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Parte I
2
Evangelho de João
Parte 1
Silvio Dutra
DEZ/2015
3
A474 Alves, Silvio Dutra João./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 333p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Evangelho. 3. Comentário Bíblico. I. Título.
CDD 230.226
4
Sumário
João 1............................................................ 5 João 2............................................................ 27 João 3............................................................ 35 João 4............................................................ 46 João 5............................................................ 67 João 6............................................................ 78 João 7............................................................ 94 João 8............................................................ 113 João 9............................................................ 129 João 10.......................................................... 143
5
João 1
Jesus O Verbo e a Luz Divinos
“1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele
nada do que foi feito se fez.
4 nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5 E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não
a compreenderam.”. (João 1.1-5)
A palavra “verbo” do texto foi traduzida
do original grego “logos”, que significa
“palavra”.
Mas, como “verbo” é palavra indicadora de
ação, a maior parte das traduções da língua
portuguesa traz “verbo” em vez de “palavra”.
Ambos podem ser usados e estão corretos, mas
“palavra” define melhor o pensamento de João
ao usar o referido termo para se referir à Pessoa de Jesus, porque certamente ele tinha em
mente demonstrar que Jesus foi quem tomou
parte na criação ao lado de Deus e do Espírito
Santo, sendo a Palavra que tudo criou, porque é dito que o mundo foi criado pela Palavra de
Deus, uma vez que Ele disse em cada ato da
criação: “haja” ou “faça-se”.
6
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e
todo o exército deles pelo sopro da sua boca.” (Sl
33.6).
“Pela fé entendemos que os mundos foram
criados pela palavra de Deus; de modo que o
visível não foi feito daquilo que se vê.” (Hb 11.3).
“Pois eles de propósito ignoram isto, que pela
palavra de Deus já desde a antiguidade existiram
os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;” (II Pe 3.5).
Ao fazer uso da palavra Verbo, João a associou
aos atos da criação dos céus e da terra, conforme se vê no verso 3.
Ao identificar Jesus como sendo o Logos, a
Palavra, ou Verbo eterno, podemos também considerar que a mente eterna de Deus foi
revelada a nós por meio dele.
Os pensamentos puros, perfeitos e conhecedores de tudo o que há em Deus, são
inerentes a Cristo e Ele os revelou a nós.
É somente por meio dele que os selos do livro da
vida são removidos para que os mistérios da
verdade sejam revelados a nós.
Se Ele não tivesse se manifestado ao mundo nós
permaneceríamos nas trevas quanto a esta vida
do Espírito Santo, que se manifesta nos que têm
fé nele.
Vida de poder espiritual e de comunhão em
amor celestial.
Vida de frutos e dons espirituais que são
comunicados entre aqueles que têm sido
vivificados pela luz de Cristo, a qual, quando
7
permanecemos nela, faz com que a vida de
Cristo se manifeste em nós.
Neste sentido, pode-se dizer então que Cristo é a
fonte mesma da qual procede toda a Palavra que sai da boca de Deus, sendo que Ele mesmo é
Aquele por quem se expressa esta Palavra.
Daí ter dito que a Palavra que Ele proferia não
provinha dele próprio, mas do Pai, isto é, tudo o
que o Pai expressa pela Palavra, Ele o faz por meio do Filho, de maneira que João havia
apreendido este ensino e verdade de Jesus aos
apóstolos em seu ministério terreno, e pôde
compreender que o mundo foi feito pela Palavra liberada pelo próprio Cristo, daí dizer que Ele é a
Palavra (Verbo) pela qual todas as coisas foram
feitas, e que sem Ele nada do que foi feito se fez
(v. 3); isto é, o Pai nada fez sem a participação de Cristo.
Somente Jesus tem as palavras de vida eterna.
Pedro teve este reconhecimento que é dele que
emana a palavra que dá vida aos pecadores (Jo 6.68), e a experiência comprova isto em todos os
testemunhos de conversão.
“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou
pela palavra da verdade, para que fôssemos
como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18).
“tendo renascido, não de semente corruptível,
mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a
qual vive e permanece.” (I Pe 1.23).
8
Os textos destacados acima de Tiago e Pedro
revelam o ato da nova criação espiritual pela
Palavra.
Esta Palavra é a verdade, e Jesus disse também ser esta verdade, que liberta e dá vida.
Há então, poder e ação envolvidos nesta Palavra,
aqui referida pelo apóstolo, e a que é citada em
todas as passagens bíblicas que se referem a ações de criação, de salvação, de santificação, e
de tudo o mais que dependa da liberação do
poder pela Palavra de Cristo.
Por isso Jesus havia dito que as suas palavras são espírito e vida (Jo 6.63). E também que o homem
não vive somente de pão, mas de toda palavra
que procede da boca de Deus (Mt 4.4), porque é
pela palavra de ação poderosa, que novas criaturas com a vida que procede do céu são
geradas.
É também, pela prática da sua palavra, isto é, tê-
la em devida consideração e vivendo segundo o seu poder, que se tem a vida solidamente
firmada num fundamento inabalável (Mt 7.24).
Era com a sua palavra de ordem que Jesus
expulsava demônios e curava enfermos, e que ainda o faz através daqueles que nele creem (M
8.16).
É por isso que as palavras de Jesus jamais
passarão porque são eternas assim como Ele é
eterno (Mt 24.35).
Desta forma, crer de fato em Jesus é permanecer
nele, e permanecer nele é permanecer portanto
na sua palavra; e como esta palavra é a vida
9
eterna, aquele que a guarda jamais morrerá
eternamente (Jo 8.31; 51; 14.24).
Como Jesus é santo, é a sua Palavra que nos
santifica (Jo 15.3; 17.17).
Foi por isso que a Igreja Primitiva tinha poder
para pregar o evangelho, porque eles viviam e
pregavam somente a Palavra (At 4.29, 31; 5.20;
6.2, 7; 8.4, 25;10.44; 11.14; 12.24; 13.5, 44, 48, 49; 14.3, 25; 15.35, 36; 16.32; 17.11; 18.5, 11; 19.10, 20;
20.32).
A fé é gerada por se ouvir a Palavra (Rom 10.17).
Nós vemos nas palavras de Paulo em I Cor 1.17; 2.1, 4, 13; I Tes 1.5 que a pregação desta Palavra
viva é muito mais do que simplesmente
exposição verbal de conceitos teológicos, ou de meras citações bíblicas, mas a liberação da
porção da verdade, conforme está revelada nas
Escrituras, em exposição, com palavras
ensinadas pelo Espírito, no poder do Espírito, conforme esta é revelada pelo mesmo Espírito
ao coração e mente do pregador (Ef 6.19):
“Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de
palavras, para não se tornar vã a cruz de
Cristo.” (I Cor 1.17).
“E eu, irmãos, quando fui ter convosco,
anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui
10
com sublimidade de palavras ou de
sabedoria.” (I Cor 2.1).
“A minha linguagem e a minha pregação não
consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de
poder;” (I Cor 2.4).
“as quais também falamos, não com palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo,
comparando coisas espirituais com
espirituais.” (I Cor 2.13).
“porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e
no Espírito Santo e em plena convicção, como
bem sabeis quais fomos entre vós por amor de
vós.” (I Tes 1.5).
Esta Palavra já existia antes que houvesse
mundo, antes da existência do tempo
cronológico, ao que João chama de “no
princípio” mostrando que era, que é e sempre será.
Cristo sempre esteve em coexistência com o Pai.
Ele estava, está e sempre estará com Deus. De
maneira que crer em Cristo é crer em Deus Pai, porque o Pai e o Filho coexistem em perfeita
unidade e são inseparáveis.
Somente Jesus estava qualificado para efetuar a
nossa redenção porque Ele conhece perfeitamente a nossa constituição total, de
espírito alma e corpo porque Ele nos criou,
assim como todas as coisas.
11
Ele deve receber, portanto a nossa adoração
também como Criador, e não apenas como
Salvador e Senhor.
João afirma no verso 4 que a vida estava em
Cristo, e que esta vida era a luz dos homens.
A luz condenará as obras infrutíferas das trevas
naqueles que permanecem no pecado, porque
fará a exposição do que se ocultava nas trevas:
“Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se
manifestam pela luz, pois tudo o que se
manifesta é luz.” (Ef 5.13).
É pela luz da revelação divina que o pecado pode
ser condenado ou extirpado.
João nos diz que a vida está em Jesus, e que esta vida era a luz dos homens; isto é, somente
quando a vida poderosa de Jesus se manifesta
em alguém, é que tal pessoa poderá vir para a luz
de Deus e conhecer a Deus e compreender as coisas espirituais e divinas.
Assim, fora de Cristo, não há esta possibilidade, porque vida e luz para os homens procedem
dele, e ambas são inseparáveis.
A vida eterna que nós necessitamos para escapar da morte eterna está somente em Cristo
Jesus, e é nele portanto que devemos buscá-la, e
João nos indica o meio de obtê-la, a saber, por
meio da Palavra e pelo andar na luz.
É a luz de Cristo que ilumina o nosso
entendimento e espírito para compreendermos
as Escrituras.
Elas permanecem como um livro fechado para
nós até que Cristo abra o nosso entendimento e
12
se revele ao nosso espírito para que possamos
compreendê-las; como fizera com os dois
discípulos no caminho de Emaús, aos quais lhes
abriu o entendimento para compreenderem tudo o que estava escrito acerca dele nas
Escrituras.
Não foi João quem conceituou Jesus como luz, pois Ele próprio fizera tal afirmação acerca de Si
mesmo durante o seu ministério terreno,
confirmando aquilo que as Escrituras do Velho
Testamento afirmam sobre Ele, especialmente de que Ele seria luz para os gentios. (Mt 4.16; Jo
3.19; Jo 8.12)
Jesus o Autor de Toda Vida - João 1
“6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio para testemunho, para que
testificasse da luz, para que todos cressem por ele.
8 Não era ele a luz, mas para que testificasse da
luz.
9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo
o homem que vem ao mundo.
10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, aos que
creem no seu nome;
13
13 Os quais não nasceram do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus.
14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do
Pai, cheio de graça e de verdade.”
O apóstolo diz que João Batista havia sido
enviado por Deus para dar testemunho da luz, não da sua luz, mas da fonte da verdadeira luz
que é Cristo.
João Batista veio para testificar da luz, clamando
no deserto para que todos cressem nAquele que é a luz e que é a única que pode iluminar a todo
homem que chega à existência neste mundo.
Fora dele há somente trevas e morte. Mas os que
estão nele encontram luz e vida.
Jesus criou o mundo, e se manifestou ao mundo,
mas o mundo não pode conhecê-lo, senão
aqueles que vêm para a sua luz (v. 10).
Este testemunho de João que ele havia
aprendido diretamente do próprio Cristo de ser
Ele o criador do mundo, acaba com todo o
debate acerca da divindade de Jesus, porque ninguém, a não ser somente um ser divino
poderia ter criado o mundo.
João usa o verbo no passado “estava no mundo”,
ao se referir ao Senhor, porque vários anos já haviam se passado desde que Ele havia
ressuscitado e subido ao céu, quando João
escreveu este seu evangelho.
14
Então ele está dizendo do que havia visto acerca
do ministério terreno de Jesus, e especialmente
da sua rejeição pelos judeus, rejeição esta que
continuaria ocorrendo por causa do endurecimento deles.
A nação de Israel se recusou a receber ao Senhor, mas todos aqueles que dentre os
judeus, e todos os gentios, que O têm recebido,
a estes Ele tem dado o poder de se tornarem filhos de Deus, pela simples fé nele,
pela qual alcançam o arrependimento, a
justificação, a regeneração, a santificação e a
glorificação que são por meio dele (v. 12).
Estes que são tornados filhos de Deus, foram
regenerados pelo Espírito Santo, conforme a vontade de Deus em relação a eles, e não por
nascimento natural (laços de sangue), nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem.
Não foi por um planejamento dos desejos e nem da vontade da alma do homem que alguém é
transformado num filho de Deus, mas pelo seu
exclusivo poder e vontade (v. 12, 13).
Foi para este propósito que Jesus (o Verbo)
encarnou e veio a este mundo tendo habitado
entre os homens, e manifestado aos seus discípulos a sua glória como Filho unigênito de
Deus Pai, estando cheio de graça e de verdade.
Jesus não deixou de ser o Verbo e a Luz quando
encarnou.
Muitos haviam permanecido no batismo de João
e não avançaram, além disto, e assim não
chegaram a conhecer a verdadeira luz da qual o
15
próprio João veio dar testemunho, com a luz da
fonte que é Cristo que ardeu no próprio João por
um breve tempo, no seu curto ministério no
deserto. João não era o Noivo, mas o amigo do Noivo. Não era o Príncipe, mas o seu precursor.
Não era a luz, mas o reflexo da luz. O próprio João
reconheceu que não era ele que deveria ser seguido, mas o Cristo do qual ele dava
testemunho.
De igual maneira, nós não devemos ser
seguidores e adoradores dos ministros do
evangelho, mas somente dAquele para o qual eles devem apontar, que é Cristo. Eles não são
nossos senhores, e nem têm domínio sobre a
nossa fé, mas são apenas ministros por meio de
quem nós cremos porque deram testemunho da luz como mordomos na casa de Deus.
Ninguém deve se deixar conduzir por uma fé
cega nos homens, por mais santos que eles
sejam, porque não são eles aquela luz que veio ao mundo e pela qual os homens recebem uma
nova vida de Deus, mas temos que dar atenção e
receber o testemunho deles porque são
enviados pelo próprio Deus como testemunhas da luz que dá vida aos homens.
Se João Batista tivesse fingido ser ele próprio a
luz, ele não teria sido uma testemunha fiel da luz
de Jesus.
Aqueles que usurpam a honra e a glória de
Cristo terão que prestar contas a Deus do mau
uso que fizeram da mordomia deles.
16
João Batista Testificou da Graça e Verdade de
Jesus - João 1
“15 João testificou dele, e clamou, dizendo: Este
era aquele de quem eu dizia: O que vem após
mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.
16 E todos nós recebemos também da sua
plenitude, e graça sobre graça.
17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a
verdade vieram por Jesus Cristo.
18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o
revelou.”
O apóstolo havia dito nos versos anteriores que
João Batista havia dado testemunho da luz, e
aqui ele começa a mostrar qual foi o testemunho que ele havia dado, conforme a
palavra que Deus havia revelado a ele acerca de
Cristo.
João Batista disse que Jesus viria após ele, mas
que já existia antes dele ter vindo ao mundo, e que era dele que nós recebemos da sua
plenitude e graça sobre graça (v. 15, 16).
A razão disto é que Ele não veio nos trazer a Lei
como fora dada a Moisés, mas a graça e a
verdade do evangelho, pelas quais somos salvos e transformados em novas criaturas (v. 17).
Jesus é a expressa imagem de Deus Pai, porque é
da mesma essência que Ele, de maneira que o
Deus invisível, que ninguém nunca havia visto,
17
foi revelado por meio do seu Filho unigênito (v.
18).
Jesus se manifestou cheio de graça e de verdade
para poder repartir da sua plenitude dando-os
como dons aos homens. Ele tem toda a suficiência de graça e de verdade para salvar os
pecadores e torná-los semelhantes a Ele
próprio.
Nós devemos então olhar para Jesus com os
olhos da fé, da maneira que convém ser olhado, isto é, como alguém que está completamente
cheio de toda graça, virtude, verdade, dons,
enfim, tudo o que for necessário para o nosso
aperfeiçoamento espiritual, e para que tenhamos um viver em verdadeira vitória
perante Ele, recebendo dele toda a provisão que
necessitamos.
Ele está cheio de graça e de verdade e os que
esperam nele não terão falta alguma.
Ele é uma fonte inesgotável, e o Espírito que nos
tem dado é um rio de águas vivas que flui para a eternidade e cujas águas jamais se esgotarão.
Por isso, nunca devemos ficar satisfeitos e imóveis com a medida de graça que tivermos no
presente, porque somos chamados a avançar de
medida de graça sobre graça até à perfeita maturidade em Cristo Jesus.
O apóstolo Paulo havia experimentado abundantemente desta fonte e viu que sempre
havia muito mais para ser experimentado, e
assim ele falou de uma graça superabundante,
18
de uma suprema riqueza da graça inescrutável
de Cristo (Rom 5.20; Ef 1.7; 2.7; 3.8).
É, graça sobre graça para fazer avançar a própria
graça na nossa vida, e não propriamente para
atender a desejos caprichosos terrenos.
Das nossas necessidades terrenas Deus cuidará,
mas elas não podem nos melhorar e aperfeiçoar
um só milímetro, por isto a graça é concedida
para que sejamos revestidos da plenitude de Deus em nosso próprio ser.
Uma graça é para melhorar, confirmar e
aperfeiçoar outra graça.
Nós somos transformados à imagem divina de
glória em glória.
De um grau de graça glorioso para outro (II Cor
3.18).
Por isso se diz que àquele que tem, ser-lhe-á
dado mais, porque onde há a verdadeira graça
ela será aumentada por Deus, e tanto mais,
quando for mais abundante (Lc 8.18; Tg 4.6).
João Testificou que Jesus é o Messias - João 1
“19 E este é o testemunho de João, quando os
judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e
levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?
20 E confessou, e não negou; confessou: Eu não
sou o Cristo.
21 E perguntaram-lhe: Então quem? És tu Elias?
E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu:
Não.
19
22 Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos
resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de
ti mesmo?
23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto:
Endireitai o caminho do Senhor, como disse o
profeta Isaías.
24 E os que tinham sido enviados eram dos
fariseus.
25 E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que
batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com
água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis.
27 Este é aquele que vem após mim, que é antes
de mim, do qual eu não sou digno de desatar a
correia da alparca.
28 Estas coisas aconteceram em Betânia, do
outro lado do Jordão, onde João estava
batizando.” (João 1.19-28)
Nos versos 15 a 18 nós vimos o testemunho geral
que João dava de Jesus, e aqui nestes versos 19 a 28 nós temos registrado o testemunho que ele
deu em certa ocasião quando os judeus lhe
enviarem sacerdotes e levitas de Jerusalém para
lhe perguntarem quem ele era (v. 19).
João confessou que não era o Cristo.
Que ele não era o grande profeta prometido desde Moisés (Dt 18.18).
Disse também que não era o profeta Elias, que
eles pensavam que voltaria à terra por causa da
20
profecia de Malaquias 4.5; que era de fato uma
referência a João Batista sob o codinome de Elias
(Mt 17.10-13), mas isto não significava que João
fosse de fato Elias.
Ele viria no mesmo tipo de espírito e poder do
profeta Elias, conforme o anjo preanunciou o nascimento de João a seu pai Zacarias (Lc 1.17).
João disse aos sacerdotes e levitas que ele era
aquele do qual havia falado o profeta Isaías.
A voz que clama no deserto: Endireitai o
caminho do Senhor. Ele mostrou a eles que o
seu ministério estava apoiado nas Escrituras.
Aqueles sacerdotes e levitas que eram fariseus
não retrucaram a resposta que João lhes dera, mas questionaram ainda por que ele batizava, já
que não era o Cristo, nem Elias e nem o profeta.
João lhes respondeu que ele batizava com água,
mas já se encontrava entre os judeus Alguém
que eles não conheciam, e que viria após ele,
apesar de ser antes dele (até mesmo de Abraão e de tudo e de todos) do qual ele disse
humildemente não ser digno sequer de lhe
desatar a correia da sua sandália.
Este serviço era prestado pelos escravos de mais
baixa categoria aos seus senhores.
Deste modo João testificou a respeito da
dignidade dAquele que veio anunciando.
É dito que na ocasião que João proferiu estas
palavras ele se encontrava na cidade de Betânia,
do outro lado do Jordão, onde estava batizando.
21
Esta Betânia não era a mesma que ficava
próxima de Jerusalém, porque é dito que ficava
do outro lado do rio Jordão, cidade esta que era
chamada também de Betabará.
Era de se esperar que aqueles que tanto se dedicavam ao estudo das Escrituras, que fossem
eles os primeiros a reconhecerem a vinda de
João Batista e do próprio Cristo.
No entanto, a grande maioria deles não chegou
a conhecê-lo apesar do testemunho das Escrituras acerca deles, e a própria
manifestação deles entre os judeus.
Isto comprova que é possível Deus estar se
manifestando e operando em nosso meio, e
ainda assim não ser percebido e conhecido por muitos que estiverem dentre aqueles aos quais
Ele estiver se manifestando.
Os escribas e fariseus formaram a própria ideia
deles sobre o reino do Messias, e elaboraram o
seu próprio sistema para a justificação do pecado, de maneira que não se submeteram à
justiça de Deus revelada em Cristo.
O orgulho lhes impediu de renunciarem às suas
convicções para que pudessem ser convencidos
pela verdade de Deus.
Eles não podiam entender que o reino não
consiste em palavras e que nem vem em aparência visível porque é um reino espiritual
que se manifesta espiritualmente.
Assim, não podiam discernir as coisas do
Espírito e permaneciam cegos.
22
Os Primeiros Discípulos de Jesus - João 1
“37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e
seguiram a Jesus.
38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o
seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer
Mestre), onde moras?
39 Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram
onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era
já quase a hora décima.
40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos
dois que ouviram aquilo de João, e o haviam
seguido.
41 Este achou primeiro a seu irmão Simão, e
disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).
42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás
chamado Cefas (que quer dizer Pedro).”.
“43 No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e
achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.
44 E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei,
e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa
boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.
47 Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse
dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem
não há dolo.
23
48 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu?
Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te
chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da
figueira.
49 Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel.
50 Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse:
Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores
do que estas verás.
51 E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os
anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho
do homem.”.
Nós temos nestes versos 37 a 42 o registro da
forma como André e Pedro se tornaram discípulos de Jesus.
André havia seguido ao Senhor depois do
testemunho que havia ouvido João dar a respeito
dele, quando passava por eles.
Tendo Jesus mostrado onde morava a André e
ao outro discípulo de João que estava com ele, ambos passaram aquele dia em sua companhia.
André se apressou a contar a Pedro que havia
achado o Messias, e levou Pedro até a casa de
Jesus, onde este lhe deu o apelido de Pedro (do
hebraico Cefas, e do grego Petros), porque o seu nome era Simão, que significa caniço.
Este Pedro vem do grego petros, que significa
pedra, e não petra, cujo significado é rocha.
Quando Jesus disse mais tarde a Pedro (Petros)
que edificaria a sua igreja sobre aquela pedra
24
(petra, rocha), estava falando de si mesmo, e não
de Pedro, porque o original grego nos ajuda a
entender o significado das palavras diferentes
que Jesus usou naquela ocasião: petros para Pedro, e petra, para Si mesmo.
Nós vimos nos versículos 37 a 41 do primeiro
capítulo de João, que André foi quem conduziu
Pedro a Jesus.
Na passagem dos versos 43 a 51 nós vemos que
foi Filipe que conduziu Natanael a Ele.
Este é o modo de se propagar a fé, através do nosso testemunho acerca de Cristo a outros, e
nos esforçando para levá-los a conhecerem ao
Senhor.
Não está em nós o poder de dar tal
conhecimento do Senhor às pessoas.
É Ele próprio que se revela a elas, como fizera com Natanael.
Filipe era da mesma cidade de Pedro e André, e é dito no texto que Jesus o achou e disse-lhe para
que O seguisse.
O verdadeiro cristianismo consiste em seguir a
Cristo, porque Ele disse que onde Ele estiver ali
devem estar também os seus servos.
Quando Filipe disse a Natanael que havia encontrado aquele sobre o qual Moisés e os
profetas haviam falado nas Escrituras, e que era
Jesus, filho de José, da cidade de Nazaré, esta
menção à naturalidade de Jesus fez com que Natanael apresentasse a objeção que fizera
quanto ao fato de que Jesus pudesse ser de fato o
Messias sendo de Nazaré, porque não havia,
25
segundo o seu entendimento das Escrituras,
nenhum profeta de Deus que tivesse sido
levantado na região da Galileia.
No entanto, ele desconhecia que Jesus não
nascera na Galileia, mas em Belém de Judá.
Jesus não era natural de Nazaré, mas de Belém.
Ele residiu por muito tempo em Nazaré, mas
havia nascido em Belém, fato que Natanael
desconhecia.
As próprias Escrituras testificavam que o Messias nasceria em Belém.
Mas apesar da objeção de Natanael, Filipe o conduziu assim mesmo a Jesus.
Natanael ficou maravilhado com o fato de Jesus ter declarado que estava com o seu olhar sobre
ele, quando se encontrava fora do alcance da sua
vista, sentado debaixo de uma figueira.
Ele creu imediatamente e disse que Jesus era de
fato, o Filho de Deus e Rei de Israel.
O Senhor se agradou da manifestação da fé de
Natanael nele, ainda que diante de uma única evidência do seu poder, que lhe havia
manifestado.
Mas, para mantê-lo firme na sua convicção
disse-lhe que ele veria coisas ainda maiores do
que aquela, e que daquele momento em diante ele viria o céu aberto e os anjos de Deus subindo
e descendo sobre o Filho do homem.
Jesus tem sempre muito mais para realizar
sobrenaturalmente com o seu poder, de
maneira que aqueles que se aproximam dele
26
possam ter a fé deles cada vez mais fortalecida e
confirmada.
27
João 2
O Primeiro Milagre de Jesus
“1 E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em
Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus.
2 E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.
3 E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não
têm vinho.
4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu
contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
5 sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto
ele vos disser.
6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma
cabiam dois ou três almudes.
7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E
encheram-nas até em cima.
8 E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala.
E levaram.
9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita
vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água),
chamou o mestre-sala ao esposo,
10 E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o
vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o
inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná
da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus
discípulos creram nele.” (João 2.1-11)
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O terceiro dia ao qual o autor do evangelho se
referiu foi em relação ao dia em que Jesus retornou da tentação do deserto, e quando
passou por João Batista; sendo que no primeiro,
foi seguido por André; no segundo recebeu a
Natanael, no relato que lemos no capítulo anterior, e agora, no terceiro dia depois de ter
alcançado a André, Pedro, Filipe e Natanael,
Jesus se dirigiu a um casamento na cidade de
Caná da Galileia porque fora convidado para a festa com seus discípulos.
É dito que Maria, sua mãe, encontrava-se presente.
Provavelmente poderia ter sido o casamento de
algum parente de Maria ou então ela deveria
privar de intimidade com aquela família, o que
se pode inferir da sua intervenção junto a Jesus e aos serventes quando o vinho acabou.
Segundo o relato de João, até esta altura nós podemos deduzir que os discípulos de Jesus, que
estiveram na festa e que presenciaram o
milagre da transformação da água em vinho, eram André e o outro discípulo de João Batista, o
qual o nome não foi citado neste evangelho;
Pedro, que seguiu Jesus juntamente com ele;
Pedro, Filipe e Natanael.
Segundo João, este foi o primeiro sinal feito por
Jesus que manifestou a sua glória perante os seus discípulos, que tiveram por confirmado
com aquele milagre que Ele era de fato o
Messias.
29
Jesus não havia sequer começado a pregar a sua
doutrina.
O evangelho não havia ainda sido proclamado
publicamente, senão em privado a estes poucos discípulos que haviam se reunido a Ele naquele
curto espaço de três dias.
Como os milagres teriam principalmente a
função de confirmar que Ele era de fato o Messias, dando testificação à Palavra que seria
pregada, então o Senhor teve uma atitude
reservada em mostrar a Maria que os milagres
que Ele faria não tinham o propósito de serem exibições caprichosas do seu poder, mas sinais
que seriam concedidos pelo Pai, pelo poder do
Espírito, para marcarem o seu ministério.
Jesus não fez seu primeiro milagre em Jerusalém, mas num lugar distante e obscuro de
Israel, porque Caná ficava na Galileia, no
território da tribo de Aser.
Isto demonstra claramente que Ele não estava buscando honra de homens, e todos os seus
ministros deveriam seguir o seu exemplo nisto.
A sua doutrina e milagres seriam colocados
mais à disposição dos humildes galileus do que dos rabinos orgulhosos e preconceituosos de
Jerusalém.
O Senhor não necessitava ter ordenado aos
serventes que enchessem as seis talhas com
água até a borda para produzir vinho.
Ele poderia tê-las enchido ainda vazias, mas para
evidenciar que realizaria de fato um milagre
porque aqueles serventes e os discípulos
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testemunharam que haviam sido enchidas com
água, não haveria como afirmar que aquelas
talhas já continham vinho caso Jesus as
enchesse estando vazias.
Apresentamos a nossa água a Cristo com fé e Ele
a transforma em vinho.
Apresentamos o nosso pouco e Ele transforma
em muito.
Apresentamos nossas tristezas e Ele as
transforma em alegria; nossas enfermidades
em saúde, nossas maldições em bênçãos.
Tudo lhe é possível.
Aquilo que Ele nos dará é excelente, assim como o vinho que Ele fez era de qualidade superior a
todo o vinho que já tinha sido servido naquela
festa.
Jesus Repreende o Comércio no Templo - João 2
“12 Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram
ali não muitos dias.
13 E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
14 E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores
assentados.
15 E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas;
e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e
derribou as mesas;
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16 E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui
estes, e não façais da casa de meu Pai casa de
venda.
17 E os seus discípulos lembraram-se do que está
escrito: O zelo da tua casa me devorará.
18 Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
19 Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis
anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do templo do seu corpo.
22 Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos,
os seus discípulos lembraram-se de que lhes
dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra
que Jesus tinha dito.” (João 2.12-22)
Ao sair de Caná, Jesus se dirigiu com Maria e seus discípulos para Cafarnaum, e permaneceu
ali alguns dias, (é possível que Jesus tenha ido à
residência de Pedro, o qual apesar de ser natural
de Betsaida, residia em Cafarnaum - Mt 17.24,25); tendo subido depois para Jerusalém
para a festa da páscoa; porque importava que
cumprisse todas as ordenanças da Lei, inclusive
as cerimoniais, de maneira que cumprindo toda a Lei foi achado inculpável diante de Deus, de
maneira que pudesse morrer no lugar dos
pecadores, carregando sobre Si a culpa deles.
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Ele cumpriu a própria Lei, que Ele instituiu e
deu a Moisés, para que fosse cumprida pelos
homens.
Chegando ao templo ele açoitou com um
azorrague os cambistas e vendilhões, que
haviam estabelecido um comércio no templo de
Jerusalém, para obterem lucro financeiro para si e para os sacerdotes, que exploravam os
serviços deles.
Em vez de homens de Deus aqueles sacerdotes haviam se transformado em meros políticos e
comerciantes.
Jesus mostrou que estava comissionado de
autoridade divina para fazer o que havia feito porque quando foi interpelado pelos judeus que
sinal Ele faria para lhes mostrar que tinha a
autoridade do Messias para fazer aquilo, lhes disse que o sinal seria que em três dias ele
levantaria o templo caso eles o derrubassem,
mas Ele lhes falava da ressurreição do seu
próprio corpo como o sinal dado do céu de que Ele era de fato divino.
Mas pensaram que Ele se referia ao templo de
Herodes que foi construído durante 46 anos,
pelos acréscimos e embelezamentos que foram acrescidos ao templo dos dias de Zorobabel,
depois que os judeus retornaram de Babilônia.
Jesus respondeu aos seus interpeladores com uma parábola relativa à sua ressurreição, de
maneira que lhes disse a verdade de uma
maneira que não poderiam compreender.
33
Eles não estavam buscando conhecer a verdade,
mas desqualificá-lo.
Ao exercer juízos corretivos sobre as coisas que
se faziam no templo nosso Senhor santificou o
nome de Deus e manifestou publicamente que a vontade dele nada tinha a ver com aquele
comércio, ao contrário há um juízo dele sobre
todos aqueles que fazem da sua santa religião uma ocasião para ganho mundano.
O templo de Jerusalém era uma instituição
divina, porque existia por uma ordenação de
Deus para o Velho Testamento.
Esta ação de Jesus despertou contra ele o ódio e
inveja dos sacerdotes do templo e os seus discípulos se lembraram do Salmo 69.9, que era
uma referência ao zelo do qual Jesus estava
completamente tomado pela casa de Deus.
Jesus é zeloso da sua Igreja que é o templo vivo
no qual Deus habita e habitará para todo o sempre.
Ele tem zelo por esta casa espiritual viva e tudo
fará para purificá-la mais do que ao templo de
pedra de Jerusalém.
Jesus Sabe o Que é a Natureza Humana
Pecaminosa - João 2
“23 E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que
fazia, creram no seu nome.
24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles,
porque a todos conhecia;
34
25 E não necessitava de que alguém testificasse
do homem, porque ele bem sabia o que havia no
homem.”. (João 2.23-25)
Jesus não se confiou a muitos que haviam
professado ter crido nele por causa dos muitos
milagres que Ele havia feito em Jerusalém.
O evangelista diz que Jesus não confiava neles
porque sae que a natureza terrena de todas as
pessoas é pecaminosa, e pode muito bem disfarçar uma confiança e fidelidade que na
verdade não existem.
A muitos que declararam ter crido em Jesus; Ele
lhes disse que evidenciariam terem crido pela
prática da sua Palavra (Jo 8.31).
Não se pode dizer que os sinais que Jesus havia
feito em Jerusalém foram em vão por causa
destes falsos cristãos, uma vez que muitos outros foram convencidos posteriormente,
vindo a se converter por causa dos sinais que
haviam visto Ele fazer em Jerusalém, como por
exemplo os galileus que tinham subido à festa da páscoa e que deram boa acolhida ao Senhor
quando Ele retornou de Jerusalém para a
Galileia (João 4.43).
35
João 3
Jesus Veio Salvar e Não Condenar
“1 E havia entre os fariseus um homem,
chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe:
Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais
que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na
verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem
nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a
entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te
digo que aquele que não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos
é nascer de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai;
assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de
Israel, e não sabes isto?
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11 Na verdade, na verdade te digo que nós
dizemos o que sabemos, e testificamos o que
vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes,
como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no
céu.
14 E, como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 Para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo,
não para que condenasse o mundo, mas para
que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é condenado; mas quem
não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao
mundo, e os homens amaram mais as trevas do
que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz,
e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a
fim de que as suas obras sejam manifestas,
porque são feitas em Deus.”
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Os sinais que Jesus havia feito em Jerusalém e a
sua pregação do evangelho haviam impactado profundamente a um dos líderes dos fariseus
chamado Nicodemos.
Jesus falou sobre o novo nascimento do Espírito
a Nicodemos, e ele não pôde discernir as coisas
que Jesus lhe disse porque são celestiais e espirituais, e Nicodemos tentou compreendê-
las apenas com a sua mente natural.
Como lhe faltou a necessária iluminação do
Espírito Santo, Jesus lhe disse que ele não estava
compreendendo as suas palavras porque não
estava aceitando pela fé o testemunho que Ele estava dando da verdade acerca da iluminação e
operação necessária do Espírito Santo para que
as pessoas possam receber uma nova natureza celestial (regeneração) de maneira que possam
ver o reino de Deus.
Este reino é espiritual e pode ser discernido
somente espiritualmente pela iluminação e
instrução do Espírito Santo ao nosso espírito.
Para confirmar esta verdade, quando
Nicodemos pensou que Jesus estava falando de um novo nascimento natural, deste mundo,
nosso Senhor lhe disse que a carne somente
pode gerar carne, e que estava falando, portanto
de um novo nascimento do espírito, o qual só pode ser gerado pelo Espírito Santo.
Nicodemos estava convencido de que a obra de
Jesus era de Deus, porque de outro modo não
poderia fazer os sinais que estava fazendo.
38
Ele chamou Jesus de Rabi, reconhecendo que
era Mestre.
No entanto, deve ter temido até aquele
momento, que os fariseus soubessem que Ele tinha ido a Jesus, e por isso talvez tenha ido ter
com Ele à noite.
Isto explica em muito a dificuldade que ele teve
para ser instruído pelo Espírito quanto às coisas que Jesus lhe falava.
Nicodemos disse que reconhecia que Jesus era
Mestre, mas não disse que sabia que era o
Messias, ou Filho de Deus porque lhe faltou tal ajuda do Espírito, porque ninguém pode
reconhecer e dizer que Jesus é o Senhor a não
ser pelo Espírito.
Mas, Jesus deve ter vislumbrado a sinceridade
daquele homem, apesar de todas as suas cautelas humanas, e também a possibilidade de
uma conversão futura, diante de maiores
evidências acerca do evangelho e da sua Pessoa divina, tanto que o Senhor não lhe falou por
parábolas e lhe disse as verdades centrais do
evangelho de maneira muito direta, para ajudá-
lo a um ato de entrega completa a Ele.
Devemos lembrar que este diálogo aconteceu quando o ministério de Jesus estava
começando, e Ele viria ainda a ensinar e a fazer
muitas coisas pelo poder do Espírito.
Dentro de aproximadamente três anos, Jesus iria para a cruz, e Nicodemos poderia
testemunhar acerca das palavras que o Senhor
lhe havia ensinado.
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É bem possível que ele tenha se convertido na
ocasião da morte de Jesus, porque nós o
encontramos não somente defendendo o
Senhor perante o Sinédrio quando haviam enviado guardas para prendê-lo, como também
acompanhou de perto a sua crucificação, tendo
levado consigo cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés para colocar no corpo
do Senhor, depois que o tiraram da cruz (João
7.50; 19.39).
Jesus também disse a Nicodemos que este novo
nascimento do Espírito não é feito com base na exclusiva vontade do homem, muito pelo
contrário, pela exclusiva vontade do Espírito
Santo, porque tal como o vento, Ele sopra aonde
quer, e o homem não tem qualquer domínio para alterar as correntes dos ventos que sopram
sobre a terra, porque isto foi fixado por Deus.
De igual maneira, os que nascem do Espírito,
como o evangelista já havia afirmado no primeiro capítulo deste evangelho, não nascem
do sangue e da carne, isto é, da vontade do
homem, senão da vontade de Deus.
Até porque todos os homens foram feridos pela
picada mortal do pecado, e somente o olhos da fé podem contemplar o Cristo crucificado para
sermos curados da morte espiritual e eterna, tal
como o contemplar a serpente de bronze no
deserto nos dias de Moisés foi o único remédio provido por Deus para curar os israelitas da
morte física por causa do veneno das serpentes
abrasadoras que vieram sobre eles como
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manifestação do seu juízo, por causa do pecado
que eles haviam praticado.
A serpente é uma criatura que foi amaldiçoada
por Deus e por isso Jesus fez a comparação, não que Ele seja uma serpente, mas porque Ele se fez
voluntariamente, por amor de nós, maldição no
nosso lugar, porque está escrito na Lei que todo
aquele que for pendurado em madeiro é maldito de Deus.
Assim Cristo se fez maldição por nós para que
pudéssemos ser livrados da maldição e sermos
abençoados por Deus, recebendo o Espírito Santo.
Deste modo, Jesus, na presente dispensação da
graça, não veio para julgar e condenar o mundo,
mas para salvar aqueles que do mundo, o contemplam pela fé, crucificado pelos nossos
pecados.
Antes que Jesus se manifestasse, todo o mundo,
especialmente as nações gentias, encontravam-se em completa treva espiritual, sem o
conhecimento do verdadeiro Deus, e sem
qualquer esperança de salvação.
Daí Jesus ter afirmado de Si mesmo ser Ele
próprio a luz que dá vida ao mundo que se encontra morto no pecado (João 8.12).
A luz de Cristo manifestada através do
evangelho está destinada a brilhar em todo o
mundo, e não com o brilho fosco da Antiga Aliança, como ocorria nos dias do Velho
Testamento, basicamente apenas no território
de Israel.
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A base da condenação será este fechamento de
olhos para a luz porque o livramento da
condenação é simplesmente pelo ato de fé e
arrependimento que consiste em vir para a luz.
Deus está perdoando gratuita e livremente a
todo e qualquer que venha para a luz.
Ele está salvando por pura graça e não por nenhuma qualificação especial ou obra dos que
são salvos.
Por isso Jesus disse que aqueles que praticarem
a verdade do evangelho, virão para a luz, para que a suas obras sejam manifestas, porque elas
serão feitas em Deus.
Mas aqueles que praticam o mal, odeiam a luz e não virão para a luz para que as suas obras não
sejam reprovadas.
João Testificou a Supremacia de Jesus - João 3
“22 Depois disto foi Jesus com os seus discípulos
para a terra da Judeia; e estava ali com eles, e batizava.
23 Ora, João batizava também em Enom, junto a
Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham
ali, e eram batizados.
24 Porque ainda João não tinha sido lançado na
prisão.
25 Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação.
26 E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi,
aquele que estava contigo além do Jordão, do
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qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e
todos vão ter com ele.
27 João respondeu, e disse: O homem não pode
receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
28 Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado
adiante dele.
29 Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que lhe assiste e o ouve, alegra-
se muito com a voz do noivo. Assim, pois, já esta
minha alegria está cumprida.
30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.
31 Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra.
Aquele que vem do céu é sobre todos.
32 E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
33 Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro.
34 Porque aquele que Deus enviou fala as
palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.
35 O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou
nas suas mãos.
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna;
mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.”
Ao deixar Jerusalém Jesus se dirigiu com os seus
discípulos para a região da Judeia, que ficava ao
norte de Jerusalém, e ao sul de Samaria.
43
Naquela ocasião estava fazendo convertidos que
estavam sendo batizados não propriamente por
Ele, mas pelos apóstolos conforme afirmado em
João 4.2.
Próximo do lugar em que Jesus se encontrava,
João Batista estava também batizando na
localidade de Enom, próximo de Salim.
Alguns pretenderam argumentar com João que somente ele tinha o direito de batizar nas águas
para a purificação dos pecados; julgando que
Jesus e os seus discípulos estavam se
intrometendo na missão divina que João havia recebido para cumprir.
Então, João se apressou em desfazer o equívoco,
lhes explicando que ele era apenas o amigo do
Noivo. A noiva de Cristo é a Igreja e João afirmou que ela não lhe pertence senão a Cristo. Ele
estava alegre em ser apenas o amigo do Noivo.
Não havia nenhuma intromissão de ministérios,
mas uma clara definição de papéis de alguém que estava a serviço de Deus e que era terreno
(João) e de Alguém para o qual existem todos os
ministérios terrenos, e que é do céu (Cristo).
Aqueles que haviam tomado partido de João
contra Jesus, ainda que bem-intencionados necessitariam nascer de novo para que
pudessem entender que era a Jesus que eles
deveriam seguir e servir.
Eles precisavam avançar do batismo de João para o batismo de Cristo. De uma visão natural
do reino de Deus para uma visão espiritual que
poderiam ter somente estando em Cristo.
44
Por isso João tratou de lhes ensinar a verdade
relativa à sua missão que era apenas a de
apontar Cristo aos homens para que pudessem
ser salvos e ter vida eterna nele.
João sabia que o ofício que havia recebido do céu
era temporário, e não eterno como o de Cristo.
Assim o seu ministério diminuiria cada vez
mais, e o de Cristo aumentaria e jamais cessaria.
Ele fez questão de ressaltar que o testemunho
que estava dando agora já havia sido dado por
ele antes, a respeito de Jesus, de maneira que
não cabiam aquelas colocações que seus discípulos estavam fazendo contra o batismo do
Senhor, porque na verdade, importava que
fossem batizados por Ele.
Os discípulos de João estavam vendo a Cristo e seus apóstolos como rivais de João.
Nós devemos ter cuidado para não dividirmos o
reino de Deus e a obra do evangelho por causa
das nossas preferências pessoais a favor de
pessoas e denominações.
Todos aqueles que são verdadeiramente de
Deus e que estão fazendo uma obra verdadeira
que procede dele, fazem parte do mesmo corpo
e deveriam evitar este espírito dos discípulos de João, e seguir o exemplo do mestre deles, que se
apressou em instruí-los quanto à unidade que
há no reino de Deus, entre os diversos
ministérios diferentes que o próprio Deus estabeleceu pelo seu próprio poder.
Apesar de muitos terem rejeitado as palavras
celestiais e verdadeiras que Jesus estava
45
pregando, no entanto, outros aceitariam o seu
testemunho destas coisas celestiais e divinas,
confirmando que Deus é verdadeiro, pela
transformação e poder que seriam operados em suas próprias vidas, conforme a doutrina que
Jesus estava pregando, especialmente as da
justificação, redenção, regeneração e santificação.
Jesus não havia recebido uma medida do
Espírito Santo, como os profetas do Velho
Testamento e todos os demais servos de Deus,
porque sendo divino, habitou nele toda a plenitude do Espírito Santo, em todos os
poderes e dons divinos, e isto explica a
onisciência de Jesus em seu ministério terreno
como comprovou no caso de Natanael, da mulher samaritana, da moeda no ventre do
peixe e em muitas outras ocasiões.
Realmente o Espírito Santo habitava em Jesus de
uma maneira singular, e por isso João disse que Ele não havia recebido de Deus Pai o Espírito por
medida (v. 34).
Foi do agrado do Pai que toda a plenitude
habitasse no Filho, e por isso Lhe sujeitou todas as coisas; de maneira que a vida eterna é obtida
somente pela fé no Filho de Deus, e todos
aqueles que se mantêm rebeldes contra Cristo,
a ira de Deus permanece sobre eles.
46
João 4
Jesus Vai da Judeia para a Galileia
“1 E quando o Senhor entendeu que os fariseus
tinham ouvido que, ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos do que João
2 (Ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os
seus discípulos),
3 Deixou a Judeia, e foi outra vez para a Galileia.”
(João 4.1-3)
No capítulo anterior (3) nós vimos no verso 22
que Jesus havia entrado na Judeia depois da festa em Jerusalém, e agora ele havia deixado a Judeia
cerca de quatro meses antes da colheita, como é
dito no verso 35 deste quarto capítulo, de modo
que isto é computado de modo a se entender que Jesus tinha permanecido na Judeia cerca de seis
meses.
Aqueles que se convertiam com a pregação de Jesus na Judeia eram batizados nas águas, não
propriamente pelo próprio Jesus, mas pelos
seus discípulos.
O próprio João batizava os seus discípulos porque batizava como um servo, mas o batismo
de Jesus era feito pelos apóstolos porque estes
batizavam como servos daquele que era
também o Senhor do próprio batismo de João.
É dito que Jesus havia feito e batizado mais
discípulos do que João, e isto certamente não
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somente naquela ocasião, mas muito mais do
que João tivesse feito em todo o tempo do seu
ministério, porque dos milagres, as curas, a
palavra pregada pelos próprios lábios do Senhor, somente se poderia esperar um tal
resultado, melhor do que o realizado através de
qualquer homem.
Quando os fariseus o souberam, que multidões
estavam se convertendo e sendo batizadas, isto gerou uma grande inveja neles. Eles estavam
certamente contentes com o fato de João ter
sido aprisionado, e pensavam que estavam
livres de qualquer competição, mas agora surge um incômodo muito maior para eles na pessoa
do próprio Jesus.
O sucesso do evangelho sempre suscitará uma
grande fúria naqueles que são seus inimigos.
Como o Senhor seria perseguido duramente até
mesmo à morte, e como não era ainda chegada a sua hora, pois havia muita coisa ainda a ser
realizada em seu ministério, Ele decidiu deixar a
Judeia e retornar à Galileia novamente.
E como na Galileia não havia tantos religiosos
como em Jerusalém com uma grande concentração de escribas e fariseus, Ele seria
menos importunado lá.
O Evangelho Vence o Preconceito - João 4
Isto aprendemos especialmente na narrativa
relativa ao encontro de Jesus com a mulher
samaritana, conforme registrado no quarto
48
capítulo do evangelho de João, capítulo 4,
versículos 4 a 42:
Versículos 4 a 26
“4 E era-lhe necessário passar por Samaria.
5 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada
Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu
filho José.
6 E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte.
Era isto quase à hora sexta.
7 Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-
lhe Jesus: Dá-me de beber.
8 Porque os seus discípulos tinham ido à cidade
comprar comida.
9 Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que
sou mulher samaritana? (porque os judeus não
se comunicam com os samaritanos).
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu
conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria
água viva.
11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com
que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a
água viva?
12 És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus
filhos, e o seu gado?
13 Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que
beber desta água tornará a ter sede;
49
14 Mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se
fará nele uma fonte de água que salte para a vida
eterna.
15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha
aqui tirá-la.
16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e
vem cá.
17 A mulher respondeu, e disse: Não tenho
marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não
tenho marido;
18 Porque tiveste cinco maridos, e o que agora
tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20 Nossos pais adoraram neste monte, e vós
dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve
adorar.
21 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora
vem, em que nem neste monte nem em
Jerusalém adorareis o Pai.
22 Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o
que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a
tais que assim o adorem.
24 Deus é Espírito, e importa que os que o
adoram o adorem em espírito e em verdade.
50
25 A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que
se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos
anunciará tudo.
26 Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.”
Quando Jesus se dirigia da Judeia para a Galileia
seria necessário passar por Samaria, e havia
aqui um povo misto que era o resultado da união de israelitas com os povos que o rei da Assíria
havia deixado lá depois do cativeiro das dez
tribos, cerca de 722 a.C.
Eles adoravam somente o Deus de Israel para o
qual eles haviam erguido um templo no monte Gerizim, em competição com o templo de
Jerusalém.
Havia grande inimizade entre eles e os judeus, e
foi por isso que os samaritanos não queriam dar pousada a Jesus numa outra ocasião, porque o
seu aspecto era como o de quem ia a Jerusalém
(Lc 9.52,53).
Tal era a inimizade entre eles que os judeus quando queriam ofender alguém chamavam a
pessoa de “este samaritano”.
É importante frisar que não era ainda o
momento de se pregar o evangelho em Samaria ou em qualquer região dos gentios porque como
o próprio Jesus afirmou, o seu ministério
terreno seria junto à circuncisão, isto é, junto às
ovelhas perdidas da casa de Israel, porque importava que o evangelho fosse primeiro
pregado a eles, e em face da rejeição deles, seria
estendido aos gentios.
51
Então o que ocorreu com a mulher de Samaria e
com aqueles que viriam a se converter através
do testemunho dela, foi uma migalha que havia
caído da mesa do Mestre, tal como ocorrera com a mulher sirofenícia.
E, passando por Samaria rumo à Galileia, Jesus parou numa das cidades de Samaria de nome
Sicar, porque ali havia uma fonte, e Ele estava
cansado e sedento em razão da viagem.
Nós vemos nisto, que Ele era verdadeiramente
homem e estava sujeito às fraquezas e
necessidades comuns da natureza humana.
Vemos também, que Ele era pobre, senão
estaria fazendo a sua viagem a cavalo ou em carruagens, mas como sempre, Ele viajava a pé.
Quando Jesus chegou em Samaria, os discípulos
haviam ido à cidade comprar comida, mas Jesus ficou ali junto à fonte de exausto que estava.
Nisto veio uma mulher de Samaria pegar água na fonte.
Mas foi certamente pela Providência divina que ela foi inspirada a buscar água naquela hora do
dia em que o sol estava muito forte.
O Pai estava atraindo a pecadora ao Filho para
que fosse salva.
Jesus começou a sua conversa com a mulher samaritana pedindo-lhe que lhe desse de beber.
Ele fez isso nem tanto pela sua própria necessidade mas pelo seu desejo de
recompensar aquela mulher pela oportunidade
que estava lhe dando de servi-lo.
52
A mulher não se negou a atender ao pedido de
Jesus, mas estranhou que Ele apesar de ser um
judeu estivesse falando com ela, por ser
samaritana.
Os judeus afirmavam que os samaritanos não
teriam nenhuma parte na ressurreição e os
excomungavam e os amaldiçoavam em nome
de Jeová, e diziam que nunca comeriam nada das mãos de um samaritano, porque era o
mesmo que estar comendo carne de porco.
Então a mulher estranhou que um judeu (Jesus)
estivesse lhe pedindo de beber.
Ela ficou perplexa com o fato de Jesus não ter
agido da maneira preconceituosa dos judeus.
Ele não rejeitou se aproximar dela pelo fato de
ter uma religião diferente da dele, como teria feito qualquer outro judeu.
Estas disputas religiosas podem endurecer de
tal modo o coração que os homens são afastados
da verdadeira religião que nos ordena amar os
nossos inimigos, amar o nosso próximo, ser misericordiosos para com todas as pessoas.
Então Jesus renunciou à objeção dela quanto à
questão religiosa entre os judeus e samaritanos
e nos deixou um exemplo nisto porque muitas diferenças são melhor curadas sendo
desprezadas, e evitando-se entrar em disputas
acerca delas.
Jesus conduziria aquela mulher à conversão sem esquentar o debate em torno do assunto de
que a adoração dos samaritanos era cismática
(embora o fosse), mas revelando a própria
53
ignorância dela e imoralidade, e
consequentemente a sua necessidade de um
Salvador, porque Deus tem imposto o dever ao
homem que Ele criou de que este seja santo, e que tenha coberta a sua dívida de pecados, e não
é possível se chegar a isto sem um Salvador.
Jesus iria ajudar aquela mulher samaritana a ver
que Ele não era simplesmente um judeu cansado de sua viagem, mas o Messias do qual
ela havia ouvido falar que viria ao mundo.
Ele lhe disse que havia um dom de Deus que ela
ignorava, e Ele falava de si mesmo, porque Ele é o dom de Deus aos homens, do qual dependem
todos os demais dons, inclusive o próprio dom
do Espírito Santo, porque se Ele não tivesse
morrido na cruz, o Espírito não poderia ser dado.
A mulher o tinha visto como um simples judeu
viajante, mas Ele revelaria a ela que havia muito
mais em relação a Ele que ela não sabia, e além
do que se via apenas na aparência.
Jesus é o dom de Deus, a riqueza do amor de
Deus trazida a nós, e o tesouro mais rico de tudo
que possa haver de bom para nós, e um tesouro
que nos é dado gratuitamente sem que seja exigido qualquer mérito ou trabalho da nossa
parte.
É um grande privilégio poder ter este presente
de Deus que nos é oferecido, e ter uma
oportunidade de abraçá-lo.
Com o que disse acerca do dom de Deus, Jesus
mostrou à samaritana que se ela O conhecesse
não lhe teria dado uma resposta tão rude.
54
Mas, como aqueles que desejam conhecer a
Cristo terão que procurá-lo, ainda que Ele esteja
muito próximo deles, tal como aquela mulher
samaritana, Ele continuaria em seu diálogo com ela para poder facilitar o encontro que a
transformaria numa filha de Deus.
É exatamente isto que Ele continua fazendo até
hoje, para que possa ser achado por aqueles que
O buscam.
Ele lhes ajuda na sua cegueira e morte espiritual por causa do pecado para que possam vir a
enxergar e a viver, de modo que possam se
comunicar com Deus e adorá-lo em espírito,
tendo uma vez sido vivificados pela vida eterna que há em Cristo, o dom de Deus aos pecadores,
para que possam sair do estado de completa
incomunicabilidade com as coisas espirituais,
celestiais e divinas em razão da separação que foi ocasionada pelo pecado original.
Então Jesus diz à mulher que caso ela O conhecesse, porque é Ele que é o dom de Deus,
Ele lhe daria água viva.
Jesus estava então prometendo uma fonte
espiritual que jorra continuamente no interior
dos que O conhecem.
Uma fonte que sacia completamente a sede da alma, porque as graças e os confortos do Espírito
Santo satisfazem à alma, porque somente esta
água viva pode satisfazer às necessidade da
alma.
Nada mais poderá saciá-la.
55
Jesus dará o Espírito Santo a todo aquele que lho
pedir.
É por isso que Ele disse à samaritana que o faria
caso ela lhe pedisse água viva.
Mas, a mulher não entendeu que Ele falava de
coisas espirituais, e pensou que ele estivesse se
referindo a uma fonte de água natural que
fluísse continuamente, e que ela era o proprietário dela.
Ela falou da impossibilidade dele fazê-lo, porque não era maior do que o patriarca de todos os
judeus (Jacó) que havia deixado aquele poço
como herança a eles.
Como boa conhecedora da região, ela devia
saber que não havia nas cercanias um poço
melhor do que aquele tal a sua grande
profundidade.
Como Jesus poderia cavar mais fundo do que
aquilo? Como ele poderia tirar água de uma fonte escondida para ela, a não ser cavando
muito?
De onde ele tiraria tais águas?
Ela, como a maioria das pessoas, não consegue enxergar que Cristo tem o poder de abrir fontes
onde bem Lhe aprouver.
Ele pode fazer todo o bem quiser tanto em relação ao mundo natural; quanto ao espiritual,
porque é o criador e sustentador de todas as
coisas.
Além disso, nós não precisamos saber de onde
procede a fonte da vida que Ele nos concede,
56
porque esta fonte se encontra escondida nele
próprio.
Para nós basta sabermos que Ele é a fonte, e não
é necessário saber como é que fluem todas as
bênçãos através desta fonte para nós.
Então Jesus lhe disse que a água do poço de Jacó
era uma provisão que satisfazia necessidades passageiras, de modo que a água natural
necessita ser bebida toda vez que se tem sede.
Mas há uma água espiritual que extingue a sede
espiritual definitivamente, de modo que a
pessoa não mais morrerá de sede pelo temor de que esta água venha a lhe faltar futuramente,
porque esta água, diferente da natural, jamais
falha ou falta, e será provida pela eternidade
afora.
Apesar de Jesus ter dito à samaritana que a água viva que Ele lhe estava oferecendo era uma
fonte para a vida eterna, ela continuou
pensando apenas no que era natural e material
e lhe pediu então que lhe desse daquela água para que não tivesse mais o trabalho de ter que
ir àquele poço para buscar água.
Então Jesus começaria a trabalhar diretamente
na vida daquela mulher, derrubando as
fortalezas da sua alma para que ela pudesse receber a verdade.
Ele sabia que ela era uma pessoa sedenta de vida, mas estava tentando satisfazer esta sede da
maneira errada pois já se encontrava no seu
sexto relacionamento conjugal.
57
Ela estava buscando no homem aquilo que
somente pode ser achado em Deus, a saber,
descanso e paz para a nossa alma.
Jesus, conhecedor deste fato, por revelação
espiritual, fez com que aquela mulher
entendesse que Ele era mais do que um simples judeu viajante.
Quando a mulher samaritana manifestou interesse em receber a água prometida, ainda
que não estivesse entendendo que Ele lhe falava
de realidades espirituais, Jesus pediu que ela fosse chamar o seu marido, e que viesse com ele
à sua presença.
A mulher foi sincera em dizer que não tinha
marido, e Jesus não somente confirmou que ela
não havia casado com o homem com que ela se
relacionava, como também havia tido cinco maridos antes dele.
Isto gerou na mulher a convicção de que Jesus era um profeta, conforme ela mesma declarou.
Assim, o Senhor lhe ensinaria que o Messias procederia de Israel, e não de Samaria, como
também lhe mostraria que a questão da
verdadeira adoração não dependeria mais do
lugar certo para adorar, com a sua chegada, como era exigido na Antiga Aliança (no templo
de Jerusalém), porque a Nova Aliança ampliaria
totalmente a questão do lugar certo da adoração
do templo de Jerusalém, para o próprio corpo do adorador, porque toda adoração deve ser em
espírito, uma vez que Deus é espírito, e também
em verdade, porque Deus é a verdade.
58
Versículos 27 a 42
“27 E nisto vieram os seus discípulos, e
maravilharam-se de que estivesse falando com
uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que
perguntas? ou: Por que falas com ela?
28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à
cidade, e disse àqueles homens:
29 Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o
Cristo?
30 Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele.
31 E entretanto os seus discípulos lhe rogaram,
dizendo: Rabi, come.
32 Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.
33 Então os discípulos diziam uns aos outros:
Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer?
34 Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a
vontade daquele que me enviou, e realizar a sua
obra.
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até
que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai
os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.
36 E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto
para a vida eterna; para que, assim o que semeia
como o que ceifa, ambos se regozijem.
37 Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é
o que semeia, e outro o que ceifa.
59
38 Eu vos enviei a ceifar onde vós não
trabalhastes; outros trabalharam, e vós
entrastes no seu trabalho.
39 E muitos dos samaritanos daquela cidade
creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito.
40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos,
rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali
dois dias.
41 E muitos mais creram nele, por causa da sua
palavra.
42 E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos
ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente
o Cristo, o Salvador do mundo.”.
Logo depois que Jesus revelou à samaritana que
Ele era o Messias, os seus discípulos chegaram
e ficaram admirados que Ele estivesse conversando com uma mulher, e ainda por cima
samaritana.
Jesus não agiria em nome dos costumes de
Israel e nem discriminaria a ignorância dos
samaritanos, mas lhes falaria como se fosse um deles para poder salvá-los.
E vendo os bons motivos, como sempre havia no
Senhor deles, os discípulos não ousaram lhe
perguntar sobre o que estava conversando com
a samaritana, e esta deixou até mesmo de lado o cântaro de água porque a água viva que estava
agora nela a impulsionou a dar testemunho
acerca de Jesus como sendo o Messias esperado.
60
Ela já tinha esta convicção no seu coração de que
Ele era o Messias, mas colocou para os seus
conterrâneos que eles o constatassem por si
mesmos vindo a ter com Ele.
Por isso ela falou com eles na forma de
pergunta: “Vinde, vede um homem que me
disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é
este o Cristo?” (v. 29), como a dizer: “já que Ele me disse tudo quanto tenho feito, como poderia
deixar de ser o Cristo que nós aguardamos?”
O Senhor sabia que o Pai atrairia outros a ele ali
naquela região de Samaria, e por isso se recusou a comer ainda que os discípulos insistissem com
Ele, porque sabiam o quanto estava faminto,
tanto quanto eles.
Mas Jesus se recusou terminantemente a fazê-lo porque sabia que havia ainda muito trabalho
a fazer pela pregação do evangelho aos
samaritanos que viriam ao seu encontro por
causa do testemunho da samaritana.
Ela havia deixado a água para trás para cuidar
dos interesses do reino de Deus, e o Mestre dela
estava deixando também a necessidade de se
alimentar fisicamente por causa da sede e fome espiritual que seria saciada de muitos com a
conversão deles pela Palavra de salvação que o
Senhor lhes anunciaria.
Jesus fez a honra de se fazer conhecido à
samaritana, e agora ela estava dando-Lhe a honra de fazê-lo conhecido a outros.
A samaritana se tornou uma missionária na sua
cidade.
61
Jesus havia desvendado a condição da vida
interior pecaminosa da samaritana para que ela
pudesse conhecer a sua real condição perante
Deus que exige santidade daqueles que dele se aproximam.
Jesus não somente fez o diagnóstico da doença
como prescreveu a ela o remédio, a saber, o
arrependimento e a fé nele, para que ela
recebesse a água viva que Ele havia prometido.
Foi a isto que ela certamente se referiu quando disse aos samaritanos da cidade que o Senhor
havia dito a ela tudo quanto ela havia feito.
A mulher convenceu os samaritanos a
conversarem com Jesus não para satisfazerem à
curiosidade deles, mas para constatarem por si
próprios que Ele era de fato o Messias pelas coisas que diria a eles, e pelo poder que havia
nas suas palavras.
Toda aquela maravilhosa pesca de homens fez
com que Jesus se esquecesse do seu próprio
cansaço e fome, e certamente Ele foi fortalecido em sua fraqueza física, pelo Espírito Santo, para
realizar o trabalho que deveria fazer para a
glória do Pai, cumprindo a sua missão de
Salvador do mundo.
O trabalho que Jesus fazia para o Pai era a sua comida e bebida.
A mulher samaritana havia feito o trabalho de evangelização que os próprios discípulos não
haviam feito em Samaria, e agora, cabia a eles,
firmar aqueles discípulos na verdade e orientá-
62
los sobre o modo como deveriam viver para o
inteiro agrado de Deus.
Assim, eles estariam ceifando as almas que a
mulher samaritana havia plantado com o seu
testemunho e evangelização.
Para esta colheita de almas não há necessidade de se esperar meses como ocorre com a colheita
de cereais.
O campo estará sempre pronto para ser ceifado
porque Deus não somente nos prometeu uma colheita todos os anos, mas todos os meses,
semanas e dias.
Sempre é tempo de se colher na sua lavoura
espiritual.
Tal foi a alegria da salvação entre os
samaritanos que eles insistiram que Jesus permanecesse entre eles, e o Senhor se
permitiu permanecer ali ainda dois dias.
Nós lembramos que ele estava a caminho da
Galileia, mas Ele sempre se deterá onde quer
que haja alguém que o hospede em seu coração.
Assim, foi preanunciada naqueles samaritanos a boa recepção que os gentios dariam ao Senhor
e à Palavra do evangelho, diferentemente da
grande maioria dos judeus, para os quais Ele
viera, e que o estavam rejeitando e que ainda rejeitariam.
Deus iria provar então, que um verdadeiro
israelita não é conhecido pela circuncisão do
prepúcio, mas pela circuncisão do coração.
63
A Cura do Filho de um Nobre João 4
“43 E dois dias depois partiu dali, e foi para a
Galileia.
44 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria.
45 Chegando, pois, à Galileia, os galileus o
receberam, vistas todas as coisas que fizera em
Jerusalém, no dia da festa; porque também eles tinham ido à festa.
46 Segunda vez foi Jesus a Caná da Galileia, onde
da água fizera vinho. E havia ali um nobre, cujo
filho estava enfermo em Cafarnaum.
47 Ouvindo este que Jesus vinha da Judeia para a
Galileia, foi ter com ele, e rogou-lhe que
descesse, e curasse o seu filho, porque já estava
à morte.
48 Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis.
49 Disse-lhe o nobre: Senhor, desce, antes que
meu filho morra.
50 Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e
partiu.
51 E descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro
os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu
filho vive.
52 Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara
melhor. E disseram-lhe: Ontem às sete horas a
febre o deixou.
64
53 Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a
mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive;
e creu ele, e toda a sua casa.
54 Jesus fez este segundo milagre, quando ia da
Judeia para a Galileia.” (João 4.43-54)
Jesus teve uma grande acolhida entre os
samaritanos, mas importava pregar o evangelho
em todas as partes de Israel, e por isso ele partiu
dois dias depois para a Galileia.
Ele não retornou para Nazaré, cidade onde
residiu até começar o seu ministério, porque
havia testificado que um profeta não tem honra
na sua própria terra, entre aqueles que conviveram com ele, porque sempre o olharão
como mero homem e não enxergarão a
comissão e a autoridade divina que recebeu do
alto para ministrar com poder.
Por isso os ministros do evangelho não devem
se aplicar em permanecer em lugares em que
não sejam respeitados e não recebam a devida honra que lhes é devida, por estarem
comissionados por Deus para fazer a sua obra.
Mas na Galileia Jesus foi bem acolhido pelos galileus não como mero homem, mas como
profeta, porque haviam visto as coisas que Ele
havia feito em Jerusalém, quando lá estiveram
na festa da páscoa.
Quando chegou em Caná da Galileia, pela
segunda vez, porque lá estivera antes quando
transformou água em vinho; veio ao seu
65
encontro um nobre de Cafarnaum cujo filho
estava à morte.
Cafarnaum estava situada ao lado de Betsaida e
Corazim, cidades endurecidas para o evangelho, e Jesus não havia recebido a devida acolhida
deles.
Talvez o motivo de ter se recusado a descer com
o nobre, para visitar seu filho em Cafarnaum, tenha sido o de que já teria sacudido a poeira dos
seus pés em relação àquela cidade, conforme
vemos nos evangelhos sinópticos.
No entanto, o Senhor não se negou a curá-lo diante da súplica humilde do seu pai.
Ele não iria à cidade, mas atenderia àqueles que
daquela cidade lhe procurassem com fé.
Assim Jesus curou aquele enfermo à distância, e
quando o pai chegou em casa encontrou-o perfeitamente são, e os seus servos
confirmaram que a hora em que ele foi
restabelecido foi justamente a hora em que
Jesus havia liberado a sua palavra de ordem para que ele fosse curado.
Jesus deixou evidenciado para aquele nobre,
antes de curar o seu filho, que crer nele para a
salvação é mais importante do que receber dele um sinal ou maravilha.
O milagre da cura seria uma maravilha e um
sinal que Ele operaria, mas não é efetivamente o
melhor caminho para se crer nele, porque há muitos falsificadores e enganadores espalhados
por Satanás, pelo mundo afora, que também
realizam sinais e maravilhas para enganar os
66
incautos, mantendo-os na incredulidade deles
em relação à Palavra de Deus, na qual importa
crermos para sermos salvos.
É dito que o nobre e toda a sua casa creram
diante da evidência da cura, mas não podemos
atestar acerca da qualidade da fé deles, isto é, se foi a fé que salva, ou simplesmente fé para ser
curado, tal como a dos judeus das cidades que
creram para serem curados mas que não se arrependeram dos seus pecados, de maneira
que receberam a justa repreensão de Jesus,
dizendo-lhes que Sodoma e Gomorra achariam
menos rigor no juízo do que tais cidades (Mt 10.15; 11.24).
Muitos procuram Jesus apenas para serem aliviados de suas aflições, de suas
circunstâncias difíceis, mas lhe negam a honra
que é devida de ser servido e adorado como
Senhor.
Mas temos que reconhecer que há muitos que
são como Tomé, os quais creem com fé salvadora, mas somente se virem sinais e
prodígios.
O Senhor, julga mais bem-aventurado que se
creia sem ver, porque isto honra a sua Pessoa,
por uma fé que não necessita de evidências para
crer na sua Palavra.
Afinal, a essência da fé não é a
convicção daquilo que vemos, mas daquilo que não vemos; e também não é a incerteza do que
esperamos; mas a plena certeza de que o Senhor
é fiel e cumprirá tudo o que tem prometido.
67
João 5
A Cura do Enfermo do Tanque de Betesda
“1 Depois disto havia uma festa entre os judeus,
e Jesus subiu a Jerusalém.
2 Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das
ovelhas, um tanque, chamado em hebreu
Betesda, o qual tem cinco alpendres.
3 Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e paralíticos, esperando o
movimento da água.
4 Porquanto um anjo descia em certo tempo ao
tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali
descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
5 E estava ali um homem que, havia trinta e oito
anos, se achava enfermo.
6 E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que
estava neste estado havia muito tempo, disse-
lhe: Queres ficar são?
7 O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho
homem algum que, quando a água é agitada, me
ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce
outro antes de mim.
8 Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.
9 Logo aquele homem ficou são; e tomou o seu
leito, e andava. E aquele dia era sábado.
10 Então os judeus disseram àquele que tinha
sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.
68
11 Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele
próprio disse: Toma o teu leito, e anda.
12 Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que
te disse: Toma o teu leito, e anda?
13 E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de
naquele lugar haver grande multidão.
14 Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-
lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para
que não te suceda alguma coisa pior.
15 E aquele homem foi, e anunciou aos judeus
que Jesus era o que o curara.
16 E por esta causa os judeus perseguiram a
Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas
coisas no sábado.” (João 5.1-16)
Deus havia proibido aos israelitas, debaixo da
Antiga Aliança, que se fizesse no dia de sábado
atividades que visassem ao lucro e interesse próprios ou aquelas coisas que se fazem
habitualmente nos demais dias da semana, de
maneira que houvesse uma atitude de coração
voltada para a consagração do dia do descanso à sua adoração.
No entanto, nunca foi o Espírito da lei de Moisés,
impedir a realização de qualquer tipo de ação neste dia, conforme os fariseus estavam
ensinando o povo nos dias de Jesus.
Eles confundiram consagração com ociosidade
total, criando um preceito humano que nunca
estivera sequer no pensamento de Deus.
69
Jesus nunca descumpriria qualquer preceito da
Lei que Ele mesmo havia dado a Moisés, porque
importava que fosse em tudo obediente
perfeitamente à Lei, para que pudesse morrer no lugar dos pecadores.
Mas depois da sua morte e ressurreição Ele
revogaria a Antiga Aliança pela inauguração da
Nova Aliança no seu sangue, e consequentemente os preceitos civis e
cerimoniais da Lei de Moisés, inclusive as
prescrições relativas ao Sábado sagrado dos
judeus, seriam revogados.
Era de se esperar que Deus manifestasse a sua
misericórdia especialmente no dia que havia
separado para a adoração do seu nome como
Criador de todas as coisas.
Por isso o nome daquele tanque era Betesda, que
significa casa da misericórdia, porque nele
eram operadas curas por um anjo que descia de
tempos e tempos e agitava a sua água, e o primeiro que entrasse no tanque quando a água
estava sendo agitada, era curado.
Por muito tempo aquele homem que Jesus
curou tentava entrar no tanque, mas como necessitava da ajuda de alguém que lá o
colocasse, sempre entrava alguém antes dele.
Não é dito que o próprio paralítico que Jesus
curou havia se arrependido dos seus pecados,
ou se teve fé apenas para ser curado fisicamente.
Jesus havia se retirado porque havia uma grande
multidão junto ao tanque, e quando o que fora
70
curado foi interpelado pelos judeus sobre quem
lhe tinha ordenado a carregar o seu leito em dia
de sábado, ele lhes disse que não sabia quem era
aquele que lhe havia curado, porque Jesus já havia se retirado.
No entanto, quando Jesus o encontrou no
templo, disse-lhe que ele estava são, mas que
não pecasse mais para que não lhe sucedesse
alguma coisa pior do que aquela enfermidade que ele carregou por 38 anos (v. 14).
Mesmo depois de ter recebido tal advertência do Senhor, o que fez aquele homem?
Ele correu para delatar Jesus aos judeus, de
maneira que estes passaram a procurar o
Senhor com o intuito de matá-lO, porque
segundo eles, ele estava quebrando o sábado.
É bom lembrar que o diabo entrou em Judas
justamente quando Jesus lhe deu um bocado de pão.
Um gesto que deveria gerar amor e gratidão, gerou em Judas inveja e ódio pelo Senhor a
ponto de desejar matá-lo pelas mãos dos judeus;
razão pela qual o traiu inspirado por Satanás.
Os Judeus Intentam Matar Jesus - João 5
“17 E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também.
18 Por isso, pois, os judeus ainda mais
procuravam matá-lo, porque não só
quebrantava o sábado, mas também dizia que
71
Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a
Deus.
19 Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na
verdade, na verdade vos digo que o Filho por si
mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o
faz igualmente.
20 Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o
que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que
estas, para que vos maravilheis.
21 Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e
os vivifica, assim também o Filho vivifica
aqueles que quer.
22 E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo;
23 Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai
que o enviou.
24 Na verdade, na verdade vos digo que quem
ouve a minha palavra, e crê naquele que me
enviou, tem a vida eterna, e não entrará em
condenação, mas passou da morte para a vida.
25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz
do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
26 Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo,
assim deu também ao Filho ter a vida em si
mesmo;
27 E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é
o Filho do homem.
72
28 Não vos maravilheis disto; porque vem a hora
em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão
a sua voz.
29 E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para
a ressurreição da condenação.
30 Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é
justo, porque não busco a minha vontade, mas a
vontade do Pai que me enviou.” (João 5.17-30)
Jesus respondeu àqueles judeus que intentavam
matá-lo porque havia curado um paralítico
junto ao tanque de Betesda num sábado, e que lhe havia autorizado a carregar o seu leito, que
os motivos deles de honrarem a Deus não eram
corretos, porque não estavam honrando a Ele
que havia sido enviado pelo Pai.
Quem não honrar o Filho não pode estar
honrando verdadeiramente ao Pai, porque este
tem determinado receber toda a honra dos homens através da honra que deve ser dada a
seu Filho, Jesus Cristo.
Eles estavam agindo com base em preceitos e tradições de homens que anulavam a verdade
da Palavra de Deus.
Eles não chegaram a reconhecer o Filho porque
não estavam buscando verdadeiramente a Deus, tal como os discípulos do Senhor, porque
estes desejavam de fato viver segundo a verdade
de Deus.
73
O discurso de Jesus não era contra eles, mas a
favor de uma genuína conversão.
Se eles lhe dessem ouvidos, muitos deles
poderiam se arrepender dos seus pecados e
chegarem ao conhecimento da verdade, pela revelação do Espírito.
Mas enquanto estivessem endurecidos em suas próprias convicções, sem se submeterem às
palavras do Senhor, permaneceriam nas trevas
em que sempre estiveram.
Eles estavam errando no princípio mais básico
que pode conduzir alguém à conversão que é o reconhecimento da divindade de Jesus.
Por isso ficaram ainda mais furiosos contra Ele
quando declarou que Deus era seu Pai e que todo
o trabalho que Ele realizava era em perfeita
harmonia e conjugação com a vontade do Pai; de maneira que rejeitar o que Ele fazia era o mesmo
que rejeitar o que o Pai estava fazendo.
Jesus disse àqueles judeus endurecidos que eles
não deveriam ficar maravilhados com o fato de
ter curado um paralítico, porque Ele tem toda a
autoridade para fazer obras ainda maiores, como ressuscitar e vivificar os mortos.
Além disso, o julgamento moral relativo ao
pecado para condenação eterna, ou para a vida
eterna foi também dado pelo Pai ao Filho (v. 22 a
27); de maneira que não deveriam ficar admirados, achando que Ele era digno de morte
por ter curado um paralítico no dia de sábado, e
ter-lhe ordenado que carregasse o seu leito,
74
contrariando assim a tradição de homens
estipulada pelas autoridades judaicas.
Deus Pai e Deus Filho podem conceder a vida
eterna aos homens porque ambos têm vida em
si mesmos, sendo a fonte de toda vida espiritual.
Não há verdadeira vida eterna fora do Pai e do Filho, porque é deles que recebemos esta vida (v.
26).
Jesus Defende a sua Autoridade - João 5
“31 Se eu testifico de mim mesmo, o meu
testemunho não é verdadeiro.
32 Há outro que testifica de mim, e sei que o
testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.
33 Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu
testemunho da verdade.
34 Eu, porém, não recebo testemunho de
homem; mas digo isto, para que vos salveis.
35 Ele era a candeia que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo
com a sua luz.
36 Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para
realizar, as mesmas obras que eu faço,
testificam de mim, que o Pai me enviou.
37 E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou
de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem
vistes o seu parecer.
38 E a sua palavra não permanece em vós,
porque naquele que ele enviou não credes vós.
75
39 Examinais as Escrituras, porque vós cuidais
ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim
testificam;
40 E não quereis vir a mim para terdes vida.
41 Eu não recebo glória dos homens;
42 Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.
43 Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a
esse aceitareis.
44 Como podeis vós crer, recebendo honra uns
dos outros, e não buscando a honra que vem só
de Deus?
45 Não cuideis que eu vos hei de acusar para
com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em
quem vós esperais.
46 Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis
em mim; porque de mim escreveu ele.
47 Mas, se não credes nos seus escritos, como
crereis nas minhas palavras?” (João 5.31-47)
Aqueles judeus haviam presenciado a evidência
de um milagre realizado pelo Senhor em
alguém que seguramente não havia sido curado
por ter entrado no tanque de Betesda, porque eles sabiam que há 38 anos aquele homem o
tentava com insucesso.
Eles o tinham agora perfeitamente são diante
deles, e nem com isso creram em Cristo.
Eles tiveram agora a oportunidade de ouvir um
discurso sobre a sua missão na terra, que foi
proferido com autoridade e com a unção do
76
Espírito, e nem assim eles se deixaram
convencer da sua missão e pessoa divina.
O próprio testemunho de Moisés poderia
prevalecer contra aqueles judeus no dia do
juízo, porque eles afirmavam fazer o que faziam
por serem seguidores de Moisés. Mas se isto fosse verdadeiro eles teriam seguido a Cristo,
porque tudo o que Moisés ensinou, inclusive
nas sombras cerimoniais da Lei, apontava para Cristo. Eles seriam justamente condenados no
dia do Juízo.
Jesus nunca procurou a sua própria honra e
glória em tudo o que fez, pregou e ensinou,
senão somente a glória e honra do Pai. Todos os
seus servos devem seguir o seu exemplo nisto, não buscando honra e glória para si mesmos.
É em testemunho de verdadeira humildade, estando esvaziados de nós mesmos, que
glorificamos ao Senhor, e receberemos honra e
glória de Deus, e não propriamente dos homens,
que muitas vezes até mesmo nos odiarão e perseguirão.
Aqueles judeus haviam resistido a Cristo e à sua doutrina, mas receberiam de braços abertos aos
falsos mestres e pastores, como seus pais
haviam feito no passado, e como eles estavam
fazendo agora com o ensino errôneo dos escribas e fariseus.
Eles deveriam ter cuidado porque não se fazem estas coisas opcionalmente, como se Deus nos
tivesse dado o direito de escolher a doutrina que
mais nos agrade, se a dele ou a dos homens;
77
porque haverá um juízo sobre o modo pelo qual
vivemos, e que sempre está baseado naquilo em
que nós cremos e realmente amamos.
Se não for ao Senhor e à sua Palavra, estamos
definitivamente arruinados porque teremos
que enfrentá-lo no dia do Juízo para uma condenação eterna, como Jesus havia alertado
aqueles judeus que estavam endurecidos em
suas tradições e falsas convicções teológicas.
No entanto, o problema deles como o de
qualquer outra pessoa não é simplesmente o fato de crerem numa doutrina que seja oposta à
de Cristo, mas a cobiça dos seus próprios
corações por fome de glória e honra pessoal, em
vez de viverem exclusivamente para a honra e glória de Deus, conforme o próprio Senhor
afirmou no verso 44.
78
João 6
Aprendendo Lições na Multiplicação dos Pães e
dos Peixes
“1 Depois disto partiu Jesus para o outro lado do
mar da Galileia, que é o de Tiberíades.
2 E grande multidão o seguia, porque via os
sinais que operava sobre os enfermos.
3 E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos.
4 E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.
5 Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que
uma grande multidão vinha ter com ele, disse a
Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?
6 Mas dizia isto para o experimentar; porque ele
bem sabia o que havia de fazer.
7 Filipe respondeu-lhe: Duzentos dinheiros de
pão não lhes bastarão, para que cada um deles
tome um pouco.
8 E um dos seus discípulos, André, irmão de
Simão Pedro, disse-lhe:
9 Está aqui um rapaz que tem cinco pães de
cevada e dois peixinhos; mas que é isto para
tantos?
10 E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E
havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se,
pois, os homens em número de quase cinco mil.
11 E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças,
repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos
79
pelos que estavam assentados; e igualmente
também dos peixes, quanto eles queriam.
12 E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram,
para que nada se perca.
13 Recolheram-nos, pois, e encheram doze
alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.
14 Vendo, pois, aqueles homens o milagre que
Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao
mundo.”
Cinco pães e dois peixes representam todos os
nossos poucos recursos que são multiplicados
nas mãos de Cristo.
Ao ter ordenado que fossem recolhidas as
sobras, o Senhor nos ensinou a sermos
econômicos e a preservamos os seus dons e
bênçãos.
Nós não podemos fazer um mau uso ou
desperdiçarmos ainda que sejam as sobras
daquilo que Ele nos tem dado, e que temos reconhecido que temos recebido dele por causa
do seu grande poder e amor.
Em todas as oportunidades Jesus procura
ocasião para provar a fé dos seus discípulos, tal como fizera com eles no monte perguntando a
Filipe onde comprariam pães para alimentar
toda aquela multidão.
80
Quando Jesus fez tal pergunta a Filipe Ele já
sabia o que haveria de fazer, mas queria abrir a
visão dos seus apóstolos para buscarem sempre
nele as respostas para todas as necessidades que se apresentassem diante deles, especialmente
quando estivessem no seu serviço.
Filipe ainda pensava nas possibilidades
humanas e naturais porque respondeu que eles
não tinham nem de longe o dinheiro necessário para comprar uma tão grande quantidade de
alimento.
Mas Jesus não perguntou quanto seria
necessário de dinheiro para comprar o
alimento, mas onde eles comprariam.
Não seria comprado na terra, mas no céu.
O recurso viria do alto pela realização de um
milagre de multiplicação daquilo que eles tivessem.
Tal como fora feito no passado com a farinha da viúva de Sarepta por Elias, e com o azeite da
botija, por Eliseu, na casa da mulher do profeta
que havia morrido endividado.
André deu um passo além de Filipe, mas ainda
permaneceu na visão das possibilidades terrenas e humanas, e não conseguiu dar o salto
da fé, porque procurou investigar se havia entre
eles na multidão alimentos que pudessem ser
repartidos entre todos, mas ficou desencorajado ao ver que apenas um rapaz tinha cinco pães e
dois peixinhos, e questionou Jesus dizendo o que
seria aquilo para tantas pessoas?
81
Mas, a busca de solução de André não seria
inteiramente frustrada, porque ainda que ele
dissesse o que era aquilo para tantos, seria
justamente a partir daqueles poucas pães e peixes que toda a multidão de cinco mil pessoas
seria alimentada.
Filipe havia cruzado os braços ao ver o tamanho
do problema e estava completamente certo pela
lógica dos homens que o melhor a fazer seria
reconhecer que aquele problema era de solução impossível em face dos recursos que eles
possuíam.
Mas, Deus não age segundo a lógica dos homens e então como discípulo de Cristo, Filipe estava
completamente errado segundo o método
divino, que opera segundo a nossa fé, e não
segundo os nossos recursos.
André demonstrou que não tinha ainda uma fé
grande no Senhor, mas ao menos tentou se esforçar para solucionar o problema que Ele
havia proposto, e foi honrado apesar da sua
pequena fé.
Cristo sempre honrará os nossos esforços em
prol do seu reino, ainda que não saibamos as
coisas grandiosas que Ele fará para atender às
nossas presentes necessidades, e resolver aquilo que Ele mesmo nos solicitou.
Jesus fará o milagre mas nós temos que nos esforçar para achar a solução.
Nós temos que trabalhar para obter o nosso pão.
82
Ele multiplicará os nossos recursos e os
abençoará, mas nós temos que nos esforçar para
obtê-los.
André, Filipe e os demais discípulos haviam
aprendido de maneira muito prática, para o
crescimento da fé deles, que não há impossíveis para o Senhor.
Eles estavam até aquele ponto ainda
endurecidos e haviam esquecido o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de
Caná; tinham presenciado a cura de muitos
enfermos e endemoninhados, tanto como
aquela multidão que havia seguido Jesus até o monte, por estarem vendo como Ele curava os
enfermos.
Mas com este milagre Ele revelou a eles a sua onipotência divina, porque nunca se viu antes
tantos sendo alimentados com apenas cinco
pães e dois peixes.
Ao servirmos ao Senhor, sejam quais forem as
nossas necessidades, devemos descansar no
fato de que Ele é poderoso para realizar tudo
aquilo que Ele tiver solicitado a nós para fazer em seu nome.
Jesus Caminhou Sobre as Águas - João 6
“15 Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir
arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-
se, ele só, para o monte.
16 E, quando veio a tarde, os seus discípulos
desceram para o mar.
83
17 E, entrando no barco, atravessaram o mar em
direção a Cafarnaum; e era já escuro, e ainda
Jesus não tinha chegado ao pé deles.
18 E o mar se levantou, porque um grande vento
assoprava.
19 E, tendo navegado uns vinte e cinco ou trinta
estádios, viram a Jesus, andando sobre o mar e
aproximando-se do barco; e temeram.
20 Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais.
21 Então eles de boa mente o receberam no
barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
22 No dia seguinte, a multidão que estava do
outro lado do mar, vendo que não havia ali mais do que um barquinho, a não ser aquele no qual
os discípulos haviam entrado, e que Jesus não
entrara com os seus discípulos naquele
barquinho, mas que os seus discípulos tinham ido sozinhos
23 (Contudo, outros barquinhos tinham chegado de Tiberíades, perto do lugar onde
comeram o pão, havendo o Senhor dado graças).
24 Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles
também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em
busca de Jesus.
25 E, achando-o no outro lado do mar, disseram-
lhe: Rabi, quando chegaste aqui?
26 Jesus respondeu-lhes, e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos
sinais que vistes, mas porque comestes do pão e
vos saciastes.
84
27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas
pela comida que permanece para a vida eterna,
a qual o Filho do homem vos dará; porque a este
o Pai, Deus, o selou.” (joão 6.15-27)
Depois de ter multiplicado os cinco pães e dois peixes Jesus se retirou da multidão e foi sozinho
para o monte.
Ele se antecipou à ação daquelas pessoas porque
sabia que tentariam proclamá-lo rei de Israel, e isto despertaria não somente uma visão
incorreta à natureza do seu reino, que não é
política, como também precipitaria novas
perseguições contra Ele pelo falso argumento de que era um subversivo.
Além disso, não é deste modo que Ele deseja ser
honrado, a saber, com a motivação incorreta, porque o que aquelas pessoas desejavam
realmente não era se submeterem à sua
autoridade divina, para um governo no coração,
mas se livrarem do domínio do Império Romano, e também, como o próprio Senhor lhes
dissera, não por terem reconhecido que Ele era
o Messias, pelos sinais que haviam visto Ele
fazer, mas porque haviam comido dos pães e dos peixes e se fartaram.
Ao cair da tarde os discípulos foram para o mar
da Galileia para atravessá-lo para o outro lado, em direção a Cafarnaum, e como Jesus não
apareceu, decidiram fazer a travessia sem Ele, e
sendo escuro enfrentaram uma tempestade no
85
meio do mar, porque soprava um vento muito
forte.
O Senhor veio ter com eles andando por sobre as
águas do mar, e não sabendo que se tratava de Jesus que vinha na direção deles, temeram, mas
o Senhor lhes tranquilizou revelando-se a eles; e
puderam chegar em segurança ao outro lado;
porque conforme vemos no complemento desta passagem nos evangelhos sinópticos Jesus havia
ordenado ao mar que se acalmasse.
Jesus caminhou sobre o mar tempestuoso para
nos mostrar que Ele tem domínio sobre as tempestades que atingem as nossas vidas e pode
nos manter em perfeita segurança no meio
delas.
Jesus é o Rei dos reis, mas não necessita ser entronizado pelos homens, nem pelos anjos,
porque foi o próprio Pai que Lhe fez Senhor de
tudo e de todos.
Conhecendo o que estava no coração deles, e o motivo pelo qual lhe estavam procurando, Jesus
lhes repreendeu dizendo que não o faziam não
pelos sinais que haviam visto, mas por causa da
comida grátis, e que eles deveriam trabalhar para obter o sustento deles, mas não
simplesmente pelo sustento material que
estavam buscando nele, mas pelo alimento que
permanece para a vida eterna, o qual Ele lhes daria de boa vontade, caso O buscassem da
maneira certa.
86
Provisão Espiritual Garantida - João 6
“28 Disseram-lhe, pois: Que faremos para
executarmos as obras de Deus?
29 Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus
é esta: Que creiais naquele que ele enviou.
30 Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu,
para que o vejamos, e creiamos em ti? Que
operas tu?
31 Nossos pais comeram o maná no deserto,
como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do
céu.
32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na
verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do
céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do
céu e dá vida ao mundo.
34 Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
35 E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele
que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.
36 Mas já vos disse que também vós me vistes, e
contudo não credes.
37 Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que
vem a mim de maneira nenhuma o lançarei
fora.
38 Porque eu desci do céu, não para fazer a
minha vontade, mas a vontade daquele que me
enviou.
87
39 E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que
nenhum de todos aqueles que me deu se perca,
mas que o ressuscite no último dia.
40 Porquanto a vontade daquele que me enviou
é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele,
tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque
dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42 E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo
pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele:
Desci do céu?
43 Respondeu, pois, Jesus, e disse-lhes: Não
murmureis entre vós.
44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me
enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no
último dia.
45 Está escrito nos profetas: E serão todos
ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que
do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.
46 Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele
que é de Deus; este tem visto ao Pai.
47 Na verdade, na verdade vos digo que aquele
que crê em mim tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que
dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém comer deste pão, viverá para sempre; e
88
o pão que eu der é a minha carne, que eu darei
pela vida do mundo.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?
53 Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade
vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não
tereis vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é
comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu
vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é o caso
de vossos pais, que comeram o maná e
morreram; quem comer este pão viverá para
sempre.
59 Ele disse estas coisas na sinagoga, ensinando
em Cafarnaum.” (João 6.28-59)
É dito que Jesus disse as coisas que proferiu a
partir do verso 28, na sinagoga em Cafarnaum.
É possível que João tenha feito um arranjo associando este discurso ao que Jesus havia
debatido com os galileus de Tiberíades que lhe
haviam seguido até Cafarnaum, porque
89
encerrou o seu discurso com eles falando de
trabalho de Deus e para Deus.
João registrou que quando Jesus estava
ensinando na sinagoga de Cafarnaum lhe
perguntaram o que deveriam fazer para executar as obras de Deus.
Como há muito pensamento envolvido no fato de se julgar que a obra de Deus é para atender às
nossas necessidades materiais, Jesus disse que a
obra de Deus consiste em ter fé nele, porque foi a Ele que Deus Pai encarregou de fazer a sua
obra na terra.
Então é em associação com Cristo, pela fé nele,
que se pode fazer efetivamente a obra de Deus.
Eles haviam perguntado pelo modo como
deveriam fazer a obra de Deus, mas na verdade
queriam que Deus trabalhasse para eles.
Não havia neles uma verdadeira disposição de
servir ao Senhor, porque pediram que fizesse um sinal demonstrando que era enviado de
Deus tal como foi o caso de Moisés, através de
quem Deus havia dado o maná ao povo de Israel
no deserto.
Jesus lhes disse que aquele não era um sinal da vida eterna celestial que somente Ele pode dar,
porque aquele pão não era celestial, não era o
pão vivo que dá vida eterna, mas um alimento
natural que foi provido de maneira sobrenatural por Deus para tão somente suprir as
necessidades dos israelitas de alimento
material.
90
Então nada havia da vida do céu no maná que os
israelitas consumiram por quarenta anos.
Se eles achavam que o maná era uma grande
evidência para se ter fé em alguém como tendo
sido enviado por Deus, quão maior evidência
não era o próprio Jesus, como o pão da vida que havia sido enviado pelo Pai para dar vida eterna
àqueles que nele creem?
Mas eles não podiam enxergar isto porque não
creram nele.
Se tivessem crido, como os apóstolos, teriam
visto que Ele próprio é o maior sinal e evidência
que podemos ter da parte de Deus, porque passa
a viver em nós, dando-nos a vida do céu, em testificação com o nosso espírito (v. 36).
Eles queriam esta vida, mas sem se entregarem
a Cristo. Sem crerem verdadeiramente nele.
Não é possível ter vida eterna sem Cristo,
porque Ele próprio é a vida eterna.
Jesus não estava buscando o favor e o aplauso
dos homens.
Ao contrário veio fazer o maior dos favores
àqueles que necessitam de salvação para poderem ser resgatados da condenação eterna e
serem feitos filhos de Deus.
Desta maneira, nenhum dos que Lhe foram dados pelo Pai se perderá, mas serão
ressuscitados no último dia (v. 39).
Aqueles que enxergam com os olhos da fé que
Jesus é o pão vivo que desceu do céu e que dá
vida, creem nele, e terão vida eterna; e seus
91
corpos serão ressuscitados no último dia da
dispensação da graça (v. 40).
Estas palavras de Jesus deram ensejo a uma
grande murmuração dos judeus, porque havia
dito que era o pão que tinha descido do céu, e eles sabiam que Ele era filho de José e de Maria.
Como poderia ter descido do céu?
A história da encarnação de Jesus foi mantida
em segredo até ser registrada pelos apóstolos
nos evangelhos.
Importava que estas coisas fossem ocultadas aos
judeus e que fossem ensinados por parábolas, porque Deus não pretende ser servido e
conhecido por evidências externas, mas por um
conhecimento íntimo da sua pessoa, por
revelação do Espírito.
Assim, não é pela mera decisão do homem que Ele chegará a conhecer a Deus, mas por um ato
do próprio Deus em atraí-lo à salvação em seu
Filho, tal como fizera com o centurião Cornélio
(v. 44).
Jesus deu a sua carne como sacrifício na cruz
para que pudéssemos ter vida eterna.
Se Ele não tivesse se oferecido como sacrifício por nós, jamais poderíamos participar da sua
vida, por causa dos nossos pecados.
Como os judeus entenderam erroneamente que
Jesus estava falando literalmente de se comer da
sua carne, ele reforçou ainda mais o erro deles dizendo que não deveriam somente comer a
carne, como também beber o seu sangue,
porque ofereceria a sua própria vida para que
92
tivéssemos vida eterna estando nele e sendo
alimentados espiritualmente por Ele.
Os Que Abandonaram Jesus - João 6
“60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo
isto, disseram: Duro é este discurso; quem o
pode ouvir?
61 Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto
escandaliza-vos?
62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do
homem para onde primeiro estava?
63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.
64 Mas há alguns de vós que não creem. Porque
bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram
os que não criam, e quem era o que o havia de
entregar.
65 E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for
concedido.
66 Desde então muitos dos seus discípulos
tornaram para trás, e já não andavam com ele.
67 Então disse Jesus aos doze: Quereis vós
também retirar-vos?
68 Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da
vida eterna.
69 E nós temos crido e conhecido que tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivente.
93
70 Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os
doze? e um de vós é um diabo.
71 E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de
Simão; porque este o havia de entregar, sendo
um dos doze.” (João 6.60-71)
O discurso que Jesus fez por causa de uma pergunta que lhe foi feita na sinagoga de
Cafarnaum pelos judeus quanto ao que
deveriam fazer para realizarem as obras de
Deus, precipitou as reações que são citadas nestes versos 60 a 71.
Até aquele momento muitos estavam seguindo
Jesus qualificando-se a si mesmos como seus discípulos.
Mas a grande maioria estava seguindo aos seus próprios interesses egoístas e não propriamente
ao Senhor.
Todavia, os verdadeiros cristãos seguirão sempre ao Senhor, ainda que Ele lhes pergunte
se não pretendem deixá-lo, como fizera com os
doze.
94
João 7
A Incredulidade dos Irmãos de Jesus
“1 E Depois disto Jesus andava pela Galileia, e já
não queria andar pela Judeia, pois os judeus
procuravam matá-lo.
2 E estava próxima a festa dos judeus, a dos
tabernáculos.
3 Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judeia, para que também os teus
discípulos vejam as obras que fazes.
4 Porque não há ninguém que procure ser
conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se
fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
5 Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.
6 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o
meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto.
7 O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia
a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.
8 Subi vós a esta festa; eu não subo ainda a esta
festa, porque ainda o meu tempo não está cumprido.
9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galileia.
10 Mas, quando seus irmãos já tinham subido à
festa, então subiu ele também, não
manifestamente, mas como em oculto.
11 Ora, os judeus procuravam-no na festa, e
diziam: Onde está ele?
95
12 E havia grande murmuração entre a multidão
a respeito dele. Diziam alguns: Ele é bom. E
outros diziam: Não, antes engana o povo.
13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.”
Sabendo do grande risco de morte que pairava
sobre Ele na Judeia, Jesus decidiu permanecer
por algum tempo na Galileia, desde a Páscoa em que curara o paralítico junto ao tanque de
Betesda, a qual era celebrada no primeiro mês
judaico, até a festa dos Tabernáculos que era
celebrada no sétimo mês; ocasião em que também concorria um grande número de
judeus a Jerusalém, vindos de todas as partes do
mundo, sendo propícia para se dar testemunho
do evangelho a muitos deles.
Não foi por medo que Jesus não permaneceu em
Jerusalém, mas por prudência, porque não era
ainda chegada a sua hora de morrer na cruz.
Veja que a luz do evangelho é levada para longe
daqueles que se esforçam para extingui-la, e que Jesus não permanecerá onde não for bem
recebido.
Aprendemos do mesmo exemplo de Jesus que
não devemos permanecer Lhe servindo onde
não sejamos bem recebidos, porque não somente o nosso testemunho será inócuo, como
também nos cumularemos de muitas dores
desnecessárias.
96
Jesus não se importou em se unir às pessoas
obscuras da Galileia, apesar de pertencer a Ele a
honra de estar sentado na cadeira de Moisés em
Jerusalém, recebendo honra de todos os judeus.
O diabo usou os próprios irmãos de Jesus para
tentá-lo a ir pública e manifestamente a
Jerusalém para fazer as suas obras, para que
fosse visto pelos seus discípulos; de maneira a que se expusesse e fosse preso e morto antes de
cumprir tudo o que ainda deveria fazer.
Eles haviam dito isto com ironia porque até
aquela altura ainda não criam nele.
O próprio Tiago que escreveu a epístola que leva
o seu nome, viria a crer nele somente depois da
evidência da sua ressurreição (I Cor 15.7).
Ele suportou tudo isto pacientemente porque
sabe que a carne não pode entender os mistérios do reino de Deus, e assim, enquanto se
permanece na carne é impossível entender as
coisas do Espírito.
Não sabemos se os irmãos de Jesus estavam conscientes dos riscos que Lhe aguardavam em
Jerusalém por causa do grande ódio dos judeus
por Ele, a ponto de que até mesmo os judeus da
dispersão e de outras partes da Palestina terem temido indagar por Ele manifestamente, para
que não fossem entregues aos judeus da Judeia,
que queriam matá-lo.
Mas se estavam ou não conscientes disto o Senhor lhes respondeu que não subiria com
eles à festa porque não era um momento
oportuno para Ele, porque estava sendo odiado
97
por aqueles judeus, que eram do mundo, por ter
testificado contra as más obras deles.
Todavia, quem do mundo odiaria os seus irmãos
incrédulos?
Eles não podiam testificar contra a
incredulidade sendo eles próprios incrédulos, e
assim não granjeariam naquela condição o ódio de ninguém, e portanto poderiam ir para
Jerusalém no tempo que bem lhes aprouvesse.
Assim Jesus foi ocultamente para a festa
somente depois que seus irmãos subiram a
Jerusalém.
Ele sabia que havia judeus da dispersão e de
outras partes da Palestina procurando por Ele e assim não perderia a oportunidade de lhes
pregar o evangelho.
Pouco devemos nos importar com o
testemunho que o mundo der a nosso respeito
porque será sempre um testemunho falho,
como o que os judeus deram de Cristo porque alguns diziam que ele era bom, e outros que não
era bom, e que enganava o povo.
Eles viam a Jesus apenas como homem e não
tinham um julgamento apropriado, não
somente relativo à sua divindade como também à obra espiritual que Ele realizava no poder do
Espírito.
98
Jesus Repreendeu a Incredulidade dos Judeus -
João 7
“14 Mas, no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava.
15 E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?
16 Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me
enviou.
17 Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela
mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou
se eu falo de mim mesmo.
18 Quem fala de si mesmo busca a sua própria
glória; mas o que busca a glória daquele que o
enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
19 Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?
20 A multidão respondeu, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te?
21 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Fiz uma só
obra, e todos vos maravilhais.
22 Pelo motivo de que Moisés vos deu a
circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem.
23 Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada,
indignais-vos contra mim, porque no sábado
curei de todo um homem?
24 Não julgueis segundo a aparência, mas julgai
segundo a reta justiça.
99
25 Então alguns dos de Jerusalém diziam: Não é
este o que procuram matar?
26 E ei-lo aí está falando abertamente, e nada lhe
dizem. Porventura sabem verdadeiramente os
príncipes que de fato este é o Cristo?
27 Todavia bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde
ele é.
28 Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e
dizendo: Vós conheceis-me, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele
que me enviou é verdadeiro, o qual vós não
conheceis.
29 Mas eu conheço-o, porque dele sou e ele me
enviou.
30 Procuravam, pois, prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda não era chegada
a sua hora.
31 E muitos da multidão creram nele, e diziam:
Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do
que os que este tem feito?
32 Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele estas coisas; e os fariseus e os
principais dos sacerdotes mandaram servidores
para o prenderem.
33 Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda um pouco de
tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.
34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde
eu estou, vós não podeis vir.
35 Disseram, pois, os judeus uns para os outros:
Para onde irá este, que o não acharemos? Irá
100
porventura para os dispersos entre os gregos, e
ensinará os gregos?
36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis,
e não me achareis; e: Aonde eu estou vós não podeis ir?”
O problema básico dos judeus de Jerusalém para
reconhecerem a autoridade de Jesus continua sendo o mesmo problema de muitos na própria
Igreja ainda em nossos dias.
Eles achavam que a autoridade de Deus passa
obrigatoriamente por instituições de ensino regulares com atestação de colação de grau
pelos homens.
Quando ficaram maravilhados com o
conhecimento de Jesus das Escrituras, eles ficaram ao mesmo tempo resistentes pelo fato
de não tê-las aprendido nas escolas rabínicas e
de não ter autorização expressa dos rabinos para
se dedicar aos assuntos relativos à religião.
Não somente Jesus, como João Batista e os
apóstolos não estiveram debaixo do ensino
deles para poderem exercer o ministério que
haviam recebido de Deus, porque eles não estavam honrando verdadeiramente ao Senhor
e à sua Palavra.
A doutrina de Deus é conhecida fazendo-se a sua
vontade (v. 17).
A doutrina do evangelho foi revelada nas
Escrituras do Velho Testamento, mas estava
escondida aos religiosos de Israel porque todas
101
as coisas ditas em relação ao Messias estavam
encobertas pelo véu do Velho Testamento.
É somente no próprio Cristo e na forma direta e clara como Ele expôs o evangelho que este véu é
retirado, de maneira que se possa ver
claramente aquelas coisas sobre as quais Deus
havia falado através de Moisés e dos profetas do Antigo Testamento.
Então não seria nenhum rabino que poderia
ensinar a Cristo o que era o evangelho
preanunciado por Deus desde Abraão, e revelar quem era Aquele que pisaria a cabeça da
serpente, conforme Deus havia dito a Adão.
Somente aqueles que têm aprendido e ouvido da parte de Deus podem falar em seu nome.
Aqueles judeus estavam vendo Jesus como um
mero professor de religião.
Um homem envolvido no ministério de ensino
para as escolas rabínicas, e não um general
celestial com a incumbência de formar soldados
para guerrearem contra os poderes das trevas que aprisionavam até mesmo a muitos destes
que estavam se opondo ao Senhor e
pretendendo matá-lo.
Jesus não estava buscando a glória do
reconhecimento de ser um grande mestre entre
os homens, mas a glória de Deus Pai, realizando
a obra que Lhe havia designado para cumprir (v. 18).
Para que eles queriam mais um mestre da Lei se
eles não cumpriam a Lei?
102
Como podiam então pretender matar o Senhor
com a aprovação do Sinédrio, pelo falso
argumento dele ter quebrado a Lei curando
aquele paralítico do tanque de Betesda num dia de sábado?
Diante da afirmação do Senhor de que eles não
guardavam a Lei, eles dissimularam e disseram
que Ele estava endemoninhado para fazer uma tal afirmação de que eles pretendiam matá-lo,
pelo motivo de ter quebrado o sábado.
Na verdade eles não estavam procurando tirar-
lhe a vida por motivo de zelo religioso. Aquilo era apenas um pretexto para agradarem os
governantes e autoridades judaicos.
Circuncidar no sábado era lícito, mas curar não?
Circuncidar era lícito, mas salvar não?
Afinal que pecado Jesus havia cometido então?
Que julgamento era portanto aquele que eles
estavam fazendo? Era segundo a reta justiça?
Não.
Era segundo a conveniência deles e segundo a
aparência, daquilo que lhes parecia ser a quebra
da Lei sem que fosse de fato.
Então alguns daqueles judeus de Jerusalém se indignaram ainda mais contra o Senhor e
disseram ironicamente que não entendiam
como os principais líderes de Israel permitiam
que Ele continuasse falando abertamente.
Para instigar os sacerdotes a zelos, perguntaram
ironicamente se por acaso teriam eles
reconhecido afinal que ele era o Cristo?
103
Para se justificarem fizeram questão de dizer
que no que tocava a eles bem sabiam que ele não
podia ser o Messias, porque sabiam onde ele
tinha nascido e vivido; e por uma afirmação teológica que não sabemos de onde eles a
sacaram, porque não consta nas Escrituras,
afirmaram que quando o Cristo se manifestasse ninguém saberia de onde ele é.
Ao contrário, a profecia diz claramente que o Messias nasceria em Belém Efrata.
Eles afirmaram que sabiam onde Jesus tinha
nascido e vivido, no entanto eles não conheciam
de fato de onde Ele viera, porque foi enviado
desde o céu pelo Pai, o qual nenhum deles conhecia.
Eles viram a Cristo, mas também não O conheceram como importa ser conhecido, isto
é, em espírito.
Quando Jesus falou da sua verdadeira
proveniência no templo, tentaram prendê-lo,
mas ninguém pôde lançar mão dele, porque não era ainda chegada a sua hora de ser preso e
morto.
Seu testemunho ousado e corajoso debaixo de
toda aquela perseguição e os sinais que fazia,
levaram muitos a crerem nele, e julgavam que seria impossível que um outro fosse o Cristo,
porque não poderia fazer mais sinais do que
aqueles que Jesus já havia feito.
Quando os fariseus ouviram a multidão fazer tal
afirmação acerca dele, de ser o próprio Messias,
104
eles se uniram aos principais sacerdotes para
que fossem enviados guardas para prendê-lo.
Sabendo disto Jesus lhes disse que permaneceria neste mundo com os judeus
ainda por mais um pouco de tempo, porque iria
voltar para Aquele que Lhe havia enviado.
Quando isto acontecesse o procurariam, mas
não poderiam mais achá-lo, porque para onde
Ele iria, eles não poderiam ir.
Certamente, o céu não é lugar para incrédulos, conspiradores e perseguidores do próprio
Cristo.
Eles pensaram que Ele se retiraria dos termos de Israel para ensinar os judeus da dispersão que se
encontrava entre os gregos, e aos próprios
gregos.
E ficaram a indagar entre si qual era o significado da palavra que lhes havia dito que
eles O buscariam mas não O achariam, e que
onde ele estaria eles não poderiam ir.
O Rio de Água Viva - João 7
“37 E no último dia, o grande dia da festa, Jesus
pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem
sede, venha a mim, e beba.
38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios
de água viva correrão do seu ventre.
39 E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito
Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não
ter sido glorificado.
105
40 Então muitos da multidão, ouvindo esta
palavra, diziam: Verdadeiramente este é o
Profeta.
41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galileia?
42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da
descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de
onde era Davi?
43 Assim entre o povo havia dissensão por causa
dele.”. (João 7.37-43)
Jesus comprovou com estas palavras de João 7.37-43, que realmente não veio condenar, mas
salvar o mundo na presente dispensação da
graça. Porque, em face de tanta oposição que
estava sofrendo, seria de se esperar que Aquele que recebeu do Pai toda autoridade no céu e na
terra para exercer juízos em seu nome,
trouxesse uma palavra de condenação ou
correção, e não um convite para a salvação, e ainda por cima por pura graça.
Era o último dia da festa dos Tabernáculos e as
pessoas estariam voltando para as suas casas.
Então Jesus aproveitou a oportunidade para lhes deixar um forte apelo em suas consciências para
que viessem a se converter a Ele, ainda que
soubesse que apenas alguns dentre eles se
converteriam de fato.
É a Cristo e somente a Ele que se deve ir com fé
no coração para que se receba o Espírito Santo
como um dom para habitar em nós para sempre.
106
Somente os que têm fome e sede de justiça, da
justiça do reino de Deus, podem vir a Cristo para
serem saciados.
Por isso Ele não disse simplesmente que
viessem beber a água viva todos os que a
desejassem, mas apenas os que têm sede.
Esta sede é, sobretudo por uma vida santa,
porque a água do Espírito nos purificará dos
nossos pecados, para sermos santos e
inculpáveis como Cristo.
Importava que Jesus fosse glorificado no céu
pela obra de redenção que realizou na terra,
para que o Espírito Santo pudesse ser
derramado como um dom em todas as nações.
Jesus sabia que Israel estaria endurecido para
tal recepção, conforme havia sido profetizado
desde o Velho Testamento (Is 65.1,2), e conforme eles estavam demonstrando durante
todo o seu ministério terreno, mas os gentios
viriam a beber da água que eles haviam
rejeitado.
Enquanto os gentios estariam dando glórias e
aleluias, transbordando na alegria do Espírito,
os judeus continuariam debatendo acerca de ser Cristo ou não o Profeta prometido desde
Moisés (Dt 18.18), e se fosse o Messias como
poderia ser da Galileia, porque a muitos deles
ficou ocultado propositalmente pelo Senhor as circunstâncias que envolveram o seu
nascimento em Belém, e pensavam que Ele
havia nascido em Nazaré, onde viveu, apesar de
107
conhecerem pelas Escrituras que o Messias
nasceria em Belém.
Jesus se tornou para eles, conforme afirmam as Escrituras, uma rocha de escândalo e de
tropeço, em vez de ser a rocha eleita e preciosa
de salvação para aqueles que nele creem.
Não é por meio de discussão e debates sobre a
Lei, e ainda sobre todas as Escrituras que se
chega a conhecer a Cristo, mas por um ato de entrega espiritual, pessoal e voluntária a Ele,
confiando completamente nele para que seja o
nosso Salvador e Senhor.
As graças do Espírito Santo são como as águas
vivas de uma fonte porque estão sempre em
movimento e em constante renovação, e jamais
terminam.
Não são águas paradas de um poço ou cisterna.
Esta água salta para a vida eterna, e é por isso que Jesus disse à mulher samaritana que ela
jamais teria sede se bebesse desta água, porque
é como água de uma fonte, só que é uma fonte
que nunca se esgotará e que continuará saciando a nossa sede por toda a eternidade.
Sem esta água espiritual não é possível ter vida espiritual eterna.
Nem mesmo vida por alguns dias.
Não há de fato nenhuma vida espiritual se não
tivermos esta água viva, que é o Espírito Santo,
fluindo no nosso interior.
Jesus disse que o fluir deste rio de água viva
estava citado nas Escrituras do Velho
Testamento.
108
Dentre estas Escrituras salta à vista o texto de
Ezequiel relativo ao rio que procede do trono de
Deus e que vai aumentando de volume cada vez
mais, e que gera vida por onde quer que ele passe (Ez 47.1-12).
Estas águas do Espírito são também derramadas
como chuva conforme afirmam as Escrituras (Is
44.3; Joel 2.28; Zac 12.10).
Os judeus deixaram o manancial de águas vivas
para cavarem cisternas quebradas que não
podem reter as águas (Jer 2.13), e fizeram isto por
se firmarem na própria justiça deles, e naquilo que pensavam ser a justiça das obras da Lei, Lei
esta que eles quebravam de todas as maneiras e
formas, e não confiaram na justiça de Cristo
para que fossem justificados, e assim recebessem a promessa da habitação do Espírito
Santo.
Mas, todos aqueles que têm o Espírito Santo
trabalhando neles tal como a água, lhes purificando, pela fé, dos seus pecados,
amolecendo seus corações para receberem a
Palavra da vida, e sendo alimentados pela água
para crescerem e frutificarem espiritualmente; pode-se dizer destes, que estão de fato
transbordando no Espírito Santo, conforme
Cristo havia prometido para todos aqueles que
cressem nele.
Este transbordamento fluirá do ventre deles,
isto é, do seu interior, do seu espírito, como um
rio poderoso de água viva, especialmente na
109
pregação e ensino do evangelho, transmitindo
vida a muitos.
Nenhum Outro Fala Como Ele - João 7
“44 E alguns deles queriam prendê-lo, mas
ninguém lançou mão dele.
45 E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes
perguntaram: Por que não o trouxestes?
46 Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem.
47 Responderam-lhes, pois, os fariseus:
Também vós fostes enganados?
48 Creu nele porventura algum dos principais
ou dos fariseus?
49 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
50 Nicodemos, que era um deles (o que de noite
fora ter com Jesus), disse-lhes:
51 Porventura condena a nossa lei um homem
sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que
faz?
52 Responderam eles, e disseram-lhe: És tu
também da Galileia? Examina, e verás que da
Galileia nenhum profeta surgiu.
53 E cada um foi para sua casa.”. (João 7.44-53)
Os guardas que tinham saído da parte dos fariseus e dos principais sacerdotes para
prenderem Jesus, retornaram a eles perplexos
afirmando que nunca tinham ouvido alguém
110
falar com tanta autoridade e poder como o
Senhor.
Eles temeram lançar mão dele para não
receberem nenhum juízo severo da parte de Deus, tal como havia sucedido com aquelas duas
guarnições dos capitães de cinquenta que
tinham saído a mando do rei de Israel para
prenderem Elias, e que haviam sido consumidos pelo fogo que veio da parte de Deus sobre eles.
Os próprios fariseus e sacerdotes estavam
procurando um estratagema para pegarem o
Senhor, conforme veremos nos capítulos seguintes, mas não tentariam fazer nada
diretamente contra Ele, primeiro por temerem
aqueles do povo que haviam crido nele, e
aqueles que estavam considerando que Ele fosse de fato realmente o grande Profeta e o
Messias.
Eles conspirariam fortemente contra Ele entre
si e às ocultas.
Os fariseus estavam muito seguros do falho
conhecimento que eles tinham das Escrituras, e
na sua cegueira por causa do ódio e inveja que
tinham de Cristo, não podiam enxergar a verdade.
Eles consideravam o povo maldito porque não
tendo o conhecimento que eles julgavam ter das
Escrituras, acabaram crendo em Cristo, apesar
deles estarem afirmando que Jesus estava enganando o povo.
Não foi sem razão que Jesus falou duramente
contra a hipocrisia dos escribas e fariseus, que
111
sendo guardiões das Escrituras, usavam-nas
contra os propósitos de Deus, por causa dos
próprios interesses carnais e egoístas deles.
A maioria dos escribas e fariseus estava
perseguindo a Cristo por motivo de inveja e de
falso zelo religioso, porque desejavam manter o status de únicos guias espirituais do povo de
Israel, e para fins políticos na preservação da
estima que tinham alcançado junto ao povo.
Outros, como Paulo, que viria a se converter
mais tarde perseguiram ao Senhor e seus discípulos por motivo de ignorância e pensando
estarem fazendo de fato um grande serviço a
Deus, tentando suprimir aqueles que eles
pensavam estar agindo contra a Lei de Moisés.
Quando Nicodemos, que era um dos principais
dos fariseus se levantou para defender Jesus dizendo que a lei não permitia que alguém fosse
condenado sem que primeiro fosse ouvido, para
que se defendesse das coisas contra as quais
estava sendo acusado; os demais fariseus lhe perguntaram com ironia se por acaso ele,
Nicodemos, era também natural da Galileia,
para estar defendendo um Galileu como Jesus,
uma vez que segundo o exame que eles fizeram das Escrituras nunca nenhum profeta havia sido
levantado por Deus na Galileia.
No entanto, eles não sabiam que Jesus não havia
nascido na Galileia, mas na cidade de Belém,
que ficava na Judeia.
Os fariseus faziam esta afirmação de modo
impactante dizendo que não havia sido
112
levantado nenhum profeta na Galileia, para
enganarem o povo, uma vez que é bem certo que
eles sabiam que Jonas era de Gate-Efer, e Naum
um eclosita, ambos da Galileia. Assim, a afirmação deles era falsa.
Mas, de todo modo, eles foram apanhados por
Deus na própria sabedoria deles, para que
permanecessem endurecidos crendo numa verdade aparente que lhes convinha, para não
admitirem que Jesus fosse de fato o Messias.
Eles precisavam de um argumento para
justificar o seu endurecimento, e se não encontrassem um eles o inventariam, assim,
Deus lhes confundiu fazendo com que Jesus
nascesse de uma família que residia em Nazaré,
na Galileia, mas cujos ancestrais eram naturais da cidade de Belém, onde tiveram que se
recensear por decreto de César Augusto, para
que Jesus lá nascesse dando cumprimento às
Escrituras.
Jesus sabia que dificilmente teria governantes e
fariseus do seu lado porque a abnegação e o
carregar diário da cruz seria uma lição muito
dura para que eles cumprissem em seu orgulho e presunção.
Por isso o evangelho é destinado aos pobres de
espírito, aos mansos e quebrantados de coração,
porque somente estes se autonegam e carregam a cruz voluntariamente, para fazerem
não a sua própria vontade, mas a do Senhor.
113
João 8
Jesus e a Mulher Adúltera
“1 Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras.
2 E pela manhã cedo tornou para o templo, e
todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se,
os ensinava.
3 E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma
mulher apanhada em adultério;
4 E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato,
adulterando.
5 E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam
apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem
de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
7 E, como insistissem, perguntando-lhe,
endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre
vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
8 E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
9 Quando ouviram isto, redarguidos da
consciência, saíram um a um, a começar pelos
mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a
mulher que estava no meio.
10 E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe:
Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?
Ninguém te condenou?
114
11 E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe
Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não
peques mais.” (João 8.1-11)
Era de se esperar que Jesus retornasse para a
Galileia, em face da forte perseguição que
estava sofrendo em Jerusalém, no entanto, Ele
se retirou temporariamente para o monte das Oliveiras. Havia passado a noite fora da cidade,
mas retornou ao templo logo na manhã do dia
seguinte, onde ensinava o povo que vinha ter
com Ele.
Os escribas e fariseus queriam encontrar um
meio de arranjar uma acusação formal contra
Ele para que pudesse ser condenado à morte.
Então pensaram em pegá-lo numa afirmação
contra a Lei de Moisés.
Assim, lhe trouxeram uma mulher que havia
sido apanhada em flagrante de adultério, e
pediram que Ele desse o veredicto para aquele
caso, uma vez que Moisés ordenou na Lei que os adúlteros fossem mortos por apedrejamento.
Percebendo a intenção deles de terem um
motivo para Lhe acusarem e não propriamente a mulher, Jesus não lhes deu qualquer resposta,
e continuou escrevendo com o dedo na terra.
Mas como insistiam na pergunta, Ele afinal lhes disse que o primeiro a lançar pedra contra a
adúltera deveria ser aquele que entre eles
estivesse sem pecado.
115
Ouvindo isto eles se retiraram, e Jesus disse à
mulher que assim como os seus acusadores não
a haviam condenado Ele também não a
condenaria, mas ordenou-lhe que fosse e que não pecasse mais.
Jesus veio inaugurar uma Nova Aliança, a
aliança da graça, que revogaria a aplicação,
entre os israelitas, das penas legais da Antiga Aliança contra determinadas transgressões da
Lei de Moisés.
A graça do evangelho havia derrubado o
preconceito nacionalista e religioso, conforme vimos na narrativa da mulher samaritana no
quarto capítulo, e agora, a graça estava se
manifestando para livrar da condenação da
penas legais que haviam na Antiga Aliança. A não condenação da mulher adúltera era uma
demonstração prática desta realidade.
As Palavras e Obras de Jesus Testificam da sua Divindade - João 8
“12 Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu
sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13 Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas
de ti mesmo; o teu testemunho não é
verdadeiro.
14 Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu
testifico de mim mesmo, o meu testemunho é
verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde
116
vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem
para onde vou.
15 Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém
julgo.
16 E, se na verdade julgo, o meu juízo é
verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai
que me enviou.
17 E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
18 Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de
mim testifica também o Pai que me enviou.
19 Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a
meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim,
também conheceríeis a meu Pai.
20 Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro, ensinando no templo, e ninguém o
prendeu, porque ainda não era chegada a sua
hora.”. (João 8.12-20)
Como o estratagema dos escribas e fariseus
havia falhado ao Lhe terem trazido a mulher
apanhada em adultério, Jesus continuou
ensinando abertamente no templo, e, aproveitou a oportunidade para reafirmar a
verdade que não veio a este mundo para julgá-
lo, para estabelecer um juízo de morte sobre
aqueles que não O conhecem e que se encontram mortos em seus pecados, mas para
salvá-los, conforme nós podemos deduzir do
modo como Ele tratou com a mulher adúltera.
117
Assim, Ele lhes declarou mais uma vez que era a
luz do mundo, a luz que dá vida a todo aquele que
O seguir.
Os fariseus replicaram tentando anular o testemunho do Senhor acerca da verdade,
especialmente quanto ao fato de que Deus
estaria se tornando longânimo e gracioso com
todos os pecadores, na nova dispensação que Ele afirmava ter vindo inaugurar, dizendo que o
testemunho dele não era verdadeiro porque
testificava de Si mesmo.
Mas o Senhor não deixou de dar a devida
resposta dizendo que podia testificar de Si mesmo porque sabia de onde veio e para onde
iria, de maneira que os fariseus não podiam
formular qualquer julgamento sobre a sua
pessoa, uma vez que não sabiam de onde Ele viera nem para onde iria.
Eles não podiam fazer tal julgamento, porque
não tinham o Espírito para fazer um julgamento
verdadeiro sobre Jesus.
Assim o julgamento deles era segundo o homem, segundo a vista, segundo o dizer de
Jesus, um julgamento segundo a carne, que
jamais poderá discernir as coisas espirituais,
porque estas se discernem no Espírito.
Eles não podiam entender, porque Jesus não estava julgando ninguém na dispensação da
graça, verdade que somente pode ser entendida
em espírito e não na carne.
118
Nosso Senhor disse que todos os seus juízos
eram verdadeiros já que não julgava segundo a
carne, mas segundo Deus, pelo Espírito.
Assim, não era verdade que somente Ele
testificava de Si mesmo, porque o Pai também
testificava juntamente com Ele, confirmando a
sua Palavra com os sinais e milagres poderosos que nenhum outro havia feito antes dele.
Neste debate de Jesus com os fariseus Ele deixou de modo bastante claro a importância de se ter
o Espírito e de se andar no Espírito para que se
possa conhecê-Lo e a Deus Pai, porque este
conhecimento é de experiência real em espírito, e é somente em espírito que se pode conhecer a
Deus, porque Ele é espírito, e daí se dizer que
importa ser adorado em espírito e em verdade.
Os fariseus não conheceram a Jesus em espírito,
e como poderiam conhecer também a Deus?
O fato de terem sido chamados por Jesus de ignorantes de quem era Deus, como eram de
fato, deve ter acendido ainda mais o ódio dos
fariseus e o desejo de matá-lO, no entanto
ninguém prendeu o Senhor porque não era ainda chegada a sua hora.
A Longanimidade Infinita de Jesus - João 8
“21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-
me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso
pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.
119
22 Diziam, pois, os judeus: Porventura quererá
matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou
não podeis vir?
23 E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima;
vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24 Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou,
morrereis em vossos pecados.
25 Disseram-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes
disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse.
26 Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas
aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele
tenho ouvido, isso falo ao mundo.
27 Mas não entenderam que ele lhes falava do
Pai.
28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu
sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo
como meu Pai me ensinou.
29 E aquele que me enviou está comigo. O Pai
não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
30 Dizendo ele estas coisas, muitos creram
nele.” (João 8.21-30)
A grande misericórdia de Deus para com os seus
inimigos (Rom 5.10) está plenamente
manifestada nestas palavras de Jesus, porque Ele alertou os seus confrontadores do que lhes
ocorreria caso não cressem que Ele havia sido
enviado pelo Pai para salvar os pecadores.
120
Eles morreriam eternamente nos seus pecados
porque é somente pela fé nele que os nossos
pecados podem ser perdoados por Deus, e
sermos reconciliados com Ele, deixando de ser seus inimigos, por causa da natureza
pecaminosa que temos, e portanto, sermos
livrados da sua ira que haverá de se manifestar no juízo na condenação eterna daqueles que não
tiveram seus pecados perdoados por causa da fé
em Cristo.
Mesmo tendo continuado a zombarem do
Senhor depois de lhes ter dito que não poderiam
ir para onde Ele iria (céu), caso não tivessem os
seus pecados perdoados, Jesus continuou lhes advertindo de maneira que chegassem ao
arrependimento para que fossem salvos;
especialmente pelo fato de lhes ter revelado que
poderiam saber quem Ele era depois que o levassem à cruz.
Muitos deles poderiam então lamentar e se arrependerem dos seus pecados, porque o
Espírito Santo seria derramado para produzir
neles este convencimento.
O tom de voz de Jesus ao dizer estas palavras não
deve ter sido áspero, mas muito terno e
convincente, demonstrando todo o seu amor e paciência, apesar de estar sendo tão duramente
contraditado, e com isto muitos creram nele.
No entanto, Jesus colocou à prova a qualidade da fé destes que creram como veremos a partir do
verso 31, e eles revelaram que não era a fé
genuína, porque ao lhes ser dito que a fé seria
121
verdadeira se eles permanecessem na sua
Palavra, eles não demonstraram estar dispostos
a isto.
A verdadeira fé que salva gera contrição no
nosso coração ao vermos com os olhos da fé
Jesus crucificado e sofrendo por carregar os nossos pecados sobre Si na sua morte na cruz.
E esta fé verdadeira nos moverá a amar ao
Senhor e à sua Palavra.
Há também muito de sentimentos envolvido em
nossa salvação. Ela não é um ato frio de
assentimento intelectual a uma verdade. A fé não é uma mera aceitação intelectual de um
fato, mas todo um trabalho que é realizado em
nós para mudar o nosso coração de pedra num
coração de carne. É uma transação espiritual real de experiência do cristão com o seu Senhor
e Salvador.
Estas palavras de Jesus deixam estas verdades declaradas de modo muito implícito. Ele
declarou que muito teria que falar contra
aqueles judeus e julgá-los por causa dos seus
pecados, mas não o faria condenando a nenhum deles porque recebeu o mandamento do Pai de
vir a este mundo para salvá-lo e não para
condená-lo, enquanto durar a dispensação da
graça, até que Ele volte.
122
Jesus o Libertador - João 8
“31 Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele:
Se vós permanecerdes na minha palavra,
verdadeiramente sereis meus discípulos;
32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará.
33 Responderam-lhe: Somos descendência de
Abraão, e nunca servimos a ninguém; como
dizes tu: Sereis livres?
34 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo que todo aquele que comete
pecado é servo do pecado.
35 Ora o servo não fica para sempre em casa; o
Filho fica para sempre.
36 Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres.
37 Bem sei que sois descendência de Abraão;
contudo, procurais matar-me, porque a minha
palavra não entra em vós.
38 Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis
o que também vistes junto de vosso pai.
39 Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de
Abraão, faríeis as obras de Abraão.
40 Mas agora procurais matar-me, a mim,
homem que vos tem dito a verdade que de Deus
tem ouvido; Abraão não fez isto.
41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe,
pois: Nós não somos nascidos de prostituição;
temos um Pai, que é Deus.
123
42 Disse-lhes, pois, Jesus: Se Deus fosse o vosso
Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e
vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele
me enviou.
43 Por que não entendeis a minha linguagem?
Por não poderdes ouvir a minha palavra.
44 Vós tendes por pai ao diabo, e quereis
satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi
homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando
ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso, e pai da mentira.
45 Mas, porque vos digo a verdade, não me
credes.
46 Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?
47 Quem é de Deus escuta as palavras de Deus;
por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.” (João 8.31-47)
Não é simplesmente por se dizer que se crê em
Cristo que somos de fato seus discípulos, porque
a evidência da verdadeira fé será vista no fato de amarmos e guardarmos a sua Palavra,
perseverando em permanecer nela.
É por esta perseverança em permanecer na Palavra que se conhece a verdade, e a libertação
do pecado, dos poderes das trevas e do mundo.
Jesus disse expressamente àqueles judeus que todos eles eram escravos do pecado, assim
como todos os homens que não foram
libertados por Ele.
124
O Senhor lhes disse isso porque afirmaram que
não eram servos de ninguém, por serem
descendentes de Abraão.
Apesar disso o Senhor lhes disse que sendo
escravos do pecado, não podiam ficar para
sempre na casa de Abraão, que é a casa de Deus, mas o Filho de Deus é senhor sobre esta casa e
nela permanecerá para sempre, e assim
somente Ele pode libertar os que são escravos do pecado, para que sejam verdadeiramente
livres da condenação e do afastamento eterno
de Deus.
Jesus lhes disse que apesar de serem
descendentes de Abraão, segundo a carne,
viviam na contradição de um comportamento totalmente diferente do patriarca, que foi
inteiramente obediente a Deus e que fez a sua
obra.
Abraão havia recebido a Deus, quando se
manifestou a ele em pessoa em Manre, com
grande amor, temor e reverência.
No entanto, eles O estavam recebendo agora, na
pessoa do seu Filho, com o intuito de matá-lo, apesar de serem da descendência de Abraão,
porque não se sujeitavam à sua palavra; coisa
que o próprio Abraão jamais teria feito, porque
era sensível à voz de Deus e teria reconhecido ao Senhor, assim como Lhe haviam reconhecido os
apóstolos.
Jesus estava lhes falando das coisas que havia
visto junto ao Pai, assim como aqueles judeus
estavam fazendo o que haviam visto junto ao pai
125
deles, que era o diabo; apesar de alegarem que
eram filhos de Abraão, mas não eram, porque
não faziam as obras de Abraão.
Os verdadeiros filhos de Abraão fazem as obras
de Abraão, que são as obras de Deus; porque é dito que Abraão é pai de todos os que creem
verdadeiramente em Deus.
Os judeus tinham a convicção de que eram
filhos de Deus pelo simples fato de serem da descendência de Abraão, porque Deus lhe havia
prometido ser o Deus da nação que faria a partir
do seu descendente, ignorantes do fato de que
sem Jesus, todas as pessoas estão debaixo do senhorio do Arqui-Inimigo de Deus, até que
sejam livradas, por meio da fé em Cristo.
Jesus veio destruir as obras do diabo e
transportar do reino das trevas e do domínio de
Satanás para Deus e para o reino da luz, aqueles que estavam escravizados ao Inimigo.
O Mal Nada Tem a Ver com Jesus - João 8
“48 Responderam, pois, os judeus, e disseram-
lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e
que tens demônio?
49 Jesus respondeu: Eu não tenho demônio,
antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.
50 Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
51 Em verdade, em verdade vos digo que, se
alguém guardar a minha palavra, nunca verá a
morte.
126
52 Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora
conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão
e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a
minha palavra, nunca provará a morte.
53 És tu maior do que o nosso pai Abraão, que
morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?
54 Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me
glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso
Deus.
55 E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E,
se disser que o não conheço, serei mentiroso
como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.
56 Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia,
e viu-o, e alegrou-se.
57 Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens
cinquenta anos, e viste Abraão?
58 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos
digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
59 Então pegaram em pedras para lhe atirarem;
mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.”
(João 8.48-59)
Para um juízo carnal todas as verdades do
evangelho são loucura, como foi, por exemplo, para os judeus dos dias de Jesus crerem e
aceitarem que Ele existia antes mesmo de
Abraão; que Ele tinha descido do céu; e que pelo
127
simples fato de crer nele e guardar a sua Palavra
não se morreria mais eternamente.
No entanto, os judeus foram muito além do seu juízo carnal de pensarem que tudo isto era uma
loucura, porque chegaram ao extremo de
afirmar que Jesus estava possuído de demônios
para afirmar tais coisas; embora seja difícil de admitir que mesmo alguém estando na carne,
não poderia negar a autoridade, amor,
sabedoria e unção do Espírito que fluíam de
Jesus quando Ele falava.
Assim, era muito grave o pecado daqueles
judeus que resistiram ao Senhor até o ponto
extremo de chamá-lo de Belzebu, o maioral dos demônios, como se vê em Mt 10.25.
No entanto, estas coisas continuariam
acontecendo contra os discípulos do Senhor, que ainda que cheios do mesmo amor do
Espírito pelos pecadores, seriam perseguidos
por muitos debaixo do mesmo tipo da dura e
falsa acusação que haviam dirigido contra o Senhor em seu ministério terreno.
Como o Senhor não confirmou que os
judeus eram verdadeiros filhos espirituais de
Abraão, por simples condição de descendência natural, então se revoltaram por causa do
orgulho nacional e passaram a acusar Jesus de
samaritano, porque odiavam os samaritanos.
Se alguém que nasceu em Israel, como era o
caso de Jesus, não abraçava a causa nacional de
Israel, então eles o consideraram como sendo
128
um estrangeiro, e da nacionalidade daqueles
que eram seus inimigos.
Quando se forma unidade por se vestir a camisa
desta ou daquela nação, ou até mesmo congregação, não se pode experimentar a
verdadeira unidade que é fundada na verdade e
no espírito, e não em laços de sentimentos
nacionalistas, raciais, tribais, ou de qualquer outra natureza.
Enquanto afirmamos a nossa unidade, segundo
os homens, não podemos conhecer a que
procede do Espírito de Deus que derruba toda barreira racial, social, ou de qualquer outro tipo.
O Espírito Santo desfaz as inimizades e abre o
coração do cristão a estar receptivo para
abençoar qualquer pessoa.
Jesus estava proclamando a verdade aos judeus
e se esforçando para que chegassem ao
verdadeiro conhecimento de Deus que livra da
morte e que dá vida eterna, mas não somente o rejeitaram como se voltaram furiosamente
contra Ele a ponto de terem pegado em pedras
para matá-lo.
No entanto, o Senhor não deixou de proclamar a verdade, e nem a sua Igreja deve parar de
proclamá-la a par de todas as perseguições que
possa vir a sofrer, conforme Jesus orientou os
seus discípulos no décimo capítulo de Mateus.
Deus deve ser honrado pela honra que é dada ao Filho, especialmente por se guardar a sua
Palavra.
129
João 9
A Cura de Um Cego de Nascença
“1 E, passando Jesus, viu um homem cego de
nascença.
2 E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo:
Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
3 Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus
pais; mas foi assim para que se manifestem nele
as obras de Deus.
4 Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando
ninguém pode trabalhar.
5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do
mundo.
6 Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego.
7 E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que
significa o Enviado). Foi, pois, e lavou-se, e
voltou vendo.” (João 9.1-7)
Este homem não era cego de nascença por
motivo de algum juízo de Deus contra algum
pecado específico dos seus pais, e muito menos dele próprio, uma vez que era cego desde o seu
nascimento.
A soberania e autoridade de Deus havia trazido
aquele homem naquelas condições a este
130
mundo, para o propósito de ser curado por Jesus
durante seu ministério terreno.
Jesus veio dar vista aos cegos.
Àqueles que se encontram em trevas
espirituais, por causa do pecado original de Adão, que sujeitou toda a raça humana à morte
espiritual, que é a separação de Deus.
Foi principalmente para destruir o poder desta
morte espiritual, e consequentemente da morte
eterna que se segue à mesma, e que é a
separação definitiva e irremediável de Deus, que Jesus veio a este mundo.
Para demonstrar este seu poder sobre a
cegueira espiritual que é resultante da morte espiritual, Jesus curou aquele cego de nascença,
porque este mal das trevas espirituais, todo
homem traz consigo desde o seu nascimento,
não por causa de algum pecado específico daqueles que o geraram, mas em razão da morte
espiritual que entrou no mundo por causa do
pecado de Adão.
A cegueira física daquele homem seria curada
quando fosse removido o lodo que Jesus colocou
nos seus olhos, que foi feito com a saliva da sua própria boca e com o pó da terra.
De igual modo, a cegueira espiritual é curada
quando o pecador é lavado dos seus pecados, e quando é removida a maldição que foi proferida
contra Adão e sua descendência pela boca do
próprio Deus.
131
Somente Deus pode remover a maldição que Ele
pronunciou contra toda a humanidade, por
causa do pecado original.
Isto acontece, quando o homem é lavado pelo lavar renovador e regenerador do Espírito
Santo.
Jesus poderia ter curado aquele cego
diretamente sem usar qualquer recurso para ser aplicado aos seus olhos.
Mas, certamente queria nos deixar algum
ensinamento espiritual através daquilo que
fizera para curá-lo.
Ninguém pode ver o mundo natural se não tiver uma visão física saudável e sem a luz natural.
Ninguém pode ver o mundo espiritual invisível
sem uma visão de fé saudável e sem a luz
espiritual de Cristo.
Este é o grande ensinamento desta passagem
porque aquele homem não foi somente curado
da cegueira física, como também da espiritual,
porque ele se converteu a Jesus conforme podemos concluir da sua adoração ao Senhor e
do testemunho vigoroso que deu acerca dele na
presença dos líderes religiosos de Israel.
Enquanto os escribas e fariseus estavam debatendo violentamente com Jesus para
tentarem desqualificá-lo como tendo sido
enviado de fato por Deus a este mundo, o
que era cego de nascença se submeteu ao Senhor e Lhe obedeceu sem nada contestar
naquilo que Lhe foi ordenado, e por sua
obediência a Ele obteve não somente a cura da
132
sua cegueira como também a salvação da sua
alma.
O Testemunho do Cego de Nascença - João 9
“8 Então os vizinhos, e aqueles que dantes
tinham visto que era cego, diziam: Não é este
aquele que estava assentado e mendigava?
9 Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu.
10 Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os
olhos?
11 Ele respondeu, e disse: O homem, chamado
Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me:
Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi.
12 Disseram-lhe, pois: Onde está ele?
Respondeu: Não sei.
13 Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era
cego.
14 E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe
abriu os olhos.
15 Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-
me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo.
16 Então alguns dos fariseus diziam: Este
homem não é de Deus, pois não guarda o sábado.
Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
17 Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes
daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu:
Que é profeta.
133
18 Os judeus, porém, não creram que ele tivesse
sido cego, e que agora visse, enquanto não
chamaram os pais do que agora via.
19 E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso
filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
20 seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu
cego;
21 Mas como agora vê, não sabemos; ou quem
lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem
idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará
por si mesmo.
22 seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido
que, se alguém confessasse ser ele o Cristo,
fosse expulso da sinagoga.
23 Por isso é que seus pais disseram: Tem idade,
perguntai a ele mesmo.
24 Chamaram, pois, pela segunda vez o homem
que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a
Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
25 Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego,
agora vejo.
26 E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como
te abriu os olhos?
27 Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes;
para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós
porventura fazer-vos também seus discípulos?
134
28 Então o injuriaram, e disseram: Discípulo
dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de
Moisés.
29 Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés,
mas este não sabemos de onde é.
30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto,
pois, está a maravilha, que vós não saibais de
onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a
pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.
32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de
nascença.
33 Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
34 Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E
expulsaram-no.
35 Jesus ouviu que o tinham expulsado e,
encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de
Deus?
36 Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor,
para que nele creia?
37 E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele
que fala contigo.
38 Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.” (João
9.8-38)
O problema básico com os escribas e fariseus foi e sempre será o mesmo que há com todos
aqueles que são dirigidos pela carne e não pelo
Espírito.
135
Mesmo líderes que tenham sido constituídos
por Deus para dirigir o seu povo, como era o caso
dos sacerdotes e governantes de Israel, serão
achados em forte oposição a Ele e à sua vontade caso andem segundo os seus próprios
interesses, sem se sujeitarem ao Senhor, para
governar os seus corações, estando purificados pelo seu poder e Palavra.
Assim, em vez de darem a destra de comunhão
àqueles que se converterem a Deus, estes
líderes carnais, que são dirigidos pela própria
vontade, e não pelo Espírito do Senhor, os perseguirão e os odiarão como os fariseus
fizeram com o cego de nascença que Jesus havia
curado.
Deste modo, confessar publicamente que Jesus era o Messias estava custando o preço da
expulsão da sinagoga pelos judeus.
Isto equivalia ao ato de ser excomungado da
igreja antiga.
O cego de nascença que foi curado por Jesus
pagou este preço não para ser curado, porque já
havia sido, mas para consagrar sua vida a Deus,
porque estava decidido em praticar e defender a verdade e a justiça do evangelho.
Sabendo que ele havia sido expulso da sinagoga
Jesus foi ao seu encontro e lhe perguntou se ele
cria no Filho de Deus, e o cego pediu ao Senhor
que lhe mostrasse quem era Ele para que nele cresse.
Naquele momento Jesus se revelou ao cego
dizendo que era Ele próprio, e certamente
136
também operou nele de tal maneira que ele
chegou a ter o reconhecimento espiritual desta
verdade, e se converteu naquela mesma hora,
tendo adorado ao Senhor confessando a sua fé nele.
É importante observar que este homem havia
defendido a verdade ainda mesmo antes da sua
conversão.
Ele havia se posicionado em favor de Jesus, e
toda vez que alguém faz isto com sinceridade de
coração, o Senhor virá ao encontro desta pessoa;
e, no momento oportuno se revelará a ela, de maneira que venha a ser salva por Ele, como
fizera com o cego, depois de tê-lo curado de sua
cegueira física.
Os pais do cego temeram ser expulsos da sinagoga e perderam a oportunidade de darem
um testemunho de gratidão a Deus diante dos
fariseus pelo que Jesus havia feito ao seu filho.
Temeram confessar Jesus diante dos homens para não serem banidos da religião de Israel.
O temor de perder a religião fez com que eles
perdessem o céu.
Aqueles vizinhos, em vez de se alegrarem com o
fato de verem perfeitamente são o que fora cego desde o seu nascimento, e darem graças e
glórias a Deus, ao contrário, levaram-no à
presença dos fariseus, por motivo de um falso
zelo religioso e para protestarem fidelidade aos homens para agradarem-nos, porque a cura foi
realizada num dia de sábado, e eles sabiam
quanto os fariseus estavam odiando e
137
intentando matar Jesus, porque havia declarado
ser o Messias.
Além disso, estariam dando a eles mais um
reforço no argumento deles de que Jesus estava
quebrando a Lei de Moisés por realizar curas no
dia de descanso.
Se aqueles homens fossem de Deus e
estivessem no Espírito, teriam repudiado àqueles que tomassem a atitude que eles
estavam tomando, por causa da grande
falsidade, hipocrisia, e bajulação interesseira que havia naquilo tudo, debaixo do nome de se
estar sendo zeloso das coisas de Deus.
O grande fato é que diante da evidência daquele
grande milagre houve uma divisão de opiniões
entre os próprios fariseus, porque enquanto um
grupo sustentava que Jesus era pecador, porque quebrou o sábado, outros questionavam esta
afirmação, porque segundo eles, como poderia
um pecador fazer um milagre como aquele e
todos os demais que Jesus vinha fazendo? (v. 16).
Eles teriam que expulsar o cego da sinagoga
caso desse um parecer favorável a Jesus, e por isso lhe perguntaram o que ele julgava ser
aquele que lhe havia curado, e o cego afirmou
que era Profeta.
Mas seria ainda melhor, segundo eles, caso
conseguissem comprovar que ele estava
mentindo ao dizer que era cego e que foi curado, e assim mandaram chamar os seus pais, mas
estes confirmaram apenas que era de fato cego
de nascença, mas que nada sabiam quanto ao
138
modo como havia sido curado, porque temiam
serem expulsos da sinagoga, caso dissessem
que havia sido Jesus.
A grande verdade sobre a qual aquele que fora cego de nascença queria dar agora testemunho
era o próprio Jesus e ele havia determinado ser
seu discípulo, e sustentou este testemunho
quando foi duramente confrontado e ameaçado pelos fariseus; chegando mesmo a ironizá-los
quando lhes perguntou se pretendiam também
se fazer discípulos de Cristo, em face da
insistência das perguntas deles quanto ao modo como o Senhor lhe havia curado.
Quando os fariseus declararam serem apenas
discípulos de Moisés e não de Cristo porque não
sabiam de onde Ele era, o que fora cego deu o seguinte testemunho:
“30 O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto,
pois, está a maravilha, que vós não saibais de
onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
31 Ora, nós sabemos que Deus não ouve a
pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e
faz a sua vontade, a esse ouve.
32 Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de
nascença.
33 Se este não fosse de Deus, nada poderia
fazer.”.
É principalmente diante da oposição e perseguição que se deve dar testemunho
corajoso da verdade, porque isto traz muita
glória para Deus, e envergonhamos Satanás, que
139
insiste fazer prevalecer a causa da mentira e do
engano.
Cristo deve ser confessado em todas as
circunstâncias, com amor, mansidão, paz e
longanimidade em nossos corações.
Seu nome nunca deve ser negado, para a glória
de Deus Pai.
É assim que testemunhamos que Deus é fiel e verdadeiro e que realmente enviou seu Filho a
este mundo para ser a luz dos homens.
Se temos a comprovação diante dos nossos olhos da maravilha que Deus está operando em
nosso meio, é nosso dever render-Lhe glórias de
todo o nosso coração, e não nos deixarmos
dominar por um coração endurecido, desconfiado, preconceituoso, tal como o dos
fariseus, de maneira que cheguemos até ao
ponto extremo mesmo de considerar uma obra
verdadeira de Deus como sendo de procedência do Maligno.
Os fariseus se julgavam santos a um ponto tão elevado que se achavam no direito de julgar os
próprios atos de Deus.
Tudo deveria estar conformado à visão estreita e preconceituosa deles.
Deus não poderia agir com liberdade e poder,
porque deveria continuar sendo, ao modo de ver deles, apenas o Deus legal, que havia dado
preceitos a Moisés para serem cumpridos pelos
homens.
140
Quando não deixamos que Deus seja Deus, nós
fazemos o papel de deus, e isto é algo
extremamente perigoso.
Jesus curou e ainda cura.
Somente Ele pode salvar pessoas da condenação
eterna e torná-los filhos de Deus.
Jesus É Senhor e somente Ele deve ser adorado.
Somente ele é o dono das nossas almas.
Ninguém tem direito de domínio sobre a nossa
fé senão somente Ele.
Jesus Repreende a Cegueira dos Fariseus - João 9
“39 E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para
juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os
que veem sejam cegos.
40 E aqueles dos fariseus, que estavam com ele,
ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos
cegos?
41 Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso
o vosso pecado permanece.”
Com estas palavras Jesus confirmou qual havia sido o grande propósito de Deus com a cura do
cego de nascença, pois todos os homens são
cegos espirituais de nascença por causa do
pecado, e é somente pela luz de Cristo que eles podem ver o reino de Deus.
O modo de recuperar a visão é pelo
reconhecimento de que se é cego, de maneira
141
que se possa receber a iluminação do Espírito,
e ver as realidades celestiais, que são
discernidas somente em espírito.
O primeiro passo para a conversão é o reconhecimento da condição de que se é
pecador, conforme convencimento do Espírito
ao nosso espírito.
Não é apenas um reconhecimento, mental, intelectual, mas uma contrição de coração, uma
tristeza pelo pecado, que é produzida em nós
pelo Espírito Santo.
É a chamada tristeza segundo Deus que conduz ao arrependimento que dá vida.
Enquanto isto não acontecer ninguém pode
estar seguro da sua salvação.
Enquanto Cristo não for visto com os olhos da fé
como o sacrifício pelos nossos pecados, e não nos lançarmos completamente a Ele para
sermos perdoados e aceitos por Deus, não
podemos estar convictos de termos sido
curados de nossa cegueira espiritual, porque a cura nos permitirá enxergar Cristo como
Senhor, como Deus, como nosso Mediador,
como nosso Salvador.
Os fariseus não haviam experimentado nada disto, mas ainda assim pensavam que
conheciam perfeitamente a Deus.
Jesus disse que eles permaneciam condenados
em seus pecados, porque não admitiam que eram cegos espirituais como todos os demais
homens, e assim, eles não iam ao único médico
que poderia lhes curar da sua cegueira, porque
142
achavam que enxergavam e não necessitavam
serem curados.
143
João 10
Jesus o Bom Pastor
“1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele
que não entra pela porta no curral das ovelhas,
mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
2 Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor
das ovelhas.
3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua
voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz
para fora.
4 E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai
adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.
5 Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz
dos estranhos.
6 Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não
entenderam o que era que lhes dizia.
7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade,
em verdade vos digo que eu sou a porta das
ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim são
ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará
pastagens.
10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a
destruir; eu vim para que tenham vida, e a
tenham com abundância.
144
11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua
vida pelas ovelhas.
12 Mas o mercenário, e o que não é pastor, de
quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as
ovelhas.
13 Ora, o mercenário foge, porque é mercenário,
e não tem cuidado das ovelhas.
14 Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
15 Assim como o Pai me conhece a mim,
também eu conheço o Pai, e dou a minha vida
pelas ovelhas.
16 Ainda tenho outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho
e um Pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha
vida para tornar a tomá-la.
18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder
para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi
de meu Pai.”
As ovelhas de Jesus devem viver reunidas no
aprisco de Deus.
Não são poucos os salteadores que atacam este
aprisco, mas eles nunca entram, por motivos óbvios, pela porta estreita do curral que é o
Senhor Jesus, porque não estão a seu serviço, e
nem sustentam a sua Palavra.
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Jesus cuida das ovelhas e as alimenta com a
verdade para que tenham vida, a vida
abundante, vitoriosa, daqueles que estão bem
alimentados com as palavras da vida eterna.
Mas, os ladrões que atacam o aprisco têm
apenas o propósito de roubar, matar e destruir
as ovelhas, especialmente a vida espiritual
delas, porque estão a serviço de Satanás.
Jesus não é apenas a porta do aprisco de Deus,
porque ninguém pode entrar neste aprisco que
não é terreno, mas celestial, senão somente
aqueles que passam pela porta estreita que é o Senhor Jesus Cristo.
Afinal, ninguém pode ir ao Pai a não ser por Ele.
Além de ser a porta do aprisco das ovelhas Jesus
é também o Pastor delas, aquele que cuida das ovelhas e que as conduz verdadeiramente.
Elas conhecem somente a voz dele como sendo
a voz do seu Pastor, em cujas mãos estão as suas
almas.
Os pastores auxiliares do Supremo Pastor não são os proprietários do rebanho, e se não
falarem com a voz do Pastor dos pastores, as
ovelhas não lhes seguirão, porque reconhecem
e atendem somente a voz de Cristo.
Os fariseus, os escribas, os falsos profetas que
ministravam em Israel não conseguiram atrair
as ovelhas de Cristo porque eram ladrões e
salteadores, que não foram ouvidos pelas ovelhas do rebanho de Deus, as quais se
encontravam perdidas debaixo do ministério
corrompido deles.
146
No entanto, assim que Jesus se manifestou, Ele
passou a reunir as suas ovelhas que se achavam
dispersas, a começar pelos apóstolos, e desde
então, todas elas têm reconhecido a sua voz como sendo a do seu Pastor, e entrado pela Porta
estreita da salvação que é o próprio Jesus e a sua
Palavra.
Jesus é o bom Pastor porque deu a sua vida pelas ovelhas.
Este foi o preço que Ele pagou para poder
resgatá-las do poder do inferno e da morte e
para trazê-las em segurança para o céu.
Nenhum mercenário, como os escribas e
fariseus, e os falsos pastores, mestres e profetas
que exploram o rebanho do Senhor pode ter esta
mesma disposição de Jesus, de dar a vida pelas ovelhas.
Somente naqueles que estiverem realmente a
serviço de Jesus para apascentarem o seu
rebanho, poderá ser achado este mesmo sentimento que houve também no Senhor.
Como o interesse do pastor mercenário não é
pelo bem espiritual das ovelhas, senão explorá-
las para atender aos próprios interesses egoístas
deles de enriquecerem, e terem fama, e honra pessoal, então não é de se admirar que deixem o
rebanho desamparado quando o Inimigo as
ataca com o propósito de arrebatá-las e
dispersá-las.
Os pastores que são mercenários não terão
nenhum cuidado do rebanho nos dias difíceis, e
se aproveitarão do rebanho nos dias fáceis.
147
O mercenário não conhece as ovelhas e nem o
que é necessário para cuidar delas.
Mas Jesus não somente conhece as suas
ovelhas, como também é por elas conhecido.
O Senhor Jesus não tinha ovelhas somente no
aprisco de Israel, apesar de estar ministrando em seu ministério terreno somente a elas, mas
depois que o Espírito fosse derramado no
Pentecoste, Ele começaria a agregar num só rebanho as ovelhas do aprisco das demais
nações da terra.
Ele daria a sua vida pelas ovelhas, mas tinha o
poder tanto para dá-la, como também o poder de
tornar a tomá-la; porque o Pai havia lhe dado este mandamento de morrer e ressuscitar para
que as ovelhas pudessem também ser batizadas
na sua morte e ressurreição, para poderem
viver para sempre na presença de Deus.
A base do conhecimento que as ovelhas têm de Cristo é da mesma natureza do conhecimento
que há entre Ele e o Pai, isto é, espiritual e de
amor.
Jesus e a Cegueira dos Fariseus - João 10
“19 Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus
por causa destas palavras.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?
21 Diziam outros: Estas palavras não são de
endemoninhado. Pode, porventura, um
demônio abrir os olhos aos cegos?
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22 E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e
era inverno.
23 E Jesus andava passeando no templo, no
alpendre de Salomão.
24 Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se
tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de
meu Pai, essas testificam de mim.
26 Mas vós não credes porque não sois das
minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
28 E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de
perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
30 Eu e o Pai somos um.
31 Os judeus pegaram então outra vez em pedras
para o apedrejar.
32 Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por
qual destas obras me apedrejais?
33 Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te
apedrejamos por alguma obra boa, mas pela
blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes
Deus a ti mesmo.
34 Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na
vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
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35 Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem
a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não
pode ser anulada),
36 Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao
mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou
Filho de Deus?
37 Se não faço as obras de meu Pai, não me
acrediteis.
38 Mas, se as faço, e não credes em mim, crede
nas obras; para que conheçais e acrediteis que o
Pai está em mim e eu nele.
39 Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas
ele lhes escapou das mãos.
40 E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali
ficou.
41 Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto
disse deste homem era verdadeiro.
42 E muitos ali creram nele.”
Como os fariseus haviam protestado contra
Jesus por lhes ter dito que continuavam
condenados em seus pecados, por não
reconhecerem que eram cegos espiritualmente, e que estavam cheios de um
orgulho religioso que lhes impedia de
enxergarem a verdade de Deus, o Senhor
prosseguiu seu discurso para esclarecer o motivo porque eles não Lhe davam ouvidos,
obediência e adoração, como o cego que Ele
havia curado, que apesar de ser cego e viver na
150
mendicância havia reconhecido que Ele era o
Messias, enquanto os fariseus, como todo o
conhecimento que tinham da letra das
Escrituras não conseguiam enxergar que Jesus veio a este mundo da parte de Deus, para dar
cumprimento ás Escrituras que eles tanto
examinavam, e apesar disto nunca podiam encontrar a Deus.
Por que eles não podiam encontrar a Deus,
apesar de todo o exame que eles faziam da sua
Palavra escrita revelada?
Jesus explicou a razão ao falar da metáfora do
aprisco e das ovelhas no início deste capítulo décimo.
A razão de não poderem ter um verdadeiro
conhecimento de Deus era devida ao fato de não
serem do rol dos seus eleitos.
Eles não faziam parte do rebanho do Senhor, e assim por mais que eles estudassem as
Escrituras jamais poderiam chegar ao
conhecimento da verdade conforme ela está em
Deus, por um conhecimento experiencial e real em espírito, pela revelação do Espírito Santo a
eles.
Não somente eles estavam impossibilitados de
terem conhecimento da verdade, e deste modo
jamais viriam a conhecer a Cristo, como também se tornariam falsos pastores e mestres
que jamais poderiam ser ouvidos pelo
verdadeiro rebanho do Senhor.
151
Assim, como era de se esperar, estas palavras de
Jesus precipitaram uma nova divisão entre os
judeus (v. 19).
Muitos disseram que Jesus estava possuído de demônios e fora de si, e que não era digno de ser
ouvido.
Outros mais sensatos diziam que aquelas
palavras não podiam ser a de um endemoninhado, porque um demônio jamais
poderia abrir os olhos aos cegos, conforme Jesus
havia feito com aquele cego de nascença.
No entanto, como vimos antes, e conforme o Senhor havia afirmado, nada adianta ter um
parecer a respeito de Jesus, porque o que
importa é o parecer que Jesus tem acerca de nós,
convencendo-nos dos nossos pecados, para que possamos ser salvos e santificados por Ele e pela
sua Palavra.
Não devemos julgar a Palavra de Deus,
conforme os fariseus faziam, mas sermos julgados por ela.
Jesus proferiu estas palavras durante o período
da festa da dedicação, a qual durava oito dias, e
era celebrada anualmente, começando no dia 25
do mês de chisleu (dezembro) para comemorar a purificação do templo, o qual havia sido
profanado por Antíoco Epifânio, no período dos
macabeus.
Quando o Senhor passeava no templo, foi rodeado pelos Judeus no alpendre de Salomão, e
estes queriam que Ele fizesse uma afirmação
clara e direta se era de fato o Messias (Cristo).
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Como eles queriam ouvir uma afirmação clara e
direta, o Senhor lhes mostrou que não era por
uma afirmação ou um sinal que poderiam
chegar a ter tal conhecimento, porque isto é possível somente para aqueles que fazem parte
do seu rebanho.
Como Ele havia dito, somente as suas ovelhas
podem ouvir a sua voz. Sem conversão é
impossível ouvi-la. Como Ele havia dito a Nicodemos, que se o homem não nascer de novo
do Espírito não pode ver o Reino de Deus.
Assim, se eles não estavam conseguindo crer
nele, apesar de lhes ter dito várias vezes que era
o Messias, e tê-lo comprovado através dos sinais
que fazia, confirmando as profecias do Velho Testamento acerca da sua Pessoa e das coisas
que Ele faria (como por exemplo Is 61.1-3); era
porque não eram suas ovelhas. Se tivessem sido
convertidos a Deus, poderiam ouvi-lo, mas não era este o caso.
Jesus lhes disse claramente que as suas ovelhas, como Ele já lhes havia dito, ouvem a sua voz e
porque Ele as conhece, elas O seguem (v. 27).
Os fariseus não suportaram ouvir esta verdade
porque o endurecimento deles comprovava que
não eram do rebanho de Cristo, e haveriam de
perecer eternamente. Então pegaram em pedras para tentar matá-lO.
Como eles se diziam filhos de Deus, Jesus perguntou-lhes por qual das boas obras que Ele
havia feito da parte de Deus Pai eles o
apedrejariam.
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Eles tentaram se justificar dizendo que não era
por nenhuma obra boa, mas porque havia
blasfemado dizendo que era Deus.
A atitude deles estava confirmando tudo o que
Jesus havia dito sobre eles.
Para se defender da acusação de blasfêmia que
Lhe dirigiram, Jesus usou o argumento da
própria Escritura, e citou o Salmo 82.6:
“Eu disse: Vós sois deuses, e filhos do Altíssimo,
todos vós.”
O verso posterior a este, do Salmo, é o seguinte:
“Todavia, como homens, haveis de morrer e,
como qualquer dos príncipes, haveis de cair.” (v.
7.
Para entendermos o teor destas palavras nós
temos que recorrer a Êx 22.8.
“Aos juízes não maldirás, nem amaldiçoarás ao
governador do teu povo.” (Êx 22.28).
No original hebraico a palavra para juízes é
“Elohim”, isto é, deuses, porque os magistrados
eram considerados no Velho Testamento como
representantes de Deus nos seus juízos sobre o povo de Israel, de maneira que eram designados
na Lei pela palavra Elohim, que é a mesma usada
para descrever a divindade, e que significa
pluralidade de majestades ou magistrados.
Assim, aqueles juízes (Elohim) corruptos de
Israel citados no Salmo 82.6, haveriam de ser julgados por Deus como homens, e eles cairiam
como qualquer outro governante e líder de
Israel.
154
Mas Jesus é Elohim justo e perfeito, e se aos
magistrados de Israel foi usada tal palavra nas
Escrituras para descrevê-los, pela honra que
deveriam dar ao seu cargo, quanto mais Jesus não era digno de usar tal título, porque não
somente tem o pleno direito ao título, como
efetivamente é Deus.
Não havia como eles negarem a divindade de Jesus, porque Ele fazia as mesmas obras de Deus
Pai.
Então ainda que aqueles judeus não fossem
capazes de conhecê-lo da maneira pela qual
convém ser conhecido, que é em espírito e em verdade, pelo menos eles deveriam crer nas
obras que Jesus fazia, de maneira que pudessem
saber e crer que de fato o Pai está nele, e Ele no
Pai.
No entanto, não lhe eram ouvidos e tentaram prendê-lo, mas Jesus escapou mais uma vez das
suas mãos.
Como a perseguição havia se tornado muito
intensa Ele deixou Jerusalém e retornou para o outro lado do Jordão onde havia começado o seu
ministério, quando foi batizado por João, tendo
permanecido por algum tempo naquele lugar.
Mas muitos dos que haviam ouvido suas
palavras foram ter com Ele e diziam que o testemunho de João acerca de Jesus era
verdadeiro, ainda que João mesmo não tivesse
feito nenhum sinal.
155
O evangelista encerra este capítulo
simplesmente dizendo que muitos ali creram
nele.
Eles não haviam crido enquanto estavam em Jerusalém, mas haviam crido no deserto.
Enquanto na companhia dos endurecidos
fariseus, e no meio da oposição e perseguição
que eles fizeram a Jesus eles não puderam expressar a fé deles nele.
Mas ali no silêncio do deserto eles puderam
entender o caráter da sua missão e creram nele.
Ainda hoje, não é possível achar Jesus no meio
daqueles que se opõem abertamente a Ele.
É preciso sair do meio deles e buscá-lo com aqueles que adoram a Deus com um coração
sincero e puro.
Não acharemos Jesus na taberna, mas onde Ele
seja honrado e adorado.
156