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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
PROFISSIONALISMO, RELAÇÕES DE PODER E GÊNERO: UM OLHAR
SOBRE AS MULHERES NAS REPRESENTAÇÕES CONTÁBEIS DO
ESTADO DE SERGIPE
Mariana Dórea Figueiredo Pinto1
Maria Helena Santana Cruz2
Helma de Melo Cardoso3
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar sobre a ascensão das mulheres como
sócias de escritórios contábeis, assim como nas representações de classe e de poder, destacando
seus desafios e trajetórias em uma profissão historicamente considerada “masculina”. A pesquisa
qualitativa realizou-se através de entrevistas semiestuturadas, com 06 (seis) mulheres contadoras
que estão nas lideranças das entidades de classe em Sergipe. Os principais resultados demonstram
que, de maneira geral, as mulheres possuem o mesmo desempenho profissional para ascender na
profissão, comparativamente aos seus colegas homens na mesma área e situação. Contudo, ocupar
espaços de poder e de prestígio, como também construir suas trajetórias profissionais, em alguns
momentos, significou “deixar a família em segundo plano" e “mostrar trabalho”. Em síntese,
mesmo com todas as conquistas em relação aos direitos, qualificação e posições no mercado de
trabalho contábil, a subordinação feminina na vida privada continua perpassando a dimensão
profissional, ocasionando um custo emocional maior para as mulheres.
Palavras-chave: Gênero. Relações de Poder. Profissão. Contabilidade.
Introdução
O texto analisa a ascensão das mulheres nas representações de classe e de poder, como
líderes dos órgãos contábeis e sócias de escritórios, e os deslocamentos de fronteiras entre vida
pública e privada no exercício de suas atividades, no Estado de Sergipe. A separação dessas esferas
sempre foi um problema para as trabalhadoras, tendo que criar estratégias para que possam
participar tanto do cenário familiar como do mercado de trabalho.
Para analisar o processo de inserção e ascensão profissional das contabilistas, foi preciso
incluir uma investigação das esferas sociais nas quais elas se inserem e como tais inserções
permitem, por um lado, adquirir um conjunto de recursos que contribuem para o seu crescimento na
contabilidade e, por outro, de que forma concorreram para determinadas funções de poder e
representatividade da classe contábil.
Desde 2004 que há um aumento progressivo da participação das mulheres no mercado de
trabalho da Contabilidade. Segundo dados apontados pelo Conselho Federal de Contabilidade
1 Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED), São Cristóvão/SE, Brasil. 2 Professora Emérita da Universidade Federal de Sergipe (PPGED/PROSS), São Cristóvão/SE, Brasil. 3 Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (PPGED), São Cristóvão/SE, Brasil.
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(CFC, 2015)4, elas representam, atualmente, 41% das profissionais (técnicas e bacharéis) da
Contabilidade no Brasil. Ao todo são cerca de 133.581 mulheres contadoras (bacharéis em
Contabilidade) em plena atividade, o que indica uma significativa mudança no perfil profissional
das contabilistas. Em Sergipe, o conselho tem 2.247 bacharéis em Ciências Contábeis ativos
registrados, dos quais 1.125 (50,02%) são homens e 1.122 (49,98%) são mulheres5. Mesmo que isso
signifique um avanço importante da inserção feminina no mundo do trabalho, é necessário analisar
os principais obstáculos para ascender nesse mercado e nele permanecer. É importante analisar
como elas entram e permanecem nos cargos de lideranças.
Pesquisas6 apontam, tendo como base o relatório Raseam7, divulgado em março de 2015, a
presença de mulheres nos espaços de poder e decisão é um indicador relevante da igualdade de
condições e de oportunidades vivenciadas por elas na sociedade brasileira. Nos cargos de Direção e
Assessoramento Superiores (DAS), por exemplo, os dados apontam que as mulheres representam
aproximadamente 39% (trinta e nove por cento) dos postos, enquanto os homens alcançavam o
patamar de 61,2% (sessenta e um por cento). As mulheres possuem os menores percentuais em
relação à ocupação dos espaços de poder, sendo um desafio a ser enfrentado.
Em 2009, segundo dados do IBGE/PNAD, dos 58,8% de mulheres, com 16 anos ou mais,
economicamente ativas, somente 21,4% delas ocupavam cargo de chefia8 e quanto maior for o
tamanho da empresa, menor é essa proporção: abaixo dos 50 funcionários, 27,5% de mulheres no
cargo de presidente, de 50 a 200 funcionários, 18% de mulheres nesse mesmo cargo, de 201 a 700,
14% de mulheres ocupam essa posição e, acima de 700, 12,6% de mulheres no cargo de presidente9.
Para completar, a maior parte das direções ocupadas por mulheres estão concentrados em
áreas de serviços comunitários, “do cuidar”, tais como serviços clínicos e hospitalares, empresas de
serviços sociais e empresas de serviços culturais, gerando uma discriminação horizontal de gênero
(BRUSCHINI; LOMBARDI, 2007, p. 61).
Nos postos de liderança das entidades de classe, nacionalmente, duas mulheres contabilistas
se destacaram: Maria Clara Cavalcante Bugarim, a qual, em 2006, foi a primeira mulher a assumir
a presidência do CFC (por dois mandatos consecutivos) e Celina Coutinho, que foi a primeira
4 Dados extraídos do Portal do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Acesso em: 4 set 2015. 5 Dados extraídos do Portal do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Acesso em: 4 set 2015. 6 Lima, 1996; Stichter e Parpart, 1990; Cruz, 2005; Posthuma e Lombardi, 1996. 7Disponível em http://www.spm.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/publicacoes/2015/livro-raseam_completo.pdf.
Acesso em: 15 jul. 2015. 8 Dados extraídos do DIEESE. Disponível em: www.maismulheresnopoder.com.br. Acesso em: 15 de jul 2015. 9 Dados extraídos do DIEESE. Disponível em: www.maismulheresnopoder.com.br. Acesso em: 15 jul 2015.
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mulher a assumir o cargo de vice-presidente do CRCSP (Conselho Regional de Contabilidade do
Estado de São Paulo) em 2008. Em Sergipe, as mulheres começaram a ganhar espaço nas três
principais lideranças a partir de 2014, como o Conselho Regional de Contabilidade (CRCSE), a
Academia Sergipana de Ciências Contábeis (ASCC) e o Sindicato das Empresas de
Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e nas Empresas de Serviços Contábeis do
Estado de Sergipe (Sescap/SE). No âmbito empresarial, as mulheres também ganharam força e
espaço, seja em departamentos de contabilidade ou liderando uma empresa contábil. Para essas
mulheres líderes, o maior desafio sempre foi conciliar a vida pessoal da profissional, como a área
exige.
Nesta pesquisa, as trajetórias profissionais e pessoais tornaram-se as fontes principais dos
dados. Os procedimentos metodológicos adotados consistiram na realização de entrevistas
semiestruturadas com mulheres que ocupam posições de liderança nas entidades de classe da
contabilidade, do Estado de Sergipe.
De acordo com Thome (2012), em todas as áreas do mercado de trabalho existe segregação
de gênero, considerando as diferenças regionais e culturais. Para a autora, essa segregação gera a
divisão sexual do trabalho mais acentuada, tanto no processo de qualificação como no de
requalificação, sob o enfoque das teorias da dominação. Esta constatação é preocupante:
[...] uma vez que partir de generalizações sobre o gênero da força de trabalho, considerando
o universo apenas como masculino, pode gerar equívocos. Essas questões dizem respeito à
existência de trabalhos considerados femininos, na esfera reprodutiva, e trabalhos
considerados masculinos, na esfera produtiva. O trabalho masculino é considerado de maior
valor que o trabalho considerado tipicamente feminino. Tudo isso em decorrência da
dominação dos homens sobre as mulheres (HIRATA, 1994, p. 136).
Essas diferenças sexuais no trabalho foram naturalizadas como “qualificações” masculinas e
“talentos” femininos (LOBO, 1992). Esses talentos são as habilidades com que as mulheres já
nascem, ou seja, são inatas. A qualificação é considerada como capacidade intelectual (cogitada
como característica masculina). Kergoat (1986) contesta a proposição ao evidenciar que as
habilidades, ditas inatas (talentos) do trabalho feminino, fazem parte de um processo de formação,
fruto da cultura e não da natureza. Os talentos (minúcia, destreza, precisão) para o desempenho do
trabalho, considerados habilidades inatas às mulheres, contribuíram para o processo de
desvalorização da sua força de trabalho a postos secundários nos mais diversos setores da produção,
acentuando-se ainda mais, na visão de Hirata (1994), nesta etapa de flexibilização (KERGOAT,
1986).
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A escolha de uma profissão está relacionada com a concepção que o sujeito tem de si e sobre
as experiências vividas, através de um grupo social com as mesmas questões. A carreira se
desenvolve dentro de um grupo e diz respeito à trajetória seguida por um indivíduo no interior das
organizações de trabalho, incluindo tanto os empregos ocupados como as mudanças de percepções e
de sentido que os indivíduos dão à sua tarefa e que permitem uma identificação com o seu trabalho
(PETRARCA, 2015, p. 169). A escolha vai envolver um processo de vários momentos da vida do
indivíduo desde a influência da família, amigos e professores, a fatores financeiros e oportunidade
do mercado de trabalho. Muitos escolhem a Contabilidade pelo “prestígio” e “retorno financeiro
imediato” que ela possa oferecer.
As mulheres, em sua história, foram forjadas pelo trabalho reprodutivo. Essa distinção, para
a citada Hirata (1994), trouxe inúmeras consequências, entre elas, o não reconhecimento, por parte
dos empregadores, do trabalho da mulher como um trabalho qualificado. Essa questão foi
acompanhada da divisão sexual do trabalho, gerando uma maior concentração de mulheres nas
profissões de atividades mais rotineiras, e os homens, naquelas mais inovadoras e qualificadas.
Independentemente de ter uma carreira pública ou privada, que de certa forma gera um
resultado distinto, as atribuições institucionais sempre têm a marca da “habilidade feminina”, “do
cuidar”, da atividade menos qualificada e rotineira, correspondendo aos guetos genderizados
(BONELLI, 2016). Segundo Scott (1990), a categoria gênero considera a subordinação da mulher
como uma estrutura de relações de poder determinada pelo sexo, onde a mulher tem uma posição
diferenciada em relação ao homem, seja na família ou na sociedade, através do trabalho. Para ela,
Gênero é umas das primeiras categorias construídas sobre a opressão da mulher.
Quanto à inserção da profissional contábil no mercado de trabalho, percebe-se que a entrada
maciça das mulheres na força de trabalho remunerado deve, de um lado, à informatização,
integração em rede e globalização da economia e, de outro, à segmentação de trabalho por gênero,
que se aproveita de condições sociais específicas da mulher para aumentar a produtividade, o
controle gerencial e, consequentemente, os lucros.
Assim, percebemos a importância de trazer esse assunto para reflexão e discussão, a partir
do momento em que entendemos o quanto esse tema é relevante para compreender as estratégias e
desafios das mulheres contadoras, atualmente, nos órgãos de poder. Uma vez que nos fornece um
panorama revelador da própria construção social do papel da mulher dentro da sociedade.
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O estudo reúne entrevistas com 06 (seis) sócias de escritórios contábeis, que estão no
mercado de trabalho há mais de 19 anos, e, atualmente, estão como líderes das entidades de classe
no Estado de Sergipe.
Reflexões sobre Profissionalismo, Relações de Poder e Gênero
Apesar de afirmarmos que a profissão é um acúmulo de conhecimentos específicos gerados
pela experiência prática, cotidiana, de uma tarefa e pela formação adquirida em uma instituição,
existem vários conceitos de profissão (FONSECA, 2008). Parsons (1962 apud Barbosa, 2003)
entende as profissões como sistemas de solidariedade em que a identidade tem como fundamento a
competência técnica dos membros de uma dada profissão, sendo esta competência adquirida em
escolas, universidades e centros de treinamentos. As profissões têm uma localização específica na
estrutura social e no sistema cultural.
A profissão é definida pelos estudiosos a partir de como as pessoas compreendem o que
fazem e o modo como fazem e que categorias usam para organizar o mundo. Portanto, a profissão é
apresentada como uma categoria da vida cotidiana que implica um julgamento de valor e prestígio e
não um conceito sociológico que encerra um conjunto de características (CHAPOULIE, 1997).
A identificação profissional orienta uma concepção de mundo e a origem familiar, por
exemplo, não é um princípio generalizador que forma o sujeito. São as experiências vividas que vão
definir sua carreira profissional. Começa a se pensar a atividade profissional como um processo
biográfico e identitário (PETRARCA, 2015). Dessa forma, a pessoa escolhe uma profissão através
de uma concepção que ela tem de si e sobre as experiências que vive, estando relacionadas a um
grupo com os mesmos problemas.
Analisando a profissão contábil pela perspectiva do método funcionalista, podemos
contextualizar o exercício profissional a partir da dinâmica do mercado de trabalho no setor de
serviços, tendo como referência as hierarquias, a formação de valores e atitudes e as contradições de
classe. Nesse sentido, toma-se como referência para compreensão da profissão três dimensões mais
fundamentais, conforme Freidson (2001): a expertise, o credencialismo e a autonomia. A primeira
refere-se à condição de as profissões determinarem quem pode exercê-las, a segunda, ao
reconhecimento formalmente concedido ao conhecimento específico e a terceira, à faculdade de se
autogovernar, à liberdade ou à independência moral ou intelectual das profissões. A Contabilidade
em 2014, segundo pesquisa da revista eletrônica Exame.com, estava como uma das 40 (quarenta)
profissões mais promissoras, destacando suas várias habilidades e prestígio (PILATI, 2015).
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As qualificações necessárias que os(as) contadores(as) demandam para a inserção no
mercado de trabalho foi aprovada em 2012, a International Education Standard (IES) 3, norma
estabelecida pela International Federation of Accountants (IFAC), expondo o conjunto de
habilidades que os(as) profissionais necessitam para atuarem na profissão contábil. Seu objetivo é
atestar que os (as) contabilistas atendam o mercado de maneira satisfatória.
O conjunto dessas habilidades permite aos candidatos tomarem decisões em um contexto
mais amplo, e se tornarem aptos para utilizar o julgamento, o bom senso e a competência
profissional para interagir com diversos grupos de pessoas, em um contexto global, e assim
iniciar o processo de crescimento profissional. Além disso, o profissional que possui este
portfólio de habilidades ganha relevância e leva vantagem em relação a seus pares no
mercado de trabalho. As habilidades sugeridas são divididas em cinco grupos: intelectual;
técnico e funcional; pessoal; interpessoal e de comunicação; e organizacional (IFAC, 2009).
Sobre as mulheres em profissões e cargos de prestígios, Tzeng (2006 apud Gialain, 2009, p.
34) identifica em sua pesquisa, realizada em Hong Kong, que os motivos da baixa participação das
mulheres em posições mais gerenciais decorrem da combinação de requisitos, como a falta de
“traços tipicamente masculinos” e das responsabilidades da vida privada.
Ainda em Gialain:
Na pesquisa conduzida por Tanure com executivos brasileiros, foi constatado que ao
mesmo tempo em que tanto se fala da importância crescente do estilo feminino de gestão
(mais intuitivo, mais emocional), os depoimentos de homens e mulheres levam a concluir
que para alcançar o topo é necessário adotar o estilo masculino de gestão (mais agressivo)
(TANURE 2006 apud GIALAIN, 2009, p. 34).
Quando falamos em prestígio, estamos falando de poder. O poder, na visão de Foucault
(1984), é uma prática social e não algo herdado, sendo dado segundo relações desiguais no meio
social de forma tensa entre relações de forças. Para o autor ocorrem as forças dominantes e as forças
dominadas, cada qual com suas particularidades. As relações de poder acontecem
momentaneamente com o surgimento do contra poder e é nesta relação que é gerada a
descontinuidade temporal. A partir do momento em que as relações existentes entre homem e
mulher são desiguais, assimétricas, estamos mantendo a mulher sob a dominação masculina. Essas
relações não são fixas e imutáveis, mas diferentes em contextos históricos e culturais específicos.
As relações que unem os valores do profissionalismo e a dominação masculina sobre como
ascender em uma carreira, a especialização, a dedicação exclusiva e a neutralidade do conhecimento
foram sendo produzidas e entrelaçadas ao longo dos séculos XIX e XX (BONELLI, 2016). Com
isso, o ingresso das mulheres nas representações de classe e de poder veio acompanhado das marcas
peculiares do feminino e da reprodução da vida privada, com as habilidades do cuidar, ocasionando
em posições profissionais estratificadas, segundo o gênero. De modo igual, concordando com
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Bonelli (2016, p. 253), “a separação entre trabalho e vida familiar é diluída quando se trata da
reificação do estereótipo dos cuidados como assunto de mulher”.
Metodologia e alguns resultados
Diante da necessidade de relacionar os obstáculos com as conquistas e entender os
deslocamentos da vida pública e da vida privada, a pesquisa caracterizou-se de natureza descritiva
com utilização de dados qualitativos. Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, no período de
26 de novembro de 2016 a 07 de abril de 2017, com 06 contadoras, sócias de escritórios e que
fazem parte das lideranças dos órgãos da classe contábil de Sergipe.
As entrevistas foram realizadas nos ambientes de trabalho de cada entrevistada e com
duração variável entre 53 min e 2 horas. Todas as entrevistas foram transcritas pela própria
pesquisadora. No roteiro da entrevista constam perguntas para a caracterização do perfil das
entrevistadas e a sua percepção sobre as barreiras enfrentadas na carreira.
Segue abaixo um quadro geral com os perfis das participantes da pesquisa. Os nomes que
aparecem na análise são fictícios, a fim de preservar as identidades das entrevistadas.
QUADRO 1 – Identificação Pessoal das Entrevistadas
Identificação
Estado
Civil
Idade
Nº de
Filhos
Idade dos Filhos
Gláucia Casada 53 1 16 anos
Gizélia Divorciada 51 3 16 anos, 20 e 23 anos
Sandra Casada 39 1 6 meses
Selma Casada 62 3 36 anos, 34 e 29 anos
Soraia Casada 47 2 22 anos e 13 anos
Ana Casada 55 2 31 anos e 33 anos
Fonte: dados da pesquisa.
Em relação ao estado civil das entrevistadas, 01(uma) delas, com idade de 51 anos, é
divorciada e as outras 05 (cinco) com faixa etária - entre 39 e 62 anos - são casadas. Todas
pesquisadas possuem filhos. Conforme Cruz (2005, p.153), os filhos, em diferentes faixas de idade,
são considerados atributos de gênero, podendo interferir na participação da mulher no mercado de
trabalho, tendo em vista que, tradicionalmente, na família lhe é atribuída a responsabilidade pela
guarda, cuidado e educação.
Quanto à formação, todas possuem especialização e somente 01 (uma) tem mestrado
profissional em Economia. Todas são empresárias, possuem escritórios contábeis e desenvolvem
atividades de assessoria e consultoria tributária. O tempo médio que as entrevistadas estão como
sócias de escritórios contábeis é de 19 anos. Nesta pesquisa, as mulheres recebem de remuneração,
uma faixa salarial entre R$ 9.000,00 a 25.000,00 e assumem de 50% a 100% do orçamento familiar.
Cruz (2005) entende que a escolaridade indica o potencial da força de trabalho existente nas
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empresas, em termos de qualificação e da melhor adequação às novas necessidades do mercado de
trabalho, permitindo avaliar sua capacidade tecnológica no contexto da economia globalizada, em
que ocorrem intensa modernização e reestruturação produtiva. A nossa análise sobre o perfil das
contadoras mostra uma boa indicação do efeito da escolaridade para as mulheres.
Quando questionadas sobre os motivos pelos quais escolheram a profissão contábil, as
respostas foram homogêneas. Alegaram que precisavam ganhar dinheiro, identificavam-se muito
bem com números, já tinham realizado cursos práticos e queriam prestígio e retorno financeiro
imediatos. Para elas, as representações sociais das contadoras são definidas por 08(oito)
caraterísticas principais: competência profissional, independência, dedicação, bom relacionamento
com os clientes, postura firme nas suas decisões, ética, boa relação com a Receita Federal e
conhecimento aprofundado de tecnologia. Todas as entrevistadas concordam que tais características
devem pertencer tanto a homens como mulheres. Elas entendem que é essencial que o(a)
profissional atenda às exigências do mercado de trabalho. Em suas trajetórias, qualificação e
postura de “firme” foram marcas importantes para chegar e se manter onde estão,
profissionalmente. Além do fato de a todo tempo, precisarem demonstrar competência, não igual,
porém melhor que a dos homens. Uma das entrevistadas afirmou que:
[...] você tem que ser melhor que os homens. Para o homem se destacar, basta ele ser bom
no trabalho. A mulher para se destacar, pelo menos no meu meio profissional, ela tem que
ser mais do que boa. Ela tem que mostrar, demonstrar e ficar o tempo todo mostrando
trabalho! [...] você tem que ser firme. [...] as mulheres não podem demonstrar fraqueza.
(SORAIA)
Em relação aos assuntos, trabalho e família, predomina nos depoimentos, a estratégia de
manter essas duas esferas. As profissionais sempre tiveram que conciliar a vida profissional com as
responsabilidades familiares. Sempre tiveram que levar trabalho para casa e não fazer o inverso.
Nessa lógica, como verificamos na pesquisa, a dedicação integral ao trabalho tem sido preservada.
“O trabalho emocional realizado é o de produzir na subjetividade aquilo que não se está
sentindo, e que é socialmente esperado” (Hochschild, 2003, apud Bonelli, 2016, p. 260). A
administração das emoções e transferir as tarefas familiares a outras mulheres (babás, avós, tias,
empregadas domésticas) reproduzem os códigos de gênero. Todas as entrevistadas criaram essas
estratégias para ascenderem no mercado de trabalho.
[...] também não tive obstáculos quando as filhas nasceram. Venho de uma família com boa
estrutura e usei muito dessa estrutura. Como Aracaju não é uma cidade grande, eu
conseguia sair de casa com babá para lá e para cá. Consegui driblar. Só trabalhava. Voltei a
fazer faculdade quando as filhas já estavam grandes. (ANA)
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A maternidade vai ficando como um “segundo plano”, conforme argumentou uma das
entrevistadas. “Sempre coloquei minha vida profissional em primeiro lugar. A família ficava em
segundo plano. Ela que tinha que se adaptar aos horários do meu trabalho” (GIZÉLIA).
Conforme Hall (2004 apud Bonelli, 2016, p. 261) “é a partir da experiência que ela desloca a
ortodoxia profissional e vai vivendo a maternidade como diferença na carreira, constituindo o jogo
de identidades”.
Quanto à percepção das mulheres em órgãos de classe, no poder, elas reconhecem que há
dificuldade para ingressar, seja pelo preconceito que a área impõe às mulheres, seja por elas
próprias que, às vezes, se colocam como inferiores aos homens para o desenvolvimento de
determinada função. As mulheres não foram imaginadas como integrantes da história de criação que
envolve a Contabilidade. Sempre foi uma área vista tradicionalmente dominada por homens. A este
respeito, as representações ainda revelam resquícios de uma sociedade patriarcal.
A gente ainda sente um pouco. A mulher tem que provar mais competência. A gente tem
que provar 3 vezes mais, argumentar e evidenciar aquele fato para que seja aceita. O
homem não precisa disso. A luta é mais árdua. Não é fácil. A minha campanha não foi fácil
e as plenárias não são fáceis. Por isso que a gente tem que batalhar muito mais do que se
fosse um homem. (ANA)
As pessoas ainda colocam uma confiança no homem. A mulher ainda tem que lutar muito
para mostrar que tem a mesma capacidade. Às vezes, a gente se depara com muitos homens
que não têm a mesma bagagem que você tem, mas todo mundo endeusa porque é um
homem. Não sei porque o homem tem o poder de envolver mais...não sei. Noto isso no
Fórum Empresarial. Só tem duas mulheres. (GLÁUCIA)
Como podemos perceber, as discriminações contra a mulher ainda existem e devem ser
reveladas como uma maneira de desconstruir as questões que foram naturalizadas pela cultura
patriarcal, dificultando ou mesmo impedindo a realização dos seus direitos. A satisfação na
profissão é acompanhada dos custos emocionais na vida familiar. O depoimento a seguir, mãe de
um bebê de 6 meses, revela como a intersecção entre essas identificações resulta em algumas
frustrações.
Uma vez surgiu uma oportunidade de ser diretora no trabalho e o chefe geral não deixou.
Eu o questionei e ele me disse que era um serviço para viajar muito e que ficava
complicado para uma mulher que tem filho pequeno. A gente tem que ter jogo de cintura,
sabe? Tem que ser “Mulher-Maravilha”. Parece que a família tem que ficar em “segundo
plano”. Eu já escutei que estava indo rápido demais...mas, sempre foi assim para mostrar
competência e trabalho. (SANDRA)
Essa situação é resultado de uma série complexa de estruturas em organizações opressoras,
patriarcais e preconceituosas que impedem alguém de alcançar ainda mais sucesso, principalmente
em localidades que possuem empregados(as) dotados(as) de fatores estigmatizantes, alguém de
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idade avançada, deficiência, sexo e etnia. Infelizmente, ainda existem fortes estereótipos
construídos socialmente de que os postos de chefia devem ser liderados por homens.
A pesquisa revela formas bem sutis de segregação e preconceito em relação às mulheres na
área, uma vez que para que elas tenham o mesmo reconhecimento que os homens, precisam
demonstrar um empenho maior no seu trabalho. As horas trabalhadas, a pressão do trabalho e a
abdicação da vida pessoal em prol da vida profissional influenciam na desistência de lideranças,
como de cargos de status. Todas as mulheres entrevistadas pretendem sair das lideranças e não
pensam em voltar: “minha gestão vai acabar e quero sair como entrei, de cabeça erguida. Agora, se
me convidarem para outra liderança, não quero mais! É muito pesado! A gente tem que “viver
mostrando trabalho”(Soraia). Na percepção da entrevistada Sandra:
Sempre sou cobrada dentro de casa porque não tenho tempo para o marido, para a casa...eu
não pretendo assumir mais nada, justamente pelas dificuldades de conciliar a vida pessoal.
Para mulher é extremamente complicado, é muito difícil. As mulheres não conseguem fazer
uma gestão da vida pessoal e da vida profissional da mesma forma que o homem é capaz de
fazer. Para os homens é muito mais fácil. (SANDRA)
Mesmo que a mulher tenha sucesso na carreira, a maternidade transformou-se num receio de
prejudicar o que se conseguiu graças aos custos emocionais e à sobrecarga de jornadas. Mesmo
assumindo outros papéis na sociedade, a mulher sente a responsabilidade de cuidar das atividades
domésticas. Muitas delas continuam sendo “controladas” pelos estereótipos socialmente
construídos.
Apreciações finais
A discussão das relações de poder, profissionalismo e gênero dentro dos órgãos de classe
ainda se encontra no estágio inicial. Mesmo que as lideranças nas entidades de classe em Sergipe
sejam todas ocupadas por mulheres, há de se refletir sobre o percurso para chegarem e de como
estão se mantendo nos cargos.
A pesquisa tratou das trajetórias profissionais de mulheres nas representações de poder,
descrevendo seus obstáculos e estratégias no desenvolvimento da carreira e na conciliação de
trabalho e família. Mesmo que a competência técnica, a expertise (conhecimento) e a “alta
qualificação” sejam primordiais para o ingresso e ascensão na profissão, há, porém, outras lutas
concorrenciais que buscam a confirmação da diferença, como as da sexualidade e gênero.
De fato, as mulheres estão preocupadas com uma boa posição no mercado de trabalho
contábil e buscam isso, através de dedicação e de muito estudo. Todas as pesquisadas acreditam que
estão nas lideranças por terem uma rede de contatos muito influente, por serem detalhistas,
organizadas e possuírem um bom relacionamento interpessoal. Elas expressaram a sobrecarga de
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trabalho para mostrar competência para ascenderem na profissão, o que nos prova o forte processo
de feminização relacionado aos estereótipos de gênero.
A discriminação de gênero contribui para a formação de trajetórias diferentes para mulheres
e homens numa mesma profissão. Percebemos que as disputas simbólicas vividas pelas
entrevistadas, ocasionando uma diversificação de valores, refletem em suas carreiras profissionais.
Suas estratégias para articular a vida privada da vida profissional terminam envolvendo outras
identificações, como, ainda, as de gênero e sexualidade. Assim, a concepção de gênero é relacional,
ou seja, pertence às relações sociais entre os sujeitos e uma forma de significar as relações de poder.
Os principais resultados demonstram que as contabilistas são tão qualificadas quanto os
homens e que ocupar espaços de poder, prestígio e construir suas trajetórias profissionais, em
alguns momentos, significou “deixar a família em segundo plano" e “mostrar trabalho”.
Ainda que se tenha mudanças na fronteira entre a casa e o trabalho, no compartilhamento
dos cuidados domésticos, bem como a reprodução familiar, termina sendo mais adequado para esse
universo é falar da transferência dos códigos de gênero do que desfazer do gênero (BONELLI,
2016). A subordinação feminina na vida privada continua perpassando a dimensão profissional,
ocasionando um custo emocional maior para as mulheres.
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Professionalism, Power and Gender Relations: a look at women in the accounting
representations of the State of Sergipe.
Astract: This paper aims to analyze the rise of women as accounting office members, as well as in
class and power representations, highlighting their challenges and trajectories in a historically
considered "male" profession. The qualitative research was carried out through semi-structured
interviews, with 06 (six) women accountants who are in the leadership of the class entities in
Sergipe. The main results show that, in general, women have the same professional performance to
ascend in the profession, compared to their male counterparts in the same area and situation.
However, occupying spaces of power and prestige, as well as constructing their professional
trajectories, at times, meant "leaving the family in the background" and "showing work." In short,
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
even with all those achievements, in terms of rights, professional qualification and position in the
labor market for accountants, the subordination of women’s private lives reaches professional
dimension, causing a higher level of emotional cost for women.
Keywords: Gender. Power relations. Profession. Accounting.
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