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astroPT magazine Abril 2012 Volume 2 Edição 4

astroPT Abr2012

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AstroPT Magazine. Edição de abril de 2012. Publicação mensal com os posts relevantes do sítio astropt.org

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astroPT magazine

Abril 2012 Volume 2 Edição 4

Tal como em anos anteriores, em Abril celebra-se a Astrono-mia. Vejam o site oficial. O Mês Global da Astronomia tem por objectivo levar a astro-nomia mais próximo das pes-soas.

Por todo o mundo, há milhares de actividades agendadas. Vejam as actividades, por exem-

plo, do NUCLIO, do OASA, e em Moçambique.

Carlos Oliveira

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Abril 2012 ESPECIAL

Abril é o Mês Mundial da Astronomia Abril é o Mês Mundial da Astronomia

Parabéns astroPT !!!!!!!!!!!!!!! Parabéns astroPT !!!!!!!!!!!!!!!

Hoje, 21 de Abril de 2012, fazemos 5 anos! Esta-mos de PARABÉNS!!! Milhares de posts após o 1º post em 2007, muita coisa mudou, incluindo um crescente número de leitores. O que espero que se mantenha é a qualidade do trabalho realizado, e que continuem a seguir o nosso trabalho e a astronomia. E que continuemos a crescer!!!!

Vamos crescer tanto que este ano, ire-mos mudar o mundo, tal como o conhe-cemos! Os Maias já tinham alertado para o perigo do astroPT, e a importância que o astroPT terá para o Fim do Mundo tal como o conhecemos… O mundo de intrigas, queixinhas, insu-cesso, pessimismo, irracional, e de cren-ças pseudo, irá acabar! O novo mundo

será científico, otimista, racional, e que privilegia o mérito e competência das pessoas. A responsabilidade será do astroPT.

Aliás, a prova de que os Maias tinham previsto que seria o astroPT a exterminar o mundo tal como o conhecemos, está naquilo que os Maias nos deixaram escrito. Vejam este excerto de um texto dos Maias:

Vêem a “letra” a meio? Pois é, eles previram o astroPT!!!

Cá está a verdadeira explicação para a Profecia Maia!

O resto desse texto na imagem, segundo os Maias (obviamente que não sou eu que estou a inventar!), diz que quem estiver com o astroPT irá se salvar, verá a luz do conhecimento! Quem decidir não ler o astroPT, não se informar devi-damente sobre os assuntos, e continuar a seguir o raciocínio pseudo, será men-talmente controlado pelos poderes ins-talados, será enganado, e viverá na escu-ridão da ignorância. A escolha pertence a cada um.

Tenham medo, muito medo do Fim do Mundo.

Juntem-se ao astroPT, que é a comunidade esco-lhida pelos deuses-extraterrestres. Entrem no nosso “bunker”. Quem pertencer ao astroPT, salvar-se-à das Tre-vas, e caminhará para a luz do Novo Mundo. Quem pertencer ao astroPT, entrará no Paraíso,

onde tudo será optimista, racional, competente, e muito mais feliz.

Parabéns astroPT! Parabéns a todos os nossos colaboradores! Parabéns a todos os nossos leitores!

Carlos Oliveira

Página 3

Volume 2 Edição 4 ESPECIAL

Parabéns Parabéns

E quem faz anos hoje? O astroPT. São cinco anos a divulgar conhecimento em português, tornando-se num sítio cada vez mais global.

Este ano, para celebrar o nosso aniversário, brindo-vos com esta imagem… quem sabe se num futuro distante não seja a

nossa nave José Gonçalves

O astroPT nasceu a 21 de Abril de 2007. Temos assim 5 anos.

O ano passado, tínhamos estas estatísti-cas: aqui. Em 1 ano, publicamos mais de 2.500 arti-gos, e recebemos mais de 14.000 comen-tários. Temos actualmente 6.797 posts publica-dos e 20.201 comentários.

Nesta data, no ano passado, tínhamos quase 1 milhão e meio de visitas. Em somente 1 ano, passamos para o dobro de visitas.

Temos neste momento quase 3 milhões de visi-tas!

Carlos Oliveira

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Abril 2012 ESPECIAL

Balanço 5 anos Balanço 5 anos

Recordes 5 anos Recordes 5 anos

No dia 15 de Junho de 2011, dia de eclipse lunar, tivemos 22.818 visitas. A 2ª Semana (7 a 13) de Novembro de 2011 teve 43.559 visitas, o que dá uma média

de 6.223 visitas diárias. Em Setembro de 2011 tivemos 142.683 visitas, o que dá uma média de 4.756 visitas diárias. Há vários meses que temos médias mensais supe-

riores a 100.000 visitas. É interessante também ver o incremento de visi-tas que tem havido de ano para ano.

Em 2011, tivemos quase 1 milhão e meio de visi-tas. Carlos Oliveira

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Volume 2 Edição 4 ESPECIAL

Nesta página podem ler 6 inovações na ciência espacial que se tornaram vantagens no nosso dia-a-dia. Ou seja, as tecnologias foram desenvolvidas para o espaço, mas depois tiveram aplicações bem práticas que nos permitem viver melhor.

São elas: - a equipa de cientistas que desenvolveu o Teles-cópio James Webb, que será lançado para o espa-ço em 2018, teve que melhorar os seus espelhos de modo minimizar os erros de visão ao míni-mo. Essas descobertas já foram transmitidas a oftalmologistas de modo a melhorar diagnósticos e cirurgias aos olhos dos humanos. - a equipa de cientistas que desenvolveu o rover Curiosity, que está a caminho de Marte, teve que criar alguns avanços tecnológicos. Entre eles, tive-ram que converter um instrumento de raios-x que normalmente tem um tamanho de um frigorífico para o tamanho de um saco de computador. E este conhecimento foi aplicado e desenvolvido para agora haver um aparelho destes, portátil, a ser vendido comercialmente. Empresas de extrac-ção de minério estão já a usá-lo para ler a compo-sição química dos materiais. Museus estão tam-bém a utilizá-lo para inspeccionar os trabalhos artísticos. Tem também funcionado para detectar bombas, para inspeccionar mantimentos, e para inspeccionar medicamentos, de modo a zelar pela saúde pública dos humanos. - experiências na Estação Espacial Internacio-nal permitem desenvolver enormemente o nosso conhecimento sobre o género de bacté-rias salmonela. Não só estas experiências permiti-rão desenvolver uma vacina para doenças criadas por esta bactéria, mas também quiçá para a pneumonia. - de facto, a Estação Espacial Internacional é um laboratório de experiências fantástico. Tem per-

mitido, por exemplo, desenvolver fatos que nos protegem melhor do calor (em caso de incêndio), perceber que certas plantas crescem mais em microgravidade o que pode ser essencial para a nossa alimentação, que se conseguem criar medi-camentos mais puros no espaço, etc. - os satélites ao redor da Terra permitem-nos recolher muitos mais dados sobre o que se passa cá em baixo. Isto leva a sistemas de prevenção mais eficientes, e ao salvamento de milhões de pessoas que de outra forma morreriam devido a catástrofes naturais. - os satélites ao redor da Terra permitem uma comunicação mais rápida e eficiente entre nós. Novamente, isto tem milhares de aplicações para nós na superfície da Terra, uma delas sendo a prevenção em casos de desastres naturais.

Investir no espaço, é investir na nossa saúde!

Carlos Oliveira

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EDUCAÇÃO Abril 2012

6 Vantagens da Ciência Espacial

livro de Neil Morris

Habituados a ver em museus instrumentos de observação astronómica feitos de bronze relu-zente, surge este telescópio feito do metatarso de uma vaca, recentemente descoberto em Amsterdão. Datado do séc. XVIII, este peque-no telescópio (8 cm de diâmetro por 14 cm de comprimento) demonstra uma certa sofisticação.

O maior dos instrumentos recuperados é com-posto por duas partes (imagem em baixo), com uma rosca de parafuso para juntar as par-tes e contém uma inserção óssea que funcionava como um batente para a abertura. A sua ampliação, por meio de len-tes emparelhadas, é de aproximadamente 3x que era fraca em comparação com outros teles-cópios da altura, sendo mais provável a sua utili-zação como óculos de ópera e para ver a distân-cias relativamente curtas.

Curiosamente, os telescópios da altura seriam artigos de luxo, portanto, o compra-dor seria capaz de suportar os custos de um ins-trumento feito de bronze. Então, porquê o

osso de vaca? Talvez tenha sido apenas curiosi-dade, pois dois deles foram encontrados em fossas históricas (banheiros), sugerindo que este tipo de material pode não ter sido muito valorizado.

Esta descoberta foi publicada por Marloes J. Rij-kelijkhuize no Volume 3 (November 2011) do The

Journal of Archaeology in the Low Countries. Traduzido de: unastronomy.com José Gon-çalves

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Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

PUB

AstroPT

alojado por: Grifin

http://www.grifin.pt/

Telescópios feitos de ossos de Telescópios feitos de ossos de

vaca vaca

Image Credits: JALC

Quem tem observado o planeta Marte deve ter notado que atualmente ele se encontra próxi-mo de uma estrela de brilho um pouco menor. Trata-se de Regulus, a principal estrela da constelação do Leão. Regulus é uma das estrelas notáveis visíveis nas primei-ras horas depois do

anoitecer, após o equinócio de março.

Regulus tem origem latina e significa “Pequeno Rei”. Mui-tas pessoas indevi-damente associam o nome da estrela à constelação a qual ela pertence. Expli-

cam que o “Pequeno Rei” tem a ver com o leão, conhecido como “o rei dos ani-mais”. Alguns até associam o “Pequeno” com o brilho da estrela ou o tamanho da cons-telação, mas o Leão

está entre as 15 maiores constela-ções e Regulus está entre as 25 estrelas mais brilhantes do céu.

Mas então, de onde vem o “Pequeno Rei”?

Esse nome vem dos persas, que dividiam o céu

em 4 partes, usando 4 estrelas como referência para marcar o início das estações do ano. Essas

estrelas eram chama-das de “estrelas reais”, a seguir: Aldebaran (Touro), Regulus (Leão), Antares (Escorpião) e Foma-lhaut (Peixe Austral). Regulus é chamada de

Pequeno Rei porque, entre as 4 estrelas reais, é a que brilha menos.

Regulus tem uma ver-são árabe, “Qalb Al Asad”, que quer dizer “coração do leão” por causa da localização da

estrela na figura que a constelação sugere (o mesmo acontece com Antares, conhecida como Cor Scorpii, e Alphard, conhecida como Cor Hydrae).

Há uma versão grega

de Regulus, pouco

conhecida:

“Basiliscus”, que tam-

bém quer dizer

“Pequeno Rei”

Saulo Machado

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EDUCAÇÃO Abril 2012

Regulus, por que te chamam Regulus, por que te chamam

assim? assim?

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Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

A gênese da ignorância sobre A gênese da ignorância sobre

alienígenas e OVNIs I alienígenas e OVNIs I –– A lógica A lógica

das Abduções das Abduções

Trago ao AstroPT um texto do nosso leitor Filipe Leonardo, sobre a ignorância sobre tecnologias de OVNIS… ou, diria eu, mesmo sobre o nosso espa-ço no universo. Não somos mais do que ninguém e não sei se existirá alguma civilização mais avan-çada que nós.

Irei dividir o texto em 3 partes para que seja mais

fácil de o ler, pois é um pouco extenso, mas inte-ressante.

Quando comecei a escrever esse texto pensei em utilizar trechos de uma publicação que li no site Revista UFO, o título da matéria é “Milhões de pessoas já foram abduzidas“, e o subtítulo: “Estudos indicam que os sequestros por alieníge-nas aumentam a cada dia“, mas para evitar pro-blemas com direitos autorais, resolvi escrever

sobre as alegações que todos conhecem a respei-to de OVNIs e abduzidos.

O primeiro ponto que não entendo é como os alienígenas chegam aqui. “Uma nave espacial, cujos motores funcionassem a hidrogênio, só para ser acelerada à metade da velocidade da luz, teria que ter mais de 80 vezes a sua massa em combus-tível“, é isto o quê lemos nas publicações de departamentos de física. Este trecho é de um tex-to do Observatório Astronômico Frei Rosário, do

Departamento de Física da UFMG [1].

Uma publicação encontrada no Departamento de Astronomia do Instituto de Física da UFRGS é ain-da mais radical:

“O Dr. Bernard M. Oliver (1916-1995), diretor de

pesquisa e vice-presidente da Hewlett-Packard Corporation e co-diretor do projeto de procura de vida extraterrestre Cyclops da NASA, calculou que para uma espaçonave viajar até esta estrela mais

próxima [a estrela Alfa do Centauro] a 70% da velocidade da luz, mesmo com um motor perfeito, que converte 100% do combustível em energia (nenhuma tecnologia futura pode ser melhor que isto), seriam necessários 2,6 × 10^16 Joules, equi-valente a toda a energia elétrica produzida em todo o mundo, a partir de todas as fontes, inclusi-ve nuclear, durante 100 mil anos, e ainda assim, levaria 6 anos só para chegar lá“.

Mas o apaixonado por OVNIs, ignorando que o motor converte 100% do combustível em energia, pode dizer “estamos falando de tecnologia huma-na, a nave alienígena usa uma tecnologia muito mais avançada e que gasta menos combustível“. A publicação da UFRGS responde essa ques-tão: ‘’O importante sobre este cálculo é que ele

não depende da tecnologia atual (eficiência de conversão de energia entre 10 e 40%), pois assu-me um motor perfeito, nem de quem está fazendo a viagem, mas somente das leis de conservação de energia.” [2].

Creio que somente estas evidências não sejam suficientes para convencer os leitores mais crédu-

los da Revista UFO de que visitas alienígenas são menos comuns do que pensamos. Afinal milhões de pessoas estão sendo abduzidas ao redor do mundo sem que nenhum vizinho tenha presencia-do o fato, como sugeriu Carl Sagan em seu ótimo livro “O mundo assombrado pelos demônios“.

Mas vamos considerar que os alienígenas estão mesmo aqui. O quê eles têm feito? Segundo uma edição da revista Super Interessante de outubro de 2004, uma pesquisa americana revela que 4

milhões de pessoas dizem ter sido abduzidas, e segundo a mesma revista o “cientista” Budd Hop-kins afirma que 2% da população mundial já foi abduzida [3]. Hoje 2% da população mundial seriam aproximadamente 140 milhões de pes-soas. Esse é um fato interessante, me pergunto qual é a logística dos sequestros. Em 2012, até meados de fevereiro, duas pessoas eram seques-tradas a cada dia no Distrito Federal [4], segundo essa estatística até o final do ano o número de

sequestro será 732 (e quando escolhi o Distrito Federal para efeito de comparação de criminosos humanos com alienígenas, me ative ao fato de que por lá há quem acredite que atuem os crimi-nosos mais perigosos do Brasil), este número é insignificante se comparado ao número de sequestros realizados por alienígenas segundo a revista Super Interessante e a possível declaração de Budd Hopkins. Me pergunto também como os alienígenas conseguiram superar em muito o

número de sequestros na Colômbia, incluindo sequestros políticos, ocorridos durante 10 anos, que segundo o portal Terra totaliza “apenas” 2600 sequestros [5]. Ademais, tenho que dizer que nem mesmo Budd Hopkins se considera um cientista. A fundação “Intruders”, Intruders que

também é o nome de um dos seus livros, o apre-senta como um artista e como a figura mais visí-vel no mundo da ufologia [6], a alegada porcenta-gem obtida por ele não deve ser tão real sem o auxílio de uma pesquisa científica, suponho.

_______________________

Referências: [1] Viagens Interestelares, Prof. Renata Las Casas e Divina Mourão http://www.observatorio.ufmg.br/pas09.htm

[2] A origem da vida e vida extraterrestre http://astro.if.ufrgs.br/vida/index.htm

[3] Como os terráqueos são abduzidos http://super.abril.com.br/tecnologia/como-terraqueos-sao-abduzidos-445118.shtml

[4] A cada dia, dois sequestros são registrados no DF, em 2012 já foram 73http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/02/09/interna_cidadesdf,289317/a-cada-dia-dois-sequestros-sao-registrados-no-df-em-2012-ja-foram-73.shtml

[5] Colômbia registrou sequestros de 2,6 mil pes-soas em 10 anoshttp://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5697599-EI8140,00-Colom-bia+registrou+sequestros+de+mil+pessoas+em+anos.html

[6] Budd Hopkins http://www.intrudersfoundation.org/budd_hopkins.html

Por Filipe Leonardo

Postado no astro por:

Dário Codinha

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EDUCAÇÃO Abril 2012

Na continuação do post anterior vem, agora, a segunda parte:

Mas por um minuto vamos considerar que as abduções são reais. Qual o propósito delas? “Estudar nossa fisiologia” é geralmente o que diz o entusiasta de discos voadores. É uma ale-gação bem estranha. O alienígena para apren-der sobre a nossa fisiologia parece usar o mes-mo método de dissecação de cadáveres de Mondino de Liuzzi que nasceu em 1270 d.C.

em plena Idade Média. Para quem anda em discos voadores é um método bem arcaico, e convenhamos, após milhões de abduções eles ainda não aprenderam muita coisa, o número de abduzidos não pára de crescer segundo a Revista UFO… Sofreriam de algum tipo de difi-culdade de aprendizagem?

“Na verdade nessas abduções eles querem introduzir chips em nossos corpos com algum

propósito obscuro”. Hum… Sobre esses chips

só temos as alegações de que eles existem.

Jamais um chip alienígena foi estudado por um cientista: não existe nenhuma publicação científica sobre isto. Parece que esses chips são mesmo acessórios reservados aos abduzi-dos e aos entusiastas de OVNIs. Eu me per-gunto como esse pessoal sabe que esses chips são mesmo chips? Uma civilização avançada produziria circuitos integrados semelhantes aos nossos? Estranho… A tecnologia deles, segundo os próprios crédulos em visitantes

espaciais, deveria estar anos-luz à frente da nossa. Eu consigo imaginar coisas bem mais avançadas com a nanotecnologia, onde o cir-cuito integrado são linhas gravadas numa escala 1000 vezes mais fina que uma folha de papel [7]. Mais estranho ainda é que um públi-co leigo consiga reconhecer chips fabricados em outras partes da nossa galáxia. Mas que os chips existem nenhum entusiasta de abduções nega.

Mas além de evidências de coisas úteis como estudar nossa fisiologia com métodos da Ida-de Média e introduzir chips parecidos com os do século 21 em nossos corpos, há ain-da evidências físicas que os extraterrestres visitam a Terra, ou pelo menos assim alegam alguns. São os círculos ingleses. Plantações têm sido amassadas por todo o mundo. Con-vém dizer que Doug Bower e Dave Chorley confessaram em 1991 que eram os autores

dos círculos ingleses e demonstraram como faziam para amassar a plantação [8]. Se huma-nos podem fazer os círculos, eu me pergunto se a hipótese do alienígena que para chegar aqui gastou a metade da energia do Universo, ou pelo menos a energia de todos os recursos

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Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

A gênese da ignorância sobre alienígenas

e OVNIs II – Chips, Círculos e… Coisas

de um planeta, é mesmo coerente. Digamos que seja. Para que servem os círculos?“São um tipo de comunicação entre eles, ou talvez possíveis locais de pouso.” Novamente, talvez pela déci-ma vez nesse texto, isso é estranho. Os soldados chineses tinham um meio de comunicação mais eficiente. Com sinais de fumaça transmitiam

mensagens por centenas de quilómetros através da Grande Muralha [9]. Nós já passamos dessa fase, temos satélites de comunicação, e os alie-nígenas aparentemente preferem amassar plan-tações. Me pergunto se durante a noite eles se comunicam. Sobre os círculos serem pistas de pouso… Nós mandamos sondas a Marte e não marcamos o local de pouso com círculos ou pedras. Nesse ponto a nossa tecnologia parece estar anos-luz à frente da utilizada por alieníge-

nas. Há quem diga que a comunicação não é entre eles, e sim um contato com a humanidade. Mas de novo, o contato é altamente ineficiente. Somente alguns privilegiados, normalmente acompanhados de médiuns, gurus, seitas, ou parapsicólogos conseguem estabelecer o contato. Ao resto da humanidade é privado esse contato que, cheira ser antes de tudo, um conta-to espiritual.

É nesse ponto que se concentra a conclusão do

meu texto. A separação entre alegações fantásti-cas sem quaisquer provas, e as evidências cientí-ficas sobre qualquer coisa que possa estar ligada a alienígenas. Talvez a própria ciência seja em parte responsável por essas alegações fantásti-cas sobre alienígenas. O assunto parece negli-genciado pelas instituições científicas, e tais estudos acabam caindo nas mãos de ufólogos, bem intencionados na maioria das vezes, mas talvez sem os recursos e sem o preparo científi-

co necessários para oferecer respostas de tama-nha magnitude. Uma das poucas instituições científicas que se empenha no estudo sistemáti-

co de OVNIs é o GEIPAN, uma unidade da agên-cia espacial francesa, a CNES. Até o momento em 22% dos casos estudados pelo GEIPAN não

foi possível identificar o OVNI (ou PAN como são chamados pelo GEIPAN) [10]. A razão para essa negligência quanto ao assunto OVNI parece estar ligada ao Condon Committee, o nome informal do Projeto Colorado, um grupo da Uni-versidade do Colorado financiado entre 1966 e 1968 pela força aérea dos EUA para estudar

OVNIs. A conclusão do diretor deste projeto, o Dr. Edward U. Condon, diz que estudos mais extensos sobre OVNIs provavelmente não podem ser justificados na expectativa de avan-ços científicos. Há quem discorde. Uma revisão dos casos OVNIs desde 1970 organizada por Peter Sturrock, professor de física da Universida-de de Stanford, chegou à conclusão de que “pode ser útil avaliar cuidadosamente os relatórios sobre OVNIs para extrair informações

sobre fenômenos incomuns atualmente desco-nhecidos pela ciência.” [11].

[7] IMB, nova tecnologia: chips miniaturiza-doshttp://lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/lqes_news/lqes_news_cit/lqes_news_2007/lqes_news_novidades_969.html

[8] Los círculos de los sembrados http://www.arp-sapc.org/articulos/circulos/circulosmisterio.html

[9] Como enviar um sinal de fumaça http://viagem.hsw.uol.com.br/enviar-sinal-de-fumaca.htm

[10] GEIPAN http://www.geipan.fr/

[11] Scientific panel concludes some UFO evi-dence worthy of study http://news.stanford.edu/pr/98/980629ufostudy.html

Por Filipe Leonardo

Postado no astro por:

Dário Codinha

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EDUCAÇÃO Abril 2012

Depois do artigo do Jorge Almeida sobre Júpiter –

que me custou o suporte do teclado, um teclado novo e dores na coluna devido a uma queda – volte-mos à programação normal.

Durante séculos, 7 problemas matemáticos (sendo um destes bem conhecido por nós, do ramo da

Engenharia Química ) perduraram/perduram sem solução – a saber:

- P vs NP;

- Hipótese de Riemann;

- Equações de Navier-Stokes (estas ninguém mere-

ce… );

- Teoria de Yang-Mills;

- Conjectura de Hodge;

- Conjectura de Birch e Swinnerton-Dyer; e

- Conjectura de Poincaré (este resolvido,

“recentemente”, por um matemático russo);

Pois bem. O Instituto Clay de Matemática, adminis-trado pela Universidade de Cambridge (EUA), foi fundado em 1998 pelo casal Clay, que conseguiu reunir recursos, da ordem de 7 milhões de dólares, afim de atrair profissionais do mundo inteiro da

Área de Exatas (e por que não, pseudos? ) para solucionar os problemas já aqui expostos. Cada pro-blema resolvido garante um passaporte ao mundo dos milionários – US$ 1.000.000,00 cada.

Vamos aos prêmios?

1) P vs NP

Este problema, elaborado em 1971 pelo professor de informática americano Sthepen Cook, resume-se a algo aparentemente simples: se o problema em

questão é verdadeiro ou falso. Fácil,

não? Porém, eis o que o Instituto Clay sugere:

“Suponha que você está organizando acomodações

para um grupo de quatrocentos estudantes universi-

tários. O espaço é limitado e apenas cem estudantes

receberão lugares no dormitório. Pra complicar, o

reitor forneceu uma lista de pares de estudantes

incompatíveis, e pediu que nenhum par desta lista

apareçam na sua escolha final. (tradução livre) “

Quem acredita que, por se tratar apenas de combi-nação matemática, é começar a pegar lápis e borra-cha, melhor sentar-se: a quantidade total de combi-nações resultantes do problema em questão é maior, segundo o Instituto, que a quantidade de átomos do Universo observável. Nem mesmo os

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Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

7 Problemas-Prêmio da Matemática

computadores mais sofisticados do mundo atual são capazes de resolver tal problemática. A não ser que algum programador, fera na Matemática, consiga elucidar esse problema…

2) Hipótese de Riemann

Esse é para aqueles que gostam de números pri-mos: é sabido por nós que a sequência de núme-ros primos dentre os números naturais não

seguem um padrão. Contudo, um cidadão, cha-mado Riemman, elaborou uma função denomina-da Função-Zeta de Riemann, cuja frequência de número primos obedece esta função, a saber:

ζ(s) = 1 + 1/2s + 1/3s + 1/4s + …

A Hipótese de Riemman afirma que todas as solu-ções para ζ(s) = 0 estão em uma linha vertical, no campo dos complexos, sendo válida para 1,5 x 109 primeiras soluções. Alguém se habilita?

3) Equações de Navier-Stokes Essa é bem conhecida por nós – do ramo da Enge-nharia Química. Lembro-me dos inúmeros cafés, no meio da noite, estudando com alguns colegas, para derivar essas benditas, de acordo com os casos propostos nas listas de exercícios do Fox/McDonald, na cadeira Mecânica dos Fluidos. Se o caso em questão fosse para fluidos incompressí-

veis, o couro cabeludo era arrancado e o nosso ex-professor recebia nomes até a quarta geração. Em suma, estas são equações diferen-ciais parciais que descrevem o escoamento dos fluidos – que permite-nos determinar velocidade e pressão. Porém, para estes casos mais simples que utilizamos, seja na Universidade seja para os engenheiros que trabalham com fluidos, a solução é conhecida – por trabalharmos com bai-xos números de Reynolds. Todavia, resolver, passo-a-passo, os casos mais com-plexos, é um desafio que vale US$ 1.000.000,00.

4) Teoria de Yang-Mills

Quem estuda/estudou Físi-ca sabe do que se trata: esta teoria quântica é base da

maior parte da teoria da Física das Partículas e suas previsões têm sido testadas em laboratórios experimentais, porém sua base matemática ainda é pouco compreendida. Ao que parece, esses dois Físicos perceberam algumas relações entre a Geo-metria e equações da Física das Partículas. O pro-blema tem sido justamente esse: até agora, nin-guém conseguiu demonstrar que as equações de Yang-Mills têm soluções na Mecânica Quânti-ca.

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EDUCAÇÃO Abril 2012

5) Conjectura de Hodge A conjectura de Hodge afirma que objetos particulares chamados de variedades projetivas algébricas (já agora, denominados ciclos de Hodge) são, na verdade, combina-ções lineares racionais de objetos geométricos chamados ciclos algébricos. Ao longo do século passado, matemáticos investiga-ram as formas dos objetos com-plexos por meio de sua separação em blocos geométricos simples. Esses modelos são muito práticos, porém originam erros ao acres-centarem alguns blocos que não têm qualquer interpretação na Geometria.

6) A hipótese de Birch e Swinner-ton-Dyer O matemático Euclides deu a solu-ção completa para a equação x2 + y2 = z2. Todavia, para equações mais complicadas, torna-se extre-mamente difícil. Matiyasevich mostrou que o décimo problema de Hilbert é insolúvel – em outras palavras, não existe um método geral para determinar quando tais equações têm uma solução em números inteiros. A conjectura de Birch e Swinnerton-Dyer afirma que o tamanho do grupo de pontos racionais está relacionado ao comportamento da função zeta de Riemann, asso-ciada em ζ (s) no limite s = 1. Em particular, a conjectura afirma que, se ζ (1) a equação tende a 0, então há um número infinito solu-ções e, de modo inverso, se ζ (1), a equação não tende a 0; portan-to, existe apenas um número fini-to desses pontos. Os matemáticos

em questão propuseram alguns métodos, de modo parcial, que precisam ser desenvolvidos.

7) Conjectura de Poincaré Esse problema bem que poderia ter sido solucionado por aqueles que afirmam que vamos implodir para outras dimensões. A conjec-tura afirma que uma esfera bidi-mensional é essencialmente caracterizada por essa proprieda-de de conectividade simples, e fez a pergunta correspondente para a esfera tridimensional (no espaço de quatro dimensões), e será que a esfera tridimensional é a única superfície tridimensional simples-mente conexa. Resumidamente, o Poincaré concluiu que, aplica-ções às esferas no espaço tridi-mensional, mostraram-se impossí-veis no espaço quadrimensional. O matemático russo, Grigori Perelman, conseguiu solucionar a conjectura de Poincaré em 2002 – e finalmente confirmado pela comunidade científica em 2006. Para espanto de todos, o Perel-man recusou o prêmio milionário e a Fields Medal (espécie de Nobel da Matemática).

(…)

Sobre essa questão, penso que pessoas por conseguirem des-prender-se de bens materiais,

riquezas e uma vida cercada de bajuladores, optando por uma vida simples e sem preocupações com o reconhecimento, são ainda mais dignas de admiração: gran-des nomes da ciência revoluciona-

ram o mundo com suas descober-tas – Nikola Tesla e Albert Eins-tein, por exemplo – porém notava-se a humildade, o amor e a ver-dadeira dedicação pela ciência refletidas em seus trabalhos, sonhos e projetos.

De modo particular, cá agora, fiz um rápido cálculo do prêmio em dinheiro recusado pelo grande Perelman (afinal de contas, não é todo dia que se vê um cidadão recusando US$ 1.000.000,00): com esse montante, dava pra aju-dar dezenas de instituições de caridade ou, caso o mesmo gos-tasse de uma gelada, dava pra

fazer uma festa da cerveja com os administradores, colaboradores e leitores do Astropt: considerando uma garrafa desta de uma certa marca que eu gosto bastan-

te dava pra comprar aproxi-madamente 155 mil cervejinhas – ou seja, uma festa pra durar 12 meses.

Gênios como este podem abster-se de coisas irrecusáveis. Em con-trapartida, conseguem algo bem maior: imortalizar seus nomes na História. É, por vezes, na simplici-dade dos atos que se revela a grandiosidade dos fatos.

Que coisa, não?!

Para saber mais, clique aqui.

Cavalcanti

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Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

Através do nosso Facebook, vimos estas ima-gens de cometas pela história:

Os cometas sempre foram uma fonte de admi-ração e superstição por toda a história humana. É pena é que passados tantos séculos, e após sabermos exactamente o que são os cometas, as superstições continuem, como se percebeu pelo caso do cometa Elenin…. Carlos Oliveira

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EDUCAÇÃO Abril 2012

Cometas pela HistóriaCometas pela História

Compilação de cometas, feita em 300 A.C., sobre formas de

cometas e os desastres que eles provocaram, no "The Mawang-

dui silk"

Moeda de 80 A.C a representar o imperador Tigranes, em que

na coroa poderá estar representado o cometa Halley

Montezuma a ver um cometa nos céus Aztecas

44 A.C.: Cometa César, visto durante um festival Romano, pou-

co depois de Júlio César morrer

Página 17

Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

O poder destrutivo de um cometa por volta do ano 300, por Stanilaus Lubienietski no Theatrum Cometicum

1668: como Johannes Hevelius via os cometas, no seu livro

Cometographia

Cometas de 1680, 1682 e 1683, nos céus de Augsburg, Ale-

manha

Página 18

EDUCAÇÃO Abril 2012

Qual é a tua partícula? Qual é a tua partícula?

Sean Carroll é um Físico Teórico e Astrofísico do California Institute of Technology (mais conheci-do por CALTECH), elaborou este diagrama sobre as partículas que, ao parecer uma brincadeira,

ensina o essencial sobre as mesmas. Para ver melhor pode clicar aqui. Se quizer descobrir mais clique na categoria LHC. José Gonçalves

Página 19

Volume 2 Edição 4 EDUCAÇÃO

Página 20

DIVULGAÇÃO Abril 2012

Com a Ásia ao rubro com o lançamento falhado da Coreia do Norte e o lançamento-teste o india-no de um míssil balístico, deixo aqui algumas sugestões de leitura que ajudam a compreender a importância e o impacto destes eventos na geo-política mundial.

Todos os livros estão disponíveis no site da Ama-zon. São todos em inglês, porque infelizmente,

não há muitos livros desta área escritos em português…

Vera Gomes

Sugestão leituras Sugestão leituras

Meu Planeta Azul Meu Planeta Azul

Meu Planeta Azul é o tema que está no Concurso Global de Música Juvenil que decorrerá no Rio de Janeiro.

O tema apela à nossa atenção e cuidado que devemos ter

com o nosso planeta. Apela à mudança urgente para que

possa haver um futuro para os mais pequenos:

“Esta canção, uma ode ao Planeta, inicia-se numa exaltação

à beleza, perfeição e ao pulsar geológico que traça a sua

história; desenvolve-se reconhecendo os erros cometidos

pela humanidade no seu “passo apressado” rumo ao pro-

gresso e ao desenvolvimento; e culmina com o desejo de

mudança que urge acordar no coração de cada um de nós: a

Terra é um Ser Vivo e como todos os seres vivos necessita

de ternura, amor, carinho e atenção.” (Yara Gutkin)

Cliquem na hiperligação que se segue para deixar o vosso voto: http://www.global-rockstar.net/meu-planeta-azul

[veja o vídeo aqui] José Gonçalves

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Volume 2 Edição 4 FÍSICA

O CMS (LHC) detectou uma nova partícula o Xi_b, que é formada por um quark leve (up) e dois pesados (strange e bottom ou beauty).

A observação de um barião b excitado através do seu decaimento forte em Xi (b)^ - pi ^ + (conjugados de carga positiva) é relatada no arti-go publicado no arXiv, publicado por um equipa do CERN. A medição utilizou uma amostra de dados de colisões de protões (com energia 7 TeV) recolhida pela experiência CMS no LHC.

“Os cientistas não “viram” directamente a partí-cula, mas puderam inferir, analisando os resulta-dos de 530 milhões de milhões de colisões protão-protão a energias de 7 TeV, que tinham aconteci-do durante essas colisões 21 eventos de geração de bariões Xi_b^*. Isto é estatisticamente sufi-ciente para afirmar que os sinais produzidos não eram meras flutuações aleatórias, mas partículas reais. ” (Publico)

Para conhecer mais: aqui, aqui e aqui.

José Gonçalves

Nova partícula detectada no LHC

Diagrama esquemático da cadeia de decaimentos explorada

nesta análise.

O Decaimento de um Neutrão

Um neutrão livre decairá com uma meia-vida de cerca de 10,3 minutos,

mas é estável se estiver num núcleo. Este decai-mento é um exemplo do decaimento beta com a emissão de um eletrão e um antineutrino eletró-nico. O decaimento do neutrão envolve a intera-

ção fraca (imagem em baixo).`

O Decaimento Dineutrão

A experiência revelou uma nova forma de decaimento nuclear, o processo pelo qual átomos instáveis libertam a energia e se transformam nas suas formas mais estáveis.

Mas ao invés de emitir padrões conhecidos de radiação, o núcleo ejectou simultaneamente dois neutrões correlacionados – um dineutrão. Embora os físicos já tenham teori-zado sobre a existência desta forma de decaimento, esta foi a primeira vez em que se

viu o evento em ação. ”Temos pela primeira vez e

inequivocamente a observação do decaimento dineutrão e claramente identificados em berílio-16“, disse Artemis Spyrou, professor de física nuclear.

O modo de decaimento recém-descoberto dineutron junta-se às outras 15 for-mas conhecidas de decaimento atómico, incluin-do a emissão de protões dupla, decaimento beta duplo e por emissão de positrões dupla. Os

resultados são promissores para reforçar a com-preensão dos cientistas sobre a força que man-tém o núcleo coeso e os processos que ocor-rem dentro de estrelas de neutrões.

Para saber mais: rdmag.com e PhysOrg

José Gonçalves

Decaimento Dineutrão

Página 22

FÍSICA Abril 2012

Relação entre o

número de neu-

trões e protões

num núcleo

para os diferen-

tes tipos de

decaimento

radioactivo.

Fonte: Casa

das Ciências

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Volume 2 Edição 4 FÍSICA

Quando visto como uma partícula elementar, o electrão tem spin e carga. Quando está presente no átomo, também adquire um número quântico do momentum angular correspondente à orbital atómica quantizada que ocupa. Mesmo quando presentes nos sólidos, os electrões estão em bandas e deslocalizam-se dos núcleos, emisoladores de Mott, mantendo os seus três núme-

ros quânticos fundamentais: carga, spin e orbital. Uma das marcas, da física a uma dimen-são, é a ruptura do electrão elementar em seus graus distintos de liberdade. A separação do elec-trão nas suas quase-partículas independentes que carregam tanto o spin (spinões) ou a carga (holões) foi observada pela primeira vez há quinze anos. O artigo agora publicado na Nature descreve a observação da separação de outro grau de liberdade, a orbital (orbitão), usan-do a ressonância inelástica de espalhamento de raios-X, no isolador Mott unidimensional Sr2CuO3. Foi verificado orbitões separando-se de spinões e propagando-se através da rede como uma distin-ta quase-partícula e com uma disper-são significativa em energia mais dinâmica, de cerca de 0,2 elétron-volts, ao longo de qua-se uma zona de Brillouin.

Esta descoberta é de grande importância para

outro ramo da Física actual: a da supercondutivi-dade de alta temperatura.

Mais informação aqui e aqui.

José Gonçalves

Electrão decai em duas Electrão decai em duas

partes separadas partes separadas

Representação artística de um electrão separando-se em duas

novas partículas: um spinão, carregando o spin do electrão; e

um orbitão carregando o momento orbital do electrão. (Crédito:

David Hilf, Hamburg)

a, b, Sketches of spin–orbital separation (a) and spin–charge separation (b), generated in processes of RIXS and angle-resolved

photoemission spectroscopy, respectively. Credit: Nature

Página 24

ASTROBIOLOGIA Abril 2012

Panspermia é a ideia que vida microbiana poderá viajar entre planetas à boleia de cometas. Agora o cosmólogo Tetsuya Hara fez umas simula-ções, e retirou a conclusão que o asteróide que dizimou os dinossauros há 65 milhões de anos atrás, terá atirado tanto pó e “pedras” para o espaço quando impactou na Terra, que parte des-sa massa poderá ter levado vida terrestre e quiçá semeado a vida por Marte, luas do Sistema Solar, e quiçá alguns planetas extrasolares. Ou seja, o Universo poderá estar cheio de vida… terrestre! Mas afirmações extraordinárias precisam de evi-dências extraordinárias.

E essas evidências não existem aqui. Existem sim cálculos feitos por um cosmólogo, que não trabalha com meteoritos, publicados num journal que já não existe e que entrou por assuntos pseudos, com, parece-me, uma ideolo-gia de promoção da panspermia, e que chega ao ponto de dizer que 1000 pequenas pedras ejecta-das poderão ter chegado a planetas ao redor da anã vermelha Gliese 581 que se encontra a 20 anos-luz de distância, e semeado lá a vida! Concordo com o Ricardo Cardoso Reis do CAUP: decididamente, parece-me especulação a mais. Carlos Oliveira

Panspermia do avesso

Página 25

Volume 2 Edição 4 ASTROBIOLOGIA

“Segundo os cientistas, as crateras abrigam os

microorganismos e os protegem de efeitos climá-

ticos, como mudanças de estações e aquecimento

global, por isso conseguem se proliferar. Assim,

os especialistas acreditam que perfurações em

crateras de Marte podem revelar formas de vida

semelhante no planeta.

O calor da colisão de um asteroide é capaz de

matar todos os organismos vivos da superfície.

Mas, ao mesmo tempo, é responsável por formar

fraturas no solo, por onde escorrem água e

nutrientes necessários para a existência de vida.”

Leiam aqui, aqui, aqui, e aqui.

Carlos Oliveira

Crateras de Marte podem abrigar

vida?

Cientistas da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, encontraram micróbios a viver confortavelmente a quase 2 kms sob a superfície terrestre, numa cratera nos Estados Uni-dos onde um asteróide colidiu há cerca de 35 milhões de anos.

A partir disto, especularam que poderão também haver organismos a viver sob crateras de impacto na superfície marciana.

Página 26

ASTROBIOLOGIA Abril 2012

Em 1976, as sondas Viking pousaram em Marte. Eram duas, cada uma com 4 experiências iguais para tentar detectar vida. Na altura, as experiências deram 3-1 inicialmente, a favor da vida. Mas depois percebeu-se que um dos resultados positivos numa das experiências deveria ser devi-do a processos geológicos, e por isso ficou 2-2, a tender para não-vida. Já escrevi sobre isso, aqui.

Há 2 anos haviam já indícios que se calhar os resultados das Viking precisavam ser revistos. Leiam aqui.

Agora, uma nova análise aos dados obtidos pelas Viking, nomeadamente à experiência Viking Labe-led Release, parece mostrar que os resultados serão talvez devido a micróbios e não a actividade natural geológica. Este estudo foi feito com base em correlações na complexidade dos números encontrados. Ou seja, foi com base na matemática, e não na análise das

evidências directas da experiência.

Leiam aqui, aqui, aqui, e aqui.

Carlos Oliveira

As Viking provaram que existe vida

em Marte?

Página 27

Volume 2 Edição 4 COSMOLOGIA

A imagem mostra as entranhas da Nebulosa Óme-

ga, que se encontra a cerca de 5000 anos-luz de

distância.

As nuvens escuras de poeira e gás molecular são

os locais onde as estrelas se formam.

Os glóbulos escuros são os sistemas que estão a

formar estrelas e planetas.

Os filamentos de poeira escura foram criados nas

atmosferas de estrelas gigantes frias e nos restos

de explosões de supernovas.

Os tons azuis e vermelhos são causados pelo gás

brilhante aquecido pela radiação de estrelas mas-

sivas próximas.

Os pontos de luz são estrelas jovens, algumas

delas mais brilhantes que 100 sóis!

Carlos Oliveira

Nebulosa Ómega Nebulosa Ómega

Galáxia Rectangular Galáxia Rectangular

Página 28

COSMOLOGIA Abril 2012

F oi detectada uma galáxia rara de forma

semelhante à de uma esmeralda lapidada.

A galáxia, LEDA 074886, foi descoberta

dentro de um grupo de 250 galáxias a cerca de 70

milhões de anos-luz de distância da Terra.

Esta galáxia rectangular provavelmente será o

resultado de uma colisão entre duas galáxias.

Descobrir uma galáxia retangular “é como desco-

brir uma nova espécie que, à primeira vista, pare-

ce desafiar as leis da natureza”. “É uma daquelas

coisas que nos fazem sorrir, porque não deveria

existir, ou melhor, não estamos à espera de que

exista.” disse o Dr. Alister Graham.

Leiam aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.

Carlos Oliveira

A colisão de galáxias é muito comum na evolução

do Universo.

Devido à distribuição extremamente tênue da

matéria nas próprias galáxias, estas não

são colisões no sentido normal da palavra,

mas sim interações gravitacionais.

A colisão pode levar à fusão. Isto ocorre quan-

do duas galáxias colidem e não têm força suficien-

te para continuar viagem depois da colisão. Em

vez disso, elas atraem-se mutuamente e regres-

sam de volta uma para a outra e, eventualmen-

te, fundem após várias passagens uma através da

outra, formando uma única galáxia. Se uma

das galáxias em colisão é muito maior do que a

outra, ela permanecerá intacta após a fusão, ou

seja, a maior galáxia vai parecer a mesma,

enquanto a galáxia menor será removida e tornar

-se-á parte da galáxia maior.

As colisões de galáxias são agora frequentemen-

te simuladas em computadores, com todos os

parâmetros da física incluídos: forças de gravida-

de, dissipação do gás, a formação de estrelas e

feedback. A fricção dinâmica retarda pares de

galáxias, que podem ou não fundir em determina-

da altura, de acordo com a energia inicial relativa

das órbitas. Uma biblioteca de simulações

de colisões de galáxias pode ser encontrada no

site do Observatório de Paris: GALMER

Vejam esta fantástica animação retratando

a colisão entre galáxias (crédito: NASA) aqui.

O Hubble Site também aborda este tópico.

José Gonçalves

Página 29

Volume 2 Edição 4 COSMOLOGIA

Colisão entre Galáxias Colisão entre Galáxias

Imagem retirada do galaxydynamics.org que oferece o seu DVD para descarregar gratuitamente.

Página 30

COSMOLOGIA Abril 2012

O buraco negro chama-se IGR J17091 e resultou da morte de uma estrela bastante massiva. Tem uma estrela similar ao Sol a orbitá-lo. Encontra-se na Via Láctea a cerca de 28 mil anos-luz de distância da Terra. Os ventos detectados na proximidade deste cor-po massivo são os mais rápidos de todos os bura-

cos negros. Estão também a ser enviados em todas as direcções (não são jactos expelidos per-pendicularmente ao buraco negro). Tanto os ventos como os jactos deverão ter como causa os campos magnéticos dos discos de acrecção dos buracos negros. O Observatório Chandra mediu esses ventos em

raios-X, e percebeu que se movem à incrível velocidade de 32 milhões de quilómetros por hora (3% da velocidade da luz). Há duas surpresas aqui: (1) a fantástica velocida-de dos ventos num pequeno buraco negro, mes-mo superior a buracos negros muito mais massi-vos; (2) parece que o buraco negro está a expelir

mais material nesses ventos do que material sugado pelo buraco negro (95% do material parece ser expelido). Leiam aqui, aqui, aqui, e aqui. [NR: veja os vídeos aqui] Carlos Oliveira

Ventos impressionantes num buraco Ventos impressionantes num buraco

negro negro

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Volume 2 Edição 4 COSMOLOGIA

Já se sabia que a expansão do Universo está-se a proceder de forma acelerada. Agora, com a ajuda do quasar SDSSJ1226-0006 e do método das lentes gravitacionais, esse resultado foi novamente confirma-do. Só não se sabe a razão para isso. Não se sabe, mas pode-se dar um nome: energia escura. Leiam aqui, aqui, e aqui. Carlos Oliveira

Lentes gravitacionais confirmam que o

Universo se expande de forma acelerada

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COSMOLOGIA Abril 2012

Panorama Gigante de 30 Doradus

Crédito: NASA, ESA, ESO, D. Lennon and E. Sabbi (ESA/STScI), J. Anderson, S. E. de Mink, R. van der Marel, T. Sohn, and

N. Walborn (STScI), N. Bastian (Excellence Cluster, Munich), L. Bedin (INAF, Padua), E. Bressert (ESO), P. Crowther

(Sheffield), A. de Koter (Amsterdam), C. Evans (UKATC/STFC, Edinburgh), A. Herrero (IAC, Tenerife), N. Langer (AifA,

Bonn), I. Platais (JHU) and H. Sana (Amsterdam)

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Volume 2 Edição 4 COSMOLOGIA

Não se trata de uma estrela como o nome parece impli-car. Na realidade, 30 Dora-dus, é uma região gigante de formação de novas estrelas

na Grande Nuvem de Maga-lhães, uma galáxia satélite da Via Láctea. A nebulosidade, que na sua extensão total tem uma dimensão linear de aproximadamente mil anos-luz, é a maior região activa de formação de estrelas do Grupo Local de galáxias. O seu brilho, devido à fluores-cência do gás interestelar provocada pela radiação ultravioleta das estrelas jovens e maciças aí nascidas, é tão intenso que é perfeita-mente visível a olho nú, mes-mo à distância de 170 mil anos-luz. Por esse motivo foi originalmente catalogada como a estrela número 30 da constelação Dorado. Só em 1751 o astrónomo francês Lacaille reconheceu a sua natureza nebular.

A imagem agora publicada no sítio do telescópio espacial Hubble da ESA mostra a

nebulosa com um detalhe espectacular e foi obtida combinando várias exposi-ções obtidas com duas das câmaras do Hub-ble, a WFC3 (Wide Field Camera 3) e a ACS (Advanced

Camera for Sur-veys), no infra-vermelho próxi-mo, e com o telescópio MPG/ESO de 2.2 metros, nas

linhas H-alfa (hidrogénio) e [OIII] (oxigénio), ambas no visível. O enorme enxame visível no centro da nebulosa é designado de R136 e cons-titui provavelmente um enxame globular recém for-

mado, com cerca de 1-2 milhões de anos de idade e uma massa total estimada em 450 mil vezes a do Sol! A sua população estelar é notá-vel com dezenas de estrelas supergigantes dos tipos espectrais mais quentes, estrelas de tipos O2 e O3. Na Via Láctea, por comparação,

foram identificadas até à data apenas entre 20 e 30 estrelas destes tipos espec-trais. Podem ver mais informa-ção aqui. Luís Lopes

PUB

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SISTEMA SOLAR Abril 2012

A câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbi-ter surpreendeu um gigantesco torvelinho serpenteando na vasta e poeirenta planície de Amazonis, em Marte. Gerados por espirais de ar quente em ascensão a partir de superfícies aquecidas pelo Sol, os torveli-nhos marcianos são fenóme-nos frequentes nas longas tar-des de Primavera e Verão. Ape-sar de se formarem em pres-sões atmosféricas extrema-mente baixas (a pressão atmosférica na superfície de Marte é tipicamente inferior a 1% da pressão atmosférica ter-restre medida ao nível do mar),

conseguem reunir energia sufi-ciente para arrastar consigo partículas de areia a velocidade superiores a 100 km.h-1!

Semelhante a outro fotografa-do em Fevereiro passado, este novo torvelinho destaca-se pelo seu tamanho colossal. Segundo a equipa da HiRISE, o comprimento da sua sombra nas imagens indica que a plu-ma de poeira atingiu uma alti-tude de 20 km acima da super-fície! Apesar do seu surpreen-dente comprimento, o diâme-tro deste torvelinho não ultra-passou, no entanto, os 70 metros, dimensões ainda assim comparáveis às dos tornados

terrestres.

Em que diferem os torvelinhos dos tornados? A diferença está nas respectivas fontes de ener-gia. Os torvelinhos são alimen-tados pelo calor que irradia da superfície. Os tornados, por sua vez, têm uma fonte de energia adicional: o calor liber-tado pela condensação do vapor de água atmosférico (cliquem aqui para saberem mais sobre tornados). Como na atmosfera marciana existe pouquíssimo vapor de água, o seu contributo na convecção atmosférica em escalas locali-zadas é irrelevante, pelo que em Marte apenas se formam torvelinhos.

Sérgio Paulino

Torvelinho gigantesco em Amazonis Planitia

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Um gigantesco torvelinho em Amazonis Planitia. Imagem obtida a 14 de Mar-ço de 2012, pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter. Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Página 35

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

A câmera High Reso-lution Ima-ging Science Experiment (HiRISE) da sonda Mars Reconnais-sance Orbi-ter, da NASA, mos-tra um elefante desenhado na superfí-cie de Mar-te. Na verdade, este é somente um jovem

fluxo de lava na região de Ely-sum Planitia.

Isto chama-se pareidolia: a nossa mente associa algo que já conhecemos a formas que nos parecem familiares mas que não estão lá na realidade. Na Terra, por exemplo, olha-mos para as nuvens e vemos coelhos, elefantes, caras conhecidas, etc. Em Marte, a pareidolia mais famosa é a Face de Marte (também na Terra). Mas há outras em Mar-te, como o famo-so smile (sorriso). Carlos Oliveira

Elefante em Marte

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Chove Metano a cada 1000 anos

SISTEMA SOLAR Abril 2012

Titã, lua de Saturno, tem chu-va. Já se sabia isto. Já se sabia que essa chuva é de metano. Já se sabia também que essa chuva fomenta rios e lagos.

Um estudo recente mostra que essa chuva é mais rara que a chuva na Terra. Em Titã, chove em média de 1000 em 1000 anos. O mesmo estudo mostra que

terá chovido bastante em Titã recentemente – em 2004 e/ou em 2010, anos terrestres. Leiam o artigo científico.

Carlos Oliveira

Um novo modelo do campo gravita-cional lunar Uma equipa de cientistas australianos da Curtin University, em Perth, Austrália, produziu recentemente o Lunar Gravity Model 2011 (LGM2011), um novo modelo do campo gravitacional da Lua com uma resolu-ção espacial sem precedentes. Baseado em métodos testados com sucesso na Terra, o novo modelo melhora consideravelmente o detalhe de modelos anteriores, incluindo o SGM100i (um modelo gerado a partir de dados obtidos pela missão japonesa Kaguya) e os modelos preliminares produzidos pela mis-

são Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO). O desempenho surpreendente alcançado no LGM2011 é fruto da combinação de componentes do mode-lo SGM100icom dados topográficos obtidos pelo altímetro LOLA da LRO no período entre 2009 e 2011, e deverá rivalizar com o modelo que irá ser criado pela missão GRAIL. Vejam em baixo alguns dos produtos gerados pelo novo modelo.

Podem ler mais pormenores sobre este trabalho aqui. Sérgio Paulino

Página 37

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Mapa da deflexões verticais superficiais da Lua (lado mais próximo à esquerda e lado mais distante à direi-ta). A deflexão vertical indica o desvio da direcção da atracção gravitacional relativamente ao que seria medido num corpo perfeitamente esférico. Crédito: Western Australian Centre for Geodesy (Curtin University).

Mapa da aceleração gravitacional na

superfície lunar (lado mais próximo à

esquerda e lado mais distante à direita).

Crédito: Western Australian Centre for

Geodesy (Curtin University).

Mapa das anomalias gravitacionais da Lua (lado mais próximo à esquer-da e lado mais distante à direita). Reparem na presença de grandes superfícies com anomalias gravitacio-nais positivas no hemisfério mais pró-ximo. Estas superfícies coincidem com as grandes bacias de impacto de Mare Imbrium, Mare Serenitatis, Mare Crisium, Mare Nectaris e Mare Humorum, regiões que contêm gran-desmascons (concentrações de mas-sa). Crédito: Western Australian Centre for Geodesy (Curtin University).

Página 38

SISTEMA SOLAR

Encélado, lua de Saturno, tem criovolcanismo activo – vulcões que passam pelo gelo e se mostram à superfí-cie, deitando cá para fora jactos gelados e plumas em torre, como géiseres de vapor de água e gás, con-

tendo sais de sódio, lançados a centenas de quiló-metros no espaço. “Mais de 90 jatos de todos os tamanhos foram observados próximos ao pólo sul de Encélado. Eles estão a emitir vapor de água, partículas de gelo e compostos orgânicos”, disse a cientista do JPL, Carolyn Porco.

Além de bolsas de água que existem sob a super-fície gelada de Encélado, em 2008 astrónomos confirmaram aexistência de um oceano salga-do oculto sob a superfície do pólo sul do satélite de Saturno. Nesse oceano poderá existir vida extraterrestre, sendo esta lua um dos locais do sistema solar com mais forte possibilidade de conter microorganis-mos ou quiçá até “peixes esquisitos”.

“A sonda Cassini orbitou o local algumas vezes e descobriu água, material orgânico, e sal nas partí-culas de gelo”, disse Carolyn Porco. O oceano salgado, os compostos orgânicos, e a fonte de calor (força gravitacional de Saturno),

fazem deste ambiente de Encé-lado um forte can-didato a ter vida,

tal como aquela que existe no fundo dos nossos oceanos.

Esses micróbios poderão ser “puxados” para a superfície por esses geysers, ser lançados para o espaço e depois caírem como chuva sobre a superfície gelada de Encélado.

E isto poderá ser “facilmente” estudado. “O material está sendo ejectado no espaço diaria-

mente. Pode parecer loucura, mas neste momento pode estar a nevar micróbios na superfície de Encéla-do”, diz Carolyn Porco. E basta pousar na superfície de Encélado para estudar-se essa vida extraterrestre. Não

é preciso fazer “furos” como em Europa, lua de Júpiter. Leiam aqui. Carlos Oliveira

Abril 2012

Chove micróbios em Encélado? Chove micróbios em Encélado?

Apesar de ainda controverso, parece haver novas evidências para a existência de um oceano em Marte há 3 mil milhões de anos atrás. Leiam aqui e aqui. “O estudo partiu de dados gerados durante mais de dois anos pelo radar Marsis, que alcançou o planeta vermelho em 2005. As informações recolhidas permitiram que os especialistas descobrissem que as planícies do hemisfério norte estão cobertas por um material de baixa densidade. Jéremie Mouginot, do Instituto de Astrono-mia Planetária e Astrofísica de Grenoble (IPAG), assegura que esses compostos pare-cem ser depósitos sedimentários, o que supõe “uma nova e sólida prova de que em outros tempos houve um oceano nessa área”.” Carlos Oliveira

Página 39

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Oceano em Marte Oceano em Marte

Escuridão Escuridão

permanente na permanente na

bacia de Goethe bacia de Goethe

Localizadas nas extensas planícies seten-trionais de Mercúrio, as duas crateras retratadas nesta imagem mantêm por-ções do seu interior permanentemente imersas na escuridão. Estas áreas som-brias albergam estranhos materiais bri-lhantes ao radar, um facto que as torna um importante alvo para a campanha de mapeamento tridimensional em alta resolução a decorrer nesta primeira extensão da missão MESSENGER. Leiam mais sobre estas interessantes regiões de Mercúrio aqui. Sérgio Paulino

Duas crateras com cerca de 25 km de diâmetro localizadas no interior da

bacia de Goethe, em Mercúrio. Imagem captada a 29 de Março de 2012 pela

sonda MESSENGER.

Crédito:NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/

Carnegie Institution of Washington.

Página 40

O gigante e as pérolas de gelo

SISTEMA SOLAR

Fez no passado mês de Mar-

ço 19 anos que Carolyn

Shoemaker, Eugene Shoe-

maker e David

Levy descobriram o primeiro

cometa na órbita de um pla-

neta. Designado Shoemaker

-Levy 9, o estranho objecto

havia sido capturado na

órbita de Júpiter há pelo

menos 2 décadas. Meses

antes da sua descoberta, o

cometa realizou uma passa-

gem a pouco mais de 71 mil

quilómetros da atmosfera

joviana, uma imprudente

aproximação que provocaria

a sua fragmentação em pelo

menos 21 fragmentos. Esta

seria a última passagem por

Júpiter antes de perturba-

ções gravitacionais do Sol

modificarem a sua trajectó-

ria para uma rota de colisão

com o planeta.

Em Julho de 1994, uma corrente de brilhantes

pérolas de gelo viajou em direcção ao hemisfério

sul do gigante, colidindo uma após a outra com a

atmosfera joviana a uma velocidade de 60 km.s-1.

As cicatrizes dos impactos tornaram-se mais proe-

minentes que a Grande Mancha Vermelha e man-

tiveram-se visíveis na face de Júpiter durante

vários meses.

Sérgio Paulino

Abril 2012

Júpiter e os fragmentos de Shoemaker-Levy 9 vistos em Julho de 1994 pelo Telescópio

Espacial Hubble.

Crédito: NASA/ESA.

Foram finalmente

publicados todos os

dados obtidos pela son-

da Rosetta durante o

seu encontro com o asteróide (21) Lutécia a 10

de Julho de 2010. Como seria de esperar,

alguns membros da comunidade do fórum

UnmannedSpaceflight.com não perderam tem-

po e começaram a produzir verdadeiras obras

de arte a partir do material disponibilizado

pela ESA. Apreciem em baixo alguns exemplos:

[veja o vídeo aqui].

Sérgio Paulino

Página 41

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Bonitas imagens do asteróide Lutécia

Lutécia em cores aproximadamente naturais, numa composição construída com imagens obtidas

através de filtros para o azul, o verde e o laranja. Ao centro encontra-se uma enorme cratera muito

degradada, com grandes derrocadas de regolito e enormes rochedos espalhados pelas suas encos-

tas. Alguns desses rochedos elevam-se a 400 metros acima da superfície!

Crédito: ESA/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA/Daniel Macháček.

A grande bacia Massilia em cores aproximadamente naturais.

Crédito: ESA/MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA/Daniel Macháček.

Página 42

Por Falar em Auroras …

SISTEMA SOLAR

Uma equipa extensa de astró-

nomos, liderada por Laurent

Lamy do Observatoire de Paris,

utilizou o telescópio espacial

Hubble para observar pela pri-

meira vez auroras no planeta

Urano. A figura seguinte mos-

tra duas imagens de Urano, em

datas diferentes, e as ditas

auroras, resultantes da interac-

ção do seu campo magnético e

atmosfera com o vento solar,

como pequenas manchas bran-

cas no topo da atmosfera.

A equipa utilizou uma estraté-

gia muito engenhosa para adi-vinhar quando seria mais pro-vável observar auroras em Ura-no. Em 2011, a Terra, Júpiter e Urano estavam alinhados de tal forma que o vento solar podia viajar sensivelmente em linha recta desde o Sol, passando pela Terra e por Júpiter antes de atingir Urano. Os astróno-

mos esperaram então por uma grande tempestade solar. Nes-tas ocasiões o fluxo e energia do vento solar aumentam substancialmente. Quando este fluxo, composto por partí-

culas carregadas electricamen-

te como electrões, protões e iões mais pesados, atinge a Terra, provoca frequentemen-te auroras e outros efeitos menos desejáveis como cortes nas comunicações, corrosão em pipelines, etc. Os astróno-mos usaram observatórios solares em órbita da Terra para detectar precocemente uma

destas tempestades, em mea-dos de Setembro de 2011, e observaram a sua passagem pela Terra 2 a 3 dias depois. Duas semanas depois o vento solar passou por Júpiter e o seu

efeito foi também observado pelos astrónomos, permitin-do calcular que se deslocava uma velocidade de 500 quiló-

metros por segundo. Esta observação permitiu calcular que o vento solar atingiria Urano em meados de Novembro, e a equipa pediu tempo de observação no telescópio Hubble para alguns dias nessa janela tem-poral.

Podem ver a notícia aqui.

Luís Lopes

Abril 2012

Crédito: Laurent Lamy, NASA/

STSCI/AGU)

No passado dia 11 de Abril, a

sonda Cassini realizou uma

rápida sequência de observa-

ções dos resquícios

dasupertempestade que asso-

lou o hemisfério norte de

Saturno em 2011. Durante a

sessão, Dione e Tétis cruzaram

o campo de visão das suas

câmaras, proporcionando à

equipa de imagem da missão a

oportunidade para a captação

deste belo retrato do sistema.

Neste momento,

a Cassini encontra-se nas proxi-

midades de Encélado a analisar

a composição das plumas que

emanam da região do pólo sul.

Logo à noite, a sonda

da NASA rumará para um

encontro com Tétis, a apenas 9

mil quilómetros da sua superfí-

cie. Esta será a passagem mais

próxima da missão desde

Setembro de 2005,

altura em

aCassini sobrevoou

Tétis a apenas 1.503

km de distância.

Sérgio Paulino

Página 43

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Saturno e dois pequenos crescentes

O gigante Saturno e as

suas duas luas Dione e

Tétis. Imagem obtida

pela sonda Cassini a 11

de Abril de 2012, a 2,3

milhões de quilómetros

de distância do planeta.

Crédito: NASA/JPL/

Space Science Institute.

Página 44

Um dia em Mercúrio

SISTEMA SOLAR

Quanto tempo dura um dia em Mercúrio? A resposta não é simples. Na Terra regemo-nos pelo dia

solar, o período compreendido entre duas passagens consecu-tivas do Sol pelo mesmo meri-diano celeste. O dia solar pro-longa-se em média por 24 horas e é ligeiramente mais longo (cerca de 3 minutos e 56 segundos) que o dia sideral (o período de uma rotação em

relação às estrelas). Esta pequena diferença emerge da progressão da Terra na sua órbita após uma rotação com-pleta sobre o seu eixo, um movimento que afecta o ângu-lo de incidência do Sol sobre a

superfície terrestre. Devido à lenta rotação e à rápi-da velocidade orbital de Mer-cúrio, um dia solar no mais

pequeno planeta do Sistema Solar estende-se em média por 175,97 dias terrestres. Ao con-trário do que acontece na Ter-ra, este período é radicalmente diferente do dia sideral. Mer-cúrio completa uma volta em torno do seu eixo (em relação à posição das estrelas) a cada

58,65 dias terrestres, o que corresponde a apenas 2/3 do seu período orbital (cerca de 87,97 dias terrestres). Tal coin-cidência é resultado de uma ressonância rotação-translação 3:2 provocada pela forte

influência gravitacional do Sol. Esta curiosa ressonância pro-duz um estranho efeito no movimento aparente do Sol

nos céus de Mercúrio. Uma vez em cada ano mercuria-no, o disco solar parece reverter ligeiramente o seu movimento aparente este-oeste. Este efei-to provoca dife-renças significa-tivas nos tem-pos de insola-ção em diferen-tes longitudes, o que se reflec-te num invulgar

padrão de distribuição das temperaturas superficiais. A equipa da mis-são MESSENGER publicou recentemente um interessante vídeo que mostra o pólo sul de Mercúrio ao longo de um dia mercuriano completo. Repa-rem como se desloca o termi-

nador (a linha que separa o dia da noite) ao longo da superfí-cie.

[Veja o vídeo aqui]

Sérgio Paulino

Abril 2012

Sequência de 89 imagens obtidas em 2011 pela sonda MESSENGER ao longo de um dia mercuriano

(176 dias terrestres). As imagens estão centradas no pólo sul do planeta e abrangem todas as regiões

meridionais até aos 73º de latitude.

Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washing-

ton.

Com vulcões fumegan-

tes, rios de lava e pai-sagens sulfúricas, a lua de Júpiter Io é um dos lugares mais exóticos e intrigantes do nosso sistema solar. As suas características geoló-gicas estão agora des-criminadas no primei-ro mapa geológico glo-

bal deste corpo plane-tário activo e pouco usual.

Este mapa, publicado pelo U.S. Geological Survey e criado pelos cientistas do Instituto de Ciência Planetária na Universi-dade do Arizona, mostra as ida-des e as mais singulares carac-

terísticas geológicas encontra-das em vulcões activos e fluxos de lava no sistema solar. “Uma das razões que nos levou a criar este mapa era a de dis-ponibilizar uma ferramenta essencial para o desenvolvi-mento dos estudos científicos de Io, bem como um meio de planear as observações de Io em futuras missões ao sistema de Júpiter,” explicou David Wil-liams, cientista que liderou o projecto de investigação de 6 anos que levou à construção deste mapa geológico. Neste detalhado mapa é possí-

vel distinguir 19 tipos de mate-rial à superfície. É possível ver várias características vulcânicas como paterae (depressões semelhantes a caldeiras), rios de lava, tholis (cúpulas vulcâni-cas), depósitos de plumas, de várias formas, tamanhos e cores, e ainda altas montanhas e planícies sulfúricas.

No entanto, há uma caracterís-tica geológica que não é vista neste mapa: crateras de impacto. Como explica Williams:

“Io não tem crate-ras de impacto; é o único objecto do

sistema solar no qual não encontra-mos esta caracte-

rística, servindo de confirma-ção para a constante renova-ção geológica de Io em resulta-do da sua constante actividade vulcânica.” Mapa geológico de Io em alta resolução

Mais informações em Universe Today Pedro Garcia

Página 45

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Primeiro Mapa Geológico de Io: 425 Vulcões, Nem

1 Cratera

Página 46

SISTEMA SOLAR

Cientistas do Physical Research Laboratory, na Índia, anuncia-ram na semana passada a des-coberta de claras evidências de actividade vulcânica recente na Lua. A partir de dados obtidos pelas sondas Lunar Reconnais-sance Orbiter e Chandrayaan-1, Prakash Chauhan e colegas analisaram a morfologia e a mineralogia do pico cen-tral deTycho, uma cratera de impacto Copernicana formada há apenas 110 milhões de anos. No cimo e nas vertentes da montanha de 2 km de altu-ra, os investigadores indianos descobriram diversas estrutu-ras de origem vulcânica com composições heterogéneas, o que sugere a presença de acti-

vidade geológica prolongada posterior à formação da crate-ra. Os picos centrais das crateras complexas são bastante inte-ressantes do ponto de vista geológico porque representam material escavado das profun-dezas da crusta pela descom-pressão da superfície logo após o impacto. O pico central de Tycho distingue-se pela com-plexidade da sua composição e pela presença em seu redor de materiais solidificados mais jovens que o manto de ejecta que se estende no exterior da cratera. Os indícios de activida-de vulcânica agora identifica-dos vêm sugerir que esses materiais não foram fundidos

pela energia libertada pelo impacto que gerou a cratera, mas sim expulsos de uma fonte subsuperficial de magma per-turbada pela colisão, o que implica a existência de activida-de geológica nas regiões mais interiores da crusta lunar na altura da formação de Tycho. A confirmação destes achados carece da recolha e da datação de amostras, algo que depen-derá apenas da concretização de futuras missões à superfície da Lua. Até lá resta investigar a presença de estruturas seme-lhantes nos picos centrais de outras crateras Copernicanas. Podem encontrar o artigo origi-nal deste trabalho aqui. Sérgio Paulino

Abril 2012

Descobertas evidências de actividade vulcânica

recente na Lua

O pico central da cratera Tycho numa visão oblíqua obtida a 10 de Junho de 2011 pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter.

Crédito: NASA/GSFC/Arizona State University.

Finalmente consegui ter algum tempo disponível para me dedicar às imagens do encon-tro do fim-de-semana passado da sonda Cassini com a lua Tétis. Confesso que as aguarda-va com alguma ansiedade por-que sabia que iriam incluir algumas fotografias em alta resolução da gigantesca crate-ra Odysseus. Aqui têm um mosaico construído com 4 des-sas imagens:. Odysseus impressiona pelo seu tamanho. Com cerca de 445 km de diâmetro, cerca de 2/5 do diâmetro de Tétis, conta-se entre as maiores crateras de impacto do Sistema Solar. A sua profundidade (6 a 9 km) é,

no entanto, muito infe-rior ao que seria de esperar numa estru-tura de impacto com estas dimen-sões. Esta particulari-dade resulta da confor-mação do seu interior com a forma esférica de Tétis, um

fenómeno provavelmente provocado pelo lento relaxa-mento da crusta gelada tetia-na desde a sua formação. O impacto que escavou Odys-seus deverá ter ocorrido numa altura em que Tétis estava ainda em plena forma-ção. Como o seu interior se encontrava ainda liquefeito, a lua conseguiu absorver a energia da colisão, impedindo a sua fragmentação em inú-meros pedaços. Sérgio Paulino

Página 47

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Odysseus em alta resolução

A cratera Odysseus num mosaico que inclui 4

imagens obtidas pela sonda Cassini a 14 de

Abril de 2012.

Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/

Sérgio Paulino.

Imagem de contexto mostrando o perfil de Odysseus. Junto ao termi-

nador são visíveis outras duas grandes crateras de impacto tetiana:

Melanthius, com o seu enorme pico central, e Dolius, uma cratera

muito degradada situada a norte.

Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Página 48

Marte: Um Mundo em Constante Marte: Um Mundo em Constante

Transformação Transformação

SISTEMA SOLAR

Marte é um mundo em cons-tante transformação: uma imagem de 2010 da sonda Mars Reconnaissance Orbiter mostrou-nos marcas deixadas

por um pedregulho que rolara ao longo de uma cratera ; 1 ano marciano depois, uma nova imagem do mesmo local

mostra que estas marcas desa-pareceram. Ao ver estas imagens, lembrei-me da resposta que oferece-

Abril 2012

Crédito: NASA/JPL/University of Arizona

Página 49

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

mos sempre que nos pergun-tam, noObservatório Astronó-mico de Santana, se gostaría-mos de viajar até à Lua. Escla-recemos que, para além dos desconfortos da viagem em si, ao chegar à Lua seriamos con-frontados com um ambiente inóspito e estranho, retirando qualquer prazer turístico a tal passeio.

Na inexistência de uma atmos-fera, tememos que a Lua será um local calmo, demasiado cal-mo: não chove, não há vento, não há brisa, não há movimen-to, não há mudança. A beleza de ser um lugar incomparável e “exótico” seria-nos rapidamen-te roubada pela imobilidade e “intemporalidade” próprias do nosso satélite. Trata-se, obvia-mente, de uma interpretação pessoal mas parece-nos que a lua será sempre mais bela e fascinante vista de longe.

O mesmo não se poderá prever

em Marte. A sua atmosfera é rarefeita mas esta, inevitavel-mente, entrega a este planeta “vida” e “movimento”: algo a que nós, habitantes da Terra, estamos condenados e depen-dentes. Assim, Marte, ao con-trário da Lua, é um mundo em constante mudança. Esta ima-gem aqui apresentada mostra

isso mesmo.

Em 2010, a sonda Mars Recon-naissance Orbiter (MRO) captu-rou marcas deixadas no solo avermelhado por um pedregu-lho que rolou naturalmente ao

longo de uma cratera, conde-nado pela inclinação desta. Estas marcas ficaram tão vinca-das na superfície que a câmara HiRISE da MRO conseguiu uma imagem que as descrevia per-feitamente. Um ano marciano depois, a sonda voltou a olhar

para o mesmo local apenas para descobrir que as marcas haviam desaparecido. Mais um testemunho que comprova que Marte é um mundo em cons-tante transformação. Se o vento marciano, carregan-do constantemente pequenas partículas de pó, pode explicar o desaparecimento destas mar-cas, como poderemos explicar que uma enorme pedra seja movida no planeta vermelho? Ross A. Beyer, cientista deste projecto, afirma que “existem duas possibilidades”. “Uma, poderá ser explicado por um tremor, ou natu-ral do solo ou do impac-to de algum meteori-to, que conseguiu libertar esta enor-me pedra. Ou então, avalan-ches, como as já vistas pela MRO,

resultantes do descongelamen-to primaveril do dióxido de car-bono que se solidificou durante o inverno marciano.” Este últi-mo fenómeno poderá provocar o deslizamento de rochas e escombros com força suficien-te para arrastar consigo pedre-gulhos como aquele que dei-xou as marcas, agora desapare-cidas.

Marcas também as tem a Lua. Fica a imagem da pegada de Neil Armstrong, que foi a pri-meira feita na Lua. O solo lunar, milenarmente solitário, abraçou-a tão bem que não a

irá perder durante um milhão de anos. Sem vento, sem chu-va, pouco há que a apague. Mais informação sobre as duas imagens aqui. Pedro Garcia

Página 50

SISTEMA SOLAR

Reia e Tétis encontravam-se, respectivamente, a 1,80 e a 2,44 milhões de quilómetros de distância da son-da Cassiniquando foram capta-das as imagens usadas nesta composição. São notórias em Reia as crateras Tirawa e Mamaldi e, junto ao termina-dor, com os seus proeminentes picos centrais, Num e Taaroa. Na face de Tétis domina a grande cratera Odysseus (ler mais sobre esta espectacular estrutura aqui).

Sérgio Paulino

Abril 2012

Reia e Tétis à distância

Reia e Tétis em cores aproximadamente naturais. Composição realizada com imagens

obtidas pela sonda Cassini a 20 de Abril de 2012.

Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.

Victoria, uma longa escarpa em Mercúrio

Victoria Rupes é uma das mui-tas escarpas que serpenteiam pela superfície de Mercúrio. Com extensões que atingem várias centenas de quilóme-tros, estes impressionantes aci-dentes geológicos são uma consequência da ligeira con-tracção sofrida pelo planeta durante o lento arrefecimento do seu núcleo. Tal como outras escarpas mer-curianas, Victoria recebeu o nome de uma embarcação de

exploração – a nau Victoria, uma das 5 embarcações da armada de Fernão de Magalhães que partiram de Espanha no século XVI na primeira viagem de circum-navegação da Terra. Situada nas latitudes médias do hemisfério norte, a oeste da proeminente cratera Hokusai, Victoria estende-se por 347 km

numa orientação norte-sul, e eleva-se até 3 km acima das planícies envolventes.

Sérgio Paulino

Victoria Rupes fotografada pela sonda MESSENGER a 10 de

Fevereiro de 2012.

Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics

Laboratory/Carnegie Institution of Washington.

Imagens obtidas pelas son-da Cassini permitiram aos cien-tistas identificar uma nova população de pequenos objec-tos arrastando periodicamente trilhos brilhantes de partículas do anel F de Saturno. Denomi-nadas mini-jactos pelos investi-gadores, estas curiosas estru-turas providenciam uma nova

compreensão dos intrincados movimentos do anel F.

Descoberto em 1979 pela equi-pa de imagem da missão Pio-neer 11, o anel F é uma das estruturas mais dinâmicas de todo o sistema saturniano. Com apenas algumas centenas de quilómetros de largura, a integridade do anel F é assegu-

rada pelas duas pequenas luas pastoras Prometeu e Pandora. Imagens obtidas pela son-da Cassini têm desvendado uma curiosa relação entre o anel F e a sua lua pastora mais interior, a lua Prometeu. A cada apoapse, Prometeu apro-xima-se o suficiente do anel para interagir fortemente com a sua estrutura e remover par-

Página 51

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Cassini observa hordas de pequenos objectos

criando trilhos no anel F de Saturno

Imagens obtidas pela sonda Cassini entre 2005 e 2008, mostrando trilhos de partículas arrastados da estrutura do anel F por

pequenos objectos com 1 km de diâmetro. O maior dos trilhos representados nestas imagens tem cerca de 207 km de compri-

mento. Os cientistas identificaram mais de 500 estruturas semelhantes em mais de 20 mil imagens obtidas pela Cassini entre

2004 e 2011.

Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Página 52

SISTEMA SOLAR

te do seu material, criando tor-ções, entalhes e pequenos aglomerados de partículas a cada passagem. Até agora, os cientistas desconheciam o des-tino destes frágeis aglomera-dos após a sua formação. Mui-tos são certamente destruídos por colisões e pela força de maré gerada por Saturno e pelas outras luas à medida que evoluem nas suas respectivas órbitas, mas agora os cientistas têm as evidências necessárias para concluir que alguns dos mais pequenos sobrevivem tempo suficiente para colidi-rem eles próprios com o anel.

As colisões destes pequenos objectos com o anel F realizam-se a baixa velocidade, cerca de

2 m.s-1, ainda assim o suficien-te para arrastar trilhos brilhan-tes de partículas, tipicamente, com comprimentos de 40 a 180 km. Um destes trilhos foi identificado por Carl Murray, um dos membros da equipa de imagem da Cassini, em ima-gens obtidas a Janei-ro de 2009. Murray conseguiu traçar o movimento do pequeno trilho ao longo de 8 horas até à sua origem – a coli-são de um pequeno objecto formado no anel F. Uma análise

ao catálogo de ima-gens da Cassini permitiu concluir que este era um fenómeno relati-vamente frequente. Alguns dos objectos viajam em grupos que criam trilhos com a forma de arpão ou com outras formas mais exóticas. É esta variedade de trilhos que acaba por deter-minar a estrutura intrincada observada no anel F.

Este trabalho será apresentado amanhã

na Assembleia Geral de 2012 da União Europeia de Geociências, a decorrer esta semana em Viena, na Áustria.

Sérgio Paulino

Abril 2012

Estas imagens revelam as constantes mudanças no aspecto do anel F registadas pela sonda Cassini

ao longo de pouco mais de um ano. As distâncias ao centro do anel foram exageradas num factor

de 140 para tornar mais notórias as intrincadas ondulações e outras estruturas radiais do anel.

Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute.

Interacções gravitacionais entre Prometeu e material

do anel F. Imagem obtida pela sonda Cassini a 06 de

Agosto de 2008.

Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.

Phoebe é uma das luas de

Saturno.

Phoebe tem uma órbita

inclinada e em sentido

contrário à maioria das

luas, o que leva a pensar

que não se formou ao

redor de Saturno.

Baseados nos dados da

sonda Cassini, os astróno-

mos concluíram que

Phoebe não foi sempre

uma lua de Saturno.

Phoebe nasceu há cerca

de 4.5 mil milhões de

anos, juntamente com o

resto do Sistema Solar.

Nasceu na Cintura de Kui-

per. Terá agregado massa

suficiente para ser esférica e se

ter tornado um planetesimal

(com mais massa poderia-se

ter tornado um planeta-anão,

como Plutão).

Phoebe nessa altura deveria

ter condições para ter um

oceano interior.

No entanto, passados alguns

milhões de anos, talvez por

influência gravitacional de

outros corpos na Cintura de

Kuiper, Phoebe foi enviada

para o interior do Sistema

Solar, onde foi capturada por

Saturno… tornando-se uma

lua.

Leiam aqui e aqui.

Carlos Oliveira

Página 53

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Phoebe parece mais planeta que lua

Página 54

SISTEMA SOLAR

Já tínhamos escrito sobre o plano espacial da administra-ção Obama, que inclui missões a asteróides, e quiçá ter no ano 2030 humanos a pousar em asteróides, como propôs a Comissão Augustine. Entretanto saíram arti-gos fomentando uma missão deste género, como a que é conhecida como Plymouth Rock, para explorar asteróides próximos da Terra.

E agora, a empresa privada Pla-netary Resources pretende mesmo fazer isso dentro de 10 anos. Com investidores como James Cameron (realizador dos filmes

Avatar, Titanic, entre outros) e Larry Page e Eric Schmidt, da Google, a empresa pretende extrair água, metais preciosos

(platina, ouro, etc) e minerais raros de asteróides na órbita da Terra.

Segundo um dos fundadores da empresa: “Se olharmos, do ponto de vis-ta histórico, para aquilo que levou a Humanidade a fazer os seus maiores investimentos na

exploração e transporte con-cluímos que foi a procura de recursos, sejam eles as espe-ciarias no caso dos europeus ou a corrida ao ouro, petróleo, madeira ou terras na América. Tudo aquilo a que damos valor

na Terra – metais, minerais, energia, água – existe em

quantidades quase infinitas no espaço.” Leiam este artigo do Phil Plait com os diferentes passos que planeiam percorrer. O primeiro passo será dado já em 2014, com o lançamento do primeiro de uma série de telescópios que vão procurar asteróides ricos em recursos minerais. Assim, o espaço será aberto ao sector privado e para efeitos comerciais.

Tendo em conta que a Google pretende dominar o mundo em diversos sectores, e tendo em conta que James Cameron já demonstrou ser um sucesso

comercial e ser bastante paciente (esperou uma data de anos para ter a tecnologia desenvolvida para o Avatar), então parece-me que não devo duvidar do objectivo das pes-soas que constituem a empre-sa. Quiçá o objectivo desta empre-sa abrirá finalmente o espaço a

todos… Leiam em português, no Público e BBC Brasil. [veja os vídeos aqui] Carlos Oliveira

Abril 2012

Explorar minérios em asteróides

Andrew Ryan, doutorando

da Arizona State University,

realizou uma descoberta sur-

preendente em imagens da

superfície de Marte obtidas

pela câmara HiRISE da son-

da Mars Reconnaissance Orbi-

ter. Em Cerberus Palus, uma

planície situada a sudoeste de

Athabasca Valles, Ryan identifi-

cou 269 espirais sobrepostas

numa superfície adornada com

padrões poligonais,

uma morfologia que denuncia

a origem vulcânica desta

região.

Os padrões poligonais são mui-

to comuns na superfície de

Marte e podem ser formados

em fluxos de lava ou em regoli-

to com grandes quantidades de

gelo subsuperficial. A densida-

de de crateras na região de

Athabasca Valles sugere que

toda a superfície se formou há

apenas 200 milhões de anos,

pelo que a sua localização jun-

to ao equador exclui a presen-

ça de quantidades apreciáveis

de gelo no subsolo desde a sua

formação. Athabasca Valles

estende-se por cerca de 300

km desde Cerberus Fossae, um

conjunto de fissuras dispostas

Página 55

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

Descobertas espirais e padrões poligonais na

região de Athabasca Valles, em Marte

Espirais sobre padrões poligonais fotografados em Cerberus Palus pela câmara HiRI-

SE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.

Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Imagem de contexto mostrando a paisagem típica de Cerberus Palus. São visíveis

duas crateras sobrepostas a grandes fracturas entre placas de terreno aparentemen-

te deslocadas da sua posição inicial. A superfície retratada na imagem de cima

situa-se no extremo norte da cratera de pedestal, junto à margem sul de uma das

fracturas (rectângulo branco).

Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Página 56

SISTEMA SOLAR

a nordeste, numa orientação

perpendicular ao vale. Alguns

investigadores sugerem que

toda a região foi coberta por

grandes volumes de lava pro-

venientes de uma das fissuras

de Cerberus Fossae,

pelo que os padrões

poligonais de Cerbe-

rus Palus deverão

ser de origem vulcâ-

nica.

A descoberta das

espirais sobre os

padrões poligonais

de Cerberus Palus

vem dar mais con-

sistência à hipótese

destes terrenos

terem tido origem

em fenómenos vul-

cânicos. Na Terra, as

espirais de lava for-

mam-se em fluxos

de lava activos ou

estagnados, ou em lagos de

lava. A maioria é gerada em

zonas de fluxo lento (como, por

exemplo, as margens de

pequenos canais) pela acção de

um fenómeno conhecido

por instabilidade de Kelvin-

Helmholtz.

Geralmente, as espirais de lava

terrestres não ultrapassam os

10 metros de diâmetro, porém

as suas congéneres marcianas

são significativamente maiores.

Ryan e o seu orientador Philip

Christensen identificaram espi-

rais com diâmetros compreen-

didos entre os 5 e os 30

metros.

Podem ler mais pormenores

desta descoberta no artigo

publicado na quinta-feira pas-

sada na revis-

ta Science (clicaraqui).

Sérgio Paulino

Abril 2012

Espiral de lava no vulcão Kilauea, no Hawaii.

Crédito: USGS.

As espirais de Cerberus Palus (pormenor da primeira imagem).

Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.

Há poucos meses atrás, o aste-

róide 2012 HM foi visto pela 1ª

vez.

Este asteróide de mais de 50

metros vai passar hoje a cerca

de 540.000 kms da Terra. Ape-

sar de ser cerca de 1,5 vezes a

distância da Terra à Lua, em

termos espaciais é considerado

perto.

Não há qualquer possibilidade

de impacto do asteróide, quer

na Terra quer na Lua.

Carlos Oliveira

Página 57

Volume 2 Edição 4 SISTEMA SOLAR

asteróide 2012 HM passa hoje por aqui

3 ATs

A APOD de hoje traz uma ima-

gem de 3 ATs – Telescópios

Auxiliares, no Observatório

Paranal, no deserto do Ataca-

ma, no Chile.

No céu, vê-se a Grande Nuvem

de Magalhães e a Peque-

na Nuvem de

Magalhães, que

são 2 galáxias anãs

satélites da nossa,

e que devem o seu

nome ao nos-

so Fernão de

Magalhães. Carlos Oliveira

Página 58

Salvar a Terra vs. Salvar os Humanos Salvar a Terra vs. Salvar os Humanos

TERRA

Por diversas vezes tenho tido esta discussão

com amigos meus.

As diversas acções de “Salvar a Terra”, não fazem qualquer sentido. A Terra não precisa ser salva. A Terra existe há mais de 4 mil milhões de anos, praticamente sempre teve vida, teve até vida que mudou completamente a “face” da Terra (como as

cianobactérias), e a Terra continuou. Os Humanos chegaram há poucas centenas de milhares de anos. A Terra sempre existiu

sem Humanos e vai existir por milhares de milhões de anos sem quaisquer Humanos. Mesmo com os Humanos afectando as condições terrestres, como qualquer outra vida na Terra faz, o certo é que a regra básica da evolução (Sobrevivência do melhor Adaptado às mudanças no meio ambiente da altura) continua magnânime. Quem se adaptar às mudanças (como muita vida o faz, incluindo esta alga marinha), então sobreviverá. Quem não se adaptar, dará lugar a

outra vida melhor adaptada a essas condições. É sempre assim: um ciclo de vida baseada nas adaptações. A mudança é a única constante na

vida e no Universo.

Se os Humanos não se adaptarem, perecerão. Outros virão para os substituir. Sempre foi assim e sempre será.

Daí que as acções de “Salvar a Terra” não fazem sentido. A Terra continuará sempre, mesmo sem Humanos. O que essas acções querem dizer é: mantenham a Terra com as condições actuais de modo aos Humanos poderem sobreviver. Ou, dito por outras palavras: Salvem os Humanos!

Carlos Oliveira

Abril 2012

Página 59

Volume 2 Edição 4 TERRA

Entre 2004 e 2012 Entre 2004 e 2012 –– Dois Sismos com Dois Sismos com

Resultados Diferentes Resultados Diferentes

Mais um grande terramoto ocorreu no Oceano Índico,

desta vez com uma magnitude de aproximadamente 8,6 na escala de Richter. O epicentro foi na mesma zona do terramoto de 26 de Dezembro de 2004, contudo com efeitos totalmente diferentes. Em ciência aprende-se com os erros e previnem-se desastres com essa aprendizagem. Em 2004, um dos maiores terramotos de sempre, 9.1 Richter matou cerca de 230 mil pessoas face às 5 deste último), principalmente pela onda de

10 metros que viajou entre 500 km/h a 1000 km/h.

Com a ajuda da instrumentação terrestre e

com a ajuda espacial podemos prevenir, não os terramotos mas sim as mortes. Enquanto que, com a ajuda de quem não acha que vale a pena a investigação podemos esperar

andar a pé, fazer fogo com paus e andar

descalços. De seguida mostro um quadro com as diferenças entre o sismo de 2004 e o de 2012. Óbvio que uma das maiores diferenças, e isso poderá mudar toda a história, é o facto de no terramoto de 2012 não haver tsunami. Contudo, a instrumentação levou a que a população se refugiasse em lugares altos antes do tempo em que o tsunami chegaria. A Scientific American, em 2006, escrevia que “Apesar de ainda

restarem incertezas científicas que provavelmente sempre envolverão fenômenos tão complexos, a nova ciência dos tsunamis já está pronta para

implementação. O maior desafio para salvar vidas agora, em ambos os casos, é aplicar as descobertas científicas em educação, planejamento e sistemas de alerta adequados.”. (aqui)

De seguida uma das primeiras notícias do sismo de 2012 [ver vídeo aqui] Dário Codinha

Página 60

Será que o planeta Terra migrou? Será que o planeta Terra migrou?

TERRA

Sabe-se que a Terra teve água no estado líquido na sua superfície praticamente desde que se formou. Sabe-se também que o Sol vai gradualmente aumentando de intensidade e que na altura da formação da Terra, a energia solar que chegava à Terra era de somente 70% da actual. Combinando estes dois dados, então temos um paradoxo: o Paradoxo do Fraco Jovem Sol. Tendo em conta o fraco Sol da altura, não deveria ser possível haver água no estado líquido na superfície terrestre. Este problema foi popularizado por Carl Sagan e George Mullen em 1972.

Existem várias possíveis alternativas para resolução do paradoxo, como por exemplo, o efeito-estufa inicial.

No passado dia 10 de Abril, David Minton, da Universidade Purdue, numa conferência no Space Telescope Science Institute, deu mais uma possível solução para este paradoxo. Ao contrário do que se pensa, devido à nossa noção limitada de tempo humano, os planetas não ficam constantes nas suas órbitas durante milhões de anos. Os planetas extrasolares reforçam esta ideia (sobretudo os Júpiteres Quentes), com as suas órbitas que nos permitem

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Volume 2 Edição 4 TERRA

ver que migram entre locais (até Neptuno migrou, no nosso sistema solar).

No início do sistema solar havia várias e tremendas colisões entre os muitos objectos que existiam nessa altura no sistema solar. Simulações de computador feitas por Minton mostram que poderá ter havido nessa altura uma colisão de um planeta com 75% da massa da Terra com Vénus. Uma das consequências teria sido “empurrar” o planeta Terra para uma órbita mais distante.

Esta ideia, que me parece plausível e apelativa, diz-nos então que há cerca de 3 mil milhões de anos, o planeta Terra estaria mais perto do Sol – cerca de 10 milhões de kms mais perto. Após a colisão de Vénus com um outro planeta, então a Terra terá migrado para mais longe do Sol (a sua posição actual).

O problema é que a ideia parece-me tirada das ideias de Velikovsky, e não há qualquer evidência de um impacto “mortal” em Vénus há tão pouco

tempo (3 mil milhões de anos atrás). Mas explicaria porque a geologia de Vénus parece jovem…

Convertendo esta ideia para o futuro, teremos um Sol muito mais forte e maior dentro de alguns milhares de milhões de anos. Nessa altura, Mercúrio, em vez de ser engolido pelo Sol, poderá ser expelido, e a seguir é um jogo de snooker. Algumas simulações mostram que Vénus irá colidir com a Terra, e que Marte irá migrar para mais longe do Sol, tornando-se Marte o sítio onde os Humanos quererão viver…

Carlos Oliveira

Crédito: Joe Orman http://epod.usra.edu/blog/2001/04/sunrise-on-the-day-after-the-equinox.html

O Senior Review é uma avaliação bienal de mis-sões científicas da NASA, ou em que a NASA parti-cipa, já em período de extensão ou que pediram extensão recentemente. O objectivo é sugerir uma estratégia à NASA relativamente ao prolon-gamento adicional de missões (ou à sua termina-ção) e ao seu financiamento. Os resultados do Senior Review de 2012 foram conhecidos hoje e as notícias são em geral muito boas uma vez que todas as missões em avaliação (Hubble, Swift, Chandra, Spitzer, Fermi, Planck, Kepler, Suzaku/participação, XMM-Newton/participação) recebe-ram financiamento adicional. Em particular, a missão Kepler deverá ser estendida até 2016 e receber financiamento não apenas para a compo-

nente operacional mas também para o processa-mento de dados. Esta extensão da missão era cru-cial para o objectivo de detectar e confirmar pla-netas do tamanho da Terra na zona habitável de estrelas semelhantes ao Sol. Podem ver neste artigo porque é que esta tarefa requer mais tem-po do que o previsto inicialmente. Esta boa notí-cia é ligeiramente ensombrada pela recomenda-ção da cessação de operações do telescópio Spit-zer em 2015, um revés para a área dos exoplane-tas pois este instrumento tornou-se uma referên-cia no estudo de trânsitos planetários.

Podem ver a notícia aqui e aqui. Luís Lopes

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Missão Kepler Estendida até 2016 Missão Kepler Estendida até 2016

EXOPLANETAS Abril 2012

No dia 26 de Outubro de 2011 tive a oportunida-de de fazer uma visita ao Nuno Santos no Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. Nessa ocasião o Nuno concedeu uma entrevista ao AstroPT que se encontra reproduzida em seguida. Desde já as minhas desculpas pela demora em tornar este material público no blog, e em parti-cular ao Nuno Santos. A responsabilidade por este facto é totalmente minha, que subestimei o tempo necessário para transcrever e editar a entrevista audio gravada no dia referido. Vários outros factores contribuíram para a demora como a falta de tempo, o cansaço, o esquecimento ou simplesmente, por vezes, a preguiça. Felizmente, a maioria, senão a totalidade, do material da entrevista mantém a sua actualidade e penso será do interesse dos nossos leitores. Em certos momentos no texto fiz observações e perguntas adicionais interrompendo as respostas do Nuno

Santos. Estes momentos encontram-se delimita-dos entre parêntesis rectos “[...]“. Preferi editar o material desta forma para evitar quebrar o fluxo natural do texto.

[AstroPT] – Como começou o teu interesse pela Astronomia? Qual o teu percurso académico?

Entrevista com Nuno Santos Entrevista com Nuno Santos

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Volume 2 Edição 4 EXOPLANETAS

[Nuno Santos] – Desde pequeno que quis ser astrónomo. Gostava de ciências. Podia ter sido também biólogo, paleontólogo, etc. Preferia assuntos que estivessem distantes no espaço ou no tempo. Fiz o percurso escolar normal e, a dada altura, uma tia minha que era professora do liceu soube da existência da APAA (Associação Portu-guesa de Astrónomos Amadores). Na altura fiz-me sócio e comecei a assinar, apesar de algumas dificuldades iniciais com o inglês, a revista “Sky & Telescope”. O bichinho da astronomia foi crescen-do. Durante muito tempo fiz observações como astrónomo amador, em particular de estrelas variáveis. Quando completei o 12º ano decidi-me pelo curso de Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Depois do curso veio o mestrado e o doutoramento em astrofísica.

[AstroPT] – Como começou a tua colaboração com a equipa do Observatório de Genebra lidera-da pelo Prof. Michel Mayor?

[Nuno Santos] – Aconteceu de forma acidental. Durante o mestrado tive a oportunidade de ir a uma conferência em Espanha, mais propriamente nas Ilhas Canárias, sobre exoplanetas e anãs cas-tanhas. Estavamos em 1996, pouco tempo depois da descoberta do 51 Pegasi b, o primeiro planeta

detectado em torno de uma estrela semelhante ao Sol. Apesar de estar ainda a frequentar o mes-trado, pensava já no que iria fazer no doutora-mento que se seguiria. Falei pessoalmente com o Michel Mayor na conferência e perguntei-lhe se haveria possibilidade de fazer o doutoramento na equipa dele, no Observatório de Genebra. Ele pediu o meu currículo e aceitou-me como aluno na condição de eu conseguir uma bolsa de douto-ramento. Completado o mestrado consegui a bol-

sa e mudei-me para Genebra.

[AstroPT] – Podes descrever a tua equipa e os projectos em que estás envolvido actualmente? [Nuno Santos] – Neste momento a equipa é cons-tituída por 9 investigadores doutorados e 9 estu-dantes de doutoramento. Os alunos são financia-dos pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecno-

logia) e por projectos europeus. Estamos ligados a vários projectos que envolvem o espectrógrafo HARPS, instalado no observatório de La Silla, no Chile. Para além dos programas de detecção de novos planetas, estamos também interessados na caracterização das estrelas que sabemos ter pla-netas, saber, por exemplo, a dimensão física, a massa, o estado evolucionário e a abundância relativa de “metais”. Estes parâmetros são impor-tantes para compreendermos o fenómeno da for-mação planetária e o motivo porque certas estre-las têm determinado tipo de sistemas planetários. Também temos projectos que têm como objecti-vo o estudo do efeito da actividade estelar na detectabilidade de planetas pela técnica da velo-cidade radial. A actividade estelar introduz ruído nas medições da velocidade radial da estrela e nós estudamos formas de identificar estes efeitos e corrigi-los nos nossos dados. É um trabalho importante tendo em vista a nossa participação no projecto ESPRESSO (Echelle SPectrograph for Rocky Exoplanet- and Stable Spectroscopic Obser-vations), um espectrógrafo de alta precisão que será montado num dos telescópios gigantes de 8.2 metros do VLT. Temos também colegas na equipa que fazem o seguimento (velocidade radial) de planetas detectados pelo método dos trânsitos. Para além do HARPS, temos colabora-ções com as equipas dos espectrógra-fos SOPHIE (no Observatório de Haute-Provence) e CORALIE (no Observatório de La Silla).

Outros colegas trabalham com dados da missão Kepler, mais concretamente na análise da dinâmi-ca dos sistemas planetários múltiplos detectados, tentando identificar efeitos como os TTV (Transit Timing Variations) que permitem uma estimação da massa dos planetas de forma independente da

velocidade radial, usando exclusivamente foto-metria das estrelas hospedeiras. Estabelecemos também colaborações com astrónomos amado-res, e.g., em Portugal, o João Gregório, no segui-mento de sistemas com trânsitos. Esta colabora-ção é preciosa dadas as nossas limitações de tem-po, financiamento, e acesso a equipamento de

observação.

[AstroPT] – Uma das linhas de investigação que prossegues consiste na caracterização das estre-las de tipo solar, nomeadamente as que constam do programa de observação do HARPS, em ter-mos da metalicidade, isto é, a abundância de ele-

mentos mais pesados do que o hidrogénio e o hélio. Qual o objectivo deste tipo de estudo e a sua ligação com os exoplanetas? [Nuno Santos] – O estudo das propriedades das estrelas dá-nos informação crucial para a com-preensão do processo de formação planetária e a sua modelação teórica. Em particular, a correla-ção positiva entre a abundância de “metais” numa estrela (e portanto no disco proto-planetário que a terá circundado aquando da sua formação) e a frequência de planetas gigantes é um dos principais argumentos para defender a teoria de “core accretion” para a formação dos planetas gigantes. A teoria alternativa, designada de “disk instability”, sugere que uma tal correla-ção não deveria existir. Há outros detalhes inte-ressantes que têm ligação com as abundâncias de elementos nas estrelas hospedeiras. Por exemplo, o planeta Kepler-10b, a primeira Super-Terra des-coberta por essa missão, tem um raio muito pequeno para a sua massa e portanto uma densi-dade muito elevada. Isto implica que deve ter um núcleo maciço constituído maioritariamente por metais como o ferro e o níquel, e é na realidade mais parecido com um Super-Mercúrio. Não se sabe muito bem como é possível gerar núcleos tão maciços de metal mas uma hipótese consiste em isto se dever a uma super-abundância de fer-

ro relativamente a outros elementos alfa (elementos formados pela adição de núcleos de hélio, designados de partículas alfa, aos núcleos do carbono, do oxigénio e, mais tarde, do silício) como o silício e o magnésio que são os ele-mentos base da maioria das rochas nos planetas do tipo terrestre. Por outras palavras, o tipo de planetas formado poderá depender da abundân-cia relativa dos vários “metais” no disco proto-planetário. Actualmente estamos a estudar este problema e esperamos compreender se é esta a razão para, por exemplo, o Kepler-10b, ter esta composição, ou se, alternativamente, ele já terá sido um planeta normal ao qual as camadas exte-riores foram arrancadas pela radiação e pelo ven-to estelar intenso, uma vez que orbita muito pró-ximo da sua estrela hospedeira.

Por outro lado, a determinação da metalicidade e de outras propriedades da estrela, e.g. níveis de actividade estelar, permite avaliar com mais pre-cisão o seu estágio evolutivo e respectivo raio. O conhecimento preciso do raio da estrela é impor-tante porque a técnica dos trânsitos só nos permi-te determinar a razão entre os raios do planeta e da estrela. Para calcularmos o raio real do planeta precisamos conhecer o raio da estrela. O valor obtido para o primeiro será tanto mais preciso

quanto maior for a precisão com que conhecemos o segundo. Tenho trabalhado com a equipa do espectrógrafo SOPHIE no seguimento de candida-tos do Kepler e utilizamos esta informação sobre as estrelas para calcular com precisão os raios dos planetas e mesmo para demonstrar que alguns não podem ser planetas.

[AstroPT] – Lideras um programa do HARPS para a observação de estrelas com metalicidade consi-

deravelmente inferior à do Sol com o objectivo de determinar a frequência de planetas em torno das mesmas e as características da respectiva população planetária. Há conclusões que podem já ser extraídas deste programa?

[Nuno Santos] – Sabemos que em estrelas com

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O Observatório de La Silla, no deserto de Atacama, no Chile.

Crédito: ESO

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metalicidade mais elevada a frequência de plane-tas gigantes é maior. Este é um resultado conheci-do desde há vários anos e confirmado por várias equipas, inclusivé a nossa. Trata-se de um resulta-do muito robusto. O nosso programa, por exem-plo, foi realizado há alguns anos utilizando exclu-sivamente o espectrógrafo CORALIE e observou uma amostra de 1000 estrelas escolhidas de for-

ma uniforme.

Entretanto achamos importante quantificar melhor esta correlação com o HARPS. Para o efei-to criamos um programa de observação para uma amostra de 100 estrelas pobres em “metais” (menos de metade da abundância de “metais” no Sol). Confirmámos que a frequência de planetas gigantes nestas estrelas é menor do que nas estrelas com metalicidades semelhantes

à solar ou superiores. No entanto, verificámos também que essa frequência não é tão pequena quanto os estudos que referi poderiam sugerir. Em cerca de 80 estrelas (as únicas da amostra ini-cial de 100 que se mostraram suficientemente estáveis para fazermos observações) descobrimos 3 planetas gigantes, provavelmente 4 com mais um candidato que ainda é preciso confirmar. Isto corresponde a uma frequência de 3.8% a 5%. Com base nos estudos existentes da dita correlação,

seria de esperar uma frequência de apenas 1% ou menos. Por comparação, para estrelas com a metalicidade solar a frequência prevista de plane-tas gigantes é de 3% e para as estrelas com meta-licidade mais elevada pode situar-se entre 20% e 30%. Esta frequência mais elevada do que o espe-rado pode ser devida à elevada precisão do HARPS que permite a detecção de planetas não observados pelos vários projectos que estabele-ceram a correlação com base em dados observa-

cionais. Actualmente estamos a estender esse programa original de 100 estrelas de baixa metalicidade, cujo objectivo era apenas a detecção de planetas gigantes, por forma a explorar a sensibilidade do HARPS, procurando planetas mais pequenos. As observações e os modelos teóricos apontam no

sentido de a correlação entre a metalicidade e a frequência de planetas não se estender para os planetas mais pequenos. É fácil perceber porque tal deve acontecer. Se uma estrela tem elevada metalicidade, a probabilidade de se formar rapi-damente um núcleo planetário maciço, com pelo menos 10 vezes a massa da Terra, no disco proto-planetário que a rodeia, é elevada. Estes núcleos são formados por metais, rocha e gelos, que só existem em abundância nos discos proto-planetários de estrelas com metalicidade elevada. Depois de formado um tal núcleo, este tem massa suficiente para capturar uma atmosfera maciça de hidrogénio e hélio, que são gases muito leves e que escapam facilmente do campo gravitacional de planetas mais pequenos. Este é, em essência, o mecanismo invocado para a formação de plane-tas gigantes pela teoria de “core accretion” que referi anteriormente. Estrelas com metalicidade baixa, por outro lado, dificilmente formam núcleos planetários tão maciços e portanto a for-mação de planetas gigantes é muito menos fre-quente. No entanto, não há razão para tais estre-las não conseguirem formar facilmente planetas mais pequenos como Neptunos, Super-Terras ou Terras. Por esse motivo esperamos encontrar muitos planetas destes tipos nesta amostra.

[AstroPT] – Quantas vezes por ano e durante

quanto tempo observas no Chile? Podes descre-ver resumidamente a rotina de uma noite de observações em La Silla? As observações podem ser analisadas em tempo real ou fazem isso ape-nas “off-line”?

[Nuno Santos] – Tipicamente vou a La Silla uma vez por ano. Tento não ir mais vezes por questões de financiamento e de logística. Normalmente estas estadias têm a duração de 10 a 15 noites dependendo se são observações com o HARPS

(10 dias) ou com o CORALIE (2 semanas). As observações são feitas localmente pois é necessá-rio tomar decisões em tempo real. Assim que obtemos o espectro de uma estrela podemos ver os resultados poucos minutos depois e podemos, em face dos mesmos, alterar a estratégia de

observação, e.g. fazer mais observações da estrela se se detectar algum fenómeno interessante. Por outro lado, o céu pode não estar perfeito para o tipo de observa-ções que fazemos o que obriga a alterar rotinas. Por exemplo, podemos ter de mudar os tempos de exposição ou decidir não observar estrelas mais fracas nessas

noites. O ESO determina que estas obser-vações têm de ser feitas por nós “in loco”, algo que eles designam de observações em “modo visitante”. Tirando estes des-vios da rotina, os procedimentos de observação durante a noite são todos automatizados. No início da noite progra-mamos as observações e o resto do tem-po é passado a monitorizar o processo. De vez em quando saímos para comer qualquer coisa.

[Tens tempo para observar o céu? Qual é a sensa-ção de ver o céu em La Silla? ]

O céu do hemisfério sul é fantástico, muito rico em objectos únicos como as Nuvens de Maga-lhães e o Saco de Carvão. Continuo a olhar para o céu como um astrónomo amador, no sentido apaixonado do termo. No entanto, as minhas acti-vidades amadoras terminaram há muito. Actual-mente a astronomia amadora faz-se de forma

muito diferente do que acontecia quando eu fazia observações, especialmente no que diz respeito aos meios ao dispôr das pessoas interessadas nes-ta área. Nesta altura não tenho tempo para pros-seguir com essas actividades mas compenso isso perfeitamente com a minha investigação.

[AstroPT] – Recentemente foste co-autor de um artigo que descreve a descoberta de novos plane-tas em torno de estrelas moderadamente activas.

Anteriormente estas estrelas eram alvos proble-máticos para a técnica da velocidade radial pelo ruído induzido pela actividade estelar. Como caracterizam este ruído e o eliminam depois nas medições da velocidade radial?

[Nuno Santos] – Tratam-se de estrelas que não

são verdadeiramente activas. Antes, são estrelas que têm ciclos de actividade estelar de origem

magnética, semelhantes ao ciclo solar de 11 anos. O Sol não é uma estrela activa no sentido normal-mente utilizado quando falamos em velocidade radial. O ciclo magnético destas estrelas induz variações na velocidade radial (ruído) de baixa frequência (que varia lentamente com o tempo). O que nós descobrimos é que é possível corrigir esse ruído. Na realidade existe uma relação sim-ples entre a actividade magnética da estrela, que pode ser quantificada através da observação de

um conjunto bem definido de linhas espectrais, e a variação da velocidade radial induzida por esta actividade, e que depende apenas da temperatu-ra efectiva da estrela. Isto permite-nos filtrar das nossas observações uma forma de ruído que há cerca de 3 anos atrás nem se sabia existir, e atin-gir uma maior precisão. Em 2003, comecei um programa próprio de observação de um grupo de 8 estrelas apenas, para tentar detectar este tipo de sinais. Tive o azar de escolher apenas estrelas de tipo espectral K. Sabemos hoje que este tipo de ruído é quase inexistente para estrelas deste tipo espectral. É uma boa notícia. Quer dizer que quando medimos a velocidade radial destas estrelas não precisa-mos de corrigir este efeito. As estrelas de tipo espectral F e G, por seu lado, apresentam níveis

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O espectrógrafo HARPS, um dos instrumentos utilizados pelo Nuno

Santos em La Silla. Crédito: ESO

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Volume 2 Edição 4 EXOPLANETAS

de ruído apreciáveis, e portanto necessitam desta correcção.

[AstroPT] – Há um conjunto de 10 estrelas muito estáveis, sob o ponto de vista da velocidade radial, que estão a ser observadas com o HARPS com uma cadência mais elevada. Os primeiros planetas em torno de 82 Eridani, HD85512 e HD192310 foram já reportados. Qual o objectivo

deste sub-programa? [Nuno Santos] – O objectivo deste programa, liderado pelo Francesco Pepe, consiste em explo-rar ao máximo a precisão do HARPS. Para tal escolheu-se uma pequena amostra de estrelas brilhantes (para as quais é possível obter espec-tros com razão sinal/ruído elevada com exposi-ções modestas) e estáveis em termos de velocida-de radial (isto é com um ruído intrínseco muito pequeno). Todas as estrelas exibem fenómenos que provocam variações na velocidade radial que podem encobrir variações devidas a planetas. As fontes deste tipo de ruído são variadas, e.g., gra-nulação na fotosfera. Um dos membros da nossa equipa, o Xavier Dumusque, estudou este ruído e determinou uma estratégia de observação que permite minimizar os seus efeitos nas medições

da velocidade radial: observar a estrela durante 10 minutos, 3 vezes por noite, de 2 em 2 horas. Nestas condições demonstrou-se que o HARPS consegue atingir uma precisão de 10-20 cm/s nas medições [10 cm/s é a amplitude da variação na velocidade radial do Sol provocada pela Terra]. Não estamos à espera que o HARPS permita detectar planetas semelhantes à Terra e em órbi-tas similares. No entanto, esta estratégia permite aumentar a precisão e detectar planetas substan-cialmente menos maciços do que seria possível em condições normais. O Francesco propôs o seguimento de 10 estrelas utilizando esta estraté-gia. Sacrifica-se o número de estrelas no progra-ma por uma maior cadência nas observações para obter maior precisão. Um dos resultados é parti-cularmente interessante, o HD85512b, a primeira Super-Terra na zona habitável de uma estrela de tipo K. [AstroPT] – Parece uma estratégia semelhante à seguida pelo APF (Automated Planet Finder). Nunca pensaram num projecto semelhante usan-do um clone do HARPS?

[Nuno Santos] – Sim, seria muito interessante. O

A Super-Terra HD85512b, a primeira detectada na zona habitável de um estrela de tipo espectral K. Crédito: ESO, M. Kornmes-

ser

problema é essencialmente de financiamento. Já existe um programa nestes moldes, o HARPS-North, mas este será dedicado quase em exclusi-vo ao seguimento dos candidatos descobertos pela missão Kepler. Por outro lado estamos envol-vidos com o projecto ESPRESSO que vai permitir seguir estrelas com maior precisão que o HARPS utilizando um telescópio muito maior (8.2 metros do VLT vs. 3.6 metros do telescópio do ESO em La Silla).

[AstroPT] – Aí o problema poderá ser obter uma cadência adequada de observações uma vez que o tempo no VLT é muito requisitado.

[Nuno Santos] – A negociação que fizemos com o ESO dá-nos um acesso privilegiado a tempo de observação no VLT. De facto, em face do investi-

mento que o consórcio ESPRESSO está a fazer, o ESO concedeu em retorno 270 noites completas de observação com o VLT ao longo de um período de 3 a 5 anos. O objectivo aí não é o de encontrar planetas de curto período, mas sim Terras na zona habitável das respectivas estrelas hospedei-ras. O trabalho com o HARPS permite caracterizar o tipo de estrelas que deverá ser incluída no pro-grama de observação do ESPRESSO, de acordo com parâmetros como metalicidade, actividade/

estabilidade, existência de outros planetas, etc.

[AstroPT] – A estrela Alfa do Centauro B faz parte do programa anterior. Neste caso têm a concor-rência da Debra Fisher que tem um programa específico para a estrela a partir do Observatório de Cerro Tololo. Qual o estado actual do vosso programa e que precisão conseguem obter para este alvo tão brilhante? Que limites existem actualmente para a massa dos planetas no siste-ma?

[Nuno Santos] – Nunca pensei muito no assunto. Creio que a equipa da Debra Fisher tem uma des-vantagem pois o espectrógrafo que utilizam não tem a precisão do HARPS. [Mas eles tentam com-pensar esse facto aumentando a cadência das observações]. Sim, é um facto. Não sei exacta-

mente em que ponto estão neste momento. Seria interessante descobrir planetas aqui ao lado em Alfa Centauri B, mas não sei se isso justifica um projecto específico para a estrela. Obviamente isto é discutível, trata-se apenas da minha opi-nião. O que é certo é que temos seguido Alfa Cen-tauri B desde há vários anos e até agora não des-cobrimos indícios de planetas no sistema.

[Excluindo uma geometria muito desfavorável, i.e., se os planetas tiverem órbitas quase perpen-diculares à nossa linha de visão, as vossas obser-vações colocam limites muito baixos para as mas-sas mínimas dos planetas, certo?] Sim, a amplitu-de depende naturalmente da distância à estrela, mas, tirando as considerações anteriores, os nos-sos dados apontam para que, se existirem plane-tas, eles serão no máximo Super-Terras.

[AstroPT] – Que futuro prevês para a técnica da velocidade radial? Será possível vencer, pelo menos parcialmente, os limites impostos pela variabilidade intrínseca das estrelas? Que tecno-logias pensas que poderão ser relevantes nos pró-ximos anos? [Nuno Santos] – É difícil de prever. Trabalhamos fundamentalmente em velocidades radiais mas estamos também envolvidos na missão PLA-TO que não foi seleccionada pela ESA mas vai cer-tamente ser proposta, mais competitiva, numa nova oportunidade. Sem a técnica da velocidade radial, a técnica dos trânsitos daria uma informa-ção incompleta sobre os planetas detectados. Na realidade, tirando alguns casos excepcionais, não seria sequer possível confirmar a natureza plane-tária dos trânsitos. O Kepler, por exemplo, tem mais de 1000 candidatos [actualmente 2326] dos quais apenas uns 20 estão confirmados [actualmente 60].

Até onde podemos ir em termos de precisão? Obviamente, se o ruído nas observações fosse “ruído branco” (totalmente aleatório, sem regula-ridades, periodicidades), poderíamos aumentar a nossa precisão fazendo mais observações de cada estrela. Mas pelo menos algumas componentes do ruído não têm esta característica e introduzem

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limitações sérias à técnica. Creio que conseguire-mos ir mais longe com o ESPRESSO, com um telescópio maior e maior cadência, talvez até aos 10 cm/s. Para além disso é complicado. [Uma mis-são espacial dedicada exclusivamente ao segui-mento da velocidade radial de estrelas com pla-netas não seria uma mais valia?] A partir da Terra conseguimos eliminar quase todos os tipos de ruí-do que afectam as medições, incluindo os efeitos devidos aos instrumentos e à atmosfera. Tirando essas fontes, o restante ruído é intrínseco às estrelas pelo que observar da Terra ou do espaço é igual.

[AstroPT] – Dentro de pouco mais de um ano teremos a missão astrométrica GAIA a trabalhar em pleno. Que expectativas tens relativamente a esta missão, nomeadamente no que diz respeito à descoberta de exoplanetas?

[Nuno Santos] – A técnica da astrometria tem uma longa história na detecção de exoplanetas mas pela negativa. Houve vários anúncios de des-cobertas de planetas, a partir de meados do sécu-lo passado, mas nenhum veio a confirmar-se.

Mesmo actualmente, a técnica não permitiu ain-da detectar planetas novos, tendo sido usada fun-damentalmente para estudar a configuração orbi-tal de sistemas múltiplos descobertos pela técnica da velocidade radial. A astrometria tem algumas vantagens relativamente à técnica da velocidade

radial: permite a determi-nação completa das órbi-tas e as massas (reais) dos planetas em torno de uma dada estrela hospe-deira; é insensível ao ruí-do estelar que limita a precisão das medições da

velocidade radial. É com-plementar no sentido em que detecta preferencial-mente planetas maciços distantes das estrelas hospedeiras. A principal desvantagem da astrome-

tria consiste no facto de a detecção de planetas só ser possível para estrelas numa vizinhança pró-xima do Sol.

A missão GAIA vai permitir descobrir muitos pla-netas. Não serão planetas semelhantes à Terra, mas sim planetas gigantes em órbitas com perío-dos longos. Nós estamos também envolvidos na missão e esta é particularmente importante por-que recentemente o investimento na missão SIM, da NASA, um observatório astrométrico dedicado à detecção de exoplanetas em estrelas próximas, foi terminado. Num horizonte próximo de 10 a 20

anos provavelmente não haverá uma missão com o perfil do SIM. Desta forma, apesar de não ser uma missão especializada em exoplanetas, a GAIA será muito importante para a nossa área. Por outro lado, penso que se tivermos uma mis-são como a PLATO e o ESPRESSO em funciona-mento conseguiremos construir um catálogo de estrelas na vizinhança do Sol com planetas poten-cialmente habitáveis. Esse catálogo será o ponto de partida para uma missão astrométrica do tipo do SIM, focada em exoplanetas, que permitirá então caracterizar os sistemas planetários desco-bertos. Esse catálogo é, no fundo, o objectivo principal do nosso trabalho. Luís Lopes

Desenho conceptual do espectrógrafo ESPRESSO, montado na sala do foco Coudé de um dos

telescópios do VLT. Crédito: Consórcio ESPRESSO

No nosso Sistema Solar, os planetas orbitam o Sol

no mesmo plano.

Pensava-se que isso seria raro no Universo.

No entanto, recentemente uma equipa de investi-

gadores do Centro de Astrofísica da Universidade

do Porto (CAUP) e do Observatório de Genebra

analisou uma amostra de 800 estrelas estudadas

com o HARPS, e comparou com 150 mil estrelas

estudadas pelo observatório espacial Kepler.

Pegando nesses dados, a equipa fez uma simula-

ção para 100 milhões de sistemas planetários

com as características previstas pelo censo do

HARPS.

A conclusão a que chegaram é que planetas orbi-

tando no mesmo plano devem ser a norma na Via

Láctea, e não a excepção.

Leiam os detalhes no artigo no CAUP, aqui.

O artigo científico pode ser lido, aqui.

[NR: Veja os vídeos aqui]

Carlos Oliveira

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Portugueses descobrem que Sistema Solar é a regra ? Portugueses descobrem que Sistema Solar é a regra ?

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Uma equipa de investigadores do Centro de Astrofísica da Uni-versidade do Porto (CAUP) e do Observatório de Genebra, analisou dados do espectrógra-fo HARPS (ESO) e do satéli-te Kepler (NASA), demostrando que as órbitas de outros siste-mas planetários são alinhadas, tal como acontece no nosso Sis-tema Solar.

A procura de exoplanetas faz-se

hoje essencialmente por dois métodos distintos: método da velocidade radial e o método de trânsito. Existe uma diferença signi-ficativa quando estes dois métodos são aplicados:

Um planeta pode ser detetado pela variação da velocidade radial da estrela mesmo quando a órbita está inclinada em relação à nossa linha de visão. No entanto, para um planeta transitar, o plano da sua órbita tem de estar quase perfeita-mente alinhado com a Terra, e o mesmo é verda-

de para um sistema de dois ou mais planetas. Isto significa que se observamos vários planetas a transitar em um sistema planetário as suas órbi-tas farão ângulos muito pequenos entre si.

Neste trabalho agora publicado foram simulados 100 milhões de sistemas planetários com as características previstas pelo censo do HARPS e com dispersão variável dos planos orbitais. A simulação calculou as frequências com que ocor-

rem trânsitos, em particular duplos trânsitos.

Os resultados foram comparados com os dados obtidos pelo Kepler e concluiu-se que são compa-tíveis apenas nos sistemas com um plano orbital comum, ou seja, em que as órbitas dos planetas estão inclinadas menos de 1 grau entre si.

Os resultados agora publicados são muito impor-tantes para a compreensão do mecanismo de for-mação e evolução de planetas extrassolares, mos-tra que as órbitas planetárias são predominante-mente alinhadas, reforçando a ideia que os plane-tas formam-se num disco em redor das estrelas e limitam muito a sua evolução dinâmica, os encon-tros violentos entre planetas são muito raros. A ordem que encontramos no nosso sistema solar é

afinal uma regra. O primeiro autor do artigo, Pedro Figueira (CAUP) comenta que: “estes resultados mostram-nos que a maneira como o Sistema Solar se formou deve ser comum. A sua estrutura é a mesma que a dos sistemas planetários que estudámos, isto é, com os planetas a orbitarem todos aproximadamente no mesmo plano.”

Mais informações:

Astronotícia do CAUP

Artigo Científico

Simulação de órbitas complanares

Simulação de órbitas não complanares

CAUP

Órbitas de exoplanetas sugerem que Sistema Solar é a Órbitas de exoplanetas sugerem que Sistema Solar é a

norma norma

Em Agosto de 2010, demos a notícia que tinham sido descobertos 7 planetas em órbita de uma estrela do tipo do Sol. Leiam aqui e aqui.

Agora, uma nova revisão dos dados parece dar a entender que o sistema planetário que rodeia a estrela HD 10180, terá 9 planetas!

Será assim muito parecido ao nosso. A estrela HD 10180 encontra-se a cerca de 127 anos-luz de distância. 5 planetas deverão ter massas similares a Neptu-no. Um outro planeta deverá ter uma massa semelhante à de Saturno.

Os 3 outros planetas deverão ser mais pequenos e menos massivos, com massas estimadas de 1,3, 1,9 e 5,1 vezes a massa da Terra. Também deve-rão ter períodos de translação mais curtos (1,2, 10 e 68 dias), estando assim mais perto da estre-la. Note-se no entanto, que estes são planetas candi-datos, ainda não confirmados.

Leiam mais detalhes, aqui, aqui, e aqui. [veja os vídeos aqui] Carlos Oliveira

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EXOPLANETAS Abril 2012

Estrela como o Sol pode ter 9 planetas! Estrela como o Sol pode ter 9 planetas!

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Volume 2 Edição 4 EXOPLANETAS

Em Dezembro do ano passado, o CAUP dava-nos esta notícia: “Esta equipa detetou dois candidatos a plane-tas à volta da estrela KIC 05807616 (ou KOI 55), uma sub-anã do tipo B. Esta estrela é extrema-mente quente (com a temperatura à superfície a exceder os 27 450 ºC) e é basicamente o núcleo exposto de uma antiga gigante vermelha. Os planetas KOI 55.01 e KOI 55.02, com respeti-vamente 0,76 e 0,87 vezes o diâmetro da Terra, foram detetados através de asterossismologia, uma técnica que mede as oscilações natu-rais das estrelas (algo seme-lhante a sismos nas estrelas). Estas oscilações provocam variações no brilho da estrela e tornam possível “observar” a sua estrutura interna. Ao medir estas oscilações, a equipa encontrou duas variações periódicas de brilho, com períodos de 5,8 e 8,2 horas res-petivamente, oscilações dema-siado lentas para terem origem na estrela em si. Um dado surpreendente acer-ca destes candidatos a planetas é a distância a que se encon-tram da estrela – cerca de 900 mil e 1,14 milhões de quilóme-tros da estrela (64,5 e 50 vezes

mais próximos que Mercúrio está do Sol, respetivamente). A ser confirmada a existência destes planetas, significa que estes seriam gigantes gasosos, que terão sido atraídos para dentro da estrela na fase de gigante vermelha, mas massi-vos o suficiente para não serem completamente consu-midos. Quando a fase de gigan-te vermelha da KIC 05807616 acabou, há cerca de 18 milhões de anos, o núcleo sólido desses planetas sobreviveu ainda intacto.”

Agora, um novo estudo sugere que esses 2 planetas serão fracturas de um planeta como Júpiter que se partiu ao aproxi-mar-se demasiadamente da

estrela. Originalmente poderá ter havi-do um planeta gigante gasoso 5 vezes mais massivo que Júpi-ter. Ao se aproximar da estrela, perdeu todo o gás, e ficou

somente o seu núcleo rochoso. Ao continuar a aproximar-se, esse núcleo partiu-se em vários bocados do tamanho da Terra. A hipótese também diz que poderão haver outros pedaços de núcleo em órbita da estrela, e por isso será possível virmos a detectar outros pequenos planetas a orbitarem essa

estrela. Mais observações e estudos são precisos…

Leiam este artigo, e o artigo científico.

Carlos Oliveira

Planetas em órbita de KIC 05807616 poderão ser um Planetas em órbita de KIC 05807616 poderão ser um

Júpiter partido? Júpiter partido?

Há muito que Gliese 667 cC é um dos «suspeitos» de pertencer ao ainda restrito clube dos planetas teoricamente capazes de sustentar vida, mas des-ta vez o anúncio dos astrónomos é mais peremp-tório: esta super-Terra – sugerem novos dados recolhidos por cientistas das universidades de Gottingen e da Califórnia – não só está dentro da chamada zona habitável (isso já se sabia) como se encontra «não nos limites, mas mesmo no meio». A frase é de Steven Vogt, um astrónomo da Uni-versidade da Califórnia e conhecido caçador de planetas.

Um chef de cozinha diria que o planeta Gliese 667 Cc está mesmo au point: nem demasiado perto (a água evaporaria) nem demasiado longe (congelaria). Só nos falta «provar» a mistela e confirmar se tem o «sabor» que promete. Mas cheira bem!

Esta Terra em potência orbita a Gliese 667 C. Este é o nome de uma estrela anã vermelha, classe M,

muito vulgar no Universo, com 31% da massa do Sol e 0,3% da luminosidade. A Gliese 667 C per-tence a um sistema estelar triplo e encontra-se a 22 anos-luz da Terra na direção da constelação do Escorpião.

À escala cósmica, é como se vivesse num aparta-

mento situado no mesmo andar que nós.

O planeta recebe a mesma quantidade de energia que a nossa Terra do Sol, pelo que é perfeitamen-

te lógico supor que as temperaturas devem ser igualmente amenas. Gliese 667 C está a pouco mais de 12 por cento da distância a que a Terra se encontra da nossa estrela – o que é excelente, uma vez que se trata de uma estrela anã verme-lha, muito mais pequena e ténue. Sendo assim, garante Vogt, as condições à superfície permitem

a existência de água em estado líquido.

Não podemos ter a certeza quanto à existência de

vida, mas se um dia tivermos tecnologia para enviar uma nave espacial numa viagem de 22 anos-luz, então será este o planeta de destino.

Mesmo que não consigamos descobrir vida nos próximos anos, o simples facto de existir um pla-neta rochoso num sistema triplo (uma anã verme-lha, duas laranjas) pobre em metais poderá obri-gar-nos a rever o que sabemos atualmente sobre os processos de formação planetária.

E se tivermos em conta que a maioria das estrelas no Universo são deste tipo (anãs vermelhas, clas-se M) quantos mundos rochosos se poderão ter formado onde nunca esperaríamos encontrá-los?

Estamos cada vez mais próximos de conseguir a descoberta do século – é ainda uma gran-de fezada, mas custa-me acreditar num Universo onde a vida seja apenas um milagre irrepetível. É costume dizer-se que encontrar um planeta nestas condições é o Santo Graal dos astrobiólo-gos. Acho que a maioria preferia deixar cair todas as letras e ficar apenas com o G, e referir-se à descoberta de um exoplaneta habitável como o ponto G da astrobiologia. É menos medieval, mais sexy e inspirador, e igualmente difícil de encon-trar. Marco Santos

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EXOPLANETAS Abril 2012

Senhoras e senhores, um planeta habitável Senhoras e senhores, um planeta habitável

Um hipotético pôr do Sol visto a partir da super-Terra Gliese

667 cC. A estrela mais brilhante do céu é a anã vermelha Glie-

se 667 C, que faz parte dum sistema estelar triplo (Crédito:

ESO/L. Calçada)

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Volume 2 Edição 4 EXOPLANETAS

A nossa Galáxia poderá estar cheia de planetas “free-

floating“, ou seja, planetas que andam pela galáxia sem orbita-

rem qualquer estrela. O núme-ro de “planetas-órfãos” pode

até ser significativamen-te maior que o número de estrelas. Alguns desses planetas podem até ter vida bac-teriana…

Pelo menos, é o que diz este artigo da Univer-sidade de Stanford.

Carlos Oliveira

Planetas errantes Planetas errantes

Planetas a fugir… Planetas a fugir…

Já no passado falamos de estrelas que são expelidas pelo espaço a grande velocidade, como Alpha Camelopardali, devido a supernovas perto, como Zeta Ophiuchi, ou devido à passagem por perto do bura-co negro supermassivo no cen-tro da Galáxia, como HE 0437-5439.

Agora, simulações de computa-dor mostram que planetas pró-ximos da estrela podem tam-bém ser levados juntamente com a estrela expulsa, e assim

esses planetas poderem ir junta-mente com a estrela numa viagem quer pela Galáxia ou até para fora da Galáxia. Alguns destes plane-tas poderão até sair da órbita da estrela, e tornarem-se planetas-órfãos, viajando sozinhos pelo Universo.

Carlos Oliveira

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ASTRONÁUTICA Abril 2012

DeltaDelta--IV lança NROLIV lança NROL--25 25

Um foguetão Delta-IV-M+(5,2) colocou em órbita uma nova

missão militar para os Estados Unidos. O lançamento da missão NROL-25 ‘Altair’ teve lugar às 2312:57UTC do dia 3 de Abril de 2012 a partir do Complexo de Lançamento SLC-6 da Base Aérea de

Vandenberg, Cali-fórnia. Esta foi a primeira utilização desta versão do foguetão Delta-IV.

A verdadeira natu-reza da carga a bor-do da missão não foi revelada pelo NRO (National

Reconaissance Offi-ce), mas o novo satélite foi colocado numa órbita retró-grada com uma inclinação de 123º. No entanto, e devi-do à peculiaridade da sua órbita, crê-se que este será o

segundo de uma nova geração de satélites de obser-vação por radar. Imagem: ULA

Rui Barbosa

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Volume 2 Edição 4 ASTRONÁUTICA

EUA preparam escudo de defesa para lançamento norteEUA preparam escudo de defesa para lançamento norte--coreano coreano

Os Estados Unidos estão a activar o seu escudo de defesa global anti-míssil em antecipação do lança-mento anunciado pela Coreia do Norte.

A Coreia do Norte anunciou que irá levar a cabo

no dia 15 de Abril o lançamento do satélite cientí-fico Kwangmyongsong-3 utilizando o foguetão Unha-3 a partir do Centro de Sandae-p’o, tam-bém denominado Tongchang-ri. No entanto, a maior parte dos países vê este lançamento como um teste de um míssil balístico intercontinental com a capacidade de atingir o território norte-

americano.

As notícias mais recentes indicam que os Estados

Unidos estão a activar o seu escudo de defesa anti-míssil com a inclusão de sensores de monito-rização electrónica, colocação de embarcações com sistemas de intercepção e activação de redes de radar em zonas próximas da Península Corea-

na e no Pacífico Ocidental.

Segundo fontes anónimas, três embarcações de intercepção localizadas perto do Japão e das Fili-pinas estão prontas para abater o míssil norte-

coreano caso os sensores localizados em órbita, no mar ou em terra venham a determinar que a trajectória do míssil se dirija para os Estados Uni-dos ou para algum dos seus aliados. O primeiro estágio do Unha-3 pode cair no Mar Amarelo per-to da Coreia do Sul e o segundo estágio poderá cair próximo da costa das Filipinas. Entretanto continuam os preparativos para o lan-

çamento que certamente será seguido com aten-

ção por especialistas iranianos cujos foguetões

são derivados de tecnologia trocada com a Coreia

do Norte.

Rui Barbosa

Resolvido mistério com cerca de 40 anos Resolvido mistério com cerca de 40 anos

Imagens recentes da sonda

lunar norte-americana Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) permitiram esclarecer um mis-tério com cerca de 40 anos sobre o que teria acontecido à sonda lunar soviética Luna-23.

A Luna-23 foi lançada às 1430:32UTC do dia 28 de Outu-bro de 1974 por um foguetão Proton-K/D a partir da Platafor-

ma de Lançamento PU-24 do Complexo de Lançamento LC81 do Cosmódromo de Baikonur. A sua missão era a de recolher amostras da superfície lunar no Mare Crisium e trazê-las de

volta para a Terra. No entan-to, um problema então des-

conhecido levou à perda de contacto com a sonda três dias após a alunagem e sem esta ter conseguido realizar as suas tarefas na superfície da Lua.

As imagens agora obtidas pela LRO mostram que a Luna-23 terá tombado sobre um dos

seus lados, impedindo assim a finalização com sucesso da sua missão. Na imagem é visível o módulo de regresso à Terra ainda no topo da sonda. Outras imagens mostram também a sonda Luna-24 que lançada a 9

de Agosto de 1976 iria alunar a cerca de 2 km da Luna-23 e realizar a sua missão,colocando

também um ponto final no programa de exploração lunar não tripulado da União Soviéti-ca. Imagem: NASA/Goddard/Arizona State University Rui Barbosa

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ASTRONÁUTICA

A Coreia do Norte organizou uma visita à platafor-ma de lançamento onde se situa nesta altura o foguetão Unha-3 com o satéli-te Kwangm-yongsong-3, mostrando de seguida um modelo do satélite que pretende colo-car em órbita no próximo dia 14 de Abril para comemo-rar o 100º ani-versário do nascimento de Kim Il-Sing, fundador da

Coreia do Norte mostra UnhaCoreia do Norte mostra Unha--3 e 3 e

KwamgmyongsongKwamgmyongsong--3 3

Abril 2012

UnhaUnha--3: foguetão pacífico ou míssil ameaçador? 3: foguetão pacífico ou míssil ameaçador?

Aproximamo-nos a passos lar-gos da abertura da janela de lançamento para a missão do foguetão norte-coreano Unha-3. Apresentado ao mundo no passado dia 8 de Abril, muito já se tem conjecturado sobre o

verdadeiro objectivo deste lan-çamento. Se por um lado a Coreia do Norte se esforça em reforçar as suas declarações sobre os objectivos pacíficos do Unha-3, muitos países refe-

rem a propaganda do regime norte-coreano que procura insistentemente esconder o seu verdadeiro objectivo de desenvolver um meio de trans-porte capaz de enviar armas de destruição maciça a meio mun-

do de distância.

De facto, a Coreia do Norte está impedida por várias reso-luções das Nações Unidas de desenvolver tecnologias que sejam aplicadas no desenvolvi-

mento de mísseis balísticos intercontinentais. Por outro lado, a Coreia do Norte sempre fez tábua rasa dessas resolu-ções, fazendo salientar o seu direito legítimo ao desenvolvi-mento destas tecnologias

como forma de garantir a sua independência e segurança.

No jogo politico-estratégico que se desencadeia na penín-sula coreana, a propaganda dos dois blocos ainda tecnica-

Coreia do Norte abastece Coreia do Norte abastece

UnhaUnha--3 3

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Volume 2 Edição 4 ASTRONÁUTICA

mente em guerra vai tentando marcar pontos para ambos os lados numa situação que se torna mais alarmante ou se saber que nas comemorações do 100º aniversário de Kim Il-Sung, a Coreia

do Norte deverá levar a cabo mais um ensaio nuclear.

Então surge a ques-tão:O que é o Unha-3 – um foguetão pacífi-co ou um míssil amea-çador? Na verdade é um pouco de ambos. Recentemente, Ryu

Gum Chol, Director Executivo da Exploração Espacial no Departamento de Tecnologia Espacial da Coreia do Norte, referiu que o Kwangmyong-song-3 pesava somente 100 kg e que para uma arma, este peso seria pouco eficaz. Por outro lado, sublinhou que o lançamento de um míssil balís-

tico intercontinental necessita-ria de uma tecnologia mais avançada e que não teria lugar

de uma posição fixa. Ora, a refe-rência à massa do Kwangm-yongsong-3

como forma de justificar a veia pacífica desta lançamento pode levar em erro, pois um míssil balístico

de dois estágios baseado no Unha-3, teria uma capacidade de carga muito superior a 100

kg. Sabendo que os Estados Unidos possuem ogivas nuclea-res com uma massa de cerca de 100 kg e admitindo que a Coreia do Norte ainda não foi capaz de fabricar ogivas deste tipo, logo este míssil desenvol-vido a partir do Unha-3 poderá ser utilizado para o transporte destas ogivas mais pesadas. A

referência à necessidade de se proceder a um lançamento a partir de uma posição móvel para se justificar a natureza militar de um vector deste tipo, também é enganadora. Tanto a União Soviética (R-7, etc.) como os Estados Unidos

(Redstone, Atlas, Titan, etc.) desenvolveram mísseis balísti-cos intercontinentais que eram lançados a partir de posições fixas.

No tabuleiro do jogo estratégi-co que se pratica na Ásia, os próximos dias poderão vir a ser o rebentar de uma panela de

pressão ou o silvo da válvula de escape de uma situação políti-ca que se arrasta há décadas e que representa o último res-quício de uma guerra fria que baseada numa doutrina nuclear, manteve um instável equilíbrio desde a Segunda Guerra Mundial. Imagem: People’s Daily Rui Barbosa

Fontes norte-coreanas indica-ram que os especialistas come-çaram o processo de abasteci-mento do foguetão Unha-3 cujo lançamento está previsto para ter lugar entre 12 e 14 de Abril. O Unha-3 é um lançador a três estágios que consome propo-lentes hipergólicos (UDMH/N2O4). Os motores que equi-pam o lançador são mais

potentes dos que foram uti-lizados em Abril de 2009 para o lançamento do Unha-2. Também o actual lança-dor será ligeiramente mais comprido do que o Unha-2 e a sua potência no lança-mento terá sido aumentada de 1137 kN para 1312 kN. Imagem: People’s Daily Rui Barbosa

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ASTRONÁUTICA

Um grupo de ratos voltou à Terra após a mais lon-ga missão envolvendo animais no espaço. Os ratitos estiveram 91 dias na Estação Espacial Internacional, para se estudar a diminuição da estrutura óssea em micro-gravidade. Os astronautas perdem muita estrutura óssea nas viagens ao espaço. Perdem cerca de 25%. Na Terra, os ossos são empurrados pelos múscu-los contra a força da gravidade. Essa força mecâ-nica preserva a massa óssea. Em micro-gravidade, essa força é muito mais fraca, levando à degene-ração da massa óssea. Para lutar contra isso, os astronautas fazem muito exercício na Estação Espacial, e tomam suplemen-tos de cálcio. Mas mesmo assim não é suficiente.

Esta experiência com 6 ratitos, permitiu tes-tar uma nova terapia para regeneração de ossos no espaço. 3 ratos foram geneticamente modifi-cados para aumentar o factor de crescimento pleiotrophin (PTN), uma proteína envolvida no desenvolvimento do osso. Os ratos com extra PTN perderam 3% de massa óssea, contra os 41,5% de redução nos ossos dos outros ratos. Esta terapia poderá ter aplicações tanto para astronautas em futuras viagens espaciais, como para casos de osteoporose ou fragilidade dos ossos na Terra.

Leiam aqui, aqui, e aqui. Carlos Oliveira

Abril 2012

Ratos no espaço Ratos no espaço

O que é o KwangmyongsongO que é o Kwangmyongsong--3? 3?

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Volume 2 Edição 4 ASTRONÁUTICA

A Coreia do Norte prepara-se para lançar o satéli-te artificial Kwangmyongsong-3 que foi definido como sendo um satélite científico. Porém, muitos

analistas duvidam da verdadeira utilidade do satélite se ele alguma vez atingir a órbita terres-tre.

Já muito se tem especulado sobre o verdadeiro objectivo deste lan-çamento norte-coreano. O fogue-tão Unha-3, uma versão melhora-

da do foguetão Unha-2 utilizado em Abril de 2009 para tentar

colocar em órbita o satélite Kwangmyongsong-2, é nesta altu-ra um foguetão espacial mas também um meio para testar a tecnologia que no futuro poderá ser utilizada para o desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental. Assim, o Kwangmyong-song-3 poderá ser apenas uma fachada para um teste militar da Coreia do Norte que segundo algumas fontes sul-coreanas, se prepara também para realizar um novo teste atómico. Nesta altura

a Coreia do Norte está ainda a muitos anos de conseguir «miniaturizar» um dispositivo nuclear (a verdadeira preocupação do mundo ocidental) e assim a verdadeira utilidade do Unha-3 (ou do míssil Taepodong-2) para o transporte destes dis-positivos é actualmente quase nula.

Vários observadores têm tentado explicar o saté-lite Kwangmyongsong-3, havendo mesmo quem se refira ao satélite como apenas uma caixa oca

sem qualquer utilidade. De facto, torna-se compli-cado fazer a autópsia do satélite sem se conseguir ver o seu interior e os dispositivos protuberantes

pouco ajudam na análise, poden-do no entanto tratar-se de senso-res e câmaras de observação. A Coreia do Norte referiu já que o satélite será utilizado como um

posto de observação meteoroló-gica, fornecendo também dados

sobre os recursos naturais do país. O satélite deverá ser coloca-

do numa órbita polar, havendo ainda alguma con-fusão sobre a possibilidade da sua sincronização com o Sol.

Coberto por painéis solares fixos, o satélite não têm qualquer meio de propulsão ou de correcção de atitude próprio, podendo no entanto estar equipado com um mastro que após a sua entrada em órbita seja colocado em posição fornecendo

assim um gradiente de gravidade para estabilizar o satélite. Segundo fontes norte-coreanas as suas dimensões são 1372 x 602 x 732 mm. Imagem: People’s Daily Rui Barbosa

ÚLTIMA HORA: Coreia do Norte perde ÚLTIMA HORA: Coreia do Norte perde

KwangmyongsongKwangmyongsong--3 3

A Coreia do Norte levou a cabo o lançamento do foguetão Unha-3 com o satélite Kwangmyong-song-3. O foguetão desintegrou-se cerca de 60 segundos

após a ignição e os seus destroço ter-se-ão despe-nhado no mar. O lançamento teve lugar ás 2239UTC do dia 12 de Abril. Rui Basrbosa

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ASTRONÁUTICA

Transportado às costas de um avião Boeing-747 modificado (Shuttle Carrier Aircraft), o vaivém espacial Discovery chegou ontem ao aeroporto Dulles, em Washington DC, após dar várias voltas a baixa altitude à capital do país, permitindo foto-

grafias fantásticas. O vaivém espacial Discovery irá para exposição no Steven F. Udvar-Hazy Center do Smithsonian National Air and Space Museum em Chantilly, Vir-ginia. [ver os vídeos aqui]

Carlos Oliveira

Vaivém Discovery chega a Vaivém Discovery chega a

Washington DC Washington DC

Abril 2012

Sobrevoando

Washington DC

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Volume 2 Edição 4 ASTRONÁUTICA

A Rússia levou a cabo o lançamento do veículo de

carga Progress M-15M. O lançamento da missão ISS-47P no âmbito do programa da estação espa-cial internacional teve lugar às 1250:24UTC e foi levado a cabo por um foguetão Soyuz-U a partir da Plataforma de Lançamento PU-6 do Complexo de Lançamento LC31 do Cosmódromo de Baiko-nur, Cazaquistão.

Com uma massa no lançamento de 7.290 kg, o Progress M-15M transporta mantimentos, ar, oxi-génio, água, combustível, experiências e equipa-

mento para os membros da actual Expedição a bordo da estação espacial internacional.

A acoplagem com a ISS deverá ter lugar com o módulo Pirs no dia 22 de Abril. Imagem: RKK Energia Rui Barbosa

Rússia lança Progress MRússia lança Progress M--15M 15M

Segundo a agência de notícias russa ITAR-TASS que citam fontes sul-coreanas, a Coreia do Norte pode estar a enveredar esforços para uma segun-da tentativa de lançamento de um satélite nos próximos dias. Os dados sul-coreanos baseiam-se aparentemente em imagens via satélite que mos-tram um aumento de actividade na Estação de Lançamento de Satélites de Sohae. Aparentemente o segundo foguetão terá sido transportando juntamente com o primeiro fogue-tão Unha-3 a 23 de Março. O primeiro veículo foi lançado a 14 de Abril tendo explodido pouco depois do lançamento. O segundo foguetão encontrar-se-á no edifício de integração, sendo preparado para a missão que poderá assim com-

pensar o falhanço do lançamento do satélite Kwangm-yongsong-3. Rui Barbosa

Está a Coreia do Norte a preparar o Está a Coreia do Norte a preparar o

KwangmyongsongKwangmyongsong--4? 4?

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ASTRONÁUTICA

A International Launch

Services levou a cabo uma nova missão comer-cial ao colocar em órbita o satélite de comunica-ções YahSat-1B. O lança-mento teve lugar às 2218:13UTC do dia 23 de Abril de 2012 e foi levado

a cabo por um foguetão Proton-M/Briz-M a partir

da Plataforma de Lança-mento PU-39 do Comple-xo de Lançamento LC200 do Cosmódromo de Bai-konur, Cazaquistão.

O satélite YahSat-1B é o segundo satélite cons-truído para a Al Yah Satellite Communications Co. (Yahsat), do Abu Dha-

bi, por uma equipa indus-trial constituída pela EADS Astrium e pela Thales Alenia Spa-ce (TAS) que são ambas responsáveis por um con-trato que inclui dois saté-lites e os respectivos seg-mentos de solo associa-

dos. O primeiro satélite, o YahSat-1A (37392 2011-016A), foi lançado com sucesso por um foguetão Ariane-5ECA no dia 22 de Abril de 2011 (juntamente com o satéli-

YahSatYahSat--1B em órbita 1B em órbita

Abril 2012

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Volume 2 Edição 4 ASTRONÁUTICA

A agência espacial indiana ISRO levou a cabo com sucesso o lança-mento do satélite de observação e de recursos terrestres RISAT-1. O lançamento foi levado a cabo às 0015UTC do dia 26 de Abril de 2012 a partir da Plataforma de Lan-çamento FLP do Centro Espacial Satish Dawan localizado na Ilha de Sriharikota pelo foguetão PSLV-C19 (XL). Esta foi a terceira utilização desta versão do PSLV. O RISAT-1, com uma massa de 1.858 kg no lança-mento, será utilizado para a monitorização de

colheitas e previsão de inundações, e estando equipado com um radar SAR de banda C, dará à Índia a capacidade de observação 24 horas por dia em qualquer condição atmosférica. O satélite será coloca-do numa órbita a uma altitude de 480km, utilizando posteriormente os seus próprios meios para elevar a sua altitude orbital até aos 536 km de altitude. A inclinação orbital será de 97,552º.

Imagem:ISRO Rui Barbosa

Índia lança RISATÍndia lança RISAT--1 1

te Intelsat New Dawn às 2137UTC desde o Com-plexo de Lançamento ELA3 do CSG Kourou, Guia-na Francesa). O satélite YahSat-1B estará opera-cional na órbita geossíncrona a 47,5º longitude Este ou a 50,5º longitude Este.

Tendo por base a plataforma Eurostar E3000 da Astrium, o YahSat-1B tem uma massa de 6.050

kg no lançamento e será capaz de gerar 14 kW de potência no final da sua vida útil de 15 anos. O satélite está equipado com uma carga comercial múltipla em banda Ka (46 repetidores) para for-necer serviços de banda larga ao Médio Oriente e países africanos, além de uma carga de banda Ka governamental.

A estrutura do satélite é composta por duas uni-dades – um módulo comercial e um módulo de serviço. O módulo Eurostar E3000 genérico possui

quatro tanques idênticos (dois de MMH e dois de NTO) para alimentar o motor de apogeu, além de módulos que albergam os propulsores principais e redundantes, tanques de hélio e de xénon, um sistema de controlo térmico, um subsistema de

telemetria e comando, e outros elementos. A electricidade que é consumida pelo satélite é for-necida por duas asas solares com seis painéis que se encontram armazenadas durante o lançamen-to nas paredes exteriores do satélite e que são totalmente abertas após se proceder à estabiliza-ção nos três eixos espaciais do satélite na órbita estacionária (o painel mais afastado de casa asa é

aberto logo após a separação do satélite do está-gio Briz-M). Na órbita de transferência inicial e nas fases de eclipse, a energia é fornecida por uma baterias de iões de lítio. Para o satélite Yahsat-1B a Astrium forneceu a plataforma, além de montar e testar o satélite. A TAS forneceu a carga de comunicações e esteve encarregue de determinar o lançador. O lança-mento e as fases orbitais iniciais foram monitori-zadas a partir do Centro de Controlo da Astrium, Toulouse, enquanto que a fase de testes orbitais foi levada a cabo pelo Centro de Controlo da Yah-Sat no Abu Dhabi, apoiado pela Astrium em Tou-louse. Rui Barbosa

astroPT

O projecto astroPT faz hoje 5 anos. E faz hoje 40 anos que a missão Apollo 16 pousou na Lua.

(21 de Abril)

Carlos Oliveira

40 anos do Apollo 16

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