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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002511-70.2013.4.03.6183/SP 2013.61.83.002511- 6/SP RELATOR : Desembargador Federal WALTER DO AMARAL APELANTE : MARIA CLARA DE FREITAS BERTOLINI ADVOGADO : SP160397 JOAO ALEXANDRE ABREU e outro APELADO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ADVOGADO : SP183111 IZABELLA LOPES PEREIRA GOMES COCCARO e outro : SP000030 HERMES ARRAIS ALENCAR No. ORIG. : 00025117020134036183 4V Vr SAO PAULO/SP RELATÓRIO O Exmo. Des. Fed. Walter do Amaral (Relator): Trata-se de ação ajuizada em face do INSS, visando à renúncia da aposentadoria concedida pelo Regime Geral de Previdência Social, para fins de obtenção de outra mais vantajosa, no mesmo regime previdenciário, com o cômputo das contribuições que a parte autora continuou a verter após se aposentar, sem que tenha que devolver os proventos já recebidos a título da aposentadoria. A r. sentença julgou improcedente o pedido, sob o fundamento de que a pretensão da parte autora não encontra amparo na legislação vigente. Inconformada, apela a parte autora argumentando que possui direito à renúncia da aposentadoria anteriormente concedida para fins de obtenção de outra mais vantajosa, ainda que no mesmo regime previdenciário, sem necessidade de devolução dos proventos recebidos a título da aposentadoria a que pretende renunciar. Decorrido o prazo para resposta, subiram os autos a esta E. Corte Regional. É o relatório. VOTO O Exmo. Des. Fed. Walter do Amaral (Relator): Conforme se depreende da inicial, pretende a parte autora que lhe seja garantido o direito à renúncia da aposentadoria anteriormente concedida, com a imediata implantação de novo jubilamento, devendo o INSS garantir que o tempo e as

Acórdão recente julgado favorável para desaposentação

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002511-70.2013.4.03.6183/SP2013.61.83.002511-6/SP

RELATOR : Desembargador Federal WALTER DO AMARALAPELANTE : MARIA CLARA DE FREITAS BERTOLINIADVOGADO : SP160397 JOAO ALEXANDRE ABREU e outroAPELADO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

ADVOGADO : SP183111 IZABELLA LOPES PEREIRA GOMES COCCARO eoutro

: SP000030 HERMES ARRAIS ALENCARNo. ORIG. : 00025117020134036183 4V Vr SAO PAULO/SP

RELATÓRIO

O Exmo. Des. Fed. Walter do Amaral (Relator): Trata-se de ação ajuizada em face do INSS,visando à renúncia da aposentadoria concedida pelo Regime Geral de Previdência Social, para finsde obtenção de outra mais vantajosa, no mesmo regime previdenciário, com o cômputo dascontribuições que a parte autora continuou a verter após se aposentar, sem que tenha que devolveros proventos já recebidos a título da aposentadoria.

A r. sentença julgou improcedente o pedido, sob o fundamento de que a pretensão da parte autoranão encontra amparo na legislação vigente.

Inconformada, apela a parte autora argumentando que possui direito à renúncia da aposentadoriaanteriormente concedida para fins de obtenção de outra mais vantajosa, ainda que no mesmo regimeprevidenciário, sem necessidade de devolução dos proventos recebidos a título da aposentadoria aque pretende renunciar.

Decorrido o prazo para resposta, subiram os autos a esta E. Corte Regional.

É o relatório.

VOTO

O Exmo. Des. Fed. Walter do Amaral (Relator): Conforme se depreende da inicial, pretende aparte autora que lhe seja garantido o direito à renúncia da aposentadoria anteriormente concedida,com a imediata implantação de novo jubilamento, devendo o INSS garantir que o tempo e as

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contribuições posteriores à concessão da primeira tenham repercussão no novo benefícioprevidenciário.

Inicialmente, segundo entendimento pacificado em nossos Tribunais, fundado na ausência devedação no ordenamento jurídico brasileiro, ao segurado é conferida a possibilidade de renunciar àaposentadoria recebida, haja vista tratar-se de um direito patrimonial de caráter disponível, nãopodendo a instituição previdenciária oferecer resistência a tal ato para compeli-lo a continuaraposentado, visto carecer de interesse.

Ademais, fica afastada eventual alegação de decadência do direito da parte autora, pois a(o)requerente não visa a revisão ou alteração de benefício já concedido, mas sim, o direito à renúnciade sua aposentadoria e, simultaneamente, a percepção de outra que lhe seja mais vantajosa,podendo, dessa forma, a ação ser proposta a qualquer tempo, salientando-se, todavia, que a fruiçãodos efeitos financeiros ou patrimoniais daí decorrentes restringir-se-á ao quinquênio que precede apropositura da ação.

Outrossim, os efeitos decorrentes do ato de renúncia devem operar ex nunc, ou seja, sem macular oato de concessão do benefício que se deu de forma legítima, tampouco implicar, em uma primeiraanálise, na devolução dos valores já pagos ao segurado.

Neste sentido, há de se observar o disposto nos seguintes julgados:"PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA.FALTA DE INTIMAÇÃO DA UNIÃO FEDERAL. (...) LITISCONSORTE NECESSÁRIO.PRELIMINAR DE NULIDADE DO FEITO AFASTADA. ALÍNEA C. AUSÊNCIA DO COTEJOANALÍTICO. ART. 255/RISTJ. APLICAÇÃO DA SÚMULA 182/STJ.I - A aposentadoria é direito patrimonial disponível. Portanto, passível de renúncia. Precedentes.II - Descabida a tese alusiva à nulidade do feito, tendo em vista a lide não objetivar concessão ounão de benefício previdenciário, mas, tão-somente, declarar a possibilidade de renúncia dobenefício, para eventual obtenção de certidão de tempo de serviço. Neste particular, o interesse éexclusivo da Autarquia Previdenciária.III - (omissis)"(AGREsp 497.683/PE, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU 04.08.2003)."PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.RENÚNCIA À APOSENTADORIA POSSIBILIDADE. DIREITO DISPONÍVEL.É possível a renúncia ao benefício de aposentadoria pelo segurado que pretende voltar acontribuir para a previdência social, no intuito de, futuramente, formular novo pedido deaposentadoria que lhe seja mais vantajoso (precedentes das ee. 5ª e 6ª Turmas deste c. STJ).Agravo regimental desprovido."(STJ - Quinta Turma - Relator Ministro Felix Fischer - AgRg REsp 958937/SC Processo2007/0130331-1, Julgamento 18.09.2008, Publicado em 10.11.2008).No que se refere à necessidade ou não de devolução dos valores recebidos em virtude daaposentadoria a que se pretende renunciar, cumpre apontar duas situações distintas: a primeiraquando a desaposentação visa a concessão de novo benefício em regime previdenciário distinto dogeral; e a segunda quando a renúncia tem por finalidade a concessão de outro benefício no próprioRegime Geral da Previdência Social.

Quanto à primeira situação, a jurisprudência majoritária já se posicionou no sentido de que arenúncia à aposentadoria visando o aproveitamento do respectivo tempo de serviço para fins deinatividade em outro regime previdenciário, não obriga o segurado a restituir os proventos até entãorecebidos, uma vez que a Lei nº 9.796/99, que trata da compensação financeira para fins decontagem recíproca, não estabelece a transferência dos recursos de custeio do regime de origempara o regime instituidor da aposentadoria e, portanto, o INSS não terá qualquer prejuízo com adesaposentação, pois manterá em seu poder as contribuições que foram recolhidas aos seus cofres.

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De acordo com esse entendimento, transcrevo o seguinte precedente jurisprudencial de relatoria doE. Desembargador Federal Jedial Galvão, em voto proferido no processo nº 1999.61.00.52655-9,publicado no DJU em 17-01-2007:

"PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DESAPOSENTAÇÃO. NATUREZA DO ATO.EFEITOS. DESNECESSIDADE DE RESTITUIÇÃO DOS PROVENTOS. COMPENSAÇÃOFINANCEIRA. LEI Nº 9.796/99.1. A desaposentação ou renúncia à aposentadoria não encontra vedação constitucional ou legal. Aaposentadoria é direito disponível, de nítida natureza patrimonial, sendo, portanto, passível derenúncia.2. A renúncia, na hipótese, não funciona como desconstituição da aposentadoria desde o momentoem que ela teve início; ela produz efeitos "ex nunc", ou seja, tem incidência tão-somente a partir dasua postulação, não atingindo as consequências jurídicas produzidas pela aposentadoria.3. A renúncia à aposentadoria, com o fito de aproveitamento do respectivo tempo de serviço parafins de inatividade em outro regime de previdência, não obriga o segurado, em razão dacontagem recíproca, a restituir os proventos até então recebidos. É que a Lei nº 9.796/99, quetrata da compensação financeira para fins de contagem recíproca, não estabelece a transferênciados recursos de custeio do regime de origem para o regime instituidor da aposentadoria. Acompensação financeira será feita mensalmente, na proporção do tempo de serviço pelo RegimeGeral de Previdência Social - RGPS, com base de cálculo que não ultrapassará o valor da rendamensal calculada pelo RGPS, de forma que não se pode afirmar que o INSS terá qualquerprejuízo com a desaposentação, pois manterá em seu poder as contribuições que foramrecolhidas aos seus cofres, gerando o necessário para a mensal compensação financeira, tal qualestava gerando para o pagamento de proventos da aposentadoria renunciada, podendo havervariação para mais ou para menos no desembolso, variação esta que o próprio sistema absorve.4. Ao disciplinar a compensação financeira, a Lei nº 9.796/99 está a presumir que o procedimentoadotado não importará, para o regime previdenciário de origem, ônus superior àquele que ascontribuições vertidas ao sistema poderiam realmente suportar, de forma que o segurado querenuncia aposentadoria, para obtenção de outra em melhores condições, nada tem a devolver paragarantir o equilíbrio atuarial.5. Reexame necessário e apelação do INSS improvidos."No mesmo sentido já decidiu a C. Sétima Turma, em voto de relatoria do E. DesembargadorFederal Antonio Cedenho:

"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. REMESSA OFICIAL NÃOCONHECIDA. DESAPOSENTAÇÃO. NATUREZA DO ATO. EFEITOS. DESNECESSIDADE DERESTIUIÇÃO DE VALORES. COMPENSAÇÃO FINANCEIRA. LEI Nº 9.796/99. 1. Remessa oficialnão conhecida, tendo em vista a nova redação do artigo 475, § 2º, do Código de Processo Civil,determinada pela Lei nº 10.352/01. 2. O aposentado tem direito de buscar melhores condiçõeseconômica e social.Assim, quando presente uma situação que lhe seja mais favorável não háimpedimento na lei ou na Constituição Federal, de renunciar à aposentadoria anteriormenteconcedida. 3. O direito à aposentadoria é um direito patrimonial disponível ao trabalhador,cabendo-lhe analisar sobre as vantagens ou desvantagens existentes. 4. O ato de renúncia, sendoum descontitutivo, seus efeitos operam-se ex nunc, isto é, não voltam ao passado, inclusive no quese refere ao pagamento de valores já vertidos para o regime próprio, Em, outras palavras, suaincidência é tão-somente a partir da sua postulação, não atingindo as conseqüências jurídicasconsolidadas, conseqüentemente o ato de renúncia não vicia o ato de concessão do benefício, quefoi legítimo, muito menos, afronta o princípio do ato perfeito. 5. A compensação financeira entre oRegime Geral da Previdência Social e os regime dos servidores públicos foi normatizada pela Leinº 9.796/99, no artigo 4º, inciso III, parágrafos 2º, 3º e 4º, dando mostra de que não haverádesequilíbrio atuarial, mesmo se não houver devolução dos proventos por parte daquele querenunciou a aposentadoria. 6. Remessa oficial não conhecida. Apelação não provida."(TRF - 3ª Região - Sétima Turma - AC 2000.61.83.004679-4, DJU DATA:10/04/2008 PÁGINA:369).

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Por sua vez, com relação à renúncia para ulterior jubilação no próprio Regime Geral da PrevidênciaSocial, cumpre tecer algumas considerações.

Prevê o § 4º do art. 12 da Lei nº 8.212/91, acrescentado pela Lei nº 9.032/95, que o aposentado peloRegime Geral de Previdência Social -RGPS que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividadeabrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito àscontribuições de que trata referida Lei, para fins de custeio da Seguridade Social.

Por outro lado, ao aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social-RGPS que permanecer ematividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da PrevidênciaSocial em decorrência do exercício dessa atividade exceto ao salário família e à reabilitaçãoprofissional, quando empregado, conforme o disposto no § 2º do art. 18 da Lei nº 8.213/91, comredação dada pela Lei nº 9.528/97, implicando em nítida diferenciação de tratamento, se comparadocom os trabalhadores que ainda não se aposentaram e que fazem jus à totalidade de prestaçõesprevistas nos incisos I, II e III do caput do referido art. 18 da Lei de Benefícios.

Ressalta-se que a Lei nº 8.213/91, garantia ao segurado aposentado que voltava a trabalhar o direitoà percepção do pecúlio, o qual correspondia à soma das contribuições pagas ou descontadas dotrabalhador aposentado, durante o novo período de trabalho, acrescida dos consectários legais (art.81, inc. II).

Todavia, com a supressão do pecúlio do ordenamento jurídico pelas Leis ns. 8.870/94 e 9.032/95, asúnicas contraprestações previstas em nosso sistema previdenciário, pelas contribuições pagas pelotrabalhador aposentado, ficaram restritas ao salário família e à reabilitação profissional.

Sendo assim, uma vez retirado do trabalhador aposentado o direito ao pecúlio, bem como afastada agarantia aos mesmos direitos conferidos aos trabalhadores ainda não aposentados, entendo que nãohá que se falar em devolução dos proventos recebidos, pois, enquanto perdurou a aposentadoriarenunciada, os pagamentos efetuados pelo Instituto Previdenciário, de caráter nitidamentealimentar, eram indiscutivelmente devidos, já que advindos de um benefício implantado de formalegítima.

Dessa forma, a renúncia à aposentadoria, para fins de concessão de novo benefício, seja no mesmoregime ou em regime diverso, não implica em devolução dos valores percebidos, pois, enquantoesteve aposentado, o segurado fez jus aos seus proventos.

Nesse sentido, merecem destaque os seguintes julgados do C. Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. RECURSOCONTRÁRIO À JURISPRUDÊNCIA DO STJ. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELORELATOR EX VI DO ARTIGO 557, CAPUT, CPC. PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA ÀAPOSENTADORIA. DEVOLUÇÃO DE VALORES. DESNECESSIDADE. DECISÃO MANTIDA.1. A teor do disposto no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, com a redação dada pelaLei nº 9.756/1998, poderá o relator, monocraticamente, negar seguimento ao recurso na hipóteseem que este for manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário àjurisprudência dominante no respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de TribunalSuperior.2. No caso concreto, o provimento atacado foi proferido em sintonia com o entendimento de ambasas Turmas componentes da Terceira Seção, segundo o qual, a renúncia à aposentadoria, para finsde aproveitamento do tempo de contribuição e concessão de novo benefício, seja no mesmoregime ou em regime diverso, não importa em devolução dos valores percebidos, "pois enquantoperdurou a aposentadoria pelo regime geral, os pagamentos, de natureza alimentar, eramindiscutivelmente devidos" (REsp 692.628/DF, Sexta Turma, Relator o Ministro Nilson Naves,DJU de 5.9.2005).

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3. Agravo regimental improvido."(STJ, AgRg no REsp 926120/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJ 08-09-2008)"PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSOESPECIAL. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR COM ARRIMO NO ART. 557 DO CPC.MATÉRIA NOVA. DISCUSSÃO. NÃO-CABIMENTO. PRECLUSÃO. RENÚNCIA ÀAPOSENTADORIA. DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS. NÃO-OBRIGATORIEDADE.1. É permitido ao relator do recurso especial valer-se do art. 557 do Código de Processo Civil,quando o entendimento adotado na decisão monocrática encontra-se em consonância com ajurisprudência dominante desta Corte Superior de Justiça.2. Fica superada eventual ofensa ao art. 557 do Código de Processo Civil pelo julgamentocolegiado do agravo regimental interposto contra a decisão singular do Relator. Precedentes.3. Em sede de regimental, não é possível inovar na argumentação, no sentido de trazer à tonaquestões que sequer foram objeto das razões do recurso especial, em face da ocorrência dapreclusão.4. A renúncia à aposentadoria, para fins de concessão de novo benefício, seja no mesmo regimeou em regime diverso, não implica em devolução dos valores percebidos, pois, enquanto esteveaposentado, o segurado fez jus aos seus proventos. Precedentes.5. Agravo regimental desprovido."(STJ, AgRg no REsp 1107638/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ 25-05-2009)"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA.DIREITO DE RENÚNCIA. CABIMENTO. POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE CERTIDÃO DETEMPO DE CONTRIBUIÇÃO PARA NOVA APOSENTADORIA. DEVOLUÇÃO DE VALORESRECEBIDO NA VIGÊNCIA DO BENEFÍCIO ANTERIOR. EFEITOS EX NUNC.DESNECESSIDADE1. O entendimento desta Corte Superior de Justiça é no sentido de se admitir a renúncia àaposentadoria objetivando o aproveitamento do tempo de contribuição e posterior concessão denovo benefício, independentemente do regime previdenciário que se encontra o segurado.2. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que o ato de renunciar ao benefício tem efeitos exnunc e não envolve a obrigação de devolução das parcelas recebidas, pois, enquanto aposentado,o segurado fez jus aos proventos.3. Agravo regimental a que se nega provimento."(STJ, AgRg no REsp 1247651/SC, Rel. Min. Haroldo Rodriguez -Desembargador Convocado doTJ/CE, DJ 10-08-2011)Com relação à aplicabilidade do fator previdenciário no cálculo do novo benefício, observo que oSupremo Tribunal Federal ao julgar a Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº.2.111-DF, cuja relatoria coube ao Ministro Sydney Sanches, por maioria, indeferiu a liminar, pornão ter sido vislumbrada a alegada violação ao artigo 201, § 7º, da Constituição Federal.

Dessa forma, a Excelsa Corte sinalizou pela constitucionalidade do artigo 2º da Lei nº 9.876/99, quealterou o artigo 29 e seus parágrafos, conforme acórdão abaixo transcrito:

"DIREITO CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. PREVIDÊNCIA SOCIAL: CÁLCULO DOBENEFÍCIO. FATOR PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DALEI Nº 9.876, DE 26.11.1999, OU, AO MENOS, DO RESPECTIVO ART. 2º (NA PARTE EM QUEALTEROU A REDAÇÃO DO ART. 29, "CAPUT", INCISOS E PARÁGRAFOS DA LEI Nº 8.213/91,BEM COMO DE SEU ART. 3º. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI,POR VIOLAÇÃO AO ART. 65, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E DEQUE SEUS ARTIGOS 2º (NA PARTE REFERIDA) E 3º IMPLICAM INCONSTITUCIONALIDADEMATERIAL, POR AFRONTA AOS ARTIGOS 5º, XXXVI, E 201, §§ 1º E 7º, DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL, E AO ART. 3º DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15.12.1998. MEDIDACAUTELAR.1. Na inicial, ao sustentar a inconstitucionalidade formal da Lei nº 9.876, de 26.11.1999, porinobservância do parágrafo único do art. 65 da Constituição Federal, segundo o qual "sendo oprojeto emendado, voltará à Casa iniciadora", não chegou a autora a explicitar em que

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consistiram as alterações efetuadas pelo Senado Federal, sem retorno à Câmara dos Deputados.Deixou de cumprir, pois, o inciso I do art. 3º da Lei nº 9.868, de 10.11.1999, segundo o qual apetição inicial da A.D.I. deve indicar "os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada umadas impugnações". Enfim, não satisfeito esse requisito, no que concerne à alegação deinconstitucionalidade formal de toda a Lei nº 9.868, de 10.11.1999, a Ação Direta deInconstitucionalidade não é conhecida, nesse ponto, ficando, a esse respeito, prejudicada a medidacautelar.2. Quanto à alegação de inconstitucionalidade material do art. 2º da Lei nº 9.876/99, na parte emque deu nova redação ao art. 29, "caput", incisos e parágrafos, da Lei nº 8.213/91, a um primeiroexame, parecem corretas as objeções da Presidência da República e do Congresso Nacional. É queo art. 201, §§ 1º e 7º, da C.F., com a redação dada pela E.C. nº 20, de 15.12.1998, cuidaramapenas, no que aqui interessa, dos requisitos para a obtenção do benefício da aposentadoria. Noque tange ao montante do benefício, ou seja, quanto aos proventos da aposentadoria, propriamenteditos, a Constituição Federal de 5.10.1988, em seu texto originário, dele cuidava no art. 202. Otexto atual da Constituição, porém, com o advento da E.C. nº 20/98, já não trata dessa matéria,que, assim, fica remetida "aos termos da lei", a que se referem o "caput" e o § 7º do novo art. 201.Ora, se a Constituição, em seu texto em vigor, já não trata do cálculo do montante do benefício daaposentadoria, ou melhor, dos respectivos proventos, não pode ter sido violada pelo art. 2º da Leinº 9.876, de 26.11.1999, que, dando nova redação ao art. 29 da Lei nº 8.213/91, cuidou exatamentedisso. E em cumprimento, aliás, ao "caput" e ao parágrafo 7º do novo art. 201.3. Aliás, com essa nova redação, não deixaram de ser adotados, na Lei, critérios destinados apreservar o equilíbrio financeiro e atuarial, como determinado no "caput" do novo art. 201. Oequilíbrio financeiro é o previsto no orçamento geral da União. E o equilíbrio atuarial foi buscado,pela Lei, com critérios relacionados com a expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria,com o tempo de contribuição e com a idade, até esse momento, e, ainda, com a alíquota decontribuição correspondente a 0,31.4. Fica, pois, indeferida a medida cautelar de suspensão do art. 2º da Lei nº 9.876/99, na parte emque deu nova redação ao art. 29, "caput", incisos e parágrafos, da Lei nº 8.213/91.5. Também não parece caracterizada violação do inciso XXXVI do art. 5º da C.F., pelo art. 3º daLei impugnada. É que se trata, aí, de norma de transição, para os que, filiados à PrevidênciaSocial até o dia anterior ao da publicação da Lei, só depois vieram ou vierem a cumprir ascondições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social.6. Enfim, a Ação Direta de Inconstitucionalidade não é conhecida, no ponto em que impugna toda aLei nº 9.876/99, ao argumento de inconstitucionalidade formal (art. 65, parágrafo único, daConstituição Federal). É conhecida, porém, quanto à impugnação dos artigos 2º (na parte em quedeu nova redação ao art. 29, seus incisos e parágrafos da Lei nº 8.213/91) e 3º daquele diploma.Mas, nessa parte, resta indeferida a medida cautelar.(STF; ADI-MC 2111/DF; publicado em 05.12.2003, pág. 017)

Assim, não deve prosperar eventual pedido de afastamento do fator previdenciário no cálculo donovo benefício, em face da ausência de qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade nos critériosadotados pelo INSS, o qual deve dar cumprimento ao estabelecido na legislação vigente ao tempoda concessão da aposentadoria pleiteada.

O novo benefício deve ser implantado com o cálculo da RMI na data do último salário-de-contribuição que antecede a propositura da presente ação, com efeitos financeiros a contar dacitação, quando o INSS tomou ciência da pretensão da parte autora.

Por fim, em matéria previdenciária, a antecipação da tutela ocorre somente em situaçõesespecialíssimas, onde a necessidade de preservação da vida e da dignidade da pessoa humanajustificam a concessão, não sendo este o caso dos autos, tendo em vista que não há risco de danoirreparável considerando que a parte autora já percebe benefício previdenciário.

Isto posto, dou provimento à apelação da parte autora para reconhecer seu direito à renúncia da

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D.E.

Publicado em 12/12/2013

aposentadoria anteriormente concedida, com a implantação de novo jubilamento a ser calculadopelo INSS, com efeitos financeiros a contar da citação, sem a necessidade da restituição de valoresjá recebidos, devendo a incidência de correção monetária e juros de mora sobre os valores em atrasoseguir o disposto no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal,aprovado pela Resolução n. 134/2010, do Conselho da Justiça Federal, observada a aplicaçãoimediata da Lei n. 11.960/09, a partir da sua vigência, independentemente da data do ajuizamentoda ação (ERESP 1.207.197/RS; RESP 1.205.946/SP), sendo que os juros de mora são devidos apartir da citação, de forma global para as parcelas anteriores a tal ato processual e de formadecrescente para as parcelas posteriores, e incidem até a data da conta de liquidação que der origemao precatório ou à requisição de pequeno valor - RPV (STF - AI-AGR 492.779/DF), compensando-se do valor em atraso as parcelas já pagas relativas ao benefício anterior. Honorários advocatíciosfixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, excluídas as parcelas vincendas,considerando-se as prestações vencidas as compreendidas entre o termo inicial do benefício e a datada prolação do acórdão. Custas na forma da lei.

Ressalve-se que, caso o recálculo determinado pelo decisório resulte em RMI inferior à auferidapelo segurado, o INSS deverá manter a aposentadoria atual percebida pela parte autora.

É como voto.

WALTER DO AMARAL Desembargador Federal Relator

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiua Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por:Signatário (a): WALTER DO AMARAL:10054Nº de Série do Certificado: 344235EAD54DCEE2Data e Hora: 03/12/2013 16:50:29

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002511-70.2013.4.03.6183/SP2013.61.83.002511-6/SP

RELATOR : Desembargador Federal WALTER DO AMARALAPELANTE : MARIA CLARA DE FREITAS BERTOLINIADVOGADO : SP160397 JOAO ALEXANDRE ABREU e outroAPELADO : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

ADVOGADO : SP183111 IZABELLA LOPES PEREIRA GOMES COCCARO eoutro

: SP000030 HERMES ARRAIS ALENCARNo. ORIG. : 00025117020134036183 4V Vr SAO PAULO/SP

EMENTA

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA AO

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BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃOOBJETIVANDO A CONCESSÃO DE OUTRO MAIS VANTAJOSO.POSSIBILIDADE.

1. Segundo entendimento pacificado em nossos Tribunais, fundado na ausência de vedação noordenamento jurídico brasileiro, ao segurado é conferida a possibilidade de renunciar àaposentadoria recebida, haja vista tratar-se de um direito patrimonial de caráter disponível, nãopodendo a instituição previdenciária oferecer resistência a tal ato para compeli-lo a continuaraposentado, visto carecer de interesse.2. A renúncia à aposentadoria, para fins de concessão de novo benefício, seja no mesmo regime ouem regime diverso, não implica em devolução dos valores percebidos, pois, enquanto esteveaposentado, o segurado fez jus aos seus proventos.3. Apelação da parte autora provida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia DécimaTurma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar provimento à apelação daparte autora, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 03 de dezembro de 2013.WALTER DO AMARAL

Desembargador Federal Relator

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