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Em algum lugar de mim

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A toda a minha família, filhos, esposa, irmãos, aos meus amigos, sobretudo à minha Mãe, pela sua coragem de lutar e de existir como figura ímpar em nossas vidas.

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Minha história:

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Ao meu bom Deus por me permitir a realização dessa

obra.

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Duas palavras mágicas: Amor e fé

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Este magma que brota no chão do peito meu

E incrusta as pedrasQue brilham dos olhos

teus.

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Eu deixarei que vásPorque sempre tu foresE a tua saudade é minha chaga.

Eu ficarei à margemdo rio das minhas lágrimas,pranto inútil derramado por ti.

No vulcão que é meu peito,amor sufocado espera ansioso um fimpara que desapareças dos dias meus.

Na ansiedade de todas as horasimaginei-te como o quentume das minhas veiasE o clarão das minhas retinas.

Mas fostes apenas pó que o vento levouHistória que o tempo apagouE água que o rio caudaloso e triste levou.

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Salve, meu MestreBandeira, ManuelBandeira, no alto pendurada na paisagem campestreAssim bem perto do céuEntre violetas e miúdas flores silvestres.Poeta maior deste BrasilBandeira,Manuel,Atrás dos montesNuma clareira,O cheiro das tuas chagas e felEmana pedaços do teu corpo; nas fontesCaem com o perfume de uma brisa de abrilSalve BandeiraPoeta das mãos mágicasDa existência humanaDas canções para o ego e para a derradeira;Esperança do homem de amarPoeta das paixões trágicasDos amores puros e da beleza rara de se dar.Salve Manuel.Essa bandeiraEsse Manuel.

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Sinto no meu peito se abrindoUm crepúsculo de cores vivasDias puros estão por virNa amplidão dos dias amenosEncho-me coragem E vou à luta em profundidades latentesNas janelas,As mulheres castasEspiam com seus olhares abrasadoresPelas ruas,Os cães ladram nos espaços vãosO sol já se acha em entorpecido quentumeCaminho por cima de pedras, poeiraNavego depois em águas turvasMas deleito ao ventoDelícias puras E antes que venham as brumasA cismar em desejos,Eu digo adeusE sozinho vou levando essa minha insana alegria

1981

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Passarim veio contarQue do outro ladoDo brejo do fundão

Meu amor chamou pra história eu escutarE eu cá deste lado, respondi, meio atormentado

Vai ligeiro, passarim, e peça a ela perdãoPorque aqui sofro de saudade malvadaNão desse tempo de hoje um tanto ruim

Mas daquele que passou, de beleza esparramada;Nos campos em flor, tempo de pouco não e muito

simVai Passarim . . .

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Descerra-se o véu negro da noiteE o dia se vai,fulgurante luzNos seus claros, azuisJá é quase solidão, esse açoite;

Que no meu pensamento desfazA alegriaDaquele calmo diaSomente a lembrança de ti me satisfaz

Então eu espero uma outra noite de luarNa ansiedade do meu coraçãoE o novo clarãoQue a noite há de novo sobrepujar;

Levará uma certeza de amorNas ondas do marE em uma concha há de ficarComo um segredo eterno em seu louvor.

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O candelabro inerte resplandece a luzNa incerteza do clarãoQue emana ora de ti, ora da luaCravando no chão, sua sombra refleteSua aparência calma que seduz.Candelabro, que sorte é a tuaEm teu redor baila toda beleza aladaE ainda iluminas toda a vastidão nuaNo teu lume,A criança noite sorriE brinca o inocente vaga-lume.Candelabro,Dai-me notícias daqueles amoresVê se me ouvesNa calada destas madrugadasE me traz lembrançaDo cheiro de noite estreladaDeixa me esquecer de uma alegria já mortaPara que eu possa ter pazE deixar entrar livreOs amores em minha porta.

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Minha bela florPequenina no seu espaçoDe olhar doce, e um odorDe pétala ao vento; num compasso Baila naqueles seus limitesAli no rés do chãoSem dono ou senhor dos seus palpitesNão existe regra ali naquele vão Seu olhar em cima busca um pontoNo clarãoDe outro olhar eqüidistante, tonto Nosso, na indiferençaDe cada dia, na incompreensãoDe poder apreciá-la no seu mundo e crença 

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Eu queria fazer uma canção para todas as avósTodas, com suas cãs parecendo neve a derramar.Eu queria fotografar seus sorrisos, Gravar suas preces,E distribuir por este mundo tão esquecido de Deus. Eu queria fazer uma cançãoOnde todas as avós pudessem afagar,Acalentar com seus amoresTodas as crianças do mundo. Eu queria ver em suas frontes tão calmasAqueles olhares de infinita bondade e luzE que eles pudessem seguir na escuridão nossa de todo diaA nos consolar, e nos fazer compreender mais uns aos outros. Eu queria fazer esta canção Num silencio de uma noite estreladaE imaginar o céu as acalentando no seu véuEu queria senhorAs preces de todas as avós. A penetrar nos nossos sonhosPara que as nossas manhãs fossem mais cheias de esperançaE que no nosso dia a dia fôssemos mais irmãosEu queria senhor, eu queria Na janela olhar o horizonteE a cismar de saudadeAbraçar todas as avósAbraçar com carinho de filho e de netoPorque afinal avó é mãe, duas vezes.  

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Parlando a vientoEn una mañanaCon el corazónY seguindo caminõsDe la vidaRecuerdo el condorVolando las densas brumas  

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Com a semente do sorrisoEu plantei um pé de amigos.

Assim, nas manhãs calmas dos dias,Eu saboreio os frutos de minha doce

colheita.

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Pálida lua matutinaEstonteada ainda vagaDivorciada da noite, se põe em ansiedade vespertina.A espiar as manhãs nascendo nas plagas Lá pelas bandas do sertãoO gado pastaPelos espaços ermos da amplidãoOnde a relva saúda o orvalho e tudo ao belo se arrasta As flores já desabrocham, jogando no ar um mistério de odores.E lá em cima, taciturna.Tu, lua pálida, sem amores. Em seus meneiosE cansada da farra noturnaTe esvais em devaneios Pompéu – agosto de 1981

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Uma prece

                        Para minha Mãe

Ela olha o horizonte com uma preceNa mão, as pequeninas contas;Esfrega, aquece.O coração bate esperançaFincada no céuPor trás das nuvens.No seu caminho não existem barreira, um muroQue pare o cursoDo rio caudaloso da sua vidaE o fel se torna doce lembrançaDaqueles dias amenosDe outroraNa aurora da sua vidaDa sua infânciaSeus folguedosEla, dona dos seus brinquedosSe eu pudesseDar-te-ia minhas noites de sonhosEm troca dos seus dias de penúriaSe eu pudesseColocaria no ar que respirasO perfume de todas as floresE te daria a força de somados amores.

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para o Paulinho e a IsabelaEle olha a luaE pergunta:Pai, eu posso ir até lá!Eu respondo meio sem jeito:Talvez, meu filho, talvez ...Quem sabe numa noite de sonhosEmbaixo dos teus raios inebriantes.Ela olha as estrelas e também pergunta:O que é isso pai?E eu respondo mais ainda sem jeito:São os olhos da noite!Eles enxergam pela luz de Deus.Eu digo:É hora de dormirE eles:Vamos ficar mais um pouco!É tão bom olhar a lua, as estrelas. . .E assim, na beleza da noite,Ficamos ali a espreitar o céu.Quem sabe à esperaDo novo clarãoPara bem cedo, nos primeiros raios da manhã,Nós três;A espiar as pequenas nuvens de algodão.

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  É afiadaA lâmina das palavrasE elas cortam o coraçãoMinha amada,Ouve esse lamento e entãoTe calas e venha me amarNão tragas saudadeNem a passagem para a voltaAqui hás de ficarSem maldade,E então sairemos para ver o pôr do solE todo perfume que o vento das flores sopraHás de ter uma mensagemAo nosso amor iluminadoPara o fim de nossas doresDos nossos rancores.E assimNa beleza do arrebolEu hei de ser o teu amadoE hás de me amar enfim.

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  Das entranhas noturnasVeio-me como um raioCom o fogo dos amantes e uma calma soturnaTrazias um sorriso a desmanchar no lábio Fez da rua vaga a passarelaNos olhos um lume de quase mágicaLuzindo cores de uma pequena aquarelaFez cena e ensaiou uma comédia trágica Rompeu e fez do fim da noiteUm drama de um ato sóSem violência e nem açoite  Acenou-me a dizer adeusEntão meus olhos com lágrimas a dar dóFitaram pela última vez os teus

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Eu mudo de empregoDe amigos mudoDe rumoDe mulherDe vidaMudo a roupaA posiçãoAs coresOs amores Os rancoresEu mudoDe estaçãoDe modosMudo o caminhoO sistema, tentoO olharE de tanto mudarMudei,Parei de mudar. 

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Nas trilhas Desta vidaMinha amadaMinha queridaVou fazendo meus versosE no silencio de uma noite estreladaEu os enfeito de amorPara ti em redondilhas.  Domingo, inverno de 1998

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Atrás das cidades nuasVejo um sexo de concretoE um cheiro miserável de seduçãoAnuncia o aumento da populaçãoA céu aberto,Nos becos e ruas,No flagelo destas coisas cotidianasSegue o tempo preciso Estável saberE concisoDestas coisas mundanasFecho minhas pálpebras e vou sem nada dizer 

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Se alguém à tua porta em paz bater, abra-a, como a teu coração. 

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De que adiantabatermos as portas dapaz, se nossas mãos

Estão ásperas de ódios.

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Aqui jaz uma flor Que de um jardim foi arrancada sem dóEla que perfumou a mulher e aliviou a dorAgora repousa sem vida e só Ela que nasceu na auroraDesabrochou ao ventoEmudecida se encontra agoraNa escuridão, sem alegrias ou tormento Aqui jaz a florQue em vida se fez em alegriasDistribuindo beleza e também odor Descansada em paz e agradecidaAo orvalho altaneiro, por todos os diasA companhia, e à terra úmida a acolhida.

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Não sei se no céu da minha imaginaçãoExistem estrelas, nuvens brancasUm solSei que existe um azul esplêndido, vazioE uma lua solitáriaTriste, flutuante. Não sei se nesse céu imaginárioExistem planetas e corpos inertesIgnoro saber do vôo esvoaçante das borboletas Ou o canto perdido de algum pássaroMas ouço o ressonar de uma cançãoPerdida . . .

No vazio da minha imaginação.

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Sou a força dos braços,mente,Sou a força do corpoCaminhos, sou esquinasA noite.Sou livre no arE solto na vidaAmigos, eu os acho nos baresNos lares, amigos do peitoSou transeunte cansadoDescansadoIn – satisfeitoSou a cidade pela manhãNo seu orvalho Cheirando a concretoSou cançãoO pãoDe todo diaDe todo nadaSou AméricaSou o povoO poucoO Muito quererDe nada terE ser felizardo desta misériaSou um filhoPedaço sofrido do chãoDesta América mãeAmérica de todosDe tudo,América do Sul.

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 O que é o amor ?Ó Deus perdoaiEm mim essa dúvida que aflige minha almaFaça – me sabedorDo que é simplesmente amarNão faças que eu queiraAquilo que às vezes não posso receber,Nem dar. 

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Meu filho vemMas ainda está no formãoCada braço, perna, mãoLeva o toque do artesãoSuas formas todas inspiram o mestreVem filhoFaz desabrochar este velho sorrisoFaz-me lembrar de tiNa noite infindaDo sonho, Como se fosse a última vezVemAcalanta-meMe faz dormirApascentantado no regaço de tua mãeDescansado d’almaE com o espírito a sorrirNão importa a lerdeza do tempoVem!Traz a bandeira da liberdadeIncrusta a belezaNesse caminho tão cheio de maldade

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Vem!Pois terá em tiA garra do bravoQue vem de fêmea tão puraE que de encantoNão verás igual criaturaVem !E a chamarás de MãeVem !Pois os meus braçosAnseiam os teusEles tão cálidosComo os dos anjosVem !Oh forma de minha formaDa forma de tua MãeDa forma de DeusVem!Ser o outro passo de nossos passos Vem . . . 06/12/94

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Meu afilhado sorriE duas covinhas logo aparecerem radiantesEle corre, saltaE pula aos montesExibe uma travessura aqui,Outra aliOs espaços do chãoConhece cada palmoComo a palma da mãoSe queres dele um carinhoÉ só levar a face até as tuas mãosE está prontinhoUm carinho fresquinhoSeu nome é LucasPodem chamá-lo de LuquinhaQue rima com gracinhaEle não gosta de palmadas na bundinhaSó entra numa bagunça se for convidadoJá tem dois anosE já está rapazAinda não namoraMas pra ele tanto fazEle só quer é ser traquinasA tempo e a horaGente muito boa o LuquinhaPor isso toda a turminhaSe põe a cantarO Luquinha é bom companheiroO Luquinha é bom camaradaNinguém pode negar  95

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Dedicado ao Lucas(meu afilhado)

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 Caía à tardeCinzenta e tristeE friaUm corpo tombavaArquejavaMeu velho PaiEm agoniaDa vida madrasta se despediaMeu Deus,Dai-lheUm lugar aí bem perto do

senhorUm lugar prá descansarEle que viveu entre nósNa labuta e com furorDai-lhe também senhor, o

perdão.A sua compaixão,SenhorDê-lhe amorEsse que sai do coraçãoNão o deixe padecerSenhorOu perecerDai-lheAlegriaComo aquela 

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Da face de uma criança a brincarDai-lhe senhorEsperançaToda noite, todo dia.Não o deixe senhorEsquecer os filhosNem da minha mãe senhorColoque seus pés no rumo certoNos trilhosFaça seus olhosEnxergarem longe, bem longe.O esplendorE que a vidaPor aí seja longa, e bela.InfindaE aindaQue lhe seja boa à acolhida 

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  Eu ando pelas ruasDessas AméricasE levo como companhiaA fumaça do meu cigarroPor onde passo,Nas esquinas,Destas avenidas cinzentasEu diviso noites,Também dias de penúriaNa penumbra dos concretos.

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Lá vão os escravos do PompéuEles seguem firmes e brutosMas com alegriaEles preparam o PompéuO BrasilEles andam livresSem correntesNos corpos o negrumeComo o da noiteO suor dos dias quentes de solEles não querem um idealE não sabem da força da alma, do

coração.Só sabem que os dias passam rápidosE que a morte é certeira e impiedosaPor onde andam,As ruas do PompéuVão se abrindoE onde seus braços tocam

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Os escravos do PompéuAs casas vão se levantandoEnquanto as árvores preparam suas sombrasSeus frutos,Os escravos do PompéuPreparam o futuroPrenunciando a manhãNos mistérios dos matosNas lendas,Os escravos de JoaquinaJoaquina do Pompéu,Vão levando o gadoNos caminhos de lama vermelhaNas barrancas do São FranciscoNo cerrado,Na gente matreira,Corre o sangue dos filhos de Joaquinado PompéuHumilde pedaço da América.

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Uma balada triste na noiteEu ouço - teus passos no tapeteE o uníssono tique taque na paredeÉ breve canção aos meus ouvidos.É noite estreladaE o cheiro de um corpo macio e aveludadoCom suas formas parecendo regidas pelaFilarmônica de Londres, - adentra a calmaria de minh'álmaNoite de luarTeus olhos brilhavam como luz na escuridãoMeus abraços esperavam de ti o alentominhas narinas se preparavam para o teu doce odor.Quando enfim chegasteTrazia na silhueta silenciosa e belaO enfado, mistério.Olhou-me, fitou minhas pupilasE com o mais cândido dos sorrisosBeijou-me e se foi pra nunca mais.

2008

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Você queriaMinha IsabelaMinha doce IsabelaJá bem mais cedo dar o ar

de sua graçaE tão cheia de graça

chegouTrazendo no teu corpo

frágilO motivo de nossa

tamanha alegriaA vida passaE te vais tomandoDa forma mais encantadoraO vento que nos trouxe

apreensãoTambém para longe a levouE assim vamos te olhandoNamorando-teDoce IsabelaMinha doce IsabelaIsa...... Tão bela

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Que um dia hás de ser mais bela e sedutoraBelinhaBebelaCriaturinhaMelodia do meu cantoMeu encantoAmo-teDe amor mais profundoDo fundoDe todas as minhas energiasAcumuladas ao longo de tua esperaAmo-te por aqueles diasQue hojeComo num quadro na paredeApenas lembra uma saudadePorque hoje já és presenteNeste coraçãoQue chora e sentePor ti toda paixão.