baixa renda em áreas ambientalmente frágeis, como as encostas dos morros e

as margens dos cursos d’água. A situação descrita acima é reconhecida pela

Prefeitura da Cidade do Recife no momento de revisão do seu Plano Diretor

em meados dos anos 2000, quando reafirma as condições de habitabilidade

das edificações e a baixa qualidade da infraestrutura instalada em

determinadas áreas da cidade, principalmente onde se encontram localizadas

essa população.

85

A omissão do Estado em relação a uma necessária regulação das

propriedades urbanas e sua ação direta, por meio de políticas de

desenvolvimento urbano e habitacional, se rebateram numa

distribuição seletiva dos investimentos públicos, incentivando a

retenção especulativa da terra e restringindo o acesso ao solo urbano

e à moradia para a população de baixa renda. Esta população só vem

tendo, historicamente, acesso à terra urbana e a alternativas

habitacionais mediante ações informais e irregulares de ocupação da

terra e padrões de baixíssima qualidade na construção da habitação,

em áreas pouco infraestruturadas e ambientalmente frágeis, com as

piores condições de habitabilidade (margens de córregos, áreas de

risco geotécnico, entre outras).(Prefeitura da Cidade do Recife.

Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/planodiretor/diagnosti

co_ii.html. Acessado em: 20 de Janeiro de 2015.

Em decorrência do modo de ocupação do espaço na cidade e o modelo

segregador dessa ocupação que ensejou a população de baixa renda a residir

em áreas cada vez mais distantes das áreas centrais da cidade, onde os

melhores terrenos (localizados em áreas planas e secas, sem a iminência de

alagamentos) foram destinados de forma indireta para a realização de

empreendimentos para as classes média e alta com a construção de grandes

edifícios. Com isso, as áreas restantes localizadas na área periférica foram

sendo destinadas a construção de loteamentos para a população de baixa

renda, como as realizadas nas décadas de 1960 a 1980 pela antiga

Companhia de Habitação – COHAB através das Unidades Residenciais – UR.

As áreas remanescentes da construção dos loteamentos da COHAB

foram ao longo dos anos, sendo ocupados por meio de invasões pela

população de baixa renda. Geralmente essas áreas remanescentes estavam

localizadas nas encostas, o que possibilitava a ocorrência de modificações

acentuadas no declive dos terrenos e a iminência de possíveis deslizamentos,

devido à associação dessas modificações com o modelo de apropriação

inadequada do solo.

Como forma de assegurar juridicamente a população dos

assentamentos subnormais, a Prefeitura do Recife, através da Lei nº14.511 de

1983 as Zonas Especiais de Interesse Social, reafirmadas no Plano Diretor

86

aprovado através da Lei nº17.511 de 2008, delimitando 61 áreas ZEIS,

abrangendo uma população total em 2000, de acordo com o censo

demográfico do IBGE, de 583.724 habitantes (o equivalente a 41% da

população total do Recife, que era de 1.422.905 habitantes). Figura 19 – Mapa das Zonas Especiais de Interesse Social do Recife

Fonte: http://eps.revues.org/docannexe/image/5824/img-3-small480.jpg

As áreas consideradas ZEIS estão localizadas em todas as regiões da

cidade, encontrando-se pulverizadas conforme verificado na Imagem 11. Do

total de ZEIS, aproximadamente 20 (algumas ZEIS estão delimitadas

abrangendo áreas de encosta e plana) delas se encontram localizadas em

87

áreas de relevo acidentado, nas extremidades da cidade, como os bairros do

Jordão, Cohab, Ibura, Barro, Curado, Coqueiral, Casa Amarela, Linha do Tiro,

Dois Unidos, Várzea, Vasco da Gama, Novas Descoberta, Guabiraba, além

dos diversos morros localizados na Zona Norte da cidade.

A grande parcela dos domicílios localizados em aglomerações

subnormais estão localizados na parte plana da cidade, o equivalente a

102.271 domicílios, sendo 49,07%. Os domicílios localizados em áreas de

colina ou encosta corresponde a 33.509 domicílios, equivalente a 32,76%,

conforme dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, representado na

Tabela 14.

Tabela 14 – Características e localização predominantes do sítio urbano

Localização Total de Domicílios Percentual

Total 102.271 100,00 Margem de córregos, rios ou lagos/lagoas 11.863 11,60 Sobre rios, córregos, lagos ou mar (palafitas) 209 0,20 Manguezal 491 0,48 Faixa de domínio de rodovias 1.864 15,71 Faixa de domínio de linhas de transmissão de alta tensão 547 0,53 Encosta 24.109 23,57 Colina Suave 9.400 9,19 Plano 50.180 49,07 Outras 3.608 3,53 Fonte: IBGE - Censo Demográfico

5.2. Problemas Urbanísticos da Ocupação dos Morros do Recife O processo de ocupação nas áreas de morro da cidade do Recife

associado à baixa qualidade da infraestrutura urbana, principalmente em

relação aos serviços de esgotamento sanitário e coleta de lixo acarreta na

aceleração de processos erosivos em períodos chuvosos, e

consequentemente, na ocorrência de deslizamentos de barreiras.

Como visto na caracterização do Recife presente no capítulo 4, a

ocupação nas áreas de morro foram realizadas pela população de baixa renda,

em decorrência da ausência de terrenos adequados para a ocorrência desses

88

assentamentos, principalmente devido a forte especulação imobiliária presente

na cidade.

Entre as décadas de 1940 e 1970, já havia uma notável expansão da

favelização, com grande expressão nas colinas, consentida pelos proprietários

de terra, que fizeram contratos com os moradores, embora fossem à margem

do quadro jurídico instituído (NETO, 2013, pg. 30 apud SOUZA, 2009).

Durante a década de 1970 se acelera o ocorrência de invasões nas

áreas de morro da cidade, ocupando as áreas remanescentes dos diversos

loteamentos implantados através do BNH, na Zona Sul da cidade e devido a

forte migração do interior do Estado. Com isso, a ocupação nas áreas de morro

se faz sem a presença de técnicas apropriadas de construção.

A partir da década de 1990, os conflitos que culminaram no surgimento

de novos assentamentos pobres, seja nos alagados/alagáveis ou nos “morros”,

foram arrefecidos, contudo as ocupações, processadas à margem do quadro

jurídico instituído, continuaram ocorrendo por meio de estratégias políticas.

(NETO, 2013, pg. 36)

Figura 20 – Ocupação desordenada em área ambientalmente frágil no Bairro da

Guabiraba, Zona Norte do Recife

Fonte: Jose Rafael, 2013

89

A forma como se processou a ocupação das áreas de encosta na cidade

do Recife vem acarretar inúmeros problemas urbanos, associados com o

modelo de assentamento das edificações, geralmente localizadas em áreas

com grande instabilidade geológica. O risco de deslizamentos se torna evidente

devido às condições que se processaram a ocupação nas áreas de encosta. As Ocupações Espontâneas, resultantes da busca individual ou

coletiva pela moradia, tem os próprios ocupantes como agentes

modificadores do espaço. A decisão de onde e como habitar, é

estabelecida à medida que o assentamento se estrutura. As

necessidades vão criando o lugar, consolidando um tipo de ocupação

desordenada, considerada como o principal responsável pelo

desequilíbrio das encostas, prevalecendo os efeitos da ação

antrópica, sobre os demais fatores de risco. (Agência CONDEPE-

FIDEM, 2001)

O risco de deslizamentos na cidade do Recife pode ser de diferentes

origens, tendo como principais fatores decorrentes da forma inadequada de

ocupação das áreas de encostas os condicionantes naturais (litologia,

declividade, forma da encosta, etc) e condicionantes antrópicos (retirada da

cobertura vegetal, cortes inadequados nos taludes, acúmulo de lixo e materiais

provenientes das modificações do relevo, e inexistência de rede de drenagem

planejada que atenda as condições de ocupação do solo) (PFALTZGRAFF,

2007, pg.65). Outros fatores podem ocasionar deslizamentos, como abalos

sísmicos, mas não há presença de registros no Brasil em relação a este tipo de

ocorrência, em decorrência da localização geotécnica do país sobre a Placa

Sulamericana.

O tipo de solo presente no Recife, com influência da sua granulometria,

associada à alta pluviosidade em determinados períodos do ano se torna um

dos principais fatores para a ocorrência desses deslizamentos

(PFALTZGRAFF, 2007).

90

Figura 21 – Mapa Geológico do Recife

Fonte: Base Cartográfica da Prefeitura da Cidade do Recife, adaptado por José Rafael, 2015

Primeiramente, como forma de preparação do solo para a realização de

construção, a população retira de forma inadequada toda a cobertura vegetal,

deixando o solo sem proteção e acelerando o processo de assoreamento do

solo. Sem cobertura vegetal que possibilita a redução da velocidade da chuva e

aumento da sua absorção no solo, a água cai diretamente no solo com maior

velocidade, infiltrando no solo deixando saturado. A chuva provoca erosão no solo pelo impacto das suas gotas sobre a

superfície e através da infiltração e do escoamento da água. As

águas de infiltração dão lugar a movimentos de remoção de materiais

quando a umidade excessiva provoca a perda de coesão do solo. [...]

Chuvas concentradas, associadas aos fortes declives, aos espessos

mantos de intemperismo e ao desmatamento podem criar áreas

potenciais de erosão. (Ministério das Cidades, 2008, pg.82)

91

A presença de água no solo, associado com as condições do terreno

(condições relativas ao relevo e geológica como fatores endógenos, e

condições relativas às modificações antrópicas), faz com que aumente a

probabilidade de ocorrência de movimentos de massa (Ministério das Cidades,

2008, pg. 67).

Figura 22 – Residência em situação de Risco Muito Alto

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

A ação antrópica sobre o terreno acarreta na aceleração dos processos

erosivos em decorrência da forma como essas ações são realizadas. A retirada

da cobertura vegetal e o plantio de vegetação inadequada como árvores de

grande porte que sobrecarregam o solo, assim como de bananeiras que

absorvem muita água deixando o solo saturado; cortes inadequados no talude

e a presença de aterros sem compactação; despejo inadequado de resíduos

sólidos (Figura 23), assim como de águas servidas diretamente sobre o talude

(Figura 24), sem tratamento; obras inadequadas de infraestrutura, como redes

de drenagem subdimensionadas e impermeabilização excessiva do solo, sem a

possibilidade de absorção das águas da chuva.

92

Figura 23 – Presença de Lixo despejado diretamente no talude

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

Figura 24 – Cano de Águas servidas diretamente sobre a barreira

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

93

A efetivação na ausência de um planejamento que possibilita uma

remodelação na forma de uso e ocupação do solo nas áreas ambientalmente

frágeis como as encostas da cidade tende a provocar diversos deslizamentos

nos períodos de maior pluviosidade, como os meses de abril a agosto, vindo a

ocasionar perdas sociais, econômicas, ambientais, principalmente com a

presença de vítimas, conforme verificado segundo dados da SEDEC-Recife no

Gráfico 05.

Fonte: SEDEC – Recife, 2015

Conforme os registros da Prefeitura da Cidade do Recife, devido à

ausência de ações efetivas e a estruturação de órgão responsável pelo

monitoramento das áreas de risco nas décadas de 1980 e 1990, o número de

mortes se apresentava elevado. Até a constituição do Programa Guarda Chuva

pela prefeitura do Recife, a atuação da Defesa Civil estava restrita a ações de

socorro nos momentos de maior intensidade de chuvas. Em 1996, ano de

maior incidência de mortes, em apenas um dia, foram registradas 23 mortes no

Córrego do Boleiro em decorrência de deslizamentos, que totalizaram 41

vítimas no Estado (Folha de São Paulo. Disponível

em:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/4/30/cotidiano/39.html. Acessado em

25 de Janeiro de 2015). No ano de 2010, a elevação no número de vitimas foi

decorrente a um acidente ocorrido na localidade da Lagoa Encantada no bairro

da Cohab (Figura 25), na parte sudoeste da cidade, onde um cano da

Compesa havia estourado causando o deslizamento que vitimou 05 pessoas e

destruiu 03 casas. (Jornal Extra. Disponível em:

http://extra.globo.com/noticias/brasil/deslizamento-de-barreira-causa-cinco-

mortes-em-recife-224083.html. Acessado em: 2 de Janeiro de 2015)

01020304050

1984

1989

1990

1991

1994

1995

1996

1997

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

12 83 1

91

43

111

0 0 1 1 2 2 0 2 6 92 0 2 0

Num

ero

de M

orte

s

Ano

Gráfico 05 - Mortes por Deslizamento

94

Figura 25 – Deslizamento de Barreira na Lagoa Encantada em 2010

Fonte: Hans Von Manteuffel. Disponível em:

http://oglobo2.globo.com/pais/fotogaleria/2009/7734/. Acessado em: 25 de Janeiro de 2015.

De acordo com dados da Secretaria Executiva de Defesa Civil de 2012,

existiam na cidade do Recife 7.397 pontos de risco, sendo 1.656 pontos

considerados de Muito Alto Risco – R4, e 5.741 pontos considerados de Alto

Risco – R3.(CODECIR, 2012)

5.3. Ações para enfrentar os problemas de ocupação dos morros

A primeira ação conjunta que objetivava um melhor monitoramento das

áreas de risco foi a criação em 1999 de parceria entre o Governo do Estado de

Pernambuco através da Agência Condepe-Fidem e os diversos municípios da

Região Metropolitana do Recife, com a criação do Programa Viva o Morro, com

amplo levantamento das áreas de risco, assim como da proposição de ações

para o monitoramento com vistas na prevenção de acidentes. (ALHEIROS,

2003).

Como dito anteriormente, até o ano de 2001 a ação da Defesa Civil

estava voltava para o atendimento de emergências, não havendo a realização

de ações de prevenção do ponto de vista não-estrutural, apenas obras de

contenção de encostas e colocação de lonas eram realizadas. Em março de

95

2001, a prefeitura do Recife cria o programa Guarda-Chuva que objetivava,

através de ação conjunta com diversas secretarias o monitoramento constante

das áreas de risco da cidade (Figura 26).

Figura 26 – Abordagem nos Morros - Ciclo de Intervenção

Fonte:Programa Guarda-Chuva. Disponível em:

http://www.recife.pe.gov.br/especiais/guardachuva/. Acessado em: 15 de Fevereiro de 2015

Através do Programa foram realizados mapeamento das áreas de risco

com a elaboração, junto com o Ministério das Cidades em 2006 do Programa

Municipal de Redução de Risco – PMRR. Como forma de se minimizar a

ocorrência de acidentes nas áreas de encosta, a Prefeitura da Cidade do

Recife, através da atual Secretaria Executiva de Defesa Civil, em sintonia com

as resoluções emanadas pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil

do Ministério da Integração Nacional, a realização de ações estruturais e ações

não-estruturais em todas as etapas de atuação da gestão e gerenciamento de

risco (CODECIR, 2012). Através da reestruturação e direcionamento das

ações da Defesa Civil foi possível uma maior intervenção nas áreas de morro e

consequentemente a realização de um monitoramento mais efetivo que tivesse

como intuito a redução de vítimas.

As ações foram divididas em duas áreas de atuação, sendo as ação

estruturais, voltadas para obras de contenção, e as ações não-estruturais,

destinada a intervenções pontuais e a disseminação de informação aos

moradores residentes nessas áreas.

96

5.3.1. Ações Estruturais

As ações estruturais realizadas pela Prefeitura do Recife dizem respeito

a obras de engenharia que visam reduzir o grau de risco de uma área. As

obras tem como enfoque realizar a contenção das barreiras, retaludamento,

execução de obras de drenagem e obras de urbanização.

Figura 27 – Ações Estruturais de Retaludamento no Bairro do Jordão

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

Na maioria dos casos de estabilização dos processos de movimentos

de massa, executam-se diversos tipos de obras combinadas (Figura

28). As obras de drenagem e de proteção superficial não devem ser

encaradas apenas como obras auxiliares ou complementares no

projeto de estabilização. Uma correta execução destas obras pode

ser o principal instrumento na contenção de diversos problemas de

instabilização. (Ministério das Cidades, 2008, pg. 131)

97

Figura 28 – Obra de Contenção e Drenagem no Bairro do Jordão

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

5.3.2. Ações Não-Estruturais

As ações não-estruturais visam a minimização dos desastres através de

atuação preventiva. As ações realizadas pela Defesa Civil do Recife enfoca em

duas vertentes, sendo a execução de ações diretas nas encostas como a

colocação de lonas plásticas (Figura 29), a aplicação de gel impermeabilizante

(Figura 30)e a aplicação de gel-manta, que evita a penetração da ação no solo.

Outras ações como o corte de árvores em situação de risco e a capinação de

encostas, também são ações realizadas com o objetivo de se evitar a

sobrecarga do solo.

98

Figura 29 – Colocação deLona Plástica em área de risco

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2014

Figura 30 – Aplicação de Gel Impermeabilizante em área de risco

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2014

99

Associado às ações realizadas diretamente nas encostas, também são

realizadas ações no intuito de prover informação à população diretamente

afetada. São realizadas ações porta-a-porta (Figura 31), onde as equipes da

Defesa Civil, delimitam as principais áreas de risco e com a informação direta

aos moradores, através da distribuição de material informativo, sobre ações de

como os moradores devem agir em situação de risco, na tentativa de

prevenção de acidentes. No ano de 2014 foram realizadas ações em todas as

áreas da cidade, totalizando 8.309 casas visitadas (SEDEC-Recife, 2014).

Figura 31 – Ação Porta-a-porta na localidade de Costa Porto, Bairro do Jordão

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2013

Também são realizadas ações informativas nas escolas municipais e

estaduais (Figura 32), com o intuito de disseminação do conhecimento para os

alunos, objetivando o repasse de informação entre os familiares e vizinhos que

também residem em áreas de risco. Em 2014 foram realizadas 330 ações

informativas nas escolas, de acordo com dados da Secretaria Executiva de

Defesa Civil.

100

Outras ações também são realizadas com o objetivo de se prevenir

possíveis acidentes, como a realização de simulados e mutirões de

monitoramento e informação.

Figura 32 – Ação Informativa na Escola

Fonte: Arquivo Regional Sul – SEDEC Recife, 2015

No ano de 2014 foram implantados junto às comunidades de 04

localidades (o projeto piloto foi realizado no Bairro da Guabiraba em 2013) o

Projeto do Núcleo Jovem de Defesa Civil (Figura 33) que visava à formação de

agentes jovens de defesa civil com o objetivo de atuarem junto com os técnicos

da defesa civil na prevenção de acidentes.

Em casos de reconhecimento técnico de situação de alto risco, a

população residente nas áreas são orientadas a saírem de suas residências, e

encaminhadas para o Programa de Auxílio Moradia, que provêm um auxílio

para a família alugar outra residência em área segura enquanto a prefeitura

provêm outra residência para a mesma. Existiam 4.508 moradores recebendo

auxílio moradia segundo a SEDEC_Recife em 2012. Os dados atuais estão

sendo atualizados com a realização de recadastramento dos beneficiários.

101

Figura 33 – Oficina de Capacitação do Nudec-Jovem

Fonte: Arquivo SEDEC Recife, 2014

Atualmente as ações da Defesa Civil tem o caráter permanente,

promovendo ações não apenas no momento de ocorrência de acidentes, mas

na prevenção de desastres, com atuação direta junto às comunidades

localizadas em áreas de risco.

102

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo histórico de ocupação das cidades brasileiras, em

decorrência da acelerada urbanização resultou no rápido crescimento dessas

cidades, principalmente com a ocupação das áreas periféricas, realizada pela

população de baixa renda, que sem ter onde habitar constroem suas

residências em áreas ambientalmente frágeis com a probabilidade de

ocorrência de desastres devido o alto grau de risco.

Primeiramente encontra-se o alto déficit habitacional, que atrelado aos

programas habitacionais dos governos federal, estadual e municipal, não

conseguem suprir as reais necessidades e atender a demanda, sempre

crescente, fazendo com que, devido as necessidades de habitação, a

população procure, dentro das suas condições financeiras, alguma área para

poder residir.

As melhores áreas das cidades são geralmente destinadas ao mercado

imobiliário, de características especulativas, impede a entrada da população

mais pobre no modelo habitacional então imposto pelas grandes construtoras.

Resta a esta população de baixa renda, se distanciar dos centros urbanos na

busca por habitação. As áreas mais vulneráveis, localizadas às margens dos

cursos d’água ou nas encostas dos morros periféricos acabam sendo refúgio

para a população de baixa renda.

Associado a necessidade habitacional e a fixação da população nas

áreas periféricas, encontra-se diversos problemas urbanos decorrentes do

modo de ocupação do espaço, e aos baixos investimentos governamentais em

infraestrutura ambiental, como saneamento básico, coleta de lixo, redes de

drenagem e abastecimento de água. Sem condições adequadas de

habitabilidade, a população acaba improvisando ao que concerne a

infraestrutura com a instalação de fossas para o esgotamento e despejando o

lixo em terrenos vazios no topo dos taludes, aumento o grau de risco.

As modificações nos terrenos como o corte nos taludes de forma

inapropriada e a ausência de obras de urbanização, também agravam o

problema para a população residente nas áreas de risco.

Pode-se dizer que existem duas cidades dentro de uma única cidade. A

cidade formal, reconhecida pelos entes públicos, residência da população de

103

renda média e alta, com infraestrutura urbana e social. A outra cidade não

recebe o tratamento adequado por parte dos governos municipal, estadual e

federal, principalmente na provisão dos serviços de infraestrutura.

Atualmente, em decorrência de grandes desastres naturais ocorridos na

última década nas diferentes regiões do país, a atuação da Defesa Civil na

proteção e atendimento a população residente nas áreas de risco tem se

tornado mais efetivo, com a realização de obras de contenção de barreiras,

instalação de redes de drenagem e esgotamento sanitário, assim como na

urbanização de áreas pobres.

Mesmo com todos os investimentos realizados nos últimos anos, em

decorrência do acelerado processo de urbanização, as deficiências em

infraestrutura ainda se tornam bastante evidentes, principalmente devido a

realização de um planejamento urbano efetivo, que tente englobar toda a

população e tenha como foco a inversão de prioridades. Há uma emergente

necessidade para a efetivação de um planejamento urbano estruturante, que

englobe todas as áreas da cidade de forma integrada, assim com a elaboração

de metas de curto, médio e longo prazo, haja vista, atualmente as ações

privilegiarem o imediato, que engloba apenas o período de uma gestão.

A situação no Recife não se mostra diferente das demais regiões do

país, onde as ações da Defesa Civil ainda estão voltadas para ações que

tratem apenas das áreas de risco, sem que haja uma integração das políticas

públicas, com a realização de projetos de urbanização macro-estruturantes.

Atualmente, as obras são focadas em trechos pequenos, abrangendo poucas

edificações, e que resultarão em benefícios pontuais, assim como ações de

curto prazo, sem a visualização de um projeto futuro de cidade.

A população sentirá os efeitos das obras apenas na sua área de

atuação, mas não há perspectiva de realização de projetos que englobem as

áreas de infraestrutura, social, econômica e ambiental, focando na criação de

um novo modelo de cidade, que tenha como prioridade o planejamento

participativo e estruturante, não apenas das áreas de risco, mas da cidade

como um todo.

104

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APÊNDICE 01 – PLANO DE AULA

PLANO DE AULA Professor: José Rafael de Lima Série: 3º Ano (Ensino Médio) Tema: Urbanização no Brasil. Subtema: Problemas Urbanos Título: Entre o Natural e o Modificado: A ocupação desordenada dos vazios Data: 23/02/2015 Tempo de aula: 50 min. Objetivo Geral: O objetivo desta aula é apresentar a realidade das ocupações nas áreas de morro do Recife assim como as ações que vem sendo realizadas para minimizar os problemas relativos a essa ocupação como forma de diminuição dos riscos ambientais. Metodologia: Aula expositiva com a utilização de quadro branco para observações textuais, utilização de slides através de Datashow para apresentação do conteúdo programático da aula, por meio de textos e imagens. Haverá a distribuição de atividade com exercícios e de material informativo distribuído pela Secretaria Executiva de Defesa Civil da Prefeitura do Recife.

CONTEÚDOS OBJETIVOS RECURSOS

DIDÁTICOS CRITÉRIOS DE

AVALIAÇÃO CONCEITUAIS PROCEDIMENTAIS ATITUDINAIS

1. O processo de Urbanização no Brasil; 2. Caracterização da situação da Cidade do Recife; 3. A ocupação irregular do solo nas áreas ambientalmente frágeis; 4. Ações para enfrentar os problemas da ocupação dos morros do Recife

1. Apresentar os conceitos de risco, vulnerabilidade e desastre ambiental, como forma de associar à realidade social da população que habita os ambientes vulneráveis e com iminência da ocorrência de desastres. 2. Abordar teórica e empiricamente o entendimento do modo de ocupação do espaço urbano na cidade do Recife.

1. Discutir o processo de urbanização acelerada ocorrido no Brasil, assim como as suas consequências para o espaço urbano; 2. Apresentar os principais problemas urbanos decorrentes da ocupação de áreas ambientalmente frágeis; 3. Associar as práticas dos moradores das áreas de risco com a ocorrência de desastres na cidade do Recife.

1. Despertar nos alunos o senso crítico sobre o processo de ocupação do espaço urbano; 2. Associar as formas de minimização de desastres com o seu ambiente cotidiano; 3. Apresentar técnicas de como melhorar o meio urbano onde os alunos residem com a inserção de novas práticas de preservação, objetivando a diminuição de acidentes.

1. Quadro Branco; 2. Data show; 3. Folha de Atividades; 4. Material Informativo da Prefeitura do Recife.

1. Participação na

aula; 2. Comportamento; 3. Resolução dos

exercícios.

APÊNDICE 02 – EXERCÍCIO DIDÁTICO

Exercício Didático Disciplina: Geografia Professor: José Rafael de Lima Aula: Entre os Riscos Naturais e os Desastres Socioambientais: exercício sobre condições de vulnerabilidade na cidade do Recife. Data: 23/02/2015 EXERCÍCIO 1. Baseando-se na aula apresentada, disserte sobre o processo de urbanização no

Brasil e no Recife, associando com os problemas ambientais urbanos encontrados na nossa cidade. De forma crítica, discorra sobre a ocupação das áreas de risco, enfocando nas causas e consequências dessas ocupações.

2. Descreva sobre os problemas ambientais urbanos apresentados nas imagens a seguir.