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Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 3

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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento na área de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

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UMA PERSPECTIVA ECOSSISTÊMICA SOBRE A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DA SAÚDE 1

Carlos Machado de Freitas Pesquisador Titular; Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana

Escola Nacional de Saúde Pública; Fundação Oswaldo Cruz [email protected]

RESUMO

Na passagem do século XX para o XXI emergem enfoques alternativos, como os ecossistêmicos, procurando integrar os aspectos socioeconômicos com os biofísicos na compreensão e busca de soluções dos problemas ambientais que, originados no nível local, apresentam impactos regionais e globais. Esses enfoques vêm procurando integrar perspectivas de longo, médio e curto prazo para os processos de degradação ambiental e ineqüidades sociais que, inerentes ao modelo de desenvolvimento econômico, tornaram-se intensivos e extensivos ao longo do século XX e ameaçam a sustentabilidade ambiental e de saúde, significando impactos sobre os humanos, outras espécies e os sistemas de suporte a vida. Essas transformações exigem não somente perspectivas sistêmicas para compreender o problemas, mas também o desafio de se formular estratégias focais e/ou globais para enfrentar os desafios colocados pelo modelo de desenvolvimento econômico das sociedades industriais. Palavras-chave: enfoques ecossistêmicos; sustentabilidade ambiental; sustentabilidade da saúde; desenvolvimento sustentável.

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INTRODUÇÃO A escala, magnitude e incertezas que permeiam a atual crise ambiental demonstram como as atividades humanas vêm produzindo drásticas mudanças ambientais, nos níveis local e global, resultando em muitos e sérios problemas de saúde. Por sua própria natureza complexa, esses problemas requerem a busca de enfoques alternativos que integrem os aspectos socioeconômicos com os biofísicos na compreensão e busca de soluções (FREITAS et al., 2006). Na passagem do século XX para o XXI a necessidade de desenvolvimento desses enfoques alternativos intensificou-se, sendo expressivo desse processo o relatório do World Resources Institute (WRI, 2000) para o biênio 2000-2001. Esse relatório aponta a necessidade de adoção de um enfoque ecossistêmico que possibilite cientificamente reconhecer os “sistemas” nos ecossistemas de modo holístico e não setorial, orientado para a tomada de decisão e que tenha como pressupostos a capacidade de contribuir para: (1) reunião de informações diversas, que possibilitem demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos vários ecossistemas que devem ser equilibradas com as metas ambientais, políticas, sociais e econômicas; (2) formulação de políticas públicas amplas e instituições mais efetivas para sua implementação; (3) participação do público na gestão dos ecossistemas, particularmente as comunidades locais. Em 2001, as Nações Unidas lançam o Millennium Ecosystem Assessment (MEA, 2005), um programa de quatro anos concebido para responder às necessidades de informações científicas sobre a relação entre mudanças nos ecossistemas e bem-estar humano para os tomadores de decisões políticas. Seus resultados foram divulgados em março de 2005 e apontam para uma situação de rápida e extensiva transformação nos ecossistemas, resultando na degradação de aproximadamente 60 por cento dos serviços dos ecossistemas (águas, ar, clima etc.), com aumento das chances de mudanças não-lineares, abruptas e irreversíveis, ocasionando importantes conseqüências para os humanos (doenças emergentes, alterações abruptas da qualidade da água, colapso na provisão de alimentos, mudanças no clima regional e global etc.) e afetando de modo desproporcional as populações mais pobres, contribuindo para crescentes iniqüidades e constituindo-se também em fator na origem da pobreza e de conflitos sociais. O objetivo deste artigo é, a partir de uma perspectiva ecossistêmica, trazer elementos para o debate sobre a sustentabilidade para as questões ambientais e de saúde, o que não pode estar dissociado das questões sociais, econômicas e políticas. Para tanto tomaremos como eixo questões diretamente relacionadas a intensidade e amplitude das transformações que nossa civilização vem ocasionando aos ecossistemas, colocando em perigo a vida e a saúde das espécies, o que inclui os humanos, obrigando-nos a refletir criticamente sobre os limites do atual modelo de desenvolvimento.

O SÉCULO XX E SUAS INTENSAS E ESTENSAS TRANSFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS A partir da Revolução Industrial, e particularmente no final do século XIX e ao longo do século XX, o crescimento e a expansão dos processos produtivos com a transformação de energias e materiais para a produção de matérias-primas e bens de

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consumo tornou-se gigantesco e foi acompanhado por um processo de crescimento e urbanização da população (FREITAS & PORTO, 2006). Parte do crescimento da economia global se encontra relacionada ao grande aumento da população mundial ao longo do século XX, passando de 1,5 bilhão em 1900 para mais de 6 bilhões em 2000 (MUSSER, 2005; COHEN, 2005). A urbanização da população tem suas origens na Revolução Industrial, iniciando os grandes fluxos migratórios para áreas urbanas, que propiciavam mão-de-obra abundante, a economia de escala e maior compartilhamento no uso de recursos, infra-estrutura e oportunidades de produção e comercialização. Se no início do século XX cerca de 13 por cento da população mundial vivia em áreas urbanas, na atualidade essa parcela chega a 50 por cento globalmente, e, na América Latina, América do Norte e Europa, ultrapassa 70 por cento (embora as áreas urbanas cubram apenas 2,4 por cento da superfície terrestre) (McNEILL, 2000; WRI, 2005). O crescimento da economia e da urbanização da população foi acompanhado de uma maior demanda nos serviços dos ecossistemas, para o consumo de água e energia, a produção de alimentos, fibras e madeiras, por exemplo. Concomitante ao processo de transição para uma economia industrializada ocorre uma crescente integração econômica entre setores e países, conduzindo ao processo denominado recentemente de globalização e representando maior pressão global sobre os ecossistemas e seus serviços (FREITAS & PORTO, 2006). Nesse processo, o rápido crescimento dos mercados globais veio acompanhado de crescentes ineqüidades sociais e econômicas no mundo, assim como da degradação ambiental, contribuindo para a emergência de problemas como o aquecimento global do planeta, a redução da camada de ozônio, a perda de biodiversidade, a depredação e poluição dos recursos naturais e o amplo processo de desflorestamento e desertificação, para citar alguns exemplos (FREITAS & PORTO, 2006). A globalização da degradação ambiental e das ineqüidades sociais coloca em xeque duas dimensões igualmente importantes e interdependentes que estão na base da definição original de desenvolvimento sustentável. Ameaça tanto o acesso aos recursos naturais e a um ambiente saudável, como a eqüidade na distribuição de renda e bens de modo a satisfazer as necessidades das gerações presentes e futuras (BORGHESI & VERCELLI, 2003). Assim, ainda que a transição para uma sociedade industrial e o processo de globalização tenham resultado em um crescimento da economia e no aumento da renda per capita, ameaçam a sustentabilidade ambiental do planeta, com conseqüências para a saúde e o bem-estar das populações (FREITAS & PORTO, 2006). No período entre 1890 e 1990, conforme pode se verificar no Quadro 1, a economia mundial cresceu 14 vezes, a produção industrial 40 vezes, o uso de energia 16 vezes e a produção de carvão 7 vezes. Ao longo do século XX, as transformações econômicas foram intensas e as atividades econômicas per capita cresceram aproximadamente 4,5 vezes, e somente no período entre 1960 e 2000 a economia global cresceu mais de 6 vezes (MEA, 2005). O processo de industrialização e o desenvolvimento da economia global baseiam-se em uma lógica em que o crescimento de curto prazo se sobrepõe ao crescimento de longo prazo, afetando os ecossistemas e degradando o capital natural (serviços oferecidos pelos ecossistemas). Esta lógica é estimulada e favorecida pelo fato de as contas nacionais não registrarem explicitamente os custos ambientais desse crescimento da economia global, já que o principal indicador, como o PIB, trata o incremento quantitativo da economia (crescimento) como sinônimo de melhoria qualitativa (desenvolvimento) (BELLEN, 2005). Esse crescimento econômico não teve como objetivo a melhoria qualitativa da vida de bilhões de humanos que ficaram à margem desse processo iníquo. Em 1981 havia 1,5

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bilhão de humanos vivendo em extrema pobreza (menos de 1 dólar por dia); ocorrendo uma diminuição, chegamos a 1,1 bilhão em 2001. Essa redução foi maior no Leste da Ásia (passou de 796 milhões para 271 milhões no período), menor no Sul da Ásia (passou de 475 milhões para 431 milhões no período) e inexistente na América Latina e Caribe, única região que registrou um aumento no número absoluto de humanos vivendo em extrema pobreza, passando de 36 milhões em 1981 para 50 milhões em 2001. Por outro lado, embora tenha se reduzido o número de humanos na extrema pobreza (menos de 1 dólar por dia), cresceu, entre 1990 e 2001, o número daqueles que viviam com menos de 2 dólares por dia, passando de 2,655 bilhões para 2,763 bilhões. (POLAK, 2005; SACHS, 2005). Assim, o PIB, principal indicador da riqueza de um país, mede apenas o fluxo de caixa resultante da atividade econômica em geral (o valor anual de mercado de bens e serviços finais em um país, somadas todas as exportações e subtraídas as importações), não sendo um balancete, com ativos e passivos. Assim, ignora os impactos sobre os ecossistemas e a degradação do capital natural (serviços oferecidos pelos ecossistemas), mesmo que signifiquem a eliminação de um ativo (o desmatamento de uma floresta que pode significar fonte de renda no longo prazo para milhares de trabalhadores). Ao mesmo tempo o PIB não mede a renda, nem o bem-estar da população de um país. A concentração de renda, os gastos com as conseqüências negativas dos processos produtivos (incluindo os gastos com atenção à saúde de trabalhadores doentes e acidentados no processo produtivo) e a perda do bem-estar resultante da degradação ambiental são positivamente computados (DALY, 2005). No último século, e particularmente nos últimos 50 anos, os humanos mudaram globalmente os ecossistemas mais rapidamente e extensivamente do que em qualquer outro período da história. Esse processo resulta da crescente demanda de provisão de serviços dos ecossistemas associada ao processo de industrialização e crescimento da economia global. Assim, serviços materiais (provisão, regulação e suporte) e não-materiais (culturais e religiosos) dos ecossistemas vêm crescentemente sendo degradados ou utilizados de modo insustentável. De acordo com os resultados do MEA (2005), aproximadamente 60 por cento (15 dos 24 serviços de ecossistemas identificados) estão sendo degradados, o que inclui serviços de provisão (águas e alimentos) e de regulação (controle da qualidade do ar e das águas, do clima regional ou local, dos desastres naturais e pestes), conforme pode se verificar no Quadro 2. Uma das mais significativas mudanças na estrutura dos ecossistemas foi a transformação de aproximadamente 1/4 da superfície do planeta em sistemas cultivados. Esse processo tem início nos séculos XVIII e XIX, mas se intensifica a partir da Segunda Guerra Mundial. O resultado é que na atualidade, mais de 1,2 bilhão de hectares de terra com cobertura vegetal (uma área tão grande quanto China e Índia juntas) foram significativamente degradados. Espera-se que nos próximos 50 anos a demanda por grãos cresça entre 70 e 85 por cento, com conseqüentes impactos na demanda por água crescendo entre 30 e 85 por cento, já que 70 por cento desta é utilizada na agricultura. Isso significa que a conversão de áreas de cobertura florestal em áreas agrícolas tende a continuar, com projeção de que até 2050 entre 10 e 20 por cento ocorram primariamente nos países em desenvolvimento. Dois aspectos devem ser observados nesse processo. Primeiro, a segurança alimentar não será alcançada e a má nutrição não será erradicada, agravando-se em algumas regiões, a despeito do crescimento no suprimento de alimentos e na diversificação da dieta. Segundo, esse processo de conversão de áreas de florestas em áreas de agricultura, com conseqüente degradação ambiental, acabará por comprometer a própria expansão dos serviços de provisão e produção de alimentos (WRI, 1992; POLAK, 2005; MEA, 2005).

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Em relação ao primeiro aspecto (segurança alimentar), apesar do aumento da produção per capita de alimentos nos últimos 40 anos, estima-se que 865 milhões de pessoas estavam subnutridas entre 2000-2002, 32 milhões além do encontrado no período 1995-1997, concentrando-se em áreas como o Sul da Ásia e a África Subsaariana, regiões onde o aumento da produção de alimentos per capita foi menor. Entre os que passam fome no mundo, 50 por cento são pequenos proprietários rurais, 20 por cento camponeses sem terra e 10 por cento pastores, pescadores e povos das florestas. Os outros 20 por cento são pobres urbanos. A Revolução Verde foi projetada para elevar o fornecimento de alimentos e não para erradicar a pobreza ou a fome (POLAK, 2005; MEA, 2005). Em relação ao segundo aspecto (degradação ambiental), a expansão dos sistemas cultivados vem contribuindo para transformar a estrutura (habitats e espécies presentes em uma localidade particular) e os processos dos ecossistemas, incluindo os ciclos bio-geoquímicos, como os do fósforo, do nitrogênio e das águas. Como a capacidade dos ecossistemas em prover serviços deriva diretamente da operação desses ciclos naturais relacionados aos serviços de suporte dos ecossistemas, seu comprometimento acaba por ameaçar a sustentabilidade ambiental e da saúde (PIMM & JENKINS, 2005; MEA, 2005). Em relação ao ciclo do fósforo, de 1960 a 1990 o uso de fertilizantes fosforados e a taxa de acumulação de fósforo nos solos agrícolas cresceu cerca de 3 vezes, contribuindo para que o fluxo corrente de fósforo nos oceanos seja o triplo das taxas basais. Mesmo com o declínio no uso nos últimos anos, o fósforo apresenta grande persistência ambiental, podendo permanecer no solo por décadas (MEA, 2005). Em relação ao ciclo do nitrogênio, a quantidade de nitrogênio reativo ou biologicamente disponível, criado pelas atividades humanas, cresceu cerca de 9 vezes entre 1890 e 1990. A maior parte desse crescimento ocorreu na segunda metade do século XX, associado ao crescente uso de fertilizantes. Em relação aos fluxos de nitrogênios reativos (disponíveis biologicamente), as atividades humanas contribuíram para que dobrasse a taxa de criação de nitrogênio na superfície dos solos da terra, e mais da metade de todos os fertilizantes nitrogenados sintéticos (manufaturado pela primeira vez em 1913) têm sido utilizados desde 1985. O fluxo do nitrogênio reativo nos continentes tende a crescer em mais 2/3 até 2050, com a maior parte ocorrendo nos países em desenvolvimento, onde haverá expansão da área agrícola. Entre as conseqüências ambientais e as relacionadas à saúde humana resultantes desse processo destacamos: eutroficação das águas doces e costeiras; acidificação das águas doces e dos ecossistemas terrestres; perda de biodiversidade; perda de produtividade agrícola; destruição do ozônio na estratosfera; aumento na incidência de câncer de pele, cataratas e possíveis interferências no funcionamento do sistema imune, além de asmas, alergias, doenças pulmonares e cardíacas (MEA, 2005). Em relação ao ciclo das águas, a utilização de rios e lagos para irrigação ou uso urbano e industrial dobrou entre 1960 e 2000, e aproximadamente 70 por cento dessa água é utilizada na agricultura. Ao mesmo tempo em que os sistemas cultivados demandam grande quantidade de água (por exemplo, para se cultivar 1 quilo de grãos, são gastos quase mil litros de água), a ampliação de sua área a partir da conversão de áreas de cobertura vegetal compromete a própria disponibilidade de água no planeta, uma vez que os sistemas florestais se encontram associados com a regulação de aproximadamente 57 por cento do total das águas disponíveis para consumo (MEA, 2005; POLAK, 2005). Além disso, o uso de fertilizantes na agricultura compromete a qualidade da água, afetando cerca de 5 bilhões de humanos que vivem próximo aos sistemas cultivados (MEA, 2005).

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Associado as atividades agrícolas e a produção de energia, a construção de grandes reservatórios de águas tem dobrado ou triplicado o tempo de residência da água dos rios (o tempo médio que as águas demoram para alcançar os oceanos). Considerando que entre 1960 e 2000 a capacidade de armazenamento de reservatórios quadruplicou e a capacidade das hidrelétricas dobrou, estima-se que a quantidade de água armazenada em grandes represas seja de três a seis vezes a quantidade que flui naturalmente nos rios naturais (excluindo-se lagos naturais). A construção de represas e outras estruturas ao longo dos rios tem afetado o fluxo em 60 por cento dos sistemas de grandes rios no mundo, reduzindo o fluxo em alguns destes, como o Nilo, o Amarelo e o Colorado, de modo que não fluem mais do mesmo modo para os oceanos (MEA, 2005). Por um lado, assiste-se à depredação de aqüíferos e à poluição de águas subterrâneas e superficiais, acoplada ao consumo global de água, que excede as taxas de suprimento de longo prazo. Por outro lado, as grandes represas e outras estruturas ao longo dos rios, também utilizadas para irrigação nas atividades agrícolas, vêm alterando significativamente o ciclo das águas. Ambos os processos vêm ameaçando a disponibilidade futura de água doce para as atividades econômicas de produção de alimentos e para o consumo humano, agravando ainda mais a escassez de água que atualmente afeta de 1 a 2 bilhões de humanos no mundo (MEA, 2005). O amplo e intenso processo de conversão de áreas de florestas para propiciar aos ecossistemas oferecerem serviços de provisão, como agricultura e criação de gado, vem representando conseqüências sobre a capacidade nos serviços de provisão de água e genéticos (biodiversidade), bem como nos de regulação de ecossistemas, como a capacidade de regular a qualidade do ar, o clima, o ciclo das águas, a erosão, doenças e pragas, os perigos naturais, a purificação das águas e o tratamento de resíduos (MEA, 2005). Entre os serviços de provisão, chamamos a atenção para o fato de que a distribuição das espécies na terra está se tornando cada vez mais homogênea, significando que as diferenças entre o conjunto de espécies em uma localidade do planeta e o conjunto de outra localidade estão, na média, diminuindo. Dois fatores vêm contribuindo para essa tendência. O primeiro é a extinção de espécies em determinadas regiões. A segunda é a taxa de invasão ou introdução de espécies alienígenas que vem se intensificando com o crescimento do comércio e aumento da velocidade dos transportes globalmente, eliminando ou diminuindo barreiras naturais. Ambos os fatores vêm resultando no declínio global da diversidade genética, sendo isso mais acentuado nas espécies cultivadas. Se por um lado as mudanças nos ecossistemas necessariamente afetam as suas espécies, não se pode desconsiderar que, por outro lado, tais alterações na composição das espécies afetam os processos dos ecossistemas (EPSTEIN, 1995; LOPES, 2004; PIMM & JENKINS, 2005). É crescente a demanda de manutenção da biodiversidade como fonte de materiais que podem ser comercializados, gerar divisas econômicas para os países, gerar emprego e renda, bem como benefícios para a saúde e o bem-estar humano, como se pode verificar no Quadro 3. O Quadro 4 demonstra como esse processo de conversão de áreas de florestas em sistemas cultivados vem aumentando a vulnerabilidade em relação à perda de biodiversidade, principalmente plantas e animais mamíferos, nas regiões da América Latina e Caribe, Ásia e Pacífico e África, significando não só alterações na composição das espécies de seus ecossistemas e mudanças nos seus processos, mas também a perda futura de bilhões de dólares, divisas econômicas para os países, empregos e renda, além dos benefícios ao ambiente, à saúde humana e ao bem-estar (GEO, 2002). O desflorestamento modifica a estrutura dos ecossistemas, resultando muitas vezes na fragmentação de habitats em pequenos trechos separados por atividades

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agrícolas ou populações humanas. Como conseqüência, ocorre modificação da estrutura da vegetação, empobrecimento das espécies animais e vegetais, alteração na diversidade genética e composição de espécies em várias localidades, além de maior vulnerabilidade de animais e plantas de cada fragmento, que podem minguar até a extinção, bem como em relação às espécies invasoras. Esse processo tem como conseqüência alterações na composição das espécies hospedeiras no ambiente e na ecologia dos vetores e agentes patogênicos. Quando combinadas com a mobilidade e o contato de populações não imunes, vem contribuindo para a emergência de doenças, como febres hemorrágicas com casos de fatalidade em diversos países (EPSTEIN, 1995; LOPES, 2004; PIMM & JENKINS, 2005). Exemplos de algumas dessas doenças encontram-se no Quadro 5. As intensas e amplas mudanças que vêm ocorrendo nos ecossistemas terrestres, particularmente a partir da conversão de áreas de florestas em áreas de cultivos, assim como a ampliação da urbanização, que se aproxima de áreas de florestas ou as invade, vem contribuindo para alterar não só a capacidade de provisão dos ecossistemas, mas também, e principalmente, a capacidade de regulação de doenças. O Quadro 6 traz uma série de exemplos de doenças infecciosas relacionadas às mudanças nos ecossistemas, que vêm desempenhando um importante papel na emergência e reermegência de muitas doenças, não podendo deixar de se considerar que em outras situações, essas mesmas mudanças vêm contribuindo para reduzir a incidência de outras doenças (SUTHERST, 2004; MEA, 2005). O amplo processo de conversão de áreas de florestas em áreas de cultivo e as alterações nos ecossistemas e perda de biodiversidade que o acompanharam, com seus conseqüentes efeitos diretos e indiretos sobre a saúde e o bem-estar das gerações presentes e futuras, integram a lógica do crescimento da economia global, com sua transição para uma sociedade industrial e urbanizada. Tais transformações não podem ser dissociadas das intensas mudanças ocorridas ao longo do século XX que resultaram no crescimento da economia e no seu processo de globalização, acompanhado do aumento da população mundial em 4 vezes. Esta passou a se concentrar cerca de 13 vezes mais nas áreas urbanas, com fortes impactos sobre os serviços dos ecossistemas locais, regionais e globais a partir de suas crescentes demandas para o consumo de água e energia, a produção de alimentos, fibras e madeiras, por exemplo (MEA, 2005). A população urbana mundial cresceu de 200 milhões de habitantes em 1900 para 2,9 bilhões em 2000 (quase 50 por cento da população mundial), e o número de cidades em que a população excede a 1 milhão passou de 17 em 1900 para 388 em 2000 (cerca de 23 vezes mais). Em regiões como América do Norte, Europa e América Latina e Caribe, a população urbana ultrapassa 70 por cento e há a tendência de que até 2030, em regiões como África e Ásia e Pacífico, ultrapasse os 50 por cento (MEA, 2005; GEO, 2002). A urbanização da população mundial é uma tendência crescente e tem suas origens na Revolução Industrial, iniciando os grandes fluxos migratórios para áreas urbanas, em busca de trabalho, acesso aos alimentos que se tornavam escassos nas áreas rurais, aos serviços como saúde e educação, bem como a melhores oportunidades e condições de vida. As áreas urbanas foram vitais para a industrialização e o crescimento econômico, uma vez que propiciavam disponibilidade de grande contingente de mão-de-obra barata, economia de escala e maior compartilhamento no uso de recursos, infra-estrutura e oportunidades de produção e comercialização. Ao mesmo tempo, trazem consigo fortes impactos sobre o ambiente e a saúde, principalmente nos países em industrialização. Nos países menos industrializados, as áreas urbanas combinam os problemas ambientais de saúde típicos da pobreza (particularmente doenças respiratórias e

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infecções entéricas) com os relacionados às precárias condições de moradia (saneamento e fornecimento de água adequada para consumo humano) e industrialização desregulada, resultando em elevados níveis de poluição atmosférica e resíduos tóxicos (McMICHAEL, 2000; FREITAS et al., 2002). Em 2002, 81 por cento da população urbana mundial tinha acesso ao saneamento adequado e 95 por cento ao fornecimento de água adequada. Porém, comparando os países industrializados com os de menor nível de industrialização, os percentuais caem para 73 e 92 por cento. Metade da população urbana na África, Ásia, América Latina e Caribe é afetada por uma ou mais doenças associadas com saneamento e fornecimento de água inadequados, e essas mesmas condições, combinadas com precárias condições de higiene, resultam em aproximadamente 1,7 milhão de óbitos no mundo. Essas condições contribuem para que enquanto a taxa de mortalidade infantil por mil nascidos vivos seja de 15 nos países industrializados, nos países em industrialização seja cerca de 4 vezes maior, com 59 por mil. (WRI, 2005; MEA, 2005). Além dos problemas relacionados ao saneamento e ao fornecimento de água adequada para o consumo humano, típicos das primeiras fases nas cidades após a Revolução Industrial, acrescentam-se, na atualidade, os problemas relacionados à poluição química, que afeta os solos, a atmosfera, as águas e a cadeia alimentar, nas áreas urbanas e além. A comercialização mundial de produtos químicos orgânicos, por exemplo, teve, entre 1950 e os anos 90, um crescimento de mais de 5 vezes, passando de 63 milhões de toneladas em 1950 para mais de 300 milhões na década de 1990. Esse crescimento, resultante de uma lógica de produção industrial intensiva nas áreas urbanas, atingindo-as com poluição atmosférica das fábricas, efluentes industriais contaminando os rios e os resíduos sólidos contaminando solo e águas subterrâneas, tem sido acompanhado do extensivo aumento no consumo e poluição para além das áreas urbanas, alcançando áreas rurais e florestais. Da cumulativa conseqüência global de muitos contaminantes ambientais como os PCBs e o DDT, que transportados através do meio ambiente atingem os humanos em lugares longínquos da produção e da fonte de contaminação por meio da cadeia alimentar, até as substâncias com potencial de disruptores-endócrinos, que afetam a vida selvagem e humanos, assistimos a um processo de contaminação global que vem alterando a composição química das águas, do solo, da atmosfera e dos sistemas biológicos do planeta, colocando em perigo a saúde dos humanos e os sistemas de suporte à vida no planeta. Considerando que desde a Conferência de 1972 a indústria química mundial cresceu 9 vezes, a uma taxa anual de cerca de 3 por cento, com tendência de crescimento na produção e comercialização nos próximos 30 anos, espera-se um aumento global nos níveis de contaminação ambiental e de humanos expostos aos seus riscos (GEO, 2002; FREITAS et al., 2002). As áreas urbanas devem ser vistas como vastos processadores sem precedentes na natureza, consumindo alimentos, matérias-primas e energia para suas populações e atividades econômicas, produzindo bens, resíduos e poluição. Um estudo realizado em 29 cidades bálticas demonstrou que o consumo de alimentos, madeira, papel e fibras requeria uma área 200 vezes maior (considerando a área necessária para a plantação de alimentos, fornecimento de madeiras e matérias-primas) do que a área somada das mesmas cidades. Só para assimilar os produtos aí produzidos, como o nitrogênio, o fósforo e o dióxido de carbono, a área necessária variava de 400 a mil vezes a área das cidades. Assim, embora as áreas urbanas ocupem pequeno percentual da área global (3 por cento da superfície terrestre), concentram grandes contingentes populacionais com maior poder de consumo e indústrias intensivas em recursos naturais, resultando na apropriação de uma área muito mais extensa para atender suas demandas de água, matéria-prima e energia para o consumo e a produção, assim como para absorver seus poluentes e resíduos (BELLEN, 2005; DECKER et al., 2000).

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O aumento na incidência de obesidade, uma epidemia global, é bastante emblemático dos desequilíbrios associados ao processo de urbanização e de como as áreas urbanas e seus habitantes se constituem em vastos processadores de alimentos, matérias-primas e energia. Resulta da combinação desequilibrada entre o crescente acesso a alimentos processados que acumulam energia e o declínio das atividades físicas no trabalho, no lazer e domésticas, contribuindo para o aumento do risco de aumento da pressão sanguínea e diabetes tipo II. Assim, embora a obesidade não resulte diretamente das mudanças ambientais, não se encontra dissociada do intenso e amplo processo de urbanização que vem imprimindo a extensiva degradação nos ecossistemas e alterações na própria ecologia dos humanos a partir da introdução de novos valores culturais e hábitos introduzidos a partir da Revolução Industrial e progressivamente espalhados pelo mundo, contribuindo para mudanças presentes e futuras no perfil de saúde, da morbidade e da mortalidade (McMICHAEL, 2000). Não é por acaso que doenças cardíacas e derrames, que se encontravam entre as 10 principais causas de perda de anos de vida saudáveis em 1990, apresentem tendência a ocupar respectivamente o primeiro e o quarto lugar em 2020, conforme pode se verificar Quadro 7 (BLOOM, 2005). Outra grande causa de perda de anos de vida saudáveis também se encontra relacionada ao vasto consumo de matérias-primas e energia resultante do processo de industrialização e urbanização associado a alterações na própria ecologia dos humanos e novos valores culturais e hábitos. Em 2000 havia 750 milhões de carros no mundo, resultado do crescente poderio econômico e político da indústria automobilística com o desejo de mobilidade, conforto, bem-estar e status dos consumidores. Uma das conseqüências para a saúde desse processo são as cerca de 750 mil mortes em acidentes de trânsito cada ano, contribuindo para que os acidentes automobilísticos apresentem tendência de passar do nono lugar em 1990 como causa de perda de anos de vida saudáveis para o terceiro lugar em 2020 (ver Quadro 7). Além da morbidade e mortalidade por acidentes automobilísticos, há ainda a poluição urbana causada por esses carros, principalmente nas cidades dos países em desenvolvimento, estimando-se que cerca de 130 mil mortes prematuras e de 50 a 70 milhões de incidentes relacionados à doenças respiratórias ocorram a cada ano como conseqüência da poluição urbana (McMICHAEL, 2000). Os carros, movidos na quase totalidade por combustíveis fósseis e contribuindo para 1/4 das emissões globais de dióxido de carbono, são emblemáticos dos potenciais impactos sobre a saúde e os ecossistemas desta opção energética e das profundas desigualdades associadas ao crescimento econômico, industrialização e urbanização no âmbito global. Em 1998, na América do Norte, o número de carros por mil pessoas era de 742, mais de 2 vezes do que na Europa (324 por mil pessoas) e mais de 7 vezes mais do que na América Latina e Caribe (105 por mil pessoas). Comparando os Estados Unidos com a Índia, o consumo de combustíveis fósseis é cerca de 30 vezes maior. Essa desigualdade no número de carros mantém-se no consumo de combustíveis fósseis. Em 1999, na América do Norte o consumo era de 5,3 toneladas per capita, enquanto para a Europa era de 2,3 e, na Ásia Ocidental, de 1,6. A concentração de carros e consumo de combustíveis fósseis nos países mais industrializados é reproduzida também nas emissões de dióxido de carbono per capita (quilogramas por pessoa), com a América do Norte sendo em 1999 responsável por mais de 19 mil, sendo seguida pela Europa e Ásia Ocidental, com mais de 7 mil cada (WRI, 2005; GEO, 2002; LOVINS, 2005). Essas desigualdades são estruturais às sociedades industriais contemporâneas e se reproduzem em diversos âmbitos da vida social, como demonstra o Quadro 8, que traduz alguns dos aspectos recentemente destacados em um alerta do Earthtrends comparando nos extremos os países mais ricos e os países mais pobres (WRI, 2006).

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Mantidas as tendências atuais em que o consumo de combustíveis fósseis vem alimentando um modelo de desenvolvimento estruturalmente iníquo, acabamos por sobrepujar a capacidade de absorção da terra e dos oceanos, já que as emissões de dióxido de carbono são 3 vezes mais rápidas do que a capacidade de os oceanos e a terra o absorverem (GEO, 2002; MUSSER, 2005; LOVINS, 2005). Desde 1750, a concentração atmosférica de dióxido de carbono cresceu cerca de 32 por cento (de 280 ppm para 376 ppm em 2003), tendo como fontes não somente a combustão de combustíveis fósseis, mas também as mudanças no uso do solo. Aproximadamente 60 por cento desse crescimento (60 ppm) teve início em 1959 e, considerada a tendência atual, só nos Estados Unidos serão consumidos 28 milhões de barris de petróleo por dia em 2025. Considerando as emissões históricas de dióxido de carbono de 1900 a 1999, 79 por cento se situam nos países mais industrializados, sendo os Estados Unidos responsáveis por 30,3 por cento. Embora a população urbanizada dos países industrializados represente apenas 1/5 da população mundial, contribui com mais de 3/4 de todas as emissões de dióxido de carbono. Nos países em industrialização, com 4/5 da população mundial, o volume de emissões vem rapidamente crescendo (WRI, 2005; MEA, 2005; LOVINS, 2005). Essa situação atual nas emissões de dióxido de carbono e suas tendências contribuem para que no final do século XXI as mudanças climáticas venham a se constituir nas forças motrizes para mudanças nos serviços de ecossistemas e perda de biodiversidade. As projeções do IPCC até 2100 apontam para um crescimento na temperatura média da superfície global de 2,0 a 6,4 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, e já acima de 2,0 graus espera-se um forte impacto sobre os serviços dos ecossistemas. Com esse aumento da temperatura há tendência de aumento no número e gravidade de eventos tais como enchentes, deslizamentos, furacões e temperaturas extremas (muito frio ou muito calor) que sobrepujam as capacidades de respostas locais e exigem assistência externa (nacional e internacional) (ver Quadro 9). Entre os eventos de temperatura extrema, espera-se a exposição de populações às ondas de calor, principalmente nos centros das grandes cidades onde a temperatura tende a ser normalmente mais alta por conta das ilhas de calor criadas a partir das construções e do asfalto, com impactos principalmente sobre a mortalidade de idosos. O quadro é preocupante quando se considera que populações vêm crescentemente ocupando áreas e regiões vulneráveis aos desastres naturais (áreas costeiras e secas) e que o número de pessoas necessitando de auxílio externo em relação a esses eventos quadruplicou nas últimas quatro décadas. Particularmente no que se refere às áreas costeiras, deve-se considerar que há projeções de aumento adicional no nível do mar entre 8 a 88 centímetros entre 1990-2100 e que cerca de metade das maiores cidades do mundo (com mais de 500 mil habitantes) estão localizadas a cerca de 50 quilômetros da costa, e que a densidade populacional dessas cidades é cerca de 2.6 vezes maior do que a densidade das áreas internas dos continentes. Esta situação é preocupante para a saúde pública, uma vez que são esperadas conseqüências físicas, microbiológicas e psicológicas para a saúde humana por conta do aumento do nível dos oceanos e do deslocamento de populações (MEA, 2005; McMICHAEL, 2000). Além dessas conseqüências diretas, são esperadas outras como o aumento na incidência de doenças respiratórias a partir da crescente exposição a poluentes fotoquímicos e alergênicos (esporos, fungos etc.), bem como alteração na intensidade e variedade das doenças infecciosas relacionadas a vetores (malária, dengue e febre amarela, por exemplo) (ver Quadro 6), ampliando o raio de ação e as altitudes de risco em todos os continentes a partir do aumento da temperatura. Outros efeitos indiretos à saúde humana e ao bem-estar são esperados, como alteração na intensidade e variedade de doenças relacionadas aos agentes patogênicos presentes nos alimentos e nas águas,

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assim como o declínio regional na produtividade agrícola, principalmente em populações pobres em recursos (Sul da Ásia, Nordeste da África e América Central). Pelas tendências mundiais atuais, a população deve alcançar 9 bilhões em 2050 (a população será maior, mais urbanizada, crescerá de forma mais lenta e será mais velha), o PIB deve crescer de 3 a 6 vezes e, conseqüentemente, haverá aumento no consumo de recursos naturais e degradação ambiental, pressionando os limites do planeta (MEA, 2005). Entretanto, o crescimento da população, da economia e da degradação ambiental continuará a não ser igual para todos. Se em 1950 a população das regiões menos desenvolvidas do mundo representava cerca de 2 vezes a população das regiões mais desenvolvidas, hoje representa 5 para 1 e as projeções apontam que em 2050 essa proporção será de mais de 6 para 1. Se na atualidade 1/5 da população global, vivendo nos países mais industrializados e de maior renda per capita, detêm 86 por cento do PIB, 82 por cento das exportações para o mercado global, 68 por cento dos investimentos estrangeiros e 74 por cento das linhas de telefone, encontra-se entre os outros 4/5 da população, vivendo nos países menos industrializados, um quadro inverso. Mais de um bilhão da população global, 1 em cada 6 habitantes do planeta, vivem com menos de 1 dólar por dia e não conseguem satisfazer algumas ou todas as necessidades básicas, como nutrição adequada, água não contaminada, abrigo seguro e saneamento, bem como acesso aos cuidados de saúde, estando à margem dos serviços públicos de saúde, educação e infra-estrutura. Se dobramos para menos de 2 dólares por dia, o que ainda representa condições de vida extremamente precárias, o número mais que dobra, passando para mais de 2,7 bilhões de habitantes. Em termos de vidas perdidas, isto significa que a cada dia mais de 20 mil pessoas morrem por falta de comida, água potável, remédios ou outras necessidades essenciais. Uma criança nascida na África subsaariana tem 20 vezes mais possibilidade de morrer antes dos 5 anos de idade do que uma criança em um país industrializado, sendo essa disparidade maior do que há uma década. Durante os anos 90, 21 países baixaram sua posição no ranking do IDH, sendo 14 deles na África subsaariana (MEA, 2005; GEO, 2002; COHEN, 2005; MUSSER, 2005; SACHS, 2005). Cerca de vinte anos atrás, em 1987, o Relatório Bruntland apontava que entre os êxitos da humanidade se encontravam a queda da mortalidade infantil, o aumento da expectativa de vida, o aumento do percentual de adultos que sabem ler e escrever, o aumento do percentual de ingresso de crianças nas escolas e o aumento da produção global de alimentos mais rápido do que o crescimento da população. Entre os fracassos, distinguia entre os sociais e os ambientais. Entre os sociais apontava o aumento do número absoluto de famintos e de analfabetos no mundo, o aumento no número dos que não dispõem de água e moradia de boa qualidade e a ampliação do fosso entre nações ricas e nações pobres. Entre os ambientais destacava o fato de as mudanças ambientais ameaçarem modificar radicalmente o planeta e a vida de muitas espécies, a desertificação de terras produtivasm, a destruição de florestas, as chuvas ácidas, o aquecimento global do planeta, o buraco na camada de ozônio e a poluição química (CMMAD, 1991). Desde a Segunda Guerra Mundial e particularmente a partir de fins dos anos 80, quando a constituição de uma agenda ambiental ganha destaque no processo de globalização, assiste-se a um crescimento econômico e uma rápida integração de mercados acompanhada de crescente degradação ambiental e ineqüidade na distribuição de renda, entre países e dentro dos países. Essa lógica de crescimento econômico tem se mostrado insustentável, do ponto de vista ambiental e do bem-estar e da saúde humana. A lógica atual do crescimento econômico cego inclui gastos com as conseqüências indesejadas da produção e do consumo de bens como valores positivos. Se passarmos a computar a perda de bem-estar resultante da concentração de renda e a

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degradação ambiental como débitos sociais e ecológicos, enquanto o PIB per capita de um país como Estados Unidos cresceu de 20 mil dólares para quase 40 mil entre 1950 e 1990, o índice de bem-estar sustentável per capita manteve-se praticamente estagnado, passando de 10 mil dólares para pouco mais do que isso (DALY, 2005). Se esta é a situação de um país como os Estados Unidos, em muitos países vivenciou-se somente o aumento dos débitos sociais e ecológicos, com grande parte de suas populações arcando com os custos de sua saúde e vida, bem como de degradação ambiental, para sustentar um modelo de desenvolvimento econômico estruturalmente iníquo, estando longe de atingir a necessária sustentabilidade da saúde e do ambiente para o bem-estar dos humanos e a necessária garantia da integridade ecológica aos sistemas de suporte à vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto, a partir de uma perspectiva ecossistêmica, procurou-se demonstrar como o modelo de desenvolvimento econômico atual, que tem suas raízes mais expressivas na Revolução Industrial, significou um intensivo e extensivo processo de industrialização, urbanização, crescimento da população e da economia que trouxe imensos avanços, mas também inúmeros e grandes desafios do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e da saúde. Se consideramos, por exemplo, que o crescimento global do PIB per capita, a redução da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida são bons indicadores do sucesso desse modelo, bastando apenas algumas correções na distribuição de renda e na melhoria das condições ambientais nas cidades onde a mortalidade infantil ainda é alta e a expectativa de vida ainda é baixa, basta-nos apenas desenvolver políticas públicas focais de modo a atingir as regiões mais afetadas e os grupos sociais mais vulneráveis, como os bilhões de pobres e miseráveis. Se consideramos, por exemplo, que a lógica do crescimento econômico em sua natureza e dinâmica não só é socialmente iníqua e ambientalmente implica a degradação dos ecossistemas, mas também que vem desperdiçando vidas e destruindo os sistemas de suporte à vida, tornando cada dia mais real a possibilidade de colapsos locais, regionais e globais e mudanças não-lineares com conseqüências sobre a saúde, a vida e nossa própria civilização, torna-se necessário desenvolver políticas públicas mais amplas em sua estensão territorial e temporal, como também integradas em suas diversas dimensões, bem como mudanças de rumo no atual modelo de desenvolvimento. Uma questão de fundo nas duas alternativas é até que ponto é possível desenvolver uma ou outra, e de quanto tempo futuro ainda dispomos para isso.

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NOTA 1 Grande parte deste texto foi originalmente escrito para integrar um dos capítulos do livro publicado em co-autoria: Freitas, C. M.; Porto, M. F. S. Saúde, ambiente e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2006.

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Artigo recebido em 16.10.2006. Aprovado em 19.02.2007.

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AN ECOSYSTEMIC PERSPECTIVE OF ENVIRONMENTAL AND HEALTH SUSTAINABILITY1

Carlos Machado de Freitas Research fellow of the Center for Studies into the Health of the Worker and Human Ecology / National School

of Public Health. Oswaldo Cruz Foundation.

ABSTRACT As we move from the XXth to the XXIst century alternative approaches are emerging, like ecosystemic ones, which are trying to integrate socio-economic aspects with biophysical aspects for understanding and looking for solutions for the environmental problems that, while they originate at the local level, have a regional and global impact. These approaches have been trying to integrate long and medium term perspectives when it comes to looking at the environmental degradation processes and the social inequities that are inherent to the economic development model, have become both intensive and extensive throughout the XXth century and now threaten our environmental and health sustainability, signifying impacts upon humans, other species and life support systems. These transformations demand not only systemic perspectives to understand these problems, but also present us with the challenge of formulating focal and/or global strategies to face up to the threats presented by the economic development model of industrial societies. Key words: Ecosystemic approaches / environmental sustainability / health sustainability / sustainable development

1 A large part of this text was originally written for inclusion in one of the chapters of the book published in co-authorship with Marcelo Firpo de Souza Porto, entitled: Freitas, CM & Porto MFS, 2006. Saúde, Ambiente e Sustentabilidade [ Health, Environment and Sustainability]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ

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INTRODUCTION The scale, magnitude and uncertainties that permeate the current environmental crisis

show how human activities have been producing drastic environmental changes at both

the local and global levels, resulting in many serious health problems. Because of their

complex nature these problems require the search for alternative approaches that

integrate socio-economic and bio-physical aspects when it comes to understanding and

searching for solutions for them (FREITAS et al., 2006).

As we move from the XXth to the XXIst century the need for developing these alterative

approaches has intensified, a process that is described in the World Resources Institute

(WRI, 2000) report for the years 2000-2001. This report points out the need for adopting

an ecosystemic approach that makes it scientifically possible to recognize the “systems”

within ecosystems in a holistic and not sectorial way, that is oriented towards decision-

making and whose presuppositions are that we have the capacity to contribute to: (1) a

coming together of diverse pieces of information that make it possible to show the

interfaces between the goods and services of the various ecosystems that must be

balance with the environmental, political, social and economic goals; (2) formulation of

broad public policies and more effective institutions for implementing them; (3)

participation of the general public in the management of ecosystems, particularly local

communities.

In 2001, the United Nations launched its Millennium Ecosystem Assessment (MEA,

2005), a four year program conceived to respond to the need to provide political decision

makers with scientific information about the relationship between changes in the

ecosystems and human well-being. Its results were published in March, 2005 and point to

a situation of rapid and extensive transformation in ecosystems, resulting in the

degradation of approximately 60% of their services (water, air, climate, etc.), with an

increase in the chances of non-linear, abrupt and irreversible changes that will have

important consequences for humans (emerging diseases, sudden alterations in water

quality, a collapse in food supply and changes in regional and global climates, etc.) and

will disproportionately affect the poorest people, thereby contributing to growing inequity

and constituting a factor in the origin of poverty and social conflict.

Starting from an ecosystemic perspective the objective of this article is to bring

elements to the debate on sustainability relating to environmental and health issues, which

cannot be separated from social, economic and political issues. To do so we have taken

as the pivotal point issues that are directly related to the intensity and extent of the

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transformations that our civilization has been causing in ecosystems, thereby placing the

life and health of species in danger, which includes humans, and obliging us to reflect

critically on the limits of the current development model.

THE XXTH CENTURY AND ITS INTENSE AND EXTENSIVE SOCIO-ENVIRONMENTAL TRANSFORMATIONS

As from the time of the Industrial Revolution, and particularly between the end of the

XIXth century and throughout the XXth century, the growth and expansion of production

processes with the transformation of energy and materials used for the production of raw

materials and consumer goods became enormous and was accompanied by a process of

growth in the population and its urbanization (FREITAS e PORTO, 2006).

Part of the growth of the global economy was related to the great increase in the world’s

population throughout the XXth century, going from 1.5 billion in 1900 to more than 6

billion in 2000 (MUSSER, 2005; COHEN, 2005). The urbanization of the population has its

origins in the Industrial Revolution, which started great migratory flows to urban areas that

provided abundant labor, economies of scale, a greater sharing in the use of resources

and infrastructure and production and commercialization opportunities. If, at the start of the

XXth century, nearly 13% of the world’s population lived in urban areas, currently it is 50%

globally and in Latin America, North America and Europe it is more than 70% (although

urban areas cover a mere 2.4% of the land surface) (McNEILL, 2000; WRI, 2005)

The growth of the economy and the urbanization of the population were

accompanied by a greater demand on ecosystem services, for water and energy

consumption and for the production of food, fibers and wood, for example. Along with the

transition process to an industrialized economy there was a growing economic integration

between sectors and countries, leading to the process that has been recently called

globalization, and which represented greater global pressure on ecosystems and their

services (FREITAS and PORTO, 2006).

In this process the rapid growth of global markets came accompanied by growing

social and economic inequity in the world, as well as environmental degradation, which

have contributed to the emergence of problems like global warming, a reduction in the

ozone layer, the loss of biodiversity, the depredation and pollution of natural resources and

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the extensive process of deforestation and desertification, to mention just a few examples

(FREITAS and PORTO, 2006).

The globalization of environmental degradation and social inequities have placed in

check two equally important and interdependent dimensions that are the basis of the

original definition of sustainable development. They threaten both access to natural

resources and to a healthy environment, like equity in the distribution of income and goods

in a way that satisfies the needs of present and future generations (BORGHESI e

VERCELLI, 2003). Therefore, even though the transition to an industrial society and the

globalization process have resulted in economic growth and an increase in per capita

income, they threaten the environmental sustainability of the planet, with consequences for

the health and well-being of its populations (FREITAS and PORTO, 2006).

As we can see in Table 1, in the period between 1890 and 1990 the world

economy grew 14 times, industrial production 40 times, the use of energy 16 times and

the production of coal 7 times. Throughout the XXth century there were intense economic

transformations and economic activities per capita grew by approximately 4.5 times; just

in the period between 1960 and 2000 the global economy grew more than 6 times (MEA,

2005)

The industrialization process and the development of the global economy are

based on a logic in which short term growth takes precedence over long term growth,

which affects ecosystems and degrades the natural capital (the services offered by

ecosystems). This logic is stimulated and favored by the fact that national accounts do not

explicitly record the environmental costs of this growth in the global economy, since the

main indicator, GDP, treats the quantitative growth of the economy (growth) as a synonym

for qualitative improvement (development) (BELLEN, 2005).

The objective of this economic growth was not the qualitative improvement of the lives

of billions of humans who were on the margins of this unfair process. In 1981 there were

1.5 billion living in extreme poverty (on less than US$1 per day), but this reduced to 1.1

billion in 2001. This reduction was greater in East Asia (it went from 796 million to 271

million in the period), less in South Asia (going from 475 million to 431 million in the period)

and non-existent in Latin America and the Caribbean, the only region that recorded an

increase in the absolute number of humans living in extreme poverty, going from 36 million

in 1981 to 50 million in 2001. On the other hand, while the number of humans living in

extreme poverty reduced (less than US$1 per day), between 1990 and 2001 the number of

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those living on less than US$2 per day grew, going from 2.655 billion to 2.763 billion.

(POLAK, 2005; SACHS, 2005).

So GDP, the main indicator of a country’s wealth, only measures the cash flow

resulting from economic activity in general (the annual worth of the market for final goods

and services in a country, after adding in all exports and deducting imports) and is not a

balance sheet that has assets and liabilities. Therefore, the impact upon ecosystems and

the degradation of the natural capital (services offered by the ecosystems), even though

they signify the elimination of an asset (cutting down forests) may mean a source of

income in the long term for thousands of workers. At the same time GDP does not

measure either the income or the well-being of a country’s population. The concentration

of income, expenses with the negative consequences of the production processes

(including expenses with health services for sick workers and those that suffer accidents in

the production process) and the loss of well-being resulting from environmental

degradation are positively computed (DALY, 2005).

In the last century, and particularly over the last 50 years, humans have globally

changed ecosystems more rapidly and more extensively than at any other period in

history. This process has resulted from the growing demand for the provision of services

from the ecosystems, associated with the industrialization process and the growth of the

global economy. Therefore, the material (provision, regulation and support) and non-

material (cultural and religious) services of ecosystems have been increasingly degraded,

or used in an unsustainable way. According to the results of the MEA (2005),

approximately 60% (15 of the 24 ecosystem services identified) are being degraded, which

includes provision services (water and food) and regulation services (control of air and

water quality, regional or local climate, natural disasters and pests), as can be seen in

Table 2.

One of the most significant changes in the structure of ecosystems was the

transformation of approximately 1/4 of the planet’s surface into cultivated systems. This

process started in the XVIIIth and XIXth centuries, but intensified as from the Second

World War. The result is that currently more than 1.2 billion hectares of land with

vegetation cover (an area as large as China and India together) have been significantly

degraded. It is expected that over the next 50 years the demand for grain will grow by

between 70% and 85%, with the consequent impact on the demand for water, which will

grow by between 30% and 85%, since 70% of it is used in agriculture. This means that the

conversion of areas of forest cover into agricultural land will tend to continue, with a

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projection that by 2050 between 10% and 20% will occur primarily in developing countries.

Two aspects must be observed in this process. First, food security will not be achieved

and malnutrition will not be eradicated, and in fact will get worse in some regions, despite

the growth in the supply of food and diversification in the diet. Second, this process of

conversion of forest areas into agricultural land, with the consequent environmental

degradation, will end up compromising the very expansion of provision services and food

production (WRI, 1992; POLAK, 2005; MEA, 2005).

With regard to the first aspect (food security), despite the increase in production per

capita of food over the last 40 years, it is estimated that 865 million people were under-

nourished between 2000-2002, 32 million more than detected in the period 1995-1997;

they are concentrated in areas like South Asia and sub-Saharan Africa, regions were the

increase in food production per capita was smaller. Among those who are hungry in the

world, 50% are small rural land-owners, 20% are country people without land and 10% are

shepherds, fishermen and forest dwellers. The other 20% are poor urban dwellers. The

Green Revolution was projected to increase food supply and not to eradicate poverty or

hunger (POLAK, 2005; MEA, 2005).

With regard to the second aspect (environmental degradation), the expansion of

cultivated systems has been contributing to transforming the structure (habitats and

species present in a particular location) and the processes of ecosystems, including bio-

geochemical cycles, like those of phosphorous, nitrogen and water. As the capacity of

ecosystems to provide services derives directly from the operation of these natural cycles

that are related to the support services of the ecosystems, if they are compromised this

ends up threatening environmental and health sustainability (PIMM and JENKINS, 2005;

MEA, 2005).

With regard to the phosphorous cycle, from 1960 to 1990, the use of fertilizers

containing phosphorous and the accumulation rate of phosphorous in agricultural soil grew

by nearly 3 times, thus contributing to the fact that the current flow of phosphorous into

oceans is three times the basal rates. Even with the decline in its use over the last few

years, phosphorous still persists to a great extent in the environment, and may remain in

the soil for decades (MEA, 2005).

With regard to the nitrogen cycle the quantity of reactive or biologically available

nitrogen, created by human activities, grew nearly 9 times between 1890 and 1990. The

majority of this growth occurred in the second half of the XXth century and was associated

with the increasing use of fertilizers. In relation to the flow of reactive nitrogen (biologically

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available), human activities contributed to doubling the rate of creation of nitrogen on the

earth’s surface, with more than half of all synthetic nitrogenated fertilizers (manufactured

for the first time in 1913) being used since 1985. The flow of reactive nitrogen in the

continents will tend to grow by up to 2/3rds by 2050, with most of it occurring in developing

countries, where the agriculture area will expand. Among the environmental and health

consequences resulting from this process we would highlight the eutrofication of fresh and

coastal water, the the acidification of fresh water and terrestrial ecosystems, the loss of

biodiversity, a loss of agricultural productivity, destruction of the ozone in the stratosphere,

an increase in the incidence of skin cancer, cataracts and possible interference in the

functioning of the immune system, in addition to asthma, allergies and pulmonary and

cardiac diseases (MEA, 2005).

With regard to the water cycle, taking it from rivers and lakes for use in irrigation, or

its urban and industrial use doubled between 1960 and 2000, with approximately 70%

being used in agriculture. At the same time that cultivated systems demand great

quantities of water (for example, to grow 1kg of grain requires almost 1,000 liters of water),

extending their area by converting areas with vegetation cover compromises the very

availability of water on the planet, because forest systems regulate approximately 57% of

the total water available for consumption (MEA, 2005; POLAK, 2005). Furthermore, the

use of fertilizers in agriculture compromises water quality and affects nearly 5 billion

humans who live close to cultivated systems (MEA, 2005).

Associated with agricultural activities and the production of energy, the construction

of major reservoirs has doubled or tripled the time the water stays in the rivers (the

average time that water takes to reach the oceans). Considering that between 1960 and

2000 the storage capacity of reservoirs quadrupled and the capacity of hydroelectric power

stations doubled it is estimated that the amount of water stored in major reservoirs is three

to six times the quantity that flows naturally in natural rivers (excluding natural lakes). The

construction of reservoirs and other structures along rivers has affected the flow by up to

60% in the major river systems of the world, thereby reducing the flow in some of them,

like the Nile, Yellow and Colorado, to the extent that they no longer flow into the oceans as

in the same way that they used to (MEA, 2005).

On the one hand we witness the depredation of aquifers and the pollution of

underground and surface waters, coupled with global water consumption, which exceeds

the long term supply rates of the same. On the other hand, large reservoirs and other

structures along rivers, also used for irrigation purposes in agricultural activities, has been

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significantly altering the water cycle. Both processes have been threatening the future

availability of fresh water for economic food production activities and for human

consumption, thereby aggravating even further the scarcity of water that currently affects

from 1 to 2 billion human beings in the world (MEA, 2005).

The extensive and intense process of conversion of forest areas to help the

ecosystems to offer provision services, such as agriculture and cattle raising, has had

consequences on the capacity of water and genetics (biodiversity) provision services, as

well as on the regulation of ecosystems, like the capacity to regulate air quality, the

climate, the water cycle, erosion, diseases and pests, natural dangers, water purification

and waste treatment (MEA, 2005).

Among the provision services, we would draw attention to the fact that the

distribution of the species on earth is becoming increasingly more homogenous, meaning

that the differences between the group of species in a particular location on the planet and

the group from another location are, on average, decreasing. Two factors have been

contributing to this trend. The first is the extinction of species from certain regions. The

second is the rate of invasion or the introduction of exotic species, which has been

intensifying with the growth of trade and the increase in the speed of global transport that

either eliminates altogether, or reduces natural barriers. Both factors have been

contributing to the global decline of genetic diversity, which is more accentuated in

cultivated species. If, on the one hand, changes in ecosystems necessarily affect species,

we cannot ignore that on the other, these alterations in the composition of species affect

ecosystem processes (EPSTEIN, 1995; LOPES, 2004; PIMM and JENKINS, 2005).

Demand for the maintenance of biodiversity as a source of materials that can be

traded, generate foreign exchange for countries and create jobs and income, as well as

providing benefits for human health and well-being, is growing, as can be seen in Table 3.

Table 4 shows how this process of conversion of the forest areas into cultivated

systems has been increasing vulnerability in relation to the loss of biodiversity, mainly

plants and mammals, in Latin America, the Caribbean, Asia, the Pacific and Africa,

meaning not only alterations in the composition of the species and their ecosystems and

changes in their processes, but also the future loss of billions of dollars in foreign

exchange for countries, jobs and income, as well as environmental benefits for human

health and well-being (GEO, 2002).

Deforestation modifies the structure of ecosystems, often resulting in the

fragmentation of habitats into small patches separated by agricultural activities or human

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populations. As a consequence, a modification occurs in the structure of the vegetation,

impoverishment of the animal and vegetable species and an alteration in the genetic

diversity and composition of the species in various locations, in addition to the greater

vulnerability of the animals and plants in each fragment that may diminish until they

become extinct, as well as being affected by invading species. The consequence of this

process is an alteration in the composition of host species that live in the environment and

in the ecology of vectors and pathogenic agents. When combined with mobility and contact

by non-immune populations, it has been contributing to the emergence of diseases like

hemorrhagic fever, with cases of death in various countries (EPSTEIN, 1995; LOPES,

2004; PIMM & JENKINS, 2005). Examples of some of these diseases can be found in

Table 5.

The intense and extensive changes that have been occurring in terrestrial

ecosystems, particularly as from the conversion of forest areas into cultivated land, and

the increase in urbanization, which is getting closer to or invading the forest areas, have

been contributing to change not only the provision capacity of the ecosystems, but also,

and principally, their capacity for regulating diseases. Table 6 gives a series of examples

of infectious diseases that are related to changes in ecosystems, which have been playing

an important role in the emergence and re-emergence of many illnesses. We cannot

ignore the fact, however, that in other situations these same changes have been

contributing to reducing the incidence of other illnesses (SUTHERST, 2004; MEA, 2005).

The extensive process of converting forest areas into cultivated land areas, the

alterations in ecosystems and the loss of biodiversity that accompanies them, with their

consequent direct and indirect effects on the health and well-being of present and future

generations, are all part of the logic of global economic growth, with its transition to an

industrial and urbanized society.

These transformations cannot be disassociated from the intense changes that have

occurred throughout the XXth century and that resulted in the growth of the economy and

in its globalization process, accompanied by a fourfold increase in the world’s population,

which started being concentrated nearly 13 times more in urban areas, with a strong

impact on the services of the local, regional and global ecosystems, caused by the

growing demand for water and energy consumption and the production of food, fibers and

wood, for example (MEA, 2005).

The world urban population grew from 200 million in 1900 to 2.9 billion in 2000

(almost 50% of the world’s population) and the number of cities in which the population

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exceeds 1 million went from 17 in 1900 to 388 in 2000 (almost 23 times more). In regions

like North America, Europe, Latin America and the Caribbean the urban population

exceeded 70% and there is a tendency that by 2030, in regions like Africa, Asia and the

Pacific, it will exceed 50% (MEA, 2005; GEO, 2002).

Urbanization of the world’s population is a growing tendency and it has its origins in

the Industrial Revolution, which started the great migratory flows to urban areas in search

of work, access to the food that had become scarce in rural areas, to services, like health

and education, as well as better opportunities and living conditions. Urban areas were vital

for industrialization and economic growth, since they provided large amounts of cheap

available labor, economies of scale and a greater sharing in the use of resources and

infrastructure and production and trading opportunities. At the same time, they have a

strong impact on the environment and health, principally in industrializing countries.

In less industrialized countries, the urban areas combine the environmental

problems of health that are typical of poverty (particularly respiratory diseases and enteric

infections) with those related to precarious housing conditions (sanitation and the supply of

water suitable for human consumption) and unregulated industrialization, which results in

high levels of atmospheric pollution and toxic waste (McMICHAEL, 2000; FREITAS et al.,

2002).

In 2002, 81% of the world’s urban population had access to suitable sanitation and

95% to the supply of suitable water. However, comparing industrialized countries with

those with lesser levels of industrialization, the percentages fall to 73% and 92%. Half of

the urban population in Africa, Asia, Latin America and the Caribbean is affected by one or

more illnesses associated with inadequate sanitation and water supply, and these same

conditions, combined with precarious hygiene conditions, account for approximately 1.7

million of the world’s deaths. These conditions contribute to the fact that while the rate of

child mortality per 1,000 live births is 15 in industrialized countries in countries that are

industrializing is nearly 4 times more, at 59 per 1,000. (WRI, 2005; MEA, 2005).

Besides the problems related to sanitation and the supply of water suitable for

human consumption that were typical of the first phases in cities after the Industrial

Revolution, we can today add the problems related to chemical pollution that affect the

soil, atmosphere, waters and food chain in urban areas and beyond. The worldwide

commercialization of organic chemical products, for example, grew between 1950 and the

90s by more than 5 times, going from 63 million tons in 1950 to more than 300 million tons

in the 90s. This growth, the result of an intensive industrial production logic in urban areas,

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which blighted them with the atmospheric pollution coming from the plants, with industrial

effluents contaminating the rivers and with solid waste contaminating soil and

underground water, has been accompanied by a significant increase in consumption and

pollution beyond the urban areas, affecting rural and forest areas. From the cumulative

global consequence of many environmental pollutants, like PCBs and DDT, which when

carried through the environment affect humans, via the food chain, in places that are

distant from their production and source of contamination, to substances with endocrine-

disruptive potential that affect both wild life and humans, we have witnessed a global

contamination process that has been altering the chemical composition of waters, the soil,

the atmosphere and the planet’s biological systems, placing in danger the health of

humans and the planet’s life support systems. Considering that since the 1972

Conference, the world’s chemical industry has grown 9 times, at an annual rate of growth

of nearly 3%, with a tendency that production and trade will grow over the next 30 years, it

is expected that there will be a global increase in the levels of environmental

contamination and of humans exposed to its risks. (GEO, 2002; FREITAS et al., 2002)

Urban areas must be seen as vast unprecedented processors in nature, consuming

food, raw materials and energy for their populations and economic activities and producing

goods, waste and pollution. A study carried out in 29 Baltic cities showed that their

consumption of food, wood and fibers would require an area 200 times greater

(considering the area necessary for planting food and supplying wood and raw materials)

than the total area of all the cities in question. Just to assimilate the products produced in

them, like nitrogen, phosphorous and carbon dioxide the area that would be necessary to

do so varied between 400 and 1000 times more than the area of the cities. Therefore,

while urban areas occupy a small percentage of the global area (3% of the land surface

area), they concentrate huge population contingents with great power for consuming and

industries that are natural resource intensive, resulting in the appropriation of an area

much more extensive to meet their demands for water, raw materials and energy for

consumption and production, as well as for absorbing their pollutants and waste (BELLEN,

2005; DECKER et al., 2000).

The increase in the incidence of obesity, a global epidemic, is fairly emblematic of

the imbalance associated with the urbanization process and with how urban areas and

their inhabitants are constituted into vast consumption processors of food, raw materials

and energy. This results from the unbalanced combination of growing access to processed

foods that accumulate energy and a decline in physical activities in work, leisure and

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domestically, thereby contributing to the increase in the risk of high blood pressure and

type II diabetes. Therefore, while obesity does not directly result from environmental

changes, it is not disassociated from the intense and broad process of urbanization that

has been forcing extensive degradation on ecosystems and alteration in the very ecology

of humans with the introduction of new cultural values and habits, as from the Industrial

Revolution and progressively spread throughout the world, thereby contributing to present

and future changes in the profile of health, morbidity and mortality (McMICHAEL, 2000). It

is no coincidence that cardiac disease and strokes, which were among the 10 main causes

of the loss of years of healthy life in 1990, will tend to occupy the first and fourth positions,

respectively in 2020, as can be seen in Table 7 (BLOOM, 2005).

Another great cause of the loss of years of healthy life is also related to the vast

consumption of raw materials and energy resulting from the process of industrialization

and urbanization associated with alterations in the ecology of humans and new cultural

values and habits. In 2000 there were 750 million automobiles in the world, resulting in the

growing economic and political power of the automobile industry with the desire for

mobility, comfort, well-being and status on the part of consumers. One of the

consequences of this process on our health is the nearly 750,000 traffic accident deaths

every year, which contribute to the fact that vehicle accidents will tend to go from the 9th

place they occupied in 1990, as the cause of the loss of years of healthy life, to 3rd place in

2020 (see Table 7). In addition to the morbidity and mortality caused by vehicle accidents,

there is also the urban pollution caused by these automobiles, principally in cities in

developing countries; it is estimated that nearly 130,000 premature deaths and 50 to 70

million incidents related to respiratory diseases occur every year as a consequence if

urban pollution. (McMICHAEL, 2000)

Automobiles, almost all of which use fossil fuels and contribute a 1/4 of the global

emissions of carbon dioxide, are emblematic of the potential impact on health and

ecosystems of this choice of energy, and the great inequalities associated with economic

growth, industrialization and urbanization at the global level. In 1998, in North America, the

number of automobiles per 1,000 people was 742, more than twice what it was in Europe

(324 per 1,000 people) and more than 7 times what it was in Latin America and the

Caribbean (105 per 1,000 people). Comparing the USA with India, fossil fuel consumption

is nearly 30 times greater. This imbalance in the number of automobiles is mirrored in the

consumption of fossil fuels. In 1999, in North America consumption was 5.3 tons per

capita, while in Europe it was 2.3 and in West Asia, 1.6. The concentration of automobiles

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and the consumption of fossil fuels in the most industrialized countries is also reproduced

in the emissions of carbon dioxide per capita (kgs per person), with North America, in

1999, being responsible for more than 19,000, followed by Europe and West Asia, with

more than 7,000 each (WRI, 2005; GEO, 2002; LOVINS, 2005). This imbalance is

structural in contemporary industrial societies and is reproduced in the different

environments of social life, as shown in Table 8, which provides some of the aspects

recently highlighted in a warning given by Earthtrends that compared, at the extremes, the

richest and poorest countries (WRI, 2006)

If the actual tendencies are maintained, in which the consumption of fossil fuels is

feeding a development model that is structurally unjust, we end up by overstretching the

absorption capacity of the earth and the oceans, since carbon dioxide is emitted 3 times

faster than the capacity of the oceans and earth to absorb it (GEO, 2002; MUSSER , 2005;

LOVINS, 2005).

Since 1750 the atmospheric concentration of carbon dioxide has grown by nearly

32% (from 280 ppm to 376 ppm in 2003), having as its source not only the burning of fossil

fuels, but also changes in the use of soil. Approximately 60% of this growth (60 ppm) has

occurred since 1959 and, if we extrapolate the current trend, in the USA, alone, 28 million

barrels of oil per day will be consumed in 2025. Considering historic emissions of carbon

dioxide from 1900 to 1999, 79% is found in the most industrialized countries, with just the

USA being responsible for 30.3% of these emissions. Although the urbanized population in

industrialized countries represents only 1/5th of the world’s population, it contributes more

than ¾ of all carbon dioxide emissions. In industrializing countries, with 4/5ths of the

world’s population, the volume of emissions has been growing rapidly (WRI, 2005; MEA,

2005; LOVINS, 2005).

This current situation regarding the emission of carbon dioxide and the trends

contribute to the fact that by the end of the XXIst century climactic changes will be the

driving force in changes in the services of ecosystems and the loss of biodiversity.

Projections from the IPCC through 2100 point to a rise in the average temperature of the

earth’s surface of between 2.0 and 6.4º Celsius over pre-industrial levels; just a 2.0o rise is

expected to have a major impact on the services of ecosystems. With this rise in

temperature there is a tendency that the number and seriousness of events such as

floods, landslides, hurricanes and extreme temperatures (extreme heat and extreme cold)

will increase, which will overstretch the local response capacity and demand external

assistance (national and international) (see Table 9).

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Among the extreme temperature events the exposure of populations to heat waves,

principally in the centers of large cities where the temperature normally tends to be higher

because of the islands of heat created by buildings and asphalt, is expected, with an

impact principally on the mortality rate of the elderly. For events such as (hurricanes,

floods, landslides), this Table is worrying when we consider that populations have been

increasingly occupying areas and regions that are vulnerable to natural disasters (coastal

and dry areas) and that the number of people needing external help with regard to these

events has quadrupled over the last forty years. It is particularly worrying as far as coastal

areas are concerned, when we consider that there are projections of an additional rise in

the sea level of between 8 and 88 centimeters between 1990-2100, that nearly half the

major cities in the world (those that have more than 500,000 inhabitants) are located within

50 km of the coast and that the population density of these cities is nearly 2.6 times

greater than the density of inland areas of the continents. This situation is worrying for

public health, given that physical, microbiological and psychological consequences for

human health are expected as a result in the rise in sea level and the population

displacement (MEA, 2005; McMICHAEL, 2000).

In addition to these direct consequences others are expected, like the increase in

the incidence of respiratory diseases from growing exposure to photo-chemical and

allergenic pollutants (spores, fungi, etc), as well as an alteration in the intensity and the

variety of infectious diseases related to vectors (malaria, dengue fever and yellow fever,

for example) (see Table 6), which will extend the radius of action on the continents and at

altitude in all continents because of the rise in temperature. Other indirect effects on

human health and well-being are expected, like an alteration in the intensity and variety of

illnesses related to the pathogenic agents present in food and water, as well as the

regional decline in agricultural productivity, mainly in populations that are resource-poor

(South Asia, Northeast Africa and Central America)

From current world trends, the population should reach 9 billion in 2050 (the

population will be greater, more urbanized, will grow more slowly and be older), GDP

should increase by between 3 and 6 times and consequently there will be an increase in

the consumption of natural resources and environmental degradation, putting pressure on

the planet’s limits (MEA, 2005). However, the growth in population, economy and

environmental degradation will continue not being equal for all.

If in 1950 the population of the less developed regions in the world represented

nearly twice the population in more developed regions, today it represents 5 times more

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and projections point to the fact that in 2050 this proportion will be 6 times. If today a 1/5th

of the global population, living in the most industrialized countries and with a higher per

capita income, have 86% of the GDP, 82% of the exports to the global market, 68% of

foreign investments and 74% of the telephone lines, in the other 4/5ths of the population,

who live in less industrialized countries, we find the reverse situation. More than a billion of

the global population, 1 in every 6 inhabitants on the planet, live on less than US$1 per

day and are unable to satisfy some or all of their basic needs, like adequate nutrition,

uncontaminated water, safe shelter and sanitation, as well as access to health care,

because they are on the margins of public health, education and infrastructure services. If

we double the figure to less than US$2 a day, which still represents extremely precarious

living conditions, the number more than doubles, going to more than 2.7 billion inhabitants.

In terms of lives lost, this means that every day more than 20,000 people die for lack of

food, drinking water, medication or other essential necessities. A child born in sub-

Saharan Africa has 20 times more chance of dying before it reaches 5 years old than a

child born in an industrialized country, and this disparity is greater than it was a decade

ago. During the 90s, 21 countries fell in the IDH ranking, 14 of these in sub-Saharan Africa

(MEA, 2005; GEO, 2002; COHEN, 2005; MUSSER, 2005; SACHS, 2005).

Some 20 years ago, in 1987, the Bruntland Report pointed out that among the

success factors of humanity were the decline in infantile mortality, the increase in life

expectancy, the increase in the percentage of adults that know how to read and write, the

increase in the percentage of children going to school and the increase in global food

production at a faster rate than population growth. Among the failures it made a distinction

between social and environmental ones. Among the social ones it mentioned the absolute

number of those starving and illiterate in the world, the increase in the number of those

that do not have good quality water and housing and the widening of the gap between rich

and poor nations. Among the environmental failures it highlighted the fact that

environmental changes threatens to radically modify the planet and the lives of many

species, the desertification of productive lands, the destruction of forests, acid rain, global

warming, the hole in the ozone layer and chemical pollution (CMMAD, 1991).

Since the Second World War and particularly as from the end of the 80s, when the

constitution of an environmental agenda gained prominence in the globalization process,

we have seen economic growth and a rapid integration of markets, accompanied by

growing environmental degradation and inequity in the distribution of income between

countries and within countries. This economic growth logic has proved to be unsustainable

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from the environmental and human health and well-being points of view. The current logic

of blind economic growth, includes expenditure on the undesired consequences of

production and the consumption of goods as positive values. If we start to compute the

loss of well-being resulting from the concentration of income and environmental

degradation as social and ecological debts, while the GDP per capita of a country like the

USA grew from US$ 20,000 to almost US$40,000 between 1950 and 1990, the

sustainable well-being index per capita practically stagnated, going from US$ 10,000 to

little more than this (DALY, 2005). If this is the situation in a country like the USA, many

countries have experienced only an increase in their social and ecological debts, with the

vast majority of their populations having to pay the price in terms of their health and life, as

well as environmental degradation, in order to sustain an economic development model

that is structurally unfair and far from achieving the necessary sustainability in health and

the environment for the well-being of humans and the necessary guarantee of ecological

integrity for life support systems.

FINAL CONSIDERATIONS

Starting with an ecosystemic perspective, we have tried to show in this text how the

current economic development model, whose roots lie mainly in the Industrial Revolution,

has meant an intensive and extensive process of industrialization, urbanization and growth

of the population and economy that have brought immense advances, but also countless

major challenges, from the point of view of environmental and health sustainability. If we

consider, for example, that the global growth of GDP per capita, the reduction in infant

mortality and the increase in life expectancy are good success indicators of this model,

and that all we need to be do is to make a few corrections in income distribution and

improve environmental conditions in those cities where infant mortality is still high and life

expectancy is still low, then we merely have to develop public policies that are focused in

such a way that they reach the most affected regions and the most vulnerable social

groups, like the billion poor and wretched. If we consider, for example, not only that the

logic of economic growth, by its very nature and dynamic, is socially unfair and

environmentally results in the degradation of ecosystems, but also that it has been

wasting lives and destroying life support systems, making the possibility of local, regional

and global collapse and non-linear changes that have consequences for our health, lives

and our very civilization everyday more real, then we need to develop public policies that

are broader in their territorial and temporal extension, in addition to being integrated in

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their diverse dimensions, as well as to introduce changes in the direction the current

development model is taking. The basic question at the heart of both alternatives is, up to

what point it is possible to develop one or the other and how much time do we have to do

this?

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MEIO AMBIENTE & SAÚDE: DESAFIOS PARA A GESTÃO

Alice Itani¹; Alcir Vilela Junior²

¹ Centro Universitário Senac, Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

² Centro Universitário Senac, Coordenador do Curso de Engenharia Ambiental e professor do Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

RESUMO Os problemas ambientais e de saúde apresentam desafios para as organizações, exigindo novos processos de produção, novos produtos e políticas de gestão. São questões que exigem ações integradas não apenas dentro das organizações, mas também em seu relacionamento com as instituições públicas e com a comunidade em geral, de maneira a produzir o menor impacto tanto para a sustentabilidade das organizações como para a saúde da sociedade. O presente artigo tem por finalidade contribuir para o debate sobre as novas necessidades que se apresentam para os profissionais de gestão. Palavras-chave: meio ambiente; saúde; problemas ambientais; gestão em saúde e meio ambiente..

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INTRODUÇÃO

Os problemas em meio ambiente e saúde estão no centro das questões que vêm colocando desafios para a gestão das organizações e para a formulação de políticas públicas. São problemas cada vez mais complexos, que vêm sendo tratados em esferas distintas por um conjunto de instituições e dentro de um rol de legislações. Muitos desses problemas envolvendo questões de saúde e ambiente não são novos. As grandes epidemias e pandemias como a peste, a cólera, a gripe e mesmo a febre amarela já eram associadas a condições ambientais das cidades. A concentração de populações no mesmo espaço, em condições precárias, propiciou a proliferação das doenças. Essas epidemias foram também atribuídas a alterações ambientais realizadas, seja na devastação de áreas florestais, seja na domesticação de animais, trazendo insetos e microrganismos para a convivência humana. O deslocamento do mercúrio decorrente da derrubada de matas e florestas atingiu os rios e locais de habitação das comunidades ribeirinhas, contaminando seu alimento predominante, os peixes, sua única fonte de proteína, provocando doenças entre essas populações. O processo de forte industrialização e urbanização verificado a partir de meados do século XX, com seus padrões de processos produtivos e de consumo, vem provocando impacto no meio ambiente e afetando a saúde da sociedade. Os resíduos e poluentes no ar, no solo e na água vêm contaminando várias áreas e provocando doenças entre a população. Muitos desses impactos negativos são irreversíveis, apresentando-se como problemas para a sociedade e colocando em questão até mesmo a sustentabilidade das empresas. Nesse contexto, emerge a preocupação com ações envolvendo vários setores da sociedade e em várias áreas de competências e de conhecimentos. A própria Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador é discutida desde 2004 e envolve setores implicados com a questão, desde instituições governamentais, organizações empresariais, instituições públicas e privadas, até representantes dos profissionais da saúde, sindicatos e demais entidades de classes, por exemplo. São ações que obrigaram ao envolvimento de vários organismos governamentais, compartilhando áreas diversas dos ministérios do Trabalho, Previdência Social, Meio Ambiente e Saúde, como também Indústria e Comércio, Agricultura, Educação, Justiça e Ciência e Tecnologia, entre outros. As ações sobre tais problemas em saúde e ambiente implicam o desenvolvimento de políticas integradas, seja entre as políticas públicas de várias áreas de competência do Estado, seja entre as políticas públicas e as empresas do setor produtivo, seja entre as diferentes políticas de gestão das empresas públicas e privadas, seja entre as ações realizadas em várias áreas. Também implicam o desenvolvimento de conhecimentos que possibilitem melhor domínio dos processos de produção e inovações nos processos produtivos, bem como nos processos de gestão. O presente texto tem por finalidade apresentar algumas questões que contribuam para a discussão dos processos de gestão envolvendo as questões de saúde e ambiente.

MEIO AMBIENTE E SAÚDE Como compreender a relação entre saúde e ambiente? O debate das questões de meio ambiente e saúde é objeto de reflexão sobretudo no âmbito da preocupação com a saúde coletiva, impulsionado pelos impactos ambientais

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na saúde.1 Sucintamente, podemos levantar alguns pontos que relacionam saúde e meio ambiente. Os problemas de saúde ambiental estão presentes na sociedade brasileira, especialmente desde o final do século XIX. A própria emergência da saúde pública como questão de higiene e de Estado aparece com as epidemias do século XIX, como febre amarela, febre tifóide e cólera, entre outras. Elas fizeram das cidades o palco da ação sanitária do Estado, como também das manifestações sociais. São as condições ambientais das cidades que possibilitam a rápida transmissão dos vírus e bactérias pelas águas e alimentos contaminados. A concentração de populações em espaços urbanos no movimento de expansão desordenado das cidades em torno das fábricas, desde o final do século XIX e início do século XX, propicia também a proliferação dos vetores de doenças. As populações vivendo em condições precárias e em espaços desordenados são as mais atingidas por esses males. A descoberta dos vírus e das bactérias possibilitou o desenvolvimento de medidas de prevenção, de vacinas e programas de saneamento público. A construção de estações de tratamento de água, o uso do cloro, a construção de equipamentos coletivos, como água encanada e luz elétrica, bem como o saneamento público, por meio de esgotos e coleta de lixo, foram fundamentais no controle desses vetores de transmissão. Foram também os programas e ações de higiene das populações urbanas, bem como os programas de vacinação infantil, que possibilitaram o controle das grandes epidemias. Nesse sentido, problemas de saúde ambiental não são recentes. São novos problemas que emergem, sobretudo decorrentes de mudanças que se desenvolvem ao longo das últimas décadas, notadamente pelos novos modelos produtivos, relacionados à produção em massa, a partir de meados do século XX. Esses problemas são atribuídos sobretudo às inovações tecnológicas introduzidas no sistema produtivo, compondo também novos insumos envolvendo novos elementos químicos e desenvolvimento de novos materiais, produzindo novos poluentes, sólidos, líquidos e gasosos. As mudanças no processo de industrialização e urbanização deveriam ter representado melhores condições de vida traduzidas por bem-estar e melhor saúde das populações. O aumento na quantidade de riscos à saúde – tanto uma maior ocorrência de acidentes de trabalho como uma maior incidência de doenças profissionais nos espaços de trabalho – mostra claramente o contrário. Os efeitos negativos das condições ruins nos espaços de trabalho vêm sendo analisados e mostrados nos estudos, presentes na literatura sobre o tema desde meados do século XX. Há, também, o surgimento de novos danos ambientais, como o caso de alta concentração de poluição industrial em áreas urbanas e as doenças provocadas por contaminação e poluentes industriais, tanto nos trabalhadores diretamente envolvidos como na comunidade do entorno das atividades industriais – casos de saturnismo e asbestose, entre outros. No caso brasileiro, podemos citar os problemas ambientais que estiveram no cenário público desde a década de 1970, mostrando casos emblemáticos, como o da região de Contagem (MG) e da região industrial de Cubatão (SP), nos anos 70. Nos anos 80 e 90 também emergem grandes casos, como os de Volta Redonda (RJ) e São Vicente (SP), com danos sem precedentes. E os grandes casos permanecem, como os de Bauru e Paulínia (SP). Assim, é fato inegável que os produtos químicos e metais utilizados nos processos de produção, bem como os diversos poluentes emitidos pelas indústrias – sejam eles materiais particulados, ozônio, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio ou monóxido de carbono, entre outros –, provocam problemas ambientais e também problemas de saúde. A atenção com a saúde do trabalhador implica controle das condições de trabalho e da organização do trabalho tal como está estabelecida, enfim, das relações de trabalho tais como elas se desenvolvem em cada um dos espaços. E essa atenção com a saúde significa também o controle da velocidade dos sistemas e processos, controle e

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eliminação dos poluentes, dos ruídos dos processos e dos equipamentos, bem como dos resíduos. A atenção com a saúde coletiva passa, ainda, pelo cuidado com a qualidade do meio ambiente, na medida em que o atual processo de desenvolvimento industrial vem envolvendo um conjunto de elementos físicos e químicos, poluentes e resíduos diversos em estado sólido, líquido e gasoso, além dos ruídos dos sistemas e processos industriais. Os mesmos ruídos, poluentes e resíduos atingem os trabalhadores envolvidos diretamente com a atividade industrial em si e também a comunidade do entorno, seja pelo ar, pela água ou pelo solo. Muitos deles atingem também os consumidores. Nesse sentido, separar os problemas de saúde e de meio ambiente é ofuscar as questões que envolvem essa problemática. Compreender os efeitos da manipulação e utilização desses produtos e materiais, bem como dos poluentes, envolve analisar cada um deles e os efeitos no conjunto que possibilite contribuir para a discussão e delineamento de políticas e ações de melhoria e eliminação dos impactos negativos.

RISCOS E DESAFIOS

O aumento dos problemas ambientais e da complexidade dos riscos vem se apresentando como um desafio. Os processos de produção e os produtos, com componentes físico-químicos cada vez mais diversificados, vêm implicando maior quantidade de poluentes e resíduos, com efeitos negativos e uma gama de danos efetivos no meio ambiente. São efeitos que se verificam na saúde ambiental pela produção de doenças e danos ambientais. Tais processos implicam perigos e riscos diversos, que podem produzir efeitos negativos, afetando tanto a comunidade trabalhadora diretamente envolvida no processo produtivo como a comunidade do entorno dessas atividades. Há danos decorrentes das contaminações, como efeito do contato direto com os produtos ou com a exposição aos poluentes nos espaços de trabalho que vêm sendo analisados nos estudos sobre a saúde do trabalhador. Há os danos provenientes do contato indireto das populações com os poluentes no ar, no solo e na água, que vêm sendo analisados nos estudos sobre a saúde ambiental e saúde coletiva. Não faltam danos decorrentes dos efeitos dos produtos e alimentos produzidos em áreas contaminadas, como no caso das áreas contaminadas com os organoclorados em São Vicente. Há danos em comunidades inteiras, resultantes da utilização de produtos químicos e metais em regiões industriais, podendo levar a transformações no contato com o ar, solo e água, ou ainda, entre eles, produzindo efeitos de maior toxicidade, como no caso de Cubatão. Há danos que afetam as comunidades presentes ao longo dos lugares que tais poluentes podem atingir, como as comunidades residentes ao longo dos rios contaminados e ao longo das rodovias por onde são deslocadas e transportadas as mercadorias consideradas como produtos perigosos, inflamáveis, contaminantes, que possam apresentar algum risco para a saúde das populações. Há, ainda, os danos e os riscos que alguns produtos representam para os consumidores, tanto em sua segurança como na alimentação, como no caso de produtos à base de chumbo, produtos transgênicos e outros. Há áreas contaminadas que afetarão também comunidades das gerações futuras, que podem vir a ocupar os lugares contaminados, como no caso de São Vicente e Cubatão. É o caso das crianças afetadas pelos danos sofridos por suas mães na gestação, com mercúrio, organoclorados, chumbo, agrotóxicos e outros. São danos que envolvem não só as atuais gerações, mas também as futuras.

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As respostas não vêm dando conta de solucionar os problemas envolvidos, nem de prevenir a ocorrência de novos fatos. Muitas dessas respostas vêm se concretizando como ações controversas. Outras se transformam em problemas maiores para as empresas e instituições envolvidas. Enfim, os desafios para prevenção dos danos e dos riscos estão postos. São desafios que se apresentam para as organizações e instituições públicas – enfim, para a sociedade em geral. É também a compreensão desses riscos que se apresenta como problemática. A complexidade dos danos e dos riscos pode ser compreendida pela densidade de questões envolvidas, como também pela quantidade e diversidade dos efeitos. O conjunto de riscos decorrentes do impacto das atividades do sistema produtivo que podem produzir incidentes, acidentes, danos ambientais e doenças ocupacionais decorrem dos processos tais como estão estruturados e organizados. São considerados como riscos as possibilidades de ocorrências de fatos danosos. Não fazem parte da natureza dos processos produtivos. Portanto, são fatos que podem ser decompostos em dados quantificáveis, avaliáveis e previsíveis. Os acidentes, doenças e danos produzidos nesses processos são considerados, nesse sentido, como acidentes e doenças socioprofissionais e danos socioambientais. São efeitos controláveis e, em sua maioria, elimináveis. Há medidas positivas que vêm sendo desenvolvidas com bons resultados, além do conjunto de legislações ambientais e das ações dos órgãos de controle de poluição. Podemos citar o caso do Princípio de Precaução como uma das diretrizes produtivas que têm contribuído para o desenvolvimento de novas práticas produtivas para evitar a ocorrência de muitos danos previsíveis, para a avaliação dos riscos ao longo do processo de produção. Não podemos negar também os resultados positivos das negociações decorrentes de ações das associações, das comissões multilaterais e dos trabalhadores químicos com profissionais da saúde e associações patronais, bem como das organizações não governamentais envolvidas com a saúde coletiva, para a busca coletiva de soluções dos problemas que afetam os trabalhadores, as comunidades, as empresas e as instituições públicas. Nessa perspectiva, os riscos que se revelam como problemas cada vez mais complexos requerem análise dentro do seu conjunto de questões envolvidas, visando avaliar as incertezas embutidas no sistema produtivo – ao longo de todo o seu processo – desde a concepção, extração e uso das matérias-primas até o produto final, seu consumo e seu descarte. Contudo, esses riscos implicam maior domínio de conhecimentos das etapas do processo, a compreensão dos aspectos que envolvem a produção, dos efeitos dos produtos físico-químicos e metais ao longo do processo. Também implicam domínio dos efeitos dos produtos no consumo e nas populações envolvidas, bem como os desdobramentos associados a cada uma das etapas e às populações que podem ser atingidas. Está posta a necessidade de desenvolvimento de outros processos produtivos, outras formas de organização do trabalho e processos de trabalho. Isso envolve, ainda, programas de promoção, de construção de metodologias que possibilitem a análise dos processos, programas de prevenção, com a ação das instituições e aplicação das políticas públicas como um conjunto de ações integradas. E, portanto, implica outros e novos conhecimentos compondo diferentes áreas disciplinares para sua compreensão, bem como o domínio de experiências acumuladas analisando a ocorrência de fatos, dentro de seus contextos, num certo período e nos diferentes espaços.

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RESPONSABILIDADE NA PRODUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE E DO AMBIENTE Compreendendo a saúde como resultado de um processo de produção contínua e cotidiana, a responsabilidade por essa produção social da saúde é da sociedade – dos indivíduos e diferentes grupos, como do Estado, por meio de suas instituições, políticas públicas e equipamentos coletivos. Essa responsabilidade é também das corporações e instituições do sistema produtivo como um todo. Espera-se que os cidadãos individualmente desenvolvam ações cotidianas de cuidado com a saúde própria e de sua família, buscando os recursos e equipamentos disponíveis para essa promoção. Do lado do Estado, esperam-se ações mais efetivas das instituições governamentais, por meio das legislações, das políticas públicas e de suas ações efetivas. Do lado das organizações, requerem-se políticas e ações de prevenção de danos, novos processos com tecnologias e políticas das relações de trabalho e das relações com a comunidade, difundindo as implicações de seus processos. No entanto, há efeitos que se constituem como processos de contraprodução da saúde. São efeitos de processos de produção e de consumo com implicações negativas sobre o espaço de um conjunto de populações envolvidas. Há efeitos que podem também afetar as populações em diferentes níveis – local, regional, nacional ou mesmo mundial –, como aquelas que afetam o ar e a água, contaminações de alimentos e outros produtos de exportações. Sem esquecer que há efeitos que podem afetar tanto as gerações atuais como as futuras. As ações de produção da saúde compreendem as de eliminação dos pontos que envolvem riscos e perigos. Para começar, elas precisam ser parte dos conhecimentos das populações implicadas. São os conhecimentos sobre os efeitos das atividades produtivas que devem fazer parte dos saberes da vida cotidiana dessas populações. Isso implica domínio de conhecimentos, desenvolvimento de saberes sobre os riscos e perigos, processos de formação e educação em diversos níveis e para diferentes grupos. Esse processo de difusão de informações sobre as reais condições de seus espaços de vida estão também nas ações do Estado, por meio das políticas públicas. São as informações sobre as atividades que foram e são desenvolvidas no entorno de seus espaços de vida, sobretudo os riscos que envolvem essas atividades, as ações necessárias em casos de anormalidades ou situações de mal funcionamento dos sistemas do processo produtivo. Assim, a saúde é resultado de um processo social de cuidados, de programas de responsabilidade de um conjunto de instituições e organizações, enfim da sociedade como um todo. São cuidados para prevenção e proteção da saúde da comunidade que resultam de políticas e programas coletivos, de ação sistemática e contínua por parte do Estado, como das populações, individual e coletivamente. São pontos que envolvem um conjunto de ações passando também pelos conhecimentos dos efeitos das atividades produtivas se desenvolvendo em determinados espaços, estabelecendo ritmos no tempo e no espaço, pelo domínio das populações implicadas, sejam elas grupos de trabalhadores e consumidores, ou comunidades do entorno.

POLÍTICAS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES As políticas de gestão das organizações seguem padrões estabelecidos pelos modelos produtivos. A imposição de novos padrões por meio de sistemas de gestão

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desde a década de 1990 recompõe as organizações dentro de novas necessidades de atendimento a normas. As instituições internacionais, sejam elas a International Organization for Standardization, por meio das ISOs, a BSI – British Standards Institution, por meio das OHSAS – Occcupational Health and Safety Assessment series, ou a Social Accountability Internacional, por meio das AS – Social Accountability, estabeleceram normas que no Brasil foram desenvolvidas e também traduzidas e adaptadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, criando as NBRs. Em realidade, tais padrões seguem uma evolução desde o início do século XX, desde os padrões da linha de produção sistematizados na indústria norte-americana pelo modelo de Taylor e pela administração científica. A produtividade obtida na implantação da grande indústria no período posterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) possibilitou a criação da produção em massa e do consumo em massa. O momento seguinte foi de controle da qualidade, estabelecendo-se padrões do controle de qualidade utilizando critérios estatísticos de controle. No período posterior à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) mantém-se o modelo taylorista aperfeiçoado, com os Círculos de Controle de Qualidade difundindo-se dentro das linhas de produção. A crise do modelo da produção em massa na década de 1980 exigiu novas perspectivas para os modelos produtivos, trazendo as questões da flexibilidade, qualidade e, mais recentemente, também responsabilidade social das corporações. Também a degradação das condições ambientais e dos modos de vida e a conseqüente perspectiva de mudanças ambientais além dos limites dos recursos naturais dirigiram as atenções para os cuidados com a degradação dos ecossistemas, impactos e danos ambientais, destruição da camada de ozônio, aquecimento global, poluição do ar e da água. Com isso, as questões relacionadas à saúde e ao meio ambiente passaram a fazer parte da pauta de gestão das organizações. Elas estão em todo o processo de produção, desde a extração da matéria-prima, o planejamento, a produção propriamente dita, até a destinação dos resíduos. É fato que esse conteúdo é referenciado a um processo de auto-regulação dentro de um mercado internacional marcado por padrões estabelecidos. Mas não se encerra apenas nisso. A normatização alterou as formas de produzir, na busca de selos de certificação, por exemplo. Há que ressaltar os resultados positivos das normas, das ações das instituições e da aplicação das políticas públicas que têm evitado a ocorrência de maiores impactos negativos. Contudo, o que se verifica na realidade das organizações é que o conteúdo dos processos de gestão não pode se encerrar no atendimento a normas. Muitas ações têm se revelado controversas em seus resultados, mesmo que elas tenham sido coerentes na aplicação das normas. São ações contraditórias, na medida em que os resultados nem sempre são positivos, não se conseguem evitar ou prevenir os riscos, as contaminações, doenças e acidentes, os danos em geral. Há, ainda, ações dos responsáveis pelas instituições públicas que, no exercício das competências, têm até dificultado a vida de indivíduos e grupos, obstruindo o desenvolvimento de suas atividades de sobrevivência, como no caso das comunidades do Vale do Ribeira. Também não se podem negar alguns resultados positivos com uma nova ética diante das questões de saúde e meio ambiente, que vão desde a criação de alternativas de desenvolvimento de novos processos produtivos com menores custos ambientais. A diretriz hoje denominada como ‘produção mais limpa’ é uma delas. Há várias outras formas de desenvolvimento de alternativas de produção de energia com menor impacto ambiental, também conhecida entre os instrumentos de gestão como ‘ecoeficiência’. Há, ainda, ações de controle e gestão dos efluentes líquidos tóxicos e ácidos, e o desenvolvimento de processos de recuperação das águas pelas empresas. E hoje existem ações de eliminação e controle no uso de produtos nocivos como pesticidas, fungicidas e mesmo solventes que produzem poluentes e doenças, e controle na

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produção de eletrodomésticos que emitem clorofluorcarbonos CFC, para citar algumas dessas ações. Essa nova pauta passa a fazer parte, também, das novas formas de ‘ser empresário’. Nela se inserem desde as exigências de qualidade do produto, atendimento ao consumidor, cuidado com as relações de trabalho, até a gestão das questões ambientais. Essas exigências passam a refletir a imagem da eficiência produtiva das organizações como marca, e estabelecem valores na legitimidade no mercado e na sociedade. São novas formas de produzir que aparecem por meio de conceitos diversos como qualidade, responsabilidade social corporativa e balanço social, entre outros. Essa é uma pauta que se insere como papel estratégico de planejamento e gestão das organizações.

O PAPEL DOS GESTORES NAS ORGANIZAÇÕES O que se espera dos gestores nesse contexto? Espera-se que os gestores construam novos escopos de suas ações nas organizações como uma gestão estratégica, na medida em que isso representa melhor imagem das empresas e também a própria sobrevivência das organizações. Inicialmente, espera-se que se delineiem diretrizes, políticas e estratégias construindo novos conteúdos de seus papéis como gestores dentro de princípios éticos e de responsabilidade, cuidando de uma ética da proximidade e da distância, vislumbrando tanto os espaços locais e nacionais como o contexto mundial, no tempo das atuais e das futuras gerações. A perspectiva é de que se possam identificar os problemas e que se possa saber articular os diversos atores, bem como saber buscar conhecimentos para embasar as decisões. Os gestores podem discutir suas questões e contar com conhecimentos das diversas áreas, suscitando a produção de novos e outros conhecimentos. Também podem articular os responsáveis pelas políticas públicas com seus problemas que são também de interesse da coletividade, e espera-se que possam delinear novos pontos nas políticas públicas. Espera-se o desenvolvimento de uma política de planejamento que promova a atenção e o cuidado com a saúde coletiva, desde o processo de produção de produto de qualidade até o da qualidade das relações de trabalho, passando pela qualidade no atendimento e pelo respeito ao consumidor. Espera-se, ainda, o desenvolvimento de uma política de qualidade de vida no trabalho que se traduza por melhor qualidade das relações e das condições de trabalho, assegurando segurança e saúde ao trabalhador dentro das diretrizes de sua promoção no cotidiano do processo, gerando processos igualitários de desafios e oportunidades em todos os momentos do processo de trabalho. Eis algumas ações que vêm sendo realizadas e que fazem parte do que se espera dos gestores: 1. Delineamento de políticas de processos de produção limpa; 2. Desenvolvimento de alternativas e novas possibilidades dos processos para melhor utilização de insumos, matéria-prima e recursos, como água, energia elétrica e diesel, com menor quantidade de poluentes para o ar, água e solo;

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3. Desenvolvimento de uma política de aproveitamento e reversibilidade de seus resíduos dentro dos processos produtivos; 4. Delineamento de diretrizes que articulem as políticas públicas em suas diferentes instâncias e esferas das instituições públicas, com as diferentes instituições privadas e não governamentais para promoção da saúde; 5. Articulação com os diferentes atores com ações voltadas para a solução dos problemas ambientais e ocupacionais, e ações coordenadas desde análise, atuação e acompanhamento; 6. Estímulo e desenvolvimento de processos de gestão de conhecimento que envolvam educação ambiental e em saúde pelos diferentes grupos e comunidades com melhores dados e informações sobre riscos das atividades das organizações; 7. Desenvolvimento de políticas integradas com ações efetivas com prestadores de serviços, parceiros e terceirizados, sobretudo de pequenas empresas. Cada uma dessas ações implica um conjunto de metodologias e instrumentos de gestão. A produção limpa, por exemplo, implicaria estudos de avaliação e acompanhamento do ciclo de vida dos produtos, melhorando continuamente o processo com o acompanhamento do produto desde a fonte da matéria-prima, o processo de fabricação, o uso do produto e a destinação final. O programa de análise, controle e gerenciamento de riscos deve prever mapeamento e monitoramento constante para eliminação, e deve contar com a participação dos trabalhadores que vivem a experiência cotidiana do conteúdo do risco. Alguns fatos emblemáticos são objeto de debate para a compreensão de processos de gestão envolvendo problemas em saúde e ambiente, para o aprendizado sobre as diversas implicações dos riscos. O debate dos casos do Pólo Industrial de Cubatão, dos casos de contaminação por organoclorados em São Vicente, dos casos de saturnismo em Bauru e outros devem ser incentivados para abrir a problemática e os produtos envolvidos, os riscos, efeitos, os impactos, as instituições, legislações e populações implicadas, com a finalidade de busca de perspectivas de gestão integrada dos processos, de busca de ações integradas com outras instituições e com as políticas públicas. Há também experiências positivas de programas de promoção da saúde de algumas organizações que vêm mostrando bons resultados. Os programas de prevenção da Ler/Dort, incluindo a educação e recuperação dos doentes, são notáveis. Não há ainda valoração da saúde dos ambientes de trabalho. Os estudos sobre ganhos de produtividade dos ambientes saudáveis são ainda raros. No entanto, o alto custo da ausência de funcionários por faltas, afastamentos por acidentes ou doenças, vem mostrando a diferença significativa entre ações de reparação e de promoção para as organizações. O balanço social com apresentação dos resultados do ano como um diálogo com os diferentes atores que fomentam o desenvolvimento da indústria, sejam eles acionistas, consumidores, trabalhadores, agentes do Estado, dirigentes ou fornecedores, é também momento de apresentação dos resultados dos processos de gestão. A responsabilidade social deve ser, assim, conseqüência de um processo de gestão – envolvendo tanto a sustentabilidade dos negócios quanto a qualidade das relações de trabalho, qualidade do produto e imagem da empresa. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Num contexto de novos desafios postos para as organizações frente às questões de saúde ambiental, a expectativa é de uma ação dos profissionais em gestão num processo produtivo com produção limpa, desenvolvendo estratégias e processos que assegurem a prevenção de impactos negativos ao ambiente e, ao mesmo tempo, promovam a saúde coletiva. Uma ação que envolve todas as etapas do processo produtivo. Isso vai desde o início de seu processo até o consumo do produto. Desde o momento da coleta da matéria-prima, das diferentes formas de extração, do uso das fontes naturais de origem, até os processos industriais com seus resíduos e poluentes, usos e consumo do produto, transporte, destinação e tratamento do produto, embalagens e cuidados com a gestão dos resíduos após o consumo. São profissionais que possuem a compreensão dos novos paradigmas dos modelos produtivos, dos processos de produção, acompanhando as diversas facetas desses efeitos em todo o ciclo de vida dos produtos, as diversas comunidades implicadas, direta e indiretamente. É de responsabilidade dos gestores buscar alternativas para desenvolver processos de gestão que possibilitem o equilíbrio da sustentabilidade das organizações em novos patamares. Faz parte do conteúdo de seus papéis desenvolver saberes que possibilitem a compreensão do ambiente como lugar de produção, como também saber onde se desenvolve a produção da saúde como resultado de um processo contínuo e cumulativo de promoção, por meio de ações cotidianas de cuidado. O reposicionamento dos profissionais de gestão com a percepção das políticas das organizações com as políticas públicas assumindo a responsabilidade social das organizações diante dos desafios atuais que enfrenta a sociedade como um todo.

NOTA Pesquisadores como A. M. Tambelini, 1998; L. G. Augusto, 1998; Moreira e Peres, 2003; C. M. Freitas, 2003; M. F. Porto, 2005, e Saldiva, 1995 entre outros.

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Artigo recebido em 16.11.2006. Aprovado em 02.02.2007

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ENVIRONMENT AND HEALTH: CHALLENGES FOR MANAGEMENT

Alice Itani¹; Alcir Vilela Junior² ¹ Centro Universitário Senac, Master of Integrated Occupational Health and Environmental Management; ²Centro Universitário Senac, Coordinator of the Environmental Engineering Course and professor in the

Masters course in Integrated Occupational Health and Environmental Management.

ABSTRACT Environmental and health problems present challenges for organizations, demanding new production processes, products and management policies. These are issues that demand new integrated actions within organizations, public institutions and the community in general, in such a way as to be able to produce, by causing the least impact, either as far as the sustainability of the organization is concerned, or for the health of society. The aim of this article is to present some of these points and contribute to the debate on the new needs that are being presented to management professionals. Key words: environment, health, environmental problems, environmental and occupational health management.

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INTRODUCTION

Environmental and health problems are at the very center of issues that have been

presenting challenges for the management of organizations and the formulation of public

policies. These are increasingly complex problems that have been dealt with in different

spheres by a set of institutions and within a whole raft of legislation.

Many of these problems, involving health and environment issues, are not new. The great

epidemics and pandemics, like the plague, cholera, influenza and even yellow fever have

already been associated with the environmental conditions in cities. The concentration of

populations in the same space under precarious conditions led to the proliferation of

disease. These epidemics were also attributed to environmental changes, either because

of the devastation of forest areas, or the domestication of animals that brought insects and

micro-organisms to live alongside humans. The displacement of mercury as a result of

cutting down natural vegetation and forests affected rivers and the places where river-bank

communities lived, contaminating fish, their principal food and only source of protein,

thereby causing disease among these people.

The process of heavy industrialization and urbanization as from the mid-XXth century, with

its production process standards and consumption patterns, has been having an impact on

the environment and affecting the health of society. Waste and pollutants in the air, soil

and water have been contaminating various areas and causing diseases among the

population. Many of these negative impacts are irreversible, casuing as they do problems

for society and throwing into question the sustainability of companies.

In this context there emerges a concern with actions that involve various sectors of society

and various areas of competence and knowledge. The National Policy for the Health and

Safety of Workers has itself been discussed since 2004 and involves sectors that are

implicated with the issues, from government institutions, corporate organizations, public

and private institutions, representatives of the health professionals, unions and other

industry organizations. These are actions that have obliged the involvement of various

government organizations that represent the various areas, from the Ministry of Labor,

Social Security, Environment and Health to Trade and Industry, Agriculture, Education,

Justice, Science and Technology and others.

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To take actions on these health and environmental problems implies developing integrated

policies, whether between the public policies of the various areas that are the responsibility

of the State, betweeh public policies and companies from the production sector, between

the management policies of public and private companies or between actions involving the

various areas. They also imply the development of knowledge that makes it possible to

have greater supremacy over production processe and over innovation in production and

management processes.

The aim of this text is to present some of the issues, thereby seeking to contribute to the

discussion about the management processes that involve health and environment issues.

ENVIRONMENT AND HEALTH

How can we understand the relationship between health and environment?

The debate on environmental and health issues is the subject of reflection, above all in the

sphere of a concern with collective health, driven as it is by the environmental impact on

health1. We can briefly mention some of the points that may lead to this relationship

between health and environment. The problems of environmental health have been

present in Brazilian society, mainly since the end of the XIXth century. The very

emergence of public health as a question of hygiene and State first appeared with the

epidemics of the XIXth century, like yellow fever, typhoid, cholera and others. They turned

cities into a place for the State to take actions relating to sanitation, as well as a stage for

social manifestations.

It is the environmental conditions of cities that make it possible for the rapid transmission

of viruses and bacteria in contaminated water and food. Since the end of the XIXth century

and the beginning of the XX century the agglomeration of populations, concentrated in

urban spaces in the disordered expansion movement of cities, and springing up around

factories, has also led to the proliferation of disease vectors. The populations that live in

precarious conditions and in unordered spaces are the most affected by these illnesses.

1 Researchers like A.M.Tambelini, 1998, L.G.Augusto, 1998, Moreira and Peres, 2003, C.M.Freitas, 2003, M.F,Porto, 2005, Saldiva, 1995, among others.

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The discovery of viruses and bacteria made possible the development of prevention

measures, vaccines and public sanitation programs. The construction of water treatment

stations, the use of chlorine, the construction of collective facilities, like water mains and

electric light, and the introduction of public sanitation measure, like sewers and garbage

collection, were fundamental in the control of these transmission vectors. Hygiene

programs and actions for urban populations, as well as child vaccination programs, also

made it possible to control major epidemics.

In this sense environmental health problems are not recent, but there are new problems

that emerge, above all arising from changes that have developed over the last few

decades, notably because of new production models - mass production - as from the

middle of the XXth century. They are above all attributed to the technological innovations

introduced into the production system. These also comprise new inputs that involve new

chemical elements and the development of new materials that produce new solid, liquid

and gaseous pollutants.

Changes in the industrialization process and urbanization should have produced better

living conditions, represented by the well-being and better health of populations. The

increase in the number of health risks, both a greater occurrence of work-related accidents

and a greater incidence of professional diseases in the work place, are some of the facts

that have shown the opposite, in fact, to be true. The negative effects of extremely poor

working conditions have been analyzed and described in studies that can be found in

literature on this topic since the mid-XXth century.

There is also the rise of new environmental damage, as is the case with the high

concentrations of industrial pollution in urban areas and illnesses caused by industrial

contamination and pollutants, both in the workers directly involved, as well as in the

community that lives around these industrial activities, like cases of saturnism [lead

poisoning], asbestosis and others. In the case of Brazil, we can mention environmental

problems that have been in the public eye since the 70s, with emblematic cases like that

involving companies in the Contagem region in the 70s and those in the industrial district

of Cubatão. In the 80s and 90s there were also major cases, like those in Volta Redonda

and São Vicente that caused unprecedented damage. Major cases are still appearing, like

those in Bauru, Paulínia, and others.

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It is, therefore, an undeniable fact that the chemical products and metals used in

production processes, as well as the various pollutants emitted by industry and its

products, whether they are particulate materials , ozone, sulfur dioxide, nitrogen oxides,

carbon monoxide or others, cause environmental as well as health problems.

Attention to the health of the worker implies controlling working conditions and the

established way in which work is organized, in short working relationships as they unfold in

each of the work places. This attention to health means also controlling the speed at which

systems and processes develop, and controlling and eliminating pollutants, process and

equipment noise and waste.

Attention to collective health also includes taking care of the quality of the environment,

since the current industrial development process involves a whole group of physical and

chemical elements, various pollutants and waste in a solid, liquid and gaseous state, in

addition to noise from industrial systems and processes. The same noises, pollutants and

waste affect the workers involved directly in the industrial activity itself, as well as the

neighboring community, whether via the air, water or soil. Many of these substances also

affect consumers.

In this sense to separate health problems and the environment is to hide the issues

surrounding this problem. Understanding the problematic issues involved with the effects

of handling and using these products and materials, as well as the pollutants produced,

means analyzing each of them and their effects as a whole, which then makes it possible

to contribute to the discussion and to outline policies and actions for improving and

eliminating their negative impacts.

RISKS AND CHALLENGES

The increase in environmental problems and in the complexity of the risks involved has

been presenting a challenge. Production processes and products that have increasingly

more diverse physical and chemical components have meant a greater quantity of

pollutants and waste with negative effects and real damage to the environment. These

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effects can be seen in environmental health; they produce environmental illnesses and

damage. These processes give rise to various hazards and risks that may produce

negative effects that affect the working community directly involved in the production

process, as well as the community living close to these activities.

There is the damage arising from contamination, with effects caused by direct contact with

the products, or from exposure to the pollutants in the work place; these have been

analyzed in studies on the health of workers. There is the damage related to the indirect

contact of populations with pollutants in the air, soil and water; these also have been

analyzed in studies on environmental and collective health. There is no lack of damage

arising from the effects of products and food produced in contaminated areas, as is the

case of areas contaminated with organo-chlorates in São Vicente. There is the damage to

entire countries resulting from industrial regions that use chemical products and metals

that undergo transformation in contact with air, soil and water, or even by contact between

themselves, producing even more toxic effects, as is the case with Cubatão. There is the

damage that affects the communities that live in places these pollutants may affect, like

the banks of contaminated rivers or along highways where goods, which may be

considered as hazardous, inflammable or contaminating and that may present some risk to

the health of these populations, are transported.

There are also the hazards and risks that some products represent for consumers, both in

terms of safety, as well as in food terms, as is the case with lead-based and transgenic

products. There are contaminated areas that will also affect communities of future

generations that may live in them, as in the case of São Vicente and Cubatão, where there

are children affected by the damage caused to their mothers during pregnancy by

mercury, organo-chlorates, lead, agro-toxins and other substances. This is damage that

involves both present-day generations as well as future ones.

However, the responses have not been sufficient to solve the problems involved, nor

prevent the occurrence of new incidents. Many of the response actions have proved to be

controversial. Others turn into bigger problems for the companies and institutions involved.

In short, the challenge to prevent damage and risks has been thrown down. These

challenges are presented both to organizations and public institutions alike, in short to

society in general.

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Understanding these risks is also problematic. The complexity of the damage and the risks

can be understood from the mass of issues involved, as well as from the number and

diversity of their effects. The risks arising from the impact of production system activities

that may produce incidents, accidents, environmental damage and occupational disease

result from the way such processes are structured and organized. Risks are considered as

the possibility of the occurrence of facts that cause damage. They are not a part of the

nature of production processes. Therefore, they are facts that may be broken down into

quantifiable, assessable and foreseeable data. The accidents, diseases and damage

produced in these processes are considered, in this sense, as socio-professional

accidents and diseases and socio-environmental damage. These effects are controllable

and the vast majority of them can e eliminated.

In addition to the environmental legislation and the activities of pollution control bodies

positive measures have been developed with good results. We can mention the case of

the Precaution Principle, as one of the production directives that has contributed to the

development of new production practices for avoiding the occurrence of a lot of

foreseeable damage and for evaluating risks throughout the production process. Neither

can we deny the positive results of the negotiations arising out of the actions of

associations and multilateral committees, like those of the chemical workers with health

professionals and owner associations, as well as the non-governmental organizations

involved with collective health, in their collective search for solutions to the problems that

affect workers, communities, companies and public institutions.

From this perspective risks reveal themselves as increasingly complex problems that need

to be analyzed within the set of issues involved, with the aim of evaluating the

uncertainties imbedded in the production system - in its entire process - from product

conception and the extraction and use of raw materials to the end product, its consumption

and disposal. However, these risks imply greater knowledge of the process stages, an

understanding of the aspects that are involved in production and the effects of the physical

and chemical products and metals used throughout the process. They also imply a

complete control over the effects of the products when being consumed and in the

populations involved, as well as the consequences that each one of the stages may

represent and the populations may become implicated.

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The need for developing other production processes, other ways of work organization and

other working processes has been firmly stated. This also involves promotion and

methodology construction programs that make possible an analysis of the processes and

the introduction of prevention programs, with the active involvement of institutions and the

application of public policies, as a set of integrated actions. Therefore, this implies other

and new knowledge, comprising different disciplinary areas for its understanding, as well

as mastery of accumulated experiences from analyzing the occurrence of facts within

context, over a particular period of time and in different places.

RESPONSIBILITY IN THE SOCIAL PRODUCTION OF HEALTH AND THE ENVIRONMENT

If we understand health as the result of a continuous and daily production process,

responsibility for it is society’s, both individuals and different groups, like the State via its

institutions, public policies and collective facilities. This responsibility also belongs to

corporations and institutions that are part of the production system as a whole. It is

expected that individual citizens develop daily actions for taking care of their own health

and that of their families by seeking out the resources and facilities available for this end.

On the part of the State it is expected that, by means of legislation, public policies and

convincing actions, it will be more effective. On the part of organizations they are required

to adopt policies and actions for preventing damage, processes with new technologies and

work and community relationship policies; they should also make public the implications of

their processes.

Nevertheless, there are effects that counter-productive as far as health is concerned.

These are the effects of production and consumption processes that have negative

implications for those populations involved. There are effects that may also affect

populations at different levels; at the local, regional, national and world level, like those

that affect air and water, the contamination of food and other exported products. We must

not forget that some things may affect present-day life, as well as future generations.

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Health production actions include those that eliminate points that involve risks and

hazards. To begin with the populations involved need to know about them. They need to

know about the effects of the production activities and this must be part of the knowledge

of everyday life of these populations. This means they must dominate the knowledge, as

they develop what they know about risks and hazards in their upbringing and education

processes at different levels and for different groups.

In this process of spreading information about the true conditions of the spaces they live in

the State also has to be involved via public policies. This information is about activities that

were developed - and are still being developed – in the place where they live, above all the

risks that are involved with these activities, the actions necessary in the case of something

out of the normal happening, or in situations where the production process systems do not

function correctly.

Therefore, health is the result of a social care process, or responsibility programs from a

group of institutions and organizations, in short from society as a whole. This is care in

preventing and protecting the health of the community that results from collective policies

and programs and from systematic and continuous action on the part of the State, as well

as from the populations, both individually and collectively. These are points that involve a

set of actions and also include knowledge of the effects of the production activities being

developed in certain places, thereby establishing rhythms in time and space, because the

populations involved, whether they are groups of workers, consumers or the surrounding

communities, are in control.

ORGANIZATION MANAGEMENT POLICIES

The management policies of organizations follow standards established by production

models. The imposition of new standards by means of management systems since the 90s

has brought organizations in-line with the need to attend to new norms. International

institutions, like the International Organization for Standardization, with its ISOs, the BSI

British Standards Institution, with its OHSAS - Occupational Health and Safety

Assessment series and Social Accountability International, with its AS Social

Accountability have established norms that, in Brazil, have been developed, translated and

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adapted by the Associação Brasileira de Normas Técnicas [Brazilian Association of

Technical Norms] that created the NBRs.

In fact, these standards have been evolving since the start of the XXth century, with the

systematized production line standards in North American industry, following the Taylor

model, and scientific administration. The productivity obtained with the introduction of

major industries in the post-war period (First World War) made it possible to create mass

production and consumption. The subsequent period was one of quality control, which

established quality control standards using statistical control criteria. In the post-Second

Word War period the Taylorist model was maintained and perfected, with Quality Control

Circles spreading along the production lines.

The mass production model crisis in the 1980s demanded new perspectives for production

models that introduced issues of flexibility, quality and, more recently, the social

responsibility of corporations. The degradation of environmental conditions and ways of

life and the consequent prospect of environmental changes beyond the limits of the natural

resources have directed our attention to the care needed to avoid the degradation of

ecosystems, environmental impact and damage, destruction of the ozone layer, global

warming and air and water pollution.

Because of this health and environment issues have started being part of the management

agenda of organizations. They are in the whole production process, from extraction of the

raw material, planning, production itself, through to waste disposal. It is a fact that this

content is referenced to a self-regulation process within an international market marked by

established standards. But it does not end here. In the search for certification seals,

among other things, the introduction of norms altered the ways of producing. We must

emphasize that it is the positive results of the norms, the actions of the institutions and the

application of public policies, which have avoided the occurrence of greater negative

impacts.

However, what we see in the reality of organizations is that the content of management

processes cannot end with merely falling in line with the norms. Many actions have proved

to be controversial in their results, even if they have been coherent in the application of the

norms. They are contradictory to the extent that the results are not always positive and do

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not avoid or prevent risks, contamination, disease, accidents or damage, in general.

There are also the actions of those responsible for public institutions and who, in the

exercise of their functions, have even created difficulties for the lives of individuals and

groups, by obstructing the development of activities important for their survival, as in the

case of the communities in the Ribeira Valley.

We can also not deny some of the positive results arising from a new set of ethics with

regard to health and environment issues, such as the creation of new production process

development alternatives at lower environmental cost; the directive, today called cleaner

production, is one of them. There are various others for developing energy production

alternatives that have a reduced environmental impact, also known among the ec-efficient

management instruments. There are also actions by companies to control and manage

toxic effluents and acids and to recover polluted waters. There are actions for eliminating

and controlling the use of harmful products, like pesticides, fungicides and even solvents

that produce pollutants and diseases, control of the production of electro-domestic

appliances (white goods) that emit chlorofluorocarbons (CFC), to mention just a few.

This new agenda is also beginning to be part of the new ways of being an entrepreneur. In

it are included everything from product quality demands, customer service, care with work

relations to the management of environmental issues. They start to reflect the image of the

productive efficiency of organizations, like a brand, and establish their legitimacy values in

the market and in society. These are new ways of producing that appear from various

concepts like, among other things, quality, corporate social responsibility and the social

balance sheet. This is an agenda that has taken on a strategic planning and management

role in organizations.

THE ROLE OF MANAGERS IN ORGANIZATIONS

What is expected of managers in this context?

It is expected that the managers construct a new scope for their actions in organizations,

like strategic management, to the extent that this represents the best image of the

companies, as well the very survival of organizations.

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Initially, it is expected that directives, policies and strategies are outlined, thus constructing

new content for their roles as managers, within the principles of ethics and responsibility,

which looks after an ethics of closeness and distance and that considers local, national

and world spaces in the lifetimes of current and future generations.

The prospect is that this might identify and raise problems and that it might know how to

articulate the various players, as well as knowing how to seek out the knowledge on which

to base their decisions. Managers may discuss their questions and rely on their knowledge

of the various areas, by producing new and additional knowledge. They can also involve

those responsible for public policies with their problems, which are also of interest to

everyone, and which makes it possible to delineate new points in public policies.

It is expected that there will be the development of a planning policy that encourages

attention and care with collective health, from the process of producing a quality product to

the quality of work relations, quality service and respect for the consumer.

It is also expected that there will be the development of a working life quality policy that will

translate into better work relationships, like working conditions that guarantee the worker’s

safety and health in line with the directives for promoting the health of the worker in the

daily process, thereby generating equalitarian processes of challenges and opportunities

at every moment in the working process.

Some of the actions that have been carried out and that are part of what is expected of

managers are:

1. The outlining of clean production process policies;

2. The development of alternatives and new possibilities for processes, in order to improve

the use of inputs, raw materials and resources, like water, electricity and diesel, with a

reduction in the amount of pollutants going into the air, water and soil;

3. The development of a policy for taking advantage of and reversing waste within the

production processes;

4. The outlining of directives that articulate the public policies in the different instances and

spheres of public institutions, with the different private and non-governmental institutions

that promote health;

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5. Articulation with different stakeholders, with actions focused on the solution of

environmental and occupational problems, and coordinated actions, from analysis through

action and monitoring;

6. Stimulation and development of the process of managing knowledge, which involves

environmental and health education for the different groups and communities, with better

data and information about the risk activities of organizations;

7. The development of integrated policies with effective actions, whether they are with

service providers, partners or outsourcing companies, above all with small companies.

Each of these actions implies a group of management methodologies and instruments.

For example, clean production would imply studies in the assessment and monitoring of

the life cycle of the products, thereby continuously improving the process from the source

of the raw material and the manufacturing process to the product’s use and final

destination. The risk analysis, control and management program deals not only with the

mapping and constant monitoring, but also relies on the participation of the workers who

live with the daily experience of the risk content.

Some of the emblematic facts are the subject of debate in order to understand the

management processes that involve health and environment problems and for learning

about the various risk implications. Debate on cases from the Cubatão Industrial Center,

the cases of contamination by organo-chlorates in São Vicente, the cases of saturnism in

Bauru and others, must be encouraged in order to expose the problem involved, the

products involved, the risks, effects, impacts, the institutions, the legislation and the

populations implicated, with the intention of seeking integrated management prospects for

the processes with other institutions and with public policies.

There are also positive experiences of programs for promoting health and some

organizations have been having a lot of results. The Ler/Dort prevention programs,

including the education and recovery of sick people, are notable. As yet no valuation figure

has been put on the health of working environments. Studies on the productivity gains in

healthy environments are still rare. However, the high cost of absenteeism of employees,

whether because of missing work, or being off because of accidents and illnesses, has

shown that there is a significant difference between repair and promotion activities for

organizations.

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The social balance sheet, with presentation of the results of the year as a dialogue with the

different stakeholders who encourage development of the industry, whether they are

shareholders, consumers, workers, State agents, directors or suppliers, is also a time for

presenting the results of management processes. Social responsibility must be, therefore,

the consequence of a management process, involving both the sustainability of the

business, as well as the quality of the work relationships, the product and the company

image.

Final considerations

In a context of new challenges being presented to organizations that are faced with

questions of environmental health, the expectation is that the management professionals

will take actions with regard to the production process to introduce clean production and

develop strategies and processes that guarantee the prevention of negative impacts on

the environment and, at the same time, promote collective health; actions that involve all

stages in the production process. This goes from the start of the process to the end

product; from the moment of the raw material is collected and the way it is extracted, to the

use of natural sources, the industrial processes with their waste and pollutants, the uses

and consumption of the product, transport, final destination and treatment of the product,

packaging and care with waste management after the product has been consumed. These

are professionals who understand the new paradigms of production models and

production processes, and who monitor the various facets of these effects over the whole

life cycle of the products and the various communities that are both directly and indirectly

implicated.

It is the responsibility of managers to look for alternatives for developing management

processes that make possible the balance of the sustainability of organizations at new

levels. Developing knowledge that makes it possible to understand the environment as a

place of production, as well as where health is produced, as the result of a continuous and

cumulative process of promoting actions that take care of it on a daily basis, is part of the

content of their roles. Management professionals must reposition themselves to perceive

the policies of the organizations and public policies, thereby assuming the social

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responsibility of the organizations when faced with the current challenges that society as a

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Article received on 16.11.2006. Approved on 02.02.2007.

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O FUTURO DA ENERGIA

Oswaldo Lucon

Assessor Técnico do Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Doutor em Energia (USP), MSc em Clean Technology (University of Newcastle upon Tyne, Reino Unido), Engenheiro Civil (Poli-USP) e

Advogado (FD-USP).

RESUMO O homem do século XXI consome cerca de um milhão de vezes o que consumia o homem primitivo em termos energéticos, especialmente em combustíveis fósseis e particularmente em petróleo. Países desenvolvidos consomem quase cinco vezes mais que os em desenvolvimento por habitante. Há severos impactos decorrentes dessa opção, principalmente as mudanças climáticas e a exaustão das reservas existentes no subsolo. As modernas fontes renováveis de energia (solar, eólica, pequenas hídricas e biomassa) representam uma pequena fração da matriz mundial (2%), mas começam a competir comercialmente com as fontes tradicionais. Energias renováveis são a solução para as questões de desenvolvimento, pois são intrinsecamente duráveis, poluem menos, geram empregos e reduzem a dependência do petróleo. Para acelerar o crescimento dos renováveis é preciso: (1) vencer as resistências dos mercados e eliminar os subsídios às fontes não-renováveis (fósseis e nuclear); (2) subvencionar a entrada de novas tecnologias, reduzindo seus custos; (3) estabelecer políticas mandatórias e progressivas para sua introdução; (4) disseminar as tecnologias para que os países em desenvolvimento as incorporem mais rapidamente sem ter de passar por estágios intermediários e mais poluentes. O Brasil está dando o melhor exemplo em termos de biocombustíveis, e o Programa do Álcool tem todas as condições para ser replicado para outros países. Palavras-chave: energias renováveis; meio ambiente; desenvolvimento sustentável.

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Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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O Futuro Da Energia Oswaldo Lucon INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente v.1, n.3, Artigo 3, abril 2007 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO As necessidades do homem há um milhão de anos relacionavam-se intrinsecamente à sua sobrevivência. O homem precisava de 2 mil quilocalorias (kcal) e as obtinha caçando e coletando seus alimentos. Já há sete mil anos o homem agrícola utilizava a energia de animais de tração, multiplicando por oito sua força. Na época dos romanos, um nobre tinha em média a força de vinte escravos à sua disposição, fora os animais de tração. Na Idade Moderna (1400 d.C.) o homem passou a utilizar as quedas d’água e os ventos para moer trigo e realizar outras tarefas. Pouca energia fóssil era utilizada, basicamente o carvão e o petróleo aflorantes para aquecer ambientes, além de uma limitada siderurgia. O óleo de baleia era considerado melhor que o petróleo para a iluminação. Após a Revolução Industrial (fim do século XIX) o homem desenvolveu a máquina a vapor, multiplicando mais suas capacidades na indústria e no transporte. No século XX, a humanidade aprimorou a máquina a vapor e desenvolveu motores de combustão interna movidos a gasolina e diesel, que são derivados do petróleo. Mais tarde vieram os motores elétricos e a energia nuclear, porém o mundo nunca mais rompeu sua relação de dependência com o petróleo. A população cresceu e, junto, o consumo de energia. Em 2003, cada um dos 6 bilhões de habitantes do planeta consumiu em média 1,69 . 107 kcal (ou 1,69 tonelada equivalente de petróleo per capita no ano), cerca de um milhão de vezes o que consumia o homem primitivo (Figura 1).

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O Futuro Da Energia Oswaldo Lucon INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente v.1, n.3, Artigo 3, abril 2007 www.interfacehs.sp.senac.br

As 2 kcal que o homem levava um dia para tentar obter correspondem àquela contida num copo de petróleo. Também podem ser obtidas num lanche de fast food. Uma Ferrari com a força de 600 cavalos transporta em geral uma só pessoa.

ENERGIAS RENOVÁVEIS E NÃO-RENOVÁVEIS A energia que consumimos vem basicamente do sol: calor, ventos, potenciais hidráulicos dos rios pela evaporação e condensação, correntes marinhas. Uma pequena parte é incorporada nos vegetais através da fotossíntese e serve para sustentar toda a cadeia alimentar do planeta. Ao longo de milhões de anos, a matéria orgânica dos seres que pereciam se acumulou no subsolo terrestre, formando as chamadas fontes fósseis de energia: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e outros. Alguns elementos químicos presentes na crosta terrestre podem gerar energia nuclear. A reposição das fontes de energia fóssil e nuclear não ocorre no horizonte de tempo de nossa humanidade, portanto essas são consideradas fontes não-renováveis. As fontes renováveis de energia são repostas imediatamente pela natureza; é o caso dos potenciais hidráulicos, dos ventos (eólicos), das marés e das ondas, a radiação solar e o calor do fundo da Terra (geotermal). A biomassa também é uma fonte renovável de energia e engloba diversas subcategorias, desde as mais tradicionais (como a lenha e os resíduos animais e vegetais) até as mais modernas (como o etanol para automóveis, biodiesel, bagaço de cana para cogeração energética e gás de aterros sanitários, utilizados para a geração de eletricidade). Algumas formas de conversão de energias renováveis são, portanto, tradicionais (caso da lenha catada e queimada em fogueiras primitivas). As fontes modernas são as “convencionais” (como as hidrelétricas, de tecnologia comercialmente madura) e “novas” (que começam a competir comercialmente com as fontes tradicionais: painéis solares fotovoltaicos, aquecedores solares, pequenas centrais hidrelétricas, turbinas eólicas, usinas geotermais e biomassa “moderna”, como os biocombustíveis para transporte).

CONSUMO MUNDIAL E RESERVAS DE ENERGIA As fontes fósseis de energia predominam na matriz energética mundial e de todos os países individualmente. Em 2003, o mundo consumiu cerca de 80 por cento de energias fósseis em um total de 10,7 bilhões de toneladas de petróleo equivalente. A principal delas é o petróleo (35 por cento do total), mas as parcelas de carvão (24%) e gás natural (21%) também são bastante significativas. A energia nuclear, também não-renovável, contribuiu com cerca de 6 por cento. As fontes renováveis contribuíram com o restante. Cerca de 9 por cento do total mundial correspondeu à biomassa tradicional, basicamente à lenha queimada de forma primitiva. Apenas 4 por cento da matriz energética mundial foi suprida com a energia hidrelétrica (2%) e com as outras opções “modernas” (2%), como eólica, solar e biocombustíveis.

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O Futuro Da Energia Oswaldo Lucon INTERFACEHS

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Cada habitante do planeta consome cerca de 1,7 tonelada de petróleo equivalente por ano, mas de forma muito diferente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, tanto em quantidade como em qualidade. Países desenvolvidos consomem quase cinco vezes mais que os em desenvolvimento por habitante, e muito mais energia fóssil. As energias não-renováveis, caso dos combustíveis fósseis como o petróleo e o gás natural, certamente acabarão, mais cedo ou mais tarde. Especialistas em energia conhecem bem a curva em forma de sino, apresentada pelo cientista M. King Hubbert no início da década de 1970. Essa curva representa de forma empírica o ciclo de vida de um combustível não renovável, como é o caso do petróleo. Inicialmente abundante em suas reservas, a produção cresce em uma dada quantidade por ano, acompanhando o desenvolvimento tecnológico e o aumento da demanda do consumo. Esse crescimento atinge um pico e, como numa montanha-russa, decresce rapidamente até zero nos anos subseqüentes. Pois bem. Estamos chegando ao topo dessa montanha-russa no que se refere ao petróleo. O mercado mundial – e em especial o voraz norte-americano – precisa desse combustível poluente e cada vez mais escasso para manter seus padrões insustentáveis de produção e lazer. Recursos energéticos são as disponibilidades naturais para a exploração e obtenção de energia primária. Buscando definir limites para a exploração, o primeiro passo consiste em analisar os recursos energéticos disponíveis. Parte dos recursos são as reservas, quantidades determinadas ou estimadas para os depósitos naturais de energéticos em um dado local, com base em prospecções (geológicas, hidrológicas, de

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regime de ventos) e dados de engenharia, ao alcance das tecnologias comerciais de extração e produção. Por ser extremamente versátil e facilmente transportável e estocável, o petróleo é atualmente o energético mais importante e estratégico do planeta. Contudo, a maioria das reservas de petróleo está concentrada em poucos países.

Dos cerca de 2 trilhões de barris de petróleo estimados que o planeta possuía originalmente, de 45 a 70 por cento já foram explorados até hoje. Entre 1965 e 2005, 0,92 trilhão de barris de petróleo foram produzidos (BP, 2006).2 Restam cerca de 1 trilhão de barris a explorar, o que deve se esgotar em cerca de 50 anos. O Brasil tem petróleo para os próximos 20 anos (Tabela 1). A razão entre reservas atuais (medidas, por exemplo, em bilhões de barris de petróleo) e a atual produção (no caso, em bilhões de barris de petróleo por ano de exploração) é da ordem de 40 anos, se não houver modificações tecnológicas significativas. Apesar das medidas de eficiência de consumo (como as da engenharia automotiva, por exemplo) e de todas as estratégias tecnológicas e geopolíticas de produção (como a proposta para extrair petróleo betuminoso na Venezuela em vez dos óleos mais leves que jazem no conturbado subsolo do Oriente Médio), tudo isso só permitirá reduzir a queda da montanha-russa.

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Como a segurança no fornecimento de energia é um aspecto vital na geopolítica dos países, as reservas internas determinam fortemente suas posições em negociações internacionais, tanto comerciais como ambientais. Países produtores de petróleo fundaram a Opep na década de 1970 para obter melhores condições comerciais. O Oriente Médio é uma região de vital importância estratégica. Muitos países possuem vastas reservas de carvão pouco exploradas, o que lhes garante o suprimento por mais dois ou três séculos, mas esse combustível gera altos níveis de poluição. A relação R/P de petróleo é muitíssimo menor, da ordem de poucas décadas, levando muitos países a prospectar e desenvolver outras opções energéticas. Não é à toa que há um interesse norte-americano em ajudar países africanos ou em construir um gasoduto do Peru até seu país. Mesmo com todos esses esforços, no entanto, as reservas desses combustíveis se esgotarão. Até isso ocorrer, continuarão poluindo e acentuando as desigualdades sociais.

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OS DESAFIOS DE HOJE Além dos limites nas reservas disponíveis de petróleo e gás, a manutenção da situação atual não é possível por causa dos impactos ambientais, principalmente os das mudanças climáticas, que são hoje a principal ameaça à existência da raça humana. Estas são causadas pelo aumento nas concentrações atmosféricas dos gases que causam o aumento do efeito estufa: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e outros. Tais gases são gerados principalmente pela combustão de combustíveis, quer fósseis quer renováveis. Contudo, nos renováveis o carbono é reabsorvido pela fotossíntese das novas plantas que repõem os estoques de biomassa, fechando pelo menos parte do ciclo e reduzindo as emissões líquidas totais. O problema está na energia de origem fóssil: o carbono depositado na crosta terrestre durante eras é lançado quase que imediatamente em termos geológicos pelos processos pós-Revolução Industrial e pela queima de florestas. A participação dos países em desenvolvimento (pouco menos de 30 por cento) no total de emissões por queima de combustíveis fósseis vem crescendo rapidamente nos últimos anos e deve se igualar à dos países desenvolvidos até 2035, quando cerca de 12 bilhões de toneladas de CO2 ao ano serão lançadas no total (hoje são pouco menos de 7).3 O desmatamento também é uma fonte importante a considerar: pouco menos de 2 bilhões de toneladas/ano de CO2 são lançadas e o Brasil é o maior emissor, com cerca de 120 milhões de toneladas equivalentes de carbono ao ano, mesmo com uma matriz energética consideravelmente “limpa”.

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As mudanças climáticas são um impacto de âmbito global. Mas há outros impactos a considerar por conta do sistema energético mundial, como os derramamentos de óleo, a perda de biodiversidade, a chuva ácida e a poluição urbana. Em nível regional, precursores da chuva ácida (SO2, NOx e outros) gerados por processos de combustão podem se precipitar milhares de quilômetros de distância de seu ponto de origem, muitas vezes atravessando fronteiras de países. Com a chuva e a neve, tais óxidos se convertem em ácidos (como o sulfúrico e o nítrico), atingindo diretamente ecossistemas, plantações, edifícios históricos, estruturas e outros receptores vulneráveis. Em nível local, as emissões decorrentes da queima de combustíveis fósseis, inclusive as do setor de transportes, são as maiores responsáveis pela poluição urbana e, conseqüentemente, por centenas de milhares de mortes por problemas respiratórios e cardiovasculares ou por câncer.4 Metade da população mundial vive em cidades. No início do século passado existiam apenas três cidades com mais de um milhão de habitantes, hoje existem 281. Várias metrópoles têm mais de dez milhões de moradores e a conurbação de pequenas cidades também cria focos de problemas com material particulado (MP, principalmente os finos e ultrafinos que penetram nos bronquíolos pulmonares), dióxido de enxofre e sulfatos (SO2 e SO4

--), óxidos de nitrogênio (NO e NO2, os chamados NOx), compostos orgânicos voláteis (COVs, que incluem os hidrocarbonetos – HCs), monóxido de carbono (CO), ozônio de baixa altitude (O3 troposférico)5 e outros poluentes.

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ENERGIA E DESENVOLVIMENTO

A forma com que a energia vem sendo produzida e consumida é incompatível com o desenvolvimento sustentável, assim definido como o “desenvolvimento que supre as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações atenderem às suas necessidades”.6 O desenvolvimento possui diversos enfoques: o econômico, o social e o ambiental são provavelmente os mais importantes. Há uma relação direta entre desenvolvimento econômico e consumo de energia, mas esses parâmetros não estão ligados de maneira indissolúvel. Este é um fato muito importante, porque ensina que existem caminhos alternativos para o desenvolvimento da sociedade sem um aumento correspondente do consumo de energia. Em outras palavras, é possível desacoplar o crescimento econômico do consumo. As Metas do Milênio estabelecidas pela ONU visam garantir a sustentabilidade ambiental, erradicar a fome e pobreza extremas, alcançar uma mínima educação primária com iguais oportunidades para homens e mulheres, reduzir a mortalidade infantil com especial enfoque ao combate à aids e malária e melhorar as condições de vida dos que moram em favelas e de outras populações mais necessitadas. Visam ainda ampliar o acesso à água potável e desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento que incluísse sistemas internacionais de comércio e financiamento não discriminatórios e atendesse às necessidades especiais dos países em desenvolvimento, aliviando suas dívidas externas, provendo trabalho aos jovens e acesso a remédios e novas tecnologias. Para tal, é preciso uma solução de compromisso entre as nações. A indústria mundial da energia movimenta altas cifras. Anualmente, 40 a 60 bilhões de dólares são investidos em infra-estrutura energética. Um trilhão e meio de dólares é gasto com compras diretas de energia. Muito mais do que isso é despendido com os sistemas de consumo, como veículos, eletrodomésticos e máquinas industriais e comerciais. Pequenos redirecionamentos nesses valores podem fazer a diferença para um futuro sustentável. Energias renováveis são a solução para as questões de desenvolvimento, pois são intrinsecamente duráveis, poluem menos, geram empregos e reduzem a dependência do petróleo. A conservação de energia (aumento de eficiência), fóssil ou não, é complementar à transição para um novo padrão de desenvolvimento e prolongará a vida útil das reservas existentes. Algo precisa mudar: enquanto as energias fósseis receberam subsídios da ordem de 151 bilhões de dólares ao ano entre 1995 e 1998, os renováveis receberam no mesmo período 9 bilhões de dólares ao ano. Para acelerar o crescimento dos renováveis é preciso: (1) vencer as resistências dos mercados e eliminar os subsídios às fontes não-renováveis (fósseis e nuclear); (2) subvencionar a entrada de novas tecnologias, reduzindo seus custos; (3) estabelecer políticas mandatórias e progressivas para sua introdução; (4) disseminar as tecnologias para que os países em desenvolvimento as incorporem mais rapidamente, sem ter de passar por estágios intermediários e mais poluentes. Isso servirá para acelerar ainda mais as curvas de aprendizado dos renováveis “modernos”.

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O conceito da curva de aprendizado é simples: quanto mais se vende, menor o custo. Contudo, para se vender mais, às vezes são necessários incentivos ou mesmo políticas que obriguem ao uso da tecnologia.

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O EXEMPLO BRASILEIRO

O Brasil provou que as fontes renováveis de energia são viáveis, tanto pela hidreletricidade quanto pelo programa do álcool. O país tomou esse rumo na década de 1970, criando o Proálcool para enfrentar a crise do petróleo. Hoje, com experiência e liderança mundialmente reconhecida no setor de álcool carburante, o país se defronta com um forte aumento na demanda, tanto interna quanto externa. Hoje, podemos adquirir um veículo bicombustível e optar, nos postos de abastecimento, através de critérios econômicos, sociais e ambientais. Podemos gerar empregos e combater a poluição ao abastecer nossos veículos. Podendo ser produzido em vários países (notadamente os em desenvolvimento), tendo um rendimento energético extremamente favorável (entre 8 e 10 unidades de energia renovável obtidas para cada unidade de energia fóssil aplicada) e oferecendo liberdade ao consumidor através dos veículos flexíveis (flex-fuel), o etanol de cana-de-açúcar é uma excelente opção em termos de biocombustíveis. O custo de produção do etanol brasileiro é inferior ao dos concorrentes, e o álcool de cana é competitivo até com a gasolina em preços internacionais. Além disso, o álcool de cana é uma realidade em escala comercial e não uma promessa tecnológica como o etanol de celulose. Com as políticas do Proálcool, que obrigou a adição do biocombustível na gasolina, a produção cresceu, a tecnologia se desenvolveu e, hoje, temos os veículos flex, que dão liberdade de escolha ao consumidor e um combustível competitivo nos mercados internacionais. Os custos baixaram com o tempo e tornaram o etanol competitivo com a gasolina no mercado de Rotterdam.

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O álcool é replicável mundialmente. Aproximadamente uma centena de países já produzem cana-de-açúcar e podem produzir etanol para seu consumo interno (substituindo importações de petróleo e derivados) ou externo (obtendo receitas com a exportação), o que lhes propiciará empregos locais e melhores opções de desenvolvimento. Mesmo países que não possuem terras férteis e clima favorável à cana-de-açúcar (como o Japão, por exemplo), podem direcionar suas pesquisas tecnológicas para produzir e exportar bens de capital para a indústria do etanol. Mais ainda, ao introduzir em larga escala em seus mercados internos os veículos flex, reduzem sua dependência em relação ao petróleo, reduzem suas emissões de gases de efeito estufa e atuam significativamente na curva de aprendizado dos biocombustíveis. Até 2030 o transporte será o principal setor causador de emissões de gases de efeito estufa no mundo. Não há tempo a perder, levando em conta que uma mudança nas indústrias energética e automobilística pode levar vários anos para começar a acontecer. A natureza não vai esperar.

NOTAS 1 Fonte: U.S. Energy Information Administration (2005). Um barril contém 159 litros de petróleo. 2 2006 BP Statistical Review of World Energy. Disponível em

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www.bp.com/liveassets/bp_internet/globalbp/globalbp_uk_english/publications/energy_reviews_2006/STAGING/local_assets/downloads/spreadsheets/statistical_review_full_report_workbook_2006.xls. 3 Environmental Protection Agency (2004), disponível em www.epa.gov/reg3artd/images/warm.jpg. 4 MOLINA & MOLINA (2004). 5 Não confundir com o ozônio estratosférico (O3), formado por descargas elétricas, localizado a 40 km da superfície da Terra e que filtra os raios ultravioleta que vêm do sol. A camada troposférica é basicamente o ar que respiramos e o ozônio “urbano” (O3) é um poluente tóxico ao sistema respiratório, formado principalmente pela ação dos raios solares sobre os NOx e HCs. 6 Relatório Bruntland, Comissão para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, relatório “Nosso Futuro Comum”. 7 UNDP, UNDESA e WEC, 2004. 8 GOLDEMBERG et al., 2004.

LEITURAS ADICIONAIS

GOLDEMBERG, J. The case for renewable energies. Thematic background paper for the

International Conference for Renewable Energies, Bonn. 2004. Disponível em

www.renewables2004.de/pdf/tbp/TBP01-rationale.pdf .

GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S. Renewable Energy – Traditional biomass vs

Modern Biomass. Energy Policy, v.32, n.6, p.711-4, 2003.

GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S.; LUCON, O. How adequate policies can push

renewables. Energy Policy, v.32, n.9, p.1141-6, 2003.

GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S.; NASTARI, P. M.; LUCON, O. Ethanol

learning curve – the Brazilian experience. Biomass and Bioenergy, v.26, n.3, p.301-4,

2003.

IEA – International Energy Agency. Energy Balances of non-OECD Countries 2000-2001.

OECD/IEA, Paris, 2003.

KAREKEZI, S.; CHAUREY, A.; TEIXEIRA COELHO, S.; LUCON, O.; GUARDABASSI, P.

Synthesis Paper on Biomass – Status, Challenges and Prospects. Continental Paper:

Latin America and the Caribbean (LAC). GNESD – Global Network on Energy for

Sustainable Development. Disponível em www.gnesd.org.

MACEDO, I. O ciclo da cana-de-açúcar e reduções adicionais nas emissões de CO2

através do uso como combustível da palha da cana. Inventário de emissões de gases

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efeito estufa; Report to the International Panel on Climate Change – IPCC. Brasília:

Ministério de Ciência e Tecnologia, Mar. 2000.

MOLINA, M.; MOLINA, L. T. (2004) Megacities and Atmospheric Pollution. J. Air & Waste

Management Association, v.54, p.644-80, 2004.

RAIN-ASIA (2004) An assessment model for acid deposition in Asia. Washington (D.C.):

World Bank. From TERI (The Energy Resources Institute, New Delhi, India). Disponível

em www.teri.res.in/teriin/news/terivsn/issue1/specrep.htm.

WEA (2002) World Energy Assessment. New York: UNDP, ISBN 9211261260, 2000.

www.undp.org/seed/eap/activities/wea.

UNDP, UNDESA, WEC. World Energy Assessment – Energy and the challenge of

sustainability. Overview: 2004 Update. Disponível em

www.undp.org/energy/weaover2004.htm.

Artigo recebido em 01.11.2006. Aprovado em 17.02.2007.

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THE FUTURE OF ENERGY

Oswaldo Lucon Technical Assistant to the Secretary of the Environment of the State of São Paulo.

Doctor in Energy (USP), MSc in Clean Technology (University of Newcastle upon Tyne, United Kingdom), Civil Engineer (Poli-USP) and Lawyer (FD-USP).

ABSTRACT In the XXIst century man consumes nearly one million times more in energy terms than primitive man did, especially in fossil fuels and particularly in petroleum. Developed countries consume almost 5 times more per inhabitant than developing countries. This option causes a severe impact, principally as far as climate changes and the depletion of underground reserves are concerned. Modern renewable sources of energy (solar, aeolic, small hydro-electric power stations and biomass) represent a just a small fraction of the world’s matrix (2%), but they are beginning to compete commercially with traditional sources. Renewable energy sources are the solution for development issues, because they are intrinsically durable, pollute less, create jobs and reduce dependence on oil. To speed up the growth of renewable sources it is necessary to: (1) overcome market resistance and eliminate subsidies for non-renewable sources (fossil and nuclear); (2) help the introduction of new technologies, thereby reducing their costs; (3) establish mandatory and progressive policies for their introduction; (4) make information about these technologies widely available so that developing countries can incorporate them faster without having to go through intermediate and more polluting stages. Brazil is giving the best possible example in terms of bio-fuels and its Alcohol Program can be replicated in other countries. Key word: renewable energy; environment; sustainable development.

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INTRODUCTION

A million years ago man’s needs were intrinsically linked to his survival. He needed

2,000 calories (kcal) and got them by hunting and gathering his food. Seven thousand years ago agricultural man used the traction power of animals, thereby multiplying his strength by a factor of 8. At the time of the Romans a noble had, on average, the strength of 20 slaves at his disposal, over and above his traction animals. In Modern Times (1400 A.D.) man started using water-falls and wind to grind wheat and carry out other tasks. Little fossil energy was used; basically surface coal and oil for heating environments, in addition to a limited use for making steel. Whale-oil was considered better than petroleum oil for lighting. After the Industrial Revolution (end of the XIXth century) man developed the steam engine, thereby multiplying even further his capabilities in terms of industry and transport. In the XXth century humanity improved the steam engine and developed internal combustion engines powered by gasoline and diesel that derive from petroleum oil. Later came electric engines and nuclear energy, and consequently the world was never able to break its relationship of dependency on oil.

The population has grown and with it the consumption of energy. In 2003, every single one of the 6 billion inhabitants on earth consumed on average 1.69. 107 kcal (or 1.69 tons of oil equivalent per capita and per year), nearly one million times more than primitive man consumed (Figure 1).

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Stages in the development and consumption of energy

The 2,000 calories that man took all day trying to get hold of correspond to the amount contained in a glassful of oil. These same calories can also be obtained from a fast food snack. A Ferrari that has the strength of 600 horses generally only carries one person.

2. Renewable and non-renewable energy

The energy we consume comes basically from the sun: heat, winds, the hydraulic power of rivers, because of evaporation and condensation, and marine currents. A small part is incorporated in plants through photosynthesis and serves to sustain the earth’s whole food chain. Over millions of years the organic material of beings that died has accumulated in the subsoil, forming the so-called fossil energy sources, among which are petroleum, coal, natural gas and bituminous schist. Some of the chemical elements present in the earth’s crust are capable of generating nuclear energy. Replacement of fossil and nuclear energy sources does not happen in the time line of humanity and they are, therefore, considered to be non-renewable sources.

Renewable sources of energy are immediately replaced by nature; such is the case of hydraulic power, wind (aeolic), tides, waves, solar radiation and the heat from the depths of the earth (geothermal). Biomass is also a renewable source of energy and includes various sub-categories, from the most traditional (like firewood and animal and vegetable waste) to the most modern (like ethanol for automobiles, biodiesel, sugar-cane bagasse for energy co-generation and gas from sanitary landfill sites, used for generating electricity).

Some forms of renewable energy conversion are, therefore, traditional (the case of wood collected and burned in primitive fires). Modern sources are the “conventional” ones (like hydroelectric power stations, with commercially mature technology) and “new” (that are beginning to compete commercially with traditional sources: photovoltaic solar panels, solar heaters, small hydroelectricity plants, wind turbines, geothermal plants and “modern” biomass, like biofuels for transport).

3. World consumption and energy reserves

Fossil sources of energy predominate in the world energy matrix and in all countries, individually. In 2003, the world consumed nearly 80% fossil energy, for a total of nearly 10.7 billions tons of petroleum equivalent. The main fuel is oil (35% of the total), but coal (24%) and natural gas (21%) are also very significant. Nuclear fuel, also non-renewable, contributes with nearly 6%. Renewable sources contributed the rest. Nearly

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9% of the world total corresponded to traditional biomass, basically wood burned in a primitive way. Only 4% of the world’s energy matrix was supplied by hydroelectric power (2%) and with other “modern” options (2%) like aeolic, solar and bio-fuels.

Each inhabitant on earth consumes nearly 1.7 tons of oil equivalent a year, but in very different ways between developed and developing countries, both in terms of quantity as well as in quality. Developed countries consume almost 5 times more than developing countries per inhabitant and much more fossil energy.

Non-renewable energy sources, such as fossil fuels like oil and natural gas, will undoubtedly run out sooner or later. Energy specialists know the bell curve very well, as presented by scientist, M. King Hubbert, at the beginning of the 70s. In an empirical way this curve represents the life cycle of a non-renewable fuel, as is the case with oil. Initially reserves were abundant and production grew at a given amount each year, accompanying technological development and the increase in consumption demand. But this growth reaches a peak and just like a roller-coaster, rapidly descends until it reaches zero in subsequent years.

Well, we are arriving at the top of this roller-coaster as far as petroleum oil is concerned. The world market, and especially the voracious North American market, needs

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this polluting and increasingly scarce fuel to maintain its unsustainable production and leisure patterns.

Energy resources are what are naturally available for exploring and obtaining primary energy. To define the limits for exploration the first step to be analyzed must be the energy resources that are available. A part of these resources are reserves, known or estimated quantities of natural energy deposits in a given location, based on exploration (geological, hydrological and wind regime) and engineering data, and that can be reached by commercial extraction and production technologies. Because it is extremely versatile and easily transported and stored, oil is currently the most important and strategic energy source on earth. However, most of the oil reserves are concentrated in just a few countries.

Of the nearly 2 trillion estimated barrels of oil that we originally had on this planet, between 45% and 70% has already been explored. Between 1965 and 2005, 0.92 trillion barrels of oil were produced (BP, 20061). Nearly 1 trillion barrels remain to be explored and these will probably be depleted in around 50 years. Brazil has oil for the next 20 years

1 2006 BP Statistical Review of World Energy http://www.bp.com/liveassets/bp_internet/globalbp/globalbp_uk_english/publications/energy_reviews_2006/STAGING/local_assets/downloads/spreadsheets/statistical_review_full_report_workbook_2006.xls

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(Table 2). The ratio between current reserves (measured, for example, in billions of barrels of oil) and current production (in this case in billions of barrels of oil per exploration year) is of the order of 40 years, if there are no significant technological changes. Despite consumption efficiency measures (like those in automobile engineering, for example) and all the technological and geopolitical production strategies (like the proposal to extract bituminous oil in Venezuela instead of the lighter oils that flow in the troubled subsoil of the Middle East), they will only allow us to reduce our speed of descent on the roller-coaster.

As energy supply security is a vital aspect in the geopolitics of countries, the domestic reserves they have are strong determinants in their international negotiating position, in both commercial and environmental matters. Oil producing countries set up OPEC in the 70s to get better commercial deals. The Middle East is a vitally important region strategically. Many countries have vast reserves of largely unexplored coal, which guarantees they will have supplies for another 200 or 300 years, but this generates high levels of pollution. The R/P relationship of oil is much less, of the order of a few decades, leading many countries to look for and develop other energy options.

It is no coincidence that North America is interested in helping African countries, or in building a gas pipeline from Peru to the USA. But even with all these efforts reserves of these fuels will be depleted. Until this happens they will continue polluting and aggravating social inequalities.

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4. Today’s challenges

In addition to the limits in available reserves of oil and gas, continuing with the current situation is not possible because of the environmental impact it causes, particularly that of climate changes, which are today the main threat to the very existence of the human race. These are caused by the increase in atmospheric concentrations of gases that cause an increase in the greenhouse effect: carbon dioxide (CO2), methane (CH4) and others.

These gases are generated principally by combustion, whether of fossil fuels or of renewable fuels. However, in the case of renewable fuels the carbon is reabsorbed by the photosynthesis process of new plants that replace stocks of biomass, thus completing at least part of the cycle and reducing total net emissions. The problem lies with energy that has a fossil origin: the carbon that has been deposited in the earth’s crust during the ages is being launched into the atmosphere (almost immediately in geological terms) by post-Industrial Revolution processes and by the burning of forests.

The participation of developing countries (a little less than 30%) in the total of all emissions from burning fossil fuels has been growing rapidly over the last few years and should be the same as the developed countries by 2035, when in total nearly 12 billion tons of CO2 a year will be launched into the atmosphere (today it is a little less than 7

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billion) 2 Cutting down forests is also an important source to consider: something less than 2 billion tons of CO2 per year are emitted and Brazil emits the most, with nearly 120 million tons of carbon equivalent a year, even though it has an energy matrix that is considerably “clean”.

Climate changes are having an impact on a global scale, but because of the world’s energy system there are other impacts to consider, like oil spills, the loss of biodiversity, acid rain and urban pollution.

At the regional level, the precursors of acid rain (SO2, NOx and others) generated by combustion processes may be precipitated thousands of kilometers from their point of origin, frequently crossing country borders. Rain and snow converts these oxides into acids (like sulfuric and nitric), directly affecting ecosystems, growing crops, historic buildings and other vulnerable receptors. 2 Environmental Protection Agency (2004) http://www.epa.gov/reg3artd/images/warm.jpg

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At the local level, emissions from the burning of fossil fuels, including those

coming from the transport sector, are primarily responsible for urban pollution and consequently for hundreds of thousands of deaths from respiratory and cardiovascular problems and cancer3. Half the world’s population lives in cities. At the beginning of the last century there were only 3 cities that had more than 1 million inhabitants, while today there are 281. Various metropolises have more than 10 million people living in them, and the conurbation of small cities also creates problem hotspots, because of particulate material (PM, principally the fine and ultrafine particles that penetrate the pulmonary bronchioles), sulfur dioxide and sulfates (SO2 and SO4

--), nitrogen oxides (NO and NO2, the so-called NOx), volatile organic compounds (VOCs, that include the hydrocarbonates – HCs), carbon monoxide (CO), low altitude ozone (O3 tropospheric4) and other pollutants.

4. Energy and development

The way in which energy has been produced and consumed is incompatible with sustainable development, defined as “development that meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs”5.

Development has various focuses: economic, social and environmental are probably the most important. There is a direct relationship between economic development and energy consumption, but these parameters are not inseparably linked. This is a very important fact because it teaches us that there are alternatives ways for society to develop without a corresponding increase in energy consumption. In other words it is possible to separate economic growth form consumption.

UNO’s Millennium Goals aim at guaranteeing environmental sustainability, by eradicating extreme hunger and poverty, achieving minimum primary education with equal opportunities for men and women, reducing child mortality, with a special emphasis on fighting AIDS and malaria, and improving the living conditions of those who live in slums and of other needy populations. They aim also to widen access to drinking water and to develop a global development partnership that includes international trade and financing systems that are non-discriminatory and that meet the special needs of developing countries, thereby alleviating their external debt situation, providing work for the young and access to medicine and new technology. To achieve all this a solution that involves a commitment between nations is needed.

The world’s energy industry generates huge amounts of money. Every year US$ 40 to 60 billion are invested in energy infrastructure. US$ 1.5 trillion is spent on the direct purchase of energy. Much more than this is spent on consumption systems, like vehicles,

3 Molina and Molina (2004) 4 Do not confuse this with stratospheric ozone (O3) that is formed by electrical discharge, is located 40 km up and filters the ultraviolet rays that come from the sun. the tropospheric layer is basically the iar we breathe and “urban” ozone (O3) is a pollutant that is toxic for the respiratory system and is formed principally by the action of the sun’s rays on the NOx and HCs. 5 Bruntland Report. Committee for the Environment and Development, “Our Common Future” report.

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electro-domestic appliances and industrial and commercial machinery. Just a small redirection of these amounts could make all the difference for a sustainable future.

Renewable energy sources are the solution for development issues, because they are intrinsically durable, pollute less, generate jobs and reduce dependence on oil. Energy conservation (an increase in efficiency), whether that is fossil fuel or otherwise, means complementing the transition to a new development pattern that will prolong the useful life of existing reserves.

Something needs to change: while fossil energy received subsidies of the order of US$151 billion between 1995 and 1998, in the same period renewable sources received US$9 billion a year. To accelerate the growth of renewable sources it is necessary to: (1) overcome market resistance and eliminate subsidies to non-renewable sources (fossil and nuclear); (2) help the introduction of new technologies, thereby reducing their costs; (3) establish mandatory and progressive policies for their introduction; (4) make information about these technologies widely available so that developing countries can incorporate them faster without having to go through intermediate and more polluting stages. This will serve to speed up even more the learning curves of “modern” renewable sources.

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Learning curves of photovoltaic solar panels, wind turbines, ethanol and gas turbines for

biomass6

The learning curve concept is simple: the more you sell the less it costs. However, to sell more incentives or even policies that oblige the use of the technology are sometimes necessary.

5. The Brazilian example

Brazil proved that renewable sources of energy are viable, both with hydro-electricity as well as with its alcohol program. It started out on this path in the 1970s, when it created ‘Proalcool’ in order to face up to the oil crisis. Today, with an experience and leadership that is recognized worldwide in the fuel ethanol sector, the country is facing a strong increase in demand, both internally as well as externally. Today, we can buy a bi-fuel vehicle and choose at the filling station what to use based on economic, social and environmental criteria. We can create jobs and fight pollution when we fill up our tanks.

Because it can be produced in various countries (notably developing ones), because it has an extremely favorable energy performance (between 8 and 10 units of renewable energy obtained for every unit of fossil fuel applied) and because of the 6 UNDP, UNDESA and WEC, 2004

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freedom offered to the consumer by flex-fuel vehicles, sugar-cane ethanol is an excellent option in terms of biofuels. The production costs of Brazilian ethanol are lower than those of our competitors and at international prices cane alcohol is competitive even with gasoline. Furthermore, sugar cane ethanol is a reality on a commercial scale and not a technological promise, like cellulose alcohol.

With the Proalcool polices that obliged the addition of biofuel to gasoline, production grew, technology developed and today we have flex-fuel vehicles that give the consumer freedom of choice and a fuel that is competitive in international markets. Costs have reduced over time and made ethanol competitive with gasoline on the Rotterdam market.

Alcohol can be replicated all over the world. Approximately a hundred countries already produce sugar-cane and can produce ethanol for their consumption internally (substituting imports of oil and its derivatives) or externally (thereby obtaining export revenues), which provides them with local employment and better development options. Even countries that do not have fertile land and a climate that is favorable to sugar-cane growing (like Japan, for example), can direct their technological research towards producing and exporting capital goods for the ethanol industry. Furthermore, when flex-fuel vehicles are introduced on a large scale into their domestic markets, they reduce their dependence on oil, reduce their greenhouse gas emissions and help significantly when it comes to the bio-fuel learning curve.

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Until 2030 transport will be the main sector causing the emission of greenhouse gases in the world. Taking into account that the changes needed in the energy and automobile industries may take several years to begin to happen we have no time to lose. Nature is not going to wait for us.

ADDITIONAL READING

GOLDEMBERG, J. The case for renewable energies. Thematic background paper for the International Conference for Renewable Energies, Bonn. 2004. Disponível em www.renewables2004.de/pdf/tbp/TBP01-rationale.pdf . GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S. Renewable Energy – Traditional biomass vs Modern Biomass. Energy Policy, v.32, n.6, p.711-4, 2003. GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S.; LUCON, O. How adequate policies can push renewables. Energy Policy, v.32, n.9, p.1141-6, 2003. GOLDEMBERG, J.; TEIXEIRA COELHO, S.; NASTARI, P. M.; LUCON, O. Ethanol learning curve – the Brazilian experience. Biomass and Bioenergy, v.26, n.3, p.301-4, 2003. IEA – International Energy Agency. Energy Balances of non-OECD Countries 2000-2001. OECD/IEA, Paris, 2003. KAREKEZI, S.; CHAUREY, A.; TEIXEIRA COELHO, S.; LUCON, O.; GUARDABASSI, P. Synthesis Paper on Biomass – Status, Challenges and Prospects. Continental Paper: Latin America and the Caribbean (LAC). GNESD – Global Network on Energy for Sustainable Development. Disponível em www.gnesd.org. MACEDO, I. O ciclo da cana-de-açúcar e reduções adicionais nas emissões de CO2 através do uso como combustível da palha da cana. Inventário de emissões de gases efeito estufa; Report to the International Panel on Climate Change – IPCC. Brasília: Ministério de Ciência e Tecnologia, Mar. 2000. MOLINA, M.; MOLINA, L. T. (2004) Megacities and Atmospheric Pollution. J. Air & Waste Management Association, v.54, p.644-80, 2004. RAIN-ASIA (2004) An assessment model for acid deposition in Asia. Washington (D.C.): World Bank. From TERI (The Energy Resources Institute, New Delhi, India). Disponível em www.teri.res.in/teriin/news/terivsn/issue1/specrep.htm. WEA (2002) World Energy Assessment. New York: UNDP, ISBN 9211261260, 2000. www.undp.org/seed/eap/activities/wea. UNDP, UNDESA, WEC. World Energy Assessment – Energy and the challenge of sustainability. Overview: 2004 Update. Disponível em www.undp.org/energy/weaover2004.htm.

Article received on 01.11.2006. Approved on 17.02.2007.

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ESTIMATIVA DOS EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA SOBRE A SAÚDE HUMANA: ALGUMAS POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS E

TEÓRICAS PARA A CIDADE DE SÃO PAULO

Gheisa Roberta Telles Esteves ¹; Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa ²; Ennio Peres da Silva ³; Paula Duarte Araújo 4

¹ Economista, Mestre em Engenharia Elétrica e Doutoranda do Programa de Planejamento de Sistemas

Energéticos – Nipe/FEM/Unicamp.

² Doutora em Ciências Sociais; pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam)/Unicamp; professora permanente do Doutorado Ambiente & Sociedade, Nepam/IFCH/Unicamp;

Professora participante do Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, Nipe/FEM/Unicamp; orientadora da Tese de Doutorado em andamento.

³ Doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos; Coordenador do Laboratório de Hidrogênio/Instituto de

Física/Unicamp e co-orientador da Tese de Doutorado em. Andamento.

4 Engenheira Mecânica, Mestre em Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, Nipe/FEM/Unicamp, Doutoranda no mesmo Programa.

RESUMO O artigo tem com objetivo abordar questões teóricas e metodológicas oriundas dos efeitos que a poluição atmosférica tem sobre a qualidade de vida, e principalmente, para a saúde humana. O grande fluxo de veículos na cidade ocasiona além de aumento das emissões de poluentes (que possuem efeitos deletérios sobre a saúde humana), congestionamentos e lentidão no trânsito (ambos causadores de estresse) e aumento dos acidentes. A mitigação dos efeitos da poluição atmosférica sobre a saúde humana poderia ser obtida através da gradual introdução de uma frota de veículos limpos na cidade e de uma conscientização da população para o maior uso do transporte coletivo. Faz-se uma breve análise e descrição de estudos que abordam o tema, bem como métodos utilizados e conclusões já obtidas. A partir de tal revisão literária, sinaliza-se o caminho a seguir no estudo sobre a cidade e Região Metropolitana de São Paulo. Palavras-Chave: poluição atmosférica; saúde humana; custos à saúde.

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INTRODUÇÃO

Vivemos uma situação única na história da humanidade com a ascensão da consciência ambiental. Até então, o homem acreditava que as fontes energéticas, ou melhor, que os recursos naturais em seu conjunto, fossem inesgotáveis, podendo ser consumidos indiscriminadamente, sem atentar para um possível problema de escassez. No entanto, o final do século XX evidenciou à humanidade o esgotamento do atual modelo de desenvolvimento pelo seu caráter predatório, com o uso irracional dos recursos naturais. Esse modelo vem sendo questionado também pela sua perversidade do ponto de vista social, por ser um sistema extremamente desigual, em que o poder se concentra nas mãos de poucos, gerando, até mesmo, uma alienação cultural sobre seus efeitos nocivos à natureza e ao próprio ser humano. Portanto, é de suma importância começar a propor soluções aos diversos problemas econômicos, sociais e ambientais proporcionados pelo modelo de desenvolvimento capitalista (GUIMARÃES, 1998). As transformações provenientes dessas propostas provavelmente exigirão que o homem seja capaz de estabelecer uma nova relação com a natureza, substituindo a atual – dominador–dominado – pela preocupação com a manutenção ou a melhoria da qualidade de vida das gerações futuras, buscando um patamar de mais equilíbrio e eqüidade (BARTHOLO JR., 2001). Dentre os diversos problemas ocassionados pelo modelo de desenvolvimento capitalista podemos mencionar a poluição atmosférica, problema esse cada vez mais eminente nos grandes centros urbanos. No começo da era capitalista, no período da revolução industrial, grande parte (senão a totalidade) da poluição atmosférica era proveniente das indústrias, classificadas como fontes estacionárias.2 No entanto, o surgimento dos motores de combustão interna provocou o surgimento de uma fonte móvel3 que se disseminaria ao longo das décadas como objeto de desejo de todos os seres humanos: o automóvel. Temos hoje uma situação em que um dos maiores geradores de poluição atmosférica nos grandes centros são as fontes móveis em circulação nas rodovias. No caso da cidade de São Paulo, sabe-se que 90 por cento da emissão de poluentes é proveniente de fontes móveis. Neste artigo utilizaremos o termo ‘fontes móveis’ para designar os meios de transportes que circulam pela cidade: veículo leve de passageiros, leve comercial e veículo pesado. Alguns fatores são primordiais para esses alarmantes índices: falta de estímulo ao uso de transportes coletivos e sua má qualidade; grande concentração, além do rápido e contínuo crescimento, da frota circulante (atualmente, na cidade de São Paulo, a média é de um veículo para cada dois habitantes, [ARAÚJO, 2003]), e sua preponderância como meio de locomoção. A sociedade estimula o uso do transporte individual em detrimento do transporte coletivo. Esses fatores acabam por contribuir para a deterioração da qualidade do ar nos locais de origem das emissões e em outras regiões afastadas, graças à mobilidade dessa frota e à incidência das correntes atmosféricas. Ainda é preciso considerar a baixa qualidade dos combustíveis usados nos veículos e a grande quantidade de veículos antigos existentes no total da frota circulante na cidade. Os veículos antigos, em sua esmagadora maioria, não passam por manutenção periódica e adequada, tornando-se ainda mais poluentes. É preciso, também, mencionar que um veículo de frota nova, com critérios mais rigorosos quanto à emissão de poluentes e tecnologia mais avançada, caso não seja submetido às manutenções periódicas necessárias, irá poluir tanto quanto um veículo de frota antiga. Fica evidente, assim, que além da busca por tecnologias mais avançadas que proporcionem menor emissão de

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gases poluentes, é preciso também conscientizar a população quanto à necessidade de manutenções preventivas periódicas nos veículos. O aumento do uso dos automóveis tem duas vertentes: a primeira diz respeito ao status quo decorrente da posse e uso de veículos particulares, observados tanto na população de classe alta e média, como na população menos favorecida. Por outro lado, observa-se a grande disseminação do uso de vans e lotações, estimulado pela ineficiência e baixa qualidade do transporte coletivo. Esse aumento desordenado do uso dos automóveis tem sérias conseqüências urbanísticas, econômicas e ambientais. Circulam no mundo, hoje, veículos constituídos por motores que seguem dois ciclos: o ciclo de Otto4 e o ciclo Diesel. Aqui, iremos tratar apenas dos poluentes emitidos por veículos movidos pelo ciclo Otto, que são o monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e aldeídos. Em especial a frota de veículos movidos a gasolina, correspondente a grande parte da frota de veículos circulantes da cidade de São Paulo,5 emite também material particulado e óxidos de enxofre. As soluções de longo prazo para o problema da emissão de gases poluentes, pelas fontes móveis, passam, necessariamente, pela melhoria da qualidade dos combustíveis comerciais utilizados atualmente e pela busca por alternativas energéticas. Por ser um dos fatores principais de emissão (juntamente com a tecnologia dos motores), é de suma importância a realização de pesquisas sobre novas tecnologias de combustão e de dispositivos que controlem essas emissões, tal como a busca por combustíveis limpos. A viabilização dos combustíveis alternativos possibilitaria a mudança dos tradicionais veículos de combustão interna para os veículos elétricos movidos a células combustíveis, também conhecidos como veículos limpos. As células combustíveis têm a capacidade de transformar gás hidrogênio em energia elétrica através de um processo limpo, ou seja, não ocorre nenhuma queima de combustível durante o processo de conversão da energia. A introdução de veículos que utilizem o hidrogênio como combustível provocará mudanças na equação econômica do setor energético mundial, e poderia ser o primeiro passo rumo a um ambiente mais sustentável. O contraponto da adoção dessa tecnologia não está tanto na disponíbilidade do combustível, mas sim na disseminação e barateamento da tecnologia de produção dos seus automóveis. Pesquisa realizada por Esteves et al. (2004) mostrou, em um estudo de caso sobre a introdução de uma nova frota de veículos movidos a células combustível na cidade de São Paulo, que existe a disponibilidade da quantidade necessária de combustível (obtido atráves de fontes renováveis: etanol e energia hidráulica), para a produção da quantidade necessária de hidrogênio para manter essa nova frota circulando, e que o gasto com combustível seria bastante inferior ao que se tem, atualmente, utilizando automóveis movidos a gasolina. O que inviabiliza o projeto é exatamente a falta de disseminação do processo de produção de veículos movidos a hidrogênio, pois constatou-se no estudo que o tempo de reposição do investimento6 feito em um veículo com esse diferencial (veículo com emissão zero) é muito superior à vida útil do bem (ESTEVES et al., 2004).7 O incentivo ao uso dos transportes de massa, como ônibus, metrô e bicicleta, seria outra boa alternativa para o problema. Mas, existe uma forte barreira por parte da população quanto ao uso de bicicletas como meio de transporte. Em sua grande maioria, as ciclovias vêm sendo utilizadas nos grandes centros urbanos somente para o lazer ou prática de atividades físicas. Portanto, conscientizar a população quanto à possibilidade do uso da bicicleta como meio primordial de transporte alternativo, para percorrer curtas distâncias, seria também uma boa alternativa. Apesar de os veículos produzidos hoje estarem dentro das normas estabelecidas pelos órgãos de regulação,8 é preciso desenvolver veículos menos poluentes, visto que os

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efeitos da emissão dos gases produzidos por esses veículos trazem danos consideráveis à saúde humana. Araújo (2003) demonstrou a importância da adoção de novas tecnologias, no caso a utilização de veículos leves com células a combustível a hidrogênio na cidade de São Paulo, para a redução das emissões de poluentes nessa cidade. A autora propôs a introdução desses veículos seguindo dois cenários: o primeiro, onde a introdução seguiria os mesmos índices propostos para a cidade de Los Angeles, Califórnia; e outro, onde o percentual de introdução dessa frota estivesse mais próximo da conjuntura econômica brasileira. Em seu trabalho ficou bastante clara a existência de um lag entre a adoção das medidas e os seus efeitos, visto que os efeitos de tecnologias introduzidas nos veículos de combustão interna (catalizadores – introduzidos entre os anos de 1992 e 1996), e da mistura de álcool na gasolina (feita a partir de 1980, segundo a Cetesb), estarão ainda sendo obtidos no ano de 2020. Um passo além para a redução desses efeitos nocivos seria então o estabelecimento de normas de emissão de gases mais rígidas, forçando a indústria automobilística a pesquisar e utilizar tecnologias menos poluentes e a baratear os custos dessas tecnologias a fim de colocá-las no mercado com preços competitivos. Com base no que foi aqui exposto, este artigo tem como objetivo tratar as questões teóricas dos efeitos que a poluição atmosférica, existente na cidade de São Paulo, tem sobre a população ali residente. O artigo se aprofundará na questão das metodologias disponíveis na literatura para a quantificação dos efeitos deletérios da poluição atmosférica, apresentando as teorias de forma breve, e um historico dos estudos que vêm sendo realizados utilizando-as, bem como os resultados já obtidos.

BREVE HISTÓRICO DAS METODOLOGIAS DE VALORAÇÃO DOS CUSTOS À SAÚDE Nos anos recentes, especialistas em saúde internacional e desenvolvimento social vêm gerando novas formas de configurar a miséria humana resultante do aumento do número de casos de doenças crônicas e incapacidades. Esses especialistas construíram novas formas de medir o sofrimento por doenças crônicas (morbidades). O método Daly é um bom exemplo desse tipo de abordagem. Apesar de ser louvável o esforço para o desenvolvimento de um indicador objetivo que facilite a escolha da alocação de recursos escassos entre políticas e programas, questionam-se quais os limites e perigos de se configurar o sofrimento social como um indicador econômico. Uma boa alternativa para evitar que os índices econômicos se tornem os únicos parâmetros autorizados para a construção de políticas e programas seriam a utilização desses índices em conjunto com histórias sociais que versem sobre o lado humano do sofrimento (KLEINMAN, 1997). A valoração dos custos da poluição ambiental à saúde humana pode ser efetuada, seguindo as abordagens a seguir.

1. Método dos Gastos Defensivos A metodologia tem como característica principal o fato de medir apenas a perda de renda direta. Um exemplo elucidativo disso seriam os salários perdidos em razão dos dias em que a pessoa se ausenta do trabalho, aqueles relacionados à morte prematura, e os gastos adicionais.

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A maior crítica ao método relaciona-se à possibilidade de estimar os gastos efetuados em recuperação, esquecendo a importância do cálculo dos valores relativos à opção e resistência. Existem diversas maneiras de calcular essa medida, todas elas provenientes da teoria econômica clássica, dentre as quais podemos citar as seguintes abordagens: Capital Humano: usa o nível de rendimento individual para indicar a produção potencial abdicada. Está baseada na hipótese de que as pessoas demandam o máximo salário que podem obter dadas as suas habilidades. Os salários são meramente utilizados como uma medida de perda de produção social (MCCRONE, 1998). Custo da Doença: é voltada para a morbidade e tem seus pressupostos fundamentados também da teoria do capital humano. Trata os custos da morbidade como oriundos das despesas médicas para tratamento de doenças e perdas de salário durante os dias em que o indivíduo está sendo afetado por ela. Despesas Preventivas: tenta inferir a quantia que as pessoas estão dispostas a pagar para que os riscos de saúde sejam atenuados. Salário Diferencial: usa as diferenças existentes entre as taxas de salário para medir a compensação necessária às pessoas em razão das diferenças existentes na chance de adoecer ou morrer.

2. Método da Valoração do Contingente A idéia do método é medir a compensação necessária para que seja aceito um risco pessoal mais alto quando comparado com a taxa salarial de trabalhos que têm ameaças e os que não têm. Para essa análise o método faz uso de pesquisas (aplicação de questionários), ou de avaliações dos dados de mercado, determinando o quanto os indivíduos estão dispostos a pagar para diminuir a probabilidade de morte prematura por doença. Esse tipo de análise possui um viés muito grande, pois dependendo da conjuntura e do extrato da sociedade (classe social) em que a pessoa inquirida esteja inserida, seus padrões de resposta serão diferentes. O questionário é o meio mais transparente de se obter essas preferências, mas a formulação das perguntas tem caráter decisivo. Já a avaliação dos dados de mercado nos mostra o mundo real, em vez de uma situação hipotética (questionário) (ZWEIFEL, 1997). As duas abordagens aqui apresentadas são impregnadas de incertezas e controvérsias por serem baseadas na teoria econômica (que é por si só plena de hipóteses e pressupostos) e nos resultados (evidências) obtidos através de estudos epidemiológicos.

3. Uma abordagem alternativa – Método Daly O Daly é uma medida do sofrimento produzido por doenças específicas, combinando o impacto das mortes prematuras e as incapacidades resultantes dessas doenças. Leva-se em consideração a idade em que a doença foi adquirida, os anos de esperança de vida perdidos (e o valor relativo desses anos) e os anos comprometidos por causa da limitação (KLEINMAN, 1997). Ou seja, a técnica alternativa tem como característica básica a capacidade de calcular indicadores de ônus que sejam

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independentes da unidade monetária vigente no país em estudo, produzindo um indicador medido em anos de vida. Por isso, pode ser considerado um indicador padrão. Esse indicador é composto por duas componentes, uma representando os anos de vida perdidos (YLL) e a outra os anos de vida vividos com incapacidade (YLD). Os anos de vida perdidos e os anos vividos com incapacidade são calculados de acordo com as equações matemáticas aqui descritas:

Onde

Onde

EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA SOBRE A SAÚDE HUMANA A poluição atmosférica gera uma enorme degradação da qualidade de vida da população, provocando uma série de doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplasias. Deve-se ressaltar que essas três categorias de morbidade compõem as

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principais causas de morte nos grandes centros urbanos (BARBOSA, 1990). Além disso, ainda acarretam um decréscimo no sistema imunológico do indivíduo, tornando-o mais suscetível às infecções agudas. Os mais afetados pela baixa qualidade do ar são as crianças, os idosos e as pessoas com problemas respiratórios (bronquite, asma e alergias). Vale mencionar que 15 por cento da população total do município de São Paulo é composta por crianças e idosos, o grupo mais suscetível aos efeitos nocivos da poluição (MIRAGLIA, 2002). Em crianças, a poluição atmosférica pode resultar em significativas ausências à escola, diminuição nas taxas de peak flow e aumento do uso de medicamentos em crianças acometidas de asma. Nas pessoas normais, sejam elas adultas, crianças, ou idosos, a poluição ocasionara mudanças no sistema imunológico (MARTINS, 2002). A determinação do principal poluente, responsável pela causa dos problemas de saúde, é tarefa complexa em razão da dificuldade em medir todos os poluentes em uma cidade como São Paulo. A deterioração da saúde da população residente em metrópoles com características semelhantes à de São Paulo tem, entre as várias conseqüências, um aumento do custo dos atendimentos à população nos serviços de saúde pública, dado que os altos níveis de poluição do ar ocasionam um aumento da procura pelos prontos-socorros, unidades básicas de saúde e hospitais, tanto na cidade quando na Região Metropolitana. Em outras palavras, aumentam as consultas médicas, as hospitalizações e as mortes, ocasionando, também, um incremento do consumo de medicamentos, nas faltas à escola e ao trabalho, além de restringirem a prática de atividades físicas pela população afetada. Diversos estudos têm sido realizados, ao longo dos anos, tanto no Brasil como no exterior objetivando demonstrar a associação existente entre variações no volume de poluentes atmosféricos e aumento de incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares. Neste item trataremos desses estudos. Martins (2002) realizou em sua dissertação uma investigação sobre os efeitos da poluição atmosférica na morbidade por gripe e pneumonia na população idosa (pessoas com 65 anos ou mais) da cidade de São Paulo. Sabe-se que esses atendimentos representam 6 por cento do total de atendimentos aos idosos. Para a execução do estudo foram utilizados os seguintes dados:

• Atendimentos diários de pneumonia e gripe de um pronto-socorro de um hospital de referência na cidade;

• Níveis diários de CO, O3, SO2, NO2, PM10; • Temperatura média; • Umidade relativa do ar.

Os dados utilizados compreendiam o período de 1o de maio de 1996 a 30 de setembro de 1998, sendo, portanto, um estudo de analise de séries temporais. Os dados listados foram utilizados para o estabelecimento das relações existentes entre pneumonia e gripe e poluição atmosférica. A metodologia utilizada foi um modelo aditivo generalizado de regressão de Poisson, onde o número diário de atendimentos por pneumonia e gripe dependia das concentrações médias diárias dos poluentes. Foram também efetuados ajustamentos sazonais de curta e longa duração no modelo. No estudo foram calculadas as estatísticas descritivas para todas as variáveis mencionadas e o coeficiente de correlação de Pearson entre os poluentes e os atendimentos diários de gripe e pneumonia. A distribuição de Poisson foi escolhida porque o número de atendimentos

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representa um evento de contagem. A autora também utilizou variável de controle, tendo para sua obtenção o uso das variáveis:

• Dias da semana e ajuste para a sazonalidade de curta duração; • Número de dias transcorridos e ajuste para sazonalidade de longa duração; • Temperatura média mínima e umidade relativa do ar e ajuste pelas variáveis

meteorológicas; • Número de atendimentos por problemas não respiratórios em idosos; • Período de rodízio.

A relação entre essas variáveis e a de controle foi estabelecida através de um modelo aditivo generalizado com funções não-paramétricas de alisamento, removendo padrões sazonais básicos de longa duração. Os parâmetros do modelo foram escolhidos minimizando a informação de Akaike. Foram também testadas médias móveis dos poluentes para a determinação da estrutura de defasagem (lag) existente entre o aumento da poluição e o efeito no aumento de atendimentos. Após o período de testes, foram determinados lags de dois dias para O3 e o valor médio do dia para todos os outros poluentes. Depois de definido o modelo, estimaram-se os efeitos do aumento da poluição no número de atendimentos. A autora constatou que todos os poluentes são relacionados entre si, exceto CO e O3. O material particulado (PM10) é o que possui maior relação com os demais poluentes. E o número de atendimentos mostrou ter uma correlação positiva bastante significativa com CO, SO2 e PM10. Observou-se também que um aumento no nível de SO2, para 15,05 μg /m3, ocasionaria um aumento da ordem de 14,5 por cento nos atendimentos de pneumonia e gripe na população idosa. Para o O3, um aumento para 38,80 μg /m3 provocaria um aumento nos atendimentos de 8,07 por cento. Cropper e Simon (1996) descreveram em artigo algumas armadilhas que comumente surgem quando se tenta estimar o valor monetário do beneficio associado com uma dada redução nos níveis de poluição dos países em desenvolvimento. Mas salientam que apesar das inúmeras armadilhas existentes nesse processo de cálculo, ele é extremamente necessário. Os autores descrevem algumas medidas de quantificação dos impactos da poluição, indicando suas possibilidades e limitações. Nos parágrafos seguintes estarão descritos os aspectos abordados pelos autores. Segundo Cropper e Simon (1996), estudos epidemiológicos são considerados a forma mais adequada de se medir impactos da poluição do ar nas taxas de mortalidade e morbidade, pois têm a capacidade de capturar tanto os efeitos agudos como os crônicos. São estudos de cross-section de indivíduos monitorados durante, pelo menos, dez anos, noes quais se medem as concentrações dos poluentes atmosféricos e outros fatores de risco. Estudos como esse são, no entanto, inviáveis pelas seguintes razões: existência de um fluxo migratório que faz o número de pessoas expostas a determinados níveis de poluição não representar a realidade; dificuldade de controlar os fatores de confusão. Os estudos de séries temporais que relacionam variações diárias na poluição do ar com variações na mortalidade diária evitam os problemas mencionados acima, mas no melhor dos casos medem os efeitos de exposição aguda a poluição do ar na taxa de mortalidade. Por isso, em geral, superestimam os anos de vida perdidos em função da poluição. Como temos nos países em desenvolvimento uma ausência de estudos epidemiológicos, propõe-se o uso de funções dose–resposta de outros países. Essas

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projeções devem, no mínimo, ser feitas para doenças específicas. No entanto, não parece fazer muito sentido, para os autores do estudo, extrapolar o efeito da poluição do ar nas taxas totais de mortalidade obtidos nos Estados Unidos, se as causas de morte diferem enormemente entre esse país e aqueles em desenvolvimento. Para a determinação do valor da redução do risco da doença são utilizados dois métodos. O dos ‘salários compensatórios’, pelo qual se infere o valor que compensa o diferencial de salário no mercado de trabalho, e o da ‘avaliação do contingente’, em que se pergunta às pessoas quanto elas estão dispostas a pagar para reduzir seu risco de morte. Nos países em desenvolvimento a morte prematura é calculada pelo uso de estimativas do valor de uma vida estatística para os Estados Unidos e ajustada pela diferença de salários entre os dois países, ou então pelo cálculo dos ganhos perdidos. A crítica a essa metodologia está no fato de o método de propensão a pagar fornecer um valor de vida estatística que excede o dos rendimentos perdidos à medida que as pessoas se tornam mais avessas ao risco. Os autores concluem o artigo com a constatação de que enquanto não se avançar no fornecimento de um valor de vida estatística para países em desenvolvimento, a alternativa para a avaliação será o uso dos rendimentos perdidos como um limite inferior e projeções do valor da vida dos estudos realizados nos Estados Unidos como um limite superior para o valor das mudanças na expectativa de vida. Romieu e Borja-Aburto (1997), em temática relativamente próxima à anterior, embora com foco de análise diferenciado, consideraram a generalização da relação dose–resposta e a importância da tentativa no nível da saúde pública. Quando se fazem generalizações epidemiológicas, alguns assuntos relevantes a serem considerados na relação entre material particulado e mortalidade diária são: identificação de agentes responsáveis pela associação e mecanismo biológico, condições de exposição do agente e caracterização dos grupos suscetíveis. No processo de generalização dessa relação é necessário analisar as similaridades e discordâncias entre países norte-americanos e latino-americanos sob três óticas:

• Mistura dos poluentes atmosféricos: o material particulado é uma mistura de diferentes subclasses de poluentes. Seu tamanho e a composição química dependem dos mecanismos de formação da composição atmosférica e das variáveis climáticas. Existe variações nessa composição tanto dentro como entre grandes cidades, e entre áreas rurais e urbanas. Em São Paulo, por exemplo, 41 por cento do total do material particulado tem relação com as fontes móveis, e 59 por cento têm relação com a indústria. Em contraste, no oeste dos Estados Unidos os maiores responsáveis são o “fugitive dust”, os veículos motores e a “wood smoke”, e no leste norte-americano a combustão estacionária e “fugitive dust” são as principais fontes;

• Perfis de exposição: uma estimativa de exposição é provavelmente uma das maiores deficiências nos estudos da relação entre material particulado e mortalidade, e pode ser um importante problema para a generalização dos resultados. Nas análises de séries temporais de mortalidade e material particulado, se pudermos assumir uma consistência dia-a-dia com relação a padrões de atividade individuais e fontes internas (casa, ambientes fechados), podendo assim adequar para uma exposição diária individual. Podemos, nesse caso, ter regressões com inclinações semelhantes. Apesar disso, a classificação inadequada da exposição se mantém presente, podendo então modificar a forma da relação dose–resposta, principalmente nos momentos em que existe baixa concentração de material particulado;

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• Características da população: existem diversas diferenças entre as populações norte-americanas e as latino-americanas, dentre as quais podemos citar a sua estrutura etária, o padrão das morbidades, a prevalência e co-fatores de doenças, além do acesso e quantidade de tratamento médico e estilo de vida da população em geral. As populações latino-americanas tendem a ser mais jovens, com altas taxas de mortalidade. No Brasil, Chile e México, a população de crianças com menos de 5 anos de idade é algo em torno de 12 por cento, enquanto na população norte-americana é de somente 7 por cento, tendo a base da pirâmide etária mais estreita e o topo mais largo.

Para Romieu e Borja-Aburto (1997), na generalização dos resultados de estudos de função dose–resposta norte-americanos para a América Latina, o maior problema é a extrapolação dessa função. Existe a possibilidade de se assumir inclinações semelhantes em locais diferentes, onde as condições climáticas e atmosféricas variam, e conseqüentemente a mistura da poluição do ar é diferente? Segundo esses autores, para que sejam comparadas relações de dose–resposta de material particulado entre Estados Unidos e países latino-americanos precisamos de uma nova geração de estudos epidemiológicos. Esses estudos devem focalizar os indivíduos mais suscetíveis e incluir melhores entendimentos dos eventos em torno da morte para que seja determinado um nível apropriado de exposição para cada indivíduo. A avaliação da exposição deve focalizar as partículas finais e outros poluentes, e também em variáveis climáticas, para se ter controle da interação do modelo. Romieu e Borja-Aburto (1997) concluem o artigo afirmando que apesar das inúmeras incertezas sobre as verdadeiras relações dose–resposta de material particulado e mortalidade não se deve, por isso, impedir que se implementem medidas de controle, em particular porque a verdadeira associação é provavelmente mais forte do que a observada nos estudos epidemiológicos. Estudo realizado por Braga et al. (2002) analisou os processos que geram a poluição do ar e seus efeitos à saúde. No artigo, os autores fazem uma descrição dos efeitos de diversos poluentes atmosféricos. O material particulado atinge as vias aéreas inferiores por ser uma partícula inalável, e não pela sua composição química. É um poluente com capacidade de transportar gases adsorvidos até as porções mais distantes das vias, onde são efetuadas as trocas de gases no pulmão. Os mecanismos de defesa próprios dos organismos são o espirro, a tosse e o aparelho muco-ciliar. Constatou-se, durante o estudo, que 50 por cento do material particulado existente nas casas provém do ambiente externo, sendo o restante proveniente do fumo, do fogão e do gás. O ozônio é um potente oxidante e bactericida, capaz de provocar lesões nas células e, tal como o material particulado, também nas porções mais distantes das vias aéreas. Estudos de exposição em seres humanos apresentaram três respostas pulmonares: tosse, dor retroesteral à inspiração e decréscimo da capacidade ventilatória forçada. O dióxido de enxofre é mais freqüentemente associado a mortes totais e internações por doenças cardiovasculares (FREITAS, 2003), sendo absorvido pelas regiões mais distantes do pulmão quando ocorre aumento da sua ventilação. Sua eliminação se dá pela expiração e pela urina. Já os aerossóis ácidos causam irritação no trato respiratório. O monóxido de carbono tem como sua principal fonte o trânsito urbano, pois é o automóvel que mais emite o poluente. Observou-se que pessoas saudáveis e não fumantes residentes em áreas com altos índices de CO apresentam aumento de até 100 por cento nos níveis de carboxi-hemoglobina quando comparadas com pessoas saudáveis e não fumantes que não estão expostas a altos índices de CO. É comumente

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associado a intoxicações, direcionando seus efeitos principalmente sobre o coração (FREITAS, 2003). E, finalmente, os óxidos de nitrogênio, quando inalados, atingem as porções mais periféricas do pulmão graças à sua baixa solubilidade, e seu efeito tóxico tem relação com o fato de ser um agente oxidante. Os autores realizaram revisão de estudos epidemiológicos efetuados em vários centros urbanos, e também análise de cruzamento entre as medidas de qualidade do ar da Cetesb e os dados de saúde da cidade de São Paulo para mais ou menos vinte anos, e chegaram a resultados que só reforçam a idéia de que é preciso ir além das medidas de qualidade do ar caso se deseje preservar a saúde humana. Eis algumas das conclusões:

• As concentrações de poluentes dos grandes centros urbanos provocam afecções agudas e crônicas no trato respiratório, mesmo quando as concentrações estão abaixo do padrão de qualidade do ar;

• A poluição do ar em São Paulo induz a mutações no DNA, favorecendo assim o surgimento de tumores pulmonares em humanos e animais;

• Nos períodos de inversão térmica por ocorrer o acúmulo de poluentes, ocorre aumento de morbidade e mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares, exibindo um lag no caso de doenças respiratórias;

• PM10 e o PM2,5 são os dois poluentes mais associados aos danos à saúde, e freqüentemente são associados aos casos de mortalidade por doenças cardiovasculares.

Miraglia (1997) apresentou em sua dissertação de mestrado o impacto do sistema de transportes na saúde da população do município de São Paulo. Verificou a associação existente entre consumo de combustíveis (etanol, gasolina e diesel) com a mortalidade por doenças respiratórias em idosos. A autora fez uso de um modelo de análise estatística com dados de mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares, consumo de combustíveis e emissão de poluentes (PM10, CO,SO2, O3), além de variáveis climáticas. O modelo de análise estatística utilizado possuía técnicas de regressão linear e distribuição de Poisson, sendo a mortalidade variável dependente, e as emissões e as variáveis climáticas variáveis dependentes. O período de análise compreende os anos de 1991 a 1994. São consideradas pessoas idosas, os indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos. Foram utilizadas como variáveis de mortalidade, o número total de mortes diárias, o número de mortes por doenças respiratórias, o número de mortes por doenças cardiovasculares e o número total de mortes por doenças não-respiratórias. Como variáveis de poluentes foram utilizadas as concentrações diárias da emissão de PM10, CO,SO2 e O3. Como variáveis de consumo foram utilizados dados de consumo mensal de gasolina, álcool, diesel, dos combustíveis fósseis, o total de todos os combustíveis e a razão do consumo de etanol e combustíveis fósseis. E, por fim, as variáveis climáticas utilizadas foram a temperatura e a umidade relativa do ar. Através da realização da analise da correlação existente entre os dados de combustíveis e de poluentes com os dados de mortalidade por doenças cardiovasculares mostrou-se a necessidade de se considerar a existência de defasagem nessa correlação, utilizando então lag para representá-la. Sua representação foi feita através de médias móveis. A sazonalidade também foi inserida no modelo, pelo fato de em São Paulo a dispersão dos poluentes ser menor no inverno. Sua inserção foi feita por variáveis dummy

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para meses, dia da semana, temperatura e umidade. A mesma metodologia foi usada para as doenças cardiovasculares. O modelo utilizado verificou existência de associação entre mortalidade por doenças respiratórias com fatores climáticos, sazonais, níveis de poluição e consumo de combustíveis. E o mesmo ocorreu com os dados de mortalidade por doenças cardiovasculares. O PM10 foi o poluente que apresentou mais associação com esse efeito adverso nas doenças respiratórias, mas não nas cardiovasculares. Com relação aos combustíveis, a análise não apresentou nenhuma associação estatística significativa quando relacionados com a mortalidade. Mas pelo fato de ter sido observada associação entre o consumo de combustíveis e a emissão de PM10, Miraglia concluiu que, apesar de não existir uma associação direta, existe sim uma indireta. No final da sua dissertação, a autora propõe medidas mitigadoras desses efeitos, tais como a priorização do transporte coletivo em vez do individual, restrições no tráfego conjuntamente com o uso de tecnologias veiculares e combustíveis alternativos. Dando continuidade ao seu estudo, Miraglia em sua tese de doutorado (2002) avaliou o impacto da poluição do ar sobre a população do município de São Paulo utilizando uma metodologia que calcula os anos perdidos e os anos vividos com incapacidades. A metodologia, conhecida pelo nome de Método Daly (Disability Adjusted Life Years) foi desenvolvida pelo Banco Mundial (KLEINMAN, 1997), e calcula uma única medida de saúde composta por duas componentes. A primeira diz respeito aos anos perdidos por morte prematura (YLL), e a segunda diz respeito ao tempo vivido em uma condição diferente da saúde perfeita (YLD). Segundo a autora, tem a vantagem de ser um indicador padrão não sofrendo problemas de conversão de moedas e base temporal, produzindo uma medida de saúde em termos de anos de vida. Seu objetivo principal era o cálculo do ônus, no entanto, também verificou os efeitos que a poluição do ar tem na expectativa de vida da população ali residente, num universo compreendido por crianças e idosos. Em crianças foram analisadas somente a morbidade e a mortalidade por doenças respiratórias, enquanto em idosos se analisou a morbidade e a mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares. Para a valoração, Miraglia (2002) utilizou o método dos gastos defensivos e função dose–resposta para mensurar o número de eventos associados à poluição em cada estudo epidemiológico realizado em São Paulo e estimar os custos em termos de despesas de saúde e valor das vidas perdidas. Para o cálculo, utilizou dados de custos unitários das internações e o valor da vida (VVE) obtido através da análise de diversas abordagens. Concluiu, assim, que o ônus da população do município, segundo o método Daly, é de 28.212 anos de vida perdidos e vividos com incapacidade. Vale ressaltar que no cálculo foram levados em consideração somente os dois grupos mais suscetíveis, as crianças e os idosos. Em crianças, o custo da morbidade e da mortalidade por efeito da poluição atmosférica é de 12.266 anos de vida, e nos idosos, de 15.946. Enquanto em crianças somente 39% do valor representa a morte prematura, em idosos a variável é responsável por 60 por cento dos anos de vida calculados, enfatizando que o valor obtido é subestimado pois não compreende todos os efeitos adversos à saúde e não compreende todas as faixas etárias. Azevedo et al. (1999) analisaram em seu artigo a importância e a correlação existente entre variáveis climáticas e os poluentes atmosféricos e a incidência de doenças respiratórias em crianças atendidas entre janeiro e julho de 1998 na Emergência do Departamento de Pediatria do HPEV – Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, na cidade de Sâo Paulo. Para esses autores, uma substância é considerada poluente quando pode tornar o ar impróprio, nocivo e prejudicial para a saúde das pessoas, inconveniente para a saúde pública. No artigo foi feito um estudo retrospectivo do número de crianças com no máximo 5 anos de idade que foram avaliadas no departamento entre

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janeiro e junho de 1998. Esses meses, em particular, foram escolhidos porque entre janeiro e abril a dispersão dos poluentes é atingida mais facilmente do que no período de maio e junho. Foram utilizados dados de diários de morbidade por doenças respiratórias agrupados mês a mês, as quantidades diárias de PM, NO2, CO, SO2, bem como a temperatura máxima e mínima diária, e a mínima e a máxima umidade do ar. Os autores optaram por utilizar métodos estatísticos univariados para a análise dos dados. Foram, então, utilizados o coeficiente de correlação de Pearson, regressão linear simples e regressão linear múltipla. A análise dos coeficientes de correlação e da regressão linear simples demonstrou que a variável mês possuía alta correlação com o número de atendimentos. Isso evidencia a existência de sazonalidade. O monóxido de carbono e as variáveis de umidade não apresentaram correlação significativa, enquanto o dióxido de enxofre e o material particulado mostraram significantes correlações. As variáveis de temperatura evidenciaram uma correlação inversa com o número de atendimentos, ou seja, quanto maior a temperatura menos atendimentos seriam efetuados. O próximo passo foi a realização da análise de regressão múltipla linear, pois ela permite a confirmação da presença de variáveis associadas entre si, além de ter a capacidade de explicação da variação de atendimentos diários. Nessa modelagem alternativa não seria incluída a variável mês por se supor que ela talvez estivesse criando um efeito confusão. O resultado dessa segunda análise mostrou como variável mais importante a temperatura mínima, apresentando correlação inversa, e a de material particulado com correlação direta. Na primeira modelagem a variável mês foi a mais importante. Os resultados obtidos no artigo mostraram notável aumento no número de atendimentos a crianças durante os meses de maio e junho, que no nosso país são os meses de inverno, meses esses nos quais existe dificuldade de dispersão dos poluentes. Ao se retirar a variação sazonal do modelo, a regressão linear múltipla mostrou que os aumentos nos atendimentos a crianças com problemas respiratórios ocorriam por causa de quedas na temperatura e pela quantidade de material particulado. Os resultados só vêm reforçar a hipótese de que a temperatura e os níveis de material particulado têm influência direta nas incidências de doenças respiratórias em crianças. Azuaga (2000) apresentou em sua dissertação de mestrado uma análise da frota de veículos leves, utilizando para isso um índice de dano ambiental (IDA). A autora desenvolveu uma metodologia de cálculo que mensura índice de dano ambiental (IDA), baseado na análise do ciclo de vida. Em vez de tratar todo o ciclo de produção do veículo, Azuaga (2000) optou por tratar somente a fase de sua utilização, por considerar que, dentro de todo o processo, é a fase em que ocorre a parte mais significativa dos impactos composta na análise. Também em sua dissertação foi realizada uma análise sobre o custo evitado de danos ambientais e à saúde, calculando o quanto se poderia economizar com a redução dos gastos com saúde, com manutenção de construções e perdas na agricultura, entre outros. A dissertação faz uma estimativa do tamanho da frota de veículos leves para o ano de 1998, das emissões médias de poluentes (CO, NOX, HC) e a sua quilometragem média. Aborda também aspectos relativos aos impactos ambientais e à saúde humana, e à transferência de custos de danos. Para essa análise, Azuaga (2000) considera quatro cenários, aqui descritos brevemente:

• Mantendo-se a frota de 1998, até mesmo na sua composição; • Mantendo-se a frota de 1998, sendo sua composição modificada. Nesse cenário,

100 por cento da frota seria de veículos mais energéticos e com menores fatores de emissão;

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• Frota projetada para 2020 segundo hipótese de tendências prováveis; • Frota projetada para 2020 seguindo uma hipótese otimista, pela qual se estariam

usando tecnologias mais eficientes nos veículos.

Azuaga (2000) concluiu que, caso se mantenham as tendências atuais, teremos no ano de 2020 aumento dos danos ambientais e à saúde de aproximadamente 70 por cento, caso aperfeiçoamentos tecnológicos não sejam inseridos no mercado, teremos a manutenção dos custos atuais. Com relação aos custos dos combustíveis, no cenário onde as tendências atuais são mantidas, teríamos um aumento dos custos da ordem de 100 por cento, provocado pela motorização. Quando comparado o cenário que introduz tecnologias novas com o que mantém as tendências, temos uma redução de 44 por cento nos custos. O estudo evidenciou a grande importância do planejamento de políticas integradas que objetivem a melhoria de qualidade de vida dos brasileiros, através do controle do setor de transporte individual, reduzindo assim o risco ambiental e à saúde humana. No seminário Transporte e qualidade do ar na construção do município saudável, Correia (2001) versou sobre problemas e dificuldades encontradas nas pesquisas e experimentos realizados no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Segundo Correia (2001), a grande dificuldade enfrentada para a determinação dos efeitos da poluição atmosférica na saúde é oriunda do fato de existir covariáveis de difícil controle. Dentre elas podemos citar o fumo, tanto o ativo quanto o passivo, os ambientes de trabalho e a diversidade populacional. Na tentativa de contornar o problema, o Laboratório de Poluição realizou uma série de experimentos em que ratos e camundongos foram expostos por períodos prolongados (3 meses a 1 ano) à atmosfera do centro de São Paulo e comparados, numa segunda etapa, com outros ratos que haviam sido mantidos na zona rural de Atibaia (por possuir condições climáticas semelhantes às da cidade de São Paulo) pelo mesmo período de tempo. Os resultados mostraram que os ratos que permaneceram em São Paulo desenvolveram hiper-reatividade brônquica, além de apresentarem disfunção no aparelho muco-ciliar, tornando-os mais suscetíveis a doenças respiratórias. O uso de ferramentas estatísticas, como a análise de séries temporais, abriu portas para uma investigação mais detalhada dos efeitos da poluição atmosférica no homem. Utilizando essa ferramenta foram observados efeitos significativos entre a variável e a mortalidade infantil, sendo esta dominada pelas doenças respiratórias. Outra constatação importante foi a da não existência de um nível de segurança para os poluentes, um nível seguro de poluição, abaixo do qual não se tenham efeitos sobre o ser humano. Os índices de qualidade do ar preservam sim, de certa maneira, a saúde, mas somente da média da população. Uma crítica que se faz a esses tipos de estudos é que existe um período muito estreito com relação ao tempo percorrido entre a variação de poluição e o aumento na mortalidade: pode estar sendo capturada apenas uma colheita de indivíduos suscetíveis. Além dos estudos mencionados, também foi realizado um em que se analisou a existência ou não de impactos negativos nas gestantes, causados pela poluição atmosférica. Os resultados indicaram que o aumento na mortalidade intra-uterina está, de certa forma, associado com aumentos de concentrações de dióxido de nitrogênio e de monóxido de carbono. Somente como efeito de comparação, Correia (2001) mencionou o estudo realizado em seis cidades norte-americanas durante 16 anos. No estudo foram monitoradas mil pessoas com o objetivo de se estudar o risco relativo de morrer antes,

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por viver em uma cidade poluída. A conclusão principal do estudo foi que quanto mais poluída é a cidade, maior é o risco de a pessoa ter sua vida abreviada. Segundo o autor, os resultados obtidos pelo laboratório não são únicos, e só confirmam resultados obtidos por outros grupos de pesquisa. O estudo realizado por Freitas et al. (2003) propõe o uso de um sistema que acople as informações produzidas pelos órgãos de controle ambiental às informações de saúde e utilize técnicas de análise que expliquem a relação entre poluentes e morbi-mortalidade. A criação do sistema tem como objetivo fornecer elementos e respaldar a determinação de políticas públicas nacionais, otimizando a vigilância da qualidade do ar, e a observação da tendência dos indicadores sanitários. O sistema proposto por Freitas et al. (2003) funcionaria da maneira descrita na Figura 1.

O estabelecimento da vigilância seria efetuado segundo a análise de dados diários de internações hospitalares e mortes por ocorrências mórbidas dos grupos etários de maior risco (morte: maiores de 65 anos; internações por doença respiratória em crianças: menores de 15 anos), de 1993 a 1997, no município de São Paulo. Usou-se a distribuição de Poisson a partir do modelos generalizados aditivos e lineares. Como ambos os modelos apresentaram resultados muito semelhantes, optou-se por utilizar o modelo linear generalizado, aqui descrito:

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Antes da construção da versão final do modelo foram também modeladas as variações temporais (tendência secular, variações sazonais e diárias), controle das variações ocasionadas por deficiências do próprio sistema de saúde (greves, dificuldades de acesso), modelagem da temperatura e umidade, supondo que elas possuam alguma relação com as ocorrências mórbidas. O modelo foi ajustado através da análise dos resíduos totais e de temperatura e a autocorrelação parcial residual. Depois dessa análise, o modelo foi construído como descrito no Quadro 1.

Foram calculadas as estimativas de risco relativo (RR) e o intervalo de confiança de 95 por cento (IC), e em posse desses valores foi obtida a estimativa de acréscimo e a extrapolação da estatística para a população estudada. As formulações matemáticas necessárias para a obtenção dos resultados são aqui apresentadas:

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onde N é o numero médio de internações por doenças respiratórias, ou morte em idosos. Freitas (2003) concluiu que o material particulado demonstrou ser um bom indicador dos efeitos a curto prazo na saúde. Detectou-se, durante o estudo, que aproximadamente 10 por cento das internações por doenças respiratórias em crianças e 9 por cento das mortes em idosos tem íntima relação com as concentrações atmosféricas de material particulado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esses são somente alguns entre muitos outros estudos que procuraram analisar os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. Existe também, além dos estudos apresentados, uma outra gama de estudos que utilizam plantas na análise dos efeitos da poluição do ar. Tais plantas são consideradas bioindicadores. No entanto, optou-se por não se apresentá-los dentro da presente revisão, visto que não estão enquadrados no escopo do trabalho de doutorado da autora. É importante enfatizar que tais estudos são somente uma pequena parcela dos estudos realizados na temática, e que uma profunda e contínua análise é o primeiro passo para escolha do melhor caminho a seguir. No caso desta autora, o caminho a ser seguido para o estabelecimento da relação entre morbidade por doenças respiratórias de crianças e idosos da cidade e Região Metropolitana de São Paulo será o uso do Modelo Aditivo Generalizado, seguindo uma distribuição de Poisson. Os resultados de tal análise estarão dispostos em um futuro artigo.

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NOTAS 1 O presente texto é fruto da Tese de Doutorado Custos da Poluição dos Transportes na Saúde Pública da Região Metropolitana de São Paulo, desenvolvida no Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, Nipe/FEM/Unicamp. 2 As fontes estacionárias podem ser classificadas como pontuais ou de área. O que diferencia uma da outra é o fato de a primeira produzir emissões de alta magnitude (em geral complexos industriais são fontes estacionárias pontuais), enquanto a segunda é um conjunto de emissões individuais. Podemos classificar a poluição das chaminés de casas como emissões de baixa magnitude, tendo, portanto, que analisá-la numa área. 3 Fontes que estão em constante movimento, circulando em estradas (automóveis, caminhões, ônibus e motos) ou fora delas (aviões, trens, navios). 4 A reação do motor que segue o ciclo Otto se dá por centelha, enquanto o que segue o ciclo Diesel se dá pela compressão do combustível dentro dos cilindros. Veículos movidos a gasolina, álcool e gás natural seguem o ciclo Otto. 5 Cerca de 91 por cento dos veículos licenciados (seguindo o ciclo Otto) na cidade de São Paulo, em 2005, eram automóveis. E cerca de 62 por cento da frota de automóveis utiliza gasolina como combustível ao longo de todo o ano. 6 Aproximadamente de 32 anos no caso do uso do etanol como fonte de hidrogênio, e 46 no caso do uso da energia hidráulica. 7 20 anos, em média. 8 PROCONVE – Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, criado em 1980, com a função de determinar limites de emissão de gases poluentes.

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Artigo recebido em 09.11.2006. Aprovado em 10.02.2007.

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ESTIMATES OF ATMOSPHERIC POLLUTION EFFECTS ON HUMAN HEALTH: METHODOLOGICAL AND THEORETICAL POSSIBILITIES FOR SÃO PAULO CITY

Gheisa Roberta Telles Esteves¹;Sônia Regina da Cal Seixas Barbosa², Ennio Peres da Silva³, Paula Duarte

Araújo4

¹Economist, Master in Electrical Engineering and doctoral student in the Energy Systems Planning Program – Nipe/FEM/Unicamp; ² Doctor of Social Sciences; researcher of the Nucleus of Studies and Environmental

Research (NEPAM)/UNICAMP; fulltime professor on the Environment and Society doctoral course, NEPAM/IFCH/UNICAMP; participating professor on the Energy Systems Planning Program,

NIPE/FEM/UNICAMP; tutor of the present doctoral thesis.; ³Doctor in Energy Systems Planning; Coordinator of the Hydrogen Laboratory/Physics Institute/UNICAMP and co-tutor of the present doctoral thesis

4Mechanical Engineer, Master in Energy Systems Planning Program, NIPE/FEM/Unicamp, Doctoral student on the same program.

ABSTRACT

The article aims to analyze the theoretical and methodological issues arising from the effects of atmospheric pollutants on life quality and on human health, in particular. The great flow of vehicles in São Paulo city generates not just an increase in the emission of pollutants (which has a negative effect on human health), but also traffic jams and slow traffic (causing stress in people) and an increase in automobile accidents. Mitigation of the effects of atmospheric pollution on human health could be obtained through the gradual introduction of a new fleet of clean vehicles in the city, but also by educating the population to use public transportation more. In this article, the author briefly analyzes and describes the studies that have been carried out on the theme, as well as the methods used and the conclusions reached by them. Using a review of literature, the author indicates the next steps in her study on the atmospheric pollution effects on the health of the population in the city of São Paulo city and the metropolitan area. Key words: Atmospheric Pollution, Human Health, Costs to Health

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INTRODUCTION

We are living in a time that is unique in the history of humanity, with the rise of an environmental conscience. Until now man has believed that energy sources, or rather, natural resources were inexhaustible and could be consumed indiscriminately, without worrying about any possible scarcity problem. However, at the end of the XXth century it became evident to humanity that the current development model, because of its predatory nature and irrational use of natural resources, was exhausted. This model has also been questioned because of its perversity from the social point of view, because it is an extremely unfair system, where power is concentrated in the hands of few people; it even creates cultural alienation because of its harmful effects on nature and on humans themselves. It is extremely important, therefore, that we begin proposing solutions for the various economic, social and environmental problems caused by the capitalist development model (GUIMARÃES, 1998). The transformation arising from these proposals will probably demand that man be capable of establishing a new relationship with nature, by substituting the current one - dominator-dominated- for a concern with maintaining or improving the quality of life of future generations, by seeking a more balanced and equitable approach (BARTHOLO JR., 2001).

One of the several problems caused by the capitalist development model is

atmospheric pollution, a problem that is becoming increasingly more apparent in our major urban centers. At the beginning of the capitalist era, during the industrial revolution, a major part (if not all) of the atmospheric pollution came from industries, and this was classified as stationery sources1. However, the appearance of the internal combustion engine gave rise to a mobile source2 that over the decades would become the object of desire of human beings: the automobile. Today we have a situation where the biggest generators of atmospheric pollution in our major centers are the mobile sources traveling up and down our highways. In the case of the city of São Paulo it is known that 90% of the emission of pollutants comes from mobile sources. In this articles we shall use the term ‘mobile sources’ to indicate the means of transport that circulates in the city: light passenger and light commercial vehicles and heavy vehicles.

Some of the factors that give rise to these alarming indices are fundamental: the lack of encouragement to use public transport and its poor quality; a highly concentrated fleet that is also growing rapidly and continually (currently in São Paulo, there is one vehicle for every two inhabitants, [ARAÚJO, 2003]), and its preponderance as a means of locomotion. Society encourages the use of private individual transport in detriment to public transport. These factors end up contributing to the deterioration of the air quality in those places where the emissions originate, as well as in others that are more distant, because of the mobility of this fleet and the incidence of atmospheric currents. We also need to consider the low quality of fuel used in the vehicles and the large number of old vehicles in the total fleet that is circulating in the city.

1 Stationery sources may be classified as occasional, or from a particular area. What differentiates one from the other is the fact that the first produces high magnitude emissions (in general complex industries are occasional stationery sources), while the second is a set of individual emissions. We can classify the pollution from house chimneys as low magnitude emissions and therefore we have to analyze it in a particular area. 2 Sources that are in constant movement, circulating on highways (automobiles, trucks, buses and motorcycles) or off them (planes, trains and boats).

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The overwhelming majority of old vehicles have no regular or suitable maintenance, which makes them pollute even more. We must also mention that a vehicle in a new fleet, where criteria are more strict as far as the emission of pollutants goes, and that has more advanced technology, if it is not regularly and properly serviced is going to pollute as much as a vehicle in an old fleet. It is, therefore, obvious that in addition to looking for more advanced technologies that lead to reduced emission of pollutant gases we also need to make the population aware of how necessary periodic preventive maintenance of their vehicles is. The increase in the use of automobiles has two separate strands: the first has to do with the status quo that comes from owning and using private vehicles, which is seen as much in the upper and middle classes, as it is in the underprivileged members of the population.

On the other hand, we observe the widespread use of people carriers and ‘public’ taxis [carrying 4 or 5 passengers, but collected separately, like buses], stimulated by the inefficiency and poor quality of public transport. This uncontrolled increase in the use of automobiles has serious urban, economic and environmental consequences. In the world today we have vehicles with two types of engine cycle: the Otto3 cycle and the Diesel cycle. In this article we are only going to deal with pollutants emitted by vehicles powered by the Otto cycle, which are carbon monoxide, hydrocarbonates, nitrogen oxides and aldehydes. In particular, the vehicle fleet powered by gasoline, which corresponds to the majority of the vehicles circulating in São Paulo4, also emits particulate material and sulfur oxides.

The long term solutions for the problem of the emission of pollutant gases from mobile sources has necessarily to involve improvements in the quality of the commercial fuels currently used and the search for alternative sources of energy. Because it is one of the main emission factors (along with engine technology) it is of utmost importance that research is carried out into new combustion technologies and devices that will control these emissions, as well as looking for clean fuels. Making feasible the use of alternative fuels will make it possible to exchange traditional internal combustions engines for electric vehicles powered by combustible cells, also known as clean vehicles. Combustible cells can transform hydrogen into electrical power via a clean process, i.e. there is no burning of fuel during the power conversion process.

The introduction of vehicles that use hydrogen as a fuel will cause changes in the economic equation of the world’s energy sector and could be the first step towards a more sustainable environment. The argument against adopting this technology lies not so much in the availability, or otherwise of the fuel, but in spreading the production technology for making this type of automobile and making it cheaper. A case study carried out by Esteves et al (2004) on the introduction of a new fleet of vehicles powered by combustible cells in São Paulo that the necessary amount of fuel is available (obtained from renewable sources; ethanol and hydraulic power), for producing the amount of hydrogen needed to keep this new fleet circulating and that fuel costs would be considerably cheaper than those it currently has using gasoline powered automobiles. What makes this project unfeasible is precisely the lack of publicity about the production process for hydrogen-powered vehicles, because it was seen in the study that the investment pay-back time5 for 3 The reaction of the Otto cycle engine starts with a spark, whicl the Diesel cycle happens by the fuel being compressed within the cylinders. Gasoline, alcohol and natural gas-powered vehicles use the Otto cycle. 4 91% of licensed vehicles (following the Ottto cycle) in São Paulo, in 2005, were automobiles. And nearly 62% of the automobile fleet uses gasoline as a fuel throughout the whole year. 5 Approximately 32 years inthe case of the use of ethanol as a source of hydrogen, ad 46 in the case of the

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vehicles with this differential (a vehicle with zero emissions) is far greater than the useful life of the vehicle itself 6 (ESTEVES et al, 2004). The incentive for using mass transport, like buses, the subway and bicycles would be a good alternative to the problem. But there is a major hurdle to be overcome by part of the population with regard to the use of bicycles as a means of transport. In their vast majority the cycles-ways in our major urban centers are only being used for leisure purposes or physical exercise. Therefore, making the population aware of the possibility of using the bicycle as a basic means of alternative transport for covering short distances would also be a good alternative.

Despite the fact that the vehicles produced today fall within the norms established by the regulatory bodies7, we need to develop vehicles that are less pollutant, given that the effects of the emission of the gases produced by these vehicles cause considerable damage to human health. Araújo (2003) showed the importance of adopting hew technologies, in this case the use in São Paulo of light vehicles powered by hydrogen fuel cells, in order to reduce the emission of pollutants in the city. The author puts forward two scenarios for introducing these vehicles: the first, where they would follow the same indices proposed for Los Angeles, California and the other, where the percentage of this fleet was closer to the Brazilian economic reality. From her work it is quite clear that there exists a lag between the adoption of measures and their effects, given that the effects of the technologies introduced in internal combustion vehicles (catalyzers – introduced between 1992 and 1996), and the mixture of alcohol with gasoline (introduced in 1980 according to CETESB), will still be felt in the year 2020.

A further step in reducing these harmful effects would therefore be the establishment of stricter gas emission norms, forcing the automobile industry to research into and use less pollutant technologies and make them cheaper, in order to be able to sell them in the market at competitive prices. Based on the above the aim of this article is to deal with the theoretical issues of the effects that Sao Paulo’s atmospheric pollution has on the population that lives there. The article will look more deeply into the methodologies available in literature in order to quantify the harmful effects of atmospheric pollution on health, by briefly presenting the theories and the background of studies that have been carried out by academics, using both the studies themselves and their results. 2. A brief overview of the methodologies used for evaluating the costs to health Over recent years international health and social development specialists have been creating new ways of configuring the human misery that results from the increase in the number of cases of chronic disease and incapacity. These specialists have constructed new ways of measuring suffering from chronic disease (morbidity). The Daly method is an example of this type of approach. Despite that fact that the effort for developing an objective indicator that helps when it comes to choosing how to allocate scarce resources between policies and programs is praiseworthy, the limits and dangers of configuring social suffering as an economic

use of hydraulic energy. 6 20 years, on average. 7 PROCONVE – Air Pollution Control Progrtam for Automotive Vehicles, created in 1980, with the purpose of determining pollutant gas emission limits.

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indicator is questioned. A good alternative for avoiding economic indices becoming the only parameters authorized for constructing policies and programs would be to use these indices in association with social stories that touch on the human side of suffering (KLEINMAN, 1997). The human health costs of environmental pollution can be calculated using the following approaches. 2.1. Defensive Spending Method

The main characteristic of this methodology is the fact that it measures only the

direct income loss. An example illustrating this would be the salaries lost as a result of

days absent from work or premature death and the additional spending incurred.

The biggest criticism is with regard to the possibility of estimating the expenditure in

recovery, while forgetting the importance of calculating the amounts relative to choice and

resistance. There are various ways of calculating this measure, all of them coming from

classic economic theory. Among them we can mention the following approaches:

Human capital: this uses the level of individual output to indicate the

potential production that has been lost. It is based on the hypothesis that

people demand the maximum salary they can obtain, given their capabilities.

Salaries are only used as a measure of the loss of social production

(MCCRONE, 1998).

Cost of illness: this focuses on morbidity and its assumptions are also

based on the theory of human capital. It treats morbidity costs as resulting

from the medical expenses incurred in treating disease and the salary loss for

the days when the individual is affected by it.

Preventive expenses: this tries to infer the amount that people are prepared

to pay so that health risks are reduced.

Salary differential: this uses the differences existing between the salary

rates for measuring the compensation that people need due to the

differences that exist in their chances of getting sick or dying.

2.2. Contingent Valuation Method The idea behind this method is to measure the compensation necessary so that a very

high personal risk is accepted when compared with the salary rate for work where there are threats and those where there are not. For this analysis the method makes use of research (questionnaires), or the evaluation of market data, to determine how much individuals are prepared to pay to reduce the probability of their premature death by disease. This type of analysis has a very large bias, because depending on the person’s situation and which stratum in society (social class) they come from their response

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patterns will be different. The questionnaire is the most transparent means of obtaining these preferences, but formulation of the questions plays a decisive role in this. Assessment of market data, on the other hand, shows us the real world, instead of a hypothetical situation (questionnaire) (ZWEIFEL, 1997).

The two approaches presented above are full of uncertainties and controversies because they are based on economic theory (which in itself is full of hypotheses and assumptions) and on the results (evidence) obtained from epidemiological studies.

2.3. An alternative approach – Daly method The Daly method is a measure of the suffering produced by specific diseases, which

combines the impact of premature deaths and the disabilities resulting from these diseases. The age at which the disease was contracted, the number of years life expectancy lost (the relative value of these years) and the years compromised because of the limitation are all taken into consideration (KLEINMAN, 1997). In other words, the basic characteristic of this alternative technique is its capacity to calculate onus indicators that are independent of the currency unit used in the country being studied, producing an indicator that is measured in years of life. Because of this it can be considered to be a standard indicator. This indicator comprises two components, one representing the years of life lost (YLL) and the other the years of life lived with a disability (YLD).

The years of life lost and the years of life lived with a disability are calculated in accordance with the mathematical equations set out below:

where

r : discount rate

K : age-weighting factor

C : constant

a : age at death

L : standard life expectancy at age a

β : age-weighting parameter function

( )( )( ) ( )( )[ ] ( ) ( )[ ][ ] ( )

⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

−−

+−+−−−++−+

= +−++− LraβraLβr2

ra

S e1rK11aβre1aLβre

βrKCeDYLD (2.4)

where r : discount rate

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K : age-weighting factor C : constant a : age at disability L : duration of disability β : age-weighting parameter function D : disability weighting 3. Effects of atmospheric pollution on human health

Atmospheric pollution enormously degrades the quality of life of the population,

causing a series of respiratory, cardiovascular and neoplasia diseases. We must point out

that these three categories of morbidity comprise the main causes of death in the major

urban centers (BARBOSA, 1990). In addition to this they also cause a reduction in the

individual’s immunological system, making him of her more susceptible to acute infections.

Those most affected by poor air quality are children, the elderly and people with

respiratory problems (bronchitis, asthma and allergies). It is worth mentioning that 15% of

the total population of the municipality of São Paulo is made up of children and the elderly,

the group most susceptible to the harmful effects of pollution (MIRAGLIA, 2002). In

children atmospheric pollution may result in significant school absences, a reduction in

peak flow rates and an increase in the use of medication in those who suffer from asthma.

In normal people, whether adults, children or the elderly, pollution causes changes in the

immunological system (MARTINS, 2002).

Determining the main pollutant that is responsible for causing health problems is a

complex task because of the difficulty in measuring all the pollutants in a city like São

Paulo.

Among the various consequences of the deterioration in the health of the population

living in cities whose characteristics are similar to those of São Paulo, is an increase in the

cost of attending people in the public health services, given that the high levels of air

pollution cause an increase in visits to emergency departments, basic health units and

hospitals, both in the city as well as in the Greater Metropolitan Region. In other words

medical consultations, hospital admissions and deaths increase, as do the consumption of

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medication and absences from school and work, and the practice of physical activities by

the affected population is also restricted.

Various studies have been carried out over the years, both in Brazil as well as

abroad, with the aim of showing the association that exists between variations in the

volume of atmospheric pollutants and the increase in the incidence of respiratory and

cardiovascular diseases. We shall deal with these studies in this item.

In his dissertation Martins (2002) carried out an investigation into the effects of

atmospheric pollution on morbidity, caused by influenza and pneumonia in the elderly

(people of 65 or more) in São Paulo. It is known that these services represent 6% of all the

health services supplied to the elderly. In carrying out the study the following data were

used:

Daily number of cases of pneumonia and influenza dealt with by the emergency

department of a hospital that is a point of reference in the city;

Daily levels of CO, O3, SO2, NO2, PM10;

Average temperature;

Relative humidity of the air.

The data used included the period from May 1, 1996 until September 30, 1998,

which makes it a time-series analysis study. The data listed were used to establish the

relationships that exist between pneumonia and influenza and atmospheric pollution. The

methodology used was Poisson’s generalized additive regression model, where the daily

number of reported cases of pneumonia and influenza depended on daily average

pollution concentrations. Short and long duration seasonal adjustments were also carried

out in the model. The descriptive statistics for all the variables mentioned and the Pearson

correlation coefficient were calculated for pollution and the daily reported cases of

influenza and pneumonia. Poisson’s distribution was chosen because the number of cases

dealt with represents an event that can be counted. The author also used a control

variable; to obtain this she used the variables:

Days of the week, adjusted for short duration seasonality;

Number of days, adjusted for long duration seasonality;

Minimum average temperature and relative air humidity, adjusted for

meteorological variables,

Number of non-respiratory problem cases attended in the elderly

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Daily automobile ban period [Sao Paulo bans 20% of the automobiles from

circulating in the city during the rush hours of every working day throughout the year,

except for the school holiday periods – July and January)

The relationship between these variables and the control variable was established

using a generalized additive model with non-parametric smoothing functions, by removing

long duration basic seasonal patterns. The model’s parameters were chosen by

minimizing Akaike’s information. Moving averages for pollution were also tested to

determine the lag structure that exists between the increase in pollution and the effect on

the increase in the daily number of cases dealt with in hospitals. After the test period lags

of two days were determined for O3 and the average daily amount for all other pollutants. After defining the model the effects of the increase in pollution on the number of

reported cases was estimated. The author observed that all pollutants are interrelated,

except CO and O3. Particulate material (PM10) has the greatest relationship with the other

pollutants and the number of reported cases proved to have a fairly significant positive

relationship with CO, SO2 and PM10. She also saw that an increase in the level of SO2 to

15.05 3mμg would cause an increase of the order of 14.5% in the daily reported number

of cases of pneumonia and influenza in the elderly population. For O3, an increase to

38.80 3mμg would cause an increase of 8.07% in the reported number of cases.

In an article they wrote Cropper and Simon (1996) described some of the pitfalls that

commonly appear when trying to estimate the monetary value of the benefit associated

with a given reduction in pollution levels in developing countries. But they emphasis that,

despite the countless pitfalls existing in this calculation process, it is extremely necessary.

The authors describe some of the measures for quantifying the impact of pollution,

pointing out their possibilities and limitations. In the following paragraphs we shall describe

the aspects dealt with by these authors.

According to Cropper and Simon (1996), epidemiological studies are considered the

most appropriate way of measuring the impact of air pollution on mortality and morbidity

rates, because they are capable of capturing both the acute as well as the chronic effects.

They are cross-section studies of individuals monitored for at least 10 years, where the

concentrations of atmospheric pollutants and other risk factors are measured. Studies like

this are, however, unfeasible for the following reasons: the existence of a migratory flow

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that means that the number of people exposed to determined levels of pollution does not

represent reality and the difficulty of controlling the confusion factors.

Time-series studies that relate daily variations in air pollution to variations in daily mortality rates

avoid the problems mentioned above, but in the best cases they measure the effects of acute

exposure to air pollution on the mortality rate. For this reason, they generally overestimate the

years of life lost as a function of pollution.

As there is an absence of epidemiological studies in developing countries, they

proposed using dose-response functions from other countries. These projections must, at

the very least, be done for specific diseases. However, it appears not to make much sense

to the study authors to extrapolate the effect of air pollution on total mortality rates

obtained in the United States, if the causes of death differ enormously between there and

developing countries.

Two methods are used to determine the value of the reduction in the risk of disease;

compensatory salaries, where the value that compensates the salary differential in the

work market is inferred, and contingent valuation, where people are questioned about how

much they are prepared to pay to reduce their risk of dying. In developing countries

premature death is calculated using the estimates of the value of a statistical life for the

United States, and adjusted for the salary difference between the two countries, or by

calculating lost earnings. Criticism of this methodology lies in the fact that the willingness

to pay method provides a value of statistical life that exceeds that of the income lost as

people become more risk-averse. The authors conclude the article by stating that while no

advances are made towards supplying a value of statistical life for developing countries

the alternative for valuing it will be to use the income lost as a lower limit and projections of

the value of life from studies carried out in the United States as an upper limit for the value

of the changes in life expectancy.

Romieu and Borja-Aburto (1997), in a theme that is relatively close to the previous

one, although it has a different analytical focus, considered the generalization of the dose-

response relationship and the importance of attempting to use it at the public health level.

When epidemiological generalizations are made some of the relevant matters to be

considered in the relationship between particulate material and daily mortality are:

identification of the agents responsible for the association and biological mechanism, the

conditions of exposure to the agent and characterization of the susceptible groups. In the

generalization process of this relationship it is necessary to analyze the similarities and the

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differences between North American and Latin American countries from three different

angles:

Mixture of atmospheric pollutants: particulate material is a mixture of different sub-

classes of pollutants. Their size and chemical composition depend on atmospheric

composition formation mechanisms and climatic variables. There are variations in this

composition, both within, as well as between, major cities and between rural and urban

areas. In São Paulo, for example, 41% of all particulate material is related to mobile

sources, and 59% to industry. In contrast, in the western United Sates the main culprits

are fugitive dust, motorized vehicles and wood smoke, while in the Eastern States

stationery combustion and fugitive dust are the main sources;

Exposure profiles: exposure estimation is probably one of the greatest deficiencies

in studies of the relationship between particulate material and mortality and may be a

serious problem when it comes to results generalization. In time-series analyses of

mortality and particulate material, if we were able to assume day-to-day consistency with

regard to individual patterns of activity and entire sources (houses and closed

environments), we would therefore be able to adjust to a daily individual exposure. In this

case we could have regressions with similar inclinations. Despite this, there is still an

inappropriate classification and this may, therefore, modify the form of the dose-response

relationship, particularly in moments when there is a low concentration of particulate

material;

Population characteristics: there are various differences between the North

American and Latin American populations, among which we can mention their age

structure, their morbidity pattern, the prevalence of disease co-factors, as well as access

to and the amount of medical treatment available and the life style of the population, in

general. Latin American populations tend to be younger, with high mortality rates. In Brazil,

Chile and Mexico, the population of children under 5 is somewhere around 12%, while in

the North America population it is only 7%; the base of the age pyramid tends to be

narrower and the top wider.

For Romieu and Borja-Aburto (1997), in generalizing the results of North American

dose-response function studies for Latin America, the greatest problem lies in

extrapolating this function. Is it possible to assume similar inclinations in different locations,

where the climatic and atmospheric conditions vary and consequently the air pollution

mixture is different? According to Romieu and Borja-Aburto (1997), in order to be able to

compare the dose-response relationships of particulate material between the United

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States and Latin American countries we need a new generation of epidemiological studies.

These studies must focus on the most susceptible individuals and include a better

understanding of the events surrounding death, in order that an appropriate level of

exposure for each individual can be determined. Assessment of exposure must focus on

final particles and other pollutants and on climatic variables in order to have control over

the model’s interaction.

Romieu and Borja-Aburto (1997) conclude the article by stating that despite the

countless uncertainties about the true dose-response relationship between particulate

material and mortality we should not prevent control measures being implemented

because of this, in particular because the true association is probably stronger than the

one observed in epidemiological studies.

A study by Braga et al (2002) analyzed the processes that generate air pollution and

its effects on health. In the article the authors describe the effects of various atmospheric

pollutants. According to Braga et al, particulate material reaches the lower airways

because it is an inhalable particle and not because of its chemical composition. It is a

pollutant that is capable of transporting absorbed gases to the most distant areas in the

airways, where the exchange of gases in the lungs occurs. The organism’s defense

mechanisms are sneezing, coughing and the mucociliar apparatus. During the study it was

seen that 50% of the particulate material existing in houses comes from the outside

environment, with the rest coming from smoking, cooking stoves and gas.

Ozone is a powerful oxidant and bactericide, capable of causing lesions in the cells and, just like

particulate material, also in the most distant areas of the airways. Studies of exposure in human

beings show there are three pulmonary responses, coughing, chest pains when breathing and a

reduction in the forced ventilatory capacity.

Sulfur dioxide is most frequently associated with the total number of deaths and

hospital admissions because of cardiovascular diseases (FREITAS, 2003) and is

absorbed by the most distant regions in the lungs, when an increase in its ventilation

occurs. It is eliminated by breathing out and in the urine. Acid aerosols, on the other hand,

cause irritation in the respiratory tract.

The main source of carbon monoxide is urban transport, because automobiles emit

this pollutant. It has been observed that healthy non-smokers living in areas with high

indices of CO show an increase of up to 100% in the levels of carboxyhemoglobin when

compared with healthy people and non-smokers who are not exposed to high indices of

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CO. It is commonly associated with intoxication and its effects focus mainly on the heart

(FREITAS, 2003).

Finally nitrogen oxides, when inhaled, reach the most outlying areas of the lungs due to their low

solubility and their toxic effect is related to the fact that they are an oxidizing agent. The authors

reviewed the epidemiological studies carried out in various urban centers and also did a cross-

analysis between CETESB’ air quality measures and the health data of São Paulo for more than

20 years and arrived at results that only go to reinforce the idea that we need air quality

measures that are more restrictive than the current ones if we want to preserve human health.

Some of their conclusions are listed below:

Concentrations of pollutants in major urban centers cause acute and chronic

problems in the respiratory tract, even when concentrations are below the

standard air quality;

Air pollution in São Paulo induces mutations in DNA, thus favoring the

appearance of pulmonary tumors in humans and animals;

In periods of thermal inversion, because of the accumulation of pollutants

there is an increase in morbidity and mortality from respiratory and

cardiovascular diseases, with a lag in the case of respiratory diseases;

PM10 and PM2,5 are the two pollutants most associated with damage to

health and are frequently associated with cases of death from cardiovascular

diseases.

In her Masters dissertation Miraglia (1997) presented the impact of the transport

system on the health of the population in the municipality of São Paulo. In the dissertation

she verified the association that exists between fuel consumption (ethanol, gasoline and

diesel) and mortality rates in the elderly from respiratory diseases. The author used a

statistical analysis model with data of mortality from respiratory and cardiovascular

diseases, fuel consumption, the emission of pollutants (PM10, CO,SO2, O3) and climatic

variables. This statistical analysis model used linear regression techniques and the

Poisson distribution, with the mortality, emission and climatic variables dependent. The

analysis period comprises 1991 to 1994. Elderly people are considered to be individuals

who are 65, or older.

The total number of daily deaths, the number of deaths from respiratory diseases,

the number of deaths from cardiovascular diseases and the total number of deaths from

non-respiratory diseases were used as mortality variables. The daily concentrations of

PM10, CO,SO2 and O3 were used as the pollutant variables. Data of the monthly

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consumption of gasoline, alcohol, diesel, fossil fuels, the total of all fuels and the ethanol

consumption / fossil fuels ratio were used as consumption variables. The climatic variables

used were temperature and the relative humidity of the air.

By analyzing the correlation between the fuel and pollutant data with data for

mortality from cardiovascular diseases she showed the need to consider the existence of

lag in the correlation; she used lag therefore, to represent it. Her presentation was done

using moveable averages. Seasonality was also inserted into the model, due to the fact

that in São Paulo pollutants do not disperse as well in the winter. It was inserted using

dummy variables for months, the day of the week , temperature and humidity. The same

methodology was used for cardiovascular diseases.

The model used proved the existence of an association between mortality from

respiratory diseases and seasonal, climatic factors, pollution levels and fuel consumption.

The same occurred with mortality data from cardiovascular diseases. PM10 was the

pollutant most associated with this adverse effect in respiratory diseases, but not in

cardiovascular diseases. With regard to fuel, the analysis showed no significant statistical

association when related to mortality, but due to the fact that an association between fuel

consumption and the emission of PM10 was observed Miraglia concluded that, despite the

fact there is no direct association, there was, nevertheless, an indirect association. At the

end of her dissertation the author proposes measures for mitigating these effects, such as

prioritization of public transport instead of private individual transport and traffic

restrictions, in association with the use of vehicle and alternative fuel technologies.

Continuing with her study, in her doctoral thesis (2002) Miraglia assessed the impact

of air pollution on the population in São Paulo using a methodology that calculated the

years lost and the years lived with disabilities. The methodology, known as the Daly

(Disability Adjusted Life Years) Method was developed by the World Bank (Kleinman,

1997), and calculates a single health measure comprising two components. The first has

to do with the years lost due to premature death (YLL) and the second has to do with the

time lived under other than perfect health conditions (YLD). According to the author it has

the advantage of being a standard indicator that does not suffer from the problems

associated with currency and temporal basis conversions, and that produces a health

measure expressed in terms of years of life. Her main purpose was to calculate the onus,

but she also verified the effects that air pollution has on the life expectation of the

population living in the city, in a universe made up of children and the elderly. In children

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she only analyzed morbidity and mortality from respiratory diseases, while in the elderly

she analyzed morbidity and mortality from respiratory and cardiovascular diseases.

For her valuation Miraglia (2002) used the defensive expenditure and dose-response

function to measure the number of events associated with pollution in each

epidemiological study carried out in São Paulo and to estimate the costs in terms of health

expenditure and the value of lives lost. For the calculation she used hospital admission

unitary cost data and the value of life (VVE) was obtained from an analysis of various

approaches. She concluded that the onus of the city’s population, according to the Daly

method, is 28,212 years of life lost and lived with a disability. It is worth pointing out that in

her calculation she only took into consideration the two most susceptible groups, children

and the elderly. In children the morbidity and mortality cost from the effect of atmospheric

pollution is 12,266 years of life and in the elderly it is 15,946. While in children only 39% of

the value represents premature death, in the elderly the variable is responsible for 60% of

the calculated years of life, which emphasizes that the value obtained is underestimated

because it does not include all the adverse effects on health, nor does it include all age

bands.

In his article, Azevedo et al (1999) analyzed the importance and the correlation that

exists between climatic variables and atmospheric pollutants and the incidence of

respiratory diseases in children who, between January and July 1998, were attended in

the Emergency Pediatric Department of the Professor Edmundo Vasconcelos Hospital in

Sâo Paulo.

For Azevedo et al (1999) a substance is considered to be a pollutant when it can

make the air improper to breathe, harmful and prejudicial to people’s health and is an

inconvenience for public health. In the article a retrospective study was carried out on the

number of children, maximum age 5, who were assessed in the Department between

January and July, 1998. These months were particularly chosen because it is known that

between January and April pollutants are more easily dispersed than in May and June.

They used data of daily morbidity rates from respiratory diseases that were grouped month

by month, the daily amounts of PM, NO2, CO, SO2, the maximum and minimum daily

temperature and the maximum and minimum humidity of the air.

The authors chose to use univariate statistical methods for analyzing the data. They

therefore used the Pearson correlation coefficient, simple linear regression and multiple

linear regression. Analysis of the correlation coefficients and the simple linear regression

showed that the variable month had a high correlation with the number of people attended

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in hospital. This is evidence of the existence of seasonality. Carbon monoxide and the

humidity variables presented no significant correlation, while sulfur dioxide and particulate

material showed significant correlations. The temperature variables provided evidence of

an inverse correlation with the number of those attended, i.e. the higher the temperature

the fewer the number of people attended in hospitals.

The article’s next step was to carry out multiple linear regression analysis, because it

allows for confirmation of the presence of variables that are associated among

themselves, in addition to explaining the variation in the numbers of those attended on a

daily basis. In this alternative modeling the month variable was not to be included because

it was supposed that it was perhaps creating a confusion effect. The result of this second

analysis showed that minimum temperature was the most important variable, with an

inverse correlation, and that particulate material had a direct correlation. In the first model

the variable month was the most important.

The article’s results showed a notable increase in the number of children attended

during May and June, which in Brazil are the winter months, when pollutants are dispersed

with difficulty. When the seasonal variation was withdrawn from the model the multiple

linear regression showed that the increase in the number of children being attended

because of respiratory diseases occurred because of falls in temperature and the amount

of particulate material. The results reinforce the hypothesis that temperature and the levels

of particulate material have a direct influence on the incidence of respiratory diseases in

children.

In her masters dissertation Azuaga (2000) presented an analysis of the light vehicle

fleet, using an environmental damage index (EDI) to do so. The author developed a

calculation methodology that measures the environmental damage index (EDI) based on

an analysis of the life cycle. Instead of dealing with the whole vehicle production cycle

Azuaga (2000) chose to deal only with the vehicle’s use phase, because she believes that

within the whole process this is the phase when the most significant part of the damage

occurs. In her dissertation she also analyzed the avoided cost of environmental and health

damage, by calculating how much could be saved with, among other things, a reduction in

health expenditure, the maintenance of buildings and losses in agriculture. The

dissertation estimates the size of the light vehicle fleet for the year 1998, the average

emission of pollutants (CO, NOX, HC) and the fleet’s average kilometrage. It also deals

with aspects related to environmental impact, human health and the transfer of damage

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costs. For this analysis Azuaga (2000) looked at four scenarios that are briefly described

below:

Maintaining the 1998 fleet, including its composition;

Maintaining the 1998 fleet, but changing its composition. In this scenario

100% of the fleet would be made up of more energetically efficient vehicles,

with lower emission factors;

Fleet projected to 2020, in line with probable tendencies;

Fleet projected to 2020, in line with an optimistic hypothesis, where the

vehicles would be using more efficient technologies.

Azuaga (2000) concluded that if the current tendencies continued, in the year 2020

we shall have an increase of approximately 70% in environmental and health damage, and

if technological improvements are not introduced into the market we shall have the same

costs as currently. With regard to fuel costs in the scenario where the current trends are

maintained we would have an increase in costs of around 100%. When compared to the

scenario where new technologies are introduced and the tendencies are maintained, we

have a reduction of 44% in costs. The study showed how very important integrated policy

planning is, the objective of which is an improvement in the quality of life of Brazilians,

through the control of the private transport sector, thereby reducing risks to the

environment and to human health.

In the seminar, ‘Transport and air quality when constructing a healthy city’, Correia

(2001) talked about the problems and difficulties he encountered in the research and

experiments he carried out in the Atmospheric Pollution Experimental Laboratory of the

University of São Paulo’s Medical School.

According to Correia (2001) the major difficulty faced in determining the effects of

atmospheric pollution on health comes from the fact that there are covariables that are

difficult to control. Among them we can mention both active and passive smoking, working

environments and population diversity. In an attempt to get around the problem the

Pollution Laboratory carried out a series of experiments in which rats and guinea pigs were

exposed for prolonged periods (3 months to 1 year) to the atmosphere in the center of São

Paulo and compared, in the second stage, with other rats that had been kept in the rural

zone of Atibaia (because it has climatic conditions that are similar to those in the city of

São Paulo) for the same period of time. The results showed that the rats that stayed in

São Paulo developed hyper-reactive bronchitis, in addition to presenting a dysfunction in

the mucociliar apparatus that made them more susceptible to respiratory diseases.

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The use of statistical tools, like time-series analysis, opened the doors to a more

detailed investigation into the effects of atmospheric pollution in man. Using this tool

significant effects were observed between the variable and child mortality, which was

dominated by respiratory diseases. Another important aspect observed was that there is

no level of safety for pollutants - a safe pollution level - below which there are no effects on

human beings; air quality indices preserve health up to a certain extent, but only in the

average population.

A criticism that is made of these types of study is that there is a very narrow window

of time relative to the time between the pollution variation and the increase in mortality,

and that therefore, it might be capturing only a ‘collection’ of susceptible individuals.

In addition to the studies we have mentioned a study was also carried out where the

existence, or not, of negative impacts on pregnant women caused by atmospheric

pollution was analyzed. The results indicated that an increase in intra-uterine mortality is to

a certain extent associated with increases in the concentration of nitrogen dioxide and

carbon monoxide.

Purely for comparison purposes Correia (2001) mentioned the study carried out in 6 North

American cities over a period of 16 years. In the study 1000 people were monitored with the aim

of studying their relative risk of dying early because they lived in a polluted city. The main

conclusion of the study was that the more polluted the city the greater the risk of having your life

cut short. According to the author the results obtained by the laboratory are not unique and just

go to confirm the results obtained by other research groups.

The study carried out by Freitas et al (2003) proposes the use of a system that

couples the information produced by the environmental control bodies to health

information, using analysis techniques that explain the relationship between pollutants and

morbi-mortality. The aim of creating this system is to supply elements and support the

determination of national public policies, thus optimizing air quality vigilance and

observation of sanitary indicator tendencies. The system proposed by Freitas et al (2003)

would function in the way described in Figure 1.

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The establishment of vigilance would be done according to the analysis of daily data

in hospital admissions and deaths per morbid occurrences of the age groups at greatest

risk (death: over 65;admissions for respiratory disease in children: under 15), from 1993 to

1997, in the municipality of São Paulo. The Poisson distribution was used from additive

and linear generalized models. As both the models presented very similar results it was

decided to use the generalized linear model, as described below:

∑+= itit χβαlnλ

(4.1)

where

tlnλ : natural logarithm of the dependent variable

itχ : independent variables

α e β : hyper-parameters of the model

Before constructing the final version of the model temporal variations were also

modeled (secular trend, seasonal and daily variations), control of variations caused by

deficiencies in the health system itself (strikes, access difficulties) and temperature and

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humidity modeling, supposing that they bear some relationship to morbid occurrences. The

model was adjusted by analyzing the total waste and temperature and the partial residual

auto-correlationship. After this analysis the model was constructed as described in the

following table.

Estimates of the relative risk (RR) and the 95% confidence interval (CI) were

calculated and with these values the estimate of the growth and the statistical

extrapolation of the population studied were obtained. The mathematical formulae

necessary for obtaining the results are presented below. βeRR =

(4.2)

with β calculated for 1 3mμg ;

( )[ ]β1,96epβeIC ±=

(4.3)w

where ep is the standard error of the model;

( ) 100*1eRA poluente*βpoluente −=

(4.4)

where pollutant is the monthly average of the pollutant;

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( )RR

N*1RRNA −=

(4.5)

where N is the average number of hospital admissions for respiratory diseases, or deaths,

in the elderly.

Freitas (2003) concluded that particulate material proved to be a good indicator of

the short term effects on health. During the study it was detected that approximately 10%

of hospital admissions for respiratory diseases in children and 9% of deaths in the elderly

have a very close relationship with atmospheric concentrations of particulate material.

4. Final considerations

These are only some of the many studies that have tried to analyze the

effects of atmospheric pollution on human health. Besides the studies presented

there are also a whole range of studies that use plants in their analysis of the

effects of air pollution. These plants are considered to be bio-indicators.

Nevertheless, we have chosen not to present them in this review because they do

not fit within the scope of the author’s doctoral work. It is important to emphasis

that these studies are only a small part of the studies carried out on this topic and

that a more in-depth and on-going analysis of the same is the first step to choosing

the best path to follow. For the author the path to be followed for establishing the

relationship between morbidity from respiratory diseases in children and the elderly

in the city and Metropolitan Region of São Paulo will be the use of the Generalized

Additive Model, following a Poisson distribution. Results of this analysis will be

included in a future article.

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Article received on 09.11.2006. Approved on 10.02.2007.

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REFLEXÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA DE LUTA EM TORNO DO

LICENCIAMENTO DE UM GRANDE PROJETO DE CARCINICULTURA EM CARAVELAS, BAHIA

Cecília Campello do Amaral Mello

Mestre em Antropologia Social (PPGAS/Museu Nacional/UFRJ); Doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(PPGAS/Museu Nacional/UFRJ). [email protected]

RESUMO O presente estudo se propõe a apresentar as perspectivas dos agentes sociais envolvidos numa experiência de luta em torno da primeira etapa do processo de licenciamento ambiental – ainda em curso – do maior empreendimento de carcinicultura do Brasil, que pretende abranger 1.500 hectares no manguezal do município de Caravelas, Bahia, Brasil. A possibilidade de instalação desse empreendimento provocou a irrupção extemporânea do que localmente se define como a política. Este artigo apresenta, num primeiro momento, as diferentes propostas de ação que aí se sucederam, a partir das concepções nativas do que seja a política. Em seguida, a partir dos dados etnográficos, propõe-se uma alternativa à concepção corrente fundada no relativismo perceptual, isto é, a idéia de que há um meio ambiente dado e diversas maneiras de concebê-lo ou representá-lo socialmente. Busca-se entender os diferentes sentidos que essa noção adquire a partir das perspectivas dos diferentes agentes sociais que a definem e de suas interações com aquilo que é localmente conhecido como o mangue. Por fim, propõe-se um exercício de reflexão que busca entender, nas variações ou diferenças dos pontos de vista, como os processos de objetificação do que seja o meio ambiente são, ao mesmo tempo, processos de subjetivação, isto é, de constituição de sujeitos. Palavras-chave: conflito social; meio ambiente; manguezal; carcinicultura. .

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APRESENTAÇÃO 1 Este artigo é um balanço inicial das minhas reflexões sobre um processo de mobilização social constituído a partir do anúncio da instalação de um grande projeto de fazenda de camarão em um pequeno município do extremo sul baiano. A análise se atém à primeira etapa do processo de licenciamento ambiental dessa que seria a maior fazenda de camarão projetada no Brasil, abrangendo 1.500 hectares sobre uma área de manguezal do município de Caravelas, Bahia. Este estudo se propõe a delinear as principais linhas de tensão que se constituíram entre os diferentes agentes sociais locais, a partir do anúncio da possibilidade de instalação desse empreendimento. Para os moradores, tornava-se evidente que a política irrompera fora do chamado tempo da política, ou simplesmente fora da política, expressão que designa o período eleitoral.2 Cabe, portanto, indagar como a introdução ou intromissão extemporânea da política provocou rupturas, adesões e realinhamentos entre grupos sociais e organizações do município. E como essas disputas revelam as distintas concepções sobre o que seja o meio ambiente ou, simplesmente, o mangue, do ponto de vista dos diferentes grupos sociais envolvidos.3 Os eventos aqui descritos – que acompanhei passo a passo como pesquisadora entre os meses de setembro e novembro de 2005 – são examinados à luz do trabalho de campo intensivo que desenvolvi nessa pequena cidade, com fixação de moradia durante catorze meses entre agosto de 2004 e novembro de 2005. Trata-se de uma vertente do meu projeto de pesquisa de doutorado sobre aquilo que é definido como política, cultura e meio ambiente, do ponto de vista de um movimento cultural afro-indígena aí atuante.4 No início da década de 1980, jovens moradores da Avenida, área periférica da cidade, motivados pelos movimentos políticos e culturais nascidos do processo de democratização do país, formaram um grupo com o objetivo de fazer arte e viver da arte. Sua criação artística envolve intervenções nos espaços públicos da cidade com teatro, dança e capoeira, bem como a produção de esculturas e móveis com uma técnica singular de reaproveitamento da madeira morta. Essa técnica é, por um lado, entendida como uma alternativa de trabalho e, por outro, como uma forma de oferecer uma nova vida à madeira, ressuscitando-a. Para o Movimento Cultural, a arte não é entendida como um meio para outra coisa “mais fundamental”, mas como um fim, que pode oferecer, ao mesmo tempo, um sentido existencial e político para aqueles que a ela se dedicam. A perspectiva assumida no presente artigo não é externa aos grupos sociais analisados; busco, antes, seguir o olhar e o modo de reflexão próprio a esse movimento cultural, junto ao qual vivi e reaprendi o significado de muitas palavras. O CENÁRIO INICIAL Desaparecem as margens nas quais os mais pobres e mais móveis haviam conseguido subsistir, aproveitando tolerâncias, negligências, regras esquecidas ou fatos incontestados.5 Um dos problemas de se fazer pesquisa antropológica numa coletividade que fala a mesma língua do observador é a expectativa de que o sentido sobre aquilo que os nativos falam é auto-evidente. Muitos termos, como política, meio ambiente ou manguezal, por exemplo, por coincidirem com as categorias da sociedade do observador, podem parecer imediatamente familiares e ter seu sentido subsumido a um repertório de

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sentido já dado. Alternativamente, um trabalho de campo de longo prazo, aliado ao exercício de um olhar etnográfico atento à diferença, permitem a descoberta de novos significados para palavras conhecidas. As reflexões aqui delineadas indicam que os sentidos que os nativos emprestam à noção de mangue, por exemplo, são elaborados e modificados de acordo com contextos sociais específicos, irredutíveis entre si. O exercício que ora proponho é o de fazer proliferar os sentidos da política e do mangue, a partir de alguns elementos da etnografia. Há quatro anos ouviam-se boatos de que Caravelas, pequena cidade do sul baiano, fora escolhida pela Bahia Pesca, órgão de desenvolvimento da pesca do governo do estado da Bahia, como local com vocação natural para a implantação de fazendas de camarão. Essa cidade de vinte mil habitantes, mais conhecida como o porto de partida para o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, finalmente iria retomar seu caminho rumo ao desenvolvimento, sinônimo, neste caso, da criação de empregos e aumento da renda circulante na cidade. Caravelas é descrita por seus moradores como a cidade do já teve, uma alusão aos vários ciclos econômicos que aí se sucederam. De grande produtor de óleo de baleia durante o Brasil-colônia a importante centro do comércio regional na primeira metade do século XX, Caravelas tem sua história marcada pela construção da ferrovia Bahia-Minas, inaugurada em 1881 e extinta em 1966. Foi um pólo de expansão da indústria madeireira, praticamente esgotada, assim como da produção cafeeira e agro-pecuária na Bahia, hoje pouco significativa. As escavações por petróleo na década de 1980 foram decepcionantes, e o turismo para a região dos Abrolhos é escasso e intermitente. A partir do final da década de 1980 a monocultura do eucalipto se expandiu rapidamente pela região, ocupando amplas faixas de terras até então destinadas à agricultura familiar ou à pecuária extensiva. A expansão do eucalipto provocou o êxodo de grandes contingentes populacionais de antigas áreas rurais para centros urbanos regionais, como Teixeira de Freitas, ou capitais como Belo Horizonte e Vitória.6 Nesse contexto de reduzidas possibilidades de inserção econômica, a produção de camarão em cativeiro, também conhecida como carcinicultura, apareceu no horizonte dos moradores da cidade como uma alternativa de desenvolvimento econômico. Um breve esclarecimento sobre a definição técnica do que seja a carcinicultura, a produção de camarão em cativeiro:7 as fazendas são, em resumo, um conjunto de grandes tanques e canais construídos sobre manguezais, um ambiente artificial para o qual a água disponível é bombeada continuamente e onde são introduzidas larvas de camarão de uma espécie exótica, desenvolvidas em laboratório. Os tanques são preenchidos com grandes quantidades de ração e hormônios para a engorda e antibióticos indispensáveis para impedir o alastramento de epidemias. Esses produtos são vendidos por empresas de grande porte dos ramos químico, farmacêutico e alimentício, e possibilitam até três ciclos produtivos de 90 dias/ano, garantindo uma produção ininterrupta às fazendas.8 Essa atividade necessita recursos hídricos livres de poluição e, paradoxalmente, contribui para o esgotamento desses mesmos recursos e provoca o alastramento de doenças no próprio camarão. A contaminação dos mananciais levou muitos produtores a se deslocarem para áreas onde os manguezais ainda estão intactos e a privatizarem os ambientes de uso comum, onde reiniciam o ciclo de produção-esgotamento. Nos países onde esse tipo de atividade se instalou, um rastro de destruição em larga escala foi amplamente registrado, em função da desestabilização de ecossistemas e modos de vida e da geração de fome e miséria em zonas costeiras outrora afluentes.9

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A POLÍTICA IRROMPE FORA DO TEMPO DA POLÍTICA A notícia de que um grande empreendimento de carcinicultura estava em processo de licenciamento no CRA – Centro de Recursos Ambientais, órgão ambiental estadual, foi o motivo da reunião convocada às pressas pelo escritório local do Programa Marinho da CI – Conservação Internacional, organização não-governamental internacional com escritório no Brasil.10 O local da reunião era o Centro de Convivência do Projeto Manguezal,11 vinculado ao um núcleo de pesquisas do Ibama.12 Este órgão ambiental federal é também responsável pela administração do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, com sede no município. Além de técnicos da CI e do Projeto Manguezal, estavam presentes nessa primeira reunião pesquisadores em ciências naturais e humanas com projetos de pequisa na cidade, bem como pescadores das associações dos marisqueiros e participantes do movimento cultural afro-indígena. Poucos dias antes, o escritório local da CI tivera acesso ao EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) da empresa, encaminhado pelo representante da sociedade civil no Cepram – Conselho Estadual de Meio Ambiente. Os presentes foram informados de que a audiência pública ocorreria dali a nove dias. Alarmados com a notícia inesperada, puseram-se a delinear as estratégias de ação a serem postas em prática até a data da audiência. O técnico da CI destacou que o empreendimento estaria infringindo uma série de leis e resoluções ambientais e defendeu a importância da elaboração imediata de um parecer técnico independente sobre o EIA-Rima, com o apoio dos pesquisadores presentes. E, paralelamente, sugeriu a formação de células de articulação na comunidade para informar a população sobre os riscos latentes para a pesca e a mariscagem, as primeiras atividades que seriam diretamente afetadas pelo empreendimento. Um pescador presente mostrou-se cético quanto à adesão do seu grupo, uma vez que o empreendedor divulgara a criação de mais de três mil empregos a partir da instalação da fazenda, promessa que provocou a adesão imediata dos moradores do município. Outro pescador presente revelou que a Prefeitura já estava atuando na zona ribeirinha, reunindo pequenos grupos e convencendo-os a aderir ao empreendimento com o argumento da geração de empregos. O representante do movimento cultural afro-indígena sustentou que os moradores do município muitas vezes vêem as ONGs ambientalistas e o Ibama como um todo indiferenciado, em suas palavras, como uma coisa só. Por outro lado, destacou que os moradores do município se ressentem em relação às ONGs ambientalistas e ao Ibama por este conjunto de agentes ter aceito alguns anos antes – após breve oposição inicial – a instalação do terminal marítimo da empresa Aracruz Celulose na cidade. Em 2002, a Aracruz instalou um terminal marítimo particular no rio Caravelas, para o transporte das toras de eucalipto até a fábrica de celulose em Aracruz, Espírito Santo. Para conseguir as licenças necessárias, a Aracruz foi obrigada a cumprir uma série de compensações ambientais, implementadas por algumas ONGs locais, como o Instituto Baleia Jubarte, e pelo Ibama.13 Do ponto de vista dos moradores, os ONGs e o Ibama não se preocuparam com a participação da população na definição das compensações ambientais, optando por defini-las diretamente com a empresa, num processo entendido como pouco transparente. Esse representante do movimento cultural sugeriu, por fim, procurar determinadas lideranças para conversar, um modo não apenas de informá-las sobre os riscos do empreendimento, mas também de impedir sua cooptação pela empresa. No dia seguinte, as organizações presentes nessa primeira reunião se organizaram para conseguir o adiamento da audiência pública junto ao CRA, e muitos

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ofícios foram enviados ao órgão estadual, que finalmente aceitou postergar a audiência por vinte dias. Durante esse intervalo, um técnico do CRA se dirigiu pessoalmente à sede do movimento cultural afro-indígena para indagar a seus coordenadores sobre as razões do pedido de adiamento da Audiência. Sobre o capô do carro oficial do órgão estadual, o técnico do CRA desdobrou um grande mapa da área de manguezal onde o empreendimento desejaria se instalar, buscando persuadir os integrantes do movimento de que a carcinicultura não traria impactos ambientais. A inusitada situação – um técnico do órgão estatal que se supõe garantir a licitude do processo de licenciamento a tentar pessoalmente convencer moradores sobre os supostos benefícios do empreendimento – desconcertou os integrantes do movimento cultural. Após a saída do técnico, um deles comentou: “O pessoal tá numa usura... Vai ser muito pior que o eucalipto. Estão tratando essa questão como se fosse campanha partidária. É muita ganância”. A comparação com o eucalipto é muito reveladora, tendo em vista que a chegada da empresa Aracruz Celulose no município foi um momento de acirramento das disputas políticas e de injeção de dinheiro na cidade, tal como é fato corrente no período eleitoral. Num primeiro momento, ONGs e Ibama se opuseram à instalação do porto da Aracruz. Mas logo passaram a negociar a administração das compensações ambientais. Segundo moradores, a estratégia empregada com sucesso pela empresa para conseguir a liberação de suas licenças de localização e operação do porto foi a liberação maciça de recursos financeiros sob basicamente três formas: condicionantes, patrocínios e presentes.14

É significativa também a comparação do processo de licenciamento com o período eleitoral. Para os moradores da parte periférica da cidade conhecida como Avenida, onde vivem os integrantes do movimento cultural, o anúncio da chegada de um empreendimento desse porte e o aparecimento de agentes estatais no seu encalço também guarda semelhanças com o tempo da política, quando são procurados por pessoas e grupos que muitas vezes ocupam cargos na administração pública em busca de apoio para seus candidatos. A política, aqui, é sinônimo de eleições, período em que corre muito dinheiro na cidade e que gera um desejo de enriquecimento – a chamada ganância – nos sujeitos envolvidos na campanha eleitoral. Todos querem usufruir da afluência de recursos que de modo repentino e momentâneo toma conta de uma cidade cuja renda circulante é mínima. Embora tida como inevitável, a ganância é socialmente condenada como um fator desagregador e identificada como vetor de disputas entre os moradores, que desejam reter parte desse fluxo para si ou sua família, numa prática chamada de usura. Nesse sentido, a política é aqui entendida como um fluxo incontrolável que adentra e atravessa a cidade, em momentos precisos instilando em seus moradores sentimentos e práticas moralmente duvidosos. A irrupção da política fora do tempo da política e a percepção de que disputas entre os próprios moradores da cidade se anunciavam foi motivo de inquietação para os participantes do movimento cultural. As divergências entre os moradores são entendidas como algo negativo, um fator de discórdia num ambiente imaginado como calmo ou sossegado. Esses eventos iniciais revelam de forma aguda algumas das linhas de tensão que se colocaram então nas relações entre ONGs, Ibama e grupos locais. Cabe, portanto, a indagação: como a introdução ou intromissão extemporânea da política provocou rupturas, adesões e realinhamentos entre grupos sociais e organizações do município? Em primeiro lugar, à confiança reinante das ONGs e do Ibama de estarem do “lado bom”, enquanto defensores dos interesses comuns do meio ambiente e das populações tradicionais foi contraposta, pelo movimento cultural afro-indígena, a existência de uma desconfiança dos moradores em relação a essas entidades. Essa desconfiança seria motivada pelas ações, num passado recente, de determinadas ONGs e do Ibama em sua

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relação com uma grande empresa – a Aracruz Celulose. Para os grupos locais, ONGs e Ibama teriam capitulado ou sido coniventes com a empresa, o que teria sido decisivo para aumentar sua desconfiança. Mais do que isso, evidenciou-se que a relação ONGs-Ibama com a empresa Aracruz Celulose foi interpretada localmente como uma relação de aliança e, por esse motivo, tais entidades dificilmente seriam tidas como interlocutores legítimos pelos grupos sociais da cidade. Embora nem todas as ONGs tenham aceitado recursos das compensações ambientais (como é o caso da CI-Brasil), do ponto de vista dos moradores não haveria muitas diferenças entre as ONGs e nem mesmo entre elas e o Ibama, posto que todas têm como objeto de sua ação o meio ambiente e os grupos que usam o meio ambiente. Uma segunda ruptura, desta vez no plano discursivo, operou entre ONGs e grupos locais. A elaboração de um parecer técnico independente sobre o EIA-Rima foi uma das estratégias políticas de contraposição ao empreendimento. A CI conduziu os esforços de construção de um contra-discurso científico, instrumento que se mostrou fundamental para a disputa jurídica eventualmente acionada.15 Dotada de um quadro técnico altamente qualificado em termos acadêmicos, a CI é considerada uma organização detentora de legitimidade para a produção de um discurso científico sobre o meio ambiente. Em função disso, angariou a colaboração dos pesquisadores presentes na reunião inaugural para a elaboração do chamado Contra-Rima ou “Parecer Independente sobre o EIA-Rima”. Um olhar mais atento sobre o Contra-Rima revela uma divisão entre os sujeitos considerados socialmente aptos para produção de um discurso científico sobre o empreendimento e aqueles que não dispõem de legitimidade para tanto. No plano técnico-científico, o Contra-Rima funciona de modo efetivo, ao analisar, argumentar e refutar os inúmeros erros, omissões, falsificações e inverdades produzidos pela consultoria contratada pela empresa para legitimar sua instalação. Porém, esse discurso demarca muito claramente os limites do parecer competente ao incluir apenas técnicos, cientistas, mestres e doutores na rede que o constituiu. O embate necessário no plano técnico-científico tem seu reverso: impede a reverberação de outras falas, entre as quais a ausência mais significativa é notadamente aquela dos grupos sociais potencialmente atingidos. Finalmente, uma última linha de tensão se constituiu no que se refere à estratégia de mobilização proposta pelos pesquisadores de fora e aquela defendida pelo movimento cultural. Os pesquisadores de fora propuseram desencadear um processo de mobilização ostensiva, realizado em praças públicas, com o intuito de informar a comunidade em geral sobre o empreendimento. Uma vez informadas, supunha-se que as pessoas estariam esclarecidas sobre os efeitos sociais e ambientais nocivos das fazendas de camarão e, deste modo, se posicionariam publicamente de forma contrária à entrada do empreendimento no município. Os pesquisadores de fora acreditavam em um poder inerente à informação, que encerraria em si mesma uma potência mobilizadora, capaz de desencadear um movimento de resistência nos grupos sociais a ela expostos. No entanto, os participantes do movimento cultural contrapuseram certo grau de ceticismo aos pesquisadores instigados pelos embates políticos que se anunciavam. Propuseram uma outra forma de fazer política: a conversa com pessoas determinadas, que detêm o respeito de muitos grupos locais. Esta seria, a seu ver, a forma por excelência de se constituir microalianças locais, solidificadas pelas relações de confiança, amizade e parentesco preexistentes entre os moradores da cidade. Trata-se da interlocução entre sujeitos com rosto, que se reconhecem mutuamente e sabem os limites de sua exposição. Nas palavras de um integrante do movimento cultural: É uma relação de colega pra colega. A gente faz na base da conversa, nos momentos oportunos. Sou filho da cidade, colega, amigo, a minha família tem amizade

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com a deles, é um jeito diferente. Se conversar com ele direitinho, você deixa uma dúvida na cabeça do cara. Ele vai refletir quando chegar em casa, vai pensar nisso antes de dormir. Tanto o movimento cultural como os pesquisadores de fora defendiam que a chamada cooptação das lideranças pela empresa não era um dado inevitável, uma vez que a discussão sobre os riscos do empreendimento poderia ser uma forma de, ao menos, impedir a adesão de determinados grupos ao projeto de carcinicultura. Não obstante, as duas estratégias de ação se diferenciam, uma vez que a ênfase dos pesquisadores de fora é no poder inerente da informação, ao passo que, do ponto de vista do movimento cultural, a informação é simplesmente o conteúdo da conversa, esta sim fundamental. Entende-se que a informação pura e simples sem nenhum tipo de relação prévia entre os sujeitos é inócua, incapaz de gerar laços sociais de proximidade ou ruptura. A política da conversa proposta pelo movimento cultural indica que as relações entre os sujeitos são primeiras e mais fundamentais que a informação; a conversa é capaz de provocar a adesão do interlocutor, mas esta se dá antes de tudo em função das relações de parentesco, amizade e confiança que os ligam previamente. Observa-se, portanto, que o anúncio da chegada de um grande projeto na cidade provocou a eclosão extemporânea deste fluxo incontrolável chamado política. Esse evento atravessou a cidade e fez aparecer tensões onde antes não se supunham ou não se viam, fato lamentado pelos moradores, que não contavam com a introdução de disputas num ambiente tido como apaziguado, evidentemente só até a próxima política. Esse fluxo permitiu, por outro lado, a explicitação de desavenças antigas a opor o conjunto dos moradores locais ao conjunto ONGs-Ibama, vistos pelos primeiros com desconfiança, como um todo unívoco e indiferenciado. Embora as ONGs tenham agendas próprias que as distinguem entre si, o parecer independente sobre o EIA-Rima demarca, do ponto de vista das ONGs, a mesma divisão que se supunha existir apenas a partir do ponto de vista dos moradores: de um lado os técnicos de fora, e, de outro, a população local. Essa oposição ganha relevo e contornos mais nítidos, por fim, na proposta de ação política dos pesquisadores de fora, fundada numa presumida potência transformadora da informação, contra a qual se opõe o movimento cultural da cidade, que defende o primado da conversa e da relação sobre a informação. QUATRO CARTOGRAFIAS A intenção desta parte é exprimir a diferença dos pontos de vista de quatro agentes sociais – o empreendedor, as ONGs, as marisqueiras e as crianças – na sua relação com o mangue. O que a etnografia ajuda a revelar sobre seus distintos meios ambientes? 1. Os empreendedores As observações de campo indicam que a categoria empreendedor não se aplica tão-somente à Coopex – Cooperativa dos Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia, o consórcio de 26 empresários e investidores – muitos pertencentes à mesma família – que pretendem instalar fazendas de camarão em Caravelas. Reduzir a palavra empreendedor ao grupo empresarial em questão seria ignorar outros agenciamentos observados, cujas ações se articulam no sentido da promoção da carcinicultura no município. Portanto, por uma questão de coerência taxonômica, deve ser incluído no

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recorte empreendedor o conjunto das instituições que desenvolveram ações visando garantir a instalação das fazendas de camarão no município. Numa relação direta com a Coopex, observa-se o empreendedor Bahia Pesca. Esse órgão – voltado para o desenvolvimento da atividade pesqueira no estado da Bahia – vinha, desde julho de 2002, perscrutando alternativas de negócios rentáveis e divulgando-as para investidores em potencial. Além da Bahia Pesca, são empreendedores os representantes do poder municipal – isto é, da Prefeitura de Caravelas e da Câmara de Vereadores – que alteraram a Resolução Normativa regulamentadora da atividade de carcinicultura no município e destituíram as organizações locais contrárias à instalação da grande fazenda do Conselho Municipal de Meio Ambiente, viabilizando legalmente o empreendimento. Por fim, dentro da classificação empreendedor deve-se incluir a consultoria contratada pela Coopex para realizar o EIA-Rima, que avaliza a instalação da carcinicultura no manguezal do município. A viabilidade ambiental do empreendimento é referendada pela consultoria não obstante a afirmação, no próprio EIA-Rima, de que sérios riscos ambientais adviriam a partir da instalação da grande fazenda. Exemplar disso é o caso da contaminação do lençol freático – fonte do abastecimento de água do município – pelas águas polutas dos tanques de camarão. A consultoria oferece um instrumental que legitima em termos técnicos a instalação do empreendimento, apesar de afirmar que os impactos no lençol freático causados pela infiltração da água dos tanques serão irreversíveis, permanentes e de longo prazo (PLAMA, 2005, p.27).16 Portanto, no caso estudado, o empreendedor deve ser entendido como o conjunto de agentes descrito, no qual coexistem harmonicamente o investidor privado, órgãos da burocracia estatal, o governo municipal e as consultorias especializadas na produção e comercialização de laudos científicos. O meio ambiente do empreendedor é a chamada área do empreendimento, uma porção de 1.500 hectares de terras definidas como devolutas e supostamente compradas de antigos posseiros entre 2002 e 2004.17 Essas terras estão localizadas num ponto estratégico, que dispõe de recursos hídricos em abundância, além de ser próximo à sede do município, ao frigorífico da cidade e ao aeroporto. Segundo o técnico da Bahia Pesca presente na Audiência Pública, trata-se de um terreno com vocação natural para a criação de camarão em cativeiro, que, além disso, encontra-se próximo a um entreposto de armazenamento e a uma saída direta para o mercado internacional. O meio ambiente dos empreendedores – os empresários, a Bahia Pesca, a Prefeitura e a consultoria – é, portanto, um território vazio e improdutivo habitado por pessoas analfabetas18 e sem alternativas econômicas,19 em vias de se tornar um agronegócio dinâmico e lucrativo de produção para exportação. 2. As organizações não-governamentais As organizações não-governamentais entram neste quadro, a princípio, numa relação de oposição ao empreendedor, ou seja, posicionando-se publicamente de forma contrária à instalação das fazendas de camarão no município. É importante, porém, estabelecer distinções nesse conjunto que muitas vezes é equivocadamente tomado como um todo homogêneo e estável ao longo do tempo. Participaram do processo de mobilização pelo menos três ONGs: a já citada CI (Conservação Internacional – Brasil), o IBJ (Instituto Baleia Jubarte) e a Ecomar (Associação de Estudos Costeiros e Marinhos dos Abrolhos, organização ambientalista local). Num primeiro momento, as ONGs não se opuseram da mesma maneira e na mesma proporção à entrada da carcinicultura no

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município. Observando sua atuação, é possível detectar diferenças entre elas e nuanças na forma como são conduzidas internamente. Enquanto a CI e a Ecomar atuaram energicamente nas atividades de mobilização e na produção do Contra-Rima, o IBJ, no momento inicial, limitou-se a participar de algumas reuniões e se absteve de colocar na pauta do seu principal evento público anual, a Semana da Baleia, patrocinado pela BR Distribuidora e pela Aracruz Celulose, quaisquer menções à ameaça da carcinicultura. Isso porque a Prefeitura ameaçara não liberar o alvará para a realização do evento numa quadra municipal caso o tema das fazendas de camarão fosse abordado nos debates. Esse acontecimento abriu uma bifurcação, obrigando o IBJ a tomar uma decisão: buscar um local alternativo ou fazer um acordo com a Prefeitura, silenciando sobre a carcinicultura. O IBJ preferiu esta última opção e assim garantiu a realização do evento na quadra de esportes do município. Absteve-se, portanto, nesse primeiro momento, de se contrapor ao empreendedor.20 E tornou-se, assim, alvo de críticas da coalizão recém-formada de oposição à carcinicultura, que realizou uma intervenção direta, invadindo um debate da Semana da Baleia no auditório da principal escola estadual da cidade. Integrantes da coalizão tomaram o microfone e, após criticarem a ausência do debate sobre as fazendas de camarão numa atividade de educação ambiental, exibiram um vídeo sobre os impactos sociais e ambientais da carcinicultura e debateram-no com os estudantes. Dentro das próprias ONGs, a questão da carcinicultura é um tema controverso. O caso da CI-Brasil é exemplar no que se refere à mudança de orientação interna. Num primeiro momento, a atividade de mobilização contou com a liderança de um analista do escritório local do CI, que disponibilizou de forma irrestrita a estrutura física da ONG para as atividades da coalizão. Nessa primeira etapa, porém, a CI viu-se com recursos financeiros limitados para prosseguir numa atividade para a qual não dispõe de um orçamento específico, por ser entendida como reativa, isto é, motivada por um evento inesperado. Atividades de mobilização social e política não são computadas nos projetos e na alocação de recursos dessa instituição, que prioriza atividades de cunho científico e se define como a-política. Porém, conforme as mobilizações e embates com o empreendedor se intensificaram, notadamente após a Audiência Pública, outros técnicos da organização passaram a atuar na linha de frente da disputa. Deste modo, ao longo do processo, o enfrentamento à carcinicultura passou a contar também com a dedicação de mais técnicos, além do próprio diretor do Programa Marinho da CI, em ações junto ao Ministério Público, campanhas na imprensa, articulação política e articulação com outras ONGs. E o que seria o manguezal onde se planeja a instalação da Coopex, do ponto de vista das ONGs? A quase totalidade dos quadros das ONGs é formada por biólogos e oceanógrafos, pessoas treinadas para exercitarem um olhar científico sobre o mundo, o que supõe a definição da área em questão como um ecossistema, regulado por uma dinâmica natural própria, habitado por determinadas populações e protegido por legislações específicas. Os cientistas das ONGs entendem que o rio Caravelas e seus afluentes são o principal estuário do Banco dos Abrolhos, local de nascimento e reprodução da fauna marinha e, portanto, crucial para a manutenção da atividade pesqueira nesta região que, não por acaso, é a mais produtiva do Nordeste.21 Segundos os pesquisadores, a produção de camarão em cativeiro contaminaria esse estuário, uma vez que os efluentes das fazendas – contendo compostos químicos poluentes – seriam nele lançados sem o devido tratamento. Afirmam ainda que o projeto de carcinicultura prevê a retirada da vegetação nativa – restingas e mangues – de uma ampla área, e que a introdução de uma espécie exótica de camarão asiático ocasionaria riscos diretos às espécies nativas, base do sustento de significativa parcela da população humana. Um quadro de

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imprevisibilidade quanto às conseqüências biológicas e ecossistêmicas seria produzido a partir da introdução da carcinicultura no ambiente descrito. Além de ser regulado por uma dinâmica natural, o manguezal também é objeto de uma série de regulamentações jurídicas. Trata-se de área considerada de Extrema Importância Biológica pelo governo brasileiro; localiza-se no limite da Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e dentro de uma área em estudo para criação de uma Unidade de Conservação Federal; inclui ainda Áreas de Preservação Permanente e leitos de rios, e é definida como Terrenos de Marinha, ou seja, Bens da União. Trata-se de um território atravessado por uma série de dispositivos jurídicos previstos na Constituição, em leis ambientais e em resoluções do Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente, o que, do ponto de vista das ONGs, legitimaria a opção de uma atuação que enfatiza a disputa na esfera propriamente jurídica. 3. As marisqueiras As marisqueiras são as catadoras de caranguejo, siri, aratu, ostra, guaiamum, ameixa e sururu, moradoras da área ribeirinha ou da cidade, em geral mulheres, embora muitos homens desempenhem essa atividade. Janaína e sua cunhada Lourdes moraram muitos anos na roça, como designam a terra que sua família ocupa entre o rio Caribê e o rio do Poço, na parte conhecida como Tapera. As casas de pau-a-pique eram o pouso certo após o trabalho diário intenso entre quatro da manhã e três da tarde, catando mariscos e pescando. Há um ano e meio, porém, os caranguejos começaram a escassear até sumir por completo. Até hoje as razões desse fenômeno são incertas. Alguns pescadores levantam a hipótese de contaminação do lençol freático pelos agrotóxicos das plantações de eucalipto da Aracruz, que avançam sobre o manguezal. Há quem associe o sumiço do caranguejo à prática predatória da coleta do crustáceo com gás de botijão, que teria envenenado o manguezal. Algumas marisqueiras apostam que a expansão de doenças no caranguejo está relacionada com a presença de fazendas de camarão em áreas mais ao norte do estado e com o uso sistemático de remédio, antibióticos, para conter as epidemias comuns no crustáceo criado em cativeiro. As marisqueiras apresentam muitas hipóteses, mas sabem que elas não mudam em nada o quadro atual de ausência de caranguejos. Algumas afirmam ser mais um sinal de que o mundo vai se acabar, indicando que o caminho de destruição da natureza traçado pelos homens seria um indício forte da degenerescência que levará ao apocalipse. Outras reagem e afirmam que quem se acaba somos nós e preferem ver no reaparecimento de um ou outro filhote de caranguejo e no nascimento de mais um filho o sinal de que, apesar de toda ação humana destrutiva, a vida sempre se regenera. Durante o período da mortandade de caranguejo, Janaína deixou de obter uma renda de aproximadamente 600 reais por mês. Ela tirava 150 reais por semana vendendo o catado do caranguejo para atravessadores. Por isso, foi obrigada a desfazer (literalmente, desmontar) sua casa na área ribeirinha, trazer as telhas para a cidade e reconstruí-la no chamado Bairro Novo. Esse bairro é uma ocupação recente de uma área de manguezal à beira do rio dos Macacos, onde antes o traçado urbano terminava. Essa área foi ocupada, loteada e vendida para muitos moradores da zona ribeirinha que, como Janaína, perderam sua principal fonte de renda e foram para a cidade tentar a sorte. Tornou-se, então empregada doméstica na casa de uma família abastada e passou a ganhar meio salário mínimo por mês, quase o que tirava do mangue por semana. Hoje, Janaína vive numa área sem saneamento básico, sujeita a alagamentos constantes e doenças. Seu filho mais novo, de 8 anos, contraiu hepatite B em meados de 2005 e a fez ter muitos gastos com medicamentos e exames. Por insistência, conseguiu

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que o Secretário de Saúde do município pagasse pessoalmente alguns dos remédios do filho e lhe é muito grata desde então. O marido de Janaína, conhecido como pajé ou pai de santo pelos moradores da região ribeirinha, também deixou de catar caranguejo e foi trabalhar como pedreiro na Barra, distrito à beira-mar que concentra as novas construções na cidade. Nos últimos meses de 2005, com o reaparecimento do caranguejo e da ostra, Janaína e seu marido largaram esses empregos e voltaram ao manguezal. Participaram das mobilizações contra a vinda das fazendas de camarão de forma ativa, mas evitaram pronunciar-se publicamente por temer represálias da Prefeitura, uma vez que dependem dos favores do prefeito e dos seus secretários para obter remédios, calçamento das ruas e saneamento básico.22

Para as marisqueiras, portanto, o manguezal é um espaço aberto onde têm livre acesso aos recursos que garantem a subsistência de forma autônoma e permite que não se trabalhe para outrem. O manguezal das marisqueiras é também um espaço desestabilizado, uma vez que vem perdendo sua capacidade de auto-reprodução em função de acontecimentos sobre os quais elas não têm controle. Enquanto o mangue permite que se viva dos seus recursos, as marisqueiras estão lá para extraí-los, mas quando ele não é mais capaz de garantir a subsistência da família, elas buscam outras alternativas, como o emprego doméstico ou a extração da semente da aroeira, atividade que vem crescendo na região. Apesar da percepção de que vivem num ambiente ameaçado, as marisqueiras concebem o mangue como seu meio de vida. Nas palavras de dona Maria, marisqueira de 75 anos: “o manguezal é a nossa casa, o nosso emprego e a nossa feira; é como eu criei meus 13 filhos”. 4. As crianças O parecer das crianças sobre a chegada da carcinicultura na cidade irrompeu muitas vezes nas atividades de mobilização. Era muito comum a presença das crianças nos encontros públicos promovidos pela Coalizão de resistência à carcinicultura e, num deles, uma menina de 12 anos denunciou publicamente que “na escola os professores não falaram nada pra gente sobre as fazendas de camarão”. A partir do depoimento dessa menina, foi possível entender que havia de fato uma estratégia do empreendedor (no caso, a Prefeitura) no sentido de silenciar possíveis debates nas escolas em torno do empreendimento. O prefeito da cidade convocara uma reunião do Conselho de Educação para apresentar aos diretores de escola o projeto de carcinicultura, defendendo-o com entusiasmo e sugerindo que não toleraria manifestações contrárias ao empreendimento. Todos os pedidos de espaço nas escolas da Coalizão contrária à carcinicultura no município foram negados pelas direções, e a única forma encontrada de informar os estudantes foi a intervenção direta já mencionada, no debate “Educação Ambiental em Caravelas”, em que o tema da carcinicultura não estava em pauta. Por outro lado, as crianças moradoras da parte periférica da cidade conhecida como Avenida se relacionam de forma cotidiana com o manguezal. O terreno contíguo à sede do Movimento Cultural é um sítio, cujos limites tangem tanto a Avenida quanto o mangue.23 As crianças de que falo têm entre 5 e 14 anos e costumam brincar juntas seja nas ruas da Avenida, seja na sede do Movimento Cultural ou nos pastos, matas e manguezais que compõem o sítio, que se encontra numa área que é a um só tempo rural e urbana. A notícia de que uma fazenda de camarão poderia vir a poluir o rio dos Macacos preocupou enormemente as crianças e gerou perguntas e inquietações. “Você não sabia que esses riachos que descem até o sítio vêm do Rio dos Macacos?”, indagou-me uma delas. “Eu já segui o caminho desse riacho aí escondido da minha mãe e fui sair lá no Bairro Novo, que é onde passa o rio dos macacos”, confirmou outra.

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O conhecimento empírico das crianças sobre as conexões surpreendentes entre os muitos rios, córregos e braços de mar da região, levou-as à conclusão imediata de que a poluição em um ponto acima de um rio distante poderá poluir seus afluentes próximos, uma vez que, como disse uma delas, “o rio corre e a sujeira também”. Por esse motivo, as crianças se tornaram muito interessadas em saber como funciona o processo de licenciamento. Rui alegrou-se ao ouvir de uma vizinha que as ONGs, pescadores e marisqueiras haviam atuado energicamente na Audiência Pública de forma a demarcar de um modo consistente seus argumentos contrários às fazendas de camarão. “Então nós ganhamos?”, quis saber, imaginando a audiência pública como um mecanismo de democracia direta em que as decisões são conformadas a partir do livre confronto de opiniões. Decepcionou-se ao saber que a decisão final sobre a instalação das fazendas caberia ao Conselho Estadual de Meio Ambiente e questionou: “Se são eles que decidem, por que tem uma audiência?”. No mangue, Guto costuma capturar o guaiamum, crustáceo que está habituado a comer, presentear seus pais e avós ou vender, ganhando algum dinheiro, com que ajuda a família a pagar o gás e adquire doces para si e seus irmãos. Foi o tio que o ensinou a fazer armadilhas de lata – as ratoeiras – para pegar o guaiamum no mangue seco. Guto passa manhãs inteiras construindo armadilhas e aventurando-se no mangue atrás dos crustáceos desejados. Isso é motivo de orgulho para a mãe, que costuma contar alegremente quantos guaiamuns o filho captura por dia e convidar as amigas para comer a iguaria. As crianças sabem que não podem ir muito longe nem demorar muito, porque, embora tenham uma grande margem de independência e liberdade – especialmente se comparadas às crianças da cidade grande –, os pais realmente se preocupam em saber onde elas estão. Mas vez por outra gostam de escapar, aventurar-se, arriscar-se no desconhecido. O manguezal é um dos lugares escolhidos para essas fugas, por ser uma área aberta, sem dono, como elas dizem, e todavia próximo. Elas sabem que o fundo do sítio é formado de alagados, riachos e manguezais, terras habitadas por animais como cobras e jacarés, com que aprendem desde cedo a identificar e se relacionar. O manguezal é fonte de brincadeiras, de conhecimentos, de reflexões sobre a participação política, de alimentos saborosos, de presentes para os familiares e de fugas que permitem que as crianças fiquem a sós entre si mesmas e reflitam sobre si e sobre o mundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O mangue é sinônimo de recurso econômico para o empreendedor, ecossistema para as ONGs, casa para as marisqueiras e aventura para as crianças. Através da sua relação com o manguezal, esses sujeitos constituem o mundo em que vivem e, reciprocamente, a si próprios. Os empreendedores concebem o manguezal como recurso econômico, meio do qual podem retirar sem custo algum os recursos hídricos de que necessitam para a produção do camarão em cativeiro. O valor final do camarão será tanto mais competitivo quanto menores forem seus custos de produção. Valendo-se do acesso gratuito a uma matéria-prima disponível em abundância e externalizando os custos da produção para o manguezal e as populações extrativistas, os empreendedores esperam obter lucros crescentes e aumentar a arrecadação do município. Ignorando o manguezal como fonte de trabalho e renda, divulgam sua atividade como geradora de emprego e de qualidade de vida para uma cidade que é definida como desprovida de alternativas econômicas. O manguezal das ONGs ambientalistas é um ecossistema natural interligado por um complexo estuarino, que possui importância direta para o equilíbrio ecológico do

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Banco dos Abrolhos, região que concentra a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. Trata-se de uma rede de inter-relações ecológicas complexas, a ser protegida enquanto espaço de reprodução da vida dos animais marinhos e das populações que aí residem. Se por um lado não dependem do manguezal para sua subsistência, por outro, o exercício de profissões encontra-se intensamento vinculado à existência de ecossistemas preservados. Sua relação com o manguezal é científica, supõe portanto exterioridade para com essa base natural. No entanto, a partir do encontro com os pescadores e marisqueiras que aí vivem, em alguns deles ocorreu a eclosão de uma nova sensibilidade, que permitiu o início de um diálogo mais intenso com esses grupos, uma comunicação que é entendida ao mesmo tempo como difícil, turbulenta e enriquecedora. O mangue do pescador e da marisqueira é o lugar onde nasceram e cresceram, a lama com a qual construíram suas casas, as árvores usadas para combustível, construção de móveis e canoas e o alimento com que se criaram e criam seus filhos. A marisqueira concebe o mangue como a continuação da sua casa. Quando o mangue muda, ela também muda de casa, levando-a consigo para a outra margem do rio, a cidade. Nesse movimento, ela revela ao etnógrafo o que é o seu manguezal-casa, um mundo que, se preservado, garante sua subsistência e independência, mas que, contaminado, torna-se instável e gerador de vulnerabilidades outrora inexistentes sob tal forma. A cada momento em que a marisqueira percorre o mangue, ela traça uma cartografia pessoal feita de qualidades, potências e acontecimentos, num processo constante de confronto com as próprias condições de existência e de remodelização da subjetividade e do seu próprio devir. O manguezal das crianças é uma área aberta a perder de vista onde costumam brincar e se aventurar. Trata-se de uma sucessão de alagados, pequenos riachos, ilhotas e pedaços de terra firme habitados por animais que capturam e vendem ou oferecem como presente aos familiares e colegas. O manguezal das crianças é o lado de fora da casa, onde constituem relações entre si e com a vida vegetal e animal que aí se encontra e com que aprendem a lidar. A partir de sua relação com o mangue, as crianças vivem um encontro com o fora e, ao mesmo tempo, com o dentro, um processo de subjetivação e de constituição das suas próprias cartografias. O manguezal das crianças é uma fronteira aberta, espaço de explorações virtualmente infinito, fonte de brincadeiras e de perigo, lugar onde aprendem a lidar com o desconhecido, familiarizando-o; com seus fantasmas, superando-os, e com os pais, ora presenteando-os, ora escapando da sua presença. De um ponto de vista geofísico, pode-se afirmar que se está falando do mesmo lugar, ou seja, de uma porção do território natural do município. Porém, de um ponto de vista antropológico, faz sentido afirmar que se trata do mesmo lugar? Uma solução provisória seria afirmar que todos versam sobre o meio ambiente. A noção de meio ambiente tal como Ingold (2000, p.20) a define é interessante por ser um termo relativo, isto é, o meio ambiente é o meio de alguém, forjado pelas atividades dos seres que nele habitam; está sempre em transformação e nunca é algo completo ou finito. No entanto, meio ambiente, enquanto noção que permite uma variada gama de significados, é operatório somente até determinado ponto. Cabe, em primeiro lugar, discutir a questão do relativismo perceptual, que repousa na idéia de que há uma base natural dada sobre a qual são construídas diferentes representações que irão variar segundo os agentes sociais em questão. Um mesmo objeto é percebido de diferentes formas, segundo os pontos de vista dos diferentes sujeitos, que o constroem de diferentes modos. Daí, a aparência de se estar referindo a vários objetos diferentes quando, de fato, estar-se-ia remetendo a um só, dado a priori. Com base nos dados etnográficos levantados, desejo propor uma alternativa à concepção corrente de que há um só meio ambiente e diversas maneiras de concebê-lo ou representá-lo socialmente. Para tanto, busquei delinear as perspectivas dos diferentes

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agentes sociais em sua relação com o mangue. Gostaria de propor que certos modos de subjetivação-objetivação se processam na relação que os agentes estabelecem com o que se conhece como manguezal. Em outras palavras, o meio ambiente não está dado previamente, nem tampouco é construído; antes, são os pontos de vista que constituem os objetos e, ao mesmo tempo, os próprios sujeitos. Esta é uma reflexão em curso e certamente sujeita aos riscos do seu não-acabamento. O processo de constituição do manguezal enquanto recurso, ecossistema, casa ou aventura aqui brevemente descrito se faz de forma concomitante aos processos de subjetivação – de si para si e de si para o mundo – vivenciado pelos agentes sociais. O que esses diferentes agentes sociais apresentam não são simplesmente diferentes formas subjetivas de se “representar o mundo”, mas sim modos particulares de se relacionar com aquilo que é o mangue, do seu ponto de vista. A partir das perspectivas dos empreendedores, das marisqueiras, das ONGs e das crianças, aquilo que à primeira vista parece um só meio ambiente se transforma e se multiplica em muitos e distintos mundos. A intenção do presente estudo reside acima de tudo em fazer proliferar os diversos heterônimos das palavras política e manguezal, a partir da etnografia, de modo a apresentar ao leitor não uma, mas muitas concepções do que seja a política e não um meio ambiente unívoco, mas muitos mangues e modos de vida a eles associados. NOTAS 1 Agradeço o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq à realização desta pesquisa. Agradeço também ao Prof. Eder Jurandir, aos pareceristas ad hoc, a Omar Nicolau, a Elaine Corets e a Guilherme Dutra, pelos comentários à primeira versão deste artigo. Ressalvo, porém, que o bom ou mau uso das observações é de minha inteira responsabilidade. Dedico este artigo a James Fahn que, mesmo estando do outro lado do mundo, desempenhou um papel crucial para o curso dos acontecimentos.

2 Para uma análise dos significados nativos do “tempo da política” e seu papel na constituição e reordenação dos laços sociais, ver PALMEIRA, & HEREDIA, 1993.

3 As palavras grifadas em itálico são termos nativos.

4 O Movimento Cultural foi fundado e até hoje é liderado por jovens e adultos que se definem como afro-indígenas, por serem descendentes dos negros e índios habitantes da região do norte capixaba e do sul baiano, convertidos em trabalhadores rurais, que durante as décadas de 1970 e 1980 venderam ou perderam suas terras e seguiram para as cidades pequenas e médias da região em virtude da expansão das grandes madeireiras e da pecuária. Hoje, os afro-indígenas são os habitantes da Avenida, uma região periférica e outrora estigmatizada de Caravelas. Para um estudo mais aprofundado sobre o tema, ver MELLO, 2003.

5 FOUCAULT, 1994, p.467.

6 Hoje, as empresas de celulose Aracruz e Bahia Sul são proprietárias de 43 por cento das terras do município de Caravelas (KOOPMANS, 1995, p.74).

7 A inspiração veio da criação artesanal de camarão, segundo um modelo amplamente espalhado pela Ásia de construção de pequenos currais de bambu nas margens dos manguezais, onde o camarão fica retido por causa da variação das marés. Trata-se, porém, de uma inspiração longínqua, visto que o modelo que vem sendo implementado hoje mundo afora, nada mais é que um sistema de produção intensivo, vendido a capitalistas de médio e grande porte, que chegou a ser denominado ‘revolução azul’, expressão cunhada por técnicos da FAO – Organização das

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Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação –, que até a década de 1990 divulgava as fazendas de camarão como estratégia de segurança alimentar, para assegurar “proteína para os pobres” (FAHN, 2003, p.182). As fazendas de camarão necessitam mananciais limpos, posto que um recurso fundamental do seu processo produtivo é a disponibilidade de água em abundância e livre de poluição. Nos mananciais que banham manguezais é normalmente encontrada uma proporção de água doce e salgada ideal para o crescimento das larvas de camarão.

8 Governos e órgãos multilaterais investiram maciçamente na agroindústria do camarão durante as décadas de 1980 e 1990, e sua expansão se deu a partir do sudeste asiático para a costa do Pacífico da América do Sul, América Central e Nordeste brasileiro. No Brasil, a criação do Departamento de Pesca e Aqüicultura – DPA dentro do Ministério da Agricultura, em 1998, aumentou exponencialmente a produtividade da carcinicultura voltada para exportação. Em 1997, antes da criação do DPA, a produção anual desse setor foi de 3,6 mil toneladas. Em 2001, a produção anual foi de 40 mil toneladas e, em 2004, a produção chegou ao pico de 76 mil toneladas, um crescimento vertiginoso de 2.110 por cento, alavancado pelos investimentos públicos do BNDES, do Banco do Nordeste e da Sudene. A partir de 2005, porém, em função do alastramento de epidemias no camarão, a produção das fazendas decresceu para 65 mil toneladas. O valor total da exportação do camarão cultivado foi de 111 milhões de dólares em 2002, 170 milhões de dólares em 2003, 151 milhões de dólares em 2004 e 129 milhões de dólares em 2005. Apenas no primeiro semestre de 2006, as exportações de camarão cultivado já somam 72 milhões de dólares. (Associação Brasileira de Criadores de Camarão, 2006).

9 ONGs internacionais, como a Environmental Justice Foundation e o Greenpeace, produziram relatórios detalhados sobre a destruição dos ecossistemas e violações aos direitos humanos praticadas pela agroindústria do camarão em cativeiro. (SHANAHAN et al., 2003; HAGLER et al., 1997).

10 A missão da ONG Conservação Internacional do Brasil aponta para os objetivos combinados de preservar a biodiversidade global e demonstrar que as sociedades humanas podem viver em harmonia com a natureza. Ao envolver as sociedades humanas nos seus objetivos, a CI reconhece que seu trabalho adentra o mundo das relações sociais e políticas nos locais aonde atua.

11 Projeto Integrado de Manejo e Monitoramento para Uso Sustentável pela População Ribeirinha no Manguezal de Caravelas – Bahia, desenvolvido pelo Cepene – Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste, centro de pesquisas do Ibama, como meio de fomentar o associativismo e agregar valor aos recursos ambientais do manguezal. O Centro de Convivência foi desenvolvido com recursos da Aracruz Celulose, como um dos condicionantes para a instalação do porto da Aracruz no rio Caravelas, implantado em 2002. Para uma análise aprofundada do Projeto Manguezal, ver NICOLAU, 2006.

12 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

13 O Instituto Baleia Jubarte ficou responsável por ministrar aulas de educação sexual e ambiental para os operários da construção do porto (por mim etnografadas em MELLO, 2006) e o Ibama recebeu verbas que financiaram a construção de um Centro de Visitantes para o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e para a implementação do Projeto Manguezal, pelo Cepene. Observe-se que, na época da definição das medidas condicionantes e compensatórias, a CI teve uma posição clara de não aceitar quaisquer recursos da Aracruz Celulose (mesmo oriundos das compensações ambientais), mas esse posicionamento não foi amplamente divulgado na cidade, o que leva hoje muitos moradores a acreditarem que a CI aceitara recursos da Aracruz.

14 A empresa conseguiu vencer a oposição inicial de algumas ONGs e do Ibama através da liberação dos recursos das compensações ambientais, implementadas por essas instituições. Ademais, a empresa ofereceu recursos adicionais ao Instituto Baleia Jubarte sob a forma de patrocínio, o que garante que seu logotipo esteja presente nas camisetas, materiais impressos e carros da entidade. Segundo moradores da cidade, os presentes ou afagos – no caso, carros Fiat

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zero quilômetro – foram distribuídos pela empresa para os vereadores e secretários municipais que a princípio se opuseram à construção do porto.

15 De fato, o Parecer Técnico independente foi o instrumento técnico a sustentar a formulação dos argumentos jurídicos que embasaram a Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal contra o Estado da Bahia, o CRA e o Cepram, com pedido de liminar para a suspensão do processo de licenciamento ambiental do empreendimento. A liminar, deferida por decisão do juiz da comarca de Caravelas, suspendeu o processo de licenciamento em março de 2006, mas foi logo em seguida cassada por decisão do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.

16 Alguns exemplos sobre a questão da contaminação do lençol freático contidos no EIA-Rima: “A alta vulnerabilidade dos aqüíferos livres à poluição favorece a contaminação dos recursos hídricos subterrâneos por atividades antrópicas”.(PLAMA, 2005, v.II, p.39). “As águas dos tanques, além de serem relativamente salinas (14 a 20 ppt), conterão resíduos orgânicos provenientes da alimentação do camarão e excretas dos mesmos. Embora seja realizada a compactação do solo onde serão implantados os tanques, poderá ocorrer a infiltração desta água no solo alterando as propriedades físico-químicos do mesmo, além de oferecer risco de contaminação do lençol freático”. (PLAMA, 2005, v.III, p.27).

17 Declaração pública de um dos investidores da Coopex em reunião do Comdema realizada em 14/09/05, apud MOURA et al., 2005, p.17.

18 PLAMA, 2005, v.II, p.146.

19 Afirma a consultoria que “na comunidade próxima ao empreendimento, praticamente não existe atividade econômica, a pesca e mariscagem são pouco representativas, no pomar observa-se algumas frutíferas (manga, caju), alguns suínos, galinhas e bovinos, todos criados soltos” (PLAMA, 2005, v.II, p.151).

20 É importante observar, porém, que, após esta hesitação inicial, o IBJ passou a atuar nas campanhas de imprensa e na articulação com o grupo que liderou o processo de mobilização política, então denominada Coalizão SOS Abrolhos.

21 As informações a seguir se baseiam em MOURA et al., 2005, p.47-8.

22 Na audiência pública, Lourdes formulou por escrito a pergunta que sintetiza todo o ceticismo do seu grupo em relação aos supostos benefícios sociais e ambientais das fazendas de camarão: “Tem uma coisa que eu não entendo. Se vocês [empreendedores] querem tanto o camarão, gerar emprego e ainda preservar o mangue, não seria mais fácil comprar o camarão nativo da mão do pescador daqui?”.

23 Durante o trabalho de campo, morei por seis meses nesse sítio, onde se situa a casa de um dos integrantes do Movimento Cultural. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, P. I.; TUPINAMBÁ, S. V. A carcinicultura no Brasil: o agronegócio do camarão. Cadernos sobre Comércio e Meio Ambiente, n.3 – “Frango com camarão: Receitas do agronegócio para um Brasil insustentável”. Rio de Janeiro: Fase, p.63-82, 2004. DELEUZE, G. Foucault. Lisboa: Veja, 1986. FAHN, J. A land on fire: the environmental consequences of the Southeast Asian Boom. Colorado: Westview Press, 2003. FOUCAULT, M. La société punitive (1973). In: Dits et écrits. Paris: Gallimard, 1994. GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1992.

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HAGLER, M. et al. Shrimp, the devastating delicacy: a Greenpeace report. s.l.: Greenpeace, 1997. HERNANDEZ, E. (Org.) Financiación del Banco Mondial a la camaronicultura en América Latina. s.l.: Greenpeace, 1992. INGOLD, T. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London and New York: Routledge, 2000. KOOPMANS, Pe. J. Além do eucalipto: o papel do Extremo Sul. Teixeira de Freitas (BA): Centro de Defesa dos Direitos Humanos, 2005. LEROY, J. P.; SILVESTRE, D. R. Populações litorâneas ameaçadas: carcinicultura, pesca industrial, turismo, empreendimentos públicos e poluição. Relatório da Missão a Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Relatoria Nacional para o Direito Humano ao Meio Ambiente. Projeto Relatores Nacionais em DhESC, 2004. 58p. (mimeogr.) MOURA, R. L. et al. Parecer independente e questionamentos sobre o EIA-Rima do Projeto de Carcinicultura da Cooperativa dos Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex). Caravelas, out. 2005. (mimeogr.) MELLO, C. C. Obras de arte e conceitos. Cultura e antropologia do ponto de vista de um grupo afro-indígena do Sul da Bahia. 2003. 126p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. _______. Perspectives on nature, conservation and management: the brazilian eucalyptus monoculture through the eyes of conservation NGOs and local communities. In: INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF COMMON PROPERTY, 10, 2004. Oaxaca (Mexico). Papers from the 10th Biennial Conference of the IASCP. Oaxaca: IASCP, 2004. _______. Educar, controlar, circunscrever: notas etnográficas sobre biopolítica no extremo sul baiano. In: JACOBI, P.; FERREIRA, L. (Org.) Diálogos em ambiente e sociedade no Brasil. Coleção ANPPAS. São Paulo: Annablume, 2006. NICOLAU, O. Ambientalismo e carcinicultura. Disputas de “verdades” e conflito social no Extremo Sul da Bahia. 2006. 116p. Dissertação (Mestrado em Sociologia). CPDA – Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. PALMEIRA, M.; HEREDIA, B. Le temps de la politique. Études rurales, Paris, n.131-132, p.73-88, 1993. PLAMA – Planejamento e Meio Ambiente Ltda. 2005. Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental do Projeto de Carcinicultura da Cooperativa dos Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex). v.I-V. PNUD-IPEA. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em: www.pnud.org.br/atlas, acesso em jul. 2006. REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO – ABCC Estatísticas Nacionais. Disponível em www.abccam.com.br, acesso em jul. 2006. SCHÖPKE, R. Por uma filosofia da diferença: Gilles Deleuze, o pensador nômade. Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: Edusp, 2004. SHANAHAN, M. et al. Smash & grab: Conflict, corruption and human rights abuses in the shrimp farming industry. London: Environmental Justice Foundation, 2003. ZOURABICHVILI, François. Deleuze: une philosophie de l’événement. Paris: PUF, 1994. _______. Deleuze e o possível (sobre o involuntarismo na política). In: ALLIEZ, E. (Org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2000.

Artigo recebido em 25.10.2006. Aprovado em 12.12.2006.

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REFLECTIONS ON THE EXPERIENCE OF A STRUGGLE AGAINST THE PERMIT PROCESS FOR A MAJOR SHRIMP FARM PROJECT IN CARAVELAS, BAHIA

Cecília Campello do Amaral Mello

Master in Social Anthrpology (PPGAS/National Museum/UFRJ); Doctoral student in Social Anthropology in the

Post-graduate Program in Social Anthropology in the Federal University of Rio de Janeiro (PPGAS/ National

Museum/UFRJ); [email protected]

ABSTRACT This study presents the perspectives of the social agents involved in an experience of

struggle against the installation of what would be the largest industrial shrimp farm in

Brazil, with a planned area of 1500 hectares, in the intact mangrove swamps of Caravelas,

Bahia State. The possibility of this enterprise’s entrance caused the outbreak of what is

locally defined as the politics. Following the native conception of what is the politics, this

article initially aims to present the different proposals of political action carried out in the

field. Secondly, based on ethnographic data, this study presents an alternative concept to

perceptual relativism, i.e. the idea that there is one given environment and different ways

of socially conceiving or representing it. Here, I am looking to understand the different

meanings of this notion – the environment – following the different perspectives of the

social agents who define it and their interactions with what is locally known as the

mangrove swamp. Finally, we reflect on the variations or differences in points of view as

an exercise, in order to understand what the processes of objectivization of what the

environment is are like, and at the same time the processes of subjectivization, i.e.

constitution of subjects.

Key words: social conflict; Environment; mangrove swamp; shrimp farms.

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PRESENTATION 1

This article is an initial balance of my reflections on a social mobilization process

that started when it was announced that a large shrimp farm project was to be installed in

a small municipality in the extreme south of Bahia State. The analysis is limited to the first

stage in the process for obtaining the environmental permit for what would be the largest

shrimp farm ever planned in Brazil, covering 1,500 ha (hectares) of a mangrove swamp

area in the municipality of Caravelas, Bahia. This study aims to trace the main lines of

tension that arose between the different local social agents as from the time the possibility

of installing this enterprise was announced. For those living there, it became evident that

politics would break out outside the so-called time of politics, or simply outside the politics,

an expression used for designating the electoral period.2 It is worth questioning, therefore,

how the introduction or extemporary intromission of politics provoked ruptures,

associations and the realignment of social groups and municipal organizations, and how

these disputes reveal the different ideas about what the environment is, or simply, the

mangrove swamp, from the point of view of the different social groups involved.3

The events here described, and which I followed step by step between September and

November, 2005 as a researcher, are examined in the light of the intensive field work that I

carried out in this small town, where I lived for 14 months between August, 2004 and

November, 2005. This is a strand of the research project for my doctoral thesis into what is

defined as politics, culture and environment, from the point of view of an Afro-indigenous

cultural movement that is active there.4 At the beginning of the 80s young people living in

Avenida, an area on the outskirts of the town, motivated by the political and cultural

movements that resulted from the country’s democratization process, formed a group with

the aim of doing art and living from art. Their artistic creation involves them presenting

activities such as theater, dance and ‘capoeira’ [Afro-Brazilian martial art/dance] in public

areas in the city, as well as producing sculptures and furniture using a singular technique

that makes use of dead wood. This technique is understood as an alternative way of

working, on the one hand and as a way of offering new life to the wood, by resuscitating it,

on the other. The Cultural Movement does not understand art to be a means to something

else “more fundamental”, but as an end in itself, which can provide those who dedicate

themselves to it both an existential and a political meaning. The perspective assumed in

this article is not external to the social groups being analyzed; I am rather seeking to follow

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the singular way the cultural movement, alongside which I lived and relearned the meaning

of many words, has of looking and reflecting on things.

THE INITIAL SCENARIO

“The margins, on which the poorest and most mobile had managed to subsist, by taking

advantage of the tolerance, negligence, forgotten rules or unquestioned facts, disappear”.5

One of the problems involved with doing anthropological research in a group that

talks the same language as the observer is the expectation that the meaning of what the

local people are talking about is self-evident. Many terms, like politics, the environment or

mangrove swamp, for example, because they coincide with the categories of the

observer’s own society, may seem immediately familiar and have their meaning included

in an already given repertoire of meaning. Alternatively, long term field work, allied to an

attentive ethnographic look at differences, leads to the discovery of new meanings for

known words. The reflections I have set out here indicate that the meanings that the locals

give to the notion of mangrove swamp, for example, are developed and modified

according to specific social contexts that are not interchangeable. The exercise that I am

here proposing is to make the meanings of politics and mangrove swamp expand, by

using elements from ethnography.

Four years ago rumors started circulating that Caravelas, a small town in the south

of Bahia State, had been chosen by ‘Bahia Pesca’, the fishing development body of the

Bahia State government, as the place that had a ‘natural vocation’ for the introduction of

shrimp farms. This town of 20,000 inhabitants, better known as the port from which one

leaves when going to visit the Abrolhos National Marine Park , would finally find its feet

again and move in the direction of development, in this case a word that is synonymous

with the creation of employment and an increase in the money circulating in the town.

Caravelas is described by those who live there as the town that already had, a

reference to the various economic cycles that have happened there. From being a major

producer of whale oil during Brazil’s colonial days, to an important regional commercial

center in the first half of the XXth century, the history of Caravelas was marked by the

construction of the Bahia-Minas railroad that was inaugurated in 1881 and scrapped in

1966. It was a center for the expansion of the timber industry, but the trees have all but

gone, and like coffee production and crop and livestock farming, today it is insignificant.

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Drilling for oil in the 80s proved to be a disappointment and tourism for the Abrolhos region

is weak and patchy. As from the end of the 80s, eucalyptus growing expanded rapidly

through the region and occupied major swathes of land that until then had been used for

family agriculture or extensive livestock farming. The expansion of eucalyptus plantations

caused an exodus of great numbers of the population from former rural areas to regional

urban centers, like Teixeira de Freitas, or capital cities like Belo Horizonte or Vitoria.6 In

this context of reduced possibilities for economic insertion shrimp farming appeared on the

horizon of those living in the town as an alternative form of economic development.

A brief clarification about the technical definition of the production of shrimp in

captivity.7 In summary, farms are a series of large tanks and channels, constructed over

mangrove swamp areas. This is an artificial environment into which the available water is

constantly pumped and where exotic species of shrimp larvae, developed in a laboratory,

are introduced. The tanks are filled with large quantities of food and hormones to fatten the

shrimp and antibiotics that are indispensable when it comes to preventing the spread of

epidemics. These products are sold by large companies from the chemical,

pharmaceutical and food sectors and make possible up to three 90 day production cycles

per year, thereby guaranteeing that the farms produce uninterruptedly.8

While this activity needs pollution-free water it paradoxically contributes to the

exhaustion of these same resources and causes the spread of disease in the shrimp

themselves. The contamination of water sources has led many producers to move to areas

where the mangrove swamps are still untouched. There, they privatize environments that

are for common use and restart the production-exhaustion cycle all over again. In

countries where this type of activity has become established a swathe of destruction on a

large scale has been widely recorded as a result of the destabilization of ecosystems and

ways of living and in coastal areas that where previously affluent hunger and poverty have

been created.9

POLITICS ERUPTS OUTSIDE THE TIME OF POLITICS

The news that a large shrimp farming business was being licensed by the CRA

(Center for Environmental Resources, the state environment body) was the reason for a

meeting being hurriedly convened by the local office of CI’s (Conservation International)

Marine Program, an international non-governmental organization that has offices in

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Brazil.10 The meeting took place in the Social Center of the Mangrove Swamp Project,11

which is linked to an IBAMA12 research nucleus. This federal environmental body is also

responsible for administering the Abrolhos National Marine Park that has its headquarters

in the town. Besides technicians from CI and the Mangrove Swamp Project in this first

meeting there were researchers in natural and human sciences who are involved with

research projects in the town, fishermen from the shell fishermen’s associations and

participants from the Afro-indigenous cultural movement.

A few days before, the local office of CI had had access to the company’s EIA-

RIMA (Environmental Impact Study and Environmental Impact Report). This had been

sent by the representative of the civil society in CEPRAM (State Environment Council).

Those present were told that the public hearing would take place nine days hence.

Alarmed by this unexpected news they started outlining the action strategies that would be

used on the day of the hearing. The technician from CI pointed out that the undertaking

would infringe a series of environmental laws and resolutions and defended the

importance of immediately preparing an independent technical report on the EIA-RIMA,

with the support of the researchers present. Parallel to this he suggested the setting up of

articulation cells in the community to inform the population about the underlying risks to

fishing and shell-fishing, the first activities that would be directly affected by the

undertaking.

A fisherman who was present was skeptical about whether his group would take

part, since the entrepreneur had published that more than 3,000 jobs would be created

when the farm was installed, a promise that had caused the town’s inhabitants to

immediately support the undertaking. Another fisherman who was present revealed that

the town’s administration was already active in the coastal zone, bringing together small

groups of people and convincing them to support the undertaking with the argument about

job creation.

The representative from the Afro-indigenous cultural movement said that the town

dwellers often see environmental NGOs and IBAMA as an indifferentiable whole, in his

words, as one thing only. On the other hand, he pointed out that town dwellers are upset

with the environmental NGOs and IBAMA because some years previously, after brief initial

opposition, they had accepted the installation of a marine terminal belonging to Aracruz

Celulose [pulp company] in the city.

In 2002, Aracruz Celulose had installed a private marine terminal on the Caravelas

River, for transporting eucalyptus trunks to the pulp plant in Aracruz, Espírito Santo State.

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To obtain the necessary licenses Aracruz was obliged to comply with a series of

environmental compensations, implemented by some of the local NGOs, like the

Humpback Whale Institute and by IBAMA.13 From the point of the view of the inhabitants,

when it came to defining the environmental compensation, the NGOs and IBAMA were not

worried about the population participating in the process, choosing to define the issue

directly with the company, in a process that was understood to be not very transparent.

This representative of the cultural movement finally suggested looking out certain leaders

in order to talk with them, a way not only of telling them about the risks of the undertaking,

but also of preventing them being co-opted by the company.

The following day, the organizations of those present in this first meeting organized

themselves around getting the public hearing postponed by the CRA and a lot of official

representations were sent to the state body, which finally accepted postponing the hearing

for 20 days. During this time a technician from CRA went personally to the headquarters of

the Afro-indigenous cultural movement to question its coordinators about why they had

asked for postponement of the Public Hearing. Across the hood of the state body’s official

automobile the technician from CRA unfolded a large map of the mangrove swamp area

where the company wanted to set up and tried to persuade members of the movement

that shrimp farming would not have any environmental impact. This unheard of situation –

a technician from a state body that is supposed to guarantee the legality of the licensing

process trying to personally convince town dwellers of the supposed benefits of the

undertaking – disturbed the members of the cultural movement. After the technician had

left one of them commented: We’re up against avarice here... It’s going to be worse than

the eucalyptus. They’re treating this issue as if it was a party political campaign. There’s

greediness involved here.

Comparison with the eucalyptus is very revealing, bearing in mind that the arrival of

Aracruz Celulose in the town was at a time when there was a fierce political dispute going

on and money was being injected into the town, as is a common occurrence at times of

election. At the beginning the NGOs and IBAMA opposed the installation of the Aracruz

port, but soon started negotiating the administration of the environmental compensation.

According to town’s people the strategy, used successfully by the company to get their

port localization and operating permits granted, was to liberate significant amounts of

financial resources in basically three ways: conditional, sponsorship and presents.14

The comparison between the licensing process and the electoral period is also

significant. For those living on the outskirts of the town, in the area known as Avenida,

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where the members of the cultural movement live, the announcement of the arrival of an

undertaking of this size and the appearance of state agents in its wake also bears

similarities with the time of politics, when they are sought out by people and groups that

often have jobs in public administration and are in search of support for their candidates.

The politics, here is synonymous with elections, a period in which a lot of money

flows in the town and which generates a desire for getting rich – the so-called greediness–

in the subjects involved in the electoral campaign. Everybody wants to enjoy the affluence

of resources that suddenly and momentarily takes over the town, where current income is

minimal. Although considered inevitable, greediness is socially condemned as divisive and

identified as a cause of disputes among town dwellers who want to retain part of this flow

for themselves or for their families, in a practice called avarice. In this sense politics is here

understood as an uncontrollable flow that enters and crosses the town at precise moments

in time, instilling in its inhabitants feelings and practices that are morally doubtful. The

‘eruption’ of politics outside the time of politics and the perception that disputes between

town dwellers themselves were being announced, was a reason for unease on the part of

members of the cultural movement. Differences occurring between town dwellers is

understood as something negative, a factor of discord in an environment imagined as

being calm or peaceful.

These initial events reveal in an acute way some of the lines of tension that entered

the relationship between the NGOs, IBAMA and local groups. It is worth asking, therefore:

how did the introduction or extemporary interference of politics cause ruptures,

associations and realignment between social groups and town organizations?

In the first place the prevailing trust that the NGOs and IBAMA are on the “good

side”, as defenders of the common interests of the environment and the traditional

populations, was counterbalanced, in the shape of the Afro-indigenous cultural movement,

by the mistrust of these entities on the part of the inhabitants. This mistrust was motivated

by the recent actions of certain NGOs and IBAMA in their relationship with a major

company , Aracruz Celulose. For local groups, NGOs and IBAMA had capitulated or

colluded with the company, a fact that was decisive when it came to increasing their

mistrust. Furthermore, it was proof that the NGO-IBAMA relationship with Aracruz

Celulose was interpreted locally as an alliance relationship and because of this it would be

hard for these entities to be accepted as legitimate spokespeople by the town’s social

groups. Although not all NGOs accepted resources from the environmental compensation

(as is the case with CI-Brasil), from the point of view of the town dwellers there is not much

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difference between the NGOs and not even between them and IBAMA, given that the

activity objective of all of them is the environment and groups that use the environment.

A second break, this time at the discourse level, operated between the NGOs and

local groups. The preparation of an independent technical report on the EIA-RIMA was

one of the political strategies for opposing the undertaking. CI dedicated its efforts to

building up a scientific counter-argument, an instrument that was fundamental in the legal

battle that was subsequently fought.15 Graced with highly qualified technical staff in

academic terms CI is considered to be an organization that has legitimacy when it comes

to producing scientific arguments about the environment. Because of this it elicited and got

the collaboration of researchers who were present at the inaugural meeting to prepare the

so-called Counter-RIMA or Independent Report on the EIA-RIMA.

A more careful look at the Counter-RIMA reveals a division between subjects

considered socially fit for production of a scientific argument on the undertaking and those

that have no legitimacy for such a purpose. In the technical and scientific plan of things

the Counter-RIMA works effectively when it analyses, argues and refutes the countless

errors, omissions, falsehoods and lies produced by the consultancy company hired by the

enterprise to legitimize its installation. However, this argument very clearly sets out the

limits of the competent report when it includes only technicians, scientists, masters and

doctors from its own network. The necessary opposition at the technical and scientific level

has its downside: it prevents other arguments from being heard, among which the most

significant absence is notably that of the social groups that are going to be potentially

affected.

Finally, a last line of tension had to do with the strategy for mobilizing the people as

proposed by the researchers from away and that defended by the cultural movement. The

researchers from away proposed unleashing a process of ostensive mobilization, to be

carried out in public areas, with the idea of informing the community in general about the

undertaking. Once informed it was supposed that people would be enlightened about the

harmful social and environmental effects of the shrimp farms, and therefore, they would

take a public stance against the undertaking entering the municipality. The researchers

from away believed in the intrinsic power of information, which would be capable of

mobilizing and setting off a chain reaction resistance movement in the social groups that

were exposed to it.

However, the participants of the cultural movement countered the researchers with

a certain degree of skepticism, caused by the political clashes that were announced. They

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proposed another way of becoming engaged in politics: conversation with certain people

who have the respect of many local groups. In their opinion this would be the way par

excellence of setting up local micro-alliances, strengthened by the relationships of trust,

friendship and kinship that already existed between those living in the town. This is a

dialogue between subjects ‘with a face’, who recognize each other and know the limits of

their exposure. In the words of one of the members of the cultural movement: It is a

relationship of colleague to colleague. We establish the basis of the conversation at

opportune moments. I was born in this town and I am a colleague and friend and my family

is friendly with their families; it’s a different way of living. If you talk to him properly you are

going to leave a doubt in the mind of the guy. He’s going to think about it when he gets

home and he’s going to think about it before going to bed.

Both the cultural movement as well as the researchers from away defended the

position that the co-opting of leaders by the company was not an inevitable fact, since the

discussion about the risks of the undertaking could be a way of at least preventing certain

groups adhering to the shrimp farming project. Nevertheless, the two action strategies are

different, since the emphasis of the researchers from away is on the inherent power of

information, while, from the point of view of the cultural movement, information is simply

the content of conversation, and this latter is what is fundamental. They understand that

pure and simple information without any type of previous relationship between the subjects

is useless and incapable of creating the social ties of proximity or rupture. The policy of

conversation proposed by the cultural movement indicates that the relationships between

the subjects are first and more fundamental than information; conversation is capable of

causing the spokesperson to adhere, but this happens above all as a result of the pre-

existing relationships of kinship, friendship and trust that link them.

We observed, therefore, that the announcement of the arrival of a major project in

the town provoked the extemporary emergence of this uncontrollable flow called politics.

This event passed through the town and caused tensions to appear where it is supposed

there were none or, if there were, they were not seen, a fact lamented by the inhabitants

who were not counting on the introduction of disputes into an environment that is held to

be peaceful; this would only obviously occur at the next politics [election]. On the other

hand this flow allowed for an explanation of the former conflicts that had set the group of

local town dwellers against the NGOs-IBAMA group, which were seen by the former with

mistrust, as an indistinguishable whole talking with one voice. Although the NGOs have

their own agendas that differentiate between them, from the point of view of the NGOs the

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independent report on the EIA-RIMA marks the same division that it was supposed only

existed in the point of view of the town dwellers: on the one hand technicians from away

and on the other the local population. This opposition finally gains relief and a clearer

outline in the proposal of political action put forward by the researchers from away, based

on the presumed transforming power of information, against which is set the town’s

cultural movement that defends the supremacy of conversation and relationship over

information.

FOUR CARTOGRAPHIES

The intention of this part is to express the difference from the point of view of four

social agents – the entrepreneur, the NGOs, the shell fisherwomen and the children – in

their relationship with the mangrove swamp area. What does ethnography help reveal

about their different environments?

1. The entrepreneurs

Field observations indicate that the entrepreneur category not only applies to

COOPEX (Shrimp Farmers Cooperative of the Far South of Bahia), the consortium of 26

businessmen and investors – many of them from the same family – that intends to set up

shrimp farms in Caravelas. To reduce the word entrepreneur to the business group in

question would be to ignore other agencies seen operating and whose actions promoted

shrimp farming in the municipality. Therefore, for taxonomic coherence, we must include

among the entrepreneur group the institutions that acted with the aim of guaranteeing that

shrimp farms would be installed in the municipality.

Directly related to COOPEX we can see the enterprise, ‘Bahia Pesca’. Since July,

2002 this entity that focuses on the development of fishing activities in the State of Bahia,

has been investigating alternative sources of profitable business and publicizing them to

potential investors. In addition to ‘Bahia Pesca’, the representatives of the municipal

government are entrepreneurs – i.e. the Town Administration of Caravelas and the

Chamber of Councilors – that altered the Normative Resolution regulating the shrimp

farming activity in the municipality and deposed local organizations from the Municipal

Environmental Council that were against the installation of the large farm, thus making the

undertaking legally feasible.

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Finally, within the classification of entrepreneur we must include the consultancy

company hired by COOPEX to carry out the EIA-RIMA, which evaluated the setting up of

the shrimp farming industry in the town’s mangrove swamp area. The environmental

feasibility of the undertaking is attested to by the consultancy company, notwithstanding

the statement in the EIA-RIMA itself that serious environmental risks would arise as a

result of the installation of the large farm. An example of this is contamination of the water

table, the source of the town’s drinking water, by the polluted water coming from the

shrimp tanks. The consultancy offers an instrument that legitimizes the setting up of the

undertaking in technical terms, despite stating that the impact to the water table caused by

the infiltration of water from the tanks will be irreversible, permanent and long term

(PLAMA, 2005, p. 27).16 Therefore, in the case studied, the entrepreneur must be

understood as being the described set of agents, in which the private investor, state

bureaucracy organs, the town government and the consultancy companies that specialize

in the production and sale of scientific reports coexist harmoniously.

The entrepreneur’s environment is called the area of the undertaking, an area of

1,500ha of land, defined as unoccupied and supposedly bought from former squatters with

legal rights between 2002 and 2004.17 This land is located at a strategic point that has

abundant water resources, in addition to being close to the town’s head quarters, cold

stores and airport. According to the technician from ‘Bahia Pesca’ who was present at the

Public Hearing, this is a piece of land with a natural vocation for the creation of shrimp in

captivity, and which in addition is close to a warehouse and has direct exit to international

markets. The environment of the entrepreneurs, the businessmen, ‘Bahia Pesca’, the

Town Administration and the consultancy company is therefore an vacant and

unproductive piece of land, inhabited by illiterate people18 and with no economic

alternatives,19 in line to becoming a dynamic and profitable agribusiness, producing for

the export market.

2. The Non-governmental Organizations

The Non-governmental Organizations come into the picture, in principle, in a

relationship of opposition to the entrepreneur, in other words, publicly positioning

themselves against the installation of shrimp farms in the municipality. It is important,

however, to establish the differences in this group that is often wrongly taken as an

homogenous and stable whole over time. At least three NGOs took part in the mobilization

process: the already mentioned CI (Conservation International - Brasil), IBJ (Humpback

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Whale Institute) and Ecomar (Association of Coastal and Marine Studies of Abrolhos, a

local environment organization). At the outset the NGOs did not oppose the entry of the

shrimp farm to the municipality in the same way, or to the same extent. Observing their

actions it is possible to detect differences and nuances between them in the way they are

managed internally.

While CI and Ecomar acted energetically in the mobilization activities and in

introducing the Counter-RIMA, IBJ initially limited itself to taking part in some meetings and

abstained from putting any mention of the threat of shrimp farming on the agenda of its

main public annual event, Whale Week, sponsored by BR Distribuidora and Aracruz

Celulose. This is because the Town Administration threatened not to liberate the permit for

holding the event in a sports hall in the town if the topic of shrimp was ever brought up in

the debates. This happening opened up a split, obliging IBJ to take a decision: either to

look for an alternative place, or come to an agreement with the town administration and

keep quiet about the shrimp farming. IBJ preferred this latter option and this guaranteed

that the event took place in the town’s sports hall. It therefore declined at the start to

oppose the entrepreneur.20 It thus became the target of criticism from the recently formed

opposition coalition to the shrimp farming, which directly intervened by invading a debate

in the auditorium of the main state school in the town during Whale Week. Members of the

coalition took the microphone and after they had criticized the lack of debate about the

shrimp farms in an environmental education activity, they showed a video about the

environmental impact of shrimp farming and debated it with the students.

Among the NGOs themselves the issue of shrimp farming is a controversial topic.

The case of CI-Brasil is exemplary in as far as a change in internal orientation is

concerned. Initially the mobilization activity was being led by an analyst from the local CI

office, who unreservedly made available the NGO’s physical structure for coalition

activities. In this first stage, however, CI had limited funds for pursuing an activity for which

it has no specific budget, because it is understood as reactive, i.e. motivated by an

unexpected event. Activities of social and political mobilization are not computed in the

projects and allocation of resources of this institution that prioritizes activities of a scientific

nature and is defined as apolitical. However, as the mobilizations and confrontations with

the entrepreneur intensified, notably after the Public Hearing, other technicians from the

organization started to act on the frontline of the dispute. In this way, over the time of the

process opposition to the shrimp farming activity also began to count on the support of

more technicians, in addition to the director of the CI Marine Program himself, in actions

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involving the Public Attorney’s Office, press campaigns, political articulation and

articulation with other NGOs.

What is this mangrove swamp area where it is planned to install COOPEX from the

point of view of the NGOs? Almost all the staff of the NGOs is made up of biologists and

oceanographers, people trained to cast a scientific eye on the world, and which supposes

the definition of the area in question as an ecosystem, regulated by a natural dynamic of

its own, inhabited by certain populations and protected by specific legislation.

The scientists from the NGOs understand that the Caravelas River and its

tributaries are the main estuary of the Abrolhos Bank, the reproduction and birth place of

marine fauna and therefore crucial when it comes to maintaining fishing activity in this

region, which, not by chance, is the most productive in the Northeast of Brazil.21 According

to the researchers the production of shrimp in captivity would contaminate this estuary,

since the effluents from the farms that contain pollutant chemical compounds, would be

thrown into it without being duly treated. They also state that the shrimp farming project

plans to remove native vegetation – sandbanks and mangrove swamps – from a wide area

and that the introduction of an exotic species of Asian shrimp would be a direct risk to

native species, the basis of survival of significant numbers of the human population. An

unpredictable picture, as far as the biological and ecosystem consequences are

concerned, would result from the introduction of shrimp farming in this environment.

In addition to being regulated by a natural dynamic the mangrove swamp is also

the subject of a series of legal regulations. This is an area considered to be of Extreme

Biological Interest by the Brazilian Government; it is located on the edge of the Buffer

Zone for the Abrolhos National Marine Park, within an area that is being studied for the

creation of a Federal Conservation Unit; it also includes Permanent Preservation Areas

and beds of rivers and is defined as Marine Lands, in other words, Government Property.

This is an area covered by a series of legal devices provided for in the Constitution, in

environmental laws and in resolutions by CONAMA (National Environment Council), which

from the point of view of the NGOs makes the option of any action that brings the dispute

into the legal arena legitimate.

3. The shell fisherwomen

The shell fishers catch various different types of crab, oysters and mussels. They

live on the shoreline or in the town, and are generally women, although many men are also

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involved in this activity. Janaína and her sister-in-law, Lourdes, lived for many years on a

roça [small-holding], as they call the land their family occupies between the Caribê River

and the Do Poço River, in the area known as Tapera. The wattle and daub houses were

the ideal place to rest after an intense day, catching shellfish, crabs and fishing that started

at 4:00 in the morning and ended at 3:00 in the afternoon. A year and a half ago, however,

the crabs began to become scarce, until they disappeared altogether. Even now the

reasons for this phenomenon are unclear. Some fishermen raise the hypothesis of

contamination of the water table by agro-toxins from the eucalyptus plantations of Aracruz

that are encroaching on the mangrove swamp. There are those that associate the

disappearance of the crabs with the predatory collection of crustaceans, using cooking

gas, which has poisoned the mangrove swamp. Some fisherwomen bet that the spread of

disease in the crabs is related to the presence of shrimp farms in areas to the north of the

state and the systematic use of medication, antibiotics to control epidemics that are

common in crustaceans bred in captivity.

The shell fisherwomen put forward many hypotheses, but know that they change

nothing in the current situation where there is a total absence of crabs. Some say that this

is a sign that the world is going to end, indicating that the path to the destruction of nature

being trod by man is a strong indication of the degeneration that will lead to the

apocalypse. Others react and say that who is going to come to an end is us and with the

reappearance of one or two baby crabs and the birth of yet another child they prefer to see

a sign that, despite all the destructive actions of humans, life always regenerates itself.

During the period when the crabs were dying off, Janaína stopped receiving an

income of approximately R$600 per month. She used to take home R$150 a week, selling

her crab catch to middlemen. Because of this she was obliged to undo (literally demolish)

her shoreline house, take the tiles to the town and rebuild it in the so-called Bairro Novo.

This neighborhood is a recently occupied area of mangrove swamp on the banks of the

Macacos River, where before the town ended. This area was occupied, divided up into

plots and sold to many of those living in the shoreline area, who, like Janaína, had lost

their main source of income and had gone to the town to try their luck. She became,

therefore, a maid in the house of a well-off family and started earning half a minimum

salary per month, almost what she used to take from the mangrove swamp per week.

Today, Janaína lives in an area that has no basic sanitation facilities and that is

subject to constant flooding and illnesses. Her youngest son, who is 8 years old,

contracted hepatitis B in mid-2005 and this means she spends a lot of money on medicine

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and examinations. By insisting she managed to get the municipal Secretary of Health to

personally pay for some of the medicine her son needs and she has been very grateful for

this help. Janaína’s husband, known as pajé or pai de santo [father of the saint – elder of

the African-origin candomble religion] by those who live on the shoreline, also gave up

catching crabs and went to work as a bricklayer in Barra, a coastal district where new

buildings in the town are springing up. In the last few months of 2005, when the crabs and

oysters reappeared, Janaína and her husband gave up their jobs and went back to the

mangrove swamp. They actively took part in the mobilization against the arrival of the

shrimp farms, but avoided making any public statements because they were afraid of

retaliation from the town administration, because they depend on favors from the mayor

and his secretaries to get medicine, paved streets and basic sanitation.22

For the shell fisherwomen, however, the mangrove swamp is an open space where

they have free access to the resources that guarantee their livelihood in an autonomous

way and that allows them not to have to work for others. The mangrove swamp of the shell

fisherwomen is also a place that has been made unstable, since it has been losing its

capacity for self-reproduction because of what has been happening and over which they

have no control. While the mangrove area allows people to live from its resources the shell

fisherwomen will be there to remove them, but when it is no longer capable of

guaranteeing their livelihood they will seek other alternatives, like domestic service or the

extraction of seeds from the ‘aroeira’ [Brazilian peppertree], an activity that has been

growing in the region. Despite the perception that they live in a threatened environment,

the shell fisherwomen see the mangrove swamp as their means of living. In the words of

Dona Maria, a shell fisherwoman who is 75 years old: the mangrove swamp is our home,

our employment and our street fair; it’s how I brought up my 13 children.

4. The children

The children’s opinion about the arrival of shrimp farming in the town emerged

many times during the mobilization activities. The presence of children in the meetings

arranged by the shrimp farming resistance Coalition was very common and in one of them,

a girl of 12 publicly announced that in school the teachers said nothing to us about the

shrimp farms. From this girl’s statement it was possible to understand that in fact there

was a strategy on the part of the entrepreneur (in this case, the town administration) in the

sense of silencing any possible debate in the schools about the undertaking. The mayor of

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the town summoned a meeting of the Education Council to present the shrimp farming

project to the school directors, defending it enthusiastically and suggesting that he would

not tolerate any manifestations that were contrary to the undertaking. All requests by the

Coalition against shrimp farming for space in the town’s schools were denied by the

directors and the only way found of informing the students was the direct intervention

mentioned above in the debate “Environmental Education in Caravelas”, in which the topic

of shrimp farming was not on the agenda.

On the other hand the children who live on the outskirts of town, in the part known

as Avenida, relate with the mangrove swamp on a daily basis. The land adjoining the

headquarters of the Cultural Movement is a smallholding, which is bordered both by

Avenida and the mangrove swamp.23 The children I am talking about are between 5 and

14 years old and they usually play together, either in the streets of Avenida, in the Cultural

Movement’s headquarters or in the fields, forests and mangrove swamp areas that go to

make up the smallholding, which is situated in an area that is both rural and urban. The

news that a shrimp farm could come to pollute the Macacos River worried the children an

enormous amount and raised questions and concerns. Didn’t you know that these streams

that flow through the smallholding come from the Macacos River?, one of them asked me.

I once hid from my mother and followed the stream and came out in Bairro Novo, which is

where the Macacos River runs, confirmed another.

The empirical knowledge of the children about the surprising connection between

the many rivers, streams and inlets of the sea in the region led them to conclude

immediately that pollution of an upstream point of a distant river will pollute its nearby

tributaries, since as one of the children said, the river flows and so does the pollution. For

this reason the children have become very interested in knowing how the licensing

process works. Rui was delighted when he heard from a neighbor that the NGOs,

fishermen and shell fisherwomen had acted energetically in the Public Hearing, in such a

way as to set out their arguments against the shrimp farms in a consistent way. So, did we

win?, he wanted to know, imagining a public hearing as a mechanism of direct democracy,

in which decisions are agreed upon following a free confrontation of opinions. He was

disappointed to know that the final decision about the installation of the farms would

depend on the State Environment Council and his question was: if they are the ones that

decide why have a hearing?

In the mangrove swamp Guto is used to catching ‘guaiamum’, a crustacean he

either eats, gives to his parents and grandparents, or sells to earn money with which he

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helps his family pay for their cooking gas, or buys candy for himself and his brothers. It

was his uncle who taught him how to make the traps out of cans – mouse-traps – to catch

the ‘guaiamum’ in the dry mangrove area. Guto spends whole mornings building traps and

going into the mangrove swamp after the coveted crustaceans. This is a reason for pride

on the part of his mother who happily counts how many ‘guaiamuns’ her son catches per

day and invites her friends to eat the delicacy.

The children know they cannot go too far or be away too long because, although

they have a lot of independence and freedom, especially when compared with children

who live in big cities, their parents are really worried to know where they are. But now and

again they like to escape, to get into adventures and to take a risk in the unknown. The

mangrove swamp is one of the places chosen for these escapes, because it is an open

area that has no owner, as they say, and is still close. They know that at the back of the

smallholding there are flooded areas, streams and mangrove swamps, areas inhabited by

snakes and alligators, which they learn early on to identify and to relate to. The mangrove

swamp is a place for games, for knowledge, for reflections on political participation, for

tasty food, for presents for relatives and for escapes that allow the children to be alone

with each other and to reflect on themselves and on the world.

FINAL CONSIDERATIONS

The mangrove swamp is synonymous with an economic resource for the

entrepreneur, an ecosystem for the NGOs, home for the shell fisherwomen and adventure

for the children. Through their relationship with the mangrove swamp these subjects

constitute the world in which they live and, reciprocally, constitute themselves.

The entrepreneurs conceive of the mangrove swamp as an economic resource, a

means by which, at no cost whatsoever, they can remove the water resources they need

to produce shrimps in captivity. The final cost of the shrimps will be more competitive the

lower their production costs are. Taking advantage of free access to a raw material that is

available in abundance and externalizing the production costs to the mangrove swamp

and the population that live by extracting its resources, the entrepreneurs hope to obtain

growing profits and to increase the taxes collected by the town. Ignoring the mangrove

swamp as a source of work and income, they publicize their activity as the creator of

employment and quality of life for a town that is described as deprived of economic

alternatives.

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The mangrove swamp of the environmental NGOs is a natural ecosystem

interlinked by an estuarine complex that has a direct importance for the ecological balance

of the Abrolhos Bank, a region that has the greatest marine biodiversity in the South

Atlantic. This is a network of complex ecological inter-relationships to be protected as a

place for the reproduction of the life of the marine animals and populations that live there.

If, on the one hand, they depend on the mangrove swamp for their livelihood, on the other,

the exercise of professions is intensely linked to the existence of preserved ecosystems.

Their relationship with the mangrove swamp is scientific and supposes therefore an

external posture as far as this natural base is concerned. Nevertheless, after the meeting

with the fishermen and the shell fisherwomen who live there, in some of there emerged a

new sensitivity that allowed for a more intense dialogue with these groups, communication

that is understood, at one and the same time, as difficult, turbulent and enriching.

The mangrove swamp of the fishermen and the shell fisherwomen is the place

where they were born and grew up, the mud with which they built their houses, the trees

they used as fuel, and for building furniture and canoes, and the food with which they

brought up and still bring up their children. The shell fisherwoman conceives of the

mangrove swamp as the continuation of her home. When the mangrove swamp changes

she also moves home, taking it with her to the other bank of the river, to the town. In this

movement she reveals to the ethnograph what her mangrove swamp-home is, a world

that, if preserved, guarantees her livelihood and independence, but which if contaminated

becomes unstable and the creator of a vulnerability that did not previously exist in this

form. Every time the shell fisherwoman walks through the mangrove swamp she traces her

own personal cartography, made up of the qualities, powers and happenings, in a constant

process in which she confronts her own conditions of existence and remodels her

subjectivity and her own future.

The mangrove swamp of the children is an area that is open as far as the eye can

see, where they normally play and have adventures. It is a succession of flooded areas,

small streams, islands and pieces of firm land, inhabited by animals that they capture and

sell or offer as presents to members of their families and colleagues. The mangrove

swamp of the children is the area outside their home, where they form relationships

between themselves and with the animal and vegetable life they find there and with which

they learn to live and deal. From their relationship with the mangrove swamp the children

meet with the outside world, and at the same time, with the inside world, a process of

subjectivization and the constitution of their own cartographies. The mangrove swamp of

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the children is an open frontier, a space of virtually infinite exploration, the source of

games and of danger, a place where they learn to deal with the unknown, by familiarizing

themselves with their ghosts and overcoming them, and with their parents, sometimes

giving them presents and sometimes escaping from their presence.

From a geo-physical point of view, we can say that we are talking of the same

place, in other words, of a piece of natural land in the municipality. However, from an

anthropological point of view does it make sense to state that we are dealing with the

same place? A provisional solution would be to state that all are talking about the

environment. The notion of environment, as Ingold (2000, p.20) defines it, is interesting

because it is a relative term, i.e. the environment is the ‘milieu’ of someone, forged by the

activities of the beings who live in it; it is always being transformed and is never complete

or finite.

However, environment, as a notion that allows a varied range of meanings,

operates only up to a certain point. In the first place it is worth discussing the issue of

perceptual relativism that is found in the idea that there is a given natural basis on which

the different representations, which are going to vary according to the social agents in

question, are constructed. The same object is perceived in different forms, according to

the points of view of the different subjects that construct it in different ways. That is why it

seems that we are referring to various different objects when in fact we are referring to

only one, given a priori.

Based on the ethnographic data I collected I want to propose an alternative to the

current conception that there is only one environment and various ways of conceiving of it

or representing it socially. To do so I have tried to outline the perspectives of the different

social agents in their relationship with the mangrove swamp. I should like to propose that

certain ways of the subjectoivization-objectivization are processed as the agents establish

what is known as a mangrove swamp. In other words, the environment is not previously

given, nor is it constructed; rather it is the points of view that constitute the objects and at

the same time the subjects, themselves.

This is an ongoing reflection and undoubtedly subject to the risk that it will be

never-ending. The process of constituting the mangrove swamp as a resource, ecosystem,

home or adventure, briefly described here, is being done along with the processes of

subjectivization – from themselves to themselves and from themselves to the world – as

lived by the social agents. What these different social agents present to us are not only

different subjective ways of “representing the world”, but also particular ways of relating to

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that which is the mangrove swamp, from their point of view. From the perspectives of the

entrepreneurs, the shell fisherwomen, the NGOs and the children that, which at first sight

seems to be just an environment, transforms itself and multiplies into many different

worlds. The intention of this study is above all , and starting with ethnography, to

proliferate the various heteronyms of the words politics and mangrove swamp in such a

way as to present to the reader not one, but many concepts of what politics is, and not a

single environment, but lots of mangrove swamps and the ways of life associated with

them.

NOTES 1 I would like to thank the National Council of Scientific and Technological Development (CNPq) for their support in carrying out this research. I would also like to thank Prof. Eder Jurandir and the people who have given me their ad hoc opinions, Omar Nicolau, Elaine Corets and Guilherme Dutra for their comments on the first version of this article. I am entirely responsible for the good or poor use of their observations. I dedicate this article to James Fahn, who even though he was on the other side of the world, played a crucial role in the course of the happenings. 2 For an analysis of the native meanings of the “time of politics” and its role in the constitution and reorganization of social ties see PALMEIRA, M.; HEREDIA, B. Le Temps de la Politique. Études Rurales. Paris, 131-132 p. 73-88, 1993. 3 The words in italics are native terms. 4 The Cultural Movement was founded by and, still today, is led by young people and adults who define themselves as Afro-indigenous, because they are the descendants of the blacks and indians who lived in the region in the north of Espírito Santo State and the south of Bahia, converted into rural workers, and who in the 70s and 80s sold or lost their land and went to the small and medium size cities in the region due to the expansion of the large logging and livestock operations. Today the Afro-indigenous people live in Avenida, a once stigmatized region on the outskirts of Caravelas. For a more in-depth study of this topic see MELLO, 2003. 5 FOUCAULT, 1994 [1973], p. 467. 6 Today the Aracruz and Bahia Sul pulp companies are the owners of 43% of the land in the municipality of Caravelas (KOOPMANS, 1995, p. 74). 7 Inspiration came from the amateur rearing of shrimp, according to a model widely spread through Asia, using the construction of small bamboo enclosures on the edges of mangrove swamps where the shrimp are retained because of the variation in the tides. This, however, is a distant inspiration in view of the fact that the model that is being implemented today throughout the world is nothing more than an intensive production system, sold to medium size and large capitalists, who came to be called the blue revolution, an expression coined by technicians of the FAO (United nations Organization for Agriculture and Food), which until the 90s publicized shrimp farms as a safe food strategy to guarantee “proteins for the poor” (FAHN, 2003, p.182). Shrimp farms need clean water sources, given that a fundamental resource in the production process is the availability of water in abundance and free from pollution. In the water sources that bathe the mangrove swamps it is normal to find the proportion of fresh and salt water that is ideal for the growing shrimp larvae. 8 Governments and multilateral bodies invested heavily in the shrimp agrindustry in the 80s and 90s and its expansion started in Southeast Asia and spread to the Pacific coast of South America, Central America and to Brazil’s northeast region. In Brazil, the setting up of the Department of Fishing and Aquiculture (DPA) within the Ministry of Agriculture in 1998, exponentially increased the

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productivity of shrimp farming that was focused on exports. In 1997, before the DPA was created, annual production of this sector was 3,600 tons. In 2001, annual production was 40,000 tons and in 2004 production reached its peak of 76,000 tons, astonishing growth of 2,110%, levered by public investments from the BNDES, Banco do Nordeste and SUDENE. As from 2005, however, because of the spread of epidemics in the shrimp farms production fell to 65,000 tons. The total value of farmed shrimp exports was US$111 million in 2002, US$170 million in 2003, US$151 million in 2004 and US$129 million in 2005. Just in the first half of 2006, farmed shrimp exports have already reached US$72 million. (Brazilian Association of Shrimp Farmers, 2006.) 9 International NGOs, like Environmental Justice Foundation and Greenpeace have produced detailed reports on the destruction of ecosystems and human rights violations practiced by the farmed shrimp agrindustry (SHANAHAN, M. et al., 2003 e HAGLER et al., 1997 ) 10 The mission of the NGO, Conservation International, Brasil, points to combined objectives to preserve global biodiversity and show that human societies can live in harmony with nature. By involving human societies in its objectives CI recognizes that its work involves the world of social and political realities in those places where it operates. 11 The Integrated Management and Monitoring Project for the Sustainable Use by the Shoreline Population living in the Mangrove Swamps of Caravelas – Bahia, was developed by the CEPENE (Center for Research and Management of Fishing Resources of the Northeast Coast), IBAMA’s research center, as a means of encouraging associativism and adding value to the environmental resources of the mangrove swamp. The Social Center was developed with resources from Aracruz Celulose, as one of the conditions for the installation of the port of Aracruz on the Caravelas River that was introduced in 2002. For an in-depth analysis of the Mangrove Swamp Project see NICOLAU, 2006. 12 Brazilian Institute of the Environment and Renewable Natural Resources. 13 The Humpback Whale Institute was responsible for giving sex and environmental education lessons to workers building the port (ethnographed by me in MELLO, 2006) and IBAMA received sums of money that financed the construction of a Visitor Center for the Abrolhos National Marine Park and for implementing the Mangrove Swamp Project, by CEPENE. At the time, when defining conditional and compensatory measures, CI adopted a clear position of not accepting any resources from Aracruz Celulose (even though coming from environmental compensation), but this position was not fully publicized in the town, which leads today to many inhabitants believing that CI accepted resources from Aracruz. 14 The company managed to overcome the initial opposition of some NGOs and IBAMA by the liberation of the environmental compensation resources implemented by these institutions. Furthermore, the company offered additional resources to the Humpback Whale Institute in the form of sponsorship, which guarantees that its logo mark is on the t-shirts, printed material and entity’s automobile. According to those living in the town the presents or sweeteners, in the case brand new Fiat automobiles, were distributed by the company to the town’s municipal councilors and secretaries, who had at first opposed the construction of the port. 15 In fact the independent Technical Report was the technical instrument that underpinned the legal arguments that were the basis of the Public Civil Action proposed by the Federal Attorney General’s office against the State of Bahia, the CRA and CEPRAM, with its injunction application for suspending the process for the environmental permit process of the undertaking. The injunction, granted by a decision by the judge of the judicial district of Caravelas, suspended the process in March, 2006, but it was immediately overthrown by a decision of the Court of Appeals of the State of Bahia. 16 Some examples of the issue of the contamination of the water table contained in the EIA-RIMA: “The extreme vulnerability of aquifers free from pollution favors contamination of the underground water resources by anthropic activities”.( PLAMA, 2005, vol. II, p. 39). “The water of the tanks, besides being relatively salty (14 to 20 pp), will contain organic waste coming from shrimp food and their excreta. Although the soil where the tanks are built is compacted infiltration of this water into the soil may occur, thereby altering the physical-chemical properties of the same, in addition to offering the risk of contamination of the water table.” (PLAMA, 2005, vol. III, p. 27) 17 Public declaration of one of the investors from COOPEX in the COMDEMA meeting held on 09/14/05, APUD MOURA et al., 2005, p 17. 18 PLAMA, 2005, vol. II, p.146.

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191 The consultancy company states that “in the community close to the undertaking, there exists practically no economic activity, fishing and shell fishing are not very representative, in the orchards we see some fruit trees (mango, cashew), some pigs, chicken and cows, all created loose” (PLAMA, 2005, vol II, p.151) 201 It is important to observe, however, that after this initial hesitation the IBJ started to act in press campaigns and in their articulation with the group that led the process of political mobilization, then called SOS Abrolhos Coalition. 21 The information below is based on MOURA et al., 2005, p.47-48. 22 In the public audience, Lourdes formulated in writing the question that synthesizes all the skepticism of their group in relation to the supposed social and environmental benefits of the shrimp farms: “There is something I don’t understand. If you [entrepreneurs] want shrimp so badly, if you want to create employment and still preserve the mangrove swamp, wouldn’t it be easier to easier to buy the local shrimps from the fishermen from around here?” 23 During the field work I lived for six months in this smallholding where the house of one of the members of the Cultural Movement is situated.

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EFETIVIDADE DO DIREITO AMBIENTAL DIANTE DAS INOVAÇÕES

TECNOLÓGICAS DO SÉCULO XXI

Solange Teles da Silva

Doutora em Direito Ambiental pela Universidade Paris I – Panthéon-Sorbonne. Professora do Mestrado em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas – UEA e da Universidade Católica de Santos –

Unisantos.

RESUMO A análise da efetividade do direito ambiental diante das inovações tecnológicas do século XXI não se reduz a um estudo dos efeitos dos resultados das normas ambientais, ou seja, o resultado da regulação das relações humanas envolvendo utilização e apropriação de recursos naturais. Trata-se de estudar os mecanismos jurídicos que possibilitam a conciliação dos interesses em jogo – o desenvolvimento das inovações tecnológicas e a proteção ambiental – pois se, por um lado, o progresso da ciência, da tecnologia e da inovação promove a prosperidade, criando condições para a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos em sociedade, por outro lado, esse mesmo progresso também implica riscos e algumas de suas aplicações podem trazer conseqüências irreversíveis à vida no planeta. O objetivo deste artigo é lançar as bases teóricas para o estudo da efetividade do direito, em particular do direito ambiental, na construção de respostas ao imperativo de segurança reforçada em face das inovações tecnológicas, destacando assim o papel do princípio de precaução na construção de modelos de ajustamento de conflitos. Palavras-chave: direito ambiental; riscos; inovações tecnológicas.

É urgente compreender o mundo, antes de pensar em transformá-lo.

Jean-Pierre Dupuy.

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Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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Efetividade Do Direito Ambiental Diante Das Inovações Tecnológicas Do Século Solange Teles da Silva INTERFACEHS

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INTRODUÇÃO

A análise da efetividade do direito ambiental diante das inovações tecnológicas do século XXI não se reduz a um estudo dos efeitos dos resultados das normas ambientais, ou seja, o resultado da regulação das relações humanas envolvendo utilização e apropriação de recursos naturais. Considerar apenas os “resultados” dessas normas seria limitar essa reflexão a uma perspectiva meramente econômica, uma concepção puramente instrumental do direito, confundindo-se regra de direito com catálogo de condutas. Não se trata, portanto, apenas de refletir em termos de lógica binária do “tudo ou nada”, de permitir ou proibir, mas de analisar os mecanismos jurídicos que possibilitam a conciliação dos interesses em jogo – o desenvolvimento das inovações tecnológicas e a proteção ambiental. Se, por um lado, o progresso da ciência, da tecnologia e da inovação promove a prosperidade, criando condições para a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos em sociedade, por outro lado, esse mesmo progresso também implica riscos, e algumas de suas aplicações podem trazer conseqüências irreversíveis à vida no planeta.2 Qual o papel do direito, em particular do direito ambiental, na construção de respostas a esse imperativo de segurança em face das inovações tecnológicas? Em uma primeira etapa é necessário definir inovações tecnológicas e riscos ecológicos globais, estudando as relações entre a proteção ambiental e as inovações tecnológicas. Num segundo momento serão analisados os princípios que orientam a ação dos indivíduos, das organizações e do próprio Estado, notadamente o princípio de precaução, pedra angular do direito ambiental na gestão de riscos. Na realidade, se a ação pública normativa não elimina os conflitos sócio-ambientais perante as inovações tecnologias, tal ação exerce, todavia, uma função moderadora ao propor modelos de ajustamento para regular tais conflitos. Enfim, a pluralidade dos espaços normativos demanda que o estudo da efetividade do direito ambiental leve em consideração a mutação da concepção da ordem jurídica, enfatizando-se o que há de relativo e de universal na edificação do desenvolvimento sustentável através de uma análise da superposição de normas, nacionais, regionais e mundiais em matéria ambiental.

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E RISCOS ECOLÓGICOS GLOBAIS

A Declaração das Nações unidas sobre o meio ambiente humano (Estocolmo, 1972), já preconizava em seu princípio 18 que: Princípio 18 – A ciência e a tecnologia, como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser aplicadas para evitar, identificar e controlar os riscos que ameaçam o meio ambiente e para solucionar os problemas ambientais, em benefício do bem comum da humanidade. Aliás, tanto a Declaração de Estocolmo (1972) como a Declaração das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (Rio, 1992) elegeram em seus princípios a cooperação e o livre intercâmbio de informações científicas e técnicas, aumentando o desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de tecnologias, incluindo tecnologias novas e inovadoras para alcançar o desenvolvimento sustentável.3 Tal

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Efetividade Do Direito Ambiental Diante Das Inovações Tecnológicas Do Século Solange Teles da Silva INTERFACEHS

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compromisso com o desenvolvimento sustentável foi retomado na Declaração de Joanesburgo (2002) que reafirma a necessidade de assegurar o acesso à capacitação e ao uso de tecnologia moderna que resulte em desenvolvimento.

1. Inovações tecnológicas

Inovação pode ser definida como o “desenvolvimento de novas formas de produzir, aplicar e distribuir o conhecimento” (MACIEL, 2005, p.34). Mas a inovação não é apenas tecnológica, ela constitui igualmente inovação social, política e econômica, que decorre de um conjunto de fatores articulados – fatores sociais, culturais e da própria organização da sociedade. Na realidade, é possível distinguir dois prismas do processo de inovação tecnológica: aquele que reflete uma perspectiva conservadora da inovação e aquele que representa um fator de renovação social (ANDRADE, 2004, p.94). No primeiro caso, pode ocorrer a substituição de determinado processo ou dispositivo tecnológico, o incremento de tecnologias no interior de padrões tecnológicos já existentes (lock-in) ou a busca de soluções quando a cadeia de inovações se esgotou, impondo processos tecnológicos considerados como de finais de circuito (end of pipe), do tipo curativo – tratamento da poluição a posteriori. No segundo caso, há a busca de estratégias alternativas de inovação a partir de caminhos originais (breakthroughs). Se, por um lado, as inovações tecnológicas do século XXI podem ser responsáveis por importantes progressos na solução de problemas ambientais – como, por exemplo, o controle de processos industriais e maior eficiência dos sistemas de observação gerados pelas tecnologias de informação, o tratamento de resíduos ou a restauração de meios degradados através da biotecnologia, a produção de energia e o tratamento de poluição do ar, da água e dos solos realizados pelas novas tecnologias, enfim, o desenvolvimento da manipulação de recursos genéticos (SILVA, 2005) –, por outro lado, não é possível negar que essas novas tecnologias também ocasionam o aparecimento de novos riscos (riscos futuros e que estão intrinsecamente ligados), como por exemplo:

riscos genéticos e ligados às biotecnologias, os efeitos combinados de contaminantes químicos ou tóxicos cancerígenos, as novas doenças ou novos vírus, o domínio dos procedimentos tecnológicos complexos, os riscos ligados às novas tecnologias da informação (radiação não-ionizante e criação de mundos virtuais), o aumento da incerteza científica e da desinformação, a agravação dos conflitos sobre os recursos (hídricos, pesqueiros, energéticos...), enfim, a freqüência acentuada dos eventos meteorológicos ligados ao aquecimento global. (THEYS, 1999, p.17)

Entretanto, sem pesquisa e inovação tecnológica, como determinar as alternativas para responder às necessidades do presente sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras? O processo de desenvolvimento tecnológico está assim acoplado às necessidades das sociedades contemporâneas de transformação social, econômica e política. E, as políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação devem identificar as especificidades locais, potencialidades e carências, buscando através da geração do conhecimento alcançar o desenvolvimento sustentável. Esse processo de desenvolvimento tecnológico depende, contudo, de uma

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ação contínua, ininterrupta e permanente para financiar a pesquisa e o conhecimento das incógnitas e distinguir os riscos reais dos imaginários, desfazendo mitos ou comprovando realidades, urgências e prioridades em todos os campos das diferentes sub-regiões amazônicas. (BECHIMOL, 2001, p.164) Não é possível, portanto, falar em inovações tecnológicas sem abordar a questão dos riscos.

2. Riscos ecológicos globais

Como afirma Mireille Delmas-Marty, os riscos nos trazem do espaço virtual para o espaço real, mas nos afastam, todavia, ainda que aparentemente, do campo jurídico, pois o elemento que caracteriza os riscos é a incerteza (2004, p.353). O risco representa um perigo eventual, mais ou menos previsível, ou seja, a probabilidade de realização de uma ameaça ou exposição, da segurança ou da própria existência de uma pessoa ou mesmo de uma coisa (SILVA, 2004, p.83). É certo que o risco zero não existe, e a questão que as sociedades contemporâneas enfrentam não é a supressão de todos os riscos, já que eles fazem parte da própria existência. A verdadeira questão que se coloca é a da adoção de um procedimento de avaliação desses riscos e da escolha dos riscos que se deseja correr, ou seja, da necessidade de tal atividade para o pleno desenvolvimento dessas sociedades. Trata-se de distinguir entre os riscos admissíveis e os inadmissíveis, qualificação complexa, mas necessária (NOINVILLE, 2003, p.3-4). Se a noção de patamares utilizada pelas ciências exatas refere-se a dados quantitativos, estabelecendo, por exemplo, níveis de concentração de determinados poluentes no meio ambiente, para o direito essa noção de patamares tem uma dupla função: determinar um limite e também estabelecer uma relação de transgressão a uma norma (MORAND-DEVILLER, 2004). Por isso é que diante de riscos não quantificáveis é fundamental sua qualificação, seja como riscos admissíveis – que podem ser aceitos pela sociedade e são necessários ao seu desenvolvimento – ou como riscos inadmissíveis – aqueles que são intoleráveis, por trazerem uma possibilidade de ameaça da segurança ou da própria existência da humanidade. Isso requer não apenas um exercício técnico, mas também político e social na determinação dos riscos admissíveis e de seu controle. Os riscos globais constituem o resultado da interação dos riscos tecnológicos com os riscos naturais que se situam em escala planetária, com efeitos de longa duração (DELMAS-MARTY, 2004, p.356). Nessa categoria inserem-se os riscos ecológicos, como os riscos relacionados às mudanças climáticas, como também os riscos biotecnológicos ou ainda aqueles relacionados a nanotecnologias.4 O afastamento desses riscos constitui o objetivo da proteção e gestão ambiental, na medida em que o que se deseja é assegurar o direito ao meio ambiente para todos (SILVA, 2004, p.83). Tratando-se de riscos globais, as respostas para implementar uma lógica de segurança suplementar em face da incerteza só podem ser alcançadas através de mecanismos globais, como os previstos na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (1992) ou na Convenção da Diversidade Biológica (1992) e em seus respectivos protocolos, o Protocolo de Quioto (1998)5 e o Protocolo de Cartagena sobre Biosseguranca (2000).6 Tais mecanismos jurídicos – conservação in situ, mecanismo de desenvolvimento limpo, por exemplo – integram lógica de proteção local, regional e global.

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3. Relação entre inovações tecnológicas e proteção ambiental

As relações entre inovações tecnológicas e proteção ambiental podem ser complementares ou antagônicas. No primeiro caso, essa relação pode ser analisada sob uma perspectiva minimalista ou maximalista.7 A visão minimalista consiste em vislumbrar uma possibilidade de pesquisas e inovações tecnológicas que tenham uma relação direta com o meio ambiente. As preocupações ambientais estariam impulsionando a adoção de mecanismos limpos e inovadores. Nesse sentido, poder-se-ia falar das tecnologias limpas como aquelas que ao mesmo tempo buscam alcançar três objetivos: o consumo mínimo de matérias-primas e energias, a redução da geração de resíduos e efluentes, a redução dos riscos. As tecnologias limpas consideradas como “tradicionais” são setoriais, tais como a redução de resíduos, a redução de utilização de produtos tóxicos, a redução de poluentes na fonte. As tecnologias limpas que podem ser classificadas como “modernas ou contemporâneas” fundamentam-se em uma visão integrada da problemática ambiental e buscam a redução dos impactos ambientais, a partir do ciclo de vida dos produtos ou de uma concepção ecológica dos procedimentos. Como preconiza o capítulo 34 da Agenda 21:

34.3. As tecnologias ambientalmente saudáveis não são apenas tecnologias isoladas, mas sistemas totais que incluem conhecimentos técnico-científicos, procedimentos, bens e serviços e equipamentos, assim como os procedimentos de organização e manejo. Isso significa que, ao analisar a transferência de tecnologias, devem-se também abordar os aspectos da escolha de tecnologia relativos ao desenvolvimento dos recursos humanos e ao aumento do fortalecimento institucional e técnico local, inclusive os aspectos relevantes para ambos os sexos. As tecnologias ambientalmente saudáveis devem ser compatíveis com as prioridades sócio-econômicas, culturais e ambientais nacionalmente determinadas.

Dessa maneira, a Política Nacional do Meio Ambiente elegeu entre seus instrumentos os incentivos à produção e instalação de equipamentos e à criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental (art. 9º, V da Lei n. 6.938/81). Contudo, a integração entre inovação tecnológica e proteção ambiental não se resume em alocação de incentivos, mas requer uma reflexão sobre a própria utilização e desenvolvimento da pesquisa e das inovações e suas respectivas conseqüências para a sociedade. Sob a ótica maximalista, a relação entre inovação tecnológica e proteção ambiental preconiza a inserção da variável ambiental em todos os procedimentos e processos inovadores, buscando-se a segurança reforçada e a proteção do meio ambiente, ou seja, a redução da incerteza que se encontra no seio da própria inovação. Em outras palavras, busca-se implementar a lógica da precaução em matéria de ciência, tecnologia e inovação. Se as relações entre proteção ambiental e inovações tecnológicas podem ser complementares, elas também podem ser antagônicas. Neste segundo caso há conflitos: de um lado, os defensores do desenvolvimento das inovações tecnológicas, sem a mínima preocupação com os impactos ambientais originários de suas pesquisas; e, de

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outro lado, aqueles que pleiteiam moratórias indeterminadas. Como ajustar, minimizar ou dirimir tais conflitos? Há a necessidade de que todos os atores envolvidos – cientistas, políticos, enfim, todos os que detêm algum poder sobre as decisões, inclusive a sociedade civil – compreendam o significado da filosofia e do princípio de precaução (EWALD, 2001), como também da concretização desse princípio.

MODELO DE AJUSTAMENTO DE CONFLITOS: O PAPEL DO PRINCÍPIO DE PRECAUÇÃO

O princípio de precaução expressa a vontade estatal na condução das políticas em matéria de gestão de recursos naturais e de riscos, e permite a implementação de um modelo de ajustamento de conflitos sócio-ambientais diante das inovações tecnológicas. Esse princípio, adotado pela Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, demonstra o dinamismo do direito internacional ao integrar a necessidade de uma nova postura perante os riscos e as incertezas científicas. Assim, a Declaração do Rio (1992) estabeleceu que:

Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. (Princípio 15) 8

1. Princípio de precaução e políticas públicas

As políticas públicas devem ser concebidas não mais no sentido de intervenção sobre as atividades humanas, como é o caso do desenvolvimento de inovações tecnológicas, “mas de diretriz geral tanto para a ação dos indivíduos e organizações, como do próprio Estado” (BUCCI, 2002, p.247). Se o direito não determina as condutas, como sustenta Pierre Lascoumes, ele tem uma função propositiva e orienta as ações (LASCOUMES, 1998, p.157). Nesse sentido há a necessidade de orientar as políticas públicas, particularmente aquelas voltadas ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia e das inovações, a integrarem o princípio da precaução. Nesse sentido, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas prioriza o desenvolvimento de novas tecnologias integradas à região. Assim, essa secretaria em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável lançou o programa Ciência e Sustentabilidade na Amazônia, cujos eixos centrais são: a) participação dos atores sociais na identificação de problemas, bem como das alternativas para solucioná-los; b) desenvolvimento sustentável e solidário; c) formação e capacitação de pesquisadores; d) elevação dos índices de desenvolvimento humano com o fortalecimento das comunidades rurais e das comunidades tradicionais.9

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2. Princípio de precaução e gestão de riscos

A concretização do princípio de precaução passa pela análise e gestão de riscos. É possível distinguir três elementos na estruturação da análise dos riscos: a avaliação de riscos, a gestão de riscos e a comunicação de riscos (SILVA, 2004, p.86). Destaque-se que o recurso às medidas de precaução não depende meramente de uma escolha política, já que toda escolha política deve estar pautada nos preceitos constitucionais e o princípio de precaução faz parte do espírito da sistemática da proteção ambiental consagrado no texto constitucional, ao consagrar o direito de todos, gerações presentes e futuras, a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Dentre as técnicas e dispositivos de avaliação é possível citar a definição de standards de precaução e atitude ativa em face dos riscos, o desenvolvimento de perícias e o incremento de técnicas de controle. Ao serem definidos standards de precaução, busca-se através da pesquisa das atividades que potencialmente impliquem riscos a adoção de parâmetros e procedimentos em face desses riscos. Uma atitude ativa diante dos riscos fundamenta-se tanto no desenvolvimento de pesquisa científica e técnica aplicada, ampliando-se a capacidade de pesquisa do país, como na realização de estudos prévios de impacto ambiental. A exigência constitucional de realização de estudo prévio de impacto ambiental para obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente busca assim a concretização do princípio de precaução.10 A existência da possibilidade de atividades que desenvolvam inovações tecnológicas causarem degradação ambiental sujeita tais atividades à realização de um estudo prévio de impacto ambiental. Não se busca obstar o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, mas tão-somente levantar as dúvidas e incertezas quanto aos riscos dessas atividades, os riscos de danos. Questiona-se igualmente a real necessidade do desenvolvimento de tal tecnologia para melhoria das condições da qualidade de vida da população brasileira. O estudo de impacto ambiental proporciona, portanto, uma base de ação para a administração pública na concretização do princípio de precaução. O desenvolvimento das perícias e incrementos de técnicas de controle, vigilância e “traçabilidade” complementam o rol de técnicas e dispositivos de avaliação de riscos. O texto constitucional de 1988 determina que cabe ao Poder Público o controle da produção, da comercialização, do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.11 Na realidade, como ressalta François Ewald:

A precaução faz cair a barreira entre laboratórios e sociedade, experiência e experimentação. A sociedade torna-se por si mesma um imenso laboratório. Experimentamos ao vivo e em cores. Nós somos todos, diante do risco presumido, ao mesmo tempo experimentador e experimentados. Sábios e cobaias. (EWALD, 2001, p.53)

Há, assim, a necessidade de inscrever escolhas coletivas em matéria de inovações tecnologias alargando o conceito de democracia, fomentando a difusão da informação e do conhecimento.

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CONCLUSÕES O que há de universal no direito ambiental é a busca de qualidade de vida para os seres humanos, integrando a perspectiva de um desenvolvimento sustentável e sustentado. A sua efetividade passa, portanto, pela compreensão do significado das normas ambientais e de sua aplicação. Refletir sobre essa efetividade em face das inovações tecnológicas conduz à necessidade de integrar nessa dinâmica de inovações a lógica de precaução. É justamente a partir da concretização do princípio de precaução que o desenvolvimento da inovação tecnológica pode e deve revelar o potencial transformador do conhecimento na construção de uma sociedade mais justa e solidária.

NOTAS 1 Este artigo foi apresentado no III Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade – ANPPAS (23 a 26 de maio de 2006, Brasília-DF). 2 Como exemplo, é possível citar a radioatividade descoberta por Henri Becquerel (1896), Pierre e Marie Curie (1898), cuja utilização pode ser benéfica (aplicações terapêuticas indicadas para a cura do câncer), mas também pode ser perigosa, causando mortes (explosão de arma atômica – Hiroxima e Nagasaki, 1945, e acidente com uma centrar nuclear – Chernobyl, 1986). Sua utilização coloca toda a humanidade em face de sua responsabilidade de perpetuação da vida. 3 Princípio 20 da Declaração de Estocolmo (1972); princípio 9 da Declaração do Rio (1992). 4 Nanotecnologia refere-se “às aplicações tecnológicas de objetos e dispositivos que tenham ao menos uma de suas dimensões físicas menor que, ou da ordem de, algumas dezenas de nanômetros. Nano (do grego: “anão”) é um prefixo usado nas ciências para designar uma parte em um bilhão e, assim, um nanômetro (1nm) corresponde a um bilionésimo de metro” (MELO & PIMENTA, 2004, p.9). “A par das enormes possibilidades de desenvolvimento científico e tecnológico oferecidas pelas nanociências e nanotecnologias, nanopartículas podem de fato vir a se difundir de maneira não controlada pelo meio ambiente, as mesmas moléculas que permitiriam vencer a barreira cerebral transportando medicamentos essenciais poderiam tornar-se vetores de patógenos desconhecidos, novas armas poderão ser baseadas nas propriedades especiais dos nanossistemas etc. A lista é extensa, mas como em qualquer novo ramo do conhecimento, não é pela proibição ou decretação de moratória das pesquisas, e sim pela melhor informação ao público leigo e pelo adequado controle social das atividades científicas, que o enorme potencial das nanociências e nanotecnologias pode ser mais bem explorado para o bem da humanidade” (Ibidem, p.19). 5 O Protocolo de Quioto entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, mesmo sem a participação dos Estados Unidos. 6 O Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança entrou em vigor em 11 de setembro de 2003. 7 Essa idéia de uma visão minimalista ou maximalista da relação da liberdade de pesquisa e proteção ambiental é desenvolvida por Laurent FONBAUSTIER (2005) ao analisar o art. 9º da Carta francesa do meio Ambiente (Charte de l´environnement), que prevê que “Art.9. A pesquisa e a inovação devem contribuir com a preservação e a valorização do meio ambiente” (“Art. 9. La recherche et l´innovation doivent apporter leur contribution à la préservation et à la mise en valeur de l´environnement”). Com o texto da Carta do meio ambiente a França reconheceu direitos e deveres fundamentais em matéria de proteção ambiental (texto adotado em 28 de fevereiro de

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2005 pelo Parlamento (senadores e deputados reunidos em Congresso) e promulgado em 1º de março de 2005 pelo presidente da República, Jacques Chirac). 8 O primeiro texto internacional que reconheceu o princípio da precaução foi a Carta Mundial da Natureza adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1982 (Declaração, § 11). Posteriormente, esse princípio foi retomado em diferentes convenções internacionais sobre a proteção do ambiente. Dentre as declarações e convenções internacionais em que há referências ao princípio de precaução, cite-se, por exemplo: a) a declaração ministerial adotada na segunda Conferência Internacional para a proteção do Mar do Norte (1987) (§ VII e XV.1) confirmada pela declaração ministerial adotada na terceira Conferência Internacional, em 1990, para a proteção do Mar do Norte (preâmbulo); b) o Protocolo de Montreal referente a substâncias que destroem a camada de ozônio, de 1987 (preâmbulo e § 6, modificado em 1990); c) Convenção-quadro das Nações Unidas sobre mudanças climáticas de 1992 (artigo 3/3, preâmbulo); d) Convenção sobre a Diversidade Biológica de 1992 (preâmbulo). Cf. SILVA (2004, p.75). 9 Documentos da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas. Manaus, 2003. 10 Inciso IV do parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal de 1988: “IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental”. 11 Inciso V, § 1º do artigo 225 da Constituição Federal de 1988.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, T. de. Inovação tecnológica e meio ambiente: a construção de novos enfoques. Ambiente e Sociedade, v.VII, n.1, p.89-106, jan.-jul. 2003. BECHIMOL, S. Zênite ecológico e nadir econômico-social: análises e propostas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Manaus: Ed. Valer, 2001. BUCCI, M. P. D. Direito administrativo e políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002. DELMAS-MARTY, M. Les forces imaginantes du droit: le relatif et l’universel. Paris: Ed. du Seuil, 2004. EWALD, F. Philosophie politique du principe de précaution. In: EWALD, F.; GOLLIER, C.; DE SADELEER, N. Le principe de précaution. “Que sais-je?”. Paris: PUF, 2001. p.45 ss. FERREIRA A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d. FONBAUSTIER, L. Recherche, innovation et environnement: difficultés d’un ménage à trois. Environnement, n.4, avr. 2005, comm. 37. LASCOUMES, P. L’analyse sociologique des effets de la norme juridique : de la contrainte a l’interaction. In: LAJOIE, A.; MACDONALD, R. A.; JANDA, R.; ROCHER, G. (Dir.) Théories et émergence du droit: pluralisme, surdétermination et effectivité. Bruxelles: Les Éditions Thémis/Bruylant, 1998. p.151-9. MACIEL, M. L. Ciência, tecnologia e inovação: idéias sobre o papel das ciências sociais no desenvolvimento. Parcerias Estratégicas, n.21, p.33-44, dez. 2005. MELO, C. P. de; PIMENTA, M. Nanociências e nanotecnologias. Parcerias Estratégicas, n.18, p.9-21, ago. 2004. MORAND-DEVILLER, J. La notion de seuil en droit administratif. In: Mélanges en l'honneur du Professeur Franck Moderne: mouvement du droit public, du droit administratif au droit constitutionnel, du droit français aux autres droits. Paris: Dalloz, 2004.

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SILVA, S. T. da. Princípio de precaução: uma nova postura em face dos riscos e incertezas científicas. In: VARELLA, M. D.; PLATIAU, A. F. B. (Org.) Princípio da precaução. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p.75-92. _______. Políticas públicas e estratégias de sustentabilidade urbana. Hiléia – Revista de Direito Ambiental da Amazônia, ago.-dez. 2003, p.121-37.

Artigo recebido em 11.10.2006. Aprovado em 15.12.2006.

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THE EFFECTIVENESS OF ENVIRONMENTAL LAW GIVEN THE TECHNOLOGICAL INNOVATIONS OF THE XXIST CENTURY

Solange Teles da Silva

Doctor in Environmental Law from the University of Paris I – Panthéon-Sorbonne. Professor of the Masters Course in Environmental Law at the Amazonas State University (UEA?) and the Catholic University of Santos (UNISANTOS).

ABSTRACT

Analysis of the effectiveness of environmental law given the technological

innovations of the XXIst century cannot be reduced to a mere study of the effects of the

results of environmental norms, in other words the result of the regulation of human

relationships that involve the use and appropriation of natural resources. We need to study

the legal mechanisms that make it possible to reconcile the interests involved - the

development of technological innovation and environmental protection – because if, on the

one hand, the progress of science, technology and innovation promotes prosperity,

creating conditions for an improvement in the quality of life of human beings in society, on

the other this same progress also implies risks and some of its applications may bring

about consequences that are irreversible as far as life on the planet is concerned. The aim

of this article is to present the theoretical bases for the study of the effectiveness of the

law, and in particular of environmental law, when constructing responses to the imperative

of reinforced safety when faced with technological innovation, highlighting, therefore, the

role of the precaution principle when it comes to constructing conflict adjustment models.

Key words: environmental law; risks; technological innovation. ∗ This article was presented at the III Meeting of the National Association of Post-graduation and Research into Environment and Society – ANPPAS (May 23 to 26, 2006, Brasília-DF).

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“We urgently need to understand the world before thinking about transforming it”

(Jean-Pierre DUPUY)

INTRODUCTION

Analysis of the effectiveness of environmental law, given the technological

innovations of the XXIst century, cannot be reduced to a mere study of the effects of the

results of environmental norms, in other words the result of the regulation of human

relationships that involve the use and appropriation of natural resources. If we were to

consider only the “results” of these norms we would be limiting this reflection to a merely

economic perspective, a purely instrumental conception of the law, thereby confusing the

rule of law with a catalogue of conduct. This is not a matter, therefore, of only reflecting in

terms of the binary logic of “all or nothing”, of allowing or prohibiting, but of analyzing the

legal mechanisms that make it possible to reconcile the interests that are in play – the

development of technological innovation and environmental protection. If, on the one hand,

the progress of science, technology and innovation promotes prosperity and creates

conditions for improving the quality of life of human beings in society, on the other this

same progress also implies risks and some of its application may bring about

consequences that are irreversible for life on this planet.1

What is the role of law, and in particular of environmental law, when it comes to

constructing responses to this safety imperative in the face of technological innovations?

As a first step we need to define technological innovation and global ecological risks, by

studying the relationships between environmental protection and technological innovation.

As a second step we shall analyze the principles that guide the actions of individuals,

organizations and the State itself, notably the precaution principle, the corner stone of

environmental law when it comes to risk management. In fact, if normative public action

does not eliminate the socio-environmental conflicts that arise in the face of technological

innovation, this action functions, however, as a moderating influence when it proposes

adjustment models for regulating these conflicts.

1 As an example, it is possible to mention the radioactivity discovered by Henri Becquerel (1896), Pierre and Marie Curie (1898), whose use can be beneficial (therapeutic applications indicated for the cure of cancer), but can also be dangerous, causing death (explosion of an atomic weapon – Hiroshima and Nagasaki, 1945 and accident with a nuclear power station – Chernobyl, 1986). Its use places all humanity face to face with its responsibility for perpetuating life.

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In short the plurality of normative spaces demands that any study of the

effectiveness of environmental law takes into consideration the mutation of the concept of

legal order, emphasizing what is relative and universal in the construction of sustainable

development by analyzing the superimposition of national, regional and world norms that

deal with the environment.

1. TECHNOLOGICAL INNOVATION AND GLOBAL ECOLOGICAL RISKS

The Declaration of the United Nations on the Human Environment, Stockholm

(1972) was already affirming in Principle 18:

Principle 18 – Science and technology, as part of their contribution

to economic and social development, must be applied in order to

avoid, identify and control the risks that threaten the environment

and to solve environmental problems for the benefit of the

common good of humanity.

In fact, both the Declaration of Stockholm (1972) and the Declaration of the United

Nations on Environment and Development, Rio (1992) elected as their principles,

cooperation and the free interchange of scientific and technical information, thereby

increasing the development, adaptation, spreading and transfer of technology, including

new and innovative technologies, for achieving sustainable development.2 This

commitment to sustainable development was taken up again in the Declaration of

Johannesburg (2002), which reaffirms the need to ensure access to capacity-building and

the use of modern technology that results in development.

1.1. TECHNOLOGICAL INNOVATION

Innovation may be defined as the “development of new ways of producing, applying

and distributing knowledge” (MACIEL, 2005, p. 34). But innovation is not only

technological, it also includes the social, political and economic innovation that arises from

a series of articulated factors – factors that are social, cultural and of the very way society

is organized. In fact, it is possible to distinguish two prisms in the process of technological

2 Principle 20 of the Declaration of Stockholm (1972); Principle 9 of the Declaration of Rio (1992).

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innovation: one which reflects a conservative perspective of innovation and one which

represents a social renewal factor (ANDRADE, 2004, p. 94). In the first case substitution of

a certain process or technological device, an increase in technologies within already

existing technological standards (lock-in), or the search for solutions when the innovation

chain has exhausted itself, may occur, imposing technological processes considered as

‘end of the pipe’, of the curative type – pollution treatment, a posteriori. In the second case

there is a search for alternative innovation strategies starting with the original paths

(breakthroughs).

If, on the one hand, the technological innovations of the XXIst century may be

responsible for important progress in the solution of environmental problems, such as for

example, control of industrial processes and the greater efficiency of the observation

systems generated by information technology, the treatment of waste or the restoration of

environments degraded by biotechnology, the production of energy and the treatment of

air, water and soil pollution using new technology and finally the development of the

manipulation of genetic resources (SILVA, 2005), on the other we cannot deny that these

new technologies also give rise to new risks (future risks and those that are intrinsically

linked), such as:

“Genetic risks and those linked to biotechnology, the combined

effects of chemical or toxic carcinogenic contaminants, new

illnesses or new viruses, the domain of complex technological

procedures, risks linked to new information technologies (non-

ionizing radiation and the creation of virtual worlds), the increase

in scientific uncertainty and misinformation, the aggravation of

conflicts relating to resources (water, fishing, energy, ...) and

finally the increased frequency of meteorological events linked to

global warming ” (THEYS, 1999, p.17).

However, without research and technological innovation, how can we determine

the alternatives for responding to the needs of the present without compromising the

satisfaction of the needs of future generations? The technological development process is,

therefore, coupled with the needs of contemporary society for social, economic and

political transformation. Public policies of science, technology and innovation must identify

the local specific aspects, potentialities and needs, seeking to achieve sustainable

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development by means of the generation of knowledge. This process of technological

development depends, however, on a:

“(...) continuous, uninterrupted and permanent action to finance

research into and knowledge of the unknown factors and

distinguish real risks from imaginary ones, exposing myths or

proving the realities, urgencies and priorities in all fields of the

different Amazon sub-regions” (BECHIMOL, 2001, p. 164)

It is not possible, therefore, to talk about technological innovation without dealing

with the question of risks.

1.2. GLOBAL ECOLOGICAL RISKS

As Mireille Delmas-Marty states, risks bring us out of the virtual space into the real

space, but also distances us, albeit only apparently, from the legal field, because the

element that characterizes risks is uncertainty (2004, p. 353). Risk represents a possible,

more or less foreseeable danger, in other words, the probability of a threat or exposure to

the safety or the very existence of a person, or even of a thing, becoming a reality (SILVA,

2004, p. 83). Zero risk does not exist and the issue that contemporary societies face is not

the suppression of all risk, since they are part of our very existence. The real issue that is

posed is that of adopting a procedure for evaluating these risks and the choice of risks that

we wish to run, in other words, of the need for such an activity for the full development of

these societies.

It is a matter of distinguishing between admissible and inadmissible risks, a

complex, but necessary qualification (NOINVILLE, 2003, p. 3-4). If the notion of levels

used by the exact sciences refers to quantitative data, establishing, for example, levels for

the concentration of certain pollutants in the environment, for the law this notion of levels

has a double function: to determine a limit and also to establish a transgression

relationship to a norm (MORAND-DEVILLER, 2004). That is why, when faced with non-

quantifiable risks, it is essential that they are qualified as admissible risks that may be

accepted by society and are necessary for its development, or as inadmissible risks, in

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other words, those that are intolerable, because they bring with them the possibility of a

threat to the safety or the very existence of humanity. This requires not only a technical

exercise, but also a political and social one when it comes to determining risks that are

admissible under our control.

Global risks are the result of the interaction of technological risks with the natural

risks that are situated on a planetary scale and that have long term effects (DELMAS-

MARTY, 2004, p. 356). In this category are to be found ecological risks, like the risks

related to climate change, bio-technological risks, or even those related to nano-

technologies.3 The aim of the distancing of these risks constitutes the objective of the

protection of the environment and environmental management to the extent in which what

is wanted is to ensure the right to the environment for everyone (SILVA, 2004, p. 83). As

we are dealing with global risks, the responses for introducing a supplementary safety

logic in the face of the uncertainty can only be achieved via global mechanism, such as

those provided for in the United Nations Framework Convention on Climate Change

(1992) or in the Convention on Biological Diversity (1992) and in their respective protocols,

the Kyoto Protocol (1998)4 and the Cartagena Protocol on Bio-safety (2000).5 These legal

mechanisms – conservation in situ and clean development mechanisms, for example –

include local, regional and global protection logic.

1.3. RELATIONSHIP BETWEEN TECHNOLOGICAL INNOVATION AND ENVIRONMENTAL PROTECTION 3 Nano-technology refers to “the technological application of objects and devices that have at least one of their physical dimensions smaller than, or in the order of, a few dozen nanometers. Nano (from the Greek for “dwarf”) is a prefix used in science to indicate one part in a billion and therefore a nanometer (1nm) corresponds to one billionth of a meter” (MELO & PIMENTA, 2004, p. 9). “Along with the enormous possibilities for scientific development offered by the nano-sciences and nano-technologies, nano-particles may in fact spread in an uncontrolled manner through the environment, the same molecules that would allow us to overcome the cerebral barrier carrying essential medication may become the a vector of unknown pathogens, new arms may be based on the special properties of nano-systems, etc. The list is extensive, but as in any new branch of knowledge, it is not because of the prohibition or decreeing of research moratoria, but by the better information to the lay public and through the appropriate social control of scientific activities that the enormous potential of nano-technologies may be better exploited for the good of humanity”. (Idem, p. 19) 4 The Protocol of Kyoto came into force on February 16, 2005, even without the participation of the United States. 5 The Protocol of Cartagena on Bio-safety came into force on September 11, 2003.

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The relationships between technological innovation and environmental protection

may be complementary or antagonistic. In the first case this relationship may be analyzed

from the minimalist or maximalist perspectives.6 The minimalist view consists in glimpsing

a possibility for research and technological innovation that has a direct relationship with

the environment. Environmental concerns would drive the adoption of clean and innovative

mechanisms. In this sense we might talk about clean technologies as those that, at the

same time, seek to achieve three objectives: a minimum consumption of raw materials and

energy, a reduction in the generation of waste and effluents and a reduction in risks. Clean

technologies considered as “traditional” are sectorial, such as waste reduction, a reduction

in the use of toxic products and a reduction in pollutants at source. Clean technologies that

may be classified as “modern or contemporary” are based on an integrated view of the

environmental problem and seek to reduce environmental impact, starting with the life

cycle of products or an ecological conception of procedures. As Chapter 34 of Agenda 21

teaches:

“34.3. Environmentally healthy technologies are not merely

isolated technologies, but whole systems that include

technological and scientific knowledge, procedures, goods,

services and equipment, as well as organization and handling

procedures. This means that when we analyze technology

transfer, we must also deal with the aspects of the choice of

technology relative to the development of human resources and to

an increase in local institutional and technical strengthening,

including those aspects that are relevant to both genders.

Environmentally healthy technologies must be compatible with the

nationally determined socio-economic, cultural and environmental

priorities”.

6 This idea of a minimalist vision of the relationship of research freedom and environmental protection is developed by Laurent FONBAUSTIER (2005) when he analyses Art. 9 of the French Environmental Charter (“ Charte de l´environnement” ) that provides “ Art. 9. Research and innovation must contribute to the preservation and valuing of the environment” (“Art. 9. La recherche et l´innovation doivent apporter leur contribution à la préservation et à la mise en valeur de l´environnement”). With its Environmental Charter France recognized the fundamental rights and duties relative to environmental protection (text adopted on February 28, 2005 by the Parliament (senators and congressmen meeting together in Congress) and enacted on March 1, 2005 by President of the Republic, Jacques Chirac).

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Therefore, the National Environment Policy elected, among its instruments,

production incentives, the installation of equipment and the creation or absorption of

technology that focus on improvements in environmental quality (Art. 9, V of Law,

6.938/81). However, the integration between technological innovation and environmental

protection is not merely a matter of allocating incentives, but requires a reflection on the

very use and development of research and innovations and their respective consequences

for society.

From the maximalist point of view the relationship between technological innovation

and environmental protection preaches including the environmental variable in all

innovative procedures and processes, thus seeking to reinforce environmental safety and

protection, in other words, a reduction in the uncertainty that is at the very heart of

innovation. In other words, one seeks to implement the logic of precaution when it comes

to science, technology and innovation.

If the relationships between environmental protection and technological innovation

may be complementary, they can also be antagonistic. In this second case there are

conflicts: on one side are the defenders of the development of technological innovation,

without the minimum concern for the environmental impact that arises from their research,

and on the other are those that plead for indeterminate moratoria. How can such conflicts

be adjusted, minimized or prevented? All the actors involved – scientists, politicians, in fact

everybody that has some power over decisions, including civil society – need to

understand the meaning of the philosophy and principle of precaution (EWALD, 2001) and

how this principle becomes a reality.

2. MODEL OF CONFLICT ADJUSTMENT: THE ROLE OF THE PRECAUTION PRINCIPLE

The precaution principle expresses the state’s will when it comes to handling

policies relating to natural resources and risks and allows for the implementation of a

socio-environmental conflict adjustment model in the face of technological innovation. This

principle, adopted by the United Nations Conference on the environment and development

in 1992, shows how dynamic international law is, by including the need for adopting a new

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posture when faced with scientific risks and uncertainties. Therefore, the Declaration of

Rio (1992) established that:

“In order to protect the environment, the precautionary approach

shall be widely applied by States according to their capabilities.

When there are threats of serious or irreversible damage ,lack of

full scientific certainty shall not be used as a reason for

postponing cost-effective measures to prevent environmental

degradation.” (Principle 15). 7

2.1. PRECAUTION PRINCIPLE AND PUBLIC POLICIES

Public policies should no longer be conceived in the sense of intervention in human

activities, as is the case with the development of technological innovation, “but as a

general directive, both for the action of individuals and organizations, as well as for the

State itself” (BUCCI, 2002, p. 247). If the law does not determine conduct, as Pierre

Lascoumes states, it has a propositional function and guides actions (LASCOUMES, 1998,

p. 157). In this sense, there is a need to guide public policies, particularly those that focus

on the development of science, technology and innovation, so that they include the

precaution principle.

In this way the Department of Science and Technology of the State of Amazonas

prioritizes the development of new technology that is integrated with the region. So this

Department, in partnership with the Department of Sustainable Development, has

launched the program “Science and Sustainability in the Amazon” whose central axes are:

a) the participation of social actors in the identification of problems and the alternatives to

solve them; b) sustainable development and solidarity; c) the training and capacity

7 The first international text that recognized the precaution principle was the World Nature Charter, adopted by the general assembly of the United Nations in 1982 (Declaration § 11). Subsequently this principle was taken up again in different international conventions on protection of the environment. Among the international declarations and conventions where there is reference to the precaution principle we can mention, for example: a) the ministerial declaration adopted in the second International Conference to protect the North Sea (1987) (§ VII and XV.1), confirmed by the ministerial declaration adopted in the third International Conference in 1990, for protection of the North Sea (preamble); b) the Protocol of Montreal of 1987, referring to substances that destroy the ozone layer (preamble and § 6 modified in 1990) c) Convention-quadro??? Of the United Nations on climate change of 1992 (Article 3 (3))(preamble); d) Convention on Biological Diversity of 1992 (preamble). Cf. SILVA (2004, p.75).

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development of researchers; d) raising the indices of human development by

strengthening rural and traditional communities. 8

2.2. PRECAUTION PRINCIPLE AND RISK MANAGEMENT

Turning the precaution principle into a reality includes the analysis and

management of risks. It is possible to distinguish three elements that go to make up the

structure of risk analysis: risk evaluation, risk management and risk communication

(SILVA, 2004, p 86). We would highlight that recourse to precautionary measures does not

only depend on political choice, since every political choice must be based on

constitutional rules and the precaution principle is part of the spirit of the environmental

protection system that is established by the constitutional text, when it sanctions the right

of all generations, both present and future, to an ecologically balanced environment.

Among the evaluation techniques and devices available we can mention the

definition of “standards” of precaution and attitude when faced with risks; the development

of expert reports and an increase in control techniques. In defining precaution standards,

through research into the activities that potentially imply risks, one seeks to adopt

parameters and procedures to be used when faced with these risks. An active attitude to

risk is based both on the development of applied scientific and technical research, thus

extending the country’s capacity for research, as well as in carrying out previous

environmental impact studies. The constitutional demand that a prior environmental impact

study should be carried out for any civil construction work or activity that may potentially

cause significant degradation of the environment seeks, in this way, to turn the precaution

principle into a concrete reality. 9 The possible existence of activities that develop

technological innovations that cause environmental degradation means that such activities

have to carry out a prior environmental impact study. One is not looking to create

obstacles to the development of science, technology and innovation, but only to raise

doubts and uncertainties as to the risks involved with these activities, the risks of damage.

In like manner one questions the true need for developing such technology for improving

8 Documents of the Department of Science and technology of the State of Amazonas. Manaus, 2003. 9 Clause IV, paragraph 1 of Article 225 of the Federal Constitution of 1988 : “IV – demand in the form of law, for the installation of any work or activity that is potentially the causer of significant degradation of the environment, a prior study of the environmental impact”.

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the conditions of the quality of life of the Brazilian population. The environmental impact

study provides, therefore, an action base for public administration as they turn the

precaution principle into a reality.

The development of expert reports and increases in techniques of control, vigilance

and traceability complement the list of techniques and devices for evaluating risks. The

1988 constitutional text determines that it is the responsibility of Public Authorities to

control the production, sale, employment of techniques, methods and substances that are

a risk to life, the quality of life and the environment. 10 In fact, as François Ewald points out:

“Precaution knocks down the barrier between laboratories and

society, experiences and experimentation. Society itself becomes

an immense laboratory. We experience ourselves in the flesh.

When faced with the presumed risk we are all, at one and the

same time, both experimenter and experimented upon, wise men

and guinea pigs” (EWALD, 2001, p. 53).

There is, therefore, a need to register collective choices as far as technological

innovation is concerned, by broadening the concept of democracy and encouraging the

spreading of information and knowledge.

CONCLUSIONS

What is universal in environmental law is the search for quality of life for human

beings, including the prospect of a sustainable and sustained development. Its

effectiveness, therefore, comprises understanding the meaning of environmental norms

and their application. Reflecting upon this effectiveness in the face of technological

innovation leads to the need to include the logic of precaution in this dynamic of

innovation. It is precisely when the precaution principle becomes a reality that the

development of technological innovation can and should reveal the transforming potential

of knowledge when it comes to constructing a more fair and solidary society.

10 Clause V, paragraph 1 of Article 225 of the Federal Constitution of 1988.

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CONDIÇÕES DE TRABALHO E ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES EM

TELEATENDIMENTO: UMA BREVE REVISÃO

(CALL CENTERS (“TELEMARKETING”) WORKING CONDITIONS AND OPERATORS’ HEALTH: AN OVERVIEW)

Airton Marinho Silva

Mestre em Saúde Pública pelo Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais; Médico do Trabalho; Auditor Fiscal do Ministério do Trabalho e

Emprego. Endereço eletrônico: [email protected]

Endereço para correspondência: Rua São Romão 555/500. CEP 30330-120. Belo Horizonte.

Telefone: (31) 3293 1794

RESUMO O objetivo deste artigo é apresentar as características do trabalho no setor de teleatendimento (telemarketing) com ênfase para os aspectos de saúde desses trabalhadores. Realizou-se revisão bibliográfica sobre a saúde dos trabalhadores no setor de telemática utilizando bases eletrônicas de dados e bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais, além do estudo da legislação brasileira sobre condições de trabalho no setor de telefonia, incluindo jurisprudência e documentos sindicais. Constata-se que a literatura sobre o tema é escassa, sendo que em alguns países os órgãos públicos apenas iniciam a regulamentação das condições de trabalho no setor. Conclui-se pela necessidade de maiores estudos e desenvolvimento de políticas públicas para o teleatendimento, que poderão reduzir o ainda pouco visível adoecimento da grande e jovem população de teleatendentes em nosso país. Palavras-chave: telemarketing; call-center; teleatendimento; saúde do trabalhador; revisão. .

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INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a atividade de teleatendimento vem sendo desenvolvida nos chamados call centers ou centros de teleatendimento. O referido setor econômico incorporou milhões de trabalhadores em todo o mundo e organizou estruturas de atendimento ao público baseadas na interface telefônico-informática (telemática), tornando-se a principal forma de contato para negócios entre a grande maioria das empresas privadas e públicas e seus clientes e/ou usuários. São inúmeros os ramos da economia envolvidos: telefonia, serviços de utilidade pública, bancos, grandes indústrias, grande comércio, entre outros. A década dos anos 90 viu surgirem os grandes call centers, ou centrais de teleatendimento, em todo o mundo, na esteira do verdadeiro dogma da procura da “qualidade total” e demandas mercadológicas de pronto e constante atendimento aos compradores e usuários de bens e serviços em geral. A venda direta ao consumidor via telemarketing, tanto “passivo” quanto “ativo”, por meios telemáticos, tornou-se o carro-chefe de grande número de empresas em todo o mundo. Os dados brasileiros, apesar de controversos e escassos, não diferem quanto à constatação da forte expansão e de sua importância econômica. Segundo a Associação Brasileira de Telemarketing, o setor vem se expandindo em altas taxas, tornando-se “um dos maiores empregadores do país”, apregoando-se a cifra de “mais de 555.000 empregos diretos” (ABT, 2005). O mercado mundial de call centers arrecadou cerca de 23 bilhões de euros em 1998, com estimativas de sessenta bilhões de euros em 2003, empregando cerca de um milhão e meio de europeus e cinco milhões de pessoas nos Estados Unidos (EUA). O número de operadores neste país pode variar de dois a sete milhões, trabalhando em 70.000 estabelecimentos. No Reino Unido, de 160 a 200.000 trabalhadores; na Alemanha, 65.000, e, na Austrália, os números chegam a 60.000 operadores de telemarketing e teleatendimento (Toomingas, 2002). Os call centers são um dos negócios em maior desenvolvimento na Suécia. De 438 trabalhadores em 1987 esse setor emprega 1,5 por cento da população sueca na atualidade (Norman, 2005).

Segundo o Health and Safety Executive, call centers são ambientes de trabalho nos quais a principal atividade é conduzida via telefone, utilizando-se simultaneamente terminais de computador. O operador ou teleatendente é o profissional que atende chamadas que gastam uma proporção significativa de seu tempo de trabalho com chamadas telefônicas e utilizando simultaneamente terminais de computadores (HSE, 2001).

No Brasil, segundo o Código Brasileiro de Ocupações, operador de telemarketing é aquele que atende usuários, oferece serviços e produtos, presta serviços técnicos especializados, realiza pesquisas, faz serviços de cobrança e cadastramento de clientes, sempre via teleatendimento (Brasil, 2002). Sobre as condições gerais de exercício da profissão, o Código Brasileiro de Ocupações, explicita ser “comum o trabalho sob pressão quando as filas de espera de atendimento aumentam”, sendo características do teleatendimento a necessária e contínua utilização do telefone, a variedade de formas de trabalho, a necessidade de relacionamento com os usuários e a organização do trabalho baseada em “roteiros e scripts planejados e controlados para captar, reter ou recuperar clientes” (id.). Ressalta-se ainda que são requeridas diversas “competências pessoais”, como “qualidade vocal (...) autocontrole (...) capacidade de trabalhar sob pressão (...) agilidade... entre outras (id.). Embora os componentes complexos e a natureza exigente do trabalho em teleatendimento sejam

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considerados inerentes à atividade, inúmeros estudos, como será visto adiante, apontam o caráter potencialmente nocivo da mesma e, apesar que reconhecidas na própria descrição da atividade, as exigências de trabalho têm sido subestimadas pelas empresas do setor, como também se verá. A atividade dos call centers tem como cenário a chamada “globalização”, entendida como a superação das fronteiras nacionais pelo capital. Ao mesmo tempo em que se promove a integração espacial dos mercados mundiais, ocorre uma contínua aceleração dos tempos de circulação das informações: “Os fluxos materiais dependem cada vez mais dos imateriais das informações” (Cocco, 1999), justificando a expansão dos call-centers em todo mundo. A expansão é possibilitada pelo que Castels (1999) nomeia amadurecimento da revolução das tecnologias da informação na década de 90, que modificou o mercado e introduziu novas formas de divisão técnica e social do trabalho.

As mudanças na natureza do trabalho incluem, além das mudanças tecnológicas, a co-habitação da “velha” organização do trabalho com tecnologias gerenciais supostamente modernizadoras (Abrahão, 2000).

Como estratégia de sobrevivência e permanência no mercado a cada momento mais competitivo, as empresas focalizam suas atividades nas tarefas ditas “nucleares”, deixando as atividades consideradas “acessórias” a cargo de terceiros, com importantes repercussões no âmbito administrativo e operacional.

A prestação de serviços terceirizados por centrais de teleatendimento em nosso país passa a ser, por um lado, uma estratégia gerencial de atendimento às exigências de mercado e de lucratividade, e, por outro, no caso das empresas do ramo telefônico, uma das formas de atender à regulação estatal brasileira.

O grande crescimento recente do teleatendimento, procurando suprir de mecanismos ágeis o relacionamento empresa-cliente, baseia-se na utilização ampla e intensiva de tecnologias informáticas associadas à telefonia avançada, a telemática. É do maior interesse econômico que: (...) a revolução da informática acelera as outras revoluções. As tecnologias da informação e comunicação encurtaram as distâncias. Promoveram aproximação dos povos em tempo real e a convivência dos seus produtos. (Assunção e Souza, 2000)

Os trabalhadores que garantem a produção e a transmissão das informações são exigidos em novas e freqüentemente múltiplas e complexas funções, muito além das exigências anteriores de “apenas” sua força muscular. Segundo Castels (1999), os trabalhadores deixam de ter controle sobre seu tempo de trabalho, aprofundando-se as queixas de perda do significado do trabalho, de sensações de perseguição, impotência, inutilidade, esvaziamento, exigindo esforço mental não mensurável pelos padrões matemáticos correntes. No Brasil e em todo o mundo, as empresas de teleatendimento utilizam controles cada vez mais rígidos dos tempos e das tarefas, São utilizados registros eletrônicos e controles estritos de tempos de atendimento e de qualquer pausa ou interrupção do trabalho (Assunção e Vilela, 2003).

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Dessa forma organizado, o setor expõe os seus trabalhadores a fatores de risco que explicariam a alta prevalência de queixas registradas, tanto na literatura quanto nos organismos sindicais (Marinho-Silva, 2004). Diversas organizações sindicais em nível internacional têm denunciado condições de trabalho inaceitáveis, salários baixos e discriminações diversas. Chega-se a denominar os call centers “sweatshops of the electronic age”, o que, em tradução livre, corresponderia a “senzalas da era eletrônica”. Para este estudo, realizou-se uma revisão da literatura, sendo as palavras-chave, utilizadas isoladamente ou em cruzamentos, “telemarketing”, “teleatendimento”, “telemática”, “call centers”, “call centres”, “centres d’appels”, “operadores de telemarketing”. Foram consultados teses, dissertações, trabalhos científicos e publicações em bases de dados eletrônicas e sistema de bibliotecas universitárias da Universidade Federal de Minas Gerais, assim como livros e publicações diversas (periódicas ou não) relacionados ao tema “trabalho” e suas repercussões sobre a saúde dos trabalhadores. Consultaram-se, da mesma forma, leis e normas de regulamentação de condições de trabalho no Brasil, normas estatais do setor de telefonia pública, fixa e móvel no Brasil, além de literatura eletrônica internacional pertinente, resultado de pesquisa de documentação eletrônica disponível na Internet.

O TELEATENDIMENTO NO BRASIL Vários ramos de atividade utilizam-se, cada vez mais, de serviços de teleatendimento. Em especial, o teleatendimento em telefonia pública tornou-se um grande ramo empresarial após mudanças recentes na política de telecomunicações do país, notadamente o processo de privatização ocorrido na última década. Grandes empresas estatais, sem objetivo formal de lucratividade, eram responsáveis por toda a operação de telecomunicações, incluindo o atendimento ao cliente. A transformação do cenário, com empresas privatizadas, gerou a necessidade de mecanismos gerenciais mais rígidos, para corte de custos, competitividade e retorno de investimentos. Optou-se pela contratação de serviços terceirizados prestados por grandes empresas de teleatendimento, buscando atender às exigências de mercado e de atendimento aos clientes e, ainda, atender à regulação telefônica estatal brasileira, que exige garantia de tempos mínimos de atendimento e “qualidade” de resposta aos usuários. Nota-se, no entanto, um paradoxo evidente entre os discursos mercadológicos de atenção ao cliente e qualidade máxima de atendimento, em contraposição às condições de trabalho oferecidas aos operadores e às manifestações de insatisfação da clientela com os serviços prestados1 (Mascia e Sznelwar, 2000). O contexto econômico e estrutural do Brasil nos últimos anos favorece o crescimento exponencial do teleatendimento, em todos os ramos econômicos, com altos índices de desemprego, mão-de-obra jovem qualificada e disponível, e possibilidade de se pagarem salários próximos ao mínimo legal. Veremos que o estudo das repercussões desse processo mostra situação excludente por adoecimento e alta rotatividade no emprego, no qual se sobressaem as precárias condições de trabalho oferecidas.

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No contexto internacional, o movimento de redução de custos por parte de grandes empresas estimula o surgimento de call centers em países como Índia, México e Filipinas, onde a população recebe baixa remuneração e é fluente em inglês ou espanhol. Sem a vantagem do idioma, empresas brasileiras tentam oferecer custos ainda menores: um atendente brasileiro ganha cerca de um terço do salário de um americano (Salomone, 2004). De maneira geral, o quadro econômico define os aspectos sociais dos profissionais de teleatendimento no Brasil: são jovens (78% até 30 anos de idade), de perfil predominantemente feminino (70%) e de alta qualificação, com estudaram Assunção e Vilela em 2003, dados esses, ademais, de fácil extrapolação para todo o Brasil (ABT, 2006). No entanto, são profissionais mal remunerados. Os salários da categoria no estado do Rio de Janeiro, no ano de 2003, situavam-se na faixa de R$ 245,00 mensais (aproximadamente 1,1 salário mínimo), “piso” salarial de R$ 1,34 (um real e trinta e quatro centavos) por hora.2 Essa situação não é diferente em outros estados de nosso país. De forma similar, o Acordo Coletivo do Sintetel (2006) com empresas de teleatendimento de São Paulo, para o período 2005-2006, definiu piso salarial para milhares de teleatendentes: CLÁUSULA 02 – PISO SALARIAL Fica convencionado que o piso salarial vigente em 31 de março de 2005 será reajustado em 1.º de abril de 2005 pelo percentual único de 8% (oito por cento), totalizando R$ 540,00 (quinhentos e quarenta reais), o qual vigorará pelo prazo de 12 (doze) meses.

Não é difícil avaliar como esses valores salariais repercutem óbvia e negativamente sobre a qualidade de vida dos trabalhadores do setor em estudo.

O PAPEL DA REGULAMENTAÇÃO DA ANATEL Em 1997, criou-se a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), órgão estatal regulador das telecomunicações, dentro do processo de privatização do setor no Brasil, visando organizar a exploração dos serviços de telefonia. O quadro normativo desenvolvido pela Agência não faz qualquer referência à saúde dos trabalhadores envolvidos, tanto nas concessionárias quanto nos prestadores de serviços (Brasil, 1998). As regras são focadas nos aspectos econômicos do setor, sendo o conceito de qualidade de atendimento vinculado, basicamente, aos tempos de espera do consumidor. Paradoxalmente, então, as exigências de “qualidade”, traduzidas em redução de tempos do serviço telefônico prestado acabam por interferir diretamente na organização do trabalho de teleatendimento, justificando, do ponto de vista empresarial, a definição de rígidos tempos médios de atendimento (TMA). O Regulamento do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) da Anatel prevê que a prestadora de serviços telefônicos deve tornar disponível ao cliente acesso contínuo, rápido e gratuito, 24 horas por dia e 7 dias na semana, à central de informações e atendimento. O regulamento do chamado Plano Geral de Metas de Qualidade, em seu Artigo 16, define:

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As chamadas destinadas aos serviços que utilizarem auto-atendimento ou necessitarem da intervenção de telefonistas deverão ser atendidas (...) em até 10 segundos, (...) em 95% dos casos (...) (grifos nossos). §1º - Em nenhum caso, o atendimento deverá se dar em mais de 35 segundos (grifo nosso) (Brasil, 1998).

Há previsões contratuais de punição, caso as disposições sejam violadas, implicando perda da qualidade na prestação dos serviços, como multas de até R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais) (ibid.). Vale comentar que, do ponto de vista da Agência, visando a proteção do serviço prestado à população, as exigências são desejáveis e necessárias ao modo de funcionamento das comunidades urbanas. Além disso, a maior parte das despesas dos call centers refere-se aos custos com pessoal, do ponto de vista empresarial, interessando em manter o menor número de trabalhadores em atividade, intensificando suas tarefas. Ao mesmo tempo, negligencia-se a percepção dos trabalhadores sobre o desgaste gerado e os efeitos sobre a saúde descritos pela literatura científica (Torres, 2001; Abrahão et al., 2003; Taylor e Bain, 1999).

O TRABALHO INTENSIFICADO NO TELEATENDIMENTO: AS EXIGÊNCIAS DE TEMPO Como operários de fábricas tradicionais, os teleatendentes efetuam seu trabalho seguindo esquemas preestabelecidos, enfrentando uma grande repetitividade de tarefas. São muito comuns, além disso, formas paralelas de remuneração baseada em produtividade. Esses princípios aproximam-se dos sistemas tayloristas, o que tem sido considerada como uma “industrialização” das atividades de serviço (INRS, 2005). Análises ergonômicas detalhadas, como o estudo de Assunção e Vilela (2003) em grande empresa de teleatendimento do ramo telefônico, mostram com clareza e detalhes a carga cognitiva de trabalho, as pressões de tempo e a rigidez do controle sobre os teleatendentes. A avaliação do desempenho é feita tomando-se por base “a qualidade do atendimento, tempo médio de atendimento (TMA), assiduidade e pontualidade, tempo “logado”3 e relacionamento interpessoal”. São freqüentes os estímulos à produtividade através de “campanhas motivacionais” e oferecimento de folgas vinculadas a metas quantitativas de vendas ou ligações.

As pressões de tempo são explícitas: as telas dos computadores apresentam sistema de aferição, em tempo real, codificado por cores, para os tempos de cada atendimento. Por exemplo, um dos setores adota a seguinte forma: “Azul: menos de 20 segundos; Amarelo: de 20-25 segundos; Vermelho: acima de 25 segundos” (id.). O gráfico a seguir, extraído e adaptado da referida pesquisa, mostra os tempos médios de atendimento, em torno de 25 segundos, mantidos mês a mês por atendentes no setor de “Auxílio à Lista”:

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O uso estrito e controlado de scripts pré-formatados é uma tentativa de padronização e aceleração dos atendimentos por parte da empresa. Essa tática, porém, como constatado pela pesquisa referida, não se mostrou suficiente para a resolução dos problemas reais. Na observação de atendimentos de um operador, foram atendidas 66 chamadas em trinta minutos, necessitando-se de 69 perguntas adicionais ao texto padronizado para melhor compreensão das demandas dos clientes, com uma média aproximada de duas perguntas extra por minuto. Essa média demonstra, segundo as autoras, a dificuldade em compreender a solicitação do cliente (Assunção e Vilela, 2003). Em acréscimo ao gerenciamento estrito pelo tempo, as rotinas de trabalho são também impostas rigidamente, com os diálogos previamente formatados, já referidos. Estudos mostram, entretanto, que os operadores estão constantemente submetidos a situações problemáticas e as respostas dadas e o modo de resolução dos problemas variam de acordo com as demandas flutuantes, sendo formatados em tempo real por suas competências e pela pressão temporal a que se encontram submetidos (Mascia e Sznelwar, 2000). Faz-se necessário mediar linguagens, de um lado a linguagem coloquial do cliente e, de outro, a linguagem informática e técnica, prescrita e codificada. São as competências de cognição e memória do operador que vão permitir que o diálogo seja inteligível para o usuário e, ao mesmo tempo, ágil e correto tecnicamente, com registros adequados no sistema informático. O contato com o público envolve a recepção de queixas e escuta de problemas diversos e variáveis, gerando continuado esforço cognitivo de concentração, compreensão e síntese (Echternacht, 1998).

Autores suecos (Norman et al., 2002) demonstraram, de forma similar, que em call centers há demandas quantitativas rigorosas, simultâneas a demandas qualitativas também fortes. O operador tem de servir bem os clientes e ainda manter reduzidos os tempos das chamadas. O processo, segundo os autores, envolve altas exigências de percepção, atenção e interações emocionais diversas. Adicionalmente, Fernandes et al. (2002) mostraram a existência de “bônus” e prêmios de produtividade individual em call center, gerando acelerações do processo e do ambiente de competitividade contínuo.

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Na literatura consultada, vários fatores são considerados geradores de sofrimento e patologias, incluindo a pressão temporal (tempos médios de atendimento em torno de 30 segundos por chamada), insuficiência de pausas, restrições ao diálogo, atenção mantida e forte solicitação da memória, estímulos à competitividade, monitoramento eletrônico das chamadas (Sznelwar e Massetti, 2000). Outras queixas são relatadas pelos próprios trabalhadores e por estudiosos, como a manutenção de posturas inadequadas, utilização contínua da voz, exposição aos sons gerados pelo fone de ouvido e ruído ambiente, desconfortos térmicos, iluminação deficiente e restrições à satisfação das necessidades fisiológicas (Sinttel-MG, 2001; Torres, 2001; Toomingas, 2002). A utilização intensiva da informática é evidenciada no estudo de Assunção e Vilela (2003), acima citado: o número de telas de programas de informática consultadas em chamadas típicas em determinado setor variava entre 11 e 70, desde a identificação do cliente até a emissão de uma ordem de serviço, em tempo médio previsto de 130 segundos: o tempo destinado à consulta de cada tela torna-se extremamente curto e o trabalhador acelera suas consultas para manter-se dentro dos tempos exigidos pela empresa. O intervalo entre as chamadas é ponto-chave na avaliação gerencial dos sistemas, evitando-se esperas para os clientes e infrações à legislação, no caso do ramo telefônico. No estudo de Assunção e Vilela, os intervalos são exíguos ou inexistentes, ocupando-se os operadores, durante toda a jornada, com apenas a pausa formal de quinze minutos em seis horas de jornada. Glina e Rocha (2003), estudando centros de atendimento de setores diversos, observaram que “no trabalho dos operadores (...) existiam altas exigências, tanto quantitativas quanto qualitativas”. Após análise ergonômica detalhada de tarefas de teleatendimento, estudiosos concluem que, no trabalho de centrais com fortes ritmos, existe uma seleção natural dos atendentes ou a seleção pela própria empresa (“os que não suportam o trabalho são demitidos ou pedem demissão”) e que claramente demonstra que se está “diante de uma nova taylorização do terciário, que, neste caso, prega o forte controle do tempo médio de atendimento, impondo agora aos trabalhadores grandes exigências mentais e psíquicas” (Santos, 2004). A literatura científica, como visto, é coerente com as afirmações dos trabalhadores junto a seus sindicatos, em todo o mundo, mostrando a superutilização da capacidade mental e emocional dos operadores. Surgem assim, além dos danos ocupacionais considerados “tradicionais”, outros danos, menos visíveis, à saúde do trabalhador (Sinttel-MG, 2001).

AS EVIDÊNCIAS DE ADOECIMENTO DOS TELEATENDENTES O potencial patogênico das condições de trabalho nos centros de teleatendimento já está suficientemente descrito pelos pesquisadores que se ocupam da questão (Dejours, 1987; Assunção e Souza, 2000; Abrahão, 2000; Glina e Rocha, 2003). Os reflexos dessa situação existem, mas não são patentes e nem sempre explícitos. A presença constante de queixas e sintomas de estresse e o alto absenteísmo (Torres, 2001) são evidências de desgaste, resultante de regulações cognitivas, altas exigências afetivas e psíquicas num ambiente sonoro desconfortável, utilizando-se mobiliário precário (Abrahão et al., 2003).

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Os estudos, no decorrer das últimas décadas, apontam para sintomas de ordens física e mental, com destaque para o aspecto psicoafetivo, evidenciando-se a relação dos sintomas com a organização do trabalho, dada a intensificação do trabalho e as queixas citadas (Le Guillant, 1984; Dejours, 1987; Wisner, 1994; Echternacht, 1998; Glina e Rocha, 2003). Percebe-se, também, uma tendência à subestimação dos fatores de risco demonstrados na literatura científica. Glina e Rocha (2003) mostraram associação entre os conflitos qualidade/quantidade, a fila de clientes em espera, a falta de controle sobre o trabalho, o monitoramento eletrônico do desempenho, entre outros fatores, e a tensão psicológica, a ansiedade, a depressão e a fadiga em operadores de empresa de telefonia. As autoras confirmaram a existência de elevada sobrecarga emocional, cognitiva e física no trabalho dos operadores de telemarketing. Foram descritas relações claras entre a atividade de trabalho e os sintomas apresentados pelos telefonistas estudados, incluindo fadiga visual, distúrbios do sono, sintomas digestivos e gerais, distúrbios da personalidade e da vida relacional. Os achados têm caráter universal, validados pelos trabalhadores e suas organizações em amplos estudos realizados por organizações sindicais, governos e institutos de pesquisa de países desenvolvidos. Pesquisa recente envolvendo 3.500 operadores franceses de teleatendimento mostrou resultados contundentes, com queixas de ansiedade, estresse e fadiga (71% dos entrevistados), problemas visuais e auditivos (16%) e dorsalgias (6%) (CFDT, 2002). Teleatendentes mostraram uma prevalência mais alta de distúrbios de pescoço e extremidades superiores em relação a outros usuários profissionais de computadores, como ficou demonstrado em estudo amplo de 28 centros de atendimento na Suécia (Norman, 2005). O Quadro 1 a seguir resume e relaciona os principais resultados das análises ergonômicas do trabalho em teleatendimento consultadas, com fatores de geração de patologias e sofrimento enumerados por autores que se têm dedicado ao assunto:

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A alta rotatividade, as dificuldades de recrutamento e de gerenciamento, principalmente quanto à retenção de pessoas, são problemas enfrentados pela gerência, mas nem

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sempre percebidos como conseqüências negativas do ambiente de trabalho nocivo (Abrahão, 2000; Taylor e Bain, 1999; INRS, 2005). Do ponto de vista da execução da tarefa dos teleatendentes, a variabilidade de situações, associada às exigências de rapidez, rigidez de comportamento e fala, e relacionamento com o público, são, segundo Wisner (1994), Echternacht (1998), Fernandes (2002) e INRS (2005), motivos de acentuação da carga de trabalho. A noção de carga de trabalho utilizada pelos autores refere-se à resultante dos processos de regulação das variáveis presentes na atividade desenvolvidos pelos trabalhadores. A carga aumenta na medida em que diminuem as alternativas operatórias ante as variáveis das situações de trabalho. Os teleatendentes, utilizando estratégias e competências adquiridas no próprio trabalho, procuram gerir as ambigüidades da tarefa proposta: atender rapidamente e de forma padronizada uma demanda variável, sem perda de qualidade. Esse compromisso não se faz sem custos para o estado interno e para a integridade física e mental dos atendentes, como demonstram os estudos citados. O estudo já clássico de Le Guillant, em 1956 (Le Guillant et al., 1984), descrevendo o que se chamou de “neurose das telefonistas”, mostrou a tensão nervosa gerada pelo processo de trabalho como fator de rendimento e aceleração das tarefas, sendo a piora dos sintomas das telefonistas atribuída aos sistemas de controle e anotação de chamadas. É evidente a atualidade dessas constatações em relação à importância dos processos tecnológicos e das questões de controle de tempo no adoecimento dos trabalhadores na área de telefonia. Vê-se que os achados das análises ergonômicas do trabalho apresentadas e dos autores estudados vêm contrapor-se, frontalmente, à lógica racional de produtividade, de procura de lucros máximos e custos mínimos, em constante processo de pressão e competição, procurando controle total sobre as formas de trabalho, mas que não leva em conta o desgaste e as competências necessárias para o desempenho das tarefas prescritas, conforme anunciam Taylor e Bain (1999) e Fernandes (2002).

DISCUSSÃO: TECENDO UMA PERSPECTIVA PARA A QUESTÃO Todos os estudos relativos ao crescente setor de teleatendimento consultados nesta breve revisão demonstram situações de trabalho intensificado, alta rotatividade no emprego, precárias condições ergonômicas e situações de adoecimento evidente. Percebe-se a necessidade de maior disseminação dos conhecimentos e de intensificação da pesquisa sobre os efeitos à saúde gerados por essas formas diferenciadas de trabalho. Existe também a necessidade e a urgência de regulamentação estatal, acompanhada de políticas públicas para o setor de teleatendimento, no sentido da aquisição de certo equilíbrio de forças entre quem organiza e comanda a produção e aqueles que, ao produzir, sofrem a repercussão do trabalho (Marinho-Silva, 2004). As intervenções políticas podem modelar novas relações entre o Estado e os atores do setor privado, com suas perspectivas e objetivos, fazendo com que o poder econômico, mesmo contra a sua vontade e os seus interesses, venha a abordar em sua organização do trabalho os aspectos de preservação da saúde do trabalhador já demonstrados pela ciência. Diversos governos e organizações de trabalhadores tentam intervir nos setores de teleatendimento, através de recomendações de “boas práticas” específicas para as condições de trabalho4. No entanto, a legislação referente à organização do tempo de

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trabalho mostra-se incapaz de acompanhar a celeridade das mudanças, não apenas em nosso país. Essa realidade é contundente em países de economia periférica, onde o Estado não se contrapõe à força do capital. O recente processo de privatização dos serviços públicos e a criação de agências estatais envolvidas exclusivamente no fomento econômico demonstram essa posição. Torna-se fundamental reverter a tendência identificada, criando perspectivas favoráveis por meio de políticas públicas facilitadoras da ação dos trabalhadores sobre as formas de organização de seu trabalho, com ênfase nas questões temporais, para conservação de sua saúde e desenvolvimento de sua experiência. Em suma, os desafios postos estão condicionados a conjunturas econômicas, políticas e sociais e com forças díspares envolvidas. Somente o amplo apoio social, baseado no conhecimento científico, na organização dos trabalhadores e em vontades políticas explícitas fará ganhar vida e força qualquer tentativa de contraposição à organização do trabalho predatória atualmente instalada na atividade econômica de teleatendimento.

NOTAS 1 Segundo relatório de pesquisa “1998 International Call Centre Benchmarking Report” disponível em <http://www.weoverc.com/index.html >, há grande insatisfação (“63%”) dos consumidores ingleses com as formas de utilização de call centers. No Brasil, como divulgado amplamente pela imprensa (“Porto Alegre terá lei antitelemarketing”. Folha de S. Paulo, 02 out. 2003), o município de Porto Alegre, RS, promulgou legislação para que os consumidores insatisfeitos possam registrar-se em listas cujos nomes não poderão ser chamados pelas empresas de telemarketing. 2 http://www.sinttelrio.org.br/contax.doc 3 Tempo “logado” refere-se ao tempo durante o qual o atendente encontra-se com o seu computador efetivamente conectado ao sistema de atendimento, em condições de atender chamadas. Interrupções para atendimento de necessidades fisiológicas, por exemplo, são consideradas como tempo não “logado”. 4 Ver “Health & Safety Executive (HELA) – United Kingdom - Advice Regarding Call Centre Working Practices”, dez. de 2001; ver também HSE - HEALTH & SAFETY EXECUTIVE. Psychosocial risk factors in call centres: An evaluation of work design and well-being. 2003. Disponível em: <http://www.hse.gov.uk/research/rrhtm/rr169.htm> . No mesmo sentido, consultar também <http://actu.labor.net.au/public/papers/minstandscode.html> REFERÊNCIAS ABRAHÃO, J.; TORRES, C. e ASSUNÇÃO, A. A. Penosidade e estratégias de atenuação

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CALL CENTERS (“TELEMARKETING”) WORKING CONDITIONS AND OPERATORS’ HEALTH: AN OVERVIEW

AIRTON MARINHO-SILVA¹

¹Master’s degree graduate in Public Health, the Post-graduate Program in Public Health, Faculty of Medicine, the Federal University of Minas Gerais; Employment Doctor; Ministry of Labor Auditor and Inspector.

ABSTRACT

The purpose of this article is to present the working characteristics of the telemarketing sector, with a particular emphasis on the health aspects of the workers who are involved. We undertook a bibliographic review of workers’ health in the telematics sector, using electronic databases and the libraries of the Federal University of Minas Gerais, in addition to studying Brazilian legislation relating to working conditions in the telephone sector, including case law and union documents. We saw that there is little literature on this subject; in some countries public authorities are only just beginning to introduce regulations regarding working conditions in the sector. We concluded, therefore, that it is necessary for further studies to be carried out and that public policies for telemarketing need to be developed that can reduce the, as yet barely apparent, health problems being faced by the large, young population of telemarketing workers in Brazil. Key words: telemarketing; call-center; telemarketing operators, occupational health; overview.

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INTRODUCTION Over the last few years telemarketing activities have been developed in what are

commonly called call centers, or telemarketing centers. This economic sector employs

millions of workers all over the world and has organized structures for dealing with the

public, based on a telephone-IT interface (telematics). It has become the main form of

business contact for the vast majority of both public and private companies with their

customers and/or users. Countless branches of the economy are involved: telephony,

public utilities, banks, major industries, large commercial organizations and others.

The major call centers first started appearing worldwide in the 90s, on the back of

the veritable dogma that surrounded the search for “total quality” and market demands for

an instant and continual service for the buyers and users of goods and services, in

general. Direct sales to the consumer, via both “passive” and “active” telemarketing,

became the driving force of a large number of companies throughout the world.

Despite being controversial and scarce, Brazilian data do not differ from those of

other countries; they show a strong expansion of this particular business sector and its

economic importance. According to the Brazilian Association of Telemarketing the sector

has been expanding very fast and is becoming “one of the largest employers in the

country”, with “more than 555,000 direct jobs” (ABT, 2005).

The world call center market had revenues of nearly €23 billion in 1998, with an

estimate of €60 billion for 2003, employed nearly 1.5 million Europeans and 5 million

people in the USA. The number of operators in the latter country may vary from 2 to 7

million, working in some 70,000 establishments. In the United Kingdom the number of

employees is between 160,000 and 200,000, in Germany, 65,000 and in Australia there

are some 60,000 telemarketing and teleservice operators (Toomingas, 2002). Call centers

are one of the fastest developing businesses in Sweden; in 1987 this sector employed 438

workers and currently employs 1.5% of the total Swedish population (Norman, 2005).

According to the Health and Safety Executive, call centers are work

environments where the main activity is carried out by telephone, with the

simultaneous use of computer terminals. The operator, or teleassistant, is a

professional who answers the calls, which take up a significant proportion of his or

her time at work, while simultaneously using a computer terminal (HSE, 2001).

According to the Brazilian Code of Occupations, in Brazil the telemarketing

operator is a person who deals with users, offers services and products, provides

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specialist technical services, carries out research and makes calls for collecting

money or registering customers, always via teleservicing (Brasil, 2002).

With regard to the general working conditions of this profession, the Brazilian Code

of Occupations explains that “working under pressure is common when the number of

those waiting to be put through increases”, because the characteristics of telemarketing

are the necessary and constant use of the telephone, a variety of types of work, the need

to relate to the users and work organization based on “planned and controlled routines and

scripts, aimed at capturing, retaining or recovering customers” (id.). It also emphasizes

that different “personal competences” are required, such as “vocal quality (...) self-control

(...) the capability of working under pressure (...) agility ... and others” (id.). While the

complex components and demanding nature of telemarketing work are considered intrinsic

to the activity, as we shall see later there are countless studies that point to its potentially

harmful nature and, despite the fact that it is recognized in the description of the activity,

the demands made on people by this work have been underestimated by companies in the

sector, as we shall also see.

The scenario within which call centers operate is that of so-called “globalization”,

understood to be the transcending of national frontiers by capital. At the same time that the

spatial integration of world markets is being promoted, the time it takes for information to

circulate is constantly speeding up: “Material flows increasingly depend on the immaterial

nature of information” (Cocco, 1999), thereby justifying the expansion of call centers all

over the world.

Expansion is made possible by what Castels (1999) calls the maturing of the

information technology revolution in the 90s, which modified the market and introduced

new forms of the technical and social division of work.

In addition to technological changes, changes in the nature of work include

the co-existence of the “old” organization of work alongside management

technologies that supposedly modernize it (Abrahão, 2000).

As competition continually increase, company strategy for surviving and

staying in the market is to focus its activities on tasks said to be “core”, leaving

those activities considered to be “accessory” up to third parties. This has important

repercussions in the administrative and operational sphere.

The provision of outsourced services by telemarketing centers in our

country is beginning to become a management strategy for handling market and

profitability demands on the one hand, and on the other, in the case of telephone

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companies, one of the ways they have found of coming into line with Brazilian state

regulations.

The recent large growth in telemarketing services, which try to provide the

company-customer relationship with agile mechanisms, is based on an extensive and

intensive use of IT, in association with advanced telephony - telematics. It is of the utmost

interest economically that:

(...) the informatics revolution speeds up other revolutions. IT and

communications reduce distances; they have brought people together in

real time and made them familiar with their products. (Assunção and Souza,

2000)

The workers that guarantee the production and transmission of the

information are required to undertake new and frequently multiple and complex

functions that go way beyond the previous demands on “just” their muscle power.

According to Castels (1999) workers stop having control over their work

time and the complaints about the loss of significance of their work and feelings of

persecution, impotence, uselessness and emptiness, all demanding a mental effort

that is not measurable using current mathematical standards, are increasing.

In Brazil, as in the rest of the world, telemarketing companies are using

increasingly rigid time and task controls. They use electronic registers and strict

time controls for handling the calls and any breaks, or interruption in the work

(Assunção and Vilela, 2003).

Thus organized, the sector exposes its workers to risk factors, which

explains the prevalence of complaints registered both in literature and by the

unions (Marinho-Silva, 2004).

Various union organizations at the international level have denounced the

unacceptable working conditions, low salaries and various types of discrimination

of call centers, which have even been called the “sweatshops of the electronic

age”.

For this study we reviewed literature, using as the key words, either in

isolation or cross-referencing them, “telemarketing”, “teleservicing ”, “telematics”,

“call centers”, “call centres”, “centres d’appels”, “telemarketing operators”. We

consulted theses, dissertations, scientific works and publications on electronic

databases and in the library systems of the Federal University of Minas Gerais, as

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well as various books and publications (whether periodicals, or not) relating to the

topic “work” and its repercussions on workers’ health. We likewise consulted the

laws on and regulations relating to working conditions in Brazil, the state rules for

local public, fixed and mobile telephone services, in addition to relevant

international electronic literature that was the result of researching through the

electronic documentation available on the Internet.

TELEMARKETING IN BRAZIL Various areas of activity are increasingly using telemarketing services.

Telemarketing in public telephony, in particular, has become big business after recent

changes in Brazil’s telecommunications’ policy, notably the privatization process that

occurred in the 90s. Large state companies, without any formal profitability objectives,

used to be responsible for all telecommunications operation, including customer service.

The transformation that occurred when the companies were privatized created the need

for stricter management mechanisms to cut costs, increase competitiveness and provide a

return on investments.

The new organizations chose to hire outsourced services as provided by large

telemarketing companies, thereby seeking to meet market and customer service demands,

while at the same time coming into line with Brazilian state telephone regulations that

demand guaranteed minimum answering times and a “quality” response for users.

We note, however, that there is an evident paradox between the marketing

discourse of serving customers and top quality service and the working conditions offered

to operators and the manifestations of dissatisfaction from the customers about the

services they are receive1 (Mascia and Sznelwar, 2000). The economic and structural context of Brazil over the last few years, with its high

levels of unemployment, young, qualified and available labor and the possibility of paying

salaries little higher than the legal minimum, has favored the exponential growth of

telemarketing in all economic segments. We shall see that a study of the repercussions of

this process, in which the precarious working conditions offered are very evident, shows a

situation where employees are excluded because of sickness and where there is high 1 According to the research report “1998 International Call Centre Benchmarking Report” available at <http://www.weoverc.com/index.html >, there is great dissatisfaction (“63%”) on the part of English consumers with the way call centers are used. In Brazil, as widely published in the press (“Porto Alegre will have an anti-telemarketing law”. Folha de S. Paulo, Oct 2, 2003), Porto Alegre, RS, introduced legislation allowing dissatisfied consumers to put their names on lists, thus preventing telemarketing companies from calling them.

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turnover.

In The International Context The Movement On The Part Of Large Companies For

Reducing Costs Has Encouraged The Rise Of Call Centers In Countries Such As India,

Mexico And The Philippines, Where The Populations Receive Low Salaries And Are

Fluent In Either English Or Spanish. Without The Advantage Of Language Brazilian

Companies Try To Compete With Even Lower Costs: A Brazilian Teleworker Earns Less

Than One Third Of The Salary Of An American (Salomone, 2004).

Generally speaking, the economic picture is what defines the social aspects of

telemarketing professionals in Brazil; as Assunção and Vilela found out in their study in

2003, they are young (78% under 30 years old), predominately female (70%) and highly

qualified. Furthermore, these data are easily extrapolated for the whole of Brazil. (ABT,

2006). They are, however, badly paid professionals. The salaries of this category of worker

in the State of Rio de Janeiro in 2003 were around R$ 245.00 per month (approximately

1.1 x minimum salary), the minimum wage for the category was R$ 1.34 (one real and

thirty four cents) per hour.2 This situation is no different in other states in Brazil. Similarly

the Collective Bargaining Agreement of Sintetel (2006) with telemarketing companies in

São Paulo for the 2005-2006 period defined the following minimum salary for thousands of

teleservice workers:

CLAUSE 2 – MINIMUM WAGE FOR CATEGORY

It is hereby agreed that the minimum wage prevailing on March 31, 2005 shall be

readjusted on April 1, 2005 by the single percentage of 8% (eight percent), totaling

R$ 540.00 (five hundred and forty reais), which amount shall be in force for a

period of 12 (twelve) months.

It is not difficult to assess how salaries at this level have an obviously negative

effect on the quality of life of the workers in the sector we are here studying.

THE ROLE OF ANATEL REGULATIONS

In 1997 the National Telecommunications Agency (Anatel), a state regulatory body

for the telecommunications industry, was set up as part of the privatization process of the

sector in Brazil with the aim of organizing the business of running the telephone services.

The regulatory picture devised by the Agency makes no reference to the health of the 2 < http://www.sinttelrio.org.br/contax.doc >

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workers involved - neither those employed in the concession holders, nor in the service

providers (Brasil, 1998). The rules focus on economic aspects of the sector, with the

concept of service quality being basically linked to the waiting times of the consumer.

Paradoxically therefore, demands for “quality”, translated to mean a reduction in telephone

call times, end up interfering directly in the organization of the work of the telemarketing

operator and from the business point of view justifying the definition of strict average

answering times (TMA).

Anatel Regulations for the Commuted Fixed Telephone Service (STFC) establish

that the telephone service provider must make available to the customer, continuous, rapid

and free access to the information and service center, 24 hours a day, 7 days a week.

Article 16 of the regulations of the so-called General Quality Targets Plan define:

Calls to automatic answering services or those that need the intervention of the

telephonist must be answered (...) in up to 10 seconds, (...) in 95% of cases (...)

(our italics).

§1º - In no case should it take longer than 35 seconds to answer the phone (our

italics) (Brasil, 1998).

If the contractual provisions are broken, thereby implying a loss of quality in the

service provided, there are sanctions, such as fines of up to R$ 40,000,000.00 (forty

million reais) (ibid.).

It is worth mentioning that from the point of view of the Agency, whose aim is to

protect the service provided to the population, it is both desirable and necessary that in

urban communities the demands function in this way. Furthermore, most of the expenses

of call centers are related to staff costs, and so from the business point of view it is

interesting to keep the number of workers in activity to a minimum, while increasing the

number of tasks they have to do. At the same time the perception of the workers on the

harm caused to them and the effects on their health, as described in the scientific

literature, is ignored (Torres, 2001; Abrahão et al., 2003; Taylor and Bain, 1999).

THE INTENSIFICATION OF WORK IN THE TELEMARKETING AREA: TIME DEMANDS Like workers in traditional plants telemarketing operators work following pre-

established routines and, as a result, are faced with a number of largely repetitive tasks.

Furthermore, parallel forms of remuneration based on productivity are very common.

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These principles are similar to Taylorist systems and have been considered to be the

“industrialization” of service activities (INRS, 2005). Detailed ergonomic analyses, like

Assunção and Vilela’s (2003) study in large telemarketing companies in the telephone

sector, clearly and in detail show the cognitive workload of telemarketing operators, the

time pressures under which they work and the strict way in which they are controlled. Their

performance evaluation is carried out based on “service quality, average time taken to

answer calls (TMA), diligence and punctuality, logged‡ time of call and interpersonal

relationship”. Productivity drives, involving “motivational campaigns” and the offer of days

off linked to the number of sales or calls answered targets, are frequent.

Pressures on time are explicit: the computer screens have a measurement system

in real time that is color coded, showing the length of time for each call. For example, one

of the sectors adopts the following code: “Blue, less than 20 seconds; Yellow: from 20-25

seconds; Red: over 25 seconds” (id.).

The following graph, taken and adapted from the above mentioned research,

shows the average call times, as being around 25 seconds; this is sustained month after

month by operators in the “Directory Enquiries” sector: ‡ Logged time refers to time during which the tele-assistant is actually connected to the call system able to answer calls. Interruptions to attend to ‘physiological necessities’, for example, are considered as unlogged time.

[Mean of average call times (in seconds) in the “Directory Enquiries” sector

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The strictly controlled use of preformatted scripts is an attempt on the part of

companies at standardization and to speed up call times. As shown in the research,

however, this tactic was not enough to solve the real problems. When observing the calls

answered by an operator, 66 calls were taken in thirty minutes. They required 69 questions

over and above those in the standard text in order to better understand the customers’

demands; this is approximately two extra questions per minute, on average. According to

the authors, this shows just how difficult it is to understand customers’ request (Assunção

and Vilela, 2003).

In addition to the strict time management, working routines, using the previously

formatted dialogues to which we have already referred, are always rigidly imposed.

Studies show, however, that the operators are constantly submitted to problematic

situations and the replies they give and the way they solve the problems vary according to

the changing demands made of them; they format them in real time using their own

competences and in accordance with the time pressures under which they find themselves

working. (Mascia and Sznelwar, 2000). They need to reconcile the language being used;

on the one hand there is the colloquial language of the customer and on the other the

technical language of informatics that is prescribed and codified. It is the operator’s own

cognitive and memory competence that will allow the dialogue to be intelligible to the user,

while at the same time being agile and technically correct, with the appropriate registers

being recorded on the IT systems. Contact with the public involves receiving complaints

and listening to a variety of problems; this requires a continuous cognitive effort in

concentration, understanding and synthesis (Echternacht, 1998).

Swedish authors (Norman et al., 2002) similarly showed that in call centers

rigorous quantitative demands occur at the same time as strong qualitative

demands. The operator has to both serve the customers well and reduce call times.

According to the authors, this process makes major demands on perception and

attention span and involves different emotional interactions. In addition, Fernandes

et al. (2002) showed that in call centers individual productivity bonuses and prizes

exist that speed up the process and create a continuous environment of

competitiveness.

The literature we looked at considers there are various factors that produce

suffering and pathologies, including time pressures (average call times of around 30

seconds), an insufficient number of breaks, restricted dialogue, major demands on

attention span and memory, incentives for competitiveness and electronic call monitoring

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(Sznelwar and Massetti, 2000).

Other complaints are reported by the workers themselves and by those who study

them, such as having to maintain an unsuitable posture, the continuous use of the voice,

exposure to sounds created by the earphones and environmental noise, thermal

discomfort, inadequate lighting and restrictions when it comes to physiological needs

(Sinttel-MG, 2001; Torres, 2001; Toomingas, 2002).

The intensive use of IT is clearly shown in the study of Assunção and Vilela (2003),

we mentioned above: the number of screens consulted in typical calls in one particular

sector varied between 11 and 70, ranging from customer identification to the issue of a

service order, with average planned time of 130 seconds: the time allocated for consulting

each screen becomes extremely short and the worker has to speed up the calls to keep

within the times demanded by the company.

The interval between calls is the key point in the management evaluation of the

system, because this avoids the customers having to wait and, in the case of the

telephone sector, avoids breaking the legislation. In Assunção and Vilela’s study the

intervals are very short or non-existent, with the operators occupied throughout the whole

of their six hour working day, with only one formal break of fifteen minutes during this time.

Glina and Rocha (2003), studying call centers in various sectors, observed that “in

the operators’ work (...) major demands were made, of both a quantitative and a qualitative

nature”.

After a detailed ergonomic analysis of telemarketing tasks, the researchers

conclude that in call centers that are very busy there is a natural selection of operators, or

a selection by the company itself (“those who cannot stand the work are dismissed or

resign”) and that this clearly shows that we are “faced with a new taylorization of the

tertiary sector, which in this case preaches rigid control over average call times, thereby

imposing great mental and psychological demands on workers” (Santos, 2004).

As we have seen, the scientific literature is consistent with what workers all over

the world report to their unions, that their mental and emotional capacities are being

overused. Therefore, in addition to those occupational injuries considered to be

“traditional”, other, less visible damage to the health of the worker, is occurring (Sinttel-

MG, 2001).

THE EVIDENCE REGARDING THE STATE OF HEALTH OF TELEMARKETING OPERATORS

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The pathogenic potential of the working conditions in telemarketing call centers has

been sufficiently well described by researchers who deal with this issue (Dejours, 1987;

Assunção and Souza, 2000; Abrahão, 2000; Glina and Rocha, 2003).

The reflections of this situation exist, but they are not obvious, or even always

explicit. Constant complaints, symptoms of stress and high absenteeism (Torres, 2001)

are evidence of the damage resulting from the cognitive regulations and the excessive

affective and psychological demands made on workers in an uncomfortable and noisy

environment where the furniture that is used is precarious (Abrahão et al., 2003).

Over the last twenty years or so studies have pointed to symptoms of a physical

and mental order, with an emphasis on the psycho-affective aspect, thus providing

evidence of the relationship that exists between these symptoms and organization of the

work, given that fact that it has intensified and given the complaints mentioned (Le

Guillant, 1984; Dejours, 1987; Wisner, 1994; Echternacht, 1998; Glina and Rocha, 2003).

We can also see a tendency to underestimate the risk factors mentioned in the

scientific literature. Glina and Rocha (2003) showed the association between

quality/quantity conflicts, the number of customers waiting for their calls to be answered,

lack of control over the work, electronic performance monitoring and other factors, and the

psychological tension, anxiety, depression and fatigue found in telephone company

operators. The authors confirmed that a major emotional, cognitive and physical overload

exists in the work of telemarketing operators.

They described the clear relationships that are to be found between the working

activities and the symptoms presented by the telephonists they studied, including eyesight

fatigue, sleep disturbance, digestive and general symptoms of problems, personality

disturbances and problems in personal relationships. The findings are universal in nature

and have been validated by workers and their organizations in extensive studies carried

out by union organizations, governments and research institutes in developed countries.

Recent research involving 3,500 French telemarketing operators provided some

particularly significant results, with complaints of anxiety, stress and fatigue (71% of those

interviewed), sight and hearing problems (16%) and back pains (6%) (CFDT, 2002) being

reported. Telemarketing operators proved to have a higher incidence of disorders of the

neck and upper part of the body when compared to other professional computer users, as

was shown in an extensive study of 28 call centers in Sweden (Norman, 2005).

Table 1 below provides a summary of the main results of the ergonomic analyses

of telemarketing operations’ work, listing the factors that generate the pathologies and

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suffering reported by the authors who have dedicated themselves to this subject.

High turnover and difficulties in recruiting and managing staff, principally as far as

retaining personnel is concerned, are the problems faced by management. These are not,

however, always perceived as being the negative consequences of the harmful working

environment (Abrahão, 2000; Taylor and Bain, 1999; INRS, 2005).

From the point of view of telemarketing operators carrying out their tasks, the

variety of different situations, associated with demands for speed, strictness with regard to

behavior and talking and their relationship with the public are, according to Wisner (1994),

Echternacht (1998), Fernandes (2002) and INRS (2005), aspects that all add to the

workload. The notion of workload used by the authors refers to the result of the processes

for regulating the variables in the activities carried out by the workers. Workload increases

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as the operating alternatives decrease when faced with the variables that arise in the work

situation. Telemarketing operators, using strategies and competences acquired in their

work, try to manage the ambiguities of the task they have been given, which is to answer

variable demands quickly and in a standardized way, without compromising quality. This

commitment is not without its cost when it comes to the internal state and the physical and

mental integrity of the operators, as shown in the studies we have mentioned.

The now classic study by Le Guillant, in 1956 (Le Guillant et al., 1984), describing

what he called the “neurosis of telephonists”, showed that the nervous tension generated

by the working process was a factor that related to the efficiency and increasing speed

with which task were carried out, with the deterioration in the symptoms suffered by

telephonists being attributed to control systems and the fact of having to note down call

details. Given the current importance of technological processes and the issues of time

control, it is obvious how appropriate these statements are today when dealing with the

health of workers in the telephone area.

We can see how the findings of the authors we have studied and the ergonomic

work analyses we have presented clash with the rational logic of productivity and the

search for maximum profit at minimum cost; as Taylor and Bain (1999) and Fernandes

(2002) state, the process is one of constant pressure and competition, in an attempt to

have total control over ways of working that do not take into account the damage and the

competences necessary for performing the tasks prescribed.

DISCUSSION: PULLING TOGETHER THE VARIOUS PROSPECTS All the studies relating to the growing telemarketing sector that we consulted in this

brief overview show intense working situations, high staff turnover, precarious ergonomic

conditions and obvious risks to health. We can see the need for a greater dissemination of

what is known about the effects on health produced by these different ways of working and

an increase in research into the issue. There is also an urgent need for regulation by the

state, accompanied by public policies for the telemarketing sector, in the sense of bringing

about a certain equilibrium of forces between those who organize and command the

production and those who, in producing it, suffer repercussions as a result of the work they

do (Marinho-Silva, 2004). Political intervention, with its prospects and objectives, may form

new relationships between the State and the stakeholders from the private sector,

ensuring that the economic power, when it comes to organizing its work, and even though

it may go against its one interests, starts taking into account those aspects relating to the

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preservation of workers’ health that science has already pointed out.

Various governments and workers’ organizations are trying to intervene in the

telemarketing sector with their recommendations of “good practice” specifically aimed at

working conditions3. Legislation relating to the organization of working time, however, has

proved to be incapable of keeping up with the speed of the changes, and not only in Brazil.

This is particularly apparent in countries that have a peripheral economy, where the State

does not stand up to the force of capital. The recent privatization of public services and the

creation of state agencies involved exclusively with economic development are evidence

of this. It has become essential to revert this trend, by creating favorable prospects for the

sector. This can be done with public policies that make it easier for workers to be able to

act with regard to the way their work is organized, with a particular emphasis on time

issues, in order to preserve their health and develop their experience.

In short, with unequal forces involved, the challenges posed are conditional upon

economic, political and social circumstances. Only broad social support, based on

scientific knowledge, explicit political will and the organization of workers, will give

substance and strength to any attempt at opposing the predatory organization of work that

is currently used in the economic activity of telemarketing.

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O GERENCIAMENTO DA DEMANDA DE ÁGUA É O CAMINHO PARA

PROPICIAR A SUA PRESERVAÇÃO – ÁGUA DE CHUVA EM EDIFICAÇÕES

Eliete de Pinho Araujo1; Riane Nunes2; Rodrigo Pinho Rodrigues3

1 Professora do Uniceub/Faet/Curso de Arquitetura e Urbanismo; Doutoranda em Saúde Pública – ENSP/Fiocruz; [email protected]

2 Mestre em Arquiteta – PPE/UFRJ. 3 Estudante – Uniceub/Faet/Curso de Arquitetura e Urbanismo.

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O Gerenciamento da Demanda de Água e o Caminho Para Propiciar a Sua Preservação – Água de Chuva em Edificações Eliete de Pinho Araujo; Riane Nunes; Rodrigo Pinho Rodrigues INTERFACEHS

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INTRODUÇÃO São poucos os recursos essenciais à vida que estão restritos por limites de disponibilidade tão definidos. A natureza finita do recurso água contém um aspecto crítico no qual o crescimento populacional influi diretamente. A contínua urbanização aliada à elevada densidade demográfica, principalmente nas regiões metropolitanas, contribui consideravelmente para o aumento da demanda de água e para a poluição dos corpos hídricos, seja por esgoto doméstico quanto por industrial. Desse modo, percebe-se que com uma concentração populacional cada vez maior, a disponibilidade média de água renovável por habitante tende a diminuir, fato que repercute diretamente sobre a saúde e sobre os padrões de qualidade de vida da sociedade em geral. A crescente preocupação com a preservação de água levou autoridades e pesquisadores a desenvolverem trabalhos e pesquisas que resultaram em programas públicos de planejamento e gestão dos recursos hídricos. Assim, o previsível horizonte de sua escassez a dotou de um valor econômico e sua evidente essencialidade a induziu à normatização de seu uso, com legislação específica e atuação do poder público, dada a criação da Política Nacional de Recursos Hídricos em 1997 e da Agência Nacional de Águas em 2000. Por conseguinte, com aprovação da lei de outorga e cobrança pelo uso da água, a iniciativa privada passou a adotar medidas de racionalização e reúso da água em seus processos industriais. Mais tarde, escolas, universidades, hospitais e edifícios comerciais também passaram a aderir a esse novo sistema. Os tanques de lastro aos quais este trabalho faz menção são compartimentos estanques existentes a bordo, cuja única finalidade é o armazenamento e transporte de água de lastro. Recebem a denominação de tanques de lastro segregado, de acordo com a International Maritime Organization (IMO, 1984, p.41). O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES CONFORME A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Em todas as regiões brasileiras já se percebem ações em prol da economia de água. O Nordeste, em especial a Bahia, o Ceará e o Rio Grande do Norte, atualmente destacam-se pela implantação de sistemas de reúso de água na irrigação e em pequenas comunidades rurais e urbanas por meio de lagoas de estabilização para tratamento de esgoto doméstico. Em muitos casos, o benefício de programas como esse se estendem além do ambiental e do econômico, pois o reaproveitamento da água gera uma nova atividade, promovendo um bem social, como foi o caso de uma comunidade no interior da Bahia que, com a implantação de sistema de tratamento de esgoto doméstico passou a reutilizar a água tratada para irrigar a plantação de flores, tornando a venda das mesmas a principal atividade e fonte de renda daquela comunidade. Já nas regiões sul e sudeste começa a despontar, principalmente nas áreas metropolitanas, projetos de reúso de água de banho (águas cinzas) em condomínios residenciais. Vale salientar que nesse tipo de projeto é fundamental a conscientização e o apoio dos moradores. Nesse caso, o grande preconceito da sociedade contra a origem da água de reúso, por desconhecimento ou desconfiança da mesma, infelizmente ainda é o maior entrave ao desenvolvimento e à difusão no Brasil dessas técnicas. Segundo Oliveira Jr. (2004), nessas regiões mais desenvolvidas e industrializadas, bastante

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povoadas, mesmo possuindo bacias hidrográficas com grande capacidade em volume de atender a demanda de água, já estão passando por dificuldades na obtenção deste insumo, a água. Todavia, a educação ambiental nas escolas de base é um grande exemplo de que a geração do século XXI está crescendo mais consciente de seus deveres como cidadãos em proteger e preservar a natureza de forma sustentável, vis-a-vis o desenvolvimento econômico e a promoção do bem-estar social. Em Brasília, além do importante trabalho realizado na área de educação ambiental nas escolas e universidades, ressalta-se a criação, em 1997, do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água – PNCDA pelo Ministério do Planejamento e Orçamento e Secretaria de Política Urbana – Sepurb, formado por documentos técnicos (os DTAs) que são emitidos no âmbito de três áreas: planejamento, gestão e articulação institucional das ações de conservação e uso racional da água; conservação da água nos sistemas públicos de abastecimento e conservação da água nos sistemas prediais. Em face esse tipo de problema, para se evitar uma futura escassez, a utilização de programas de gerenciamento de água no combate ao consumo excessivo de água potável em grandes instalações prediais vem sendo adotado já em vários estados do país com resultados bastante positivos. Atualmente, dentre os vários programas que estão sendo difundidos, pode-se destacar a participação pioneira do estado de São Paulo, criado em 1995, por meio de parcerias entre a companhia de abastecimento e as universidades. Sua importância reside na sua aplicação em grandes edifícios públicos, como hospitais, escolas, universidades, na qual vem servindo de base para outros grupos de trabalho iniciados no país. O contraste no Brasil de inundações, secas e geadas deve ser estudado de modo a buscar soluções que possam se adequar aos problemas cíclicos de grandes estiagens do Nordeste, ou de enchentes por falta de um sistema adequado de drenagem nas cidades, aliado também ao excesso de solo impermeável em virtude da ausência de áreas verdes, do grande percentual de pavimentação com asfalto, e do não cumprimento às prescrições urbanísticas de uso e ocupação do solo, promovendo altos índices de área construída nos loteamentos. A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo acerca desse assunto, visto que essa instituiu recentemente, fevereiro de 2004, uma lei que obriga todos os novos edifícios com mais de 500 m2 de área impermeabilizada a construírem reservatórios para recolhimento de água de chuva, com o objetivo de retardar temporariamente o escoamento para a rede de drenagem. Além disso, os depósitos servirão como estímulo para o reaproveitamento da água em diversos usos, como rega de canteiros e jardins, lavagem de carro, calçadas e play ground, no abastecimento de piscina e, principalmente, em instalações sanitárias. O município ainda estabelece que as novas construções não terão o ‘habite-se’, caso não apresentem um sistema que capte água em áreas como telhados, terraços e coberturas. A medida também é obrigatória no caso dos novos prédios residenciais com 50 ou mais unidades. Em Curitiba foi sancionada uma lei em setembro de 2003 que criou no Município um Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações, chamado PURAE. O PURAE tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas para captação de água nas novas edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água e a lei recomenda que os sistemas hidráulico-sanitários das novas edificações deverão ser projetados visando o conforto e a segurança dos usuários, bem como a sustentabilidade dos recursos hídricos. Dentre ações de utilização de fontes alternativas compreendidas na lei municipal de Curitiba, destacam-se a de captação, armazenamento e utilização de água proveniente

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das chuvas e de águas servidas, visto que a mesma obriga todos os novos condomínios residenciais a incorporarem essas ações em seus projetos de construção para múltiplos usos em substituição à cara água potável. No caso específico dos sanitários, que consomem em média 70% de toda a água numa construção, a lei torna obrigatória a canalização das águas usadas na lavagem de roupas, chuveiros ou banheiras para uma cisterna, onde serão filtradas e posteriormente reutilizadas nas descargas sanitárias. Então, somente depois essa água seria descartada para a rede de esgoto.

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Outro aspecto importante da nova lei diz respeito à instalação obrigatória de hidrômetros individuais nas novas edificações, evitando-se, assim, que o consumidor que desperdiça água se beneficie da conta pelo condomínio, prejudicando quem já aprendeu a economizar. A norma torna, ainda, obrigatório o uso de aparelhos eficientes como vasos sanitários, torneiras e chuveiros e que possuam dispositivos economizadores de água. Há também registradas outras iniciativas por parte do poder público no semi-árido nordestino, a fim de universalizar o acesso de água potável nas comunidades mais carentes. Podemos citar a construção das adutoras no Estado do Rio Grande do Norte, das técnicas de captação de água de chuva e armazenamento em cisternas, a contribuição da Petrobrás na perfuração de poços, entre outros. A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO FRENTE AO AUMENTO CONTÍNUO DO CONSUMO DE ÁGUA As ações focadas no meio ambiente compreendem uma extensão bem maior do que simplesmente a preservação e o uso eficiente dos recursos naturais. O caráter holístico no qual o assunto água está inserido necessita tanto de medidas político-administrativas quanto sócio-econômicas e ambientais, o que torna ainda mais complexas as resoluções a seu respeito. Por exemplo, a eficácia de uma campanha educacional para uso racional da água numa comunidade não pode ser garantida se a mesma não possui um bom sistema de abastecimento d’água e de tratamento de esgoto, pois a ausência destes acarreta contaminação dos corpos hídricos. Assim, de nada adiantaria a redução do consumo se as fontes de água ficassem contaminadas. Para tanto, ressalta-se a importância de ações conjuntas do poder público frente à sociedade e aos órgãos administrativos responsáveis pelo saneamento, abastecimento e limpeza urbana das cidades. Deve-se também exigir a extinção dos lixões e a efetiva

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instalação de aterros controlados, para evitar a contaminação das águas subterrâneas (lençóis freáticos) e a proliferação de vetores causadores de doenças e agravos à saúde humana. Independente do local no qual o recurso hídrico esteja inserido, é notório que este desempenha diferentes funções dentro do nosso ciclo de vida: primeiramente, como produto para o consumo direto de nós seres humanos, em segundo, como matéria-prima para diversas atividades, processos e/ou serviços, e por último, como própria constituinte dos ecossistemas. Assim, a água é reconhecida por portar valor econômico, estratégico e social, essencial à existência e bem estar do homem e à manutenção dos ecossistemas do planeta. É, portanto, um bem comum a toda a humanidade e a sua utilização deve implicar em respeito à lei. A sua proteção deve se constituir uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado. O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. O gerenciamento do consumo das águas doces superficiais e subterrâneas é que deve ser o grande foco de ação, visto que a população mundial tenderá sempre a crescer e os recursos hídricos irão permanecer continuamente inalterados. Desta forma, governo, instituições privadas e cidadãos devem agir em conjunto, por meios de programas, de campanhas e da participação efetiva e consciente de todos em prol da redução do consumo de água e do bem estar comum das sociedades atuais e futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da conscientização em reduzir o consumo de água reside não somente na preservação dos recursos hídricos, como também na promoção da qualidade de vida de seus usuários e do contínuo desenvolvimento científico-tecnológico e econômico, possibilitando a plena execução das atividades de uma localidade qualquer, independente do seu porte ou região. Todavia, a eficácia de planos de racionalização do uso da água está diretamente ligada à realização de campanhas educativas que promovam o empenho e a conscientização da população que usufrui do recurso, seja no seu local de trabalho ou no seu próprio lar. Por fim, faz-se necessário, ainda, uma visão mais ampla acerca do problema de desperdício de água, já que somente a implantação de novas tecnologias não basta, e sim uma mudança de paradigma na cultura da sociedade brasileira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CURITIBA. Lei no 10.785, de 18 set. 2003. Cria no Município o Programa de Conservação e uso Racional da Água nas Edificações – PURAE. GONÇALVES, O. M. et al. Programa Nacional de Combate ao desperdício de Água: DTA B3 – Medidas de Racionalização do uso da Água para Grandes consumidores. Brasília: Ministério do Planejamento e orçamento. Secretaria de Política Urbana, 1999. OLIVEIRA JR, O. B.; SILVA NETO, J. V. Utilização de sistema de coleta de esgoto sanitário a vácuo, com bacias de volume ultra-reduzido, em um edifício comercial na cidade de São Paulo. In: Conferência Latino-Americana de Construção Sustentável;

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CONSIDERAÇÕES SOBRE RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE

SAÚDE NA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR Antonio de O. Siqueira1; Ângelo José Consoni2

1 Coordenador e Professor do Curso de Gestão Ambiental, Centro Universitário Assunção – Unifai; Mestre

em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. 2 Pesquisador do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas, do Centro de Tecnologias Ambientais e

Energéticas, Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT; Doutor em Geociências e Meio Ambiente pelo IGCE/Unesp.

RESUMO O atendimento domiciliar à saúde vem crescendo significativamente nos últimos anos. Em detrimento do manejo adequado de resíduos se tratar de boa prática, as empresas e profissionais que prestam este tipo de assistência deixam de gerenciá-lo da forma correta, seja por questões financeiras ou conhecimento. Estimativas indicam que a cidade de São Paulo pode ter 7,5 toneladas/dia de resíduos potencialmente contaminados sendo encaminhados em conjunto com o resíduo doméstico. Em função disso, no presente trabalho, discute-se a elaboração de uma ferramenta de gestão adaptada às condições de uma residência. Como principais resultados destaca-se primeiramente a caracterização dos resíduos sólidos de serviços de saúde gerados durante a assistência domiciliar. O segundo resultado significativo foi a elaboração do Manual de Procedimentos para o Manejo de Resíduos na Assistência Domiciliar, baseado no Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde – PGRSS preconizado pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, mas adaptado ao ambiente domiciliar. Palavras-chave: resíduos sólidos; assistência domiciliar; plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde; resíduos de serviços de saúde; PGRSS.

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Considerações Sobre Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde na Assistência Domiciliar Antonio de O. Siqueira; Ângelo José Consoni INTERFACEHS

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INTRODUÇÃO Não só no Brasil, mas também nos demais países em desenvolvimento, o serviço de assistência domiciliar vem crescendo de forma significativa nos últimos anos e o desenvolvimento desta assistência terapêutica, baseia-se na concepção de ação conjunta dos familiares com os profissionais da saúde. Admite a possibilidade de os pacientes serem mantidos em seu próprio domicílio, utilizando equipe clínica multidisciplinar e alguns recursos hospitalares que assegurem a assistência médica, dividindo assim, com a família, os cuidados com o paciente, proporcionando apoio psicoafetivo e melhor qualidade de vida, dentro de suas limitações, de acordo com Fernandes, Fernandes e Ribeiro Filho (2000). A assistência domiciliar permite uma redução de custos, em torno, de 52% em relação à assistência hospitalar, segundo Tavolari (2000); como indica Pereira (2001), a produção de um maior número de leitos, a redução dos riscos de infecção hospitalar, a humanização do atendimento e uma sensível redução nos custos, são justificativas para a adoção crescente da assistência domiciliar; Vaz (2005) complementa as justificativas dizendo que a assistência domiciliar oferece, ainda, maior dignidade para os pacientes terminais e seus familiares. Mais adiante, em avaliação aos efeitos dessa forma de atendimento feita por Nakagawa (2003), no que se refere à utilização do sistema de saúde e seus custos, foram possíveis algumas conclusões importantes: redução de 89% no número de atendimentos ambulatoriais; redução de 46% nos exames diagnósticos; redução de 89% na quantidade de internações; redução de 76% no custo de atendimento. Segundo Brasil (1998), o Serviço Único de Saúde – SUS estabeleceu critérios para a realização da assistência domiciliar, dentre os quais são consideradas condições prioritárias: pacientes com idade superior a 65 anos com pelo menos três internações pela mesma causa ou procedimento em um ano; pacientes portadores de condições crônicas tais como: insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença vascular cerebral e diabetes; pacientes acometidos por trauma com fratura ou afecção ósteo-articular em recuperação e pacientes portadores de neoplasias malignas. A assistência domiciliar é indicada também às crianças e idosos que se ressentem mais do afastamento familiar e de pacientes com problemas de saúde mental, conforme Vaz (2005). Cerca de 20,6% dos pacientes em assistência domiciliar têm infecções, ocorrendo 1/4 durante o período de cuidado domiciliar e 3/4 existindo previamente, de acordo com Fernandes, Fernandes e Ribeiro Filho (2000). É imprescindível que a equipe de saúde oriente procedimentos sobre a manipulação do leito, tais como limpeza, troca de roupa, respeito às normas de biossegurança e precauções padrão, observando e orientando quanto aos cuidados no manejo dos resíduos; orientando quanto aos cuidados com a água, caso não haja saneamento básico e quanto ao descarte de excreções, secreções e demais dejetos Fernandes, Fernandes e Ribeiro Filho (2000). Observa-se a necessidade de um melhor entendimento das questões que envolvem os resíduos e a assistência domiciliar, para que possa haver alguma contribuição efetiva, prevenção e mitigação dos possíveis impactos à saúde das pessoas e dos profissionais envolvidos, além dos ambientais.

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OBJETIVOS Este estudo tem a finalidade de contribuir para o conhecimento na área de gerenciamento de RSSS, no que se refere aos resíduos gerados na assistência domiciliar, buscando contextualizar com as questões de saúde, segurança ocupacional e ambiental. Além disso, teve como objetivo geral conhecer a realidade da geração dos resíduos sólidos de serviços de saúde – RSSS na assistência domiciliar e por meio desse conhecimento elaborar um “Manual de Procedimentos para o Manejo de Resíduos na Assistência Domiciliar”, destacando a atenção que os RSSS devem receber, para um manejo seguro. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa pode ser classificada como um estudo exploratório quanto aos seus objetivos, uma vez que se propõe a disponibilizar um método para a gestão de RSSS de pacientes em assistência domiciliar. Quanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada como bibliográfica e documental, no que se refere à caracterização dos RSSS oriundos da internação domiciliar na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, que embasa a elaboração dos demais produtos gerados, conforme Cervo e Bervian (2002) e Gil (2002). Os procedimentos metodológicos utilizados foram baseados, principalmente, em: levantamento bibliográfico abrangendo os últimos dez anos; levantamento, tabulação, tratamento e análise de dados primários disponíveis acerca dos resíduos sólidos e em particular dos RSSS do sistema de assistência domiciliar da RMSP, obtidos das coletas realizadas pelo sistema de assistência domiciliar de uma empresa com atuação na RMSP, cujos pacientes, em sua maioria, são idosos e portadores de doenças crônico-degenerativas; discussão, por meio de revisão bibliográfica, das questões que envolvem os RSSS; levantamento, identificação e análise da legislação sobre resíduos sólidos, RSSS e o PGRSS. GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS NO DOMICÍLIO Apesar das indicações dos cuidados que devem ser tomados com os resíduos sólidos no seu manejo no ambiente domiciliar, as empresas e profissionais que prestam esse tipo de assistência, deixam de gerenciá-los da forma correta, por questões financeiras ou mesmo pela falta de conhecimento sobre o assunto, segundo Fernandes, Fernandes e Ribeiro Filho (2000). Um exemplo a citar é o que ocorre no Japão, pois os resíduos resultantes da assistência domiciliar, são descartados como resíduos comuns, mesmo sendo exigido por lei, que os resíduos produzidos nos hospitais, clínicas e demais unidades de saúde devam ser tratados e coletados de forma diferenciada, de acordo com Matsuda (2000). Em 1990, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, em seu relatório “Gerenciamento de Resíduos Médicos”, já demonstrava preocupação com o manejo desses resíduos, segundo Environmental Protection Agency (1990). Essa preocupação somente produziu algum efeito prático, oito anos depois da publicação desse relatório, quando foi divulgado o documento com o título: Disposal Tips for Home Health Care, cuja tradução livre é: Guia para disposição de resíduos da

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assistência domiciliar, tendo como maior preocupação os perfurocortantes, de acordo com Environmental Protection Agency (1998). No Brasil, as medidas de gerenciamento dos resíduos sólidos resultantes da atividade de assistência domiciliar, quando adotadas, são parcas, ou seja, grande parte das empresas enfoca apenas os resíduos com características perfuro-cortantes. Outra parte das assistências domiciliares não toma qualquer cuidado com os resíduos em geral. Uma pequena fração, coleta a totalidade dos RSSS, mas no momento do transporte, o faz sem as garantias mínimas de segurança, utilizando-se de veículos particulares dos profissionais que estão em serviço na residência, ou ainda pior, transportando os resíduos no mesmo veículo que supre as residências com medicamentos e materiais descartáveis. A GERAÇÃO DOS RSSS NO DOMICÍLIO Levantamento mostra que, na cidade de São Paulo, 7,5 toneladas/dia de resíduos dessa atividade são destinados juntamente com o lixo doméstico, conforme Siqueira (2003). Esta conclusão foi possível por meio do cruzamento das informações das empresas ativas que prestam o serviço de assistência domiciliar e o número estimado de seus pacientes, que multiplicado pela média de produção de resíduos apurada, produziram, à época, 7.647,50 kg/dia (4025 pacientes x 1,90 kg/dia por paciente). Segundo São Paulo (2005), a Cidade de São Paulo gera cerca de 80,51 toneladas por dia de RSSS dos Grupos A, B e E, o que indica que os resíduos produzidos durante a assistência domiciliar equivalem, de forma relevante, à 9,30% da geração total desse resíduo. Nessa produção total não estão sendo considerados os resíduos da assistência domiciliar e dos demais pacientes que não dispõem de assistência formal, cujo exemplo mais evidente são os diabéticos, com auto-aplicação de insulina. Com relação à situação japonesa, uma exceção à questão da destinação inadequada é o que ocorre com os resíduos perfurocortantes, pois 78% dos portadores de diabetes que fazem a auto-aplicação de insulina em suas residências, encaminham as seringas e agulhas usadas, aos hospitais, clínicas ou farmácias, conforme Matsuda (2000). Os pacientes assistidos no domicílio, são em sua maioria idosos portadores de doenças crônico-degenerativas; característica semelhante à do Japão, segundo Matsuda (2000). Conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2002) e Hebling (2005), até o ano 2022, poderemos ter no Brasil, uma população de idosos na faixa de 30 milhões, o que representaria 13% do total; atualmente, esse percentual é de aproximadamente 8,6%. Considerando-se as características dos resíduos sólidos de serviços de saúde – RSSS e o potencial de utilização da modalidade de assistência domiciliar no País, é importante avaliar a gravidade de prosseguir misturando resíduos potencialmente perigosos com resíduos não-perigosos, aumentando os riscos inerentes ao processo. Essa situação, como foi possível observar, tem como protagonista o serviço de assistência domiciliar, pois nesta prática não se tem adotado o gerenciamento adequado dos resíduos, colocando em risco, não apenas os pacientes e familiares, mas o meio ambiente e a sociedade como um todo. Cabe então, evitar que tal situação continue a ocorrer, produzindo e divulgando informações que conduzam as empresas de assistência domiciliar a implementarem o

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Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, apesar das particularidades do ambiente esses resíduos são gerados. Ainda, segundo Ferreira e Anjos (2001), dando seguimento à questão do PGRSS, as afirmações de determinados profissionais a respeito da ausência de riscos relacionados aos resíduos não podem servir de justificativas para que as instituições de saúde não estabeleçam procedimentos gerenciais a fim de reduzir os riscos associados aos resíduos. Entende-se ainda que estudos futuros acerca deste tema poderão solucionar problemas tão ou mais graves que os apresentados e que não foram considerados, que são os pacientes de entidades públicas e os doentes sem assistência formal, quando então recebem cuidados de seus familiares e estão longe das estatísticas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considera-se como adequada uma nova atitude de todos os envolvidos com o manejo dos RSSS, quanto à obediência às legislações que tratam do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, principalmente a Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa RDC n.306/04 e do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama n.358/05, especialmente aqueles que lidam com os resíduos gerados durante o atendimento aos pacientes em assitência domiciliar. Diante dessas necessidades especiais relativas ao PGRSS para o ambiente domiciliar e observando sugestão de Matsuda (2000), que coloca como indispensável a criação de um manual com o objetivo de oferecer informações adequadas, é que suscitou como resultado um manual para o manejo de resíduos na assistência domiciliar. Cabe observar ainda, que as preocupações relacionadas aos resíduos gerados no domicílio acabam ocorrendo em decorrência da relevância desses resíduos. A CARACTERIZAÇÃO DOS RSSS NA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR Corroborando com a questão da importância do procedimento de caracterização dos resíduos, destaca-se que “a caracterização dos resíduos é o ponto básico de todo o processo de gerenciamento, influenciando todas as etapas envolvidas” (RISSO, 1993). A caracterização dos RSSS na assistência domiciliar foi possível a partir do tratamento dos dados das coletas realizadas nas residências atendidas pelo sistema de assistência domiciliar de uma empresa com atuação na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP. O período da coleta foi de 19.05.1999 até 30.09.2005, um tempo bastante significativo. Segundo informações prestadas pela empresa, os pacientes, em sua maioria, são idosos e portadores de doenças crônico-degenerativas, que são características semelhantes às encontradas no Japão, como descreve Matsuda (2000). Quanto aos RSSS, podem ser estabelecidos como principais componentes: as secreções, excreções, materiais utilizados em curativos, exsudato e demais líquidos orgânicos procedentes dos pacientes, restos de medicamentos, materiais perfurantes ou cortantes e demais materiais contaminados. De posse de relatórios gerenciais, as informações foram sendo introduzidas em planilhas específicas de controle. Foram utilizados, basicamente, três relatórios:

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Controle do veículo de coleta: extração de horário de início e término das atividades; o total de espaço percorrido em quilômetros e a quantidade de dias de coleta. Comprovantes de pesagem: por onde se pode chegar ao peso (massa), em quilogramas, em cada processo de destinação dos resíduos para incineração. Manifestos e comprovantes de coleta: forneceram a quantidade de coletas realizadas e a diversidade dos pacientes atendidos, para se chegar ao número médio de coleta por paciente. Assim, foi possível a comparação dos pesos e volumes entre os perfurocortantes e os demais resíduos durante a assistência domiciliar. Dessa forma, foi constatado que: quanto ao peso (massa), os perfurocortantes representam apenas 0,60% do total de RSSS coletados; quanto ao volume, somente 0,56% é de perfurocortantes. Considerando-se que resíduos do Grupo C e D (radioativos e comuns) não são coletados nos serviços de assistência domiciliar, por diferença, tem-se o valor referente ao somatório dos resíduos dos Grupos A e B (com riscos biológico e químico). Com relação ao peso (massa), ao somatório dos resíduos dos Grupos A e B representam 99,4% do total coletado (100% – 0,60%). Quanto ao volume, 99,44% (100% – 0,56%), é o somatório dos resíduos dos Grupos A e B. Portanto, a produção de resíduos perfurocortantes é absolutamente irrelevante quando comparados aos demais resíduos em peso e volume. Apesar do pequeno percentual de perfurocortantes envolvidos, os mesmos devem ser submetidos aos cuidados preconizados pelas legislações existentes. Considerando-se que boa parte do gerenciamento dos resíduos é feita apenas para os perfurocortantes e sua produção é irrelevante, pode-se concluir que não existe um gerenciamento eficaz, havendo, assim a necessidade da implementação de um Plano de Manejo adequado para este tipo particular de unidade de saúde. Deve-se destacar também, a necessidade de segregação dos resíduos sólidos com potencial de riscos biológicos, químicos ou radioativos dos resíduos domésticos, quanto ao encaminhamento, tratamento e disposição final adequada às suas características, evitando-se possíveis impactos ambientais e sanitários negativos. Outro risco evitável com a correta aplicação do PGRSS é aquele referente ao transporte inadequado dos RSSS, oriundos da assistência domiciliar, transporte este, feito pelo próprio corpo de enfermagem. Levando-se em consideração a geração diária, pode-se verificar um número bastante expressivo, pois o paciente sob a assistência domiciliar, gera diariamente cerca de 2,64 kg, que quando comparado à quantidade produzida por pacientes internados em hospitais da Cidade de São Paulo, que é de 3,77 kg, conforme Bidone e Povinelli (1999), constata-se que há uma diferença menor que 30% de produção. Comparando-se com o padrão da América Latina, onde “a média de geração de resíduos varia entre 1,0 e 4,5 kg/leito/dia” (CENTRO PAN-AMERICANO..., 1997), conclui-se que a geração dos RSSS na assistência domiciliar está dentro de padrões hospitalares, realçando sua relevância. Mas, se considerada apenas a nossa realidade local, como relatado por Bidone e Povinelli (1999), pode-se justificar uma produção de RSSS menor em cerca de 30% na assistência domiciliar pelo fato de haver uma individualização no processo de gestão dos resíduos, o que por si só já produziria uma redução, além da inexistência de grandes procedimentos como cirurgias, emergências, laboratórios entre outros. Outro fator preponderante para o entendimento da similaridade de quantidade e características, entre os RSSS gerados na assistência domiciliar e no atendimento convencional, está relacionado ao paciente, pois a mesma enfermidade tratada no

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domicílio é tratada no hospital, cabendo, muitas vezes, a decisão pela transferência, à empresa de medicina de grupo, por questões de contenção de custos. Como abordado anteriormente, se comparadas as estatísticas da geração de resíduos dos Grupos A, B e E no Município de São Paulo, com as estimativas de geração na assistência domiciliar, segundo São Paulo (2005) e Siqueira (2003), respectivamente, observa-se mais claramente, à luz das novas informações, que os RSSS produzidos no domicílio são relevantes, pois representam cerca de 10% da produção diária do total de RSSS atualmente gerenciados pela Prefeitura do Município de São Paulo. Não se pode deixar de considerar, ainda: Que a produção de RSSS no atendimento domiciliar informal, altera qualquer tentativa de estatística das quantidades geradas, pois não existem informações acerca desse grupo de geradores; e A conseqüente destinação incorreta dos resíduos, devido a ausência de um Plano de Manejo adequado; fato que faz crer, que essa pequena parcela de resíduos poderá contaminar uma parte maior de outros resíduos. MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA O MANEJO DE RESÍDUOS NA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR Levando-se em consideração as ponderações feitas até aqui, foi identificado um grande potencial de riscos, presente e futuro, ao qual a sociedade e o ambiente estão expostos, riscos estes de origem biológica, química ou radioativa, como explica Takayanagui (2005). Aponta como de extrema necessidade, uma nova postura de todos os envolvidos, no sentido de fazer valer o que as legislações preconizam para os RSSS, principalmente a Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa RDC n.306/04 e do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama no 358/05, bem como de melhor adaptá-las ao ambiente da assistência domiciliar. O simples fato de os resíduos gerados durante o período de assistência domiciliar terem características semelhantes aos hospitalares já seria fator determinante para essa nova postura; porém, pode-se destacar outras situações: Se não havia legislação que vinculasse a assistência domiciliar aos serviços de saúde, a partir da Resolução Anvisa RDC no 33/03, esse vínculo passou a existir, sendo ratificado, no final de 2004, quando foi substituída pela RDC no 306, segundo informado em Brasil (2004). A própria Consulta Pública n.81 (10/10/2003) da Anvisa, que dispõe sobre o regulamento técnico e contém as normas de funcionamento de serviços que prestam assistência domiciliar, dá destaque aos cuidados com esses resíduos, conforme Brasil (2003). Diante da exigência do PGRSS por resolução federal, a não adoção dessa prática configura-se como crime ambiental, segundo o Artigo 60 da Lei Federal 9.605. Pela definição da Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, NBR 10.004/2004, os RSSS são perigosos. Pelo fato de as empresas responsáveis por essa modalidade de serviço não adotarem procedimentos para o manejo adequado, os resíduos produzidos durante o tratamento são adicionados aos resíduos domiciliares. A população mundial na faixa etária dos idosos está aumentando. Em particular, o Brasil terá a sexta maior população de idosos em 2025, chegando ao número de 30 milhões, aproximadamente, conforme São Paulo (2005) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2002).

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Como, em princípio, os idosos são a maioria beneficiada por essa modalidade de atendimento, tal fato potencializa cada vez mais a utilização da assistência domiciliar como ferramenta de diminuição de custos para as empresas de seguro saúde e assistência médica; possibilitando aumentar a rotatividade dos leitos em hospitais e para uma melhor qualidade no atendimento. Assim sendo, diante das observações precedentes e ratificando as informações anteriormente abordadas por sugestão de Matsuda (2000), que identifica como imprescindível a concepção de um manual abordando o manejo dos RSSS durante o período do tratamento do paciente em sua residência, foi elaborado o Manual de Procedimentos para o Manejo de Resíduos na Assistência Domiciliar, o qual deve ser considerado como o precursor de uma eventual discussão para sua adequação efetiva. É certo que já há situações que carecem de análise adicional, ou seja: A participação do morador: apesar de o morador não ter um papel estabelecido no Plano de Manejo, acaba participando e, por vezes até substituindo o cuidador, o que se entende como viável, pois a enfermagem e o cuidador só devem centrar esforços e atenção ao paciente. Quando tal situação for necessária, deve-se ter uma série de cuidados. Esse familiar deve ser treinado de tal forma que os resultados sejam satisfatórios e sem a criação de situações de risco. Lixeiras: de maneira geral, o que se percebe é que a própria família é quem providencia a compra das lixeiras envolvidas no processo, seja pelo baixo custo, por necessidade ou para cobrir a falha na operação. Observa-se ainda que a quantidade de lixeiras varia muito, de residência para residência, de acordo com a quantidade dos resíduos gerados, da forma que se administra as questões relativas aos resíduos e principalmente quanto ao número de coletas semanais. Sugere-se a existência de duas lixeiras, uma para o quarto, de tamanho pequeno para obrigar a retirada freqüente dos resíduos e outra lixeira maior no local onde irá ser feita a armazenagem dos resíduos até a coleta externa, com possibilidade de acondicionar um volume maior que a instalado no quarto. A responsabilidade pelo fornecimento das lixeiras, em princípio, é da empresa de assistência domiciliar, porém poderá ser alvo de acerto comercial entre as partes, como ocorre com outros itens mais importantes, como medicamentos, fraldas etc. O papel da municipalidade e dos conselhos de classe: a municipalidade e os conselhos, por meio dos órgãos de comando e controle e das equipes de fiscalização, têm papel fundamental no desenvolvimento equilibrado das operações da assistência domiciliar no Brasil, pois podem e devem exercer a sua função de fiscalizador das condições de funcionamento das empresas, indo além disso, permitindo somente a abertura e funcionamento de empresas que cumprem com as exigências legais. O gerador do resíduo de serviços de saúde na assistência domiciliar: do ponto de vista das legislações existentes, há duas possibilidades de caracterização dos responsáveis pela geração dos resíduos (será o paciente, sempre que estiver sem o amparo de qualquer empresa; será a empresa de assistência domiciliar, quando o paciente estiver sob os seus cuidados, como se cada residência fosse um quarto de um hospital e a empresa de assistência fosse o próprio hospital). O transporte informal: apesar de freqüente, o transporte inadequado deve deixar de ocorrer, pelos riscos envolvidos e pelas leis existentes. Indicadores de desempenho para gestão do RSSS domiciliar: devem ser encarados como grandes aliados no processo de gestão dos resíduos e quanto mais adaptados à realidade domiciliar, melhor serão os seus resultados.

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DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: ENSAIOS EM HOMENAGEM AO PROF. GUIDO FERNANDO SILVA SOARES

Salem Hikmat Nasser e Fernando Cardozo Fernandes Rei (Org.) São Paulo: Atlas, 2006. 216p.

Salem Hikmat Nasser

Presidente da SBDIMA e professor de direito internacional da Escola de Direito da FGV/SP.

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Direito Internacional do Meio Ambiente: Ensaios Em Homenagem ao Prof. Guido Fernando Silva Soares Salem Hikmat Nasser e Fernando Cardozo Fernandes Rei (Org.) INTERFACEHS

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São poucos os temas ao mesmo tempo atuais e relevantes como o meio ambiente. A necessidade de compreensão do funcionamento da natureza se impõe às ciências com a mesma urgência com que se impõe aos seres humanos a necessidade de regular sua relação com a natureza e controlar os impactos de sua ação sobre ela. Uma vez que o meio ambiente é um todo integrado e complexo, essa dupla empreitada, de compreensão e de regulação, precisa ser empreendida ao menos em parte de modo global, ou seja, considerando a totalidade do globo terrestre e os mais variados fenômenos ambientais. É natural, portanto, que o tema se imponha como uma preocupação de todos os Estados e uma matéria a ser regulada pelo direito que opera entre eles, o direito internacional. O direito internacional do meio ambiente é disciplina relativamente nova, mas já substancial e complexa.1 Esse ramo do direito internacional impõe aos seus estudiosos a busca e a aceitação de novos modos de perceber as relações entre os Estados e os demais atores da vida internacional e da sua regulação pelo direito, ou por outros conjuntos normativos, não necessariamente jurídicos. Maior flexibilidade e criatividade são exigidas, na produção, no estudo e na aplicação das normas internacionais. No Brasil, um dos primeiros e maiores promotores da disciplina, responsáveis por sua inclusão nos currículos acadêmicos, por sua transformação em objeto de dissertações e teses e pelo fomento de instituições com a temática ambiental em seu centro, foi Guido Fernando Silva Soares, diplomata e professor. A obra de que aqui se trata é uma coletânea de ensaios em sua homenagem, iniciativa da Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente – SBDIMA, por ele fundada e por ele presidida até seu falecimento. Os ensaios, de autoria de discípulos, amigos e colegas de Guido Soares, abordam temas diversos do direito internacional do meio ambiente, oferecendo um panorama útil da matéria e enriquecendo com qualidade a literatura pátria que ainda se ressente de certas faltas na área de direito internacional, de modo geral. O livro está dividido em duas partes, a primeira reunindo os artigos de seus discípulos, e a segunda dedicada aos textos de seus pares. A seqüência de textos sugere um fechamento progressivo, partindo dos temas mais genéricos do direito internacional do meio ambiente para depois tocar problemas e setores mais específicos e diversos. Abre o volume um texto de Fernando Rei em que se constrói um panorama da Peculiar dinâmica do direito internacional do meio ambiente, começando pelo cenário de um mundo problemático, no qual se impõem ao homem os problemas globais, e conectando esse cenário com a evolução do direito internacional do meio ambiente. Esse primeiro texto descreve ainda as novidades trazidas pela dinâmica e vocação do direito internacional do meio ambiente e aquelas relativas aos arranjos institucionais, e aponta os desafios do movimento e da transformação constantes. O segundo artigo, de nossa autoria, discute as transformações do direito internacional, provocadas, ao menos em parte, pela emergência da problemática ambiental. Aponta-se para dois grandes desafios que se impõem ao estudo da teoria geral do direito internacional: por um lado, a crescente aceitação de uma categoria de normas imperativas, hierarquicamente superior às demais, classificadas de jus cogens; e por outro lado, a discussão cada vez mais presente em torno de uma normatividade mais flexível e de novos modos de produção do direito, usualmente reunidos sob o título de soft law. Segue um artigo de Geraldo Miniucci em que se analisa o direito internacional e a cooperação em matéria ambiental como um processo comunicativo, como um diálogo. A partir dessa perspectiva, o autor discute o princípio, central na matéria, do desenvolvimento sustentável e da questão do acesso à informação.

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Joana Setzer trata das diretrizes para a aplicação do princípio da precaução no direito internacional do meio ambiente. Após analisar as dificuldades, persistentes, de conceituação do princípio e de sua diferenciação do princípio da prevenção, a autora volta-se para a discussão das diretrizes relacionadas à aplicação do princípio. O lugar, extremamente importante, da sociedade civil em tudo que se relaciona ao meio ambiente é o objeto do artigo de Márcia Brandão Carneiro Leão, em que a autora discute o papel das ONGs no desenvolvimento do direito internacional do meio ambiente. Considera com especial atenção a contribuição das ONGs no que se relaciona com as Convenções Ramsar e da Basiléia. Flavia Witcowski Frangetto volta-se para a discussão em torno da importância e das possibilidades de circulação e acesso à informação em matéria ambiental. Relaciona para isso a Convenção de Aarhus e a legislação brasileira, e busca possíveis convergências entre elas. O tema atualíssimo e central das questões ambientais de ordem global das mudanças climáticas deu razão para que se concebesse mecanismo de redução de emissões de gases de efeito estufa, o mercado de carbono. Esse mercado é o objeto de que cuida o artigo de Lucila Fernandes Lima, que tenta identificar novas perspectivas nessa área. Antonio Monteiro e Maria Christina Gueorguiev traçam um panorama da responsabilidade pelo movimento transfronteiriço de organismos vivos modificados. Após um breve histórico, lidam com o Protocolo de Cartagena sobre a matéria e tentam identificar perspectivas a partir da Conferência das partes em Montreal. Encerra a primeira parte do livro um artigo de Viviane Bertogna e Juliana Cibim em que cuidam da proteção de direitos e repartição de benefícios advindos dos recursos genéticos e de conhecimentos tradicionais. Oferecem uma breve análise da Convenção da Biodiversidade e estudam em mais detalhes os direitos de propriedade intelectual. A segunda parte do livro traz a bem-vinda contribuição do embaixador Everton Vieira Vargas, dos professores Christian Guy Caubet e Ramón Martin Mateo, e de José Goldemberg e Oswaldo Lucon. No primeiro dos quatro artigos, o embaixador Vargas oferece uma visão brasileira da recente construção do direito internacional do meio ambiente e discute sucessivamente a amplitude da temática ambiental, a importância das bases multilaterais para a construção de regimes internacionais e a negociação de normas para as relações internacionais em matéria ambiental. Em seguida, o professor Caubet faz interessante conexão entre a geopolítica e a temática ambiental tratando dos conflitos de água e das rivalidades nas relações internacionais do século XXI. Segue um artigo do professor Martín Mateo, em que cuida das três responsabilidades públicas sobre a floresta: ambiental, anti-fogo e econômica. Finaliza o livro um artigo escrito a quatro mãos pelo professor Goldemberg e por Oswaldo Lucon, relacionando a mudança do clima às energias renováveis e propondo uma governança global na matéria. Enfim, é um livro que pretende render justa e merecida homenagem e, para atingir tal objetivo, reúne artigos de grande qualidade sobre tema de fundamental (em alguma medida, vital) importância e oferece, como dito, um panorama útil e competente do direito internacional do meio ambiente.

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NOTA 1 Kiss, A.; Shelton, D. Manual of European Environmental Law. 2.ed. Cambridge University Press, 1997. p.3.

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SAÚDE, AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

CARLOS MACHADO DE FREITAS E MARCELO FIRPO PORTO Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2006. 120p.

Alice Itani1; Eider Nunes Moreira1

¹ Centro Universitário Senac, Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

² Médico do trabalho.

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Saúde, Ambiente e Sustentabilidade Carlos Machado de Freitas e Marcelo Firpo Porto Alice Itani; Eider Nunes Moreira INTERFACEHS

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O livro Saúde, ambiente e sustentabilidade, recentemente publicado por Carlos

Machado de Freitas e Marcelo Firpo Porto, vem nos trazer mais uma importante

contribuição desses autores para o debate que vimos realizando sobre uma temática com

a qual trabalhamos e que nos interessa de perto: ‘saúde e ambiente’. É também uma

contribuição para o debate em geral, com uma linguagem acessível, que possibilita a um

público mais amplo compreender questões que afetam diretamente as populações.

Nesse texto de 120 páginas, que faz parte da coleção ‘Temas em Saúde’, os

autores partem da discussão sobre ‘saúde e meio ambiente’ e passam pela história dessa

relação, para discorrer sobre os desafios da sustentabilidade ambiental e da saúde

segundo o atual modelo de desenvolvimento. O texto aborda, em seus cinco capítulos,

pontos importantes da necessária busca de sustentabilidade por meio da superação do

modelo de desenvolvimento atual, montado sobre instituições e sobre paradigmas das

ciências. Essa superação virá, sem dúvida, pela adoção de um outro modelo, que atue na

promoção da saúde absorvendo dimensões éticas e culturais da vida em sociedade.

O livro apresenta a compreensão da contaminação ambiental pela análise da

história do território, de suas populações e culturas, dos investimentos produtivos

realizados. Centrado na realidade brasileira, apresenta dados que demonstram a queda

da mortalidade infantil no século XX. Mas os autores destacam que esse progresso vem

acompanhado de um processo de degradação ambiental que afeta o bem-estar das

populações, pelo desmatamento, pelas queimadas, pelo esgoto a céu aberto e pela

contaminação, por exemplo, das águas de rios e baías.

Os autores elegem a justiça ambiental como uma nova ferramenta para

contabilizar o débito ecológico e social que se apresenta no cenário brasileiro. Chamam,

assim, a atenção do leitor para que reflita sobre a ação em questões de saúde e meio

ambiente de forma integrada. Ampliam-se as noções atuais de saúde e dos ecossistemas,

tendo por referência a saúde das populações. Focaliza-se o acesso aos recursos

necessários para uma vida plena, para boas relações sociais e de trabalho, em ambientes

saudáveis, de modo que todos possam desfrutar das diversas formas de expressão –

culturais, religiosas e estéticas.

O projeto de sustentabilidade defendido pelos autores implica o envolvimento de

atores dos diferentes campos da saúde, tanto governamentais como não governamentais,

tanto cientistas como leigos. Para desenvolver a saúde como signo de bem-estar é

preciso ampliar e fortalecer as bases de conhecimento e das políticas públicas. Isso está

relacionado a uma mudança do modelo de desenvolvimento atual baseado no

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Saúde, Ambiente e Sustentabilidade Carlos Machado de Freitas e Marcelo Firpo Porto Alice Itani; Eider Nunes Moreira INTERFACEHS

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crescimento econômico, em busca de um mundo ambientalmente sustentável e

socialmente justo entre países e regiões, que, por conseqüência, proporcione vida em

plenitude.

Os autores indicam, no final do texto, sugestões de leitura para os que desejam

aprofundar seus conhecimentos sobre o tema. Por todos os motivos aqui reunidos,

indicamos a obra para uma reflexão inicial sobre os problemas brasileiros nessa área.

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AS SOCIEDADES À PROVA DO ENVELHECIMENTO

O DESAFIO DO EMPREGO NA SEGUNDA PARTE DA CARREIRA

Anne-Marie Guillemard

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As Sociedades À Prova Do Envelhecimento - O Desafio Do Emprego Na Segunda Parte Da Carreira Anne-Marie Guillemard INTERFACEHS

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Hoje, as implicações do envelhecimento demográfico das sociedades desenvolvidas são abordadas, em sua maioria, desde o prisma único das aposentadorias e das reformas que seria conveniente promover para assegurar sua perenidade. Essa visão é extremamente redutora. A questão do envelhecimento afeta nossas sociedades em todas as suas dimensões. Nossas formas de trabalhar, de distribuir os tempos sociais no decorrer da vida, de cobrir os riscos sociais, de conceber as identidades de cada idade e as relações entre as gerações são profundamente transformadas pelo envelhecimento da população. Esse é o ponto de vista que será defendido neste artigo. Impõem-se acabar com a visão deficitária da questão, que vê na reforma das aposentadorias a principal resposta.

O prolongamento da vida, fator de envelhecimento, questiona todo um modelo cultural de organização das idades e dos tempos sociais. Ele coloca a questão dos respectivos papéis das diferentes gerações em nossa sociedade, de seu lugar na produção das riquezas e nos sistemas de transferência de recursos, assim como das novas formas de solidariedade que podem uni-las. Desde essa perspectiva, a posição das sucessivas gerações no emprego é um fator tão fundamental a considerar quanto sua posição no sistema de proteção social. Ao contrário do que é normalmente afirmado, parece mesmo que o verdadeiro desafio colocado pelo envelhecimento da população não seja tanto o das aposentadorias quanto o do emprego dos assalariados que avançam em idade.

Considerar a verdadeira medida das transformações que atuam sob o efeito do envelhecimento exige, portanto, adotar uma perspectiva teórica que apreenda as evoluções interdependentes entre três dimensões centrais, que são: o mercado de trabalho, o sistema de proteção social e a organização das temporalidades no ciclo de vida. Pensamos que apenas essa investigação é capaz de trazer a inteligência necessária ao debate, tanto sobre o devir no emprego dos assalariados avançados em idade, quanto sobre o futuro das aposentadorias. Esses dois termos da análise são, aos nossos olhos, indissociáveis. Nos últimos anos, essa linha de interrogação irrigou nossos trabalhos de comparação internacionais. Ela resultou em uma recente obra de síntese (GUILLEMARD, 2003) comparando três continentes – Europa, América do Norte, Japão – a fim de tentar discernir como as sociedades desenvolvidas enfrentam hoje o envelhecimento, principalmente da população ativa.

O objetivo deste artigo é apresentar um dos principais resultados do livro. Visa mostrar que o envelhecimento demográfico não é uma fatalidade que dita condutas e políticas homogêneas nos diferentes países. Nesse sentido, poderíamos dizer que não há determinismo demográfico. O que chama a atenção à primeira vista, quando examinamos comparativamente as respostas políticas dos diferentes países estudados, é seu caráter bastante contrastado.

Se, em nome da salvaguarda do emprego, a maior parte dos países da Europa continental encorajou as pré-aposentadorias a ponto de as taxas de emprego dos ativos entre 55 e 64 anos caírem quase pela metade entre 1971 e 1995, nos países escandinavos ou no Japão foi bem diferente. Esses países escolheram reforçar continuadamente suas políticas ativas de emprego para os assalariados de mais de 45 anos, em vez de indenizar sua saída antecipada, mesmo quando a conjuntura do emprego pouco se prestava a isso. Como considerar essas opções diferenciadas em sistemas de exigências relativamente homogêneas de um país a outro? A interpretação aqui proposta acentua o fato de que essas escolhas coletivas opostas envolvem diferentes definições de idade e suas relações com o emprego. Elas encarnam e utilizam concepções distintas do assalariado idoso. Optar pela indenização para saída do mercado de trabalho dos assalariados idosos ou, ao contrário, pela reclassificação no emprego, envolve definições diferentes de idade e de

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As Sociedades À Prova Do Envelhecimento - O Desafio Do Emprego Na Segunda Parte Da Carreira Anne-Marie Guillemard INTERFACEHS

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seu legítimo tratamento. No plano de uma teoria comparativa, essas escolhas, como as trajetórias muito diferenciadas de segunda parte da carreira às quais dão lugar, devem ser recontextualizadas nos quadros cognitivos, políticos e sociais que as produzem. Nosso ponto de partida será o exame comparado das dinâmicas das políticas de emprego e proteção social, e de seu impacto sobre a segunda parte da carreira. Ele nos permitirá, por um lado, identificar modalidades, diferenciadas segundo as sociedades, de construção e regulação das relações entre idade, trabalho e proteção social. Além disso, autorizará a perceber e analisar, nesse quadro relativista, a diversidade de respostas nacionais às novas exigências demográficas, relativamente homogêneas, que pesam sobre o conjunto dos países desenvolvidos. Assim, estaremos à altura, não somente de descrever, mas também de interpretar essa diversidade. IDADE E MERCADO DE TRABALHO: A CONSTATAÇÃO

A comparação internacional da evolução, em 30 anos, da participação no mercado de trabalho das pessoas com mais de 45 anos evidencia que as transformações da segunda parte da carreira foram de uma amplitude muito desigual conforme os países. Embora restem alguns países onde qüinquagenários e sexagenários conservaram um futuro no trabalho, em contrapartida, nos países da Europa continental, a atividade profissional tornou-se uma situação minoritária para esses grupos de idade. Nos países escandinavos, no Japão e nos Estados Unidos, a taxa de emprego dos homens de 55 a 64 anos permanece próxima de 70%. Em 30 anos, ela simplesmente desmoronou. Entre 1971 e 2001, o recuo da atividade para esse grupo de idade é de aproximadamente 10% nos Estados Unidos e no Japão, e de 16% na Suécia (Tabela 1). A idade média de saída do mercado de trabalho, na Suécia, é de 63 anos, e ainda um pouco mais elevada no Japão. A atividade permanece, então, a regra para essas idades.

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Nos países da Europa continental, observamos, ao contrário, uma verdadeira derrocada da atividade nessa idade. A queda da taxa de emprego, em 30 anos, é da ordem de 40% (Tabela 1). Em 2001, claramente, menos de um homem a cada dois, entre 55 e 64 anos, estava ainda empregado nos países da Europa continental. A França (41%) e a Bélgica (35%) detêm o recorde nesse domínio, com apenas mais de um terço dos homens nessa idade ainda inseridos no mercado de trabalho. Seguem a Alemanha (45%), a Finlândia (47%) e os Países-Baixos (50%). Esses últimos acabam de emergir acima do limite de 50% para essa classe de idade. A Itália apresenta uma situação um pouco diferente, pois aí a atividade nessa idade foi constantemente muito fraca durante o período considerado.

Além disso, em todos esses países, numerosos índices de fragilização da carreira são discerníveis a partir de 45 anos. Para os quadragenários, isso se traduz, mais freqüentemente, em uma carreira declinante no plano das promoções, da remuneração e do acesso à formação contínua. Quanto às pessoas com mais de 50 anos, elas conhecem uma crescente vulnerabilidade ao desemprego, além de ser ele de bem longa duração. Sua taxa de retorno ao emprego está entre as mais fracas, mesmo em caso de retomada da economia. Nesses países, jovens e velhos foram colocados à margem do mercado de trabalho. O emprego teve a tendência a se concentrar nas idades medianas. Para os mais jovens, enquanto se alongava a escolarização, sua inserção em empregos estáveis ocorria tardiamente. Para os mais idosos, a transição entre emprego e aposentadoria tornou-se delicada e incerta, como acabamos de ver. Doravante, ela passa mais freqüentemente

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por um desemprego de longa duração ou por uma interrupção precoce da atividade, eventos que precedem em muito a entrada no sistema de aposentadoria. As comparações internacionais sobre atividade e desemprego evidenciam trajetórias contrastadas da segunda parte da carreira, segundo os países. Se os qüiquagenários japoneses ou suecos continuam inseridos no mercado de trabalho até uma idade avançada, o mesmo não acontece com aqueles pertencentes aos países da Europa continental. Estes experimentam uma fragilização no emprego desde a metade dos 40 anos e conhecem um afastamento1 do mercado de trabalho a partir dos 50. Isso significa que, dentro de uma mesma idade cronológica, os assalariados são objeto de apreciações muito diferenciadas segundo os países. Esses dados indicam que não se pode considerar a depreciação do assalariado idoso como uma evidência natural. É preciso interpretá-la como um fato cultural, cujo processo de construção vamos tentar esclarecer. CONFIGURAÇÕES DE POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL E EMPREGO, E CULTURAS DE IDADE

Como tratar as contrastantes trajetórias profissionais de segunda parte da carreira que acabamos de observar?

A hipótese subjacente à nossa análise comparativa é que a participação no mercado de trabalho na segunda parte da carreira deve ser apreendida como um constructo social. Ela resulta da rede de interdependências entre edifícios normativos, políticas de proteção social e de emprego, e sistemas de relações profissionais, elementos que conferem à participação no mercado de trabalho sua especificidade social. Nosso ponto de partida foi identificar configurações estilizadas de políticas pertinentes ao nosso objeto. Cada configuração conjuga um regime de proteção social, especificado pelos níveis de cobertura e de indenização da inatividade que assegura aos ativos em segunda parte da carreira, e políticas do mercado de trabalho caracterizadas por sua capacidade ou incapacidade de assegurar empregabilidade e inserção ou reinserção no emprego durante essa seqüência da carreira.

Em um primeiro nível, essas configurações institucionais de políticas afetam diretamente os itinerários dos assalariados no mercado de trabalho em cada país. Com efeito, pelos direitos e prestações que concedem e pelos estatutos que oferecem no emprego ou no sistema de proteção social, elas formam o leque de alternativas abertas aos assalariados: vias de inserção no emprego, acúmulo de rendimentos da atividade e de indenizações ou vias de saída precoce indenizadas. Em conseqüência, elas modelam as possíveis trajetórias e dão forma às antecipações de todos os atores do mercado de trabalho sobre o futuro empregatício dos assalariados que avançam em idade.

Em um segundo nível, as configurações políticas produzem um conjunto de orientações normativas significativas. É sua dimensão cognitiva.2 O Estado Social, intervindo e arbitrando no domínio do emprego, da formação ou da proteção social, produz normas de idade. Sua atividade faz nascer um verdadeiro governo, que designamos “uma polícia das idades”, retomando o antigo sentido de governo que revestia esse termo no Antigo Regime. Em um contexto nacional dado, as interações entre, de um lado, as diferentes “polícias de idades” contidas nos dispositivos de proteção social e de emprego e, de outro lado, a maneira como os diferentes atores do mercado de trabalho delas se apoderam e fazem uso, criam uma dinâmica particular. Essa dinâmica

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estabiliza progressivamente o que designamos uma “cultura da idade” específica. Esta representa um conjunto de valores e normas partilhadas sobre os modos de problematizar a questão do avanço em idade e sobre os direitos e obrigações ligados à idade. Ela repousa sobre os princípios de eqüidade e de justiça entre idades e gerações, sobre categorizações da idade e regras de ação.

Assim, as opções políticas relacionadas aos assalariados que avançam em idade não representam somente regras de ação. Uma vez adotadas, elas retroagem sobre o cognitivo. Constituem uma rede de motivos, justificativas e referências que modelam os comportamentos de todos os atores do mercado de trabalho em cada contexto. É o sentido dado à noção de “cultura da idade” que identificamos. Cada configuração institucional típica de políticas pode, assim, ser examinada sob a relação da cultura da idade particular que tende a promover.

Conforme um esquema simplificador, quatro configurações institucionais estilizadas de políticas podem ser identificadas a partir do cruzamento de dois eixos polares: o das políticas de emprego e o da indenização do não-trabalho. A presença de numerosos instrumentos de integração no emprego em favor dos assalariados que avançam em idade tende a multiplicar as oportunidades de integração no mercado de trabalho. Inversamente, a generosa indenização do risco de não trabalho em fim de carreira dá forma a várias alternativas de saída antecipada para o trabalhador que avança em idade. As quatro configurações institucionais de políticas e os tipos de trajetórias profissionais que tendem a encorajar podem ser sintetizadas na tipologia a seguir (Tabela 2). São mencionados, a título ilustrativo, os países que se mais aproximam das configurações estilizadas identificadas. Essa tipologia não deve ser objeto de uma leitura mecanista e determinista, mas, ao contrário, deve ser interpretada dinamicamente. Os limites deste texto não permitem entrar no detalhe da demonstração. A partir do estudo profundo de quatro casos nacionais (França, Suécia, Japão, Reino Unido) e da análise de políticas públicas promovidas em duas décadas, ela estabelece estreitas correspondências entre, de um lado, as dinâmicas de configurações de políticas, seus edifícios normativos e as culturas da idade que constroem e, de outro lado, as trajetórias tendenciais no mercado de trabalho que canalizam. Contentar-nos-emos em evocar sucintamente os processos pelos quais cada configuração política constrói uma cultura da idade bem específica, a qual dá forma a uma trajetória profissional tendencial com o avanço em idade.

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Tipo 1: marginalização / afastamento

A primeira configuração é bem ilustrada pelos países da Europa continental e, particularmente, pela França. Ela combina uma generosa indenização do risco de não trabalho para os assalariados idosos com uma quase ausência de instrumentos de integração ou reintegração no emprego para esses assalariados (Quadro). No âmbito dos princípios adotados para legitimar a distribuição do emprego e dos recursos de transferência entre as diferentes categorias de idade, essa configuração coloca, claramente, o foco na segurança do rendimento. Ela aciona, de início, uma lógica de compensação financeira pela perda do emprego para os assalariados que avançam em idade. O privilégio associado a essa lógica constrói, pouco a pouco, uma cultura da “saída precoce” ou, logo, a norma para o assalariado idoso não será mais o emprego, mas o acesso às transferências sociais.

O exemplo francês permite compreender como, no emaranhado entre produção de dispositivos e construção das normas e regras que eles contêm, constrói-se uma cultura da saída precoce. A jurista Marie Mercat-Bruns mostrou como o direito francês do licenciamento econômico passou, no fim dos anos 1970, de um princípio de proteção contra a perda do emprego a uma concepção do trabalhador idoso como vulnerável no emprego e cuja idade logo vai se tornar um critério legal para demiti-lo (MERCAT-BRUNS, 2001). As “medidas de idade” destinadas a proteger esses trabalhadores com partidas antecipadas consagram o novo princípio. Elas “cavam o fosso entre os

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assalariados beneficiários do plano de reclassificação e os outros, principalmente os mais idosos, presumidamente não suscetíveis de reclassificação” (ibid., p. 129). Gradualmente, constrói-se uma definição do assalariado idoso como vulnerável no emprego e não reclassificável. A partir de então, é justo e eqüitativo para essa população reforçar seu acesso às transferências sociais. Assim, é legitimada a saída antecipada do mercado de trabalho para essa categoria de idades. Logo será erigida em direito à aposentadoria precoce. Em conseqüência, assistimos à construção de uma “cultura da saída precoce”, que problematiza a questão da idade no trabalho unicamente em termos de acesso aos recursos de transferência.

Uma vez produzidas e encarnadas em diferentes dispositivos, as regras jurídicas servem de quadro de ação para todos os atores do mercado de trabalho. Elas constituem as redes de motivos de justificação e referências para todos os que estão envolvidos na ação. Conseqüentemente, desencadeia-se um processo de depreciação dos assalariados conforme a idade, o qual, pouco a pouco, vai afetar as gerações mais jovens. Se os assalariados com mais de 55 anos são reputados não reclassificáveis, então, seus caçulas imediatos, os jovens qüinquagenários, são bruscamente etiquetados como semivelhos e fragilizados no mercado de trabalho. Esquecemos, freqüentemente, que rebaixando a idade efetiva de saída do mercado de trabalho, elevamos simultaneamente a idade social da geração caçula. Na mesma medida, esse movimento de depreciação toca igualmente os quadragenários. Algumas empresas hesitam em promovê-los ou formá-los, pois se aproximam do momento do fim da carreira. Podemos, assim, constatar que o desenvolvimento da cultura da saída precoce engendra um processo em espiral de fragilização de toda a segunda parte da carreira. Observemos que os princípios que legitimaram o acesso aos recursos de transferência para os trabalhadores idosos acabaram jogando contra o emprego dos ativos que avançam em idade.

DINÂMICA DAS CONFIGURAÇÕES POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL

E DE EMPREGO EM DUAS DÉCADAS

Na França

Década de 1990 e início de 2000: esforços para restringir e administrar as vias de saída antecipada do mercado de trabalho e revigoramento dos dispositivos: ARPE (Allocation de Remplacement Pour l’Emploi - alocação de substituição no emprego), 1995; depois, objetivado: CATS (Cessation d’Activité de certains Travailleurs Salariés - encerramento da atividade para alguns assalariados), 2000. Reforma das aposentadorias: 2003. Emprego: inexistência de políticas de emprego visando a inserção dos seniores.

Na Suécia

Forte conexão entre políticas de indenização e políticas ativas de emprego (exemplo: aposentadoria parcial criada em 1976). Política de emprego preventiva, que propõe ajudas na reabilitação e formação, e favorece a passagem ao tempo parcial no fim da carreira. Os trabalhadores idosos usufruem o mesmo acesso que as outras idades nesses programas. A partir da metade de 1990, o desafio da prolongação da atividade está no centro do debate social. Foi adotada uma série de reformas que reabilita a ética no trabalho e retoma a ativação da proteção social.

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- Restrições foram feitas a todos os sistemas de proteção social que contribuíram para o desenvolvimento das vias de saída precoce. Estas últimas foram consideravelmente restringidas ou suprimidas. - O sistema de aposentadoria foi profundamente reformado em 1999, para melhor incitar o prolongamento da vide ativa (quanto mais tempo trabalhamos, mais elevada a pensão recebida). - As políticas ativas de emprego foram reforçadas e objetivadas para os assalariados idosos, em matéria de reabilitação, de administração do tempo de trabalho e incentivo à manutenção das competências durante a vida ativa. Assim, em 2000, foi instalada uma “garantia de atividade” dirigindo-se aos desempregados de longa duração.

No Reino-Unido

Uma proteção social que oferece somente o estatuto de não-trabalho indenizado de fim da carreira. Um sistema público de aposentadoria rígido que não permite a liquidação da aposentadoria antes de 65 anos. Somente as pensões profissionais oferecem vias de saída negociadas, mas somente a metade da força de trabalho britânica está coberta por esse sistema. As políticas de emprego são limitadas; entretanto, em 2000, o programa New Deal 50 Plus objetivou explicitamente o retorno ao mercado de trabalho dos qüinquagenários. Ele propõe conselhos para a formação, ajudas para colocação no emprego e complementos de rendimentos. Uma estratégia para um envelhecimento ativo se desenvolve, a partir de 2000, conforme quatro eixos: - Multiplicação dos esforços de formação permanente para os trabalhadores idosos. - Sistema de aposentadoria tornado mais flexível e gradual. Disposições fiscais para encorajar a passagem ao tempo parcial. - Introdução do Stakeholder Pensions, sistema complementar de aposentadoria por capitalização para os baixos rendimentos. - Campanhas de informação, associadas aos códigos de boa conduta, para convencer os empregadores a reter ou contratar os assalariados idosos. As campanhas se baseiam na boa vontade das empresas e tiveram resultados limitados. Por essa razão o governo Blair decidiu preparar um quadro legislativo mais restritivo para 2006, com a adoção de uma legislação de não discriminação por idade no emprego.

A.-M.G.

Tipo 2: integração / reintegração A segunda configuração de políticas (ver Tabela 2) constrói uma cultura da idade e uma definição do assalariado idoso diametralmente oposta àquela que acabamos de constatar no primeiro caso. Essa configuração evoca o regime escandinavo de proteção social. A generosa indenização do risco de não trabalho em segunda parte da carreira está aqui intimamente apoiada na mobilização de uma política ativa de emprego (quadro acima). Logo, a manutenção no emprego, com o avanço da idade, é encorajada e acompanhada

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de uma extensa gama de instrumentos de integração e reinserção no emprego, e pela extensão dos serviços sociais de emprego para os ativos idosos. É, assim, um outro sistema de regras que prevalece, visando fazer do assalariado idoso o alvo de intervenções de reabilitação e reintegração no emprego a fim de respeitar seu direito ao trabalho. Em nome da igualdade de oportunidades, não é mais satisfatório substituir o rendimento do trabalho por rendimentos de transferência. Numerosos programas de reinserção no emprego, de reabilitação e de manutenção da empregabilidade devem fornecer a todos os cidadãos os meios de permanecer no trabalho. Presumidos frágeis no emprego, mas reclassificáveis, os assalariados idosos, assim como outras populações vulneráveis, devem se beneficiar de serviços de emprego objetivos e reforçados. As representações da idade no trabalho, assim como os princípios que guiam a ação, nesse caso, estão voltados para um envelhecimento ativo. Esse modelo tende a construir uma cultura do direito ao trabalho em todas as idades, em oposição à saída precoce. Tipo 3: manutenção no mercado de trabalho A terceira configuração de políticas evoca o caso do Japão. Ela se diferencia da segunda configuração pelo fato de oferecer aos assalariados que estão envelhecendo poucas possibilidades de indenização pela saída antecipada do mercado de trabalho. O dever de atividade do assalariado idoso não é contrabalançado por um direito à indenização. Para o assalariado japonês, não há outra saída além do envelhecimento ativo, considerado como desejável, tanto para o indivíduo como para a sociedade. Entretanto, esse dever de atividade exigido pela sociedade é equilibrado pela obrigação desta de oferecer aos assalariados idosos oportunidades de permanência no mercado de trabalho. Conseqüentemente, nesse país, diferentes dispositivos públicos para os trabalhadores que estão envelhecendo ofereceram, de maneira contínua, uma rede de motivos e justificativas para a permanência em atividade até idade avançada. No caso do Japão, o trabalhador idoso foi definido, em primeiro lugar, como aquele que passa de um emprego vitalício a um emprego flexível. As políticas de emprego acompanharam e regularam essa passagem ao emprego flexível, seja diretamente, baixando o custo do trabalho dessa categoria de idade, seja regulando os comportamentos das empresas ou ainda abrindo, em última instância, possibilidades de emprego público. Tipo 4: exclusão / manutenção

A quarta e última configuração combina prestações limitadas em matéria de cobertura de riscos de não trabalho e poucos instrumentos de integração ao mercado de trabalho (caso próximo ao do Reino-Unido, ver quadro acima). A maior parte da regulação é deixada ao mercado. Portanto, não há alternativa, para os ativos que estão envelhecendo, senão a permanência, a qualquer preço, no mercado de trabalho, exceto as mínimas redes de proteção oferecidas pela previdência.

Se nos referirmos à tipologia de Estado Providência proposta por Gøsta Esping-Andersen (1999), essa configuração encarna o Estado assistencial de tipo liberal ou residual. Sabemos que este último oferece o nível mais frágil de desmercantilização e confere mais espaço ao puro jogo do mercado. Conforme a conjuntura do mercado de trabalho, será observada trajetória de exclusão dele para os ativos que estão envelhecendo ou, ao contrário, em caso de penúria de mão-de-obra, trajetórias de

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manutenção. Esses percursos resultarão diretamente do jogo de oferta e procura de trabalho no mercado.

Os casos americano ou britânico são bastante representativos dessa configuração de políticas públicas. Podemos aí observar, de um lado, uma proteção social pouco desenvolvida e amplamente submissa às condições dos recursos; de outro lado, dispositivos de políticas de emprego em número limitado e que se reduzem a um welfare to work, isto é, a uma assistência para uma reinserção rápida no mercado de trabalho tal como ele é.

A cultura da idade secretada por essa configuração pode ser abordada a partir do exemplo americano da lei sobre a não discriminação por idade no emprego (ADEA - Age Discrimination in Employement Act). Ela ilustra o caráter minimalista da intervenção pública no domínio do contrato de trabalho no seio do regime liberal de proteção social. A intervenção pública nos Estados Unidos consistiu em proibir toda discriminação arbitrária em matéria de emprego que fosse fundada na idade. Ela se apoiou na retórica dos direitos fundamentais, inspirou-se na tradição dos direitos cívicos e, principalmente, na luta contra a discriminação racial. O ADEA foi promulgado em 1967 e, em seguida, progressivamente estendido por emendas sucessivas.i Dispõe que toda discriminação no emprego fundada na idade elevada (superior a 40 anos) é ilegal, tanto a relativa à contratação como aquela ligada ao licenciamento ou à aposentadoria. Abre possibilidades de recurso individual e de reparação pelos prejuízos sofridos. No entanto, a apreciação da discriminação ligada à idade interessa-se somente pelo prejuízo individual sofrido pela vítima. O ADEA não se reporta aos mecanismos do mercado que conduzem os empregadores a preferir os trabalhadores jovens, em geral menos caros e mais qualificados, aos trabalhadores idosos, coletivamente depreciados. Pior, pode dar lugar a estratégias de dissimulação do tratamento desigual devido à idade, como foi o caso dos Estados Unidos. O quadro de ação criado pelo ADEAii não oferece nem a rede de motivos suficientes para defender uma cultura do direito ao trabalho em qualquer idade, como no modelo escandinavo, nem aquela que poderia fundar uma cultura do direito à saída precoce, como no modelo continental, nem mesmo os princípios de uma cultura do dever à atividade associado a um direito de acompanhamento para a manutenção no emprego, como no caso japonês. O código de boa conduta para a diversidade de idades no trabalho, desenvolvido para os empregadores pelo governo de Tony Blair, em 1999, poderia ser avaliado da mesma maneira. A difusão de quadros normativos fixando boas práticas não discriminantes tem pouco impacto sobre o comportamento efetivo das empresas.

No plano de uma teoria comparativa, podemos colocar em evidência a rede de interdependências segundo a qual configurações institucionais específicas engendram culturas da idade diferenciadas e produzem trajetórias, na segunda parte da carreira, contrastadas, conforme os países. A primeira constatação pode ser feita com base nos resultados. Os países que, ante o envelhecimento de sua população, optaram pelo desenvolvimento de uma ampla gama de instrumentos de integração no emprego visando os seniores, foram os que melhor preservaram a mobilização dessa população no trabalho (casos 2 e 3). Em conseqüência, os países escandinavos e o Japão não estão hoje ante o mesmo dilema que a Europa continental. A aceleração do envelhecimento demográfico requer, principalmente,

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planejamentos à margem: reforma das aposentadorias, revisão das trajetórias profissionais no emprego, assim como restaurar os esforços de ativação já empreendidos, sendo o objetivo aumentar ainda mais a propensão a trabalhar dos assalariados seniores.

Bem outra é a situação da Europa continental, imersa em uma cultura da saída precoce. Ela deverá operar uma verdadeira “revolução cultural” a fim de modificar profundamente os comportamentos dos atores do mercado do trabalho. Enfrentar a aceleração do envelhecimento implicará, para o modelo continental, uma remobilização sem precedentes dos qüinquagenários no emprego. Um esforço de mobilização dessa amplitude não se improvisa. Programa-se a médio ou longo prazo. Manter os qüinquagenários no mercado de trabalho supõe ter mantido, anteriormente, sua empregabilidade e suas competências. É necessário, também, ter sabido desenvolver condições de trabalho e uma organização adaptada ao envelhecimento da mão-de-obra. É necessário, enfim, conceber percursos profissionais motivadores, assegurando a preservação e a transmissão da experiência no contexto de uma rápida renovação de gerações no trabalho.

Em quais condições é possível sair do círculo vicioso que conduziu a Europa continental a entrar numa espiral de depreciação dos assalariados que avançam em idade e produziu a inatividade no fim da carreira? Pressentimos que as reformas indispensáveis são, nesse caso, extraordinariamente mais complexas a produzir do que em outros tipos de configuração. Podemos sair da cultura da saída precoce e inverter a tendência ao recuo da atividade em idades elevadas?

A análise nos ensina que são os distintos traços institucionais contidos nas configurações de políticas caracterizando o modelo continental que engendram uma patologia específica. Essa configuração se transforma, então, em uma poderosa máquina a produzir inatividade e secretar uma cultura da saída precoce.

Essa patologia específica foi qualificada por alguns autoresiii como uma proteção social cujas características jogam contra o emprego. Nesses países, os generosos direitos sociais assegurados pelos sistemas de securidade social operam principalmente no modo passivo de indenização do risco. Eles intervêm sistematicamente uma vez que o risco advém, para assegurar um rendimento de substituição, em vez de preveni-lo. A existência de generosas subvenções públicas para incitar a saída precoce da atividade no caso dos trabalhadores idosos tornou sedutora, para as empresas e seus assalariados, a redução da oferta de trabalho dessa categoria. Em conseqüência, a contração do emprego e o desemprego em massa tornaram-se o modo privilegiado de ajuste nesses países, assim que intervém uma desaceleração do crescimento.

Essas escolhas jogaram cada vez mais a proteção social contra o emprego. A elevação da inatividade em fim da carreira é uma ilustração particular dessa patologia, própria do regime da Europa continental. Ela foi ainda acentuada quando, em nome do desemprego e dos jovens, particularmente, reforçou-se a lógica da indenização passiva sem trabalho dos assalariados idosos, multiplicando as medidas de idade. Foi pedido a estes últimos para “deixarem o lugar aos jovens”, optando por mais pré-aposentadorias. Contrariamente ao que se esperava, essas medidas tiveram, em toda Europa, efeitos decepcionantes sobre o emprego. Pior, de acordo com o mecanismo bem conhecido do círculo vicioso, essas políticas aumentaram os desajustes com os quais o regime de proteção social se confrontava. Em vez de corrigir o desemprego ou de limitar o aumento

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das despesas sociais que o funcionamento de uma proteção social desencorajante do emprego gerava, essas medidas só fizeram aumentar os problemas. Elas acarretaram uma espiral de inatividade indenizada em fim da carreira, sustentada por uma cultura da saída precoce cada vez mais vigorosa. Essa situação promove o risco de tornar vã qualquer tentativa que se contentasse em fechar por decreto as vias de saída precoce ou de reformar as aposentadorias sem combater as causas profundas, principalmente aquelas que conduziram ao desenvolvimento da cultura da saída precoce. A fonte das dificuldades na Europa continental relaciona-se com o divórcio que se aprofundou entre proteção social e emprego. O remédio residiria, portanto, na pesquisa de um novo acoplamento entre direitos sociais e reintegração no mercado de trabalho. Isso suporia refundar os princípios básicos da proteção social, tais como prevalecem nesses países. Uma “ativação” da proteção social permitiria tirá-la de sua função estritamente reparadora e indenizadora do risco e a acomodaria mais solidamente às políticas de trabalho e de melhoria dos recursos humanos. Enfim, é o conjunto dos princípios de gestão das idades no trabalho que seria profundamente revisto no âmbito público e no plano empresarial. É seguindo esse caminho, que combate as causas primeiras da patologia, que podemos esperar modificar duradouramente os comportamentos de todos os atores do mercado de trabalho. São as representações do trabalhador idoso como “não empregável” e os modelos de ação adotados em relação ao avanço em idade no emprego que precisamos mudar radicalmente, se quisermos tirar a França da cultura da saída precoce. Dois países da Europa continental já estão engajados com sucesso nessa via: os Países-Baixos e a Finlândia. Conforme observamos na Tabela 1, somente eles conseguiram, a partir de 1997, elevar notavelmente a taxa de emprego do grupo de idade entre 55 e 64 anos e mantê-la claramente acima da França. Lembramos que o princípio de atingir, em 2010, pelo menos 50% da taxa de emprego para os assalariados entre 55 e 64 anos foi adotado no âmbito europeu em 2001, no contexto do conselho de Estocolmo. A França ainda está muito longe desse objetivo, pois, somados homens e mulheres, a taxa francesa de emprego para essa categoria de idade atinge 32%. Trataremos brevemente do caso finlandês, para ilustrar as vias de reforma que poderiam permitir à França reverter sua cultura de saída precoce e elevar a taxa de emprego de seus assalariados idosos. Finlândia: um plano nacional para o emprego dos assalariados com mais de 45 anos

A estratégia finlandesa visa reverter os princípios e as prioridades anteriores da ação pública. Doravante, o foco está colocado na prevenção da perda da capacidade de trabalho e de competências com o avanço da idade. Foi implementado um plano nacional qüinqüenal em favor do emprego dos assalariados com mais de 45 anos (1998-2002). Ele intervém num contexto de desemprego constante de 9%, quase equivalente ao nível francês. No caso finlandês, esse plano foi iniciado antes de qualquer reforma do sistema de aposentadoria. Esta última só foi envolvida no fim do programa para o emprego, no outono de 2002. Ela capitalizou os resultados. Seu princípio foi aumentar fortemente a escolha dos indivíduos quanto à aposentadoria, ao mesmo tempo em que tornou o sistema muito incitativo à prolongação da vida ativa. Foi

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descartada qualquer noção de limite fixo de idade para aposentadoria e duração padrão de cotização.

O programa finlandês para o emprego comporta um conjunto integrado de mais de 40 medidas ativas, visando a manutenção da plena capacidade produtiva em toda a segunda parte da carreira (ver Quadro 2). Implica uma coordenação estreita entre três ministérios: trabalho, educação e relações sociais e saúde. Seu objetivo, muito ambicioso, envolve tanto a melhoria na oferta de trabalho aos assalariados que avançam em idade quanto o reaquecimento da demanda dessa força de trabalho pelas empresas. Trata-se de tornar mais atrativo o prolongamento da vida ativa para todos os atores do mercado de trabalho.

Para os assalariados, isso passa pela oferta de um final de carreira mais dinâmico

e motivador e por uma sensível melhoria do bem-estar no trabalho. Tal objetivo supõe repensar a mobilidade dos assalariados durante o emprego. Sabemos que passar 20 anos no mesmo cargo gera, irremediavelmente, desmotivação e acelerado envelhecimento das competências. A urgência é, portanto, planejar novos percursos horizontais e não mais verticais nos mercados internos do trabalho. Para os empregadores, convém ressaltar as capacidades e os desempenhos dos assalariados avançando na idade. Isso passa por um esforço sem precedentes de incentivo à formação contínua e de manter permanente empregabilidade desses assalariados, freqüentemente deixados à mercê dos planos de formação.

O plano nacional finlandês repousa no princípio de que os assalariados seniores, longe de serem “não empregáveis”, constituem um recurso essencial para a competitividade global do país. A palavra de ordem adotada nesse programa – “a experiência é uma riqueza nacional” – testemunha isso. Portanto, a ação pública finlandesa vai, decididamente, na contramão da visão que prevalece, principalmente na França, segundo a qual o envelhecimento consiste num fardo para o país e o “choque” demográfico impõe soluções drásticas em matéria de redução dos direitos sociais e dos níveis de pensões.

Nesse sentido, além da vigorosa ação empreendida em matéria de emprego dos seniores, o programa ataca frontalmente a cultura da saída precoce. Ele visa engajar uma mudança cultural radical da percepção do envelhecimento, sem a qual é, sem dúvida, impossível promover um “envelhecimento ativo”. Um esforço pedagógico importante foi realizado nesse sentido pelas autoridades finlandesas. Ele visou tanto a opinião pública em geral quanto assalariados e diretores de recursos humanos, além de pequenas, médias e grandes empresas.

As avaliações finais do programa, no fim de 2002, evidenciam seu sucesso. No plano quantitativo, o programa atingiu seus objetivos. Ele elevou a taxa de emprego dos seniores em 25%. Durante o programa, a taxa de emprego das pessoas entre 55 e 59 anos passou de 51% a 63% e, daqueles entre 60 e 64 anos, de 20% a 25%. A idade mediana de saída do mercado de trabalho foi elevada de 58,2 anos, em 1996, para 59,3 anos em 2001.

Mas é sobretudo no plano qualitativo de mudança das atitudes e das mentalidades

que os resultados do programa são os mais convincentes. A percepção do envelhecimento no trabalho tornou-se muito mais positiva. A discriminação por idade diminuiu significativamente nas empresas, pelo menos para aqueles com mais de 55 anos. O acesso à formação contínua, para os assalariados de mais de 45 anos, progrediu. Logo as empresas e a sociedade finlandesa se conscientizaram de que o envelhecimento da mão-de-obra não desemboca, inelutavelmente, em uma catástrofe. Ao

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contrário, pode constituir um novo recurso. As empresas perceberam que os assalariados idosos podem se tornar competentes e performáticos desde que sejam objeto de investimentos sociais. Até constataram que poderia haver importantes retornos no investimento, principalmente em produtividade. Também se conscientizaram de que poderiam ter ganhos de produtividade e permanecer líderes na competição mundial, mesmo nos setores reputados jovens das novas tecnologias, com um mão-de-obra entre as mais idosas do mundo.

Doravante, direitos sociais e integração no mercado de trabalho não jogam mais

um contra o outro. Eles se reconciliaram. Esse resultado foi obtido graças a uma política de emprego ativa e ambiciosa, adotando a perspectiva longa do ciclo de vida.

O plano finlandês : um programa coerente em seis partes

1) Um esforço pedagógico importante foi iniciado pelo Estado finlandês. Ele deu origem a: - uma vasta campanha pública de informação e formação para mudar a mentalidade e a imagem do envelhecimento; - campanhas objetivas para os empregadores, valorizando os trunfos dos assalariados idosos e as formas de as empresas tirarem proveito deles. 2) Ações concernentes à saúde e proteção no trabalho: melhora das condições de trabalho, prevenção das incapacidades. Uma abordagem integrada do envelhecimento no trabalho é privilegiada. Visa todas as dimensões do bem-estar no trabalho: ambientais, psicológicas e sociais. Fornece, cada vez mais, uma estreita colaboração, no seio das empresas, entre direção, representantes do pessoal, especialistas e autoridades públicas. 3) A formação profissional. Focando os assalariados de 45 anos ou mais, as ações visam diminuir as diferenças entre os níveis de formação entre jovens e velhos. Trata-se de um programa em longo prazo (10 a 15 anos), que se integra numa estratégia nacional para promover “a educação ao longo de toda a vida”. 4) A reabilitação dos desempregados idosos. Um acompanhamento individualizado dos idosos que procuram emprego foi produzido no quadro da ação específica de retorno ao emprego. Notar que essa ação “curativa” em favor dos desempregados idosos não trouxe todos os resultados esperados. O que prova a superioridade da estratégia preventiva adotada, intervindo já no meio da carreira. 5) Passagem gradual e escolhida para a aposentadoria. O foco é a promoção do tempo parcial: o limite de idade que dá o direito a uma aposentadoria parcial baixou de 58 para 56 anos, e os direitos à pensão são mantidos no caso de atividade parcial. É oferecida a possibilidade de alternar períodos de trabalho e de licença. 6) Estudos, pesquisas e experimentações: o programa comporta uma parte muito importante de estudos e pesquisas. Um instrumento de avaliação específico, “o barômetro da manutenção da capacidade de trabalho” (TYKY) foi desenvolvido. Ele permite avaliar o impacto do programa nacional sobre os assalariados nas empresas. Outros programas de pesquisa se relacionam às atitudes e práticas dos trabalhadores no fim da carreira, a idade, a saúde, as competências no trabalho, as práticas discriminatórias na contratação, o “idadismo” no trabalho, a formação profissional e os novos métodos de formação contínua. O custo total do programa foi de 4,2 milhões de euros, com único financiamento

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público por cinco anos.

A-M.G A FRANÇA PODERIA INSPIRAR-SE DO CASO FINLANDÊS?

A solução finlandesa de um programa público de médio prazo, coordenando um conjunto coerente de ações para promover o emprego dos seniores, representa uma opção promissora para a França. É pouco provável que as empresas francesas, espontaneamente, encontrem virtudes nos assalariados idosos, mesmo no contexto de tensões no mercado de trabalho e da reforma das aposentadorias.

A França é um dos países europeus onde o nível de formação das pessoas entre 45 e 54 anos é o mais baixo. O CÉREQ (Centro de estudos e de pesquisa sobre a qualificação) avalia em 50% a parte da população francesa ativa que não dispõe de bagagem escolar e experiência suficiente para se inscrever em uma perspectiva de desenvolvimento profissional significativo. Portanto, há urgência. Tanto mais que a reforma das aposentadorias instaurada em 2003 limitou-se a um jogo com os parâmetros do cálculo das pensões e não tratou a parte do emprego. Nessas condições, pode-se perguntar se o prolongamento programado da duração de cotização desembocará em um efetivo prolongamento da vida ativa. Nada é mais incerto, na medida em que, no momento, nenhuma política ativa de emprego vem modificar a situação dos assalariados idosos, nem os torna mais atraentes para os empregadores.

Há, portanto, forte receio de que novas vias de saída precoce sejam arranjadas dentro de um certo consenso entre empregadores e assalariados, pouco entusiasmados com a idéia de um prolongamento da vida ativa. Não se exclui que as vias da doença longa e da invalidez sejam utilizadas nesse sentido nos próximos anos, enquanto se fecham as outras vias de saída antecipada, tais como a pré-aposentadoria progressiva ou a ARPE (alocação de substituição para o emprego). Se for esse o caso, a reforma das aposentadorias corre o risco de desembocar em ganhos ilusórios em matéria de despesas sociais. O que será economizado nas aposentadorias poderá ser gasto em seguro-desemprego, invalidez ou doença longa. Tanto mais que, ao mesmo tempo, os sistemas de aposentadorias estão privados de importantes margens de financiamento, o que limita o restabelecimento das taxas de atividade dos qüinquagenários, principal reserva de mão-de-obra disponível na Europa nos próximos anos, já que as jovens gerações que estão entrando no mercado de trabalho serão menos numerosas e as taxas de atividade feminina, na França, já são elevadas.

Um vigoroso programa de emprego é o único capaz de prevenir a erosão da empregabilidade e da capacidade de trabalho com a idade. Ele representa o principal argumento que poderia incitar as empresas a querer reter os assalariados idosos no trabalho. Sem o apoio de uma política ativa de emprego, é provável que muitas empresas continuem a empurrar seus qüinquagenários para a saída. Se esse é o caso, a reforma de aposentadorias corre o risco de se fazer a um custo individual considerável para os baby boomers. Sem poder permanecer no mercado de trabalho, eles deverão esperar, em condições precárias, uma entrada mais tardia no sistema de aposentadoria, e receberão pensões menos vantajosas e ainda amputadas por descontos.

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Essas constatações e antecipações pleiteiam fortemente a adoção de uma solução finlandesa na França. Entretanto, não se deve esconder que a construção de um novo consenso sobre a questão do envelhecimento será mais difícil de se realizar na França por, pelo menos, duas razões essenciais. Por um lado, o estilo das relações profissionais finlandesas difere da França por seu nível de estabelecer acordos e de negociar. Por outro lado, na França, a grande fragmentação da decisão em matéria social arrisca prejudicar a indispensável coordenação entre os diferentes ministérios envolvidos, a qual representou uma das chaves do sucesso finlandês.

O exemplo finlandês mostra que é possível sair do círculo vicioso da saída antecipada do mercado de trabalho e remobilizar os seniores no emprego. As mudanças produzidas não correspondem a uma diminuição dos direitos sociais. Elas encarnam uma reconfiguração do regime continental de proteção social. Os princípios de base que governam a proteção social do país foram radicalmente modificados. A proteção social, essencialmente reparadora e indenizadora, foi reequilibrada por uma extensa oferta de serviços de emprego visando a requalificação da mão-de-obra e a manutenção de sua capacidade e empregabilidade ao longo da segunda parte da carreira. A Finlândia se reúne, por essa via de ajuste, ao modelo escandinavo, que, há muito tempo, associou os dois tipos de medidas. Procedeu a uma ativação de sua proteção social, para a qual um dos maiores desafios é, de agora em diante, manter o desenvolvimento do capital humano e das mobilidades profissionais.

A manutenção da capacidade profissional das pessoas deve ocupar, doravante, um lugar central nos dispositivos de securidade. Podemos avaliar, pela importância desses novos imperativos, que, quaisquer que sejam os méritos da reforma das aposentadorias promovida na França, ela não está sem dúvida à altura dos desafios.

A remobilização dos seniores no emprego exige, para tirar o modelo continental de sua patologia, uma política de emprego constante e voluntarista, acompanhada de um considerável esforço de negociação e coordenação com todos os atores do mercado de trabalho. Ela também requer a adoção da perspectiva longa do ciclo de vida, de acordo com a qual são desenvolvidas ações preventivas visando a manutenção da empregabilidade e da capacidade de trabalho ao longo de toda a vida profissional. Não é duvidoso que as novas políticas sociais do ciclo de vida desempenharão um papel central na modernização do modelo social europeu. Atualmente, a noção de proteção social não pode mais ser dissociada das questões do emprego. Implica ações preventivas sobre o ciclo de vida. Essas orientações são cruciais para que a Europa continental faça do envelhecimento das populações uma oportunidade, uma vantagem competitiva, e não um naufrágio individual e coletivo.

UM NÃO OCORRIDO CONFLITO DE GERAÇÕES Nos dois ou três últimos anos, os artigos de jornal e os colóquios de especialistas se multiplicaram para lembrar a iminência da famosa reviravolta demográfica. As aposentadorias maciças do baby boomers, que se tornaram papy boomers, vão ativar uma nova onda de contratações. Os primeiros representantes da nova geração, empregados no momento em que vigoram as 35 horas, surpreenderam um pouco por suas expectativas, seus comportamentos e por sua relação com a empresa. Nesse intervalo de tempo, a lei Fillon empurrou a idade da aposentadoria e suprimiu o

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essencial das medidas de partidas antecipadas. Os dirigentes de empresas se preparam, não sem interrogações ou inquietudes, e visivelmente sem entusiasmo, para uma situação demográfica inédita desde o início dos anos 1980. Depois de 20 anos de políticas de emprego retardando a entrada dos jovens no mundo do trabalho e acelerando a partida dos antigos, gerações que não se encontravam mais na empresa vão, novamente, se cruzar. Diversas questões se colocam: como manter no trabalho e remotivar os antigos que se preparavam para partir? Como atrair os jovens e fazer com que ocupem, completamente, seu lugar na empresa (sem mudar demais os hábitos)? Como favorecer as relações e a cooperação entre essas populações que, pensamos, possuem diferentes expectativas que podem levar a desacordos, tensões e rupturas? Tal como as coisas são geralmente apresentadas, a reviravolta demográfica é um “risco intergeracional”. As relações entre jovens e idosos parecem inelutavelmente submetidas às divergências, às incompreensões recíprocas, aos conflitos. As cooperações intergeracionais no trabalho bem poderiam aparecer, de agora em diante, como dependendo de verdadeira proeza administrativa. Observar as situações de trabalho Durante os últimos anos, as pesquisas realizadas em diferentes empresas, principalmente nos setores que mais contrataram, mostram uma realidade bem menos alarmante, em todo caso, diferente. Na construção automotiva, os responsáveis pelas equipes explicam as dificuldades que podem vivenciar ante jovens “um pouco reativos”, sublinhando que sua hipersociabilidade (“eles vão conversar de tudo com todo mundo”) promoveu uma vida social nas linhas de montagem. Em um banco, observamos a forte coesão entre os antigos, entusiasmados com a chegada de um “substituto” a quem transmitir seus conhecimentos, e os jovens, satisfeitos com a disponibilidade dos antigos para ajudá-los a “colocar o pé na estrada”. Em uma grande empresa pública, assistimos aos debates entre jovens e antigos a propósito dos métodos de trabalho, de critérios pertinentes de definição das “boas relações” no trabalho ou regras de funcionamento em equipe. Esses debates poderiam suscitar constrangimentos ou recriminações, sem, necessariamente, conduzir a relações degradadas ou a conflitos... Poderíamos, assim, multiplicar os exemplos à vontade.

Entretanto, as tensões e os conflitos não estão ausentes nas empresas observadas. Eles se manifestam das formas mais diversas e com intensidade variável: reivindicações de exclusiva vinculação a um grupo de idade, cooperações problemáticas, até mesmo conflituosas, rumores sobre “os jovens” ou sobre “os velhos”, ameaças, fenômenos de bode expiatório, agressões verbais, por vezes até mesmo físicas em certos casos extremos...

Em muitas situações observadas, não encontramos conflito de gerações, isto é, conflito no qual se opõem, de forma mais ou menos frontal, referências, valores ou expectativas dos jovens, de um lado, e dos mais velhos, de outro. Em nenhuma das situações os jovens pedem uma mudança radical do sistema ou do modo de funcionamento. Isso não impede a crítica das regras e dos sistemas, sobretudo

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quando são impostos sem explicação. Mas estamos bem longe do conflito de gerações do pós-1968, da reivindicação de uma sociedade alternativa, da contracultura ou da “alergia ao trabalho” (ROUSSELET, 1974). A juventude dos anos 2000, saída da sociedade da precariedade, aprendeu que as chaves do sucesso estavam na autonomia e na adaptabilidade. Antes de qualquer coisa, ela aspira entrar no sistema de produção e de consumo, encontrar um mínimo de estabilidade e algumas garantias de um futuro, mesmo que sejam precárias e incertas. Do outro lado, os idosos saíram, há muito tempo, dos dogmas de seus avós (salvo algumas exceções). Eles observam com menos desconfiança, senão com interesse, as inovações culturais que essa juventude pode trazer. Olham com uma mistura de fatalismo e de curiosidade como as novas gerações se viram na precariedade e nas incertezas do futuro. A fragilização de um sistema de regulação social Se os olhares cruzados entre jovens e idosos estão longe de traduzir percepções bélicas, em contrapartida, constatamos que os fatores de contexto têm um papel preponderante nas situações conflituosas observadas. Por exemplo: - Focalizando no objetivo de atração, de integração e de fidelidade dos jovens, algumas empresas fizeram, às vezes, propostas de altas somas, contrastando com o desinvestimento precoce dos seniores.iv Sobrevalorizando alguns, multiplicaram as mensagens negativas aos outros. - Em outras empresas, a importante renovação das equipes não foi nem antecipada nem acompanhada, deixando os seniores e os recém-chegados se entenderem sobre as novas regras. - E outros lugares, ao contrário, a chegada dos jovens foi ocasião de criar novas organizações ou introduzir novas tecnologias. Mas essas mudanças foram conduzidas somente com os jovens, deixando de lado os antigos, em nome de suas supostas dificuldades de adaptação às transformações. -Incompreensão recíproca, mal-entendidos crônicos, aparentes aberrações de comportamentos, rivalidades e sentimentos recíprocos de ameaça... essas situações conflituosas sempre correspondem a um acúmulo de fatores – ruptura demográfica levando a duas classes de idade distintas e distanciadas; mudanças organizacionais; segmentação de políticas de gestão de recursos humanos; administrador inexistente ou sobrecarregado ...

As relações intergeracionais, enfim, aparecem menos como o lugar da gênese das tensões e das rupturas do que como lugar de sua expressão. Refletem a fragilização do sistema de regulação social das empresas, conseqüência de um acúmulo de mudanças.

A tese do conflito de gerações, no contexto dos anos 2000, nos parece imprópria. Entretanto, não é insignificante. Tende a remeter os jovens e os antigos às suas respectivas características e à suas relações “estruturalmente problemáticas”, questões que derivam, na verdade, das escolhas e das decisões em matéria de administração, de organização e de gestão. Nos próximos anos, os fluxos de entrada e de saída vão se acelerar e se amplificar. A renovação dos efetivos será incomparavelmente maior do que conhecemos nesses últimos anos. Esperemos que os dirigentes de empresas não fiquem contemplando e

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deplorando um conflito de gerações não ocorrido, mas encontrem a medida dos verdadeiros desafios e do papel que é o seu.

Nicolas Flamant, Entreprise & personnel NOTAS 1 Professora de sociologia, Faculdade de Ciências Sociais, Universidade de Paris V – Sorbonne e Instituto Universitário da França. 2 Originalmente publicado em francês no periódico Futuribles, Paris, jul.-ago. 2004, n. 299, pp. 45-67 (e-mail: [email protected] - site web : http://www.futuribles.com 47, rue de Babylone - 75007 Paris – France. Tel.: +33 (0)1 53 63 37 70 – Fax : +33 (0)1 42 22 65 54). Agradecemos ao editor Hugues de Jouvenel pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. 3 Falamos, preferencialmente, de afastar, em vez de excluir, no caso da Europa continental. Por exclusão, entendemos que há retirada do mercado de trabalho acompanhada de recursos de transferência proporcionando um rendimento de substituição. 4 Ver, sobre esse ponto, Revue française de science politique (2000). 5 Em 1967, cobria os assalariados de 40 a 65 anos; em 1978, o limite de idade foi aumentado para 70 anos, e, em 1986, todo limite de idade superior foi afastado, o que significa que o empregador não podia mais aposentar por motivo de idade. 6 O mesmo acontece com outras legislações antidiscriminação. Com efeito, desde de outubro de 2000, uma diretiva européia legisla sobre o tratamento igual no emprego e inclui a idade. 7 Sobre esse ponto, ver em particular os seguintes trabalhos: ESPING-ANDERSEN (1996, pp. 66-87) e SCHARPF (2001, pp. 270-286). 8 As recentes publicações da ANACT (Agence nationale pour l'amélioration des conditions de travail) lembram que, a partir de 45 anos, os investimentos em matéria de formação, promoção ou remuneração caem brutalmente. Cf. GILLE5 e LOISIL (2002, p. 22). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESPING-ANDERSEN, G. (1996). “Welfare States without Work. The Impasse of Labour Shedding

and Familialism in Continental European Social Policy”. In: ESPING-ANDERSEN, G. (dir.). Welfare States in Transition: National Adaptations in Global Economies. Londres: Sage Publications.

_______ (1999). The Three Worlds of Welfare Capitalismo Princeton: Princeton University Press,

1990 [tradução francesa: Les Trais Mondes de l'État providence. Essai sur le capitalisme moderne. Paris: Presses Universitaires de France (Col. Le Lien social)].

GILLE5, M. e LOISIL, F. (dir.) (2002). La Gestion des âges. Pouvoir vieillir en travaillant. Paris:

Groupe Liaisons, ANACT. GUILLEMARD, A.-M. (2003). L'Age de l'emploi. Les sociétés à l'épreuve du vieillissement. Paris:

Armand Colin.

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MERCAT-BRUNS, M. (2001). Vieillissement et droit à la lumiere du droit français et du droit

américain. Paris: Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence (LGDJ). REVUE FRANÇAISE DE SCIENCE POLITIQUE (2000). Les approches cognitives des politiques

publiques, n. especial, pp. 50-52. ROUSSELET, J. (1974). L'allergie au travail. Paris: Seuil. SCHARPF, F. W. (2001). “Employment and the Welfare State: a Continental Dilemma”. In:

EBBINGHAUS, B. e MANOW, P. (dirs.). Companng Welfare Capitalism. Social Policy and Polítical Economy in Europe, Japan and the USA. Cambridge, Mass.: Routledge.