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CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO AMAZONAS CURSO TÉCNICO EM REABILITAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS ? ? ? ?

Apostila noções de psicologia

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Apostila Noções de Psicologia

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Page 1: Apostila noções de psicologia

CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO AMAZONASCURSO TÉCNICO EM REABILITAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS

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Page 2: Apostila noções de psicologia

Profa. M.Sc. MARIA DAS GRAÇAS FERREIRA DE MEDEIROS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3

1. PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS 5

2. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 16

2.1.Teoria do Desenvolvimento de Piaget 17

2.2.O Desenvolvimento Infantil segundo Vigotski 19

2.3.Teoria do Desenvolvimento de Freud 20

2.4.Os Oito Estágios do Homem segundo Erikson 24

2.5.Rogers e a Teoria da Pessoa em Pleno Desenvolvimento 26

2.6.Desenvolvimento Psicológico e Personalidade 28

3. NOÇÕES DE PSICOLOGIA SOCIAL 34

4. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DO COMPORTAMENTO:

DINÂMICA DE GRUPOS 37

5. NOÇÕES DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA 43

6. DROGAS X INTEGRIDADE PSICOSSOCIAL 46

BIBLIOGRAFIA 52

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... as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas...

(Guimarães Rosa)

INTRODUÇÃO

palavra Psicologia foi originada das palavras gregas psyche, que significa

alma, e logos, que significa discurso, ou estudo. Pode-se dizer que a Psicologia

é tão antiga quanto o próprio homem, pois desde sempre se colocaram questões ao

homem sobre si próprio e sobre o que vulgarmente se designava "alma".

A

A Psicologia na antiguidade ganhou consistência com Sócrates, para quem a

principal característica humana era a razão, condição que permitia ao homem

sobrepor-se aos instintos. Seus sucessores mais proeminentes foram Platão e

Aristóteles, que deixaram em seus estudos filosóficos a base para as principais

correntes psicológicas. Platão procurou definir no corpo físico um “lugar” para a

razão (ou alma), que seria a cabeça. Ao morrer, segundo ele, o corpo desaparecia e

a alma ficava livre para ocupar outro corpo.

Aristóteles acreditava que alma e corpo não podiam ser dissociados. Para ele

tudo, mesmo os vegetais, possuíam a sua psyché ou alma, mas só o homem tinha a

alma racional, com a função pensante. Duas teorias, assim, foram delineadas na

antiguidade: a platônica, que postulava a imortalidade da alma, e a aristotélica, que

afirmava a mortalidade da alma e a sua relação de pertencimento ao corpo.

A preocupação de conhecer o comportamento humano tem sido marcada por

tentativas baseadas nas crenças e nos conhecimentos de cada cultura. As crenças

populares, transmitidas de geração em geração, também constituem formas de

explicação do comportamento pelo senso comum. Quando se afirma que “o líder

nasce feito”, há um pressuposto básico de que a hereditariedade é o fator

determinante do comportamento, enquanto que provérbios como “as roupas fazem o

homem” ou “diz-me com quem andas e te direi quem és” denotam a predominância

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dos fatores ambientais, estabelecendo os principais pólos de referência ainda

usados para a compreensão do humano: a hereditariedade e o meio ambiente.

A Psicologia só se constituiu como campo de conhecimento científico no final

no século 19, definindo como seu objeto de estudo em sentido amplo o homem, a

partir de suas manifestações comportamentais. Considerando os diversos valores

sociais que permitem várias concepções de homem, pode-se dizer que a ciência

psicológica estuda os “diversos homens” concebidos pelo conjunto social.

• Visões Atuais da Psicologia Moderna

A maioria dos cientistas do comportamento identificam-se mais com um ou

outro dos quatro pontos de vistas considerados mais importantes na atualidade – o

psicanalítico, o neobehaviorista, o cognitivo e o humanista. Alguns preferem uma

combinação entre as diferentes abordagens.

O ponto de vista psicanalítico - A essência do método psicanalista é a

observação dos fatos, consistindo o método da psicanálise em tirar inferências

(conclusões) dos fatos observados, formular hipóteses, compará-las com os fatos

posteriores que forem encontrados e eventualmente fundir um corpo organizado de

material com o fim de verificar a validade das hipóteses. O método é utilizado

principalmente para estudo da personalidade, o ajustamento, a anormalidade e o

tratamento de pessoas psicologicamente perturbadas.

O ponto de vista neobehaviorista - Os behavioristas modernos investigam,

além dos estímulos, respostas observáveis e a aprendizagem, fenômenos

complexos que não podem ser observados diretamente, como o amor, a empatia, a

tensão, a confiança e a personalidade. Sua principal característica é o uso de

perguntas precisas e bem delineadas e a utilização de métodos objetivos em

pesquisas meticulosas.

O ponto de vista cognitivo - A psicologia cognitiva tem como base de

estudo os processos mentais como o pensamento, a percepção, a memória, a

atenção, a resolução de problemas e a linguagem, visando a aquisição de

conhecimentos precisos sobre como esses processos funcionam e como são

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Page 5: Apostila noções de psicologia

aplicados na vida cotidiana. Usam a introspecção informal para desenvolver

intuições e os métodos objetivos para confirmar as impressões colhidas.

O ponto de vista humanista - Os psicólogos humanistas consideram que o

objetivo principal do psicólogo é ajudar as pessoas a compreender e desenvolver o

seu potencial, visando o enriquecimento da vida. Os objetos principais das

investigações psicológicas devem ser os problemas humanos significativos

(objetivos de vida, auto-realização, criatividade etc), com foco na consciência

subjetiva dos indivíduos, esforçando-se por compreender o individual, o excepcional

e o imprevisível da experiência humana. Combinam métodos objetivos, estudos de

caso, técnicas introspectivas informais e mesmo análise de obras literárias.

A matéria-prima da Psicologia, então, é o homem em todas as suas

expressões visíveis e invisíveis, singulares ou genéricas. A contribuição específica

da Psicologia para a compreensão da totalidade da vida humana é o estudo da

subjetividade, a maneira própria de cada indivíduo experienciar o mundo,

construída aos poucos, ao mesmo tempo em que o homem atua sobre o mundo e

sofre seus efeitos.

Não há, então, uma psicologia, mas ciências psicológicas em

desenvolvimento e, mesmo tendo a Psicologia definido o seu objeto de estudo, este

têm sido entendido de diferentes formas pelas teorias psicológicas. Estas teorias, no

entanto, não são definitivas, sendo passíveis de constante reformulação e

atualização, uma vez que o comportamento não pode ser explicado por uma causa

única, pois resulta de fatores psicológicos e não-psicológicos que interagem entre si.

1. PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS

Na compreensão do comportamento humano, o processo de aprendizagem

constitui matéria-prima para os estudiosos, sendo esta geralmente definida como

uma mudança relativamente duradoura no comportamento, induzida pela

experiência (DAVIDOFF, 1983).

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Page 6: Apostila noções de psicologia

Aprender, no entanto, é uma atividade que ocorre dentro de um organismo e

que não pode ser diretamente observada, e as mudanças do comportamento nem

sempre podem ser atribuídas à experiência, uma vez que o cansaço, a motivação,

as emoções e a maturação também alteram o comportamento, daí a importância de

compreensão dos processos psicológicos básicos que estão envolvidos na

aprendizagem e, consequentemente, na base do comportamento.

PERCEPÇÃO1

A percepção é a atividade cognitiva mais fundamental, da qual emergem

todas as outras. Na percepção estão envolvidas numerosas atividades cognitivas,

como consciência, memória, pensamento e linguagem. A atenção precede a

percepção, pois é uma abertura seletiva para uma pequena porção de fenômenos

sensoriais. Estudos sugerem que a atenção se ativa em diversas ocasiões e pode

ser caracterizada por intensidade, capacidade e direção. Necessidades, interesses e

valores têm sido citados como influências importantes sobre a atenção.

O processo perceptivo complexo depende tanto dos sistemas sensórios

quanto do cérebro. Nosso organismo é equipado com sistemas especiais de

captação de informações, que denominamos sentidos ou sistemas sensoriais. Onze

sentidos humanos foram identificados cientificamente, agrupados nos cinco sentidos

perceptivos: 1) visual (vista); 2) auditivo (audição); 3) somato-sensorial (tato,

pressão profunda, calor, dor – mais combinações como cócegas, comichão e

maciez); 4) químico (paladar, olfato); 5) proprioceptivo (sentido vestibular, sentido

cinestésico). O sentido cinestésico depende dos receptores dos músculos, tendões e

articulações, e informa o posicionamento relativo das partes do corpo durante o

movimento; o sentido vestibular (sentido de orientação ou equilíbrio), informa a

respeito do movimento e da orientação de sua cabeça e corpo com relação à terra.

Muitas condições ambientais durante a infância são essenciais ao

desenvolvimento de uma capacidade madura de percepção. Nos primórdios da vida,

experiências negativas ou ausência de experiências necessárias podem destruir o

desenvolvimento das aptidões normais, como os efeitos da luz, de experiências

1 Cf. DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia.

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visuais padronizadas e do movimento ativo. A privação sensorial afeta as pessoas

de modo diferentes, dependendo de fatores como a duração, as condições durante a

privação e as características pessoais dos indivíduos.

A motivação pessoal, as emoções, os valores, os objetivos, os interesses, as

expectativas e outros estados mentais influenciam o que as pessoas percebem. A

tendência do indivíduo é dar ênfase aos aspectos dos dados de realidade que se

acham em harmonia com suas crenças; as expectativas influenciam as ações que,

por sua vez, afetam a conduta das pessoas percebidas. Assim também as vivências

culturais podem influenciar o modo de processar a informação percebida.

ATENÇÃO2

A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de

concentração da atividade mental sobre determinado objeto.

Quanto à natureza da atenção podem ser distinguidos dois tipos básicos: a

atenção voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional sobre um objeto,

e a atenção espontânea, suscitada pelo interesse momentâneo, aumentada nos

estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua

atividade mental.

Quanto à direção da atenção podem ser discriminadas duas formas básicas:

a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito (mundo

exterior) e a atenção interna, voltada para os processos mentais do próprio indivíduo

(atenção reflexiva, introspectiva e meditativa).

Em relação à amplitude da atenção, identifica-se uma atenção focal, centrada

sobre um campo delimitado da consciência, e a atenção dispersa, que se espalha

por um campo mais amplo. Denomina-se atenção seletiva à capacidade de seleção

de estímulos e objetos específicos e estabelecimento de prioridades da atividade

consciente; e atenção sustentada refere-se à manutenção da atenção seletiva.

CONSCIÊNCIA

2 Cf. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.

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Page 8: Apostila noções de psicologia

O termo consciência tem significado múltiplo. Utilizamos a palavra para nos

referirmos ao total estado de uma pessoa e/ou ao seu estado normal de vigília.

Consciência, na definição neuropsicológica, é fundamentalmente o estado de estar

desperto, acordado, vigil, lúcido. Na definição psicológica é a capacidade do

indivíduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus

objetos (DALGALARRONDO, 2000).

A consciência pode se alterar por processos fisiológicos e patológicos. No

sono normal o indivíduo “perde” em vários graus (níveis de profundidade do sono),

por um período determinado de tempo, a sua consciência. Em quadros neurológicos

e psicopatológicos, o nível de consciência diminui de forma progressiva, desde o

estado normal, até o estado de coma profundo.

Os graus de rebaixamento da consciência (alterações quantitativas) são3:

1) Obnubilação (ou turvamento) da consciência – rebaixamento em grau leve ou

moderado. Diminuição do grau de clareza do sensório, lentidão da compreensão

e dificuldade de concentração.

2) Sopor – estado de marcante turvação da consciência, com psicomotricidade mais

inibida, sonolência acentuada.

3) Coma – grau mais profundo de rebaixamento da consciência, onde não é

possível qualquer atividade voluntária consciente.

Nas alterações qualitativas da consciência, uma certa parte do campo da

consciência está preservada, normal, e a outra parte alterada:

1) Estados crepusculares – estreitamento transitório do campo da consciência, com

conservação de atividade psicomotora global mais ou menos coordenada. Surge

e desaparece de forma abrupta e tem duração variável de horas a semanas.

Com freqüência ocorrem atos explosivos violentos e descontrole emocional.

2) Dissociação da consciência – fragmentação ou divisão do campo da consciência,

ocorrendo perda da unidade psíquica, resultando em estado semelhante ao

sonho (estado onírico), geralmente desencadeado por acontecimentos

psicologicamente significativos. As crises duram minutos a horas.

3 Cf. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.

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Page 9: Apostila noções de psicologia

3) Transe – assemelha-se a um sonho acordado, diferindo pela presença de

atividade motora automática e estereotipada.

4) Estado hipnótico – estado semelhante ao transe, no qual a sugestionabilidade do

indivíduo está aumentada. Pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador).

A atenção parece desempenhar importante papel no direcionamento do

estado de consciência. A consciência comum em vigília está continuamente

mudando, sendo influenciada pelas características pessoais persistentes e pelas

circunstâncias ambientais, bem como os ritmos biológicos. As circunstâncias

ambientais também estruturam o conteúdo da consciência.

MEMÓRIA

A percepção e a consciência muitas vezes dependem de comparações entre

o presente e o passado, a aprendizagem exige a retenção de hábitos ou de novas

informações, e até as atividades corriqueiras dependem da capacidade de recordar.

De acordo com estudos psicológicos, três processos básicos são necessários

para todos os sistemas de memória: codificação, armazenamento e recuperação. A

codificação refere-se a todo o preparo de informação para a armazenagem, o que

acarreta a representação do material sob uma forma com a qual o sistema de

armazenagem também possa lidar. Uma vez codificada a experiência, ela será

armazenada e posteriormente recuperada.

Os estudos modernos da memória baseiam principalmente em duas medidas:

a recordação e o reconhecimento. Recordação é a capacidade de lembrar-se da

informação desejada quando intimados por material associado denominado sinal,

sondagem, indicador ou instigação. Reconhecimento é a capacidade de escolher

uma resposta que foi vista, ouvida ou lida antes, comparando-se a informação dada

com a que está armazenada na memória.

Tipos de Memória:

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Page 10: Apostila noções de psicologia

Memória sensorial – nossos sentidos estão sendo continuamente

bombardeados por grande volume de informações e, mesmo que não prestemos

atenção, a informação é absorvida pelos sentidos e entra em um depósito sensorial.

Memória icônica – refere-se à informação retida sob a forma de imagem.

Devido à grande quantidade de estímulos recebidos, uma vasta proporção de

informações icônicas se apaga após aprox. 250 milissegundos (processo de

deterioração).

Memória a curto prazo – as pessoa podem recordar das palavras mais

recentes ditas ou ouvidas, mesmo que tenham prestado apenas ligeira atenção,

entretanto essas informações são perdidas minutos mais tarde. A memória a curto

prazo tem como função o armazenamento temporário.

Memória a longo prazo – teoricamente o armazenamento na memória a longo

prazo é feito por codificação (representado por seu significado). A recuperação de

fatos requer uma estratégia chamada memória de reconstrução, de reintegração, de

refabricação ou criativa, na qual preenchemos as lacunas com conjecturas. A teoria

da deterioração é a explicação para o esquecimento: à medida que o tempo passa,

a lembrança vai se desintegrando.

Quando usamos o termo aprendizagem, estamos falando sobre a codificação

da memória a longo prazo e sua recuperação. O sucesso em tarefas complexas

como a aprendizagem exige a concentração de esforços e atenção focalizada.

Quando a pessoa tenta sobrecarregar a memória a longo prazo com fatos sem ter

organizado as informações, tem muita dificuldade em recupera-los depois.

PENSAMENTO E LINGUAGEM

A linguagem depende do pensamento e, até certo ponto, o pensamento

depende da linguagem. Para dominar uma linguagem, uma pessoa tem que

representar mentalmente alguma coisa; as palavras têm que “desfilar” em conjunto

de modo ordenado. O pensamento, por sua vez, é influenciado pela linguagem, mas

pode ocorrer sem ela, havendo situações em que as palavras podem até restringir

ou limitar o pensamento.

A linguagem é um sistema de signos arbitrários, que ganham significados

específicos por meio de um sistema de convenções historicamente dado. A

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linguagem é, portanto, uma criação social de cada um e de todos os grupos

humanos.

O que é o pensamento? Esta palavra é utilizada para atividades mentais

variadas, tais como raciocinar, resolver problemas e formar conceitos. O

pensamento pode ser caracterizado por suas metas ou elementos. Durante o tempo

em que estamos acordados, as idéias se misturam com lembranças, imagens,

fantasias, percepções e associações. A atividade mental errante sem meta

específica é chamada de pensamento não dirigido, corrente de consciência ou

consciência comum de vigília. O pensamento dirigido visa a uma determinada meta,

podendo ser avaliado por padrões externos: raciocínio, solução de problemas e

aprendizagem são exemplos de pensamento dirigido.

Os elementos intelectivos do pensamento dividem-se em conceitos, juízos e

raciocínio. O conceito é o elemento estrutural básico do pensamento, nele se

exprimem os caracteres essenciais dos objetos e fenômenos da natureza. O juízo

expressa uma relação entre conceitos. O raciocínio representa a ligação entre

conceitos. O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal,

bem como orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da

cultura na qual o indivíduo se insere.

MOTIVAÇÂO

Motivo ou motivação refere-se a um estado interno que resulta de uma

necessidade e que ativa ou desperta comportamento usualmente dirigido ao

cumprimento da necessidade ativante. Geralmente os motivos são estudados nas

seguintes categorias:

Impulsos básicos – visam a satisfação de necessidades relativas à

sobrevivência (fome, sede, sexo, homeostase etc).

Motivos sociais – satisfação de necessidade de sentir-se amado, aceito,

aprovado e estimado.

Motivos para estimulação sensorial – satisfação de necessidades de

experiências sensoriais (modificações ambientais, atividades estimulantes, novos

experiências etc).

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Page 12: Apostila noções de psicologia

Motivos de crescimento – satisfação de necessidade de desenvolver

competências e realizar o potencial (intimamente ligados aos motivos de

estimulação, exploração e manipulação sensorial).

Idéias como motivos – necessidade de valores, crenças e metas como guias

do comportamento. A necessidade de coerência intelectual ou cognitiva

frequentemente motiva comportamento, no sentido de reduzir a dissonância

cognitiva (ansiedade produzida pela colisão entre conhecimentos, idéias e

percepções). Ocorre dissonância quando as condições pessoais do indivíduo não

são coerentes com os padrões sociais; quando uma pessoa espera uma coisa e

ocorre outra; ou quando os indivíduos se empenham em comportamento que não

está de acordo com suas atitudes gerais.

EMOÇÃO

As emoções (ou afetos) são estados internos caracterizados por cognições,

sensações, reações fisiológicas e comportamento específico expressivo, que

tendem a aparecer subitamente e ser de difícil controle. Durante os afetos, as

reações fisiológicas são geradas pelo sistema nervoso central e autônomo e pelas

glândulas endócrinas.

Os circuitos dentro do Sistema Nervoso Central (SNC) despertam, regulam e

integram as respostas feitas durante uma emoção. Os pensamentos, expectativas e

percepções que surgem aqui desempenham papéis importantes em manter e

dissolver afetos e o comportamento que os acompanha. O sistema límbico, um

grupo de circuitos inter-relacionados profundamente dentro do núcleo do cérebro,

desempenha um papel regulatório nas emoções e nos motivos. O hipotálamo é

responsável pela ativação do sistema nervoso simpático durante emergências e

também está envolvido no medo e na raiva, bem como na fome, sede e sexo.

Durante uma emoção intensa, muitas vezes as pessoas estão conscientes de

um tumulto interno (coração acelerado, pulso mais rápido, músculos tensos,

tremores etc). Estas respostas são chamadas reações autônomas porque são

iniciadas pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que consiste em nervos que vão

da medula espinhal e do cérebro para os músculos lisos dos órgãos internos,

(glândulas, coração e vasos sanguíneos). Os dois ramos do SNA, sistemas

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 12

Page 13: Apostila noções de psicologia

simpático e parassimpático, mantêm o equilíbrio: o parassimpático tende a ser mais

ativo quando as pessoas estão calmas, e o simpático assume quando surgem

emergências.

Quando ocorrem experiências despertadoras de emoções, as glândulas

supra-renais liberam os hormônios adrenalina e noradrenalina. Estes mensageiros

químicos estimulam muitos dos mesmos centros que o sistema nervoso simpático já

ativou (incluindo os circulatório e respiratório). Enquanto o corpo permanecer alerta

e ativo – até que a crise tenha passado ou que haja exaustão – estes hormônios são

continuamente secretados.

O padrão de resposta fisiológica de uma pessoa a determinadas emoções é

influenciado por idade, sexo, drogas, dieta, personalidade etc. Durante uma emoção,

o comportamento, assim como os pensamentos, pode modificar as sensações.

Aparentemente, as componentes variadas de uma emoção podem alterar-se

mutuamente. As emoções não apenas estão misturadas umas às outras; elas

também estão ligadas aos motivos. As emoções, por sua vez, geram motivos e

comportamentos.

AFETIVIDADE

O termo afetividade compreende várias modalidades de vivências afetivas,

distinguindo-se 5 tipos básicos:

1) Humor ou estado de ânimo – estado emocional basal, ou disposição afetiva de

fundo na qual se encontra a pessoa em determinado momento. Há uma vertente

somática (em boa parte o humor é vivido corporalmente) e uma vertente

psíquica.

2) Emoções – são estados afetivos intensos, de curta duração,

originados/desencadeado por estímulos significativos conscientes ou

inconscientes. Assim como o humor, as emoções são experiências psíquicas e

somáticas ao mesmo tempo.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 13

Page 14: Apostila noções de psicologia

3) Sentimentos – são estados e configurações afetivas atenuados em intensidade e

menos reativos a estímulos passageiros. Estão geralmente associados a

conteúdos intelectuais, valores, representações e constituem fenômeno muito

mais mental do que somático.

4) Afetos – qualidade e tônus emocional que acompanham uma idéia ou

representação mental (inespecificamente, qualquer estado de humor, sentimento

ou emoção).

5) Paixões – estado afetivo muito intenso, que domina a atividade psíquica como

um todo.

Variando de um momento para o outro, a vida afetiva ocorre sempre em um

contexto amplo de relações, caracterizando-se a afetividade particularmente por sua

dimensão de reatividade. Quanto à reação afetiva do indivíduo pode-se distinguir a

sintonização afetiva, quanto à capacidade de o indivíduo ser influenciado

afetivamente por estímulos externos (ocorrências e eventos que o alegram ou

entristecem); irradiação afetiva, quanto à capacidade de contaminar os outros com o

seu estado afetivo momentâneo; e rigidez afetiva, quando o indivíduo tem

dificuldade ou impossibilidade tanto de sintonizar quanto irradiar afetivamente (não

produz reações nem reage afetivamente).

INTELIGÊNCIA

Inteligência pode ser definida como uma capacidade para atividade mental

que não pode ser medida diretamente, pois consiste em muitas capacidades

cognitivas distintas, inclusive as envolvidas em percepção, memória, pensamento e

linguagem, cujos processos variam em eficiência. A inteligência se aplica em

ajustamento em todas as esferas da vida. Tanto a hereditariedade quanto o

ambiente influenciam as diferenças em inteligência medida, constatando-se as

diferenças em ambientes empobrecidos e estimuladores da inteligência para as

crianças.

Para Dalgalarrondo (2002) a inteligência pode ser definida como a totalidade

das habilidades cognitivas do indivíduo. Refere-se à capacidade de identificar e

resolver problemas novos, de reconhecer adequadamente as situações vivenciais

cambiantes e encontrar soluções satisfatórias para si e de acordo com as exigências

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 14

Page 15: Apostila noções de psicologia

do ambiente. De acordo com Piaget, a inteligência, os processos mentais que criam,

organizam e utilizam adaptativamente os conceitos e raciocínios não são inatos, pois

mudam ao longo da vida; não são também apenas aprendidos dos adultos, mas

foram sendo adquiridos ao longo do desenvolvimento pessoal do indivíduo.

A inteligência, portanto, é algo difícil de mensurar, pois temos inteligências

diversificadas, e umas mais evidenciadas do que outras. Nossa cultura, porém,

valoriza mais a inteligência lógico-matemática e ser inteligente geralmente está

associado a um desempenho muito bom em áreas ligadas a este tipo de inteligência.

A teoria das inteligências múltiplas foi elaborada a partir dos anos 80 por

pesquisadores da universidade norte-americana de Harvard, liderados pelo

psicólogo Howard Gardner. Segundo Gardner, excetuando-se os casos de lesões,

todos nascem com o potencial das várias inteligências. A partir das relações como o

ambiente, incluindo os estímulos culturais, desenvolvemos mais algumas e

deixamos de aprimorar outras. Isso dá a cada pessoa um perfil particular de

inteligências, o "espectro".

Para ele a inteligência é considerada como um conjunto de habilidades e

talentos que permitem à pessoa resolver problemas que são conseqüência de um

ambiente cultural próprio. O psicólogo estabeleceu vários critérios para que uma

inteligência seja considerada como tal, desde sua possível manifestação em todos

os grupos culturais até a localização de sua área no cérebro.

Tipos de Inteligências propostos por Gardner:

Lógico-matemática: determina a habilidade para raciocínio dedutivo, além da

capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais elementos

matemáticos. É a competência mais diretamente associada ao pensamento

cientifico, portanto, à idéia tradicional de inteligência. Pictórica: faculdade de

organizar elementos visuais de forma harmônica, estabelecendo relações estéticas

entre eles. Musical: permite organizar sons de maneira criativa, a partir da

discriminação de elementos como tons, timbres e temas. Intrapessoal: competência

de uma pessoa para se conhecer e estar bem consigo, administrando seus

sentimentos e emoções a favor de seus projetos (característica dos indivíduos "bem

resolvidos", como se diz na linguagem popular). Interpessoal: capacidade de uma

pessoa dar-se bem com as demais, compreendendo-as, percebendo suas

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 15

Page 16: Apostila noções de psicologia

motivações e sabendo como satisfazer suas expectativas emocionais. Espacial:

capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situação espacial e utilizá-

lo para orientar-se entre objetos ou transformar as características de um

determinado espaço. Lingüística: habilidade para lidar criativamente com as

palavras nos diferentes níveis da linguagem (semântica, sintaxe), tanto na formal

como na escrita. Corporal-cinestésica: habilidade para utilizar o próprios corpo de

diversas maneiras; envolve tanto o autocontrole corporal quanto a destreza para

manipular objetos.

Sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de problemas,

embora existam predominâncias, portanto as inteligências se integram. Em sua

definição de inteligência, Gardner enfatiza que é necessário que duas tendências

sejam consideradas no estudo da inteligência: uma é o reconhecimento de que a

inteligência é contextualizada e, portanto, deve ser considerada no contexto de

culturas particulares. A segunda é que se deve levar em consideração a forma pela

qual as pessoas operam com as ferramentas e a tecnologia em cada sociedade.

2. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O desenvolvimento humano tem sido abordado pelos estudiosos a partir de

quatro aspectos básicos: a) aspecto físico-motor – refere-se ao crescimento

orgânico, maturação neurofisiológica; b) aspecto intelectual – é a capacidade de

pensamento, raciocínio; c) aspecto afetivo-emocional – é o modo particular de o

indivíduo integrar as suas experiências; e d) aspecto social – é a maneira como o

indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.

Um ponto fundamental para a compreensão do comportamento humano, sem

dúvida, é o estudo dos fatores biológicos e sociais e das condições em que esses

fatores influenciam a formação e o desenvolvimento das características individuais.

Hereditariedade e meio ambiente constituem os fatores básicos ou o background do

comportamento.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 16

Page 17: Apostila noções de psicologia

O processo de desenvolvimento da estrutura biológica do ser humano é

denominado maturação e ocorre em etapas, dependendo da hereditariedade.

Estudos sobre maturação têm indicado que são necessárias condições ambientais

adequadas para que o indivíduo consiga alcançar sua maturação biológica.

Condições pré-natais adversas, tais como falta de oxigênio no útero materno ou uso

de drogas, dificultam ou impedem o processo de maturação. A falta de espaço físico

e de alimentação adequada também interferem no processo, indicando que a

maturação biológica depende da hereditariedade, mas pode ser dificultada por

fatores ambientais.

Do ponto de vista psicológico, o meio é definido como a soma total de

estímulos que o indivíduo recebe desde a concepção até a morte (AGUIAR, 1981).

O meio psicológico do ser humano é integrado pelos meios pré-natal (condições

ambientais anteriores ao nascimento), intercelular (células somáticas circundantes e

substâncias que cada célula contém) e social (grupo/sociedade onde a criança

nasce e cresce).

A sociedade é um grupo de pessoas dependentes umas das outras, que

desenvolveram padrões de organização capazes de lhes tornar possível viver juntos

e sobreviverem como um grupo. A sociedade desenvolve padrões de

comportamento e os transmite para seus membros, e os pais são os principais

transmissores desses padrões, indicativos de aspectos da cultura (conjunto de

valores, expectativas, atitudes, crenças e costumes compartilhados pelos membros

de um grupo). A cultura influencia o desenvolvimento de características individuais.

Todas as teorias que estudam o desenvolvimento humano partem do

pressuposto de que os quatro aspectos mencionados são indissociados, mas

costumam enfatizar aspectos diferentes, dando ênfase a um deles especificamente.

Algumas das principais teorias são:

2.1 Teoria do Desenvolvimento de Piaget

Piaget divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o

aparecimento de novas qualidades do pensamento, que, por sua vez, interfere no

desenvolvimento global:

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 17

Page 18: Apostila noções de psicologia

Período Sensório-Motor (0 a 2 anos) – vida mental reduzida ao exercício

dos aparelhos reflexos, de fundo hereditário. Ao longo desse período irá ocorrer uma

diferenciação progressiva entre o seu eu e o mundo exterior também no plano

afetivo, manifestando-se na escolha dos objetos. Por volta dos 2 anos, a criança

evolui de um estado passivo para uma atitude ativa e participante e uma maior

integração no ambiente.

Período Pré-Operatório (2 a 7 anos) – aparecimento da linguagem,

acelerando o desenvolvimento do pensamento. Ao contrário do início do período,

quando transformava o real em função de seus desejos e fantasias (jogo simbólico),

posteriormente passa a procurar a razão de tudo (fase dos porquês). Por estar

centrada em si mesma, ocorre uma primazia do próprio ponto de vista, na medida

em que a criança não consegue colocar-se do ponto de vista do outro.

No aspecto afetivo surgem os sentimentos interindividuais, sendo um dos

mais relevantes o respeito por aqueles julgados superiores (pais e professores, p.

ex.). Com relação às regras, concebe-as como imutáveis e determinadas

externamente. Amplia o interesse pelas diferentes atividades e objetos, dando

surgimento ao uma escala própria de valores, pela qual passa a avaliar suas

próprias ações. Desenvolvimento da coordenação motora fina e de novas

habilidades.

Período das Operações Concretas (7 a 12 anos) – capacidade de

estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes e

sua integração de modo lógico e coerente. No plano afetivo, capacidade de cooperar

com os outros, de trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, ter autonomia pessoal.

Intelectualmente, surgimento de nova capacidade mental (as operações), sendo

capaz de empreender uma ação física ou mental e revertê-la, mas sempre com

referência a objetos concretos presentes ou já experienciados (objetos reais).

Em nível de pensamento, a criança consegue estabelecer relações de causa

e efeito, seqüenciar idéias ou eventos e trabalhar simultaneamente com dois pontos

de vista. No aspecto afetivo, aparece a vontade e há aquisição de uma autonomia

crescente em relação ao adulto, passando a organizar seus próprios valores morais.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 18

Page 19: Apostila noções de psicologia

O sentimento de pertencer ao grupo torna-se mais forte, com diminuição gradual da

grupalização com o sexo oposto.

Período das Operações Formais (11 ou 12 anos em diante) – passagem

do pensamento concreto para o formal, abstrato, sendo as operações realizadas no

plano das idéias. Desenvolvimento de conceitos, crescente capacidade de

abstração, generalização e formulação de hipóteses. Passa por uma fase de

interiorização e posteriormente atinge o equilíbrio entre pensamento e realidade.

Afetivamente o indivíduo vive conflitos, deseja ser aceito e tem no grupo um

importante referencial. Começa a estabelecer sua moral individual, referenciada à

moral do grupo.

De acordo com Piaget, a personalidade começa a se formar no final da

infância, entre 8 e 12 anos, com a organização autônoma das regras, dos valores e

afirmação da vontade. Esses aspectos vão ser exteriorizados na construção de um

projeto de vida, que vai nortear o indivíduo em sua adaptação ativa à realidade, que

ocorre com a sua inserção no mundo do trabalho, quando ocorre um equilíbrio entre

o real e os ideais do indivíduo.

Na idade adulta não surge nenhuma nova estrutura mental, e o indivíduo

caminha para um aumento gradual do desenvolvimento cognitivo, em profundidade,

e uma maior compreensão dos problemas e das realidades significativas que o

atingem, influenciando os conteúdos afetivo-emocionais e sua forma de estar no

mundo.

2.2 O Desenvolvimento Infantil segundo Vigotski

Para Vigotski, o desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos:

• O aspecto instrumental – por esse prisma, não apenas respondemos aos

estímulos apresentados no ambiente, mas os alteramos e usamos suas

modificações como um instrumento de nosso comportamento.

• O aspecto cultural - envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a

sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em desenvolvimento

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 19

Page 20: Apostila noções de psicologia

enfrenta, e os tipos de instrumento que ela dispõe para dominar aquelas

tarefas, sendo a linguagem um dos principais.

• O aspecto histórico - funde-se com o cultural, pois os instrumentos usados

para dominar o ambiente foram criados e modificados ao longo da história

social da civilização. Os instrumentos culturais expandiram os poderes do

homem e estruturam seu pensamento.

Assim, a história da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham

juntos e intrincados. As crianças, desde o nascimento, estão em constante interação

com os adultos, e é através dessa mediação que os processos psicológicos mais

complexos tomam forma: primeiramente são interpsíquicos (partilhados), depois, à

medida que a criança cresce, tornam-se intrapsíquicos. O desenvolvimento está

alicerçado sobre o plano das interações. Por meio da fala a criança começa a fazer

distinções para si mesma e vai adquirindo a função de auto-direção. A fala inicial da

criança tem, portanto, um papel fundamental no desenvolvimento de suas funções.

Vigotski acredita que as funções psicológicas emergem e se consolidam no

plano da ação entre pessoas e tornam-se internalizadas. Do plano interpsíquico, as

ações passam para o plano intrapsíquico, sendo as relações sociais, portanto,

consideradas como constitutivas das funções psicológicas do homem, o que

caracteriza o caráter interacionista da visão de Vigotski, que deu ênfase ao processo

de internalização como mecanismo que intervêm no desenvolvimento das funções

psicológicas complexas, fundado nas ações, nas interações sociais e na linguagem.

Vigotski enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano

intersubjetivo, na troca entre as pessoas, que têm origem as funções mentais

superiores, e também apresenta um aspecto construtivista, quando explica o

aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento a partir do mecanismo

da internalização.

2.3 Teoria do Desenvolvimento de Freud

Uma das mais controvertidas teorias a respeito do desenvolvimento é a teoria

psicossexual proposta por Freud, na qual o desenvolvimento sexual é considerado o

núcleo em torno do qual toda a personalidade é moldada. Segundo ele a energia

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 20

Page 21: Apostila noções de psicologia

sexual, a que chamou libido, é o impulso para viver e para reproduzir e está

envolvida em todos os aspectos do desenvolvimento. Fundado nessa hipótese,

desenvolveu o princípio de que a energia libidinal (energia vital ou sexual) é erótica

ou geradora de prazer quando expressa em comportamento.

Em seus estudos sobre as causas e o funcionamento das neuroses, Freud

identificou conflitos de ordem sexual localizados nos primeiros anos de vida do

indivíduo, isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático que

se configuraram como origem de sintomas na vida adulta. No processo de

desenvolvimento psicossexual, o indivíduo nos primeiros anos de vida tem a função

sexual ligada à sobrevivência, portanto o prazer é erotizado, estando as zonas de

excitação sexual localizadas em partes do corpo.

Freud acreditava que a personalidade é moldada pelas experiências iniciais,

quando as crianças passam por uma seqüência de fases psicossexuais. Segundo

ele, a libido (energia sexual) centra-se em diferentes regiões do corpo à medida que

prossegue o desenvolvimento psicológico. Se as crianças têm concessões em

excesso ou são privadas e frustradas de modo indevido em uma determinada fase, o

desenvolvimento é interrompido e a libido se fixa lá. A fixação envolve deixar uma

parte da libido – a quantidade varia com a seriedade do conflito – permanentemente

instalada nesse nível do desenvolvimento.

Freud postou as seguintes fases do desenvolvimento sexual: fase oral,

quando a zona de erotização é a boca; fase anal, a zona de erotização é o ânus;

fase fálica, a zona de erotização é o órgão sexual. Depois dessas fases vem um

período de latência, que se prolonga até a puberdade, época em que é atingida a

última fase, a fase genital , quando o objeto de erotização passa a ser externo ao

indivíduo. Um dos eventos considerados mais importantes para a estruturação da

personalidade do indivíduo acontece entre os 3 e 5 anos, durante a fase fálica: é o

Complexo de Édipo, quando a mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai o rival.

Para Freud, aquilo que para o indivíduo assume valor de realidade é a

realidade psíquica, e é isso o que importa, mesmo que não corresponda à realidade

objetiva. Sintoma, na teoria psicanalítica, seja um comportamento ou pensamento, é

uma produção resultante de um conflito entre o desejo e os mecanismos de defesa.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 21

Page 22: Apostila noções de psicologia

Ao mesmo tempo em que sinaliza, o sintoma busca encobrir um conflito e substituir

a satisfação do desejo.

O Ego emerge nas crianças em desenvolvimento a fim de tratar de suas

transações diárias com o ambiente, à medida que aprendem que há uma realidade à

parte de suas próprias necessidades e desejos. O Ego é controlado, realístico e

lógico, atuando segundo o princípio da realidade, adiando a gratificação dos desejos

do Id até que seja encontrada uma situação ou objeto apropriado. O Superego é

formado do modo como as crianças se identificam com os pais e internalizam suas

restrições, valores e costumes, sendo essencialmente uma consciência. Funciona

de modo independente, recompensando o Ego por comportamento aceitável e

criando sentimento de culpa quando as ações e pensamentos se colocam contra

princípios morais. O Superego trabalha para atender a metas morais e forçar o Id a

inibir impulsos primitivos.

Segundo Freud, quanto mais intensos os conflitos, tanto mais energia

psíquica é necessária para resolvê-los. Assim, na tentativa de enfrentar o Id, o

Superego e a realidade, o Ego desenvolve mecanismos de defesa, modalidades de

comportamento que aliviam a tensão, processos inconscientes pelos quais são

excluídos da consciência os conteúdos indesejáveis. Com a finalidade de proteger o

aparelho psíquico, o Ego mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam

a percepção do perigo interno.

Os principais Mecanismos de Defesa psicológicos descritos são4 repressão,

negação, racionalização, formação reativa, isolamento, projeção, regressão e

sublimação. Estes mecanismos podem ser encontrados em indivíduos saudáveis,

mas a sua presença excessiva é indicação de possíveis sintomas neuróticos.

Repressão - A Repressão consiste em afastar uma determinada coisa do

consciente, mantendo-a à distância (no inconsciente). A repressão afasta da

consciência um evento, idéia ou percepção potencialmente provocadores de

ansiedade, entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar

de inconsciente, e continua causando problemas.

4 Baseado em FADIMAN, J. e FRAGER, R., Teorias da Personalidade, 1980.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 22

Page 23: Apostila noções de psicologia

Negação - Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que

perturba o Ego. Os adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos

não são, de fato, do jeito que são, ou que na verdade nunca aconteceram. O

indivíduo recorda-se de um acontecimento de forma vívida, depois pode lembrar-se

do incidente de maneira diferente e dar-se conta de que a primeira versão era uma

construção defensiva.

Racionalização - Racionalização é o processo de achar motivos lógicos e racionais

aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. É um modo de disfarçar

verdadeiros motivos e tornar o inaceitável mais aceitável. Usa-se a Racionalização

para justificar comportamentos quando as razões para esses atos não são

recomendáveis. A afirmação cotidiana de que "eu só estou fazendo isto para seu

próprio bem" pode ser a racionalização do sentimento ou pensamento.

Formação Reativa - Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que

são opostos ao desejo real. Trata-se de uma inversão clara e, em geral, inconsciente

do verdadeiro desejo. Não só a idéia original é reprimida, mas qualquer vergonha ou

auto-reprovação que poderiam surgir ao admitir tais pensamentos em si próprios

também são excluídas da consciência. Certas posições puritanas e moralistas de

algumas pessoas podem ser indicativas desse processo psicológico.

Projeção - É um mecanismo pelo qual os aspectos da personalidade de um

indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. A pessoa pode,

então, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente de que a

idéia ou comportamento temido é dela mesma. Sempre que caracterizamos algo de

fora de nós como sendo mau, perigoso ou imoral, sem reconhecermos que essas

características podem também ser verdadeiras para nós, é provável que estejamos

projetando. As pessoas que negam ter um determinado traço de personalidade são

sempre mais críticas em relação a este traço quando o vêem nos outros.

Regressão - Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a

um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a

ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que reduzem

a ansiedade. A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza

a tensão, freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 23

Page 24: Apostila noções de psicologia

Sublimação - A energia associada a impulsos e instintos socialmente e

pessoalmente constrangedores é, na impossibilidade de realização destes,

canalizada para atividades socialmente meritosas e reconhecidas.

Deslocamento - É o mecanismo psicológico de defesa onde a pessoa substitui a

finalidade inicial de uma pulsão por outra diferente e socialmente mais aceita.

Durante uma discussão, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o

outro e acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao chão.

2.4 Os Oito Estágios (ou Idades) do Homem, segundo Erik Erikson

Segundo Erikson o que nós chamamos de "personalidade" resulta da

interação contínua de 3 grandes sistemas: o biológico, o social e o individual, os

quais são interdependentes e inseparáveis. O resultado da coordenação desses três

sistemas será uma pessoa que domina ativamente o seu ambiente, mostra certa

unidade de personalidade e é capaz de perceber corretamente o mundo e a si

mesma.

O ser humano psicologicamente saudável é aquele que desenvolveu um

"firme sentido de identidade", significando o reconhecimento de que ele é uma

pessoa única, com passado, presente e futuro particulares. A identidade, para

Erikson, é algo que está sempre mudando e se desenvolvendo. É um processo de

diferenciação crescente e cada vez mais abrangente à medida que o indivíduo se

torna cada vez mais consciente das interações com outros indivíduos.

Para Erikson, cada estágio da vida se desenrola de acordo com um plano de

base definido, e apresenta ao indivíduo um desafio característico (conflitos

nucleares), desde o nascimento até a morte. Cada conflito ou crise deixa sua marca

no indivíduo e na sociedade, sublinhando a continuidade das experiências humanas.

1º. Estágio: Confiança Básica X Desconfiança Básica - Durante o primeiro

período de vida, o modo segundo o qual o bebê integra as experiências é oral ou

"incorporativo". Depende dos outros para a satisfação de suas necessidades, e sua

"confiança" depende da regularidade e consistência com a qual as pessoas vão

responder aos seus apelos. Neste período a criança aprende a "contar" ou não com

as outras pessoas. O conflito "confiança x desconfiança", de natureza interpessoal,

nunca será resolvido totalmente A necessidade de confiança num ser superior é

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 24

Page 25: Apostila noções de psicologia

quase que universal entre os adultos, e a instituição cultural derivada desde primeiro

estágio é a religião. A confiança do bebê é um precursor da fé na vida adulta.

2º. Estágio: Autonomia x Vergonha e Dúvida - Nesta fase a criança (aprox. 18

meses a 1 ano) ainda é muito dependente, mas já experimenta seu desejo de

autonomia. Em um impasse com os pais descobre-se ainda fraca e dependente,

expondo-se a sentimentos de vergonha, por sua insensatez, e duvida quanto à sua

própria capacidade (autonomia) e quanto à firmeza de seus pais. Neste período a

vontade de fazer as coisas por si própria é evidenciado na criança, demandando dos

pais a introdução de um respeito saudável, não opressivo, às regras e regulamentos.

3º. Estágio: Iniciativa X Culpa - A dependência da criança em relação aos pais

continua a decrescer, enquanto aumenta a sua consciência das diferenças entre a

sua própria autonomia e a dos outros. O sentimento de culpa origina-se agora da

idéia de ter feito alguma coisa errada, em função de sua impulsividade, e ao medo

de ser descoberta junta-se uma "voz interior", que induz a criança a uma auto-

observação, auto-orientação e auto-punição. Se for vivida equilibradamente, sem

culpa excessiva nem iniciativa descontrolada, esta fase pode resultar num

sentimento moral que limita os horizontes do permissível e estabelece as diretrizes

quanto às possibilidades futuras.

4º. Estágio: Produtividade X Inferioridade - Idade da escola elementar (aprox. 6 a

12 a). No início dos anos escolares a criança começa a adquirir as habilidades para

o trabalho na sua sociedade, o que requer certo grau de disciplina, para transformar

o sentido de iniciativa em "sentido de produtividade". Na escola começa o

aprendizado sobre o "padrão de ação" da sociedade. O sentimento de produtividade

competirá com um sentimento de inferioridade, em função de comparação de

desempenho entre os membros do grupo, assim como a maneira como a criança é

tratada. Este estágio está relacionado à auto-estima e competência futuras.

5º. Estágio: Identidade X Confusão de Papéis - Fase da adolescência, começo da

formulação de uma identidade (identificação de características comuns em relação a

outras pessoas e particulares). O processo de análise simultânea de muitas

possiblidades e alternativas é intelectual, e depende de um conjunto de habilidades

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 25

Page 26: Apostila noções de psicologia

cognitivas adquiridas antes da adolescência. O adolescente é pressionado familiar e

socialmente, inclusive sobre suas possibilidades profissionais futuras, podendo

também sentir-se desorientado e confuso nesta fase.

6º. Estágio: Intimidade X Isolamento - Uma auto-imagem firme (identidade) é

necessária antes do estabelecimento de relação "íntima" verdadeira com outra

pessoa. No romance adolescente, em razão da insegurança de ambos, há uma

projeção recíproca de auto-imagens, na tentativa de auto-definição de uma

identidade pessoal. A definição de identidade também pode ser procurada por meios

destrutivos no relacionamento grupal. À medida que as oscilações entre os extremos

desaparecem, emerge uma verdadeira capacidade de intimidade, contrabalançada

por um sentimento de isolamento. A capacidade para o amor e o trabalho na vida

adulta requer o equilíbrio entre essas duas tendências (intimidade e isolamento).

Essa idade é caracterizada pela ampliação dos horizontes sociais e origem de um

novo sentimento de participação e solidariedade.

7º. Estágio: Generatividade X Estagnação - Estágio maduro da vida, necessidade

de dar continuidade à espécie através da procriação. Este impulso para a

paternidade pode ser dirigido, em algumas pessoas, para outros interesses, assim

como simplesmente gerar um filho não é suficiente para assegurar o sentimento de

generatividade. Aqueles que o fazem por fazer, podem experimentar mais tarde um

sentimento de estagnação.

8º. Estágio: Integridade X Desesperança - Fase da velhice, na qual, na maioria

das culturas, costuma-se fazer uma avaliação do que foi feito e o que se conseguiu

realizar no decorrer da vida. A desesperança é a imagem mais freqüente, em razão

das limitações físicas, restrições sociais e parcas perspectivas futuras. Por outro

lado, se a pessoa acredita que superou as crises com razoável sucesso, pode

predominar o sentimento de integridade (sentimento de dever cumprido, sem

lamentações, integrado ao presente e sem inquietações quanto ao futuro).

2.5 ROGERS e a Teoria da Pessoa em Pleno Desenvolvimento

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 26

Page 27: Apostila noções de psicologia

A teoria de desenvolvimento do psicólogo Carl Rogers concentra-se na saúde

psicológica ou maturidade pessoal. Para ele a mais importante espécie de

desenvolvimento envolve os processos pelos quais as pessoas vêm a funcionar livre

e plenamente. Rogers sugere que em cada um de nós há um impulso inerente em

direção a sermos competentes e capazes tanto quanto o que estamos aptos a ser

biologicamente. Assim como uma planta tende a tornar-se saudável, como uma

semente contém dentro de si impulso para se tomar uma árvore, também uma

pessoa é impelida a se tomar uma pessoa total, completa e auto-atualizada.

As forças positivas em direção à saúde e ao crescimento são naturais e

inerentes ao organismo e os indivíduos têm a capacidade de experienciar e de se

tomarem conscientes de seus desajustamentos. Rogers vê o ajustamento não como

um estado estático, mas como um processo no qual novas aprendizagens e novas

experiências são cuidadosamente assimiladas. Aceitar-se a si mesmo é um pré-

requisito para uma aceitação mais fácil e genuína dos outros. Em compensação, ser

aceito por outro conduz a uma vontade cada vez maior de aceitar a si próprio. Este

ciclo de auto-correção e auto-incentivo, é a forma principal pela qual se minimizam

obstáculos ao crescimento psicológico.

Rogers sugere que os obstáculos aparecem na infância e são aspectos

normais do desenvolvimento. O que a criança aprende em um estágio como

benéfico deve ser reavaliado nos estágios posteriores: Motivos que predominam na

primeira infância mais tarde podem inibir o desenvolvimento da personalidade.

Quando a criança começa a tomar consciência do Self (si mesmo), desenvolve uma

necessidade de amor ou de consideração positiva. Esta necessidade é universal,

considerando-se que ela existe em todo ser humano e que se faz sentir de uma

maneira contínua e penetrante. Uma vez que as crianças não separam suas ações

de seu ser total, reagem à aprovação de uma ação como se fosse aprovação de si

mesmas. Da mesma forma, reagem à punição de um ato como se estivessem sendo

desaprovadas em geral.

O amor é tão importante para a criança que ela acaba por ser guiada, não

pelo caráter agradável ou desagradável de suas experiências e comportamentos,

mas pela promessa de afeição que elas encerram. A criança começa a agir da forma

que lhe garante amor ou aprovação, sejam os comportamentos saudáveis ou não

para ela. As crianças podem agir contra seu próprio interesse, chegando a se

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 27

Page 28: Apostila noções de psicologia

perceber em termos destinados, a princípio, a agradar ou apaziguar os outros.

Teoricamente esta situação poderia não se desenvolver se a criança sempre se

sentisse aceita e houvesse aprovação dos sentimentos mesmo que alguns

comportamentos fossem inibidos. Em tal situação ideal a criança nunca seria

pressionada a se despojar ou repudiar partes não atraentes, mas autênticas de sua

personalidade.

Comportamentos ou atitudes que negam algum aspecto do Self são

chamados de condições de valor. Quando uma experiência relativa ao Eu é

procurada ou evitada unicamente porque é percebida como mais ou menos digna de

consideração de si, diz Rogers que o indivíduo adquiriu um modo de avaliação

condicional. Condições de valor são os obstáculos básicos à exatidão da percepção

e à tomada de consciência realista. Acumulamos certas condições, atitudes ou

ações cujo cumprimento achamos necessário para permanecermos dignos. Na

medida em que essas atitudes e ações são idealizadas, elas constituem áreas de

incongruência pessoal. De forma extrema, as condições de valor são caracterizadas

pela crença de que "preciso ser respeitado ou amado por todos aqueles com quem

tenho contato".

Quando a criança amadurece, o problema persiste. O crescimento é impedido

na medida em que a pessoa nega impulsos diferentes do auto-conceito

artificialmente "bom". Para sustentar a falsa auto-imagem a pessoa continua a

distorcer experiências: quanto maior a distorção maior a probabilidade de erros e da

criação de novos problemas. Os comportamentos, os erros e a confusão que

resultam dão manifestações de distorções iniciais mais fundamentais. E a situação

realimenta-se a si mesma. Cada experiência de incongruência entre o Self e a

realidade aumenta a vulnerabilidade, a qual, por sua vez, ocasiona o aumento de

defesas, interceptando experiências e criando novas ocasiões de incongruência. A

terapia centrada no cliente de Rogers esforça-se por estabelecer uma atmosfera na

qual condições de valor prejudiciais possam ser postas de lado, permitindo, portanto,

que as forças saudáveis de uma pessoa retomem sua dominância original. Uma

pessoa recupera a saúde reivindicando suas partes reprimidas ou negadas.

2.6 Desenvolvimento Psicológico e Personalidade

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 28

Page 29: Apostila noções de psicologia

O estudo sistemático da personalidade e do caráter (traços de personalidade

com sentido ético ou social) começou com Hipócrates, o primeiro a elaborar uma

teoria de tipos. Considerando o temperamento o aspecto mais importante da

personalidade, ele agrupou os homens em quatro tipos: coléricos, sanguíneos,

fleumáticos e melancólicos. Essa tipologia foi adotada por Pavlov, com a diferença

de atribuir ao constituinte nervoso (teoria fisiológica) a base para a classificação dos

tipos. Atualmente as tipologias baseadas em morfologia e temperamento têm valor

bem limitado.

Hoje temos como mais aceita a definição de personalidade como um

conjunto de traços e características singulares, típicas de uma pessoa, que a

distinguem das demais. Esse conjunto abrange, necessariamente, a constituição

física, alicerçada nas disposições hereditárias, os modos de interação do indivíduo

com o mundo; seus hábitos, valores e capacidades; suas aspirações; seus modos

experimentar afetos e de se comportar em sociedade e maneira peculiar de lidar

com o mundo, incluindo as defesas para se proteger das pressões e ajustamento ao

contexto social, constituindo um estilo de vida próprio.

Assim sendo, a personalidade diz respeito à totalidade daquilo que somos,

não apenas hoje, mas do que fomos e do que aspiramos ser no futuro. Implica,

também, que esse modo de ser só pode ser entendido dentro de um contexto sócio-

histórico, geográfico e cultural.

Em que se alicerça essa totalidade dinâmica que é a personalidade, e como

se processa a sua formação? Uma das principais controvérsias da psicologia diz

respeito aos considerados dois grandes fatores na formação da personalidade:

hereditariedade x meio. Estudos feitos com gêmeos univitelinos em casos de

psicoses (Breuler) e práticas criminosas (Lange) e os estudos de Galton sobre

genialidade com militares e artistas, a partir de árvores genealógicas, reforçaram a

concepção de que a hereditariedade tem peso decisivo na formação da

personalidade. Casos como o de Vítor, o selvagem de Aveyron (século XVIII) e de

Amala e Kamala, de 2 e 7 anos, chamadas “meninas-lobo”, que viviam numa

caverna em companhia de lobos, quanto à aprendizagem de condutas tipicamente

humanas, serviram aos cientistas partidários da idéia de preponderância decisiva

das influências ambientais na configuração da personalidade.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 29

Page 30: Apostila noções de psicologia

Hoje já não há dúvidas de que tanto a hereditariedade quanto meio são

decisivos para a formação da personalidade, e que a sua constituição dependerá

das interações entre um e outro fator. Por exemplo, nem o meio mais favorável

poderá tornar um gênio uma pessoa cuja constituição genética tenha lhe reservado

um déficit intelectual, assim como o processo de maturação, próprio da espécie

humana, pode sofrer alterações importantes, favoráveis ou desfavoráveis ao

indivíduo, em função da influência do meio.

• A aprendizagem cognitiva social na formação da personalidade

Albert Bandura enfatizou que os seres humanos aprendem observando.

Segundo ele, a exposição a modelos adultos pode provocar uma variedade de

efeitos, inclusive a elevação do nível de raciocínio moral ou um aumento do

comportamento agressivo. Os modelos também podem influenciar o

desenvolvimento de padrões de comportamento nas crianças. Um contexto social

que transmite valores positivos para padrões elevados, leva à interiorização desses

padrões nas crianças. Ele afirma que nada que não for observado será aprendido,

enfatizando os processos de atenção, que são influenciados também pelas

características do observador, como capacidades sensoriais, nível de excitação,

motivação e reforços do passado.

Os processos motivacionais foram considerados por Bandura como fator

importante para a aprendizagem. Segundo ele, a não ser que esteja motivada, uma

pessoa não produzirá um comportamento aprendido, e essa motivação provém de

reforços externos ou baseados na observação de modelos que são recompensados.

Bandura propôs o conceito de determinismo recíproco, o qual se refere à

influência que a pessoa, o meio e o comportamento exercem uns sobre os outros,

enfatizando que o meio não é apenas causa, mas também um efeito do

comportamento.

Bandura faz uma distinção entre auto-eficiência, a crença de que se tem a

capacidade para desempenhar o comportamento, e expectativa de resultados, a

crença de que, se for bem feito, o comportamento produzirá os resultados

desejados. Um sentimento de auto-eficiência leva à persistência diante dos

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 30

Page 31: Apostila noções de psicologia

contratempos e a eficiência aumenta quando os sujeitos adquirem um domínio

progressivo da tarefa, melhorando gradualmente o seu desempenho.

Além da eficiência individual, Bandura propõe que um senso de eficiência

coletiva ocorre quando os grupos acreditam que conseguem fazer o que tem que

ser feito. O seu modelo de determinismo recíproco sugere que a eficiência pessoal e

a coletiva teria, efeitos adicionais sobre o comportamento e as situações. As forças

sociais podem incentivar ou impedir o desenvolvimento individual e podem estimular

ou desestimular as ações desejáveis.

Com base nas teorias apresentadas é possível observar que o

desenvolvimento cognitivo do indivíduo não ocorre independentemente do

desenvolvimento emocional ou social. O processo é integrado e a dinâmica de

desenvolvimento da personalidade não cessa durante toda a vida do indivíduo,

dependente, em grande parte aos processos de interação social por ele vivenciados.

2.7O Comportamento Anormal5

A diferenciação entre o que é “normal” e o que é “patológico” tem sido motivo

de controvérsia na área de saúde, particularmente com relação aos aspectos

psicológicos do indivíduo. Vários problemas são identificados quanto aos critérios

que definem anormalidade psicológica (ou inadaptação psicológica), tidos como

vagos e sem diretrizes claras para que distúrbios de comportamento sejam

avaliados.

Mesmo as classificações médicas aprovadas e utilizadas frequentemente,

mostram efeitos danosos quanto à rotulação, pois é fato que estes influenciam não

só o meio em que o indivíduo vive, mas até a maneira como os profissionais da área

vêem as pessoas. Em Psicopatologia (DALGALARRONDO, 2000), alguns critérios

foram estabelecidos para avaliar o nível de “normalidade” de uma pessoa,

exclusivamente para efeito de diagnóstico e possível tratamento. Os limites da

ciência psicopatológica, no entanto, consistem em que nunca se pode reduzir o ser

humano a conceitos psicopatológicos, pois em todo indivíduo oculta-se algo que não

5 Extraído de DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 31

Page 32: Apostila noções de psicologia

se pode conhecer, aspectos essências das dimensões existenciais, éticas e

metafísicas.

a) Normalidade como ausência de doença – seria aquele indivíduo que não é

portador de um transtorno mental definido.

b) Normalidade ideal – baseada na adaptação do indivíduo às normas morais e

políticas de determinada sociedade.

c) Normalidade estatística – o normal passa a ser aquilo que se observa com maior

freqüência, e o anormal o que se situa estatisticamente fora (ou no extremo) de

uma curva de distribuição normal.

d) Normalidade como bem-estar – normal, no caso, é definido como saudável, ou

seja, completo bem-estar físico, mental e social.

e) Normalidade funcional – o patológico é o disfuncional, ou seja, provoca

sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social.

f) Normalidade como processo – nesse caso são considerados os aspectos

dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das crises e mudanças próprias a

certos períodos etários.

g) Normalidade subjetiva – a ênfase é dada à percepção subjetiva do próprio

indivíduo em relação ao seu estado de saúde.

h) Normalidade como liberdade – a doença mental é vista como perda da liberdade

existencial, como constrangimento do ser, fechamento, fossilização das

possibilidades existenciais (orientação fenomenológica e existencial).

i) Normalidade operacional – tem finalidades pragmáticas, definindo a priori o que é

normal e o que é patológico, para trabalhar operacionalmente a partir de tais

conceitos, aceitando-se as conseqüências dessa definição prévia.

É comum rotular-se um comportamento estranho como neurótico ou psicótico,

porém estes termos são usados pelos profissionais de saúde de modo específico.

Uma pessoa é considerada com psicose ou psicótica quando seu funcionamento

mental está de tal modo prejudicado que interfere de modo considerável na sua

capacidade de enfrentar as necessidades comuns da vida. Os problemas de

comportamento geralmente manifestados podem provir de uma incapacidade para

reconhecer a realidade, alterações de humor e/ou déficits intelectuais, bem como de

situações de estresse e motivados por traumas psicológicos.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 32

Page 33: Apostila noções de psicologia

Do ponto de vista da saúde mental, alguns distúrbios psíquicos são

constantemente identificados como perturbadores do desenvolvimento individual,

muitas vezes até incapacitantes, o que não significa que a pessoa não possa

recuperar-se plenamente, particularmente nos casos dos distúrbios mais comuns,

como os citados abaixo.

A fobia, o pânico, a neurose obsessivo-compulsiva centram-se em torno da

ansiedade. A fobia é um medo excessivo ou absurdo de uma situação ou objeto

específico, controlados através de uma evitação permanente. O fóbico sabe que sua

angústia não é proporcional ao perigo, mas sente-se impotente para controlar o

sentimento. As pessoas que têm pânico ou neurose de angústia sofrem de

ataques de angústia (ou pânico), que vêm subitamente em forma de terror

inexplicável e incontrolável, geralmente acompanhados de outros graves sinais de

tensão do sistema nervoso autônomo (taquicardia, náuseas, respiração difícil etc).

As pessoas com esse tipo de problema reagem quase sempre

desproporcionalmente às menores tensões e aborrecimentos, sendo os sintomas

mais comuns a tensão muscular, problemas digestivos e cefaléia.

A pessoa com distúrbio obsessivo-compulsivo é torturada por obsessões

(pensamentos não desejados e recorrentes) e/ou compulsões (atos rituais

recorrentes e não desejados). Os pensamentos e condutas variam bastante,

podendo ser classificados de modo geral em: 1. dúvidas obsessivas – preocupação

persistente com algum ato específico (ex. trancar uma porta); 2. pensamento

obsessivo – uma cadeia infindável de pensamente, geralmente concernentes a

acontecimentos futuros (ruminações obsessivas); 3. impulsos obsessivos –

compulsão de realizar vários atos que podem variar desde os mais comuns até os

mais graves (como assassinato, p. ex.); 4. medos obsessivos – preocupação com

uma hipotética perda de controle que irá causar situações embaraçosas; 5. imagens

obsessivas – imagens persistentes sobre um acontecimentos visto ou imaginado; 6.

ceder a compulsões – efetuar atos sugeridos pelos pensamentos obsessivos; 7.

compulsões de controle – usar certos expedientes para controlar os pensamentos

indesejáveis. As obsessões e compulsões só são consideradas neuróticas quando

não servem a nenhum propósito construtivo, são extremamente cansativas e

atrapalham a vida do indivíduo, ou causam danos ao indivíduo ou a outrem.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 33

Page 34: Apostila noções de psicologia

Os distúrbios afetivos (ou distúrbios da afetividade) caracterizam-se

principalmente por tristeza excessiva ou excitação frenética. No primeiro caso está a

depressão, o mais recorrente desses distúrbios. O indivíduo deprimido vive sem

prazer, comporta-se de maneira passiva ou letárgica ou de forma inquieta e irritada,

e tende a largar ocupações rotineiras e negligenciar deveres e responsabilidade e a

abandonar o convívio social.

Crises recorrentes de depressão e mania (euforia e excitação) caracterizam

uma pessoa com distúrbio bipolar. O número de episódios depressivos e maníacos

varia, bem como a rapidez com que se alternam, tendendo a ser mais comum a

ocorrência de episódios depressivos do que maníacos. De acordo com pesquisas

recentes, a depressão envolve as cognições, porém não está claro se os

pensamentos precedem e causam o estado depressivo, havendo também estudos

sobre a contribuição dos problemas fisiológicos nos distúrbios da afetividade.

A depressão, episódios maníacos e crises de pânico são muito comuns em

quadros de drogadição, pois envolvem, além das alterações químicas, elementos da

personalidade do indivíduo, bem como predisposições decorrentes da história de

vida e da própria situação de instabilidade emocional na qual o indivíduo se situa.

3. NOÇÕES DE PSICOLOGIA SOCIAL6

A Psicologia Social é a área da Psicologia que procura estudar a interação

social. É o estudo das manifestações comportamentais suscitadas pela interação de

uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação. Os

principais conceitos são a percepção social; a comunicação; as atitudes; a mudança

de atitudes; o processo de socialização; os grupos sociais e os papéis sociais.

Percepção social – processo que vai desde a recepção do estímulo pelos órgãos

dos sentidos, até a atribuição de significado ao estímulo.

6 Extraído de BOCK, Ana. Psicologias.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 34

Page 35: Apostila noções de psicologia

Comunicação – é um processo que envolve codificação (formação de um sistema de

códigos) e decodificação (entendimento da codificação) de mensagens, constituídas

não apenas de código verbal.

Atitudes – informações com forte carga afetiva, que predispõem o indivíduo para

uma determinada ação (comportamento). Para a Psic. Social, nós desenvolvemos

atitudes (crenças, valores, opiniões) em relação aos objetos do meio social.

Mudança de atitudes – podem ocorrer a partir de novas informações, novos afetos,

novos comportamentos ou situações, pois existe uma forte tendência a manter os

componentes das atitudes em consonância.

Processo de socialização – ocorre pela formação do conjunto de nossas crenças,

valores e significações, quando o indivíduo torna-se membro de um determinado

conjunto social, aprendendo seus códigos, normas e regras de relacionamento,

apropriando-se do conjunto de conhecimentos já sistematizados e acumulados por

esse conjunto.

Grupos sociais – são pequenas organizações de indivíduos que, possuindo objetivos

comuns, desenvolvem ações na direção desses objetivos. Para garantir essa

organização, possuem normas, formas de pressão para a conformação dos

membros às normas, um funcionamento determinado com distribuição de tarefas e

funções; formas de cooperação e competição e mecanismos de coesão e

manutenção do grupo.

Papéis sociais – todas as expectativas de comportamento estabelecidas pelo

conjunto social para os ocupantes de diferentes posições sociais determinam o

chamado papel prescrito, e todos os comportamentos que manifestamos, de acordo

ou não com a prescrição social, são chamados de papel desempenhado. Os papéis

sociais são referências para a nossa percepção do outro e para o nosso próprio

comportamento, e permitem que nos adaptemos às diferentes situações sociais.

Hoje a Psicologia Social busca compreender como se dá a construção do

mundo interno do indivíduo (o psiquismo humano) a partir das relações sociais

vividas pelo homem, passando o mundo objetivo a ser visto não como fator de

influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 35

Page 36: Apostila noções de psicologia

Para a nova Psicologia Social, o homem é um ser social, que constrói a si próprio,

ao mesmo tempo que constrói, com os outros homens, a sociedade e sua história.

O comportamento deixa de ser o objeto de estudo para ser uma das

expressões do mundo psíquico e fonte importante de dados para a compreensão da

subjetividade, por ele se encontra no nível do empírico e pode ser observado. Como

conceitos básicos de análise, a nova Psicologia Social irá propor a consciência e a

identidade, que são as propriedades ou características essenciais do homem e

expressam o movimento humano.

Consciência – expressa a forma como o homem se relaciona com o mundo

objetivo. Não se limita ao saber lógico, inclui o saber das emoções e sentimentos do

homem, o saber do inconsciente, é produto das relações sociais que os homens

estabelecem. Como produto subjetivo e apropriação pelo homem do mundo objetivo,

a consciência produz-se em um processo ativo, que tem como base a atividade

sobre o mundo, a linguagem e as relações sociais.

O homem encontra um mundo de objetos e significados já construídos pelos

outros homens. Nas relações sociais, ele se apropria desse mundo cultural e

desenvolve o “sentido pessoal”, produzindo uma compreensão sobre o mundo,

sobre si mesmo e os outros, construído no processo de produção da existência, com

a matéria-prima da realidade objetiva e social, mas que é própria do indivíduo.

Estuda-se a consciência através de suas mediações, como as representações

sociais, expressões da consciência, conjunto de idéias que articula os significados

sociais, envolvendo crenças, valores e imagens que os indivíduos constroem, no

decorrer de suas vidas, a partir da vivência na sociedade.

Identidade – denominação dada às representações e sentimentos que o

indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências.

A identidade é a síntese pessoal sobre o si-mesmo, incluindo dados pessoais,

trajetória, atributos conferidos pelos outros, permitindo uma representação a respeito

de si.

A identidade psicossocial refere-se à sensação de pertencer a algo, ser

parte de algo. É composta, portanto, de múltiplas identidades, como a identidade

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 36

Page 37: Apostila noções de psicologia

sexual, a identidade étnica ou racial, a identidade religiosa, a profissional etc.

Permite que o indivíduo oriente-se em relação às outras pessoas e ao seu meio

ambiente, e é formada a partir do conjunto de identificações consciente e

inconscientes que o indivíduo faz ao longo de seu desenvolvimento.

Após a Segunda Guerra mundial, a psicologia social ganhou espaço. Kurt

Lewin fixa novos objetivos em Psicologia Social ao trabalhar com a dinâmica dos

fenômenos de grupo, apegando-se às dimensões concretas e existenciais. Para ele

os fenômenos de grupos deveriam ser trabalhados no próprio campo psicológico,

em vez de laboratório, criando o termo pesquisa-ação para esse procedimento.

4. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DO COMPORTAMENTO - DINÂMICA DE GRUPOS

De acordo com Bock (2002), a instituição é um valor ou regra social

reproduzida no cotidiano como estatuto de verdade, que serve como guia básico de

comportamento e de padrão ético para as pessoas em geral. O elemento que

completa a dinâmica de construção social da realidade é o grupo, que realiza e

promove os valores, assim como formula e reformula as regras.

O grupo se caracteriza pela reunião de um número variável de pessoas com

um determinado objetivo, compartilhado pelos seus membros, que podem

desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo. No campo teórico

pode-se definir o grupo como um todo dinâmico, o que significa que ele é mais que a

soma de seus membros, e que a mudança no estado de qualquer sub-parte modifica

o grupo como um todo.

Quando um grupo de estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar

sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo, ao que chamamos de processo

grupal. A fidelidade de seus membros, o grau de aderência às regras de

manutenção do grupo, é chamada de coesão grupal. Os motivos individuais são

importantes para a adesão ao grupo, mas as diferenças individuais serão admitidas

desde que não interfiram nos objetivos centrais do grupo ou suas características

básicas. Os objetivos do grupo irão sempre prevalecer aos motivos individuais e,

quanto mais o grupo precisar garantir sua coesão, mais ele impedirá manifestações

individuais que não estejam de acordo com seus objetivos.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 37

Page 38: Apostila noções de psicologia

A dinâmica de grupo como ciência empírica dos processos científicos

depende de observação, quantificação, mensuração e experimentação. Não apenas

os grupos constituem seu objeto de estudo, mas principalmente a dinâmica da vida

coletiva, os fenômenos e os princípios que regem seu processo de desenvolvimento.

As forças psicológicas e sociais que atuam no grupo se fazem sentir através de

coesão, coerção, pressão social, atração, rejeição, resistência à mudança,

interdependência, equilíbrio e quase-equilíbrio. Estes aspectos foram estudados pela

dinâmica de grupo na formulação de teorias.

Kurt lewin

A construção fundamental, para K. Lewin, é a chamada teoria de campo.

Campo é o espaço de vida de uma pessoa, sendo este constituído da pessoa e do

meio psicológico, como ele existe para o indivíduo. O comportamento do indivíduo

depende das mudanças que ocorrem em seu campo (espaço de vida) em

determinado momento. O espaço de vida de um grupo consiste em elementos de

um grupo e em um meio tal como existe para o grupo naquele momento. A

representação do grupo e seu ambiente como um campo social são o instrumento

básico para a análise de vida do grupo.

Um grupo sobrevive quando tem três elementos fundamentais: existência,

interdependência de seus membros e contemporaneidade (quer dizer que os

determinantes do comportamento são as propriedades do campo naquele

momento). A importância de cada grupo para o indivíduo depende da situação do

momento, o que caracteriza a atmosfera do grupo. Os objetivos do grupo não

precisam ser idênticos aos objetivos do indivíduo, mas as divergências entre o

indivíduo e o grupo não podem ultrapassar determinados limites, além dos quais um

rompimento é inevitável.

Assim como o indivíduo e seu ambiente formam um campo psicológico, o

grupo e seu ambiente formam um campo social. O conceito de campo social abarca

a dinâmica e a estrutura desse espaço. A conduta de um grupo será, então,

explicada em função das forças objetivas que decorrem da própria situação no

momento. O campo social é uma totalidade dinâmica, estruturada em função da

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 38

Page 39: Apostila noções de psicologia

posição relativa das entidades que o compõem. O comportamento social resulta da

interrelaçao de tais entidades, tais como grupos, subgrupos, membros, barreiras,

canais de comunicação etc., ou seja, da distribuição de forças em todo o campo.

Moreno

Jacob L. Moreno foi um dos iniciadores do trabalho de grupo. A estrutura

latente dos grupos, na concepção de Moreno, representa para cada membro do

grupo a forma como vivem o grupo e seus membros; a forma como vive sua própria

situação dentro do grupo; a forma como percebe os outros e a distância social que

experimenta em relação a eles; a forma como é percebido pelos outros. A

organização das relações vividas é uma expressão de afetividade de suas formas e

de colocação no grupo e das representações (percepção e conhecimento) que cada

participante tem do grupo e dos outros.

A atividade global do grupo – seus objetivos, seus programas e suas

esperanças – influi na forma com que os membros do grupo se apercebem entre si,

se aliam ou se excluem. Em relação aos horizontes reais do grupo e às

necessidade, devem estar compreendidas a confiança ou a desconfiança, a

solidariedade, a estima, a indiferença e o desprezo. Cada um pensa, sente e age em

função de múltiplos papéis, no desempenho dos quais a pessoa sente-se

congruente ou incongruente. Há momentos em que existem diversos papéis a serem

representados, que ninguém vê claramente, e papéis efetivamente representados

em relação ao grupo (pacificador, unificador, sabotador, coordenador, animador,

censor etc). Todos esses papéis são expressos mediante atitudes que se adotam

dentro do grupo, e que se desenvolvem ou se modificam, formando assim a

dinâmica do grupo, à medida que se influenciam reciprocamente.

Aprender a assumir os papéis necessários, ser capaz de mudar de papel de

acordo com a situação, é indício, segundo Moreno, de ajustamento da personalidade

social e abertura e afirmação da própria personalidade (conjunto de papéis que

podemos representar e atitude para assumir o papel adaptado à situação atual).

Moreno atribui ao psicodrama a capacidade de explorar a verdade dos seres

humanos ou a realidade das situações. O grupo psicodramático opera uma catarse

do “passado no presente” ou do “futuro no presente” pela representação dramática

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 39

Page 40: Apostila noções de psicologia

de conflitos, com intensidade emocional ao vivo. O psicodrama também é uma

experiência vivida em grupo, pelo grupo e para o grupo, onde o indivíduo

compartilha seus problemas com os outros.

Piaget

Embora não tenha trabalhado com dinâmica de grupo, Piaget forneceu

elementos valiosos ao estudar o desenvolvimento do pensamento, pondo em foco

as condições intelectuais que tornam uma criança capaz de cooperar e explicam o

efeito da cooperação na formação de sua mente. O valor e a dificuldade do

intercâmbio cultural num grupo se baseiam na colocação do indivíduo diante de

pontos de vista diferentes dos seus, sendo necessário que cada participante

compreenda o ponto de vista alheio. Quando os conceitos de cada um não são

rígidos, nem o indivíduo é dominado por seu limitado ponto de vista, é a condição

para que sua mente se adapte a uma organização grupal.

Outro tipo de comportamento que o grupo desenvolve é chamado

reciprocidade. Essa estrutura do pensamento refere-se às contribuições de ajuda

mútua, de colaboração. As condições intelectuais da cooperação foram cumpridas

num grupo quando cada integrante for capaz de compreender os pontos de vista dos

demais e de adaptar sua própria ação ou contribuição verbal à deles. O grupo só

terá condições de funcionar equilibradamente quando seus elementos tiverem

condições de pensar operativamente. O grupo favorece o desenvolvimento do

chamado pensamento operatório: a resolução de problemas por equipe, de projetos

em comum, tudo enriquecerá o repertório de atividades cooperativas e favorecerá o

desenvolvimento do pensamento operatório.

Implicitamente Piaget faz sentir a necessidade do trabalho de grupo no

desenvolvimento da inteligência, quando afirma que é choque de nosso pensamento

com o dos outros que produz a dúvida e a necessidade de provar. É a necessidade

social de compartilhar o pensamento com os outros, de comunicar o nosso e de

convencer, que está na origem de nossa necessidade de verificação. A cooperação

é o ponto de partida de uma série de atitudes importantes para a constituição e o

desenvolvimento da lógica. A cooperação é uma coordenação de pontos de vista ou

de ações que emanam de diferentes indivíduos. A afinidade (e o desenvolvimento

operatório) é interiorizada no indivíduo, tornando-o suscetível de cooperar com os

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 40

Page 41: Apostila noções de psicologia

demais; ou a cooperação exterior, depois, interioriza-se nele, obrigando-o a agrupar

suas ações em sistemas operatórios.

Bion

W. R. Bion (1952) centralizou o estudo do comportamento do grupo no fator

emocional, defendendo a existência de quatro emoções básicas no processo grupal:

combatividade, fuga, parceria e dependência. Em qualquer ponto da existência de

um grupo, dá-se a predominância de uma dessas emoções (humor de briga, humor

de parceria etc).

Para Bion, o grupo trabalha no nível da tarefa , no sentido de colaboração,

estando os elementos conscientes e em compatibilidade com do desempenho do eu

no nível consciente. Também trabalha no nível de valência, capacidade que os

indivíduos têm, reunidos em grupo, de se combinarem de modo instantâneo e

involuntário. O grupo progride no momento em que as necessidades inconscientes

convergem e se superpões às necessidades conscientes, ou quando as

necessidades inconscientes são reconhecidas ou satisfeitas, isto é, quando há um

encontro entre níveis de tarefa e níveis de valência.

Na concepção de Bion um grupo cresce seguindo 3 etapas fundamentais. 1.

dependência; 2. luta (fuga ou ataque, agressividade, afastamento); 3. pareamento

(criação de subgrupos). No primeiro momento, o líder comanda; no segundo

momento, início da maturidade, o grupo começa a romper o cordão umbilical; no

terceiro momento o grupo liga-se ao líder e o considera um dos participantes.

Pichón Rivière

Enrique Pichón Rivière e outros introduziram os chamados grupos operativos

no estudo da família, partindo da hipótese de que o grupo é um conjunto restrito de

pessoas que se propõem, de forma explícita ou implícita, a efetuar uma tarefa que

constitui sua finalidade. A unidade grupal tem muitas vezes a característica de

situação espontânea, mas os elementos desse campo grupal podem ser

organizados e a interação poderá ser regulada para maior eficácia de seu objetivo.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 41

Page 42: Apostila noções de psicologia

A técnica operativa nasce, assim, para instrumentar a ação grupal e

caracteriza-se por estar centralizada na tarefa. Sejam quais foram os objetivos

propostos aos grupos (diagnóstico institucional, aprendizagem, planificação, criação

etc), a finalidade é que seus integrantes aprendam a pensar em uma co-participação

do objeto do conhecimento, entendendo que pensamento e conhecimento não são

fatos individuais, mas produções sociais. O conjunto de integrantes do grupo aborda

as dificuldades que se apresentam em cada momento da tarefa, logrando situações

de esclarecimento e mobilizando estruturas estereotipadas.

O processo de crescimento do grupo operativo fundamenta-se na

metodologia que Pichon chama didática, estratégia destinada não só a comunicar

conhecimento (tarefa informativa), mas também desenvolver aptidões e modificar

atitudes (tarefa formativa). A interação deve ser regulada para potencializar a

unidade grupal, torná-la mais eficaz com vistas ao seu objetivo (planificação). A

técnica operativa surge, assim, para instrumentar a ação grupal. O grupo operativo é

o primeiro elemento de uma abordagem do cotidiano, no qual tendem a reproduzir-

se as relações cotidianas, os vínculos que põem em jogo modelos internos.

Processo grupal na família

Malinowski acredita que é impossível pensar em qualquer forma de

organização social quando ela é carente de estrutura familiar. Os estereótipos

familiares, como um sistema de relação, são levados às organizações sociais e

atuam em sua estruturação. Pichón Rivière diz que a família, como grupo primário,

pode ser analisada em três níveis:

Do ponto de vista psicológico – os problemas estudados seriam a conduta do

indivíduo em função de seu meio familiar; as reações de agressão e o sentimento

em relação a diferentes tipos de autoridade familiar; o impacto que significa o

ingresso de novos membros na família, suas crenças e atitudes como resultado da

educação e de experiências familiares. Os problemas deste tipo devem ser

investigados por meio do estudo do campo psicológico do indivíduo, esclarecendo

as noções e as idéias sobre sua família em conjunto e sobre cada membro em

particular (grupo interno).

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 42

Page 43: Apostila noções de psicologia

Do ponto de vista da dinâmica de grupo ou sociodinâmico – investigam-se os

problemas concernentes a determinadas famílias, segundo determinadas

circunstâncias (perigos externos): morte, admissão de novos membros, partida de

membros para lugares distantes, relações de autoridade, prestígio etc. É importante

medir os índices de rigidez ou de maleabilidade do grupo familiar.

Do ponto de vista institucional – são problemas típicos os de estrutura da

família em diversas classes sociais (meio urbano, rural, classes abastadas,

favelados) e os de transformações da estrutura familiar devido a crises econômicas,

guerras, mudanças de costumes.

Assim, na análise pluridimensional da família como grupo, temos os níveis

psicológico (grupo interno – conduta, reações de agressão e simpatia, autoridade,

crenças e experiências familiares); sociodinâmico (grupo externo – perigos

exteriores que ameaçam a segurança da família) e institucional (a estrutura da

família em função do meio e de crises).

Pichón Rivière acredita que a enfermidade mental não é uma enfermidade do

indivíduo, e sim decorrência da unidade básica da estrutura social: o grupo familiar.

O enfermo desempenha o papel (role) de porta-voz, emergente dessa situação total.

O grupo família é o núcleo e o ponto de partida da interiorização do conceito grupal,

e as distorções no sistema “família” interferem nas demais atividades grupais das

quais o indivíduo participa. O grupo “doente” interioriza sistemas distorcidos de

comportamento, principalmente naquele indivíduo que se torna o elemento

emergente dessa “situação patológica”.

A teoria freudiana centraliza a atenção no papel da família no modelamento

da personalidade e da saúde mental da criança, mas dá prioridade aos instintos

inatos. Enfatiza o núcleo biológico do homem e diminui o papel da sociedade.

Detém-se muito na estruturação permanente da personalidade nos primeiros anos

de vida e reduz a importância dos níveis posteriores de participação social. Freud

concebia a família como o grupo disciplinador dos instintos biológicamente fixos da

criança, que forçava a repressão de sua descarga espontânea.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 43

Page 44: Apostila noções de psicologia

5. NOÇÕES DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

A Psicologia Comunitária é um saber em construção, pragmático, derivado da

Psicologia Social, bastante novo e amplo, por isso mesmo de difícil conceituação.

Escovar (1979) e Montero (1984) apontam que o nome Psicologia Comunitária

surgiu em 1965 nos Estados Unidos, com a proposta de formar uma disciplina que

se dedicasse a trabalhar com a saúde mental das populações excluídas.

Uma das primeiras definições da Psicologia Comunitária amplamente

divulgada foi a de Montero (1982, p. 16), afirmando que esta disciplina constitui a

"área da psicologia cujo objeto é o estudo dos fatores psicossociais que permitem

desenvolver, fomentar e manter o controle e poder que os indivíduos podem exercer

sobre seu ambiente individual e social, para solucionar problemas que os afetam e

lograr mudanças nestes ambientes e na estrutura social". Seus princípios básicos

são os de: 1) união entre teoria e prática; 2) transformação social como meta; 3)

poder e controle dentro da comunidade; 4) conscientização e socialização; 5)

autogestão e participação.

De acordo com a autora, no espaço do coletivo, que deve trabalhar-se junto

com o individual, o psicólogo trabalha como agente de mudança com um grupo,

induzindo a tomada de consciência, a identificação de problemas e necessidades, a

eleição de vias de ação, a tomada de decisões e, com isto, a mudança na relação

entre indivíduo e seu ambiente, que é transformado (Montero, 1984).

Alguns fundamentos podem ser identificados, assim, no conceito de

Psicologia Comunitária: a) visão pragmática da psicologia, isto é, uma preocupação

com a aplicação prática da psicologia a situações sociais concretas; b) ênfase

psicológica na melhoria da qualidade de vida das comunidades como objeto do

saber psicológico; c) foco nas questões interpessoais, da comunidade, em lugar da

preocupação com o indivíduo e as questões intrapsíquicas.

Outro conceito importante e necessário à compreensão da Psicologia

Comunitária é o conceito de comunidade, seu objeto material e campo de atuação.

O termo Comunidade, utilizado hoje em dia na Psicologia Social, é bastante amplo,

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 44

Page 45: Apostila noções de psicologia

incluindo desde um pequeno grupo social, um bairro, uma vila, uma escola, um

hospital, um sindicato, uma associação de moradores, uma organização não-

governamental, até uma cidade inteira.

As definições consideradas apontam para a comunidade como sendo um

grupo social com certo grau de organização, que compartilha o mesmo espaço físico

e psicológico, e alguns objetivos comuns derivados de crenças, valores e atitudes

compartilhados e mantém um sistema de interação duradouro no tempo e no

espaço. Neste sentido, a comunidade é o espaço privilegiado da práxis da psicologia

social e será considerada como o lugar de construção do saber psicológico

comunitário e da operacionalização de técnicas psicológicas eficazes na construção

ou reconstrução desse saber.

Na América Latina e no Brasil, a Psicologia Comunitária seguiu três grandes

modelos teóricos: o modelo norte-americano de movimento em prol da saúde

mental, de inspiração multidisciplinar, seguindo, contudo, o modelo adaptativo da

psicologia; o modelo cognitivista, voltado para a psicologia do desenvolvimento

social, também adaptativo; e a ação comunitária, que utiliza o método derivado do

materialismo histórico, voltada para uma psicologia de transformação social.

Do ponto de vista das teorias e das práticas empreendidas em nome da

Psicologia Comunitária, algumas críticas são consideradas importantes para se

compreender melhor este saber psicológico em construção no Brasil:

a) Comunitarismo - é a preocupação exacerbada desta Psicologia com os

problemas comunitários, em detrimento da consideração pelos problemas de

natureza teórica e metodológica suscitada por esta abordagem.

b) Academicismo - preocupação voltada apenas para os problemas acadêmicos,

desconsiderando o desenvolvimento de teorias e técnicas cientificamente

relevantes e a importância social destes achados.

c) Idealismo - resultado da visão de alguns psicólogos comunitários que reduzem

os problemas sociais a fatores políticos, sem considerar a necessidade do

conjunto da sociedade e, às vezes, as necessidades de mudança da própria

psicologia.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 45

Page 46: Apostila noções de psicologia

d) d) Assistencialismo - identificação da Psicologia com obras caritativas e

assistências, que servem apenas para alimentar a dependência da comunidade.

Os psicólogos comunitários, no entanto, têm trabalhado no sentido de

produzir teorias e técnicas capazes de superar os impasses e criar formas mais

validadas cientifica e eticamente de lidar com os problemas da comunidade no

campo da saúde mental, do desenvolvimento comunitário e da própria organização

comunitária, no âmbito do saber psicológico.

6. DROGAS X INTEGRIDADE PSICOSSOCIAL: NOCIVIDADE DAS DROGAS EM NÍVEL INDIVIDUAL E SOCIAL

Como uma ciência que procura conhecer o homem em sua amplitude

máxima, é do interesse da psicologia estudar os múltiplos fatores que envolvem o

fenômeno da drogadicção, assim como as suas conseqüências individual e

coletivamente, com o intuito de contribuir na busca de soluções para esta

problemática que tanto compromete o equilíbrio psíquico do indivíduo e do corpo

social. Sabe-se que o problema da drogadição é amplo e não se restringe a uma

causa ou motivação, revelando, segundo estudiosos da questão, a existência de

fatores de risco e fatores de proteção ao uso indevido de drogas.

Esses analistas entendem que as propostas preventivas devem ser

destinadas não apenas a prevenir o uso indevido de drogas, mas a resgatar toda

uma dimensão humana desrespeitada. É uma tarefa difícil e complexa, pois envolve

o ato de restabelecer sentidos para a vida social, devolvendo valores e normas

éticas baseadas no respeito à pessoa e às suas diferenças, bem como ao ambiente

e às tradições culturais, religiosas e históricas.

Como fatores de risco entende-se aqueles que ocorrem antes do uso

indevido de drogas e que estão associados, estatisticamente, a um aumento da

probabilidade do abuso de drogas. São aqueles que poderão levar o indivíduo a

colocar-se diante de agressões. Este enfoque procura prevenir o uso indevido de

drogas, eliminando, reduzindo ou mitigando estes fatores.

Como alguns exemplos de fatores de risco estão:

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 46

Page 47: Apostila noções de psicologia

• Fatores legais: a falta de cumprimento de pressupostos legais, como por

exemplo, os que proíbem a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18

anos, ou a inexistência de legislação pertinente e atualizada, favorecem o

abuso de drogas, tornando-se um fator de risco.

• Disponibilidade da droga: dependendo das leis e normas da sociedade,

sejam as drogas legais ou não, o seu uso pode estar associado à facilidade

de acesso ao produto.

• Fatores econômicos (pobreza ou alto poder aquisitivo): estão relacionados

ao aumento da delinqüência pelos jovens bem como ao uso de drogas.

• Fatores comunitários: constantes mudanças de residência, perda dos laços

com a vizinhança, violência urbana, desorganizam a vida social do indivíduo.

• Fatores familiares: a família pode ser uma das variáveis para o primeiro

contato com as drogas, já que os hábitos e os conflitos que o jovem percebe a

sua volta contribui para uma introdução à costumes e práticas sociais. Os pais

que tem por hábito o uso de drogas podem representar um comportamento

tolerante ou indutor do uso de drogas. A perda dos vínculos familiares e do

vínculo maternal podem, também, estar relacionados ao uso de drogas.

• Problemas de comportamento precoces e persistentes: distúrbios de

conduta que se iniciam muito cedo e continuam durante a vida, podem

favorecer o uso de drogas.

• Problemas escolares: repetências, faltas, pouco compromisso com as

atividades escolares.

• Pressão de grupos: através do estímulo dos grupos de iguais ou, em alguns

casos, conduzido por um colega que já fez uso de drogas. A droga passa a

ser um elemento socializador compartido, possibilitando a cumplicidade e um

processo interativo com os amigos.

Os fatores protetores são aqueles que protegem o indivíduo de fatos que

poderão agredí-lo física, psíquica ou socialmente, garantindo um desenvolvimento

saudável. Estes fatores reduzem, abrandam ou eliminam as exposições aos fatores

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Page 48: Apostila noções de psicologia

de risco, seja reduzindo a vulnerabilidade ou aumentando a resistência das pessoas

aos riscos. Podem ser:

• Dinâmica familiar estruturada;

• Diversificação das opções de vida;

• Rigor com a ética;

• Respeito aos direitos humanos possibilitando o exercício pleno da cidadania;

• Oferecimento de condições dignas de saúde, educação, trabalho, alimentação,

entre tantas outras.

O reconhecimento dos fatores de risco e o conhecimento precoce de

problemas de dependência reforçam a cadeia de intervenções, podendo-se evitar

seu agravamento. Para a implementação dos fatores protetores é necessário o

desenvolvimento de um processo participativo que identifique e multiplique as ações

protetoras, potencializando os efeitos uns dos outros. Dentro desta concepção, não

é mais possível, por exemplo, isolar a prevenção do uso indevido de drogas da

prevenção da AIDS ou da prevenção de outros agressores à saúde.

O crescente papel do uso de drogas injetáveis na transmissão do HIV tem

despertado considerável preocupação em todo o mundo. As drogas injetáveis

trazem em si considerável risco de infecções, como por exemplo a hepatite B,

hepatite C e HIV. Já se estimou que existem cerca de 5 milhões de pessoas no

mundo que se injetam drogas ilícitas. A prevalência de infecção por HIV entre os que

usam drogas injetáveis é de 20 a 80% em muitas cidades.

É fato que, além de interferências de ordem fisiológica, as influências do uso

de drogas no âmbito emocional também são múltiplas. Pessoas que usam cocaína

tendem a ser mais desajustadas emocionalmente, mais irritadiças, agitadas ou

deprimidas.

Além disso, complicações econômicas advindas da drogadicção também

podem desestruturar o ambiente familiar, sendo prejudicial para o equilíbrio familiar

e mesmo o desenvolvimento biológico de bebês, do caso de mães usuárias. No que

diz respeito às implicações do consumo de opiáceos (como morfina e heroína) por

mulheres grávidas, os bebês podem nascer prematuramente, podem nascer

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 48

Page 49: Apostila noções de psicologia

viciados nas mesmas drogas e permanecer sob efeito do vício até por volta dos seis

anos de idade.

Os neonatos costumam ser inquietos e irritadiços e às vezes têm tremores,

convulsões, febre, vômito e dificuldade para respirar. Com o decorrer do

desenvolvimento a criança tende a ser mais desajustada, ter problemas de

aprendizagem, ser ansiosa em situação social e ter dificuldade para fazer amigos. A

cocaína usada pela mulher grávida pode causar aborto espontâneo, nascimento

prematuro, bebê com baixo peso corporal e problemas neurológicos. O uso de

cocaína por parte do pai também pode causar defeitos congênitos nos filhos.

• Uso de drogas e transtorno mental (noções)7

De acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde, em torno de 70%

dos cocainômanos sofrem algum transtorno mental.

Entre esses transtornos emocionais que existem concomitante à drogadicção

por cocaína, estão os transtornos afetivos, tanto cíclicos como unipolares; as

depressões e os quadros maníaco-depressivos; os transtornos do controle dos

impulsos; os quadros de angústia; os transtornos de personalidade e a própria

psicose cocaínica.

As áreas cerebrais onde esta droga atua provocando disfunções são as

mesmas dos casos de crises de angústia, crises compulsivas ou da psicose

paranóide. Para o psiquiatra espanhol Luis Caballero, existe um ponto de encontro

entre as áreas cerebrais sobre as quais atua a cocaína e as zonas cuja disfunção

origina sintomas que levam o paciente a consultar o psiquiatra.

Estudos recentes identificaram que, quando a cocaína entra no cérebro, ela

causa uma grande descarga de dopamina das células cerebrais. Este grande fluxo

de dopamina das células estimula as células mais próximas, causando uma euforia

poderosa. Normalmente quando a dopamina é lançada das células cerebrais, ela

volta às mesmas. Ao invés disso, as moléculas de cocaína bloqueiam os portões por

onde a dopamina entraria de novo nas células. A dopamina permanece entre as

7 Extraído de Relatório Sobre a Saúde no Mundo, 2001 - Organização Panamericana da Saúde - Organização Mundial de Saúde – ONU.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 49

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células e continuam a estimulá-las. As moléculas de cocaína podem continuar a

bloquear os portões das células cerebrais por 72 horas. Depois de algum tempo,

uma parte da dopamina é perdida. Como resultado, os níveis de dopamina caem e a

pessoa “entra em parafuso”, tornando-se severamente deprimida.

A cocaína pode causar também mudanças nos hormônios sexuais. Em alguns

usuários, desejo pelo sexo e a capacidade de desempenho são reduzidos e pode

demorar semanas para voltar ao normal depois do fim do uso da cocaína.

Sensações de paranóia (ser desconfiado e suspeitoso sem razão) pode acompanhar

o uso da cocaína, sobretudo quando a droga é fumada como baseado ou crack. Os

usuários de cocaína podem ranger os dentes, ser super ativos e prolixos ou mesmo

apresentar gagueira. A característica principal dos usuários de cocaína é sua

mudança súbita de personalidade.

Acreditava-se antes que a cocaína era apenas psicologicamente adictiva, mas

com os conhecimentos avançados da adicção agora se sabe que é ela é fisicamente

adictivo, pois causa mudanças químicas no cérebro. É isso que torna o indivíduo

fisicamente adictivo e leva à síndrome de abstinência quando o usuário pára de

tomá-la. Algumas das mudanças químicas podem demorar um ano para corrigir

depois que o uso da cocaína termina.

O profissional que lida com o tratamento de toxicômanos enfrenta importantes

problemas, tendo em vista que a farmacologia para tratamento da adicção à cocaína

é muito reduzida. A adição à cocaína tem sido mais difícil ainda, considerando-se

não existirem substâncias agonistas e antagonistas efetivos para esta droga. Será

necessário um maior conhecimento da psicopatologia e a psicofarmacologia, que já

tem conseguido medicamentos eficazes na heroínomania e o alcoolismo.

A questão da dependência, porém, ultrapassa a carência de uma droga

agonista ou antagonista. De acordo com Caballero, a cocainomania é uma adicção

com algumas peculiaridades que a diferenciam da adicção, por exemplo dos

opiáceos e do álcool, pois se trata de um consumo mais intermitente mas, não

obstante, mais adictivo e fora de controle, o qual leva a pessoa a muitas

complicações clínicas.

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 50

Page 51: Apostila noções de psicologia

Na cocaína, os critérios de dependência são os mesmos que nos outros

transtornos similares, mas o que caracteriza o cocainômano é a sensação subjetiva

de perda de controle e a impossibilidade de parar de consumir a droga, apesar dos

esforços para evitá-lo. As alterações cerebrais ocasionados pela adicção de cocaína

interessam à psiquiatria e psiconeurologia devido às recentes constatações da

atuação da droga em neuroreceptores e em determinadas áreas que estão

igualmente implicadas nos sintomas de outras enfermidades mentais.

Essas estimativas da carga de doenças e seu custo não levam em conta

diversos efeitos sociais negativos que são causados pelo uso de drogas. O uso de

fumo e álcool começa tipicamente durante a juventude e atua como facilitador do

uso de outras drogas. Assim, o fumo e o álcool contribuem indiretamente para uma

grande proporção da carga de outras drogas e para as doenças delas

conseqüentes.

Pergunta-se muitas vezes se os transtornos devidos ao uso de substâncias

são realmente transtornos ou se devem ser considerados, antes, como

comportamento desviante em pessoas que se entregam propositadamente a uma

atividade que lhes causa danos. Embora a decisão de experimentar substâncias

psicoativas geralmente tenha caráter pessoal, formar dependência após o uso

repetido vem a ser, não uma decisão consciente e informada pela pessoa, nem o

resultado de uma fraqueza moral, mas, antes, o produto de uma complexa

combinação de fatores genéticos, fisiológicos e ambientais.

É muito difícil determinar, com precisão, quando uma pessoa se torna

dependente de uma substância (seja qual for o seu status legal), e há indicações de

que, em vez de ser uma categoria claramente definida, a dependência se instala em

forma progressiva, dos problemas iniciais sem dependência significativa, até uma

dependência grave, com conseqüências físicas, mentais e sócio-econômicas.

Estudos experimentais realizados por psicólogos comportamentalistas

comprovam, todos os comportamentos que são reforçados por uma recompensa

tendem a ser repetidos e aprendidos. E as sucessivas repetições tendem a fixar não

só o comportamento que conduz à recompensa, mas, também, estímulos,

sensações e situações indiferentes eventualmente associados a esse

comportamento. Os usuários de drogas referem, por exemplo, que o ver certos

NOÇÕES DE PSICOLOGIA – Curso Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos 51

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lugares ou pessoas, o ouvir certas músicas, etc., desencadeando-lhes a vontade de

usar sua droga preferencial.

Por outro lado, nos alcoolistas e outros dependentes em recuperação que

continuam usando algum tipo de droga adictiva, mesmo em pequena proporção, o

nível de químicos nas células de seus cérebros não voltará totalmente ao normal já

que ainda estão usando um estimulante que altera o humor. Por estarem livres do

álcool e outras drogas pesadas, seus corpos e cérebros entrarão em um “balanço”

diferente do que quando estavam usando aqueles tipos de drogas. Contudo, este

balanço não estará num nível totalmente livre de drogas. Em outras palavras, seus

cérebros e corpos continuam adictos.

Os indícios clínicos e os estudos científicos sobre a adicção parecem mostrar

que a dependência de substâncias deve ser encarada, ao mesmo tempo, como

doença médica crônica, como um distúrbio mental complexo, com possível base no

funcionamento cerebral, e, por outro lado, como um problema social de grande

complexidade, a ser trabalhado de forma abrangente e em vários níveis pessoais e

sociais.

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