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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA O POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA AO
ELEMENTO SUBJETIVO DOS CRIMES COMETIDOS POR EXCESSO DE VELOCIDADE: DOLO EVENTUAL OU CULPA IMPRUDÊNCIA?
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí.
ACADÊMICA: SCHARLENE SOLANGE DIAS
São José (SC), novembro de 2004.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA O POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA AO
ELEMENTO SUBJETIVO DOS CRIMES COMETIDOS POR EXCESSO DE VELOCIDADE: DOLO EVENTUAL OU CULPA IMPRUDÊNCIA?
Monografia apresentada como requisito parcial á obtenção do grau de bacharel em Direito da Universidade do Vale do Itajaí, sob orientação da Prof ª.Esp. Érica Lourenço de Lima Ferreira.
ACADÊMICA: SCHARLENE SOLANGE
DIAS
São José, (SC), novembro de 2004.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ __ UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR __ SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO NUCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA O POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA AO
ELEMENTO SUBJETIVO DOS CRIMES COMETIDOS POR EXCESSO DE VELOCIDADE: DOLO EVENTUAL OU CULPA IMPRUDÊNCIA?
SCHARLENE SOLANGE DIAS
A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí __ UNIVALI do Centro de Educação de São José. São José, (SC) de novembro de 2004.
Banca Examinadora:
______________________________________________________________________________
Prof ª. Esp. Érica Lourenço de Lima Ferreira – Orientadora
Prof . Giovani de Paula - Membro
Prof ª . Camila Carneiro - Membro
Prof. Cláudio Gastão da Rosa Filho - Suplente
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho:
Aos meus pais, Walmor e Nilva, pelo amor, carinho e oportunidade que me ofereceram dedicando-se apenas em proporcionar-me um futuro melhor. Ao meu único irmão, Eduardo, pela amizade, confiança e estímulo que sempre demonstrou. Ao meu avô, pelo ensinamento de vida que transmitiu a todos que estiveram ao seu lado, deixando eternas saudades ( in memorian ).
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por estar sempre ao meu lado e ter me proporcionado o privilégio de
momentos felizes em minha vida;
À Prof ª Érica, orientadora, pela dedicação e confiança em me auxiliar nessa caminhada;
Ao Sr. Carlos André Poluceno Passamai, responsável pelo Núcleo de Acidentes e Medicina Rodoviária Federal, pela colaboração no auxílio da pesquisa de campo;
A Srtª. Regina, estagiária do Núcleo de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal
pela atenção e dedicação demonstrado para a finalidade desse estudo;
Ao 3º Sargento da Polícia Rodoviária Estadual, Sr. Almir Vieira, por sua dedicação e desempenho nos fornecimentos dos dados solicitados;
Aos meus amigos, que diariamente ou não, estiveram sempre presentes;
A todos aqueles que, de uma maneira direta ou indireta, contribuíram para a realização deste estudo.
“Leva tempo para alguém ser bem sucedido porque o êxito não é mais do que a recompensa natural pelo tempo gasto em fazer algo direito”.
Joseph Ross.
RESUMO Esta monografia tem por finalidade relatar o posicionamento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina, frente ao elemento subjetivo dos crimes cometidos no trânsito em virtude do excesso de velocidade, julgado como dolo eventual ou culpa na modalidade imprudência, que foram as hipóteses levantadas e estudadas neste trabalho. Dentre esse motivo tornou-se imprescindível para esse tema um levantamento de dados específicos demonstrando a maneira em que os crimes de trânsito são tratados pelos órgãos públicos, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Rodoviária Estadual, relatando a dificuldade que estes encontram em constatar a natureza específica dos acidentes. Assim, no primeiro capítulo foi abordado a estrutura do crime, relatando o elemento subjetivo da conduta conhecido como dolo, mais especificamente a modalidade do dolo eventual. O segundo capítulo preocupou-se com o conhecimento da culpa, seu reconhecimento e as modalidades que são aplicadas, com maior enfoque na imprudência. Por fim, o terceiro capítulo demonstra o objetivo da pesquisa limitando-se ao entendimento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina, 1º e 2º câmaras criminais, sobre a natureza jurídica do excesso de velocidade: dolo eventual ou culpa por imprudência. Analisando as informações abordadas, podemos entender uma das principais causas dos crimes cometidos em trânsito, assim como a preocupação em que a sociedade vem tendo frente aos elevados índices de irresponsabilidades e danos provocados pelo excesso de velocidade. PALAVRAS – CHAVE: DOLO EVENTUAL; CULPA POR IMPRUDÊNCIA; EXCESSO DE VELOCIDADE.
SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
1. DOLO EVENTUAL ..........................................................................................................11
1.1 HISTÓRICO DA CRIMINALIDADE.............................................................. 11
1.2 DO CRIME......................................................................................................... 13
1.3 ELEMENTOS DO CRIME ............................................................................... 17
1.3.1 Fato Típico .................................................................................................. 17
1.3.2 Ilicitude ou Antijuridicidade ...................................................................... 19
1.3.3 Culpabilidade ...............................................................................................20
1.4 DOLO ................................................................................................................. 21
1.5 ELEMENTOS E TEORIA DO DOLO ............................................................. 23
1.6 MODALIDADES DO DOLO ............................................................................ 27
1.7 ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO ................................................... 32
2. CULPA IMPRUDÊNCIA .................................................................................................38
2.1 CONCEITO........................................................................................................ 38
2.2 ELEMENTOS DO TIPO CULPOSO...................................................................41
2.3 ESPÉCIES DE CULPA ..................................................................................... 45
2.4 MODALIDADES DA CULPA........................................................................... 46
2.4.1 Negligência .................................................................................................. 47
2.4.2 Imperícia ...................................................................................................... 48
2.4.3 Imprudência .................................................................................................49
2.5 CARACTERÍSTICAS DA IMPRUDÊNCIA.................................................... 51
3. EXCESSO DE VELOCIDADE ........................................................................................ 54
3.1 HISTÓRICO DOS VEÍCULOS ........................................................................ 54
3.2 ACIDENTES COMETIDOS NO TRÂNSITO ................................................. 56
3.3 LIMITES PREVISTOS PELA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ...................... 58
3.4 ESTATÍSTICAS LEVANTADAS NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS..................... 61
3.4.1 Polícia Rodoviária Estadual ......................................................................... 62
Dados dos Acidentes – 2000 ....................................................................... 64
Dados dos Acidentes – 2001 .......................................................................65
Dados dos Acidentes - 2002 ....................................................................... 66
Dados dos Acidentes – 2003 ....................................................................... 67
Relatório Estatístico - 2001.......................................................................... 68
Relatório Estatístico – 2002 ........................................................................ 69
Relatório Estatístico – 2003 ....................................................................... 70
3.4.2 Polícia Rodoviária Federal........................................................................... 71
3.4.2.1. Análise dos Dados Estatísticos: Julho de 2000 á Julho de 2004 .. 71
3.5 CRIMES DE TRÂNSITO ................................................................................. 73
3.5.1 Homicídio Culposo ..................................................................................... 73
3.5.2 Lesão Corporal Culposa............................................................................... 75
3.6 POSIÇÃO DO TRIBUNAL JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA............. 76
3.6.1 Dolo Eventual ............................................................................................... 76
3.6.2 Culpa Imprudência........................................................................................ 78
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 84
ANEXOS ........................................................................................................................... 87
ANEXO I – Julho á Dezembro de 2000 ........................................................................ 87
ANEXO II – Ano de 2001 ............................................................................................. 88
ANEXO III – Ano de 2002 ............................................................................................. 89
ANEXO IV – Ano de 2003............................................................................................. 90
ANEXO V – Janeiro á Julho de 2004 ............................................................................ 91
9
INTRODUÇÃO
A sociedade transmite uma acentuada preocupação em virtude das estatísticas de
acidentes de trânsito, constatando que cada vez mais este elemento é responsável por elevados
índices de mortes ou lesões, vindo a ser comparados com doenças mortais, como câncer ou aids.
A cada final de semana, os responsáveis pelos meios de comunicações nos trazem o
conhecimento de milhares de mortes causados no trânsito, tornando-se um grave problema da
sociedade moderna.
O estudo obtém um maior entendimento ao relacionar as estatísticas de hoje com os de
alguns anos atrás, delimitando-se apenas as naturezas de trânsito abordadas pelo órgão público,
Polícia Rodoviária Federal e Polícia Rodoviária Estadual, demonstrando a dificuldade em que
estes têm em relacionar os acidentes de trânsito ao excesso de velocidade.
O número elevado de veículos e a modernização das máquinas, transformaram um
simples meio de locomoção em arma que se encontra a disposição de qualquer pessoa. Nesse
sentido, atualmente constatado como responsável pelo número de mortes provocadas na
maioria das vezes pela confiança estabelecida na direção de um veículo.
Para a preparação do trabalho foram utilizados o método indutivo e a técnica de pesquisa
de campo direta e indireta, limitando-se estas aos julgados da 1º e 2º Câmara Criminal do
Tribunal Judiciário de Santa Catarina, bem como estatísticas apuradas pela policia rodoviária,
federal e estadual.
No primeiro capítulo foi imprescindível relatar o histórico da criminalidade, estudando o
delinqüente e os elementos que caracterizam o crime, relacionando este ao Direito Penal. Após
este preparo o estudo dirigiu-se aos elementos subjetivos da conduta, dolo e culpa, seus
elementos e suas modalidades. Especificando no primeiro capítulo o dolo, mais detalhadamente o
dolo eventual. No segundo capítulo, o estudo direcionou-se de uma forma mais sucinta a culpa.
Relatamos o seu conceito, os elementos presentes para a sua caracterização assim como suas
modalidades, direcionando-se a imprudência. Por fim, o terceiro capítulo se delimita aos
10
acidentes cometidos no trânsito por excesso de velocidade, demonstrando o posicionamento do
Tribunal Judiciário de Santa Catarina. Através de pesquisas levantadas nos órgãos públicos da
Polícia Rodoviária Federal e Polícia Rodoviária Estadual, podemos abordar e co-relacionar o
excesso de velocidade aos acidentes de trânsito. Neste sentido, os dados obtidos pelos órgãos
públicos em estudo serão abordados em forma de gráficos e planilhas, comentados no corpo do
trabalho, polícia rodoviária estadual, e em forma de anexo, polícia rodoviária federal.
Para ilustrar o excesso de velocidade, foi abordado o seu conceito e limites permitidos
pela Lei do Código de Trânsito Brasileiro, estabelecido pela Lei nº 9.503/97, obtendo algumas
alterações pela Lei nº 9.602/98.
A delimitação do tema tem como objetivo demonstrar a influência e os danos que os
veículos causam sobre a pessoa humana quando conduzidos com irresponsabilidade, provocando
perigo à sociedade. Em virtude dessa modalidade de crime, que se destaca a cada dia, o interesse
dirigiu-se no entendimento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina frente a natureza jurídica do
excesso de velocidade, no que se refere ao elemento subjetivo da conduta criminosa: dolo
eventual ou culpa imprudência.
11
1. DOLO EVENTUAL
1.1 HISTÓRICO DA CRIMINALIDADE
Antes de questionar o crime, delimitando-se apenas a sua estrutura, é imprescindível
abordar a criminalidade, direcionando esta ao Direito Penal. Partindo desse pressuposto,
comentamos o que vem a ser a criminalidade bem como a importância do seu estudo.
A Criminologia é entendida, conforme Edwin H. Sutherland ( apud NEWTON e
VALTER, 2002, p. 26) como “ conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas
da criminalidade, a personalidade do delinqüente sua conduta delituosa e a maneira de
ressocializá-lo”.
O estudo do autor citado, pode ser complementado por Fernandes (2002, p.27), no qual
relata:
Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinqüente , e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de reintegra-lo ao grupamento social.
A criminologia tem a finalidade de se aprofundar nos elementos que levam o indivíduo à
delinqüência. É o estudo do próprio indivíduo, envolvendo o caráter pessoal, o meio em que vive
e a educação adquirida, com a preocupação de reeduca-lo ao meio social.
Diante do conceito de criminologia, entende-se o que vem a relatar o autor Mirabete
(1999, p. 31), relacionando o crime e a criminologia;
O crime é considerado como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e agente social , influenciado por fatores genéticos e constitucionais, bem como pelas injunções externas que conduzem á pratica da infração penal, e, numa postura moderna, agente de comportamento desviante. Em resumo, estuda-se na criminologia a causação do crime, as medidas recomendadas para tentar evita-lo, a pessoa do delinqüente e os caminhos para sua recuperação.
12
Em síntese, a citação acima toma a liberdade de ressaltar a importância do estudo da
criminalidade, que tem por objetivo entender os meios que levaram o indivíduo a pratica
delituosa, se preocupando em analisar o indivíduo e não apenas em enquadrá-lo ao tipo penal.
A criminologia aborda vários aspectos que podem vir a ser responsável pelos delitos
humanos, assim como cita Soares ( 2003, p. 72):
Em suma, as causas da criminalidade assumem um aspecto global, geral, no contexto social, podendo as mesmas ser de natureza antropológica, genética, psicológica, psiquiátrica, sociológica, política, econômica.
Todos os fatores possuem a sua significância ou interferência para a prática do delito,
mas a sociedade sempre foi movida pela importância do capital. Desde a antiguidade, se nota
que o poder prevalece aos mais poderosos, vindo a causar conflitos de soluções. As pessoas que
compõem a classe baixa sempre foram discriminados e inferiorizados pelo simples fato da
questão social, do “status” adquiridos em virtude do dinheiro, levando na grande maioria os
indivíduos a prática delituosa (SOARES, 2003, p. 72).
Outrossim, não basta apenas distinguir quais os elementos que levaram o indivíduo a
praticar o crime, mas todos os fatores e indícios de sua vida pessoal, portanto, o caráter do
indivíduo é um elemento imprescindível para a análise da criminologia.
Podemos salientar que:
Essa personalidade do homem com suas vivências atuais é, de outra forma, sempre condicionada pelo modo de ser relativamente constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as características dessa decantada personalidade (FERNANDES, 2002, p. 54).
Logo, para julgar e classificar a conduta, se deve levar em conta todo um procedimento a
ser analisado e respeitado, não basta apenas julga-lo culpado ou inocente, é preciso fazer um
estudo, ou seja, uma análise do delinqüente, descrevendo seus passos no qual o levou a conduta
delituosa. Portanto, conclui-se com base na Criminologia que os conflitos sociais decorrentes da
desigualdade social, no qual muitas vezes acaba tratando o indivíduo de modo desumano,
acompanhada de sua personalidade adquirida na maior parte pela influência de seu modo de vida
e condições sociais, são as principais causas geradoras do crime ( FERNANDES, 2002, p. 54).
13
Resumindo todos os pontos descritos acima e adotando os princípios do autor Fernandes
(2002, p. 53-54) conclui-se que:
Os acontecimentos causais não existem por si só. Verificado um fato, que é presente, busca-se a sua origem passada e seu efeito futuro. Isso acontece também, com a prática do crime. As causas imediatas do crime se resumem, em última análise, nas condições do meio em que ele se verificou e na personalidade de seu autor no momento da ação.
A criminologia é o início para o crime, a partir dela é que analisamos o fato ilícito do
delinqüente, que estuda as origens do indivíduo com as futuras conseqüências, e a modalidade de
aplicação da pena. Portanto, a relação de Direito Penal com a Criminologia, parte do princípio de
que:
O crime é considerado como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e agente social, influenciado por fatores genéticos e constitucionais, bem como pelas injunções externas que conduzem a prática da infração penal, e, numa postura moderna, agente de comportamento desviante (MIRABETE, 1999, p. 31).
No direito penal, o estudo da vida do indivíduo é realizado apenas para constatar se há
ou não alguma forma de aumento na aplicação da pena, analisando os seus antecedentes. Já a
criminologia vem a se apresentar como uma forma de preocupação com o indivíduo delinqüente,
refazendo toda a análise para o entendimento dos fatores que levaram a pratica delituosa, seu
interesse não é apenas empregar a pena referente ao crime cometido, mas analisar o seu
comportamento diante de tal atitude, levando a entender os fatores que o induziram a praticar a
conduta delituosa.
Com base neste retrospecto sucinto, podemos dar continuidade, adentrando no tópico
“crime”, exemplificando e trabalhando a sua estrutura, bem como será feito no decurso do estudo.
1.2 DO CRIME A palavra “crime” é conceituada e exposta aos leitores de maneiras diversas, são inúmeros
os entendimentos adotados pelos autores, no qual expõem os seus estudos da melhor forma a
serem interpretados e entendidos. O Código Penal Brasileiro, no qual sintetiza Damásio (2003, p.
14
150) “usa as expressões infração, no qual abrange o “crimes” ou “delitos” e as
“contravenções”.
Especificando essas terminologias, se tem que as doutrinas classificam as infrações penais
em crime ou delito e contravenções, sendo utilizados como sinônimos as palavras crimes e
delitos, possuindo apenas uma pequena diferença da contravenção (BITENCOURT e CONDE,
2000, p. 25). Portanto, analisando o crime ou delito e contravenção encontramos no artigo 1º da
Lei de Introdução ao Código Penal uma síntese do que se refere cada uma dessas palavras:
Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Ou seja, a diferença entre crime e contravenção encontra-se diretamente ligada a
intensidade da pena imposta, aplicando uma pena menos severa para a contravenção, que é
conceituada com base nas palavras de Bitencourt e Conde ( 2000, p. 25) como “ crime anão, são
condutas que representam menor gravidade em relação aos crimes”.
Analisando a estrutura do crime, adotamos os conhecimentos de Damásio (2000, p. 01),
que estuda o crime em “material e formal”:
Sob o ponto de vista material, o conceito de crime visa aos bens protegidos pela lei penal. Dessa maneira, nada mais é que a violação de um bem penalmente protegido. Sob o aspecto formal, crime é um fato típico e antijurídico1.
O estudo do crime se dá em virtude da exteriorização do comportamento do indivíduo,
lesando ou pondo a perigo o bem jurídico, ou seja, causando um resultado. O aspecto formal, é
meramente o enquadramento dessa conduta ao tipo legal.
Em decorrência desta estrutura podemos adotar o conceito de Von Liszt e Beling (apud
BITENCOURT e CONDE, 2000, p. 17) que descreve a palavra “delito” da seguinte maneira:
representado por um movimento corporal (ação) produzindo uma modificação no mundo exterior (resultado). Essa estrutura simples, clara e também didática, fundamenta-se num conceito de ação
1 Fato típico e antijurídico são elementos do crime, e portanto serão relatados em subitem específico
15
eminentemente naturalístico, que vinculava a conduta ao resultado através do nexo de causalidade.
Portanto, Damásio ( 2000, p. 02) em seu parágrafo descreve a relação existente entre
crime ou delito e conduta:
para que haja delito é preciso, em primeiro lugar, que seja realizada uma conduta humana positiva ou negativa ( ação ou omissão). Mas nem todo comportamento do homem constitui crime. Em fase do princípio da reserva legal, somente os descritos pela lei penal podem assim ser considerado.
Expressando-se de uma forma geral e sucinta, a expressão crime ou delito pode ser
conceituado e entendido como “ o atentado as condições de vida da sociedade, comprovada pela
legislação e só evitável mediante pena”, definição adotada por Ihering ( apud PRADO, 2000, p.
148).
A palavra “crime” citado pelo autor Dotti (2002, p. 299) nos passa o entendimento que “ o
crime é a ação ou omissão típica, ilícita e culpável”. Para melhor entender o significado desse
conceito, seguimos o mesmo pensamento do autor, no qual vem a relatar em laudas seguintes da
sua obra a tradução das palavras utilizadas:
A conduta é representada por uma ação ou omissão humana dirigida a um fim; a tipicidade é a adequação. Objetiva ou subjetiva dessa conduta a uma norma legal; a ilicitude é a qualidade de um comportamento não autorizado pelo Direito e a culpabilidade é o juízo de reprovação que recai sobre a conduta do sujeito que tem ou pode ter a consciência da ilicitude e de atuar segundo as normas jurídico-penais ( DOTTI, 2002, p. 300).
O crime não é apenas uma atitude contrária á lei, envolve toda uma análise a ser feita.
Enquadra-se ao crime a conduta que vem a gerar um resultado, ou seja , que cause uma
alteração, podendo por a perigo ou simplesmente lesar o bem jurídico. Compõem para sua
caracterização três elementos: tipicidade, ilicitude ou antijuridicidade e culpabilidade, que serão
comentados em tópicos específicos para melhor compreensão do leitor.
As palavras “ ação e omissão” podem ser entendidas pelo autor Damásio (2003 , p. 237-
238) que em sua doutrina trabalha como forma de conduta. Desta maneira, a ação “ é a que se
manifesta por intermédio de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade”, porém, a
16
omissão “é a não realização de um comportamento exigido que o sujeito tinha possibilidade de
concretizar” .
A conduta, palavra interligada ao crime, como já relatado acima, é conceituada pelo autor
Capez ( 2002, p. 105) como sendo:
(...) é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, típica ou não, mais que produz ou tenta produzir um resultado previsto na lei penal como crime.
A conduta se concretiza pela “realização do ato humano de forma voluntária, seguida da exteriorização dessa ação ou omissão, obtida através de um resultado” (DAMÁSIO, 2000, p. 04).
Em complemento, podemos concluir com fundamento na obra de Damásio (2003, p. 228) que “ se a vontade constitui elemento da conduta, é evidente que esta não ocorre quando o ato é involuntário”.
Outrossim, mencionando o que relata Costa Junior (2000, p. 44) quanto a conduta, cita-se que:
não constituem conduta os movimentos executados sob coação de uma força exterior, irresistível e absoluta. Ação (ou omissão) perpetrada sob tal coação não configura sequer uma conduta .
A realização do ato deve ser feita de forma espontânea, devendo partir do próprio agente o desejo de realizar a conduta.
Os elementos subjetivos da conduta, dolo e culpa, são imprescindíveis para os relatos dos capítulos seguintes, porém, para não deixar o leitor sem o entendimento da citação utilizada acima, já que os dois elementos fazem parte da conduta e que no momento é imprescindível para o trabalho, faremos um breve comentário a respeito desses elementos subjetivos, utilizando as palavras do autor Capez (2002, p. 105):
no caso de uma conduta dolosa, a vontade e a finalidade já são as de produzir um resultado típico, enquanto na conduta culposa, a vontade e a finalidade não buscam um resultado típico, mas este ocorre devido á violação de um dever de cuidado de qualquer pessoa mediana estaria obrigada a observar.
O que devemos deixar bem claro, é que somente o ser humano é responsável pela infração penal, pelo cometimento do crime. Assim complementado pela obra do autor Dotti (2002, p. 303) que “ os crime (ou delito) e as contravenções não podem ser praticados pelas pessoas jurídicas”, salvo nos casos expressos do artigo 173 e 225 da Constituição Federal, tratando respectivamente “ Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica” e “ Mei o Ambiente”.
1.3 ELEMENTOS DO CRIME
17
Quando comentado sobre o crime nas páginas anteriores, foi
mencionado várias vezes em seu conceito que a expressão “crime ou
delito” deriva de uma ação ou omissão, descrita como típica; ilícita
ou antijurídica e culpável (DOTTI, 2002, p. 300). Portanto a
importância deste item abordado, será somente especificar e dar
entendimento a essas palavras.
1.3.1 Fato Típico
O Fato Típico descrito pelo autor Damásio ( 2000, p. 03) se
compreende nos elementos: “Conduta (dolo e culpa), resultado, nexo
de causalidade e por fim a relação de todos esses com a norma penal,
descrita como tipicidade” .
Adotando o estudo de Damásio (2000, p.03), obteremos um
breve entendimento de todos os elementos que compõem o fato
típico:
Se A, agindo dolosa ou culposamente, mata B, encontramos os quatro elementos. Há uma conduta, qual seja, a de o sujeito, v.g., esfaquear ou atropelar a vítima; o resultado morte; o nexo de causalidade objetiva entre a conduta e o resultado , uma vez que a vítima faleceu em conseqüência das lesões
produzidas pelas facadas ou atropelamento. E o fato se enquadra no art. 121, caput ou § 3º do CP.
O resultado é visto pelo autor Fragoso ( apud MIRABETE,
2003, p. 110) como:
o efeito natural da ação que configura a conduta típica, ou seja, o fato tipicamente relevante produzido no mundo exterior pelo movimento corpóreo do agente e a ele ligado por relação
de causalidade.
18
Caracteriza o resultado como uma conseqüência da atitude do indivíduo, podendo este ser
analisado em virtude da alteração ou apenas lesão ao bem jurídico.
A vontade enquanto permanecer em pensamentos ou transformadas apenas em desejos
não representa nada para o Direito Penal, tendo apenas validade a partir do momento que essa
vontade se exterioriza. Portanto, “só haverá ilícito penal culposo se da ação contrária ao cuidado
resultar lesão a um bem jurídico” (MIRABETE, 2003,p. 147).
Abordando o elemento seguinte, podemos citar o nexo de
causalidade ou relação da causalidade, presente “entre o
comportamento humano e a modificação no mundo exterior
(resultado material)” (DAMÁSIO, 2003, p. 247) .
No entanto, o nexo de causalidade “ é a imputação física do
crime ao autor da ação produtora do resultado” (BITENCOURT,
1997, p. 92).
Vem a ser entendido com uma ligação, a relação existente entre
a atitude do indivíduo e o resultado provocado por este. O
entendimento do nexo de causalidade, vem a ser visualizado no
exemplo de Damásio (2000, p. 03), como citado acima, que ao
esfaquear ou atropelar vem a resultar o “falecimento da vítima”.
Concluindo os elementos do Fato Típico encontramos a
Tipicidade, que se encontra definido na obra de Damásio ( 2000, p.
15) como “ a qualidade que possui o fato de se encontrar descrito
em lei como infração penal” , desta forma, utilizando como
complemento a este conceito, podemos adotar as palavras de Dotti
19
(2002, p. 311), no qual descreve a tipicidade como sendo “a
adequação do fato humano ao tipo de ilícito contido na norma
incriminadora”. Ao praticar um homicídio, a tipicidade encontra-se
no dispositivo do artigo 121 “caput”, no qual relata “matar alguém”,
ou seja, é o enquadramento da atitude do indivíduo ao Código Penal.
A tipicidade e o crime apresentam-se diretamente ligadas, da
forma em que Barros( 2001, p. 167) dá a devida importância
relatando que:
há exclusão da tipicidade quando a conduta da vida não se encontra descrita em nenhum tipo legal. A ausência de
tipicidade conduz a exclusão do crime, citado como exemplo, o furto de uso e a prostituição.
Após os relatos de todos os elementos no qual caracterizam a
tipicidade, podemos dar continuidade aos outros elementos que
conceituam o crime: Ilicitude ou Antijuridicidade e Culpabilidade.
1.3.2 Ilicitude ou Antijuridicidade
A Ilicitude ou Antijuridicidade se concentra exatamente em
três elementos, nos quais são citados pelo autor Dotti ( 2002, p. 334)
como: “ uma conduta humana; uma lesão ou um perigo de lesão de
um bem; proteção legal desse bem”.
Portanto, se tem a antijuridicidade “com a comprovação de
que a conduta é típica e de que não concorre nenhuma causa de
justificação” (BITENCOURT e CONDE, 2000, p. 18), sendo que
essas causas de justificação são as estabelecidas no Artigo 23 do
20
Código Penal: Estado de necessidade; legítima defesa; estrito
cumprimento de dever legal; exercício regular de direito (SALLES
JUNIOR, 2002, p. 18).
Outrossim, adota-se a ilicitude conforme expõem Prado (2000,
p. 242) “ é uma relação de oposição da conduta do autor com a
norma jurídica. È um predicado, uma qualidade, um estímulo de
determinadas formas de ação/omissão”.
Enquadra-se a ilicitude quando a atitude praticada pelo agente
fere a norma jurídica, ou seja, quando se opõem ao dispositivo legal,
obtendo um comportamento ilícito.
Também se tem como entendimento o que relata o autor
Noronha ( 1998, p.101):
Ela se reduz a um juízo, a uma estimativa de comportamento humano, pois o direito penal outra coisa não é que um
complexo de normas que tutelam e protegem as exigências éticos-sociais. O delito é, pois, a violação de uma dessas normas.
Vimos que a tipicidade e a ilicitude ou antijuridicidade, são
imprescindíveis para a caracterização do crime, trata-se como
demonstrado no estudo, na relação entre a conduta e o crime. Nesse
sentido, demonstrado a presença destes, cabe o estudo da
culpabilidade.
1.3.3 Culpabilidade
21
E por fim a culpabilidade, entendida como “ o juízo de censura que analisa a relação
entre o autor e o fato praticado, indagando se ele tinha possibilidade de realizar a conduta na
direção da ordem jurídica e de evitar o mal cometido” ( BARROS, 2001, p. 319), portanto, é o
“pressuposto da aplicação da pena” entendido pelo mesmo autor Barros ( 2001, p. 317).
Desta forma, com base no que foi relatado e citado até o momento, utilizando os
entendimentos de diversos autores, conclui-se que a Tipicidade e a Ilicitude ou Antijuridicidade
são essenciais para a existência do crime, porém, a culpabilidade apesar de ser seu terceiro
elemento, não é para o presente estudo de suma importância, pois não se descaracteriza o crime
em decorrência da sua ausência. Tal entendimento é decorrente da reflexão apresentada por
Capez (2002, p. 265):
Para censurar quem cometeu crime, a culpabilidade deve estar necessariamente fora dele. Há, portanto, etapas sucessivas de raciocínio, de maneira que, ao se chegar á culpabilidade, já se constatou ter ocorrido um crime. Verifica-se, em primeiro lugar, se o fato é típico ou não; em seguida, em caso afirmativo, a sua ilicitude; só a partir de então, constatada a prática de um delito (fato típico ou ilícito) é que se passa ao exame da possibilidade de responsabilização do autor
A culpabilidade refere-se a crítica atribuída ao comportamento do agente, no qual poderia
ter evitado, mas não o fez, agindo com dolo ou culpa. É a atitude contraria a lei, abrangida pela
tipicidade e ilicitude, atribuindo a aplicação da pena. A crítica a culpabilidade refere-se ao
agente, seu estudo esta diretamente ligado a ele.
Assim, podemos adotar o entendimento de Barros (2001, p. 104) que nos traz a diferença
a ser analisada quanto a tipicidade, ilicitude e culpabilidade:
Como bem se vê, na culpabilidade analisa-se predominantemente o perfil do agente, sem, contudo, desvincular-se do fato, ao passo que nos juízos da tipicidade e da ilicitude analisa-se predominantemente o fato.
Logo, o que foi feito até o momento concentra-se apenas numa preparação ou base
teórica para o que será apresentado nos tópicos posteriores, não poderíamos simplesmente
começar a descrever os elementos subjetivos da conduta (dolo e culpa) sem antes expor toda a
estrutura do crime, base fundamental para o objetivo do estudo, mesmo que de forma sucinta.
22
1.4 DOLO
O dolo pode ser estudado e interpretado no âmbito civil e penal. No âmbito civil ele é
analisado em decorrência da má-fé, originando-se de uma fraude, logo, trabalhar o dolo no penal
enseja em descrever o ato criminoso, o desejo contrário a lei ( BARROS, 2001, 199).
Relembrando que neste trabalho cabe discutir e especificar o dolo penal.
O dolo consiste na prática do ato em decorrência do entendimento e do almejo, portanto,
conceituado pelos autores Bitencourt e Conde ( 2000, p. 149) obtemos que o “ dolo é a
consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal”. Há nos relatos dos
autores uma acentuada atenção quanto a presença do resultado no dolo, como um dos fatos a
serem analisados para a sua concretização.
Em um sucinto conceito de Capez ( 2002, p. 177) o dolo é entendido como “ a vontade e
a consciência de realizar os elementos constantes no tipo legal. Mais amplamente, é a vontade
manifesta pela pessoa humana de realizar a conduta”.
Pelo fato de alguns doutrinadores relatarem seus conceitos mencionando o resultado, o
autor Pimentel (apud BARROS, 2001, p. 187) dá-se a sua preocupação quanto a este, no qual
alerta ao fato de que o conceito apresentado direcionado ao resultado “ poderia levar o interprete
menos avisado a supor que somente os crimes de resultado podem ser dolosos já que o
dispositivo legal alude expressamente a vontade do resultado”.
Haja vista, que o mesmo pode vir a ser interpretado de duas maneiras:
O resultado, numa concepção naturalística, é a transformação do mundo exterior. Segundo esse entendimento, admite-se crimes sem resultado. No entanto, admitindo-se o resultado concebido como evento, num conceito jurídico, identificando-se com ofensa (dano ou perigo) a um bem jurídico tutelado pela norma penal, forçoso é concluir que não há crime sem resultado (BITENCOURT e CONDE, 2000, p. 147).
23
Em relação aos elementos abrangidos pelo Fato Típico,
encontramos apenas uma contradição referente ao resultado,
apresentada por duas teorias: Naturalística e Normativa
A Teoria Naturalística, obtém o seguinte ponto de vista:
“Resultado naturalístico ou material é a mod ificação do mundo
exterior provocado pelo comportamento humano voluntário positivo
(ação)” (DAMÁSIO, 2000, p. 4).
Já a Teoria Normativa nos mostra que “ o resultado da
conduta é a lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela
norma penal (afetação jurídica)”. Outrossim, “ é evidente que não
há crime sem resultado, pois o consideram como um eventus damni
ou um eventus periculi2” (DAMÁSIO,2003, p. 244). Conforme as citações mencionadas, se tem que as duas teorias trabalham o elemento,
resultado. Porém, admitir a teoria naturalística ou a normativa leva apenas ao entendimento do
resultado. Para alguns, este é a alteração do mundo exterior, em virtude da atitude humana,
concedendo a teoria naturalística, porém, há quem entenda que o resultado não se restringe a
alteração ou modificação, admitindo-se a simples ofensa ao bem jurídico.
Nesse sentido, Barros ( 2001, p. 188) analisa o resultado com base no artigo 18, I do
Código Penal, que relata em seu dispositivo o entendimento de resultado.
Art. 18. Diz-se o crime:
CRIME DOLOSO
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
2 Eventus damni (Evento do Dano); Eventus periculi (Evento do perigo). Disponível em: < http.www.portaljuridicoempresarial.com.br/latinas.html/> Acesso em: 08 de setembro de 2004.
24
Diante desse dispositivo, Barros ( 1995, p. 86) resume seu entendimento relatando
que:
o crime doloso implica numa anterior representação psíquica do crime, (teoria de representação), a qual vai mover conscientemente a vontade do agente para um fim antijurídico (teoria da vontade e consciência da antijuridicidade), de forma inequívoca (dolo direto), referente a primeira parte do artigo, ou assumir o risco de produzir um resultado antijurídico, com uma certa aquiescência do seu psiquismo ou da sua consciência (teoria da anuência) que é o dolo eventual , referente a segunda parte.
Os itens abordados na citação acima, serão mencionados no tópico seguinte, no qual se
refere aos elementos do dolo, no entanto, quanto a sua modalidade: dolo eventual, este será
discutido juntamente com todas as modalidades que o dolo possui.
Os entendimentos do autor Noronha ( 1998, p. 136), quanto a caracterização do dolo,
partem do princípio que:
para agir com dolo, não basta que o evento tenha sido previsto pelo indivíduo, é mister seja querido. Esse resultado é a meta, o fim que o sujeito ativo busca com sua atividade consciente e dirigida. Costuma dizer-se, por isso, abreviando o conceito, que dolo é a vontade de executar um fato que a lei tem como crime.
O elemento subjetivo da conduta, dolo, exige do condutor o entendimento do ato
praticado, do almejo pela realização, desta forma a obra de Costa Junior (2000, p. 28),
complementa essa idéia em seu parágrafo ao descrever que “ só pode ser censurado o agente que
tenha consciência da conduta que pratica. A esta consciência da conduta é que se soma a
consciência de sua ilicitude (...)”.
Outrossim, age com dolo o indivíduo que deseja praticar a conduta, mesmo sabendo que
sua atitude fere o dispositivo legal. O agente obtém o conhecimento que sua atitude é contrária a
lei, mas a vontade e o desejo é maior, vindo dessa forma a praticar a conduta delituosa.
25
1.5 ELEMENTOS E TEORIA DO DOLO O dolo é formado e conceituado com base em seus próprios elementos como visto no
item anterior. Portanto, cabe aqui ressaltar e fazer entender todos os elementos e as teorias, no
qual são imprescindíveis para a sua caracterização.
Partindo do princípio dos elementos, pode-se descrever a presença de dois: elemento
cognitivo ou intelectual e o elemento volitivo (BITENCOURT, 1997, p. 94-95).
O elemento cognitivo, parte do princípio que o autor da conduta deve obter no momento
do ato o conhecimento do que esta realizando, como relata os autores Bitencourt e Conde ( 2000,
p. 152) “ para a configuração do dolo exige -se a consciência daquilo que se pretende praticar.
Essa consciência deve ser atual, isto é, deve estar presente no momento da ação, quando ela está
sendo realizada”.
Em relação ao mesmo ponto questionado, podemos citar e exemplificar o mesmo
elemento com um caso prático encontrado na doutrina de Barros ( 2001, p. 191) que reconhece o
elemento cognitivo ou intelectual:
Deve o conhecimento abranger todos os elementos constitutivos do tipo. Não pense, porém, que o agente deva ter consciência dos fatos não mencionados no tipo penal. A consciência só precisa ir até as circunstâncias do fato previsto no tipo legal. Se, por exemplo, “A” mata “B”, por confundir -se com “C”, não há exclusão do dolo, diante da consciência de que estava matando alguém (“ser humano”). Se, por exemplo, “A” subtrai um relógio dourado pensando que é de ouro, subsiste o dolo, pois há a consciência de que se trata de coisa alheia.
Sobre a mesma matéria observa o autor Prado ( 2000, p. 224) definindo o elemento
cognitivo ou intelectual como “ consciência atual da realização dos elementos objetivos do tipo
( conhecimento da ação típica)”.
Ao elemento cognitivo ou intelectual, se tem que o agente precisa apenas entender no
momento da conduta que sua ação está descrita na lei como crime.
Já o elemento volitivo, requer apenas o desejo da conduta. Portanto, ressalta-se com
base nos fundamentos de Barros ( 2001, p. 191-192) que:
26
cumpre ainda chamar a atenção de que no momento da eclosão do resultado nem sempre existe no agente a vontade de produzi-lo. E isso não exclui o dolo. Desde que no momento da realização da conduta haja no agente a vontade de produzir o resultado. Basta, para a caracterização do dolo, que o evento se realize consoante a intenção do agente esboçada no momento da conduta. Subsiste o dolo, por exemplo, se “A” envia uma bomba -relógio para “B”, arrependendo-se antes da explosão, mas sem conseguir evitar a tempo a morte de “B”.
Os dois elementos do dolo devem estar presentes no momento em que a conduta é
praticada. Para caracteriza-lo o indivíduo deve ter o entendimento que tal atitude fere o
dispositivo legal, vindo a ser influenciado pelo desejo de concretiza-lo.
Como já comentado os dois elementos imprescindíveis no dolo ( Cognitivo / Intelectual e
Volitivo) podemos adentrar nas teorias adotadas pelos autores quanto a composição do elemento
subjetivo da conduta, dolo.
A finalidade do estudo dessas teorias, apresentadas em três, tais como a teoria da
representação, teoria da vontade e a teoria do assentimento é justamente para dar um maior
conhecimento sobre os elementos volitivos e cognitivos, que se concentram no entendimento e no
desejo de realizar a conduta ( BARROS, 2001, p. 188).
Desta forma, tentaremos relatar a finalidade de cada teoria, respeitando a ordem no qual
foi citada no parágrafo acima. Assim, se tem que a teoria da representação, adota em princípio
para o seu estudo o elemento intelectual , excluindo o volitivo, ou seja, o desejo da pratica
delituosa, adotando apenas as cautelas do resultado (BARROS, 2001, p. 188).
Sobre a matéria em questão, concluímos que a teoria da representação significa “a
previsão do resultado como certo e provável” (BITENCOURT e CONDE, 2000, p. 151), sendo
analisado até mesmo pelos que defendiam esta tese, que somente esta teoria não é suficiente
para a existência do dolo, visto que:
Na verdade, a simples representação da probabilidade de ofensa a um bem jurídico não é suficiente para se demonstrar que o agente tenha assumido o risco de produzir determinado resultado, posto que, embora sua produção seja provável, poderá o agente, apostando em sua sorte, acreditar seriamente que o resultado não acontecerá ( BITENCOURT e CONDE, 2000, p. 151).
27
A teoria da vontade, partindo do princípio do próprio nome, é o desejo seguido do
resultado. Portanto, respeitando a teoria o autor Barros (2001, p. 189) conclui que “ para a
existência do dolo, não basta que o agente tenha previsto o resultado, urge ainda o desejo de
realiza-lo”.
É necessário deixar estabelecido, conforme escreve Bitencourt e Conde ( 2000, p. 150)
que “ a essência do dolo deve estar na vontade, não de violar a lei, mas de realizar a ação e obter
um resultado”. Em virtude dos relatos abrangidos pelos autores quanto as teorias do dolo,
constata-se que as mesmas deixam a desejar, é o que entende o autor citado :
Embora a teoria da vontade seja a mais adequada para extremar os limites entre dolo e culpa, mostra-se insuficiente, especialmente naquelas circunstâncias em que o autor demonstra somente uma atitude de indiferença ou de desprezo.
A preocupação em praticar a conduta, não se concentra na conseqüência desta, ou seja, no
seu resultado, mas apenas na própria vontade instigada pelo agente em realizar a ação.
O consentimento, assentimento ou anuência apenas vem a complementar a teoria da
vontade, portanto, estabelece os autores Bitencourt e Conde ( 2000, p. 151):
Para esta teoria, também é dolo a vontade que, embora não dirigida diretamente ao resultado previsto como provável ou possível, consente na sua ocorrência ou, o que dá no mesmo, assume o risco de produzi-lo. A representação é necessária mas não suficiente á existência do dolo, e consentir na ocorrência do resultado é uma forma de quere-lo.
Dentre o contexto estabelecido até o momento, pode-se dizer que o dolo é representado
pelas três teorias abordadas, porém, algumas presentes com menor ênfase pelos autores (teoria da
representação), mas, que vem a complementar o objetivo das outras teorias (BITENCOURT e
CONDE, 2000, p. 151).
Portanto, em decorrência do entendimento em questão, se tem que “ da análise do
dispositivo no art. 18, I, do Código Penal, conclui-se que foram adotadas as teorias da vontade e
do assentimento” (CAPEZ, 2002, p. 178).
28
É imprescindível ressaltar que, em relação as teorias do dolo, “ o Código Penal
Brasileiro adotou a teoria da vontade quanto ao dolo direto e a teoria do assentimento ao
conceituar o dolo eventual” (MIRABETE, 2003, p. 139).
As três teorias acentuam o elemento volitivo e cognitivo, vindo a complementá-los. O
indivíduo deve estar ciente de que seu ato contraria o dispositivo legal, porém, a sua vontade
deve ser superior, não importando com o enquadramento de sua atitude nem com a possibilidade
de um resultado. O comportamento do indivíduo não se concretiza em virtude do resultado, neste
momento o que está em questão é o desejo, a vontade em realizar a conduta. Assim, o dolo pode
apresentar-se de diversas maneiras, no qual serão estudadas e demonstradas abaixo.
1.6 MODALIDADES DE DOLO
O dolo diferencia-se pela sua forma de expressão com base nos “elementos da figura
típica, pelo desejo de abranger o objetivo pretendido pelo agente, desta forma, o dolo do
homicídio é diferente ao do furto” (DAMÁSIO, 2003, p. 290).
Cada autor aborda em sua doutrina algumas modalidades de dolo, portanto, o estudo irá
abordar: dolo direto e dolo indireto, sendo que o indireto é subdivido em alternativo e eventual;
dolo de dano e dolo de perigo; dolo genérico e dolo específico; dolo geral ou erro sucessivo;
dolo natural e dolo normativo (CAPEZ, 2002, p. 179-181).
Dolo direto ou determinado: Refere-se a essa modalidade quando o agente almeja
diretamente o resultado. Vem a ser visualizado na primeira parte do dispositivo do artigo 18, I do
Código Penal: “ doloso, quando o agente quis o resultado” . Para melhor entendimento, citamos
o exemplo do autor Damásio ( 1998, p. 284) que adota a seguinte forma “ o agente desfere
golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se projeta de forma direta no resultado
morte”.
Nestes termos, ou seja, na intenção direta do resultado, esta modalidade apresenta-se
dividida em duas espécies: dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau, citado por
Bitencourt e Conde (2000, p. 155).
29
Desta forma, “ o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é
classificado como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como
necessários, é classificado como de segundo grau” (BITENCOURT, 1997, p. 96).
Dolo indireto ou indeterminado: Contradiz-se ao anterior. “ O dolo é indireto quando a
vontade do agente não visa a um resultado preciso e determinado” (DELMANTO, 2000, p.31) .
A definição adotada por Noronha ( 1982, p.135) refere-se “ É indireto quando, apesar de
querer o resultado, a vontade não se manifesta de modo único e seguro em direção a ele, ao
contrário do que se sucede com o direto”. Neste caso, há a subdivisão em duas hipóteses: dolo
eventual e dolo alternativo.
Dolo eventual: Neste o sujeito ao praticar a ação o faz consciente em assumir o resultado,
o desejo é apenas realizar a conduta, porém, se o mesmo tiver uma conseqüência vindo a
produzir um resultado, será aceito (DAMÁSIO, 2003, p. 290).
Podemos encontrar na obra de Bitencourt e Conde ( 2000, p. 156) a seguinte conclusão
obtida da modalidade, dolo eventual:
a consciência e a vontade, que representam a essência do dolo, também devem estar presente no dolo eventual. Para que este se configure é insuficiente a mera ciência da probabilidade do resultado ou a atuação consciente da possibilidade concreta da produção desse resultado, como sustentam os defensores da teoria da probabilidade.
Observa-se no dolo eventual, que o desejo de realizar a conduta é maior, seja ela
proveniente de um resultado ou não. O indivíduo não deixa de realizar o fato ilícito pela previsão
de um resultado, sua vontade torna-se superior em virtude das conseqüências que poderá trazer.
Portanto, o parágrafo descrito pelo autor Leal ( 1998, p. 214) é bem claro ao relatar sobre
o dolo eventual:
O dolo eventual ocorre quando o agente, embora não desejando diretamente o resultado, considera como seriamente provável que sua conduta poderá realizar o tipo penal previsto e concorda com sua possibilidade. Para utilizar a frase corrente, caracteriza-se o dolo eventual em assumir o risco de realizar o resultado. O agente não quer diretamente aquele resultado, mas prevendo-o, assume o risco de produzi-lo.
30
Dentro destes dispositivos, seguindo a linha do Código Penal,
Delmanto (2000, p. 31) nos traz o entendimento quanto ao dolo
eventual que “ no dolo eventual, não é suficiente que o agente se
tenha conduzido de maneira a assumir o risco de produzir o
resultado, exige-se, mais, que ele haja consentido no resultado”.
O dolo eventual trabalha o conhecimento, a vontade e a
previsão de um resultado. Seu desejo não esta exclusivamente no
resultado, mas, será aceito em virtude da vontade de praticar o ato
delituoso. Como o dolo eventual é uma das formas imprescindível e detalhada para o terceiro
capítulo, abordaremos um julgado do Tribunal Judiciário de Santa Catarina, comarca de Porto
União, de 10 de abril de 1992, tendo como relator o Des. Alberto Costa – Apelação criminal
25.686, in verbis:
EMENTA: LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS - CONDENAÇÃO - RECURSO PRETENDENDO A DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA A FORMA CULPOSA - PRELIMINAR DE CONVERSÃO DO JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA ARGÜIDA PELO ÓRGÃO MINISTERIAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA - APELAÇÃO INTERPOSTA POR DEFENSOR CONSTITUÍDO - RÉU BENEFICIADO COM SURSIS E NÃO INTIMADO DA SENTENÇA - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO - DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO - APELO TEMPESTIVO - PRELIMINAR REJEITADA - PRESENÇA DE DOLO EVENTUAL NA CONDUTA DO RÉU - DELITO CONFIGURADO NA SUA FORMA JOCOSA - PRETENSÃO DESCLASSIFICATÓRIA IMPROCEDENTE - RECURSO DESPROVIDO. "Se o acusado foi beneficiado com sursis e tem defensor constituído que, tempestivamente, apelou da decisão condenatória, desnecessária a sua intimação da sentença, desde que não configurado o prejuízo decorrente da omissão" (JC 66/518). Age com dolo eventual o agente que, dispondo da plena consciência de que poderá lesionar a outrem e antevendo o resultado de sua ação, sem hesitar, dispara sua arma contra um grupo de pessoas, a pretexto de colocar término a entrevero, assumindo, destarte, o risco de produzir o resultado lesivo. (grifamos)
31
Fazendo uma síntese da íntegra, temos o conhecimento que a ementa trata das sanções
cometidas pelo artigo 121, § 2º, incisos II e IV combinado com o artigo 14, II do Código Penal.
A vítima quis apenas separar a briga que se originou em virtude de rixa. Desta forma, o
denunciado sacou de um revólver e disparou um tiro, atingindo a perna da vítima. A atitude do
denunciado demonstra que no momento da ação obtinha conhecimento de sua conduta, não vindo
a matar a vítima por sua vontade. Seu desejo era apenas fazer com que não interferisse, assim,
obtinha o conhecimento da ação favorecendo ao seu desejo. Ao sacar a arma e disparar o tiro, o
denunciado estava assumindo o risco de poder vir a matar a vítima. Nas circunstâncias que o
envolviam o agente mantinha o conhecimento de sua atitude, a vontade e o desejo (que a vítima
não interferisse na briga) assim como a possibilidade de um resultado.
Frente ao posicionamento:
o dolo eventual, conceituado em termos correntes, é a conduta daquele que diz a si mesmo “ que agüente”, “que se incomode”, “se acontecer, azar”, “não me importo”. Observe -se que aqui não há uma aceitação do resultado como tal, e sim sua aceitação como possibilidade, como probabilidade (ZAFFARONI, 1999, p. 498).
Ao lado do dolo eventual encontramos o dolo alternativo, como
divisão do dolo indireto ou indeterminado. Dolo alternativo: É subtendido “ quando a vontade do sujeito se dirige a um ou outro
resultado” (DAMÁSIO, 1998, p. 285). Neste conceito subtendemos que o agente requer apenas o
resultado, independente de qual for.
Desta forma, “ o agente atua querendo um ou outro tipo penal, que possa resultar de sua
conduta. Por exemplo, o agente dispara sua arma de fogo com a intenção de ferir ou de matar”
(LEAL, 1998, p. 214).
Podendo citar ainda a obra de Barros (2001, p. 193) que além de tratar do dolo
alternativo,conceituando e exemplificando, vem a detalhar a forma de imputação do agente, já
que no dolo alternativo o agente pode a vir causar mais de um crime:
Verifica-se o dolo alternativo quando o agente visa produzir, com igual intensidade, um ou outro resultado. Exemplo: o agente atira para ferir ou para matar. Neste caso, deve ser imputado ao agente
32
o crime mais grave, porquanto a sua vontade projetou-se também para esse sentido.
Resumindo, o dolo alternativo não requer num tipo específico, a atitude é praticada
apenas com a finalidade de um resultado, independente de qual for.
Dando continuidade nas modalidades de dolo, já que até o momento foi relatado apenas o
dolo determinado ou direto e o indeterminado, abrangendo as suas divisões. Cabe portanto,
relatar as outras modalidades.
Dolo de Dano: Neste, “ o sujeito quer o dano ou assume o risco de produzi -lo (dolo
direto ou dolo eventual)” (DAMÁSIO, 2003, p. 293). Desta forma, quer -se apenas “um dano, a
lesão efetiva a um bem” (NORO NHA, 1998, p. 139).
Dolo de Perigo: O dolo de perigo é o inverso, excluindo a palavra dano, obtendo-se neste
o perigo. Cabe ao dolo de perigo, “ a mera vontade de expor o bem a um perigo de lesão”
(CAPEZ, 2002, p. 180).
Sobre a matéria, observa o autor Costa Junior ( 2000, p. 84) que “ o dolo será de dano se o
sujeito quis lesar (destruir ou danificar) o bem tutelado. Será de perigo se pretendeu apenas
ameaça-lo”.Como trata de “assumir o risco ou produzir” diferenciando -se apenas no dano ou no
perigo, ressalta-se com fundamentos em Barros (2001, p. 194) que “o dolo de perigo, tal como o
dolo de dano, pode ser direto ou eventual” .
Sintetizando, o dolo de dano é obtido através de uma lesão, uma modificação ao bem. Já
o dolo de perigo, trabalha apenas a ameaça, não chega ao fim pretendido.
Dolo Genérico: Será Genérico “ quando o agente deseja apenas o fato descrito na norma
penal” (COSTA JUNIOR, 2000, p. 84). Trata -se da “ vontade de realizar fato descrito na norma
penal incriminadora” ( DAMÁSIO, 1998, p. 286). Assim obtido na obra do autor Barros (2001, p.
195) como exemplo “ matar alguém” (Código Penal art. 121).
Dolo Específico: Requer a conduta, com um fim específico. Ou como relata Mirabete
(2003, p. 144) se tem como definição ao dolo específico como “ a vontade de realizar o fato com
um fim especial (fim libidinoso, de obter vantagem indevida etc). Também se adota a definição
33
de Damásio ( 1998, p. 286) relatando que “ dolo específico é a vontade de praticar um fim
especial (específico)”. Ressalt a-se que esse fim especial, vem detalhado no dispositivo legal, ou
seja, a própria lei detalha a finalidade, especificando a realização do crime.
Dolo Normativo: De acordo com o autor Damásio (1998, p. 287) “ é o que porta a
consciência da antijuridicidade (doutrina clássica)”. Não basta apenas um querer, mas, um querer
ilícito, errado, injusto. Nesse sentido, o dolo normativo deve ser apresentado de acordo com a
vontade de praticar a conduta delituosa, o ato descrito na norma legal como contrário a lei.
Dolo Natural: Logo, o dolo natural se contrapõe ao dolo normativo, ao ser definido
apenas como “ a simples vontade de fazer alguma coisa, não contendo a consciência da ilicitude”
( DAMÁSIO, 2003, p. 295).
Na primeira hipótese, o agente tem que estar consciência que sua conduta é contrária a lei,
caracterizando o dolo normativo, porém, a falta de consciência do ilícito cometido vem a ser
conceituado como dolo natural, assim entendido com base nas citações adotadas acima.
Dolo Geral (erro): Em princípio adotamos o que descreve o autor Damásio (2003, p.
295):
Ocorre quando o agente, com a intenção de praticar determinado fato, realiza uma conduta capaz de produzir o efeito desejado, e, logo depois, na crença de que o evento já produziu, empreende nova ação com finalidade diversa, ocorrendo com o segundo comportamento é que causa o resultado ( o denominado “erro sucessivo”).
Em virtude do entendimento de Damásio, podemos ilustrar a modalidade de dolo geral,
adotando o exemplo de Capez ( 2002, p.181):
“A” esfaqueia a vítima e pensa que a matou. Imaginando já ter atingido o resultado pretendido e supondo estar com um cadáver em mãos, atira-o ao mar, vindo a causar, sem saber, a morte por afogamento.
O estudo deste primeiro capítulo pretendeu analisar e dar o entendimento do que vem a
ser o dolo, mais precisamente o dolo eventual. Age dolosamente aquele que tem a intenção,
vontade em realizar a conduta. O agente se espelha somente nesse sentido, mesmo conhecendo
que sua atitude fere o dispositivo e que principalmente será previsível um resultado. Ao dolo
34
eventual, sua atitude não visa o desejo direto do resultado, mas de praticar a conduta, sendo este
previsível e portanto, aceito. O que se pretende demonstrar, é que o resultado mesmo previsível
não induz o agente a desistir da ação.
Finalizamos os entendimentos de dolo, conduzindo a possibilidade de erro. Apesar de não
termos ainda relatado sobre a culpa, podemos constatar que os elementos subjetivos da conduta,
dolo e culpa, nos direcionam ao erro, estudado respectivamente nos dispositivos do artigo 20 e
artigo 21 do Código Penal. Portanto, a finalidade do próximo item é relatar o que vem a ser o
“erro” e quais as conseqüências que estes podem vir a ter dentro do elemento subjetivo da
conduta.
1.7 ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO
Antes de trabalharmos as modalidades, erro de tipo e erro de proibição, faremos um
breve comentário ao que vem a ser o erro, dando um maior entendimento e uma maior clareza ao
que será estudado.
Do ponto de vista de Costa Junior (2000, p. 87) “ o erro é um estado positivo: o agente
conhece, mas de forma errônea”. Logo, sobre a mesma matéria e adotando o mesmo autor se
pode relatar que:
O erro, quer apresentado como falso conhecimento (erro propriamente dito) quer como ausência de conhecimento (ignorância), anula o elemento intelectivo do dolo (previsão ou representação do resultado), ou o elemento normativo (consciência do caráter proibitivo da ação ou da omissão). Por isso, costuma-se dizer que erro é o avesso do dolo (COSTA JUNIOR, 2000, p.87).
Praticar a conduta de forma errônea é ser conduzido ao ato, pensando na maioria das
vezes que tal atitude não fere o dispositivo pelas circunstâncias que o envolvem, em virtude do
desconhecimento real.
No entanto, a forma errônea e o desconhecimento da ação, ou seja, o erro, apresenta-se
descrito em duas modalidades: erro de tipo e erro de proibição. Desta forma, adota-se a estrutura
apresentada por Bitencourt ( 1997, p. 202):
35
O erro que vicia a vontade, isto é, aquele que causa uma falsa percepção da realidade, tanto pode incidir sobre os elementos estruturais do delito __ erro de tipo __ quanto sobre a ilicitude da ação __ erro de proibição.
Assim, a caracterização do erro se dá em virtude do desconhecimento dos elementos do
tipo penal ou da ilicitude da conduta, apresentados respectivamente pelo artigo 20 e 21 do Código
Penal.
Estudamos o erro de tipo com fundamento no que diz o dispositivo do art. 20 do Código
Penal:
Erro sobre elementos do tipo
Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Portanto, quanto ao erro de tipo, adotamos o que diz Mirabete ( 1999, p. 169):
O dolo, como foi visto, deve abranger a consciência e a vontade a respeito dos elementos objetivos do tipo. Assim, estará ele excluído se o autor desconhece ou se engana a respeito de um dos componentes da descrição legal do crime (conduta, pessoa, coisa etc.), seja ele descritivo ou normativo.
Em virtude deste relato, tem-se que se exclui o dolo pela presença do erro de tipo.
Sobrevém que “ tipo é a descrição legal do comportamento proibido, ou seja, a fórmula ou
modelo usado pelo legislador para definir a conduta penalmente punível” (DELMANTO, 200 0,
p. 35) .
Como nos mostra Barros ( 2001, p. 218):
O erro consiste na ignorância ou má interpretação do acontecimento, de modo que o agente realiza a conduta sem a plena consciência da realidade. Vimos que a consciência é elemento de dolo, quer seja escusável, quer inescusável.
Desta forma, o estudo do erro se prolonga ao adotar que, “ no
erro, o agente interpreta mal; na ignorância, ele desconhece a
realidade” (BARROS, 2001, p. 217). Porém, sobressaltando -se
36
quanto ao seu conceito podemos relatar o autor Noronha (1998, p.
151) que exemplifica o erro adotando que:
o erro de tipo é o que faz o agente supor a inexistência de um elemento as circunstâncias que compõem a figura típica, sendo
exemplificada quando o agente contrai matrimônio com a pessoa já casada, desconhecendo a existência do casamento
anterior.
O agente infringi o dispositivo sem o conhecimento. A ausência
dos fatos reais induz o indivíduo a caracterizar o erro de tipo.
Portanto, elimina a possibilidade de dolo, enquadrando-se nas
modalidades da culpabilidade. Um dos exemplos trazidos por Damásio ( 2003, p. 312) para o entendimento do erro do
tipo:
Tirar coisa alheia, supondo-a própria. O agente não responde por crime de furto, uma vez que supôs inexistente no fato praticado a elementar alheia contida na descrição do crime do furto (art. 155, caput).
Ou seja, descreve o dispositivo do art. 155, “ caput” Subtrair, para si ou para outrem,
coisa alheia móvel; no relato do fato ocorrido não temos a expressão “alheia”, visto que o agent e
agiu na ignorância, não se enquadrando no dispositivo do artigo, portanto, exclui-se o dolo em
virtude do induzimento ao erro de tipo. Recai o erro do tipo, expressamente o contrário do que
expõem o dispositivo penal.
Sobre a matéria e sobre o enquadramento penal, complementa-se ao erro do tipo, com
base no dispositivo;
Art. 20 § 1º. É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõem situação de fato que, se existisse , tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
Ao agir pelo desconhecimento, o indivíduo é levado a caracterização da culpa, excluindo
a presença do dolo.
37
Já o erro de proibição consiste no que dispõem o artigo 21 do Código Penal, recaindo este
sobre a ilicitude do fato. Ou seja, “ o erro que recai sobre a consciência da ilicitude do fato ( ou
do injusto) chama-se erro de proibição, afetando apenas a culpabilidade (e não o dolo, como o
erro de tipo) (COSTA JUNIOR, 2000, p. 88).
Cabe, ao dispositivo do art. 21 do Código Penal nos relatar que:
Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável , poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
Desta forma, em decorrência do que emana o art. 21 do Código Penal, pode-se concluir
que o erro de proibição ou isenta a pena ou diminui. Complementando este pensamento,
adotamos a obra do autor Bitencourt ( 1997, p. 210) que traz aos leitores o seguinte ensinamento:
Logo, o erro de proibição, quando inevitável, exclui a culpabilidade. E como não há crime sem culpabilidade, o erro de proibição, inevitável, impede a condenação, a qualquer título. Se o erro de proibição for evitável, atenua a pena, mas a condenação se impõe, por crime doloso, por não ser admissível uma ação dolosa-culposa ao mesmo tempo.
O erro de proibição, recai sobre a ilicitude do fato, ou seja, antijuridicidade. Dirigi-se ao
erro de proibição;
aquele que se conduz convencido de não estar agindo contra o direito, se estiver cometendo algo de injusto, erra sobre a ilicitude do fato. O erro recai sobre aquilo que imagina não estar proibido. Daí chamar-se erro de proibição (COSTA JUNIOR 2000, p. 88).
Como visto nos elementos do crime, é necessário para a sua caracterização a presença da
tipicidade; ilicitude ou antijuridicidade e a culpabilidade. Portanto, recai o erro de proibição no
desconhecimento da ilicitude do fato.
Portanto, Costa Junior (2000, p. 88) estuda o erro de tipo e o erro de proibição, da
seguinte forma:
38
O erro sobre a ilicitude do fato é o avesso do erro de tipo. Neste, o agente está convencido de estar atuando legitimamente. O erro de proibição não recai sobre os elementos integrantes do tipo, mas sobre a ilicitude da conduta, que julga ser conforme ao direito e via de conseqüência não proibida.
Como exemplo ao erro de proibição, adotado pelo autor Delmanto ( 2000, p. 38) citamos
“ o sujeito comercializa rifa com fim beneficente, sem conotação comercial, julgando que por se
tratar de prática comum, não constitui ilícito penal”, podendo isentar o u atenuar a pena, art. 21 do
Código Penal.
O erro de proibição recai sobre o desconhecimento da ilicitude do fato, ou seja, de que tal
atitude fere o dispositivo legal. Pratica ação obtendo o conhecimento de que a conduta
pretendida não se enquadra aos dispositivos do Código Penal, agindo de boa- fé.
O estudo das duas hipóteses de erro concentra-se na forma abordada dos elementos
presentes no crime. Ao agir desconhecendo as circunstâncias reais da situação, estará o agente
induzido ao erro de fato. Já, praticar a ação agindo de boa-fé, por obter o desconhecimento que a
atitude fere o dispositivo legal, estará o agente sobre o erro de proibição.
O crime culposo é enquadrado como uma exceção, ou seja, não agindo o indivíduo
dolosamente pressupõe-se a culpa, assim como nos mostra o art. 18, II do Código Penal. Desta
forma, Fiandaca Musco ( apud COSTA JUNIOR, 2000, p. 87) relata que “ quem age com dolo
agride o bem tutelado de modo mais intenso do que quem age com culpa”. Portanto, a culpa é
tratada e imposta de forma mais amena, enquadrada pela negligência; imperícia e imprudência,
artigo 18, II do Código Penal.
A finalidade do segundo capitulo é demonstrar exatamente estas modalidades, bem como
a caracterização da culpa, vista como uma exceção.
39
2. CULPA IMPRUDÊNCIA
2.1 CONCEITO
A culpa refere-se ao segundo elemento subjetivo da conduta, no qual este capítulo
tem por finalidade detalhar. Numa análise geral, refazendo uma síntese do dolo e ao mesmo
tempo introduzindo a culpa, adotamos os conceitos do Código Penal relatado pelo autor
Delmanto (2000, p. 32):
Enquanto o dolo gira em torno da vontade e finalidade do comportamento do sujeito, a culpa não cuida da finalidade da conduta (que quase sempre é lícita), mas da não-observância do dever de cuidado pelo sujeito, causando o resultado e tornando punível o seu comportamento.
Seguindo o posicionamento do autor Nunes ( 1999, p. 348) demonstrado em seu
dicionário jurídico, tem-se a idéia de culpa da seguinte maneira:
Omissão da diligência necessária de alguém, ou falta de cumprimento do dever jurídico, sem o ânimo de lesar, de que resulta violação do direito de outrem, quando os efeitos da sua inação podiam ser calculados e previstos. Todo artifício ou ardil reprovável, embora lícito, que o agente emprega, sem fraude, para aumentar a sua vantagem. A culpa se diferencia do dolo, por não revelar a intenção de prejudicar, que caracteriza este.
40
A culpa, é vista como a ação praticada sem a intenção de causar um resultado.
Caracteriza-se em virtude da desatenção da conduta, na qual poderia ser evitado.
Portanto, o segundo elemento subjetivo da conduta, culpa, encontra-se expresso no
dispositivo do art. 18, II do Código Penal.
Art. 18. Diz-se o crime:
CRIME CULPOSO
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
A conclusão que se tem, em decorrência do que descreve o artigo é que somente será
punido por culpa quando não for caracterizado o dolo, e que portanto, esteja expressamente
definido em lei a presença da culpa, conceituada de acordo com suas modalidades: negligência,
imperícia e imprudência.
O crime culposo não é entendido de uma forma geral, assim como o dolo. Este é
interpretado quanto ao seu entendimento e desejo, ao passo que a culpa é o previsto e relatado
pelo Art. 18, II do Código Penal, não se abrangendo a qualquer outra forma. Este é o raciocínio
de Zaffaroni ( 1999, p. 507):
Há códigos que criam um “delito de culpa” (que freqüentemente são chamados de crimen culpae), ou melhor, que admitem que qualquer tipo pode assumir a forma culposa. Nosso sistema é diferente: só são típicos os resultados culposos que assim são considerados na parte especial, consoante o estabelecido pelo parágrafo único do art. 18: “Salvo nos casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”.
Aprofundando aos pensamentos dos doutrinadores, relata-se segundo Mirabete (2003, p.
145) que:
(...) os tipos culposos ocupam-se não com o fim da conduta, mas com as conseqüências anti-sociais que a conduta vai produzir; no crime culposo o que importa não é o fim do agente (que é normalmente lícito), mas o modo e a forma imprópria com que atua.
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O estudo do elemento subjetivo da conduta, culpa, se direciona não na ilicitude do fato
cometido, mas na ocorrência desse fato, ou seja, nas circunstâncias que levaram a produzir o
resultado, muitas vezes caracterizado pela falta de cuidado. O autor Leal (1998, p. 219) refere-se
ao crime culposo como:
(...) o crime culposo consiste na conduta violadora do dever de cuidado (comportamento negligente ou imprudente) e causadora de um resultado ilícito involuntário que, nas circunstâncias era previsível.
Em decorrência do exposto, descreve Prado (2000, p. 229) que:
O tipo do injusto culposo tem estrutura diversa do tipo doloso. Neste último, é punida a ação ou omissão dirigida a um fim ilícito; ao passo que no culposo pune-se o comportamento mal dirigido a um fim irrelevante (ou ilícito).
O agente no tipo culposo não tem a finalidade de dirigir-se a um fim ilícito, contrário a
lei. Porém, sua ação manifestada de forma inadequada e perigosa caracteriza o tipo culposo. No
dolo, temos a consciência e o desejo, presente no momento da ação, já na culpa temos apenas
uma atitude mal sucedida, realizada de forma inoportuna.
Tratando-se ainda das possibilidades de adotar a culpa, se tem a doutrina de Bitencourt e
Conde (2000, p. 199) no qual relatam que a “ culpa é a inobservância do dever objetivo de
cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente
previsível” .
Um trecho da obra “ Delitos de Trânsito”, relatado por Welsel ( apud SZNICK, 1995, p.
78) nos deixa bem claro a caracterização da culpa:
Toda ação que , com um resultado susceptível de constituir o fato delituoso, não apresenta características do “cuida do a observar -se nas relações com os demais”, é ação típica de crime culposo. Deduz-se que o legislador não pode, em geral, definir precisamente a ação típica dos crimes culposos, porque as formas de ação nas quais não está presente o “cuidado a observ ar-se nas relações com os demais” são de imensa diversidade e dependem de condições materiais do caso particular.
Quando se trata da culpa, fala-se do “resultado e de um devido cuidado” , pois, em
decorrência do que relata o autor Costa Junior ( 2000, p. 85):
42
No crime culposo, não se censura o agente por ter feito aquilo que não desejava. A reprovação advém do emprego de meios inadequados e perigosos, que produziram o fim não desejado.
Logo, a culpa é vista como uma ausência de cuidado ou um excesso de confiança,
partindo do próprio condutor. Agindo dessa forma, pode-se não caracterizar o resultado como
mero objetivo da conduta, porém, a forma ciente pela falta de cautela em que a conduta esta
sendo realizada leva a forte presença da previsibilidade de um resultado (COSTA JUNIOR 2000,
p. 84). Diante do relato, podemos nos direcionar aos elementos presentes para a caracterização da
culpa.
Neste sentido, ao se tratar de culpa analisa-se os meios utilizados para a realização do fim
pretendido. O modo em que a conduta foi realizada é de suma importância para sua
caracterização, podendo ser identificado se o mesmo ocorreu de forma imprudente, negligente ou
por imperícia.
2.2 ELEMENTOS DO TIPO CULPOSO
Em decorrência do que relatamos anteriormente, a forma
culposa do crime é visualizada de acordo com a caracterização de
seus elementos, no qual serão detalhados neste subitem.
O autor Mirabete ( 1999, p.145) relata em sua doutrina que:
Tem-se conceituado na doutrina o crime culposo como a conduta voluntária (ação e omissão) que produz resultado
antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado.
Portanto, relatado e comentado o conceito de culpa por
Mirabete ( 1999, p. 145), o mesmo cita em sua obra os elementos no
qual vem a caracterizar o elemento subjetivo da conduta, culpa,
assim citado: “ conduta; inobservância do dever de cuidado objetivo;
resultado lesivo involuntário; previsibilidade; tipicidade”.
43
Seguindo a ordem, analisamos em primeiro tópico a conduta
(ação e omissão) também vista e relatada no dolo. Portanto, a
prática do crime, tanto doloso como culposo, parte do princípio de
uma conduta, haja vista, “ a presença da conduta de maneira
voluntária” (LEAL, 1998, p. 220).
Seguindo a análise de Leal, podemos dar continuidade
adotando os entendimentos de Damásio ( 2003, p. 301) no qual
especifica a conduta da seguinte forma:
O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não fazer. O agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a perigo de dano. Falta, porém, com o dever de diligência exigido pela norma, que corresponde a imputação objetiva. A conduta
inicial pode ser positiva, como, p. ex., dirigir um veículo; ou negativa, como, p. ex., deixar de alimentar um recém-nascido.
Pode constituir infração penal ou não (...) Aquele que esta limpando sua arma de fogo nas proximidades de terceiro, vindo
culposamente faze-la disparar e matar a vítima, não realiza inicialmente nenhuma conduta punível (limpar arma de fogo
não constitui infração penal).
Quanto a conduta, pressupõem em fundamentos a obra do
autor Mirabete ( 1999, p. 145) que “ os tipos culposos proíbem,
assim, condutas em decorrência da forma de atuar do agente para
um fim proposto e não pelo fim em si”. O que vem a concluir que na
conduta dolosa, o resultado é previsto, ciente, praticado a um fim
determinado, no entanto, a conduta culposa, não abrange esse
princípio, ou seja, não adota a conduta como regra ao resultado.
Complementando a linha de raciocínio, se obtém com base em
fundamentos jurídicos que:
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O conceito de culpa stricto sensu é vazado nos seguintes termos: o agente deixa de empregar a atenção ou diligência de que era
capaz, em face das circunstâncias, não prevendo o resultado que podia prever, ou, prevendo-o, acabou supondo
levianamente que não se verificaria , ou então poderia evita-lo ( SALES JUNIOR, 1982, p. 19).
Assim, a conduta abordada no tipo culposo refere-se a ação ou
omissão proveniente da atitude praticada pelo relapso ou falta de
atenção. A conduta na modalidade, culpa, tem o mesmo
entendimento obtido no dolo, a única diferença situa-se nas
circunstâncias para a caracterização da atitude.
Partimos agora, para o segundo elemento, analisado como a
inobservância do dever de cuidado objetivo.
O essencial no tipo de injusto culposo não é a simples causação do resultado, mas sim a forma em que a ação causadora se
realiza. Por isso, a observância do dever objetivo de cuidado, isto é, a diligência devida, constitui o elemento fundamental do tipo
de injusto culposo, cuja análise constitui uma questão preliminar no exame de culpa (BITENCOURT E
CONDE, 2000, p. 203). O dever de cuidado objetivo requer apenas a atenção e a
precaução perante a prática dos seus atos, para que este não venha a
ameaçar ou ferir os direitos de outra pessoa, ou seja, para que a
realização da conduta do agente não ultrapasse os limites a ponto de
interferir nos princípios alheios. Essa idéia vem a ser concluída com
base no que diz Mirabete ( 1999, p. 146):
Quem vive em sociedade não deve, com uma ação irrefletida, causar dano a terceiro, sendo-lhe exigido o dever de cuidado
indispensável a evitar tais lesões. Assim, se o agente não observa esses cuidados indispensáveis, causando com isso dano a bem jurídico alheio, responderá por ele. É a inobservância do
45
cuidado objetivo exigível do agente que torna a conduta antijurídica.
Direciona-se ao elemento dever de cuidado como “ um
componente normativo do tipo objetivo culposo que é, hoje,
amplamente reconhecido como prioritário e decisivo por quase toda
a doutrina” assim concluído (ZAFFARONI, 1999, p. 511).
Com a violação do dever do cuidado, parte do pressuposto que
obteremos um resultado, no qual essa ligação é entendida da
seguinte maneira:
Só haverá ilícito penal culposo se da ação contrária ao cuidado resultar lesão a um bem jurídico. Se, apesar da ação
descuidada do agente, não houver resultado lesivo, não haverá crime culposo (MIRABETE, 1999, p. 147).
O resultado é característico, uma vez que a qualquer atitude é
proveniente de uma alteração ou lesão, colocando a perigo um bem.
A previsibilidade, apresenta-se notória em todos as citações
descritas. Quando se fala em resultado da culpa, nos levamos a crer
que esse resultado não é querido ou desejado, porém, levado
mediante a falta de observação do dever de cuidado, que é de
responsabilidade do próprio agente (MIRABETE, 1999, p. 147).
Desta forma, a previsibilidade encontra-se “na possibilidade de
antevisão do resultado” (DAMÁSIO, 1998, p. 293).
É indispensável ressaltar, para não confundir a culpa com o dolo que “ é necessário que o sujeito não tenha previsto o
resultado. Se o previu, não estamos no terreno da culpa, mas do dolo (salvo a exceção que veremos). O resultado era previsível, mas não foi previsto pelo sujeito. Daí falar-se que a culpa é a
imprevisão do previsível.
46
Logo, se o resultado era previsto pelo agente, estando o mesmo
ciente da sua realização, obtemos o dolo, ou ainda, não se
importando com o resultado, dolo eventual. Caso contrário, se o
resultado for apenas previsível, em virtude da falta de atenção, mas
não aceito, pela presença do excesso de confiança, obtemos a culpa.
E como quarto elemento do tipo injusto da culpa, encontra a
tipicidade.
Cabe na tipicidade, comentar o que os doutrinadores adotam
como “tipo aberto”. Relatado por Zaffaroni ( 1999, p. 507) “ O tipos
abertos, por si mesmo, resulta insuficiente para individualizar a
conduta proibida”.
Haja vista, que:
O tipo culposo é chamado de aberto, porque a conduta culposa não é descrita. Torna-se impossível descrever todas as
hipóteses de culpa, pois sempre será necessário, em cada caso, comparar a conduta do caso concreto com a que seria ideal
naquelas circunstâncias (CAPEZ, 2002, p. 184).
A forma culposa “encontra -se disposta fora do tipo, como uma
complementação” (MIRABETE, 2003, p. 149).
Entretanto, em virtude dos chamados “ tipos abertos”
caracterizada na culpa, faremos o rol dos tipos culposos obtidos no
Código Penal:
Homicídio Culposo ( Art. 121,§3º); Lesão Corporal Culposa
(Art. 129,§ 6º); Explosão (Art. 251, §3º); Difusão de doença ou praga
(Art. 259,§ único); Uso de gás tóxico ou asfixiante (Art. 252,§ único);
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Atentado contra a segurança de outro meio de transporte (Art. 262,§
2º); Incêndio Culposo ( Art. 250, §2º); Receptação Culposa (Art.
180,§1º) Desastre Ferroviário (Art. 260, §2º); Medicamento em
desacordo com Receita Médica ( Art. 280, § único); Preceito
Sancionador (Art. 254, 2 parte); Desabamento e Desmoronamento
(Art. 256,§ único);Atentado contra a Segurança de Transporte
Marítimo, Fluvial ou Aéreo (Art. 261, § 3º); Atentado contra a
Segurança de outro meio de Transporte (Art. 262, §2º); Dos Crime
contra a Saúde Pública (Art. 267, § 2º); Envenenamento de Água
Potável ou de Substância Alimentícia ou Medicinal (Art. 270,§ 2º);
Corrupção ou Poluição de Água Potável (Art. 271, § único);
Corrupção, Adulteração ou Falsificação de Substância Alimentícia
ou Medicinal (Art. 272, §2º); Alteração de Substância Alimentícia ou
Medicinal (Art. 273, §2º); Outras Substâncias Nocivas á Saúde
Pública (Art. 278, § único).
Já comentado e relatado todo os elementos indispensáveis para
caracterizar a culpa, podemos adentrar no assunto espécies e
modalidades. Como a culpa refere-se a falta de um dever ou de um
cuidado, sua modalidade trabalha este lado, ou seja, tem por
finalidades demonstrar as maneiras de ausência de cuidado, obtida
de três formas: Imprudência; negligência e imperícia. (MIRABETE,
1999, p. 149).
48
No entanto, as espécies, são vistas como divisões, nos quais os
doutrinadores analisam: consciente e inconsciente; própria e
imprópria; mediata ou indireta (DAMÁSIO, 1998, p. 292).
2.3 ESPÉCIES DE CULPA
As espécies apresentadas na culpa, são sucintas e breves,
descritas apenas para o leitor ter um breve acesso as suas
possibilidades.
Consciente e Inconsciente: Trata-se da culpa consciente “
quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que
não ocorra”. Já na inconsciente “ não há no agente o conhecimento
efetivo do perigo que sua conduta provoca para o bem jurídico
alheio” (MIRABETE, 1999, p. 150).
Igualmente trata-se a culpa consciente ou inconsciente a
possibilidade do resultado. As vezes previsto, mas não aceito, outras
vezes não previsível.
Diante desta modalidade adota o autor Capez (2002, p. 187) a
diferença entre consciente e inconsciente, tratando-as da seguinte
forma:
Culpa inconsciente é a culpa sem previsão, em que o agente não prevê o que era previsível. Culpa consciente ou com
previsão é aquela em que o agente prevê o resultado, embora não o aceite.
49
Própria e Imprópria: A culpa própria é aquela em que “ o
resultado não é previsto, embora seja previsível. Nela o agente não
quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo” (DAMÁSIO,
2003, p. 304). A falta de inobservância proveniente do
comportamento do agente torna o resultado previsível,ou seja, certo
para tal atitude, porém, seu excesso de confiança faz com que não
seja previsto pelo agente.
Já a imprópria é realizada em virtude de induzimento a erro,
ou seja, dando continuidade à palavra de Damásio ( 2003, p.304) na
culpa imprópria “ o resultado é previsto e querido pelo agente, que
labora em erro de tipo inescusável ou vencível”.
Na culpa imprópria, a vontade obtida na realização do
resultado é distorcido em virtude da presença do erro, “ o sujeito
quer o resultado, mas sua vontade está viciada por um erro que
poderia , com o cuidado necessário, ter evitado” (MIRABETE, 1999,
p. 151).
Para ilustrar a culpa imprópria, adotamos o conceito de
Damásio (1998, p. 296):
Suponha-se que o sujeito seja vítima de crime de furto em sua residência em dias seguidos. Em determinada noite, arma-se
com um revolver e se posta de atalaia, á espera do ladrão. Vendo penetrar um vulto em seu jardim, levianamente
(imprudentemente, negligentemente) supõe tratar-se de ladrão. Acreditando estar agindo em legítima defesa de sua
propriedade, atira na direção do vulto, matando a vítima. Prova-se posteriormente, que não se tratava do ladrão
contumaz, mas de terceiro inocente.
50
Porém, apesar de querido e desejado o resultado, o agente foi
levado ao “erro inescusável, caracterizando a culpa imprópria, desta
forma, é afastada a possibilidade de dolo, levando-a a culpa” (
DAMÁSIO, 1998, p. 296).
Mediata ou Indireta: Adotado pelo autor Capez ( 2002, p. 189) “
quando o agente produz indiretamente um resultado a título de
culpa”. Exemplo dado por Damásio ( 2003, p. 305) é o fato de o “ pai,
na tentativa de socorrer o filho, culposamente atropelado por um
veículo, vem a ser apanhado e morto por outro”.
2.4 MODALIDADES DA CULPA
Já se sabe que a culpa apresenta-se em três modalidades:
imprudência; negligência e imperícia, e que a mesma é vista como
uma exceção ao elemento subjetivo da conduta, vindo a ser
caracterizada quando expressa no dispositivo penal , relatado e
comentado no Art. 18, II do Código Penal. Sobrevém que “ a
punição por dolo é a regra, enquanto a sanção por culpa é exceção”
(DELMANTO, 2000, p. 32).
Ante o exposto, como analisa o autor Noronha ( 1998, p. 114)
“ o código não definiu nossa lei a culpa. Preferiu referir -se as suas
modalidades”, como assim o faremos ( negligência, imperícia e
imprudência).
51
2.4.1 Negligência
Adota-se a negligência quando este “relaciona -se com a
inatividade (forma omissiva), a inércia do agente que, podendo agir
para não causar ou evitar o resultado lesivo, não o faz por preguiça,
desleixo, desatenção ou displicência” (PRADO, 2000, p. 231).
A negligência é vista, segundo Leal ( 1998, p. 222) como uma “
conduta omissiva, sem a devida cautela, manifestada pela falta de
atenção, pelo descuido, pelo esquecimento ou pela desídia no atuar
perante a vida social”.
Desta forma, se refere a negligência como a “ imprevisão
passiva, o desleixo, a inação (culpa in ommittendo). É o não fazer o
que deveria ser feito”, resumido pelo autor Bitencourt e Conde
(2000, p. 207).
Seguindo o mesmo raciocínio e adotando Bitencourt e Conde (
2000, p. 207) observa-se em seu parágrafo a seguinte síntese:
Em outros termos, a negligência não é um fato psicológico, mas sim um juízo de apreciação, exclusivamente: a comprovação que
se faz de que o agente tinha possibilidade de prever as conseqüências de sua ação (previsibilidade objetiva). Enfim, o autor de um crime cometido por negligência não pensa na possibilidade do resultado. Este fica fora do seu pensamento.
Portanto, cabe a negligência pelos motivos de “1.Descuido. 2.
Incúria; desídia; inércia. 3. Desatenção. 4. Indiferença. 5. Falta de
diligência. 6. Omissão ou inobservância do dever. 7. Falta de
precaução” (DINIZ,1998, p. 345).
52
Outrossim, na negligência o agente não o faz, agindo por
omissão. As circunstâncias que o envolvem obrigam a ter atitudes
concretas, sendo ignorado e desrespeitado pelo agente.
Assim, age com negligência a pessoa que “ deixa arma de fogo
ao alcance de uma criança” ( DAMÁSIO, 1998, p. 294) ou “o
motorista de ônibus que trafegar com as portas do coletivo abertas,
causando a queda e morte de passageiro” (BITENCOURT, 1997,
p.108). O autor Mirabete ( 2003, p. 149) adota como exemplos de
negligência o fato de “ não colocar avisos junto a valetas abertas
para um reparo na via pública; não deixar freiado automóvel
quando estacionado; deixar substância tóxica ao alcance de crianças
etc.”.
Aos exemplos direcionados a negligência, se tem que o
entendimento deste é caracterizado pela ausência de atitude. O
indivíduo conhece que agindo de tal forma causará um resultado,
mas sua desatenção e desleixo não o permitem que modifique sua
ação. Portanto, a negligência é vista como forma omissa.
2.4.2 Imperícia
A segunda modalidade de culpa, imperícia, é vista como “ a
falta de capacidade, despreparo ou insuficiência de conhecimentos
técnicos para o exercício de arte, profissão ou ofício”
(BITENCOURT, 1997, p. 110).
53
Pelos estudos do autor Mirabete ( 1999, p. 149) se tem a
imperícia como a “incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos
no exercício de arte ou profissão, não tomando o agente em
consideração o que sabe ou deve saber”.
Portanto, cabe o enquadramento da imperícia somente em
caso de “ falta de prática ou de conhecimento técnicos de profissão,
arte ou ofício” (SALLES JUNIOR, 2002, p. 55).
Sobre a mesma matéria:
se a imperícia advier de pessoa que não exerce arte ou profissão, haverá imprudência. Assim, um curandeiro que
tenta fazer uma operação espiritual, no lugar de chamar um médico, incorre em imprudência e não em imperícia (CAPEZ,
2002, p. 186).
A configuração da imperícia se dá em virtude “da
incapacidade, na falta de conhecimento ou habilitação para o
exercício de determinada atitude” ( SALES JUNIOR, 1982, p. 23).
Resumindo, a imperícia é a deficiência profissional, a falta de
capacidade técnica.
A preocupação relatada pelos autores é o de não se confundir a
imperícia com o erro profissional. Por isso, exemplifica o autor
Barros ( 2001, p. 211) que:
no erro profissional , o agente observa as regras do ofício, que, no entanto, por estarem em constante evolução, mostram-
se imperfeitas em determinado caso concreto (ex. : o anestesista ministra corretamente o medicamento na
paciente, observando com rigor as regras de medicina, mas mesmo assim a morte sobrevém). O erro profissional exclui a
culpa, pois a falha já não é do agente , e sim da própria ciência.
54
Diferentemente, na imperícia , o agente inobserva as regras recomendadas pela profissão, arte ou ofício.
Portanto, se tem como exemplo de imperícia utilizado pelo
autor Leal ( 1998, p. 222) o fato do “ médico que não possui
habilitação necessária para a realização de uma cirurgia e mesmo
assim resolve faze-la. (...) o engenheiro que realiza cálculo
estrutural sem o necessário conhecimento técnico”, “ a parteira que
causa a morte de gestante”(NORONHA, 1998, p. 145) ou ainda “ o
médico que, sem aptidão sob o aspecto teórico ou prático, ao exercer
sua profissão, lesa bem jurídico de terceiro” (SALLES JUNIOR,
2002, p. 55).
Neste sentindo, enquadra-se a imperícia o agente que causa um
dano em virtude da ausência de conhecimento de sua atitude. A
prática realizada necessita de conhecimentos específicos, técnicos,
portanto, pela ignorância deste vem o agente a tornar-se imperito.
2.4.3 Imprudência
Diante da modalidade de culpa, imprudência, tem-se com base
no autor Prado (2000, p. 231) que a mesma “vem a ser uma atitude
positiva, um agir sem a cautela, a atenção necessária, com
precipitação, afoitamento ou inconsideração”.
Ou seja, a conduta imprudente é aquela que “se caracteriza
pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação”
(BITENCOURT E CONDE, 2000, p. 206).
55
A obra de Noronha ( 1998, p.144) nos traz um parágrafo que
vem a detalhar a culpa imprudente:
É a forma militante e positiva da culpa, consistente no atuar o agente com precipitação , insensatez ou inconsideração, já por
não atentar para a lição dos fatos ordinários, já por não atender ás circunstâncias especiais do caso, já por não
perseverar no que a razão indica etc.
Age com imprudência, “ o agente que atua sem cautela, com
precipitação, insensatez, inconsideração, sem atenção para as
circunstâncias do caso” (SALES JUNIOR, 1982, p. 22).
Em decorrência da utilização desses conceitos, abrangida por
autores e obras diferentes, temos a nítida conclusão que todos os
estudos para a imprudência são feitos da mesma forma, e por isso
utilizam as mesmas expressões: “ Precipitação; ausência de cautela;
foiteza; insensatez”. Expressões citadas pelos autores em estudo.
Desta forma, encontramos na doutrina jurídica, a imprudência
como uma das modalidades da culpa, sendo também vista nos
dicionários jurídicos de maneira conceituada e simplificada para o
entendimento dos leitores. Haja vista, adotamos o que diz a autora
Diniz (1998, p. 789) em seu dicionário jurídico:
1.falta de prudência. 2. Forma de culpa que se caracteriza pela falta de atenção ou de observância de medidas de precaução necessárias para evitar um dano. 3.Desatenção culpável na
prática de um ato. 4. Descautela.
Na pratica a imprudência pode ser analisada em diversos atos,
como são exemplificados nas obras dos autores jurídicos. Com base
56
nessa informação podemos citar alguns exemplos para ilustrar a
matéria em estudo.
O autor Mirabete ( 2003, p. 149) traz como exemplos de
imprudência a fato de:
manejar ou limpar arma carregada próximo a outras pessoas; caçar em local de excursões ; dirigir sem óculos
quando há defeito na visão, fatigado, com sono (...) etc.
Na imprudência, o agente pratica a ação, porém, de forma
perigosa. O excesso de confiança leva o indivíduo a agir
imprudentemente.
Direcionando as modalidades, negligência e imprudência, o
autor Damásio (1998, p. 294) se posiciona mencionando que:
Enquanto na negligência o sujeito deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõem, na imprudência ele realiza uma conduta que a cautela indica que não deve ser realizada. A
doutrina ensina que a imprudência é positiva (o sujeito realiza uma conduta) e a negligência, negativa ( o sujeito deixa
de fazer algo imposto pela ordem jurídica).
Por ser uma das modalidades mais importante para este
estudo, ressalta-se que a modalidade de culpa, imprudência, será
trabalhado em subitem próprio, dando maior ênfase na sua
caracterização, assim como os exemplos citados quanto ao
envolvimento de veículos, no qual serão abordados no terceiro
capítulo desse estudo.
Como no terceiro capítulo o estudo estará direcionado aos
elementos subjetivos da conduta: dolo ( na modalidade eventual) e
culpa (na modalidade por imprudência), abordaremos um subitem
57
quanto a modalidade imprudência, para melhor esclarecimento e
entendimento do próximo capítulo.
2.5 CARACTERÍSTICA DA IMPRUDÊNCIA
Não nos prolongaremos neste tópico, pelo fato de já termos
uma idéia central ao que vem a ser a imprudência e principalmente
nos casos em que a mesma é cabível. Portanto, cabe apenas aborda-
la de um modo diferente ou ainda relatar alguns fatos não presentes
anteriormente, demonstrando o que a caracteriza ou a distingue.
Já vimos, que a imprudência vem a ser caracterizada pela “
falta de cautela, de cuidado” (MAGALHÃES, 1997, p. 455).
Desta forma, a imprudência é “ resultante da falta de previsão
do agente ou do ser, trazendo as conseqüências de seu ato ou
conduta, que devia ou poderia prevê-la” (SILVA, 2003, p. 716) .
A matéria de imprudência é vista por Nunes ( 1999, p. 608)
como:
Forma de culpa, ou um dos seus elementos, que consiste na falta involuntária de atenção ordinária e de observância de
medidas de precaução e segurança de conseqüências previsíveis, que se faziam necessárias, no momento, para evitar
um mal, perigo ou insucesso, ou a prática de certa infração. Obriga a reparação civil do dano e motiva a aplicação de pena
criminal.
Sobrevém ao entendimento do autor Silva ( 2003, p. 716) que
vem a descrever a imprudência:
58
Funda-se, pois, na desatenção culpável, em virtude da qual ocorreu um mal, que podia e deveria ser atendido ou previsto pelo imprudente. Em matéria civil, se dá imprudência decorre
ofensa a direito alheio de prejuízo material, incluindo o imprudente na culpa in committendo, é responsável pela ofensa que tenha causado, indenizando a vítima ou o prejudicado dos
prejuízos ou danos que tenha sofrido. Em matéria penal, argüido também de culpado, é o imprudente responsabilizado pelo dano ocasionado á vítima, pesando sobre ele a imputação
de um crime culposo.
A maneira em que a atitude imprudência é caracterizada, leva
o indivíduo a prever a possibilidade do resultado, pois ao agir
imprudentemente o agente o faz de forma arriscada. O indivíduo
reconhece que agindo de tal forma causará um resultado, previsto,
porém, não assumido, pois o seu excesso de confiança o leva a
entender que não se realizará.
Na doutrina de Barros ( 2001, p. 203) a definição da
imprudência é relatada em palavras diversas das já citadas, porém,
com o mesmo significado e entendimento. O autor abrange a
imprudência como “ é a culpa in agendo, que consiste na prática de
uma ação perigosa sem as cautelas oportunas. Exemplo: manusear
arma de fogo na presença de outras pessoas”.
Para ilustrarmos o entendimento da modalidade de culpa,
imprudência, adotamos o julgado do Tribunal Judiciário de Santa
Catarina, 2º vara da comarca de Indaial, da data de 29 de agosto de
1995, tendo como relator o Des. Aloysio de Almeida Gonçalves: E ME NT A: Lesão corporal culposa - Acusado que, manuseando arma de fogo, fere a si próprio e a vítima que se achava próxima - Disparo acidental da arma - Imprudência manifesta - Condenação mantida - Inteligência do artigo 129, § 6º do Código Penal (Apelação Criminal 33.453).
59
Em resumo a íntegra dessa Apelação Criminal, consta que o apelante agiu sem os devidos
cuidados vindo a resultar em lesão corporal culposa. Haja vista, agiu o agente de duas formas
errôneas: primeiramente pelo conhecimento que tinha ao fato de nunca manusear uma arma de
fogo e segundo pela sua persistência, que mesmo assim se prevaleceu a conduzi-la perante várias
pessoas, colocando em risco a vida desses. Desta forma, agiu o apelante imprudentemente, ou
seja, sem as devidas cautelas, sem o mínimo de responsabilidade. No entanto, o julgado
demonstra o que relata a caracterização da imprudência, vista pelo autor Prado ( 2000, p. 231)
“vem a ser uma atitude positiva, um agir sem a cautela, a atenção necessária, com precipitação,
afoitamento ou inconsideração. É a ação arriscada, perigosa”. Ou seja, o agente conhece dos
fatos (que não obtém o conhecimento ao manusear arma de fogo), porém, se prevalece de sua
capacidade e de que nada acontecerá.
Para adentrar no terceiro capítulo e ter a facilidade de seu
entendimento, tivemos que obter como conhecimento o que vem a
ser o dolo eventual e a culpa por imprudência, bem como a sua
forma de caracterização.
Ambos já foram detalhadamente descritos e relatados,
portanto, a análise abaixo será apenas uma síntese de todo o
conhecimento já adquirido, servindo de conclusão e ao mesmo tempo
introdução para o tópico seguinte.
Dolo é simplesmente o conhecimento da atitude contrária a lei
juntamente com o desejo em realiza-lo, conduzindo dessa forma, age
o indivíduo dolosamente. Já o dolo eventual, como visto, é o querer
acima de tudo, o resultado não é o objetivo principal da conduta,
estando o agente em plena consciência, não sendo motivo para a
desistência da conduta.
60
Já na culpa por imprudência ou culpa consciente, a atitude do
agente não requer resultado, por isso, não o assume. Mas o que se
deve constatar é que as circunstâncias envolvidas para a prática da
conduta induz na previsão do resultado, não sendo admitido pelo
próprio agente. Na culpa por imprudência o indivíduo age mediante
circunstâncias perigosas, sendo o resultado previsível, mas não
previsto pelo mesmo.
Concluindo, o agente pode desistir da ação evitando o
resultado, já no dolo eventual o que está em síntese é a realização da
conduta, já que é o desejo fundamental para este.
O estudo do elemento subjetivo da conduta (dolo e culpa)
demonstrado respectivamente pelo primeiro e segundo capítulo, tem
por finalidade relatar os entendimentos e as formas em que as
mesmas são trabalhadas, sendo base fundamental para o terceiro
capítulo. Em virtude deste, podemos seguir em frente utilizando o
estudo enfocado para traçar o posicionamento do Tribunal
Judiciário de Santa Catarina frente ao elemento subjetivo dos
crimes cometidos por excesso de velocidade, julgado como dolo
eventual ou culpa por imprudência.
3. EXCESSO DE VELOCIDADE
61
3.1 HISTÓRICO DOS VEÍCULOS
O veículo automotor passou por inúmeras transformações até chegar a tecnologia que se
encontra nos dias de hoje. Aos poucos, com a capacidade e invenção do ser humano os veículos
foram perdendo a aparência de carruagem, obtido na antiguidade.
A primeira invenção surgiu no ano de 1855, construído por Carl Benz considerado o “
Pai do Automóvel”. O veículo movido a vapor possuía dois lugares e três rodas com velocidade
de 13 km / h.3
BENZ
A partir deste momento, não faltou motivação para aperfeiçoar esta nova invenção. Aos
poucos o veículo foi se modificando, buscando a cada transformação o conforto e a comodidade.
Neste sentido, Henry Ford foi a pessoa que conquistou e interagiu o homem ao
automóvel. Produzindo o veículo de fácil acesso, esperado por todos. A sua idéia resultou na
indústria automobilística, apresentada nos dias de hoje com grande potencialidade ao mundo do
comércio4.
3 O Nascimento do Automóvel. Disponível em:< http:// www.angloportal-3.vila.bol.com.br/nascauto.html>. Acesso em: 01 out. 2004. 4 Henry Ford. Disponível em: < http:// www.terra.com.br/dinheironaweb/122/henryford.htm>. Acesso em: 02 out. 2004.
62
E por fim, a presença do primeiro automóvel no Brasil, que em 1893 circulava na cidade
de São Paulo, conduzido por Henrique Santos Dumond ( irmão do pai da aviação)5 .
DECAUVILLE
O histórico da evolução dos automóveis relata de uma forma sucinta todos os dados
apresentados desde 1855, com o surgimento do primeiro veículo. A alteração das carroças
puxadas a cavalos á carros movidos a vapor, sendo modificado a cada instante, trouxe desde
aquela época a preocupação com a circulação desses veículos. Neste sentido, foram surgindo
também as regras implantadas para a segurança das pessoas, ou seja, “ a inspeção dos veículos, o
limite de circulação, a primeira carta de habilitação”, dentre outras normas que foram sendo
imprescindíveis em virtude do avanço apresentado6.
Apesar da pouca circulação de veículos e sua capacidade de velocidade, constata-se que
sua presença já era significante para a população. Portanto, em 1926, na cidade de Itabuna se deu
o primeiro acidente. Neste sentindo, afirma-se que “ Não houve vítimas, mas o acidente entrou
5 Automóvel no Brasil. Disponível em:< http:// www.angloportal-3.vilabol.uol.com.br/autonobr.html >. Acesso em: 01 out. 2004. 6 O Automóvel no Brasil . Disponível em:< http:// www.direttaveículos.com.br/historia.asp>. Acesso em: 01 out. 2004.
63
na história não só por ser o primeiro em Itabuna como, por ser talvez o primeiro no mundo em
uma cidade onde só existem dois veículos” 7.
Com esta apresentação podemos entrar no ano de 2004, demonstrando a potência que a
simples carruagem se transformou, acompanhada do problema social implantada atualmente.
3.2 ACIDENTES COMETIDOS NO TRÂNSITO
A preocupação nos dias de hoje concentra-se na forma em que os condutores
manejam os seus veículos, induzidos pela potencialidade e tecnologia. A capacidade de 13 km /h
utilizado no primeiro automóvel não chega ao mínimo da capacidade abordada nos veículos
atuais, trazendo para a sociedade a ameaça de suas próprias vidas.
O estudo “ Excesso de Velocidade” é abrangido com a finalidade de demonstrar a
visão em que o Tribunal Judiciário de Santa Catarina obtém em relação a este, sendo analisado
como dolo (eventual) e culpa (imprudência) já que o assunto apresenta-se em epígrafe em
decorrência dos elevados índices.
As estatísticas de acidentes cometidos no trânsito apresentam assustadores a cada
final de semana. O que era visto, como transtornos ocasionais relatados e discutidos
despercebidamente, passou a ser analisado e debatido de uma forma mais ampla e preocupante,
levando esses casos a debate perante o Poder Judiciário.
Aos acidentes de trânsito tem- se a visão que:
Tornaram-se grave problema da sociedade moderna, diante do elevado número de mortes e lesões corporais provocados pelos veículos em circulação, deixando pessoas mutiladas e inválidas. (PIRES, 1998, p. 27).
Neste sentido, o objeto criado para a comodidade e locomoção passou a ser visto
como, instrumento para matar, quando direcionados a mãos erradas.
7 O primeiro automóvel e o primeiro acidente. Disponível em: <http:// www.2.uol.com.br/aregiao/art/hist/automovel.htm>. Acesso em: 02 out. 2004.
64
Relembrando a utilização do veículo em sua origem, comparando ao século XXI,
temos a relatar que:
Portanto, a máquina que foi feita para dar ao homem conforto, maior rapidez e até maior número de horas úteis (o mesmo se diga da computadorização), melhorando, no todo, as condições de vida e trabalho ao ser humano, pode, em confronto com o trânsito e a personalidade do motorista, constituir em novos estímulos, motivos levando o homem a guiar, quase mecânica e automaticamente, como se caminhasse em uma estrada arborizada (SZNICK, 1995, p. 156).
Direcionada a citação, partimos do pressuposto que a influência da personalidade do
indivíduo, motivada pela modernização e o excesso de veículos são as principais causas para a
situação atual.
Os automóveis são utilizados hoje não como meio de locomoção, mas como espécie
de fuga da realidade. Neste sentido Sznick ( 1995, p. 155) entende que:
Pressionando o acelerador, o condutor esmaga a humilhação, e libertando força-motriz, ele alivia a carga diária de tensões físicas e mentais. Na direção do veículo, o indivíduo sente-se livre de uma série de restrições impostas pela natureza e outras determinadas pelas convenções sociais e pode compensar –se de longas esperas diante das mais multiformes situações da vida cotidiana.
Desde do progresso do primeiro carro os inventores já possuíam a influência no ser
humano, instigando para que o mesmo sempre fosse em busca de algo que lhe trouxesse mais
conforto e comodidade. Porém, esta forma de pensar não trouxe apenas uma situação estável e
cômoda, mas sim a periculosidade, mudando o comportamento do homem diante do veículo
automotor. O luxo fez crescer a ganância, tornando-se uma pessoa diferente frente a tal
modernidade. Neste ponto de vista:
Sentimentos de poder: a pressão do pé no acelerador leva á independência, superioridade, afirmação do status social ou da personalidade de seu possuidor. Tudo isso o automóvel proporciona (SZNICK, 1995, p. 207).
Todo o entendimento pode ser concluído com base do que nos relata Edgar Pisani, L’
Organisme Nationale de la prevention Routiére (apud SZNICK, 1995, p. 78):
65
Somos assassinos por imprudência, fadiga, vaidade, pressa excessiva, imperícia; e cada segunda-feira nos dá o balanço, da mortandade. Mas o decurso do dia nos traz seu quinhão de preocupações e de tudo esquecemos para retornar á estrada com o risco, desta vez, de sermos as vítimas. Ninguém pode admitir que se fique de braços cruzados, vendo o perigo crescer, quando já intolerável.
A finalidade de abordar esse assunto, foi apenas demonstrar a principal causa de
acidentes de trânsito. É imprescindível demonstrar a influência que um veículo tem ao ser
humano, em virtude da tecnologia, muitas vezes utilizadas no coração do veículo do que na sua
estética. Neste sentido, o ser humano ao expor a sua capacidade de invenção põem a sua vida
como teste para este.
3.3 LIMITES PREVISTOS PELA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
O Código de Trânsito Brasileiro é determinado com base na Lei Nº 9.503 de 23 de
setembro de 1997, possuindo em seu dispositivo algumas alterações dadas pela Lei Nº 9.602 de
21 de janeiro de 1998. Seus dispositivos demonstram todas as normas e relatos orientando o
cumprimento do sistema de Trânsito Brasileiro. Órgãos competentes, crimes enquadrados no
trânsito e limites permitidos nas vias, são alguns dos tópicos presentes na lei citada.
A escolha pelo variável, excesso de velocidade, se dá em virtude da preocupação
encontrada não apenas pela fiscalização, mas também pela comunidade jurídica considerando o
elevado número que se apresenta os acidentes de trânsito causados pelo abuso de velocidade.
Visto pelo autor SZNICK ( 1995, p. 207) a velocidade é compreendida como:
Fruto, ora do exibicionismo, ora da competição, a velocidade é fator importante a ser considerado, e quanto maior ela for, maior será a probabilidade dessas ocorrências e, também, maior será sua gravidade.
A preocupação imposta á velocidade utilizada de forma inadequada pelos condutores,
chama a atenção pela afirmativa encontrada na obra de SZNICK (1995, p. 207) “ A velocidade
constitui-se, pois, em presença constante em cada incidente de estrada e, quase sempre, ao
menos a um dos condutores, pode ser atribuída como causa”.
66
Conceituar a palavra excesso de velocidade talvez não seria a forma adequada para o
seu entendimento. Não existe uma definição com palavras e terminologias sucintas para o seu
estudo, o que pode ser excesso de velocidade em algumas situações pode vir a não ser em outras,
como relatados a seguir.
Neste sentido, quanto aos limites permitidos para a velocidade no trânsito o que deve
ser analisado, conforme obra de Araújo ( 2000, p. 120) e complementada pelo art. 61 caput e § 1º
do Código de Trânsito Brasileiro é que “ A Velocidade Máxima Permitida numa via é
estabelecida por meio de Placas de Regulamentação ( Placa R – 19 = Velocidade Máxima
permitida), e é esse o limite que prevalecerá”
Velocidade Máxima
Assim, estabelece o dispositivo:
Art. 61. A velocidade máxima permitida para a via8 será indicada por meio de sinalização, obedecidas suas características técnicas e as condições de trânsito.
§ 1º Onde não existir sinalização regulamentadora, a velocidade máxima será de:
I - nas vias urbanas9:
a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rápido10:
b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais11;
8 Superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central. (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 9 Ruas, avenidas, vielas, ou caminhos ou similares abertos á circulação pública, situados na área urbana, caracterizada principalmente por possuírem imóveis edificados ao longo de sua extensão (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 10 Aquele caracterizada por acessos especiais com trânsito livre, sem interseções em nível, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem travessia de pedestres em nível. (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I _ dos Conceitos e Definições). 11 Aquela caracterizada por interseções em nível, geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros e ás vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade ( Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I _ Dos Conceitos e Definições).
67
c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras12;
d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais13;
II - nas vias rurais14:
a) nas rodovias15:
1)cento e dez quilômetros por hora para automóveis e camionetas;
1)110 (cento e dez) quilômetros por hora para automóveis, camionetas e motocicletas; (Redação dada pela Lei nº 10.830, de 23.12.2003)
2) noventa quilômetros por hora, para ônibus e microônibus;
3) oitenta quilômetros por hora, para os demais veículos;
b) nas estradas16, sessenta quilômetros por hora.
Ao relato do dispositivo mencionado, observa-se que:
As regras do art. 61 valem tão somente onde não houver sinalização, determinando a máxima, portanto, não é correto falar-se que hoje a velocidade máxima nas rodovias seja 110 Km/h, pois pode ser tanto superior quanto inferior, caso haja sinalização (ARAÚJO, 2000, p. 121).
Outrossim, podemos adotar e utilizar como forma de ilustração ao que relata os
doutrinadores e os dispositivos do artigo do Código de Trânsito Brasileiro alguns julgados de São
Paulo, que vem a caracterizar e complementar o entendimento para o excesso de velocidade:
LESÃO CORPORAL CULPOSA - Acidente de trânsito - Delito caracterizado - Indivíduo que trafega em estrada de péssima conservação, cheia de buracos, com velocidade incompatível para o local - Colisão daí resultante, com ferimentos nos passageiros do veículo – Condenação mantida - Inteligência do art. 129, § 6º, do Código Penal.
Velocidade excessiva não é somente a marcha acelerada que ultrapasse determinações cautelares ou regulamentares, mas toda aquela que o motorista imprime ao seu veículo quando as circunstâncias não autorizam ( TACRIM – SP – AC – Rel. Azevedo Franceschini – RT 415/245).
12 Aquela destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o Trânsito dentro das regiões da cidade (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 13 Aquela caracterizada por interseções em nível não semaforizadas, destinada apenas em acesso local ou a áreas restritas (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 14 estradas e rodovias (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 15 via rural pavimentada (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições). 16 Via rural não pavimentada ( Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I __ Dos Conceitos e Definições).
68
Neste sentindo o julgado nos traz o entendimento do excesso de velocidade, estabelecido
em virtude da localidade. Poderia o condutor estar em velocidade compatível ao que descreve o
art. 61 do Código de Trânsito Brasileiro, porém, não determinado pela via em percurso.
Complementa o julgado demonstrando o enquadramento do crime cometido, no qual será
especificado na seqüência do estudo.
A matéria também é vista como:
LESÃO CORPORAL CULPOSA – Acidente de trânsito – Colisão de veículos em rodovia – Culpa de ambos os motoristas, inclusive do que se encontrava na preferencial, por não haver diminuído a velocidade ante a aproximação de cruzamento – Condenação mantida – Inteligência doa art. 129 § 6º, do Código Penal.
Velocidade excessiva não é somente aquela superior ao permitido pela sinalização feita pela autoridade administrativa, senão também aquela que o motorista imprime ao veículo quando as circunstâncias e o local não a comportam. ( TACRIM – SP – AC – Rel. Manoel Pedro – RT 382/293).
O que se interpreta é que a compreensão do termo velocidade excessiva não é apenas a
ultrapassagem dos limites impostos por sinalização, mas o limite utilizado em decorrência das
condições proporcionadas pelo local ou até mesmo as condições físicas do tempo e do veículo.
Detalhando a estrutura do estudo que segue, tem-se que a abordagem do excesso de
velocidade está diretamente ligada aos crimes de trânsito, no qual será dada a devida importância
no decurso do trabalho. Antes de comentar o entendimento do Tribunal Judiciário de Santa
Catarina será relatado as estatísticas de acidentes levantados pelos órgãos da Polícia Rodoviária
Federal e Polícia Rodoviária Estadual.
3.4 ESTATÍSTICAS LEVANTADAS NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS
Os órgãos públicos envolvidos no Código de Trânsito não se limitam apenas as
indicações em estudo. De acordo com os informativos distribuídos pela Polícia Rodoviária
Federal, obtemos que os órgãos competentes ao entendimento e interferência ao Código de
69
Trânsito são: JARIs17; CONTRAN18; DENATRAN19; DNER20; POLÍCIA RODOVIÁRIA
FEDERAL; CETRANs21 e CONTRANDIFE22; DETRANs23; DERs24 , POLÍCIA
RODOVIÁRIA ESTADUAL e PREFEITURAS (Quem é quem no trânsito Brasileiro. Folder
distribuído pela Polícia Rodoviária Federal, p. 19).
O objetivo do estudo é demonstrar e ter o conhecimento das estatísticas levantadas
anualmente pelos órgãos públicos: Polícia Rodoviária Federal e Polícia Rodoviária Estadual,
abordando como modalidade para o estudo, as causas de acidentes.
3.4.1 Polícia Rodoviária Estadual
Antes de comentar as estatísticas encontradas neste órgão, faremos uma breve introdução
detalhando a finalidade do órgão competente. Neste sentido, ao que consta:
a Polícia Rodoviária Estadual _ PRE tem como missão institucional, fiscalizar, coordenar e orientar o trânsito nas rodovias do Estado de Santa Catarina prevenindo e reprimindo os atos relacionados a segurança pública, proporcionando conforto e comodidade aos usuários das rodovias estaduais, assegurando a livre circulação e evitando acidentes25 .
Para este estudo obtemos duas possibilidades a serem analisadas. O primeiro material
aborda o questionamento da natureza dos acidentes, não permitindo a certeza de sua ocorrência
pelo excesso de velocidade. Desta forma, os dados delimitam a natureza dos acidentes em:
Colisão26; Choque27; Abalroamento Long. / Trans28. ; Atropelamento de Pedestre; Atropelamento
17 Juntas Administrativas de Recurso de Infrações de Trânsito. 18 Conselho Nacional de Trânsito. 19 Departamento Nacional de Trânsito. 20 Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. 21 Conselho Estadual do Trânsito. 22 Conselho do Trânsito do Distrito Federal. 23 Departamento do Trânsito. 24 Departamento Estaduais de Estradas de Rodagem. 25 Força d’ Oeste On Line. 12 agost. 2004. Disponível em:< http:// www.jornalfo.com.br/370/10.pdf >. Acesso em: 16 set. 2004. 26 “é o acidente entre dois ou mais veículos em movimento no mesmo sentido ou em sentidos opostos, na mesma faixa da via”; 27 “é o acidente entre veículos em movimento e um obstáculo parado” ; 28 “é o acidente entre veículos em movimento utilizando faixas de rolamentos diferentes. Lateral: ocorre entre veículos andando no mesmo sentindo,quando um inicia uma conversão á direita ou á esquerda. Transversal: é aquela que envolve veículos em ângulo de 90º ou outro ângulo, geralmente em intersecções, saídas de estacionamento”;
70
de Animal; Tombamento29 / Capotamento30; Outros. Para visualizar melhor as estatísticas,
destacamos a data de 2000 à 2003, ressaltando-se que o estudo não demonstra como causa
específica a expressão, excesso de velocidade, podendo este se encontrar em qualquer
modalidade em estudo.
Neste sentido, no exato momento do acidente o policial responsável pela notificação
não tem acesso em constatar a causa específica, no qual somente será determinada em virtude de
uma perícia. Portanto, delimitam-se em estatísticas ou possibilidades quanto ao excesso de
velocidade.
Já o segundo material abordado pela Polícia Rodovia Estadual, nos dá um maior
acesso aos índices levantados por velocidades incompatíveis. Trata-se de notificações feitas com
base em radares móveis. Para este, a descrição utilizada foi a abordagem de velocidades até 20%
do limite permitido ou acima de 20%, modificando o enquadramento e o valor da multa.
O objetivo desse estudo é integrar o leitor a realidade, fugindo de dados teóricos e
partindo para estatísticas reais, mostrando as conseqüências obtidas pela vaidade humana.
29 “é aquele que ao ocorrer resulta em um ou mais veículos caídos de lado”; 30 “é aquele que ao ocorrer resulta em um ou mais veículos com as rodas para cima” ( Departamentos de Serviços de Trânsito, São José dos Campos, p. 5 - 9. Disponível em: < http:// www.sjc.sp.gov.br/downloads/secretarias/transportes/Estatisticas.pdf/>. Acesso em: 17 set. 2004).
71
DADOS DOS ACIDENTES – 200031 (Natureza dos acidentes)
Natureza do acidente Qtd. (%) em relação total
Colisão Frontal 248 4,58% Colisão Traseira 1.071 19,78%
Abalroamento long./transv. 1.729 31,94% Atropelamento pedestre 224 4,14% Atropelamento animal 125 2,31%
Tombamento/Capotamento 568 10,49% Outros 1.449 26,76% TOTAL 5.414 100,00%
O gráfico apresenta-se com a finalidade de ilustrar os dados demonstrados na tabela,
proporcionando ao leitor um entendimento mais amplo. Diante dos fatos, constata-se que no ano
de 2000 obtém-se um maior índice de acidentes na modalidade de abalroamento (long. / transv.),
proporcionando uma porcentagem quase superior as outras espécies trabalhadas. Em seguida
encontramos a modalidade de, outros, não enquadrada em nenhuma espécie citada, mais que deve
ser comentada em virtude de sua significância. E por fim, a demonstração de 19,78% distribuída
na colisão traseira. Ressalta-se que a quantidade de acidentes em destaque demonstra a sua
porcentagem equivalente.
31 ESTADO DE SANTA CATARINA. COMPANHIA DE POLÍCIA RODOVIÁRIA. SEÇÃO DE ESTATÍSTICAS. Fonte: setor de Estatísticas da PRE.
Dados acidentes em 2000 - Natureza dos acidentes
Colisão trazeira; 1.071
Colisão frontal; 248
Outros; 1.449
Tombamento/capota mento; 568
Atropelamento pedestre; 224
Abalroamento long./transv.; 1.729
Atropelamento animal; 125
72
DADOS DOS ACIDENTES – 2001 (Natureza dos acidentes)
Natureza do acidente Qtd. (%) em relação total
Colisão Frontal 241 4,13% Colisão Traseira 1.137 19,49%
Abalroamento long./transv. 1.861 31,89% Atropelamento pedestre 253 4,34% Atropelamento animal 102 1,75%
Tombamento/Capotamento 575 9,85% Outros 1.666 28,55% TOTAL 5.835 100,00%
Dados acidentes em 2001 - Natureza dos acidentes
Colisão trazeira; 1.137
Colisão frontal; 241
Outros; 1.666
Tombamento/capotamento; 575
Atropelamento pedestre; 253
Abalroamento long./transv.; 1.861
Atropelamento animal; 102
Analisando as três modalidades mais freqüentes quanto a existência de acidentes,
selecionamos o abalroamento (long. / transv.); outros; colisão traseira, respectivamente, estando
presentes os mesmos do ano de 2000. No entanto, a diferença se concentra no aumento da
porcentagem comparada ao ano de 2000.
Os dados são notórios, tanto na tabela quanto no gráfico, possuindo um aumento
considerável nas três modalidades.
73
DADOS DOS ACIDENTES – 2002
(Natureza dos acidentes)
Natureza do acidente Qtd. (%) em relação total Colisão Frontal 265 4,06% Colisão Traseira 1.219 18,69% Abalroamento long./transv. 2.197 33,68% Atropelamento pedestre 244 3,74% Atropelamento animal 134 2,05% Tombamento/Capotamento 521 7,99% Outros 1.943 29,79% TOTAL 6.523 100,00%
Novamente, para o ano de 2002 as três modalidades já destacadas ao ano de 2000 e
2001 continuam com valores notórios em relação as outras modalidades, distanciando a cada ano
as porcentagens constatadas. As estatísticas demonstram que a natureza de acidentes
apresentadas em maior freqüência são as mesmas ( abalroamento long. / transv.; outros; colisão
traseira), porém, ressaltando-se quanto aos índices assustadores de cada um, apresentado em
ordem crescente quanto as suas estatísticas.
Dados acidentes em 2002 - Natureza dos acidentes
Colisão trazeira; 1.219
Colisão frontal; 265
Outros; 1.943
Tombamento/capota mento; 521
Atropelamento pedestre; 244
Abalroamento long./transv.; 2.197
Atropelamento animal; 134
74
A natureza de acidentes abordada como “outros”, são enquadradas por esse órgão
competente pelo fato de não estar direcionados as modalidades citadas e por não haver uma
denominação concreta para estes.
DADOS DOS ACIDENTES – 2003 (Natureza dos acidentes)
Natureza do acidente Qtd. (%) em relação total
Colisão Frontal 310 4,24% Colisão Traseira 1.305 17,87% Abalroamento long./transv. 2.949 34,15% Atropelamento pedestre 255 3,49% Atropelamento animal 150 2,05% Tombamento/Capotamento 696 9,53% Outros 2.094 28,67% TOTAL 6.523 100,00%
O entendimento dos dados referente ao ano de 2003 obtém o mesmo conhecimento dos
outros gráficos estudados. As modalidades mais preocupantes em virtude de seus dados
estatísticos se concentram nas mesmas espécies que vem se destacando desde 2000.
Diferenciando-se apenas na sua quantidade, aumentando a cada estatística elaborada.
Dados acidentes em 2003 - Natureza dos acidentes
Colisão trazeira; 1.305
Colisão frontal; 310
Outros; 2.094
Tombamento/capota mento; 696
Atropelamento Pedestre; 255
Abalroamento long./transv.; 2.494
Atropelamento animal; 150
75
Referindo-se aos dados representados pelos gráficos colocados em destaque para este
estudo, conclui-se que as estatísticas vêm aumentando a cada ano. Direcionando-se a sua
natureza, ou seja, espécies de acidentes, estes são na sua maioria sempre os mesmos que se
apresentam em destaque, diferenciando-se na porcentagem das estatísticas. Ressalta-se que a
incapacidade de obter uma perícia para o levantamento de dados, nos faz entender que há
possibilidade do excesso de velocidade enquadrar-se em qualquer modalidade.
Neste sentido, faremos o mesmo entendimento quanto a outra abordagem de
entendimento ao excesso de velocidade, possibilitando um conhecimento para o estudo, pois são
efetuadas com o objetivo de fiscalizar a velocidade empregada pelos condutores através de
radares móveis. Outrossim, pela notificação ser abordada com base em estatísticas elaboradas por
radares portáteis haverá mês que não abordará notificação. Prevalece para o estudo o ano de 2001
á 2003.
RELATÓRIO ESTATÍSTICO DA CIA P RV32 DE – 2001 INFRAÇÕES GRAVÍSSIMAS E GRAVES MAIS FREQÜENTES
DESCRIÇÃO
INFRAÇÕES GRAVISSÍMAS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Dirigir s/ estar devid. Habil/Autorizado 189 210 188 175 136 177 214 192 193 227 241 197 2.339
Sem estar evi. Reg. E Licenciado 727 575 478 410 526 584 753 633 584 934 1.030 1.308 8.542
Ultrapassagem indevida 859 822 770 667 527 628 800 841 890 1.362 1.267 1.420 10.853
Transitar c/ veloc. > de 20% da máx. permitida 7 3 38 56 142 51 81 137 114 14 38 113 794
Dirigir sob efeito de Alcool ou Sub. Tox. 64 42 50 46 187 45 24 27 50 42 36 42 655
Dirigir com CNH vencida >30 dias 97 102 131 97 88 105 154 114 114 182 170 164 1.518
Conduzir Motocicleta sem usar capacete 2 14 13 14 9 7 8 9 15 16 36 26 169
INFRAÇÕES GRAVES JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Falta/Defeito de Equip. Obrigatório 601 860 917 564 583 698 819 937 628 1.185 1.026 701 9.519
Deixar de usar cinto de segurança 891 917 809 514 518 578 926 830 631 1.052 1.114 968 9.748
Desobedecer ordem da Aut. e seus agentes 34 42 45 29 34 199 108 49 97 100 74 111 922 Transitar c/ veloc. Até 20% da máx. permitida 17 16 65 54 116 82 159 192 297 2 80 122 1.202
Conduzir veíc. c/ sistema de iluminação alterado 63 81 123 70 48 42 64 54 34 135 69 82 865
Conduzir veíc. c/ películas áreas envidraçadas 31 36 33 28 17 54 98 42 66 84 99 71 659
Conduzir pessoas ou animais na parte ext. veíc. 168 59 31 25 4 14 24 13 18 16 26 26 424
O conhecimento desta planilha direciona-se apenas a linha colocada em destaque, onde
podemos abordar o excesso de velocidade, ou pelo menos as infrações cometidas pela ultrapassagem do limite estabelecido, notificado na via percorrida. O limite é estabelecido entre a rodagem do veículo até 20 % do limite permitido ou acima de 20%, direcionando aos números as
32 COMPANHIA DA POLÍCIA RODOVIÁRIA. POLÍCIA RODOVIÁRIA ESTADUAL. Fonte: Setor de estatísticas da PRE.
76
infrações cometidas quando utilizados estes aparelhos (radar móvel). Neste sentido a análise efetuada para este estudo nos dá a entender que os números de infrações apresentam-se de forma variada, possuindo um acréscimo ou diminuição em determinado mês.
RELATÓRIO ESTATÍSTICO DA CIA P RV DE – 2002 INFRAÇÕES GRAVÍSSIMAS E GRAVES MAIS FREQÜENTES
DESCRIÇÃO
INFRAÇÕES GRAVISSÍMAS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Dirigir s/ estar devid. Habil/Autorizado 252 269 209 162 168 145 187 190 154 177 179 174 2.266
Sem estar evi. Reg. E Licenciado 1.119 802 510 454 657 586 737 626 503 517 530 861 7.902
Ultrapassagem indevida 1.674 1.657 1.410 764 1.029 850 1.260 1.268 1.474 1.171 1.281 978 14.816
Transitar c/ veloc. > de 20% da máx. permitida 49 3 11 0 10 51 5 42 74 35 41 77 398
Dirigir sob efeito de Alcool ou Sub. Tox. 46 49 44 33 55 42 46 38 39 26 10 39 467
Dirigir com CNH vencida >30 dias 217 172 123 95 141 120 158 153 118 112 118 129 1.656
Conduzir Motocicleta sem usar capacete 24 15 24 18 17 10 8 15 6 17 18 12 184
INFRAÇÕES GRAVES JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Falta/Defeito de Equip. Obrigatório 804 869 979 892 912 651 1.109 1.017 750 470 663 519 9.635
Deixar de usar cinto de segurança 1.299 1.448 849 584 496 552 733 821 587 476 534 618 8.997
Desobedecer ordem da Aut. e seus agentes 99 86 97 52 43 58 35 94 71 35 39 49 758
Transitar c/ veloc. Até 20% da máx. permitida 64 22 15 5 20 162 22 76 80 52 71 60 649
Conduzir veíc. c/ sistema de iluminação alterado 72 105 75 56 75 66 93 78 61 67 37 23 808
Conduzir veíc. c/ películas áreas envidraçadas 73 113 35 43 30 36 71 80 46 35 40 39 641
Conduzir pessoas ou animais na parte ext. veíc. 50 46 44 15 6 23 20 25 14 22 19 19 303
No ano de 2002 os dados apresentados em destaques não são tão assustadores,
demonstrando números de notificações inferiores ao estudo da planilha anterior. Porém, quanto a este ano, percebe-se que há um maior número de infrações com velocidades abordadas até 20% da máxima permitida. Pelo fato de tratar-se de radares móveis, parte-se do pressuposto que a instalação deste objeto não são feitos diariamente, podendo ocasionar redução em determinado mês.
RELATÓRIO ESTATÍSTICO DA CIA P R V – 2003 INFRAÇÕES GRAVÍSSIMAS E GRAVES MAIS FREQÜENTES
DESCRIÇÃO
INFRAÇÕES GRAVISSÍMAS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Dirigir s/ estar devid. Habil/Autorizado 195 204 255 239 270 150 203 131 143 135 158 192 2.275
Sem estar evi. Reg. E Licenciado 701 495 408 579 631 473 513 368 439 342 357 625 5.931
Ultrapassagem indevida 1.094 835 1.152 1.140 947 694 829 845 671 1.065 941 826 11.039
Transitar c/ veloc. > de 20% da máx. permitida 68 32 14 11 0 1 0 0 2 2 0 0 130
Dirigir sob efeito de Alcool ou Sub. Tox. 28 36 36 46 53 46 48 33 28 40 33 26 453
77
Dirigir com CNH vencida >30 dias 152 129 182 219 189 147 171 117 108 132 118 160 1.824
Conduzir Motocicleta sem usar capacete 24 19 31 32 21 4 9 9 7 7 12 15 190
INFRAÇÕES GRAVES JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
Falta/Defeito de Equip. Obrigatório 680 649 858 784 818 527 626 436 401 377 305 275 6.736
Deixar de usar cinto de segurança 893 715 844 775 570 465 396 473 324 410 437 475 6.777
Desobedecer ordem da Aut. e seus agentes 49 46 62 45 55 39 100 51 36 41 31 32 587
Transitar c/ veloc. até 20% da máx. permitida 56 38 20 14 12 2 0 0 0 3 0 0 145
Conduzir veíc. c/ sistema de iluminação alterado 93 77 59 123 89 60 75 43 59 42 16 26 762
Conduzir veíc. c/ películas áreas envidraçadas 41 41 23 44 41 24 25 15 20 24 22 27 347
Conduzir pessoas ou animais na parte ext. veíc. 39 25 32 40 102 5 7 10 11 6 26 17 320
A notificação obtida no ano estabelecido trabalhou com um menor índice, comparado a
análise dos outros gráficos. São apenas estatísticas levantadas quanto as notificações abordadas por policias em virtude de fiscalização por radares móveis. O questionamento se direciona apenas as linhas em destaque.
A este estudo elaborado se tem que as infrações cometidas por velocidades incompatíveis, obtidas nas rodovias estaduais, são notificadas em grande maioria por transitar em velocidades até 20 % da máxima. Neste sentido, a imposição desses dados nos mostra que não são tão preocupantes quando ligados aos outros elementos presentes na planilha, mas, pelo fato de abordar velocidades incompatíveis nos chama a atenção. Tratando-se dessa modalidade toda preocupação é relevante. Para o tema em estudo podemos nos dirigir a modalidade descrita como ultrapassagem indevida que demonstram grande número de notificações comparado a este, podendo se enquadrar ao excesso de velocidade. Outrossim, partimos para a análise do outro órgão competente, abordando a sua forma de análise para a situação estudada.
3.4.2 Polícia Rodoviária Federal
A Polícia Rodoviária Federal apresenta em seu próprio site todas as informações
necessárias onde se encontra a estrutura de funcionamento do órgão público, assim como seu
histórico e constituição33.
Nos dizeres da Constituição Federal, tem-se com base no dispositivo do art. 144 § 2 que: Art. 144 a segurança pública, dever do estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos. I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícia militares e corpos de bombeiros militares.
33 Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Disponível em: < http:// www.dprf.gov.br >. Acesso em: 17 set. 2004.
78
§ 2 A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
No Estado de Santa Catarina, a polícia rodoviária federal é responsável por oito rodovias:
BR – 101, BR-470, BR – 282, BR – 280, BR – 116, BR –153, BR – 163, BR –158.
Neste sentido o estudo do levantamento abordado pelo órgão abrange as oito rodovias,
fazendo a análise de um modo geral e sucinto. Outrossim, em virtude da metodologia do estudo o
entendimento se direcionará em forma de anexo detalhando os dados para o conhecimento do
leitor, analisando para este estudo, as causas de acidente.
3.4.2.1 Análise dos Dados Estatísticos __ Julho de 2000 à Julho de 2004
Passaremos ao leitor a maneira utilizada pela polícia rodoviária federal ao levantamento
desses dados. Portanto, para esse estudo delimita-se o período de julho de 2000 á julho de 2004,
restringindo-se apenas ao tema de interesse: excesso de velocidade ou no caso denominado,
velocidade incompatível.
Ao conhecimento deste podemos identificar que o índice estabelecido a velocidade
incompatível não é o mais intrigante quando comparado a outras possibilidades de acidentes.
Mas, como já comentado, a qualquer causa de acidente pode-se levar em consideração o excesso
de velocidade, influenciando no tema abordado. Neste sentido, obtemos no período de julho á
dezembro de 2000 o número equivalente a 361 infrações de acidentes por velocidade
incompatível (Anexo I ).
Já no ano de 2001 analisamos o acréscimo dos dados constatados no ano anterior, porém
considera-se que a estatística refere-se apenas a um período de seis meses, trabalhando-se neste
o ano por inteiro. Percebe-se que os dados obtidos em virtude das infrações cometidas pelo
excesso de velocidade, não chamam a atenção quando analisadas outras causas, assim como a
falta de atenção, que grava um número de 4.238 infrações para o ano de 2001, mas a
interpretação nos leva a entender que este pode ser causado pela velocidade incompatível (Anexo
II).
79
Os dados constatados para o ano de 2002 demonstrou-se inferior, mas obteve um aumento
as outras espécies, como a falta de atenção, modalidade que levam a entender que ocorrem pelo
excesso de velocidade (Anexo III).
Outrossim, o estudo do ano de 2003, demonstrado no anexo IV, apresentou um acréscimo
surpreendente ao número de infrações comparado ao ano anterior. Obtemos para este o referente
a 1.192 casos para a modalidade, velocidade incompatível, sendo que no ano de 2002 demonstra
o equivalente a 675 números de infrações.
Para o ano de 2004 as estatísticas são de 633 acidentes cometidos por velocidades
incompatíveis, uma diminuição bastante significante quanto ao número do anexo IV. Mas, temos
o conhecimento que esses dados referem-se até julho de 2004, não concluindo ao estudo do
levantamento por abordarmos esse material em data inferior a sua conclusão. Dados
demonstrados no anexo V.
Neste sentido, a estrutura das planilhas é elaborada de forma clara para o entendimento
do leitor podendo notar que obtemos não apenas as causas de acidentes, mais todas as
circunstâncias que o envolvem. O objetivo de analisar a velocidade incompatível, parte do
princípio de que o levantamento dos dados não é comprovado especificamente por não trabalhar
com estudo mais aprofundado para análise, como a perícia. Portanto, ao abordar a velocidade
incompatível para o estudo estaríamos dirigindo-se a outras modalidades.
Ao comentar as estatísticas de acidentes de trânsito de conhecimento da polícia rodoviária
estadual e polícia rodoviária federal, devemos complementar o estudo abordando os crimes em
que o mesmo é enquadrado.
3.5 CRIMES DE TRÂNSITO
80
Os crimes de trânsito34 são assegurados no Capítulo XIX, seção I das Disposições Gerais,
art. 291 e ss. do Código de Trânsito Brasileiro ( Lei nº 9.503/97, com alterações da lei nova).
Os crimes de trânsito abordados na direção de veículo automotor35, estão dispostos na
modalidade de Homicídio Culposo e Lesão Corporal Culposa. Estas apesar de serem encontradas
no Código Penal, impressas no artigo 121 §336 e 129 §637 respectivamente, também encontram-se
relatadas no Código de Trânsito, artigo 302 e 303, em seqüência.
A expressão utilizada, direção de veículo automotor, encontra-se apenas nos dispositivos
do Código de Trânsito Brasileiro, sendo esta a diferença das condutas normatizadas em ambas as
leis.
3.5.1 Homicídio Culposo
A forma estabelecida do homicídio culposo no trânsito, pode ser entendida conforme
Pires ( 1998, p. 178):
Com efeito, o homicídio culposo de trânsito, muitas vezes, é fruto do desamor, do descaso e da aberta desconsideração para com o semelhante, o que o leva a superar, em termos da gravidade, a forma voluntária, muitas vezes impulsionada por motivação razoável.
Outrossim, considera-se na maioria dos casos de homicídio culposo a forma consciente e
voluntária na conduta, induzido pela sua vaidade.
Ao crime, homicídio culposo, cabe ressaltar o estudo do art. 302 do Código de Trânsito
Brasileiro, assim dispondo:
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
34 “fatos praticados por condutores de veículos automotores nas vias abertas á circulação de pessoas e de veículos, que provoquem dano real ou potencial á vida e á integridade física do ser humano (...)” (PIRES, 1998, p. 22). 35 “todo veículo de propulsão que circula por seus próprios méis, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para atração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulem sobre trilhos (ônibus elétricos)” (Código de Trânsito Brasileiro; Anexo I – Dos Conceitos e Definições). 36 Se o homicídio é culposo: Pena _ detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 37 Se a lesão é culposa: Pena _ detenção, de 2 (dois)meses a 1 (um) ano.
81
Penas _ detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço á metade, se o agente: I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II – praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, á vítima do acidente; IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
Destina-se este ao agente responsável pelo resultado em virtude da negligência,
imprudência e imperícia, como estabelece o artigo 18, II do Código Penal.
O dispositivo não deixa dúvida quanto ao enquadramento do homicídio culposo,
estabelecendo a forma de condução e as possibilidades de agravante. Analisando a sua forma,
obtemos conforme Pires ( 1998, p. 180) que:
O homicídio culposo consuma-se com a morte do sujeito passivo, cuja materialidade se comprova por exame pericial (exame de corpo delito direto e indireto), conforme dispõe o art. 158 do Código de Processo Penal:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Neste sentido, a forma estabelecida no Código Penal é adotada ao Código de Trânsito,
diferenciando-se apenas na maneira em praticar o homicídio culposo, direcionando-se este ao
veículo automotor. Outra espécie a ser dado a devida importância é o dispositivo referente a
lesão corporal culposa, demonstrada no Código de Trânsito.
3.5.2 Lesão Corporal Culposa
O entendimento deste segue a mesma linha de raciocínio do homicídio culposo,
estabelecido no Código Penal (art. 129 §6) e Código de Trânsito Brasileiro (art. 303)
diferenciando-se pela expressão “direção do veículo automotor”.
82
Art. 303 Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas _ detenção, de seis meses a dois anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço á metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.
Ao entendimento da lesão corporal culposa, adota-se o entendimento de Pires ( 1998, p. 195):
Trata-se de crime de dano, em que o resultado é a alteração anatômica ou funcional do organismo ou da psique, como, e.g., as esquimoses, escoriações, ferimentos, cortes, fraturas, luxações, hematomas, bem como perturbações físico-psiquicas.
Relatando um pouco mais sobre o entendimento da lesão corporal culposa, tem-se que:
Elemento subjetivo do crime de lesão corporal é a culpa. Requer-se, pois, conduta voluntária, falta ao dever de cuidado juridicamente exigível, previsibilidade, relação de causalidade e resultado involuntário (PIRES, 1998, p. 196).
Todos os elementos abordados para a caracterização da citação foram comentados no
segundo capítulo do estudo, direcionando a modalidade, culpa.
Apresentam-se ao homicídio e a lesão corporal culposa a possibilidade do perdão judicial
e do concurso de crimes. Tem-se com base em doutrinas que se admitem o perdão judicial em
ambos os casos quando o resultado atingir o responsável pelo crime de tal maneira que seja
desnecessária a aplicação da sanção penal (PIRES, 1998, p. 186). Ao concurso de crime é de fácil
entendimento a sua presença. Ao analisar as possibilidades de crime de trânsito, imposto pela Lei
nº 9.503/97 podemos perceber que a ocorrência tanto do homicídio quanto da lesão podem
resultar com a presença das outras hipóteses descritas nos dispositivos (PIRES, 1998, p. 184).
Ao conhecimento do Código de Trânsito Brasileiro os crimes não se resumem as duas
modalidades em estudo, restringindo-se também a casos como omissão de socorro, fuga da
localidade do acidente, competição automobilística, manejar em velocidade incompatível, dentre
outras modalidades dispostas no art. 302 a 312 do Código de Trânsito Brasileiro.
83
O estudo teve por objetivo direcionar ao entendimento dos crimes de trânsito quanto ao
excesso de velocidade, para que o leitor possa fazer uma análise ao julgamento do Poder
Judiciário frente ao tema abordado.
3.6 POSIÇÃO DO TRIBUNAL JUDICIÁRIO DE SANTA CATARINA
O levantamento para a análise desse item deu-se no Setor de Jurisprudência e Acórdãos
do Poder Judiciário, delimitando-se a 1º e 2º Câmara Criminal do Tribunal Judiciário de Santa
Catarina restringindo-se aos acidentes de trânsito por excesso de velocidade, posicionando-se
pelo dolo eventual ou pela culpa por imprudência.
Neste sentido, a restrição no qual foi dado para o entendimento do tema nos abordou 60
acórdãos, limitando-se a apelação criminal e a apelação civil, visto que para o estudo foi
abordado apenas o crime. Delimitar-se a uma data específica tornaria a apresentação dos
acórdãos mais restritos, já que os presentes são demonstrados de forma civil e criminal, portanto,
não nos especificamos a esse ponto. Esse estudo abordará algumas jurisprudências do dolo
eventual, mostrando a sua forma de caracterização segundo o entendimento dos componentes da
1º e 2º câmara criminal e da culpa por imprudência, demonstrada da mesma forma.
1. DOLO EVENTUAL
1 .1 E ME NT A: APELAÇÃO CRIMINAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO SIMPLES E LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS. PRELIMINARES DE NULIDADE DO PROCESSO POSTERIOR À PRONÚNCIA, POR DESOBEDIÊNCIA AO ART. 475, DO CPP, E POR DEFEITO NA REDAÇÃO DO PRIMEIRO QUESITO, ACOIMADO DE DEFICIENTE E/OU IMPRESTÁVEL. DOCUMENTO DA ASSISTÊNCIA DE ACUSAÇÃO JUNTADO DENTRO DO TRÍDUO LEGAL DO ART. 475, DO CPP, E DO QUAL TEVE CIÊNCIA A DEFESA. INOCORRÊNCIA DE SURPRESA PARA A PARTE. EIVA RECHAÇADA. QUESITO FORMULADO RIGOROSAMENTE DE ACORDO COM O LIBELO (SUBSTRACTUM DA ACUSAÇÃO). INTELIGÊNCIA DO INCISO I DO ART. 484, DO CPP. REDAÇÃO QUE PERMITIU AOS JURADOS O PERFEITO ENTENDIMENTO DOS FATOS IMPUTADOS AO APELANTE E QUE, POR ISSO, NÃO INDUZIU À EQUÍVOCO OU PERPLEXIDADE. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. "Se a redação do quesito não induziu perplexidade, de modo a ensejar dúvida sobre a manifestação da vontade dos jurados, tendo, ao contrário, observado a melhor técnica porquanto abrangidas circunstâncias que guardavam conexão essencial com o fato principal, sem admitir desdobramento, não há cogitar de nulidade. Recurso improvido." (RSTJ vol. 40/116) PREJUDICIAIS DE MÉRITO AFASTADAS. RECURSO DEFENSIVO COLIMANDO A ANULAÇÃO DO VEREDICTO PORQUE MANIFESTAMENTE CONTRÁRIO À PROVA
84
ENCARTADA NO DECORRER DO COTEJO. APELANTE QUE IMPRIMINDO VELOCIDADE ELEVADÍSSIMA EM SEU VEÍCULO, EM VIA URBANA DE INTENSO MOVIMENTO, PARTICIPA DE DISPUTA AUTOMOBILÍSTICA (RACHA OU PEGA), OCASIONANDO VIOLENTO ACIDENTE DO QUAL RESULTOU GRAVEMENTE LESIONADO UM JOVEM E MORTA UMA ADOLESCENTE. RECONHECIMENTO DO DOLO INDIRETO EVENTUAL PELO COLEGIADO POPULAR. DECISÃO QUE ENCONTRA APOIO NAS DECLARAÇÕES DE TESTEMUNHAS DE VISU DO OCORRIDO. VEREDICTO QUE NÃO SE APRESENTA DISSOCIADO DO CONJUNTO PROBATÓRIO COLHIDO. RECURSO IMPROVIDO. R elat or : Des. Jorge Mussi. (Apelação Cr iminal 3 2 .5 8 2 ) . Dat a: 30/04/1996. 1.2 E ME NT A: RECURSO CRIMINAL. RÉU PRONUNCIADO COMO INCURSO NAS SANÇÕES DO ART. 121, CAPUT E 129, PAR. 2o, III. AGENTE APRESENTANDO SINTOMAS DE EMBRIAGUEZ, EM ALTA VELOCIDADE E NA CONTRAMÃO DE DIREÇÃO. RISCO EM PRODUZIR DANOS ASSUMIDO. DOLO EVENTUAL CARACTERIZADO. EM SE TRATANDO DE JUÍZO DE MERA ADMISSIBILIDADE, A ALEGADA FRAGILIDADE DE PROVAS, NÃO OCORRENTE, NÃO OBSTA A MANUTENÇÃO DA DECISÃO, PARA QUE POSSIBILITE AO TRIBUNAL DO JÚRI A SUA APRECIAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. R elat or : Des. Genésio Nolli. ( R ecur s o cr iminal 9 .7 7 2 ) Dat a: 28/03/1995.
1.3 E ME NT A: PENAL - LESÕES CORPORAIS E HOMICÍDIOS CULPOSOS - ACIDENTE DE TRÂNSITO - CONVERSÃO À ESQUERDA - EMBRIAGUEZ - IMPRUDÊNCIA - CONDENAÇÃO MANTIDA - PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS - RECURSO DA DEFESA DESPROVIDO Age com gravíssima imprudência quem, embriagado, conduzindo automóvel, ao convergir à esquerda, sem as cautelas exigíveis, invade a preferencial e abalroa outro veículo. Hipótese em que o apelante foi beneficiado face a impossibilidade da reformatio in pejus, por isso que a Câmara em caso de embriaguez, vêm reconhecendo o dolo eventual. No crime culpa concorrente é sempre incriminatória. Relator. Des. Amaral e Silva. (Apelação Criminal: 97.013623-4) Data: 18/08/1998
1.4 EMENTA: PENAL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – DISPUTA ENTRE DOIS VEÍCULOS EM EXCESSO DE VELOCIDADE EM LOCAL INADEQUADO – ATROPELAMENTO DE TRANSEUNTE – DOLO EVENTUAL PROCESSUAL – PROVA - PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO – PRECEDENTES JURISPRUDÊNCIAIS – RECURSO DESPROVIDO Relativamente a análise e a avaliação da prova, nosso Direito adotou o princípio do livre convencimento , baseado na fundamentação, lastrada nos autos do processo. Havendo crítica sã, raciocínio lógico, em forma de silogismo, demonstrando o magistrado os motivos de convencimento, é o que basta. Assim, pode o julgador optar por declarações no inquérito, desde que corroboradas por elementos produzidos ao crivo contraditório. Age com dolo eventual o condutor de veículo que disputa corrida com outro em local inadequado, nas proximidades de região habilitada, onde haja restaurantes, porquanto, conscientemente, assume o risco de danos pessoais a terceiros, principalmente transeuntes. Relator Des. Amaral e Silva. (Apelação Criminal: 99.012837-7) Data: 29/02/2000
Os julgadores delimitam em grande maioria em impetrar o
dolo eventual em modalidades como o “racha” e a embriaguez. O
entendimento dos julgadores para estes casos delimita-se ao
conhecimento que agindo nessas duas formas estaria o agente
85
consentindo com o resultado pela conduta ser realizada em virtude
da vontade, vaidade do agente.
2. CULPA IMPRUDÊNCIA
2.1 E ME NT A: Homicídio culposo decor rente de acidentes automobilís ticos . Elementos suficientes a demons trar que o réu agiu de f or ma impr udent e ao trafegar em rodovia em velocidade incompat ível com as condições de tempo e lugar , perdendo o controle de veículo, que rodopiou na pis ta e colidiu com o caminhão que seguia em direção contrár ia á sua. Condenação mantida. Concurso formal. Cr itér io obj etivo de acréscimo da repr imenda. Adequação, de ofício, da pena impos ta. Demons trando a prova coligida que o agente impr imia alt a velocidade em rodovia federal á noite e com chuva tor rencial, vindo a perder o controle de seu veículo, que colidiu com o caminhão que seguia na pis ta contrár ia de sua mão de direção, devidamente caracter izada res tou sua culpa, na modalidade impr udência. O cr itér io de acréscimo de pena decor rente do concurso formal é obj etivo. As s im, sendo três o número de vítimas fatais , fica a repr imenda aumentada de um quinto. R elat or : Des . Maur í l io Mor eir a L eit e. ( Apelação Cr iminal: 2 0 0 3 .0 0 9 3 4 7 -8 ) Dat a: 0 3 / 0 6 / 2 0 0 3 .
2 .2 E ME NT A: ACIDENTE DE TRÂNSITO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA NÃO OCORRENTE. EXCESSO DE VELOCIDADE. IMPRUDÊNCIA. INGRESSO EM VIA PREFERENCIAL. CULPA, PARA EFEITOS PENAIS, NÃO CARACTERIZADA. SENTENÇA REFORMADA. - Nos crimes de lesões corporais culposas, cuja pena máxima é de 01 (um) ano de detenção, o prazo prescricional é de 04 (quatro) anos, nos termos do inciso V do artigo 109, do Código Penal. - Age com manifesta imprudência quem, imprimindo alta velocidade em via de grande movimento, concorre de modo decisivo para o evento. - Os limites da previsibilidade devem ser entendidos até fronteiras razoáveis. Deve-se exigir, portanto, do motorista, uma obligatio ad diligentiam, nos limites do que é razoavelmente previsível. Relator: Des. Renato Melillo. (Apelação Criminal: 26.623). Data: 12/04/1991.
2 .3 E ME NT A: HOMICÍDIO CULPOSO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO DE CICLISTAS. CASO FORTUITO. OFUSCAMENTO DA VISÃO POR FARÓIS. FATO PREVISÍVEL. CONCORRÊNCIA DE CULPAS INADMISSÍVEL EM MATÉRIA PENAL. VELOCIDADE INCOMPATÍVEL. CULPA STRICTO SENSU. RECURSO DESPROVIDO. Age com culpa, na modalidade da imprudência, o motorista que desrespeita elementares regras de trânsito, especialmente aquelas atinentes às condições da pista e de trânsito, e abalroa violentamente bicicleta que segue a sua frente, quando pelas circunstâncias de tempo e lugar, era-lhe exigido um mínimo de cautela e atenção, tanto em relação à velocidade imprimida, quanto na previsibilidade do risco de acidente, sendo irrelevante para a tipificação do ilícito, a invocação de eventuais dificuldades ou obstáculos em seu caminho. Relator: Des. Francisco Borges . (Apelação Criminal: 99.016336-9) data: 11/04/2000.
86
2 .4 E ME NT A: APELAÇÃO CRIMINAL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – HOMICÍDIO CULPOSO – PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA – INOCORRÊNCIA – PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – CONDUTOR QUE AO ULTRAPASSAR NÃO TOMA AS DEVIDAS CAUTELAS – CULPA CARACTERIZADA – RECURSO DESPROVIDO. Resta indubitavelmente caracterizada a imprudência do condutor de veículo automotor que ao ultrapassar veículo que lhe antecede não toma as devidas cautelas ao invadir a pista contrária, vindo a colidir em outro veículo que estava lhe ultrapassando. De sabença geral que em direito penal não se admite a compensação de culpas e, a culpa do motorista que não se cerca de cuidados ao proceder a ultrapassagem, cortando o fluxo daquele que já estava em manobra de ultrapassagem, prepondera sobre eventual excesso de velocidade. Relator: Des. Sólon d’Eça Neves. (Apelação Criminal: 2002.009515-5) Data: 27/08/2002.
O entendimento em direcionar a modalidade de culpa por imprudência aos crimes
cometidos em trânsito por excesso de velocidade se delimita a localidade e condições oferecidas
no momento do crime, entendido pela falta de cuidado ou numa ultrapassagem mal sucedida, na
qual deveria ser abordada com maior atenção. O condutor obtém a obrigação de estar atento a
qualquer mudança no trânsito, se responsabilizando aos fatos cometidos na abordagem deste.
Outrossim, a maioria dos julgados se direcionam a culpa por imprudência.
Visualiza aos crimes cometidos no trânsito a modalidade de
homicídio culposo ou lesão corporal culposa relacionado a crime
contra a vida delimitando-se a ação penal pública incondicionada
competente ao Tribunal do Júri.
As ementas a qual nos direcionamos para ilustrar o
entendimento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina são
específicas quanto ao posicionamento, obtendo um entendimento
majoritário aos crimes cometidos na modalidade de culpa por
imprudência.
A caracterização da imprudência se dá na maioria das vezes em
virtude da velocidade conduzida em trechos não permitidos.
Outrossim, o que envolve a imprudência é a falta de cuidado obtido
87
pelo condutor em via de periculosidade, em virtude das estradas,
localidade, tempo ou condução de veículo, o que nos demonstra a
maioria dos julgados.
Já o posicionamento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina
em caracterizar o dolo eventual se restringe em duas modalidades:
competição automobilística e embriaguez. O entendimento para este,
delimitando-se ao dolo eventual direciona-se a um conhecimento que
exige maior cuidado. Tem-se que ao caracterizar o dolo eventual o
agente deve estar consciente de sua conduta prevendo o resultado,
vindo a assumir. A discussão doutrinária em impetrar o dolo
eventual em acidentes de trânsito cometidos por competição
automobilística delimita-se ao entendimento de José de Bastos Jr
(apud NEPONOCENO, 2004, p. 137):
Se houvesse, previamente, anuído em tal evento, teria necessariamente, consentido de antemão na eventual
eliminação das próprias vidas, o que é inadmissível. Fica evidente que aquele participante de “racha”, mesmo prevendo
o resultado, confia na sua boa sorte e perícia ao dirigir.
O entendimento da citação se dirige a atitude do condutor, pois
ao consentir no resultado estaria o agente pondo em perigo a sua
própria vida. Já se conduzindo ao pensamento de quem julga e
penaliza estaria o agente praticando a ação sob a modalidade dolo
eventual, sentido que vem se posicionando o Tribunal Judiciário de
Santa Catarina.
88
A dificuldade em relacionar as jurisprudências se deu em
virtude de delimitar-se a 1º e 2º câmara criminal, vistos que estes são
impossibilitados em transpassar o conhecimento dos dados
levantados, portanto, o estudo se deu ao entendimento geral obtido
no Setor de Jurisprudência e Acórdãos. Outro obstáculo é a ausência
de estatísticas para este assunto, não abordadas pelo Tribunal
Judiciário de Santa Catarina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
A forma de apresentação do estudo, elaborada por citações de doutrinadores e dados
estatísticos, teve como objetivo abordar o tema de forma clara e sucinta para o entendimento dos
leitores, demonstrando o posicionamento do Poder Judiciário de Santa Catarina quanto aos
crimes cometidos no trânsito por excesso de velocidade.
O questionamento sobre acidentes provocados no trânsito, por excesso de velocidade, se
dirige em caracteriza-lo no dolo eventual ou na culpa por imprudência, sendo imprescindível
para a conclusão da análise um estudo da atitude do condutor no momento da ação. Age com
dolo eventual, o indivíduo que se concentra apenas na vontade em praticar a conduta,
independente de causar um resultado ou não. O estudo dessa modalidade não se concentra no
resultado da ação, mas apenas no desejo em ver a conduta realizada. Já na culpa por imprudência,
seu estudo direciona-se nas circunstâncias em que as mesmas são realizadas, ou seja, situações de
perigo. Nesta, o agente esta ciente da periculosidade de sua atitude, mas é influenciado pelo
excesso de confiança, ou seja, o resultado é nítido, previsto frente ao perigo que a situação
demonstra, mas não aceito pelo agente.
Frente ao entendimento obtido durante todo o decurso do trabalho, levantamos um
posicionamento do Tribunal Judiciário de Santa Catarina, que em sua ementa nos relata a
distinção obtida entre dolo eventual e culpa por imprudência, tendo como relator o Des. Nilton
Macedo Machado ( Recurso Criminal 97.004831-9):
EMENTA: HOMICÍDIO SIMPLES - DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE - DISPARO DE ARMA - AGENTE EMBRIAGADO QUE, EMBORA REITERADAMENTE ADVERTIDO POR COLEGAS, BRINCA COM ARMA DE FOGO APONTANDO-A CONTRA PESSOAS - INTELIGÊNCIA DO ART. 18, I, DO CÓDIGO PENAL - PRONÚNCIA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. Para a decisão de pronúncia basta mero juízo de admissibilidade da acusação, para que seja decidida pelo Júri; eventuais dúvidas, nesta fase, são resolvidas em favor da sociedade. A distinção entre dolo eventual e culpa consciente, embora entre eles exista traço comum na previsão de um resultado antijurídico, reside em que "no dolo eventual o agente presta anuência ao advento desse resultado, preferindo arriscar-se a produzi-lo, ao invés de renunciar à ação, na culpa consciente, ao contrário, o agente repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do resultado e empreende a ação na esperança ou persuasão de que este não ocorrerá" (RT 589/317).
90
A ementa citada nos traz o estudo abordado no primeiro e segundo capítulo,
definindo de forma geral e sucinta, o dolo eventual e a culpa pela imprudência. O objetivo da
ementa foi diferenciar as duas modalidades que se encontram em questionamento quando
abordado os acidentes cometidos no trânsito. Torna-se claro que a caracterização destes se dá no
entendimento do resultado. Ao agir dolosamente o agente não será interferido pela previsibilidade
de um resultado, pois sua vontade concentra-se apenas na realização da conduta. Já, a
imprudência trabalha com a confiança do indivíduo. Apesar do resultado ser previsível pelo
mesmo, ele não o assume, pois pratica a conduta pelo excesso de confiança, estabelecendo que
sua atitude irá se concretizar de forma correta, sem nenhuma conseqüência.
A grande dificuldade abordada no levantamento de dados dos acidentes de trânsito
provocados por excesso de velocidade, foi constatar que a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia
Rodoviária Estadual, não trabalham com índices específicos delimitado ao excesso de
velocidade, podendo este ser responsável por qualquer outra natureza proveniente do acidente de
trânsito. Este somente é analisado quando levado ao conhecimento do Poder Judiciário, sendo
imprescindível para o estudo a perícia que irá constatar a velocidade percorrida no momento do
acidente. Nesse sentido, os dados abordados são apenas estatísticos.
Outrossim, tem-se que a presença dos dados estatísticos abordados pelos órgãos públicos
em estudo, nos passa o entendimento que o excesso de velocidade pode ser responsável por
qualquer natureza de acidentes. Os índices de infrações e notificações por crimes cometidos no
trânsito, nos mostram a que ponto se dirige a irresponsabilidade humana.
O conhecimento de todo o estudo, delimitando o posicionamento do Tribunal Judiciário
de Santa Catarina frente ao elemento excesso de velocidade, julgado como dolo eventual ou culpa
por imprudência, induz a um entendimento do julgador perante cada fato específico. Já que aos
acidentes cometidos em trânsito se trata da vida, consentir no resultando estaria admitindo a sua
própria lesão pondo em risco a sua segurança. Neste sentido, seria mais propício admitir que as
atitudes irresponsáveis dos agentes são provenientes da confiança impostas em si mesmo,
acreditando na sua capacidade.
91
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