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O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Copyright © 2008 Dashöfer Holding Lt. eVerlag Dashöfer, Edições Profissionais Sociedade Unipessoal, Lda.
O absentismo e os factorespsicossociais no trabalho
www.dashofer.pt
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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“Muito do stress que as pessoas sentem não vemde terem coisas demais para fazer.
Ele vem de não terminarem o que começaram.”
David Allen
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Índice
4 Introdução
5 Inquérito Europeu sobre Condições de Trabalho
19 O que se entende por stress
34 Ficha técnica
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
4
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Introdução
O stress (e as suas consequên-
cias para a saúde e segurança
dos trabalhadores) é hoje um dos
principais riscos no local de
trabalho, ou pelo menos
percebidos como tal por
trabalhadores e gestores.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Inquérito Europeu sobre Condiçõesde Trabalho
Segundo o 3rd European Survey
on Working Conditions, levado a
cabo pela Fundação Europeia
para a Melhoria das Condições
de Vida e de Trabalho
(http://www.eurofound.eu.int/),
a evolução das condições de
trabalho entre 1995 (2.º inqué-
rito) e 2000 (3.º inquérito)
poderia resumir-se no seguinte:
– Aumento da ex posição a factores de risco físicos (ruído, vibrações, substânciasperigosas, calor, frio, etc.);
– Postos de trabalho inadequados (movimentação de cargas pesadas, posturasde trabalho penosas);
– Intensificação do ritmo de trabalho (trabalha-se menos horas mas maisintensamente);
– Mudança da natureza do trabalho, cada vez mais dependente das ex igências
do cliente e das tecnologias da informação e conhecimento;
– Aumento do número dos que trabalham com computadores (41% em 2000);
– Flex ibilidade, precarização, novas formas de trabalho;
– Segregação e discriminação, afectando as mulheres;
– Violência física e psicológica (int imidação, assédio).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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O 4.º Inquérito Europeu sobre
Condições de Trabalho, realizado
em 2005, vem confirmar estas
tendências. Em termos de saúde
no trabalho, as perturbações
músculo-esqueléticas e o stress
são hoje as duas grandes queixas
dos trabalhadores europeus.
Algumas destas tendências
também foram confirmadas por
Graça (2004), num estudo sobre
as políticas de saúde no local de
trabalho que incidiu sobre uma
amostra das nossas duas mil
maiores empresas (com 75 ou
mais trabalhadores, do sector de
serviços; ou com 100 ou mais,
dos sectores primário e
secundário):
– No final da década de 1990, o
consumo de álcool, enquanto
factor de risco associado aos
estilos de vida dos trabalha-
dores, constituía o problema de
saúde que, de longe, mais
preocupava os gestores das
nossas empresas (54%);
– Em segundo lugar, na lista das
preocupações, vinha a
alimentação desequilibrada
(36%), seguida, de muito
perto, pela dificuldade em lidar
com o stress (33%) e pelo
consumo de tabaco (32%);
– Em quarto lugar, a falta de
exercício físico (29%), à frente
do consumo de droga (27%).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Estilos de vida dos trabalhadores, motivo de preocupação para a empresa
(n=258) (%)
29
13
27
32
33
36
54
0 20 40 60
Consumo álcool
Alimentação
Lidar com o stress
Tabagismo
Exercício físico
Consumo de droga
Nenhum
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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O sistema de gestão da
segurança e saúde do trabalho
tem dificuldade em incorporar
estas preocupações dos gestores,
umas mais antigas (como álcool),
outras recentes, como a droga, o
stress e o tabagismo (activo e
passivo).
O problema passa também pela
ausência, nas nossas empresas,
de uma cultura da saúde.
Ora, já é tempo de ver a saúde /
doença como um continuum,
tendo num dos extremos o nível
óptimo de bem-estar (wellness,
como dizem os norte-
-americanos) e, no extremo
oposto, a morte (precoce ou
prematura).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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O continuum saúde / doença
Morte (prematura)
Nível óptimo debem-estar (wellness)
Saúde (healt h)
Ausência de doença / acidente
Sintomas de doença / lesão
Doença crónica / incapacidadepermanente
Promoção
Prevenção
Tratamento
Reabilitação
Doença ( illness)
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Enquanto a promoção e a pre-
venção são actividades, de sinal
positivo, viradas para a saúde, o
tratamento e a reabilitação estão
viradas para a doença e a incapa-
cidade. Infelizmente, o sistema
de gestão da segurança e saúde
do trabalho, nas nossas empre-
sas, é muito mais iatrocêntrico do
que salutocêntrico. Vejam-se as
suas actividades e o seu
orçamento. Algumas das ideias
expostas podem ser melhor
entendidas através do caso que a
seguir se descreve:
Estudo de caso: o caso do João, operário da indústria metalomecânica
Objectivos des te estudo de caso:
– Ajudar a compreender e definir melhor o conceito de factores psicossociais no
trabalho;
– Identificar e analisar as principais consequências dos factores psicossociais no
trabalho (produtividade / qualidade, saúde e segurança, satisfação no trabalho);
– Identificar factores organizacionais de s tress no trabalho, com implicações no
absentismo-doença, nas empresas portuguesas;
– Identificar outros factores (nomeadamente extra-organizacionais e individuais ),
que possam estar associados ao absentismo-doença e em espec ial ao s tresse no
trabalho;
– Dis tinguir os diferentes sintomas de stress (comportamentais , emocionais ,
ps icológicos , intelectuais , fisiológicos , psicossomáticos ...);
– Apontar medidas concretas para prevenir e combater o s tress neste tipo de
empresas e nes ta população de trabalhadores , e reduzir a incapacidade
temporária para o trabalho.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Este caso pode ser utilizado em
contexto de formação, podendo
ser analisado e discutido em
grupo.
O grupo poderá, por exemplo,
tentar responder a algumas das
questões inseridas no final.
1. O João, 38 anos, casado e pai de dois filhos, trabalha numa empresa da
indústria transformadora, que se dedica à montagem de carroçarias para
veículos automóveis, na região do Ribatejo.
À luz da legislação e regulamentação em vigor no domínio da Segurança e
Saúde no Trabalho, este é “um bom local de trabalho”. O ruído foi redu-
zido para um nível aceitável e a iluminação é boa. O João não se queixa
de desconforto térmico, quer no Verão quer no Inverno.
Embora o João trabalhe numa linha de montagem flexível, com alguma
rotação de tarefas (job rotation), houve a “preocupação ergonómica” [sic],
por parte da empresa, em ajustar a sua posição de trabalho de modo a
evitar “cargas e movimentos desnecessários”.
Do ponto de vista da segurança, a empresa é considerada modelar, diz o
técnico superior de segurança e higiene no trabalho, o Eng.º Amílcar,
tendo já sido galardoada duas vezes (pela companhia de seguros e pelo
ex-IDICT), pelas suas “boas práticas” no domínio da SHST.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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2. O Dr. Carlos Xavier, que é médico do trabalho recém-admitido na
empresa de serviços externos de SHST, que trabalha para a empresa do
João, comentou, com alguma ironia ou até humor negro, para a técnica
superiora de serviço social, a Dra. Joana, que esta fábrica até podia muito
bem ser “um exemplo de estábulo-modelo adaptado a local de trabalho”.
É que, apesar de tudo isto, o João sente-se triste, ansioso, e até doente.
Fuma, bebe e come demasiado. À noite tem dificuldade em adormecer e
acorda cedo, sentindo-se cansado e frustrado. Maria, a sua mulher, que é
assistente administrativa nos serviços municipalizados de água e sanea-
mento locais, está preocupada com as dores de cabeça persistentes do
João, a sua má digestão crónica, e a sua tensão alta. Ela insiste com ele
para irem, juntos, ao médico de família, mas ele resiste, alegando que
“não ia adiantar nada” e que, além disso, “não podia faltar ao trabalho”
[sic].
As coisas lá em casa também correm mal, depois de “um casamento feliz
de 14 anos”: o relacionamento do João já não é o mesmo em termos
afectivos, sexuais, conjugais e parentais. Os dois filhos do casal já deram
conta de que “o pai não anda bem” [sic]. Tiago, o mais velho (12 anos),
queixa-se que o pai nunca mais jogou à bola com ele. Filipa, a mais nova
(8 anos), voltou a fazer chichi na cama depois de ouvir o pai a dizer
“coisas horríveis” à mãe (Há dias teve um “ataque de nervos” e partiu os
pratos todos que estavam em cima da mesa, posta para o jantar...).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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No último inverno (2005), o João acabou por faltar ao trabalho, tendo
estado acamado durante cinco dias úteis, por imposição do médico de
família, apresentando os clássicos sintomas da gripe sazonal (arrepios,
febre, tosse, dores de garganta, mal-estar, falta de forças). O João, que
não tinha quaisquer faltas até então, acabou por perder o prémio de
produção desse ano. “O prémio é para quem está, não falta, produz”, diz
o novo director.
3. Vejamos como é que tudo isto aconteceu. A empresa onde o João
trabalha, praticamente desde que abandonou a escola sem ter chegado a
completar o 9.º ano de escolaridade, enfrentou o ano passado uma série
de problemas (económicos, financeiros, comerciais, técnicos e
organizacionais) devido à alteração da sua estratégia de negócio, ao seu
reposicionamento no mercado e à reestruturação do seu sistema de
produção e de vendas.
A empresa, fundada nos anos 30, sempre teve sucesso no mercado
interno enquanto foi uma PME de controlo accionista familiar, mas a sua
situação financeira degradou-se ao longo da década de 1990. Hoje, a
maioria do capital já está nas mãos do grupo financeiro e económico a que
pertence o seu principal credor (um conhecido banco comercial).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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A mudança de administração (e de estilo de gestão) foi dolorosa para
muita gente. O seguro de saúde / doença e outras regalias sociais foram
cortadas. E até o refeitório da empresa foi fechado.
A aposta dos “novos patrões sem rosto” (como alguém lhes chamou) é a
internacionalização, com a construção de uma fábrica em Espanha.
Entretanto, iniciou-se um processo de downsizing (um palavrão que o
João nunca tinha ouvido falar antes) e foi desenhado um novo layout de
produção (outra expressão desconhecida).
A empresa despediu cerca de 30% do pessoal mais antigo e menos
qualificado, incluindo um tio materno do João. O despedimento de
quarenta pessoas, quase todas da terra, teve um impacto muito grande
no concelho e na região.
4. O novo director fabril, que vem todos os dias de Lisboa, incita o pessoal
a “trabalharmais e melhor”. Tem havido um maior recurso – conforme as
encomendas – ao trabalho suplementar, que por vezes nem sequer é
pago. Já houve queixas do Sindicato à Inspecção-Geral do Trabalho.
Os novos gestores tratam os trabalhadores como “colaboradores” e
gostam de usar palavras, complicadas para o João, como
“responsabilidade social”, “flexibilidade”, “empoderamento”, etc..
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Quanto ao trabalho que o João executa, passou a ser mais monótono,
com um pequeno número de tarefas simples e repetitivas e um ciclo ope-
ratório curto. O controlo de qualidade passou a ser uma função especia-
lizada. Há alguma rotação de tarefas nos postos de trabalho vizinhos.
Em 2005, foi instituído um prémio de produtividade, que penaliza as faltas
de assiduidade e os atrasos. O João, que era um bom operário, sente-se
agora desmotivado. E está a ter alguma dificuldade para lidar com as
novas máquinas computorizadas, que exigem conhecimentos que ele não
possuía.
Por outro lado, as mais recentes rescisões de contrato causaram uma
natural inquietação entre os trabalhadores, habituados que estavam a um
“emprego estável e seguro” numa empresa que “era uma grande família”
[sic].
Em contrapartida, foram recrutados alguns trabalhadores do leste europeu
(sobretudo ucranianos). São acusados de “trabalharem como uns malu-
cos” [sic]. O ambiente de trabalho tornou-se mais crispado, havendo
inclusive alguns indícios de xenofobia.
O pessoal tende a ajudar-se menos uns aos outros. Todos receiam ser
abrangidos pelos próximos despedimentos e ninguém quer ver o seu
ordenado diminuído ao fim do mês. O clima organizacional degradou-se.
O novo director já ameaçou com a deslocalização da fábrica para Espanha.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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5. O João, que “paga as quotas ao sindicato mas não se interessa por
política” [sic], sente que precisa de ajuda e de desabafar com alguém. Há
dias esteve tentado a falar com o novo médico do trabalho, mas ainda não
tem confiança com ele. Mas falou com a enfermeira Isabel, que é da terra
e é sua conhecida e que continuou a trabalhar no “posto clínico” da
empresa. Foi ela que o apresentou à técnica superior de serviço social,
a Dra. Joana.
Acrescente-se que a empresa pretende obter a certificação do seu sistema
de gestão da qualidade, mas está com dificuldade em envolver os colabo-
radores nesse processo. “Não há tradição na empresa”, dizem.
O próprio clube de pessoal está com dificuldades de funcionamento – o
clube desportivo, recreativo e cultural que era o orgulho do fundador da
empresa e que era (e ainda é) financiado pela empresa (não se sabe até
quando).
Entretanto, o João vai fazer um curso de formação profissional (“recicla-
gem”, disseram-lhe), e isso também o não ajuda muito porque é uma
situação nova para ele. É como “voltar aos bancos da escola”, vinte e tal
anos depois.
O Eng.º Amílcar, o responsável pela área da segurança, está preocupado
com o aumento dos acidentes sem baixa (menos de um dia), resultantes
de pequenos ferimentos e lesões, incluindo os incidentes. Ele reconhece
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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e os trabalhadores andam “tensos”. Também tem aumentado a
conflitualidade entre eles (discussões verbais, ameaças, etc.).
Devido à cultura autoritário-paternalista herdada do seu passado de
empresa familiar, não há de facto uma tradição de participação dos cola-
boradores na gestão do sistema técnico e organizacional do trabalho.
Mesmo a comissão (paritária) de higiene e segurança que chegou a fun-
cionar bem, está hoje parada, comenta o Eng.º Amílcar com preocupação.
A direcção da empresa também não está satisfeita com a inversão de
alguns indicadores do tableau de bord, a começar pelo absentismo por
doença e acidente.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Faça você mesmo
Apresentam-se de seguida algumas questões para resolver num eventual trabalho
de grupo:
– O que é que o Dr. Carlos queria dizer ao comentar, ironicamente, que esta
empresa até poderia ser “um bom exemplo de es tábulo-modelo adaptado a
local de trabalho”?
– Identifique e analise sumariamente os principais factores de risco psicossocial a
que está sujeito o João, na situação de trabalho acima descrita, dis tinguindo os
vários factores de stress :
Organizacionais (conteúdo, organização e demais condições de trabalho…);
Extra-organizacionais (família, comunidade…); e
Individuais (personalidade, história de vida, etc .).
Factores
Organizacionais
Factores
Extra-Organizacionais
Factores
Individuais
– Por que é que o João está a lidar mal com o que se passa no seu local de
trabalho?
– Como pode a equipa de segurança e saúde do trabalho, com o contributo
qualificado da Dra. Joana, do Dr. Carlos , da enfermeira Ana e do Eng.º Amílcar,
ajudar o João, os demais trabalhadores e a empresa onde trabalham?
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O Que se Entende por Stress?
O termo refere-se a qualquer
exigência exterior ao indivíduo,
criando um estado de tensão ou
de ameaça, em relação ao qual
terá que haver uma mudança ou
adaptação.
Em condições normais, a
interacção indivíduo / ambiente
não implica necessariamente
tensão ou ameaça. Há
acontecimentos que são em si
stressantes (a guerra, a
violência, a doença, os desastres
naturais, a morte do cônjuge, a
prisão, um acidente de
automóvel, etc.).
O stress não se limita às
situações-limites (as chamadas
situações de vida ou de morte),
nem mesmo às situações de
tensão e conflito. As coisas boas
da vida também são stressantes,
na medida em que implicam
mudança / adaptação por parte
do indivíduo: vd. enamoramento,
casamento, promoção na
carreira, férias, viagens, etc..
O que importa sublinhar, para
além da existência de causas ou
factores de stress exógenos,
exteriores ao indivíduo, é a
centralidade do indivíduo
(personalidade, biologia,
experiência, treino, idade,
género, etc.), as diferentes
maneiras como cada um de
nós lida com as situações
(estilos de coping) e os
resultados (positivos ou
negativos) que isso pode ter
Acontecimentos
stressantes
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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para a saúde, o bem-estar, o
desempenho.
Em fisiologia e medicina, o termo
stress refere-se à estratégia de
adaptação do nosso organismo
na sequência de qualquer
influência, mudança, exigência,
ameaça ou constrangimento por
ele enfrentado. Em engenharia,
significa “uma força que deforma
os corpos”.
O nosso organismo tem sempre
um certo nível de stress. O sueco
Lenhart Levi, um dos grandes
especialistas do stress no
trabalho, compara o stress a um
“acelerador”: acelerar, “dar mais
ou menos gás”, eis a questão.
No caso atrás exposto, o stress –
para o João – é tudo aquilo que é
percebido e/ou avaliado como
uma ameaça, exigência ou
constrangimento.
É todo um conjunto de factores organizacionais(e extra-organizacionais):
– A mudança de administ ração;
– A redução de postos de trabalho;
– O despedimento de colegas;
– A formação;
– A competição;
– A globalização da economia.
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Stress no trabalho: João, 38 anos...
Factores
organizacionais
Factores
extra-organizacionais
Doença
Programa
psicobiológico
Indiv íduo
Sintomas
fisiológicos
psicológicos
comportamentais
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É sabido que temos o mesmo
genoma dos nossos antepassados
mais antigos de há 100 mil anos.
Somos primatas e pertencemos à
espécie Homo Sapiens Sapiens.
Só há menos de 10 mil anos
deixámos a nossa condição de
caçadores-recolectores,
nómadas.
Como espécie animal
biologicamente bem-sucedida,
fomos preparados para fugir ou
lutar (flight or fight) face a
ameaças externas, por exemplo,
os predadores.
Tornámo-nos entretanto pastores
e agricultores, passámos a viver
em aldeias e depois em cidades.
Fizemo-nos artesãos. Inventámos
a civilização há poucos milénios.
Por sua vez, a primeira revolução
industrial (a produção e o
consumo em massa) tem menos
de três séculos e a sociedade da
informação e do conhecimento
apenas três escassas dezenas
de anos. Intelectualizámos a
produção.
A gestão da informação e do
conhecimento passou a ser a
base de uma revolução sem
precedentes. Hoje somos
totalmente sedentários,
trabalhamos sentados frente a
um computador, em rede.
Mudanças ambientais
O que mudou profundamente foi
o ambiente (sócio-ecológico) em
que nascemos, vivemos,
respiramos, crescemos, amamos,
trabalhamos, consumimos,
envelhecemos e morremos.
No caso do João, o que mudou foi
o seu local de trabalho, as suas
condições de trabalho, o
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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conteúdo, a organização e as
demais condições de trabalho.
Mas também os factores extra-
-organizacionais: a família, a
comunidade, o mercado, o país,
a economia.
O stress continua a fazer parte
do nosso programa psico-
biológico. No sentido médico ou
fisiológico (adaptação), o stress
não pode ser eliminado. O que
deve ser evitado e combatido é
o stress no sentido técnico, na
acepção que lhe dá a engenharia
(deformação).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador...
Factores organizacionais
Downsizing
Reestruturação
Intensificação do trabalho
Trabalho monótono e
repetit ivo
Relações de trabalho
Clima organizacional ...
Factores
extra-organizacionais
Doença
Programa
psicobiológico
Indiv íduo
Sintomas
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Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, português, casado...
Factores organizacionais
Factoresextra-organizacionais
PaísEconomia
Mercado de trabalho,
Família...
Doença
Programa
psicobiológico
Indiv íduo
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Comportamentais
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Síntese
Em termos simplificados, pode
dizer-se que o stress é um
processo de avaliação cognitiva
das situações.
Nesse processo interferem não só
as características do indivíduo
(personalidade, conhecimentos,
competências, aptidões…), mas
também as variáveis relacionais,
por exemplo, o suporte social, ou
apoio tanto instrumental como
expressivo dado pelos outros.
Esse apoio pode ser institucional
(a empresa onde o indivíduo
trabalha, o chefe de equipa, os
colegas, o médico do trabalho)
como extra-institucional (a
família, os vizinhos, os amigos).
O indivíduo, juntamente com a
sua rede de suporte social,
constituem o conjunto dos
recursos para enfrentar os
factores de stress.
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, casado,
com fraca escolaridade...
Factores organizacionais
Factores
extra-organizacionais
Doença
Programa
psicobiológico
ConhecimentoAptidões / capacidadesPersonalidadeSuporte social (mulher, médico de família, ...)Formação / treinoEx periência
História de vida ...
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Comportamentais
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Factores de risco
Além da idade (e do género), há
outros factores de risco (ou
vulnerabilidade) que têm a ver
com certas características
individuais (ex.: o tipo de
personalidade, o nível de
neurotismo, etc.).
Friedman e Rosenman (1974),
dois cardiologistas americanos,
popularizam a ideia de que os
indivíduos de tipo A corriam um
risco significativamente maior de
doença coronária do que os de
tipo B (ou seja, com um padrão
comportamental oposto).
São conhecidos alguns dos traços
de personalidade ou padrão
comportamental de tipo A: mania
dos números, auto-suficiência,
expressão vocal, agitação
contínua, sentimento de culpa,
sentido de urgência,
materialismo, gestualidade
neurótica, pluriactividade,
singularidade de interesses,
impaciência, alienação,
agressividade, aversão a delegar,
propensão ao conflito,
perfeccionismo, intolerância, etc..
O estado de stress (ou strain,
tensão), produzido pelos factores
de stress (stressors), põe em
causa o equilíbrio do indivíduo, o
seu bem-estar físico e mental, a
sua eficácia e eficiência, a sua
capacidade para desempenhar os
seus papéis (como pai / mãe,
trabalhador/a, gestor/a,
cidadão/ã, etc.).
A resposta do indivíduo assume a forma demanifestações ou sintomas que podem ser:
– Fisiológicos (aumento do ritmo cardíaco, da secreçãogástrica ou da tensão muscular, etc.);
– Psicológicos (angústia, medo, ansiedade, etc.);
– Comportamentais (aumento do consumo de cigarros
ou de álcool, etc.).
O absentismo e os factores psicossociaisno trabalho
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Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador...
Factores organizacionais
Factores
extra-organizacionais
Doença
Programapsicobiológico
Sistema nervoso simpático
Sistema endócrino
Indiv íduo
Sintomas
Fisiológicos
Psicológicos
Comportamentais
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Stress no trabalho: João, 38 anos, trabalhador, português, casado, doente...
Factores organizacionais
Factores
extra-organizacionais
Doença
Programa
psicobiológico
Indiv íduo
Sintomas
Fisiológicos (perturbações do sono, cansaço,
dores de cabeça, má digestão, tensão
arterial, ex austão...)
Psicológicos (t risteza, frust ração…)
Comportamentais (tabaco, álcool, comida…)
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Há, por vezes, claros indícios ou
sintomas, de natureza física,
psicológica, intelectual ou
comportamental, de que a
resposta (coping) ao stress não é
adequada nem eficaz, caso, por
exemplo, do “João” do referido
estudo de caso.
O conhecimento desses sintomas
(a par dos nossos estilos de
coping e, sobretudo, dos
potenciais factores, fontes ou
causas de stress) é o primeiro
passo para prevenir as suas
consequências negativas, a
médio e longo prazo.
Grande parte dessas conse-
quências para a saúde são já
conhecidas. Aqui vão algumas, a
título exemplificativo:
– Sintomas musculares: (tensão / dores nas costas, no pescoço, nos membrossuperiores e inferiores, etc.);
– Problemas do aparelho digest ivo: (indigestão, vómitos, azia, prisão de ventre,irritação do intest ino grosso, etc.);
– Sintomas cardiovasculares (palpitações, arritmia, dores no peito, etc.);
– Queix as pulmonares (dificuldades respiratórias, etc.);
– Disfunções do sistema nervoso central (desordens funcionais mentais ouemocionais, perturbações do sono, cefaleias, fadiga, etc.);
– Problemas sex uais (menstruação dolorosa, frigidez, impotência, etc.).
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Stress disfuncional
Para além de doenças como a
úlcera péptica, a colite, a asma,
as enxaquecas, as perturbações
psicossomáticas, etc., o stress
disfuncional, de sinal negativo
(ou distress) manifesta-se
também a nível do aparelho
psíquico, sob a forma de sofri-
mento, depressão e perturbações
do comportamento, incluindo o
suicídio e a tentativa de suicídio.
O distress tem ainda um efeito de
bola de neve na vida social e
familiar do trabalhador, redu-
zindo, por exemplo, a capacidade
de intervenção, interacção,
cooperação e participação,
exercício da cidadania, etc..
Hoje em dia, tanto nos EUA como
na União Europeia, mais de
metade do absentismo − doença
no local de trabalho − é impu-
tado aos factores psicossociais e,
nomeadamente, ao stress.
A prevenção do stress no trabalho implica uma
acção concertada e integrada a três níveis:
– A organização (incluindo a organização do trabalho);
– O indiv íduo (recursos, conhecimentos, competências,etc.); e
– O sistema societal (incluindo a rede de suporte social).
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Prevenção do stress no trabalho: acção concertada a três níveis
Stress no trabalho
C. Sistema societal
(apoio...)
B. Indivíduo
(recursos...)
A. Organização
(trabalho...)
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Ficha técnica
Título: O absentismo e os factores psicossociais no trabalho
Coordenação: Luís Graça
Editora: Verlag Dashöfer Portugal
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