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50 | Edição #29 | OPINIãO por Simone Galib A Copa do Mundo começa em meio a uma chuvarada de críticas, temores e indignação. Mas precisamos juntar os cacos das nossas desilusões, arejar a casa e receber bem os turistas. Esporte é alegria, é adrenalina, é união. E o mundial, um grande evento. O restante? Decidimos nas urnas! VIRAR O JOGO! É HORA DE 50 | Edição #29 |

OPINIÃO - VIAGENS S/A

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50 | Edição #29 |

oPInIão

• por Simone Galib

A Copa do Mundo começa em meio a uma chuvarada de críticas, temores e indignação. Mas precisamos juntar os cacos das nossas desilusões, arejar a casa e receber bem os turistas. Esporte é alegria, é adrenalina, é união. E o mundial, um grande evento. O restante? Decidimos nas urnas!

VIRAR O JOgO!É HORA DE

50 | edição #29 |

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Ando injuriada com tudo o que vem acontecendo

no Brasil e especialmente pela forma com que

todos começaram a criticar o país. São tantas

notícias ruins em tempo integral, um descaso total com

os nossos problemas do dia a dia, que não são poucos,

uma inabilidade completa por parte dos governantes,

que merecidamente perderam o respeito dos cidadãos,

milhares deles seus próprios eleitores, além da onda de

greves que me parecem totalmente oportunistas, em-

bora as reivindicações das categorias sejam justas. Sem

contar com as mídias sociais, que viraram um gigante

portal de descontentamento, de desabafos e de piadas.

Rimos e debochamos o tempo inteiro da nossa própria

desgraça. Falamos mal de nós mesmos. O brasileiro, fa-

moso por ser amável e cordial, está amargurado, cansa-

do. Para onde caminhamos? Parece que o país está nave-

gando em direção a um iceberg, pronto para naufragar,

ou se mantém frente a um vulcão, que vai explodir a

qualquer momento, com consequências imprevisíveis.

A Copa do Mundo, um dos mais poderosos e co-

biçados eventos esportivos do planeta, chegou a nossa

casa, mas continuamos desconfortáveis, incomodados,

irritados. Mostramo-nos receosos em vestir o verde-

-amarelo; estamos indignados com tamanho amadoris-

mo e indisciplina no país sede. Sentimos vergonha de

mostrar ao mundo todas as nossas feridas e do que pos-

sa a vir a acontecer no decorrer do campeonato. Muitos

chegam ao ponto de torcer para que a seleção brasileira

perca o mundial para não favorecer os políticos que, na

minha opinião, devem ser julgados e condenados nas

urnas –e não nos estádios que, aliás, custaram uma for-

tuna! Esporte é alegria, é adrenalina, é união. Não pode

ser jogado nesse caldeirão de interesses escusos.

O país do futebol sente frio na barriga, insegurança,

indignação, revolta, quer vestir luto e até torce para que

não venham muitos estrangeiros gastar seus dólares ou

euros aqui. Se estamos assim, como devem estar se sen-

tindo os estrangeiros que já começam a desembarcar?

Fico imaginando o temor que lhes assola diante dessa

avalanche de desgraças, de crimes, de violências, da

Shut

ters

tock

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falta de serviços eficientes, das obras inacabadas, vei-

culados pela mídia e particularmente pela internet, na

velocidade da luz. São aconselhados por suas embaixa-

das e pela própria Fifa a tomarem cuidado com abso-

lutamente tudo, afinal estarão visitando um país que

exala um clima de “guerra” urbana.

Essa energia de desalento, de falta de perspectivas

e de medo vai tomando conta de tudo. É um baixo astral

que contamina. Eu, particularmente, temo pela integri-

dade física e moral dos turistas e torcedores. E também

torço antecipadamente para que não sejam assaltados,

assassinados, violentados e colocados em situações

constrangedoras, retornando aos seus países sãos e sal-

vos. Explorados eles já serão naturalmente, assim como

nós o somos todos os dias, a partir do momento em que

saírem do avião, porque estarão pisando o solo do país

com os preços e os impostos mais extorsivos do mundo.

Não sou a favor da forma como o governo condu-

ziu a realização da Copa do Mundo: super faturamen-

to, gastos excessivos e abusivos, incompetência para

gerenciar, realizar e concluir as obras, além da utiliza-

ção de recursos que poderiam ter sido utilizados para

resolver os problemas do país, que são milhares, entre

outros fatores. Mas, quando foi anunciado, lá atrás, que

seríamos a sede houve comoção geral e explosão de

alegria. Claro que sabíamos que o quadro que vivemos

hoje seria praticamente inevitável. Conhecemos o país,

afinal. Mesmo assim, comemoramos, nos alegramos.

Tivemos esperanças de dar um salto, de gerar empregos

e de transformar o Brasil em uma vitrine para o mundo,

de forma positiva. Sonhamos e nos permitimos ser en-

ganados, mais uma vez.

oPInIão

BONS ANFITRIÕESAlém disso, a realização dos megaeventos espor-

tivos, Copa e Olimpíadas, em 2016, trouxe um fôlego

novo. Investidores passaram a olhar para o Brasil com

maior interesse, marcas internacionais se apressa-

ram em abrir filiais aqui, a rede hoteleira começou a

se aquecer, milhares de empresários e profissionais se

prepararam e uma infinidade de bons negócios se de-

senhou no horizonte. Bem administrada e tratada com

profissionalismo, a Copa do Mundo é, sim, um exce-

lente negócio. E o Brasil tem belezas e qualidades úni-

cas. Por que não explorar o que é bom, o que funciona,

o que temos de melhor como fazem os outros países?

Por que não sermos anfitriões gentis e civilizados? Não

gostamos de nos sentir acolhidos e respeitados quando

viajamos ao exterior?

Portanto, não adianta esbravejar, queimar a ban-

deira, organizar protestos, de quórum inexpressivo, que

só tumultuam a vida das pessoas e depredam o patri-

mônio público. É uma atitude sem sentido, sem cidada-

nia e sem educação, que interessa a poucos e mostra a

infantilidade de um povo que detona a sua própria casa

na frente das visitas. O que precisamos fazer é juntar os

cacos de nossas desilusões, respirar fundo e transfor-

mar toda essa energia negativa em alguns momentos

de alegria. Podemos comemorar o gol, sim, vibrar, torcer

pela seleção brasileira, como sempre fizemos exaustiva

e festivamente à distância. O país está precisando de

mais alegria, dessa boa vibração. Afinal, todo o dinheiro

já foi investido, não será devolvido, a Copa do Mundo é

uma realidade e as seleções internacionais e os torcedo-

res não têm culpa de nada. Guardemos os nossos gran-

des protestos, e toda essa indignação, para outubro, a

primavera das eleições, quando legitimamente, e por

intermédio das urnas, poderemos mandar de volta para

a casa todos esses políticos que nos roubaram a alegria,

o orgulho de ser brasileiros e dizer, de peito aberto e

num coro cidadão: “Agora chega. O jogo acabou!

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