6
A Origem e a Ideologia do Fascismo Etimologicamente, o uso da palavra fascismo na história política italiana moderna recua aos anos da década de 1890 na forma dos fasci, que eram grupos políticos radicais que proliferaram nas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial . (ver Fascio para mais informação sobre este movimento e sua evolução). O texto Doutrina do Fascismo foi escrito por Giovanni Gentile , um filósofo idealista e que serviu como o seu filósofo oficial. Mussolini assinou o artigo e o o texto foi-lhe atribuído oficialmente. Nele, os franceses Georges Sorel , Charles Peguy , e Hubert Lagardelle foram invocados como as fontes do fascismo. As ideias de Sorel quanto ao sindicalismo e a violência são postas em evidência neste documento. Ele também cita o francês Joseph Renan que ele diz ter "intuições pre-fascistas". Quer Sorel como Peguy foram influenciados pelos franceses Henri Bergson . Bergson rejeitava o cientismo, a evolução mecânica e o materialismo da ideologia Marxista. Bergson falou também de um élan vital como um processo evolucionário. Ambos estes elementos de Bergson aparecem no fascismo. Mussolini afirma que o fascismo nega a doutrina do socialismo científico e Marxista e a doutrina do meterialismo histórico. Hubert Lagardelle, um conhecido escritor sindicalista, foi influenciado por Pierre-Joseph Proudhon , que é a figura inspiradora do anarco-sindicalismo . Há várias influências de tradição em Mussolini. Sergio Panunzio , um grande teórico do fascismo na década de 1920 , tinha um passado sindicalista mas a sua influência diminuiu à medida que o movimento se distanciou das suas raízes esquerdistas. O conceito fascista do corporativismo e particularmente as suas teorias da colaboração de classes e relações económicas e sociais são muito semelhantes às do modelo delineado pelo Papa Leão XIII na sua encíclica de 1892 Rerum Novarum que se debatia com a política tal como ela tinha sido transformada pela Revolução Industrial e outras mudanças na sociedade que ocorreram no século XIX . O documento criticava o capitalismo, queixando-se da exploração das massas na indústria. No entanto, Rerum Novarum criticava severamente o conceito socialista de luta de classes e a sua solução proposta para eliminar a propriedade privada. Propunha que governos fortes tomassem por missão proteger o seu povo da exploração, e pedia aos Católicos para aplicarem princípios da justiça social às suas próprias vidas. Procurando encontrar alguns princípios que substituíssem a doutrina Marxista de luta de classes , Rerum Novarum propunha a solidariedade social entre as classe altas e baixas e endossava o nacionalismo como forma de preservar a moralidade tradicional, costumes, e tradições. Ao fazê-lo, Rerum Novarum propunha uma espécie de corporativismo, a organização de sociedades políticas de acordo como esferas industriais, de forma semelhante às guildas medievais. Uma democracia onde cada pessoa tenha direito a um voto era rejeitada a favor da representação por grupos de interesses. Esta ideia pretendia agir contra a "natureza subversiva" da doutrina de Karl Marx . Os temas e ideias desenvolvidos em Rerum Novarum podem ser também encontrados na ideologia do fascismo tal como ela foi desenvolvida por Mussolini. O fascismo também se baseou em Gabriele D'Annunzio e o seu Constituição de Fiume na sua efémera "regência" da cidade de Fiume . O Sindicalismo teve uma influencia no fascismo, em particular pelo facto de alguns sindicalistas se terem cruzado com as ideias de D'Annunzio. Antes da Primeira Guerra Mundial, o sindicalismo era tido como uma doutrina militante para a revolução da classe trabalhadora. Distinguia-se do Marxismo porque insistia que o melhor caminho para a classe trabalhadora se liberar era o sindicato em vez do partido. Em 1908 , o partido socialista italiano expulsou os sindicalistas. O movimento sindicalista dividiu-se entre o anarco-sindicalismo e outras tendências mais moderadas. Alguns moderados começaram a promover os chamados "sindicatos mistos" de trabalhadores e patrões. Nesta linha de acção, eles absorveram os ensinamentos dos teóricos católicos e expandiram as teorias para que abarcassem o grande poder do Estado, desviando- se das influências de D'Annuzio e aproximando-se de ideais mais nacionalistas.

Reflexões Sobre O Fascismo

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Reflexões Sobre O Fascismo

A Origem e a Ideologia do Fascismo

Etimologicamente, o uso da palavra fascismo na história política italiana moderna recua aos anos da década de 1890 na forma dos fasci, que eram grupos políticos radicais que proliferaram nas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial. (ver Fascio para mais informação sobre este movimento e sua evolução).

O texto Doutrina do Fascismo foi escrito por Giovanni Gentile, um filósofo idealista e que serviu como o seu filósofo oficial. Mussolini assinou o artigo e o o texto foi-lhe atribuído oficialmente. Nele, os franceses Georges Sorel, Charles Peguy, e Hubert Lagardelle foram invocados como as fontes do fascismo. As ideias de Sorel quanto ao sindicalismo e a violência são postas em evidência neste documento. Ele também cita o francês Joseph Renan que ele diz ter "intuições pre-fascistas". Quer Sorel como Peguy foram influenciados pelos franceses Henri Bergson. Bergson rejeitava o cientismo, a evolução mecânica e o materialismo da ideologia Marxista. Bergson falou também de um élan vital como um processo evolucionário. Ambos estes elementos de Bergson aparecem no fascismo. Mussolini afirma que o fascismo nega a doutrina do socialismo científico e Marxista e a doutrina do meterialismo histórico. Hubert Lagardelle, um conhecido escritor sindicalista, foi influenciado por Pierre-Joseph Proudhon, que é a figura inspiradora do anarco-sindicalismo.

Há várias influências de tradição em Mussolini. Sergio Panunzio, um grande teórico do fascismo na década de 1920, tinha um passado sindicalista mas a sua influência diminuiu à medida que o movimento se distanciou das suas raízes esquerdistas. O conceito fascista do corporativismo e particularmente as suas teorias da colaboração de classes e relações económicas e sociais são muito semelhantes às do modelo delineado pelo Papa Leão XIII na sua encíclica de 1892 Rerum Novarum que se debatia com a política tal como ela tinha sido transformada pela Revolução Industrial e outras mudanças na sociedade que ocorreram no século XIX. O documento criticava o capitalismo, queixando-se da exploração das massas na indústria.

No entanto, Rerum Novarum criticava severamente o conceito socialista de luta de classes e a sua solução proposta para eliminar a propriedade privada. Propunha que governos fortes tomassem por missão proteger o seu povo da exploração, e pedia aos Católicos para aplicarem princípios da justiça social às suas próprias vidas.

Procurando encontrar alguns princípios que substituíssem a doutrina Marxista de luta de classes, Rerum Novarum propunha a solidariedade social entre as classe altas e baixas e endossava o nacionalismo como forma de preservar a moralidade tradicional, costumes, e tradições. Ao fazê-lo, Rerum Novarum propunha uma espécie de corporativismo, a organização de sociedades políticas de acordo como esferas industriais, de forma semelhante às guildas medievais. Uma democracia onde cada pessoa tenha direito a um voto era rejeitada a favor da representação por grupos de interesses. Esta ideia pretendia agir contra a "natureza subversiva" da doutrina de Karl Marx.

Os temas e ideias desenvolvidos em Rerum Novarum podem ser também encontrados na ideologia do fascismo tal como ela foi desenvolvida por Mussolini.

O fascismo também se baseou em Gabriele D'Annunzio e o seu Constituição de Fiume na sua efémera "regência" da cidade de Fiume. O Sindicalismo teve uma influencia no fascismo, em particular pelo facto de alguns sindicalistas se terem cruzado com as ideias de D'Annunzio. Antes da Primeira Guerra Mundial, o sindicalismo era tido como uma doutrina militante para a revolução da classe trabalhadora. Distinguia-se do Marxismo porque insistia que o melhor caminho para a classe trabalhadora se liberar era o sindicato em vez do partido. Em 1908, o partido socialista italiano expulsou os sindicalistas. O movimento sindicalista dividiu-se entre o anarco-sindicalismo e outras tendências mais moderadas.

Alguns moderados começaram a promover os chamados "sindicatos mistos" de trabalhadores e patrões. Nesta linha de acção, eles absorveram os ensinamentos dos teóricos católicos e expandiram as teorias para que abarcassem o grande poder do Estado, desviando-se das influências de D'Annuzio e aproximando-se de ideais mais nacionalistas.

Page 2: Reflexões Sobre O Fascismo

Quando foi publicada a tradução italiana do livro Au-delà du marxisme, de Henri de Man, Mussolini estava irrequieto e escreveu que o criticismo de Man havia destruído qualquer elemento "científico" ainda existente no Marxismo. Mussolini apreciava a idéia que a organização corporativa e as novas relações entre proletariado e capital iriam eliminar o "conflito de interesses econômicos" e portanto neutralizar o "germe da luta de classes".

Pensadores socialistas que rejeitaram as idéias convencionais, Robert Michels, Sergio Panunzio, Ottavio Dinale, Agostino Lanzillo, Angelo Oliviero Olivetti, Michele Bianchi, e Edmondo Rossoni promoveram essa tentativa de reconciliar o socialismo ao nacionalismo. .

Fascismo e outros regimes totalitários

Alguns historiadores e teóricos vêem no fascismo e no regime comunista da União Soviética (mais especificamente o Estalinismo) grandes semelhanças, designando-os de "totalitarismo" (uma designação de Hannah Arendt). Outros vêem-nos como incomparáveis. Arendt e outros teóricos do totalitarismo argumentam que há semelhanças entre as nações sob domínio Fascista e Estalinista. Por exemplo, quer Hitler quer Stalin cometeram o assassínio massivo de milhões dos seus concidadãos civis que não se integravam nos seus planos.

De acordo com o doutrinário do libertarianismo Nolan chart, o "fascismo" ocupa um lugar no espectro político como o equivalente capitalista do comunismo, sendo um sistem que apoia a "liberdade económica" mas que é coagido pelos seus controles sociaisde tal forma que se torna totalitário.

Em 1947, o economista austríaco Ludwig von Mises publicou um livro chamado "Caos planeado" (Planned Chaos). Ele afirmava que o fascismo e o Nazismo são ditaduras socialistas e que ambas obedeciam aos princípios soviéticos de ditadura e opressão violenta dos dissidentes. Ele afirmou que a maior heresia de Mussolini à ortodoxia marxista tinha sido o seu forte subscrever da entrada italiana na Primeira Guerra Mundial do lado aliado (Mussolini pretendia "libertar" áreas de língua italiana vivendo sob o controlo austríaco nos Alpes). Esta visão contradiz as declarações do próprio Mussolini (para não mencionar os seus oponentes socialistas) e é geralmente vista com cepticismo por historiadores.

Críticos de von Mises argumentam que ele estava atacando um fantoche; por outras palavras, que ele mudou a definição de socialismo, por forma a acomodar o fascismo e o nazismo a essa definição. O conceito de ditadura do proletariado ao qual Von Mises alude não é o mesmo que o conceito de ditadura empregue pelos fascistas. Ditadura do proletariado é suposto significar, na definição marxista, uma ditadura dominada pelas classes trabalhadoras, em vez de uma ditadura dominada pela classe capitalista. Este conceito foi destorcido por Estaline ao ponto de significar uma ditadura pelo Secreário Geral sobre o partido e as classes trabalhadoras. Neste ponto, Estaline desviou-se de Marx, e como tal não é correto afirmar conduzia uma forma de governo Marxista.

Por outro lado, enquanto o modelo económico fascista baseado no corporativismo promove uam colaboração entre classes numa tentativa de união da mesmas sob o controlo do estado, o modelo marxista promove a eliminação não só das classes como também do próprio estado.

Adicionalmente, o facto de os estados fascistas, por um lado, e a União Soviética e o bloco soviético por outro, serem estados policiais, não significa que sejam produto do socialismo. Apesar de todos os estados de partido único poderem ser considerados estados policiais, não há qualquer relação entre a definição de socialismo e a definição estado policial, nem todos os estados policias são socialistas ou fascistas. Muitos outros regimes de partido único, incluíndo regimes capitalistas, foram também estados policiais. Alguns exemplos são:

2

Page 3: Reflexões Sobre O Fascismo

Fascismo versus socialismo

O Fascismo desenvolveu uma oposição ao socialismo e o comunismo, embora muitos fascistas houvessem sido marxistas no passado. Com relação a isso, em 1923 Mussolini declarou, na Doutrina do Fascismo:

"(...) O Fascismo [é] a completa oposição ao ... socialismo marxista, à concepção materialista da história das civilizações humanas, que explica a evolução humana como simples conflitos de interesses entre vários grupos sociais e pela mudança e desenvolvimento envolvendo os instrumentos e modos de produção...

O Fascismo, agora e sempre, acredita no sagrado e no heroísmo; quer dizer, em acções não influenciadas por motivos económicos, directos ou indirectos. E se a concepção economicista da história for negada, de acordo com a teoria de que os homens são mais do que bonecos, levados ao sabor de ondas de mudança, enquanto as forças controladoras reais estão fora de controle, disso tudo se conclui que a existência de uma luta de classes eterna é também negada — o produto natural da concepção economicista da história. E acima de tudo o Fascismo nega que a luta de classes possa ser a força preponderante na transformação da sociedade.

... A máxima de que a sociedade existe apenas para o bem-estar e para a liberdade daqueles que a compõe não parece estar em conformidade com os planos da natureza... Se o liberalismo clássico acarreta individualismo, o Fascimo acarreta governo forte."

( Benito Mussolini, citação em domínio público extraída de The Internet Modern History Sourcebook. )

Por mais que certos tipos de socialismo possam parecer-se superficialmente ao fascismo, deve ser destacado que as duas ideologias se chocam violentamente em muitos assuntos. O papel do Estado, por exemplo. No Socialismo, considera-se que o Estado é meramente uma "ferramenta do povo", algumas vezes chamado de "mal necessário", que existe para servir aos interesses do povo e proteger o bem comum (e algumas formas de socialismo, como o socialismo libertário, rejeitam completamente o estado). Já o Fascismo crê no Estado como um fim em si mesmo, e digno de obediência e subserviência por parte do povo.

O Fascismo rejeita as doutrinas centrais do Marxismo, que são a luta de classes e a necessidade de substituir o capitalismo por uma sociedade controlada pelo operariado, na qual os trabalhadores sejam proprietários dos meios de produção.

Um governo fascista é geralmente caracterizado como de "extrema direita" e um governo socialista, de "esquerda". Mas teóricos como Hannah Arendt e Friedrich Hayek argumentam que existem diferenças apenas superficiais entre o Fascismo e formas totalitárias de socialismo (veja Stalinismo); uma vez que os governos autoproclamados "socialistas" nem sempre mantiveram seu ideal de servir ao povo e respeitar os princípios democráticos. Muitos socialistas e comunistas rejeitam esses governos totalitários, encarados como uma forma de Fascismo com máscara de socialismo. (Veja espectro político e modelo político para mais detalhes.)

Socialistas e outros críticos (não necessariamente de esquerda) sustentam que não há sobreposição ideológica entre Fascismo e Marxismo; acreditam que ambas as doutrinas são diametralmente opostas. Sendo o Marxismo a base ideológica do comunismo, eles concluem que as comparações feitas por Arendt e outros são inválidas.

3

Page 4: Reflexões Sobre O Fascismo

Mussolini rejeitou completamente o conceito Marxista de luta de classes ou a tese Marxista de que o operariado deveria apropriar-se dos meios de produção. Em 1932 ele escreveu (na Doutrina do Fascismo, por via de Giovanni Gentile):

"Fora do Estado não pode haver nem indivíduos nem grupos (partidos políticos, associações, sindicatos, classes). Então o Fascismo opõe-se ao Socialismo, que confina o fluxo da história à luta de classes e ignora a unidade de classes estabelecida em uma realidade económica e moral do Estado."

( http://www.constitution.org/tyr/mussolini.htm )

A origem esquerdista do líder fascista italiano Mussolini, como um antigo líder da ala mais radical do partido socialista italiano, tem sido frequentemente notada. Após a sua viragem para a direita, Mussolini continuou a empregar muito da retórica do socialismo, substituindo a classe social pela nação como a base da lealdade política.

Também é frequentemente notado que a Itália fascista não nacionalizou quaisquer indústrias ou entidades capitalistas. Em vez disso, ela estabeleceu uma estructura corporativista influenciada pelo modelo de relações de classe avançado pela Igreja Católica. De facto, existe uma grande quantidade de literatura sobre a influência do Catolicismo no fascismo e nas ligações entre o clero e os partidos políticos na Europa antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

Apesar de o fascismo italiano ter proclamado a sua antítese ao socialismo, a história pessoal de Mussolini no movimento socialista teve alguma influência sobre ele. Elementos da prática dos movimentos socialistas que ele reteve foram:

Ä A necessidade de um partido de massas; Ä A importância de obter o apoio entre a classe trabalhadora Ä técnicas de disseminação de ideias tais como o uso de propaganda.

O Manifesto Fascista original continha um determinado número de propostas para reformas que também eram comuns entre os movimentos socialista e democráticos e eram desenhados para apelar à classe trabalhadora. Estas promessas foram geralmente ignoradas uma vez que os fascistas tomaram o poder.

Críticos apontam que os Marxistas e os sindicalistas foram os primeiros alvos e as primeiras vítimas de Mussolini e de Adolf Hitler uma vez que eles chegaram ao poder. Eles também notam o antagonismo que resultou em lutas de rua entre fascistas e socialistas, incluindo:

Ä a Batalha de Cable Street de 1936 em Londres entre Trotskistas e membros do Partido Comunista da Grã-Bretanha contra simpatizantes de Mosely

Ä lutas de rua na Alemanha anteriormente à chegada ao poder de Hitler.

Mussolini também imprisionou Antonio Gramsci desde 1926 até 1934, depois de Gramsci, um líder do Partido Comunista Italiano e uma figura intelectual destacada, tentar criar uma fronte comum entre a esquerda política e os trabalhadores, por forma a resistir e derrotar o fascismo. Outros líderes comunistas italianos tais como Palmiro Togliatti foram para o exílio e lutaram pela república em Espanha.

Uma mais séria manifestação do conflito entre fascismo e socialismo foi a Guerra Civil Espanhola, já mencionada neste artigo.

4

Page 5: Reflexões Sobre O Fascismo

Anti-Comunismo

Fascismo e Comunismo são sistemas políticos que ascenderam à significância após a Primeira Guerra Mundial. Historiadores do período entre a primeira e a segunda guerra mundial tais como E.H. Carr e Eric Hobsbawm afirmaram que o liberalismo estava sob pressão séria neste período e que pareceu na altura uma filosofia condenada. O sucesso da Revolução Russa de 1917 resultou numa onda revolucionária por toda a Europa. O movimento socialista mundial dividiu-se entre as alas social democrata e Leninista.

A subsequente formação da Terceira Internacional levantou sérios debates entre os partidos social-democratas, resultando no separatismo de apoiantes da Revolução Russa para formar partidos comunistas na maioria dos países industrializados (e não industrializados).

Nos finais da Primeira Guerra Mundial, houve tentativas de revoltas ou ameaças de revoltas por toda a Europa, notavelmente na Alemanha, onde a Revolta Spartacista, liderada por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht em Janeiro de 1919, (com poucos apoiantes) foi facilmente esmagada. Na Baviera, comunistas derrubaram o governo e estabeleceram o Soviete de Munique entre 1918 e 1919. Um curto governo soviético foi estabelecido na Hungria sob Béla Kun em 1919.

A revolução russa também inspirou movimentos revolucionários em Itália, com uma onda de ocupação de fábricas. Muitos historiadores vêem o fascismo como uma resposta a estes desenvolvimentos, como um movimento que ao mesmo tempo tentou apelar às massas e desviá-las do Marxismo. Também apelou aos capitalistas como uma barreira contra o Bolchevismo. O fascismo italiano tomou o poder com a benção do rei de Itália após anos de intranquilidade esquerdista terem levado muitos conservadores a recear que uma revolução comunista era inevitável.

Através da Europa, numerosos aristocratas, intelectuais conservadores, capitalistas e industriais ofereceram apoio aos movimentos fascistas nos seus países, emulando o fascismo italiano. Na Alemanha, numerosos grupos de direita nacionalista surgiram, particularmente no pós-guerra os Freikorps, que foram usados para esmagar os spartaquistas e a Räterrepublik de Munique.

Com a Grande Depressão da década de 1930, parecia que o liberalismo e as formas liberais de capitalismo estavam condenadas, e os movimentos fascistas e comunistas incharam. Estes movimentos opunham-se ferozmente um ao outro e lutavam frequentemente, o exemplo mais notável foi a Guerra Civil Espanhola. Esta guerra tornou-se uma guerra por representantes (proxy war) entre países fascistas e seus apoiantes internacionais, que apoiaram Franco e o movimento comunista mundial aliado com certo atrito aos anarquistas e trotskistas, que apoiaram a Frente Popular e que foram ajudados sobretudo pela União Soviética.

Inicialmente, a União Soviética apoiou a coligação com potências ocidentais contra a Alemanha Nazi e frentes populares em vários países contra o fascismo doméstico. Esta política foi largamente mal sucedida devido à desconfiança mostrada pelas potências ocidentais (sobretudo pela Grâ-Bretanha) face à União Soviética. O Acordo de Munique entre a Alemanha, França e Inglaterra contribuiram para o receio soviético de que as potências ocidentais estariam desejosas de força-la a lutar contra o Nazismo. A falta de ímpeto por parte dos britânicos durante as negociações diplomáticas com os soviéticos serviu para tornar a situação ainda pior. Os soviéticos mudaram a sua política e negociaram um pacto de não-agressão conhecido como o Pacto Molotov-Ribbentrop em 1939. Vyacheslav Molotov afirma nas suas memórias que os soviéticos acreditavam que isto era necessário para ganharem tempo e prepararem uma guerra esperada com a Alemanha. Stalin não esperava que os Alemães atacassem antes de 1942, mas o pacto acabou em 1941 quando a Alemanha Nazi invadiu a União Soviética na Operação Barbarossa. Fascismo e comunismo tornaram-se inimigos de morte. A guerra, para ambos os campos, era vista como uma guerra de ideologias.

5

Page 6: Reflexões Sobre O Fascismo

Fascismo e Cristianismo

Outro tópico controverso é o relacionamento entre os movimentos fascistas e o Cristianismo, particularmente a Igreja Católica Romana. Como já foi mencionado, a encíclica do Papa Leão XIII de 1891, Rerum Novarum anticipou muito da doutrina que se tornou conhecida como fascismo. Quarenta anos depois, as tendências corporativas de Rerum Novarum foram ressaltadas pela encíclica do Papa Pio XI em 25 de Maio de 1931 Quadragesimo Anno que reafirmou a hostilidade de Rerum Novarum face à competição desordenada e à luta de classes.

No início dos anos 20 do século 20, o partido católico em Italia (Partito Popolare) estava prestes a formar uma coligação com o partido reformador que poderia ter estabilizado a política italiana e frustrado o golpe projectado por Mussolini. A 2 de Outubro de 1922, o Papa Pio XI fez cicular uma carta ordenando ao clero que não se identificasse com o Partito Popolare, mas que ficasse neutral, uma acção que iria enfreaquecer o partido e sua aliança contra Mussolini. No seguimento da ascenção de Mussolini ao poder, o secretário de estado do Vaticano encontrou-se com Il Duce no início de 1923 e concordou em dissolver o Partito Popolare, que Mussolini viu como um obstáculo ao domínio fascista. Em troca, os fascistas fizeram garantias quanto à educação e instituições católicas.

Em 1924, no seguimento do assassínio do líder do Partido Socialista por fascistas, o Partito Popolare juntou-se ao partido socialista na exigência de que o rei demitisse Mussolini como primeiro-ministro, e afirmou o desejo de formar um governo de coligação. Pio XI respondeu ao avisar contra os perigos de uma coligação entre católicos e socialistas. O Vaticano ordenou que todos os padres deixassem quaisquer posições que tivessem no "Partito Populare", abandonando-o. Esta posição da Igreja levou à desintegração do partido nas áreas rurais, onde o partido dependia da condescendência clerical.

O Vaticano estabeleceu subsequentemente a Acção Católica como uma organização não política sob o controlo directo dos bispos. A organização foi proibida pelo Vaticano de participar na política e deste modo não lhe era permitida opor-se ao regime fascista. Pio XI ordenou a todos os católicos que se juntassem à Acção Católica. Isto resultou em centenas de milhares de católicos italianos terem deixado o Partito Popolare, aderindo ao à Acção Católica apolítica. Foi o colapso do partido católico.

Quando Mussolini ordenou o fecho da Acção Católica em Maio de 1931, Pio XI emitiu uma encíclica, Non abbiamo bisogno. Este documento afirma a oposição da igreja católica à dissolução e argumenta que aquela ordem de Mussolini tinha "desmascarado as intenções pagãs do Estado fascista". Sob pressão internacional, Mussolini decidiu o compromisso com os católicos e a Acção Católica foi salva.

Para além das semelhanças doutrinais, há a assinalar que as relações entre a Igreja católica e os movimentos fascistas foram muito próximas. por exemplo, na Eslováquia, o ditador fascista foi um monsignor católico. Na Croácia, o Ustashe fascista identificou-se a si mesmo como um movimento católico. Estes regimes têm sido vistos como exemplos de fascismo clerical.

O regime de Vichy em França foi também profundamente influenbciado pela ideologia católica reacionária da Action Française. Por contrapartida, muitos padres católicos foram perseguidos sob o regime Nazi, e muitos leigos e clérigos católicos desempenharam papéis de relevo no abrigo de Judeus durante o Holocausto.

6