View
29
Download
7
Category
Preview:
Citation preview
TEORIAS DA PENA
1 INTRODUO
Durante toda a histria houve a necessidade de uma forma de punir as pessoas
pelos por suas infraes. Na fase primitiva das civilizaes essa tarefa de punio era
incumbida ao prprio ofendido, isso ocorria em decorrncia da ausncia de um Estado
centralizado e forte o suficiente para impor as suas sanes aos indivduos particulares.
Porm, com o gradual fortalecimento do Estado, ele passou a obter controle sobre o
direito de punir, passando ento a exercer a funo ordenadora por meio do Direito
Penal, que segundo Welzel: aquela parte do ordenamento jurdico que fixa as
caractersticas da ao criminosa, vinculando-lhes penas ou medidas de segurana1, ou
ainda Mezger, Direito Penal o conjunto de normas jurdicas que regulam o exerccio
do poder punitivo do Estado, associando ao delito, como pressuposto, a pena como
consequncia2.
Com a centralizao do poder punitivo nas mos do Estado, as discusses
passaram a focar no problema da pena, em si. Ela que se apresenta como principal
soluo para o problema da criminalidade necessita ser justificada, foram formuladas
ento teorias que procuram justificar as sanes, discutindo acerca da sua finalidade e a
funo que ela desempenha na sociedade, elas so as chamadas teorias da pena.
1 Welzel, Derecho Penal alemn, 3 ed. castellana da 12 ed. alemn, Santiago, Ed. Jurdica de Chile,
1987, p.11. 2 Mezger, Tratado de Derecho Penal, 2 ed., Madrid, Revista de Derecho Privado, 1946, v.1, p. 27-8.
2 TEORIAS DA PENA
Diversos filsofos do Direito ocuparam-se do problema da pena, desenvolvendo
teorias sobre a funcionalidade da pena, mas primeiramente para conceitua-la.
Entre os conceitos sobre a aplicao da sano penal tem se a necessidade de
proteo contra eventuais leses aos bens jurdicos importantes, nas palavras de
Beccaria, o direito de punir est "sobre a necessidade de defender o depsito do bem
comum das usurpaes particulares"3, ou seja, ela apresenta um carter preventivo. No
entanto quando a ameaa de uma possvel punio no suficiente, e um bem jurdico
lesado, dado a sociedade o poder de punir o indivduo pelo delito cometido, Mir Puig
diz que essa punio se dar como uma forma de mal que se impe por causa da
prtica de um delito: conceitualmente, a pena um castigo4.
Quanto s teorias sobre a pena tem se fundamentalmente trs principais
correntes, que a das teorias absolutas, a das teorias relativas e a das teorias
unificadoras. Todas elas foram desenvolvidas com o intuito de dar fundamentao a
interveno penal estatal.
2.1. Teoria absoluta
Em um Estado em que os seus membros mantm entre si um contrato para a
manuteno da ordem social, e que h um conjunto de leis em vigncia, espera se dos
membros dessa comunidade a obedincia a essas leis, dado ao homem, membro dessa
sociedade, o livre-arbtrio e o discernimento para distinguir o certo do errado, quando o
indivduo falha nessa distino e comete um ato que vai de encontro a alguma das leis
vigentes, dado ao Estado o dever de puni-lo pela infrao, ele ento na figura de
guardio da justia deve estabelecer uma sano ao infrator. baseada nessa ideia de
justia retributiva que se desenvolve a teoria absoluta da pena.
A teoria absoluta da pena, tambm conhecida como teoria retributiva, parte da
concepo de que pena tem como finalidade a punio do autor de uma infrao penal,
se algum infringiu a lei e agiu de maneira a perturbar a ordem jurdica vigente, deve
lhe ser imposta uma sano. Segundo essa teoria, a pena seria uma forma de retribuio
3 Cesare Beccaria,. Dos delitos e das penas. Traduo de Lucia Guidicini e Alessandro Berti Contessa.
So Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 42. 4 Santiago Mir Puig, Funcin fundamentadora de la prevencin general positiva, ADPC, 1986, p.61.
pelo mal cometido ela repousa na regra da justia como igualdade ou correspondncia
entre iguais, segundo a mxima de que justo que quem realizou uma m ao seja
atingido pelo mesmo mal que causou a outros5. Entre os pensadores defensores da
teoria absoluta, merecem destaque Kant e Hegel.
Kant procura justificar a sano, do ponto de vista da moral, como na hiptese
do contrato social, espera se que indivduo tenha um dever tico para com a lei, ele
como ser racional deve obedec-la, e desse mesmo modo deve proceder o Estado com
relao s sanes, elas devem ser aplicadas porque a lei foi transgredida, sem que haja
um objetivo maior.
A pena jurdica, poena forenses, no pode ser aplicada como um
simples meio de procurar outro bem, nem em benefcio do culpado ou
da sociedade; mas deve sempre ser contra o culpado pela simples
razo de haver delinquido6.
A justia posta, sob a tica de Kant, como um imperativo categrico, que se
manifesta atravs da lei, a qual deve ser obedecida de maneira incondicional.
Para Kant, a pena atende a uma necessidade absoluta de justia, que
deriva de um imperativo categrico, isto , de um imperativo incondicional, independentemente de consideraes finais ou
utilitrias. A pena basta a si mesma, como realizao da justia, pois
as penas so, em um mundo regido por princpios morais (por Deus), categoricamente necessrias
7.
Diferentemente de Kant, Hegel defende a teoria absoluta da pena, de um ponto
de vista mais jurdico, para ele o Direito a expresso da racionalidade, medida que
constitudo pela vontade geral. Quando um delito cometido, tem se a manifestao da
vontade do infrator, sobre a vontade geral, o que representa uma ofensa ao Direito e
consequentemente a vontade geral, alm de uma ameaa a liberdade dos demais
cidados, isso provoca um desequilbrio na ordem jurdica, que deve ser reestabelecida
mediante a aplicao de uma pena com a intensidade semelhante a do crime cometido,
para que haja a reafirmao da vontade geral. A pena seria uma forma de
recompensao ao delinquente pelo mal praticado, mas seria tambm uma forma de
expiao pelos seus erros, pois s assim ele poderia voltar a ser visto como um ser 5 Norberto Bobbio. A era dos direitos. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004. p. 155. 6 Immanuel Kant. Fundamentacin metafsica de las costumbres. Traduo de Garcia Morente. 7. ed.,
Madrid, 1983. p.85. 7 Paulo de Souza Queiroz. Funes do direito penal: legitimao versus deslegitimao do sistema penal.
Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 19-20.
racional, nas palavras de Hegel somente atravs da aplicao da pena trata-se o
delinquente como um ser racional e livre. S assim ele ser honrado dando-lhe no
apenas algo justo em si, mas lhe dando o seu Direito.
Alm de Kant e Hegel, outros juristas tambm defenderem a teoria retributiva,
com opinies muitos semelhantes, mas que valem a meno, como Francesco Carrara,
para ele assim como para Hegel, a aplicao de uma sano se apresenta como uma
forma de reestabelecimento da ordem externa da sociedade. Para Carrara o cometimento
de um delito agrava a sociedade ao violar suas leis e ofende a todos os cidados ao
diminuir neles o sentimento de segurana8, e a reparao desse dano deve se dar por
meio da pena.
2.2. Teoria preventiva
A teoria preventiva defende, como o prprio nome j diz, uma ideia de
preveno, de acordo com essa concepo a pena deve ser imposta para evitar a prtica
de futuros crimes. Ela justifica o castigo pela sua utilidade, procurando dar a pena uma
finalidade utilitarista, por isso essa teoria tambm pode ser chamada de teoria
utilitarista, a pena assume, ento, um carter intimidatrio, como defende Beccaria Os
castigos tm por fim nico impedir o culpado de ser nocivo futuramente sociedade e
desviar seus concidados da senda do crime9. A teoria preventiva se divide em duas
vertentes, as quais sero discutidas a seguir, so elas a da preveno geral e a da
preveno especial.
2.2.1. Teoria preventiva geral
A teoria da preveno geral procura agir de maneira intimidatria sobre os
membros da coletividade social, entre os seus defensores da preveno geral merecem
destaque Beccaria, j citado anteriormente, Bentham, Feuerbach e Shopenhauer.
Essa teoria busca criar um temor na sociedade, mediante a imposio e certeza
da aplicao de sanes queles que cometerem atos contra os bens jurdicos tutelados
pelo Estado.
8 Carrara, Programa de Derecho Criminal, trad. Ortega Torres, Bogot, Temis, 1971, v.1, p. 616-8.
9 Cesare Beccaria, Dos delitos e das penas.
Beccaria aborda na sua obra Dos delitos e das penas o Direito Penal, de
maneira abrangente tratando at dos elementos que integram o processo penal, tais
como os interrogatrios e juramentos. Beccaria trata da necessidade rapidez nos
julgamentos, de modo que o castigo no seja aplicado com muita distncia do perodo
de cometimento do crime, e que o processo se d de maneira clere. Ele atribui sano
um carter garantista de maneira que aqueles que infringiram a lei no sairo impunes,
nas suas palavras um crime j cometido, para o qual j no h remdio, s pode ser
punido pela sociedade poltica para impedir que os outros homens cometam outros
semelhantes pela esperana da impunidade10. Atravs desse trecho da obra de
Beccaria, perceptvel que para ele a sano penal deve agir de maneira a prevenir
futuros crimes.
Feuerbach desenvolveu a teoria da coao psicolgica, de acordo com essa
teoria a pena agiria sobre o potencial infrator de modo a reprimir o seu desejo
criminoso, em decorrncia da possibilidade da aplicao de uma sano estatal, o que
faz com que o mesmo seja coagido pelo Estado a seguir a norma penal.
El Estado tiene que sirvirse del medio atravs del cual al ciudadano l
resulte psicologicamente imposible daar; mediante el cual le
determine a no lesionar el Derecho, a no decidirse a ello (...) El nico
medio que le queda al Estado a disposicin es mediante el sentido
influir en el sentido y superar la inclinacin mediante la inclinacin
contraria, el mvil hacia el hecho con otro mvil de sentido contrrio.
El hombre ambiciona el placer (...); rehye el dolor, porque l ante
todo evita el malestar, que contradice su naturaleza. Renuncia, por
tanto, a algo de felicidad si es que con ello puede conseguir ms
felicidad; soporta una pequea infelicidad si es que con eso puede
evitar dolores mayores (...) Las infraciones se evitan si cada ciudadano
sabe con seguridad que a una infracin le sigue un mal mayor, que el
que sigue de la satisfaccin de las necesidades tras la acin.11
A concepo prevencionista da pena tem como base o Direito Natural, na
medida em que apela para o livre-arbtrio do indivduo, e sua racionalidade, ela procura
sua fundamentao na razo humana, ao exigir que o homem renuncie aos seus
impulsos primitivos em favor da sociedade, e mais precisamente do Direito.
Essa abordagem da teoria preventiva, que busca a dissuaso dos potenciais
delinquentes, na tentativa de evitar a prtica de crimes, por meio da intimidao
10
Cesare Beccaria, Dos delitos e das penas. Disponvel
em:. Acesso em: 17 ago. 2013. 11
Feuerbach apud LESCH, op. cit. p. 40.
constitui o carter negativo da preveno. Existem algumas crticas feitas a teoria da
preveno geral negativa da pena, dentre as objees feitas merecem destaque as
seguintes:
1. Conhecimento da norma jurdica por seu destinatrio: pela teoria da preveno geral
negativa, tem se a presuno de que os destinatrios da norma tem um certo domnio
dela, porm essa no a realidade da sociedade, o que pode ser verificado entre os
cidados um conhecimento superficial do Direito Penal, no tendo ento um
conhecimento preciso sobre os tipos penais ou as sanes.
2. Motivao do destinatrio das normas: o que se espera dos destinatrios das normas
diante da possibilidade de aplicao de uma sano em decorrncia de uma ao
delituosa, de que eles aps uma reflexo desistam de comet-la, entretanto essa
frmula parece no corresponder a realidade, de maneira em que eles no recuam diante
da possibilidade da imputao de uma pena, muitas vezes por no refletirem direito
sobre as consequncias, mas muitas vezes por no acreditarem que possam ser
descobertos.
3. Idoneidade dos meios preventivos: aceitando que a pena cumpre o seu carter
preventivo, e que muitos deixam de cometer delitos diante da possibilidade da
imposio de uma sano, deve-se ento refletir se esse carter intimidatrio da pena
no ultrapassa limites, pois o que pode ser constatado ainda nos dias de hoje que em
muitos casos h uma desproporcionalidade entre o crime cometido e a pena aplicada,
utilizando-se as sanes penais de maneira desmedida em favor da preveno geral.
No entanto, apesar das crticas, e das falhas presentes na teoria da preveno
geral negativa, ela serve como fundamento de alguns princpios garantistas, tal qual o
princpio da materialidade.
Para a existncia de um delito, destarte, segundo a concepo
constitucionalista que sustentamos, j no basta a mera
adequao da conduta aos enunciados verbais, seno uma
violao efetiva do bem protegido e desde que essa ofensa seja
objetivamente imputvel ao risco proibido criado. 12
Alm do princpio da materialidade, a teoria da preveno geral negativa serve
como base para a fundamentao do princpio da culpabilidade na medida em o
12
Luiz Flvio Gomes. Direito Penal: Parte geral. So Paulo: RT, 2006, p. 99.
indivduo responsabilizado pelos atos cometidos com plena conscincia, sem nenhuma
coao, e culpvel, sendo a culpabilidade inclusive uma forma de limitao da pena, e
por fim essa teoria serve como fundamento para o princpio base do Direito Penal, que
o princpio da legalidade, na medida em que s podem haver sanes aos atos que vo
de encontro aos fatos tpicos, previamente definidos pela lei penal, cabendo ento ao
Direito Penal como protetor dos bens jurdicos relevantes, a criao de leis abstratas que
compreendam as hipteses possveis de realizao da conduta tpica que venha a
ofender os bens jurdicos por ele tutelados.
Ademais a teoria da preveno geral negativa, h ainda uma a abordagem
positiva da teoria preventiva da pena. A preveno geral positiva declara que tarefa do
Estado, por meio do Direito Penal, a proteo dos valores ticos que fundamentam a
sociedade, esses valores estariam positivados nas normas jurdicas, e o Estado seria o
seu guardio, a comunidade deveria ento se comprometer a seguir esses preceitos
jurdicos, j que eles constituem a base moral da sua sociedade, h, ento, o
estabelecimento de um acordo entre a sociedade e o Estado, em que garantida a
comunidade a certeza de que s sero punidos aqueles que transgredirem a lei, pois
estes demonstraram infidelidade ao ordenamento jurdico vigente, e a eles deve ser
imposta uma reprovao tica, sendo a pena um instrumento para o reestabelecimento
da ordem social e jurdica. A preveno cumpriria trs objetivos, que seriam o exerccio
da funo sociopedaggica sobre os membros da sociedade, a reafirmao de confiana
no Direito Penal, e ainda a pacificao social tendo a pena como um instrumento para a
soluo dos conflitos gerados pelo descumprimento da lei penal. Segundo Welzel o
Direito Penal cumpre uma funo tico-social para a qual, mais importante que a
proteo de bens jurdicos, a garantia de vigncia real dos valores de ao da atitude
jurdica.
2.2.2. Teoria preventiva especial
A teoria da preveno especial, diferentemente da teoria da preveno geral, tem
uma abordagem mais especfica, pois procura trabalha a preveno de novos delitos do
ponto de vista do delinquente, com o objetivo de que ele no volte prtica de crimes.
O delinquente ao violar a norma jurdica, marcado como um perigo
sociedade e representa uma ameaa ordem social, j que ele infligiu a norma uma vez,
h uma grande probabilidade de que a faa de novo, necessrio ento, a aplicao de
medidas que evitem um segundo delito, imposta a ele uma sano com o objetivo de
corrigir e ressocializar o indivduo.
A teoria da preveno se divide ainda em duas vertentes, a primeira a da
preveno especial positiva, que tem como principal objetivo a ressocializao do
delinquente atravs da correo, ela procura a regenerao tratando o infrator de acordo
com a sua personalidade, para evitar que ele venha a cometer futuros crimes, essa teoria
se baseia nas ideologias Re: ressocializao, reeducao, reinsero, repersonalizao,
reindividualizao e reincorporao13
. Enquanto que a teoria especial positiva se
preocupa com ressocializao do indivduo, a teoria da preveno negativa procura a
neutralizao do delinquente, por meio da segregao dele, com a finalidade de evitar
futuras aes criminosas, para os formuladores dessa teoria alguns indivduos no
possuem a capacidade de regenerao, tendo arraigado no seu ntimo a natureza
criminosa, esses indivduos deveriam ser isolados perptua ou indeterminadamente,
sendo eles criminosos incorrigveis deveriam ser tomadas decises para o bem de toda a
sociedade, mesmo que isso significasse a marginalizao de um cidado.
2.3. Teoria mista
A teoria mista, tambm chamada de unificadora, junta os principais fundamentos
presentes nas duas grandes teorias da pena, retributiva e preventiva, com o intuito de
elaborar uma resposta mais completa para o problema da justificao da pena, pois se
trata de um fenmeno social de imensa complexidade, que afeta de maneira direta os
direitos fundamentais do homem. Essa teoria aborda a sano penal de uma maneira
mais abrangente, evitando trata-la de um modo estritamente formalista. As teorias
unificadoras partem da crtica s solues monistas.
A unidimensionalidade, em um ou outro sentido, mostra-se formalista
e incapaz de abranger a complexidade dos fenmenos sociais que
interessam ao Direito Penal, com consequncias graves para a
segurana e os direitos fundamentais do Homem14
.
Essa teoria procura estabelecer uma diferena entre o fundamento e a finalidade
da pena. Para a fundamentao da pena, a teoria unificadora defende que a sano deve
ser fundamentada no prprio delito, seguindo a justificao dada pela doutrina
13
Eugenio Ral Zaffaroni et al. Direito Penal Brasileiro I. 2 ed. RJ: Revan, 2003. 14
De Toledo y Ubieto. Sobre el concepto de Derecho Penal, cit., p.217
retributiva, em que o delinquente deve receber uma pena proporcional ao crime
cometido, de maneira que no seja dada a ele uma punio alm da merecida. Quanto ao
fim da pena, a preveno seria a finalidade da sano, que atuaria como instrumento de
defesa da sociedade.
2.3.1. Teoria unificadora dialtica
Roxin fez crticas a teoria retributiva, para ele era inconcebvel a punio de um
mal com outro mal, ele ainda procura refutar a ideia de algum ser punido por suas
aes, quando a todos indivduos foi dado o livre-arbtrio, a possibilidade de algum ser
castigado por suas escolhas parece algo surreal, sendo indemonstrvel a ideia da
liberdade de agir.
A teoria da expiao no nos pode servir, porque deixa obscuros os
pressupostos da punibilidade, porque no esto comprovados os seus
fundamentos e porque, como conhecimento de f irracional e ademais
impugnvel, no vinculante. (Roxin apud PICININ)
Ele ento desenvolveu a teoria unificadora dialtica, primeiramente ele se
preocupa com a justificao do direito de punir, como foi dito anteriormente, o Direito
Penal limitado pelo prprio Estado, em uma sociedade que tem como princpio base a
dignidade da pessoa humana, se faz necessrio a restrio do direito punitivo, por isso,
para evitar abusos na aplicao das sanes, o Direito Penal de ser tido como ultima
ratio, concluindo seria dado as suas sanes a funo de Preveno Geral.
Em seguida, Roxin atribui ainda a pena, a funo de Preveno Especfica,
defendendo que a pena deve ter a finalidade de regenerao do indivduo infrator, essa
teoria se apresentaria para Roxin como uma tendncia construtivo-social. A preveno
especial se daria por meio da correo do indivduo, da intimidao dos demais, e aos
que no podem ser nem corrigidos ou intimidados, a sano cumpriria o papel de
neutralizao atravs da pena privativa de liberdade.
A pena tem por finalidade a proteo subsidiria e preventiva, tanto
geral como individual, de bens jurdicos e de prestaes estatais, por
meio de um processo que salvaguarda a autonomia da personalidade e
que esteja limitado pela medida da culpa.15
15
Claus Roxin. Derecho Penal, cit., p.103.
Mas apesar das crticas feitas a teoria retribucionista, Roxin mantm a
culpabilidade como princpio limitador da pena, com a finalidade de proteger o cidado
contra possveis arbitrariedade cometidas pelo Estado.
3 CONCLUSO
Ao Estado atribudo o direito de punir, e esse poder tem pertencido a ele
durante muitas dcadas, nos primrdios no se tinha a preocupao de justifica-lo, era
simplesmente imposto e aceito por todos de comum acordo. Com o advento do
iluminismo, cresceu a necessidade de fundamentao desse poder punitivo, e com isso
as teorias da pena foram sendo formuladas.
O conhecimento das teorias da pena mostra-se de fundamental importncia ainda
nos dias de hoje, sendo a realizao desse trabalho bastante enriquecedor, de maneira
que me permitiu expandir o meu entendimento sobre um assunto de tamanha relevncia,
de forma que a finalidade das penas assim como seus limites, so pontos que ainda so
discutidos no mbito jurdico e social, at para fins da fundamentao do prprio
Direito Penal.
4 REFERNCIAS
BALDISSARELLA, Francine Lcia Buffon. Teoria da preveno especial.
Disponvel em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9013#_ftn9>.
Acesso em: 27 ago. 2013.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Traduo de Lucia Guidicini e
Alessandro Berti Contessa. So Paulo: Martins Fontes, 1997.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 19. ed. So
Paulo: Saraiva, 2013.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004.
CARRAZZONI JNIOR, Jos. Justificacionismo: a pena como instrumento legal e
justo do "ius puniendi". Disponvel em: . Acesso
em: 16 ago. 2013.
CINTRA, Antonio; GRINOVER, Ada; DINAMARCO, Cndido. Teoria geral do
processo. 29. ed. So Paulo: Malheiros, 2013.
DE MORAIS, Thiago Santos. Funo da pena: teoria retributiva. Disponvel em:
. Acesso em: 17 ago. 2013.
DE SOUZA, Alcenir Gomes. Teorias da pena. Disponvel em:
. Acesso em: 17 ago.
2013.
FAYET, Fbio Agne. Por que punir? Punir pra qu? Um estudo sobre a finalidade da
aplicao da pena e a misso do Direito Penal. Disponvel em:
. Acesso em: 17
ago. 2013.
FILHO, Fernando Guerra. O princpio da materialidade no Direito Penal brasileiro.
Disponvel em: . Acesso em: 27 ago.
2013.
FINALIDADES E FUNDAMENTOS DO DIREITO DE PUNIR: DO DISCURSO
JURDICO CRTICA CRIMINOLGICA. Disponvel em:
. Acesso em: 17 ago. 2013.
GALLO, Anderson Henrique. Anlise crtica das teorias da pena. Disponvel
em: . Acesso em: 16 ago. 2013.
GES, Hugo Eduardo Mansur. Uma reflexo sobre a teoria geral do processo penal
luz da doutrina nacional e estrangeira. Disponvel em:
.
Acesso em: 27 ago. 2013.
GONALVES, Marco Frattezi. A teoria dialtica unificadora da pena criminal.
Disponvel em: .
Acesso em: 27 ago. 2013.
JUNIOR, Lus Geraldo Ferreira. Teorias unitrias da pena: a dialtica unificadora de
Roxin e o garantismo de Ferrajoli. Disponvel em:
.
Acesso em: 27 ago. 2013.
KFER, Josi. Teoria absoluta ou retributiva da pena. Disponvel em:
. Acesso em: 17
ago. 2013.
MORAES, Henrique Viana Bandeira. Das funes da pena. Disponvel em:
. Acesso em: 27
ago. 2013.
NERY, Da Carla Pereira. Teorias da Pena e sua Finalidade no Direito Penal
Brasileiro. Disponivel em:
. Acesso em: 16 de ago. de 2013.
PANTONI, Roberta Alessandra. As finalidades da pena a partir de uma concepo
contempornea do Direito Penal: O funcionalismo moderado. Disponvel em:
.
Acesso em: 17 ago. 2013.
PICININ, Juliana de Almeida. O fundamento da pena em Roxin: sentido e limites da
pena estatal. Disponvel em:
. Acesso
em: 27 ago. 2013.
QUEIROZ, Paulo de Souza. Funes do direito penal: legitimao versus
deslegitimao do sistema penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.
QUEIROZ, Paulo de Souza. A propsito da justificao da pena em Kant.
Disponvel em: . Acesso em: 17 ago. 2013.
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte geral. Madrid: Ed. Civitas, 1997.
SANTANA, Edilson. Crime e castigo: como cortar as razes da criminalidade e reduzir
a violncia. So Paulo: DPL Editora/ Golden Books, 2008.
Recommended