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___________________________________________________________________ FACULDADE DE TECNOLOGIA DO IPIRANGA CURSO DE GESTÃO COMERCIAL DIEGO MESA MARQUEZ MOBILIDADE URBANA, CICLISMO E CARROCRACIA: ANÁLISE DOS IMPACTOS ECNÔMICOS NA CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2015

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___________________________________________________________________ FACULDADE DE TECNOLOGIA DO IPIRANGA

CURSO DE GESTÃO COMERCIAL DIEGO MESA MARQUEZ

MOBILIDADE URBANA, CICLISMO E CARROCRACIA: ANÁLISE DOS IMPACTOS ECNÔMICOS NA CIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO

2015

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___________________________________________________________________ FACULDADE DE TECNOLOGIA DO IPIRANGA

CURSO DE GESTÃO COMERCIAL DIEGO MESA MARQUEZ

MOBILIDADE URBANA, CICLISMO E CARROCRACIA: ANÁLISE DOS IMPACTOS ECNÔMICOS NA CIDADE DE SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Faculdade de Tecnologia do Ipiranga, como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Tecnólogo em Gestão Comercial.

Orientador: Prof. Dr. Márcio Magalhães

Fontoura

SÃO PAULO

2015

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DIEGO MESA MARQUEZ

MOBILIDADE URBANA, CICLISMO E CARROCRACIA: ANÁLISE DOS IMPACTOS ECNÔMICOS NA CIDADE DE SÃO PAULO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Faculdade de Tecnologia do Ipiranga, como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Tecnólogo em Gestão Comercial.

Banca Examinadora:

______________________________________ Prof. Presidente da Banca ______________________________________ Profª Professor Convidado ______________________________________ Prof. Dr. Márcio Magalhães Fontoura Professor Orientador

SÃO PAULO

2015

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Dedico este trabalho a todos aqueles que optam por cidades mais humanas e

menos motorizadas, mudando sua relação com a cidade, as pessoas e o meio

ambiente, ou ao menos simpatizam com a ideia.

A todos aqueles que sabem como é tomar um "fina educativa" , que por muito tempo

se sentiram intrusos por ocupar um espaço que é nosso e que agora apesar de faltar

muito ainda, não se sentem mais tão desamparados.

IN MEMORIAN

Antonio Marquez Lopez (1947 - 2012)

Liane Gutimanis de Lira (1983 - 2015)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Márcio Magalhães Fontoura, à secretaria

acadêmica e aos demais professores e colegas da Fatec Ipiranga.

Agradeço também a todos os amigos ciclistas e cicloativistas, sempre solícitos e

acolhedores, que me fizeram sair de mais de anos de pedal ao estilo "lobo solitário",

mudaram minha vida e agora me auxiliaram grandemente neste trabalho.

Agradeço também meus familiares e amigos.

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RESUMO

Esta pesquisa estuda as relações existentes entre mobilidade urbana, empreendedorismo e comércio regional. Busca conhecer as influências da instalação de estrutura cicloviária na cidade de São Paulo e uso indiscriminado de veículos automotores para transporte individual sob um viés econômico, sobretudo os impactos de ambos os fatores na atividade empreendedora e na economia local. Para se aprofundar em tais conceitos, faz se necessário abordar alguns temas relacionados que podem se dividir nos seguintes eixos principais: legislação e movimento cicloativista; mobilidade urbana e economia; economia do automóvel e da bicicleta. A pesquisa visa também municiar e informar tanto o empreendedor quanto demais interessados, com de dados, informações e exemplos de como aproveitar oportunidades do incentivo ao ciclista e as ameaças de priorizar o cliente que faz seus deslocamentos às compras apenas de automóvel. Ainda no intuito de informar, discorre-se sobre a legislação vigente referente à mobilidade urbana e quais as adequações devem ser feitas pelos estabelecimentos em geral. Aborda-se ainda os contextos históricos e atuais dos temas abordados. Palavras-chave: Mobilidade urbana.Bicicletas.Automóveis. Economia. Comércio regional.

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ABSTRACT

This research studies the relationship between urban mobility, entrepreneurship and local commerce. Pretend to know the influences of the bike lanes in São Paulo and indiscriminate use of vehicles for human transportation in economy, especially the impact of both factors on entrepreneurial activity and the local economy. To study these concepts, it is necessary to see some related issues that can be divided in the following main areas: laws and cycle activism (critical mass); urban mobility and economy; automobile and bicycle economy. The research also includes explanations for the entrepreneur as the other interested parties with data, information and examples of how to leverage opportunities encouraging the cyclist and the threats to prioritize client that makes their movements to only car purchases. Yet in order to inform, it talks about the current legislation on urban mobility and what adjustments should be made in points of sale and commerce in general. Also talk about the historical and current contexts of the topics covered. Keywords: Urban mobility. Bikes. Cars. Economy. Regional commerce.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: ESPAÇO OCUPADO POR TIPO DE VEÍCULO...............................................................17 FIGURA 2: EXEMPLO DE LOCAL QUE PRIORIZA AUTOMÓVEIS ..................................................18 FIGURA 3: EXEMPLO DE CICLOVIA ...............................................................................................22 FIGURA 4: EXEMPLO DE CICLOFAIXA ...........................................................................................23 FIGURA 5: EXEMPLO DE BICICLETÁRIO .......................................................................................23 FIGURA 6: EXEMPLOS DE PARACICLO .........................................................................................24 FIGURA 7: ZONA LESTE .................................................................................................................31 FIGURA 8: ZONA OESTE .................................................................................................................31 FIGURA 9: ZONA SUL ......................................................................................................................32 FIGURA 10: DISTÂNCIAS ENTRE PONTOS ....................................................................................35 FIGURA 11: LOCAIS DA PESQUISA ................................................................................................39 FIGURA 12: ENTREGADOR DE PÃES .............................................................................................50 FIGURA 13: VENDEDOR DE CALÇADOS ........................................................................................52 FIGURA 14: BICICLETA CARGUEIRA DA QUITANDA REIS ............................................................53 FIGURA 15: UMA DAS BICICLETAS CARGUEIRAS DO MERCADO PRATES ................................54

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LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1: DESENVOLVIMENTO URBANO E DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA .............................11

GRÁFICO 2: QUESTÃO 4 - ENDEREÇO: .........................................................................................40

GRÁFICO 3: QUESTÃO 5 - DEPOIS DA INSTALAÇÃO DA CICLOVIA NESTE ENDEREÇO, O

MOVIMENTO DE CLIENTES: ...................................................................................................40

GRÁFICO 4: QUESTÃO 6 - QUANTO AO MOVIMENTO DE CLIENTES QUE CHEGAM DE

BICICLETA: ..............................................................................................................................40

GRÁFICO 5: QUESTÃO 7 - HOUVE INSTALAÇÃO DE PARACICLO, BICICLETÁRIO OU O

ESTABELECIMENTO PERMITE A ENTRADA COM A BICICLETA? ........................................41

GRÁFICO 6: QUESTÃO 8 - HÁ ALGUM TIPO DE INCENTIVO OU FACILIDADE AO CLIENTE QUE

CHEGA DE BICICLETA? ..........................................................................................................42

GRÁFICO 7: QUESTÃO 9 - HÁ ALGUM TIPO DE INCENTIVO OU FACILIDADE AO CLIENTE QUE

CHEGA DE AUTOMÓVEL? ......................................................................................................42

GRÁFICO 8: QUESTÃO 10 - AS SUAS IMPRESSÕES SOBRE A INSTALAÇÃO DE CICLOVIAS E

CICLOFAIXAS SÃO: ................................................................................................................43

GRÁFICO 9: QUESTÃO 11 - AS SUAS IMPRESSÕES SOBRE AUTOMÓVEIS NA VIA É: ...............43

GRÁFICO 10: QUESTÃO 12 - A MAIOR PARTE DOS CLIENTES QUE TEM COMO DESTINO SEU

ESTABELECIMENTO CHEGA: ................................................................................................43

GRÁFICO 11: ESTABELECIMENTOS COM CRÍTICAS VERBALIZADAS .........................................44

GRÁFICO 12: ACIDENTES COM VÍTIMAS COM FERIMENTOS ......................................................58

GRÁFICO 13: ACIDENTES DE TRÂNSITO FATAIS EM RUAS E AVENIDAS...................................58

GRÁFICO 14: ACIDENTES DE TRÂNSITO FATAIS NOS TRECHOS DE RODOVIAS DENTRO DO

MUNICÍPIO ..............................................................................................................................58

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

TABELA 1: CRESCIMENTO DA FROTA ...........................................................................................12 TABELA 2: ORIGEM DO CAPITAL DE GRANDES SUPERMERCADOS ..........................................19 TABELA 3: 13.3.4 - PORCENTAGEM DE VAGAS ............................................................................21 TABELA 4: REGIÕES PESQUISADAS .............................................................................................30 TABELA 5: DESAFIO INTERMODAL - TEMPOS ..............................................................................33 TABELA 6: TRECHOS E TEMPOS ...................................................................................................36 TABELA 7: PRINCIPAIS CRÍTICAS VERBALIZADAS .......................................................................45 TABELA 8: DADOS REFERENTES AO AÇO ....................................................................................67 TABELA 9: EFEITOS NA POLUIÇÃO NA SAÚDE .............................................................................70 QUADRO 1: DADOS DE EMPRESA DE BIKE COURIER .................................................................55 QUADRO 2: DIFERENÇAS DE CUSTOS .........................................................................................56

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SUMARIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9

1.1 Políticas públicas.................................................................................................. 9

1.2 Impacto do uso excessivo de automóveis ............................................................ 9

1.3 A consolidação do cicloativismo ......................................................................... 10

1.4 Problema e contextualização ............................................................................. 10 1.4.1 O contexto histórico do problema................................................................ 10 1.4.2 O contexto atual do problema ..................................................................... 12

1.5 Objetivos ............................................................................................................ 13 1.5.1 Objetivos Gerais.......................................................................................... 13 1.5.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 14

1.6 Justificativa ......................................................................................................... 14

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 15

2.1 Pautas do movimento cicloativista ..................................................................... 15

2.2 Referente a mobilidade urbana .......................................................................... 15

2.3 Referente à bicicleta e comércio ........................................................................ 16

3. PANORAMA DA MOBILIDADE URBANA ............................................................. 17

3.1 Questões da economia regional ......................................................................... 17

3.2 Adequação para oportunidades regionais .......................................................... 19

4. LEGISLAÇÃO DE REFERÊNCIA .......................................................................... 20

4.1 Lei municipal 10.907, de 1990 ........................................................................... 21

4.2 Lei Municipal Nº 13.995, de junho de 2005 ........................................................ 21

4.3 4.3. Lei Municipal Nº 15.649, de dezembro de 2012: ......................................... 21

4.4 Lei Municipal Nº 14.266 de fevereiro de 2007: ................................................... 22 4.4.1 Ciclovia ....................................................................................................... 22 4.4.2 Ciclofaixa .................................................................................................... 22 4.4.3 Bicicletário ................................................................................................... 23 4.4.4 Paraciclo ..................................................................................................... 24 4.4.5 Aspectos da lei 14.266 ................................................................................ 24 4.4.6 Artigos relevantes da lei 14.266 .................................................................. 25 4.4.7 Artigo 8º - O mais importante para comerciantes e empresários ................ 25

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7

5. LEIS E O CICLOATIVISMO .................................................................................. 26

5.1 Pautas existenciais............................................................................................. 27

5.2 Pautas políticas .................................................................................................. 27

5.3 Pautas Ideológicas ............................................................................................. 27

6. DA LUTA CICLOATIVISTA AO COMÉRCIO IMPULSIONADO PELO CONSUMIDOR-CICLISTA ........................................................................................ 27

6.1 Impactos nos negócios regionais ....................................................................... 28

6.2 Consumo regional de curta distância ................................................................. 28

7. PESQUISAS SOBRE DESLOCAMENTOS ........................................................... 29

7.1 Pesquisa 1 - Distância entre centros comerciais ................................................ 29 7.1.1 Metodologia................................................................................................. 29 7.1.2 Resultados da Pesquisa ............................................................................. 32 Através desta pesquisa pudemos observar que: ................................................... 32

7.2 Pesquisa 2 - Comparativo Intermodal ................................................................ 32 7.2.1 Desafio Intermodal ...................................................................................... 33 7.2.2 Mote da pesquisa neste comparativo intermodal ........................................ 33 7.2.3 Metodologia................................................................................................. 34 7.2.4 Informações gerais ...................................................................................... 35 7.2.5 Planilha de dados ........................................................................................ 36 7.2.6 Resultados .................................................................................................. 36

8. A ECONOMIA DA BICICLETA .............................................................................. 37

8.1 A pesquisa Bicicleta nos negócios ..................................................................... 38 8.1.1 Metodologia................................................................................................. 38 8.1.2 Mapa da pesquisa e planilha interna com endereços ................................. 39 8.1.3 Questões e gráficos estatísticos ................................................................. 39 8.1.4 Dados adicionais fornecidos pelo entrevistador .......................................... 44 8.1.5 Considerações finais da pesquisa............................................................... 46

8.2 Incentivos ao cliente que chega de bicicleta ...................................................... 46

8.3 Pesquisas e dados coletados em fontes externas ............................................. 46 8.3.1 Ciclocidade - Bicicleta faz bem ao comércio ............................................... 46 8.3.2 Ciclomídia - Clientes da empresa ............................................................... 47 8.3.3 Editora MOL - Eu sou a mudança ............................................................... 48 8.3.4 São Paulo Turismo S/A ............................................................................... 48 8.3.5 Consulta a ciclistas ..................................................................................... 48 8.3.6 Resultados de outras fontes ....................................................................... 48

9. INICIATIVAS MAIS CONSOLIDADAS NA CIDADE .............................................. 49

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9.1 Entregas com bicicletas: consolidado na cidade. ............................................... 49 9.1.1 Panorama do negócio ................................................................................. 49 9.1.2 Microempreendedores individuais de venda porta a porta .......................... 49 9.1.3 Comerciantes que usam a bicicleta em suas entregas ............................... 52 9.1.4 Bike Courier ................................................................................................ 54

10. COMPARATIVO DE ACIDENTES....................................................................... 57

11. SUSTENTABILIDADE ......................................................................................... 60

12. A ECONOMIA DO AUTOMÓVEL ........................................................................ 61

12.1 Análise geral ................................................................................................... 61

12.2 Análise de viabilidade e estudo de caso ......................................................... 63 12.2.1 Gestão estratégica e Macroambiente ...................................................... 64 12.2.2 Análise SWOT e Processo Decisório ...................................................... 64

12.3 Recursos naturais da fabricação .................................................................... 65 12.3.1 Matérias primas envolvidas ..................................................................... 65 12.3.2 Banco de dados coletados ...................................................................... 65

12.4 Prejuízos da economia do automóvel à economia popular. ........................... 67 12.4.1 Estudo de prejuízos à economia ............................................................. 68

12.5 Resultados ...................................................................................................... 71

13. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 72

14. REFERENCIAS ................................................................................................... 74

APÊNDICE A ............................................................................................................. 77

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1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da relação da bicicleta e mobilidade urbana com o

comércio e o empreendedorismo na cidade de São Paulo. O mote dessa pesquisa

são os recentes incentivos e visibilidade da bicicleta como meio de transporte. Três

fatores, diretamente ou indiretamente, contribuíram para que a bicicleta ganhasse

notoriedade a partir do ano de 2014:

1.1 Políticas públicas

Investimentos na construção de estrutura cicloviária apropriada, que

como veremos em "Legislação" tem amparo legal anterior a administração Fernando

Haddad (2013 - Atual), atendendo não só a uma parcela da população que antes era

ignorada pelo poder público, como a todos anseiam mudar a forma como se

locomovem no dia a dia. Esses cidadãos formam uma considerável demanda

reprimida, já que a 9ª pesquisa de mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo

(2015) 44% dos paulistanos que nunca usaram bicicletas, afirmam que usariam

como meio de transporte se houvesse maior segurança para os ciclistas (GRAJEW,

2015 p. 42).

1.2 Impacto do uso excessivo de automóveis

Conforme veremos em "Problema e Contextualização", nos últimos tempos

ficou mais evidente a insustentabilidade do modelo de mobilidade urbana que se

baseia, sobretudo no uso de veículos automotores, sobretudo para transporte

individual, com a cidade batendo consequentes recordes negativos de quantidade

de vias congestionadas, relação de número de automóveis per capita e danos à

saúde de seus moradores (usuários de automóvel ou não). Os prejuízos individuais

e coletivos causados por esse impacto influem negativamente na economia e na

atividade empreendedora da cidade.

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10

1.3 A consolidação do cicloativismo

Emersão de movimentos de ciclistas e cicloativistas que há anos lutam por

melhorias na mobilidade urbana, fim do preconceito ao ciclista e uso mais inteligente

e democrático da estrutura viária. Antes imersos e muitas vezes ignorados, esses

movimentos se organizaram abordando questões políticas e sociais. Mais

recentemente se voltaram também para a questão econômica e atividade

empreendedora, numa relação de causa e consequência que lhes proporcionou

ainda mais força.

1.4 Problema e contextualização

1.4.1 O contexto histórico do problema

Historicamente, a mobilidade urbana ao redor do mundo cedeu muito espaço

ao uso maciço do automóvel para transporte individual, deixando em segundo plano

o uso dos transportes públicos coletivos e/ou individuais mais adequados e enxutos

como a bicicleta. Nas cidades. Isso causou impactos enormes na vida em uma

sociedade extremamente urbanizada, não só na saúde pública e políticas urbanas

como no empreendedorismo e na economia.

O instituto ITDP afirma em um de seus editoriais que foi no século XX, ou

mais especificamente no pós-guerra, que as cidades começaram a mudar

radicalmente, cedendo espaço para o transporte individual valorizando o automóvel

como bem de consumo, e sua rápida disseminação do seu uso as cidades foram

adaptadas e desenhadas para acomodar as viagens de automóvel" (LINKE, 2010).

Com isso muitas cidades já em processo de urbanização intenso se tornaram

ambientes inóspitos para veículos não motorizados (como bicicletas). Um exemplo

forte disso é a região da Grande São Paulo, foco deste estudo.

De acordo com Singer, em 1940 a população da capital, era de 1.326.261

habitantes. Em 1970 saltou para 8.106.250 habitantes. Esses 30 anos de

crescimento acentuado coincidem com algumas datas importantes para a indústria

automobilística no Brasil. De acordo com a Enciclopédia do Automóvel (1974) os

primeiros carros fabricados inteiramente no Brasil, datam de 1956 - um modelo

Romi-isetta, e 1957 - um modelo DKW. O histórico do censo aponta para a mesma

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conclusão "Na segunda metade da década a indústria automobilística tornou-se o

motor do crescimento econômico" (Censo, 1950-1959). Na década de 1960, 90%

das indústrias de autopeças estavam localizadas na Grande São Paulo (RIBEIRO,

2015). O gráfico a seguir junta esses acontecimentos, mostrando que a população

da cidade crescia exponencialmente enquanto a indústria automobilística se

instalava e se expandia:

Gráfico 1: Desenvolvimento urbano e da indústria automotiva

Fonte: Enciclopédia do Automóvel, Paul Singer e Conheça SP (2015)

Começam aí as primeiras grandes oportunidades de negócios que surgem

pela economia do automóvel. A própria venda de unidades a um centro urbano

crescente bem próximo e quanto mais carros mais vias necessitam ser asfaltadas.

Há também a demanda por mais empresas de distribuição e venda de combustíveis,

de manutenção e reparos, de fabricação e venda de peças, venda de seguros,

financiamentos, mercado publicitário, etc. Tudo isso somado deu origem a uma

espécie de ditadura do automóvel, beneficiando sempre os que têm carro (a esse

processo, se dá o nome de Carrocracia, que veremos adiante).

Mas eis que ao longo dos anos esse benefício aos que tem carro já é

superado pelos malefícios a população como um todo, e como veremos em "A

Economia do Automóvel" os problemas não tardaram a aparecer.

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12

1.4.2 O contexto atual do problema

Atualmente a situação bem preocupante. Dados do DETRAN mostram

que São Paulo passou de 8 milhões de veículos. A cidade já tem o dobro de

unidades per capita do que a média nacional que é de 4,1 veículos por pessoa

(IBGE, 2013) conta 2,03 na cidade de São Paulo (DETRAN, 2014). Na tabela

abaixo, vemos a evolução do número de unidades vendidas desde a década de

1980 até 2010:

Tabela 1: Crescimento da frota

Fonte: G1 (2014)

Embora seja apontado por alguns que esses carros vendidos impulsionaram a

economia. Ao longo do trabalho veremos que essa afirmação requer uma análise

mais cuidadosa.

Na prática a quantidade de congestionamentos na cidade está

constantemente aumentando e batendo recordes históricos tanto em quantidade de

vias paradas, que conforme divulgado pela grande imprensa chegou a 838 km,

quanto no tempo que o paulistano gasta para o deslocamento casa-trabalho-casa

que chega a mais de 2 horas para 23% dos paulistanos (GRAJEW, 2015 P. 16).

São Paulo segundo o IBGE (2010). é o maior dos 5.570 municípios do país,

chegando a quase 12 milhões (11.895.893) de habitantes, 23% dessa população

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13

equivale a 2.76 mi de pessoas 4 horas paradas nos congestionamentos e que

poderiam estar, por exemplo, consumindo algum produto ou serviço, desde um café

da manha mais prolongado numa padaria, até consumindo produtos e serviços para

uma eventual melhoria em sua residência, gastando mais e gerando mais receita

para a coletividade. Esse é o principal problema para tentar se comprovar que a

economia da cidade se beneficiária mais com a diminuição gradual do automóvel

como meio de transporte. Bem como o incentivo a outros modais pode ser benéfico

para a mesma problemática.

Esses dados e outros que vamos abordar ao longo do trabalho refletem o

caos causado pelo automóvel, dos impactos gerais amplamente conhecidos da

população por fazerem parte de seu dia-a-dia

Mas e a bicicleta? Nesse cenário, coube à bicicleta e ao ciclista um papel

coadjuvante, não sendo reconhecido pelas políticas públicas daquela que, segundo

a EBC é a maior cidade do Hemisfério Sul e uma das mais populosas do mundo

(BERALDO, 2014 P. 01), como uma solução viável, mais fácil e imediata para os

problemas de mobilidade urbana. Os primeiros gestores urbanos que realmente

acreditaram nessa solução tardaram a aparecer, mas desde o ano de 2014 isso está

mudando.

As cidades precisam deixar de construir mais viadutos e túneis. Elas

precisam de soluções que não consumam tanto petróleo, que não poluam

tanto o ar, que não induzam impermeabilização do solo e que não gerem

tanto congestionamento. Em São Paulo, as ações da prefeitura estão

orientadas para o interesse coletivo, em termos tanto sociais como

econômicos e ambientais. As novas faixas exclusivas de ônibus assim como

as ciclofaixas são ações evidentes nessa direção. (WISNIK, 2014 p. 02).

1.5 Objetivos

1.5.1 Objetivos Gerais

I. De forma geral pretende-se estudar a economia empreendedora na

cidade de São Paulo, sob o viés da mobilidade urbana. Sobretudo

poder detectar influências nos pequenos comércios e pequenas

empresas.

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14

II. Analisar a história, as raízes e principalmente os motivos que deram

origem as mudanças em mobilidade que estão ocorrendo hoje e que

podem trazer ainda mais impacto na vida das pessoas.

1.5.2 Objetivos Específicos

III. Mais especificamente, analisar os impactos no comércio - sobretudo os

pequenos e regionais - causados pelo incentivo (bem como algum tipo

de facilitação) ao ciclista.

IV. Em contra partida, analisar os impactos causados em negócios de

mesmos perfis, pela supremacia dos automóveis nos deslocamentos

urbanos.

V. Encontrar negócios e oportunidades de novos negócios trazidos pela

instalação de novas estruturas para bicicletas, como ciclovias,

ciclofaixas e ciclorrotas.

VI. Através de pesquisas, buscar conhecer o impacto nos negócios

causados pela estrutura cicloviária instalada na cidade e o impacto do

automóvel, analisando também se optar pelo carro em detrimento de

opções mais inteligentes de transporte e deslocamento é um mau

negócio para todos, sobretudo o pequeno comércio e se é rentável

investir no ciclista como público consumidor.

VII. Sendo o ciclista ou não público alvo de um negócio, demonstrar as leis

que qualquer empresário deve seguir, bem como familiarizá-lo alguns

conceitos sobre o tema. Incentivá-lo a aproveitar os benefícios de

receber bem o ciclista, estando ciente de suas necessidades. Municiá-

lo com informações para aproveitar oportunidades também é um de

nossos objetivos.

1.6 Justificativa

Acompanhando de perto as pautas do movimento cicloativista percebe-se que

podem ser condensadas em três eixos principais: existenciais, políticas e

ideológicas, não havendo espaço até então para incluir pautas referentes a aspectos

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15

econômicos e de desenvolvimento da economia. Esse é um dos motes da presente

pesquisa: levantar esses temas sob uma visão da sustentabilidade econômica,

social e ambiental.

Ao observar-se o que propõe as leis municipais mais modernas que versam

sobre bicicleta e mobilidade urbana, nota-se que elas são muito mais abrangentes

do que dar embasamento à instalação de ciclovias e ciclofaixas na cidade. Há uma

preocupação com os aspectos econômicos, indicando inclusive algumas obrigações

do comerciante em adequar-se a essa realidade (LEI 14.622 PREFEITURA DO

MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2007). Isso não é muito divulgado, dessa maneira

podem-se amargar prejuízos tanto com perda de clientes quanto com problemas

jurídicos. Um trabalho acadêmico que una cicloativismo, problemas do uso

excessivo do automóvel, empreendedorismo e economia, pode ser um primeiro

passo, ainda que pequeno para começar a demonstrar que é uma boa idéia unificar

e aderir a esses conceitos na prática.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Pautas do movimento cicloativista

As teorias e agendas defendidas pelo movimento cicloativista foram

inicialmente o principal mote para esta pesquisa. Esse movimento no mundo inteiro

sempre defendeu o incentivo à bicicleta como meio de transporte. Uma das leituras

que condensa bem o cicloativismo paulistano é a tese do doutor em direito Odir

Züge JR, sobre o tema. Ele define o cicloativismo paulistano da seguinte maneira:

"movimento que se organiza de forma horizontalizada e descentralizada, há mais de

10 anos, e tem conseguido impor ao poder público uma série de pautas relativas à

administração pública".

2.2 Referente à mobilidade urbana

Literatura referente ao automóvel é vasta, é um setor da economia

poderoso. Até mesmo por esse poderio é mais difícil encontrar na literatura livros

que apóiam teorias contrárias ao proselitismo desenvolvimentista do automóvel, bem

como o desmistificam como um bem, algo a ser conquistado, uma espécie de atalho

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para exibir ascensão social. Mas quando se encontra algo nesse sentido, o que há é

muito bom. O livro "Apocalipse Motorizado" é um bom exemplo. Nesse livro, Caroline

Granier argumenta, por exemplo, que dentro de um automóvel não há mais um ser-

humano, mas sim um "automobilista" e "automobilista" e automóvel são

indissociáveis, nesse momento existe apenas o automóvel. O panorama apontado

pela autora é:

O ciclista é o oposto do “automóvel”: mesmo em cima de sua bicicleta, ele

conserva todo seu livre-arbítrio, pode ir aonde quiser, estacionar onde achar

melhor... Ele não ameaça constantemente a vida de seus vizinhos. Está à

escuta do exterior: em vez de se blindar medrosamente se rodeando de

aço, ele imerge corajosamente em seu meio ambiente – que evita, além

disso, poluir. Raramente perde o controle de si, e se deixa guiar por dois

princípios: a liberdade e o respeito ao outro. (GRANIER, 2013 p. 121).

Porém o que nos falta na literatura tradicional, há disponível na imprensa. Por

mais que a publicidade da indústria automobilística abunde em veículos de grande

circulação, isso parece não conseguir ocultar seus malefícios. Artigos, notícias e

dados pesquisados serão amplamente explorados para embasar a pesquisa.

2.3 Referente à bicicleta e comércio

Bikenomics da cicloativista americana Elly Blue é fonte recorrente. Como dito

em uma das resenhas do livro, Elly tenta explicar como o uso da bicicleta impacta

positivamente em todas as esferas sociais e tenta a provar como este é o caminho

para resolver boa parte dos principais problemas das grandes cidades (MARQUES,

2014). Mas a literatura brasileira sobre o tema, apesar de não estar plenamente

consolidada em livros, são muito confiáveis, embasadas em pesquisas e com amplo

bancos de dados. Algumas fontes regularmente utilizadas foram: Ciclocidade, Bike

Anjo, CicloBR, Vá de Bike, A Bicicleta Na Cidade, etc. Este referencial tem como

pretensão fornecer um panorama sobre ciclismo, mobilidade urbana, economia do

automóvel, etc.

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3. PANORAMA DA MOBILIDADE URBANA

Em muitas cidades ao redor do mundo, o transporte público e a bicicleta têm

espaço e visibilidade tanto como política pública como de inclusão social e bem

estar da população. Prega-se também o uso mais racional da estrutura viária, há

anos corre o mundo uma imagem icônica de um experimento feito pelo

Departamento de Transito da cidade de Münich, na Alemanha, que demonstra o

espaço em vias públicas ocupado por um determinado número de pessoas sendo

transportadas respectivamente em bicicletas, carros e ônibus. Segue a imagem:

Figura 1: Espaço ocupado por tipo de veículo

Fonte: Münchner Kommunale Verkehrsüberwachung (2008)

Vimos que a opção menos racional para uso das vias públicas é o veículo

para transporte individual e se faz necessário considerar todas as demais opções

possíveis: taxis, aplicativos de carona e de compartilhamento, a pé quando possível,

transporte público, bicicleta e principalmente a integração da bicicleta com outros

modais, Há algumas atividades que não podem ser substituídas por bicicletas, mas

demonstraremos que muitas já podem. Vermos também que a compra de um

veículo pode não ser uma boa opção pelo viés econômico e em muitos aspectos o

uso para transporte individual prejudica a economia, sobretudo a regional.

3.1 Questões da economia regional

Na economia local ou regional, o pequeno negócio de bairro, que hoje se

sente "engolido" por um shopping center, por exemplo, deve boa parte disso à

hegemonia do automóvel, já que espaços como grandes centros de compras e

Page 23: TCC Sem correções

18

grandes superfícies como magazines e home centers, são projetados para receber

preferencialmente veículos. Um exemplo disso é o centro de compras denominado

Shopping Cidade Jardim, na capital paulista, que de acordo com Galvão (2008) é

projetado sem praça de alimentação e sem entrada de pedestres para se restringir

ao público "A" (GALVÃO, 2008 p. 03). Isso fica bem claro na foto a seguir:

Figura 2: Exemplo de local que prioriza automóveis

Fonte: Timeout São Paulo (2015)

Na fachada principal do Shopping Cidade Jardim, nota-se claramente que não

há entrada para pedestres. O acesso por bicicleta também é pouco não é

incentivado. Não há bicicletário e a entrada destinada às motocicletas (que pode

servir para bikes segundo informações do SAC) é no segundo subsolo, sendo que o

acesso é após toda a fachada do shopping.

Tomando como base esse exemplo, temos um cenário onde reverenciar o

consumo de quem chega de automóvel ao estabelecimento, para ser bem sucedido

obriga a grandes investimentos em infra-estrutura para acomodar clientes e seus

carros, sendo comuns grandes estacionamentos, sinalização, muitas vezes mão-de-

obra e seguro. Há ainda nesses espaços serviços extras como limpeza,

manutenção, vistoria, manobrista, segurança, etc.

Um investimento desse porte só pode ser bancado por grandes

empresas, que para compensar constroem grandes centros de compras ou lojas

enormes (as chamadas grandes superfícies), comprometendo o pequeno comércio,

Page 24: TCC Sem correções

19

que não pode bancar esse custo. Até mesmo o comércio de rua sofre com o número

insuficiente de vagas onde estão localizados, já que se aumenta o número de

carros, mas há redução nas vagas públicas

3.2 Adequação para oportunidades regionais

Municiar o empreendedor para tirar proveito dessa nova realidade na cidade

de São Paulo - que é o incentivo ao ciclismo - pode ser uma alternativa para se

defender dos impactos dos grandes centros comerciais e grandes superfícies. A

economia do automóvel pode não ser mais tão vantajosa para a sociedade e para o

empresário então mirar no público carrocrata. Consumir do pequeno empresário é

benéfico para a comunidade. A tabela mostra que quando compramos de uma

grande corporação o lucro não fica na comunidade, é remetido para as matrizes,

geralmente no exterior e com fundos de investimento na composição acionária

Tabela 2: Origem do capital de grandes supermercados

Fonte: websites das empresas especificadas (2015)

Em contrapartida, Elly Blue afirma que nos EUA de cada U$ 50,00 gastos no

comércio local, U$ 34,00 ficam naquela comunidade e é investido ali mesmo

(Bikenomics). Nenhum meio de transporte pode ser mais adequado para consumir

do comércio local e manter esse dinheiro na comunidade do que a bicicleta. Ainda

que argumente-se que o transporte a pé pode servir a esse propósito, o que é

Page 25: TCC Sem correções

20

incontestável, de todos os meios de transporte a bicicleta é o único que une a

praticidade semelhante a do transporte a pé, com a agilidade semelhante a um

veículo automotor. Com as seguintes vantagens:

• Não é motorizado, não polui ou gera ruídos

• Não é fechado por isso goza da mesma relação com o espaço do

pedestre

• Há a liberdade de parar e admirar uma vitrine ou promoção, ocupando

pouco espaço. (REGISTRO VERBAL, BICICLETADA-SP, 2014)

Mesmo com todas essas características semelhantes à locomoção a

pé não podemos esquecer de que bicicleta é um veículo tanto teoricamente, por

força da lei, quanto na prática. De acordo com o site Vá de bike, "bicicleta transita e,

em muitos casos, bem mais rápido que os automóveis."

Sabendo disso há leis que regulam toda a atividade de incentivo e

fomento à mobilidade urbana, para o poder público e esfera civil. Vamos a elas.

4. LEGISLAÇÃO DE REFERÊNCIA

Há diversas leis que protegem e regulamentam o transporte por

bicicleta e o fomento a esse modal na cidade e no país, porém para não desviar o

foco do trabalho adentrando muito no Código de Trânsito Brasileiro ou na Legislação

Municipal, via de regra é importante saber:

O comércio de qualquer tamanho tem obrigação de receber o ciclista com

estrutura apropriada. Essas obrigações podem variar conforme o tamanho do

estabelecimento.

Dentro do contexto da mobilidade urbana, o comerciante é parte fundamental

e deve promover o ciclismo como vem fazendo o poder público. Isso está expresso

nas leis, tais quais:

Page 26: TCC Sem correções

21

4.1 Lei municipal 10.907, de 1990

Determina, em seu artigo 1º, que “as construções de avenidas” no Município

de São Paulo têm “obrigatoriedade de demarcação de espaços para ciclovias”.

Examinando o texto da Lei, percebe-se a possibilidade de implementação tanto de

ciclovias (segregadas) quanto de ciclofaixas (apenas sinalização) Lei 10.907

(PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 1990).

4.2 Lei Municipal Nº 13.995, de junho de 2005

Dispõe sobre a obrigatoriedade de criação de estacionamento de bicicletas

em locais abertos à freqüência de público tais como órgãos públicos, shopping

centers, supermercados, instituições de ensino, agências bancárias, igrejas e locais

de cultos religiosos, hospitais, instalações desportivas, museus e equipamentos

culturais, dentre outros. Lei 13.995 (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO,

2005).

4.3 4.3. Lei Municipal Nº 15.649, de dezembro de 2012:

“13.3.4 Deverão ser previstas vagas para veículos de pessoas com

deficiência e/ou mobilidade reduzida, motocicletas e bicicletas, calculadas sobre o

mínimo de vagas exigido pela LPUOS, observando a proporcionalidade fixada na

tabela 13.3.4. (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2005)

Tabela 3: 13.3.4 - Porcentagem de vagas

Estacionamento Deficiente Motocicleta Bicicleta

Privativo até 100 vagas - 10% 5%

Privativo mais de 100 vagas 1% 10% 5%

Coletivo até 10 vagas - 20% 10%

Coletivo mais de 10 vagas 3% 20% 10%

(Prefeitura do Município de São Paulo, 2012)

Page 27: TCC Sem correções

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4.4 Lei Municipal Nº 14.266 de fevereiro de 2007:

Nota: esta é a lei mais importante e completa que temos referente ao

tema. Ela aborda todos os aspectos envolvendo obrigações e o incentivo ao ciclismo

urbano, conceitua e define diversos aspectos interessantes, tais quais:

4.4.1 Ciclovia

De forma empírica: estrutura cicloviária para bicicletas ideal, pois é

completamente segregada das faixas de rolamento destinadas aos veículos

mortorizados e pedestres.

Figura 3: Exemplo de Ciclovia

Fonte: G1 (2015)

4.4.2 Ciclofaixa

De forma empírica: faixa destinada à bicicleta isolada por sinalização,

porém sem divisão física das faixas de rolamento. É uma alternativa aos locais onde

não podem ser instaladas ciclovias.

Page 28: TCC Sem correções

23

Figura 4: Exemplo de Ciclofaixa

Fonte; Chave-de-boca, 2014

4.4.3 Bicicletário

É a estrutura ideal para estacionamento de bicicletas. Espaço

segregado e mais seguro.

Figura 5: Exemplo de Bicicletário

Fonte: Shopping Eldorado (2013)

Page 29: TCC Sem correções

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4.4.4 Paraciclo

Tal qual a ciclofaixa é a estrutura alternativa para estacionamento de

bicicletas, onde não é possível instalar um bicicletário. Vale ressaltar que nas

pesquisas de campo, foram detectados paraciclos instalados pela própria prefeitura

da cidade, ao longo dos locais onde foi instalada estrutura cicloviária. Detectamos

isso nas instalações do centro da cidade.

Figura 6: Exemplos de Paraciclo

Fonte: Ciclomídia, 2014

4.4.5 Aspectos da lei 14.266

É de suma importância para a sociedade civil, poder público e empresariado

entendê-la bem

"A lei 14.266, de fevereiro de 2007 (artigo 8° § 1º e § 2º)

dispões sobre a obrigatoriedade da instalação da estrutura nos

mesmos moldes da lei anterior, mas integra essa

obrigatoriedade a uma política de incentivo ao transporte mais

ampla, que prevê inclusive toda a infra-estrutura urbana

necessária para locomoção por bicicletas. incluindo ciclovias e

ciclofaixas." (LEI 14.266, 2007)

Page 30: TCC Sem correções

25

4.4.6 Artigos relevantes da lei 14.266

I. Art. 5º A ciclovia será constituída de pista própria para a circulação de

bicicletas, separada fisicamente do tráfego geral - ser totalmente

segregada da pista de rolamento do tráfego geral, calçada,

acostamento, ilha ou canteiro central; Poderão ser implantadas na

lateral da faixa de domínio das vias públicas, no canteiro central, em

terrenos marginais às linhas férreas, nas margens de cursos d'água,

nos parques e em outros locais de interesse;

II. Art. 6º A ciclofaixa consistirá numa faixa exclusiva destinada à

circulação de bicicletas, delimitada por sinalização específica,

utilizando parte da pista ou da calçada. A ciclofaixa poderá ser

adotada quando não houver disponibilidade de espaço físico ou de

recursos financeiros para a construção de uma ciclovia, desde que as

condições sejam compatíveis com a circulação de bicicletas.

III. Art. 7º não será abordado, pois não vai ao encontro do foco desde

trabalho.

4.4.7 Artigo 8º - O mais importante para comerciantes e empresários

IV. Art. 8º Os terminais e estações de transferência do SITP, os edifícios

públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios,

parques e outros locais (incluindo comércios) de grande afluxo de

pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas,

bicicletários e paraciclos como parte da infra-estrutura de apoio a esse

modal de transporte.

§ 1º O bicicletário é o local destinado para estacionamento de longa duração

de bicicletas e poderá ser público ou privado.

§ 2º O paraciclo é o local destinado ao estacionamento de bicicletas de curta

e média duração em espaço público ou privado, equipado com dispositivos para

acomodá-las.

Page 31: TCC Sem correções

26

V. Os Artigos 9º, 10º, 11º, 12º, 13º, 14º e 15º não serão abordados, pois

não vão ao encontro do foco desde trabalho

As fontes consultadas para as leis foram: Código de Trânsito Brasileiro,

Prefeitura do Município de São Paulo, DETRAN-SP e Site Vá de bike (2015).

Há ainda outras leis que versam sobre segurança do ciclista e sobre

mobilidade urbana, mas como o foco desta pesquisa é o comerciante, bem como

suas obrigações e oportunidades de negócios, nos concentramos nessas que foram

expostas. O comerciante que se instala e mantém operações dentro da cidade de

São Paulo, deve seguir a legislação vigente.

5. LEIS E O CICLOATIVISMO

Como pudemos observar, grande parte das leis foram aprovadas após

o ano 2005. Grande parte delas é fruto da atuação forte do movimento cicloativista.

Odir Züge Junior, doutor em direito pela USP, e cujo sua tese de doutorada foi sobre

o fenômeno do cicloativismo em São Paulo define o movimento e sua relação com

as leis sobre o tema da seguinte maneira:

"Um movimento que se organiza de forma horizontalizada e

descentralizada, há mais de 10 anos, e tem conseguido impor ao poder

público uma série de pautas relativas à administração pública nesses anos

não pode ser ignorado. Mas merece ser estudado, dado o fato que soube,

como poucos, articular um discurso que de certa forma tornou-se

hegemônico na administração municipal no que tange à gestão de trânsito,

sabendo, assim, esse movimento, articular falas que souberem convencer a

administração pública acerca de suas bandeiras." (Cicloativismo Paulistano:

Uma investigação Jurídico-Fenomenológica - São Paulo, 2015)

Ainda baseado no que diz a tese supracitada e da imersão no

movimento, é aceitável afirmar que as pautas desde o início podem ser

condensadas da seguinte maneira:

Page 32: TCC Sem correções

27

5.1 Pautas existenciais

Reconhecimento do ciclista como parte da mobilidade urbana (rebatendo o

"vai pedalar no parque"), luta contra a violência ("Finas educativas" por exemplo),

etc.r

5.2 Pautas políticas

"Descompasso entre o que é descrito na legislação e a realidade efetiva"

"O cicloativismo paulistano deve ser visto como um dos aspectos das lutas

pelo direito à cidade, no que tange à mobilidade" (Züge Jr, 2015).

5.3 Pautas Ideológicas

Segundo Züge Jr (2015), as pessoas se articularam através de ideais comuns

"Pudemos notar que se articulou um movimento social pelo agrupamento e

organização dessas pessoas em torno de ações comuns e de bandeiras comuns"

Züge Jr (2015).

6. DA LUTA CICLOATIVISTA AO COMÉRCIO IMPULSIONADO PELO CONSUMIDOR-CICLISTA

Essas pautas citadas no capítulo anterior formavam uma agenda tão

urgente tão importante que não havia espaço para abordar de forma mais

abrangente aspectos econômicos. As conquistas recentes como ciclovias,

ciclofaixas e as leis, além de acontecimentos indiretos como a maior visibilidade por

parte da mídia e imprensa, bem como uma ligeira melhora nas condições de vida

dos ciclistas urbanos, abriram espaço para inclusão de mais essa pauta - a

econômica. Por ser esse um dos eixos principais desta pesquisa, demonstraremos

e analisaremos a partir daqui muitas dessas iniciativas.

Os anos e anos de luta cicloativista, somados a uma constante piora nos

níveis de qualidade de vida causados pelo uso intensivo de veículos automotores,

Page 33: TCC Sem correções

28

bem como a frustração dos congestionamentos e transportes públicos saturados, faz

com que a bicicleta cada vez mais venha ganhando destaque.

6.1 Impactos nos negócios regionais

O impacto nos negócios - sobretudo pequenos e regionais - terá uma análise

mais aprofundada nos próximos capítulos. As novas oportunidades proporcionadas

pela instalação de estrutura cicloviária também será um dos focos, bem como o

incentivo (ou ao menos a facilitação) por parte do empreendedor, ao cliente que

chega a seu estabelecimento de bicicleta. Não só respeitando as leis já

mencionadas, mas também por livre iniciativa, até mesmo para fugir da forte

concorrência dos negócios calcados na carrocracia (vide o capítulo "Questões da

economia local").

Outro dos argumentos defendidos fortemente pelos cicloativistas é que nem

todos os deslocamentos necessitam de carro, mas sim o contrário, a maior parte

deles não deve ser feitos de carro, sobretudo os de curta distância. "Os cicloativistas

argumentam que as bicicletas são veículos mais adequados para curtas distâncias,

trazem benefícios à saúde, não poluem e não ocupam grandes espaços" (BOL,

2013).

6.2 Consumo regional de curta distância

Antes de entrarmos mais a fundo na questão dos deslocamentos de

curta distância, vale compartilhar uma reflexão comum nas discussões sobre

mobilidade urbana: o motorista que fica horas parado em congestionamentos culpa

os demais motoristas, a diversas esferas de poder público, o ciclista, o pedestre, a

estrutura viária (buracos, semáforos) mas não se enxerga como parte do problema,

ele também é causa e não unicamente vítima das consequencias do trânsito.

Ao não se identificar como causa do problema, o cidadão continua usando o

carro indiscriminadamente, inclusive em trajetos bem curtos. Esse uso

indiscriminado é a principal causa dos congestionamentos, que tem causas

Page 34: TCC Sem correções

29

multifatoriais obviamente, mas uma notável é o grande volume de motoristas que

fazem seus deslocamentos longos e curtos de automóvel e o pior: unicamente de

automóvel (sem envolver outras opções como transporte público), mesmo em

trajetos curtos, como explanou

25% do congestionamento que temos hoje se devem a

percursos curtos feitos de carro, menos de 3 km. Mas a

bicicleta não é só um meio de transporte menos poluente e

mais compacto: com ela temos maior empatia com o entorno

(GUILHERME WISNIK PROFESSOR DA FAU, 2014)

Nesse contexto, a bicicleta além de uma modalidade válida e significativa no

transporte na cidade pode resultar em uma boa alternativa para as compras. Ora,

se 25% dos congestionamentos têm como causa percursos curtos feitos de carro -

de menos de 3 km - e esse é um raio bastante abrangente para qualquer centro

comercial local (e até para a migração a outros bairros vizinhos). Fizemos duas

pesquisas para comprovar isso.

7. PESQUISAS SOBRE DESLOCAMENTOS

Como mencionado, fizemos duas pesquisas para comprovar que os

deslocamentos de curtas distâncias podem ser melhorados e até substituídas.

Pretendemos demonstrar até mesmo que podem ser feitas sem automóvel,

privilegiando o comércio regional.

7.1 Pesquisa 1 - Distância entre centros comerciais

7.1.1 Metodologia

I. Escolhemos 3 regiões da cidade em que pudéssemos comprovar que

num raio de 3 km (que foi o dado passado pela Prefeitura e pelas

associações) há diversos centros comerciais importantes que podem

servir à população local satisfatoriamente.

Page 35: TCC Sem correções

30

II. Num primeiro momento fomos "in loco" em subdistritos previamente

familiarizados para comprovar a proximidade de centros comerciais

com comércio local relevantes. Outros pontos a se observar:

• O ponto de partida escolhido é invariavelmente um grande

hipermercado, shopping ou grande superfície:

• Para a Ponte Rasa o ponto de partida foi a loja do hipermercado Extra

Penha e o Auto Shopping Cristal.

• Para a Zona Oeste o ponto de partida foi a loja do hipermercado

Carrefour da Vila Leopoldina.

• Para a Zona Sul o ponto de partida foi à loja do hipermercado Carrefour

da Praça Alberto Lion.

• O intuito aqui é acrescentar mais um parâmetro à pesquisa: que em

menos de 3 km há centros comerciais de comércio local como alternativa a

uma dessas mega lojas.

III. Planilha de dados:

Tabela 4: Regiões pesquisadas

Zona Subdistrito Principal Subdistrito Relevante Centros Comerciais no perímetro

Leste Ponte Rasa Penha 4

Oeste Vila Leopoldina Pinheiros >4

Sul Ipiranga Centro 4

Central Obs: 1

Norte Obs: 2

Fonte: Autor (2015)

Page 36: TCC Sem correções

31

• Observações:

• A região central por si só já é um centro comercial amplo, com centros

segmentados em seu interior. Abordaremos essa região separada na próxima

pesquisa.

• Não houve pesquisa na Zona Norte devido ao baixo nível de

conhecimento "in loco" sobre esta região.

• Com posse das regiões previamente determinadas na tabela acima,

cruzamos os dados com os fornecidos pela plataforma Google Maps:

Figura 7: Zona Leste

Fonte: Autor, Google Maps (2015)

Figura 8: Zona Oeste

Fonte: Autor, Google Maps (2015)

Page 37: TCC Sem correções

32

Figura 9: Zona Sul

Fonte: Autor, Google Maps (2015)

7.1.2 Resultados da Pesquisa

Através desta pesquisa pudemos observar que:

• Em 100% das regiões pesquisadas (cobrindo 80% das zonas da

cidade) há mais de 4 centros comerciais relevantes num perímetro (raio) de 3

km de um ponto de partida.

• O ponto de partida era um hipermercado, shopping ou grande

superfície. Com isso comprovamos que nessas regiões há alternativas de

centros com comércio local como alternativa a uma dessas mega lojas.

• O simples fato de trocar se locomover de carro até um desses grandes

centros, por uma ida de bike até o comércio de rua a menos de 3 km de

distância, favoreceria o trânsito e a economia local.

7.2 Pesquisa 2 - Comparativo Intermodal

Antes de demonstrar a pesquisa, demonstraremos seu embasamento: O

Desafio Intermodal.

Page 38: TCC Sem correções

33

7.2.1 Desafio Intermodal

O Desafio Intermodal é uma competição que tem o intuito de aferir qual

meio de transporte é mais eficiente nas cidades no "rush" do período da tarde, como

demonstra a descrição oficial a seguir.

Doze pessoas participam do Desafio Intermodal em São Paulo. O

Instituto Ciclobr de Fomento à Mobilidade Sustentável organiza o Desafio,

que faz parte dos eventos do Dia Mundial sem Carro. Utilizando diferentes

modais, como carro, moto, bicicletas, cadeira de rodas, além de pessoas

integrando os transportes públicos como ônibus, metrô e trem. Os impactos

ambientais também são analisados. (CICLOBR, 2013)

A largada é na Av. Luis Carlos Berrini e a chegada na sede da Prefeitura, no

Viaduto do Chá. Em geral, diversas autoridades participam do evento. A bicicleta é a

bicampeã recente, 2014 e 2015. Os demais resultados estão na tabela a seguir:

Tabela 5: Desafio Intermodal - Tempos

Fonte: Instituto CicloBR (2013)

7.2.2 Mote da pesquisa neste comparativo intermodal

A região central da cidade de São Paulo possui diversas regiões de comércio

segmentados como Gasômetro (madeiras e ferragens), Paula Souza (utensílios),

Page 39: TCC Sem correções

34

Zona Cerealista (cereais e grãos), etc. Ao menos quatro dessas regiões são

próximas geograficamente, possuem itens em comum e atraem um número enorme

de visitantes de todos os perfis. São elas:

• 25 de março (miudezas e armarinhos)

• Santa Ifigênia (eletrônicos)

• Brás (importados e vestuário)

• Mercado/Santa Rosa (alimentos)

• Obs: As Informações sobre esses centros de comércio foram obtidas

no portal Cidade de São Paulo (2013).

Inspirado no desafio intermodal, fizemos a seguinte pesquisa

intermodal para medir qual o melhor meio de transporte para se deslocar entre em 3

centros de compras populares próximos, no centro da capital paulista: Região da 25

de Março (onde incluímos Mercado/Santa Rosa), Região da Rua Santa Ifigênia e

Região do Brás. O intuito é aferir qual o melhor modal para se locomover entre eles.

7.2.3 Metodologia

I. Desconsiderando o local de onde partimos, (apenas como referência

fica a 12 km da região central) definimos como ponto de partida para a

pesquisa a região da Rua Santa Ifigênia e nos deslocamos até lá.

II. Cenário: A pessoa se desloca até a Santa Ifigênia em busca de um

acessório para seu computador. Ela mora a 12 km do centro e quer

aproveitar a viagem para comprar um brinquedo infantil simples na 25

de março e/ou ver roupas no Brás.

III. Modais: Os escolhidos para a aferição foram: bicicleta, metrô e carro.

Page 40: TCC Sem correções

35

7.2.4 Informações gerais

• Na imagem e tabela interna abaixo vemos as distâncias entre esses

pontos:

Figura 10: Distâncias entre pontos

Fonte: Autor, Google Maps (2015)

• A data da realização da pesquisa foi Agosto de 2015

• Observações:

• Para evitar o trânsito e calçadões optamos por fazer o trecho de carro e

bicicleta pelas Ruas Washington Luis e Paula Souza

• O trecho entre 25 de março e Brás, na modalidade transporte público foi

feito de ônibus a partir do Terminal Pq Dom Pedro (linha Terminal AE

Carvalho), os demais foram todos de metrô, e incluíram baldeações

quando necessárias.

• Para o gasto, o carro se refere á: R$ 10,00 de combustível, R$ 12,00 de

estacionamento e R$ 7,00 de duas zonas azuis. Os tempos incluem

estacionamento.

Page 41: TCC Sem correções

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7.2.5 Planilha de dados

Tabela 6: Trechos e tempos

Trecho percorrido Tempos Aferidos

Trajeto Distância Bicicleta Transporte Carro Santa Ifigênia/25 de março 2,27 km 00:06:10 00:16:20 00:18:50

Sta. Ifigênia/Brás 3,79 km 00:14:30 00:29:50 00:26:50

25 de março/Brás 2,45 km 00:09:20 00:17:00 00:13:30

Gasto monetário (total) R$ - R$ 7,00 R$ 29,00

Trecho percorrido Tempos Google Maps

Trajeto Distância Bicicleta Transporte Carro

Sta. Ifigênia/25 de março 2,27 km 00:08:00 00:14:00 00:21:00

Sta. Ifigênia/Brás 3,79 km 00:18:00 00:27:00 00:37:00

25 de março/Brás 2,45 km 00:12:00 00:19:00 00:14:00

(Fonte: pesquisa realizada e Google Maps)

7.2.6 Resultados

A pesquisa mostra que para aquele consumidor de carro ou de transporte

público, as compras podem se restringir geograficamente, para o local onde o se

dirigiu inicialmente, não conseguindo realizar todas as compras pois o tempo

necessário para o deslocamento atrapalha um pouco a mobilidade. Fora isso, o valor

da passagem e/ou combustíveis pode muitas vezes comprometer a vantagem que

haveria de pesquisar em outro local.

De automóvel a pesquisa conclui que se somando o tempo entre

deslocamento e busca por vaga, mais os custos de combustível e estacionamento

nos dois locais pesquisados (que pode variar de zona azul a 25 a primeira hora, no

caso pagamos R$ 12,00 a primeira hora) inviabilizam qualquer vantagem de se

pesquisar e eventualmente comprar nos dois locais na mesma viagem, sendo que

aqui também a compra se restringiria a um local apenas.

Já de bicicleta não há custo algum para deslocar-se de um centro de compras

a outro e os tempos dos deslocamentos são infinitamente menores. Quanto ao

Page 42: TCC Sem correções

37

transporte das mercadorias adquiridas, para o consumidor final não limita muito,

visto que as pequenas compras são facilmente de carregar no guidão da bike. Para

compras médias, mais volumosas ou pesadas existem opções como levar uma

mochila costal junto ao corpo (mais comum) e até mesmo a instalação de

bagageiros e alforjes na bicicleta. Com essa configuração, a bicicleta pode carregar

muito mais peso e volume (em alguns casos, pode carregar mais de 100 kg), e o

investimento é relativamente pequeno. Muitos ciclistas utilizam esse artifício

inclusive para ir trabalhar com a bicicleta, levando no alforje as roupas e acessórios

necessários para o ambiente de trabalho.

Seja para transporte de mercadoria, seja para deslocar-se até o trabalho,

diversos tipos de bicicletas existentes podem atender diversos tipos de

necessidades, o que de certa forma é uma novidade para o grande publico. O que

veremos a partir de agora, pode esclarecer muitas questões que são novidades para

uma parcela significativa da população, já entrando num tema central deste estudo:

a economia da bicicleta.

8. A ECONOMIA DA BICICLETA

Até aqui, no que concerne ao comerciante, vimos a legislação que

deve ser seguida pelo ciclista, impactos dos grandes negócios e da carrocracia na

economia, além de pesquisas mostrando a eficiência da bicicleta na mobilidade

urbana. Tudo isso é novidade para muitos e toda novidade causa certo

estranhamento no início.

As novidades causaram estranheza nos comerciantes do bairro de

Higienópolis em São Paulo, que pressionaram o poder público a apagar a ciclofaixa

que passaria numa praça do bairro (Terra, 2014). Comerciantes da região da Santa

Cecília registraram boletim de ocorrência e organizaram abaixo assinado ao verem

que estava sendo construída uma ciclofaixa no bairro (Agora SP, 2014).

Mas isso não é uma exclusividade nossa. Elly Blue afirma que em

Manhattan, os opositores às ciclovias previam que a nova infra-estrutura feriria

negócios, atrapalhariam as vendas. No entanto nos locais que receberam a estrutura

houve aumento de 50% entre 2006 e 2010, mesmo durante uma recessão. No

Page 43: TCC Sem correções

38

mesmo período, as vendas onde não havia ciclovia aumentaram apenas 3%

(Bikenomics, 2013).

Mas e aqui no Brasil? Mais especificamente na cidade de São Paulo?

Fizemos uma pesquisa visando mensurar esse aspecto e alguns outros O primeiro

passo para isso é demonstrar a principal pesquisa deste estudo, denominada A

Bicicleta nos Negócios.

8.1 A pesquisa Bicicleta nos negócios

A pesquisa Bicicleta nos negócios é uma das mais importantes deste estudo.

Ela visa corroborar o que consta na introdução, no referencial teórico e no

desenvolvimento. Também visa dar embasamento para a conclusão.

Ela está disponibilizada na íntegra, anexada na sessão "Apêndice A".Universo

da pesquisa e delimitação

A pesquisa se realizou na cidade de São Paulo, em comércios de qualquer

tipo de diversas regiões da cidade (ver mapa da pesquisa). O delimitador principal

foram comércios instalados em vias que receberam estrutura cicloviária a partir de

Junho/2014.

A amostragem total foi de 50 estabelecimentos comerciais pesquisados

formalmente e em torno de mais 15 informalmente (sem relevância para composição

e tabulação dos dados).

8.1.1 Metodologia

I. Essa é uma pesquisa que foi realizada por métodos de procedimento e

com a técnica de observação direta extensiva. É uma pesquisa de

campo e ao mesmo tempo de mercado (LAKATOS, MARCONI, 2003).

Ela é composta de 12 questões, todas obrigatórias, sendo que (na

ordem em que aparecem):

II. Há 3 de identificação do estabelecimento e do entrevistado, sem

relevância na composição dos dados e questões abertas;

Page 44: TCC Sem correções

39

III. Há 1 para localização geográfica, com relevância na composição e

tabulação dos dados e questões fechadas, de múltipla escolha,

aceitando apenas uma alternativa;

IV. Há 5 visando aferir os dados importantes para a pesquisa, com

relevância na composição e tabulação dos dados e questões fechadas,

de múltipla escolha, aceitando apenas uma alternativa;

V. Há 2 visando medir a inclinação do entrevistado quanto à preferência

por carro bicicleta, e sua isenção. Com relevância na composição e

tabulação dos dados e questões fechadas, de múltipla escolha,

aceitando apenas uma alternativa;

VI. Finalizando, há 1 visando medir por quais modais os clientes chegam

aos estabelecimentos, com relevância na composição e tabulação dos

dados e questões fechadas, de múltipla escolha, aceitando mais de

uma alternativa.

8.1.2 Mapa da pesquisa e planilha interna com endereços

Figura 11: Locais da pesquisa

Fonte: Autor, Google Maps (2015)

8.1.3 Questões e gráficos estatísticos

Obs.: As questões 1,2 e 3 não têm relevância na composição e

tabulação dos dados da pesquisa. Elas estão discriminadas na sessão Apêndice A.

Page 45: TCC Sem correções

40

Gráfico 2: Questão 4 - Endereço:

Fonte: Autor (2015)

Gráfico 3: Questão 5 - Depois da instalação da ciclovia neste endereço, o movimento de clientes:

Fonte: Autor (2015)

Gráfico 4: Questão 6 - Quanto ao movimento de clientes que chegam de bicicleta:

12%2%

37%

2%

6%

41%

Distribuição territorial da pesquisa

Consolação/Amaral Gurgel

Moema (Aratãs, Iraí, etc)

Arredores de Pinheiros

Paulista/Paraíso/Vila Mariana

Penha (Tiquatira, Calim Eid, Radial, etc)

Pinheiros (João Moura, Artur de Azevedo. etc)

12%

18%

70%

Movimento de clientes em geralAumentou Diminuiu Permaneceu estável

Page 46: TCC Sem correções

41

Fonte: Autor (2015)

Gráfico 5: Questão 7 - Houve instalação de paraciclo, bicicletário ou o estabelecimento permite a entrada com a bicicleta?

Fonte: Autor (2015)

14%0%

86%

Movimento de clientes ciclistaAumentou Diminuiu Permaneceu estável

53%

16%

31%

Adequação do estabelecimentoNão Sim e há divulgação disto Sim mas não há divulgação disto

Page 47: TCC Sem correções

42

Gráfico 6: Questão 8 - Há algum tipo de incentivo ou facilidade ao cliente que chega de bicicleta?

Fonte: Autor (2015)

Gráfico 7: Questão 9 - Há algum tipo de incentivo ou facilidade ao cliente que chega de automóvel?

Fonte: Autor (2015)

63%12%

19%6%

Incentivo ao cliente que chega de bicicletaNão pretendemos oferecer incentivos ou facilidades aos ciclistas

Sim, há desconto ou algum outro tipo de vantagem comercial (como brindes) a quem chega de bicicleta

Sim, temos banheiros, local para o ciclista limpar-se, oferecemos bebida fresca, ou outra ação deste tipo

Uso do Estacionamento

2%

33%

59%

6%

Incentivo ao cliente que chega de automóvelEstamos estudando oferecer algum tipo de incentivo ou facilidade

Não pretendemos oferecer incentivos ou facilidades aos clientes que chegam de automóvel

Sim, temos estacionamento ou bonificamos estacionamento qdo pago

Sim, temos sistema de vallet (pago)

Page 48: TCC Sem correções

43

Gráfico 8: Questão 10 - As suas impressões sobre a instalação de ciclovias e ciclofaixas são:

. Fonte: Autor (2015)

Gráfico 9: Questão 11 - As suas impressões sobre automóveis na via é:

Fonte: Autor (2015)

Gráfico 10: Questão 12 - A maior parte dos clientes que tem como destino seu estabelecimento chega:

26%

35%9%

30%

Suas impressões sobre ciclovias:

Acho bom para a cidade e para os negócios

Acho ruim para a cidade e para os negócios

Falta melhor planejamento

Não vejo relação entre negócios e ciclovias

6%

49%29%

16%

As suas impressões sobre o trágego na rua é:De carro há dificuldade de visualização do meu negócio

Há diferença nas vendas quando a via está congestionada ou fluindo

Nenhuma das anteriores

O cliente de carro tem dificuldades para encontrar vaga de estacionamento

Page 49: TCC Sem correções

44

Fonte: Autor (2015)

8.1.4 Dados adicionais fornecidos pelo entrevistador

Apesar das questões 10 e 11 visarem avaliar as impressões do

entrevistado quanto à sua isenção, isso fica mais bem avaliado pelo entrevistador.

Levantou-se se questões político-partidárias, discriminação ou falta de

conhecimento. O gráfico abaixo demonstra em quantos estabelecimentos houveram

esses problemas.

Gráfico 11: Estabelecimentos com críticas verbalizadas

Fonte: Autor (2015)

16%

43%10%

31%

Os clientes chegam em seu estabelecimento:

A pé A pé, De automóvel A pé, De bicicleta, De automóvel De automóvel

14%16%

70%

Estabelecimentos com críticasPesada Leve Não

Page 50: TCC Sem correções

45

A tabela a seguir demonstra quais foram essas queixas, divididas em grupos :

Tabela 7: Principais críticas verbalizadas

Demonstração dos comentários feitos Estabelecimento Local

A ciclovia fica o dia inteiro vazia/Desperdício de dinheiro público/A qualidade do trabalho é ruim

Viva Sport vestuário Centro

Casa das ferragens Centro

JM ferragens Centro

Box Lanches Pinheiros

MB mats const Pinheiros

Casa Tony Pinheiros

Construhands Pinheiros

Jumaq móveis Centro

A prefeitura fez sem planejamento algum/Não houve consulta aos moradores e comerciantes

Viva Sport vestuário Centro

Casa das ferragens Centro

JM ferragens Centro

Comentários agressivos contra o prefeito e/ou seu partido. Críticas generalistas, sem ponto específico

Construhands Pinheiros

JM ferragens Centro

Viva Sport vestuário Centro

Mb mats const Pinheiros

Críticas ao relevo da cidade/Insegurança/Impossibilidade de bicicleta ser

meio de transporte

Viva Sport vestuário Centro

Mb mats const Pinheiros

Construhands Pinheiros

Referiu-se aos ciclistas com palavras fortes, desalentadoras, ou de baixo calão

Construhands Pinheiros

Viva Sport vestuário Pinheiros

Box Lanches Centro

Nosso público é diferenciado, não usa bicicleta. Affair Roupas Pinheiros

Jumaq móveis Centro

Expulsa clientes que chegam de bicicleta Lanchonete Belas Artes Centro

Fonte: Autor (2015)

Page 51: TCC Sem correções

46

8.1.5 Considerações finais da pesquisa

Um consenso entre todos os entrevistados é que qualquer atividade

comercial necessita vender. Então a pergunta que fica é: qual a vantagem em se

opor ferrenhamente à nova estrutura cicloviária ao invés de se aproveitar desse

novo leque de oportunidades que se abre? E como fazer isso? Nos próximos tópicos

iremos dar exemplos, mostrar iniciativas incipientes e consolidadas e pesquisas que

podem ajudar o comerciante.

8.2 Incentivos ao cliente que chega de bicicleta

Ao comércio que oferecem incentivos para os clientes chegarem de

bicicleta a seus estabelecimentos, os recebem bem e optam por conhecer melhor

esse nicho de mercado dá-se o título de "bike-friendly" que em tradução aproximada

significa "amigável com o ciclista".

Muitos estão aproveitando os incentivos ao ciclismo como meio de

transporte e o maior fluxo de ciclistas nas ruas. Além de nossa pesquisa, de acordo

com outra da associação Ciclocidade, uma das organizações de ciclistas mais

atuantes na cidade hoje em dia, afirma que:

Nos lugares onde isso aconteceu (maior fluxo de ciclistas nas ruas em

diversas cidades no mundo) o resultado foi ótimo para o comércio, pois

ciclistas são os melhores tipos de cliente: ao serem estimulados, voltam

com regularidade, gastam mais vezes no mês do que motoristas e o custo

para agradá-los é muito baixo. (CICLOCIDADE, 2015)

Essa pesquisa do Ciclocidade e algumas outras demonstram alguns

dados referentes ao impacto de ser bike-friendly no comércio. Veremos a seguir.

8.3 Pesquisas e dados coletados em fontes externas

8.3.1 Ciclocidade - Bicicleta faz bem ao comércio

De acordo com a Ciclocidade em sua pesquisa Bicicleta Faz Bem ao

Comércio, pesquisa feita em Portland nos Estados Unidos "mostrou que

Page 52: TCC Sem correções

47

mensalmente, ciclistas gastavam em média 24% a mais pois visitavam o comércio

mais vezes. Em Toronto, no Canadá, e em cidades da Nova Zelândia, há registros

similares." (CICLOCIDADE, 2015).

A pesquisa desenvolvida por eles ainda aponta ao menos 10 estabelecimentos variados que oferecem vantagens aos ciclistas, que vão desde

readequação do receptivo do comércio, seja instalando paraciclos ou bicicletários,

até incentivos que vão de brindes a descontos. A pesquisa deles cita quase um

dezena de estabelecimentos entre restaurantes, lanchonetes, sorveterias, óticas e

mercados.

8.3.2 Ciclomídia - Clientes da empresa

Bem abrangente é o número de clientes da empresa Ciclomídia, que

tem como foco "soluções para estacionamento de bicicletas: paraciclos, bicicletários

e Bike Valet para eventos" (CICLOMÍDIA, 2015).

A maior parte das instalações da empresa são de paraciclos (ver

capítulo 4.4.4), cuja descrição é:

Rack inspirado no modelo inglês “Sheffield”, popularmente conhecido

como “U” invertido. Cada equipamento permite o estacionamento

simultâneo de duas bicicletas. Esse modelo é considerado pelos ciclistas

como ideal e mais seguro por permitir que a bicicleta seja trancada pelo

quadro e pelas rodas minimizando a possibilidade de furto da bicicleta.

Disponibilizar um bom paraciclo, significa que esse ciclista terá tranquilidade

para fazer suas compras com calma em seu estabelecimento sem ter que

se preocupar o tempo todo com a sua bicicleta. "Essa facilidade é o primeiro

passo para fidelizar um ciclo cliente." (CICLOMÍDIA, 2015)

A empresa chama as suas instalações de Bike Points e já conta com

mais de 170 serviços realizados desde o começo de suas operações, praticamente

todos na cidade. Segundo Eduardo Grigoletto, proprietário da Ciclomídia, os clientes

que instalam seus Bike Points lançam mão de uma estratégia integrada e podem

oferecem algum incentivo ao ciclista, de brindes a descontos (INFORMAÇÃO

VERBAL - EDUARDO GRIGOLETTO, 2015)

Page 53: TCC Sem correções

48

8.3.3 Editora MOL - Eu sou a mudança

A pesquisa "Eu sou a mudança: 100 projetos que usam a bicicleta para

transformar o Brasil, feita pela Editora MOL, lista em torno de iniciativas 10 na cidade de São Paulo, de fabricantes de alforjes a floriculturas. (EU SOU A

MUDANÇA, 2015)

8.3.4 São Paulo Turismo S/A

A São Paulo Turismo S/A criou um site bem completo chamado

SPdebike, onde lista diversas dicas. Na sessão "Bike Friendly" há uma lista com diversos locais que recebem bem os ciclistas e suas bicicletas. Na lista há de

parques a shoppings. Os estabelecimentos de rua listados somam 10, alguns

oferecem apenas local para estacionar, mas há oferta de sucos gratuitos e

descontos de até 10% pra quem chega de bike. (SP DE BIKE, 2015).

8.3.5 Consulta a ciclistas

Uma pesquisa informal com outros ciclistas regulares, sobretudo da

zona oeste de São Paulo, indicaram ainda outros 8 estabelecimentos, incluindo

lanchonetes e casas de shows. (INFORMAÇÃO VERBAL - BICICLETADA-SP).

8.3.6 Resultados de outras fontes

• Os trabalhos da Ciclomídia: 170 bike points (sendo uns 70% de

comércios variados)

• Levantamento da pesquisa Bicicleta faz bem ao comércio da

Ciclocidade: 10 estabelecimentos

• Lista da Editora Mol,10 estabelecimentos em SP

• A pesquisa que fizemos com ciclistas: 8 estabelecimentos

• A SP Turismo apontando outros 10 locais

Page 54: TCC Sem correções

49

Neste levantamento, já são quase 200 comércios bike-friendly na cidade, que

vem se somar a outras iniciativas mais consolidadas.

9. INICIATIVAS MAIS CONSOLIDADAS NA CIDADE

9.1 Entregas com bicicletas: consolidado na cidade.

Um bom exemplo de economia em duas rodas que há algum tempo

está consolidado na cidade e trás bons frutos tanto para microempreendedores

individuais até empresas de pequeno e médio porte é o mercado de entregas com a

bicicleta.

9.1.1 Panorama do negócio

De forma generalista este setor da economia pode ser dividido em 3

grupos principais:

• Microempreendedores individuais de venda porta a porta

• Comerciantes que usam a bicicleta em suas entregas

• Empresas de bike courier

9.1.2 Microempreendedores individuais de venda porta a porta

A seguir, listamos 3 exemplos de microempreendedores individuais que usam

a bicicleta para vendas porta a porta.

Vale aqui duas observações:

• Os 3 empreendedores consultados trabalham na informalidade e não

têm interesse numa possível regularização.

• De todos, apenas o segundo personagem tem anseios de mudar de

profissão ou ramo de atuação caso haja a oportunidade, porém tanto ele

quanto os outros destacam que trabalhar com a bicicleta faz bem à saúde.

Page 55: TCC Sem correções

50

PÃES E DOCES

Eder Cândido (foto) é mineiro, está a 5 anos em São Paulo e trabalha

vendendo pães e doces porta a porta na Zona Leste de São Paulo. Usa uma

bicicleta tipo cargueira azul. Ele ganha uma comissão em cima dos pães vendidos,

seus rendimentos superam os R$ 1200,00 mensais. Trabalha aproximadamente 6

horas por dia, 3:00 horas pela manhã bem cedo e mais 3:00 horas à tarde, iniciando

este segundo turno por volta de 16:30. Os pães e doces vêm de uma fábrica mais

próxima ao centro da cidade, chegam a sua casa em uma van com temperatura

controlada e boas condições de higiene. Apesar de não parecer um valor muito alto

há de se observar que não há gasto

Figura 12: Entregador de pães

Fonte: Autor (2015)

Outro caso semelhante foi flagrado na Barra Funda. O ciclista que não quis

ter seu nome divulgado também pedala em média 6 horas por dia em dois turnos,

Page 56: TCC Sem correções

51

faz eu horário (apesar de afirmar que não pode voltar com mercadorias sem vender

pois teria que se desfazer delas). A bicicleta é uma cargueira semelhante e os

cestos e itens também (infelizmente não autorizou foto). Quanto aos rendimentos,

ele não deixou muito claro, mas afirmou que superam os R$ 1200,00 do ciclista

anterior. Já um dado interessante é sobre a procedência de suas mercadorias. Elas

também chegam em uma van com as mesmas especificações que a anterior até sua

casa, nos arredores da Barra Funda. Mas nesse caso a fabrica fica em Guaianases,

no extremo leste da capital paulista.

CALÇADOS

Já para o Sr. Olívio (foto) de 85 anos a bicicleta é usada até hoje para

vender calçados de porta em porta. Figura conhecida na região da Penha, Zona

Leste de São Paulo, começou vendendo frios e embutidos, ao casar-se sua esposa

começou a fazer calçados artesanais. Seu esquema de vendas era sempre porta a

porta e sempre de bicicleta, um modelo normal, simples até (colocou marchas

recentemente, sendo que pedalou a vida inteira em bicicletas dos tipo "single

speed") no qual ele adapta um baú de motocicleta. Nesse esquema de vendas ele

conquistou uma casa confortável no bairro da Vila Granada (Zona Leste de São

Paulo) e educou os dois filhos, dando-lhes inclusive a oportunidade de terem nível

superior.

Page 57: TCC Sem correções

52

Figura 13: Vendedor de calçados

Fonte: Autor (2015)

9.1.3 Comerciantes que usam a bicicleta em suas entregas

Separamos aqui exemplos de pequenos e médios negócios que

utilizam bikes como modal de entrega.

I. A Folha de São Paulo trás o exemplo da Dare Gusto, armazém de

importado no bairro da Moóca em São Paulo

Cogumelos. Molho de mostarda. Algas para fazer sushi. Importados da

China, os produtos atravessam o oceano até chegar a um armazém na

Mooca, zona leste de SP. E então seguem para clientes. Na garupa de

bicicletas. Fazemos 60% das entregas de bike. Em dias de pico, temos três

ciclistas. Um dos principais motivos para a escolha do meio de transporte é

o custo. Para um volume de até oito caixas e peso de 25 kg, o que

corresponde R$ 1.000 em mercadoria, a bicicleta sai mais barato."

(FOLHA DE SÃO PAULO, 2015)

A reportagem não citou qual o tipo de bicicleta utilizada, mas pelos volumes

informados, estima-se que seja um bicicleta do tipo cargueira.

• Ainda no tema do uso das bicicletas do tipo cargueiras, é notável a

quantidade de açougues, distribuidoras de bebidas e mercadinhos que fazem

entregas de seus pedidos com bicicletas desse tipo. Não há números oficiais,

Page 58: TCC Sem correções

53

mas na região central por exemplo, em todo canto nota-se esse tipo de

entrega (detectamos ao menos 10, numa visão mais empírica, se tratavam de

açougues, adegas e mercadinhos em sua maioria). Em nossas pesquisas de

campo, encontramos dois exemplos:

II. Exemplo 1 - Quitanda Reis

A Quitanda Reis localiza-se no bairro de Pinheiros, Zona Oeste da cidade e

faz todas as suas entregas de bicicleta. Conta com uma cargueira e dois

funcionários (que não se dedicam apenas a isso no dia-a-dia) se revezam na função.

O volume estimado de entregas por dia é de 10 a 15.

Figura 14: Bicicleta cargueira da Quitanda Reis

Fonte: Autor (2015)

III. Exemplo 2 - Mercado Prates

O estabelecimento é uma espécie de adega na região da Av. Amaral Gurgel,

no centro da cidade. Conta com 4 bicicletas cargueiras e apenas 3 entregadores,

Page 59: TCC Sem correções

54

que se dedicam apenas a isso no dia-a-dia. Estão contratando mais dois

entregadores. O volume estimado de entregas por dia é de 30 a 35.

Figura 15: Uma das bicicletas cargueiras do Mercado Prates

Fonte: Autor (2015)

Mas nem todas as entregas com bicicleta são feitas por bikes

cargueiras. Há uma classe de negócios que cresce em São Paulo a de Bike Courier,

que geralmente usa bicicletas all terrain, híbridas e em muitos casos fixas em suas

entregas.

9.1.4 Bike Courier

O serviço de Bike Courier se configura nos mesmo moldes que o de

motoboys, porém com bicicletas. As dimensões e peso máximos são semelhantes

aos transportados pela moto, mas a praticidade chega a ser maior. O portal Vá de

Bike define da seguinte maneira:

O trabalho realizado por esses profissionais, também conhecidos

como bike boys ou bike messengers, custa menos que entregas

motorizadas, leva o mesmo tempo, não polui o ar que respiramos, não é

mais demorado e em muitos casos chega a ser mais barato que o serviço

Page 60: TCC Sem correções

55

de motofrete. E ainda consegue carregar volumes maiores (caso se adapte

à bicicleta um Reboque) (Vá de Bike, 2011).

Corroborando a definição citada, o site de uma das empresas do setor a

Courrieros, diz que a bicicleta é: "Prática ao se deslocar e ao estacionar, fácil

manutenção e sem o risco de problemas elétricos ou hidráulicos, a bike é, sem

dúvida, um dos meios de transporte mais eficientes em cidades como São Paulo e

Rio de Janeiro". Outra empresa do setor, a Carbono Zero, diz que em 2014 o

faturamento aumentou 113% e que suas entregas deixaram de emitir 41 toneladas

de CO2 na atmosfera. O gráfico a seguir. aponta estes dados citados e ainda outros:

Quadro 1: Dados de empresa de Bike Courier

Fonte: Carbono Zero (2014)

Não apenas a Carbono Zero mais do que duplicou seu faturamento,

como o crescimento do setor pode ser detectado também na Courrieros, outra

empresa do setor que obteve números bem semelhantes de crescimento. Uma outra

empresa atuante nesse mercado, a Courrieros - que foi fundada em em 2012 e até

então contava com apenas um entregador - fechou 2013 com nove ciclistas e

faturamento de R$ 250 mil, números que dobraram em 2014. Para 2015, a empresa

espera aumentar o número de ciclistas para 40 e atingir o faturamento de R$ 1

milhão.

Page 61: TCC Sem correções

56

O apelo maior desses negócios é a sustentabilidade, não emissão de

poluentes, segurança e paridade com o serviço de motos. Mas outros diferenciais

são citados. André Biselli da empresas Courrieros diz que "Faz toda a diferença para

a imagem da empresa se a entrega chega com um ciclista desestressado e cheio de

energia depois de fazer esporte, ao contrário do motoboy (André Biselli, 2015)

Do ponto de vista administrativo, se comparadas as empresas de

motofrete e de bike courier, às diferenças nos custos do negócio são mais favoráveis

às bikes. A Folha fez uma estimativa em cima de dados do Sindimotos:

Quadro 2: Diferenças de custos

Fonte: Folha de São Paulo e Sindimoto/SP (2015)

Nota-se que no gráfico não há o adicional de periculosidade para as

empresas de bike entrega. O motivo para isso é o elevado índice de acidentes com

motos. Aproveitando o gancho dos acidentes no ramo de entregas, seja de bike ou

de moto, vale demonstrar a segurança da bicicleta não só no ramos de entregas

mas também num âmbito mais geral: a segurança da bicicleta em comparação com

outros meios de transporte, que é o assunto do próximo capítulo.

Page 62: TCC Sem correções

57

10. COMPARATIVO DE ACIDENTES

No trânsito de São Paulo as mortes e lesões graves com sequelas de

motociclistas em acidentes, são muito comuns. Segundo a revista Sentidos

(publicação voltada para pessoas com deficiência) a

"Má-formação nas auto-escolas aliada à imprudência dos condutores e à

péssima conservação de vias são fatores decisivos para o chocante número

de acidentes com motos que, quando não fazem vítimas fatais, levam as

pessoas a adquirirem lesões graves, como traumatismo craniano, lesão

medular e amputações, que geralmente não são contabilizadas pelas

pesquisas oficiais" (REVISTA SENTIDOS, 2009).

De fato, como apontado pela pesquisa, não se encontram tantos dados

confiáveis sobre essas lesões graves e sequelas permanentes, mas a CET de São

Paulo tem alguns dados referentes às vítimas de acidentes, porém não especifica

por exemplo se as lesões são incapacitantes, permanentes, ou leves.

No entanto o número de acidentes com ciclistas é relativamente pequeno, o

que chama a atenção pois o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que:

Art. 29 - § 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas

neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão

sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos

não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres. (CÓDIGO

DE TRÂNSITO BRASILEIRO, 2008)

A lei aponta portanto o ciclista como o elo mais susceptível, tendo abaixo dele

apenas o pedestre. No entanto a dicotomia entre os números de acidentes entre

esses dois modais, tanto do número de feridos quanto de vítimas fatais é o que

veremos a seguir, junto com os dados de todos os demais.

Page 63: TCC Sem correções

58

Gráfico 12: Acidentes com vítimas com ferimentos

Fonte: CET-SP, Detran-SP e Folha de São Paulo (200X)

Já nos gráficos da CET, podemos ver mais detalhadamente os

acidentes FATAIS em ruas e avenidas, e os na rodovias que cortam a cidade São

Paulo.

Gráfico 13: Acidentes de trânsito fatais em ruas e avenidas

Fonte: CET-SP (2014)

Gráfico 14: Acidentes de trânsito fatais nos trechos de rodovias dentro do Município

Page 64: TCC Sem correções

59

Fonte: CET-SP (2014)

Os gráficos demonstram que os pedestres são as principais vítimas

fatais no trânsito de São Paulo. Porém os números de feridos em acidentes com

motos é muito maior, 49% contra 2,2% de ciclistas. Isso explica o porquê em

algumas atividades econômicas, há o do adicional de periculosidade para o

motociclista e não para o ciclista. As queixas dos motoboys são comuns:

Quem contrata um serviço de motoboy às 9:00 da manhã em Guaianases

para entregar a encomenda na Paulista até as 10:00, tem que saber que

pode estar colaborando para aquele motoqueiro cair, se machucar ou

morrer. Se descontar o tempo até fazer a coleta (retirar, assinar, colocar na

moto), e ir para a entrega já são 9:25, se contar que pode ser em prédio, até

estacionar e mais o [sic] embaço na portaria, temos que chegar até 9:50 lá

pra dar tempo. Temos só 25 minutos para fazer esse trajeto. Isso é a coisa

mais comum que tem no dia-a-dia. (INFORMAÇÃO VERBAL - CARLOS

MARZOTTO, 2015).

A frase acima é de Carlos Marzotto, motociclista paulistano de 38 anos

que trabalhou com motofrete por mais de 5 anos e desistiu da profissão por conta

dos perigos envolvidos. Por haver exemplos assim, e eles serem extremamente

comuns. as entregas com motos costumam ser muito mais perigosas e

consequentemente o número de acidentes com motociclistas é extremamente alto.

Page 65: TCC Sem correções

60

O que além de aumentar o custo do serviço, o coloca em desvantagem perante

empresas com outros modais e atinge em cheio sua sustentabilidade a longo prazo

11. SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade é um conceito muito amplo. O termo apareceu por primeira

vez no ano de 1987, num relatório da ONU chamado Brundtland: que definiu da

seguinte maneira: "Desenvolvimento sustentável satisfaz as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas

próprias necessidades" (ONU, 1987).

De acordo com o professor Henrique Rattner da FGV, abrange sistemas

"econômicos, culturais, ambientais, sociais, políticos e certamente, éticos. O seu

contraponto é a insustentabilidade" (Rattner, 1999). Mas abrange também os

negócios. Negócios sustentáveis de acordo com o Instituto Ethos, são aqueles que:

Demonstram as condições de integração das dimensões econômica, social,

ambiental e ética, bem como os direcionadores de valor (do âmbito do

investimento e mercado ao crescimento e resultado), visando a

replicabilidade e velocidade de criação e desenvolvimento desses modelos

de negócios." (INSTITUTO ETHOS, 2015)

Dado esse conceito, um negócio como motofrete, que causa tantas mortes e

lesões graves em seus trabalhadores, usa veículos automotores dos mais poluentes

que existem - "Motos novas poluem no mínimo seis vezes mais que os carros novos,

segundo a CETESB" (FOLHA DE SP, 2008) - não pode ser sustentável a longo

prazo até mesmo pela falta de profissionais que haverá no futuro. Os impactos

sociais e econômicos causados são enormes.

Não é apenas nesse setor de motofrete que se detectam impactos

sociais e econômicos enormes. Todo o modelo econômico baseado em veículos

motorizados, que utilizam combustíveis fósseis como geradores de energia (motos,

carros, caminhões, ônibus) - que formam a economia do automóvel - apresenta

impactos e prejuízos à sustentabilidade. No próximo capítulo abordaremos mais

detalhadamente tais impactos e prejuízos

Page 66: TCC Sem correções

61

12. A ECONOMIA DO AUTOMÓVEL

12.1 Análise geral

O neologismo carrocracia defende a ideia de um regime em que as decisões

são tomadas para beneficiar apenas um tipo de pessoa: as que têm carro (Destak,

2010).

Essa carrocracia se baseia num consenso histórico de que o setor

automotivo como vital para a economia. Diz-se que a partir do século XIX, o

automóvel se transformou na maior mola propulsora da economia mundial (Conheça

SP, 2015). No Brasil, o Ministério do desenvolvimento estima a participação desse

setor em 23,0% no PIB Industrial e de 5,0% no PIB Total (MDIC, 2014).

A importância atribuída a esse setor é tanta, que até mesmo na literatura

empresarial estão presentes neologismos como Fordismo e Toyotismo, defendidos

como escolas de administração de alta importância (CHIAVENATTO, 2004).

Mas infelizmente os malefícios causados pela utilização do veículo

automotor não receberam a mesma atenção ao longo desses anos, sendo que só

agora começam a ganhar uma visibilidade, (muitas vezes encoberta por uma

publicidade forte realizada pelas montadoras). Na introdução vimos que foi na

esteira do aumento de automóveis na cidade de São Paulo que começaram as

relações obscuras entre a municipalidade e as construtoras e empreiteiras, já que a

prefeitura necessitava dos serviços delas pois quanto mais carros, mais vias

necessitam ser asfaltadas. Um exemplo disso é a empresa Potenza Engenharia, que

presta serviços de pavimentação de vias na capital paulista. Eles trabalham para a

prefeitura da cidade desde 1988 (POTENZA, 2015).

Não obstante, para manter esses automóveis funcionando, mais

empresas de distribuição e venda de combustíveis são necessárias, movimentando

fortemente a indústria petrolífera. Segundo a Revista Exame, a Petrobrás que detém

o monopólio da produção e distribuição no atacado (fazendo também varejo, onde

tem concorrentes, geralmente estrangeiros) de combustíveis no Brasil é a vigésima

empresa que mais polui no mundo e quase "Entre as 20 empresas que mais

contribuíram para agravar o efeito estufa (Petrobrás em 20º), há muitas das áreas de

petróleo, gás e energia" (EXAME, 2014).

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62

Outros setores da economia gerados pelo uso do automóvel como a

venda de seguros, e os financiamentos para compra são dominados por bancos e

grandes corporações. Aliás, vale observar que as empresas relacionadas à

economia do automóvel até aqui são empresas enormes, geralmente as maiores do

mundo. Segundo o Professor João Alves Pacheco, empreiteiras e petrolíferas fazem

parte do setor da economia concentrado. As montadoras fazem parte do setor misto,

que também é altamente concentrado. os bancos e seguradoras tem um setor da

economia apenas para eles, o de serviços financeiros (PACHECO, 2011).

Os três tipos de setores citados aqui tem restrições enormes a

entrantes e empresas pequenas. A economia do automóvel é extremamente

concentrada e injusta, não restando ao micro e pequeno empreendedor outra opção

a não ser submeter-se a fazer negócios com essas empresas ou optar pelo setor da

economia competitivo, caracterizado pela forte concorrência e onde nenhuma

organização possui parcela significativa do mercado (PACHECO, 2011).

Ainda que se argumente que os prejuízos acima são relativos aos

negócios são parte integrante do capitalismo e que a livre concorrência e lei da

oferta e da procura regule esse mercados, há outros prejuízos maiores e bem mais

mensuráveis que afligem a todos, afligem o país e a sociedade sem diferenciação.

Todos são afetados. Estão nesse pacote as divisas para o país, impostos -

desonerações e subsídios, gastos com saúde pública, etc. A seguir,

demonstraremos o impacto da economia do automóvel em nossa sociedade sob

esse viés dos prejuízos causados. A indústria automobilística se instalou no Brasil

por imposição do presidente Juscelino Kubtisheck

O setor automobilístico foi um dos que mais recebeu apoio para

desenvolver-se no governo de Juscelino Kubitschek, com a decisão de se

estabelecer uma indústria do setor no País. Foi criado o Grupo Executivo da

Indústria Automobilística (GEIA), em 1956, para estudar, planejar e aprovar

projetos nesta área. Este grupo executivo garantiu várias vantagens à

importação de equipamentos para a indústria de veículos. (CAPULO,

MELO, 2009).

Apesar de ter sido decisão arbitrária de um governo do passado (e não

é foco dessa demonstração abordar os motivos para isso) passa por consenso a

idéia que a economia do setor automobilístico (aqui muitas vezes também grafada

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63

como "Economia do Automóvel,") é vital para a economia do país como um todo,

apesar de nenhuma montadora do mundo ser brasileira (fora algumas poucas

fábricas artesanais com produção limitadíssima e dependente de peças importadas

ou de outras montadoras estrangeiras).

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em seu estudo "A indústria

automobilística no Brasil - Diagnóstico do setor e análise do novo regime

automotivo" faz um diagnóstico preciso disso:

É fato que as montadoras decidem, fora do Brasil, o destino de suas filiais

aqui estabelecidas, além disso, os preços dos veículos no país é um dos

mais altos do mundo. No que se refere à agregação de valor da produção

automotiva nacional, é importante se ater que as principais inovações no

setor por uma estratégia das montadoras não são desenvolvidas no Brasil e

quando são produzidos é de forma minoritária. Com relação ao setor de

autopeças, este se desnacionalizou e as empresas multinacionais que

decidem da mesma forma que as montadoras. Ao setor de autopeças

brasileiro cabe um papel auxiliar na condição de fornecedores das

sistemistas globais. (SMABC, 2012)

Todo o exposto já serviria para exemplificar que o setor talvez não seja

tão vital assim para a economia, já que demonstrou que o lucro mesmo, aquele que

interessa ao cidadão pois é um capital que ficaria aqui e poderia ser usado na

comunidade, girando a economia, vai para as matrizes estrangeiras. Mas para

comprovar isso fizemos a pesquisa que teve a metodologia a seguir.

12.2 Análise de viabilidade e estudo de caso

Através de um "método de abordagem, usando a técnica de observação

direta" (LAKATOS, MARCONI, 2003), buscamos na imprensa e em outras fontes,

dados sobre os prejuízos causados pelas atividades relacionadas ao setor

automotivo, Compilamos esses dados, e os disponibilizamos aqui organizados por

tópicos divididos por algarismos romanos.

Essa forma de análise foi concebida baseada nos conceitos de:

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64

12.2.1 Gestão estratégica e Macroambiente

Utilizamos conforme o aprendido em sala de aula no curso de Gestão

comercial da Fatec Ipiranga e extraído do curso "Gestão estratégica", o "Diagnóstico

Estratégico Externo (Análise do Ambiente Externo) que é a atividade mais complexa

e, na maioria dos casos, a mais relevante do processo de planejamento estratégico".

Que envolve entre outras coisas a análise Macroambiental que "analisa os fatores

demográficos, socioculturais e econômicos, ambientais, dentre outros" (PEREIRA,

2009)

12.2.2 Análise SWOT e Processo Decisório

• Segundo o Portal Administração a análise SWOT tem importância para

definição do ambiente externo:

"Definição do ambiente externo: análise externa tem como objetivo a

identificação das oportunidades e ameaças que num determinado momento

se colocam diante da empresa. Por isso, é necessário haver uma prevenção

por parte dos gestores em relação aos impactos positivos e negativos

relativos à organização."

• Já o Portal Administradores tem as seguintes diretrizes para o

Processo decisório:

As organizações buscam crescimento e lucratividade

cada vez mais e sabem o quanto é importante ter em mãos habilidades que

gerem produtividade, por sua vez, se torna evidente que, para que a

organização alcance metas e objetivos são necessários identificar

problemas, corrigi-los e avaliar alternativas para que a tomada de decisão

saia perfeita e proporcione sucesso nos aspectos almejados pela

organização. (PORTAL ADMINISTRADORES, 2012)

É exatamente isto que faremos neste capítulo. Porém de forma

empírica, criamos a "empresa Meio Ambiente S.A. (onde o meio ambiente aqui é a

empresa que solicitou essas análises) e o ambiente externo a ser analisado seria o

conjunto formado pelas empresas automotivas. Esse conjunto influenciará

diretamente nos resultados da "empresa Meio Ambiente S.A."

Page 70: TCC Sem correções

65

Neste empírico exercício, os impactos da indústria automotiva bem como do

ciclo de vida de seu produto final, no ambiente e na economia popular poderão ficar

bem evidenciados, e servirão como uma análise de viabilidade. "Tal qual um gestor,

compilamos o máximo possível de dados e alimentamos um banco, ao final, fizemos

análises matemáticas e comparamos os resultados com diversas informações

disponíveis . (INFORMAÇÃO VERBAL - FATEC IPIRANGA).

12.3 Recursos naturais da fabricação

Reunimos para nosso banco de dados do processo decisório.

informações que estimem quanto valem os recursos naturais necessários para

fabricação de um automóvel e eles são enormes:

Só de água são estimados 400.000 litros por unidade. Ainda há aço,

materiais não ferrosos, (alumínio e outros), borracha (pneumáticos, frisos,

vedações), dióxido de silício, carbonato de sódio, carbonato de cálcio (vidros e

componentes eletrônicos), petróleo, cana de açúcar (plásticos, polímeros,

lubrificantes, combustíveis, produção de energia, etc.), fibras sintéticas e naturais

(tecidos e outros), madeira, etc. (H2BRASIL E WATERFOOTPRINT.ORG, 2015).

12.3.1 Matérias primas envolvidas

Embora para boa parte das matérias primas utilizadas não haja dados

para uma avaliação profunda (na realidade sequer encontramos unidade de medida

disponível - seja em unidades ou peso de recursos, para uma possível conversão

fiduciária ou monetização) que mensure o quanto causa de prejuízo o impacto da

fabricação de automóveis no tocante ao uso de todos os recursos naturais utilizados,

"o bom gestor trabalha bem os dados que conseguiu" (INFORMAÇÃO VERBAL -

BELLOTA BRASIL). Fazendo alguns cálculos conseguimos ao menos com um deles

estimativas - o aço.

12.3.2 Banco de dados coletados

I. O carro é basicamente constituído de aço. "A maior parte do peso de

um veículo vem do aço. Um carro pequeno pode ter até 1.350 kg de

Page 71: TCC Sem correções

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aço, usado para criar o chassi subjacente, célula de proteção, portas,

teto e painéis, carroceria, motor e muitas vezes o escapamento"

(MOTOR DREAM/UOL, 2011).

II. Em 2008, a frota mundial de carros atingiu o número de 1 bilhão

de unidades (G1, 2008).

III. O valor da tonelada de minério de ferro no mercado internacional

já atingiu em média U$ 50,00 (INFOMOMONEY E INDEXMUNDI,

2015). Já o valor médio da tonelada de aço é de U$ 800,00

(INDEXMUNDI E WORLD BANK, 2012)

IV. Cada tonelada de minério de ferro produzida pela mineradora

Samarco, mineradora que opera no município de Mariana/MG, gera

1/2 tonelada de resíduos, conhecidos como "lama". (Jornal Zero Hora,

2015). O Brasil apesar de estar apenas na 5ª posição das maiores

reservas mundiais, mas na 2ª em produção. (IBRAM, 2011)

V. O rompimento das barragens de lama em Mariana/MG, lançou

62 milhões de metros cúbicos de lama do meio ambiente. que seguem

a seguinte conversão: 1 m3 = 1000 litros = 1000 kg = 1 ton. (Metric

Conversions, 2015). 62 milhões de m3 = 62 milhões de toneladas. Que

causaram até agora 1.7 bilhões de prejuízos até agora (R7, 2015).

VI. Segundo o site especializado em metalurgia Infomet, cada

tonelada de minério rende 95% de ferro gusa líquido, que depois é

transformado em aço, onde rende até mais pois se adiciona sucatas

nessa etapa. Portanto é seguro pressupor que uma tonelada de

minério de ferro rende uma tonelada de aço.

VII. Por último, para poder concluir o raciocínio temos dois dados: O

R7 nos dá Corolla, Golf e Beetle/Fusca como os 3 veículos de passeio

mais vendidos na história (R7, 2012). O valor médio desses

automóveis calculado com dados do UOL Carros e AutoEsporte é de

US 20.257 (UOL e AUTOSPORT, 2015).

Com posse desses dados conseguimos montar a planilha a seguir:

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Tabela 8: Dados referentes ao aço

Mineração e o setor de automóveis no mundo

Unidade Descrição Valores Abreviação Dados

Un. Frota mundial 1.000.000.000.000 1 bi de un.

$ Valor médio 20.257,00 -

Kg Aço por veiculo 1.350 1,35 ton.

$ Preço minério 50,00 US$ 50

$ Preço aço 800,00 Us$ 800

Kg Qtde detritos p/ ton. de minério 500 1/2 ton.

$ Valor detritos de mineração 25,00 -

Cálculos Kg Total de aço utilizado 1.350.000.000.000.000 1 tri e 350 bi de tons

Kg Total de lama produzida 675.000.000.000.000 675 bi de tons

$ Valor Total do minério de ferro 67.500.000.000.000.000,00 67 quatri e 500 tri de $

$ Valor Total detritos de mineração 16.874.998.312.500.000,00 16 quatri e 874 tri de $

$ Valor da frota em valores atuais 20.257.000.000.000.000,00 20 quatri e 257 tri de $

Desastre da Vale/Samarco/Biliton em Minas Gerais Kg Desastre de Mariana em toneladas 62.000.000.000 62 mil tons

Kg Minério produzido antes do desastre 124.000.000.000 124 mil tons

$ Valor da lama do desastre 1.549.999.845.000,00 1 tri e 549 bi de $

$ Valor do minério correspondente 6.200.000.000.000,00 6 tri e 200 bi de $

$ Prejuízos estimados com o acidente 1.700.000.000,00 1.7 bi de R$

Fonte: Autor (2015)

Analisando a planilha a Meio Ambiente S.A. considera que as altas somas

envolvidas geram muito lucro ficando retido na mão de poucos acionistas, o que

pode afetar sua tomada de decisão. Os impactos caso ocorresse algum desastre

são enormes mas o conjunto de empresas arcaria com muito pouco dos prejuízos,

comparado com o que se extrai . A análise estratégica é de que não vale a pena

deixar essas empresas se instalarem.

12.4 Prejuízos da economia do automóvel à economia popular.

Até aqui estamos conceituando economia do automóvel, a qual

diversos países dão importância extremada minimizando os impactos negativos que

isso causa. Este trecho de uma reportagem do portal R7 exemplifica bem essa

importância extremada:

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O Brasil está inserido dentro da economia do automóvel e esta é uma área

que movimenta o mundo. Basta olhar como a China e a Índia dão

importância [aos carros]. Todas as grandes economias têm uma forte

indústria do automóvel." (R7, 2010)

Num exercício empírico, criamos a empresa Meio Ambiente S.A. e estamos

analisando se vale a pena ter esse parceiro comercial. Analisaremos agora os

prejuízos à economia popular. Os prejuízos para a economia popular das

comunidades onde atuam essas empresas sofreria muito impacto?

A empresa Meio Ambiente S.A. parte do pressuposto que esse tipo de

impacto são ignorados ou mitigados, mas causam danos à economia popular.

Usamos aqui o conceito de economia popular para abarcar todos os conceitos que

exemplificaremos, como impostos, subsídios, deseconomias de mobilidade, saúde e

acidentes, etc. São prejuízos mitigados mas causados a toda a população.

Tomamos emprestado o conceito de economia popular do CDC - Código de Defesa

do Consumidor: "Conjunto de interesses econômicos do povo sob a proteção jurídica

do Estado" (JUSBRASIL, 2015)

12.4.1 Estudo de prejuízos à economia

Para esta análise, o grupo de trabalho da empresa Meio Ambiente S.A.

coletou dados confiáveis disponíveis na imprensa e foi somando os valores

informados.

I. IPVA e outros tributos

Os argumentos defendidos por muitos motoristas (fortemente apoiado

por um antigo senso comum sobre o tema) de que pagando IPVA e taxas de

licenciamento, os deixam aptos e com preferência sobre o uso das vias (pois estão

"pagando por isso"), bem como o uso de veículo automotor "gira a economia", são

em grande parte falaciosos. O IPVA é um imposto que incide apenas sobre a

propriedade e não sobre o uso do Sistema Viário (OESP. 2014). O urbanista Pedro

Taddei, professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade de São Paulo diz que :

O carro custa caro, mas o uso dele (proporcionalmente, no que envolve o

uso do espaço público) é muito barato. O que o IPVA contribui para

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implantar e manter as vias é ínfimo. O contribuinte em geral, por meio dos

impostos urbanos, contribui muito mais (AGÊNCIA BRASIL, 2013).

Como bem exemplifica o livro Bikenomics,

Toda vez que nós compramos ou vendemos, pagamos impostos e taxas em

nossas casas (direta, ou indiretamente através de nosso aluguel ou

propriedade), bem como IR e outros tributos, uma boa parte desse dinheiro

vai diretamente para o sistema de transporte. Conduzir é uma das coisas

mais fortemente subsidiadas que fazemos diariamente. (BIKENOMICS,

2013).

II. O que temos de dados é que a Secretaria do Tesouro nacional estima

que a desoneração do IPI de veículos automotores causou um prejuízo

de 8,9 bi ao governo federal e 4,7bi entre estados e municípios (ZERO

HORA, 2009).

III. Subsídios

Não obstante, o consumo de combustível ainda que pago pelo usuário

também causa prejuízos. pois há forte controle do preço dos combustíveis derivados

de petróleo feito pela Petrobrás (que detém o monopólio). No segundo trimestre de

2014, a petroleira teve prejuízo líquido de R$ 3,883 bi na área de abastecimento,

alta de 55% em relação ao prejuízo registrado no mesmo período de 2013

(UOL Economia, 2014). O transporte público por sua vez não passa incólume ao

subsídio. Só na cidade de São Paulo, para custeio do sistema de ônibus, o subsídio

foi de 1,6 bi em 2014, fechará 2015 com 1,7 bi e para 2016 são estimados 1,9 bi. O

subsídio feito pelo Governo do Estado nos sistemas Metrô e CPTM é de 1.8 bi em

2015 (G1, 2014).

IV. Congestionamentos

Há ainda o alto custo causado unicamente pelo fato dos congestionamentos

se formarem. Só na cidade de São Paulo, um estudo da FGV estima perdas em

torno de R$ 40 bi, entre o que se deixa de produzir e deseconomias causadas pelo

excessivo número de veículos em circulação, como aumento do consumo de

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combustíveis, maior emissão de poluentes, elevação do custo do transporte de

cargas, impactos no sistema de saúde, etc.

Já a Firjan, em sua pesquisa "O custo dos deslocamentos nas principais

áreas urbanas do Brasil" estima o prejuízo causado pelos congestionamentos no

país em 111 bi (Firjan, 2012). Mas o prejuízo não é apenas quando o trânsito pára.

V. Acidentes e saúde pública.

O Ipea aponta que a sociedade brasileira perde por ano cerca de R$

140 bilhões em acidentes nas rodovias (Ipea, 2015).

Infelizmente outros prejuízos causados à saúde pública não contam com dados

consistente para serem acrescentados a este trabalho por esta metodologia

adotada. O Departamento de Medicina Preventiva-Faculdade de Medicina

Preventiva da Universidade de São Paulo, fornece apenas um estudo que

demonstra as mortes ocorridas pela poluição do ar em idosos e crianças (os grupos

mais suscetíveis a problemas respiratórios) em determinado período:

Tabela 9: Efeitos na poluição na saúde

Fonte: Faculdade de Medicina USP (2003)

A falta de dados consistentes não significa que não há prejuízo, em

conversas informais, detectamos que o prejuízo é sim enorme, sobretudo em um

sistema de saúde extremamente subsidiado como o é o SUS.

Page 76: TCC Sem correções

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VI. Por fim temos o prejuízo que envolve aspectos individuais como

manutenção, desvalorização, impostos e taxas, financiamento,

pedágio, estacionamento, etc.

Sites como Meu Carro é um Monstro demonstram o quanto custa manter um

carro. Segue abaixo uma simulação:

• Simulação: Se levarmos em consideração que a idade média da frota

no Brasil é 8 anos (Auto Esporte, 2015), o modelo mais vendido é o Palio

(Quatro Rodas, 2014) a preferência ainda é pelo modelo 1.0 (UOL Carros,

2015) e o financiamento é responsável por 80% das vendas

(AutomotiveBusiness, 2015), o site calcula que para essa simulação, o

veículo até hoje, já causou um prejuízo de R$ 157.800 ao seu proprietário

(Fonte: Meu Carro é Um Monstro, 2015). A frota da cidade de São Paulo é de

8 mi de veículos (G1, 2015), o que a grosso modo, indica que os proprietários

de veículos da cidade de São Paulo, deixam de injetar em média 158 bi

anuais na economia, pois esse o montante que têm de gastos e prejuízos

somados.

12.5 Resultados

Os conceitos de Gestão estratégica, Macroambiente, Análise SWOT e

Processo Decisório, servem para analisar riscos à maximização dos lucros dos

acionistas (REGISTRO VERBAL: FATEC IPIRANGA, 2012),

Em vista disso criamos a "empresa Meio Ambiente S.A. e conforme visto em

aula, vamos agora decidir se os negócios com o conjunto de empresas automotivas

são vantajosos. Como se observou na planilha, os números são assustadores no

geral, mas é importante destacar os seguintes:

I. Apesar do valor estimado do total de veículos da frota ser de $ 20

quatrilhões, o valor do minério de ferro extraído até hoje para a

produção dessas unidades é de $ 67 quatrilhões.

II. O desastre como o causado por Vale/Samarco/Biliton em Minas

Gerais, por mais que cause prejuízos sérios também ao parceiro, seria

irrisório perto dos números assombrosos de seu faturamento. O grosso

dos prejuízos ficariam com a empresa Meio Ambiente S.A.

Page 77: TCC Sem correções

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III. Os dados indicariam grande periculosidade e taxa de óbitos, o

que pode causar problemas e prejuízos.

IV. Não podemos ainda ignorar o fato de que os prejuízos diretos e

indiretos do transporte por qualquer veículo motorizado (incluindo

transporte público, mas sobretudo o transporte individual) é enorme.

Para efeito comparativo, o faturamento total do setor automotivo no

Brasil, em 2014 foi de 289 bi e a arrecadação 464 bi. (fonte: MDIC e

UOL Economia). Já o prejuízo demonstrado até aqui (avaliado pela

metodologia que adotamos para este trabalho) está em 426 bi na

esfera nacional e 200 bi na cidade de São Paulo.

Por todo o exposto, a análise de riscos feita entre a empresa Meio Ambiente

S.A. e o Conjunto de Indústrias Automotivas se revelou altamente desvantajoso para

a primeira, portanto a decisão apontada pela gestão estratégica é a de não fechar

negócio.

13. CONCLUSÃO

O presente estudo chega nesta conclusão ciente de que o tema escolhido.

sob um olhar menos acurado, talvez pareça mais adequado a outras áreas de

conhecimento humano, tais quais urbanismo, ciências sociais, etc. As dificuldades

encontradas para embasamento e referencial teórico constituíram na maior

dificuldade à sua realização.

A nova estrutura cicloviária da cidade de São Paulo começou a ter início em

Junho de 2014 (apesar das leis estarem regulamentadas há muitos anos) e os

impactos para a mobilidade urbana e à atividade econômica e comercial na cidade,

começaram a ser estudadas em algum momento próximo ao segundo semestre de

2015. Isso fez com que quase tudo o que demandava levantamento de dados e

informações necessitava de pesquisas que não existiam, isso resultou em um

volume total de quatro pesquisas para o mesmo trabalho, todas realizadas pelo

autor.

Apensar de se deparar com estas dificuldades (que influenciaram inclusive na

adequação às normas ABNT para este tipo de trabalho, no que se refere ao

Page 78: TCC Sem correções

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embasamento) continuou-se com a linha de raciocínio inicial, de que a gestão

comercial na cidade de São Paulo daqui por diante, tem que acrescentar essa nova

realidade em seus planejamentos,seja tirando proveito disso ou colhendo o ônus por

não fazê-lo (vale lembrar que as ciclovias implantadas pela gestão atual têm amparo

legal irrestrito, municipal e federal, com leis anteriores a esta gestão

Considera-se este trabalho bem sucedido ao demonstrar as leis que

determinam o que o comércio deve fazer para se adequar, portanto o gestor não

pode se furtar de analisar o cenário atual caso acredite que uma possível troca de

gestores públicos fará com que cesse o investimento no modal cicloviário, mais

insensatez ainda é acreditar que as ciclovias ou ciclofaixas serão desfeitas,

atualmente todas a estrutura cicloviária da cidade está amparada legalmente e

segue as normas oficiais estabelecidas, inclusive internacionalmente.

Além de mostrar as obrigações que surgem, houve a tentativa de demonstrar

que sob o viés da gestão comercial, pode-se tirar muito proveito da situação,

inclusive há muitos exemplos ao longo do texto. A economia regional pode se

beneficiar muito de um modal mais regional, mantendo os lucros na comunidade e

fugindo um pouco da concorrência com grandes empresas, que priorizam o cliente

que chega de automóvel - mirando muitas vezes numa maior abrangência, mas não

mantendo os lucros de sua operação nessa área de abrangência, coisa que o

pequeno faz.

Nesse contexto a realidade da bicicleta é diferente da do automóvel, pois a

relação com a cidade muda, ela dialoga com o pequeno comércio, o produtor local,

os moradores, vizinhos, transeuntes e com o cidadão em geral. Obviamente não

está se propondo aqui que pare de usar carros e use somente bicicletas, mas se faz

necessário urgentemente reduzir ao mínimo possível seus impactos, como

demonstraram as pesquisas e estudos nos capítulos referentes à economia do

automóvel. A bicicleta sozinha pode não ser a solução para unirmos os anseios de

uma atividade econômica (no caso o comércio) e a sustentabilidade mas certamente

é um primeiro passo, e mesmo diante de todas as dificuldades impostas pelo tema,

não furtou-se ao tentar demonstrar isso.

Page 79: TCC Sem correções

74

14. REFERENCIAS

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