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AstroPT Magazine. Edição de setembro de 2012. Publicação mensal com os posts relevantes do sítio astropt.org
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astroPT magazine
Outubro 2012 Volume 2 Edição 10
Página 2
ASTROFOTOGRAFIA Outubro 2012
Aurora na IslândiaAurora na Islândia
Aurora em Jökulsárlón, na Islândia, a 1 de Outubro de 2012. Crédito: Tony Power
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Volume 2 Edição 10 ASTROFOTOGRAFIA
Via Láctea nos EUAVia Láctea nos EUA
Via Láctea sobre Monument Valley. Crédito: Wally Pacholka
Mais AurorasMais Auroras
Anchorage, Alaska, na noite de 12 de Outubro de
2012 .Crédito: Carl Johnson
Via Láctea e Aurora na Austrália
Aurora no Canadá. Crédito: Sharleen Chao
O “nosso” Miguel Claro, utilizou 170 das suas astrofotos para criar este belíssimo mosaico (LPOD).
Carlos Oliveira
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ASTROFOTOGRAFIA Outubro 2012
Mosaico de fotografiasMosaico de fotografias
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Volume 2 Edição 10 ASTROFOTOGRAFIA
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EDUCAÇÃO Outubro 2012
Portugal acaba de conseguir o melhor resultado
de sempre nas Olimpíadas Ibero-Americanas de
Matemática (OIAM) de 2012, que decorreram
entre 29 de setembro e 6 de outubro em Cocha-
bamba, na Bolívia.
Através de uma equipa composta na íntegra por
alunos do Ensino Secundário, de Escolas Públicas
de norte a sul do país, Portugal arrecadou uma
medalha de ouro e três medalhas de prata.
Temos aqui jovens com enorme potencial e futu-
ro!
Medalhas ganhas por aluno/ano:
David Martins (11ºano) – medalha de ouro
Luis Duarte (12ºano) – medalha de prata
Miguel Moreira (11ºano) – medalha de prata
Miguel Santos (12ºano) – medalha de prata
Portugal reluziu a ouro e prata nas
Olimpíadas Ibero-Americanas de
Matemática
Da esquerda para a direita: Miguel Santos (estudante do 12º ano, em Alcanena), Miguel Moreira (estudante do 11º ano, em Lis-
boa), Luís Duarte (estudante do 12º ano, em Alcains), David Martins (estudante do 11º ano, em Mirandela) e Paulo Antunes
(professor do Departamento de Matemática da FCT da U. de Coimbra).
Na classificação por países (18 no total), Portugal
conseguiu um extraordinário segundo lugar o
que lhe garantiu a suamelhor pontuação de sem-
pre, e lhe valeu a distinção com a Copa Puerto
Rico, que é atribuída ao país com a melhor evo-
lução na classificação nos últimos três anos.
Como curiosidade destaco que foi precisamente
o aluno mais novo deste grupo, David Martins, o
responsável por trazer para terras lusitanas uma
medalha de ouro, um feito extraordinário tendo
em conta que todos os participantes concorrem
em pé de igualdade.
Esta foi a 27ª edição das OIAM, onde Portugal
obteve 136 pontos tendo superado largamente o
recorde nacional anterior, que era de 108 pon-
tos. O nosso país participa desde 1990 neste
evento, e as equipas nacionais já arrecadaram
duas medalhas de ouro, em 2007 e 2012, 11
medalhas de prata, 30 de bronze e 10 menções
honrosas.
De realçar que a participação da delegação por-
tuguesa nas competições internacionais é organi-
zada pela Sociedade Portuguesa de Matemáti-
ca (SPM) e que a preparação e seleção dos alu-
nos estão a cargo do Projecto Delfos da Universi-
dade de Coimbra, liderado pela professora Joana
Teles, que tem efetuado um excelente e rigoroso
trabalho.
O ano de 2012 continua a ser profícuo para os
nossos jovens alunos matemáticos, como já havia
sido noticiado na Imprensa Regional por António
Piedade, pois entre 8 e 15 de julho deste ano, em
Mar da Prata
na Argentina,
uma equipa
portuguesa
conseguiu o
melhor resul-
tado de sem-
pre em Olimpíadas Internacionais de Matemática
(OIM): uma medalha de ouro, uma de prata, duas
de bronze e uma menção honrosa.
Pessoalmente, estou muito contente e satisfeito
com esta e outras notícias que têm saído sobre o
potencial científico dos nossos jovens. Dêem-lhes
condições, acreditem neles, e verão que o limite
é o céu! Isto vale tanto para a Matemática como
para outras áreas do conhecimento humano.
Pena que as condições que atualmente o país
oferece a estes, e outros jovens de valor, sejam
muito abaixo do que deveriam e poderiam ser!
Quem estiver interessado em saber mais deta-
lhes pode ler o comunicado de imprensa da
Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM).
——————————————————————
Este é um artigo do autor-convidado, João Pedro
Cesariny Calafate: Professor do Ensino Básico de
Matemática e Ciências da Natureza, criador,
coordenador e editor do projeto de educação/
divulgação de ciência e tecnologia – Ciência com
Todos.
——————————————————————
Manel Martins
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Volume 2 Edição 10 OLIMPÍADAS
De quando em vez, surgem referências ou comentários, no AstroPt, sobre os chemtrails. Aliás, foi aqui mesmo, neste site, que tive conhe-cimento de tal fenómeno. Questionei as pessoas à minha volta sobre tal assunto, e, recorrente-mente, respondiam-me que não sabiam do que eu estava a falar. Concluí que se deveria tratar de um tema isolado geograficamente nas Américas, e que ainda não havia chegado a Portugal. Acabei por não dar grande importância ao assunto, até há pouco tempo, quando voltei a deparar-me, nas redes sociais, com um documentário que abordava esta temática.
Com o burburinho que se começava a formar, decidi averiguar do que se tratava. Da pesquisa efectuada, resultou um texto que escrevi para o site da COMCEPT – Comunidade Céptica Portu-guesa, e que partilho hoje aqui no AstroPT. O que são os chemtrails? O que tentam esconder de nós? Qual a gravidade da situação? Devemos ficar preocupados? Espero que as respostas que encontrei tragam alguma luz sobre este assunto:
Há umas semanas, apercebi-me que andava a circular na internet um (pseudo)documentário sobre os Chemtrails que deixou nos espectadores um misto de indignação e de preocupação. Num próximo texto analisarei esse filme. Por agora, procurarei entender o que são os chemtrails, e se nos devemos preocupar com isso.
I – Definições:
Contrails – Abreviatura de “Condensation Trails” (rastos de condensação). São os rastos normalmente formados na traseira dos aviões. Como produto da combustão, forma-se vapor de água que congela a grandes altitudes, onde as temperaturas são negativas, gerando cristais de gelo. O resultado é a formação de nuvens cirrus (1).
Chemtrails – Abreviatura de “Chemical Trails” (rastos químicos). Segundo os Adeptos das
Teorias da Conspiração, os chemtrails são criados intencionalmente por pessoas desconhecidas, com objectivo de envenenar a população através de produtos químicos libertados pelos aviões. (2)
II – O que se diz sobre os Chemtrails (2), (3), (4), (5), (6):
Tendo definido e distinguido os contrails dos chemtrails, vamo-nos agora debruçar sobre estes últimos.
O que são: De acordo com os defensores destas ideias, os chemtrails são o resultado de substân-cias nocivas libertadas intencionalmente pelos aviões para a atmosfera, formando uma grande quantidade de nuvens que fica nos céus durante imenso tempo, ao contrário dos vulgares con-trails. Essas substâncias são identificadas, pelos mesmos proponentes, como alumínio, estrôncio, bário, entre outras.
Onde: Esta ideia surgiu nos Estados Unidos da América e, posteriormente, terá sido dissemina-da pelo resto do mundo.
Desde quando: a origem da primeira observação dos rastos nebulosos no céu é vaga, mas parece haver observações desde a segunda guerra mun-dial, período em que os aviões conseguiram atin-gir elevadas altitudes. (7), (8), (9), (10) O consen-sual é os rastos terem aumentado em quantida-de desde a década de 1990. De acordo com a minha pesquisa, em 1996 começa a surgir a teo-ria da conspiração de que o governo pretende alterar o clima, com base no estudo “Owning the Weather”, mas só em 1999 começam a surgir referências aos chemtrails.
Quem são os responsáveis: não é bem certo, havendo dedos acusatórios que apontam em diferentes direcções: o governo, as companhias farmacêuticas, os cientistas, os Illumminati, os Bilderberg, os “Donos do Mundo”, (…)
Porquê: Existem duas vertentes independentes:
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LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012
Os chemtrails sob análise
uma ambiental e outra social. Por um lado diz-se que os cientistas e o governo têm uma política deliberada de criar estes rastos no céu para diminuírem o aquecimento global, através da reflexão da luz; ou, em alternativa, porque pre-tendem controlar o clima, pulverizando as nuvens com reagentes que contribuam para a condensação, criando chuva – a estes processos dá-se o nome de Geoengenharia. Por outro lado, fala-se da existência de responsáveis ocultos que pretendem libertar as substâncias nocivas sobre os campos agrícolas e as pessoas para que estas adoeçam e sejam facilmente manipuláveis.
III – Análise crítica:
- Alumínio – Assim na Terra, como no Céu:
Durante a guerra do Vietname foram utilizadas várias tácticas para iludir os radares inimigos, sendo uma delas a libertação de reduzidas fibras
de alumínio (Chaff, em inglês), que reflectiam o sinal de radar. Se os aviões comerciais estives-sem na actualidade a libertar deliberadamente alumínio, estariam a confundir os radares de controlo de tráfego aéreo que os orientam, o que seria impraticável. (11), (12) Análises que têm sido realizadas detectam de facto Alumínio e Bário na água, no gelo e no ar, mas sempre dentro dos níveis padrão. No entanto, estas observações estão dentro do esperado, uma vez que estes elementos ocorrem naturalmente na Natureza. Por exemplo, 7% da crosta terrestre é constituída por Alumínio. (13)
- Mais rastos no céu. Linhas paralelas e cruza-das:
Vêem-se mais rastos no céu, porque aumentou o tráfego aéreo. (14) Os voos a grande altitude na vizinhança dos aeroportos têm trajectos coin-
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Volume 2 Edição 10 LITERACIA CIENTÍFICA
Rasto de um contrail no céu. Autoria: João Monteiro
cidentes. É frequente que aviões diferentes se desloquem numa mesma direcção com um certo intervalo de tempo entre eles. Os aviões da fren-te deixam um contrail atrás de si, mas quando os próximos passarem pelo mesmo local deixando também um rasto, o contrail anterior já se deslo-cou com o vento, reproduzindo rastos paralelos. Ocasionalmente, pode haver aviões com rotas perpendiculares a rastos anteriores, dando a sen-sação que se está a formar uma grelha. (15), (16)
- Estará a população a ser envenenada?
Os contrails são formados naturalmente a uma certa distância da traseira do avião e não logo a seguir aos motores, acabando por formar uma espécie de nuvem persistente. Pelo contrário, se os aviões estivessem a libertar substâncias (líquidas ou em pó), o rasto seria visível mais per-to dos motores e a nuvem dissipar-se-ia com a distância, como nos aviões pulverizadores de cul-turas. (15) Contudo, os agentes biológicos podem ser libertados de um avião e apresentar a forma de um contrail. Mas para isso acontecer, o meio onde estaria o agente biológico, teria de ser aquecido a elevadas temperaturas até ficar no estado gasoso, o que iria matar os agentes noci-vos. Mas se, mesmo assim, alguns subsistissem, teriam ainda de sobreviver às temperaturas extremamente baixas do exterior. (15) Ainda para mais, devido ao reduzido tamanho das par-tículas, estas seriam dispersas e não aterrariam no local onde foram libertadas. Portanto, a pro-babilidade de haver agentes microbianos ou quí-micos a serem lançados da troposfera, delibera-damente com o intuito de envenenar a popula-ção, é praticamente nula.
- Estarão a controlar o clima?
Geoengenharia é o nome dado ao processo de modificação deliberada do ambiente na Terra. Neste sentido têm sido realizadas várias expe-riências, mas ainda sem resultados definitivos.
Foi em 1996 que surgiu um rumor que associava a libertação de partículas de alumínio dos aviões militares para reflectir a luz solar e assim ameni-zar a temperatura do planeta. Este rumor baseou
-se num estudo académico que saíra nesse ano, “Weather as a force multiplier: Owning the wea-ther in 2025” (1996), e acabou por dar origem, mais tarde, à Teoria da Conspiração dos Chem-trails, o que mereceu um comunicado da Força Aérea a explicitar os factos. (17), (18)
Outro exemplo de modificação do ambiente é o da semeadura de nuvens (cloud seeding), que consiste em libertar reagentes nas nuvens, como o iodeto de prata, que as farão condensar, pro-duzindo chuva. Também neste caso, ainda não há resultados definitivos, pois não se sabe se chove-ria se não tivessem sido lançados os produtos, não se conseguindo estabelecer ainda uma rela-ção causa-efeito directa. (19)
Em qualquer caso, isto são experiências científi-cas em que se pretende testar a hipótese de alte-ração do ambiente, para contornar situações de seca, por exemplo. Daí a pegar nisto e dizer que há conspirações governamentais em prática com a intenção de envenenar as pessoas, vai um gran-de salto.
- Quem está por detrás dos chemtrails?
Como veremos de seguida, os chemtrails são atri-buídos a diversos agentes, de acordo com a variante da teoria que nos é proposta. Há até versões em que os diferentes responsáveis se juntam para conspirar contra a Humanidade. A sensação de conspirações dentro do governo para prejudicar os cidadãos é uma ideia que se encontra frequentemente no pensamento popu-lar norte-americano. Mas porque quereria um governo envenenar os membros da sociedade, fazendo-os ficar doentes?
Segundo os adeptos desta versão, o governo pre-tende ter cidadãos enfraquecidos para serem facilmente manipulados. A esta ideia juntam-se outras, como a indústria farmacêutica pretender adoecer pessoas para vender mais medicamen-tos; ou ainda grupos secretos que pretendem eliminar as pessoas mais vulneráveis, preservan-do as elites e os militares, com o intuito de redu-zir a população do planeta. Mas fará isto senti-do? A verdade é que estas afirmações não pas-
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LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012
sam de meras especulações, sem qualquer pro-va apresentada. O que temos assistido nos paí-ses ocidentais, principalmente na Europa, é exactamente o contrário: um investimento nos cuidados de saúde e de saneamento, uma apos-ta na longevidade e na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Apesar de estarmos próximos de um nível preocupante de sobrepopulação humana no nosso planeta, a solução passa, no meu entender, pelo controlo da natalidade em vez da eliminação de indivíduos. E quando falo em controlo de natalidade, não me refiro a um programa governamental, mas a uma decisão pessoal por parte de cada cidadão, que ocorrerá naturalmente. Com o aumento da qualidade de vida de uma sociedade, aumenta a capacidade de sobrevivência e diminui o número de filhos por casal. O que se verifica em populações do terceiro mundo é que estas famílias têm muitas crianças para compensar as que vão morrendo de várias doenças e de desnutrição. No entanto, ao dar cuidados de saúde a essas famílias, e ao incluí-las no mercado laboral, elas vão ter maior capacidade de cuidar da sua prole, aumentando a sua probabilidade de sobrevivência, tendendo a ter menos filhos, como está relatado no livro “O Fim da Pobreza”, do economista Jeffrey Sachs. (20) Se esta política está a ser aplicada em países do terceiro mundo com o apoio dos países desenvolvidos, porque é que estes países ricos iriam fazer o oposto à sua população?
Ao contrário do que é propagado pelas teorias da conspiração, um governo tem todo o interes-se em que os seus cidadãos sejam saudáveis, pois deste modo podem trabalhar e contribuir para a economia nacional. Se a maioria da popu-lação adoecesse, acabaria por ser um peso enor-me para o próprio Estado que não só teria indiví-duos que necessitariam de cuidados de saúde, como não estariam aptos a contribuir para a economia. Ou seja, não só não estariam a gerar riqueza, como ainda trariam custos acrescidos. Aliás, uma estratégia de guerra entre países pas-sa por mutilar os adversários em vez de os matar, pois os países com soldados feridos têm
mais encargos, não só porque ficam com opera-cionais inactivos, como ainda tem de disponibili-zar tratamentos e deslocar pessoas para cuidar dos doentes, que doutro modo poderiam ser utilizadas na guerra. Deste modo, porque é que qualquer governo quereria adoecer deliberada-mente a população? Além do mais, se houves-sem químicos a serem libertados de aviões na troposfera (altitude onde se forma os contrails), eles não cairiam no local de onde foram lança-dos. Aliás, não haveria qualquer controlo do local onde poderiam assentar, pelo que afecta-riam indiscriminadamente qualquer indivíduo da sociedade, mesmo os membros do governo, militares, ou seus familiares.
É possível eliminar os chemtrails?
Quando se pensa que a ficção não consegue ir mais longe do que meras especulações sem pro-vas, eis que surgem dois exemplos de como a imaginação humana não pára de nos surpreen-der:
Alguns adeptos dos chemtrails alegam que os silfos ou sílfides (Sylphs) irão aspirar e transfor-mar os chemtrails em substâncias inofensivas. (6) Ora bem, os silfos são Elementais do Ar, cria-turas etéreas mitológicas identificadas pelos gre-gos. O que é curioso, é que aquilo a que os pro-ponentes desta ideia chamam de silfos, são na realidade nuvens que, com um pouco de imagi-nação, parecem dragões, gatos, aves, etc. (21) Posto isto, creio que qualquer pessoa sensata sabe responder à pergunta sobre o que é mais provável, as fotografias (22) representarem cria-turas mitológicas, ou a imagem de nuvens nor-mais? A este fenómeno de reconhecer padrões familiares em imagens abstractas dá-se o nome de pareidolia. (23), (24)
Outra ideia que está a ser propagada na internet é que ao borrifar vinagre para o céu, isso fará os chemtrails desaparecerem, como se vê neste filme (25). Alguém deve explicar a essas pessoas que os borrifos de vinagre não vão mais longe que alguns centímetros e a troposfera, onde se formam os contrails, fica a cerca de 8 mil metros de altitude. Como já se explicou, os rastos dos
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Volume 2 Edição 10 LITERACIA CIENTÍFICA
aviões podem durar algumas horas, acabando por desaparecer passado algum tempo, sendo que a sua duração depende das condições atmosféricas.
Conclusão:
Olhemos para os factos: tudo indica que o os ras-tos que vemos nos céus após a passagem de aviões são contrails, um fenómeno natural, na sua maioria constituídos por minúsculos cristais de gelo; não há indícios de mais libertações quí-micas do que aquelas libertadas por um motor; as substâncias, que se dizem ter sido identifica-das, como o alumínio, encontram-se espontanea-mente na Natureza; o número de contrails no céu aumentou na última década devido ao aumento de voos comerciais; devido às instáveis condições atmosféricas e à altitude, não há con-trolo do local onde os alegados químicos pode-riam cair, afectando qualquer indivíduo indiscri-minadamente; a probabilidade de um governo, ou uma entidade secreta, querer adoecer delibe-radamente a população é reduzida; até ao momento, não há confirmação científica que apoie a existência de chemtrails (26), (27); o fac-to de as pessoas desconhecerem os contrails e a sua formação, levou a várias interpretações erra-das já no passado. (28)
Assim, com base nos dados disponíveis, concluo que os chemtrails não passam de mais uma teo-ria da conspiração, como muitas outras que pulu-lam na internet.
Notas e Referências:
(1) Existem vários tipos de nuvens que podem ser distinguidas quanto ao aspecto. As nuvens cirrus são formadas na alta troposfera, a cerca de 8 mil metros de altitude, em temperaturas negativas.
(2) Chemtrails no Skepdic
(3) Rense.com
(4) Chemtrails na wikipedia portuguesa
(5) Chemtrails na wikipedia britânica
(6) Chemtrails no Educate-yourself
(7) A primeira descrição científica sobre contrails em inglês parece datar de 1953 (H. Appleman,
“The formation of exhaust condensation trails by jet aircraft”, Bulletin of the American Meteorolo-gical Society, 34, pp. 14-20), e em alemão de 1941 (E. Schmidt, “Die Entstehung von Eisnebeln aus den Auspuffgasen von Flugmotoren”, Schrif-ten der Deutschen Akademie der Luftfahrtfors-chung Vol. 44, pp. 1-15). Ver aqui.
(8) Sobre a história dos Chemtrails.
(9) Fotos onde se observam contrails desde a década de 1940
(10) Fotos de contrails durante a Segunda Guerra Mundial
(11) NMSR, na secção Other metals in the air.
(12) contrails facts
(13) Análises químicas aos chemtrails
(14) 30 anos de viagens aéreas
(15) NMSR, explicado pelo piloto Ian Wickson.
(16) Contrail grids
(17) “Weather as a force multiplier: Owning the weather in 2025”
(18) Comunicado da Força Aérea America-na relativamente aos chemtrails.
(19) Scientific American
(20) Jeffrey Sachs, “O Fim da Pobreza – como consegui-lo na nossa geração”, Casa das Letras, Cruz Quebrada, 2006 – Tradução de Paulo Tiago Bento
(21) Imagens de Silfos
(22) Mais imagens de silfos
(23) Pareidolia facial
(24) A pareidolia mata
(25) Parar chemtrails com vinagre
(26) Resposta do Governo a uma petição da Canadian House of Commons.
(27) Publicação do parlamento britânico
(28) Confusões relativas aos contrails
João Monteiro
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LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012
Página 13
Volume 2 Edição 10 BIOLOGIA
O nosso genoma apre-senta 23 pares de cro-mossomas. Como pares que são deverão apresentar alguma semelhança. No entanto há um par que difere e que insis-te em ser cada vez mais diferente. O par XY tem um elevado heteromorfismo. O X tem muito mais genes que o Y, no entanto, este último, tem fun-ções mais específicas no genoma, entre elas a determinação do sexo.
Sabemos que os nossos ancestrais têm alguns cromossomas mesclados. O par XY surgiu de um par de autossomas que adquiriu a capacidade de determinar o sexo. Ainda nos dias de hoje este “cromossominha” continua a degenerar até, um dia, se extinguir. Para termos noção da mediocridade do Y veja-mos a quantinade de unidades codificadas entre o X e o Y: O Y tem 178 genes, é um deserto gené-tico. O X, por sua vez, tem uns magníficos 1098, identificados por cientistas do “Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha que o analisaram em pormenor” (Ciência Viva)
Comecemos, então, por perceber que cromosso-mas existem no Homo Sapiens Sapiens. Temos os autossomas, que constituem o património genético do indivíduo; e os cromossomas sexuais que determinam o sexo do indivíduo. No par de cromossomas sexuais temos, em média, os que
são XX (fêmeas) e os XY (machos). “As mulheres têm vindo a conquistar as mais diversas áreas da sociedade. Contudo, se antes havia 7 mulheres para cada homem, hoje há 1,07″ (uma nota). Esta é uma frase de um texto meu do dia da Mulher deste ano, que deixa em aberto algo de interessante: Podemos, os homens, estar a perder genes de um cromosso-ma essencial mas continuamos a ter grande importância. A Natureza não perde nada, trans-forma. Veremos qual o truque que irá fazer. Tal-vez um outro cromossoma adquira as competên-cias sexuais.
Um dia, quando formos para o espaço, será que os resquícios do cromossoma Y se tornarão essenciais? Quanto mais pequena a estrutura genética mais instável e mais mutagénica se tor-na. É imprevisível saber o que irá ocorrer. Pode-se desintegrar ou não. Cá continuaremos para continuar a estudar este par… Dário Codinha
Um Par Diferente I: Características
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FÍSICA Outubro 2012
Bosemon!
Sim, parece um jogo de crianças, uma
mistura entre cartas Pokemon e o tradi-
cional jogo do Peixinho.
Basicamente os alunos (ou adultos,
visto que está a viciar também professo-
res, catedráticos, etc.) terão que formar
a família, a geração, o protão ou o áto-
mo de hidrogénio. Para isso terão que pedir uma carta
usando duas características e não o nome da partícula
que pretendem a outro jogador. Se o segundo jogador
tiver a carta entrega ao jogador que a requisitou. Se não
tem a carta diz ao outro jogador “Go Field!” de modo a que
este pesque uma das cartas espalhadas pela mesa.
O jogo também possui cartas especiais!
O que se pretende é que o jogo seja
aplicado pelos professores a alunos do
secundário e queremos um feedback
para melhorar o jogo ou a documenta-
ção. Para obter o guia do professor e do aluno (em português) ir aqui: http://portal.discoverthecosmos.eu/en/node/187729
Para obter uma versão melhorada das cartas para impres-são, ir aqui: https://www.box.com/s/q1lriszsnbbavafzziwj
Agradeço a divulgação e feedback que possam dar.
José Gonçalves
BosemonBosemon——O jogo de Física de O jogo de Física de
PartículasPartículas
Algumas das cartas do jogo. Crédito: Jay Dornfeld , José Gonçalves, Daniela Marconi, Chuleenee Pahurat , Tahiana Razafintsa-
lama, Kobi Shvarzbord , Kevin Wolf.
A resposta simples é Não.
Chegar a essa resposta é que foi um tudo nada
mais complexo.
A segurança do LHC.
O Large Hadron Collider (LHC), ou Grande Colisio-
nador de Hadrões
(Nota: Hadrões são partículas constituídas por
Quarks)
pode alcançar energias que nunca foram antes
atingidas por aceleradores de partículas, mas a
natureza, por rotina, produz energias mais eleva-
das em colisões de raios cósmicos. Durante mui-
tos anos houve preocupações sobre a segurança
Página 15
Volume 2 Edição 10 FÍSICA
Pode o CERN produzir um perigoso buraco
negro?
Vista simulada dum buraco negro defronte da Grande Nuvem de Magalhães.
Note-se o efeito de lente gravitacional, que produz 2 vistas ampliadas mas muito distorcidas da Nuvem. Ao cimo, o disco da Via
Láctea aparece distorcido num arco.
do que quer que possa ser criado em tais colisões
de alta energia de partículas. À luz dos novos
dados experimentais e da compreensão teórica,
o Grupo de Avaliação de Segurança do LHC (com
as siglas LSAG) actualizou uma revisão da análise
feita em 2003 pelo Grupo de Estudos de Seguran-
ça do LHC, um grupo de cientistas independen-
tes.
O LSAG reafirma e alarga as conclusões do relató-
rio de 2003 que concluía que as colisões do LHC
não apresentam perigo e que não há motivos
para preocupação. Seja o que for que o LHC nos
vai fazer, a natureza já o fez inúmeras vezes
durante a vida da Terra e durante a vida doutros
corpos celestes. O relatório LSAG foi analisado e
aprovado pelo Comité de Política Científica do
CERN, um grupo de cientistas externos que acon-
selha o órgão de Administração do CERN, o seu
Conselho.
O documento abaixo resume os principais argu-
mentos apresentados no relatório LSAG. Quem
estiver interessado em mais detalhes é incentiva-
do a consultá-lo directamente, e aos trabalhos
técnicos científicos a que se refere.
http://lsag.web.cern.ch/lsag/LSAG-Report.pdf
Os raios cósmicos.
O LHC, como outros aceleradores de partículas,
recria os fenómenos naturais de raios cósmicos
em condições controladas de laboratório, permi-
tindo serem estudados com mais detalhe. Os
raios cósmicos são partículas produzidas no espa-
ço exterior, alguns dos quais são acelerados a
energias muito superiores às do LHC. A energia e
a velocidade com que eles atingem a atmosfera
da Terra têm sido medidas em experiências há já
perto de 70 anos. Ao longo dos últimos milhares
de milhões de anos, a Natureza já gerou na Terra
muitas colisões, tantas como cerca de um milhão
de experiências do LHC – e o planeta ainda exis-
te. Os astrónomos observam um número enorme
de grandes corpos celestes em todo o Universo,
os quais também são atingidos por raios cósmi-
cos. O Universo como um todo realiza mais de 10
milhões de milhões de experiências do LHC por
segundo. A possibilidade de quaisquer conse-
quências perigosas contradiz o que
os astrónomos vêem – já que as estrelas e as
galáxias ainda existem.
Buracos negros microscópicos
A Natureza faz buracos negros quando certas
estrelas, muito maiores do que o nosso Sol,
colapsam sobre si mesmas no final das suas
vidas. Concentram uma grande quantidade de
matéria num espaço muito pequeno. As especu-
lações sobre buracos negros microscópicos no
LHC referem-se a partículas produzidas nas coli-
sões de pares de protões, em que cada uma des-
sas partículas tem uma energia comparável à de
um mosquito em voo. Buracos negros astronómi-
cos são muito mais pesados do que qualquer coi-
sa que poderia ser produzida no LHC.
De acordo com as propriedades bem estabeleci-
das da gravidade, descritas pela relatividade de
Einstein, é impossível produzir buracos negros
microscópicos no LHC. Existem, no entanto, algu-
mas teorias especulativas que predizem a produ-
ção de tais partículas no LHC. Todas estas teorias
predizem que estas partículas se desintegrariam
imediatamente. Os buracos negros, portanto,
não teriam tempo para começar a acreção da
Página 16
FÍSICA Outubro 2012
matéria envolvente a fim de causarem efeitos
macroscópicos.
Embora a teoria preveja que os buracos negros
microscópicos decaiam rapidamente, mesmo os
hipoteticamente estáveis buracos negros resul-
tam inofensivos, como demonstram os estudos
das consequências na sua produção pelos raios
cósmicos. Apesar das colisões no LHC diferirem
das colisões de raios cósmicos com corpos celes-
tes como a Terra, dado que as novas partículas
produzidas em colisões no LHC tendem a mover-
se mais lentamente do que as produzidas pelos
raios cósmicos, ainda assim pode-se ainda
demonstrar a sua segurança. As razões específi-
cas para isso dependem dos buracos negros esta-
rem electricamente carregados, ou de serem
neutros. Será expectável que muitos buracos
negros estáveis
sejam electricamente carregados, uma vez que
eles são criados por partículas carregadas. Neste
caso, eles poderiam interagir com a matéria
comum e serem parados ao atravessarem a Terra
ou o Sol, quer fossem produzidos por raios cós-
micos ou pelo LHC. O facto de que a Terra e o Sol
ainda estão aqui exclui as possibilidades dos os
raios cósmicos ou do LHC poderem produzir peri-
gosos buracos negros microscópicos. Caso os
estáveis buracos negros microscópicos não
tenham carga eléctrica as suas interacções com
a Terra seriam muito fracas. Aqueles produzidos
por raios cósmicos iriam passar sem causar
danos através da Terra para o espaço, enquanto
os outros produzidos pelo LHC poderiam perma-
necer na Terra. No entanto, existem corpos
celestes muito maiores e muito mais densos do
que a Terra. Os buracos negros produzidos em
colisões de raios cósmicos com astros como as
estrelas de neutrões e as estrelas anãs brancas
não os afectam. A existência de tais corpos den-
sos, assim como a da Terra, exclui a possibilidade
de o LHC produzir quaisquer buracos negros peri-
gosos.
Strangelets.
Strangelet é o termo dado a um pedaço micros-
cópico da hipotética “matéria estra-
nha” contendo números quase iguais de partícu-
las chamadas Up, Down ou Strange quarks. De
acordo com a maioria do corpo de trabalho teóri-
co, os strangelets deverão mudar para a matéria
normal num período de tempo de 1 nano-
segundo. Mas poderiam os strangelets coalescer
com a matéria normal e mudá-la para matéria
estranha? Esta questão foi levantada pela primei-
ra vez antes do arranque do Relativistic Heavy
Ion Collider, (siglas RHIC), em 2000, nos Estados
Unidos. Um estudo realizado nesse tempo
demonstrou que não havia motivo para preocu-
pação, e o RHIC já está ligado há oito anos, em
busca de strangelets, sem até hoje os detectar.
Por vezes, o LHC trabalhará com feixes de
núcleos pesados, assim como o faz o RHIC. Os
feixes do LHC terão mais energia do que os do
RHIC, mas isso torna ainda menos provável que
os strangelets se possam formar. É difícil para a
matéria estranha continuar formada às altas
temperaturas produzidas por estes aceleradores,
tal como o gelo não se forma em água quente.
Além disso, os quarks estarão mais diluídos no
LHC do que no RHIC, sendo assim mais difícil
gerar-se a matéria estranha. Produzir Strangelets
no LHC é, portanto, menos provável do que no
RHIC, e a experiência já validou o conjunto de
Página 17
Volume 2 Edição 10 FÍSICA
argumentos que demonstram que os strangelets
não podem ser produzidos.
A análise dos primeiros dados do LHC das coli-
sões de iões pesados confirma agora os principais
ingredientes utilizados no relatório LSAG para
avaliar o limite superior para a produção de
strangelets hipotéticos. Para mais detalhes veja
estaadenda ao relatório LSAG: Implicações dos
dados do LHC iões pesados para multi-estranha
produção de bariões (2011)
Bolhas de vácuo
Houve especulações de que o Universo não está
na sua configuração mais estável, e que as per-
turbações causadas pelo LHC poderiam incliná-lo
para um estado mais estável, chamado de bolha
de vácuo, em que não poderia existir. Se o LHC
pudesse fazer isso, então também o poderiam as
colisões de raios cósmicos. Desde que as bolhas
de vácuo não tenham sido produzidas em qual-
quer lugar do Universo visível, também o não
serão pelo LHC.
Monopolos Magnéticos
Monopolos magnéticos são partículas hipotéticas
com uma única carga magnética, ou um pólo nor-
te ou um pólo sul. Algumas teorias especulativas
sugerem que, se existem, os monopolos magnéti-
cos podem causar o decaimento dos protões.
Essas teorias também dizem que esses monopo-
los seriam pesados demais para serem produzi-
dos no LHC. No entanto, se os monopolos mag-
néticos fossem suficientemente leves para apare-
cerem no LHC, os raios cósmicos que atingem a
atmosfera da Terra já os estariam a produzir, e a
Terra seria um corpo muito eficaz para os parar e
prender. A continuação da existência da Terra e
doutros corpos celestes, portanto, exclui a exis-
tência de perigosos protões comedores de mono-
polos magnéticos suficientemente leves para
poderem ser produzidos no LHC.
Outros aspectos de segurança do LHC:
Foi recentemente expressa a preocupação de
que uma ‘reacção de fusão descontrolada
“poderia ser criada pelo dispositivo de carbono
que absorve o feixe do LHC. A segurança da des-
carga do feixe do LHC já havia sido revista pelas
autoridades reguladoras competentes dos países
hospedeiros do CERN, a França e a Suíça. As
preocupações específicas expressas foram abor-
dados num memorando técnico por Assmann et
al.
http://lsag.web.cern.ch/lsag/
BeamdumpInteraction.pdf
Como ali se aponta, as reacções de fusão apenas
podem ser mantidas em material comprimido
por uma pressão externa, como a que é forneci-
da pela força gravítica no interior duma estrela,
ou por uma explosão de fissão num dispositivo
termonuclear, ou por um campo magnético num
Tokamak, ou por um laser isotrópico contínuo ou
ainda por feixes de partículas no caso da fusão
por inércia. No caso da descarga do feixe do LHC,
uma vez que o dispositivo é atingido pelo feixe
vindo duma única direcção, não há nenhuma
pressão de compensação, de modo que o mate-
rial de despejo não é comprimido, o que impossi-
bilita a fusão.
Foi expressa a preocupação de que uma
‘reacção de fusão descontrolada “poderia ser
criada num tanque de Azoto no interior do túnel
do LHC. Não existem tanques de azoto no LHC.
Página 18
FÍSICA Outubro 2012
Além disso, os argumentos no parágrafo anterior
provam que nenhuma fusão seria possível mes-
mo se estes existissem.
Por fim, também foi expressa a preocupação de
que o feixe do LHC poderia desencadear de algu-
ma forma um ‘Bose-Nova “no hélio líquido usado
para refrigerar os ímanes do LHC. Um estudo rea-
lizado por Fairbairn e McElrath demonstrou cla-
ramente que não existe a possibilidade do feixe
do LHC poder provocar uma reacção de fusão de
hélio.
http://arxiv.org/abs/0809.4004
Lembramos que os ‘Bose-Novae “são conhecidos
por estarem relacionados com reacções químicas
que libertam uma quantidade infinitesimal de
energia pelos padrões da Física nuclear. Lembra-
mos ainda que o hélio é um dos elementos mais
estáveis conhecidos, e que o hélio líquido tem
sido utilizado em muitos aceleradores de partícu-
las anteriores sem se assinalarem contratempos.
O facto de o hélio ser quimicamente inerte e não
ter spin nuclear implica que nenhum “Bose-Nova
‘pode ser accionado no hélio superfluido usado
no LHC.
(Nota: “Visto que explosões de supernovas são
implosões, a explosão de um condensado de
Bose-Einstein em colapso foi baptizada de
“bosenova”).
Comentários sobre os artigos de Giddings e
Mangano, e pelo LSAG
Os trabalhos de Giddings e Mangano e do LSAG
que demonstram a segurança do LHC foram
revistos pelos pares, analisados e aprovados
pelos principais especialistas dos estados mem-
bros do CERN, dos Estados Unidos, Japão e Rús-
sia que trabalham em Astrofísica, Cosmologia,
Relatividade Geral, Matemática, e ainda em Físi-
ca de Partículas e em análise de risco, incluindo
vários vencedores do Prémio Nobel de Física.
Todos concordam que o LHC é seguro.
http://arxiv.org/abs/0806.3381
http://iopscience.iop.org/0954-
3899/35/11/115004
O artigo de Giddings e Mangano tem sido revisto
por pares que são especialistas anónimos em
astrofísica e física de partículas e foi publicado na
revista científica profissional Physical Review D. A
Sociedade Americana de Física optou por desta-
car este paper como um dos trabalhos mais
importantes que publicou recentemente, comis-
sionando ainda um comentário do Prof. Peskin
do Laboratório do Acelerador Linear de Stanford
em que ele endossa as suas conclusões.
O Comité Executivo da Divisão de Partículas e
Campos-forças da Sociedade Americana de Física
emitiu uma declaração endossando o relatório
LSAG.
O relatório LSAG foi publicado pelo Instituto de
Física do Reino Unido (Institute of Physics, IoP)
na sua publicação Revista de Física G (Nota: do
Grupo de Física Gravítica . As conclusões do rela-
tório LSAG foram aprovadas num comunicado de
imprensa que anunciou esta publicação.
As conclusões do LSAG também foram aprovadas
pela Secção de Física de Partículas e Física
Nuclear (KET), da Sociedade Alemã de Física.
Uma tradução para o alemão do relatório LSAG
completa pode ser encontrada no sítio web do
KET, bem como aqui. (A tradução para o francês
do relatório LSAG completo também está dispo-
nível.)
Página 19
Volume 2 Edição 10 FÍSICA
http://physics.aps.org/articles/v1/14
http://www.aps.org/units/dpf/governance/
reports/upload/lhc_saftey_statement.pdf
http://iopscience.iop.org/0954-
3899/35/11/115004
Assim, a conclusão de que as colisões do LHC são
completamente seguras foi aprovado pelas três
respeitadas sociedades profissionais de físicos
que fizeram a sua avaliação, e que estão entre as
sociedades profissionais mais respeitadas do
mundo.
Especialistas de renome em astrofísica, cosmolo-
gia, relatividade geral, matemática, física de par-
tículas e análise de risco, incluindo vários vence-
dores do Prémio Nobel de Física, também
expressaram opiniões individuais claras de que
colisões do LHC não são perigosas:
“Pensar que colisões de partículas no LHC a ener-
gias elevadas possam originar buracos negros
perigosos é lixo. Tais rumores foram espalhados
por pessoas não qualificadas que procuram sen-
sação ou publicidade.”
- Académico Vitaly Ginzburg, vencedor do Prémio
Nobel de Física, Instituto Lebedev, de Moscovo, e
da Academia de Ciências da Rússia.
“O funcionamento do LHC é seguro, não só no
sentido antigo da palavra, mas no sentido mais
geral dos nossos cientistas mais qualificados
terem cuidadosamente considerado e analisado
os riscos envolvidos na operação do LHC.
[Quaisquer preocupações] são meramente hipo-
téticas e especulativas, e estão contrariadas por
muitas provas e análise científica. ”
Declaração subscrita pelos Professores:
- Prof. Sheldon Glashow, vencedor do Prémio
Nobel de Física, Universidade de Boston, Prof.
Frank Wilczek, ganhador do Prêmio Nobel de Físi-
ca, Massachusetts Institute of Technology, Pro-
fessor Richard Wilson, Mallinckrodt professor de
Física da Universidade de Harvard
“O mundo não chegará ao fim quando o LHC é
ligado. O LHC é absolutamente seguro … Colisões
libertando mais energia ocorrem milhões de
vezes por dia na atmosfera da Terra e nada de
terrível acontece”.
-Prof. Steven Hawking, professor Lucasiano de
Matemática, da Universidade de Cambridge
“A natureza já fez essa experiência …. Os raios
cósmicos têm atingido a Lua com mais energia e
ainda não produziram um buraco negro que
engoliu a lua. O universo não anda por aí a verter
enormes buracos negros”.
-Prof Edward Kolb, astrofísico da Universidade de
Chicago
“Eu certamente não tenho preocupações sobre a
suposta possibilidade do LHC produzir buracos
negros microscópicos capazes de devorar a Terra.
Não há qualquer base científica para tais especu-
lações.”
-Professor Sir Roger Penrose, Professor Bola Ex
Rouse de Matemática, da Universidade de
Oxford
“Não há risco [de colisões no LHC, e] o relatório
LSAG é excelente.”
-Prof Lord Martin Rees, astrónomo real britânico
e presidente da Royal Society de Londres.
(Academia das Ciências).
“Aqueles que têm dúvidas sobre a segurança do
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FÍSICA Outubro 2012
LHC devem ler o relatório LSAG onde todos os
riscos possíveis foram considerados. Podemos
ter certeza de que as colisões de partículas no
LHC não podem levar a consequências catastrófi-
cas”.
-Académico V.A. Rubakov, Instituto de Pesquisa
Nuclear, de Moscovo, e da Academia Russa de
Ciências
“Apoiamos inteiramente as conclusões do relató-
rio LSAG: não há base para preocupações sobre
as consequências derivadas de novas partículas
ou novas formas de matéria que possam ser pro-
duzidas no LHC.”
-R. Aleksan et al., Os 20 membros externos do
Comité de Política Científica do CERN, incluindo o
Prof Gerard ‘Hooft, Nobel de Física.
A esmagadora maioria dos físicos concordam que
buracos negros microscópicos seriam instáveis,
como previsto pelos princípios básicos da mecâ-
nica quântica. Como foi discutido no relatório
LSAG, se os buracos negros microscópicos pudes-
sem ser produzidos pelas colisões de quarks-
gluões / ou dentro de protões, eles também
deveriam ser capazes de se decomporem de vol-
ta em quarks e / ou gluões. Além disso, a mecâni-
ca quântica prevê especificamente que devirão
decair através da radiação de Hawking.
No entanto, uns tantos papers têm sugerido que
os buracos negros microscópicos podem ser
estáveis. O artigo de Giddings e Mangano e o
relatório LSAG analisam muito conservadora-
mente o caso hipotético dos estáveis buracos
negros microscópicos e concluiu que, mesmo
neste caso, não haveria perigo concebível. Outra
análise com conclusões semelhantes tem sido
documentada pelos Dr. Koch, Prof. Bleicher e
Prof. Stoecker da Universidade de Frankfurt e
GSI, Darmstadt, que concluem:
“Discutimos os caminhos de evolução logicamen-
te possíveis do buraco negro. Então, discutimos
cada simples resultado desses caminhos e essa
discussão demonstrou que nenhum dos cami-
nhos fisicamente sensatos pode levar a um
desastre dum buraco negro no LHC.”
O Professor Roessler (médico e teórico do caos
em Tuebingen) também levantou dúvidas sobre
a existência de radiação de Hawking. As suas
ideias foram refutadas pelos Profs. Nicolai
(Diretor do Instituto Max Planck de Física Gravi-
tacional – Albert-Einstein-Institut – em Potsdam)
e Giulini, cujo relatório apontam para a sua inca-
pacidade de compreender a relatividade geral e
a métrica de Schwarzschild, e sua dependência
duma teoria alternativa da gravidade que foi
refutada em 1915. O seu veredicto:
“O argumento [Roessler] não é válido, o argu-
mento não é auto consistente.”
O paper do Prof Roessler também foi criticado
pelo Prof Bruhn, da Universidade Técnica de
Darmstadt, que conclui que:
“(A) Má interpretação de Roessler da métrica de
Schwarzschild [torna as] suas considerações …
nulas e sem efeito. Estes são os trabalhos que
podem ser tomados em conta quando os proble-
mas de buracos negros são discutidos.”
Um cenário hipotético para possivelmente peri-
gosos e meta estáveis buracos negros foi recen-
temente proposto pelo Dr. Plaga. As conclusões
deste trabalho têm-se mostrado inconsistentes
num segundo artigo científico (paper), por Gid-
Página 21
Volume 2 Edição 10 FÍSICA
dings e Mangano, onde é também afirmado que
a segurança dessa classe de cenários de meta
estáveis buracos negros já está estabelecida pelo
seu trabalho original.
Comentários sobre os reclamados riscos dos
metaestáveis buracos negros
http://arxiv.org/PS_cache/arxiv/
pdf/0808/0808.4087v1.pdf
Declaração da Comissão Executiva da Divisão de
Partículas e Campos da American Physical Society
(APS)
http://www.aps.org/units/dpf/governance/
reports/upload/lhc_saftey_statement.pdf
Resumo do relatório LSAG
http://environmental-impact.web.cern.ch/
environmental-impact/Objects/LHCSafety/
LSAGSummaryReport2008-en.pdf
Relatório LSAG (2008)
http://lsag.web.cern.ch/lsag/LSAG-Report.pdf
Adenda ao relatório LSAG: Implicações dos dados
de iões pesados no LHC para multi-estranha pro-
dução de bariões (2011)
http://public.web.cern.ch/public/downloads/
LSAG/LHCaddALICE2011.pdf
Relatório especializado publicado na Europa
(2003)
http://cdsweb.cern.ch/record/613175/files/
CERN-2003-001.pdf?version=1
Relatório especializado publicado nos Estados
Unidos (1999)
http://cdsweb.cern.ch/record/403566/
files/9910333.pdf
Comentário especialista sobre as especulações
levantadas pelo professor Otto Roessler sobre a
produção de buracos negros no LHC
http://environmental-impact.web.cern.ch/
environmental-impact/Objects/LHCSafety/
NicolaiComment-en.pdf
Mais comentários dos especialistas em especula-
ções levantadas pelo professor Otto Roessler
sobre a produção de buracos negros no LHC.
http://environmental-impact.web.cern.ch/
environmental-impact/Objects/LHCSafety/
NicolaiFurtherComment-en.pdf
Outra avaliação independente da segurança dos
cenários de buracos negros no LHC.
http://arxiv.org/pdf/0807.3349.pdf
Original do CERN
http://public.web.cern.ch/public/en/lhc/safety-
en.html
Outro cálculo informal estima que necessitaría-
mos dum acelerador com um diâmetro de mil
anos-luz para produzirmos um micro buraco-
negro, e que este levaria cerca de 3 vezes a idade
do Universo para devorar o equivalente a uma
casca de noz, mas só o interior , para a casca não
chegaria este inusitado período de tempo.
Por outras palavras, não há perigo.
O CERN mantém igualmente uma rigoro-
sa política de segurança no trabalho, e ainda
coordena com as autoridades das regiões onde
está instalado o uso de energia eléctrica a fim de
não interferir na rede de distribuição que serve
as populações, a indústria e o comércio dessas
zonas da Europa.
Mais um mito desclassificado pela ciência.
Alguns advogados mais histéricos nos EUA tenta-
ram abrir um caso contra o CERN com o intuito
Página 22
FÍSICA Outubro 2012
de impedir a sua inauguração, em sede de Justiça
a sua pretensão não foi sequer acolhida para ir a
julgamento, dado tratar-se dum absurdo. No
entanto a razão para este não acolhimento foi de
técnica jurídica e relacionava-se com a área geo-
gráfica de jurisdição.
Numa época em que a litigância de má fé contra
a Ciência parecia querer fazer escola nos círculos
da pseudociência e das seitas religiosas norte-
americanas, sem dúvida a quererem colher clien-
tes entre os seguidores da facção anti-ciência do
actual Partido Republicano (um tendência que no
fundo é anti-americana), a chamada Tea Party,
esta decisão marcou um limite bem delineado:
O do bom senso contra o absurdo e contra a
cupidez dos interesses escondidos.
De facto, o que se pode concluir é que ganancia,
sede de protagonismo, cupidez e fanatismo são
sinónimos, mas que felizmente Justiça, bom-
senso e Ciência também o podem ser.
Nota de tradução: Este relato do CERN foi uma
tradução científica da minha inteira responsabili-
dade, incluindo eventuais erros e/ou omissões.
[NR: ver vídeos aqui]
Manel Martins
Página 23
Volume 2 Edição 10 FÍSICA
Sir John Bertrand Gurdon nasceu em 1933 na
Inglaterra.
O miúdo era bastante irrequieto e teimoso, que-
ria fazer sempre as coisas à maneira dele.
O pai queria que ele tivesse disciplina, por isso
ambicionava que ele fosse militar. Mas quando
ele foi fazer os testes, o médico do exército diag-
nosticou-lhe uma bronquite quando ele só esta-
va meio constipado. Conclusão: não conseguiu
ser militar.
Quando entrou para a escola, continuou a ser o
miúdo que não queria seguir o que os professo-
res diziam.
Apesar de ser bastante curioso com o mundo à
sua volta, nomeadamente insectos, o certo é
que não prestava qualquer atenção na escola, e
resolvia os exercícios como queria e não como
os professores pretendiam que os exercícios fos-
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NOBEL 2012 Outubro 2012
Prémio Nobel da Medicina não ia seguir Prémio Nobel da Medicina não ia seguir
ciênciaciência
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Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE
sem resolvidos.
Assim, não é surpreendente que neste boletim
escolar de 1949, o professor diga que as notas
dele são más, e que apesar de ele querer ser
cientista isso seria uma tre-
menda perda de tempo.
Quando acabou a escola,
Gurdon candidatou-se à
Faculdade de Letras da
Universidade de Oxford
para estudar Literatura
Clássica.
Por um daqueles acasos do destino que ninguém
consegue explicar, a administrativa que estava
na secretaria da Universidade a registar os pedi-
dos de matrículas, cometeu o erro de em vez de
o colocar como candidato à Faculdade de Letras
colocou-o como candidato à Faculdade de Ciên-
cias.
Após uma licenciatura em Biologia, e doutora-
mento em Biologia Celular, Gurdon foi conside-
rado o padrinho da clona-
gem e este ano recebeu,
juntamente com Shinya
Yamanaka, o Prémio
Nobel da Medicina, devi-
do à investigação que
levou à conclusão que
“células maduras e espe-
cializadas podem ser reprogramadas para se tor-
narem células estaminais, capazes de formarem
qualquer tecido do corpo“.
Carlos Oliveira
O Prémio Nobel da Fìsica 2012 foi atribuído a Serge Haroche e David J. Wineland pelos “métodos que permitem a medição e manipula-ção de sistemas quânticos indivi-duais”.
Serge Haroche e David J. Wine-land, de forma independen-te, inventaram e desenvolveram métodos inovadores que permi-tiram medir e manipular partículas individuais, preservando o seu estado quântico. (ver infor-
mação para o público aqui)
Destaca-se no artigo científico do comité (ver aqui), o controlo individual de sistemas quânticos, o aprisionamento de iões (íons), os fotões numa cavidade, a investigação do paradoxo gato de Schrödinger, os computado-res quânticos e os relógios ópti-cos.
José Gonçalves
Página 26
NOBEL 2012 Outubro 2012
Prémio Nobel da Física 2012
Serge Haroche Photo: © CNRS Photothèque/Christophe Lebedinsky (à esquerda)
David J. Wineland. Photo: © NIST (à direita)
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Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE
Na verdade, a disciplina que ganhou o Prémio deste ano foi a óptica quântica, e a metodologia chama-se “das cavidades quânticas cromo-dinâmicas.”
Mas, pergunta muita e boa gente, afinal o que quer dizer isso de quântica, de quantas? Muito boa pergunta, pois os quantas são as quantidades mínimas de espaço, portanto onde cabem, os fenómenos da energia.
Vamos lá agora ver o que quer dizer energia, energia quer dizer trabalho, acção, portanto os quantas são umas quantidades mínimas abaixo das quais não é possível somar 1 mais 1, porque não cabe lá dentro.
E o que é que define esse mínimo, essa entidade tão pequenina?
Muito bem, isso é o comprimento de Planck, um grande cientista que foi buscar Albert Einstein ao seu emprego de funcionário de escritório e o convidou para os trabalhos da Ciência. Vejam lá no que deu, como Einstein percebeu tão bem como trabalho é Energia!
E o comprimento de Planck é 1,60 cm, um metro e sessenta centímetros.
Esperem lá, isso começa bem mas não chega, isso ainda é muito grande.
Ah, pois, desculpem, divide-se esse metro e ses-
Nobel da Física 2012 consagra Física
quântica
Armadilha de Paul à esquerda, para Iões de Berílio e Cavidade quantum cromodinâmica para Fotões, à direita.
senta por 10 e dá 16 centímetros. Depois outra vez e dá 1,6 centímetros. Bem, para ser um pou-co mais breve e claro, divide-se 1,60 metros por 10 consecutivamente 35 vezes, e já fica mesmo muito pequenino.
Mas que raio tem isso que ver com Energia?
Bem, se tiverem uma folha de papel com 1,60 m (pode ser de celofane) e dobrarem pela metade isso é fácil, requer pouca energia, os braços che-gam.
Depois se a dobrarem outra vez pela metade precisam de aplicar mais força, e assim sucessi-vamente quando a dobram mais vezes.
Podem experimentar com uma simples folha de A4.
Digam depois nos comentários quantas vezes, ou quantas interacções, conseguiram dobrar a folha.
Para ser sincero não fiz estas contas de forma apurada, mas assim informalmente julga-se que quando dobram a folha pela 11ª vez vão precisar da energia duma bomba atómica para a dobrar outra vez.
O que, convenhamos, não seria muito prático.
Então como conseguem os cientistas observar e manipular estas “dobras” tão pequeninas, estes fotões, estes átomos, estes quantas?
De facto é muito difícil, tanto assim que os seus descobridores (e as suas equipas) ganharam o Premio Nobel da Física de 2012.
Sejamos desportivos, muita gente pensava que seria Peter Higgs a vencer já este ano, mas o Nobel não premeia descobertas muito recentes, faz bem que é para dar tempo para se confirmar os dados todos dessas descobertas.
–
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ATUALIDADE Outubro 2012
São utilizados feixes de Laser para suprimir a deslocação térmica dos iões dentro da armadilha, e com o intuito de se medir e de
se controlar o ião aprisionado.
Os eléctrodos mantêm os iões de Berílio dentro da armadilha de Paul
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Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE
Os dois cientistas conseguiram capturar e mani-pular partículas quânticas de forma muito preci-sa.
Conseguiram isolar estes sistemas (um átomo é um sistema) do mundo do muito pequeno, afim de manterem – durante muito pouco tempo – estas partículas e os ambientes pristinamente quânticos para se poder estudar as suas proprie-dades.
Pois é, caso um simples e tão pequeno fotão fugisse do aparato o sistema colapsava para aquilo que vemos no nosso dia a dia, para o mundo do muito grande, e a Física quântica, coi-tada, ficaria apenas a ser um edifício teórico muito bonito. Mas eles, cheios de coragem e de determinação, baseando-se em muitos estudos e muitas desco-bertas suas e dos seus colegas, lograram trazer a
Física dos Quantas para a experimentação verifi-cável.
Tão bem o fizeram que são as descobertas com maior precisão de todas, uma precisão que ultra-passa a dum relógio atómico de Césio!
E como o fizeram? Se bem que se encontrem semelhanças nas 2 abordagens e nas suas técni-cas, em termos práticos e experimentalistas foram observados 2 sistemas muito diferentes.
1) David J. Wineland e os Iões numa armadi-lha.
Não se refere na literatura quanto tempo se con-segue manter os iões neste estado quântico muito bizarro , mas como osiões são átomos electricamente carregados e o Berílio só é atraí-do por um campo magnético externo e não acu-mula o magnetismo é o elemento ideal para
Nascimento dos átomos no Universo, uma estimativa calcula este número de átomos:
1.43×10^53 kg
este átomo electrificado se manter isolado das próprias ferramentas de manipulação dos cien-tistas.
Outros colegas, baseados na sua experimenta-ção semelhante, referem que o ião de Be se manterá nesta superimposição digna do gato de Schroedinger (vivo e morto ao mesmo tem-po) durante 1/10 de segundo.
Isso é uma eternidade, uma verdadeira idade geológica em Física de partículas.
“Os iões podem ser observados através de tran-sições ópticas que resultam numa forte disper-são da luz quando eles são excitados por um laser. Podem ser vistos a olho nu ou através duma máquina fotográfica digital (CCD). E o que é mais, o estado interno do ião (isto significa por exemplo saber se há electrões desemparelha-dos) pode ser estabelecido pela observação dos saltos quânticos (por exemplo se os electrões vão para as posições orbitais muito especificas que a teoria prevê, e vão).” É fundamental e incontornável também arrefe-cer-se o sistema para o mais baixo nível de ener-gia do aparato da armadilha de Paul ( é o nome desta armadilha) e isso implica o que parece um paradoxo.
É que o preceito técnico exige que o ião seja excitado, aumentando a sua energia interna e diminuindo a sua energia vibratória. Por simples contas de somar e de diminuir apuram-se com extrema precisão as propriedades físicas do sis-tema, com um bónus maravilhoso disso poder vir a ter aplicações muito práticas. Mantém-se a assim a coerência de todo o siste-ma. Atentem nesta palavra, coerência, (link em inglês, mais completo), o mundo do dia a dia é por natureza incoerente, e aqui no muito peque-no esta metodologia permitiu finalmente obser-var um sistema totalmente coerente.
Esta metodologia e a dos
2) Fotões numa cavidade
Haroche e a sua equipa na Universidade de Yale usaram 2 espelhos muito sofisticados* para cap-turar um fotão.
nota* vejam na hiperligação o “tipo de espelho primário.”
De seguida, enviaram átomos entre esses espe-lhos para sondar o comportamento dos fotões.
Reparem neste detalhe, átomos e fotões, o mes-mo que dizer matéria e energia, e apuraram com tremenda acuidade as características de ambos, do sistema, e das interacções que nele ocorrem.
De novo, afinando meticulosamente os compri-mentos de onda dos fotões, da cavidade onde estes estavam isolados e a dos átomos utilizados na sua sondagem comportamental, conseguiram não perturbar o sistema – no sentido de não colapsar a sua coerência – e obter:
a) Um tempo de vida do sistema assombroso para esta dimensão, cerca de 130 ms (millisegundos).
b) Uma medição da oscilação da cavidade que regista um factor Q de 10 elevado a 13, 10^13. Aqui um explicação mais detalhada do Factor Q, também conhecido como factor de selectivida-de. Atentem na segunda definição.
Por comparação um diapasão de afinação musi-cal oscila a menos de 1000 Hz, 10^3. Podem por aqui ir afinar o som:
http://www.onlinetuningfork.com/
Vejamos então bem visto,
Diapasão = 1000 (10^3) Relógio atómico de césio = 100 000 000 000 (10^11) Cavidade quanto cromo dinâmica = 10 000 000 000 000 (10^13)
significa que se pode contar o tempo 100 vezes melhor do que com um relógio atómico!
Como se não bastasse, observaram assim um emaranhamento entre a cavidade (digamos
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ATUALIDADE Outubro 2012
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Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE
o ambiente, ou este pequeno universo) e as par-tículas estudadas, os fotões.
esta simples palavra, fotões, tem implicações tremendas.
Fotões bem conhecidos com este nível de preci-são e entrelaçados com o próprio sistema onde evoluem significa:
Melhores raios x (menos intrusivos, com radia-ções muito mais baixas e imagens muito melho-res).
E, tremendo feito, fizeram o primeiro passo fun-damental para o futuro computador quântico.
Construíram 2 qubits.
– O que nos reserva o futuro? Pois vamos usar a excelente análise do The Economist sobre este passo, e cito, com a devida autorização:
Babbage The economist
Um computador digital vulgar manipula a infor-mação sob o formato dos bits, que satisfazem o valor 0 ou 1. Estes valores são representados dentro do computador por voltagens eléctricas diferentes.
Os trabalhos dos Doutores Haroche e Wineland possibilitam a utilização doutras propriedades das partículas, como os níveis de energia dos iões, para construírem uma entidade semelhan-te (análoga, embora digital) ao bit tradicional – o qubit.
Por seu turno, o emaranhamento permite que sejam adicionados mais qubits. Cada qubit extra dentro duma máquina quântica duplica o núme-ro de operações que podem ser realizadas em simultâneo.
Dois qubits emaranhados permitem 4 opera-ções, três permitem oito; e assim sucessivamen-te. (Nota- O máximo que neste momento se atingiu são 16 operações.)
Teoricamente, um computador quântico com
capacidade de processamento de 300 qubits poderá desempenhar mais operações em simul-tâneo do que o número de átomos existentes no Universo.
Ainda estamos longe desse feito, mas estes dois grandes cientistas construíram os 2 primeiros alicerces desta tecnologia. Para eles, com todo o mérito, o Prémio Nobel da Física de 2012.
—
Podem verificar a literatura do comité do Nobel: Popular Avançada Dar os parabéns aos laureados —
Nota final: hoje é um dia emocionante para todos os que gostam de Física Quântica. A título pessoal o que mais me impressionou nestes tra-balhos foi a questão do diapasão musical, por-que ela prova que a Música é matemática, como o disseram Leibniz ou Espinoza, como o formula-ram Pitágoras, e Bach com a sua notação.
Por aqui se vê bem e sem margem para hesita-ções como os Professores e o Ensino de Música são essenciais para um bom ensino de Ciências.
Como nós todos quando estamos a cantar esta-mos a exclamar formulas matemáticas extrema-mente complexas sem sequer darmos por isso.
Por esse ratio, por essa razão, e para extravasar, confesso, a minha alegria, deixo-vos com uma canção que nos diz que quando conhecemos as notas podemos cantar tudo.
Fica como justíssima homenagem a todos os Professores e Professoras de Música, neste dia muito feliz para a Física dos Quantas.
Do Ré Mi
Manel Martins
Há dias atrás, tive uma pequena sessão de per-guntas e respostas sobre cosmologia com o nosso leitor e habitual comentador Jonas. Achei o tema e as perguntas tão interessantes, que resolvi reproduzi-las em post, porque outros leitores poderão ter o mesmo género de dúvidas. ~
Pergunta: Onde está a Via Láctea em relação à fronteira da expansão do Big Bang? Há algo à nos-sa frente? Estamos longe da “borda” da expansão ou estamos na ponta? Resposta: em principio estaremos naquilo que nos parece o centro do nosso Universo Observá-vel. Não quer dizer que estejamos no centro do Universo, quer só dizer que onde quer que esteja-mos no Universo, estaríamos sempre no centro do nosso raio de observação para qualquer lado. O Universo poderá ter 156 mil milhões de anos-luz, mas o nosso Universo Observável é de 93 mil milhões de anos-luz. Como se pode ver na imagem seguinte, parece
que existe mais massa para uma das fronteiras do nosso Universo Observável. Pergunta: Temos sorte de vermos o Extreme Deep Field (XDF) por estarmos num local em que o inicio de tudo está dentro do nosso universo observável?
Resposta: Sim, mas, o “início” mesmo, o momen-to do Big Bang, não conseguimos ver. No futuro, talvez percebamos tudo até ao Tempo de Planck, ou seja, até 0,0000000000000000000000000000000000000000001 segundos após o Big Bang – o que naqueles tempos era uma eternidade! É só a partir daí que a Teoria do Big Bang tenta explicar os aconteci-
mentos, a evolução do Universo. Perceber e “ver” são coisas diferentes, porque “ver” só dá até ao momento em que passou a haver radiação visí-vel… com estrelas. Antes disso, é a chamada “Idade das Trevas”.
Pergunta: Seria possivel saber se o Big Bang se expandiu na direcção oposta ao nosso movimen-to? Ou ainda estou com uma ideia errada, não foi só de um ponto inicial, o universo “apareceu” criando “bolsões” de espaço x tempo x materia aos borbotoes, em espaços gigantescos por todos os lados de um ponto central, ao mesmo tempo, mesmo assim impulsionados para irem adiante a
Perguntas CosmológicasPerguntas Cosmológicas
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COSMOLOGIA Outubro 2012
partir de uma onda de um ponto central? Ou toda a matéria conhecida realmente saiu de um ponto e foi gerando as galáxias e se deslocando?
Resposta: agora estamos a movimentar-nos numa direcção, devido ao Great Atractor que nos está a atrair – a tal enorme massa que existe para lá do nosso Universo Observável, como se perce-be na imagem da resposta à primeira pergunta. No entanto, o Universo não se expandiu a partir de um ponto nesse espaço-tempo. Imagine o espaço-tempo como a superfície de um balão… e você é uma formiga andando em cima dessa superfície do balão. Se o balão for aumen-tando de tamanho, a sua superfície vai aumentan-do de tamanho, vai sendo cada vez maior, mas você, formiga em cima do balão, só se apercebe que a sua superfície fica sendo maior, mas nunca se apercebe onde é que passa a existir mais superfície. É por todo que fica maior, mas não existe um sítio donde brota mais superfície. Por-quê? Porque ele está a aumentar a partir de um sítio fora do seu universo, fora do seu espaço-tempo. Afecta o seu Universo de uma forma que você não pode ver a origem (porque é “dentro do balão”, não na sua superfície, fora do nosso espa-ço-tempo). Pergunta: Se estamos vendo o passado tão dis-tante de galáxias de 500 milhões de anos depois do início da expansão, com o Extreme Deep Field (XDF), que antiguidade mesmo é essa? Na
minha cabeça essa luz dos primeiros 500 milhões de anos já “passou” por nós faz tempo. Se a Via
Láctea se formou naquelas proximidades, ou mes-mo longe de lá, em outro “borsão” do espaço, mas se sabe que foi perto daquele tempo pela idade que tem, deslocando-se com a expansão e o tempo correndo e a luz saindo do ponto onde aquelas galáxias vistas pelo XDF estaria, aquela luz já passou por nós faz tempos, pois a velocida-de da luz é obviamente muito maior do que a velocidade de expansão.
Resposta: Só agora estamos vendo essa luz tão longe, porque essa luz nunca tinha chegado até
nós, porque não tínhamos capacidade para vê-la. Imagine que você tem telescópios para ver até 100 kms de distância. No dia seguinte você conse-gue criar um telescópio que vê até 200 kms de distância. Nesse momento você vai ver mais lon-ge. Por outro lado, essa luz não tinha chegado ainda até nós, porque o Universo está-se expandindo a velocidades aceleradas superiores à velocidade da luz. Foi assim no início, durante a chamada Infla-ção, e tem sido agora gradualmente. Ou seja, o Universo expande-se a velocidades superiores à que a luz pode chegar a si. Ou você cria telescó-pios melhores, ou então o que você vê hoje, já não haverá à mesma distância amanhã. Carlos Oliveira
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COSMOLOGIA Outubro 2012
Nesta imagem da NASA vemos uma comparação da distância a que vamos vendo o Universo ao longo do tempo. Quanto mais longe vemos, mais no passado vemos.
Neste momento, o Telescópio Espacial Hubble vê até cerca de 500 milhões anos após o Big Bang: eXtreme Deep Field.
O próximo Telescópio Espacial (James Webb)
deverá ver ainda mais longe, e consequentemen-
te mais próximo do evento a que se convencio-
nou chamar Big Bang.
Carlos Oliveira
Até onde vêem os grandes Até onde vêem os grandes
telescópios?telescópios?
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Volume 2 Edição 10 COSMOLOGIA
Enquanto o nosso Sol é uma estrela solitária, a maior parte das estrelas na Galáxia fazem parte de sistemas binários ou múltiplos, em que várias estrelas se orbitam mutuamente.
Teoricamente, pensava-se que se as estrelas se formassem perto uma da outra, então rapida-mente se fundiriam. Durante décadas as observações mostraram-nos isto mesmo. Nunca se tinham encontrado siste-mas binários em que as estrelas tivessem perío-dos inferiores a 5 horas, porque se pensava em sistemas binários com estrelas como o Sol.
No entanto, uma equipa de astrónomos utilizou o Telescópio Infravermelho do Reino Unido (UKIRT) e encontrou quatro sistemas binários (duas estre-las) de anãs vermelhas (as estrelas mais comuns no Universo) com órbitas inferiores a 5 horas. Provavelmente elas formaram-se mais longe uma
da outra, mas as suas órbitas foram ficando mais curtas ao longo do tempo, estando agora bastante próxi-mas… mas ainda não se fundiram.
O recorde de proximi-dade está neste momento em duas anãs vermelhas (tipo M4) que se orbitam a cada 2,5 horas. No futuro irão colidir e unir-se numa única estrela. Podem ler o artigo ori-ginal, na Royal Astro-nomical Society, onde obviamente a referên-
cia de que são estrelas “impossíveis” está entre aspas. Podem ler em português o artigo no Portal do Astrónomo, onde obviamente mantiveram as aspas na palavra “impossíveis”. Já este jornal informa logo em título que estas estrelas violam as leis da física, o que é um gran-de disparate sensacionalista. Percebe-se que o marketing está acima da informação credível. Ao contrário do sensacionalismo, não foram violadas quaisquer leis da física, sendo que a Lei da Gravi-dade continua a funcionar como sempre, até que o Limite de Roche faça o resto (quando o atingi-rem, as estrelas irão destruir-se, e formar um dis-co compacto de matéria que irá condensar numa única estrela). Carlos Oliveira
Par de anãs vermelhas bate recorde Par de anãs vermelhas bate recorde
de proximidadede proximidade
Crédito: J. Pinfield
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COSMOLOGIA Outubro 2012
A NASA, por intermédio do seu satélite Swift, detectou recentemente uma “explosão” em raios-x. A fonte desse pico de raios-x estava na direcção do centro da nossa Via Láctea.
Essa explosão breve de raios-x deu-se a 16 e 17 de Setembro de 2012, e é evidência de um bura-co negro estelar, que era desconhecido.
O buraco negro com massa estelar (resultado após uma supernova de uma estrela bastante massiva) recebeu o pomposo nome Swift J1745-26, e encontra-se a quase 30.000 anos-luz de dis-tância da Terra.
O buraco negro deverá ter uma companheira, muito provavelmente uma estrela similar ao Sol. A explosão de raios-x que foi detectada, deveu-se a alguma da massa da estrela, que já tinha
sido “roubada” à estrela e encontrava-se a orbi-tar o buraco negro, a ser “sugada” por este.
Leiam o artigo original e completo, na NASA.
[NR: veja o vídeo aqui]
Carlos Oliveira
NASA detecta um novo buraco negro NASA detecta um novo buraco negro
na nossa Galáxiana nossa Galáxia
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Volume 2 Edição 10 COSMOLOGIA
Cientistas da Universidade de Cambridge, utili-
zando os dados dos telescópios UKIRT e WISE,
conseguiram descobrir um buraco negro gigan-
tesco localizado a 11 mil milhões de anos-luz de
distância.
O buraco negro supermassivo recebeu o nome
ULASJ1234+0907.
A detecção do buraco negro foi feita em infra-
vermelho (calor).
Na imagem, o objecto está avermelhado, devi-
do a toda a poeira que rodeia o buraco negro,
que absorve a luz azul e esconde o buraco
negro em luz visível (daí não ter sido detectado
até agora).
Este buraco negro supermassivo tem 10.000
vezes mais massa que o buraco negro supermas-
sivo que está no centro da nossa Galáxia. Este é
assim um dos buracos negros
mais massivos alguma vez detec-
tados.
No Universo Observável existem
provavelmente 400 buracos
negros tão massivos como este.
Este estudo mostra que os bura-
cos negros supermassivos forma-
ram-se rapidamente e cresceram
bastante naquela altura.
Provavelmente formaram-se após
colisões entre galáxias.
Leiam mais detalhes, aqui.
Carlos Oliveira
Buraco Negro Monstruoso encontrado Buraco Negro Monstruoso encontrado
nos “confins” do temponos “confins” do tempo
Simulação de um buraco negro.
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SISTEMA SOLAR Outubro 2012
Já no passado, tive uma interessante e espontâ-
nea sessão de perguntas e respostas, a partir de
perguntas que me fizeram no facebook sobre
perigo de asteróides. Leiam aqui.
Mais recentemente houve uma nova e espontâ-
nea sessão de perguntas e respos-
tas no Facebook do astroPT, que por ter sido tão
interessante reproduzo aqui um resumo dela:
Pergunta: Tenho uma dúvida acerca da Cintura
de Asteróides. A teoria mais aceite diz que a
gigantesca gravidade de Júpiter impede a acre-
ção. Se a força gravitacional de Júpiter é assim
tão grande, não devia ter já pulverizado as luas
Io e Europa?
Resposta 1:
Pode-se dividir isto em vários pontos:
- A massa da cintura de asteróides é muito baixa.
Segundo a Wikipedia, situa-se nos 3×10^21 kg,
pouco mais de 4% da massa da Lua.
- Durante a formação do Sistema Solar, os plane-
tas gigantes, que se terão formado mais próxi-
mos do Sol, migraram para as posições que ocu-
pam hoje.
- Júpiter ter-se-á formado muito rapidamente,
tendo por isso uma enorme força gravitacional
Poderá a cintura de asteróides transformar-se num planeta?
Comparação entre os menores planetas e as maiores luas
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
quase desde o início do Sistema Solar.
- Essa gravidade terá puxado e empurrado os
planetésimais que compunham a órbita da cintu-
ra de asteróides, dotando-os de velocidades
muito elevadas. Com a migração de Júpiter, esse
“puxão” deverá até ter sido amplificado.
- Como os planetésimais eram pequenos, e no
total pouco massivos, ganharam
demasiada velocidade. Assim, quan-
do iam na direção uns dos outros, em
vez de acretarem, chocavam com
tanta velocidade que simplesmente
se desfaziam.
Claro que, com tanto planetésimal a
“flutuar” naquela zona, lá houve um
ou outro que conseguiu crescer mais
um bocado. Mas mesmo Ceres, que
sozinho tem 1/3 da massa da cintura
de asteróides, tem cerca de 9×10^20
kg.
Comparando com as luas galileanas
de Júpiter, mesmo a mais
“levezinha” (Calisto) tem uma massa de 10^23
kg, ou seja, 1000x mais que Ceres, e quase 100x
mais que toda a cintura de asteróides.
Para o caso das luas mais pequenas, há que ter
em conta o número. Muito provavelmente em
órbita de Júpiter nunca terá havido tantos plane-
tésimais como na cintura de asteróides, por isso,
choques catastróficos entre eles seriam muito
menos prováveis.
Resposta 2:
A formação dos satélites de Júpiter ou a forma-
ção de um planeta com uma órbita próxima de
Júpiter são coisas completamente distintas.
Vejamos cada uma das duas situações:
O Sistema Solar formou-se a partir de uma nebu-
losa que se foi contraindo por ação da gravida-
de. Qualquer pequeno movimento de rotação
que ela tivesse inicialmente foi largamente
ampliado devido à conservação do momento
angular. A maior parte da matéria aglomerou-se
no centro, formando o Sol e, no disco protopla-
netário, foram-se formando os planetas. Os pró-
prios planetas também estavam envoltos num
disco de gases e poeiras em rotação que, em
alguns casos deram origem a satélites.
Os satélites principais de Júpiter, provavelmente
formaram-se a partir desse disco de matéria que
deu origem a Júpiter (os mais pequenos terão
tido uma formação independente e foram poste-
riormente capturados por Júpiter).
Quanto à área de influência do Sistema Joviano
(Júpiter e os satélites que o orbitam), essa área é
muito mais vasta. Júpiter ao deslocar-se em tor-
no do Sol, desestabiliza, com a sua gravidade,
um grande volume de espaço, onde não foi pos-
sível formar-se um outro planeta ou, se se for-
mou, tinha uma órbita tão instável que acabou
por cair no Sol, ser expulso do Sistema Solar ou
migrado para outro local do Sistema Solar.
Os satélites principais de Júpiter estão numa
situação muito diferente. Estão em órbitas está-
veis e só seriam destruídos pela gravidade de
Júpiter se por qualquer motivo se aproximassem
demasiado do planeta, caso em que o efeito de
maré poderia fragmentá-los.
Comparação entre Ceres, a Lua, e a Terra
Pergunta: Será que há condições para existir um
único planeta entre Marte e Júpiter?
Resposta: Como disse acima, a gravidade de
Júpiter imprime demasiada velocidade aos obje-
tos da cintura de asteróides para eles poderem
acretar. As colisões entre eles são sempre dema-
siado violentas.
Por isso, na minha opinião, nunca existirá um
planeta principal naquela órbita (a não ser que
alterem a definição de planeta, de modo a que
objetos como Ceres possam ser considerados
planetas principais).
Pergunta: Aqui pode-se ver que Vesta é muito
maior que Itokawa. É estranho/interessante que
Vesta não consiga atrair e “engolir” Itokawa,
devido à
força gravi-
tacional de
Júpiter que
está milhas
e milhas de
distância.
Basicamen-
te o que
quero
saber é se
daqui a
centenas
ou milha-
res de anos
vai existir
UM plane-
ta (anão ou
não) entre
Marte e
Júpiter.
Haverá
possibilida-
des do pla-
neta-anão
Ceres se
juntar (acrecionar?) por exemplo a Vesta?
Resposta:
As perturbações gravitacionais mútuas entre
Ceres, Vesta, Palas e outros grandes objectos da
Cintura de Asteróides induzem um comporta-
mento caótico nas suas órbitas, tornando-as
imprevisíveis em escalas de tempo relativamen-
te curtas (na ordem das centenas de milhares de
anos). Num trabalho recente, astrónomos fran-
ceses descobriram que a probabilidade de coli-
são entre Ceres e Vesta atinge 0,2% em apenas
mil milhões de anos, uma probabilidade relativa-
mente elevada! No entanto, penso que a veloci-
dade destas colisões seria demasiado elevada
para que estes objectos se acrecionassem. A
altas velocidades a acreção é difícil. O desfecho
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SISTEMA SOLAR Outubro 2012
Comparação do tamanho de vários asteróides
mais provável de tal catástrofe seria a sua frag-
mentação em inúmeros pequenos asteróides.
Pergunta: Os anéis de Saturno formaram-se por-
que uma lua se aproximou demasiado do plane-
ta e a gravidade a desfez em pedacinhos. O pro-
cesso foi o mesmo?
Resposta: No caso dos anéis de Saturno, essa é
uma das teorias propostas para a sua formação.
Segundo essa teoria, uma lua saturniana com
um tamanho ligeiramente superior a Mimas ter-
se-ia aproximado demasiado do limite de Roche
de Saturno (por colisão com outro corpo?), o
que teria provocado a sua fragmentação pela
acção da força de maré.
No caso da Cintura de Asteróides, a perda de
massa causada pela migração de Júpiter no início
da formação do Sistema Solar terá inviabilizado
a formação de um objecto massivo na
região, restando apenas alguns planetési-
mais. A perturbação gravitacional de Júpi-
ter foi provocando a colisão entre estes
objectos, o que causou a fragmentação
de muitos dos planetas embriões origi-
nais. Vesta, Ceres e Palas terão sido os
grandes sobreviventes desse processo.
Ou seja, no caso dos anéis de Saturno
teríamos a fragmentação de uma lua. Na
Cintura de Asteróides, os acontecimentos
tiveram contornos diferentes. Júpiter aca-
bou por impedir o crescimento dos plane-
tas embriões aí formados. As perturba-
ções gravitacionais geradas pela sua
migração (ver modelo de Nice) ejectaram
muito do material aí existente e aceleraram o
que restou, interrompendo o processo de acrec-
ção e provocando colisões disruptivas.
Carlos Oliveira
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Anéis de Saturno
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AstroPT
alojado por: Grifin
http://www.grifin.pt/
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SISTEMA SOLAR Outubro 2012
Com aproximadamente 1.800
quilómetros de diâmetro e cer-
ca de 5,2 quilómetros de pro-
fundidade, Argyre é a segunda
maior bacia de impacto do pla-
neta vermelho. O seu nome
deriva da mitologia greco-
romana, que descrevia Argyre
como uma ilha de prata
(árgyros, em grego) situada
junto à costa ocidental da
actual Birmânia. No século XIX,
a palavra Argyre figurava pela
primeira vez num mapa de
Marte criado pelo astrónomo
italiano Giovanni Schiaparelli,
sobre uma região brilhante
situada nas proximidades do
pólo sul do planeta.
A imagem de cima mostra uma
porção da região mais seten-
trional da gigantesca bacia vis-
ta durante o Inverno. A paisa-
gem é dominada pela metade
ocidental de Hooke, uma pro-
funda cratera com cerca de
138 km de diâmetro, e pelas
terras baixas ajdacentes mol-
dadas pelo vento e por proces-
sos glacio-lacustrinos. Nestes
terrenos é possível observar
finas camadas de gelo de dióxi-
do de carbono cobrindo as
superfícies mais abrigadas do
Sol.
Sérgio Paulino
Beleza gelada na ilha de prata
PU
BP
UB
Gelo de dióxido de carbono em Argyre Planitia. Composição em cores naturais construída com imagens obtidas a 08 de Junho
de 2012 pela High-Resolution Stereo Camera da Mars Express.
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Há dias atrás, a
NASA publicou o caminho que
o rover Curiosity já percorreu
na superfície Marciana, até ao
Sol 56 (2 de Outubro de
2012), em direcção à área
Glenelg que é onde se inter-
ceptam três
tipos de terre-
nos.
Carlos Oliveira
Trajeto do Curio-sity
Crédito: NASA/JPL-Caltech / Universidade do Arizona
Página 44
Mais uma rocha espacial a rasar a Terra
SISTEMA SOLAR Outubro 2012
No passado Domingo, o aste-
róide 2012
TV cruzou tranquilamente o
interior do sistema Terra-Lua,
passando a uma distância
mínima de cerca de 249 mil
quilómetros da superfície ter-
restre. Neste momento, a
pequena rocha espacial afasta
-se do nosso planeta, estando
já demasiado distante para
poder ser observada através
dos maiores telescópios ama-
dores.
Entretanto, um outro asterói-
de recém-descoberto fará
uma passagem ainda mais
próxima da Terra na madruga-
da do dia 12 de Outubro.
Designado provisoriamen-
te 2012 TC4, este novo objecto
atravessará os céus a uma dis-
tância de 88 mil quilómetros
da superfície terrestre, cerca
do dobro da altitude a que se
encontram os satélites geosta-
cionários. Algumas horas mais
tarde fará uma nova passagem
rasante, desta vez a 115 mil
quilómetros da Lua.
2012 TC4 foi descoberto a 04
de Outubro, em imagens obti-
das pelo telescópio Pan-
STARRS. Com um tamanho
inferior a 30 metros, o peque-
no visitante deverá brilhar a
uma magnitude máxima de
13,76 nas horas que precedem
o momento de maior aproxi-
mação ao nosso planeta.
Sérgio Paulino
Diagrama da órbita do asteróide 2012 TC4.
Crédito: JPL’s Small Body Database.
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
No passado Domingo, o Curiosity preparava a
primeira amostra de regolito marciano para aná-
lise, quando os cientistas da missão repararam
num pequeno objecto brilhante, com cerca de 8
mm de comprimento, repousando no solo junto
ao braço robótico. Seria um pedaço de um dos
componentes do robot? Ou um fragmento do
skycrane? Ou, quem sabe, talvez algo mais exóti-
co? Para determinar a natureza do objecto e
possíveis impactos da sua presença na colheita e
análise de amostras, a equipa cancelou as activi-
dades programadas para o sol seguinte, e
comandou a captação de imagens adicionais
com a ChemCam.
Após uma primeira análise das imagens
da ChemCam, a equipa da missão anunciou que
o misterioso objecto aparenta ser um fragmento
de plástico ou de material isolante proveniente
do robot, talvez libertado durante a preparação
da amostra de regolito. A equipa vai, no entanto,
continuar com a investigação por mais um sol,
antes de decidir se retoma as actividades ante-
riormente programadas. Entretanto,
o Curiosity irá fotografar o solo em seu redor e
alguns componentes dos seus instrumentos, em
busca de mais pistas que possam conduzir os
cientistas a uma identificação definitiva.
[NR: veja o vídeo aqui]
Sérgio Paulino
Curiosity encontra objecto invulgar no solo marciano
Um estranho objecto brilhante no solo marciano junto ao braço
robótico do Curiosity. Imagem obtida pela MastCam-34 a 07
de Outubro de 2012 (sol 61 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.
O enigmático objecto da imagem de cima visto pela ChemCam
a 08 de Outubro de 2012 (sol 62 da missão).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/LANL.
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SISTEMA SOLAR Outubro 2012
A 7 de Outubro
de 2012 (Sol 61),
com a ajuda do
seu braço robóti-
co, o rover
Curiosity reco-
lheu a
sua primeira
amostra de areia
e poeira da super-
fície marciana.
Agora é só anali-
sar essa amostra
do solo, com os
instrumentos:
SAM (Análise de
amostras em
Marte) e CheMin
(Química e
Mineralogia).
Carlos Oliveira
Primeira colherada do Curiosity
Huygens poisou numa superfície
arenosa ressequida
Apesar de terem passado mais de 7 anos sobre a chegada da sonda Huygens à superfície de Titã, os cientistas continuam a extrair dos dados recolhidos pela missão valiosas informa-ções acerca do ambiente tita-niano. Recentemente, uma equipa internacional de investi-gadores reconstruiu o movi-mento da sonda após o primei-ro impacto no solo, ao compa-rar as leituras de três instru-mentos com os resultados obti-dos em simulações computori-zadas e num teste com um modelo daHuygens desenhado para replicar a alunagem. A análise revelou que a Huygens abriu uma depres-são com 12 cm de profundida-de no primeiro contacto com a superfície, e que depois ressal-tou para uma área plana, desli-zando com uma inclinação de 10º na direcção do movimento, ao longo de 30 a 40 cm.
De acordo com os investiga-dores, a sonda parou de deslizar devido à fricção com a superfície,
balançando cinco vezes antes de se imobilizar por completo cerca de 10 segundos após o primeiro contacto. “Um pico nos dados da aceleração suge-re que, quando a sonda balan-çou pela primeira vez, encon-trou provavelmente um peque-no seixo saliente 2 cm acima da superfície” afirmou Stefan Schröder do Max Planck Insti-tute for Solar System Research, primeiro autor do artigo onde foram publicados estes novos resultados (ver aqui). O movi-mento oscilatório da sonda “deverá ter pressionado o sei-xo contra o solo, o que sugere que a superfície teria a consis-tência de areia fina e húmida.”
A depressão criada pelo impac-to inicial da Huygens mostra que o solo era macio e defor-mável no local da alunagem. No entanto, a superfície deve-ria ser também dura o suficien-te para permitir o movimento
oscilatório detectado após a imobilização, um movimento impossível de reproduzir caso o solo fosse lamacento. A Huygens detectou ainda evi-dências da formação de uma nuvem de partículas de poeira em seu redor logo após o pri-meiro contacto com o solo, o que sugere que a superfície se encontrava seca na altura da alunagem. As propriedades ópticas destas partículas são semelhantes às dos aeróssois de compostos orgânicos obser-vados em suspensão na atmos-fera titaniana. Este resultado contrasta com outros anterior-mente publicados, que revelam a detecção de vapores de metano libertados do solo por contacto com as superfícies quentes da sonda (recordem-se que em Titã chove metano e etano). Na presença destes resultados aparentemente dis-cordantes, Schröder e colegas concluem que, apesar da superfície estar coberta por uma camada de poeira seca, o solo subsuperficial encontrava-se húmido quando a Huygensalunou, o que sugere um episódio recente de seca na região.
[NR: veja o vídeo aqui]
Sérgio Paulino
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Representação artística da chegada da sonda Huygens à superfície de Titã. Crédito: ESA.
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Surpresas na rocha Jake
SISTEMA SOLAR
No caminho para Glenelg, a
equipa da mis-
são Curiosity seleccionou
uma rocha com uma curiosa
forma piramidal como primei-
ro alvo científico para o instru-
mento APXS (Alpha Particle X-
Ray Spectrometer). Denomina-
da Jake Matijevic, em honra ao
engenheiro da NASA Jacob
Matijevic, falecido a 20 de
Agosto de 2012, a rocha era
aparentemente um vulgar
exemplar dos basaltos estuda-
dos em Marte pelas mis-
sões Spirit e Opportunity, pelo
que os cientistas saberiam à
partida o que esperar nestas
primeiras análises. Para sua
surpresa Jake revelou ser um
tipo de rocha ígnea nunca
Outubro 2012
A rocha Jake Matijevic numa versão contrastada de uma imagem obtida pela MastCam do robot Curiosity, a 21 de Setembro de
2012. Na imagem estão assinalados os locais onde foram apontados dois instrumentos diferentes para estudar a composição da
rocha. Os pontos a vermelho são os locais onde a ChemCam disparou o seu laser a 21 e a 24 de Setembro de 2012 (sóis 45 e 48
da missão). Os círculos a preto e branco são imagens captadas pela ChemCam para observar os orifícios criados na superfície da
rocha pelo laser. Os círculos a roxo indicam os locais onde o instrumento APXS realizou as suas primeiras análises em Marte.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.
antes encontrada no planeta
vermelho.
“Esta rocha tem uma composi-
ção muito semelhante a invul-
gares, mas muito conhecidas,
rochas ígneas encontradas em
regiões vulcânicas na Terra”,
afirmou Edward Stolper, um
dos investigadores da missão,
na conferência de imprensa da
passada quinta-feira. Os espec-
tros obtidos
pelo APXS mostram que, com-
parativamente aos basaltos
encontrados pelos
robots Spirit e Opportunity na
cratera Gusev e em Meridiani
Planum, Jake é pobre em mag-
nésio e ferro, mas rica em ele-
mentos como o sódio, o alumí-
nio, o silício e o potássio, ele-
mentos típicos dos feldspatos
alcalinos, minerais nunca antes
observados em Marte, porém
vulgares nos granitos terres-
tres. Na Terra, este tipo de
composição química resulta de
processos ocorridos no manto,
em magma relativamente rico
em água, cristalizado a eleva-
das pressões. Os investigado-
res da missão vão, no entanto,
aguardar por novos dados
antes de se pronunciarem
sobre os processos que estive-
ram na origem de Jake.
Os resultados
do APXS parecem confirmar as
observações realizadas
pela ChemCam na rocha Jake e
noutros alvos anteriores.
“A ChemCam tem observado
composições sugestivas de
feldspato desde Agosto, e ago-
ra estamos perto de confirmar
essas observações com os
dados do APXS, embora exis-
tam ainda mais testes adicio-
nais a realizar”, afirmou Roger
Wiens, investigador principal
da ChemCam. O estudo da
composição química de Jake é
apenas uma pequena amostra
das capacidades do
robot Curiosity e das muitas
surpresas que estão reserva-
das no caminho até o monte
Sharp.
Aconselho-vos a leitura adicio-
nal do artigo da Emily Lakda-
walla sobre este assunto
(ver aqui), onde encontrarão
uma análise mais aprofundada
destes fabulosos resultados.
Sérgio Paulino
Página 49
Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Tempestade de Meteoros Sim, leram bem. Todos os meses temos chuvas de meteoros: as famosas chu-vas de estrelas em que vemos mais estrelas cadentes do que na maioria das noites. E, como temos alertado em alguns posts, durante o ano existem chuvas de estrelas que real-mente nos fazem ficar de nariz no ar toda a noite. Mas para 2014 espera-se não uma mera “chuva”, mas sim uma enorme tempestade de meteoros.
O responsável será o cometa 209P/LINEAR. A 24 de Maio, este cometa estará bem perto da Terra. Na verdade, a órbita deste come-ta fá-lo cruzar-se com a Terra a cada 5 anos. Em 2014, após a passagem pelo periélio, o cometa atravessará a órbita da Terra e espera-se que deixe bastante poeira. Os modelos de computador dizem que a Terra, ao passar por esse pon-to da órbita onde o cometa deixou tanta poeira, será
banhada por uma enorme quantidade de partículas, que, ao imergirem na atmosfera terrestre, darão aos humanos um enorme espectáculo de estrelas cadentes. Esta poderá ser a maior tem-pestade de meteoros deste século, com um máximo de 1000 meteoros por hora (17 por minuto). Leiam este artigo. E marquem no vosso calendá-rio: 24 de Maio de 2014. Carlos Oliveira
Página 50
Um antigo dínamo em Vesta
SISTEMA SOLAR
Em Maio passado, cientistas
da missão Dawn anunciaram
a descoberta de indícios da
presença de um núcleo metáli-
co no interior de Vesta, uma
característica partilhada pela
Lua e pelos quatro planetas
telúricos do Sistema Solar.
Um novo artigo, publicado na
semana passada na revis-
ta Science, vem agora desven-
dar o passado impressionante
desta pequena estrutura.
Durante os primeiros 100
milhões de anos após a sua
formação, o núcleo de Vesta
manteve activo um dínamo
capaz de gerar um campo
magnético forte o suficiente
para magnetizar as rochas da
crusta. As evidências encon-
tram-se no registo paleomag-
nético de um dos meteoritos
HED (howarditos–eucritos–
diogenitos), objectos cujas
assinaturas espectrais denun-
ciam a sua origem vestiana.
Neste trabalho, os autores
analisaram um total de 13
amostras de ALHA81001, um
Outubro 2012
Vesta num mosaico de imagens obtidas pela sonda Dawn em Setembro de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.
meteorito com excepcionais
propriedades magnéticas reco-
lhido em 1981, em Allan Hills,
na Antártida. Estudos petroló-
gicos anteriores sugerem
queALHA81001 terá tido ori-
gem na parte superior da crus-
ta de Vesta. Depois de exami-
narem os pequenos cristais
ferromagnéticos encontrados
nas amostras e medirem cui-
dadosamente o seu alinha-
mento, os investigadores pro-
cederam a progressivas des-
magnetizações até encontra-
rem o mais antigo vestígio de
um campo magnético.
A determinação da razão entre
isótopos de Ar permitiu à equi-
pa concluir que a mais recente
magnetização térmica
deALHA81001 terá ocorrido há
3,69 mil milhões de anos, ou
seja, muito depois do desapa-
recimento de um dínamo no
interior do jovem Vesta. Para
explicar esta aparente contra-
dição, Roger e colegas suge-
rem que, nos primórdios, o
dínamo criado pelo núcleo
metálico de Vesta terá gerado
na superfície um campo mag-
nético com magnitudes entre
10 a 100 μT (para comparação,
o campo magnético na superfí-
cie terrestre alcança magnitu-
des entre 25 a 65 μT). Este for-
te campo magnético global
terá perpetuado a sua assina-
tura na crusta vestiana, persis-
tindo em algumas regiões da
superfície ao longo de milha-
res de milhões de anos.
Esta hipótese está em concor-
dância com algumas observa-
ções realizadas
pela Dawn durante a sua mis-
são em Vesta. Análises espec-
trais conduzidas pela sonda
mostraram que o vento solar
tem um efeito muito limitado
nos minerais da superfície de
Vesta, comparativamente ao
observado na Lua. De acordo
com os autores deste estudo,
esta anomalia poderá ser
explicada pela actual presença
de campos magnéticos rema-
nescentes com força suficiente
para deflectir grande parte das
partículas solares.
Podem encontrar uma análise
mais aprofundada a este arti-
go aqui.
Sérgio Paulino
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Secção do meteorito ALHA81001 visto através de um microscópio electrónico.
Crédito: Roger Fu (MIT).
Página 52
Antigos grandes mares no hemisfério
sul de Titã?
SISTEMA SOLAR
Cientistas da mis-são Cassini sugerem que o hemisfério sul de Titã poderá ter albergado num passado recente vastos mares pouco profundos. Num trabalho apresentado esta semana na 44ª Reunião da Divisão de Ciências Planetárias da Socie-dade Americana de Astrono-mia, Ellen Stofan descreveu como a análise de imagens de radar obtidas pela sonda entre 2008 e 2011 conduziu a equipa à descoberta de duas extensas regiões escuras delimitadas pelo que aparenta ser uma antiga linha de costa. Uma das regiões encerra no seu inte-rior Ontario Lacus, a maior massa de hidrocarbonatos líquidos actualmente existente no hemisfério sul de Titã. Recentemente, um outro gru-po de investigadores da mis-são, liderado por Oded Aha-ronson, sugeriu que processos semelhantes aos ciclos de Croll-Milankovich (variações a lon-go termo na órbita da Terra que se pensa estarem relacio-nadas com mudanças climaté-ricas cíclicas, como por exem-plo, as glaciações) provocam a transferência cíclica de hidro-carbonatos entre os dois pólos de Titã. De acordo com este modelo, há menos de 50 mil
anos, o pólo sul estaria coberto por extensas massas líquidas com aspecto e exten-são seme-lhantes aos grandes mares observa-dos actual-mente no pólo norte. Os leitos secos agora descritos pela equipa de Stofan parecem confirmar a presença de tais ciclos climatéricos. “Os mares de Titã são alber-gues temporários para expe-riências de química prebiótica, e sabemos que vão alternando de um hemisfério para outro em ciclos de mais de 100 mil anos” afirmou Stofan na confe-rência. Se Ontario Lacus é de
facto tudo o resta de um extenso mar, então poderá ter acumulado ao longo desse tempo uma verdadeira sopa de compostos orgânicos pre-bióticos! Leiam aqui o resumo deste e de outros trabalhos apresenta-dos na Reunião da DPS deste ano. Sérgio Paulino
Outubro 2012
Ontario Lacus numa composição de imagens de radar obtidas pela
sonda Cassini. A linha a vermelho desenha os limites de um antigo
mar com pelo menos 475 km de comprimento e 280 km de largura.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASI/Proxemy Research.
Por terras australianas e mares
vizinhos decorrerá um eclipse
solar total no próximo mês de
Novembro no dia 13. E NÃO
SERÁ possível observá-lo em
terras europeias pois o eclipse
terá início pouco depois das 19
h 30 min (hora portuguesa) na
zona Nordeste da Austrália,
como se pode ver no gráfico
animado a seguir. Haverá fora
da faixa da totalidade (grosso
modo com pouco menos de
200 quilometros) por uma
extensão até cerca de pouco
mais de quatro
mil quilometros, zonas de
eclipse parcial do Sol, e assim
poder haver eclipse parcial na
Antárctida neste eclipse
solar total. A totalidade
ocorre numa faixa estreita
que atravessa a superfície
da Terra, ao passo que num
eclipse solar parcial será
visível numa maior exten-
são da ordem de milhares
de quilometros. Só a parte
Nordeste da Austrália será
a única parte terrestre na
qual a faixa da totalidade
passará. O eclipse central (o
mesmo que dizer na faixa
da totalidade) começará no
parque nacional Garig Ganak
Barlu National Park
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Eclipse solar total de 13 de Novembro
de 2012
Página 54
SISTEMA SOLAR
no Northern Territory a cer-
ca de 250 quilometros a
Este de Darwin às 20 h 35
min portuguesas. Viajando
na direcção Sudeste, a
umbra rapidamente atra-
vessará o golfo da Carpen-
tária e chegará à Península
do CaboYork às 20 h 37 min
portuguesas. A primeira e
única região habitada na
faixa da totalidade situa-se
na costa Este deQueens-
land. Trata-se de Cairns que
ficará a cerca de
30 quilometros a Sul da
linha central da faixa da
totalidade. Para os humanos
que lá estiverem poderão
apreciar um eclipse de 2
minutos de totalidade. Os
habitantes de Cairns que se
dirigirem para a linha central
ganharão mais 5 segundos de
totalidade. Tudo terá de ser
conjugado com os
dados climatéricos
oferecidos por Jay
Anderson http://
home.cc.umanitoba.ca/
~jander/tot2012/
tse12intro.htm.
Após deixar a Austrália, a
umbra seguirá pelo oceano e
não haverá qualquer zona ter-
restre que terá à sua passagem
a faixa da totalidade. O máxi-
mo do eclipse – com duração
máxima do mesmo – terá lugar
no Pacífico Sul às 22 h 11 min
e 48 s. Nesse instante, o pro-
longamento do eixo da umbra
lunar passará muito próximo
do centro da Terra. O Sol esta-
Outubro 2012
Figura 1 – Animação do eclipse solar total de 13 de
Novembro de 2012 a decorrer na Australásia. O pon-
to a negro representará a indicação da faixa da totali-
dade. O grande círculo que se move, a azul mais
escuro relativamente à dos oceanos, será a zona de
umbra mais a zona de penumbra da Lua projectada
na superfície da Terra. Créditos da imagem: A. T.
Sinclair, retirado do sítio da NASA.
Figura 2 – A imagem representa a orientação do plano orbital da Terra e do plano orbital
da Lua. O nodo representa o ponto de intersecção do plano da órbita da Terra com o plano
da órbita da Lua. O eclipse de 13 de Novembro de 2012 ocorrerá no nodo ascendente já
que a Lua passará para Norte da eclíptica (quase, grosso modo, coplanar com o do plano
orbital da Terra). É preciso notar que a eclíptica corresponde ao plano MÉDIO das órbitas
do Sistema Solar e que não será totalmente correspondente ao plano orbital da Terra. Não
esquecer que o Sol se encontra a cerca de 1 UA do nodo. É apenas por efeito de perspecti-
va que parece estar no mesmo plano onde se encontra a Lua e, com isso, parecer próximo
do nodo. Escusado dizer que tal nodo não se manifesta fisicamente no céu. Esquema da
autoria de Jorge Almeida.
Página 55
Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Figura 3 – A imagem ilustra a sequência dos contactos numa situação de uma localidade que esteja precisamente na faixa cen-
tral (quase próximo do meio dessa faixa central). A fase da totalidade inicia no contacto II e termina no contacto III. O contacto I
inicia quando o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Oeste do Sol (note que o Sol está cerca de 400 vezes mais distante de nós
do que a Lua, e que por coincidência, o seu diâmetro também é 400 vezes maior, o que faz com que, para um observador na Ter-
ra, os diâmetros aparentes dos dois astros sejam tão semelhantes). O contacto II sucede quando todo o disco solar está sob o dis-
co lunar e o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Este do Sol. Depois no máximo, o centro do disco da Lua poderá coincidir ou
não com o centro do disco do Sol (no caso ideal, isso acontece precisamente no meio da faixa central do eclipse.) No contacto
III, o bordo Este da Lua toca no limbo Oeste do Sol; no final do eclipse, o bordo Este da Lua contacta com o limbo Este do
Sol. Nota importante: A Lua, da imagem à direita, nos contactos II e III e no máximo foi propositadamente tornada transparente
para se ver o disco do Sol que está ATRÁS do disco lunar. Nos contactos II e III sobressai um pouco do disco lunar para a direita
no contacto II, e para a esquerda no contacto III. No máximo, o disco lunar sobressai um pouco mais em torno do disco solar que
está em segundo plano. A convenção usada para as direcções da Lua foi a estipulada pela IAU em 1961. Esquema da autoria
de Jorge Almeida.
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SISTEMA SOLAR
rá a uma altitude de 68º
(imagine-se o ângulo formado
desde o horizonte até ao zéni-
te que são 90º, o Sol estará em
relação ao “ponto mais alto”
do céu a 90º-68º=32º). O eclip-
se terminará às 23 h 48 min a
800 quilometros a Oeste do
Chile.
Um eclipse solar total ocorre
quando a Lua se interpõe
entre o Sol e a Terra; e o diâ-
metro aparente da Lua é maior
do que o do Sol. Para essa
interposição ter lugar é neces-
sário que a Lua esteja num dos
dois nodos, ou seja, o ponto de
intersecção da órbita da Lua
Outubro 2012
Figura 4 – Explicitação do parâmetro gamma de um eclipse solar total. O gamma representa-se com a letra grega ɣ. Destaque-se
que há duas Luas que NÃO REPRESENTAM o mesmo eclipse! Serviu-se de duas Luas apenas para ilustrar dois valores distin-
tos de gamma. O C a vermelho representa o centro geométrico da Terra que está assinalado com ponto de igual cor. O ponto B
aponta para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de cima. O ponto C aponta
para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de baixo. A distância entre este
ponto de intersecção até ao ponto C é definida como AC (com traço por cima de AC) e esse segmento de recta AC é o gamma! É
claro que esse gamma será negativo e é menor em relação ao outro gamma que é o segmento de recta BC. NOTA IMPORTAN-
TE: A distância Terra-Lua está fora de escala, e tem mesmo que estar, senão ogamma seria impossível de ser marcado. Contudo
pode haver um problema de interpretação da geometria da figura que pode criar um conceito errado na cabeça do leitor. Repare
que na situação B, o centro de massa da Lua está numa posição que não poderia estar, pois não pertence à sua órbita. Deve ser
entendido isso como um caso do gamma deslocado. Para ser mais preciso, seria necessário preservar os ângulos e não fazer caso
dos diâmetros da Terra e da Lua. E, como tal, não se respeitou os ângulos na totalidade. Para tentar perceber melhor dou estas
indicações: O plano da órbita da Lua está inclinado de 5 graus em relação à eclíptica. Recomendo que se adopte o plano horizon-
tal do desenho como sendo a eclíptica. Então estabeleçam as duas situações A e B da Lua, de modo que a linha centro da Terra /
centro da Lua esteja inclinada, no máximo, de 5 graus em relação à horizontal (nem é preciso deixar essa linha no esquema, é só
para garantir). Pode-se diminuir o diâmetro da Lua, mas manter grande o da Terra, para o gamma ficar bem fácil de se ver. Cla-
ro, “estenda-se” mais o cone de umbra, para ele tocar na superfície da Terra. Esquema da autoria de Jorge Almeida.
com a da Terra – ver também
figuras 2 e 3. Além disso é
necessário que o Sol, do ponto
de vista da Terra, esteja tam-
bém perto ou coincidente com
a projecção de tal nodo. Não
esquecer que o Sol está, gros-
so modo, a 1 UA de tal nodo.
A totalidade corresponde ao
intervalo de tempo que decor-
re desde o início do contacto II
até ao contacto III (vide figura
3 para maior esclarecimento).
A duração máxima teórica de
um eclipse solar total na totali-
dade é de 7 min 31 s. A dura-
ção máxima deste eclipse é de
4 min 2,1 s em pleno Pacífico a
Este da Nova Zelândia.
A magnitude deste eclipse
será de 1,0500 e o
seu gamma será de -0,3718. O
eclipse faz parte do ciclo Saros
133. Para os leitores que já
andam a puxar os cabelos a
perguntar sobre o que é esta magnitude, o gamma e o
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Figura 5 – Ordem de acontecimentos de um eclipse solar total momentos antes do contacto I e após o contacto IV. Nota impor-
tante: Há alguma controvérsia sobre a ordem das contas de Baily e do anel de diamante. No entanto, dependendo da configura-
ção do anel de diamante, que varia de eclipse para eclipse, mesmo perante uma fotografia duas pessoas podem ter percepções
diferentes sobre como se parece um anel de diamante. Parece que tudo depende de qual seja o instrumento usado (olho nu – com
o devido uso de óculos de protecção especial, binóculos e telescópio – ambos com filtro solar) poder resolver as contas de Baily.
Se há apenas uma conta de Baily, ou se todas as contas de Baily surgem como apenas uma devido ao intenso brilho do Sol, ou se
o Sol é ainda um fino decrescente (antes do contacto II) ou crescente (após contacto III) as pessoas podem interpretar como
estando perante um anel de diamante. Contudo, as contas de Baily são um fenómeno mais objectivo, isto é, se consegue resolver
múltiplas contas, sem margem para dúvidas, estará a olhar para as contas de Baily. O anel de diamante é mais subjectivo e
depende da forma como vê o eclipse. Daí não se admire em ver noutras páginas sobre o eclipse uma ordem distinta da apresenta-
da. A queda de luminosidade antecede a totalidade e prossegue durante a dita, o mesmo acontecendo com a temperatura. O vento
de eclipse ocorre normalmente depois da totalidade. A visualização da umbra lunar precede a totalidade e prossegue após o fim
da mesma. A visão de planetas e estrelas, bem como possibilidade de visualização de cometas e/ou asteróides terá ocorrência
apenas na faixa da totalidade (salvo raras excepções). Poderá haver a hipótese de não se verem as contas de Baily bem como o
anel de diamante dependendo do rebordo lunar. É provável que a coroa solar, dado que o Sol está no mínimo solar, não tenha
uma dimensão angular apreciável. Panfleto da autoria de Jorge Almeida.
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SISTEMA SOLAR
ciclo Saros aqui segue uma sin-
gela explicação:
A magnitude de um eclipse é a
fracção do diâmetro do Sol
oculta pela Lua. É estritamente
uma razão de diâmetros e não
se deve confundir com obscu-
recimento do eclipse, o qual é
uma medida da área superfi-
cial ocultada pela Lua.
A magnitude de um eclipse
pode ser expressa tanto por
percentagem como por frac-
ção decimal (exempli gratia –
com o Sol oculto em metade
do seu comprimento, a magni-
tude do eclipse será 50% ou
0,5). A magnitude no ponto
máximo do eclipse
(coordenadas geográficas: 39º
56,9′ S e 161º 19,8” O) é de
1,0500, o que significa que a
Lua além de ocultar os 100%
do diâmetro aparente do disco
do Sol, oculta mais cerca de
5,0% do diâmetro aparente do
disco do Sol. No concernente
ao gamma de um eclipse tal
serve para descrever quão
central a umbra (=sombra) da
Lua atinge a Terra ou então a
umbra da Terra atinge a da Lua
(este último caso é durante o
eclipse lunar – parcial ou
total). O gamma é a distância,
quando o eixo do cone da
umbra da Lua passa próximo
do centro da Terra, que vai
desde o raio da Terra e o pro-
longamento do eixo do cone
da umbra (ver figura 1). O sinal
de gamma define para um
eclipse solar se o eixo da
umbra da Lua passa a NORTE
ou a SUL do centro geométrico
da Terra. Um valor positivo
significa que o eixo da umbra
da Lua passa a NORTE do cen-
tro geométrico da Terra. No
caso do eclipse solar de 13 de
Novembro de 2012 o eixo pro-
longado do cone da umbra da
Lua passa a SUL do centro geo-
métrico da Lua, daí o sinal
negativo no valor de gamma.
O ciclo de Saros nada mais é
do que uma família de movi-
mentos lunares, que no decor-
rer de 18 anos, 11 dias e 8
horas, com a repetição da
posição da relação Sol – Lua –
Terra, verifica-se o mesmo
padrão das mesmas sombras
lunares sobre a superfície ter-
restre. Cada eclipse é, de fac-
to, único. Nunca há dois eclip-
ses iguais. Para mais pormeno-
res sobre o ciclo de Saros,
leiaSaros, que saros?.
Um acontecimento muito
curioso, que ocorre alguns
minutos antes do contacto II e
após o contacto III, reside na
formação de bandas de som-
bra. Notam-se bandas alterna-
das de luz difusa com zonas
mais sombrias em superfícies
claras e planas. Daí aconselha-
se o uso de folhas ou de toa-
lhas brancas estendidas ou
então a observação de pare-
des alvas. De notar que estas
bandas, numa fase inicial,
manifestam-se de forma alea-
tória as quais, à medida que se
aproxima o segundo contacto,
se vão organizando e tornando
lineares bem como devida-
mente alinhadas. Acompa-
nhando estas mudanças, à
medida que o segundo contac-
to se avizinha, nota-se invaria-
velmente um incremento de
contraste, ao contrário do
espaçamento entre as bandas
que vai decrescendo. As ban-
das de sombra são a expressão
da cintilação do Sol, que não
são vistas no dia-a-dia dado o
considerável diâmetro aparen-
te da estrela Sol assim como o
intenso brilho que emana. Ao
contrário do que se vê em
muitos livros, as bandas de
sombra ainda carecem de um
modelo científico que as expli-
que satisfatoriamente, embora
já se saiba que são afectadas
Outubro 2012
pela turbulência da atmosfera,
entre outros factores. Tam-
bém é falso afirmar que um
céu limpo é sinónimo de
garantia de visibilidade destas
bandas. Uma boa estabilidade
atmosférica, a inexistência de
ventos até 2 km de altura bem
como ventos fortes impossibi-
lita ou, pelo menos, dificulta
sobremaneira a visualização de
bandas de sombra.
A par de todos os eventos já
descritos, assim que está imi-
nente o segundo contacto,
acontece algo de único… surge
uma “[...] jóia de luz maior que
o próprio mundo [...]“, ou seja,
forma-se o anel de diamante.
A observação do anel de dia-
mante a olho nu sem uso de
filtros adequados – óculos de
protecção especial – deve ser
considerada perigosa já que
estamos a ver luz vinda da
fotosfera do Sol que emite
radiação ultravioleta e infra-
vermelha nocivas para a retina
do olho (lembre-se que a quei-
madura da retina é indolor). As
dimensões do anel de diaman-
te variam consoante o perfil
do limbo lunar, podendo ser
possível destacar desde um
grande anel a um pequeno ou
mesmo suceder a não visuali-
zação do anel. Mas antes deste
último suspiro dos raios do Sol
tocarem no limbo lunar – anel
de diamante – geram-se as
famosas contas de Baily que
não são mais que o resultado
de irregularidades no relevo
lunar nas quais as montanhas
bloqueiam a luz vinda do Sol e
os vales lunares deixam passar
os raios luminosos formando
então pequenas esferas de luz
intercaladas vistas aqui da Ter-
ra. Conforme o perfil do bordo
da Lua, podem destacar-se
muitas ou poucas contas de
Baily. Assim que fica somente
uma conta de Baily, forma-se o
anel de diamante. Após desa-
parecer o anel de diamante,
neste instante, dá-se o contac-
to II e entra-se na fase da tota-
lidade. Só a partir deste con-
tacto, é perfeitamente seguro
olhar para o Sol sem óculos de
protecção especial (logo
depois de desaparecer o anel
de diamante e as contas de
Baily). E se já imaginava estar
na apoteose final, desengane-
se pois em redor da Lua dife-
rencia-se a famosa coroa solar
que tem um brilho aparente
similar ao da Lua cheia, a qual
faz vibrar mesmo o mais
impassível ser humano. A
coroa solar começará a emer-
gir um minuto antes da totali-
dade (obviamente a coroa
solar está sempre presente, no
entanto, o forte brilho do Sol
impede a visualização da páli-
da coroa solar no dia-a-dia, e
que só emergirá visivelmente
aquando um eclipse solar
total) e tornar-se-á invisível
poucos segundos após a mes-
ma. Contudo, aconselha-se
apenas a apreciá-la entre o
contacto II e o contacto III,
uma vez que ainda fora desse
intervalo da totalidade é visível
a fotosfera cuja observação a
olho nu reveste-se de grande
perigo para a retina.
Assim que a totalidade está
prestes a terminar com início
do contacto III ( Nota impor-
tante: Aconselha-se vivamente
a colocar os óculos de protec-
ção especial alguns segundos
antes do contacto III ) todo o
eclipse solar total segue a
inversão dos acontecimentos,
acrescentando um fenómeno
que ocorre quase sempre a
seguir à totalidade: vento de
eclipse. Outros aspectos
meteorológicos do eclipse
relacionam-se com as nuvens…
Normalmente as nuvens
cumulus desaparecem durante
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SISTEMA SOLAR
um eclipse porque a superfície
terrestre arrefece, no entanto,
nuvens stratus desenvolver-se-
ão mais uma vez que há arre-
fecimento da atmosfera.
Nuvens espessas bem como
tempestades dificilmente
sofrerão qualquer mudança
mesmo na eminência de um
eclipse solar total. A meteoro-
logia ligada ao eclipse é com-
plexa e as mudanças depen-
dem do tipo de clima, da situa-
ção meteorológica do dia,
localização na Terra, duração
do eclipse bem como a altura
do dia em que se dá o eclipse.
É importante realçar que sen-
do o eclipse um fenómeno
dinâmico é verdadeira a afir-
mação “cada eclipse é único”.
É frequente notar que muitos
eventos ligados ao eclipse
sucedem em simultâneo. Use
de bom senso e tome as provi-
dências necessárias para os
cuidados a ter, em especial nos
contactos II e III. Acima de
tudo, saboreie cada momento
que o eclipse solar total ofere-
ce e junte-se aos “[...] milhões
de gritos e aplausos na apo-
teose final[...]“.
Obviamente estas indicações
só terão sentido a quem esti-
ver a observar ou pretenda ir
observar o eclipse na Austrália
ou Pacífico. E para quem pos-
sa, recomendo vivamente e
para esses leiam com atenção
o Manual de segurança da
observação do eclipse solar
total no final do artigo.
Para quem tenha mais curiosi-
dade em saber mais sobre os
eclipses, continue a leitura que
se segue:
O eclipse solar total além de
ter suscitado muitos sentimen-
tos de medo e admiração ao
longo da História, serviu como
meio de estudos científicos.
Eclipses solares totais já foram
e ainda estão a ser usados em
várias pesquisas científicas,
além da monitorização das
vizinhanças do Sol, aproveitan-
do o contraste gerado pela
umbra lunar.
Através do eclipse solar total
foi possível comprovar um dos
aspectos da teoria da relativi-
dade de Einstein em que cor-
pos de grande massa como o
Sol podem deflectir a luz dado
que o Sol cria uma deformação
na teia espaço-tempo. A Rela-
tividade Geral de Einstein liga
a presença de massa à geome-
tria local do espaço-tempo.
Não se diz que a massa
“exerce força gravitacional”,
tal como defendia Newton,
mas que as partículas, ou mes-
mo a luz, se deslocam livre-
mente pelo espaço-tempo,
segundo geodésicas (isto é,
linhas segundo as quais a dis-
tância entre dois dados pontos
é mínima). O espaço-tempo
(que é quadridimensional)
sofre uma curvatura, devido à
presença da massa, por exem-
plo, do Sol. Nas proximidades
dele, a curvatura é mais acen-
tuada. Isso faz com que a luz
das estrelas, ao percorrer a
geodésica, se desvie da recta.
Devido a este fenómeno, as
posições aparentes das estre-
las, vistas por um observador
na superfície terrestre, são sig-
nificativamente modificadas,
quando estas se encontram
próximas do disco solar no
céu. Como o brilho excessivo
do céu próximo do Sol dificulta
a observação dessas estrelas, a
situação ideal para fotografá-
las é a de um eclipse solar
total. Comparando as suas
posições com as que já se
conhecem (ou seja, quando
estão longe do disco solar),
calcula-se um desvio que con-
corda excepcionalmente com
as previsões teóricas da Relati-
vidade Geral. Actualmente,
Outubro 2012
imagens em vários compri-
mentos de onda das coroas
internas e externas têm sido
usadas para se compreender
melhor os complexos proces-
sos magneto-hidrodinâmicos
que contribuem para o aqueci-
mento do plasma da coroa
solar a temperaturas até 1 ou
2 milhões de graus Celsius. Por
sua vez, registos espectroscó-
picos têm informado os cien-
tistas sobre a composição e
temperatura das regiões mais
externas do Sol. O “flash spec-
trum”, por exemplo, obtido
quando a fotosfera já está
totalmente ocultada pelo disco
lunar, mostra a composição da
cromosfera. Alguns pesquisa-
dores têm usado mapas da
actividade da fotosfera para
prever qual o aspecto da coroa
solar durante eclipses. Tais
correlações são importantes
para determinação dos efeitos
dos buracos coronais, helmet
streamers, flares, proeminên-
cias, manchas solares entre
outros, sobre as características
observadas da coroa solar. Há
um fenómeno muito curioso
conhecido como efeito de
Allais no qual se verifica supos-
tamente uma oscilação anó-
mala num pêndulo aquando o
decorrer de um eclipse solar
total, cujas causas não estão
devidamente esclarecidas.
Outro aspecto importante e
que despertará o interesse
neste eclipse solar total serão
os hipotéticos… vulcanóides.
Segundo http://
www.isthe.com/chongo/tech/
astro/SandT-200805-
vulcanoid_v3.pdfo que se pas-
sa é que nos próximos eclipses
solares totais vai haver busca
por vulcanóides – possíveis
asteróides residentes entre a
órbita de Mercúrio e a estrela
Sol. Recentes modelos elabo-
rados por Neil Evans
(Universidade de Oxford) e
Serge Tabachnik (do Observa-
tório da Universidade de Prin-
ceton) sugerem que os asterói-
des vulcanóides, se de facto
existirem, residirão numa ban-
da estreita e estável entre os
0,08 UA e 0,18 UA. A menos de
0,08 UA estariam sujeitos a
maior força gravitacional, além
do aquecimento extremo do
Sol, a mais de 0,18 UA seriam
ejectados… Vistos da Terrra,
eles não deverão ter mais de
10,5º de separação angular em
relação ao Sol. Suspeitas inci-
dem na maior probabilidade
de residirem a 0,08 UA o que
torna ainda mais difícil a bus-
ca, além do mais a interacção
da gravidade de Mercúrio e
mesmo de outros planetas
poderão deslocar estes aste-
róides a pouco mais de 10º em
relação ao plano da eclíptica.
Já se tentou procurar os vulca-
nóides em 2000 (a busca é
mais precoce ainda… Suspeitas
dos asteróides em questão já
tiveram início em 1859 por Le
Verrier.. que mais pensava, na
verdade, de um planeta Vulca-
no que poderia explicar even-
tualmente o movimento anó-
malo de Mercúrio.) Daí, que a
partir de agora, os eclipses
solares totais servirão para ir
em busca desses vulcanóides.
É preciso uma câmara CCD e
registar por alguns intervalos
de tempo a zona em redor do
Sol aquando a totalidade. Con-
vém usar filtros Wratten para
filtrar o comprimento de onda
verde da coroa, isto porque se
suspeita que os vulcanóides
sejam um pouco em termos de
cor tal qual o planeta Mercú-
rio… o uso de filtros é com
objectivo de aumentar o con-
traste e facilitar a busca dos
asteróides vulcanóides. Além
desta importância, registos
históricos de eclipses solares
Página 61
Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
Página 62
SISTEMA SOLAR
totais têm sido usados para a
determinação de variações na
velocidade de rotação da Terra
e cálculo da diferença ΔT,
entre o Tempo Uniforme (TDT)
e o tempo baseado na rotação
da Terra (TU ou TU1). Os eclip-
ses solares já foram usados (e
ainda continuam a sê-lo) para
a determinação de alguns
parâmetros astrométricos,
como o raio lunar médio
(principalmente durante eclip-
ses onde os raios aparentes do
Sol e da Lua praticamente
coincidem ou nas áreas onde o
eclipse é visto como rasante) e
também como teste de pro-
gramas de previsão desses
eventos. Outras pesquisas
focam as mudanças atmosféri-
cas e meteorológicas, incluin-
do o interessante fenómeno
das bandas de sombra e a difu-
são da luz residual do Sol, e a
visibilidade de astros. Biólogos
têm estudado o comporta-
mento dos animais e plantas
durante a passagem da umbra
lunar. E, naturalmente, exis-
tem muitos outros estudos
mais complexos, relativos a
pesquisas de Astrofísica.
Manual de segurança da
observação do eclipse solar
total
NOTA IMPORTANTE: Em cir-
cunstância alguma, NUNCA
aponte binóculo e telescópio
sem filtro apropriado para o
Sol, sob grave perigo de ficar
irreversivelmente com ceguei-
ra absoluta. Para sua própria
segurança LEIA TODAS as
regras abaixo indicadas.
O autor não se responsabiliza
por quaisquer problemas que
advenham da má utilização
das regras deste manual.
1ª regra: NUNCA observar sem
óculos de protecção especial
antes do contacto II e logo
imediatamente ao contacto III.
Só é absolutamente seguro ver
o eclipse solar total a olho nu
durante a totalidade que cor-
responde ao tempo que decor-
re entre o contacto II e o con-
tacto III. Aconselha-se viva-
mente a colocar os óculos de
protecção especial uns segun-
dos antes da totalidade termi-
nar, ou seja, antes de se dar o
contacto III.
2ª regra: NUNCA ver as contas
de Baily e o anel de diamante
sem os óculos de protecção
especial, ou filtros solares pró-
prios, já que são manifesta-
ções de eclipse parcial sendo,
portanto, visível a fotosfera a
qual constitui fonte de emis-
são de radiação infravermelha
e ultravioleta que acarretam
perigo para a visão.
3ª regra: NUNCA usar óculos
escuros, vidros negros de
fumo, películas para fotogra-
fias a cores, negativos de foto-
grafias, radiografias, disquetes,
CDs, DVDs, filtros de gelatina,
polaróides, filtros Wratten,
folhas de alumínio em quais-
quer ocasiões e circunstâncias
na observação do Sol. Evite os
filtros Mylar. Não é recomen-
dável o uso de quaisquer fil-
tros de soldador, mesmo o de
#14.
4ª regra: NUNCA usar os ócu-
los especiais de protecção ocu-
lar* combinados com binócu-
los, câmaras fotográficas,
telescópios ou outros instru-
mentos ópticos. Os óculos
especiais com a norma euro-
peia supracitada apenas SÓ
devem ser usados para obser-
vação ocular directa. E deve-se
fazer intervalos frequentes
para descanso a fim de o olho
não aquecer demasiado.
5ª regra: NUNCA utilizar os
filtros solares** para serem
colocados na ocular do instru-
mento óptico, ou seja, a lente
Outubro 2012
onde se encosta o olho para
ver.
6ª regra: NUNCA fazer uso de
óculos especiais de protecção
ocular que já tenham sido utili-
zados ou que estejam guarda-
dos, porque podem ter micro-
furos, arranhões ou
imperfeições que dei-
xem passar mais
radiação do que a per-
mitida. Lembre-se que
a queimadura do olho
é indolor e o perigo é
demasiado para arris-
car com óculos espe-
ciais de protecção
ocular pouco fiáveis
seja de onde for a sua
origem (o mesmo para
os filtros solares).
Importante testar a
segurança do óculo
especial de protecção
ocular olhando com eles colo-
cados para uma fonte de luz
bem forte em casa e procurar
por falhas, imperfeições no
filtro do óculo.
7ª regra: NUNCA exceder
observação contínua com ócu-
lo de protecção especial por
períodos de mais 30 segundos,
fazendo sempre intervalos de
2 minutos de descanso. Evita-
se, desta forma, a acumulação
de calor na retina. IMPORTAN-
TE lembrar que o aquecimento
da retina não é sentido por nós
como sentimos o aquecimento
da pele, UMA VEZ que a quei-
madura da retina, derivado do
aquecimento desta, é INDO-
LOR! Se prolongar demasiado
a observação, a retina começa
a aquecer e não nos apercebe-
mos desse aquecimento,
podendo ocorrer lesões irre-
versíveis – a cegueira parcial
ou total. Além disso evita-se
que o filtro aqueça em dema-
sia, reduzindo assim a possibi-
lidade de deteriorar o óculo de
protecção especial.
* Os óculos especiais de pro-
tecção ocular são vendidos nas
farmácias, e devem ter marca
CE obrigatória, que cumprem a
Norma Europeia EN 169/1992
e a Directiva Europeia CEE
89/686), ou então no caso de
estar na Austrália desloque-se
a uma farmácia e peça por
óculos reconhecidos pela auto-
ridade de Saúde do país.
** Os filtros solares para binó-
culos e telescópios devem ser
comprados em lojas especiali-
zadas de Astronomia.
Jorge Almeida
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Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR
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TERRA Outubro 2012
Domingo é dia de mais um desafio de “Onde no mundo lusófono”. Deixem os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publicação do próximo desafio.
Observem com atenção esta imagem:
Resposta ao desafio:
Como quase todos os que comentaram sabiam, esta é uma imagem do troço do Rio Tejo entre Santarém e Alverca (ID da imagem: ISS030-E-166767).
O Tejo é o maior rio da Península Ibérica, estendendo-se por 1.038 km, desde a nascente em Fuente García, na Sierra de Albarracín, em Espanha, até à foz no Oceano Atlântico, em São João da Barra, a poucos quilómetros de Lisboa. Na imagem são visíveis os depósitos aluvionares da parte inferior da bacia hidrográfica do Tejo, unidades estratigráficas modernas (Holoceno) que ocultam a mais importante falha tectónica da região ocidental da Península Ibérica, a
conhecida falha do Vale do Tejo, local onde ocorreu o epicentro do forte sismo que abalou Benavente a 23 de Abril de 1909.
Sérgio Paulino
Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Rio TejoRio Tejo
Qual é o nome deste rio?
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Volume 2 Edição 10 TERRA
Aqui está o quarto desafio da série “Onde no mundo lusófono”. Deixem os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporaria-mente embarga-dos para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publica-ção do próximo desafio.
Observem com
atenção a imagem.
Resposta ao desa-fio: Esta é uma ima-gem do Atol das Rocas obtida a 03 de Março de 2012 a partir da Estação Espacial Internacional (ID da imagem: ISS022-E-79938).
Situado no Oceano Atlântico, a cerca de 260 qui-
lómetros de distância da cidade do Natal, no
Brasil, o Atol das Rocas é um recife coralino com
3,5 km de comprimento e 2,5 km de largura, for-
mado sobre um antigo vulcão submarino perten-
cente à zona de fractura de Fernando de Noro-
nha. Na maré alta, apenas duas ilhas arenosas
espreitam acima das águas, a ilha do Farol e a
ilha do Cemitério (a mais pequena das duas).
Nas águas pouco profundas em redor do atol
abriga-se uma ictiofauna muito diversificada,
facto que justifica a sua inclusão na lista de
reservas biológicas com inscrição na UNESCO.
Sérgio Paulino
Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Atol das Atol das
RocasRocas
Qual é o nome deste atol?
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TERRA Outubro 2012
O desafio da semana passada foi, aparentemente, fácil demais e por isso resolvi esta semana trazer-vos algo menos óbvio. Vão deixando os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publicação do próximo desafio.
Observem com atenção a imagem.
Resposta ao desafio:
A imagem de cima mostra a parte mais meridional do Grande Vale do Rift, em África, região onde se implantam os grandes lagos Niassa (ou Malawi) e Tanganica (ambos discerníveis nas proximidades da linha do horizonte). Em primeiro plano, vemos as águas douradas da grande albufeira de Cahora Bassa (ou Cabora Bassa, como era conhecida no período colonial português). Esta imagem foi
obtida a 27 de Abril de 2012, a partir da Estação Espacial Internacional (ID da imagem:ISS031-E-5842).
Cahora Bassa é a quarta maior albufeira de África, ocupando uma bacia com cerca de 2.739 km² de extensão e 20,9 metros de profundidade média. Situada no rio Zambeze, na província de Tete, em Moçambique, a barragem que lhe deu origem foi o último grande projecto de desenvolvimento financiado pelo governo português em terras africanas. A sua construção iniciou-se em 1969, em plena guerra colonial, tendo o enchimento da albufeira começado apenas em Dezembro de 1974, cerca de 5 meses após a independência de Moçambique. Actualmente, a barragem produz cerca de 2.400 MW de electricidade, que são repartidos por Moçambique, pela África do Sul e pelo Zimbabué.
Sérgio Paulino
Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Albufeira de Albufeira de
Cahora BassaCahora Bassa
Qual é o nome da albufeira visível na imagem?
Página 67
Volume 2 Edição 10 TERRA
Este é o tipo de animal que se fosse encontrado
noutro planeta, se fosse extraterrestre, as pes-
soas ficavam maravilhadas com ele.
Mas este surpreendente “extraterrestre” é na
verdade um animal bem terrestre.
É um escaravelho de nome científi-
co Charidotella sexpunctata (antes chamava-se
Metriona bicolor) que muda de cor: “a primeira
camada da sua cutícula é transparente, tendo
por baixo uma camada de líquido; alterações na
quantidade do liquido – controladas por válvulas
microscópicas – alteram a cor reflectida pelo ani-
mal, que normalmente parece uma joaninha
dourada (mas chega a ficar alaranjado no Outo-
no e acastanhado no Inverno)”.
É um pequeno (6 milímetros) insecto da América
do Norte, que até parece ter uma carapaça
metálica – se eu fosse conspirador, diria que isto
é um dispositivo de espionagem enviado por
extraterrestres.
Carlos Oliveira
Besouro do “outro mundo”Besouro do “outro mundo”
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TERRA Outubro 2012
O austríaco Felix Baumgartner, de 43 anos, irá hoje realizar o salto mais alto que um ser humano alguma vez realizou. Aos 16 anos iniciou-se no skydiving e já fez saltos de 21 quilómetros e a 29,6 km de altitude.
Este domingo irá superar o recorde que tem 52 anos, pertencente ao coronel da Força Aérea dos Estados Unidos da América Joe Kittinger. No dia 16 de Agosto de 1960, Kittinger realizou o salto a 31.333 metros. A queda livre durou 4 minutos e 36 segundos a uma velocidade máxima de 988 km/h. Para saltar de grandes altitudes é necessário um fato espacial para evitar problemas com o frio, baixas pressões, raios cósmicos e falta
de oxigénio. Este será o fato (ver imagem) O senhor Baumgartner irá saltar de 37 Km. Onde fica isso? É perto da Lua? Não. Mas é alto na mesma.
Nesta altitude irá enfrentar temperaturas (exteriores ao fato) de entre 0ºC e – 50ºC e com pressões entre 10mb e 1mb (milibares). O salto terá lugar na Estratosfera, onde se situa a camada de ozono. Podem ver o site oficial aqui. Neste site tivemos as imagens em directo.
Afinal o salto não foi de 37 mil metros mas de 39
O Salto de Felix BaumgartnerO Salto de Felix Baumgartner
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Volume 2 Edição 10 TERRA
068 metros. Atingiu os 1342 Km/h aos 47 segundos, como se pode ver no vídeo abaixo (a velocidade do som é de 690 mph, ou seja, cerca de 1110 Km/h). Ocorreram, na fase final da subida, uns probleminhas mas nada de mais. A queda-livre durou 4,22 minutos e o tempo total de descida foi de “aproximadamente 15 minutos, sobre o deserto do Novo México, nos EUA”. (Público)
No fim para que foi o salto? Para bater apenas um recorde? Tanto financiamento, uma equipa de cientistas e material caro e sofisticado para, apenas, um homem saltar? Não, o “projecto Red Bull Stratos foi financiado pela marca de bebida energética com o mesmo nome e, além de uma tentativa de bater recordes, tinha como objectivo servir de programa de testes de voo e de contribuir para a investigação em fatos especiais.” (Público)
Dário Codinha
O ano passado demos a notícia que o planeta que orbita o pulsar J1719-1438 seria totalmente fei-to de carbono, e sen-do o planeta mais denso até então encontrado, então muito provavelmente o planeta é feito de diamante. Este enorme diaman-te encontra-se a cer-ca de 4.000 anos-luz de distância da Terra.
Em 2007, demos a fantástica notícia de haver 5 plane-tas em órbita da estrela 55 Cancri: 55 Cancri b, c, d, e, f. Este sistema planetário com algumas semelhan-ças ao nosso, encontra-se a somente 41-anos-luz de distância. O ano passado foram detectados trânsitos do planeta 55 Cancri-e, com os dados a revelar que esta super-terra teria uma densidade supe-rior à Terra. Ainda mais recentemente saiu a notícia que este planeta deveria ter água super-crítica e gelo exó-tico.
Agora, cientistas da Universidade Yale, descobri-
ram que o planeta 55 Cancri-e não deverá ter
água e terá uma temperatura à superfície supe-
rior aos 2000ºC. Mais espectacular é que deverá
ter uma superfície coberta por grafite e imediata-
mente a seguir uma enorme camada de diaman-
te, com um interior de silício e um núcleo de fer-
ro fundido.
Este planeta é uma super-Terra, 2 vezes maior
que o nosso planeta e 8 vezes mais massivo que
a Terra.
A novidade agora prende-se com o facto deste
planeta conter provavelmente 1/3 da sua massa
feita de diamante.
Ou seja, na prática, teremos um enorme diaman-
te no céu, com 3 vezes mais massa que toda a
Terra!
Carlos Oliveira
Página 70
Planeta de diamante!Planeta de diamante!
EXOPLANETAS Outubro 2012
Página 71
Volume 2 Edição 10 EXOPLANETAS
O planeta chamado PH1 orbita duas estrelas, e elas orbitam também em volta de outras duas estrelas. Sendo assim, este planeta, que se encontra a 5.000 anos-luz de distância da Terra, tem 4 estrelas a iluminar o seu céu. Esta é a primeira vez que se detecta um planeta com estas características! Ainda mais surpreendente é que esta descoberta foi feita por dois astrónomos amadores dos EUA, Kian Jek e Robert Gagliano, com o progra-ma Planethunters.org que utiliza dados recolhi-dos pelo telescópio espacial Kepler. PH1 é um gigante gasoso do tamanho de Neptu-no que orbita as duas primeiras estrelas em 138 dias. As outras duas estrelas orbitam este sistema a
uma distância equivalente a mil vezes a da Terra ao Sol. Até agora, só se tinham descoberto seis outros planetas que orbitam simultaneamente duas estrelas, mas nenhuma dessas descobertas ante-riores tinha estrelas binárias com companheiras. Como é que este sistema é estável? Segundo Chris Lintott: “O ambiente do planeta é muito complicado, devido à pressão exercida pelas quatro estrelas. Mas, ainda assim, aparenta ter uma órbita estável. É algo realmente confuso e que torna essa descoberta ainda mais diverti-da”. Carlos Oliveira
Descoberto planeta sob 4 sóis!Descoberto planeta sob 4 sóis!
A estrela KOI-500 tem a mes-ma massa do Sol, tem 74% do diâ-metro solar, tem uma idade de mil milhões de anos (é uma jovem, comparada com os 5 mil milhões de anos de idade do Sol), e encontra-se a 1.100 anos-luz de distância da Terra. Uma equipa de astrónomos descobriu que esta estrela tem 5 planetas na sua órbita! O tamanho destes planetas é bastante parecido ao da Terra (os tamanhos vão de 1,3 a 2,6 vezes o tamanho da Terra; ou seja são planetas como a Terra e super-terras). Poderia-se pensar que é um sistema solar seme-lhante ao nosso.
No entanto, estes 5 planetas estão bastante per-to da estrela. Mesmo o que está mais longe, está 12 vezes mais perto da estrela que a Terra está do Sol. Enquanto a Terra demora 365 dias a dar uma volta ao redor do Sol, Mercúrio – o planeta mais próximo do Sol – demora somente 88 dias
terrestres. Ou seja, Mercúrio já está bastante perto do Sol, daí orbitar em muito menos tempo que a Terra. Estes 5 planetas em órbita de KOI-500 estão tão próximos da sua estrela, que as suas órbitas demoram: 1 dia, 3,1 dias, 4,6 dias, 7,1 dias e 9,5 dias! Os planetas não só estão per-tíssimo da estrela, mas obviamente estão bastan-te próximos uns dos outros!
Por incrível que pareça, as órbitas parecem bas-tante estáveis, e por isso os planetas não pare-cem estar em perigo de colidirem entre eles, de serem expelidos do sistema, nem de caírem na estrela.
E ainda existe mais uma característica importan-te: os 4 planetas mais longe da estrela têm órbi-
Página 72
Foi descoberto o sistema solar mais Foi descoberto o sistema solar mais
compacto!compacto!
EXOPLANETAS Outubro 2012
Página 73
Volume 2 Edição 10 EXOPLANETAS
tas sincronizadas. A cada 191 dias, estão exacta-mente na mesma configuração orbital. É a pri-meira vez que se encontra uma dança de 4 plane-tas sincronizados!
Quase de certeza que os planetas não se forma-ram onde estão agora. Eles provavelmente esta-vam muito mais espaçados, mas depois migra-ram para perto da estrela.
Mais um sistema planetário descoberto que nem
teoricamente se imaginou nem sequer a ficção
científica imaginou! Mais uma vez, prova-se: a
realidade é muito mais estranha do que a ficção
imagina!
Carlos Oliveira
Página 74
ASTRONÁUTICA
Um novo satélite de navegação foi colocado em órbita terrestre por um foguetão Delta-IVM+(4,2) a partir do Complexo de Lançamento SLC-37B do Cabo Canaveral AFS. O lançamento teve lugar às 1210UTC do dia 4 de Outubro.
O satélite GPS-IIF-3 deverá receber a designação
militar USA-239.
Rui Barbosa
Outubro 2012
Novo satélite de navegação em órbitaNovo satélite de navegação em órbita
Página 75
Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA
Cinco pequenos satélites foram
lançados desde a estação espa-
cial internacional. Os satélites
foram transportados para a ISS
a bordo do veículo de carga
japonês HTV-3 Kounotori-3 a
21 de Julho de 2012.
O lançamento dos satélites foi
feito a partir da secção japone-
sa da ISS e a partir dos sistemas
J-SSOD. Os primeiros satéli-
tes (RAIKO e We Wish)
foram ejectados às 1432UTC
do dia 4 de Outubro,
enquanto que os restantes
três satélites (F-1, Niwaka e
TechEdSat) foram ejectados
às 1544UTC.
Rui Barbosa
PUB
A sua
revista
mensal de
astronáuti-
ca
[clica na
imagem
para saber
mais]
Pequenos satélites lançados da ISSPequenos satélites lançados da ISS
Página 76
ASTRONÁUTICA Outubro 2012
Um Dragão de novo em órbita Um Dragão de novo em órbita –– a a
primeira missão comercial de primeira missão comercial de
abastecimento da ISSabastecimento da ISS A SpaceX levou a cabo o lançamento da cápsula Dragon na missão SpaceX-1 (ou CRS-1) tendo por destino a estação espacial internacional na pri-meira de doze missões de reabastecimento da ISS ao abrigo do programa CRS – Commercial Resupply Services. Com a ausência do vaivém espacial, a cápsula Dragon é agora o único veícu-lo capaz de transportar de volta para a Terra grandes quantidades de carga.
O lançamento desta missão teve lugar às 0035UTC do dia 8 de Outubro de 2012 e foi leva-do a cabo pelo foguetão Falcon-9 (F-4) a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Cana-veral AFS.
O foguetão Falcon-9 é desenhado e fabricado pela SpaceX. Ambos os estágios utilizam oxigénio líquido e querosene, podendo lançar 4.450 kg para uma órbita a 350 km de altitude.
A cápsula Dragon, também desenhada e fabrica-da pela SpaceX, pode transportar até 3.310 kg de carga no lançamento e regressar com 2.500 kg. É composta por três elementos principais: o cone frontal que protege a cápsula e o mecanismo de ancoragem durante o lançamento, sendo ejecta-do após a ascensão; uma secção pressurizada que é ancorada à ISS e na qual se transporta car-ga pressurizada, contendo também uma escoti-lha lateral para a introdução tardia de carga e acesso ao seu interior após o regresso, além de uma secção de serviço que contém os sistemas aviónicos, motores de controlo, pára-quedas e outras infra-estruturas de suporte; uma secção despressurizada que alberga carga que não necessita de pressurização e serve de apoio estrutural aos painéis solares e radiadores térmi-
cos. Esta secção é ejectada antes da reentrada.
O lançamento decorreu sem qualquer problema e a cápsula Dragon ficou colocada numa órbita inicial com um apogeu a 328 km e perigeu a 197 km.
A Dragon deverá ser capturada e ancorada à ISS a 10 de Outubro no seu terceiro dia de voo. O acesso ao seu interior terá lugar no dia seguinte. A missão deverá terminar a 28 de Outubro, podendo ser prolongada se necessário.
A bordo da Dragon seguem equipamentos neces-sários para o programa de investigação científica e outras cargas para o dia-a-dia da estação. Ainda a bordo seguiu o satélite Orbcomm-2G que se separou do segundo estágio do Falcon-9 após a separação da cápsula Dragon.
Durante o lançamento o computador de bordo detectou uma anomalia num dos seus nove motores do primeiro estágio, levando à sua desactivação. Em consequência, a queima dos restantes oito motores acabou por ser mais lon-ga.
Imagem: SpaceX
Rui Barbosa
Página 77
Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA
Dois novos satélites GalileoDois novos satélites Galileo
Um foguetão Soyuz-STB/Fregat-MT ao serviço
da Arianespace, foi hoje lançado desde o Comple-
xo ZLS do CSG Kourou, Guiana Francesa, às
1815:01UTC transportando dois novos satélites
de validação do sistema de navegação e de posi-
cionamento Galileo.
Este foi o terceiro lançamento de um foguetão
Soyuz desde Kourou e todas as fases do voo
decorreram como previsto.
Cada satélite tem uma massa de 640 kg tendo as
dimensões 3,02 x 1,58 x 1,59 m (na posição de
armazenamento) e 2,74 x 14,50 x 1.59 m (com os
painéis solares abertos). A bordo transportam
uma carga com dois relógios atómicos PHM
(Passive Hydrogen Maser), dois relógios atómicos
de rubídio, uma unidade de monitorização e de
controlo dos relógios, uma unidade geradora de
sinal de navegação, uma antena de banda L para
a transmissão do sinal de navegação, uma antena
de banda C para detecção de sinal, duas antenas
de banda S para telemetria e telecomandos, e
uma antena de busca e salvamento. Os painéis
solares irão fornecer 1.420 watts de energia em
exposição directa e 1.355 watts em eclipse. A vida
operacional de cada satélite será superior a 12
anos. Os satélites serão controlados a partir do
Centro de Controlo Galileu em Fucino, Itália.
Imagem: Arianespace
Rui Barbosa
Página 78
ASTRONÁUTICA Outubro 2012
China lança ShijianChina lança Shijian--99 A China levou a cabo o
lançamento da missão
SJ-9 Shijian-9 às
0325:05UTC do dia 14
de Outubro de 2012
utilizando um fogue-
tão CZ-2C Chang
Zheng-2C/SMA a par-
tir da Plataforma de
Lançamento LC9 do
Centro de Lançamento
de Satélites de Tai-
yuan.
A missão é composta
por dois satélites, Shi-
jian-9A e Shijian-9B,
que irão também pro-
ceder à observação da
superfície terrestre. A
designação ‘Shijian’
significa ‘Prática’.
O foguetão CZ-2C
Chang Zheng-2C foi
utilizado na sua versão
de três estágios utili-
zando um estágio
superior de combustí-
vel sólido SMA.
Este foi o 55º lança-
mento orbital de
2012, sendo o 4º lan-
çamento desde Tai-
yuan e o 14º lança-
mento da China em
2012.
Podem ler mais sobre
a missão aqui.
Rui Barbosa
Página 79
Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA
ProtonProton--M lança IntelsatM lança Intelsat--2323 Numa missão com
uma duração de 9
horas e 30 minutos,
a ILS (International
Launch Services)
levou a cabo o lan-
çamento do satélite
de comunicações
Intelsat-23 às
0837:00UTC do dia
14 de Outubro de
2012. O lançamento
foi efectuado por
um foguetão
8K82KM Proton-M/
Briz-M a partir da
Plataforma de Lan-
çamento PU-24 do
Complexo de Lança-
mento LC81 do Cos-
módromo de Baiko-
nur, Cazaquistão.
Todas as fases do
lançamento decor-
reram como previs-
to.
Mais informação
sobre o lançamento
pode ser encontra-
da aqui.
Imagem: Roscosmos
Rui Barbosa
Página 80
ASTRONÁUTICA Outubro 2012
Coçar o Nariz Coçar o Nariz –– com microfone e com microfone e
com valsalvacom valsalva
Este é um desafio diferente. A única pergunta é: Quando estão dentro dos fatos espa-ciais, como é que os astronautas coçam o nariz? (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). Segundo este vídeo da NASA, é possível coçar o nariz contra o microfone que se encontra incorporado no capacete. No entanto, segundo este vídeo, o astronauta Daniel Burbank diz que coçou o nariz contra um pedaço de espuma dentro do capacete (Valsalva). Carlos Oliveira
Crédito: astronauta Samantha Cristoforetti
Página 81
Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA
Soyuz TMASoyuz TMA--06M 06M –– Nova tripulação Nova tripulação
para a ISSpara a ISS
A Rússia levou a cabo o lançamento da cápsula espacial tripulada Soyuz TMA-06M às 1051:11UTC do dia 23 de Outubro de 2012 transportando três novos elementos para a Expe-dição 33 a bordo da estação espa-cial internacional. O lançamento foi feito desde a Plataforma de Lança-mento PU-6 do Complexo de Lança-mento LC31 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão. Esta é a pri-meira utilização desta plataforma de lançamento para uma missão espacial tripulada desde 1984 quando se deu o lançamento da Soyuz T-12. O lançamento foi feito por um foguetão Soyuz-FG.
A tripulação da Soyuz TMA-06M é composta pelos cosmonautas Oleg Viktorovich Novistky, Yevgeni Igo-revich Tarelkin e pelo astronauta Kevin Anthony Ford. Oleg Novisty e Yevgeni Tarelkin realizam o seu pri-meiro voo espacial enquanto que para Kevin Ford esta será a sua segunda missão. Por seu lado, a tripulação suplente é composta pelos cosmonautas Pavel Vladimi-rovich Vinogradov e Alexander Ale-xandrovich Misurkin, e pelo astro-nauta Christopher John Cassidy. Podem ler mais sobre a mis-são aqui, sobre a tripulação aqui e sobre a cápsula Soyuz TMA-M aqui.
Rui Barbosa
Imagem: NASA/Bill Ingalls
Página 82
ASTRONÁUTICA Outubro 2012
BrizBriz--M explode em órbita e cria M explode em órbita e cria
dezenas de detritosdezenas de detritos
Cerca de 80 detritos resultantes da explosão de um estágio superior Briz-M ocorrido a 16 de Outubro de 2012, foram até ao momento catalo-gados em órbita. Estes detritos são o resultado da explosão do estágio.
No dia 6 de Agosto um foguetão Proton-M/Briz-M era lançado desde a Plataforma PU-24 do Complexo de Lançamento LC81 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, transportando os saté-lites de comunicações Telkom-3 e Express-MD2. Devido a problemas ocorridos durante a terceira queima do estágio Briz-M (99532), a missão não foi bem sucedida e os dois satélites foram coloca-dos em órbitas inúteis. O estágio Briz-M perma-neceu também em órbita ainda com propolente
nos seus tanques.
Devido à natureza corrosiva dos propolentes hipergólicos, as membranas das respectivas con-dutas do oxidante e do combustível ter-se-ão degradado permitindo assim o contacto entre os dois líquidos originando uma explosão que des-truiu o estágio criando dezenas de detritos em órbita.
Os parâmetros orbitais dos detritos detectáveis em órbita estão e serão estudados de forma a determinar potenciais riscos de impacto noutros satélites em órbita.
Imagem: Roscosmos
Rui Barbosa
Página 83
Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA
China lança novo satélite de China lança novo satélite de
navegaçãonavegação
A China levou a cabo o lançamento de um novo
satélite de navegação. O Compass-G6, que rece-
beu a designação de ‘Beidou-16′, foi lançado às
1533:04UTC do dia 25 de Outubro de 2012 por
um foguetão CZ-3C Chang Zheng-3C a partir do
Centro de Lançamento de Satélites de Xichang.
Os habitantes locais, desconhecedores do lança-
mento, referiram tratar-se de um terramoto
quando o som dos motores do foguetão lançador
começou a percorrer os vales e a ecoar nas mon-
tanhas adjacentes ao local de lançamento.
Mais informações aqui.
Rui Barbosa
astroPT
sos feeds, têm que colo-car o rato sobre a pala-vra LIKE e seleccionar “Mostrar no Feed de Notícias” e também seleccionar “Adicionar a Lista de Interesses“. O José Gonçalves adap-tou estas imagens para vos ajudar Carlos Oliveira
Como têm andado a reparar, o AstroPT tem melhorado algumas facetas e tem-se diversificado em diversas actividades e parcerias. Uma das últimas é a cam-panha de oferta de livros de ciência aos nossos leitores. A mudança mais recente consistiu em transformar o perfil no facebook, numa página institucional. Muitas mais novidades acontecerão nos próximos dias e nas próximas semanas. Iremos dar conhecimento da maior parte delas, uma a uma, gradualmente. Por isso, estejam atentos! Para já, visitem a nossa pági-na, e façam LIKE, aqui. Notem que as páginas agora não aparecem nos feeds do vosso Facebook. Para aparecermos nos vos-
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