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Faculdades Integradas Teresa D’Ávila
Edimara Aparecida Gomes da Silva Meirelles
Elen Machado Pereira Rocha
Gabriele Vieira dos Santos
Contribuições do Brincar no Desenvolvimento Infantil:
um estudo de caso.
Monografia Científica apresentada à banca
examinadora como exigência parcial para a
obtenção do título de licenciatura em
Pedagogia das Faculdades Integradas Teresa
D’Ávila – FATEA, sob orientação da Prof.a
Me Carolina Arantes Pereira Barcellos.
Lorena/SP
2007
2
Edimara Aparecida Gomes da Silva Meirelles
Elen Machado Pereira Rocha
Gabriele Vieira dos Santos
Contribuições do Brincar no Desenvolvimento Infantil:
um estudo de caso.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
apresentado às Faculdades Integradas Teresa
D´Ávila – FATEA, como requisito parcial
para obtenção do título de Graduação em
Pedagogia.
Banca: ____/____/______
BANCA EXAMINADORA
Prof.a Me Carolina Arantes Pereira Barcellos
Orientadora (FATEA)
Prof.a Me Jeane Lucas
Avaliadora (FATEA)
Prof.a Me Maria Lucia Runha
Avaliadora (FATEA)
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradecemos a Deus por ser o Norte quando estávamos perdidos,
reconciliação na hora das discussões, Grande responsável por tudo isso e por nos ensinar a
passar pela noite como se estivéssemos passando pelo dia.
Aos meus familiares por serem os construtores desta obra, pois foram ontem as mãos
protetoras e são hoje as mãos que colherão os frutos.
A meu namorado que sofreu todos os tateios educacionais e o estigma de ter de conviver
e competir com meus aprendizados para ser educadora.
Principalmente as meninas kheins1 do Curso de Pedagogia, por todas as nossas
khenzisses2. As minhas amigas que formam o Trio Khein (Gabriele e Elen), vocês foram
tirando as pedras de nosso caminho, plantando flores por onde andamos e principalmente
mostrando que a amizade é a coisa mais significativa da vida.
A Instituição FATEA, por me acolher e me proporcionar momentos de aprendizado,
pois escolhi este lugar como subsídio na busca de meus sonhos. E consecutivamente a
coordenação e todos os professores do Curso de Pedagogia, por nos ensinarem a aprender
junto com vocês.
Em especial agradeço aos educadores Darci Queluz Martins, por ser sempre este lindo
professor (belo livro), a Juraci Conceição de Faria, por mostrar uma Matemática encantadora,
a Maria Cristina Marcelino Bento, por todos os infindáveis abraços que me deu durante este
ano, a Jeane Lucas, pelas correções e por me ensinar a articular pensamentos, e em especial a
Cléa Miranda Gouvêa por me conhecer além do que devia (sua preocupação acabou dando
muito certo) e principalmente por saber falar as coisas certas nas horas certas. Vocês são
realmente professores doces e coloridos; sem dúvida inesquecíveis para mim.
A Gabriele Vieira, por ter me permitido amá-la por todos estes anos e principalmente
por ser minha irmãzinha. Aprendi a cantar: amigas para sempre, três amigas que nasceram
pela fé. Amigas para sempre, para sempre amigas sim, se Deus quiser.
A Elen Machado, por ter me estressado tanto a ponto de ter de buscar novas didáticas
para lhe ensinar um pouco de amizade e Metodologia Científica. Você realmente é
encantadora minha irmãzinha linda. Devolvendo o eu te amo do dia do ônibus; com todas as
letras: eu te amo Khein.
A professora e mestre Carolina Arantes Pereira Barcellos que além de transmitir os seus
1 Alguém que gostamos muitos. 2 Brincadeira, bagunça etc.
4
conhecimentos, a sua responsabilidade e seu companheirismo, transmitiu o real significado da
palavra amigo, pois muitas vezes me ouviu e me aconselhou nos momentos mais difíceis de
minha vida. Você me ensinou muitas coisas, mas afirmo que existem muitos que podem fazer
o mesmo, porém, poucos com sabedoria, experiência de vida e grande dedicação. Por isso,
quero lhe agradecer Khein por todo o aprendizado, mas principalmente pelos valores humanos
que me transmitiu (você sempre sabe do que estou falando)...
Edimara Ap. G. S. Meirelles
Eu agradeço inteiramente a Deus, por esta vitória que nos concedeu, aos meus pais que
sempre torceram por mim, as minhas queridas primas Sara e Vanina que moram no Canadá,
pois sempre me incentivaram.
As minhas amigas Edimara e Gabrielle, que a “nossa amizade permaneça para sempre”.
Ao meu namorado também pela a paciência que teve durante todo este tempo, pois por
causa do tempo era difícil nos encontrarmos.
A Cléa e a Nilce da biblioteca que me incentivaram emprestando livros para que eu
estudasse e prestasse o vestibular.
Agradeço também a Carolina Arantes, nossa orientadora.
Enfim, a todos que torceram e continuam torcendo por mim.
Elen M. P. Rocha
Em primeiro lugar agradeço a Deus por ter me dado esta oportunidade em minha vida,
pois sem sua ajuda e sua força não conseguiria terminar este trabalho.
A todos de minha família que permaneceram ao meu lado em todos os momentos, seja
na alegria e na dor e até quando perdi a pessoa mais querida e amada da minha vida, pois
família é a primeira faculdade, é ela que te ensina o caminho a seguir. Em especial a minha
prima Ane Caroline que teve paciência em meu ouvir, o meu muito obrigado a todos da minha
família.
Mãe, se eu tentasse definir como tu és especial para mim, palavras não teriam fim.
Definir o amor não dá. Então direi apenas obrigada, sei que entenderás. Preciosa és para Deus
e para mim. Mamãe, se Deus escolheu a rosa mais bonita de meu jardim, então posso dizer
que você é o jardim Dele e o meu. Está faltando uma rosa no jardim do meu coração, pois há
um vazio em mim. Sei que foi Deus quem te acolheu, que te levou para enfeitar um jardim
5
que existe no céu, mas eu não consigo encontrar uma rosa que me faça esquecer essa dor.
Porém, dentro de mim ainda posso sentir o perfume que és um pouco de ti. Mãe eu preciso
dizer amo você, não vou te esquecer e que quando no céu te encontrar somente com lágrimas
de amor irei te regar, minha mãe e minha rosa.
Agradeço também ao meu namorado por toda a paciência que teve comigo e por ter se
tornado um anjo que apareceu na hora mais difícil e triste da minha vida. Ele me mostrou que
tanto minha vida quanto o meu amor não tinham morrido, muito obrigada.
A minha sogra e segunda mãe Rosemeire. Muito obrigada por corrigir e me auxiliar
em algumas coisas que tinha dúvidas, por me ouvir quando precisava e por me receber em sua
casa com o maior prazer em ajudar.
Aos meus amigos de trabalho que me deram ajuda no TCC e com conselhos.
As irmãs Elza, Nair, Terezinha, Cléa e a irmã Aparecida, por me mostrarem o
caminho, o que eu realmente queria e me apoiarem nas minhas decisões. Vocês se tornaram
anjos em minha vida. Nada e nem ninguém aparecem em nossas vidas por acaso.
As meninas Elen e Edimara por terem muita paciência em minhas decisões. Aprendi
muito com vocês.
Em especial a minha orientadora, professora e mestre Carolina Arantes Pereira
Barcellos, que pôde transmitir um pouco de seus conhecimentos para nós, pois sem sua ajuda
esse trabalho não iria ser realizado. Também por ter lutado por ele como se fosse seu. Digo
agora que sou sua admiradora e te entendo em suas decisões. Neste trabalho te conheci
melhor, parabéns e te agradeço muito.
Gabriele Vieira dos Santos
6
DEDICATÓRIA
Dedico a todas as crianças que vão muito cedo para as escolas e têm de suportar um
sistema de ensino acelerado e alguns profissionais muitas vezes estressados por causa de
longa carga horária de trabalho. Essas crianças necessitam de uma vida lúdica para terem uma
vida adulta saudável.
Edimara Ap. G. S. Meirelles
Eu dedico as crianças que necessitam de uma vida lúdica, pois não só por causa da falta
de tempo, mas também por não terem motivação por parte dos profissionais e também por
parte dos pais.
Elen M. P.Rocha
Dedico este trabalho a todas as crianças que não tem contato com o mundo do brincar e
aos pais que acham que o brincar não tem importância alguma.
A todos da instituição que trabalho e as irmãs que abriram as portas para o nosso estudo,
pois sem essa abertura nada disso teria chegado ao fim.
Aos meus colegas de sala, que de alguma forma me ajudaram com alguma palavra.
Para Elen, Edimara e Cíntia que me alegravam e me faziam rir quando eu estava triste.
Ao amor de minha vida Marcelo Augusto e a todos da sua família.
A minha família, pois eles fizeram tudo isso se tornar realidade.
Dedico aos meus mestres por me ensinarem a ser apaixonada pelo pequenino ser
humano, que desde pequeno estão dispostos a aprender.
A Cristina Bento pelo carinho e amor que tem pela criança.
Em especial a mulher que me conhecia desde o primeiro mês de gravidez. Ela me
ensinou o que o mais importante na vida é o amor, e por isso dedico a você minha mãe que
agora está ao lado de Deus. Só estou aqui graças a ela.
A professora e mestre Carolina Arantes Pereira Barcellos pelo seu trabalho conosco.
Gabriele Vieira dos Santos.
7
EPÍGRAFE
Um grande amigo.
A todo instante
Amigos pessoas que aparecem em nossas vidas
Às vezes queremos que algumas permaneçam
Para quê?
Não sabemos
Talvez pelo simples modo
De nos fazer companhia
Amigo: palavra que fala de uma pessoa simples
Que nos ajuda em tantas coisas
Única pessoa a qual nos atrevemos
A ser como somos
Temos liberdade total
Para falar-lhe sobre nós
Enfim!
Pessoa que por mais simples que seja
Nos olha com um único objetivo
De nunca nos desapontar
Às vezes penso
Como seria bom ter um amigo assim.
Nossa como gostaria
Para assim
Relembrar o passado
Pensar no presente
E dizer no futuro
“Eu tive um grande amigo”.
FACINI, Alexandre R. Neves (2000)
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RESUMO
O brincar é uma atividade imprescindível no desenvolvimento da criança, e a Educação
Infantil segue um novo rumo embasado na importância do brincar e no oferecimento de
brinquedos e brincadeiras contextualizados às propostas pedagógicas, que possibilitem
aprendizagem e desenvolvimento em múltiplos aspectos. Seguindo essa temática, o projeto
apresenta a questão: quais são as contribuições no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo
da brincadeira na Educação Infantil? Por isso o objetivo é analisar, dentro de um contexto
lúdico, os aspectos cognitivo, social e afetivo de um grupo de crianças em uma brinquedoteca.
A pesquisa visa contribuir à valorização do brincar na Educação Infantil, especificamente no
trabalho com projetos educativos. Para alcançar as proposições deste estudo, optou-se pela
Pesquisa-ação, que é definida como o estudo que visa à resolução de um problema coletivo,
no qual pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo. O desenvolvimento da pesquisa ocorre por meio de
dinâmicas coletivas, atividades educativas direcionadas, com objetivos previamente
determinados, mas ressaltando que o brincar merece espontaneidade e criatividade por parte
das crianças. Reuniões periódicas entre pesquisadores são realizadas para discutir sobre o
andamento da pesquisa, e para compreender sistematicamente a problemática, construindo
perguntas e respostas relativas às ações estabelecidas.
Palavras-chave: brincar, brinquedos, brinquedoteca e projetos.
9
RESUMEN
El jugar es una actividad esencial en el desarrollo del niño, y la educación infantil sigue una
ruta nueva basada en la importancia de los contextualizados de jugar y el oferecimento de
juguetes y trampea a las ofertas pedagógicas, que hacen aprender y el desarrollo posibles en
aspectos múltiples. Después éste temático, el proyecto presenta la pregunta: ¿cuáles son las
contribuciones en el desarrollo del cognitivo, social y afectivo del truco en la educación
infantil? Por lo tanto el objetivo es analizar, dentro de un contexto juguetón, el cognitivo de
los aspectos, social y afectivo de un grupo de niños en un brinquedoteca. La investigación
tiene como objetivo para contribuir a la valuación de jugar en la educación infantil,
específicamente en el trabajo con proyectos educativos. Para alcanzar las ofertas de este
estudio, fue optado a la Investigación-acción, que se define como el estudio que tiene como
objetivo a la resolución de un problema colectivo, en el cual los investigadores y los
participantes representativos de la situación o del problema están implicados en manera
cooperativo. El desarrollo de la investigación ocurre por medio de actividades educativas
dinámicas, dirigidas colectivas, con los objetivos determinados previamente, pero estando
parados hacia fuera que jugarla merece el espontaneidade y la creatividad de parte de los
niños. Las reuniones periódicas entre los investigadores se llevan a través para discutir en el
curso de la investigación, y para entender el problemático sistemáticamente, construyendo a
las preguntas y a las respuestas del pariente a las acciones estabelecidas.
Palavras-chave: para jugar, juguetes, brinquedoteca y projetos.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
Capítulo 1 - O Brincar na Infância 14
1.1 O brincar: um direito infantil 14
1.1.1 Brincando sozinho 28
1.1.2 Brincando com outras crianças 28
1.1.3 Brincando de faz-de-conta 29
1.1.4 Brincando de correr, saltar, pular... 30
1.1.5 Brincando de inventar e experimentar 31
1.1.6 Brincando de jogar e competir 32
Capítulo 2 – Brinquedoteca: um espaço especial para brinquedos,
brincadeiras e jogos 34
2.1. A Brinquedoteca 34
2.1.1 Origem das brinquedotecas 37
2.1.2 Tipos de brinquedotecas 42
2.1.2 O brinquedista 44
2.5. Os Brinquedos 45
2.5.1 Brinquedos e fases do desenvolvimento 46
2.6. Os jogos 48
2.6.1. O jogo e o texto literário 49
Capítulo 3 – Metodologia da Pesquisa-ação 52
3.1 Tipo de estudo: Pesquisa-ação 52
3.1.1 As fases da Pesquisa-ação 52
3.2 Local do estudo 53
3.3 Sujeitos do estudo 54
3.4 Aspectos éticos relacionados à pesquisa 54
3.5 Material e Método 55
3.6 Tipo de análise dos resultados 55
11
Capítulo 4 - Narrativa do caso e discussão dos resultados 56
4.1 O Caso 56
4.2 Diário de bordo 57
4.3. Entrevista com os profissionais da Educação 65
4.4. Entrevista com os pais de V.H. 66
4.5. Análise dos Resultados 67
CONCLUSÕES 70
REFERÊNCIAS 72
ANEXOS
12
INTRODUÇÃO
A brincadeira assume importância fundamental como mantenedora da estabilidade
física e emocional tão indispensável às crianças, pois a partir dela estas exploram suas
potencialidades, possibilitando aprendizagem contínua.
Wajskop (2005, p.19) relata que anteriormente, a brincadeira era geralmente
considerada como fuga ou recreação e a imagem social da infância não permitia a aceitação
de um comportamento infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si.
Nesta época, muitas vezes, as crianças não tinham tempo para brincar e precisavam
ajudar nas tarefas de casa. Ao passo que nos dias de hoje a mídia e os meios de comunicação
oferecem tanta informação que as brincadeiras infantis também perderam a vez.
A infância está sendo diminuída e as algumas crianças estão se tornando pequenos
adultos com muita rapidez; as brincadeiras clássicas estão cada vez mais escassas e vêm
desaparecendo do cotidiano de algumas crianças para dar espaço as novas brincadeiras desta
era, sendo este o principal motivo por convivermos com crianças estressadas e com síndrome
do pensamento acelerado (CURY, 2005, p.58).
Zats; Zats; Halaban (2006, p.15) mencionam que as crianças vão cada vez mais cedo
às escolas e as escolas aceleram seus programas e currículos. A infância é encurtada e o
processo de transformação em adulto ocorre mais e mais cedo (...) como se isso fosse uma
exigência da sociedade em que vivemos. E se as crianças estão indo mais cedo para creches e
escolas, que por sua vez possuem regras, rotinas e tarefas diárias, quando e como elas
brincam? Se as brincadeiras eram vistas como um ato desprovido de grande significância na
vida das crianças, hoje, apesar das diversas mudanças da modernidade, a brincadeira tornou-
se uma atividade imprescindível nos projetos escolares.
Wajskop (2005, p.22) cita que, a partir dos séculos XIX e XX, houve uma maior
aceitação do lúdico na vida das crianças perante idéias propostas pelos teóricos desse tempo,
assim a infância passou a ser mais respeitada e o brincar se tornou mais significativo na vida
das crianças. Houve uma valorização das brincadeiras e dos jogos pedagógicos nas propostas
da Educação Infantil, o que possibilitou o surgimento de uma visão mais ampla aos
educadores.
Segundo Pires (2006), atualmente, existe uma forte tentativa de unir o lúdico à
educação, pois algumas instituições já reconhecem que o brincar é a essência da infância e
que por meio do brinquedo as crianças podem criar, simbolizar, aprender e transmitir a sua
13
realidade. Nesta perspectiva as crianças podem desenvolver-se de maneira livre e longe de
atividades pedagógicas autoritárias e impostas.
Mesmo existindo muita polêmica em relação ao lúdico por parte de algumas escolas e
educadores esse assunto tem sido estudado como uma nova ciência onde o brincar
proporciona a aprendizagem pela via do prazer, da emoção e do afeto. A partir disso a
educação tem discutido o brincar, seguindo um paradigma existencial focado no aprender
brincando e não mais preconiza o brincar por brincar, de acordo com Pires (2006). Assim as
crianças recebem um programa pedagógico que as auxilia no desenvolvimento de seus
potenciais, por meio da brincadeira com seus objetivos.
Com esses estudos, nota-se que a Educação Infantil segue um novo rumo, embasado na
importância do brincar e no oferecimento de brinquedos e brincadeiras contextualizadas à sua
realidade, que possibilitem o desenvolvimento infantil.
Seguindo essa temática, o projeto visa esclarecer a questão: quais são as contribuições
no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da brincadeira na Educação Infantil? E a
reflexão deste projeto caminha para o entendimento do que ocorrem com as crianças durante
o brincar, como as crianças compreendem suas vidas através do brincar, quais brinquedos
permitem esta prática e como a brincadeira promove o desenvolvimento infantil.
O objetivo desta pesquisa é analisar, dentro de um contexto lúdico, os aspectos
cognitivos, sociais e afetivos de um grupo de crianças em uma brinquedoteca. Como proposta
metodológica, será desenvolvida uma Pesquisa-ação e apresentado um estudo de caso para a
obtenção das proposições do estudo e esclarecimento da problemática evidenciada.
No primeiro capítulo, será dissertado sobre a importância do brincar na infância; no
segundo capítulo será abordada a estruturação de uma brinquedoteca, a história dos
brinquedos e uma breve escolha de brinquedos pertinentes a cada período do desenvolvimento
infantil; no terceiro capítulo será apresentado o método e o planejamento da pesquisa-ação. Já
o capítulo destinado à narrativa do caso e à discussão dos resultados da proposta realizada,
fazendo um paralelo entre a literatura e o estudo de caso.
14
Capítulo 1: O brincar na infância
Muitas crianças, atualmente, não brincam devido a outras formas de entretenimento
como o computador, a televisão e o vídeo game, ou ainda, porque a escola tem de acelerar
seus conteúdos e desenvolver múltiplas habilidades em seus educandos. No entanto, o brincar
é um dos direitos fundamentais da criança e é coisa séria. Por meio do brincar a criança se
desenvolve afetivamente, emocionalmente e socialmente.
Consideramos necessário resgatar o brincar como elemento essencial
para o desenvolvimento integral de criança em sua criatividade, em
sua aprendizagem, em sua socialização, enfim, em todos os ambientes
e circunstâncias de sua vida (SANTOS, 2005, p.125).
Neste capítulo são apresentadas referências teóricas sobre a importância de ver o
brincar como um direito infantil e alguns subitens sobre o brincar sozinho, com outras
crianças, o faz-de-conta, o correr, saltar, pular, brincar de inventar e experimentar e o brincar
de jogar e competir.
1.1. O brincar: um direito infantil
Brincar é um direito infantil, porém, pelo fato dos pais precisarem trabalhar para suprir
as necessidades básicas da família, os mesmos acabam por não brincar com seus filhos e
compensar sua ausência com brinquedos e bens materiais; além do que, as crianças ficam em
casa, assistem programas de televisão, brincam com jogos eletrônicos e manipulam o
computador, deixando de lado as brincadeiras.
Na escola há professores que concebem as brincadeiras e os jogos como atividades
extras ao contexto da aprendizagem, ou seja, se as crianças não terminarem a tarefa não
poderão brincar, ou ainda, se a criança traz um brinquedo de casa, logo se salienta de que ali
não é o lugar propício para brincar, diz Parolin (2005).
O brincar não pode ficar reduzido apenas ao dia do brinquedo, ele deve fazer parte do
processo de aprendizagem. A sala de aula é também um espaço para atividades lúdicas, pois,
brincando também se aprende.
Wajskop (2005, p.19) relata que anteriormente, a brincadeira era geralmente
15
considerada como fuga ou recreação e a imagem social da infância não permitia a aceitação
de um comportamento infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si. Nesta
época, muitas vezes, as crianças não tinham tempo para brincar porque precisavam ajudar nas
tarefas de casa. Atualmente a mídia e os meios de comunicação em geral oferecem tanta
informação que as brincadeiras infantis também perderam a vez.
Cury (2003) ainda salienta que, nos dias de hoje, a infância está sendo diminuída e
algumas crianças estão se tornando pequenos adultos com muita rapidez, pois a brincadeira
está cada vez mais escassa e vem desaparecendo do cotidiano de algumas crianças, sendo este
o principal motivo por convivermos com crianças estressadas e com síndrome do pensamento
acelerado (CURY, 2003, p.58).
No entanto, em qualquer época da vida, em especial das crianças, as brincadeiras
devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas; adultos, jovens e
crianças precisam da brincadeira e de alguma forma de jogo, sonho e fantasia para viver
(MALUF, 2000)1.
A brincadeira se faz necessária na vida das pessoas como fonte de saúde física e
mental, pois brinca quem é criança de corpo e alma, e todos, sem exceção, podem e devem
brincar. O brincar faz o adulto usar o imaginário e fazer do mesmo o realizador de seus
desejos e sonhos.
Segundo Didonê (2006), na Educação Infantil, a brincadeira é o mais importante. E
nas atividades físicas, por meio de tarefas lúdicas, os pequenos experimentam diferentes
maneiras de andar, correr, pular e se esticar, aprendendo inclusive a interagir com os colegas.
Assim o brincar se torna um meio de se desenvolver fisicamente.
O verbo brincar nos acompanha diariamente. Brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa, acessível a todo ser humano, de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica. Brincar é: comunicação e expressão, associando pensamento e ação, um ato instintivo-voluntário, uma atividade exploratória que desenvolve o físico, mental, emocional e social da criança e um meio de aprender a viver e não um mero passatempo (VALLE, 2006)2.
Brincando, a criança expressa as suas emoções, internaliza ações do meio para que
mais tarde possa devolvê-las de forma mais apurada e significativa. Por isso, o brincar é, por
razões a serem relatadas a seguir, um ato de suma importância para o desenvolvimento físico,
1 Disponível no artigo eletrônico Brincar na escola. 2 Disponível no artigo eletrônico O Brincar.
16
emocional e social da criança.
Segundo Santúbal (1967) citada por Valle (2006), podemos identificar o brincar em
dois momentos: nas brincadeiras tradicionais, ou seja, no momento em que a criança se insere
em situações simbólicas, e o segundo momento está relacionado à história de vida da criança,
que inspira a brincadeira. Ao estar em contato com conteúdos do passado e do presente, a
criança, através de sua interação na brincadeira, pode dar sentido às suas vivências, e
aprimorar seu desempenho na comunicação e interação.
Para (VALLE, 2006) quando brincamos exercitamos nossas potencialidades,
provocamos o funcionamento do pensamento, adquirimos conhecimento, desenvolvemos a
socialização, cultivamos a sensibilidade, nos desenvolvemos intelectualmente, socialmente e
emocionalmente. Todo aprendizado que o brincar permite é fundamental para a formação da
criança em todas as etapas da sua vida
Brincar e aprender são realidades que fazem parte do reino da liberdade, pois
brincando a criança aprende a viver numa ordem social e num mundo culturalmente
simbólico (AZEVEDO, 2004, p.7).
O brincar é um ato natural das crianças, sendo este ato o mais saudável e uma das
melhores formas de aprendizagem. Ao brincar a criança, sem perceber, se insere e adentra no
universo do real, podendo se colocar muitas vezes no lugar dos adultos, vivenciando no seu
imaginário situações que ainda não tenha maturidade emocional para viver na realidade.
Brincar é coisa séria, e deve ser encarada dessa forma pelos educadores de um modo
geral (PAROLIN, 2005, p.141). Segundo a autora, a criança brinca para se organizar e
principalmente socializar-se. As atividades lúdicas viabilizam que a criança se desenvolva,
aprimorando a linguagem e seus significados, as estruturas do pensamento, a criatividade, a
concentração.
Brincar possibilita ainda oportunidade de explorar os próprios potenciais e
limitações (AZEVEDO, 2004, p.48), ou seja, ao brincar a criança está se desenvolvendo,
recebendo e transmitindo informações, explorando suas habilidades.
O brincar é empregado muito mais como atividade livre do que como instrumento de
estratégia de aprendizagem, diz Azevedo (2004, p.32). Mesmo tendo tanta importância no
desenvolvimento cognitivo, físico e emocional das crianças, o brincar muitas vezes não faz
parte dos projetos pedagógicos de muitas escolas de Educação Infantil, por não ser ainda
reconhecido por sua importância para a aprendizagem lúdica das crianças.
É preciso resgatar o lúdico novamente nas escolas a fim de representar um avanço
para a educação e que possa ser visto como fonte de aprendizagem e desenvolvimento.
17
(AZEVEDO, 2004, p.46-47).
Com isso é imprescindível a atividade lúdica em todos os lugares em que houver
crianças sobre cuidados de adultos conscientes da importância do brincar para a formação
pessoal e social das mesmas.
Encontramos nas obras de Johnson et al (1999) citado por Foresti; Bomtempo;
Antunha; Oliveira (2006, p.33) alguns apontamentos que forçosamente nos fazem a aceitar a
premissa do quanto o brincar é bom.
A brincadeira promove o desenvolvimento de todos os domínios da criança
(...) proporciona o desenvolvimento físico, tanto de habilidades de
coordenação fina como grossa. Quando as crianças brincam ao ar livre, elas
praticam uma série de habilidades motoras, como correr, pular, saltar, rolar
etc. Quando brincam com os brinquedos, elas usam habilidades motoras
finas, juntando as peças dos quebra-cabeças, colorindo, pintando, brincando
de casinha, vestindo e desvestindo bonecas (BOMTEMPO; ANTUNHA;
OLIVEIRA, 2006, p.33).
Brincando, a criança por meio de certas brincadeiras, conscientemente se auto-controla
desenvolvendo habilidades que possibilitam tornar o brincar o ato necessário para o seu
desenvolvimento físico e cognitivo.
Assim, salienta-se que os aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento
afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da
produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender (WEISS,
2000, p.23).
Para Levy (2001) talvez poucos pais saibam o quão importante é o brincar para o
desenvolvimento físico e psíquico do seu filho. A idéia difundida popularmente limita o ato
de brincar a um simples passatempo, sem funções mais importantes que entreter a criança em
atividades divertidas.
A brincadeira deve ser considerada como a aliada da criança em seu desenvolvimento
e não apenas como entretenimento e passatempo. Este ato abriga grande objetivo, pois é um
dos meios principais de expressão, tendo grande importância na vida física e mental de todas
as crianças para seu pleno desenvolvimento, e ao mesmo tempo possibilita que a criança
realize uma investigação sobre as pessoas e as coisas do mundo, segundo Valle (2006).
Para Valle (2006), tanto os pais, quanto os professores, estão acelerando o crescimento
18
comportamental das crianças, inibindo as brincadeiras das mesmas, acreditando que as estão
ajudando, exigindo organização e responsabilidades, fazendo-as serem mais maduras e
modificando assim o ritmo do seu desenvolvimento natural. Quando a criança brinca, está
experimentando o mundo, explorando os lugares, as coisas, conhecendo pessoas, movimentos
corporais e reações frente a suas ações, construindo assim seu conhecimento a partir de suas
vivências, o que possibilita atividades bem mais elaboradas no futuro.
Segundo Pozzatti (2006), que cita o Referencial Curricular de Educação Infantil, ao
brincar a criança apropria-se de elementos da realidade, isto é, ocorre a articulação entre a
imaginação e a imitação da realidade, ou seja, a criança utiliza a realidade como subsídio para
as suas brincadeiras.
Além disso ao brincar, a criança está favorecendo a sua auto-estima, auxiliando na
superação progressiva de suas possíveis frustrações, medos e traumas que as mesmas possam
trazer de acontecimentos do passado.
A auto-estima que a criança tem é, em grande parte, a interiorização da estima e da
confiança que tem por ela mesma. E por isso o adulto precisa confiar e acreditar nas
capacidades de todas as crianças com as quais trabalha, de acordo com o Referencial
Curricular de Educação Infantil, citado por Pozzatti (2006).
Através do simbólico jogo da brincadeira, a criança irá entender o mundo ao
redor, testar habilidades físicas (correr, pular), funções sociais (ser o
construtor, a enfermeira, a secretária), aprender as regras, colher os resultados
positivos ou negativos dos seus feitos (ganhar, perder, cair), registrando o que
deve ou não repetir nas próximas oportunidades (ter mais calma, não ser
teimoso). A aprendizagem da linguagem e a habilidade motora de uma
criança também são desenvolvidas durante o brincar (LEVY, 2001)3.
Brincando com o faz-de-conta, a criança pode experimentar diversas situações que
possibilitem crescer e testar em suas habilidades: físicas (motoras) e sociais, já desenvolvendo
a linguagem oral através da interação com o brinquedo e com as pessoas. Brincando a criança
compreende o mundo ao seu redor modificando o seu modo de ver as situações vivenciadas.
Levy (2001) afirma que hoje é comprovado que bebês que recebem estimulação de
brinquedos, que permitam sua participação ativa através do seu manuseio, não apenas como
observador, desenvolvem mais a inteligência e demonstra maior interesse pelo aprendizado. O
3 Disponível na Revista eletrônica Clube do Bebê.
19
bebê ao manusear brinquedos vivencia a percepção de imagens, pois o objeto tem cor, textura,
forma, proporcionando a ele momentos de conhecimento da realidade e de aprendizagem.
Os pais ao alimentarem a criança, transformando a colher em aviãozinho, ou ao contar
histórias, brincar de esconde-esconde com os objetos, cantarolar, esconder o rosto atrás da
fralda, fazer mímica, etc, ajuda à criança a adentrar no universo lúdico e atribuir sentido à
brincadeira.
A autora relata ainda que a brincadeira permite um extravasar dos sentimentos,
auxilia na reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho
mais satisfatório ao seu desejo (LEVY, 2001)4.
Ao brincar a criança espontaneamente mantém sua atenção ao que está fazendo, ou
seja, na brincadeira e não nos resultados e efeitos que ela lhe proporciona. Através do brincar
a criança assume papéis, expressa idéias, sonhos, fantasias, frustrações, medos, podendo
repensar situações e criar soluções que expressam realização de seus desejos ao término da
brincadeira. O ato de brincar com outras crianças favorece o entendimento de certos
princípios da vida, como o de colaboração, divisão, liderança, obediência às regras e
competição (LEVY, 2001)5.
A autora menciona ainda que a brincadeira em grupo possibilita que a criança entre em
contato com variadas experiências humanas, criando as suas representações mentais diante
das situações que enfrentam durante as ações intrínsecas à brincadeira. A criança que interage
com outras em uma única brincadeira compreende e adapta-se às novas situações por meio da
imaginação. As crianças ao brincarem, estão se preparando para controlar suas atitudes e
emoções dentro de um contexto social, obtendo assim melhores experiências em sua vida.
Para Maluf (2000) na brincadeira em grupo as crianças envolvem-se em uma situação
imaginária na qual cada um poderá exercer papéis diversos, muitas vezes relacionados à sua
realidade, além do que, estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e
atitude. Estando em contato com situações lúdicas a criança está em contato também com
situações que lhes permitam sonhar, imaginar e brincar com a realidade que a cerca, tornando
a brincadeira um instrumento de desenvolvimento que possibilita a sua construção do
conhecimento social.
Para Sacchetto (2006)6 a hora de brincar é muito mais do que o momento de recreação
para os pequenos e deve fazer parte da rotina de educação e do tempo da criança. Ela diverte,
4 Disponível na revista eletrônica Clube do bebê. 5 idem. 6 idem.
20
estimula convívio com outras crianças, dá noções de ganhar, perder, frustração e sugere
situações do dia-a-dia. O brincar deve fazer parte do cotidiano das crianças como um caminho
de construção coletiva e de aprofundamento das experiências através da interação com outras
crianças, pois brincando se aprende também a conviver e ceder frente às situações do
cotidiano.
Além disso, as brincadeiras lúdicas colocam a criança em contato com os
sentimentos, o que a faz amadurecer e colabora em experiências da vida
adulta. Algumas brincadeiras que envolvem o meio ambiente tornam a
criança ativa e criativa. A coordenação e o físico das crianças também é
desenvolvido através do corre-corre, saltos e pulos (SACCHETTO, 2006,
p.1).
Ao brincar a criança adentra o mundo dos adultos e passa a vivenciar experiências
que permitem a elas se tornarem aptas a enfrentar situações do seu cotidiano, construindo e
reconstruindo a realidade.
Ainda a mesma autora enfatiza que apesar dos benefícios, os pais devem ter cuidado
ao aplicar um jogo ou brincadeira. Eles devem ser escolhidos e pesquisados com critério e
dedicação para que seu real objetivo não se perca. Para as crianças, é brincadeira, recreação e
diversão, mas para os pais e também para os educadores há um objetivo a ser alcançado.Tanto
os pais quanto os professores devem selecionar os jogos e as brincadeiras através da
observação de alguns requisitos como a idade apropriada, os materiais utilizados, o local
adequado a ser apresentado a atividade e os objetivos a serem alcançados. Os mesmos devem
visar o desenvolvimento cognitivo e físico das crianças.
No entanto, para a autora, a hora de brincar, quem diria, traz desenvolvimento social,
emocional, interpessoal, intrapessoal, corporal-cinestésico, lógico-matemático, musical,
lingüística, espacial-visual, e pictórico. Quando brinca a criança desenvolve-se em diversos
aspectos, já conquistando um maior envolvimento com a linguagem oral, escrita, matemática,
geográfica, histórica, musical e artística perante as situações vivenciadas.
Atualmente, há uma tentativa de aproximar o lúdico à Educação. As
instituições têm discutido e, em especial, sobre como proporcionar uma
aprendizagem pela via do prazer, do afeto e do despertar das emoções que
realmente resulte em uma aprendizagem significativa para todos os
educandos, independente da idade (SANTOS, 2006, p.23-24)
21
Brincar hoje nas escolas poderia ser o instrumento principal da proposta pedagógica; e
talvez ainda hoje isso não ocorra devido à própria formação profissional do professor que não
contempla informações nem vivências a respeito da relevância do brincar no
desenvolvimento infantil.
Para Pires (2006) é preciso que os profissionais da Educação reconheçam o real
significado do lúdico para aplicá-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brincar e
o aprender.
Segundo Sacchetto (2006), é rara a escola que invista neste aprendizado – o brincar.
Tanto escola quanto sociedade podem não estar valorizando a brincadeira e parecem deixar
em segundo plano o ato de brincar, pois aparenta ser desprovido de grande significância para
o pleno desenvolvimento do educando em suas atividades escolares. Na sala de aula ou a
brincadeira é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma forma de entretenimento.
Até mesmo no recreio, as crianças precisam conviver com algumas proibições como não
poder correr para não se cansar ou se sujar. O brincar também é visto como premiação aos
alunos que realizam as atividades com mais rapidez ou aos mais disciplinados, sendo que o
aluno que possui dificuldades nas atividades escolares acaba por ficar sem brincar.
A autora afirma ainda que é preciso entender e interpretar o brincar, assim como
utilizá-lo para que auxilie na construção do aprendizado da criança, e a criança que possui
alguma dificuldade em desenvolver atividades escolares e que tem a oportunidade de brincar
em sala de aula pode de forma lúdica mostrar ao seu educador que precisa da ajuda dele. Por
estas razões os educadores devem valorizar o brincar em sala de aula como mais um aliado no
processo de escolarização infantil, e para que isso ocorra, o adulto deve estar muito presente e
participante nos momentos lúdicos entre crianças.
Para Maluf (2000) os profissionais da Educação precisam entender e interpretar o
brincar para identificar a criança que possui alguma dificuldade em desenvolver atividades
escolares. Para que ocorra tal identificação o adulto deve estar atento às brincadeiras infantis,
assim como utilizá-la para que o auxilie na construção do aprendizado da criança, pois a
mesma, que tem a oportunidade de brincar em sala de aula, pode de forma implícita ou até
mesmo explícita mostrar ao seu educador que precisa da ajuda dele.
A autora afirma também que o ato de brincar não é apenas um mero ato intrínseco das
crianças e sim um ato de todas as pessoas, pois todas têm a capacidade de brincar, sendo vital
na vida de qualquer pessoa brincar.
Maluf (2000) relata que em muitas escolas não há lugar para o desenvolvimento global
22
e harmonioso durante as brincadeiras, os jogos e outras atividades lúdicas, o que muitas vezes
é mais enfatizado é o desenvolvimento cognitivo. Neste contexto, ao chegar à escola, a
criança é impedida de brincar espontaneamente, e assim o conceito de aprendizagem está
relacionada apenas a eficácia escolar e não à auto-realização.
De acordo com Maluf (2003), o educador deve organizar seu planejamento buscando
estar atento principalmente ao componente com o qual o corpo dialoga através do movimento
a afetividade, que é um valor humano que traz por inerência diversas dimensões: amor,
respeito, aceitação, apoio, reconhecimento, gratidão e interesse. Além do que, o educador
deve estabelecer metodologias que levem em conta atividades para serem significativas às
crianças, que por sua vez devem ser embasadas no ato espontâneo do brincar, ou seja, o
educador precisa apresentar uma situação, munir-se de condições para a realização das
brincadeiras e intervir no desenvolvimento do faz-de-conta, de forma que não iniba a criança
se auto-desenvolver individualmente. E a atividade desenvolvida em grupo possibilita a
integração de atividades mais amplas e profundas, como de liderança, respeito aos membros,
condições de trabalho, perspectivas de progresso, retribuição ao investimento individual,
compreensão, ajuda mútua e aceitação.
Segundo Maluf (2000), é viável a participação do educador no brincar das crianças, é
preciso que os educadores se coloquem como participantes, podendo intervir na brincadeira e
educar por intermédio da mesma, pois brincar junto reforça laços afetivos. A criança sente-se
ao mesmo tempo prestigiada e desafiada quando o parceiro da brincadeira é um adulto. Surge
com isso o educar pela via da ludicidade, cujo paradigma é o ensinar brincando.
O educador deve organizar situações para que as brincadeiras ocorram de
maneira diversificada para propiciar à criança a possibilidade de escolherem
os temas, papéis, objetos e companheiros com quem brincar e jogos de
regras e de construção, e assim elaborem de forma pessoal e independente
de suas concepções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais
(POZZATTI, 2006, p.53).
À medida que a criança interage com atividades mais diversificadas, com os objetos e
com outras pessoas, construirá relações e conhecimentos a respeito do meio em que vive,
podendo mais tarde alcançar um conhecimento em nível mais elevado ao brincar. A autora
alega que para que isso aconteça a criança não deve sentir-se bloqueada, nem tão pouco
oprimida em seus sentimentos e desejos, pois através da liberdade de escolha a mesma
23
escolherá os meios para se desenvolver. Suas experiências individuais devem ter um espaço
relevante, sendo respeitadas nas relações com o adulto e com outras crianças.
A escola que por vezes não atua positivamente, não garantindo possibilidades para o
desenvolvimento da brincadeira, devido às exigências de planejamentos anuais precisa rever
os paradigmas aqui descritos. Diante desta realidade, faz-se necessário apontar para o papel
do professor neste esforço de incorporar o brincar ao cotidiano escolar dos alunos na garantia
do enriquecimento da atividade social da infância, diz Maluf (2000). Por esta razão, faz-se
necessária a construção de cantinhos na sala para brinquedos, sucata, enfim, materiais para
brincar e construir brinquedos. Isto porque afirma a autora que o brincar deve ser
transformado em instrumento pedagógico na Educação, visando contribuir para a formação da
criança em seu papel social, e mais a diante em seu papel como adulto e cidadão.
Muitos autores têm afirmado que o brincar não é coisa de criança e
enfatizam que o ato de brincar está em todas as idades, pode-se entender por
que o adulto, quando se diverte, diz que virou criança. Certamente, naquele
momento sentiu as mesmas emoções da infância (...) Ao referir-se ao
brincar o adulto usa a terminologia jogar, para diferenciar da atividade
infantil (SANTOS, 2006, p.23).
Segundo a autora já passou a época em que se separava a brincadeira das atividades
sérias, ao contrário, é preciso uni-las. Hoje se pode compreender o jogo como uma atividade
que se encaminha para a descoberta da individualidade, ao aprimoramento das relações
interpessoais e à construção do conhecimento. Por outro lado os jogos ocasionais, aqueles
distantes de uma programação que leve a uma aprendizagem significativa, têm pouco valor
educacional.
O lúdico é um novo aliado da Educação e precisa ser estudado, visto que muitos
professores preconizam somente o brincar livre, sem objetivos educacionais. Com toda
certeza, o brincar livre é importante e todos os educandos precisam de tempo para realizar
atividades assim, pois brincando os mesmos estarão conhecendo o mundo. O brincar somente
por brincar deve acontecer no recreio, em horários livres para descansar das atividades
escolares.
Santos (2006) relata que quando se defende a brincadeira sistematizada, parte-se de
um referencial, no qual a liberdade está no ato de brincar organizado pelo educador e não
apenas no espontaneísmo da criança. Não significa que a criança não brinque livremente,
24
significa que o educador deve organizar situações de desafios que levem a determinados
objetivos, pois a criança brincando apresenta um envolvimento prazeroso, livre, imaginativo e
criativo.
O brincar facilita o aprendizado, pois é brincando que se aprende, segundo o ditado
popular, sobretudo nas fases iniciais da vida. Brincando se prepara para a vida, pois a criança
imita os adultos, repete experiências, resolvendo situações, alternado papéis, o que estimula a
criatividade, facilita a socialização, o aprendizado de regras e normas, enfim, faz do brincar
uma atividade que contribua para uma vida adulta saudável, afirma Sole (2005).
Ainda nesta perspectiva, é por meio das brincadeiras que a criança aprende valores,
muitos dos quais carregará pela vida inteira. Portanto, os pais são muito mais do que
parceiros de jogo (BARROS, 2003, p.15).
Os pais devem ser aliados e companheiros de seus filhos na tarefa de construir um
ambiente que possibilite a criança tomar decisões, ter hipóteses, acertar e errar, desenvolver-
se, e conceber o adulto um amigo que o apóie e incentive na exploração das suas
potencialidades.
Segundo a autora, o papel fundamental dos pais é o de potencializar um espaço que
permita que a criança crie freqüentes situações para brincar e que esta seja uma contribuição
para a auto-realização de seus filhos, pois ao brincar a criança controla e explora as situações,
manipula e transforma as situações de acordo com seus interesses, suas motivações e
necessidades.
Winnicott, referência na Psicanálise, e citado por Almeida (2005) descreve em sua
teoria que a criança quando brinca concentra-se de tal modo que, muitas vezes não se
preocupa com o que acontece a sua volta, mostrando-se capaz de brincar na presença do
adulto.
Mas a brincadeira é uma das estratégias que mais privilegiam a comunicação entre a
criança e o adulto, sobretudo próximo da fase escolar, fase marcada por um pensamento
mágico, pois é nesta época que a brincadeira simbólica chega em seu ápice, segundo Mello;
Goulart; Ew & Sperb, citados por Almeida (2005). Assim o adulto pode brincar com a criança
para conhecê-la melhor.
O adulto, ao brincar com a criança, deve partir do pressuposto de que a mesma
necessita compreender que o mundo tem a sua organização. Assim ao realizar alguma
brincadeira os pais devem respeitar as regras e não podem permitir que a criança tire alguma
vantagem enganosa num jogo apropriado para a sua idade, pois a mesma precisa aprender a
perder como parte do jogo.
25
Ressaltou Corrêa (2006) a importância do brincar, lembrando que a criança que tem
no aprendizado a brincadeira possui mais chances de melhorar seu desempenho no futuro,
além de sua participação social mais ativa.
O brincar é um importante instrumento que possibilita a socialização, a ampliação da
visão de mundo e a interação com o mesmo, pois auxilia a criança a vivenciar a fantasia
através do simbólico. Durante o brincar a criança reconstrói diferentes modos e repetidas
vezes o seu eu, não agindo de modo forçado, mas intrinsecamente natural.
Afirma Valle (2006) que por meio da atividade lúdica e artística a criança pode
expressar, por meio da fantasia, os seus desejos, e elaborar os seus conflitos, viver o faz-de-
conta como suporte para a realidade.
Para Dutoit (2003) em uma brincadeira de faz-de-conta os mais novos têm o hábito de
imitar as atitudes dos maiores. Essa ação potencializa o desenvolvimento.
As crianças invertem os papéis nas brincadeiras e podem ser papai, mamãe, professor;
já que na vida real, de certa forma, dependem e se submetem à vontade dos adultos, e através
da brincadeira podem ser este adulto que imaginam ser tão poderoso e maravilhoso e desta
forma podem elaborar sentimentos de submissão, autoridade, necessidade de autonomia e
independência, diz Valle (2006).
Brincar é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto. É o que a
torna ativa, criativa, e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a faz
feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária (KRAFT,
2000, p.11).
O brincar em grupo, por sua vez, possibilita a elaboração e realização de regras que
contribuem para a formação moral da criança, pois através da interação com outras crianças a
mesma troca experiências podendo tomar atitudes com mais responsabilidade, garantindo
assim um melhor desenvolvimento emocional.
Para que o brincar coletivo contribua para a formação moral é necessário que os
educadores criem atividades educativas que permitam a criança ter respeito aos hábitos,
ritmos e às preferências individuais. Dessa forma, ouvir as falas das crianças e compreender o
que elas estão querendo comunicar é uma das formas de contribuir para o aumento de sua
autoconfiança, segundo o Rcnei, citado por Pozzatti (2006).
De acordo com Vygotsky (1896-1934), citado por Marangon (2003), é por meio do
convívio com o outro que o homem se constitui, ou seja, a interação é importante para o
desenvolvimento de qualquer criança. Sabe-se que a interação não é fácil, mas tem peso
importante na evolução do conhecimento dos pequenos. Imagine se alguma criança crescesse
26
isolada da sociedade, não desenvolveria as características básicas do ser humano, como a
linguagem, por exemplo.
Vygotsky citado por Marangon (2003) em sua teoria sócio-interacionista afirma que
para potencializar o desenvolvimento de uma criança é preciso que ela se relacione com
outras crianças. Elas precisam se relacionar não apenas com crianças da mesma idade, mas
também com crianças mais velhas, pois as mesmas fazem coisas que os mais novos não
conseguem realizar sozinhos e isso é um desafio à aprendizagem.
Por isso, partindo do princípio de que a criança aprende ao estar em contato com
outras crianças, é possível descobrir durante essa interação possíveis dificuldades da criança
em realizar alguma atividade proposta, pois, o que o educador não consegue identificar em
seu aluno, a própria criança pode expressar à outra.
Gurgel (2006) afirma que é importante na Educação Infantil brincar em grupo munido
de jogos de regras, que são aqueles com normas pré-estabelecidas e que visam um objetivo.
As restrições de possibilidades de jogar podem representar desafios divertidos, e desenvolver
questões importantes, como adequação a limites, a cooperação e a competição. As regras do
jogo possibilitam a criança estar em contato e vivenciar com naturalidade as vitórias e
derrotas que acompanham os jogos e as brincadeiras.
Segundo a autora, as regras do jogo necessitam de primeira instância ser apresentadas
à sala e compreendidas pela mesma possibilitando a adaptação de todos. Ao brincar com
jogos a primeira satisfação da criança é se sentir ativa e participante, o que determina o
interesse da mesma pela atividade, assim como o incentivo do professor, fazendo o jogo ser
um sucesso ou não. As regras possibilitam maior cooperação e vivência em grupo, além do
surgimento de estratégias de competição positivas.
Os pequenos jogam uns contra os outros, mas nem sempre têm consciência da
competição, pois as crianças pequenas não compreendem que para o colega ganhar é preciso
elas perderem. Apenas algumas crianças percebem que existe um vencedor, e o educador deve
intervir neste momento, questionando e deixando claro qual é o objetivo do jogo.
Introduzir jogos que demandem diferentes capacidades (domínio do
raciocínio matemático, conhecimento do alfabeto, desenvolvimento motor
etc) é importante, pois os pequenos notam que aqueles em que vencem com
mais facilidade e outros que não dominam tão bem. Ao perceber a condição
de ganhador e perdedor como transitória, fica mais fácil aceitar a derrota e,
no caso de vitória, não desrespeitar quem perdeu (GURGEL, 2006,p.72-73).
27
É natural a criança querer ganhar, porém é preciso saber perder como parte do jogo. A
criança que sempre ganha pode se tornar despreparada para a vida, pois não controla sua
emoção e frustrações, e a que quase não ganha pode se acostumar às derrotas não se sentindo
motivada à ousar em suas vivências. Assim fica em evidência a importância de se tentar
moderar as vitórias e derrotas dos alunos, e o educador precisa ser observador para descobrir
as potencialidades do seu aluno e descobrir o que o mesmo sabe fazer de melhor para assim
encontrar atividades que possibilitem tal moderação.
É importante respeitar as regras e não é difícil: os próprios colegas precisam
se encarregar de cobrar o uso delas. Á medida que se familiarizam com as
regras, as crianças desenvolvem uma visão mais completa do jogo e
percebem que isso ajuda a dominar as possibilidades de jogar (GURGEL,
2006, p. 72).
Ao vivenciar situações que geram ansiedade, a criança pode se desinteressar em
continuar brincando, pois a brincadeira nem sempre é prazerosa para ela, de acordo com
Vygotsky citado por Almeida (2005). Porém, mesmo quando está ansiosa a criança pode
gostar da brincadeira, visto que ela transmite seus sentimentos por meio do brincar e somente
interrompe a brincadeira quando o nível de ansiedade está muito elevado, relata Winnicott,
citado por Almeida (2005).Para que o jogo ou a brincadeira não sejam maçantes para a
criança é preciso que haja a alternância entre jogos que visam a competição ou a cooperação,
jogos que têm por objetivo cumprir certas regras através da interação são ótimas opções para
se trabalhar a solidariedade.
O jogo é uma atividade que proporciona prazer e diversão. Joga-se para distrair-se e
divertir-se e não por uma obrigação, relata Bassedas; Huguet; Sole (2005).
A criança brinca por uma vontade de descarregar as emoções e conhecer o mundo
através do lúdico; por detrás deste brincar livre e desprovido de objetivos (sem nenhuma
finalidade concreta) existem grandes contribuições para o desenvolvimento da mesma.
Para Bassedas; Huguet; Sole (2005), o jogo deixa a criança livre à iniciativa, mesmo
que seja uma liberdade relativa, pois ás vezes as crianças mesmo impõem limites e regras ou
criam normas claras durante a atividade lúdica. Essas regras demarcadas e aceitas pelas
mesmas como exigências para poder jogar, estimulam a aceitação dos limites impostos pelos
pais e educadores.
Bassedas; Huguet; Sole (2005) afirmam que o jogo caracteriza-se, muitas vezes, pela
28
simulação, por um fazer de conta, pela sua própria condição de semi-realidade e possibilita
um mundo de fantasia, no qual os desejos podem ser realizados graças à simulação e à ilusão.
No jogo, transformamos o mundo exterior para adaptá-lo às nossas necessidades.
Também cabe salientar que as várias formas de brincar, pois existem diferentes
maneiras que dependem da fase do desenvolvimento infantil, do contexto social em que a
criança está inserida, do espaço e do tempo que a mesma tem para brincar, variando assim os
seus resultados também.
1.1.1. Brincando sozinho
Brincar sozinho também é importante porque, neste tipo de brincadeira a criança
mergulha na sua fantasia a alimenta sua formação interior; quanto mais profundo for este
mergulho, mais estará exercitando sua capacidade de concentrar-se e manter a atenção, de
inventar e, principalmente, de permanecer concentrado numa atividade (CUNHA, 2001).
A brincadeira solitária permite que a criança prenda totalmente a sua atenção, aprenda
a lidar com os seus afetos, a descobrir seus interesses e tomar decisões, pois pode, da melhor
forma, escolher como, onde e de que forma quer brincar, podendo através da brincadeira
vivenciar diferentes situações de aprendizagem.
Segundo a autora, através deste processo, poderá chegar a encontrar uma vocação
profissional e pessoal, que sabe. A criança que brinca de forma concentrada, está aprendendo
a se engajar seriamente, gratuitamente, pelo interesse na atividade em si. Este é um momento
que deve ser respeitado, por ser um momento no qual estão sendo cultivadas qualidades
importantes para a formação de hábitos, que irão influir na qualidade do seu futuro
desempenho em outras atividades.
Segundo Maluf (2000), há muito que explorar no mundo: forma, textura, consistência,
cor, gosto. Tudo deve ser explorado, sentido, cheirado e experimentado. No início do brincar,
a presença de outra criança pode não oferecer nenhum interesse em explorar o ambiente.
Absorvido nas próprias atividades (separado de outras crianças), a criança brinca com coisas
diferentes e freqüentemente silenciosamente, às vezes fala consigo mesmo.
1.1.2. Brincando com outras crianças
Ao brincar perto de outras crianças, a criança mostra interesse primeiramente em
passar parte do tempo brincando ao lado de seus pares, sem fazer esforço para estabelecer a
interação, e depois irá se interessar pelas brincadeiras das crianças que estão ao seu redor.
Segundo Maluf (2003), a criança que está brincando sozinha primeiramente contentar-
29
se-á em brincar ao lado de outras crianças, observando a brincadeira, e depois mostrará
interesse em brincar junto delas. A fala não é geralmente dirigida a ninguém em particular; até
é possível que as crianças brinquem em silêncio e quando falar será no máximo para defender
seus brinquedos.
Para Cunha (2001), embora brincar sozinho seja importante, brincar com outras
pessoas é necessário para evitar que a criança fique sem o estímulo e a crítica que um parceiro
pode proporcionar.
Há uma modificação no comportamento da criança quando brinca com outras
crianças. No início ela observa a brincadeira do outro. Depois o brincar com outras crianças
possibilita a mesma respeitar as regras e cumprir normas, a esperar a sua vez e interagir mais
organizada.
Para Maluf (2000) pode-se notar, porém, que esse comportamento será bem diferente
de uma olhada sem compromisso na brincadeira de outras crianças, pois a criança estará
envolvida, absorvida em sua observação. Neste momento não há conversas entre eles.
Segundo Maluf (2003), os primeiros movimentos em direção a juntar-se às
brincadeiras de um grupo podem tanto se tranqüilos quanto tempestuosos; isto depende do
grupo em questão e da criança que pretende juntar-se. Seja como for, os relacionamentos no
interior do grupo tendem a se formar rapidamente, talvez cessar com a mesma rapidez e,
freqüentemente, se refazer minutos depois.
O brincar em grupo é muito enriquecedor, pois ajuda as crianças a se conhecerem
melhor, a fazerem novas amizades e interagir entre elas, possibilitando um maior crescimento
social. O educador precisa proporcionar momentos que possibilitem as crianças se
conhecerem e interagirem ao brincar.
1.1.3. Brincando de faz-de-conta
Segundo Cunha (2001) nesse tipo de brincadeira, a criança traduz o mundo dos
adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades. As crianças precisam vivenciar
suas idéias, em nível simbólico, para poderem compreender seu significado na vida real.
Neste tipo de brincadeira a criança tem oportunidade de expressar e elaborar, de forma
simbólica, desejos, conflitos e frustrações.
O faz-de-conta permite que as crianças vivam como diferentes personagens — pai,
mãe, filho. Essa brincadeira é essencial para aprender mais sobre o relacionamento entre as
pessoas, vivenciar situações quase reais, amenizar a dose de agitação, agressividade e
violência que a criança possa expressar através do faz-de-conta.
30
É vendo e imitando o comportamento dos adultos à nossa volta que começamos a
elaborar vivências do dia-a-dia e entrar em contato com temas importantes, como relações
familiares e diferenças sociais (GRUENFELD, 2002, p.74, apud MARANGON;
PELLEGRINI, 2002).
Ao observarmos um grupo de crianças colocarem um lençol sobre a mesa de estudo na
sala de aula e imitar uma família, podemos observar que a maioria delas quer ser a mamãe ou
o papai na brincadeira, pois são para a maioria das crianças pessoas significativas. Isso
demonstra que a criança faz uma relação entre o faz-de-conta e a realidade, abordando assim
temas reais e diversos em suas conversas durante a brincadeira. O pensamento da criança
evolui por causa de suas ações, motivo pelo qual o faz-de-conta é tão importante para o
desenvolvimento do pensamento.
Para a autora, o brincar de faz-de-conta estimula a inteligência e desenvolve a
criatividade. O faz-de-conta não somente imita a realidade, mas pode ser uma forma de sair
dela, é um jeito de assumir um novo estado de espírito.
Para Sayegh (2007) o faz-de-conta estimula a fantasia, a criatividade e contribui para a
construção de símbolos, cenários e personagens. É importante estimular a criança a brincar,
pois este é um ato universal, facilita o crescimento, a saúde e a forma de se conhecer,
ampliando os relacionamentos em grupos.
A criança ao se deparar com uma situação problema, busca subsídios para as
problemáticas criadas pela vivência dos papéis assumidos, pois através destes subsídios ela
organiza o mundo ao seu redor de forma que lhe permita melhor viver nele.
Segundo a autora, ao brincar de faz-de-conta, a criança experimenta papéis conhecidos
e se identifica com eles: vê-se a mãe fazendo comida, usando panelinhas para imitá-la. Pela
brincadeira, a criança pode atuar de alguma forma no mundo e nesse ensaio vai participando
da realidade, através do diálogo com os pais.
O faz-de-conta infantil deve ser tratado e subsidiado com seriedade, pois fica mais
claro para a criança compreender as experiências quando representa em seu imaginário. Esta é
uma das formas de brincar mais fundamentais para um desenvolvimento infantil saudável.
1.1.4. Brincando de correr, saltar, pular...
Para Levin (2005), durante a Educação Infantil a necessidade de movimentar-se é mais
respeitada pela escola: o corpo é usado em brincadeiras, em atividades de arte, de música etc.
A criança pode correr, pular, espreguiçar-se sem censura alguma.
31
A atividade física gera entusiasmo, por essa razão é tão importante.
Correndo, a criança fica alegre; vencendo obstáculos, desafia os próprios
limites, gasta energias e desenvolve sua coordenação motora, adquirindo
mais confiança em si e aprimorando seu equilíbrio (CUNHA, 2001, p.25).
Segundo Levin (2005), o corpo e os gestos são fundamentais para a formação geral do
ser humano. A criança usa a linguagem corporal para conhecer a si mesma, para relacionar-se
com seus pais, amigos e professores, para movimentar-se e descobrir o mundo. Essas
descobertas feitas com o corpo deixam marcas, são aprendizados efetivos para toda a vida.
As crianças não resistem aos lugares amplos, é só estarem em um que de repente
começam a correr para todos os lados, pois não perdem a oportunidade de brincarem
livremente e de descarregarem sua emoções, frustrações e sentimentos.
Quando alguma coisa acontece pela primeira vez, precisa ser marcante e positiva,
para deixar boas recordações, ainda que inconscientes. O uso do corpo permitirá que essas
lembranças sejam prazerosas e a pessoa vai associar o aprendizado a sensações gostosas
(LEVIN, 2005, p. 25).
É fundamental para a criança pré-escolar estar em contato com atividades que
possibilitem a mesma ter um melhor conhecimento e desenvolvimento de seu corpo;
valorizando ainda mais as atividades lúdicas.
1.1.5. Brincando de inventar e experimentar.
Encaixar, empilhar, construir, montar quebra-cabeças são atividades que
proporcionam exercício e desenvolvem habilidades, mas só serão brincadeiras se forem
realizadas com prazer; caso contrário, serão apenas uma tarefa realizada com brinquedos
(CUNHA, 2001, p.26).
Esses jogos têm por objetivo desenvolver a concentração e habilidades motoras,
contribuindo para uma maior percepção tátil da criança. São muito importantes, pois, através
deles, as crianças exercitam os músculos das mãos e dos dedos aprendendo alegremente.
Segundo a autora, um aspecto importante destes brinquedos é que levam à criança a
perceber a necessidade de planejar suas ações. Esses jogos tornam as crianças mais aptas a
desempenhar tarefas que, talvez, não conseguissem realizar se não estivessem em situação
lúdica, livres de cobrança e de obrigatoriedade. Ao brincar a criança alcança níveis bem mais
altos de desempenho, pois não se sente cansada. A mesma aprende com uma maior resistência
física através do brincar, pois se interessa muito mais quando pode manusear os brinquedos
32
pedagógicos.
Para Cunha (2001), inventar e criar é algo inerente à criança; mas só se as mesmas
tiverem sido estimuladas a fazê-lo. É preciso haver motivação e para ela pode ser um desafio,
uma problemática ou vontade de expressar uma emoção; mas, para que o ato criativo
aconteça, é preciso haver alguma confiança na própria capacidade de criar ou, pelo menos, a
certeza de que, mesmo que o resultado não seja bom, haverá boa aceitação do trabalho
realizado, por esta razão é fundamental o educador elogiar moderadamente as criações de seus
alunos.
Um dos inibidores do processo criativo é o medo de errar ou de ser ridículo, essa
reação da criança de não se envolver nas coisas é porque ela tem a necessidade de alcançar
êxito. A criança pequena pode até não se dar conta de que perdeu ou de que seu trabalho não
foi levado em consideração, mas é o educador que deve valorizar essas ações de forma que
elas possam ser aceitas pela criança.
1.1.6. Brincando de jogar e competir.
Uma das principais características do jogo é a necessidade de parceiro. Ainda que em
postura de adversário, a parceria é um estabelecimento de relação. Mesmo em posição competitiva,
os parceiros não deixam de ser cúmplices dentro do objetivo de realizar o jogo (CUNHA, 2001, p.28).
A melhor forma de neutralizar a competição, o individualismo e as preferências é
optar por jogos cooperativos, ou seja, jogos em grupo que tenham como objetivo concluir os
mesmos, que ao fim todos vençam e saiam contentes. Em grupo, as crianças criam laços de
afeto por todos os colegas e não apenas aqueles com quem convivem mais, pois precisam se
ajudar mutuamente para realizarem a brincadeira e não sobrepujar o colega.
Segundo a autora, brincar em grupo quando se tem um objetivo único a todos, ou seja,
quando se quer que todas as crianças vençam juntas o jogo é a melhor maneira de fazer com
que as mesmas se entendam e encontrem uma maneira de interagir. Assim, tanto a vitória,
quanto à derrota serão compartilhadas.
Ao jogar cooperando, a criança aprende a respeitar a limitação do outro, a preservar
em si o gosto pela solidariedade, valorizando a personalidade, o caráter, e se torna mais
operativa, se torna mais madura emocionalmente e segue com mais facilidade as normas
sociais.
Há diversas formas de brincar e todas devem ser valorizadas de forma que
proporcionem uma riqueza de experiências às crianças, pois quanto mais contato as mesmas
tiverem com a diversidade de atividades lúdicas mais se desenvolverão.
33
Para que o brincar tenha mais significância na vida da criança deve-se apresentar a
mesma os brinquedos, os jogos e as brincadeiras adequadas à sua idade, que visem o
desenvolvimento físico, psíquico e social; e nesta perspectiva a brinquedoteca é um espaço
propício para a aprendizagem, para a socialização, além de contribuir para a superação das
dificuldades de convivência, também de aprendizagem, e sem dúvida possibilita o
desenvolvimento infantil.
34
Capítulo 2: Brinquedoteca – um espaço especial para brinquedos,
brincadeiras e jogos.
A brinquedoteca é um espaço destinado, principalmente, à criança, pois permite à
mesma ter contato com uma variedade de brinquedos, brincadeiras e jogos que proporcionem
o desenvolvimento das suas potencialidades, e ainda assim ser acompanhada por um
profissional mediador ou apenas espectador – o brinquedista7. Os brinquedos trazem a magia
do faz-de-conta, as brincadeiras possibilitam o desenvolvimento físico e a interação social e
os jogos desenvolvem o pensamento, a linguagem simbólica e matemática, além da resolução
de situações-problema.
2.1 A Brinquedoteca
Segundo Levin (2005), a experiência da infância mudou, pois hoje existem novos
brinquedos, como a televisão e o computador, mas os mesmos não propiciam a interação com
as pessoas e com os objetos. O contato direto com os objetos e a interação com o outro
promovem brincadeiras que geram um aprendizado mais efetivo, segundo o autor. Há quem
defenda esses novos brinquedos, afirmando que cada vez mais as crianças estão tendo
preocupações que deveriam ser dos mais velhos, como ter sucesso e bom desempenho. No
entanto, muitas concepções teóricas afirmam a necessidade de acentuar as atividades lúdicas
como fonte de desenvolvimento natural das crianças.
Segundo Cely (2005) citado por Santos (2005), foi refletindo acerca dessa realidade
vivida por crianças de todo o mundo, que considera-se necessário resgatar o brincar como
elemento essencial para o desenvolvimento integral da criança em sua criatividade, em sua
aprendizagem, em sua socialização, enfim, em todos os ambientes e circunstâncias de sua
vida: no lar, na vizinhança, na escola e na comunidade. Com essa motivação surgem as
brinquedotecas ou ludotecas8 com um projeto de educação não formal, pensando a educação e
o lazer para as crianças, jovens e adultos, como um espaço de animação lúdico e criativo de
socialização, transformando o dia a dia pela imaginação, espontaneidade e alegria de todas as
pessoas.
7 Pessoa que organiza os materiais e propõe atividades na brinquedoteca. 8 Nome dado para algumas brinquedotecas de Portugal e do Brasil.
35
A brinquedoteca é o espaço preparado para estimular a criança a brincar,
desenvolver a socialização, cognição afetividade, motricidade dentre outras
habilidades. Esse espaço dá á criança acesso a uma grande variedade de
brinquedos em um ambiente especialmente lúdico, além de resgatar as
brincadeiras tradicionais, em função de não haver, nos grandes centros
urbanos, espaço seguro e atrativo para atividades lúdicas (SILVA, 2004,
p.55).
A brinquedoteca coloca próximo da criança atividades que possibilitam a ludicidade
individual e coletiva, podendo a criança construir seu próprio conhecimento. As
brinquedotecas têm como objetivo principal desenvolver as atividades lúdicas e valorizar o
brincar como aliado do desenvolvimento da criança, independentemente de como são e onde
estejam instituídas, seja na escola, no hospital, na creche, na clínica ou em uma universidade.
Nas brinquedotecas há o acervo de jogos e brinquedos que são utilizados para atingir os
objetivos neles propostos.
As brinquedotecas precisam ser constituídas a partir da situação geográfica, tradição,
do sistema educacional adotado, dos espaços e brinquedos disponíveis. Independentemente do
tipo da brinquedoteca, o fator primordial é o direito da criança de brincar. As brinquedotecas
de escolas e creches estão em instituições que trabalham com educação infantil e buscam
suprir as necessidades de brinquedos utilizados para atividades que visem o desenvolvimento
social e cognitivo infantil. As mesmas se caracterizam pela formação de um acervo
constituído por brinquedos diversos, jogos, fantasias, sucata, fantoches, entre outros que são
utilizados na brincadeira. Após a utilização dos brinquedos e jogos, estes retornam ao acervo.
A Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABB) conceitua
brinquedotecas como espaços mágicos destinados ao brincar das crianças e
alerta para o fato de que não podem ser confundidas com um conjunto de
brinquedos ou depósito de crianças, pois a criação de uma brinquedoteca
está sempre ligada a objetivos específicos tais como sociais, terapêuticos,
educacionais, lazer, etc (SILVA; RAMALHO, 2003)9.
Para Cely (2005, In SANTOS, 2005) a brinquedoteca deve constituir de um espaço,
um meio e tempo para que as crianças brinquem, espontaneamente, sem cobranças, pois na
9 Disponível na Revista eletrônica ABC Biblioteconomia.
36
atualidade o tempo das crianças é habitualmente saturado por deveres e fazeres, restando
pouco tempo para o brincar. Essa forma de ser e viver diminui as possibilidades de a criança
descobrir sua própria identidade, construir sua afetividade e fazer suas próprias descobertas
por meio do brincar. Essa realidade impõe a necessidade de resgate do brincar como elemento
essencial para o desenvolvimento integral da criança em sua criatividade, em sua socialização,
em todos os ambientes e circunstâncias de vida: no lar, na escola, na comunidade, segundo
Azevedo (2005).
A brinquedoteca é um espaço criado para favorecer a brincadeira. É um
espaço aonde as crianças (e os adultos) vão para brincar livremente, com
todo o estímulo e manifestação de suas potencialidades e necessidades
lúdicas. Muitos brinquedos e materiais permitem a expressão da
criatividade (AZEVEDO, 2004, p. 51).
Toda brinquedoteca é um espaço preparado e destinado, especialmente, para que a
criança seja estimulada a brincar livremente, dentro de um ambiente lúdico com uma
variedade de brinquedos. É um espaço convidativo para a criança, pois permite a mesma
sentir, experimentar e explorar o meio que a rodeia. Pode-se definir brinquedoteca como uma
nova e ousada forma de aprender brincando, muito embora o termo brincar signifique assunto
sério.
A brinquedoteca é um espaço para a liberdade, onde se resgata a alegria do brincar, se
molda à personalidade, cultiva-se a criatividade e a sensibilidade da criança. Na
brinquedoteca as crianças descobrem novos conceitos, realizam experimentos e interagem
com o brinquedo de forma que lhes permitam criar e assimilar os seus próprios significados e
não apenas atribuir um significado que já foi atribuído por outros.
A criança pode obter brinquedos por empréstimo ou pode brincar no próprio local,
com o apoio de um ludotecário ou brinquedista, que lhe auxilia em suas construções mentais,
oferecendo os brinquedos de forma que concilie naturalmente com o que está acontecendo
durante a brincadeira que a criança realiza.
Um dos objetivos da brinquedoteca é guardar a infância, nutrindo-a com elementos
indispensáveis ao desenvolvimento saudável da criança. Porém, ela não deve ser vista apenas
como uma oportunidade de acesso a brinquedos, jogos e brincadeiras. Mais que isso, deve
expressar uma educação voltada para o respeito à criança e às suas potencialidades que
necessitam de espaço para se manifestar e aflorar.
37
Existem vários tipos de brinquedoteca, porém todas possuem o mesmo objetivo que é
o desenvolvimento infantil. Ela pode ter várias finalidades como: brinquedotecas que apenas
emprestam os brinquedos; outras atendem crianças na primeira infância; outras atendem as
crianças e até o adolescente que visam tratar possíveis problemas psicológicos; como também
brinquedotecas destinadas para adultos ou pessoas da terceira idade. Então, fica claro que o
brincar realmente não é apenas de origem infantil, pois é necessário brincar em todas as
idades.
Enfim, a brinquedoteca é um espaço que reúne muitas possibilidades para desenvolver
trabalhos sérios e relevantes para as crianças através da brincadeira. Ela é indicada para
qualquer idade, não há restrição de faixa sócio-econômica de seus usuários, ela resgata a
importância do brincar para a criança. Ela pode ser em uma sala grande ou pequena, pode ser
simples ou incrementada, porque o mais importante é que ofereça as crianças oportunidades
variadas para que as mesmas possam exercer seu direito de brincar.
2.2 Origem das brinquedotecas
É muito difícil situar, com exatidão, a origem do conceito de brinquedoteca,
mas podemos enquadrá-la na idéia geral de proporcionar intercâmbios
culturais para a maior parte das crianças e relacioná-la com o êxito que
tiveram as bibliotecas populares e o empréstimo de livros, a nível mundial
(SOLÉ, 1992, apud ALMEIDA, 2005, p. 128).
Segundo Azevedo (2004), a necessidade nesta Era é restituir o espaço da brincadeira
infantil, devido ao fato do tempo das crianças estar habitualmente saturado por diversas
atividades, restando pouco tempo para que as crianças brinquem, espontaneamente, sem
cobranças. Essa forma acelerada de ser e viver diminui as possibilidades da criança descobrir
a sua própria identidade, construir sua afetividade e fazer suas próprias descobertas por meio
do brincar.
Essa realidade na vida das crianças traz com ela uma grande necessidade de resgatar o
brincar como elemento essencial e principal para o pleno desenvolvimento da criança em suas
potencialidades; para tanto surgem as brinquedotecas, espaços que visam o resgate do brincar
como atividade de recreação e, sobretudo, aprendizagem, e de direito de todos.
38
Para Silva e Ramalho (2003), as brinquedotecas foram criadas primeiramente para o
empréstimo de brinquedos e evoluíram conforme as necessidades dos países, e a partir desta
expansão passaram a prestar uma diversidade de serviços.
Segundo Azevedo (2004), a brinquedoteca nasceu no século XX para garantir à
criança um espaço destinado ao ato de brincar. É um espaço que se caracteriza por possuir um
conjunto de brinquedos e brincadeiras, oferecendo um ambiente agradável, alegre e colorido,
onde mais importante que os brinquedos é a ludicidade que eles proporcionam. Esse ambiente
criado especialmente para a criança tem como objetivo desenvolver a imaginação, criação e a
expressão, incentivar o faz-de-conta, a dramatização, a construção do pensamento, a solução
de problemas, a socialização, a vontade de criar, colocando ao alcance da criança uma
variedade de atividades que possibilitam a ludicidade individual e coletiva e permite que ela
construa a sua percepção de mundo.
A primeira idéia de brinquedoteca surgiu em 1934, Los Angeles, quando o
dono de uma loja de brinquedos queixou-se ao diretor da escola municipal
de que as crianças estavam roubando brinquedos. O diretor concluiu que
elas agiam assim, porque não tinham com o que brincar (AZEVEDO, 2004,
p. 50).
Após esse incidente no Estado da Califórnia, surgiu um serviço para emprestar
brinquedos como um recurso comunitário, ou seja, um lugar onde qualquer criança poderia
escolher brinquedos e levá-los para a sua casa. Assim as crianças desfavorecidas ficavam
munidas de brinquedos. Esse serviço ainda existe e é conhecido em Los Angeles pelo nome
de Toy Loan10 .
As brinquedotecas surgiram em quase toda a América Latina na década de 70,
iniciando nos países: Uruguai, Peru, Argentina, Cuba, Costa Rica, Brasil e depois na
Colômbia, Panamá, Venezuela, Honduras etc. Sendo atualmente o Brasil um dos países que
possuem o maior número de brinquedotecas.
Na Suécia, as Lekoteks atendem os excepcionais e ensinam suas famílias a brincarem
com eles de forma estimuladora. A ludoteca da Europa, conhecida também como Toys
Libraries11, funciona para o empréstimo de brinquedos, para a visitação de crianças e como
10 Lugar onde realiza-se o empréstimo de brinquedos. 11 Na tradução significa Bibliotecas de brinquedos.
39
um meio de orientação para os pais de crianças excepcionais; obtendo assim estímulo à
aprendizagem e para o envolvimento dos pais perante seus filhos.
As lekoteks funcionam de forma semelhante a uma clínica de psicopedagogia, em que
se marca a consulta e atende-se, individualmente, as crianças. Esse serviço é mantido com
suporte do Ministério da Saúde e do Bem Estar Social. O trabalho é realizado por pessoas
especializadas que brincam com a criança e sua família, orientando-as para que terminem a
atividade em casa com os seus familiares. Quando a criança não pode ir até a lekoteks, uma
pessoa treinada vai à sua casa para oferecer-lhe brinquedos. Esse trabalho terapêutico é
também preventivo, pois atende às crianças nas quais há hipótese de comprometimento ou
anormalidade em seu desenvolvimento.
A partir do I Congresso sobre o assunto, realizado em Londres em 1976, o
trabalho que inicialmente era apenas o empréstimo de brinquedos foi se
tornando cada vez mais abrangente, e, em Toronto, no Canadá, foi
questionada a adequação do nome Toys Libraries, visto que nelas muitos
outros trabalhos eram realizados e não só o empréstimo de brinquedos, tais
como: apoio ás famílias, orientação educacional e auxílio á saúde mental,
estímulo á socialização e resgate da cultura de cada povo. Por exemplo, no
Canadá, as Toys Libraries tornaram-se Centros de Recursos para a família. A
partir daí, a brinquedoteca assumiu várias funções, e o movimento nessa área
ganhou força e expansão em vários países da Europa (AZEVEDO, 2004,
p.50)
Segundo Azevedo (2005), no V Congresso Internacional de Brinquedotecas, realizado
em Turim, na Itália, em 1990, lançou-se um livro com o título Toy Libraries in Internacional
Perspective, editado na Suécia, com autoria múltipla, evidenciando trabalhos semelhantes. As
brinquedotecas assumem, em cada lugar, nomes diferentes e funções - formas de atendimento
próprias. Sendo o espírito do trabalho o mesmo: o amor pelas crianças e a valorização das
atividades lúdicas.
Nos Estados Unidos, as toys libraries, criadas na época da recessão econômica
americana, continuam até hoje; emprestam, aproximadamente, trezentos mil brinquedos por
ano (AZEVEDO, 2004, p. 50).
Para a autora em 1990, somavam mais de trezentas toys libraries; as circulantes vão
aos hospitais e às creches que não possuem esse serviço; as toys libraries adaptativas
fornecem brinquedos para crianças deficientes, adaptando-se a elas; os compuplays (centros
40
de computadores com programas especiais), emprestam softwares às famílias; existem
também, setenta lekoteks congregadas pelo National Lekoteks Center, em que se preparam
profissionais para o atendimento nas lekoteks, e se supervisiona o trabalho por eles
desenvolvido; o atendimento segue o modelo sueco e funciona como centro de recursos à
família com crianças excepcionais.
Na França elas são chamadas de Ludotheques12 e estão ligadas ao Ministério da
Educação; há uma formação de nível universitário para os ludotecários7, e existe a Associação
Francesa de ludotecas, na qual aproximadamente trezentas funcionavam em 1990. Já no
Japão, o número de brinquedotecas aumenta a cada ano por falta de espaço físico próprio para
as crianças brincarem; elas recebem ajuda de uma fundação para fazer pesquisa sobre
brinquedos e publicar livros e folhetos a respeito; há também brinquedotecas para trabalhar
com crianças excepcionais, segundo Azevedo (2005).
Na Noruega, existem as Lekoteks, cujo atendimento é oferecido pelo governo a
crianças excepcionais e seus familiares (AZEVEDO, 2004, p. 50).
Segundo Azevedo (2004) em Portugal, as Ludotecas são muitas, funcionando como
centros de lazer comunitário e atingindo, até mesmo, a população da zona rural na busca do
resgate da cultura portuguesa (canções, brincadeiras antigas); a primeira ludoteca nasceu em
Évora.
Na República da Irlanda, as Toys Libraries estão presentes, destacando-se o nome do
professor Roy McConkey, conhecido, mundialmente, pelo seu trabalho, e também (...) na
organização de cursos para os pais enriquecerem a forma de brincar com seus filhos
(AZEVEDO, 2004, p. 51).
Ressalta Azevedo (2004) que existe uma Associação Internacional de Brinquedotecas
onde países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, Dinamarca, Islândia, Gana
Hong Kong, Hungria, Índia, Israel, Jamaica, Japão, Polônia, Ilhas Seichelas, África do Sul,
Tailândia, Rússia, Colômbia, Cuba e Zimbábue fazem parte.
O brincar e o brinquedo são valorizados também na Suécia. O modelo das Lekoteks,
criado no início dos anos 60, espalhou-se pelo mundo todo. A professora sueca Ivonny
Lindquist que introduziu, nos anos 70, o serviço de terapia e intervenção pelo brinquedo nos
hospitais, recebendo pela Faculdade de Medicina de Estolcomo o título de Doutora Honoris
Causa. Por meio desse trabalho, constatou-se que é fundamental à recuperação da criança
freqüentar a brinquedoteca.
12 Na língua portuguesa significa Ludotecas.
41
Afirma Azevedo (2004) que no Brasil, constata-se, também, o reflexo desse
movimento surgido em 1973, a Ludoteca da APAE, que funcionava sob a forma de rodízio de
brinquedos entre as crianças, e mais tarde em 1981, literalmente a primeira brinquedoteca
brasileira, na Escola Indianópolis, em São Paulo. A mesma possuía objetivos diferenciados
das Toys Libraries e com características e filosofia voltadas às necessidades da criança
brasileira, priorizando o ato de brincar, mantendo o esquema de empréstimos, atendendo
diretamente à criança e dando incentivo a um movimento de expansão da idéia a outras
pessoas e instituições. Sendo assim, o nome “brinquedoteca” é totalmente brasileiro.
No ano de 1984, criou-se a Associação Brasileira de Brinquedoteca e com ela fez-se
crescer este movimento no país; começou-se a surgir brinquedotecas em quase todos os
estados brasileiros. Diz Azevedo (2005) que desde então a Associação Brasileira tem se
mantido atuante na divulgação, no incentivo e na orientação às pessoas e instituições.
A partir daí os dados dos anos 90 nos mostram que existem cerca de 180
brinquedotecas de vários tipos e funções funcionando em nosso país e levando às crianças um
pouco mais da alegria esquecida e a magia intrínseca do brincar.
Embora os brinquedos sejam a atração principal de uma brinquedoteca, ela pode
existir, até mesmo, sem brinquedos, desde que outros estímulos ás atividades lúdicas sejam
proporcionados (AZEVEDO, 2004, p. 52).
A preocupação com o direito da criança ao brinquedo parece ter se
espalhado pelo mundo todo. Nos Congressos de Associação Internacional
da IPA (Associação Internacional) pelo direito da criança brincar, reúne-se
pessoas de todos esses países para lutar, cada vez mais, pelo direito da
criança brincar e pela qualidade do brinquedo a ela oferecido (AZEVEDO,
2004, p.52).
Segundo Azevedo (2004), aqui, no Brasil esse trabalho, começou por volta de 1982. A
ABB (Associação Brasileira de Brinquedotecas) foi fundada, em 1984, por Nylse Helena da
Silva Cunha. Em São Bernardo do Campo foi inaugurada a primeira brinquedoteca pública de
São Paulo. Essa idéia foi disseminada para outros estados numa velocidade incalculável. No
ano de 1988, em São Paulo, houve a inauguração oficial da Labrimp (Laboratório de
Brinquedos e Materiais Pedagógicos) na Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo. Nesse espaço, funcionam a brinquedoteca, oficinas e acervos para consulta.
Atualmente, atende crianças no sistema de empréstimo de brinquedos.
42
2.3 Tipos de brinquedotecas
Para Azevedo (2004) as brinquedotecas classificam-se em função de diferentes fatores
e evoluíram conforme as necessidades dos países, tais como: situação geográfica, as tradições
e cultura de cada povo, o sistema educacional, valores culturais, aspectos econômicos, sociais
da comunidade, os materiais e espaços disponíveis, os valores, as crenças e os serviços
prestados. Entretanto, independente de cada tipo, é sempre preservado o aspecto lúdico como
fator primordial que assegura o direito da criança de brincar.
As Brinquedotecas de escolas geralmente encontram-se em instituições
escolares que trabalham com Educação Infantil e que procuram suprir as
necessidades de materiais para o desenvolvimento da aprendizagem.
Caracterizam-se pela montagem de um acervo, sendo utilizada a própria
sala de aula como espaço para brincar. Logo após a utilização, os
brinquedos retornam a sala do acervo. Sua dinâmica é semelhante á da
Biblioteca (AZEVEDO, 2004, p.56).
Essas brinquedotecas têm função pedagógica são organizadas geralmente em espaços
da escola, os alunos brincam e escolhem os jogos e brinquedos com que querem interagir.
As Brinquedotecas de bairro, para Azevedo (2005), são montadas com a participação
da comunidade e de associações, sendo freqüentadas pelas crianças da comunidade. Atendem
a população de um ou mais bairros e são mantidas por associações, prefeituras ou
organizações filantrópicas. A disponibilidade de espaço para a criança brincar propicia a
descoberta e a invenção de novos jogos e fortalece os brinquedos culturais.
Já nas universidades, segundo a autora, são montadas por profissionais da Educação e
organizadas no ambiente universitário para funcionar como uma biblioteca de
brinquedos e materiais pedagógicos, com a finalidade principal de pesquisa e formação de
profissionais e pesquisadores. Lá as brinquedotecas são concebidas como um laboratório onde
professores e alunos do Ensino Superior dedicam-se à exploração do brinquedo e do jogo na
busca de alternativas que viabilizem novas propostas pedagógicas e de pesquisa.
Nos hospitais ou clínicas, a brinquedoteca auxilia no tratamento de crianças com
problemas de saúde, amenizando impactos emocionais ou atuando como terapia. Geralmente
a mesma é instalada em um departamento do hospital onde as crianças hospitalizadas têm a
disposição uma variedade de brinquedos, que podem ser levados para os leitos dependendo
43
das condições clínicas do paciente. É por meio do brinquedo que a criança pode resolver a
tensão que o ambiente lhe causa, podendo, pelo “faz de conta”, superar as dificuldades
encontradas.
As brinquedotecas rodízios não têm lugar definido; um grupo de crianças troca de
brinquedos na forma de rodízio, levando para casa o brinquedo por empréstimo, durante um
tempo determinado; um novo encontro é marcado e os brinquedos são novamente trocados
(AZEVEDO, 2004, p.57).
Segundo a autora as brinquedotecas ambulantes, móveis, itinerantes funcionam como
bibliotecas circulantes; podem ser adaptadas em um caminhão, ônibus que leva brinquedos a
diferentes locais ou podem ser instaladas dentro de um circo. A finalidade é levar a
brinquedoteca a diferentes lugares. O tempo, em cada local, varia dependendo de cada
situação e são mantidas por ONGs, prefeituras ou organizações sem fins lucrativos e seus
objetivos são: proporcionar contato a crianças com diversos brinquedos, permitir à criança um
espaço para expressar-se culturalmente e propiciar a integração social das crianças por onde
elas passam.
Há também brinquedotecas em centros culturais e em bibliotecas públicas ou
particulares, geralmente são mantidas através de campanhas de doações de brinquedos. Nas
mesmas o espaço é utilizado com liberdade para a criança brincar e confeccionar, em oficinas
oferecidas pela própria brinquedoteca, brinquedos artesanais.
Já os cantos de uma brinquedoteca devem ser planejados para adaptar conforme a
disponibilidade do local. O que realmente importa é manter a concepção de brinquedoteca e
proporcionar uma variedade de brinquedos que enriqueçam o espaço lúdico das crianças, pois
é aí que está o encantamento da mesma.
Esses são alguns dos “cantinhos” da brinquedoteca: o cantinho do faz-de-conta (local
onde se pode criar e imaginar brincadeiras); cantinho da história (estante com livros e
almofadas no chão para estimular a leitura); o cantinho dos jogos e brinquedos (estante onde
reúne todos os brinquedos e jogos da brinquedoteca); o cantinho das construções (cantinho
com brinquedos de montar e construir); das artes; sucateca (cantinho da brinquedoteca onde a
criança inventa brinquedos de sucata); o cantinho do teatro (onde tem várias fantasias) e
outros que fazem a alegria da criançada.
A brinquedoteca pode possuir outros cantos ou materiais de acordo com a sua
especificidade: casinha, computador, o canto da escolinha, entre outros (AZEVEDO, 2005,
p.73). Segundo a autora, é necessário também um local que não permita que o “brinquedista”,
44
profissional que atua na brinquedoteca, interfira na brincadeira da criança, pois o mesmo pode
se sentar e apenas observar a criança brincar.
2.4 O brinquedista
Os pedagogos envolvidos com o lúdico se deparam com a tarefa de Ter que
traçar um perfil de uma profissão emergente, o brinquedista, aquele que
deve ser preparado, não apenas para atuar como observador e investigador
da demanda dos usuários no âmbito das brinquedotecas (AZEVEDO, 2005,
p. 37)
Devido as grandes transformações que estão ocorrendo na sociedade, faz-se
necessário pensar num perfil profissional capaz de atender às necessidades da criança do
terceiro milênio, isto é, um extremamente ativo, dinâmico e possuidor da lógica infantil ... um
cidadão (SANTOS, 2004, p. 112).
No Brasil, ainda não há um enfoque na formação de brinquedistas, pois muitas vezes
quem atua na brinquedoteca como brinquedista são professores e monitores sem formação
específica para exercer tal função, ou seja, embasamento teórico voltado para os níveis de
desenvolvimento da criança, conhecimento sobre os tipos de brinquedos adequados a cada um
desses níveis, percepção sobre quando e como intervir na brincadeira. Assim, o brincar em
algumas creches e escolas de Educação Infantil acaba sendo um “ensaio” de brincar, afirma
Bomtempo (2006).
Quando repensamos a questão da formação do brinquedista percebemos o quanto é
importante priorizar, entre outros, o aspecto lúdico da formação (SANTOS, 2004, p. 112).
Azevedo (2004) relata que o profissional que atua na brinquedoteca deveria ter as
seguintes qualidades: ser paciente, entusiasta, criativo, ter curiosidade, interessar-se pelo
resgate dos jogos antigos, pela história das brincadeiras, interferir nas brincadeiras com
sugestões direcionadas, manter relação estreita com os familiares da criança que freqüenta a
brinquedoteca, estar preparado e reagir às situações inesperadas, respeitar os níveis de
desenvolvimento da criança e principalmente gostar de trabalhar com crianças. O brinquedista
deve ser um profissional especializado que possa além de realizar atividades técnicas, realizar
atividades humanas e que goste realmente do que faz, pois a brinquedoteca permite ampliar o
sonho, a magia e a fantasia das crianças.
45
2.5 Os Brinquedos
Segundo Buchalla (2007) em uma pesquisa realizada no Brasil pela Revista Veja, 97%
dos 24,3 milhões de crianças entrevistadas assustadoramente relatam que brincam com a
televisão, com o DVD e com os jogos de computador e 84% dos 31,5 milhões de pais
afirmam enganosamente que para as crianças se prepararem para a vida, devem estudar e
deixar de lados os brinquedos e as brincadeiras.
Em decorrência destas estatísticas que afirmam ser a televisão um dos únicos
brinquedos que as crianças têm, Del Priori (2000) afirma que a situação social hoje em dia é
um pouco precária, pois vemos lares super habitados, onde não há espaço para os moradores
quanto mais para brinquedos. Resta infelizmente para a criança pouco espaço para o brincar e
desprovido de brinquedos.
Segundo Oliveira (2002), o desenvolvimento da criança não decorre da ação isolada,
pois decorre através da interação com o brinquedo e da troca recíproca que se estabelece entre
indivíduo e meio, ou seja, cada aspecto influindo e completando o outro. Assim, o brinquedo
aparece na vida cotidiana da criança como um objeto necessário para o desenvolvimento
emocional, físico e cognitivo dela, pois irá lhe auxiliar na construção de seus significados
sociais, ampliando e subsidiando a sua forma de viver, pensar e ver o mundo ao seu redor.
Para Schilaro (2001), brinquedos e brincadeiras existem há muitos e muitos anos. Não
podemos definir quem os inventou, só sabemos que eles são até hoje transmitidos e
repassados de década para década, em todos os lugares do mundo. As pessoas que criam
brinquedos observam o local onde vivem e usam a imaginação. E assim se explica a invenção
de novos brinquedos que nunca foram criados, pois a criança expande seu mundo objetivo
apropriando-se de objetos do mundo adulto (CARVALHO, 2007, p.183) e por esta razão é
fundamental o surgimento de novos brinquedos que possam permitir que a criança se
relacione com esse mundo.
Completa Kishimoto (2003), dizendo que independente de época, cultura e classe
social, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras fazem parte da vida e do imaginário de toda
criança, pois elas vivem num mundo fantasioso, encantador, cheio de alegria, de sonhos e
onde realidade e faz-de-conta se confundem na mais perfeita sincronia. De acordo com Zats e
Halaban (2006) o brinquedo poderia contar a história social, cultural e política da evolução do
homem, pois muitos brinquedos que alegram as crianças desta geração são oriundos das mais
antigas civilizações.
46
No brincar, casam-se a espontaneidade e a criatividade, pois, brincando, a criança está
se humanizando, aprendendo a aceitar-se de forma efetiva e criando vínculos entre o que é
real e imaginário. O brinquedo vem a ser a ferramenta de que dispõe a criança para aprender e
decifrar o meio em que vive, pois brincadeira e brinquedo dão-se as mãos nesse processo de
descobertas.
A criança tem curiosidade quando recebe um brinquedo ou alguém sugere uma
brincadeira. Muitas vezes a criança quer e consegue ter determinado brinquedo (...), ela vai
ficar muito curiosa até saber como brincar com aquele brinquedo (BOMTEMPO, 2006, p.
41).
Embora muitas crianças não possuam contato com brinquedos que tenham objetivos
pré-estabelecidos para cada fase de sua vivência, os mesmos são importantes fontes de
desenvolvimento, pois mesmo não sendo um aspecto predominante da infância de um grupo
de crianças, ele exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil. Assim, torna
evidente a importância de se estabelecer e conhecer os brinquedos adequados para cada fase
de desenvolvimento das crianças. Além do que, o brinquedo não pode oferecer risco à criança,
por isso deve ter certificados e selo do Instituto Nacional de Metrologia – o INMETRO.
O bom brinquedo não é, necessariamente, o mais vendido, nem tampouco
aquele que certamente possui alta durabilidade (...) Para que um brinquedo
possa ser considerado bom, é preciso que ele desperte o desejo de brincar,
representando muitas vezes um desafio à criança (AZEVEDO, 2005, p.30).
2.5.1. Brinquedos e fases de desenvolvimento
Na faixa etária de 0 a 6 anos é o período mais importante e mais propício para
estimular a criatividade, espontaneidade, cognição, afetividade e socialização da criança, pois
a mesma não nasce pronta; já que está apta para interações e novas aprendizagens. Assim, o
brinquedo atua como uma ferramenta de grande importância neste processo, e para a escolha
deste é fundamental respeitar as etapas de desenvolvimento e em especial o interesse da
criança. Segue uma proposta de adequações de brinquedos quanto à faixa etária proposta por
alguns autores.
47
Fase de Desenvolvimento
Descrição Brinquedo
0 a 1 ano Nesta fase o bebê precisa de brinquedos que sejam estimulantes, fáceis de pegar e que chamem a atenção por meio de cores, formas, texturas e sons e, assim estimulam a visão, o tato (quando o bebê tenta pegar) e a audição (FARIA, 2007, p.17).
Móbile, mordedores, chocalhos, bonecos de pano e pelúcia que emitem sons, brinquedos de banho, que rolem, estimulem o tato e a manipulação etc.
1 a 2 anos Esta etapa é fundamental proporcionar situações que facilitem e instiguem a criança a andar, falar e descobrir o meio em que vive. Nesta etapa a criança adora mexer em tudo, quebrar para saber como funciona e explorar todos os brinquedos, por isso a partir desta fase é fundamental proporcionar toda variedade de brinquedos para que ela se desenvolva e conheça o mundo através da brincadeira, segundo Fernandes, Lamarco (2006).
Bonecas e bonecos, carrinhos, fantoches, trenzinho para puxar, caixas, cubos e blocos de encaixar, empilhar e montar, túnel de pano etc.
2 a 3 anos e meio Agora a criança ganha desenvoltura, quer investigar o mundo que se abre para ela (...) tem milhares de coisas e lugares para explorar (ZATS; ZATS; HALABAN, 2006, p.41). Esta é a fase na qual a criança quer ao máximo ser independente e tentar fazer as coisas por conta própria.
Túnel de pano, carrinhos de empurrar, fantasias, carrinhos de passeio, escorregador (1 m), fantasias, piscina de bolinha, instrumentos musicais etc.
3 anos e meio a 6 anos
Surge o faz-de-conta em meados desta fase para auxiliar a criança na compreensão da realidade e na distinção do imaginário pela via da fantasia.
Casinha de boneca com mobiliário, brinquedos de praia e piscina, blocos de montar, bonecas que falam, carrinhos e berço de boneca etc.
Após a ampliação e descoberta do brincar dentro do contexto da infância, os
brinquedos passaram a permitir um suporte significativo ao brincar. Com isso surgiram
diferentes brinquedos que tinham como objetivo transmitir as representações de cada época e
gerar na criança uma forma própria e encantada de ver o mundo. Porém, segundo Oliveira
(2000) o brinquedo difere do jogo, pois jogo pode ser considerado um esporte e brinquedo é
um objeto que serve de entretenimento para a criança.
48
2.6 Os jogos
Antes de mais nada, o jogo é uma atividade voluntária. Sujeito a ordens, deixa de se
jogo, podendo no máximo ser uma imitação forçada (HUIZINGA, 1971, p. 10).
Em uma das mais clássicas obras produzidas sobre o jogo, ”HOMO
LUDENS”, seu autor JOHAN HUIZINGA, considera o jogo como algo que
é anterior a própria civilização e que portanto,necessita ser abordado com
uma boa dose de reverência,isto é,com o devido zelo para observá-lo de
acordo com suas relações históricas,culturais e sociais (OTUZI, 2001, p.11).
É melhor dar um jogo de habilidades do que uma arma de plástico (CHALITA, 2001,
p.28). Assim o autor traça uma comparação entre dois brinquedos, porém vale salientar que
muitas crianças brincam e adoram os famosos brinquedos de guerra por ser uma forma de
expressar sua agressividade e controlar a angústia (...) Apesar de nossas idéias pacifistas,
precisamos tolerar essa brincadeira (ZATS; HALABAN, 2006, p. 72)
O uso dos jogos proporciona um ambiente desafiador, capaz de “estimular o
intelecto” proporcionando a conquista de estágios mais elevados de
raciocínio. Isto quer dizer que o pensamento conceitual é uma conquista que
depende não somente do esforço individual, mas principalmente do
contexto em que o indivíduo se insere, que define, aliás, seu ‘ponto de
chegada’ (REGO, 2000, p.79).
Com isso, as crianças vão interagindo com o meio dando a ele significados diferentes,
criando o novo, a partir do que é real e irreal. Considero o jogo e o esporte como fenômenos
humanos importantes e capazes de nos auxiliar no aperfeiçoamento do nosso jeito de
compreender e viver a vida (OTUZI, 2001, p. 6).
O brincar com jogos auxilia na zona de desenvolvimento proximal, um conceito
vygotskyano, mas que Rego (2000) define como o caminho que o indivíduo vai percorrer para
desenvolver ações que estão em processos de amadurecimento e que se tornarão funções
consolidadas e sólidas. Pela via do brincar a zona de desenvolvimento proximal vive em
transformação, pois aquilo que uma criança só é capaz de fazer literalmente com a ajuda de
alguém, através do brinquedo ela conseguirá realizar sozinha.
49
Segundo Deacove (2002), o jogo cooperativo deve ter princípios como ajuda mútua no
intuito de chegar a um objetivo comum ao invés da competição entre os participantes e da
eliminação de jogadores ao longo do jogo. Esse tipo de jogo surgiu devido uma grande
preocupação com o excesso de individualismo e competição exacerbada da sociedade
moderna.
No “jogo espontâneo” que é livre, a criança tem prazer simplesmente por
brincar; o educador é um observador e mediador de conflitos. Já no “jogo
dirigido”, o educador é mais que um orientador, ele intervém na atividade
propondo desafios, colocando dificuldades progressivas no jogo para
promover o desenvolvimento e fixar a aprendizagem (OTUZI, 2001, p.18).
Esses jogos foram elaborados com o objetivo de contribuir com a aceitação de si
próprio, possibilitando ao jogador/colaborador a interação com o meio e a prevenção de
problemas sociais derivados da competitividade, antes mesmo de se tornarem problemas
emocionais e reais.
Grande parte dos jogos conhecidos estimula o confronto ao invés do
encontro. São situações capazes de eliminar a diversão e a pura alegria de
jogar. Sendo estruturados para a eliminação de pessoas e para produzir mais
perdedores do que vencedores, os jogos tornaram-se um espaço de tensão e
ilusão (OTUZI, 2001, p.45).
Com esse tipo de jogo, joga-se para superar os desafios e não derrotar os outros; joga-
se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar. São jogos aos quais o esforço cooperativo é
necessário para se atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos.
2.6.1. O jogo e o texto literário
A mudança dos tempos e a mudança de paradigmas têm profundos reflexos
na literatura em geral e particularmente, na literatura infantil. É por esse
motivo que Nelly Novaes Coelho (1987) afirma que a literatura infantil vai
sendo “despejada” na criança ao sabor dos ventos de mudança: se for época
de consolidação de valores, ela terá sempre intencionalidade pedagógica; se
for época de crise de valores, ela será arte, ludismo, descompromisso; por
50
outro lado, quando o movimento é de renovação, a literatura infantil é
informativa (CALDIN, 2001).
Mangueneau (1996) ressalta que antigamente o ensinar era confundido com o
transmitir, porém hoje, através do jogo há uma reflexão lingüística, pois ele passa a ser objeto
particular de aprendizagem do aluno.
A idéia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou
transformando o sentido do que se entende por material pedagógico, assim
o jogo ganha espaço no ensino de Língua Portuguesa. Cada estudante,
independentemente da sua idade, passou, a ser um desafio à competência do
professor. Seu interesse passou a ser a força que comanda o processo da
aprendizagem (SANTOS, 2004, p. 37).
Nos textos literários, entretanto, está presente o caráter lúdico, mesmo que
timidamente - poder-se-ia dizer envergonhado. É incontestável que o lúdico estabeleça o
envolvimento da criança com a literatura para que permeie a infância, e assim, através do
lúdico pode-se incorporar ainda na Educação Infantil os textos literários, pois o jogo lúdico é
sedutor.
Lewis Carrol, com Alice no País das Maravilhas rompe com o didatismo da literatura
infantil francamente utilitária e, pelo Nonsense, instaura o lúdico, no que é seguido por
outros autores (CALDIN, 2001).
A autora afirma que a arte literária é um dos caminhos para aprender a aprender, para
desvendar os mistérios e os encantos da vida, assim se define a função pedagógica da
literatura infantil. A criança assim, é “conduzida” a entrar no universo ficcional através dos
jogos, principalmente através dos jogos simbólicos.
A escola e a literatura podem provar a sua utilidade quando se tornarem o espaço
para a criança refletir sobre sua condição pessoal. Pois, de um modo ou outro, escola e
literatura infantil têm sido o que restou para a infância (...) (ZILBERMAN, 2003, p. 24).
Assim, as contribuições específicas do texto escrito se concentram nas articulações
indispensáveis ao texto escrito, articulações temporais, fazendo a articulação do com texto
com o jogo (FARIA, 2005).
51
Para Zilberman (2003) a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento
de bons hábitos e gosto pela leitura; o lúdico deve ser o ponto de partida para um interesse
saudável que permita um diálogo entre texto literário e a criança.
O ser humano é um ser lúdico, e por isso tem necessidade de brincar. O papel da
escola e do educador é proporcionar através do lúdico e do “ficcionar”, jogos lingüísticos que
ampliem o interesse do aluno à leitura do texto literário, pois o jogo pode auxiliar no trabalho
e no ensino da literatura.
A seguir é apresentada a proposta da Pesquisa-ação que subsidia e norteia o estudo
prático realizado.
52
Capítulo 3: Metodologia da Pesquisa-ação
Apresenta-se neste capítulo a metodologia científica para o desenvolvimento da
pesquisa.
3.1 Tipo de estudo: pesquisa-ação
Segundo Thiollent (2005) o estudo é designado Pesquisa-ação, pois tem como base a
participação ativa tanto dos pesquisadores envolvidos, quanto dos sujeitos do estudo, além de
ter como objetivo responder uma problemática do grupo estudado. A Pesquisa-ação busca
obter informações do universo das brincadeiras, dos brinquedos e jogos que levem ao
entendimento do problema de pesquisa evidenciado – a contribuição dos mesmos no
desenvolvimento infantil em múltiplos aspectos.
Dentre as características da Pesquisa-ação as fundamentais são: planejar, observar,
agir e refletir de maneira sistemática e rigorosa visando produzir mudanças e transformações
por meio da objetividade e controle, e sobretudo, compreender a pesquisa e envolver os
participantes na discussão e reflexão crítica do resultado.
Portanto, para que haja um resultado, ou seja, efeitos sobre a prática, é preciso
trabalhar de forma conjunta e jamais de forma isolada. Assim, torna evidente que é
fundamental utilizar a participação não só no ciclo da proposta, mas também em todo o
decorrer da pesquisa, pois auxilia na metodologia e consecutivamente na prática.
O diário de bordo é uma das ferramentas fundamentais para fazer uma reflexão envolta
da prática da pesquisa e na preparação de relatórios mais precisos com relação aos resultados,
pois a Pesquisa-ação tem como foco melhorar tanto a prática, quanto a compreensão e
principalmente a situação que se produz ela e envolver os integrantes no decorrer das
atividades, visando uma participação de cunho democrática que propicie uma mudança.
3.1.1 As fases da Pesquisa-ação
Para Thiollent (2005) a Pesquisa-ação é freqüentemente representada pela
investigação e monitoramento das atividades durante a prática. Assim através do
planejamento, monitoramento e avaliação das atividades realizadas torna-se possível observar
e analisar dados referentes aos sujeitos participantes.
De início começa-se com uma sondagem da situação buscando paralelamente a
realização de uma mudança que visa melhor desenvolver à prática, logo após esse
53
reconhecimento da realidade é preciso elaborar um planejamento que dê subsídio ao
monitoramento da situação atual por meio da avaliação, ou seja, avaliando os resultados em
busca de uma possível mudança adequada na prática.
A primeira etapa da pesquisa identifica e define o problema através de um breve
diagnóstico estabelecendo as possibilidades de diversas ações para solucioná-lo (perguntar,
questionar, analisar, escrever). Em seguida, pela via da ação, desenvolve-se diversas
possibilidades de compreensão dos objetivos, interesses e possíveis obstáculos, subsídios e
meios para solucionar os possíveis conflitos.
A segunda etapa é a ação na qual o pesquisador escolhe ou projeta as mudanças feitas.
Os artífices da ação são baseados no ato de conscientizar e envolver os participantes
proporcionando diversas possibilidades e alternativas durante a ação.
A terceira etapa é a avaliação do processo e dos resultados obtidos ou não, analisando
os acertos e desacertos e a percepção dos participantes sobre as atividades. Assim, através de
objetivos e metas pode-se fazer interrogativas que visem analisar o que não pode ser
alcançado, se aconteceu resultados inesperados, se poderia ser reorientado os objetivos e
metas, etc.
Dentro de um processo de avaliação existem três etapas, as quais têm suas
particularidades, dependentes uma da outra para dar continuidade ao processo. Segue as
etapas da avaliação: a avaliação do processo, a avaliação dos resultados e a avaliação cíclica.
Na avaliação do processo é possível identificar e analisar os artífices que serão
utilizados como subsídio para verificar o desempenho dos envolvidos na pesquisa. Já na
avaliação dos resultados pode-se difiní-la como uma investigação que visa obter a eficácia e
efetividade dos objetivos propostos para o estudo, ou seja, mediar os resultados, pois assim,
analisando-os revisa-se a avaliação do processo e através da avaliação cíclica pode-se
delimitar um processo contínuo de desenvolvimento da pesquisa.
Por fim, a quarta e última etapa da Pesquisa-ação que se define como a reflexão, todo
o grupo faz uma análise crítica do processo e do que foi apreendido, assim, é o momento
adequado para discutir e analisar a realidade, a totalidade e principalmente retomar alguns
pontos e colocações feitas nas reuniões. É fundamental unir a reflexão à ação para melhorar e
desenvolver a mesma – a ação.
3.2 Local do estudo
A pesquisa foi desenvolvida em uma instituição não-escolar situada na cidade de
Guaratinguetá/SP, com a utilização de uma brinquedoteca psicopedagógica. Este espaço é
54
supervisionado por duas irmãs de caridade que dirigem e coordenam as atividades lá
desenvolvidas. A instituição na qual foi desenvolvido o estudo realiza há mais de 20 anos um
trabalho de humanização e profissionalização com crianças e jovens soropositivos de classe
baixa que residem à margem do Rio Paraíba, na região do Vale do Paraíba Paulista e
apresentam características emocionais geradas pela enfermidade.
Na instituição estão envolvidos cerca de vinte e dois funcionários, seis educadores que
atuam diretamente com as crianças e adolescentes, duas coordenadoras que direcionam as
atividades etc. Mas além destes funcionários há também estagiários, os familiares das crianças
e a comunidade local que conta com voluntários que atuam de forma ativa na maioria das
atividades da instituição.
A brinquedoteca onde foi desenvolvida a pesquisa é dividida entre cantinhos: das
compras, das bonecas, dos jogos, da história e da casinha; visto que a mesma possui todos os
objetos necessários para despertar o lúdico através da realidade de cada criança.
A pesquisa foi realizada nos fins de semana, durante nove meses consecutivos, tendo as
atividades uma carga horária de quatro horas diárias e desenvolvidas com um grupo composto
por seis crianças, mas uma delas foi designada para o estudo de caso por causa da sua
particularidade ligada a dificuldade de interação social.
3.3 Sujeitos do estudo
Para realizar as proposições deste estudo, além das cinco crianças que freqüentavam a
brinquedoteca, uma criança apresentava dificuldades de interação, e foi designada para o
estudo de caso. Mas as seis crianças que tinham entre 03 e 05 anos de idade participaram
todos os fins de semana das atividades na brinquedoteca.
Como subsídio à pesquisa foi preciso fazer um paralelo entre a visão da escola, dos
professores destas crianças e a visão familiar da criança estudada, pois estas pessoas fazem
parte diretamente da vida das mesmas.
Através de dados colhidos com as pessoas que convivem há mais tempo com as
crianças, tornou-se possível conhecer mais detalhadamente a pesquisa e o contexto social em
que as crianças vivem. Assim ressalta-se a participação dessas pessoas na pesquisa realizada,
pois elas atuaram de forma ativa, visto que este é uma das características da metodologia
Pesquisa-ação.
3.4 Aspectos éticos relacionados à pesquisa
Em um primeiro momento, explicou-se as proposições da pesquisa para os
55
coordenadores, diretores do local e responsáveis pelas crianças, salientando a importância de
prezar pela assiduidade das crianças na instituição; os responsáveis pelas crianças foram
convidados a conhecer a brinquedoteca, sendo explicado a eles a ligação entre o mundo do
faz-de-conta e o da realidade e a importância do brincar como subsídio ao próprio
desenvolvimento das crianças. Após fazer estas considerações, apresentou-se a carta de
informação a instituição (Anexo 1), a autorização oficial (Anexo 2) e os termos de
consentimento livre e exclarecido (Anexo 3) para dar início ao estudo.
3.5 Material e Método
A pesquisa iniciou-se com uma entrevista pessoal com os pais, professores e com as
crianças, visando conhecer o universo das mesmas e para dar início ao planejamento das
ações. Posteriormente foi realizada a observação das crianças durante suas atividades na
brinquedoteca e por fim o desenvolvimento de atividades que contribuíssem no
desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das mesmas.
A proposta foi confeccionar brinquedos de sucata com as crianças e oferecê-los às
mesmas; proporcionar brincadeiras contextualizadas por temas intervindo na brincadeira e
deixando as crianças brincarem naturalmente com temas que mais gostassem. Os
pesquisadores observavam e participavam, para em momentos oportunos, encaminhar o
percurso das atividades para o alcance dos objetivos. Assim foi realizada uma intervenção
lúdica que visou contribuir nos aspectos supracitados.
Foram feitos relatórios das atividades, resumos de reuniões, anotações feitas pelos
pesquisadores. Os registros de dados permitiram levantar diversas informações sobre as
brincadeiras, brinquedos e os jogos, espaços mais apreciados e procurados pelas crianças, o
grau de interesse das faixas etárias envolvidas, e, em especial, aos itens relacionados as
crianças que participaram das atividades e da criança que foi designada para o estudo de caso.
A elaboração de todas as ações e materiais utilizados levou em conta a origem social
das crianças, o que os profissionais mencionaram a respeito da forma como as crianças
brincam e as informações dos pais.
3.6 Análise dos resultados
A análise dos resultados foi realizada utilizando como subsídio não só o estudo feito
com as crianças dentro da brinquedoteca, mas também com o auxílio dos instrumentos de
coletas de dados. Assim, os dados colhidos foram analisados de forma qualitativa, para
compor o estudo de caso.
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Capítulo 4: Narrativa do caso e discussão dos resultados
Neste capítulo será apresentado um estudo de caso ressaltando os resultados obtidos
durante a pesquisa, fazendo um paralelo com os referenciais teóricos estudados, compondo
assim uma análise qualitativa.
4.1 O Caso
V.H., 4 anos e 6 meses de idade, sexo masculino, freqüenta a 1ª fase da Educação
Infantil de uma escola municipal da cidade de Guaratinguetá, Estado de São Paulo. A criança
foi encaminhada pela atual coordenadora para freqüentar a brinquedoteca da instituição,
porque apresentava dificuldades de interação com os colegas e muita agitação, além de
dificuldades nas atividades escolares e principalmente em realizar atividades em grupo.
A mãe da criança conta que seu parto foi natural e sem intercorrências. A família já
apresentava bastante dificuldade financeira, contudo a criança cresceu cercada de atenção,
visto que seu pai sempre esteve ao seu lado durante as brincadeiras. A criança, como foi
mencionado anteriormente, não gosta de brincar com outros colegas, pois possui dificuldades
de relacionar-se com quem ele ainda não conhece bem.
De acordo com informações da instituição, a família é de renda baixa, pois tanto o pai
quanto a mãe da criança não trabalham; ambos recebem auxílio municipal, estadual e de
instituições de caridade para sobreviverem. A criança tem poucos brinquedos, quebrados e
sem condições de uso – para brincar, sendo esta uma das razões para ela ter sido designada
para este estudo: a falta de recursos lúdicos para desenvolver o aspecto social.
Focando o contexto escolar dessa criança, nota-se que ela tem dificuldades de ordem
social e afetiva, pois não se adapta ao ambiente escolar devido à timidez, falta de amigos e
etc. e consecutivamente apresenta dificuldades cognitivas, pois segundo Azevedo (2006), a
criança transporta para a escola os processos interacionais que vivencia em diferentes
ambientes, principalmente na família.
A pouca relação da criança com brinquedos que despertassem sua imaginação e sua
potencialidade, não a motivava para se envolver nas atividades lúdicas e parecia não ter ânimo
para brincar e nem para interagir com os seus colegas - talvez por se relacionar e brincar
somente com seu pai e por ter poucos brinquedos.
A partir do diário de bordo, narrado a seguir, pode-se ter uma visão sobre as atividades
realizadas com as crianças, suas interações com o contexto social e sobre as significações que
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elas dão para o meio ao qual estão inseridas. Tal registro permite a análise dos aspectos
cognitivos, afetivos e sociais que compõe a problemática do estudo.
4.2 Diário de bordo.
Foi elaborado para este estudo um planejamento amplo de atividades, com objetivos
pré-estabelecidos, a ser desenvolvido durante nove meses consecutivos (período de
“gestação” da pesquisa), com o intuito de estudar um caso durante um período de tempo para
identificar os possíveis avanços no desenvolvimento da criança em questão.
Para cada encontro foi proposto um tema ao brincar, partindo do princípio de que a
criança se envolve na atividade quando ela atribui simbologia e significância. E como um
subsídio e norte para a escolha das atividades foi preciso conhecer os brinquedos que mais
agradavam cada criança, para assim utilizá-los na medida do possível. No diagnóstico de seus
interesses e preferências por brinquedos notou-se que os brinquedos como casinha, fantasia,
carrinho, boneca eram os preferidos pelas crianças de ambos os sexos, porém ressaltando que
todas elas têm o gosto pelos novos brinquedos e brincadeiras que estão ligados as novas
tecnologias.
No primeiro dia da realização das atividades na brinquedoteca apareceram diversas
dificuldades com relação aos brinquedos e principalmente quanto à estrutura física no local,
pois havia estantes muito altas e por isso talvez não tivessem sido procuradas pelas crianças.
Tornou-se necessário para o desenvolvimento da pesquisa a reestruturação do local e recursos
materiais, assim o desafio foi confeccionar juntamente com as crianças novos brinquedos
feitos com sucata.
17 de março de 2007 - Conhecendo a realidade.
Neste dia foi preciso conhecer o local onde seria desenvolvida a prática, visando o
alcance do desenvolvimento de múltiplos aspectos das crianças. E também foi nesta ocasião
que as pesquisadoras foram apresentadas às crianças. As crianças demonstraram vontade de
freqüentar a brinquedoteca, visto que nunca havia sido usada por elas, apenas V.H. não queria
participar e até chorou nos primeiros dias.
Após esta atividade de apresentação, que ocorreu na brinquedoteca da instituição, foi
realizada uma dinâmica de grupo subsidiada por uma história e por uma apresentação lúdica
entre crianças e pesquisadoras. Durante a dinâmica V.H. mostrou-se bastante atento e
sorridente, mas não se envolveu oralmente na atividade.
58
Para conhecer melhor as crianças foi preciso observá-las brincando, pois elas
demonstram facialmente, de forma oral, corporal e por meio de suas ações e reações o que são
e como estão por meio do brincar. E esse critério de identificação é um aspecto
imprescindível e norteador para o pesquisador que estuda a atividade lúdica de um grupo de
crianças.
Ao observar as crianças brincando descobriu-se que V.H. tinha dificuldade de interagir
com as outras crianças, e nem gostava de dividir os brinquedos, este foi o ponto de partida
para o estudo de caso, visando desenvolver suas habilidades sócio-interativas.
14 de abril de 2007 – Reconhecendo a brinquedoteca.
No início das atividades V.H. chorou, pois não queria participar de nenhuma proposta
lúdica, mas depois se acalmou e se mostrou muito quieto; não mantendo contato com
nenhuma criança, apenas disse seu nome e o que mais gostava de brincar – de carrinho,
caminhão e boneca.
Para fazer um planejamento de ações foi necessário observar, descobrir e partir da
realidade das crianças, por isso neste dia, as crianças brincaram do que quiseram; dentre as
brincadeiras escolhidas pelas mesmas destacam-se: esconde-esconde, pega-pega, futebol e
pular corda. Após as atividades, as crianças receberam o lanche.
28 de abril de 2007 - Brincadeira livre.
Para despertar o interesse e descobrir com qual brinquedo as crianças mais brincavam,
tornou-se fundamental deixá-las utilizarem os brinquedos que quisessem. Assim, elas
começaram a montar um quebra-cabeça, depois as seis crianças presentes neste dia brincaram
com a casinha da Bárbie.
Na brincadeira de casinha todas as crianças participaram, interagindo e representando
um pouco sua realidade. V.H. no início se manteve afastado das outras crianças, mas o
companheirismo delas foi o estímulo para que ele se inteirasse do mundo da fantasia. Uma
das crianças deu uma boneca em sua mão e o convidou para brincar. Para Azevedo (2005), o
processo lúdico de sociabilidade da criança se dá quando ela interage com o outro, pois a
mesma aprende a conviver, a aceitar regras impostas pelo grupo, a respeitar o outro, a
enfrentar frustrações e elevar a sua motivação. Ao brincar, V.H. sentiu-se envolvido e feliz
por ter sido convidado a fazê-lo.
A proposta seguinte foi a mudança de atividade, pois a sugestão era que cada criança
pegasse um brinquedo que mais gostasse e brincasse individualmente. Após a escolha do
59
brinquedo elas ficaram animadas em brincarem sozinhas. Santos (2006) sugere que a criança
quando brinca sozinha refaz experiências que lhe proporcionam amadurecimento emocional,
pois sem passar por esta fase do brincar ela não passa por um momento de centrar-se em suas
próprias vivências.
V.H. sempre se sentia motivado a brincar sozinho, mesmo que no momento da sua
brincadeira estivesse em constante observação da brincadeira do outro.
05 de maio de 2007 – Brincando de casinha.
A princípio uma criança pegou uma boneca dizendo que seria a mãe, a outra criança
pegou o boneco dizendo que seria o pai e ambos começaram a brincar, mas antes foi proposto
a eles que arrumassem a casinha, pois estava tudo desorganizado e jogado pelo chão.
Um deles começou arrumar, porém do jeito dele e percebeu-se que um colocou o
armário dentro do quarto, uma cama de casal perto de uma de solteiro, e a outra junto à
cozinha, ou seja, conclui-se que eles estavam brincando e transmitindo a sua realidade através
do brincar.
Durante o decorrer da brincadeira eles dialogavam dizendo:
- Papai.
- Hum, respondeu V.H.
- Estou com fome. Mamãe tem alguma coisa pra comer?
- Não tem, não comprei nada, pois estava caro o que você me pediu.
- Vamos ver se encontramos algum dinheiro para comprar alguma coisa, relatou o
menino V.H.
- Então vamos. E começaram a procurar o dinheiro na gaveta, no armário, até que por
fim encontraram um dinheirinho embaixo da cama.
Depois compraram juntos o arroz e o feijão. Porém, só foi comprado o básico de uma
alimentação que sabe-se ser a realidade das famílias, e também pouco favorável para o
crescimento e desenvolvimento saudável de uma criança.
12 de maio de 2007 – Compras e vendas.
As crianças receberam dinheirinho de papel e foi proposto que elas brincassem de faz-
de-conta em um supermercado para comprar frutas e legumes de brinquedo. Assim, pegaram
uma sacola plástica de compras, começaram a “comprar” frutas, verduras, legumes e doces.
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A pesquisadora era a funcionária do caixa do supermercado e cobrava das crianças o
que foi “comprado”, assim foi questionado qual era o preço de cada produto e as crianças
deveriam “pagar”.
Durante a “compra” V.H. não tinha o “dinheiro” para levar o produto, mas ele teve a
idéia de ir ao “banco” para poder fazer um empréstimo e fazer suas compras. Uma das
crianças questionou com V.H. sobre a possibilidade de ele fazer um “empréstimo” maior no
banco para fazer mais compras.
Com esta brincadeira foi possível observar que V.H. foi motivado a interagir com os
colegas por meio do brinquedo e assim demonstrou ter uma solução para o problema em
questão. Para Azevedo (2004), a criança, ao se concentrar para desenvolver e solucionar uma
problemática quando brinca, está desenvolvendo habilidades de cognição, pois une o
pensamento racional com o verbal.
19 de maio de 2007 – Brincando de super-herói.
Os pesquisadores procuraram saber quais eram os heróis favoritos das crianças por
meio de uma pergunta direta e foi proposto que cada criança imitasse o seu herói favorito.
V.H. relatou carinho e identificação ao homem-aranha, por ser um super-herói que
supostamente faz o bem; assim ele começou a imitá-lo e junto com seus colegas iniciaram
uma brincadeira de polícia e ladrão.
Zats e Halaban (2006) afirmam que o perigo em brincar de polícia e ladrão está
justamente no medo das pessoas e na repressão a este comportamento, pois o que é proibido é
sempre atrativo à criança. Esses brinquedos não são responsáveis pela formação de adultos
violentos e nem são a causa de comportamento agressivo, pelo contrário, para ter uma
infância saudável, as crianças necessitam representar por meio do imaginário a violência para
que possam entendê-la.
As recomendações para não deixar as crianças usarem armas de brinquedos são
muitas, mas é claro que tanto os pais quanto os educadores precisam mediar as crianças
durante a brincadeira. Vale ressaltar que se a brincadeira for reprimida na infância, pode
surgir na fase adulta na forma de comportamentos agressivos.
Portanto, o pesquisador pode intervir na brincadeira para auxiliar no processo de
representação e compreensão de valores e atitudes, e não com a preocupação de evitar a
brincadeira que envolve a violência.
61
26 de maio de 2007 – Representando a história de Chapeuzinho Vermelho.
A atividade foi elaborada visando conhecer as possíveis roupagens que as crianças
dariam para a história de Chapeuzinho Vermelho. Assim, o pesquisador pede que as crianças
escolham as fantasias e comecem a imitar os personagens através da história.
V.H. foi o lobo mal e quando foi pegar a menina do capuz vermelho começou a criar
junto com ela um novo final para a história. Por meio de diálogo, percebe-se o quanto eles
utilizaram a criatividade para finalizar e atribuir nova roupagem para uma história tão
estigmatizada por muitas pessoas.
- Você é o lobo mal, não é? Pergunta a menina que se fantasiou de Chapeuzinho
Vermelho.
- Não, sou o lobo bonzinho. Responde V.H.
- Eu ouvi falar que você é mal, mas se está falando comigo é porque não é tão mal
assim,” né” lobinho?
- Sim. Eu estou procurando a vovozinha, ela sumiu. Disse V.H.
- Ela está doente e precisamos ajudar ela. Responde sua amiga. E saíram os dois pelo
bosque a procurar a vovozinha.
02 de junho de 2007 – Brincando de escolinha.
As crianças que freqüentaram a brinquedoteca neste dia brincaram de casinha. V.H.
organizou o quarto da boneca Bárbie com duas camas, uma de casal e a outra de solteiro e
brincou também com um boneco e uma boneca, ou seja, essa brincadeira permitiu a
descoberta de um pouco mais sobre o cotidiano da família desta criança, pois foi possível
perceber que sua casa é bastante pequena e possui poucos cômodos, visto que ele deve dormir
no mesmo quarto dos pais.
Após brincarem de casinha, as crianças brincaram de escolinha, pois é um tipo de
brincadeira a qual utilizam a imaginação e o faz-de-conta para subsidiar o processo de
simbolização, segundo Wajskop (2005).
Na atividade “brincando de escolinha”, a pedido da criança que representava a
professora, V.H. desenhou sua escola bem grande, porém depois rabiscou de preto, rasgou e
jogou fora. Durante a brincadeira, ele demonstrou bastante desconforto e pouco interesse,
expressava mais interesse em ser o “professor” do que o “aluno”.
Durante a brincadeira, V.H. foi um dos “alunos”, porém depois também foi o
“professor” da escolinha. Ao adotar o papel simbólico de professor ele se mostrou mais ativo
62
e mais envolvido do que sendo o “aluno”, pois sempre ficava quieto, não questionava e nem
respondia as perguntas dos outros “professores”.
Ao brincar de escolinha, segundo Zats e Halaban (2006), a criança transmite todo o
seu apreço pela escola e passa assim a demonstrar os sentimentos, os medos, as frustrações e
as alegrias que abrigam em seu inconsciente. Assim, esta brincadeira evidenciou muito das
significações que V.H. atribui à sua escola.
V.H. interpretou o papel de adulto quando brincava e assumiu com todo rigor os
sentimentos e afetos que poderiam ter vivido com algum adulto. Exemplo: deixou a boneca
(filhinha) de castigo e ficou bravo com ela. Na brincadeira, a criança internaliza e representa
gestos, comportamentos que foram vivenciados por ela na sua vida real. Por isso os exemplos
que as crianças têm e vêem valem mais do que mil palavras e regras impostas pela fala do
adulto, pois ficam marcados na vida da criança para sempre.
23 de junho de 2007 – Arrumando a casinha.
V.H. e as outras crianças brincaram com os jogos lúdicos e como sempre de casinha.
Mas V.H. só brinca de casinha com as meninas e esconde o “dinheiro” debaixo do armário ou
num outro lugar da casa. Ele esconde o “dinheiro” para que ninguém entre em sua casa e
pegue, segundo o mesmo.
Outra faceta da brincadeira, que possivelmente representa o que ele vivencia em seu
cotidiano, referia-se ao quarto onde havia uma cama de casal grudada com uma outra de
solteiro e um colchão ao chão. Ele sempre mantinha a casinha “desarrumada”, porém para
V.H., a casinha estava sempre muito bem organizada.
30 de junho de 2007 – Festa Junina.
Neste dia foi realizada a Festa Junina e por isso algumas crianças não quiseram ir até a
brinquedoteca, pois estavam ansiosas com a festa. Foi possível observar as crianças brincando
no pátio, onde foram colocadas várias caixas de brinquedos para elas brincarem naquele
mesmo local. Algumas crianças brincaram, inclusive V.H., que neste dia estava junto de sua
família, porém não se relacionou com nenhuma criança, nem ao menos falou e brincou com
nenhum educador, já que ficou junto de seus pais, somente brincou uma única vez na
barraquinha de pescaria. Foi possível observar que tudo que o pai fazia V.H. repetia.
14 de julho de 2007 – Do que vou brincar nestas férias?
Em círculo cada criança falava com quem, onde e do que iria brincar nas férias.
63
V.H. falou que brincaria com o seu pai e também iria brincar na casa do seu novo
amiguinho, que mora na mesma rua que ele e freqüentava também a brinquedoteca; segundo
V.H. brincariam de carrinho, caminhão, avião e moto.
Percebe-se que mesmo morando perto de uma das crianças que freqüentou a
brinquedoteca com ele, V.H. não tinha a amizade do menino e tão pouco brincavam juntos
antes do estudo realizado. Assim, as atividades na brinquedoteca os aproximaram e os
tornaram amigos a ponto de freqüentarem um a casa do outro para brincar.
04 de agosto de 2007 – Brincando de médico.
Ao propor esta atividade, as crianças ficaram bastante animadas, talvez por ser uma
atividade que desperte o faz-de-conta e que permite recriar a realidade por meio do brincar.
Duas crianças queriam ser o médico, mas foi proposto que elas intercalassem a função para
não gerar desentendimento e para permitir que todos pudessem ser um personagem de cada
vez.
V.H. de início foi o paciente e uma outra criança foi a médica. A pequena médica
examinou a barriga dele, examinou seus olhos, pediu que ele abrisse a boca e gritasse. Ele deu
um sorriso, mas gritou bem baixinho, talvez tenha ficado com vergonha das pesquisadoras.
Após o exame, a médica deu uma receita, o mandou ir até a farmácia comprar o remédio e
ficar deitado em sua cama por uma semana.
Após esta menina ser a médica, outras crianças tiveram também esta função, até
chegar a vez de V.H. Quando ele foi examinar uma menina de 4 anos ele pegou em sua mão,
olhou dentro da sua boca, pediu que ela mostrasse a língua e curiosamente a mandou se
direcionar até uma psicóloga – apontou dizendo ser uma das pesquisadoras.
Esta atitude foi muito intrigante, tendo em vista que a coordenação da unidade escolar
em que ele estuda disse que não havia psicólogos na instituição, e sua mãe havia dito que ele
jamais tinha ido a um psicólogo. Por esta razão fica a incógnita: como poderia uma criança de
4 anos e meio tocar no assunto de atendimento psicológico e abordar o assunto com tamanho
conhecimento, sem nunca ter ido a um? Poderia-se dizer que ele havia ouvido isso de alguma
criança, mas em que situação ouviu? Quando e onde? Não é possível afirmar.
17 de setembro de 2007 – Brincando de afeto com a boneca.
As pesquisadoras “brinquedistas” distribuíram uma boneca para cada uma das
crianças, as colocaram sentadas em círculo (uma de frente para a outra) e depois pediram para
que elas cuidassem da boneca como se fossem seus filhos. As crianças começaram a brincar e
64
possivelmente a transmitir muito do que vivenciam com seus pais, por isso algumas situações
devem ser relatadas.
Algumas crianças cuidavam com todo apreço como se a boneca realmente necessitasse
de total atenção e carinho e outras brigavam e colocavam de castigo, pois provavelmente
algum adulto o tivesse feito com a criança em questão.
V.H. pegou a boneca colocou em seus braços, ofereceu a mamadeira de brinquedo,
deu banho com água na pia da brinquedoteca, secou com uma toalha, vestiu roupinha,
sapatinhos, a colocou no berço e balançou até a boneca “dormir”.
Essa brincadeira contribuiu para que as crianças transmitissem a realidade pela via do
brincar e o afeto transmitido ao brinquedo de acordo com o que possivelmente vivenciam em
seu cotidiano.
20 de outubro de 2007 – Brincando de “ser” criança.
A proposta foi de que cada criança escolhesse um colega e o imitasse quando ele
estivesse brincando dentro da brinquedoteca. Para desenvolver esta atividade a criança teria
de buscar subsídio na memória e na imaginação, pois a mesma teria de recordar como o seu
colega brinca, como ele mais gosta de brincar e onde ele mais brinca dentro da brinquedoteca.
V.H. escolheu imitar N.G., um garoto da mesma idade da dele que sempre chegava
cedo na brinquedoteca e que gostava de brincar com carrinhos, caminhões e motos. V.H. o
imitou perfeitamente, não se esqueceu de nenhum detalhe e utilizou todos os brinquedos
preferidos de seu colega.
27 de outubro de 2007 – Reconhecendo os brinquedos.
Com os olhos vendados cada criança ia desvendando, através do tato, que brinquedo
estava em sua mão. Foram escolhidos cerca de seis brinquedos: carrinho, panelinha, dominó,
peteca, ioiô e urso de pelúcia que canta, para as crianças tatearem.
No desenrolar desta atividade observou-se que as crianças desvendavam apenas os
brinquedos que possivelmente conheciam mais, visto que alguns brinquedos as crianças não
conheciam. Zats e Halaban (2006) relatam a importância de alguns brinquedos na vida das
crianças e a importância de distingui-los com relação a texturas, cores, cheiros e funções.
Esta atividade proporcionou o desenvolvimento de concentração, elaboração de
hipóteses, consideradas subsídios no processo de maturidade e aprendizagem mais
significativa, segundo Winnicott (2005).
65
10 de novembro de 2007 – Brincando com Lego.
Ao brincar com os blocos de montar a criança desenvolve habilidades motoras e
cognitivas, mas o que há de mais significante e rico é o ato de trocar e assumir diferentes
papéis ao brincar. As crianças receberam muitas peças do brinquedo de montar, inclusive
rodinhas para construir carrinhos, e com o brinquedo, o grupo resolveu construir uma cidade,
onde cada estabelecimento da cidade tinha um responsável. Assim, eles construíram um
banco, uma prefeitura, uma escola, que foi construída por V.H, um bairro cheio de casinhas,
um hospital, um mercadinho e muitos carrinhos em trânsito.
V.H. foi designado por outra criança para ser o responsável da escola, assim, eles
começaram a ir de estabelecimento a estabelecimento vivenciando situações lúdicas até
chegar à escola; ele mostrou as dependências da mesma, falou como era gostoso estudar lá e
convidou os seus amigos para estudarem também. Depois, em outra atividade ele trocou
papéis e passou a ser outros personagens em diferentes situações lúdicas.
A brincadeira de enfoque social é aquela que envolve um esquema de revezamento de
caráter social, ou seja, uma troca de papéis, como foi relatada acima, onde aparentemente a
criança é motivada a responder aos outros colegas, afirma Santos (2006).
17 de novembro de 2007 – O Papai Noel está chegando.
As crianças sentadas em círculo juntamente com as pesquisadoras deveriam criar um
desenho em forma de cartinha para o Papai Noel, pois elas tinham que desenhar qual era o
brinquedo que gostariam de ganhar no Natal.
V.H. desenhou um homem-aranha, coloriu com as cores do desenho real e decorou
bastante a folha e o envelope, colou-o e disse que ia ao correio enviar a cartinha. Um de seus
novos colegas disse que ia com ele, e andaram até a janela da brinquedoteca pelo lado de fora,
demoraram um pouco lá e depois voltaram afirmando que por ser sábado, o correio estava
fechado, mas que segunda-feira iriam juntos até lá postar a cartinha.
4.3 Entrevista com os profissionais da Educação
Para nortear a prática realizada na pesquisa e especificamente o estudo de caso, dois
profissionais da educação, que atuam com as crianças e V.H. foram entrevistados.
Com relação ao aspecto social do brincar, referiram que V.H., após as propostas
lúdicas realizadas pelas pesquisadoras, passou a estabelecer interação com as outras crianças
em sala de aula, destacando-se assim as transformações que o meio poderia gerar.
66
O meio social em que V.H. vive influencia seu comportamento. As brincadeiras na
brinquedoteca contribuíram para que ele aprendesse a dividir, a compreender as razões do
colega em certas atitudes, criando em seu interior a capacidade de respeitar e ser afetivo com
os outros, inclusive com os próprios educadores. Segunda uma educadora, ele passou a ter
atitudes de cooperação, aprendeu a conviver com os colegas por meio da interação.
V.H. foi estimulado a desenvolver a sua imaginação, assim sendo, criou, recriou e
desenvolveu seu conhecimento de maneira lúdica; sua capacidade de pensar, raciocinar e
executar brincando contribuiu para o seu desenvolvimento cognitivo durante as atividades
propostas.
Quanto menor a faixa etária das crianças, maior deve ser o brincar, afirmou um dos
profissionais entrevistados. Porém, o brincar é fundamental em qualquer idade, pois é através
dele que as crianças assimilam melhor todos os novos conteúdos que são apreendidos no
cotidiano. Além disso, a criança precisa aprender conceitos, valores e conhecimento de forma
lúdica, pois o brincar inserido em atividades pedagógicas fundamentadas subsidia o
desenvolvimento dos aspectos sociais, cognitivos e sociais. V.H. passou a interagir mais com
os colegas, expressar mais os seus sentimentos e encontra-se mais fortalecido para construir
conhecimento.
Toda brincadeira tem seu lado educativo, comenta um dos profissionais da educação.
V.H teve o aspecto cognitivo trabalhado, durante as atividades lúdicas, e passou a expressar
mais afeto por meio de uma socialização mais efetiva.
4.4 Entrevista com os pais de V.H.
Para delinear a pesquisa e permitir a maior compreensão das contribuições das
brincadeiras no cotidiano de V.H. tornou-se fundamental entrevistar seus pais; visto que a
relação de pais e filho é muito significativa.
Enfocando o aspecto social de V.H., seus pais relataram que ele tem se relacionado de
forma mais aberta, pois está se envolvendo mais nas atividades escolares, nas atividades de
casa e até procura brincar com outras crianças que residem por perto.
Frisando o aspecto cognitivo, o pai de V.H. afirmou que ele tem tido menos “trabalho”
com o seu filho, pois há algum tempo atrás ele tinha que insistir para que o filho fizesse as
tarefas da escola e hoje ele se interessa muito mais. O pai relatou que V.H. está aprendendo
com mais facilidade e encontra-se mais envolvido nas atividades da escola.
No âmbito afetivo, a mãe afirma que seu filho mudou e muito, pois é uma criança
mais alegre, mais carinhosa com sua família e mais tranqüila, pois não tem mais chorado com
67
freqüência, nem gritado sem motivo; encontra-se menos “elétrico” e impaciente ao realizar
atividades com sua família, aprendeu a respeitar a sua vez, os limites dele e do outro ao seu
redor.
4.5 Análise dos Resultados
No início foram propostas brincadeiras que visaram uma aproximação maior entre as
crianças e as pesquisadoras, para que o grupo se conhecesse. Depois foram confeccionados
brinquedos com sucata, antigos brinquedos foram restaurados, para que fossem utilizados nas
atividades lúdicas.
Santos (2004) define o ser humano como um ser que brinca e se diverte (homo
ludens), mas o brincar ao ser proporcionado às crianças e analisado tornou-se um fator
primordial no processo de desenvolvimento social, cognitivo e afetivo das mesmas, em
especial para V.H, que por meio do brincar passou a interagir com o meio social e se
desenvolver em diferentes aspectos.
Antes do estudo realizado V.H. era uma criança que brincava pouco e quase não se
comunicava com as pessoas, porém durante as atividades na brinquedoteca ele demonstrou
envolvimento e interesse pelas propostas e despertou em si a imaginação e espontaneidade,
por conseqüência a comunicação se desenvolveu.
Quando V.H. brincava não se envolvia na situação lúdica das outras crianças, ou seja,
não participava da brincadeira em conjunto, apenas brincava sozinho. Porém, ao incorporar
nas brincadeiras os brinquedos que ele mais gostava (caminhão, carrinho e boneca) houve
uma mudança nas atitudes por parte dele, pois ficou mais animado, sorridente e participativo
em todas as atividades e em sua escola, segundo a sua professora.
Os pais de V.H., embora tivessem carinho por seu filho, não conheciam a importância
do brincar, pois segundo eles, não tinham muita informação sobre o assunto e sobre a
importância da brincadeira na vida das crianças.
Devido às atividades realizadas na brinquedoteca, V.H. passou ter mais ligação com o
brincar, pois não só na brinquedoteca lhe era permitido o acesso aos brinquedos, mas também
na medida do possível em sua escola e em sua casa com a colaboração de seus pais.
Do ponto de vista social, V.H. foi incentivado a agir e interagir com o grupo de
crianças na brinquedoteca, tornando-o capaz de reagir diante de todas as situações
vivenciadas, pois o mesmo passou a munir-se de confiança em si próprio e assim expressar
seus pensamentos e sentimentos por meio do brincar. Para Cunha (2001), os brinquedos são
convites para a interação, o que realizado, e V.H. passou a compartilhar os brinquedos, a
68
respeitar as regras na escola para uma convivência saudável, deixou de lado o egocentrismo
(fase natural do desenvolvimento), ou seja, se desenvolvendo socialmente.
As crianças desenvolvem o social, pois passam a interagir umas com as outras,
demonstrando maior afetividade com o meio em que vivem e transmitindo a realidade pela
via da ludicidade, pois a cada atividade realizada foi possível analisar a ligação de cada
criança com o brinquedo e com o grupo em que estava, a demonstração de bons hábitos ao
brincar e as representações que cada uma dava para o brinquedo foram marcantes neste
estudo.
Ainda quanto ao aspecto social, a criança aprende a interagir, a escutar as concepções
do outro, a conhecer quem está a seu redor, a ser mais educada e colaborativa, pois se torna
envolvida socialmente nas atividades propostas; aprende a seguir regras e combinados,
transformando assim, a escola, a sua casa e qualquer local em um ambiente de interação, que
permiti a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades sociais cooperativas.
Se concordarmos que o brincar faz parte da infância e é promotor de
desenvolvimento e de aprendizagens, concordaremos também que as brincadeiras, os jogos e
os brinquedos são ferramentas indispensáveis ao professor em sala de aula (PAROLIN,
2005, p. 139). Assim, as atividades na brinquedoteca contribuíram com o desenvolvimento
cognitivo de V.H., subsidiando sua aprendizagem, segundo os professores do mesmo, a
autonomia diante das situações, cooperação e a auto-estima, elementos essenciais para o
interesse pela aprendizagem.
Em uma das atividades na brinquedoteca, mais precisamente na troca de papéis, foi
possível observar que V.H tinha uma certa dificuldade de realizar algumas das propostas, e
em alguns momentos buscou soluções efetivas e bastante estruturadas para a resolução de
dificuldades e ou problemáticas ao brincar, demonstrando ações consistentes, mostrando que
o momento lúdico era propício ao momento de aprendizagem.
Analisou-se que V.H se desenvolveu cognitivamente, pois mais do que brincar, ele
demonstrou interesse em aprender, a memorizar e estruturar seu pensamento por meio de
jogos pela linguagem e interações com as outras crianças. Diante da dificuldade de
memorizar, logo de início do trabalho, houve uma negação desta própria dificuldade, pois o
mesmo referiu: “Deixa, eu vou conseguir”.
O aspecto afetivo propiciou o desenvolvimento da percepção, memória, pensamento e
foram influenciadas pelo brincar nas ações e nos afetos demonstrados. Assim, a criança
estudada demonstrou intensidade máxima de afeto ao transmitir sentimentos, tendências
desejos, interesses, valores e emoções durante o brincar e em suas relações com o meio social.
69
O brincar é fundamental para o desenvolvimento afetivo saudável, visto que no caso
de V.H. suas ações tornaram-se espontâneas, houve maio envolvimento afetivo nas propostas
e o mesmo conseguiu até dar exemplos de manifestações emocionais. O desenvolvimento da
afetividade diminuiu expressões de medo, rejeição, inibição, insegurança, resistência e recusa
ao brincar diante de situações lúdicas que possivelmente representavam alguma de suas
vivências enquanto filho, aluno, criança e ser humano.
A seguir apresenta-se a conclusão do trabalho, focando os objetivos alcançados e a
resolução da problemática da pesquisa.
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CONCLUSÃO
As contribuições das brincadeiras na Educação Infantil são muitas, mais vale ressaltar
que no cotidiano do sujeito do estudo, o brincar contribuiu para o desenvolvimento de
múltiplas habilidades e competências, não só deste sujeito, mas de todas as crianças que
participaram das propostas lúdicas.
Assim, esta pesquisa conclui que o brincar deve ser integrado e intrínseco aos projetos
pedagógicos dos educadores que atuam na Educação Infantil para que a proposta lúdica
subsidie a práxis educacional, e permita que pais, professores e outros profissionais
envolvidos com crianças estimulem mais o brincar como momento agradável e saudável de
aprendizagem e desenvolvimento.
Os educadores do sujeito do estudo aproveitaram o momento em que a pesquisa estava
sendo desenvolvida para também incorporar o brincar em seus projetos pedagógicos, e
trabalhando todos os conteúdos pedagógicos da série/fase da Educação Infantil, visando à
formação total e plena da criança.
Quanto ao objetivo da pesquisa, foi analisar dentro de um contexto lúdico um grupo
de crianças em uma brinquedoteca. Tornou-se também possível responder à problemática em
questão - as contribuições das brincadeiras de fato são relacionadas ao desenvolvimento do
aspecto cognitivo, pois permitem que a criança se envolva nas atividades pedagógicas
escolares, busque e se aproprie do conhecimento construído neste contexto, brinque e se
motive a descobrir novas situações, fazendo que as propostas pedagógicas sejam ainda mais
atrativas.
No aspecto social, a proposta lúdica cria condições para que as crianças
experimentem vivências conjuntas, desenvolvam a confiança em si próprio e no outro,
aprendam a tomar decisões coletivas e a defender suas idéias de forma apropriada, fazer boas
escolhas, honrar compromissos, possibilita também a prática do ouvir e refletir sobre fatos.
Ao brincar, o desenvolvimento da afetividade vai sendo expresso pela demonstração
de sentimentos como: alegria, envolvimento, felicidade, concentração, entre outros. Assim, no
âmbito afetivo a capacidade de transmitir emoções é indispensável ao estabelecimento de
atitudes racionais/cognitivas e até sociais, o mesmo pode-se dizer das formas corporais de
expressar o estado afetivo da criança, pois suas manifestações físicas e emocionais
evidenciam as contribuições do brincar no aspecto afetivo; por meio das interações diversas
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entre as crianças surgem situações e experiências essenciais para a construção do indivíduo
como pessoa afetiva.
Espera-se que este Trabalho de Conclusão de Curso possa contribuir para a formação
continuada de educadores, para a inovação de sua prática profissional, tendo como subsídio e
aliados permanentes os jogos e as brincadeiras, possibilitando a todas as crianças desenvolver
suas habilidades cognitivas, sociais e afetivas, e conseqüentemente o processo educativo.
72
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