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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Relatrio Final de Auditoria Operacional
As polticas pblicas municipais para mitigao dos
impactos ambientais e diversificao das atividades
econmicas:
Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Superintendncia de Controle Externo
Diretoria de Engenharia e Percia e Matrias Especiais
Coordenadoria de Auditoria Operacional
Relatrio Final de Auditoria Operacional
As polticas pblicas municipais para mitigao dos
impactos ambientais e diversificao das atividades
econmicas:
Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro
Equipe de auditoria:
Janana Andrade Evangelista
Joelma Terezinha Diniz de Macedo
Marcelo Vasconcellos Trivellato Coordenador da Equipe
Valria Cristina Gomes dos Santos
Ryan Brwnner Lima Pereira Coordenador - CAOP
Colaboradores:
Antonieta de Pdua Freire Jardim
Isabella Kuschel Ngl
Jaqueline Loures
Jaqueline Somavilla
Valria Afonso Dressler
Valria Cristina Gonzaga
Belo Horizonte
2016
Agradecimentos
O sucesso desta auditoria relaciona-se, entre outros fatores, parceria que se estabelece
entre a equipe de auditoria, os beneficirios e as entidades e rgos envolvidos na
operacionalizao das polticas pblicas avaliadas. Nesse sentido, compete agradecer:
1. aos gestores e servidores da Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro, pela presteza
no atendimento s solicitaes feitas e percepo da importncia da sua participao na
concretizao de melhorias no desempenho da administrao municipal;
2. aos membros do CODEMA, do COPAM, de organizaes da sociedade civil e de associaes
comunitrias e de moradores;
3. aos gestores e servidores do SISEMA e da Secretaria de Desenvolvimento Econmico;
4. aos gestores e servidores municipais das demais cidades mineradoras citadas neste relatrio.
LISTA DE SIGLAS
AMDA - Associao Mineira de Defesa do Meio Ambiente
AMIG - Associao de Municpios Mineradores de Minas Gerais
AMM - Associao Mineira de Municpios
CAMGE - Coordenadoria de Avaliao da Macrogesto Governamental
CFEM - Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais
CODEMA - Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental
COMTUR Conselho Municipal de Turismo
COMUDAR - Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural
COPAM - Conselho Estadual de Poltica Ambiental
DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EMATER - Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado de Minas Gerais
FUNDEMA - Fundo Municipal de Meio Ambiente
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal
IPEAD/MG - Instituto de Pesquisas Econmicas Administrativas e Contbeis de Minas Gerais
ISSQN Imposto sobre Servios de Qualquer Natureza
INTOSAI - Organizao Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores
PDR - Plano de Desenvolvimento Rural
PGAT - Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos
PIB - Produto Interno Bruto
PPAG - Plano Plurianual de Ao Governamental
RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental
SEDE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico
SEMAD - Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentvel
SIACE - Sistema Informatizado de Apoio ao Controle Externo
SIAFI - Sistema Integrado de Administrao Financeira
SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SIGPLAN - Sistema de Informaes Gerenciais e de Planejamento do Plano Plurianual
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Igreja do Rosrio ........................................................................................................... 27
Figura 2 Lixo de Conceio do Mato Dentro ........................................................................ 40
Figura 3 - Posto de Apoio ao Migrante ......................................................................................... 41
Figura 4 - Parque Salo de Pedras: a) Cerca para conter avano da ocupao irregular; b)
ocupao irregular ......................................................................................................................... 43
Figura 5 - Divulgao do Plano Diretor ........................................................................................ 55
Figura 6 - Cartilhas do Plano Diretor ............................................................................................ 55
Figura 7 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................... 56
Figura 8 - texto retirado da pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ....... 56
Figura 9 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................... 57
Figura 10 - Pgina da Prefeitura Municipal na internet - www.cmd.gov.br ................................. 57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Projeo da Receita Corrente Lquida .......................................................................... 25
Tabela 2- Legislao disponvel no site oficial da Prefeitura ........................................................ 54
SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................. 7
A MISSO INSTITUCIONAL DO TCEMG E A AUDITORIA OPERACIONAL ....................... 7
IDENTIFICAO DO TEMA ......................................................................................................... 7
ANTECEDENTES ........................................................................................................................... 8
OBJETO E ESCOPO DA AUDITORIA ........................................................................................ 10
METODOLOGIA DE ANLISE ................................................................................................... 11
ESTRUTURA DO RELATRIO FINAL ...................................................................................... 13
2. VISO GERAL ........................................................................................... 14
3. ATUAO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCEIO DO
MATO DENTRO NO ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAO DA
CFEM ................................................................................................................. 16
4. OS RECURSOS DA CFEM E AS POLTICAS DE DIVERSIFICAO
DA ECONOMIA LOCAL ................................................................................ 21
5. PARTICIPAO DO MUNICPIO DE CONCEIO DO MATO
DENTRO NO MBITO DO LICENCIAMENTO E NA FISCALIZAO
DAS CONDICIONANTES E DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERRIA....................................... 33
6. A ADMINISTRAO MUNICIPAL E OS MECANISMOS DE
TRANSPARNCIA DA GESTO PBLICA EM UM CONTEXTO
MINERADOR ................................................................................................... 47
7. COMENTRIOS DO GESTOR ............................................................... 59
8. CONCLUSO ............................................................................................. 60
9. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO ................................................ 62
REFERNCIAS ................................................................................................ 65
ANEXO ............................................................................................................... 66
7
1. INTRODUO
A MISSO INSTITUCIONAL DO TCEMG E A AUDITORIA OPERACIONAL
1.1 O Tribunal de Contas um rgo de controle externo da gesto dos recursos pblicos,
compreendendo a fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial e
abrange os aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade e razoabilidade de atos que geram
receita ou despesa pblica, conforme dispositivo constitucional a seguir:
Art. 70. A fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e
patrimonial da Unio e das entidades da administrao direta e indireta, quanto
legalidade, legitimidade, economicidade, aplicao das subvenes e renncia de
receitas, ser exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e
pelo sistema de controle interno de cada Poder. Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com o auxlio
do Tribunal de Contas da Unio, ao qual compete:
(...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsveis por dinheiros, bens e
valores pblicos da administrao direta e indireta, includas as fundaes e sociedades
institudas e mantidas pelo Poder Pblico federal, e as contas daqueles que derem causa
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuzo ao errio pblico;
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seo aplicam-se, no que couber, organizao,
composio e fiscalizao dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem
como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municpios.
1.2 Dentre as misses elencadas constitucionalmente para o Tribunal de Contas, tem-se a
fiscalizao operacional dos bens pblicos. Nesse sentido, a auditoria operacional tem como
objetivo promover o aperfeioamento da gesto pblica, examinando de forma independente e
objetiva a economicidade, a eficincia, a eficcia e a efetividade das organizaes, programas e
atividades governamentais (INTOSAI: 2004).
1.3 A auditoria operacional visa analisar a eficincia e a economicidade na aplicao dos
recursos e na aquisio de bens, bem como analisar a efetividade e a eficcia dos resultados
alcanados.
IDENTIFICAO DO TEMA
1.4 A indstria extrativa mineral caracterizada como uma atividade de explorao de recursos
no renovveis, de baixa agregao de valor e baixa gerao de renda. A atividade minerria
objetiva a extrao de substncias minerais a partir de depsitos ou massas minerais valiosos por
8
sua utilidade econmica, sendo a responsvel pela gerao e distribuio de matrias primas
utilizadas na fabricao e produo de mercadorias, geralmente industrializadas.
1.5 A minerao, apesar de sua importncia econmica, gera problemas, principalmente no
campo ambiental, tais como eroses, partculas em suspenso, contaminao das guas
superficiais, impacto sobre a captao de gua subterrnea devido ao rebaixamento do lenol
fretico para explorao da cava, alm do desmatamento. Ocorrem tambm problemas sociais
como impacto sobre a infraestrutura e servios da cidade no pico das obras de implantao das
empresas de minerao e desemprego gerado em decorrncia do encerramento da explorao
mineral, devido ao esgotamento das jazidas minerais.
1.6 O Brasil o segundo maior produtor mundial de minrio de ferro, considerando-se o teor
do mineral, conforme informao do Plano Nacional de Minerao, e Minas Gerais destaca-se no
cenrio nacional, respondendo por 66% das reservas de minrio de ferro oficialmente conhecidas
no Brasil.
1.7 Boa parte da histria do Estado de Minas Gerais foi determinada pela explorao da grande
riqueza mineral que se encontra em seu territrio. Seu nome, inclusive, provm da larga quantidade
e variedade das minas presentes e que, nos dias atuais, movimentam uma frao importante da
economia do Estado.
1.8 A atividade minerria um dos pilares da economia de Minas Gerais, representando
expressiva arrecadao tributria para o Estado e Municpios mineradores, destacando-se a
Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais CFEM, que uma indenizao
em funo da explorao mineral em seus territrios devida por aqueles que exploram os recursos
minerais.
ANTECEDENTES
1.9 Ao analisar as contas do Chefe do Poder Estadual Antnio Augusto Junho Anastasia
relativamente ao exerccio financeiro de 2011, o Exmo. Sr. Conselheiro Relator Cludio Couto
Terro assim manifestou:
O estudo da economia mineira identificou um intenso processo de diversificao e
modernizao ocorrido nos anos 70, transformando Minas Gerais em importante polo
industrial do pas. Contudo, nas dcadas de 80 e 90, experimentou-se instabilidade e
crescimento limitado, acompanhando o ritmo lento da economia brasileira. Novo ciclo de
crescimento foi registrado nos anos 2000, guiado pelo boom das commodities no
mercado internacional, impactando a economia estadual, especialmente o setor mnero-
metalrgico.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mina_(minera%C3%A7%C3%A3o)
9
Entre 2003 e 2010 foi verificada a expanso de mais de 250% nas exportaes mineiras.
Entretanto, a situao preocupante, uma vez que, dentre os produtos da pauta, os setores
que apresentaram maiores taxas de crescimento foram aqueles de baixa complexidade
tecnolgica e pequena agregao de valor, relativos agropecuria e minerao.
Esse fenmeno foi resultante do aquecimento da demanda internacional por commodities,
carreado principalmente pela China, que passou a deter mais de 30% das exportaes de
Minas. O ritmo de concentrao econmica nesse tipo de atividade e nesse mercado de
destino sugere considervel risco de primarizao da economia mineira e formao de
elevado potencial de instabilidade. Em outras palavras, um movimento de reduo da
diversificao na produo e nos mercados de destino causa aumento da dependncia a
esses produtos e a seus compradores.
Com esse novo perfil, a economia mineira tornou-se mais sensvel s oscilaes da
economia internacional. Em 2009, devido crise deflagrada pelos Estados Unidos, em
2008, o Produto Interno Bruto de Minas Gerais PIB mineiro regrediu 4%. J em 2010,
ano de recuperao, o PIB mineiro avanou 10,3%, enquanto em 2011, com o
agravamento da crise da dvida na Unio Europeia e as dificuldades de combate recesso
nos Estados Unidos, o PIB mineiro expandiu apenas 2,7%, mesma taxa ocorrida no Brasil
como um todo.
(....)
O estudo do IPEAD aponta que as regies Central e Noroeste experimentaram as maiores
taxas de crescimento do PIB real mdio nos ltimos anos. O crescimento da regio Central
foi motivado pela atividade mineradora, aumentando a concentrao econmica na
regio, cuja participao no PIB mineiro saltou de 43,4% em 2000 para 46,6% em 2008.
(Grifo nosso)
(...)
Em suma, observou-se, em Minas Gerais, grande desigualdade em termos de
desenvolvimento econmico entre as regies de planejamento, havendo forte
concentrao de emprego, produto e arrecadao na regio Central, no tendo sido
constatados grandes sinais de mudana entre 2000 e 2008 nem vislumbradas alteraes
significativas para o cenrio de 2012 a 2030.
Tais estudos demonstram a importncia e a necessidade da adoo de polticas
econmicas que promovam a desconcentrao regional do produto e do emprego e a
diversificao da produo, conciliadas com a melhoria de indicadores sociais e
ambientais em todas as regies de Minas, o que ser determinante para a sustentabilidade
da receita fiscal mineira. Nesse sentido, frisa-se a valiosa contribuio do IPEAD, que
sugeriu diretrizes para a poltica de desenvolvimento regional do Estado, conforme
estampado no relatrio tcnico e no seu apndice (Anexo 1). (Grifo nosso)
Segundo o reexame tcnico, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico
SEDE demonstrou alinhamento com as recomendaes da CAMGE e do IPEAD.
Contudo, perduram tendncias de concentrao regional e no foram identificadas, com
suficiente clareza e detalhamento, as polticas por regio. Tambm foi constatada baixa
execuo oramentria do programa estruturador, denominado Promoo e Atrao de
Investimentos Estratgicos e Desenvolvimento das Cadeias Produtivas das Empresas
ncoras, componente do Plano Plurianual de Ao Governamental PPAG 2008/2011
(Leis ns 17.347/08 e 19.417/11).
No PPAG 2012/2015, o sobredito programa consta como Investimento Competitivo para
Fortalecimento e Diversificao da Economia Mineira e ser avaliado a partir do
exerccio financeiro em curso.
10
1.10 Diante do exposto, o Exmo. Sr. Conselheiro Relator determinou a esta Diretoria Tcnica
que inclusse no plano anual de auditorias a realizao de auditorias de natureza operacional nos
principais municpios mineradores para a avaliao do desempenho das polticas pblicas
municipais na mitigao dos impactos negativos da minerao, em especial os ambientais e os de
concentrao (no diversificao) das atividades econmicas.
OBJETO E ESCOPO DA AUDITORIA
1.11 A presente auditoria tem como objetivo avaliar o desempenho das polticas pblicas
municipais na mitigao dos impactos negativos da minerao, em especial os ambientais e os de
concentrao (no diversificao) das atividades econmicas.
1.12 Na fase preliminar da auditoria foram identificadas reas de atuao das prefeituras
municipais consideradas relevantes anlise do desempenho das polticas municipais. Assim,
considerando a proposio do Conselheiro Cludio Couto Terro, bem como os levantamentos
iniciais realizados pela equipe de auditoria, estruturou-se o presente trabalho, cujo escopo foi
delimitado pelas seguintes questes:
Questo 1: De que forma a prefeitura municipal atua no acompanhamento e
fiscalizao dos recursos provenientes da CFEM?
Questo 2: De que maneira vem sendo implementadas as polticas de diversificao
da economia do municpio?
Questo 3: De que forma o municpio tem se envolvido no processo de
licenciamento e acompanhamento do cumprimento das condicionantes de
empreendimentos minerrios?
Questo 4: Em que medida a administrao municipal contribui para a eficcia dos
mecanismos de transparncia da gesto pblica em um contexto minerador?
1.13 A anlise das questes de auditoria deu-se luz da legislao especfica sobre o assunto, a
saber: Constituies da Repblica e do Estado de Minas Gerais; Lei Federal n 7.990/1989, que
institui a CFEM; Lei Federal n 8.001/1990, que estabelece os percentuais da CFEM a serem
distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio; Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre
a Poltica Nacional do Meio Ambiente; Lei Complementar Federal N 140/2011, que fixa normas
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20140-2011?OpenDocument
11
para a cooperao entre os entes federativos nas aes administrativas relativas ao meio ambiente;
e legislao municipal aplicvel.
METODOLOGIA DE ANLISE
1.14 Estabelecido o objeto no mbito desta Corte, competiu equipe de auditoria realizar um
levantamento de escopo restrito, de forma a esclarecer os principais processos operacionais dos
municpios mineradores.
1.15 Na fase de planejamento, com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre o assunto,
bem como identificar as reas que poderiam demandar uma inflexo na investigao, foram
aplicadas as seguintes tcnicas de diagnstico:
Stakeholders, na qual foram identificados os principais atores envolvidos,
bem como opinies e conflitos de interesse e informaes relevantes;
rvore de Problemas, na qual foram identificados os problemas por
meio de reviso da literatura, de informaes obtidas na pesquisa exploratria e de
entrevistas com especialistas que atuam nas reas de minerao e meio ambiente. Sua
construo permitiu a identificao e a organizao das causas e consequncias ou
efeitos do problema central da auditoria.
1.16 A estratgia metodolgica do trabalho centrou-se na pesquisa, utilizada em conjunto com
estudos de caso dos municpios mineradores como suporte para as anlises de carter qualitativo.
As anlises foram realizadas a partir de dados secundrios, obtidos mediante consulta legislao
sobre o tema, bibliografia especfica e aos documentos obtidos junto ao Municpio. Foram
utilizados, tambm, dados primrios, derivados das respostas a entrevistas realizadas com os
gestores dos rgos e entidades envolvidos, e de questionrios aplicados in loco.
1.17 A pesquisa documental foi desenvolvida por meio da anlise de documentos
administrativos requeridos Prefeitura, de consulta a banco de dados e a publicaes diversas, e
de verificao de sistemas de controle como o Sistema Informatizado de Contas dos Municpios
SICOM e o Sistema Informatizado de Apoio ao Controle Externo - SIACE.
12
1.18 Na fase de coleta de dados foram realizadas entrevistas com secretrios e tcnicos
estaduais, secretrios e tcnicos municipais, bem como membros do Conselho Estadual de Poltica
Ambiental COPAM e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental CODEMA, de
associaes comunitrias e de organizaes no-governamentais.
1.19 As visitas exploratrias foram realizadas no perodo de 27 a 29 de novembro e de 8 a 12
de dezembro de 2013 com a finalidade de conhecer fases distintas da explorao mineral. Para
isso, foram escolhidos trs municpios mineradores, a saber: Riacho dos Machados, em fase inicial
de explorao mineral; Congonhas, onde a minerao uma atividade econmica consolidada; e
Fortaleza de Minas, em fase de encerramento das atividades de explorao. O trabalho consistiu
em entrevistas realizadas com diversos atores locais para um maior conhecimento do tema
auditado.
1.20 A partir dessas visitas, verificou-se que a minerao gera impactos positivos, como o
aumento da arrecadao municipal, a gerao de emprego e de renda. Em sede de impactos
negativos podem ser destacados: aumento da populao flutuante na fase de implantao da mina;
infraestrutura insuficiente e impacto nas vias urbanas (poeira, trfego de caminhes e nibus);
adoo de polticas assistencialistas; e fragilidade na estrutura administrativa dos municpios
mineradores. Tambm foi possvel obter informaes que subsidiaram a elaborao dos
instrumentos de coleta de dados, reduziram incertezas e definiram os critrios e as questes de
auditoria.
1.21 No caso do Municpio de Conceio do Mato Dentro, o levantamento de campo foi
realizado no perodo de 21 a 25 de julho de 2014 e de 16 a 19 de junho de 2015. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas direcionadas aos Secretrios Municipais de Fazenda, Planejamento e
Desenvolvimento Econmico, Meio Ambiente, Turismo, Cultura, Assessora de Comunicao, e
aos tcnicos municipais das reas correspondentes, bem como lderes comunitrios, membros do
CODEMA, alm de contatos com responsveis por aes setoriais realizadas em diversas
secretarias municipais. Para a anlise dos dados qualitativos provenientes das entrevistas
realizadas foi utilizada a anlise de contedo categorial temtica (Bardin, 1977 apud Oliveira,
2008).
1.22 Dentre as limitaes encontradas no decorrer do trabalho, destacam-se a dificuldade de
acesso legislao municipal em meios eletrnicos e aos dados municipais nos sites das
Prefeituras.
13
ESTRUTURA DO RELATRIO FINAL
1.23 Alm deste primeiro captulo, de contedo introdutrio, este relatrio encontra-se
estruturado em mais 8 captulos. O captulo 2 apresenta uma viso geral da atividade mineradora
no municpio de Conceio do Mato Dentro. Nos captulos 3, 4, 5 e 6 so apresentados os
principais achados de auditoria. No captulo 7, so apresentados os comentrios do gestor, o
captulo 8 apresenta as concluses do trabalho e as recomendaes, no captulo 9.
14
2. VISO GERAL
2.1 Os minerais do subsolo so bens pblicos, de propriedade do povo brasileiro, sendo
assegurada a participao de estados e municpios no resultado, conforme art. 20, IX da
Constituio Federal. A Lei Federal n 7.990/1989 regulamentou o referido dispositivo
constitucional, instituindo a CFEM, e a Lei Federal n 8.001/1990, estabeleceu os percentuais a
serem distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio.
2.2 Em relao ao meio ambiente, a Constituio Federal estabelece a competncia comum da
Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios na sua proteo e impe sua defesa ao
Poder Pblico. Nesse sentido, a Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional
do Meio Ambiente, explicita o papel de estados e municpios na proteo ao meio ambiente.
2.3 Nos termos da Lei Complementar Federal N 140/2011, que fixa normas para a cooperao
entre os entes federativos nas aes administrativas relativas ao assunto, destaca a atribuio
comum de fiscalizao da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou
potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislao ambiental em
vigor. Nos casos de iminncia ou ocorrncia de degradao da qualidade ambiental, o ente
federativo que tiver conhecimento do fato dever determinar medidas para evit-la, fazer cess-la
ou mitig-la, comunicando imediatamente ao rgo competente para as providncias cabveis.
2.4 Conceio do Mato Dentro possui uma populao urbana superior populao rural,
estimada em 18.235 habitantes, com rea territorial de 1.726,83 quilmetros quadrados, e est
localizada a 160 km de Belo Horizonte. De acordo com IBGE, o IDHM de 2010 alcanou o
patamar de 0,634, inferior mdia nacional e do Estado. O PIB per capita do municpio, para o
exerccio de 2012, era de R$ 9.973,47 (nove mil novecentos e setenta e trs reais e quarenta e sete
centavos), inferior ao PIB per capita nacional e do Estado de Minas Gerais1.
2.5 Em dezembro de 2009, o conglomerado britnico Anglo Americano iniciou, com o aval do
Estado, a implementao do empreendimento minerrio Minas-Rio. O projeto consiste na
instalao de uma mina a cu aberto e estruturas adjacentes em Conceio do Mato Dentro e dois
municpios vizinhos em Minas Gerais, alm de um mineroduto de 525 km de extenso para o
transporte do minrio at o litoral do Rio de Janeiro no Porto de Au, estrutura final do
1 Disponvel em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completas .,,, ,,,, Acesso em 11/08/2015
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lcp%20140-2011?OpenDocumenthttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completashttp://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=311750&search=minas-gerais|conceicao-do-mato-dentro|infograficos:-informacoes-completas
15
empreendimento2. O projeto iniciou-se com a AMMX Minerao e Metlicos S.A. No tocante
arrecadao da Compensao Financeira pela Explorao dos Recursos Minerais CFEM, o
Municpio de Conceio do Mato Dentro recebeu nos meses de janeiro a junho de 2015 o
equivalente a R$ 4.184.232,27 (quatro milhes cento e oitenta e quatro mil duzentos e trinta e dois
reais e vinte e sete centavos), conforme informaes obtidas no livro contbil razo na Prefeitura.
2.6 A arrecadao da CFEM vem crescendo no cmputo da receita corrente total. Isto requer,
por parte do executivo municipal, a elaborao de instrumentos que possibilitem um planejamento
estratgico das aes governamentais de curto, mdio e longo prazos, adotando a poltica de
diversificao econmica e investimentos fora do eixo da minerao, tendo em vista a
possibilidade de esgotamento das reservas minerais, ainda que esteja no processo inicial de
explorao. Alm disso, o minrio de ferro uma commodity sujeita a oscilaes de preo, fruto
das alteraes do ambiente econmico internacional, o que interfere na arrecadao municipal.
2 Monografia Marina Abreu Torres- 2014- FAFICH/UFMG
16
3. ATUAO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CONCEIO DO MATO DENTRO NO ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAO DA
CFEM
3.1 A Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais - CFEM, estabelecida
pela Constituio de 1988 no 1 do art. 20, devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos
Municpios e aos rgos da administrao da Unio como contraprestao pela utilizao
econmica dos recursos minerais em seus respectivos territrios.
3.2 A atividade de minerao em decorrncia da explorao ou extrao de recursos minerais
leva, obrigatoriamente, ao recolhimento da CFEM. A sada por venda do produto mineral das reas
da jazida, mina, salina ou outros depsitos minerais constitui-se fato gerador da contribuio.
Outro fator gerador da contribuio a transformao industrial do produto mineral ou mesmo o
seu consumo por parte do minerador. No caso da venda do produto mineral, a CFEM calculada
sobre o valor do faturamento lquido, obtido por ocasio da venda. Entende-se por faturamento
lquido o valor da venda do produto mineral, deduzindo-se os tributos (ICMS, PIS, COFINS) que
incidem na comercializao, bem como tambm as despesas com transporte e seguro. Quando no
ocorre a venda, porque o produto mineral consumido, transformado ou utilizado pelo prprio
minerador, ento se considera como valor, para efeito do clculo da CFEM, a soma das despesas
diretas e indiretas ocorridas at o momento da utilizao do produto mineral.
3.3 A Lei Federal n 8.001/1990, que define os percentuais da distribuio da CFEM,
estabeleceu no 1 do art. 2 os seguintes percentuais da compensao financeira, de acordo com
as classes de substncias minerais:
I - minrio de alumnio, mangans, sal-gema e potssio: 3% (trs por cento);
II - ferro, fertilizante, carvo e demais substncias minerais: 2% (dois por cento);
III - pedras preciosas, pedras coradas lapidveis, carbonados e metais nobres: 0,2% (dois
dcimos por cento);
IV - ouro: 1% (um por cento), quando extrado por empresas mineradoras, isentos os
garimpeiros.
3.4 Os valores arrecadados com a CFEM, conforme o 2 do art. 2 da Lei Federal n
8.001/1990, so distribudos aos Municpios, aos Estados e Unio, em cotas de 65%, 23% e 12%,
respectivamente, em suas contas de movimento especficas, no sexto dia til que sucede ao
recolhimento por parte das empresas de minerao.
17
3.5 De acordo com o inciso IX do art. 3 da Lei Federal n. 8.876/1994, que autoriza o Poder
Executivo a instituir como Autarquia o Departamento Nacional de Produo Mineral - DNPM,
cabe Autarquia a administrao e fiscalizao dos recursos provenientes do recolhimento da
CFEM, bem como o repasse dos valores recolhidos e sua divulgao.
3.6 No obstante as competncias da Autarquia, considerando a importncia da receita oriunda
da CFEM na arrecadao municipal e a importante contribuio que o Municpio pode oferecer ao
rgo federal, foi analisada a atuao da administrao municipal no acompanhamento da
arrecadao e da fiscalizao da referida Compensao.
Deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da
Administrao Municipal
3.7 Ressaltando que cabe ao DNPM o recolhimento, a fiscalizao e a partilha dos recursos da
CFEM, na anlise da atuao da administrao municipal foi verificado que o Municpio no
adotou uma postura preventiva de acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da
Compensao. So evidncias dessa situao:
i) No foram identificadas aes relativas ao acompanhamento da arrecadao e da
fiscalizao dos valores da CFEM a serem arrecadados;
ii) No foram identificados, no quadro de pessoal da Prefeitura Municipal,
profissionais que, dentre suas atribuies, acompanhem o recolhimento e a fiscalizao
da CFEM.
3.8 As deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte
da Administrao Municipal relacionam-se a diversas causas, dentre as quais destacamos: a) o fato
de no se encontrar em vigncia o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM; b) deficincias
da capacitao do quadro de pessoal da Secretaria Municipal de Fazenda quanto CFEM.
a) Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM no se encontra em vigncia
3.9 O Acordo de Cooperao Tcnica celebrado entre o DNPM e o Municpio tem por objeto
a cooperao tcnica entre as partes, cabendo ao Municpio, dentre outras atribuies:
18
(...) acompanhar, conjuntamente, as aes de fiscalizao e, em sendo o caso, promover
posterior legalizao das atividades de explorao mineral, orientando os envolvidos
conforme legislao, resguardadas as respectivas competncias legais.
3.10 Ou seja, o Acordo trata da implementao de aes conjuntas no que se refere fiscalizao
da CFEM. No entanto, em relao ao Municpio de Conceio do Mato Dentro, o Acordo de
Cooperao Tcnica n 20/2005, assinado pelas partes em 12/09/2005, encontra-se vencido.
3.11 Destaca-se que, conforme minuta, o referido Acordo possibilita Secretaria Municipal, sob
coordenao do DNPM, o poder de fiscalizao, conforme exposto:
CLUSULA STIMA DAS ATRIBUIES ESPECFICAS
(...)
II - Caber (Secretaria Municipal designada):
(...)
B) Fiscalizar, sob a coordenao do DNPM, o pagamento da CFEM sobre todas as
atividades de extrao mineral desenvolvidas no Municpio (nome do Municpio
interessado), independentemente do regime de aproveitamento das substncias minerais.
3.12 Deve ser salientado que o Acordo objetiva a ao conjunta de fiscalizar a explorao de
recursos minerais do municpio e o acompanhamento dos valores recolhidos por cada mineradora
instalada no Municpio. Sendo assim, o fato de um dos instrumentos institucionais que facilitaria
a ao de acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da administrao
municipal no se encontrar em vigncia pode ser apontado como uma das causas das deficincias
da administrao municipal em relao ao assunto.
b) Deficincias da capacitao do quadro de pessoal da Secretaria Municipal de Fazenda
quanto CFEM
3.13 As competncias relativas ao acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM,
bem como o entendimento da legislao pertinente, exigem a capacitao permanente de seus
servidores para o desempenho de suas atribuies. Nesse sentido, destaca-se que a Lei
Complementar Municipal n. 073/2013, que dispe sobre a organizao, a estrutura orgnica e os
procedimentos da administrao do Municpio, atribui ao Departamento de Gesto de Pessoas da
Secretaria Municipal de Administrao as competncias relativas ao treinamento de pessoal,
conforme transcrito a seguir:
19
Art. 63. Ao Departamento de Gesto de Pessoas compete:
(...)
II - estudar, elaborar e propor planos e programas de formao, treinamento e
aperfeioamento de pessoal;
III - analisar as solicitaes de treinamento de outro rgo da administrao;
3.14 Conforme informaes obtidas por meio de entrevistas com tcnicos e secretrios
municipais, no existe no quadro de pessoal da Prefeitura Municipal um profissional com
conhecimentos sobre a CFEM. Alm disso, no foram realizados cursos ou treinamentos
especficos sobre o assunto, conforme informaes prestadas pela Prefeitura Municipal.
3.15 Levando-se em considerao que atualmente a arrecadao da CFEM incipiente no
municpio de Conceio do Mato Dentro, mas h perspectivas de aumentos progressivos em curto
prazo, a adoo de uma poltica de cursos e treinamentos especficos para o acompanhamento,
fiscalizao e arrecadao da CFEM imperiosa. Em 2014, o municpio era o 20 arrecadador da
CFEM em Minas Gerais, considerando o recolhimento referente ao minrio de ferro3. Em agosto
de 2015, j figurava como 9 arrecadador4, com potencial de crescimento no ranking at o
encerramento do exerccio corrente.
3.16 No entanto, no foram apresentadas evidncias da adoo por parte da Administrao
Municipal de uma postura proativa frente necessidade de aprimoramento do quadro tcnico do
pessoal da Secretaria da Fazenda no tocante arrecadao, acompanhamento e fiscalizao da
CFEM. Corrobora in casu a falta de previso na programao da Secretaria da Fazenda para
realizao de cursos e treinamentos referentes CFEM, conforme o 26 Relatrio Gerencial da
Prefeitura Municipal referente ao perodo de maio a junho de 2015.
3.17 Soma-se a isto a necessidade de reativar o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM,
pois o disposto na minuta do Acordo5 celebrado entre DNPM e Municpios, onde caber a
autarquia federal a realizao de cursos e treinamentos, nos seguintes termos:
CLUSULA STIMA DAS ATRIBUIES ESPECFICAS
I - Caber ao DNPM:
(...)
D) Quando solicitado, colaborar de forma a promover curso de treinamento, acerca das
tcnicas de fiscalizao/CFEM, para os agentes fiscalizadores do Municpio.
3 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx. Acesso em 11/08/2015. 4 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspx. Acesso em 11/08/2015. 5 Disponvel em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/acordo/frm_solicitacao_acordo.aspx. Acesso em 11/08/2015.
https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspxhttps://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/cfem/maiores_arrecadadores.aspxhttps://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/acordo/frm_solicitacao_acordo.aspx
20
3.18 Portanto, considera-se o fato de no ter havido capacitao dos servidores municipais no
tema, compromete o acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM por parte da
Administrao Municipal.
Efeitos das deficincias no acompanhamento da arrecadao e da fiscalizao da CFEM
por parte da Administrao Municipal
3.19 Como efeitos das deficincias da administrao municipal no acompanhamento da CFEM
podem ser destacadas a reduo da capacidade de estimar as receitas decorrentes da Compensao,
bem como de detectar inconformidades em sua arrecadao e de atuar em parceria com o DNPM.
Recomendaes
3.20 Com base nas deficincias apuradas recomenda-se que a Prefeitura Municipal de
Conceio do Mato Dentro:
Desenvolva e implemente um programa de capacitao do quadro de pessoal da Secretaria
Municipal de Fazenda relativos CFEM;
Renove o Acordo de Cooperao Tcnica com o DNPM e promova aes no sentido de
operacionalizar as atividades nele previstas, mantendo arquivos sistematizados dos
documentos referentes s iniciativas da Prefeitura Municipal para verificao em futuras
auditorias.
Benefcios esperados
3.21 Com a implementao das recomendaes no que se refere ao acompanhamento da
arrecadao e da fiscalizao da CFEM pela Prefeitura Municipal espera-se:
A melhoria da gesto administrativa;
A melhoria nos processos de trabalho;
Maior previsibilidade das receitas por parte dos agentes municipais.
21
4. OS RECURSOS DA CFEM E AS POLTICAS DE DIVERSIFICAO DA ECONOMIA LOCAL
4.1 O art. 8 da Lei Federal n 7.990/1989, que instituiu a CFEM, e o pargrafo nico do art.
26 do Decreto n 01/1991, que a regulamenta, vedam a aplicao dos valores arrecadados por meio
da Compensao em pagamento de dvidas e no quadro permanente de pessoal. O DNPM6 informa
que as receitas devero ser aplicadas em projetos que direta ou indiretamente revertam em prol da
comunidade local na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da sade e da
educao.
4.2 Mas a legislao no tem a mesma clareza para delimitar onde os recursos devem ser
investidos. Prefeituras, especialistas em direito minerrio e promotores de Justia no se entendem
quanto ao direcionamento do dinheiro originado na explorao dos recursos minerais. Com a falta
de especificidade na Lei, os recursos entram no caixa nico dos Municpios para fechar o
oramento.
4.3 Como a contribuio tem sua origem na compensao pela extrao de recursos minerais,
atividade sabidamente degradadora do meio ambiente, a prioridade dos investimentos dos recursos
em benefcio da melhoria da qualidade ambiental (implantao de depsitos de resduos urbanos,
estaes de tratamento de esgotos, projetos de educao ambiental etc.) nos Municpios onde
ocorre a explorao mostra-se sem dvida como uma das opes mais razoveis e convenientes,
uma vez que funcionaria como uma forma indireta de compensao pelos efeitos deletrios
causados pelos empreendimentos minerrios.
4.4 A anlise do tema minerao pode ser feita sob a perspectiva do desenvolvimento
sustentvel e da funo socioambiental da CFEM. Considerando o primeiro aspecto, Maria Amlia
Enrquez analisou a contribuio do setor mineral para o desenvolvimento sustentvel, afirmando
o seguinte:
As polticas indicadas para evitar o colapso das economias de base mineira so aquelas
que buscam diminuir o peso relativo da produo mineral, ou seja, que promovam a
diversificao produtiva. Auty (1994) recomenda usar as rendas mineiras para
diversificar rapidamente a base produtiva dos setores no-mineiros. Afirma que o setor
mineral no deveria ser considerado como a coluna vertebral da economia; ao invs disso,
ele deveria ser visto como um bnus que permite acelerar o crescimento econmico e
promover mudanas estruturais saudveis na economia (AUTY, 1993, p. 258),
enquanto [o governo] prudente pode evitar as armadilhas polticas (AUTY, 1994, p.
24). No entanto, o prprio Auty reconhece que predomina muito mais o mau uso das
rendas mineiras e que, na mdia, os governantes no tm se mostrado capazes de evitar
as armadilhas associadas dependncia mineral. (ENRQUEZ, 2008, p. 101)
6 Disponvel em: . Acesso em 3/12/2014.
http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=60
22
4.5 Nessa esteira, a autora continua sua abordagem do tema diversificao, quando faz a
seguinte considerao:
Segundo Veiga et al. (2001), para que uma comunidade mineira seja considerada
sustentvel, ela deve seguir os princpios da sustentabilidade ecolgica, da vitalidade
econmica e da equidade social. Progressos nessa direo ocorrem quando se adiciona
valor s comunidades durante o ciclo de vida da minerao. Para os autores, a herana
deixada para a comunidade mineira, aps o fechamento da mina, est emergindo como
uma das mais significativas questes do planejamento da indstria mineral.
Nesse sentido, uma boa poltica de gerenciamento ambiental importante, porm
insuficiente para alcanar todas as dimenses do desenvolvimento no nvel local.
Iniciativas nas reas da comunicao, educao, sade e segurana, parcerias e
diversificao so elementos fundamentais para a sustentabilidade da comunidade no
longo prazo. (ENRQUEZ, 2008, p. 118-119)
4.6 Considerando a funo socioambiental da CFEM, Romeu Thom, em artigo sobre o
assunto, destaca:
inegvel, portanto, a importncia da minerao para a interiorizao do
desenvolvimento econmico do Brasil e seu relevante papel incentivador da criao de
vilas e cidades no entorno de minas e jazidas. Todavia, uma caracterstica inerente aos
recursos minerais no pode ser, em momento algum, desprezada: a sua esgotabilidade.
So recursos no renovveis que, inevitavelmente, um dia se esgotaro. E ento as
inmeras vilas e cidades originadas e dependentes da minerao podero se deparar com
inimaginveis impactos socioeconmicos advindos do encerramento das atividades
mineiras, caso no providenciem a diversificao de sua economia. A Constituio
Federal oferece instrumentos adequados para que o Poder Pblico promova os
investimentos necessrios para impedir ou diminuir os impactos socioeconmicos e
ambientais decorrentes do encerramento de atividades minerrias. (THOM, 2009)
4.7 No mesmo artigo o autor enfatiza o papel da CFEM, no seguinte contexto:
Tambm no se pode admitir tratar-se a CFEM apenas de participao econmica dos
Estados e Municpios no resultado da explorao mineral. A interpretao sistemtica da
Constituio Federal nos impele a analisar o instrumento da CFEM de forma ampla,
compreendendo-o como parte integrante da estrutura normativa constitucional. Com
respaldo nos princpios do desenvolvimento sustentvel, da preveno e da reparao,
resta claro que o objetivo do repasse de percentuais considerveis da CFEM aos Estados
e Municpios no simplesmente particip-los economicamente (viso estritamente
econmica, superada no atual Estado Scio-ambiental de Direito), mas, sobretudo,
compens-los pelos impactos ambientais e sociais advindos da explorao mineral em
seus territrios. O objetivo foi estabelecer uma compensao pela degradao ambiental
da explorao mineral e pelo impacto socioeconmico do esgotamento da mina. Desta
forma os Estados e, principalmente os Municpios, devem aplicar os recursos advindos
da CFEM na recuperao do meio ambiente, no desenvolvimento da infra-estrutura
da cidade e na atrao de novos investimentos e atividades, tendo em vista a
diversificao de sua economia (grifo nosso), com o intuito de minimizar a dependncia
local em relao atividade mineral que, por se tratar de explorao de recursos no-
renovveis, certamente esgotar-se- um dia. (THOM, 2009) (grifo nosso)
23
4.8 Nesse sentido, cumpre destacar, citando novamente Maria Amlia Enrquez, que se pode
identificar dois padres de uso da CFEM:
1. armadilha do caixa nico os recursos entram no caixa da prefeitura e se diluem nas despesas correntes. (...)
2. uso sustentado os recursos da CFEM entram no caixa da prefeitura e so direcionados (total ou parcialmente) para determinados fins previamente definidos.
(ENRQUEZ, 2008, p. 346)
4.9 Segundo a autora, o uso sustentado da CFEM tem apresentado resultados positivos para os
Municpios que o adotam, reduzindo a dependncia excessiva em relao minerao devido ao
investimento na diversificao produtiva e na formao de capital humano (ENRQUEZ, 2008).
4.10 Sendo assim, tendo em vista os objetivos dessa auditoria operacional, foi analisada a
poltica local de diversificao econmica considerando a legislao vigente no Municpio e seu
papel no planejamento do desenvolvimento sustentvel, bem como a utilizao dos recursos da
CFEM nesse processo.
Insuficincia da estratgia de diversificao da economia local
4.11 O Municpio de Conceio do Mato Dentro apresentou uma estratgia de diversificao
econmica local insuficiente para lidar com os problemas e oportunidades advindos da atividade
minerria. Aps o exame da documentao obtida junto municipalidade, bem como entrevistas
com secretrios e tcnicos municipais, podem ser citadas vrias evidncias dessa situao:
i) No h um planejamento especfico para a aplicao dos recursos da CFEM em sade,
infraestrutura, urbanismo, diversificao econmica e educao;
ii) o processo de implementao dos programas setoriais tem sido muito longo. No caso
do turismo, a elaborao do Plano Municipal encontra-se prevista no art. 194 do Plano
Diretor, institudo pela Lei Complementar n 20/2003; quanto agricultura, a Lei
Municipal n. 1651 foi publicada em 2001. No entanto, em relao aos dois setores as
aes de elaborao e implementao das polticas pblicas no haviam sido
concludas at a realizao desta auditoria operacional.
iii) O Plano Diretor em vigor, promulgado em 2003, foi concebido em perodo anterior
explorao mineral relativa ao projeto Minas Rio, no refletindo a realidade atual do
Municpio.
4.12 O plano diretor o instrumento bsico da poltica de desenvolvimento e expanso urbana,
de acordo com artigo 40 da Lei Federal n 10.257/2001 - Estatuto das Cidades, que estabelece
24
diretrizes gerais da poltica urbana. O Plano Diretor de Desenvolvimento de Conceio do Mato
Dentro em vigor foi institudo pela Lei Complementar Municipal n 020/2003.
4.13 A elaborao do Plano Diretor de Conceio do Mato Dentro ocorreu em perodo anterior
explorao de minrio de ferro que atualmente caracteriza o ambiente econmico do Municpio.
Sendo um Plano Diretor concebido para um municpio turstico ou de outras atividades no-
minerrias, a minerao, como instrumento de desenvolvimento, contemplada apenas no artigo
191 deste instrumento, dividindo o teor do texto com o desenvolvimento industrial, conforme
segue:
Art. 191 As aes de promoo da atividade industrial e de minerao devero buscar
a realizao dos seguintes objetivos:
I - Promover a constituio de pequenos empreendimentos de origem local, cooperativas
de artesanato, alimentos e outros similares, integrando os encadeamentos econmicos,
quais sejam extrao e/ou produo, transformao e beneficiamento;
II - Desenvolver a infraestrutura para o exerccio de atividades industriais e de minerao
em harmonia e em correspondncia com as diretrizes para a ocupao urbana
preestabelecida;
III - Adequar as atividades industriais e de minerao s normas de preservao ambiental
e s caractersticas ecolgicas e histricas do Municpio, subordinando as atividades que
causam impactos ao meio ambiente natural e urbano, em especial a atividade mineradora,
a um rigoroso licenciamento ambiental, fiscalizao, monitoramento constante e
obrigatoriedade de preservao e recomposio dos ambientes por ventura afetados, com
destaque para o retorno social das comunidades envolvidas.
4.14 Nesse sentido, cumpre transcrever a opinio do Secretrio Municipal de Planejamento
sobre o assunto:
Nosso plano diretor de 2003 e foi concebido para um municpio turstico e no um
municpio minerrio. Em 2007 foi proposta uma reviso, com adequao para a atual
situao do municpio. Porm, em virtude de problemas polticos no municpio (...) o
plano ainda no foi votado. Em 2014 houve reincio das movimentaes para construo
e aprovao de novo Plano.
4.15 O Secretrio ao falar em adequao para a situao atual do municpio refere-se sua nova
condio de municpio cuja atividade de maior relevncia econmica a minerao.
4.16 O prazo para a reviso do Plano Diretor estabelecido na Lei Federal n 10.257/2001 -
Estatuto das Cidades, conforme reproduzido a seguir:
Art. 40. (...) (...)
3o A lei que instituir o plano diretor dever ser revista, pelo menos, a cada dez anos. 4o No processo de elaborao do plano diretor e na fiscalizao de sua implementao,
os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantiro: I a promoo de audincias pblicas e debates com a participao da populao e de
associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade; II a publicidade quanto aos documentos e informaes produzidos;
25
III o acesso de qualquer interessado aos documentos e informaes produzidos.
4.17 Nesse sentido, aps a realizao de estudos e de audincias pblicas no Municpio, foi
elaborado o Plano Diretor Participativo encaminhado Cmara Municipal na forma do Projeto de
Lei Complementar n 03/2015. O Projeto deu entrada na Cmara em 28/05/15 e estava em
tramitao naquela Casa poca da elaborao deste Relatrio.
4.18 Verificou-se, portanto, que a estratgia de diversificao da economia local apresentada
pela Administrao Municipal revela-se insuficiente para lidar com a realidade de explorao
mineral que caracteriza atualmente a cidade de Conceio do Mato Dentro. Essa situao
relaciona-se a diversas causas, dentre as quais se destacam: a) no apresentao de programas para
o desenvolvimento local sustentvel em um contexto de explorao mineral; b) deficincias no
processo de implementao das polticas de desenvolvimento setorial.
a) No apresentao de programa para o desenvolvimento local sustentvel em um
contexto de explorao mineral
4.19 A nova realidade econmica do Municpio de Conceio do Mato Dentro traz
oportunidades de desenvolvimento bem como problemas decorrentes da atividade minerria que
devem ser considerados pela administrao local. Porm, no foram apresentados programas,
planos ou planejamento que definam uma estratgia local com vistas diversificao econmica
do municpio em um contexto de explorao mineral.
4.20 Deve ser destacado que, conforme informaes prestadas, a Administrao Municipal
prev significativo aumento das receitas municipais. Conforme o documento Cenrios Atuais e
Desafios Futuros do Planejamento Territorial de Conceio de Mato Dentro, de abril/2013, a
arrecadao da CFEM vem projetando um crescimento da ordem de 30%, conforme Tabela 1,
reproduzida a seguir.
Tabela 1 - Projeo da Receita Corrente Lquida
Realizada Mdia de
crescimento
Projetada (mdia aritmtica)
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
16.501.216,77 21.259.894,26 30.347.486,19 35.980.375,80 30,00% 46.791.865,17 60.852.022,73 79.137.017,88 102.916.342,27
28,80% 42,70% 18,60% 30,00% 30,00% 30,00% 30,00%
Fonte: Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro (Cenrios atuais e Desafios Futuros do Planejamento Territorial de CMD-abril/2013).
26
4.21 Ressalta-se que, com base neste estudo, a receita prevista para o exerccio de 2016 alcana
o patamar de aproximadamente R$ 103.000.000,00 (cento e trs milhes de reais), montante
expressivo diante de um quadro populacional em torno de 20.000 habitantes.
4.22 O futuro projeta Conceio do Mato Dentro como um dos municpios com expressivo PIB
per capita. Este quadro sinaliza que o municpio j deveria possuir um estudo de longo prazo,
viabilizando projetos estratgicos custeados com a arrecadao da CFEM, a fim de lidar com as
oportunidades e os problemas advindos da explorao mineral.
4.23 Diante do exposto, seria necessria a definio de uma estratgia de desenvolvimento local
sustentvel em vista dessa nova realidade, considerando os diversos setores que compem a
economia local, as novas oportunidades surgidas e o ambiente socioeconmico atual. Desse modo,
partindo de um diagnstico que revele as potencialidades do Municpio em face dessa realidade
minerria, podero ser definidos os objetivos a serem alcanados, partindo de premissas que devem
ser respeitadas para que o processo de desenvolvimento tenha coerncia e sustentao.
b) Deficincias no processo de implementao das polticas de desenvolvimento setorial
4.24 As aes relativas implementao do Plano Municipal do Turismo e do Plano de
Desenvolvimento Rural de Conceio do Mato Dentro, apesar de decorrido grande lapso temporal
desde sua definio inicial, no esto concludas, o que denota a existncia de deficincias em seu
processo de implementao.
4.25 A elaborao do Plano Municipal de Turismo encontra-se prevista no art. 194 do Plano
Diretor, institudo pela Lei Complementar n 20/2003, transcrito a seguir:
Art. 194 - Em face da importncia de Conceio do Mato Dentro em termos de atrativos
e potencial para o turismo, atividade esta que j vem se consolidando no Municpio, e a
sua insero em uma rea mais ampla de potencial turstico tambm relevante (Circuitos
Tursticos da Serra do Cip, do Diamante, da Estrada Real), o desenvolvimento de um
Plano Municipal de Turismo dever se apoiar nas seguintes diretrizes:
I - Adequao e melhoria das condies internas do Municpio para melhor receptividade
e dinamizao do fluxo de visitantes;
II Insero do Municpio nos circuitos tursticos da regio, visando sua consolidao
como um espao mais amplo de atividades para o turismo;
III Implantao de planos de manejo das unidades de conservao, assim como dos
atrativos naturais pblicos e privados.
27
4.26 O Plano Municipal de Turismo foi elaborado em 29/04/2013 no mbito do Programa de
Apoio ao Turismo, constante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Minas-
Rio Minerao da empresa Anglo American.
Figura 1 - Igreja do Rosrio
4.27 Nesse sentido, a Lei Municipal n 2.075, de 30/12/13, dispe sobre a Poltica Municipal de
Turismo Responsvel, o Sistema Municipal de Turismo, o funcionamento das atividades e
empreendimentos tursticos e o Fundo Municipal de Turismo. Essa legislao estabelece a
necessidade de elaborao de diversos instrumentos para a operacionalizao da legislao de
turismo. Dentre eles, destaca-se o Plano Diretor de Turismo, definido no 5 do art. 4 da referida
Lei:
Art. 4 (...)
(...)
5 O Plano Diretor de Turismo o documento tcnico que dever conter as diretrizes e
estratgias para o turismo do municpio para um perodo de 04 anos de acordo com o
Plano Plurianual de Ao Governamental.
28
4.28 O Plano Diretor de Turismo, conforme o inciso II do art. 4, composto pelas seguintes
fases e documentos: a) diagnstico turstico; b) zoneamento turstico; c) Plano de
Desenvolvimento Turstico; d) Plano de Marketing Turstico.
4.29 A Lei n. 2.075/2013 criou tambm o Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos PGAT,
como segue:
Art. 9 - Fica criado o Plano de Gesto dos Atrativos Tursticos PGAT, instrumento que
poder ser implementado nos atrativos tursticos devidamente licenciados pela Secretaria
Municipal de Turismo e que conter um plano das atividades tursticas na propriedade,
no intuito de aprimorar continuamente a qualidade da infraestrutura e da segurana dos
produtos e servios prestados oferecidos pelos atrativos, bem como sua sustentabilidade
ambiental.
4.30 A referida Lei Municipal tambm determina a apreciao do Conselho Municipal de
Turismo - COMTUR e a reviso peridica, como segue:
Art. 9 (...)
(...)
3 - O PGAT dever ser submetido ao COMTUR e dever ser revisto a cada 02 (dois)
anos podendo ser alterado durante sua vigncia desde que com anuncia prvia do
COMTUR.
4.31 poca da realizao desta auditoria operacional, o Plano Diretor de Turismo e o Plano
de Gesto dos Atrativos Tursticos ainda no estavam em elaborao. A demora na normatizao
desses instrumentos remete-nos morosidade de algumas aes necessrias adequada e eficiente
explorao dos pontos tursticos de Conceio do Mato Dentro, tais como o Parque Municipal
Salo de Pedras e o Parque Natural Municipal Ribeiro do Campo onde localiza-se a Cachoeira
do Tabuleiro.
4.32 Em relao ao setor agropecurio, a adoo de polticas pblicas de desenvolvimento rural
constitui uma importante fonte de diversificao econmica do municpio, principalmente se
considerados fatores como o aumento da arrecadao municipal decorrente da CFEM, o Convnio
realizado com a Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado de Minas Gerais
Emater e a relativa proximidade com a Capital. Nesse sentido, destaca-se o seguinte inciso da Lei
Municipal Complementar n 20/2003, que instituiu o Plano Diretor:
Art. 189 - So partes integrantes da poltica municipal de desenvolvimento econmico:
(...)
VI - A implementao de uma poltica rural que dissemine culturas e tcnicas adequadas
ao aumento da produtividade das atividades agrcolas e da criao de animais;
29
4.33 A respeito do assunto deve ser destacada a vigncia da Lei Municipal n. 1.651/2001,
anterior ao Plano Diretor, que dispe sobre a Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural,
institui o Sistema de Desenvolvimento de Atividade Rural - Conselho e Fundo Municipal de
Desenvolvimento de Atividade Rural.
4.34 A referida Lei, alterada pela Lei Municipal n. 1.896/2007, determina em seu artigo
primeiro que a poltica de desenvolvimento rural ser planejada e executada com vistas a
incrementar a produo agropecuria do municpio e dotar o trabalhador rural de meios para que
permanea no campo e tenha uma satisfatria qualidade de vida. J em seu art. 7 instituiu o
Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural COMUDAR, como segue:
Art. 7 - Fica institudo o Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural
COMUDAR, rgo gestor do desenvolvimento rural sustentvel do Municpio de
Conceio do Mato Dentro, estado de Minas Gerais, que ter funo consultiva ou
deliberativa, segundo o contexto de cada poltica pblica ou programa de
desenvolvimento rural em implementao.
Pargrafo nico. O Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural
COMUDAR vinculado Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuria e
Abastecimento.
4.35 Ainda assim, a legislao promulgada nos exerccios de 2001 e 2007 ainda no foi
efetivamente implementada, sendo que a Prefeitura no apresentou as aes de promoo e
incremento da atividade agropecuria em consonncia com a referida normatizao legal
detalhadas a seguir.
4.36 Conforme documentao apresentada por tcnicos da Prefeitura Municipal, os membros
efetivos e suplentes do COMUDAR foram nomeados em 09/08/2013 por meio do Decreto n
039/2013. O mandato dos membros do Conselho de 02 (dois) anos, conforme disposto no
pargrafo 3 do artigo 9 da Lei Municipal n. 1.651/2001, permitida uma reconduo por igual
perodo. Ressalta-se que no foi informada pela Prefeitura Municipal a composio atual do
Conselho, uma vez que o mandato a que se refere o Decreto n 039/2013 expirou em 10/08/2015.
4.37 Cabe ao COMUDAR, nos termos da Lei Municipal n. 1.651/2001, alterada pela Lei
Municipal n. 1.896/2007:
Art. 8 - Respeitadas as competncias exclusivas do Poder Legislativo Municipal,
compete ao Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural:
I - deliberar sobre a Poltica Municipal de Desenvolvimento da Atividade Rural;
II - fixar diretrizes a serem observadas na elaborao do Plano Plurianual de
Desenvolvimento da Atividade Rural para o Municpio;
30
III - assegurar a execuo do Plano Plurianual de Desenvolvimento da Atividade Rural
para o Municpio;
4.38 Por meio de consulta ao site do Municpio, verificou-se, conforme a notcia PDR comea
a ser debatido e formatado que em 16/06/2015 aconteceu o primeiro seminrio para elaborao
do Plano de Desenvolvimento Rural de Conceio do Mato Dentro.7 A Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Rural encaminhou as propostas discutidas no evento realizado na ocasio.
Observa-se que foram listadas propostas de programas municipais para a agricultura e a pecuria.
Consta tambm da documentao o Plano de Trabalho do Posto Agropecurio, com o objetivo de
orientar e sistematizar as aes a serem executadas em 2015 e que, conforme informaes
prestadas, seria apresentado em reunio do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural -
CMDRS.
4.39 Cabe ressaltar que a legislao em vigor menciona o COMUDAR e no CMDRS, no
tendo sido apresentada legislao que altere o nome do Conselho Municipal referente ao setor
rural. Alm disso, observa-se que a documentao no apresenta datas de incio e concluso das
fases que compem o Plano, bem como responsveis e detalhamento de tarefas.
4.40 Nos termos da legislao anteriormente transcrita, infere-se o papel central que o
COMUDAR teria na implementao do Plano. Porm, uma vez que, apesar de solicitadas, no
foram apresentadas as atas do COMUDAR relativas ao perodo de agosto de 2013 a agosto de
2015, no foi possvel verificar em que estgio encontram-se as aes relativas implementao
do Plano de Desenvolvimento Rural.
Efeitos da insuficincia da estratgia de diversificao da economia local
4.41 Como efeitos da insuficincia da estratgia de diversificao da economia local pode ser
destacado o seguinte:
A perda de eficcia e de eficincia dos programas de desenvolvimento econmico
municipal devido ao longo tempo de implementao; e
A baixa diversificao da economia local.
7 Disponvel em: http://cmd.mg.gov.br/noticias/pdr-comeca-a-ser-debatido-e-formatado. Acesso em 20/08/2015.
http://cmd.mg.gov.br/noticias/pdr-comeca-a-ser-debatido-e-formatado
31
Determinaes
4.42 Em vista do no atendimento solicitao desta equipe de auditoria, entende-se que cabe
determinar Prefeitura Municipal de Conceio do Mato Dentro que:
Esclarea se o rgo gestor do desenvolvimento rural sustentvel do Municpio de
Conceio do Mato Dentro o Conselho Municipal de Desenvolvimento da Atividade
Rural COMUDAR, conforme Lei Municipal n. 1.896/2007, ou o Conselho
Municipal de Desenvolvimento Rural CMDRS, mencionado em documentao
enviada pela Prefeitura Municipal, apresentando documentao e/ou legislao
pertinente;
Apresente o Decreto de nomeao dos atuais membros efetivos e suplentes do
COMUDAR;
Apresente as atas do COMUDAR relativas ao perodo de agosto de 2013 a agosto de
2015.
Recomendaes
4.43 Em vista do exposto, recomenda-se que a Prefeitura Municipal de Conceio do Mato
Dentro:
Apresente plano municipal que contenha a definio de uma estratgia de
desenvolvimento local sustentvel, considerando os diversos setores que compem a
economia local, o ambiente socioeconmico atual e futuro e as novas oportunidades
surgidas para que, partindo de um diagnstico que revele as potencialidades do Municpio,
estejam definidos os objetivos a serem alcanados.
Mantenha arquivos sistematizados dos documentos referentes Poltica Municipal de
Turismo e Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural, bem como de outros projetos
relacionados diversificao econmica local, a fim de que seja preservada a memria
dessas iniciativas para futuras consultas, auditorias e prestaes de contas.
32
Em relao Poltica Municipal de Turismo:
Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano Diretor de Turismo,
cujos documentos e fases esto especificados na Lei Municipal n 2.075/2013, com a
identificao dos responsveis pelas aes e a previso de datas para seu incio e concluso;
Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano de Gesto dos
Atrativos Tursticos, criado pela Lei Municipal n 2.075/2013, com a identificao dos
responsveis pelas aes e a previso de datas para seu incio e concluso.
Em relao Poltica de Desenvolvimento da Atividade Rural:
Apresente o cronograma de aes referente elaborao do Plano de Desenvolvimento
Rural, com a identificao dos responsveis pelas aes e a previso de datas para seu
incio e concluso.
Benefcios esperados
4.44 Com a implementao dessas medidas, espera-se obter os seguintes benefcios:
Aumento da transparncia dos programas de diversificao da economia local;
Reduo do prazo de implementao dos programas de diversificao econmica;
Maior eficincia na diversificao da economia local.
33
5. PARTICIPAO DO MUNICPIO DE CONCEIO DO MATO DENTRO NO MBITO DO LICENCIAMENTO E NA
FISCALIZAO DAS CONDICIONANTES E DOS IMPACTOS
AMBIENTAIS DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERRIA
5.1. Este captulo tem por objetivo avaliar a participao do municpio no processo de
licenciamento desenvolvido pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos -
SISEMA, bem como a atuao municipal na fiscalizao e na verificao do cumprimento das
condicionantes do licenciamento e dos impactos ambientais da minerao.
5.2. Foram realizadas entrevistas e anlises documentais que permitiram avaliar o nvel de
participao do Municpio no processo de licenciamento, assim como a estrutura, a legislao e as
aes de fiscalizao ambiental municipais no contexto minerrio. Procurou-se identificar ainda
se h interao entre o setor de meio ambiente do Municpio e o SISEMA, principalmente quanto
ao processo de licenciamento, e a colaborao na fiscalizao dos empreendimentos minerrios.
5.3. Como identificado no Relatrio de Auditoria Operacional: Gesto Estadual das Atividades
de Extrao do Minrio de Ferro, em elaborao nesta Corte, o SISEMA apresenta diversas
dificuldades para realizar o licenciamento dos empreendimentos minerrios e para acompanhar e
fiscalizar o cumprimento das garantias e compromissos assumidos pelo empreendedor minerrio
na forma de condicionantes. Nesse sentido, a atuao em parceria com o Municpio seria de grande
importncia para aumentar a eficcia, eficincia e efetividade da atuao do SISEMA.
5.4. A complexidade dos impactos gerados pela minerao, o estabelecimento de
condicionantes que no guardam relao com as reais necessidades do Municpio e a falta de
acompanhamento de seu cumprimento fazem com que o processo de licenciamento perca
efetividade. Assim, o Municpio acaba arcando com o nus decorrente dos impactos gerados pela
minerao ou dos gastos para sua mitigao.
5.5. A Constituio Federal de 1988, em seu art. 225, estabelece como direito o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, cabendo ao poder pblico avaliar os empreendimentos com potencial
impacto ambiental e ao empreendedor recuperar o meio ambiente degradado, conforme segue:
Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e
coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.
1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:
(...)
34
IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora
de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que
se dar publicidade;
(...)
2 Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na
forma da lei.
3 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os
infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas,
independentemente da obrigao de reparar os danos causados.
5.6. A complexidade da avaliao de impactos da minerao sobre o meio ambiente, bem como
a extrapolao dos limites polticos municipais exigem a atuao conjunta e complementar dos
entes da federao, de maneira que a Constituio Federal define no art. 23 como competncia
comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:
Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municpios:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas;
(...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao
de recursos hdricos e minerais em seus territrios;
5.7. A Lei Federal n 6.938/1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente,
instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA, constitudo por rgos e entidades
da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios, bem como as
fundaes institudas pelo Poder Pblico, responsveis pela proteo e melhoria da qualidade
ambiental. Nessa estrutura, aos rgos locais compete:
Art. 6 - Os rgos e entidades da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios
e dos Municpios, bem como as fundaes institudas pelo Poder Pblico, responsveis
pela proteo e melhoria da qualidade ambiental, constituiro o Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:
(...)
VI - rgos Locais: os rgos ou entidades municipais, responsveis pelo controle e
fiscalizao dessas atividades, nas suas respectivas jurisdies;
(...)
1 - Os Estados, na esfera de suas competncias e nas reas de sua jurisdio, elaboraro
normas supletivas e complementares e padres relacionados com o meio ambiente,
observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.
2 Os Municpios, observadas as normas e os padres federais e estaduais, tambm
podero elaborar as normas mencionadas no pargrafo anterior.
5.8. Com base nas legislaes federal e estadual, o empreendedor responsvel pela
recuperao do ambiente degradado. Cabe ao poder pblico identificar esses impactos, com o
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.938-1981?OpenDocument
35
auxlio dos Estudos de Impacto Ambiental EIA realizados pelo empreendedor, e estabelecer
condicionantes que garantam a recuperao do ambiente degradado e a mitigao ou a
compensao dos impactos sofridos pelo ambiente e pela sociedade. Estado e Municpio devem
atuar de forma complementar na proteo ao meio ambiente, sendo que o Municpio tem a
competncia para fiscalizar empreendimentos em seu territrio que possam causar impactos ao
meio ambiente.
5.9. O Cdigo Ambiental, Lei Municipal n 2.119/2015, instituiu a Poltica Municipal de Meio
Ambiente, e no inciso VIII do artigo 11 tambm prev a cooperao entre os governos, a iniciativa
privada e os demais setores da sociedade para a preservao, manuteno e recuperao da
qualidade de vida. O artigo 5 d destaque ao dever de todo cidado informar ao Municpio sobre
atividades poluidoras ou que degradem o ambiente das quais tiver conhecimento e define prazo
para resposta do rgo ambiental.
5.10. O artigo 3 por sua vez, estabelece como princpios a sustentabilidade e a precauo, e em
acrscimo as seguintes finalidades:
XII - Garantia populao do direito informao sobre os processos de localizao e
padres de operao de empreendimentos potencialmente poluidores, e seus possveis
impactos;
(...)
XIV - Quem realizar obras ou atividades que afetem ou possam afetar o ambiente, est
obrigado a prevenir, minimizar e reparar os danos que causar, em conformidade com o
princpio do poluidor pagador e com as regras que estabelece esta Lei;
5.11. As atribuies do rgo Municipal de Meio Ambiente definidas no art. 17 do Cdigo
Ambiental, em acrscimo s definidas em outras leis, compreendem:
XXII. Executar a fiscalizao ambiental como medida destinada defesa e conservao
da integridade ambiental e aplicar as penalidades previstas nesta Lei e em seus
regulamentos;
(...)
XXVI. Exigir e acompanhar o estudo de impacto ambiental, anlise de risco e
licenciamento, para instalaes e ampliaes de obras ou atividades potencialmente
poluidoras, conforme a legislao vigente, dando-lhe publicidade;
5.12. O Cdigo Ambiental define ainda dentre as competncias do CODEMA, em seu artigo 22:
XIII receber as denncias feitas pela populao, diligenciando, no sentido de sua
apurao, encaminhando aos rgos municipais e estaduais responsveis e sugerindo as
providncias cabveis;
36
(...)
XVII deliberar, aps a anlise da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o Termo de
Anuncia, previsto no art. 10, 1, da Resoluo CONAMA n 237, de 19/12/1997 e
declarao de conformidade ambiental para todos os fins;
5.13 Para a implementao da poltica ambiental municipal foi criado o Fundo Municipal de
Meio Ambiente FUNDEMA, por meio da Lei Municipal n1867/2006 e alteraes do Cdigo
Ambiental. O FUNDEMA o rgo financiador das aes de recuperao, melhoria, restaurao
dos ecossistemas, recursos hdricos e demais atributos do meio ambiente natural e urbano do
municpio e conta como fonte de recursos financeiros 10% (dez por cento) da Compensao
Financeira pela Explorao de Recursos Minerais (CFEM), conforme o inciso IX do artigo 30 da
Lei Municipal n 2119/2015 Cdigo Ambiental.
5.14 Sendo assim, foi analisada a atuao do rgo ambiental municipal no processo de
licenciamento ambiental, no acompanhamento das condicionantes e na fiscalizao dos
empreendimentos minerrios.
Reduzida atuao do Municpio no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos
minerrios e no acompanhamento e fiscalizao das respectivas condicionantes
5.15 Os empreendimentos minerrios de maior porte no municpio foram licenciados pelo
Estado com reduzida participao da Prefeitura e de seus tcnicos. Evidenciou-se ainda o pouco
envolvimento do Municpio na fiscalizao do cumprimento de condicionantes e dos impactos
ambientais. Algumas condicionantes no tm sido cumpridas em sua completude e os impactos
ambientais e sociais so sentidos por todos os entrevistados.
5.16 Os processos de licenciamento em minerao do municpio esto todos relacionados ao
empreendimento Minas Rio, compreendendo Mina de lavra a cu aberto, a linha de transmisso e
o mineroduto Conceio do Mato Dentro So Joo da Barra/RJ, sendo esse ltimo licenciado
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA e os
outros dois pelo SISEMA.
Atuao do municpio no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos minerrios
5.17 Foram solicitados Prefeitura o processo de concesso da Declarao de Conformidade do
empreendimento legislao municipal, documentos relativos s comunicaes do Municpio com
o SISEMA e processos de fiscalizao de empreendimentos minerrios no Municpio.
37
5.18 Em Conceio do Mato Dentro os pedidos de Declarao de Conformidade com as leis e
regulamentos administrativos do Municpio so formalizados pelo empreendedor, que deve
apresentar os estudos e documentos solicitados pela Prefeitura. Apesar de terem sido apresentadas
as comunicaes demandando informaes complementares, no foi apresentado o parecer tcnico
da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e nem a manifestao do CODEMA.
5.19 A relao entre SISEMA e Municpio incipiente, com frgil comunicao no
licenciamento e acompanhamento das condicionantes. Segundo o tcnico de meio ambiente
entrevistado no h um canal efetivo e contnuo de comunicao com o SISEMA.
5.20 Os tcnicos e o Secretrio entrevistados declararam que o Municpio no informado
oficialmente sobre as condicionantes dos processos de licenciamento realizados pelo Estado, e,
ainda, que no h participao da Prefeitura no processo de licenciamento, exceto pela emisso da
Declarao de Conformidade do empreendimento legislao municipal.
5.21 Quanto ao EIA/RIMA, os tcnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente disseram
que no so consultados pelo empreendedor ou por empresa por ele contratada na sua elaborao.
Conforme declarao do tcnico TMA78 No h como efetivar essa participao, pois no h
equipe multidisciplinar capacitada o suficiente.
Fiscalizao de impactos ambientais e acompanhamento do cumprimento de condicionantes dos
empreendimentos minerrios
5.22 Nessa auditoria pode ser verificada ainda a deficincia no acompanhamento das
condicionantes pelo SISEMA e pela Secretaria de Municipal de Meio Ambiente. Conforme relato
do tcnico TMA7, no h um acompanhamento frequente e sistemtico. No h estrutura para
isso. O acompanhamento ocorre de forma espordica.
5.23 Segundo o tcnico de meio ambiente e o Secretrio as condicionantes no vm sendo
cumpridas no prazo estabelecido.
As condicionantes esto sendo cumpridas em parte. Algumas esto sendo cumpridas. No
se sabe exatamente o percentual (TMA-7).
5.24 A prefeitura relata descumprimento de diversas condicionantes, ou o seu cumprimento fora
do prazo, o que em ambos os casos compromete a mitigao dos impactos da minerao, em
TMA8 - Tcnico de Meio Ambiente - Para manter o anonimato dos tcnicos entrevistados foram criados cdigos que permitem diferenciar os informantes mas manter sua identidade protegida.
38
especial os advindos da fase de implantao. Nessa fase houve aumento da populao devido ao
grande nmero de funcionrios para as obras de implantao. Entre outros impactos pode-se
destacar a sobrecarga na infraestrutura da cidade, como o aumento na gerao de resduos slidos
e procura por moradias. Nos pargrafos seguintes apresentado um breve histrico sobre as
condicionantes estabelecidas para mitigao desses dois impactos.
Condicionante sobre resduos slidos
5.25 Conforme parecer nico do SISEMA, no.757545/2010 SUPRAM/Jequitinhonha, que trata
da avaliao para concesso da Licena de Instalao LI da Fase II da mina e barragem de rejeito
do Empreendimento Anglo Ferrous Minas Rio Minerao S/A, a condicionante 31 da Licena
Prvia LP foi considerada cumprida. A condicionante 31 determinava mineradora:
Prover assessoria tcnica aos municpios da ADA para disposio adequada de resduos
slidos urbanos at que os mesmos obtenham financiamento para construo de um aterro
intermunicipal, em consonncia com o disposto no Programa de adequao da
Infraestrutura Urbana.
5.26 Nesse mesmo parecer, os tcnicos relatam que a mineradora apresentou ofcios solicitando
uma reunio para discutir essa assessoria tcnica, e que os municpios em reunio teriam informado
que esto de acordo com a legislao estadual no que se refere disposio de resduos slidos
e que no necessitavam do apoio da Anglo. Acrescentam ainda, que no foram apresentados
documentos que comprovassem esse posicionamento dos municpios, e que pelo menos dois
desses municpios, Alvorada e Conceio do Mato Dentro, foram autuados em 2005 e 2009 por
disposio inadequada dos resduos slidos urbanos. Nesse ponto ressalta-se que a finalidade dessa
condicionante foi a disposio adequada dos resduos at que o aterro intermunicipal fosse
construdo, o que pelo relato do prprio SISEMA no foi comprovado. Entretanto a condicionante
foi considerada cumprida.
5.27 A condicionante 74 da LP determinou:
Prover suporte tcnico e financeiro para a obteno dos recursos necessrios a viabilizar
o Consrcio Intermunicipal para implantao do aterro sanitrio comum aos municpios
de Conceio do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim.
39
5.28 Conforme consta do parecer nico, foram realizadas reunies para a consecuo do aterro
intermunicipal, mas ainda nos estgios iniciais, sendo recomendado o envio pela mineradora de
relatrios trimestrais para o acompanhamento pelo SISEMA.
5.29 Verifica-se que no h meno no parecer nico do SISEMA de consulta aos municpios
que deveriam estar envolvidos nessas aes, assim como de qualquer manifestao formal desses
junto ao SISEMA, indicando a desarticulao entre SISEMA e Municpio quanto ao
acompanhamento das condicionantes.
5.30 Com base nas anlises citadas foi emitida a licena de instalao da Fase II, com as
seguintes condicionantes para os resduos slidos:
35 Enviar relatrio detalhado das aes de assessoria tcnica prestada aos municpios d
AID para disposio adequada de resduos slidos urbanos at que os mesmos obtenham
financiamento para construo de um aterro intermunicipal.
56 Apresentar relatrio detalhado das seguintes atividades relacionadas proposta de
criao do Aterro Intermunicipal: assessoria para implantao de projeto de coleta
seletiva; assessoria para aprovao de lei de consrcio intermunicipal; definio
conceitual de sistema de gesto de resduos slidos a ser implantado nos municpios;
dimensionamento do aterro sanitrio; elaborao de estudos de alternativas locacionais
para implantao do aterro; e elaborao de projeto de captao de recursos para
implantao do aterro sanitrio intermunicipal.
5.31 Conforme Ofcio no. 12/2012, do Secretrio de Meio Ambiente ao Prefeito Municipal de
Conceio do Mato Dentro, so relatados os descumprimentos de condicionantes, como
apresentado a seguir.
5.32 A condicionante 4 da Licena Prvia determinava:
Apresentar proposta de apoio prefeitura de Conceio do Mato Dentro para implantao
de aterro sanitrio municipal com unidade de triagem e compostagem e coleta seletiva,
tendo em vista o aumento da demanda que deve ocorrer na fase de implantao do
empreendimento (...) Prazo na formalizao da LI.
5.33 O Secretrio aponta no referido Ofcio que as condicionantes relativas aos resduos slidos
foram alteradas ao longo do processo de licenciamento (LP, LI e LO), tornando-se mais flexveis,
e que mesmo assim essas condicionantes no foram cumpridas. Os resduos do Municpio,
inclusive os gerados pelo empreendimento, ainda eram dispostos no lixo do Municpio. Entre
outras medidas tomadas pela Prefeitura est a proibio s empresas contratadas pela mineradora
de lanar seus resduos no referido lixo, posteriormente alterado para proibio de lanamento
somente dos inertes, e por fim, como uma solicitao para que a mineradora fornecesse
40
equipamentos e pessoal para a operao do aterro controlado. Entretanto, a empresa no atendeu
solicitao, e esse apoio ainda est em negociao.
5.34 No referido Ofcio consta ainda comentrio quanto a uma visita tcnica realizada pelo
SISEMA para avaliao de cumprimento de condicionantes e respectivo parecer. Nesse parecer as
condicionantes relativas aos resduos so dadas como cumpridas ou parcialmente cumpridas,
apesar de haver vrias aes no realizadas.
5.35 Dessa maneira os resduos slidos gerados pelo empreendimento de 2009 a 2011 foram
dispostos no lixo, Figura 2, e os correspondentes impactos gerados pela minerao no foram
mitigados, restando portanto o dano ao meio ambiente, sade e qualidade de vida da populao.
Ademais, os custos incrementados foram absorvidos pelo poder municipal.
Figura 2 Lixo de Conceio do Mato Dentro
Condicionante relativa habitao
5.36 Dentre as condicionantes da LI devido ao impacto sobre a infraestrutura local causado pela
populao flutuante das empreiteiras foi solicitado tambm:
49-Comprovar a prestao de auxlio tcnico prefeitura municipal de Conceio do
Mato Dentro visando a elaborao d
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