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Edgar Nogueira Lima De almas postas

Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

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Edgar Nogueira Lima

De almas postas

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Ensaio de mim

Entre erros e acertos

O que fica, é o que é

O que foi, tornar-se-á

Eu.

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Café.......................................12

Vinho.................................... 25

Champagne........................... 38

Chocolate Quente................. 45

Água tônica.......................... 54

Água de coco......................... 63

Ice Tea................................. 66

Refrigerante......................... 71

Sucos.................................... 76

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III

presentação

Aceita uma bebida?

É com imenso prazer que estas palavras chegam ao seu olhar. Anseio também que

cheguem ao seu coração. Ofereço-lhe bebida, pois as páginas deste livro não têm pressa de

serem lidas. Elas são como o café, o chá, ou a bebida que mais lhe for do agrado. Carecem

de ser degustadas.

Encanta-me o hábito dos apreciadores de vinho, que apreciam o aroma da bebida

antes de degustá-la. Convido-lhe a fazer igual. Eu mesmo o fiz durante o processo de

escrita. Deixei que as palavras me alcançassem todos os sentidos, ao seu tempo, para

então, registrá-las no papel.

A proposta deste livro é compartilhar um pouco da minha vida em pequenas doses.

A vida durante o ano de dois mil e doze. Não foi a intenção inicial, mas, ao pedido de

alguns que dizem ter interesse no que escrevo – fato que precisei me acostumar, pois nem

eu cria no interessante de mim mesmo – resolvi colher e registrar aqui.

Fui colhendo pequenos escritos e colecionando, fui compartilhando com uns e

outros e verificando os efeitos que poderiam causar na vida dos que liam. Eu mesmo os

reli em algumas ocasiões e experimentei dos efeitos que podem causar.

Motivado por tudo isto, resolvi colecioná-los e dá-los de presente. Utilizei-me de

papel para tal, um modo mais convencional de compartilhar minha alma - algo nada

convencional.

O título explicita a realidade de pôr à mesa a própria alma. Quando sentamos à

mesa, sempre há mais do que comida e bebida sobre ela. Há vidas dos que se dispõem a

dividir o tempo, o olhar, a companhia. Estar de almas postas é um compromisso que

assumo ao produzir este livro. Me ponho e exponho, na expectativa de que ponhas tua

alma nas palavras que vais encontrar.

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IV

Espero, portanto, que ao lê-las você perceba que há um contexto por trás de cada

palavra. No entanto, não gaste tempo me procurando nelas. Busque-se! A delícia da

poesia é despertar em você efeitos diferentes do que produziu em mim. Meu paladar é

diferente do seu, e as bebidas que experimentamos trazem conotações diferentes, embora

sejam as mesmas. Lance mão do lúdico, do simbólico. Eles dão mais cores às cenas aqui

escritas.

Por fim, agradeço-lhe a companhia. Sempre que tomar este livro em mãos, sinta-se

sentando à mesa, com um lindo pôr do sol à sua frente, uma bebida agradável e uma

companhia salutar. Eu e você comungaremos sempre, em qualquer lugar em que este livro

venha a ser degustado.

Boa leitura!

Edgar Nogueira Lima

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V

refácio

Quando convidada para redigir este prefácio tive a impressão de que nenhuma

palavra que escrevesse nestas páginas estaria à altura da grandiosidade da obra. Abrir as

cortinas dos registros que seguem, demanda uma responsabilidade que, a princípio,

provocou-me vários receios. Contudo, entre dúvidas e desconcertos, escolhi amparar-me

nas certezas que confirmaram minha presença e nas verdades de uma história que também

é a minha história. A honra em compartilhar da construção desse livro não se reduz a assinar meu

nome após um pequeno texto. O privilégio habita, sim, na gratidão por ter compartilhado

da vida que produziu os versos contidos aqui, por ter contemplado a experiência em seu

ato e degustado cada capítulo ainda quando os sabores não estavam definidos. Em ter

admirado a junção das palavras enquanto ainda eram letras dispersas de um mundo não

tão consciente, por vê-las sendo traduzidas em vida, que geram mais vida quando

divididas com outras vidas.

Se me fosse dada a tarefa de adjetivar o autor, sem dúvidas usaria tantas páginas

quanto as que o livro possui. Entretanto, tal necessidade se dissolve, uma vez que ele

mesmo, o autor, o fez, dando-se em retalhos para aqueles que puderem saborear da sua

experiência ao traduzi-la em poesia. Devo advertir que encontrá-lo, muitas vezes, será

sinônimo de encontrar a si mesmo, deparar-se com a própria imagem refletida nas páginas

enquanto vê sua história sendo contada nos versos. Aos que duvidam, sugiro não perder a

oportunidade de experimentar.

Lanço o convite para adentrarem este espaço. Sinto-me como que na portaria,

desejando boas vindas. O formato Sumário - Menu foi escolhido porque o conteúdo deste

livro não foi preparado apenas para ser lido, mas para ser saboreado. Recebê-lo apenas

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VI

com o olhar, portanto, limitaria o deleite completo das bebidas oferecidas. Aconselho,

inclusive, quem em algumas ocasiões os olhos se fechem, para que seja possível enxergar

aquilo que só o coração pode ver.

Asseguro que os ingredientes de cada receita, listados no decorrer dos capítulos

foram forjados na vida de quem aprendeu abrir as portas da alma. Alguém que, mesmo

diante de muitas surpresas, riscos ou fragilidades, não teve medo de fazer parte do próprio

mundo, e mais, de transformá-lo. E no processo de se assumir humano, de ser gente e ser

sujeito a outros sujeitos e à realidade onde a vida se desenha, viu se delinear os caminhos

escolhidos, desbravou os caminhos escondidos e descobriu que as estrelas do próprio céu

poderiam iluminar noites alheias.

Deste cardápio, há, na composição das bebidas, um teor elevado de amor, doses

altíssimas de acolhimento e diversas diluições em sinceridade. Para comprazer-se do sabor

contido em cada bebida e desfrutar das substâncias dissolvidas em sua fórmula,

recomendo atenção aos detalhes deste encontro. Reconheça o gosto de cada palavra e

inspire o perfume que a mistura de subjetividades pode originar. E o paladar, que seja o

paladar da fantasia a provar cada sabor, e assim dar energia para que as asas da

imaginação alcem voos mais altos, ou mergulhos mais profundos.

Ao experimentar cada bebida perceberá que cada uma possui aspectos peculiares

aos sentimentos que remetem. Perceba as sensações de frio, aconchego, calor, tonicidade, a

precipitação, o adocicado, a energia e tudo aquilo que sua alma for capaz de absorver.

Faça seu pedido, escolha o que deseja para saciar sua sede, sua expectativa, ou, enfim, seu

coração.

O tradicionalismo do Café exala o aroma forte da bebida que há muito tempo

acompanha essa história. Repleto de percepções e significados, o primeiro capítulo

simboliza sentimentos intensos que são produto dos grãos de vida torrados e moídos.

Naturalmente amargo e forte, a forma de preparo do café e os ingredientes a serem

acrescentados modificam a aparência e o gosto, mas não são capazes de ocultar sua

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VII

essência. Igualmente, as emoções misturadas também foram se ilustrando nas palavras de

encontros vividos no mundo do lado de dentro. Por vezes o café esteve servido no

contraste do leite, outras vezes, apenas adoçado. Em ocasiões mais nobres vestiu-se de

capuchino, embelezado com chantili e canela. Em dias especiais esteve dentro de uma

xícara pequenina, atento ao calor das mãos que seguravam outra xícara na extremidade

oposta da mesa. Por fim, o café se apresenta ao nos apresentar, entre seus efeitos destaca-

se a energia da cafeína, o cheiro que invade a cozinha e a satisfação do paladar.

Ainda mais histórico e tradicional que o café, o Vinho plantou sua história há

muitos e muitos séculos. Embebido de uma linguagem direta, o segundo capítulo fermenta

os pensamentos que traduziram a presença daqu‟Ele que ocupa o lugar de maior destaque,

a figura central do ser Pai: Deus. Degustar dos poemas selecionados pelo vinho é para

quem deseja sentar-se à mesa e partilhar da companhia e do movimento que o Espírito do

Criador promove. O coração do autor transparece o reflexo do Autor da Vida, tingido pelo

vinho nas cores do amor e da misericórdia, sua experiência indica caminhos para

aproximar-se de Deus. Remonta a importância do ser filho, contida na grandeza de ser

Pai.

Bebida de reis e rainhas e símbolo universal da comemoração, o Champagne

oferecido no capítulo três recorda o gosto da amizade. A espuma confere às palavras o

sabor do encontro, uma vez que para abrir uma garrafa de champagne é quase um pré-

requisito a companhia com quem brindar. Todavia, o encontro não se refere unicamente

aquele que acontece entre o eu e o outro, mas, principalmente, aquele vivido pelo eu

consigo mesmo. Ser companhia a si mesmo é um desafio superado na convivência, que

merece ser brindado sempre que a vida permitir.

Tanto quanto uma xícara de Chocolate Quente aquece o corpo em um dia frio, o

quarto capítulo faz o coração recordar dos abraços que o envolveram em calor e amor. As

frases são impulso para o aconchego, a doçura que liga palavra com palavra devolve o

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VIII

gosto da infância, a pureza dos sonhos e a necessidade do sono, de dormir no colo, de ser

acolhido e sentir-se amado.

Reavivando as emoções, o quinto capítulo traz um copo de Água Tônica,

energizando e potencializando o significado do que foi experimentado. O vigor dos

poemas brota nos versos incisivos e atravessa pensamentos outrora estagnados. A leitura

gaseificada pelos paradoxos expostos faz pensar, repensar, rever, desconstruir, reconstruir.

Tonifica o que continua sendo certeza e dissolve o que nunca foi tão certo assim.

Na combinação entre céu e mar surge o capítulo seis. O rapaz da barraquinha

anuncia “Água de Coco! Olha água de coco!”. O sabor doce do mar guardado dentro da

fruta verde com casca resistente é poetizado no movimento. Sede saciada pela agitação

das ondas tanto em dias de tempestade como em momentos de calmaria. O mar nunca

para, está sempre fazendo devoluções para a praia, remontando na areia o que um dia foi

nele lançado e reunindo, ainda, o que as correntes marítimas podem trazer do fundo do

oceano. Tomar dessa água de coco é um convite a não só ver o mar, mas a ser mar. Viver a

incontinência e expandir os territórios dentro de si, recolher o que retorna às suas margens

e acolher o que vem das profundezas da sua intimidade.

Refrescando as formas de agir no mundo, uma mistura saudável preparada a partir

de infusões de vida e possibilidades, o Ice Tea é servido no sétimo capítulo. A versão

moderna do clássico chá vem permitir que novas possibilidades sejam saboreadas, olhar

pelas mesmas janelas e encontrar um horizonte diferente. Bem como o preparo básico do

chá quente e gelado é o mesmo, os versos deste capítulo refletem sobre como as receitas

escolhidas para servir a vida vão diferenciar seu sabor.

Uma das bebidas mais consumidas, o Refrigerante traz a energia e atualidade do

capítulo oito. A coletânea de poemas confere vivacidade aos momentos de amizade

degustados em todo momento da vida. Fonte de energia e sustento, a essência do capítulo

refrigerante é amizade concentrada e manifestada em presença, reciprocidade,

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IX

companheirismo, proximidade, cumplicidade e tudo aquilo que já experimentamos com as

pessoas que um dia dividiram conosco uma latinha de „refri‟.

Encerrando o Menu, os Sucos do capítulo nove são variedade e fidelidade ao que

representam. Das as bebidas servidas, os sucos retratam o coração simples e acessível do

autor. Na simplicidade com que foram preparados, os sucos elevam o grau de nobreza da

obra inteira. A receita encerra o livro conferindo originalidade não apenas a este capítulo,

mas autenticando a singularidade de todos os anteriores.

Abram as portas e descortinem o palco! É com grande honra que vos apresento a

concretização de um sonho que também foi meu, o sabor da poesia que brotou de uma

alma cujo valor é, para mim, inestimável. Que os versos não apenas alcancem o vosso

coração, mas que sejam continuados dentro dele. Escolha sua mesa, chegou a hora de

degustar os sabores da vida emoldurada nas páginas deste livro.

Com muito amor,

Fernanda Giasson

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X

ntrodução

Os fins de tarde sempre me reservam gratas surpresas. De forma bem pontual, uma

desponta em minhas lembranças quando começo essas tímidas linhas: o convite de um

grande Amigo.

Não sei o que defino agora. Se o convite ou o grande Amigo. Nem sei se quero, na

verdade, porém, acho que minh‟alma torna-se feliz em ter a oportunidade de escrever-vos.

Seja para você que me lê agora, seja para o autor do livro ou para a Flor que espera no

alto da colina, o Rei e a Rainha despontarem no horizonte, servida de um bom café e

observando a borboleta que rodopia. Devaneios? Utopia? Não. Vida!

A sensação é essa: Vida! E é dela que vou falar. Folhear esses livros dá ao leitor a

sensação (ou as sensações) de que o frescor da bebida que acalma e por vezes aquece, nos

mostra a condição de estarmos vivos.

Sendo assim, não há como permanecer inerte diante de palavras tão certeiras.

Como um suco que foi adoçado no ponto ou aquele café do lanche da tarde que nos faz

viajar no tempo e lembrar-se de quando crianças, éramos presenteados com o bucolismo e,

porque não dizer, o romantismo daquele cafezinho diário. Realidades.

Seria óbvio que o nome do livro fosse alinhado ao seu conteúdo e vice-versa. Mas o

autor prefere escrever do incrível. De detalhes que só as almas mais apuradas (leia-se:

lapidadas), podem perceber e encantar-se diante de tanta riqueza literária expressa nessa

obra.

Adianto-me até em dizer que esta obra requer de corações necessitados. Precisados

do incrível. O cansaço é, senão, reflexo do óbvio nos dias atuais. Permita-se! Prove! Verta

tantos quantos cálices forem necessários. Só assim a lapidação da alma será melhor

vivida. E vivida, tu te tornas reflexo do incrível.

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XI

Sugiro que antes, durante depois, o leitor possa buscar um verdadeiro abraço após

as leituras que se seguem. É como a colherzinha que apura o sabor da bebida. Faz toda a

diferença. Um abraço que devolva, que aqueça, que restitua e faça, acima de tudo,

resignificar os retalhos que precisam ser banhados, para que a alma daqueles que viverem

esta experiência das mais delicadas, possam ser novas vestes, odres novos. Abraços.

Devoluções. Sabores. Renovações.

Boa leitura! Que, assim como eu pude experimentar da fonte desse amor, você

possa buscar em meio ás palavras, seu melhor. Dessa forma, seremos incríveis. Não mais

óbvios...

João Henrique Viana

(Alguém que foi devolvido)

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Servido

com

Café

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Alguém me disse que olhar-se no espelho da alma é

muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é

coisa simples.

Olhando-a, só pude dizer-lhe:

- Me diga isto após acender a luz!

Preciso fazer as pazes com o tempo.

Expor o outro para esconder-se é como atirar para

cima e esquecer que a bala vai ter que descer.

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14

Há quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar

meu jeito de vê-lo.

Renunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma

é ato de coragem que dá bons frutos.

O Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor.

Cuide-se, pois quem se traveste também manipula

e sabe controlar.

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15

A gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em

trajes de festa.

Aprendo com as ausências a valorizar as presenças.

Ambas me são necessárias.

Hoje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações

amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda

estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver.

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16

Quanto mais me aproximo de mim, mais sinto um

perfume parecido com o de Deus.

Quando seus fantasmas aparecerem, chame-os para

conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café.

Mostre que não precisam ser inimigos.

Sentei à mesa com Deus.

Conversei com Ele muito tempo.

O café foi nossa ampulheta.

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17

Hoje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um

feliz perdedor!

Então, eu e D. Saudade nos encontramos para mais

um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver

o que trazemos um para o outro.

Talvez eu ainda me ache muito são para ser poeta.

Alma muito consertada não produz efeitos de um

concerto.

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18

E a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo

comentando:

- Estou vendo que amaram por aqui...

Existe conservante para palavras que deveriam ter

sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor

por ficarem guardadas na espera de ocasião.

Desculpe as folhas secas. São sinais do descuido,

porta aberta e janelas escancaradas.

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19

Um jardim bem cuidado não comporta lixo de

vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz

igual, mas te preserva.

Escolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala

baixo, mas é dura no que diz.

A simplicidade arcaica deste coração que ama de um

modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo

e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo.

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20

Aos poucos vou me olhando e lembrando: já passei por

aqui!

Invisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de

investir para "consertar” os outros. Acredito que dá

mais frutos.

O processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas

energias para começar uma nova jornada.

Poder ser muitos para manter-me um só.

Page 22: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

21

Chega uma hora em que dar o braço a torcer é a

estratégia mais inteligente. Principalmente quando o

oponente é Deus.

Sra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na

fila da serenidade, por favor?

A saudade é o amor em modo turbo.

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22

Não me prenda, voarei sempre que for preciso.

Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que

necessário.

Quando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes

decidindo o que irão dizer.

Ler novos textos é fácil. A dificuldade está em ver

novos contextos em textos já lidos.

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23

Criei coragem, encarei a saudade.

Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me

refletissem.

Dei-lhe minhas mãos, frias de receios.

Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear.

Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio

quarto.

Page 25: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

24

AmanheSendo,

EntardeSendo,

AnoiteSendo.

Não há preferência, desde que eu permaneça sendo.

Ser em qualquer hora.

O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua ação.

A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre.

EntarDescendo, por vezes é minha condição.

Nestas horas, preciso respeitar o movimento.

EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo.

Se não desço, como experimento o subir?

E se estou a descer, decerto já subi, ora essa!

E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada passo.

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Servido

com

Café

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Alguém me disse que olhar-se no espelho da alma é

muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é

coisa simples.

Olhando-a, só pude dizer-lhe:

- Me diga isto após acender a luz!

Preciso fazer as pazes com o tempo.

Expor o outro para esconder-se é como atirar para

cima e esquecer que a bala vai ter que descer.

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Há quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar

meu jeito de vê-lo.

Renunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma

é ato de coragem que dá bons frutos.

O Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor.

Cuide-se, pois quem se traveste também manipula

e sabe controlar.

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A gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em

trajes de festa.

Aprendo com as ausências a valorizar as presenças.

Ambas me são necessárias.

Hoje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações

amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda

estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver.

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Quanto mais me aproximo de mim, mais sinto um

perfume parecido com o de Deus.

Quando seus fantasmas aparecerem, chame-os para

conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café.

Mostre que não precisam ser inimigos.

Sentei à mesa com Deus.

Conversei com Ele muito tempo.

O café foi nossa ampulheta.

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Hoje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um

feliz perdedor!

Então, eu e D. Saudade nos encontramos para mais

um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver

o que trazemos um para o outro.

Talvez eu ainda me ache muito são para ser poeta.

Alma muito consertada não produz efeitos de um

concerto.

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E a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo

comentando:

- Estou vendo que amaram por aqui...

Existe conservante para palavras que deveriam ter

sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor

por ficarem guardadas na espera de ocasião.

Desculpe as folhas secas. São sinais do descuido,

porta aberta e janelas escancaradas.

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Um jardim bem cuidado não comporta lixo de

vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz

igual, mas te preserva.

Escolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala

baixo, mas é dura no que diz.

A simplicidade arcaica deste coração que ama de um

modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo

e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo.

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Aos poucos vou me olhando e lembrando: já passei por

aqui!

Invisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de

investir para "consertar” os outros. Acredito que dá

mais frutos.

O processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas

energias para começar uma nova jornada.

Poder ser muitos para manter-me um só.

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Chega uma hora em que dar o braço a torcer é a

estratégia mais inteligente. Principalmente quando o

oponente é Deus.

Sra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na

fila da serenidade, por favor?

A saudade é o amor em modo turbo.

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Não me prenda, voarei sempre que for preciso.

Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que

necessário.

Quando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes

decidindo o que irão dizer.

Ler novos textos é fácil. A dificuldade está em ver

novos contextos em textos já lidos.

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Criei coragem, encarei a saudade.

Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me

refletissem.

Dei-lhe minhas mãos, frias de receios.

Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear.

Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio

quarto.

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AmanheSendo,

EntardeSendo,

AnoiteSendo.

Não há preferência, desde que eu permaneça sendo.

Ser em qualquer hora.

O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua ação.

A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre.

EntarDescendo, por vezes é minha condição.

Nestas horas, preciso respeitar o movimento.

EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo.

Se não desço, como experimento o subir?

E se estou a descer, decerto já subi, ora essa!

E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada passo.

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Servido

com

Vinho

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Me contento em ser humano.

Ser Divino, deixo para o Ressuscitado ser em mim.

Coração do homem é terra que ninguém anda, mas onde

Deus mora.

Nos braços da Mãe descubro como ser pai. E sendo

filho sou mais pai, e sendo pai agrado o Filho.

Sorrindo o Filho, sorri a Mãe que me faz filho.

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E quando encontro uma muralha que limita, nela

encontro um bilhete escrito à mão:

“Te espero do outro lado! Te amando, Pai.”

Coração machucado, antes de deixar de amar, para de se

deixar amar. Eis um problema.

Quem vive buscando o nome "Deus" em todas as coisas,

já pode ter caminhado ao Seu lado, sentado com

Ele no ônibus, puxado Sua orelha e não percebeu.

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Não basta Jesus abrir as portas da Misericórdia

nesta hora. Quero comungá-lo. E ser

comungado.

Hoje adorei a Deus em um homem de meia idade.

Saí de casa para visitar uma comunidade de vida.

Voltei sendo visitado pelo Autor da vida.

Encontro desconcertante.

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Quando minha alma adora a Deus na vida de um

semelhante e se dobra diante de Sua grandeza.

Quando o frio de Curitiba não é nada diante do calor

afetivo que me embala.

Quando penso nisso tudo, sinto minha alma se inclinar

diante de Deus. Como quem se dobra diante do

imprevisível, perante o Todo Possível.

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Quando o meu melhor e meu pior sentam na mesma

mesa, preciso decidir quem vai servir a refeição.

Quando o Cristo entra pela porta entreaberta e abre os

ferrolhos enferrujados com a facilidade de ser uma

casa nova. Sendo que esta é velha.

A eternidade me assustaria se eu não a percebesse na

deliciosa dinâmica do cotidiano.

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Ainda que eu procurasse por todo o mundo, nunca

encontraria um amor igual ao Teu, Senhor.

A Saudade sentada à minha mesa... Encaro-a de

longe, não sei ainda como saudá-la. Vou aprender.

Neste mês eu e a saudade nos baqueteamos várias

vezes. Eu, servi-lhe à mesa. Ela, serviu-me de si

mesma.

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Ás vezes me pergunto se Jesus teria assumido a cruz

se não tivesse, antes, chorado por Lázaro.

O mais belo de ver as confirmações de Deus na vocação

é saber que Ele não me cobra nada, mas eleva-me em gratidão!

Salve domingo! Feliz dia em que minha alma é

Comungada por Aquele que se faz comunhão!

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33

Como definir o dia de hoje?

"Beber da fonte na qual me derramo"...

Acho que é uma boa tentativa!

Permitir ao outro o artifício da dúvida salva minha

alma dos grilhões do falso testemunho.

O Deus que tudo controla me permite nada controlar.

No compasso deste movimento aprendo do

Divino, enquanto experimento do humano.

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34

Me pergunto o que faz alguém achar que caridade

cristã é se submeter a indignidades.

Usemos o Evangelho de Cristo para assumir quem

somos. Ele não pode ser justificativa para nossa

covardia diante das situações da vida.

Amanhã não quero precisar doer de novo uma dor já

doída, por não ter aprendido quando deveria.

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35

Enquanto tempo tiver, viverei.

Amarei.

Até que as últimas badaladas do meu coração sinalizem o fim dos amores.

Quero sentir as dores de amar, enquanto a dor for em mim resquícios de vida.

Quero viver até que o reluzir da visão me diga o que vejo.

E quando nada mais restar, quero amar.

Amar a morte.

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Há momentos em que me canso do que está diante dos

olhos.

Vejo, e o atraente já não me é mais.

Careço da quebra de conceitos.

Careço da contramão.

Careço da falta de cerimônia.

O comum já me é desinteressante.

Careço do avesso.

Careço do que transforma água em vinho, desfazendo seus

próprios preceitos.

Careço do que vem pedir que os ricos enriqueçam os pobres.

Careço do que vem sugerir aos doentes que se façam sãos.

Careço do que muda de caminho. Que escolhe o pior lugar para

passar.

Careço do contrário.

Careço do desarme.

Page 51: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

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Careço do desajeito.

Careço do desconcerto.

Careço do rei pobre.

Careço do Deus homem.

Careço do santo gente.

Careço do sério riso.

Careço da tradição nova.

Careço de mim de novo.

Do passado presente.

Do futuro ausente.

Do choro sorrindo.

Do riso chorado.

Careço de mim, ido e voltado.

Sendo e não sendo.

Feito e desfeito.

Perdido e achado.

Careço de Cristo, o Deus imolado

De amor ofertado aos seus libertados.

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Servido

com

Champagne

Page 53: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

39

A caminho do trabalho mantive o vidro da janela do

carro aberto para que a chuva molhasse minha pele.

Autorizei à chuva molhar-me o corpo, como outrora

autorizei a lágrima a banhar-me a alma.

A chuva vem do céu lá de cima.

A lágrima veio do céu aqui de dentro.

Porque há momentos em que o mundo poderia mudar.

Mas há outros tempos em que bastaria que eu

mudasse.

Quando um coração encontra eco em um espaço que

reflete o seu, aí tem Deus tomando conta.

Page 54: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

40

Há seres humanos que me ensinam muito. Fazem-me

valorizar as pessoas que já tenho ao meu lado.

E quando tudo o que me sobrar forem as cinzas,

que me reste a ousadia de jogá-las ao vento para me

encantar com a leveza de seu movimento.

Os encontros e os desencontros me fazem pensar: este

meu coração deve ser algo parecido com rodoviária,

porto ou aeroporto. Será?!

Page 55: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

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Os sonhos me fazem ver o que os olhos não conseguem

mais.

Caminhando pelas calçadas de mim mesmo, deparei-me

com meu coração. Fiz questão de anotar novamente

seu endereço e telefone.

Algumas pessoas passam pela minha vida e despertam

em mim o medo da morte. Medo que estas

pessoas morram e eu não consiga aprender delas o que

têm para me ensinar.

Page 56: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

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Estar só significa dar a mim mesmo a oportunidade

de estar comigo. E como isso é raro!

O que fiz com as ripas que arrancaram de minhas

paredes? Balanços e gangorras!

Impressionante como a poesia alcança a alma humana.

É uma forma de ver-se contemplada na escrita

de outra alma que, enferma como estava, soube colher suas

lágrimas e regar os jardins ressequidos.

Page 57: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

43

Preciso da poesia de outros "loucos" para me reconhecer

um tanto menos "são".

Quando careço de definições, busco nos rastros que

deixei. Dizem mais de mim do que eu mesmo sei falar.

Há momentos em que as companhias em minha mesa

precisam ser meus próprios afetos. Olho-os se alimentando,

espero suas opiniões.

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É bom olhar a parede da memória e notar que nela

penduram-se vários quadros com fotografias.

A cada um dou um nome, de cada um tenho fome.

Vou construindo um castelo à prova de invasões e

ciladas, as minhas próprias.

O caminho para a construção?

Pessoalmente visitar cada esgoto e verificar cada

rachadura.

Se um amigo é metade da alma...

Já nem sei em quantas metades estou dividido!

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Servido

com

Chocolate

Quente

Page 60: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

46

Ansioso pra dormir!

Se quero descansar?

Não apenas.

Minha ânsia é ver os recados ilustrados que o

inconsciente tem pra me dar, diante dos acessos

conscientes que lhe dei. Uma comunicação que dá certo

quando não se tem medo do que pode encontrar.

Enquanto olhava as estrelas...

- É a coisa mais linda que Deus fez, depois do ser

humano.

- Ele escolheu bem onde se esconder.

- Onde se mostrar.

- Se mostrar, de um modo que se escondesse.

Page 61: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

47

A saudade em meu coração é como alguém que

chegou cedo na escola e reservou sua carteira com os

livros.

O ruim de contrair novas amizades é que isto implica

desconstruir afetos já estáticos. O pior ainda é que

este processo não é indolor. Porém, o melhor de tudo

é que as novas tornam-se antigas e eternas.

Quem quer manter o lugar na mesa dos corações

amigos, precisa cuidar de sentar-se vez ou outra.

Page 62: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

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Por vezes sou pontuado quando esperava vírgula.

Coloco vírgula e ganho um ponto sobre ela.

Minhas reticências são transformadas em outro

parágrafo.

Interrogações ganham exclamações. Meus dois pontos sempre

ganham um travessão.

Nesta produção, sou rascunho e tenho um Autor a me orientar.

Seu cuidado e sabedoria me fazem constranger.

Não poucas vezes tenho quebrado pontas com minha

intolerância.

Escrever é ato demorado.

Minha pressa estraga a obra.

Com gratidão, descubro que não estou sozinho.

Page 63: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

49

Um abraço sincero – carregado de carinho – pode unir

de tal modo duas almas, que mesmo durante

muito tempo a experiência as alimentará deste afeto.

Olá Sra Lua! É um prazer ver-te sorridente para o

mundo. Ensina-o que, mesmo na

escuridão, é possível sorrir.

Grato, um aprendiz!

Lindo olhar a lua sorrindo pra mim.

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50

Nada para dizer.

Deixar que a ausência de palavras seja diálogo.

Dos mais abertos e sinceros.

Quando o olhar grita o que a alma diz, mas a palavra

não sabe definir, que um outro olhar exista para

conter e devolver. E cresçamos!

Presenteado pela visão de uma estrela cadente.

Alcançado pelo desejo de um coração ascendente.

Page 65: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

51

Olho para trás e vejo pegadas. Começaram pequeninas,

meio inseguras pisoteavam um espaço que

parecia não ser seu.

Noto que foram crescendo, parecem ter adquirido firmeza, já

percebo que pisam.

Há pegadas variadas em seu entorno, não vejo que caminha

só.

Vislumbro com alegria as pegadas que há pouco deixei.

São um par, passos de alma e corpo, são proporcionais à

sombra que as antecede, demonstram segurança, não apenas

pisam, mas sustentam.

Foi em um ano.

Olho para frente e digo: não há pegadas ainda, é preciso

continuar.

Page 66: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

52

Contrair uma nova amizade é permitir que se forje em

mim uma nova janela. Através dela posso

contemplar outro horizonte.

Me vou indo para o remanso dos meus sonhos. Nele,

talvez encontre repouso. Ou encontre

recados.

Sonho dormindo e sonho acordado. Os dormindo sempre

me parecem mais reais. Os acordados,

vou realizando enquanto vivo.

Page 67: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

53

Adoro ser surpreendido pelo Deus que se deixa adorar

na simplicidade de um coração sincero.

Os barulhos de dentro da casa, só consigo ouvir quando

para a chuva e acalma o vento fora.

Deixei anoitecer em mim...

E, na santa missa, cedi, perdi, desci, caí...

Olhei nos olhos do Vencedor e me rendi.

Page 68: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

Servido

com

Água

Tônica

Page 69: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

55

Há canções que falam mais de quem canta do que os

jornais! São gritos de socorro cantados. Talvez ninguém os

tenha ouvido.

É preciso temer que a exposição da comunicação

afaste do escondimento da oração.

Você não sabe o que fazer para agradar?

Ser você mesmo deveria ser o suficiente.

Não acha?

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A sociedade agradece por você ser você mesmo.

A inspiração é como um canto de bem-te-vi.

Nem sempre sei de onde vem, entendo o que me diz, mas logo

vai-se embora.

Por isso escrevo!

Já experimentou pesar suas palavras? Elas podem

estar pesando mais do que você possa aguentar. Por isso,

pense!

Page 71: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

57

Quem vive de olhar atravessado corre o risco de ser

atropelado.

Uma verdade certa dita de um jeito errado é como

sementes para solo fértil, lançada em terras secas. Brotará?

Vale lembrar que um olhar apressado costuma dar

vertigem.

Page 72: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

58

Não sei em qual bíblia a palavra "honrar" pode ser

traduzida como "aguentar desaforo, desrespeito ou arrogância".

Só sei que na minha não está!

Por que as pessoas apelam para clichês? O não dizer

seria muito mais autêntico.

Reconheço que estou no limite quando preciso de duas

doses de boa vontade para manter a mesma medida de bom

humor.

Page 73: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

59

Às vezes fujo da escrita... Como se esta fosse me

desvelar.

Uma boa dose de saudade, me parece, cura rancor e

desfaz mágoas.

Felizes os que tomam deste santo remédio.

Me descubro muito nos olhares que me rodeiam. E

muitos deles, infelizmente, se perdem.

Page 74: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

60

Às vezes chego a acreditar que a maturidade é

inversamente proporcional a idade.

Não sei se perdi a chave que abria ou se a fechadura

é que estava enferrujada.

O grito lançado sobre o homem só ecoa se encontrar

vazio. A alma cheia de Deus não ecoa um grito dado sem

respeito.

Page 75: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

61

Controlar o opinião do outro tem sido um desafio? E

controlar sua própria opinião, como tem sido?

O silêncio custa caro. Só aceita moedas da alma.

Se os gritos das culpas te ensurdecem, o toque da

misericórdia os emudece.

Page 76: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

62

O que mais vale?

Uma facilidade acomodada, ou uma dificuldade passível de

superações?

Os limites me dizem que ainda preciso pra ser um pouco

mais... Eu.

A sinceridade é como uma faquinha de cozinha. É

preciso discernimento pra não sair cortando os pulsos. Aos

"super sinceros" de plantão!

Page 77: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

Servido

com

Água

de coco

Page 78: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

64

Eu me atualizo a cada dia.

Reaprendo novas formas de ser eu mesmo.

Como o mar renova seu sal, o céu renova o meu eu.

Olha alma, façamos um trato: sossegue teus ânimos,

pois, na calmaria das ondas se vê melhor o fundo do mar!

Às vezes sinto falta de escrever do mesmo modo que

sinto sede da água.

Às vezes faço coisas sem pensar. Noutras vezes penso

coisas que não faço. Outrora, porém, penso e faço. E assim vou

vivendo.

Page 79: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

65

Ás vezes até tento ser diferente de mim mesmo, não

sei... Não consigo mais.

Cedo à brilhante ideia de ser quem eu realmente sou, e ao final,

estou em paz!

Gastar tempo mudando o Mundo? Ganho tempo

mudando meu mundo! O meu mundo muda o Mundo! Faça-se!

Chorarei o quanto for preciso, pois, quando o sol chegar,

precisarei das lágrimas para compor o arco-íris.

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Servido

com

Ice Tea

Page 81: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

67

Olhei para mesma janela de sempre e, de repente,

percebi o verde mais verde.

Tem coisas que não sei dizer. Só sei sentir.

Há espaços em mim que já deixei de habitá-los faz

tempo.

Preciso retomar o que outrora abandonei.

Preparar o exército para a guerra e reaver os territórios que

hoje parecem hostis.

Page 82: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

68

Quando a gente pensa no que dizer e só pensa em: (...).

Há seres humanos que nos autenticam, há os que nos

falsificam.

Com os quais tens se encontrado?

E qual tens sido?

Perguntaram que sou eu: uma alma em gerúndio -

respondi sem medo.

Page 83: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

69

O que me incomoda no homem é o que locomove em

mim.

Nem sempre o que escrevo fala de mim, pode falar de

você, enquanto você me procura.

Por ser quem sou pago o preço de alguns descontentes,

enquanto muitos contentes.

Page 84: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

70

No compasso de ser humano, nas carências me faço

inteiro.

Cadeira que fica muito tempo vazia na mesa, acaba se

tornando porta papel. E se demorar muito, pode acabar saindo

da mesa e indo tornar-se cômoda em algum outro lugar.

Page 85: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

Servido

com

Refrigerante

Page 86: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

72

Recorte da conversa das minhas vizinhas de ônibus:

“Os jovens hoje são mais autênticos. Não ficam engolindo e se

escondendo. Eles são mais verdadeiros."

Enquanto não consigo "palavrear" o que sinto, vou

sentindo o que outrora "palavreei".

Reciprocidade... Salvaria muitos corações da solidão.

Page 87: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

73

Tenho descoberto nestes dias

Que Deus me deu uma chave para abrir-me

Sabendo da minha displicência

Que facilmente eu a perderia

Ele cuidou de distribuir mais algumas cópias

Aos possuidores destas cópias

Ele resolveu nomear: amigos

Sabendo do quanto eu os desvalorizaria

Na correria do dia-a-dia

Cuidou também de mantê-los em segredo

Na esperteza de seu cuidado

Me deixou na responsabilidade da busca

Quando perco a chave que me abre

Sei que alguém virá e me fará

Entrar no espaço do qual tenho fugido

Com a mesma maestria que eu o faria

Só que agora, entro em companhia.

Page 88: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

74

Coração não sabe o que sente, e o que sente não sabe o

que diz pra gente.

Dividir, na matemática, é fragmentar. Mas para a

alma é libertar.

A cada dia vou descobrindo um jeito de estar "junto"

sem estar perto.

Qual mergulhador encontra pérolas e as devolve para a

ostra? Meus amigos fazem isso!

Page 89: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

75

Pago caro por comidas que me saciam a fome, mas o

que encontro são olhares que me saciam a alma. Estes, não têm

preço.

Não posso escolher entre ser ferido ou não. Mas

preciso ter gana pra escolher não ferir.

E por deixar um pouco de mim em cada amigo,

preciso cuidar de mantê-los perto. Amizade exige empenho.

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Servido

com

Sucos

Page 91: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

77

Almoçar sozinho me faz valorizar o prazer de um

olhar se alimentando, e me alimentando.

Imagine comigo uma criança levando uma bandeja

para a mesa, tentando ajudar os pais.

Desastrada, ela vai andando e derrubando um pouco do que

carrega. Sorrindo, o pai vem atrás juntando o que caiu e,

sorrindo, diz:

- Parabéns! Foi ótimo! Me ajuda com o resto?

Vejo-me assim com Deus!

Quando aprendi a conviver comigo mesmo, descobri que

a solidão é só um medo.

Page 92: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

78

No meio de

uma situação bonita me pediram: - Escreve sobre isso!

Respondi no impulso:

- Deixa que me fecunde primeiro.

Acabei de receber um abraço de Deus em uma criança

de 8 anos. E O adorei neste abraço que ainda não teve fim, não

em mim.

Um dia me disseram para não dar asas à imaginação.

Sabe o que faço hoje?

Além de dar asas, peço a ela que me carregue consigo.

Page 93: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

79

E quando olho pra fora, vejo vida também. Minhas

paredes são altas, meus sonhos também. Sinto frio aqui fora e

aqui dentro também.

O que mais sinto falta na hora das refeições? Um par

de olhos a me alimentar.

Nem sempre encontro a sintonia. Mas não desisto de

girar o coração.

Ainda que chiando, vivo!

Page 94: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

80

Apenas na gramática existe um "passado perfeito".

Há olhares que falam tão claramente. Chegam a

dispensar o artifício da linguagem.

Quando eu não puder enxergar o que há de bom, que eu

cerre meus olhos, e sinta apenas. O melhor há de se mostrar.

Page 95: Livro de poesias_De Almas Postas_Autor_Edgar_Nogueira

LXXXI

osfácio

Fazia já certo tempo que esse movimento me incomodava. Era como um amor que

reclamava ser amado. As palavras que nascem aqui não são de avaliação, mas puramente

de admiração e contemplação de uma alma que sabe ver a si mesma, mas não só, sabe fazer

ver, quase como óculos que corrige o que a visão não alcança ou simplesmente como um

espelho que se deixa usar para refletir. Digo isso porque muitas vezes usei esses óculos

para ver com mais perfeição e outras tantas vezes me vi refletido. Diante do convite de

escrever esse posfácio me senti lisonjeado. É uma honra escrever essas palavras que não

são de forma alguma conclusivas, gostaria que elas fossem inclusivas, que ajudassem a

adentrar mais profundamente nas palavras destas poesias, que a meu ver, são verdadeiras

confissões.

Aqui os óculos e o espelho são a poesia. Por meio da poesia o Autor se mostra, se

apresenta e se confessa. São confissões de uma alma cheia de Deus, mas não de um Deus

transcendente, totalmente Outro, mas de um Deus presente, que verdadeiramente

podemos chamar de Emanuel, pois “está conosco”. São confissões de uma alma que sente

essa Presença em cada momento presente, no que faz, no que pensa, no que sonha, nas

relações que estabelece, nas expectativas, nos sentimentos, enfim, um Deus se revela com

tanta misericórdia que é capaz de acompanhar e guiar para que como o próprio Autor se

expressa na epígrafe, este “ensaio de mim, entre erros e acertos, o que fica é o que é, o que

foi tornar-se-á EU” vá sendo construído, corrigido, diagramado, publicado para ser

apresentado, mas não de qualquer maneira, como uma “obra prima”.

O título de cada capítulo deste livro é incomum, porém está completamente

possuído de um simbolismo tão humano que facilmente pode ser intuído para dar sentido e

significar tantas situações da vida cotidiana. Quem convidaria a “D. Saudade” para

tomar um café? Ou que “alma se sente comungada por Aquele que faz comunhão?” Ou

quem tem a coragem de mirar sua história, “os rastros que deixei” como livro de si? Ou

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LXXXII

quem valoriza a delicadeza de um olhar intenso como possibilidade de entrar no outro e

com igual potencialidade de entrar em si mesmo? Só uma alma contemplativa que sabe

não estar sozinha neste mundo pode confessar-se assim. As bebidas que titulam cada

capitulo deste livro fazem parte da nossa vida nos momentos cotidianos e extraordinários,

nos dias de frio e de calor, nos dias de festa e de luto, nos dias de solidão e de agradável

companhia. São simbólicas, são sacramentais porque nos transportam e nos elevam,

porque transfiguram de sentido o vivido.

Espero que a leitura deste livro tenha provocado movimentos interiores em você

leitor. Creio que é um objetivo fantástico: lê-lo para ler-se e viver a vida em “gerúndio”.

Sinto-me lisonjeado de participar deste livro! Obrigado!

Pe. Paulo H. O. Rocha, F.N.