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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento na área de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/
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MEMÓRIA INDUSTRIAL E TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA VIRADA DO SÉCULO XXI: OS CASOS DO BRÁS, MOOCA, BELENZINHO E PARI 1
Verônica Sales Pereira
Professora do Centro Universitário Belas Artes; Pesquisadora do IFCH – Unicamp; versales@uol.com.br
RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar a constituição das práticas e discursos da
memória numa área desindustrializada da Zona Leste de São Paulo que abrange parte
dos bairros do Brás, Mooca, Belenzinho e Pari. Primeiro território da modernidade
industrial da cidade, na passagem do século XIX para o século XX, esses bairros são
objeto, nas últimas duas décadas, de dinâmicas urbanas que têm como fim a retomada de
seu passado – seu urbanismo e arquitetura abandonados ou arruinados – por meio de
projetos de revitalização e preservação, implementados pelo Estado, pelo mercado, pela
sociedade civil e por órgãos multilaterais. Buscamos compreender os significados das
práticas e discursos desses diferentes sujeitos na reocupação e recriação dessas antigas
áreas, seja para habitação, seja para consumo ou lazer, e em que medida eles estão
associados ou não a novas formas de segregação sócio-espacial.
Palavras-chave: desindustrialização; memória e patrimônio industrial; gentrificação.
www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=4&cod_artigo=66
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Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: interfacehs@interfacehs.com.br
Memória Industrial e Transformações Urbanas na Virada do Século XXI: Os Casos do Brás, Mooca, Belenzinho e Pari
Verônica Sales Pereira INTERFACEHS
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Eternidade e efemeridade são imagens do legado da arquitetura e do urbanismo
industriais que, impulsionados pela economia cafeeira na virada do século XIX para o
século XX, formaram o que Paoli (1991) chamou de “primeiro território da modernidade
industrial” da cidade de São Paulo. ‘Ruínas modernas’ que um dia cristalizaram o
imaginário do progresso paulistano, a imobilidade (ou o lento ritmo de derruimento) desse
lugar de origem é, para um olhar mais atento, uma aparente e desconcertante negação da
dinâmica de construção que ao longo do século XX deu forma à cidade demolindo-a.
Aparência, no entanto, que se desmancha neste início do século XXI, quando esses
bairros da Zona Leste contíguos ao centro – Brás, Mooca, Belenzinho e Pari – atualizam
sua posição de ‘centralidade periférica’, tal como atribui Sevcenko (1997), tornando-se
novamente um território em que ‘canteiro de obras’ se confunde a um ‘campo de ruínas’,
só que agora não apenas descartadas, mas também ‘recuperadas’ na atual
reconfiguração da cidade, marcada pela desconcentração industrial, pela ampliação do
setor terciário, pelas vinculações mais estreitas com a economia mundial etc.
Neste artigo procuramos reconstruir e analisar, ainda que de forma introdutória e,
portanto, parcial, o significado dos processos de recuperação dessas ruínas e espaços
abandonados, isto é, das práticas e discursos da memória (HUYSSEN, 2000) dos agentes
– técnicos, curadores, artistas, sindicalistas, historiadores, empresários – que estão
transformando a feição dessas ‘áreas desindustrializadas’ na virada para o século XXI,
por meio das intervenções urbanísticas, pela revitalização urbana, demolição e
refuncionalização de antigas indústrias em hipermercados e condomínios residenciais
fechados, pela patrimonialização arquitetônica e urbanística, mediante o tombamento de
edifícios fabris e a musealização de vilas operárias, pelas artes plásticas e cênicas que
transformam esses lugares em cenários para as instalações de arte urbana e
representação teatral, pelos projetos de memória das organizações sindicais etc.
Abordaremos as relações (de conflito e aliança) entre o poder público, os órgãos
multilaterais, o mercado imobiliário e os grupos sociais na reocupação dessas antigas
áreas, bem como as formas de recriação desses espaços – se para habitação, consumo,
lazer e serviços –, buscando identificar as classes sociais e os grupos que se apropriam
deles e quais são expulsos (ou não), informando, assim, as novas formas de segregação
sócio-espacial. Esses processos têm sido descritos e analisados pela literatura
internacional sob o termo gentrificação (SMITH, 1996; HARVEY, 2000; ZUKIN, 2000) e
sempre estão associados a uma valorização do passado urbano e arquitetônico, o que
nos leva a indagar sobre o modo como os sujeitos envolvidos constituem os “lugares da
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memória” (NORA, 1993) por meio dos processos de patrimonialização, musealização e
projetos culturais, entre outros (CHOAY, 2001; JEUDY, 2005). A nosso ver, essas práticas
e discursos constituem múltiplas memórias que dizem respeito à forma como as classes
sociais e grupos distintos não apenas experimentaram esse passado, mas como
representam-no a fim de dar legitimidade ao que deve ser preservado e, sobretudo, como
deve ser preservado. Acreditamos que, ao contrário de serem homogêneas, essas
imagens sobre o passado são múltiplas e o conflito entre elas termina por revelar uma
disputa pela legitimação dos lugares que os grupos devem ocupar na cidade e pela
imposição de uma representação hegemônica acerca do que é a própria cidade. Isso nos
leva, por fim, a questionar em que medida essas práticas e discursos estão referidos à
competição entre as chamadas cidades globais (SASSEN, 1993), cujos centros e ou
áreas desindustrializadas, ‘revalorizados’ por sua combinação entre infra-estrutura e
patrimônio histórico, seriam atrativos de investimentos, negócios, turismo etc.
OS BAIRROS DO BRÁS, MOOCA, BELENZINHO E PARI
Esses antigos bairros industriais, a despeito das diferenças que os constituíram ao
longo do século XX, têm em comum uma importante experiência de ‘centralidade
periférica’ (SEVCENKO, 1997), pois a contigüidade à colina central, sítio de fundação da
cidade, associada a sua posição nas terras baixas das várzeas inundáveis do rio
Tamanduateí, bem como as ferrovias que nelas se instalam (TORRES, 1969; REALE,
1982), são um marco não apenas topográfico, mas também simbólico, a partir do qual se
constituiu uma nova forma de segregação sócio-espacial na então nascente metrópole
cafeeira e industrial, ao separar dos bairros burgueses os que viviam ‘além Tamaduateí’,
ou seja, a classe trabalhadora (ROLNIK, 1981; ANDRADE, 1991; PAOLI, 1991;
SEVCENKO, 1997).
Do final do século XIX até meados do século XX, forma-se um território segregado
étnico e operário (ROLNIK, 1981), a sua ‘integração segregada’ por meio de uma
urbanização que implementava uma infra-estrutura de ‘segunda classe’ (ANDRADE,
1991) de forma higienista (ROLNIK, 1981), que reproduzia a exploração e
disciplinarização da fábrica na habitação, como no caso das vilas operárias (BLAY, 1985;
TEIXEIRA, 1990). No entanto, ou melhor, por isso mesmo, ao organizarem-se
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politicamente, esses trabalhadores reivindicam o reconhecimento desse espaço como um
lugar físico e simbólico na cidade (PAOLI, 1991).
Sevcenko (1997) vê reproduzir-se ao longo da história desses bairros o que ele
chama, retomando uma imagem benjaminiana, de uma modernização em ritmo
‘catastrófico’, cujos contornos serão outros a partir da segunda metade do século XX: o
processo de ‘esvaziamento populacional’, a mudança do eixo industrial para a região do
ABC a partir dos anos 50, a realização de grandes (e destrutivas) obras viárias nas
décadas de 1960 e 1970, tais como a Radial Leste e o metrô e que, junto ao abandono de
suas estruturas industriais, configurariam um processo de ‘deterioração urbana’ (MARTIN,
1984).
Nas décadas de 1980 e 1990, a experiência da migração de outros grupos
estrangeiros, tais como coreanos e bolivianos, sobrepõe-se àquelas mais antigas como a
de grupos nacionais, como os nordestinos na década de 1950 e a de europeus, como os
italianos, espanhóis, portugueses, entre outros, que se iniciou no final do século XIX
(ROLNIK, 1981), concedendo sobretudo aos bairros do Brás e do Pari uma feição
multicultural. Parte de sua população está empregada e ou subempregada no trabalho
informal e precário como ambulantes, operários em oficinas de costura e ou morando em
cortiços, pequenas favelas ou na rua (PEREIRA, 2002).
No entanto, das contradições dessa modernização forma-se, já no início do século
XX, uma classe média na Mooca e no Brás (ROLNIK, 1981), posicionando este como um
importante ‘subcentro popular’ de comércio e serviços (VILLAÇA, 1998), que, a despeito
da sua ‘decadência’ ao longo do século XX, atualmente concentra indústrias de
confecção, consolidando-o como um relevante pólo comercial especializado varejista e
atacadista (LAURENTINO, 2002).
Dessa forma, há que se ressaltar a especificidade desses bairros em relação à
configuração da cidade, ao conjugarem ainda atividade industrial (quando ela é
periferizada), locação habitacional (onde o padrão é a casa própria autoconstruída) e a
proximidade domicílio–trabalho (num contexto de distanciamento entre estas duas
esferas), revelando a permanência das ‘últimas vantagens’, ainda que precárias, desses
bairros, diante do padrão de segregação baseado na divisão centro–periferia
(FERNANDES, 1986).
Assim, a heterogeneidade que diferencia esses bairros, tanto internamente como
entre si, leva-nos à relativização da noção de ‘desindustrialização’, bem como de
‘descentralização’ e ‘desconcentração industrial’. A despeito do debate não consensual
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em torno da atividade industrial na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
(MARQUES & TORRES, 2000), a literatura tem ressaltado as limitações da noção de
‘desindustrialização’ tanto para os bairros em questão (FERNANDES, 1986;
LAURENTINO, 2002), como para a Zona Leste em geral (ROLNIK & FRÚGOLI, 2001).
Desse modo, se utilizamos aqui a noção de desindustrialização, nos referimos ao
decréscimo ou abandono pontual das instalações produtivas em algumas áreas da cidade
– e mais especificamente, em algumas áreas desses bairros, sobretudo nas décadas de
1950 e 1960 – e não necessariamente na RMSP (Ramos, citado em LAURENTINO,
2002). O que ocorreria na RMSP, sobretudo na década de 1990, é um processo de
desconcentração industrial, ou seja, há uma saída de unidades produtivas da RMSP rumo
a outras áreas, ao passo que o centro de comando e gestão dessas unidades permanece
na região, mantendo-se como pólo de controle produtivo e administrativo. Há assim uma
centralização do capital – da sua gestão e nos serviços – e uma desconcentração
espacial da produção, possibilitada pela telecomunicação e pela informática (Azzoni,
citado em MARQUES & TORRES, 2000).
AS INTERVENÇÕES URBANAS E AS GESTÕES MUNICIPAIS
Desde o último decênio do século passado até hoje, esses bairros são palco,
direta e indiretamente, das intervenções urbanas de ‘reabilitação’, ‘revalorização’,
‘revitalização’ e ‘requalificação’ urbanas, o que revela uma crescente atribuição
estratégica de sua posição na reestruturação da cidade conferida pela municipalidade,
pelo mercado imobiliário, pela sociedade civil e, mais recentemente, por órgãos
multilaterais. Tais processos começam a expressar vinculações mais ou menos evidentes
com outros processos de caráter global.
Para viabilizar parte dessas intervenções, cada vez mais as políticas urbanas
convencionais têm dado lugar a um paulatino crescimento da flexibilização legal. As
Operações Urbanas (OU) são um instrumento crucial dessas intervenções. Criadas
durante a gestão de Luiza Erundina (PT, 1989-1992) (SIMÕES JR., 1994) foram
retomadas nas gestões posteriores, e incorporadas em definitivo no Plano Diretor
Estratégico (PDE) da cidade em 2004. Por meio delas, a prefeitura busca parcerias com o
setor privado, incentivando seus investimentos através da flexibilização da lei de
zoneamento, por meio da venda do direito de construir acima dos limites estabelecidos e,
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como contrapartida, aplica esse dinheiro em obras e serviços públicos na região em
questão. Esses ‘princípios’ gerais não eliminam a especificidade das diretrizes de cada
operação de acordo com a particularidade da região onde é implementada.
Na gestão de Luiza Erundina foi criada a OU Parque Dom Pedro II, localizada no
Brás e Pari, visando à reurbanização do parque. Como parte desse processo, houve a
transferência da sede da prefeitura do Parque Ibirapuera, na Zona Sul, para o Palácio das
Indústrias, no Parque D. Pedro II. Essa transferência sinalizava não só a revitalização
daquela área, mas criava um marco simbólico para aproximar o poder público da periferia
da cidade (BEIGUELMAN, 1997) e superar a segregação sócio-espacial, com políticas
habitacionais para a população de baixa renda desses bairros.
Embora a gestão de Paulo Maluf (PPB, 1993-1996) tenha se concentrado no vetor
sudoeste da cidade, nela foi criado o Procentro – Programa de Requalificação Urbana e
Funcional do Centro de São Paulo, baseado em intervenções de empresas privadas em
conjunto com a prefeitura em áreas centrais consideradas ‘degradadas’, sob a
Coordenação da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano. O Procentro
responde a muitas das demandas da Associação Viva o Centro – Sociedade Pró-
Revalorização do Centro de São Paulo –, uma ONG que representa o capital comercial,
imobiliário e financeiro, encabeçada pelo Bank Boston, e cujo peso político tem sido
determinante nos projetos de revitalização para as áreas centrais da cidade (FRÚGOLI,
2000, p.80). Na gestão do afiliado político de Maluf, o prefeito Celso Pitta (1997-2000), foi
proposta através do Procentro a criação da Operação Urbana Centro em 1997, a fim de
criar estímulos para construir no centro e preservar seu patrimônio histórico. Seu objetivo
“é criar condições que reforcem a importância da área central para a metrópole, tornando-
a atraente para investimentos imobiliários, turísticos e culturais e preparando-a para o
papel de cidade mundial” (citado em MENNA BARRETTO, 2001, p.16). Assim, em 1997,
a OU Centro intervém nesses bairros, especialmente no Brás: em 1997, através do
“Projeto Dignidade”, uma tentativa de expulsão dos camelôs das ruas do Centro Velho e
do bairro do Brás, e em 2000, através do malogrado projeto Maharishi São Paulo Tower
no Brás e Pari.2
Na gestão de Marta Suplicy (PT, 2001-2004), sob novos marcos jurídicos e
institucionais, em nível federal, com o Estatuto da Cidade (2001), e em nível municipal,
com o PDE (2002), e os Planos Regionais Estratégicos (PRE) (2004) (SALES, 2005), as
áreas em questão, que fazem parte da Subprefeitura Mooca (Brás, Mooca, Belém, Pari,
Água Rasa e Tatuapé), estão inseridas no Programa de Reabilitação da Área Central –
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Ação Centro – que envolve financiamento do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento). A Operação Urbana Consorciada Diagonal Sul, parte desse programa,
conta assim com um financiamento do BID de 100 milhões de dólares e visa à
‘revalorização’ da área ligada à malha ferroviária de São Paulo – as linhas Santos–
Jundiaí, Sorocabana e Central do Brasil – que atravessam esses bairros. Entre suas
diretrizes está “a integração física das regiões separadas pela via férrea” (PRE-SM,
2004), o que inclui seu ‘repovoamento’, por meio da habitação de classe média e popular
(no último caso, através da criação das Áreas de Habitação de Interesse Social – HIS), a
restauração e reconversão de uso de edifícios fabris, bem como a ‘reconstrução da
paisagem’ (SALES, 2005). Esses objetivos estabelecidos pelo PRE não se limitam à área
dessa operação urbana, que ainda deverá ser aprovada pela Câmara Municipal. O plano
prevê as ZEPEC (Zonas Especiais de Preservação Cultural), que podem ser
estabelecidas pelo “mapeamento do patrimônio histórico existente e de indicações da
população” (PRE-SM, 2004, p.10); a recuperação e o estímulo ao uso de edifícios fabris
tombados (p.3); o estímulo à implantação de ‘novas áreas residenciais’ em zonas mistas,
evitando concentração de ‘apenas um uso’ e da ‘mesma faixa de renda’ (p.4). Observa-
se, no entanto, especialmente na Mooca, um processo de verticalização intenso com a
construção de condomínios de classe média e média alta associada à destruição de uma
parte do conjunto fabril, sem a avaliação de sua importância (ou não) histórica.
OS SENTIDOS DA MEMÓRIA O Projeto Arte Cidade: o passado entre a estética e a política
Essas áreas foram problematizadas por meio de intervenções artísticas
desenvolvidas pelo projeto Arte/Cidade, uma ONG cultural brasileira dirigida pelo
professor Nélson Brissac Peixoto,3 em duas de suas edições, o Brasmitte, que não foi
implementado,4 e o Artecidadezonaleste, em 2002.
O Artecidadezonaleste incorporava além do Brás, a Mooca, Belenzinho, Pari e
Cambuci, à exceção da periferia da Zona Leste. O papel da Zona Leste na reestruturação
global da cidade era a questão posta pelo projeto, ou como o urbanismo, a arquitetura e a
arte respondiam ao conflito em torno da apropriação do espaço urbano
(ARTECIDADEZONALESTE, 2005).
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Com um custo de 1,5 milhão de reais, o projeto teve o patrocínio da Petrobras e do
Sesc-SP e envolveu 24 intervenções – montadas numa área de 10 mil metros quadrados
– workshops, seminários com curadores, artistas nacionais e estrangeiros, como Krzystov
Wodicko e Rem Koolhas, arquitetos, movimentos sociais de moradia, instituições públicas
municipais e ONGs.
Nos três meses entre o início da montagem das intervenções e a inauguração das
obras em espaços públicos, estas já eram objeto de polêmica entre os moradores da área
e ações do poder público, resistindo às instalações ao confundi-las com ocupações dos
sem-teto e camelôs.
Isso não impediu a abordagem da apropriação do espaço urbano por camelôs num
dos trabalhos. Maurício Dias e Walter Riedweg instalaram vídeos de curta duração nas
barracas dos camelôs, exibindo ‘spots’ publicitários nos quais os camelôs narram suas
vidas e anunciam seus produtos. Sobre o teto das barracas do Largo da Concórdia –
arena do conflito do ‘Projeto Dignidade’ – são colocados painéis com suas fotos. No
centro do Largo, uma pequena construção de dois andares, ponto de encontro e mirante.
Nesses trabalhos, a memória não era diretamente abordada, mas a experiência.
Segundo o curador Nelson Brissac, por meio da mediação da arte, a experiência da
população ‘excluída’ é ‘resgatada’, ‘evidenciada’, ‘reconhecida’, ‘legitimada’. Condições,
segundo ele, para a ‘cidadania’. Buscava-se criar um ‘curto-circuito’ com as
representações dominantes da cidade que vêem essas experiências pela negatividade.
Ou seja, diante da supressão de um espaço público calcado em atividades ligadas aos
laços de tradição, continuidade, pertencimento, procurava-se reconhecer uma outra
história calcada pela informalidade, pelo deslocamento, pela itinerância, como camelôs e
catadores de papel (ARTECIDADEZONALESTE, 2005) sem um viés assistencialista.
Segundo Peixoto, progressivamente, o projeto passou a incorporar questões
políticas à preocupação estética em virtude da recepção do público nas exposições e
seminários, e do próprio processo de negociação com os múltiplos agentes e interesses,
públicos e privados, na montagem do projeto, fazendo com que “a cidade emergisse
efetivamente como um campo de ação, e não só como cenário”. Ação que, segundo ele,
envolvia negociação com diversos agentes e interesses múltiplos, públicos, privados. A
chave do projeto, segundo seu curador, estaria em “se compreender como processo...
Quer dizer, o resultado final, enquanto obras, é menos importante, na verdade, do que o
conjunto de repertórios que os artistas, os arquitetos, a própria organização do
Arte/Cidade foi elaborando para viabilizá-las” (Nelson Brissac Peixoto, grifos meus).
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Assim, Peixoto define os poderes do Estado, incapaz, muitas vezes de
‘administrar’ o conflito; do capital imobiliário, ‘estrategicamente’ forte, e da população
segregada, ‘taticamente’ forte. Todavia, o poder econômico aliado ao poder estatal põe
em questão essa equação de forças. O Arte/Cidade 3, edição anterior ao
Artecidadezonaleste, sofreu fortes críticas, como a do Fórum Centro Vivo5 – que articula a
reflexão de intelectuais de esquerda ligados à universidade aos interesses da população
de rua, da economia informal, de grupos teatrais alternativos, dos movimentos de
moradia, com uma crítica e proposta alternativa daquela da Associação Viva o Centro, de
ocupação das áreas centrais, acusado de induzir um processo de gentrificação de uma
área desindustrializada da cidade, que abrange os bairros de Água Branca, Perdizes e
Barra Funda.6
O projeto da CUT: “Valorização do Brás, Memória Social e Combate à Informalidade: Uma Iniciativa Solidária”: a descontinuidade histórica
Localizada na antiga sede do grupo industrial Matarazzo, no Brás, a Central Única
dos Trabalhadores (CUT) lançou em maio de 2001 o projeto “Valorização do Brás,
Memória Social e Combate à Informalidade: Uma Iniciativa Solidária”.7 Seus participantes
eram remanescentes de um projeto de bairro anterior, o “Fórum de Revalorização do
Brás”, que contava com o apoio da gestão municipal de Marta Suplicy, ONGs, moradores,
empresários, síndicos, movimentos de moradia, sindicatos e jornais.
O projeto tinha como objetivo a “intervenção de natureza comunitária, cultural e de
combate à exclusão social”, e se centrava no resgate da memória social, no combate à
informalidade – por meio da campanha da carteira assinada e pela formação de
cooperativas de catadores de papel – e, por fim, na melhoria das condições de vida da
população do bairro.
Esse projeto nascia da crise da década de 1990, com as nefastas conseqüências
da economia neoliberal sobre o mercado de trabalho e sobre a representação sindical.
Daí a preocupação da CUT em legitimar-se “como ator político e social” junto aos
moradores, e na “organização e representação da massa de trabalhadores informais”
(Projeto Piloto, 2001) que marca a paisagem não só das suas ruas, mas das cerca de 6
mil confecções têxteis, boa parte com mão-de-obra imigrante clandestina e trabalho
escravo.
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Três acontecimentos importantes também norteavam o projeto, segundo seu
coordenador, o historiador Hélio Costa: a comemoração dos 500 anos do Descobrimento
do Brasil, o interesse informal dos sindicalistas pela história do movimento operário e a
celebração, em 2003, dos 20 anos de existência da CUT.
A legitimação da Central procura seu lastro no passado do bairro, berço ‘da classe
trabalhadora brasileira’ e, no presente, localização de sua sede.
Na história do movimento operário, a Greve Geral de 1917, que nasce nos bairros
da Mooca e do Brás, é um marco, pois funda a classe operária, segundo Paoli, “como
uma imagem espacial, que quer um lugar físico e simbólico para sua existência e para
sua perpetuação” na cidade (1991, p.40).
O projeto buscava, assim, superar um hiato temporal e espacial entre a
experiência da classe trabalhadora do início do século XIX e a CUT, esta nascida do
‘novo sindicalismo’, surgido na indústria automobilística da região do ABC nos anos 80 do
século XX.
Hélio Costa evoca o endereço da CUT, a rua Caetano Pinto, 575. Esse endereço
foi a antiga sede das Indústrias Matarazzo, portanto, símbolo do capital industrial
encarnado pelo Conde Matarazzo: o poder do trabalho, nascido do ‘novo sindicalismo’
surgido no final do anos 70, se impõe sobre as cinzas da industrialização do início do
século. Todavia, não é esta história, a da sede do prédio, que é desenvolvida por Costa,
mas a da sua rua: no número 91 morava o sapateiro José Martinez, morto pela repressão
policial contra os grevistas da fábrica de Matarazzo, a Mariângela, no Brás, durante a
greve de 1917. Seu enterro, que se transformou numa manifestação popular de repúdio à
violência contra os grevistas, foi ápice do movimento, paralisando toda a cidade (PAOLI,
1991).
O passado transforma-se num mito que se reforça quando se julga a vida
organizativa do bairro e de seus trabalhadores no presente, marcada pela negatividade,
ou seja, pela ausência.
Essa ausência era reforçada pela dificuldade de intervenção da central no
mercado de trabalho, intervenção esta que se mostrou inviável. Nas oficinas, a prisão dos
denunciados poderia fomentar uma indisposição com pequenos empresários e
trabalhadores. Quanto aos catadores de papel, as cooperativas romperiam as relações
monopolísticas e autoritárias dos intermediários, que chegavam a ameaçar a vida dos
catadores. As intervenções se restringiram, assim, às ações culturais e educacionais
pontuais,8 que ocuparam até mesmo o ‘camelódromo’,9 evitando-se a tensão ou o conflito.
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Essa contemporização da CUT se reproduzia na disputa mais abrangente pela
apropriação das áreas centrais da cidade – polarizadas política e ideologicamente entre a
Associação Viva o Centro e o Fórum Centro Vivo – em virtude da participação da central
em ambas as organizações, e da parceria com a prefeitura do PT em projetos, entre os
quais, o de valorização da memória.10
O Museu do Trabalho e a Vila Operária Maria Zélia
A Vila Operária Maria Zélia, construída entre 1911 e 1916 pelo industrial Jorge
Street, proprietário da Cia. Nacional de Tecidos da Juta, foi inaugurada em 1916, no
Belenzinho. Além das 180 habitações operárias, a vila foi considerada um experimento
pioneiro e arrojado na cidade, ao incorporar ao seu projeto uma série de equipamentos
sociais, como hospital, creches, escolas, armazéns, igreja e restaurante.
A vila, até hoje habitada, mantém suas casas reformadas, embora os prédios
públicos estejam abandonados, em estado de ruína, em decorrência de sua aquisição por
vários proprietários, públicos e privados, o que gerou a indefinição quanto ao seu estatuto
formal. Em 1992 o conjunto urbano e arquitetônico é tombado pelo Condephaat
(Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do
Estado de São Paulo).
Após 12 anos de sua transformação em patrimônio histórico, em novembro de
2004, no final da gestão de Marta Suplicy, a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e
Solidariedade apresentou um projeto nascido dos Fóruns de Desenvolvimento Local,
visando fomentar o desenvolvimento local com “ações museológicas de inclusão sócio-
cultural e ambiental”. A revitalização seria feita por meio de programas de trabalho e
educacionais, e envolvia a restauração e reforma de suas seis edificações, a instalação
de um Museu do Trabalho e de oficinas profissionalizantes. Além disso, propunha a
retomada pela prefeitura de um terreno público de 13 mil m2 ocupado há duas décadas
pelos moradores da vila, que lá construíram quadras esportivas e a sede de sua
associação, a Sociedade de Amigos da Vila Maria Zélia.
Todavia, a implantação do projeto não tem sido consensual, polarizada por três
posições: a reivindicação da posse do terreno público pela associação e o temor da
abertura da vila aos participantes das oficinas e aos visitantes do museu, em virtude de se
‘perder a tranqüilidade’ e a ‘segurança’; o apoio à musealização pelos moradores, pois
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esta significaria o reconhecimento da importância histórica da vila, assim como
oportunidades para os próprios residentes; e, por fim, a reiteração do caráter de bem
público da vila e a importância de sua revitalização para toda a cidade, pela prefeitura.
O Grupo XIX de Teatro e a peça Hygiene
O Grupo XIX de Teatro passa então a ser um mediador entre os moradores e a
prefeitura, que nele identifica um perfil de ‘educação patrimonial’ para a valorização do
espaço público. O grupo é integrante do “Movimento Arte Contra a Barbárie”, nascido em
meados da década de 1990 e que questionava o viés neoliberal das leis de incentivo
cultural, que tornavam a arte uma mercadoria. Desse movimento nasce a lei de fomento,
em que a produção artística financiada pelo poder público tem ‘contrapartidas sociais’.
Financiado por essa lei, o grupo encena a peça Hygiene, que transforma a vila num teatro
a céu aberto e retrata o último dia dos moradores num cortiço, tendo como contexto as
intervenções urbanas higienistas pelo Estado, entre o final do século XIX e início do
século XX.
Embora a Vila Maria Zélia fosse um produto dessa concepção higienista, o roteiro
não retratava nem a história de seus moradores, nem da vila, mas centrava-se no ‘fato
histórico’, segundo seu diretor, Luiz F. Marques. Para ele, a vila, com a parte privada
conservada, mas reformada, e o espaço público abandonado, era uma ‘metáfora da
cidade’.
A relação entre a casa e o espaço público vai ser objeto não apenas da peça, mas
da ‘interação’ entre o grupo teatral e os moradores, nascida do projeto “Residência”, que
envolveu a moradia do grupo na vila durante um ano, até o final de 2004, para
desenvolver o processo de criação da peça.
Segundo Marques, nessa interação o grupo teatral procurava estimular as
seguintes percepções em relação ao espaço público: a evocação das lembranças de
infância dos idosos com a abertura dos edifícios públicos abandonados; a participação
dos moradores no ensaio da peça; a promoção de fóruns e debates com especialistas na
área de habitação e movimento sem teto; a intermediação do grupo junto ao poder
público; apresentações de teatro e cinema ao ar livre, debates, oficinas e mutirões de
limpeza dos espaços, junto aos moradores da vila. Buscava-se enfatizar que as ruínas
eram lugares passíveis de inúmeros usos e também um bem público, isto é, “uma vez
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sendo público não era deles e era da cidade”. Tocava-se aqui no ponto nodal da
experiência do espaço público e da musealização.
Essa experiência não era definida, segundo Marques, como ‘revitalização’, mas
‘revivenciação’ dos espaços com os moradores pela arte, numa atitude que oscilava entre
a participação e a resistência.
A relação entre presente e passado era assim proposta pelo grupo teatral: havia a
percepção de uma continuidade histórica entre as intervenções higienistas na cidade no
final do século XIX e início do século XX e os dias de hoje.11 Porém, a peça não abordava
esse processo tal como ocorre hoje, nem nos seus espaços, e tampouco a memória dos
moradores da vila. Buscava-se antes criar um ‘distanciamento histórico’, tal como o
proposto por Brecht, necessário para a reflexão.
A ‘interatividade’ solicitava, assim, segundo Marques, o diálogo, e dele, o ‘atrito’, o
‘confronto’ com o público (moradores e espectadores), com o espaço (o palco, a vila, a
cidade), e com o tempo (passado e presente), necessários para a criação do
‘estranhamento’. Nesse sentido a peça procurava fugir da reconstituição. Mas o
estabelecimento de empatia e afetividade com o passado, que a peça poderia criar, eram
também um risco ao distanciamento.
A proposta do grupo teatral visava assim, ao contrário de outros grupos, em sua
‘contrapartida social’ não apenas emitir um discurso político, de crítica social. Segundo
seu diretor, “a politização no teatro vai se dar na medida em que o fazer teatral esteja
politizado”. Ou seja, a dimensão política da peça se fazia na “revivenciação” e na
interlocução do grupo com os movimentos sociais, especialistas, os diversos órgãos do
poder público. A politização do teatro, enfim, “é estar inserido na cidade”.
A refuncionalização do cotonifício Crespi: o Hipermercado Extra
O Cotonifício Crespi, construído em 1897 no bairro da Mooca por um dos maiores
industriais do início do século XX, o conde Rodolfo Crespi, ocupa um lugar fundante na
história da industrialização e do movimento operário da cidade e do país: ali nasceu a
paralisação que deu início à grande greve de 1917.
A fábrica, desativada em 1963, tinha seu prédio alugado para pequenas oficinas e
um estacionamento, que foram paulatinamente desalojados pelo seu proprietário e
herdeiro, o empresário Fernando Crespi, para dar lugar, no final dos anos 90, ao projeto
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de um ‘shopping boulevard’,12 no ‘modelo do Soho’, em Nova York, e um centro cultural.
O projeto não foi aprovado por não se adequar à Lei de Zoneamento.
Em fins de 2003, o cotonifício foi finalmente alugado para o Hipermercado Extra,
do Grupo Pão de Açúcar, um dos maiores grupos de comércio varejista do país,
associado à rede francesa Casino. Sua proposta de ‘revitalização pelo uso’ investiu cerca
20 milhões de reais numa área de 26.300 m2, dos quais 6 mil m2 são ocupados pela loja.
O hipermercado foi inaugurado em março de 2005, após a polêmica obra de reutilização
do edifício.13 Esse projeto, do arquiteto Haroldo Gallo, superintende regional do Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), previa a quase total demolição de
sua estrutura arquitetônica, deixando apenas dois grandes paredões.
A demolição – iniciada em 2004 – foi impedida num gesto autodenominado
‘solitário’ e ‘quixotesco’ pela jornalista Elizabeth Florido, moradora da Mooca e militante
preservacionista que congrega um pequeno grupo de arquitetos e técnicos em
restauração e participa da associação Amo Mooca. Entre suas principais preocupações
está a preservação do patrimônio histórico.
Para ela, a história do bairro está sendo ‘descaracterizada’ por causa da
especulação imobiliária, agravada pela ‘falta de consciência’ dos moradores sobre o
patrimônio histórico do bairro – a população identifica as transformações urbanas ao
‘progresso’. Esse diagnóstico se fortaleceu, segundo ela, pela falta de resistência dos
moradores quando da demolição do prédio, cujo tombamento foi só então solicitado pelo
seu grupo ao Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da prefeitura.14 A pedido do
DPH, o Ministério Público interditou a demolição e passou a mediar um processo de
negociação entre o DPH, o Grupo Pão de Açúcar, o empresário Fernando Crespi e o
grupo liderado por Florido.
O argumento para a restauração do prédio baseava-se na reutilização de uma
outra fábrica pelo mesmo grupo empresarial, na cidade de Sorocaba. Para Florido, isso
demonstrou para o Pão de Açúcar que havia, no bairro, uma mobilização antes só vista
nos bairros de classe média e média alta das Zonas Sul e Oeste da cidade.15 Essa
mobilização se fortalece, a nosso ver, pela participação da Amo Mooca na discussão do
Orçamento Participativo e do Plano Diretor Regional.16
A resistência oferecida ao Extra tem um duplo resultado: a restauração do prédio
passou a ser conduzida pelo DPH, e o antagonismo com os moradores transformou-se
em ‘parceria’ que levou à cessão do espaço da capela demolida, local de peregrinação
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dos moradores antigos, para a instalação de um centro cultural do bairro.17 A história e a
memória acomodam-se dentro das relações públicas e das estratégias de marketing.
Em sua peça publicitária, a loja é anunciada como uma “sintonia entre memória
histórica e avanços tecnológicos”: o prédio “centenário” restaurado e o “layout moderno”
da loja. Todavia, o prédio, ao ser ‘restaurado’, remeteria à história, mas ao mesmo tempo,
ao seu apagamento. Em sua estrutura interna nenhum sinal arquitetônico da fábrica (os
tijolos aparentes estão escondidos atrás de assépticas paredes brancas). A história da
fábrica e da ‘região’, no entanto, é evocada por uma exposição de painéis fotográficos no
interior da loja.18 Durante o processo de negociação o Extra, segundo Florido,
mencionava essa exposição em sua defesa, ao afirmar que “a história não vai ficar
esquecida, a gente vai destruir, mas a gente vai colocar” (Elizabeth Florido).
Segundo Florido, essa relação entre história e marketing tornou-se comum por
parte dos grandes empreendimentos:
Então eles utilizam o mesmo apelo emocional, que é você dizer “Eu
estou chegando no teu bairro ... eu estou interferindo num processo de
transformação do teu bairro, mas eu não vou abandonar você, deixar a tua
história de lado”. Então, no fundo, no fundo, querendo ou não, mesmo
partindo de uma estratégia, a gente não pode deixar de dizer o seguinte –
porque eu também sou da área de publicidade, eu trabalhei em grandes
agências de publicidade – eles acabam sendo agentes daquilo que a
população não consegue ser, da própria comunidade, da lembrança, da
memória ... Eles acabam sendo alguns agentes no sentido de os
moradores passarem a se preocupar com a sua própria história, porque o
morador fica até um pouco envergonhado, no sentido até de dizer ... mas
ele não conhece a própria história. (Elizabeth Florido, grifos meus)
Nessa fala emerge o papel do marketing e da relação dos moradores com os
valores do patrimônio (CHOAY, 2001): valor histórico, documental (atribuído pelo
especialista); valor afetivo (imerso na experiência e na memória dos moradores); e valor
econômico, de uso. A relação entre esses três aspectos, a nosso ver, está implícito na
crítica de Florido aos moradores.
Em primeiro lugar, os moradores aprovaram o projeto inicial que prometia a
‘restauração’ – atribuindo-lhe um valor histórico – sem deter o saber especializado que
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esse processo requer, ou seja, sem saber que a recuperação do prédio pressupõe
diversas concepções (Rufinnoni, citado em CANTARINO, 2006), que muitas vezes
desrespeitam seu valor histórico para adequá-lo à utilidade. Essa aprovação leiga
convergia com o valor utilitário que o prédio poderia proporcionar-lhes. Imersos no tempo
presente, vêem aqui os sinais do ‘progresso’. Por fim, havia os valores memorial e afetivo,
manifestados pelos antigos moradores, mesmo quando do anúncio do empreendimento,
da demolição e da instalação do centro cultural.19
A divergência desses valores entre os moradores, paradoxal, aos olhos de Florido,
legitima o marketing não apenas como aquele capaz de valorização histórica – ainda que
como meio de valorização econômica –, mas ao fazê-lo ele também se constitui num novo
agente cultural e político, que se apropria de um conhecimento (a história), que o morador
leigo não é capaz de articular, e da sua memória,20 e impõe uma nova forma de sua
representação e transmissão na produção do espaço urbano (ZUKIN, 2000). Todavia, se
a classe média do bairro – o morador considerado, segundo Florido, como típico do
bairro: ‘conservador’, ‘de família’, ‘enraizado’, ‘religioso’, ‘imigrante europeu’ e ‘de bom
gosto’ – passa a ter a memória valorizada, o mesmo não se pode dizer dos moradores de
rua e dos movimentos de moradia, que não apenas ‘desvalorizam o bairro’, mas são
objeto do forte processo de segregação social e espacial manifestado na resistência dos
moradores de classe média e média alta à habitação de interesse social no bairro.21
O condomínio La Dolce Vita Nuova Mooca e o projeto Tapume
Em virtude do estímulo gerado pelo novo Plano Diretor Estratégico da cidade e
pela mudança na Lei de Zoneamento, o mercado imobiliário encontrou nas antigas
fábricas e galpões da Mooca, não só aquelas localizadas na Operação Diagonal Sul,
terrenos ideais para a construção de condomínios residenciais verticais fechados para as
classes média e média alta. Terrenos extensos e mais baratos e a permissão de
construção em até quatro vezes o tamanho do lote vêm alavancando a verticalização do
bairro da Mooca, como revela a sua posição no ranking de lançamentos de condomínios
residenciais na cidade, que ascende do 29o lugar em 2003 para o 4o lugar em 2004 (dez
empreendimentos), apresentando o maior crescimento no número de lançamentos
residenciais.22
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A demolição do galpão da Alpargatas, em 2004, deu lugar à construção, ainda em
andamento, do condomínio residencial La Dolce Vita Nuova Mooca, o segundo maior
empreendimento do bairro,23 com 6 torres de 27 andares, ocupando um terreno de 31,6
mil m2 e direcionado para a classe média alta. Diante da grande concorrência do mercado
imobiliário de São Paulo – que leva à homogeneização dos padrões arquitetônicos, em
especial de suas fachadas, e o aumento da oferta de espaços de lazer e serviços,24 o
projeto trouxe uma novidade em termos de estratégia de marketing. A incorporadora Setin
lança o Projeto Tapume na Mooca. No lugar das paredes de tijolos demolidas, arte e
marketing entrelaçam-se, e a história dos bairros é retratada nos tapumes do canteiro de
obras por mapas ilustrados da dupla de chargistas Gepp & Maia, famosos, entre vários
trabalhos, por seus mapas da cidade de São Paulo.
Esse projeto reflete uma tendência de transformação relativamente recente do
marketing imobiliário no país, que movimenta uma cifra em torno de 1 bilhão de reais por
ano (ARAÚJO, 2006). Os meios convencionais de publicidade – como as páginas de
jornais e os panfletos, muitas vezes caros e não tão eficazes25 – são substituídos cada
vez mais pelas ações de relacionamento, que chegam a consumir 25% das verbas para a
área.
Nesse contexto, o marketing institucional da Setin incorpora a preocupação com a
vizinhança e a ‘comunidade’ do bairro, desenvolve a temática da arte e a entrelaça aos
temas do meio ambiente e da inclusão social e cultural.26
Em relação à temática cultural, a questão do patrimônio cultural revela um
empréstimo, ainda que involuntário, segundo o responsável pelo marketing institucional
da empresa, Daniel Setin, ao programa Monumenta,27 que lançou em 2005 o Projeto
Tapume de educação patrimonial, e que prevê a exposição de educação patrimonial nos
tapumes que cercam os monumentos históricos a serem recuperados.
Segundo Setin, o tapume transforma-se num precioso meio de “comunicação
estratégica para a empresa”, que “expressa os valores da marca”, permite a “interação
com a comunidade” e a “valorização cultural do bairro”.
O bairro é visto como uma ‘comunidade’, portador de uma ‘tradição’ ligada ‘às
antigas famílias’ que são as ‘celebridades’ e ‘formadores de opinião’, o objeto principal do
‘trabalho de relacionamento’ da empresa.
Esse passado é pesquisado pela empresa por meio da história oral com os
moradores mais antigos, pelo mapeamento do bairro, pela localização do
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empreendimento e do seu entorno, e pela definição dos ‘pontos marcantes’. Nessa fase
de ‘identificação’, que envolveu o trabalho com Gepp & Maia, Setin salienta,
Nós pegamos os principais valores culturais do bairro, a história do
passado até o seu presente, e os identificamos no tapume. Então a pessoa
que está passando por lá, o cliente que comprou aquele apartamento, vai
falar: “Nossa, mas onde é que eu estou aí dentro dessa história?” (Daniel
Setin, grifos meus)
Os novos moradores, as classes médias em ascensão e médias altas, passam a
inserir-se nessa história na qual a ‘valorização cultural’ baseada na ‘tradição’ pode
conferir-lhes status social. Porém, essa ‘valorização cultural’ do bairro agregada à
valorização econômica do condomínio nos questiona em que medida elas convergem
com a segregação sócio-espacial, intensificando uma tendência de saída de moradores
mais pobres dessas áreas constatada já na década de 1980 (MEYER, GROSTEIN &
BIEDERMAN, 2004). A despeito da resposta enfática de Setin sobre as possíveis
conseqüências da verticalização de parte dos bairros centrais da Zona Leste, sua
previsão requer ainda confirmação: “E a classe baixa ou a pobre cada vez mais vai
ficando afastada. E a tendência provável é essa... Provável não, é essa a tendência.
Quando você tem uma intervenção privada dessa forma, agressiva, de certa forma, a
valorização no entorno é nítida” (Daniel Setin).
Parte dessa população dos mais pobres e da classe baixa da Mooca encontra-se
em moradias de aluguel e cortiços, tipo de habitação presente desde as origens do bairro,
e ou na ‘parte baixa’ do bairro, após a linha férrea. Como esses moradores seriam então
retratados no mapa ilustrado do Tapume?
O trabalho da dupla de chargistas para a incorporadora Setin e, portanto, a relação
entre arte e o capital, justifica-se para Maia em virtude de oferecer maior ‘amplitude’ à arte
e por inserir-se no marketing institucional, considerado um avanço por não se restringir ao
‘marketing de produto’ – que de início ainda existia na mentalidade da empresa. Desta
forma, envolve ‘contrapartidas’ sociais e o ‘comprometimento’ com a ‘comunidade’ do
bairro.28 Ainda segundo Maia, a relação entre mercado, arte e sociedade “não é
conciliação porque não existe uma guerra”, mas uma negociação, na qual seu trabalho
busca induzir o mercado a esse compromisso com a comunidade, mais do que com o
Estado.
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Para o chargista, ao colocar a arte na rua e ultrapassar o espaço das galerias e
exposições, o mapa ultrapassa seu sentido estético e envolve a comunidade que passa a
produzir, a se localizar, a apropriar-se de sua história – antes restrita ao saber
especializado – e a interagir. Interação permitida pelo espaço do bairro, que não é de
passagem, mas propicia uma lentidão do caminhar e do dirigir.
Segundo Maia, o mapa é uma composição da cidade, de ‘referências’ que não são
só racionais, mas ‘inconscientes’ e ‘afetivas’ das pessoas. Ele pressupõe um ‘resgate’,
uma ‘provocação’ e um ‘respeito’ e possui três níveis ou leituras: as ‘referências clássicas’
da história; as ‘pequenas histórias’ que as pessoas conhecem ou das quais participaram
e, por fim, ‘aquelas que não se conhece’. É sobretudo este último nível que propõe um
‘enigma’ para que as pessoas dialoguem e pesquisem.
No mapa retrata-se a história das migrações estrangeiras, sobretudo a italiana, e
as formas de integração ao bairro: cultural, econômica, social e política. Seu eixo é a
origem da industrialização e do movimento operário paulista e brasileiro. Para Maia, há
um desinteresse pelo resgate dessa origem entre os participantes do ‘novo sindicalismo’
surgido no ABC, na CUT e no PT, e que o mapa procura superar.
Todavia, uma outra história é excluída do mapa, mas agora pelo próprio artista,
segundo ele, intencionalmente: a dos moradores do ‘outro lado’ da linha do trem, em
razão de sua pouca representatividade demográfica. Mas há ainda outra razão. Para o
chargista, essa população de migração nordestina ‘não compôs nenhuma cultura’ e está
‘de passagem’. Essa omissão pressupõe implicitamente um compromisso do artista com o
mercado – que obviamente não pode expor a segregação da qual as incorporadoras são
um dos atores – mas também uma noção de cultura, calcada na idéia de tradição, fixação
e enraizamento.
Com a demolição da antiga fábrica – justificada por Maia pela suposta ausência de
valor e representatividade histórica –, a história emerge em seu lugar em forma de
imagem e de mercadoria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao referir-se às modalidades de gentrificação nas cidades latino-americanas,
Frúgoli (2004) singulariza-as pela sua associação aos usos do espaço público – consumo,
lazer, entretenimento – e não tanto às estratégias de reocupação das áreas centrais pela
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classe média; pelo papel mais determinante do Estado; e pela incapacidade de eliminar
completamente as utilizações e as recriações ou ‘contra-usos’ pelas classes populares
nos espaços gentrificados. No contexto específico desses bairros, e em virtude do
andamento desses processos e do desenvolvimento da nossa própria pesquisa,
consideramos precipitado dizer que as ações revitalizadoras implicam gentrificação.
O mesmo poder-se-ia dizer em relação a muitos projetos – memoriais,
patrimoniais, artísticos. Eles não emitem de maneira uniforme aquilo que Choay (2000) e
Jeudy (2005) denominam “imagem especular e narcísica do culto patrimonial”, pois
embora assumam cada vez mais uma função tranqüilizadora graças à supressão da
heterogeneidade e dos conflitos sociais, não se fazem sem ambigüidades e tensões.
Durante a gestão Celso Pitta, a revitalização do Brás e do Pari por meio da torre
Maharishi SP Tower, associada à política higienista do “Projeto Dignidade” – de expulsão
dos ambulantes e de escanteio dos projetos autogestionários de moradia popular –,
vislumbrava um potencial de gentrificação. Mas essa tentativa foi frustrada pela
resistência dos atores, seja pelo debate dos especialistas, seja pelas denúncias de
corrupção da prefeitura, feitas pelos ambulantes. Todavia, nessa gestão essas áreas
começam a ganhar importância no posicionamento de São Paulo como cidade global, o
que se reforça no governo de Marta Suplicy, com as iniciativas de ‘desenvolvimento local’,
como revela o polêmico PRE.
A prefeitura estabelece o apoio ao Artecidadezonaleste, a parceria com o projeto
de memória da CUT e o projeto de musealização da vila operária Maria Zélia. Ao mesmo
tempo, estimula, com o PDE, os investimentos do capital internacional comercial (Extra) e
do capital nacional, aquecendo o mercado imobiliário residencial (Dolce Vita).
Quanto aos agentes culturais dos projetos de memória, eles se aproximam muito
daquilo que Zukin (2000) denomina de ‘infra-estruturas críticas’: artistas (Maia),
professores universitários e curadores (Peixoto), jornalistas (Florido), cujas experiências
da cidade estão ligadas aos passeios a pé, às flanagens urbanas, às pesquisas
(autodidatas ou não). Por meio deles, o valor cultural da cidade precisa ser “explorado,
explicado e afirmado”, estabelecendo a “perspectiva adequada para ver a paisagem
histórica urbana” (ZUKIN, 2000).
Essas representações revelam como tais mediadores vêem a cultura, bem como
suas relações com a sociedade, o mercado e o Estado.
Há a total recusa do fomento privado e a busca da publicização da cultura pela
mediação do Estado (Grupo XIX de Teatro, Projeto CUT); o patrocínio do Estado e ou o
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mercado, desde que este último esteja desvínculado das dinâmicas de valorização urbana
(Artecidadezonaleste); e o vínculo exclusivo com o mercado, seja por meio do patrocínio
de incorporadoras imobiliárias (Arte/Cidade 3), seja por meio do seu marketing
institucional (Projeto Tapume).
Essas relações expressam os modos como a cultura e a política se relacionam. A
despeito do viés identitário dos projetos culturais, aqueles que não se alinham ao
mercado buscam criar o ‘choque’ em relação às memórias coletivas dos grupos
hegemônicos (Arte/Cidade) e o ‘distanciamento histórico’ em relação ao público (Grupo
XIX), bem como legitimar a presença das classes populares nas áreas centrais e a
valorização do espaço e da esfera pública. A politização não se faz apenas pelo viés
crítico da obra ou espetáculo, mas se associa muito mais à interlocução e negociação,
vistas como um processo aberto com o Estado e a sociedade na implantação dos projetos
no espaço público. Todavia, na medida em que a politização da arte assume um caráter
experimental, ela não se faz isenta de ambigüidades, que podem levar a associação com
grupos dominantes, mas também ao assistencialismo em relação aos grupos dominados
(Arte/Cidade) ou à criação de empatia do público, por meio da reconstituição histórica e
nostalgia com um passado opressor (Grupo XIX).
Em relação aos projetos alinhados ao mercado, o marketing institucional preconiza
as ‘contrapartidas sociais’, as ‘parcerias’ com a ‘comunidade’ (La Dolce Vita e Extra) e, no
limite, passa a enquadrar-se no perfil de ‘estrutura crítica’, como ‘agente’ de uma memória
(Florido). Essas relações têm como pressuposto certo potencial de mobilização da
sociedade, mas de uma forma que o marketing de ‘relacionamento’ procura cooptar. Daí
uma aparente ambigüidade quando se atribui importância à intervenção do Estado (DPH
e Ministério Público) perante a destruição dos velhos edifícios industriais pelo mercado
imobiliário e varejista, ao mesmo tempo em que se constituem as parcerias com eles
(Florido).
O processo de valorização cultural como valorização econômica pelo capital revela
uma lógica de espetacularização, que se apropria do lugar e de sua história, ao mesmo
tempo em que se abstrai de ambos, transformando-os num cenário (ZUKIN, 2000): a
demolição ‘reconstrutiva’, mais rentável do que a ‘restauração’ (Extra) e a demolição total
da fábrica e o aproveitamento de seu terreno (La Dolce Vita) envolvem a produção de
uma nova imagem, que remodela a arquitetura existente, e cujo conteúdo destruído é
‘resgatado’ na imagem da exposição fotográfica (Extra) e dos mapas ilustrados (Projeto
Tapume). Os centros culturais não nascem desses espaços, mas são contrapartidas
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políticas pela sua demolição parcial ou total (Extra e La Dolce Vita). Desses quatro
bairros, a Mooca caracteriza-se por ter a renda média maior (IBGE, 1991 e 2000) e,
portanto, uma forte classe média e média alta, que pode vir a ser a potencial moradora
desses novos enclaves urbanos (CALDEIRA, 1997) associados à utilização da cultura e
da ‘tradição’ como valorização imobiliária. A relação entre a verticalização e a saída da
população mais pobre, desde a década de 1980, merece ser mais bem investigada, mas
a resistência à habitação de interesse social revela um forte movimento de segregação
sócio-espacial.
NOTAS 1 Este artigo é uma síntese do paper “Discourses of memory and revitalization of deindustrialized areas in São Paulo”, apresentado em ISA World Congress of Sociology, XVI, 2006, Durban. Apresenta resultados parciais de uma pesquisa em andamento de pós-doutorado em história, denominada “Práticas e discursos da memória em áreas desindustrializadas da cidade de São Paulo – os casos dos bairros do Brás, Mooca, Belenzinho e Pari, sob supervisão da profa. Dra. Maria Stella Bresciani, junto ao IFCH da Unicamp. 2 Sobre o significado da recuperação da memória pelos movimentos de moradia e de ambulantes, cristalizados em projetos ou associados aos conflitos naquelas áreas, ver Pereira, 2002. 3 O projeto Arte/Cidade idealizado pelo Grupo de Intervenção Urbana, desenvolve as questões de cultura e urbanismo e vem desde 1994 realizando uma série de intervenções artísticas no espaço urbano, em especial na cidade de São Paulo. Para maior detalhes desses projetos consultar o site www.artecidade.org.br. 4 A despeito da não concretização o projeto suscitou inúmeros workshops entre especialistas e visitações dos artistas às áreas, e suscitou um interessante debate sobre a comparabilidade entre o Brás e o Mitte (Berlim). 5 Ver entrevista concedida por Júlia, do Fórum Centro Vivo, à autora. Ver Pereira, 2002. 6 O projeto, realizado num terreno de 100 mil m2 da incorporadora imobiliária Ricci Engenharia, e onde se encontravam as ruínas do Moinho Central das Indústrias Matarazzo, terminou por valorizá-lo. Na esteira da Operação Urbana Água Branca, construiu-se o empreendimento Memorial Office Building, prédio de 24 andares, num custo de 28 milhões de dólares, onde está instalada a Telefônica. 7 Esse projeto havia sido um desdobramento do Mapa do Trabalho Informal no Município de São Paulo, realizado pela CUT com o apoio do Centro de Solidariedade da American Federation of Labor – Confederation of Industrial Organizations (AFL-CIO) dos Estados Unidos. 8 Entre as quais, o trabalho com escolas, o curso pré-vestibular para jovens, um curso para formação de cooperativas desenvolvido pela Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), e uma feira cultural, de artesãos e artistas, apoiada pela Prefeitura. 9 O destino desse espaço foi, posteriormente, objeto de várias discussões no Orçamento Participativo, dispositivo de gestão orçamentária das prefeituras do PT. 10 A CUT participa do Fórum Centro Vivo por meio da ADS-SP – Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT para o Estado de São Paulo – e do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Informal e da Associação Viva o Centro, por meio do Sindicato dos Bancários. 11 O bairro da Luz era o exemplo citado. 12 Segundo a jornalista Elizabeth Florido, em entrevista concedida à autora. 13 Entre abril e maio de 2006 tentamos contactar, sem sucesso, tanto os responsáveis pelo marketing do Grupo Pão de Açúcar, quanto o empresário Fernando Crespi. Baseamo-nos nas
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informações do site oficial do grupo Pão de Açúcar e nas entrevistas da jornalista Elizabeth Florido e de Mirtes Baffin, Diretora de Preservação do Departamento Histórico e Arquitetônico (DPH) do município. 14 Tempos depois, o grupo enviou um manifesto ao DPH, advertindo sobre a ameaça ao patrimônio relacionada à forte especulação imobiliária no bairro. 15 Nelas, os moradores em geral também são especialistas – arquitetos, engenheiros, advogados –, cuja organização tem alto poder de pressão. Ela cita a Associação Paulista Viva e a Defenda São Paulo. 16 Essa participação levou o grupo a fazer um mapeamento do patrimônio arquitetônico do bairro e das regiões potenciais para revitalização com áreas verdes. Esse mapeamento feito pela população, é utilizado pelo DPH. 17 Essa parceria se reproduz também com o projeto Tapume, discutido a seguir. Os alunos, colegas de sua filha, ciceronearam os convidados na abertura do projeto. 18 A velocidade do atendimento no ‘caixa rápido’ é um obstáculo à fixação do olhar do consumidor, embora os painéis estejam localizados à sua frente. Quanto ao conteúdo dos painéis, a narrativa sobre a greve de 1917 oculta seus reais motivos e não há uma linha sequer sobre a paralisação geral da cidade em virtude do enterro do sapateiro Martinez, assassinado no conflito. 19 Segundo um morador, cujo pai foi operário da fábrica: “Embora eu não tenha sido consultado para a transação da ‘fábrica do meu pai’, desejo sucesso ... Estou muito feliz pelo acontecimento”. Em O Bairro da Mooca, ano I, n.2, mar. 2005. Rufinoni cita o caso uma imigrante romena de 82 anos, que trabalhou no cotonifício e chorou ao ver a demolição. Num gesto emotivo, resgatou um tijolo para guardar de lembrança. Segundo Florido, muitos moradores, antigos trabalhadores e ou familiares, visitavam aquele espaço, onde havia a capela da fábrica. 20 A parceria concretiza a apropriação que não é apenas da história, mas também da memória de seus moradores, por meio dos projetos de história oral sobre o cotonifício e o bairro. Como o projeto “Fala Bello!”, iniciativa de Florido e coordenação da Estação História Cultura e Patrimônio, na celebração dos 450 anos do bairro. Essa preocupação com o passado levou um grupo de moradores a modificar a data de origem do bairro, que antes estava atrelada à história da industrialização, estendendo-a até o período colonial, quando o bairro era apenas um caminho. 21 A construção de um conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no lugar de um antigo cinema abandonado e ocupado pelo movimento de moradia, ao lado de um condomínio fechado chamado All Included, levou as associações e entidades do bairro – Conseg, Amo Mooca, Rotary e maçonaria – a pressionar para que os novos moradores de baixa renda não se mudem para lá. Entrevista de Elizabeth Florido. Além disso, a Subprefeitura da Mooca encaminhará a demanda dos moradores para retirada das Zeis na revisão do PRE. 22 Fonte: Amaral d’Avila Engenharia de Avaliações, em Folha de S. Paulo, 23 jan. 2005. Em 2005 o índice continuou alto, com sete lançamentos, segundo levantamento da Embraesp. Fonte: Gazeta Mercantil, dez. 2004. 23 Lançado em 2006, o maior condomínio do bairro tem o sugestivo nome de Central Park Mooca, e envolve uma área de 47 mil m2, com nove torres de 24 andares e a promessa de um dos “maiores parques privativos da cidade”. 24 Esse mercado é dividido no estado entre 1.200 construtoras. Vejinha Edição Especial (Guia imobiliário), 1º nov. 2005. Essa concorrência obriga à redução de custos, margens de lucro e pesquisas de mercado, o que termina por padronizar o projeto arquitetônico, tornando as fachadas iguais. Isso é reforçado, segundo alguns especialistas, pela ausência de capital cultural dos compradores, que os impede de conhecer um ‘estilo’, deixando-se seduzir pelo marketing imobiliário. Vale notar que as incorporadoras gastam em torno de 3 a 6% do VGV (valor geral de vendas) do empreendimento em marketing, enquanto o arquiteto recebe, em média, de 0,5 a 1,5% do VGV. In: Lógica do mercado padroniza arquitetura. Folha de S. Paulo, 15 jan. 2006. 25 Entrevista concedida por Daniel Setin, responsável pelo marketing institucional da Setin. 26 Essas temáticas estão delineadas nas várias fases do projeto Tapume, que envolve o trabalho dos chargistas (a ‘fase identificação’), a intervenção de grafiteiros da ONG Cidade Escola Aprendiz, coordenada pelo jornalista Gilberto Dimenstein, (‘fase comunidade’) e a educação artística dos operários da obra, por meio do Projeto Mestres da Obra (‘fase física’). Cada uma dessas etapas requer análise específica. Para os nossos objetivos, analisamos apenas a ‘fase identificação’.
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27 O programa Monumenta, coordenado pelo Ministério da Cultura e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em parceria com a Unesco e recursos do BID, alia a recuperação dos principais conjuntos patrimoniais urbanos ao desenvolvimento sustentando. Disponível em: www.unesco.org.br. 28 Entre eles a ajuda financeira a uma instituição do bairro para deficientes visuais, a celebração dos 450 anos do bairro e o patrocínio para a publicação de um livro sobre a sua história.
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REVISTA VEJA SÃO PAULO
Artigo recebido em 02.05.2007. Aprovado em 05.06.2007.
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INDUSTRIAL MEMORY AND URBAN TRANSFORMATION AT THE TURN OF THE
XXIST CENTURY: THE CASES OF BRÁS, MOOCA, BELENZINHO AND PARI.1 Verônica Sales Pereira
Professor of the Centro Universitário Belas Artes; Researcher at IFCH – Unicamp; versales@uol.com.br
ABSTRACT The objective of this work is to analyze the constitution of the practices and discourses
of memory in a de-industrialized area in the Eastern Zone of São Paulo that covers part
of the neighborhoods of Brás, Mooca, Belenzinho and Pari. From being the city’s first
industrially modern area at the end of the XIXth century and the beginning of the XXth
century, over the last twenty years these districts have become the subject of an urban
dynamic the purpose of which is to recover their past – their abandoned or derelict
urbanism and architecture – by means of projects, implemented by the State, the
market, civil society and by multilateral organisms, for revitalizing and preserving these
neighborhoods. We try and understand the meaning behind the practices and
discourses of these different subjects relating to the re-occupation and re-creation of
these former areas, either for habitation, consumption or leisure, and to what extent they
are associated, or not, to new forms of social-spatial segregation.
Keywords: de-industrialization; memory and industrial heritage; gentrification.
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INTRODUCTION
Eternity and ephemerality are images from the heritage of the industrial architecture
and urbanism that, driven by the coffee economy of the turn of the XIXth century and
beginning of the XXth, formed what Paoli (1991) called “the first territory of industrial
modernity” in the city of São Paulo. “Modern ruins” that once crystallized the imagined
progress of São Paulo, the immobility (or the slow rhythm of buildings crumbling into ruins) of
this place of origin is, on closer examination, an apparent and disconcerting negation of the
dynamic of construction that throughout the XXth century shaped the city by demolishing it.
This is an appearance, however, that is falling apart at this start of the XXIst century, when
these Eastern Zone districts that adjoin the center, Brás, Mooca, Belenzinho and Pari, are
updating their “suburban centrality” position, as attributed to them by Sevcenko (1997) and
becoming once more a territory in which a “building site” becomes confused with a “field of
ruins”, except that now they are not merely discarded, but also “recuperated” within the city’s
current reconfiguration that is marked by industrial decentralization, by expansion of the third
sector, by the closest of ties with the global economy, etc.
In this article we try to reconstruct and analyze, albeit in an introductory and,
therefore, partial way, the meaning behind the processes for recovering these ruins and
abandoned spaces, in other words, the meaning behind the practices and discourses of
memory (HUYSSEN, 2000) of the agents – technicians, businessmen, curators, artists, union
leaders, historians, - who are transforming the features of these “de-industrialized areas” at
the turn of the XXIst century. They are doing so through urban intervention, via urban
revitalization and the demolition and ‘redefinition’ of the functions of former industries that are
being turned into hypermarkets and closed residential condominiums, through the creation of
architectonic and urban heritage by means of the preservation of factory buildings and the
‘museumization’ of worker villages, through the plastic and scenic arts that are transforming
these places into scenarios for the installation of urban art and theater presentations, through
the memory projects of union organizations, etc.
We shall deal with the relationships (of conflict and alliance) between the local
authorities, multilateral bodies, the real estate market and social groups in the re-occupation
of these old areas, the forms the re-creation of these spaces take, whether for housing,
consumption, leisure or services. We shall identify the social classes and groups that
appropriate these spaces and those which are evicted (or not), thus providing information
about the new forms of social-spatial segregation. These processes have been described and
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analyzed in international literature, using the term gentrification (SMITH, 1996; HARVEY,
2000; ZUKIN, 2000) and are always associated with valuing the urban and architectonic past,
which leads us to question the way in which those involved constitute the “places of memory”
(NORA, 1993) by means of processes for creating heritage, 'museumization' and cultural
projects (CHOAY, 2001; JEUDY, 2005). As we see it, these practices and discourses
constitute multiple memories that have to do with the way in which the social classes and
different groups not only experience this past, but how they represent it in order to legitimize
what must be preserved, and above all, how it must be preserved. We believe that, far from
being homogenous, these images of the past are multiple and the conflict between them ends
up by revealing a dispute for the legitimization of the places that the groups should occupy in
the city and by the imposition of a hegemonic representation about what the city itself is. This
leads us, finally, to question to what extent these practices and discourses are referred to
competition between the so-called global cities (SASSEN, 1993), whose de-industrialized
centers and/or areas, “revalued” by their combination of infrastructure and historic wealth, are
attractive for investments, business, tourism, etc...
The districts of Brás, Mooca, Belenzinho and Pari
These former industrial districts, despite the differences that existed between them
throughout the XXth century, have in common an important experience of “suburban
centrality” (SEVCENKO, 1997), because of their close proximity and the central hill on which
they stand, the site of the foundation of the city resulting from its position on the low-lying
flood plains of the River Tamanduateí, as well as because of the railroads that passed
through there (TORRES, 1969; REALE, 1982). They are not only a topographical milestone,
but also a symbolic one, from which was derived a new form of social-spatial segregation in
the hitherto nascent coffee and industrial metropolis, when it separated from the bourgeois
neighborhoods those who lived “beyond Tamaduateí”, in other words, the working class
(ROLNIK, 1981; ANDRADE, 1991; PAOLI, 1991; SEVCENKO, 1997).
From the end of the XIXth century until the mid-XXth century an ethnically separated
working-class territory was formed (ROLNIK, 1981), its “integration segregated” by means of
an urbanization process that implemented a “second class” infrastructure (ANDRADE, 1991)
in a hygienist way (ROLNIK, 1981). This reproduced the exploitation and disciplinary nature
of the factory in housing, as is the case with worker villages (BLAY, 1985; TEIXEIRA, 1990)
and which, despite this, or rather, because of it, when they organize themselves politically,
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these workers claim recognition of this space as a physical and symbolic place in the city
(PAOLI, 1991).
Sevcenko (1997) sees reproduced throughout the history of these neighborhoods
what he, recalling a Benjaminian image, calls modernization at a “catastrophic” pace, the
contours of which were different as from the second half of the XXth century, caused by the
“population drain” process, the change in the industrial axis to the ABC region as from the
fifties, the building of major (and destructive) road works in the sixties and seventies, such as
the Radial Leste [Eastern turnpike] and the subway, which, along with the abandonment of its
industrial structures, caused a process of “urban deterioration” (MARTIN, 1984).
In the eighties and nineties, the area experienced the migration of other foreign
groups, such as the Koreans and Bolivians, which superimpose themselves on the older
groups, like the Brazilians from the Northeast from the fifties and the Europeans, such as the
Italians, Spaniards and Portuguese that settled there from the end of the XIXth century
(ROLNIK, 1981) and left their multicultural stamp on, above all, the Brás and Pari
neighborhoods. A part of their population is employed and/or underemployed in informal and
precarious work as street vendors, in garment sweat-shops and/or living in derelict tenement-
blocks, small slums or on the streets (PEREIRA, 2002).
However, from the contradictions of this modernization at the beginning of the XXth
century a middle class was already being formed in Mooca and Brás (ROLNIK, 1981), turning
Brás into an important “popular sub-center” of commerce and services (VILLAÇA, 1998),
which despite its “decadence” throughout the XXth century, is currently the center of the
clothing trade, thus consolidating its position as a relevant specialist wholesale and retail
commercial district (LAURENTINO, 2002).
Therefore, one has to emphasize the specific nature of these neighborhoods in
relation to the configuration of the city, since they still bring together industrial activity (when it
is suburbanized), housing (where the standard is the self-built own home) and the proximity of
residence and work (within a context of the distancing of these two spheres) that reveal the
permanence of the “last advantages”, albeit precarious ones, of these neighborhoods, when
faced with a segregation pattern that is based on the center-suburbia divide (FERNANDES,
1986).
Therefore, the heterogeneity that differentiates these neighborhoods, both internally
as well as between them, leads us to a realization of the notion of “de-industrialization” as
well as “decentralization” and “industrial de-concentration”. Despite the non-consensual
debate about industrial activity in the RMSP [Sao Paulo Metropolitan Region] (MARQUES
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and TORRES, 2000), literature has highlighted the limitations of the “de-industrialization”
notion both for the neighborhoods in question (FERNANDES, 1986; LAURENTINO, 2002), as
well as for the Eastern Zone, in general (ROLNIK & FRÚGOLI, 2001). Therefore, if we here
use the notion of de-industrialization we are referring to the decrease or isolated
abandonment of production installations in some areas in the city – and more specifically in
some areas of these neighborhoods, above all in the fifties and sixties – and not necessarily
in the RMSP (Ramos apud LAURENTINO, 2002). What happened in the RMSP, above all in
the nineties, was a process of industrial de-concentration, in other words, there was an exit of
production units from the RMSP in the direction of other areas, while the center of command
and management of these units remained in the region, thus maintaining its production and
administrative control center functions. There is, therefore, a centralization of capital, - of its
management and services – and a spatial de-concentration of production, made possible by
telecommunications and computerization (Azzoni, apud MARQUES & TORRES, 2000).
Urban interventions and municipal management
Since the last decade of the last century until today these neighborhoods have been
the scene, either directly or indirectly, of urban intervention, of urban “rehabilitation”,
“revaluing”, “revitalization” and “requalification”, which reveals the increasing strategic
attribute of its position in the restructuring of the city that has been conferred upon it by the
municipality, by the real estate market, by civil society and more recently, by multilateral
bodies. These processes begin to express the links they have that are more or less evident
with other processes of a global character.
To make feasible some of these interventions conventional urban policies have
increasingly given way to a gradual growth in legal flexibilization. Urban Operations (UO) are
a crucial instrument in these interventions. Created during the administration of Luiza
Erundina, PT [Labor Party] (1989-1992) (SIMÕES JR, 1994) they were taken up again by
subsequent administrations and incorporated, once and for all, into the city’s Strategic Master
Plan (‘PDE’) in 2004. By means of these the city administration seeks partnerships with the
private sector and encourages investments by flexibilizing the zoning laws and by selling the
right to construct over the established limits and, in compensation, it applies this money in
public works and services in the region in question. These general “principles” do not
eliminate the specific nature of the directives of each operation, in accordance with the
particularities of the region where it is being implemented.
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In the administration of L. Erundina the Dom Pedro II Park UO, located in Brás and
Pari, was created with the purpose of re-urbanizing the park. As part of this process the city
administration offices were transferred from Ibirapuera Park, in the south of the city, to the
Palácio das Indústrias, in the D. Pedro II Park. This transfer signaled not only the re-
vitalization of the area but created a symbolic milestone for bringing together public
authorities and the city’s suburbs (BEIGUELMAN, 1997) and overcoming the social-spatial
segregation by introducing housing policies for the low income population of these
neighborhoods.
Although the Paulo Maluf, PPB [Brazilian Progress Party] (1993-1996) administration
concentrated on the southwest sector of the city, it created the Procentro, Programa de
Requalificação Urbana e Funcional do Centro de São Paulo [Program for the Urban and
Functional Re-qualification of the Center of Sao Paulo], based on the involvement of private
companies, in association with the city administration, in central areas considered to be
“degraded”, under the coordination of the Secretaria de Habitação e Desenvolvimento
Urbana [Department of Housing and Urban Development]. Procentro responds to many of the
demands of the Associação Viva o Centro – Sociedade Pró-Revalorização do Centro de São
Paulo [Long Live the Center Association – the Society in favor of Revaluing the Center of Sao
Paulo] - an NGO that represents commercial, real estate and financial capital interests,
headed by Bank Boston, and whose political weight has been a determining factor in
revitalization projects in central areas of the city (FRÚGOLI, 2000: 80). In 1997, in the
administration of Maluf’s political affiliate, Mayor Celso Pitta (1997-2000), Procentro proposed
the creation of the Urban Center Operation in order to create stimuli for building in the center
and preserving its historical heritage. Its objective “is to create conditions that reinforce the
importance of the central area for the metropolis, by making it attractive to real estate, tourist
and cultural investments and preparing it for the role of a world city” (apud MENNA
BARRETTO, 2001: 16). Therefore, in 1997, the Centro UO intervened in these
neighborhoods, especially in Brás: in 1997, via the “Projeto Dignidade”, [Dignity Project], an
attempt at evicting street vendors from the Old Center of the city and the Brás neighborhood,
and in 2000 via the ill-fated Maharishi São Paulo Tower project Prono Brás and Pari.2
In the administration of Marta Suplicy, PT [Labor Party] (2001-2004), under new legal
and institutional milestones at the federal level with the Estatuto da Cidade [City Statute]
(2001), and at the municipal level with the PDE (2002), and the Planos Regionais
Estratégicos [Regional Strategic Plans] (‘PRE’) (2004) (SALES, 2005), the areas in question,
which form part of the Mooca Regional City Administration ( Brás, Mooca, Belém, Pari, Água
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Rasa and Tatuapé), were included in the Programa de Reabilitação da Área Central
[Program for the Rehabilitation of the Central Area] – Ação Centro – which involves financing
from the IDB (Inter-American Development Bank). The Operação Urbana Consorciada
Diagonal Sul [South Diagonal Urban Consortium Operation], a part of this program, therefore
has financing from the IDB of US$100 million and aims to “revalue” the area linked to the São
Paulo railroad network – the Santos-Jundiaí, Sorocabana and Central do Brasil lines – that
run through these neighborhoods. Among their directives is “the physical integration of
regions separated by the railroad” (PRE-SM, 2004), which includes its “re-population”, by
means of middle class and popular housing (in the latter case, by creating Áreas de
Habitação de Interesse Social –HIS [Housing Areas of Social Interest]), the restoration and
re-conversion of the use of factory buildings, as well as the “re-construction of the landscape”
(SALES, 2005). These objectives that were established by the ‘PRE’ are not limited to the
area of this urban operation, which still has to be approved by the Municipal Chamber of
Deputies. The plan provides for ‘ZEPEC’ (Zonas Especiais de Preservação Cultural) [Special
Cultural Preservation Zones] that can be established by “mapping out the existing historical
heritage and by indications from the population” (PRE-SM, 2004, p.10); the recuperation of
preserved factory buildings and encouragement for their use (p.3); encouragement for the
introduction of “new residential areas” in mixed zones, avoiding concentrations of “only single
occupancy” and “the same income band” (p.4). However, especially in Mooca, an intense
process of ‘verticalization’ has been seen, with the construction of middle and high class high-
rise condominiums that are associated with the destruction of some of the factory buildings,
without any assessment of their historical importance (or not, as the case may be).
THE MEANINGS OF MEMORY The Projeto Arte Cidade: the past between the esthetic and politics
Problems involving the areas in question were raised by artistic interventions
developed by the Arte/Cidade [Art/City] project, a Brazilian cultural NGO, directed by
Professor Nélson Brissac Peixoto,3 in two of its editions, Brasmitte, which was not
implemented,4 and Artecidadezonaleste, in 2002.
In addition to Brás, Artecidadezonaleste included Mooca, Belenzinho, Pari and
Cambuci, with the exception of the suburbs of the Eastern Zone. The role of the Eastern Zone
in the overall restructuring of the city was the issue raised by the project, or how urbanism,
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architecture and art responded to the conflict surrounding the appropriation of urban space
(ARTECIDADEZONALESTE, 2005).
At a cost of R$1.5 million the project was sponsored by Petrobrás and SESC-SP and
involved 24 interventions, covering an area of 10,000 m2 – workshops, seminars with
curators, Brazilian and foreign artists, like Krzystov Wodicko and Rem Koolhas, architects,
social housing movements, public municipal institutions and NGOs.
In the three months between the start of assembling the interventions and the inauguration of
the works in public settings they were the subject of controversy and discussion between the
residents in the area and actions by the public authorities that resisted the installations when
they confused them with occupation by the homeless and street vendors.
This did not prevent an attempt at appropriating the urban space by street vendors in
one of the works. Maurício Dias and Walter Riedweg show short videos in the stalls of the
street vendors that exhibit advertising “spots”, in which the street vendors tell their life story
and advertise their products. Over the roof of the stalls in the Largo do Concórdia – an arena
of conflict in the “Projeto Dignidade” [Dignity Project] – are placed panels with their photos. In
the center of the Largo [square] is a small two-storey building, a meeting point and look-out.
In these works memory was not directly broached, but experience was. According to
the curator, Nelson Brissac, through the mediation of art, the experiences of the “excluded”
population are “rescued”, “made evident”, “recognized”, “legitimized”, all conditions, according
to him, that are necessary for “citizenship”. They sought to create a “short circuit” with the
dominant representations of the city that see these experiences for their negative aspects. In
other words, faced with the suppression of a public space that was covered with activities
linked to the ties of tradition, continuity and belonging, an attempt was made to recognize
another history, a history of informality, dislocation and itinerancy, as street vendors scrap
paper collectors (ARTECIDADEZONALESTE, 2005) and without an assistentialist bias.
According to Peixoto, progressively the project started incorporating political questions
to the esthetic concern, because of the public’s reception of the exhibitions and seminars and
because of the very process itself of negotiation with the multiple agents and public and
private interests in putting together the project, meaning that the “city effectively emerged not
just as a scenario, but as a field of action.”, action, which according to him, involved
negotiation with various agents and multiple public and private interests. The key to the
project, according to its curator, was to “understand how process... I mean, the final result as
works, is less important, in fact, than the set of repertoires that artists, architects, the very
organization of Arte/Cidade itself, prepared to make it all feasible.”(Nelson Brissac Peixoto)
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Therefore, Peixoto defines the powers of the State as being often incapable of
“administering” the conflict; the powers of real estate capital as “strategically” strong and the
powers of the segregated population as “tactically” strong. However, economic power allied to
state power throws into question this equation of forces. Arte/Cidade 3, the edition previous to
Artecidadezonaleste, was strongly criticized, as was the Fórum Centro Vivo,5 - which
articulates the reflection of intellectuals of the Left linked to the university with the interests of
the population that lives in the street, the informal economy, alternative theater groups and
housing movements with a criticism of and an alternative proposal to that of Associação Viva
o Centro for occupying central areas, accusing the latter of inducing a process of
gentrification of a de-industrialized area of the city that covers the neighborhoods of Água
Branca, Perdizes and Barra Funda.6
The CUT project: “Valuing Brás, Social Memory and Fighting Informality: an Initiative of Solidarity”: historical discontinuity
In May 2001, the Central Única dos Trabalhadores (CUT) [Unified Workers’
Confederation] that is located in the former headquarters of the Matarazzo industrial group in
Brás launched the project “Valorização do Brás, Memória Social e Combate à Informalidade:
Uma Iniciativa Solidária”.7 Its participants were left over from a former neighborhood project,
the “Fórum de Revalorização do Brás” [Forum for Revaluing Brás], that had the support of the
municipal administration of the Marta Suplicy government, NGOs, residents, businessmen,
condominium managers, housing movements, unions and newspapers.
The aim of the project was the “intervention of a community and cultural nature and for
fighting social exclusion”, and was centered on rescuing the social memory, fighting
informality – by means of a formal contract of employment campaign and the formation of
waste paper collector cooperatives – and finally improvements in the living conditions of the
neighborhood’s population.
This project was born out of the crisis of the nineties, with the disastrous
consequences for the labor market and union representation of the neo-liberal economy.
Hence, the concern of CUT in gaining legitimacy “as a political and social player” vis-à-vis
residents and in the “organization and representation of the mass of informal workers”
(Projeto Piloto, 2001), which marks the landscape, not only of its streets, but in the nearly
6,000 garment workshops, a large number of them using clandestine immigrant workers and
slave labor.
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According to its coordinator, historian Hélio Costa, three important events also guided
the project: the commemoration of the 500th anniversary of the Discovery of Brazil, the
informal interest of the union leaders in the history of the worker movement and the
celebration in 2003 of 20 years of CUT.
The legitimatization of CUT looks for its foundation in the neighborhood’s past, the
birthplace of the “Brazilian working classes”, and in the present, to the location of its
headquarters.
In the history of the worker movement the 1917 General Strike that started in the
neighborhoods of Mooca and Brás is a milestone because it founded the working class,
according to Paoli, “as a special image that wants both a physical and symbolic place for its
existence and for its perpetuation” in the city (1991, p.40).
The project sought, therefore, to overcome a temporal and spatial hiatus that existed
between the experience of the working classes at the start of the XIXth century and CUT,
which grew out of the “new syndicalism” that sprang up in the automobile industry in the ABC
region in the 1980s.
Hélio Costa recalls CUT’s address, 575 Rua Caetano Pinto. This was the former
headquarters of Indústrias Matarazzo and therefore a symbol of industrial capital, as
incarnated by Count Matarazzo: the power of work that is born out of the “new syndicalism”
that arose at the end of the seventies imposes itself on the ashes of the industrialization of
the start of the century. However, it is not the story of the headquarters, of the building, which
is developed by Costa, but the story of the street: in number 91 lived shoemaker, José
Martinez, who was killed when police repressed the strikers from the Matarazzo factory, the
Mariângela, in Brás, during the strike of 1917. His burial, which turned into a popular
manifestation repudiating the violence used against the strikers, was the movement’s climax
and brought the whole city to a standstill (PAOLI, 1991).
The past transforms itself into a myth that is reinforced when, marked by negativity, in
other words by absence, the organizing life of the neighborhood and of its workers is judged
in the present.
This absence was reinforced by the difficulty the Confederation had to intervene in the
labor market, which proved to be unfeasible. In the workshops, the prison of the denounced
could foster unease in small businessmen and workers. As for the waste paper collectors, the
cooperatives broke the monopolistic and authoritarian relationships of the intermediaries, who
went as far as threatening the lives of the collectors. Intervention was restricted, therefore, to
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isolated cultural and educational actions,8 which even occupied the “street vendors’ exclusive
market”,9 thus avoiding tension or conflict.
This contemporization of CUT was reproduced in the more far-reaching dispute for
appropriation of the central areas in the city – polarized politically and ideologically between
the Associação Viva o Centro and the Fórum Centro Vivo, - because of the participation of
the Confederation in both organizations and in a partnership with the Labor city administration
in projects, among which was one for valuing memory.10
The Museum of Work and the Maria Zélia Workers’ Village
The Maria Zélia workers’ village, built between 1911 and 1916 by industrialist, Jorge
Street, owner of the Cia Nacional de Tecidos da Juta, was inaugurated in 1916, in
Belenzinho. Besides the 180 dwellings for workers, the workers’ village was considered a
pioneering and bold experiment, when it incorporated into its project a series of social
facilities, such as a hospital, crèches, schools, warehouses, a church and a restaurant.
The workers village, still lived in today, has had its houses refurbished, although the
public buildings are abandoned, in a state of ruin as a result of their acquisition by various
public and private owners, which has created an indefinition as to their formal statute. In 1992
the urban and architectonic group of buildings was the subject of a preservation order from
Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico
do Estado de São Paulo) [Council for the Defense of the Historical, Archeological and Tourist
Heritage of the State of São Paulo]
In November 2004 in the final period of the administration of M. Suplicy and twelve
years after it had been transformed into an historical heritage site, the Secretaria do
Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade [Department of Development, Labor and
Solidarity] presented a project that had been born out of the Local Development Forums, with
the aim of fostering local development with “museum-like activities for social, cultural and
environmental inclusion”. Revitalization would be done by means of labor and educational
programs, and would involve the restoration and refurbishment of its six buildings, the
installation of a Labor Museum and professionalization workshops. Furthermore, it proposed
that the city administration should reclaim a 13,000m2 piece of public land that had been
occupied for twenty years by village residents who had constructed on it sports courts and the
headquarters of the village association, the Sociedade de Amigos da Vila Maria Zélia
[Society of Friends of Maria Zelia Village].
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However, not everyone has been in agreement with the introduction of the project,
and opinion is polarized three ways: there is a claim for possession of the public land by the
association and the fear that the village will be opened up to the participants of the workshops
and to those who visit the museum, and that the “tranquility” and “security” will be lost; there
is support from the residents for turning the place into a museum, because this would mean
recognition of the historical importance of the village, as well as opportunities for its own
residents, and finally reiteration of the public asset character of the village and the importance
for the whole city of its revitalization by the city administration.
The XIX Theater Group and the play Hygiene
Then the XIX Theater Group started being a mediator between the residents and the
city administration, which identified in it a “heritage education” profile for valuing the public
space. The group is a member of the “Movimento Arte Contra a Barbárie” [Art against
Barbarity Movement], that sprung up in the mid-90s and questioned the neo-liberal bias of the
cultural incentive laws, saying that they turned art into merchandise. Out of this movement
grew the incentive law, in which artistic production funded by public authorities has its “social
counterparts”. Funded by this law the group put on the play “Hygiene”, which transformed the
village into an open-air theater and portrayed the final day of the residents of a derelict
tenement block, a play whose context were the urban hygiene activities of the State at the
end of the XIXth century and the start of the XXth.
Although Maria Zélia village was a product of this hygiene concept the script did not
portray the history of its residents, nor of the village, but centered on the “historical fact”,
according to its director, Luiz F. Marques. For Marques, the village with its private area
conserved but refurbished and the abandoned public space were a “metaphor of the city”.
The relationship between the houses and the public space is going to be the subject
not only of the play, but of the “interaction” between the theater group and the residents; this
relationship grew out of the “Residência” [Residence] project, which involved the group’s
living in the village for a year up to the end of 2004 to develop the process for creating the
play.
According to Marques, in this interaction the theater group tried to stimulate the
following perceptions with regard to the public space: the evocation of memories of infancy in
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the elderly, with the opening up of abandoned public buildings; the participation of residents in
the play’s rehearsals; the promotion of forums and debates with specialists in the area of
housing and the homeless movement; the group’s intervention with public authorities; open-
air theater and cinema presentations, debates, workshops and task forces for cleaning areas
that involved village residents. They tried to emphasize that the derelict buildings were places
that could be put to countless uses and were also a public asset, in other words, “since they
were public they were not theirs, they were the city’s”. This is where we touch on the nub of
the experience of public space and ‘museumization’.
According to Marques this experience was not defined as “revitalization”, but “re-
experiencing” the spaces with the residents through art, which wavered between participation
and resistance.
The relationship between the present and the past was proposed by the theater group
in this way: there was a perception of historical continuity between the hygiene interventions
in the city at the end of the XIXth century and the beginning of the XXth and nowadays.11 On
the other hand, the play did not deal with this process as it happens today; it did not deal with
the village spaces or with the memory of those who live there. It tried, rather, to create an
“historical distance”, that B. Brecht proposed was necessary for reflection.
According to Marques, the “interactivity” therefore required dialogue and from the
dialogue the “attrition”, the “confrontation” with the public (residents and spectators), with the
space (the stage, the village, the city), and with time (past and preset) that are necessary for
creating “estrangement”. In this sense the play tried to avoid reconstitution. On the other
hand, the establishment of any empathy with the past or feeling of affection for it, which the
play might create, was also a risk to distancing.
In its “social counterpart”, therefore, the proposal of the theater group, unlike the other
groups, aimed not just to utter a political discourse, a social criticism. According to its director
“politicization in the theater is going to occur to the extent that doing theater is politicized”. In
other words the political dimension of the play occurred in the “re-experiencing” and the
interchange of the group with social and specialist movements and with various public
authority organs. The politicization of the theater, in short, “is to be inserted in the city”.
The ‘re-functionalization’ of the Crespi cotton mill: Extra hypermarket
The Crespi cotton mill, constructed in 1897 in the Mooca district, by one of the biggest
industrialists of the start of the century, Count Rodolfo Crespi, occupies a founding position in
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the history of industrialization and the workers’ movement in the city and country: from it
arose the stoppage that started the great strike of 1917.
The factory, which was de-activated in 1963, had its building rented out to small
workshops and a parking lot, which were gradually removed by its owner and heir,
businessman, Fernando Crespi, to give way at the end of the nineties to a “shopping
boulevard” project,12 along the lines of the “Soho model” in New York, and a cultural center.
The project was not approved because it did not fit in with the Zoning Law.
At the end of 2003 the cotton mill was finally rented to the Extra Hypermarket that
belongs to the Pão de Açúcar Group, one of the biggest retail commerce groups in Brazil, and
associated with the French Casino chain, whose proposal is “revitalization through use”. This
company invested nearly R$20 million in an area of 26,300 m2, of which 6,000 m2 are
occupied by the store. The hypermarket was inaugurated in March, 2005 after controversial
work undertaken to make the building ready for reuse.13 The project by architect, Haroldo
Gallo, regional superintendent of Iphan, (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
[Institute of Historical and National Artistic Heritage] provided for the almost total demolition of
its architectural structure, leaving just two large stretches of wall standing.
This demolition, which started in 2004, was prevented by a gesture she herself called
“solitary” and “Quixotic” by journalist, Elizabeth Florido, a resident of Mooca and a militant
preservationist, who has brought together a small group of architects and restoration
technicians and participates in the AMO Mooca [I love Mooca] association, one of whose
main concerns is the preservation of historical heritage.
For Ms Florido the history of the neighborhood is being “decharacterized”, because of
real estate speculation, aggravated by the “lack of awareness” of the residents of the
neighborhood’s historical heritage, who identify urban transformation with “progress”. This
diagnosis was strengthened, according to Ms Florido, by the lack of resistance on the part of
the residents when the building started being demolished; her group then requested the city
administration’s14 Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) [Department of Historical
Heritage] that a preservation order be placed on the building. At the request of the DPH, the
Public Attorney’s office prohibited the demolition and started mediating a negotiation process
between the DPH, the Pão de Açúcar Group, businessman Fernando Crespi and the group
led by Ms Florido.
The group’s argument in defense of restoring the building was based on the reuse of
another factory by the same business group in the city of Sorocaba. For Ms Florido this
demonstrated to Pão de Açúcar that it had an unprecedented mobilization in the
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neighborhood, such as they were only used to seeing in middle and upper middle class
neighborhoods in the South and West Zones of the city.15 This mobilization was
strengthened, in our opinion, because of the participation of AMO Mooca in the discussions
about the Participative Budget and the Regional Master Plan.16
The resistance offered to Extra has had a double result: the building’s restoration
started being handled by the DPH and the antagonism with the residents was transformed
into a “partnership”, which meant the place where the chapel was demolished, and a place of
pilgrimage for former residents, being ceded for installing a cultural center for the
neighborhood.17 History and memory have adjusted to public relations and marketing
strategies.
In its publicity the store is advertised as being a “harmony between historic memory
and technological advances”: the restored “century-old” building and the store’s “modern
layout”. However,, by being “restored” the building would remind people of history, but at the
same time of the fact that it is being erased. Internally, there is no architectonic sign of the
factory (the bricks have been hidden behind sterile white walls). The history of the factory and
of the “region”, however, is evoked in an exhibition of photographic panels in the interior of
the store.18 During the negotiation process, Extra, according to Ms Florido, mentioned this
exhibition in its defense, when it stated, “history is not going to be forgotten. We’re going to
destroy, but we’re going to put something [in its place]” (Elizabeth Florido)
According to Ms Florido this relationship between history and marketing has become
commonplace in major undertakings:
So they use the same emotional appeal, which is to say to you, “I’m
coming to your neighborhood, (...) I’m going to interfere in a transformation
process in your neighborhood, but I’m not going to abandon you, or leave your
history to one side”. So, deep down, whether we want to or not, even starting
with the same strategy, we cannot fail to say the following – because I’m from
the publicity area too; I’ve worked in major advertising agencies – they end up
being agents of that which the population is unable to be, agents of the
community itself, of remembrance, of memory. (...) They end up being agents
in the sense of the residents starting to concern themselves with their own
history, because then the resident gets a little bit ashamed, to the extent of
even saying (...), but he doesn’t know his own history. (Elizabeth Florido, my
italics)
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In these words the role of marketing and the relationship of the residents with the
value of their heritage emerge (CHOAY, 2001): the historic and documentary (as attributed by
the specialist) value; the affective value (immersed in experience and in the memory of the
residents), its use value and its economic value. The relationship between these three
aspects, in our opinion, is implicit in the Ms Florido’s criticism of the residents.
In the first place the residents approved the initial project that promised “restoration” –
attributing an historic value to it – without having the specialist knowledge that this process
requires, in other words, without knowing that refurbishment of the building presupposes
various concepts (Rufinnoni, apud CANTARINO, 2006) that often disrespect its historic value
in order to adjust it to utility. This layman’s approval converged with the utilitarian value the
building could provide them with. Immersed in the present time they see here the signs of
“progress”. Finally, there were the memory and affective values, manifested by the old
residents, even when it was announced that the undertaking was going to demolish the
building and install the cultural center.19
The divergence of these values between residents, which is paradoxical in the eyes of
Ms Florido, legitimizes the marketing, not just as something which is capable of adding
historical value – even if it is a means of creating economic value – but in doing so it also
becomes a new cultural and political agent, which appropriates knowledge (the history),
which the lay resident is not capable of articulating, and memory,20 and imposes a new way
of representing and transmitting it in the production of the urban space (ZUKIN, 2000).
However, if the middle class from the neighborhood – considered, according to Ms Florido, to
be the typical neighborhood resident, “conservative”, a “family person”, “entrenched”,
“religious”, “a European immigrant”, and with “good taste” – starts having his memory valued,
the same cannot be said of the street dwellers and those from the housing movements that
not only “devalue the neighborhood”, but are the subject of a strong process of social and
spatial segregation, manifested in the resistance of the middle class and upper middle class
residents to social interest housing in the neighborhood.21
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The La Dolce Vita Nuova Mooca condominium and the Tapume project
Because of the stimulus generated by the new Strategic Master Plan for the city and
the change in the Zoning Law, in the former factories and warehouses of Mooca, not just
those located in the Diagonal Sul Operation, the real estate market found ideal land for
building residential, closed, high-rise condominiums for the middle and upper middle classes.
Vast and cheap plots of land, with permission to build up to four times the area of the lot,
have been leveraging the ‘verticalization’ of the Mooca district, as its position in the ranking of
residential condominium launches in the city reveals; it went from 29th in 2003 to 4th in 2004
(10 developments), the largest growth in the city in the number of residential launches.22
Demolition of the Alpargatas warehouse in 2004 gave way to the construction that is
still ongoing of the La Dolce Vita Nuova Mooca residential condominium, the second largest
undertaking in the neighborhood,23 with 6, 27 storey high tower blocks on a plot of land that is
31,600 m2 and directed at the upper middle class. Faced with great competition in the real
estate market in São Paulo, which leads to the homogenization of architectural standards,
especially in façades, and the increase in the supply of leisure and services areas,24 the
project introduced something new in terms of a marketing strategy. The property developer,
Setin, launched the Tapume Project in Mooca. In the place of walls made from reclaimed
bricks from demolished properties, art and marketing blend together and the history of the
neighborhoods is portrayed on the screening boards of the building site with maps illustrated
by the cartoonists, Gepp and Maia, who are famous, among other things, for their maps of the
city of São Paulo.
This project reflects a relatively recent transformation trend in the real estate market in
Brazil that turns over around R$1 billion per year (ARAÚJO, 2006) and is increasingly
developing relationship activities that account for as much as 25% of the amounts destined
for the area, whose conventional means of publicity, like advertising pages in newspapers
and the use of pamphlets, are often expensive and not very effective.25
It is in this context that Setin’s institutional marketing includes a concern with good
neighborliness and the neighborhood “community”, develops the theme of art and intertwines
the themes of environment and social and cultural inclusion.26
With regard to the cultural theme, the issue of cultural heritage reveals a loan, albeit a
spontaneous one, according to the person responsible for the company’s institutional
marketing, Daniel Setin, to the Monumenta program,27 which in 2005 launched the Tapume
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project for heritage education and that arranges for the exhibition of heritage educational
material on the screening boards that surround historic monuments that are to be restored.
According to Setin the screening boards are transformed into a very valuable means
of “strategic communication for the company”, which “expresses the brand’s values”, allows
for “interaction with the community” and “adds to the neighborhood’s cultural value”.
The neighborhood is seen as a “community”, which has “tradition” linked to “the old
families” that are the “celebrities” and “opinion-shapers”, and that are the main target of the
company’s “relationship work”.
This past has been researched by the company and taken from the oral historical
accounts of the oldest residents, from a mapping out of the neighborhood, the location of the
undertaking and its surroundings and the definition of “significant events”. In this
“identification” phase, which involved working with Gepp and Maia, Setin emphasizes the
following;
We took the main cultural values of the neighborhood, and its past
history up until the present day, and we identified these on the screening
boards. So, the person who passes by the site, or the customer who bought an
apartment, is going to say, “Goodness, but in all this history, where do I fit in?
(Daniel Setin, my italics)
The new residents, the rising middle class and the upper middle class, start to
become part of this history, in which “valuing culture” based on “tradition” may confer social
status on them. On the other hand, this “valuing of the culture” of the neighborhood, added to
the rise in economic value of the condominium, raises the question in our mind as to what
extent they converge with the social spatial segregation, thus intensifying a trend that was
already apparent in the eighties when the poorer residents first started leaving these areas
(MEYER, GROSTEIN & BIEDERMAN, 2004). Despite Setin’s emphatic opinion about the
possible consequences of verticalization of part of the central neighborhoods of the Eastern
Zone, this still needs to be confirmed: “And the lower or poor classes are going to be
increasingly distanced. This is the probable tendency... probable, no, this is the tendency.
When the private sector intervenes in this aggressive way, to a certain extent the increase in
value of the surrounding areas is plain to see.” (Daniel Setin).
Part of this population of the poorest and lower classes of Mooca are to be found in
rented accommodation or derelict tenement blocks, the type of housing that has been present
since the neighborhood started, and/or in the “lower part” of the neighborhood, beyond the
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railroad tracks. How, then, would these residents be portrayed on the illustrated Tapume
map?
The work of the two cartoonists for property developer, Setin, and therefore the
relationship between art and capital, is justified by Maia because it offers greater “exposure”
for his art and because it is included in institutional marketing that is considered to be an
advance because it is not restricted to “product marketing”, which, initially, still existed in the
company’s mentality, and therefore involves social “counterparts” and “commitment” to the
neighborhood “community”.28 Therefore, according to Maia, the relationship between market,
art and society “is not reconciliation, because there is no war”, but a negotiation in which his
work seeks to induce the market to accept this larger commitment to the community than to
the State.
For the cartoonist, by putting his art on the street and going beyond galleries and
exhibition space, the map surpasses its esthetic significance, because it involves the
community that starts to produce, to locate itself in and appropriate its own history, which was
previously restricted to specialist knowledge, and to interact with it. This interaction is
permitted by the nature of the neighborhood itself; not a place one drives through on the way
to somewhere else, but somewhere that induces slowness in people, whether they are
walking or driving.
According to Maia the map is a composition of the city, of people’s “points of
reference” that are not only rational, but also “unconscious” and “affective”. It presupposes a
“recovery”, a “provocation” and a “respect” and can be read on three levels: the “classical
points of reference” of history; “the small” stories that people know about or participated in,
and finally those stories that are unknown. It is above all this latter category, which proposes
an “enigma” that people can talk about with each other and research.
The map portrays the history of foreign migration, above all of the Italians, and the
ways in which it integrated with the neighborhood culturally, economically, socially and
politically. Its axis is the origin of industrialization and the Sao Paulo and Brazilian workers’
movement. For Maia the “new syndicalism”, which sprang up in the ABC region, CUT and PT
are not interested in going back to this origin and ‘rescuing’ it and the map tries to rectify this.
However, another story is excluded from the map, but this time, according to Maia, by
the artist himself, deliberately: this is the story of the residents from the “other side” of the
tracks, because of their insignificant demographic representativeness. But there was also
another reason. For the cartoonist this migrant population from Northeastern Brazil “formed
no culture whatsoever” and is “just passing through”. This omission implicitly presupposes a
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commitment by the artist to the market, which obviously cannot expose the segregation, for
which property developers are responsible, as one of the players, but also a notion of culture
that is based on the idea of tradition, being fixed and setting down roots.
With the demolition of the former factory – justified by Maia because of its supposed
lack of historical value and representativeness – history emerges in its place in the form of
images and merchandise.
FINAL CONSIDERATIONS
When referring to the modalities of gentrification in Latin American cities, Frúgoli
(2004) singles them out because of their association with the uses of public space –
consumption, leisure and entertainment – and not so much their strategies for the re-
occupation of their central areas by the middle class, because of the determining role of the
State and because of their incapacity to totally eliminate the use and re-creation, or “counter-
use”, of these gentrified spaces by the popular classes. In the specific context of these
particular neighborhoods and because of the progress of these processes and the
development of our own research, we consider it too early to state that the revitalizing actions
being instituted imply gentrification.
The same could be said about many projects – memory, heritage or artistic. They do
not emit in a uniform way, that which Choay (2000) and Jeudy (2005) call, the specular and
narcissistic image of the heritage cult, because although they increasingly assume a
tranquilizing function, thanks to the suppression of heterogeneity and social conflict, this is not
done without ambiguity and tension.
During the administration of Celso Pitta with the revitalization of Brás and Pari, via the
Maharishi SP Tower that was associated with the hygienist policy of the “Dignity Project” for
expelling street vendors, and the “kicking into touch” of the self-governing popular housing
projects for a brief moment there seemed to be a potential for gentrification, which was
frustrated by the resistance of the players, whether as a result of the debate of the specialists
or because of the allegations of corruption on the part of the city administration by the street
vendors. However, in this administration these areas have begun to gain importance in the
situation of São Paulo as a global city, which was reinforced during the administration of M.
Suplicy with initiatives for “local development”, as the controversial PRE reveals.
The city administration provided support for the Artecidadezonaleste, the partnership
with CUT’s memory project and the ‘museumization’ of the Maria Zélia workers’ village. At the
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same time with the PDE it encouraged international commercial capital (Extra) and local
capital investments, thereby heating up the residential real estate market (Dolce Vita).
As far as the cultural agents of the memory projects are concerned they are very close
to what Zukin (2000) calls “critical infrastructures”, like artists (Maia), university professors,
curators (Peixoto) and journalists (Florido), whose experiences of the city are linked to their
walks, to their urban rambles, research and self-taught people or not, and by means of which
the cultural value of the city needs to be “explored, explained and affirmed”, thereby
establishing the “appropriate perspective for looking at the historical urban landscape”
(ZUKIN, 2000).
These representations reveal how these mediators see culture and their relationships
with society, the market and the State.
There is a total refusal of any private support, and the search for publicity for these
cultural initiatives is done via the State (XIX Theater Group, CUT Project), the sponsorship of
the State and/or the market, provided the latter is not linked to the dynamics of revaluing the
urban space (Artecidadezonaleste) and the only link with the market is either through the
sponsorship of real estate developers (Arte/Cidade3), or via their institutional marketing
(Tapume Project).
These relationships express the ways in which culture and politics are related. Despite
the identity-related bias of cultural projects, those that are not aligned to the market seek to
cause a “shock” in relation to the collective memories of the hegemonic groups (Arte/Cidade)
and to create an “historical distancing” in relation to the public (XIX Group), as well as to
legitimize the presence of the popular classes in the central areas and the valuing of the
space and the public sphere. Politicization not only happens because of the critical bias of the
work or the spectacle, but is much more associated with interlocution and negotiation, seen
as an open process with the State and society for introducing projects in the public arena.
However, to the extent that the politicization of art becomes experimental in character it is not
exempt from ambiguities, which may lead to association with dominant groups, but also to
assistentialism in relation to dominated groups (Arte/Cidade), or the creation of public
empathy by means of historical reconstitution and nostalgia for an oppressive past (XIX
Group).
With regard to the projects aligned with the market, institutional marketing preaches
“social counterparts”, “partnerships” with the “community” (La Dolce Vita and Extra), and, in
the end, begins to adapt to the “critical structure” profile, like the “agent” of a memory
(Florido). One of the assumptions of these relationships is that they have a certain potential
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for mobilizing society, but in a way that “relationship” marketing tries to co-opt. This gives rise
to an apparent ambiguity, when the intervention of the State (DPH and Public Prosecutor's
office) is considered important when faced with the destruction of old industrial buildings by
the real estate and retail market, at the same time as setting up partnerships with them
(Florido).
The process of valuing culture, like capital that adds economic value, reveals a logic
for the spectacular that appropriates the place and its history while simultaneously ignoring
both, by transforming them into a scenario (ZUKIN, 2000): “reconstructive” demolition, which
is more profitable than “restoration” (Extra), and the total demolition of the factory and taking
advantage of the land (La Dolce Vita) involve the production of a new image that remodels
the existing architecture and whose destroyed content is “rescued” in the images of a photo
exhibition (Extra) and on illustrated maps (Tapume Project). Cultural centers do not emerge
from such spaces, but are political counterparts because of their partial or total demolition
(Extra and La Dolce Vita). Of these four neighborhoods Mooca is characterized as having the
biggest average income (IBGE, 1991 and 2000), and therefore a strong middle and upper
middle class that may become the potential residents of these new urban enclaves
(CALDEIRA, 1997) that are associated with the use of culture and “tradition” as a means of
adding value to real estate. The relationship between verticalization and the exit of the poor
population since the eighties deserves to be better investigated, but the resistance to social
housing reveals there is a strong social and spatial segregation movement.
NOTES 1 This article is a synthesis of the paper “Discourses of memory and revitalization of de-industrialized areas in São Paulo” in: XVI ISA World Congress of Sociology, 2006, Durban, which gives the partial results of an on-going post-doctoral survey in history, entitled “Practices and discourses of memory in de-industrialized areas in the city of São Paulo – the cases of the neighborhoods of Brás, Mooca, Belenzinho and Pari”, under the supervision of Prof. Maria Stella Bresciani, PhD. at the IFCH at Unicamp. 2 With regard to the meaning of the recuperation of memory by the resident and street vendor movements that have been crystallized in projects or are associated with conflicts in these areas, see Pereira, V. Brás: Canteiros da Memória na modernidade de São Paulo, Doctoral thesis, Department of Sociology, FFLCH, USP, 2002. 3 The Arte/Cidade Project, devised by the Urban Intervention Group has been developing the issues of culture and urbanism since 1994, by carrying out a series of artistic interventions in urban settings, especially in São Paulo. For further information about these projects visit www.artecidade.org.br. 4 Despite the fact that the project failed to materialize it gave rise to countless workshops involving specialists, and the visits of artists, and triggered an interesting debate into the comparable aspects of Brás and Mitte (Berlim). 5 See interview given by Júlia, from the Fórum Centro Vivo, to the author. See Pereira, 2002. 6 The project, carried out on a 100,000m2 piece of land belonging to property developer, Ricci
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Engenharia, where the derelict Matarazzo Central Mill used to be situated, ended up increasing the value of the land. On the back of the Água Branca Urban Operation the developer built the 24 storey, Memorial Office Building, at a cost of US$28 million, which houses Telefônica. 7 This project was a development of the Map of Informal Work in the City of São Paulo prepared by CUT, with the support of the Solidarity Center of the American Federation of Labor - Confederation of Industrial Organizations (AFL-CIO) of the United States. 8 Among which, work with schools, a pre-university entrance exam course for young people, a course in setting up cooperatives, carried out by the Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), and a cultural fair for crafts-people and artists, supported by the City Administration. 9 The destiny of this space was subsequently the subject of various discussions in the Participative Budget, a budgetary management device used by PT city administrations. 10 CUT participates in the Fórum Centro Vivo via the ADS-SP - Agência de Desenvolvimento Solidário of the CUT for the State of São Paulo – and the Sindicato dos Trabalhadores da Economia Informal [Informal Economy Workers’ Trade Union] and the Associação Viva o Centro, via Sindicato dos Bancários [Bank Workers Union]. 11 The Luz neighborhood was the example quoted. 12 According to journalist, Elizabeth Florido, in an interview with the author. 13 Between April and May, 2006 we tried unsuccessfully to contact both those responsible for marketing at the Pão de Açúcar Group as well as business-man, Fernando Crespi. We based our work on information taken from the official website of the Pão de Açúcar Group and on interviews with the journalist, Elizabeth Florido and Mirtes Baffin, Preservation Director of the Historical and Architectonic Department (DPH) of the municipality. 14 Sometime later the group sent a statement to the DPH, warning about the threat to heritage due to the huge real estate speculation in the area. 15 In these, the residents are generally, also, specialists – architects, engineers, lawyers – and whose organization can bring great pressure to bear. She mentions the Associação Paulista Viva and Defenda São Paulo 16 This participation led the group to map out the neighborhood’s architectonic heritage and the potential regions for revitalization with green areas. This map was made by the population and used by the DPH 17 This partnership is also present in the Tapume Project, which is discussed below, when students and her daughter’s colleagues acted as guides for the guests at the opening of the project. 18 Located in front of the fast check-out, the speed of service has become an obstacle to catching the consumer’s eye. As for the contents of the panels the narrative on the strike of 1917 conceals its true motives and there is nothing at all about the general stand-still in the city, caused by the funeral of shoemaker, Martinez, who was assassinated in the conflict. 19 According to a resident, whose father was a worker in the factory: “Although I was not consulted about the transaction relating to ‘my father’s factory’, I wish them success (...). I’m very happy about what has happened. In the newspaper, O Bairro da Mooca, year I, edition 2, March, 2005. Rufinoni mentions the case of an 82 year old Romanian immigrant who worked in the cotton mill and cried when he saw it being demolished. In an emotional gesture he took a brick to keep as a souvenir. According to Ms Florido, many residents, former workers and/or family members visited the place where the factory’s chapel used to be. 20 The partnership consolidates the appropriation that is not just history, but the memory of its residents, via oral history projects about the cotton mill and the neighborhood, like the Fala Bello! Project, an initiative of Ms Florido, under the coordination of the Estação História Cultura e Patrimônio, at the celebration of the neighborhood’s 450 year anniversary. This concern with the past led to a group of residents even modifying the date of the origin of the neighborhood, which previously had been linked to the history of industrialization, by extending it back to the colonial period when the neighborhood was just a track. 21 The construction of a housing project by the Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, (CDHU), in place of a former abandoned cinema, occupied by the residents movement, alongside a closed condominium called, All Included, led the neighborhood associations and entities – Conseg, Amo Mooca, Rotary Club and the Freemasons to bring pressure to bear so that the new low income residents would not move there. Interview with Elizabeth Florido. Furthermore, the Mooca Sub-district City Administration will send a demand by the residents for removing the
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ZEIS when the PRE is reviewed. 22 Source: Amaral d’Avila Engenharia de Avaliações, in. FSP January 23, 2005. In 2005 the index was still high, with 7 launches, according to a survey by Embraesp. Gazeta Mercantil, December, 2004. 23 Launched in 2006, the largest condominium in the neighborhood has the suggestive name of Central Park Mooca, and involves an area of 47,000 m2, with 9, 24 storey tower blocks and the promise of one of the “biggest private parks in the city”. 24 This market is divided in the State between 1200 construction companies. Vejinha Special Edition (Real Estate Guide), 11/01/2005. This competition obliges companies to cut costs, reduce profit margins and cut back on market research. This ends up by standardizing architectonic projects, making all facades the same. This is reinforced, according to some specialists, by the lack of cultural capital of the purchasers, which prevents them from recognizing the “style”, thus letting themselves be seduced by the real estate marketing. It is worth noting that the property developers spend around 3% to 6% of the VGV (general sales value) of the undertaking on marketing, while the architect receives, on average, 0.5% to 1.5% of the VGV. In. Market logic standardizes architecture. Folha de São Paulo, 15/01/2006. 25 Interview, Daniel Setin, responsible for Setin’s institutional marketing. 26 These topics are set out in the various phases of the Tapume Project, which involves the work of the cartoonists (the “identification phase”), the intervention of graffiti artists from the NGO, Cidade Escola Aprendiz [City Apprenticeship School], coordinated by the journalist, Gilberto Dimenstein, (“community phase”) and the artistic education of the workers on the building site, by means of the Mestres da Obra [Foremen] Project (“physical phase”) each of these stages requires an specific analysis. For our objectives, we analyzed only the Identification phase. 27 The Monumenta [Monument] Project, coordinated by the Ministry of Culture, the Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),in partnership with UNESCO and funding from the IDB, allies recovery of the main urban heritage sites to sustained development. Site www.unesco.org.br 28 Among them, financial help for an institution for the visually handicapped in the neighborhood, the celebration of the neighborhood’s 450th anniversary and sponsorship for publication of a book on the history of the neighborhood.
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PLANO REGIONAL ESTRATÉGICO – Subprefeitura da Mooca, 2004.
INDUSTRIAL MEMORY AND URBAN TRANSFORMATION AT THE TURN OF THE XXIST CENTURY: THE CASES OF BRÁS, MOOCA, BELENZINHO AND PARI
Verônica Sales Pereira
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INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.2, n.4, Art 6, aug 2007 www.interfacehs.sp.senac.com.br
PROJETO DESENVOLVIMENTO LOCAL E REVITALIZAÇÃO DA VILA MARIA ZÉLIA: a
implantação do Museu do Trabalho da Cidade de São Paulo. São Paulo, Dezembro de
2004. SDTS-SC-SVMA – Subprefeitura Mooca.
FOLHA DE S. PAULO
O ESTADO DE S. PAULO
JORNAL DA TARDE
REVISTA VEJA SÃO PAULO
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1
POLÍTICAS SOCIAIS E POLÍTICAS DE BEM-ESTAR:ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES Marinilzes Moradillo Mello
PhD em Educação pela Unicamp; diretora do Departamento de Planejamento e Informática da Educação da
Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos; marinilzes@gmail.com
RESUMO O artigo discute o conceito de políticas públicas, procurando enfatizar a centralidade das
políticas sociais para o desenvolvimento e a expansão da cidadania. Para isso, retoma o
debate acerca de sua emergência e expansão, ressaltando alguns fatos e experiências na
América Latina, com destaque para o papel da esquerda. A experiência brasileira é
evocada de passagem no período que vai desde a década de 1930 até o final dos anos
80. Finalmente, chama a atenção para o pensamento de esquerda com relação à
centralidade das políticas sociais e o desenvolvimento econômico da América Latina.
Palavras-chave: cidadania; América Latina; pensamento de esquerda; políticas públicas;
políticas sociais; welfarismo.
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O SENTIDO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Na análise de políticas públicas é preciso atentar para a relação estabelecida entre
Estado e as políticas que este implementa em uma dada sociedade e momento histórico e
também para o fato de essa relação conotar dois conceitos tão importantes quanto
diversos, a saber, de Estado e de governo. Segundo Höfling, enquanto o conceito de
Estado remete para o conjunto de instituições permanentes, tais como órgãos legislativos,
tribunais, exército e outras que, não necessariamente, formam um bloco monolítico, o de
governo conota o conjunto de programas e projetos desenhados para a sociedade como
um todo por políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros, segundo “a
orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de
Estado por um determinado período” (2001, p.30). Na perspectiva de Höfling, mais que
dispor de instrumentos sofisticados, na avaliação de programas, projetos e políticas
públicas, é importante considerar as chamadas ‘questões de fundo’, uma vez que são
elas que esclarecem, “basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os
caminhos de implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a
uma estratégia de intervenção governamental qualquer” (p.30).
Se o sentido de políticas públicas não pode ser reduzido ao de políticas estatais,
pode e deve ser associado ao de políticas sociais implementadas pelo Estado –
educação, saúde, previdência, habitação, saneamento etc. – com maior ou menor padrão
de proteção social. Concebo políticas sociais como uma rede de proteção, de bem-estar,
implementada pelo Estado a garantir a todo cidadão tipos mínimos de renda, alimentação,
saúde, habitação e educação, os quais devem ser assegurados enquanto direito político e
não como caridade (Harold Wilensky, citado em BOBBIO, 1992). Mais, afirmo a
centralidade do debate acerca de sua natureza e contextos de implementação, pelo fato
mesmo de terem nascido e se desenvolvido em decorrência da formação e de disfunções
do Estado capitalista e também de sua natureza e extensão dependerem do tipo de
governo no qual se movimentam. Ou seja, se é verdade que o futuro do capitalismo se
encontra no mínimo ameaçado de estagnação (THUROW, 1996) ou em franco declínio
(TODD, 2002; WALLERSTEIN, 2002), não é menos verdade que os efeitos devastadores
desse status continuam a repercutir sobre as populações do mundo inteiro, em particular
a dos países periféricos ou em desenvolvimento.
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REPENSANDO POLÍTICAS DE BEM-ESTAR
Para alguns autores, políticas de bem-estar ou do welfare state (WS) são a
conseqüência natural das mudanças geradas pelo processo de industrialização (Wilenski
e Titmuss, citados em ARRETCHE, 1995). O argumento central é que a aceleração da
industrialização teria levado à intervenção do Estado sob a forma de desenvolvimento de
políticas sociais, visando compensar os desequilíbrios sociais gerados pelo crescimento
econômico. Há, segundo essa teoria, uma correlação entre Estado de bem-estar e
programas sociais, os quais derivariam do excedente econômico gerado pela
industrialização. Para outros, o welfarismo decorreria de padrões culturais de uma dada
formação social.1 Isso explicaria a razão pela qual a instituição não teria florescido nos
Estados Unidos, país onde predomina a crença nos valores liberais como ideal de
democracia, além de outros fatores intrínsecos à sociedade americana como a excessiva
descentralização e a fragmentação política, por exemplo. Outros ainda creditam a origem
das políticas de bem-estar à crescente complexidade da divisão social do trabalho,
decorrente da industrialização (Titmuss, citado em ARRETCHE, 1995, p.11). Baseado na
tese durkheiminiana – segundo a qual, quanto mais industrializada a sociedade mais
dependente dela se torna o indivíduo, em virtude da especialização da produção –, o
argumento sustenta que “os serviços sociais são respostas a necessidades (quer
individuais, quer sociais), que visam garantir a sobrevivência das sociedades” (ibidem,
p.10). Já alguns autores como Marshall (1967) viam nas políticas sociais a evolução
lógica e natural da ordem social em si mesma, diga-se, da sociedade capitalista. A base
para sua argumentação é a evolução da lei de proteção aos pobres na Inglaterra que,
progressivamente, foi deixando de tratar a pobreza indistintamente, cedendo lugar a
políticas voltadas para segmentos específicos da sociedade como crianças, velhos,
desempregados e indigentes. Para Offe e Ronge (1984), no entanto, as políticas sociais
não passariam de estratégia geral de ação do Estado capitalista para criação das
condições necessárias à inclusão de todo cidadão nas relações de troca. A afirmação
fundamenta-se na análise que fazem os autores das quatro funções institucionais do
Estado – privatização da produção, dependência de impostos, acumulação como ponto
de referência e legitimação democrática – em decorrência das quais se manifesta a
evidência de que, em uma sociedade capitalista de classes, o Estado defende os
interesses comuns de todos os membros da sociedade.
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Independentemente das análises sobre a emergência do WS, a relação entre
políticas sociais ou de bem-estar e o capitalismo já era objeto de preocupação de
economistas políticos clássicos do século XIX quer de tendência liberal, quer de
conservadora ou marxista, cem anos antes do reconhecimento mesmo da existência do
welfare state. Com efeito, se de um lado os liberais sustentavam a crença no mercado
como instituição capaz de promover a riqueza e o equilíbrio entre as classes, os marxistas
viam-no exatamente como a antítese da igualdade social e mesmo aprofundamento das
divisões de classe, exatamente pelo fato de a acumulação do capital requerer a
privatização dos bens socialmente produzidos e a concentração de renda dela decorrente
sob a hegemonia da elite (ESPING-ANDERSEN, 1991). Analisando a questão, Paiva
(1991) afirma que, para os marxistas, além de uma instituição potencialmente
contraditória o WS constitui uma concessão do capitalismo às demandas das massas,
incapaz de promover a emancipação social. Nessa direção, mais que uma força
transformadora como querem alguns, os programas sociais keynesianos não passariam
“de uma força reguladora, disciplinadora e amenizadora de conflitos, condição para
extração da mais-valia e estabilidade de valorização do capital” (p.171). Se para alguns o
Estado de bem-estar é parte inerente das sociedades de capitalismo avançado e, por
isso, ao contrário da crença corrente – alinhada com o pensamento da esquerda2 ou da
direita – constitui mais que um novo estágio do capitalismo a reestruturação das
sociedades capitalistas que o adotaram (KING, 1988), outros o definem como
um campo de escolhas, de solução de conflitos no interior de sociedades
(capitalistas avançadas), conflitos nos quais se decide a redistribuição dos
frutos do trabalho social e o acesso da população à proteção contra riscos
inerentes à vida social, proteção concebida como um direito à sociedade.
(ARRETCHE, 1995, p.35)
O que prevalece é que, independentemente da ideologia subjacente às analises
produzidas acerca dessa relação, a questão de fundo nela encontrada é o
equacionamento entre o mercado (propriedade) e o Estado (democracia), tendo como
resultado a neutralização da luta de classes. Neste sentido, afirma Heimann, “o equilíbrio
do poder de classe altera-se fundamentalmente quando os trabalhadores desfrutam de
direitos sociais, pois o salário social reduz a dependência do trabalhador em relação ao
mercado e aos empregadores e assim se transforma numa fonte potencial de poder”
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(citado em ESPING-ANDERSEN, 1991, p.89). Não menos importante é a afirmação de
King (1988), para quem as políticas de bem-estar, resultantes como são da pressão da
classe trabalhadora e das inovações nas políticas realizadas pelo funcionalismo de
Estado (nos países centrais), poderiam promover a transformação social desde que de
caráter desmercantilizante, uma vez que se trata de políticas sociais que reforçam os
direitos de cidadania3 e desenvolvem os laços de solidariedade na sociedade em
detrimento das leis do mercado, favorecendo com isso a democracia.
BEM-ESTAR E CIDADANIA
A razão pela qual o conceito de cidadania social se tornou central nas abordagens
sobre o welfare state e a defesa da democracia é que ele remete aos direitos intrínsecos
à condição humana e à vida em sociedade, privilegiando o status do indivíduo enquanto
ser social sobre o indivíduo enquanto agente do mercado. Privilegiar não significa,
entretanto, anular ou substituir. Isto porque na noção de cidadania encontra-se também a
de estratificação social, cuja dependência do mercado é identificada na Lei de Wagner
(citada em ESPING-ANDERSEN, 1991, p.92), segundo a qual a garantia dos direitos de
cidadania depende da ocorrência de certo nível de desenvolvimento econômico e,
portanto, de excedente, que torne possível desviar recursos produtivos para a previdência
social.
Assim, se é certo que o exercício da cidadania – a primazia do status social sobre
o individual – pode levar ao ordenamento das relações sociais ou ao equilíbrio do poder,
não é menos certo afirmar que, por si só, a participação social não garante igualdade,
servindo quando muito para atenuar a desigualdade entre as classes. Não sem razão
Marshall (1967) afirma que
há uma espécie de igualdade humana básica associada com o conceito de
participação integral na comunidade, ou, como eu diria, de cidadania – o
qual não é inconsistente com as desigualdades que diferenciam os vários
níveis econômicos da sociedade. Em outras palavras, a desigualdade do
sistema de classes sociais pode ser aceitável desde que a igualdade de
cidadania seja reconhecida. (p.62)
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A afirmação de Marshall reforça a crença de que a relação entre o sistema
capitalista e o ideal democrático é, no mínimo, problemática, para não dizer de
incompatibilidade. O que se ressalta é que, se democracia tem a ver com direitos de
cidadania, e esta pressupõe solidariedade e igualdade, tanto do ponto de vista do
exercício do poder como da distribuição de renda (BOBBIO, 1986), então não pode haver
compatibilidade entre ela e o capitalismo, sistema que não privilegia relações sociais
desmercantilizantes e que trabalha, por excelência, com a sua antítese, dado o
pressuposto que o move, a saber, o da satisfação hegemônica do indivíduo em relação à
sociedade. Mas o argumento não é tão simples e linear quanto pode parecer à primeira
vista. Assim, à pergunta de por que as democracias capitalistas não ruíram no período
pós-1968 e com as crises econômicas da década de 1970, quando o poder estabelecido
foi balançado e parecia concreta a emergência de uma nova ordem social, a resposta
deve ser encontrada em Marshall (1967), segundo a qual não há incompatibilidade entre
cidadania e classe social. Na verdade, a pressão das massas não significa uma ameaça
real ao poder constituído. Trata-se de demandas por reformas – econômicas, sociais e
políticas – dentro do próprio sistema e, sem dúvida, de pressão por uma maior
participação política, cuja efetividade, entretanto, não levaria à anulação do sistema. A
julgar pela classificação de Marshall, quanto aos elementos da cidadania,4 poder-se-ia
dizer em relação à pressão das massas que se trata de reivindicações de ampliação de
direitos civis e sociais, que não põem em risco, portanto, o sistema.
Se por um lado há certa incompatibilidade entre democracia e capitalismo, e a há
– pelo menos com relação à democracia plena e à ampliação substancial da cidadania
social –, por outro lado, o regime democrático empresta legitimidade ao sistema e torna o
jogo da dominação de classe um contrato palatável para as massas. Não é à toa que os
direitos civis tenham precedido os direitos políticos na democracia liberal no passado, em
um primeiro momento da constituição dos direitos sociais, ou que estes não tivessem,
nem de longe, o status de cidadania, como afirma Marshall (1967):
os direitos sociais do indivíduo eram originados do status que também
determinava que espécie de justiça ele podia esperar e onde podia obtê-la,
e a maneira pela qual podia participar da administração dos negócios da
comunidade à qual pertencia. Mas esse status não era de cidadania no
moderno sentido da expressão. Na sociedade feudal, o status era a marca
distintiva de classe e a medida de desigualdade. Não havia nenhum código
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uniforme de direitos e deveres com os quais todos os homens – nobres,
plebeus, livres e servos – eram investidos em virtude de sua participação
na sociedade. Não havia, nesse sentido, nenhum princípio sobre a
igualdade dos cidadãos para contrastar com o princípio da desigualdade de
classes.
A base para o florescimento dos direitos sociais pode ter sido lançada no século
XIX, contudo os princípios dos direitos sociais como parte integrante do status de
cidadania, tal qual sustentado hoje, só começaram a ser admitidos a partir do
estabelecimento da educação primária pública no final do século. O que prevalece é que
os direitos sociais eram desligados do status de cidadania, não sendo as reivindicações
dos pobres parte integrante de seus direitos de cidadão. Antes, as reivindicações tinham o
caráter de ‘proteção’, ligando-se portanto ao conceito de desigualdade. Contudo, como
admitido por Marshall, se os direitos sociais não reduziram a desigualdade social no final
do século XIX, certamente abriram caminho para as políticas sociais igualitárias do século
XX, cuja ascensão e início de declínio não abrangeriam mais que um quarto de século,
conforme assinala Wallerstein (2002). A conseqüência desse declínio não seria sem ônus
quer para os países centrais que lograram êxito em sua implementação, quer para os
demais que, até hoje, continuam sofrendo os efeitos da promessa não cumprida de
modernidade.
Um dos críticos mais lúcidos do capitalismo, Clarke (1994) afirma que as políticas
de bem-estar resultaram na ascensão do neoliberalismo, projeto concebido pela direita
para superar a crise de acumulação do capital, identificada na impossibilidade de o
Estado, nas nações de capitalismo avançado, continuar corrigindo as mazelas do
mercado. Tratado inicialmente pela esquerda como uma aberração, o neoliberalismo
tornou-se cada vez mais forte, no entender de Clarke, obrigando a social-democracia a
rever seus projetos de domesticação do capitalismo. Criticando o pensamento de
esquerda, Clarke afirma que ele se deixou seduzir pela possibilidade de domesticação do
capitalismo, iludindo-se até com a dita humanização da relação entre capital e trabalho,
tornada possível, acreditava-se, pela reorganização do trabalho requerida pelas novas
tecnologias.
O resultado da falência das políticas sociais de bem-estar foi assim visto por
Santos (2000):
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o agravamento das condições sociais, já de si tão precárias, foi
brutal. A dívida externa, a desvalorização internacional dos produtos que
colocam no mercado mundial e o descréscimo da ajuda externa levaram
alguns destes países à beira do colapso ... Se as assimetrias sociais
aumentaram no interior de cada país, elas aumentaram ainda mais entre o
conjunto dos países do Norte e o conjunto dos países do Sul. Esta
situação, que alguns festejaram ou toleraram como a dor necessária do
parto de uma ordem econômica finalmente natural e verdadeira, isto é,
neoliberal, foi denunciada por outros como uma desordem selvática a
necessitar ser substituída por uma nova ordem econômica internacional.
(p.18)
Wallerstein (2002) apresenta um quadro analítico da trajetória do capitalismo,
ressaltando os períodos de sua renovação, a que identifica como revisionismo ou
reformismo liberal, destacando a fase atual, de seu declínio, mas também as
possibilidades de uma nova ordem para a humanidade, que pode, em seu entender,
surgir ‘após o liberalismo’. Compreender essa trajetória é remontar à história de como, ao
longo dos séculos, o sistema capitalista reinventou-se e mesmo influenciou o que deveria
ser seu movimento contrário ou de sua superação, a revolução socialista.
Para Wallerstein (2002), o reformismo liberal constitui uma era que vai de 1789,
data da Revolução Francesa, até 1989, ano que marca a queda do muro de Berlim e o
aparente fim do comunismo. Sem me deter nos princípios do liberalismo,5 chamo a
atenção para certas características reveladas pelo autor, algumas das quais conhecidas,
outras instigantes ou mesmo controversas, creio, para boa parte da esquerda. Assim, se
não é fato desconhecido a hegemonia política, econômica e militar dos Estados Unidos
sobre o mundo, após, sobretudo, a Segunda Guerra Mundial, tampouco passa
despercebida a sua falência,6 fixada por Wallerstein a partir de 1968. O instigante na
análise de Wallerstein é que ele associa o liberalismo wilsoniano7 – que defende a
entrada dos Estados Unidos na guerra em defesa da democracia e do direito à
autodeterminação das nações – a correntes revisionistas da esquerda e mesmo ao
leninismo, cunhando a expressão wilsonismo-leninismo. Afirma que, se por um bom
período da história dos Estados Unidos e dos países ocidentais centrais, dedicou-se o
programa liberal à domesticação das classes trabalhadoras por meio do sufrágio universal
e do Estado de bem-estar social, sua tradução para o movimento comunista internacional,
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sob a liderança da União Soviética, foi a luta contra o imperialismo ou de libertação
nacional, com destaque para o desenvolvimento econômico, rebatizado, para ele, de
desenvolvimento socialista. A esse respeito não poderia ser mais claro: “o leninismo,
grande adversário do liberal-socialismo no nível nacional, começava a ficar suspeitamente
parecido com ele no nível internacional” (p.243).
À parte o inusitado da afirmação da similaridade de ação entre o wilsonismo e o
leninismo, vale ressaltar que, para Wallerstein (2002), a era em questão é marcada
igualmente por rupturas e ‘anomalias’, uma das quais particularmente importante, pois diz
respeito à ambigüidade do papel do Estado, visto e aprisionado por cada uma das
correntes ideológicas (segundo suas conveniências), e pela emergência do
conservadorismo e do socialismo.
POLÍTICAS SOCIAIS VERSUS PENSAMENTO DE ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA
De certo modo, as idéias de Wallerstein encontram-se presentes na análise que
faz Fiori (2006) sobre o abandono das idéias desenvolvimentistas pela esquerda na
América Latina e sobre a “dificuldade atual do ‘desenvolvimentismo’ para recuperar
audiência e fôlego teórico, e deixar de ser apenas uma trincheira de resistência pontual, e
de contenção limitada de alguns excessos ou demasias neoliberais, dos próprios social-
democratas”. Fazendo a ressalva de que toda reconstrução histórica é tanto arbitrária
quanto imprecisa, Fiori localiza o início do ímpeto desenvolvimentista no México e em
Cárdenas,8 por volta dos anos 30, período, observe-se, entre a Primeira e a Segunda
Guerra Mundial, coincidindo com o início do wilsonismo (WALLERSTEIN, 2002) e a
emergência do socialismo, que resultou na exportação das teorias libertárias – uma das
quais o leninismo – para os países subdesenvolvidos, especialmente os do continente
africano e da América Latina.
Segundo Fiori, o programa nacionalista e desenvolvimentista de Cárdenas teria se
transformado, com pequenas variações,
no denominador comum de vários governos latino-americanos, que depois
foram chamados de ‘nacional-populares’ ou ‘nacional-desenvolvimentistas’,
como foi o caso de Vargas, no Brasil, Perón, na Argentina, Velasco Ibarra,
no Equador, e Paz Estenssoro, na Bolívia, entre outros.
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Note-se, como alertado por Fiori, que, apesar de serem esses líderes conservadores –
longe portanto de serem reconhecidos como socialistas ou marxistas –, suas idéias
políticas e posições internacionais transformaram-se na referência obrigatória da
esquerda latino-americana. Ocorre, diz Fiori, que, entre 1930 e 1980, “a relação da
esquerda com o ‘desenvolvimentismo’ transformou-se no núcleo duro de sua produção
intelectual e política”, especialmente pelo fato de os partidos comunistas latino-
americanos terem adotado a “estratégia democrática9 e reformista de conquista do poder
e transformação do sistema capitalista”. No entanto, diz o autor, o Brasil apresenta uma
especificidade quanto à relação entre esquerda e desenvolvimentismo, em comparação
com os demais países latino-americanos, a qual, em seu entender, marcaria
definitivamente a história do país. Nas palavras do próprio autor:
O primeiro, foi o desaparecimento precoce da Aliança Nacional
Libertadora (ANL), a primeira grande mobilização democrática nacional e
urbana, de classe média e de centro-esquerda, que ocorreu no Brasil e foi
abortada e dissolvida prematuramente, depois do fracasso da rebelião
militar comunista, de 1935. E o segundo, foi o golpe de estado de 1937,
que inaugurou o governo autoritário do Estado Novo de Getulio Vargas e
suas primeiras políticas industrializantes e trabalhistas que tiveram uma
forte conotação anticomunista e anti-esquerdista.
Em decorrência, diz Fiori, só a partir da década de 1950 a esquerda brasileira viria
a se aproximar ou reconciliar com algumas teses e propostas do ‘desenvolvimentismo
conservador’ de Vargas. Mas é, sobretudo, durante o governo de Juscelino, ressalta o
autor, que o ideário desenvolvimentista se impõe, encabeçado pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB). Este abandona a estratégia revolucionária, em prol da defesa de um
projeto de desenvolvimento nacional, a ser liderado pela burguesia industrial do país. A
partir de então, continua Fiori, teses e propostas transcendem “as pequenas fronteiras
partidárias do PCB”, influenciando fortemente a intelectualidade de esquerda brasileira.
Esta nova esquerda ‘nacional-desenvolvimentista’, sustenta Fiori – confirmando, diria eu,
o argumento de Wallerstein quanto à adesão da esquerda ao ideário de libertação
nacional e desenvolvimento autônomo das nações, sustentado pelo liberalismo woodriano
–, proporia, no início da década de 1960, as ‘reformas de base’, de modo a acelerar a
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“democratização da terra, da educação, do sistema financeiro e do sistema político”.
Conforme relembra o autor, tais reformas seriam em parte incluídas no Plano Econômico
Trienal, concebido em 1963 por Celso Furtado, ministro do Planejamento na época, sob
fortes críticas de outro segmento de esquerda, este constituído por um grupo10 de
intelectuais marxistas da Universidade de São Paulo, liderados por Fernando Henrique
Cardoso.
Com a instauração do regime militar em 1964, prossegue Fiori, a relação entre
esquerda e desenvolvimentismo foi ainda mais comprometida, tendo os militares
abandonado suas idéias ultraliberais e retomado, nos anos 70, a proposta varguista de
desenvolvimento conservador e autoritário, reavivando com isso traumas e lembranças da
esquerda. O resultado, diz Fiori (2006), é que:
quando a esquerda brasileira volta à cena política democrática, na década
de 80, a maior parte de sua militância juvenil já tinha um forte viés anti-
estatal, anti-nacionalista e anti-desenvolvimentista, e considerava que a
organização social e a defesa dos direitos da sociedade civil – através dos
‘movimentos sociais’ e das ‘organizações não governamentais’ – era mais
importante que a luta política pelo poder do Estado.
Interessante observar, ainda segundo Fiori, o embate que se dá entre “intelectuais
e políticos ‘mais velhos’” e os herdeiros do “marxismo paulista dos anos 60”, assim
denominados pelo autor. Enquanto os primeiros se mobilizam em torno da constituinte,
alcançando “vitórias significativas na Constituição de 1988” – remetendo para a reforma,
aprofundamento e democratização do desenvolvimentismo sob a égide de um ‘estado de
bem-estar social’ – os segundos, sobretudo no decorrer da década de 1990, mostrariam
“sua intolerância com o nacionalismo, o desenvolvimentismo e o populismo”, propondo,
alternativamente, “um novo tipo de desenvolvimento ‘dependente e associado’ com os
Estados Unidos, só compatível com as políticas e reformas neoliberais”. Derrotava-se
assim, no campo das idéias e da luta pelo poder, a velha esquerda, como bem ilustram
várias passagens, nesse capítulo, de representantes do pensamento da nova esquerda.
Diz Fiori (2006):
Este ‘pacote intelectual’ nasceu em São Paulo e penetrou
profundamente a intelectualidade dos dois partidos social-democratas que
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também nasceram naquele estado, o PSDB e o PT. Por isto, não é de
estranhar a dificuldade atual do ‘desenvolvimentismo’ para recuperar
audiência e fôlego teórico, e deixar de ser apenas uma trincheira de
resistência pontual, e de contenção limitada de alguns excessos ou
demasias neoliberais, dos próprios social-democratas.
De acordo com o que precede, fica claro o argumento de Wallerstein em relação à
similaridade de ações do wilsonismo-leninismo e também à desconfiança dos indivíduos
em relação ao Estado, nos anos pós-1968. No tocante a este último, Wallerstein (2002)
afirma que as pessoas tanto se voltam para o Estado “em busca de ajuda para enfrentar a
vida” como também o denunciam, “junto com as políticas em geral, por inútil e até
perverso” em relação à reestruturação do mundo que desejariam (p.14). Importante
ressaltar a indagação que faz o autor sobre o que farão as pessoas para influir no rumo
da transição. A resposta é contundente quanto à pertinência de uma via alternativa, ou,
pelo menos, complementar à ação do Estado, supostamente exercida pela sociedade
civil.
No que diz respeito à sociedade civil em particular, Wallerstein crê tratar-se de um
slogan enganoso, que se desenvolveu na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, no
século XIX. Enganoso porque, de um lado, só pode existir sociedade civil em Estados
dispondo de instrumentos para alicerçá-la, o que significa o poder de organizar cidadãos
no contexto do Estado para desenvolver atividades e participar de política indireta, ou
extrapartidária, por ele legitimadas (p.14). E, por outro, porque, se ela é essencial à
construção de Estados liberais, elemento de apoio “à ordem interna e sistêmica mundial”
(ibidem), ela é também (e talvez hoje principalmente) utilizada para a instalação de
estruturas de Estado liberais onde elas ainda não existem. O golpe de misericórdia de
Wallerstein em relação à sociedade civil – cuja existência, segundo o autor, teria se
prolongado ao longo de dois terços do século XX, manifestando-se ainda hoje em
Estados em fase de constituição – é que ela estaria em desintegração pela decadência
mesma do Estado, acrescentando, ainda, que seria exatamente essa desintegração do
Estado “que os liberais contemporâneos lamentam e os conservadores encorajam
discretamente” (ibidem).
Apesar das observações contundentes à ação do Estado liberal, Wallerstein
(2002) é categórico ao reafirmar sua importância para a promoção do bem-estar,
conforme se depreende desta passagem:
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Mas o fato é que a ação do Estado tem sido um fator inelutável
nesse processo de enfrentamento, e que as iniciativas de pessoas comuns
visaram, justificada e inteligentemente, conseguir que o Estado agisse de
determinada maneira. Apesar da desordem, da confusão e da
determinação incessante, isto ainda se verifica. Os Estados podem agravar
ou mitigar o sofrimento, mediante a alocação de recursos, o grau de
proteção conferido aos direitos e as intervenções nas relações sociais entre
diversos grupos. (p.13)
Na linha contrária à análise de Wallerstein, Santos (2000) afirma que “a simetria
antagônica da solidez do capitalismo e do marxismo e a história das estratégias de cada
um deles para dissolver o outro no ar constituem uma das narrativas centrais da
modernidade no nosso século” (p.24). Para o autor, a idade de ouro do marxismo pode
ser considerada a última década do século XIX, no plano da produção teórica e
sociológica. Ocorre que nesse período o marxismo começou a ser estudado em
universidades, e seus fundamentos circularam em revistas importantes da época. É
também no período que se dá o grande embate entre as idéias de Marx e as de Weber,
quanto às origens do capitalismo, a centralidade da economia na vida social e política, e
também quanto às classes sociais e formas de desigualdade, e, finalmente, sobre as leis
de transformação social ou socialismo (p.25).
Ainda, e não muito distante da idéia de Clarke (1994) – e também de Fiori (2006) –
sobre o desnorteamento do pensamento da esquerda em relação à nova face do
capitalismo, para Santos (2000) o capitalismo ganha radicalidade na década de 1980,
com a ascensão dos partidos conservadores na Europa e nos Estados Unidos, e o
conseqüente isolamento progressivo dos partidos comunistas e descaracterização política
dos partidos socialistas (p.29). Altera-se a ordem mundial com a sujeição dos países
periféricos e semi-periféricos à transnacionalização da economia, sob o comando de suas
instituições de financiamento – o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. A
lógica da economia do mercado e da livre iniciativa, por conseguinte do Estado mínimo e
da mercantilização das relações sociais, provoca o fortalecimento sem igual da cultura de
massa e da celebração do individualismo, de caráter privatista e consumista, levando ao
pensamento único da impossibilidade de saída para o status quo ou de uma sociedade
alternativa ao capitalismo, que dirá, ao exercício da práxis solidária, da compaixão ou
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revolta perante a injustiça social sustentada pelo marxismo. A débâcle final seria o
colapso dos regimes comunistas do Leste Europeu, transformando enfim o marxismo em
nada mais que uma teoria anacrônica de explicação e transformação da história. Contudo,
alerta Santos (2000, p.31), se de um lado nos países centrais as revisões teóricas do
marxismo11 aprofundavam o fosso teórico entre o debate e a realidade, contribuindo
dessa maneira para o aparente anacronismo da teoria libertária, nos países periféricos,
estudos de origem marxista sobre os novos movimentos sociais e processos de transição
democrática viriam a constituir-se em fonte de sua renovação.
Se o período analisado marca para Santos (2000) o recrudescimento do
conservadorismo, propicia, ao mesmo tempo, uma nova era para o marxismo. Nessa
direção, emerge o debate interno nos movimentos de esquerda sobre a questão teórica
posta pelo marxismo da “tensão12 ou equilíbrio entre estrutura e acção”, isto é, sobre
os constrangimentos e as possibilidades sociais que preexistem à acção
dos indivíduos e grupos sociais e a condicionam de modo mais ou menos
decisivo; e, por outro lado, a autonomia, a criatividade e a capacidade dos
mesmos indivíduos e grupos de, por via da sua acção e prática, mudarem
as estruturas e transformarem a sociedade. (SANTOS, 2000, p.28)
POLÍTICAS SOCIAIS À BRASILEIRA
É útil relembrar as estratégias postas em prática no país para a manutenção e
reprodução do capital e a conseqüente instituição de políticas sociais. Reiterando Paiva
(1991), creio que, apesar de as políticas sociais no Brasil não terem configurado
verdadeiramente um Estado de bem-estar (WS), dois argumentos bastam para evocá-las
segundo este enfoque. O primeiro é que nem sempre questões teóricas e problemas
concretos convergem no tempo e no espaço. Isso justifica, por exemplo, o fato de o
debate sobre o alcance do WS no Brasil ter-se dado, praticamente, em um momento no
qual já se discutia a tendência ao seu desmonte nos países centrais. Ou seja, a
sociedade brasileira não teria logrado acompanhar o debate por ocasião mesmo da
emergência e desenvolvimento do WS nos países de capitalismo avançado. Em segundo
lugar, mesmo não tendo vivido a experiência propriamente de um Estado de bem-estar, a
sociedade brasileira sofreu o impacto de sua nova configuração, por exemplo no novo
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papel atribuído à educação, o de fator de desenvolvimento social e econômico, opção dos
governos do período de exceção mas também da redemocratização, especialmente nos
anos 90.
Para Draibe (1997), as políticas sociais brasileiras compreenderiam três fases
distintas. A primeira, que vai da década de 1930 até a década de 1970; a segunda,
correspondendo à década de 1980, com destaque para a Nova República; e, finalmente,
a terceira e atual, iniciada com a Constituição de 1988. Cada fase distingue-se das
demais pelo contexto social, político e econômico, bem como pelas relações
estabelecidas pelos atores – governo, empresários e trabalhadores –, as quais
configuram distintas correlações de forças, diretamente ligadas à coesão de cada grupo e
a seu poder de organização. Porém, segundo afirmado pela autora, em todas o país teria
experimentado uma crise econômica que se refletiu na crise social, com implicações
severas para o quadro de pobreza existente no país.
No primeiro período, entre 1930 e 1970, o país vivenciou um grande impulso
econômico com a industrialização, favorecida entre outros fatores pela crise mundial de
1929-1930 e pela necessidade de substituição das importações, em decorrência da
Segunda Guerra Mundial. Analisando a questão, Humphrey (1983) afirma que o maior
boom da industrialização brasileira ocorreu entre 1968 e 1974, durante o regime militar,
período em que o país cresceu cerca de 10% ao ano, caracterizando a fase do ‘milagre
brasileiro’. No entanto, diz o autor, o que parecia constituir uma esperança de rompimento
do círculo de subdesenvolvimento e pobreza em que se encontrava, o país acabou por
aprofundar o gap já existente entre os mais ricos e os mais pobres, recaindo sobre estes
o ônus da rápida industrialização.
É também no período que se intensifica a dependência do país ao capital externo
e a falência do Estado provedor (BACELAR, 1996). Ocorre que, com o fim da Segunda
Guerra Mundial e a reintegração do sistema econômico mundial sob a hegemonia dos
Estados Unidos, o país precisou optar entre promover o desenvolvimento da indústria
pesada, com a intervenção do Estado na economia e o conseqüente enfraquecimento das
exportações, e o desenvolvimento de bens duráveis com a ajuda de investimentos
externos. O lema de Juscelino de “50 anos em cinco” resultou em pesados investimentos
do país e do capital estrangeiro, não sem conseqüências importantes para os mais
pobres, sobretudo em decorrência da inflação. Importante reiterar que a estratégia de
desenvolvimento adotada pelos governos militares nos anos pós-golpe de 1964 –
centrada no controle da inflação mediante o rebaixamento do custo de salário e o
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aumento da produtividade – não só se mostrou incapaz de assegurar um padrão de vida
melhor à classe trabalhadora e aos mais pobres, como também engendrou a necessidade
de a ditadura reprimir a oposição às políticas econômicas, além de ter intensificado o
papel hegemônico das empresas multinacionais na economia brasileira. Ou seja, o
modelo de desenvolvimento econômico posto em prática pelos governos militares
revelou-se concentrador e elitista e só fez acentuar o quadro de injustiça social na
sociedade brasileira.
Reiterando análises precedentes, Vieira (1995) afirma que o período áureo de
crescimento dos países em desenvolvimento ocorreu entre meados dos anos 50 e a
metade dos anos 70, período no qual o Estado brasileiro teria se tornado empresário,
graças à substituição das importações e ao fomento do setor manufatureiro. No período
subseqüente, em particular após a crise do petróleo, ocorreria o questionamento da
presença do Estado no setor produtivo, com o empresariado assumindo, no final da
década de 1980, comportamento ativo na sociedade brasileira. O resultado, para a autora,
teria sido a ruptura ideológica em “relação às fases anteriores da modernização
capitalista” (VIEIRA, 1995, p.71) e a perda da hegemonia do estatismo e nacionalismo
(p.33).
De fato, considerados de transição, os anos 80 representam um momento
particularmente difícil na história da política brasileira, graças à crise econômica de
amplas dimensões, que atingiu a todos os setores da sociedade. À hiperinflação, que
atormentava a vida dos mais pobres e favorecia a dos mais ricos, soma-se um forte
endividamento externo, que submete o país inteiramente ao controle dos órgãos
financeiros internacionais. Para agravar ainda mais esse quadro, o país mergulhara na
recessão e no desemprego, tornando premente uma solução para as questões sociais. É
nesse contexto que nasce o governo da Nova República e, com ele, a agenda da
estabilização, da revitalização do mercado, da reinserção internacional e da meta da
institucionalização da democracia (DINIZ, 1997, p.42). Contudo, apesar do discurso
progressista e da promessa de resgate da dívida social, o governo da época colocaria
ainda em primeiro plano as questões econômicas, deixando, uma vez mais, a política
social à margem de suas prioridades, contra a expectativa de amplos segmentos da
população.
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À GUISA DE CONCLUSÃO
Diante do que precede, fica claro que em cada fase do desenvolvimento da
sociedade brasileira a questão social nunca se constituiu em prioridade para os diversos
governos, democráticos ou não, e as poucas políticas que mereceriam ter esse nome não
lograram êxito por uma série de razões. Ao contrário, no contexto das políticas públicas o
lugar de destaque sempre coube às políticas econômicas. Os anos do milagre brasileiro
denotam que o objetivo foi acelerar o processo de industrialização e fazer do Brasil uma
potência intermediária no contexto internacional. Em decorrência, as políticas sociais
implantadas no país sempre foram inexpressivas além de excludentes, visto atingirem
apenas uma pequena parcela da população. Não por acaso, Vieira (2001) cunharia a
expressão “política social sem direitos sociais” para caracterizar o status das políticas
sociais no Brasil, ressaltando que, se garantidas no plano do direito constitucional, elas
estariam longe de se traduzirem em ação efetiva do Estado e benefício para a maioria da
população.
Finalmente, poder-se-ia afirmar que ou as políticas sociais não tiveram no Brasil
continuidade, dado o caráter clientelista de que sempre se revestiram; ou não foram a
resultante de planejamentos pertinentes, a definir claramente objetivos e raio de ação; ou
então não foram submetidas a avaliação, de modo a medir sua eficácia ou seu grau de
efetividade, tendo em vista a multiplicação da experiência ou a incorporação das práticas
bem-sucedidas em outros contextos.
NOTAS 1 Wilenski, que inicialmente sustentou esta teoria, acabaria defendendo mais tarde a idéia de que o desenvolvimento do Welfare State é a resultante de fatores estruturais como a questão demográfica, a da idade e outras (citado em ARRETCHE, 1995). 2 Tomo o conceito de esquerda e de direita no sentido que lhes dá Bobbio (1986) de tomada de posição quanto à desigualdade entre os homens. Ainda que reconhecendo os efeitos perversos da luta da esquerda em sua trajetória em favor da igualdade em que, segundo suas próprias palavras, “uma grandiosa utopia igualitária, a comunista, acalentada por séculos, traduziu-se em seu contrário” (p.123), Bobbio afirma que a distinção entre direita e esquerda é o ideal da igualdade que, para a esquerda, “sempre foi a estrela polar a ser contemplada e seguida” (p.124). 3 A história tem demonstrado que o equilíbrio do poder político está diretamente relacionado com os limites da expansão da cidadania social. A presença ou ausência de organizações de trabalhadores durante a sua formação e maturação pode levar ao desenvolvimento de um estado de bem-estar marginal ou institucional, cujas políticas sociais são, respectivamente, mais ou menos mercantilizantes. São as políticas de caráter desmercantilizante, instituídas no âmbito do Estado social-democrata, que reforçam os direitos de cidadania e desenvolvem laços de solidariedade na
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sociedade, contribuindo para o aperfeiçoamento democrático. No entanto, para alguns autores elas foram incapazes de superar as contradições do capitalismo. 4 Marshall distingue três elementos: o civil, o político e o social. Destes, apenas o político pode constituir uma ameaça real ao capitalismo. A contrário dos direitos civis que são até indispensáveis a uma economia de mercado competitivo, pois asseguram a base legal de negação da proteção social, na suposição de que o homem (o indivíduo) é capacitado a proteger a si mesmo. 5 Uma análise já clássica é a de Anderson, 1995. Ver também de Paim, 1995, “O liberalismo contemporâneo”. 6 Ainda que não da mesma perspectiva, Todd (2002) também aponta evidências do declínio do império americano. 7 A expressão é derivada de Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos entre 1913 e 1921, cujas idéias a respeito da democracia liberal e dos direitos do cidadão deram origem, entre outras instituições, à Liga das Nações (cujos princípios e estatuto seriam, posteriormente, assumidos pela Organização das Nações Unidas – ONU, quando de sua criação em 1946) e o Tratado de Versalhes (trinta dos primeiros artigos do Tratado são originários da proposta de paz, também conhecida como Quatorze Pontos, encaminhada por Woodrow Wilson ao Congresso americano em 1918), ao qual os Estados Unidos não adeririam. 8 Lázaro Cárdenas Del Rio foi presidente do México entre 1934-1940. Nacionalista, Cárdenas promoveu em seu governo uma reforma agrária radical; estatizou a produção do petróleo; criou os primeiros bancos estatais de desenvolvimento industrial e de comercio exterior da América Latina; investiu na construção de infra-estrutura; praticou políticas de industrialização e proteção do mercado interno; além de ter criado a legislação trabalhista e adotado política externa independente e antiimperialista (FIORI, 2006). 9 Para Fiori (2006), a inspiração ‘cardenista’ está presente “nos programas da revolução camponesa boliviana, de 1952, e no governo democrático de esquerda de Jacobo Arbenz, na Guatemala, entre 1951 e 1954. Como também na primeira fase da revolução cubana, entre 1959 e 1962, e no governo militar e reformista do general Velasco Alvarado, no Peru, entre 1968 e 1975, sem esquecer “o governo de Salvador Allende, no Chile, entre 1970 e 1973”. 10 Fiori (2006) ressalta que, apesar da crítica, o grupo não apresentou alternativas quer ao programa das ‘reformas de base’ quer ao Plano Trienal de Celso Furtado. 11 Três traços do perfil pós-marxista nos anos de 1980 chamam a atenção, de acordo com Santos: o anti-reducionista, o antideterminista e o processualista. Assim, é fortemente criticado o reducionismo que atribui primazia aos fatores econômicos, “quer porque se considera o determinismo em geral insustentável, quer porque se considera errada a versão marxista do determinismo, uma versão que torna impossível conceptualizar nos seus próprios termos, tanto os factores políticos, como os factores culturais, a que, entretanto, se atribui crescente importância nos processos de estruturação e transformação social” (SANTOS, 2000, p.28). 12 Ressalte-se, a bem dizer, que para Santos esta não é uma tensão específica do marxismo e sim de toda a tradição sociológica, cuja leitura explica a contínua “controvérsia entre os que privilegiam a acção e as práticas (a sociologia fenomenológica) e os que privilegiam as estruturas (a tradição parsoniana)” (SANTOS, 2000, p.31).
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Artigo recebido em 16.05.2007. Aprovado em 11.06.2007.
1
SOCIAL POLICIES AND WELFARISM: SOME CONSIDERATIONS
Marinilzes Moradillo Mello
PhD in Education; Director of the Department of Education Planning and Information Technology of the
Guarulhos Municipal Department of Education; marinilzes@gmail.com
ABSTRACT The study focuses on the concept of social policies at the same time that it highlights the
centrality of these policies for the development of citizenship. In addition, it looks back on
the debate on its emergence and development, with special attention to certain facts and
experiences that occurred in Latin America from the viewpoint of left-wing thought. The
Brazilian experience is briefly pointed out from the thirties to the eighties. Finally, the
study emphasizes the relation between the left-wing thought and the centrality of the
social policies for Latin America’s economic development.
Keywords: citizenship, Latin America, left-wing thought, social policies, welfarism.
www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=4&cod_artigo=82
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THE MEANING OF PUBLIC POLICIES
When analyzing public policies, one must pay attention to the relationship
established between the State and the policies that the State implements in a given
society and at a historic moment in time. In addition, one must also pay attention to the
fact that this relationship encompasses two important, albeit different, concepts, namely,
the State and government. According to Höfling, the concept of State refers to the set of
permanent institutions, such as legislative bodies, courts, the army and others that do not
necessarily form a monolithic block. The concept of Government, on the other hand,
refers to a set of programs and projects designed by politicians, technicians, civil society
entities and others for society as a whole, according to the “political leanings of a specific
government that undertakes and carries out the functions of the State for a specific period
of time” (2001, p. 30). In the point of view of Höfling, rather than availing oneself of
sophisticated instruments for evaluating programs, projects and public policies, it is
important to take into consideration the so-called “background issues,” as they are the
ones that clarify “basically, the decisions taken, the choices made, the established
pathways for implementation and the evaluation models applied, in relation to any
government intervention strategy” (idem, ibidem).
If the meaning of public policies cannot be reduced to the meaning of state policies,
then it stands to reason that such meaning can and should be associated with the
meaning of the social policies implemented by the State – education, health, welfare,
housing, sanitation etc. – with a higher or lower standard of social protection. I define
social policies as a welfare protection network, implemented by the State, which
guarantees that every citizen has the minimum income, food, health, housing, education,
all of which must be guaranteed not as charity, but as a political right (HAROLD
WILENSKY apud BOBBIO, 1992). Furthermore, I affirm the centrality of the debate on
their nature and the contexts of their implementation, given the fact that they were born
and developed as a result of the formation and dysfunction of the capitalist State, and also
because their nature and extension depend on the kind of government within which they
move. In other words, if it is true that the future of capitalism is, to say the least, being
threatened by stagnation (THUROW, 1996, p.325), or is openly declining (TODD, 2002;
WALLERSTEIN, 2002), then it is equally true that the devastating effects of this status
SOCIAL POLICIES AND WELFARISM: SOME CONSIDERATIONS
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continue to reverberate on the populations of the entire world, and especially on the
populations from peripheral or developing countries.
RE-THINKING WELFARE POLICIES
In the opinion of some authors, well-being or welfare state (WS) policies are the
natural consequence of the changes generated by the industrialization process
(WILENSKI, TITMUSS apud ARRETCHE, 1995). The central argument is that the
acceleration of industrialization allegedly led to intervention by the State in the form of
development of social policies, with the aim of making up for social inequalities generated
by economic growth. According to this theory, there is a correlation between the welfare
state and social programs, which allegedly derive from the economic excess generated by
industrialization. Other authors think that welfarism stems from the cultural patterns of a
given social makeup1. This would explain the reason why the institution did not flourish in
the United States, a country in which the belief in liberal values as the dream of democracy
predominates, along with other factors that are intrinsic to American society, such as
excessive decentralization and political fragmentation, for example. Still other authors
credit the origin of welfare policies to the growing complexity of the social classification of
labor, arising from industrialization (TITMUSS APUD ARRETCHE, 1995, p.11). Based on
the thesis of Durkheim, the more industrialized a society, is the more dependent on it the
individual becomes, due to specialization in relation to production – the argument upholds
that "social services are the response to needs (whether individual or social) that aim at
ensuring the survival of societies " (TITMUSS apud ARRETCHE, 1995, p.10). Other
authors, like Marshall (1967), viewed social policies as the logical and natural evolution of
the social order itself, so to speak, of the capitalist society. The basis for his argument is
the evolution of the law that protects the poor in England. This law progressively stopped
dealing with poverty without distinction, and gave way to policies focused on distinct
segments of society such as children, the elderly, the unemployed, the homeless, etc. For
Offe and Wolker (1984), however, social policies were merely a general action strategy of
the capitalist State to create the necessary conditions for the inclusion of every citizen in
exchange relationships (1984, p.125). This statement is based on the analysis that the
authors made of the four institutional functions of the State ― privatization of production,
dependence on taxes, accumulation as a point of reference and democratic legitimacy –
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as a result of which the evidence is manifest that, in a class-based capitalist society, the
State defends the common interests of all members of society.
Irrespective of the analysis on the emergence of the Welfare Sate, the relationship
between social or welfare policies and capitalism had already been the object of concern
of the classical political economists of the 19th century, whether they were liberals,
conservatives or Marxists, one hundred years before the actual recognition of the
existence of the welfare state. Indeed, the liberals, on one hand, sustained the belief in the
market as the institution able to promote wealth and the balance between the classes,
while the Marxists, on the other hand, viewed this belief as the antithesis of social equality,
and indeed viewed it as a factor that widened the gap between social classes, precisely
because the accumulation of capital required the privatization of socially produced goods
and the resulting income concentration under the hegemony of the elite (ESPING-
ANDERSEN, 1991). Analyzing the issue, Paiva (1991) states that in the Marxists’ point of
view the Welfare State is not only a potentially contradictory institution, but also a
concession from capitalism to the demands of the masses, which are incapable of
promoting social emancipation. In this sense, Keynesian social programs, rather than
being a transforming agent, as some would have us believe, are merely a “regulatory,
disciplining, and conflict-limiting force, a condition for the extraction of increase in value
and the valuation stability of capital.” (p. 171).
If some people see the welfare state as an inherent part of advanced capitalist
societies and because of this, unlike the current belief ⎯ whether it is aligned with the
leftist or the rightist view2 - the restructuring of capitalist societies that adopted the welfare
state (KING, 1988) is more than a new phase of capitalism, others define it as "a field of
choices, of the solution of conflicts in the inner core of societies (advanced capitalists),
conflicts in which it has been decided that the redistribution of the proceeds from social
work and the access of the population to protection from the risks inherent to life are
viewed as a right of society. " (ARRETCHE, 1995, p. 35).
The prevalent issue is that, regardless of the underlying ideology of the analyses
produced in regard to this relationship, the core belief that underlies it is the balance
between the market (property) and the State (democracy), the result of which is the
neutralization of the class struggle. In this sense, states Heimamm, “the balance of class
power changes fundamentally when workers benefit from social rights, because the social
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salary reduces the worker’s dependence on the market and on employers, and thus it is
transformed into a potential source of power” (apud ESPING-ANDERSEN, 1991, p. 89).
Equally important is King’s opinion (1988), that welfare policies, given that they result from
the pressures of the working class and from innovations in the policies implemented by the
functioning of the State (in central countries), could promote social transformation,
provided that such transformation is of a ‘de-commercializing’ nature, as these are social
policies that reinforce citizenship rights3 and develop the ties of solidarity in society to the
detriment of the laws of the market, which ultimately benefits democracy.
WELFARE AND CITIZENSHIP
The concept of social citizenship has become the core issue in approaches related
to the welfare state and to the protection of democracy, because it refers to the intrinsic
rights of the human condition and of life in society, thereby favoring the status of the
individual as a social being over the individual as a market agent. However, to favor does
not mean to annul or substitute. The reason is because the idea of citizenship also
encompasses social stratification, whose dependency on the market is identified in
Wagner’s Law (apud ESPING-ANDERSEN, 1991, p.92), according to which the protection
of citizenship rights depends on the existence of a certain level of economic development
and therefore, on a surplus, which makes it possible to allocate productive resources to
social welfare.
Therefore, given that the exercising of citizenship ⎯ the supremacy of social status
over the individual ⎯ can lead to the organization of social relationships or to the balance
of power, it stands to reason that social participation, in itself, does not ensure equality,
and, if anything, attenuates class inequalities. Marshall was right when he stated(1967):
There is a kind of basic human equality associated with the concept of total participation in the community or, as I would put it, of citizenship – which is not inconsistent with the inequalities that distinguish society’s various economic levels. In other words, the inequality of the social class system may be acceptable provided that equality of citizenship is acknowledged (p. 62).
Marshall’s statement reinforces the belief that the relationship between the
capitalist system and the idea of democracy is problematic, to say the least, and not to
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say, incompatible. What is here highlighted is the fact that if democracy is related to
citizenship rights and this presupposes solidarity and equality, whether from the point of
view of exercising power or from the point of view of income distribution (BOBBIO, 1986),
then there can be no compatibility between democracy and capitalism, a system that does
not favor de-commercializing social relationships and which functions, above all, as its
antithesis, given the supposition that lies behind it, namely, the individual’s hegemonic
satisfaction in relation to society. The argument, however, is not as simple or as linear as
might seem at first glance. This gives rise to the question: why did capitalist democracies
not come tumbling down in the post-1968 period or as a result of the economic crises in
the seventies, when established power was shaken and the emergence of a new social
order seemed real? The answer to this question is found in Marshall (1967), according to
whom there is no incompatibility between citizenship and social class. Indeed, the
pressure of the masses does not translate into a real threat to the constituted power. The
pressure is a demand for reforms – economic, social and political ⎯ within the system
itself and, undoubtedly, includes the pressure for broader political participation, the
effectiveness of which, however, does not lead to the annulment of the system. According
to the classification of Marshall, with regard to the elements of citizenship4, it could be
stated that the pressure of the masses is actually a demand to increase civil and social
rights that does not, therefore, place the system at risk.
If on the one hand, there is a certain incompatibility between democracy and
capitalism, as indeed there is – at least in relation to full democracy and the significant
broadening of social citizenship, on the other, the democratic regime lends legitimacy to
the system and makes the class domination game a contract that is palatable to the
masses. It comes as no surprise that civil rights preceded political rights in liberal
democracies in the past, at first when social rights were constituted, or that civil rights did
not have the status of citizenship, as stated by Marshall:
The social rights of the individual stemmed from the status that also determined what kind of justice the individual could expect and where he or she could get it, and the manner in which he or she could participate in the running of the business of the community to which he or she belonged. But this status was not one of citizenship in the modern sense of the expression. In feudal society, status was the distinctive characteristic of class and a measure of inequality. There was no standard code of rights and duties under which all human beings = nobles, plebeians, freemen and serfs –
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were invested by virtue of their participation in society. In this sense, there was no principle on the equality of citizens to contrast with the principle of class inequality (idem).
The grounds for the flourishing of social rights may have been launched in the 19th
century. However, the principles of social rights as part of the citizenship status, as is
upheld today, only began to be accepted after public elementary education was
established at the end of the century. The prevailing issue is that social rights were
disconnected from citizenship status and the demands of the poor were not part of their
citizenship rights. Rather, demands had the characteristic of “protection,” and were
therefore connected to the concept of inequality. However, as acknowledged by Marshal,
although social rights did not reduce social inequality at the end of the 19th century, they
certainly opened up the way for the egalitarian social policies of the 20th century, the rise
and early decline of which did not encompass more than one quarter of the century, as
Wallerstein (2002) pointed out. The consequence of this decline was, allegedly, not
without its burden, either for the central countries that successfully implemented social
rights, or for other countries, which even today still suffer from the effects of a promise of
modernity that was not fulfilled.
Clarke (1994), one of the most brilliant critics of capitalism, states that welfare
policies resulted in the advent of neo-liberalism, a project conceived by those on the right
to overcome the capital accumulation crisis, identified within the context of the impossibility
of the State in advanced capitalistic nations to continue correcting the ills of the market.
Treated initially by the leftists as an aberration, neo-liberalism became increasingly
stronger, in Clarke’s opinion, obliging the social democrats to review their projects to
domesticate capitalism. Clarke, in criticizing left-wing thought, states that he allowed
himself to be seduced by the possibility of domesticating capitalism, deceiving himself
even with the so-called humanization of the relationship between capital and labor, made
possible, according to popular belief, by reorganizing the work required because of the
new technologies.
The result of the failure of social policies was described by Santos (2000) as
follows:
The worsening of social conditions, already so precarious themselves, was brutal. Foreign debt, the international devaluation of products that are placed on the global market
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and the decrease in foreign aid led some of these countries to the brink of collapse. (...) While social asymmetry increased in the interior of each country, they increased even more between the group of countries from the North and the group of countries from the South. This situation, which some people celebrated or tolerated as the necessary birth pangs of a new economic order that was ultimately to be natural and real, that is, neo-liberal, was denounced by others as a savage disorganization that needed to be substituted by a new international economic order. (p.18).
Wallerstein (2002) presents an analytic scenario of the trajectory of capitalism,
emphasizing the periods when it was renewed, which he identifies as liberal revisionism or
reformism, and highlights the current phase, the decline of capitalism. He also highlights
the possibilities of a new order for humanity which might, in his opinion, surface “after
liberalism.” Understanding this trajectory is re-assembling the history of how, through the
centuries, the capitalist system has reinvented itself and even influenced what should be
its opposite, the socialist revolution, or even overcome it.
In Wallerstein’s opinion (2002), liberal reformism encompasses an era that starts in
1789, on the date of the French Revolution and ends in 1989, on the date of the fall of the
Berlin Wall and the apparent defeat of communism. Not wishing to dwell on the principles
of liberalism5, I draw attention to certain characteristics revealed by the author, some of
which are well known, while others are instigating and even controversial, I believe, for
many left-wingers. Therefore, the political, economic and military hegemony of the United
States over the rest of the world, especially after the Second World War, is a known fact.
However, its failure6 is also perceived, such failure having been established by Wallerstein
as beginning in 1968. The instigating characteristic of Wallerstein’s analysis is that he
associates Wilsonian liberalism7 – which defends the entry of the United States into war to
protect democracy and the self-determination of nations – with the revisionist left-wing
current and even Leninism, which coined the expression Wilsonian-Leninism, Wallerstein
states that during an extensive period of the history of the United States and of the main
Western countries, the liberal platform dedicated itself to domesticating the working
classes through universal suffrage and the welfare state. In contrast, the translation of this
platform to the international communist movement, under the leadership of the former
USSR, was the battle against imperialism, or for national freedom, with a special focus on
economic development, which was then re-named socialist development, according to
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Wallerstein. In this respect, he was very clear: “Leninism, the major antagonist of liberal
socialism at a national level, began to look suspiciously like it on the international level.” (p.
243).
Leaving aside the unusual aspect of the statement on the similarity of action
between Wilsonian and Leninism thought, it is important to emphasize that, in
Wallerstein’s opinion (2002), this specific era is equally marked by ruptures and
“anomalies,” one of which is particularly important, as it is related to the ambiguity of the
role of the State, viewed and imprisoned by each of the ideological tendencies (according
to their convenience), and by the emergence of conservatism and socialism.
SOCIAL POLICIES VS. LEFT-WING THOUGHT IN LATIN AMERICA
In a certain sense, the ideas of Wallerstein are found in the analysis prepared by
Fiori (2006), which focuses on the fact that left-wingers in Latin America abandoned
developmental ideas, and on the “current difficulties of Developmental thought” to recover
lost audiences and theoretical breathing space, and move on from being merely a parapet
of timely resistance and of the limited containment of some neo-liberal excesses or
exaggerations, of the social-democrats themselves.” With the proviso that any historical
reconstruction is both arbitrary and inaccurate, Fiori locates the beginning of
developmental impetus in Mexico and on Cárdenas8, in the thirties, a period between the
First and the Second World Wars, which coincided with the beginning of Wilsonian thought
(Wallerstein, 2002) and the rise of socialism, which resulted in the exporting of libertarian
theories – one of which was Leninism – to underdeveloped countries, especially in the
African continent and in Latin America.
According to Fiori, the nationalist and developmental program intended by
Cárdenas transformed itself, with some small variations, into “the common denominator of
various Latin American governments, which were later on referred to as “national-popular,”
or “national-developmental”, as was the case of Vargas, in Brazil, Peron, in Argentina,
Velasco Ibarra, in Ecuador and Paz Estenssoro, in Bolivia, among others.” One notes the
fact that, as Fiori warned, although they were above all conservative leaders – and as
such far from being acknowledged as socialists or Marxists – their ideas, policies and
international positions were transformed into mandatory points of reference for Latin
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American left-wingers. It just so happens, says Fiori, that between 1930 and 1980, “ the
relationship of the left with “developmental thought” became the tough core of its
intellectual and political production,” especially due to the fact that the Communist parties
in Latin America had adopted the “democratic strategy9 and reformist strategy to conquer
power and transform the capitalist system.” However, the author states that Brazil has a
specific characteristic as regards the left and developmental thought, compared to the
other Latin American countries. In his opinion, this characteristic has had a definite impact
on the country’s history. As Fiori states:
The first event of this kind that occurred in Brazil was the premature disappearance of the Aliança Nacional Libertadora/ANL (the National Liberation Alliance), the first major national and urban democratic movement organized by the middle class and by the left-of-center. The movement was prematurely aborted and dissolved, after the failure of the Communist military rebellion in 1935. The second such event was the coup d’état in 1937, which brought in the authoritarian Estado Novo regime of Getulio Vargas and the first labor and industrialization policies with a strong anti-Communist and anti-leftist connotation.
As a result, Fiori states, it was only in the fifties that the Brazilian leftist movement
began to accept or come closer to some of the theses and proposals contained in the
“conservative developmental thought” of Vargas. However, the author points out that it
was during the Juscelino government that the developmental approach gained
momentum, headed by the Partido Comunista Brasileiro/PCB (the Brazilian Communist
Party), which had abandoned its revolutionary strategies and replaced them by the
defense of a national development project to be led by Brazil’s industrial bourgeoisie. From
then onwards, Fiori continues, theses and proposals transcended the “narrow partisan
frontiers of the PCB”, to have a strong influence on Brazilian intellectuals and the left. Fiori
states that in the sixties this new “national-developmental” left proposed “basic reforms, in
order to speed up the democratization of land, education, the financial system and the
political system.” In my opinion, this confirms Wallerstein’s argument with regard to the
adhesion of the leftists to the idea of national liberation and the independent development
of nations, upheld by Wilsonian liberalism. As the author reminds us, such reforms would
be partly included in the “Plano Econômico Trienal” (Triennial Economic Plan), conceived
by Celso Furtado in 1963. Furtado was the then Minister of Planning, and his plan was
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strongly criticized by other leftist segments, comprised of a group10 of Marxist intellectuals
from the University of São Paulo, led by Fernando Henrique Cardoso.
Fiori states that when the military regime took over in 1964, the relationship
between the left and developmental thought took on a different shape. The military
government abandoned its ultra-liberal ideas and in the seventies revived the Vargas
proposal of implementing conservative and authoritarian developmental thought, thus
reviving the memories and traumas of the left. The result, says Fiori (2006), was as
follows:
When the Brazilian left came back to the democratic political stage in the eighties, most of the militant young leftists had already adopted a strong anti-state, anti-national and anti-developmental bias. They felt that social organization and the protection of the rights of civil society – by means of “social movements” and “non-government organizations” – was more important than the political battle to take over the power of the State.
Still according to Fiori, it is interesting to note the on-going battle between the
“intellectuals and the old-guard politicians and the heirs of São Paulo’s Marxist movement
of the sixties,” as the author refers to them. While the former began to focus on writing up
a new Constitution and achieved “significant victories with the Constitution of 1988” that
focused on reforms and the strengthening and democratization of developmental thought
in the name of a “social welfare state”, the latter, especially in the nineties, showed their
intolerance of nationalism, developmental thought and populism,” and proposed, instead,
“a new kind of ‘dependent and associated’ development with the United States, that was
only compatible with neo-liberal policies and reforms”. Thus, the old left was defeated in
the realm of ideas and the struggle for power, as illustrated by several references in this
chapter made by the representatives of the new left’s thinking. Fiori (2006) says:
This ‘intellectual package’ was born in the State of São Paulo and deeply penetrated the intellectuals of the two social-democratic parties, the PSDB and the PT, which had also originated in that state. This is why the current difficulties faced by ‘developmental thought’ to recover its popularity and theoretical breathing space are no surprise. Developmental thought must abandon its attitude of being merely a trench of isolated resistance and containment, limited to some of the neo-liberal excesses or exaggerations of the social democrats themselves.
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According to the text above, Wallerstein’s argument on the similarity of Wilsonian-
Leninist actions and the lack of trust of individuals in the State in the post-1968 era is very
clear. With regard to the last argument, Wallerstein (2002) states that people turn to the
State “for help to deal with life” as well as to denounce it, “together with policies in general,
because they feel that the State is useless and perverse” in relation to re-structuring the
world they dream of (p.14). It is important to emphasize the question that the author asks
about what people will do in the future to influence the direction of the transition. The
answer is categorical as regards the pertinence of an alternative or at least,
complementary path to the actions of the State, supposedly exercised by civil society.
With regard to civil society specifically, Wallerstein believes that this is a misleading
slogan that was developed in Western Europe and in the United States in the 19th century.
It is misleading, he argues, because on the one hand civil society can only exist in States
that have the instruments to support it, which means the power of organizing citizens
within the context of the State to develop activities and participate in politics indirectly, or
outside political parties legitimized by it (p.14); and on the other hand, because if civil
society is essential to the construction of liberal States, an element of support “for global
internal and systemic order” (p.14), it is also (and perhaps nowadays, above all) used to
implement the structures of liberal States where such states do not yet exist (p.14). The
final blow delivered by Wallerstein in relation to civil society – the existence of which,
according to the author, was witnessed during two-thirds of the 20th century, and which is
still manifested today in States that are being built up – is that civil society is disintegrating
because of the decadence of the State. Wallerstein adds that this disintegration of the
State “is what contemporary liberals lament and conservatives discreetly encourage”
(2000, p. 14).
In spite of the incisive comments on the action of the liberal State, Wallerstein
(2002) is categorical when he re-affirms its importance for promoting welfare, as attested
to by the following words:
But the fact is that the action of the State has been an irrefutable factor in this process of confrontation, and that the initiatives of the ordinary people had the objective of, justifiably and intelligently, making the State act in a specific manner. In spite of the disorder, the confusion and the unceasing determination, this is still seen. States can aggravate or mitigate suffering by allocating resources, by
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increasing the level of protection conferred to rights and by intervening in the social relationships between various groups (p. 13).
Going against the line of reasoning of Wallerstein, Santos (2000) states that the
“antagonistic symmetry of the strength of capitalism and of Marxism and the history of the
strategy of each to dissolve the other into thin air constitute one of the central narratives of
modernity in our century” (p.24). In the author’s opinion, the last decade of the 19th
century was the golden age of Marxism in the field of theoretical and sociological
production. It just so happens that the study of Marxism at universities began in this period
and the basics of Marxism were widely published in the major magazines of the time. This
period also witnessed the great battle of ideas between the two Marxes, Karl and Weber,
as to the origins of capitalism, the centralism of the economy in social and political life and
also as to social classes and the forms of inequality, and finally, as to the laws of social
transformation or socialism (p.25).
Furthermore, and not too distant from the ideas of Clarke (1994) on the lack of
focus of leftist ideas – as well as those of Fiori (2006) – in relation to the new face of
capitalism, in the opinion of Souza (2001) capitalism gained a radical characteristic in the
eighties, with the rise to power of conservative political parties in Europe and the United
States, the resulting progressive isolation of the communist parties and the political de-
characterization of the socialist parties (p.29). The global order was changed as
peripheral and semi-peripheral countries were subjected to the trans-nationalization of the
economy, under the command of its funding institutions – The World Bank and the
International Monetary Fund. The logic of the market economy and free enterprise, and as
a result, of less State intervention and of the commercial characteristics of social relations,
provoked the unheard-of strengthening of mass culture and the celebration of
individualism, of a private and consumer-like nature, leading to the single thought of the
impossibility of finding a way out for the status quo or for the appearance of an alternative
society to capitalism, that is, to the exercise of the solidary praxis, compassion or rebellion
given the social injustice sustained by Marxism. The final debacle was the collapse of
Eastern Europe’s communist regimes, which finally transformed Marxism into nothing
more than an anachronistic theory for explaining and transforming history. However, warns
Santos (2000, p.31), if on one side in the central countries the theoretical revisions of
Marxism11 deepened the theoretical abyss between debate and reality, thus contributing to
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the apparent anachronism of the libertarian theory, in the peripheral countries Marxist-
oriented studies on new social movements and processes of democratic transition became
a source for the renewal of Marxism.
If the period analyzed marks for Santos (2000) the reappearance of conservatism,
at the same time it provides a new era for Marxism. In this sense, an internal debate arises
in the leftist movements on the theoretical issue raised by Marxism of “tension12, or the
balance between structure and action”, i.e. on the “constraints and the social possibilities
that pre-exist the action of individuals and social groups, and condition such action in a
more ore less decisive way; and, on the other hand, the autonomy, creativity and capacity
of these same individuals and social groups change the structures and transform society
by their actions and practices.” (SANTOS, idem, p. 28).
SOCIAL POLICIES – BRAZILIAN STYLE
It is useful to remember the strategies implemented in the country to maintain and
reproduce capital and the resulting institution of social policies. Reiterating what Paiva
(1991) said, I believe that, in spite of the fact that social policies in Brazil did not truly
shape a Welfare State (WS), two arguments are enough to evoke them according to this
emphasis. The first argument is that theoretical issues and concrete problems do not
always converge in time and space. This justifies, for example, the fact that the debate on
the scope of the Welfare State in Brazil happened practically at a time when the tendency
to break down the Welfare State was already being discussed in the central countries. In
other words, Brazilian society did not follow the debate at the time the Welfare State
surfaced and developed in the developed capitalist countries. Second, even though Brazil
did not go through the experience of having a real Welfare State, Brazilian society
underwent the impact of the new configuration, which includes the new role attributed to
education as a factor for social and economic development, the option of governments
during the troubled period, but also during the re-democratization period, especially in the
nineties.
In Draibe’s (1997) opinion, Brazilian social policies encompassed three distinct
phases. The first one ran from the thirties to the seventies; the second corresponds to the
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eighties, with a special emphasis on the New Republic; and finally, the third and current
phase, which began with the 1988 Constitution. Each phase is distinguished from the
others by its social, political and economic context, as well as by the relationships
established by the players – government, the business community and workers – which
configure distinct correlations of forces, directly linked to the cohesion of each group and
to its power of organization. However, as stated by the author, the country underwent
economic crises during all the phases, which is reflected in the social crisis, with severe
implications for the situation of poverty that exists in the country.
In the first period, from 1930 to 1970, the country underwent impressive economic
growth resulting from industrialization, driven, among other factors, by the world crisis that
erupted in 1929-30 and the need to substitute imports as a result of the Second World
War. Analyzing the issue, Humphrey (1983) states that the biggest boom in Brazil’s
industrialization occurred between 1968 and 1974, during the military regime, a period
during which the country grew by approximately 10% a year, characterizing the phase of
the “Brazilian miracle.” However, the author states that what seemed to constitute a hope
of breaking out from the cycle of underdevelopment and poverty that the country found
itself in, actually resulted in the widening of the existing gap between the wealthiest and
the poorest, and the burden of this swift industrialization was ultimately borne by the latter.
The country’s dependence on foreign capital and the failure of the State as the
provider (BACELAR, 1996) also intensified in this period. At the end of the Second World
War and due to the re-integration of the global economic system under the hegemony of
the United States, the country needed to choose between promoting the development of
heavy industry, with the intervention of the State in the economy and the resulting
weakening of exports, or the development of durable goods with the help of foreign
investments. The slogan of Juscelino, “50 years in five” resulted in massive investments in
the country by foreign capital, which had major consequences on the poor, especially
because of inflation. It is important to emphasize that the development strategy adopted by
military governments after the coup d’état in 1964 – focused on the control of inflation by
lowering salary costs and increasing productivity – was unable to ensure a better standard
of living for the working class, and led to the need of the military dictatorship to repress
opposition to economic policies, in addition to intensifying the hegemonic role of
multinational companies in the Brazilian economy. In other words, the economic
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development model implemented by the military governors was highly concentrated and
elitist, which worsened the scenario of social injustice in Brazilian society.
Reiterating preceding analyses, Vieira (1995) states that the golden age of
developing countries occurred between the mid-fifties and the mid-seventies, a period
during which the Brazilian State became involved in the world of business, due to the
substitution of imports and the fostering of the manufacturing sector. In the following
period, especially after the oil crisis, people began to question the interference of the State
in the production sector, which finally led to the situation in which the business community
took on a more active role in Brazilian society at the end of the eighties. The result, in the
author’s opinion, was an ideological disruption “in relation to the previous periods of
capitalist modernization” (VIEIRA, idem, p.71) and the loss of the hegemony of state
interference and nationalism (idem, p.33).
In fact, the eighties, considered as being a transition period, were actually a
particularly difficult moment in the history of Brazilian politics, because of the severe
economic crisis which had an impact on all sectors of society. Hyper-inflation, which
tormented the lives of both the rich and the poor, was added to the massive external debt,
which submitted the country totally to the control of international financial entities. To make
things even worse, the country went into a deep recession, with rampant unemployment,
which made it extremely urgent to find a solution for the social issues. In this context the
government of the New Republic was born and with it came the stabilization agenda,
coupled with a revival of the market, international re-insertion and the institutionalizing of
democracy as the main target (DINIZ, 1997, p.42). However, in spite of the progressive
discourse and the promise to deal with the social debt, the government at the time still put
economic issues at the top of its agenda, and once again left social policies on the
sidelines of its priorities, against the expectations of many segments of the population.
By way of a conclusion
In view of all that was stated above, it is clear that the social issue in each phase of
development of Brazilian society was never a priority for the various governments, whether
they were democratic or not; the very few policies that deserved to be thus called were not
successful for a number of reasons. On the contrary, in the context of public policies, the
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position of prominence was always reserved for economic policies. The years of the
Brazilian economic miracle denote that the objective was to speed up the industrialization
process and turn Brazil into an intermediate power within the international context. As a
result, the social policies implemented in the country were always insignificant and
excluding, in view of the fact that they reached out to a very small part of the population. It
is no coincidence that Vieira (2001) coined the expression “social policy without social
rights” to characterize the status of social policies in Brazil, emphasizing that although they
were guaranteed within the scope of constitutional rights, they were far from being
translated into actual actions of the State for the benefit of the majority of the population.
Finally, one can state that either social policies had no continuity in Brazil given the
clientist nature that always characterized them, or they did not result from the pertinent
planning to clearly define objectives and the scope of the actions; or they were never
submitted to evaluation, in order to measure their efficacy or level of effectiveness, in view
of the multiplication of experiences or the incorporation of practices that had been
successful in other contexts.
NOTES 1 Wilenski, who initially supported this theory, later ended up defending the idea that the development of the Welfare State is the result of structural factors such as demographic issues, age-related issues and others (apud ARRETCHE, 1995). 2 I view the concept of left and right as viewed by Bobbio (1986), of taking a stand in relation to the inequality among men. Even though he acknowledged the perverse effects of the battle of the leftists in favor of equality in which, according to his own words, , “a grandiose egalitarian utopia, the Communist one, cherished for centuries, translated into something entirely different” (p.123), Bobbio states that the distinction between the left and the right is the ideal of equality which, for the left, “was always the polar star to be contemplated and followed” (p.124). 3 History has shown that the balance of the political power is directly related to the limits of the expansion of social citizenship. The presence or absence of workers’ organizations during the formation and maturity may lead to the development of a marginal or institutional welfare state, whose social policies are, respectively, more or less mercantile. The policies of a non-mercantile nature, instituted within the scope of the social-democratic state, reinforce the citizenship rights and develop solidarity ties in society, contributing to the democratic improvement. However, some authors feel that they were unable to overcome the contradictions of capitalism. 4 Marshall distinguishes three elements: civil, political, and social. Of these, only the political element can be a real threat to capitalism. Unlike civil rights, which are crucial to a competitive market economy, because they ensure the legal base that negates social protection, in the assumption that man (the individual) is able to protect himself. 5 Anderson’s (1995) analysis is a classic. See also Paim, 1995, “O liberalismo contemporâneo”. 6 Although not from the same perspective, Todd (2002) also points to the evidences of the decline of the American empire.
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7 The expression derives from Woodrow Wilson, president of the United States of America from 1913-1921, whose ideas on liberal democracy and citizens’ rights resulted in, among other institutions, the League of Nations (whose principles and by-laws were later on undertaken by the United Nations Organization/UNO, when it was created in 1946) and the Treaty of Versailles (thirty of the beginning articles of the Treaty resulted from the peace treaty, also referred to as the Fourteen Points, forwarded by Woodrow Wilson to the United States Congress in 1918), to which the United States did not adhere. 8 Lázaro Cárdenas Del Rio was the president of México from 1934 to 1940. A nationalist, Cárdenas promoted a radical agrarian reform during his administration; nationalized oil production, created the first state-owned banks for industrial development and foreign trade in Latin America; invested in the construction of infra structure; implemented industrialization and domestic market protection policies; created labor laws and adopted an independent external and anti-imperialistic policy (FIORI, 2006). 9 In Fiori’s (2006) opinion, the Cardenas inspiration is present in the “programs of the campesino revolution in Bolivia in 1952 and in the leftist democratic government of Jacobo Arbenz, in Guatemala, between 1951 and 1954. It was also present in the first phase of the Cuban revolution, between 1959 and 1962 and in the military and reform government of general Velasco Alvarado, in Peru, between 1968 and 1975 (...) without forgetting the “government of de Salvador Allende, in Chile, between 1970 and 1973”. 10 Fiori (2006) points out that, in spite of the criticism, the group did not submit alternatives to the “basic reform” program or to the Triennial Plan of Celso Furtado. 11 Three characteristics of the Post-Marxist profile in the eighties draw attention, according to Souza: the anti-reductionism, the anti-determinism and the procedural. Thus, reductionism is strongly criticized, because it attributes the supremacy to economic factors, “either because it is considered that determinism in general is unsustainable, or because the Marxist version of determinism is considered as being wrong, a version that makes it impossible to conceptualize in its own terms, both political factors as well as cultural ones, to which, however a growing importance is attributed in the processes of structuring and transforming society.” (SOUZA, 2002, p.28). 12 It is important to emphasize, however, that in the opinion of Santos, this is not the specific tension of Marxism, but rather that of the entire sociological tradition, the reading of which explains the on-going “controversy between those who prefer action and the practices (phenomenological sociology) and those who prefer the structures (the Parsonian tradition)”. (SANTOS, 2000, p.31).
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PARQUE CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO COMO MECANISMO INDUTOR DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Zoraide Amarante Itapura de Miranda ¹; Rovena Negreiros ²
1 Professora e Pesquisadora do Mestrado em Gestão Integrada em Saúde e Meio Ambiente – Centro
Universitário Senac. Pesquisadora da Agência de Inovação da Unicamp no Projeto do Parque Tecnológico de
Campinas – 2004/2006; zoraide.amiranda@sp.senac.br 2 Superintendente do Projeto Nova Luz – Emurb. Pesquisadora da Agência de Inovação da Unicamp no
Projeto do Parque Tecnológico de Campinas – 2004/2006; rovena.negreiros@terra.com.br
RESUMO No contexto do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica de implantação de um Parque
Científico e Tecnológico em Campinas, projeto financiado pela Finep e pela Secretaria de
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo e coordenado pela Unicamp – 2004/2006, o
presente artigo discute as possibilidades de sua implantação e seus impactos na criação
de um ambiente institucional favorável, seja em âmbito local seja em âmbito regional. A
consolidação de um Parque Científico e Tecnológico constitui uma operação complexa,
que deve levar em conta aspectos institucionais, políticos, jurídicos e financeiros que
incluem o âmbito local mas vão muito além, envolvendo aspectos relacionados aos
impactos ambientais e urbanísticos e à questão do fomento à pesquisa, quais sejam:
impactos na qualificação, disponibilidade e formação de mão-de-obra, e impactos na
dinâmica econômica regional. Analisam-se esses aspectos à luz da capacidade de um
Parque Científico e Tecnológico como mecanismo indutor do desenvolvimento regional
sustentável.
Palavras-chave: gestão ambiental; desenvolvimento sustentável; inovação tecnológica;
parque tecnológico; desenvolvimento regional.
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De acordo com a definição oficial da International Association of Science Parks (Iasp),
Parque Científico Tecnológico é
uma organização cujo principal objetivo é aumentar a riqueza da
comunidade por meio da promoção da cultura de inovação e
competitividade das empresas e instituições baseadas no conhecimento
que lhe estão associadas. Para alcançar estes objetivos, um Parque
Científico e Tecnológico estimula e gerencia o fluxo de conhecimento e de
tecnologias entre Universidades, instituições de pesquisa e
desenvolvimento – P&D, empresas e mercados; facilita a criação e o
crescimento de empresas baseadas na inovação através da incubação e
de processos de spin-off, e fornece outros serviços de valor agregado, bem
como serviços de apoio de elevada qualidade.
Dessa perspectiva, pode-se afirmar que as possibilidades de sucesso de um
Parque Científico e Tecnológico dependem da presença dos atores relevantes que serão
seus potenciais clientes e parceiros ou, ao menos, de condições estruturais que confiram
à área de implantação do Parque Científico e Tecnológico certa capacidade de atração
desses atores. Do mesmo modo, é condição necessária ao seu sucesso um ambiente
institucional favorável, seja em âmbito local seja em âmbito regional e nacional.
Assim, a implementação de um empreendimento dessa natureza significa, em
última instância, desenvolver as vantagens potenciais ou explorar as já existentes na
região que o abrigará, visando à atração de negócios e instituições associados à
tecnologia e à inovação e o estabelecimento de sinergias entre eles. Trata-se, portanto,
de uma operação complexa, que deve levar em conta aspectos institucionais, políticos,
jurídicos e financeiros que incluem o âmbito local mas vão muito além, e ainda os
relacionados à infra-estrutura (viária, urbanística e de pesquisa), à disponibilidade e
formação de mão-de-obra qualificada, ao meio ambiente e à dinâmica econômica
regional.
O presente artigo pretende descrever como alguns desses aspectos conferem ao
Parque Científico e Tecnológico de Campinas uma série de vantagens decisivas que
apontam para seu sucesso enquanto mecanismo indutor do desenvolvimento econômico,
parque científico e tecnológico da região. Está organizado em três seções: a primeira trata
do ambiente jurídico-institucional por que passa o país e suas influências sobre a
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3©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.4, Artigo 4, ago 2007
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viabilidade desse empreendimento; a segunda destaca os aspectos locais, relativos à
infra-estrutura instalada e às condições econômicas, institucionais, ambientais e
urbanísticas, e a terceira descreve as funções e atividades que se espera que o Parque
Científico e Tecnológico venha a desenvolver, potencializando os benefícios e
realimentando as vantagens que a Região Metropolitana de Campinas (RMC) já oferece.
O AMBIENTE JURÍDICO-INSTITUCIONAL: A ONDA DA INOVAÇÃO
O cenário brasileiro atual é favorável à adoção de estratégias de desenvolvimento
econômico, científico e tecnológico. Desde o final dos anos 90, diversos esforços têm sido
empreendidos pelo governo federal para aprimorar ou definir marcos regulatórios e
institucionais que enfatizam a inovação tecnológica como instrumento para a
competitividade das empresas e da base científico-tecnológica instalada no país.
Exemplos desses esforços são a edição das leis de Propriedade Intelectual (Lei
9.279/96), de Inovação (Lei 10.973/04) e da Política Industrial Tecnológica e de Comércio
Exterior – PITCE (Lei 11.020/04), bem como a constituição de 13 Fundos Setoriais, em
2002, que propiciou a mobilização de recursos novos e mais estáveis para o sistema de
C&T e Inovação, criando alternativas para incentivar investimentos em P&D.
Como se sabe, o foco da PITCE está na relação entre inovação tecnológica e
desenvolvimento industrial como instrumento para ampliar sua inserção e competitividade
internacional. Procura incentivar o aumento da eficiência da indústria pela diferenciação e
inovação de produtos e processos, estimulando uma mudança de patamar tecnológico da
indústria brasileira. Prioriza os segmentos baseados em conhecimento (bens de capital,
software, microeletrônica e fármacos) e com forte impacto na cadeia produtiva. Tal
iniciativa constitui uma oportunidade para o Parque Científico e Tecnológico de Campinas,
considerando as características da estrutura industrial e da base científica e tecnológica
instalada na região, descritas adiante.
Essa política também procura fortalecer o Sistema Nacional de Inovação, por meio
da Lei de Inovação, que estabelece um novo marco para as relações entre universidades,
institutos de pesquisa públicos e empresas privadas. Desse modo, reforça o suporte
estatal à inovação empresarial e propõe novos instrumentos de apoio aos dispêndios em
P&D, ao registro de patentes e certificações, ao fortalecimento da infra-estrutura para
tecnologia industrial básica, e à criação de Empresas de Base Tecnológica (EBTs), com
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participação de capital empreendedor (venture capital) e criação de mecanismos de
capital-semente (seed money).
Além desses dois marcos regulatórios importantes, o Sistema Nacional de
Inovação conta com instrumentos de financiamento público para a inovação tecnológica,
criados nos últimos dez anos e que, se ainda são insuficientes para a mudança de
patamar tecnológico da economia brasileira, sinalizam alternativas a serem aprimoradas e
ampliadas.
As principais agências públicas que disponibilizam crédito para tecnologia e
inovação são o BNDES e a Finep, na esfera federal, e as Fundações de Amparo à
Pesquisa (FAPs), na estadual. Há, hoje, certo consenso quanto à necessidade de facilitar
o acesso aos programas existentes, simplificando procedimentos e minimizando
exigências de garantias e de retorno financeiro, especialmente para as pequenas e
médias empresas de base tecnológica, importante fatia desse mercado.
Sob a gestão da Finep, foram constituídos, em 2002, os chamados Fundos
Setoriais, importante inovação no campo do financiamento das atividades de P&D. Seu
objetivo é garantir a ampliação e a estabilidade do financiamento para a área de ciência e
tecnologia. Uma das premissas básicas é apoiar o desenvolvimento e a consolidação de
parcerias entre universidades, centros de pesquisa e setor produtivo, visando induzir o
aumento do investimento privado em C&T e impulsionar o desenvolvimento tecnológico
dos setores considerados. Outra premissa é incentivar a geração de conhecimento e
inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas nacionais.
Também no campo institucional, vários esforços têm sido implementados nas
diferentes esferas de governo. No âmbito federal, a criação do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Industrial (voltado para discussões das estratégias, aconselhamento de
ações e consultas relativas à política industrial e tecnológica – PITCE) e da Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial (com as atribuições de coordenar ações,
monitorar o andamento da PITCE, propor novas ações e, eventualmente, operar algum
instrumento específico).
No estado de São Paulo, algumas ações governamentais também apontam nessa
direção, como os programas de incentivo à inovação e às empresas de base tecnológica,
conduzidos pela Fapesp, de que são exemplos o de Inovação Tecnológica em Pequenas
Empresas (Pipe) e o de Parceria para Inovação Tecnológica (Pite). Também merece
menção a recente decisão do governo paulista de constituir o Sistema Estadual de
Parques Científicos e Tecnológicos, que abrange as cidades de São Paulo, Campinas,
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São José dos Campos, São Carlos e Ribeirão Preto. No caso de Campinas, por meio de
parceria entre Finep, Unicamp, Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São
Paulo e Prefeitura Municipal de Campinas, concluiu-se em 2006 o projeto de viabilidade
econômica para a consolidação do Parque Científico e Tecnológico de Campinas.
Também a Unicamp vem aperfeiçoando seus instrumentos para o apoio e a
intensificação de suas relações com as empresas. Sua tradição na pesquisa científica e
no desenvolvimento de tecnologias confere-lhe a condição de universidade brasileira com
maiores vínculos com o setor empresarial. Para reforçar essa condição, a Unicamp criou,
em julho de 2003, uma agência de inovação (a Inova) que tem como parte da sua missão
fortalecer as interações e parcerias entre a universidade e empresas e organizações de
governo e não-governamentais. Com esse objetivo, a Inova busca desenvolver, construir
e apoiar iniciativas que conectem as atividades de pesquisa e ensino da universidade com
interessados externos, além de promover um ambiente capaz de atrair investimentos
baseados em conhecimento, estimulando a criação de novas empresas de base
tecnológica.
Frente às oportunidades criadas por esse arcabouço jurídico-institucional, o
Parque Científico e Tecnológico de Campinas pode contribuir para “aumentar a riqueza da
comunidade por meio da promoção da cultura de inovação e competitividade das
empresas e instituições baseadas no conhecimento, que lhe estão associadas”, como
propõe a Iasp. Para tanto, é desejável que adote ações derivadas desse arcabouço,
formulando um programa de gestão da inovação próprio para as empresas que venha a
abrigar. Deve também promover estratégias competitivas (competências essenciais e
dinâmicas) para essas empresas (PORTER, 1999), além de disponibilizar serviços de
apoio para a identificação de oportunidades tecnológicas, a partir da constituição de
carteira de projetos de inovação e de mercado, entre outras atribuições.
Na área do financiamento das EBTs, vários diagnósticos revelam o gargalo
burocrático-institucional dos programas em operação, dificultando o acesso e restringindo
o número de empresas que possam ser apoiadas por esses programas. Várias
alternativas têm sido apontadas para superar esses problemas, como a questão do
venture capital. Estudo recente (PAULA, 2003) demonstra a possibilidade de seu
crescimento, especialmente para as pequenas e médias empresas, dadas as inúmeras
oportunidades para atuação do poder publico e privado, através da entidade gestora do
Parque, no sentido de apoiar as EBTs na obtenção de financiamento de capital de risco.
São exemplos dessas iniciativas disponibilizar guias, cartilhas e manuais e ou prover
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assessoria específica para atração de capital de risco, mediante apoio às EBTs na
formatação e venda de seu Plano de Negócio junto aos fundos de venture capital.
AS CONDIÇÕES LOCAIS
A Região de Campinas é reconhecida como uma das melhores opções, no Brasil,
para a realização de atividades públicas e privadas de pesquisa e desenvolvimento.
Abriga importantes instituições de ensino e pesquisa;1 constituindo locus privilegiado para
atração/localização de empresas e instituições voltadas ao conhecimento e à inovação e
demandantes de pessoal altamente qualificado. Conforme afirma Brito Cruz,2 “o grande
instrumento pelo qual uma universidade leva o conhecimento para fora, para as empresas
ou para o governo, são seus estudantes e a capacidade multiplicadora deles”.
Registra-se ainda a presença, na região, de empresas intensivas em
conhecimento e voltadas para a inovação, que favorecem a atração de novas unidades
empresariais, especialmente nas áreas de tecnologia da informação e comunicação,
indústrias e serviços de alto conteúdo tecnológico ligados à saúde e ao agronegócio,
entre outras.
Para caracterizar o perfil das atividades inovativas e/ou associadas ao
desenvolvimento tecnológico regional, o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica
identificou a concentração relativa de Empresas de Base Tecnológicas (EBTs), bem como
os fatores de atratividade regional, de forma a apreender em que medida o padrão
regional de concentração de atividades inovativas e de EBTs assemelha-se aos presentes
no estado de São Paulo ou no país. Suas principais constatações foram:
• A estrutura produtiva da RMC apresenta perfil tecnológico bastante diferenciado.
Há um grande conjunto de empresas com atividades tecnológicas relevantes,
não apenas em setores considerados de alta tecnologia, mas também em outros
que, apesar de classificados como de média ou baixa intensidade tecnológica,
incorporam, em alguma etapa da cadeia produtiva, atividades intensivas em
conhecimento. As atividades econômicas da RMC apresentam forte
especialização em setores industriais de alta intensidade tecnológica e de
serviços de P&D, com grande presença de micro e pequenas empresas;
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• A participação dos setores industriais de alta intensidade tecnológica na indústria
da RMC, tanto em número de estabelecimentos como de empregados, é maior
que a registrada no total do Estado e no Brasil. A RMC abriga 8% dos
estabelecimentos dessa indústria no estado de São Paulo, que absorvem quase
20% de seus ocupados. Dois setores industriais particularmente relevantes –
equipamentos de informática e material eletrônico e de telecomunicações –
absorvem 4,2% do total de empregados formais da RMC. Por seu turno, o
número de estabelecimentos do subsetor “serviços de P&D” localizados na RMC
correspondem a 15,2% do total do subsetor no Estado (15,2%) e a 3,8% no
Brasil;
• O total de dispêndios empresariais em atividades de P&D interno atingiu, em
2000, R$ 280 milhões, com média de R$ 937 mil por empresa. Isso corresponde
a cerca de 20% do total de gastos em atividades inovativas (proporção maior que
a média estadual e nacional), dos quais 7,5% são destinados à P&D no interior
das empresas e 12,2% em aquisições junto a terceiros;
• O setor de material eletrônico e de comunicação é o mais importante em termos
de volume de gastos em P&D e em investimentos e de número de
estabelecimentos e de empregos, mas suas atividades inovativas concentram-se
em poucas grandes empresas. Outros setores presentes na região também
desenvolvem expressivas atividades de P&D, como Fabricação de Veículos
Automotores, de Máquinas Elétricas, de Máquinas e Equipamentos, e de
Alimentos, entre outros.
Ao lado desse perfil econômico, Campinas e região apresentam um quadro de
competências científicas e tecnológicas relevante, amplo e diversificado. As instituições de
ensino e pesquisa ali localizadas abrigam importantes grupos de pesquisa em várias
áreas do conhecimento, o que confere à região uma oferta ampla e diferenciada de
pessoal altamente qualificado e constitui fator relvante de atração de empresas, em
especial as de base tecnológica.
Muitos dos grupos de pesquisa da RMC atuam na fronteira do conhecimento em
diferentes áreas e podem ampliar seu papel de fonte importante de informações e de
suporte a estratégias de desenvolvimento privado de novas tecnologias. Em
contrapartida, a presença de indústrias de alto conteúdo tecnológico e de laboratórios de
P&D no Parque Científico e Tecnológico poderá favorecer a ampliação e o adensamento
Parque Científico e Tecnológico como Mecanismo Indutor de Desenvolvimento Sustentável
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dos grupos de pesquisa já existentes, assim como a criação de novos, reforçando a
capacidade de consecução de redes multi-institucionais de inovação.
Foram identificados cerca de 760 grupos de pesquisa na RMC, alguns dos quais
extensos e bem estruturados (com mais de dez doutores), inseridos em redes ou em
parcerias inter-institucionais e atendendo a demandas de orientação pública ou privada.
Dedicam-se, principalmente, a grandes temas nas áreas da computação, saúde
(ginecologia e reprodução), agricultura (melhoramento genético), engenharia (alimentos e
petróleo), educação, lingüística, física (raios cósmicos) e genética.
Na pesquisa básica, particularmente em áreas estratégicas para o
desenvolvimento tecnológico, como física, química, biologia e engenharias, sobretudo nas
especialidades elétrica, de materiais, de alimentos e química, os grupos de pesquisa que
atuam na região gozam de prestígio que ultrapassa as fronteiras nacionais. A produção
científica e tecnológica nessas áreas revela o amplo conhecimento na aplicação de
técnicas de investigação e de instrumentos avançados O forte componente de ensino e
pesquisa, sintetizado no vigor da pós-graduação das instituições de ensino e pesquisa da
região, torna-a uma das mais importante fontes de mão-de-obra altamente qualificada.
Além das competências científicas e tecnológicas dos grandes grupos de pesquisa
já consolidados, alguns temas tratados por grupos menores já apresentaram resultados
importantes. Entre eles, podem-se mencionar os relacionados a doenças hematológicas,
venenos e toxinas, deficiência mental, anomalias craniofaciais, instrumentação
biomecânica, auto-organização, sistemas de informação, recursos hídricos, águas
residuárias, impactos ambientais, comunicações ópticas, análise de imagens,
fluidodinâmica e secagem, compostos voláteis, produtos naturais, frutas e hortaliças, leite
e derivados, apenas para citar alguns.
A produção de conhecimentos na região não se limita ao campo tecnológico. Há
massa crítica em importantes competências, como políticas públicas, saúde do
trabalhador, saúde coletiva, línguas naturais, lógica e epistemologia e jornalismo
científico, entre outras.
Um dos resultados dessa intensa atividade científica e tecnológica da região pode
ser vislumbrado no fato de a RMC ser uma região que se destaca pelo número de
patentes que origina. Muitas delas são, sem dúvida, de baixo conteúdo tecnológico, mas a
região vem ampliando o conteúdo tecnológico de suas patentes, como atesta o número
crescente daquelas tecnologicamente complexas. Tal fenômeno não deriva apenas do
fato de universidades e institutos públicos de pesquisa estarem adotando a estratégia de
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patentear seus novos conhecimentos, mas também do amadurecimento das pequenas,
médias e grandes empresas de base tecnológica instaladas na RMC. Desse modo, nota-
se um amplo espectro de tecnologias coberto pelas patentes originadas da região, em
consonância com a diversidade de indústrias ali existentes
Entre os temas tecnologicamente complexos que vêm ganhando destaque na
RMC, podem-se citar: bioquímica; microbiologia; seqüenciamento e manipulação
genética; macro moléculas orgânicas, produção e processos enzimáticos; preservantes,
biocidas e herbicidas; e produtos odontológicos. Outros temas de certa complexidade que
merecem menção incluem invenções para veículos e suas partes, processos físicos e
químicos, especialmente catálise e química de colóides e componentes para instalações
industriais e máquinas.
Apesar de compartilharem o mesmo espaço, uma estrutura empresarial com
intensa atividade tecnológica e uma infra-estrutura científica e tecnológica ‘de ponta’,
baseada nas instituições de ensino e pesquisa, a interação entre esses segmentos ainda
está longe de se consolidar. Pesquisa recente sobre as atividades inovativas das
empresas constatou que entre os fatores de atratividade julgados relevantes pelas
empresas para sua localização, a proximidade com universidades e institutos de pesquisa
não possui influência significativa, quando consideradas como fonte de informações para
a inovação. No entanto, quando consideradas sob a ótica da disponibilidade de mão-de-
obra qualificada, sua influência se amplia de forma expressiva e passa a atribuir à RMC
um dos fatores de atratividade para empresas inovadoras.
Essas constatações revelam um papel decisivo que o Parque Científico e
Tecnológico deve cumprir: o de vetor de aproximação entre o sistema empresarial e as
universidades e centros de pesquisa. Do ponto de vista dos benefícios sociais e
econômicos, o Parque Científico e Tecnológico deverá funcionar como um catalisador,
fomentando as interações entre esses agentes, o que a experiência internacional já
mostrou ser crucial para o desenvolvimento socioeconômico regional.
Para as pequenas e médias empresas, a instalação no Parque Científico e
Tecnológico pode ter impacto ainda maior. Em primeiro lugar porque, para essas
empresas, as atividades de apoio, em incubadoras, por exemplo, são fundamentais, além
do fato de grande parte dos empreendedores já terem relações, que podem se
intensificadas, com as universidades e institutos de pesquisa locais. Em segundo lugar
porque o compartilhamento de informações, de serviços produtivos e de infra-estrutura
que o Parque pretende prover (além de outros serviços, não relacionados diretamente
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com atividades inovativas, como suporte à gestão e à comercialização), por ser de
particular interesse para as pequenas empresas, deve se constituir em importante
elemento de atração desse segmento empresarial para sua área.
Admite-se, portanto, que o Parque tem maior poder de influenciar a localização de
pequenas empresas. Apesar disso, é importante trazer algumas empresas de maior porte,
que poderiam, até mesmo, atuar como elemento adicional para a atração de outras,
menores. Decerto, requer-se algum grau de articulação com o poder público municipal e
estadual para favorecer a instalação de empresas âncoras no Parque.
Do ponto de vista setorial, a julgar pelas características da economia regional, o
Parque deve atrair pelo menos três grandes segmentos produtivos de empresas de base
tecnológica que, certamente, encontrarão apoio e oportunidades nas competências
presentes na região:
• Tecnologias da Informação e Comunicações (TIC) – empresas de
desenvolvimento de software e de aplicações específicas de hardware,
telecomunicações;
• Indústrias de alto conteúdo tecnológico ligadas ao Agronegócio (biotecnologia,
ingredientes e insumos para a indústria de alimentos, melhoramento genético,
soluções em energia, instrumentação e maquinaria agrícola e para
processamento, entre outras;
• Indústrias de alto conteúdo tecnológico ligadas à Saúde (biotecnologia,
instrumentos odontológicos e médico-hospitalares, produtos naturais e outras).
Para caracterizar o potencial de geração de EBTs, em Campinas, no âmbito do
Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica desenvolveu-se um estudo que enfocou as
atividades de incubação e as geradoras potenciais de aplicações produtivas. Como
resultado, registrou-se elevado e crescente potencial de geração de EBTs para novos
estabelecimentos de micro e pequeno porte, com elevado grau de especialização de
indivíduos, em geral articulados em grupos (equipes de empreendedores).
A tendência ao crescimento desse potencial revela-se tanto pelo aumento do
número de empreendimentos, quanto pela abertura do leque setorial, resultando na
ampliação de tipologia de produtos e setores envolvidos nas instituições analisadas.
O potencial de geração decorre também da implantação de novos mecanismos
que vêm impulsionando e intensificando a relação das Empresas de Base Tecnológica –
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EBTs (inclusive médias e grandes) com as universidades e instituições de pesquisa. Para
o estreitamento dessas relações, espera-se que a gestão do Parque defina políticas e
estratégias articuladas e coordenadas, com objetivo explícito de potencializar as
aplicações produtivas, combinando as linhas de pesquisa mapeadas nas instituições e
universidades locais com os interesses das empresas já formadas.
Quanto à viabilidade de implantação de incubadoras de EBTs no Parque, cabe
destacar a necessidade de definição e implantação de mecanismos que incentivem o
desenvolvimento de uma incubadora na área do Parque. Tal proposta requer uma forte
articulação entre a iniciativa privada e o setor público. Para garantir seu sucesso, é
desejável articular a criação de competências para a elaboração de projetos pelos
próprios empreendedores com a oferta de vagas para os projetos de maior potencial de
mercado, trilhando etapas prévias à própria incubação (pré-incubação). Desse modo,
pode-se migrar para o processo de incubação em condições de maior maturidade no
desenvolvimento da visão empresarial e de mercado.
Diante do panorama anteriormente descrito, Campinas reúne condições e aptidões
capazes de sediar um Parque Científico e Tecnológico. Além disso, convém mencionar
que a cidade e sua região oferecem uma boa qualidade de vida, comparativamente às
cidades médias brasileiras, contando com uma diversificada rede de serviços e uma
invejável infra-estrutura rodoviária, ferroviária e aeroviária, com fácil acesso à Região
Metropolitana de São Paulo, ao interior do estado e ao Porto de Santos.
Além desses ativos, o poder público municipal adotou uma decisão estratégica ao
reservar uma área de 8 milhões de metros quadrados, destinada a sediar um Pólo
Tecnológico na cidade. Essa área situa-se entre as duas mais importantes universidades
do município – Unicamp e PUC-Campinas –, onde se está viabilizando a expansão e
consolidação do Parque Científico e Tecnológico.
ATIVIDADES E FUNÇÕES DO PARQUE
O processo de implantação do Parque Científico e Tecnológico de Campinas teve
início na década de 1980, a partir de um convênio firmado entre a Unicamp e a Telebrás,
para o desenvolvimento de fibras óticas. Essas ações viabilizaram a instalação do Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD), da antiga Telebrás, nessa área do Parque, com
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a fabricação da primeira fibra ótica da América Latina e a instalação da primeira indústria
de fibra ótica, também na área do Parque, ao lado do CPqD.
Além disso, o CPqD, com apoio da Unicamp, desenvolveu pesquisas na área das
telecomunicações, como a fotônica, permitindo a criação de outras nova empresas na
região, como a Nortel, instalada em área do Parque, e a Lucent, em área próxima. A partir
dessas iniciativas, a Região de Campinas passou a ser responsável pela produção e
exportação de diversos componentes e equipamentos na área das telecomunicações.
A área destinada por zoneamento para abrigar atividades tecnológicas abrange
cerca de 8 milhões de metros quadrados, onde já estão instaladas empresas de base
tecnológica e instituições de P&D. Somam cerca de trinta unidades que geram cerca de 3
mil empregos. Além da Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Telecomunicações (CPqD), que abriga cinco empresas – CI&T Software, HST Sistemas &
Tecnologias, Instituto de Pesquisa Eldorado, Xtal Fiber Core e Nortel Network do Brasil –
estão ali instaladas as seguintes empresas e instituições: Laboratório Nacional de Luz
Síncroton (LNLS); Sociedade para a Promoção da Excelência em Software (Softex) –
incubadora que abriga seis empresas: Brainweb; Inmetrics; KNBS; Onirium; Thorus; Z80
Multimídia e Pósitron –; Mecânica Fina e Informática; NK Draka; e TRB Pharma Indústria
Química e Farmacêutica.
A área do Parque Científico e Tecnológico de Campinas situa-se na região norte
do município, entre dois importantes eixos viários regionais (SP-66 e SP-324) e ao lado
da Unicamp e da PUC-Campinas.
Essa área se insere nas bacias hidrográficas dos ribeirões Anhumas e das Pedras,
tributários do rio Piracicaba, que drenam a região norte do município de Campinas. Seu
relevo é suavemente ondulado, conferindo grande beleza cênica à região. As altitudes no
terreno variam entre 570 m, na margem do ribeirão, e 700 m no topo mais alto. Entre a
planície do ribeirão Anhumas e as cristas de topo redondo que conformam o divisor de
águas entre as duas sub-bacias, as encostas apresentam declividades baixas e estão
ocupadas por atividades agropecuárias extensivas desenvolvidas em solos de excelente
qualidade. As baixas declividades das encostas e a estrutura física dos solos conferem ao
terreno baixa susceptibilidade erosiva.
As Áreas de Preservação Permanente (APP), de proteção dos cursos hídricos,
estão ocupadas por vegetação antrópica, assim como as inseridas nas áreas de
inundação daqueles cursos. Com a intensificação do parcelamento em unidades
industriais, comerciais ou habitacionais, a impermeabilização tende a aumentar. Por isso
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a preservação e, principalmente, a recuperação da vegetação nas APPs é fundamental
para favorecer a infiltração de água e diminuir o escoamento, evitando erosão e
enchentes.
Do ponto de vista da cobertura vegetal natural, Campinas está inserida na região
limítrofe entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. A área do Parque Científico e
Tecnológico é bem representativa dessa transição, com a presença de pequeno
remanescente de Cerrado (na área do Laboratório Nacional de Luz Síncroton), e de
remanescentes florestais, compostos por fragmentos isolados e muito alterados de
Florestas Estacionais Semideciduais. A ocupação dessa área está assim distribuída: 70%
com gramíneas, 10% com mata, e 20% com edificações e áreas impermeabilizadas.
A condição do solo e da vegetação dessa área aponta para a necessidade de
recomposição florestal ao longo dos cursos hídricos, cabeceiras e topos de morro, que
deverão compor um parque linear junto ao ribeirão Anhumas. Esse parque linear se
beneficiará da recuperação da qualidade da água, a partir da implantação da Estação de
Tratamento de Esgotos (ETE) do ribeirão Anhumas, em fase de construção. O Plano
Urbanístico Básico da área do Parque, elaborado no âmbito do Estudo de Viabilidade
Técnica e Econômica, incorpora a recomendação de implantação de uma Estação de
Tratamento de Esgoto, para tratar o esgoto gerado pelo uso e ocupação dessa área.
A consolidação de um Parque Científico e Tecnológico onde convivem indústrias,
comércio e residências, deve estar em consonância com a criação de uma área verde
pública, por meio da recuperação de ambientes hoje alterados e de sua integração aos
remanescentes de vegetação natural existentes, a partir da recomposição das áreas
legalmente protegidas.
Os desafios que caracterizam esse projeto demandam a articulação de conceitos
consistentes a respeito de um Parque Científico e Tecnológico, englobando uma visão
ambiciosa que busque a melhoria da qualidade de vida local e regional. Uma proposta
ambientalmente sustentável deve agregar valor ao empreendimento, diferenciando-o e
consolidando o conceito do Parque Científico e Tecnológico como um empreendimento
ambientalmente sustentável, cuja atividade proporcione efetiva melhoria das condições de
vida.
O conceito de desenvolvimento sustentável, aplicado à construção de um Parque
Científico e Tecnológico, abre a perspectiva da implementação de ações que possam
regular as relações entre sociedade, economia e ecologia. Para tanto, devem-se focar
não só os impactos sobre o meio físico, tais como preservação e recuperação dos solos,
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das bacias hídrográficas, das matas nativas, e da qualidade do ar, mas também os
impactos relativos à capacidade de geração de emprego, bem como à qualidade desse
emprego e do ambiente de trabalho. Para a incorporação efetiva da qualidade de vida
como parâmetro de planejamento é necessário considerar ações de caráter preventivo,
focadas no bem-estar da população envolvida.
Nesse contexto, o Estudo de Viabilidade do Parque Científico e Tecnológico de
Campinas propõe a adoção de alternativas sustentáveis, como: captação de água
subterrânea com recarga induzida de aqüíferos; uso de alternativas energéticas múltiplas,
dirigidas para usos específicos; fiação subterrânea; captação e aproveitamento de águas
pluviais; sistema de saneamento compatível com novas técnicas de tratamento; e
transporte coletivo com mínima emissão de monóxido de carbono. Além disso, esse
estudo recomenda o aprofundamento da análise sobre os impactos de um
empreendimento dessa natureza no ‘mundo do trabalho’.
O Estudo propõe, ainda, a incorporação do aproveitamento de recursos renováveis
e a adoção de um projeto urbanístico e de paisagismo que privilegie a construção de
espaços coletivos, com definição de áreas contínuas que garantam a integração dos
centros universitários, complexos hospitalares e atividades de alta tecnologia, e forneçam
espaços para a recomposição do ecossistema primitivo.
SERVIÇOS PRODUTIVOS
É estratégico que a entidade gestora do Parque Científico e Tecnológico ofereça
às empresas e instituições ali instaladas uma série de serviços que concorram para o
sucesso de suas atividades e sirvam de elemento de atração de novas Empresas de Base
Tecnológica (EBTs). Não basta somente oferecer áreas ou edificações a baixo custo
como único elemento de atração e de sucesso das atividades desenvolvidas em
Incubadoras e Parques Científicos e Tecnológicos.
A entidade gestora do Parque deve ter capacidade de facilitar o acesso das EBTs
a instrumentos adequados de financiamento de suas atividades, sobretudo aqueles
voltados às pequenas empresas, foco principal de um Parque dessa natureza. Nesse
contexto, é importante lembrar que a inovação é uma das atividades que mais demanda
os recursos de uma empresa. O retorno desses investimentos é, em geral, a médio prazo,
o que dificulta seu desenvolvimento em países como o Brasil. As fontes de financiamento
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existentes são pouco acessíveis às pequenas empresas, não só pela burocracia ainda
vigente nos órgãos financiadores, mas também pela falta de conhecimento e de pessoal
qualificado nessas empresas, para habilitá-las a esses créditos (COSTA, 2005). Mais uma
vez entra a ação fundamental da entidade gestora em aproximar esses recursos,
especialmente das empresas incubadas.
A entidade gestora deve prover o Parque de serviços como consultorias em
montagem de projetos e pedidos de financiamento, serviços para certificação e
patenteamento de produtos e serviços, inclusive nas áreas de meio ambiente, saúde e
segurança do trabalho, além de facilitar o fluxo de pessoas e informações entre empresas
e instituições de ensino e pesquisa. A experiência internacional revela que “a contribuição
mais importante dos esforços de patenteamento das universidades no processo de
inovação não é o fortalecimento da pesquisa pública em termos comerciais, mas
sobretudo a melhoria do fluxo de informações a respeito da disponibilidade e localização
de resultados de pesquisas comercialmente pertinentes” (GUSMÃO, 2002), no contexto
das novas relações ciência–indústria.
A entidade gestora deve, nesse sentido, estimular o desenvolvimento de
programas de treinamento e de estágios de pesquisadores nas empresas, bem como a
reciclagem e atualização de técnicos das empresas nas universidades. Deve também
estimular a criação de consórcios entre empresas e instituições de ensino e pesquisa,
para o desenvolvimento de pesquisas em setores estratégicos.
A partir de uma estrutura ágil e com autonomia administrativa e financeira, as
agências que se ocupam dessas tarefas nos países desenvolvidos buscam diminuir
conflitos de interesse entre as atividades de P&D e os serviços de comercialização.
Atuam como verdadeiras ‘agências de negócios’, como “o principal parceiro da
comunidade de pesquisadores em geral, fornecendo uma variada gama de serviços
voltados ao sucesso comercial de novos produtos e tecnologias” (GUSMÃO, 2002).
Na perspectiva do mecanismo de indução do desenvolvimento regional
sustentável, Parques Científicos e Tecnológicos podem se constituir em clusters
dedicados à inovação tecnológica, apoiados numa capacidade de gestão empreendedora,
potencializados pelos marcos regulatórios aqui referidos, facilitando especialmente o
acesso das pequenas e médias empresas a fundos de investimentos e outras formas de
recursos financeiros e a parcerias com as universidades e as instituições de pesquisa.
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NOTAS 1 Entre as instituições dessa natureza, podem-se mencionar: Unicamp; PUC-Campinas;
Laboratório Nacional de Luz Síncroton; Instituto Agronômico de Campinas; Instituto
Biológico; Instituto de Tecnologia de Alimentos; Centro de Pesquisa Renato Archer;
Embrapa, e Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), entre
outros. 2 Entrevista de Carlos Henrique Brito Cruz, para quem o desafio estrutural do Brasil hoje é
dar à empresa condições para realizar atividades intensas de pesquisa e
desenvolvimento. Disponível em: www.inovacao.unicamp.br.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Eduardo. Financiando a inovação nas empresas (e inovando nas formas de
financiamento). In: CONFERÊNCIAS NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
INOVAÇÃO, 3, Brasília, 2005. Anais... Disponível em: www.cgee.org.br.
GUSMÃO, Regina. Práticas e políticas internacionais de colaboração ciência-indústria.
Revista Brasileira de Inovação, n.2, v.1, 2002.
PAULA, Tomás Bruginski et al. Capital de risco e desenvolvimento tecnológico no Brasil:
experiência recente e perspectivas. Brasília: CCGE, maio 2003. 85p.
PORTER, M. (Org.) Competição = on competition: estratégias competitivas essenciais.
Rio de Janeiro: Campus, 1999. cap.2.
Artigo recebido em 03.05.2007. Aprovado em 11.06.2007.
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SCIENCE AND TECHNOLOGY PARK AS A MECHANISM FOR INDUCING
SUSTAINABLE DEVELOPMENT Zoraide Amarante Itapura de Miranda¹; Rovena Negreiros²
¹ Professor and Researcher in the Mestrado de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente –
Centro Universitário Senac. Researcher with the UNICAMP Innovation Agency in the Campinas Technology
Park Project – 2004/2006. Superintendent of the ‘Nova Luz’ Project – EMURB; zoraide.amiranda@sp.senac.br
² Researcher with the UNICAMP Innovation Agency in the Campinas Technology Park Project – 2004/2006;
rovena.negreiros@terra.com.br
ABSTRACT
Within the context of the Technical and Economic Feasibility Study for introducing
a Science and Technology Park in Campinas, a project financed by FINEP and by
the São Paulo State Department of Science and Technology, and coordinated by
UNICAMP, 2004/2006, this article discusses the possibilities of introducing such a
park and its impact on the creation of a favorable institutional environment, whether
at the local or at the regional level. Consolidating a Science and Technology Park
is a complex operation that must take into consideration institutional, political, legal
and financial aspects, which include, but go far beyond those at the local level. In
addition it must consider those aspects related to the issue of fostering research
and the environmental and urban impacts, such as the impact it has on qualifying
and training labor and the latter’s availability, and the impact on the regional
economic dynamic. The article tries to analyze these aspects in the light of the
capacity that a Science and Technology Park has as a mechanism for inducing
regional sustainable development.
Keywords: environmental management, sustainable development, technological
innovation, Technology Park, regional development.
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SCIENCE AND TECHNOLOGY PARK AS A MECHANISM FOR INDUCING SUSTAINABLE DEVELOPMENTZoraide Amarante Itapura de Miranda; Rovena Negreiros
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INTRODUCTION
According to the official definition of the International Association of Science Parks
- Iasp, a Science and Technology Park
is an organization whose main goal is to increase the wealth of the
community by promoting a culture of innovation and competitiveness of the
knowledge-based companies and institutions that are associated with it. To
achieve these goals a Science and Technology Park stimulates and
manages the flow of knowledge and of technologies between universities,
research and development institutions (R&D), companies and markets; it
facilitates the creation and growth of companies, based on innovation
through incubation and spin-off processes, and it supplies other added-
value services as well as top quality support services.
From this perspective we can state that the possibilities of success of a Science
and Technology Park depend on the presence of relevant players that will be its potential
customers and partners, or at least on structural conditions that provide the area where the
Science and Technology Park will be set up with a certain capacity for attracting these
players. Likewise, a favorable institutional environment, either at the local level or at the
regional and national level is a necessary condition for its success.
Therefore, in the final analysis the implementation of an enterprise of this nature
means developing the potential advantages, or exploring the ones already existing in the
region where it will be situated, with the aim of attracting those business and institutions
that are associated with technology and innovation and establishing synergies between
them,. This is, therefore, a complex operation that has to take into account institutional,
political, legal and financial aspects, in addition to those related to infrastructures (road,
urban and research), the availability and training of qualified labor, the environment and
the regional economic dynamic.
This article intends to describe how some of these aspects provide the Campinas
Science and Technology Park with a series of decisive advantages that point to its
success as a mechanism for inducing economic development in the region. It is organized
into three sections: the first deals with the legal and institutional environment in the country
currently and its influence on the feasibility of this undertaking; the second highlights the
local aspects relating to the installed infrastructure and the economic, institutional,
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environmental and urban conditions and the third describes the functions and activities
that it is expected the Science and Technology Park will develop, by magnifying the
benefits and exploiting the advantages the Campinas region already offers.
THE LEGAL AND INSTITUTIONAL ENVIRONMENT: THE WAVE OF INNOVATION
The current Brazilian scenario is favorable to the adoption of economic, scientific
and technological development strategies. Since the end of the 1990s various efforts have
been made by the federal government to improve or define the regulatory and institutional
milestones that emphasize technological innovation as an instrument for the
competitiveness of companies and Brazil’s scientific and technological base.
Some examples of these efforts are the publication of the laws of Intellectual
Property (Law 9,279/96), Innovation (Law 10,973/04) and Industrial, Technological and
Foreign Trade Policy (‘PITCE’) (Law 11,020/04), and the constitution of 13 Sector Funds in
2002, which brought about the mobilization of new and more stable resources for the
Science and Technology and Innovation system, thereby creating alternatives for
encouraging investments in R&D.
As is well known, the focus of ‘PITCE’ is on the relationship between technological
innovation and industrial development as an instrument for extending inclusion and
international competitiveness. It tries to encourage an increase in the efficiency of industry
through differentiating and innovating products and processes and thereby stimulating a
change in the technological level of Brazilian industry. It prioritizes knowledge-based
sectors (capital goods, software, micro-electronics and pharmaceuticals) and those that
have a major impact on the production chain. When one considers the characteristics of
the industrial structure and the scientific and technological base already installed in the
region, and which are described below, this initiative creates an opportunity for the
Campinas Science and Technology Park.
This policy also tries to strengthen the National Innovation System, via the
Innovation Law, which establishes a new milestone for relationships between universities,
public research institutes and private companies. It reinforces state support for corporate
innovation and proposes new support instruments for spending on R&D, for registering
patents and certifications, for strengthening the basic industrial technology infrastructure
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and for creating Technology-based Companies (‘EBTs’), with the participation of venture
capital and the creation of seed money mechanisms.
Besides these two important regulatory milestones the National Innovation System
has public financing instruments for technological innovation that have been created over
the last ten years that, if they are still not sufficient enough to change the technological
level of the Brazilian economy, are a signal of alternatives that need to be improved upon
and expanded.
The main public agencies that make loans available for technology and innovation
are the BNDES [National Bank of Economic and Social Development] and FINEP [Study
and Project Finance Company] at the federal level, and the Fundações de Amparo à
Pesquisa (FAPs) [Research Protection Foundations] at the state level. Today, there is a
certain consensus as to the need for facilitating access to existing programs, by simplifying
procedures and minimizing the demand for guarantees and a financial return, especially
for small and medium-sized technology-based companies that represent an important slice
of this market.
In 2002, under the management of FINEP the so-called Sector Funds were set up,
which were an important innovation in the field of financing for R&D activities. Their
objective is to guarantee the expansion and stability of financing for the science and
technology area. One of the basic postulates is to support the development and
consolidation of partnerships between universities, research centers and the production
sector, with the aim of inducing an increase in private investment in science and
technology and driving the technological development of the sectors under consideration.
Another idea is to encourage the generation of the knowledge and innovation that might
contribute to solving major Brazilian problems.
Also in the institutional field various efforts have been made in the different spheres
of government. In the federal sphere the creation of the Conselho Nacional de
Desenvolvimento Industrial [National Industrial Development Council] (for discussion on
strategies and providing advice about actions and consultations relative to the industrial
and technological policy – ‘PITCE’) and the Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial [ Brazilian Industrial Development Agency] (with powers to coordinate actions,
monitor the progress of the ‘PITCE’, propose new actions and, ultimately, to operate some
specific instrument).
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In the State of Paulo, some government actions are also pointing in this same
direction, like its programs for encouraging innovation and technology-based companies,
under the auspices of Fapesp [Research Protection Foundation of the State of São Paulo],
of which the Technological Innovation in Small Companies (‘Pipe’) and the Partnership for
Technological Innovation (‘Pite’) programs are examples. It is also worth mentioning the
recent decision by the São Paulo State government to set up the State Science and
Technology Parks System, which covers the cities of São Paulo, Campinas, São José dos
Campos, São Carlos and Ribeirão Preto. In the case of Campinas, via a partnership
between FINEP, Unicamp, the São Paulo State Department of Science and Technology
and the Campinas City Administration, the economic feasibility project for the consolidation
of the Campinas Science and Technology Park was concluded in 2006.
Unicamp has also been perfecting the instruments for supporting and strengthening
its relationships with companies. Its tradition in scientific research and technology
development makes it the Brazilian university with the greatest links with the business
sector. In order to reinforce its position, in July 2003 Unicamp created an innovation
agency (Inova), part of whose mission is to strengthen the interaction and partnerships
between the university, companies and governmental and non-governmental
organizations. With this objective firmly in mind Inova tries to develop, construct and
support initiatives that connect the university’s research and teaching activities with
outside interested parties, in addition to promoting an environment that is capable of
attracting knowledge-based investments, thereby stimulating the creation of new
technology-based companies.
With the opportunities created by this legal and institutional framework the
Campinas Science and Technology Park can contribute to increasing the wealth of the
community by promoting the culture of innovation and competitiveness of the knowledge-
based companies and institutions that are associated with it, as Iasp suggests. It is
therefore desirable that actions derived from this framework are adopted, by formulating a
program for managing innovation that is specifically for the companies that it houses.
Among its responsibilities it must also promote competitive strategies (essential and
dynamic competences) for these companies, in addition to making available support
services for identifying technological opportunities by setting up a portfolio of innovation
and market projects.
In the area of financing for EBTs, various diagnoses reveal the bureaucratic and
institutional bottle-neck of the programs that are currently in operation, thus making access
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difficult and restricting the number of companies that can be supported by these programs.
Various alternatives have been put forward for overcoming these problems, like the
question of venture capital. A recent study shows the possibility of its growth, especially for
small and medium-sized companies, given the countless opportunities public and private
authorities have for acting via the Park’s managing body, in the sense of supporting the
EBTs when it comes to obtaining risk capital financing. Examples of these initiatives are
making guides, leaflets and manuals available and/or providing specific assistance for
attracting risk capital, via support for EBTs in preparing and selling their Business Plans to
venture capital funds.
LOCAL CONDITIONS
The Campinas region is recognized as one of the best options in Brazil for carrying
out public and private research and development activities. It has important teaching and
research institutions;1 which make it a privileged place for attracting/locating companies
and institutions that are directed at knowledge and innovation and that demand highly
qualified people. As Brito Cruz,2 states the major instrument by which a university takes
knowledge to the outside world, to companies or to the government, is its students and
their capacity for multiplying such knowledge.
There are also in the region knowledge-intensive companies that are focused on
innovation, which favors the attraction of new business units, especially in the areas of
information and communication technology and industries and services that are highly
technological and linked to health, agri-business and other areas.
In order to characterize the profile of the innovative activities and/or those
associated with regional technological development, the Technical and Economic
Feasibility Study identified the relative concentration of Technology-based Companies
(‘EBTs’), as well as other regionally attractive factors, in order to understand to what extent
this regional pattern of innovative activity and ‘EBT’ concentration is similar to that present
in the State of São Paulo or in the country as a whole. Its main findings were:
• The production structure of the RMC [Campinas Metropolitan Region] has a very
different technological profile. There is a major group of companies that have relevant
technological activities, not only in sectors considered to be high tech, but also in others
that, despite being classified as medium or low tech, incorporate knowledge-intensive
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activities at some stage in their production chain. The economic activities of the RMC are
highly specialist in the high tech industrial and service R&D sectors, where there is a large
number of small and medium-sized companies;
• The share of high tech industrial companies in the RMC’s industry, both in the number
of establishments and the number of employees, is greater than for the State as a whole
or for Brazil. The RMC houses 8% of the establishments of this industry in the State of São
Paulo, which absorb almost 20% of the people employed in it in the State. Two particularly
significant industrial sectors – computer equipment and electronic and telecommunication
material – absorb 4.2% of the total number of formally-employed people in the RMC. In
turn, the number of establishments in the “R&D services” sub-sector located in the RMC
corresponds to 15.2% of the total in the sub-sector in the State (15.2%) and 3.8% in
Brazil;
• Total spending by companies on internal R&D activities reached R$ 280 million in
2002, with an average of R$ 937,000 per company. This corresponds to nearly 20% of the
total spent in innovative activities (a greater proportion than the state and national
average), of which 7.5% is earmarked for in-company R&D and 12.2% in acquiring such
services from third parties;
• The electronic and communication sector is the most important in terms of spending on
R&D, in investments and in the number of establishments and jobs, but its innovation
activities are concentrated in a few major companies. Other sectors in the region that also
have significant R&D activities, include automobile manufacturing, electrical machinery,
machinery and equipment, in general, and food.
Alongside this economic profile Campinas and the region have a significant, ample
and diversified range of scientific and technological competences. Its teaching and
research institutions are home to important research groups in various areas of
knowledge, which provide the region with a broad and differentiated supply of highly
qualified personnel, a relevant factor when it comes to attracting companies, especially
technology-based ones.
Many of the RMC reserach groups operate at the cutting edge of knowledge in
different areas and are able to expand their role as an impoarant source of information and
support for private new technology development strategies. On the other hand, the
presence of high tech companies and R&D laboratories in the Science and Technology
Park may favor the expansion and concentration of the already existing research groups,
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as well as the creation of new ones, thereby reinforcing the capacity for achieving multi-
institutional innovation networks.
Nearly 760 research groups were identified in the RMC, some of which are
extensive and well structured (with more than 10 PhDs), which are involved in networks or
inter-institutional partnerships and meet the demand for providing guidance for both public
or private entities. They dedicate themselves mainly to major topics in the areas of
computing, health (gynecology and reproduction), agriculture (genetic improvement),
engineering (food and oil), education, linguistics, physics (cosmic rays) and genetics.
In basic research, particularly in strategic areas for technolgical development, such
as physics, biology and engineering, above all in the specialist areas of electricity,
materials, food and chemicals, the research groups that operate in the region enjoy a
prestige that extends beyond Brazil’s frontiers. The scientific and technological production
in these areas reveals a broad knowledge in the application of investigation techniques
and the use of advanced instruments. The strong teaching and research component,
encapsulated in the vigor of the post-graduation studies in the region’s teaching and
research institutions, is one of the most important sources of highly qualified labor.
Besides the scientific and technological competences of the major, already
consolidated research groups, some of the things handled by smaller groups have already
presented important results. Among them can be mentioned those related to
hematological diseases, poisons and toxins, mental deficiency, craniofacial anomalies,
biomechanical instrumentation, self-organization, information systems, water resources,
waste water, environmental impacts, optical communication, image analysis, fluid
dynamics and drying, volatile compounds, natural products, fruit and vegetables and milk
and milk products, just to mention a few.
Knowledge production in the region is not limited to the technologiacl field. There is
a critical mass of important competences in areas such as public policies, workers’ health,
collective health, languages, logic and epistemology and scientific journalism.
One of the results of this intense scientific and technological activity in the region
can be perceived in the fact that the RMC distinguishes itself because of the number of
patents that originate there. Admittedly a large number of them have little technological
content, but the region has been expanding the technological content of its patents as is
evidenced by the growing number of those that are technologically complex. This
phenomenon not only derives from the fact that the universities and public research
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institutes are adopting a strategy of patenting their new knowledge, but also because of
the maturity of the small, medium-sized and large technology-based companies
established in the RMC. Patents that originated in the region cover a broad spectrum of
technologies, which is in keeping with the diversity of the industries that exist there.
Among the technologically complex themes that have been gaining prominence in
the RMC can be mentioned biochemistry, microbiology, genetic sequencing and
manipulation, organic macromolecules, enzyme production and processes, preservatives,
biocides and herbicides and dental products. Other themes of a certain complexity that
merit mention include inventions and parts for vehicles, physical and chemical processes,
especially catalysis and the chemistry of colloids, and components for industrial
installations and machinery.
Despite sharing the same space, and despite having an industrial structure with
intense technological activity and a cutting edge scientific and technological infrastructure
based on teaching and research institutions, the interaction between these sectors is still
far from being consolidated. Recent research into the innovation activities of companies
noted that among the attractive features judged to be relevant by companies when it
comes to where they are located, proximity to universities and research institutes has no
significant influence, when considering them as a source of information for the innovation
process. Nevertheless, when considered from the viewpoint of the availability of qualified
labor, their influence expands considerably and they begin to constitute one of the
features that makes the RMC attractive to innovative companies.
These findings reveal a decisive role that the Science and Technology Park must
play: that of bringing together the business system and the universities and research
centers. From the point of view of social and economic benefits the Science and
Technology Park must function as a catalyst for fostering interactions between these
agents, which is what international experience has already shown as being crucial for
regional social and economic development.
For small and medium-sized companies the installation of the Science and
Technology Park may have an even greater impact. In the first place, because support
activities in incubators, for example, are fundamental for these companies, beside the fact
that the most entrepreneurs already have a relationship with local universities and
research institutes that can be intensified. Secondly, because the sharing of information,
production services and infrastructure that the Park intends to provide (in addition to other
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services that are not directly related to innovation activities, like management and
commercial support) and that is of particular interest to small companies, should be an
important element for attracting this business sector to the area.
It is admitted, however, that the Park has more power to influence where small
companies locate than large ones. Despite this it is important to bring in some larger
companies that might even act as an additional element for attracting other, smaller
companies. Certainly it requires some degree of dialogue and negotiation with the
municipal and state authorities to favor the installation of anchor companies in the Park.
From the sector point of view, judging from the characteristics of the regional economy, the
Park must attract at least three large technology-based production companies that will,
undoubtedly, find support and opportunity in the competences present in the region:
• Information and Telecommunictaions technology (‘TIC’) – software and specific
hardware application development companies, telecommunications;
• High tech companies linked to agri-business (biotechnology, ingredients and inputs for
the food industry, genetic improvement, energy solutions, instrumentation and machinery
for agriculture and for processing, etc);
• High tech companies linked to the Health area (bio-technology, dental, medical and
hospital instruments, natural products, etc).
To characterize the generating potential of the EBTs in Campinas, within the scope of the
Technical and Economic Feasibility Study, a study was developed that focused on
incubation activities and the potential generators of production applications. As a result, a
high and increasing potential for EBT generation for new micro and small establishments
that have a high degree of specialist individuals, who are generally formed into groups
(teams of entrepreneurs), was recorded.
The growth tendency of this potential is revealed both by the increase in the
number of enterprises, as well as by the broadening of the range of sectors, resulting in an
expansion of the type of products and sectors involved in the institutions analyzed.
This potential for generation comes also from the introduction of new mechanisms
that have been driving and intensifying the relationship between Technology-based
Companies (‘EBTs’) (including medium-sized and large ones) and the universities and
research institutions. To strengthen these relationships it is hoped that the management of
the Park will define articulate and coordinated policies and strategies, with the explicit aim
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of boosting production applications, by combining the research lines mapped out in the
local institutions and universities with the interests of already established companies.
As for the feasibility of introducing EBT incubators it is necessary to highlight the
need for defining and introducing the mechanisms that encourage the development of an
incubator in the Park’s area. This proposal requires a major degree of articulation between
private initiative and the public sector. To guarantee its success it is desirable to arrange
for the development of competences for preparing projects on the part of the
entrepreneurs themselves, with the offer of vacancies for projects with greater market
potential, following the steps prior to the incubation proper (pre-incubation). In this way the
incubation process can be moved towards under more mature conditions for developing
the business and market vision.
Given the panorama described above there can be no doubt that Campinas has
the conditions and aptitudes necessary for locating a Science and Technology Park.
Furthermore, it is need to be mentioned that the city and region offer a good standard of
living that is comparable to that of medium-sized Brazilian cities, having as it does a
diversified service network and an enviable highway, railroad and air infrastructure, with
easy access to the São Paulo Metropolitan Area, to inland areas of the State and to the
port of Santos.
In addition to these activities the municipal authorities took a strategic decision
when they reserved an area of 8 million square meters in the city for housing a Center of
Technology. This area is situated between the city’s two most important universities -
Unicamp and PUC–Campinas –, which is making the expansion and consolidation of the
Science and Technology Park feasible.
ACTIVITIES AND FUNCTIONS OF THE PARK
The process of setting up the Campinas Science and Technology Park started in
the 1980s, as a result of an agreement signed between Unicamp and Telebrás for the
development of optical fibers. These activities made it feasible to set up the Research and
Development Center (‘CPqD’) of the former TELEBRÁS, in this area of the Park, with the
manufacture of the first optical fibers in Latin America and installation of the first optical
fiber industry, also in the Park, alongside the ‘CPqD’.
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In addition, the ‘CPqD’ with the support of Unicamp, developed research in
telecommunications area, in areas such as photonics, which allowed for the establishment
of other new companies in the region, like Nortel, which is installed in the Park, and
Lucent, which is in a neighboring area. As a result of these initiatives the Campinas region
started being responsible for producing and exporting various components and pieces of
equipment for the telecommunications area.
The zoned area set aside for housing technological activities covers nearly 8 m2
million, where technology-based companies and R&D institutions are already installed.
There are some 30 units, generating nearly 3,000 jobs. In addition to the
Telecommunications Research and Development Center Foundation (CPqD) that houses
5 companies – CI&T Software, HST Sistemas & Tecnologias and Instituto de Pesquisa
Eldorado, Xtal Fiber Core and Nortel Network do Brasil – the following companies and
institutions are also to be found there: Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS);
Sociedade para a Promoção da Excelência em Software (SOFTEX) – an incubator that
houses 6 companies: Brainweb; Inmetrics; KNBS; Onirium; Thorus; Z80 Multimídia and
Pósitron –; Mecânica Fina e Informática; NK Draka; and TRB Pharma Indústria Química e
Farmacêutica.
The area of the Campinas Science and Technology Park covers nearly 8 m² million
and is situated to the north of the city between two important regional highway networks
(SP 66 and SP 324) and alongside Unicamp and PUC-Campinas.
This area is in the drainage basins of the Anhumas and Das Pedras rivers, which
are tributaries of the River Piracicaba, and which drain the north of Campinas. The
countryside is of gently rolling hills, making it a very beautiful region. The altitudes above
sea level vary between 570 meters on the banks of the river to 700 meters at the top of the
highest hill. Between the Anhumas river plain and the rounded tops of the hills that are the
water-shed of the two sub-basins the slopes are gentle and used for extensive agriculture
and livestock farming on soil of an excellent quality. The gentle slopes of the hills and the
physical structure of the soil mean that there is very little erosion.
The Permanent Preservation Areas (‘APP’), for protecting the water courses, are
covered in anthropic vegetation, as are those that are in areas susceptible to the flood-
waters coming from these same water courses. As land has been heavily divided into lots
for industrial, commercial or housing purposes, the impermeable nature of the area has
tended to increase. Because of this, the preservation and, above all, recuperation of
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vegetation in the ‘APPs’ are fundamental when it comes to favoring water infiltration,
reducing run-off and avoiding erosion and flooding.
From the point of view of natural vegetation Campinas is on the border between the
Atlantic rainforest and savannah biomasses. The area where the Science and Technology
Park is located is very representative of this transition, with a small remaining patch of
savannah (in the Laboratório Nacional de Luz Síncroton area), and some remaining forest
areas, comprising isolated and highly altered fragments of semi-deciduous seasonal
forest. The area is occupied as follows: 70% with grass, 10% with forest and 20% with
buildings and impermeable areas.
The condition of the soil and vegetation in this area indicates the need for
replanting the forest along the water courses, at the source of rivers and streams and on
the tops of hills; these areas should go to make up a linear park along the course of the
River Anhumas. This linear park will benefit from the recovery of the quality of the water
when the River Anhumas Sewage Treatment Station (‘ETE), which is currently being built,
is inaugurated. The Basic Urban Plan for the Park area, which was prepared as part of the
scope of the Technical and Economic Feasibility Study, includes a recommendation for
installing a Sewage Treatment Station to treat the waste generated by the use and
occupation of this area.
Consolidation of the Science and Technology Park, where industry, commerce and
residences co-exist, must be in harmony with the creation of a public green area, by
recuperating today’s altered environments, and integrating it with remaining areas of
natural vegetation, starting with the replanting and recuperation of legally protected areas.
The challenges for this project demand the articulation of concepts that are
consistent with a Science and Technology Park, including an ambitious vision that seeks
to improve the local and regional quality of life. A proposal to differentiate and consolidate
the concept of the Science and Technology Park as an environmentally sustainable
enterprise, the activities of which bring about a real improvement in living conditions,
should add value to the enterprise.
The concept of sustainable development applied to the construction of a Science
and Technology Park opens up the prospect of implementing actions that can regulate the
relationships between society, the economy and ecology. To do so, the focus must be not
only on the impact on the physical environment, such as the preservation and recuperation
of the soil, the drainage basins, native forests and air quality, but also on the impact
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relative to the capacity for generating employment, as well as on the quality of this
employment and on the working environment. For really incorporating the quality of life as
a planning parameter it is necessary to consider actions of a preventive character focused
on the well-being of the population involved.
In this context the Feasibility y Study of the Campinas Science and Technology
Park proposes adopting sustainable alternatives, like collecting underground water from
aquifers with induced recharge, the use of multiple energy alternatives for specific uses,
underground cables, collecting and using rain water, a sanitation system that is compatible
with new treatment techniques and collective transport that emits minimum amounts of
carbon monoxide. In addition to this, the study recommends a deeper analysis of the
impact an undertaking of this nature has on the “world of work”.
The Study also proposes incorporating the use of renewable resources and the
adoption of an urban and landscape project that gives priority to the construction of
collective spaces, with the definition of continuous areas that guarantee the interaction of
the university centers, hospital complexes and high tech activities and that provide spaces
for reconstituting the primitive eco-system.
Production services
It is strategically important that the managing body of the Science and Technology
Park offers companies and institutions installed there a series of services that compete for
the success of their activities and serve as an element for attracting new technology-based
companies (‘EBTs’). It is not enough merely to offer low cost areas or buildings as the only
element of attraction and success of the activities developed in incubators and Science
and Technology Parks.
The Park’s management must be able to facilitate the access of ‘EBTs’ to
appropriate instruments for financing their activities, above all those that are aimed at
small companies, the main focus of a Park of this type. In this context it is important to
remember that innovation is one of the activities that demands most from a company’s
resources. Return on these investments is generally in the medium term, which makes
their development in countries like Brazil difficult. Small companies have very little access
to existing sources of financing, not only because of the still prevalent bureaucracy within
the financing organs, but also because of the lack of knowledge and qualified personnel in
these companies to help them receive these loans. Yet again the fundamental action of
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the managing body comes into play to facilitate access to these funds, particularly in the
case of incubated enterprises.
The managing body must provide the Park with services such as consultancy in
putting together projects and requests for financing, services for certifying and obtaining
patents for products and services, including in areas such as the environment, health and
safety at work, in addition to facilitating the flow of people and information between
companies and teaching and research institutions. International experience reveals that in
the context of the new science-industry relationships the most important contribution of the
patenting efforts of universities in the innovation process is not the strengthening of public
research in commercial terms, but above all the improvement in the flow of information
about the availability and location of commercially relevant research results.
In this sense the managing entity must encourage the development of training and
research trainee programs in companies, as well as the recycling and up-dating of
company techniques in the universities. It must also encourage the creation of consortiums
between companies and teaching and research institutions to develop research in
strategic sectors.
Starting with an agile structure and with administrative and financial autonomy the
agencies that are involved with these tasks in developed countries seek to reduce conflicts
of interest between R&D activities and commercialization services. They act as true
“business agencies”, like the main partner of the research community, in general,
supplying a varied range of services aimed at the commercial success of new products
and technologies.
In the perspective of the mechanism for inducing regional sustainable development
Science and Technology Parks can be constituted in clusters dedicated to technological
innovation, supported by an entrepreneurial management capacity, boosted by the
regulatory milestones here referred to and thereby facilitating the access of small and
medium-sized enterprises, in particular, to investment funds and other forms of financial
funding and to partnerships with universities and research institutions.
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NOTES
1 Among the institutions of this nature can be mentioned: UNICAMP; PUC-Campinas; Laboratório
Nacional de Luz Síncroton; Instituto Agronômico de Campinas; Instituto Biológico; Instituto de
Tecnologia de Alimentos; Centro de Pesquisa Renato Archer; EMBRAPA, and Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), etc. 2 www.inovacao.unicamp.br, interview of Carlos Henrique Brito Cruz, for whom the structural
challenge for Brazil today is to give companies the conditions to carry out intense research and
development activities.
REFERENCES
COSTA, Eduardo. Financiando a inovação nas empresas (e inovando nas formas de
financiamento). In: CONFERÊNCIAS NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
INOVAÇÃO, 3, Brasília, 2005. Anais... Disponível em: www.cgee.org.br.
GUSMÃO, Regina. Práticas e políticas internacionais de colaboração ciência-indústria.
Revista Brasileira de Inovação, n.2, v.1, 2002.
PAULA, Tomás Bruginski et al. Capital de risco e desenvolvimento tecnológico no Brasil:
experiência recente e perspectivas. Brasília: CCGE, maio 2003. 85p.
PORTER, M. (Org.) Competição = on competition: estratégias competitivas essenciais.
Rio de Janeiro: Campus, 1999. cap.2.
Article received on 03.05.2007. Approved on 11.06.2007.
1
POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DE MEIO AMBIENTE PARA O ESTADO DE
SÃO PAULO Suani Teixeira Coelho1; Patricia Guardabassi2
1 Ex-Secretária Adjunta do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, atualmente professora da USP e
coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio); suani@iee.usp.br 2 Pesquisadora Cenbio/IEE/USP; guardabassi@iee.usp.br
RESUMO A área de Meio Ambiente, tanto no Brasil como no estado de São Paulo, foi durante muito
tempo vista como responsável pela lentidão no licenciamento de processos, não
contribuindo para o desenvolvimento e atrasando a implementação dos
empreendimentos. O presente artigo analisa essa questão, mostrando que a
sustentabilidade ambiental não é incompatível com o desenvolvimento do Estado e, em
particular, discutindo as ações da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo
durante o período de 2002 a 2006, correspondendo à gestão do secretário professor José
Goldemberg.
Palavras-chave: meio ambiente; políticas públicas; eficiência.
www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=4&cod_artigo=69
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Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: interfacehs@interfacehs.com.br
Políticas Públicas na Área de Meio Ambiente para o Estado de São Paulo
Suani Teixeira Coelho; Patricia Guardabassi INTERFACEHS
2©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.4, Artigo 3, ago 2007
www.interfacehs.sp.senac.br
A austeridade do governo do estado de São Paulo em todas as áreas, na gestão 2002-
2006, não se restringiu à contenção orçamentária, mas refletiu também na impossibilidade
de aumentar os quadros da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), da
Companhia de Engenharia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e dos Institutos da
Secretaria. As opções da Secretaria em 2002 eram, pois:
• O aumento da eficiência.
• A modernização da legislação.
O aumento da eficiência pode ser medido pela redução, à metade, do tempo de
apreciação de EIAs/Rimas. De 2002 a 2006 foram aprovados pelo Conselho Estadual de
Meio Ambiente (Consema) projetos vitais para o desenvolvimento de São Paulo,
correspondendo a investimentos superiores a oito bilhões de reais nesse período.
Por sua vez, a modernização da legislação ocorreu em diversas áreas, tanto na
SMA como na Cetesb.
Na Cetesb foram editados novos decretos, disciplinando:
• A renovação periódica de licenças, permitindo a incorporação de tecnologias mais
eficientes de controle ambiental nas empresas.
• O licenciamento de novos projetos em áreas saturadas quanto a poluentes
atmosféricos regulamentados. Anteriormente a legislação não permitia a
instalação de novos empreendimentos em áreas consideradas saturadas, onde
ocorria qualquer ultrapassagem de padrões legais de qualidade do ar. A nova
legislação (D.E. 48.523/2004) permite a instalação das empresas nessas áreas
desde que um processo de compensação de emissões ocorra; isto significa que
uma empresa que deseja se instalar em uma zona já saturada em termos de
concentração de poluentes atmosféricos pode fazê-lo desde que essa ou outra
empresa reduza as suas emissões, com um fator de redução de 10%. Mais
recentemente um outro Decreto (D.E. 50.753/2006) revisou essas regras,
incorporando a possibilidade de se compensar as emissões adicionadas também
com a redução de emissões em veículos. O programa está sendo implementado
por meio da modernização do sistema de informações, com recursos da ordem
de dois milhões de dólares, doados pela Fundação William e Flora Hewlett (EUA)
à Cetesb.
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• Sistemas de licenciamento simplificado para projetos de baixo impacto poluidor
(Silis).
• Municipalização do licenciamento, permitindo que municípios que possuem
órgãos de meio ambiente possam licenciar empreendimentos de impacto
ambiental local. Convênios entre as prefeituras e a SMA/Cetesb permitem a
capacitação adequada de recursos humanos.
Na SMA as alterações na legislação incluíram:
• A regulamentação da Reserva Legal com a flexibilização do que dispõe o Código
Florestal (obrigatoriedade de 20% de mata nativa), que permite a implantação em
outras propriedades, evitando a retirada de culturas agrícolas já implantadas.
• A eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar e mecanização da
colheita através da Lei 11.241 de 2002, prevendo que, até 2010, 50% da cana
colhida no estado seja feita de forma mecanizada sem queima. Em 2007, 30% da
cana já é colhida crua.
• O planejamento ambiental do Litoral, através do Zoneamento Ecológico-
Econômico do Litoral Norte, seguido pelo Zoneamento da Baixada Santista
iniciado em 2005.
• A aprovação da Lei de Resíduos Sólidos, também atualmente em fase de
regulamentação.
Além dessas ações, visando colaborar para redução no desmatamento da
Amazônia, a Secretaria de Meio Ambiente propôs e o governo do estado de São Paulo
assinou dois decretos relativos a:
• Normas para controle e fiscalização do transporte e armazenamento de produtos
e subprodutos de madeira de origem nativa no estado de São Paulo;
• Procedimentos para o controle ambiental da utilização de produtos e subprodutos
de madeira de origem nativa em obras e serviços contratados pelo estado de São
Paulo.
Além dessas alterações na legislação ambiental do estado, programas
internacionais importantes foram iniciados:
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• A SMA recebeu uma doação de 8 milhões de dólares do Banco Mundial (projeto
GEF – Global Environmental Facility) para um projeto de recuperação de matas
ciliares no estado. O projeto tem quatro anos de duração e foi iniciado em 2006.
• Foi assinado também um empréstimo de 10 milhões de dólares com o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) para Ecoturismo na Mata Atlântica, com
contrapartida do Tesouro Estadual a ser executado nos próximos três anos. Ele
atenderá as Unidades de Conservação do Litoral Sul (Intervales, Petar, Carlos
Botelho, Jacupiranga, Ilha do Cardoso) e Ilhabela, no Litoral Norte, exposta a
uma crescente pressão imobiliária e necessitando de políticas adequadas de
preservação.
Em termos de cooperação internacional, a SMA/Cetesb desenvolveu acordos de
cooperação com o estado da Baviera (Alemanha), na área de gerenciamento de resíduos
sólidos (principalmente na área de incineração de resíduos) e com a Califórnia (EUA),
para estudos relativos à redução nas emissões de carbono.
Nesta área de mudanças climáticas a SMA/Cetesb atuou em quatro frentes:
• Disseminação de informações e viabilização da captação de metano para a
produção de energia em aterros, estações de tratamento de efluentes e no meio
rural, gerando créditos de carbono.
• Como parte da Comunicação Nacional à Convenção-Quadro da ONU para o
Clima, a produção do Inventário de Emissões de Metano por Resíduos para o
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
• Significativa participação nas discussões internacionais sobre mudanças
climáticas.
• Criação do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e Biodiversidade.
PROGRAMAS, PROJETOS E POLÍTICAS PÚBLICAS EM EXECUÇÃO Agilização do licenciamento e fiscalizações ambientais
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Neste item o maior esforço da presente gestão foi realizado para agilizar,
modernizar e simplificar o licenciamento ambiental.
O prazo médio de análise dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) foi reduzido de
um ano para, aproximadamente, 6 a 8 meses, respeitadas todas as complexidades do
empreendimento, ao passo que o tempo para a análise dos Relatórios Ambientais
Preliminares (RAP) passou de 8 para 3 a 4 meses, conforme ilustrado na Figura 1.
Foi criado um novo instrumento de avaliação ambiental, o Estudo Ambiental Simplificado
(EAS), para agilizar os procedimentos do licenciamento ambiental de empreendimentos
de baixo impacto ambiental.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e a Cetesb aperfeiçoaram
os seus mecanismos de licenciamento ambiental com a edição dos Decretos 47.397 e
47.400, publicados em dezembro de 2002. O Decreto Estadual 47.397/02 estabeleceu
prazos de validade para as Licenças de Operação (LO) e a obrigatoriedade de renovação
das Licenças de Operação já emitidas. Ao determinar que a Licença de Operação seja
objeto de renovação periódica, possibilitou a obtenção de ganhos significativos na gestão
pública do meio ambiente no estado de São Paulo, na medida em que permite a
implementação de ações por parte da Cetesb para estimular as empresas a reverem
procedimentos com vistas a melhorar seu desempenho ambiental, a partir do conceito de
melhoria contínua. Possibilitou-se, também, a atualização periódica das informações a
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respeito dos empreendimentos, facilitando a operacionalização de um inventário de fontes
de poluição.
Com a edição dos decretos 47.397 e 47.400/02 o Licenciamento Ambiental poderá
ser efetuado pelo município, mediante a celebração de convênio, a ser assinado entre a
Secretaria do Meio Ambiente e o município, desde que este tenha implementado o
Conselho Municipal de Meio Ambiente, possua em seus quadros ou à sua disposição
profissionais habilitados, e tenha legislação ambiental específica e em vigor (Anexo 9 do
Regulamento da Lei 997/76 aprovado pelo Decreto Estadual 8.468 e alterado pelo
Decreto 47.397/02).
Foi também consolidado o Balcão Único de Licenciamento Ambiental Integrado
(criado em 1996) que centraliza e agiliza os procedimentos de licenciamento ambiental
dos empreendimentos e atividades localizados na Região Metropolitana de São Paulo,
estando prevista a ampliação dessa área para o atendimento a outras regiões do estado.
Compensações de emissões atmosféricas em áreas saturadas
Em 2003, a Secretaria do Meio Ambiente realizou, com o apoio da Fundação
Hewlett e do governo da Califórnia, os estudos que culminaram com a edição, em 2004,
do Decreto 48.523, de 2 de março de 2004, que introduziu alterações na legislação sobre
prevenção e controle da poluição do meio ambiente no estado de São Paulo. A Secretaria
vem desenvolvendo o Projeto “Gerenciamento da Qualidade do Ar e das Emissões
Atmosféricas de Fontes Fixas e Móveis no Estado de São Paulo”, também com a
Fundação William e Flora Hewlett, para operacionalizar as ações de gerenciamento das
emissões de poluentes atmosféricos por fontes fixas, viabilizando as modificações
trazidas pelos Decretos 47.397/2004 e 48.523/2004. Tanto na Cetesb como na SMA, o
processo de licenciamento e acompanhamento vem sendo conduzido com uma estrutura
mínima para atender às suas atuais rotinas básicas. Tal situação poderá agravar-se em
virtude das novas demandas que virão com a renovação de licenças – Decreto Estadual
47.397, de 4 de dezembro de 2002 – e com a obrigatoriedade de compensação de
emissões em áreas saturadas e em vias de saturação – Decreto 48.523/2004. Dos cerca
de 120 mil empreendimentos que serão convocados para renovação da licença ambiental
no estado de São Paulo (são 90 mil, e 45 mil foram convocados até agora), deverão ser
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priorizadas algumas centenas deles, quanto aos aspectos de poluição do ar, em razão de
seu porte e potencial de impacto.
Informatização do sistema de Meio Ambiente
O Decreto 47.700, de 11 de março de 2003, regulamentou a Lei 11.241, de 19 de
setembro de 2002, que estabeleceu a eliminação gradativa da queima da palha da cana-
de-açúcar como método despalhador e facilitador do corte na colheita da cana. Foi
implantado sistema informatizado para a concessão de autorização, por meio eletrônico,
para a queima da palha de cana-de-açúcar. A partir dos dados recolhidos nesse processo
a CPRN está elaborando mapas relativos à expansão de cana-de-açúcar no estado de
São Paulo e à reserva legal.
Além disso, a implantação e operação do sistema informatizado Sigam – Sistema
Integrado de Gestão Ambiental da Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e de
Proteção de Recursos Naturais (CPRN) permite aos usuários o acesso ao sistema, para
acompanhamento do seu processo de licenciamento. Esse sistema dá agilidade e
transparência às ações de licenciamento ambiental.
Em março de 2006 foi implantado, na Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental, o Sistema de Licenciamento Simplificado (Silis), sistema informatizado para
internet, calcado na certificação digital, por meio do qual os empreendimentos de baixo
potencial poluidor obtêm o licenciamento ambiental utilizando um procedimento
simplificado.
Com a adoção do Silis o tempo médio total para o licenciamento de
empreendimentos de baixo potencial poluidor pode ser reduzido de 90 dias, em média,
para até 15 dias.
Fiscalização conjunta com a Prefeitura Municipal de São Paulo de áreas de mananciais – Pólo Sul de Fiscalização Integrada
O Reservatório Guarapiranga responde, hoje, pelo abastecimento de água de
aproximadamente 3,5 milhões de pessoas nas regiões Sul e Oeste da Capital e parte do
município de Taboão da Serra. Para reforçar o trabalho de preservação desse manancial,
a Secretaria do Meio Ambiente do estado e a Prefeitura de São Paulo estruturaram o Pólo
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Sul de Fiscalização Integrada para articular as ações dos vários órgãos estaduais e
municipais buscando conter a expansão da ocupação irregular na região.
O Pólo de Fiscalização ocupa uma área cedida pela Subprefeitura de M’Boi Mirim,
na avenida Guarapiranga, 1.265, onde os técnicos do Departamento de Uso do Solo
Metropolitano (Dusm), Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais
(DEPRN) e Polícia Militar Ambiental, vinculados à Secretaria do Meio Ambiente do
estado, junto com representantes da Prefeitura de São Paulo, planejam e desenvolvem o
trabalho de fiscalização das áreas de proteção de mananciais.
Para a instalação do pólo, foi assinado o Convênio de Fiscalização Integrada das
Áreas de Proteção aos Mananciais Localizadas no Município de São Paulo, celebrado
entre o estado de São Paulo e o município de São Paulo, no dia 29 de julho de 2005,
envolvendo as secretarias estaduais do Meio Ambiente (SMA), de Energia, Recursos
Hídricos e Saneamento (SERHS), de Habitação (SH) e de Segurança Pública (SSP), e as
secretarias municipais do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), das Subprefeituras
(SMSP), da Habitação (Sehab) e de Governo Municipal (SGM).
O convênio tem a finalidade de promover o incremento das ações de fiscalização
nas áreas de proteção dos mananciais localizadas no município de São Paulo, para
impedir o avanço da ocupação irregular nas bacias hidrográficas do Reservatório
Guarapiranga, Reservatório Billings, rios Capivari–Monos e dos corpos d’água integrantes
dos mananciais da Serra da Cantareira. A área de abrangência do convênio na Zona Sul
da Capital é a porção dos territórios das Subprefeituras da Capela de Socorro,
Parelheiros, M’Boi Mirim, Campo Limpo e Cidade Ademar, inserida na Área de Proteção
aos Mananciais.
PROGRAMAS E PROJETOS COM FINANCIAMENTOS INTERNACIONAIS
Programa de desenvolvimento do ecoturismo na região da Mata Atlântica
O programa, aprovado em 9 de novembro de 2005, constitui-se no maior projeto
de ecoturismo em parques no Brasil, com investimento de 15 milhões de dólares em 4
anos, parceria do governo do estado (US$ 6 milhões) com o BID – Banco Interamericano
de Desenvolvimento (US$ 9 milhões). O contrato de empréstimo foi assinado em 23 de
fevereiro de 2006. Os Parques Estaduais envolvidos são o Parque Estadual e Turístico do
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Alto Ribeira, Jacupiranga, Ilha do Cardoso, Carlos Botelho e Intervales (região do Vale do
Ribeira) e Ilhabela (região do litoral norte). Objetiva consolidar a vocação do turismo
sustentável nos seis parques estaduais como estratégia de conservação da natureza e
ampliar sua participação no desenvolvimento regional na área de influência do Projeto.
Foi contratado especialista em negócios de turismo e marketing turístico para apoiar as
ações referentes aos estudos e projetos nesse tema. A Unidade de Coordenação do
Projeto (UCP) está em fase de estruturação.
Estão previstas construções e reformas de pousadas, restaurantes e centros de
visitantes, além da criação e expansão de atrativos como o arvorismo, tirolesa, visitação
em cavernas e trilhas de longo percurso para que o visitante tenha maior contato com as
riquezas da Mata Atlântica. Haverá ainda ações no entorno dos parques, tais como a
capacitação das comunidades locais para empreender novos negócios em ecoturismo,
bem como assistência técnica aos micro e pequenos empresários de região para melhoria
dos seus produtos e serviços, com responsabilidade social e ambiental.
Projeto de recuperação de matas ciliares
O “Projeto de Recuperação de Matas Ciliares no Estado de São Paulo” (Decreto
49.723, de 24 de junho de 2005) prevê a aplicação de 18,9 milhões de dólares, dos quais
7,7 milhões deverão ser provenientes de doação do Global Environmental Facility (GEF), por
intermédio do Banco Mundial, e o restante do governo do estado (sendo cerca de 8 milhões de
co-financiamento do Programa Estadual de Microbacias da Cati – Secretaria de Agricultura e
Abastecimento) e envolve parcerias com as prefeituras, universidades, produtores rurais e
entidades ambientalistas devendo, em uma primeira etapa, contemplar as Bacias
Hidrográficas do Paraíba do Sul, Piracicaba/Capivari/Jundiaí, Mogi Guaçu, Tietê/Jacaré e
Aguapeí. O Projeto foi aprovado pelo GEF e o Acordo de Doação foi assinado em 27 de
junho de 2005. A implementação foi iniciada em agosto de 2005.
Projeto para a preservação e conservação da Mata Atlântica (PPMA)
O Projeto para a Preservação e Conservação da Mata Atlântica do Programa de
Cooperação Financeira Brasil–Alemanha teve início em 1995 e está sendo executado
através de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo (SMA) e o
banco alemão KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau). Abrange o Vale do Ribeira, Litoral e
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parte do Vale do Paraíba, envolvendo 53 municípios em uma extensão total de 22 mil
km². É implementado pelo Gabinete do Secretário, Departamento Estadual de Proteção
de Recursos Naturais (DEPRN), Polícia Militar Ambiental e Instituto Florestal, com o
acompanhamento de consultoria independente. O projeto está em fase de encerramento.
Foram investidos de 1995 a 2005 cerca de 30 milhões de dólares e, em 2006, foram
investidos R$ 4,86 milhões.
Para 2007 foram previstas as seguintes ações do PPMA: continuidade da
implementação do Plano Operacional de Controle (POC) e das fiscalizações conjuntas
interestaduais na divisa dos estados de São Paulo e Paraná, realização de sobrevôo por
helicóptero na área de atuação do PPMA, implementação do Sistema de Gerenciamento
da Mata Atlântica (Sigma), implementação do Plano de Manejo do Parque Estadual da
Serra do Mar, elaboração de manual técnico de procedimentos para conservação das
obras executadas pelo PPMA, auditoria dos processos licitatórios de 2006 – efetuada por
empresa contratada – e acompanhamento do PPMA por consultoria independente, bem
como o aditamento do contrato da Consultoria Independente do PPMA.
Há o compromisso de manutenção do Grupo Executivo de Coordenação (GEC) do
PPMA, durante o ano de 2007, e sustentabilidade das ações implementadas pelo PPMA,
perante o órgão financiador, o Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), tendo em vista
a possibilidade de futuros investimentos do KfW em projetos ambientais, a partir de 2008.
Cooperação internacional em gestão de resíduos sólidos
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e a Secretaria do Meio
Ambiente, Saúde Pública e Proteção ao Consumidor do Estado da Baviera, Alemanha,
estabeleceram protocolo de intenções, em dezembro de 2004, voltado ao gerenciamento
de resíduos sólidos domiciliares, em regiões metropolitanas, avaliando os sistemas de
gestão praticados, por meio de estudos de casos e de novas alternativas. Várias missões
foram realizadas, bem como seminários conjuntos visando divulgar a nova tecnologia de
incineração no estado de São Paulo. Foi elaborado o documento “Gerenciamento de
resíduos sólidos: uma visão de futuro”.
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CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Combate ao desmatamento ilegal (apoio à preservação da Amazônia e de outros
biomas brasileiros)
Dois decretos editados pelo governo do estado apóiam as políticas em defesa da
preservação da Amazônia e de outros biomas brasileiros.
O primeiro (Decreto 49.673, de 6 de junho de 2005) estabeleceu normas para o
controle e fiscalização do transporte e armazenamento de produtos e subprodutos de
madeira de origem nativa no estado de São Paulo.
O segundo (Decreto 49.674, de 6 de junho de 2005) estabeleceu procedimentos
de controle ambiental para a utilização de produtos e subprodutos de madeira de origem
nativa em obras e serviços de engenharia contratados pelo estado de São Paulo.
A Polícia Militar Rodoviária bem como as autoridades fazendárias estaduais
cooperam com os órgãos de fiscalização da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e a
Polícia Militar Ambiental na fiscalização de veículos transportadores de produtos e
subprodutos de madeira de origem nativa.
Implementação da reserva legal no estado de São Paulo
O Decreto Estadual 50.889/2006 regulamentou a compensação, a recomposição e
a condução da regeneração natural de reservas legais nas propriedades rurais, previstas
no Código Florestal. A regulamentação permite que propriedades rurais, que já se
encontram inteiramente ocupadas com culturas de interesse econômico, constituam suas
reservas legais em outras propriedades, desde que atendidos os critérios estabelecidos
no decreto. Este gerou reação dos proprietários rurais, que interpuseram ação direta de
inconstitucionalidade contestando a medida, mas recebeu o apoio das entidades
ambientalistas que entendem a medida como um instrumento importante na recuperação
e conservação da biodiversidade no estado de São Paulo. Foi criado grupo de trabalho
para dirimir dúvidas dos proprietários rurais e dialogar com todos os segmentos da
sociedade, buscando somar esforços para a preservação da qualidade do meio ambiente.
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Gestão de unidades de conservação O Instituto Florestal elabora os planos de manejo de uma área de 734.166,45
hectares, que corresponde a 85,4% das áreas de unidades de conservação sob sua
responsabilidade, restando ainda 38.245,52 hectares em que ainda não foram iniciados
os trabalhos de execução desse instrumento de gestão. Os planos de manejo são
fundamentais para a gestão das unidades de conservação e subsidiam os processos de
licenciamento ambiental de empreendimentos localizados nos entornos das unidades de
conservação.
Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo
impacto ambiental o empreendedor está obrigado (Lei Federal 9.985/2000, Decreto
Federal 4.340/2002 e Resolução Conama 371/2006) a apoiar a implantação e
manutenção de unidades de conservação. Esse apoio é equivalente ao valor de no
mínimo meio por cento dos custos previstos para a implantação do empreendimento, e se
dá em conformidade com as prioridades estabelecidas na própria lei, destacando-se a
criação de unidades de conservação e, principalmente, a regularização fundiária de
estações ecológicas e parques estaduais, entre outros. Sob este aspecto, contribui para
desapropriações de terras que devem ser efetuadas, pois parcela ponderável de unidades
de conservação já criadas ainda se encontra sob domínio de particulares. Atualmente se
encontram aprovados empreendimentos que devem apoiar as unidades de conservação
com um total de R$ 134.187.074,00 dos quais R$ 38.942.827 já estão em efetiva
execução pela SMA. Coube às unidades geridas por outros órgãos públicos a quantia de
R$ 61.078.342, destacando-se neste valor a compensação do Rodoanel – Trecho Sul, em
que a Prefeitura de São Paulo ficou com a maior parte. Potencialmente, para o ano de
2007, recursos da ordem de 34 milhões de reais devem ser aplicados nas unidades de
conservação do estado, dependendo para isso que os empreendedores solicitem as
licenças de instalação.
Criação de novas unidades de conservação Mosaico de Unidades de Conservação da Juréia – após intensa negociação com
representantes das comunidades locais, organizações não governamentais, municípios e
representantes da Assembléia, foi elaborado o Projeto de Lei Complementar ampliando a
Estação Ecológica Juréia–Itatins e criando dois Parques Estaduais e duas Reservas de
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Desenvolvimento Sustentável, aprovado em 2006 na Assembléia Legislativa do Estado
(Lei 12.406, de 12 de dezembro de 2006).
Estação ecológica dos Banhados de Iguape
Na mesma lei, com um total de 16,5 mil hectares foi criada a Estação Ecológica
dos Banhados de Iguape, no município de Iguape.
Composta de duas áreas não contíguas – Banhado Grande e Banhado Pequeno –
, a nova unidade de conservação garante a preservação de ambientes de áreas alagadas
e a ampliação do território que abriga a mais extensa área de floresta atlântica de planície
e ecossistemas associados do litoral centro-paulista.
A criação da estação ecológica representou a ampliação da conservação do
contínuo de Mata Atlântica, representado pela Estação Ecológica Juréia–Itatins e, agora,
pela Estação Ecológica dos Banhados de Iguape.
Áreas contaminadas
Em maio de 2002 a Cetesb divulgou pela primeira vez a lista de áreas
contaminadas, registrando a existência de 255 no estado de São Paulo. Esse registro
vem sendo constantemente atualizado, e, após cinco atualizações (outubro de 2003,
novembro de 2004, maio de 2005, novembro de 2005 e maio de 2006), o número de
áreas contaminadas totalizou, em maio de 2006, 1.664. As ações da Cetesb
proporcionaram a implementação de medidas de remediação em 622 áreas (37%) e a
conclusão da remediação em 32 (2%) delas. Além disso, foram registradas 151 áreas
contaminadas (9%) com proposta de remediação e 859 áreas contaminadas (52%) sem
proposta de remediação. Está em tramitação na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei
368 de 2005, visando à garantia do uso sustentável do solo e ao gerenciamento das
áreas contaminadas.
PLANEJAMENTO AMBIENTAL Política estadual de proteção e recuperação dos mananciais de interesse regional do estado de São Paulo – lei específica para a Bacia do Guarapiranga
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A Lei Estadual 9.866 de 1997 estabeleceu a Política Estadual de Proteção e
Recuperação dos Mananciais e trouxe uma nova concepção para o gerenciamento dos
mananciais, ao resgatar a necessidade do planejamento como forma de se induzir uma
ocupação adequada à manutenção da qualidade da água; ao prever a obrigatoriedade de
ações de saneamento ambiental; e ao determinar a co-responsabilidade do estado, dos
municípios e da sociedade civil na fiscalização e controle desses mananciais. Em julho de
2005 foi assinado convênio com a Prefeitura de São Paulo, para fiscalização integrada
das áreas de mananciais. Encontram-se em discussão as leis específicas do Tietê–
Cabeceiras: Tanque Grande, Sistema Produtor Alto Tietê, Baquirivu/Cabuçu; do
Pinheiros–Pirapora: Alto e Baixo Cotia; e do Juqueri–Cantareira: Juqueri.
A Lei Específica do Guarapiranga foi a primeira prevista pela Lei Estadual
9.866/97. Sua elaboração baseou-se num processo participativo tripartite, envolvendo os
órgãos da administração pública estadual, da sociedade civil organizada e das prefeituras
inseridas na bacia hidrográfica – São Paulo, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu,
Juquitiba, São Lourenço da Serra e Cotia. Encontra-se em fase final de regulamentação.
Plano estadual de gerenciamento costeiro – Litoral Norte e Baixada Santista
No Litoral Norte os trabalhos relacionados ao gerenciamento costeiro culminaram
com a edição do Decreto 49.215, de 7 de dezembro de 2004, instituindo o “Zoneamento
Ecológico-Econômico do Setor Litoral Norte” abrangendo os municípios de Ubatuba,
Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião, Miracatu, Pariquera-Açu, Pedro de Toledo,
Registro, Ribeira, São Lourenço da Serra, Sete Barras e Tapiraí. Está sendo elaborado o
Plano de Ação e Gestão para o Litoral Norte. Encontra-se em fase de discussão com os
representantes dos setores sociais e das prefeituras municipais o Zoneamento Ecológico
Econômico da Baixada Santista, envolvendo os municípios de Santos, Guarujá, Cubatão,
Bertioga, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.
O Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei Estadual
10.019/98 e implementado pelo Decreto 47.303/02, previu a criação do Grupo de
Coordenação Estadual e dos Grupos Setoriais de Coordenação do Litoral Norte, da
Baixada Santista, do Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape–Cananéia e do Vale do
Ribeira, com a incumbência de elaborar o Zoneamento Econômico-Ecológico e os Planos
de Ação e Gestão. Na Baixada Santista o Grupo Setorial de Coordenação já foi
Políticas Públicas na Área de Meio Ambiente para o Estado de São Paulo
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estruturado e empossado. Fazem parte do Grupo Setorial representantes das Secretarias
de Estado, das prefeituras municipais e de entidades da sociedade civil.
Política estadual de resíduos sólidos – Lei 12.300, de 16 de março de 2006
A Lei 12.300, de 16 de março de 2006, que institui a Política Estadual de Resíduos
Sólidos, foi aprovada pela Assembléia Legislativa após vários anos de discussões. A
Secretaria do Meio Ambiente acompanhou e contribuiu com o debate parlamentar. A
Secretaria do Meio Ambiente do Estado instalou, no dia 25 de agosto de 2006, grupo
técnico para regulamentar a Lei.
Áreas de Proteção Ambiental (APAs)
Atualmente há 23 APAs no estado, envolvendo 110 municípios. No período de
2003 a 2005 houve um significativo avanço na gestão das Áreas de Proteção Ambiental.
Com a finalidade de adequar-se ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(Snuc), nas 23 APAs do estado foram implantados onze Conselhos Gestores. Encontram-
se em fase de elaboração os Planos de Manejo das APAs de Jundiaí/Cajamar/Cabreúva,
Campos do Jordão, Botucatu, Itupararanga, Sapucaí Mirim, Várzea do Rio Tietê e São
Francisco Xavier. Esta última se encontra em aprovação na Consultoria Jurídica da
Secretaria.
As Áreas de Proteção Ambiental (APAs) são espaços de planejamento e gestão
ambiental de extensas áreas que possuem ecossistemas de importância regional,
englobando um ou mais atributos ambientais. Necessitam um ordenamento territorial
orientado para o uso sustentável dos recursos naturais, elaborado por meio de processos
participativos da sociedade que resultem na melhoria da qualidade de vida das
comunidades locais.
De acordo com a Lei Federal 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a APA é classificada na categoria de uso
direto dos recursos naturais, assim como as Florestas Nacionais, as Reservas
Extrativistas e as Reservas de Fauna, onde são permitidas a ocupação e a exploração
dos recursos naturais, conforme normas específicas que assegurem a proteção da
unidade.
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No território das APAs coexistem áreas urbanas e rurais, com suas atividades
socioeconômicas e culturais, permanecendo as terras sob o domínio privado, não
exigindo desapropriação pelo poder público.
O licenciamento ambiental de empreendimentos em APAs deve seguir os
procedimentos usuais já estabelecidos pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente. Nos
casos em que se requer a Licença Ambiental por parte dos órgãos estaduais, o pedido
deve ser iniciado numa das Agências Estaduais da Cetesb e ou do DEPRN, dependendo
das características do empreendimento ou atividade. Nas APAs já regulamentadas, a
observância dos dispositivos legais referentes às APAs é feita diretamente para os órgãos
licenciadores.
Os empreendimentos habitacionais sujeitos à aprovação pelo GRAPROHAB
devem cumprir o estabelecido pela resolução Conama 10/88, em relação à
disponibilização de no mínimo 20% de área do terreno para o plantio de árvores.
Programa Nacional do Meio Ambiente II – Planos de Desenvolvimento Sustentável no Alto Tietê – Programa Nacional do Meio Ambiente – PNMA II – Fase I
Com recursos financeiros provenientes de Acordo de Empréstimo firmado entre o
Bird (Banco Mundial) e o governo brasileiro por intermédio do Ministério do Meio
Ambiente (MMA), está sendo implementado pelos estados participantes do Programa, por
meio da celebração de Convênios que envolvem recursos financeiros da União e
contrapartida das instituições estaduais. Destaquem-se as ações que estão sendo
implementadas: Planos Diretores e de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos,
Formação de Cooperativas de Catadores, Planos de Educação Ambiental e de Coleta
Seletiva, Construção das Centrais de Triagem, Cursos de Capacitação de Catadores,
compra de equipamentos e Planos de Intervenção Agroambientais.
Mapeamento temático do uso e ocupação do solo no estado de São Paulo na escala 1:50.000
Esse mapeamento, em implantação em 2006, se baseia na interpretação de
imagens de satélite, através de classificação supervisionada do uso e ocupação do solo
para todo o estado de São Paulo.
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O mapeamento do uso e ocupação do solo é fundamental para o planejamento de
atividades públicas – Planos de Bacia, Relatórios Anuais de Qualidade Ambiental, Planos
de Ação e Gestão do Litoral, Planos de Manejo das Áreas de Proteção Ambiental etc. – e
privadas, e fundamental para definir as possibilidades de expansão de atividades
econômicas intensivas na utilização de determinados recursos naturais. A expansão da
produção alcooleira, por exemplo, depende do desenvolvimento de tecnologias de
produção e da utilização adequada dos recursos agrícolas básicos – solo, água,
geomorfologia do terreno etc. –, para minimização dos impactos ambientais dos
empreendimentos agroindustriais.
MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS
A Secretaria do Meio Ambiente promoveu a discussão de propostas para as
questões ambientais globais, participou dessa discussão e vem dando suporte político-
administrativo para ações do governo do estado relacionadas às mudanças ambientais
globais.
Disseminação de informações referentes à captação e uso de biogás para produção de energia em aterros, estações de tratamento de efluentes e no meio rural
Através do Proclima, a SMA/Cetesb elaborou o inventário de emissões de metano
para o Ministério de Ciência e Tecnologia, além de ter organizado seminários, publicações
e um guia de informações para cálculo das emissões de metano, disponível no site da
SMA/Cetesb.
Fórum paulista de mudanças climáticas
Foi criado o Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade,
pelo governo do estado, para acompanhar e propor políticas relacionadas ao
cumprimento do Protocolo de Quioto e da Convenção da Biodiversidade no estado de
São Paulo, tendo recebido o apoio da Secretaria do Meio Ambiente.
O Fórum Paulista tem o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade acerca
dos problemas decorrentes da mudança do clima em função dos gases de efeito estufa e
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das metas estabelecidas pelo Protocolo de Quioto para a redução das emissões em todo
o mundo. O Fórum é constituído por duas comissões – de Clima e de Biodiversidade – e
por câmaras temáticas. Seu principal objetivo é a conscientização e a mobilização de
todos os segmentos da sociedade paulista para os problemas de mudanças climáticas e
da perda alarmante de biodiversidade.
Projeto Basic
Especialistas em mudanças climáticas do Brasil, China, Índia e África do Sul,
reunidos em São Paulo, elaboraram um documento com um conjunto de propostas para a
segunda fase do Protocolo de Quioto, apresentando a posição dos países em
desenvolvimento em relação às emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da
Terra.
O documento, denominado “Proposta de São Paulo para uma Futura Política
Climática Internacional”, propõe mecanismos para a definição de metas futuras de
redução das emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, incluindo
também os em desenvolvimento – China, Índia e Brasil – que apresentam contribuição
significativa no balanço de emissões.
Artigo recebido em 26.04.2007. Aprovado em 29.05.2007.
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ENVIRONMENTAL PUBLIC POLICIES FOR THE STATE OF SÃO PAULO
Suani Teixeira Coelho1; Patricia Guardabassi2
1 Former Assistant Secretary of the Environment of the State of São Paulo and currently a professor at USP
and coordinator of CENBIO - Centro Nacional de Referencia em Biomassa [National Biomass Reference
Center]; suani@iee.usp.br 2 Researcher Cenbio/IEE/USP; guardabassi@iee.usp.br
ABSTRACT For many years the environment area, both in Brazil as well as in the State of São Paulo,
was seen as being responsible for the slowness in the licensing processes, thus delaying
the implementation of undertakings and not contributing to development.
This article analyses this issue by showing that environmental sustainability is not
incompatible with development in the State and discussing, in particular, the actions of the
State of São Paulo’s Department of the Environment during the period from 2002 to 2006,
under State Secretary, Professor José Goldemberg.
Keywords: Environment; public policies; efficiency.
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The Government’s austerity in all areas was reflected in the fact that, in addition to
budgetary restrictions, it was impossible to increase staff numbers in the State’s
Department of the Environment (SMA), in CETESB (Companhia de Engenharia de
Saneamento Ambiental [Environmental Sanitation Engineering Company]) or in State
Department Institutes. Therefore, the options open to the Department in 2002 were:
• to increase efficiency
• to modernize legislation.
The increase in efficiency can be measured by the fact that the time taken to
consider EIAs / RIMAs [Environmental Impact Assessments / Environmental Impact
Report] was reduced by half. From 2002 to 2006 CONSEMA (Conselho Estadual de Meio
Ambiente [State Environment Council]) approved projects that were vital for the
development of São Paulo and that corresponded to investments during the period that
exceeded R$8 billion.
In turn, modernization of the legislation occurred in various areas, both in SMA as
well as in CETESB.
In CETESB new decrees were enacted that disciplined:
• The periodic renewal of licenses, allowing for the incorporation of more
efficient technologies for environmental control within companies
• The licensing of new projects in saturated areas as far as regulated
atmospheric pollutants are concerned. Previously, legislation did not allow
for the installation of new undertakings in areas considered saturated,
where legal air quality standards were exceeded to any degree whatsoever.
The new legislation (D.E. 48,523/2004) allows for companies to be
established in these areas provided they introduce an emission
compensation process; this means that a company that wants to set up in
an already saturated zone in terms of atmospheric pollution concentrations
may do so provided that it, or some other, reduces its emissions by a factor
of at least 10%. More recently another Decree (D.E. 50,753/2006) revised
these rules and included the possibility of also compensating the additional
emissions by reducing vehicle emissions. The program is being
implemented by modernizing the information system, using funds of the
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order of US$ 2 million that were donated by the William and Flora Hewlett
Foundation (USA) to CETESB.
• Simplified licensing systems for projects with a low pollution impact (SILIS).
• Making licensing a municipal function, allowing municipalities that have
environmental bodies to license undertakings that have a local
environmental impact. Agreements between local government and
SMA/CETESB provide for the appropriate training of human resources.
In the SMA legislation changes include:
• Regulations of the Legal Reserve, with a more flexible interpretation of the
Forestry Code rules (the obligation to preserve 20% of the native forest
vegetation), which allows for the reserve to be set up on other properties,
thus avoiding having to remove already existing agricultural crops.
• The gradual elimination of the burning of sugarcane residue and the
mechanization of the harvest, via Law 11,241 of 2002 that provides that by
2010, 50% of the State’s sugarcane should be harvested mechanically,
without burning. In 2007 30% of the sugarcane is already being harvested
without burning.
• Environmental planning of the coastline, via the Ecological-Economic
Zoning Plan for the North Coast, followed by the Zoning Plan for the
Santista Coastal Plain that started in 2005.
• Approval of the Solid Waste Law, also currently being regulated.
In addition to these actions and with a view to collaborating towards helping reduce
vegetation clearance in the Amazon the Department of the Environment proposed two
decrees that were signed by the São Paulo State Government relating to:
• Rules for the control and supervision of the transport and storing of
products and sub-products made from the wood of native trees grown in
the State of São Paulo;
• Procedures for the environmental control of the use of products and
sub-products made from the wood of native trees in works and services
contracted for by the State of São Paulo.
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In addition to changes in the State’s environmental legislation, important
international programs have been initiated.
• The SMA received a donation of US$ 8 million from the World Bank (GEF
[Global Environmental Facility] Project) for a project for recuperating waterside
vegetation in the State. The project started in 2006 and will last for 4 years.
• A loan for US$ 10 million was also signed with the IDB (Inter-American
Development Bank) for ecotourism in the Atlantic rainforest, with a similar
amount being pledged by the State Treasury, to be carried out over the next 3
years. It will be used for the Conservation Units of the South Coast (Intervales,
PETAR, Carlos Botelho, Jacupiranga, Ilha do Cardoso) and Ilha Bela, on the
North Coast, areas that are being exposed to growing property development
pressure and need appropriate conservation policies.
In terms of international cooperation SMA/CETESB entered into a cooperation
agreement with the State of Bavaria (Germany), in the area of solid waste management
(mainly waste incineration) and with California (USA), for studies relating to a reduction in
carbon emissions.
In this area of climate change SMA/CETESB has been working on four fronts:
• Publishing information about methane gas and making it feasible to collect it from
landfill sites, effluent treatment stations and the rural environment, for producing
energy, thereby generating carbon credits.
• Producing the Inventory of Methane Emissions from Waste for the Ministry of
Science and Technology (‘MCT’) as part of the Brazilian Communication to the
United Nations Framework Convention on Climate Change.
• Participating to a significant degree in international discussions on climate change.
• Setting up the Paulista Climate Change and Biodiversity Forum.
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ON-GOING PROGRAMS, PROJECTS AND PUBLIC POLICIES ACCELERATING LICENSING AND ENVIRONMENTAL SUPERVISION PROCESSES
In this item the greatest effort of the present management has been to speed up,
modernize and simplify environmental licensing
The average length of time for analyzing Environmental Impact Studies (‘EIA’), was reduced from one year to approximately 6 to 8 months, complying with all the
complexities of the undertaking, while the time of analyzing Preliminary Environmental Reports (‘RAP’), went from 8 to 3 to 4 months, as shown in the following figure.
A new environmental evaluation tool called the Simplified Environmental Study (‘EAS’) was created, to accelerate environmental licensing procedures for undertakings
that have a low environmental impact.
The Sao Paulo Department of State for the Environment and CETESB perfected
their environmental licensing mechanisms when Decrees 47,397 and 47,400, were passed
and published in December, 2002. State Decree 47,397/02 established validity periods for
Operating Licenses (‘LO’) and the obligation to renew Operating Licenses that have
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already been issued. Determining that the Operating License has to be renewed
periodically made it possible to obtain significant gains in the public management of the
environment in the State of São Paulo, to the extent that it allows CETESB to implement
actions to encourage companies to review procedures, with a view to improving their
environmental performance, starting from the concept of continuous improvement. It has
also made it possible to periodically update information about undertakings, thus
facilitating the work of keeping an inventory of sources of pollution.
With publication of Decrees 47,397 and 47,400/02 environmental licensing can be
done by the Municipality entering into a signed agreement with the Department of the
Environment, provided that the Municipality has set up the Municipal Environment Council,
has skilled professionals on its staff or at its disposal and has specific environmental
legislation in force (Appendix 9 of the Regulations of Law, 997/76 approved by State
Decree, 8,468 and altered by Decree 47,397/02).
The Single Integrated Environmental Licensing Counter (set up in 1996), which
centralizes and accelerates the environmental licensing procedures of undertakings and
activities located in the Greater Metropolitan Region of São Paulo, was also ratified. It also
provided for an extension of this area to serve other regions in the State.
Compensation for Atmospheric Emissions in Saturated Areas In 2003 the Department of the Environment, with the support of the Hewlett
Foundation and the Government of California, carried out studies that culminated with the
passing of Decree 48,523 on March 2, 2004, which introduced changes in the legislation
on the prevention and control of environmental pollution in the State of São Paulo. The
Department has also been developing the Project, “Management of Air Quality and
Atmospheric Emissions from Fixed and Mobile Sources in the State of São Paulo”, with
the William and Flora Hewlett Foundation, in order to put into practice actions for
managing the emission of atmospheric pollutants from fixed sources, thus making viable
the modifications introduced by Decrees 47,397/2004 and 48,523/2004. Both in CETESB
and the SMA, the licensing and monitoring process has been carried out with the minimum
structures necessary for dealing with their current basic routines. The situation may
deteriorate when such structures are faced with the inevitable demands that will come with
the renewal of licenses – State Decree 47,397, of December 4, 2002 – and with the
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obligation to compensate for emissions in saturated areas and those that are on their way
to becoming saturated - Decree 48,523 / 2004. Of the nearly 120,000 undertakings that
will be asked to renew their environmental license in the State of São Paulo (there are
90,000 and 45,000 have already been contacted), a few hundred of them must be dealt
with as a priority as far as air pollution aspects are concerned, because of their size and
impact potential.
Computerization of Environmental systems Decree 47,700 of March 11, 2003, regulated Law 11,241, of September 19, 2002
and established the gradual elimination of the burning of sugarcane as a way of removing
the foliage and facilitating cutting. A computerized system was introduced for granting
authorization electronically for burning sugarcane straw. With the data that were collected
in this process the CPRN is preparing maps showing the expansion of sugarcane
plantations in the State of São Paulo and the legal reserve.
Furthermore, the introduction and operation of the computerized system, SIGAM –
Integrated Environmental Management System of the Coordination Department for
Environmental Licensing and the Protection of Natural Resources (‘CPRN’), allows users
to access the system to track the progress of their licensing process. This system makes
environmental licensing activities more agile and transparent.
In March, 2006 in the Environmental Sanitation Technology Company, the
Simplified Licensing System (‘SILIS) was introduced, which is a computerized system for
the Internet, underpinned by digital certification, and by means of which undertakings with
a low pollution potential can obtain their environmental license, using a simplified process.
With the adoption of ‘SILIS’ the total average time spent to license undertakings
with a low potential for polluting can be reduced from 90 days, on average, to as little as
15 days.
Joint Supervision of water source areas with the São Paulo Municipal Government – Southern Integrated Supervision Center
The Guarapiranga reservoir today supplies water to approximately 3.5 million
people living in the City’s Southern and Western regions and to part of the Municipality of
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Taboão da Serra. To reinforce the work of preserving this water source the State
Department of the Environment and the São Paulo Municipal Government created the
Southern Integrated Supervision Center structure to articulate the activities of the various
state and municipal bodies in order to restrain the expansion of irregular land occupancy
(‘squatting’) in the region.
The Supervision Center works out of space provided by the Municipal Government
in its M'Boi Mirim sub-district office, at Avenida Guarapiranga, 1,265, where technicians
from the Department for the Use of Metropolitan Land (‘DUSM’), the State Department for
the Protection of Natural Resources (‘DEPRN’) and the Environmental Police, linked to the
State Department of the Environment, along with representatives from the São Paulo
Municipal Government, plan and develop the work of supervising water source protected
areas.
In order to set up the center, an Integrated Inspection Agreement for Water Source
Protection Areas located in the Municipality of São Paulo was signed by the State of São
Paulo and the Municipality of São Paulo on July 29, 2005. This agreement involved the
State Departments of the Environment (‘SMA’), Energy, Water Resources and Sanitation,
(‘SERHS’), Housing (‘SH’), Public Security (‘SSP’) and the municipal departments for
Green Areas and the Environment (‘SVMA’), for sub-district municipal government offices,
(‘SMSP’), for Housing (‘SEHAB’) and for Municipal Government (‘SGM’).
The purpose of the agreement is to bring about an increase in supervision activities
in the water source protection areas located in the Municipality of São Paulo, in order to
prevent the advance of irregular occupancy in the drainage basins of the Guarapiranga
and Billings reservoirs, the Capivari and Monos Rivers and the bodies of water that form
part of the water sources of the Serra da Cantareira. The area covered by the agreement
in the Southern Zone of the Capital is that portion of the land in the local government sub-
districts of Capela de Socorro, Parelheiros, M'Boi Mirim, Campo Limpo and Cidade
Ademar that are included in the Water Source Protection Area.
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PROGRAMS AND PROJECTS WITH INTERNATIONAL FINANCING Program for the Development of Ecotourism in the Atlantic Rainforest Region
The program that was approved on 11 of November of 2005 is the largest Park
ecotourism project in Brazil, with investments of US$ 15 million over 4 years, which is a
partnership between the State Government (US$ 6 million) and the IDB – Inter-American
Development Bank (US$ 9 million). The loan contract was signed on February 23, 2006.
The State Parks involved are the State and Tourist Parks of Alto Ribeira, Jacupiranga, Ilha
do Cardoso, Carlos Botelho and Intervales (Ribeira Valley region) and Ilha Bela (North
coast region). The aim is to consolidate the vocation for sustainable tourism of the six state
parks as a strategy for conserving nature and extending their participation in the regional
development of the area that falls within the Project’s influence. A specialist in tourism and
the tourist marketing business has been hired to support activities relative to studies and
projects. The Project’s Coordination Unit (‘UCP’) is currently being structured.
It is planned to build and refurbish local country inns, restaurants and visitor
centers and to create and expand already existing attractions, such as canopying,
ziplining, caving and trekking so that visitors can have maximum contact with the riches of
the Atlantic rainforest. There will also be actions in areas surrounding the parks, such as
training local communities to set up their own new ecotourism businesses, as well as
providing technical assistance for micro and small business-people from the region in how
to improve their products and services in a socially and environmentally responsible
manner.
Project for Recuperating Waterside Vegetation
The “Project for Recuperating Waterside Vegetation in the State of São Paulo”
(Decree 49,723, of June 24, 2005) plans for investments of US$ 18.9 million of which US$
7.7 million will be donated by the Global Environmental Facility (GEF), via the World Bank, with
the rest coming from the State Government (nearly US$ 8 million is a co-loan from the State
Microbasins Program of ‘CATI’, the Department of Agriculture and Supplies), and involves
partnerships with local governments, universities, rural producers and environmental entities. The
first stage should include the drainage basins of the Paraíba do Sul, Piracicaba/Capivari/
Jundiaí. Mogi Guaçu, Tietê / Jacaré and Aguapeí regions. The Project was approved by
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the GEF and the Donation Agreement was signed on 6/27/05. The project was
implemented in August, 2005.
Project for preserving and conserving the Atlantic Rainforest (‘PPMA’)
The Project for Preserving and Conserving the Atlantic Rainforest, part of the
Brazil – Germany Financial Cooperation program, started in 1995 and is being carried out
via a partnership between the São Paulo Department of the Environment (SMA) and
German bank, KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau). It covers the Ribeira Valley, the coast
and part of the Paraíba Valley and involves 53 municipalities covering a total area of
22,000 km². It was implemented by the Secretary’s Office of the State Department for the
Protection of Natural Resources, (‘DEPRN’), the Environmental police and the Forestry
Institute and is monitored by an Independent Consultancy Company. The Project is about
to end. Between 1995 and 2005 nearly US$ 30 million was invested and in 2006, R$ 4.86
million.
For 2007 the following actions of the ‘PPMA’ were planned: continuing with
implementing the Control Operating Plan (‘POC’) and joint inter-state supervision on the
borders of the States of São Paulo and Paraná, flying over the area in which the ‘PPMA’
operates by helicopter, implementation of the Atlantic Rainforest Management System
(‘SIGMA’), implementation of the Management Plan for the Serra do Mar State Park,
preparation of the technical procedure manual for conserving the work done by the
‘PPMA’, an audit of the 2006 bidding processes to be carried by an outside company and
monitoring of the ‘PPMA’ by an independent consultancy company. Addendum to the
‘PPMA’ Independent Consultancy company contract.
There is commitment to maintaining the ‘PPMA’s’ Executive Coordination Group
during 2007 and sustaining the actions implemented by the ‘PPMA’, vis-à-vis the financing
body, the German Development Bank, KfW, bearing in mind that KfW may make future
investments in environmental projects as from 2008.
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International cooperation in solid waste management
The São Paulo State Department of the Environment, and the Department of the
Environment, Health and Consumer Protection of the State of Bavaria, Germany,
established a protocol of intentions in December, 2004, directed at managing domestic
solid waste in metropolitan regions, by evaluating the management systems practiced
using case studies and looking at new alternatives. There have been various missions and
joint seminars with the aim of publicizing the new incineration technology in the State of
São Paulo. A document was prepared, entitled “Solid waste management: a vision of the
future”.
THE CONSERVATION OF BIODIVERSITY
Fighting illegal clearance of vegetation (support for preservation of the Amazon and other
Brazilian biomasses)
Two decrees introduced by the State Government support policies that defend the
preservation of the Amazon and other Brazilian biomasses.
The first decree (Decree 49,673 of June 6, 2005) established norms for controlling
and inspecting the transport and storing of products and sub-products made from wood
from native trees in the State of São Paulo.
The second decree (Decree 49,674 Of June 6, 2005) established procedures for
the environmental control of the use of products and sub-products made from wood from
native trees used in engineering works and services hired by the State of São Paulo.
The Highway Patrol police and the state revenue authorities cooperate with the
supervisory bodies of the State Department for the Environment and the Environmental
Police in inspecting vehicles carrying products and sub-products made from wood from
native trees.
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Implementation of the legal reserve in the State of São Paulo:
State Decree 50,889/2006 regulated the compensation, renewal and handling of
the natural regeneration of legal reserves on rural properties, as provided for in the
Forestry Code. The regulations allow rural properties that are entirely planted out to crops
that are of economic interest to constitute their legal reserves on other properties, provided
that the criteria established in the decree are complied with. The decree caused a reaction
from rural property owners who filed a direct action against the government for
unconstitutionality, challenging the measure. On the other hand it received the support of
environmental bodies that understand the measure as an important instrument for
recuperating and conserving the biodiversity of the State of São Paulo. A working group
was set up to settle the doubts of rural property owners and to engage in dialogue with all
segments of society, in order to pool everyone’s efforts for preserving the quality of the
environment.
Management of Conservation Units
The Forestry Institute has prepared management plans for an area of 734,166.45
ha [hectares], which correspond to 85.4% of the area of the conservation units that are its
responsibility, with a further 38,245.52 ha remaining, where on putting this management
tool into practice has not yet started. The management plans are fundamental for
managing the conservation units and they back up the environmental licensing processes
of undertakings that are located close to the conservation units.
In the case of environmental licensing for undertakings that have a significant
environmental impact, the entrepreneur is obliged (Federal Law 9,985/2000, Federal
Decree 4,340/ 2002 and CONAMA Resolution 371/ 2006) to support the introduction and
maintenance of conservation units. This support is the equivalent of at least half of one
percent of the forecast costs for setting up the undertaking. This support is given in
accordance with the priorities established in the law itself, with a special emphasis on the
creation of conservation units and, above all, the regularization of any land issues
involving ecological stations and state parks From this point of view, it contributes to any
appropriation of land that needs to be carried out, given that a significant number of the
conservation units that have already been set up are still in the private hands. Currently,
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undertakings that should support conservation units with total funds of R$ 134,187,074.00
have been approved, of which R$ 38,942,827 are already being actually enforced by the
‘SMA’. An amount of R$ 61,078,342 belonged to units managed by other public bodies; of
this amount the compensation for the Ring Road – Southern Stretch, the biggest part of
which went to the Municipal Government of São Paulo, is of particular significance. In
2007 potential funds of the order of R$ 34 million should be invested in State conservation
units, although this is dependent on entrepreneurs requesting installation licenses.
Creation of new conservation units
Juréia Mosaic of Conservation Units – after intense negotiations with
representatives from local communities, non-governmental organizations, municipalities
and representatives from the Assembly, the Complementary Law Project was drafted that
extended the Juréia – Itatins Ecological Station and created two State Parks and two
Sustainable Development Reserves, which were approved in the State Legislative
assembly in 2006 (Law 12,406, of December 12, 2006).
Iguape Banhados [Swamp] Ecological Station
In the same law the Iguape Banhados Ecological Station was created in the
municipality of Iguape, covering a total area of 16,500 ha.
Comprising two adjoining areas - Banhado Grande and Banhado Pequeno – the
new conservation unit guarantees the environmental preservation of flooded areas and
expansion of an area of land that is home to the largest expanse of flatland Atlantic
rainforest and associated ecosystems on the Central São Paulo coastline.
The setting up of this ecological station expanded the conservation of the
continuous stretch of Atlantic rainforest, represented by the Juréia-Itatins Ecological
Station and now by the Banhados de Iguape Ecological Station.
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Contaminated Areas
In May, 2002, CETESB published for the first time a list of contaminated areas,
which recorded that there were 255 such areas in the State of São Paulo. This register of
contaminated areas has been updated 5 times since (October, 2003, November, 2004,
May, 2005, November, 2005, May, 2006) and in May 2006 the number of contaminated
areas totaled 1,664. CETESB’s actions provided for the implementation of measures for
remedying the situation in 622 areas (37%) and the conclusion of remedial measures in 32
(2%) of them. A further 151 contaminated areas (9%) have been recorded where there is a
proposal for remedying the situation and 859 contaminated areas (52%) where there are
no remedy proposals. Legislative Bill 368 of 2005 is proceeding through the Legislative
Assembly, the aim of which is to guarantee the sustainable use of the land and the
management of the contaminated areas.
ENVIRONMENTAL PLANNING
State Policy for the Protection and Recuperation of Water Sources of Regional Interest in the State of São Paulo – Specific Law for the Guarapiranga Drainage basin
State Law 9,866 of 1997 established the State Policy for the Protection and
Recuperation of Water Sources and introduced a new concept for the management of
drainage basins when it revived the need for planning as a way of encouraging an
occupancy that is appropriate for maintaining water quality, provided for mandatory actions
for environmental sanitation and resolved that the State, municipalities and civil society are
jointly liable for the integrated inspection and control of water source areas. In July, 2005
an agreement was signed with the Municipal Government of São Paulo for the integrated
supervision of water source areas. Under discussion are Specific Laws for Tietê-
Cabeceiras water source: Tanque Grande, Alto Tietê production system,
Baquirivu/Cabuçu; the Pinheiros-Pirapora water source: Upper and Lower Cotia; and the
Juqueri-Cantareira water source: Juqueri.
The Specific Law for Guarapiranga was the first of such laws, as provided for in
State Law 9,866/97. It was prepared following a tripartite participative process, involving
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state public administration and civil society bodies and local government authorities from
the towns and cities situated in the drainage basin, São Paulo, Itapecerica da Serra,
Embu, Embu-Guaçu, Juquitiba, São Lourenço da Serra and Cotia. It is in its final
regulation-drafting phase.
State Coastal Management Plan – North Coast and the Santista Coastal Plain
On the North Coast the work related to Coastal Management culminated with the
publication of Decree 49,215, of December 7, 2004, which instituted “Ecological and
Economic Zoning for the North Coast Sector”, covering the municipalities of Ubatuba,
Caraguatatuba, Ilha Bela and São Sebastião, Miracatu, Pariquera-Açu, Pedro de Toledo,
Registro, Ribeira, São Lourenço da Serra, Sete Barras and Tapiraí. An Action and
Management Plan for the North Coast is being prepared. Ecological and Economic Zoning
for the Santista Coastal Plain, involving the municipalities of Santos, Guarujá, Cubatão,
Bertioga, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém and Peruíbe is currently under
discussion with representatives from social sectors and Municipal Governments.
The State Coastal Management Plan, instituted by State Law 10,019/98 and
implemented by Decree 47,303/02, provided for the creation of the State Coordination
Group and Sector Coordination Groups for he North Coast, the Santista Coastal Plain, the
Estuary-Lagoon Complex of Iguape-Cananéia and the Ribeira Valley with the brief to
prepare the Ecological and Economic Zoning and Action and Management Plans. In the
Santista Coastal Plain area the Sector Coordination Group has already been structured
and has taken office. The Sector Group comprises representatives from State
Departments, Municipal Governments and Civil Society bodies.
State Solid Waste Policy - Law 12,300, of March 16, 2006
Law 12,300, of March 16, 2006, which instituted the State Solid Waste Policy, was approved by the Legislative Assembly after several years’ discussion. The
Department of the Environment monitored and contributed to the parliamentary debate. On
August 25, 2006 the State Department of the Environment installed a technical group to
prepare the Law’s regulations.
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Areas of Environmental Protection – APAs
Currently there are 23 APAs in the State, involving 110 municipalities. Between
2003 and 2005 there was a significant advance in the management of Areas of
Environmental Protection. Eleven Managing Councils were set up in the 23 State APAs to
adjust them to the National System of Conservation Units (‘SNUC’). The Management
Plans for the Jundiaí/Cajamar/Cabreúva, Campos do Jordão, Botucatu, Itupararanga,
Sapucaí Mirim, Várzea do Rio Tietê and São Francisco Xavier APAs are currently being
prepared. The plan for São Francisco Xavier has already been sent to the Department’s
Legal Consultancy sector for approval.
Environmental Protection Areas, (APAs) are planning and environmental
management spaces in extensive areas that have regionally important ecosystems that
include one or more environmental attributes. The territory needs to be organized in a way
that is directed towards the sustainable use of its natural resources and prepared using the
participative processes of society, which result in an improvement in the quality of life of
the local communities.
According to Federal Law 9,985, of July 18, 2000, which instituted the National
System of Conservation Units, the APA is classified as the direct use of natural resources,
like National Forests, Hunting and Gathering Reserves and Fauna Reserves, where
occupancy and the exploitation of natural resources are allowed, but in accordance with
the specific rules that guarantee protection for the area.
APA territories include both urban and rural areas, with all their social-economic
and cultural activities and since the land remains in private hands it does not need to be
appropriated by government.
The environmental licensing of undertakings in APAs must follow the usual
procedures already established by the State System of the Environment. In cases where
an Environmental License is required by state bodies, the request for it must start with one
of CETESB’s and/or DEPRN’s State Agencies, depending on the characteristics of the
undertaking or activity. In APAs that have already been regulated observance of the legal
provisions relative to APAs is made directly to the licensing organs.
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Housing developments, subject to approval by GRAPROHAB, must comply with
CONAMA Resolution 10/88 with regard to making at least 20% of the land area available
for planting trees.
National Environment Program II – Sustainable Development Plans in the Alto Tietê region – National Environment Program – PNMA II – Phase I
With funds coming from the Loan Agreement signed between IBRD (International
Bank for Reconstruction and Development) (World Bank) and the Brazilian Government,
via its Ministry of the Environment (‘MMA’), the Program is being implemented by
participating States via Agreements, involving Government funds, with a like amount
coming from state institutions. Of all the actions being implemented the following stand
out: master plans and integrated management plans for solid waste, the setting up of
recyclable waste collection cooperatives, environmental education and selective waste
collection plans, the construction of waste separation stations, training courses for
recyclable waste collectors, the purchase of equipment and agri-environmental
intervention plans
Mapping out of the Land Use and Occupancy by category in the State of São Paulo, on the scale 1:50,000
This mapping process that was introduced in 2006 is based on the interpretation of
satellite images, by means of the supervised classification of land use and occupancy for
the whole of the State of São Paulo.
The mapping out of land use and occupancy is fundamental for planning public
activities – drainage basin plans, annual environmental quality reports, action and coastal
management plans, management plans for Environmental Protection Areas, etc. – and
private ones, and also for defining the expansion possibilities for intensive economic
activities in the use of certain natural resources. Expansion of alcohol production, for
example, depends on the development of production technologies and the appropriate use
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of basic agricultural resources – land, the geomorphology of the soil, etc. – in order to
minimize the environmental impact of agriculture industry undertakings.
GLOBAL ENVIRONMENTAL CHANGES
The Department of the Environment promoted and participated in discussions on
the proposals for global environmental issues and gave public administrative support for
State government actions relating to global environmental changes.
Divulging information relative to the collection and use of biogas for energy production taken from landfill sites, effluent treatment stations and rural settings.
SMA/CETESB, via Proclima, prepared the inventory of methane emissions for the
Ministry of Science and Technology, in addition to organizing seminars, publications and
an information guide for calculating methane emissions, and which is available on the
SMA/CETESB website.
Sao Paulo Climate Change Forum
A Sao Paulo Global Climate Change and Biodiversity Forum was set up by the
State Government to monitor and propose policies related to compliance with the Kyoto
Protocol and Biodiversity Convention in the State of São Paulo and has received the
support of the Department of the Environment.
The objective of the Sao Paulo Forum is to mobilize society and make it conscious
of the problems arising from climate change caused by greenhouse gases and the targets
established by the Kyoto Protocol for reducing emissions, worldwide. The Forum
comprises two committees: Climate and Biodiversity, in addition to topical sub-committees.
Its main objective is to mobilize all segments in Sao Paulo society and make them
conscious of the problems of climate change and the alarming loss of biodiversity.
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Basic Project
Specialists in climate change from Brazil, China, India and South Africa, meeting
together in São Paulo, prepared a document with a set of proposals for the second phase
of the Kyoto Protocol, which presented the position of developing countries to the emission
of gases responsible for global warming.
The document, called “The São Paulo Proposal for a Future International Climate Policy”,
proposes mechanisms for defining future greenhouse gas emission targets for developed
countries and developing countries, such as is the case with China, India and Brazil, which
contribute significantly to the emission balance.
Article received on 26.04.2007. Approved on 29.05.2007.
1
SEGURANÇA QUÍMICA E SOCIEDADE DE RISCO
Marijane Vieira Lisboa
Formada pela Freie Universität Berlin, com Doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP, professora do curso
de Ciências Sociais e Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP, vice-
coordenadora do núcleo de pesquisas ECOS, da PUC-SP, ex-diretora da Greenpeace Brasil e atualmente
membro do Conselho Deliberativo da Associação de Agricultura Orgânica e da Rede Brasil Livre de
Transgênicos; marijane.lisboa@terra.com.br
RESUMO Cercada de riscos resultantes de seu enorme progresso técnico, a sociedade de risco vê
abalada a confiança depositada na ciência e nas autoridades públicas na medida em que
ocorrem acidentes e efeitos colaterais, impossíveis de serem previstos e evitados. Assim,
ganham destaque conceitos como segurança química. O raio de ação ampliado das
novas tecnologias no tempo e no espaço torna impossível prever todos os seus efeitos
colaterais negativos, e, diante dessa incerteza, impõe-se o Princípio da Precaução. As
questões ambientais e de saúde relacionadas com os Poluentes Orgânicos Persistentes
(POPs) são um excelente exemplo da necessidade de adoção do Princípio da Precaução,
pois somente quando a poluição com esses contaminantes atingiu proporções
planetárias é que foi possível comprovar os seus efeitos danosos para a saúde humana e
animal. Visando reduzir e eliminar alguns dos mais perigosos POPs, assinou-se a
Convenção de Estocolmo em 2001, mas a falta de recursos financeiros nos países em
desenvolvimento e o poderoso lobby das corporações multinacionais da indústria química
podem comprometer a implementação desse importante tratado multilateral.
Palavras-chave: segurança química; sociedade de risco; Princípio da Precaução;
Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs).
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A NEUROSE DA SEGURANÇA
Segurança química é um termo pós-moderno, assim como biossegurança,
segurança alimentar e outras tantas seguranças. Terá que ver com uma época que
experimenta profunda insegurança em relação à sua existência?
A nossa época é efetivamente uma época bastante insegura, embora a natureza
dessa insegurança seja muito distinta daquela insegurança experimentada em outros
períodos da história humana. A Antiguidade e o Medievo foram assolados por catástrofes
naturais imprevisíveis e incontroláveis – terremotos, inundações, epidemias – que foram
entendidas como vinganças ou castigos dos deuses. Como comenta Hans Jonas na
introdução de seu livro O princípio responsabilidade (2006), na Antiguidade a natureza era
todo-poderosa e frente a ela valia apenas a inteligência e a inventividade humana. O
homem detinha apenas certo controle sobre a sua obra, a pólis. Já na modernidade, a
natureza se tornou vulnerável à ação humana, pois esta última é capaz de modificá-la
radicalmente, e é isso que, do ponto de vista de Jonas, exige a elaboração e adoção de
uma outra ética, capaz de dar conta dos impactos humanos sobre a natureza externa e
sobre a natureza humana.
O sociólogo alemão Ulrich Beck desenvolveu a tese de que vivemos em uma
sociedade de risco.1 Nas sociedades pós-industriais de nossa época, os grupos sociais
não lutariam entre si antes de tudo pela partilha da riqueza – a famosa luta de classes –
mas pela partilha dos riscos. É claro que os mais desfavorecidos em termos de poder e
riqueza ficariam com a parte pior. Por isso, surgirá uma corrente do ativismo ambientalista
que irá discutir o que se chama de justiça ambiental, ou seja, combater a injustiça com
que se repartem os riscos e danos ambientais da sociedade industrial madura (ver
Acselrad, Herculano & Pádua, 2004). O problema, como aponta Ulrich Beck, é que nem
sempre é possível repartir tais riscos segundo critérios de classe ou poder. O
aquecimento global tanto pode impactar gravemente países menos industrializados, que
pouco contribuíram para esse aquecimento global, como países industrializados que
foram os principais responsáveis pela emissão de gases estufa, como a Inglaterra, a
Holanda e a Alemanha. A contaminação química com poluentes orgânicos persistentes é
extremamente ‘democrática’, atingindo todos os recantos do planeta, enquanto a
intensificação do transporte marítimo carrega microorganismos e patógenos de uma parte
a outra do planeta, provocando a bioinvasão de espécies exóticas em mares e bacias
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hidrográficas distantes, como é o caso do mexilhão dourado, vindo do sul da China, e que
hoje infesta os rios brasileiros situados no Sul e no Centro-Oeste do país.
Mas o que é típico da sociedade de risco, segundo Beck, é o fato de que esses
riscos não sejam riscos naturais, cujos danos nossa ciência ainda não possa prevenir e
minimizar, mas sim resultado dessa ciência, de tecnologias desenvolvidas para resolver
determinados problemas e melhorar a qualidade de vida, mas que tiveram efeitos
colaterais imprevistos e impossíveis de serem sanados. Pior que isso, a tentativa de sanar
tais problemas criou, em geral, outros problemas: incineradores para eliminar resíduos
tóxicos produzem substâncias tóxicas ainda mais perigosas do que esses resíduos, como
as dioxinas e os furanos; acidentes com navios petroleiros e em plataformas de extração
de petróleo, marítimas e continentais, causam catástrofes ambientais e humanas de
grande magnitude. Inseticidas como o DDT, desenvolvidos para combater vetores da
malária, que se expande em virtude de desmatamento acelerado (aceleração em grande
parte facilitada pela nova tecnologia de serras elétricas), revelam-se com o tempo
cancerígenos e disruptores endócrinos (ver Colborn, Dumanoski & Myers, 2002).
Enormes prédios, obras extraordinárias da engenharia contemporânea são alvos fáceis
de terroristas, que vêm pilotando uma das maiores invenções do último século: o avião.
Em outras palavras, somos vítimas de nosso extraordinário sucesso técnico.
O surgimento e a popularização de conceitos e políticas públicas relacionados ao
tema da segurança – segurança química, biossegurança, segurança alimentar – revelam
muito sobre como a nossa época percebe os riscos gerados pela sociedade industrial.
Vivemos cada vez mais obcecados pela segurança, e tal percepção não parece ser fruto
de uma paranóia coletiva da sociedade de massas, mas resultado de experiências
recentes, que se mostraram traumáticas: a talidomida, o acidente da usina nuclear de
Chernobyl, a ‘doença da vaca louca’, apenas para mencionar algumas dessas
experiências mais marcantes. Todas elas têm em comum o corolário de que nossa
tecnociência é capaz de feitos extraordinários, mas tem sido incapaz de prever seus
danos colaterais. Os danos que se abatem sobre nós ocorrem de forma abrupta,
imprevisível e freqüentemente irreversível. Técnicas e produtos considerados seguros
subitamente revelam suas propriedades nocivas e exigem medidas drásticas de
autoridades públicas, que as proíbem ou restringem rigidamente o seu uso. Nesse
processo de revisão de políticas de segurança, em que o que era considerado seguro
subitamente passa a ser tratado como perigoso, cientistas e autoridades públicas
freqüentemente vêem abalada a confiança neles depositada pela sociedade. Por isso,
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Beck dirá que os verdadeiros agents provocateurs da sociedade de risco são os
acidentes. Eles desmentem a ciência e os órgãos públicos de controle, mostrando que
tecnologias, remédios e alimentos não eram tão seguros quanto lhes garantiam. Nessas
circunstâncias, cientistas e autoridades fazem mea culpa, proíbem ou tratam de
estabelecer rigorosos controles para tais técnicas ou produtos, até que mais adiante
novas descobertas científicas vêm lançar suspeitas sobre outras técnicas e produtos, ou
sobre a insuficiência das medidas de controle adotadas.
A ciência freqüentemente só descobre os danos colaterais de tecnologias e
produtos quando estes ocorrem, mas isso se deve às diferentes velocidades com que se
podem descobrir e inventar novas tecnologias, o que inclui um número limitado de
relações e conhecimentos e o tempo necessário para investigar e descobrir todos os seus
possíveis efeitos colaterais. O contraste entre a rapidez com que se criam e se aplicam
tecnologias e o longo tempo necessário para descobrir eventuais danos é ainda
aumentado pelas escolhas feitas no início e durante a pesquisa científica. Longe da
crença simplória de que a ciência elege e estuda um objeto qualquer de forma neutra,
para depois a tecnologia direcionar esses conhecimentos adquiridos para determinados
objetivos práticos, quase sempre a pesquisa básica é já a priori dirigida para a obtenção
de determinados conhecimentos e usos possíveis. Isso explica por que se pode pesquisar
em profundidade como isolar determinados genes ou provocar a fissão do átomo, mas
destinar pouca atenção às conseqüências da irradiação e da ingestão de alimentos
geneticamente modificados para os seres humanos e demais espécies vivas.
A INCERTEZA VEIO PARA FICAR
Além desse efeito de vontade, nossa tecnociência enfrenta limitações de ordem
epistemológica muito diferentes das dificuldades enfrentadas pelos antigos. O raio de
ação ampliado das novas tecnologias no tempo e no espaço torna impossível prever
todos os cenários prováveis, resultantes da sua adoção em larga escala. A ignorância
quanto a vários aspectos das relações complexas presentes na natureza e a incerteza
quanto à freqüência destas relações complexas impõem à ciência do século XXI o
abandono de concepções reducionistas e causalistas, em busca de um novo paradigma
de complexidade.2
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O Princípio da Precaução, como princípio ético orientador de políticas públicas nas
áreas de meio ambiente, saúde e patrimônio histórico, surge justamente da constatação
de que somos incapazes de prever com justeza as conseqüências do nosso poderio
tecnológico e que, em situações de incerteza quanto à possibilidade de danos sérios,
deveríamos agir de forma preventiva. Como dizem Raffensberger e Tickner (1999),
A incerteza científica acerca do dano é o fulcro desse princípio. Os
problemas cotidianos que cobrem vastas dimensões de tempo e de espaço
não são facilmente avaliados pelos instrumentos científicos atuais.
Conseqüentemente, nós nunca podemos saber se certo tipo de atividade
causará danos. Mas podemos confiar na observação e no bom senso para
prever e prevenir tais danos.
Surgidas nos anos 70, concomitantemente nas legislações alemã e sueca, as
políticas públicas baseadas no Princípio da Precaução responderam a uma crescente
sensibilização de suas opiniões públicas em relação à questão ambiental e estabeleceram
os fundamentos daquilo que se chamará de modernização ecológica, ou seja, a idéia de
que seria possível compatibilizar crescimento econômico com proteção ambiental (Lisboa,
2000).
Em virtude da incerteza acerca dos possíveis danos de novas tecnologias e
produtos, a adoção do Princípio da Precaução significa modificar radicalmente a natureza
das decisões a serem tomadas. Embora se recorra ao conjunto de conhecimentos
científicos acumulados para avaliar a probabilidade de ocorrências de danos
significativos, o caráter das decisões a serem tomadas é de natureza eminentemente
política, pois elas têm a ver antes de tudo com a aceitabilidade social dos riscos inerentes
a cada uma das novas tecnologias, comparando-se estes últimos com os benefícios que
essas mesmas tecnologias poderiam trazer. A natureza eminentemente política de tais
decisões deveria naturalmente transferir o locus em que elas são tomadas, de comissões
técnicas para órgãos políticos, e pressuporia um amplo debate público, em que a
sociedade tivesse a oportunidade de sopesar os possíveis riscos e benefícios das novas
tecnologias. Infelizmente, não é o que vem ocorrendo no Brasil e no mundo, pois a
proliferação de comissões de bioética, biossegurança ou segurança química em órgãos
governamentais e intergovernamentais parece indicar a intenção de recusar à sociedade
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o direito e o dever de analisar riscos e benefícios de tais tecnologias, sob o argumento de
que tais assuntos são questões eminentemente técnicas.3
POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES
As questões ambientais e de saúde relacionadas a poluentes altamente tóxicos –
os poluentes orgânicos persistentes, chamados de POPs,4 são um excelente exemplo
para ilustrar a necessidade de adoção do Princípio da Precaução e de instauração de um
debate público acerca de novas tecnologias e produtos. Objeto da Convenção de
Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, assinada em maio de 2001, esses
poluentes só foram revelar os seus efeitos colaterais danosos sobre a saúde humana e
animal após décadas de uso constante e generalizado.
Inseticidas como o DDT, os drins, heptacloro, clordano e tantos outros; compostos
industriais como o hexaclorobenzeno e as bifenilas policloradas ou mesmo substâncias
surgidas involuntariamente durante a produção química ou a combustão de substâncias
cloradas, como as dioxinas e furanos, todas essas substâncias têm em comum o fato de
que são capazes de permanecer intactas no meio ambiente por longos períodos,
distribuindo-se por todos os recantos do planeta e acumulando-se nos tecidos gordurosos
dos organismos vivos. Por essas propriedades de persistência e bioacumulação, os
poluentes orgânicos persistentes são particularmente perigosos, constituindo-se em uma
ameaça global para o meio ambiente e para a saúde humana. No entanto, foram
necessárias décadas para descobrir os seus danos, uma vez que não são imediatos e,
muitas vezes, são invisíveis. Além dos efeitos teratogênicos evidentes de uma talidomida,
a pesquisa científica aos poucos descobrirá que grande parte dessas substâncias podem
ser responsabilizadas pelo surgimento de diversos tipos de câncer, de lenta evolução.
Mais alarmante ainda será a descoberta, em meados dos anos 90, de que tais
substâncias agem como disruptores endócrinos, na medida em que mimetizam hormônios
ou bloqueiam a absorção de hormônios (Colborn, Dumanoski & Myers, 2002, p.139).
Como alterações mínimas nas quantidades de hormônios presentes em organismos vivos
podem ter impactos graves no desenvolvimento do aparelho reprodutivo, no sistema
imunológico e nervoso dos seus indivíduos, a presença ubíqua desses poluentes na
alimentação humana, no ar e na água que respiramos e consumimos seria responsável
por má formação de órgãos sexuais, diminuição da quantidade e motilidade de
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espermatozóides, endometriose e abortos espontâneos, comprometendo seriamente a
reprodução de espécies. Tal descoberta permitiu compreender aqueles casos em que a
súbita diminuição de indivíduos de espécies selvagens dificilmente se explicaria apenas
pela redução de seus habitats e por serem alvo de caça ou pesca predatória. Os POPs
também afetariam o sistema imunológico e o sistema nervoso dos seres vivos, ao
interferirem em glândulas responsáveis pelo seu funcionamento e desenvolvimento. Aos
poucos, portanto, fomos descobrindo que inseticidas como o DDT, germicidas à base de
cloro, substâncias químicas como os clorofluorcarbonos utilizados na refrigeração, ou as
bifenilas policloradas utilizadas nos capacitores e transformadores de energia eram
poderosos venenos, capazes de prejudicar gravemente o meio ambiente e a saúde
humana. Uma descoberta surpreendente e terrível é a de que mesmo doses mínimas
dessas substâncias poderiam trazer conseqüências graves e de longo prazo, afetando
futuras gerações. Esta última descoberta punha em xeque os fundamentos das políticas
públicas de ‘doses mínimas aceitáveis’, ou ‘limites máximos de exposição’ para
substâncias tóxicas. Em alguns casos, portanto, não cabia nenhuma medida a não ser a
proibição pura e simples de sua produção e consumo, particularmente quando existiam
substitutos para tais produtos.
Assim, aos poucos vão surgindo as legislações nacionais que proíbem agrotóxicos
à base de cloro, bifenilas policloradas e outros poluentes orgânicos persistentes, bem
como legislação visando reduzir as emissões de dioxinas e furanos em incineradores,
fornos de cimento e fábricas de celulose e papel.
O PLANETA SE MOBILIZA
Porém, a essas alturas, a poluição com os POPs já atingira proporções
planetárias. Em razão do que se chama de ‘efeito de destilação global’, os POPs
liberados no meio ambiente são capazes de se transportar através das correntes
marinhas e aéreas para as regiões mais remotas do globo, onde finalmente se depositam.
É por isso que as mulheres inuit e os animais que estão no topo da cadeia alimentar no
Pólo Norte, seres humanos, ursos polares e baleias, apresentam grande quantidade de
dioxinas e PCBs em seus organismos. É dessa região, portanto, que vêm os primeiros
apelos em prol de medidas globais visando controlar e reduzir a contaminação com
POPs. A Agenda 21, aprovada durante a ECO-92, já mencionava como uma das ações
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prioritárias, no seu capítulo 17 sobre a Proteção dos Oceanos, a necessidade de reduzir e
eliminar as emissões e descargas de poluentes orgânicos persistentes nos oceanos.
Menos de dois anos depois, numa das reuniões de seu Conselho Diretor, o Programa de
Meio Ambiente da ONU, o PNUMA, aprovou uma resolução, a 18/32-25, na qual
convidava as diversas instituições governamentais e não governamentais a formar um
grupo de trabalho para identificar uma lista reduzida dos mais perigosos POPs. Entre as
missões desse grupo estavam consolidar a informação científica sobre as vias de
disseminação e fontes dos POPs, avaliar sua deposição e transporte global, analisar seus
riscos/benefícios, avaliar substitutos e definir estratégias e política adequadas para lidar
com tais substâncias. Esse grupo de trabalho foi formado pelo Programa Internacional de
Segurança Química (IPCS), um programa conjunto que reunia a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fórum
Intergovernamental de Segurança Química (IFCS), com os seus grupos de trabalho ad
hoc. Uma de suas primeiras atividades foi avaliar os resultados e conclusões da
Conferência de Washington sobre Poluição Marinha oriunda de Fontes Terrestres,
reunião que acontecera na seqüência da decisão do PNUMA. A Conferência havia
reconhecido que os POPs eram transportados por mar e ar, acumulando-se em regiões
muito distantes dos seus locais de produção e consumo. Os países presentes a essa
conferência comprometem-se a cumprir o mandato dado pelo PNUMA ao grupo de
trabalho anteriormente formado, de elaborar “um instrumento internacional para reduzir ou
eliminar as emissões, descargas e quando apropriado, eliminar a fabricação e uso de
POPs identificados na decisão 18/32 do Conselho Deliberativo do PNUMA”.5
Nos considerandos do parágrafo 17 da Declaração de Washington para Proteção
do Meio Ambiente Marinho de Atividades Poluentes Originárias de Fontes Terrestres
mencionavam-se as circunstâncias especiais de países que necessitassem de assistência
técnica para assumir as obrigações previstas no futuro tratado, bem como a atenção a ser
dada àqueles países que eventualmente necessitassem continuar utilizando POPs para a
proteção da saúde humana ou para a produção de alimentos, quando não existissem
alternativas e houvesse dificuldades em obter substitutos ou adquirir novas tecnologias
para produzir esses substitutos. Aqui já estão apontados, portanto, os principais
problemas que irão dificultar, mais tarde, a implementação dessa convenção por parte
dos países em desenvolvimento: a falta de recursos econômicos e técnicos.
Em 1997, após um ano e meio de trabalho, o Conselho Diretor do PNUMA pôde
aprovar as conclusões e recomendações feitas pelo Grupo de Trabalho, bem como a lista
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de 12 POPs considerados os mais perigosos e que deveriam ser objeto primeiramente de
políticas visando sua redução e eliminação. A partir daí, formou-se um comitê
intergovernamental de negociação, com o mandato para elaborar um instrumento
internacional legalmente vinculante visando reduzir e eliminar os 12 POPs inicialmente
selecionados. Desses doze POPs, oito são compostos químicos usados como pesticidas
(aldrin, DDT, dieldrin, endrin, heptacloro, clordano, mirex e toxafeno); dois compostos
industriais (bifenilas policloradas e hexaclorobenzeno, e dois compostos químicos cuja
produção é involuntária, mas inevitável quando se queimam outros compostos clorados
com material orgânico, ou mesmo em etapas intermediárias na produção de compostos
clorados: dioxinas e furanos. O conselho ainda recomendou que se continuasse
estudando outros POPs, e para tal se formou um grupo de especialistas. Como a questão
da contaminação com POPs parecia de grande urgência, o Conselho Diretor do PNUMA
recomendou que o comitê de negociação começasse os seus trabalhos o mais cedo
possível, em 1998. Assim, depois de apenas quatro reuniões desse comitê, em dezembro
de 2000, em Joanesburgo, África do Sul, foi possível aprovar o seu texto final.
A CONVENÇÃO DE ESTOCOLMO
As negociações sobre o texto final da Convenção foram árduas e os avanços
lentos, pois havia forte polarização em torno de algumas questões cruciais. Não existiam
divergências significativas em relação à eliminação da produção e consumo de sete dos
oito pesticidas, pois estes já se encontravam proibidos em grande parte do mundo. Aí,
todo o problema se reduzia – e não era pouco – em saber quem pagaria para recolher e
eliminar os enormes estoques de pesticidas vencidos nos países em desenvolvimento,
em particular na África, grande parte deles cedidos ou financiados por agências
internacionais de desenvolvimento quando o seu prazo de validade já estava próximo a
espirar. Outra grande questão técnica era como eliminá-los de maneira segura, pois a
incineração desses resíduos fatalmente geraria POPs ainda mais tóxicos, como as
dioxinas e furanos, e faltavam a esses países em desenvolvimento tecnologias e recursos
financeiros para adotar as soluções mais adequadas.
O único dos pesticidas cuja eliminação se mostrava problemática era o DDT, em
virtude do seu uso ainda muito disseminado para combater o vetor da malária em muitos
países africanos. Embora haja alternativas menos tóxicas para o DDT, como piretróides e
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uso combinado de mosquiteiros e atendimento médico eficiente, seus custos são muito
maiores, e novamente tratava-se de definir quem pagaria tal conta.
Os dois compostos químicos de produção industrial – as bifenilas policloradas e o
hexaclorobenzeno – tampouco constituíam problema, já que sua produção e o consumo
também se encontravam proibidos em grande parte do globo. Toda a polêmica se
concentrava nos compostos químicos de produção involuntária, as dioxinas e furanos. A
rigor, a única forma de reduzir com vistas a finalmente eliminar a sua produção seria
impedir o uso do cloro na indústria química e proibir a incineração de resíduos contendo
cloro. Contra tal perspectiva erguia-se a indústria química em geral, a indústria de
plásticos e as grandes empresas de tecnologia de incineração para resíduos domésticos,
hospitalares e industriais. Apoiado por diversos países, em particular pelos Estados
Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, o setor industrial propunha que os objetivos
concernentes às dioxinas e furanos se restringissem apenas à redução das suas
emissões por meio de tecnologias mais eficientes. Do outro lado, a favor de um claro
posicionamento visando uma eliminação gradativa desses compostos por meio da sua
substituição por outras substâncias químicas e tecnologias perfilava-se a União Européia,
a maior parte dos países da América Latina, da Ásia e da África, exceptuando-se o Japão
e a Coréia do Sul. Esses países eram apoiados por uma ampla rede internacional de
organizações e movimentos da sociedade civil, a International POPs Elimination Network,
que reunia ativistas do campo ambiental, da saúde e da agricultura ecológica.6
Estreitamente relacionados com a questão da redução ou eliminação de dioxinas e
furanos se encontravam outros dispositivos referentes às tecnologias recomendadas para
eliminação de resíduos de POPs e à proibição de que novos POPs fossem criados e
disseminados no meio ambiente. No preâmbulo do texto da Convenção, a menção ao
Princípio da Precaução também foi objeto de intensa disputa. Enquanto o grupo de países
liderado pelos Estados Unidos propunha a fórmula mais branda do precautionary aproach,
a União Européia, com o apoio de quase todos os países em desenvolvimento, fincava pé
na menção explícita ao Princípio da Precaução. Segundo os advogados desse grupo de
países, a substituição da expressão Princípio da Precaução por precautionary aproach
significaria um retrocesso na legislação ambiental internacional, pois todas as últimas
conferências e declarações da área ambiental haviam incorporado tal definição.
Foi surpreendente, portanto, o acordo a que se chegou ao fim da última reunião do
comitê intergovernamental de negociação, o INC4, em dezembro de 2000, em
Joanesburgo, na África do Sul. Após duras e difíceis negociações iniciais, deserções no
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grupo dos países liderados pelos Estados Unidos levaram à aprovação por consenso de
uma fórmula contemporizadora para as dioxinas – elimination when possible – e à plena
aceitação da menção ao Princípio da Precaução no preâmbulo da Convenção. Uma das
explicações posteriormente ventiladas para esse desenlace exitoso foi a de que o grupo
de países liderado pelos Estados Unidos estava temeroso de ser acusado de
sistematicamente boicotar as negociações internacionais de meio ambiente, pois a
comunidade internacional ainda não se refizera da decepção de ter visto fracassar a
última reunião em que os países membros da Convenção Marco sobre Mudanças
Climáticas tentavam concluir as negociações em torno da regulamentação do Protocolo
de Quioto.7
O VALOR DAS CONVENÇÕES
É um fato corriqueiro que os textos de acordos e tratados internacionais
apresentem ambigüidades gritantes e incoerências internas, pois o interesse diplomático
em se alcançar um consenso, em que pesem profundas divergências existentes, conduz
freqüentemente à busca de soluções contemporizadoras e incoerentes. Deste ponto de
vista, o texto da Convenção de Estocolmo se constitui em uma notável exceção, exibindo
uma coerência interna no que tange aos princípios e preocupações expressos no
preâmbulo e em seus parágrafos operativos. Estes últimos, por sua vez, abarcam
diversos aspectos importantes da produção, consumo e eliminação dos POPS,
constituindo assim um conjunto de orientações bastante completo para políticas na área
de segurança química.
Um bom exemplo disso é o fato de que o Princípio da Precaução não esteja
presente apenas no preâmbulo, mas também em parágrafos operativos, indicando as
circunstâncias em que ele deve ser aplicado: quando se estiver diante de substâncias
persistentes e bioacumulativas, mesmo que não haja evidências conclusivas sobre sua
toxicidade.
A Convenção também foi absolutamente clara quanto à necessidade de que
houvesse recursos para que os países em desenvolvimento, e em especial a categoria
dos menos industrializados, pudessem participar efetivamente das negociações e
pudessem implementar as suas recomendações. Financiamento dos planos nacionais de
implementação e assistência técnica são condições essenciais para que esses países
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possam fazer a sua parte no que se refere à eliminação dos POPs. A 3ª reunião das
Partes da Convenção de Estocolmo, que acabou de realizar-se em Dacar, Nigéria, lança
no entanto sombras sobre o seu futuro. A falta de recursos faz com que muitos países da
África insistam em continuar utilizando o DDT para combater os vetores da malária.
Recursos limitados atrasam o financiamento dos planos nacionais de implementação, a
transferência de tecnologias e a capacitação técnica para os países em desenvolvimento.
Porém, a União Européia, que durante certo período constituiu a vanguarda dessa
Convenção, está agora às voltas com uma polêmica interna em torno de uma nova
legislação para substâncias químicas, a REACH (Registration, Evaluation and
Authorisation of Chemicals). Reconhecendo a ineficiência das políticas públicas de
controle das substâncias químicas com base nas análises de risco de cada uma das
substâncias existentes, a nova proposta inclui o conceito de substituição de substâncias
perigosas por alternativas mais seguras, reverte o ônus da prova para os fabricantes de
compostos químicos e adota o Princípio da Precaução. A proposta se encontra sob forte
ataque do lobby industrial, que já conseguiu atenuar alguns dos seus dispositivos. Uma
rede de organizações ambientalistas, de saúde, de consumidores, de movimentos de
mulheres e de trabalhadores organizou-se para “defender uma proposta que possa
efetivamente controlar substâncias perigosas e substituir muitas delas por alternativas
mais seguras”.8 A conclusão dessa batalha será de enorme importância para o conjunto
do planeta, indicando até que ponto, em países democráticos, os interesses ligados à
saúde pública e ao meio ambiente conseguirão se impor àqueles de setores industriais
que defendem tecnologias e produtos incompatíveis com a sustentabilidade.
A SEGURANÇA POSSÍVEL
Um dos elementos fundadores da modernidade é a crença de que a razão
humana, a Ciência e a Tecnologia em especial, serão capazes de tudo mudar. Como diz
Castoriadis em um artigo sobre a técnica, esta vem substituir a religião na superação
metafísica da mortalidade humana.9 É importante entender isso, para que possamos
compreender por que a ciência e a tecnologia exercem tamanho fascínio sobre os
indivíduos. Não se trata efetivamente deste ou daquele invento, desta ou daquela
tecnologia, mas da possibilidade de que eles venham nos redimir de todos os sofrimentos,
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e em particular da morte, agora que não há Deus – ou, mesmo que haja, agora que ele se
encontra muito distante de nós, para ajudar-nos nas nossas aflições terrenas.
Se os conceitos de segurança química, biossegurança e outros tantos são
questionáveis, pois expressam algo impossível, deveriam ser refutados em prol de um
conceito mais realista? Ou pelo menos mereceriam uma crítica mais radical? Talvez o
questionamento que se faça a tais conceitos não seja distinto daquele a que foi submetido
o conceito de desenvolvimento sustentável. O que é sustentável? O que é
desenvolvimento, aliás? Vamos repetir o desenvolvimento insustentável do Norte com
suas indústrias sujas, sociedade do desperdício, destruição do meio ambiente, crise moral
e existencial? (ver Morin, s.d.). Não seria melhor banir o termo ‘desenvolvimento’ em prol
de ‘sociedades sustentáveis’ (Diegues, 1992)? Na verdade, a grande vantagem do
conceito de desenvolvimento sustentável foi a de que ele permitiu enquadrar o debate
ambiental, situando sobre um solo comum, e propositalmente ambíguo, interlocutores que
teriam uma visão muito distinta do que deveria ser o tal desenvolvimento.
Provavelmente o mesmo acontece com todos esses modernos conceitos de
segurança. Ele constitui um terreno comum, no qual os diversos graus de aceitabilidade
de riscos e concepções do que seja o máximo de segurança podem ser debatidos. Trata-
se de um debate eminentemente político, pois os agentes da insegurança são múltiplos –
tecnocientistas, empresas, consumidores, Estado, grupos sociais determinados – e as
vítimas são igualmente muitas e diversificadas. Por isso, é perfeitamente possível
interpretar a legislação ambiental para substâncias químicas em um país, bem como
acordos internacionais como a Convenção de Estocolmo, como o resultado matemático
dos conhecimentos e técnicas acumuladas contrapostos ao jogo de forças entre agentes
e vítimas num determinado momento. A legitimidade das políticas públicas nas áreas de
segurança química, biossegurança e outras do mesmo tipo só poderá ser alcançada,
portanto, na medida em que essas políticas venham a ser o resultado de um amplo
debate público a ser organizado e garantido pelo Estado. Na Sociedade de Risco, todos
nós temos o direito e o dever de nos manifestar, pois não estão em jogo apenas os
nossos interesses particulares, mas principalmente os das futuras gerações, os quais
deveríamos defender e respeitar.
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NOTAS
1 Os dois principais livros de Ulrich Beck (1986 e 1988), nos quais ele desenvolve o conceito de Sociedade do risco, ainda não foram traduzidos para o português. 2 Ver a respeito a obra do pensador francês, Edgar Morin, um dos grandes defensores da idéia de que a ciência contemporânea deveria adotar um paradigma da complexidade. 3 Um exemplo interessante em nosso país da tentativa de obliterar o caráter político deste tipo de comissão por meio de um disfarce ‘técnico’ é o da CTNbio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), remodelada a partir da nova Lei de Biossegurança. Embora se exija que seus membros sejam doutores nas diversas áreas científicas afins, a presidência da Comissão pressionou e obteve a redução do quorum necessário para a liberação comercial de transgênicos, e além disso vem lutando para impedir que o Ministério Público e a cidadania assistam às suas reuniões, num reconhecimento confesso do caráter político das decisões a serem ali tomadas. 4 Ver a respeito Poluentes Orgânicos Persistentes – POPs (2002). 5 Washington Declaration on the Protection of the Marine Environment from Landbased Activities, parágrafo 17. 6 Fundado em 1998, o IPEN reúne hoje cerca de 400 organizações, em mais de 70 países. Seu site para consultas é www.ien.org. 7 A VI Reunião das Partes da Convenção Marco sobre Mudanças Climáticas aconteceu em Haia, Holanda, em novembro de 2000. 8 Greenpeace International, Chemicals Regulation, disponível em: www.greenpeace,org/international/campaigns/toxics/chemicals-out-of-control/chemicals-regulation. 9 “enfim, encontramos nessa ilusão do poder absoluto a fuga diante da morte e sua denegação: eu sou talvez fraco e mortal, mas o poder existe em algum lugar, no hospital, no acelerador de partículas, nos laboratórios de biotecnologia etc.” (Castoriadis, 2002, v.4).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACSELRAD, Henri; HERCULANO, Selene; PÁDUA, José Augusto (Org.) Justiça
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BECK, Ulrich. Risikogesellschaft: Auf dem Weg in eine andere Moderne. Frankfurt am
Main: Suhrkamp, 1986.
_______. Gegengift: Die organisierte Unversantwortlichkeit. Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1988.
CASTORIADIS, Cornelius. As encruzilhadas no labirinto: a ascensão da insignificância.
v.IV. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
COLBORN, Theo; DUMANOSKI, Dianne; MYERS, John Peterson. O futuro roubado.
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Porto Alegre: L&PM, 2002.
DIEGUES, Antonio C. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da
crítica dos modelos aos novos paradigmas. Revista de São Paulo em Perspectiva, São
Paulo: Fundação Seade, v.5, n.1/2, jan.-fev. 1992.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização
tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-Rio, 2006.
LISBOA, Marijane. A proibição da Basiléia: ética e cidadania planetárias na era
tecnológica. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, PUC-
SP, 2000. p.143.
MORIN, Edgar. O desenvolvimento da crise do desenvolvimento. In: _______. Sociologia.
Lisboa: Publicações Europa-América, s.d.
POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES – POPs. (Série Cadernos de Referência
Ambiental, 13). Salvador (BA): Neama/CRA/Governo da Bahia, 2002.
RAFFESBERGER, C.; TICKNER, Joel. Protecting public health and the environment.
Washington (DC)/Covelo (Cal): Island Press, 1999.
Artigo recebido em 13.05.2007. Aprovado em 15.06.2007.
1
CHEMICAL SAFETY AND THE RISK SOCIETY
Marijane Vieira Lisboa
Graduate from Freie Universität Berlin, with a Doctorate in Social Sciences from PUC-SP, professor in the
Social Sciences and International Relations course in the Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP (College
of Social Sciences/PUC/SP), vice-coordinator of the ECOS research center of PUC-SP, former director of
Greenpeace Brasil and current member of the Advisory Board of the Associação de Agricultura Orgânica
(Association of Organic Farming) and of the Rede Brasil Livre de Transgênicos. (Brazil Anti-Transgenic
Network); marijane.lisboa@terra.com.br
ABSTRACT Surrounded by risks resulting from its enormous technical progress, the risk society has
witnessed the adverse impact on the trust placed in science and government authorities,
as accidents have occurred, along with their collateral events, which are impossible to
predict and avoid. Therefore, concepts such as chemical safety have attracted the
spotlight. The extended scope of action of new technologies in time and space have made
it impossible to predict all of the negative side effects and, in view of such uncertainty, the
Principle of Precaution has prevailed. Environmental and health issues related to
Persistent Organic Pollutants (POPs) are an excellent example of the need to adopt the
Principle of Precaution; only after pollution by these contaminating substances had
reached planetary proportions was it possible to prove their damaging effect on the health
of animals and human beings. The Stockholm Convention was signed in 2001 with the aim
of reducing and eliminating some of the more dangerous POPs. However, a lack of
financial resources in developing countries and the powerful lobby of the chemical
industry’s multinational corporations may jeopardize the implementation of this important
multilateral treaty.
Keywords: chemical safety, risk society, Principle of Precaution, Persistent Organic
Pollutants (POPs).
www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=4&cod_artigo=85
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THE SAFETY NEUROSIS
Chemical safety is a post-modern term, much like bio-safety, food safety and so
many other ‘safeties’. Is this related to an era that is undergoing deep insecurity in relation
to its existence?
Our era is indeed a particularly unsafe era, although the nature of this lack of safety
is quite different from the insecurity that existed in other periods of human history. Antiquity
and the Medieval Ages were swept by unpredictable natural unforeseeable and
uncontrollable catastrophes – earthquakes, floods and epidemics – that were believed to
be the wrath of the gods or their punishment. As Hans Jonas comments in the
introduction to his book O princípio de responsabilidade (2006) [The Principle
Responsibility], Nature was all-powerful in Ancient Times and could only be faced up to by
the intelligence and ingenuity of human beings. Man only had some control over his work,
the polis. In the modern age, however, Nature became vulnerable to human actions,
because human actions could modify Nature radically, and it is this fact, from the point of
view of Jonas, that demands the creation and adoption of another code of ethics, able to
deal with human impact on external Nature and on human nature itself.
German sociologist, Ulrich Beck, developed a thesis which states that we live in a
risk society.1 His reasoning is that social groups in the post-industrial societies of our times
do not fight amongst themselves, first and foremost to share wealth – the famous class
war – but rather to share risks. Of course, the neediest human beings in terms of power
and wealth get the ‘rough end of the stick’. This is why a branch of environmental activism,
called environmental justice, has surfaced to deal with the unfair manner in which
environmental risks and damage of a mature industrial society are shared (see Acselrad,
Herculano & Pádua, 2004). The problem, as pointed out by Ulrich Beck, is that it is not
always possible to distribute such risks according to class or power criteria. Global
warming can have an equally serious impact on underdeveloped countries that contributed
very little to this global warming, and on developed countries that were primarily
responsible for the emission of greenhouse gases, such as England, the Netherlands and
Germany,. Chemical contamination by persistent organic pollutants is highly “democratic,”
and affects the most remote regions of our planet, while the intensification of sea
transportation carries microorganisms and pathogens from one side of the planet to the
other. This has provoked the bio-invasion of distant seas and hydrographic basins by
exotic species, as is the case of the golden mussel, a native species from southern China,
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which nowadays infests Brazilian rivers in the country’s Southern and Mid-western
Regions.
According to Beck, a typical characteristic of the risk society is the fact that these risks are
not natural risks, whose damage our knowledge is still unable to predict or minimize, but
the result of this knowledge, of the technologies developed to solve specific problems and
to improve the quality of life, but which have produced unexpected side effects that are
impossible to remedy. Even worse is the fact that the attempt to remedy such problems
has usually created other problems: incinerators used to eliminate toxic waste produce
toxic substances that are even more hazardous than the waste, such as dioxins and
furans; accidents with oil tankers and on deep-sea and continental oil-rigs cause
enormous environmental and human catastrophes. Insecticides that contain DDT,
developed to deal with malaria vectors, which expand because of increasing deforestation
(facilitated mainly by the advent of new chain-saw technology), proved over time to be
carcinogenic and endocrine-disrupting elements (see Colborn, Dumanoski & Myers, 2002).
Huge buildings, extraordinary feats of contemporary engineering, are easy targets for
terrorists, who are able to pilot airplanes, one of the most important inventions of the last
century. In other words, we are the victims of our own extraordinary technical success.
The advent and popularity of concepts and public policies related to the issue of
safety – chemical safety, bio-safety and food safety – reveal a lot about how our age
perceives the risks generated by the industrial society. We have become increasingly
obsessed with safety and this perception does not seem to be the result of the collective
paranoia of a mass society. Instead, it seems to be the result of recent, very traumatic
events, such as thalidomide, the accident in the nuclear plant in Chernobyl, “mad cow
disease,” to mention some of these more remarkable events. All of these events have a
common corollary, which is that our techno- science is capable of producing extraordinary
feats, yet has been unable to predict its damaging side effects. The damage that
encroaches upon us occurs abruptly, unpredictably and often irreversibly. Techniques and
products that were considered as safe are suddenly found to have hazardous properties
and demand drastic measures on the part of government authorities, who are then obliged
to ban or restrict the use of such techniques and products. Within this process of reviewing
safety policies, in which, what used to be considered safe has suddenly become viewed as
dangerous, scientists and government authorities often witness the trust placed in them by
society being badly shaken. This is why Beck stated that such accidents are the true
‘agents provocateurs’ of the risk society. They contradict science and public control entities
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by showing that technologies, medical drugs and food products are not as safe as they
were heralded to be. In such circumstances, scientists and government authorities voice
their mea culpa, by banning or by establishing strict controls on such techniques or
products, until future scientific discoveries launch suspicion on other techniques and
products, or on the inadequacy of the control measures that have been adopted.
Scientists often only learn about the side effects of technologies and products when
they actually occur, but this is due to the different speeds at which new technologies are
discovered or invented; this includes a limited number of relationships and knowledge and
the time necessary for investigating and discovering all the possible side effects. The
contrast between the speed with which technologies are created and applied and the
lengthy period of time necessary to learn about possible damage is further extended by
choices made at the beginning of and during the scientific research. This is far from the
simple belief that science elects and studies any object neutrally, which then results in
technology that directs the acquired knowledge to specific practical objectives. Basic
research is, a priori, almost always focused on acquiring specific knowledge and its
possible uses. This explains why one can conduct in-depth research, such as isolating
specific genes or bringing about the fusion of the atom, yet pay little attention to the
consequences of atomic radiation and the ingestion of genetically modified foods on
human beings and other living species.
UNCERTAINTY IS HERE TO STAY
As an addition to this effect of will, our techno-science faces limitations of an
epistemological nature that differ greatly from the difficulties faced by our ancestors. The
scope of action expanded by new technologies in time and space has made it impossible
to predict all the possible scenarios, resulting from their adoption on a large scale. This
ignorance with regard to various aspects of the complex relationships that exist in nature,
and the uncertainty as to the frequency of these complex relationships, impose on the
science of the XXIst century the abandonment of reductionist and causal concepts, in the
search for a new paradigm of complexity.2
The Principle of Precaution, as an ethical principle guiding public policies in the
areas of the environment, health and historical heritage, stems precisely from the
verification that we are unable to fairly predict the consequences of our technological
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prowess. It stands to reason then that, in a situation of uncertainty in relation to the
possibility of serious damage, we should act preventively. As Raffensberger and Tickner
(1999) state,
Scientific uncertainty about the damage is the core of this principle. Daily
problems that encompass vast dimensions of time and space are not easily
evaluated by current scientific instruments. Consequently, we will never be
able to know whether a specific kind of activity will cause damage. But we
can rely on observation and common sense to predict and prevent such
damage.
The public policies based on the Principle of Precaution, which were first
implemented in the seventies and were contemplated concurrently in German and
Swedish laws, responded to the growing awareness in relation to the environmental issue
and established the basics of what is referred to as ecological modernization, in other
words, the idea that it is possible to reconcile economic growth and environmental
protection (Lisboa, 2000).
In view of the uncertainty in relation to possible damage stemming from new
technologies and products, adoption of the Principle of Precaution means radically
changing the nature of the decisions that are to be made. Although a set of accumulated
scientific knowledge is resorted to in order to evaluate the probability of the occurrence of
significant damage, the nature of the decisions to be made is of a primarily political nature,
because these decisions are related, above all, to the social acceptability of the risks
inherent to each of the new technologies, when the latter are compared with the benefits
that such technologies can bring. The primarily political nature of such decisions should
naturally transfer the locus in which they are made from technical committees to political
entities, and presupposes an ample public debate in which society has the opportunity of
weighing up the possible risks and benefits of the new technologies. Unfortunately,
nothing like this has been happening in Brazil or in the world, because the proliferation of
bio-ethics, bio-safety or chemical safety committees in governmental and inter-
governmental entities seems to indicate the intention of refusing society the right and the
duty of analyzing the risks and the benefits of such technologies, with the argument that
such matters are primarily technical issues.3
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PERSISTENT ORGANIC POLLUTANTS
Environmental and health issues related to highly toxic pollutants - –persistent
organic pollutants, referred to as POPs,4 - are an excellent example to illustrate the need
of adopting the Principle of Precaution and of initiating a public debate about new products
and technologies. These pollutants, the subject of the Stockholm Convention on Persistent
Organic Pollutants signed in May 2001, revealed their harmful side effects on the health of
animals and human beings decades after their wide and constant use.
Insecticides such as DDT, the drins, heptachlor, chlordane and so many others;
industrial compounds such as hexachlorobenzene and polychlorinated biphenyls, and
even substances that appear involuntarily during the production of chemicals or during the
combustion of chlorate substances, such as dioxins and furans – all of these substances
have one thing in common, which is the fact that they remain intact in the environment for
lengthy periods of time, are even found in the remotest regions of the planet and
accumulate in the fatty tissues of living organisms. Because of their persistence and bio-
accumulation properties, persistent organic pollutants are particularly hazardous and are a
global threat to the environment and to human health. However, it took many years to
learn just how harmful these substances are, as their effects are not immediate and very
often are not even visible. In addition to the obvious teratogenous effects of thalidomide,
scientific research learned little by little that most of these substances are responsible for
the rise of slowly-evolving types of cancer. Even more alarming was the discovery, in the
mid-nineties, that these substances act as endocrinal disrupters, as they mimic hormones
or block the absorption of hormones (Colborn, Dumanoski & Myers, 2002, p.139). Since
even the slightest changes in the quantities of hormones in living organisms can have a
serious impact on the development of the reproductive, immunity and nervous systems of
individuals, the ubiquitous existence of these pollutants in the food we eat, the air we
breathe and the water we drink may be responsible for the malformation of sexual organs,
the reduction in the quantity and motility of spermatozoids, for endometriosis and
spontaneous abortions, thus gravely jeopardizing the reproduction of the species. This
discovery led to an understanding of those cases in which the sudden reduction in the
number of individuals of wild species could not be explained only by the shrinking of their
habitats or by the fact that they had been targets of predatory hunting and fishing. POPs
also seem to affect the immune and nervous systems of living beings, because they
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interfere with the glands that are responsible for their functioning and development. Little
by little, therefore, we have found that insecticides such as DDT, chlorine-based
germicides, chemical substances such as chlorofluorocarbons used in refrigeration, or the
polychlorinated biphenyls used in energy capacitors and transformers were powerful
poisons, able to seriously damage the environment and human health. A surprising and
terrifying discovery was that even minimal doses of those substances could lead to very
serious, long-term consequences that would affect future generations. This last discovery
put the basics of public policies of “minimum acceptable doses” and “maximum exposure
limits” for toxic substances in an untenable situation. In some cases therefore, the only
possible measure was to simply ban the production and consumption of these hazardous
substances, especially when they could be substituted by other products.
Hence, little by little, national laws are being enacted which ban toxic
agrichemicals, polychlorinated biphenyls and other persistent organic pollutants. In
addition, laws are being enacted with the objective of reducing the emission of dioxins and
furans from incinerators, cement kilns and pulp and paper mills.
THE PLANET IS TAKING ACTION
However, at this point, pollution from POPs has reached planetary proportions.
Because of what is referred to as the “global distillation effect,” the POPs released into the
environment are capable of being transported by sea and air currents to the planet’s
remotest regions, where they are finally deposited. This is why Inuit women and animals -
human beings, polar bears and whales - that are at the top of the food chain in the North
Pole have such high levels of dioxins and PCBs in their organisms. This is why the first
appeals in favor of global measures aimed at controlling and reducing contamination by
POPs have come from this region. Agenda 21, approved during ECO-92, mentioned at the
time as one of its top-priority actions the need to reduce and eliminate emissions and the
discharge of persistent organic pollutants into oceans. This is specifically referred to in
Chapter 17 on the Protection of the Oceans of the above-mentioned document. Less than
two years later, at one of its meetings, the Board of Directors of PNUMA, the United
Nations’ Environment Program, approved Resolution 18/32-25, whereby it invited several
governmental and non-governmental organizations to set up a working party to prepare a
short-list of the most dangerous POPs. One of the missions to be undertaken by this
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working party was to consolidate the scientific information on the POPs’ means of
dissemination and sources, evaluate their global transportation and where they had been
deposited, analyze their risk/benefits, evaluate substitutes and define appropriate
strategies and policies to deal with such substances. This working party comprised the
International Program for Chemical Safety (IPCS), a joint program that involved the
International Labor Organization (ILO), the World Health Organization (WHO) and the
Inter-governmental Forum on Chemical Safety (IFCS), with their ad hoc groups. One of
their first activities was to assess the results and conclusions of the Washington
Conference on Marine Pollution resulting from Land-based Activities, a meeting that was
organized soon after PNUMA’s decision. The Conference had acknowledged that POPs
were transported by sea and air and had accumulated in regions that were located very far
from the places where the POPs had been produced and used. The countries which
attended the conference promised to comply with the mandate given by PNUMA to the
previously established working group, which was to prepare “an international instrument to
reduce or eliminate emissions and, when appropriate, to eliminate the production and use
of the POPs identified in decision 18/32 of the Advisory Board of PNUMA”.5
The whereas clauses of Paragraph 17 of the Washington
Declaration on the Protection of the Marine Environment from Landbased Activities
referred to the special circumstances of countries that needed technical assistance to
assume the obligations provided for in the future treaty, as well as the special attention to
be given to those countries that might possibly need to continue using POPs for the
protection of human health or the production of food, if no other alternatives existed for
such countries or they faced difficulties in obtaining substitutes or acquiring new
technologies to produce such substitutes. At this point, therefore, the major problems that
would later complicate the implementation of this convention by developing countries had
already been raised: namely, a lack of economic and technical resources.
In 1997, after working for one and a half years, the Board of Directors of PNUMA
approved the conclusions and recommendations of the Working Party, as well as the list of
the 12 most dangerous POPs that were to be primarily the object of policies aimed at
reducing and eliminating them. Soon after, an intergovernmental negotiating committee
was set up, with the task of preparing a legally binding international instrument aimed at
reducing and eliminating the 12 POPs that had been initially selected. Of these twelve
POPs, eight are chemical compounds used as pesticides (aldrin, DDT, dieldrin, endrin,
heptachlor, chlordane, mirex and toxaphene); two are industrial compounds
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(hexachlorobenzene and polychlorinated biphenyls), and two are chemical compounds –
dioxins and furans - the production of which is involuntary yet inevitable, when other
chlorinated compounds are burned with organic material, or that are produced during the
intermediary stages of the production of the chlorinated compounds. The board also
recommended that studies be continued on the other POPs, and a group of specialists
was formed to this end. As the POP contamination issue was a very urgent one, the Board
of Directors of PNUMA recommended that the negotiating committee begin its work as
soon as possible, in 1998. Therefore, after this committee had met four times, the final text
was approved in Johannesburg, South Africa, in December 2000.
THE STOCKHOLM CONVENTION
Negotiations on the final text of the Convention were tough and advanced slowly,
because of strong views on some of the crucial issues. There was no significant
divergence in relation to the elimination of the production and consumption of seven of the
eight pesticides, because the use of these products had already been banned in most of
the countries around the world. The problem - and this was a huge problem - was who
would foot the bill for collecting and eliminating the huge stocks of out-of-date pesticides in
developing countries, especially in Africa; a huge amount of these pesticides had been
donated or financed by international development agencies when their validity date was
close to expiring. Another major issue was how to eliminate these products safely,
because incineration of this waste would inevitably generate even more hazardous POPs
such as dioxins and furans. Another problem was the fact that the developing countries
did not have the financial and technological resources to adopt the most appropriate
solutions.
DDT was the only pesticide whose elimination was problematic, because of its
extensive use in combating the malaria vector in many African countries. Although there
are less toxic alternatives to DDT, such as pyrethroids and the combination of using
mosquito netting and resorting to efficient medical care, the related costs are much higher
than those of DDT, and once again the issue was who was going to foot this bill.
Hexachlorobenzene and polychlorinated biphenyls – the two industrially produced
chemical compounds – did not pose a problem either, because their production and
consumption had also been banned in most countries of the world. The controversy
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focused on the chemical compounds – the dioxins and furans - that were involuntarily
produced. Strictly speaking, the only way of reducing them with the objective of finally
eliminating their production would be to ban the use of chlorine and forbid the incineration
of waste containing chlorine. The entire chemical industry, the plastics industry and the big
incineration technology companies for domestic, hospital and industrial waste rose up in
protest. With the support of several countries, and especially of the United States, Canada,
Australia and New Zealand, the industrial sector proposed that the objectives related to
dioxins and furans should be restricted only to the reduction of their emission using more
efficient technologies. The European Union, most of the Latin American, African and Asian
countries, with the exception of Japan and South Korea, took a different stand, which
favored the gradual elimination of these compounds by substituting them with other
chemical substances and technologies. These countries had the full support of a wide
international network of civil society organizations and movements, the International POPs
Elimination Network, which brought together environmental, health, and ecological farming
activists.6
Closely related to the issue of reducing or eliminating dioxins and furans were other
provisions referring to recommended technologies for the elimination of POP waste and
the ban on the creation of new POPs and their dissemination into the environment. The
Preamble to the text of the Convention, which mentions the Principle of Precaution, was
also the subject of intense dispute. While the group of countries led by the United States
proposed a milder approach, referred to as the precautionary approach, the European
Union, with the support of the majority of the developing countries, steadfastly defended
explicit reference to the Principle of Precaution. According to the lawyers of this group of
countries, substituting the expression Principle of Precaution for precautionary approach
would mean a retrocession in international environmental laws, in view of the fact that the
latest environmental conferences and declarations had already incorporated this definition.
Therefore, the agreement that was reached in December 2000 at the last meeting
of the intergovernmental committee, the INC4, held in Johannesburg, South Africa, was
surprising. After the tough and difficult initial negotiations, some of the countries deserted
the group led by the United States, which resulted in the approval, by consensus, of a
generally agreed upon formula for dioxins – elimination when possible – and the full
acceptance of a reference to the Principle of Precaution in the preamble to the
Convention. One of the explanations given later for this successful outcome was that the
group of countries led by the United States had been afraid of being accused of
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systematically boycotting international environmental negotiations, because the
international community had still not recovered from the disappointment of witnessing the
failure of the last meeting at which the member countries of the Framework Convention on
Climate Change attempted to conclude the negotiations on the Kyoto Protocol regulation.7
THE VALUE OF THE CONVENTIONS
It is a well-known fact that the texts of international agreements and treaties contain
blatant ambiguities and internal incoherence, because the diplomatic interest in reaching a
consensus, in spite of the existence of deeply-rooted disagreements, frequently leads to
the search for incoherent and ineffective solutions. From this point of view, the text of the
Stockholm Convention is a noteworthy exception, as it shows an internal coherence in
regard to the principles and concerns expressed in the preamble and in the text itself. The
wording of the text encompasses several important aspects related to the production,
consumption and elimination of POPs, and the text therefore contains a group of
comprehensive guidelines for policies in the field of chemical safety.
A good example of this is the fact that the Principle of Precaution is referred to not
only in the preamble but also in the operative paragraphs, specifying the circumstances in
which this principle should be applied: in a situation in which there are persistent and bio-
accumulative substances, even if there is no conclusive evidence regarding their toxic
properties.
The Convention was also entirely clear in regard to the need to make resources
available for developing countries, especially the less industrialized ones, so that they
could actually participate in the negotiations and implement the resulting
recommendations. The funding of national implementation plans and technical assistance
is the basic condition to enable these countries to do their part as far as elimination of
POPs is concerned. However, the third meeting of the Parties to the Stockholm
Convention, which was recently held in Dakar, Nigeria, has cast a shadow over the future
of the Convention. A lack of resources has led many African countries to insist on the use
of DDT to eliminate the malaria vectors. Scarce resources have delayed the funding of
national implementation plans, the transfer of technologies and technical training programs
for developing countries.
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However, the European Union, which for a certain period of time was at the
forefront of this Convention, is now dealing with an internal controversy revolving around
REACH (Registration, Evaluation and Authorization of Chemicals), new legislation on
chemical substances. Acknowledging the inefficiency of public policies for controlling
chemical substances, based on the risk analysis of each of the existing substances, the
new proposal includes the concept of substituting hazardous substances for safer
alternatives, reverses the burden of proof to the manufacturers of chemical compounds
and adopts the Principle of Precaution. The proposal is under strong attack from the
industry lobby, which has already managed to soften some of its provisions. A network of
environmental, consumer, health, feminist and worker organizations has organized itself to
“defend a proposal that can effectively control hazardous substances and substitute many
of them with safer alternatives”.8 The outcome of this battle will be enormously important
for the planet as a whole, and will indicate to what extent interests linked to public health
and environmental issues in democratic countries will manage to impose themselves on
those industry sectors that defend technologies and products that are not compatible with
sustainability.
FEASIBLE SAFETY
One of the founding elements of modernity is the belief that human reason,
especially Science and Technology, will be able to change everything. As Castoriadis
stated in an article on technology, it has come to substitute religion in the metaphysical
triumph over human mortality.9 It is important to understand this, so we can understand
why science and technology exert such a powerful fascination on individuals. It is not
actually a question of this or that invention, of this or that technology, but of the possibility
that science and technology will redeem us from all kinds of suffering, and particularly from
death, now that there is no God – and even if there is a God, He is now too distant from us
to be able to help with our earthly afflictions.
If the concepts of chemical safety, bio-safety and other such concepts are
questionable, because they express something impossible, should they be refuted on
behalf of a more realistic concept? Or do they at least deserve more radical criticism?
Perhaps the questioning of such concepts is no different from questioning the concept of
sustainable development. What is sustainable? Indeed, what is development? Are we
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going to repeat the unsustainable development of the Northern Hemisphere, with its
polluting industries, throw-away societies, destruction of the environment, moral and
existential crisis? (see Morin, s.d.). Would it not be better to ban the term “development”
on behalf of “sustainable societies” (Diegues, 1992)? The truth is that the great advantage
of the sustainable development concept is that it allows the environmental debate to be
included, by placing those who defend entirely different points of view on what this so-
called development should be like on a common and deliberately ambiguous ground.
The same probably happens with all these modern concepts on safety. It
constitutes a common ground on which the various degrees of risk acceptability and the
concept of what the maximum safety limit is can be discussed. This is an eminently
political debate, because the agents of ‘unsafety’ are many – techno-scientists,
corporations, consumers, the State, specific social groups – and the victims exist in
equally large and diversified numbers. This is why it is perfectly possible to interpret
environmental legislation for chemical substances in a country, as well as international
treaties such as the Stockholm Convention, as being the mathematical result of knowledge
and accumulated techniques in opposition to showdown between agents and victims at a
specific moment in time. Therefore, the legitimacy of public policies in the fields of
chemical safety, bio-safety and other similar fields will only be achieved as these policies
result from an ample public debate that has to be organized and guaranteed by the State.
In the Risk Society, all of us have the right and the duty to express our opinions, because it
is not only our specific interests that are at stake, but above all it is the interest of future
generations that we must defend and respect.
NOTES 1 The two main books written by Ulrich Beck (1986 and 1988), in which he develops the concept of the Risk Society have not been translated into Portuguese. 2 See, with regard to the works of French philosopher, Edgar Morin, who was one of the strongest defenders of the idea that contemporary science should adopt a complexity paradigm. 3 An interesting example in our country of the attempt to obliterate the political nature of this type of committee by means of a “technical” cover-up is the example of the CTNbio/Comissão Técnica Nacional de Biossegurança [National Technical Bio-Safety Committee] that was re-structured according to the new Bio-safety Law. Although it is required that the members of this committee have doctorates in the various fields of relevant sciences, the chairperson of the Committee exerted pressure and obtained a reduction in the necessary quorum for the commercial release of transgenic products. Furthermore, the committee has been battling to prevent the Public Prosecutor’s Office and citizens from participating in committee meetings, which is blatant acknowledgment of the political nature of the decisions to be taken by committee members. 4 See in regard to Persistent Organic Pollutants – POPs (2002).
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5 Washington Declaration on the Protection of the Marine Environment from Landbased Activities, paragraph 17. 6 Established in 1998, the IPEN currently comprises approximately 400 organizations in more than 70 countries. The IPEN can be consulted on the following website: www.ipen.org. 7 The VI Meeting of the Parties to the Convention on Climate Change was held in The Hague, the Netherlands in November 2000. 8 Greenpeace International, Chemicals Regulation, available at: www.greenpeace,org/international/campaigns/toxics/chemicals-out-of-control/chemicals-regulation. 9 “finally, we find in this illusion to absolute power a flight from death and its denial: perhaps I am weak and mortal, but power exists somewhere, in the hospital, in the particle accelerator, in the biotechnology laboratories, etc.” (Castoriadis, 2002, v.4).
BIBLIOGRAPHY
ACSELRAD, Henri; HERCULANO, Selene; PÁDUA, José Augusto (Org.) Justiça
ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.
BECK, Ulrich. Risikogesellschaft: Auf dem Weg in eine andere Moderne. Frankfurt am
Main: Suhrkamp, 1986.
_______. Gegengift: Die organisierte Unversantwortlichkeit. Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1988.
CASTORIADIS, Cornelius. As encruzilhadas no labirinto: a ascensão da insignificância.
v.IV. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
COLBORN, Theo; DUMANOSKI, Dianne; MYERS, John Peterson. O futuro roubado.
Porto Alegre: L&PM, 2002.
DIEGUES, Antonio C. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da
crítica dos modelos aos novos paradigmas. Revista de São Paulo em Perspectiva, São
Paulo: Fundação Seade, v.5, n.1/2, jan.-fev. 1992.
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização
tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-Rio, 2006.
LISBOA, Marijane. A proibição da Basiléia: ética e cidadania planetárias na era
tecnológica. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, PUC-
SP, 2000. p.143.
MORIN, Edgar. O desenvolvimento da crise do desenvolvimento. In: _______. Sociologia.
Lisboa: Publicações Europa-América, s.d.
POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES – POPs. (Série Cadernos de Referência
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Ambiental, 13). Salvador (BA): Neama/CRA/Governo da Bahia, 2002.
RAFFESBERGER, C.; TICKNER, Joel. Protecting public health and the environment.
Washington (DC)/Covelo (Cal): Island Press, 1999.
Article received on 13.05.2007. Approved on 15.06.2007.
1
PANORAMA DA COLETA SELETIVA NO BRASIL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS A PARTIR DE TRÊS ESTUDOS DE CASO Helena Ribeiro1 ; Gina Rizpah Besen2
1 Mestre e Doutora em Geografia, Professora titular e vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo; lena@usp.br 2 Psicóloga. Mestre e Doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo;
rizpah@usp.br
RESUMO Apenas 451 (8,2%) municípios brasileiros desenvolvem programas de coleta seletiva.
Este artigo apresenta um panorama desses programas e enfatiza as iniciativas em
parceria com catadores organizados, política pública inovadora de gestão de resíduos
sólidos com inclusão social. A metodologia da pesquisa baseou-se em análise de dados
secundários disponíveis em publicações e revistas técnicas e de dados primários obtidos
nos estudos de caso (Embu, Santo André e São Bernardo do Campo, todos no estado de
São Paulo), com base em entrevistas com gestores municipais dos três programas e
representantes das cinco organizações de catadores parceiras, em 2005. A pesquisa
demonstrou que existem desafios de ordem técnica, organizacional e econômica para a
consolidação dos programas.
Palavras-chave: resíduos sólidos; coleta seletiva; cooperativas de catadores; gestão
compartilhada; Região Metropolitana de São Paulo.
www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=4&cod_artigo=65
©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.
Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: interfacehs@interfacehs.com.br
Panorama da Coleta Seletiva no Brasil: Desafios e Perspectivas a Partir de Três Estudos de Caso
Helena Ribeiro; Gina Rizpah Besen INTERFACEHS
2©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.4, Artigo 1, ago 2007
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As primeiras iniciativas organizadas de coleta seletiva no Brasil tiveram início em
1986. Destacam-se, a partir de 1990, aquelas nas quais as administrações municipais
estabeleceram parcerias com catadores organizados em associações e cooperativas para
a gestão e execução dos programas. Essas parcerias além de reduzir o custo dos
programas se tornaram um modelo de política pública de resíduos sólidos, com inclusão
social e geração de renda apoiada por entidades da sociedade civil.
No entanto, segundo pesquisas (IBGE, 2001; CEMPRE, 2006), menos de 10 por
cento dos municípios brasileiros desenvolvem programas de coleta seletiva.
Concentrados nas regiões Sul e Sudeste, a maioria desses programas tem abrangência
territorial limitada e desvia dos aterros sanitários um volume de materiais recicláveis
crescente, porém pouco significativo, se comparado aos volumes desviados pelos
catadores avulsos.
Os programas em parceria com catadores organizados enfrentam dificuldades de
ordem técnica (falta de capacitação), organizacional (organização do trabalho e baixa
implementação da prática cooperativista) e econômica (competição pelo material
reciclável, ausência de remuneração pelos serviços prestados pelos catadores) e
carecem tanto de inserção institucional com base em instrumentos legais que garantam
sua continuidade quanto de indicadores que possibilitem seu monitoramento e
aprimoramento na perspectiva da sustentabilidade socioambiental e econômica.
Para contextualizar essas experiências o presente artigo percorre o panorama da
coleta seletiva no Brasil, no âmbito da sustentabilidade urbana, a evolução das
experiências brasileiras de coleta seletiva, em especial das parcerias entre prefeituras e
organizações de catadores, e os aspectos mais relevantes de três programas municipais
– Embu, Santo André e São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP).
Nas considerações finais recomendam-se alternativas para o fortalecimento e
aprimoramento desses programas como forma de estimular a grande maioria de
municípios que relutam ou têm dificuldades em implementar programas dessa natureza.
COLETA SELETIVA E A SUSTENTABILIDADE URBANA
Um dos maiores desafios do século XXI é reduzir os milhões de toneladas de lixo
que nossa civilização produz diariamente. Existe um consenso de que a geração
Panorama da Coleta Seletiva no Brasil: Desafios e Perspectivas a Partir de Três Estudos de Caso
Helena Ribeiro; Gina Rizpah Besen INTERFACEHS
3©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.4, Artigo 1, ago 2007
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excessiva de resíduos sólidos afeta a sustentabilidade urbana e que a sua redução
depende de mudanças nos padrões de produção e consumo da sociedade. A extração
dos recursos naturais para a produção dos bens de consumo encontra-se acima da
capacidade de suporte do planeta, a produção crescente de resíduos sólidos causa
impactos no ambiente e na saúde, e o uso sustentável dos recursos naturais ainda é uma
meta distante (AGENDA 21, 1997; CONSUMERS INTERNATIONAL, 1998).
A ênfase na questão da redução do consumo supérfluo e do importante papel do
cidadão enquanto agente dessa mudança adquiriu centralidade no âmbito das políticas
ambientais da década de 1990, e se agregou aos já presentes temas do aumento
populacional e do modelo produtivo e seus impactos. Para Portilho (2005) essa questão
transcendeu as políticas ambientais para a dimensão de políticas de sustentabilidade, e o
foco do problema passa a ser como (os padrões) e quanto (os níveis) se usam os
recursos naturais, tornando-se uma questão de acesso, distribuição e justiça. Beck (1994)
considera que a degradação ambiental ocasionada pelo padrão de consumo e práticas
insustentáveis promove lógicas destrutivas que afetam a população e a sustentabilidade
do planeta, e o desafio é reverter situações de risco que a própria sociedade produz,
modificando suas práticas.
A concentração das populações em cidades também é uma realidade a ser
enfrentada. No século XX, apenas 5 em cada cem habitantes do mundo, moravam em
cidades, hoje são mais de 70 a cada cem habitantes (HOGAN, 1997). No Brasil, 81,2 por
cento da população vive em cidades (IBGE, 2001). O modo de vida urbano produz uma
diversidade cada vez maior de produtos e de resíduos que exigem sistemas de coleta e
tratamento diferenciados após o seu uso e uma destinação ambientalmente segura. No
manejo dos resíduos sólidos, desde a geração até a disposição final existem fatores de
risco à saúde para as populações expostas (OPS, 2005).
Constata-se um crescimento da produção do lixo que tem prevalecido, não só no
Brasil, mas em todos os países. Esse crescimento está diretamente relacionado ao
Produto Interno Bruto – ou seja, países mais ricos produzem mais lixo – e ao porte das
cidades.
No Brasil, indicadores mostram que entre 1992 e 2000 a população cresceu em 16
por cento, enquanto a geração de resíduos sólidos domiciliares cresceu em 49 por cento,
ou seja, um índice três vezes maior. A situação é agravada pelo fato de que a maior parte
desses resíduos são dispostos inadequadamente em lixões a céu aberto e em aterros que
atendem parcialmente às normas de engenharia sanitária e ambiental (IBGE, 2001). A
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disposição inadequada do lixo causa a poluição do ar, da água e do solo, além de
impactos sociais e de saúde na população e nos catadores, em especial.
A coleta seletiva consiste na separação de materiais recicláveis, como plásticos,
vidros, papéis, metais e outros, nas várias fontes geradoras – residências, empresas,
escolas, comércio, indústrias, unidades de saúde –, tendo em vista a coleta e o
encaminhamento para a reciclagem. Esses materiais representam cerca de 30 por cento
da composição do lixo domiciliar brasileiro, que na sua maior parte é composto por
matéria orgânica (IBGE, 2001).
A separação dos materiais recicláveis cumpre um papel estratégico na gestão
integrada de resíduos sólidos sob vários aspectos: estimula o hábito da separação do lixo
na fonte geradora para o seu aproveitamento, promove a educação ambiental voltada
para a redução do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda e melhora a
qualidade da matéria orgânica para a compostagem.
Segundo Waite (1995), entre as vantagens ambientais da coleta seletiva
destacam-se: a redução do uso de matéria-prima virgem e a economia dos recursos
naturais renováveis e não renováveis; a economia de energia no reprocessamento de
materiais se comparada com a extração e produção a partir de matérias-primas virgens e
da valorização das matérias-primas secundárias, e a redução da disposição de lixo nos
aterros sanitários e dos impactos ambientais decorrentes. Os materiais recicláveis
tornaram-se um bem disponível e o recurso não natural em mais rápido crescimento.
Cabe também ressaltar a valorização econômica dos materiais recicláveis e seu
potencial de geração de negócios, trabalho e renda. A coleta seletiva, além de contribuir
significativamente para a sustentabilidade urbana, vem incorporando gradativamente um
perfil de inclusão social e geração de renda para os setores mais carentes e excluídos do
acesso aos mercados formais de trabalho (SINGER, 2002).
PROGRAMAS MUNICIPAIS DE COLETA SELETIVA NO BRASIL Principais características
No Brasil, os programas municipais de coleta seletiva integram o sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares. Esses programas podem ser
operacionalizados unicamente pelas prefeituras (ou por empresas contratadas para essa
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finalidade), ou pelas prefeituras em parceria com catadores organizados em cooperativas,
associações, ONGs e, recentemente, em Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público – as Oscips.
As parcerias das prefeituras com organizações de catadores iniciaram-se em 1990
e se operacionalizam, na maior parte dos casos, a partir da cessão pelas prefeituras de
galpões de triagem, equipamentos e veículos de coleta e apoio nas campanhas de
conscientização e divulgação. Os catadores organizados realizam atividades de triagem,
beneficiamento e comercialização dos materiais e, em alguns casos, também de coleta.
A participação da população nos programas de coleta seletiva é voluntária na
maioria das cidades. A mobilização para a separação dos materiais recicláveis na fonte
geradora – papéis, vidros, plásticos e metais, entre outros – é realizada através de
campanhas de sensibilização promovidas junto aos bairros, condomínios, escolas,
comércio, empresas e indústrias.
Os programas municipais de coleta seletiva são implementados com recursos
orçamentários municipais oriundos de taxa de limpeza pública específica ou de taxa
arrecadada juntamente com o Imposto Territorial Urbano (IPTU), que tem como base de
cálculo a área edificada.
No Brasil, não existe nenhuma experiência de tarifação dos resíduos sólidos
coletados com base na pesagem, a exemplo de alguns países europeus e estados norte-
americanos. Segundo pesquisa do Compromisso Empresarial para a Reciclagem –
Cempre (2007), o custo médio da coleta seletiva em 17 programas de coleta seletiva é de
R$ 230,00 (US$ 115), em média cinco vezes maior do que o da coleta convencional.
Histórico e primeiros registros
A primeira experiência de coleta seletiva no Brasil ocorreu em 1985, em Niterói
(RJ), em São Francisco, bairro residencial e de classe média (EIGENHEER, 1993).
O registro das experiências brasileiras de coleta seletiva teve início em 1993, com
a publicação da coletânea “Coleta Seletiva de Lixo – experiências brasileiras”,1 e a partir
de 1994, até o presente momento, pelo Cempre, com a publicação dos informativos e
pesquisas Ciclosoft.
A partir de 1992 desenvolveram-se três tipos de iniciativas de coleta seletiva:
municipais,2 comunitárias3 e em condomínios de grande porte4 (EIGENHEER, 1993;
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CEMPRE, 1994). Entre as municipais destacam-se os programas em parceria com
organizações de catadores de São Paulo, Santos, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Entre 1993 e 1994 o Cempre estudou a coleta seletiva de oito municípios
brasileiros,5 e, a partir de 1999, o estudo foi ampliado até o presente momento para 17
cidades.6
Em 1995, o Instituto Pólis promoveu o Workshop “Experiências Exemplares de
Coleta Seletiva de Lixo e Reciclagem”, em São Paulo, no qual se discutiram 21
experiências, 13 de governos municipais e oito da sociedade civil, cujos resultados foram
publicados por Grimberg e Blauth em 1998.
A partir dessas experiências aumentou-se gradativamente o número de prefeituras
que implantaram programas. Atualmente, encontram-se registros sobre os programas de
coleta seletiva no Brasil dispersos em estudos e artigos técnicos, pesquisas mais amplas
do IBGE e do Ministério das Cidades,7 na biblioteca e em publicações do Cempre.
Evolução dos programas municipais em parceria com catadores organizados
A organização dos catadores no Brasil iniciou-se em 1985, com a formação da
Associação de Carroceiros no Município de Canoas, e em 1986, com a fundação da
Associação de Catadores de Material de Porto Alegre, da Ilha Grande dos Marinheiros, na
Região Metropolitana de Porto Alegre (MARTINS, 2004). Em São Paulo constituiu-se a
organização dos Sofredores de Rua (1986), que se tornou a Cooperativa de Catadores
Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis – Coopamare (1989), e em
Belo Horizonte (1990) formou-se a Associação de Catadores de Papel, Papelão e Material
Reaproveitável – Asmare.
Em 1989, a Prefeitura de São Paulo desenvolveu uma parceria com a Coopamare,
formada por vinte catadores. A Prefeitura cedeu um espaço, sob um viaduto, e promulgou
um decreto que reconhecia o trabalho profissional do catador. Posteriormente, em 1990,
em Porto Alegre (RS) e em Santos (SP), e em 1993 em Belo Horizonte, as gestões
municipais optaram por implantar a coleta seletiva em parceria com catadores
organizados, reconhecendo-os como agentes da limpeza pública.
As iniciativas de organização dos catadores contaram com o apoio de entidades
vinculadas à Igreja Católica e tinham por objetivo o resgate da dignidade, da auto-estima
e da convivência social dos moradores de rua que coletavam materiais recicláveis como
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atividade econômica. Essas ONGs apoiaram tanto os catadores autônomos como o
desenvolvimento do cooperativismo junto à categoria dos catadores. A partir dessas
experiências, outros grupos se organizaram com o apoio de ONGs e de técnicos
municipais ligados à área ambiental. Esse modelo de parceria para a coleta seletiva
demonstrou uma grande capacidade de multiplicação e capilarização.
Em 2005, as organizações de catadores já respondiam por 13 por cento da
matéria-prima fornecida para as indústrias de reciclagem no Brasil (CEMPRE, 2006). Elas
representam ainda 2,5 por cento dos 14.954 empreendimentos solidários identificados no
país e movimentam R$4,5 milhões, ou seja, 0,9 por cento dos recursos gerados (MTE,
2006).
PANORAMA DOS PROGRAMAS MUNICIPAIS DE COLETA SELETIVA NO BRASIL
Os catadores avulsos que atuam nas ruas das cidades ainda são responsáveis
pela coleta da maior parte dos materiais recicláveis que chegam às indústrias para a
reciclagem. Em 2000, menos de 2 por cento do lixo coletado no país era encaminhado
para a reciclagem. Segundo o Cempre, em 2005 o índice global de reciclagem do lixo
urbano no Brasil foi de 11 por cento. Os programas municipais de coleta seletiva no Brasil
vêm aumentando gradativamente. Em 1994, 81 municípios desenvolviam programas de
coleta seletiva; em 1999, 135 municípios; em 2002, 192; em 2004, 237, e em 2006, 327
(CEMPRE, 2007). Já, segundo o IBGE (2001), 451 municípios brasileiros (8,2%)
afirmavam desenvolver programas de coleta seletiva distribuídos, conforme mostra a
Tabela 1, 50,5 por cento dos quais em parceria com organizações de catadores.
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Destaca-se, no entanto, em ambas as pesquisas a quantidade de municípios que
desenvolvem programas de coleta seletiva da Região Sul (60,8%) e Sudeste do país
(IBGE, 2001; CEMPRE, 2007). Um dos fatores que pode ter contribuído para essa
concentração na região Sul é a existência, desde 1998, da Federação dos Recicladores
do Rio Grande do Sul (Faars), que promove apoio permanente às organizações de
catadores. Já na região Sudeste se concentra a maioria das indústrias recicladoras, o que
facilita a implementação desses programas.
No que se refere ao número de domicílios atendidos pelo serviço de coleta
seletiva, a cobertura máxima atingida é de 27,5 por cento dos domicílios concentrados
nas regiões Sul e Sudeste (IBGE, 2004). Já a cobertura dos serviços de coleta seletiva
ocorre em 178 municípios na sua totalidade, apenas no distrito sede de 130 municípios, e
em bairros selecionados de 110 municípios.
OS ESTUDOS DE CASO – EMBU, SANTO ANDRÉ E SÃO BERNARDO (RMSP)
Pesquisa recente8 mostrou que os programas municipais de coleta seletiva estão
disseminados na Região Metropolitana de São Paulo. Em 2005, estavam sendo
implementados programas em 23 dos 39 municípios da RMSP, 19 deles em parceria com
organizações de catadores (GUNTHER et al., 2006).
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Este artigo enfoca os Estudos de Caso realizados em 2005 nos municípios de
Embu, Santo André e São Bernardo do Campo, todos na Região Metropolitana de São
Paulo.
A metodologia da pesquisa baseou-se em levantamentos e análise de dados
secundários disponíveis em estudos em publicações e revistas técnicas e em dados
primários obtidos em entrevistas com gestores municipais dos programas e
representantes das organizações de catadores. A seleção dos casos considerou o tempo
de implantação (mais antigos) e a continuidade ao longo de mais de uma gestão.
A apresentação da análise e discussão dos resultados da pesquisa de campo
baseou-se numa análise comparativa dos três programas pesquisados e se encontra
sistematizada em quatro dimensões de análise: 1) Político-institucional e econômica; 2)
Operacional e infra-estrutura; 3) Sócio-econômica e organizacional das organizações de
catadores; e 4) Redes de apoio.
Entre os principais resultados obtidos por dimensão de análise, destacam-se:
1. Político-institucional e econômica
Os três municípios iniciaram os programas de coleta seletiva há mais de 10 anos.
A parceria com organizações de catadores começou primeiramente em Embu (1994), e
posteriormente em Santo André (1999) e São Bernardo (2000). O programa de Embu
passou por três mudanças governamentais e partidárias. Em Santo André, apesar da
mudança de prefeito houve continuidade administrativa e partidária. Em São Bernardo,
apesar da mudança partidária (o vice-prefeito assumiu), houve continuidade ao programa.
Todos os gestores dos programas se encontram há mais de 3,5 anos no cargo e
defendem essa modalidade de programa. A permanência de técnicos, após mudanças
administrativas, pode ser um fator que contribui para a continuidade dos programas.
Os órgãos gestores dos programas são diferenciados: em Embu, é a Secretaria do
Meio Ambiente; em Santo André, uma autarquia, o Serviço Municipal de Saneamento
Ambiental (Semasa), apoiado pela Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional; em
São Bernardo, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação (que integra o meio
ambiente), coordena um grupo multi-secretarial gestor do programa.
O percentual do orçamento investido em limpeza pública nos três municípios é de
até 5 por cento, o que confirma os dados da PNSB–2000, que indicam uma média entre 0
e 5 por cento nos municípios brasileiros. O município de São Bernardo é o que mais
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investe recursos orçamentários em limpeza pública, 3,28 por cento, seguido de Embu,
2,75 por cento, e Santo André, 1,93 por cento. O município que está mais próximo da
sustentabilidade econômica do sistema é Santo André, cuja taxa cobre 80 por cento dos
custos dos serviços. Em Embu e São Bernardo os serviços de limpeza pública são
cobrados no Imposto Territorial Urbano (IPTU). Os investimentos orçamentários nos
programas de coleta seletiva são baixos, 0,01 por cento em Embu, 0,05 por cento em
Santo André e, destacando-se, 2,55 por cento em São Bernardo.
Com relação aos custos por tonelada coletada seletivamente Santo André
apresenta o menor custo, R$ 94,00, seguido de Embu, com R$ 170,00, e São Bernardo,
com R$ 790,00. Verificou-se que a arrecadação das cooperativas de Embu e Santo André
com a venda dos recicláveis supera os gastos mensais com o programa, o que começa a
apontar para a viabilidade econômica dos programas. Apenas uma organização de catadores de Santo André havia firmado convênio
com a prefeitura, as outras quatro ainda não tinham convênios assinados.
2. Operacional e infra-estrutura
Nos programas de Embu e São Bernardo a prefeitura é parceira das organizações
no sistema de coleta. Já em Santo André a coleta é realizada exclusivamente pela
prefeitura, por empresa contratada. O gerenciamento e a divulgação são executados
conjuntamente nos três programas. As atividades de triagem, prensagem, beneficiamento
primário e comercialização são realizadas pelas organizações.
Quanto à modalidade de coleta, em Santo André e Embu o sistema é realizado
porta a porta. Em Santo André a coleta é executada por uma empresa privada, contratada
pela prefeitura. Em Embu a cooperativa usa caminhões com motoristas cedidos pela
prefeitura para executar a coleta. Já em São Bernardo, é feita por uma empresa privada
contratada pela prefeitura, que coleta nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), enquanto
as associações de catadores coletam em grandes geradores.
Em relação à Central de Triagem, todas são cedidas pelas prefeituras. Nenhuma
das organizações possui sede própria. No que se refere aos equipamentos, a
Coopermape e a Cidade Limpa, de Santo André, têm prensas próprias, as demais usam
prensas cedidas pelas prefeituras. Nas centrais de Santo André a triagem é mecanizada
(esteiras), as demais realizam a triagem manual em bancadas, mesas e até no chão (São
Bernardo).
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Todos os veículos utilizados na coleta são cedidos pelas prefeituras (alugados ou
próprios). Conforme observado, os veículos próprios das organizações em geral são
pequenos ou do modelo Kombi, e se encontram em estado precário de conservação.
A destinação final dos resíduos sólidos domiciliares e dos rejeitos da coleta
seletiva, em Embu é realizada em aterro municipal controlado, situado em área de
proteção de mananciais; em Santo André, num aterro sanitário municipal que se encontra
fora da área de proteção aos mananciais, e São Bernardo utiliza um aterro intermunicipal,
fora do município.
3. Sócio-econômica e organizacional das associações
Entre o início dos programas e o final de 2005 todas as organizações tiveram um
aumento do número de membros, destacando-se as duas cooperativas de Santo André
que, no entanto, também apresentam altos índices de rotatividade de integrantes. Os
dados mostram uma grande rotatividade de membros em todas as organizações, o que
indica uma dificuldade de adaptação ao sistema cooperativista/associativista e uma
necessidade permanente de realização de capacitações com os novos integrantes.
A maioria das organizações tem preponderância de membros do gênero feminino. Quanto à origem dos membros, na Coopermape (Embu) e na Refazendo (São Bernardo)
as organizações foram constituídas por ex-catadores de lixão, nas demais por catadores
autônomos e desempregados, e, em Santo André, também por donas de casa. As organizações de Embu e Santo André se constituíram como cooperativas, e as
de São Bernardo em associações. Todas as organizações possuem regimento interno e
alto grau de participação dos membros nas decisões. No entanto, com relação ao quesito
participação nas reuniões, os presidentes da Coopermape e da Raio de Luz consideram alta, os da Cidade Limpa e Refazendo regular, e da Coopcicla, baixa. O processo de
tomada de decisões se dá nas três por votação após discussão. Quanto à comercialização dos materiais, constatou-se que ainda prevalece a
venda para sucateiros e intermediários, e que a venda direta para a indústria ainda não é
significativa. O município cuja renda por cooperado atinge o maior valor entre os três é
Embu (R$ 600,00), seguido por São Bernardo (R$ 560,00) e Santo André (R$340,00).
O valor médio de rendimento por hora trabalhada é de R$ 2,56, tendo a Coopcicla
o valor hora/trabalho mais baixo, R$ 1,64. Os membros de todas as organizações
trabalham em turnos de 8 horas por dia. Apesar de os entrevistados afirmarem possuir e
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utilizar os EPIs, todas as organizações registraram, nos últimos seis meses, acidentes de
trabalho, principalmente causados por cortes com vidros. Também houve registro de
perfuração por agulha de seringa e ferimento de vista.
Em Embu, apesar da existência de equipamentos de proteção individuais (EPIs)
na cooperativa, e de a presidente afirmar que eles são utilizados, no decorrer dos últimos
seis meses houve acidentes de trabalho, tais como cortes com vidro e ferimentos de vista.
Afirma ainda que os afastamentos do trabalho se dão por ocorrência de gripes, gravidez e
viagens.
Os galpões de triagem de Santo André foram adaptados para o uso e não
apresentam boas condições de trabalho. Segundo os cooperados, existe dificuldade de
manusear o material para colocá-lo na esteira, e existem problemas de ventilação e
conforto térmico. Segundo o presidente da Cidade Limpa, o local é “quente demais no
verão e frio demais no inverno”. Em virtude da alta porcentagem de matéria orgânica
constata-se a presença de vetores e de fortes odores.
As duas cooperativas de Santo André possuem EPIs, mas, segundo os dois
presidentes, eles têm de brigar e pressionar para o uso. O acidente mais comum nas
duas cooperativas é a perfuração por agulha de seringa, mas também acontecem cortes
com vidro.
Quanto às condições de trabalho, nas duas associações de São Bernardo
constata-se a falta de uso de equipamentos de proteção individual que as associações
afirmam possuir. A separação dos materiais é realizada no chão, por opção dos
catadores. Segundo os presidentes das duas associações existem muitas queixas de
dores nas costas. A coordenadora do programa relata que o Sesi está realizando um
estudo que visa o aumento da produtividade e o cuidado com aspectos ergonômicos, tais
como utilizar-se uma mesa para a separação.
Todos os membros da Coopermape (Embu), da Raio de Luz e da Refazendo (São
Bernardo) pagam INSS. Na Coopcicla e Cidade Limpa (Santo André) apenas alguns
membros o fazem.
Constata-se que as organizações promovem poucos benefícios para seus
membros. A Coopermape (Embu) e a Cidade Limpa (Santo André) fornecem cestas
básicas, mas com os recursos obtidos, antes de dividir as sobras. A Coopermape oferece
férias remuneradas aos seus membros e possui convênio com farmácias para descontos
em remédios e prêmios de aniversário. A Cidade Limpa oferece uma licença remunerada
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e apoio de até um ano em caso de doença. A Raio de Luz (São Bernardo) oferece uma
licença remunerada de uma semana.
4. Redes de apoio
Todas as organizações tiveram capacitação técnica e gerencial. Entre as
entidades que promoveram as capacitações destacam-se, o Sebrae e as incubadoras de
cooperativas e, no caso de Embu, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico,
Educacional e Associativo (Ibraes). As organizações também desenvolvem parcerias com
empresas instaladas nos municípios, consistindo na doação de materiais recicláveis,
equipamentos e material de divulgação.
Os principais problemas destacados pelos gestores dos programas e presidentes
das organizações foram: falta de capital de giro para compra de material de carrinheiros;
competição dos carrinheiros e sucateiros e queda da quantidade do material;
dependência da prefeitura/falta de autonomia; alto custo dos tributos e de manutenção
dos equipamentos/falta de equipamentos; baixa adesão devida à falta de informação e
divulgação junto à população; relação com os cooperados/dificuldade de autogestão;
necessidade de capacitação/de melhorar a separação e ter melhores preços; baixa
eficiência no sistema de coleta; dificuldade de fiscalização das atividades
informais/aumento de depósitos clandestinos de material reciclável.
Para os gestores dos programas a sustentabilidade do programa depende dos
seguintes fatores:
Embu considera importante: 1) garantir um convênio entre a prefeitura e a
cooperativa; 2) a cooperativa gerar um Fundo para ter um capital de giro; 3)
a inclusão de mais catadores e a cooperativa comprar o material.
Santo André considera importante: 1) envolver e ampliar a participação da
população para melhorar a qualidade do material coletado; 2) estabelecer
uma rotina de coleta mais pessoal e mais próxima do munícipe para
garantir qualidade do material; 3) estabelecer parcerias com grandes
geradores para especializar o trabalho; 4) aprofundar o conhecimento
sobre a importância e complexidade do trabalho de triagem e incentivos
fornecendo subsídios e apoio técnico para o aperfeiçoamento da tecnologia
e das condições de trabalho praticadas hoje.
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São Bernardo considera importante: 1) a gestão auto-sustentável das associações;
2) articulação em redes de comercialização, aumentando a competitividade
das organizações no mercado; 3) maiores investimentos em capacitação e
treinamento; 4) formar capital de giro das associações para a compra de
material de outros catadores; 5) ampliar o programa e organizar os
catadores autônomos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa mostrou que existem ameaças à continuidade dos programas
municipais de coleta seletiva desenvolvidos em parceria com organizações de catadores.
Os programas analisados passavam por um momento de ‘crise’, em virtude da redução
da quantidade do material coletado em conseqüência da atuação de catadores
autônomos e outros atores e dos baixos índices de material coletado. Outro fator
conjuntural identificado que impacta os programas foi a queda dos preços de compra no
mercado de recicláveis, por causa da desvalorização do dólar e do conseqüente aumento
da importação de matérias-primas e diminuição da renda obtida pelos catadores
organizados.
Identificou-se na pesquisa que as organizações entrevistadas não praticam uma
autogestão plena, conforme os princípios cooperativistas, e são ‘tuteladas’ pelo poder
público. A logística dos programas e a falta de capitalização mantêm as organizações
dependentes do poder público.
Um fator da maior importância refere-se à sub-remuneração das organizações de
catadores pelos serviços prestados, seja pela sociedade através das prefeituras ou pelas
empresas produtoras de embalagens. Entre os problemas enfrentados enfatiza-se a falta
de capital de giro, que dificulta a integração dos catadores autônomos nas centrais de
triagem, a aquisição de equipamentos e a modernização tecnológica.
Nos três municípios estavam em curso propostas de reformulação dos programas,
focadas na sua ampliação a partir da descentralização e inclusão de catadores
autônomos, consideradas estratégicas para o sucesso dos programas. Essa integração
depende da compra, pelas organizações, do material reciclável por eles coletado, e de um
trabalho de apoio social que pode ser promovido pelas prefeituras ou por instituições
sociais.
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As parcerias estabelecidas entre as organizações e o poder público, sob o formato
de inclusão social, de certa forma mascaram a natureza das relações estabelecidas. As
prefeituras não conseguiram reduzir as precariedades das condições de trabalho e não
remuneram as organizações de catadores pela prestação dos serviços de coleta e
triagem, o que dificulta às organizações remunerar adequadamente seus membros,
promover as atualizações tecnológicas e a melhoria das condições de trabalho e prover
benefícios unicamente com a renda obtida com a venda dos materiais recicláveis.
O embasamento legal das parcerias entre as prefeituras e as organizações de
catadores é frágil, o que as coloca em risco a cada troca de administração. A viabilização
de convênios remunerados entre as prefeituras municipais e as organizações de
catadores de materiais recicláveis depende de legislação específica, que altere o
processo licitatório para serviços públicos de manejo de resíduos sólidos. Uma
experiência a ser acompanhada é a da cidade de Diadema (SP), na qual a Prefeitura, em
2004, baseada em Lei Municipal, firmou contratos remunerados de catadores organizados
numa Oscip.
É importante ressaltar que o custo anual por geração de postos de trabalho das
prefeituras obtido na pesquisa é baixo. Em Embu chegou-se ao valor de R$ 3.612,00, em
Santo André a R$ 3.252,00 e em São Bernardo a R$ 16.380,00. Mesmo considerando o
valor em São Bernardo (quase quatro vezes maior que o de Embu), ele ainda é abaixo em
relação ao custo de criação de um posto de trabalho em outros setores (BESEN, 2006).
Cabe destacar, ainda, que no Brasil não existe a responsabilização pós-consumo
do setor produtivo. A maioria dos municípios não cobra taxas ou tarifas que promovam a
sustentabilidade aos serviços de coleta e destinação de resíduos sólidos domiciliares, e
não existem políticas públicas nos âmbitos municipal, estadual e nacional que incentivem
as atividades de coleta seletiva e de reciclagem.
Os baixíssimos e preocupantes índices de recuperação de materiais recicláveis
obtidos nos programas estudados indicam a necessidade de se buscar alternativas de
melhorias de ordem operacional dos sistemas de coleta, de criação de fluxos que
otimizem a triagem dos materiais, e de desenvolvimento de campanhas permanentes de
conscientização. Também é necessário ampliar a adesão da população e o atendimento
para atingir metas de universalização e de integração dos catadores autônomos.
A pesquisa possibilitou formular recomendações para os municípios:
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a) estabelecer taxas ou tarifas que cubram o custo real dos serviços de coleta,
tratamento e disposição final dos resíduos sólidos domiciliares;
b) inserir a coleta seletiva como etapa da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos no Sistema de Limpeza Urbana do município;
c) remunerar as organizações pelo serviço prestado, como parte do sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos urbanos;
d) implementar processos permanentes de educação da população, com vistas à
redução da produção de resíduos e à adesão ao programa de coleta seletiva,
que são estratégicas para o sucesso dos programas.
Por fim, é necessário descentralizar os programas, tendo como meta a
universalização e o envolvimento efetivo dos catadores autônomos, e utilizar indicadores
de sustentabilidade para garantir o monitoramento e aprimoramento dos programas.
NOTAS 1 Organizada por Emilio Eigenheer; 1993, 1998, 1999 e 2000. 2 Santos (SP), São Sebastião (SP), São Paulo (SP), São José dos Campos (SP), Limeira (SP), Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). 3 Bairro São Francisco (Niterói, RJ) e favela Monte Azul (SP). 4 Conjunto Nacional em São Paulo. 5 Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Salvador, Santo André, Santos, São José dos Campos e São Paulo. 6 Angra dos Reis, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Itabira, Ribeirão Preto, São Sebastião, Rio de Janeiro, São Bernardo, Londrina e Curitiba (CEMPRE, 2006). 7 O Sistema Nacional de Informação em Saneamento (SNIS) incorporou esses dados em informações sobre resíduos sólidos. 8 A pesquisa “Programas Municipais de Coleta Seletiva de Lixo como fator de sustentabilidade dos sistemas públicos de Saneamento Ambiental na Região Metropolitana de São Paulo” (Coselix) foi desenvolvida em parceria entre a Universidade de São Paulo (Faculdade de Saúde Pública/FSP, Departamento de Saúde Ambiental e Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental/Procam) e a Área de Ciências Ambientais do Centro Universitário Senac, com financiamento do Ministério da Saúde (Funasa), no período 2004-2005. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Artigo recebido em 22.05.2007. Aprovado em 18.06.2007.
1
A PANORAMA OF SELECTIVE WASTE COLLECTION IN BRAZIL:
CHALLENGES AND PROSPECTS TAKEN FROM 3 CASE-STUDIES Helena Ribeiro1 ; Gina Rizpah Besen2
1 Master and Doctor in Geography. Full professor and Vice-director of the Faculdade de Saúde Pública [Public
Health Faculty] of the Universidade de São Paulo; lena@usp.br 2 Psychologist. Master and Doctoral student of the Faculdade de Saúde Pública of the Universidade de São
Paulo; rizpah@usp.br
ABSTRACT Only 451 (8.2%) Brazilian municipalities have any type of selective waste collection
program. This article provides a panorama of these programs, with a particular emphasis
on the initiatives in partnership with organized scavengers, an innovative public policy for
managing solid waste that promotes social inclusion. The research methodology was
based on analysis of secondary data available in technical publications and magazines
and primary data obtained from the cases studies (Embu, Santo André and São Bernardo
do Campo, all in the State of São Paulo), based on interviews carried out in 2005 with
municipal managers of the three programs and representatives from five partner
scavenger organizations. The research showed that challenges of a technical,
organizational and economic order have to be met in order to consolidate these programs.
Keywords: solid waste; selective collection; cooperatives of scavengers; shared
management; São Paulo Metropolitan Region.
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The first organized initiatives in waste recycling in Brazil started in 1986, but it is
1990 when those in which municipal administrations set up partnership with scavengers
organized as associations and cooperatives for managing and carrying out these
programs begin to stand out from the rest. These partnerships, in addition to reducing
program costs, became a model of solid waste public policy, with social inclusion and
income generation, and supported by civil society entities.
However, according to research (IBGE, 2001; CEMPRE, 2006), less than 10% of
all Brazilian municipalities have selective waste collection programs, and these are
concentrated in the south and southeast of the country, with most of these programs
having limited territorial reach and diverting from sanitary landfill sites a growing, albeit of
little significance when compared to the volumes diverted by scavengers working on their
own, volume of recyclable material.
The programs in partnerships with organized scavengers are facing difficulties of a
technical (lack of skills), organizational (work organization and with restricted
implementation of cooperative practices) and economic (competition for recyclable
material, lack of remuneration for the services provided by the scavengers) order and lack
both the institutional insertion based on legal instruments that will guarantee their
continuity, as well as the indicators that make it possible to monitor and improve them in
terms of their prospects for social, environmental and economic sustainability.
To put these experiences into context this article takes a look at the selective waste
collection panorama in Brazil, within the context of urban sustainability, the evolution of
Brazil’s experiences of selective waste collection, particularly of partnerships between city
administrations and scavenger organizations, and the most relevant aspects of three
municipal programs – Embu, Santo André and São Bernardo in the São Paulo
Metropolitan Region (RMSP).
In the final considerations alternatives for strengthening and improving these
programs are suggested as a way of encouraging the vast majority of municipalities that
are reluctant to implement programs of this nature.
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SELECTIVE WASTE COLLECTION AND URBAN SUSTAINABILITY
One of the great challenges of the XXIst century is to reduce the millions of tons of
waste that our civilization produces every day. There is a consensus that the excessive
generation of solid waste affects urban sustainability and that its reduction depends on
changes in society’s production and consumption patterns. The extraction of natural
resources for producing consumer goods is more than the planet has the capacity to
support, increasing production of solid waste has an impact on the environment and on
health and the sustainable use of natural resources is still a distant goal (AGENDA 21,
1997; CONSUMERS INTERNATIONAL, 1998).
Emphasis on the issue of the reduction of superfluous consumption and the
important role of the citizen as an agent of this change acquired a central position in the
sphere of environmental policies in the 1990s and was added to those themes that were
already present; the increase in population and the production model and its impacts. For
Portilho (2005) this issue transcended environmental policies and became the dimension
of sustainability policies. The focus of the problem then becomes how (the standards) and
to what extent (the levels) natural resources are used, and thus becomes a question of
access, distribution and justice. Beck (1994) considers that the environmental degradation
caused by the consumption pattern and by unsustainable practices promotes a destructive
logic that affects the population and the sustainability of the planet and the challenge is to
reverse risk situations that society itself produces by modifying its practices.
The concentration of populations in cities is also a reality that has to be faced up to.
In the XXth century, 5 in every 100 inhabitants in the world, lived in cities, while today
there are more than 70 in every 100 (HOGAN, 1997). In Brazil, 81.2% of the population
lives in cities (IBGE, 2001). The urban life style produces an increasingly large diversity of
products and waste that demand different collection systems and treatment after their use
and an environmentally safe destination. In managing solid waste, starting with where it is
generated until its final disposal, there are health risk factors for the population exposed to
it (OPS, 2005).
There has been a growth in the production of waste, not only in Brazil, but in all
countries. This growth is directly related to Gross Domestic Product, in other words, richer
countries produce more waste, and to the size of cities.
In Brazil, the indicators show that between 1992 and 2000 the population grew by
16%, while solid household waste generation grew by 49%, i.e. three times faster. Thus
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situation is aggravated by the fact that the majority of this waste is unsuitably disposed of
in open-air waste-tips and landfill sites that only partially meet the norms of sanitary and
environmental engineering (IBGE, 2001). The unsuitable disposal of waste causes air,
water and soil pollution, in addition to having a social impact and on the health of the
general population and that of the scavengers, in particular.
Selective waste collection consists in separating recyclable material, such as
plastic, glass, paper, metal and other, at the various sources where it is produced – in
homes, companies, schools, commerce, industries, health clinics, etc, with a view to
collecting it and sending it for recycling. This material represents around 30% of Brazilian
household waste, which for the most part comprises organic material (IBGE, 2001).
The separation of recyclable material has a strategic role to play in the integrated
management of solid waste and there are various aspects to it: it encourages the habit of
separating waste at source for its subsequent reuse, it promotes environmental education,
aimed at reducing consumption and waste, it generates work and income and improves
the quality of organic material used for composting.
According to Waite (1995), among the environmental advantages of selective
waste collection, of particular importance are the reduction in the use of virgin raw material
and a saving in natural renewable and non-renewable resources; energy savings in
reprocessing materials when compared with extraction and production processes using
virgin raw materials, greater value being attributed to secondary raw materials and a
reduction in the disposal of waste in sanitary landfill sites and the environmental impact
arising therefrom. Recyclable materials have become readily available and are the fastest
growing non-natural resource.
It is also worth underlining the increase in economic value of recyclable materials
and their potential for generating business, work and income. Selective collection, in
addition to contributing significantly to urban sustainability, has been gradually assuming a
social inclusion and income generation profile for the sectors of society that are neediest
and the most excluded from access to formal labor markets (SINGER, 2002).
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MUNICIPAL SELECTIVE COLLECTION PROGRAMS IN BRAZIL Main characteristics
In Brazil municipal selective waste collection programs form part of the solid
household waste management system. These programs can only be operated by city
administrations (or by companies hired by them to do so), or by city administrations in
partnership with scavengers who are organized into cooperatives, associations, NGOs and
more recently into Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) [Civil
Society Organizations of Public Interest].
The partnerships between city administrations and scavenger organizations began
in 1990 and, in the majority of cases, operate by city administrations providing large
covered areas for sorting the waste, equipment, collection vehicles and support for
awareness-building and publicity campaigns. Organized scavengers sort, process and sell
the material and also collect it, in some cases.
In most cities the population’s participation in these selective waste collection
programs is voluntary. Mobilizing people to separate recyclable materials at source –
paper, glass, plastic and metal, etc – is done through campaigns for making people
sensitive to the issue in neighborhoods, condominiums, schools, commerce, companies
and industries.
Municipal programs for selective waste collection are implemented using municipal
budget funds coming from specific public-cleaning charges or a tax collected in the
Imposto Territorial Urbano (IPTU) [annual building/land tax], which is calculated in
accordance with the constructed area.
In Brazil there is no experience of charging for the collection of solid waste based
on weight, as there is in some European countries and in some North American states.
According to research by Compromisso Empresarial para a Reciclagem – Cempre (2007)
[Corporate Commitment to Recycling], the average cost of selective waste collection in 17
recycling programs is R$ 230.00 (US$ 115), five times greater than the cost of
conventional waste collection, on average.
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Background and first recorded examples
The first experience with selective waste collection in Brazil occurred in 1985, in
Niterói (RJ), in a middle class residential district called São Francisco (EIGENHEER,
1993).
Brazilian experiences with selective waste collection started being recorded in
1993, with the publication of a collection of essays “Selective waste collection – Brazilian
experiences”,1 and since 1994 it has been done by Cempre, with its publication of Ciclosoft
information and research.
Since 1992 there have been three types of waste-recycling initiative: municipal,2
community3 and in large condominiums4 (EIGENHEER, 1993; CEMPRE, 1994). Among
municipalities the programs in partnership with scavenger organizations in São Paulo,
Santos, Belo Horizonte and Porto Alegre are particularly noteworthy.
Between 1993 and 1994 Cempre studied selective waste collection programs in
eight Brazilian municipalities,5 and as from 1999 the study has been extended and
currently covers 17 cities.6
In 1995 the Polis Institute arranged a workshop entitled, “Exemplary Experiments in
Selective Waste Collection and Recycling”, in São Paulo, in which 21 experiments were
discussed, 13 by municipal governments and 8 by civil society, the results of which were
published by Grimberg and Blauth in 1998.
Since these early experiments the number of city administrations introducing
programs has gradually increased. Currently, details of selective waste collection
programs in Brazil are recorded in technical studies and articles, in more extensive
research carried out by the IBGE [Brazilian Institute of Geography and Statistics] and the
Ministério das Cidades,7 [Cities’ Ministry] and in Cempre’s library and publications.
Evolution of municipal programs in partnership with organized scavengers
The organization of scavengers in Brazil started in 1985 with the setting up of the
Associação de Carroceiros [Association of Carters] in Canoas, and in 1986, with the
foundation of the Associação de Catadores de Material de Porto Alegre [Porto Alegre
Waste-Material Scavengers Association] of Ilha Grande dos Marinheiros in the Porto
Alegre Metropolitan Region (MARTINS, 2004). In São Paulo the Sofredores de Rua
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[Street Sufferers] (1986) organization was set up, which became the Cooperativa de
Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis – Coopamare [ Self-
employed Scavengers of Paper, Scrap and Reusable Materials Cooperative] (1989), and
in Belo Horizonte (1990) the Associação de Catadores de Papel, Papelão e Material
Reaproveitável – Asmare [Paper, Cardboard and Reusable Material Scavengers’
Association] was formed.
In 1989 the São Paulo City Administration entered into a partnership with
Coopamare that comprised 20 scavengers. The City Administration let the cooperative
have an area underneath a viaduct and passed a decree that recognized the professional
work of scavengers. Subsequently, in 1990 in Porto Alegre (RS) and in Santos (SP), and
in 1993 in Belo Horizonte, other municipal managers chose to introduce selective waste
collection in partnership with organized scavengers, thereby officially recognizing them as
public cleaning agents.
These initiatives by the scavengers to organize themselves were supported by
entities linked to the Roman Catholic Church and their aim was to restore the dignity, self-
esteem and social integration of those street-dwellers who collected recyclable material as
an economic activity. These NGOs supported both self-employed scavengers as well as
the development of cooperatives by the scavenger class and, as a result of these
experiments, other groups have been organized with the support of NGOs and the
municipal technicians linked to the environmental area. This particular model of
partnership for selective waste collection has proved to have a great capacity for
multiplying and spreading.
By 2005, scavenger organizations already accounted for 13% of the raw material
supplied to the recycling industries in Brazil (CEMPRE, 2006), and also represent 2.5% of
the 14,954 solidary enterprises identified in the country and have revenues of R$4.5
million, i.e. 0.9% of the funds generated (MTE, 2006).
A PANORAMA OF MUNICIPAL SELECTIVE WASTE COLLECTION PROGRAMS IN BRAZIL
The independent scavengers that operate in the streets of cities are still
responsible for most of the recyclable material that reaches industries for recycling. In
2000, less than 2% of the waste collected in the country was sent for recycling, although in
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2005, according to Cempre the global urban waste recycling index in Brazil was 11%, with
municipal selective waste collection programs increasing gradually. In 1994, 81
municipalities had selective collection programs, while in 1999 there were 135, 192 in
2002, 237 in 2004 and 327 in 2006 (CEMPRE, 2007). According to the IBGE (2001), 451
Brazilian municipalities (8.2%) said they were developing selective waste collection
programs, as shown in Table 1, 50.5% of which were in partnership with scavenger
organizations.
In both pieces of research, however, what stands out is the number of
municipalities that have selective waste collection programs in the South (60.8%) and
Southeast of Brazil (IBGE, 2001; CEMPRE, 2007). One of the factors that may have
contributed to this concentration in the South is the existence, since 1998, of the
Federação dos Recicladores do Rio Grande do Sul (Faars) [Rio Grande do Sul Federation
of Recyclers], which provides permanent support for scavenger organizations. On the
other hand, the majority of recycling industries are concentrated in the Southeast, which
facilitates implementation of these programs.
As far as the number of households served by the selective waste collection
service is concerned the maximum is 27.5% of the households in the South and Southeast
regions (IBGE, 2004). There is full selective waste collection cover in 178 municipalities, in
just the district headquarters city in 130 municipalities and in selected districts in 110
municipalities.
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THE CASE STUDIES – EMBU, SANTO ANDRÉ AND SÃO BERNARDO (RMSP)
Recent research8 showed that municipal selective waste collection programs are
widely spread throughout the São Paulo Metropolitan Region. In 2005 programs were
being implemented in 23 of the 39 municipalities in the RMSP, 19 of them in partnership
with scavenger organizations (GUNTHER et al., 2006).
This articles focuses on case studies carried out in 2005 in the municipalities of
Embu, Santo André and São Bernardo do Campo, all in the São Paulo Metropolitan
Region..
The research methodology was based on the information that was collected, on the
analysis of secondary data available in studies in technical publications and magazines
and on primary data obtained in interviews with the managers of municipal programs and
with representatives from scavenger organizations. The cases used were selected
considering when they were introduced (the oldest) and whether they had continued over
more than one term in office by the elected local government.
Presentation of the analysis and discussion of the results of the field research is
based on a comparative analysis of the three programs we researched and is set out in
four analysis dimensions: 1) Political, institutional and economic; 2) Operational and
infrastructure; 3) Social, economic and organizational, of the scavenger organizations; and
4) Support networks.
Among the main results obtained by analysis dimension the following stand out:
1. Political, institutional and economic
The three municipalities started their selective waste collection programs more than
10 years ago. The partnership with scavenger organizations began first of all in Embu
(1994), then in Santo André (1999) and finally in São Bernardo (2000). The Embu program
survived three changes of government and political party, while in Santo André, despite
the change in mayor, there was administrative and political party continuity. In São
Bernardo, despite the party changing (the deputy mayor took over), the program
continued.
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All the program managers have held their particular jobs for more than three and a
half years and defend this type of program. The fact that the technicians remained despite
changes in the city administration may be a factor that contributes to the continuity of
these programs.
The program manager agencies differ: in Embu, it is the Secretaria do Meio
Ambiente [Department of the Environment]; in Santo André, an autarchy, the Serviço
Municipal de Saneamento Ambiental (Semasa) [Municipal Environmental Sanitation
Service], supported by the Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional [Development
and Regional Action Department], and in São Bernardo, the Secretaria de
Desenvolvimento Social e Habitação [Social and Housing Development Department]
(which is part of the Environment Dept.), coordinates a multi-department program
manager.
The percentage of the budget invested in public cleaning in the three municipalities
reaches 5%, which confirms the data of the PNSB–2000, which indicates an average of
between 0 and 5% in Brazilian municipalities. São Bernardo, with 3.28%, is the city that
most invests budgetary funds in public cleaning, followed by Embu, with 2.75% and Santo
André, with 1.93%. The municipality whose system is closest to economic sustainability is
Santo André, whose charge covers 80% of the costs of servicing it. In Embu and São
Bernardo public cleaning services are charged in the Imposto Territorial Urbano (IPTU).
Budgetary investments in selective waste collection programs are low, at 0.01% in Embu,
0.05% in Santo André, with São Bernardo standing out with its 2.55%.
With regard to the cost per ton collected selectively Santo André has the lowest
cost, at R$ 94.00, followed by Embu with R$ 170.00, and São Bernardo with R$ 790.00.
We were able to verify that the money obtained by the Embu and Santo André
cooperatives with the sale of recyclable material exceeds the monthly expenditure on the
program, which begins to indicate that these programs are achieving economic viability.
Only one of the scavenger organizations from Santo André had signed an
agreement with the city administration; four others did not yet have signed agreements.
2. Operational and infrastructure
In the Embu and São Bernardo programs the city administration is a partner of the
organizations in the collection system, while in Santo André collection is carried out
exclusively by the city administration using a hired company. In all three programs the
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management and publicity are a joint effort, while the sorting, pressing, primary processing
and selling are carried out by the organizations themselves.
As far as collection is concerned, in Santo André and Embu it is on a door-to-door
basis, while in Santo André it is carried out by a private company, hired by the city
administration. In Embu the cooperative uses trucks and drivers provided by the city
administration for collecting the waste, whereas in São Bernardo this is done by a private
company hired by the city administration that collects from voluntary delivery points
(PEVs), while scavenger associations collect from the major waste generators.
With regard to Sorting Centers all are provided by the city administrations; none of
the organizations has its own headquarters. As far as equipment is concerned
Coopermape and Cidade Limpa from Santo André have their own presses and the rest
use presses provided by the city administration. In the Santo André centers sorting is
mechanized (conveyor belts), while the others use manual sporting on benches, tables or
even on the ground (São Bernardo).
All vehicles used in the collection are provided by the city administration (hired or
belonging to them). We observed that the organizations’ own vehicles, generally speaking,
are small or of the VW Kombi type and are poorly maintained and in a poor state of repair.
In Embu the final destination of the solid household waste and refuse from
selective collection is a controlled municipal landfill site, situated in an environmentally
protected area (water-sources); in Santo André it is a municipal sanitary landfill site that is
not in a water-source protection area and São Bernardo uses an inter-municipal landfill
site that is not in the municipality.
3. Social, economic and organizational aspects of the associations
Between the time the programs began and the end of 2005 the number of
members of all organizations increased, particularly in the two cooperatives in Santo
André, which has, however, a high rate of turnover among its members. The data show a
high turnover of members in all organizations, which indicates the difficulty members have
in adapting to the cooperative/association system and the permanent need there is for
training new members.
Most of the organizations have a preponderance of female members. As to the
origin of their members, in Coopermape (Embu) and Refazendo (São Bernardo) the
organizations comprised former scavengers from waste disposal sites, with the rest being
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self-employed scavengers and unemployed people, while in Santo André they also
included housewives. The organizations from Embu and Santo André formed themselves into
cooperatives and those in São Bernardo into associations. All organizations have internal
rules and members play a major part in the decision-making process. However, with
regard to the requirement that people participate in meetings, the Presidents of
Coopermape and Raio de Luz consider that attendance is very good, those from Cidade
Limpa and Refazendo consider it to be normal, while the President of Coopcicla thinks it is
poor. The decision-making process in all three is by vote after discussion.
As far as selling the material is concerned, sale to scrap merchants and
intermediaries still predominates, with direct sale to industry still not being significant. Of
the three, the municipality with the largest revenue figure per cooperative organization is
Embu (R$ 600.00), followed by São Bernardo (R$ 560.00) and Santo André (R$340.00).
The average income per hour worked is R$ 2.56, with Coopcicla having the lowest
hourly figure, at R$ 1.64. The members of all organizations work 8 hour shifts per day.
Despite those we interviewed declaring that they have and use PPEs all organizations
have recorded work-related accidents over the last six months, mainly caused by being cut
with glass. There have also been reports of people having their skin punctured by syringe
needles and suffering eye injuries.
In Embu, despite the existence of personal protection equipment (PPE) in the
cooperative and the President stating that it is used, over the last six month period there
have been work-related accidents, such as cuts from glass and eye injuries. He also states
that absence from work is normally due to the ‘flu’, pregnancy or travel.
The sorting sheds in Santo André have been adapted for this particular end, but do
not provide good working conditions. According to cooperative members there are
problems with ventilation and the temperature. The President of Cidade Limpa, says that
the place is “too hot in summer and too cold in winter”. Because of the high percentage of
organic material we also noticed the presence of vectors and strong smells.
The two cooperatives from Santo André have PPEs, but according to the two
Presidents, they have to quarrel with people and pressure them to use them. The most
common accident in the two cooperatives is having the skin punctured by syringe needles,
but people also suffer cuts from glass.
As for working conditions, in the two associations from São Bernardo we noticed
the failure to use personal protection equipment, as the associations stated. As a matter of
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choice the scavengers choose to separate the material on the ground, and as a result,
according to the Presidents of both associations, there are a lot of complaints about back-
pains. The program coordinator says that Sesi [Industry Social Service] is carrying out a
study aimed at increasing productivity and looking after ergonomic aspects, such as using
a table for separation.
All the members of Coopermape (Embu), of Raio de Luz and Refazendo (São
Bernardo) pay INSS [social security contributions], whereas in the Coopcicla and Cidade
Limpa (Santo André) cooperatives only a few members pay.
We noticed that the organizations provide few benefits for their members.
Coopermape (Embu) and Cidade Limpa (Santo André) supply basic food hampers, but
using the funds obtained before dividing up what is left over. Coopermape offers paid
vacations to its members, has an agreement with pharmacies for providing discounts on
medication and gives birthday prizes. Cidade Limpa offers paid leave and support for up to
one year in the event of sickness, while Raio de Luz (São Bernardo) offers paid leave of
one week.
4. Support networks
All organizations have had technical and management skills-training. Among the
entities that provide the training the three that stand out are Sebrae [Brazilian Support
Service for Micro and Small Companies] and cooperative incubators, and in the particular
case of Embu, the Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico, Educacional e
Associativo (Ibraes) [Brazilian Institute of Technological, Educational and Associative
Development]. The organizations also form partnerships with companies located in the
municipalities, which consist in them donating recyclable material, equipment and publicity
material.
The main problems highlighted by the program managers and the Presidents of the
organizations were the lack of working capital for buying material for those who push the
collecting handcarts; competition between the handcart pushers and the scrap merchants
and the resultant reduction in the quantity of material available for collection; dependence
on the city administration/lack of autonomy; high taxes and cost of maintaining
equipment/lack of equipment; poor support for the schemes because the general public
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lacks information about them and they are insufficiently publicized; the relationship with the
members of the cooperative/self-management difficulties; the need for training
in/improving separation and to have better prices; the inefficiency of the collection system;
the difficulty in supervising informal activities/increase in clandestine recyclable material
deposits.
For the program managers the sustainability of the program depends on the
following factors:
Embu thinks it is important: 1) to guarantee there is an agreement between the city
administration and the cooperative; 2) that the cooperative generates a
Fund in order to have working capital; 3) to increase the number of
scavengers and for the cooperative to buy the material.
Santo André thinks it is important: 1) to involve and extend the participation of the
population in order to improve the quality of the material collected; 2) to
establish a more personal collection routine that is more in touch with the
local residents in order to guarantee the quality of the material; 3) to
establish partnerships with major waste generators in order for the work to
be more specialist in nature; 4) to increase knowledge about the importance
and complexity of the sorting work and the incentives, by providing help and
technical support for improving technology and today’s working conditions.
São Bernardo thinks it is important: 1) that the management of the associations is
self-sustainable; 2) to have articulation between the selling networks,
thereby increasing the competitiveness of the organizations in the market;
3) to have greater investments in skills-building and training; 4) to form
working capital for the associations in order to buy material from other
scavengers; 5) to extend the program and organize the self-employed
scavengers.
FINAL CONSIDERATIONS
This research showed that there are threats to the continuity of the municipal
selective waste collection programs that have been developed in partnership with
scavenger organizations. The programs analyzed have been through a time of “crisis”
because of the reduction in the quantity of material collected as a result of the actions of
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self-employed scavengers and other players and because of the low indices of material
collected. Another factor we identified, which has an impact on these programs, was the
drop in prices paid in the recyclable waste market because of the devaluation of the US
dollar, the consequent increase in the import of raw materials and the decrease in the
revenues received by organized scavengers.
In this research we identified that the organizations we interviewed do not practice
full self-management, in accordance with cooperative principles, and that they are
‘protected’ by local public authorities. Program logistics and a lack of capital keep the
organizations dependent on local government.
A factor of the utmost importance refers to the under-remuneration paid to the
scavenger organizations for the services provided, whether by city administrations or by
packaging manufacturers. Among the problems faced the lack of working capital was
emphasized, because this makes it difficult to bring self-employed scavengers into the
sorting centers, to acquire equipment and to modernize the technology.
In all three municipalities proposals for reformulating the programs are in progress
that are focusing on extending them through decentralization and by bringing in self-
employed scavengers, who are considered strategically important for the success of the
programs. Integration depends on the organizations purchasing the recyclable material
they collect and on social support initiatives that can be either implemented by the city
administrations or by social institutions.
To a certain extent the partnerships between the organizations and local
government, in the guise of social inclusion, mask the nature of the relationships that have
been established. City administrations have not managed to reduce the precarious nature
of the working conditions and do not remunerate the scavenger organizations for the
collection and sorting services they provide, which makes it difficult for the organizations to
adequately remunerate their members, update technology, improve working conditions
and provide benefits, exclusively with the revenue obtained with the sale of recyclable
material.
The legal grounds underpinning the partnerships between the city administrations
and the scavenger organizations are fragile, which puts them at risk every time there is a
change of administration. Making it feasible for their to be remunerated agreements
between municipal administrations and the scavenger organizations of recyclable
materials depends on the passing of specific legislation altering the bidding process for
public services for handling solid waste. An experience that needs to be closely followed is
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that of Diadema (SP), in which in 2004, the City Administration, based on a Municipal Law,
signed remunerated contracts with scavengers organized in an Oscip.
It is important to underline that the research established that the annual cost for
generating jobs in the city administrations is low. In Embu we arrived at a figure of R$
3,612.00, in Santo André, R$ 3,252.00 and in São Bernardo, R$ 16,380.00. Even if we
consider the case of São Bernardo (almost four times greater than in Embu) the figure is
still low in relation to the cost of creating jobs in other sectors (BESEN, 2006).
It is also worth pointing out that in Brazil there is no way of holding the production
sector liable post-consumption. The majority of municipalities do not make any charges or
impose tariffs on services for collecting and disposing of solid household waste that make
them self-sustainable and there are no public policies at the municipal, state or national
level that encourage selective waste collection and recycling activities.
The extremely low and worrying rates of recovery of recyclable materials in the programs
we studied indicate the need to look for improvement alternatives of an operational nature
for collection systems, to create process-flows that optimize the sorting of materials and to
develop permanent awareness-building campaigns. It is also necessary to obtain greater
support from the general public and to extend the service provided in order to reach the
targets of universal coverage and the greater involvement of self-employed scavengers.
This research has made it possible to formulate recommendations for the
municipalities:
a) to establish charges or tariffs that cover the true cost of the collection, treatment
and final disposal of solid household waste;
b) to include selective waste collection as a step in the Integrated Management of
Solid Urban Waste in the municipality’s Urban Cleaning System;
c) to remunerate organizations for the services they provide, as part of the system
for managing solid urban waste;
d) to implement permanent processes for educating the population, with a view to
reducing the production of waste and gaining their support for the selective
collection program , both of which are strategic for the success of these
programs.
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Finally it is necessary to decentralize the programs and have universal coverage
and the effective involvement of self-employed scavengers as goals and to use
sustainability indicators to guarantee the programs are monitored and improved.
NOTES 1 Organized by Emilio Eigenheer; 1993, 1998, 1999 e 2000. 2 Santos (SP), São Sebastião (SP), São Paulo (SP), São José dos Campos (SP), Limeira (SP), Florianópolis (SC), Curitiba (PR) and Porto Alegre (RS). 3 São Francisco District (Niterói, RJ) and the Monte Azul slum (SP). 4 Conjunto Nacional building in São Paulo. 5 Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Salvador, Santo André, Santos, São José dos Campos and São Paulo. 6 Angra dos Reis, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Itabira, Ribeirão Preto, São Sebastião, Rio de Janeiro, São Bernardo, Londrina and Curitiba (CEMPRE, 2006). 7 Sistema Nacional de Informação em Saneamento (SNIS) [National Sanitation Information System] included these data in its information about solid waste. 8 The research “Municipal Selective Waste Collection Programs as a factor of sustainability of the public systems of Environmental Sanitation in the São Paulo Metropolitan Region” (Coselix) resulted from a partnership between the Universidade de São Paulo (Faculdade de Saúde Pública/FSP, Departamento de Saúde Ambiental e Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental/Procam) [University of São Paulo – Public Health Faculty/FSP, Department of Environmental Health and the Post-graduate Program in Environmental Science/Procam] and the Environmental Health Area of the Centro Universitário Senac [Senac University Center], funded by the Health Ministry (Funasa), in 2004-2005. BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM EM CONSTRUÇÃO
NO TRANSPORTE PÚBLICO
Cacilda Bastos Pereira da Silva
Mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente – Senac/São Paulo. Analista da
Assessoria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade do Metrô de São Paulo e Diretora Adjunta de Meio
Ambiente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô – Aeamesp; cacildabastos@uol.com.br
RESUMO Desenvolvimento Sustentável é um processo em que estão integradas e equacionadas as
dimensões econômicas, ambientais e sociais, e tem sido considerado chave para a
sustentabilidade da vida no planeta. Num cenário em desenvolvimento, como o que se
verifica nas cidades brasileiras, os problemas advindos do crescimento desordenado e
das desigualdades sociais ampliam os desafios da esfera pública. Com o agravamento
das condições ambientais globais, é necessário rever o modelo de transporte público
adotado, de forma a garantir as demandas atuais, respeitando o meio ambiente e a
sustentabilidade das cidades. Apesar de existir certo consenso, há uma série de
indagações sobre o conceito de desenvolvimento sustentável no setor de transporte
público, em torno de temas fundamentais como o da eqüidade e da sustentabilidade. Este
artigo apresenta alguns conceitos e interpretações baseados em revisão da literatura,
opinião de especialistas e experiências profissionais da autora.
Palavras-chave: desenvolvimento sustentável; transporte público; eqüidade;
sustentabilidade.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM EM CONSTRUÇÃO NO TRANSPORTE PÚBLICO
Cacilda Bastos Pereira da Silva INTERFACEHS
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A definição consagrada de Desenvolvimento Sustentável é a que foi publicada no
Relatório Brundtland, em 1987: trata-se do “desenvolvimento que satisfaz as
necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir
suas próprias necessidades” (WCED, 1987). Pressupõe um desenvolvimento que
considere o equilíbrio entre a economia e os recursos do meio ambiente, atendendo às
atividades humanas num sistema global interdependente.
Na essência, houve um avanço na concepção de desenvolvimento sustentável
quando a preocupação com o meio ambiente foi incorporada às de cunho social. Não fica
claro, entretanto, de que forma essa inter-relação pode ser conseguida na prática, sem
profundas transformações, tanto no âmbito local como no mundial, nas relações de poder
historicamente estabelecidas com o desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Nos países em desenvolvimento como o Brasil, a adoção desse conceito de
desenvolvimento implica considerar limitações da ordem de viabilidade econômica e
social. O atendimento das ‘necessidades’, que numa sociedade de consumo são
redefinidas como ‘desejos’ (VASCONCELLOS, 2005), pode não ser pleno na medida em
que boa parte da população nesses países ainda depende de políticas de assistência
social, o que compromete a sustentabilidade econômica.
Essa questão compromete a aceitação do padrão de desenvolvimento seguido
pelos países mais ricos, não ecologicamente sustentável, com crescimento econômico
elevado mas pouca preocupação com aspectos distributivos e com o impacto dos custos
ambientais para as pessoas (Mitlin & Satterswaite, 1997, citados em VASCONCELLOS,
2006). Nesses países, parte dos altos níveis de consumo é garantida pelo uso intensivo
de recursos naturais dos países em desenvolvimento, freqüentemente levando à
destruição do ambiente, estendendo-se para além dos limites físicos e geográficos,
ocorrendo o que se denomina como a internacionalização das externalidades.
Buscar a sustentabilidade não permite, portanto, uma depleção dos estoques de
recursos atuais – passa pela administração democrática e pela adoção de mecanismos
para a manutenção dos estoques para as gerações futuras. Também condiciona-se a
uma garantia de que os interesses comuns prevaleçam sobre os direitos individuais e de
que os cidadãos se apropriem de seus territórios e participem dos processos de decisão,
de produção e de desenvolvimento (BREMER, 2001).
Uma definição alternativa é a que define o desenvolvimento sustentável como algo
que “melhora a qualidade da vida ao mesmo tempo em que se vive de acordo com a
capacidade dos sistemas de suporte” (Whitelegg, 1997, citado em VASCONCELLOS,
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2006). As novas gerações teriam de seguir novos princípios, relacionados à capacidade
da Terra, como o relativo ao consumo e à conservação de recursos naturais, e ter uma
postura pró-ativa diante dos problemas, como o da valorização de aspectos comunitários
e democráticos.
Nesse caso, pode-se dizer que o problema da sustentabilidade tem
fundamentalmente uma dimensão social, como a questão da divisão e da distribuição de
recursos na sociedade. De acordo com uma definição filosófica ou humanista, o princípio
da eqüidade se baseia na distribuição dos recursos e bens para cada pessoa, de acordo
com suas necessidades e independentemente das suas condições físicas, mentais e
sociais, ou seja, ninguém deve ser privado de algo que necessita apenas porque tem uma
condição original desfavorável (VASCONCELLOS, 2005).
O CONCEITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA DIMENSÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO
A tentativa de consenso sobre o que o seria necessário para o desenvolvimento
sustentável na dimensão do transporte público passa antes de tudo pela definição do
modelo de desenvolvimento que se almeja, a qual deverá compreender dimensões de
análise da sustentabilidade.
Várias definições incorporam a idéia de um transporte baseado nos aspectos que
compõem o triple bottom line – econômico, social e ambiental. Essa abordagem, que deve
ocorrer de uma forma integrada, não se pode efetuar sob a ótica de apenas um dos
aspectos da sustentabilidade.
Na dimensão do transporte público, a análise do ponto de vista econômico
significa analisar não apenas os interesses em condicionar níveis mais elevados de
eficiência econômica no uso dos recursos e do trabalho, mas principalmente a capacidade
em manter mecanismos de suporte, como o de subsídios.
Uma vez que não se consegue sobreviver ‘pelas leis do mercado’, não se garantirá
o direito de acessibilidade a emprego, moradia, saúde e educação caso não exista
suporte por recursos públicos (VASCONCELLOS, 2006).
Outro aspecto que merece reflexão é a pressão que existe entre a eqüidade e a
eficiência. No caso do transporte público no Brasil, a eficiência de determinado serviço de
transporte está estreitamente relacionada à condição de pagamento do público usuário.
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Muitos serviços são desativados por não apresentarem a eficiência econômica, ferindo o
requisito de eqüidade, que, segundo Vasconcellos (2006), deve ser interpretada como
uma necessidade.
A eqüidade social não deve ser confundida com os programas de bem-estar nos
quais o segmento produtivo da população concorda em – ou admite – suportar um
segmento não produtivo, o que significa redistribuição e não eqüidade.
E a dimensão ambiental do transporte implica alterar o modelo adotado, que
privilegia o transporte individual, e investir em sistemas que não comprometam o meio
ambiente mais do que a capacidade que ele tem para oferecer, evitando a degradação,
super-consumo e desperdícios.
A DIMENSÃO INSTITUCIONAL DO TRANSPORTE PÚBLICO: UMA QUESTÃO RELEVANTE PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A discussão sobre processo decisório visando ao desenvolvimento sustentável
merece considerações sobre a questão dos arranjos institucionais. A gestão dos serviços
de transporte público revela um diferencial muito grande entre a ação do poder público e a
da esfera privada.
As estratégias públicas, em sua maioria, não incluem a definição de prioridades e
de previsibilidade do futuro, necessárias para um desenvolvimento sustentável. A questão
institucional sofre ainda com a descontinuidade da gestão, por conta de novos arranjos
políticos.
As dificuldades em se estabelecer uma abordagem integrada dos aspectos
econômicos, sociais e ambientais no transporte em função de peculiaridades como o seu
papel social, associadas às institucionais, podem ser talvez superadas se houver
envolvimento da sociedade como um todo.
A definição dos atores para que se possa responder à questão sobre ‘quem deve
assumir o papel de sustentar’ fica a princípio dividida por um lado pelo governo, e, por
outro, pelas forças do mercado.
Alguns segmentos argumentam que desenvolvimento sustentável é algo a ser
atingido em longo prazo, e, por isso, as organizações públicas, que dependem de
diretrizes políticas para estabelecer novos rumos, tendem a ser morosas em suas
respostas, não devendo encabeçar tal processo.
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Porém, o mercado demonstra habilidade para deslocar suas estratégias e fornecer
produtos que refletem as ‘necessidades’ de seus clientes. A questão remanescente é
como encaminhar esse processo considerando a realidade social dos países em
desenvolvimento que dependem de políticas públicas para garantir condições mínimas de
acesso a educação, saúde, habitação e transporte, como vimos anteriormente.
O TRANSPORTE COMO UM ORGANISMO VIVO: UM MODELO DE AVALIAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE Como pode então uma cidade definir suas metas de desenvolvimento de uma
forma que seja mais sustentável? Como adotar um sistema de avaliação que comece a
satisfazer a agenda local e global da sustentabilidade? Quais as variáveis a serem
consideradas se o transporte fosse um organismo vivo?
As respostas a essas perguntas foram obtidas mediante estudos desenvolvidos
em universidades e organizações, como os do Painel de Assentamentos Humanos da
Organização de Estudos Ambientais na Austrália (Newman et al., 1996, em NEWMAN &
KENWORTHY, 1999), o estudo com estudantes da graduação da Universidade da
Pensilvânia em 1995 e 1997, e as advertências geradas pelo projeto UN HABITAT de
desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade para cidades do Banco Mundial
(World Bank, 1994, em KENWORTHY, 1999).
Os estudos mostraram que é possível definir metas de sustentabilidade para uma
cidade ao mesmo tempo em que ela se torna habitável, quando tais metas se ajustam
melhor às capacidades dos ecossistemas locais, regionais e globais, como é o caso da
redução de uso de recursos e produção de resíduos.
Esse modelo de avaliação, denominado “Extended Metabolism Model of Human
Settlements”, tem como base de avaliação o sistema biológico de entradas e saídas de
resíduos. Esse modelo, também denominado como Metabolismo Urbano pelo geógrafo
Aziz Ab’Saber, avaliaria o transporte desta forma:
1. O transporte enquanto um organismo que depende de recursos (fontes
renováveis e não renováveis).
2. O transporte enquanto uma ferramenta da dinâmica de fluxos urbanos
compreendido pelos sistemas viário e de circulação; sistema público e privado;
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sistema rodoviário e circulação de passagem; sistema metroferroviário e suas
interfaces no espaço urbano; sistema de abastecimento alimentar; e sistema de
abastecimento energético e de matérias-primas.
3. O transporte e seus reflexos no metabolismo da cidade, como má qualidade de
vida, degradação ambiental, barreira social, violência e insegurança,
desperdícios e deseconomias.
4. O transporte como um mecanismo de funcionamento da cidade por possibilitar o
crescimento e a estruturação do espaço; a união entre espaços e pessoas; a
reprodução das relações; a acessibilidade a emprego, saúde, educação, lazer e
cultura; a reprodução do capital; a indução de novos pólos de desenvolvimento
regional; e como fator de cidadania e de qualidade de vida.
Num cenário de demanda por serviços referenciados em sustentabilidade, é
importante destacar os avanços que ocorreram, mas também assumir as falhas nesse
processo, tais como as idas e vindas na definição de prioridades políticas e na definição
dos projetos, a falta de articulação entre as empresas e no ambiente interno das mesmas,
lembrando que ao longo dessa trajetória existem as dificuldades e restrições decorrentes
da escassez de recursos públicos para investimentos no setor.
Assim, a superação gradativa de obstáculos de forma consistente, em um
processo de reconstrução a médio e longo prazo, poderá não só permear a noção do
desenvolvimento sustentável na Política de Transporte Urbano, mas também estabelecer
uma agenda ambiental comum entre as políticas de infra-estrutura nas várias esferas
públicas, a ser aplicada pelas empresas privadas e do setor de transporte público. A
definição de políticas, planos e sistemas de transportes poderá incluir a avaliação
ambiental estratégica, instrumento importante de aferição de impactos em nível global.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem poucos estudos relacionando o desenvolvimento sustentável e a gestão
pública de serviços como os transportes. A literatura disponível diz respeito a países
relativamente desenvolvidos. Infelizmente, não são abordados os países que possuem
outros sistemas de pensamento ou outros valores culturais, os países em que a taxa de
motorização cresce com rapidez, como também os países que enfrentam sérios
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM EM CONSTRUÇÃO NO TRANSPORTE PÚBLICO
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problemas de desenvolvimento em um contexto econômico e social difícil.
A literatura consultada permitiu constatar diferenças na conceituação das noções
de desenvolvimento sustentável. É necessário construir uma abordagem na dimensão do
transporte público, e isso passa também pela elucidação de conceitos e critérios de uma
forma que não agrida ao meio ambiente e permita a inclusão dos segmentos excluídos
dos sistemas de transporte público.
Este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas reúne algumas
questões a serem consideradas pelo setor de transportes públicos num processo de
definição de políticas e estratégias de gestão.
O tripé da sustentabilidade no transporte público, possivelmente, terá de ser
redesenhado e incluir ou substituir a dimensão econômica por outras, como a
institucional.
A tentativa de elucidação do que seria necessário para o desenvolvimento
sustentável passa pela premissa de que não é possível atingir um processo sustentável
sem que haja um envolvimento da sociedade como um todo, e um compromisso
eqüitativo com relação aos problemas ambientais.
Mesmo com a divulgação maciça dos impactos dos transportes sobre a vida das
pessoas, no que tange aos efeitos na saúde gerados com poluição, acidentes de trânsito
e congestionamentos, verifica-se uma tendência crescente do transporte individual e de
sistemas de transporte dependentes de energia não renovável. Isto mostra que embora
exista informação a respeito ainda não há um sinal de mudança coletiva no modo de
viver.
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Ed. do autor, 2006.
1
Iluminamento no Período Noturno nas Escolas Públicas Estaduais da
Baixada Santista
José Maurício La Fuente
Professor de logística e meio ambiente da Unisantos; jmlf@uol.com.br.
RESUMO Apresentam-se os níveis de iluminamento, em período noturno, nas salas de aula de 128
escolas públicas estaduais da Baixada Santista, comparados às recomendações da
ABNT/NBR 5413 e da Resolução 493/94 do governo do estado de São Paulo. O estudo é
exploratório multicasos sobre amostra intencional. Constatou-se não conformidade às
referências, com reflexo sobre 2 mil professores e 57.500 alunos. Comentam-se as
interferências nos níveis de iluminamento: projeto construtivo e elétrico, e manutenção.
Sugere-se treinamento dos servidores sobre os sistemas de iluminamento com lâmpadas
fluorescentes e programa de análise. Infere-se, pelos resultados e pela literatura
internacional, prejuízo no conforto visual dos professores e no aprendizado.
Palavras-chave: segurança ocupacional; conforto visual; servidores públicos.
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A fadiga visual e a fadiga geral se relacionam, nas atividades em que a visão é
decisiva (RIO & PIRES, 2001). O iluminamento concorre para isso, por seu efeito no
mecanismo fisiológico da visão e na musculatura coordenadora dos movimentos dos
olhos (IIDA, 2001).
A adequada iluminação do ambiente de trabalho contribui para a eficiência do
desempenho, bem como para o conforto visual do trabalhador. Particularmente nas
escolas esse fator se torna mais relevante, em razão do comprometimento do
aprendizado, conforme apontado por diferentes autores (VEITCH & NEWSHAM, 1996;
GIBSON, 1965; REIDA et al., 1960).
O estudo de Veitch e Newsham (1996) aponta que a qualidade do iluminamento
de interiores influencia no desempenho de tarefas e na interação social, bem como em
comunicação, saúde e segurança, conforto visual, comportamento dos estudantes e no
julgamento de questões estéticas. Esse estudo registra que o maior nível de iluminamento
melhora a comunicação entre estudantes mulheres, e que os estudantes,
independentemente do sexo, preferem o maior nível de iluminamento aos níveis mais
baixos. O estudo aponta a necessidade de estudo multidisciplinar sobre qualidade do
iluminamento, em virtude das variáveis presentes.
Na busca de melhorias do iluminamento em ambientes escolares, Gibson (1965)
propõe: a) pesquisas abertas, sob coordenação de pesquisadores e fábricas de
lâmpadas; b) comunicação e esforço conjunto entre agências, na busca de critérios
consensuais dos projetos de iluminamento; c) projeto de edifícios escolares tendo em
conta o espaço, o aspecto visual e o conforto do ambiente; e d) avaliação de níveis de
iluminamento e sua adequação ao ambiente escolar. Gibson (1965) aponta que além da
velocidade e precisão, na avaliação do iluminamento, outros fatores – como conforto,
beleza, segurança ocupacional, segurança patrimonial e uso dos espaços – são
importantes para dimensionar o iluminamento de ambientes fechados.
A adequada iluminação garante conforto no desempenho visual (IIDA, 2001; RIO &
PIRES, 2001) e, na falta dela, a contração dos olhos e a fadiga afetam o aprendizado
(REIDA et al., 1960). Veitch (1996), Crouch (1966), Gibson (1965) e Reida et al. (1960)
apontam como fatores que afetam a visão: dimensão, contraste com o ambiente, tempo,
claridade, luz natural, acabamento do ambiente, diferenças na claridade e no nível de
iluminamento, além do tipo de luminárias. Segundo Reida et al. (1960), no projeto ou
redimensionamento do nível de iluminamento deve-se recorrer a pessoal especializado,
que definirá não só o iluminamento, mas também o consumo de energia e a manutenção
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do sistema.
O Programa de Saúde do Trabalhador, em desenvolvimento pelo Instituto de
Assistência ao Servidor Público Estadual (Iamspe), desde o ano 2000 (MORRONE,
2004), por meio de Centro de Assistência Médica (Ceama), em Santos, conduz estudos
sobre as condições de segurança e saúde do trabalho, nas escolas públicas estaduais da
Baixada Santista. Rodrigues (2004) apresentou levantamento dos riscos em 77 escolas
estaduais da região, no qual se apontava que 51 por cento das escolas apresentavam
iluminação subjetivamente considerada inadequada. Em trabalho anterior (2005)
apresentamos situação similar, acrescentando observações das dirigentes das escolas
sobre a elevada freqüência de queima de lâmpadas. Essa constatação demandou uma
avaliação quantitativa dos níveis de iluminamento nas escolas públicas estaduais de
forma sistemática.
Objetivo 1. Objetivo geral
Comunicar os resultados da avaliação dos níveis de iluminamento em salas de
aula das escolas públicas estaduais da Baixada Santista que desenvolvem atividades de
pedagógicas no período noturno.
2. Objetivos específicos
a) Comparar os níveis de iluminamento obtidos com as recomendações da Associação de
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT em sua norma NBR 5413, e da Resolução 493/94
do governo estadual de São Paulo;
b) Verificar a existência de desvios, seus possíveis motivos e medidas de controle.
METODOLOGIA
Este estudo se classifica como do tipo exploratório multicasos de análise das
condições ambientais de iluminamento de escolas, e abrange amostra intencional de 128
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escolas dos nove municípios que integram a Região Metropolitana da Baixada Santista e
que apresentavam atividade de ensino no período noturno, nos anos de 2004 e 2005.
1. Região do estudo
A Baixada Santista é formada pelos municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá,
Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente. Ocupa menos de 1
por cento da área do estado de São Paulo, e é a terceira maior região em população (1,5
milhão) (EMPLASA, 2005).
2. Caracterização da amostra
As 146 escolas públicas estaduais da Baixada Santista dividem-se,
administrativamente, em duas diretorias regionais de ensino: Diretoria Regional de Ensino
de Santos (DRE Santos) e Diretoria Regional de Ensino de São Vicente (DRE São
Vicente). As 74 escolas da DRE Santos se distribuem por Bertioga, Cubatão, Guarujá e
Santos, e dessas avaliaram-se 61 com atividade letiva no período noturno. Na DRE São
Vicente estão 72 escolas, nos municípios de Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande
e São Vicente, e dessas avaliaram-se 67 com atividade letiva no período noturno. O total
avaliado, 128 escolas, corresponde a 88 por cento das escolas estaduais da região.
Com relação ao público presente, nas salas de aulas dessas escolas o censo de
2005 das DRE Santos e São Vicente registrou cerca de 2 mil professores lecionando à
noite, e total de 57.500 alunos.
3. Método de avaliação do iluminamento
Optou-se, para verificação de iluminamento, por superfícies específicas, conforme
a Norma Regulamentadora de Ergonomia (NR-17, item 17.5.3.4) da Portaria 3214/78 do
Ministério do Trabalho e Emprego. Especificamente para as salas de aula as superfícies
escolhidas foram: lousas, tampo das mesas dos professores e tampo das carteiras dos
alunos. Tomou-se como valor final para cada sala de aula a média aritmética de três
medidas na lousa: duas nas extremidades laterais e uma no centro. Para o tampo da
mesa o valor final foi o da região central. Em relação às carteiras registraram-se como
valor final médias aritméticas das medidas tomadas em três regiões: frente, meio e fundo
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das salas.
Tomaram-se como parâmetros de comparação do nível de iluminamento os da
Norma Brasileira NBR-5413 (Iluminância de Interiores), revisão de 1992, e aqueles da
Resolução 493 do governo do estado de São Paulo, de 1994, que aprovou a Norma
Técnica para projetos de edificação de escolas de 1º e 2º graus, no estado.
Dos três níveis de iluminamento propostos na ABNT/NBR-5413/1992, selecionou-
se o valor do meio, o que corresponde a 500 lux para as lousas e 300 lux para o restante
da sala. Na Resolução 493/94, o nível de iluminamento esperado é de 500 lux, não
havendo distinção entre as superfícies das lousas e dos demais pontos da sala de aula.
Para as mensurações usou-se luxímetro digital, modelo LD-200, marca Kiltler, com
mostrador de cristal líquido: 3 1/2 dígitos e escala de medidas: 200, 2.000, 20.000 e
200.000, fotocélula com correção para a sensibilidade do olho humano e função do
ângulo de incidência, calibrados.
Verificaram-se os valores pontuais em cada escola, e para análise comparativa
entre os municípios optou-se pelo cálculo de médias de todas as escolas de cada região,
separadas conforme as superfícies, nas quais se fizeram as mensurações (lousas, mesas
e carteiras). A média é a medida de posição que indica o centro de distribuição da
freqüência da amostra sob análise (COSTA NETO, 2002). A opção pela medida de
posição média deve-se à facilidade de compreensão, comparativamente às demais –
mediana e moda. Observa-se que a média contém os valores extremos do conjunto de
dados e sofre influência deles.
A análise contempla 1.338 salas de aula, com um total de 5.597 pontos: 1.334
lousas, 1.338 mesas de professor e 2.995 carteiras de alunos. Quantificou-se, também, o
número de lâmpadas queimadas por sala de aula.
RESULTADOS
A análise dos dados mostrou que a maioria das escolas não atende à ABNT/NBR-
5413, e nenhuma atende à Resolução 493/94.
Os percentuais de lâmpadas acesas nas salas de aula das escolas estaduais
foram variáveis. Assim, do total de 128 escolas avaliadas, 126 (98%) apresentaram ao
menos uma lâmpada queimada. Apenas duas (1,6%) apresentavam todas as lâmpadas
disponíveis acesas. Na Tabela 1 apresenta-se a proporção das escolas do estudo
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segundo as classes de freqüência de lâmpadas acesas. Esse percentual foi inferior ao
esperado. Assim, constatou-se que 48 escolas (38%) tinham menos de 80 por cento de
lâmpadas acesas. As escolas vinculadas à DRE Santos apresentaram em média
proporções maiores de lâmpadas acesas (25%) do que aquelas vinculadas à DRE São
Vicente (49%).
Não se encontrou correspondência entre o número de lâmpadas acesas e o nível
de iluminamento medido. Escolas com percentuais mais elevados de lâmpadas acesas,
às vezes, apresentaram níveis de iluminamento inferiores aos de escolas com percentuais
mais baixos de lâmpadas acesas. Infere-se, assim, que outros fatores estão presentes e
que não basta repor as lâmpadas queimadas para que se regularize o nível de
iluminamento de acordo com os parâmetros de controle.
As Tabelas 2 e 3 mostram as médias do nível de iluminamento de lousas, mesas
dos professores e carteiras que se verificou por salas e escolas de cada município.
Apresentam-se, também, a razão entre essas médias e o valor mínimo da recomendação
da ABNT.
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As médias das lousas e mesas de professores apontaram que nenhuma escola
atinge o valor mínimo recomendado pela ABNT e pela resolução 493/94. A média das
carteiras apresentou situação similar, com exceção da média das escolas do município de
Praia Grande, que apresentou valor superior ao mínimo da ABNT (360/300 lux), mas
ainda inferior ao da resolução 493/94 (360/500).
De acordo com as médias, em seis (67%) dos nove municípios, as lousas são as
superfícies com pior nível de iluminamento. Comparando-se a razão entre média e valor
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mínimo ABNT das lousas, observa-se que o município que mais se aproxima do valor
desejado atinge 43 por cento dessa recomendação (Bertioga), e que o que mais se afasta
alcança 25 por cento (Itanhaém).
Comparação similar com as mesas dos professores mostrou que a melhor relação
é de 85 por cento (Bertioga) e a pior é de 48 por cento (Cubatão). Para as carteiras dos
alunos as razões variaram entre 120 por cento (Praia Grande) e 57 por cento (Itanhaém).
Para as carteiras dos alunos, exceção dos municípios de Praia Grande e Bertioga, os
demais (78%) apresentaram valores que atingem 57 a 72 por cento do valor mínimo da
ABNT.
Na análise pontual de cada escola, por município, é de Santos a que mais se
aproximou do valor de 500 lux (450 lux) para a superfície das lousas, e em outra, todas as
carteiras registraram valores superiores a 300 lux (E. E. Alzira Licht). É também em
Santos que aparece o maior percentual de escolas com mesas e carteiras conformes ao
parâmetro ABNT (300 lux), respectivamente, 46 e 54 por cento.
Nas sete escolas de Cubatão, chama atenção que os valores extremos do
município, nas três superfícies de análise, estão em uma única escola (E. E. Humberto A.
Castelo Branco). Nesta se observou lousa com 400 lux, 80 por cento das recomendações,
mesa de professores com 350 lux e carteiras com 399 lux, portanto conforme ao padrão
mínimo da ABNT. Nas escolas do município de Praia Grande, apesar da melhor média
(360 lux) para as carteiras, é em quatro delas (17%) que se registraram valores
superiores a 300 lux. Destacam-se esses pontos como sugestão de paradigma para
estudo de investigação do problema de baixo nível de iluminamento.
Conclui-se, pelos dados apurados, que os níveis de iluminamento no interior da
maioria das salas de aula das escolas estaduais da Baixada Santista não atendem às
recomendações da ABNT/NBR-5413/1992, e que nenhuma delas está de acordo com a
Resolução 493/94, do governo do estado de São Paulo.
A NR-17 traz para si a questão do iluminamento dos ambientes de trabalho (MTE,
2006) e estabelece que os níveis de iluminamento dos locais de trabalho são os valores
de iluminância registrados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em
sua NBR-5413. Como esse parâmetro não foi alcançado na maioria das vezes, conclui-se
que as salas de aula das escolas estaduais, na Baixada Santista, também não
apresentam condições ambientais adequadas sob o aspecto ergonômico, e infere-se que
os servidores e alunos que aí atuam estão propensos à fadiga visual.
Os autores Veitch e Newsham (1996) e Gibson (1965) apontam que o
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desempenho escolar é afetado pela inadequação do iluminamento das salas de aula.
Reida et al. (1960) estimam que 80 por cento do aprendizado ocorre pelos olhos e que ele
se torna deficiente quando o iluminamento não é adequado, pois há contração dos olhos
e fadiga visual. Assim, os achados deste estudo, comparados aos resultados da literatura
internacional, levam à conclusão de que o trabalho dos docentes e também o
aproveitamento escolar dos alunos das escolas estaduais da Baixada Santista, no período
noturno, devem estar prejudicados pela inadequação dos níveis de iluminamento.
Na etapa de mensuração dos níveis de iluminamento, constatou-se em várias
escolas camada visível de sujeira depositada sobre os tubos das lâmpadas fluorescentes.
Essa sujidade atua como barreira na distribuição do fluxo luminoso da lâmpada e contribui
para que uma menor quantidade de luminosidade chegue até as superfícies. Propõe-se,
com base nessa constatação, que se implante um procedimento de limpeza periódica das
lâmpadas fluorescentes das escolas.
A causa mais freqüente dos baixos níveis de iluminamento encontrados foi a
manutenção insuficiente das luminárias, na qual se incluem a falta de limpeza periódica e
de substituição de lâmpadas queimadas ou com defeito e problemas nas instalações
elétricas. Também representou causa significativa de iluminamento deficiente a diferença
entre a proposta original do projeto construtivo e o uso presente.
RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIA DO ILUMINAMENTO ARTIFICIAL 1. Em relação ao sistema elétrico
Dificuldades no acendimento das lâmpadas fluorescentes
A orientação do fabricante de lâmpadas Philips (2006), para análise das possíveis
causas do problema, segue este roteiro:
a) se o reator for do tipo eletromagnético de partida rápida, verificar se a calha
metálica da luminária é aterrada;
b) a ligação elétrica das lâmpadas deve obedecer, rigorosamente, ao circuito que
está impresso no reator. Atentar para a correta ligação dos fios fase e neutro do
reator na rede elétrica;
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c) o reator deve ser compatível com a voltagem da rede elétrica local, permitindo-se
variações menores do que 10 por cento;
d) ambientes com baixa temperatura dificultam o acendimento das lâmpadas
fluorescentes. Esse fabricante recomenda o aterramento da luminária, não só para
facilitar o acendimento, como também por razões de segurança, de modo a evitar
choque elétrico.
Observa-se ainda, relativamente ao acendimento das lâmpadas fluorescentes, que
os reatores, equipamento auxiliar nesses sistemas, têm como objetivo facilitar esse
processo, bem como prover tensão e corrente elétrica adequadas ao funcionamento
dessas lâmpadas. Os reatores com componentes eletrônicos apresentam vantagem, pois
proporcionam aumento da eficiência das lâmpadas, menor consumo de potência
(lâmpadas + reator) e tamanho e peso menores, quando comparados com os reatores
eletromagnéticos (LÂMPADAS GE, 2006).
Queima freqüente e prematura das lâmpadas
A empresa Philips (2006) aponta a proximidade do mar como possível causa do
problema, por oxidar os contatos elétricos, o soquete e as bases das lâmpadas, levando
ao mau contato elétrico, conseqüente aquecimento e queima prematura das lâmpadas. O
fabricante propõe o uso de luminária fechada com vidro e freqüente limpeza dos contatos,
como forma de minimizar o problema.
Apesar da queixa de queima prematura das lâmpadas fluorescentes, observaram-
se, durante as quantificações dos níveis de iluminamento, tubos com extremidades
enegrecidas. Esse sinal é indício de que as lâmpadas estão com sua vida útil esgotada,
emitem menor fluxo luminoso e assim devem ser substituídas. Outro indício de fim da vida
útil das lâmpadas fluorescentes é quando essas acendem e apagam (PHILIPS, 2006).
2. Em relação ao projeto construtivo
A diversificação dos projetos construtivos permitiu observar certas interferências
que se refletem diretamente no nível de iluminamento dos interiores das salas de aula.
Destacam-se, entre outras:
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a) variação da distância entre as superfícies das mesas e carteiras e as
luminárias;
b) material de construção dos tetos das salas, com diferentes características
reflexivas;
c) vigamento das lajes, transversal às salas de aula, atua como barreira na
distribuição da luz.
As ilustrações mostram situações estruturais que interferem na qualidade do
iluminamento das escolas. Relativamente à variação da distância entre as luminárias e as
superfícies, duas situações acontecem. Em escolas construídas com tetos das salas de
aula em declive (Figuras 1 e 2) e com luminárias fixadas ao teto o fluxo luminoso com
origem nas luminárias e que chega às superfícies diminui com o aumento da altura. Salas
de aula com pé direito elevado e luminárias suspensas aumentam o iluminamento por
estarem mais próximas do ponto a ser iluminado.
O uso de cores no teto das salas de aula não é uniforme. Assim, observaram-se
tetos em concreto aparente, o que significa pior condição de reflexão da luz, com
conseqüente condição inferior de iluminamento geral da sala, comparativamente à pintura
em branco. Para forros em madeira, observou-se situação similar. As figuras 1, 2, 3 e 4
ilustram essas situações.
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Observou-se em projetos recém-construídos o uso de forro plástico de PVC na cor
clara, o que significa tendência à melhor reflexão da luz.
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Exemplo da interferência das vigas de sustentação de cobertura da sala de aula,
que atuam como barreiras na distribuição da luz, aparece nas Figuras 5 e 6. Durante a
fase de mensuração de salas de aula com esse arranjo arquitetônico observou-se que as
carteiras imediatamente abaixo dessas vigas eram as que apresentavam os menores
valores de iluminamento.
CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
A análise dos níveis de iluminamento das salas de aula das escolas estaduais da
Baixada Santista mostrou que a maioria dos equipamentos não está conforme a
recomendação mínima ABNT/NBR-5413 e que nenhum deles segue a Resolução 493/94.
Infere-se que há prejuízo no nível de aprendizado nessas escolas, bem como nas
condições de trabalho dos professores.
Apontam-se dois itens, basicamente, para essa não conformidade, os quais
parecem ocorrer de forma associada em certas escolas. O primeiro se relaciona ao
projeto construtivo das escolas, e o outro, ao projeto e à manutenção dos sistemas
elétricos das salas de aula. A diversificação dos projetos construtivos poderá servir como
orientação na busca de soluções. O registro e a divulgação das boas práticas das escolas
– tais como luminárias rebaixadas e cores claras em tetos e paredes – podem estabelecer
critérios para reformas e construção de escolas.
Mencionam-se, ainda, dois aspectos que se ligam aos sistemas de iluminamento
com lâmpadas fluorescentes. O primeiro deles diz respeito à eventual queda das
lâmpadas sobre alunos e servidores das escolas, situação comentada em uma das
escolas visitadas. Um dispositivo de contenção seria recomendável para solucionar esse
problema. A outra ressalva é de caráter ambiental. As lâmpadas fluorescentes usam
descargas elétricas, diretamente, em vapor de mercúrio de baixa pressão para produzir
energia ultravioleta. O mercúrio presente nas lâmpadas fluorescentes é fonte de poluição,
quando do seu descarte.
Uma solução dentro do princípio de sustentabilidade seria a reciclagem, solução
aplicável a grandes geradores. As escolas se enquadram mais no caso de geradores
residenciais, e seu descarte deve acontecer de acordo com as indicações da Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e da prefeitura do município. Na visita
às escolas observou-se não existir procedimento que atenda a esse requisito.
ILUMINAMENTO NO PERÍODO NOTURNO NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DA BAIXADA SANTISTA
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1. Treinamento e capacitação dos servidores na manutenção do sistema
a) Capacitar os servidores das escolas sobre as características das lâmpadas
fluorescentes (princípio de funcionamento, indícios de fim da vida útil, risco de
queda e comprometimento ambiental);
b) Estabelecer um procedimento de limpeza periódico das luminárias e lâmpadas
fluorescentes das escolas públicas estaduais da Baixada Santista.
2 Recomendações
a) Estabelecer um programa de análise dos problemas elétricos das luminárias e
lâmpadas fluorescentes das escolas públicas estaduais da Baixada Santista, de
modo a verificar existência e integridade dos sistemas de aterramento, estado de
conservação dos circuitos e contatos elétricos do sistema, tipo de reatores das
lâmpadas e substituição, caso necessário, por aqueles do tipo eletrônico;
b) Viabilizar sistema de descarte ambientalmente seguro para lâmpadas
fluorescentes queimadas, em razão de seu potencial poluidor relacionado à
presença de mercúrio;
c) Avaliar o efeito do nível de iluminamento nas escolas estaduais no
aproveitamento escolar dos alunos.
CONCLUSÕES
A análise dos níveis de iluminamento das salas de aula das escolas estaduais da
Baixada Santista mostrou que a maioria dos equipamentos não está conforme a
recomendação mínima ABNT/NBR-5413 e nenhum deles obedece à resolução 493/78.
Infere-se que, no período noturno, deva haver prejuízo no aprendizado nessas escolas,
bem como piora nas condições de trabalho dos professores.
Apontam-se basicamente dois itens para essas não conformidades que, em várias
escolas, ocorrem de forma associada. O primeiro se liga aos projetos construtivo e
elétrico, e o segundo, à manutenção dos sistemas elétricos. Um programa de análise se
faz necessário de modo a adequar os baixos níveis de iluminamento às regras vigentes.
ILUMINAMENTO NO PERÍODO NOTURNO NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DA BAIXADA SANTISTA
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Além do problema de iluminamento, observou-se na grande maioria das escolas o
risco de queda das lâmpadas sobre alunos e servidores. Essa queda leva ao risco de
acidentes com lesões físicas, tais como cortes, e também ao risco de contaminação
ambiental pelo mercúrio. Observou-se que nas escolas não existe dispositivo que previna
a queda de lâmpadas fluorescentes sobre alunos e servidores, assim como não existe
uma atenção em relação aos melhores procedimentos para descarte de lâmpadas
queimadas. Uma solução dentro do princípio de sustentabilidade seria a reciclagem.
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2006.
1
CULTURA E RECICLAGEM: HISTÓRICO DE UM MOVIMENTO SOCIAL
AMBIENTAL PAULISTANO
José Luís Solazzi
Professor de Antropologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul e de Sociologia e Teoria do
Estado na FAAP, pesquisador da Linha de Pesquisa “Comunicação e Inovação” do Curso de Comunicação
Social. Bacharel em Ciências Sociais (PUC-SP) e em Direito (USP), Mestre e Doutor em Ciências Sociais –
Antropologia – (PUC-SP); zezosolazzi@uol.com.br
RESUMO Este artigo analisa o movimento social ambiental na região Oeste de São Paulo e as suas
relações entre cultura e reciclagem. Aborda os percursos históricos e culturais
empreendidos pelo Movimento Eco-Cultural na ‘Feira de Artes de Pirituba’ e, no último
ano, na ‘Cooperativa Crescer’.
Palavras-chave: movimentos sociais; cultura; reciclagem.
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Cultura e Reciclagem: Histórico de um movimento social ambiental paulistano
José Luís Solazzi INTERFACEHS
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Como é que se pode comprar ou vender o céu, o
calor da terra? Essa idéia nos parece estranha.
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água,
como é possível comprá-lo?
Cada pedaço da terra é sagrado para meu povo.
Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado
de areia das praias, a penumbra na floresta densa,
cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na
memória e experiência de meu povo. A seiva que
percorre o corpo das árvores carrega consigo as
lembranças do homem vermelho ...
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra
forma de agir. Chefe Seattle, ao presidente dos Estados
Unidos, Franklin Pierce, em resposta a
uma proposta de venda dos espaços
sociais tribais, em 1854.
MEMÓRIA, EXPERIÊNCIAS E DIGNIDADE Este artigo relata as práticas sociais ambientais do ‘Movimento Eco-Cultural’,
criado nos últimos anos do século XX para a articulação dos interesses culturais,
comunitários, educacionais e de preservação ambiental construídos pelos cidadãos
moradores da região Oeste da cidade de São Paulo, no bairro de Pirituba, nas
proximidades do Parque Estadual do Jaraguá.
Trata-se de problematizar a questão ambiental paulistana através das propostas e
atividades dessa organização social constituída por jovens ativistas, artesãos e músicos
preocupados com a preservação desse espaço geográfico, dada a devastação ambiental
das cercanias do Parque Estadual do Jaraguá por ocupações irregulares que ameaçam a
permanência dessa importante reserva urbana de mata atlântica, refúgio de guaranis
perseverantes e resistentes e espaço de recreação e lazer da população.
Ao destacar esse movimento social ambiental paulistano, pretende-se tanto
registrar a historicidade dessa experiência política, com seus percursos culturais e forma
de institucionalização, quanto apresentar os caminhos seguidos pelo Movimento Eco-
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Cultural em sua trajetória de luta política pela preservação ambiental da região. Pretende-
se, também, mostrar o direcionamento estratégico de atividades culturais e de
preservação direcionadas ao público infantil como um dos vetores necessários de suas
práticas culturais, tornando a educação ambiental um exercício necessário da cidadania.
Nos últimos meses, os integrantes do Movimento Eco-Cultural passaram a ser
responsáveis pela coleta seletiva, em Pirituba. Para a efetivação dessa nova prática
ambiental foi constituída a ‘Cooperativa Crescer’, que tem realizado a reciclagem
comercial na região de Pirituba.
As ações dessa nova inserção e desse ativismo têm viabilizado o resgate político,
social e econômico de mais de quarenta famílias, efetivando um movimento de resgate
social e de construção de cidadania que considero exemplares para novas políticas
sociais envolvendo comunidades pobres e miseráveis de São Paulo.
As visitas etnográficas, as entrevistas e os registros audiovisuais realizados nos
três primeiros meses de 2007 permitiram um diagnóstico acerca de nossas emergências
sociais: a viabilidade econômica e a urgência social de empreendimentos ambientais que
sejam efetivados a partir da participação coletiva numa cooperativa com perspectivas e
práticas federalistas.
Ao retratar a memória da experiência ambiental dessa região paulistana, foi
possível verificar a intensidade do trabalho e os tipos de intervenção social necessários
para que os movimentos sociais produzam educação, dignidade e igualdade real, no
presente.
Dedico este artigo às mulheres da Cooperativa Crescer que, ao longo do último
Carnaval, ensinaram-me como me portar com dignidade, gentileza e elegância diante de
dezenas de sacolas gigantes, que elas chamavam de ‘bags’, com milhares de latas de
alumínio, copos de plástico e embalagens de papelão.
Espero que este artigo registre adequadamente essa experiência e possa
expressar a resistência, a luta e a poesia das profissionais de reciclagem que conheci –
aparentemente ‘invisíveis’ aos olhos dos consumidores de bens e serviços.
PROCEDÊNCIAS A constituição de um movimento ambiental nos arredores do Parque Estadual do
Jaraguá, em Pirituba, iniciou-se nos anos de 1995 e 1996 com o interesse voltado para a
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promoção de eventos culturais que divulgassem os temas ambientais pertinentes ao
Parque e às suas cercanias.
Foram a proximidade física do Parque, a permanente visitação e a constante
fruição de trilhas, matas e espaços de lazer que despertaram na comunidade de artistas,
artesãos, músicos e ativistas da região Norte-Oeste de São Paulo a possibilidade e a
oportunidade de organizar um evento que, segundo eles, avaliasse a capacidade de
realização do grupo em articular uma ‘Feira de Artes’.
Os ativistas culturais da região Oeste da cidade de São Paulo têm produzido, nos
últimos quinze anos, diversas atividades com o formato de ‘Feiras de Arte’. Pompéia e
Vila Madalena foram exemplos e paradigmas de realização de eventos culturais para os
jovens que se articularam em defesa do Parque Estadual do Jaraguá.
A atração de grandes públicos para esses eventos pode significar uma importante
característica de nossa urbanização acelerada. As relações comunitárias constituídas nas
feiras comerciais, festivas e culturais de múltiplos bairros da cidade podem demonstrar a
ultrapassagem da dicotomia sociológica clássica entre comunidade e sociedade.
Essas ‘Feiras de Arte’ podem exemplificar como se estabelece, nos fins do século
XX e inícios do século XXI, a construção de novas sensibilidades e novas formas de luta
que buscam no microcosmo comunitário reinventar as experiências e sociabilidades
metropolitanas.
A pesquisa realizada para a elaboração desta análise demonstrou que essa
articulação política ambiental caracterizou-se, desde o princípio, pela predominância de
atividades práticas, culturais e lúdicas. Suas preocupações enfatizam a expressão “dar
voz à Comunidade!”. Demonstram aversão e resistências a práticas de debates, fóruns,
‘agendas’ e ‘oficinas’ que lidam com os interesses da comunidade por intermédio de
especialistas alienígenas, distantes das preocupações comunitárias e portadores de uma
sabedoria genérica.
Os envolvidos na realização da Feira de Artes de Pirituba decidiram nomear-se
Movimento Eco-Cultural.
DA ‘INVENÇÃO’ AO GIGANTISMO A primeira Feira de Artes de Pirituba, nomeada ‘Arroz, Feijão e Cultura’, teve como
parâmetros de organização e empreendimentos as ‘Feiras de Artes’ da Pompéia e da Vila
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Madalena. Com a participação de quarenta expositores comerciais e de alimentos
vinculada à arrecadação de alimentos, teve um palco, em cem metros da rua Benedito de
Andrade, atraindo um público circulante estimado entre 2 mil e 3 mil pessoas.1
Na segunda Feira de Artes de Pirituba, ‘Reciclagem: O Futuro da Criança’, em
1996, apresentaram-se artistas como Rita Ribeiro, Zeca Baleiro, e RZO (Rapaziada Zona
Oeste). Possuía um ‘Espaço das Crianças’, com atrações específicas para essa faixa
etária, e o ‘Corredor Verde’, área destinada às organizações ambientais da região para
exporem suas atividades e resultados para a comunidade, sem custos financeiros.
O público circulante alcançou entre 8 mil e 10 mil pessoas, numa extensão de 150
metros, com cinqüenta expositores e um palco para os eventos artísticos e musicais.
A terceira Feira de Artes de Pirituba, ‘O que vou ser quando crescer?’, em 1997,
teve um aumento considerável do público circulante, que alcançou 30 mil pessoas, dos
expositores, entre 100 e 150, e da estrutura física, com dois palcos, numa extensão entre
500 e 600 metros. Nessa feira foi iniciada a produção de uma ‘Coletânea musical’ com
músicos da região Norte e Oeste de São Paulo.
Mas foi na preparação das atividades da quarta Feira de Artes de Pirituba, em
1998, que se estabeleceram proposições e perspectivas que visavam à regularização da
organização social e a busca de um evento mais bem estruturado por meio da captação
de recursos necessários para ampliação das atividades realizadas na Feira, o que tornou
possível a sua efetivação e registro jurídico e, principalmente, a permanência de suas
atividades ao longo do ano.
Assim, nesse ano viabilizou-se a ‘Semana do Meio Ambiente’, no mês de junho,
além de espetáculos teatrais e musicais, visitas monitoradas pelas trilhas do Parque
Estadual do Jaraguá, distribuição de mudas e realização de conversações comunitárias
para a identificação de carências e necessidades específicas do Parque, através da
associação entre música e meio ambiente.
Estabeleceram-se, desde então, práticas que buscavam a revitalização do Parque
Estadual do Jaraguá.
Pode-se afirmar que o marco dessa alteração das maneiras de agir do Movimento
Eco-Cultural foi sua parceria com a Universidade Federal de São Carlos (Unifesp) e o
Instituto Florestal para a realização do ‘Projeto Biota-Jaraguá’ para realização do ‘Plano
de Manejo do Parque Estadual do Jaraguá’.
O Movimento Eco-Cultural foi responsável pela viabilização da estadia dos
pesquisadores no Parque, pelo fornecimento de alimentação e pela autorização de
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pesquisa noturna.
Com esse levantamento biológico e ambiental tem-se, desde 1998, um Programa
Permanente de Educação Ambiental (Pepea) no Parque, com diretrizes precisas para seu
manejo e o atendimento de suas necessidades e carências.
Os dados da quarta Feira de Artes de Pirituba, ‘Liberdade de Expressão’,
demonstram a maturidade alcançada pelo movimento social ambiental. Verificou-se a
presença de 50 mil pessoas, com aproximadamente 250 a 300 expositores.
Nesse ano, a ‘Coletânea Musical’ trouxe maior diversidade, mesclando artistas
regionais sempre presentes aos blues de Edvaldo Santana e aos conteúdos políticos da
música de Zé Geraldo.
Em 1999, entre os dias 17 de janeiro e 11 de abril, no Parque Estadual do
Jaraguá, o Movimento Eco-Cultural realizou ao longo de onze domingos o Pepea com
atividades ambientais permanentes como trilhas monitoradas, oficinas de criatividade,
exposições, exibição de vídeos, distribuição de mudas, Mostra Eco-Cultural de teatro e
música ao vivo. No mês de maio foram realizadas atividades de teatro infantil e oficina de
pintura na região.
Nesse ano, a quinta Feira de Artes de Pirituba, ‘Cultura em Reciclagem’, foi
incluída como evento do Calendário Turístico da Cidade de São Paulo, o que viabilizou o
apoio da Prefeitura Municipal e do Anhembi.
Essa feira atraiu o contingente estipulado entre 70 mil e 80 mil pessoas, com 200 a
250 expositores e quatro palcos para atrações artísticas e musicais.
Já em 2000 aconteceram novas atividades do Pepea nos primeiros meses do ano,
e as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente foram realizadas pelo Movimento
Eco-Cultural no Sesc Pompéia, com um festival reunindo os participantes da ‘Coletânea
musical’ e um desfile de moda nomeado ‘Cultura em Reciclagem’. Ressalte-se que o
cenário e a decoração foram produzidos, todos, com garrafas plásticas.
O ano de 2000 marcou a ampliação social e física do evento. O tema levou um
público superior a 100 mil pessoas a circular pela Feira de Artes de Pirituba, em sua sexta
edição. Dada a grande quantidade de eventos, foi necessária a ampliação lateral para
ruas paralelas, pois os quatro palcos não caberiam na avenida tradicionalmente utilizada.
Por sua vez, a ‘Coletânea musical: Música para Reciclar’ tinha como destaque a
banda Tutti-Frutti, entre os diversos grupos de artistas regionais.
Há que se destacar a ampliação do número e da importância dos parceiros
amealhados entre as empresas privadas (companhia de energia, corporação financeira,
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faculdade privada, supermercadista etc.) e empresas e instituições públicas. Confirma-se,
assim, o diagnóstico acerca da necessária regularização do movimento social enquanto
fator para a viabilização de suas atividades através de um amplo leque de apoios
institucionais, determinando-se maior visibilidade aos apoiadores, o que ampliou a
capacidade de atuação e intervenção do Movimento Eco-Cultural.
A sétima Feira de Artes de Pirituba, ‘As Águas Vão Rolar!’, em 2001, atraiu mais
de 120 mil pessoas, com mais de 400 expositores na mesma estrutura da feira anterior.
A novidade desse ano foi que o Movimento Eco-Cultural também realizou a
primeira Feira de Artes de Taubaté, no primeiro semestre, no Sesc daquela cidade, com o
interesse de ampliar os projetos de coleta seletiva de resíduos sólidos no Vale do
Paraíba, desenvolvendo debates entre os grupos ambientalistas da região, com um
público estimado em 5 mil pessoas. Mas essa ampliação das atividades do Movimento
Eco-Cultural não teve prosseguimento nos anos seguintes.
Já a Feira de Artes de Pirituba nos dois anos seguintes alcançou um ponto
extremo de sua realização.
A oitava Feira de Artes de Pirituba, em 2002, contou com a presença de 150 mil
pessoas, o que tornou o espaço tradicional insuficiente para tamanha concentração
popular.
Em 2003, a afluência crescente de público determinou que a estrutura da nona
Feira de Artes de Pirituba fosse ampliada e, ao invés de quatro palcos, foram construídos
três palcos e um circo, espaço de atividades específicas para o público infantil com escola
circense, grupos de teatro infantil da região, oficinas de argila e de reutilização de garrafas
plásticas. Desta vez, a produção da ‘Coletânea musical’ passou a ser disponibilizada num
suporte digital e teve como destaque o músico Renato Corte Real.
Mas o principal problema foi a ausência da Polícia Militar, que não enviou
policiamento. Com um público estimado pelos organizadores em 180 mil pessoas, a Feira
transformou-se em ‘terra de ninguém’, com depredações do patrimônio público e privado.
Esses acontecimentos levaram à suspensão das atividades da Feira de Artes de
Pirituba no ano de 2004. Em 2005, veremos a seguir, ela foi retomada num novo espaço.
REINVENÇÕES As dificuldades geradas pelo gigantismo da Feira de Artes de Pirituba causaram
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múltiplos problemas, como reclamações de comerciantes e moradores sobre a falta de
condições para tamanho afluxo popular. Lembremos que, nos três primeiros anos, o
público passou de 3 mil para 30 mil pessoas. Mas nos últimos três anos, o público de 100
a 120 mil pessoas alcançou 150 a 180 mil.
Os adiamentos causados pela dificuldade de organização, em 2004, levaram à
suspensão da feira. Além disso, a cada biênio, a Feira de Artes de Pirituba coincidia com
as campanhas políticas de segundo turno, transformando-a num espaço político-eleitoral.
A Feira de Artes de Pirituba foi retomada em 2005, mas com novo endereço, numa
avenida de pistas largas e com maior amplitude de tempo para sua realização, para que
em anos eleitorais ela pudesse ser realizada após as eleições majoritárias. Essa décima
edição exigiu novos estudos para a feitura de mapas de interdição de ruas, para
distribuição de banheiros e para construção da rede elétrica necessária. O espaço
escolhido foi a avenida Eliseu Cordeiro de Siqueira, conhecida na região como avenida
Um.
Segundo os relatórios oficiais, compareceram 50 mil pessoas à décima Feira de
Artes de Pirituba. Teve grande aceitação dos moradores dessa nova localidade, e sua
estrutura física era composta por dois palcos para apresentações musicais e de dança.
Havia, ainda, atividades cênicas, oficinas de reciclagem e criatividade, jogos e
brinquedos. Foram atraídos 220 expositores com mercadorias de artesanato e de
alimentação, além das entidades sociais da região.
Fixando-se nesse novo espaço, a XI Feira de Artes de Pirituba, em 2006, com a
mesma estrutura física da feira anterior, atraiu um público circulante de 65 mil pessoas.
Ainda nesse ano, o Movimento Eco-Cultural foi procurado pela Secretaria de
Serviços e pela Limpeza Urbana (Limpurb) para auxiliar esses órgãos públicos na
verificação de denúncias realizadas contra a Cooperativa responsável pela coleta seletiva
na região de Pirituba.
Segundo o Movimento Eco-Cultural, constatou-se a inexistência de pessoa jurídica
asseguradora dos direitos e deveres dos cooperados. Além disso, a remuneração destes
era ínfima (R$ 30,00 mensais), sem nenhum tipo de precaução com vacinações
obrigatórias e equipamentos ou preocupações legais, como o recolhimento regular de
impostos.
Ao realizar essa assessoria às instituições municipais, os integrantes do
Movimento Eco-Cultural foram questionados acerca do interesse em administrar a central
de triagem de lixo em Pirituba.
Cultura e Reciclagem: Histórico de um movimento social ambiental paulistano
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Ao aceitarem constituir uma nova cooperativa para realização da coleta seletiva
em Pirituba, escolheu-se um modelo empresarial de gestão que tem sido desenvolvido
por uma cooperativa-modelo situada na cidade de Paulínia.
Escolhido o modelo empresarial de gestão, passaram a praticá-lo. Os parâmetros
estabelecidos para a ‘administração empresarial’ vinculam-se à transparência absoluta de
entradas financeiras e de materiais, e englobam a regularidade jurídica e fazendária, a
constituição de um fundo de reserva para investimentos que atendam os interesses do
conjunto dos cooperados, a cobrança do fundo educacional e social (5%) voltado
efetivamente às necessidades prementes dos cooperados, como a compra de alimentos e
o pagamento de dívidas, e às necessidades de formação e educação, como a compra de
material escolar. Inclui, também, a regular vacinação e, finalmente, o convênio com a
fábrica de luvas especiais. Esta lhes oferece o dobro dos pares necessários, que são
redistribuídos para as entidades sociais da região que as utilizam.
Ao constituírem a nova pessoa jurídica, ‘Cooperativa Crescer’, estabeleceram os
critérios sociais e econômicos para escolha de cooperados. Dadas as características da
região, dão preferência à entrada dos mais necessitados, mas não descartam pessoas
albergadas.
No mês de fevereiro, a reciclagem comercial rendeu entre R$ 300,00 e R$ 500,00
de retirada líquida a cada um dos 42 integrantes efetivos da cooperativa, conforme o
número de horas trabalhadas. Um dos coordenadores informou ter recebido, por sua vez,
proventos mensais de R$ 750,00.
As próximas expectativas do Movimento Eco-Cultural e da Cooperativa Crescer
têm se direcionado para o empreendimento da reciclagem artística, pois relata-se que a
reciclagem comercial esgota-se nos binômios triagem–comercialização e ocupação–
renda.
Há a pretensão de fusão das atividades das duas instituições, para que possam
conquistar independência financeira dos subsídios pagos pela Prefeitura à Cooperativa.
Essa estratégia de unificação tem sido realizada mediante a produção de projetos
de trabalho como o ‘Programa de Educação Ambiental: Jogos Populares, Reciclagem e
Sustentabilidade’.
Nesse projeto de trabalho apresentam proposições acerca da construção de uma
rede de interações pedagógicas e de práticas de recreação e lazer sustentáveis,
reciclando materiais por meio dos jogos populares, entre a comunidade escolar,
construindo uma recicloteca nas unidades escolares e fornecendo cursos para toda a
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comunidade escolar, incrementando, assim, a reciclagem nas escolas da região.
ANTROPOLÓGICAS A concepção deste artigo surgiu quando assisti a um documentário sobre meio
ambiente na TV Cultura. Numa fala de José Eli da Veiga, esse importante economista
analisava a necessidade de ‘civilizar’ as relações entre desenvolvimento econômico e
preservação ambiental.
Oriundo das ciências sociais, leitor dos textos de La Boétie sobre a servidão
voluntária e de seu amigo Montaigne sobre os canibais, imaginei, naquele instante, que a
experiência ambiental do Movimento Eco-Cultural deveria ser um exemplo antropofágico
de nossas maneiras de pensar.
Depois de dias de convívio com as pessoas integrantes do Movimento Eco-cultural
e da ‘Cooperativa Crescer’, aprendi mais um pouco a lidar com a diferença. Lembrei-me
de Claude Lévi-Strauss, da ciência do concreto e de seus contrapontos: nossa
incapacidade civilizada de lidar com a diferença.
Essa ‘antropoemia’ própria da civilização ocidental, sua incapacidade de lidar com
a alteridade, com o múltiplo, sua propensão a ‘vomitar a diferença’, faz-me pensar que ao
invés de civilizarmos as relações entre cultura e meio ambiente, precisamos barbarizá-las,
devorá-las.
É preciso transtornar as relações humanas! (Re)Torná-las selvagens! Pensemos a
complexidade da cultura por meio das pontes entre o humano e sua animalidade, entre a
razão e o descomedimento! Uma bioantropossociologia!
Antropofagias! Transtorno!
“Curto lixo, transo porcaria!” Somos os punks da periferia, os novos canibais!
NOTA 1 O público circulante é avaliado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Os dados utilizados neste artigo são todos fornecidos e estabelecidos pelas medições dessa instituição.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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anthropologie politique. Paris: Seuil, 1987.
ARGÜELO, Kátia. Do Estado Social ao Estado Penal: invertendo o discurso da ordem,
2005. Disponível em www.cirino.com.br/artigos/Artigo%20Katie.pdf.
BOIREAU, J.-L. Godwin et la critique radicale du droit. Paris: Refractions 6, 2001.
DEFLEM, M. Social Control and the Theory of Communicative Action. Disponível em:
www.cas.sc.edu/socy/faculty/deflem/zjurgsoc.htm.
MAUSS, M. La cohésion sociale dans les sociétes polysegmentaires, 1931. Disponível
em:
www.uqac.ca/class/classiques/mauss_marcel/essais_de_socio/T5_cohesion_sociale/cohe
sion_sociale.html.
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PERSPECTIVAS DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DIANTE DA CONTAMINAÇÃO QUÍMICA DA ÁGUA: DESAFIOS NORMATIVOS
Maria de Lourdes Fernandes Neto 1; Aldo Pacheco Ferreira 2
1 Consultora técnica da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM/MS), mestre em
saneamento, meio ambiente e recursos hídricos (UFMG) e doutoranda em Saúde Pública e Meio Ambiente
(ENSP/Fiocruz); marianeto@ensp.fiocruz.br 2 Professor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), mestre e doutor em
engenharia biomédica (Coppe/UFRJ); aldoferreira@ensp.fiocruz.br
RESUMO O artigo confronta as perspectivas da sustentabilidade ambiental em relação à
contaminação química da água e os desafios necessários para a adequação do padrão
de potabilidade de água do país. Considera a preocupante presença de novos
contaminantes orgânicos e inorgânicos nos mananciais (agroquímicos, metais pesados,
disruptores endócrinos), podendo resultar em danos à saúde humana. Assim, busca
discutir os parâmetros normativos da água quanto à evolução do padrão brasileiro, o
paradigma da sustentabilidade e a política nacional de recursos hídricos. Contextualiza os
impactos ao ambiente e riscos à saúde das populações, decorrentes da presença de
contaminantes químicos nas águas, sobretudo aquelas utilizadas para consumo humano.
Tais questões darão subsídios para as discussões que permearão a próxima revisão do
padrão de potabilidade ora em vigor no país, por agregar na sua síntese aspectos
relevantes do modelo de desenvolvimento estabelecido no Brasil e na maioria dos países
em desenvolvimento.
Palavras-chave: contaminação química; qualidade da água; legislação nacional;
sustentabilidade ambiental.
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Perspectivas da Sustentabilidade Ambiental Diante da Contaminação Química da Água: Desafios Normativos
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A água, um recurso indispensável para a sobrevivência humana e de todas as
espécies vivas, além de ser um importante insumo para a grande maioria das atividades
econômicas, nomeadamente da agricultura e da indústria, exerce uma influência decisiva
na qualidade de vida das populações, especialmente ao tanger a área do abastecimento,
o qual tem forte impacto sobre a saúde pública.
O regulamento e a avaliação potencial da saúde humana, assim como os efeitos
ambientais de substâncias químicas da água, constituem o principal desafio para prover a
legislação nacional com avaliações de risco necessárias para decisões reguladoras
(FAHEL, CAMPOS & ARAÚJO, 2006). Hoje, com as pressões sobre a demanda de água,
em função do crescimento populacional e da redução da quantidade e da qualidade dos
mananciais, existe a necessidade de se criar uma gestão de precaução, racionalidade e
parcimônia, na utilização desse recurso para que as necessidades dessa e das futuras
gerações humanas e demais espécies do nosso planeta possam ser satisfeitas (SOARES
& FERREIRA, 2004).
São muitos os poluentes potenciais que podem prejudicar a qualidade das águas
dos rios, lagos e águas costeiras e marinhas. A poluição aquática pode ser causada por
matérias orgânicas, nutrientes e um grande número de substâncias químicas que ou são
produzidas para utilização deliberada, como os pesticidas, ou são formadas não
intencionalmente em processos de produção, como os hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos gerados em processos de combustão (HU & KIM, 1994). A água sendo um
excelente solvente, através do seu ciclo hidrológico conserva-se em contato com os
constituintes do meio ambiente (ar e solo), dissolvendo muitos elementos e carreando
outros em suspensão. Nesse sentido, estima-se que cerca de 4 bilhões de metros cúbicos
de contaminantes, provenientes, principalmente, de efluentes industriais, uso agrícola,
dejetos domésticos e outros, atinjam o solo a cada ano e, conseqüentemente, a água
(FREITAS et al., 2002).
A qualidade da água é vulnerável às condições ambientais às quais está exposta.
Isso ocorre em virtude da potencialidade de as águas apresentarem distintas
características, o que pode comprometer o seu uso, em virtude da qualidade que
assumem. A esse respeito, é necessário destacar, ainda, que a qualidade da água é
bastante dinâmica, podendo variar no tempo e no espaço, segundo diversas
condicionantes naturais ou antrópicas. Portanto, na maioria das vezes, as águas
destinadas ao consumo humano pressupõem a existência de tratamento para torná-la
potável. O tratamento convencional da água inclui etapas como coagulação, floculação,
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decantação, filtração, desinfecção e fluoretação. Em algumas dessas etapas são
adicionados produtos químicos que podem deixar resíduos na água final, potencializando
danos para a saúde pública, quando as práticas adotadas e, por conseguinte, o controle
operacional do tratamento não está adequado. Dessa forma, todas as etapas do
tratamento devem ser sistemática e continuamente monitoradas, de modo que o produto
final atenda às normas e ao padrão de potabilidade, estabelecidos pela legislação em
vigor (HELLER, 1997; PÁDUA & FERREIRA, 2006).
Aos responsáveis pela distribuição de água para consumo humano cabe a oferta
de um produto inócuo ao homem. Assim, as ações necessárias ao efetivo controle da
qualidade da água devem ser rotineiramente desenvolvidas pelos prestadores de
serviços, em consonância com o preconizado pela regulamentação afeta à qualidade da
água para consumo humano. Porém, cabe ao Setor Saúde, por meio da vigilância da
qualidade da água, a função precípua de agir continuadamente visando garantir que a
água consumida pela população atenda ao padrão de potabilidade e às normas
estabelecidas na legislação vigente, bem como avaliar os riscos que a água consumida
representa para a saúde humana. Os procedimentos de vigilância devem ser
sistematicamente conduzidos em articulação com os diferentes setores afetos à qualidade
da água para consumo humano, a exemplo dos prestadores de serviços, o setor
ambiental e os próprios usuários da água.
Em termos da presença de contaminantes na água, notadamente as substâncias
químicas nos mananciais de abastecimento e potencialmente na água utilizada para
consumo humano, é necessário que os distintos setores relacionados aos usos da água
trabalhem de maneira conjunta e coordenada, visando à proteção do ambiente aquático e
dos cidadãos perante os efeitos deletérios das substâncias químicas. Esse trabalho
conjunto pressupõe, dentre outros, o desenvolvimento de modelos de uso e gestão dos
recursos hídricos, capazes de compatibilizar as demandas crescentes com a relativa
escassez do produto, sobretudo na qualidade requerida para o uso, assim como o
estabelecimento de padrões para o lançamento de efluentes industriais em corpos d’água
e o padrão de potabilidade da água para consumo humano.
Na formulação do padrão de potabilidade para substâncias químicas que oferecem
risco à saúde humana, são definidos os parâmetros químicos de interesse e seus
respectivos Valores Máximos Permitidos (VMPs). Na última revisão da legislação de
potabilidade (revisão da Portaria GM 36/1990 e publicação da Portaria MS 1469/2000,
republicada em 2004 como Portaria MS 518), os VMPs adotados foram, praticamente,
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aqueles sugeridos pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1995). Em alguns casos,
foram estabelecidos VMPs próprios, de acordo com a metodologia de avaliação de risco
(BASTOS et al., 2001). Alguns autores têm questionado a atualidade do padrão de
potabilidade brasileiro para substâncias químicas que oferecem risco à saúde, em virtude
dos avanços do conhecimento científico e da publicação dos novos guias da OMS (WHO,
2004).
A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento sustentável, tal como concebido no Relatório Brundtland, é
aquele “que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades”. Esta
genérica formulação conceitual de desenvolvimento sustentável engloba em si outros dois
conceitos fundamentais: i) o conceito de ‘necessidades’, em particular as necessidades
essenciais dos pobres, às quais se deveria outorgar prioridade preponderante; e ii) a idéia
de limitações impostas pelo estado da tecnologia e pela organização social entre a
capacidade do meio ambiente para satisfazer as necessidades presentes e as futuras.
Além disso, tal conceito implica uma transformação progressiva da economia e da
sociedade, aumentando o potencial produtivo e assegurando a igualdade de
oportunidades para todos (SACHS, 1986; MINAYO, 2002).
Segundo Soares e Ferreira (2004), a crise ecológica atual significa uma novidade
radical na história da humanidade; novidade esta no sentido do caráter global e
irreversível das alterações causadas à ecosfera pelas práticas produtivas baseadas no
excessivo consumo de recursos naturais. Essa problemática ambiental tem sido analisada
como uma crise de civilização e pode ser entendida sob diversas perspectivas. Por um
lado, como o resultado da pressão populacional sobre os finitos recursos do planeta e, por
outro, como o efeito da acumulação do capital e da maximização das taxas de ganhos no
curto prazo, gerando modelos tecnológicos que exploram os recursos naturais.
Como conseqüência imediata desse processo acentua-se a emergência de
problemas macroecológicos dos quais, entre outros, destaca-se a contaminação química
da água e dos alimentos, assim como o esgotamento da base dos recursos não
renováveis. Assim, a crise ambiental põe em xeque o mito do desenvolvimentismo e
mostra o lado oculto da racionalidade econômica dominante.
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De uma forma geral, a humanidade vive uma época em que se acentuam as
alterações sobre o ambiente e se modificam os processos sociais em escala global, com
tal magnitude que os riscos aumentam mais rapidamente que nossa capacidade para
controlá-los. A partir disso, foi generalizada e internalizada, nas sociedades
contemporâneas, a síndrome do câmbio global assentada em três aspectos principais: i) a
síndrome da ameaça à seguridade global, derivada da destruição do meio ambiental e
que ameaça a viabilidade do sistema econômico mundial e a sobrevivência humana; ii) a
síndrome dos limites ao crescimento, ao reconhecer-se a impossibilidade do crescimento
material ilimitado dentro de um planeta finito; e iii) a síndrome da interdependência entre
pobreza e riqueza, resultante da intrincada inter-relação entre meio ambiente e
desenvolvimento humano (CAPORAL & CASTABEBER, 2000; LEFF, 2001).
Os conceitos chaves que propiciam essa integração são a sustentabilidade e a
globalidade, constituindo-se estes nas novas idéias-força que servem para impulsionar os
enfoques integradores entre meio ambiente e saúde pública, assim como, de forma
paralela, entre economia, ecologia, desenvolvimento e sustentabilidade.
USOS E POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS POR SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS
Hoje em dia há uma grande preocupação com os resíduos no ambiente. Não mais
com os danos relacionados a belezas naturais e a proteção de animais em extinção, mas
com a sobrevivência da humanidade (COLBORN, DUMANOSKI & MYERS, 1996).
Os ambientalistas preocupam-se com a garantia da qualidade da água existente
no planeta, bem não renovável e que, a cada ano, diminui suas reservas em função do
aumento de descargas de poluentes em rios, lagos e mares.
A maioria dos contaminantes presentes em águas subterrâneas e superficiais,
devidos à atividade humana, está relacionada às fontes industriais e agrícolas. A
variedade é enorme, e os mais importantes são os metais pesados (como chumbo,
arsênio, cádmio e mercúrio); agrotóxicos (nitratos, compostos organoclorados,
organofosforados ou carbamatos) e compostos orgânicos voláteis (como produtos
combustíveis e solventes halogenados) (HU & KIM, 1994). Ainda em relação aos
contaminantes industriais, dados indicam que entre 300 e 500 milhões de toneladas de
metais pesados, solventes, lixo tóxico e outros dejetos se acumulam, anualmente no
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mundo, nas fontes de água, como conseqüência de processos industriais (CLARKE &
KING, 2005).
Em relação aos agroquímicos, é preciso ressaltar que antes da década de 1940 os
agricultores viviam de monocultura (café ou cana) ou de policultura, e administravam os
problemas decorrentes do sistema produtivo mediante a rotação de culturas e o controle
biológico de pragas, conduzidos pela diversidade de espécies reinantes nesse
ecossistema (CAPORAL & CASABEBER, 2000).
Os agroquímicos provenientes da síntese química mudaram radicalmente a forma
de produzir na agricultura. Se por um lado houve um aumento significativo da
produtividade agrícola, por outro a agricultura passou a ser dependente de insumos
produzidos fora de seu circuito, como por exemplo, os fertilizantes e pesticidas.
Em função das inovações de produtos surgidas ao longo de décadas, o termo
‘pesticida’ foi agregando uma série de substâncias destinadas a prevenir, destruir, repelir
ou mitigar quaisquer insetos, roedores, nematóides, fungos, ervas daninhas ou outras
formas de vida declaradas como ‘pestes’. Com as inovações referidas, incluíram-se nessa
categoria substâncias que são usadas como reguladores de crescimento, os
desfolhantes.
Todo pesticida, independentemente de sua complexidade, tem pelo menos um
ingrediente ativo que age diretamente sobre a peste ao qual se destina. A mistura deste a
um ou mais ingredientes ativos é feita mediante os chamados ‘inertes’, constituindo,
assim, uma formulação particular de pesticida.
Nos Estados Unidos, o uso de fertilizantes sintéticos cresceu 50% entre os anos
de 1940 e 1944, e manteve essa faixa de crescimento por mais 40 anos. O consumo dos
pesticidas sintéticos cresceu significativamente após a Segunda Guerra Mundial, e entre
os anos de 1964 a 1984, cresceu 170% em termos de peso. Os herbicidas passam a ser
os mais importantes pesticidas. Atualmente respondem, em termos de peso, por 69% da
venda dos ingredientes ativos e 78% em termos de área em que pesticidas são
pulverizados (CAPORAL & CASTABEBER, 2000; LEFF, 2001).
Dados do Ministério do Meio Ambiente (2003) relatam o Perfil Nacional da Gestão
de Substâncias Químicas. Dentre a amplitude de informações referenciadas no
documento, quanto aos agrotóxicos, o Brasil é o quarto maior consumidor mundial. O
consumo nacional de agrotóxicos em 2000 foi de 131.970 toneladas, incluídos os
herbicidas, inseticidas, fungicidas e acaricidas, os reguladores de crescimento,
feromônios, bactericidas e moluscicidas.
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Já as substâncias naturais ou químicas capazes de interferir no sistema endócrino
de organismos vivos, afetando sua saúde, seu crescimento e sua reprodução, são
chamadas de perturbadores ou disruptores ou interferentes ou desreguladores
endócrinos. São eles os androgênios, os estrogênios, as progesteronas e alguns
hidrocarbonetos aromáticos Essa interferência pode ocorrer no nível de sítios receptores
da célula, ou seja, a célula reconhece a molécula mimetizada como verdadeira, aceitando
o seu encaixe e produzindo os efeitos pertinentes a essa reação. Assim, ocorre alteração
no nível de produção hormonal, para mais ou para menos, dependendo da substância, e
observam-se modificação nas funções que esses hormônios desempenham normalmente
no organismo (RIBEIRO et al., 2006).
A partir da década de 1990, o interesse pelo estudo de efeitos adversos
decorrentes da interação de contaminantes ambientais com organismos vivos teve grande
crescimento com a perspectiva de problemas ecológicos identificados pela detecção na
ordem de ng/L e µg/L dessas substâncias em águas superficiais, de subsolo e em
sedimentos naturais de rios, mares e lagos (WANG et al., 2002; LAMBROPOULOU &
ALBANIS, 2004).
A exposição de animais e humanos a essas substâncias tem demonstrado indícios
de alterações hormonais pela feminilização de peixes de rios e de invertebrados marinhos
e por alterações nos órgãos de reprodução de jacarés e ursos polares expostos a águas
contaminadas. Há dados sobre a contaminação da população brasileira com esses
interferentes e a possibilidade de a má formação do aparelho reprodutor ser decorrente
da exposição a perturbadores endócrinos (MEYER, SARCINELLI & MOREIRA, 1999;
RITTLER & CASTILLA, 2002; MAXIMIANO et al., 2005).
Os perturbadores endócrinos possuem vários mecanismos que dificultam a sua
eliminação do corpo de organismos vivos. São eles: i) Acumulação – é a capacidade de
se depositarem em tecidos animais e alcançarem níveis de concentração bastante altos e
danosos ao ser vivo; ii) Persistência – é a capacidade de tais substâncias levarem muitos
anos para serem biodegradadas; iii) Sinergia – é a capacidade de várias substâncias se
misturarem e produzirem efeitos potencializados; e iv) Conjugação – é a capacidade de
se ligarem a proteínas e circularem com elas na corrente sangüínea, o que impede sua
eliminação e mantém a concentração da substância no organismo por um longo tempo
(RITTLER & CASTILLA, 2002; MAXIMIANO et al., 2005).
A exposição aos perturbadores endócrinos pode se dar de forma direta ou indireta.
De maneira direta, quando o contato com a substância ocorre através: i) da ingestão de
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água e alimentos contaminados; ii) do contato com a substância no solo; e iii) do uso de
inseticidas domésticos. De maneira indireta, quando o contato com a substância ocorre
por meio: i) de alimento consumido de embalagens revestidas com essas substâncias
(bisfenol A e ftalatos); ii) do contato com materiais feitos de PVC; e iii) do aleitamento
materno.
Hoje se reconhece que a água utilizada para consumo humano pode ser uma
fonte de exposição a essas substâncias, pois os processos convencionais de tratamento
não são capazes de remover muitos desses resíduos (EPA, 1998; WHO, 2004).
De todo o exposto, é inquestionável que o crescimento na produção e consumo de
substâncias químicas no país, a presença de novos contaminantes orgânicos e
inorgânicos persistentes no ambiente e as estratégias normalmente utilizadas para a
definição do padrão de potabilidade, entre outros, refletem a importância de que a
legislação brasileira de potabilidade seja permanentemente avaliada e atualizada.
LEGISLAÇÔES RELACIONADAS AO USO E À QUALIDADE DAS ÁGUAS
Os requisitos de qualidade de uma água são estabelecidos em função de seus
usos previstos. Assim, por exemplo, as águas destinadas ao abastecimento para
consumo humano devem ser isentas de organismos e substâncias químicas prejudiciais à
saúde, adequadas para serviços domésticos, de baixa agressividade e dureza e
esteticamente agradáveis (baixa turbidez, cor, sabor e odor).
A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) 357/2005, que
substituiu a Resolução 20/1986, dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e
padrões de lançamento de efluentes.
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos foi efetivamente
criado por meio da Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que, após nada menos que sete
anos de tramitação no Congresso Nacional, também instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos. A água passa, então, a ser considerada legalmente como um bem de
domínio público, dotado de valor econômico e cujo uso prioritário, em situações de
escassez, deve ser o consumo humano e animal. Essa nova lei contemplou, também,
uma concepção avançada da gestão da água, levando em consideração as suas múltiplas
finalidades, bem como a definição da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e
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gestão, entre outros aspectos.
Quanto à poluição dos corpos hídricos, a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998
(Lei de Crimes Ambientais), dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de conduta e atividades lesivas ao meio ambiente. Seu artigo 33 determina pena de
detenção ou multa para quem provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de
materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos,
açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras, incorrendo nas mesmas penas
aquele que, segundo o artigo 54, causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.
Em termos da legislação para a água de consumo humano, a Portaria MS 518
(BRASIL, 2004) estabelece os procedimentos e responsabilidades, relativos ao controle e
vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. O
conteúdo dessa legislação é basicamente o mesmo que constava na Portaria MS 1.469
(BRASIL, 2000). Importantes avanços foram alcançados com a publicação da Portaria
1.469, em termos de atualidade técnica e científica, assim como em relação ao seu
caráter de efetivo instrumento de controle e vigilância da qualidade da água para
consumo humano (BASTOS et al., 2001). Ressalta-se, entretanto, que a publicação dos
guias mais recentes da OMS (WHO, 2004) e a preocupação recente da comunidade
científica internacional quanto à presença de novos contaminantes orgânicos e
inorgânicos nas águas, sinalizam a importância de que os atuais parâmetros químicos da
legislação nacional sejam revistos (BASTOS et al., 2004; HELLER et al., 2005; LIBÂNIO,
2005; PINTO et al., 2005).
EVOLUÇÃO DO PADRÃO DE POTABILIDADE BRASILEIRO
A primeira legislação definindo o padrão de potabilidade brasileiro foi a Portaria 56,
publicada em 1977, após o estabelecimento, por meio do Decreto Federal 79.367/1977,
da competência do Ministério da Saúde para legislar sobre normas e padrão de
potabilidade da água para consumo humano, bem como fiscalizar o cumprimento da
legislação em todo o país, em articulação com as Secretarias Estaduais e do Distrito
Federal.
Em 1986, o Ministério da Saúde implementou o Programa Nacional de Vigilância
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de Qualidade de Água para Consumo Humano, incluindo entre suas metas a revisão da
Portaria BSB 56/1977 diante do avanço do conhecimento científico. Dessa forma,
passados mais de dez anos de vigência da primeira legislação nacional, iniciou-se um
processo de revisão da legislação, envolvendo representantes das áreas de saúde,
saneamento, meio ambiente e universidades, resultando na publicação da Portaria 36
GM, em 19 jan. 1990 (BRASIL, 1990), na qual reconhecidos avanços puderam ser
identificados (FORMAGGIA et al., 1996; RAZZOLINI & NARDOCCI, 2006).
Passados outros dez anos, consolidava-se o reconhecimento da necessidade de
atualização da Portaria 36, no sentido de uma melhor delimitação de alcance da
legislação e de atribuição de responsabilidades inerentes ao controle e à vigilância da
qualidade da água para consumo humano, somado a uma já natural defasagem do
padrão de potabilidade, em relação aos novos avanços do conhecimento científico
(FORMAGGIA et al., 1996; BASTOS, 2003). Em maio de 2000, o Ministério da Saúde
desencadeou o processo de revisão da Portaria 36, consubstanciado em um amplo
processo de consulta pública, culminando na publicação da legislação em vigor – a
Portaria MS 1.469, de 29 dez. 2000 (BRASIL, 2000), republicada, mas mantida em
essência, como Portaria MS 518, de 25 mar. 2004 (BRASIL, 2004).
O atual padrão de potabilidade é composto por: i) padrão microbiológico; ii) padrão
de turbidez para a água pós-filtração ou pré-desinfecção; iii) padrão para substâncias
químicas que representam risco à saúde (inorgânicas, orgânicas, agrotóxicos,
desinfetantes e produtos secundários da desinfecção); iv) padrão de radioatividade; e v)
padrão de aceitação para consumo humano.
Na passagem da Portaria 56/1977 à Portaria 36/1990, e mesmo à Portaria
1.469/2000, foram relativamente poucas as alterações, em termos de número de
substâncias inorgânicas que afetam a saúde e a aceitação para consumo. Entretanto, em
relação às substâncias orgânicas e aos agrotóxicos, várias substâncias foram
incorporadas à Portaria 36 e à Portaria 1.469 (atual 518) (BASTOS, 2003), conforme se
depreende da Figura 1.
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Ainda tomando por base a Figura 1, verifica-se a inserção de um bom número de
substâncias orgânicas, em função do lapso de tempo decorrido entre as versões da
legislação nacional e a velocidade da indústria de orgânicos e agrotóxicos no lançamento
de novos produtos. Assim é que de 1977 a 2000, várias substâncias e princípios ativos
ganharam mercado no país embora ainda não fossem objeto de legislação. Por sua vez, o
avanço do conhecimento científico permite melhor avaliar as evidências toxicológicas e
epidemiológicas dos riscos à saúde associados às substâncias químicas, orientando,
conseqüentemente, a atualização dos VMPs. Um exemplo claro é a inclusão, na Portaria
36, dos trihalometanos, um subproduto da cloração, e a inserção, na Portaria 1469, de
subprodutos de outros desinfetantes, tais como o clorito (dióxido de cloro) e o bromato
(ozônio) (BASTOS, 2003).
A experiência internacional (com destaque para os Guias da OMS) disponível para
a inclusão de novas substâncias e o estabelecimento dos respectivos VMPs é utilizada,
usualmente, como diretriz para a legislação brasileira (HELLER et al., 2005).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em termos de desafios e perspectivas para atualização do padrão de potabilidade
químico, depreende-se que é inequívoca a necessidade de desenvolver estudos
relacionados ao tema, sobretudo no que se refere ao conhecimento mais detalhado sobre
a intensidade de uso das substâncias químicas no país e à pertinência do atual padrão de
potabilidade químico para a água de consumo humano.
Os guias da OMS têm sido a principal referência mundial na elaboração de
legislações afetas à qualidade da água para consumo humano, em todo o mundo. Essa
legitimidade conquistada pelos guias, ao longo dos anos, reafirma a importância de que
as autoridades de saúde pública nacionais estejam alerta para as novas tendências
internacionais expressas no documento, quando da atualização de suas legislações.
Alguns desafios e perspectivas descortinam-se, atualmente, numa potencial
revisão do padrão de potabilidade brasileiro, para as substâncias químicas que oferecem
risco à saúde humana: i) Estabelecimento de um estudo comparativo entre o atual padrão
de potabilidade brasileiro de substâncias químicas e os valores sugeridos pelos Guias da
OMS, e também com os valores propostos pela EPA; ii) Sistematização e análise das
informações disponíveis na literatura nacional e junto aos atores correspondentes, sobre a
comercialização e intensidade de uso das substâncias químicas no país; iii)
Sistematização e análise das informações disponíveis na literatura nacional sobre a
ocorrência de contaminantes químicos em mananciais de abastecimento de água e em
água distribuída para consumo humano; iv) Estudos sobre a pertinência de manutenção
dos atuais parâmetros químicos contemplados na legislação nacional e seus VMPs; v)
Estabelecimento de discussões acerca da utilização de (bio)indicadores na avaliação da
qualidade da água, em termos de sua toxicidade, a partir de estudos de caso.
A intensidade com que a degradação do meio natural tem atingido os seres
humanos introduz a discussão sobre a necessidade de um novo modelo de
desenvolvimento. Isso se verifica na produção agrícola e industrial, no planejamento da
infra-estrutura de transportes e energia, no abastecimento de água e esgotos e na
organização das cidades. A escassez, a poluição e a miséria indicam a urgência de
mudanças. A ênfase no controle deve se deslocar para a construção conjunta do
desenvolvimento sustentável, ou seja, deve-se incorporar a variável ambiental na
estratégia das políticas públicas para o desenvolvimento do país.
A concretização de um novo modelo de desenvolvimento exige ações que
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contribuam para fortalecer e habilitar os órgãos e as entidades responsáveis pelo
planejamento, regulação, gestão e execução das políticas públicas. É fundamental
também que as questões ambientais sejam vivenciadas no âmbito local, onde os danos
ocorrem e onde podem ser geradas e implementadas as soluções.
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1
2007 STATE OF THE WORLD: OUR URBAN FUTURE
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Silvia Fazzolari Corrêa
Bióloga, Doutora em Ciências, Professora da Área de Meio Ambiente e Saúde do Centro Universitário Senac,
Consultora em Avaliação e Planejamento Ambiental; silvia.fcorrea@sp.senac.br
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WORLDWATCH INSTITUTE: O QUE É?
O Worldwatch Institute (WWI) é uma organização independente de pesquisa, cuja
principal missão é trabalhar para o alcance de uma sociedade socialmente justa e
ambientalmente sustentável. Para tal, informa pessoas em todo o mundo sobre as
complexas interações entre o homem, a natureza e a economia, através de análises
acessíveis sobre questões globais críticas. O WWI enfoca as causas subjacentes e
soluções práticas para problemas mundiais, com o intuito de inspirar populações a
demandar novas políticas, padrões de investimentos e alternativas de modos de vida.
Desde a publicação do primeiro Worldwatch Paper, em 1975, o Instituto ampliou a
discussão sobre assuntos ambientais e sociais, analisando-os sob uma perspectiva global
e interdisciplinar. A partir daí, publica diferentes periódicos, entre os quais se destaca o
livro anual Estado do mundo, cujo primeiro volume foi editado em 1984, em resposta à
crescente demanda por pesquisas orientadas para as políticas sócio-ambientais e
econômicas.
Essa série visa acompanhar o progresso geral de sociedades na direção da
sustentabilidade, monitorando as mudanças na base global de recursos (terra, água,
energia e sistemas biológicos de suporte) e como tais mudanças afetam a economia. De
outro lado, levanta processos alternativos exitosos no enfrentamento de problemas,
adotados nas mais variadas regiões do mundo, que servem de exemplos para a tomada
de decisão.
Em 1984, estavam na pauta do Estado do mundo temas como a estabilização da
população, a redução da dependência do petróleo, o desenvolvimento de energias
renováveis e a garantia dos suprimentos de alimentos, entre outros. Esses assuntos já
eram preocupantes há mais de vinte anos, e estão presentes atualmente em todas as
formas de mídia, após a constatação da responsabilidade humana sobre o aumento da
camada de gases do efeito estufa e suas conseqüências extremamente adversas aos
sistemas vigentes.
Ao entrar em sua terceira década, o Estado do mundo teve uma edição especial:
“A sociedade do consumo” (2004), em que se examinou como nós consumimos, por que
consumimos e quais impactos as nossas escolhas de consumo têm sobre o planeta e
sobre nossos colegas humanos.
Em 2005, as pesquisas do WWI exploraram as origens subjacentes da
insegurança global, apontando por que o terrorismo é apenas um sintoma de um conjunto
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muito mais amplo e complexo de problemas que requer mais do que uma resposta militar.
Foram evidenciadas as implicações oriundas da pobreza, das doenças infecciosas e da
degradação ambiental, e a crescente competição por petróleo e outros recursos.
No atual cenário de desenvolvimento, destacam-se a China e a Índia, por suas
elevadas taxas de crescimento econômico e populacional. O Estado do mundo de 2006,
considerando que esses países são grandes consumidores de recursos e geradores de
resíduos poluentes, explica a necessidade de ambos adotarem tecnologias de ponta e
novas políticas para salvaguardar a sustentabilidade global, e mostra algumas estratégias
que a China e a Índia já começaram a implementar.
O volume de 2007, “Nosso Futuro Urbano”, enfoca os incontáveis modos como a
urbanização afeta nossas vidas e o meio ambiente global. Também traz à tona idéias que
podem tornar as cidades ambientalmente sustentáveis e mais saudáveis para se viver.
NOSSO FUTURO URBANO: COMO SERÁ?
Em algum momento de 2008, de acordo com as projeções da Organização das
Nações Unidas (ONU), mais da metade da população mundial estará concentrada nas
áreas urbanas. Foram necessários cerca de 11 mil anos, desde as primeiras
aglomerações humanas resultantes do desenvolvimento de atividades agropecuárias,
para que esse contingente de 3,2 bilhões de pessoas se estabelecesse em cidades.
E as cidades têm crescido extraordinariamente rápido. Em 1950, apenas Nova
York e Tóquio possuíam mais de 10 milhões de habitantes; atualmente, há 20 mega-
cidades, grande parte na Ásia e na América Latina. Por volta de 2015, serão 377 cidades
com populações entre um e cinco milhões de pessoas, das quais 253 apenas na Ásia; em
2030, calcula-se que quatro em cinco moradores urbanos estarão no que hoje chamamos
de países em desenvolvimento.
Esse acentuado crescimento urbano no mundo em desenvolvimento invoca
desafios consideráveis, posto que aproximadamente um bilhão de pessoas já vivem em
favelas ou assentamentos precários, sem uma ou mais de suas necessidades básicas
atendidas: água limpa, saneamento, espaço de vida suficiente, moradias duráveis e
garantia de posse.
Os desafios são equivalentes ao nível de atividade econômica das cidades.
Naquelas onde predomina a baixa renda, os habitantes enfrentam problemas ambientais
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cotidianamente, enquanto residentes urbanos com maior rendimento causam problemas
ambientais que não são vivenciados por eles rotineiramente. Um estudante universitário
em Denver, Colorado, contribui mais para o aquecimento global ao dirigir seu carro todos
os dias para ir ao campus do que um estudante que pega o ônibus diariamente para ir à
Universidade dos Andes, em Bogotá, Colômbia. Experiências individuais como essa
correspondem a diferenças estatísticas entre cidades de baixo, médio e alto rendimento.
Paradoxalmente, as cidades com médio e alto rendimento têm perdido sua visão
de natureza, justamente quando aumentam sua dependência dela, em razão do
crescimento do consumo e da globalização. Mercados cada vez mais amplos conseguem
superar uma quebra de safra em determinada região comercializando o mesmo produto
de outra fonte; assim, o consumidor urbano fica distante das variações da produção. Ao
mesmo tempo, tem-se uma erosão das características distintivas das cidades, já que, à
medida que se tornam mais prósperas, seus habitantes compram bens do mundo inteiro e
investem em companhias globais.
Separar as cidades apenas pelo seu rendimento é uma drástica simplificação.
Uma diferença fundamental é o desequilíbrio na distribuição de renda, o que não é
contemplado quando se enfoca apenas a renda média. Além desse fator, o
desenvolvimento histórico de variadas comunidades mostra que ser pobre não significa,
necessariamente, ter altos riscos à saúde e más condições ambientais, como
demonstram algumas bem-sucedidas experiências de organização comunitária em um
pequeno número de favelas.
Ainda assim, cidades pobres cujas populações aumentam desenfreadamente,
grosso modo têm de enfrentar a piora nas condições ambientais e de saúde, geralmente
sem a equivalente melhoria do rendimento local. Elas podem não ser capazes de arcar
com os altos custos de soluções a longo prazo, como sistemas de tratamento de água
para abastecimento e coleta de esgoto espalhados por toda a cidade.
Para populações pobres, os serviços da natureza, como a produção de água, por
exemplo, são caros e difíceis de obter. Um levantamento da Organização Mundial de
Saúde, em 2000, feito em 116 cidades da África, mostrou que apenas 43 por cento da
população tem água encanada. E essa fração está declinando, à medida que mais
pessoas se estabelecem nas áreas urbanas e que há incapacidade de aumentar os
serviços de abastecimento, por razões diversas como falta de manutenção dos sistemas,
corrupção e exaustão das fontes por super-exploração. Ainda assim, pessoas continuam
precisando de água para beber, cozinhar, lavar e se banhar.
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Sob esse ângulo, as cidades parecem ser o problema, e não a solução: o número
de pessoas em favelas aumenta consideravelmente e a poluição industrial das economias
em rápido crescimento deteriora a água e o ar. Ainda assim, o fluxo migratório para as
cidades não vai parar ou sequer diminuir, em parte porque as oportunidades econômicas
são melhores nas cidades, mesmo para a maioria dos pobres.
Em outra perspectiva, a urbanização pode propiciar oportunidades cruciais para
harmonizar padrões de vida com os ritmos da natureza. As cidades oferecem economia
de escala para a reciclagem de água e materiais, e para o uso eficiente de energia. Ainda
hoje, cidades ricas usam recursos de forma insustentável, enquanto o alto consumo está
longe do alcance dos moradores de favelas. Assim, achar modos de criar melhores
assentamentos urbanos em todas as sociedades é ponto fulcral para o desenvolvimento
sustentável.
Um dos principais enfrentamentos necessários é considerar os chamados
‘problemas dos comuns’ (tragédia dos comuns)1 para o gerenciamento efetivo dos
ecossistemas que dão suporte às cidades. Há poucos limites para aquilo que pode ser
alcançado quando pessoas trabalham juntas para seu benefício mútuo.
Desde 1800 as pessoas têm formado cooperativas com o intuito de preencher uma
vasta gama de necessidades locais. Cooperativas de produtores, consumidores,
trabalhadores e de âmbito social existem em praticamente todos os países. Considerando
o crescimento da urbanização, as cooperativas constituem importante estratégia baseada
na comunidade para reduzir a pobreza.
Nas cidades, as cooperativas de trabalhadores – negócios pertencentes e
controlados pelos empregados – são a forma mais comum. Geralmente criadas com o
intuito de gerar empregos para si mesmos e para suplantar barreiras do mercado de
trabalho, tais como preconceitos de raça, gênero ou etnia, as cooperativas historicamente
têm conseguido não apenas ultrapassar a pobreza de seus cooperados, mas também
manter o crescimento de vantagens econômicas que não seriam alcançadas
individualmente. Somado a isso, as cooperativas exercem importante papel no
fortalecimento dos tecidos sociais locais, construindo coesão entre os membros da
comunidade e melhor equilíbrio na distribuição dos recursos. Em grande parte, o meio
ambiente atinge melhorias significativas, em conseqüência do aumento da qualidade de
vida.
Organizações comunitárias têm conseguido, muitas vezes, suprir alguns serviços
sociais e públicos; por exemplo, uma organização não-governamental do Paquistão, o
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Projeto Piloto Orangi, conseguiu demonstrar que é possível instalar bons serviços de
esgotos individualizados para cada casa, mesmo em cidades de baixa renda, com pleno
retorno do investimento. Essa ONG foi formada em 1980, para dar suporte a novos
modelos de infra-estrutura e serviços na comunidade de Orangi, um grande adensamento
de habitações informais em Karachi, que tem agora cerca de 1,2 milhão de habitantes.
Desde então, seu trabalho se expandiu para outras áreas de Karachi, e dá assistência a
várias organizações parceiras que trabalham em outros centros urbanos do Paquistão.
Dar voz aos pobres para solucionar questões locais é um grande passo para
conquistar as necessidades básicas do presente, um dos dois critérios para o
desenvolvimento sustentável. Porém, a sustentabilidade a longo prazo requer mais: é
preciso mover instituições e infra-estrutura para formatos que também protejam a
capacidade das futuras gerações em satisfazer suas próprias necessidades. Existem
iniciativas promissoras principalmente em países de alta renda, mas ainda há muito por
fazer.
A despeito dos obstáculos, a energia e a criatividade nas cidades geraram
inovações desafiadoras, muitas das quais se espalharam de um lugar para outro ou, em
havendo abertura política, foram adotadas como políticas públicas. Um exemplo
interessante foi a organização de federações de pobres urbanos, iniciada em Mumbai,
Índia, no início da década de 1980, quando alguns líderes comunitários de favelas
demonstraram a capacidade de seus grupos abaixarem custos e alcançaram mais
pessoas com seu modo próprio de habitação e programas de serviços básicos. Também
na década de 1980, uma outra inovação importante foi implementada na Tailândia, com a
parceria entre ONGs e arquitetos da Autoridade Nacional de Habitação, os quais
conseguiram organizar residentes de loteamentos informais que seriam despejados para
negociar com os proprietários das terras que ocupavam; desta forma, os ocupantes
puderam se estabelecer em parte da propriedade com a infra-estrutura adequada e
garantia de posse, enquanto o restante pôde ser utilizado para a implantação de serviços,
poupando ao proprietário anos em disputas e perdas de lucros. Uma terceira notável
inovação foi o orçamento participativo, que começou em Porto Alegre, Brasil, quando o
governo municipal, apoiado na Constituição de 1988, pós-ditadura, envolveu os pobres
urbanos no estabelecimento de prioridades para os investimentos em nível comunitário.
Estes três exemplos foram ampliados e expandidos, com conseqüências marcantes nas
políticas públicas dos países de origem e também internacionalmente, como no caso do
orçamento participativo.
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Para o nosso futuro urbano, enfim, há necessidade de, pelo menos, três grandes
mudanças. A primeira é reconhecer o papel das cidades não apenas como centros do
capital, da informação, e das bases de corporações em um mundo globalizado, mas como
locais onde habitam pessoas, grande parte em condições de pobreza. Nesse sentido, à
medida que a população mundial se move para as cidades, as agendas dos governos
nacionais, agências de ajuda, fundações, centros de pesquisa e grupos sem fins
lucrativos devem refletir essa realidade.
A segunda grande mudança é a criação de modos sistemáticos para averiguar o
progresso e medir a produção das cidades. Sem indicadores confiáveis e passíveis de
comparação sobre a pobreza e as condições ambientais não se pode saber se há real
progresso nem se pode comparar práticas e políticas diferentes. Esse desafio se faz notar
na atual discussão sobre a eficiência de investimentos em variados projetos sócio-
ambientais mediados por ONGs de diferentes envergaduras. A troca de informações é
especialmente essencial entre aqueles que estão mais diretamente ligados à luta contra a
pobreza urbana e entre os próprios pobres urbanos. É tempo de sair da posição NIMBY
(not in my backyard = não no meu quintal) ou NOPE (not on planet earth = não no planeta
terra) e reconhecer que todos os produtos secundários (by-products) acabam no quintal
de alguém e na atmosfera que envolve a todos.
A terceira mudança básica relaciona-se às pessoas que estão em posições de
poder, que precisam ouvir as porções mais vulneráveis da população, sobretudo jovens e
mulheres. As cidades do futuro pertencem às crianças de hoje, embora os interesses
dessas crianças ainda não estejam salvaguardados por esforços municipais. As cidades
poderiam adotar programas que colocassem os jovens em contato com esportes e artes,
por exemplo, onde pudessem desenvolver excelências e se sentir parte de alguma coisa
que valha a pena. O Programa Afro-Reagge, no Rio de Janeiro, começou na favela
Vigário Geral usando percussão, dança e canto que expressavam a realidade da
comunidade para atrair os mais jovens, construir solidariedade e desenvolver análise
crítica sobre sua situação. Esse trabalho ajudou a desbaratar uma guerra de drogas com
a favela adjacente, e se espalhou por outras comunidades.
A menos que passemos da concepção de ‘nós’ como ‘eu e minha família’ para
‘nós’ como ‘minha comunidade, minha cidade, meu país, meu planeta’, a lacuna entre as
metas de desenvolvimento e a sustentabilidade continuará a crescer.
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Nas palavras da anciã aborígene australiana Lilla Watson: “Se você veio para me
ajudar, você está desperdiçando seu tempo. Mas se você veio porque sua liberdade se
coaduna à minha, então vamos trabalhar juntos”.
NOTA 1 A ‘tragédia dos comuns’ é um tipo de armadilha social que envolve o conflito sobre
recursos entre interesses individuais e o bem comum. O termo deriva originalmente de um
texto de William Forster Lloyd sobre população, de 1833, e tornou-se amplamente
conhecido graças a um ensaio de Garrett Hardin publicado na revista Science, em 1968.
1
A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR
Arline Sydneia Abel Arcuri
Pesquisadora da Coordenação de Higiene do Trabalho, Divisão de Agentes Químicos, da Fundacentro;
arline@fundacentro.gov.br
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A Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador
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A proposta de construção de uma Política Nacional de Saúde e Segurança do
Trabalhador (PNSST) nasceu da necessidade de garantir que o trabalho, base da
organização social e direito humano fundamental, seja realizado em condições que
contribuam para a melhoria da qualidade de vida e a realização pessoal e social dos
trabalhadores, sem prejuízo para sua saúde e integridade física e mental.
Para estruturar a articulação intragovernamental visando à elaboração da proposta
de PNSST estabeleceu-se um Grupo de Trabalho, instituído pela Portaria Interministerial
no 153, de 13 de fevereiro de 2004, e prorrogado pela Portaria Interministerial no 1.009, de
17 de setembro de 2004, com as seguintes atribuições:
a) reavaliar o papel, a composição e a duração do Grupo Executivo Interministerial
em Saúde do Trabalhador – Geisat (instituído pela Portaria Interministerial
MT/MS/MPAS nº 7, de 25 de julho de 1997);
b) analisar medidas e propor ações integradas e sinérgicas que contribuam para
aprimorar as ações voltadas para a segurança e a saúde do trabalhador;
c) elaborar proposta de Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador,
observando as interfaces existentes e ações comuns entre os diversos setores
do governo;
d) analisar e propor ações de caráter intersetorial referentes ao exercício da
garantia do direito à segurança e à saúde do trabalhador, assim como ações
específicas da área que necessitem de implementação imediata pelos
respectivos Ministérios, individual ou conjuntamente; e
e) compartilhar os sistemas de informações referentes à segurança e saúde dos
trabalhadores existentes em cada Ministério.
A Portaria Interministerial no 800 colocou em 3 de maio de 2005, para consulta
pública, o texto base da Minuta de Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalho
(PNSST), elaborada pelo Grupo de Trabalho. Essa portaria foi expedida pelos ministros
de Estado da Previdência Social, da Saúde e do Trabalho e Emprego. Na introdução
desse documento há o reconhecimento de que
Para que o Estado cumpra seu papel na garantia dos direitos básicos de
cidadania é necessário que a formulação e implementação das políticas e
ações de governo sejam norteadas por abordagens transversais e
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intersetoriais. Nessa perspectiva, as ações de segurança e saúde do
trabalhador exigem uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e
intersetorial capaz de contemplar a complexidade das relações produção-
consumo-ambiente e saúde.
Esse documento propõe, portanto, uma Política Nacional de Segurança e Saúde
do Trabalhador (PNSST) que busca superar a fragmentação, desarticulação e
superposição das ações implementadas pelos setores trabalho, previdência social, saúde
e meio ambiente. Pretende considerar também a necessidade de interfaces com as
políticas da área econômica, da agricultura, da indústria e comércio, ciência e tecnologia,
educação e justiça.
No contexto da PNSST o conceito de trabalhador é bastante amplo. Estão
incluídos “todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio
e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de
trabalho, no setor formal ou informal da economia”. Inclui ainda nesse grupo
todos os indivíduos que trabalharam ou trabalham como: empregados
assalariados; trabalhadores domésticos; avulsos; rurais; autônomos;
temporários; servidores públicos; trabalhadores em cooperativas e
empregadores, particularmente os proprietários de micro e pequenas
unidades de produção e serviços, entre outros.
Também são considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades
não remuneradas, participando de atividades econômicas na unidade
domiciliar; o aprendiz ou estagiário e aqueles temporária ou definitivamente
afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou
desemprego.
Sem o enfoque multidisciplinar esse objetivo ficaria prejudicado, tendo em vista a
diversidade de ambientes de trabalho e de tecnologias envolvidas.
A proposta de PNSST traz uma contextualização da população economicamente
ativa com a situação de segurança e saúde do trabalhador no Brasil. Destaca a grande
diversidade da natureza dos vínculos e relações de trabalho e o crescimento do setor
informal e do trabalho precário, o que acarreta baixa cobertura dos direitos previdenciários
e trabalhistas para aos trabalhadores.
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Ainda no levantamento do contexto atual, apresentado, faz-se referência ao fato
de que “No parque produtivo brasileiro observa-se a coexistência de processos de
produção modernos, com adoção de tecnologias e métodos gerenciais sofisticados, ao
lado e complementares a formas arcaicas, artesanais que utilizam técnicas obsoletas”.
Essa constatação leva à seguinte avaliação: “Essa diversidade e complexidade das
condições e ambientes de trabalho dificultam o estabelecimento de prioridades e o
desenvolvimento de alternativas de eliminação e controle dos riscos, incluindo a definição
da forma de intervenção do Estado nos ambientes de trabalho para atenção à saúde”.
Toda essa situação é responsável pelo fato de atualmente as ações
governamentais em segurança e saúde do trabalhador contemplarem praticamente
apenas os trabalhadores registrados em carteira, que representam cerca de um terço da
PEA, principalmente na área urbana. Milhões de trabalhadores rurais, servidores públicos,
trabalhadores do mercado informal, aprendizes e domésticos não têm sido contemplados
pelas ações em segurança e saúde no trabalho.
Há no texto um levantamento das bases legais que estabelecem as diferentes
atribuições dos diversos setores públicos com relação a essa área, as quais levam com
freqüência a ações superpostas.
São várias as diretrizes e estratégias propostas para essa PNSST, como podem
se bem observadas na Tabela 1:
Tabela 1 – Diretrizes e estratégias para a implantação da PNSST
Diretrizes Estratégias
I – Ampliação das ações de
SST, visando a inclusão de
todos os trabalhadores
brasileiros no sistema de
promoção e proteção da saúde
• Elaboração e aprovação de dispositivos legais que garantam
a extensão dos direitos à segurança e saúde do trabalhador para
aqueles segmentos atualmente excluídos.
II – Harmonização das normas
e articulação das ações de
promoção, proteção e
reparação da saúde do
trabalhador
• Instituir um Plano Nacional de Segurança e Saúde do
Trabalhador, pactuado entre os diversos órgãos de governo e da
sociedade civil, atualizado periodicamente;
• Normatizar, de forma interministerial, os assuntos referentes à
Segurança e Saúde do Trabalhador, em matérias que requeiram
ações integradas ou apresentem interfaces entre os diversos
órgãos de governo;
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• Adotar regras comuns de Segurança e saúde do Trabalhador
para todos os trabalhadores, observando o princípio da eqüidade;
• Articular e integrar as ações de interdição nos locais de
trabalho.
III – Precedência das ações de
prevenção sobre as de
reparação
• Eliminar as políticas de monetização dos riscos;
• Adequar os critérios de financiamento e concessão da
aposentadoria especial;
• Estabelecer política tributária que privilegie as empresas com
menores índices de doenças e acidentes de trabalho e que
invistam na melhoria das condições de trabalho;
• Criar linhas de financiamento subsidiado para a melhoria das
condições e ambientes de trabalho, incluindo máquinas,
equipamentos e processos seguros, em especial para as
pequenas e médias empresas;
• Incluir requisitos de SST para outorga de financiamentos
públicos e privados;
• Incluir requisitos de SST nos processos de licitação dos
órgãos da administração pública direta e indireta;
• Instituir a obrigatoriedade de publicação de balanço de SST
para as empresas, a exemplo do que já ocorre com os dados
contábeis.
IV – Estruturação de Rede
Integrada de Informações em
Saúde do Trabalhador
• Padronizar os conceitos e critérios quanto à concepção e
caracterização de riscos e agravos à segurança e saúde dos
trabalhadores relacionados aos processos de trabalho;
• Compatibilizar os Sistemas e Bases de Dados, a serem
partilhados pelos Ministérios do Trabalho, Previdência Social,
Meio Ambiente e Saúde;
• Compatibilizar os instrumentos de coleta de dados e fluxos de
informações;
• Instituir a concepção do nexo epidemiológico presumido para
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho;
• Atribuir ao SUS a competência de estabelecer o nexo
etiológico dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho e
analisar possíveis questionamentos relacionados com o nexo
epidemiológico presumido;
• Incluir nos Sistemas e Bancos de Dados as informações
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contidas nos relatórios de intervenções e análises dos ambientes
de trabalho, elaborados pelos órgãos de governo envolvidos
nesta Política.
V – Reestruturação da
Formação em Saúde do
Trabalhador e em Segurança
no Trabalho e incentivo à
capacitação e educação
continuada dos trabalhadores
responsáveis pela
operacionalização da PNSST
• Estabelecer referências curriculares para a formação de
profissionais em SST, de nível técnico e superior;
• Incluir conhecimentos básicos em SST no currículo do ensino
fundamental e médio da rede pública e privada, em especial nos
cursos de formação profissional, assim como cursos para
empreendedores;
• Incluir disciplinas em SST, obedecendo aos interesses desta
Política, no currículo de ensino superior, em especial nas
carreiras de profissionais de saúde, engenharia e administração;
• Desenvolver um amplo programa de capacitação dos
profissionais, para o desenvolvimento das ações em segurança e
saúde do trabalhador, abrangendo a promoção e vigilância da
saúde, prevenção da doença, assistência e reabilitação, nos
diversos espaços sociais onde essas ações ocorrem;
• Os trabalhadores e representantes dos movimentos sociais
responsáveis pelo controle dessas ações também devem estar
incluídos nos processos de educação continuada;
• Garantir recursos públicos para linhas de financiamento de
pesquisa em segurança e saúde do trabalhador.
VI – Promoção de Agenda
Integrada de Estudos e
Pesquisas em Segurança e
saúde do Trabalhador
• Estimular a produção de estudos e pesquisas na área de
interesse desta Política;
• Articular instituições de pesquisa e universidades para a
execução de estudos e pesquisas em SST, integrando uma rede
de colaboradores para o desenvolvimento técnico-científico na
área;
• Garantir recursos públicos para linhas de financiamento de
pesquisa em segurança e saúde do trabalhador.
Para a gestão da PNSST a proposta prevê que ela seja conduzida pelo Grupo
Executivo Interministerial de Segurança e Saúde do Trabalhador (Geisat), integrado, no
mínimo, por representantes do MTE/Fundacentro, MS e MPS. Caberia ao Geisat elaborar
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o Plano de Ação de Segurança e Saúde do Trabalhador, assim como coordenar a
implementação de suas ações.
O PNSST discrimina todas as Responsabilidades Institucionais dos vários setores
de governo envolvidos na implementação e execução desta Política, respeitando os
respectivos âmbitos de competências.
Especialmente à Fundacentro/MTE, caberia:
a) desenvolver pesquisas relacionadas com a promoção das melhorias das
condições de trabalho;
b) produzir e difundir conhecimentos técnicos científicos, em SST;
c) desenvolver atividades de educação e treinamento em SST;
d) subsidiar a elaboração e revisão das Normas Regulamentadoras; e
e) avaliar as atividades de modo a dimensionar o impacto das ações
desenvolvidas, permitindo sua re-orientação.
Por fim, aborda-se a questão do financiamento, em que se destacam:
• “A área de SST deve ser contemplada de modo adequado e permanente no
orçamento da União, mediante programa específico no PPA.” Isso representará
uma garantia para a implementação dos programas e da própria política.
• Além dos recursos da União “serão adicionados recursos originários de tributação
específica, respeitado o princípio: quem gera o risco deve ser responsável pelo
seu controle e pela reparação dos danos causados”. Isso deveria representar um
acréscimo de recursos para as ações de prevenção.
• “Deverá ser criado um fundo de controle público, específico para o financiamento
do desenvolvimento de tecnologias seguras e de ações de melhoria das
condições dos ambientes de trabalho.” Isso deveria servir de incentivo para as
melhorias das condições de trabalho.
Infelizmente, pouco ou quase nada se fez após esta PNSST ser liberada para
consulta pública, especialmente no âmbito interinstitucional. Ocorreram apenas ações que
podem ser identificadas no contexto da PNSST, mas que foram desenvolvidas
individualmente em alguns setores.
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Entre as ações desenvolvidas nos ministérios da Previdência e da Saúde e que
nesta PNSST constam entre suas atribuições, destacamos:
• Foi implementada a adoção do nexo epidemiológico presumido para a
caracterização dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, no Ministério
da Previdência.
• Ocorreu a implantação e a implementação de várias unidades no âmbito da Rede
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), que foi
estabelecida “como estratégia privilegiada para as ações previstas nesta
Política”, no Ministério da Saúde.
• O Simpeaq (Sistema de Monitoramento de Populações Expostas a Agentes
Químicos) começa a ser implantado em nível nacional, começando com o
benzeno e o amianto. Essa ação, que se desenvolve no Ministério da Saúde,
vem “facilitar a incorporação das ações e procedimentos de saúde do trabalhador
nos procedimentos de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental”
preconizada como atribuição desse Ministério na PNSST.
No âmbito do Ministério do Trabalho houve um significativo decréscimo das ações
historicamente desenvolvidas pelo Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho. A
Secretaria de Inspeção do Trabalho, à qual este departamento está vinculado, privilegiou
outras ações para serem desenvolvidas pelos AFT (Agentes de Fiscalização do Trabalho)
mesmo os especializados na área de SST, que fez com que grande parte do tempo por
eles despendido fosse voltada a fiscalizações de recolhimento de FGTS ou existência de
carteira profissional assinada. São constantes os pronunciamentos de vários deles sobre
a impossibilidade de continuar a participar de comissões tripartites ou outras ações
interinstitucionais que visem melhoria das condições dos ambientes de trabalho. Embora
continuem os trabalhos da CTPP (Comissão Tripartite Paritária Permanente) na discussão
e aprovação de novas normas ou anexos de normas regulamentadoras, os AFTs são
desestimulados, pelas priorizações estabelecidas pela SIT, a trabalharem pela
fiscalização do cumprimento delas.
Quanto à Fundacentro, embora a instituição tenha atingido as metas estabelecidas
no seu programa no PPA (plano plurianual) do governo federal, o que ocorre até com
certa facilidade pelo desenvolvimento natural das suas ações já iniciadas há muito tempo,
houve uma significativa redução da verba que a ela era destinada. Aliado a isto, a maioria
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dos cargos de gestão são ocupados por pessoas que não têm experiência em gestão
pública, não têm familiaridade com instituições de pesquisa e nem com segurança e
saúde do trabalhador. Assim, há grande dificuldade em desenvolver a contento as
atribuições que lhe são conferidas na PNSST.
Finalmente, quanto à sociedade civil organizada, que deveria “exercer o papel de
controle social, participando de todas as etapas e espaços consultivos e deliberativos
relativos à implementação desta Política”, algumas instituições até chegaram a enviar
contribuições à consulta pública sobre a PNSST, mas pouco se tem conhecido sobre a
‘cobrança’ que elas poderiam exercer para que esse documento saia do papel e venha
representar o que está estabelecido como seu propósito fundamental:
A presente Política tem por finalidade a promoção da melhoria da qualidade
de vida e da saúde do trabalhador, mediante a articulação e integração, de
forma contínua, das ações de Governo no campo das relações de
produção-consumo, ambiente e saúde.
1
NEOLIBERALISMO COMO DESTRUIÇÃO CRIATIVA *
David Harvey
The Graduate Center – The City University of New York
RESUMO O neoliberalismo atingiu o mundo como uma violenta maré de reformas institucionais e
ajustamento discursivo, impondo muita destruição, não somente para as estruturas e
poderes institucionais existentes, mas também para a estrutura da força de trabalho,
relações sociais, políticas de bem-estar social, arranjos tecnológicos, modos de vida,
pertencimento à terra, hábitos afetivos, modos de pensar e outros mais. Para voltar a
retórica neoliberal contra si mesma, deveríamos nos perguntar: a que interesses
particulares serve o Estado quando adota uma postura neoliberal e de que modo esses
interesses particulares utilizaram-se do neoliberalismo para beneficiar a si próprios, em
vez de beneficiar a todos, como se proclama? O neoliberalismo gerou um leque de
movimentos de oposição. Quanto mais claramente os movimentos oposicionistas
reconheçam que o seu objetivo central deve ser enfrentar o poder de classe que foi tão
efetivamente restaurado sob o neoliberalismo, tanto maior será a coesão entre eles.
Palavras-chave: neoliberalismo; destruição criativa; poder de classe; acumulação por
expropriação; privatização; financialização; redistribuição; alternativas democráticas.
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Neoliberalismo como Destruição Criativa
David Harvey INTERFACEHS
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O neoliberalismo é, em primeira instância, uma teoria sobre práticas de política
econômica que afirma que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido por meio
da maximização das liberdades empresariais dentro de um quadro institucional
caracterizado por direitos de propriedade privada, liberdade individual, mercados livres e
livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar um quadro institucional apropriado a
tais práticas. Por exemplo, o Estado deve preocupar-se com a qualidade e a integridade
da moeda. Ele também deve estruturar aquelas funções militares, de defesa, policiais e
jurídicas necessárias para garantir os direitos de propriedade privada, e para apoiar o
funcionamento livre dos mercados. Ademais, se não há mercados (em áreas como
educação, saúde, previdência social ou poluição ambiental) eles devem ser criados pelo
Estado, se necessário; mas o Estado não deve se aventurar para além dessas fronteiras.
As intervenções do Estado no mercado (desde que ocorram) devem ser mantidas em um
nível mínimo, pois ele não deve deter informações suficientes para antecipar os sinais do
mercado (preços), e também porque os interesses poderosos inevitavelmente irão
distorcer e influenciar as intervenções estatais (particularmente em democracias) em seu
próprio benefício.
As práticas atuais do neoliberalismo freqüentemente diferem desse modelo, por
uma série de razões. Contudo, desde a década de 1970, houve em todo o mundo uma
mudança enfática nas práticas político-econômicas e no pensamento, ostensivamente
liderada pelas revoluções Thatcher/Reagan na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Um
após outro, dos Estados modernos que emergiram do colapso da União Soviética até as
democracias sociais tradicionais e os Estados de bem-estar social como a Nova Zelândia
e a Suécia, todos abraçaram, às vezes voluntariamente, às vezes em resposta a pressões
coercitivas, alguma versão da teoria neoliberal, ajustando correspondentemente algumas
das suas políticas e práticas. A África do Sul do pós-apartheid rapidamente abraçou o
modelo liberal, e mesmo a China parece estar caminhando nessa direção. Além disso, os
defensores do caminho neoliberal ocupam agora posições de considerável influência na
educação (universidades e muitos think-tanks), na mídia, nos conselhos empresariais e
em instituições financeiras (órgãos do Tesouro, bancos centrais) e também nessas
instituições internacionais como o FMI e a OMC, que regulam as finanças e o comércio
global. Em suma, o neoliberalismo se tornou hegemônico como tipo de discurso,
disseminando-se pelos modos de pensar e pelas práticas político-econômicas a ponto de
se incorporar ao senso comum com o qual interpretamos, vivemos e compreendemos o
mundo.
Neoliberalismo como Destruição Criativa
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O neoliberalismo efetivamente atingiu o mundo como uma poderosa vaga de
reforma institucional e ajustamento discursivo, e, embora seja grande a evidência de seu
desenvolvimento geograficamente desigual, nenhum lugar pode proclamar-se plenamente
imune a ele (salvo alguns países como a Coréia do Norte). Além disso, as regras
instituídas pela OMC (regulando o comércio mundial) e pelo FMI (regulando as finanças
internacionais) estabeleceram o neoliberalismo como padrão de regulação global. Todos
os países que aderem à OMC ou ao FMI (e quem pode se dar ao luxo de ficar de fora?)
concordam em se submeter a essas regras (embora com um ‘período de graça’, para
permitir um ajustamento suave) ou a serem severamente castigados.
A criação desse sistema neoliberal implicou obviamente muita destruição, não
somente para as estruturas e poderes institucionais (como a suposta existência prévia de
uma soberania estatal sobre os assuntos político-econômicos), mas também sobre a
relações estruturais da força de trabalho, relações sociais, políticas de bem-estar social,
arranjos tecnológicos, modos de vida, pertencimento à terra, hábitos afetivos, modos de
pensar e outros mais. Torna-se necessária uma avaliação dos aspectos positivos e
negativos dessa revolução neoliberal. Vou alinhavar alguns argumentos preliminares que
permitam entender e também avaliar essa transformação no modo global com que o
capitalismo está funcionando. Isso requer chegar a um acordo sobre as forças
subjacentes, interesses e agentes que impulsionaram a revolução neoliberal de forma tão
inexorável. Para voltar a retórica neoliberal contra si mesma, deveríamos nos perguntar: a
que interesses particulares serve o Estado quando adota uma posição neoliberal, e de
que modo esses interesses particulares utilizaram-se do neoliberalismo para beneficiar a
si próprios, em vez de beneficiar a todos, em todas as partes, como se proclama?
A ‘NATURALIZAÇÃO’ DO NEOLIBERALISMO
Para que um sistema de pensamento se torne hegemônico, é necessário que a
enunciação de conceitos fundamentais esteja tão profundamente enraizada no senso
comum a ponto de ser tomada como certa e fora de todo questionamento. Mas não são
quaisquer velhos conceitos que são suficientes para tal. É necessário construir um
aparato conceitual que se mostre quase ‘natural’ para nossas intuições e instintos, para
nossos valores e desejos, bem como para as possibilidades que pareçam estar inseridas
no mundo social que habitamos. Os personagens fundadores do pensamento neoliberal
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David Harvey INTERFACEHS
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consideraram os ideais políticos dos direitos individuais e da liberdade como
sacrossantos, como ‘valores centrais da civilização’ e, ao fazê-lo, eles escolheram bem e
sabiamente, pois enquanto conceitos, têm uma enorme força de atração. Eles
argumentavam que tais valores estariam ameaçados não somente pelo fascismo, pelas
ditaduras e pelo comunismo, mas por todas as formas de intervenção estatal que
substituíram pelo julgamento coletivo a liberdade de escolha dos indivíduos. Concluíram
que sem “o poder difuso e a iniciativa associada (com a propriedade privada e o mercado
competitivo) seria difícil imaginar uma sociedade na qual a liberdade pudesse ser
efetivamente preservada”.1
Deixando de lado a questão sobre se a segunda parte do argumento
necessariamente decorre da primeira, não há dúvida de que os conceitos de liberdades
individuais são bastante poderosos, estendendo-se até mesmo por áreas mais vastas do
que aquelas nas quais a tradição liberal teve uma forte presença histórica. Tais ideais
alimentaram os movimentos dissidentes na Europa Oriental e na União Soviética, antes
do fim da Guerra Fria, bem como os estudantes da Praça da Paz Celestial. O movimento
estudantil que varreu o mundo em 1968 – de Paris e Chicago até Bangkok e a Cidade do
México – foi em parte animado pela busca de uma maior liberdade de discurso e de
escolha individual. Esses ideais já provaram repetidas vezes constituírem poderosas
forças históricas de mudança.
Não é surpreendente, portanto, que a cada momento nos vejamos rodeados pela
retórica dos apelos aos direitos e à liberdade, e que eles povoem todos os gêneros de
manifestos políticos contemporâneos. Isto é particularmente verdadeiro para os Estados
Unidos dos últimos tempos. No primeiro aniversário daquilo que veio a ser chamado de
“11 de setembro”, por exemplo, o presidente Bush escreveu um artigo para o New York
Times, com idéias extraídas de um documento sobre a estratégia de defesa nacional dos
Estados Unidos, aparecido pouco tempo depois. “Um mundo pacífico de liberdade
crescente”, ele escreveu (enquanto os Estados Unidos ultimavam os preparativos para a
guerra do Iraque), serve aos interesses norte-americanos de longo prazo, reflete os
nossos ideais e une os aliados dos Estados Unidos”. “A humanidade”, conclui Bush, “tem
em suas mãos a oportunidade de conceder o triunfo da liberdade a todos os seus
adversários de longa data” e “os Estados Unidos assumem com prazer sua
responsabilidade em liderar essa grande missão”. Mais enfaticamente ainda, ele
proclamou também que “a liberdade é o presente de Deus-Todo-Poderoso para todos os
homens e mulheres do mundo”, e, “como a maior potência do mundo, (os Estados
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David Harvey INTERFACEHS
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Unidos) têm a obrigação de auxiliar em sua propagação”.2
Quando todas as outras razões para envolver-se em uma guerra preventiva contra
o Iraque mostraram-se falaciosas, ou pelo menos insatisfatórias, a administração Bush
começou a recorrer cada vez mais freqüentemente à idéia de que a liberdade oferecida
ao Iraque valia por si mesma como justificativa para a guerra. Mas qual é o tipo de
‘liberdade’ que se imagina aqui? Afinal, como já havia observado muito tempo atrás o
crítico cultural Mathew Arnold com grande acuidade, “a liberdade é um excelente cavalo
para se andar, contanto que seja para ir até algum lugar” (citado em WILLIAMS, 1958,
p.118). Para onde se esperava que o povo iraquiano conduzisse aquele cavalo doado de
modo tão altruísta por meio da força das armas?
A resposta dos Estados Unidos deu-se a conhecer no dia 19 de setembro de 2003,
quando Paul Bremer, chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, promulgou quatro
diretivas que incluíam “a privatização completa das empresas estatais, a remessa integral
de lucros estrangeiros ... a abertura dos bancos do Iraque ao controle estrangeiro,
aplicação de regras nacionais para empresas estrangeiras e ... eliminação de quase todas
as barreiras” (JUHASZ, 2004). As ordens deveriam ser aplicadas a todas as áreas da
economia, incluindo os serviços públicos, mídia, indústria, serviços, transportes, finanças
e construção civil. Só o petróleo estava isento. Por pressão dos conservadores, também
se instituiu um sistema de impostos regressivos chamado de imposto global. Proibiram-se
as greves e foram postos fora da lei os sindicatos em setores chaves da economia. Um
membro iraquiano da Autoridade Provisória da Coalizão protestou contra a imposição
forçada do “fundamentalismo de livre mercado”, descrevendo-o como uma “lógica
defeituosa que ignora a história” (CRAMPTON, 2003, p.C5). Contudo, não se concedeu
ao governo iraquiano interino, formado no fim de junho de 2004, nenhum poder para
modificar ou escrever leis: ele podia apenas sancionar os decretos já promulgados.
O que os Estados Unidos buscaram implantar no Iraque foi, claramente, um
completo aparato de Estado neoliberal, cuja missão fundamental era e é facilitar as
condições para a lucrativa acumulação de capital para todos os envolvidos, iraquianos e
estrangeiros. Em suma, esperava-se que os iraquianos conduzissem seu ‘cavalo da
liberdade’ diretamente para o curral do neoliberalismo. De acordo com a teoria neoliberal,
os decretos de Bremer instituíam as condições necessárias e suficientes para a criação
da riqueza e, portanto, para a melhora do bem-estar social do povo iraquiano. Essas
seriam o estabelecimento de adequadas regras legais, liberdade individual e governança
democrática. A insurreição que se seguiu pode ser interpretada, em parte, como
Neoliberalismo como Destruição Criativa
David Harvey INTERFACEHS
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resistência iraquiana a ser levada a abraçar o fundamentalismo de livre mercado contra
sua própria vontade livre.
Mas seria útil recordar que o primeiro grande experimento com a formação de um
estado liberal foi o Chile posterior ao golpe de Estado de Pinochet, quase 30 anos antes
do dia em que foram publicados os decretos de Bremer, o ‘pequeno 11 de setembro’ de
1973. O golpe contra o governo democraticamente eleito de Salvador Allende, governo
social-democrata de esquerda, foi fortemente auxiliado pela CIA e apoiado pelo secretário
de Estado Henry Kissinger. Esse golpe reprimiu violentamente todos os movimentos
sociais e organizações políticas de esquerda, desmantelando todas as formas de
organização popular (como os centros de saúde comunitários nos bairros mais pobres). O
mercado de trabalho foi ‘liberado’ de constrangimentos regulatórios e institucionais (por
exemplo, o poder dos sindicatos). Contudo, em 1973, as políticas de substituição de
importações que anteriormente haviam dominado as tentativas latino-americanas de
regeneração (no que o Brasil foi até certo ponto bem-sucedido no período pós-golpe de
1964) haviam caído em desgraça. Com a economia mundial mergulhada em uma séria
recessão, obviamente se requeria algo novo. Um grupo de economistas chamado de
“Chicago boys” em virtude de sua simpatia pelas teorias neoliberais de Milton Friedman,
na época lecionando na Universidade de Chicago, foi chamado para ajudar a reconstruir a
economia chilena. Eles o fizeram seguindo a lógica do livre mercado, privatizando os
ativos públicos, liberando os recursos naturais para a exploração privada e facilitando o
investimento estrangeiro direto e o livre comércio. Garantiu-se o direito das companhias
estrangeiras em repatriar os seus lucros nas operações chilenas. Favoreceu-se o
crescimento voltado para a exportação, em vez da substituição de importações. O
subseqüente revigoramento da economia chilena em termos de taxas de crescimento,
acumulação de capital e altas taxas de retorno dos investimentos estrangeiros produziu
as evidências a partir das quais se modelaram as políticas mais abertamente neoliberais
na Inglaterra (sob Thatcher) e nos Estados Unidos (sob Reagan), em um segundo
momento. Não foi a primeira vez em que um experimento brutal de destruição criativa,
levado a cabo na periferia, tornou-se modelo para a formulação de políticas no centro
(VALDEZ, 1995).
O fato de que tenham ocorrido duas reestruturações similares do aparato de
Estado em momentos tão distintos e em partes tão distintas do mundo sob a influência
coercitiva dos Estados Unidos pode nos levar a certas suposições. Isso sugere que o
braço forte do poder imperial norte-americano estivesse por trás da rápida proliferação de
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formas de Estado neoliberais por todo o mundo, desde meados da década de 1970.
Embora possamos encontrar fortes evidências dessa coerção ao longo dos últimos 30
anos, ela não é suficiente para explicar toda a questão. Afinal de contas, não foi a pressão
norte-americana que levou Margaret Thatcher a assumir a orientação liberal em 1979, e
durante os primeiros anos da década de 80 Thatcher foi uma defensora muito mais
consistente do neoliberalismo do que o próprio Reagan conseguiu ser. Tampouco foram
os Estados Unidos quem forçou a China em 1978 a trilhar um caminho de liberalização,
que foi aos poucos tornando possível a ela abraçar o neoliberalismo. Também seria difícil
atribuir ao braço imperial dos Estados Unidos o movimento em direção ao neoliberalismo
na Índia e na Suécia, em 1992. O desenvolvimento geográfico desigual do neoliberalismo
no cenário mundial foi, evidentemente, um processo muito complexo, implicando múltiplas
determinações e não pouco caos e confusão. Assim, por que ocorreu a vaga neoliberal e
quais foram as forças que a impulsionaram, a ponto de se tornar um sistema tão
hegemônico no capitalismo global?
POR QUE A VAGA NEOLIBERAL?
Ao fim dos anos 60, o capitalismo global mergulhava em desordem. Uma séria
recessão ocorrera no início de 1973, a primeira desde a grande quebra dos anos 30. O
embargo de petróleo e o salto nos preços de petróleo que ocorreram no fim desse ano, no
rastro da guerra árabe-israelita, exacerbaram os problemas já bastante sérios. Tornou-se
claro que não mais estava funcionando o ‘capitalismo enraizado’ do pós-guerra, com a
sua forte ênfase em uma incômoda união entre capital e trabalho, avalizada por Estados
intervencionistas que davam grande atenção ao social (ou seja, ao Estado de bem-estar
social), bem como aos salários individuais. O sistema de Bretton Woods, montado para
regular o comércio e as finanças internacionais, foi finalmente abandonado a favor do
câmbio flutuante, em 1973. Aquele sistema tinha rendido altas taxas de crescimento nos
países capitalistas avançados e gerado alguns benefícios secundários (mais certamente
para o Japão, mas também atingindo desigualmente a América Latina e alguns países do
Sudeste da Ásia) durante a ‘era de ouro’ do capitalismo, nos anos 50 e início dos anos 60.
Mas agora ele se achava exaurido e tornava-se necessário encontrar alternativas para
reiniciar o processo de acumulação do capital (ARMSTRONG et al., 1991). Quaisquer
reformas que fossem empreendidas obviamente deveriam visar ao restabelecimento das
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condições adequadas para a recuperação da acumulação capitalista. Seria muito
complicado discutir aqui por que foi o neoliberalismo quem surgiu como a única resposta
vitoriosa para o problema. Retrospectivamente, parece que essa resposta tenha sido
inevitável e óbvia, mas à época, parece-me correto dizer que ninguém realmente sabia ou
teria como compreender, com alguma segurança, qual seria a resposta que poderia dar
certo e por quê. O mundo caminhou a passos trôpegos em direção à resposta neoliberal
por meio de uma série de revoluções e movimentos caóticos, que somente convergiram
para o neoliberalismo com a nova ortodoxia, com a construção do chamado “Consenso de
Washington”, nos anos 90. O desenvolvimento geograficamente desigual do
neoliberalismo, sua aplicação freqüentemente parcial e assimétrica entre diferentes
países e formações sociais, testemunha o caráter experimental das soluções neoliberais e
explica os caminhos intrincados por meio dos quais as forças políticas, as tradições
históricas e os arranjos institucionais existentes acabaram por definir como e por que o
processo de neoliberalização acontecerá efetivamente.
Há, no entanto, um elemento que merece atenção especial, durante essa
transição. A crise da acumulação de capital nos anos 70 afetou a todos por meio da
combinação entre desemprego crescente e inflação acelerada. O descontentamento era
geral e a conjunção de movimentos sociais urbanos e da população trabalhadora em
parte do mundo desenvolvido parecia apontar em direção à emergência de uma
alternativa socialista para a acomodação social entre o capital e o trabalho, que
constituíra o fundamento da tão bem sucedida acumulação de capital no período de pós-
guerra. Os partidos comunistas e socialistas estavam ganhando terreno em muitas partes
da Europa, e mesmo nos Estados Unidos as forças populares mobilizavam-se por amplas
reformas e intervenções do Estado, num espectro que ia desde a proteção ambiental até
a segurança e a saúde ocupacional e à proteção do consumidor contra os malfeitos
corporativos.
Havia aí uma clara ameaça política para as classes dominantes em todo o mundo,
tanto dos países capitalistas desenvolvidos (como a Itália e a França), como em muitos
países em desenvolvimento (como o México e a Argentina), mas, sobretudo, era palpável
naquele momento a ameaça econômica à posição das classes dominantes. Uma das
condições do acordo do pós-guerra em quase todos os países era a de que se
restringisse o poder econômico das classes superiores e que se concedesse ao trabalho
uma fatia muito maior do bolo econômico. Nos Estados Unidos, por exemplo, a parte da
renda nacional absorvida pelos 1 por cento mais ricos caiu de um nível de 16 por cento na
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pré-guerra para menos de 8 por cento no fim da Segunda Guerra Mundial e permaneceu
em torno disso por cerca de três décadas. Enquanto o crescimento era vigoroso, aquela
limitação não constituía um problema, mas quando a economia entrou em colapso,
quando as taxas reais de juros se tornaram negativas e apenas eram possíveis
dividendos e juros desprezíveis, a classe dirigente se sentiu profundamente ameaçada do
ponto de vista econômico. Quando querem proteger o seu poder contra a aniquilação
política e econômica, as classes dirigentes precisam agir de forma enérgica.
O golpe do Chile e a tomada do poder pelos militares na Argentina, ambos
fomentados e conduzidos internamente por suas elites dirigentes com o apoio dos
Estados Unidos, forneceram um tipo de solução, mas o experimento chileno com o
neoliberalismo demonstrou que os benefícios da revigorada acumulação de capital eram
altamente desiguais. O país e suas elites dirigentes, justamente com os investidores
estrangeiros, deram-se bastante bem, enquanto o povo em geral passou bastante mal.
Esse foi um efeito das políticas neoliberais, suficientemente persistente ao longo do
tempo para ser considerado como estrutural para o conjunto do projeto. Dumenil e Levy
chegam ao ponto de argumentar que o neoliberalismo teria sido desde o começo um
projeto visando restaurar o poder de classe dos estratos mais ricos da população. Eles
mostraram como a partir de meados dos anos 80, a parte auferida pelos 1 por cento mais
ricos elevou-se subitamente até 15 por cento no fim do século. Outros dados mostram
que os 0,1 por cento mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional de 2 por
cento em 1978 até mais de 6 por cento em 1999. Outras estatísticas mostram que a
relação entre os rendimentos médios de trabalhadores e aqueles de altos executivos de
empresas aumentou de cerca de pouco mais de 1 para 30 em 1970, para mais de 1 para
400, em 2000. É quase certo que, como efeito dos cortes de impostos da administração
Bush, a concentração de renda e riqueza nos altos estratos da sociedade continue
seguindo em frente (DUMENIL & LEVY, 2004, p.4; ver também TASK FORCE, 2004, p.3),
e os Estados Unidos não estão sozinhos nisso: os 1 por cento mais ricos da Inglaterra
dobraram a sua parte na renda nacional de 6,5 para 13 por cento nos últimos 20 anos, e
quando olhamos mais longe vemos a extraordinária concentração de riqueza e poder
ocorrida no interior da reduzida oligarquia russa, depois que a ‘terapia de choque’
neoliberal foi administrada no país, e um notável crescimento na distribuição desigual de
renda e riqueza na China, à medida que ela veio adotando práticas mais neoliberais.
Embora essa tendência apresente exceções (vários países do leste e do sudeste da Ásia
conseguiram conter as desigualdades de renda dentro de limites modestos, como
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também a França ou os países escandinavos), há fortes evidências de que a vaga
neoliberal esteja associada de certa maneira, e em algum grau, com o projeto de
restaurar ou reconstruir o poder das classes altas.
Portanto, poderíamos analisar a história do neoliberalismo não só como um projeto
utópico fornecendo um modelo teórico para a reorganização do capitalismo internacional,
mas também como um projeto político visando tanto restabelecer as condições para a
acumulação de capital como restaurar o poder de classe. Na continuação deste artigo, irei
defender a tese de que o último desses objetivos predominou. O neoliberalismo não se
mostrou bom para revitalizar a acumulação de capital global, mas foi muito bem sucedido
em restaurar o poder de classe. Conseqüentemente, a utopia teórica do discurso
neoliberal funcionou mais como sistema de justificação e legitimação para tudo o que
fosse necessário no sentido de restaurar o poder de classe. Os princípios do
neoliberalismo são abandonados rapidamente, sempre que entram em conflito com esse
projeto de classe.
RUMO À RESTAURAÇÃO DO PODER DE CLASSE
Se houve um movimento para restaurar o poder de classe dentro do capitalismo
global, como isso foi feito e por quem? A resposta em países como o Chile e a Argentina
foi tão simples quanto rápida, brutal e segura: um golpe militar apoiado pelas classes altas
e a subseqüente repressão violenta de todas as solidariedades criadas dentro dos
movimentos sociais urbanos e das classes trabalhadoras, que tanto haviam ameaçado o
seu poder. Em toda parte, como na Inglaterra e no México de 1976, bastou uma leve
aguilhoada de um FMI ainda não inteiramente neoliberal para empurrar os países em
direção à prática (considerada como um compromisso político) de cortes dos gastos
sociais e do Estado de bem-estar social, de modo a restabelecer a austeridade fiscal.
Mais tarde, na Inglaterra, em 1979, Margaret Thatcher faria um uso implacável do porrete
neoliberal, embora nunca tenha conseguido vencer inteiramente a oposição dentro do seu
próprio partido, nem tenha sido capaz de confrontar elementos centrais do Estado de
bem-estar social, como o Serviço Nacional de Saúde. É interessante notar que foi
somente em 2004 que o governo trabalhista ousou introduzir cobrança de taxas na
educação superior. O processo de liberalização foi oscilante, geograficamente desigual e
altamente influenciado pelo equilíbrio entre as classes e outras forças sociais alinhadas
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ou contrárias às suas posições centrais dentro das formações específicas de Estado, e
mesmo dentro de setores particulares (como a saúde e a educação) (YERGIN &
STANISLAW, 1999).
Entretanto, é interessante observar mais particularmente como se desenrola o
processo nos Estados Unidos, uma vez que este caso será decisivo para influenciar as
transformações que ocorrerão posteriormente. Nesse exemplo, várias tramas de poder
entrelaçaram-se para criar um rito de passagem muito especial, que culminou na
conquista do controle do poder do Congresso pelo Partido Republicano em meados da
década de 1990, consagrando o que era efetivamente um Contract on America
inteiramente neoliberal, como um programa de ação doméstica. Mas antes de se chegar a
esse ponto, muitos passos tiveram de ser dados, cada um deles apoiando-se e
reforçando os anteriores.
De início, havia um sentimento crescente entre as classes altas por volta de 1970,
de que o clima anti-negócios e antiimperialista, emergido ao fim dos anos 60, tinha ido
longe demais. Em um famoso memorando, Lewis Powell (pouco antes de ser conduzido à
Suprema Corte por Nixon) conclama a Câmara de Comércio Americana, em 1971, a
deslanchar uma campanha coletiva para mostrar que o que fosse bom para os negócios,
seria bom para a América. Logo depois se constituiu uma mesa redonda dos negócios,
que embora informal, foi altamente influente e poderosa (ela ainda existe e exerce um
importante papel estratégico na política do Partido Republicano). Proliferaram os comitês
de ação política de corporações (legalizados com as leis financeiras de campanha pós
Watergate, de 1974), e elas, julgando protegidas as suas atividades pela Primeira
Emenda da Constituição norte-americana como uma forma de liberdade de expressão, de
acordo com a decisão da Suprema Corte de 1976, começaram a sistemática captura do
Partido Republicano como instrumento de classe exemplar do poder corporativo e
financeiro coletivo (em vez de particular ou individual). Mas o Partido Republicano
necessitava uma base popular. Isso se mostrou mais problemático, porém a incorporação
dos líderes da direita cristã – retratados como a ‘maioria moral’ – à mesa-redonda de
negócios forneceu a solução. Um largo segmento de uma classe trabalhadora desiludida,
insegura e majoritariamente branca foi persuadido a votar sistematicamente contra seus
próprios interesses materiais por motivos culturais (por serem antidemocráticos, contra
negros, feministas e gays), nacionalistas e religiosos. Em meados dos anos 90, o Partido
Republicano havia perdido quase todos os seus membros ‘liberais’ e se tornado uma
máquina homogênea de direita, conectando os recursos financeiros do grande capital
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empresarial com uma base popular oriunda da ‘maioria moral’, particularmente forte no sul
dos Estados Unidos (EDSALL, 1984; COURT, 2003; FRANK, 2004).
O segundo elemento da transição dos Estados Unidos foi o problema da disciplina
fiscal. A recessão de 1973-1975 havia reduzido a arrecadação fiscal como um todo,
justamente no momento em que crescia a demanda por gastos sociais. Por toda parte os
déficits públicos se tornam problemas cruciais. Algo tinha de ser feito com a crise fiscal do
Estado. Era essencial a restauração da disciplina fiscal. Essa situação fortaleceu as
instituições financeiras que controlavam as linhas de crédito para o Estado. Em 1975, elas
se recusaram a rolar a dívida da cidade de Nova York e quase levaram a cidade à
bancarrota. Um poderoso grupo de banqueiros reuniu-se com as autoridades públicas
para disciplinar a cidade. Isso significou refrear as aspirações dos seus poderosos
sindicatos municipais, promover demissões de funcionários públicos, congelamento de
salários, cortes nos gastos sociais (educação, saúde pública, transporte) e cobrança de
taxas para usuários de serviços públicos (a cobrança de gastos de instrução foi
introduzida pela primeira vez na Columbia University). O socorro incluía a criação de
novas instituições que tinham prioridade no recebimento da arrecadação da cidade, de
modo a pagar a seus credores. O que sobrava ia para o orçamento municipal, para cobrir
os serviços essenciais. A indignidade final foi exigir dos sindicatos municipais que
investissem seus fundos de pensão em títulos da dívida pública municipal, garantindo
assim que os sindicatos moderassem suas demandas, por medo de perder seus fundos
de pensão em virtude de uma bancarrota da cidade.
Isso significou um golpe das instituições financeiras contra o governo
democraticamente eleito de Nova York, e foi tão ou mais eficiente do que o golpe militar
que havia ocorrido anteriormente no Chile. Grande parte da infra-estrutura social da
cidade foi destruída e a infra-estrutura física (por exemplo, o sistema de trânsito)
deteriorou-se significativamente por falta de investimento ou mesmo de manutenção. O
gerenciamento da crise fiscal de Nova York abriu passagem para as práticas neoliberais
domésticas sob Reagan e, internacionalmente, por meio do FMI, nos anos 80. O FMI
estabeleceu o princípio de que na ocorrência de um conflito entre a integridade das
instituições financeiras e possuidores de títulos de um lado, e o bem-estar dos cidadãos
de outro, dava-se preferência aos primeiros. Ele assentou os fundamentos da idéia de
que o papel do governo seria criar um bom clima dos negócios, em vez de tratar das
necessidades e do bem-estar da população como um todo. A redistribuição fiscal de
benefícios para as classes altas aconteceu em meio a uma crise fiscal geral.
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É uma questão em aberto saber se todos os agentes envolvidos em formatar o
acordo fiscal em Nova York entenderam-no à época como uma tática para restaurar o
poder das classes altas. A necessidade de se manter a disciplina fiscal é em si mesma
um assunto que merece grande atenção, mas que não necessitaria forçosamente levar à
restauração do poder de classe. É pouco provável, portanto, que Felix Rohatyn, o
principal banqueiro a conduzir as negociações entre a cidade, o Estado e as instituições
financeiras, tivesse em mente a restauração do poder de classe, mas esse objetivo
provavelmente esteve muito presente na cabeça dos banqueiros inversionistas. É quase
certo que esse fosse o alvo do então secretário do Tesouro, William Simon, que tendo
observado com aprovação o progresso dos acontecimentos no Chile, recusou-se a ajudar
a cidade e declarou publicamente que desejava que a cidade de Nova York sofresse a
ponto de nenhuma outra cidade jamais ousar novamente assumir encargos sociais como
ela fizera (ALCALY & MERMELSTEIN, 1977; TABB, 1982).
O terceiro elemento da transição dos Estados Unidos implicou um assalto
ideológico sobre a mídia e as instituições educacionais. Think-tanks independentes,
financiados por indivíduos ricos e doadores empresariais proliferaram (a Heritage
Foundation assumiu a liderança) para preparar o massacre discursivo visando persuadir o
público a respeito do bom senso da proposta neoliberal. Um dilúvio de documentos e
teses e um verdadeiro exército mercenário de soldados bem pagos, treinados para
promover as idéias neoliberais e seus ideais, somados à aquisição de poder na mídia por
parte das empresas, realmente modificaram o clima discursivo nos Estados Unidos em
meados dos anos 80. O projeto de “tirar o governo das costas do povo” e de “encolher o
governo até que pudesse ser afogado em uma banheira” era proclamado a alto e bom
som. Os promotores desse novo credo encontraram uma audiência atenta naquela ala do
movimento de 1968 cujo objetivo eram liberdades maiores frente ao poder do Estado e às
manipulações do capital monopolista. O argumento libertário em favor do neoliberalismo
mostrou-se uma poderosa força de mudança, e na medida em que o próprio capitalismo
se reorganiza para abrir espaços para os esforços empresariais individuais e dirige seus
esforços para satisfazer os inúmeros nichos de mercado (particularmente aqueles
configurados pela liberação sexual) surgidos do crescente consumismo individualizado, foi
possível fazer coincidir palavras com realizações.
A cenoura do empreendedorismo e do consumismo individualizado foi auxiliada
pelo porrete esgrimido tanto pelo Estado quanto pelas instituições financeiras contra a
outra ala do movimento de 68, que buscava justiça social por meio de esforços coletivos e
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solidariedade social. Foram momentos cruciais da virada global em direção ao
neoliberalismo a destruição do movimento dos controladores de vôo por Reagan, em
1980, e a derrota dos mineiros ingleses em 1984, por Margaret Thatcher. O assalto a
todas as instituições como sindicatos e organizações de direitos sociais, que buscavam
proteger e ampliar os direitos da classe trabalhadora, foi extenso e vigoroso. Além disso,
caminhavam em paralelo os cortes selvagens nos gastos sociais e no Estado de bem-
estar social, transferindo-se toda a responsabilidade pelo bem-estar para os indivíduos e
suas famílias. Contudo, essas práticas não podiam restringir-se – e não se restringiram –
aos limites nacionais. Depois de 1980, os Estados Unidos, agora firmemente
comprometidos com a neoliberalização e apoiados claramente pela Inglaterra, trataram de
exportar o neoliberalismo para o mundo inteiro, por meio de uma mescla de liderança,
persuasão (os departamentos de Economia das universidades de pesquisa dos Estados
Unidos desempenharam um papel central em treinar muitos dos economistas do mundo
inteiro nos princípios neoliberais) e coerção. A purga de economistas keynesianos e sua
substituição por monetaristas neoliberais no FMI, em 1982, transformaram essa instituição
dominada pelos Estados Unidos em um agente primordial da neoliberalização por meio
dos programas de ajuste estrutural nos países inspecionados (e houve muitos nos anos
80 e 90), que haviam solicitado a ajuda do Fundo para pagamento de débitos. O
“Consenso de Washington”, forjado nos anos 90, e as regras de negociação, elaboradas
em 1998 pela OMC, confirmam a virada global em direção a práticas neoliberais
(STIGLITZ, 2002).
Mas essa dimensão internacional dependia também da reanimação e
reconfiguração da tradição imperial dos Estados Unidos. Essa tradição, que chegou à
América Central na década de 1920, buscava um tipo de imperialismo sem colônias.
Repúblicas independentes podiam ser mantidas sob o domínio da influência dos Estados
Unidos e agir efetivamente, no melhor dos casos, como prepostas dos interesses norte-
americanos, ao se apoiar ‘homens fortes’ (por exemplo, Somoza na Nicarágua, o Xá da
Pérsia no Irã e Pinochet no Chile) e uma claque de seguidores, com assistência militar e
ajuda financeira. A subida ao poder desses líderes foi sempre auxiliada secretamente,
mas por volta dos anos 70 foi ficando claro que algo mais se tornara necessário: a
abertura de mercados, de novos espaços para investimento e de novas áreas onde os
poderes financeiros pudessem operar com segurança exigia uma integração muito maior
da economia global com uma arquitetura financeira bem definida. A criação de novas
práticas institucionais, como aquelas estabelecidas pelo FMI e pela OMC, forneceu os
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instrumentos adequados através dos quais o poder financeiro e mercantil pode ser
exercido. Para que isso fosse possível, no entanto, era necessária a colaboração dos
poderes capitalistas mais poderosos, e o G7 permitiu o alinhamento da Europa e do
Japão com os Estados Unidos para modelar o sistema financeiro e comercial global de
maneira a forçar a submissão de todos os demais países. ‘Nações Bandidas’, entendidas
como aquelas que fracassaram em se conformar a essas regras globais, podiam ser
tratadas por meio de sanções ou mesmo por força militar coercitiva, caso necessário.
Desse modo, as estratégias imperialistas neoliberais eram articuladas através de uma
rede global de relações de poder, sendo um dos seus resultados o de permitir que as
classes altas dos Estados Unidoos extorquissem tributos financeiros e controlassem as
rendas do resto do mundo, aumentando assim o seu poder já tão avassalador (HARVEY,
2003).
NEOLIBERALISMO COMO DESTRUIÇÃO CRIATIVA
Em que sentido se pode dizer que a neoliberalização teria resolvido os problemas
de uma acumulação de capital debilitada? É bastante pobre o seu recorde atual no
estímulo ao crescimento econômico. As taxas de crescimento acumuladas durante os
anos 60 alcançavam cerca de 3,5 por cento, e mesmo durante os difíceis anos 70 elas
não desceram abaixo de 2,4 por cento. Mas as subseqüentes taxas mundiais de
crescimento, de 1,4 e 1,1 por cento para os anos 80 e 90 (e taxas que mal alcançam 1 por
cento, desde o ano 2000) indicam que o neoliberalismo fracassou redondamente em
estimular o crescimento no âmbito mundial (WORLD COMMISSION, 2004). Mesmo se
excluirmos daí os efeitos catastróficos do colapso da Rússia e de algumas economias da
Europa Central na esteira do tratamento de terapia de choque neoliberal dos anos 90, a
performance econômica global, do ponto de vista de uma restauração das condições para
a acumulação de capital, foi fraca.
A despeito de toda a retórica relacionada ao saneamento de economias doentes,
nem a Inglaterra, nem os Estados Unidos, por exemplo, atingiram altos níveis de
performance econômica durante a década de 1980. Esses anos pertenceram de fato ao
Japão, aos tigres do Sudeste Asiático e à Alemanha Ocidental, que foram os motores da
economia global. O fato de que a economia desses países tenha sido tão bem sucedida,
a despeito de ajustes institucionais totalmente distintos, torna difícil defender uma simples
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mudança (para não falar de imposição) em direção ao neoliberalismo no cenário mundial
como uma panacéia para todos os males. É incontestável que o Bundesbank da
Alemanha Ocidental adotou uma linha monetarista rígida (consistente com o
neoliberalismo) por mais de duas décadas, o que sugere não haver uma conexão
necessária entre monetarismo enquanto tal e a busca da restauração do poder de classe.
Na Alemanha Ocidental, os sindicatos permaneceram muito fortes e os níveis de salário
se mantiveram relativamente altos, paralelamente à construção de um progressivo
aparelho de Estado de bem-estar social. Uma das suas conseqüências foi estimular uma
alta taxa de inovação tecnológica, e isso manteve a Alemanha Ocidental bem à frente no
campo da competição internacional. O crescimento orientado para a exportação foi capaz
de promover o país como líder mundial. No Japão, os sindicatos eram fracos ou
inexistentes, mas o investimento estatal em mudanças tecnológicas e organizacionais e a
íntima relação entre corporações e instituições financeiras (um arranjo que também se
mostrou feliz na Alemanha Ocidental) gerou uma espantosa performance de crescimento
orientado para a exportação, em grande parte às expensas de outras economias
capitalistas como as da Inglaterra e dos Estados Unidos. Tais casos de crescimento,
como os dos anos 80 (e a taxa acumulada de crescimento no mundo estava mais baixa
do que nos difíceis anos 70), não dependeram, portanto, da neoliberalização. Por isso,
muitos Estados europeus resistiram às reformas neoliberais e progressivamente
encontraram formas de preservar muito da sua herança democrática social, enquanto
caminhavam em direção ao modelo da Alemanha Ocidental, em alguns casos, com
bastante sucesso. Na Ásia, o modelo japonês implementado por regimes de governo
autoritários na Coréia do Sul, em Taiwan e Cingapura, mostrou-se viável e consistente
com uma razoável eqüidade distributiva. Foi somente nos anos 90 que a neoliberalização
passou a valer a pena para a Inglaterra e os Estados Unidos. Isso ocorreu em meio a um
demorado período de deflação no Japão e uma estagnação relativa na Alemanha recém-
unificada. É uma questão discutível, no entanto, se a recessão japonesa ocorreu como
simples resultado de pressões competitivas ou foi maquinada para dobrar a espinha
dorsal da economia japonesa.
Em face desses recordes minguados, senão lúgubres, por que fomos persuadidos
de que a neoliberalização é uma boa solução? Além da persistente torrente de
propaganda emanada dos think-tanks neoliberais e que se derrama sobre a mídia, há
duas razões concretas para isso. Em primeiro lugar, a neoliberalização foi acompanhada
de uma crescente volatilidade no interior do capitalismo global. O fato de que o ‘sucesso’
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tenha sido obtido em algum lugar escondia o fracasso do neoliberalismo no resto do
mundo. A extrema volatilidade implicava episódios periódicos de crescimento,
entremeados de intensas fases de destruição criativa, na maioria das vezes registradas
como severas crises financeiras. A Argentina se abriu para o capital estrangeiro e para a
privatização nos anos 90 e por vários anos foi a predileta de Wall Street, apenas para
mergulhar em um desastre total quando o capital internacional se retraiu ao fim da
década. O colapso financeiro e a devastação social foram rapidamente seguidos por uma
duradoura crise política. As crises financeiras proliferaram em todo o mundo em
desenvolvimento, e, em alguns casos como o Brasil e o México, repetidas ondas de ajuste
estrutural e austeridade fiscal levaram à paralisia econômica.
Mas o neoliberalismo foi um grande sucesso do ponto de vista das classes altas.
Ele restaurou o poder de classe das elites dirigentes (como no caso dos Estados Unidos e
da Inglaterra) ou criou as condições para a formação da classe capitalista (como na
China, Índia e Rússia, entre outros países). Mesmo países que sofreram extensivamente
com a neoliberalização viram uma maciça reorganização das estruturas de classe
internamente. A onda de privatização que chegou ao México com a administração de
Salinas, em 1992, gerou extraordinária concentração de riquezas nas mãos de poucas
pessoas (como Carlos Slim, que adquiriu o sistema telefônico estatal e tornou-se
bilionário de uma hora para outra). Com a mídia dominada pelos interesses das classes
superiores, pode propagar-se o mito de que as regiões que fracassaram o fizeram porque
não eram bastante competitivas (estabelecendo assim o cenário para reformas ainda
mais neoliberais). O aumento da desigualdade social dentro de um território seria
necessário para encorajar o risco e a inovação empresariais que conferiam
competitividade e motivação para o crescimento. Se as condições se deterioravam entre
as classes baixas, isso ocorreria porque elas falhavam, normalmente por razões pessoais
e culturais, em incrementar o seu próprio capital humano (investindo em educação, na
aquisição de uma ética protestante do trabalho, na submissão à disciplina do trabalho,
flexibilidade e assim por diante). Problemas específicos ocorreriam, em suma, em virtude
da falta de competitividade ou de carências de pessoal, culturais e políticas. Em um
mundo darwiniano, era assim que se argumentava: somente os mais aptos deveriam
sobreviver. Os problemas sistêmicos eram encobertos por uma torrente de
pronunciamentos ideológicos, em meio a uma pletora de crises localizadas.
Se o principal sucesso do neoliberalismo não se encontra no que tange à geração
de riquezas, mas sim à sua redistribuição, foi necessário descobrir meios para transferir
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ativos e redistribuir a riqueza e renda da massa da população em direção às classes
altas, e dos países vulneráveis aos países mais ricos. Em outro lugar eu apresentei uma
avaliação desses meios, que denominei de “acumulação por expropriação” (HARVEY,
2003, cap. 4). Designo, assim, a continuação e proliferação daquelas práticas de
acumulação que Marx chamou de acumulação ‘primitiva’ ou ‘originária’, na fase de
ascensão do capitalismo. Elas incluem a comoditização e a privatização da terra, e a
expulsão forçada de populações camponesas (como no México e na Índia, em tempos
recentes); a conversão de várias formas de direitos de propriedade (por exemplo,
propriedade comum, coletiva, pública) em direitos exclusivos de propriedade privada; a
supressão de direitos aos bens de uso comum; a comoditização da força de trabalho e a
supressão de formas alternativas (autóctones) de produção e consumo; processos
coloniais, neocoloniais e imperiais de apropriação de ativos (incluindo recursos naturais);
a monetarização da troca e da arrecadação fiscal, particularmente da terra; o comércio de
escravos (que continua especialmente na indústria sexual); a usura, a dívida nacional e a
mais devastadora de todas, o uso do sistema de crédito como instrumento radical para a
acumulação primitiva. O Estado, com o seu monopólio da violência e da definição sobre o
que é legal, desempenha um papel crucial tanto em apoiar, como em promover esses
processos, recorrendo freqüentemente à violência. A esta lista de mecanismos podemos
acrescentar uma coleção de técnicas adicionais, como a extração de rendas por patentes
e direitos de propriedade intelectual e a diminuição ou supressão de várias formas de
direitos de propriedade comum (como previdência social pública, férias pagas, acesso à
educação e saúde), conquistadas através de uma ou mais gerações de democráticas
lutas de classes. A proposta de privatizar todos os direitos à aposentadoria (de que foi
pioneiro o Chile da fase ditatorial) é um dos mais apreciados objetivos dos neoliberais nos
Estados Unidos.
Enquanto nos casos da China e da Rússia seria razoável utilizar os termos
‘acumulação primitiva’ e ‘originária’ para designar os acontecimentos recentes, as práticas
que restauraram o poder de classe das elites capitalistas nos Estados Unidos e em toda
parte seriam mais bem descritas como um processo de acumulação em curso por meio
da expropriação, que rapidamente ganha proeminência sob a égide do neoliberalismo.
Destaco, nele, quatro elementos centrais.
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1. Privatização
A corporatização, a comoditização e a privatização de ativos até agora públicos
são traços marcantes do projeto neoliberal. Seu objetivo primeiro foi criar novos campos
para a acumulação de capital em domínios até agora considerados fora dos limites do
cálculo de lucratividade. Serviços públicos de todos os tipos (habitação popular,
educação, saúde pública, previdência social), instituições públicas (como universidades,
centros de pesquisa, prisões) e mesmo a guerra (a exemplo do ‘exército’ de empresas
privadas contratadas para operar em conjunto com as forças armadas no Iraque), foram
todos privatizados em algum nível, em todo o mundo capitalista. Os direitos de
propriedade intelectual estabelecidos pela OMC, por meio do acordo intitulado “TRIPS”,
define como propriedade privada materiais genéticos, sementes e plasmas, e todas as
formas de outros produtos. Pode-se então extrair rendas de populações cujas práticas
desempenharam um papel crucial no desenvolvimento de materiais genéticos. A
biopirataria é irrefreável e a pilhagem dos recursos genéticos mundiais avança a passos
largos para beneficiar algumas poucas grandes empresas farmacêuticas. O crescente
esgotamento dos bens ambientais de uso global comum (terra, ar, água) e a proliferação
da degradação dos hábitats, que excluem todos os modos de produção agrícola salvo
aqueles de capital intensivo, resultaram igualmente da comoditização indiscriminada da
natureza em todas as suas formas. A comoditização (por meio do turismo) de formas
culturais, históricas, bem como da criatividade intelectual, implica expropriações
indiscriminadas (a indústria musical é famosa por apropriar-se e explorar a cultura e a
criatividade dos movimentos sociais de base). Como no passado, o poder do Estado é
freqüentemente usado para impor esses processos, mesmo contra a vontade popular. A
desmontagem do marco regulatório destinado a proteger o trabalho e o meio ambiente da
degradação trouxe consigo a perda de direitos. A reversão dos direitos de propriedade
sobre bens comuns, conquistados ao longo de anos de dura luta de classes (o direito à
aposentadoria, ao bem-estar social, a um sistema de saúde pública) para o domínio
privado constituiu uma das mais importantes políticas de expropriação adotadas em nome
da ortodoxia neoliberal. Todos esses processos conduziram à transferência desses bens
do domínio público e popular para aquele privado e das classes privilegiadas. A
privatização, como argumenta Arundhati Roy em relação ao caso indiano, compreende
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a transferência dos haveres públicos produtivos do Estado para as
companhias privadas. Haveres produtivos incluem os recursos naturais:
terra, florestas, água e ar. Estes são os bens que o Estado tutela em nome
do povo a quem ele representa ... Arrebatá-los e vendê-los às companhias
privadas como bens de capital é um processo de expropriação privada
numa escala sem paralelo na história. (ROY, 2001)
2. Financialização
A forte onda de financialização posta em marcha após 1980 caracterizou-se por
seu estilo especulativo e predatório. O giro diário total das transações financeiras nos
mercados internacionais, que se mantinha em torno de 2,3 bilhões de dólares em 1983,
alcançou 130 bilhões em 2001. Os 40 trilhões de dólares de giro anual em 2001 devem
ser comparados aos estimados 800 bilhões de dólares que seriam necessários para
sustentar o comércio mundial e os fluxos de investimentos produtivos (DICKEN, cap. 13).
A desregulamentação permitiu ao sistema financeiro tornar-se um dos principais centros
de atividade redistributiva por meio de especulação, predação, fraude e gatunagem.
Liquidação de ações, esquemas Ponzi, destruição estruturada de ativos por meio de
inflação, desmembramento de ativos por meio de fusões e aquisições, a elevação de
dívidas públicas a ponto de reduzir populações inteiras (mesmo de países capitalistas
avançados) à servidão por dívidas, para não mencionar as fraudes empresariais, a
desapropriação dos bens (o ataque aos fundos de pensão e sua liquidação graças à
desvalorização de ações e quebra de empresas) por meio de manipulação de crédito e de
ações – todos esses mecanismos se tornaram marcas centrais do sistema capitalista
financeiro. A ênfase no mercado acionário que surge ao reunir os juros dos proprietários e
gerentes de capital com a remuneração desses últimos por meio de opções de mercado,
conduziu, como sabemos agora, a manipulações no mercado que trouxeram enorme
riqueza para poucos, às expensas de muitos. O espetacular colapso da Enron foi
emblemático do processo geral que roubou a muitos o seu sustento e os seus direitos à
aposentadoria. Além disso, precisamos considerar o ataque especulativo conduzido pelos
fundos de hedge e outras grandes instituições do capital financeiro, uma vez que eles
constituem pontas-de-lança da acumulação por expropriação no cenário mundial, mesmo
quando supostamente eles trouxeram o benefício positivo, para a classe capitalista, de
pulverizar os riscos.
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3. O manejo e a manipulação das crises
Por trás da superfície especulativa e freqüentemente fraudulenta que caracteriza
muito da manipulação financeira neoliberal, encontra-se um processo mais profundo que
implica o acionamento da ‘armadilha da dívida’ como um meio primordial de acumulação
por expropriação. A criação, manejo e manipulação de crises no cenário mundial tornou-
se uma fina arte de redistribuição deliberada de riqueza dos países pobres para os ricos.
Ao subitamente elevar as taxas de juros em 1979, Volcker subiu a proporção de lucros
externos que países emprestadores teriam de acrescentar aos pagamentos de juros das
suas dívidas. Levados à bancarrota, países como o México tiveram de concordar com um
ajuste estrutural. Ao mesmo tempo em que alardeavam o seu papel de grande líder,
organizando perdões de dívidas de modo a manter estável e em andamento a
acumulação de capital global, os Estados Unidos podiam também abrir o caminho para a
pilhagem da economia mexicana, ao estender o seu poderio financeiro sobre aquele país,
no contexto de uma crise local. E foi nisso que o complexo formado por ‘Tesouro dos
EUA’/‘Wall Street’/‘FMI’ tornou-se perito, por todo o mundo. Greenspan, no Federal
Reserve, utilizou-se diversas vezes da mesma tática nos anos 90. As crises da dívida em
diversos países, raras durante a década de 1960, tornaram-se muito freqüentes durante
os anos 80 e 90. Dificilmente algum país em desenvolvimento pode permanecer imune, e
em alguns casos, como na América Latina, tais crises eram freqüentes o suficiente para
serem consideradas endêmicas. Essas crises da dívida eram orquestradas, gerenciadas e
controladas tanto para racionalizar o sistema, quanto para redistribuir os ativos, durante
os anos 80 e 90. Wade e Veneroso (1998, p.3-23) capturaram a essência do processo
quando escreveram sobre a crise asiática de 1997-1998 (provocada inicialmente pela
operação de fundos de hedge baseados nos Estados Unidos):
Crises financeiras sempre geraram transferências de propriedade e
poder para aqueles que mantêm seus próprios ativos intactos, e que estão
em condição de gerar crédito, e a crise da Ásia não é uma exceção ... Não
há dúvida de que sejam as empresas ocidentais e japonesas as grandes
vencedoras ... A combinação de desvalorizações maciças, liberalização
financeira empurrada pelo FMI e recuperação facilitada pelo FMI pode
precipitar a maior transferência em tempos de paz, dos últimos 50 anos, de
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ativos de proprietários nacionais para o exterior, tornando modestas as
transferências de proprietários nacionais para norte-americanos na América
Latina nos anos 80, ou no México, depois de 1994. Lembremos a afirmação
atribuída a Andrew Mellon: “Numa depressão, os ativos retornam aos seus
verdadeiros donos”.
É correta a analogia com a criação deliberada de uma reserva de excedente de
trabalho de baixos salários, útil para uma acumulação posterior. Ativos valiosos deixam de
ser utilizados e desvalorizam-se. Permanecem abandonados e amortecidos até que
capitalistas com liquidez decidem tomá-los e infundir-lhes novo ânimo. O perigo, contudo,
é que as crises possam escapar do controle e se tornem generalizadas, ou que elas
provoquem revoltas contra o sistema que as gera. Uma das principais funções das
intervenções estatais e das instituições internacionais é a de orquestrar crises e
desvalorizações de modo a permitir que ocorra a acumulação por expropriação, sem
provocar um colapso geral ou uma revolta popular. O programa de ajuste estrutural
administrado pelo complexo Wall Street/Tesouro/FMI cuida da primeira parte, enquanto é
o papel do aparelho do Estado comprador neoliberal (apoiado pela assistência militar dos
poderes imperiais), no país que foi atacado, garantir que o segundo evento não ocorra.
Contudo, os sinais de revolta popular logo começaram a emergir, primeiro com o levante
zapatista no México em 1994, e mais tarde com o descontentamento generalizado que
emerge com o movimento antiglobalização que irrompeu na revolta de Seattle.
4. Redistribuições do Estado
Uma vez transformado em um conjunto neoliberal de instituições, o Estado torna-
se um agente primordial de políticas redistributivas, revertendo a direção dos fluxos das
classes altas para as baixas, que era o que ocorria durante a era da hegemonia social-
democrática. Ele o faz principalmente por meio da busca dos esquemas de privatização e
cortes nos gastos públicos que sustentam a renda social. Mesmo quando a privatização
parece benéfica para as classes mais baixas, os seus efeitos de longo prazo podem ser
negativos. À primeira vista, por exemplo, o programa de Thatcher para privatização da
habitação popular na Inglaterra pareceu um presente para as classes baixas, que
finalmente podiam passar do aluguel para a propriedade por um custo módico, ganhando
controle sobre um ativo valioso e aumentando a sua riqueza. Mas, uma vez concluída a
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transferência, a especulação imobiliária tomou conta, particularmente das localidades
centrais, finalmente subornando ou expulsando as populações de baixa renda para a
periferia em cidades como Londres, e transformando antigas áreas de moradia operária
em centros de intensa urbanização. A perda de moradias baratas nas áreas centrais
gerou muitos desabrigados e significou longos percursos para aqueles que tinham
empregos mal pagos. A privatização dos ejidos no México, que constituiu um componente
central do pacote do programa neoliberal durante os anos 90, teve resultados
semelhantes para o destino dos camponeses mexicanos, levando muitos moradores do
campo a irem para as cidades, em busca de emprego. O Estado chinês adotou uma série
completa de medidas draconianas, por meio das quais os bens foram distribuídos entre
uma elite reduzida, em detrimento da massa da população.
O Estado neoliberal consegue redistribuições graças a vários outros meios, como
as revisões no sistema tributário, de modo a beneficiar os retornos de investimento em
vez dos salários e ordenados, promover elementos regressivos no sistema tributário
(como impostos sobre valor adicionado), reduzir gastos estatais públicos, promover o livre
acesso a todos por meio do uso de taxas (exemplo, a educação superior), e prover um
vasto conjunto de subsídios e cortes de taxas para as corporações. Os programas de
bem-estar empresarial agora existentes nos Estados Unidos em nível federal, estadual e
local conduzem a um vasto redirecionamento do dinheiro público em benefício das
empresas (diretamente, como no caso de subsídios para o agronegócio e, indiretamente,
no caso do setor militar-industrial), quase da mesma forma como a dedução das taxas de
juros das hipotecas nos Estados Unidos operam como um maciço subsídio para os
proprietários das classes altas e para a indústria de construção civil. O crescimento da
vigilância e do policiamento e, no caso dos Estados Unidos, do encarceramento dos
indivíduos recalcitrantes da população, indica um papel mais sinistro para um controle
social mais intenso. Nos países em desenvolvimento, onde a oposição ao neoliberalismo
e à acumulação por expropriação pode ser mais forte, o papel do Estado neoliberal
rapidamente assume a função de repressão ativa, chegando ao ponto de travar uma
guerra de baixo perfil contra os movimentos oposicionistas (muitos dos quais podem
agora ser convenientemente designados de ‘terroristas’, de modo a obter apoio e ajuda
militar dos Estados Unidos), como os zapatistas no México ou o movimento de
camponeses sem terra (MST) no Brasil.
Efetivamente, como relata Roy,
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a economia rural indiana, que sustenta 700 milhões de pessoas, está
sendo estrangulada. Os camponeses que produzem muito estão
arruinados, os que produzem pouco também, e trabalhadores agrícolas
sem terra estão desempregados, porque as grandes propriedades e
fazendas estão despedindo seus empregados. Eles estão rumando em
bandos para as cidades, em busca de emprego. (ROY, 2001)
Na China, estima-se que ao menos meio bilhão de pessoas terão de ser
absorvidas pela urbanização nos próximos dez anos, caso se queira evitar o caos e a
revolta. Não está claro o que elas poderão fazer nas cidades, embora, como vimos, os
vastos planos de infra-estrutura física atualmente em andamento devam absorver, em
alguma medida, o excesso de mão-de-obra liberado pela acumulação primitiva.
As táticas redistributivas do neoliberalismo são de amplo espectro, sofisticadas,
freqüentemente disfarçadas por meio de malabarismos intelectuais, porém devastadoras
para a dignidade e o bem-estar social de populações e regiões vulneráveis. A maré de
destruição criativa com que a neoliberalização varreu toda paisagem capitalista não tem
paralelo na história desse sistema. É compreensível, portanto, que ela tenha gerado
resistência e a busca de alternativas viáveis.
ALTERNATIVAS
O neoliberalismo gerou um leque de movimentos alternativos dentro e fora de seu
perímetro. Muitos desses movimentos são radicalmente diferentes dos movimentos
trabalhistas, que dominaram antes de 1980. Digo ‘muitos’, mas não ‘todos’. Os
movimentos trabalhistas de modo algum estão mortos, mesmo nos países capitalistas
avançados, onde eles foram muito debilitados pelo massacre neoliberal do qual são
vítimas. Na Coréia do Sul e na África do Sul surgiram vigorosos movimentos trabalhistas
durante os anos 80, e em muitos países da América Latina partidos trabalhistas estão
florescendo, se é que não estão no poder. Na Indonésia, um partido trabalhista
respeitado, de grande potencial, está lutando para conquistar o seu espaço político. Na
China, o potencial para a agitação trabalhista é imenso, embora imprevisível. Finalmente,
não está claro se a massa da classe trabalhadora nos Estados Unidos, que na última
geração votou consistentemente contra os seus próprios interesses materiais por razões
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de nacionalismo cultural, religião e oposição a múltiplos movimentos sociais, continuará
para sempre prisioneira dessa política, resultante desse tipo de maquinações tanto da
parte dos republicanos, quanto dos democratas. Dada a volatilidade, não há razão para
excluir a ressurgência de uma atividade política trabalhista, com uma forte agenda
antiliberal nos próximos anos.
Contudo, as lutas contra a acumulação por expropriação estão fomentando linhas
bastante distintas de conflito social e político. Em parte graças às condições distintas que
dão origem a tais movimentos, suas orientações políticas e seu modo de organização
divergem notavelmente daqueles próprios da política social-democrata. A rebelião
zapatista, por exemplo, não busca tomar o poder do Estado ou realizar uma revolução
política. Pelo contrário, busca uma política mais inclusiva, percorrendo a sociedade civil
como um todo, numa busca mais aberta e fluida de alternativas que responderiam às
necessidades específicas dos diferentes grupos sociais, permitindo-lhes melhorar a sua
sorte. Do ponto de vista organizacional, o movimento zapatista tende a evitar o
vanguardismo e recusou-se a assumir a forma de um partido político. Preferiu permanecer
como um movimento social dentro do Estado, buscando formar um bloco de poder
político, no qual as culturas indígenas teriam um papel central, e não periférico. Assim,
tratou de realizar algo semelhante a uma revolução passiva dentro da lógica territorial do
poder estatal.
O resultado de todos esses movimentos foi o deslocamento da articulação política
dos partidos políticos tradicionais e de organizações trabalhistas para uma dinâmica
política mais descentralizada de ações sociais, abarcando todo o espectro da sociedade
civil. Mas o que ela perdeu em foco, ganhou em relevância. Ela extrai força da sua
aderência à concretude da vida e da luta cotidiana, mas ao fazê-lo freqüentemente tem
dificuldade em distanciar-se do local e do particular, para entender o que foi e o que é a
macro-política da acumulação neoliberal por expropriação. A diversidade de tais lutas foi e
é espantosa. E é mesmo difícil imaginar as conexões que existem entre elas. Elas foram e
são parte de uma mescla volátil de movimentos de protesto que varreram o mundo e
foram crescentemente conquistando os noticiários durante e após os anos 80
(WIGNARAJA, 1993; BRECHER et al., 2000: GILLS, 2001; BELLO, 2002; MERTES,
2004). Às vezes, esses movimentos e revoltas são esmagados com violência feroz, quase
sempre pelo poder estatal agindo em nome da “ordem e da estabilidade”. Por todo lado,
elas produziram violência interétnica e guerra civil, pois a acumulação por expropriação
fomenta intensas rivalidades sociais e políticas, em um mundo dominado pela tática das
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forças capitalistas de dividir para reinar. Estados clientes, apoiados militarmente ou, em
alguns casos, dispondo de forças especiais treinadas pelos grandes aparatos militares
(liderados pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, com a França desempenhando um
papel secundário), assumem o papel em um sistema de aniquilação e repressão, de
combater duramente movimentos ativistas que confrontam a acumulação por
expropriação.
Os movimentos enquanto tal produziram um grande número de idéias referentes a
alternativas. Alguns tratam de se desvincular parcial ou inteiramente dos desproporcionais
poderes do neoliberalismo e do neoconservadorismo. Outros buscam justiça social global
e ambiental pela reforma e dissolução de poderosas instituições como o FMI, a OMC e o
Banco Mundial. Outros ainda enfatizam o tema da ‘recuperação dos bens comuns’,
apontando com isso forte continuidade com as lutas de antigamente, bem como com as
lutas originadas da amarga história do colonialismo e do imperialismo. Alguns imaginam
uma multidão em movimento, ou um movimento dentro da sociedade civil global para
confrontar os poderes dispersos e descentralizados da ordem neoliberal, enquanto outros,
mais modestamente, cuidam de experimentos locais com novos sistemas de produção e
consumo, animados por modalidades completamente diferentes de relações sociais e
práticas ecológicas. Há ainda aqueles que depositam sua fé em estruturas partidárias,
politicamente mais convencionais, com o objetivo de conquistar o poder do Estado como
etapa necessária para a reforma global da ordem econômica. Muitas dessas diversas
correntes reúnem-se no Fórum Social Mundial, numa tentativa de definir o que têm em
comum e construir um poder organizacional capaz de confrontar as muitas variantes do
neoliberalismo e do neoconservadorismo. Aí há muito a admirar e em que se inspirar.
Mas que tipo de conclusões podemos extrair do tipo de análise que levamos a
cabo aqui? Começando pela história inteira da acomodação social-democrata e a
subseqüente virada para o liberalismo, vê-se o papel crucial desempenhado pela luta de
classes em reprimir ou restaurar o poder de classes. Embora bem disfarçada, nós
convivemos com a completa criação de uma sofisticada luta de classes por parte dos
estratos superiores na sociedade para restaurar ou, como na China e Rússia, para
construir um poder de classe incontestável. Tudo isso ocorreu em décadas nas quais
muitas pessoas progressistas estavam teoricamente convencidas de que ‘classe’ havia se
tornado uma categoria sem sentido, e quando se encontravam sob feroz ataque aquelas
instituições por meio das quais a luta de classes se travava até então, em nome das
classes trabalhadoras. A primeira lição que precisamos aprender, portanto, é que quando
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algo se parece com a luta de classes e atua como luta de classes, deveríamos nomeá-lo
pelo que é. A massa da população deve resignar-se à trajetória histórica e geográfica que
lhe for definida por esse poder de classe incontestável, ou responder a ele em termos de
classe.
Colocar as coisas nesses termos não é cair na nostalgia de alguma idade do ouro
passada, marcada pela mobilização do proletariado. Nem deveria significar,
necessariamente (se é que em algum momento significou) que exista alguma noção
simples de proletariado, à qual deveríamos apelar como o principal agente (muito menos
exclusivo) da transformação histórica. Não há nenhum terreno proletário da fantasia
marxista utópica no qual possamos nos refugiar. Apontar a necessidade e a
inevitabilidade da luta de classes não quer dizer que o modo como as classes se
constituem esteja determinado, ou possa ser determinado previamente. Os movimentos
de classes se autoconstituem, embora não sob as condições de sua livre escolha, e a
análise mostra que essas condições hoje se bifurcam em movimentos em torno da
reprodução ampliada, na qual a exploração do trabalho assalariado e as condições
definidoras da remuneração social são os assuntos centrais, e movimentos em torno da
acumulação por expropriação. Seus focos de resistência, neste caso, vão desde as
formas clássicas de acumulação primitiva, passando pelas práticas destrutivas de
culturas, histórias e meio ambientes, até as depredações forjadas pelas formas
contemporâneas do capital financeiro.
É uma tarefa urgente, teórica e prática, encontrar a conexão orgânica entre esses
diferentes movimentos de classe, mas a análise também mostra que isso ocorre dentro de
uma trajetória histórico-geográfica de acumulação do capital, que se baseia na crescente
conectividade através do espaço e tempo, caracterizada por desenvolvimentos
geográficos profundamente desiguais. Essa desigualdade deve ser entendida como algo
produzido ativamente, e sustentada por processos de acumulação de capital, por mais
importantes que possam ser os sinais residuais de configurações passadas, presentes na
paisagem cultural e no mundo social.
Porém, a análise também aponta para contradições exploráveis dentro da agenda
neoliberal. A lacuna entre a retórica (em benefício de todos) e a realidade (em benefício
de uma pequena classe dirigente) se amplia no espaço e no tempo, e os movimentos
sociais exploraram bastante a questão. A idéia de que o mercado tem a ver com a
competição e a isonomia vem sendo crescentemente negada pela realidade da
extraordinária monopolização, centralização e internacionalização das corporações e do
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poder financeiro. O crescimento alarmante das desigualdades entre classes e entre
regiões, tanto internamente aos países (como na China, Rússia, Índia, México e África do
Sul), quanto internacionalmente, constitui um sério problema político que não pode
continuar a ser varrido para debaixo do tapete, como se fosse problema de uma
‘transição’, a caminho de um mundo neoliberal perfeito. A ênfase neoliberal nos direitos
individuais e o crescente uso autoritário da força do Estado para apoiar o sistema tornam-
se um estopim de conflitos. Quanto mais se reconhece o neoliberalismo como um projeto
falido ou até como um falso projeto utópico, a disfarçar uma tentativa bem sucedida de
restauração do poder de classe, mais se criam as condições para a ressurgência de
movimentos de massa defendendo demandas políticas igualitárias, buscando a justiça
econômica, o comércio justo e uma maior segurança econômica e democratização.
Mas é a natureza profundamente antidemocrática do neoliberalismo que
certamente deveria ser o foco principal da luta política. Instituições de enorme poder como
o Federal Reserve escapam a qualquer controle democrático. Internacionalmente, não
apenas a falta de controle democrático, mas da mais elementar prestação de contas
sobre instituições como o FMI, a OMC e o Banco Mundial, para não falar do esmagador
poder privado das instituições financeiras, ridiculariza toda preocupação séria com a
democracia. Resgatar as reivindicações de governança democrática e de igualdade
econômica, política e cultural, bem como de justiça, não significa sugerir um retorno a um
passado dourado, uma vez que os significados de cada uma dessas instâncias têm de ser
reinventados para lidar com as condições e potencialidades contemporâneas. O
significado de democracia para os antigos atenienses tem muito pouco a ver com o
significado que lhe damos hoje em circunstâncias tão diversas como em São Paulo,
Joanesburgo, Xangai, Manila, São Francisco, Leeds, Estocolmo ou Lagos. Entretanto,
pelo mundo inteiro, na China, no Brasil, na Argentina, em Taiwan ou na Coréia, bem como
na África do Sul, no Irã, na Índia e no Egito, nas batalhadoras nações da Europa Oriental,
bem como no coração do capitalismo contemporâneo, há grupos e movimentos sociais
em ação, lutando por reformas, expressando diversas versões desses valores
democráticos. Esse é apenas um dos aspectos centrais de muitas das lutas que estão
surgindo agora. Quanto mais claramente os movimentos de oposição reconheçam,
contudo, que seu objetivo central deve ser confrontar o poder de classe que foi tão
eficazmente restaurado sob a neoliberalização, tanto maior será a coesão entre eles.
Arrancar a máscara neoliberal e denunciar a sua retórica sedutora, usada tão eficazmente
para justificar e legitimar a restauração daquele poder, é um importante papel a ser
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desempenhado nessa luta. Os neoliberais precisaram de muitos anos para programar e
realizar a sua marcha vitoriosa através das instituições do capitalismo contemporâneo.
Não podemos esperar uma luta menos dura para abrir caminho em outra direção.
NOTAS
* Originalmente publicado em inglês no periódico Geografiska Annaler, Sweden, Series B, Human Geography, v.88 B, n.2, 2006, p.145-58. Agradecemos especialmente aos editores Eric Clark e Jørgen Ole Bærenholdt pela liberação dos direitos de divulgação para a revista INTERFACEHS. Esta publicação está de acordo com a política de liberação de direitos autorais da Blackwell Publishing. Traduzido por Marijane Vieira Lisboa. 1 Ver www.montpelerin.org/aboutmps.html. 2 Bush, G. W. “Garantindo o Triunfo da Liberdade”, New York Times, 11 set. 2002, p.A33. O texto “A Estratégia Nacional de Segurança dos Estados Unidos da América” está disponível em: www.whitehouse.gov/nsc/nss. Ver também Bush, G. W. “O presidente fala à nação em conferência de imprensa matutina”, 13 abr. 2004, disponível em www.whitehouse.gov/news/releases/2004/0420040413-20.html.
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NEO-LIBERALISM AS CREATIVE DESTRUCTION *
David Harvey
The Graduate Center – The City University of New York
ABSTRACT Neoliberalization has swept across the world like a vast tidal wave of institutional reform
and discursive adjustment, entailing much destruction, not only of prior institutional
frameworks and powers, but also of divisions of labor, social relations, welfare provisions,
technological mixes, ways of life, attachments to the land, habits of the heart, ways of
thought, and the like. To turn the neoliberal rhetoric against itself, we may reasonably ask:
in whose particular interests is it that the state take a neoliberal stance and in what ways
have these particular interests used neoliberalism to benefit themselves rather than, as is
claimed, everyone, everywhere? Neoliberalism has spawned a swath of oppositional
movements. The more clearly oppositional movements recognize that their central
objective must be to confront the class power that has been so effectively restored under
neoliberalization, the more they will likely themselves cohere.
Keywords: neoliberalism; creative destruction; class power; accumulation by
dispossession; privatization; financialization; redistribution; democratic alternatives.
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Neoliberalism is in the first instance a theory of political economic practices which
proposes that human well-being can best be advanced by the maximization of
entrepreneurial freedoms within an institutional framework characterized by private
property rights, individual liberty, free markets and free trade. The role of the state is to
create and preserve an institutional framework appropriate to such practices. The state
has to be concerned, for example, with the quality and integrity of money. It must also set
up those military, defence, police and juridical functions required to secure private property
rights and to support freely functioning markets. Furthermore, if markets do not exist (in
areas such as education, health care, social security or environmental pollution) then they
must be created, by state action if necessary; but beyond these tasks the state should not
venture. State interventions in markets (once created) must be kept to a bare minimum
because the state cannot possibly possess enough information to second-guess market
signals (prices), and because powerful interests will inevitably distort and bias state
interventions (particularly in democracies) for their own benefit.
The actual practices of neoliberalism frequently diverge from this template for a
variety of reasons. Nevertheless, there has everywhere been an emphatic turn, ostensibly
led by the Thatcher/Reagan revolutions in Britain and the US, in political-economic
practices and thinking since the 1970s. State after state, from the new states that emerged
from the collapse of the Soviet Union to old-style social democracies and welfare states
such as New Zealand and Sweden, have embraced, sometimes voluntarily and in other in-
stances in response to coercive pressures, some version of neoliberal theory and adjusted
at least some of their policies and practices accordingly. Post-apartheid South Africa
quickly embraced the neoliberal frame, and even contemporary China appears to be
heading in this direction. Furthermore, the advocates for the neoliberal way now occupy
positions of considerable influence in education (the universities and many ‘think tanks’), in
the media, in corporate boardrooms and financial institutions, in key state institutions
(treasury departments, the central banks) and also in those international institutions such
as the IMF and the WTO that regulate global finance and trade. Neoliberalism has, in
short, become hegemonic as a mode of discourse, and has pervasive effects on ways of
thought and political-economic practices to the point where it has become incorporated
into the common-sense way we interpret, live in and understand the world.
Neoliberalization has in effect swept across the world like a vast tidal wave of
institutional reform and discursive adjustment, and while there is plenty of evidence of its
uneven geographical development, no place can claim total immunity (with the exception
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of a few states such as North Korea). Furthermore, the rules of engagement now
established through the WTO (governing international trade) and by the IMF (governing
international finance) instanciate neoliberalism as a global set of rules. All states that sign
on to the WTO and the IMF (and who can afford to stay out?) agree to abide (albeit with a
‘grace period’ to permit smooth adjustment) by these rules or face severe penalties.
The creation of this neoliberal system has obviously entailed much destruction, not
only of prior institutional frameworks and powers (such as the supposed prior state
sovereignty over political-economic affairs) but also of divisions of labour, social relations,
welfare provisions, technological mixes, ways of life, attachments to the land, habits of the
heart, ways of thought, and so on. Some assessment of the positives and negatives of this
neoliberal revolution is called for. In what follows, therefore, I will outline some preliminary
arguments as to how to both understand and evaluate this transformation in the way global
capitalism is working. This requires that we come to terms with the underlying forces,
interests and agents that have propelled the neoliberal revolution forward with such
relentless intensity. To turn the neoliberal rhetoric against itself, we may reasonably ask: In
whose particular interests is it that the state takes a neoliberal stance and in what ways
have these particular interests used neoliberalism to benefit themselves rather than, as is
claimed, everyone, everywhere?
THE ‘NATURALIZATION’ OF NEOLIBERALISM
For any system of thought to become hegemonic requires the articulation of
fundamental concepts that become so deeply embedded in common-sense
understandings that they become taken for granted and beyond question. For this to occur
not any old concepts will do. A conceptual apparatus has to be constructed that appeals
almost ‘naturally’ to our intuitions and instincts, to our values and our desires, as well as to
the possibilities that seem to inhere in the social world we inhabit. The founding figures of
neoliberal thought took political ideals of individual liberty and freedom as sacrosanct, as
‘the central values of civilization’, and in so doing they chose wisely and well, for these are
indeed compelling and great attractors as concepts. These values were threatened, they
argued, not only by fascism, dictatorships and communism, but by all forms of state
intervention that substituted collective judgements for those of individuals set free to
choose. They then concluded that without “the diffused power and initiative associated
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with (private property and the competitive market) it is difficult to imagine a society in which
freedom may be effectively preserved”.1
Leaving aside the question of whether the final part of the argument necessarily
follows from the first, there can be no doubt that the concepts of liberty and freedom of the
individual are powerful and appealing in their own right, even beyond those terrains where
the liberal tradition has had a strong historical presence. Such ideals empowered the
dissident movements in Eastern Europe and the Soviet Union before the end of the Co1d
War as well as the students in Tianenmen Square. The student movement that swept the
world in 1968 – from Paris and Chicago to Bangkok and Mexico City – was in part
animated by the quest for greater freedoms of speech and of individual choice. These
ideals have proven again and again to be a powerful historical force for change.
Hardly surprisingly, therefore, appeals to freedom and liberty surround us
rhetorically at every turn and populate all manner of contemporary political manifestos.
This has been particularly true of the United States in recent years. On the first anni-
versary of the attacks now known as ‘9/11’, President Bush, for example, wrote an op-ed
piece for the New York Times that extracted ideas from the US National Defense Strategy
document issued shortly thereafter. “A peaceful world of growing freedom,” he wrote (as
the US geared up to go to war with Iraq), “serves American long-term interests, reflects
enduring American ideals and unites America’s allies.” “Humanity,” he concluded, “holds in
its hands the opportunity to offer freedom’s triumph over all its age-old foes” and “the
United States welcomes its responsibilities to lead in this great mission.” Even more
emphatically, he later proclaimed that “freedom is the Almighty’s gift to every man and
woman in this world” and “as the greatest power on earth (the US has) an obligation to
help the spread of freedom”.2
So when all the other reasons for engaging in a pre-emptive war against Iraq were
proven fallacious or at least wanting, the Bush Administration appealed increasingly to the
idea that the freedom conferred upon Iraq was in and of itself an adequate justification for
the war. But what sort of ‘freedom’ was envisaged here, since, as the cultural critic Mathew
Arnold long ago thoughtfully observed: “freedom is a very good horse to ride, but to ride
somewhere” (cited in WILLIAMS, 1958, p.118). To what destination, then, were the Iraqi
people expected to ride the horse of freedom so selflessly donated to them by force of
arms?
The US answer was spelled out on 19 September, 2003, when Paul Bremer, head
of the Coalition Provisional Authority, promulgated four orders that included “the full
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privatization of public enterprises, full ownership rights by foreign firms of Iraqi businesses,
full repatriation of foreign profits... the opening of Iraq’s banks to foreign control, national
treatment for foreign companies and... the elimination of nearly all trade barriers”
(JUHASZ, 2004). The orders were to apply to all areas of the economy, including public
services, the media, manufacturing, services, transportation, finance and construction.
Only oil was exempt. A regressive tax system favoured by conservatives called a flat tax
was also instituted. The right to strike was outlawed and unions banned in key sectors. An
Iraqi member of the Coalition Provisional Authority protested the forced imposition of “free
market fundamentalism”, describing it as “a flawed logic that ignores history”
(CRAMPTON, 2003, p.C5). However, the interim Iraqi government appointed at the end of
June 2004 was accorded no power to change or write new laws: it could only confirm the
decrees already promulgated.
What the US evidently sought to impose upon Iraq was a full-fledged neoliberal
state apparatus whose fundamental mission was and is to facilitate conditions for
profitable capital accumulation for all comers, Iraqis and foreigners alike. The Iraqis were,
in short, expected to ride their horse of freedom straight into the coral of neoliberalism.
According to neoliberal theory, Bremer’s decrees are both necessary and sufficient for the
creation of wea1th and therefore for the improved well-being of the Iraqi people. They are
the proper foundation for an adequate rule of law, individual liberty and democratic
governance. The insurrection that followed can in part be interpreted, therefore, as Iraqi
resistance to being driven into the embrace of free market fundamentalism against their
own free will.
It is useful to recall, however, that the first great experiment with neoliberal state
formation was Chile following Pinochet’s coup almost thirty years to the day before
Bremer’s decrees were issued, on the ‘little September 11th’ of 1973. The coup, against
the democratically elected and leftist social democratic government of Salvador Allende,
was strongly backed by the CIA and supported by US Secretary of State Henry Kissinger.
It violently repressed all the social movements and political organizations of the Left and
dismantled all forms of popular organization (such as the community health centres in
poorer neighbourhoods). The labour market was ‘freed’ from regulatory or institutional
restraints (for example, trade union power). However, by 1973 the policies of import
substitution that had formerly dominated in Latin American attempts at economic
regeneration (and which had succeeded to some degree in Brazil after the military coup of
1964) had fallen into disrepute. With the world economy in the midst of a serious
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recession, something new was plainly called for. A group of US economists, known as ‘the
Chicago boys’ because of their attachment to the neoliberal theories of Milton Friedman
then teaching at the University of Chicago, were summoned to he1p reconstruct the
Chi1ean economy. They did so along free market lines, privatizing public assets, opening
up natural resources to private exploitation and facilitating foreign direct investment and
free trade. The right of foreign companies to repatriate profits from their Chilean operations
was guaranteed. Export-led growth was favoured over import substitution. The subsequent
revival of the Chilean economy in terms of growth rates, capital accumulation, and high
rates of return on foreign investments, provided evidence upon which the subsequent turn
to more open neo1iberal policies both in Britain (under Thatcher) and the US (under
Reagan) could be modelled. Not for the first time, a brutal experiment in creative
destruction carried out in the periphery became a model for the formulation of policies in
the centre (VALDEZ, 1995).
The fact that two such obviously similar restructurings of the state apparatus
occurred at such different times in quite different parts of the world under the coercive
influence of the United States might be taken as indicative. It suggests that the grim reach
of US imperial power might lie behind the rapid proliferation of neoliberal state forms
throughout the world from the mid-1970s onwards. While there have been strong elements
of this at work over the past thirty years, this is by no means constitutive of the whole
story. It was not the US, after all, that forced Margaret Thatcher to take the neoliberal path
she took in 1979, and during the early 1980s Thatcher was a far more consistent advocate
of neoliberalism than Reagan ever proved to be. Nor was it the US that forced China in
1978 to begin upon a path of liberalization which has brought it closer and closer to the
embrace of neoliberalism over time. It would be hard to attribute the moves towards
neoliberalism in India and Sweden in 1992 to the imperial reach of US power. The uneven
geographical development of neoliberalism on the world stage has been, evidently, a very
complex process entailing multiple determinations and not a little chaos and confusion. So
why, then, did the neoliberal turn occur and what were the forces compelling it onward to
the point where it has now become so hegemonic a system within global capitalism?
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WHY THE NEOLIBERAL TURN?
Towards the end of the 1960s global capitalism was falling into disarray. Serious
recession occurred in early 1973 – the first since the great slump of the 1930s. The oil
embargo and oil price hike that occurred later that year in the wake of the Arab-Israeli war
exacerbated already serious problems. It was clear that the ‘embedded capitalism’ of the
postwar period with its heavy emphasis upon some sort of uneasy compact between
capital and labour brokered by an interventionist state that paid great attention to the social
(i.e. welfare state) as well as the individual wage, was no longer working. The Bretton
Woods system set up to regulate international trade and finance was finally abandoned in
favour of floating exchange rates in 1973. This system had delivered high rates of growth
in the advanced capitalist countries and generated some spill-over benefits (most
obviously to Japan but also unevenly across South America and to some other countries
of South East Asia) during the ‘golden age’ of capitalism in the 1950s and early 1960s. But
it was now exhausted and some alternative was obviously needed to restart the processes
of capital accumulation (ARMSTRONG et al., 1991). Whatever reforms were achieved,
they obviously had to seek to re-establish appropriate conditions for the revival of capital
accumulation. How and why neoliberalism emerged victorious as the only possible answer
to this problem is a far too complicated story to detail here. In retrospect it may seem that
the answer was both inevitable and obvious, but at the time I think it is fair to say that no
one really knew or understood with any certainty what kind of answer would work and how.
The world stumbled towards neoliberalism as the answer through a series of gyrations and
chaotic motions that really only converged upon neoliberalism as the new orthodoxy with
the construction of the so-called ‘Washington Consensus’ in the 1990s. The uneven
geographical development of neoliberalism, its frequently partial and lopsided application
from one state and social formation to another, testifies to the tentativeness of neoliberal
solutions and the complex ways in which political forces, historical traditions and existing
institutional arrangements all shaped why and how the process of neoliberalization actually
occurred.
There is, however, one element within this transition that deserves specific
attention. The crisis of capital accumulation in the 1970s affected everyone through the
combination of rising unemployment and accelerating inflation. Discontent was
widespread, and the conjoining of labour and urban social movements throughout much of
the advanced capitalist world appeared to point towards the emergence of a socialist
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alternative to the social compromise between capital and labour that had grounded capital
accumulation so successfully in the post-war period. Communist and socialist parties were
gaining ground across much of Europe, and even in the United States popular forces were
agitating for widespread reforms and state interventions in everything ranging from
environmental protection to occupational safety and health and consumer protection from
corporate malfeasance. There was, in this, a clear political threat to ruling classes
everywhere, both in the advanced capitalist countries (such as Italy and France) as well as
in many developing countries (such as Mexico and Argentina), but beyond this, the
economic threat to the position of the ruling classes was now becoming palpable. One
condition of the post-war settlement in almost all countries was that the economic power of
the upper classes be restrained and that labour be accorded a much larger share of the
economic pie. In the US, for example, the share of the national income taken by the top
1% of income earners fell from a pre-war high of 16% to less than 8% by the end of the
Second World War and stayed close to that level for nearly three decades. While growth
was strong this restraint seemed not to matter, but when growth collapsed in the 1970s,
when real interest rates went negative, and paltry dividends and profits were all that were
possible then, the ruling class itself felt deeply threatened economically. Ruling classes
had to move decisively if they were to protect their power from political and economic
annihilation.
The coup in Chile and the military takeover in Argentina, both fomented and led
internally by ruling elites with US support, provided one kind of solution, but the Chilean
experiment with neoliberalism demonstrated that the benefits of revived capital
accumulation were highly skewed. The country and its ruling elites along with foreign
investors did well enough, while the people in general fared badly. This has been a
persistent enough effect of neoliberal policies over time as to be regarded as structural to
the whole project. Indeed, Dumenil and Levy go so far as to argue that neoliberalism was
from the very beginning a project to achieve the restoration of class power to the richest
strata in the population. They show how from the mid-1980s onwards the share of the top
1% of income earners soared suddenly to reach 15 % by the end of the century. Other
data show that the top 0.1 % of income earners increased their share of the national
income from 2% in 1978 to over 6% by 1999. Another measure shows that the ratio of the
median compensation of workers to the salaries of CEOs increased from just over thirty to
one in 1970 to more than four hundred to one by 2000. Almost certainly, with the Bush
Administration’s tax cuts now taking effect, the concentration of income and of wealth in
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the upper echelons of society is continuing a-pace (DUMENIL and LEVY, 2004, p.4; see
also TASK FORCE, 2004, p.3) and the US is not alone in this: the top 1 % of income
earners in Britain have doubled their share of the national income from 6.5% to 13% over
the past twenty years, when we look further afield we see the extraordinary concentrations
of wealth and power within a small oligarchy after neoliberal ‘shock therapy’ had been
administered to Russia, and an extraordinary surge in income inequalities and wealth in
China as it adopts more neoliberal practices. While there are exceptions to this trend
(several East and Southeast Asian countries have contained income inequalities within
modest bounds, as have France and the Scandinavian countries), the evidence strongly
suggests that the neoliberal turn is in some way and to some degree associated with a
project to restore or reconstruct upper-class power.
We can therefore examine the history of neoliberalism either as a utopian project
providing a theoretical template for the reorganization of international capitalism or as a
political project concerned both to re-establish the conditions for capital accumulation and
the restoration of class power. In what follows I shall argue that the last of these objectives
has dominated. Neoliberalism has not proven good at revitalizing global capital
accumulation but it has succeeded remarkably well in restoring class power. As a
consequence, the theoretical utopianism of neoliberal argument has worked more as a
system of justification and legitimation for whatever had to be done to restore class power.
The principles of neoliberalism are quickly abandoned whenever they conflict with this
class project.
TOWARDS THE RESTORATION OF CLASS POWER
If there was a movement to restore class power within global capitalism, how was
this done and by whom? The answer in countries such as Chile and Argentina was as
simple as it was swift, brutal and sure: a military coup backed by the upper classes and the
subsequent fierce repression of all solidarities created within the labour and urban social
movements that had so threatened their power. Elsewhere, as in Britain and Mexico in
1976, it took the gentle prodding of a not yet fiercely neoliberal International Monetary
Fund to push countries towards a practice (though by no means a policy commitment) to
cut back on social expenditures and the welfare state in order to re-establish fiscal probity.
In Britain, of course, Margaret Thatcher later took up the neoliberal cudgels with a
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vengeance in 1979 and wielded them to great effect, even though she never fully
overcame opposition within her own party and could never effectively challenge such
centrepieces of the welfare state as the National Health Service. Interestingly, it was only
in 2004 that the Labour government dared to introduce a fee structure into higher
education. The process of neoliberalization has been halting, geographically uneven and
heavily influenced by the balance of class and other social forces ranged for or against its
central propositions within particular state formations, and even within particular sectors
(such as health and education) (YERGIN and STANISLAW, 1999).
It is, however, interesting to look more specifically at how the process unfolded in
the US, since this case was pivotal in influencing the global transformations that later
occurred. In this instance various threads of power intertwined to create a very particular
rite of passage that culminated in the Republican Party takeover of Congressional power
in the mid-1990s, vowing what was in effect a totally neoliberal ‘Contract on America’ as a
programme of domestic action. But before that point many steps were involved, each
building upon and reinforcing the other.
To begin with, there was a growing sense among the upper classes by 1970 or so
that the anti-business and anti-imperialist climate that had emerged towards the end of the
1960s had gone too far. In a celebrated memo, Lewis Powell (about to be elevated to the
Supreme Court by Nixon) urged the American Chamber of Commerce in 1971 to mount a
collective campaign to demonstrate that what was good for business was good for
America. Shortly thereafter a shadowy but deeply influential and powerful Business Round
Table was formed (it still exists and plays a significant strategic role in Republican Party
politics). Corporate Political Action Committees (legalized under the post-Watergate
campaign finance laws of 1974) proliferated like wildfire and, with their activities judged
protected under the First Amendment as a form of free speech in a 1976 Supreme Court
decision, the systematic capture of the Republican Party as the unique class instrument of
collective (rather than particular and individual) corporate and financial power began. But
the Republican Party needed a popular base. This proved more problematic but the
incorporation of the leaders of the Christian Right – depicted as a ‘moral majority’ – with
the Business Round Table provided the solution. A large segment of a disaffected,
insecure and largely white working class was persuaded to systematically vote against its
own material interests on cultural (anti-liberal, black, feminist and gay), nationalist and
religious grounds. By the mid-1990s the Republican Party had lost almost all of its ‘liberal’
elements and become a homogeneous right wing machine connecting the financial
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resources of large corporate capital with a populist base among a ‘moral majority’ that was
particularly strong in the US South (EDSALL, 1984; COURT, 2003; FRANK, 2004).
The second element to the US transition was the problem of fiscal discipline. The
recession of 1973-1975 diminished tax revenues at all levels at a time of rising demand for
social expenditures. Deficits emerged everywhere as a key problem. Something had to be
done about the fiscal crisis of the state. The restoration of fiscal discipline was essential.
This empowered those financial institutions that controlled the lines of credit to the state. In
1975 they refused to roll-over the debt of New York City and forced the city close to the
edge of bankruptcy. A powerful cabal of bankers joined together with state power to
discipline the city. This meant curbing the aspirations of the city’s powerful municipal
unions, lay-offs in public employment, wage freezes, cut -backs in social provision
(education, public health, transport services) and imposition of user fees (tuition was
introduced in the CUNY university system for the first time). The bail-out entailed the
construction of new institutions that had first rights to city tax revenues in order to pay off
bond holders: whatever was left went into the city budget for essential services. The final
indignity was the requirement that municipal unions invest their pension funds in city bonds
to make sure that unions moderated their demands to avoid the danger of losing their
pension funds through city bankruptcy.
This amounted to a coup by the financial institutions against the democratically
elected government of New York City and it was every bit as effective as the military coup
that had occurred earlier in Chile. Much of the social infrastructure of the city was
destroyed and the physical infrastructure (e.g. the transit system) deteriorated markedly for
lack of investment or even maintenance. The management of the New York fiscal crisis
pioneered the way for neoliberal practices both domestically under Reagan and
internationally through the International Monetary Fund in the 1980s. It established the
principle that in the event of a conflict between the integrity of financial institutions and
bond holders on the one hand and the well-being of the citizens on the other, the former
was to be preferred. It hammered home the view that the role of government was to create
a good business climate rather than look to the needs and well-being of the population at
large. Fiscal redistributions of benefit to the upper classes resulted in the midst of a
general fiscal crisis. Whether all the agents involved in producing this fiscal compromise in
New York understood it at the time as a tactic for the restoration of upper-class power is
an open question. The need to maintain fiscal discipline is a matter of deep concern in its
own right and does not have to lead to the restoration of class power. It is unlikely,
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therefore, that Felix Rohatyn, the key merchant banker who brokered the deal between the
city, the state and the financial institutions, had the restoration of class power in mind, but
this objective was probably very much in the minds of the investment bankers. It was
almost certainly the aim of then Secretary of the Treasury William Simon who, having
watched the progress of events in Chile with approval, refused to give aid to the city and
openly stated that he wanted New York City to suffer so badly that no other city in the
nation would ever dare take on social obligations in this way again (ALCALY and
MERMELSTEIN, 1977; TABB, 1982).
The third element in the US transition entailed an ideological assault upon the
media and upon educational institutions. Independent ‘think-tanks’ financed by wealthy
individuals and corporate donors proliferated (the Heritage Foundation taking the lead) to
prepare a discursive onslaught to persuade the public of the common sense of neoliberal
propositions. A flood of policy papers and propositions and a veritable hired army of well-
paid lieutenants trained to promote neoliberal ideas and ideals coupled with corporate
acquisition of media power effectively changed the discursive climate in the US by the mid-
1980s. The project to ‘get government off the backs of the people’ and to shrink
government to the point where it could be ‘drowned in a bathtub’ was loudly proclaimed. In
this the promoters of the new gospel found a ready audience in that wing of the movement
of 1968 whose goal was greater individual liberty and freedom from state power and the
manipulations of monopoly capital. The libertarian argument for neoliberalism proved a
powerful force for change and to the degree that capitalism itself reorganized to both open
up a space for individual entrepreneurial endeavours and switch its efforts into satisfying
the innumerable niche markets (particularly those defined by sexual liberation) that were
spawned out of an increasingly individualized consumerism, so it could match words with
deeds.
This carrot of individualized entrepreneurialism and consumerism was backed by
the big stick taken by both the state and financial institutions to that other wing of the ’68
movement that sought social justice through collective endeavors and social solidarities.
Reagan’s destruction of the air traffic controllers in 1980 and Margaret Thatcher’s defeat of
the British miners in 1984 were crucial moments in the global turn towards neoliberalism.
The assault upon all those institutions, such as trade unions and welfare rights
organizations, that sought to protect and further working-class interests, was as broad as it
was deep. In addition, the savage cut-backs in social expenditures and the welfare state,
the passing of all responsibility for their well-being to individuals and their families,
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proceeded apace. However, these practices did not and could not stop at national borders.
After 1980 the US, now firmly committed to neoliberalization and clearly backed by Britain,
sought, through a mix of leadership, persuasion (the economics departments of US
research universities played a major role in training many of the economists from around
the world in neoliberal principles) and coercion to export neoliberalization far and wide.
The purge of Keynesian economists and their replacement by neoliberal monetarists in the
International Monetary Fund in 1982 transformed the IMF (dominated by the US) into a
prime agent of neoliberalization through its structural adjustment programmes visited upon
any state (and there were many in the 1980s and 1990s) that required its help with debt
repayments. The ‘Washington Consensus’ that was forged in the 1990s, and the
negotiating rules set up under the World Trade Organization that was established in 1998,
confirmed the global turn towards neoliberal practices (STIGLITZ, 2002).
But this international dimension also depended upon the reanimation and
reconfiguration of the US imperial tradition. That tradition, arrived at in Central America in
the 1920s, sought a form of imperialism without colonies. Independent republics could be
kept under the thumb of US influence and effectively act, in the best of cases, as proxies
for US interests, by supporting a ‘strong man’ (e.g. Somoza in Nicaragua, the Shah of Iran
and Pinochet in Chile) and a coterie of followers with military assistance and financial aid.
Covert assistance was available to promote the rise to power of such leaders, but by the
1970s it became clear that something else was needed: the opening of markets, of new
spaces for investment, and clear fields where financial powers could operate securely
entailed a much closer integration of the global economy with a well-defined financial
architecture. The creation of new institutional practices, such as those set out by the IMF
and the WTO, provided convenient vehicles through which financial and market power
could be exercised. But for this to happen required collaboration among the most powerful
capitalist powers, and the G7 brought Europe and Japan into alignment with the US to
shape the global financial and trading system in ways that effectively forced all other
nations to submit. ‘Rogue nations’ defined as those that failed to conform to these global
rules could then be dealt with by sanctions or coercive even military force if necessary. In
this way US neoliberal imperialist strategies were articulated through a global network of
power relations, one effect of which was to permit the US upper classes to exact financial
tribute and to command rents from the rest of the world as a means to augment its already
overwhelming power (HARVEY, 2003).
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In what ways may it be said that neoliberalization has resolved the problems of
flagging capital accumulation? Its actual record in stimulating economic growth is dismal.
Aggregate growth rates stood at 3.5% or so in the 1960s and even during the troubled
1970s fell to only 2.4%. But the subsequent global growth rates of 1.4% and 1.1 % for the
1980s and 1990s (and a rate that barely touches 1% since 2000) indicate that
neoliberalism has broadly failed to stimulate worldwide growth (WORLD COMMISION,
2004). Even if we exclude from this the catastrophic effects of the collapse of the Russian
and some Central European economies in the wake of the neoliberal shock therapy
treatment of the 1990s, the global economic performance from the standpoint of restoring
the conditions of general capital accumulation has been weak.
In spite of all the rhetoric about curing sick economies, neither Britain nor the US
achieved high levels of economic performance in the 1980s, for example. The 1980s in
fact belonged to Japan, the East Asian ‘tiger’ economies and West Germany as
powerhouses of the global economy. The fact that these proved very successful in spite of
radically different institutional arrangements makes it difficult to argue for some simple turn
to (let alone imposition of) neoliberalism on the world stage as an obvious economic
palliative. To be sure, the West German Bundesbank had taken a strongly monetarist line
(consistent with neoliberalism) for more than two decades, thus suggesting that there is no
necessary connection between monetarism per se and the quest to restore class power. In
West Germany the unions remained very strong and wage levels stayed relatively high
alongside the construction of a progressive welfare state apparatus. One of the effects
was to stimulate a high rate of technological innovation, and this kept West Germany well
ahead of the field in international competition. Export-led growth could power the country
forward as a global leader. In Japan, independent unions were weak or non-existent, but
state investment in technological and organizational change and the tight relationship
between corporations and financial institutions (an arrangement that also proved felicitous
in West Germany) generated an astonishing export-led growth performance, very much at
the expense of other capitalist economies such as the UK and the US. Such growth as
there was in the 1980s (and the aggregate rate of growth in the world was lower even than
that of the troubled 1970s) did not depend, therefore, upon neoliberalization. Many
European states therefore resisted neoliberal reforms and increasingly found ways to
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preserve much of their social democratic heritage whi1e moving, in some cases fairly suc-
cessfully, towards the West German model. In Asia, the Japanese model implemented
under authoritarian systems of governance in South Korea, Taiwan and Singapore also
proved viable and consistent with reasonable equality of distribution. It was only in the
1990s that neoliberalization began to pay off for both the US and the UK. This happened in
the midst of a long drawn-out period of deflation in Japan and relative stagnation in a
newly unified Germany. It is a moot point, however, as to whether the Japanese recession
occurred as a simple result of competitive pressures or whether it was engineered by
powerful class forces in the US using all their financial power to humble the Japanese
economy.
So why, then, in the face of this patchy if not dismal record, have we been so
persuaded that neoliberalization is such a successful solution? Over and beyond the
persistent stream of propaganda emanating from the neoliberal think-tanks and suffusing
the media, two material reasons stand out. First, neoliberalization has been accompanied
by increasing volatility within global capitalism. The fact that ‘success’ was to be had
somewhere obscured the fact that neoliberalism was generally failing. The extreme
volatility entailed periodic episodes of growth interspersed with intense phases of creative
destruction, most usually registered as severe financial crises. Argentina opened itself up
to foreign capital and privatization in the 1990s and for several years was the darling of
Wall Street, only to collapse into total disaster as international capital withdrew at the end
of the decade. Financial collapse and social devastation was quick1y followed by a long
drawn-out political crisis. Financial crises proliferated all over the developing world and in
some instances, such as Brazil and Mexico, repeated waves of structural adjustment and
austerity led to economic paralysis.
But neoliberalism has been a huge success from the standpoint of the upper
classes. It has either restored class power to ruling elites (as in the US and Britain) or
created conditions for capitalist class formation (as in China, India, Russia and elsewhere).
Even countries that have suffered extensively from neoliberalization have seen the
massive reordering of class structures internally. The wave of privatization that carne to
Mexico with the Salinas administration in 1992 spawned extraordinary concentrations of
wealth in the hands of a few people (such as Carlos Slim who took over the state
telephone system and became an instant billionaire). With the media dominated by upper-
class interests, the myth could be propagated that territories failed because they were not
competitive enough (thereby setting the stage for even more neoliberal reforms). In-
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creased social inequality within a territory was necessary to encourage the entrepreneurial
risk and innovation that conferred competitive power and stimulated growth. If conditions
among the lower classes deteriorated, this was because they failed, usually for personal
and cultural reasons, to enhance their own human capital (through dedication to ed-
ucation, the acquisition of a protestant work ethic, submission to work discipline and
flexibility and so on). Particular problems arose, in short, due to lack of competitive
strength or personal, cultural and political failings. In a Darwinian world, the argument
went, only the fittest should and do survive. Systemic problems were masked under a
blizzard of ideological pronouncements and under a plethora of localized crises.
If the main achievements of neoliberalism have been redistributive rather than
generative, then ways had to be found to transfer assets and redistribute wealth and
income either from the mass of the population towards the upper classes or from
vulnerable to richer countries. I have elsewhere provided an account of these mechanisms
under the rubric of “accumulation by dispossession” (HARVEY, 2003, ch. 4). By this I
mean the continuation and proliferation of accumulation practices that Marx had treated as
‘primitive’ or ‘original’ during the rise of capitalism. These include the commodification and
privatization of land and the forceful expulsion of peasant populations (as in Mexico and
India in recent times); conversion of various forms of property rights (e.g. common,
collective, state) into exclusive private property rights; suppression of rights to the
commons; commodification of labour power and the suppression of alternative (in-
digenous) forms of production and consumption; colonial, neocolonial and imperial
processes of appropriation of assets (including natural resources); monetization of
exchange and taxation, particularly of land; the slavetrade (which continues particularly in
the sex industry); and usury, the national debt and, most devastating of all, the use of the
credit system as radical means of primitive accumulation. The state, with its monopoly of
violence and definitions of legality, plays a crucial role both in backing and promoting these
processes, and in many instances has resorted to violence. To this list of mechanisms we
may now add a raft of additional techniques, such as the extraction of rents from patents
and intellectual property rights and the diminution or erasure of various forms of common
property rights (such as state pensions, paid vacations, access to education and health
care) won through a generation or more of social democratic class struggle. The proposal
to privatize all state pension rights (pioneered in Chile under the dictatorship) is, for
example, one of the cherished objectives of neoliberals in the US.
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While in the cases of China and Russia, it might be reasonable to refer to recent
events in ‘primitive’ and ‘original’ terms, the practices that restored class power to capitalist
elites in the US and elsewhere are best described as an ongoing process of accumulation
by dispossession that rose rapidly to prominence under neoliberalism. I isolate four main
elements.
1. Privatization
The corporatization, commodification and privatization of hitherto public assets has
been a signal feature of the neoliberal project. Its primary aim has been to open up new
fields for capital accumulation in domains hitherto regarded off-limits to the calculus of
profitability. Public utilities of all kinds (water, telecommunications, transportation), social
welfare provision (social housing, education, health care, pensions), public institutions
(such as universities, research laboratories, prisons) and even warfare (as illustrated by
the ‘army’ of private contractors operating alongside the armed forces in Iraq) have all
been privatized to some degree throughout the capitalist world. The intellectual property
right established through the so-called TRIPS agreement within the WTO defines genetic
materials, seed plasmas, and all manner of other products, as private property. Rents for
use can then be extracted from populations whose practices had played a crucial role in
the development of these genetic materials. Biopiracy is rampant and the pillaging of the
world’s stockpile of genetic resources is well under way to the benefit of a few large phar-
maceutical companies. The escalating depletion of the global environmental commons
(land, air, water) and proliferating habitat degradations that preclude anything but capital-
intensive modes of agricultural production have likewise resulted from the wholesale
commodification of nature in all its forms. The commodification (through tourism) of cultural
forms, histories and intellectual creativity entails wholesale dispossessions (the music
industry is notorious for the appropriation and exploitation of grass-roots culture and
creativity). As in the past, the power of the state is frequently used to force such processes
through, even against popular will. The rolling back of regulatory frameworks designed to
protect labour and the environment from degradation has entai1ed the loss of rights. The
reversion of common property rights won through years of hard class struggle (the right to
a state pension, to welfare, to national health care) into the private domain has been one
of the most egregious of all policies of dispossession pursued in the name of neoliberal
orthodoxy. All of these processes amount to the transfer of assets from the public and
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popular realms to the private and class-privileged domains. Privatization, Arundhati Roy
argues with respect to the Indian case, entails
the transfer of productive public assets from the state to private companies.
Productive assets include natural resources. Earth, forest, water, air. These
are the assets that the state holds in trust for the people it represents… To
snatch these away and sell them as stock to private companies is a process
of barbaric dispossession on a scale that has no parallel in history. (ROY,
2001)
2. Financialization
The strong wave of financialization that set in after 1980 has been marked by its
speculative and predatory style. The total daily turnover of financial transactions in
international markets which stood at $2.3 billion in 1983 had risen to $130 billion by 2001.
This $40 trillion annual turnover in 2001 compares to the estimated $800 billion that would
be required to support international trade and productive investment flows (DICKEN, ch.
13). Deregulation allowed the financial system to become one of the main centres of
redistributive activity through speculation, predation, fraud and thievery. Stock promotions,
ponzi schemes, structured asset destruction through inflation, asset stripping through
mergers and acquisitions, the promotion of levels of debt incumbency that reduced whole
populations, even in the advanced capitalist countries, to debt peonage, to say nothing of
corporate fraud, dispossession of assets (the raiding of pension funds and their decimation
by stock and corporate collapses) by credit and stock manipulations – all of these became
central features of the capitalist financial system. The emphasis on stock values that arose
out of bringing together the interests of owners and managers of capital through the
remuneration of the latter in stock options led, as we now know, to manipulations in the
market that brought immense wealth to a few at the expense of the many. The spectacular
collapse of Enron was emblematic of a general process that dispossessed many of their
livelihoods and their pension rights. Beyond this, we also have to look at the speculative
raiding carried out by hedge funds and other major institutions of finance capital, since
these formed the real cutting edge of accumulation by dispossession on the global stage,
even as they supposedly conferred the positive benefit for the capitalist class of ‘spreading
risks’.
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3. The management and manipulation of crises
Beyond the speculative and often fraudulent froth that characterizes much of
neoliberal financial manipulation, there lies a deeper process that entails the springing of
‘the debt trap’ as a primary means of accumulation by dispossession. Crisis creation,
management and manipulation on the world stage has evolved into the fine art of
deliberative redistribution of wealth from poor countries to the rich. By suddenly raising
interest rates in 1979, Volcker raised the proportion of foreign earnings that borrowing
countries had to put to debt-interest payments. Forced into bankruptcy, countries such as
Mexico had to agree to structural adjustment. While proclaiming its role as a noble leader
organizing ‘bail-outs’ to keep global capital accumulation stable and on track, the US could
also open up the way to pillage the Mexican economy through deployment of its superior
financial power under conditions of local crisis. This was what the US Treasury/Wall
Street/IMF complex became expert at doing everywhere. Greenspan at the Federal Re-
serve deployed the same Volcker tactic several times in the 1990s. Debt crises in
individual countries, uncommon during the 1960s, became very frequent during the 1980s
and 1990s. Hardly any developing country remained untouched and in some cases, as in
Latin America, such crises were frequent enough to be considered endemic. These debt
crises were orchestrated, managed and controlled both to rationalize the system and to
redistribute assets during the 1980s and 1990s. Wade and Veneroso (1998, p.3-23)
capture the essence of this when they write of the Asian crisis (provoked initially by the
operation of US-based hedge funds) of 1997-1998:
Financial crises have always caused transfers of ownership and
power to those who keep their own assets intact and who are in a position
to create credit, and the Asian crisis is no exception... there is no doubt that
Western and Japanese corporations are the big winners... The combination
of massive devaluations, IMF-pushed financial liberalization, and IMF
facilitated recovery may even precipitate the biggest peacetime transfer of
assets from domestic to foreign owners in the past fifty years anywhere in
the world, dwarfing the transfers from domestic to US owners in Latin
America in the 1980s or in Mexico after 1994. One recalls the statement
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attributed to Andrew Mellon: “In a depression assets return to their rightful
owners”.
The analogy with the deliberate creation of unemployment to produce a pool of low-
wage surplus labour convenient for further accumulation is exact. Valuable assets fall out
of use and lose their value. They lie fallow and dormant until capitalists possessed of
liquidity choose to seize upon them and breathe new life into them. The danger, however,
is that crises might spin out of control and become generalized, or that revolts will arise
against the system that creates them. One of the prime functions of state interventions and
of international institutions is to orchestrate crises and devaluations in ways that permit
accumulation by dispossession to occur without sparking a general col1apse or popular
revolt. The structural adjustment programme administered by the Wall Street/Treasury/
IMF complex takes care of the first while it is the job of the comprador neoliberal state
apparatus (backed by military assistance from the imperial powers) in the country that has
been raided to ensure that the second event does not occur. However, the signs of
popular revolt soon began to emerge, first with the Zapatista uprising in Mexico in 1994,
and later in the generalized discontent which emerged with the anti-globalization
movement that cut its teeth in the revolt at Seattle.
4. State redistributions
The state, once transformed into a neoliberal set of institutions, becomes a prime
agent of redistributive policies, reversing the flow from the upper to the lower classes that
had occurred during the era of social democratic hegemony. It does this in the first
instance through pursuit of privatization schemes and cut-backs in those state
expenditures that support the social wage. Even when privatization appears as beneficial
to the lower classes, the long-term effects can be negative. At first blush, for example,
Thatcher’s programme for the privatization of social housing in Britain appeared as a gift to
the lower classes which could now convert from rental to ownership at a relatively low
cost, gain control over a valuable asset and augment their wealth. But once the transfer
was accomplished, housing speculation took over, particularly in prime central locations,
eventually bribing or forcing low-income populations out to the periphery in cities such as
London, and turning erstwhile working-class housing estates into centres of intense
gentrification. The loss of affordable housing in central areas produced homelessness for
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many and extraordinarily long commutes for those who did have low-paying service jobs.
The privatization of the ejidos in Mexico, which became a central component of the
neoliberal programme set up during the 1990s, has had analogous effects upon the pros-
pects for the Mexican peasantry, forcing many rural dwellers off the land into the cities in
search of employment. The Chinese stale has followed through a whole series of
draconian steps in which assets have been conferred on a small elite to the detriment of
the mass of the population.
The neoliberal state also seeks redistributions through a variety of other means
such as revisions in the tax code to benefit returns on investment rather than incomes and
wages, promotion of regressive elements in the lax code (such as sales taxes),
displacement of state expenditures and free access to all by user fees (e.g. on higher
education), and the provision of a vast array of subsidies and tax breaks to corporations.
The corporate welfare programmes that now exist in the US at federal, state and local
levels amount to a vast redirection of public moneys for corporate benefit (directly, as in
the case of subsidies to agribusiness, and indirectly, as in the case of the military-industrial
sector), in much the same way that the mortgage interest rate tax deduction operates in
the US as a massive subsidy to upper-income home owners and the construction industry.
The rise of surveillance and policing and, in the case of the US, incarceration of
recalcitrant elements in the population indicate a more sinister role of intense social
control. In the developing countries, where opposition to neoliberalism and accumulation
by dispossession can be stronger, the role of the neoliberal stale quickly assumes that of
active repression even to the point of low-level warfare against oppositional movements
(many of which can now conveniently be designated as ‘terrorist’ so as to garner US
military assistance and support), such as the Zapatistas in Mexico or the landless peasant
movement in Brazil.
In effect, reports Roy,
India’s rural economy, which supports seven hundred million people, is be-
ing garroted. Farmers who produce too much are in distress, farmers who
produce too little are in distress, and landless agricultural laborers are out of
work as big estates and farms lay off their workers. They’re all flocking to
the cities in search of employment. (ROY, 2001)
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In China it is estimated that at least half a billion people will have to be absorbed by
urbanization over the next ten years if rural mayhem and revolt is to be avoided. What they
will do in the cities remains unclear, though, as we have seen, the vast physical
infrastructural plans now in the works will go some way to absorbing the labour surpluses
released by primitive accumulation.
The redistributive tactics of neoliberalism are wide-ranging, sophisticated,
frequently masked by ideological gambits but devastating for the dignity and social well-
being of vulnerable populations and territories. The wave of creative destruction which
neoliberalization has visited across the whole landscape of capitalism is unparalleled in the
history of capitalism. Understandably, it has spawned resistance and a search for viable
alternatives.
ALTERNATIVES
Neoliberalism has spawned a swathe of oppositional movements both within and
outside of its compass. Many of these movements are radically different from the worker-
based movements that dominated before 1980. I say ‘many’ but not ‘all’. Traditional
worker-based movements are by no means dead even in the advanced capitalist countries
where they have been much weakened by the neoliberal onslaught upon their power. In
South Korea and South Africa vigorous labour movements arose during the 1980s, and in
much of Latin America working-class parties are flourishing if not in power. In Indonesia a
putative labour movement of great potential importance is struggling to be heard. The
potentiality for labour unrest in China is immense though quite unpredictable. In addition, it
is not clear either that the mass of the working class in the US, which has over this last
generation voted consistently against its own material interests for reasons of cultural
nationalism, religion and opposition to multiple social movements, will forever stay locked
into such a politics by the machinations of Republicans and Democrats alike. Given the
volatility, there is no reason to rule out the resurgence of worker-based politics with a
strongly anti-neoliberal agenda in future years.
However, struggles against accumulation by dispossession are fomenting quite
different lines of social and political conflict. Partly because of the distinctive conditions
that give rise to such movements, their political orientation and modes of organization
depart markedly from those typical of social democratic politics. The Zapatista rebellion,
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for example, did not seek to take over state power or accomplish a political revolution. It
sought instead a more inclusionary politics to work through the whole of civil society in a
more open and fluid search for alternatives that would look to the specific needs of the
different social groups and allow them to improve their lot. Organizationally, it tended to
avoid avant-gardism and refused to take the form of a political party. It preferred instead to
remain a social movement within the state, attempting to form a political power bloc in
which indigenous cultures would be central rather than peripheral. It sought thereby to
accomplish something akin to a passive revolution within the territorial logic of state power.
The effect of all these movements has been to shift the terrain of political
organization away from traditional political parties and labour organizing into a less
focused political dynamic of social action across the whole spectrum of civil society. But
what it lost in focus it gained in terms of relevance. It drew its strengths from
embeddedness in the nitty-gritty of daily life and struggle, but in so doing often found it
hard to extract itself from the local and the particular to understand the macro-politics of
what neoliberal accumulation by dispossession was and is all about. The variety of such
struggles was and is simply stunning. It is hard to even imagine connections between
them. They were and are all part of a volatile mix of protest movements that swept the
world and increasingly grabbed the headlines during and after the 1980s (WIGNARAJA,
1993; BRECHER et al., 2000; GILLS, 2001; BELLO, 2002; MERTES, 2004). These
movements and revolts were sometimes crushed with ferocious violence, for the most part
by state powers acting in the name of ‘order and stability’. Elsewhere they produced
interethnic violence and civil wars as accumulation by dispossession produced intense
social and political rivalries in a world dominated by divide-and-rule tactics on the part of
capitalist forces. Client states, supported militarily or in some instances with special forces
trained by the major military apparatuses (led by the US with Britain and France playing a
minor role), took the lead in a system of repressions and liquidations to ruthlessly check
activist movements challenging accumulation by dispossession.
The movements themselves have produced a plethora of ideas regarding
alternatives. Some seek to de-link wholly or partially from the overwhelming powers of
neoliberalism and neoconservatism. Others seek global social and environmental justice
by reform or dissolution of powerful institutions such as the IMF, the WTO and the World
Bank. Still others emphasize the theme of ‘reclaiming the commons’, thereby signalling
deep continuities with struggles of long ago as well as with struggles waged throughout the
bitter history of colonialism and imperialism. Some envisage a multitude in motion, or a
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movement within global civil society, to confront the dispersed and decentred powers of
the neoliberal order, while others more modestly look to local experiments with new
production and consumption systems animated by completely different kinds of social
relations and ecological practices. There are also those who put their faith in more
conventional political party structures with the aim of gaining state power as one step
towards global reform of the economic order. Many of these diverse currents now come
together at the World Social Forum in an attempt to define their commonalities and to build
an organizational power capable of confronting the many variants of neoliberalism and of
neoconservatism. There is much here to admire and to inspire.
But what types of conclusions may be derived from an analysis of the sort here
constructed? To begin with the whole history of the social democratic compromise and the
subsequent turn to neoliberalism indicates the crucial role played by class struggle in
either checking or restoring class power. Although it has been effectively disguised, we
have lived through a whole generation of sophisticated class struggle on the part of the
upper strata in society to restore or, as in China and Russia, to construct, an overwhelming
class power. All of this occurred in decades when many progressives were theoretically
persuaded that class was a meaningless category and when those institutions from which
class struggle had hitherto been waged on behalf of the working classes were under fierce
assault. The first lesson we must learn, therefore, is that if it looks like class struggle and
acts like class struggle then we have to name it for what it is. The mass of the population
has either to resign itself to the historical and geographical trajectory defined by this
overwhelming class power or respond to it in class terms.
To put it this way is not to wax nostalgic for some lost golden age when the
proletariat was in motion. Nor does it necessarily mean (if it ever should have) that there is
some simple conception of the proletariat to which we can appeal as the primary (let alone
exclusive) agent of historical transformation. There is no proletarian field of utopian
Marxian fantasy to which we can retire. To point to the necessity and inevitability of class
struggle is not to say that the way class is constituted is determined or even determinable
in advance. Class movements make themselves, though not under conditions of their own
choosing, and analysis shows that those conditions are currently bifurcated into
movements around expanded reproduction in which the exploitation of wage labour and
conditions defining the social wage are the central issues and movements around
accumulation by dispossession in which everything from classic forms of primitive accumu-
lation through practices destructive of cultures, histories and environments to the
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depredations wrought by the contemporary forms of finance capital are the focus of
resistance. Finding the organic link between these different class movements is an urgent
theoretical and practical task, but analysis also shows that this has to occur in an
historical-geographical trajectory of capital accumulation that is based in increasing
connectivity across space and time but marked by deepening uneven geographical
developments. This unevenness must be understood as something actively produced and
sustained by processes of capital accumulation, no matter how important the signs may be
of residuals of past configurations set up in the cultural landscape and the social world.
But analysis also points up exploitable contradictions within the neoliberal agenda.
The gap between rhetoric (for the benefit of all) and realization (for the benefit of a small
ruling class) increases over space and time and the social movements have done much to
focus on that gap. The idea that the market is about competition and fairness is increas-
ingly negated by the facts of extraordinary monopolization, centralization and
internationalization of corporate and financial power. The startling increase in class and
regional inequalities both within states (such as China, Russia, India, Mexico and Southern
Africa) as well as internationally poses a serious political problem that can no longer be
swept under the rug as something ‘transitional’ on the way to a perfected neoliberal world.
The neoliberal emphasis upon individual rights and the increasingly authoritarian use of
state power to sustain the system become a flashpoint of contentiousness. The more
neoliberalism is recognized as a failed if not disingenuous utopian project masking a
successful attempt at the restoration of class power, the more it lays the basis for a
resurgence of mass movements voicing egalitarian political demands, seeking economic
justice, fair trade and greater economic security and democratization.
But it is the profoundly anti-democratic nature of neoliberalism that should surely be
the main focus of political struggle. Institutions with enormous power, such as the Federal
Reserve, are outside of any democratic control. Internationally the lack of elementary
accountability let alone democratic control over institutions such as the IMF, the WTO and
the World Bank, to say nothing of the overwhelming private power of financial institutions,
makes a mockery of any serious concern for democratization. To bring back the demands
for democratic governance and for economic, political and cultural equality and justice is
not to suggest some return to a golden past, since the meanings in each instance have to
be re-invented to deal with contemporary conditions and potentialities. The meaning of
democracy in ancient Athens has little to do with the meanings we must invest it with today
in circumstances as diverse as Sao Paulo, Johannesburg, Shanghai, Manilla, San Fran-
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cisco, Leeds, Stockholm and Lagos. But right across the globe, from China, Brazil,
Argentina, Taiwan, Korea as well as South Africa, Iran, India and Egypt, the struggling
nations of Eastern Europe as well as into the heartlands of contemporary capitalism, there
are groups and social movements in motion that are rallying to reforms that are expressive
of some version of democratic values. That is one key focal point of many of the struggles
now emerging. The more clearly oppositional movements recognize, however, that their
central objective must be to confront the class power that has been so effectively restored
under neoliberalization, the more they will likely themselves cohere. Tearing aside the
neoliberal mask and exposing its seductive rhetoric, used so effectively to justify and
legitimate the restoration of that power, has a significant role to play in such a struggle. It
took the neoliberals many years to set up and accomplish their largely successful march
through the institutions of contemporary capitalism. We can expect no less of a struggle in
pushing in the other direction.
NOTES * Originally published in Geografiska Annaler, Sweden, Series B, Human Geography, v.88 B, n.2, 2006, p.145-58. We thank the editors Eric Clark and Jørgen Ole Bærenholdt for allowing INTERFACEHS to publish the above. This journal is in agreement with the copyright allowance policy of the Blackwell Publishing. Translated by Marijane Vieira Lisboa. 1 See the website www.montpelerin.org/aboutmps.html 2 G. W. Bush, “Securing Freedom’s Triumph”. New York Times, 11 Sept. 2002, p.A33. The National Security Strategy of the United State of America may be found on the website: www.whitehouse.gov/nsc/nss. See also G. W. Bush, “President addresses the nation in prime time press conference”. 13 Apr. 2004, www.whitehouse.gov/news/releases/2004/0420040413-20.html.
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