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1 GT 17: Tendências no Campo de Públicas A carreira de especialistas em políticas públicas e gestão governamental no setor público brasileiro: uma análise das experiências no nível municipal Victor Corrêa Silva [email protected] FEARP-USP Alexandre Garcia Almeida [email protected] EACH-USP Fernando Souza Coelho [email protected] EACH-USP Resumo: Este artigo realiza uma coleta e posterior análise das carreiras municipais estratégicas similares à de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, já consolidada em nível federal e em alguns estados da federação. Tem como objetivo oferecer uma visão das experiências municipais, tal como os estudos sobre a carreira federal (Ferrazeri, E.; e Zimbrão, A., 2006; Maria, C., 2000; e Cardoso, R.L.S.; e Santos, L.A., 2000), e sobre as carreiras estaduais (Coutinho, F.M.A.; e Bernardo, R.A.A., 2010 e Mota et al, 2011). Desta forma, a partir da contextualização acerca do contexto de surgimento das carreiras, foi realizado um levantamento no âmbito municipal e selecionadas dez carreiras (dentre as vinte e duas detectadas) para análise sobre suas principais características. Como resultado, verifica-se a tendência da criação da carreira de maneira ampla nos municípios fruto da iniciativa federal e, posteriormente, das estaduais, e sob o contexto de valorização de um profissiografia para o ciclo de gestão, contemplando as necessidades locais , apesar da discrepância das atribuições e remuneração existentes; ressalta-se que cada município implementa a carreira a partir de suas realidades locais, reforçando assim a multiplicidade de características. Por fim, destaca-se a importância deste estudo para a compreensão das experiências locais de criação de carreiras estratégicas, apontando as tendências e evidenciando o estágio ainda inicial deste processo em nível municipal. Palavras-Chave: Carreiras municipais, gestor público, recursos humanos. 1 Introdução Este artigo propõe-se a apresentar e discutir a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental EPPGG em nível municipal, tomando como ponto de partida as transformações paradigmáticas da administração pública ocorridas nas duas últimas décadas no século XX que culminaram na criação da carreira no nível federal, e, posteriormente, no nível

Artigo sobre carreiras públicas no âmbito municipal (1)

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GT 17: Tendências no Campo de Públicas

A carreira de especialistas em políticas públicas e gestão governamental no setor público brasileiro: uma análise das experiências no nível municipal

Victor Corrêa Silva [email protected]

FEARP-USP

Alexandre Garcia Almeida [email protected]

EACH-USP

Fernando Souza Coelho [email protected]

EACH-USP

Resumo: Este artigo realiza uma coleta e posterior análise das carreiras municipais estratégicas similares à de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, já consolidada em nível federal e em alguns estados da federação. Tem como objetivo oferecer uma visão das experiências municipais, tal como os estudos sobre a carreira federal (Ferrazeri, E.; e Zimbrão, A., 2006; Maria, C., 2000; e Cardoso, R.L.S.; e Santos, L.A., 2000), e sobre as carreiras estaduais (Coutinho, F.M.A.; e Bernardo, R.A.A., 2010 e Mota et al, 2011). Desta forma, a partir da contextualização acerca do contexto de surgimento das carreiras, foi realizado um levantamento no âmbito municipal e selecionadas dez carreiras (dentre as vinte e duas detectadas) para análise sobre suas principais características. Como resultado, verifica-se a tendência da criação da carreira de maneira ampla nos municípios – fruto da iniciativa federal e, posteriormente, das estaduais, e sob o contexto de valorização de um profissiografia para o ciclo de gestão, contemplando as necessidades locais –, apesar da discrepância das atribuições e remuneração existentes; ressalta-se que cada município implementa a carreira a partir de suas realidades locais, reforçando assim a multiplicidade de características. Por fim, destaca-se a importância deste estudo para a compreensão das experiências locais de criação de carreiras estratégicas, apontando as tendências e evidenciando o estágio ainda inicial deste processo em nível municipal.

Palavras-Chave: Carreiras municipais, gestor público, recursos humanos.

1 Introdução

Este artigo propõe-se a apresentar e discutir a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental – EPPGG em nível municipal, tomando como ponto de partida as transformações paradigmáticas da administração pública ocorridas nas duas últimas décadas no século XX que culminaram na criação da carreira no nível federal, e, posteriormente, no nível

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estadual, chegando – finalmente – nos municípios brasileiros. Ademais, propõe-se uma análise de algumas destas carreiras municipais, a partir da descrição e comparação dos principais elementos norteadores que orientam as ações governamentais nestes entes federativos. Destaca-se que, neste período em que a carreira federal completará 25 anos de criação, um estudo sobre sua importância nos contextos subnacionais se torna relevante e necessário. Desta maneira, a pesquisa ajuda a fomentar a reflexão sobre as carreiras estratégicas governamentais criadas nos últimos anos, oferecendo uma visão sob a perspectiva local, complementando as pesquisas já realizadas sobre as carreiras federais, tais como os estudos de Ferrazeri, E.; e Zimbrão, A. (2006), Maria, C. (2000) e Cardoso, R.L.S.; Santos, L.A. (2000), e as análises sobre as carreiras estaduais, realizadas por Coutinho, F.M.A.; Bernardo, R.A.A. (2010) e Mota et al (2011). Nesta perspectiva, foi realizada uma análise sobre a existência da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental em nível municipal, ou carreiras similares, considerando as atribuições e exigências dos cargos. A pesquisa pode ser enquadrada como descritiva e exploratória (GIL, 2008), pois apresenta e aprofunda alguns aspectos relacionados às carreiras selecionadas, não esgotando, entretanto, os níveis de análise e comparação possíveis entre os municípios, tampouco entre as carreiras estadual e federal. Para tanto, além das pesquisas com base nos trabalhos já consolidados sobre a temática, foi realizada uma coleta de dados sobre os concursos públicos realizados até o início do ano de 2012, cuja nomenclatura do cargo estivesse em consonância com o cargo existente em nível federal, e também suas variações. Após a apuração dos concursos realizados nestes parâmetros, foram analisados os respectivos editais, bem como as leis de criação dos cargos em cada um dos municípios encontrados, com a finalidade de detectar aqueles que – de fato – guardam semelhança com as carreiras já existentes. Além da identificação das carreiras com aderência direta às atribuições esperadas por um cargo de EPPGG e afins, a análise das legislações específicas de cada município possibilitou a coleta de informações sobre o contexto de criação das carreiras, nomenclatura, atribuições, remuneração, ano de criação e plano de carreira, de modo a possibilitar a descrição e comparação. Realizadas todas as etapas metodológicas, chegou-se em um total de vinte e dois municípios que implementaram a carreira análoga à EPPGG, dentre os quais dez deles foram alvo de análises mais aprofundadas – recorte realizado de acordo com o volume de informações disponíveis para a realização da descrição, exploração e comparação entre as carreiras.

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Sendo assim, na seção seguinte serão apresentados os referenciais teóricos relacionados à evolução do paradigma da administração pública brasileira e o contexto de criação das carreiras ao longo do tempo; posteriormente, as dez carreiras selecionadas serão apresentadas e analisadas; por fim, serão expostas as considerações finais com base nos achados da pesquisa.

2 Referencial Teórico A criação de carreiras estratégicas com funções específicas nos âmbitos

federal, estadual e municipal possui relação direta com as mudanças governamentais ocorridas não só no período recente, mas fruto de todo processo de desenvolvimento do Estado brasileiro nas últimas décadas. Esse processo de mudança, que pode ser compreendido por meio de paradigmas, conforme Keinert (1994) evidencia que as alterações no processo de valorização da figura de agentes que podem gerir a máquina pública não é algo recente, sendo alvo de esforços por diferentes governos desde, pelo menos, a década de 30. É neste período no qual é implementada a burocracia clássica, a partir da reforma administrativa e criação do Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP. Este movimento foi fortemente pautado na centralidade das decisões político-administrativas e com foco no controle dos processos, conforme preceitos weberianos de organização. Conforme Bresser-Pereira,

A burocracia de Max Weber foi adotada para substituir a administração patrimonialista, na qual o Estado era percebido como propriedade do rei, e na qual, portanto, o nepotismo e o empreguismo, senão a corrupção era a norma. (BRESSER-PEREIRA, 1997, p.7)

Neste momento, é perceptível a valorização das instituições e dos servidores, dotados de caráter puramente administrativo – burocratas –, e afastados totalmente das questões políticas; incorpora-se, portanto, a orientação administrativa clássica nas instituições governamentais.

Já entre as décadas de 1950 e 1960, segundo orientação de prescrições internacionais, o Estado nacional se lança no modelo desenvolvimentista. Tem-se, então, o insulamento burocrático e a formação de um corpo altamente tecnocrata e centralizado no governo federal, que permeia todo o período militar. Neste período, detecta-se também a necessidade de quadros mais especializados, haja vista a vocação governamental voltada essencialmente para o planejamento, emergindo a criação da Escola Brasileira de Administração Pública – EBAPE, pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, composta por técnicos do DASP e fruto de incentivo das Nações Unidas e cooperação com universidades americanas.

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Outro marco relacionado às mudanças visando a melhoria da máquina pública foi a criação do Decreto-Lei 200 de 1967 que, segundo Bresser Pereira, constituiu a primeira tentativa de fato que ensejou uma reforma gerencial da administração pública. Dentre outras medidas, tal documento dividiu a composição da administração em direta e indireta, promovendo o fortalecimento da administração indireta por intermédio da descentralização. As autarquias, empresas estatais (públicas e de economia mista) e as fundações foram incorporadas à administração indireta a partir de 1987 com a edição da Lei 7.596/87, como forma de dar mais agilidade e flexibilidade à atuação do Estado.

Entretanto, apesar das mudanças estruturais trazidas pelo Decreto-Lei 200,

a figura do servidor público responsável pelas principais ações governamentais é alterada; se em um primeiro momento a criação do DASP e da EBAPE fortaleciam a formação de um administrador com viés público, o período ditatorial atribuí mais força ao perfil do tecnocrata, sendo esse o responsável pela condução das organizações públicas.

Com a grave crise no início dos anos de 1980, ou mais precisamente, em

1979, com o segundo choque do petróleo, torna-se ainda mais complicada a manutenção do “pesado” estado intervencionista e a crise fiscal das contas públicas evidencia claramente um desmantelamento da máquina pública e a necessidade de uma reforma mais profunda. É neste plano de fundo, de problemas de ordem econômica, social e política, que o Estado passa por processos de transformações das mais variadas ordens, caracterizado na redemocratização e, consequentemente, um novo marco para a administração pública. Em meio a toda a crise, obviamente as instituições se encontravam desvalorizadas, assim como, portanto, os servidores públicos.

A Constituição de 1988 demarca um novo período na administração pública, incorporando-se no texto constitucional um conjunto de normas e aspirações da sociedade civil no que tange à participação e à transparência no trato da gestão pública, sendo que os resultados desses processos materializaram-se como fruto de mobilização e de pressões exercidas por vários segmentos da sociedade (PRZEWORSKI, 1995). Tais transformações promovem não só mudanças relacionadas à garantias de direitos, mas também exigem a alteração da configuração das instituições públicas, passando, necessariamente, pelos servidores. Fato é que, antes mesmo da consolidação dos direitos na constituição, já se discutia a necessidade de um novo perfil de burocrata, tal como pode ser observado com a criação da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, em 1986, que se preocupava com a profissionalização dos administradores públicos do alto escalão. No sentido das mudanças nos serviços e servidores públicos, das mudanças provocadas pela Constituição emergem preocupações com as funções de formulação (policy-making) e implementação (service delivery) das políticas

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públicas, para que estas se desenvolvam mais próximas dos cidadãos, mostrando uma maior atenção com os resultados, maior autonomia e um alto padrão de accountability; elementos que evidenciam a necessidade de mudanças das mais variadas ordens. Dessa maneira, surge o imperativo de (re) pensar o próprio Estado e sua configuração, algo que já ocorria no cenário internacional, em países como Nova Zelândia e Reino Unido. No mote da diminuição do papel do estado, ações que buscavam a reformulação da atividade estatal pautavam-se na diminuição da máquina pública e a contratualização dos resultados, eclodindo no movimento da New Public Management – Nova Gestão Pública. Ainda que as mesmas ações não tenham sido efetivadas no caso brasileiro, as ideias de reestruturação conquistaram espaço, reforçando ainda mais a necessidade de um perfil diferente dos recursos humanos do próprio Estado.

Um Estado altamente compartimentarizado, insulado e sem uma comunicação eficiente, inviabilizaria, por si só, uma mudança de tal envergadura (SCHNEIDER, 1991); logo, fez-se necessário a criação das carreiras estratégicas dentro das organizações, que correspondessem aos novos contornos governamentais, dentre elas, o de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental – EPPGG. A necessidade de tal iniciativa é posta claramente por Abrucio (2007), que ressalta ainda a necessidade de desenvolvimento de tais movimentos nos outros entes federados:

Diante das enormes desigualdades da federação brasileira, a União terá de ser indutora e parceira dos estados e municípios neste processo de remodelagem da burocracia. Com efeito, cabe lembrar um dos paradoxos básicos das políticas públicas no Brasil: elas são, em sua maioria, realizadas no plano local, exatamente onde as capacidades gerenciais e burocráticas são menos desenvolvidas (ABRUCIO, 2007, p. 15).

A carreira do EPPGG teria então o desafio de garantir a continuidade das políticas públicas, mesmo após as mudanças governamentais, ao passo que garantiria o atendimento das demandas cidadãs (Mota et al, 2011). Com as prerrogativas intrínsecas da carreira, o EPPGG poderia percorrer horizontalmente as diversas estruturas do Estado; dessa forma, na esfera federal, poderia articular uma melhor interação entre os ministérios. A mobilidade vertical da carreira diz respeito à possibilidade de atuação tanto no âmbito federal, estadual e municipal de governo, induzindo mudanças nas distintas esferas.

Ressalta-se que o perfil da carreira foi lastreado em experiências de alguns

países europeus que buscavam soluções para as práticas clientelistas e para o aumento da transparência na gestão pública (COELHO, 2006). Cardoso e Santos (2005), destaca que,

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A criação da Carreira dos Gestores Governamentais ocorreu, assim, num contexto de modernização do Estado brasileiro, com previsão de provimento de todos os cargos num período de quatro anos, por meio de concursos regulares de ingresso a ENAP. O modelo baseou-se em experiências de países como França, Alemanha, Inglaterra, Canadá e a Argentina que buscaram, em momentos anteriores, solução para os mesmos problemas: a descontinuidade administrativa, a interferência clientelista na gestão pública e a necessidade de conferir maior grau de transparência e qualidade técnica ao processo de formulação de políticas públicas (CARDOSO e SANTOS, 2005, p. 6).

Em 1990, foi realizado o 1º concurso para a carreira de Especialista em

Políticas Públicas e Gestão Governamental oferecido pela ENAP. Dos 103 candidatos selecionados, 91 foram nomeados após a conclusão do curso de formação em Brasília. Durante o governo Collor e Itamar Franco houve uma interrupção no projeto da Reforma Administrativa e no provimento da carreira de EPPGG e os novos concursos só foram retomados em 1995.

Neste período, ocorre o processo de descentralização e otimização do

aparato público, inegavelmente influenciado pela criação do Ministério da Administração e Reforma do Estado – MARE. Tal proposta de redesenho da engenharia institucional pública foi criada pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, através de decreto presidencial em janeiro de 1995, momento no qual se promoveu como política de Estado, a agilização, eficiência e transparência do processo de decisão política do próprio Estado.

No plano de governo do FHC constava a importância que se daria ao

fortalecimento da administração direta e à formação dos quadros dirigentes através da escola de governo – ENAP. A concretização dessas propostas foram se consolidar com apresentação do plano diretor da reforma do Estado, que entre outras medidas, apontava para a retomada da carreira de EPPGG, a valorização e a profissionalização do serviço público e o fortalecimento do nível estratégico da Administração Federal.

Em 1995, ocorreu a retomada dos concursos públicos em diversas

carreiras consideradas estratégicas e os novos servidores EPPGGs foram distribuídos em vários ministérios, especialmente nas áreas de saúde, educação, previdência social, trabalho, planejamento e administração. Até o momento foram realizados oito concursos para o nível federal, quatro durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995, 1996, 2000 e 2002) e mais quatro durante governo de Luis Inácio Lula da Silva (2003, 2005, 2008 e 2009); no ano de 2013 foi realizado o primeiro concurso do governo Dilma Rouseeff.

Excetuando os estados da Bahia e de Minas Gerais que implementaram

suas carreiras de nível estadual antes da reforma gerencial, grande parte dos estados apresentou uma trajetória muito semelhante ao da carreira na esfera federal. Devido à escassez por profissionais de elite e com capacidade de

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resolução de problemas a partir de uma visão ampla e sistêmica, fomentou-se um movimento em prol da profissionalização das carreiras de EPPGG nos níveis estaduais e mais recentemente nos governos municipais – foco deste estudo.

Atualmente, a abrangência da carreira, para além do cargo federal, se

estende por diversos Estados e municípios, conforme pode ser observado pela figura 1.

Figura 1: Abrangência das carreiras nos estados e municípios

Fonte: Elaborado pelos autores.

3 A carreira nos municípios A partir da metodologia descrita, são listados na tabela 1 vinte e dois

municípios encontrados que possuem carreiras de EPPGG e seus análogos; cabe frisar que algumas municipalidades mesmo nominando o respectivo cargo de EPPGG e afins não foram contemplados nos casos mais aprofundados devido à falta de informações para elaboração das análises. Ademais, concursos como o de Analista de Políticas Públicas em Belo Horizonte-MG, Gestor Público em Penedo-AL, Administrador Público em Candido Abreu-PR e Analista de Gestão Pública em Guararema-SP não entraram nas listagens, tampouco nas análises, devido ao fato de que apesar da nomenclatura ser de EPPGG e afins, na prática esses editais não se coadunam com o movimento gerencial, tal qual se debruçou este trabalho. Nesses concursos foram exigidos bacharéis específicos contemplando, por exemplo, economistas, profissionais do direito,

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administradores e até bacharéis em educação física, como no caso de Belo Horizonte.

Portanto, os dez municípios selecionados para análise aprofundada são: Camaçari-BA, Cuiabá-MT, Fraiburgo-SC, Itaguari-GO, Petrópolis-RJ, São Carlos-SP, São Gonçalo-RJ, São José dos Campos-SP Sorocaba-SP e Vila Velha-ES.

Tabela 1 – Municípios que Possuem a Carreira com Nomenclatura de EPPGG e Afins

Cargo Municípios Estado

Gestor Administrativo Sorocaba SP

Gestor Público Municipal S. J. dos Campos SP

Gestor Público São Carlos SP

Analista de Gestão Municipal Leme SP

Analista de Gestão Pública Guararema SP

Gestor de Políticas Públicas Camaçari BA

Especialista em Gestão Pública Vila Velha ES

Gestor Municipal Cuiabá MT

Gestor Municipal Várzea Grande MT

Gestor Público Rio Largo AL

Gestor Público Penedo AL

Gestor Público Fraiburgo SC

Analista de Políticas Públicas Belo Horizonte MG

Analista de Gestão Pública São Gonçalo RJ

Gestor de Políticas Públicas Petrópolis RJ

Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental Itabaiana SE

Administrador Público Estância SE

Administrador Público Candido Abreu PR

Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental N. C. Carajás PA

Gestor Público Porto Nacional TO

Especialista em Políticas Públicas e Gestão Municipal Natal RN

Gestor Administrativo Itaguari GO

Fonte: Elaborado pelos autores.

A tabela 2 demonstra que os municípios analisados possuem realidades

distintas, dados que dialogam com os referenciais teóricos, nos quais há a clara evidência da importância estratégica do cargo, independente das características de cada ente.

Tabela 2 – Dados e dimensões dos municípios analisados

Município Área – km² População – habitantes

PIB (R$) Receitas

orçamentárias (R$)

Camaçari – BA 174, 655 242.970 12. 158 915 000 557.585.033,38

Cuiabá – MT 3.362,76 551.098 9. 816 819 852.560.539,44

Fraiburgo – SC 546, 254 34.553 505. 607 000 56.077. 452,53

Itaguari – GO 146, 638 4.513 37. 283 000 8. 378 147,89

Petrópolis – RJ 795, 798 295.917 5. 831 205 000 546.530.716,44

São Carlos – SP 1.137,30 221.950 4. 523 693 000 453.801.697,08

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São Gonçalo – RJ 247, 709 999.728 9. 615 568 000 689.456.142,17

São José dos Campos – SP 1. 099,77 629.921 22. 018 043 000 1.524.571.983,29

Sorocaba – SP 448, 989 586.625 14. 182 597 000 1.273.029.412,72

Vila Velha – ES 228, 392 313.586 6. 041 447 000 561.349.463,34

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IBGE, 2010.

Camaçari – BA

O cargo de Gestor de Políticas Públicas foi criado pela lei n° 874 de 04 de abril de 2008 para 20 vagas e com carga horária de 30 horas semanais – diferente dos outros cargos analisados, que possuem carga horária de 40 horas semanais.

O requisito exigido para investidura no cargo é a formação em ensino superior e registro no conselho regional quando exigido em legislação federal. O prefeito responsável tanto da instituição do cargo como da realização do primeiro concurso foi Luiz Carlos Caetano (PT). A carreira conta com plano de carreira, composta por níveis de progressão. O primeiro e único concurso para provimento das vagas foi realizado em 2010 para 5 vagas sendo 4 de ampla concorrência e 1 para portadores de deficiência. Na época, o salário inicial era de R$ 1.367,93 com requisito de investidura no cargo o ensino superior, registro no conselho regional respectivo ou no órgão que regulamenta o exercício da profissão. É interessante frisar que dentre os municípios analisados Camaçari é o único que exigiu o registro no conselho regional que regulamenta a profissão.

Dentre as atribuições do cargo estão desempenhar atividades que

envolvam o planejamento e avaliação de políticas públicas, assessoramento e gestão administrativa no âmbito da administração pública municipal entre outras:

Identificar, analisar, otimizar e avaliar processos de trabalho; Desenvolver, implementar, acompanhar e avaliar o planejamento

estratégico tático-operacional do município; Realizar estudos, pesquisas, levantamentos e análise de dados bem

como proposição e antecipação de soluções; Desenvolver, implementar, coordenar e acompanhar projetos

especializados; Coordenar equipes de trabalho visando à operacionalização de

processos administrativos ou técnicos e de programas e projetos especiais;

Conduzir processos de negociação interna ou externa à administração pública municipal bem como participar dessas atividades;

Gerir recursos humanos, materiais, financeiros, técnicos e organizacionais sob sua responsabilidade;

Articular ou negociar apoios, parcerias e de outros recursos necessários à implementação de projetos.

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Cuiabá – MT

O cargo de Gestor Municipal foi criado pelo prefeito Wilson Pereira dos Santos (PSDB) em 2007 pela lei nº 4.961 de 29 de março de 2007, com jornada de trabalho de 40 horas semanais e 30 vagas.

As atribuições do cargo são: Executar atividades de planejamento, formulação, implementação e avaliação de políticas públicas. O concurso para contratação foi realizado em 14 de dezembro de 2007. O requisito foi diploma de graduação em nível superior em qualquer área de conhecimento, devidamente registrado.

O cargo conta com plano de carreira e, para além do salário inicial de R$

3.500,00, com gratificação de desempenho da área estratégica, cujos critérios não foram disponibilizados. Fraiburgo – SC

A carreira de Gestor Público Municipal que foi criada por meio da lei complementar n°110 de 03 de março de 2010 pelo prefeito Nelmar Pinz (PMDB). Essa mesma lei também dispõe sobre o plano de cargos e carreiras do poder executivo municipal. Foram criadas 12 vagas sendo que 11 destas vagas são destinadas ao poder executivo e 1 vaga ao Senefrai, autarquia municipal responsável pelo saneamento.

Como requisito para investidura no cargo é pedido ao candidato diploma ou certificado de conclusão de curso superior de Ciências Contábeis, Economia, Administração de Empresas, Direito, Tecnologia em Recursos Humanos, Gestão Pública ou curso de pós graduação em nível de especialização em Gestão Pública. Destaca-se que a lei de criação da carreira expressa sua missão que é planejar, organizar, liberar, inovar e controlar a administração pública. Busca-se, portanto, a constante melhoria da eficiência das políticas públicas em favor do interesse público. Frisa-se que o estado de Santa Catarina não possui ainda a carreira em questão. Dentre as atribuições do cargo estão:

Melhoria constante do atendimento às necessidades dos cidadãos nas diversas áreas de atuação do município;

Racionalizar a utilização e melhorar os ambientes de trabalho e os recursos naturais e materiais postos à disposição dos servidores públicos municipais;

Valorizar, treinar e requalificar o servidor público municipal; Modernizar e ampliar os sistemas de tecnologia de informação e

estatísticos;

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Definição de novas estratégias para o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico do município.

A carreira possui 16 níveis de vencimentos em que é possível a progressão na carreira mediante uma avaliação funcional com atribuição de pontos e períodos mínimos de estabilidade em cada nível; o salário inicial é de R$ 2.800,00. Itaguari – GO

O cargo de Gestor Administrativo foi criado por meio da lei municipal n° 0184 de 07 de abril de 2010 pelo prefeito Ronivon Braz Gontijo (PP). A referida lei criou 2 vagas com vencimento de R$2.000,00 com carga horária semanal de 40 horas. Como requisito para investidura no cargo, a lei propõe o diploma em curso superior com habilitação legal específica na área. O cargo é para lotação na secretaria municipal de administração.

A atribuição do cargo prevista em lei se refere ao exercício de todas as atividades administrativas e logísticas relativas ao exercício das competências constitucionais e legais do cargo da secretaria de administração, secretaria de finanças, recursos humanos e controle interno. Logo, fazendo uso de todos os equipamentos e recurso disponíveis para a consecução dessas atividades.

O primeiro concurso público para provimentos do cargo se deu em

setembro de 2010 com 2 vagas previstas no edital. Não foi encontrado plano de carreira para os servidores do município e tampouco se os aprovados neste concurso foram contratados; a prefeitura não dispõe de site, não respondeu aos emails enviados e o contato telefônico foi bastante precário. Petrópolis – RJ

O cargo de Gestor de Políticas Públicas foi criado pelo município de Petrópolis em 1995 pelo prefeito Sérgio Fadel (PDT). Tal lei dispunha sobre o plano de cargos, carreiras e salários dos funcionários da administração direta do município de Petrópolis transformando e reorganizando classes de cargos e grupos ocupacionais. Na época, já existia o cargo de Administrador cujo requisito para investidura era possuir curso superior em administração. Logo, a lei em questão transforma o cargo de Administrador para um novo formato, o de Gestor de Políticas Públicas. Nos novos moldes é exigido curso superior em qualquer área.

A descrição do cargo na referida lei compreende os cargos cujas atribuições se destinam a pesquisas e análises organizacionais; planejar, implementar medidas de racionalização de processos e métodos de trabalho sempre objetivando a otimização de desempenho da administração geral e

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específica. No entanto, não foi encontrado edital de concurso público para preenchimento dos cargos nessa época.

Já em 2000, uma nova lei é publicada pelo então prefeito Leandro José

Mendes Sampaio Fernandes (PPS). A lei municipal nº 5.609 em 02 de maio alterava a descrição do cargo de Gestor de Políticas Públicas. Desta forma, transforma os requisitos de investidura no cargo que era de nível superior em qualquer área para o de 2 º grau completo. Entretanto, em 2005 uma nova lei municipal volta a alterar os requisitos para o referido cargo, voltando o requisito para nível superior em Administração.

Em 2011, mais uma mudança ocorre. Por meio de lei municipal, o prefeito

Paulo Roberto Mustrangi de Oliveira (PT), alterar o requisito de investidura no cargo de superior completo em administração para superior completo em qualquer área. Dentre as atribuições do cargo previstas em lei estão:

Apoiar tecnicamente projetos e atividades desenvolvidas em quaisquer

unidades organizacionais, planejando, programando, coordenando, controlando, avaliando resultados e informando decisões para aperfeiçoar a qualidade do processo gerencial da prefeitura;

Participar da análise e acompanhamento do orçamento de sua execução físico-financeira efetuando comparações entre as metas programadas e os resultados atingidos. Desenvolver e aplicar critérios, normas e instrumentos de avaliação;

Propor, executar e supervisionar análises e estudos técnicos, realizando pesquisas, entrevistas, observação local, utilizando organogramas, fluxogramas e outros recursos para implantação e aperfeiçoamento de sistema, métodos, instrumentos, rotinas, e procedimentos administrativos;

Elaborar, rever, implantar e avaliar regularmente instruções, formulários e manuais de procedimento, coletando e analisando informações para racionalização e atualização de normas e procedimentos;

Elaborar critérios e normas de padronização, especificação, compra, guarda, estocagem, controle e alienação, baseando-se em levantamentos e estudos para a correta administração do sistema de materiais;

Participar das atividades de treinamento e aperfeiçoamento de pessoal técnico. Auxiliar na realização de treinamento em serviço ou ministrar aulas e palestras a fim de contribuir para o desenvolvimento qualitativo dos recursos humanos em sua área de atuação;

Participar de grupos de trabalho e/ou reuniões com unidades da prefeitura e outras entidades públicas e particulares.

O cargo conta com progressão de carreira, conforme níveis estabelecidos,

e possui remuneração inicial de R$ 1.438,37.

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São Carlos – SP

O cargo de Gestor Público Municipal foi criado em 2008, pelo prefeito Newton Lima Neto (PT); atualmente possui vencimento inicial no valor de R$ 3.400,00. Como requisito de investidura no cargo pediu-se curso completo de graduação em qualquer área. Dentre as atribuições do cargo previstas em lei, estão:

Desenvolvimento, implementação, acompanhamento e avaliação de planejamento estratégico, tático e operacional; Realização de estudos, pesquisas, levantamentos e análise de dados, bem como proposição e antecipação de soluções; Desenvolvimento, implementação, coordenação e acompanhamento de projetos especializados;

Coordenação de equipes de trabalho visando à operacionalização de processos administrativos ou técnicos e de programas e projetos especiais; Condução de processos de negociação interna ou externa à administração pública, bem como participação nessas atividades; Gestão de recursos humanos, materiais, financeiros, técnicos e organizacionais sob sua responsabilidade; Articulação ou negociação de apoios, parcerias e de outros recursos necessários à implementação de projetos; Identificação de fontes de financiamento ou de investimento, bem como captação de recursos financeiros, tecnológicos e outros necessários.

Em 2012, por meio da lei municipal n° 16000 de 23 de fevereiro, é criado o

plano de carreira e salários dos servidores públicos da administração direta e indireta da cidade, onde se inclui também as condições de progressão na carreira de Gestor Público Municipal. Essa conquista dos servidores da cidade foi criada pelo prefeito Oswaldo B. Duarte Filho também do PT. O emprego tem plano de carreira de progressão horizontal e vertical, com um sistema de evolução em intervalos de doze meses e passagens de níveis de acordo com o desempenho e qualificação do servidor. São Gonçalo – SP

O cargo de Analista em Gestão Pública foi em 2011, sancionado pela prefeita Maria Aparecida Panisset (PDT), ocupante do cargo por duas legislaturas. O requisito para o cargo é o diploma em qualquer curso de graduação reconhecido pelo MEC. Foram criadas 60 vagas e o salário inicial de R$ 1.200,00 podendo ser acréscimos em até 150% conforme plano de carreira definido em lei específica. No entanto ainda não existe lei com o respectivo plano de carreira.

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O edital do primeiro concurso foi publicado em fevereiro de 2011 com 60 vagas abertas e 6 para portadores de deficiência; segundo as atribuições do cargo constantes no edital, está a realização de atividades de nível superior que envolva a promoção da gestão estratégica de pessoas, de processos, de recursos materiais, patrimoniais, de licitações e contratos, orçamento, finanças e contabilidade; o planejamento, desenvolvimento, execução, acompanhamento e avaliação de planos, programas e projetos, inclusive voltados à modernização e à qualidade. São José dos Campos – SP

O cargo de Gestor Público Municipal foi criado em 2011, com a previsão de 17 cargos, pelo então prefeito Eduardo Pedrosa Cury (PSDB). Um mês após a instituição do cargo, é criada a lei complementar nº 453, de 08/12/2011 que dispunha sobre o Plano de Cargos, Carreira e Vencimento dos Servidores Municipais de São José dos Campos – PCCV. O PCCV também aumentou a quantidade de cargos na carreira de 17 para 25.

A progressão na carreira se dá com 6 níveis em que é preciso cumprir uma série de condições para progressão; além disso, em alguns níveis, há um número máximo de funcionários que podem ocupar determinado nível, impedindo a progressão de todos no mesmo período. O salário inicial é de R$ 6.797,72, conforme último concurso realizado em 2012. Dentre as atribuições do cargo de Gestor Público Municipal estão:

Coordenar ou exercer atividades de formulação, implementação,

aperfeiçoamento e avaliação de políticas públicas, planos, projetos e serviços;

Realizar estudos, pesquisas, análises de cenário e análises de projetos ou serviços existentes;

Coordenar atividades de elaboração, acompanhamento e revisão de planejamento geral de ações e de planejamento orçamentário;

Realizar estudos orçamentários e financeiros de projetos; Criar e analisar projetos de captação e de aplicação de recursos do

País ou do exterior em áreas de interesse do Município; Exercer atividades de assessoramento, direção, coordenação,

planejamento, execução e avaliação em todas as áreas das várias Secretarias, quando requisitado.

Sorocaba – SP

Com a denominação de Gestor Administrativo o cargo foi criado em 2007, prevendo 50 vagas, e direcionados somente à administração direta. O prefeito na época da criação da lei era Vitor Lippi (PSDB), eleito em 2005 e reeleito em 2009. O salário da época de criação do cargo era de R$ 1.854,36, podendo chegar até

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R$ 2.299,38 na progressão da carreira; um sistema de pontuação permite a promoção automática na carreira. Dentre as atribuições do cargo estão:

Desenvolver atividades de controle interno/externo incluindo auditorias

e análise de processos, apresentar pareceres em situações que exijam conhecimento de natureza administrativa e organizacional;

Auxiliar na implantação de programas e projetos na sua área de atuação;

Promover estudos de racionalização e controle; Coordenar equipe de trabalho afeta à sua área de atuação. Até o momento desta pesquisa quatro gestores exercem funções deste

cargo, sendo que todos estão lotados na Secretaria de Finanças. É importante salientar que o município de Sorocaba-SP mostra um diferencial inovador por ter criado em 2009 a Escola de Gestão Pública “Dr. José Caetano Graziosi” (EGP). Tal escola se constitui num núcleo de treinamento especialmente construído para capacitar os servidores do município.

Vila Velha – ES

O cargo de especialista em Gestão Pública foi criado em 2007, na gestão do prefeito Max Mauro Filho (PTB), com atribuições relacionadas à formulação, implementação e avaliação de políticas públicas; com essas funções o cargo tem finalidade de fortalecer estrategicamente o município. No mesmo ano, foi instituída a promoção e progressão do cargo, com sistema de avaliação dos servidores baseada em formulários de avaliação com fatores de desempenho e seus respectivos pesos estabelecidos em lei.

Os profissionais do cargo são lotados na secretaria municipal de administração, podendo ser designados para exercer suas atribuições em outras unidades administrativas do município. A designação será efetivada por ato do chefe do poder executivo para atender a necessidades específicas. O primeiro concurso se deu com o edital de 18 de dezembro de 2007 e os requisitos para investidura foi diploma devidamente registrado de conclusão de curso de nível superior em qualquer área de formação, fornecido por instituição de ensino superior reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e registro no conselho profissional correspondente, quando houver. Entre as atribuições do cargo constantes no edital estavam: participar do estabelecimento e do controle das metas de comprometimento do governo municipal expressas no plano plurianual, na lei de diretrizes orçamentárias, na lei de orçamento anual e em outros instrumentos de planejamento adotados pela administração. O salário inicial é de R$ 3.500,00.

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3.1 Principais características das carreiras municipais

O detalhamento das carreiras municipais dos dez municípios permite a comparação de alguns elementos, revelando algumas características peculiares a tais cargos; vale ressaltar que, apesar da pré-seleção para que fossem apurados os dados daqueles municípios com maior volume de informações disponíveis eletronicamente, as dificuldades no tratamento de tais dados e confirmação de determinadas informações merece destaque negativo, evidenciando a necessidade da maior transparência em relação ao funcionalismo público por parte dos órgãos governamentais.

Com base nos dados coletados das dez carreiras analisadas, por meio das atribuições dos cargos é possível constatar a preocupação da maior parte dos municípios em alocar os ingressantes nas carreiras em funções estratégicas do governo. É perceptível também que as funções são diversas e variadas, indicando uma carreira ampla, não estrita a determinadas atribuições.

Apesar das disparidades salariais entre os casos analisados, as

progressões na carreira indicam a percepção de que devem existir mecanismos de promover o desenvolvimento profissional, assegurando também a estabilidade e continuidade dos servidores nas funções assumidas. Destaca-se que apenas dois municípios não implementaram leis que regulamentam os planos de carreira, conforme tabela 3.

Tabela 3 – Dados e dimensões dos municípios analisados

Município Ano de criação

Prefeito e partido político

Salário inicial (R$)

Salário final (R$)

Plano de carreira

Camaçari – BA 2008 Luiz Carlos

Caetano (PT) 1.367,93 3.069,98

Avaliação de desempenho funcional

Cuiabá – MT 2007 Wilson Pereira dos

Santos (PSDB) 3.500,00 6.825,00

Avaliação de desempenho funcional

Fraiburgo – SC 2010 Nelmar Pinz

(PMDB) 2.800,00 3.918,03

Avaliação de desempenho funcional

Itaguari – GO 2010 Ronivon Braz Gontijo (PP)

2.000,00 2.000,00 Não há legislação

Petrópolis – RJ 1995 Sérgio Fadel (PDT) 1.438,37 1.820,84 Avaliação de desempenho

funcional

São Carlos – SP 2008 Newton Lima Neto

(PT) 3.400,00 5.619,59

Avaliação de desempenho funcional

São Gonçalo – RJ 2011 Maria Aparecida Passinet (PDT)

1.200,00 4.200 Não há legislação

São José dos Campos – SP

2011 Eduardo Pedrosa

Cury (PSDB) 6.797,72 13.622,35

Avaliação de desempenho funcional

Sorocaba – SP 2007 Vitor Lippi (PSDB) 1.854,36 2.299,38 Avaliação de desempenho

funcional

Vila Velha – ES 2007 Max Mauro Filho

(PTB) 3.500,00 5.228,75

Avaliação de desempenho funcional

Fonte: Elaborado pelos autores.

Além disso, a majoritária não definição de quais cursos superiores devem

ser exigidos revela a dissociação entre profissão e ocupação nestas carreiras, de

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maneira a abranger qualquer profissional com formação superior, independente da aderência direta com as funções públicas que serão exercidas.

Por fim, cabe destacar que, para os dados analisados, não há a clara influencia direta do partido político do governante para a formação de carreiras deste tipo; ou seja, há indícios de que o processo de transformação do Estado brasileiro é assimilado e compreendido nas esferas municipais, independente de preferências partidárias, exigindo assim a adequação dos quadros administrativos.

4 À guisa da conclusão: a tendência de carreiras de EPPGG e afins Os processos de mudanças administrativas e institucionais não são

marcados, exclusivamente, pelas transformações recentes, tendo em vista as diversas ações durante as últimas décadas; entretanto, alguns marcos recentes – frutos também do processo incremental de mudança – são fundamentais para a compreensão do movimento de criação de carreiras estratégicas. A Constituição Federal de 1988, ao atribuir claramente novas exigências à administração pública, e a reorganização administrativa de 1995, com mudanças estruturais e conceituais, culminam na valorização de profissionais alocados estrategicamente, com funções específicas e especializadas. Dessa maneira, o préstimo atribuído aos EPPGGs da carreira federal, criada em 1989, é aumentado, gerando a abertura de novos concursos nos anos seguintes. Neste mesmo sentido, os estados percebem a necessidade de profissionais com as mesmas características, iniciando movimentos para instituição de carreiras similares, conforme aponta o levantamento de Mota et al (2011). Passadas as primeiras experiências, nas carreiras da união e dos estados, os municípios iniciam o processo de implementação de carreiras similares, seguindo a tendência do cenário nacional, ao passo que se atenta para a necessidade de funções específicas para aprimoramento da máquina governamental. Conseguinte, pelo levantamento realizado é possível perceber não o mimetismo na formulação dos cargos e atribuições, mas sim características alinhadas às necessidades locais; ao mesmo tempo, percebe-se a amplitude dessas funções, com atribuições variadas e distintas, evidenciando a necessidade de profissionais que possam exercer diversos papéis dentro das organizações públicas. Neste ponto fica evidente que cada município busca adequar a carreira estratégica às suas necessidades, atribuindo maior ou menor autonomia, por exemplo. Destarte, a dissociação entre profissão e ocupação acaba sendo a estratégia para atração de profissionais, bem como a progressão na carreira, destacada na maior parte dos casos. Entretanto, fica como ponto passível de análise a melhor investigação sobre quais foram as circunstâncias que motivaram

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as municipalidades a adotarem um desenho de carreira com o perfil generalista de acepção do cargo em contrapartida ao tradicional regime de contratação calcado na relação tradicional de profissões. Por fim, percebe-se que no nível municipal a criação das carreiras ganha força após o ano de 2010, sugerindo-se assim que estudos futuros analisem sobre quais circunstâncias foram criadas e os elementos motivadores que propulsionaram tal tendência no período recente, partindo como pressuposto o êxito no caso federal e as também as iniciativas estaduais. Referências Bibliográficas ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico ea renovação da agenda de reformas. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 41, 2007. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma do Estado dos anos 90: lógica e mecanismos de controle. MARE, Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, 1997. CAMAÇARI. Prefeitura Municipal. Lei ordinária nº 874 de 04 de abril de 2008 - Institui o Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos dos Servidores Públicos do Quadro de Provimento Efetivo da Administração Direta do Município de Camaçari e dá outras providências. Disponível em <http://www.camacari.ba.gov.br/pccv.php>. Acesso em: 26 de julho de 2013. CARDOSO, Regina Luna Santos; SANTOS, Luiz Alberto dos. Carreiras de executivos públicos e o ciclo de políticas públicas: a experiência dos gestores governamentais no Governo Federal do Brasil. In: V Congresso Internacional do CLAD. Santo Domingo, 2000. COELHO, Fernando de Souza. Educação superior, formação de administradores e setor público: um estudo sobre o ensino de administração pública – em nível de graduação – no Brasil. Departamento de Administração Pública da Escola de Administração de São Paulo. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2006. Tese de Doutorado em Administração Pública e Governo. COUTINHO, Frederico de Moraes Andrade; BERNARDO, Renata Anício. Carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental–EPPGG–como instrumento transformador da realidade estatal: A experiência de Minas Gerais. In: III Congresso Consad de Gestão Pública, Brasília. 2010. FERRAREZI, Elisabete; ZIMBRÃO, Adélia. Formação de carreiras para a gestão pública contemporânea: o caso dos especialistas em políticas públicas e gestão governamental. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 57, n. 1, p. 63-86, 2005. FRAIBURGO, Prefeitura Municipal. Lei complementar n°110 de 03 de março de 2010 - Dispõe sobre o Plano de Cargos e Carreiras do Poder Executivo, Autarquias e Fundações do Município de Fraiburgo, institui novos padrões de vencimento, estabelece normas gerais de enquadramento e dá outras providências. Disponível em < http://www.camarafraiburgo.sc.gov.br >. Acesso em: 26 de julho de 2013. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2008. IBGE CIDADES. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/1>. Acesso em: 22 de abril de 2012.

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