328

Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento na área de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

Citation preview

Page 1: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2
Page 2: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2
Page 3: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

ABORDAGEM SISTÊMICA DE ACIDENTES E SISTEMAS DE GESTÃO

DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO

Ildeberto Muniz de Almeida

Professor Assistente Doutor, Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp; [email protected]

RESUMO

Os principais objetivos deste texto são: difundir conceitos de abordagens sistêmicas de

acidentes do trabalho e estimular reflexões sobre sua utilização em sistemas de gestão de

saúde e segurança do trabalho – SGSST – em nosso país. Os conceitos mostrados

sugerem novos caminhos para a interpretação de comportamentos humanos que

participam nas origens proximais ou distais de acidentes. As análises de acidentes devem

buscar condições latentes ou incubadas, pesquisar aspectos da complexidade interativa,

modos de controle psíquico e situações, mecanismos modeladores de comportamentos

dos operadores, migração de sistemas para acidentes ou outros aspectos. Responsáveis

por SGSST são estimulados a saber reconhecer os conceitos ou abordagens mais úteis

às organizações em que atuam.

Palavras-chave: acidente de trabalho; concepções de acidentes; análise de acidentes do

trabalho; sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho; migração do sistema

para o acidente.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=32

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 4: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

Tradicionalmente as análises de acidentes do trabalho concluem atribuindo culpa

às próprias vítimas e negando a existência de problemas ou disfunções nos sistemas que

dão origem a esses eventos. Nas últimas décadas, surgem visões que questionam esse

desfecho e destacam a ocorrência de acidentes como avisos da existência de disfunções

sistêmicas, sinais da ocorrência de problemas incubados que precisam ser ouvidos e

adequadamente interpretados pelos sistemas de gestão de saúde e segurança do

trabalho – SGSST.

O enfoque sistêmico de acidentes não encontra facilidades em sua difusão. No

Brasil, uma das poucas obras dedicadas ao enfoque sistêmico é Acidentes industriais: o

custo do silêncio, de Michel Llory (1999a). No prefácio do livro Gerard Mendel discute a

resistência a essa abordagem destacando que ela tem a ver como princípio a partir do

qual se pôde fundar e desenvolver a ciência ... construiu-se a ciência fracionando-se cada

vez mais a realidade, em campos disciplinares distintos e separados, mas apesar disso, a

realidade só existe de forma global ... o espírito do cientista não está preparado para

transitar nesses campos interdisciplinares.

O objetivo deste texto é apresentar alguns dos conceitos dessa abordagem que

vêm sendo utilizados nas últimas décadas em análises de acidentes e discutir implicações

de sua incorporação por SGSST. A discussão será acompanhada de questões sugeridas

como temas para a reflexão e não visa estabelecer “novas verdades”, mas cobra, no

mínimo, a explicitação de razões que levam cada sistema a fazer as escolhas que faz.

Enfim, o texto aponta a existência de caminhos para SGGST que são pouco conhecidos

entre nós.

O MODELO DE ACIDENTE ORGANIZACIONAL DE JAMES REASON

A expressão acidente organizacional foi usada por Reason (1997) em

contraposição à idéia de acidente individual. Segundo ele, neste último todos os

acontecimentos relativos ao acidente, ou seja, suas causas e conseqüências, podem ser

considerados como circunscritos ao indivíduo que realiza a atividade e que sofre o

2

Page 5: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

acidente e a lesão. Acidentes organizacionais são “eventos comparativamente raros, mas

freqüentemente catastróficos, que ocorrem dentro de uma tecnologia moderna complexa

tais como plantas nucleares, aviação comercial, indústria petroquímica, plantas de

processos químicos, transporte ferroviário e marítimo...” (p.1).

Em pouco tempo essa idéia passa a ser usada na abordagem de acidentes

ocorridos em outros tipos de sistemas e situações. O próprio Reason a utiliza em estudos

de acidentes em manutenção, principalmente na aviação, e também em acidentes

ocorridos em serviços de saúde.

A Figura 1 mostra o modelo de acidente organizacional proposto por Reason.

Nela, um triângulo e um retângulo são usados para representar o acidente. Na parte

superior do esquema, o retângulo representa o desfecho do acidente. Em seu esquema o

autor reproduz aqui a idéia de acidente como fenômeno que sempre inclui a liberação

descontrolada de uma (ou mais) determinada forma de energia de modo a produzir

perdas no sistema: danos materiais, ambientais, outras formas de prejuízos ou vítimas

humanas.

3

Page 6: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A energia liberada estava presente no sistema, controlada por barreiras que não

conseguiram impedir a liberação do seu fluxo por ocasião do acidente. No topo da figura,

a seta representa essa idéia de fluxo de energia atravessando as barreiras.

No modelo de Reason, o triângulo que forma a base da figura representa o

processo ou as condições do sistema que originam a liberação do fluxo de energia. Nas

proximidades imediatas do desfecho do acidente, ou do descontrole da energia em

questão, com freqüência estariam comportamentos dos trabalhadores que operavam o

sistema. Essas ações ou omissões estão representadas no vértice do triângulo e foram

chamadas por ele de erros ativos, incluindo comportamentos involuntários (os “erros”) e

voluntários. Os erros ativos correspondem aos atos inseguros da abordagem tradicional

de acidentes.

No meio do triângulo estão representados fatores do ambiente físico e técnico de

trabalho. Eles estariam nas origens dos erros ativos e, por sua vez, têm origens em

fatores gerenciais e da organização do trabalho que são representados na base do

triângulo. Esses dois grupos de fatores são chamados de condições latentes que,

segundo o esquema, podem originar o descontrole da energia liberada no acidente de

modo direto, isto é, sem a presença de erros ativos. A seta de condições latentes,

paralela ao triângulo, mostra a possibilidade de acidentes sem “erros” ativos, com origens

diretas nessas condições.

Segundo Reason os erros ativos são pouco importantes para a prevenção. Em

particular, porque as diferentes combinações possíveis entre fatores das condições

latentes criam constantemente novas condições facilitadoras do aparecimento de erros

ativos. Em outras palavras, não é possível eliminar diretamente esses erros. Eles são

conseqüências, e não causas. Por isso mesmo, os interessados na prevenção devem

priorizar a eliminação ou minimização de condições latentes.

Talvez a contribuição mais importante a ser destacada dos estudos de Reason

seja a idéia de que para os interessados na prevenção de acidentes o caminho a seguir

não é o do estudo dos “erros humanos”. Em especial, quando essa expressão é tomada

no sentido de erros ativos, entendidos como resultados de falhas do indivíduo ou

operador que os cometeu. As características do comportamento humano no trabalho

4

Page 7: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

levam estudiosos do tema a reconhecer que “errar é humano”, ou seja, que o erro sempre

vai existir e que, por isso, a prevenção ideal deve basear-se na abordagem de

características do sistema que aumentam as chances de ocorrência desses erros.

A contribuição de Reason influencia a abordagem de acidentes pelo mundo todo.

Os interessados em conhecê-la em mais profundidade podem fazer busca direta com o

nome do autor em sistemas de busca e bases de dados. Em livro recente, o interessado

pode encontrar muitos exemplos de aplicação desses conceitos em estudos de acidentes

na atividade de manutenção (REASON & HOBBS, 2003).

O ACIDENTE PSICO-ORGANIZACIONAL DE LLORY

Outros autores também utilizam a expressão acidente organizacional com sentido

assemelhado ao empregado por Reason. Em 1997 foi lançada nova edição de Man-made

disasters (TURNER & PIDGEON, 1997) que descreve estágios ou etapas do acidente na

vida do sistema. Em 1999, na França, Llory resume a proposta de Turner e Pidgeon em

três fases. A primeira, pré-acidental ou período de incubação, em que uma lenta e

progressiva degradação do sistema leva à segunda, acidental propriamente dita,

geralmente desencadeada por evento específico. A terceira fase é a pós-acidental, no

curso da qual se manifestam as conseqüências sociais, políticas e institucionais do

acidente, sob a forma de uma crise organizacional e social (LLORY, 1999b, p.114).

O acidente é organizacional na medida em que é, antes de tudo, o produto de uma

organização sociotécnica. Não mais somente como resultado de uma combinação

‘azarada’ de falhas passivas e latentes com falhas ativas e diretas, não mais somente

como resultado de uma combinação específica de erros humanos e de falhas materiais.

(p.113)

O acidente está enraizado na história da organização: uma série de decisões, ou

ausências de decisões; a evolução do contexto organizacional, institucional, cultural que

interfere no futuro do sistema; a evolução (a degradação) progressiva de condições ou

fatores internos à organização; alguns eventos particulares que têm um impacto notável

sobre a vida e o funcionamento do sistema sociotécnico, criando uma situação

5

Page 8: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

desfavorável: um terreno no qual o acidente (ou um incidente) poderá se inserir e se

desenvolver ... o acidente incuba. O período de incubação pode ser longo... (p.113-4)

Considerando as idéias de acidente organizacional aqui apresentadas, os

primeiros questionamentos suscitados aos interessados em SGGST são:

Qual a concepção de acidente adotada no sistema em que você atua?

Suas análises de acidentes identificam condições latentes ou aspectos da

história da incubação desses eventos? Adotam algum dos conceitos citados?

Como você situa a afirmação de que a maioria dos acidentes deve-se a erros

dos operadores e que o principal objetivo a ser adotado para a sua prevenção é

a eliminação desses erros?

A NOÇÃO DE ACIDENTE NORMAL OU SISTÊMICO DE CHARLES PERROW

Uma das primeiras obras de divulgação do enfoque sistêmico foi publicada em

1984 pelo sociólogo americano Charles Perrow: Normal accidents: living with high-risk

technologies. Nessa obra ele enfatiza o papel da estrutura de sistemas complexos nas

origens do que denominou acidentes normais ou sistêmicos.

Em seu livro Perrow (1999a) destaca uma idéia de risco que não costuma ser

considerada como tal em abordagens técnicas tradicionais. Trata-se do risco decorrente

da possibilidade de interações entre fatores, elementos ou componentes de sistemas

sociotécnicos. Esse tipo de risco é descrito pelo autor como associado à complexidade

sistêmica, ou seja, a uma propriedade de sistemas complexos.

O autor classifica os sistemas em simples e complexos em função do tipo de

interações existentes entre seus elementos. Nos sistemas simples predominam

interações de tipo previsível, ditas simples, como aquelas presentes numa série de pedras

de um dominó. A conseqüência da queda de uma delas, ou seja, a derrubada daquelas

que estão à sua frente, é facilmente previsível. Nos sistemas complexos há maior

freqüência de interações provenientes do acúmulo de aspectos ou fatores que, vistos

isoladamente, não são considerados como risco e, mesmo em seu conjunto, não

6

Page 9: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

permitem prever os desfechos a que se associam.

Segundo Perrow, em sistemas complexos a emergência de interações complexas

pode originar comportamentos sistêmicos não antecipados e de evolução tão rápida que

impossibilitam aos operadores o restabelecimento da compreensão do que estaria

acontecendo. Como conseqüência, essas situações evoluem para acidentes impossíveis

de serem evitados.

Os sistemas com mais chances de apresentar acidentes desse tipo são aqueles

que incluem parte, unidade ou subsistema que desempenha, simultaneamente, múltiplas

funções. Por exemplo, um aquecedor que é usado tanto para aquecer gases em um

tanque “A”, como para trocar calor de modo a absorver seu excesso de um reator

químico. Sua falha pode deixar o tanque “A” muito frio para a recombinação das

moléculas do gás e, ao mesmo tempo, o reator químico superaquecido por causa da não

absorção do excesso de calor.

Segundo Perrow os acidentes sistêmicos tendem a apresentar acúmulos de

conseqüências desse tipo de falhas, denominadas de falhas de modo comum (common-

mode failures) que tendem a reagir com feedbacks não familiares aos integrantes do

sistema. Além disso, os sistemas mais propensos a esse tipo de acidentes possuem

“interatividade” caracterizada por “proximidade física” entre componentes, “informação de

origem indireta ou inferencial, controle de muitos parâmetros com interações potenciais e

compreensão limitada de alguns processos”. Resumindo a noção de “complexidade

interativa”, Marais et al. (2004) afirmam que ela “refere-se à presença de seqüências de

eventos não familiares, não planejados e inesperados em um sistema”, sendo também

invisíveis e não imediatamente compreensíveis.

Esse tipo de acidentes tende a ser disparado por falhas banais, aparentemente

sem grande significado para a segurança. Por exemplo, um defeito numa máquina de

café levando a um incêndio que culmina na queda de um avião. No acidente de Three

Mile Island um aviso de manutenção cobria alarme luminoso importante. Nesses casos as

situações podem parecer bizarras ao examinador externo, mas costumam ter explicação

racional do operador.

7

Page 10: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A probabilidade desses acidentes associa-se tanto à complexidade interativa,

citada até aqui, como a uma outra propriedade dessas interações: o fato de serem

estreitamente ou fortemente interligadas (tightly coupling). Isso significa que o sistema é

altamente interdependente, de modo que uma mudança numa parte pode rapidamente

afetar o status de outras partes. Diferentemente das interações frouxas, essas se

mostram estreitamente dependentes ou associadas. De acordo com Perrow, sistemas

estreitamente interligados teriam as seguintes características:

a) Possuem maior número de processos dependentes do tempo, ou seja, que não

podem ser paralisados, por exemplo, à espera de uma intervenção corretiva;

b) Possuem maior proporção de seqüências específicas e invariantes, de modo

que a ocorrência de A sempre leva ao surgimento de B;

c) Além das seqüências específicas invariantes o desenho global do processo

permite apenas um caminho de obtenção da meta de produção, por exemplo,

uma planta nuclear não pode produzir eletricidade a partir de outro combustível,

ou seja, trata-se de sistema pouco flexível; e

d) Possuem pequena margem de manobra ou “folga” (slack), ou seja, quantidades

devem ser precisas, recursos não podem ser substituídos por outros,

substituições temporárias de equipamentos não são possíveis etc. (PERROW,

1999a, p.93-4)

A visão de Perrow leva-o a leitura considerada essencialmente pessimista quanto

às possibilidades de prevenção de acidentes nesse tipo de sistemas. Neles, seria

impossível antever e evitar todas as chances de interações complexas. E parte delas,

sendo fortemente interligadas, acabaria levando a acidentes normais ou sistêmicos. Esse

nome foi dado não porque fossem acidentes de grande freqüência, mas sim por

decorrerem de características inerentes ao sistema.

A alternativa a esses desastres estaria na decisão política de não aceitar a

implantação desse tipo de sistemas no território. Posteriormente, a prevenção desse tipo

de acidentes é discutida com base em idéias de redução da complexidade sistêmica

(PERROW, 1999b; SAGAN, 1993) incluindo estratégias de pessimismo estruturado

(PERROW, 1999b), ou seja, a exploração sistemática dos piores cenários como suporte à

elaboração de práticas de prevenção.

8

Page 11: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Embora criticada por seu pessimismo, a visão de Perrow exerce larga influência

entre interessados na segurança e confiabilidade de sistemas. Os conceitos de interação

complexa e interação estreitamente ou fortemente interligada passam a ser considerados

na concepção e operação de sistemas, e a noção de origens de acidentes em

características da estrutura de sistemas passa a ser usada em contraposição à de culpa

dos operadores.

Os interessados em outros exemplos de utilização dos conceitos de Perrow podem

encontrá-los em sistemas de buscas e base de dados. O Journal of Contingencies and

Crisis Management é fonte obrigatória para os interessados no tema.

A ABORDAGEM SISTÊMICA E A ANÁLISE DE ACIDENTES

A teoria de sistemas tem suas origens nas décadas de 1930 e 1940. O método

científico tradicional adota divisão do sistema em partes, de modo a examiná-las

separadamente. Esse processo de decomposição, chamado de redução analítica, possui

entre outros os seguintes pressupostos: cada componente ou subsistema opera

independentemente. Em outras palavras, esses componentes não estariam sujeitos a

efeitos dos resultados de suas ações e nem dos demais componentes do sistema. Enfim,

esse enfoque considera que o comportamento dos componentes (por exemplo, os pedais

de uma bicicleta) é o mesmo quando examinado isoladamente (com a bicicleta

desmontada) e quando exercendo seu papel no todo (na bicicleta montada) (LEVESON,

2002).

O enfoque sistêmico centra-se no sistema tomado como totalidade, assumindo

que algumas de suas propriedades só podem ser tratadas adequadamente na sua

inteireza. Os fundamentos da teoria de sistemas estão em dois pares de idéias: 1)

propriedades emergentes e hierarquia; e 2) comunicação e controle.

Em outras palavras, sistemas complexos podem ser descritos como apresentando

diferentes níveis organizados hierarquicamente. Cada nível caracteriza-se por ter

propriedades emergentes, ou seja, que não existem nos níveis inferiores do sistema. Isso

pode ser ilustrado com a idéia de componentes de uma bicicleta ou sistema técnico e a

9

Page 12: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

função dessa bicicleta ou sistema. Isoladamente, o conjunto de peças da bicicleta não

pode ser usado como meio de transporte. O trabalho dos operadores, montando a

bicicleta, faz emergir essa propriedade que não existe no conjunto de peças isoladas.

A noção de hierarquia visa explicar relações entre níveis diferentes. Os níveis

hierárquicos superiores são responsáveis pelo controle daqueles inferiores. Para obter

esse controle devem impor leis de comportamento, ou seja, constrangimentos ou limites

aos graus de liberdade dos componentes do nível inferior. Por exemplo, o controle de

trabalhadores de manutenção em termos de segurança do trabalho pode ser conseguido

com constrangimentos emanados de gestores dos subsistemas de manutenção, de

segurança e de produção. Esse controle deriva de propriedades emergentes dos níveis

hierárquicos superiores.

Além de definir os constrangimentos, por exemplo, informações que impõe ao

nível hierárquico inferior, o nível superior também define formas de comunicação

ascendente que informam sobre o funcionamento real do sistema, em especial, sobre

como se dá, ou não, a efetiva imposição daqueles constrangimentos, completando a alça

de controle entre os diferentes segmentos da hierarquia.

A segurança é um típico exemplo de propriedade emergente de um sistema. É

impossível avaliar se uma fábrica é segura examinando uma válvula dessa planta.

Afirmações acerca da segurança da válvula sem informações acerca do contexto em que

ela é usada, não fazem sentido. Pode-se até falar da confiabilidade dessa válvula,

definindo confiabilidade como a probabilidade de seu comportamento satisfazer suas

especificações ao longo do tempo sob determinadas condições. Um componente que seja

perfeitamente “seguro” em um sistema pode não sê-lo em outro.

Os conceitos de comunicação e controle da teoria de sistemas servem de

fundamentos ao desenvolvimento de canais de fluxo de informações dentro das

organizações. Os níveis hierárquicos superiores participam no desenho de

constrangimentos (constraintes) destinados à implementação das “leis de

comportamento” do sistema. Essas “leis” incluem normas, meios e práticas a serem

utilizados visando à confiabilidade e à segurança do sistema, constituindo-se em

instrumentos ou ações regulatórias ou de controle do sistema.

10

Page 13: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Em organizações hierarquizadas como as empresas, indo do pessoal de chão de

fábrica à alta hierarquia, esses processos de controle operam na interface entre diferentes

níveis. Em sistemas abertos alças de informação e controle são consideradas

fundamentais para a continuidade de suas operações em equilíbrio dinâmico nas suas

trocas com o ambiente externo. A Figura 2, retirada de Leveson (2004), mostra os

componentes de uma alça de controle típica na situação em que um supervisor humano

controla determinado subsistema automático.

O controlador sempre tem modelos mentais do processo e da automação em si.

Por exemplo, operando uma máquina automática o trabalhador constrói suas

representações sobre o que está produzindo com a máquina e sobre o próprio

funcionamento da máquina. Se aciona um comando para fechar uma válvula e, na

operação normal, isso tem como resposta o acendimento de luz verde no painel de

comando, ele pode tender a interpretar a luz acesa como sinal de que a válvula está

fechada. Por sua vez, a máquina embute o modelo dos seus criadores acerca do mesmo

processo e das interfaces necessárias com os operadores. Ao discutir acidentes em

sistemas complexos devem-se analisar os modelos mentais necessários para a gestão da

integralidade do sistema. Quando o modelo do controlador ou gestor não corresponde à

situação real, por exemplo, não incorpora informações relativas às repercussões que suas

decisões podem ter fora do sistema, as decisões relativas à gestão da segurança e

confiabilidade do sistema podem ser insuficientes para a sua manutenção.

11

Page 14: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Essa noção de alça de controle é usada por Leveson (2002; 2004) para criticar a

amplitude da definição adotada por alguns estudiosos para a expressão erro humano. Na

leitura ampliada, dificuldades surgidas na interação homem–máquina são interpretadas

como falhas humanas. Para Leveson, essa forma de definir erro humano deixa de

considerar as características da concepção do sistema, em particular daquelas que

entram nas alças de controle entre homem e dispositivos técnicos e que contribuem para

o enfraquecimento da confiabilidade e da segurança do sistema. Por exemplo, uma falha

na operação de dispositivo que não forneceu adequado feedback do estado do sistema

após ação anterior tende a ser atribuída ao operador, desconsiderando a falha de

concepção desse dispositivo.

IMPLICAÇÕES PARA A SEGURANÇA

Esses conceitos reforçam a constatação do papel dos diversos níveis hierárquicos

das organizações na implementação de mecanismos efetivos de controle suscitando

questões, como as apresentadas a seguir, aos interessados em SGSST:

1. As análises de acidentes, ou o desenho do SGSST de sua organização,

reconstroem o desenho e o funcionamento das alças de informação e controle

adotadas entre os diversos níveis do sistema, com ênfase naquelas que se

referem aos atores envolvidos no acidente?

2. As análises identificam claramente os constrangimentos definidos no sistema

de modo a verificar se os esforços empreendidos pelos atores situados nos

níveis hierárquicos superiores forçam ou impulsionam adequadamente o

sistema no sentido da construção e consolidação da confiabilidade e

segurança do sistema?

3. As análises incluem verificação do como a alta hierarquia acompanha a

operação e o desempenho desse sistema, até mesmo se ela recebe

informações do estado real do sistema?

4. O acompanhamento destaca ou enfatiza o monitoramento das constantes

adaptações locais que ocorrem na base dos sistemas em respostas às

pressões e à variabilidade de componentes do sistema em todos os tipos de

atividades?

12

Page 15: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Comentando esse último aspecto, Leveson (2002) destaca a idéia de que todo

modelo de acidente que inclua a noção de sistema social e humano deve considerar a

existência de adaptações. Segundo ela, nesse tipo de sistemas “a única constante é que

nada permanece constante o tempo todo”.

De modo semelhante ao que se observa em estudos de Ergonomia da Atividade,

essa forma de compreender o trabalho tem reflexos diretos sobre a forma de entender os

comportamentos humanos no trabalho que não atingem os objetivos pretendidos, os seja,

os ditos “erros humanos”. Visto com esse arcabouço conceitual, o suposto erro humano

não pode mais ser explicado como produto de características pessoais do operador a

exemplo do que faz, invariavelmente, a abordagem tradicional de acidentes.

O enfoque sistêmico passa a definir “erro” como desvio de procedimento racional e

normalmente usado como efetivo para enfrentar aspectos da variabilidade do trabalho. E

não mais como desvio de um procedimento ou norma teoricamente definido como jeito

certo de fazer o trabalho. Isso suscita novas questões aos interessados em SGSST:

1. Qual é a definição de erro adotada em seu sistema?

2. Como o SGSST de sua organização explica e propõe abordar as origens

desses eventos?

Os interessados no uso do modelo de Leveson encontrarão grande número de

exemplos disponíveis na íntegra na página citada. O acidente do veículo lançador de

satélites VLS-1 V03, ocorrido na Base de Alcântara, no Brasil, foi analisado com esse

modelo e com o modelo vertical de Rasmussen (JOHNSON & ALMEIDA, no prelo).

ASPECTOS DA EXPLORAÇÃO DA NOÇÃO DE ERRO HUMANO EM ANÁLISES DE

ACIDENTES

Na atualidade parece haver consenso na idéia de que as situações de trabalho

passam a demandar mais em termos de habilidades de raciocínio e cognitivas (cognitive-

reasoning) do que das sensório-motoras. Com isso ganham importância estudos acerca

13

Page 16: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

do papel do componente social (humano) desses sistemas. Estudos que buscam explorar

aspectos cognitivos associados aos comportamentos humanos, com ênfase em situações

de trabalho.

Essa distinção também foi usada por Rasmussen (1982) para explicitar a idéia de

que os trabalhadores usam modos diferentes de gestão psíquica de suas ações em

função do tipo de situação que enfrentam. Ele mostra que existem ações controladas

predominantemente de modo quase automático em situações rotineiras. Elas podem ser

desenvolvidas sem a necessidade de pensar em seus componentes. Esses

comportamentos são descritos por Rasmussen como baseados em habilidades (skill-

based). No outro extremo estão ações controladas predominantemente com o uso da

consciência e raciocínios. Elas são denominadas baseadas em conhecimentos

(knowledge-based) e são mais típicas de situações novas ou pouco freqüentes. No nível

intermediário localizam-se ações cuja execução é baseada em regras (rule-based) usadas

em situações em que é possível antever a maioria das situações e treinar os operadores

no seu desenvolvimento.

A aprendizagem humana é descrita como processo em que ações inicialmente

conscientes vão se tornando automáticas como decorrência do número de vezes que são

repetidas. Com a familiarização, a habilidade do operador para sua execução aumenta e

elas passam para um nível de regulação cognitiva de menor custo para o operador.

Quando alguém está aprendendo a guiar automóveis, o processo de aprendizagem da

retirada do pé do pedal de embreagem ilustra essa situação. No início, o motorista coloca

sua atenção na velocidade de retirada do pé e a ação é executada sob controle da

consciência. Quando o motorista aprende a guiar, a ação é executada “automaticamente”.

O mesmo raciocínio se aplica a todas as situações de aprendizado. Vale destacar que

quando o trabalho envolve o surgimento constante de situações novas, ou de incerteza, a

regulação consciente estará mais presente. Aliás, é justamente a habilidade do operador

na detecção e interpretação de sinais de mudanças na evolução da atividade que o leva a

mudar o modo de gestão psíquica que está utilizando.

Esses conhecimentos ensejam questões aos interessados em SGSST:

1. Na exploração de comportamentos humanos envolvidos em acidentes do

14

Page 17: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

trabalho a equipe de análise de seu SGSST analisa os tipos de situação e o

modo de gestão psíquica usado pelos operadores?

2. Nas análises de acidentes conduzidas em seu SGSST há identificação dos

principais parâmetros utilizados e de características das formas com que se

manifestam e são percebidos pelos operadores na gestão do sistema? Há

exploração de possíveis fatores intervenientes?

3. Em casos envolvendo omissões há exploração da possibilidade de armadilhas

cognitivas no sistema?

Os interessados em exemplos de uso desses conceitos em análises de acidentes podem

consultar Reason e Hobbs (2003), Almeida e Binder (2004), Rasmussen e Svedung

(2000), entre outros.

AMPLIANDO O PERÍMETRO DA ANÁLISE DE ACIDENTES COM A NOÇÃO DE

MIGRAÇÃO DO SISTEMA PARA O ACIDENTE

Na última década Rasmussen (1997), Rasmussen e Svedung (2000), Svedung e

Rasmussen (2002) descrevem o que consideram como importante desafio da atualidade:

a gestão de riscos na sociedade dinâmica.

O desafio teria origens nas rápidas transformações pelas quais passa a sociedade

atual, incluindo:

a) O ritmo acelerado de mudanças tecnológicas nos níveis operativos da

sociedade;

b) O aumento da escala de instalações industriais com aumento do potencial de

acidentes de grandes proporções;

c) O rápido desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação,

levando a sistemas com alto grau de interações estreitamente interligadas; e

d) Os ambientes de grande agressividade e competitividade, que aumentam o

número de conflitos potenciais a serem vividos pelos tomadores de decisão,

levando-os a focalizarem os termos financeiros de curto prazo e critérios de

sobrevivência dos sistemas em detrimento de sua segurança.

15

Page 18: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A velocidade de mudanças nas bases técnica e organizacional dos processos

usados em sistemas de transportes, industriais, de prestação de serviços de saúde e

outros, com elevada incorporação de novas tecnologias, é maior do que a de processos

gerenciais, e muito maior do que a presente nos sistemas extra-empresa, encarregados

do desenvolvimento de políticas e de legislação para o controle dos riscos desses

processos. Essa defasagem de tempo (time lag) em prejuízo dos mecanismos de

controles de risco desenvolvidos nos sistemas sociotécnicos torna-se mais evidente em

face do ambiente agressivo e de exacerbada competitividade em que essas empresas

normalmente estão inseridas.

Nessas condições surgem pressões no sistema que, com muita freqüência,

influenciam gerências levando-as à adoção de decisões imediatistas que vão empurrando

o sistema para a proximidade das fronteiras de sua segurança.

Esse processo, dinâmico por excelência, mostra que esses sistemas vivem em

constante necessidade de adaptação a mudanças no ambiente em que estão inseridos, e

também em seus próprios componentes. Nessas condições a forma tradicional de gestão

de segurança, baseada em abordagens prescritivas e normativas, torna-se ultrapassada.

Nesses sistemas os acidentes passam a envolver aspectos até então inexistentes

ou de ocorrência menos freqüente. Os operadores não têm à mão uma regra ou

procedimento operacional capaz de indicar-lhes como agir diante daquela perturbação.

Nos sistemas que estudou, Rasmussen também evidencia que nas origens de

acidentes participam decisões gerenciais tomadas fora dos muros da empresa-sistema

propriamente dita. Esse tipo de situação é denominado decisão distribuída (distributed

decision making) e foi exemplificado com análise do naufrágio de um ferry boat, em

Zeebrugge, em março de 1987. Os autores mostram que esse acidente envolveu

aspectos relativos à concepção do barco e do porto, características da gestão de cargas e

da de passageiros, dos horários de tráfego e da operação do barco. Os gestores de cada

uma das áreas citadas convivem com dificuldades e pressões próprias e não conseguem

enxergar a floresta em torno da árvore em que estão. Suas decisões tendem a

desconsiderar possíveis efeitos colaterais em outros subsistemas. O acúmulo de efeitos

16

Page 19: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

colaterais das decisões tomadas em cada um dos subsistemas só emerge no sistema

visto em sua totalidade, não existe como propriedade de seus componentes

isoladamente.

Nesse tipo de situações, uma vez adotado o conjunto de decisões o sistema torna-

se vulnerável, ou em outras palavras, torna-se intolerante a grande número de mudanças,

seja de comportamentos, seja de outros de seus componentes. Em outras palavras, se o

acidente não tivesse sido desencadeado pelo fator específico x1, poderia ser pelo x2 ou

outro qualquer.

Isso explica a crítica de Rasmussen (1997) à idéia de causa básica ou causa raiz

de acidentes, tão difundida na área de segurança do trabalho. No pensar tradicional,

eliminada a causa básica aquele tipo de acidente não mais ocorreria. Rasmussen vem

mostrando que em sistemas dinâmicos acidentes com aspectos assemelhados podem

ocorrer sem a presença daquela determinada “causa” pensada isoladamente porque, na

situação de trabalho real, o cenário acidentogênico formado é produto da interação ou

acúmulo de efeitos colaterais de decisões tomadas por atores diferentes em cenários que

dificilmente permitem antever a possibilidade, seja do acúmulo, seja dos efeitos. E mais,

isoladamente cada decisão não é capaz de produzir o efeito revelado pelo acidente.

A formação desse cenário de vulnerabilidade, de diminuição da tolerância a

mudanças ou da resiliência do sistema é descrita por Rasmussen como processo de

migração do sistema para o acidente ou para as fronteiras aceitáveis de sua segurança.

Uma vez ocorrida a migração, o acidente pode ser desencadeado por muitos tipos

de pequenas mudanças cuja eliminação, em conformidade com o raciocínio causal do

modelo tradicional de gestão da segurança, revela-se impotente para a efetiva melhoria

da confiabilidade e segurança do sistema.

A Figura 3 mostra o modelo proposto por Rasmussen (1997) para representar a

migração do sistema em direção às suas fronteiras de segurança.

Em todo sistema de trabalho o comportamento humano é modelado por objetivos

e constrangimentos que devem ser respeitados pelos atores com vistas à obtenção de

17

Page 20: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

sucesso nas suas intervenções. Assim é que o sistema impõe limites ou fronteiras que se

ultrapassados podem ameaçar sua sobrevivência ou relativa estabilidade. Há fronteiras

de natureza econômica, em especial relativas a custos, e também fronteiras impostas

pela carga de trabalho a que os operadores são submetidos.

O espaço de trabalho em que os atores navegam livremente também é limitado

por constrangimentos administrativos, funcionais e de segurança. Eles delimitam

fronteiras de desempenhos aceitável e percebido. No entanto, durante sua atividade os

operadores sempre possuem determinados graus de liberdade que serão “fechados” com

o uso de adaptações locais guiadas por critérios relativos ao processo em curso, tais

como a carga de trabalho, a relação custo–benefício, o risco de falhas, o prazer da

exploração etc.

Esse modelo chama a atenção para a natureza dinâmica da atividade. “As

mudanças normais encontradas nas condições locais de trabalho induzem freqüentes

modificações de estratégias, e a atividade mostra grande variabilidade” (RASMUSSEN

1997, p.189). Tais variações locais, induzidas pela situação, são comparadas por

Rasmussen ao “movimento Browniano” das moléculas gasosas. Durante essas tentativas

de adaptação estabelecem-se gradientes de esforço e de custo cujo resultado tende a ser

uma sistemática migração em direção às fronteiras do desempenho funcionalmente

aceitável que, se cruzadas, resultam em erro ou acidente. Por isso, o autor afirma que a

análise deve focar os mecanismos geradores de comportamentos nos contextos de

trabalho reais e dinâmicos. E não os erros humanos ou violações.

18

Page 21: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Segundo Rasmussen, a maioria dos grandes acidentes analisados nos últimos

anos mostra, em suas origens, exatamente esse tipo de migração sistemática para as

fronteiras de segurança do sistema, e não uma “coincidência de falhas e erros humanos

independentes”. Por isso, a gestão da segurança nesse tipo de sistemas deveria ser pró-

ativa, centrando-se no estudo das atividades normais dos atores que preparam esse

cenário.

Sistemas bem concebidos dispõem de numerosas barreiras, controles ou linhas de

precauções para evitar acidentes, de modo que a eventual violação de uma delas não

leve de imediato a um evento adverso. A segurança de um subsistema ou sistema em

particular também depende de efeitos colaterais de ações de atores situados em outros

subsistemas ou sistemas. Nos sistemas em que as pressões no sentido do custo–

efetividade são dominantes instala-se degeneração sistemática dessas proteções ao

longo do tempo. O sociólogo alemão Ulrich Beck chamou esse processo de “incerteza

produzida e irresponsabilidade organizada” (produced uncertainties and organised

irresponsibility) e de “incerteza estratégica e vulnerabilidade estrutural” considerando-o

19

Page 22: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

problema-chave para a pesquisa atual em gestão de risco (apud SVEDUNG &

RASMUSSEN, 2002, p.399).

O exemplo seguinte foi retirado de texto recente. Ele ilustra a estreita relação entre

as noções de propriedade emergente e migração do sistema:

Durante turno noturno de empresa com dois trituradores de madeira falta um

operador de triturador e a máquina mais antiga e com menos recursos

operacionais é deixada parada por falta de pessoal. Em seguida, quebra o pega-

toras que fica sem conserto e seu operador é deixado temporariamente livre.

Logo depois, chega ao pátio um novo caminhão carregado de madeira e não é

descarregado por causa da quebra do pega-toras. Sabendo que o caminhão é

pago em função do tempo de permanência no pátio, e consciente da existência

de pressões da hierarquia para rapidez na descarga, o chefe de turno designa o

operador de pega-toras para operar o triturador parado e solicita

descarregamento do caminhão diretamente nas esteiras dessa máquina.

As decisões tomadas criam segurança ou risco? (ALMEIDA, 2006, p.37)

Os conceitos apresentados suscitam novas questões aos interessados em

SGGST. Outras questões são apresentadas após o texto sobre modelos verticais de

análises de acidentes.

1. Como a segurança formal aborda situações como a desse exemplo?

2. Considerando que a decisão do chefe de turno corresponde ao esperado na

maioria dos sistemas, como classificar as conclusões de análises desse tipo de

acidentes que os explicam como resultados do descumprimento de normas de

segurança por parte do operador?

3. Como o SGSST de sua organização (a segurança formal) aborda a

emergência de situações de perturbação e variabilidade do trabalho que

exigem respostas dos trabalhadores equivalentes à noção de adaptações

locais aqui citadas?

20

Page 23: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

MODELOS VERTICAIS DE ANÁLISE DE ACIDENTES

Essas idéias estão na base de proposta de gestão de risco e de análises de

acidentes desenvolvida por Rasmussen (1997) e também do método Systems-Theoretic

Accident Models and Processes – STAMP, desenvolvido por Leveson (2004). Os

sistemas sociotécnicos envolvidos na gestão de riscos passam a ser considerados em

sua totalidade, com todos os seus níveis hierárquicos, indo dos operadores no “chão de

fábrica” aos legisladores e agências governamentais responsáveis pela formulação e

implementação de políticas de controle.

A Figura 4 mostra o sistema descrito por Rasmussen. Esse modelo de orientação

“vertical” foi proposto para “capturar o processo causal de perdas como condição

fronteiriça do trabalho sobre pressão e ... identificar parâmetros sensíveis para controle do

comportamento de organizações e indivíduos” (SVEDUNG & RASMUSSEN, 2002, p.401).

O modelo descreve as interações entre tomadores de decisões situados em todos

os níveis da sociedade, em seus papéis de gestores de risco. A análise retoma a noção

de alça de controle discutida anteriormente, explorando as possibilidades de falhas:

a) na concepção de constrangimentos necessários para forçar a implementação

de ações de controle;

b) na execução dessas ações e;

c) no feedback oferecido após a execução das ações.

O modelo proposto por Leveson é parecido com o de Rasmussen, mas inicia-se

com mapa de atores envolvidos no acidente, sem referências ao processo físico e às

atividades citadas na base do esquema de Rasmussen.

As análises incluem mapas com a representação das alças de controle e

informação prescritas ou propostas entre os diferentes níveis hierárquicos do sistema e os

mesmos mapas representando as adaptações locais que ao longo do tempo de existência

do sistema foram sendo feitas nos componentes que visam impor as ações regulatórias

ou informar ao nível superior os resultados das ações realizadas. O livro de Rasmussen e

Svedung (2000) inclui apêndice com registros de análises de seis acidentes com a técnica

21

Page 24: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

proposta pelos autores.

O modelo de Leveson (2004) associa o Quadro 1, que mostra taxonomia de falhas

possíveis no desenho, na execução ou no feedback das diversas alças analisadas.

A adoção desses modelos exige o abandono da abordagem tradicional adotada na

gestão de segurança, que se baseia na decomposição estrutural do sistema, com

análises de tarefas focadas em seqüência de ações e ocasionais desvios, tratados como

erros humanos. Em seu lugar deve-se adotar modelo de mecanismos modeladores de

comportamentos em termos de constrangimentos (constraintes) das situações de

trabalho, fronteiras de desempenhos aceitáveis e critérios subjetivos guiando as

adaptações às mudanças (RASMUSSEN, 1997).

Como a variabilidade e as adaptações que exigem são contínuas, o “erro humano”

passa a ser visto como uma tentativa de adaptação que não obteve o sucesso desejado,

mas cujo resultado é imediatamente assumido como input ou sinal necessário ao

diagnóstico do estado atual do sistema e às decisões que culminarão em nova tentativa

de adaptação. Nas palavras de Amalberti (1996) o erro é parte da negociação ou

22

Page 25: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

compromisso cognitivo desenvolvido durante a gestão das atividades.

Um aspecto a ser destacado nessa abordagem de mecanismos modeladores de

comportamentos é sua semelhança com o enfoque de comportamento situado adotado na

Ergonomia da Atividade. As razões associadas às origens do insucesso de determinada

tentativa de adaptação devem ser buscadas nas constraintes – ou na falta delas – que

modelam os comportamentos dos indivíduos e das organizações considerando a

existência de pressões que exigem adaptações locais por parte dos operadores. Além

disso, o Quadro 1 orienta a sistematização de aspectos da análise.

Os modelos verticais suscitam novos questionamentos aos interessados em

SGSST:

23

Page 26: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

a) Como os gerentes e chefias intermediárias responsáveis por decisões

estratégicas e do cotidiano e que contribuem direta ou indiretamente nas

origens de acidentes são abordados, se são, nos processos de análises

desses acidentes?

b) Como a eventual contribuição de atores situados fora dos muros do sistema-

empresa em questão é abordada em análises de acidentes de sua

organização?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Reino Unido, relatórios recentes de análises de acidentes com escorregões e

quedas, acidentes no trabalho em manutenção, acidentes de trânsito, acidentes de

trabalhadores do setor de saúde e outros, conduzidas por equipes de técnicos do Health

and Safety Executive – HSE, organismo equivalente ao nosso Ministério do Trabalho e

Emprego, mostram que o uso de conceitos como os apresentados neste texto não está

restrito a pesquisadores de universidades e equipes de segurança de grandes empresas

de setores mais dinâmicos e pujantes da economia.

Análises de acidentes começam a ser reconhecidas como práticas profissionais

que credenciam aqueles que as conduzem como interlocutores válidos de todos os

demais atores do sistema. Passam a revelar caminhos pelos quais aspectos da

organização e funcionamento do sistema tornam-se potencialmente acidentogênicos.

Este texto procura mostrar que esses aspectos não podem mais ser confundidos

com exemplos de práticas estranhas, desenvolvidas por uns poucos pesquisadores que

se dedicam ao estudo de acidentes como “fenômenos de laboratório”. Pelo contrário,

mostra que é crescente a incorporação de conceitos como os aqui apresentados em

práticas de empresas e instituições públicas. Esse movimento está associado à

percepção de que os interessados na prevenção de acidentes do trabalho têm muito a

aprender com a experiência desenvolvida em sistemas que conquistaram desempenhos

de segurança reconhecidos como bons, de “alta confiabilidade” ou “ultra-seguros” à luz

dos conhecimentos atuais. Em outras palavras: os interessados na prevenção de eventos

adversos em hospitais, por exemplo, precisam aprender com a experiência da aviação

comercial de vários países do mundo. E assim, sucessivamente.

24

Page 27: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

No entanto, a percepção dessa mudança não permite desconhecer que esse não

parece ser o caminho seguido na maioria dos sistemas. A abordagem tradicional resiste.

A idéia de que a maioria dos acidentes decorre de falhas humanas persiste, e a resposta

atual da abordagem tradicional a essa velha questão assume a forma de propostas de

“segurança comportamental” (HOPKINS, 2006).

As duras críticas apresentadas por autores aqui citados à idéia de que os

acidentes do trabalho decorrem de erros humanos não devem ser entendidas como

negação do reconhecimento da existência de uma dimensão humana ou subjetiva nesses

eventos. Muito pelo contrário, como o próprio texto mostra esses autores propõem

abordagens ainda pouco difundidas no Brasil para os interessados no estudo dos

comportamentos humanos em situação de trabalho. E revelam que a mera identificação

de ações ou omissões humanas que contrariam preceitos de normas ou regras vigentes

não passa de efeitos, de conseqüências, de fenômenos aparentes cuja essência,

especialmente em termos de origens, precisa ser pesquisada. E que nem de longe deve

ser reduzida à idéia de produto da consciência do operador que teve aquele

comportamento.

Os objetivos deste texto são ambiciosos. Em primeiro lugar, revelar parte da

história dessa forma diferente, alternativa, de conceber os acidentes do trabalho e sua

análise. Em segundo lugar, incentivar interessados no tema da gestão de saúde e

segurança do trabalho a refletirem sobre até que ponto os caminhos aqui indicados

podem ser úteis às organizações em que atuam.

25

Page 28: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, I. M. Análise de acidentes do trabalho como ferramenta de prevenção. Revista

Cipa, ano XXVII, n.320, p.22-49, 2006.

ALMEIDA, I. M.; BINDER, M. C. P. Armadilhas cognitivas: o caso das omissões na

gênese dos acidentes de trabalho. Cadernos Saúde Pública, v.20, n.5, p.1373-8, 2004.

AMALBERTI, R. La conduite des sistèmes à risques. Paris: Presses Universitaires de

France, 1996. (Collection Le Travail Humain)

HOPKINS, A. What are we to make of safe behaviour programs? Safety Science, 2006 (in

press). Disponível em www.sciencedirect.com/science/journal. Acesso em: 10 jul. 2006.

JOHNSON, C. W.; ALMEIDA, I. M. An investigation into the loss of the Brazilian Space

Programme’s Launch Vehicle VLS-1 V03. No prelo (Aceito para publicação em Safety

Science).

LEVESON, N. G. A new approach to System Safety Engineering. 2002. Disponível em

sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.

LEVESON, N. G. A new accident model for Engineering Safer Systems. Safety Science,

v.42, p.237-70, 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.

LLORY, M. Acidentes industriais: o custo do silêncio. Rio de Janeiro: Multimais, 1999a.

LLORY, M. L’accident de la centrale nucléaire de Three Mile Island. Paris: L’Harmattan,

1999b.

MARAIS, K.; DULAC, N.; LEVESON, N. Beyond normal accidents and high reliability

organizations: the need for an alternative approach to safety in complex systems. MIT

ESD Symposium, March 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 20 abr.

2006.

PERROW, C. Normal accidents. Living with high-risk technologies. 2.ed. New Jersey:

Princeton University Press, 1999a.

PERROW, C. Organizing to reduce the vulnerabilities of complexity. Journal of

Contingencies and Crisis Management, v.7, n.3, p.150-5, 1999b.

RASMUSSEN, J. Human errors: a taxonomy for describing human malfunctions in

industrial installations. Journal of Occupational Accidents, v.4, p.311-35, 1982.

RASMUSSEN, J. Risk management in a dynamic society: a modelling problem. Safety

26

Page 29: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Abordagem Sistêmica De Acidentes E Sistemas De Gestão De Saúde E Segurança Do Trabalho

Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Science, v.27, n.2/3, p.183-213, 1997.

RASMUSSEN, J.; SVEDUNG, J. Proactive risk management in a dynamic society.

Karlstad: Räddningsverket/Swedish Rescue Services Agency, 2000.

REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Aldershot: Ashgate, 1997.

REASON, J.; HOBBS, A. Managing maintenance error. A practical guide. Hampshire:

Ashgate, 2003.

SAGAN, S. D. The limits of safety. Organizations, accidents, and nuclear weapons. New

Jersey: Princeton University Press, 1993. p.250-79.

SVEDUNG, J.; RASMUSSEN, J. Graphic representation of accident scenarios: mapping

system structure and the causation of accidents. Safety Science, v.40, p.397-417, 2002.

TURNER, B. A.; PIDGEON, N. F. Man-made disasters. Oxford: Butterworth Heinemann,

1997.

Artigo recebido em 24.08.2006. Aprovado em 02.10.2006.

27

Page 30: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

SYSTEMIC APPROACH TO ACCIDENTS AND OCCUPATIONAL

HEALTH AND SAFETY MANAGEMENT

Ildeberto Muniz de Almeida¹

¹Department of Public Health of the Botucatu Faculty of Medicine – Unesp

ABSTRACT

The principal objectives of this text are: to propagate concepts of systemic approaches to

work accidents and to stimulate reflections on their utilization in Occupational Health and

Safety Management Systems (OHSMS) in Brazil. The concepts presented suggest new

ways to interpret human behaviors that participate in the proximal or remote causes of

accidents. Accident analysis must investigate latent or incubated conditions, and research

aspects of interactive complexity, control modes and situations, behavioral modeling

mechanisms, system migration to accidents or other aspects. Parties responsible for

OHSMS are encouraged to know how to recognize the concepts or approaches most

useful to organizations in which they act.

Key words: Workplace accidents, Accident theories, Accident analysis, Occupational Health and Safety Management Systems, System migration.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=44

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 31: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

The analyses of work-place accidents traditionally conclude by attributing blame

the victims themselves and denying the existence of problems or malfunction in the

systems that give rise to these events. Over the last few decades questions have been

raised regarding this conclusion and opinions have highlighted the occurrence of accidents

as a warning as to the existence of systemic malfunction, signs of the occurrence of latent

problems that need to be heeded and appropriately interpreted by the occupational health

and safety management systems (OHSMS).

It is not easy to spread the word about the systemic focus of accidents. In Brazil

one of the few works dedicated to systemic focus is “Acidentes industriais. O custo do

silêncio” [Industrial Accidents. The cost of silence] by Michel Llory (1999a). In the book’s

preface, Gerard Mendel discusses the resistance to this approach, pointing out that it has

to do “with [...] the principle from which science can be founded and developed. [...]

science is constructed by increasingly breaking down the reality into distinct and separate

disciplinary fields, but despite this reality only exists in a global form. [...] the spirit of the

scientist is not prepared to move in these inter-disciplinary fields.”

The aim of this text is to present some of the concepts of this approach that have

been used over the last few decades when analyzing accidents and to discuss the

implications of incorporating them into OHSMS. The discussion will be accompanied by

questions, suggested as topics for reflection. It does not aim to establish “new truths”, but

it demands at least an explanation of the reasons that lead each system to make the

choices they do. In short, the text points to the existence of OHSMS paths that are little

known among us.

JAMES REASON’S ORGANIZATIONAL ACCIDENT MODEL

The expression organizational accident was used by Reason (1997) as a contrast

to the idea of the individual accident. According to Reason, in the latter all happenings

relative to the accident, in other words, its causes and consequences, can be considered

as limited to the individual who carries out the activity and who suffers the accident and the

injury. Organizational accidents are “comparatively rare events, but frequently

2

Page 32: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

catastrophic, that occur within a complex modern technology, such as nuclear power

stations, commercial aviation, the petrochemical industry, chemical process plants and

railroad and marine transport systems, [...]” (p. 1).

In no time at all, this idea begins to be used in the approach to accidents occurring

in other types of systems and situations. Reason himself uses it when studying

maintenance accidents, particularly in aviation, and also in accidents that occur in health

services.

Figure 1 shows the accident model suggested by Reason; a triangle and a

rectangle are used to represent the accident. In the upper part of the Figure the rectangle

represents the outcome of the accident. In his scheme the author here reproduces the

idea of accident as a phenomenon that always includes the uncontrolled liberation of one

(or more) particular type of energy in such a way as to produce losses in the system:

material and environmental damage, other forms of loss or human victims.

The energy liberated was present in the system controlled by barriers that are

unable to prevent the liberation of its flow at the time of the accident. At the top of the

figure the arrow represents this idea of energy flow crossing the barriers.

3

Page 33: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

In Reason’s model the triangle that forms the base of the figure represents the

system process or conditions from which the liberation of the energy flow originates. The

behavior of the workers who were operating the system would be frequently found to be

present in the immediate vicinity of the outcome of the accident, or the uncontrolled

energy. These actions, or omissions, are represented at the top of the triangle and were

called by Reason, active errors, including both voluntary and involuntary behaviors (or

“errors”). Active errors correspond to the unsafe acts of the traditional approach to

accidents.

In the middle of the triangle the physical and technical working environment factors

are represented. They are the origin of the active errors, and in turn have their origins in

managerial factors and those relating to the organization of work, which are represented at

the base of the triangle. These two groups of factors are called latent conditions, which

according to the scheme, may give rise to the uncontrolled energy, released in the

accident in a direct way, in other words, without active errors being present. The ‘latent

conditions’ arrow, which is parallel to the triangle, shows the possibility of accidents

without active “errors” that have their direct origins in these conditions.

According to Reason, active errors are unimportant when it comes to prevention, in

particular, because the different possible combinations of latent condition factors

constantly create new conditions that facilitate the appearance of active errors. In other

words, it is not possible to directly eliminate these errors; they are consequences and not

causes. For this very reason, those who are interested in prevention should prioritize the

elimination or minimization of latent conditions.

Perhaps the most important contribution to be highlighted in the studies of Reason

is the idea that for those who are interested in accident prevention the path to follow is not

in the study of “human errors”, especially when this expression is taken in the sense of

active errors, understood as being the result of the failure of the individual or operator who

committed them. The characteristics of human behavior in the work-place lead those who

study the topic to recognize that “to err is human”, in other words, that errors are always

going to exist and that for this reason ideal prevention must be based on an approach to

those characteristics of the system that increase the chances of the occurrence of these

errors.

4

Page 34: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Reason’s contribution has an influence on everyone’s approach to accidents.

Those interested in finding out about it in more depth may look for it directly under the

author’s name in search engines and databases. Many examples of the application of

these concepts in the study of maintenance-related accidents may be found in a recent

book_(REASON;_HOBBS,_2003).

LLORY’S PSYCHO-ORGANIZATIONAL ACCIDENT

Other authors also use the expression “organizational accident” in a similar sense

to that used by Reason. In 1997, a new edition of “Man made disasters” (TURNER;

PIDGEON, 1997), was launched, which describes the stages or steps of the accident in

the life of the system. In 1999, in France, Llory summarized the proposal of Turner &

Pidgeon in three phases. The first, the pre-accident, or incubation period, in which a slow

and progressive deterioration of the system leads to the second, properly called, accident

phase, generally set off by a specific event. The third is the post-accident phase, in the

course of which the social and institutional consequences of the accident manifest

themselves, in the shape of an organizational and social crisis (LLORY, 1999b, p. 114).

“The accident is organizational to the extent that it is, primarily, the product of a

socio-technical organization. It is no longer only the result of an ‘unfortunate’ combination

of passive and latent failures with active and direct failures, no longer only the result of a

specific combination of human errors and material failures” (p. 113). The accident is “[...]

rooted in the history of the organization: a series of decisions, or the absence of decisions;

the evolution of the organizational, institutional and cultural context that interferes in the

future of the system; the progressive evolution (deterioration) of conditions or factors that

are inside the organization; some particular events that have a notable impact on the life

and functioning of the socio-technical system, creating an unfavorable situation: territory

into which the accident (or incident) may intrude and develop. [...] the accident incubates.

The incubation period may be long [...].” (p. 113-4).

Considering the above ideas of organizational accident the first questions

suggested to those who are interested in OHSMS are:

What concept of accident is used in the system in which you operate?

5

Page 35: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Do your accident analyses identify latent conditions or aspects of the history of the

incubation of these events? Do you adopt any of the concepts mentioned?

How do you consider the statement that the majority of accidents are due to

operator error and that the main objective to be adopted for preventing them is the

elimination of these errors?

CHARLES PERROW’S NOTION OF NORMAL OR SYSTEMIC ACCIDENT

One of the first works on the systemic focus was published in 1984 by the

American sociologist, Charles Perrow: “Normal Accidents. Living with high-risk

technologies”. In this work he emphasizes the role of the structure of complex systems in

the origins of what he called, normal or systemic accidents.

In his book Perrow (1999a) highlights an idea of risk that is not normally considered

as such in traditional technical approaches. This is the risk arising from the possibility of

interaction between factors, elements or components of socio-technical systems. This type

of risk is described by the author as associated with systemic complexity, in other words,

with a property of complex systems.

The author classifies systems into simple and complex as a function of the type of

interaction that exists between their elements. In simple systems interactions of the type

that are foreseeable, called simple, predominate, such as those present in a set of

dominoes. The consequence of one of them falling, i.e. knocking down those that are in

front of it, is easily foreseeable. In complex systems there is a greater frequency of

interactions coming from the accumulation of aspects or factors that, seen in isolation, are

not considered as risk, and even when considered as a whole, do not allow one to foresee

the outcomes with which they are associated.

According to Perrow, in complex systems the emergence of complex interactions

may give rise to unforeseen systemic behaviors that evolve so quickly that they make it

impossible for the operators to re-establish their understanding of what is happening. As a

consequence these situations evolve into accidents that are impossible to avoid.

6

Page 36: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The systems that present the most chances of being involved in accidents of this

type are those that include a part, unit or sub-system that performs multiple functions

simultaneously. For example, a heater that is used both for heating gases in a tank “A”, as

well as for exchanging heat in such a way as to absorb any excess from a chemical

reactor Its failure may mean that tank “A” is too cold for recombining the gas molecules

and that the chemical reactor is over-heating at the same time, due to the non-absorption

of the excess heat.

According to Perrow, systemic accidents tend to present accumulations of

consequences of this type of failure, called common-mode failures, which tend to react

with unfamiliar feedback to members of the system. Furthermore, the systems most

susceptible to this type of accident may possess interactivity, characterized by the physical

proximity between components, information of an indirect or inferential nature, control of

many parameters with potential interactions and limited understanding of some processes.

Summarizing the notion of interactive complexity, MARAIS et al., (2004) state that it “refers

to the presence in a system of sequences of unfamiliar, unplanned and unexpected

events”; they are also invisible and not immediately understandable.

This type of accident tends to be set off by common failures, apparently without any

great significance as far as safety is concerned. For example, a defect in a coffee machine

leading to a fire that ends with an airplane crashing. In the Three Mile Island accident a

maintenance warning sign was covering an important luminous warning. In these cases

the situations may seem bizarre to those examining them from outside, but they normally

have a rational explanation from the operator.

The probability of these accidents is associated both to their interactive complexity,

mentioned above, as well as by another property of these interactions: the fact that they

are tightly coupled. This means that the system is highly interdependent in such a way that

a change in one part of it may rapidly affect the status of other parts. Unlike loose

interactions these prove to be strictly dependent, or associated. According to Perrow,

tightly coupled systems have the following characteristics:

a) They have a greater number of processes that are time dependent, i.e. they

cannot be shut down, for example, awaiting corrective interaction;

7

Page 37: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

b) They have a greater proportion of specific and unvarying sequences, in such a

way that the occurrence of A always leads to B happening;

c) In addition to specific sequences that do not vary the global design of the

process allows for only one path for obtaining the production goal, for example, a nuclear

plant cannot produce electricity from any other fuel, in other words, this is a system with

little flexibility;

d) They have little room for maneuver, or slack, i.e. quantities must be accurate,

resources cannot be substituted for others, temporary substitutions of equipment are not

possible, etc. (PERROW, 1999a, p. 93 –4).

Perrow’s view leads to a reading of the situation that is essentially pessimistic as

far as the possibilities of preventing accidents in this type of system are concerned. It is

not possible to foresee and avoid all the chances of complex interactions and some of

them, because they are strongly coupled, would end up leading to normal or systemic

accidents. This name was given, not because they are accidents that happen frequently,

but because they arise from characteristics that are inherent to the system.

The alternative to these disasters lies in the political decision not to accept the

introduction of this type of system in the area. Subsequently, prevention of this type of

accident is discussed based on the idea of reducing systemic complexity (PERROW,

1999b; SAGAN 1993), including strategies of structured pessimism (PERROW, 1999b),

i.e., the systematic exploration of worst-case scenarios as support for the preparation of

prevention practices.

Although he was criticized for his pessimism Perrow’s view has a large influence on

those interested in the safety and reliability of systems. The concepts of complex

interaction and tightly coupled interaction start to be considered in the design and

operation of systems and the notion of the origins of accidents in the characteristics of the

structure of systems starts to be used, as opposed to blaming the operators.

Those interested in other examples of the use of Perrow’s concepts can find them

in search engines and databases. The “Journal of Contingencies and Crisis Management”

is compulsory reading for those interested in this topic.

8

Page 38: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

THE SYSTEMIC APPROACH AND ACCIDENT ANALYSIS

The theory of systems has its origins in the 1930s and 1940s. The traditional

scientific method adopts the division of the system into parts in such a way as to examine

them separately. This process of decomposition, called analytical reduction, works with the

following assumptions, among others: each component or subsystem operates

independently, in other words, these components would not be subject neither to the

effects of the results of their actions, nor to those of other system components. In short,

this focus considers that the behavior of the components (for example, the pedals of a

bicycle) is the same when examined in isolation (with the bicycle dismantled), as when

exercising their role within the whole (in the assembled bicycle) (LEVESON, 2002).

The systemic focus is centered on the system taken as a whole, assuming that

some of its properties can only be dealt with adequately in their entirety. The foundations

of the theory of systems are to be found in two pairs of ideas: 1) emerging properties and

hierarchy, and 2) communication and control.

In other words, complex systems may be described as presenting different levels

organized hierarchically. Each level is characterized as having emerging properties, i.e.,

that do not exist at lower levels in the system. This can be illustrated with the idea of the

components of a bicycle, or a technical system, and the function of this bicycle, or system.

In isolation the pieces of the bicycle cannot be used as a means of transport. The work of

the operators in assembling the bicycle makes this property, which does not exist in the

set of isolated parts, emerge.

The notion of hierarchy aims to explain relationships between different levels. The

upper hierarchical levels are responsible for controlling those lower down. To obtain this

control they must impose behavioral laws, in other words, constraints or limits on the

degrees of freedom of the components at the lower level. For example, the control of

maintenance workers in terms of workplace safety, may be achieved by using constraints

that come from the managers of the maintenance, safety and production sub-systems.

This control derives from the emerging properties of the upper hierarchical levels.

Besides defining the constraints, for example, information that it imposes upon the

lower hierarchical level, the upper level also defines forms of ascending communication

that provide information about the real functioning of the system, especially how the

9

Page 39: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

effective imposition of those constraints is working - or not, as the case may be - and

completing the control loop between the different segments of hierarchy.

Safety is a typical example of a system’s emerging property. It is impossible to

assess whether a plant is safe by examining a valve in this plant. Statements about the

safety of the valve without any information about the context in which it is being used make

no sense. One might even talk about the reliability of this valve, defining reliability as the

probability that its behavior will satisfy its specifications over time and under certain

conditions. A component that is perfectly “safe” in one system may not be in another.

The concepts of communication and control of the theory of systems serve as the

basis for developing information flow channels within organizations. The upper hierarchical

levels take part in the design of constraints destined for the implementation of the system’s

“laws of behavior”. These “laws” include the norms, means and practices to be used and

that are aimed at ensuring the system’s reliability and safety, thereby constituting the

instruments or regulatory or control actions of the system.

In hierarchical organizations like companies, these control processes operate at the

interface between the different levels, ranging from those who work on the factory floor to

top management. In open systems information and control loops are considered

fundamental when it comes to the continuity of their operation in dynamic equilibrium in

their exchanges with the external environment. Figure 2, taken from Leveson (2004),

shows the components of a typical control loop in the situation in which a human

supervisor controls a particular automatic sub-system.

10

Page 40: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The controller always has mental models of the process and of automation as they

stand. For example, operating an automatic machine the worker constructs his own mental

picture of what he is producing with the machine and on the very functioning of the

machine. If he actions a command to close a valve and if in normal operation the response

to this is the lighting up of a green light on the command panel, he may tend to interpret

the light being on as a sign that the vale is closed. In turn, the machine incorporates the

model of its creators regarding the same process and the necessary interfaces with the

operators. In discussing accidents in complex systems the necessary mental models for

managing the whole of the system must be analyzed. When the controller’s or manager’s

model does not correspond to the real situation, for example, it does not include

information about the repercussions that his decisions might have outside the system,

decisions relating to the management of the safety and reliability of the system may be

insufficient for maintaining it.

This notion of control loop is used by Leveson (2002, 2004) to criticize the breadth

of the definition adopted by some academics for the expression “human error”. Taken in a

broad sense, difficulties arising in the man-machine interaction are interpreted as human

failings. For Leveson, this way of defining human error fails to consider the characteristics

of the design of the system, in particular those that come into the control loops between

man and technical devices and that contribute to weakening the reliability and safety of the

system. For example, a failure in the operation of the device that did not supply adequate

11

Page 41: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

feedback regarding the state of the system after a previous action, tends to be attributed to

the operator, thereby ignoring the design failure in this device.

IMPLICATIONS FOR SAFETY

These concepts reinforce the role of the various hierarchical levels in organizations

when it comes to implementing effective control mechanisms, suggesting questions such

as the following for those interested in OHSMS:

1. Do the accident analyses or the design of your organization’s OHSMS,

reconstruct the design and functioning of the information and control loops used

between the various levels in the system, with an emphasis on those that refer

to the actors involved in the accident?

2. Do the analyses clearly identify the constraints defined in the system in such a

way as to check if the efforts made by the actors in the upper hierarchical levels

force or encourage the system sufficiently, in the sense of constructing and

consolidating the reliability and safety of the system?

3. Do the analyses include checking how top management monitors the operation

and the performance of this system, including whether it receives information of

the true state of the system?

4. Does the accompaniment highlight or emphasize the monitoring of the constant

local adaptations that occur in the basic design of the systems as a response to

the pressures and variability of system components in all types of activity?

Commenting on this last aspect, Leveson (2002) emphasizes the idea that every

accident model that includes the notion of social and human systems must consider the

existence of adaptations. According to her, in this type of system “the only constant is that

nothing remains constant the whole time”.

In similar fashion to what one sees in studies of the Ergonomics of an Activity, this

way of understanding work reflects directly on the way of understanding human behavior

in the work-place when the intended objectives are not achieved, in other words, the so-

12

Page 42: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

called “human errors”. Seen from this conceptual framework the supposed human error

can no longer be explained as the product of the personal characteristics of the operator,

as the traditional approach to accidents invariably does.

The systemic focus starts to define “error” as deviation from rational and normally

used procedure as an effective way of facing up to the variability aspects of work, and no

longer as a deviation from a procedure or norm theoretically defined as the right way of

doing the work. This raises new questions for those interested in OHSMS:

1. What definition of error is used in your system?

2. How does the OHSMS in your organization explain and propose

approaching the origins of these events?

Those interested in examples of the use of Leveson’s model will find a large

number of examples available in full on the webpage mentioned. The accident with the

VLS-1 VO3 satellite launch vehicle, which happened at the Alcântara Base in Brazil, was

analyzed using this model and Rasmussen’s vertical model (JOHNSON; ALMEIDA, no

prelo).

ASPECTS OF THE EXPLORATION OF THE NOTION OF HUMAN ERROR IN

ACCIDENT ANALYSES

Currently there seems to be agreement regarding the idea that work situations are

starting to demand more in terms of cognitive reasoning skills than of sensory motor skills.

Therefore, studies about the role of the social (human) component of these systems are

beginning to grow in importance. Studies seek to explore the cognitive aspects associated

with human behaviors with an emphasis on work-related situations.

The above distinction was also used by Rasmussen (1982) to explain the idea that

workers use different types of psychic management of their actions because of the types

of situation they face. He shows that there are actions that are controlled predominantly in

an almost automatic way in routine situations. They may be developed without the need to

think about their components. These behaviors are described by Rasmussen as skill-

based. At the other extreme are actions controlled predominantly by the use of awareness

13

Page 43: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

and reasoning. They are called knowledge-based and are more typical of new situations,

or those that are infrequent. At the intermediary level are actions whose execution is rule-

based, used in situations in which it is possible to foresee the majority of situations and

train operators in developing them.

Human apprenticeship is described as a process in which, initially, conscious

actions become automatic the more they are repeated. With familiarization, the operator’s

skill in their execution increases and they move to a level of cognitive regulation that

demands less of the operator. When someone is learning to drive an automobile the

learning process relating to taking the foot off the clutch pedal illustrates this situation. At

the beginning the driver pays full attention to the speed with which he removes his foot and

the action is consciously controlled. When the driver learns to drive the action is performed

“automatically”. The same reasoning applies to all learning situations. It is worth pointing

out that when the work involves the occurrence of constantly new, or uncertain situations,

conscious regulation will be more present. In fact, it is precisely the operator’s skill in

detecting and interpreting signs of change in the evolution of the activity that leads him to

change the psychic management way he is using.

This knowledge raises questions for those who are interested in OHSMS:

1. In exploring human behaviors involved with work-related accidents does your

OHSMS analysis team analyze the types of situation and the type of psychic

management used by the operators?

2. In the accident analyses conducted by your OHSMS are the main parameters

used and the characteristics of the ways with which they manifest themselves

identified and are they perceived by the operators in managing the system? Are

possible intervening factors explored?

3. In cases involving omissions is the possibility of there being cognitive traps in

the system explored?

Those interested in examples of the use of these concepts in accident

analyses can consult Reason; Hobbs (2003), Almeida; Binder (2004), Rasmussen;

Svedung (2000), and others.

14

Page 44: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Broadening the accident analysis perimeter with the notion of migration from the system to

the accident

Over the last decade Rasmussen (1997), Rasmussen; Svedung (2000), Svedung;

Rasmussen (2002) have described what they consider to be the important challenge of

today: risk management in a dynamic society.

The challenge has its origins in the rapid transformations through which society is

currently passing, including:

The accelerated rhythm of technological change at the operative levels in society;

The increase in the scale of industrial installations with an increase in the potential

for accidents of major proportions;

The rapid development of information technology and communication, leading to

systems with a high degree of tightly coupled interactions; and

Environments that are highly aggressive and competitive that increase the number

of potential conflicts to be experienced by the decision-makers, leading them to focus on

short term financial gains and the survival criteria of systems in detriment to their safety.

The speed of change in the technical and organizational bases of the processes

used in transport, industrial, health service provider and other systems that incorporate a

large amount of new technology, is faster than that in management processes and very

much faster than that found in extra-company systems, used for developing policies and

legislation for controlling the risks of these processes This time lag, which prejudices the

risk control mechanisms developed in socio-technical systems, becomes more evident in

the face of the aggressive environment and exacerbated competitiveness in which these

companies normally find themselves.

Under these conditions pressures in the system arise which, frequently, influence

managements, leading them to adopt decisions of an immediatist nature that push the

system close to the boundaries of its safety.

This dynamic process, par excellence, shows that these systems live in constant need of adaptation and changes in the environment in which they are inserted and also in

15

Page 45: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

their own components. Under these conditions the traditional way of managing safety, based on prescriptive and normative approaches, becomes outdated.

In these systems accidents start involving aspects up until then non-existent, or

that occur less frequently. Operators do not have to hand a rule or operational procedure

that is capable of indicating how they should act when faced with such a disturbance.

In the systems he studied Rasmussen also shows that management decisions

taken outside the walls of the company-system properly called, play their part in the origins

of accidents. This type of situation is called distributed decision making and was

exemplified by analysis of the capsize of the ferry in Zeebrugge in March, 1987. The

authors show that this accident involved aspects relating to the design of the boat and the

port, characteristics of cargo and passenger management, traffic timetables and the

operation of the boat. The managers from each of the areas mentioned have to live with

their own particular difficulties and pressures and cannot see the wood for the trees. Their

decisions tend to ignore possible collateral effects in other sub-systems. The accumulation

of the collateral effects of the decisions taken in each of the sub-systems only emerges in

the system seen as a whole; it does not exist as a property of the components in isolation.

In this type of situation once a set of decisions has been adopted the system

becomes vulnerable, or in other words, it becomes intolerant to a great number of

changes, whether they be behavioral or from another of its components. In other words, if

the accident had not been caused by specific factor x1, it could have been caused by x2,

or any other.

This explains the criticism of Rasmussen (1997) of the idea of the “basic cause” or

“root cause” of accidents, so widely divulged in the area of work-place safety. In traditional

thinking, if the basic cause is eliminated this type of accident no longer occurs.

Rasmussen has been showing that in dynamic systems accidents with similar aspects

may occur without the presence of that particular cause thought of in isolation, because in

the real work situation, the ‘accidentogenic’ scenario that is formed is the product of the

interaction or accumulation of the collateral effects of decisions taken by different actors in

scenarios where it is difficult to foresee the possibility, either of the accumulation, or of the

effects. Furthermore, each decision in isolation is not capable of producing the effect

revealed by the accident.

16

Page 46: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

This scenario of vulnerability, of a reduction in the tolerance to change, or in the

resilience of the system, is described by Rasmussen as a process of system migration to

the accident or to the acceptable boundaries of its safety.

Once the migration has occurred the accident may be set off by many types of

small changes, whose elimination, in accordance with the causal rationale of the traditional

model of safety management, reveals itself to be powerless to bring about an effective

improvement in the reliability and safety of the system.

Figure 3 shows the model suggested by Rasmussen (1997) to represent the

migration of the system in the direction of its safety boundaries.

In every working system, human behavior is modeled by objectives and constraints

that must be respected by the actors with a view to their achieving success in their

interventions. Therefore, it is the system that imposes limits or boundaries, which if

exceeded may threaten its survival or relative stability. There are frontiers of an economic

nature, especially relating to cost, and there are also boundaries imposed by the work load

to which the operators are submitted.

The working space in which the actors freely move is also limited by administrative,

functional and safety constraints. They set the boundaries of acceptable and perceived

performance. However, during their activities operators always have certain degrees of

freedom that will be “closed” by the use of local adaptations, guided by criteria relative to

the process in question, such as work-load, the cost benefit relationship, the risk of failure,

the pleasure of exploring, etc.

This model calls our attention to the dynamic nature of the activity. “The normal

changes found in local working conditions induce frequent strategy modifications and the

activity shows great variability” (RASMUSSEN 1997, p. 189). Such local variations,

induced by the situation, are compared by Rasmussen to the “Brownian motion” of gas

molecules. During these attempts at adaptation, effort and cost gradients are established,

the result of which tends to be a systematic migration towards the boundaries of

functionally acceptable performance, which if crossed, result in error or accident. Because

of this the author states that analysis must focus on the mechanisms that generate the

behaviors within the true and dynamic contexts of work, and not human errors or

violations.

17

Page 47: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

According to Rasmussen, the majority of major accidents analyzed over the last

few years show, in their origins, exactly this type of systematic migration to the safety

boundaries of the system and not a “coincidence of independent failures and human

errors”. Because of this, safety management in these types of system should be pro-

active, centering on the study of the normal activities of the actors who prepared this

scenario.

Well conceived systems have countless barriers, controls or lines of precautions to

avoid accidents, so that the eventual violation of one of them does not lead immediately to

an adverse event. The safety of a sub-system, or system in particular, also depends on the

collateral effects of the actions of actors situated in other sub-systems, or systems. In

systems in which the pressures for cost effectiveness dominate, the systematic

degeneration of these protections is installed over time. The German sociologist, Ulrich

Beck, called this process “produced uncertainty and organized irresponsibility” and

“strategic uncertainty and structural vulnerability”, considering it to be the key problem for

current research into risk management (apud SVEDUNG; RASMUSSEN, 2002, p. 399).

18

Page 48: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The example below was taken from a recent text. It illustrates the close relationship

between notions of emerging property and system migration:

“During the company’s night shift with two wood chippers, one of the chipper

operators is absent and the older machine and the one with fewer operational resources

remains switched off for lack of staff. Soon after, the log handling machine breaks down

and is not repaired and its operator is left temporarily with time on his hands. Soon after, a

new truck arrives in the yard loaded with lumber and is not unloaded due to the breakage

of the log handling machine. Knowing that the truck is paid by the time it remains in the

yard and aware of the pressures from management for fast unloading the head of the shift

allocates the operator of the log handling machine to operate the stopped chipper and

asks for the truck to be unloaded directly onto the conveyor belts of this machine.

Do the decisions taken create safety or risk?” (ALMEIDA, 2006, p. 37)

The concepts presented raise new questions for those interested in OHSMS. Other

questions are presented after the text on vertical accident analysis models.

1. How does formal safety approach situations like the one in the example above?

2. Considering that the decision of the head of the shift corresponds to what is

expected in the majority of systems, how do you classify the analysis

conclusions of this type of accident, which explains them as the result of non-

compliance with safety norms on the part of the operator?

3. How do your organization’s OHSMS (formal safety) approach the emergence of

situations of work disturbance and variability that demand responses from the

workers that are equivalent to the notion of local adaptations, as mentioned

above?

VERTICAL ACCIDENT ANALYSIS MODELS

These ideas are the basis of the risk management and accident analysis proposal

developed by Rasmussen (1997) and also of the Systems-Theoretic Accident Models and

Processes (STAMP) method, developed by Leveson (2004). Socio-technical systems

19

Page 49: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

involved in risk management begin to be considered in their entirety, with all their

hierarchical levels, going from “non-shop floor” operators to the legislators and government

agencies responsible for the formulation and implementation of control policies.

Figure 4 shows the system described by Rasmussen. This vertical orientation

model was suggested to “capture the causal process of losses as a boundary condition of

working under pressure and [...] to identify sensitive parameters for controlling the

behavior of organizations and individuals” (SVEDUNG; RASMUSSEN, 2002, p. 401).

The model describes the interactions between decision-makers situated at all

levels in society in their roles as risk managers. The analysis takes up again the notion of

control loop discussed previously, by exploring the possibilities of failure:

a) in the design of the constraints necessary for forcing the implementation of

control actions;

b) in carrying out these actions;

c) in the feedback provided after carrying out the actions.

The model proposed by Leveson is similar to that of Rasmussen, but it begins by

mapping out the actors involved in the accident, without reference to the physical process

and the activities mentioned, in Rasmussen’s basic scheme.

The analyses include maps that show the control loops and information prescribed

or proposed between the different hierarchical levels of the system and the same maps

showing the local adaptations that over the time the system existed were being carried out

in the components, whose purpose was to impose regulatory actions or inform

management of the results of the actions carried out. Rasmussen and Svedung’s (2000)

book includes an appendix with analysis registers of six accidents that use the technique

proposed by the authors.

20

Page 50: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Leveson’s (2004) model associates Table 1, which shows the taxonomy of possible

failures in the design, execution or feedback of the various loops analyzed.

Using these models demands abandoning the traditional approach adopted in

safety management, which is based on the structural decomposition of the system, with

analyses of tasks focused on action sequence and occasional deviations, treated as

human errors. In its place the behavior-modeling mechanisms model in terms of working

situation constraints, acceptable performance boundaries and subjective criteria guiding

the adaptations to the changes should be adopted (RASMUSSEN, 1997).

As the variability and the adaptations they demand are continuous, “human error”

begins to be seen as an attempt at adaptation that did not achieve the desired success,

but whose result is immediately assumed as “input”, or a sign necessary for the diagnosis

of the current state of the system and the decisions that will culminate in a new attempt at

adaptation. In the words of Amalberti (1996) the error is part of the “negotiation or

cognitive commitment” developed during the management of the activities.

21

Page 51: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

An aspect to be highlighted in this behavior-modeling mechanisms approach is its

similarity to the situated behavior focus, adopted in Activity Ergonomics. The reasons

associated to the origins the lack of success of certain attempts at adaptation must be

looked for in the constraints – or lack of them – that model the behaviors of individuals and

organizations, considering the existence of pressures that demand local adaptations on

the part of operators. In addition, Table 1 is a guide to the systematization of aspects of

the analysis.

Vertical models suggest new questions to those interested in OHSMS:

a) How are managers and intermediate heads responsible for strategic and daily

decisions and who contribute, directly or indirectly to the origins of accidents,

approached, if indeed they are, in the analysis processes of these accidents?

b) How is the eventual contribution of actors outside the walls of the system-

company approached in the analysis of accidents in your organization?

22

Page 52: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

FINAL CONSIDERATIONS

In the United Kingdom, recent reports of the analyses of accidents involving

slipping and falls, work-related maintenance accidents, traffic accidents, accidents with

workers in the health sector and others, carried out by teams of technicians from the

Health and Safety Executive (HSE), a body equivalent to Brazil’s Ministry of Labor and

Employment, show that the use of concepts like those presented in this text are not

restricted to university researchers and the safety teams of major companies operating in

the most dynamic and powerful sectors of the economy.

Accident analyses are beginning to be recognized as professional practices that

qualify those that conduct them as valid spokespersons of all the other actors in the

system. They begin to reveal paths along which aspects of the organization and

functioning of the system become potentially accidentogenic.

This text tries to show that these aspects can no longer be confused with examples

of strange practices, developed by a few researchers who dedicate themselves to studying

accidents as “laboratory phenomena”. On the contrary, it shows that the incorporation of

concepts such as those presented here is growing in the practices of companies and

public institutions. This movement is associated to the perception that those interested in

the prevention of work-related accidents have a lot to learn from the experience developed

in systems that have achieved safety performances recognized as good, “highly reliable”

or “ultra-safe”, in the light of current knowledge. In other words, those interested in the

prevention of adverse events in hospitals, for example, need to learn from the experience

of commercial aviation from various countries in the world - and so on and so forth.

However, the perception of this change will not let us ignore that this does not

seem to be the path followed in the majority of systems. The traditional approach is still

resisting. The idea that the majority of accidents arise from human failings persists and the

current response of the traditional approach to this old issue assumes the form of

“behavioral safety” proposals (HOPKINS, 2006).

The harsh criticisms presented by authors here mentioned of the idea that work-

related accidents arise from human errors should not be understood as a negation of the

23

Page 53: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

recognition of the existence of a human or subjective dimension in these events. Very

much to the contrary, as the text itself shows, for those interested in the study of the

human behaviors in the working situation these authors suggest approaches that are as

yet little divulged in Brazil. They also reveal that the mere identification of human actions

or omissions that go contrary to the precepts of current norms or rules are no more than

effects, consequences, apparent phenomena, whose essence, especially in terms of

origins, needs to be researched; in no way whatsoever, must they be reduced to the idea

of the product of the conscience of the operator who behaved in that way.

The aims of this text are ambitious; in the first place, to reveal part of the history of

this different, alternative way of conceiving work-related accidents and theory analysis;

secondly, to encourage those interested in the theme of occupational health and safety

management to reflect upon to what extent the paths here indicated may be useful to the

organizations in which they operate.

24

Page 54: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

ALMEIDA, I. M. Análise de acidentes do trabalho como ferramenta de prevenção. Revista

Cipa, ano XXVII, n.320, p.22-49, 2006.

ALMEIDA, I. M.; BINDER, M. C. P. Armadilhas cognitivas: o caso das omissões na

gênese dos acidentes de trabalho. Cadernos Saúde Pública, v.20, n.5, p.1373-8, 2004.

AMALBERTI, R. La conduite des sistèmes à risques. Paris: Presses Universitaires de

France, 1996. (Collection Le Travail Humain)

HOPKINS, A. What are we to make of safe behaviour programs? Safety Science, 2006 (in

press). Disponível em www.sciencedirect.com/science/journal. Acesso em: 10 jul. 2006.

JOHNSON, C. W.; ALMEIDA, I. M. An investigation into the loss of the Brazilian Space

Programme’s Launch Vehicle VLS-1 V03. No prelo (Aceito para publicação em Safety

Science).

LEVESON, N. G. A new approach to System Safety Engineering. 2002. Disponível em

sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.

LEVESON, N. G. A new accident model for Engineering Safer Systems. Safety Science,

v.42, p.237-70, 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 25 jan. 2005.

LLORY, M. Acidentes industriais: o custo do silêncio. Rio de Janeiro: Multimais, 1999a.

LLORY, M. L’accident de la centrale nucléaire de Three Mile Island. Paris: L’Harmattan,

1999b.

MARAIS, K.; DULAC, N.; LEVESON, N. Beyond normal accidents and high reliability

organizations: the need for an alternative approach to safety in complex systems. MIT

ESD Symposium, March 2004. Disponível em sunnyday.mit.edu. Acesso em: 20 abr.

2006.

PERROW, C. Normal accidents. Living with high-risk technologies. 2.ed. New Jersey:

Princeton University Press, 1999a.

PERROW, C. Organizing to reduce the vulnerabilities of complexity. Journal of

Contingencies and Crisis Management, v.7, n.3, p.150-5, 1999b.

25

Page 55: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Systemic Approach To Accidents And Occupational Health And Safety Management Ildeberto Muniz de Almeida INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

RASMUSSEN, J. Human errors: a taxonomy for describing human malfunctions in

industrial installations. Journal of Occupational Accidents, v.4, p.311-35, 1982.

RASMUSSEN, J. Risk management in a dynamic society: a modelling problem. Safety

Science, v.27, n.2/3, p.183-213, 1997.

RASMUSSEN, J.; SVEDUNG, J. Proactive risk management in a dynamic society.

Karlstad: Räddningsverket/Swedish Rescue Services Agency, 2000.

REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Aldershot: Ashgate, 1997.

REASON, J.; HOBBS, A. Managing maintenance error. A practical guide. Hampshire:

Ashgate, 2003.

SAGAN, S. D. The limits of safety. Organizations, accidents, and nuclear weapons. New

Jersey: Princeton University Press, 1993. p.250-79.

SVEDUNG, J.; RASMUSSEN, J. Graphic representation of accident scenarios: mapping

system structure and the causation of accidents. Safety Science, v.40, p.397-417, 2002.

TURNER, B. A.; PIDGEON, N. F. Man-made disasters. Oxford: Butterworth Heinemann,

1997.

Article received on 24.08.2006. Approved on 02.10.2006.

26

Page 56: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL:

FATOR CRÍTICO DE SUCESSO À IMPLANTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS ORGANIZAÇÕES

BRASILEIRAS

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas1; Gilson Brito Alves Lima2

1 Doutor em Engenharia pela Coppe/UFRJ; Professor Coordenador do Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense. 2 Doutor em Engenharia pela Coppe/UFRJ; Professor do Mestrado em

Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense.

RESUMO

A melhoria da segurança, da saúde e do meio ambiente de trabalho, além de aumentar a

produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no processo,

o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais. Para isto é necessário um

planejamento que permita a participação da alta administração e dos empregados na

busca de soluções práticas e economicamente viáveis. Este trabalho apresenta reflexões

acerca do desempenho da segurança em um canteiro de obras como resultado das

práticas de responsabilidade social, gestão de pessoas e gestão ambiental. Tais sistemas

de gestão constituem o núcleo do que atualmente se denomina sustentabilidade

organizacional. Este é o resultado parcial das pesquisas em desenvolvimento no Latec –

Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente, e indica a continuidade

para a definição de indicadores de ecoeficiência nos processos produtivos e de

efetividade no negócio.

Palavras-chave: responsabilidade social empresarial; gestão de negócios sustentáveis;

desempenho em segurança.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=31

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 57: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Mais do que cumprir a legislação existente, é questão de sustentabilidade para a

continuidade da operação das empresas o fato de proporcionarem um ambiente de

trabalho seguro e saudável. Na atualidade, as organizações buscam aperfeiçoar-se

através de modelos de gestão, incorporando conceitos das boas práticas de

relacionamento com empregados, sociedade, governo, acionistas, fornecedores e

concorrentes. Tal escopo de atuação, conforme apresentado na Figura 1, denominou-se

recentemente como “responsabilidade organizacional” (ALLEDI, 2002).

Tal ambiente de pró-atividade no que se refere à prevenção de acidentes e à

proteção à saúde do trabalhador, é resultante do compromisso e da colaboração mútua

entre os empregadores e trabalhadores.

Ao projetar e construir novos locais de trabalho e sistemas de produção, ou

modificar os existentes, deve-se levar em consideração os fatores que podem

comprometer o exercício de determinada tarefa em função das limitações pessoais e

operacionais existentes.

2

Page 58: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Cada vez mais, destacam-se as preocupações do governo, empresários e

sindicatos em melhorar a segurança, a saúde e as condições do meio ambiente de

trabalho. Para isto, é necessário um planejamento que permita a participação da alta

administração e dos empregados para encontrar as soluções práticas e economicamente

viáveis (ARANTES, 2005).

A melhoria da segurança, da saúde e do meio ambiente de trabalho, além de

aumentar a produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no

processo, o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais.

Os aspectos preventivos envolvidos na segurança do trabalho buscam minimizar

os riscos e as condições inadequadas e incorporar a melhoria contínua das condições de

trabalho, introduzindo requisitos mínimos de segurança cada vez mais rígidos.

Os riscos de acidentes com lesão, problemas ergonômicos e organizacionais

podem ser identificados pela inspeção sistemática do local de trabalho. As inspeções de

segurança estão entre as medidas preventivas mais importantes para assegurar um local

de trabalho seguro. A natureza do trabalho determinará com que freqüência as inspeções

de segurança devem ser realizadas.

Algumas empresas contam com profissionais de medicina e enfermagem do

trabalho, ligados aos SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e

em Medicina do Trabalho –, que gerenciam o serviço de saúde, ambulatórios e

instalações de reabilitação. Nas pequenas empresas, esses serviços são terceirizados, e

essa terceirização deve ser analisada em termos de efetividade de resultados para a

saúde e a segurança dos trabalhadores.

A função principal do serviço de saúde ocupacional é cooperar com a gerência e

com os trabalhadores, atuando na prevenção e contribuindo para a melhoria contínua da

segurança e das condições de trabalho.

As boas práticas de segurança e higiene ocupacional são importantes para evitar

acidentes e garantir a saúde dos trabalhadores. As boas práticas de segurança estão

3

Page 59: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

associadas com a melhoria das condições de trabalho. Subestimar os riscos do ambiente

de trabalho ou subestimá-los cria um ambiente propício à ocorrência de acidentes.

Muitas organizações no Brasil ainda têm uma visão restrita em relação à

segurança, à medicina do trabalho e à saúde ocupacional. O tratamento dessas questões

se restringe à coleta de dados estatísticos, ações reativas a acidentes do trabalho e

respostas a causas trabalhistas. Segurança e saúde ocupacional iniciam-se como sistema

de gestão através de normas como a OHSAS 18001/99 (Sistemas de Gestão de

Segurança e Saúde Ocupacional – Especificação) e BS 8800/96 (Diretrizes para Sistemas

de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional), além do Prêmio Nacional de

Segurança e Saúde Ocupacional.

OS OBJETIVOS DESTE ESTUDO: A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS DE SSO PARA

A SUSTENTABILIDADE DE EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Como pré-requisito para a sustentabilidade das organizações (PRAHALAD, 2006)

é necessário possuir garantia de que suas operações não irão provocar ações futuras no

que se refere a suas práticas em relação aos trabalhadores (passivos trabalhistas) e ao

meio ambiente (passivos ambientais), quanto à continuidade de disponibilidade de bons

fornecedores, quanto à construção de imagem positiva junto à opinião pública e quanto ao

cumprimento da legislação e ao recolhimento de taxas e impostos (ARANTES, 2005).

Buscou-se consolidar os conceitos e as conclusões desenvolvidas nos grupos de

pesquisa, nos quais os autores deste trabalho atuam, com a citação e descrição de casos

coletados em pesquisa de campo.

Objetiva-se a partir da análise das práticas de segurança e saúde ocupacional de

duas pequenas empresas construtoras, que não possuem formalmente sistemas de

gestão implantados, avaliar o quão distante do ideal proposto pela norma está a realidade

de suas obras. Fizeram-se sugestões em caráter de adequação da organização às

normas BS 8800/96 e OHSAS 18000/99. O resultado final constitui-se em contribuição ao

pensamento gerencial em franco desenvolvimento no que se refere à Construção

Sustentável.

4

Page 60: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Dentre os principais pressupostos apresentados neste artigo, alguns

questionamentos podem ser destacados para subsidiar a análise proposta. Por exemplo:

Quais as atitudes dos responsáveis na obra? Elas indicam preocupação com

segurança? Possuem uma visão sistêmica?

No núcleo dos trabalhadores há uma cultura da segurança e saúde ocupacional?

Eles possuem uma política de conduta que os guia? Se possuírem, ela é bem

entendida?

Há padronização de processos? Se há, isso contribui efetivamente para a

segurança e saúde ocupacional?

A realidade das obras é adequada à legislação?

REVISÃO DA LITERATURA: A SUSTENTABILIDADE E AS PRÁTICAS DE SSO

Constitui estrutura principal desta revisão a apresentação de conceitos relativos a

responsabilidade organizacional (ou corporativa), ética empresarial, gestão sustentável,

gestão da segurança e saúde ocupacional, bem como a fundamentação do Triple Bottom

Line (BOWDEN, 2001).

Torna-se igualmente importante para o entendimento da contribuição deste

trabalho a visualização do PDCA, com suas etapas didaticamente explicitadas para

compor um ciclo de gerenciamento que garanta o aperfeiçoamento contínuo e a

manutenção da rotina.

5

Page 61: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

RESPONSABILIDADE SOCIAL ORGANIZACIONAL

A responsabilidade social de uma organização consiste na decisão de participar

mais diretamente das ações comunitárias na região em que está inserida e diminuir

possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce. Mas, apoiar o

desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não são suficientes para

atribuir a uma empresa a condição de socialmente responsável. É necessário investir no

bem-estar de seus empregados e dependentes e num ambiente de trabalho saudável,

além de dar retorno aos seus acionistas e garantir a satisfação dos seus clientes e/ou

consumidores.

O exercício da responsabilidade social pressupõe uma atuação eficaz da

organização em duas dimensões: a gestão de responsabilidade interna e a gestão de

responsabilidade externa.

6

Page 62: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A responsabilidade social interna caracteriza o estágio inicial da cidadania

empresarial. Entretanto, não é sempre que ocorre esse movimento. Muitas organizações

cometem um sério erro de estratégia social e invertem esse processo, causando grande

descontentamento entre os empregados e confirmando um grave quadro de conflitos,

ansiedade e desmotivações.

A responsabilidade social interna tem como foco trabalhar o público interno da

organização, desenvolver um modelo de gestão participativa e de reconhecimento de

seus empregados, promovendo comunicações transparentes, motivando-os para um

desempenho ótimo. Esse modelo de gestão interna compreende ações dirigidas aos

empregados e dependentes, aos funcionários de empresas contratadas, terceirizadas,

fornecedoras e parceiras.

Na ligação entre as realidades social, política, econômica e cultural da

organização, as ações de responsabilidade social interna podem começar por:

Cuidar da qualidade de vida do empregado e investir nas instalações sanitárias;

Atender às necessidades básicas dos empregados criando uma infra-estrutura de

refeitório para seu público interno, empresas terceirizadas e contratadas, e

fornecendo cesta básica para seus dependentes;

Criar o hábito de uso do uniforme, contribuindo para melhorar as condições de

segurança no trabalho;

Buscar um Plano de Saúde e assistência odontológica que atenda a todos os

empregados e seus familiares;

Cuidar das condições de moradia dos empregados;

Implantar um Plano de Cargos e Salários;

Implantar programas de reconhecimento e valorização do empregado, como: Café

com o Presidente, Empregado Destaque, Ginástica na Empresa, Participação

nos Resultados;

Investir na qualificação dos empregados através de programas de treinamento,

internos e/ou externos, e capacitação visando maior qualificação profissional e

obtenção de escolaridade mínima.

7

Page 63: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O desenvolvimento dessas ações é também chamado de trabalho de

endomarketing; com elas a organização leva motivação para o seu ambiente interno e cria

uma relação de confiança com o empregado. Assim, a organização ganha sua dedicação,

empenho, lealdade e aumento de produtividade.

A partir do desenvolvimento e da implantação dessas ações de gestão interna, a

empresa pode realizar ações sociais que beneficiem a comunidade, passando a exercitar

a sua responsabilidade social externa. Através de um planejamento de marketing social, a

organização, atendendo à sua missão, às suas crenças e à demanda de necessidades da

comunidade, atua nas áreas de educação, saúde, assistência social e ecologia,

desenvolvendo ações empresariais que visem maior retorno publicitário e de imagem.

A organização pode realizar essas ações através de:

Doações de produtos, equipamentos e materiais em geral;

Transferência de recursos em regime de parceria para órgãos públicos e ONGs,

beneficiando escolas públicas, visando educação com qualidade, viabilizando

cursos técnicos, estágios e formação de futuros profissionais;

Prestação de serviços voluntários para a comunidade pelos empregados da

organização, reformando creches e asilos;

Aplicação de recursos em atividades de preservação do meio ambiente,

adotando uma praça, reciclando o lixo da empresa ou promovendo a coleta

seletiva;

Patrocínio para projetos sociais do governo;

Investimentos diretos em projetos sociais criados pela própria organização;

Investimentos em programas culturais através da lei de incentivo à cultura.

Ao participar de ações sociais, a organização não só adota um comportamento

ético e contribui para o desenvolvimento econômico, mas também atua na dimensão

social do desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade de vida de seus

empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo,

exercendo a sua responsabilidade social.

8

Page 64: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Uma empresa responsável tem no seu compromisso, com a promoção da

cidadania e o desenvolvimento da comunidade, o seu diferencial competitivo, buscando

desta forma ser uma organização que investe recursos financeiros e tecnológicos, além

de mão-de-obra, em projetos de interesse público. É uma organização que cria um

ambiente agradável de trabalho, valorizando seus talentos, e é capaz de desenvolver um

modelo de gestão integrado, onde as pessoas têm um papel decisivo no seu

compromisso com relação à comunidade e à sociedade em geral.

A SEGURANÇA DO TRABALHO

A melhoria nas condições do ambiente e do exercício do trabalho tem como

objetivos principais diminuir o custo social com acidentes de trabalho, valorizar a auto-

estima e proporcionar a melhoria contínua da qualidade de vida dos trabalhadores.

A evolução social nas relações de trabalho não deve ser vista pelo Estado como

mais um programa de governo, mas como um objetivo nacional constante, associando o

desenvolvimento à melhoria nas condições de vida da sociedade. Esse compromisso

nacional exige o exercício da cidadania, pois cabe a cada um de nós, agentes potenciais

de transformação – governo, empregador ou trabalhador –, contribuir para a melhoria da

qualidade de vida e a formação de uma sociedade mais sadia e produtiva.

Especificamente na área de segurança e saúde no trabalho, o governo está

direcionando a fiscalização para setores econômicos com maior taxa de freqüência de

acidentes (incidência de acidentes incluindo doenças ocupacionais), ampliando a

participação da sociedade produtiva nas propostas de modernização da legislação

trabalhista com o objetivo de reduzir as situações de risco. Não podemos esquecer que o

atendimento às necessidades básicas do trabalhador é fator fundamental para se ter uma

sociedade sadia e produtiva.

A NORMA BS 8800/96

A norma britânica BS 8800 constituiu a primeira tentativa de se estabelecer uma

referência normativa para implementação de um sistema de gestão de segurança, saúde

9

Page 65: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

e meio ambiente. Essa norma vem sendo utilizada na implementação de um sistema de

gestão de segurança e saúde, visando à melhoria contínua das condições do meio

ambiente de trabalho. Os princípios dessa norma estão alinhados com os conceitos e

diretrizes das normas da série ISO 9000 (Sistema da Qualidade) e da série ISO 14000

(Gestão Ambiental).

A norma britânica BS 8800, que continua válida, motivou diversas entidades

normativas a elaborar em 1988 um conjunto de normas intituladas de Occupational Health

and Safety Assessment Series – OHSAS, visando à realização de auditorias e à

certificação de programas de gestão de segurança, saúde e meio ambiente.

O princípio básico de um sistema de gestão baseado em aspectos normativos

envolve a necessidade de determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os

aspectos operacionais, mas também a política, o gerenciamento e o comprometimento da

alta administração com o processo de mudança e melhoria contínua das condições de

segurança, saúde e trabalho. Esse aspecto é de fundamental importância, pois, na

maioria das vezes, tais melhorias exigem além do comprometimento, altos investimentos

que requerem planejamento no curto, médio e longo prazo para a sua execução.

Com esta nova visão, que muitas empresas já vêm adotando, todos dentro do

processo produtivo são responsáveis no mesmo nível de importância, principalmente os

gerentes e supervisores. A administração deve identificar os riscos e orientar os

trabalhadores com atitudes pró-ativas, dando o exemplo a ser seguido dentro da

organização, mesmo porque não são todas as empresas que são obrigadas pela

legislação a possuir em seus quadros um profissional de segurança.

Segundo a norma britânica BS 8800, as organizações não atuam isoladamente, ou

seja, diversas partes podem ter um interesse legítimo na implantação de um sistema de

gestão. Essas partes são empregados, consumidores, clientes, fornecedores,

comunidade, acionistas, empreiteiros, assim como as agências governamentais

encarregadas de zelar pelo cumprimento dos regulamentos e leis.

A norma BS 8800 é um guia que se destina a ajudar as organizações a

desenvolverem uma abordagem do gerenciamento de segurança e saúde ocupacional

10

Page 66: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

que permita proteger os empregados, cuja saúde e segurança podem ser afetadas pelas

atividades da organização. Muitas das características do gerenciamento de segurança e

saúde ocupacional se confundem com práticas sólidas de gerência defendidas por

proponentes da excelência da qualidade e dos negócios.

Os elementos apresentados na norma são essenciais para um sistema de

gerenciamento eficaz. Os fatores humanos, incluindo a cultura e a política, entre outros

aspectos das organizações, são fatores decisivos para a eficácia do sistema de

gerenciamento e precisam ser considerados quando da implementação da norma.

Um ciclo de aperfeiçoamento contínuo do gerenciamento e a sua integração no

sistema global de gerência são mostrados na Figura 3, considerando-se todos os estágios

de implementação.

SUSTENTABILIDADE DAS ORGANIZAÇÕES

Desenvolvimento sustentável

Existem inúmeras definições de Desenvolvimento Sustentável, elaboradas por

diferentes setores da sociedade. O conceito de desenvolvimento sustentável foi

11

Page 67: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

apresentado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, em abril de 1987, na

Assembléia Geral das Nações Unidas. O principal produto dessa Comissão foi o

“Relatório Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”; nesse

texto o desenvolvimento sustentável é apresentado como “o desenvolvimento que satisfaz

as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de

satisfazerem suas próprias necessidades” (ONU, 1988).

O Desenvolvimento Sustentável pressupõe interdisciplinaridade, na medida em

que sua evolução nos leva a trabalhar com três macro-temas que compõem o chamado

Triple Bottom Line, ou seja, os aspectos ambientais, sociais e econômicos. A sinergia

entre esses aspectos permeia a aplicação do conceito de Desenvolvimento Sustentável,

ou Sustentabilidade, onde quer que ele seja aplicado, tanto em nível governamental,

como na sociedade civil ou na seara empresarial. Pode-se também trabalhar com outras

dimensões do desenvolvimento sustentável, como por exemplo, os aspectos culturais,

tecnológicos e políticos.

Gestão sustentável

A Gestão Sustentável, conceito aplicado às organizações como um

desdobramento imprescindível que se articula com a Responsabilidade Social

Organizacional, deve ser entendida como o compromisso contínuo da organização com o

seu comportamento ético e com o desenvolvimento econômico (BOWDEN, 2001),

promovendo ao mesmo tempo a melhoria da qualidade de vida de sua força de trabalho e

de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.

A gestão sustentável atribui importância fundamental aos aspectos antes

considerados como simples cumprimento de legislação, tais como segurança e saúde

ocupacional, prevenção de acidentes ambientais e posicionamento pró-ativo em relação

ao projeto de produtos ecoeficientes.

12

Page 68: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Eixo central do conceito da Sustentabilidade, a Ecoeficiência é alcançada mediante o

fornecimento de bens e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades

humanas e tragam qualidade de vida, promovendo ao mesmo tempo uma redução

progressiva dos impactos ambientais e da intensidade do consumo de recursos ao longo

do seu ciclo de vida, num nível, no mínimo, equivalente à capacidade de suporte estimada

da Terra. Retornando ao modelo mental já plenamente conhecido do PDCA, consideram-

se ferramenta indispensável para a efetividade da gestão a elaboração e a

implementação de um sistema de indicadores. No caso deste trabalho adotou-se a base

conceitual do Balanced Scorecard agregado com os conceitos do Triple Bottom Line,

resultando em um Scorecard “sustentável”, como o apresentado na Figura 5.

13

Page 69: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Conforme apresentado na Figura 5, o inter-relacionamento dos vértices da pirâmide de

sustentabilidade possibilita a identificação dos indicadores de Sustentabilidade, dentre os

quais se destacam os aspectos:

Políticos (eixo econômico-social): relacionamento com o poder público, a

sociedade, as instituições e outras organizações;

Econômicos (eixo sócio-ambiental): efeito dos projetos nas comunidades locais,

transferência de tecnologia, capacitação de agentes na comunidade, equilíbrio

receita versus despesas e geração de receitas;

Sociais (eixo sócio-econômico): geração de oportunidades de crescimento

pessoal e profissional para as pessoas e suas famílias; educação e treinamento,

segurança e saúde na comunidade;

Ecológicos (eixo sócio-ambiental): minimização de impactos sobre o meio

ambiente físico e biótico, máxima valorização dos recursos energéticos

renováveis, foco na ecoeficiência;

Tecnológicos (eixo econômico-ambiental): qualidade e confiabilidade adequadas,

e minimização de riscos de acidentes.

14

Page 70: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Realizou-se revisão da literatura e pesquisa de campo com duas pequenas

empresas. Aplicou-se roteiro de observação para identificar as práticas de gestão em

SSO. Entrevistaram-se os engenheiros gestores das obras pesquisadas e os diretores

dessas empresas.

Igualmente observou-se a atuação dos engenheiros e técnicos de segurança. A

partir das observações partiu-se para a análise dos dados e as considerações finais.

ESTUDO DE EXPERIÊNCIAS EM DUAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Relato da situação problema na experiência estudada

Na estruturação do presente estudo, foram realizadas pesquisas de campo em

duas obras gerenciadas por empresas que atuam no mercado de Niterói, Estado do Rio

de Janeiro, com a participação dos engenheiros responsáveis pelo gerenciamento da

produção e diretores das empresas. As duas empresas competem no mercado de

pequenas construções e têm como concorrentes outras organizações que se limitam ao

cumprimento da legislação de segurança e saúde ocupacional. À primeira observação,

tornam-se relevantes alguns aspectos que indicam urgente necessidade de melhoria e

que são relacionados ao processo produtivo e à forma de execução das tarefas: projeto

ergonômico do posto de trabalho, programação de jornada de trabalho, aspectos

psíquicos e sociais, além da fadiga ocupacional. Tais fatores, que influenciam na

produtividade, devem ser avaliados com o objetivo de sugerir medidas para adequar o

trabalho à limitação pessoal dos trabalhadores.

Quanto à existência de planejamento nas práticas de segurança e saúde

ocupacional nas empresas analisadas, torna-se explícita a necessidade de que os

profissionais que aí conduzem as inspeções de saúde sejam responsáveis por organizar

medidas de primeiros socorros, no caso de acidentes ou doenças ocupacionais. Eles

15

Page 71: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

devem, também, orientar na aquisição de equipamentos e na organização dos locais de

trabalho e de suas tarefas. Ou seja, é imprescindível a aplicação de ferramentas

gerenciais, tais como indicadores e sistemas de informação, e o treinamento de tais

profissionais de saúde e de segurança nos conceitos de gestão de negócios e de

planejamento estratégico, para que eles tenham condições de rever e de argumentar no

desenvolvimento de uma cultura de prevenção pró-ativa.

Um elemento importante a favor da segurança, saúde e melhoria das condições de

trabalho é a informação. A empresa deve possuir mecanismos internos para divulgar os

objetivos, indicadores de desempenho e resultados, estimulando a participação dos

trabalhadores. Uma informação bem elaborada contribui para a conscientização de

segurança dos trabalhadores e de seus superiores. Além da informação devem-se criar

mecanismos, como por exemplo caixas de sugestões, permitindo que os trabalhadores

apresentem suas propostas e reconhecendo aquelas que forem implementadas na

prática.

Nas empresas analisadas as informações existentes limitavam-se ao estritamente

necessário ao cumprimento das obrigações legais e trabalhistas.

O principal desafio dos supervisores é obter e manter o cumprimento da legislação

e das normas internas dentro da empresa. E o principal aspecto nesta questão é garantir

que esses líderes sejam os exemplos dentro da organização através de atitudes pró-

ativas com a questão da segurança, da saúde e da melhoria nas condições de trabalho. A

alta administração da empresa, por sua vez, deve determinar as diretrizes através de uma

política de segurança, saúde e meio ambiente. As pessoas estão muito mais disponíveis a

cumprir as normas e os procedimentos quando possuem o exemplo dos líderes da

organização em todos os seus níveis.

Análise dos dados

A análise crítica do planejamento das obras quanto aos aspectos ambientais, de

segurança e de saúde ocupacional, assim como a simples avaliação das causas de

acidentes, inexiste como prática gerencial nas empresas analisadas.

16

Page 72: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Constatou-se que os trabalhadores possuem uma grande deficiência de

informação, motivação e treinamento. Cabe às empresas criar mecanismos alternativos

para garantir a melhoria contínua dos recursos humanos, pois eles são o seu maior

patrimônio.

No Quadro 1 explicitam-se as práticas de saúde e segurança ocupacional nas

empresas analisadas, confrontando-se essas constatações com as diretrizes da BS

8800/96. Estruturou-se um quadro no qual a primeira e a segunda colunas apresentam

respectivamente a diretriz da BS 8800 e a prática das obras, e a terceira coluna indica a

deficiência da segunda em relação à primeira.

Quadro 1: Práticas em canteiro de obras versus recomendações da BS 8800

DIRETRIZES DA NORMA BS

8800

PRÁTICAS DE S&SO

NAS OBRAS

DEFICIÊNCIAS A SEREM

SUPRIDAS

4.0 INTRODUÇÃO

4.0.1 Generalidades

Todos os elementos deste guia

deverão ser incorporados no

sistema de gerenciamento de

S&SO, mas a maneira e

extensão pelas quais os

elementos individuais devem

ser aplicados dependerão de

fatores como o tamanho da

organização, a natureza das

suas atividades, os perigos e as

condições nas quais opera.

4.0.2 Levantamento da situação

inicial

As organizações deverão

considerar a execução de um

levantamento inicial dos

dispositivos existentes para o

a) quanto aos itens da

legislação relevante que

trata dos assuntos de

gerenciamento de S&SO,

são todos praticados.

b) A orientação existente

Sugere-se uma participação

ativa do gerente de contrato

quanto às orientações sobre

gerenciamento de S&SO. A

formação de comitês

relevantes e o intercâmbio

17

Page 73: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

gerenciamento de S&SO. Este

levantamento deve ser feito a

fim de proporcionar informações

que influenciarão as decisões

sobre o escopo, adequação e

implementação do sistema

corrente, assim como prover

uma linha mestra a partir da

qual o progresso possa ser

medido. Os levantamentos

iniciais da situação devem

responder à pergunta “onde

estamos agora?”.

O levantamento deve comparar

os dispositivos existentes com:

a) os requisitos da legislação

relevante que trata dos

assuntos de gerenciamento de

S&SO;

b) a orientação existente sobre

gerenciamento de S&SO dentro

da organização;

c) a melhor prática e

desempenho no setor de

emprego da organização, e

noutros apropriados (por

exemplo, a partir de comitês

industriais relevantes de HSC e

orientações de associações de

classe);

d) a eficiência e eficácia de

recursos existentes dedicados

ao gerenciamento de S&SO.

Um ponto de partida útil seria

sobre gerenciamento de

S&SO é exercida pelo

engenheiro de

segurança, técnico de

segurança, mas muito

pouco pelo gerente de

contrato.

c) este item é praticado

pela organização em

caráter mínimo, ou seja,

apenas orientações

informais.

d) quanto à eficiência e

eficácia de recursos

existentes dedicados ao

gerenciamento e S&SO,

afirma-se que os

recursos existem, porém,

como estão vinculados

ao gerente de contrato e

este por sua vez

vislumbra um prêmio por

economia de sua obra,

acaba tornando-se

sempre escasso.

constante com associação

de classe com o intuito de

elaborar palestras e cursos

para dirimir dúvidas. Delegar

plenos poderes ao

engenheiro de segurança

sobre os recursos

destinados à S&SO para que

o gerente de contrato

cumpra suas determinações

em caráter pleno.

18

Page 74: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

levantar o sistema existente

contra essas linhas mestras. As

informações a partir do

levantamento inicial da situação

podem ser utilizadas no

processo de planejamento.

4.1 Política de S&SO

A mais alta gerência da

organização deve definir,

documentar e endossar a sua

política de S&SO. A gerência

deve assegurar que a política

inclui um compromisso de:

a) reconhecer a S&SO como

parte integral do desempenho

no negócio;

b) obter elevado nível de

desempenho de S&SO, com o

atendimento aos requisitos

legais como o mínimo, e ao

contínuo aperfeiçoamento, com

efetividade econômica do

desempenho;

c) proporcionar recursos

adequados e apropriados à

implantação da política;

d) estabelecer e publicar os

objetivos de S&SO, ainda que

por meio, apenas, de boletins

internos;

e) colocar o gerenciamento de

S&SO como uma

responsabilidade primordial da

a) a alta gerência

reconhece a S&SO como

parte integral do seu

desempenho intrínseco

ao negócio, porém, não é

definida nem

documentada.

b) nada se pode afirmar

quanto ao nível de

desempenho, pois não

há indicadores. Porém,

afirma-se que há o

atendimento aos

requisitos legais mínimos

com o contínuo

aperfeiçoamento e

efetividade econômica de

desempenho.

c) destina-se recurso

adequado e apropriado

ao gerenciamento da

S&SO, mas não para

implantação da política

de S&SO.

d) item não praticado.

e) o gerenciamento de

S&SO da organização

não é uma

Sugere-se a definição de

uma política de S&SO,

documentada e endossada

pela alta direção da

organização. A formulação

de indicadores para se obter

parâmetros de desempenho.

A criação de um boletim

interno para publicar os

objetivos de S&SO, além de

outros meios que assegurem

a sua compreensão,

implantação e manutenção

em todos os níveis da

organização. É também

muito importante designar o

executivo de mais alto nível

de supervisão para o

gerenciamento de S&SO.

Estabelecer grupos de

solução de problemas,

círculo de análise de Riscos

etc. São recursos aplicáveis

para tornar o processo de

decisão mais adequados às

possibilidades de

participação dos

trabalhadores.

19

Page 75: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

gerência de linha, do executivo

hierarquicamente mais alto ao

nível de supervisão;

f) assegurar a sua

compreensão, implantação e

manutenção em todos os níveis

na organização;

g) promover o envolvimento e

interesse dos empregados a fim

de obter compromissos com a

política e sua implantação;

h) revisar periodicamente a

política, o sistema de

gerenciamento e auditoria do

cumprimento daquela;

i) assegurar que os

empregados, em todos os

níveis, recebam treinamento

apropriado e sejam

competentes para executar

suas tarefas e

responsabilidades.

não é uma

responsabilidade do

executivo

hierarquicamente mais

alto ao nível de

supervisão.

f) item não praticado.

g) não existe o

envolvimento dos

empregados com a

S&SO.

h) item não praticado.

i) nota-se que os

empregados recebem

treinamentos periódicos

em todos os níveis.

trabalhadores.

4.2 Planejamento

4.2.1 Generalidades:

É importante que o sucesso ou

o fracasso da atividade

planejada possa ser visto

claramente. Isto envolve a

identificação dos requisitos de

S&SO, o estabelecimento de

critérios claros de desempenho,

definindo o que deve ser feito,

quem é responsável, quando

20

Page 76: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

deve ser feito e o desfecho

desejado.Embora seja

reconhecido que, na prática,

organizar, planejar e

implementar funções estarão

em sobreposição, apesar disto,

as seguintes áreas chaves

precisam ser abordadas.

4.2.2 Avaliação de risco

A organização deverá fazer a

avaliação de risco, incluindo a

identificação de perigos.

A organização apresenta

a avaliação de risco,

incluindo identificação

dos perigos, através do

mapa de risco.

4.2.3 Requisitos legais e outros

A organização deverá identificar

os requisitos legais, além da

avaliação de risco a ela

aplicáveis assim como

quaisquer outros requisitos que

considera aplicável ao

gerenciamento de S&SO.

A organização apresenta

os requisitos legais a ela

aplicáveis, como por

exemplo: PPRA,

PCMSO, CIPA etc.

4.2.4 Providências para o

gerenciamento de S&SO

A organização deverá tomar

providências para cobrir as

seguintes áreas chaves:

a) planos e objetivos gerais,

incluindo pessoal e recursos,

para a organização implantar a

sua política;

b) ter acesso a suficiente

conhecimento de S&SO,

capacitações e experiência para

a) não há um

planejamento para a

organização implantar

sua política.

b) a organização

apresenta suficiente

conhecimento de S&SO

e capacitação, porém,

pouca experiência para

administrar suas

atividades com

segurança.

a) sugere-se que a

organização, através dos

executivos responsáveis,

realize o planejamento para

a implantação da política de

S&SO, incluindo pessoal e

recursos.

b) a parceria junto a

empresas de consultoria a

fim de adquirir conhecimento

e experiência para evoluir

gradativamente.

21

Page 77: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

administrar suas atividades com

segurança e segundo os

requisitos legais;

c) planos operacionais para

implantar as ações de controle

dos riscos identificados em

4.3.2 e para atender aos

requisitos identificados em

4.3.3;

d) planejamento de atividades

organizacionais cobertas em

4.3.6;

e) planejamento para a medição

da eficiência, auditorias e

levantamento da situação (veja

4.4.1, 4.4.2, 4.4.4 e 4.5);

f) implantar ações corretivas

que se demonstrem

necessárias.

c) item não praticado.

d) apesar da prática de

parte das atividades

descritas em 4.3.6, estas

não são planejadas.

e) item não praticado.

f) aplicam-se ações

corretivas, porém de

caráter imediatista.

c) a elaboração imediata de

planos operacionais para

implantação das ações de

controle dos riscos e

requisitos identificados.

d) sugere-se que seja feito o

planejamento destas

atividades.

e) planejamento para

medição da eficiência,

auditorias e levantamento da

situação a fim de criar

indicadores úteis à

organização.

f) usar indicadores para

criação de procedimentos

padronizados de ações

corretivas.

4.3 Implantação e operação

4.3.1 Estrutura e

responsabilidade

A responsabilidade primeira

quanto à saúde e segurança

ocupacionais repousa na alta

gerência. Aqui, a melhor prática

é atribuir ao nível hierárquico

mais elevado(por exemplo,

numa organização de grande

porte, a um membro do

Conselho ou da diretoria)

particular responsabilidade por

garantir que o sistema de

gerenciamento de S&SO é

a) a organização

apresenta um corpo

técnico responsável

composto por engenheiro

e técnico em segurança

do trabalho.

b) a grande maioria das

pessoas está consciente

de sua responsabilidade

com a S&SO.

c) a alta gerência não

demonstra envolvimento

e atuação no

aperfeiçoamento

b) sugere-se aumentar a

carga de treinamento a fim

de conscientizar a totalidade,

ou quase isso, das pessoas

envolvidas, até a

apresentação dos

indicadores, e aí sim,

adequar-se ao sistema.

c) é vital que a alta gerência

demonstre seu compromisso

com a S&SO. O

envolvimento de seu(s)

executivo(s) com a

consciência da influência

que exerce(m) sobre seus

22

Page 78: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

gerenciamento de S&SO é

corretamente implementado e

funciona segundo os requisitos

em todos os locais e esferas de

operação dentro da

organização.Em todos os níveis

da organização as pessoas

precisam:

a) responsável pela saúde e

segurança daqueles que

dirigem, delas própria e de

outros com os quais

trabalhavam;

b) estar conscientes de sua

responsabilidade com a saúde e

segurança de pessoas que

possam ser afetadas pelas

atividades que controlam, como,

por exemplo, empreiteiros e o

público;

c) estar conscientes da

influência que sua ação ou

inação podem ter sobre a

eficácia do sistema de

gerenciamento de S&SO. A alta

gerência deve demonstrar, por

exemplo, o seu compromisso,

portando-se de maneira

envolvida e atuante no

aperfeiçoamento contínuo do

desempenho da saúde e

segurança ocupacionais.

contínuo do desempenho

da S&SO.

que exerce(m) sobre seus

funcionários e

conseqüentemente sobre a

eficácia do sistema.

4.3.2 Treinamento,

conscientização e competência.

Item não praticado. Sugere-se a formulação de

indicadores para a

23

Page 79: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

conscientização e competência.

A organização deve tomar as

providências para identificar as

competências necessárias, em

todos os níveis, e organizar

qualquer treinamento

necessário.

indicadores para a

organização identificar

competências necessárias

para organizar qualquer

treinamento necessário, em

todos os níveis.

4.3.3 Comunicações

A organização deverá

estabelecer e manter

dispositivos, sempre que

apropriado, para:

a) a informação eficaz e,

quando adequado, abertas,

sobre a S&SO;

b) tomar as providências

necessárias para a provisão de

consultoria por especialistas;

c) envolver os empregados,

com esclarecimentos, quando

adequado.

a) item não praticado.

b) item não praticado.

c) o corpo técnico da

organização envolvido

com S&SO apresentou-

se no envolvimento com

os empregados e nos

esclarecimentos, quando

adequado.

a) sugere-se a criação

imediata de canais de

comunicação.

b) fazer o levantamento das

necessidades e tomar

providências para a provisão

de consultoria por

especialistas.

4.3.4 Documentação do sistema

de gerenciamento de S&SO

A documentação é elemento

chave para capacitar uma

organização a implantar um

sistema de gerenciamento bem-

sucedido. É também importante

na montagem e retenção do

conhecimento sobre S&SO.

Contudo, é importante que a

documentação seja mantida

num mínimo necessário para

Item não praticado.

Sugere-se a parceria junto

a

empresas de consultoria, por

tratar-se de um elemento

chave para capacitar uma

organização a implantar um

sistema de gerenciamento

bem-sucedido.

24

Page 80: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

eficácia. As organizações

devem assegurar que a

documentação suficiente fique

disponível para implantar por

completo os planos de S&SO e

que seja proporcional às suas

necessidades.

4.3.5 Controle de documentos

As organizações devem tomar

as providências para garantir

que os documentos sejam

atualizados e aplicáveis aos fins

para os quais foram criados.

Item não praticado. Parceria junto a empresas

de consultoria, por tratar-se

de elemento chave para

capacitar a organização a

implantar um sistema de

gerenciamento bem-

sucedido.

4.3.6 Controle Operacional

É importante que a S&SO, no

seu sentido mais amplo, seja

inteiramente integrada, em toda

a organização, e em todas as

atividades, a despeito do

tamanho ou natureza do seu

trabalho. Ao organizar para a

implantação da política e do

gerenciamento efetivo da

S&SO, a organização deve

tomar providências para

assegurar que as atividades são

executadas com segurança e de

acordo com as providências

definidas em 4.2.4, e, ainda:

a) definir a alocação de

responsabilidades e prestação

de contas na estrutura

a) a organização define a

alocação de

responsabilidades e

prestação de contas na

estrutura gerencial.

b) a organização

assegura que as pessoas

têm a necessária

autoridade para executar

as suas tarefas.

c) a organização atribui

recursos compatíveis

com o seu tamanho e

natureza.

25

Page 81: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

gerencial;

b) assegurar que as pessoas

têm a necessária autoridade

para executar as suas tarefas;

c) atribuir recursos compatíveis

com o seu tamanho e natureza.

4.3.7 Preparação e resposta a

emergências

Uma organização deve tomar

providências para estabelecer

planos de contingências em

emergências previsíveis e

minimizar os seus efeitos.

Item não praticado. Sugere-se estabelecer

planos de contingências em

emergências previsíveis, e

assim minimizar seus

efeitos.

4.4 Verificação e ação corretiva

4.4.1 Monitoração e medição

A medição do desempenho é

uma maneira importantíssima

de prover informações sobre a

eficácia do sistema de

gerenciamento de S&SO.

Medidas qualitativas e

quantitativas devem ser

consideradas, sempre que

adequado, e devem ser

preparadas especialmente para

as necessidades da

organização. A medição de

desempenho é um meio de

monitorar a extensão na qual a

política e os objetivos estão

sendo satisfeitos e inclui:

a) medições pró-ativas de

desempenho que monitorem o

a) item não praticado.

b) item não praticado.

a) criar medições pró-ativas

de desempenho de

atividades que influenciam o

desempenho de S&SO.

b) criar medições reativas de

desempenho que monitorem

acidentes, quase acidentes,

problemas de saúde e outras

evidências históricas de

saúde, desempenho

deficiente de saúde e

segurança.

26

Page 82: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

atendimento, por exemplo, pela

vigilância e inspeções das

providências sobre saúde e

segurança da organização,

como sistemas seguros de

trabalho, autorizações para

trabalhar etc.

b) medições reativas de

desempenho que monitorem

acidentes, quase acidentes,

problemas de saúde e outras

evidências históricas de saúde,

desempenho deficiente de

saúde e segurança.

4.4.2 Ação corretiva

Onde deficiências forem

encontradas, as causas

originárias devem ser

identificadas e ações corretivas

tomadas.

Tomam-se ações

corretivas, porém as

causas originárias das

deficiências encontradas

não são identificadas.

Identificar as causas

originárias em deficiências

encontradas e também a

criação de um indicador para

tal fim.

4.4.3 Registros

A organização deve manter os

registros necessários para

demonstrar o cumprimento de

requisitos legais, assim como de

outros.

A organização deve

manter registros

necessários para

demonstrar o

cumprimento de

requisitos legais, assim

como de outros.

4.4.4 Auditoria

Além da monitoração de rotina

do desempenho de S&SO,

haverá necessidade de

auditorias periódicas que

a) item não praticado.

b) item não praticado.

c) item não praticado.

d) item não praticado.

Sugere-se a criação de uma

equipe de auditores internos

capazes de realizar

auditorias rigorosas,

contudo, numa abordagem

27

Page 83: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

possibilitem uma avaliação mais

profunda e crítica de todos os

elementos do sistema de

gerenciamento de S&SO. As

auditorias devem ser

conduzidas por pessoas

competentes e independentes,

tanto quanto possível da

atividade a ser auditada;

podem, contudo, ser

designadas da própria

organização. Embora as

auditorias precisem ser

rigorosas, a sua abordagem

deve ser adaptada ao tamanho

da organização e à natureza

dos seus perigos. Em diferentes

ocasiões e por razões diversas,

as auditorias precisam cobrir os

seguintes pontos:

a) o sistema global de

gerenciamento de S&SO da

organização capaz de promover

a obtenção dos padrões

requeridos de desempenho de

S&SO?

b) a organização está

cumprindo todas as suas

obrigações com relação à

S&SO?

c) quais são os pontos fortes e

fracos do sistema de

gerenciamento de S&SO?

d) a organização (ou parte dela)

adaptada ao tamanho da

organização (pequeno

porte). Em seguida, a visita

de auditores externos num

intervalo predeterminado, a

fim de melhorar

continuamente seu sistema

de S&SO.

28

Page 84: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

está realmente fazendo e

realizando o que alega?

As auditorias podem ser

abrangentes ou abordar tópicos

selecionados, segundo as

circunstâncias. Os seus

resultados devem ser

informados a todas as pessoas

relevantes e as ações corretivas

tomadas, conforme as

necessidades.

4.5 Levantamento gerencial

A organização deverá definir a

freqüência e escopo dos

levantamentos periódicos do

sistema de gerenciamento de

S&SO, segundo as suas

necessidades. O levantamento

periódico da situação deverá

considerar:

a) o desempenho global do

sistema de gerenciamento de

S&SO;

b) o desempenho de elementos

individuais do sistema;

c) as conclusões das auditorias;

d) os fatores internos e

externos, como as mudanças na

estrutura organizacional, leis

pendentes, a introdução de

novas tecnologias, etc., e

identificar que ação é

necessária para remediar

a) item não praticado.

b) item não praticado.

c) item não praticado.

d) item não praticado.

Sugere-se que a

organização defina a

freqüência e o escopo dos

levantamentos periódicos do

sistema de gerenciamento

de S&SO, segundo as suas

necessidades.

29

Page 85: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

quaisquer deficiências. O

sistema de gerenciamento de

S&SO deve ser concebido para

acomodar ou adaptar-se aos

fatores internos e externos.

O levantamento periódico da

situação também proporciona

uma oportunidade de realizar

previsões. As informações em

a) a d) acima podem ser

utilizadas pela organização para

aperfeiçoar a sua abordagem

pró-ativa na minimizarão de

riscos e melhorar o

desempenho nos negócios.

Em uma análise dos aspectos abordados nesse quadro, que consolida as relações

e Diretrizes da Norma BS 8800/96 (Práticas de S&SO nas obras – Deficiências a serem

supridas), verifica-se que um dos aspectos básicos no gerenciamento consiste em não

concentrar esforços nas conseqüências e nos sintomas, mas sim nas causas, procurando

entender o porquê de as pessoas deixarem de cumprir os padrões de desempenho

conforme modelo de Gestão Sustentável sugerido na Figura 6, a seguir.

30

Page 86: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Conforme sugerido na Figura 6, as organizações em questão, mesmo sendo de pequeno

porte, apresentam necessidades de uma abordagem cientifica da administração da

segurança e da saúde ocupacional e, apesar das carências, visualiza-se a possibilidade

de implementação de um Sistema de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional

– SGSSO, com vias a uma Gestão Sustentável.

Acrescenta-se ao que é constatado na pesquisa de campo, que a atualidade da

gestão caracterizada com preocupações relativas à sustentabilidade é a abordagem do

gerenciamento de risco (BOWDEN, 2001) tendo como foco os eixos do triple bottom line.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS

Tendo em vista o estudo de caso ora apresentado, pode-se concluir que as

organizações em questão, mesmo sendo de pequeno porte, apresentam-se necessitadas

de uma abordagem científica da administração da segurança e da saúde ocupacional e,

apesar das carências, visualiza-se a possibilidade de implantação de um Sistema de

Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional – SGSSO.

Neste aspecto, sugere-se o envolvimento da alta direção e a designação de um de

seus membros para gerenciar o SGSSO, assim como acompanhar o desempenho das

ações estabelecidas pelo programa de segurança. Para isto, é necessária a definição dos

indicadores, a forma de acompanhar a evolução de cada um deles, e divulgar para toda a

organização os resultados e seus objetivos. Recomenda-se a criação de uma equipe de

auditores internos e a contratação de auditoria externa periódica.

Entende-se ainda, que a padronização trará melhoras como a simplificação e

otimização dos processos como, por exemplo, os serviços executados em obra. Os

esforços para implantação de um SGSSO certamente serão recompensados pelo

potencial de sinergia a ser auferido em planejamento estratégico, eficácia, consistência e

robustez da busca pela melhoria contínua global. Afinal, pessoas constituem-se na

essência de qualquer organização.

31

Page 87: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Considerou-se neste trabalho os indicadores relativos à segurança e saúde

ocupacional, ou seja, apenas aqueles recomendados para o público interno da

organização. Outras pesquisas deverão ser realizadas para mapear os indicadores

relativos aos outros impactados pelas operações da organização: sociedade, acionistas,

clientes, fornecedores, competidores e governos.

Este artigo é o resultado parcial das pesquisas em desenvolvimento no Latec –

Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente, e indicam a sua

continuidade para a definição de indicadores de ecoeficiência nos processos produtivos e

de efetividade no negócio.

32

Page 88: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

ALEVATO, H. M. R. Trabalho e neurose: enfrentando a tortura de um ambiente em crise.

Rio de Janeiro: Quartet, 1999.

AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Guidelines for integrating process

safety management, environment, safety, health, and quality. New York: Center for

Chemical Process Safety, 1996.

ARANTES, E. Investimento em responsabilidade social e sua relação com o desempenho

econômico das empresas. Prêmio Ethos de Responsabilidade Social, 2005.

ARAÚJO, G. M. de. Normas regulamentadoras comentadas. 3.ed. Rio de Janeiro: s.n.,

2002.

BERGAMINI, C. W. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997.

BOWDEN, A. R.; LANE, M. R.; MARTIN, J. H. Triple bottom line risk management. New

York: John Wiley & Sons, 2001.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. BS 8800 [diretrizes para sistemas de

gerenciamento de segurança e saúde ocupacional]. London, 1996.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: occupational health and safety

management systems (Specifications). London, 1999.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: 1999: amendment 1:2002.

Disponível em: emea.bsi-global.com/OHS/Standards/18001Amendment.pdf. Acesso em:

27 nov. 2003.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: occupational health and safety

management systems. Guidelines for the implementation of OHSAS 18001. London, 2000.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: 2000: amendment 1:2002.

Disponível em: emea.bsi global.com/OHS/Standards/18002Amendment. pdf . Acesso em:

27 nov. 2003.

INSTITUTO ETHOS. Disponível em: www.ethos.org.br. Acesso em: 2004.

INSTITUTO McKINSEY. Produtividade no Brasil: a chave do desenvolvimento acelerado.

Rio de Janeiro: Campus, 1999.

LUCA, S. O.; BERNAL, A. J. Integrando a ISO 9001 e a ISO 14001. Falando de

qualidade, São Paulo, ano 12, n.135, p.26-29, ago. 2003.

33

Page 89: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Sistema De Gestão De Segurança E Saúde Ocupacional: Fator Crítico De Sucesso À Implantação Dos Princípios Do Desenvolvimento Sustentável Nas Organizações Brasileiras

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

MASLOW, A. H. Motivation and personality. 2.ed. New York: Harperg Row, 1970.

PRADEZ, P. A. J. Uma norma pelo trabalho: é irreversível o uso de certificações para

demonstrar compromissos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 8 maio 2002.

PRAHALAD C. K. A riqueza na base da pirâmide. Porto Alegre: Bookman, 2006.

REGINALD, B. H. Towards an integrated management of safety, health and the

environment. In: Chemical & Process Engineering Centre, 1999. Disponível em:

www.cpec.nus.edu.sg/myweb/newsletter/news10/SHE.html. Acesso em: 21 nov. 2003.

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO – SINDUSCON. Net, Rio de Janeiro, dez. 2002. Seção Serviços e Produtos.

Disponível em: www.sindusnet.com.br/livre/seguranca.cfm. Acesso em: 2004.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI Guidance 1999: Guidance document

for social accountability 8000. New York, 1999.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Responsabilidade

social 8000. New York, 2001. Disponível em:

www.cepaa.org/Document%20Center/Standard%20Portuguese.doc. Acesso em: 27 nov.

2003.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Social Accountability

8000. New York, 2001. Disponível em:

www.cepaa.org/Document%20Center/2001StdEnglishFinal.doc. Acesso em: 27 nov.

2003.

Artigo recebido em 14.08.2006. Aprovado em 07.10.2006.

34

Page 90: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY MANAGEMENT SYSTEM: A

CRITICAL SUCCESS FACTOR IN THE INTRODUCTION OF THE

PRINCIPLES OF SUSTAINABLE DEVELOPMENT IN BRAZILIAN

ORGANIZATIONS Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas¹; Gilson Brito Alves Lima²

¹ Doctor in Engineering from COPPE/UFRJ, Coordinating professor of the Masters Degree course in Management Systems at the Universidade Federal Fluminense; ² Doctor in Engineering from COPPE/UFRJ, Professor of the Masters Degree course in Management Systems at the Universidade Federal Fluminense.

ABSTRACT

The concerns of government, businessmen and unions in improving the health, safety and

environmental conditions of the work-place are increasingly gaining in importance.

Improvements in the health, safety and environment of the work-place, in addition to

increasing productivity, reduce the cost of the final product, because they reduce process

interruptions, absenteeism and occupational accidents and/or sickness. For this reason it

is necessary to have a plan that allows for the participation of top management and of

employees when it comes to finding economically viable and practical solutions. This work

presents some considerations about the safety performance on a construction site, as a

result of social responsibility practices, people management and environmental

management. These management systems constitute the nucleus of what is currently

called organizational sustainability. From examples collected in field research,

bibliographic research and from consolidation of work from the research groups to which

the authors belong contributions are presented for improving Occupational Health and

Safety Management as an integral part of Business Management. This is a partial result

of the research being developed by LATEC, the Laboratory of Technology, Business

Management and Environment and indicates it should continue in order to define the

indicators of eco-efficiency in production processes and of business effectiveness.

Keywords: Corporate Social Responsibility; Sustainable Management; Safety Performance.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=43

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 91: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

Initial considerations

Providing a safe and healthy working environment is much more than just

complying with current legislation; it is a question of sustainability for the continuity of

company operations. Nowadays organizations are looking to improve by using

management models that incorporate concepts of good practice in their relationships with

employees, society, shareholders, suppliers and competitors. The scope of this way of

operating, as shown in Figure 1, has been recently called “organizational responsibility”

(ALLEDI, 2002).

This environment of pro-activity as far as accident prevention and protection of

workers’ health are concerned is the result of a commitment and mutual collaboration

between employers and workers.

When planning and constructing new work places and production systems, or

modifying the existing ones, the factors that may compromise carrying out a certain task

because of existing personal and operational limitations must be taken into consideration.

2

Page 92: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Increasingly the concerns of government, business-men and unions in improving

the health, safety and environmental conditions of the work-place are being highlighted.

Because of this planning is necessary that allows for the participation of top management

and employees when it comes to finding practical and economically viable solutions

(ARANTES, 2005).

Improvements in work-place health, safety and environment, in addition to

increasing productivity, reduces the cost of the end product, because it reduces process

interruptions, absenteeism and occupational accidents and/or sickness.

The preventive aspects involved in work safety seek to minimize risks and

unsuitable conditions and to incorporate continuous improvements in working conditions

by introducing minimum, and increasingly rigid, safety requirements.

The risk of accidents resulting in injuries and ergonomic and organizational

problems may be identified by the systematic inspection of the work-place. Safety

inspections are just one of the many important preventive measures taken for ensuring a

safe place of work. The nature of the work will determine how frequently the inspections

should be carried out.

Some companies have occupational medical and nursing professionals linked to

the ‘SESMT’ – Specialist Safety Engineering and Work-place Medicine services, who

manage the health service, medical centers and rehabilitation installations. In small

companies these services are outsourced. This outsourcing must be analyzed in terms of

the effectiveness of its results when it comes to the health and safety of the workers.

The main function of the occupational health service is to cooperate with

management and with the workers, by acting in a preventive capacity and contributing to

the continuous improvement in safety and working conditions.

Good practices in occupational safety and hygiene are important for avoiding

accidents and guaranteeing the health of the workers. Good safety practices are

associated with improvements in working conditions. Underestimating, or being indifferent

to the risks in the working environment, creates an environment that is susceptible to the

occurrence of accidents.

3

Page 93: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Many organizations in Brazil still have a restricted vision when it comes to safety,

work-place medicine and occupational health. These issues are dealt with only by

collecting statistical data, reacting when there are accidents in the work-place and

defending any labor-related legal actions. Occupational health and safety began as a

management system with norms like the OHSAS 18001/99 (Occupational Health and

Safety Administration Systems – Specification) and BS 8800/96 (Directives for

Occupational Health and Safety Management Systems), in addition to the National

Occupational Health and Safety Prize.

The aims of this study: A contribution to OH&S practices for the sustainability of

civil construction companies.

As a pre-requisite to the sustainability of organizations (PRAHALAD, 2006) it is

necessary to have a guarantee that their operations are not going to cause future actions

as far as their practices in relation to their workers (labor-law liabilities), the environment

(environmental liabilities), the continuing availability of good suppliers, the construction of a

positive image vis-à-vis public opinion, compliance with legislation and the payment of

taxes and dues are concerned (ARANTES, 2005).

As authors of this work we have tried to consolidate the concepts and conclusions

developed in the research groups with which we work and by mentioning and describing

cases collected in field research.

Starting from an analysis of the occupational health and safety practices of two

small building companies that have no formal management systems the objective is to

assess how far the reality of these construction sites is from the ideal proposed by the

norms. We have made suggestions as to how the organization can adapt to the BS

8800/96 and OHSAS 18000/99 norms.

The final result is a contribution to management thinking that is in developing

apace as far as Sustainable Construction is concerned.

Among the main assumptions presented in this article some questions stand out to

help in the analysis proposed. These are:

What attitudes do those in charge of the construction site have? Do

they seem to be concerned with safety? Do they have a systemic view?

4

Page 94: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Among the workers is there a culture of occupational health and

safety? Do they have a conduct policy that guides them? If they do, is it well

understood?

Are processes standardized? If they are, does this effectively

contribute to occupational health and safety?

Is the reality of the work adjusted to the legislation?

REVIEW OF LITERATURE: SUSTAINABILITY AND OH&S PRACTICES

The main structure of this review is the presentation of concepts relating to

organizational (or corporate) responsibility, business ethics, sustainable management, the

management of occupational health and safety and the foundations of the Triple Bottom

Line (BOWDEN, 2001).

Equally important to an understanding of the contribution this work makes is

visualization of the PDCA [see below] with its steps didactically explained to make up a

management cycle that guarantees continuous improvement and maintenance of the

routine.

5

Page 95: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Organizational Social Responsibility.

An organization’s social responsibility consists in the decision to participate more

directly in community actions in the region in which it finds itself and to reduce any

possible environmental damage arising from the type of activity it exercises. But

supporting community development and preserving the environment are not enough to be

able to characterize a company as socially responsible. It needs to invest in the well-being

of its employees and their dependents and a healthy working environment, in addition to

giving shareholders a return and guaranteeing the satisfaction of its customers and/or

consumers.

The exercise of social responsibility presupposes that the organization operates

effectively on two fronts: the management of its internal responsibilities and the

management of its external responsibilities.

6

Page 96: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Internal social responsibility characterizes the initial stage in corporate citizenship.

However, this movement does not always occur. Many organizations commit a serious

corporate strategy error and invert this process, causing great dissatisfaction among their

employees and creating a serious situation of conflict, anxiety and demotivation.

The focus of internal social responsibility is to work with the organization’s internal

public and to develop a participative management and employee recognition model, by

promoting transparent communication and motivating employees to perform at an optimum

level. This management model comprises actions that are directed at employees and their

dependents and at the employees of sub-contractors, out-sourcing companies, suppliers

and partners.

In the link between social, political, economic and cultural reality of the

organization, internal social responsibility actions may begin by:

Taking care of the employee’s quality of life and investing in sanitary

installations;

Meeting the basic needs of the employees by creating a canteen

infrastructure for the internal public, outsourcing companies and sub-contractors

and supplying a basic food hamper for employee dependents;

Creating the habit of wearing a uniform, thereby contributing to

improving safety conditions at work;

Seeking out a Health Insurance and Dental Plan that meets the

needs of all employees and the members of their families;

Taking care of the employees’ living conditions;

Introducing a Job and Salary Plan;

Introducing programs for recognizing and valuing employees, such

as: breakfast with the President, Employee of the month, working out in the

company, profit sharing;

7

Page 97: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Investing in employee qualifications, by introducing internal and/or

external training and improvement programs, with the aim increasing their

professional qualifications and ensuring they all achieve a minimum level of

education.

Development of these actions is also called ‘endomarketing’, where the

organization instills a degree of motivation into its internal environment and creates

relationship of trust with the employees. In doing this the organization earns the

dedication, effort, loyalty and increase in productivity of its employees.

From the development and introduction of these internal management actions the

company can then move on to carry out social actions that benefit the community, by

beginning to exercise its external social responsibility. Through its social marketing

planning the organization, in line with its mission, beliefs and the demands of community

needs, operates in the areas of education, health and social and ecological assistance,

thereby developing corporate actions that are aimed at improving its image and getting a

more positive return in terms of publicity.

The organization may carry out these actions by:

Donating products, equipment and material, in general;

Transferring resources, in a partnership arrangement, to public

bodies and NGOs for the benefit of public schools, with the aim of providing quality

education, making feasible technical courses, traineeships and preparing future

professionals;

The provision of voluntary services to the community by the

organization’s employees, renovating crèches and old peoples’ homes;

The investment of resources in activities for preserving the

environment, ‘adopting’ a square, recycling the company’s waste, or through

selective waste collection;

Sponsorship for the government’s social projects;

8

Page 98: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Direct investments in social projects created by the organization

itself;

Investments in cultural programs, via the culture incentive law [tax

breaks].

In participating in social actions the organization, in addition to adopting ethical

behavior and contributing to economic development, acts in the social dimension of

sustainable development, improving the quality of life of its employees and their families,

the local community and society as a whole, thereby exercising its social responsibility.

Through its commitment to promote citizenship and develop the community a

responsible company achieves a competitive differential, seeking in this way to be an

organization that invests financial, technological and labor-force resources in projects that

are of public interest. It is an organization that creates a pleasant working environment, by

valuing the talent it has, and it is capable of developing an integrated management model

where the people have a decisive role to play in the company’s commitment to the

community and society, in general.

Safety at work

The main reasons for introducing improvements in the conditions of the working

environment and working practices are to reduce the social cost associated with work-

related accidents, to value self-esteem and to provide continuous improvements in the

quality of life of the workers.

The social evolution in work relationships must not be seen by the State as yet

another government program, but as an on-going national objective, associating

development to improvements in the living conditions of society. This national commitment

demands the exercise of citizenship, because it is the responsibility of each one of us

(potential agents for transformation as we are), government, employers or workers, to

contribute to improvements in the quality of life and the formation of a healthier and more

productive society.

Specifically in the area of occupational health and safety, the Government is

concentrating its inspection efforts on economic sectors that have the greatest accident

frequency rates (the incidence of accidents, including occupational sickness), by

9

Page 99: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

broadening the participation of productive society in proposals for the modernization of

labor legislation, with the aim of reducing risk situations. We cannot forget that meeting the

basic needs of the worker is fundamental for a healthy and productive society.

BS 8800/96 norm

The British, BS 8800 norm was the first attempt at establishing a normative point of

reference for implementing a health, safety and environment management system. This

norm has been used in implementing health and safety management systems with the aim

of continuously improving the conditions of the working environment. The principles of this

norm are in line with the concepts and directives of the ISO 9000 (Quality System) and

ISO 14000 (Environmental Management) series norms.

The British BS 8800 norm, which is still valid, was the reason why in 1988 various

normative bodies prepared a set of norms entitled the Occupational Health and Safety

Assessment Series (OHSAS), with the aim of carrying out audits and certifying health,

safety and environmental management programs.

The basic principle of a management system based on normative aspects involves

the need to determine assessment parameters that incorporate not only operational

aspects, but also the policies, the management style and commitment of the senior

managers to the process of change and the continuous improvement in health, safety and

working conditions. This aspect is of fundamental importance because in the majority of

cases these improvements demand, in addition to commitment, major investments that

need short, medium and long term planning for carrying them out.

With this new vision that many companies have been adopting, everybody within

the production process is equally important in terms of responsibility, particularly the

managers and supervisors. The management must identify the risks and guide the

workers with proactive attitudes, setting an example to be followed within the organization,

because not every company is obliged by legislation to have a safety professional on the

staff.

According to the British BS 8800 norm, organizations do not operate in isolation, in

other words, various parties may have a legitimate interest in introducing a management

system. These parties are employees, consumers, customers, suppliers, the community,

10

Page 100: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

shareholders, and contractors, as well as government agencies charged with ensuring

compliance with the regulations and laws.

The BS 8800 norm is a guide to help organizations develop an approach to the

management of occupational health and safety that allows them to protect employees

whose health and safety may be affected by the organization’s activities. Many

characteristics of occupational health and safety management become confused with

strong management practices defended by those who put forward the ideas of quality and

business excellence.

The elements in the norm are essential to an effective management system.

Human factors, including the culture, politics and others within organizations, are decisive

factors when it comes to the effectiveness of the management system and they need to be

considered when implementing the norm.

A cycle of continuous management improvement and its integration into the global

management system are shown in Figure 3, considering all stages of implementation.

11

Page 101: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

SUSTAINABILITY OF ORGANIZATIONS

Sustainable development

There are countless definitions of Sustainable Development, as prepared by

different sectors in society. The concept of sustainable development was presented by the

World Commission on Environment in April, 1987, at the United Nations General

Assembly. The main product of this Commission was the “Our Common Future Report”,

also known as the “Brundtland Report”, where sustainable development is presented as

“the development that fulfills the needs of the present, without compromising the ability of

future generations to fulfill their own needs” (ONU, 1988).

Sustainable development presupposes inter-disciplinarity, to the extent that its

evolution leads us to work with three macro-topics that comprise the so-called Triple

Bottom Line, in other words, environmental, social and economic aspects. The synergy

between these aspects runs through the application of the concept of Sustainable

Development, or Sustainability, regardless of whether it is applied at the government, civil

society or corporate level. Other dimensions of sustainable development can also be

worked with, such as, for example, cultural, technological and political aspects.

Sustainable management

Sustainable management, a concept applied to organizations as an essential

development, is closely linked to Organization Social Responsibility and must be

understood as a continuous commitment of the organization to its ethical behavior and

economic development (BOWDEN, 2001), promoting, at the same time, improvements in

the quality of life of its work force and their families, the local community and society as a

whole.

Sustainable management attributes fundamental importance to aspects previously

considered as being mere compliance with legislation, such as occupational health and

safety, environmental accident prevention and proactive positioning in relation to the eco-

efficient products project.

12

Page 102: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Eco-efficiency, central to the concept of Sustainability, is achieved by means of the

supply of goods and services at competitive prices that satisfy human needs and that

produce quality of life, while at the same time progressively reducing environmental impact

and the intensity of consumption of resources over their life cycle, to a level at least

equivalent to the estimated capacity of the Earth to support this. Returning to the PDCA

mental model, these concepts are considered an indispensable tool for management

effectiveness in preparing and implementing a system of indicators. In the case of this

work we adopted the Balanced Scorecard as the conceptual basis and added the Triple

Bottom Line concepts, resulting in a sustainable scorecard as shown in Figure 5.

13

Page 103: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

As shown in the above figure the inter-relationship of the vertices of the

substantiality pyramid make it possible to identify the sustainability indicators, among

which the following stand out:

Political aspects

(economic-social axis): relationship with

government, society, institutions and other organizations;

Economic

(socio-environmental axis): effect of projects on local

communities, technology transfer, training of agents in the community, revenue vs.

expense balance and generating revenues;

Social

(socio-economic axis): creation of opportunities for personal

and professional growth for people and their families; education and training, health

and safety in the community;

Ecological

(socio-environmental axis):minimization of impacts on the

physical and biotic environment, attributing maximum value to renewable energy

resources, focus on eco-efficiency;

14

Page 104: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Technological (economic-environmental axis): suitable quality and

reliability and minimization of accident risks.

RESEARCH STRATEGIES.

We conducted a review of literature and did field research with two small

companies. We applied an observation routine in order to identify their OH&S

management practices. We interviewed the managing engineers of the building sites we

researched and the directors of these companies.

We also observed how the safety engineers and technicians operated.

From the observations we analyzed the data and prepared the final considerations.

STUDY OF EXPERIENCES IN TWO CIVIL CONSTRUCTION COMPANIES

Report of the problem in the experience studied.

In structuring this study we carried out field research on two construction sites

being managed by companies that operate in the market in Niteroi, Rio de Janeiro State,

with the participation of the engineers responsible for managing the building work and

directors of the companies. The two companies compete in the small constructions

market and their competitors are other organizations who limit themselves to complying

with occupational health and safety legislation. At first sight, there are some relevant

aspects that indicate the urgent need for improvement and that are related to the

production process and to the way in which the tasks are carried out: the ergonomic

project of the work station, how the working day is planned, psychical and social aspects

and occupational fatigue. These factors, which have an influence on productivity, must be

evaluated with the aim of suggesting measures for adjusting the work to fit the workers’

own personal limitations.

As for the existence of planning in the occupational health and safety practices in

the companies we analyzed, it is clear that the professionals who carry out the health

inspections need to be made responsible for organizing first aid measures in the case of

15

Page 105: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

accidents or occupational diseases and for providing advice about the purchase of

equipment and the organization of places of work and tasks. In other words, it is essential

that management tools are used, such as indicators, information systems and the training

of these health and safety professionals in the concepts of business management and

strategic planning so that they are able to review and argue the case for developing a

culture of proactive prevention.

An important element that works in favor of heath, safety and improvements in

working conditions is information. The company must have internal mechanisms for

publicizing the objectives, performance indicators and results, thus encouraging the

workers to participate. A well prepared piece of information contributes to making workers

and their superiors aware of safety issues. Besides information, mechanisms must be

created, for example, suggestion boxes, which allow the workers to present their

proposals; workers whose suggestions are put into practice must be recognized.

In the companies we analyzed the information that existed was limited to what is

strictly necessary for complying with legal and labor obligations.

The main challenge of the supervisors is to obtain and maintain compliance with

legislation and the company’s internal norms.

The main aspect in this issue is to guarantee that these leaders are seen as

examples within the organization through their proactive attitudes as far as the question of

health, safety and improvements in working conditions are concerned. The company’s top

management, in turn, must determine the directives by means of a health, safety and

environment policy. People are much more disposed to comply with norms and

procedures when they have the example of the organization’s leaders at all levels to

follow.

Data analysis

Critical analysis of the planning of the constructions as far as their environmental,

occupational health and safety aspects are concerned, as well as the simple evaluation of

the causes of accidents does not exist as a management practice in the companies we

looked at.

16

Page 106: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

We saw that the workers are very lacking in information, motivation and training. It

is the responsibility of the companies to create alternative mechanisms for guaranteeing

the continuous improvement of the human resources because they are their biggest asset.

Table 1 explains the occupation health and safety practices in the companies,

comparing them with the BS 8800/96 directives. We constructed a table where the first

column shows the BS 8800 directive, the second the practice on the construction sites and

the third the deficiency of the second in relation to the first.

Table 1: Construction site practices vs. BS 8800 recommendations.

BS 8800 NORM DIRECTIVES

OH&S PRACTICES ON

THE CONSTRUCTION

SITES

DEFICIENCIES TO BE

OVERCOME

4.0 INTRODUCTION

4.0.1 General aspects

All the elements of this guide

should be incorporated into the

OH&S management system, but

the way and the extent by which

the individual elements must be

applied will depend on factors

like the size of the organization,

the nature of its activities, the

hazards and the conditions

under which it operates.

4.0.2 Gathering information

about the initial situation

The organizations should

consider carrying out an initial

a) as far as the items of

relevant legislation that

deal with OH&S

management matters are

concerned, they are all

We suggest the active

participation by the contract

manager as far as issuing

guidelines on management

of OH&S is concerned. The

17

Page 107: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

information gathering exercise

of the existing devices for

managing OH&S. This should

be done in order to provide

information that will have an

influence on decisions about the

scope, adjustment and

implementation of the current

system, as well as providing a

master line against which

progress can be measured. The

initial situation information

gathering exercise must

respond to the question: “Where

are we now?”.

It must compare existing

devices with:

a) the requirements of relevant

legislation dealing with OH&S

management matters;

b) the OH&S management

guidelines that exist in the

organization;

c) best practice and

performance in the

organization’s employment

sector, and in others (for

example, from relevant H&S

industrial committees and

guidelines from industry

associations);

concerned, they are all

practiced.

b) the existing guidance

about OH&S

management is exercised

by the safety engineer

and the safety technician,

but very little by the

contract manager.

c) this item is practiced

by the organization to a

minimum extent, in other

words, merely informal

guidance.

d) as to the efficiency and

effectiveness of existing

resources dedicated to

management and OH&S

it is said that resources

exist but as they are

linked to the contract

manager and he, in turn,

is aiming to earn a bonus

based on making savings

in his construction they

always end up becoming

scarce.

of OH&S is concerned. The

setting up of relevant

committees and a constant

interchange with industry

associations with the idea of

preparing talks and courses

to clarify doubts. Delegate

full powers to the safety

engineer over the resources

earmarked for OH&S so that

the contract manager can

fully comply with what he

decides.

18

Page 108: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

d) the efficiency and

effectiveness of the existing

resources dedicated to OH&S

management.

A useful starting point would be

to gather information about the

existing system and compare

with these master lines. The

information from the initial

information gathering exercise

can be used in the planning

process.

4.1 – OH&S policy

THE ORGANIZATION’S TOP

MANAGEMENT MUST

DEFINE, DOCUMENT AND

ENDORSE ITS OH&S POLICY.

MANAGEMENT MUST

ENSURE THAT THE POLICY

INCLUDES A COMMITMENT

TO:

a) recognize OH&S as an

integral part of business

performance;

b) obtain a high level OH&S

performance, meeting the legal

requirements, as a minimum,

and continuously improving; the

performance must be

economically effective;

a) top management

recognizes OH&S as an

integral part of its

performance and intrinsic

to the business, however

it is neither defined nor

documented.

b) nothing can be said as

to the performance level,

because there are no

indicators. However it is

said that they meet the

minimum legal

requirements with

continuous improvement

and economic

performance

effectiveness.

We suggest that an OH&S

policy be defined and

endorsed by the

organization’s top

management. Formulate

indicators to obtain

performance parameters.

Create an internal bulletin to

publish the OH&S objectives,

in addition to other means for

ensuring their understanding,

introduction and

maintenance at all levels in

the organization. It is also

very important to nominate a

top executive for managing

OH&S.

Establish problem solving

groups, risk analysis circles,

etc. These are resources 19

Page 109: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

c) provide suitable and

appropriate resources for

introducing the policy;

d) establish and publish the

OH&S objectives, even though

this is only by means of internal

bulletins;

e) make OH&S management

the fundamental responsibility of

line management, the

executives who are

hierarchically above the

supervision level;

f) ensure its understanding,

introduction and continuation at

all levels in the organization;

g) encourage the involvement

and interest of the employees in

order to obtain their commitment

to the policy and its introduction;

h) periodically review the policy,

the management system and

the auditing of compliance with

it;

i) ensure that employees at all

levels receive suitable training

and are competent to carry out

their tasks and responsibilities.

c) adequate and

appropriate resources are

applied in OH&S

management, but not for

introducing the OH&S

policy.

d) item not practiced.

e) the organization’s

OH&S management is

not a responsibility of the

hierarchically most senior

executive at the

supervision level.

f) item not practiced.

g) employees are not

involved with OH&S

h) item not practiced.

i) we noted that

employees receive

periodic training at all

levels.

etc. These are resources

that can be applied for

making the decision process

more appropriate to the

possibility of workers

participating.

20

Page 110: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

4.2 Planning

4.2.1 General aspects:

It is important that the success

or failure of the planned activity

can be clearly seen. This

involves identifying OH&S

requirements, establishing clear

performance criteria, defining

what must be done, who is

responsible, when it should be

done and the desired

outcomes. Although it is

recognized that, in practice,

organizing, planning and

implementing functions will be

imposed, despite this the

following key areas need to be

addressed.

4.2.2 Risk assessment

The organization must carry out

a risk assessment, including the

identification of hazards.

The organization

presents the risk

assessment, including

the identification of

hazards by means of the

risk map.

4.2.3 Legal and other

requirements

The organization must identify

legal requirements in addition to

evaluating the risks that apply to

it and any other requirements it

The organization meets

the legal requirements

applicable to it, for

example:

PPRA,PCMSO,CIPA, etc.

21

Page 111: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

considers applicable to OH&S

management.

4.2.4 Measures to be taken for

managing OH&S

The organization must take the

necessary measures for

covering the following key

areas:

a) general plans and objectives,

including staff and resources, for

the organization to introduce its

policy;

b) having access to sufficient

knowledge about OH&S,

capabilities and experience, to

manage its activities safely and

in accordance with legal

requirements;

c) operational plans for

introducing the risk control

actions identified in 4.3.2 and

meeting the requirements

identified in 4.3.3;

d) planning of organizational

activities covered in 4.3.6;

e) planning for measuring the

efficiency, audits and

information gathering of the

situation (see 4.4.1, 4.4.2, 4.4.4

a) there is no planning for

the organization to

introduce its policy.

b) the organization shows

sufficient knowledge of

OH&S and preparation,

however it has little

experience for managing

its activities safely.

c) item not practiced.

d) despite practicing

some of the activities

described in 4.3.6, these

are not planned.

e) item not practiced.

f) corrective actions are

applied, although they

are, by nature, an

immediate [knee-jerk]

reaction.

a) we suggest that the

organization, via the

executives responsible, plan

to introduce an OH&S policy,

including people and

resources.

b) set up a joint partnership

with consultancy companies

in order to acquire

knowledge and experience

to gradually evolve.

c) immediately prepare

operational plans for

introducing actions for

controlling risks and the

requirements identified.

d) we suggest that these

activities should be planned.

e) plan for measuring the

efficiency, audits and

information gathering of the

situation, in order to create

indicators that are useful for

the organization.

f) use indicators for creating

standardized corrective

action procedures.

22

Page 112: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

and 4.5);

f) introducing any corrective

actions that may prove to be

necessary.

4.3 Introduction and operation

4.3.1 Structure and

responsibility

The first responsibility as far as

occupational health and safety

is concerned lies with top

management. Here the best

practice is to attribute to the

highest hierarchical level (for

example, in a major organization

to a member of the Board or the

executive management)

particular responsibility for

guaranteeing that the OH&S

management system is

implemented and works in

accordance with the

requirements, in all places and

spheres of operation within the

organization. At all levels in the

organization people need to be:

a) responsible for the health and

safety of those they manage, of

themselves and of others with

whom they work;

b) aware of their responsibility

a) the organization has a

responsible technical

body, comprising a work

safety engineer and a

technician.

b) the vast majority of

people are aware of their

responsibilities as far as

OH&S is concerned.

c) top management is not

involved or active in the

continuous improvement

of OH&S performance.

b) we suggest increasing the

amount of training done in

order to raise the awareness

of all, or almost all the

people involved, until the

indicators are presented, at

which time this should be

adjusted to the system.

c) it is vital that top

management shows their

commitment to OH&S. The

involvement of its

executives, who should be

aware of the influence they

exercise over the employees

and consequently on the

effectiveness of the system.

23

Page 113: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

for the health and safety of

people who might be affected by

the activities they control, such

as for example, building

contractors and the public;

c) aware of the influence that

their action or inaction may have

on the effectiveness of the

OH&S management system.

Top management must show,

by example, its commitment,

behaving in an involved way and

acting to continuously improve

occupational health and safety

performance.

4.3.2 Training, awareness

building and competence.

The organization must take

measures to identify the

necessary competences at all

levels and organize any training

that is necessary.

Item not practiced. We suggest the formulation

of indicators for the

organization to identify the

competences necessary for

organizing any needed

training at all levels.

4.3.3 Communications

The organization must have

mechanisms, whenever

appropriate, for:

a) providing effective, and when

appropriate, open information

about OH&S;

a) item not practiced.

b) item not practiced.

c) the organization’s

technical body involved

with OH&S becomes

involved with employees

and provides them with

clarification when

a) we suggest the immediate

creation of communication

channels.

b) gather information about

needs and take steps to

obtain specialist consultancy

help.

24

Page 114: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

b) taking the necessary steps for

obtaining consultancy help from

specialists;

c) involving employees, by

providing clarification, when

appropriate.

appropriate.

4.3.4 Documentation of the

OH&S management system

Documentation is the key

element for preparing an

organization for introducing a

successful management

system. It is also important

when putting together and

retaining OH&S knowledge.

However, to be effective, it is

important that documentation is

kept to the minimum necessary.

Organizations must ensure that

sufficient documentation is

available for fully introducing the

OH&S plans and that it is

proportional to its needs.

Item not practiced.

We suggest a partnership

with consultancy companies

as being a key element for

preparing an organization for

the introduction of a

successful management

system.

4.3.5 Document control

Organizations must take steps

to guarantee that the documents

are up-dated and applicable for

the purposes for which they

were created.

Item not practiced. We suggest a partnership

with consultancy companies

as being a key element for

preparing an organization for

the introduction of a

successful management

system.

25

Page 115: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

4.3.6 Operational control

It is important that OH&S, in its

broadest sense, is entirely

integrated into the whole

organization and in all its

activities, despite the size or

nature of its work. In organizing

itself to introduce a policy and

effective management for

OH&S, the organization must

take steps to ensure that the

activities are carried out in

accordance with the measures

defined in 4.2.4, and also:

a) define the allocation of

responsibilities and

accountability in the

management structure;

b) ensure that people have the

necessary authority to carry out

their tasks;

c) allocate resources compatible

with its size and nature.

a) the organization

defines the allocation of

responsibilities and

accountabilities in the

management structure.

b) the organization

ensures that people have

the necessary authority to

carry out their tasks.

c) the organization

allocates resources

compatible with its size

and nature.

4.3.7 Preparation for and

response to emergencies

An organization must take steps

to establish contingent plans for

foreseeable emergencies and

minimize their effects.

item not practiced. We suggest the preparation

of contingency plans for

foreseeable emergencies in

order to minimize their

effects.

26

Page 116: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

4.4 Checking and corrective

action

4.4.1 Monitoring and measuring

Measuring performance is one

very important way of providing

information about the

effectiveness of the OH&S

management system.

Qualitative measures must be

considered, whenever

appropriate, and must be

specially prepared to meet the

needs of the organization.

Performance measurement is a

means of monitoring the extent

to which the policy and the

objectives are being satisfied

and include:

a) pro-active performance

measurement, which monitors

service, for example, by

watching over and inspecting

the steps taken with regard to

the organization’s health and

safety, such as safe working

systems, work authorization,

etc.

b) reactive performance

measures that monitor

accidents, near accidents,

a) item not practiced.

b) item not practiced.

a) create proactive

performance measures for

activities that have an

influence on OH&S

performance.

b) create reactive

performance measurements

that monitor accidents, near

accidents, health problems

and other historical evidence

of health and deficient health

and safety performance.

27

Page 117: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

health problems and other

historical evidence of health and

deficient health and safety

performance.

4.4.2 Corrective action

Where deficiencies are found

the causes that give rise to them

must be identified and corrective

actions taken.

Corrective actions are

taken, however the cause

that give rise to the

deficiencies encountered

are not identified.

Identify the causes that give

rise to the deficiencies

encountered and create an

indicator for this purpose.

4.4.3 Records

The organization must keep the

necessary records for showing

compliance with legal and other

requirements.

The organization should

keep the records

necessary for showing

compliance with the legal,

as well as other,

requirements.

4.4.4 Auditing

In addition to monitoring the

OH&S performance routine, it

will be necessary to carry out

periodic audits that make it

possible to assess in more

depth and more critically, all

elements of the OH&S

management system. The

audits must be conducted by

people who are competent and

independent, as much as is

possible, of the activity to be

a) item not practiced.

b) item not practiced.

c) item not practiced.

d) item not practiced.

We suggest the creation of a

team of internal auditors

capable of carrying out strict

audits, albeit with an

approach adapted to the size

of the organization (small).

Subsequently, the visit of

external auditors at

predetermined intervals in

order to continuously

improve its OH&S system.

28

Page 118: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

audited; they may, however, be

named from within the

organization itself. Although the

audits need to be strict, their

approach must be adapted to

the size of the organization and

to the nature of its hazards. On

different occasions and for

various reasons audits need to

cover the following points:

a) Is the organization’s overall

OH&S management system

capable of helping it achieve the

OH&S performance standards

required?

b) is the organization complying

with all its OH&S obligations?

c) what are the strengths and

weaknesses in the OH&S

management system?

d) is the organization (or part of

it) really doing, and carrying out,

what it alleges it is?

The audits must be extensive or

tackle selected topics, according

to the circumstances. Their

results must be divulged to all

relevant people and corrective

actions taken as necessary.

4.5 Management information a) item not practiced. We suggest that the

29

Page 119: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

gathering

The organization must define

the frequency and scope of the

periodic gathering of information

from the OH&S management

system, according to its needs.

The periodic gathering of

information about the situation

should consider:

a) the overall performance of the

OH&S management system;

b) the performance of individual

elements of the system;

c) the audit conclusions;

d) the internal and external

factors, such as changes in the

organizational structure,

pending legislation, the

introduction of new technology,

etc., and identify what action is

necessary to remedy any

deficiencies. The OH&S

management system must be

designed to accommodate or

adapt to internal and external

factors.

The periodic gathering of

information about the situation

also provides an opportunity for

making forecasts. The

b) item not practiced.

c) item not practiced.

d) item not practiced.

organization defines the

frequency and scope of the

periodic gathering of

information from the OH&S

management system , in

accordance with its

necessities.

30

Page 120: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

information in a) to d) above

may be used by the organization

to improve its proactive

approach to minimizing risks

and improving business

performance.

Table 1: Construction site practices vs. BS 8800 recommendations

In an analysis of the aspects covered in the above table, which consolidates the

directives of BS 8800/96 Norm (OH&S practices on construction sites – deficiencies to be

overcome) we can see that one of the basic management issues is not concentrating

efforts on consequences and symptoms, but on causes, trying to understand why people

fail to comply with the performance standards, according to the Sustainable Management

model suggested in Figure 6, below.

As suggested in Figure 6, the organizations in question, even though they are

small, need to adopt a scientific approach to occupational health and safety, and despite

what is missing, we see it is possible to implement an Occupational Health and Safety

Management System (OHSMS), on the road to Sustainable Management.

We would add to what we saw in the field research that modern management is

characterized by concerns relative to sustainability and the risk management approach

(BOWDEN, 2001), the focus of which are the triple bottom line axes.

31

Page 121: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

CONCLUSION. SUGGESTIONS FOR NEW RESEARCH.

Bearing in mind the case study we have here presented we can conclude that the

organizations in question, even though they are small, need a scientific approach to

occupational health and safety, and despite what is missing, we can see the possibility of

implementing an Occupational Health and Safety Management System (OHSMS).

In this aspect, we suggest the involvement of top management and the naming of

one of its members to manage the OHSMS, as well as to monitor the performance of the

actions established by the safety program. To do this it is necessary to define the

indicators and the way of accompanying the evolution of each one of them and to divulge

its objectives and the results to the whole organization. We recommend the setting up of a

team of internal auditors and the hiring of periodic outside audits.

We also believe that standardization will bring improvements, such as the

simplification and optimization of processes, like services carried out on the construction

site. The efforts to introduce an OHSMS will undoubtedly be rewarded by the potential for

synergies in strategic planning and effectiveness, consistency and robustness in the

search for global continuous improvement. At the end of the day, people are the essence

of any organization.

In this work we have considered the indicators relative to occupational health and

safety, in other words, those recommended for the organization’s internal public. Other

research should be carried out to map the indicators relative to other publics that suffer

from the impact of the organization’s operations: society, shareholders, customers,

suppliers, competitors and governments.

This article is the result of research being developed at LATEC, the Laboratory of

Technology, Business Management and Environment and indicates that it should

continue, in order to define the indicators of eco-efficiency in production processes and of

business effectiveness.

32

Page 122: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

ALEVATO, H. M. R. Trabalho e neurose: enfrentando a tortura de um ambiente em crise.

Rio de Janeiro: Quartet, 1999.

AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Guidelines for integrating process

safety management, environment, safety, health, and quality. New York: Center for

Chemical Process Safety, 1996.

ARANTES, E. Investimento em responsabilidade social e sua relação com o desempenho

econômico das empresas. Prêmio Ethos de Responsabilidade Social, 2005.

ARAÚJO, G. M. de. Normas regulamentadoras comentadas. 3.ed. Rio de Janeiro: s.n.,

2002.

BERGAMINI, C. W. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997.

BOWDEN, A. R.; LANE, M. R.; MARTIN, J. H. Triple bottom line risk management. New

York: John Wiley & Sons, 2001.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. BS 8800 [diretrizes para sistemas de

gerenciamento de segurança e saúde ocupacional]. London, 1996.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: occupational health and safety

management systems (Specifications). London, 1999.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18001: 1999: amendment 1:2002.

Disponível em: emea.bsi-global.com/OHS/Standards/18001Amendment.pdf. Acesso em:

27 nov. 2003.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: occupational health and safety

management systems. Guidelines for the implementation of OHSAS 18001. London, 2000.

33

Page 123: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. OHSAS 18002: 2000: amendment 1:2002.

Disponível em: emea.bsi global.com/OHS/Standards/18002Amendment. pdf . Acesso em:

27 nov. 2003.

INSTITUTO ETHOS. Disponível em: www.ethos.org.br. Acesso em: 2004.

INSTITUTO McKINSEY. Produtividade no Brasil: a chave do desenvolvimento acelerado.

Rio de Janeiro: Campus, 1999.

LUCA, S. O.; BERNAL, A. J. Integrando a ISO 9001 e a ISO 14001. Falando de

qualidade, São Paulo, ano 12, n.135, p.26-29, ago. 2003.

MASLOW, A. H. Motivation and personality. 2.ed. New York: Harperg Row, 1970.

PRADEZ, P. A. J. Uma norma pelo trabalho: é irreversível o uso de certificações para

demonstrar compromissos. Gazeta Mercantil, São Paulo, 8 maio 2002.

PRAHALAD C. K. A riqueza na base da pirâmide. Porto Alegre: Bookman, 2006.

REGINALD, B. H. Towards an integrated management of safety, health and the

environment. In: Chemical & Process Engineering Centre, 1999. Disponível em:

www.cpec.nus.edu.sg/myweb/newsletter/news10/SHE.html. Acesso em: 21 nov. 2003.

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO – SINDUSCON. Net, Rio de Janeiro, dez. 2002. Seção Serviços e Produtos.

Disponível em: www.sindusnet.com.br/livre/seguranca.cfm. Acesso em: 2004.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI Guidance 1999: Guidance document

for social accountability 8000. New York, 1999.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Responsabilidade

social 8000. New York, 2001. Disponível em:

www.cepaa.org/Document%20Center/Standard%20Portuguese.doc. Acesso em: 27 nov.

2003.

SOCIAL ACCOUNTABILITY INTERNATIONAL. SAI SA 8000: 2001. Social Accountability

8000. New York, 2001. Disponível em:

34

Page 124: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Occupational Health And Safety Management System: A Critical Success Factor In The Introduction Of The Principles Of Sustainable Development In Brazilian Organizations Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas; Gilson Brito Alves Lima INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

www.cepaa.org/Document%20Center/2001StdEnglishFinal.doc. Acesso em: 27 nov.

2003.

Article received on 14.08.2006. Approved on 07.10.2006.

35

Page 125: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO: ETAPAS E SUA

APLICAÇÃO NA ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA

Maria Tereza Pepe Razzolini1; Adelaide Cássia Nardocci2

1, 2 Professoras Doutoras do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública/USP.

RESUMO

Este trabalho apresenta as etapas da avaliação de risco microbiológico e sua aplicação

na avaliação da qualidade da água de abastecimento e recreacional. As etapas são:

identificação do perigo, avaliação da exposição, avaliação da relação dose–resposta e

caracterização do risco. A avaliação de risco é uma ferramenta de auxílio à decisão que

possibilita orientar as medidas de controle e intervenção, bem como avaliar os impactos

das ações realizadas, a partir da estimativa de efeitos adversos à saúde associados aos

microrganismos patogênicos presentes em amostras de água tratada e recreacional. Ela

dá suporte à tomada de decisão com base em resultados científicos, em vários níveis de

atuação e nas decisões. No Brasil, esta é uma área de pesquisa recente, mas promissora

para o gerenciamento da qualidade dos recursos hídricos de abastecimento público e

recreacionais, especialmente nas áreas periurbanas das regiões metropolitanas, as quais

apresentam vulnerabilidade sócio-ambiental.

Palavras-chave: avaliação de risco microbiológico; qualidade da água; gerenciamento de

riscos.

.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=30

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 126: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

O avanço científico e tecnológico trouxe grandes benefícios à sociedade contemporânea,

como o aumento da expectativa de vida das pessoas e a cura de algumas doenças.

Entretanto, o acentuado consumo de recursos naturais em decorrência do intenso ritmo

de produção resultou em uma crise ambiental propalada pela forte destruição dos

ecossistemas, assim como pelo agravamento da pobreza, da fome e das disparidades

existentes na distribuição de renda tanto internamente quanto entre os países (ONU,

Agenda 21, 1995).

Segundo Nardocci (1999), os potenciais impactos do desenvolvimento tecnológico

e das mudanças no estilo de vida, bem como o aumento da sensibilidade aos perigos à

saúde e à segurança, têm colocado os riscos e a qualidade ambiental entre as maiores

preocupações da sociedade atual. Desta forma, a avaliação e o gerenciamento de riscos

figuram entre as mais importantes atividades atuais de cientistas, políticos, órgãos

reguladores e também do público em geral.

A avaliação de risco pode ser definida como o processo de se estimar a

probabilidade de um evento ocorrer e sua magnitude, levando-se ainda em conta os

efeitos adversos à economia, à saúde e à segurança, entre outros aspectos, em

determinado período (GERBA, 2000). É possível, por exemplo, calcular (ou estimar) o

risco à saúde associado à presença de pesticida nos alimentos, passíveis ainda de

contaminação por microrganismos patogênicos, os quais, por sua vez, também podem

encontrar-se na água para consumo humano.

A avaliação de risco emergiu entre as décadas de 1940 e 1950 com a crescente

adoção de atividades nucleares. Essas avaliações eram utilizadas em plantas industriais

de refinamento de petróleo, usinas nucleares e locais de pesquisas aeroespaciais.

Na área ambiental, essa ferramenta começa a ser reconhecida e utilizada com a

publicação do Guia de Avaliação de Riscos a Carcinogênicos (Guidelines for Carcinogenic

Risk Assessment) pela U. S. Environmental Protection Agency – Usepa, em 1976

(GERBA, 2000). Estimativas referentes à incidência de câncer associada à emissão

industrial de determinada substância química podem ser realizadas no intuito de proteger

a saúde de trabalhadores e comunidades próximas.

2

Page 127: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Questões de saúde pública relacionadas com a presença de microrganismos em

águas de abastecimento público e recreacionais não são recentes, mas a avaliação de

risco microbiológico sim, pois se trata de uma nova abordagem no gerenciamento dos

riscos de doenças de transmissão hídrica.

Este trabalho propõe-se a apresentar as etapas da avaliação de risco

microbiológico e da sua aplicação na avaliação da qualidade da água de abastecimento e

recreacional.

AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO

A avaliação de risco é uma área do conhecimento relativamente recente e ainda

não devidamente consolidada, tanto na fundamentação de conceitos como na

terminologia aplicada. As discussões e reflexões no campo acadêmico ainda estão em

fase inicial no Brasil, onde as dificuldades são ampliadas pela falta de precisão na

tradução dos termos da literatura internacional. Um exemplo desta problemática refere-se

às confusões entre os termos risk e hazard ou risco e perigo. Esses termos podem ser

usados como sinônimos no discurso comum, entretanto, no campo científico são

conceitos distintos. Hazard ou perigo é uma propriedade, uma característica qualitativa,

enquanto risk ou risco é uma grandeza quantitativa, adimensional e probabilística.

Também os termos risk analysis e risk assessment têm sido usados ora como

sinônimos ora como etapas distintas. Entretanto, a distinção dessas etapas não é

fundamental para a compreensão dos problemas e podemos dizer, sem prejuízo, que o

estudo atual sobre riscos compreende as etapas de avaliação, gerenciamento e

comunicação de riscos, embora também não haja consenso sobre o conteúdo de cada

etapa, suas interfaces e correlações.

A primeira consolidação do conhecimento científico sobre a avaliação de risco foi

desenvolvida pela National Academy of Sciences (NAS, 1983), dos Estados Unidos, a

qual a estruturou em quatro etapas principais: identificação do perigo, avaliação da

exposição, avaliação da relação da dose–resposta e caracterização do risco, como

apresentado na Figura 1.

3

Page 128: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

No caso da avaliação de risco microbiológico a identificação do perigo refere-se à

presença de microrganismos e ou suas toxinas associados a um agravo ou doença

específicos. Portanto, a pergunta correspondente é: “Existe o perigo?”. E para respondê-

la é necessária a busca de informações a respeito de patógenos, de fato ou potenciais,

através de estudos clínicos e epidemiológicos, da caracterização microbiana e de estudos

da ecologia das doenças. Tais informações são de relevância nessa etapa do estudo para

avaliar se determinado agente etiológico, aqui denominado de perigo, produz alguma

ameaça à saúde (GERBA, 2000; PEÑA et al., 2001; WHO, 2004). Segundo Haas et al.

(1999) a identificação de um agente microbiano (perigo) pode seguir as seguintes etapas:

a) identificação do agente etiológico de determinada doença obedecendo aos

postulados de Koch;

b) diagnóstico que identifique a sintomatologia, a infecção e a presença do

microrganismo em amostras clínicas do hospedeiro (sangue, pus, fezes);

c) entendimento do processo desencadeante da doença desde a exposição à

infecção (colonização no organismo humano) até o desenvolvimento dos

sintomas, doença e morte;

d) identificação das possíveis vias de transmissão;

e) análise dos fatores de virulência do microrganismo e do ciclo de vida;

f) avaliação da incidência e prevalência da doença na população (risco endêmico) e

investigação de surtos (risco epidêmico);

g) desenvolvimento de modelos (usualmente, modelos utilizando animais);

h) avaliação do papel do sistema imunológico do hospedeiro no combate à infecção e

possível desenvolvimento de vacinas para prevenção; e

i) correlação de estudos epidemiológicos com as possíveis vias de exposição.

4

Page 129: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A etapa de avaliação da exposição refere-se ao processo de medida ou estimativa

da intensidade, freqüência e duração da exposição humana a um determinado agente,

com o propósito de se determinar a quantidade de organismos que correspondem a uma

única exposição, ou a quantidade total de organismos que compreende um conjunto de

exposições (HAAS et al., 1999; GERBA, 2000). A exposição a contaminantes pode

ocorrer por inalação, ingestão, ou pelas vias dérmica e cutânea, por exemplo. As fontes

de contaminação assim como o mecanismo de transporte e transformação e, ainda, as

rotas de exposição de um microrganismo desde a fonte até o contato com a população

exposta, incluindo-se a via de ingresso no hospedeiro, são importantes fatores a se

considerar nessa etapa de avaliação. As concentrações de exposição são obtidas a partir

de medidas laboratoriais e ou estimadas por modelagens matemáticas. Portanto, a

quantificação da dose de entrada no organismo pode envolver equações com três

5

Page 130: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

conjuntos de variáveis: concentração do microrganismo, taxas de exposição (intensidade,

freqüência, duração) e características do hospedeiro (peso, imunidade).

A relação dose–resposta resulta de estudos experimentais, os quais devem

evidenciar a concentração do agente etiológico que produz efeito adverso à saúde da

população exposta. Ou seja, a relação dose–resposta visa obter uma relação matemática

entre a quantidade (concentração) de um microrganismo ao qual uma pessoa ou

população está exposta e o risco de se produzirem efeitos adversos a partir dessa

concentração. Marks et al. (1998) ressaltam que o número de organismos ingeridos pode

afetar a probabilidade e a severidade do agravo. As doenças resultam de um processo

complexo de interações entre o hospedeiro, o patógeno e o ambiente, o qual, em alguns

casos, não é totalmente entendido.

Muitas pesquisas com indivíduos voluntários têm sido feitas com o objetivo de

identificar a dose de referência para a infectividade. No caso de vírus os estudos são

feitos com vírus atenuados de vacinas ou com crescimento em laboratórios. Entre as

várias conseqüências de uma infecção, destacam-se:

• a possibilidade de doenças subclínicas (assintomáticas), aquelas que resultam

em sintomas não óbvios como febre, dor de cabeça ou diarréia. Isto é, indivíduos

podem hospedar o agente patogênico e transmiti-lo a outros, sem que fiquem

doentes. A razão de infecções clínicas e subclínicas varia de agente para agente,

especialmente em vírus. Em alguns casos, a probabilidade de desenvolvimento de

doença clínica não apresenta relação com a dose recebida por um indivíduo via

ingestão.

• o desenvolvimento de doenças clínicas; neste caso interferem vários fatores,

como a idade, por exemplo. No caso da hepatite A, os sintomas clínicos podem

variar de 5% em crianças menores que 5 anos até 75% em adultos. Porém,

crianças desenvolvem mais freqüentemente as gastrenterites retrovirais.

Desta forma, os modelos dose–resposta abordam não apenas a probabilidade de

infecção, a probabilidade de que a infecção resulte em doença e a probabilidade de que a

doença resulte em morte. Importante ressaltar que nem sempre estão disponíveis as

informações a respeito da relação dose–resposta de microrganismos patogênicos e dos

6

Page 131: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

efeitos produzidos em hospedeiros. Nesse sentido, a utilização de funções matemáticas

para estimar essa relação e a escolha do modelo deve ser sempre muito criteriosa.

A caracterização de risco representa a integração das etapas anteriores –

identificação do risco, avaliação da exposição e avaliação da dose–resposta, para a

determinação da estimativa do risco. Assim, essa fase estabelece a estimativa,

quantitativa ou qualitativa, da probabilidade e severidade de efeitos adversos que podem

acometer determinada população (WHO, 2004). Ressalta-se, entretanto, que essas

estimativas devem ser acompanhadas pela magnitude da incerteza do risco estimado. As

fontes de incerteza devem ser incluídas: extrapolação de doses altas para doses baixas,

extrapolação da resposta em animais para seres humanos, extrapolação de uma via de

transmissão para outra, limitação dos métodos analíticos e exposição estimada, por

exemplo.

A avaliação das incertezas é um aspecto muito importante no processo de

avaliação de riscos. Há casos em que algumas fontes de incertezas podem ser

quantificadas em outros casos se for possível atribuir um tratamento qualitativo, mas

sempre devem ser consideradas e avaliadas. Segundo Gerba (2000) duas estratégias

podem ser usadas para a caracterização da incerteza: análises de sensibilidade e

simulação de Monte Carlo. A análise de sensibilidade consiste em analisar a incerteza de

cada parâmetro utilizado na condução do estudo e avaliar o impacto de cada um deles no

resultado final. Na simulação de Monte Carlo, entretanto, assume-se que todos os

parâmetros são aleatórios e, em vez de variar cada um desses parâmetros

separadamente, recorre-se a um software o qual seleciona os dados aleatoriamente

distribuídos e utiliza as funções matemáticas a cada tempo repetidas vezes. O resultado

obtido corresponde, então, aos valores de exposição ou risco correspondente a uma

probabilidade específica com grau de confiança de 95%.

O gerenciamento de risco apresenta uma abordagem endereçada a controlar os

riscos considerando custo–benefício de implantações na melhoria de sistemas de

tratamento de águas captadas para consumo, por exemplo, e que além disso subsidiem

políticas de limites de exposição. Segundo Gerba (2000), a Usepa, nos Estados Unidos,

utiliza o conceito de risco aceitável e sugere que o risco de infecções anuais de 1/10.000

é um nível apropriado para se garantir a segurança para a água de abastecimento de

consumo humano. Para atingir esse nível as estações de tratamento de água para

7

Page 132: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

consumo humano devem apresentar eficiência na remoção de Giardia e vírus entéricos

da ordem de 99,99%. Dessa forma, o custo de tratamento da água seria factível,

acarretando a redução de custos associados aos serviços de saúde e produtividade.

A comunicação de risco também é uma importante ferramenta do gerenciamento,

a qual visa garantir a troca de informações entre as partes interessadas – gestores

governamentais, técnicos e atores sociais, entre outros.

O Quadro 1 sumariza os paradigmas da avaliação de risco para os efeitos à saúde

humana.

APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE RISCO MICROBIOLÓGICO

A verificação da qualidade sanitária da água de consumo humano mediante

análises laboratoriais para obter informações como a concentração de determinado

microrganismo patogênico ou, então, para constatar sua presença ou ausência nas

amostras não é suficiente para proteger a saúde da população. No Brasil, a qualidade

sanitária das águas de consumo e recreacionais é estabelecida pela Portaria no 518 do

Ministério da Saúde, de 25 de março de 2004, e pela Resolução Conama (Conselho

Nacional do Meio Ambiente) no 274, de 29 de novembro de 2000, respectivamente. Os

8

Page 133: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

indicadores bacteriológicos clássicos da qualidade da água de consumo, coliformes

termotolerantes e Escherichia coli não são efetivos para avaliar a ocorrência e a eficiência

de remoção de protozoários patogênicos e vírus em estações de tratamento de água

(ROSE & GERBA, 1991; GALE, 2001).

Microrganismos patogênicos podem alcançar locais de suprimento de águas de

consumo humano e recreacionais em razão da contaminação por excretas como

resultado de conexões cruzadas e problemas de manutenção. A emergência e a

reemergência de patógenos traz à tona algumas questões relativas à qualidade sanitária

das águas: “A verificação do atendimento aos padrões bacteriológicos estabelecidos por

lei é suficiente para garantir a qualidade de águas de consumo e recreacionais?”, “O

atendimento a esses padrões realmente promove e protege a saúde dos usuários?”.

São vários os relatos da ocorrência de patógenos (re)emergentes em águas

(HAAS et al., 1999, p.18; RUSIN et al., 2000, p.447; WHO, 2003; WHO, 2004). Vale citar

como exemplo o caso clássico de Milwaukee, em Wisconsin (EUA), onde ocorreu a

contaminação do sistema de abastecimento público de água pelo protozoário

Cryptosporidium, afetando a saúde de 403 mil pessoas, entre as quais 4.400 foram

hospitalizadas e 69 morreram. A provável causa foi a contaminação da água tratada por

excretas humanas e animais (bovinos ou eqüinos). (SOLO-GABRIELE & NEUMEISTER,

1996).

O monitoramento da ocorrência de patógenos para avaliar a qualidade sanitária de

águas de consumo e recreacionais revela-se inviável, tanto no aspecto técnico como no

econômico, em razão da grande diversidade de patógenos, do alto custo e da

complexidade das análises laboratoriais, e do risco à saúde dos técnicos, em virtude da

constante manipulação desses microrganismos. Assim, a avaliação de risco

microbiológico consiste em uma ferramenta que pode ser utilizada para estimar os

possíveis efeitos adversos à saúde quando da presença de organismos patogênicos em

amostras de águas, para orientar as medidas de controle e intervenção, bem como para

avaliar os impactos das ações realizadas.

A Organização Mundial da Saúde, em seu Guia de qualidade para águas de

consumo (Guidelines for drinking-water quality – WHO, 2004) considera a avaliação de

risco microbiológico uma forma de se estimarem os riscos à saúde humana associados à

qualidade da água de consumo. Muitos são os relatos da aplicação de modelos de

9

Page 134: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

avaliação de risco microbiológico para diversos tipos e usos da água (ROSE & GERBA,

1991;GERBA et al., 1996, CRABTREE et al.,1997; STINE et al.,2005; SCHIJVEN et al.,

2005;BROOKS_et_al.,_2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o exposto, a avaliação de risco microbiológico é uma ferramenta

de auxílio à decisão e pode ser usada para:

estimar efeitos adversos à saúde associados a microrganismos patogênicos

presentes em amostras de água tratada e recreacional;

tomar decisões em vários níveis de atuação;

dar suporte nas decisões baseadas em resultados científicos.

Vale ressaltar que o processo de avaliação de risco deve ser transparente em

todas as etapas de condução dos estudos e bem documentado, ressaltando-se a

oportunidade de reavaliação futura.

No Brasil, esta é uma área de pesquisa recente, mas promissora dos pontos de

vista científico e de gerenciamento da qualidade dos recursos hídricos de abastecimento

público e recreacionais. Sua atuação é fundamental, especialmente nas áreas

periurbanas das regiões metropolitanas, as quais apresentam vulnerabilidade

socioambiental evidente e demandam uma priorização das ações de intervenção para

preservação dos mananciais, para a proteção da saúde humana e a otimização dos

recursos públicos a serem investidos.

10

Page 135: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518, de 25 mar. 2004; Estabelece os

procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água

para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível

em www.funasa.gov.br/amb/pdfs/portaria518pdf.

BROOKS, J. P. et al. Estimation of bioaersol risk of infection to residents adjacent to a

land applied biosolis site using an empirically derived transport model. J. Appl. Microbiol.,

v.98, p.397-405, 2005.

CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente (Brasil). Resolução no 274, de 29 nov.

2000. Dispõe sobre a qualidade das águas de balneabilidade. Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Brasília, 8 jan. 2001.

CRABTREE, K. D. et al. Waterborne adenovirus: a risk assessment. Wat. Sci. Tech., v.35,

n.11-12, p.1-6, 1997.

GALE, P. A review – Development in microbiological risk assessment for drinking water. J

Appl of Microbiology, v.91, p.191-205, 2001.

GERBA, C. P. et al. Waterborne rotavirus: a risk assessment. Wat. Res., v.30, n.12,

p.2929-40, 1996.

GERBA, C. P. Risk Assessment. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.; GERBA, C. P. (Ed.)

Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000. p.557-70.

HAAS, C. N.; ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Quantitative Microbial Risk Assessment. 1.ed.

New York: John Wiley & Sons, 1999.

MARKS, M. M. et al. Topics in microbial risk assessment: dynamic flow tree process. Risk

Analysis, v.18, n.3, p.309-28, 1998.

NARDOCCI, A. C. Risco como instrumento de gestão ambiental. 1999. 135p. Tese

(Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São

Paulo. São Paulo.

11

Page 136: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Microbiológico: Etapas E Sua Aplicação Na Análise Da Qualidade Da Água Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente

do Estado de São Paulo, 1995.

PEÑA, C. E.; CARTER, D. E.; AYALA-FIERRO, F. Evaluación de riesgos y restauración

ambiental. 2001. Disponível em: superfund.pharmacy.arizona.edu/toxamb/. Acesso em:

15 abr. 2003.

ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Use of risk assessment for development of microbial

standards. Wat. Sci. Tech., v.24, n.2, p.29-34, 1991.

RUSIN, P. et al. Environmentally transmitted pathogens. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.;

GERBA, C. P. (Ed.) Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000.

p.447-85.

SCHIJVEN, J.; RIJS, G. B.; HUSMAN, A. M. R. Quantitative risk assessment of FMD virus

transmission via water. Risk Analysis, v.25, n.1, p.13-21, 2005.

SOLO-GABRIELE, H.; NEUMEISTER, S. US outbreaks of cryptosporidiosis. J AWWA,

v.88, p.76-86, 1996.

STINE, S. W. et al. Application of microbial risk assessment to the development of

standards for enteric pathogens in water used to irrigate fresh produce. Journal of Food

Protection, v.68, n.5, p.913-8, 2005.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Emerging issues in water and infectious

disease. 2003. Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/emerging/en/. Acesso

em: 20 ago. 2005.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for drinking-water quality. 2004.

Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/dwq/en/. Acesso em: 15 set. 2004.

Artigo recebido em 03.08.2006. Aprovado em 29.09.2006.

12

Page 137: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

MICROBIAL RISK ASSESSMENT: STAGES AND APPLICATION IN THE

EVALUATION OF WATER QUALITY Maria Tereza Pepe Razzolini¹; Adelaide Cássia Nardocci²

¹ ² Professors and Doctors of the Environment health Department of the Faculdade de Saúde Pública of USP [Universidade de São Paulo]

ABSTRACT

This work presents the stages of microbial risk assessment and its application in the

evaluation of drinking and recreational water quality. The stages are hazard identification,

exposure assessment, dose-response relationship and risk characterization. Hazard

identification is related to the presence of microorganism and toxins and their association

with specific diseases. Exposure assessment includes the intensity, frequency and

duration of human exposure to a specific agent. The aim of dose-response relationship is

to obtain a mathematical relationship between the amount of microorganism

(concentration) and adverse effects on human health. Risk characterization represents the

integration of the previous stages. Risk assessment is a tool used for decision making and

for providing information to take control and intervention measures, as well as to evaluate

the impact of these actions. It provides support to a decision-making process based on

scientific results in several areas of knowledge. In Brazil, risk assessment is a recent but

promising area of research, for the management of water quality, such as catchment

points and recreational waters, especially in periurban areas of metropolitan regions,

which show precarious sanitary conditions.

Key words: Microbial risk assessment. Water quality. Risk management.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=42

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 138: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

Scientific and technological advance have brought great benefits to contemporary

society, such as an increase in people’s life expectancy and a cure for some illnesses.

However, the accentuated consumption of natural resources resulting from the intense

rhythm of production has resulted in an environmental crisis, caused by the significant

destruction of eco-systems, as well as by the increase in poverty, hunger and the

inequalities in income distribution both internally, as well as between countries (United

Nations Conference, Agenda 21, 1995).

According to NARDOCCI (1999), the potential impact of technological

development, changes in life-style, as well as an increase in the awareness of the dangers

to health and safety, have placed risks to the environment and its quality among the

greatest current concerns of society. Therefore, the assessment and management of risks

are among the most important current activities of scientists, politicians, regulatory bodies

and also the public in general.

Risk assessment may be defined as the process of estimating the probability of an

event happening and its magnitude, also taking into account, among other aspects, the

adverse effects to the economy, to health and to safety, over a particular period of time

(GERBA, 2000). It is possible, for example, to calculate (or estimate) the health risk

associated with the presence of pesticides in food that is also susceptible to contamination

by the pathogenic micro-organisms, which may also be found in water used for human

consumption.

Risk assessment emerged between the 1940s and 1950s with the growth in

nuclear activity. The assessments were used in industrial oil refineries, nuclear power

stations and aerospace research locations.

In the environmental area this tool began to be recognized and used with

publication of the Guidelines for Carcinogenic Risk Assessment by the U.S. Environmental

Protection Agency (USEPA) in 1976 (GERBA, 2000). Estimates of the incidence of cancer

associated with the industrial emissions of a particular chemical substance may be carried

out with the intention of protecting the health of workers and neighboring communities.

2

Page 139: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Public health issues related to the presence of micro-organisms in public drinking

water and recreational water are not recent, but assessment of the microbial risk is,

because this is a new approach to the management of the risks associated with water-

borne illnesses.

Therefore, this work proposes to present the stages in microbial risk assessment

and its application in the assessment of the quality of water coming from catchment areas

and that used for recreational purposes.

Microbial risk assessment

Risk assessment is a relatively recent area of knowledge and still not duly

consolidated, either as far as the basis of its concepts, or the terminology used are

concerned. In Brazil, where the difficulties are amplified by the lack of accurateness in the

translation of terms taken from international literature, discussions and reflections in the

academic field are still in their initial phase. An example of this problem refers to the

confusion that exists between the terms risk and hazard [risco and perigo in Portuguese].

These terms can be used as synonyms in common speech, but they are quite different

concepts in the scientific field. Hazard or perigo is a property, a qualitative characteristic,

while risk or risco is a quantitative, adimensional and probabilistic magnitude.

Also, the terms risk analysis and risk assessment have been sometimes used as a

synonym and sometimes as different stages. However, distinguishing between these

stages is not essential for understanding the problems and we can state without prejudice

that the current study on risks includes the risk assessment, management and

communication stages, although there is also no consensus about the content of each

stage, their interfaces and correlations.

The first consolidation of scientific knowledge on risk assessment was developed

by the National Academy of Sciences (NAS 1983), which structured it into four main

stages: identification of the hazard, assessment of exposure, assessment of the dose-

response relationship and the characterization of risk, as presented in Figure 1.

In the case of microbial risk assessment hazard identification refers to the presence

of micro-organisms and/or their toxins associated with a specific illness or deterioration of

the same. Therefore, the question is: Does the hazard exist? To reply to it we need to look

3

Page 140: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

for information about pathogens, either in fact or potential, through clinical and

epidemiological studies of microbial characterization and studies of the ecology of the

illnesses. This information is of relevance at this stage of the study in order to assess if a

particular etiological agent, here called a hazard, produces some health threat (GERBA,

2000, PEÑA, et al, 2001,WHO, 2004). According to HAAS et al (1999) identification of a

microbial (hazard) agent may follow the following stages: a) identification of the etiological

agent of a particular illness, in accordance with the postulates of Koch; b) diagnosis, which

identifies the symptomolgy, the infection and the presence of micro-organisms in clinical

samples of the host (blood, pus, feces); c)understanding the process triggered off by the

illness from exposure to infection (colonization in the human organism) to the development

of symptoms, the illness and death; d) identification of possible transmission pathways; e)

analysis of the virulence factors of the micro-organism and its life cycle; f) assessment of

the incidence and prevalence of the illness in the population (endemic risk) and

investigation of outbreaks (epidemic risk); g) development of models (usually models using

animals); h) assessment of the role of the host’s immunological system in fighting the

infection and the possible development of vaccines for prevention, and; i) the correlation of

epidemiological studies with possible exposure pathways.

4

Page 141: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The exposure assessment stage refers to the measuring process or the estimate of

the intensity, frequency and duration of human exposure to a particular agent, with the

purpose of determining the quantity of organisms that correspond to a single exposure or

the total quantity of organisms that comprise a set of exposures (HAAS et al. 1999,

GERBA, 2000). Exposure to contaminants may occur via pathways such as inhalation,

ingestion and dermal or cutaneous contact. The sources of contamination, the transport

and transformation mechanism and also the exposure routes of a micro-organism from the

source to contact with the exposed population, including the pathway by which it entered

the host, are important factors to be considered in the assessment stage. The

concentrations of exposure are obtained from laboratory measurements and/or estimated

by mathematical modeling. Therefore, quantification of the dose that entered the organism

may involve equations with three sets of variables: concentration of the micro-organism,

5

Page 142: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

rates of exposure (intensity, frequency, duration) and host characteristics (weight,

immunity).

The dose-response relationship results from experimental studies, which should

provide evidence as to what concentration of the etiological agent is having an adverse

effect on the health of the exposed population. In other words the dose-response

relationship aims at establishing a mathematical relationship between the quantity

(concentration) of a micro-organism to which the person or population is exposed and the

risk of this concentration producing adverse effects. MARKS et al. (1998) point out that

the number of organisms ingested can affect the probability and severity of the illness.

Illnesses result from a complex process of interactions between the host, the pathogen

and the environment, which in some cases is not fully understood.

A lot of research with volunteers has been done with the aim of identifying the

reference dose for infectivity. In the case of a virus the studies are done with viruses that

have been attenuated by vaccines or grown in laboratories. Among the various

consequences of an infection are:

• the possibility of sub-clinical illnesses (asymptomatic), which are

those that result in symptoms that are not the obvious ones, such as fever,

headaches or diarrhea. In other words, individuals may be host to the pathogenic

agent and transmit it to others without themselves being ill. The reason for clinical

and sub-clinical infections varies from agent to agent, especially with viruses. In

some cases the probability of developing a clinical illness bears no relationship to

the dose received by an individual via ingestion.

• the development of clinical illnesses; various factors may

interfere, such as age, for example. In the case of hepatitis A, the clinical

symptoms may vary from 5% in children under 5 years of age up to 75% in adults.

On the other hand, children are more susceptible to developing retroviral gastro-

enteritis.

Therefore, the dose-response models do not only cover the probability of infection,

the probability that the infection will result in an illness and the probability that the illness

will result in death. It is important to point out that information is not always available about

the dose-response relationship of pathogenic organisms and the effects produced in hosts.

6

Page 143: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

In this sense, the use of mathematical functions for estimating this relationship and the

choice of the model must be always very carefully chosen.

Risk characterization represents the integration of the previous stages – risk

identification, assessment of exposure and assessment of dose-response for determining

the risk estimate. Therefore, this phase establishes the quantitative and qualitative

estimate of the probability and severity of adverse effects that may afflict a certain

population (WHO, 2004). It has to be pointed out, however, that these estimates must be

accompanied by the magnitude of the uncertainty of the estimated risk. The sources of

uncertainty must be included such as, extrapolating high doses for low doses,

extrapolating the response in animals for that in human beings, extrapolating one

transmission pathway for another, the limitation of analytical methods and the estimated

exposure.

Assessment of the uncertainties is a very important aspect in the process of risk

assessment. There are cases in which some sources of uncertainty may be quantified and

in other cases where a qualitative treatment may be applied to them, but they must always

be considered and assessed. According to GERBA (2000) two strategies may be used to

characterize uncertainty: sensitivity analyses and the Monte Carlo simulation. The

sensitivity analysis comprises analyzing the uncertainty of each parameter used in carrying

out the study and assessing the impact of each of them on the final result. In the Monte

Carlo simulation, however, it is assumed that all the parameters are random and therefore,

instead of varying each one of these parameters separately, software is used that selects

the randomly distributed data and uses mathematical functions each time, over and over

again. The result obtained corresponds, therefore, to the exposure values or risk

corresponding to a specific probability that is reliable at the 95% level.

Risk management provides an approach aimed at controlling risks, by considering

the cost-benefit of introducing improvements, for example, in the treatment system of

water collected for consumption, in addition to providing information about exposure limit

policies. According to GERBA (2000), USEPA in the United States uses the concept of

acceptable risk and suggests that a risk of annual infections of 1/10,000 is a suitable level

for guaranteeing the safety of water used for human consumption. To achieve this level

treatment stations of water used for human consumption must be 99.99% efficient at

7

Page 144: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

removing Giardia and enteric viruses In this way the cost of treating water is possible,

leading to a reduction in the costs associated with health services and productivity.

Risk communication is also an important management tool, which aims at

guaranteeing an exchange of information between interested parties, such as government

managers, technicians, social stakeholders and others.

The application of microbial risk assessment

To protect the health of the population it is not enough merely to check the sanitary

quality of water used for human consumption, using laboratory analyses in order to obtain

information such as the concentration of a certain pathogenic micro-organism or, to

establish its presence or absence in the samples. In Brazil, the sanitary quality of water for

consumption or for recreational purposes is established by Ministerial Directive 518 issued

by the Health Ministry on March 25, 2004, and by CONAMA (National Environment

Council) Resolution 274, dated November 29, 2000, respectively. The classic

bacteriological indicators of drinking water quality, thermotolerant coliforms and

Escherichia coli are not effective when it comes to assessing the occurrence and efficiency

of the removal of pathogenic protozoa and viruses in water treatment stations (ROSE;

GERBA, 1991, GALE, 2001).

8

Page 145: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Pathogenic micro-organisms may reach locations that supply water for human

consumption and for recreational purposes due to contamination by excreta as a result of

crossed connections and maintenance problems. The emergence and re-emergence of

pathogens brings to the fore issues relative to the sanitary quality of water: “Is checking

that the bacteriological standards established by law are met enough to guarantee the

quality of drinking water and that used for recreational purposes?”, “Does meeting these

standards really promote and protect the health of users?”.

There are various stories of the occurrence of pathogens (re) emerging in water

(HAAS et al.,p.18, 1999, RUSIN et al., p. 447, 2000, WHO, 2003; WHO, 2004). It is worth

mentioning as an example the classic case of Milwaukee, in Wisconsin (USA, where the

public water system was contaminated by the protozoa, Cryptosporidium, which affected

the health of 403,000 people of whom 4,400 were hospitalized and 69 died. The probable

cause was the contamination of treated water by human and animal (bovine or equine)

excreta. (SOLO-GABRIELE; NEUMEISTER, 1996).

Monitoring the occurrence of pathogens in order to assess the sanitary quality of

drinking water and that used for recreational purposes has proved to be unfeasible, both

from the technical as well as from the economic point of view, due to the large diversity of

pathogens, the high cost and complexity of laboratory analyses and the health risk to

technicians because of the constant manipulation of these organisms. Therefore,

assessment of the microbial risk consists in having a tool that can be used for estimating

the possible adverse effects to health when pathogenic organisms are present in water

samples in order to guide control and intervention measures, as well as to assess the

impact of the actions carried out.

The World Health Organization (WHO, 2004), in its Guidelines for drinking-water

quality, considers microbial risk assessment as a way of estimating the risks to human

health associated with the quality of drinking water. There are many stories about the

application of microbial risk assessment models to different types and uses of water

(GERBA;ROSE,1991, GERBA et al.,1996, CRABTREE et al.,1997, STINE et al.,2005,

SCHIJVEN et al.,2005, BROOKS et al.,2005)

9

Page 146: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

General considerations

Bearing in mind the above, the assessment of microbial risk is a decision-making

tool and may be used for:

estimating the adverse effects to health associated with pathogenic

organisms present in samples of treated water and that used for recreational

purposes;

decision making at various levels of action;

providing support for decisions based on scientific results.

It is worth pointing out that when conducting the studies the whole risk assessment

process must be transparent at every stage and well documented, making clear that there

is the opportunity for future reassessment.

In Brazil, this is a recent, but promising area of research, both from the scientific

point of view, as well as from the management of the quality of the water resources used

for providing public drinking water and for recreational purposes is concerned, especially in

peri-urban areas of metropolitan regions, where socio-environmental conditions are

obviously precarious and where there is a demand for the prioritization of actions for

intervening, in order to preserve water sources to protect human health and to optimize the

use of public funds needed for investment.

10

Page 147: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518, de 25 mar. 2004; Estabelece os

procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água

para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Disponível

em www.funasa.gov.br/amb/pdfs/portaria518pdf.

BROOKS, J. P. et al. Estimation of bioaersol risk of infection to residents adjacent to a

land applied biosolis site using an empirically derived transport model. J. Appl. Microbiol.,

v.98, p.397-405, 2005.

CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente (Brasil). Resolução no 274, de 29 nov.

2000. Dispõe sobre a qualidade das águas de balneabilidade. Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Brasília, 8 jan. 2001.

CRABTREE, K. D. et al. Waterborne adenovirus: a risk assessment. Wat. Sci. Tech., v.35,

n.11-12, p.1-6, 1997.

GALE, P. A review – Development in microbiological risk assessment for drinking water. J

Appl of Microbiology, v.91, p.191-205, 2001.

GERBA, C. P. et al. Waterborne rotavirus: a risk assessment. Wat. Res., v.30, n.12,

p.2929-40, 1996.

GERBA, C. P. Risk Assessment. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.; GERBA, C. P. (Ed.)

Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000. p.557-70.

HAAS, C. N.; ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Quantitative Microbial Risk Assessment. 1.ed.

New York: John Wiley & Sons, 1999.

MARKS, M. M. et al. Topics in microbial risk assessment: dynamic flow tree process. Risk

Analysis, v.18, n.3, p.309-28, 1998.

NARDOCCI, A. C. Risco como instrumento de gestão ambiental. 1999. 135p. Tese

(Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São

Paulo. São Paulo.

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente

do Estado de São Paulo, 1995.

11

Page 148: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Microbial Risk Assessment: Stages And Application In The Evaluation Of Water Quality Maria Tereza Pepe Razzolini; Adelaide Cássia Nardocci INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 3, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

PEÑA, C. E.; CARTER, D. E.; AYALA-FIERRO, F. Evaluación de riesgos y restauración

ambiental. 2001. Disponível em: superfund.pharmacy.arizona.edu/toxamb/. Acesso em:

15 abr. 2003.

ROSE, J. B.; GERBA, C. P. Use of risk assessment for development of microbial

standards. Wat. Sci. Tech., v.24, n.2, p.29-34, 1991.

RUSIN, P. et al. Environmentally transmitted pathogens. In: MAIER, R. M.; PEPPER, I. L.;

GERBA, C. P. (Ed.) Environmental Microbiology. San Diego: Academic Press, 2000.

p.447-85.

SCHIJVEN, J.; RIJS, G. B.; HUSMAN, A. M. R. Quantitative risk assessment of FMD virus

transmission via water. Risk Analysis, v.25, n.1, p.13-21, 2005.

SOLO-GABRIELE, H.; NEUMEISTER, S. US outbreaks of cryptosporidiosis. J AWWA,

v.88, p.76-86, 1996.

STINE, S. W. et al. Application of microbial risk assessment to the development of

standards for enteric pathogens in water used to irrigate fresh produce. Journal of Food

Protection, v.68, n.5, p.913-8, 2005.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Emerging issues in water and infectious

disease. 2003. Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/emerging/en/. Acesso

em: 20 ago. 2005.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for drinking-water quality. 2004.

Disponível em: www.who.int/water_sanitation_health/dwq/en/. Acesso em: 15 set. 2004.

Article received on 03.08.2006. Approved on 29.09.2006.

12

Page 149: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

ATIVIDADE HOSPITALAR: IMPACTOS AMBIENTAIS E ESTRATÉGIAS

DE ECOEFICIÊNCIA Artur Ferreira de Toledo¹; Jacques Demajorovic²

¹Coordenador do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário de Santo André; ²Coordenador do Curso de Bacharel em Gestão Ambiental do Centro Universitário SENAC.

RESUMO

O setor de serviços apresenta uma variedade de aspectos ambientais que, dependendo

da atividade, podem se transformar em impactos significativos ao meio ambiente. Seus

usuários estão diariamente consumindo recursos como energia e água, gerando grande

quantidade de resíduos sólidos e efluentes. No entanto, é ainda reduzido o número de

estudos publicados que possibilitem quantificar adequadamente os impactos ambientais

das atividades de serviços. Ainda assim, para alguns setores, esses dados começam a

ser disponibilizados, de forma a construir um quadro mais realista do potencial impacto

ambiental dessas organizações. A indústria hoteleira, o setor bancário e os hospitais são

alguns dos exemplos que apresentam maiores informações nesse sentido. Este trabalho

discute os principais impactos ambientais gerados pelo setor hospitalar, destacando as

possíveis estratégias de ecoeficiência, de forma a aprimorar a gestão ambiental nessa

atividade. Na parte final do artigo apresentam-se três estudos de caso desenvolvidos em

hospitais localizados na região metropolitana de São Paulo. Os resultados desta pesquisa

revelaram alguns dos principais indicadores de desempenho ambiental relativos à água,

aos resíduos sólidos e à energia, destacando também alguns dos principais desafios para

a efetiva implementação de estratégia de ecoeficiência no setor.

Palavras-chave: Hospitais; ecoeficiência; impacto ambiental; gestão ambiental.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=29

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 150: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

A ecoeficiência tem assumido um papel cada vez mais importante nas estratégias

de gestão ambiental das organizações. Pressionadas por uma legislação restritiva e

devido ao aumento de custos em relação ao uso dos recursos naturais, um número cada

vez maior de empresas tem superado o paradigma que prevaleceu até a década de 80,

de que o meio ambiente e a competitividade seriam variáveis antagônicas. No entanto,

essa ferramenta, que, até meados dos anos 90, praticamente se restringiu ao setor

empresarial, começa a ser cada vez mais difundida também no setor de serviços.

No estágio atual em que se encontra a economia mundial, o reconhecimento

dessa ferramenta no setor de serviços é fundamental para a mitigação de impactos do

setor empresarial como um todo. Afinal, grande parte da riqueza gerada na economia tem

origem nesse setor. Nos Estados Unidos, por exemplo, o setor de serviços, que inclui uma

enorme gama de atividades, como restaurantes, hospitais, instituições bancárias, entre

outras, contribuiu com 75% do PIB em 1997, cerca de US$ 3,8 trilhões, e com 80% do

emprego (GUILE et al. 1997, citado por DAVIES et al., 2000). No Brasil, caminhando na

mesma direção, o setor de serviços já responde por cerca de 60% do PIB nacional (DIAS,

2002).

Os números apresentados relativos à relevância econômica do setor serviços,

porém, não contabilizam o aumento do impacto ambiental associado à expansão dessas

atividades. Toda a atividade pertencente ao setor de serviços, em menor ou maior escala,

gera impactos ambientais em seu dia-a-dia, que incluem o consumo de energia e de

água, a geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, poluição do ar, além de

alterações nos ecossistemas e ambientes naturais. Muitos desses impactos poderiam ser

evitados ou restringidos, caso essas atividades incorporassem medidas para a

racionalização dos recursos naturais.

A atividade hospitalar está entre as inúmeras modalidades de serviços que pode

desempenhar um papel central na mitigação ou expansão dos impactos socioambientais

associados ao setor. Os hospitais, entre todas as atividades de serviços, são um dos

principais consumidores de energia elétrica, além de gerarem quantidade significativa de

resíduos. Nesse contexto, a ecoeficiência constitui uma ferramenta essencial para que

também as atividades hospitalares possam conciliar maior eficiência econômica e menor

2

Page 151: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

impacto ambiental. Este artigo analisa os principais impactos ambientais associados às

atividades hospitalares, destacando como a ecoeficiência vem sendo incorporada nesses

empreendimentos. Em sua parte final, apresenta-se um estudo de caso, incluindo três

hospitais localizados no município de Santo André, debatendo as perspectivas da

incorporação da ecoeficiência no processo de tomada de decisão relativa ao

gerenciamento das unidades hospitalares.

ECOEFICIÊNCIA

Nas últimas décadas, em paralelo ao debate sobre desenvolvimento sustentável,

uma série de ferramentas voltadas à concretização da responsabilidade socioambiental

no âmbito empresarial tem sido discutida, tais como produção limpa, produção mais

limpa, prevenção à poluição e ecoeficiência. Dentre todas elas, a ecoeficiência recebeu

especial atenção nos últimos anos. Interessante notar que não se trata de um debate tão

recente, uma vez que, segundo Lehni (2000), o termo ecoeficiência foi utilizado pela

primeira vez pelos pesquisadores Schaltegger e Sturm em 1990.

Nesse processo, uma importante contribuição foi a publicação do livro Mudando o

curso, de Stephan Schmidheiny. Fundador do Conselho Mundial para o Desenvolvimento

Sustentável, o autor defendia uma mudança da percepção do setor empresarial em

relação à variável socioambiental. Ao invés de se colocar exclusivamente como agente do

processo de degradação, o setor empresarial poderia desempenhar um papel crucial para

solucionar os desafios da sustentabilidade global (LEHNI, 2000). No entanto, isto só

ocorreria se fosse possível fundamentar as estratégias empresariais em alternativas que

conciliassem melhorias ambientais e econômicas. Nesse sentido, a busca da

ecoeficiência permitiria ao setor empresarial concretizar tais objetivos.

Desde a publicação de Mudando o rumo, o conceito de ecoeficiência tem sido

constantemente remodelado. No livro, uma empresa ecoeficiente seria aquela que

conseguisse gerar produtos e serviços com maior valor agregado, ao mesmo tempo em

que assegurasse redução do consumo de recursos e menor geração da poluição (LEHNI,

2000). Para a OCDE, a ecoeficiência foi definida como a eficiência com que os recursos

ecológicos são utilizados para atender às necessidades humanas, sendo seu resultado

obtido a partir valor dos produtos e serviços gerados por uma empresa, setor econômico

3

Page 152: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ou ainda um país dividido pela soma das pressões ambientais geradas pelas empresas e

setores. Já para a Agência Ambiental Européia (EEA), que pretende usá-la como um

indicador para quantificar o progresso de um país em direção ao desenvolvimento

sustentável, ecoeficiência é “mais bem-estar com menos natureza” (more welfare from

less nature) (LEHNI, 2000).

Em outros termos, ecoeficiência significa gerar mais produtos e serviços com

menor uso dos recursos e diminuição da geração de resíduos e poluentes. Considerada

dessa forma, a ecoeficiência tem conseguido grande aceitação no meio empresarial,

embora possa ser também ser observada, mais recentemente, a publicação de diversos

trabalhos ressaltando as limitações dessa ferramenta. Uma das principais razões que

explica a sua popularidade junto ao setor empresarial é o fato de que a ecoeficiência não

impõe limites ao crescimento e não envolve restrições a qualquer tipo de atividade

industrial. Como afirmam Holidday et al. (2002), seu objetivo é o crescimento mais

eficiente a partir de uma abordagem de negócios que minimizem os impactos ambientais.

Na prática, essa abordagem possibilita que uma organização seja considerada

ecoeficiente ao conseguir reduzir sua poluição relativa, ainda que, em termos absolutos,

esta tenha aumentado.

Tal flexibilidade mostra-se compatível com as formas atuais de conduzir os

negócios, baseadas nas mudanças incrementais da eficiência dos processos, propiciando

maior interesse por parte das empresas em implementar estratégias de ecoeficiência em

sua gestão. De fato, inúmeros estudos têm demonstrado que, tanto no setor industrial

como de serviços, estratégias de ecoeficiência têm propiciado reduções significativas nos

custos com matéria-prima e energia. No entanto, para seus críticos, não se pode creditar

à ecoeficiência a potencialidade para a concretização de desenvolvimento sustentável.

Segundo a OCDE, para que a ecoeficiência alcançasse tal objetivo, seria necessário um

aumento em mais de 10 vezes na produtividade média dos recursos nos países

industrializados nos próximos 30 anos, de forma que se assegurasse uma expansão da

produção a partir de cada vez menos recursos naturais (DAY, 2004).

O próprio Day (ibid.) contesta essa visão otimista, ressaltando que os ganhos

obtidos nas últimas décadas, na eficiência dos processos, não foram suficientes para

compensar o aumento em termos absolutos do consumo de recursos. Segundo o autor,

economias altamente industrializadas, como Estados Unidos, Alemanha e Japão,

4

Page 153: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

conseguiram expressivos aumentos da produtividade de recursos, o que favoreceu a

redução em cerca de 20% da intensidade de materiais em relação ao PIB nos últimos 20

anos. No entanto, o consumo total de recursos nesses países aumentou 27,7% no

mesmo período. O mesmo raciocínio é válido em relação ao consumo de energia.

Enquanto, nos Estados Unidos, projeta-se um aumento de 20% do consumo de energia

para os próximos 20 anos, na Ásia estima-se um crescimento em mais de 40% para o

mesmo período.

Ainda para Day (ibid.), as mudanças incrementais propiciadas pelos ganhos de

ecoeficiência seriam um passo importante, mas não suficiente para alcançar o

desenvolvimento sustentável. O verdadeiro desafio está na incorporação contínua de um

processo de inovação baseado na transformação radical das tecnologias, garantindo

novos processos e produtos, ao invés de concentrar-se apenas na melhoria dos

processos atuais. Ainda segundo o autor, o problema não está no conceito de

ecoeficiência e sim em sua aplicação. Segundo ele, o conceito atual de ecoeficiência é

suficientemente amplo para incorporar os desafios da sustentabilidade, uma vez que inclui

mudanças no processo e na inovação nos produtos.

Segundo o Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, a

ecoeficiência é composta por sete elementos: redução da intensidade do material;

redução da intensidade de energia; redução de emissão de substâncias tóxicas; aumento

da reciclabilidade; maximização do uso de fontes renováveis; aumento da durabilidade

dos produtos; e aumento da intensidade de serviços (HOLLIDAY et al., 2002).

Esses elementos mostram claramente que a ecoeficiência não se limita a

mudanças incrementais no uso de recursos. Em muitos casos, isso significa vender

serviços no lugar de produtos, o que possibilita ao consumidor ter suas necessidades

atendidas com menos emprego de recursos.

É o caso da parceria da empresa suíça Mobility com a Ferrovia Federal Suíça. Ao

usuário, oferece-se um sistema de compartilhamento de automóveis que permite ao

credenciado utilizar um automóvel estacionado em lugares predefinidos durante

determinado tempo e, por meio de uma parceria com a empresa ferroviária suíça,

disponibiliza-se para os interssados tarifas promocionais para o uso de trem. O resultado

dessa iniciativa é a mudança do comportamento dos usuários na atividade de transporte,

utilizando muito mais os serviços ferroviários do que o automóvel. Além disso, usuários

5

Page 154: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

freqüentes desse serviço consomem, em média, menos da metade de combustível por

ano, quando comparados aos proprietários de automóveis. Para a empresa ferroviária, a

principal vantagem é o aumento do uso dos serviços por parte dos usuários do sistema

(LEHNI, 2000).

Para Day (2004), no entanto, o que prevalece na maior parte das organizações

empresariais é uma ênfase na eficiência do processo como sinônimo de ecoeficiência,

enquanto o desenvolvimento de novos produtos e novos serviços continua a ocupar uma

posição secundária. Nesse sentido, uma aplicação parcial do conceito de ecoeficiência

não pode ser confundida com o desenvolvimento sustentável. Além disso, é importante

frisar que a ecoeficiência não trabalha com todas as variáveis presentes no debate atual

sobre sustentabilidade socioambiental corporativa. Trata-se de um conceito que relaciona

apenas duas dimensões: econômica e ambiental. A variável social, elemento fundamental

do tripple bottom line, não está incluída. Apesar desses limites, a ecoeficiência é uma

ferramenta fundamental para as estratégias das organizações, particularmente para as

atividades de serviços, que apresentam elevado potencial de gerar impacto ambiental,

como no caso dos hospitais.

SERVIÇO HOSPITALAR E OS IMPACTOS AMBIENTAIS

O setor hospitalar tem uma importância econômica cada vez maior nos países

desenvolvidos. Uma pesquisa apresentada por Davies e Lowe (1999), nos Estados

Unidos, mostrou que o setor é responsável por empregar um em cada nove

trabalhadores, gerando gastos de um a cada sete dólares na economia. Além disso, essa

atividade emprega cerca de 10.000 milhões de pessoas, inclusos 200.000 consultórios

médicos, 100.000 consultórios odontológicos, 20.000 laboratórios, 10.000 casas de saúde

e 8.000 clínicas.

Além de sua importância econômica, o modo particular de funcionamento dos

hospitais envolve uma gama de atividades que apresenta grande potencial para a

geração de impactos ambientais. Essas organizações operam 24 horas por dia, 365 dias

no ano, possuem equipamentos diversos para a produção de alimentos, consomem óleo

combustível para a geração de energia e demandam também uma variedade de outros

recursos comuns em quantidades consideráveis, incluindo borracha, plásticos e produtos

6

Page 155: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

do papel. Nesse contexto, os hospitais executam funções muitas vezes semelhantes

àquelas encontradas na indústria, tais como lavanderia, transporte, limpeza, alimentação,

processamento fotográfico, entre outras. Porém, de forma distinta de outras atividades,

seja industrial ou de serviços, os hospitais consomem grande quantidade de produtos

médicos descartáveis, que são usados para impedir a transmissão das doenças para

seus médicos, pacientes e funcionários.

Com essas características presentes, os hospitais, em sua operação, geram, de

um lado, uma grande quantidade de resíduo e, de outro, demandam grande quantidade

de recursos como energia elétrica e água. Davies e Lowe (ibid.) citam que a geração de

resíduos pelo setor é significativa e constante, durante todo ano. Embora, segundo Velez

(2004), 85% dos resíduos de um hospital possam ser reciclados, os 15% restantes são

constituídos por materiais infectantes e perigosos, demandando cuidados especiais para

seu manuseio e destinação. É o caso de seringas utilizadas, anestésico, desinfetantes,

reagentes e resíduos radioativos, entre outros.

Para a maior parte dos resíduos considerados perigosos, a principal alternativa

tem sido a incineração, resultando em emissões atmosféricas oriundas dos equipamentos

de queima. Dados de EWG (1997, apud DAVIES e LOWE, 1999), os EUA possuem 2.400

incineradores nos próprios hospitais, sendo que 2/3 (1.600) não empregam nenhum tipo

de dispositivo de controle de poluição.

Os dados disponíveis no Guia de Ecoeficiência para Hospitais também indicam o

potencial impacto ambiental dessa atividade com relação ao consumo de energia e água.

Velez (2004) aponta que o consumo de energia é bastante diversificado, incluindo

atividades de iluminação, ar condicionado, caldeiras e cozinhas, o que faz com que esse

recurso, na ausência de qualquer plano racionalização, possa representar de 15 a 30% do

faturamento da organização. Por sua vez, Davies et al. (1999), relatam que o elevado

consumo de energia dos hospitais norte-americanos contribui para que essas unidades

apresentem o segundo maior consumo entre todos os prédios comerciais, sendo que os

indicadores disponíveis revelam que o consumo de energia elétrica média é de 240

kWh/m2/ano.

7

Page 156: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O uso de água também é diversificado, incluindo instalações sanitárias, tanto para

pacientes como para visitantes, lavanderia, limpeza de instalações, restaurantes e jardins.

Os indicadores disponíveis indicam que o total de consumo é muito variável, dependendo

do grau de desenvolvimento do país. Na Dinamarca, por exemplo, o consumo de água fria

por cama/dia chega a registrar quase 600 litros, enquanto na Áustria esse valor alcança

200 l/c/d. Já quando se compara o consumo de água quente em hospitais nos Estados

Unidos e países do leste Europeu, a diferença é de 340 para 110 l/c/d (VELEZ, 2004).

Se a preocupação em construir indicadores de desempenho ambiental já está

presente em muitos países, no caso brasileiro há ainda um longo caminho para se

quantificar corretamente o impacto ambiental associado à atividade hospitalar. De fato,

até o início de 1990, não havia nenhuma preocupação maior com os resíduos

hospitalares, quando comparados os resíduos em geral, ainda que seu potencial de gerar

danos socioambientais fosse bem mais elevado. Eram acondicionados de qualquer

maneira, em geral em sacos impermeáveis, mas também em outros invólucros, sendo

que o local de armazenamento temporário era a céu aberto, sujeitos as intempéries, aos

animais, que, muitas vezes, espalhavam resíduos pelas áreas externas dos hospitais

(DIAS, 2004, p. 25).

Tal preocupação com o manuseio diferenciado dos resíduos hospitalares, segundo

Dias (ibid.), só surgiu a partir do momento em que o paciente passou a ser visto como

consumidor e a exigir um tratamento diferenciado, passando a participar ativamente de

todas as ações que eram realizadas para a recuperação de sua saúde. Ainda segundo a

autora, o surgimento da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – AIDS obrigou os

profissionais da saúde a reverem seus procedimentos em relação aos resíduos e sua

contribuição na cadeia de transmissão de doenças. Os materiais perfuro-cortantes

adquiriram enorme importância nesse contexto, exigindo medidas cautelosas em seu

descarte.

Atualmente, a legislação brasileira, por meio de resolução da Comissão Nacional

de Meio Ambiente - CONAMA (283/2001), exige que qualquer unidade que execute

atividades de natureza médico-assistencial humana ou animal possua um Plano de

Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Saúde – RSS, do mesmo modo que a Resolução

33/2003 da ANVISA.

8

Page 157: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

No entanto, segundo Dias (ibid.), há um conflito entre as resoluções CONAMA e

ANVISA, embora seja inegável o mérito de estabelecer as primeiras diretrizes sobre o

manejo dos RSS e de provocar discussões a respeito. Ainda assim, essa falta de

consenso entre as duas resoluções demonstra que não há uma solução única para o

problema. Para o cumprimento do que estabelece a legislação, os hospitais,

normalmente, delegam essa atividade de gerenciamento para o serviço de higiene e

limpeza, fato esse passível de questionamento, tendo em vista a necessidade do

envolvimento de todos os colaboradores. Souza (2003, apud Dias, 2004), preconiza que

os profissionais que atuam nesse processo não têm uma abordagem ambiental na sua

formação, sendo esta técnica, específica, e não proporciona o preparo necessário que

possibilite as condições que garantam a minimização dos riscos ambientais internos e

externos.

Com relação ao gerenciamento de água, tanto no que se refere ao consumo desse

recurso como o tratamento dos efluentes gerados, poucas são as iniciativas voltadas à

implementação de ações para a utilização racional da água e tratamento adequado antes

de seu descarte. Nesse contexto, com base nas informações obtidas junto à bibliografia

existente sobre o assunto e o desenvolvimento dos estudos de caso, foi construído um

quadro-resumo contendo alguns exemplos de setores e atividades, seus principais

aspectos e impacto dos hospitais. Cabe ainda salientar que os setores comuns a outras

atividades econômicas, tais como recepção, estacionamento, área verde, restaurante e

cozinha, administração, loja de conveniência, manutenção, lavanderia, utilidades, sistema

de incêndio, entre outros, não foram alvo de estudo no quadro abaixo.

9

Page 158: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A partir dos dados apresentados, identifica-se a necessidade de aprimorar ações

de gestão ambiental nas organizações. Importa destacar que algumas iniciativas em

curso, desenvolvidas em alguns hospitais, indicam a potencialidade da aplicação da

ecoeficiência nessas organizações. Induzidos por uma legislação mais rigorosa e por um

aumento de custos de operação com alguns recursos como água e energia, alguns

hospitais estão implementando ações que estão conseguindo conciliar benefícios

econômicos com melhoria do desempenho ambiental. Alguns exemplos são os casos do

10

Page 159: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Hospital Pablo Tobón Uribe e do Hospital Infantil Clínica Noel, ambos instalados na

Colômbia, e do Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo, entre outros.

Esses hospitais, conforme registrado pelo Centro Nacional de Produção Mais

Limpa e Tecnologias Ambientais de Medelin (2001), Colômbia, e pelo relatório da

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2002), Brasil, lograram, por

meio da adoção da ecoeficiência, de ações preventivas e de programas educativos,

reduzir a geração de resíduos totais e infectantes. Além disso, registraram uma

significativa diminuição no consumo de água e energia por paciente atendido.

Autores como Neto (2001), Novaes (1994) e Azevedo (1993) relatam medidas

possíveis de serem adotadas por organizações hospitalares de forma a conciliar ganhos

econômicos e ambientais. Com respeito às medidas mais recomendadas e mais

significativas, destacam-se:

Modernizar os elevadores: nos serviços hospitalares, os elevadores

representam um altíssimo consumo de energia;

Desligar ar condicionado, quando não é necessária a sua utilização;

Utilizar gases nas caldeiras para pré-aquecer a água: economizar

gás para o aquecimento da água, bem como identificar se existem excessos de

oxigênio nas caldeiras para a combustão;

Utilizar somente um chiller (sistema de refrigeração de água).

Normalmente usam-se dois chiller’s para esfriar a água dos sistemas de ar

condicionado. Sempre que estão ligados, recomenda-se usar somente um, quando

o sistema não está trabalhando com capacidade máxima;

Isolar os circuitos e instalar interruptores de tal forma que se possa

apagar as luzes de diferentes áreas quando elas não são necessárias; também se

recomenda a instalação de sensores de movimento e/ou temporizadores para

controlar a iluminação;

Substituir a iluminação padrão por luzes de alta eficiência em áreas

comuns e instalar lâmpadas de alto rendimento em áreas de trabalho; redesenhar

11

Page 160: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

os sistemas de iluminação de acordo com as necessidades de cada área

específica e montar um programa de economia de energia;

Regular o fluxo de água através da instalação de sistemas

economizadores em lavabos, chuveiros, áreas de limpeza e sanitários. Substituir

as válvulas hidras convencionais, por válvulas econômicas, diminuir o volume de

descarga, substituindo as caixas de descarga de 12 litros por caixas de 6 litros;

Implementar uma política de não aceitação de produtos embalados

em materiais não recicláveis e melhorar continuamente o manejo de resíduos

sólidos. Evitar a mistura de resíduos perigosos com resíduos contaminados.

Os exemplos citados mostram algumas das perspectivas para as atividades

hospitalares no sentido de garantir ganhos econômicos e ambientais. Ainda assim, no

Brasil, esse debate é incipiente, sendo que a maior parte dos administradores desses

empreendimentos está pouco sensibilizada com relação à adoção de práticas de

ecoeficiência em suas atividades. Nesse contexto, apresentam-se a seguir três estudos

de caso objetivando discutir desafios e perspectivas para a ecoeficiência nos hospitais.

ESTUDOS DE CASOS

As organizações pesquisadas são formadas por dois hospitais particulares e um

hospital público e possuem, pelo menos teoricamente, riscos acentuados de impactos

ambientais. Foram realizados contatos telefônicos e visitas sistemáticas para o

levantamento dos dados. No presente estudo, os nomes das organizações e seus

respondentes permaneceram anônimos, respeitando-se a identidade e o sigilo necessário

para a não exposição dos pesquisados. Cabe ressaltar que, pelo fato de a presente

pesquisa ser exploratória, possuindo limitações, há necessidade de cautela na

generalização dos resultados, merecendo por isso estudos complementares, bem como

uma análise mais apurada dos resultados obtidos.

A pesquisa foi realizada na cidade de Santo André, localizada a sudoeste da

Região Metropolitana de São Paulo, Brasil. Santo André vive, economicamente, um

período de transição, sendo que seu forte passado industrial cede hoje lugar à

convivência entre indústrias remanescentes, que se modernizam poupando mão-de-obra,

12

Page 161: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

e um setor terciário em expansão. Como ocorreu na Região do ABC, levantamentos de

dados e indicadores econômicos revelam uma grande desconcentração industrial no

município, prevalecendo com forte crescimento o setor de serviços, que assume papel

estratégico no processo de reestruturação produtiva hoje discutido na região. Segundo

dados da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC (1999), as indústrias no

município são responsáveis por 23% da mão-de-obra formalmente ocupada, enquanto o

setor de serviços, incluso atividades de construção civil, comércio e administração pública

assumem a responsabilidade por 77%, sinalizando e fortalecendo sua importância na

economia local.

Com relação aos números de hospitais existentes na região, Nascimento (2002)

cita que a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir 1989 e a muncipalização dos

serviços de saúde fez com que a região metropolitana de São Paulo, como as demais

regiões do Brasil, enfrentasse novos desafios para a gestão do sistema de saúde. Os

grandes investimentos necessários nessa área, no que se refere a equipamentos de alta

tecnologia e exames sofisticados, representam grandes desafios para as finanças

municipais.

Nesse contexto, é necessário mencionar que as três organizações estudadas

apresentam diferentes realidades, portanto, distintas soluções para o tratamento do tema

ecoeficiência, pois se encontram em diferentes patamares de gestão, no entanto, estão

sujeitas à legislação e às obrigações quanto ao gerenciamento de resíduos perigosos.

Cabe salientar, ainda, que os três hospitais apresentam as mesmas características e

similaridade de atividades, portanto, são considerados hospitais gerais.

Ainda assim, dos três hospitais, apenas os dois, particulares, estão no nível de

oferecer aos seus pacientes serviços de hotelaria hospitalar. Segundo Torres (2001), essa

modalidade de serviço é conceituada como a reunião de todos os serviços de apoio,

associada a serviços específicos, que, juntos, oferecem aos clientes internos e externos

conforto, segurança e bem-estar durante seu período de internação/atividade. O conceito

de hotelaria hospitalar nasceu no Brasil há pouco mais de uma década, com o surgimento

de alguns fatores que forçaram essa necessidade emergente. Já o Hospital público não

se enquadra nessa classificação por não oferecer os mesmos serviços. No entanto, tem

uma característica distinta das outras organizações por ser hospital/escola, utilizado para

13

Page 162: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

residência médica da Faculdade de Medicina do ABC, o que contribui para a análise dos

dados em discrepância ante os demais casos estudados.

Para a medida de comparação da avaliação do desempenho ambiental dos

hospitais foram utilizados os indicadores propostos pelo Guía Sectorial de Producción

Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y Centros de Salud (MEDELIN, 2001), em função de

carência de estudos no país sobre performance ambiental em hospitais. Como resultado,

definiram-se os seguintes indicadores: resíduos sólidos (kg/leito/dia); resíduos sólidos

infectantes (kg/leito/dia); consumo total de água quente e fria (m3/leito/dia); e consumo de

energia elétrica (kwh/leito/dia). O quadro abaixo mostra os resultados alcançados dos

indicadores selecionados em diferentes países e regiões:

Os dados mencionados no quadro a seguir resumem os resultados obtidos pela

pesquisa junto aos três hospitais, apresentando-se depois uma análise individual de cada

um dos indicadores selecionados.

14

Page 163: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ENERGIA ELÉTRICA

Para a obtenção do indicador relacionado ao consumo de energia elétrica, foi usada a

seguinte fórmula:

Os dados retratam percentuais diferenciados de performance em relação ao item

consumo de energia. No hospital A, o consumo de energia é na ordem de 35,83

Kw/h/leito/dia; 63,9% superior ao consumo do hospital B e 113% superior aos dados

coletados no hospital C.

Segundo informações coletadas junto aos respondentes, a significativa diferença

entre os indicadores explica-se em função dos aspectos de hotelaria hospitalar, que uma

ou outra organização oferece aos seus clientes. O hospital A, conforme explicações

anteriores, conta com um número maior de equipamentos eletroeletrônicos, bem como

outros equipamentos que promovem o conforto dos pacientes, portanto, consumindo mais

energia. Os dados comprovam que, na medida em que é maior a oferta de conforto e de

atividades de serviços diferenciadas de exames, o consumo de energia aumenta.

Com relação aos indicadores definidos com base em estudos de casos

internacionais correlatos e referências obtidas junto ao Centro Nacional de Producción

15

Page 164: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Más Limpia y Tecnologias Ambientales, os três casos estudados demonstram baixa

performance, enquanto o valor típico estabelecido pelo Quadro 2 é de 6,6 Kw/h/leito/dia.

O hospital A apresenta como valor 35,83 Kw/h/leito/dia; o hospital B, 21,86 Kw/h/leito/dia;

e o hospital C, 16,80 Kw/h/leito/dia, sendo este último o que mais se aproxima do valor

típico estabelecido pelo manual, porém, assim mesmo, um valor quase três vezes maior.

ÁGUA

Para a obtenção do indicador relacionado ao consumo de água foi usada a

seguinte fórmula:

Os dados retratam percentuais de performance próximos nos hospitais privados

(hospital A e B), em relação ao tema consumo de água. Enquanto, no hospital A, o

consumo de água é da ordem de 0,5 m3/leito/dia, o hospital B apresenta 0,4 m3/leito/dia.

O que se destaca nesses números é referente ao consumo de água no hospital C,

público, cujo indicador obtido é de 0,85 m3/leito/dia, ou seja, 112% maior do que o

consumo do hospital B. Esse fato pode ser explicado em função da existência de

atividades de lavanderia, que, embora terceirizadas, permanecem ainda dentro de suas

instalações, consumindo água.

Também quando comparados esses números com os dados internacionais

disponíveis, nota-se que o desempenho das três organizações estudadas apresentam

baixa performance, pois o número estabelecido pelo Centro de Estudos é de 0,2

m3/leito/dia, enquanto o hospital A apresenta, como valor, 0,5 m3/leito/dia; o hospital B

apresenta 0,4 m3/leito/dia; e o hospital C, 0,85 m3/leito/dia. Cabe destacar que, entre os

casos estudados, o valor registrado como melhor desempenho é o dobro daquele

estabelecido como valor típico.

16

Page 165: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

RESÍDUOS TOTAIS

Para a obtenção do indicador relacionado à geração de resíduos totais, foi usada a

seguinte fórmula:

Os dados retratam percentuais diferenciados de performance em relação ao item

geração de resíduos totais. Registra-se que, no hospital A, a geração de resíduos é na

ordem de 5,5 kg/leito/dia; 18% inferior à geração do hospital B (6,5 kg/leito/dia) e 1.164%

inferior aos dados coletados no hospital C (64,07 kg/leito/dia). O hospital público gera

aproximadamente doze vezes mais resíduo leito/dia do que os privados, tidos como

parâmetro.

Segundo os dados quantitativos coletados junto aos informantes, a significativa

diferença existente entre os indicadores pode ser explicada em função do controle mais

rigoroso e pleno que a atividade privada deve ter, em função dos custos oriundos para a

destinação adequada e para o cumprimento da legislação. O hospital A, conforme

explicações anteriores, apresenta um sistema implementado de gerenciamento de

resíduos, bem como indicadores de performance medidos mensalmente. Nesse aspecto,

o hospital A apresenta medidas corretivas de gerenciamento, porém não apresenta

medidas preventivas e educativas relacionadas à geração de resíduos.

No comparativo, em relação à geração de resíduos totais, o menor valor típico

estabelecido pelo Guia Setorial é de 0,14 – 3,5 kg/leito/dia, valor resultante de estudos

realizados na Ásia, Oriente Médio e África, conforme apresentado no Quadro 2. Com

relação ao maior valor típico, estabelecido pelo Guia Setorial, registra-se 8,46 kg/leito/dia,

resultado de estudos realizados nos Estados Unidos da América.

Os resultados da pesquisa dos três casos estudados apresentam os seguintes

valores: o hospital A gera resíduos na ordem de 5,5 kg/leito/dia; o hospital B, 6,5

kg/leito/dia; e o hospital C, 64,07 kg/leito/dia. Portanto, os resultados apresentados pelos

hospitais privados estão acima dos menores valores típicos estabelecidos pelo Guia,

17

Page 166: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

porém abaixo do maior valor. Quanto ao hospital público, o valor é mais de 60 vezes

maior do que o menor valor e sete vezes maior do que o maior valor apresentado como

indicador típico.

RESÍDUOS INFECTANTES

Para a obtenção do indicador relacionado à geração de resíduos infectantes, foi

usada a seguinte fórmula:

Com relação aos resíduos infectantes gerados pelas organizações pesquisadas, a

situação não é diferente, apresentando indicadores diferenciados de performance

equivalentes aos dados obtidos com relação aos resíduos sólidos. Enquanto, no hospital

A, a geração de resíduos é da ordem de 1,0 kg/leito/dia, 150% inferior à geração do

hospital B (2,5 kg/leito/dia), os dados coletados no hospital C (50,5 kg/leito/dia)

apresentam-se 50 vezes maiores que os do hospital A.

Segundo os dados qualitativos coletados junto aos informantes, a significativa

diferença existente entre os indicadores pode se justificar, como ocorre com os resíduos

totais, devido ao controle mais rigoroso a que estão sujeitos os empreendimentos

privados e aos custos para cumprir a legislação e destinar adequadamente seus resíduos.

O hospital A, como já apontado anteriormente, apresenta um sistema implementado de

gerenciamento de resíduos, bem como indicadores de performance medidos

mensalmente. Nesse aspecto, apresenta medidas corretivas de gerenciamento, apesar de

não dispor de medidas preventivas e educativas com relação à geração.

Quanto à geração de resíduos infectantes, o menor valor típico estabelecido pelo

Guia Setorial é de 0,01 – 0,2 kg/leito/dia, valor resultante de estudos nos Estados Unidos.

Com relação ao maior valor típico estabelecido pelo Guia Setorial, os valores encontrados

na França, Bélgica e Inglaterra variaram de 1,5 - 2 kg/leito/dia. Os três casos estudados

apresentam os seguintes resultados: o hospital A gera resíduos infectantes na ordem de

18

Page 167: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

1,0 kg/leito/dia; o hospital B, 2,5 kg/leito/dia; e o Hospital C, 50,32 kg/leito/dia. Os

hospitais privados apresentam, se comparados aos maiores valores típicos, resultados

satisfatórios, com destaque para o hospital A; porém, o hospital público estudado possui

um número 25 vezes maior do que o maior valor estabelecido pelo Guia.

A partir dos dados apresentados, percebe-se que os desempenhos dos hospitais

estudados nos indicadores avaliados apresentam uma baixa performance, como no caso

da energia elétrica e da água. Já o que se refere aos resíduos totais e infectantes, o

desempenho é mais próximo aos dados internacionais.

Ainda que os dados levantados no hospital público possam dar a impressão de

que os hospitais privados têm uma preocupação maior com o gerenciamento de seus

recursos, de forma a garantir melhor desempenho econômico e ambiental, a pesquisa

revelou que, de forma geral, estratégias efetivas de ecoeficiência estão ausente dos

modelos de gestão em hospitais. Esse fato torna-se mais evidente quando se analisam os

dados referentes à energia e à água, uma vez que estas são variáveis muito mais

recentes nas decisões dos administradores hospitalares.

Se, para resíduos, já há uma legislação em vigor desde 1990, o que tem levado os

hospitais a procurar alternativas para destinar adequadamente os resíduos, é possível

inferir que a mesma sensibilização para a questão da água e da energia não está

presente nos processos de tomada de decisão dos hospitais no país. Nesse sentido, não

é surpresa que, nesses indicadores, os resultados sejam bem superiores aos disponíveis

na literatura e em casos internacionais, indicando que há inúmeras possibilidades para os

hospitais analisados, no sentido de melhoria de seus indicadores ambientais a partir da

implementação efetiva de estratégias de ecoeficiência.

CONCLUSÕES

A ecoeficiência vem ocupando um espaço cada vez maior nos debates sobre

como conciliar desempenho econômico e compromisso ambiental. Há diversas razões

que explicam o maior interesse pela ferramenta. Em primeiro lugar, o aumento de custos

com recursos naturais torna cada vez mais evidente, para os gestores empresariais, a

necessidade de adotar estratégias de racionalização do consumo desses insumos. Em

19

Page 168: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

segundo lugar, o avanço tecnológico evidencia que a implementação de ações que

restrinjam os impactos ambientais pode gerar benefícios referentes à competitividade das

atividades empresariais.

Enfim, deve-se destacar o fato de a ecoeficiência ser uma ferramenta compatível à

lógica da atividade empresarial. Ela não impõe limites ao crescimento e não envolve

restrições a qualquer tipo de produto ou processo, limitando-se ao objetivo de tornar o

empreendimento mais competitivo e, ao mesmo tempo, minimizar seus impactos

ambientais. Esta última característica da ecoeficiência tem gerado algumas críticas, no

que tange à supervalorização dessa ferramenta pelo setor empresarial, como instrumento

suficiente para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Embora tal crítica não possa desprezada, inúmeros exemplos têm mostrado a

potencialidade dessa ferramenta em gerar benefícios econômicos e ambientais. Importa

destacar que o emprego dessa estratégia, que até o início dos anos 90 esteve

praticamente restrito ao âmbito empresarial, começa a ocorrer também no setor de

serviços. Isso é fundamental, pois quanto mais esse o setor se afirma, na sociedade pós-

industrial, como principal vetor de geração de riquezas e emprego, também maior é a sua

contribuição para o agravamento dos impactos ambientais.

Isso é particularmente verdadeiro para a atividade hospitalar, uma vez que

desempenha um papel central na mitigação ou na expansão dos impactos

socioambientais associados ao setor. A pesquisa revelou que, até o início da década de

90, a geração de resíduos produzidos pelos hospitais não era alvo de muita preocupação

e, principalmente, a sua disposição final por parte dos profissionais da saúde e nem do

poder público. Uma conscientização maior surgiu apenas em função da mudança do

comportamento dos usuários desses serviços e do surgimento da Síndrome de

Imunodeficiência Adquirida – AIDS, obrigando todos os envolvidos no processo a

reavaliarem seus procedimentos.

Uma das principais razões para isso estaria, como mencionado ao longo deste

trabalho, no fato de que o tema ambiental é ainda pouco abordado no processo de

capacitação e formação dos profissionais da área da saúde. Tal afirmação parece

confirmada, pelo menos considerando as informações levantadas nos hospitais

analisados. Nesse quadro, a incorporação de estratégias de ecoeficiência poderia

melhorar bastante o desempenho dos indicadores analisados, potencializando ganhos

20

Page 169: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

econômicos e ambientais, e aproximando o valor de tais indicadores daqueles disponíveis

no cenário internacional.

Quanto às organizações estudadas, é preciso mencionar que apresentaram

diferentes realidades, portanto, distintas soluções para o tratamento do tema

ecoeficiência, pois estavam em diferentes patamares de gestão. Identificou-se, também,

que entre os três hospitais analisados, destaca-se o hospital particular com características

de hotelaria, cujo processo de ecoeficiência possui sinais de implementação, embora

seus gestores não tenham ciência do tema.

Além disso, o hospital público é um destaque negativo ante os demais hospitais,

em todos os quesitos englobados na pesquisa, pois apresenta indicadores de

performance em níveis bem mais baixos do as demais organizações.

Embora este estudo não tenha esgotado todas as possibilidades ante sua

complexidade temática, acredita-se que possa contribuir para que as instituições

hospitalares considerem a possibilidade de adoção de um efetivo plano de gerenciamento

ambiental e o desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada à prevenção,

resultando em benefícios nos campos econômico, ambiental e social.

Para alcançar tais resultados, considera-se que o desenvolvimento de modelos de

gestão em atividades de serviço e, particularmente, em hospitais deverão valorizar cada

vez mais a ecoeficiência como um de seus pilares em seus processos de tomada de

decisão.

21

Page 170: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ABC (1999). Atividade

Econômica nos anos 90 no Grande ABC. Caderno de Pesquisa, n. 3 e 4. Santo

André.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA - RDC n. 33, de 25/02/

2003.

AZEVEDO, Antonio Carlos (1993). Indicadores de Qualidade e Produtividade em Serviços de Saúde. Informativo CQH. Faculdade de Saúde Pública, USP. Departamento de Prática de Saúde Pública. Administração Hospitalar. São Paulo: Associação de Medicina,.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (2001). Resolução número 283/2001, de 01 de outubro.

CENTRO NACIONAL DE PRODUCCIÓN MÁS LIMPIA y TECNOLOGIAS AMBIENTALES

(2001). Guia Sectorial de Producción Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y

Centros de Salud. Medelin.

DAVIES, Torrey e LOWE, I. Adam (1999). Environmental Implications of the Health

Care Service Sector. Discussion Paper 00-01. October

DEMAJOROVIC, Jacques (2003). Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental: perspectivas para educação corporativa. São Paulo: Editora Senac.

DAY, Robert M. (1998). Beyond Eco-Eficiency: Sustainability as a Driver for Innovation. PERSPECTIVES, global leadership, mar.

DIAS, Marlene Martins Dias (2002). Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um turismo sustentável. Monografia (Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental) – Faculdade de Educação Ambiental. São Paulo, Centro Universitário SENAC.

DIAS, Maria Antonia de Andrade (2004). Resíduos dos serviços de saúde e a contribuição do hospital para a preservação do meio ambiente. Revista Academia de Enfermagem. Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, v. 2, n. 2. São Paulo: Demais Editora.

GODOI, Adalto Felix de (2004). Hotelaria Hospitalar e humanização no atendimento

em hospitais: pensando e fazendo. São Paulo: Ícone.

HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Sthephan e WATTS, Philip (2002). Cumprindo

o prometido: casos de sucesso de desenvolvimento sustentável. Rio de

Janeiro: Campos.

LEHNI, Markus (2000). Eco-efficiency: creating more value with less impact.

Switzerland: WBCSD.

NASCIMENTO, Vânia Barbosa do (2001). A metrópole paulista e a saúde. São Paulo em

Perspectiva, (jan.) pp. 112-116. São Paulo.

22

Page 171: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Atividade Hospitalar: Impactos Ambientais E Estratégias De Ecoeficiência Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

NETO, Milton Menezes da Costa (2001). Instrumento de avaliação para hospital geral

de pequeno porte. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde,.

NOVAES, Humberto de Moraes (1994). Padrões: Indicadores de qualidade para

hospitais. Brasil – Washington, D.C.: OPAS.

SOUZA, Marco Antonio de (2001). Proposta sistemática para melhoria do

desempenho ambiental em processos hospitalares. Dissertação de Mestrado

(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa

Catarina. Florianópolis.

SCHMIDHEINY, Stephan (1992). Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial

global sobre desenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: Editora da

Fundação Getúlio Vargas.

TORRES, Silvana (2001). Limpeza e higiene, lavanderia hospitalar. 2 ed. ver. e ampl.

São Paulo: CLR Balleiro.

VELEZ, Carolina (2004). Guia sectorial de production mas limpia: hospitales,

clinicas e centros de salud. Centro Nacional de Produção Más Limpia y

Tecnologias Ambientales. Disponível em www.cnpml.org. Acesso em 20/04.

http://www.sabesp.com.br/a_sabesp/estatuto/default.htm. Acesso 22/02/2004.

Artigo recebido em 22.11.2005. Aprovado em 21.03.2006.

23

Page 172: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

HOSPITAL ACTIVITIES: ENVIRONMENTAL IMPACT AND

ECOEFFICIENCY STRATEGIES Artur Ferreira de Toledo¹; Jacques Demajorovic²

¹Coordinator of the course in Environmental Management Technology at the Centro Universitário Santo André; ²Coordinator of the Bachelor’s Degree in Environmental Management at the Centro Universitário SENAC.

ABSTRACT

The service sector presents a variety of environmental aspects that, depending on the

activity, may have a significant impact on the environment. Its users are consuming

resources such as energy and water on a daily basis and generating a great deal of solid

waste and effluents. However, the number of studies that have been published that allow

us to adequately quantify the environmental impact of service activities is still small. Even

so, for some sectors these data are beginning to be made available in such a way as to

allow us to build up a more realistic picture of the potential environmental impact of these

organizations. The hotel industry, banking sector and hospitals are examples of some of

the sectors that provide us with more information on this issue. This work discusses the

main environmental impacts generated by the hospital sector and highlights the possible

ecoefficiency strategies that can lead to improvements in environmental management in

this particular activity. In the final part of the article we look at three case studies that were

developed in hospitals located in the Greater Metropolitan Region of Sao Paulo. The

results of this research revealed some of the main environmental performance indicators

relating to water, solid waste and energy and also highlighted some of the main challenges

to the effective introduction of an ecoefficiency strategy for the sector.

Key words: Hospitals; ecoefficiency; environmental impact; environmental management.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=41

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 173: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

Ecoefficiency has been playing an increasingly important role in the

environmental management strategies of organizations. Pressured by restrictive

legislation and because of an increase in the costs of natural resources, a growing

number of companies have overcome the paradigm that prevailed until the 80s that

the environment and competitiveness are antagonistic variables. This tool,

however, which until the mid-90s was, for all practical purposes, restricted to the

business sector, is beginning to be increasingly employed in the service sector,

also.

In the current stage in which the world economy finds itself recognition of this tool

in the service sector is fundamental for mitigating the impacts on the business sector as a

whole. At the end of the day, a large part of the wealth generated in the economy

originates from this sector. In the United States, for example, the service sector, which

includes a huge range of activities, such as restaurants, hospitals, banking institutions and

others, represented 75% of GDP in 1997, nearly US$ 3.8 trillion, and accounted for 80% of

all employment (GUILE et al. 1997, mentioned by DAVIES et al., 2000). In Brazil, which is

going in the same direction, the service sector already responds for nearly 60% of national

GDP (Dias, 2002).

These numbers, showing the economic relevance of the service sector, do not,

however, account for the increase in the environmental impact associated with expansion

of these activities. To a greater or lesser extent, every activity in the service sector

generates environmental impacts in its day to day operations; these include energy and

water consumption, the generation of solid waste and effluents, air pollution and

alterations in ecosystems and natural environments. Many of these impacts could be

avoided, or restricted, if these activities incorporated measures for rationalizing natural

resources.

Hospital activities are among the countless types of service industry that can play a

central role in mitigating, or expanding, the socio-environmental impacts associated with

the sector. of all service activities, hospitals are one of the main consumers of electrical

energy, in addition to generating a significant quantity of waste. in this context

2

Page 174: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

ecoefficiency constitutes an essential tool, so that hospital activities may also reconcile

greater economic efficiency with reduced environmental impact. this article analyses the

main environmental impacts associated with hospital activities, by highlighting how

ecoefficiency is being incorporated into these undertakings. in the final part we present a

case study that includes three hospitals located in the municipality of santo andré and

debate the prospects for incorporating an ecoefficiency strategy into the decision making

process in the management of hospital units.

ECOEFFICIENCY

Over the last twenty years, or so, in parallel with the debate on sustainable

development, a series of tools, aimed at making socio-environmental responsibility a

reality within the business sphere have been discussed, such as clean production,

pollution prevention and ecoefficiency. Of all of them, ecoefficiency is the one that has

been receiving special attention over the last few years. It is interesting to note that this is

not such a recent debate since, according to Lehni (2000), the term ecoefficiency was

used for the first time by the researchers, Schaltegger and Sturm in 1990.

In this process an important contribution was made with the publication of the book,

Changing Course, by Stephan Schmidheiny. The author, founder of the World Business

Council for Sustainable Development, defended a change of perception on the part of the

business sector with regard to the socio-environmental variable. Instead of placing itself

exclusively in the position of agent of the degradation process, the business sector could

perform a crucial role in solving the challenges of global sustainability (LEHNI, 2000). This

would only occur, however, if it was possible to base business strategies on alternatives

that would reconcile environmental and economic improvements. In this sense the search

for ecoefficiency would allow the business sector to turn such objectives into a reality.

Since the publication of Changing Course, the concept of ecoefficiency has been

continuously remodeled. In the book an ecoefficient company is one that manages to

generate products and services with greater added value, while at the same time ensuring

a reduction in the consumption of resources and less pollution generation (LEHNI, 2000).

For the OECD ecoefficiency was defined as the efficiency with which ecological resources

are used to meet human needs, its results being obtained from the value of the products

3

Page 175: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

and services generated by a company, economic sector, or even a country, divided by the

sum of the environmental pressures generated by the companies and sectors. For the

European Environmental Agency (EEA), on the other hand, which intends to use it as an

indicator to quantify the progress of a country towards sustainable development,

ecoefficiency is “more welfare from less nature” (LEHNI, 2000).

In other words, ecoefficiency means generating more products and services with

less use of resources and a decrease in the generation of waste and pollutants.

Considered in this way, ecoefficiency has managed to be accepted in a big way in the

business environment, although more recently we have also seen the publication of

various works pointing out the limitations of this particular tool. One of the main reasons

explaining its popularity with the business sector is the fact that ecoefficiency imposes no

limits on growth and does not involve restrictions as to the type of industrial activity. As

Holliday et al. (2002) state, its objective is more efficient growth from an approach to

business that minimizes environmental impacts. In practice this approach makes it

possible for an organization to be considered ecoefficient when it manages to reduce its

pollution emissions in relative terms, even though in absolute terms they have increased.

Such flexibility has proved to be compatible with current ways of doing business,

based on incremental changes in process efficiency, thereby making companies more

interested in introducing ecoefficiency strategies into their management practices. In fact,

countless studies have shown that both in the industrial sector, as well as in the service

sector ecoefficiency strategies have led to significant reductions in spending on raw

materials and energy. However, to its critics, ecoefficiency cannot be credited with the

potential for turning sustainable development into a reality. According to the OECD, in

order for ecoefficiency to achieve this objective, the average productivity of resources in

industrialized countries would need to increase more than tenfold over the next 30 years,

in such a way as to ensure an expansion of production, while using increasingly fewer

natural resources (DAY, 2004).

Day (ibid.) himself questions this optimistic vision, by pointing out that the gains

obtained over the last few decades in process efficiency were not enough to compensate

for the increase in absolute terms of resource consumption. According to the author, highly

industrialized economies, such as the United States, Germany and Japan, have managed

to obtain considerable increases in resource productivity, which over the last 20 years has

4

Page 176: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

favored a reduction by nearly 20% in materials intensity in relation to GDP. However, total

consumption of resources in these countries increased 27.7% in the same period. The

same reasoning is valid for energy consumption. While in the United States it is planned

that energy consumption will increase by 20% over the next 20 years, in Asia growth of

more than 40% is estimated for the same period.

For Day (ibid.) incremental changes brought about by ecoefficiency gains would be

an important step, but not sufficient to achieve sustainable development. The real

challenge lies in the continuous incorporation of an innovation process based on the

radical transformation of technology, thereby guaranteeing new processes and products,

instead of concentrating only on improving current processes. Also according to the

author, the problem is not in the concept of ecoefficiency, but in its application. In his

opinion, the current concept of ecoefficiency is sufficiently broad to incorporate the

challenges of sustainability, since it includes process change and product innovation.

According to the World Business Council for Sustainable Development,

ecoefficiency comprises seven elements: a reduction in materials intensity; a reduction in

energy intensity; a reduction in the emission of toxic substances; an increase in

recyclability; maximization of the use of renewable sources; an increase in product

durability; and an increase in service intensity (HOLLIDAY et al., 2002).

These elements clearly show that ecoefficiency is not limited to incremental

changes in the use of resources. In many cases this means selling services in place of

products, which makes it possible for the consumer to have his needs met with less use of

resources.

Such is the case of the partnership of the Swiss company, Mobility, with the Swiss

Federal Railway. To the user Mobility offers an automobile sharing system that allows the

registered person to use an automobile parked in predefined places for a certain period of

time, and via its partnership with the Swiss railway company it makes reduced fares

available on the trains for those who are interested. The result of this initiative is a change

in the behavior of users of the transport system, who now use the rail services much more

than their automobiles. Furthermore, frequent users of this service consume on average

less than half the fuel per year when compared to the owners of automobiles. For the rail

company the main advantage is an increase in the use of their services because of those

who use this system (LEHNI, 2000).

5

Page 177: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

For Day (2004), however, what prevails in the majority of business organizations is

an emphasis on process efficiency, as a synonym of ecoefficiency, while the development

of new products and new services continues to occupy a secondary position. In this sense

a partial application of the concept of ecoeffciency cannot be confused with sustainable

development. Furthermore, it is important to underline that ecoefficiency does not work

with all the variables that are present in the current debate about corporate socio-

environmental sustainability. This is a concept that brings together only two dimensions:

economic and environmental. The social variable, a fundamental element of the triple

bottom line, is not included. Despite these limits ecoefficiency is a fundamental tool when it

comes to organizational strategy, particularly in those service activities that present a

considerable potential for generating an environmental impact, as is the case with

hospitals.

HOSPITAL SERVICES AND ENVIRONMENTAL IMPACTS

The hospital sector has a growing economic importance in developed countries.

Research presented by Davies and Lowe (1999) in the United States showed that the

sector is responsible for employing one in every nine employees and accounts for one in

every seven dollars that is spent in the economy. Furthermore, this activity employs nearly

10 million people, and includes 200,000 medical consulting rooms, 100,000 odontological

consulting rooms, 20,000 laboratories, 10,000 hospitals and 8,000 clinics.

Besides their economic importance the particular way that hospitals function

involves a range of activities that present great potential for causing an environmental

impact. These organizations operate 24 hours a day, 365 days a year, have various pieces

of equipment for producing food, consume fuel oil for generating energy and also demand

a variety of other common resources in considerable quantities, including rubber, plastics

and paper products. In this context hospitals carry out functions that are often similar to

those found in industry, such as laundry, transport, cleaning, food, photographic

processing, and others. What is different from other activities, however, be they in the

industrial or service sectors, is that hospitals consume great quantities of disposable

medical products that are used to prevent the transmission of diseases to their doctors,

patients and employees.

6

Page 178: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Because of these characteristics, in their operations hospitals generate, on the one

hand, a great quantity of waste, and on the other demand a great quantity of resources,

such as electrical energy and water. Davies and Lowe (ibid.) mention that the generation

of waste by the sector is significant and constant throughout the year. According to Velez

(2004) while 85% of the waste from a hospital can be recycled the remaining 15% is made

up of infectious and dangerous material that demands special care when handling and

disposing of. Such is the case, among other things, of used syringes, anesthetics,

disinfectants, reagents and radioactive waste.

For the major part of the waste considered to be dangerous the main alternative

has been incineration, resulting in atmospheric emissions that issue from the equipment

used for burning it. Data from EWG (1997, after DAVIES and LOWE, 1999), show that the

USA has 2,400 hospital incinerators, of which 2/3rds (1600) use no type of device for

controlling pollution.

Data available from the Ecoefficiency Guide for Hospitals also indicate the potential

environmental impact of this activity as far as the consumption of energy and water is

concerned. Velez (2004) points out that the consumption of energy is fairly diversified,

including lighting, air conditioning, boilers and kitchen activities, which means that in the

absence of any plan for its rationalization this resource may account for between 15-30%

of the organization’s revenue. Likewise, Davies et al. (1999), report that the high energy

consumption of North American hospitals contributes to the fact that these units present

the second highest consumption of all commercial buildings, with available indicators

revealing that their average electricity consumption is 240 kWh/m2/per year.

The use of water is also varied and includes sanitary installations, both for patients

as well as for their visitors, laundry, the cleaning of installations and restaurants and the

watering of gardens. The available indicators show that total consumption is very variable

and depends on the degree of development of the country. In Denmark, for example, the

consumption of cold water per bed/day is almost 600 liters, while in Austria this figure is

200 l/bed/day. When we come to compare the consumption of hot water in hospitals in the

United States and countries in Eastern Europe the difference varies from 340 to 110

l/bed/day (VELEZ, 2004).

7

Page 179: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

If there is already a concern in many countries with building up the indicators of

environmental performance, in Brazil there is still a long way to go before we correctly

quantify the environmental impact associated with hospital activities. In fact, until the

beginning of 1990 there was no great concern with hospital waste, compared to waste in

general, even though its potential for causing socio-environmental damage is a great deal

higher. It was handled and packed in any way whatsoever, generally in water-proof sacks,

but also in other types of container, and local temporary storage was in the open air,

exposed to the elements and subject to animals that often scattered the waste around the

external areas of the hospitals (DIAS, 2004, p. 25).

According to Dias (ibid.), this concern with a different way of handling hospital

waste only arose when the patient came to be seen as a consumer who demanded

differentiated treatment and started to actively participate in everything that was done to

set him or her back on the road to full health. Also, according to the author, the rise of

Acquired Immune Deficiency Syndrome – AIDS - obliged health professionals to review

their procedures with regard to waste and its contribution to the disease transmission

chain. Perforating and cutting materials acquired an enormous importance in this context,

demanding special care when it came to disposing of them.

Currently, Brazilian legislation, by means of a resolution from the National

Environmental Commission - CONAMA (283/2001), demands that all units that carry out

activities of a human or animal medical assistance nature have a Plan for Managing Solid

Waste in the Health Area (RSS), in the same way as Resolution 33/2003 of ANVISA

[National Sanitary Vigilance Agency].

According to Dias (ibid.), however, there is a conflict between the CONAMA and

ANVISA resolutions, although the merit of establishing the first directives on the handling

of RSS and of provoking discussion of the subject is undeniable. Even so, this lack of

agreement between the two resolutions shows that there is no single solution to the

problem. In order to fulfill what the legislation lays down, hospitals normally delegate this

particular management activity to a hygiene and cleaning service, which in itself is a

questionable move, in view of the need for involving all employees. Souza (2003, after

DIAS, 2004) says that the professionals who are actively involved in this process have no

8

Page 180: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

environmental aspect to their training, which is technical and specific and does not provide

them with the necessary preparation that makes it possible to guarantee minimization of

internal and external environmental risks.

With regard to the management of water, both as far as the consumption of this

resource is concerned, as well as the treatment of the effluents that are generated, there

are few initiatives directed at the introduction of actions for its rational use and suitable

treatment before it is discarded. In this context, based on the information obtained from the

bibliography existing on this subject and the development of the case studies, a Figure

was constructed that summarizes some of the examples from different sectors and

activities, their main aspects and the impact hospitals have. We also must emphasize that

sectors that are common in other economic activities, such as reception, car parking,

green area, restaurant and kitchen, administration, convenience store, maintenance,

laundry, utilities, fire prevention system, and others, were not the subject of the study in

the figure below.

9

Page 181: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

From the data presented we identified that there is a need to improve

environmental management actions in organizations. It is important to highlight that some

of the current initiatives in hospitals indicate that there is a potential for applying

ecoefficiency in these organizations. As a result of more rigorous legislation and

persuaded by an increase in operating costs with resources such as water and energy,

some hospitals are introducing actions that manage to reconcile economic benefits with

improvements in environmental performance. Examples of this are the Pablo Tobón Uribe

Hospital and the Noel Child Clinical Hospital, both in Colombia, and the Sao Paulo Clinical

Hospital Complex, among others.

10

Page 182: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

As recorded by the Medelin National Center for Cleaner Production and

Environmental Technologies (2001), Colombia, and the report of the Basic Sanitation

Company of the State of Sao Paulo [CETESB] (2002), Brazil, these hospitals succeeded in

reducing the amount of total and infectious waste they generated by means of

ecoefficiency initiatives, preventive actions and educational programs. Furthermore, they

recorded a significant decrease in the consumption of water and energy per patient

handled.

Authors like Neto (2001), Novaes (1994) and Azevedo (1993) report on the

possible measures that may be adopted by hospital organizations to reconcile economic

gains with environmental gains. The following stand out as being the most recommended

and most significant measures:

Modernize elevators: in hospital services elevators consume an extremely high

amount of energy;

Switch off air conditioning when its use is unnecessary;

Use gas in boilers to pre-heat the water: economize gas for heating water and

identify if there is excess oxygen in the boilers for combustion purposes;

Use only one chiller (water cooling system). Normally two chillers are used to cool

the water in the air conditioning system. Every time it is switched on it is

recommended that only one chiller be used when the system is not working at full

capacity;

Isolate circuits and install switches in such a way that the lights in different areas

may be switched off when they are unnecessary; the installation of movement

sensors and/or time switches for controlling lighting is also recommended;

Substitute standard lighting for highly efficient lights in public areas and install high

performance lamps. In working areas, redesign the lighting systems according to

the needs of each specific area and prepare an energy economy program;

Regulate the flow of water by installing economy systems in wash-rooms, showers,

cleaning areas and rest-rooms. Substitute conventional valves for economy valves

11

Page 183: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

to reduce the volume of water when flushing the toilet, and substitute 12 liter

cisterns for 6 liter ones;

Introduce a policy of non-acceptance of products packaged in non-recyclable

materials and continuously improve the handling of solid waste. Avoid mixing

dangerous waste with contaminated waste.

The examples mentioned show some of the things that hospitals can do to

guarantee they have both economic and environmental gains. Even so, in Brazil this

debate is just beginning and the majority of the managers of these undertakings are fairly

insensitive to the need to adopt ecoefficiency practices in their activities. It is within this

context that, with the aim of discussing the challenges and prospects for ecoefficiency in

hospitals, we present the following three case studies.

CASE STUDIES

The organizations we researched comprise one public and two private hospitals

and they present, at least theoretically, a high risk of environmental impacts. We had

contact with them by telephone and we visited them personally in order to collect the data.

In this study the names of the organizations that took part in the research and their

respondents are not revealed, thus respecting their identity and providing the necessary

secrecy. It must be emphasized that because this research is exploratory and has its

limitations, it is necessary to be cautious when it comes to making any generalizations

about the results; the research merits complementary studies and a more detailed analysis

of the results.

The research was done in the city of Santo André, which is located in the

Metropolitan Region of Sao Paulo, Brazil. Economically Santo André is going through a

transitional period. Today, its strong industrial past is giving way to a situation where the

remaining industries that are modernizing, and thus economizing labor, coexist alongside

a tertiary sector that is expanding. As happened in the ABC Region, the economic data

and indicators reveal a great industrial deconcentration in the municipality, where a

strongly growing service sector, a sector that is assuming a strategic role in the process of

production restructuring that is today under discussion in the region, is prevailing.

12

Page 184: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

According to data from the Economic Development Agency for the ABC Region (1999),

industry in the area is responsible for 23% of the formally employed labor force, while the

service sector, including civil construction, commerce and public administration activities,

is responsible for 77%, thus indicating its importance within the local economy and

strengthening its position.

With regard to the number of hospitals in the region, nascimento (2002) mentions

that the creation of the single health system (sus) in 1989 and the municipalization of

health services have meant that the metropolitan region of sao paulo, along with other

regions in brazil, has been facing new challenges when it comes to managing its health

system. the major investments necessary in this area, as far as high technology equipment

and sophisticated examinations are concerned, are a great challenge for municipal

finances.

In this context we need to mention that the three organizations studied present

different realities, and therefore different solutions when it comes to dealing with the theme

of ecoefficiency, because they are at different levels of management development. They

are, however, all subject to the same legislation and obligations as far as the management

of dangerous waste is concerned. We also need to emphasis that the three hospitals

present the same characteristics and have similar activities and are therefore considered

to be general hospitals.

Even so, of the three hospitals, only the two private ones are at a level that allows

them to offer their patients hotel hospital services. According to Torres (2001) this type of

service is conceived of as bringing together all the support services, in association with

specific services, and which together offer comfort, security and well-being to both internal

and external customers during their period of internment/activity. The hotel hospital

concept arrived on the scene in Brazil a little more than ten years ago, when some factors

occurred that forced this emergent need. The public hospital, on the other hand, does not

fit into this classification because it does not offer the same services. It does, however,

have a characteristic that differentiates it from the other organizations; it is a

hospital/school, used for medical residency by the ABC Faculty of Medicine, which leads

to some discrepancies in the data analyzed when compared to the other cases we studied.

13

Page 185: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

In order to measure the comparison between the environmental performance

evaluations of the hospitals we used the indicators proposed by the Sector Guide for

Cleaner Production: Hospitals, Clinics and Health Centers (Medelin, 2001), because of a

lack of studies in this country on environmental performance in hospitals. As a result we

defined the following indicators: solid waste (kg/bed/day), infectious solid waste

(kg/bed/day), total consumption of hot and cold water (m3/bed/day) and consumption of

electrical energy (kwh/bed/day). The following figure gives the results of the indicators

selected for different countries and regions:

The data mentioned in the table below summarize the results obtained from the

research into the three hospitals. this is followed by an individual analysis of each of the

indicators we selected.

14

Page 186: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Electrical energy

To obtain the indicator relating to the consumption of electrical energy we used the

following formula:

The data provide us with the different performance percentages relating to energy

consumption. in hospital a, energy consumption is of the order of 35.83 kw/h/bed/day,

63.9% greater than the consumption of hospital b and 113% greater than the data

collected from hospital c.

According to the information we collected from the respondents the significant

difference between the indicators can be explained by the hotel hospital aspects of

service, which one or another organization offers to its customers. hospital a, as explained

previously, has a larger number of items of electro-electronic equipment, as well as other

pieces of equipment that add to the comfort of the patients, but consume more energy. the

data prove that as hospitals offer greater comfort and different examination services, so

energy consumption increases.

In comparison with the indicators we defined from our study of correlated

international cases and the references obtained from the National Center of Cleaner

15

Page 187: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Production and Environmental Technologies, where the typical value for Figure 2 is 6.6

Kw/h/bed/day, the three cases we studied proved to have a poor performance; hospital A’s

value is 35.83 Kw/h/bed/ day, hospital B’s, 21.86 Kw/h/bed/day and hospital C’s, 16.80

Kw/h/bed/day. The latter is the closest to the typical value established by the manual,

although even so it is a value that is almost three times greater.

Water

To obtain the indicator relating to water consumption we used the following

formula:

The data provide us with performance percentages in the private hospitals

(hospitals a and b), with regard to water consumption, which are very close. while in

hospital a water consumption is around 0.5 m3/bed/day, hospital b’s is 0.4 m3/bed/day.

what stands out from these numbers is the water consumption in hospital c, the public one,

the indicator of which is 0.85 m3/bed/day, or 112% greater than the consumption of

hospital b. this fact may be explained by the existence of laundry activities, which,

although they are outsourced, are still on hospital premises, thus consuming water.

Also when we compare these numbers with the international data available, we

note that the performance of the three organizations studied is poor, because the number

established by the Study Center is 0.2 m3/bed/day, while hospital A’s value is 0.5

m3/bed/day, hospital B’s is 0.4 m3/bed/day and hospital C’s is 0.85 m3/bed/day. It is worth

pointing out that, of the cases we studied, the value we recorded as having the best

performance is double that established as a typical value.

Total waste

To obtain the indicator relating to the generation of total waste we used the

following formula:

16

Page 188: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The data provide the different performance percentages relating to the generation

of total waste. we can see that in hospital a the generation of waste is of the order of 5.5

kg/bed/day, 18% less than that generated by hospital b (6.5 kg/bed/day) and 1,164% less

than data we collected from hospital c (64.07 kg/bed/day). the public hospital generates

approximately twelve times more waste per bed per day than the private ones, which we

have taken as the parameter.

According to the quantitative data we collected from the respondents the significant

difference between the indicators can be explained by the more rigorous and complete

control that any privately owned activity must have because of the costs arising from

appropriate disposal of the waste and in order to comply with the legislation. as we

previously explained, hospital a has a system for managing waste, as well as performance

indicators that are measured on a monthly basis. in this aspect hospital a takes corrective

management measures, but does not take preventive or educational measures relating to

the generation of waste.

In comparative terms, with regard to the generation of total waste the lowest typical

value established by the Sector Guide is 0.14 – 3.5 kg/bed/day, a value resulting from

studies carried out in Asia, the Middle East and Africa, as shown in Figure 2. With regard

to the highest typical value established by the Sector Guide, this is 8.46 kg/bed/day,

registered in studies carried out in the United States.

The results of the research of our three cases give the following values: hospital A

generates waste of the order of 5.5 kg/bed/day, hospital B, 6.5 kg/bed/day and hospital C,

64.07 kg/bed/day. The results from the private hospitals, however, are greater than the

lowest typical values established by the Guide, albeit below the largest value. As for the

public hospital the value is more than 60 times greater than the lowest value and seven

times greater than the largest value shown as a typical indicator.

17

Page 189: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Infectious waste

To obtain the indicator relating to the generation of infectious waste we used the

following formula:

With regard to the infectious waste generated by the organizations we looked at

the situation is no different, with performance indicators that are the equivalent of the data

obtained for the solid waste. while in hospital a the generation of waste is of the order of

1.0 kg/bed/day, 150% less than that generated by hospital b (2.5 kg/bed/day), the data

collected from hospital c (50.5 kg/bed/day) are 50 times greater than for hospital a.

According to qualitative data collected from the respondents, as with total waste,

the significant difference between the indicators may be justified by the more rigorous

control to which private undertakings are subject and by the costs incurred in complying

with the legislation and disposing of their waste adequately. hospital a, as already pointed

out previously, has a system of waste management, as well as monthly measured

performance indicators. so, it has corrective management measures relating to the

production of waste, despite not having preventive and educational measures.

As far as the generation of infectious waste is concerned the lowest typical value

established by the Sector Guide is 0.01 – 0.2 kg/bed/day, a value resulting from studies in

the United States. With regard to the highest typical value established by the Sector

Guide, the values found in France, Belgium and England varied from 1.5 - 2 kg/bed/day.

The three cases we studied presented the following results: hospital A generates

infectious waste of the order of 1.0 kg/bed/day, hospital B, 2.5 kg/bed/day and hospital C,

50.32 kg/bed/day. The private hospitals, when compared to the largest typical values, offer

satisfactory results, with hospital A standing out, although the public hospital we studied

has a number that is 25 times greater than the largest value established by the Guide.

From the data presented we can see that the performance of the hospitals we

looked at in those indicators we evaluated is poor, as in the case of electrical energy and

18

Page 190: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

water consumption. When it comes to total and infectious waste the performance is nearer

the international data.

Even though the data collected in the public hospital may give the impression that

the private hospitals have a greater concern with managing their resources in order to

guarantee a better economic and environmental performance, the research revealed that,

generally speaking, these hospitals do not work with management models that have

effective strategies of ecoefficiency. This fact becomes more obvious when we analyze the

data referring to energy and water, since these are much more recent variables in the

decisions of hospital administrators.

If for waste there has been legislation in force since 1990, which has led hospitals

to look for alternatives for appropriately disposing of it, we can infer that there is not the

same sensitivity with regard to the issue of water and energy when it comes to the

decision-making processes of hospitals in Brazil. It is therefore not surprising that in these

Brazilian indicators the results are much higher than those shown in literature and in

international cases, indicating that there are countless possibilities for the hospitals we

analyzed to improve their environmental indicators by effectively introducing ecoefficiency

strategies.

CONCLUSIONS

Ecoefficiency has been occupying an increasingly larger space in the debate on

how to reconcile economic performance and environmental commitment. There are

various reasons that explain the increased interest in this tool. First of all, the hike in

spending on natural resources makes it increasingly evident to business managers of the

need for adopting strategies for rationalizing the consumption of these in-puts. Secondly,

technological advance provides evidence that the introduction of actions that restrict

environmental impacts may generate benefits when it comes to the competitiveness of

business activities.

19

Page 191: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Finally, we must emphasize the fact that ecoefficiency is a tool that is compatible

with the logic of business activity. It does not impose limits on growth, neither does it

involve restrictions of any type whatsoever; it is limited to its objective of making the

undertaking more competitive, while at the same time minimizing environmental impact.

This latter characteristic of ecoefficiency has generated some criticism; there are those

that allege that the business sector overvalues this tool as being an instrument that is in

itself capable of achieving sustainable development.

Although such a criticism cannot be ignored, countless examples have shown the

potential of this tool for generating economic and environmental benefits. It is important to

emphasize that use of this strategy, which until the 90s was practically restricted to the

business sphere, is beginning to occur also in the service sector. This is fundamental,

because, in the post-industrial society, the more this sector affirms itself as the main vector

for generating wealth and employment, the greater will be its contribution to the situation of

worsening environmental impacts.

This is particularly true for the hospital activity, since it has a central role to play in

mitigating or expanding the socio-environmental impacts associated with the service

sector. the research revealed that until the beginning of the 90s the generation of waste by

hospitals, and in particular its final disposal, was not the target of much concern as far as

health professionals, or even public authorities, were concerned. a greater awareness

arose only because of the change in behavior of users of these services and the

appearance of acquired immune deficiency syndrome, which obliged all those involved to

re-evaluate their procedures.

As has been mentioned throughout this work, one of the main reasons for this is

the fact that the environmental issue is still little dealt with in the process of training and

preparing professionals for the health area. Such a statement appears to have been

confirmed, at least when we consider the information collected in the hospitals we

analyzed. In this situation the incorporation of strategies of ecoefficiency may considerably

improve the performance in the indicators we analyzed, which in turn will lead to economic

and environmental gains and bring the value of these indicators closer to the values to be

found in the international scenario.

20

Page 192: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

As for the organizations we studied, we need to mention that, because they are at

different levels of management development, they presented different realities and

therefore require different solutions for dealing with ecoefficiency issues. We also identified

that between the three hospitals we analyzed the private hospital with hotel characteristics

stood out; it shows all the signs of introducing a process of ecoefficiency, although its

managers have no knowledge of the subject.

Furthermore, the situation of the public hospital is negative when compared with

the other hospitals in all the issues covered in this research, because it has lower

performance indicators than those in the other organizations.

Although this study has not exhausted all the possibilities of this complex subject

we believe that it can make a contribution, so that hospital institutions can start to consider

the possibility of adopting an effective plan for environmental management and the

development of an organizational culture directed at prevention, thereby resulting in

benefits in the economic, environmental and social fields.

To achieve these results we consider that the development of management models

in service activities, and in particular in hospitals, should increasingly value ecoefficiency

as one of the pillars of its decision making processes.

21

Page 193: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

REFERENCES

AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ABC (1999). Atividade

Econômica nos anos 90 no Grande ABC. Caderno de Pesquisa, n. 3 e 4. Santo

André.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA - RDC n. 33, de 25/02/

2003.

AZEVEDO, Antonio Carlos (1993). Indicadores de Qualidade e Produtividade em Serviços

de Saúde. Informativo CQH. Faculdade de Saúde Pública, USP. Departamento

de Prática de Saúde Pública. Administração Hospitalar. São Paulo: Associação de

Medicina,.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (2001). Resolução número 283/2001, de 01 de outubro.

CENTRO NACIONAL DE PRODUCCIÓN MÁS LIMPIA y TECNOLOGIAS AMBIENTALES

(2001). Guia Sectorial de Producción Mas Limpia: Hospitales, Clínicas y

Centros de Salud. Medelin.

DAVIES, Torrey e LOWE, I. Adam (1999). Environmental Implications of the Health

Care Service Sector. Discussion Paper 00-01. October

DEMAJOROVIC, Jacques (2003). Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental: perspectivas para educação corporativa. São Paulo: Editora Senac.

DAY, Robert M. (1998). Beyond Eco-Eficiency: Sustainability as a Driver for Innovation. PERSPECTIVES, global leadership, mar.

DIAS, Marlene Martins Dias (2002). Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um turismo sustentável. Monografia (Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental) – Faculdade de Educação Ambiental. São Paulo, Centro Universitário SENAC.

DIAS, Maria Antonia de Andrade (2004). Resíduos dos serviços de saúde e a contribuição do hospital para a preservação do meio ambiente. Revista Academia de Enfermagem. Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, v. 2, n. 2. São Paulo: Demais Editora.

GODOI, Adalto Felix de (2004). Hotelaria Hospitalar e humanização no atendimento

em hospitais: pensando e fazendo. São Paulo: Ícone.

22

Page 194: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Hospital Activities: Environmental Impact And Ecoefficiency Strategies Artur Ferreira de Toledo; Jacques Demajorovic INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 4, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

HOLLIDAY, Charles O.; SCHMIDHEINY, Sthephan e WATTS, Philip (2002). Cumprindo

o prometido: casos de sucesso de desenvolvimento sustentável. Rio de

Janeiro: Campos.

LEHNI, Markus (2000). Eco-efficiency: creating more value with less impact.

Switzerland: WBCSD.

NASCIMENTO, Vânia Barbosa do (2001). A metrópole paulista e a saúde. São Paulo em

Perspectiva, (jan.) pp. 112-116. São Paulo.

NETO, Milton Menezes da Costa (2001). Instrumento de avaliação para hospital geral

de pequeno porte. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde,.

NOVAES, Humberto de Moraes (1994). Padrões: Indicadores de qualidade para

hospitais. Brasil – Washington, D.C.: OPAS.

SOUZA, Marco Antonio de (2001). Proposta sistemática para melhoria do

desempenho ambiental em processos hospitalares. Dissertação de Mestrado

(Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa

Catarina. Florianópolis.

SCHMIDHEINY, Stephan (1992). Mudando o rumo: uma perspectiva empresarial

global sobre desenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: Editora da

Fundação Getúlio Vargas.

TORRES, Silvana (2001). Limpeza e higiene, lavanderia hospitalar. 2 ed. ver. e ampl.

São Paulo: CLR Balleiro.

VELEZ, Carolina (2004). Guia sectorial de production mas limpia: hospitales,

clinicas e centros de salud. Centro Nacional de Produção Más Limpia y

Tecnologias Ambientales. Disponível em www.cnpml.org. Acesso em 20/04.

http://www.sabesp.com.br/a_sabesp/estatuto/default.htm. Acesso 22/02/2004.

Article received on 22.11.2005. Approved on 21.03.2006.

23

Page 195: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A QUALIDADE DO AR DE INTERIORES E A SAÚDE HUMANA Maria de Fátima Barrozo da Costa1; Marco Antonio Ferreira Costa2

1 Doutora em Saúde Pública. Pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / Fundação Oswaldo Cruz; [email protected] 2 Doutor em Ensino de Biociências e Saúde. Professor e Pesquisador

da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fundação Oswaldo Cruz; [email protected]

RESUMO

Os crescentes questionamentos sobre a qualidade do ar de interiores no Brasil e a

necessidade do entendimento dos fatores que contribuem para sua complexidade e suas

relações com a saúde humana tornaram-se temas de estudos relevantes para a saúde

pública em nosso país. Este texto objetiva contextualizar a poluição do ar de interiores

como um fator de risco à saúde humana, apresentando os principais fatores que

contribuem para a qualidade do ar de interiores e os possíveis agentes causadores de

agravos à saúde, enfatizando a necessidade de se estabelecer indicadores que possam

ser utilizados na prevenção, controle e promoção da saúde humana em tais ambientes.

Palavras-chave: qualidade do ar de interiores; saúde humana; síndrome do edifício

doente; doença do ambiente interno.

.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=28

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 196: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

O impacto da qualidade do ar de interiores sobre a saúde e o bem-estar das

pessoas que utilizam ou trabalham em ambientes aclimatados artificialmente tem sido

tema de pesquisas na área da Saúde Pública desde 1970 (WHO, 2000).

Os modernos edifícios, aclimatados artificialmente, projetados para oferecer o

máximo de conforto a seus ocupantes, muitas vezes com arrojados projetos

arquitetônicos, podem estar criando um ambiente ameaçador à saúde humana. Vários

estudos têm atribuído à má qualidade do ar interior a incidência de relatos de queixas

entre os ocupantes desses locais, relativas à saúde e ao desconforto ambiental, como

também, elevado número de absenteísmo, temperamento alterado, insatisfação e baixo

rendimento no trabalho (GIODA & NETO, 2003; HOJO et al., 2005).

Os ambientes aclimatados artificialmente são considerados ambientes complexos,

em virtude da infinidade de componentes químicos (substâncias tóxicas, carcinogênicas,

radioativas) e biológicos (microrganismos patogênicos) emitidos por diversas fontes, e

que, dependendo das condições físicas (umidade do ar, temperatura do ar, ventilação

inadequada) do ambiente, podem estar interagindo entre si. Além disso, vários estudos

têm evidenciado que o ar interior dos ambientes fechados pode ser mais poluente do que

o ar exterior (LEE et al., 2006).

Diante da relevância do tema e pelo fato de existirem poucos estudos no Brasil

nesta importante área da Saúde Pública, ressalta-se a necessidade de desenvolver

programas de estudos da qualidade do ar de interiores, dentro de um contexto multi-

interdisciplinar, visando contribuir para um melhor entendimento da questão e para o

delineamento de indicadores que potencializem a saúde e o bem-estar dos ocupantes em

tais ambientes.

Assim, em função da dimensão e complexidade da temática, este texto objetiva

contextualizar a poluição do ar de interiores como um fator de risco à saúde humana.

2

Page 197: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A EPIDEMIOLOGIA DOS AMBIENTES ACLIMATADOS ARTIFICIALMENTE

Em virtude da complexidade da composição do ar interior em ambientes

aclimatados artificialmente, da especificidade dos poluentes e da susceptibilidade dos

seres humanos a esses poluentes, os estudos epidemiológicos têm sido apontados, no

âmbito científico, como uma ferramenta eficaz na visualização dos primeiros sinais de

alerta da má qualidade do ar de interiores.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no ano de 1982 os sintomas e

sinais relatados por mais de 20 por cento dos ocupantes de ambientes aclimatados

artificialmente, podendo desaparecer ou não quando eles deixavam o local, foram

conceituados como “Síndrome do Edifício Doente” (Sick Building Syndrome). Esses

sintomas e sinais inespecíficos relacionados com a Síndrome do Edifício Doente

envolvem, por exemplo: dor de cabeça; tonteira; náusea; apatia; sonolência; cansaço;

fraqueza; dificuldade de concentração; urticária, irritação e secura na pele; falta de ar;

chiado no peito; coriza; irritação no nariz e na garganta; dor de garganta, irritação, ardor e

lacrimejamento nos olhos (WHO, 1983).

Nessas colocações, os pesquisadores Costa e Brickus (2000) evidenciaram,

através de um estudo epidemiológico envolvendo um shopping center aclimatado

artificialmente, localizado na região do Grande Rio, maior prevalência de sintomas e

sinais referentes à “Síndrome do Edifício Doente” entre os comerciários desse

estabelecimento em comparação com os comerciários de lojas com ventilação natural.

Dentre os 24 sintomas e sinais avaliados, 17 deles (vista cansada, resfriado ou gripe,

rouquidão, dificuldade de respirar, apatia ou desânimo, dor de garganta e cabeça)

apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos estudados

(p<0,001). A pesquisa apontou, também, que o relato de queixas em relação ao

desconforto ambiental, para as variáveis iluminação, umidade relativa do ar e odor, foi

significativamente maior entre os ocupantes dos ambientes aclimatados artificialmente.

Para o entendimento da complexidade desses ambientes artificiais, os pesquisadores

Costa e Brickus (2000) consideraram os diferentes fatores que podem atuar nas relações

entre o homem e o ambiente, interferindo direta ou indiretamente na saúde humana, como

os: individuais (idade, sexo, hábito de fumar); comportamentais (estresse, irritação,

tristeza, dificuldade de concentração); socioeconômicos (faixa salarial); organizacionais

3

Page 198: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

(tipo de trabalho); arquitetônicos (sistema de ventilação, refrigeração) e ambientais

(agentes químicos, físicos e biológicos).

Contudo, para associar determinados ambientes fechados com problemas

específicos relativos à saúde dos seus ocupantes, uma comissão da National Research

Council, em 1987, propôs além da “Síndrome do Edifício Doente” outra nomenclatura, ou

seja, “Doença do Ambiente Interno” ou “Doença Relacionada ao Prédio” ou “Edifício

Doente” (Building-Related Illness).

Dessa forma, “Doença do Ambiente Interno” compreende o relato de sintomas e

sinais característicos da exposição a determinadas substâncias químicas (por exemplo,

monóxido de carbono, formaldeído), bem como as doenças provocada por fungos, vírus e

bactérias, que possam ser identificadas no interior dos edifícios.

Os relatos dos sintomas e sinais relacionados com a “Doença do Ambiente

Interno” freqüentemente não desaparecem quando os seus ocupantes deixam o local, e

muitas vezes afetam somente alguns dos seus usuários. Nesse sentido, para se obter

sucesso na atenuação desses relatos de queixas é preciso identificar e remover a fonte

de exposição.

A biblioteca central da Fundação Oswaldo Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, em

1998, pode ser citada como um exemplo de “Edifício Doente”, onde houve uma

contaminação acentuada de fungos, que se propagou graças à precariedade na

manutenção do sistema de ar condicionado central, o que obrigou ao seu fechamento por

um longo período (STRAUZ et al., 2001).

Diante do exposto, verifica-se que a má qualidade do ar de interiores desempenha

importante papel na causalidade dos agravos a saúde. Seguramente, levando em conta

esta constatação, a poluição do ar interior não se restringe apenas aos edifícios de

escritórios (ZURAIMI et al., 2006), mas inclui ambientes não-industriais, como observado

pelos estudos realizados em residências (ALMEIDA, 2004), escolas (RAMACHANDRAN

et al., 2005), hospitais (LEUNG & CHAN, 2006), centros comerciais (COSTA & BRICKUS,

2000), meios de transportes (LAU & CHAN, 2003) e aeroportos (SILVEIRA et al., 2002).

Apesar dos inúmeros trabalhos de pesquisas que vêm sendo realizados por

pesquisadores da Europa e da América do Norte nessa área, a transposição dos dados

4

Page 199: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

para a realidade brasileira não é indicada, em razão de algumas diferenças, como as

relacionadas a fatores climáticos, e de características típicas de costumes e

comportamentos.

Por isso, seria interessante realizar estudos que visassem ao controle dos fatores

de riscos relacionados aos poluentes do ar interior e dos agravos à saúde, empregando

estudos epidemiológicos e construindo indicadores que permitam uma visão abrangente

da relação entre saúde e ambiente, voltados inteiramente para a realidade brasileira.

Com certeza, esses procedimentos não esgotariam o leque de alternativas

de pesquisas nesses ambientes, mas poderiam gerar conhecimentos e o

desenvolvimento de novas abordagens do problema, contribuindo assim para a

preservação da saúde dos ocupantes desses locais.

AS POSSÍVEIS FONTES POLUENTES E OS AGRAVOS À SAÚDE

Em ambientes industriais, conhecem-se, a priori, os componentes químicos

utilizados, como a matéria-prima, os subprodutos e o produto final, sendo possível, assim,

identificar os poluentes, evidenciar os agravos à saúde decorrentes destes e apontar as

possíveis medidas de prevenção.

Nos ambientes aclimatados artificialmente, “não-industriais”, encontram-se

inúmeras fontes de contaminação que contribuem para a formação da má qualidade do ar

interior, e que podem ser devidas a ventilação inadequada, contaminação interior (fumaça

de cigarro, efluentes do corpo, emissões químicas dos móveis, equipamentos e materiais

de limpeza, cortina, carpete), contaminação exterior (qualidade do ar, veículos, emissões

industriais), contaminação microbiológica (bactérias, fungos) e material de construção.

É preciso ressaltar que a probabilidade de exposições múltiplas devidas à emissão

dessas substâncias para o ar interior em ambientes aclimatados artificialmente é muito

grande. Sabe-se, também, que dependendo da dinâmica dos poluentes e dos parâmetros

físicos presentes nesses ambientes, diferentes efeitos tóxicos (independente, aditivo,

sinérgico, potencializado e antagônico) ao homem podem ser evidenciados. A

possibilidade de efeitos sinérgicos decorrentes de exposições a baixas concentrações tem

sido assinalada pela literatura (HOGUE, 2000).

5

Page 200: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Além disso, incertezas quanto à potencialidade dos agravos à saúde, em relação a

baixos níveis de poluentes no ar interior e ao tempo de exposição a eles, principalmente

entre as substâncias carcinogênicas e mutagênicas, apontam para a relevância de

estudos envolvendo a qualidade do ar de interiores (BRICKUS et al., 2001; COSTA &

COSTA, 2002).

Assim, os agravos à saúde, decorrentes da poluição do ar interior, podem se

manifestar no organismo imediatamente após a exposição ou possivelmente depois de

anos, como no caso dos carcinogênicos. Vale salientar, também, que uma pessoa pode

se tornar suscetível a determinado poluente depois de exposições repetitivas.

O mapeamento dos poluentes comumente encontrados no ar interior de ambientes

fechados que constituem fatores de riscos à saúde tem revelado a presença de

formaldeído, fumaça de cigarros, ozônio, monóxido de carbono, dióxido de carbono,

dióxido de nitrogênio, amônia, radônio, compostos orgânicos voláteis (benzeno, tolueno,

xilenos, estireno, etilbenzeno, percloroetileno) e semi-voláteis, material particulado

respirável, fibras, asbestos, fungos, bactérias, vírus, ácaros.

Dentre os quinhentos compostos orgânicos voláteis normalmente identificados no

ar interior, pelo menos trinta dessas substâncias são carcinogênicas e mutagênicas

(COSTA & COSTA, 2005). Na população em geral, a fumaça do cigarro relaciona-se à

presença de mais de quatro mil poluentes (sendo cinqüenta comprovadamente

carcinogênicas) e é considerada uma das principais fontes de exposição não-ocupacional

ao benzeno (COSTA et al., 2002).

Além disso, a presença de elevados níveis de compostos orgânicos voláteis no ar

interior, em comparação com o ar exterior, alerta para a importância da questão da

qualidade do ar desses microclimas artificiais, tanto quanto da poluição atmosférica

(KOTZIAS, 2005).

Os riscos à saúde associados à exposição de contaminantes biológicos, como as

bactérias, fungos e ácaros, em ambientes fechados, principalmente para pessoas

alérgicas e/ou com o sistema imunológico debilitado, são freqüentemente enfatizados pela

literatura (BRICKUS et al., 2004). Isso ocorreu, por exemplo, em 1977, envolvendo a

bactéria Legionella pneumophila, que causa um dos tipos mais graves de pneumonia,

com alta taxa de mortalidade (BRICKUS et al., 2001).

6

Page 201: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A falta de uma política preventiva nos programas de manutenção nos

sistemas de refrigeração e ventilação pode ser fator determinante para a ocorrência de

poluentes biológicos (microrganismos patogênicos) nos dutos do sistema, e

conseqüentemente constituir uma ameaça à saúde dos seus ocupantes. Os agentes

biológicos podem proliferar na água da bandeja de condensação dos aparelhos de ar

condicionado ou nas torres de refrigeração dos sistemas de ventilação. Arrastada pelo ar,

essa água é introduzida no ambiente refrigerado.

Diante desse quadro, o desconforto ambiental e os relatos de queixas

relativas à saúde, decorrentes da má qualidade do ar de interiores, não podem ser

identificados, minimizados e controlados adequadamente sem o uso apropriado de uma

metodologia que dê conta da complexidade de todos os fatores envolvidos. Portanto,

avaliar a questão sob um enfoque interdisciplinar com certeza contribuirá para um melhor

entendimento do problema, levando à reflexão sobre a necessidade de investigações

envolvendo a identificação dos riscos à saúde, ao mapeamento e controle das prováveis

fontes de poluição e ao levantamento dos possíveis poluentes.

PERSPECTIVAS FUTURAS

Na busca de alternativas para os problemas ecológicos e de superpopulação,

muitos arquitetos vêm propondo possíveis soluções através de projetos audaciosos, nos

quais megaedifícios ou cidades verticais seriam interligados por corredores de aço, vidro

e concreto. Assim, no futuro, estima-se que uma pessoa passará toda a vida nesses

ambientes aclimatados artificialmente, onde poderá morar, estudar, praticar esportes,

fazer compras, trabalhar e se divertir.

Atualmente, no Brasil, a temática “qualidade do ar de interiores” ainda é um campo

de estudos emergente. Apesar do crescente interesse da mídia, dos centros científicos do

país e até mesmo de setores do governo, dispomos de poucos trabalhos de pesquisas

envolvendo a qualidade do ar de interiores e legislações sobre microclimas artificiais.

Estudos adicionais são necessários visando à melhoria da qualidade de vida dos

ocupantes desses ambientes, principalmente no que se refere ao questionamento da

necessidade de uma proposta de valor limite (de referência) em ambientes não-

7

Page 202: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ocupacionais para alguns poluentes presentes no ar interior, especialmente os

carcinogênicos e mutagênicos, pois os padrões industriais, como os Limites de

Tolerância, introduzidos nas Normas Regulamentadoras da Secretaria de Segurança e

Saúde no Trabalho – Ministério do Trabalho (SSST – MTb) não se aplicam a esses

ambientes não-industriais.

É verdade que já contamos com Regulamentações publicadas pelo Ministério da

Saúde/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária, como a Portaria 3.523 (BRASIL, 1998),

que introduziu critérios e procedimentos para limpeza e manutenção dos sistemas de

climatização, e a Resolução nº 9 (BRASIL, 2003) que determina Padrões Referenciais de

Qualidade do Ar de Interiores, em ambientes climatizados artificialmente de uso público e

coletivo. Apesar da relevância dessa resolução, parâmetros imprescindíveis no

estabelecimento de medidas de controle de riscos à saúde, como os compostos orgânicos

voláteis e formaldeídos, não foram contemplados, mas apenas alguns de seus

indicadores (material particulado, dióxido de carbono e temperatura, entre outros).

Deve-se destacar, também, a importância de se investir mais na educação em

saúde, como um instrumento eficaz no processo de conscientização e na luta contínua

para tentar diminuir os agravos à saúde decorrentes dos fatores de riscos gerados pela

exposição de poluentes no ar interior.

As questões relacionadas à qualidade do ar de interiores não devem ser tratadas

linearmente e solucionadas por simples equações matemáticas. É necessário o

envolvimento dos diferentes atores da sociedade e dos serviços de saúde pública, com

base no reconhecimento da incerteza, diante da complexidade e da relevância que

envolvem a temática, no sentido de contribuir para a avaliação e o gerenciamento das

complexas interações do homem, com suas tecnologias e seus ambientes.

Nesse sentido, é preciso intensificar esforços no desenvolvimento de metodologias

dos fatores determinantes e condicionantes dos poluentes do ar interior que interferem na

saúde humana, que poderão gerar ferramentas eficazes no âmbito da Saúde Pública,

contribuindo para a elaboração de políticas voltadas à qualidade do ar de interiores. Da

mesma forma, é preciso estabelecer programas de controle e prevenção dos agravos à

saúde dos ocupantes desses ambientes.

8

Page 203: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. M. Mapeamento da qualidade do ar de interiores de residências no Estado

do Rio de Janeiro. 2004. 150p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola Nacional de

Saúde Pública. Rio de Janeiro.

BRASIL. Portaria 3.523, de 28 ago. 1998. Brasília: Diário Oficial da União, 31 ago. 1998.

BRASIL. Resolução RE n0 9, de 16 jan. 2003. Brasília: Diário Oficial da União, 20 jan.

2003.

BRICKUS, L. S. R. et al. Fungi surveys in Tropical Southeastern Brazil. In:

INTERNATIONAL BIOAEROSAL CONFERENCE, 5, 2004, New York. Abstract. New

York: s.n., 2004.

BRICKUS, L. S. R. et al. Qualidade do ar de interiores e a saúde pública. Revista

Brasileira de Toxicologia, v.14, p.29-35, 2001.

COSTA, M. F. B.; BRICKUS, L. S. R. The effect of ventilation systems on prevalence of

symptoms associated with sick buildings in brazilian commercial establishments. Archives

of Environmental Health, v.55, p.279-83, 2000.

COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Benzeno: uma questão de saúde pública. Interciencia,

v.27, p.201-4, 2002.

COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Segurança e saúde no trabalho: cidadania,

competitividade e produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.

COSTA, M. F. B. et al. A contribuição da fumaça ambiental do cigarro na exposição não-

ocupacional ao benzeno. Revista Brasindoor, v.5, p.14-6, 2002.

GIODA, A.; NETO, F. R. A. Considerações sobre estudos de ambientes industriais e não

industriais no Brasil: uma abordagem comparativa. Caderno de Saúde Pública, v.19,

p.1389-97, 2003.

HOGUE, C. To MBTE or not to MBTE. Chemical and Engineering News, v.78, p.42-6,

2000.

HOJO, S. et al. Use of QEESI questionnaire for a screening study in Japan. Toxicology

and Industrial Health, v.21, p.113-24, 2005.

KOTZIAS, D. Indoor air and human exposure assessment – needs and approaches.

Experimental Toxicology Pathology, v.57, p.5-7, 2005.

9

Page 204: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Qualidade Do Ar De Interiores E A Saúde Humana Maria de Fátima Barrozo da Costa; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

LAU, W. L.; CHAN, L. Y. Commuter exposure to aromatic VOCs in public transportation

modes in Hong Kong. Science of the Total Environment, v.308, p.143-55, 2003.

LEE, T. et al. Relationship between indoor and outdoor bio-aerosols collected with a

button inhalable aerosol sample in urban homes. Idoor Air, v.16, p.37-47, 2006.

LEUNG, M.; CHAN, A. H. S. Control and management of hospital indoor air quality.

Medical Science Monitor, v.12, p.17-23, 2006.

RAMACHANDRAN, G. et al. Indoor air quality in two urban elementary schools. Journal

Occupational Environmental Hygiene, v.2 p.553-6, 2005.

SILVEIRA, M. G. et al. Concentração de fungos no ar em um terminal aeroportuário na

cidade do Rio de Janeiro – Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.27, p.111-

20, 2002.

STRAUZ, M. C. et al. Avaliação das condições de saúde e trabalho em ambientes com

acervos documentais. Revista Brasindoor, v.5, p.22, 2001.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Indoor air pollutants: exposure and health

effects (Euro Reports and Studies, 78). Copenhagen, 1983.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. The right to health indoor air. Bilthoven,

2000.

ZURAIMI, M. S. et al. A comparative study of VOCs in Singapore and European office

buildings. Building and Environment, v.41, p.313-29, 2006.

Artigo recebido em 04.08.2006. Aprovado em 05.10.2006

10

Page 205: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

INDOOR AIR QUALITY AND HUMAN HEALTH Maria de Fátima Barrozo da Costa 1; Marco Antonio Ferreira Costa 2

1 Doctor in Public Health. Researcher at the Sérgio Arouca National School of Public Health / Oswaldo Cruz Foundation. 2 Doctor in the Teaching of Biosciences and Health. Professor and Researcher at the Joaquim

Venâncio Polytechnic School of Health / Oswaldo Cruz Foundation.

ABSTRACT

Indoor air quality and the need for understanding the factors that contribute to its

complexity, are an important area of public health. This paper presents a brief discussion

on indoor air pollution as a risk factor to human health, introducing the main factors that

contribute to indoor air quality and the possible agents that promote adverse effects on

human health. The discussion shows that it is necessary to establish indicators that can

become an effective tool in the detection, prevention and promotion of health in such

environments.

Key words: Indoor air quality, Human health, Sick building syndrome, Building-related

illness

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=40

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 206: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

The impact of the quality of indoor air on the health and well-being of people that

use or work in artificially climatized buildings has been the theme of research in the Public

Health area since 1970 (WHO, 2000).

Modern, artificially climatized buildings, planned to offer the maximum comfort to

their occupants, and often with bold architectural projects, may be creating an environment

that is a threat to human health. Various studies have attributed the poor quality of indoor

air to the high incidence of complaint reports relating to health and environmental

discomfort received from the occupants of these places, as well as to the high level of

absenteeism, mood changes, dissatisfaction and poor work performance (GIODA &

NETO, 2003; HOJO et al., 2005).

Artificially climatized environments are considered to be complex environments,

because of the infinite number of chemical (toxic, carcinogenic and radioactive

substances) and biological (pathogenic micro-organisms) components, issued by various

sources and which, depending on the physical conditions (air humidity, air temperature,

inadequate ventilation) of the environment, may be interacting among themselves.

Furthermore, various studies have shown that the air in closed environments may pollute

more than the air outside (LEE et al., 2006).

Given the relevance of this subject and because there are few studies in Brazil in

this important area of Public Health, the need to develop studies of indoor air quality within

a multi-disciplinary context has arisen, with the aim of contributing to a better

understanding of the issue and to outlining indicators that lead to an increase in the health

and well-being of the occupants of such environments.

Therefore, because of the dimension and complexity of the subject, this text aims

to establish the context within which indoor air pollution is a human health risk factor.

2

Page 207: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The epidemiology of artificially climatized environments

Because of the complexity of the composition of air in artificially climatized

environments, the particular nature of the pollutants and the susceptibility of human beings

to these pollutants, epidemiological studies have been indicated in the scientific field as an

effective tool for detecting the first warning signs of poor indoor air quality.

According to the World Health Organization in 1982, the symptoms and signs

reported by more that 20% of the occupants of artificially climatized environments, that

may, or not, disappear when they leave the place, were classified as “sick building

syndrome”. These unspecific symptoms and signs related to sick building syndrome

involve, for example, headaches, dizziness, nausea, apathy, drowsiness, tiredness,

weakness, difficulty in concentrating, urticaria, irritation and dryness of the skin, shortage

of breath, chest noise, nasal catarrh, nose and throat irritation, a sore-throat, irritated,

burning and watering eyes (WHO, 1983).

The researchers, Costa & Brickus (2000), using an epidemiological study involving

an artificially climatized shopping mall, located in the Greater Rio de Janeiro Metropolitan

area, showed evidence of a greater prevalence of symptoms and signs of “sick building

syndrome” among those who work in the stores in this establishment, than among those

working in stores that have natural ventilation. Of the 24 symptoms and signs they

assessed, 17 of them (tired eyes, colds or flu, hoarseness, breathing difficulties, apathy or

lack of enthusiasm, sore throats and headaches, etc) presented statistically significant

differences between the two groups studied (p<0,001). The research also indicated that

the report of complaints about environmental discomfort for the variables, lighting, relative

air humidity and odors, was significantly greater among the occupants of artificially

climatized environments. To understand the complexity of these artificial environments,

researchers Costa & Brickus (2000) considered the different factors that may operate in

the relationship between man and the environment and that interfere directly or indirectly

in human health, such as those that are personal (age, gender, smoking habits);

behavioral (stress, irritation, sadness, difficulty in concentrating); socio-economic (salary

band); organizational (type of work); architectural (ventilation, refrigeration system) and

environmental (chemical, physical and biological agents).

However, in order to associate certain closed environments with specific problems

relative to the health of their occupants, in 1987, in addition to the “sick building

3

Page 208: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

syndrome”, a committee from the National Research Council proposed another name, i.e.

“building-related illness” or “sick building” syndrome.

“Building-related illness” includes the report of symptoms and signs characteristic

of exposure to certain chemical substances (for example, carbon monoxide,

formaldehyde), as well as illnesses caused by the fungi, viruses and bacteria that can be

identified inside buildings.

Reports of the symptoms and signs related to “building-related illness” indicate that

frequently these do not disappear when the occupants leave the place and often they only

affect some of its users. In this sense, in order to be successful in reducing these

complaint reports it is necessary to identify and remove the source of exposure.

In 1998 the central library of the Oswaldo Cruz Foundation in Rio de Janeiro was

mentioned as an example of a “sick building”, where there was significant fungal

contamination that spread because of the precarious nature of the maintenance of the

central air-conditioning system, obliging the building to be closed for a long period of time

(STRAUZ et al., 2001).

Given the above, we can see that poor indoor air quality plays an important role in

causing damage to health. Taking into consideration this affirmation, there is no doubt that

indoor air pollution is not only restricted to office buildings (ZURAIMI et al., 2006), but also

includes non-industrial environments, as was seen in the studies carried out in residences

(ALMEIDA, 2004), schools (RAMACHANDRAN et al., 2005), hospitals (LEUNG & CHAN,

2006), commercial centers (COSTA & BRICKUS, 2000), means of transport (LAU &

CHAN, 2003) and airports (SILVEIRA et al., 2002).

Despite the countless pieces of research that have been done by European and

North American researchers in this area, transposing data to the Brazilian reality is not an

indicated course of action, because of the differences, such as those relating to climactic

factors and the typical characteristics of customs and behaviors.

Due to this fact it would be interesting to carry out studies aimed at controlling the

risk factors relating to indoor air pollutants and damage to health, using epidemiological

studies and constructing indicators that allow for a broad vision of the health/environment

relationship and that are focused entirely on the Brazilian reality.

4

Page 209: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

These procedures would undoubtedly not exhaust the raft of research alternatives

into these environments, although they could produce knowledge and lead to the

development of new approaches to the problem, thereby contributing to the preservation of

the health of the occupants of these places.

Possible sources of pollution and damage to health

In industrial environments the chemical components used as raw materials, the

sub-products and the final product are known “a priori” and therefore their pollutants can

be identified, the damage to health arising from them can be demonstrated and possible

prevention measures can be indicated.

In artificially climatized, non-industrial environments, countless sources of

contamination can be found that contribute to the formation of the poor indoor air quality

and that may be due to inadequate ventilation, interior contamination (cigarette smoke,

bodily effluents, chemical emissions from furniture, cleaning equipment and materials,

curtains, carpets), exterior contamination (air quality, vehicles, industrial emissions), micro-

biological contamination (bacteria, fungi) or construction material.

We need to emphasize that the probability of multiple exposure, due to the

emission of these substances into the indoor air of artificially climatized environments, is

very great. It is also known that, depending on the dynamic of the pollutants and the

physical parameters present in these environments, different toxic effects (independent,

additive, synergic, potentialized and antagonistic) on man may be witnessed. The

possibility of synergic effects arising from exposure to low concentrations has been

pointed out in literature (HOGUE, 2000).

On the other hand, uncertainties as to the potential for damage to health in relation

to low levels of pollutants in indoor air and the exposure time to the same, principally

carcinogenic and mutagenic substances, point to the relevance of studies involving the

quality of indoor air (BRICKUS et al., 2001; COSTA & COSTA, 2002).

Therefore, damage to health arising from indoor air pollution may manifest itself in

the organism immediately after exposure, or possibly years after, as in the case of

carcinogens. It is worth pointing out also that a person may become susceptible to a

certain pollutant after repeated exposure.

5

Page 210: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

Mapping the pollutants commonly found in the air in closed environments that

constitute health risk factors has revealed the presence of formaldehyde, cigarette smoke,

ozone, carbon monoxide, carbon dioxide, nitrogen dioxide, ammonia, radon, volatile

organic compounds (benzene, toluene, xylene, styrene, ethylbenzene,

perchloroethylene??) and semi-volatile compounds, breathable particulate material, fibers,

asbestos, fungi, viruses, bacteria and mites.

Among the 500 volatile organic compounds normally identified in indoor air, at least

30 of these substances are carcinogenic and mutagenic (COSTA & COSTA, 2005). In the

population in general cigarette smoke, due to the presence of their more than 4,000

pollutants (of which 50 are proved to cause cancer), is considered one of the main sources

of non-occupational exposure to benzene (COSTA et al., 2002).

Furthermore, the presence of high levels of volatile organic compounds in indoor

air in comparison with outdoor air, alerts us to the fact that the issue of air quality in these

artificial micro-climates is just as important as the issue of atmospheric pollution

(KOTZIAS, 2005).

The health risks associated with exposure to biological contaminants, like bacteria,

fungi and mites in closed environments, particularly for people who are allergic and/or

have a weakened immunological system, are frequently emphasized in literature

(BRICKUS et al., 2004), as occurred in 1977, arising from the Legionella pneumophila

bacteria, which causes one the most serious types of pneumonia that has a high mortality

rate (BRICKUS et al., 2001).

The lack of a preventive policy in the maintenance programs in refrigeration and

ventilation systems may be a deciding factor when it comes to the occurrence of biological

pollutants (pathogenic micro-organisms) in the system ducts, and may consequently

constitute a threat to the health of the occupants. Biological agents may proliferate in the

water in the condensation tray of air-conditioning equipment or in the refrigeration towers

of ventilation systems and, are introduced into the refrigerated environment via the air.

Given this picture, environmental discomfort and the reports of complaints relative

to health, arising from the poor quality of indoor air cannot be identified, minimized and

controlled adequately without the appropriate use of a methodology that takes into account

the complexity of all the factors involved. Therefore, assessing the issue from an inter-

6

Page 211: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

disciplinary focus will undoubtedly contribute to a better understanding of the problem,

leading to a reflection on the need for investigations involving health risk identification, the

mapping and control of the probable sources of pollution and the gathering of information

about possible pollutants.

Future prospects

In their search for alternatives for ecological and over-population problems many

architects have been proposing possible solutions involving audacious projects, where

mega-buildings or vertical cities would be interlinked by corridors of steel, glass and

concrete. So, in the future it is estimated that a person will pass the whole of his or her life

living, studying, practicing sport, shopping, working and enjoying leisure time in these

artificially climatized environments.

Currently in Brazil the subject of indoor air quality is still an emerging field of study.

Despite growing interest in the media, the country’s scientific centers and even on the part

of government we have few pieces of research involving indoor air quality or legislation on

artificial micro-climates.

Additional studies are necessary, with the aim of improving the quality of life of the

occupants of these environments, particularly when it comes to questioning the need for a

value limit (as a point of reference) proposal for non-occupational environments for some

of the pollutants present in indoor air, especially the carcinogens and mutagens. This is

because industrial standards, like the Tolerance Limits introduced in the Regulatory Norms

from the Occupational Health and Safety Department of the Ministry of Labor, do not apply

to these non-industrial environments.

It is true that we already have Regulations published by the Ministry of Health /

National Sanitary Watch Agency like Ordinance 3,523 (BRAZIL, 1998), that introduced

criteria and procedures for cleaning and maintaining climate-control systems, and

Resolution 9 (BRAZIL, 2003), which established the Standards of Reference for Indoor Air

Quality in artificially climate-controlled environments, destined for public collective use.

Despite the relevance of this resolution essential parameters in the establishment of health

risk control measures, such as those relating to volatile organic compounds and

formaldehydes, were not considered, only a few of the indicators (particulate material,

carbon dioxide, temperature and a few others).

7

Page 212: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

We must also emphasize the importance of investing more in health education, as

an effective instrument in the process of making people aware and in the constant fight to

try and reduce the damage to health arising from risk factors generated by exposure to

pollutants in indoor air.

Issues relating to indoor air quality should not be treated in a linear fashion and

solved using simple mathematical equations. The involvement of different actors in society

is necessary, as is the involvement of the public health services, based on recognition of

its uncertainty, given the complexity and relevance of the subject, in order for them to be

able to contribute to the assessment and management of the complex interactions of man

with his technology and environment in which he lives.

In this sense it is necessary to intensify the efforts for developing methodologies,

relative to the deciding and conditioning factors of indoor air pollutants that interfere in

human health, that can create effective Public Health tools, thereby contributing to the

preparation of policies that focus on indoor air quality, as well as to the establishment of

programs for controlling and preventing damage to the health of the occupants of these

environments.

8

Page 213: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

ALMEIDA, S. M. Mapeamento da qualidade do ar de interiores de residências no

Estado do Rio de Janeiro. 2004. 150p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola

Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro.

BRASIL. Portaria 3.523, de 28 ago. 1998. Brasília: Diário Oficial da União, 31 ago.

1998.

BRASIL. Resolução RE n0 9, de 16 jan. 2003. Brasília: Diário Oficial da União, 20

jan. 2003.

BRICKUS, L. S. R. et al. Fungi surveys in Tropical Southeastern Brazil. In:

INTERNATIONAL BIOAEROSAL CONFERENCE, 5, 2004, New York. Abstract. New

York: s.n., 2004.

BRICKUS, L. S. R. et al. Qualidade do ar de interiores e a saúde pública. Revista

Brasileira de Toxicologia, v.14, p.29-35, 2001.

COSTA, M. F. B.; BRICKUS, L. S. R. The effect of ventilation systems on

prevalence of symptoms associated with sick buildings in brazilian commercial

establishments. Archives of Environmental Health, v.55, p.279-83, 2000.

COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Benzeno: uma questão de saúde pública.

Interciencia, v.27, p.201-4, 2002.

COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Segurança e saúde no trabalho: cidadania,

competitividade e produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.

COSTA, M. F. B. et al. A contribuição da fumaça ambiental do cigarro na

exposição não-ocupacional ao benzeno. Revista Brasindoor, v.5, p.14-6, 2002.

GIODA, A.; NETO, F. R. A. Considerações sobre estudos de ambientes industriais

e não industriais no Brasil: uma abordagem comparativa. Caderno de Saúde Pública,

v.19, p.1389-97, 2003.

HOGUE, C. To MBTE or not to MBTE. Chemical and Engineering News, v.78,

p.42-6, 2000.

9

Page 214: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Indoor Air Quality And Human Health Maria de Fátima Barrozo da Costa ; Marco Antonio Ferreira Costa INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 5, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

HOJO, S. et al. Use of QEESI questionnaire for a screening study in Japan.

Toxicology and Industrial Health, v.21, p.113-24, 2005.

KOTZIAS, D. Indoor air and human exposure assessment – needs and

approaches. Experimental Toxicology Pathology, v.57, p.5-7, 2005.

LAU, W. L.; CHAN, L. Y. Commuter exposure to aromatic VOCs in public

transportation modes in Hong Kong. Science of the Total Environment, v.308, p.143-55,

2003.

LEE, T. et al. Relationship between indoor and outdoor bio-aerosols collected with

a button inhalable aerosol sample in urban homes. Idoor Air, v.16, p.37-47, 2006.

LEUNG, M.; CHAN, A. H. S. Control and management of hospital indoor air quality.

Medical Science Monitor, v.12, p.17-23, 2006.

RAMACHANDRAN, G. et al. Indoor air quality in two urban elementary schools.

Journal Occupational Environmental Hygiene, v.2 p.553-6, 2005.

SILVEIRA, M. G. et al. Concentração de fungos no ar em um terminal

aeroportuário na cidade do Rio de Janeiro – Brasil. Revista Brasileira de Saúde

Ocupacional, v.27, p.111-20, 2002.

STRAUZ, M. C. et al. Avaliação das condições de saúde e trabalho em ambientes

com acervos documentais. Revista Brasindoor, v.5, p.22, 2001.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Indoor air pollutants: exposure and

health effects (Euro Reports and Studies, 78). Copenhagen, 1983.

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. The right to health indoor air.

Bilthoven, 2000.

ZURAIMI, M. S. et al. A comparative study of VOCs in Singapore and European

office buildings. Building and Environment, v.41, p.313-29, 2006.

Article received on 04.08.2006. Approved on 05.10.2006.

10

Page 215: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A CONFIGURAÇÃO (DILEMAS) DOS RISCOS AMBIENTAIS E DE

SAÚDE: TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS NO BRASIL

Murilo Fahel¹; Mauro Campos²; Carolina Araújo³

¹Professor pesquisador da Unimontes, mestre em saúde pública pela UAM/Xochimilco (México) e doutorando em ciências humanas: sociologia e política pela UFM; ²Professor do Centro Universitário Newton Paiva,

mestre em gestão das cidades pela PUC-MG e doutorando em ciências humanas: sociologia e política pela UFMG; ³ Professora da Universidade de Negócios e Administração (UNA), mestre em management pela HEC

(Montreal).

RESUMO

O artigo analisa a relação entre os riscos ambientais e de saúde no escopo do modelo de

desenvolvimento social e econômico adotado pelos países centrais e periféricos. Enfatiza

uma análise exploratória sobre os efeitos ambientais no estado de saúde dos indivíduos,

considerando os aspectos macroeconômicos que contribuem para a consolidação dos

paradigmas ambientais e da saúde, em um cenário global. Nesse contexto, busca colocar

em tela os principais paradoxos sobre a temática, abordando aspectos relativos às

iniqüidades existentes neste cenário, numa tentativa de identificar os efeitos (diretos e

indiretos) decorrentes das desigualdades econômicas e sociais, sobretudo em espaços

urbanos. Aponta essas evidências na análise da situação diagnosticada no Brasil,

buscando mostrar os impactos gerados pelo modelo de desenvolvimento aqui adotado e a

conseqüente geração de riscos ambientais e de saúde à população, bem como a resposta

adotada pelo sistema público de saúde.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; riscos ambientais e de saúde;

desigualdades sociais; acesso à saúde.

.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=2&cod_artigo=27

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 216: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

Os tópicos de saúde e meio ambiente sempre estiveram intimamente interligados.

Impossível conceber condições de saúde favoráveis num contexto ambiental precário ou

comprometido. Assim, quando se aborda a questão do desenvolvimento, estes dois

assuntos estão necessariamente em pauta, visto que situações de risco ambiental ou de

saúde são insustentáveis ao longo do tempo e comprometem os pilares do

desenvolvimento durável: os desenvolvimentos econômico e social e a preservação

ambiental.

O escopo de desenvolvimento sustentável que se apóia nesses três pilares pode

ser expresso no conceito proposto pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento que, em 1987, propôs como definição oficial de desenvolvimento

sustentável “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a

possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”.

No presente artigo, busca-se apresentar dois tipos de problemas que afetam a

saúde pública e que são diretamente influenciados pela opção de modelo de

desenvolvimento adotada pelos países.

Inicialmente, trataremos o problema de saúde relacionado à desigualdade social

resultante do modelo econômico pelo qual se organizam os intercâmbios de produtos em

quase todos os países de nosso planeta. A dinâmica da economia influencia

profundamente os arranjos sociais e tem-se observado um processo de exclusão social e

marginalização econômica de uma parcela significativa da população – que, empobrecida,

não é capaz de assegurar as condições mínimas para uma qualidade de vida satisfatória

para si e para seus descendentes. Esta dificuldade manifesta-se em três problemas reais

expostos neste artigo: uma exposição amplificada aos riscos de saúde, dadas as

condições sanitárias precárias em que vivem; as deficiências na alimentação, que a torna

mais suscetível a doenças; e o debilitado acesso aos serviços de atendimento de saúde

pública.

Numa perspectiva mais ampliada, procuraremos abordar os problemas ambientais

como geradores de riscos para a saúde, sem que necessariamente se limitem às

populações mais vulneráveis. Efeitos de um modelo de desenvolvimento nocivo ao

2

Page 217: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

equilíbrio ambiental não respeitam as diferenças de classes sociais e tampouco se

restringem aos limites geográficos, mas ainda assim têm sido tratados com certo descaso

quando das definições de políticas de desenvolvimento. No entanto, a dinâmica de

exclusão e marginalização referida no parágrafo anterior assume outra proporção quando

se observa que países periféricos são afetados de forma mais grave, mas não exclusiva,

pelos problemas ambientais.

Ambas as situações são problemáticas e moralmente condenáveis e se

apresentam na contramão da proposta de desenvolvimento sustentável. A primeira, por

tratar-se de problemas internos aos países, deve ser minimizada por políticas públicas

efetivas que atuem, ao mesmo tempo, nas questões de saúde pública e da

marginalização econômica. Quanto a tentar coibir modelos de desenvolvimento nocivos

ao meio ambiente, num cenário de histórica negligência em relação aos efeitos negativos

em favor dos benefícios econômicos imediatos resultantes, a proposta de acordos

internacionais desponta como uma alternativa.

Desde a ECO-92, instrumentos formais que geraram compromissos e obrigações

reguladas pelo direito internacional têm sido assinados por vários países. A partir da

declaração da Agenda 21, o Brasil assinou e ratificou algumas convenções que afetam

diretamente as questões de saúde e meio ambiente no País. Dentre estas, destacamos a

Convenção da Diversidade Biológica, que resultou na alteração da legislação brasileira

quanto aos usos dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados; a

Convenção sobre Mudanças Climáticas, que redundou no Protocolo de Kyoto, que coíbe

o crescimento das emissões de gases causadores do efeito estufa; e a Convenção de

Viena e Protocolo de Montreal sobre a Proteção da Camada de Ozônio, que objetiva

proteger a saúde humana e do meio ambiente contra os efeitos nocivos das alterações da

camada de ozônio. Esse é o contexto no qual se desencadeia a discussão sobre saúde

pública e meio ambiente no Brasil e no mundo. Os problemas que despontam não são

passíveis de soluções simples e imediatas, mas requerem modificações profundas na

forma de pensar o processo de desenvolvimento e as propostas de políticas públicas.

3

Page 218: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

OS PARADOXOS NA ÁREA DE SAÚDE NO CENÁRIO MUNDIAL

As questões ambientais e de saúde conhecem novos desafios em função dos

avanços da humanidade engendrados pelo desenvolvimento, que impacta de maneira

importante o ecossistema e a qualidade de vida das pessoas nacional e

internacionalmente. Essas alterações, que encontram correspondência na dimensão

individual (com implicações significativas nas condições de saúde), vêm imprimindo

estilos de vida com baixa sustentabilidade para comportamentos considerados saudáveis.

Cada vez mais organismos multilaterais, cientistas e militantes de movimentos

ecológicos alertam para a tendência mundial de agravamento dos riscos ambientais,

evidenciando que a produção e a distribuição dos riscos ampliam as vulnerabilidades da

espécie humana. Apesar destas visões, persiste uma situação crítica que coloca em risco

a saúde da população, com comprometimento da qualidade da água e ar associados a

processos contínuos de desequilíbrio do ecossistema.

No plano da cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável, a

movimentação política em torno da elaboração e implementação da Agenda 21 das

Nações Unidas vem estabelecendo, desde o início dos anos 90, novos princípios e

compromissos1 governamentais e intergovernamentais. Propõe-se adotar uma nova

racionalidade ecológica voltada à eficiência econômica, a eqüidade e a responsabilidade

social e objetiva-se enfrentar as disparidades internacionais e nacionais relacionadas à

pobreza, à fome, às doenças, ao analfabetismo e, especialmente, à deterioração dos

ecossistemas. Por outro lado, o comportamento humano vem sofrendo alterações na sua

composição ao longo da história, instituindo novos hábitos e costumes que afetam a

qualidade da saúde. Assim, alterações no modo de vida, tanto na esfera da produção

como na do consumo, implicam a emergência de um novo perfil epidemiológico.

O informe da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o ano de 2002, intitulado

Reducir los riesgos y promover una vida sana, mostra um paradoxo mundial do consumo,

acentuando a clivagem entre países ricos e pobres. Muitos dos riscos examinados nesse

informe são produzidos pelo paradoxo do consumo insuficiente entre os pobres e

1 Esses novos compromissos incluem: 1) o aperfeiçoamento dos processos de tomada de decisão e dos sistemas de planejamento e gestão, com vistas à articulação gradual das questões econômicas, sociais e de meio ambiente; 2) a institucionalização de sistema de informação para a vigilância e avaliação dos progressos alcançados; e 3) a adoção de estratégia nacional de desenvolvimento sustentável.

4

Page 219: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

excessivo no caso dos privilegiados. Principalmente nos conglomerados urbanos persiste

a manifestação de um quadro de enfermidades não transmissíveis associadas aos maus

hábitos e aos alimentos, coexistindo com a desnutrição em áreas mais pobres.

Segundo a OMS (2002), pode-se considerar estes os dez riscos regionais e

mundiais mais importantes: insuficiência ponderal, práticas sexuais de risco, hipertensão

arterial, tabagismo, alcoolismo, água insalubre, saneamento e higiene insuficientes,

carência de ferro, fumaça de combustíveis sólidos em espaços fechados,

hipercolesterolemia e obesidade. Juntos, estes fatores são responsáveis por mais de um

terço de toda mortalidade mundial. A maioria dos fatores de risco examinados nesse

informe guarda estreita relação com os hábitos de vida, e em particular com o consumo

excessivo ou insuficiente. No extremo oposto da pobreza se encontra a sobrealimentação,

qualificada como sobreconsumo2.

Na esteira dessa realidade observa-se que os riscos comuns relacionados às

sociedades ricas (tais como hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo,

consumo excessivo de álcool, obesidade e sedentarismo) e enfermidades associadas

predominam em todos os países de ingressos medianos e altos. Mais dramático ainda é o

quadro prevalente nos países periféricos, com nítida acumulação epidemiológica, onde se

origina uma dupla carga ao somar-se às enfermidades infecciosas, com maior incidência

nestes países, as não transmissíveis produzidas pelas novas condições de produção e

consumo do mundo moderno. Em relação a esta última tendência, o que se pode

observar é que ainda persiste uma expansão rápida de epidemias relacionadas a tais

enfermidades que provocam em torno de 60% da mortalidade mundial e que, por sua vez,

guarda uma relação manifesta com a evolução dos hábitos alimentares, com o consumo

constante de alimentos industrializados, com alto teor de gorduras (grassos), salgados ou

açucarados.

2 Os contrastes mundiais são enormes: enquanto nos países pobres há 170 milhões de crianças com peso insuficiente, dos quais morrem mais de três milhões a cada ano, mais de um bilhão de adultos têm peso excessivo e em torno de 300 milhões são clinicamente obesos. Destas pessoas, aproximadamente meio milhão morrem a cada ano na América do Norte e Europa Ocidental de enfermidades relacionadas à obesidade (OMS, 2002).

5

Page 220: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

RISCOS DAS DESIGUALDADES PARA A QUALIDADE DE VIDA

As clivagens identificadas nas sociedades modernas denotam uma

heterogeneidade estrutural que apresenta uma natureza multidimensional, transitando em

diversas dimensões – social, econômica, étnica, cultural, geográfica – responsáveis pela

demarcação de uma importante desigualdade social no mundo.

Diferenças marcantes na qualidade de vida e nas capacidades humanas,

resultantes de desigualdades no acesso a bens sociais, tendem a se sobrepor; e as

privações sociais múltiplas dependem muito mais de desigualdades estruturais que se

mantêm ao longo do tempo do que de atributos individuais (ACHESON, 2000). Mais

ainda, no escopo das sociedades complexas pode-se afirmar que os processos de

modernização produziram uma generalização de riscos e vulnerabilidades numa escala

global e que as populações estão desigualmente sujeitas a eles. A geração de

populações vulneráveis remete a múltiplas dimensões das sociedades de riscos, desde os

industriais e tecnológicos até os relativos ao ambiente urbano construído. Já a

justaposição dos riscos encontrará como segmento mais vulnerável as populações

empobrecidas, que experimentarão altos níveis de interação com o risco. Por outro lado,

cada vez mais, as dimensões do bem-estar passam a ser consideradas eqüidade no

acesso às oportunidades geradas no processo de desenvolvimento. Assim, o

desenvolvimento passa a ser compreendido como um processo abrangente de expansão

do exercício do direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política,

social ou cultural (SEN, 2001).

Na mesma perspectiva, considera-se a noção de qualidade de vida em trânsito

num campo semântico polissêmico: de um lado está relacionada ao modo, condições e

estilo de vida; de outro, inclui as idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia

humana; por fim, relaciona-se ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos

direitos humanos e sociais, produzindo um parâmetro definidor do bem-estar social e

individual (MINAYO et al., 2000). Assim é possível estabelecer uma relação intrínseca

entre o conceito de saúde e qualidade de vida – traduzida como capacidades humanas

determinadas socialmente, uma vez que saúde é definida pela qualidade de vida e pela

capacidade de ser e agir de mulheres e homens. Quanto às desigualdades sociais,

tomamos o conceito proposto por Sen (2001): estas consistem nas diferenças produzidas

socialmente e que são moralmente injustas. Relacionando os dois conceitos, temos,

6

Page 221: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

então, que desigualdade social em saúde refere-se às diferenças produzidas socialmente

na qualidade de vida e na capacidade de ser e agir dos grupos sociais e indivíduos, que

são per si diferenças moralmente injustas e, portanto, devem ser minimizadas.

Estudos mostram que a determinação da saúde é multidimensional e que os

determinantes interagem, influenciando a disposição física e psíquica dos indivíduos

desde a concepção até à morte, através de gerações. Já a concepção de iniqüidade

materializa-se no acesso desigual aos serviços de saúde e se expressa na distribuição,

também desigual, dos índices de saúde entre os grupos sociais. Nessa direção, as

condições sociais das populações determinam o grau de exposição aos fatores de risco

de adoecer ou morrer e o acesso a bens e serviços de saúde, fazendo que as

desigualdades em saúde encontrem suas raízes na desigualdade social. Sabe-se que os

padrões de desigualdade no setor em pauta variam no espaço e no tempo e que essas

desigualdades podem ainda ser agravadas em função de determinantes demográficos e

ambientais, acesso aos bens e serviços de saúde e às políticas sociais (DUARTE et al.,

2002). Desta maneira, as desigualdades em saúde têm sido evidenciadas entre grupos

sociais com diferentes condições socioeconômicas, étnicas, de gênero, idade e de

território. Como conseqüência, isso vem gerando um excedente de enfermidades que

afeta principalmente os grupos mais vulneráveis: mortalidade precoce, sobrecarga de

determinados procedimentos médicos, maiores demandas de serviços sociais e redução

da possibilidade de ascensão social. Ante a evidência consistente de que pessoas

desfavorecidas socialmente têm pior situação de saúde em torno do mundo e de forma

persistente no tempo, a atenção às desigualdades em saúde tem sido um tema de

discussão na agenda política da OMS.

O reconhecimento dos efeitos da estratificação social ou de que indivíduos

inseridos em relações sociais têm chances diferenciadas de realizar os seus interesses

materiais (WRIGHT apud TRAVASSOS, 2000) conferiu centralidade ao debate acerca da

eqüidade no uso dos serviços de saúde, enquanto princípio de justiça social.

Comprovação destas afirmativas pode ser encontrada no estudo comparativo de Van

Doorslaer et al. (1993), que envolveu nove nações européias e os Estados Unidos, sobre

o padrão de eqüidade em saúde, demonstrando que em todos os países analisados a

morbidade estava desproporcionalmente distribuída, concentrando-se naqueles indivíduos

mais pobres; bem como na análise realizada por Travassos et al. (1995) no Brasil,

utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), de 1989,

7

Page 222: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que se observa

que a taxa de morbidade referida no Brasil para a população urbana tendeu a aumentar

inversamente à renda familiar per capita, padrão que se repetiu em todas as

macrorregiões do País.

TENDÊNCIAS DAS ANÁLISES DAS DESIGUALDADES EM SAÚDE

Na atualidade, existe grande consenso de que pessoas expostas a situações

sociais e econômicas desfavoráveis apresentam piores condições de saúde. Alguns

estudos têm procurado contribuir para este debate a partir do desvelamento das

associações existentes entre condições socioeconômicas e desigualdades em saúde.

A partir da publicação do Black report, quando Townsend e Davidson (1982)

apontaram para o incremento das desigualdades em saúde na população britânica3, há

um esforço no sentido de analisar as diferenças nas condições de saúde e no acesso aos

serviços do setor de acordo com a divisão da população por nível socioeconômico (NSE),

seja este medido por renda, educação, ocupação ou posição na hierarquia social, e os

diferenciais quanto à expectativa de vida no Reino Unido (PAMUK, 1985; CHANDOLA,

2000; WAGSTAFF, 2000).

Nos Estados Unidos, a desigualdade nas distribuições salariais tem-se mostrado

associada à distribuição desigual das tendências de mortalidade na população e

disparidades quanto à renda relativa parecem estar associadas aos homicídios e ao baixo

peso ao nascer (KAPLAN et al., 1996).

Já na Europa o projeto Socioeconomic Factors in Health and Health Care e o

Socioeconomic Inequalities in Mortality and Morbidity in Europe, coordenado pela

Universidade Erasmus, de Roterdã, Holanda, com parte de seus resultados publicados

em Mackenbach e Kunst (1997), indicam que a falta de eqüidade nos setores

socioeconômicos que afeta a saúde da população, em países da União Européia,

manifesta-se, sobretudo, no domínio da “educação”, da “nutrição” e na “utilização de

3 No Reino Unido, a partir da década de 80 foram realizadas três grandes pesquisas avaliativas: The black report on social inequalities in health, de Townsend & Davidson; The health divide, de Townsend, Davidson & Whitehead; e Independent inquiry into inequalities in health, de Acheson.

8

Page 223: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

serviços de saúde”, quer no funcionamento dos serviços quer na despesa per capita que

os mantém4.

No Brasil, alguns estudos recentes têm procurado investigar a desigualdade em

saúde mediante comparações regionais, infra-regionais e intra-urbanas. Na linha referida,

encontra-se, por exemplo, a proposta de monitoramento Medindo as Desigualdades em

Saúde no Brasil, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com

apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Trata-se de um trabalho que

realiza uma análise abrangente do perfil da desigualdade social em saúde do nosso País,

valendo-se de bases de dados (Pnad, POF, AMS, Data-SUS, IDB/Ripsa5 e outras)

disponível para uso generalizado e com emprego de indicadores e metodologias

acessíveis, proporcionando medidas de desigualdades e análise dos comportamentos da

oferta de recursos humanos e capacidade instalada, acesso e utilização dos serviços de

saúde, financiamento-despesa federal e familiar, qualidade em saúde, situação de saúde

e saúde e condições de vida.

Outra pesquisa que corrobora essa tendência de análise das desigualdades

sociais no setor é a da epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo

exploratório, desenvolvido através de uma parceria do Ministério da Saúde (MS) com o

Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), a OMS e a Opas, por intermédio do

Programa Especial de Análises de Saúde (SHA), de Washington, que analisa as

desigualdades segundo aspectos socioeconômicos e geográficos, além dos relacionados

à composição populacional, por sexo e idade, e à prestação de serviços de saúde,

valendo-se das Bases de Dados do Data-SUS, IBGE, IDB/Ripsa e outras. Este estudo

sugere que a desigualdade em saúde no Brasil está polarizada nos níveis nacional e intra-

regional e que, devido à magnitude das diferenças dos indicadores observados entre as

regiões, o padrão que emerge pode ser definido como marcadamente assimétrico.

Segundo os achados, três macrodeterminantes parecem explicar, em termos estatísticos,

os diferenciais encontrados, quais sejam: urbanização, pobreza e aspectos relacionados à

4 Utilizou-se o método de Coeficiente de Gini como parâmetro de eqüidade para mensurar a desigualdade existente entre os 15 países da União Européia, relativamente à educação e atividades culturais, estilos de vida, nutrição, desemprego, utilização de serviços de saúde e despesa neste campo. 5 Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), Pesquisa do Orçamento Familiar (POF) e pesquisa Assistência Médico-Sanitária (AMS), realizadas pelo IBGE; Data-SUS, do Ministério de Saúde; e Indicadores Demográficos e Socioeconômicos (IDB) da Rede Interagências de Informações para a Saúde (Ripsa).

9

Page 224: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

organização dos serviços de saúde. A urbanização sugere a exposição a um padrão

“moderno” de fatores de riscos; a pobreza remete às dificuldades inerentes à obtenção

dos meios individuais ou societários de saúde e, por último, os serviços podem, per si,

aumentar ou promover as desigualdades em saúde – nesse aspecto, duas variáveis

devem ser destacadas: acesso e qualidade dos serviços. A perspectiva é que esse estudo

exploratório avance para a configuração de um Atlas das Desigualdades em Saúde no

Brasil que sirva como referencial para o desenho das políticas de saúde e para os

modelos de gestão.

RISCOS AMBIENTAIS E DE SAÚDE NO BRASIL

Situações de risco podem ser geradas pelos processos de desenvolvimento

econômico e social em função de sua interferência nos ecossistemas, com implicações

importantes no perfil de morbimortalidade da população, em função das modalidades de

poluição e contaminação geradas e a liberação descontrolada de formas específicas de

energia. No entanto, as influências do meio ambiente sobre a saúde podem ser

observadas em duas direções: uma positiva, na medida em que este pode promover o

bem-estar e contribuir para a plena realização das capacidades humanas; e outra

negativa, como agente gerador da emergência e manutenção de patologias e, até

mesmo, morte de determinados grupos populacionais. A trajetória a ser percorrida está

intrinsecamente relacionada ao modelo de desenvolvimento social e econômico adotado

por cada Estado-nação e à configuração de um pacto mundial, pautado pela lógica do

binômio crescimento econômico/responsabilidade ambiental e social.

No Brasil, podem-se identificar vários fenômenos que contribuem para a aplicação

de um modelo de desenvolvimento não-sustentável, na medida em que se observam

processos de ampliação das áreas de desmatamento (Amazonas e Cerrado),

comprometimento na qualidade da água para consumo, insuficiência no saneamento

básico, contaminação ambiental por poluentes e outros que estão imbricados a uma

acelerada urbanização que muito contribuiu para o crescimento de bolsões de pobreza

nas áreas periféricas das cidades brasileiras. Esse modelo de desenvolvimento caótico

tem implicações importantes na emergência e reemergência de patologias, induzindo o

10

Page 225: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

País a um quadro epidemiológico complexo, com uma elevada incidência de riscos à

saúde, principalmente para as populações mais vulneráveis.

A abordagem dos riscos à saúde da população no Brasil implica a descrição de

cenários distintos e sua correlação com os fenômenos socioambientais. O aumento de

patologias cardiovasculares e neoplásicas, com uma tendência crescente nos últimos dez

anos, em acompanhamento do processo de envelhecimento da população (RIPSA, 2000;

IBGE, 2001) está relacionado aos efeitos das condições genéticas, de vida e trabalho,

com maior incidência entre aqueles expostos a determinados poluentes químicos. Já o

cenário conformado pelas doenças infecto-parasitárias (DIP), marcadamente relacionadas

às condições socioambientais, apesar da sua tendência declinante de mortalidade (sexta

causa de óbito), apresenta uma distribuição desigual por regiões no País e por grupos

sociais específicos. Ainda, observa-se a reemergência de antigas patologias (cólera,

dengue, malária), com expressão em determinados espaços geográficos, consolidando

áreas endêmicas–epidêmicas de maior suscetibilidade de ocorrência sistemática.

Por sua vez, as denominadas causas externas, que incluem acidentes e ações

violentas, com produção de traumas, lesões e patologias, vem crescendo no País

(segunda causa de mortalidade), com importante interdependência das condições

socioambientais. Esses cenários e suas tendências epidemiológicas apresentam uma

estreita relação com a iniqüidade social e os impactos ambientais gerados pelo modelo de

desenvolvimento adotado. Apesar de relativos avanços no controle das DIPs (sarampo,

poliomielite, aids e outras), ainda há a manutenção de um grave quadro de desigualdades

sanitárias. Ações como o aumento da cobertura dos serviços de saúde, acesso a novas

tecnologias e insumos são insuficientes diante desses cenários, cuja reversão exige

mudanças estruturais no modelo de desenvolvimento social e econômico, com ênfase na

promoção e prevenção da saúde humana, através da indução de ambientes saudáveis,

tanto nas esferas do consumo quanto na da produção.

Os indicadores de saúde no território nacional mostram um quadro de diferenças

acentuadas da morbimortalidade entre regiões e municípios, espelhados, por exemplo,

pela superação da taxa de mortalidade infantil em 3,5 vezes na região Nordeste

(52,4/1.000 nascidos vivos) em relação ao Sul (15,1/1.000). Já no tocante às mortes por

causas respiratórias, identifica-se uma maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, com

destaque para alguns pólos industriais, como o Petroquímico e Siderúrgico de Cubatão

11

Page 226: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

(SP). Importante ressaltar que as patologias respiratórias corresponderam a 16,22% das

internações hospitalares em 2000, ocupando o segundo lugar entre as doenças mais

prevalentes (RIPSA, 2001), confirmando a constatação da OMS (1998) sobre uma

associação à exposição ambiental da ordem de 50% a 60% relativa às suas formas

agudas e crônicas.

No caso específico das patologias decorrentes dos ambientes de trabalho, apesar

da evidência de subnotificação, registrou-se um aumento de 35.000 casos em 1996, num

universo limitado de 18,8 milhões, concentrados nas regiões Sudeste (58%) e Sul (19%),

sem inclusão dos trabalhadores informais (RIPSA, 1998). No período de 1990 a 1996,

nota-se um crescimento de 8% de doenças relacionadas ao trabalho, sendo que em 1998

a taxa de incidência chegou a 16,24/10.000 trabalhadores segurados. No referente às

doenças transmissíveis, com a agravante do atual reconhecimento de que a qualidade

das condições de vida já não oferece mais garantias contra a disseminação de agentes

infecciosos, tem-se uma perspectiva pouco otimista entre os países periféricos – que,

ademais de um comportamento endêmico dessas doenças, convivem com problemas

básicos de nutrição, saneamento ambiental, condições adequadas de moradia, controle

de vetores e acesso aos cuidados básicos de saúde (IBAMA/GEO, 2002). Nessa direção,

a Funasa, do Ministério da Saúde, vem indicando um aumento, desde o início da década

de 80, de várias endemias como malária, tuberculose e hanseníase; bem como a

ocorrência de vários surtos e epidemias de meningite meningocócica, cólera, dengue,

leptospirose, leishmanioses e até mesmo a hantavirose (Tabela I).

Fatores relevantes de riscos à saúde são derivados dos processos produtivos que

geram a contaminação por agentes químicos, com destaque para os agrotóxicos, chumbo

e mercúrio. Exemplo disso são os biocidas utilizados para o controle de pragas e vetores

e também nos lares, sem consideração das suscetibilidades individuais a essas

exposições. Segundo a OMS (1995), 70% dos casos de intoxicação humana por

agrotóxicos ocorrem nos países em desenvolvimento, e no Brasil os dados corroboram

essa tendência, já que em 1999 ocorreram 398 óbitos por exposição aos agrotóxicos no

País, sendo que 140 foram de origem ocupacional. Em relação à exposição ao mercúrio

metálico gerado pelo uso industrial, ocorre com maior destaque nas regiões Sul e Sudeste

e, no caso da Amazônia Legal, em função da mineração de ouro. O mercúrio lançado no

ambiente pode se depositar nos rios e, através da cadeia biológica, transformar-se no

composto orgânico metilmercúrio, que pode ser encontrado em peixes onívoros

12

Page 227: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

consumidos pelas populações ribeirinhas, ocasionando, assim, danos à saúde humana

(IBAMA/GEO, 2002).

Outro fator relevante que vem provocando danos à saúde da população é atinente

à poluição atmosférica, que compromete a qualidade do ar, afetando milhões de pessoas.

No Brasil, boa parte dos problemas respiratórios, nos últimos anos, está associada à

deterioração da qualidade do ar, principalmente nas áreas metropolitanas. Entre 1970 e

2000, foi registrado um aumento substancial na emissão de poluentes no País, com

variação que vai de 200%, no caso do dióxido de enxofre (SO2), a até 500%, no caso de

hidrocarbonetos (que, associados aos gases da fumaça negra emitida pelos veículos,

contribuem para o aumento das doenças respiratórias). Estudos indicam que, em São

Paulo, há uma forte correlação entre o aumento de poluição e a incidência de problemas

respiratórios, que respondem por 20% a 25% dos atendimentos no sistema de saúde e

por 10% a 12% da mortalidade. Nota-se, ainda, o diagnóstico de pneumopatias, com

nítida intensificação na década de 90, em trabalhadores expostos à sílica e ao asbesto,

provenientes de ambientes de trabalho das indústrias extrativas, têxteis e da construção

civil, dentre outras. Outro fator contribuinte para o aumento de portadores de doenças

respiratórias têm sido as queimadas – prática corrente em extensas áreas agrícolas do

País –, como registrado em Alta Floresta, no Estado do Mato Grosso, com um aumento

13

Page 228: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

de 20 vezes no número de pessoas acometidas durante um episódio de queima de

biomassa (IBAMA/GEO, 2002).

Cabe destacar a ocorrência de episódios naturais, como os desastres ambientais

(inundações, estiagem, secas, deslizamentos e incêndios florestais), que têm contribuído

para a grave situação de morbimortalidade no País; bem como os acidentes industriais

ampliados, com desastres fatais e danos ecológicos de monta. Medidas preventivas e de

controle têm sido observadas, mas apresentam pouca efetividade e os efeitos danosos à

saúde humana e a agressão ao ecossistema provocados pelos fenômenos naturais e

acidentes industriais têm reincidido, com repercussões acentuadas em diversas regiões

do País.

Ainda é débil, no Brasil, o reconhecimento da interdependência entre

desenvolvimento econômico, qualidade de vida, condições ambientais e saúde, o que é

constatado pelo contínuo processo de degradação ambiental, com repercussões

negativas na qualidade de vida da população, bem como pelo grave perfil epidemiológico

diagnosticado no País.

POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

Para as políticas de saúde no Brasil, o que se pode observar nos primórdios da

atuação governamental é que as ações de caráter coletivo – imunização, controle de

epidemias e saneamento – se deram no campo da saúde pública, com uma vinculação

clara com a conjuntura econômica vigente. Historicamente, estabeleceu-se um verdadeiro

abismo entre a gestão das medidas de ordem preventiva e as ações da medicina curativa.

Não há exagero em dizer que estas diferenças têm sido altamente nocivas e injustas. As

medidas preventivas continuam sendo financiadas pelo governo, mas o desprestígio do

desenvolvimento social, ao longo dos anos, resultou na escassez de verbas e na atrofia

de atividades primordiais para o atendimento médico-hospitalar à população em geral.

O sistema de saúde no Brasil caracterizou-se pela separação entre as atividades

preventivas e curativas na atenção à saúde da população. A atividade preventiva era

marcada pelo sanitarismo básico, voltado a combater as causas e interromper a

transmissão das doenças na coletividade. Isto era feito através da oferta de serviços e

14

Page 229: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ações sanitárias sobre o ambiente, indivíduos e vetores animais, independentemente da

demanda ou vontade das pessoas.

Em relação à redução de gastos em atenção médico-sanitária, esta ocorre à custa

de uma deterioração dos serviços públicos do setor. O modelo de atenção à saúde dá

ênfase ao aspecto médico-assistencial operado pelo setor privado e financiado pelo

Estado. Este modelo desenvolveu-se com a urbanização e a industrialização brasileira,

ocorrida nos anos 30. A rápida constituição de uma classe trabalhadora urbana gerou

necessidades de assistência médica individual para sua reprodução física como força de

trabalho. Este sistema se desenvolveu de acordo com a demanda definida pelos

trabalhadores inseridos no mercado, através da auto-avaliação de sua saúde. Esta lógica

de atenção foi ajustada e valorizada pelo sistema industrial, que necessitava de

trabalhadores em boas condições de saúde para o trabalho.

Apesar das iniciativas para a implantação de um sistema público de saúde

universalizado, nos moldes estabelecidos pela Constituição de 1988, ainda persistem

deformações graves em todo o processo, sendo exemplos: má utilização dos recursos

públicos destinados à saúde em todas as esferas de governo e níveis de prestação de

serviços; centralização das funções governamentais, as quais muitas vezes são

desordenadas, pouco comprometidas e/ou marcadas por mecanismos clientelistas; um

modelo de atenção centrado na medicina curativa e hospitalocêntrica, em detrimento de

ações de prevenção e provisão da saúde; oferta dos serviços de saúde deficitária, tanto

quantitativa quanto qualitativamente; controles precários dos repasses e da distribuição

interna dos recursos públicos aos prestadores de serviços, dentre outras deformações

que estariam contribuindo para a baixa credibilidade operacional do sistema público de

saúde do País (MS, 2000).

Na prática, como se sabe, a universalização formal dos serviços de saúde

implicou, porém, a exclusão de alguns segmentos da sociedade. Isto ocorreu, segundo

Faveret e Oliveira (1990), com os trabalhadores com renda estável, por exemplo, uma vez

que, para conter um eventual excesso de demanda pelos serviços públicos de saúde,

estes usuários foram empurrados para o sistema privado de atendimento. Esta forma de

alijamento destes trabalhadores pode ser explicada, também, pela oferta de serviços

públicos de saúde de baixa qualidade. Com isto, ocorreu a restrição do sistema público ao

atendimento das camadas menos favorecidas. Desta forma, configurou-se um processo

15

Page 230: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

de “universalização excludente”, em que a expansão do sistema foi acompanhada por

mecanismos de racionamento, ocasionando uma queda na eficiência e eficácia da

prestação dos serviços de saúde. Tal condição resultou, na prática, na redução do

sistema público a um atendimento para os pobres, induzindo os assalariados de poder

aquisitivo estável a aderir aos seguros e planos de saúde privados ou semiprivados.

Estas características estruturais dos serviços de saúde no Brasil reforçam o seu

caráter de dualidade, com institucionalidades distintas, sendo uma direcionada às

camadas sociais com maior acesso à renda (e, conseqüentemente, aos serviços

privados) e a outra destinada aos dependentes dos serviços públicos, quais sejam, os

estratos de baixa renda e os excluídos do mercado formal de trabalho. Assim, mesmo

com os propósitos de universalização do atendimento à saúde demarcados pela

legislação, os mecanismos para a criação de um sistema único redundaram num sistema

dual, caracterizado pela segmentação das clientelas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendida como um direito mais amplo, as relações estabelecidas entre a saúde e

as demais condicionantes que interferem no seu estado ganham vulto para uma

discussão mais adensada. Neste espaço, as interferências exercidas pelo ambiente na

saúde começam a compor novas discussões, nos campos teórico e empírico, que se

pautam pelo entendimento de como as variáveis ambientais podem influir em um melhor

ou pior estado de saúde, dadas as condições ambientais de cada sociedade

(IBAMA/GEO, 2002). Portanto, estas situações ambientais podem tanto condicionar o

bem-estar das pessoas como, também, produzir agravos diversos.

Nesta vertente, o que se percebe é que, em relação aos agravos na saúde, a

questão ambiental assume um papel de extrema relevância. Os problemas ambientais

acabam por potencializar os riscos para a saúde de todas as populações expostas aos

resquícios de um modelo de desenvolvimento altamente prejudicial ao equilíbrio

ambiental, e não apenas às mais vulneráveis. Esta interseção entre saúde e meio

ambiente reforça a questão que impulsiona os programas de controle da poluição do

planeta e que aproximam organismos multilaterais em torno deste objetivo comum. Mais

ainda, quando se percebem as dificuldades em manter condições favoráveis de saúde em

16

Page 231: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ambientes impróprios, corroídos pela ação humana, isto chama a atenção para um debate

mais amplo acerca do modelo utilizado como mecanismo para associar desenvolvimentos

econômico e social e preservação ambiental, de modo que se possa propor um formato

de desenvolvimento durável e que vise a reduzir riscos ambientais e de saúde.

Na perspectiva do indivíduo, o que determina a procura pelos serviços de saúde

não é um comportamento previsível ou uma necessidade antecipada e programada, e sim

uma contingência imprevisível, quer se tenha ou não condições financeiras de arcar com

a manutenção da sua boa condição física e mental. Deste modo, a questão do acesso a

estes serviços assume um papel fundamental para os indivíduos. Portanto, a saúde,

independentemente de qualquer definição idealista que lhe possa ser atribuída, é o

produto de condições objetivas de existência. Resgatar a idéia do direito à saúde como

noção básica para a formulação de políticas se justifica na medida em que se faça a

distinção entre o direito à saúde e o direito aos serviços de saúde, ou mesmo o direito à

assistência médica.

O sistema de saúde é onerado porque o parâmetro usualmente adotado para a

alocação dos escassos recursos é o da medicina curativa, privilegiando os procedimentos

hospitalares, que deveriam ser o último elo da cadeia de atendimento à população neste

tipo de serviço. Enquanto isso, o arcabouço político que condiciona os investimentos

setoriais é orientado por casuísmos e por ações imediatistas, com um forte vínculo em

medidas corretivas, que são mais evidentes aos olhos das pessoas – sobrepondo, assim,

as ações preventivas que, por sua vez, tendem a gerar melhores resultados no longo

prazo, além de serem menos dispendiosas. São, assim, deixadas de lado em função dos

interesses econômicos de grupos ligados ao fornecimento de equipamentos e

laboratórios, dentre outros grupos de pressão que acabam direcionando os recursos

desta área.

Neste contexto, o equívoco das políticas de saúde torna-se evidente, uma vez que

a doença é apenas uma conseqüência das condições básicas de vida da população. No

entanto, o perfil de saúde de uma coletividade depende de condições vinculadas à própria

estrutura da sociedade e a manutenção do estado de saúde requer a ação articulada de

um conjunto de políticas sociais mais amplas, relativas a emprego, salário, previdência,

educação, alimentação, ambiente e outras. Isso reforça a relação imbricada entre saúde e

desenvolvimento social e econômico sustentável, demandando um estudo com maior

17

Page 232: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

adensamento teórico-empírico, na tentativa de explicar os aspectos multifacetados da

relação saúde-ambiente-desenvolvimento abordadas neste artigo.

18

Page 233: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

ACHESON, D. Heath inequalities impact assessment. Bulletin of the world

health organization, pp. 75-85, 2000.

ALLEYNE, G. A. Equity and Health. In: XI WORD CONGRESS OF

PSYCHIATRY ON PSYCHIATRY ON NEW THERSHOLDS, Hamburgo, 6-11 ago.

1999.

CHANDOLA, T. Social class differences in mortality using the new UK national

statistics socioeconomic classification. Social Science and Medicine, n. 50, pp. 641-9,

2000.

CULYER, J./ WAGSTAFF, A. Need, equity and equality in health care. York,

University of York, 1992.

DACHS, J. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de

saúde no Brasil: análise dos dados da Pnad/1998. Revista Ciência & Saúde Coletiva,

Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, 2002.

DUARTE, E. et al. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil:

um estudo exploratório. Brasília, Opas/OMS/Funasa, 2002.

FAHEL, M.; INÁCIO, M. Qualidade de vida aplicada à saúde do trabalhador:

perspectivas. In: AMORIM, C. S.; CARVALHO, L. F. (Orgs.). Saúde e segurança no

ambiente de trabalho: contexto e vertentes. Belo Horizonte, Fundacentro/UFSJ, pp.

127-37, 2002. (Coleção de Estudos e Análise.)

FAVERET F., P.; OLIVEIRA, P. A Universalização Excludente: reflexões sobre

as tendências do sistema de saúde. In: Revista Dados de Ciências Sociais. Rio de

Janeiro, v. 33, n. 2, pp. 257-83, 1990.

FLEURY, S. Políticas Sociais e Cidadania na América Latina. In: CANESQUI,

Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e Saúde. São Paulo, Ed. Hucitec/Abrasco, 1997.

GAKIDOU, E.; MURRAY, C. J.; FRENK, J. Defining and measuring health

inequality: approach based on the distribution of health expectancy. Bulletin of the

world health organization, n. 78, pp. 42-54, 2000.

19

Page 234: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

GIRALDES, R. Eqüidade em áreas socioeconômicas com impacto na saúde em

países da União Européia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17,

2001.

IBAMA. Geo-Brasil: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, Governo

Federal, 2002.

ISA. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo, Instituto Sócio-Ambiental,

2005.

KAPLAN, G.; PAMUK, R.; LYNCH, R. Inequality in income and mortality in the

United States; analysis of mortality and potential pathways. BMJ California, n. 31, pp. 999-

1.003, 1996.

MACKENBACH, J.; KUNST, A. Measuring the magnitude of socio-economic

inequalities in health: overview of available measures illustrated with two examples from

Europe. Social Science Medicine, Rotterdam, n. 44, v.6 , pp. 757-71, 1997.

MEDICI, André Cezar. Aspectos teóricos e conceituais do financiamento das

políticas de saúde. In: PIOLA, Sérgio Francisco; VIANNA, Solon Magalhães (Orgs.).

Economia da Saúde: conceito e contribuição para a gestão da saúde. 2. ed. Brasília,

Ipea, 1995.

MINAYO, M.; HARTZ, Z.; BUSS, P. Qualidade de vida e saúde: um debate

necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, pp. 7-18, 2000.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SUS: descentralização. Brasília, Ministério da Saúde,

2000.

NERI, M.; SOARES, W. Desigualdade social e saúde no Brasil. Cadernos de

Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, p. 77-87, 2002. Suplemento.

NORONHA, K. V. M.; VIEGAS, M. A. Desigualdade social no acesso aos

serviços de saúde na região sudeste do Brasil. X SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA E

SAÚDE, s/d, mimeo.

NUNES, A. et al. Medindo as desigualdades em saúde no Brasil: uma

proposta de monitoramento. Brasília, Opas/OMS, 2001.

20

Page 235: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

A Configuração (Dilemas) Dos Riscos Ambientais E De Saúde: Tendências E Perspectivas No Brasil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Artigo 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

OMS. Informe sobre la salud en el mundo, 2002: reducir los riesgos y

promover una vida sana. Genebra, OMS, 2002.

PAMUK, E. Social class and inequality in mortality from 1921 to 1972 in England

and wales. Populations Studies, n. 39, pp. 17-31, 1985.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Cia das Letras, 2001.

TOWNSEND, P.; DAVIDSON, N. The black report. Inequalities in health.

Londres, Peguin Books, 1982.

TRAVASSOS, C. Eqüidade e o Sistema Único de Saúde: uma contribuição para

o debate. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 19, pp. 224-35, 2000.

______; FERNANDEZ, C.; PÉREZ, M. Desigualdades sociais, morbidade e

consumo de serviços de saúde no Brasil. Série Estudos: política, planejamento e

gestão em saúde, Rio de Janeiro, n. 4, pp. 5-26, 1995.

TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da

questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro, Sextante, 2003.

VAN DOORSLAER, E.; WAGSTAFF, A.; RUTTEN, M. Equity in the finance and

delivery of care: international perspective. Oxford Medical Publications, Oxford, n. 8,

1993.

WAGSTAFF, A. Socioeconomic inequalities in child mortality; comparisons

across nine developing countries. Bulletin of the World Health Organization, n. 78,

pp. 19-29, 2000.

______; PACI, P.; VAN DOORSLARE, E. On the measurement of inequalities in

health. Social Science and Medicine, n. 33, pp. 545-57, 1991.

Artigo recebido em 06.12.2005. Aprovado em 18.01.2006

21

Page 236: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

THE CONFIGURATION (DILEMMAS) OF ENVIRONMENTAL AND

HEALTH RISKS: TRENDS AND PERSPECTIVES IN BRAZIL Murilo Fahel¹; Mauro Campos²; Carolina Araújo³

¹Professor-researcher at Unimontes, masters in public health at UAM/Xochimilco (Mexico) and doctoral studies in human sciences: sociology and politics at UFM; ²professor at Centro Universitário Newton Paiva, masters in

city management at PUC-MG and doctoral studies in human sciences: sociology and politics at UFMG; ³professor at Universidade de Negócios e Administração (UNA), masters in management at HEC (Montreal).

ABSTRACT

This article analyzes the relationship between health and environmental risks within the

social and economical development adopted by central and surrounding countries. It

emphasizes an exploratory analysis of environmental effects on the individual’s state of

health, considering the macro-economical aspects that contribute to the consolidation of

environmental and health paradigms on a global level. This text aims to highlight the main

paradoxes, combining the aspects regarding existing iniquities in this context, in an

attempt to identify the effects (direct and indirect) resulting from social and economical

inequalities, particularly in urban spaces. It pinpoints this evidence with an analysis of the

situation diagnosed in Brazil, hoping to show the impacts caused by the adopted model of

development and the consequent generation of environmental and health risks to the

population, as well as the response from the Public Health System.

Key words: sustainable development; environmental and health risks; social inequalities; access to health care.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/en/articles.asp?ed=2&cod_artigo=39

©Copyright, 2006. All rights reserved. Reproduction of the articles, either in full or in part, is allowed, provided the obligation to indicate INTERFACEHS` ownership of the copyright of the same is observed, with full mention of the source of such articles. If in doubt, contact the

secretarial department: [email protected]

1

Page 237: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

INTRODUCTION

The topics of health and environment have always been interconnected. It is not

possible to conceive of decent health conditions in a precarious environmental context.

Thus, when we speak about development, these two subjects – health and environment -

are necessarily included. Situations involving environmental and health risks are not

sustainable along time and compromise the bases of sustainable development:

economical and social development, as well as environment preservation.

The sustainable development goal supported by those three pillars can be

expressed by the concept proposed by the World Commission on Environment and

Development, in 1987. According to it, the official definition of sustainable development is

“development that meets the needs of the present without compromising the ability of

future generations to meet their own needs. ”

In this article we present two kinds of problems that affect public health and are

directly influenced by the development models adopted by each country.

Initially we will treat the health issues related to social inequity, as a result of the

economical model through which product exchanges are made in almost every country in

the world. The dynamic of the economy deeply influences the social arrangement, as one

can observe in the socioeconomically excluded, making up a significant portion of the

population, who, empowered, are not able to achieve the minimal conditions for a

satisfactory life for themselves and their descendants. This difficulty manifests itself in

three real problems exposed in this article: a higher susceptibility to health risks, due to the

precarious sanitary conditions they live in; lack of alimentation, which makes them more

vulnerable to diseases; and the precarious access to public health services.

On a larger perspective, we will try to analyze the environmental problems as

generators of health risks, which are not necessarily limited to the more vulnerable

population. The effects of a development model, which is harmful to the environment

balance, do not respect social classes or geographic differences. Still, this subject has

been treated with certain irresponsibility when development politics are being defined.

However, the dynamic of exclusion, referred to in the previous paragraph, gains new

2

Page 238: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

proportions when one observes that peripheral countries are more seriously, yet not

exclusively, affected by environmental problems.

Both situations are problematic and morally condemnable. Both go against

sustainable development propositions. The first one, since it regards the country’s internal

problems, must be minimized by effective public politics that touches, at the same time,

public health issues and economical exclusion. As for stopping harmful development in the

environment, the propositions of international treaties present an alternative, in the context

of historical negligence to the negative effect favoring the immediate economical benefit

that results.

Since ECO-92, several countries have signed formal tools that generated

compromises and obligations ruled by international law. Since the declaration of Agenda

21, Brazil has signed and ratified some conventions that directly affect health and

environmental issues in the country. Among them, we stress The Convention on Biological

Diversity, which caused a change in the Brazilian Legislation regarding the uses of genetic

resources and traditional knowledge associated; the Convention on Climate Change, that

led to the Kyoto Protocol, which limits the increase of gas emissions causing Global

Warming; and the Vienna Convention and Montreal Protocol on Substances That Deplete

the Ozone Layer, whose goal is to protect human and environmental health against the

harmful effects of alterations to the ozone layer. This is the context of the discussion of

public and environmental health in Brazil, and in the world. The problems associated are

not of easy and immediate solutions, but call for deep changes in the governmental

conception of development and their actions toward it.

HEALTH AREA PARADOXES AROUND THE WORLD

The environmental and health issues meet new challenges as mankind develops,

and the ecosystem and quality of life around the globe suffers the impacts of this

development.

These changes have meaningful implications on individual health conditions and

they generate lifestyles with low sustainability if one thinks about behaviors that could be

considered healthy.

3

Page 239: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

More and more multisided organisms, scientists and ecological movement

militants, have been alerted to the worldwide tendency to aggravate environmental risks

and amplify mankind’s vulnerability. However, the critical situations that have put the

health of the population at risk persist, compromising the quality of water and air, thereby

causing a continuous unbalance in our ecosystem.

In the context of international cooperation for sustainable development, political

action for the actual implementation of United Nations’ Agenda 21 has established, since

the beginning of the 90’s, new principles and governmental and intergovernmental

agreements1. It proposes the adoption of a new ecological rationality directed at

economical efficiency and equality, social responsibility, fighting against international and

national disparities related to poverty, hunger, diseases, illiteracy and, especially the

deterioration of ecosystems.

In addition to this, human behavior has been changing along its history, creating

new habits that affect health quality. These lifestyle changes, both on the production and

consumption patterns, create a new epidemiological profile.

The World Health Organization’s (WHO) report for the year 2002, entitled Reducir

los riesgos y promover una vida sana (Reducing the risks and promoting a sane life)

shows a world paradox in consumption patterns, stressing the distance between the poor

and rich countries. Many of the risks analyzed in this document are due to a lack of

consumption among the poor and excessive consumption among the priviledged. More

specifically, the manifestation and persistence of non-transmissible diseases associated

with bad habits and food are found in large urban locations, coexisting with malnutrition in

poorer areas.

According to Who (2002), the ten leading health risk factors, globally and

regionally, are: underweight; unsafe sex; high blood pressure; tobacco consumption;

alcohol consumption; unsafe water, sanitation and hygiene; iron deficiency; indoor smoke

from solid fuels; high cholesterol and obesity. Together, these account for more than one-

third of all deaths worldwide. Most of the examined risks in this report have a close

1These new agreements include: 1) the perfecting of the decision making process and planning and management systems, aiming the gradual articulation of economical, social and environmental issues; 2) the institutionalization of the information system for vigilance and evaluation of the reached progress; 3) the adoption of a national strategy for sustainable development.

4

Page 240: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

connection with lifestyle, in particular with excessive or insufficient consumption. At the

extreme opposite of poverty is over-nourishment, qualified as over-consumption2.

The common risks such as: high blood pressure, high cholesterol, excessive

tobacco and alcohol consumption, obesity, sedentary lifestyle and related diseases prevail

in wealthier countries. At the same time, poor countries suffer a double charge, since they

are both vulnerable to infectious diseases, more common there, and to non-transmissible

diseases caused by new conditions of production and consumption in the modern world.

In regard to the aforementioned tendency, what can be observed is a fast

expansion of such infirmities persisting, and resulting in almost 60% of world mortality.

This mortality rate is related to an evolution in eating habits, more specifically, the constant

consumption of industrialized food with high levels of fat, salt and sugar.

RISKS OF INEQUALITY IN QUALITY OF LIFE

The inequalities identified in modern societies have an inner heterogeneous

structure with many dimensions – social, economical, ethnical, cultural, geographical. As a

result of an inequality to access social goods, we have important differences in quality of

life. Multiple social privations are due to structural inequalities that sustain themselves

along time, rather than on individual skills (ACHESON, 2000). In our current society, we

can affirm that the process of modernization has produced a globalization of risks and

vulnerability and the world population has been unequally subjected to them. The

generation of vulnerable population is related to the multiple dimensions of society risks,

from the industrial and technological, to the ones related to urban environments. As for the

juxtaposition of risks, the poor populations are all the more vulnerable, experiencing high

levels of risk contact.

On the other hand, the idea of well being is being considered more and more as a

parameter of equality in regard to the access to opportunities generated by the

development process. Thus, the concept of development is beginning to be understood as

2 The world contrasts are huge - while in the poor countries there are 170 millions of children underweight, and more than three million dying for this reason every year, more than a billion adults have excessive weight and around 300 millions are clinically obese. Approximately half million die every year in North America and Western Europe form diseases related to obesity (WHO, 2002).

5

Page 241: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

a wide process of expansion of the right to make individual choices in many areas:

economical, political, social or cultural. (SEN, 2001).

In the same perspective, the notion of quality of life is considered on a wide

perspective: one side related to lifestyle and conditions, the other side including ideas on

sustainable development and human ecology; eventually relating to democracy,

development and social and human rights, producing a defining parameter of social and

individual well being (MINAYO et al., 2000).

Thus, it is possible to establish an inner relationship between the concept of health

and quality of life – understood as human capacities socially determined. Health, in this

context, is defined by quality of life and by the capacity of people to be and to act. As for

the social inequities, we use the concept proposed by Sen (2001): consisting of the

socially produced differences that are morally unfair. If we approach both concepts, we

can say that social inequity in health means socially produced differences in quality of life

and in the capacity of social and individual groups being and acting, that are, per se,

morally unfair and consequently must be minimized.

Studies show that health determination is multidimensional and that the

determinants interact, influencing the physical and psychical disposition of people,

throughout their lives and through their generations. As for inequity, it materializes itself as

unequal access to health services and unequal index distribution of these services among

the social groups. Thus, social conditions determine the degree of exposure to the risk

factors of getting ill and the access to health goods and services. In other words, the

inequities in health have their roots in social inequities.

We know that the inequity patterns in health vary in space and time, and that those

inequities can be worsened according to demographic and environmental determinants,

access to health goods and services and social politics (DUARTE et al., 2002). Thus, the

inequalities in health are stressed among social groups with different socioeconomic

conditions, ethnicity, gender, age and territory.

As a consequence, these situations generate an excessiveness of problems that

mainly affect the most vulnerable groups: early mortality, overcharging for medical

procedures, higher demands for social services and reduction of the possibility of social

ascension.

6

Page 242: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

The confrontation of constant evidence that socially excluded people have a worse

health situation around the world, and the attention to the health inequities, have been

constant subjects on the WHO’s political agenda.

The recognition of the effects of social stratification or that people included in social

relationships have different chances to accomplish their material interests (WRIGHT apud

TRAVASSOS, 2000) gave focus to the debates about the equality of health services, as a

principle of social justice.

These statements are confirmed by the comparative studies made by Van

Doorslaer et al. (1993), with nine European nations and the United States about their

health pattern equality. Doorslaer showed that, in all the analyzed countries, mortality was

not distributed in a proportional way, always concentrating on the poorer people. The

same conclusion is shown by Travassos et al. (1995), in Brazil, using data of the Pesquisa

Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), (National Research on Health and Nutrition), in

1989, coordinated by the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Brazilian

Institute of Geography and Statistics). According to it, the mortality rate in Brazil for the

urban population tends to rise inversely with familiar income per capita in all the larger

regions in the country.

TENDENCIES OF THE ANALYZES OF INEQUALITIES IN HEALTH

Currently, there is a wide consensus that people exposed to harsh social and

economical situations may suffer worse health conditions. Some studies have been trying

to validate this point-of-view arguing the existing association between socioeconomic

conditions and inequities in health.

Since the publishing of the Black report, when Townsend and Davidson (1982)

showed an increase of inequities in the health of the British3, there have been efforts to

analyze the health conditions and the access to its services, according to the division of

the population by socioeconomic level, measured by income, education, occupation or

3 In the United Kingdom, since the 80’s, three big evaluation researches have taken place: The black report on social inequalities in health, by Townsend & Davidson; The health divide, by Townsend, Davidson & Whitehead; and Independent inquiry into inequalities in health, by Acheson.

7

Page 243: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

position in the social hierarchy and the differences among life expectancy in the United

Kingdom (PAMUK, 1985; CHANDOLA, 2000; WAGSTAFF, 2000).

In the United States, salary inequalities are closely associated with mortality

inequalities, homicides and low birth weight (KAPLAN et al., 1996).

In Europe, the projects Socioeconomic Factors in Health and Health Care, and

Socioeconomic Inequalities in Mortality and Morbidity in Europe, coordinated by Erasmus

University, in Rotterdam, Holland, through sectional results published by Mackenbach and

Kunst (1997), indicate that socioeconomic inequalities that effect the health of the

population in countries belonging to the European Union, manifest themselves mainly in

the educational, nutritional and health service domains, both in the way they work and the

expenses per capita that maintain them4.

In Brazil, some recent studies have been investigating health inequality through

regional, infra-regional and inter-urban comparisons. The results of the research

conducted: Medindo as Desigualdades em Saúde no Brasil (Measuring the health

inequalities in Brazil), developed by the Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),

(Institute of Applied Economical Research), with the support of the Organização Pan-

Americana de Saúde (Opas) (Pan-American Health Organization) is one example. This

research makes a wide analysis of the health social inequality profile in Brazil using

databases (Pnad, POF, AMS, Data-SUS, IDB/Ripsa5 and others) available for general use

and accessible indicators and methodology. Thus, it creates an inequality measurement

pattern, able to analyze the human resources offering behavior and installed capacity,

access and utilization of health services, federal and familiar federal expenses, quality of

health, situation of health and health related to life conditions.

Another research that follows this tendency to analyze the social inequities is the

Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo exploratório

(Epidemiology of health inequities in Brazil: an exploratory study), developed through a

partnership between the do Ministério da Saúde (MS) (Ministry of Health), Centro Nacional

4 The Gini Coefficient method was used as a parameter to measure inequity among the 15 countries of the European Union in education, cultural activities, lifestyles, nutrition, unemployment, expenses on health services. 5 Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), Pesquisa do Orçamento Familiar (POF) and Pesquisa Assistência Médico-Sanitária (AMS), made by IBGE; Data-SUS, Ministério de Saúde and Indicadores Demográficos e Socioeconômicos (IDB) from Rede Interagências de Informações para a Saúde (Ripsa).

8

Page 244: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

de Epidemiologia (Cenepi), (National Epidemiology Center), the WHO and the OPAS,

through the Programa Especial de Análises de Saúde (SHA), (Special Program on Health

Analysis), from Washington. It analyzes the inequities according to socioeconomic and

geographical aspects, in addition to the inequities that are related to population

composition by gender, age and health public services, using databases from Data-SUS,

IBGE, IDB/Ripsa and others.

This study suggests that the health inequity in Brazil is polarized on national and

intra-regional levels and that, due to the magnitude of the differences between the

indicators observed among the regions, the Brazilian pattern is really asymmetrical.

According to the research, three main determinants seem to explain, in statistical

terms, the differences found in: urbanization, poverty and aspects related to the

organization of health services. Urbanization suggests the exposure to a “modern” pattern

of risks; poverty relates to the inner difficulties to obtain individual or social health services;

and finally, the services can per se raise or create the inequalities in health. In this last

aspect, two factors can be outlined: access and quality of services. The perspective is that

this exploratory study must become a wider Atlas of the Inequalities in Health in Brazil and

serve as a reference for the design of health politics and government management

models.

ENVIRONMENTAL AND HEALTH RISKS IN BRAZIL

Social and economical development processes, in the way they interfere with the

ecosystems can generate risk situations. The kinds of pollution a society produces, and

the uncontrolled liberation of specific kinds of energy, directly affects the mortality profile of

a population.

However, the influences of the environment on health may go in two directions: one

positive, since it can promote well being and contribute to fulfilling the accomplishments of

human capacities, and also a negative one, generating emergencies and maintaining

diseases and even causing death to a certain segment of the population. The path chosen

is closely connected to the social and economical development model adopted by each

9

Page 245: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

country and also to the design of the world pact, based on both economical increases and

social and environmental responsibility.

In Brazil, it is possible to identify several factors that contribute to a non-sustainable

development model: constant growth of the deforestation areas (The Amazon Rain Forest

and The Cerrado), low water quality, insufficient basic sanitation, environmental

contamination by pollutants, all associated with accelerated urbanization creating huge,

poor neighborhoods on the outskirts of big Brazilian cities.

This chaotic development model has important implications in the emergence and

re-emergence of diseases, leading the country to a complex epidemiological state, high in

risk to health, especially within the more vulnerable population.

Talking about health risks in Brazil involves discussing different scenarios and their

relationships to the socioenvironmental phenomena. Knowing that the Brazilian population

is getting older (RIPSA, 2000; IBGE, 2001), the increase in cardiovascular and neo-plastic

diseases, especially within the last ten years, has been related to the effects of genetics

and life and work conditions for the people who are exposed to certain chemical pollutants.

At the same time, infectious-parasitical diseases, strongly related to socioenvironmental

conditions, show a decline in mortality rate (sixth cause of death) but present an uneven

distribution throughout the country’s regions within specific social groups. We may also

observe the re-emergence of ancient diseases (cholera, dengue, malaria), especially in

certain geographic areas, consolidating areas of epidemics with higher susceptibility for a

systematic occurrence.

External causes, including accidents and violent actions, producing traumas,

lesions and diseases, have been increasing (second cause of mortality), with a strong

interdependence on socioenvironmental conditions.

These scenarios and their epidemiological tendencies have an intimate relationship

with social inequity and the environmental impacts caused by the development model

adopted. Even though there have been some advances in controlling these infectious-

parasitical diseases (measles, poliomyelitis, AIDS and others), the sanitary conditions of

the population remain seriously unequal. Actions such as increased coverage of health

services within the population, access to new technologies and inputs, are not sufficient in

such a context. To counteract this situation, structural changes in the social and

10

Page 246: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

economical development model are necessary, focusing primarily on the promotion of

human health through healthy environments, both in the production and consumption

areas.

Health indicators in Brazilian territories show strong differences in mortality among

regions and towns. In the northeast region, for example, the child mortality rate is 3.5 times

higher (52.4/1000) than in the south (15.1/1000). Whereas deaths caused by respiratory

problems, occur much more frequently in the south and southeast, especially near

industrial iron, steel and petrochemical plants, such as in Cubatão (SP). It is important to

stress that respiratory diseases corresponded to 16.22% of those hospitalized in 2000,

occupying the second position of the most constant diseases (RIPSA, 2001). This confirms

the WHO affirmation (1998) that associated 50% to 60% of respiratory cases with

environmental exposure, both for chronic and non-chronic patients.

In the specific cases of diseases caused by the work environment, of which all

cases have yet to be recorded, there was an increase of 35,000 patients in 1996 in only a

limited area of 18.8 million people, concentrated in the southeast region (58%) and the

south (19%), without including the non-permanent workers (RIPSA, 1998). From 1990 to

1996, there was an increase of 8% in work related diseases. In 1996, the rate went to

16.24/10,000 workers.

As for the transmittable diseases, quality of life conditions no longer offer protection

against their dissemination. The perspective for peripheral countries is not optimistic:

besides the endemic behavior of these diseases, they must also deal with such basic

problems as nutrition, sanitation, housing, vector controls and access to basic health care

(IBAMA/GEO, 2002). The Ministry of Health, through Funasa, has shown an increase of

several diseases such as malaria, tuberculosis and leprosy, and also epidemics of

meningococcal meningitis, cholera, dengue, leptospirosis, leishmaniasis and even

hantaviruses, since the beginning of the 80’s (Chart I).

Relevant factors of health risk are derived from a productive process that generates

the contamination by chemical agents especially agro-chemicals, lead and mercury.

Examples of these are the biocides used to control plagues, without any consideration for

individual susceptibilities to the exposure. According to the WHO, 70% of human

intoxication cases occur in developing countries, and in Brazil the data demonstrates this

tendency. In 1999, there were 398 deaths in the country, caused by exposure to agro-

11

Page 247: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

chemicals and 140 of them had an occupational origin. Exposure to the metallic mercury

generated by industrial use primarily occurs in the south and southeast regions, and in the

case of the “Legal Amazon”, because of the gold mining.

The mercury thrown in the environment can deposit itself in rivers and through the

biological chain, transform itself into multi-mercurial organic compost, which can be found

in the omnivorous fish consumed by the population who live by the rivers, causing damage

to human health (IBAMA/GEO, 2002).

Another relevant factor that has been causing damage to the health of the

population is atmospheric pollution, which compromises the air quality, affecting millions of

people. In Brazil, many of the respiratory problems in recent years have been associated

with the deterioration of air quality, mainly in metropolitan areas. Between 1970 and 2000,

a substantial increase in the emission of pollutants in the country was registered, with

variations from 200%, in the case of sulfur dioxide (SO2), to 500% in the case of hydro-

carbonates. Associated with gases released from the black smoke from the cars, these

pollutants contribute to an increase in respiratory diseases. Studies indicate that, in São

Paulo, a strong correlation between the increase of the pollution and the incidence of

respiratory problems exists, corresponding to 20%-25% of the medical patients and to

10%-12% of the mortalities.

12

Page 248: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

We can also observe an intensification of lung diseases during the 90’s, for workers

exposed to silica and asbestos in work places such as textile, extractive and civil

construction industries, among others. Another factor that contributes to the increase in

respiratory diseases is the ‘burnings’ – a normal practice in large agricultural areas

throughout the country – as registered in Alta Floresta, in the state of Mato Grosso, where

the number of people with problems increased 20 fold during a burning episode

(IBAMA/GEO, 2002).

It is also important to mention natural episodes, such as environmental disasters

(floods, drought, mudslides and forest fires), which have been seriously contributing to

mortality in the country, as well as industrial accidents responsible for both human death

and environmental damage. Preventive and controlling actions have been set in place, but

have shown little effectiveness and the damaging effects to human health, as well as the

aggression to the ecosystem caused by natural phenomena and industrial accidents, have

continued in several regions of the country.

In Brazil, the recognition of the interdependence between economical development,

quality of life, environmental and health conditions, are not widely known as can be

observed in the continuity of environmental degradation. Both quality of life and the

country’s epidemiological profile are seriously affected by this situation.

HEALTH POLITICS IN BRAZIL

In Brazil, what can be observed about governmental actions in health politics is that

collective actions, such as immunization, epidemic control and sanitation, have occurred in

the field of public health, closely linked with the economical environment. Historically, a

great gap has existed between preventive measures and curative ones. It would not be

exaggerated to say that these differences have been highly damaging and unfair.

Preventive measures are still being financed by the government; however, the loss in

prestige of social development over the years, has resulted in a freezing of primordial

activities for giving hospital and medical services to the population.

The Brazilian health system has always separated preventive and curative

activities. Preventive actions were always focused on basic sanitation and stopping the

13

Page 249: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

causes and transmission of diseases among the collectivity. This was done through

sanitation services in regards to the environment, people and animal vectors, no matter if

the people wanted it or not.

As for medical assistance, there has been a significant deterioration in public

services, and reduction of expenses. The current health system gives priority to medical

assistance operated by the private sector, financed by the government. This model has

developed with the process of urbanization and industrialization that occurred during the

30’s. The fast constitution of an urban working class created individual needs for medical

assistance. This system was developed according to the demands of the workers, through

a self-evaluation of their health. This model was adjusted and assessed by the industrial

system, which needed people in good health to work.

Although there have been some initiatives to set a public health system in place for

everyone, as established by the Constitution of 1988, serious deformations still persist in

the whole process. For example, we are still able to find mishandling of public resources

destined for health services in every governmental sphere; centralization of governmental

actions, which many times are disorganized, not compromised and/or tied to the political

machine; a model focused on curative and hospital medicine instead of on preventive

actions; low level of medical services (both quality- wise and quantity- wise); precarious

control of the internal redistribution of public resources and many other that are, without a

doubt, contributing to the low credibility of the Brazilian public health system (MS, 2000).

In practice, the formal globalization of health services implies an exclusion of

certain segments of the society. According to Faveret and Oliveira (1990), this has been

happening to workers with stable incomes. To contain an eventual excess of demand for

public services, they were pushed into the private system.

This migration to the private system can also be explained by the low quality public

services offered, and consequently, the public system become restricted to the less

privileged part of the population. As a result, an “excluding globalization” took place: the

expansion of the system was followed by a rationing mechanism, causing a decrease in

the efficiency of health services. In reality, this condition limited public service assistance

to poor people, inducing all others with stable income to adhere to private or semi-private

insurance.

14

Page 250: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

These structural characteristics of the Brazilian health service have reinforced its

double character: on one hand directed to the privileged social layers, who have easier

access to private services, and on another, directed to those who depend solely on the

public system. Thus, even with an original legislative proposal to create a universal

assistance, the mechanisms for the creation of a unique system resulted in a dual system,

characterized by the segmentation of its clients.

FINAL CONSIDERATIONS

Universally acknowledged as a human right, health and all the factors that interfere

with its state demand deep contemplation. The interferences of the environment on our

health creates new discussions, on the theoretical and empirical field, based on the

understanding of how environmental variables can influence a better or worse health state

(IBAMA/GEO, 2002). Thus, the environmental situation can encourage well being, but can

also create many problems.

What can be observed is that, in relation to health aggravation, the environmental

issues have an extremely important role. Environmental problems can aggravate risks to

the health of the entire population, not only of the vulnerable, exposed to the results of a

development model highly damaging to environmental balance. This intersection between

health and environment reinforces the issues of pollution control programs and

approaches the multisided organisms around this common goal. Furthermore, when we

observe the difficulties in maintaining favorable health conditions in unsuitable

environments destroyed by human action, our attention is called to the discussions about

the mechanisms used to associate economical and social development and environmental

preservation. In this way, we may begin to propose a model of sustainable development

designed to reduce environmental and health risks.

From an individual perspective, what determines the search for health services is

not foreseeable behavior or pre-programmed need, but an unforeseeable contingency,

whether one can or cannot afford to maintain good physical and/or mental conditions.

Thus, access to these services assumes a fundamental role for the individual, thereby

making health, no matter which idealistic definition we may use for it, the product of

objective existence conditions. It is obviously necessary to reinforce the idea of health

15

Page 251: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

rights as a basic notion for governmental action, as long as we establish the difference

between the right to health, the right to health services and the right to medical assistance.

The current health system is insufficient because the parameter commonly used for

the allocation of scarce resources is based on curative medicine, emphasizing hospital

procedures, which should in fact be the last link in the assistance chain. However, the

political bases leading the investments are oriented towards immediate action and

corrective measures, which are of course easier to be seen. Preventive action, which

would generate better results on longer terms with less expense, is unfortunately left to the

economical interests of groups connected with the furnishing of equipment and

laboratories, among other lobby groups that end up directing the resources in this area.

In this context, mistakes of governmental measures in the health sector become

clear, since disease is fundamentally a consequence of the basic standards of living of the

population. Furthermore, the health profile of the collectivity depends on conditions

connected to the very structure of society. The maintenance of the health state must have

an articulated action in a wide range of social areas, related to work, salary, public

insurance, education, food, environment and others. This reinforces the close relationship

between health and socioeconomic sustainable development, demanding deep theoretical

and empirical studies that would explain the multisided aspects of the relationship between

health, environment and development, mentioned in this article.

16

Page 252: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

ACHESON, D. Heath inequalities impact assessment. Bulletin of the world

health organization, pp. 75-85, 2000.

ALLEYNE, G. A. Equity and Health. In: XI WORD CONGRESS OF

PSYCHIATRY ON PSYCHIATRY ON NEW THERSHOLDS, Hamburgo, 6-11 ago.

1999.

CHANDOLA, T. Social class differences in mortality using the new UK national

statistics socioeconomic classification. Social Science and Medicine, n. 50, pp. 641-9,

2000.

CULYER, J./ WAGSTAFF, A. Need, equity and equality in health care. York,

University of York, 1992.

DACHS, J. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de

saúde no Brasil: análise dos dados da Pnad/1998. Revista Ciência & Saúde Coletiva,

Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, 2002.

DUARTE, E. et al. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil:

um estudo exploratório. Brasília, Opas/OMS/Funasa, 2002.

FAHEL, M.; INÁCIO, M. Qualidade de vida aplicada à saúde do trabalhador:

perspectivas. In: AMORIM, C. S.; CARVALHO, L. F. (Orgs.). Saúde e segurança no

ambiente de trabalho: contexto e vertentes. Belo Horizonte, Fundacentro/UFSJ, pp.

127-37, 2002. (Coleção de Estudos e Análise.)

FAVERET F., P.; OLIVEIRA, P. A Universalização Excludente: reflexões sobre

as tendências do sistema de saúde. In: Revista Dados de Ciências Sociais. Rio de

Janeiro, v. 33, n. 2, pp. 257-83, 1990.

FLEURY, S. Políticas Sociais e Cidadania na América Latina. In: CANESQUI,

Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e Saúde. São Paulo, Ed. Hucitec/Abrasco, 1997.

GAKIDOU, E.; MURRAY, C. J.; FRENK, J. Defining and measuring health

inequality: approach based on the distribution of health expectancy. Bulletin of the

world health organization, n. 78, pp. 42-54, 2000.

17

Page 253: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

GIRALDES, R. Eqüidade em áreas socioeconômicas com impacto na saúde em

países da União Européia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17,

2001.

IBAMA. Geo-Brasil: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, Governo

Federal, 2002.

ISA. Almanaque Brasil socioambiental. São Paulo, Instituto Sócio-Ambiental,

2005.

KAPLAN, G.; PAMUK, R.; LYNCH, R. Inequality in income and mortality in the

United States; analysis of mortality and potential pathways. BMJ California, n. 31, pp. 999-

1.003, 1996.

MACKENBACH, J.; KUNST, A. Measuring the magnitude of socio-economic

inequalities in health: overview of available measures illustrated with two examples from

Europe. Social Science Medicine, Rotterdam, n. 44, v.6 , pp. 757-71, 1997.

MEDICI, André Cezar. Aspectos teóricos e conceituais do financiamento das

políticas de saúde. In: PIOLA, Sérgio Francisco; VIANNA, Solon Magalhães (Orgs.).

Economia da Saúde: conceito e contribuição para a gestão da saúde. 2. ed. Brasília,

Ipea, 1995.

MINAYO, M.; HARTZ, Z.; BUSS, P. Qualidade de vida e saúde: um debate

necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, pp. 7-18, 2000.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SUS: descentralização. Brasília, Ministério da Saúde,

2000.

NERI, M.; SOARES, W. Desigualdade social e saúde no Brasil. Cadernos de

Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, p. 77-87, 2002. Suplemento.

NORONHA, K. V. M.; VIEGAS, M. A. Desigualdade social no acesso aos

serviços de saúde na região sudeste do Brasil. X SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA E

SAÚDE, s/d, mimeo.

NUNES, A. et al. Medindo as desigualdades em saúde no Brasil: uma

proposta de monitoramento. Brasília, Opas/OMS, 2001.

18

Page 254: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

OMS. Informe sobre la salud en el mundo, 2002: reducir los riesgos y

promover una vida sana. Genebra, OMS, 2002.

PAMUK, E. Social class and inequality in mortality from 1921 to 1972 in England

and Wales. Populations Studies, n. 39, pp. 17-31, 1985.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Cia das Letras, 2001.

TOWNSEND, P.; DAVIDSON, N. The black report. Inequalities in health.

Londres, Peguin Books, 1982.

TRAVASSOS, C. Eqüidade e o Sistema Único de Saúde: uma contribuição para

o debate. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 19, pp. 224-35, 2000.

______; FERNANDEZ, C.; PÉREZ, M. Desigualdades sociais, morbidade e

consumo de serviços de saúde no Brasil. Série Estudos: política, planejamento e

gestão em saúde, Rio de Janeiro, n. 4, pp. 5-26, 1995.

TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da

questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro, Sextante, 2003.

VAN DOORSLAER, E.; WAGSTAFF, A.; RUTTEN, M. Equity in the finance and

delivery of care: international perspective. Oxford Medical Publications, Oxford, n. 8,

1993.

WAGSTAFF, A. Socioeconomic inequalities in child mortality; comparisons

across nine developing countries. Bulletin of the World Health Organization, n. 78,

pp. 19-29, 2000.

______; PACI, P.; VAN DOORSLARE, E. On the measurement of inequalities in

health. Social Science and Medicine, n. 33, pp. 545-57, 1991.

Article received on 06.12.2005. Approved on 18.01.2006.

19

Page 255: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

The Configuration (Dilemmas) Of Environmental And Health Risks: Trends And Perspectives In Brazil Murilo Fahel; Mauro Campos; Carolina Araújo INTERFACEHS

INTERFACEHS - A Journal on Integrated Management of Occupational Health and the Environment - v.1, n.2, Art 6, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.com.br

20

Page 256: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

AVALIAÇÃO DE RISCO DA INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES MARINHAS

EXÓTICAS POR MEIO DE ÁGUA DE LASTRO NO TERMINAL

PORTUÁRIO DE PONTA UBU (ES) Douglas Siqueira de Medeiros1; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD2

1 Mestre em Tecnologia Ambiental – IPT. Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES) – Samarco Mineração S.A.; [email protected] 2 Docente, Mestrado em Tecnologia Ambiental – Cenatec. Instituto de Pesquisas

Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT.

RESUMO

Com o objetivo de minimizar a introdução de espécies marinhas exóticas nos portos, por

meio do descarte da água de lastro dos navios, desenvolveu-se um trabalho de avaliação

de risco dessa operação no Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES, Brasil). A técnica

baseou-se naquela adotada pelo Global Ballast Water Management Programme –

GloBallast, da International Maritime Organization – IMO, uma agência da Organização

das Nações Unidas. Essa técnica toma como base a comparação entre as características

ambientais dos portos doadores e receptores de água de lastro, por isso foi necessário

conhecer os parâmetros ambientais dos portos, das espécies de risco por biorregião,

além dos dados sobre a água de lastro recebida, gerando um coeficiente global de risco.

Com esse coeficiente foi possível separar os portos doadores de água de lastro em cinco

classes de risco, ao servirem como vetor no transporte de uma espécie marinha exótica

para o Terminal Portuário de Ponta Ubu.

Palavras-chave: água de lastro; análise de risco; introdução de espécies exóticas;

avaliação ambiental; Ponta Ubu..

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/secao_interfacehs.asp?ed=2&cod_artigo=37

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 257: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

Para que os navios consigam navegar em segurança quando se lançam ao mar

sem carga, eles são obrigados a lastrar, que é a operação de colocar a bordo peso líquido

ou sólido para garantir a sua estabilidade e a segurança da tripulação, além de evitar

danos à estrutura.

Os navios, que hoje arcam com o transporte de 80 por cento de toda a mercadoria

comercializada no mundo, estão sendo responsabilizados por causar impactos

ambientais, econômicos e sociais em diversas regiões do globo terrestre, pois, para esse

volume de carga movimentada entre os portos, eles transladam involuntariamente 13

bilhões de toneladas de água de lastro por ano.

Essa movimentação de água de lastro, gerada pela necessidade operacional dos

navios, está sendo responsabilizada pela introdução involuntária de espécies de uma

região em outra e nos portos considerados como palco desses acontecimentos. Embora a

água de lastro seja apontada hoje como uma das quatro maiores ameaças aos mares e

oceanos, por sua atuação como vetor na introdução de espécies exóticas, a literatura

relata que o fenômeno já ocorria com o lastro sólido que a antecedeu.

De acordo com o documento MEPC 49/2/3, que contém a minuta da Convenção

Internacional Para o Controle e Gerenciamento da Água de Lastro de Navios e

Sedimentos, em seu art. 1º, Definições, temos: “Água de Lastro significa água com seu

material em suspensão, tomada a bordo do navio para controlar ‘trim’,1 adernamento,

calado,2 estabilidade ou tensões de um navio”.

À medida que o navio vai sendo descarregado, ele vai captando água do local

onde está atracado, por meio das suas bombas de água de lastro, que são bombas

centrífugas de grande vazão, utilizadas tanto para colocar água no interior de seus

tanques de lastro, como para retirá-la. A água permanecerá armazenada no interior dos

tanques de lastro, até que o navio chegue ao seu porto de carregamento, onde, à medida

que vai recebendo carga em seus porões, vai descarregando-a (Figura 1).

2

Page 258: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Os tanques de lastro aos quais este trabalho faz menção são compartimentos

estanques existentes a bordo, cuja única finalidade é o armazenamento e transporte de

água de lastro. Recebem a denominação de tanques de lastro segregado, de acordo com

a International Maritime Organization (IMO, 1984, p.41).

3

Page 259: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Os tanques, nos quais é transportada a água de lastro, ficam dispostos ao longo

de todo o casco do navio (Figura 2). Existe ainda a opção de se fazer lastro nos porões ou

tanques de carga (FONSECA, 1960, p.129).

Embora o início da utilização do lastro líquido, sob a forma de água, nos navios,

em substituição ao sólido, tenha se dado no final do século XIX, é provável que, somente

durante e após a Segunda Guerra Mundial, a água de lastro tenha começado a circular

em grandes volumes, dando início ao processo de introdução involuntária de espécies

exóticas, por esse vetor, de acordo com Carlton e Geller (1993, p.78-82).

Espécies introduzidas também são conhecidas como espécies invasoras,

alienígenas, exóticas, estrangeiras, não nativas, imigrantes e não indígenas. Às vezes

essas palavras são tratadas como sinônimos, porém, em outros momentos, cada uma

adquire significado diferente.

Uma espécie não nativa é aquela que ocorre em uma região onde ela previamente não

existia, pelo menos em uma base de tempo histórica.

Já o termo “espécies invasoras” refere-se a um grupo definido, em termos gerais,

de espécies introduzidas, que trazem ou poderiam trazer alguma medida de dano para a

economia, o ambiente, ou a saúde humana.

Estima-se que, diariamente, 3 mil a 4 mil espécies estejam sendo transportadas

por navios (GOLLASCH, 1997, p.151-7), ameaçando a saúde pública, a biodiversidade e

as atividades socioeconômicas relacionadas, por exemplo, com as populações

tradicionais, as indústrias da pesca e da aqüicultura.

O primeiro registro sobre a introdução de espécies exóticas por meio da água de

lastro foi feito por Ostenfeld (1908), depois da ocorrência de uma floração de diatomácea

Odontella sinensis no Mar do Norte, endêmica da costa tropical e subtropical do Indo-

Pacífico. Essa ocorrência não trouxe, aparentemente, efeitos nocivos (HALLERGRAEF &

BOLCH, 1992, p.1067-84).

Calcula-se que, por volta de 1908, o caranguejo chinês Eriocheir sinensis, ainda

em sua fase larval, tenha migrado para a o sistema hidroviário alemão, embora ele só

tenha sido identificado na Alemanha em 1912. Em 1930, sem causas conhecidas, a

população desse caranguejo cresceu desmedidamente, invadindo ruas e causando

4

Page 260: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

prejuízos às represas e diques (ROSENTHAL et al., 1998, p.3). Ele migrou da Alemanha

para a Europa Ocidental através dos canais de água doce e, em seu caminho, devastou

estoques de peixes (CALIXTO, 2000, p.96). O evento só veio a se repetir novamente em

abril de 1998, no Rio Elba, onde 850 quilogramas ou 75 mil unidades dessa espécie foram

capturadas pela população local, que se valeu somente das mãos, ou seja, não utilizou

nenhum tipo de instrumento para sua captura. Em 1992, o mesmo caranguejo foi

observado na Baía de São Francisco e na Califórnia, nos Estados Unidos (BROCKMAN,

1999).

Os exemplos mais conhecidos de invasões com sucesso documentado em todo o

mundo são:

Dreissena polymorpa e Dreissena bugensis ou “mexilhão zebra”

Oriundo da Europa Oriental, Dreissena polymorpa foi introduzido, acidentalmente,

através da água de lastro nos Grandes Lagos, fronteira do Canadá com os Estados

Unidos (CARLTON, 1995, p.313-71). A partir daí, o “mexilhão zebra” migrou ainda de

maneira involuntária para as hidrovias americanas, utilizando não só a água de lastro,

como as próprias hidrovias. Hoje, ele já se espalhou por cerca de 40 por cento de toda a

malha hidroviária dos Estados Unidos, gerando um gasto de cinco bilhões de dólares ao

país para tentar conter sua invasão, que está ameaçando a indústria da ostra e colocando

em perigo centenas de empregos, e reparar os danos materiais que ele vem causando

pelo bloqueio das admissões de água das estações de bombas utilizadas no

abastecimento das cidades, hidrelétricas etc.

Mnemiopsis leidyi

Endêmico da Costa Atlântica na América do Norte, teve sua primeira ocorrência

externa a essa área registrada nos mares Negro e de Azov, ao sul da Ucrânia e da

Rússia, em 1982, e hoje está estabelecido nas citadas regiões (SILVA et al., 2001, p.4).

O Mnemiopsis leidyi, atuando como predador, devorou ovos e larvas de peixes e o

próprio plâncton, além de outros ctenóforos, utilizados na alimentação das anchovas.

Sobre essa invasão, os cientistas fizeram uma brincadeira, dizendo que o Mnemiopsis

leidyi é uma resposta americana ao “mexilhão zebra”. Dados divulgados no mesmo ano

indicam que a competição reduziu a oferta do pescado em mais de 80 por cento nos

5

Page 261: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

últimos dez anos, na Bulgária, Romênia e Turquia (NEWS JOURNAL CENTER, 1997).

“Longe de seus predadores naturais e favorecidos por atributos (hermafroditismo) e

habilidades específicas (reprodução em diferentes condições ambientais, alterações no

seu tamanho), o Mnemiopsis leidyi reproduziu-se rapidamente, chegando à década de

1990 com uma população estimada de um bilhão de toneladas” (SILVA, 2001, p.3).

Limnoperna fortunei ou “mexilhão dourado”

Oriundo dos rios e córregos da China e do Sudeste da Ásia, invadiu Hong Kong

em 1965, Japão e Taiwan nos anos 90 (DARRIGRAN, 2000, p.7-13) e, em 1991, pela

primeira vez, foi encontrado nas Américas, na bacia do Rio da Prata, no Balneário

Bagliardi, Partido Berisso e Buenos Aires, trazido provavelmente pela água de lastro dos

navios transoceânicos (DARRIGRAN, PASTORINO, 1995, p.171-5). Informações não

referenciadas indicam que a mesma espécie foi identificada em 1984, próximo à Colônia

de Sacramento, no Uruguai. Em poucos anos, o Limnoperna fortunei ocupou os rios da

Prata e Paraná, estimando-se que ele viaje uma média de 240 quilômetros por ano

(MANSUR et al., 2004, p.33).

O mesmo autor (MANSUR et al., 1999, p.147-50) já havia feito, em 1998, o

primeiro registro, no Brasil, da presença do Limnoperna fortunei ao sul do Rio Guaíba, na

praia de Itapuã, e no porto das Pombas, município de Viamão (RS).

Em 1998, o Limnoperna fortunei foi encontrado na Usina Hidrelétrica de Yacyretá,

na Argentina. Sua presença vem causando sérios problemas, uma vez que ele provoca a

obstrução de alguns sistemas da geradora de energia elétrica (FONTES, 2002). Esse

autor afirma que, em janeiro de 2000, foi detectada a presença de exemplares adultos do

Limnoperna fortunei afixados aos cascos de dois barcos da Armada Nacional Paraguaia,

que se preparavam para fazer o translado de a jusante para a montante do reservatório

de Itaipu. A raspagem dos exemplares foi efetuada e os mexilhões foram enviados à

Universidade Nacional de La Plata. De acordo com o diagnóstico obtido, a Itaipu efetuou a

limpeza mecânica no casco das embarcações, antes que elas fossem lançadas ao lago

(FONTES, 2002).

6

Page 262: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Gymnodinium catenatum

Em 1998 o Gymnodinium catenatum foi identificado pela primeira vez no Brasil, em

uma região de cultivo de moluscos na costa de Santa Catarina (PROENÇA et al., 2001,

p.59-65). Esse dinoflagelado é produtor da toxina causadora do “paralytic shellfish

poisoning” – PSP. A constatação dessa toxina em áreas de cultivo de moluscos desde a

Argentina até a costa de Santa Catarina transforma a presença do Gymnodinium

catenatum em um problema de ordem econômica e de saúde pública. O principal suspeito

de causar sua distribuição nessa área é a água de lastro dos navios. O Gymnodium

catenatum forma cistos de resistência, o que facilita a sua sobrevivência no interior dos

tanques de lastro (PROENÇA et al., 2004, p.76-98).

Alexandrium tamarense

O Alexandrium tamarense foi registrado pela primeira vez no Brasil, na costa do

Rio Grande do Sul, em 1996 (ODEBRECHT et al., 1997, p.152). Recentemente,

comparações genéticas realizadas entre cepas obtidas a partir de cistos coletados na

Praia do Cassino, próxima ao porto de Rio Grande (RS), com outras, da Argentina,

Uruguai e Estados Unidos, revelaram semelhança com aquelas da costa oeste deste

último país. Esses resultados descartam a sua migração para o Brasil por correntes

marítimas, aumentando a possibilidade de o processo de introdução ter ocorrido por meio

da água de lastro de navios oriundos daquela região (PERSICH, 2001). A sua presença

na costa do Rio Grande do Sul representa um potencial que pode promover na região

impactos de ordem econômica e de saúde pública, uma vez que a toxina causadora de

PSP pode contaminar o marisco branco, Mesodesma mactroides, que é explorado de

bancos naturais para o consumo humano. Embora não existam dados, esse marisco e

outros filtradores podem acumular, em seus tecidos, quantidades de toxinas suficientes

para intoxicar seres humanos ou causar danos a outros organismos marinhos (PROENÇA

et al., 2004, p.76-98).

ÁGUA DE LASTRO COMO VETOR DE DOENÇA

A possibilidade de a água de lastro descarregada nos portos impactar a saúde das

populações do seu entorno foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde,

7

Page 263: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

preocupada com o papel de propagador de bactérias causadoras de doenças epidêmicas

(SILVA et al., 2004, p.1).

Um exemplo a ser citado é a epidemia de cólera, ocorrida na América Latina, a

partir de janeiro de 1991. Na ocasião, o cólera teve o Peru como sua porta de entrada no

continente (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2003), aonde chegou provavelmente

por meio da água de lastro. A bactéria valeu-se das bacias hidrográficas da região para se

espalhar por catorze países da América do Sul, deixando, até o presente momento, um

total de doze mil vítimas fatais e 1,2 milhão de casos de pessoas infectadas. Fato

semelhante ocorreu na baía de Paranaguá (PR), onde a água de lastro foi considerada a

principal suspeita da introdução do vírus. O surto de cólera gerado atingiu a comunidade

ribeirinha em 1999, registrando 467 casos confirmados (ANVISA, 2003, p.5).

Nos Estados Unidos, foi detectado na água de lastro de navios oriundos da

América do Sul o vibrião do cólera (MCCARTHY & KHAMBATY, 1994). Em 1999, a

Guarda Costeira Americana (USCG) apresentou relatório sobre a observação do vibrião

do cólera em uma amostra de água de lastro, mas informou, ainda no mesmo trabalho,

que não havia sido possível estabelecer uma ligação dessa observação com a

contaminação dos peixes na Baía de Mobile, Estado do Alabama (USCG, 1999, p.1-26).

MEDIDAS GERENCIAIS PARA CONTROLE DE DESLASTRO DE NAVIOS

Mediante os casos de introdução de espécies exóticas comprovados em várias partes do

mundo, a IMO, agência da Organização das Nações Unidas responsável pela

salvaguarda da vida humana no mar e pela preservação da vida marinha, juntou-se aos

países que já trabalhavam com a introdução de espécies exóticas pela água de lastro,

principalmente Austrália e Estados Unidos, e chamou para si a coordenação dos

trabalhos internacionais nesse sentido, editando resoluções, desenvolvendo e financiando

programas.

A IMO, em conjunto com os seus membros, criou o Programa Global de Gerenciamento

de Água de Lastro (GloBallast), contando com o apoio dos Estados Membros e da

indústria do transporte marítimo, que tem como objetivo apoiar os países em

desenvolvimento no trato do problema de água de lastro. Os recursos para sua execução

8

Page 264: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

provêm do Fundo Mundial Para o Meio Ambiente – GEF, repassados por intermédio do

Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento – PNUD. A IMO selecionou seis

países (Figura 3) onde o programa seria implementado e desenvolvido ainda como um

trabalho piloto (LEAL & JABLONSKY, 2004, p.11-9). Os escolhidos foram: Brasil, Índia,

Irã, Croácia, África do Sul e China. No Brasil, foi indicado o Porto de Sepetiba como Piloto

do GloBallast.

Alguns países, preocupados com os impactos causados pelas introduções

involuntárias de espécies exóticas por meio do vetor água de lastro, resolveram

desenvolver e implantar algumas ações próprias, no sentido de minimizar as alterações

ambientais causadas por essa atividade.

9

Page 265: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O Panamá, por iniciativa própria, adotou como medida a proibição da descarga de

água de lastro no interior do seu canal, para todos os navios que o atravessem

(GOLLASH, 1997, p.151-97).

Na Argentina, desde 1990, as autoridades portuárias de Buenos Aires exigem a

cloração da água de lastro dos navios que chegam a seu porto. Atualmente, de acordo

com a Prefeitura Naval Argentina, na Portaria n.7/98, tomo 6, que se refere à proteção ao

meio ambiente, existe uma zona de proibição de ações contaminantes. O deslastro de

navios estrangeiros deve ser feito fora dessa área, entretanto o uso de biocidas continua

sendo autorizado, na mesma Portaria, como complemento às trocas de lastro em alto-mar

(SILVA, 2001, p.6).

No Chile, com o intuito de prevenir epidemias, especialmente de cólera, desde

1995 foi determinada a troca de lastro a 12 milhas da costa, para todos os navios vindos

de países estrangeiros. Caso a troca não seja feita ou não possa ser comprovada, é

necessária a cloração dos tanques (SILVA, 2001, p.7).

Em 1992, a Nova Zelândia, por meio do grupo de água de lastro da IMO, também

elaborou suas diretrizes, que seguem a mesma linha da Austrália (SILVA, 2001, p.7). Em

Israel, o Porto de Haifa adotou como medida mitigadora, para ser aplicada a todos os

navios que para lá se dirijam e que necessitem efetuar a manobra de deslastro de água

depois de atracados, que efetuem a troca de água de lastro em alto mar, antes de

entrarem em águas territoriais israelenses (GOLLASCH, 1997, p.151).

O Terminal Portuário de Ponta Ubu situa-se no município de Anchieta, ao Sul do

Estado do Espírito Santo, e sua atividade-fim é a exportação de pelotas de minério, o que

tem como conseqüência a importação de grandes volumes de água de lastro. Preocupado

com o seu potencial como porta de entrada para espécies marinhas exóticas, Ponta Ubu

tomou a iniciativa de desenvolver um conjunto de medidas alinhadas com a IMO, que

possibilitem minimizar o impacto causado pela operação de lastro dos navios.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma tecnologia gerencial para portos,

que permitisse minimizar a introdução de espécies exóticas por meio da água de lastro,

10

Page 266: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

sem gerar nenhum atraso na operação dos navios nem depender de nenhum processo de

tratamento da parte do porto ou do navio.

MÉTODO DESENVOLVIDO E RESULTADOS

A falta de uma legislação mandatária no âmbito internacional sobre a água de

lastro, a ausência de um método reconhecidamente seguro para tratar o lastro dos navios,

a inexistência, a bordo dos navios, de qualquer dispositivo para tratar a água de lastro, a

impotência legal dos portos para impor qualquer tratamento para o lastro dos navios e a

falta de pessoal nos portos para acompanhar o deslastro de todos os navios que chegam,

acabam apontando a análise de risco da água de lastro a ser descarregada, como a

técnica de gerenciamento de deslastro dos navios passível de ser aplicada.

Análise de risco da água de lastro

A análise de risco da água de lastro é uma técnica seletiva, em que se atribui

aos navios que se dirijam a um determinado porto, um grau de risco em função da

origem do seu lastro. Esse processo se baseia na similaridade ambiental entre o porto

onde a água de lastro foi captada e o local onde ela será descarregada.

A técnica utilizada neste trabalho baseia-se naquela desenvolvida pelo

programa GloBallast, na qual são gerados quatro coeficientes de risco, que resultam

em um coeficiente global de risco. Por ele se classificam os portos doadores de água

de lastro quanto à sua possibilidade de introduzir, de forma involuntária, espécies

exóticas no porto doador. Portanto, o conhecimento sobre o lastro recebido é

fundamental.

Entre 2001 e 2003, período-base para o desenvolvimento deste trabalho, o

Terminal Portuário de Ponta Ubu recebeu aproximadamente 15 milhões de toneladas

de água de lastro, oriundas de 84 portos diferentes, o que corresponde a uma média

de 5 milhões de toneladas por ano. Esse volume anual corresponde a 13 por cento de

todo o lastro movimentado no Brasil. Todo esse volume de água de lastro, importado

de maneira involuntária, é oriundo da exportação de 36 milhões de toneladas de

pelotas de minério de ferro (MEDEIROS, 2004, p.51-3).

11

Page 267: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O lastro recebido pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu é do tipo segregado

(MEDEIROS, 2004), isto é, o lastro é transportado em tanques destinados única e

exclusivamente para esse fim (IMO, 1984, p.42). Essa característica é uma

conseqüência do tipo de navio com o qual se opera – no caso, o navio tipo graneleiro.

No período de 2001 a 2003, o Terminal Portuário de Ponta Ubu – TPU – recebeu

água de lastro de 84 portos, localizados em sete regiões diferentes: Europa, Oriente

Médio, América Central, América Latina, América do Norte, África e Ásia, com sua

participação distribuída como está mostrado na Figura 4 (MEDEIROS, 2004, p.53).

Das sete regiões, a que mais exportou involuntariamente água de lastro para o

TPU foi o continente europeu, que contribuiu com 79,12 por cento do volume total.

Desse continente, a Holanda e a França foram os países que mais doaram água de

lastro, por intermédio dos portos de Roterdam, considerado o maior doador de água de

lastro (segundo o ENVIRONMENTAL BALLAST WATER MANAGEMENT ASSESSMENT,

2001), e Dunquerque, respectivamente.

12

Page 268: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

1. Obtenção do Coeficiente de Risco de Freqüência de Visitas de Inoculação (C1)

O conceito deste coeficiente é que, quanto maior a freqüência no recebimento de

água de lastro de um determinado porto, maiores serão as chances de reunir, naquele

local, dentro de um pequeno período, um número mínimo de seres necessários para que

determinada espécie consiga se reproduzir e fixar-se nesse novo ambiente.

O Coeficiente de Risco de Freqüência de Visitas de Inoculação (C1) refere-se ao

número mínimo de eventos de descarga (visitas) de água de lastro, oriunda de um mesmo

porto.

O maior C1 obtido foi 0,0951, do porto de Roterdam, seguido pelos portos de

Dunquerque e Amsterdam, ambos com C1 igual a 0,05476. No período do estudo, foi

recebido pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu um total de 347 visitas.

2. Coeficiente de Risco de Volume de Inoculação (C2)

O Coeficiente de Risco de Volume de Inoculação (C2) assume que a probabilidade

de estabelecimento de uma espécie cresce à medida que aumenta o volume de água de

lastro descarregada por evento, oriunda de uma mesma região (CLARKE et al., 2003b).

Para a obtenção desse coeficiente foi estabelecida a relação entre o volume de água de

lastro oriunda de cada porto dentro de determinado período e o volume total de água de

lastro recebida pelo Terminal Portuário de Ponta Ubu, no mesmo período (CLARKE et al.,

2003a).

Dentre os 84 doadores, o maior C2 foi o do porto de Roterdam. Os doze maiores

valores de C2 são praticamente os mesmos portos que apresentaram os maiores valores

C1, porém não na mesma ordem de classificação do grau de risco.

13

Page 269: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

3. Coeficiente de Risco de Similaridade Ambiental (C3)

O Coeficiente de Risco de Similaridade Ambiental (C3) toma como base a hipótese

de que a probabilidade de estabelecimento de uma espécie é proporcional ao grau de

similaridade da área de origem com a área de destino.

O C3 é proveniente de uma análise multivariada conduzida paralelamente à

análise de riscos, das quais são gerados os valores de similaridade ambiental entre o

porto receptor e cada porto doador de água de lastro. Esse coeficiente apresenta valores

que variam de 0,05 (similaridade mínima) a 1,0 (similaridade máxima). A análise de

similaridade ambiental é realizada com o software “Primer 5”, que trabalha 34 variáveis

ambientais (como descritores para cada porto) e o Coeficiente de Distância Euclidiana

(JUNQUEIRA & LEAL, 2003).

O Coeficiente de Distância Euclidiana gera, a partir da comparação dos

parâmetros do porto doador com o do receptor, o Coeficiente de Distância do Porto. O

princípio é que quanto maior for esse coeficiente, menor será a similaridade entre os

portos, e quanto menor ele o for, maior será a semelhança entre os dois ambientes.

Para solucionar o problema da falta de dados de alguns portos, utilizou-se o

estudo de Miklos Udvardy, desenvolvido em 1975, no qual o mundo foi dividido em 204

biorregiões, com base no princípio de que a similaridade ambiental dentro de uma mesma

região aumenta a probabilidade de que uma espécie presente em um ponto dessa

biorregião possa migrar e fixar-se em outro ponto dentro dela, por vias naturais de

deslocamento, ou por meio da interferência de atividades do homem (CLARKE et al.,

2003a).

4. Coeficiente das Espécies de Risco do Porto Doador (C4)

O Coeficiente das Espécies de Risco do Porto Doador (C4) fornece uma medida

do risco apresentado pelo porto doador relacionado ao número de espécies de risco

(introduzidas, potencialmente nocivas e nocivas) presentes na biorregião do porto. A

14

Page 270: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

obtenção desse coeficiente é feita por meio de uma proporção entre a soma de todas as

espécies: introduzidas (I), nocivas potenciais (P) multiplicado pelo peso estabelecido

(W1), e nocivas ou de risco (N) multiplicado pelo peso estabelecido (W2). Os pesos

variam de 0 a 10 (JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.5).

5. Coeficiente Global de Risco (CGR)

O Coeficiente Global de Risco (CGR) é uma média ponderada de todos os

coeficientes calculados para água de lastro recebida de cada porto, pelo Terminal

Portuário de Ponta Ubu.

6. Fator de Redução de Risco em Função do Volume (R)

O Fator de Redução de Risco em Função do Volume (R) é obtido na Tabela 1 de

conversão, cujo número de dias em que a água de lastro permaneceu armazenada no

interior dos tanques é corrigido por um fator, pois, quanto mais tempo a espécie

permanecer naquele local, menores serão as suas chances de sobreviver nesse

ambiente, em razão da atmosfera hostil que se cria no interior desses tanques

(JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.4-5).

15

Page 271: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Ao término do processamento dos quatro coeficientes de risco pelo CGR, para

cada um dos 84 portos dos quais o Terminal Portuário de Ubu recebe água de lastro, eles

receberam a seguinte distribuição quanto ao seu grau de risco de doar uma espécie para

o porto receptor: 12 de altíssimo, 13 de alto, 14 de médio, 17 de baixo e 28 de baixíssimo

risco (MEDEIROS, 2004, p.76).

Os portos brasileiros de Sepetiba (RJ), Praia Mole (ES), São Sebastião e Santos

(SP), Imbituba (SC), Aratu e Ilhéus (BA) e Recife (PE) ocupam oito dos doze lugares na

classificação de altíssimo risco. A participação dos portos brasileiros nessa classe é de

quase 67 por cento, seguida dos portos mediterrâneos, com 25 por cento, e dos portos do

oeste europeu, com 8,33 por cento (MEDEIROS, 2004, p.77).

Dos portos de Dunquerque, Roterdam e Ijmuidem, apontados pelo levantamento

de água de lastro realizado para o TPU como seus maiores doadores em volume de

lastro, apenas o primeiro foi classificado como de alto risco, e os dois últimos foram

apenas o sétimo e oitavo colocados entre os portos de médio risco. Outro fato que

chamou a atenção é que somente três dos portos enquadrados como de altíssimo risco

haviam exportado um volume considerável de água de lastro para o Terminal Portuário de

Ponta Ubu (MEDEIROS, 2004, p.81).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados gerados pela avaliação de risco e evidenciados no decorrer do

trabalho permitem identificar não só os portos, mas também as regiões geográficas que

possuem maior probabilidade de introduzir uma espécie exótica, com êxito, no corpo

hídrico do Terminal Portuário de Ponta Ubu, indicada pelo Risco Relativo.

O fato de os portos brasileiros apresentarem grande similaridade ambiental entre

si é preocupante, pois, uma vez introduzida uma espécie com sucesso em um desses

portos, serão encontradas condições favoráveis para que ela se difunda para os demais

(JUNQUEIRA & LEAL, 2003, p.6).

Ainda que se admita que a técnica não seja totalmente eficaz, ela é aplicável

dentro da competência dos portos, e possível de ser requerida dos navios, se for levado

em consideração o despreparo atual dos navios, tanto do ponto de vista técnico como do

16

Page 272: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

conhecimento para lidar com a novidade representada pelo tema “introdução de espécies

exóticas por meio de água de lastro”. Vale ressaltar que os métodos em desenvolvimento

para tratamento da água de lastro também não conseguem atingir um alto índice de

eficiência e alguns desses processos exigem transformações dispendiosas e de difícil

atendimento por parte dos navios, a curto e médio prazo, além da potencial geração de

resíduos, que podem impactar negativamente tanto o meio ambiente como a saúde

humana.

A avaliação de risco é uma ferramenta de gestão de caráter indicativo, ou seja,

não possui dispositivos ou características de execução e, portanto, precisa estar

associada a outra ferramenta de gestão, aplicativa, com base em seus indicativos. É

recomendável, assim, o desenvolvimento e o estabelecimento de procedimentos não só

capazes de gerenciar a descarga de água de lastro, mas que também permitam fiscalizar

o seu cumprimento por parte dos navios. Um conjunto desses procedimentos deve ser

elaborado de acordo com as particularidades de cada porto. No caso do Terminal

Portuário de Ponta Ubu, o autor principal elaborou, em paralelo ao desenvolvimento deste

trabalho, um conjunto de procedimentos que orientam não só o navio mas também o

citado Terminal, sobre qual postura deverá ser adotada de acordo com os indicativos da

análise de risco.

A prevenção da introdução de espécies marinhas exóticas por meio de água de

lastro é um tema relativamente novo para a ciência. Isso significa que este trabalho não

termina com a presente investigação, reforçando a necessidade de que estudos e

pesquisas sobre o tema tenham prosseguimento, visando à ampliação e ao

aperfeiçoamento dessas técnicas.

NOTAS

1 Trim – ângulo de inclinação do navio para vante ou para ré; posição do navio dentro

d’água.

2 Calado – altura do navio submersa.

17

Page 273: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Brasil: água de lastro

Anvisa. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 5p. Disponível em:

www.anvisa.gov.br/paf/agua_lastro3.pdf. Acesso em: 18 out. 2003.

BROCKMAN, R. Chinese mitten crabs in California (Eriocheir sinensis). 1999. Disponível

em: www.mp.usbr.gov/mittencrabs.html. Acesso em: 12 dez. 2000.

CALIXTO, R. J. Poluição marinha origens e gestão. Brasília: Ed. Ambiental, 2000. cap. 5,

p.93-111.

CARLTON, J. T. Transoceanic and inter-oceanic dispersal of coastal marine organisms:

The biology of ballast water. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, v.23,

p.313-71, 1995.

CARLTON, J. T.; GELLER, J. B. Ecological roulette: the global transport of nonindigenous

marine organisms. Science, Washington (DC), v.261, n.5117, p.78-82, 1993.

CLARKE, C. et al. Ballast water risk assessment. Port of Sepetiba, Federal Republic of

Brasil. London: IMO, 2003a. (GloBallast Monograph Series, 14)

CLARKE, C. et al. Ballast water risk assessment. Port of Khark Island, Islamic Republic of

Iran. London: IMO, 2003b. (GloBallast Monograph Series, 8)

DARRIGRAN, G. Invasive Freshwater Bivalves of the Neotropical Region. Dreissena, New

York, v.11, n.2, p.7-13, 2000.

DARRIGRAN, G.; PASTORINO, G. The recent introduction of a freshwater asiatic bivalve

Limnoperna fortunei (Mytilidae) into South America. The Veliger, Berkeley, v.32, n.2,

p.171-5, 1995.

FONSECA, M. M. Arte naval. 2.ed. Guanabara: IBGE, 1960. p.129.

FONTES, J. H. M. A presença do bivalve invasor Limnoperna fortunei na Hidroelétrica de

Itaipu. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE ÁGUA DE LASTRO, 2. 2002, Arraial do

Cabo (RJ). Resumo. Arraial do Cabo: Instituto de Pesquisas Oceanográficas Almirante

Paulo Moreira, 2002.

18

Page 274: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. Cólera. Brasília: Ministério da Saúde, [2000].

Disponível em: www.funasa.gov.br/guia_epi/htm/doenças/cólera/index.htm. Acesso em:

18 out. 2003.

GOLLASCH, S. Removal of barriers to the effective implementation of ballast water

control and management measures in developing countries. [s.l.]: GEF/IMO/UNDP, 1997.

p.151-97. (Report)

HALLERGRAEFF, G. M.; BOLCH, C. J. Transport of distom and dinoflagellate resting

spores in ships ballast water: implication for plankton biogeography and aquaculture.

Journal of Plankton Research, Oxford, v.14, p.1067-84, 1992.

INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION – IMO. Marine polution, 73/78. London,

1984. Annex I, p.41-2.

JUNQUEIRA, A.; LEAL, A. Avaliação de risco de água de lastro. In: Seminário sobre Meio

Ambiente Marinho, 4. Rio de Janeiro: Sobena, 2003. p.1-6.

LEAL, A. N.; JABLONSKY. S. O Programa GloBallast no Brasil. In: SILVA, J.; SOUZA, R.

Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 2, p.11-9.

MANSUR, M. C. D. et al. Limnoperna fortunei moluscos bivalves invasores, na Bacia do

Guaíba, Rio Grande do Sul, Brasil. Biociências, Porto Alegre, v.7, n.2, p.147-50, 1999.

MCCARTHY, S. A.; KHAMBATY, F. M. International dissemination of epidemic Vibrio

cholarae by cargo ship ballast and other monpotable waters. American. Soc. for

Microbiology, v.60, n.7, 1994.

MANSUR, M. C. D. et al. Prováveis vias de introdução de Limnoperna fortunei (Dunker,

1857) (Mollusca, Bivalvia, Mutilidae) na Bacia da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul e

novos Registros de Invasão no Brasil pelas Bacias do Paraná e Paraguai. In: SILVA, J.;

SOUZA, R. Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 4, p.33-

338.

MEDEIROS, D. S. Avaliação de risco da introdução de espécies marinhas exóticas por

meio de água de lastro no Terminal Portuário de Ponta Ubu (ES). São Paulo: Instituto de

19

Page 275: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo/ Centro de Ensino Tecnológico. 2004.

cap. 6, p.51-87.

MEPC 49/2/3. Annex 2: draft international convention for the control and management of

ships’ ballast water and sediments. London: IMO, 2003. p.1-6.

A potential fight: alien vs. alien in the black sea. News Journal Center, Daytona Beach, 7

Dec. 1997. Disponível em: www.n-jcenter.com/97/dec/7/en1.htm. Acesso em: 20 abr.

2001.

ODEBRECHT, C.; MÉNDEZ, S.; GARCIA, V. M. T. Oceanographic processes and hamful

algae blooms in the Subtropical Southwestern Atlantic. In: INTERNATIONAL

CONFERENCE ON HARMFUL ALGAE, 8, 1997, Vigo. Anais...Vigo: Instituto Espanhol de

Oceanográfica, 1997. 152p.

OSTENFELD, C. H. On the immigration of Biddulphia Sineses Grev. and its occurrence in

the north sea during 1903-1907. Medd. Komm. Havunders., Ser Plankton, v.1, n.6, p.1-46,

1908.

PERSICH, G. R. Estudos sobre a fisiologia, genética e toxicidade de dinoflagelado

Alexandrium tamarense (Lebour) Balech do Sul do Brasil. 2001. Tese (Doutorado) –

Fundação Universidade de Rio Grande do Sul.

PROENÇA, L. A. O.; TAMANAHA, M. S.; SOUZA, N. P. The toxic dinoflagellate

Gymnodiniu catenatum in Southern Brazilian Waters: occurrence, pigments and toxins.

Atlântica, Rio Grande, v.23, p.59-65, 2001.

PROENÇA, L. A. O.; FERNANDES, L. F. Introdução de microalgas no ambiente marinho:

impactos negativos e fatores controladores. In: SILVA, J.; SOUZA, R. Água de lastro e

bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 7, p.76-98.

ROSENTHAL, H. et al. Testing monitoring systems for risk assessment of harmful

introductions by ship to european waters. In: EUROPEAN MARINE SCIENCE AND

TECNOLOGY CONFERENCE, 3. Lisboa, 1998. Resumo... Bruxelas: Comissão Europeia,

1998.

20

Page 276: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Avaliação De Risco Da Introdução De Espécies Marinhas Exóticas Por Meio De Água De Lastro No Terminal Portuário De Ponta Ubu (Es) Douglas Siqueira de Medeiros; Marcio Augusto Rabelo Nahuz, PhD INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

SILVA, J. Avaliação de sobrevivência de organismos transportados por água de lastro de

navios mercantes. Arraial do Cabo: Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira/

Departamento de Oceanografia, 2001. cap. 1, p.1-11.

SILVA, J. et al. Água de lastro. Ciência Hoje, São Paulo, v.32, n.188, p.4, 2001.

SILVA, J. et al. Água de lastro e bioinvasão. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. cap. 1,

p.1-8.

TERMINAL PORTUÁRIO DE PONTA UBU. Arquivos do Departamento de Operações

Portuárias. Anchieta: Samarco Mineração, Gerência do Porto, 2004.

Universidade Federal do Espírito Santo. Relatório água de lastro. In: Samarco Mineração

S.A. Vitória: Departamento de Ecologia/UFES, 2003.

UNITED STATES COAST GUARD – USCG. 33 CFR Part 151: National invasive species

act of 1996. Washington (DC), 1999. v.64, n.94, p.1-26.

21

Page 277: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

ACIDENTES AMPLIADOS À LUZ DA “DIRETIVA SEVESO” E DA

CONVENÇÃO Nº 174 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO – OIT Edson Rocha jr.¹; Maria Carolina Maggiotti Costa²; Maria Dorotéa Godini³

¹Engenheiro, gerente operacional/ Bunge Fertilizantes Ltda e mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac; ²Advogada/ Fundacentro e mestranda em Gestão

Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac; ³Engenheira, Diretora Presidente/MDG Consultoria e Treinamento, mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio

Ambiente pelo Centro Universitário Senac.

RESUMO

O artigo revisa a questão histórica do aparecimento dos acidentes industriais ampliados

no mundo e faz um sucinto estudo da “Diretiva Seveso” da União Européia e da

Convenção nº 174 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, legislações

internacionais que tratam do tema. Mostra o que as referidas normas dispõem em relação

à prevenção e à adoção de medidas em situações emergenciais e críticas e aponta seus

relevantes aspectos comparativos. Por último, conclui que as normas estudadas são

normas preventivas que vêm uniformizar as legislações domésticas dos Estados,

obedecendo a padrões internacionais, sendo aplicáveis à prevenção de fatos e

fenômenos locais.

Palavras-chave: acidente industrial ampliado; Convenção 174 da OIT; Diretiva Seveso;

meio ambiente, saúde do trabalhador, política ambiental internacional.

.

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/secao_interfacehs.asp?ed=2&cod_artigo=36

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 278: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

O surgimento dos acidentes industriais está diretamente relacionado ao processo

de industrialização e ao desenvolvimento de novas tecnologias de produção surgidos nas

sociedades modernas a partir da Revolução Industrial. O exemplo é a grande ocorrência

de acidentes nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha envolvendo a máquina a vapor,

símbolo do movimento, e que registraram um elevado número de óbitos (FREITAS;

PORTO; MACHADO, 2000).

A partir da Segunda Guerra Mundial, a demanda significativa por novos materiais e

por produtos químicos, acompanhada pela mudança da base de carvão para o petróleo,

impulsionou o desenvolvimento da indústria química (HAGUENAUER, 1986 apud

FREITAS; PORTO; MACHADO, 2000). O setor químico, por ter natureza extremamente

competitiva, associada ao crescimento da economia em escala mundial e ao rápido

avanço tecnológico, proporcionou o aumento das plantas industriais e,

conseqüentemente, a complexidade dos processos produtivos (THEYS, 1987; UNEP,

1992 apud FREITAS; PORTO; MACHADO, 2000).

Além disso, o crescimento globalizado tem acirrado a concorrência entre as

empresas, levando-as à maximização da produção para atendimento de uma demanda

sempre crescente. Com isso, surge a questão do armazenamento e do transporte das

substâncias químicas, o que gera aumento do número de trabalhadores e de

comunidades e o aparecimento de acidentes envolvendo produtos químicos tóxicos,

oferecendo perigo à saúde dos trabalhadores, à comunidade em que vivem e ao meio

ambiente em geral exposto aos seus riscos.

Como prova dessa afirmação, registra-se a ocorrência de vários desses acidentes

em diversos países, em proporções elevadas, tanto em número de óbitos de

trabalhadores e de pessoas da comunidade afetada, como em nível de contaminação

ambiental.

Estatísticas internacionais apontam que esses acidentes têm sua maior

severidade em países em desenvolvimento e de economia semiperiférica, como Índia,

México e Brasil, e envolvem indústrias multinacionais e nacionais. Além do acidente de

Bhopal, que teve como protagonista uma indústria multinacional, citam-se, como

2

Page 279: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

exemplos de acidentes envolvendo indústrias químicas nacionais, os de San Juan

Ixhuatepec, no México, e o de Vila Socó, no Brasil, ambos em 1984, e que resultaram em

500 óbitos imediatos cada um. Esses acidentes, não por acaso, ocorreram em áreas

periféricas aos grandes centros urbanos, onde havia a combinação de largo contingente

populacional pobre e marginalizado, com fontes de riscos de acidentes químicos

ampliados, resultando numa grande vulnerabilidade social e, conseqüentemente, na

morte de centenas ou mesmo milhares de pessoas num único evento (FREITAS; PORTO;

MACHADO, 2000).

Segundo Gomez (2000), a investigação de vários acidentes mostrou a presença

simultânea de problemas ambientais internos e externos às instalações fabris envolvendo

matrizes técnicas semelhantes e que, a partir daí, passaram a requerer políticas

preventivas integradas, tanto na questão da saúde do trabalhador como na questão

ambiental. Ampliou-se o raio de ação da análise epidemiológica e sociopolítica. Percebeu-

se que uma série de variáveis formava o cenário e que muitas delas fugiam ao âmbito do

acidente de trabalho clássico, pois era tênue a linha que subdividia o mundo da produção

em ambiente de trabalho e ambiente geral. Essa linha desmoronou com a velocidade, a

gravidade e as conseqüências desses desastres.

A partir da constatação da necessidade de implementação de políticas preventivas

integradas e de ampliação das análises epidemiológicas e sociopolíticas, houve a

premência da incorporação e da discussão de outros referenciais teóricos, que

propiciassem nova abordagem, possibilitando a integração das políticas Ambiental, de

Desenvolvimento e de Saúde do Trabalhador. Assim, surge a perspectiva interdisciplinar

e participativa na análise dos acidentes ampliados. Para Machado, Porto e Freitas (2000,

p. 57), “tal abrangência faz com que a interdisciplinaridade solitária realizada por um

grupo de indivíduos com a mesma formação seja sempre limitada, tornando indispensável

a formação de uma equipe multiprofissional”.

Segundo Freitas, Porto e Gomez (1995), os acidentes químicos ampliados

produzem múltiplos danos em um único evento e têm o potencial de provocar efeitos que

vão além do local e do momento de sua ocorrência. De acordo com Vasconcellos e

Gomez (1997, p. 13): “O ‘choque do evento’ é responsável por conseqüências físicas ou

psíquicas, com efeito imediato ou retardado”. Assim, por um lado, encontra-se a

dificuldade de avaliação das várias conseqüências dos acidentes, que são de alta

3

Page 280: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

complexidade, e, por outro lado, depara-se com o grande desafio da formulação de

estratégias para sua prevenção e controle, pois esses acidentes, em sua maioria,

possuem características muito diversificadas.

Dessa forma, são imensos os desafios e as responsabilidades impostas a todas as

partes interessadas. Há que se mudar o foco da análise, considerando a organização real

do trabalho e seu papel nesse processo, vendo-o para além do funcionamento das

indústrias. É necessário incorporar as experiências dos trabalhadores com sua prática

diária do trabalho e a análise dos seus riscos, bem como a formulação e a implantação de

ações de controle e prevenção. Além de todas essas precauções, incorporadas em

planos de gestão empresariais e em políticas públicas de prevenção, não se pode deixar

de lado a importância dos planos de emergência ao de atendimento às vítimas em sentido

lato de um acidente industrial ampliado.

Em nível mundial, essas preocupações e precauções surgiram a partir de

acidentes históricos, que tiveram imensa repercussão na imprensa internacional, tais

como o acidente de Flixborough, na Inglaterra (1974), onde 28 pessoas morreram na

planta e centenas ficaram feridas, e o de Seveso, na Itália (1976), que atingiu 37.000

pessoas, além de deixar 17 km2 de terra contaminadas e 4 km2 inabitáveis. Contudo, foi

em 1984 que aconteceu o acidente de Bhopal, na Índia, anteriormente citado, e que

possui grande notoriedade por ser um dos maiores desastres do final do século XX.

Segundo informativo do Diesat (janeiro, 2005, p.1),

Mais de 500 mil pessoas, em sua maioria trabalhadores, foram expostas

aos gases e pelo menos 27 mil morreram por conta disso. Cerca de 150 mil

pessoas ainda sofrem com os efeitos do acidente e aproximadamente 50

mil estão incapacitadas para o trabalho, devido a problemas de saúde.

[...] Ao incorporar a Union Carbide por um total de US$ 9,3 bilhões, a Dow

não apenas comprou os bens, mas também a responsabilidade pelo

desastre de Bhopal. Enquanto os moradores de Bhopal continuam a sofrer

os impactos do desastre de 1984, a responsabilidade legal pelo acidente

ainda está sendo julgada pela Justiça norte-americana, uma vez que a

Dow se recusa a aceitar o passivo ambiental adquirido na compra da Union

Carbide.

4

Page 281: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

De acordo com Puiatti (2000), os primeiros a sofrer os danos causados pelos

acidentes são os trabalhadores, pois a proximidade com os riscos que deles decorrem

torna-os vítimas potenciais. Assim, ao longo das últimas décadas, houve uma grande

preocupação dos próprios trabalhadores e de seus representantes (sindicatos, comissões

de fábrica, etc.) em buscar novas formas e sistemas de proteção, desde a intervenção no

local de trabalho até a defesa de posições perante as confederações empresariais e os

governos, por intermédio de suas instituições públicas de pesquisa, com vistas à criação

de legislações nacionais e internacionais para a prevenção de acidentes maiores.

Como resposta ao expressivo número de acidentes ampliados registrados no

mundo, as nações e os organismos internacionais têm tomado medidas para lidar com o

problema. Sobre o assunto, Marshall (1987, p. 70 apud PUIATTI, 2000, p. 293) comenta:

“Considero que historicamente os controles gerenciais precedem os controles legais, mas

que as conseqüências comerciais do inadequado controle gerencial impelem os governos

a intervir por meio de legislações”.

Dessa forma, este artigo tem por objetivo identificar os aspectos mais relevantes

de duas das principais normas internacionais sobre o tema, quais sejam: a “Diretiva

Seveso” da União Européia e a Convenção n° 174 da Organização Internacional do

Trabalho – OIT. Para consecução de tal objetivo, além da revisão da literatura, optou-se

por realizar um sucinto estudo sobre as duas legislações, evidenciando o contexto em que

cada uma foi criada e o seu conteúdo, como contribuição para um melhor entendimento

do tratamento da questão dos acidentes industriais ampliados no contexto internacional.

ANTECEDENTES DA “DIRETIVA SEVESO” E DA CONVENÇÃO N° 174 DA OIT

É fundamental ressaltar que a preocupação internacional em relação à

degradação do meio ambiente não é recente. Entretanto, apenas nas últimas décadas do

século XX, seu espaço foi ampliado na imprensa e nas agendas políticas dos atores

importantes da cena internacional, ou seja, dos Estados, das organizações

intergovernamentais, das organizações não governamentais (ONGs), das empresas

multinacionais e dos sindicatos. Volta-se a identificar que a consciência ambiental global

5

Page 282: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

surgiu paulatinamente e que, somente nas décadas de 60 e 70, o tema meio ambiente

passou a ter uma dimensão realmente internacional, tornando-se global de acordo com a

diversificação e os impactos dos problemas ambientais. Assim, são nitidamente

percebidos os processos de construção de instituições de proteção ambiental, em nível

internacional, que têm por objetivo impedir o fluxo da degradação do planeta (MACHADO,

2004).

Segundo Tavares (1999), antes da Conferência de Estocolmo sobre Meio

Ambiente Humano, realizada em 1972, as questões ambientais recebiam, no âmbito da

Organização das Nações Unidas (ONU), tratamento limitado, com atitudes pontuais de

algumas de suas entidades. Todavia, o ponto de inflexão no exame das questões

ambientais pelo sistema das Nações Unidas foi, realmente, a Conferência de Estocolmo.

De acordo com Machado (2004), é importante ressaltar que os documentos que

compunham o escopo daquela Conferência são entendidos como o primeiro corpo de

legislação branda para a área de meio ambiente internacional. Para Soares (2001, p. 54),

“a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, (...) selou a

maturidade do Direito Internacional do Meio Ambiente”.

Sendo assim, e atendo-se aos eventos ambientais e à sua realidade

transfronteiriça e global, que abrangem elementos internacionais relevantes, ultrapassam

os interesses locais e despertam interesses gerais, chega-se aos acidentes industriais

ampliados e a seu impacto no processo de construção da norma internacional ambiental.

Segundo Machado (2004, p. 24),

A construção de normas internacionais, impulsionadas por eventos locais,

ocorridos em Estado estrangeiro, em que prevalece o Princípio da

Precaução – portanto, de caráter preventivo para os países que não

tenham sido afetados – parece ser ainda mais complexa do que o processo

que dá corpo a regras que visem a combater algum problema universal.

Isso porque os efeitos de problemas de natureza transfronteiriça (...) são

compartilhados pelos países e, como tal, pressionam de maneira mais

dramática as negociações em torno de instrumentos internacionais que

visem a combater suas causas e mitigar suas conseqüências. No que se

refere a problemas locais, apesar do conjunto de países parecer imune a

catástrofes isoladas (principalmente, em países em desenvolvimento), as

6

Page 283: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

condições que se verificam em um país específico podem facilmente ser

reproduzidas em outro contexto, bastando haver lacuna normativa

significativa que viabilize aquela reprodução.

Conforme Puiatti (2000), a primeira experiência internacional para a prevenção de

acidentes maiores deu-se em junho de 1982, com a publicação, na Comunidade Européia

(agora União Européia), da Diretiva 82/501/ECC, mais conhecida como “Diretiva Seveso”,

em decorrência dos inúmeros acidentes maiores ocorridos na Europa, como Feysin, na

França (1966); Flixborough, na Inglaterra (1974); Beek, na Holanda (1975); e, Seveso, na

Itália (1976). O acidente de Seveso contribuiu de uma forma dramática para o

crescimento da preocupação pública com os riscos industriais associados à produção de

substâncias químicas, pois houve danos de grandes proporções, tanto à saúde coletiva

como ao meio ambiente, acelerando a necessidade de uma resposta regulamentadora da

segurança de instalações químicas. Seveso tornou-se, ao lado de Bhopal (1984) e

Chernobyl (1986), representação das doenças de nossa civilização tecnológica. (De

MARCHI; FUNTOWICZ; RAVETZ, 2000).

Em 1985, após o acidente de Bhopal, a Environmental Protection Agency (EPA)

iniciou, nos Estados Unidos, um programa para incentivar ações comunitárias de

emergência em caso de acidentes envolvendo substâncias químicas perigosas. Essa e

outras ações da sociedade e do governo americanos com vistas à proteção dos

trabalhadores, da saúde pública e do meio ambiente culminaram com a publicação, pela

Occupational Safety and Health Administration (OSHA), da versão final da legislação

americana para proteção dos trabalhadores em instalações sujeitas a acidentes

ampliados. A ela foi dado o nome de Process Safety Management of Highly Hazardous

Chemicals, que entrou em vigor em 26 de maio de 1992 (PUIATTI, 2000).

Também após o desastre de Bhopal, a OIT iniciou uma série de atividades no

campo da segurança química, como a Convenção 170 da OIT sobre a segurança no uso

de produtos químicos nos locais de trabalho, aprovada em 1990, e sua Recomendação,

que fornecem bases para um sistema nacional de segurança química. Especial destaque

deve ser dado à Convenção 174 da OIT, sobre a prevenção de acidentes industriais

maiores, aprovada em 1993, acompanhada pela Recomendação 181, por um código de

práticas e por um manual para a prevenção de grandes acidentes industriais. Ressalta-se,

7

Page 284: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

ainda, a criação do Sistema Global Harmonizado de Classificação e Rotulagem de

Produtos Químicos, aprovado em 2002, como um dos resultados dos trabalhos iniciados

pela OIT após o acidente de Bhopal. Por fim, mesmo não sendo o foco deste trabalho,

faz-se necessário citar uma outra iniciativa da OIT para a prevenção dos riscos dos

acidentes de trabalho, que são as Diretrizes para os Sistemas de Gestão de Segurança e

Saúde no Trabalho. A aplicação dessas normativas qualificará os programas de

prevenção nas empresas.

Mais recentemente, em 1996, foi lançada uma nova diretiva sobre o “Controle de

Perigos de Acidentes Ampliados envolvendo Substâncias Perigosas”. Essa diretiva

substituiu a Diretiva Seveso de 1982 e impôs aos países da União Européia o prazo de

dois anos para se adequarem às alterações por ela impostas às suas legislações

nacionais. Ante isso, apresenta-se a seguir o conteúdo das duas normas internacionais.

A “DIRETIVA SEVESO”

“Do ponto de vista cronológico, as primeiras normas sobre prevenção, preparo e

resposta a acidentes industriais com efeitos transfronteiriços foram adotadas, no nível

regional da Comunidade Européia, pela Diretiva no 82/501, de 24-6-1982, denominada

Diretiva Seveso, editada em 1982” (SOARES, 2001, p. 295).

Segundo Marchi; Funtowicz e Ravetz (2000, p. 133),

(...) o processo para se chegar a uma proposta de Diretiva relacionada aos

perigos de acidentes ampliados foi longo e complexo, envolvendo

problemas técnicos e políticos. (...). Uma proposta final foi finalmente

apresentada pela Comissão ao Conselho em julho de 1979. As opiniões

requeridas do Parlamento Europeu e do Comitê Econômico e Social foram

expressas em 1980 e duraram mais de dois anos de posteriores consultas

e discussões, antes que a Diretiva fosse finalmente adotada em 24 de

8

Page 285: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

junho de 1982. O prazo final para a implementação pelos Estados

membros (15 na época) daquele período foi em 08 de janeiro de 1984.

Em linhas gerais, a Diretiva estabelecia uma lista de substâncias químicas e de

produtos que deveriam estar sob controle direto das autoridades, medidas de segurança,

planos de urgência para os países, além de determinar aos Estados-membros a adoção

de medidas necessárias para que todo empresário que exercesse as atividades

constantes de seu anexo estivesse em condições de provar à autoridade competente que

havia feito a avaliação dos riscos de acidentes maiores, tomado as medidas de segurança

apropriadas, bem como equipado e treinado o pessoal que trabalhava no local onde a

atividade era desenvolvida.

Para aos fabricantes, determinava a necessidade de notificar às autoridades

competentes as substâncias perigosas que fossem utilizadas na produção ou que dela

resu1tassem. Estabelecia a previsão de planos de emergência e de intervenção, e a

comunicação imediata, no caso de ocorrência de um acidente maior.

Aos Estados-membros, impunha o dever de informar à Comissão da CE

quaisquer acidentes de maiores proporções. Esta, por sua vez, poderia aconselhar aos

outros Estados, caso houvesse a necessidade de intervenção dos mesmos em locais sob

a sua jurisdição.

A “Diretiva Seveso” foi alterada por duas emendas (1987/1988), que ampliaram

seu escopo e incluíram a questão da armazenagem de substâncias perigosas. Entretanto,

de acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa – Unece

(2004), ainda era necessária uma nova revisão. Os Estados-membros, acompanhando as

resoluções do Quarto e Quinto Programas de Ação em Meio Ambiente (1987/1993),

clamavam por uma revisão geral, para inclusão, dentre outros itens, de um melhor

gerenciamento do risco-acidente. Paralelamente, uma resolução do Parlamento Europeu

também pedia uma revisão do documento pela Comissão.

Dessa forma, em 09 de dezembro de 1996, foi lançada a Diretiva do Conselho

96/82/EC sobre o Controle dos Perigos Associados a Acidentes Graves que Envolvem

Substâncias Perigosas (OJ No L 10 de 14 de Janeiro de 1997), chamada “Diretiva Seveso

9

Page 286: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

II”, introduzindo importantes avanços em relação à sua predecessora. Foram inseridos

novos requisitos relacionados à gestão de segurança da instalação, ao planejamento e à

resposta às emergências, ao planejamento do uso do solo, ao reforço na previsão de

recursos para as inspeções executadas pelos Estados-membros, além de considerações

sobre o “efeito dominó”, melhorias no relatório de segurança e no processo de informação

ao público.

A partir de 03 de fevereiro de 1999, a “Diretiva Seveso II” entrou em vigor e

tornou-se obrigatória para a indústria e para as autoridades públicas dos Estados-

membros responsáveis por sua implementação. Foi concedido um prazo de dois anos

para o seu pleno cumprimento. Ela é baseada no Artigo 174 do Tratado da Comunidade

Européia e, de acordo com o Artigo 176, os Estados-membros podem adotar medidas

mais restritivas do que aquelas contidas na Diretiva.

A Diretiva possui dois grandes objetivos: a prevenção de acidentes graves

envolvendo substâncias perigosas e a limitação das suas conseqüências para o homem e

para o meio ambiente, com vistas a assegurar níveis de proteção elevados à comunidade.

Seu âmbito de aplicação restringe-se aos estabelecimentos que possuem substâncias

perigosas nas atividades industriais e na estocagem de produtos químicos, sendo-lhes

inerente o provisionamento de três níveis de controles proporcionais, o que, na prática,

significa que onde há quantidades maiores o controle também é maior. Uma companhia

que manuseie uma quantidade de substância perigosa inferior aos limites estabelecidos

não é abrangida pela Diretiva.

Ela estabelece responsabilidades gerais e específicas para operadores e para as

autoridades dos Estados-membros. Todas as organizações sujeitas ao seu escopo devem

possuir uma política para acidentes maiores, incluindo a notificação das autoridades

competentes. As empresas que trabalham com substâncias perigosas em quantidades

superiores à definida pela Diretiva precisam estabelecer um Relatório de Segurança, um

Sistema de Gestão de Segurança e um Plano de Emergência. Para as autoridades

competentes estão definidos critérios gerais de atuação.

O planejamento do uso do solo e seu processo regulatório também estão previstos

na Diretiva, pois a norma pressiona os Estados-membros ao cumprimento de seus

objetivos no sentido de controlar o estabelecimento de novas empresas ou modificações

nas existentes. Ao longo do tempo, as políticas para uso do solo deverão garantir a

10

Page 287: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

manutenção das distâncias apropriadas entre os estabelecimentos perigosos e as áreas

residenciais.

A “Diretiva Seveso II” confere mais direitos ao público, no que diz respeito ao

acesso à informação, pois estabelece que as empresas e as autoridades têm obrigações

de subsidiar a população com todas as informações necessárias. Ao invés de um

processo reativo, onde a informação está disponível, parte-se para uma atitude pró-ativa,

como, por exemplo, o fornecimento de folhetos com informações práticas de como

proceder em caso de acidente.

Os Estados-membros têm a obrigação de reportar acidentes maiores à Comissão.

Para tanto, foi estabelecido o chamado Major-Accident Reporting System-MARS (Sistema

de Relato de Acidentes Maiores) e o Community Documentation Centre on Industrial

Risks- CDCIR (Centro de Documentação da Comunidade para Riscos Industriais) em

Ispra, Itália.

Para garantir um intercâmbio entre as autoridades de todos os Estados-membros

e a Comissão Européia, foi criado o Comitê das Autoridades Competentes. Conforme

dispõe a norma, os Estados-membros devem gerar relatórios trienais para a Comissão

Européia, que, por sua vez, tem a obrigação de publicar os sumários das informações

com a mesma periodicidade. O relatório mais recente (2000-2002) é o primeiro que avalia

o progresso obtido com a implementação da Diretiva, sintetizando informações obtidas

dos Estados-membros. Foi avaliado pela Comissão com resultados satisfatórios em

relação ao cumprimento da legislação. Para o próximo relatório (2003/2005), haverá

contribuição de mais dez novos Estados-membros.

Em decorrência de acidentes mais recentes, ocorridos em Toulouse, Baia Mare e

Enschede, e de estudos sobre substâncias carcinogênicas e perigosas para o meio

ambiente, a “Diretiva Seveso II” foi ampliada pela emenda do Parlamento Europeu de 31

de dezembro de 2003 (Diretiva 2003/105/EC). As ampliações relevantes deram-se em

relação aos riscos decorrentes de estocagem e de processamento no setor de mineração,

de substâncias pirotécnicas e explosivas e da estocagem de nitrato de amônia.

Dessa

forma, todos os Estados-membros foram obrigados a tomar as medidas e as providências

administrativas e legais necessárias para regulamentar e fazer cumprir a Diretiva até 01

de julho de 2005.

11

Page 288: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A CONVENÇÃO No 174 DA OIT – CONVENÇÃO SOBRE A PREVENÇÃO DE

ACIDENTES INDUSTRIAIS MAIORES

Como ponto de partida para a construção desse acordo ambiental multilateral, o

acidente de Bhopal, na Índia (1984), teve significativa relevância, pois foi um acidente de

vazamento de produtos tóxicos de natureza local e que despertou interesse político

internacional, dando impulso à negociação de uma norma de impacto local, regional,

nacional e internacional de extrema importância: a Convenção n° 174 da OIT para a

prevenção de acidentes industriais maiores (MACHADO, 2004). Segundo classificação de

Soares (2001, p. 96), esse acordo internacional compõe o grupo de tratados e

convenções multilaterais sobre meio ambiente, sob o título “Proteção aos Trabalhadores,

Regulamentação de Materiais Tóxicos, em vários aspectos, as Regulamentações de

Certas Atividades Industriais” e refere-se, mais especificamente, ao campo da segurança

química.

A Convenção no 174 foi aprovada na Conferência Geral da OIT, em Genebra, em

2 de junho de 1993, em sua 80ª Reunião, e foi adotada em 22 de junho do mesmo ano.

Essa Convenção se propõe a oferecer tratamento adequado à prevenção dos acidentes

industriais ampliads e a reduzir ao mínimo seus riscos e suas conseqüências.

A Convenção possui sua base na “Diretiva Seveso” e tem alcance e aplicação

somente nas instalações expostas a riscos de acidentes maiores, como as indústrias

química, petroquímica, de petróleo e gás, explosivos, armazenagem de produtos

perigosos, terminais, etc. Não se aplica às instalações nucleares e usinas que processam

substâncias radioativas, à exceção dos setores dessas instalações nos quais se

manipulam substâncias não radioativas; a instalações militares; e ao transporte fora da

instalação, distinto do transporte por tubulações.

Em seu corpo se definem as expressões: “substância perigosa”; “quantidade

limite”; “instalação sujeita a riscos de acidentes maiores”; “acidente maior”; “relatório de

segurança”; e “quase-acidente”. Este artigo explorará apenas o conceito de “acidente

maior”.

Dispõe a Convenção no 174 da OIT (OIT, 2002, p.11):

12

Page 289: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Artigo 3o:

1. Para os fins da presente Convenção:

[....]

d) a expressão “acidente maior” designa todo evento subitâneo, como uma

emissão, incêndio ou explosão de grande magnitude, no curso de uma

atividade em instalação sujeita a riscos de acidentes maiores, envolvendo

uma ou mais substâncias perigosas e que implica grave perigo, imediato ou

retardado, para os trabalhadores, a população ou o meio ambiente.

Nesse instrumento internacional fica evidenciada a necessidade de que todo

Estado-membro deverá, conjuntamente com as organizações mais representativas de

empregadores e de trabalhadores e outras partes interessadas que possam ser afetadas,

formular, adotar e revisar, periodicamente, a legislação, as condições e as práticas

nacionais, com vistas a uma política nacional coerente relativa à proteção dos

trabalhadores, da população e do meio ambiente. Evidencia, ainda, que as autoridades

competentes deverão criar um sistema de identificação das instalações sujeitas a riscos

de acidentes ampliados, com base numa lista de substâncias perigosas ou de categorias

de substâncias, ou de ambas, que inclua suas respectivas quantidades limites.

A Convenção também dispõe sobre a necessidade da identificação, pelos

empregadores, das instalações sob seu controle, sobre a notificação da autoridade

competente e sobre as disposições relativas à instalação. Impõe a necessidade de que as

indústrias elaborem seus relatórios de segurança, ou seja, que tenham sua gestão

documentada e que, por intermédio de seus empregadores, elaborem seus relatórios de

acidente para informar, à autoridade competente e aos demais órgãos designados, a

ocorrência de um acidente maior.

No que diz respeito às responsabilidades das autoridades competentes e aos

planos de emergência fora do local, dispõe a convenção que, com base na informação

fornecida pelo empregador, a autoridade competente assegurará que planos e

13

Page 290: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

procedimentos de emergência serão efetuados no caso da ocorrência de um grande

acidente. Esse plano deverá conter medidas para proteção da população e do meio

ambiente fora do local de cada instalação. Dispõe, ainda, sobre a política global de

zoneamento de instalações expostas a riscos de acidentes maiores, com vistas ao

adequado isolamento de novas instalações de risco, além da questão da inspeção das

matérias tratadas na Convenção.

Quanto aos direitos e obrigações dos trabalhadores e de seus representantes,

estabelece que, em uma instalação sujeita a risco de acidente maior, aqueles devem ser

consultados sobre as questões relativas à segurança e serem adequadamente

informados sobre os riscos e suas possíveis conseqüências, planos e procedimentos de

emergências e relatórios de acidentes. Devem também ser treinados para interromper a

atividade em caso de risco iminente e observar os procedimentos de prevenção e de

emergências.

Em relação às responsabilidades dos países exportadores, a Convenção

determina que se um Estado-membro exportador proibir o uso de substâncias,

tecnologias ou processos perigosos, por ser fonte potencial de acidente maior, esse

Estado deverá informar todo país importador sobre essa proibição e as razões da medida.

A Convenção, em suas disposições finais, institui os procedimentos, os prazos, o

direito à denúncia, dentre outras determinações às quais os Estados membros ficarão

sujeitos no caso de ratificação da Convenção.

Dentre os vários aspectos da Convenção n° 174, destacam-se a criação da

Agenda Global para a Prevenção de Acidentes Ampliados, especialmente para países em

desenvolvimento, e seu caráter intersetorial, que integra áreas de trabalho, meio

ambiente, saúde, defesa civil e planejamento territorial.

Os países que ratificaram a Convenção 174 até 2005 foram: a Suécia (1994), a

Armênia (1996), a Colômbia (1997), a Holanda (1997), a Estônia (2000), o Brasil (2001), a

Arábia Saudita (2001), a Albânia (2003), o Zimbábue (2003), a Bélgica (2004) e o Líbano

(2005).

No Brasil, as iniciativas governamentais em relação à Convenção n° 174 OIT

foram:

14

Page 291: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

• 1998 – Ministério do Trabalho e Emprego institui a Comissão Tripartite para análise da

Convenção 174 e da Recomendação 181;

• 2000 – criação do Grupo de Estudos Tripartite (GET) para a sua implementação;

• 2001 – aprovada a Convenção pelo Congresso Nacional – Decreto Legislativo 246, de

28.06.2001;

• 2001 – ratificada na OIT, em Genebra – 01.08.2001;

• 2002 – promulgada pelo Presidente da Republica pelo Decreto 4085, de 15.01.2002.

ASPECTOS COMPARATIVOS RELEVANTES

Para iniciar este item, observe-se o que diz Puiatti (2000, p. 307),

A forma e o conteúdo das legislações são um produto de complexa

interação com os métodos legislativos vigentes nos países, inseridos em

suas características socioeconômicas e culturais. Embora comparações

entre legislações sejam uma interessante e informativa tarefa e possam

auxiliar na elaboração de similares legislações em outros países, existe

uma série de limitações nesse processo.

A “Diretiva Seveso II” avança, dentre outros pontos, na gestão de segurança da

instalação, na proibição de funcionamento da instalação, em considerações sobre o

“efeito dominó”, em melhorias no relatório de segurança e em informação ao público.

Segundo Machado (2003, p. 1025.), “a Diretiva vincula o Estado-membro destinatário

quanto aos resultados a alcançar, deixando, no entanto, às instâncias nacionais a

competência quanto à forma e aos meios. A decisão é obrigatória em todos os seus

elementos para os destinatários que ela designar. As recomendações e os pareceres não

são vinculativos”.

15

Page 292: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O texto da Convenção n° 174 da OIT teve sua base naquela norma européia, à

época a legislação mais completa sobre o assunto, já implementada por anos em diversos

países europeus e com eficiência demonstrada em estatísticas de não ocorrência de

grandes acidentes. Seus elementos, tais como sistema de identificação de instalações,

relatório de segurança, disposições relativas à instalação, proteção de informações

confidenciais, dentre outros, são similares aos da Diretiva, inclusive na definição de

“grande acidente industrial”.

Segundo o Art. 22 da Constituição da OIT, os Estados-membros comprometem-se

a apresentar àquela organização um relatório anual sobre as medidas por eles tomadas

para execução das convenções a que aderiram. Esses relatórios deverão conter as

informações pedidas por seu Conselho de Administração.

A Convenção n° 174 é obrigatória unicamente para os Estados-membros da OIT

cujas ratificações tiverem sido registradas pelo Diretor-Geral daquele organismo

internacional.

Nas duas normas internacionais, as responsabilidades das empresas, no que diz

respeito à implementação de medidas preventivas para evitar a ocorrência de acidentes

maiores, estão plenamente definidas.

Por fim, pretende-se comparar alguns dos aspectos mais relevantes dessas

legislações com a apresentação do quadro que permite visualizar seus âmbitos de

aplicação, suas exceções e as substâncias que são listadas nas referidas normas

internacionais.

16

Page 293: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo observou, acompanhando Freitas; Porto e Machado (2000), que os

acidentes industriais ampliados, ademais de produzirem elevado número de óbitos, têm o

potencial de expressar sua gravidade além dos muros fabris, atingindo bairros, cidades e

países, com danos psicológicos e sociais às populações expostas e ao meio ambiente

das gerações futuras.

A ocorrência desses acidentes maiores instou os trabalhadores e as populações

atingidas a se mobilizarem por intermédio de associações e outras formas de

participação, a fim de levar ao conhecimento nacional e internacional os transtornos, a

gravidade e a periculosidade de tais eventos. A partir dessa mobilização, que incluiu

17

Page 294: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

organizações não- governamentais nacionais e internacionais, os Estados passaram a

legislar sobre o assunto e os organismos internacionais promoveram políticas preventivas

e reguladoras multilaterais, as quais produziram resultados normativos visando a

sustentabilidade ambiental e a garantia da saúde e segurança dos trabalhadores nos

processos produtivos.

Dessa forma, observou-se o que Machado (2004) enfatizou, ou seja, a

possibilidade de se afirmar que as normas não emergem de espaços institucionais, mas

de embates políticos entre as diversas percepções sobre qual seria a norma mais

adequada a se criar.

Nesse contexto é que surgiram as “Diretivas Seveso” e a Convenção n° 174 da

OIT. A primeira, acompanhando De Marchi; Funtowicz e Ravetz (2000), foram uma

resposta às necessidades de regulamentação de riscos transfronteiriços em uma Europa

integrada; e a segunda, em um contexto mais amplo, surgiu em decorrência de acidentes

globais, tendo lugar de destaque o acidente de Bhopal, na Índia, que ampliaram o que

Machado (2004) chamou de consciência mundial quanto aos perigos associados à

produção de substâncias químicas.

Em termos gerais, verificou-se que as duas normas internacionais são

semelhantes, sendo que a Diretiva, por possuir uma dinâmica de atualização mais rápida,

avança mais na prevenção dos acidentes químicos ampliados, ao passo que a

Convenção, além de ser um instrumento essencialmente preventivo, tem como maior

preocupação os trabalhadores, pois a OIT possui uma estrutura tripartite onde têm

assento representantes laborais com grande influência nas normas por ela produzidas.

No cenário mundial, os países que efetivamente implantaram a Convenção no 174

da OIT foram os europeus Suécia, Holanda e Bélgica, onde a “Diretiva Seveso” tornou-se

obrigatória em 1982, constituindo-se referência técnica relevante. Levando-se em

consideração que apenas onze países ratificaram a Convenção, constata-se que essa

norma, por solicitar aos países que elaborem legislações nacionais mais rígidas para a

prevenção de acidentes maiores, tem maior relevância para os países em

desenvolvimento, pois os países desenvolvidos já possuem legislações rígidas e

avançadas, tanto em nível nacional quanto regional.

18

Page 295: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

No Brasil, apesar de algumas iniciativas, ainda são incipientes as ações para a

implementação de uma política nacional de prevenção de acidentes maiores e da

Convenção no 174 da OIT, o que faz necessárias a preparação e capacitação dos órgãos

e das partes interessadas envolvidas, principalmente das empresas que não possuem

sistemas de gerenciamento de riscos e de controle de emergências.

Assim, verificou-se que, em decorrência da gravidade dos riscos e dos efeitos dos

acidentes químicos ampliados, é de suma importância que os Estados controlem a

produção, o armazenamento e o transporte das substâncias químicas tóxicas. Para tanto,

devem integrar as áreas de trabalho, meio ambiente, saúde, defesa civil e planejamento

territorial, internalizar normas internacionais e definir políticas locais que tratem do

assunto. Outrossim, devem levar em consideração os demais atores sociais,

especialmente empregadores e trabalhadores, com harmonia de ações e fixação de

diretrizes claras, que contemplem a segurança e a saúde nos ambientes de trabalho, a

resposta a emergências químicas e a prevenção e o controle de riscos ao meio ambiente

e à população em geral.

Enfim, conclui-se que as normas internacionais exigem, dos países aos quais são

endereçadas e dos países signatários, atitudes em relação à prevenção e à adoção de

medidas nacionais em situações emergentes e críticas. São normas preventivas que vêm

uniformizar as legislações domésticas dos Estados, obedecendo a padrões internacionais

e sendo aplicáveis à prevenção de fatos e fenômenos locais.

19

Page 296: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

BHOPAL 20 ANOS E O PESADELO CONTINUA. Informativo DIESAT, 15 de janeiro de

2005, pp. 1-2. Disponível em: <http://www.diesat.org.br/Informativos/janeiro_2005.pdf>.

Acesso em: 12 de julho de 2005.

BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. Decreto no 4.085, de 2002. Diário Oficial, Brasília,

DF, 16 de janeiro de 2002.

DE MARCHI, B.; FUNTOWICZ. S.; RAVETZ, J. O acidente industrial de Seveso:

paradigma e paradoxo. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO, J. M. H.

(Orgs.). Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a

prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. pp. 129-148.

DIRECTIVE ON THE MAJOR-ACCIDENT HAZARDS OF CERTAIN INDUSTRIAL

ACTIVITIES (82/501/ECC). Disponível no “Portal para o Direito na União Européia”, em:

http://europa.eu.int/eur-lex/pt/. Acesso em: 05.11.2005.

FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; GOMEZ, C. M. Acidentes químicos ampliados: um

desafio para a saúde pública. Revista de Saúde Pública, v. 29, n. 6 (dez.), pp. 503-514,

1995.

FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. A questão dos acidentes

industriais ampliados. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.).

Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a

prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.

GOMEZ, C. M. Acidentes químicos: superando a dicotomia entre ambiente interno e

externo. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.). Acidentes

industriais ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a prevenção. Rio de

Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.

MACHADO, A. A. A construção social da norma ambiental internacional na área de

segurança química: de Bhopal à Convenção 174 da Organização Internacional do

Trabalhão (OIT) para a prevenção de acidentes industriais ampliados – uma

perspectiva da construção ideacional e normativa nas relações internacionais.

Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Instituto de Relações

20

Page 297: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

MACHADO, J. M. H.; PORTO, M. F. S.; FREITAS, C. M. Perspectivas para uma análise

interdisciplinar e participativa de acidentes (AIPA) no contexto da indústria e do processo.

In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F. S.; MACHADO, J. M. H. (Orgs.). Acidentes industriais

ampliados: desafios e perspectivas para o controle e a prevenção. Rio de Janeiro:

Editora Fiocruz, 2000.

MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,

2003.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Convenção OIT 174,

Recomendação 181: Prevenção de acidentes industriais maiores. Tradução de

Abiquim/Fundacentro. São Paulo: Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e

Medicina do Trabalho, 2002.

_______ Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Seu Anexo

(Declaração de Filadélfia). Disponível em:

http://www.oitbrasil.org.br/info/download/constituicao_oit.pdf. Acesso em 05 de nov. de

2005.

OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION – OSHA 3132. Process

Safety Management. Washington: U.S. Department of Labour, 1993.

PUIATTI, R. A prevenção e os trabalhadores – aspectos comparativos da legislação dos

EUA, da Grã-Bretanha e da Holanda. In: FREITAS, C. M; PORTO, M. F .S.; MACHADO,

J. M. H. (Orgs.). Acidentes industriais ampliados: desafios e perspectivas para o

controle e a prevenção. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.

SOARES,G. F. S. Direito Internacional do Meio ambiente: emergência, obrigações e

responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001.

TAVARES, R. N. As Organizações Não-Governamentais nas Nações Unidas. Brasília:

Instituto Rio Branco; Fundação Alexandre Gusmão; Centro de Estudos Estratégicos,

1999.

21

Page 298: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Acidentes Ampliados À Luz Da “Diretiva Seveso” E Da Convenção Nº 174 Da Organização Internacional Do Trabalho – Oit Edson Rocha Jr.; Maria Carolina Maggiotti Costa; Maria Dorotéa Godini INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Seção 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

UNITED NATIONS ECONOMIC COMMISSION FOR EUROPE - UNECE. Chemical

Accident Prevention, Preparedness and Response: The Seveso II Directive. Janeiro de

2005. Disponível em: http://europa.eu.int/comm/environment/seveso/index.htm. Acesso

em: 03 de nov. de 2005.

VASCONCELLOS. E. S.; GOMEZ, C. M. O acidente químico ampliado e os efeitos sobre

a saúde dos trabalhadores e da população. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,

Fundacentro, v. 23, n. 87-88, pp.9-16, novembro 1997.

22

Page 299: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

PENSAR PELO AVESSO: O MODELO JAPONÊS DE TRABALHO E

ORGANIZAÇÃO Benjamin Coriat (Tradução de Emerson S. da Silva) Rio de Janeiro: Revan, 1994. 209p.

Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/resenhas.asp?ed=2&cod_artigo=35

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 300: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A tese geral que Coriat pretende sustentar nesse livro é que o sistema toyota

constitui um conjunto de inovações organizacionais cuja importância é comparável ao que

foram em suas épocas as inovações trazidas pelo taylorismo e pelo fordismo.

Coriat rejeita tanto as “receitas de bolo” simplistas, que sugerem ser a

competitividade japonesa baseada na adoção de técnicas organizacionais isoladas, como

as visões culturalistas, que negam ser transferível o novo padrão industrial lá

desenvolvido, por ser inerente àquela determinada tradição.

Se de fato, no âmbito de novas relações capital–trabalho – mais cooperativas e

calcadas em compromissos de longo prazo, com credibilidade – restaura-se no

trabalhador direto uma boa dose de agregação das atividades de concepção e execução,

é perfeitamente possível pensar que a identificação de interesses mínimos comuns possa

conduzir a resultados positivos. Nesta configuração, os resultados alcançados por uma

empresa ou por uma economia são mais expressivos do que num ambiente onde

imperasse um contrato social mais conflitivo – no fordismo, por exemplo.

Antunes (em Adeus ao trabalho?) analisa criticamente o modelo japonês e afirma:

os modelos fordista e taylorista deram lugar ao modelo japonês, onde os pontos críticos

são a intensificação da exploração e a aceleração do ritmo de trabalho, cujo triunfo está

na flexibilização da produção, na multifuncionalidade do trabalhador e no trabalho em

equipe. Afirma, também, que a introdução do modelo japonês apóia-se numa correlação

de forças desfavoráveis aos trabalhadores, e rejeita a idéia pela qual esse modelo

garante, simultaneamente, eficiência e eqüidade social. Na realidade, promove-se aí um

estranhamento no trabalho, além de se extrair o saber e o fazer do trabalhador e

provocar-se um estado de desidentidade na classe trabalhadora em relação ao que ela

produz.

O que Coriat nos mostra é que há algo mais do que os grandes modelos

ocidentais de gestão do capitalismo, e seu bem-sucedido percurso até o presente

proporciona uma nova visão de modelos não baseados em questões únicas e simplistas,

mas em uma rede de inter-relacionamentos entre interesses na busca para a solução do

que parece sem solução. A criatividade e a perseverança fazem surgir modelos que,

apesar de jovens, demonstram sabedoria e capacidade de perpetuação. Esses modelos

2

Page 301: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

trazem uma energia quase incansável e formidáveis desempenhos, capazes de intimidar

seus antecessores e fazê-los buscar o entendimento da nova situação.

Podemos perceber, nesses detalhados estudos, não só a complexidade do

modelo japonês, mas, também, a postura simplista das inúmeras tentativas de se copiar

seu sucesso.

Vale ainda ressaltar a importância das condições históricas que favoreceram a

criação, a instalação, o desenvolvimento e a perpetuação de tal sistema, como bem

apresenta Coriat na análise dos fatos históricos dos pós-guerras – as condições

econômicas e sociais de um país e de todo o seu parque industrial. Percebe-se que da

necessidade fez-se o combustível para alimentar essa máquina que precisava decolar,

caso contrário afundaria definitivamente.

Antunes afirma que a fragmentação, a heterogeneização e a complexidade da

força de trabalho, assim como a neocorporização das instituições sindicais, ameaçam a

organização sindical tradicional. Constituem, assim, um grande desafio e uma

demonstração de que o capitalismo avançou sobre o ser social que trabalha, levando a

propostas de perda dos direitos e benefícios, em troca da manutenção do emprego ou do

subemprego.

Durante o desenvolvimento do sistema toyota, em 1954, a campanha conduzida

teve como palavra de ordem “Proteger nossa empresa para defender a vida”. Desde

então, a greve praticamente desapareceu na Toyota. Outro sinal dos novos tempos é que,

desde essa época, a atividade sindical tornou-se uma das passagens essenciais que

asseguram a promoção dos dirigentes e a formação das elites dessa empresa.

Outros eventos conexos afetam o conjunto do sistema das relações industriais,

não só na Toyota como em toda a indústria japonesa. Trata-se de um conjunto de

contrapartidas implícitas ou explicitas, dadas aos sindicatos e aos trabalhadores das

grandes empresas em troca de seu engajamento na produção. É nesse período que se

fixa de maneira mais nítida o sistema de emprego vitalício e de salário por antiguidade.

Em todo caso, parece-nos essencial compreender que a introdução do modelo

japonês em grande escala só pode ser feita após essa reorganização em profundidade do

3

Page 302: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

sindicalismo, e após o estabelecimento de um jogo complexo de contrapartidas regrando

as relações industriais.

A empresa japonesa é definida como uma firma onde são plenamente levados em

conta os interesses dos empregados e os interesses dos detentores de capital; o papel de

uma terceira força, a do administrador, é realizar o equilíbrio dos interesses no curso da

elaboração e da tomada de decisões no que diz respeito às atividades da firma. A

empresa japonesa não seria um lugar de maximização do lucro, mas um lugar de

mediação dos interesses dos diferentes grupos que a compõem.

O sindicalismo de empresa japonês está perfeitamente integrado aos objetivos da

empresa, donde conclui-se que a maneira eficaz de representação dos interesses dos

assalariados consistiria em utilizar essa forma tão eficaz para equilibrar o poder dos

proprietários e fazer dos administradores seus corretos mediadores.

Como última observação, lembremos que o sistema das relações industriais

japonesas é construído sobre um conjunto de contrapartidas verdadeiras – emprego

vitalício e mercados internos de trabalho, por exemplo.

4

Page 303: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Pensar Pelo Avesso: O Modelo Japonês De Trabalho E Organização Carlos Alberto Casado Pereira Mestrando pelo Centro Universitário Senac INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do

mundo do trabalho. Campinas (SP): Cortez, 2003.

5

Page 304: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

OS SENTIDOS DO TRABALHO: ENSAIO SOBRE A AFIRMAÇÃO E A

NEGAÇÃO DO TRABALHO Ricardo Antunes 3.ed. São Paulo: Boitempo, 2000. 261p.

Maria Carolina Maggiotti Costa - Advogada/Fundacentro; mestranda em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Senac

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/resenhas.asp?ed=2&cod_artigo=34

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 305: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho constitui um

aprofundamento das várias dimensões já exploradas pelo autor na obra Adeus ao

trabalho, publicada em 1995.

Com vigor e transparência Ricardo Antunes analisa o mundo do trabalho de hoje,

nas formas contemporâneas de vigência da centralidade do trabalho ou na multiplicidade

de seus sentidos.

O autor inicia sua análise focalizando a crise do movimento operário, momento em

que o mundo do trabalho passou por uma situação extremamente crítica, talvez a maior

desde o aparecimento da classe trabalhadora e do próprio movimento operário,

vivenciado especialmente no início da década de 1970 e que pode ser chamado de crise

estrutural do capital. Nessa fase, o capitalismo começou a dar sinais de um quadro crítico

que se evidenciou com a queda da taxa de lucro, o esgotamento do padrão de

acumulação taylorista/fordista de produção, a hipertrofia da esfera financeira, a maior

concentração de capitais graças às fusões entre as empresas monopolistas e

oligopolistas, a crise do welfare state e dos seus mecanismos de funcionamento e o

incremento acentuado das privatizações.

Essa crise, que tem como expressão o neoliberalismo e a reestruturação produtiva

da era da acumulação flexível, acarretou profundas modificações no mundo do trabalho –

entre elas um enorme desemprego estrutural e um crescente contingente de

trabalhadores em condições precarizadas, além da degradação do meio ambiente –,

modificações estas conduzidas pela lógica societal voltada para a produção de

mercadorias e para a valorização do capital.

Em resposta à crise do capital, iniciou-se um processo de reorganização do

próprio capital e de seu sistema de dominação, cujas evidências foram o advento do

neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do

trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal. A isso se seguiu um processo de

reestruturação da produção e do trabalho, buscando dotar o capital do instrumental

necessário para repor os patamares de expansão anteriores.

Foi nesse contexto que as forças do capital conseguiram reorganizar-se,

introduzindo novos desafios para o mundo do trabalho, que se viu a partir de então em

2

Page 306: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

condições bastante desfavoráveis. A reorganização capitalista que se seguiu, com novos

processos de trabalho, recuperou temáticas que haviam sido propostas pela classe

trabalhadora.

Assim, com a derrocada da disputa operária pelo controle social da produção,

estavam dadas as bases sociais e ideo-políticas para a recuperação do processo de

reestruturação do capital, num patamar distinto daquele realizado pelo taylorismo e pelo

fordismo.

Em Os sentidos do trabalho mostra-se que a reestruturação produtiva do capital, o

neoliberalismo, as mudanças no interior do Estado e a perda de seu intervencionismo

social foram responsáveis pelo agravamento da crise, evidenciando que não há sinais

concretos de uma retomada no limiar do século XXI de algo similar aos “anos dourados

de social-democracia”.

O autor fala do surgimento do toyotismo e da era da especialização flexível, das

várias transformações no processo produtivo, passando pela questão da “qualidade total”,

do downsizing, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico e dos

modelos alternativos ao taylorismo/fordismo. Contextualiza a Inglaterra, país no qual o

experimento de tipo toyotismo aliou-se ao neoliberalismo, ali vigente desde a derrota do

Labour Party em 1979.

Desde o final do governo trabalhista o movimento operário inglês passava por um

período de crise histórica. O sintoma foi o voto declinante no Partido

Trabalhista Inglês. As ações grevistas enfrentavam crescente oposição pública,

presenciando-se uma alteração nos traços constitutivos daquele movimento existente na

Inglaterra desde o final do século XIX.

Essa limitação e esgotamento tiveram sua expressão máxima em 1979, quando o

Partido Conservador conseguiu, com a ascensão de Margaret Thatcher, quebrar a

trajetória anterior. Era o advento da variante neoliberal na sua forma mais ousada, que

manteve os conservadores no poder até maio de 1997. A trajetória participacionista do

Labour foi transformada por uma agenda que possuía como eixo o fortalecimento da

liberdade de mercado.

3

Page 307: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O neoliberalismo inglês teve, entretanto, que se defrontar com movimentos de

oposição de grande envergadura, entre os quais a onda de explosões sociais de 1989 e

1990 que atingiu o conservadorismo de Thatcher, com as revoltas contra o poll tax

(aumento de impostos), considerada a mais forte manifestação pública de desgaste do

neoliberalismo.

Acelerava-se no partido a “nova” postura que buscava um caminho alternativo,

dado pela preservação de um traço social-democrático associado a elementos básicos do

neoliberalismo. Começava então a se desenhar o que Tony Blair chamou de “Terceira

Via”.

Politicamente a Terceira Via representa um movimento de modernização do

centro. Embora aceite o valor socialista básico da justiça social, rejeita a política de classe

e busca uma base de apoio que perpasse as classes da sociedade. Economicamente

propugna a defesa de uma nova economia mista, que se pauta pelo equilíbrio entre

regulamentação e desregulamentação e entre os aspectos econômico e não-econômico

na vida da sociedade.

A Terceira Via configura-se como a preservação do que é fundamental no

neoliberalismo. Tony Blair é a expressão da subjetividade e da política criada pelo

moderno capital britânico após o desgaste do neoliberalismo thatcherista. Portanto, a

Terceira Via do New Labour tornou-se uma das manifestações mais críticas ao mundo do

trabalho.

Ricardo Antunes discorre em seu livro sobre a interação crescente entre trabalho e

conhecimento científico, sobre a interação entre trabalho material e imaterial, sobre

trabalho produtivo e improdutivo. Analisa, também, as formas assumidas pela divisão

sexual do trabalho, pela nova configuração da classe trabalhadora, e focaliza as formas

contemporâneas do estranhamento do trabalho em relação a o que se produz e para

quem se produz.

Em Os sentidos do trabalho o autor parte de uma meticulosa pesquisa sobre a

“centralidade do trabalho”, focalizando os fundamentos ontológicos do trabalho no

pensamento de Lukács, e faz uma crítica ao pensamento de Habermas. Trata também do

trabalho livre, ou seja, da jornada de trabalho, questão importante na sociabilidade

contemporânea, que propicia o afloramento do tema da vida dotada de sentido dentro e

4

Page 308: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A Negação Do Trabalho. Maria Carolina Maggiotti Costa INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Resenha 2, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

fora do trabalho: “Uma vida desprovida de sentido no trabalho é incompatível com uma

vida cheia de sentido fora do trabalho”.

Finalmente, conclui com a indicação dos fundamentos societais básicos para um

novo sistema de metabolismo social, ou, nas palavras do autor:

Numa forma de sociabilidade superior, o trabalho, ao reestruturar o ser

social, terá desestruturado o capital. E nesse mesmo trabalho

autodeterminado que tornou sem sentido o capital gerará as condições

sociais para o florescimento de uma subjetividade autêntica e emancipada,

dando um novo sentido ao trabalho.

Assim, o livro Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do

trabalho vai fundo nas explorações entre capital e trabalho, discorrendo sobre questões

vitais, refletindo com muita propriedade as variáveis complexas que compõem o mundo

do trabalho.

5

Page 309: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

OS DESAFIOS ÉTICOS DAS NANOTECNOLOGIAS*

Jean-Pierre Dupuy

Professor da Escola Politécnica de Paris e da Stanford University Membro da Academia de Tecnologias

*Originalmente publicado em francês no periódico Les Cahiers du MURS N° 47, 2006. Agradecemos ao professor Jean-Pierre Dupuy e ao editor Jean-Pierre Alix pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. 1 Nanotechweb.org, 23 de dezembro de 2003

www.interfacehs.sp.senac.brhttp://www.interfacehs.sp.senac.br/br/traducoes.asp?ed=2&cod_artigo=33

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte.

Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

1

Page 310: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

INTRODUÇÃO

Há alguns anos trabalho como filósofo com a ética das nanotecnologias – a

“nanoética”, como é chamada agora – ou, mais precisamente, com a ética da denominada

“convergência NBIC”, que é a convergência entre nano, bio, info-tecnologias e ciências

cognitivas. Gostaria, inicialmente, de defender o ponto de vista segundo o qual a

convergência NBIC e as nanotecnologias, em particular, suscitam questões éticas

originais, o que foi fortemente negado. Por exemplo, Philip Ball, escritor científico da

Nature, escreveu, em um ensaio intitulado “2003: nanotecnologia na linha de fogo”:1

Em março [2003], a Instituição Real de Londres acolheu um seminário de um

dia sobre as nanotecnologias, intitulado “Átomo por átomo”, que,

particularmente, considerei útil, pois permitiu entender um grande espectro de

opiniões sobre o que é agora conhecido pelo nome de nanoética. [...]

Inicialmente, apareceu uma crença, fundada na idéia de que aquilo que é

qualitativamente novo nas nanotecnologias é que elas permitem, pela

primeira vez, a manipulação da matéria em escala atômica. Suponho que

esse ponto de vista é comumente partilhado e, se for esse o caso, deve nos

levar a perguntar: como é possível que vivamos em uma sociedade na qual

não se vê que é precisamente isso que a química faz, de modo racional e

informado, há dois séculos ou até mais? Como pudemos deixar uma tal

ignorância se instalar? Torna-se cada vez mais claro que o debate a propósito

da extensão das possibilidades últimas oferecidas pelas nanotecnologias leva

a questões sobre os próprios fundamentos da química. O vazio de

conhecimentos no qual a maior parte do debate público sobre as

nanotecnologias se estabelece só existe porque o público não conhece quase

nada de química: o que ela é, o que faz e o que pode fazer.

Debruçando-se sobre a nanoética, Ball prossegue:

*Originalmente publicado em francês no periódico Les Cahiers du MURS N° 47, 2006. Agradecemos ao professor Jean-Pierre Dupuy e ao editor Jean-Pierre Alix pela liberação dos direitos de divulgação para a INTERFACEHS. 1 Nanotechweb.org, 23 de dezembro de 2003 http://www.nanotechweb.org/articles/society/2/12/1/1

2

Page 311: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

As questões relativas à segurança, à equidade, às

implicações militares e à transparência das nanotecnologias

são idênticas àquelas suscitadas por outros domínios da

ciência e da tecnologia. Seria um grave erro, e talvez

perigoso, que as nanotecnologias venham a ser consideradas

uma disciplina que coloca problemas éticos inéditos. Desse

ponto de vista, penso que elas diferem fundamentalmente de

certos aspectos da pesquisa em biotecnologia que tocam em

questões morais totalmente novas. E, no entanto, é talvez a

primeira vez que uma ciência, uma ciência aplicada ou uma

tecnologia, como queiram, desenvolve-se em um clima social

sensibilizado de antemão para as necessidades de um debate

ético.

[...] Mais ainda, a verdade pragmática é que, se as

nanotecnologias não reconhecem que comportam uma

dimensão ética, independentemente do que possa acontecer,

elas a isso serão forçadas. Aqueles que trabalham na área

sabem que as nanotecnologias não constituem, de maneira

nenhuma, uma disciplina, que seus desígnios não podem ser

reunidos em um todo coerente e que não representam, para

nenhum setor industrial, um objetivo definido. Mas mesmo as

agências de financiamento falam disso como se assim não

fosse. No espírito do público, o simples fato de que existam

operações como a Iniciativa nacional americana para as

nanotecnologias sugere, seguramente, que as

nanotecnologias têm uma certa unidade, e é por isso que as

pessoas vão querer estar seguras de que seus aspectos

éticos são levados em consideração.

Penso que Philip Ball se engana duplamente. Creio que há, realmente, uma

unidade por trás da convergência NBIC, mas essa unidade é encontrada no nível do

3

Page 312: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

programa metafísico de pesquisa, no qual se apóia essa convergência. Creio também que

os dilemas éticos que esse programa suscita são amplamente inéditos e encontram sua

fonte nas idéias fortes que governam a área.

Acabo de utilizar a expressão “programa metafísico de pesquisa”: trata-se de uma

referência à filosofia das ciências de Karl Popper. A filosofia positivista que sustenta a

maior parte da ciência moderna (e boa parte da filosofia contemporânea) considera que a

“metafísica” é uma busca desprovida de sentido, procurando encontrar respostas para

questões que não têm respostas. Porém, Popper, após Emile Meyerson,2 mostrou que

não há programa de pesquisa científica (ou, para nosso propósito, tecnológica) que não

repouse sobre um conjunto de pressuposições gerais a propósito da estrutura do mundo.

Decerto que essas visões metafísicas não podem ser testadas empiricamente e não

podem constituir o objeto de uma “falsificação”. Contudo, isso não implica que elas não

apresentem interesse substancial e não tenham um papel fundamental no avanço da

ciência. Aqueles que negam a metafísica tornam-na simplesmente invisível, e é muito

verossímil que sua metafísica dissimulada seja má ou inconsistente. Para grande espanto

daqueles que o consideravam, erroneamente, um positivista, Karl Popper respondia que a

tarefa do filósofo ou do historiador das ciências era dupla: em primeiro lugar, exumar e

tornar visíveis as idéias metafísicas que repousam sob os programas científicos para levá-

las à crítica; em segundo lugar, proceder a um exame crítico dessas teorias metafísicas

que fosse certamente diferente daquele que funda a crítica das teorias científicas, pois

aqui nenhum teste empírico é possível, ainda que seja racional.

A questão que me coloquei em seguida foi, portanto: qual é o programa metafísico

de pesquisa que sustenta a dita convergência NBIC? Uma de suas características

maiores é que as tecnologias convergentes pretendem substituir a natureza e a vida, e se

tornarem os engenheiros da evolução. Evolução que, até agora, consistiu

fundamentalmente em uma simples “bricolagem”. Ela pode imobilizar-se em caminhos

indesejáveis ou em impasses. É por isso que o homem pode ser tentado a tomar seu

lugar e se tornar o designer dos processos biológicos e naturais. O homem pode

participar da fabricação da vida.

2 “O homem faz metafísica como respira, sem desejá-lo e, sobretudo, sem disso suspeitar a maior parte do tempo.” E. Meyerson, De l’explication dans le sciences (Paris, 1927).

4

Page 313: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Podemos avaliar de maneira normativa um tal empreendimento? Não creio que as

respostas éticas preexistam às questões que as solicitam. A tarefa do filósofo não

consiste, certamente, em aplicar doutrinas éticas prontas na solução de problemas novos.

As normas e as regras emergem dos próprios problemas que elas devem regular. Essa

visão em circuito (bootstrapping) do que seja um julgamento normativo é inevitável

quando abordamos a avaliação de saltos tecnológicos que só fazemos antecipar.

Gostaria de começar por algumas observações metodológicas.

A ÉTICA NÃO É UM CÁLCULO CUSTO-BENEFÍCIO

Um primeiro erro a denunciar é aquele que consiste em confundir ética e

prudência, e em compreender “prudência” como gestão racional do risco. Noventa por

cento dos relatórios, artigos ou livros que pude consultar sobre esse assunto cometem

esse erro. Pois é um erro, tão grave quanto aquele que cometeria um físico que não

fizesse a diferença entre massa e peso. É um erro sério tratar questões éticas em termos

de balanço entre custos e benefícios, ou seja, reduzir a ética a uma espécie de cálculo

econômico ampliado. Num dos pratos da balança, colocam-se os benefícios que se

espera do progresso tecnológico e econômico e, no outro, os custos. A incerteza afeta

mais o segundo prato que o primeiro e é, evidentemente, em termos de risco que o

apreendemos. Ora, pode-se analisar o conceito de risco com base em três elementos: a)

existe uma eventualidade de prejuízo, afetada normativamente por um signo menos; b) é

possível determinar um grau de possibilidade à ocorrência desse prejuízo, sob a forma de

uma probabilidade, por exemplo; c) é lícito tomar por padrão de apreciação do prejuízo

um sistema de avaliações individuais e coletivas, por exemplo, as preferências, as

funções de utilidade ou de satisfação da população de indivíduos potencialmente

implicados no prejuízo.

Deveria estar claro que as questões éticas suscitadas pelas tecnologias

avançadas não satisfazem nenhuma das três condições que acabo de enunciar. Quando

o relatório da National Science Foundation, de junho de 2002, intitulado Converging

Technologies for Improving Human Performance, enuncia que a convergência NBIC vai

5

Page 314: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

acarretar uma “mudança de civilização”,3 bem malicioso seria aquele que se aventurasse

a colocar um signo, de mais ou de menos, diante dessa eventualidade, que se

pronunciasse sobre seu grau de possibilidade ou, ainda, que avaliasse suas as

conseqüências adicionando os diferenciais de “utilidade” para toda a população.

É preciso compreender que o obstáculo metodológico que enfatizo não é redutível

a uma forma de incerteza sobre os dados. Não é epistêmico, é ontológico. Tomo o

exemplo do interessante “Report on the Social and Ethical Issues of Genetic Enfineering

with Human Beings”, de novembro de 1982, mais conhecido pelo nome de “Splicing Life”.4

Em uma seção do capítulo “Social and Ethical Issues”, intitulado “Concerns with

Consequences”, lemos:

A tendência corrente é pensar uma pessoa como um indivíduo com um

certo caráter e uma personalidade, que, ao longo das etapas normais

de seu desenvolvimento físico, social e psicológico, permanece quase

fixo em um certo domínio. Mas esse conceito – e a impressão de

previsibilidade e de estabilidade que ele confere às relações

interpessoais – poderia rapidamente se tornar fora de moda se as

pessoas começassem a recorrer a técnicas de enxerto genético para

operar mudanças fundamentais nelas próprias ao longo de sua vida.

Podemos, desde já, submeter-nos a transformações profundas por

meio da psicocirurgia, das técnicas de modificação do comportamento

ou do uso terapêutico de drogas psicoativas. Não se pode excluir que

o gênio genético traz meios mais rápidos, mais seletivos e mais fáceis

de uso. Aqui ainda a incerteza sobre o modo pelo qual os conceitos

básicos de uma pessoa podem evoluir com tempo é acompanhada de

uma incerteza normativa e ética, porque tais conceitos estão

intimamente ligados a valores e a postulados éticos. É pouco provável

que as pessoas possam ter uma visão clara do que seria sua atitude

ética se sua noção daquilo que constitui a identidade pessoal ou

daquilo que constitui as etapas normais do desenvolvimento durante

uma vida viesse a variar profundamente.

3 NSF Report Converging Technologies for Human Performance, Mihail C. Roco & William S. Bainbridge (eds.), junho de 2002, p. 21. 4 President’s Commission for the Study of Ethical Problems in Medicine and Biomedical and Behavioral Research.

6

Page 315: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Esse texto é notável por sua cegueira quanto ao que designa como dificuldade,

que é, na verdade, uma impossibilidade, como Popper mostrou: antecipar o que serão

nossos princípios éticos e nossos valores no futuro; e continua a raciocinar em termos

conseqüencialistas – o passe de mágica consistindo em falar de incerteza quando se trata

de uma indeterminação radical. Imaginemos um campeão de bayesianismo se esforçando

para colocar probabilidades subjetivas no espaço dos sistemas de valores! Não é,

certamente, a primeira vez que ocorrer essa confusão, já que a famosa

Unbestimmtheitsrelation, de Werner Heisenberg, é traduzida por “Princípio de incerteza”,

embora se trate de um princípio de indeterminação.

A sobreposição do ontológico ao epistêmico é um erro ainda mais grave que as

transformações que nossos princípios e valores éticos conhecerão, e isso em parte

devido às escolhas tecnológicas que faremos. O relatório da NSF, Converging

Technologies, é consciente disso, já que escreve, a propósito da “mudança de civilização”

acarretada pela convergência das tecnologias: “É possível que princípios éticos

inteiramente inéditos prevalecerão em setores nos quais o progresso tecnológico será

radical - como a aceitação de implantes cervicais, o papel dos robôs na sociedade e a

ambivalência da morte diante dos avanços relacionados à clonagem...”5

Se a ética pudesse ser circunscrita a um cálculo moral de benefícios e de custos,

sua tarefa quanto aos problemas que nos ocupam seria desesperada, já que não

saberíamos nem mesmo dizer em qual prato da balança deveríamos colocar este ou

aquele aspecto de uma evolução entrevista. Se a ética fosse um cálculo, mesmo se esse

cálculo se revelasse impossível de efetuar na prática, todo problema ético seria

considerado passível de solução, ainda que fôssemos incapazes de determiná-la. Mas a

situação moral do homem é de outra natureza. Pode acontecer que a conquista do saber

e a atividade criadora dos homens se revelem uma faca de dois gumes: “colocando em

perigo a própria busca dos processos à qual, no entanto, elas são indispensáveis”.6

Veremos exemplos disso. O fato não é que ignoramos se o uso dessa arma é uma coisa

boa ou má: é que esse uso é bom e mau ao mesmo tempo.

5 NSF Report, op. cit., p. 22. O relatório acrescenta, no entanto: “a identidade e a dignidade humana devem ser preservadas”. 6 Henri Atlan, Les Etincelles de hasard. Tome 1: Connaissance spermatique, Paris, Seuil, 1999, p. 45.

7

Page 316: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

A ÉTICA DAS TECNOLOGIAS, NÃO DAS TÉCNICAS

Outro erro consiste em incidir a avaliação ética na própria técnica. Onde

deveríamos colocá-la? Na tecnologia! O idioma francês moderno, seguindo o inglês,

parece não fazer mais a distinção entre esses dois termos, o que é uma perda. A

tecnologia é a técnica inserida no discurso [logos] que a acompanha, sustentando-a ao

mesmo tempo em que é sustentado por ela. Tomo uma ilustração na obra maior de

Hannah Arendt, Condição Humana. Esse livro, publicado pela primeira vez em 1958,7

começa por uma meditação sobre “esse acontecimento que nada, nem mesmo a fissão

do átomo, poderia eclipsar” que constituiu a colocação em órbita de um Sputinik, em 4 de

outubro do ano precedente. Arendt escreve:

A reação imediata, tal como se exprime na área, foi o alívio de ver

finalizado o primeiro “passo na direção da evasão dos homens da

prisão terrestre”. [...] Essas opiniões tornaram-se lugares comuns. Elas

provam que as pessoas não estão de nenhum modo atrasadas nos

que se refere às descobertas da ciência e aos progressos técnicos e

que, ao contrário, elas os adiantaram várias dezenas de anos. Nesse

caso, como em outros, a ciência realizou e confirmou o que os homens

tinham antecipado em sonhos que não eram nem ocos nem absurdos.

A única novidade é que um dos mais respeitáveis jornais americanos

tenha enfim proclamado, em primeira página, o que até esse momento

estava confinado à literatura pouco respeitável da ficção científica (à

qual ninguém ainda concedeu a atenção merecida como veículo dos

sentimentos e aspirações da massa). A banalidade da frase não deve

nos fazer esquecer que ela era, de fato, extraordinária; pois, se os

cristãos falaram da Terra como um vale de lágrimas e se os filósofos

só viram no corpo uma vil prisão do espírito ou da alma, ninguém na

história da espécie humana em nenhum momento considerou a Terra

como a prisão do corpo, nem mostrou tanto empenho em dela partir,

7 Chicago, The University of Chicago Press, 1958. Utilizo a tradução francesa de Georges Fradier, Condition de l’homme moderne, Calmann-Lévy, 1961.

8

Page 317: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

literalmente, para a Lua. [...] A Terra é a quintessência da condição

humana [...]8

Retenho esse texto devido a uma contribuição essencial que ele traz aos

problemas que nos ocupam. Ele nos diz que os homens sonham a ciência antes de fazê-

la e que esses sonhos, que podem tomar a forma da ficção científica, têm um efeito

causal sobre o mundo: encarnam-se na técnica e esta transforma a condição humana. O

objeto da avaliação técnica deve ser, portanto, não a técnica sozinha, mas essa estrutura

de causa comum:

Aquele que crê que apenas a técnica tem um efeito sobre a condição humana

deve dar início à separação entre o que é tecnicamente realizável e o que não o é.

Observa-se, efetivamente, que os trabalhos já existentes em nanoética tomam um

cuidado extremo em distinguir o que consideram ciência séria do que todos chamam de

“ficção científica”. O domínio desta última, porém, varia muito de um estudo a outro.

Mesmo que todos concordem em rejeitar as elucubrações de alguém como Michael

Crichton ao reino da literatura de entretenimento, ainda debatemos o fato de os

nanorobôs auto-replicantes imaginados por Eric Drexler, o “inventor” das nanotecnologias,

estarem ou não condenados para sempre a fazer parte dessa ficção científica

desdenhada. O principal interessado parece ter mudado completamente de opinião e

classifica, doravante, na categoria de “não-sério” o que lhe assegurou celebridade. O

recente relatório da Royal Society britânica a esse respeito permite-se tratar com

8 Ibid., p. 7-8.

9

Page 318: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

desprezo o relatório da NSF americana, com um pérfido: “Perdoar-nos-ão por desdenhar

a maior parte das contribuições, pois elas se baseiam menos na ciência e tecnologia

sérias que na ficção científica”.9

A mudança de perspectiva que proponho tem como primeira implicação um

“anything goes”, como teria dito Feyerabend quanto ao que convém colocar na caixa

“Sonhos da razão”: o não-sério não é menos importante que o sério quando se trata de

alimentar o imaginário da ciência. A metafísica que sustenta a convergência NBIC está na

caixa ao lado da ideologia de propaganda alimentada por livros de um Ray Kurzweil,10

Eric Drexler11 ou Damien Broderick.12 Ali encontraremos a prática da língua, das artes, da

literatura popular e ainda outras coisas.

Como Hannah Arendt, que reagia à expressão de um jornalista comparando a

terra a uma prisão, o pesquisador em nanoética deve permanecer atento às distorções da

língua que, tal como nos lapsos e sintomas, revela as camadas mais profundas do

imaginário científico ou tecnológico. Não resisto à tentação de dar um exemplo. Em

novembro de 2003, cientistas israelenses construíram transístores a partir de nanotubos

de carbono, utilizando o DNA como modelo. Um cientista do Technion-Israel disse: “o que

temos feito consistiu em conduzir a biologia a auto-reunir um mecanismo eletrônico em

um tubo de ensaio [...]. O DNA é utilizado como uma base ou um modelo que determina

onde os nanotubos de carbono vão se encontrar. É a beleza da utilização da biologia”.13

Essa utilização transitiva de um verbo reflexivo denuncia, por si mesma, melhor que um

longo discurso, a ambição das nanobiotecnologias, de abordar [o Gestell heidggeriano] as

propriedades auto-organizadoras do vivente para colocá-las a serviço de fins humanos.

Por que a diligência que proponho aplica-se particularmente bem às

nanotecnologias e, de modo mais generalizado, à convergência NBIC? Porque, no

essencial, essas tecnologias ainda não existem. No entanto, o “sonho” que as traz – com

suas dimensões metafísicas, ideológicas, populares etc. – está presente há muito tempo.

9 The Royal Society, Nanosciences and nanotechnologies: opportunities and uncertainties, RS Policy document 19/04, julho de 2004, p. 55. 10 Ray Kurzweil, The Age of Spiritual Machines, Texere Publishing, 2001. 11 Eric Drexler, Engines of Creation, Anchor Books, 1986. 12 Damien Broderick, The Spike, Forge, New York, 2001. 13 Kenneth Chang, “Smaller Computer Chips Built Using DNA as Template”, New York Times, November 21, 2003: http://www.nytimes.com/2003/11/21/science/21DNA.html?ex=1075525200&en=67948bd27029a142&ei=5070.

10

Page 319: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Mostrarei isso citando obras filosóficas que datam de várias décadas ou até mesmo de

vários séculos, e das quais podemos dizer, olhando retrospectivamente, que tinham

previsto muitas coisas e, talvez, contribuído para suscitá-las.

Utilizo a expressão “sonhos da razão” de propósito. Faço referência à terrificante

gravura de Goya, cujo título é “El sueño de la razón produce monstruos”.14 Título ambíguo

ao máximo, já que a palavra “sueño”, em espanhol, significa indiferentemente “sono” ou

“sonho”. Em francês e em inglês, a tradução é, freqüentemente, “O sono da razão produz

monstros” e compreende-se: “Quando a razão está dormindo, ou seja, colocada entre

parênteses, a imaginação produz monstros”. Mas, um outro sentido não é menos

possível: “Os sonhos da razão engendram monstros”. É a própria razão, e não sua

ausência, que tem essa capacidade de fazer advir, por seus sonhos, coisas monstruosas.

Gosto muito dessa ambivalência fincada no coração das relações entre a ciência e o

imaginário.

Queria agora, em vez de oferecer um programa de pesquisas em nanoética que

evitasse os erros que acabo de denunciar, simplesmente esboçar algumas dimensões da

direção que poderia tomar um tal programa.

ACIONAR A COMPLEXIDADE

Afirma-se freqüentemente que o ponto de partida das nanotecnologias é a

conferência clássica ministrada por Feynman, em 1959.15 Discordo. Parece-me mais justo

dizer que a origem desse novo campo deve ser pesquisada em uma outra conferência

clássica, a que John Neumann ministrou, em 1948, durante um colóquio organizado pela

Fundação Hixon, no California Institute of Technology (CalTech) e que aparece

retrospectivamente como um dos momentos fundadores das ciências cognitivas. Von

Neumann apresenta nela sua teoria dos autômatos auto-reprodutores e, nessa ocasião,

emite uma conjetura relacionada à noção de complexidade.16

Pode-se conceber, afirma von Neumann, nesse contexto dominado pelos

cibernéticos, que autômatos complexos sejam não somente capazes de se auto-

14 http://www.bne.es/Goya/c75.html 15 “There is Plenty of Room At the Bottom”. 16 Ver Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, Princeton University Press, 2000.

11

Page 320: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

reproduzir, mas também de produzir autômatos mais complexos que eles. Von Neumann

assim se opõe ao projeto da cibernética, que consistia em realizar (ao menos no papel),

para cada função classicamente atribuída ao espírito humano, uma máquina (de Turing)

capaz de reproduzi-la ou de simulá-la. Von Neumann questionava se a maneira mais

simples de caracterizar a função é apresentar a própria máquina. Nessas condições, seria

desprovido de sentido descobrir que tal comportamento pode ser encarnado em uma

estrutura, já que não seria possível definir o comportamento de outro modo senão

descrevendo sua estrutura. Assim, Von Neumann colocava em evidência os limites da

tentativa descendente (top-down), que é classicamente a do engenheiro. No caso dos

sistemas complexos, só tem sentido a tentativa ascendente (bottom-up), que consiste em

explorar aquilo de que é capaz um autômato dado. Logo, profetizava von Neumann, o

construtor de autômatos estaria tão desarmado diante de sua criação quanto o cientista,

diante dos fenômenos naturais complexos.

A engenharia consiste, classicamente, em conceber e fabricar estruturas cujo

comportamento reproduz as funcionalidades que se julgam desejáveis. No entanto, com

as nanotecnologias, e, sobretudo, com a convergência nanobiotecnológica, uma nova

concepção tem lugar, para se tornar, talvez um dia, a concepção dominante. Trata-se,

desta vez, de “dar-se” estruturas complexas (eventualmente, indo buscá-las no

reservatório que nos oferecem a natureza e a vida – por exemplo, o cérebro humano – ou

reproduzindo-as artificialmente – sob a forma de uma rede de neurônios formais, por

exemplo) e de explorar as funcionalidades das quais elas são capazes, tentando rejeitar a

relação estrutura/função: procedimento ascendente, portanto, e não mais descendente.

De maneira mais imaginativa, pode-se dizer que o engenheiro, aqui, longe de desejar a

maestria, estimará que seu empreendimento é tanto mais coroado de sucesso quanto a

máquina que ele inventara o surpreenda. Observa-se, desde logo, tal atitude na pesquisa

com os algoritmos genéticos. Trata-se de simular as capacidades evolutivas de uma

“sopa” primitiva constituída por programas de computador, os mais performáticos

reproduzindo-se mais em relação aos outros. Obtêm-se assim algoritmos de fato muito

performáticos, já que foram “selecionados” segundo esse critério, mas não temos a

capacidade de compreender por que eles têm essas propriedades. Aquele que deseja

fabricar – de fato, criar – a vida, não pode se esquivar de ambicionar reproduzir sua

capacidade essencial, que é de criar, por sua vez, algo radicalmente novo.

12

Page 321: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Seria um erro pensar que, ainda que original, nossa situação atual, diante das

conseqüências de nossas escolhas tecnológicas, não é o produto de um longo processo

histórico. Descontinuidades e rupturas devem ser sempre analisadas sobre o fundo de

dinâmicas contínuas. Em seu estudo magistral sobre as fraquezas da ação humana,

Condição Humana, Hannah Arendt colocou em evidência o paradoxo fundamental de

nossa época: enquanto os poderes humanos aumentam sob o estímulo do progresso

tecnológico, somos cada vez menos senhores das conseqüências de nossas ações. Uma

longa citação adquire aqui todo o seu valor, pois sua pertinência em relação ao nosso

objeto de estudo não pode ser negligenciada – e devemos manter a lembrança de que

isso foi escrito em 1958:

[...] tentando suprimir a ação, devido a sua incerteza, e preservar a

fragilidade das ocupações humanas, tratando-as como se fossem ou

pudessem tornar-se produtos de uma técnica, conseguimos

inicialmente concentrar a faculdade de agir, de empreender

processos novos e espontâneos, que não existiriam sem o homem,

em uma atitude para com a natureza que até o último estágio da

época moderna consistiu em explorar as leis naturais e fabricar os

objetos com materiais naturais. Podemos perceber a que ponto

começamos a agir sobre a natureza, no sentido literal da palavra,

através de uma observação feita de modo rápido por um cientista

que, no entanto, falava seriamente: a pesquisa fundamental ocorre

quando faço o que não sei que faço.

Isso começa de modo inofensivo pela experimentação, na qual os

homens não se contentam mais em observar, constatar e contemplar

o que a natureza, tal como a vemos, está prestes a entregar, mas em

tentar prescrever condições e provocar processos naturais. A

evolução que aperfeiçoa sem cessar a arte de desencadear

processos elementares, que sem a intervenção do homem

permaneceriam virtuais e não teriam talvez nunca lugar, desemboca

finalmente em uma verdadeira arte de “fazer a natureza”, ou, dito de

outro modo, de criar processos “naturais” que não existiriam sem o

homem e que a natureza terrestre parece incapaz de realizar [...]

13

Page 322: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O simples fato de que as ciências naturais se tenham tornado

exclusivamente ciências de processos e, em última escala, ciências

de “processos sem retorno” virtualmente irreversíveis, irremediáveis,

indica claramente que não importa qual seja a potência cerebral

necessária para desencadeá-los. A faculdade humana subjacente à

origem desse estado de coisas não é uma faculdade “teórica”

(contemplação ou ação): é a faculdade de agir, de desencadear

processos sem precedente cujo resultado permanece incerto e

imprevisível no domínio humano ou natural em que eles vão ocorrer.

Nesse aspecto da ação [...] desencadeiam-se processos cujo

resultado é imprevisível, de modo que a incerteza, mais que a

fragilidade, torna-se a característica essencial das ocupações

humanas.17

Não há dúvida do quanto essa análise, com uma inacreditável presciência, aplica-

se perfeitamente à convergência NBIC, principalmente no que concerne a dois pontos:

primeiro, podemos dizer que a ambição de (re-) fazer a natureza é uma dimensão

importante do que chamei de metafísica subjacente ao campo da pesquisa (voltarei a isso

em breve); segundo, como foi explicado mais acima, será uma tentação inevitável aos

nanotecnologistas do futuro, para não dizer uma tarefa ou uma obrigação, desencadear

processos sobre os quais não tenham nenhum controle. O mito do aprendiz de feiticeiro

deverá ser atualizado: não será por erro ou por terror que o homem estará despossuído

de suas próprias criações, mas intencionalmente.

“BRINCAR DE DEUS”

O fato de se conceber a natureza como um artefato tem implicações éticas e

epistemológicas consideráveis. É interessante analisar o que os promotores da

convergência NBIC imaginam ser o estado de espírito daqueles que tomam por seus

“inimigos” ou, em todo caso, dos que são seus críticos. Uma expressão sempre surge

para designar esse estado presumido do espírito: os seres humanos não teriam o direito

de usurpar poderes que só pertencem a Deus; “brincar de Deus” [Playing God] seria um

17 Hannah Arendt, Condition de l’homme moderne, op. cit., p. 259-261.

14

Page 323: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

jogo proibido.18 Acrescenta-se freqüentemente que esse tabu concerniria especialmente

ao “judeu-cristianismo”.

Penso que essa caracterização desconhece completamente tanto a lição

talmúdica quando a teologia cristã. Ela as confunde com a concepção que os gregos

tinham do sagrado: os Deuses, encolerizados com os homens acometidos de hybris (a

desmedida), enviam-lhes a deusa da vingança, Nêmesis. A Bíblia, porém, representa o

homem como co-autor do mundo. Assim como escreve o biofísico Henri Atlan, grande

especialista do Talmud, analisando a literatura sobre o Golem:

Não se encontra [nela], pelo menos no começo, contrariamente à legende de

Fausto, nenhum julgamento negativo sobre o saber e a atividade criadora

dos homens “à imagem de Deus”. Ao contrário, é na atividade criadora que o

homem atinge a plenitude de sua humanidade, em uma espécie d’imitatio

Dei que lhe permite ser associado a Deus, em um processo de criação

contínua e perfectível.19

Voltarei a esse ponto na conclusão. Quanto ao cristianismo, toda uma série de autores

importantes, de Max Weber a Louis Dumont, de Marcel Gauchet a René Girard, analisam-

no como “a religião do fim da religião”: eles o tornam responsável pela dessacralização do

mundo (o famoso “desencantamento”) e, portanto, pela eliminação progressiva de

qualquer tabu, proibição ou limite. É por isso que os mesmos autores fazem do

cristianismo a principal causa do desenvolvimento científico e técnico do Ocidente, pois a

ciência e a técnica repousam, precisamente, na libertação de todo e qualquer limite.

Foi a ciência que tomou para si o papel dessa dessacralização do mundo operada

pelas religiões da Bíblia, despojando a natureza de todo valor prescritivo ou normativo.

Sendo completamente vã, portanto, qualquer tentativa que, a esse respeito, deseje opor a

ciência e a tradição judaico-cristã. O kantismo contribuiu com essa desvalorização da

natureza, fazendo dela um mundo sem intenções nem razões, habitado unicamente por

causas, separando-o radicalmente do mundo da liberdade, onde as razões da ação caem

sob a jurisdição da lei moral.

18 Ver a seção “Concerns about ‘Playing God’ ” do estudo Splicing Life, op. cit., p. 53 sq. 19 Henri Atlan, Les Etincelles de hasard, op. cit., p. 45.

15

Page 324: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

Se há um problema ético aqui, onde ele se situa? Ele não se evidencia na

transgressão de um tabu qualquer ou do limite garantido pelo sagrado, já que a evolução

conjunta do religioso e da ciência privou de todo fundamento o próprio conceito de limite

moral e, portanto, de transgressão. Todavia, o problema é precisamente esse. Pois não

há sociedade humana livre e autônoma que não repouse sobre um princípio de

autolimitação, mesmo quando crê que esse princípio lhe vem de uma transcendência

qualquer. Rousseau e Kant definiram a liberdade ou a autonomia como a obediência à lei

que nos damos a nós mesmos. Rousseau queria que as leis da Cidade tivessem a

mesma exterioridade em relação aos homens que as leis da natureza, ainda que os

homens façam as primeiras e disso sejam cônscios. Porém, em uma sociedade que

sonha em formatar e fabricar a natureza segundo seus desejos e necessidades, a própria

idéia de exterioridade ou de alteridade perde todo sentido. A substituição do dado pelo

fazer participa, evidentemente, do mesmo processo. A natureza era definida,

tradicionalmente, como o que se mantinha exterior ao mundo humano, com seus desejos,

conflitos, infâmias variadas. Se a natureza torna-se integralmente em nossos sonhos o

que fazemos dela, é claro que não há mais exterior e tudo no mundo refletirá, cedo ou

tarde, o que os homens fizeram ou não, quiseram ou negligenciaram.

Esse problema ético é mais considerável que as questões específicas que

aportam, por exemplo, ao “melhoramento” [enhancement] de uma ou outra capacidade

cognitiva por meio de diversas técnicas. Todavia, o que o faz ainda mais insolúvel é que,

enquanto a responsabilidade dos homens sobre o mundo cresce sem limites, as fontes

éticas de que dispomos diminuem no mesmo ritmo.

A NATUREZA ARTIFICIAL

No coração do programa metafísico de pesquisa que sustenta a convergência

NBIC, encontra-se um enorme paradoxo. A metafísica em questão se quer claramente

monista: não diremos mais, hoje, que tudo no universo procede da mesma substância e,

sim, que tudo está submetido aos mesmos princípios de organização – a natureza, a vida

e o espírito. A palavra de ordem das ciências cognitivas é: “naturalizar o espírito”. Trata-se

de dar novamente ao espírito (e à vida) seu lugar pleno e inteiro no seio do mundo

natural. Ora, considera-se que os princípios de organização supostos como comuns a

tudo que existe no universo são princípios mecanicistas. A máquina que trata a

16

Page 325: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

informação segundo regras fixas, ou seja, o algoritmo, constitui o modelo único de tudo o

que existe. Cronologicamente, e talvez contrariamente a algumas idéias concebidas, o

espírito foi primeiro assimilado a um algoritmo (ou máquina de Turing: modelo de

McCulloch e Pitts, 1943), em seguida, foi a vez da vida, com o nascimento da biologia

molecular (Max Delbruck e o grupo do phage, 1949); e apenas mais tarde surgiu a tese

segundo a qual as leis da física são recorrentes (ou Turing computáveis). A naturalização

do espírito confunde-se, portanto, com a mecanização do espírito. É mais uma vez a

literatura de propaganda que o diz melhor, na medida em que, em sua grande

ingenuidade filosófica, ela não se embaraça em prudências retóricas. O futurólogo

americano Damien Broderick fez um resumo surpreendente da história da evolução

biológica nos termos que se seguem. Uma vez mais, cada uma das palavras empregadas

é reveladora, a começar por aquela por meio da qual ele designa os seres viventes: são

“replicantes vivos”:

Algoritmos genéticos em número astronômico titubeavam na superfície

da Terra e sob o mar, em níveis muito profundos, durante milhares de

anos, duplicando-se, mudando, sendo selecionados em função do

sucesso de suas expressões, isto é, dos seres biológicos que eles

fabricavam e que se entregavam em uma competição para sobreviver

no mundo macroscópico. Finalmente, toda a ecologia dos seres

viventes no planeta acumulou e representa uma quantidade colossal

de informação comprimida, esquemática.20

As células eucariontes e procariontes, pelas quais a vida começou, estão

assimiladas a produções do espírito humano – os algoritmos genéticos – que só

apareceram nas últimas décadas do século vinte. Esses seres são um condensado de

informação, o blueprint para a fabricação dos próprios seres vivos. O monismo

materialista da ciência moderna transformou-se repentinamente em um monismo

espiritualista. Se o espírito forma uma unidade com a natureza, isso ocorre porque a

natureza é interpretada como se fosse uma produção do espírito. A reviravolta faz pensar

no célebre clown suíço, Grock. Magnífico concertista, ele se aproximava de seu Steinway

e descobria que seu banco estava muito distante do piano. Começava então a empurrar o

piano com muito esforço para aproximá-lo do banco. O piano é a natureza e o banco, o

espírito. É a recomposição da natureza em termos que poderiam levar a crer que o

20 Damien Broderick, The Spike, op. cit., p. 116. Grifos meus.

17

Page 326: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

espírito é o criador, permitindo dizer que aproximamos o espírito da natureza. Uma

expressão em forma de oxímoro resume de modo satisfatório tudo isso: a natureza

tornou-se natureza artificial.

A etapa seguinte consiste, evidentemente, em perguntar se o espírito não poderia

substituir a natureza para completar, mais eficaz e inteligentemente, sua obra criadora.

Broderick interroga de modo retórico: “Não podemos pensar que os nanossistemas

concebidos pelo espírito humano colocarão em curto-circuito toda errática darwiniana

para se precipitarem de modo correto em direção ao sucesso do modelo fabricado?”21

Em uma perspectiva de estudos culturais comparados, é fascinante ver a ciência

americana, que teve que entrar em uma luta acirrada para retirar do ensino público todo e

qualquer traço de criacionismo, mesmo em suas metamorfoses mais recentes (como o

inteligente design), reencontrar, pelo viés do programa nanotecnológico, a problemática

do design, do modelo, agora, simplesmente, com o homem no papel do demiurgo.

JEREMIAS E O GOLEM

Gostaria de concluir esta reflexão com um relato talmúdico do século XIII, que

chegou às minhas mãos por intermédio do biofísico francês Henri Atlan. Esse relato

coloca em cena o profeta Jeremias no momento em que ela acaba de finalizar a criação

de um golem. O relato não apresenta de modo nenhum essa criação como um ato de

revolta contra Deus, mas, ao contrário, como o coroamento de um longo caminho de

ascensão em direção à santidade e ao conhecimento, os dois juntando-se na perspectiva

de uma imitatio Dei:

Com efeito, como saber que o iniciado conseguiu decifrar e compreender as

leis da criação do mundo senão verificando que seu saber é eficaz naquilo

que lhe permite, a ele próprio, criar um mundo? Como saber se seu

conhecimento da natureza humana está correto senão verificando que ele

lhe permite criar um homem?22

21 Ibid, p. 118. 22 Henri Atlan, Les Etincelles du hasard, op. cit., p. 49.

18

Page 327: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

O critério de verdade do saber do sábio, como hoje o critério de verdade científica,

é, segundo a expressão famosa de Gianbattista Vico, o verum factum: nós só

conhecemos verdadeiramente aquilo que somos capazes de fazer ou de refazer. O caso

de Warren McCulloch, o artesão das conferências Macy e, nesse sentido, o verdadeiro

fundador da cibernética, muito mais que Norbert Wiener, é esclarecedor23.

Neuropsiquiatra, McCulloch foi, ao longo dos anos, decepcionando-se progressivamente

com os métodos das neurociências. Ele volta-se para a lógica e para aquilo que ainda não

se chamava inteligência artificial. Os estudantes ou discípulos, que o cercavam no MIT,

chamavam-se Seymour Papert e Marvin Minsky – esse Minsky ia formar, mais tarde, um

certo Eric Drexler. O neurofisiologista Jerome Lettvin descreveu nestes termos a evolução

intelectual de McCulloch, que ele admirava profundamente:

Ele se dedicava à tarefa de saber como o cérebro funciona nos

mesmos termos em que o criador de uma máquina conhece suas

engrenagens. A chave de um saber não está na observação, mas na

fabricação de modelos que são, em seguida, confrontados com aos

dados. Contudo, a poiesis deve vir inicialmente. E McCulloch preferia

arriscar-se no fracasso em sua tentativa de criar um cérebro do que

encontrar o êxito no melhoramento da descrição dos cérebros

existentes.24

Retomemos Jeremias e seu homem artificial. Contrariamente a outros golens, esse

fala. De modo completamente natural, ele se dirige primeiramente a seu criador e lhe diz,

fazendo apelo à sua consciência: “Você se dá conta da confusão que acabou de introduzir

no mundo? A partir de hoje, quando encontrarmos um homem ou uma mulher na rua, não

saberemos mais se se trata de uma criatura de Deus ou sua!” Revela-se que Jeremias

não havia pensado nisso. Muito perturbado, ele pede conselho a seu golem para reparar

o que fez. E o homem artificial lhe responde: “Você só tem de me desfazer assim como

me fez”. Jeremias assim o faz e disso tira a seguinte lição: não devemos renunciar a

atingir o conhecimento perfeito que nos torna capazes de criar um homem, mas logo que

23 Ver Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, op. cit. 24 Jerome Lettvin, “Warren and Walter”, inédito; arquivos pessoais de Heinz von Foerster. Citado em Jean-Pierre Dupuy, The Mechanization of the Mind, op. cit., p. 137.

19

Page 328: Revista InterfacEHS edição completa Vol. 1 n. 2

Os Desafios Éticos Das Nanotecnologias Jean-Pierre Dupuy INTERFACEHS

©INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.1, n.2, Tradução 1, dez 2006 www.interfacehs.sp.senac.br

o alcançarmos, devemos nos abster de fazê-lo. Atlan conclui: “Grande lição ele nos dá

para meditar”.25 É isso que me permito convidar-nos a fazer, antes que seja tarde demais.

25 Relato narrado em Les Etincelles de hasard, op. cit., p. 49.

20