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Maria do Rosário Pedreira Flying Lotus Kelly Reichardt NICOLAS GUERIN/CORBIS ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7365 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Sexta-feira 4 Junho 2010 www.ipsilon.pt “Eram os anos 80” na Cinemateca O que fizemos nós para ainda estarmos aqui?

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Maria do Rosário Pedreira Flying Lotus Kelly Reichardt

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“Eram os anos 80” na Cinemateca

O que fi zemos nós para ainda estarmos aqui?

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280 FESTIVAL

26 MAIO QUARTA 21H30 Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

EUROPA GALANTEFABIO BIONDI MAESTRO

A teatralidade barroca imortalizada pela música dos compositores /violinistas italianos

28 MAIOSEXTA 21H30Teatro José Lúcio da Silva / Leiria ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESAPEDRO CARNEIRO MAESTROPEDRO LOPES VIOLINOHUGO DIOGO VIOLALUÍS ANDRÉ FERREIRA VIOLONCELODAVID COSTA OBOÉROBERTO ERCULIANI FAGOTE

Convenção e Contemporaneidade

01 JUNHO TERÇA 11H00 E 15H30Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

O JAZZ VAI À ESCOLAJOSÉ MENEZES DIRECÇ. E SAXOFONEGONÇALO MARQUES TROMPETEJORGE GONÇALVES GUITARRAPEDRO PINTO CONTRABAIXOJOÃO RIJO BATERIA

Uma fantástica viagem ao Mundo do Jazz para o público juvenil e familiar

02 JUNHOQUARTA 21H30Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

ORQUESTRA GULBENKIANPEDRO NEVES MAESTRO

Obras de Alexandre Delgado e Joseph Haydn

8 JUNHOTERÇA 21H30Teatro Miguel Franco / Leiria

ANA MARIA PINTO SOPRANO NUNO VIEIRA DE ALMEIDAPIANO

Evolução / Contrastes – um recital comentado

13 JUNHODOMINGO 21H30 Igreja do Convento da Portela, (Franciscanos) / Leiria

CORO DO ORFEÃO DE LEIRIAPEDRO MIGUEL DIRECÇÃO

Na tradição vocal portuguesa

14 JUNHOSEGUNDA 21H30Teatro Miguel Franco / Leiria

15 JUNHOTERÇA 21H30Teatro Cine de Pombal / Pombal

VERA DIAS FAGOTE

CRISTINA ÁNCHEL FLAUTA

PEDRO RIBEIRO OBOÉ

ESTHER GEORGIE CLARINETE

JONATHAN LUXTON TROMPA

Música francesa para sopros no início do século XX

19 JUNHOSÁBADO 21H30Mosteiro de Santa Maria da Vitória/ Batalha

LA VENEXIANACLAUDIO CAVINA DIRECÇÃOROBERTA MAMELI SOPRANORENATA SPOTTI VIOLINOEFIX PULEO VIOLINOLUCA MORETTI VIOLATAKASHI KAKETA VIOLONCELOALBERTO LO GATTO VIOLONEFULVIO GARLASCHI TIORBAMARTA GRAZIOLINO HARPADAVIDE POZZI CÍMBALO

A arte de Claudio Monteverdi

20 JUNHODOMINGO 21H30Igreja de São Francisco / Leiria

CORO GULBENKIANMICHEL CORBOZ MAESTROSÓNIA GRANÉ SOPRANOCÁTIA MORESO MEIO-SOPRANOMÁRIO ALVES TENORLUÍS RODRIGUES BARÍTONOSIMON SAVOY PIANONICHOLAS MCNAIR ÓRGÃO

A religiosidade operática de Rossini

22 JUNHOTERÇA 21H30Teatro Miguel Franco / Leiria

PEDRO GOMESPIANO

Obras de Beethoven, Chopin e Prokofiev

25 JUNHOSEXTA 21H30Cine Teatro da Batalha/ Batalha

26 JUNHOSÁBADO 21H30Auditório do Museu do Vidro/ Marinha Grande

QUARTETOBLANCObras de Mozart, Webern e Chostakovitch

27 JUNHODOMINGO 21H30Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

TALK SHOWATÉ SE APAGAR O CORPO

Coreografia de Rui Horta para quatro intérpretes e duas colunas de som

4 JULHODOMINGO 21H30 Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

ORQUESTRAFILARMONIADAS BEIRASSTEPHEN COKER MAESTROJOÃO MOREIRA CLARINETE

Americanos e Europeus dos séculos XIX e XX

PROGRAMA SUJEITO A ALTERAÇÕESRESERVA DE BILHETESNo Orfeão de Leiria a partir de 19 MaioVENDA DE BILHETES Espectáculos no Teatro José Lúcio da Silva: a partir de 19 Maio na bilheteira daquele Teatro / Restantes espectáculos: no local do espectáculo, uma hora antes do início. ORGANIZAÇÃOOrfeão de Leiria Conservatório de Artes Av. 25 de Abril, 2400-265 Leiria T 244829550 / 938238700 / F 244829551 [email protected] www.orfeaodeleiria.com

26 MAIOA 4 JULHO2010

Patrocínios Institucionais Patrocínios Empresariais Jornal Oficial

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 3

Banderas “meets” Almodóvar (e é como se nunca se tivessem separado)

Os filmes de Pedro Almodóvar com Antonio Banderas, nos anos 80, foram o inicio de uma bela amizade - e de uma carreira internacional de sucesso, para os dois. Sem Antonio Banderas e Pedro Almodóvar, o cinema espanhol não seria o mesmo. Agora, vão voltar a estar juntos: o novo filme de Almodóvar “starring” Banderas chamar-se-á “La Piel que Habito”, disse o actor ao “El País”. É um projecto que está na gaveta há dez anos: Almodóvar já escreveu e reescreveu nove vezes o guião, baseado em “Tarantula”, livro de Thierry Jonquet. Banderas será um cirurgião plástico que quer vingar a violação da filha, e que não olha a meios para atingir os seus fins. Terror. “Mas sem gritos ou sustos. É difícil de definir e embora se aproxime do género – algo que me interessa porque nunca fiz – não vou respeitar nenhuma das suas regras. É o filme mais duro que já escrevi e a personagem de Banderas é brutal”, vai avançando o cineasta. A rodagem começa a 9 de Agosto, em Espanha. O filme será produzido pela El Deseo, de Almodóvar, e terá figurinos da responsabilidade de Jean Paul Gaultier, que já trabalhou com o cineasta espanhol em “Kika”.Apesar dos dez anos de diferença, o percurso de Almodóvar e Banderas é semelhante. Nasceram em terras pequenas (Banderas em Málaga e Almodóvar em Calzada de Calatrava) e foram para Madrid realizar os seus sonhos. Ali trabalharam juntos em cinco filmes, mas isso foi nos anos 80. Depois, seguiram separados. O actor tentou a sorte em Hollywood e o realizador fez os filmes que lhe deram o reconhecimento internacional. E assim se passaram 20 anos. Continuaram amigos, mas não voltaram a trabalhar juntos. Até ao mês passado. Banderas, diz

O escultor, fotógrafo e performer norte-americano Bruce Nauman é a principal atracção de uma programação de peso pensada para a inauguração de um singular espaço de exposições em Lisboa, no próximo dia 17 de Junho. Mas ninguém vai vê-lo, a não ser a artista plástica Luísa Cunha, que com ele criou “Uma performance e uma conversa”. Ninguém vai vê-lo porque a performance (um “work-in-progress” iniciado a 20 de Março) implica que, quando chegar ao aeroporto de Lisboa, Nauman seja metido num contentor e transportado sem que ninguém o veja para o tal espaço singular nas Docas de Lisboa – quatro outros contentores restaurados, pintados de cinzento e colocados sob a grande pala que existe há vários anos debaixo da Ponte 25 de Abril, pela Associação de Desenvolvimento Criativo e Artístico P28.E isto é só o começo. As exposições vão suceder-se até ao fim do ano e todas dentro ou fora dos

contentores. Depois de Luísa Cunha, que também convida o artista Fernando Ribeiro (17 de Junho a 17 de Julho), haverá a dupla de designers R2 Design, Lizá Defossez Ramalho e Artur Rebelo (24 de Julho a 28 de Agosto), Susanne Themlitz (2 de Setembro a 2 de Outubro), Pedro Cabrita Reis (14 de Outubro a 31 de Outubro) e, para terminar, José Pedro Croft (12 de

Novembro a 31 de

Dezembro).“Os contentores, além de serem um suporte artístico alternativo, são por si um objecto artístico, pela forma como foram colocados”, realça Bruno Malveira, responsável da comunicação da P28. Como suporte para os projectos dos artistas, os contentores serão o que estes quiserem. Na maioria dos casos, será na parte exterior dos contentores que os artistas vão desenvolver os seus projectos. Na performance de inauguração, Luísa Cunha e Bruce Nauman estarão dentro, mas será preciso estar fora para perceber como vai desenrolar-se a conversa lá dentro.A ideia da Associação P28 é promover a arte pública, apostar num serviço cultural gratuito e fazer chegar a arte ao maior número de pessoas possível, promovendo o cruzamento, e mesmo a justaposição, dos espaços da cidade onde as pessoas se movem e dos espaços artísticos, para que o público se aproxime dos criadores de forma inesperada e natural. E, para fazer do espaço de arte também um espaço de passeio e lazer, ao lado dos contentores serão colocados os jardins redondos de oliveiras que até aqui têm estado junto à Praça do Comércio.O projecto dos contentores, que foram cedidos por uma empresa, teve o apoio da Administração do Porto de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa, servindo também para dinamizar uma zona da cidade pouco utilizada, diz Bruno Malveira, e para continuar a ideia de reabilitação subjacente a muito do trabalho da P28. Ana Dias Cordeiro

Bruce Nauman num contentor em Lisboa

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SumárioAnos 80 6Quando o cinema começou a deixar de existir

Kelly Reichardt 14Filma a América no tempo de Bush

Mª do Rosário Pedreira 16Na Leya, a reconstruir a literatura nacional

Lars Kepler 20O segredo mais bem guardado do policial sueco

Flying Lotus 26“Cosmogramma”, uma ópera espacial

Primavera Sound 28O mundo indie reunido em Barcelona

Toshiki Okada 34Um japonês em casa no Alkantara

Directora Bárbara ReisEditor Vasco Câmara, Inês Nadais (adjunta)Conselho editorial Isabel Coutinho, Óscar Faria, Cristina Fernandes, Vítor Belanciano Design Mark Porter, Simon Esterson, Kuchar SwaraDirectora de arte Sónia MatosDesigners Ana Carvalho, Carla Noronha, Mariana SoaresEditor de fotografi a Miguel MadeiraE-mail: [email protected]

Ficha Técnica

Banderas vai protagonizar o primeiro fi lme de terror de Almodóvar

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A passagem de Bruce Nauman será invisível a olho nu: o artista será enfi ado num contentor à chegada ao aeroporto

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4 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

of May” (uma edição limitada dos singles foi despachada para lojas de discos independentes), ver algum do trabalho gráfico do novo álbum (incluindo uma fotografia antiga dos subúrbios de Houston), e ainda ler a letra da canção que dá o nome ao disco (e brincar com ela...).

Paraty ao som de Lou ReedO músico Lou Reed, os escritores Salman Rushdie, Antonio Tabucchi e Isabel Allende, o cartoonista Robert Crumb, os historiadores Robert Darnton e Peter Burke e o crítico literário Terry Eagleton são as principais atracções da 8ª edição da Flip - Festa Literária Internacional de Paraty, que vai decorrer de 4 a 8 de Agosto no Brasil. Este ano, aquela que é a maior festa literária brasileira não terá nenhum convidado português, depois de por lá já terem passado António Lobo Antunes, Miguel Sousa Tavares, Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto.Lou Reed não vai cantar - estará na 8ª Flip a propósito da edição no Brasil de “Atravessar o Fogo”, obra que reúne 310 canções do norte-americano. O livro chega às livrarias em Julho e Lou Reed conversará no festival com o escritor e jornalista Arthur Dapieve sobre “os limites entre arte e contestação, letra e poesia, alta cultura e rock’n’roll”.O escritor homenageado este ano na Flip é o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) e na conferência de abertura, dedicada ao autor de “Casa Grande & Senzala”, participará o sociólogo e ex-

Presidente da República Fernando Henrique Cardoso.De volta à Flip está também Salman Rushdie, que esteve em Paraty em 2005. O escritor indiano lançará o seu novo romance “Luka e o Fogo da Vida”, que no Brasil será editado pela Companhia das Letras. A “multiculturalidade” é, de resto, o fio condutor desta edição, que colocará o israelita Abraham B. Yehoshua e a iraniana Azar Nafisi a

debater o processo de paz entre árabes e

israelitas. Wendy Guerra, que

vive em Cuba, e a brasileira Carola Saavedra, falarão das diferenças de se escrever

em democracia

ou sob ditadura.

No ano passado, Richard Dawkins esteve

em Paraty a falar de ateísmo, ciência e fé. Este ano, em resposta às teorias de Dawkins, a Flip convidou um dos mais influentes críticos literários contemporâneos, o britânico Terry Eagleton, que irá contra-argumentar o ateísmo apregoado pelo cientista.Os bilhetes para o evento começam a ser vendidos a partir das 10h (no Brasil) do dia 5 de Julho no site www.ticketsforfun.com.br. A partir do dia 4 de Agosto, estarão disponíveis apenas na bilheteira da Flip em Paraty. Isabel Coutinho

Vamos ler as cartas de Richard Burton a Elizabeth Taylor

Não houve (e por favor não vamos sequer sujar a boca com aquela coisa chamada Brangelina) na história do “star system” (e, vá, na história do cinema, embora o encontro de Roberto Rossellini com Ingrid Bergman, apesar de europeu e portanto periférico, também seja mítico) nenhum romance como o de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Foi uma acontecimento torrencial, como torrenciais eram um e outro, que começou em Roma, 1962, quando Taylor, casada, estava a morrer nas filmagens de

“Cleópatra” (um filme que, de resto, quase matou o sistema de produção de Hollywood) e Burton, casado, correu para a salvar ( já tinha ficado morto de desejo dez anos antes, quando a viu pela primeira vez junto à piscina, numa festa em casa de Stewart Granger e Jean Simmons). O adultério, imediatamente condenado às mais altas instâncias (pelo Vaticano), transformou-se logo ali num épico, possivelmente um épico maior do que o que Joseph L. Mankiewicz estava a tentar filmar. O calor, a derrapagem financeira e depois Burton e Taylor, inseparáveis: Mankiewicz tinha de gritar “vocês os dois importam-se que eu diga ‘Corta’?”. Nos anos que se seguiram, houve altos e baixos, separações e reconciliações, álcool e drogas. Casaram-se duas vezes (de 15 de Março de 1964 a 26 de Junho de 1974, e de 10 de Outubro de 1975 a 29 de Julho de 1976), depois divorciaram-se definitivamente. Agora, 26 anos após a morte de Burton, vamos saber como esse romance era por dentro: Taylor entregou a Sam Kashner e Nancy Schoenberger praticamente todas as cartas que Burton lhe escreveu (apenas uma, que o actor escreveu poucos dias antes da sua morte, em 1984, e que só chegou às mãos de Taylor depois do funeral, ficará inédita). Serão impressas pela primeira vez em “Furious Love: Elizabeth Taylor, Richard Burton, and the Marriage of the Century”, uma edição da Harper Collins disponível nos EUA a partir de 15 de Junho. A “Vanity Fair” pré-publicou excertos de algumas dessas cartas em que Burton usa maravilhosamente a língua para se declarar, insistentemente, a Taylor, lamentar os desentendimentos entre ambos (“Funcionamos em comprimentos de onda completamente diferentes. Tu estás tão longe como Vénus - o planeta, quero dizer - e eu sou surdo à música das esferas”) - e também para lhe dizer que se a perdesse, não havia se não o suicídio: “Não há vida sem ti”.

Almodóvar, “está exactamente como quando foi embora”: “Quando apareceu, foi como se tivéssemos acabado ‘Ata-me’ na noite anterior”. Mas a história começou dez anos antes de “Ata-me”, com “Labirinto de Paixões”, de 1982. Quatro anos depois, Banderas entrava em “Matador”, e a seguir no polémico “A Lei do Desejo” – Banderas de novo homossexual, desta vez psicótico - e em “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos”.

Em Agosto, os Arcade Fire chegam aos subúrbios

Continuamos a aguardar ansiosamente o novo álbum dos Arcade Fire, e a contagem decrescente tem sido fértil em novidades. Os canadianos revelaram finalmente a data de lançamento do novo disco (2 de Agosto), embora sublinhem que “ainda estão a terminar” o álbum (começaram a gravá-lo no mês passado). Na semana passada, os irmãos Will e Win Butler explicaram à rádio americana NPR Music o significado do nome do disco, “The Suburbs” (correm rumores de que será um álbum duplo). “Nascemos numa cidade muito pequena da Califórnia, na fronteira com o Nevada”, explicou Win, citado pelo “New Musical Express”. “Mudámo-nos para Houston quando éramos novos. Sendo nós crianças tão pequenas, foi como ir para Marte. [No álbum], tentámos falar sobre esse sentimento”. Mais um regresso à infância, portanto. Sobre a música do disco, Will disse que “há dois pólos, um mais rock’n’roll, o outro mais electrónico”, e que o álbum se situa “entre esses dois extremos”. Enquanto esperamos por “The Suburbs”, o site da banda dá-nos muito que fazer: podemos encomendar o álbum, descarregar as canções “The suburbs” e “Month

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Os inéditos de Vergílio Ferreira na QuetzalA Quetzal vai publicar um romance inédito de Vergílio Ferreira, “Promessa”, no dia 11 de Junho. Teve como primeiro título “Sequência” — foi escrito em 1947 e não chegou a ser publicado. É o único romance inédito completo que existe no espólio de Vergílio Ferreira (1916-1996), e a decisão de o trazer a público não foi fácil de tomar para a equipa de investigadores e professores dirigida por Hélder Godinho (com as professoras Fernanda Irene Fonseca e Ana Isabel Turíbio), que está a estudar, catalogar e anotar o espólio do escritor português.Na sua “Conta-Corrente”, Vergílio Ferreira escreveu que, na sua opinião, “um autor não dá garantias quase nenhumas (mormente quando grande autor) sobre a valia do que realiza” e que “se um artista não quer que se lhe conheça a obra, destrua-a ele.” Há cerca de 30anos, falou da existência deste romance inédito a Hélder Godinho (que estava na altura a preparar uma tese de doutoramento sobre a sua obra) e emprestou-lhe o original dactiloscrito.Também uma novela inédita intitulada “A Curva de Uma Vida”, a primeira história que Vergílio Ferreira escreveu, acaba de ser publicada pela Quetzal e já está nas livrarias. “É o primeiro livro de Vergílio Ferreira, datado de 1938. Só no ano seguinte sairia ‘O Caminho Fica Longe’, que até agora é dado como o seu primeiro romance. É evidente que se trata de um texto muito mais curto, uma novela, mas nela aparecem já os grandes temas que marcariam a obra de Vergílio Ferreira. Nomeadamente, a ausência do pai, a figura da mãe, a culpa, a busca da identidade”, disse à agência

Lusa Francisco José Viegas, editor da Quetzal, que está a reeditar a obra completa

do Prémio Camões 1992. Isabel

Coutinho

Casa Grande & Senzala ,paaaaaaaaaaaaaartrtrtrtrtrtrtrttrtrtrtrtrtrtrtrtrtrrtrtrtrrrtrtrtticciciciciccicicicicciciciciccicccccipipipipipipipipipiipipiipipipippppppppará o sociólogo e ex-

muito que fazer: podemosencomendar o álbum, desccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccccaaararararaararaararaaaaaaaaaaaaaararrrrrraraaaaaaaaaaarrrrrrraaaaraarararaaaaaaararrrarrrararrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrararrrarrrrrrrrrrrraarrrarrrrrrrrraarrrrarrrrrraaarrrrraaa rererrrerererererrrrreerrrererrrrrerrrerrereereererrrrrrrerererreeeeerrrrrrrrrrerrereerereeeeeeererrrrrrrrerereeeererrrrrrrrreeeeeereeeeerrrrrrrrrereeeeeeeeeeeeerrrrerrerreeeeeeeeeeeererrrrrrrrreeeeererrrerrrrerreeeerrreeererreerereeeegagagagagagaaaaagaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaagaagagaaaaaaaaaagagaaaaaaaaaagagaaaaaaagagaaaagagagagaaaagagagggggagaaaaagggggagagagagagaaaggggggaaaaggggggggggagagaaaaagggggggggagagaaaagggggggggggagggggggggggggagggaaaaaaggggggggggaggggaagggggggggggggaaaagggggggggggggggaaaaaagggggggggaaaaaagggggggggggggggggggggggggg rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrras canções “The suburbs” eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee ““““““““““““““““““ “““ ““ MMoMoMoMoMoMoMoMMoMMMMMMoMoMoMMMoMMoMM nnnnnntntntntntttttttttttnnnntttttttttnnttttttnnnnnnnnntntnttttttttttttnnntntttttttttnttttttttttnttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttntttttttttnttttttttnntttttttntttttttttttttttttntttnttttthhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

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As cartas são toda uma nova porta de entrada no romance público mais avassalador do século XX

Reed lança uma colectâneadas suas letras no Brasil

Mais memórias das dores de crescimento dos Arcade Fire no terceiro disco

“Promessa”, o único romance inédito completo de Vergílio Ferreira, sai no dia 11 de Junho

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Apoio:

EXPOSIÇÃO

OS ARQUIVOS DE BERGMANFotografias de Rodagem A Fnac expõe 18 momentos da vida de Ingmar Bergman (1918 - 2007), cineasta, escritor e dramaturgo sueco.

21.04. - 21.06.2010 FNAC VASCO DA GAMA

entrada livreAGENDA CULTURAL FNACentrada livre

APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO

Consulte todos os eventos da Agenda,assim como outros conteúdos culturais Fnac em

AO VIVO

OS CAPITÃES DA AREIANovos Talentos Fnac 2010Sintetizadores, guitarras africanas, tambores e electrónicas, formam vozes sem complexos. Praia, calças às cores e desamores juvenis compõem o imaginário destes cinco rapazes de Lisboa.

AO VIVO

RITA REDSHOESLights & DarksRita Redshoes regressa com Lights & Darks, um disco que nos revela uma artista mais madura, desprendida e directa nas suas canções.

AO VIVO

JOHNWAYNESNovos Talentos Fnac 2010A diversidade desta banda vai desde o minimalista acid-house, até temas de cariz mais clássico do house ou compostos orquestrais, com um desvio para terrenos como o disco-funk e o boogie.

APRESENTAÇÃO

CICLO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADEPor ocasião do Dia Mundial do Ambiente, a Fnac chama a atenção para os problemas ambientais causados pela acção humana, as alterações climáticas e as soluções sustentáveis em defesa do nosso planeta.

14.06. 18H30 FNAC CHIADO

09.06. 17H00 FNAC CHIADO09.06. 20H00 FNAC COLOMBO

11.06. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING12.06. 22H00 FNAC COIMBRA

09.06. 21H00 FNAC CASCAISHOPPING11.06. 21H00 FNAC VASCO DA GAMA

01 - 15.06. EM TODAS AS FNAC

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6 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Foram os anos da nossa alteridade e da transição cinéfila. “Eram os anos 80”, diz o ciclo que dia 18 inau-gura na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa: Coppola, Scorsese, Woo-dy Allen, Cassavetes, Truffaut, Ro-hmer, Lynch, Jarmusch (“Stranger than Paradise”, a abrir), Spike Lee, Moretti, Von Trier, Kurosawa, John Huston, Fassbinder, Wenders, Ta-rkovski ou Leone. Uma década que aqui, em Portugal, começa num misto de ressaca e estado ébrio pós-revolução, mas que abraça também a entrada na então CEE (e queriam desesperadamente ver Portugal na CEE). Queríamos ser outros, como o resto da Europa, e já éramos ou-tros. O fim dos cineclubes – os pri-meiros multiplex. A cassete, primei-

ro de áudio, depois de vídeo – os videoclubes. O walkman, bolas, há 30 anos. O cinema só saía à noite e se manifestava em salas, ia parar à TV ou ganhava corpo VHS.

Alteridade porque gostávamos de ter dado o salto antes, como os vizinhos espanhóis com a intensa Movida, que deu às artes Almodó-var. Eles, os outros, tinham cara-melos, alcagoitas e Danone, marcas da Europa que íamos comprar nas férias. Queríamos a globalização e nem sabíamos que com ela os meios de comunicação colectivos passa-riam a “self-media”.

Será que queríamos tudo isto?Queríamos – esclarece João Pedro

Rodrigues, cineasta e cinéfilo “um pouco obsessivo” –, como ele que-

ria, “ver todos os filmes de cada realizador”. E eles estavam por aí, nas salas únicas, na Cinemateca, na Gulbenkian, nos institutos, na RTP2.

Atenção: havia cinema, sessões cheias, clássicos na Cinemateca e novidades europeias e “matinées” nos cineclubes. Existiria, no final da década, uma febril produção ci-nematográfica em Portugal, novos e velhos realizadores ao leme, a me-xer na moda, no design, na música – o que Inês de Medeiros, deputada, actriz, realizadora, chama “os anos Frágil”, cujas noites começavam na Cinemateca e acabavam no “hub” de Manuel Reis. Mas neste mesmo Portugal, no início dos 80s, acon-tecia ainda muito pouco. Como fri-

sa Inês de Medeiros, este é um olhar “nostálgico, mas sem saudosismo” sobre a década. E como diz Pedro Caldas: hoje não é bom, nem mau; é diferente.

O honroso bando de cinéfilos ou-vidos pelo Ípsilon nasceu ali, fins da década de 1970, plenos anos 1980. Era uma dependência inde-pendente – dependiam dos ciclos, dos festivais, dos programadores para ver cinema e davam-lhes os novos independentes, os velhos clássicos. Fosse na Gulbenkian, nos famosos ciclos do cinema dos anos 1930 (1977), 1940 (1979) ou 1950 (1981), ou no Quarteto, Estúdio 444, Cinebloco, Apolo 70... Há sempre algo de agridoce ao visitar a geogra-fia passada, sobretudo ao tentar

Ca

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anos 80 modoAs estreias não tinham dia fi xo, os fi lmes fi cavam anos em e

– esta era uma década de fi delidades. Os autores, aliás, acinema, tal como o conhecíamos, começou a deixar de e

os Anos 80”. Quem os viu e quem os vê, Coppola, Scorsese, A

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 7

fazer uma história oral da cinefilia 80s. A toponímia mostra a inevita-bilidade da nostalgia – ah, o extinto Quarteto; suspiro pelo Império; la-mento pela Sala Bebé. Esta foi a década em que, pela última vez, se construía a cinefilia numa sala de cinema. O “home video” e o “home cinema” ainda não existiam. “Ho-me” é onde o futuro estaria.

Fim do cinema?O programador do ciclo “Cinema Anos 80”, António Rodrigues, pos-tula: os anos 80 foram “o período em que o cinema propriamente di-to começou a deixar de existir”, culpando o vídeo doméstico pelo encerramento de metade das salas europeias.

Há mágoa ao pensar na “religio-sidade” (Caldas), na “cerimónia”

(Medeiros), na “hipnose mágica” (Fellini) da sala de cinema como “sa-la de espectáculos” (António Roma Torres, psiquiatra, cineclubista e crí-tico de cinema). As últimas tempora-das de “reprises” (os verões do Im-

pério, Condes, Monumental). Os cinemas eram de bairro e estavam ao lado dos espectadores.

“Morávamos no Lumiar. Em 1980, eu tinha 14 anos e os meus pais iam deixar-me ao cinema à tar-de. O meu eixo era o Caleidoscópio, o Apolo 70, o Alvalade e o antigo Monumental”, recorda João Pedro Rodrigues. “Um dos primeiros fil-mes que vi foi ‘O Meu Tio’, do [Ja-cques] Tati, no Apolo 70. Mais cres-cidinho foi o Quarteto e lembro-me do ano em que se estreou ‘Paixão’, do Godard, e ‘Querelle’ [de Fass-binder]”.

Pedro Caldas, cujo “Guerra Ci-vil”, sobre um amor jovem nos anos 1980, venceu o IndieLisboa, era mais Avenidas - São Jorge, Império e “‘Apocalipse Now’ numa sala com 4 ou 5 pessoas no Monumental, na-quele ecrã monumental”.

O fim dos cineclubes – os primeiros multiplex. A cassete – os videoclubes. O cinema só saía à noite e se manifestava em salas, ia parar à TV ou ganhava corpo VHS.

do de usarm exibição e certos autores tinham em cada sala o seu poiso

ainda eram o “mainstream”. Mas foi a década em que o e existir. A Cinemateca programa, a partir de dia 18, “Eram

Almodóvar, Lynch, Oliveira.... Joana Amaral Cardoso*

Pedro Almodóvar em retrato oficial de “movida”, Martin Scorsese no final da sua década prodigiosa (os 70s), Rainer Werner Fassbinder com o Urso de Ouro de Berlim (“A Saudade de Veronika Voss”, a exibir no ciclo) e Francis Coppola a pagar pelos seus desvarios

à noimanifia paganhgga

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pépcicc naaaaoa

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8 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

“Nos anos 1980, estava a meio de um percurso que começou nos anos 1970, com enormes temporadas nos três ciclos da Gulbenkian que me tor-naram cinéfilo. Antes disso, ia ao Pa-lácio Foz [extensão da Cinemateca]”. E depois a Cinemateca reabriu e pas-sou a ser a sua sala nos anos 1980. Inês de Medeiros de 16 anos, quando co-meçou a ir à Cinemateca, atalha, lem-brando-se de Claudette Colbert na Barata Salgueiro. “A Cinemateca era um sítio a que se ia descobrir cinema, mas também onde o cinema era en-carnado por pessoas”.

Falemos de João Bénard da Costa, e dos ciclos na Gulbenkian originavam filas madrugadoras nas bilheteiras de cineastas em flor e cinéfilos convictos. “As folhas [de sala] do Bénard da Cos-ta foram importantes. Ele falava de outros filmes daquele realizador, de outros realizadores e fazia uma espé-cie de montagem de outros filmes. E isso dava-me a vontade de ver mais. Guiava-me muito pelo gosto dele”, diz-nos João Pedro Rodrigues.

Tão valorizado quanto Bénard é um cinema na tradição das salas de arte e ensaio. Pedro Bandeira Freire criou no Quarteto o mais invulgar dos mul-tiplexes. Anabela Duarte, cantora, ex-Mler Ife Dada: “um sítio de culto”; Vera Mantero, coreógrafa: “uma coi-sa bastante extraordinária”; Inês de Medeiros: “um pólo de cinefilia” onde viu o seu primeiro Bergman; Pedro Caldas: “havia coisas que esta-vam só no Quarteto”.

Nas imediações, outras salas. Pedro Caldas lem-bra que o Londres era a casa de Bergman e Woody Allen – es-t r e a v a m - s e sempre ali. “Íamos ao L o n -dres

ver um tipo de cinema, e íamos ao Quarteto ver outro.” Era uma década de fidelidades e de circuitos delinea-dos. Alvalade, Avis, Éden, Odeón, Politeama ou Roma passavam cinema europeu, de terror ou popular; Castil, Condes, Império, Monumental, São Jorge, Star (hoje a Zara na Guerra Jun-queiro), Terminal, Tivoli, Vox tinham cinema popular ou de prestígio; Apo-lo 70, Cinebloco, Estúdio, Estúdio 444, Londres, Nimas, Quarteto, Saté-lite eram arte e ensaio.

No Porto, lembra António Roma Torres, eram os tempos do Nun’Álvares, agora reabertos, da Sala Bebé, do Cinema Charlot, do Passos Manuel, Foco, Pedro Cem e dos Cine-mas Lumiére, “com uma programa-ção muito cuidada do Mário Pimen-tel”. E o Fantas, claro.

Esta foi também uma década de finais. As últimas temporadas de “re-prises” de clássicos nos grandes ecrãs; o fim do Monumental, demolido, ou de pequenas salas como o Jardim Ci-nema, o Vox ou o Pathé, convertidos em discotecas (o primeiro foi o Lou-curas, depois Zona Mais, o segundo tornou-se na Voxmania em 1985 antes de voltar a ser King, e o último foi a discoteca Metropolis em

1985 antes de ficar devoluto).Com o aproximar do final da déca-

da, os circuitos também se iam de-sagregando. Surgiriam novos

espaços – os Alfa em 1981, as Amoreiras em 1985

– e o efeito Pingo Doce ocupa-

ria os cinemas de bairro. O Cinema Royal (Graça) ficou supermercado Inô e depois Pingo Doce. O mesmo no Roxy, no Intendente. São as leis da atracção – espaços amplos pouco fre-quentados geram espaços amplos frutados.

Podemos argumentar que seguiram o mesmo fim dos cineclubes, empur-rados pelo advento do VHS e dos mul-tiplexes. Mas nem tudo nisso era mau – argumentamos. Tarantino é apenas o exemplo mais conhecido dessa ge-ração videoclube, as cassettes com gravações de filmes guardadas por João Pedro Rodrigues são testemunho da importância de certa TV e Pedro Caldas ia aos “Alfa, às Amoreiras por-que havia filmes para ver – a progra-mação não era tão homogénea”.

Falar em programação nesta déca-da é também falar de festivais, como o da Figueira da Foz, ou de ciclos co-mo os do Instituto Alemão, com os contemporâneos Schroeter, Fassbin-der, Wenders, lembra Pedro Caldas, ou o Franco-Português, com “muitos filmes recentes, sobre os quais lia nos ‘Cahiers...’”, recorda João Pedro. Mas é também falar de televisão. RTP2, mais precisamente, Fernando Lopes, evidentemente. O sr. “Belarmino”

chega à Dois em 1978 e programa ci-clos.

“Descobri o cinema na RTP2. O que mais me marcou foi o ciclo Dreyer.

Lembro-me de ver pela primeira vez ‘A Palavra’ na televisão”, reme-mora Inês de Medeiros. “A programa-ção de cinema do segundo canal foi feita com o tipo de exigência dos ci-neclubes. Sabíamos que havia um público cinéfilo e não os deixámos sem filmes para verem”, conta-nos Fernando Lopes. Guarda a memória do “mestre” Dreyer, mas também pro-va física:

“Foi duro conseguir encontrar uma cópia. Teve de ser feita uma de pro-pósito para Portugal. Ainda hoje guar-do com carinho o primeiro poster do filme ‘A Palavra’, enviado pelo Insti-tuto Dinamarquês de Cinema, que ficou surpreendido com o nosso pe-dido”.

Marcados na memória tem ainda o

ciclo Glauber Rocha e os “filmes po-pulares em 31 tardes – Dick Tracy, Flash Gordon, Homem-Aranha”, a titilar vários públicos. Outro progra-mador, Alberto Seixas Santos, daria também fôlego à televisão cinéfila. Era o tipo de momento que Vera Man-tero apreciaria. Ainda hoje, 30 anos depois de, com o colega bailarino Francisco Camacho, andar pelas salas de cinema de Lisboa, prefere ver o que está a dar na TV do que um DVD. Porque é “algo que mais pessoas estão a ver”.

Em plena era dos média pessoais, há quem ainda precise de organizar o caos. Seja via programação de fes-tival (Indie ou Doc Lisboa), seja via qualquer coisa que dê a sensação do colectivo como os Óscares. “Continuo a ir ver filmes às salas. Porque é aí que acontece o cinema”, explica Vera Mantero. Continua a encontrar salas em que confia, como uma especial em Angers, França, onde viu um do-cumentário que a inspirou para a pe-ça que levou ao Festival Alkantara. Todos referem King e Monumental como herdeiros das salas de confian-ça da década de 1980 em Lisboa, da mesma maneira que António Roma Torres reporta que cabe aos cinemas Cidade do Porto, da mesma Medeia Filmes de Paulo Branco, a honra de serem as quatro salas “onde ainda há filmes sem intervalo, sem pipocas e como eram os Lumière”.

Hoje temos ecrãs para 3D, som “surround”, salas em carreirinha.

Vera Mantero, coreógrafa: “uma coi-sa bastante extraordinária”; Inês deMedeiros: “um pólo de cinefilia” ondeviu o seu primeiro Bergman; PedroCaldas: “havia coisas que esta-vam só no Quarteto”.

Nas imediações, outrassalas. Pedro Caldas lem-bra que o Londres era a casa de Bergman e Woody Allen – es-t r e a v a m - s e sempre ali. “Íamos ao L o n -dres

Com o aproximar do final da déca-da, os circuitos também se iam de-sagregando. Surgiriam novos

espaços – os Alfa em 1981, as Amoreiras em 1985

– e o efeito Pingo Doce ocupa-

“Boy Meets Girl” (Leos Caraz), “O Contrato” (Peter Greenaway), “E La Nave Va” (Fellini), “Paris, Texas” (Wenders) - propostas do ciclo

Quarteto, o mais invulgar dos multiplexes. Anabela Duarte, cantora, ex-Mler Ife Dada: “um sítio de culto”; Vera Mantero, coreógrafa: “uma coisa bastante extraordinária”...

Com as “technicalities” das últimas décadas, não acabaram os cinéfilos. “O que muda é o sentido da cinefilia”, observa Fernando Lopes.

Há menos gente nas salas e “algo

mudou, a percepção das

imagens é diferente”

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 9

Se está à espera que “Eram os Anos 80” mostre muito do cinema que identifi camos com os anos Reagan – de “Blade Runner” ao “E.T.” ou aos primeiros fi lmes de Indiana Jones, passando por Stallone, Schwarzenegger ou pelos êxitos do cinema português como “Kilas, o Mau da Fita” ou “O Lugar do Morto”... pode esperar... Mesmo que haja Coppola, Scorsese, Woody Allen, Cassavetes, Truff aut, Rohmer, Lynch, Jarmusch, Spike Lee, Von Trier, Kurosawa, Huston, Fassbinder, Wenders, Tarkovski ou Leone, estes anos 80 correspondem ao lado “autorista” da década que marcou a entrada do vídeo caseiro nos hábitos cinéfi los, a crise das salas de cinema e uma mudança no modo de ver, pensar e consumir o cinema.

Curiosamente, António Rodrigues, o programador que se abalançou à década depois de ter organizado os ciclos sobre os anos 1960 e 1970, defi ne-se como um “fi lmista” mais do que um “autorista” fanático (“todos os grandes cineastas fi zeram maus fi lmes e cineastas medianos fi zeram fi lmes bons”). Ao Ípsilon, diz que “cada programador faz as suas opções e dois programadores não fariam ciclos iguais”. Assim, em “Eram os Anos 80” de fora, propositadamente, fi cou o cinema popular, concentrando-

se nos autores que

mostraram durante a década uma identidade

estilística pessoal e

específi ca, “resistente” às

formatações

industriais e audiovisuais, como explica nas linhas que se seguem.

Porquê focar o ciclo nos autores?Pelo facto de os anos 80 serem mais próximos do que os anos 60 e 70, é mais difícil termos uma perspectiva de conjunto. E também por outros motivos: nos anos 60 fi z questão de programar cronologicamente porque achei que era interessante ver Godard ao mesmo tempo que Christopher Lee. Neste ciclo, pensei programar por blocos, e procurei fi lmes de autor onde houvesse uma vontade de estilo individual, uma identidade marcada. No cinema americano independente, obviamente que os fi lmes não se parecem muito, mas há pontos comuns. Tanto Jarmusch como o jovem Gus van Sant têm algo de muito pessoal, uma busca da forma, uma narrativa mais oblíqua, menos ligada aos velhos padrões literários que ainda predominam.Um outro aspecto é o cinema português: Manoel de Oliveira em 1978 faz o “Amor de Perdição” e começa o fenómeno do cinema português, que é incontornável. Se houve cinema no mundo com vontade de estilo exagerada foi o cinema português de autor dos anos 1980. E ainda uma conclusão que tirei dos outros dois ciclos, por ter insistido no cinema popular, é que muitas vezes ele não é bom. Em tese é justo insistir, mas na prática nem sempre os fi lmes são interessantes. Foi uma opção tirar o cinema “mainstream” americano mais brutal, com a predominância dos efeitos, das explosões.Mas há cineastas populares dos anos 80 que têm uma forte conotação autoral – John McTiernan, Steven Spielberg...Claro. A ausência do Spielberg é uma questão pessoal – representa o tipo de cinema que não acho muito interessante. Mas há autores mais “mainstream” – Scorsese, Coppola, Cassavetes são autores populares...Até porque nos anos 80 ainda há uma dimensão popular do cinema de autor.Ainda há, e esses são bons exemplos. Woody Allen, Cassavetes, alguns europeus – Truff aut, Éric Rohmer... As “Noites da Lua Cheia” foram um êxito de público e o Rohmer passou a ser um cineasta popular em França. Os anos 80 foram também os anos em que a relação do espectador com o cinema mudou com a chegada do vídeo. As salas fecharam às centenas no mundo tudo, foi uma mudança radical, e talvez por isso esta escolha procure mostrar o “núcleo duro” do cinema como era então e como deixou de existir.

Mas ao mesmo tempo o vídeo abriu uma possibilidade de cinefi lia democrática que não existia até aí...Sem dúvida. Ver o “Couraçado Potemkine” passou a ser fácil. E a cinefi lia “de ponta” até aumentou. Houve um fanatismo da colecção, desenvolveu-se brutalmente a busca da obra rara, aquele cinéfi lo que já viu cem mil fi lmes e quer ver aquele de capa e espada chileno... O que penso é que o vídeo fez com que os espectadores deixassem de ver o fi lme inteiro. Via um trecho, voltava à cena de que gostava, andava para a frente quando achava chato, via ao longo de dois ou três dias... Isso mudou a relação com o cinema.Claro, o DVD é outra coisa, trouxe de volta uma certa cinefi lia, com os complementos, por vezes magnífi cos. É uma ferramenta fantástica para estudo. Acho que o

A década em que o cinema

morreu?

“Os anos 80 foram os anos em que a relação do espectadorcom o cinema mudou com o vídeo. Talvez por isso esta escolha procure mostrar o ‘núcleo duro’ do cinema como era então e como deixou de existir”

“Eram os Anos 80” propõe um olhar descentrado sobre a década que mudou o cinema contemporâneo – para o bem e para o mal. Conversa com António Rodrigues,

programador do ciclo. Jorge Mourinha

c e a popu a , co ce t a dose nos

aua tores que mostraram durante adécada umaidentidade

estilísticapessoal e

específi ca, “resistente” às

formatações

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fM

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António Rodrigues, programador

Spielberg na altura de “Tubarão”, o ponto de viragem: “A ausência do Spielberg é uma questão pessoal – representa o tipo de cinema que não acho muito interessante”

vídeo e a televisão são bons para rever, mais do que para descobrir.Mas houve muita gente que descobriu a sua cinefi lia na televisão. Havia um lado pedagógico de ciclos, como o Hitchcock integral na RTP-2...Quase como o cine-clube de antigamente... Mas a televisão em Portugal perdeu essa função – havia uma boa programação de clássicos, os fi lmes não eram interrompidos por anúncios, passavam na versão original, e isso já não acontece - bom, ainda passam na versão original...Os anos 80 foram então uma década perdida?Não tenho a certeza que tenha sido uma década perdida. O que mudou foi a relação com o cinema – e a década foi horrível do ponto de vista político e social, com uma revolta violentíssima contra tudo o que os anos 60 e 70 tinham signifi cado, ao nível dos costumes, da política. Entre o Reagan e a Sida, foi duro, foi uma mudança completa. E o que mudou foi o “mainstream” americano, que perdeu a capacidade de contar histórias. O que passou a interessar foi o número dos espectadores, fi lmes feitos para o público do mundo inteiro, como se os públicos japonês, português ou francês fossem iguais. E a “nova Hollywood” dos anos 70 passou a ser o “super-mainstream”.Este programa é uma imagem da “resistência” a essa formatação?Não foi um objectivo consciente, mas sem dúvida nenhuma. Quando vejo esses nomes europeus – António Reis, Andrei Tarkovski, Philippe Garrel, Chantal Akerman — é óbvio que há algo disso.

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10 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Não pedimos para estar lá, mas estivémos. Era uma vez uma cidade sem uma única sala de cinema

É sempre assim. Há, por um lado, o que as narrativas pop apresentam como um país – e isso são as grandes capitais –, e, depois, há o resto – e isso é o rendilhado sem nome nem história das pequenas cidades. Portanto,

Portugal, década de 80: isso era Lisboa, Porto e Coimbra. Depois, à volta, paisagem.

Por exemplo, Castelo Branco. Coisa para 30 mil habitantes, dizem as estatísticas da época. Coisa para menos de duas dezenas de adolescentes de preto e com os pés enfi ados em Doc Martens vendidas a peso de ouro na Ex-Sonhos Pop [em Lisboa, claro – e isso era do outro lado do mundo, a uma eternidade de comboio, um enjoo de barrancos, penedos e pinhais a desfi lar lentamente pela janela], diz-nos a memória.

Era a época em que as auto-estradas da CEE pairavam num futuro por vir e em que ir de férias para o Algarve era um épico sazonal. Um dia inteiro Alentejo abaixo, a começar de madrugada. Carro atulhado, searas de um lado e outro, tudo a ferver e pardais a levantar voo do asfalto –

se aquilo era asfalto (porque o que nos vendiam ali na berma de certeza que não era coca-cola).

Era a época, também, em que as férias pareciam não acabar, mas acabavam. E depois havia o resto do ano.

Castelo Branco, portanto. Um calor de torrar no Verão contra um frio de rachar no Inverno. Lá ao fundo, de manhã, a Serra da Estrela coberta de neve. E aqui, então, era uma vez uma sala de cinema para toda uma cidade e arredores. Ou, então, um incêndio mais tarde, uma cidade sem uma única sala de cinema era uma vez.

Fugiu-se muito a salto de Portugal antes da Revolução, mas também se fugiu muito a salto depois – por exemplo, sentados no sofá, com a televisão a debitar a contemporaneidade via TVE.

A cinefi lia numa caixa talvez viesse a ser a pobreza do futuro, mas foi, sem dúvida, a grande riqueza deste passado.

Contas: nascidos em 1975 – 9 anos quando nos caiu no colo um ovni chamado Alaska e uma nave-mãe conhecida como “A Bola de Cristal”.

Espanha, 1984: neste país havia uma vanguarda que acreditava que as crianças tinham mais do que idade para serem tratadas como adultos.

Era tempo de “movida” e a “movida”, quando nasceu, foi para todos – ou seja, foi para quem a quis apanhar. E, então, Alaska, a líder “underground” desse terramoto, com os seus vestidos góticos de teia-de-aranha, as suas unhas-garra pintadas de preto e a sua melena cor-de-laranja. Aos Sábados de manhã ela era a Bruxa Avaria com um séquito “pós-punk” de Electroduendes que estavam para o Topo Giggio como “Blade Runner” estaria para “A Música no Coração”.

Nas letras das músicas que sabemos de cor até hoje fi cámos a conhecer o Mal como sendo o Capital, começámos a tratar a crise por tu (afi nal quando é que deixámos de estar em crise?) e a reconhecer objectos não identifi cados como o “computador pessoal”.

Ela, Alaska, acabava de sair de “Pepi, Luci, Bom” como uma das “chicas del montón” do primeiro Almodóvar da década. Nós (e a culpa de tudo ter sido tão rápido foi de certeza da “Bola de Cristal”) haveríamos de chegar a tempo de “Matador” e “A Lei do Desejo”.

Isso, na vida real das salas de cinema de Madrid, foi em 1986 e 1987. Na TVE foi por volta de 1989 e, por então, há quatro anos que o Metrópolis já estava no ar. Primeiro programa – 21 de Abril de 1985: em reportagem, Tóquio, a nova grande capital cultural. Cinema, mas também moda – Yamamoto, Miyake –, música – Sakamoto...

Os mais vorazes descobriram no Metrópolis e depois puseram-se a gravar em Beta e VHS tudo o que puderam da Nouvelle Vague francesa e do neo-realismo italiano.

Sim, isso também estava na RTP, dizem-nos. Porque a RTP tinha Fernando Lopes, Seixas Santos e António-Pedro Vasconcelos. Foi logo a seguir a Abril. Nós apanhámos a era mágica de Vasco Granja, o pai da Pantera Cor-de-Rosa que era também o guardião da chave para o mundo do cinema de animação de Leste. Mas a TVE passava em horário nobre o “Arrebato” do Iván Zulueta, a escorrer negrume, obsessão e heroína tanto tempo antes de Ferrara e muitos anos antes do escândalo português do “Império dos Sentidos”. Depois, havia a Alaska, claro, e isso, caramba!, fazia toda a diferença.

Uma fronteira aberta chamada televisãoCrónica

Vanessa Rato

Contam-se pelos dedos as salas so-litárias nas cidades. Aliás, há cidades, como o Porto, diz-nos Roma Torres, que não têm verdadeiros cinemas no centro. Está tudo nos “shoppings”, fora. “O cinema não é só o filme que foi registado”, relembra. À coreógra-fa Vera Mantero faltam as conversas pós-filmes. Agora é só “consumir os objectos a sós e pronto”.

Nova cinefi liaCom as “technicalities” das últimas três décadas, não acabaram os ciné-filos. “O que muda é o sentido da ci-nefilia”, observa Fernando Lopes. Há menos gente nas salas e “algo mudou, a percepção das imagens é diferente, as novas tecnologias mudam-nos a cabeça e o olhar. Não quero fazer um juízo, é apenas diferente”, diz Pedro Caldas.

“Deixou de haver convívio cinéfilo para ir ver filmes”, constata Fernan-do Lopes. “Há uma possibilidade de escolha enorme, as novas tecnologias não trazem só desgraças. Perde-se é o contacto social. E isso é tão visível no cinema português – antigamente convivíamos e agora está cada um para seu lado”. Ficamos por casa à descoberta de histórias alternativas do cinema, mas no DVD, atenta Roma Torres. “Os anos 80 foram o começo do declínio dos cinemas como salas de espectáculo”.

O cinema é espectáculo, como frisa Inês de Medeiros, e a comunhão que faz falta vê-se no sucesso do Indie ou do DocLisboa. João Pedro Rodrigues é mais cauteloso. Acredita que as pes-soas “vão ao Indie e não ver um certo filme”, só querem “acontecimentos”. “Às vezes os mesmos filmes passam na Cinemateca e não está ninguém.”

Há cidades, como o Porto, diz-nos RomaTorres, que não têm verdadeiros cinemas no centro. Está tudo nos “shoppings”, fora. “O cinema não é só o filme que foi registado”

... ainda em “Eram os Anos 80”: “Identificação de uma Mulher” (Antonioni), “Nostalgia” (Tarkovski), “Irmãos Inseparáveis” (Cronenberg)

Almodóvar nos tempos de “Matador”

Tal como Anabela Duarte, o autor de “Odete” está-se “nas tintas para a pirataria” e usufrui da Internet quan-do tem de ser. “Mas antes eu esperava aquele momento em que ia ver aque-le filme sobre o qual tinha lido, na-quele dia, àquelas horas. Era uma emoção. Isso deixou de existir. A não ser ir a Cannes” – e anseia ver o Palma de Ouro deste ano, “Uncle Bomee...”, de Apichatpong Weerasethakul.

Perdeu-se a “aura”. “É uma sensa-boria, não há o sabor da descoberta”, diz Anabela Duarte. Restam os festi-vais para ver o que se faz no mundo, para olhar para outras cinematogra-fias, comenta Pedro Caldas.

Estas conversas reavivaram memó-rias. “Encontramo-nos no Condes ou no Éden”, mimetiza Fernando Lopes. O destino inicial de João Pedro Rodri-gues: ornitólogo (“Também observa-va obsessivamente pássaros”). Pedro Caldas, voraz na enumeração (“Estou a ser um bocadinho cinéfilo, acho eu”). As sessões de “A Mosca”, “Ne-voeiro” ou “Alphaville”, os filmes “mais rock‘n’roll” de Anabela Duarte. O cinema e a cinefilia são assim, co-mo pré-tertúlias.

Fernando Lopes: “Íamos ao cinema como qualquer coisa de exaltante, de estimulante, de convívio e depois ia-se para a cidade para outras vidas. Íamos viver os filmes no meio da ci-dade”.

*com Jorge Mourinha

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O Almodóvar de 1984, ano em que dirigiu “Que fi z eu para merecer isto?”, era uma das fi guras-chave da Movida madrilena que colocou a capital espanhola no centro da Europa cultural. Provocador pós-moderno que reciclava as tragédias de faca e alguidar do cinema mediterrânico, deixava-nos sempre na dúvida sobre o seu kitsch sobrecarregado: irónico ou sincero, subversivo ou afectuoso? A inventividade explosivamente multicor do seu cinema sugeria a subversão matreira de quem crescera com vontade de reinventar as convenções. Não é certo que o Almodóvar de 84 viesse dar no de 2010 – mas, olhando para trás, os seus fi lmes seguintes, “Matador” e “A Lei do Desejo”, eram antevisões do estilista sóbrio em que se transformou. J. M.

Pedro AlmodóvarQue fiz eu para merecer isto?, 1984

Quem os viu e quem os vê

Olhámos para o programa do ciclo e perguntámo-nos: onde é que (alguns deles) estavam nos anos 80, onde é que estão hoje?

Os anos 80 não foram fáceis para Coppola. À glória dos anos 70 – os “Padrinhos”, o “Apocalypse Now” – sobreveio a bancarrota da Zoetrope precipitado pelo estrondo na bilheteira desse genial “One From

the Heart”. Para Coppola, os anos 80 foram vividos em defl ação, nas expectativas e nos “budgets”. Maravilhosa defl ação, que deu – do “Rumble Fish” à “Peggy Sue” – tanta coisa fabulosa. Mas hesitava-se entre apreciar estes fi lmes pelo que eles eram e “lamentar” que Coppola estivesse arredado das grandes produções. Nos anos 90 fez a vontade aos lamentadores: o “Padrinho 3”, o “Drácula” – alguém os troca pela “Peggy Sue”?... Depois desapareceu, em fi lmes pequenos e esquisitos (“Jack”) ou elegantemente anónimos (o “Rainmaker”), pôs-se a cuidar das vinhas e da carreira dos fi lhos. Até reaparecer no fi nal desta década, com mais fi lmes esquisitos e

grotescos (“Segunda Juventude”, “Tetro”), apresentados (por ele) como um grito de uma liberdade enfi m

reconquistada. Sê-lo-á, mas sobre isto estamos de acordo: se foram os fi lmes que deram

relevância a Coppola, agora é Coppola que confere a relevância

a coisas como “Juventude” e “Tetro”. O que diz

algo sobre o poder do seu nome no

imaginário cinéfi lo. L.M.O.

Francis Ford Coppola Cotton Club, 1984

( Jac ) oueggy Sue ?... epo s desapa eceu, e es peque os e esqu s tosss ((e da carreiraelegantemente anónimos (o “Rainmaker”), pôs-se a cuidar das vinhasss eee e d

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Nos anos 80, Jarmusch ajudou a inventar, e tornou-se o seu principal expoente internacional, uma coisa a que depois, quando se descobriu como fazer o “marketing” de fi lmes que custavam pouco dinheiro e não davam muito mais, se chamou o “cinema independente americano”.

Nos primeiros tempos – “Permanent Vacation”, “Stranger Than Paradise” – a questão era para ele mais simples: aplicar ao cinema a economia do “underground” novaiorquino e os preceitos do “punk” (três acordes, preto e branco, nada de

sintetizadores), e de conjugar isso com a tradição (Ford, Ozu). O ponto alto veio a meio da década com “Down by Law”. A sua estrela empalideceu depois, e nem sempre terá encontrado a melhor

reacção a um circuito “independente” que depressa incorporou as regras da

indústria. Mas mantém-se independente dessa “independência”, e se, como escreveu

um crítico americano, o “cinema independente americano” se

tornou, na última década, “a sua própria auto-paródia”, a Jarmusch poucas responsabilidades devem ser assacadas. L.M.O.

Jim JarmuschStranger than Paradise, 1984

Nos primeiros te

do “underground” novaiorqudo “punk” (três acordes, preto

sintetizadores), e de coa tradição (Ford, Ozu)a meio da década comA sua estrela empalinem sempre terá enc

reacção a um circuitoque depressa incorpor

indústria. Mas mantémdessa “independência”

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Abbas Kiarostami Onde fica a casa do meu amigo?, 1987

Jean-Luc GodardPrénom Carmen, 1983

Martin ScorseseA Última Tentação de Cristo, 1988ltima Tentação de Cristo, 1988

Gus Van SantMala Noche, 1984

Será injusto considerar que quando chegamos a 1988, ano da “Última Tentação de Cristo”, Scorsese já fez os seus fi lmes mais viscerais? Este, projecto antigo que só em fi nal dos anos 80 se concretizou (a actriz Barbara Hershey dera-lhe o livro de Nikos Kazantzakis no início dos anos 70, nos tempos de “Boxcar Bertha”), faz fi gura de resumo e explicitação: numa fi lmografi a povoada por fi gurações crísticas, eis o momento, e com uma variedade de sotaques como se

fosse “Mean Streets”, de um Cristo humano, chocado com a hipótese da sua divindade – será o Diabo? pergunta Ele, o que irou os mais conservadores. Foi o momento de

“fi lme bíblico” na obra de Scorsese. Que a partir de então se converteu a uma leitura ofi cial dos géneros – explicitando cada vez mais o desejo de ser reconhecido pelo “sistema”. V. C.

A angústia dentro deste fi lme dava já para precaver em relação às etiquetas neo-realistas que o cinema de Kiarostami poderia atrair... a sua transparência como documento, a fi gura tutelar de Roberto Rossellini, por exemplo. Atraiu, mas com o passar dos fi lmes a transparência foi-se dando a ver como algo de opaco, perverso – e, reforçamos, angustiante. A placidez, afi nal, era a máscara da vertigem. É assim que apetece hoje rever a infância do cineasta iraniano, hoje quando ele já evidenciou as máscaras de um cinema sofi sticado, cheio de camadas de verdade e mentira – veja-se “Shirin” ou “Copie

Conforme”, experiências de um cineasta conceptual

com a manipulação e, no último caso,

exercício sobre o original e a cópia

a partir de um fi lme amado, “Viagem a Itália”, de... Rossellini. V.C.

Há quem ache que o Godard dos anos 1980 — o de “Carmen”, de “Salve-se Quem Puder”, “Paixão” e o de “Eu vos Saúdo, Maria” — foi o último que ainda valeu a pena. Mas, independentemente de se gostar ou não do Godard denso dos cine-ensaios a que se dedicou desde os anos 1990, a verdade é que a única constante nos 50 anos de percurso do provocador máximo da Nouvelle Vague tem sido uma vontade de experimentar com as fronteiras da narrativa convencional. O Godard da primeira metade dos anos 1980, depois da “travessia do deserto” auto-infl igida dos anos 1970, ainda procura desmontar a partir de dentro o conceito tradicional de cinema (como o fez nos seus grandes fi lmes da década de 1960). O Godard de hoje é um teórico experimentalista, formalista e investigador feliz por andar a pregar aos convertidos. J. M.

Portland, Oregon, como em futuros fi lmes de Gus Van Sant. Mas um amor explícito como nunca mais nos fi lmes de Gus Van Sant – a não

ser no último, “Milk”. Entre um e outro, o cineasta teve a sua fase “indie” (infl uenciada pelo underground dos 60 e 70s), a experiência

(pouco convincente e pouco convicta) “mainstream” e o regresso a uma linguagem e poética pessoais (reinventando-se no cruzamento

com as artes plásticas – após “Psycho”, 1998). “Mala Noche” é a história de desejo, de Walt por um imigrante ilegal mexicano, Johnny (história autobiográfi ca de um

poeta de Portland, Walt Curtis)... sexo e frustração não foram mais expostos assim, com a frontalidade deste relato “genetiano”, pelo realizador. Que, até “Milk”, deslizou

sobretudo pelos caminhos oblíquos do desejo. V.C.

com as artes

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Manoel de OliveiraOs Canibais, 1988

Steven Soderbergh Sexo, Mentiras e Vídeo, 1989

Spike LeeShe’s Gotta Have It, 1986

David LynchDune, 1984

Em 1989 era um rapaz de 30 anos que acabar de rodar uma das mais belas primeiras obras de todo o cinema português, “O Sangue”. Mas

mesmo aos que deram logo por isso – que “O Sangue” era “especial”, que “O Sangue” era fabuloso – talvez fosse difícil adivinhar que em

tão pouco tempo – dez, quinze anos – Costa desse a volta ao mundo. A verdade é que os fi lmes “especiais” se foram sucedendo, da “Casa de Lava” ao “Ne Change Rien”, e que foram cruzando fronteiras sobre fronteiras – da América à Ásia, retrospectivas, livros, DVDs. E, da

América à Ásia, Costa é visto, discutido, editado, e é ouvido: não é só um cineasta, tornou-se também uma “referência moral” para o

cinema contemporâneo. L.M.O.

O insucesso da aventura de “Dune” pôs fi m ao “fl irt” de Lynch com as grandes máquinas comerciais pré-planeadas, ideia possibilitada pelo inesperado sucesso de “O Homem Elefante”. E foi quando voltou a um universo radicalmente pessoal – tão pessoal que “pessoal” se faz sinónimo de “críptico” – que estreou o lendário “Blue Velvet”. Estava-se em 1986 e há toda uma geração para quem aquilo foi uma bomba que lhe explodiu nas mãos e na cabeça. Lynch foi o grande “mindfucker” dos anos 80 (como Hitchcock nos anos 40 e 50, como Tarantino nos 90), ninguém como ele fez experiências com a cabeça dos seus espectadores. Continua a fazê-las – “Mulholland Drive”, “Inland Empire” – mesmo se há algo neles que parece manter a perdição de almas num regime mais controlado. De qualquer modo, é o grande cineasta contemporâneo para todos os labirintos “psico” – psicológicos, psiquiátricos, psicotrópicos e por aí adiante. L.M.O.

Filmado em família por tuta e meia, foi a primeira “Spike Lee joint”, em 1986. Houve quem diagnosticasse a comédia nova-iorquina

e orgulhosamente negra que marcou a estreia na longa de Lee como a descoberta do sucessor afro-americano de Woody Allen (substituindo Manhattan por Brooklyn), ou um equivalente negro de Jim Jarmusch. Mas o que veio depois foi outra coisa: um autor activista e interveniente disposto a mexer nas feridas do sonho

americano (“Não Dês

Bronca”, “A Febre da Selva”, “Ela Odeia Me”, “When the Levees Broke”), e o raro cineasta negro ao qual Hollywood faz “encomendas” (“Passadores”, “A Última Hora”, “Infi ltrado”) que respondem ao “caderno de encargos” sem deixar de fazer sentido no seu percurso de autor. J. M.

Os anos 80 foram determinantes para a consagração de Oliveira, nessa década um “banal” septuagenário (fez 80 anos em 1988). Na sequência do “escândalo” de “Amor Perdição”, em fi nais de 70, a mera menção

do seu nome podia gerar uma batalha campal mas

o improvável sucesso público de “Francisca”, em 1981, ajudou à entrada do seu nome no imaginário cultural português. Lá fora, entre a atenção de festivais e da crítica estrangeira (nos anos 80 ainda, sobretudo, a francesa), Oliveira terminou a década reconhecido entre os principais nomes do cinema contemporâneo. Em 2010 esse estatuto está mais do que ampliado, pelos fi lmes e pela

extraordinária vitalidade da

sua longevidade (101 anos & still

kicking). É uma “instituição” viva

e os portugueses, mesmo sem lhe verem

os fi lmes, passaram a reconhecê-lo e a respeitá-lo.

Mais importante: continua em forma. L.M.O.

Com a Palma de Ouro de Cannes na mão, Soderbergh olhou para o futuro: a partir dali, disse, ia ser a descer. Não foi. O fi lme – um quarteto e os seus “aff airs”, frigidez emocional e o fétiche do vídeo – apareceu, com melancolia, a resumir o espírito do tempo. Preparando-nos para o luto a fazer nas décadas seguintes: o da transparência das imagens. E antecipando o “hype” “indie” dos 90s. Soderbergh, esse, nunca mais foi igual. Estilhaçou o véu protector que cobre esse fi lme e fez-se à imagem dos tempos nada sacralizantes que estavam para vir: umas vezes experimental, outras funcionário da indústria, outras, ainda, artesão... V.C.

Pedro CostaO Sangue, 1989

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Há qualquer coisa com o silvo dos comboios, à noite... Poderosamente evocativo, é o som de um mundo es-quecido no escuro. E com ele as pes-soas que nunca conhecemos, que ascendem à condição de fantasmas. Isto nos filmes (ou no “Man Alone” de Frank Sinatra/Rod McKuen). Cha-ma-se “Night Choir” o livro, de Jona-than Raymond, de que Kelly Reichar-dt partiu para filmar “Wendy and Lucy” – o coro na noite é o dos com-boios, claro. Esse silvo existia nos fil-mes americanos a preto e branco – Ford, Ray ou Walsh, por exemplo, não é fantasia. E desapareceu.

“Andei por 30 estados do país à procura do local exacto onde queria filmar [“Wendy e Lucy”] e acabei no Oregon. Parava em parques de esta-cionamento, dormia em motéis, e onde quer que estivesse ouviam-se os comboios. Se quisermos mesmo ouvi-los eles fazem parte da paisagem. Mesmo em minha casa, em Nova Ior-que, oiço-os. Não sei porque é que desapareceram. Porque os comboios andam por aí”, diz Kelly Reichardt.

Kelly trouxe o silvo de volta – é o mesmo que regressar a uma geografia humana, social que já não existem no “mainstream” cinematográfico. Ele marca o percurso de Wendy (Michel-le Williams), e da sua cadela Lucy, pelo Oregon, onde ficou com o carro avariado, a caminho do Alasca. Wen-dy é uma dessas pessoas que não con-seguem ser vistas. A vida, económica e social, é um tecido frágil a esboroar-se. Quem é que olha para um vulto que caminha em direcção ao desapa-recimento?

Mas o silvo do comboio acorda-nos. Na verdade, deve ser por isso que de-sapareceu. Porque o cinema abdicou dessa capacidade de assombrar.

Há outro filme de Kelly Reichardt que também chega a Portugal (em DVD, igualmente edição da Alambi-que). Chama-se “Old Joy” (2006). Aqui não há comboios, mas há outro som com o qual devemos contar: o de um programa radiofónico. Pergun-tas e respostas espalham pela noite a impotência do liberalismo americano. É com esse som que dois amigos, Kurt (Will Oldham) e Mark (Daniel Lon-don), partem para um fim-de-semana de campismo na floresta nos arredo-res de Portland – paisagem habitual de Jonathan Raymond, em cujo conto, de novo, “Old Joy” é baseado.

Sugere-se o que Kurt e Mark foram um para o outro no passado: uma cumplicidade de utopias. E o que a vida de cada um separou, o que per-deram. Esta viagem será, não uma espécie de “Deliverance” ( John Boor-man, 1972), embora a inquietação espreite, será uma elegia.

Comentários silenciosos – parecem dois filmes mudos – sobre um país e

Quando havia comVultos na paisagem, fantasmas de um cinema social que desapareceu, comentários silenciosos s de Kelly Reichardt, em “Wendy e Lucy” (nas salas) e “Old Joy” (

Cin

ema

Wendy (Michelle Williams) e a cadela Lucy no Oregon

a caminho do Alasca - “Wendy e Lucy”

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 15

uma sociedade, a da América, e sobre aquilo que, tal como aconteceu no cinema, esse país perdeu?

“Quis fazer filmes que fossem sobre um momento no tempo. Quando o país mudou para a direita, quando nos sentimos deslocados aqui, nos anos Bush. E quando os democratas não conseguiram ser eficazes. Imagi-ne-se como era profundamente alie-nante viver neste país e ver uma onda de direita a tomar conta da América. Fizemos ‘Wendy e Lucy’[2008] de-pois do furacão ‘Katrina’, e era claro, naquela altura, a animosidade contra os pobres da América. Para além de desinteresse, havia pura animosida-de. Ambos os filmes foram feitos nes-ses anos, e tentámos detectar a inefi-cácia do liberalismo na América.”

“Wendy e Lucy” e “Old Joy” são filmes de época? “Claro que Obama é uma grande melhoria em relação Bush, mas o problema é o excesso de poder corporativo na América. Em criança, eu atravessava o país com os meus pais e cada estado era específi-co. Sabíamos exactamente quando estávamos num estado ou quando saíamos de um estado pelos sítios on-de comíamos ou onde dormíamos, pelas estações da rádio. Agora atra-vesso o país uma vez por ano e per-cebe-se que os lugares não são dife-rentes como antes. E isso sinto como uma perda.”

Actores na paisagemPodemos ver, na passagem de um fil-me para outro, de Will Oldham para Michelle Williams, um “upgrade” de alienação: ela está tão obcecada com a sua frágil realidade – e a cadela, Lucy, que desapareceu... – que já não olha. Ninguém repara nela, mas ela já não repara nos outros. “Eu diria que as personagens dos meus filmes têm de sobreviver. E perseguem uma ideia de liberdade, de desprendimen-to. Isso consome-as. Rouba-lhes toda a energia.”

Sobre a paisagem comum nos dois filmes, Kelly regressa sempre a ela, e

é a paisagem que rodeia o escritor Jon Raymond. “Lembro-me de ter andado seis meses à procura do local para filmar e de ter acabado exactamente no local sobre o qual ele escreveu. Nunca pensei, com ‘Wendy e Lucy’, voltar a filmar no Oregon outra vez [depois de “Old Joy”]. É um estado variado, florestas, cidades, deserto. Jonathan Raymond escreve sobre ele. Mas não é só por isso. É que a minha equipa vive ali, os produtores, por exemplo. Trabalhamos com peque-nos orçamentos, torna-se prático. Mas há, de facto, algo no Oregon... olha-se em volta e recolhemos informação sobre o que é o país... a viagem dá-nos tempo para pensar...”

E é na paisagem que Kelly lança os seus actores. Como se o trabalho de “casting” fosse descobrir a capacida-de de estabelecer relação com uma paisagem. “Não tínhamos controlo sobre a área em que filmámos [em “Wendy e Lucy”], pusemos a Michel-le Williams em contacto com um mundo específico. Toda a gente que aparecia no plano ficou a pertencer à paisagem. Para o melhor ou para o pior, é o retrato de um momento e de um tempo.”

Mas nesse campo, acrescenta, uma actriz como Michelle Williams ou um cantautor como Will Oldham (esta se-mana actua em Portugal) equivalem-se no mistério. “Representar é um coisa misteriosa. Quer com Michelle quer com Will, o que tentei foi perce-ber o que eles queriam de mim. Will, de alguma maneira, é escritor, sabe como se aproximar de uma cena.”

Com outro escritor, Jonathan Ray-mond, Kelly estabeleceu uma cum-plicidade. Ela não adensa os contos dele – tendência óbvia: multiplicar narrativas para a coisa dar um filme. Procura as suas formas específicas de minimalismo.

“‘Old Joy’ é originalmente um con-to. Procurei as nascentes de água quente para as quais as personagens se dirige, visitei muitas e encontrei todo o tipo de pessoas, algumas das quais acabaram por reverter para a história que filmei. Por exemplo, na história que Jonathan escreveu os dois amigos são solteiros, mas no filme um deles está à beira de ser pai, e isso foi informação visual que recolhi – vi, por exemplo, várias mulheres grávidas nas visitas às nascentes. Com ‘Wendy e Lucy’, outro conto, antes de Jona-than acabar de escrever comecei eu a escrever o argumento. Houve um vai-e-vem entre nós. Jon é um escritor subtil, todas as suas personagens es-tão envolvidas por uma paisagem, por isso é que estamos interessados em trabalhar juntos.”

“Num mundo ideal”, continua, “penso que se sempre que tirarmos todos os diálogos um filme ainda fun-ciona.” Kelly é professora de “Visual story” e define o seu trabalho de rea-lizadora como uma forma de ser me-lhor professora e, assim, ser melhor realizadora.

“Quando se trabalha com actores, o maior desafio é eles confiarem em nós e fazerem o que nós quisermos independente do diálogo. Fazer com que, através do movimento de câma-ra, do lugar que destinámos ao actor no plano e na paisagem, consigamos evocar a mesma emoção sem que na-da seja dito. É preciso um certo tipo de actor que se abandone a isso. Não tem a ver com improvisação, não tí-nhamos tempo para improvisar. Tem a ver com pôr os diálogos fora do ca-minho.” Basta ouvir o silvo do com-boio.

Ver crítica de filme págs. 52 e segs.

omboios...s sobre a América em perda. Vamos escutar o minimalismo ” (DVD). Vasco Câmara

“Quis fazer filmes sobre um momento no tempo. Quando nos sentimos deslocados a viver nosanos Bush. E quando os democratas não conseguiram ser eficazes de forma alguma”

Elegia por uma amizade e pelos ideais perdidos - Will Oldham e Daniel London nas florestas do Oregon – “Old Joy”

Kelly Reichardt

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Maria do Rosário Pedreira, 50 anos, poeta, ficcionista e editora, ouve aten-tamente a voz dos seus autores. Antes, na Temas&Debates e, depois, na Quid-Novi, descobriu (e revelou) jovens autores portugueses: com três deles ( José Luís Peixoto, valter hugo mãe e João Tordo) “venceu” prémios José Saramago. Mas, ao sentir a frustração de perder os seus autores para edito-

ras mais fortes, aceitou, no final de 2009, o desafio da Leya para ser “edi-tora sem chancela” dos novos autores portugueses. Na altura, conta, hesi-tou. Mas reconhece que a Leya lhe deu a estrutura para fazer aquilo que a apaixona: ser uma leitora profissional. Poder “destapar o véu e mostrar o que é que tanta gente é capaz de fazer num país com tão poucos recursos”.

A Leya tem uma série de chancelas e o seu trabalho é transversal a todas. Como é que isso funciona na prática?É um trabalho que tem vantagens e desvantagens. A primeira vantagem é poder colocar um autor na melhor chancela possível. Ou seja, se traba-lhamos só numa editora, quando des-cobrimos um livro ele tem de ser pu-

blicado ali e, às vezes, é um livro que não tem a cara daquela editora. Como a Leya é um conjunto de editoras, é sempre possível afinar a escolha, di-zer que este é um livro que fica me-lhor na ASA, ou na Caminho, porque é de um africano, ou na Dom Quixote, porque é mais literário. Essa vanta-gem é enorme. Por outro lado, tam-bém tem desvantagens, porque tem

Missão:reconstruir uma literatura

Maria do Rosário Pedreira, a editora que descobriu três dos seis prémios José Saramago ( José Luís Peixoto, valter hugo mãe e João Tordo), mudou-se para a Leya, onde tem agora a missão de atrair os novos autores portugueses para o

grupo. Ler, diz, é o melhor serviço que pode prestar ao país. Raquel Ribeiro

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Aos 50 anos, Maria do Rosário Pedreira mudou-se para um grande grupo para não ter de assistir ao êxodo dos “seus” escritores para editoras mais fortes

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 17

ra nacional

de se fazer uma programação com todos os editores das chancelas para não chocar com outros autores que eles tenham para publicar. Às vezes descobrimos um autor, queremos lo-go lançá-lo e não podemos, temos de encontrar o “timing” certo. Encontrar essa disponibilidade é o mais compli-cado. Outra coisa complicada para mim é que acabo por ter muito mais

reuniões do que um editor que tem só uma chancela. Isso rouba algum tempo à leitura e à edição.Os editores das chancelas não sentem que pode haver uma ingerência da sua parte nas suas opções?Não, porque fui contratada para fazer uma coisa que a maioria dos editores não tem tempo para fazer. Uma edi-tora como a Dom Quixote tem imen-sos autores, estrangeiros e portugue-ses. Não é humanamente possível a esse editor fazer o trabalho de sapa que estou a fazer: ler não sei quantos originais, corrigir os originais com o autor. Tem havido abertura, não te-nho sentido nenhuma espécie de hos-tilidade.A sua função na Leya é de “editor”. Qual é a diferença entre um “editor” e um “publisher”?O “publisher” (tradicionalmente era o dono da “publishing house”) é aque-le que decide o que se publica e que compra os livros. O “editor” edita os textos, trabalha-os com o escritor. É como um editor no jornal: o jornalis-ta escreve o texto e o editor está lá com autonomia e autoridade para cortá-lo. Na tradição anglo-saxónica, o “editor” existe desde sempre e é alguém que orienta o original. Dantes, o que se fazia em Portugal, quando um escritor aparecia com um livro, era decidir: ou é publicável ou não é publicável. Agora, o que faço como “editor” é: isto ainda não está bem, mas pode estar. Reúno-me com o au-tor e faço um trabalho de edição aten-tíssimo, em que lhe digo: “olhe, por-que é que escreveu isto? Tem de pôr de maneira a que se perceba. Esta imagem é má. Isto está mal explicado. Isto é inverosímil.” E ele leva e faz melhor. Em casos mais extremos, co-mo no Reino Unido, o “editor” chega a escrever o livro pelo escritor. Isso não faço, porque acho que não se de-ve publicar um escritor que não se aguente sozinho. Faço sugestões, cor-recções, apanho incongruências.Faz esse trabalho como leitora atenta, ou como escritora, que a Maria do Rosário Pedreira também é?Como leitora atenta. Uma pessoa com prática neste trabalho não precisa na-da de ser escritor. Não acho que é por ter escrito livros que sou melhor do que outra pessoa que quisesse fazer este trabalho e se apaixonasse por ele. É preciso prática, evidentemente, mas não acho que seja preciso ser escritor. Pode ser uma vantagem ter,

. Deviam ter-lhes dito: a vez na gavetinha

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18 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

por exemplo, imaginação. Mas não é preciso ser escritor para se ter ima-ginação. O trabalho de “edição” é um trabalho ainda raro em Portugal?Sim, mas nos outros países é uma coi-sa que existe há anos e que, se calhar, nos poupou lermos muitos livros maus que não deviam ter saído. Acho, sinceramente, que há muitos livros de bons autores que não deviam ter saído. Ou que não deviam ter saído como estavam. Deviam ter-lhes dito: precisou de escrever isto, fez-lhe bem, agora guarde outra vez na gavetinha. Isso nunca se passou em Portugal jus-tamente porque havia poucos escri-tores e poucos leitores também. Nin-guém tinha coragem para dizer a uma pessoa dessas “isto está mal”. As pes-soas sentiam-se intimidadas de dizer, imaginemos, ao Vergílio Ferreiro “o senhor fez aqui uma asneira”. Não se podia dizer. Mas a partir do momen-to em que há uma vulgarizacão do escritor – aliás, há demasiada vulga-rização, porque também há gente que nunca deveria ter escrito livros –, acho que é preciso esse apoio para tornar a coisa o melhor possível. Muitos dos livros que publiquei e aos quais fiz “editing”, provavelmente, não teriam sido publicados se tivessem aparecido duas décadas antes, porque o editor tinha-se limitado a dizer “isto como está não está bem”.Diz-se que é uma espécie de caça-talentos, como os olheiros no futebol, que vão ver os jogadores dos outros antes de os contratar. Essa é também a função de um editor?É. O que acontece é que o editor, nos tempos modernos, é cada vez menos editor e é cada vez mais um tipo que compra sucessos que já estão feitos lá fora. A partir do momento em que a edição se tornou uma indústria, pa-rece que passou a ser mais importan-te vender livros do que fazer livros com qualidade. Para se fazer edição um bocadinho à antiga, ou seja, tra-balhar os livros com os autores, é pre-ciso, em primeiro lugar, experiência. Quando comecei na edição, não con-seguia fazer este trabalho. Tive de trabalhar 20 anos. Depois é preciso gostar, e acho que há imensa gente que não gosta porque para encontrar um bom autor tem de ler 100 maus. Há pessoas que não querem ler 100 livros maus. E também é preciso ter algumas características: é preciso criar empatia com os autores, é pre-ciso começar com os autores desde o

primeiro livro, para que eles se habi-tuem a que este é um trabalho nor-mal. Quando me convidaram para ir para a Leya, tive imensas hesitações, já tinha trabalhado num grande grupo e não tinha gostado particularmente. Gostava mais de uma editora indepen-dente, pequena, onde há mais diálo-go, mais capacidade de discutir as coisas. Mas, por outro lado, há muito menos capacidade para fazer isto, porque isto custa dinheiro. Perde-se muito tempo a ler 100 para encontrar um. Além disso, hoje os autores já não querem o que queriam antes. Querem que se invista neles, querem viver só da escrita, querem vender muito. Nu-ma pequena editora isso não é possí-vel. Sobretudo depois de o valter hu-go mãe ter saído da QuidNovi, perce-bi que ia perder todos os autores que tinha feito de raiz se continuasse a trabalhar numa editora pequena.A Leya tem a estrutura que lhe permite não os perder.Tem a estrutura, tem meios e aposta nisso. Deram-me a possibilidade de fazer aquilo de que gosto e de poder acompanhar os meus autores. Tinha chegado a um ponto em que eles que-riam receber mais dinheiro, e que-riam vender mais, e acabavam por se ir embora.Quantas propostas recebe por mês? E como é que de 100 chega a um?Como agora reúno as propostas que vão para a Leya, recebo talvez umas 150 por mês. É muito fácil fazer logo uma primeira selecção: há muita coi-sa infantil, não é para mim; muita coisa de não-ficção, não é para mim; muita coisa de um género mais cor-de-rosa, não sinto que seja para mim – vejo se tem pés para andar e mando para editoras do grupo que têm esse tipo de coisas. Desses 100, há dez que tenho de ver com mais atenção. Se calhar, desses dez só há dois que re-sistem à página 30. E depois há aque-les que são obviamente bons mal se começa e outros em que temos de arrastar a leitura ao longo de 200 pá-ginas para depois chegar ao fim e di-zer: “Não há nada de errado aqui, mas não ficou cá nada dentro”. Esses são os livros piores, porque nos fazem perder tempo e depois não recom-pensam. Mas também há aqueles que se encontram pelo meio e em que se vê logo que há ali qualquer coisa que, na génese, já é muito boa...Isso é um encontro seu com o livro?Não é um encontro só meu. É a sen-sação de que não vi aquilo em mais

lado nenhum. Já publiquei livros de que não gostei muito. Eram bons, mas não tinham um estilo que me tocava. Mais do que isso, o que importa é a escrita ser nova. Com autores como o valter hugo mãe ou o José Luís Pei-xoto, a sensação que tenho hoje é que uma pessoa que tenha acompanhado a obra de ambos, saberá sempre, se vir a obra num concurso sob pseudó-nimo, que é um livro do Peixoto ou do valter hugo mãe. Não há a menor dúvida: aquilo é deles! É novo, não é parecido com nada. É isso que procu-ro, e que encontro, nesses novos au-tores. Está tudo inventado, mas ainda é possível encontrar coisas que não se pareçam com nada. No caso do Vasco Luís Curado [é o seu primeiro autor na Leya, onde publica este mês “A Vida Verdadeira”], há algo muito curioso na minha relação com este romance: não consigo escolher entre a linguagem e a estrutura, as ideias, ao contrário do que me costuma acon-tecer quando encontro um autor no-vo. Há uma coisa poderosa: tem uma estrutura muito interessante, com uma linguagem interessante e ideias interessantes. Sei que daqui a dois livros toda a gente identifica um livro do Vasco Luís Curado como sendo dele e de mais ninguém.A escrita como uma assinatura?É uma voz que, apesar de combinar os mesmos elementos, porque já não é possível inventar nada, consegue, nessa combinação dos estilos, das linguagens todas, aparecer com uma proposta que é diferente.Nesse sentido, podia dizer de si própria que é uma editora que ouve os seus autores?Acho que sim. Oiço-os muito, mas ele também têm de me ouvir [risos].E por que razão são todos rapazes? Não há jovens escritoras?Não são só rapazes. Espero publicar em breve uma mulher que vai dar que falar: Aida Gomes da Silva. Uma an-golana com um livro que se vai cha-mar “Os Pretos de Pousaflores”. Por-tanto, elas aparecem.Nesses 150 que recebe por mês, quantas são mulheres?Aparecem muitas mulheres a escre-ver, mas não coisas literárias, coisas mais comerciais. Como essas não são aquelas que fui contratada para pu-blicar, passo-as a outras pessoas. Des-se tipo de textos, uma literatura mais “light”, aparece muita mulher a es-crever. Literariamente, aparecem poucas. Acho que isso pode ter uma explicação: segundo as estatísticas,

Hoje os autores querem que se invista neles, querem viver só da escrita, querem vender muito. Percebi que

ia perder todos os autores que tinha feito de raiz se conti-nuasse numa editora pequena

Portugal, diz Maria do Rosário Pedreira, estava “a cair numa literatura muito ‘main-stream’”, e muito dependente dos “best-sellers” mais velhos

as mulheres lêem muito mais hoje em Portugal do que os homens. Isso pode obviamente criar-lhes um grau de exi-gência superior para escrever. Uma pessoa que lê muito mais tem muito mais noção dos seus limites como es-critor. Acho que as mulheres são mais críticas em relação àquilo que escre-vem do que os rapazes.É pudor, é medo? Medo, ou consciência dos limites. Os homens arriscam mais. Por outro la-do, quem está a ler mais também tem menos tempo para escrever: se ca-lhar, daqui a uma geração vamos apa-nhar mais mulheres escritoras. Se vir num nível mais abaixo, na literatura mais leve, há muito mais mulheres do que homens. Pode ser que as mulhe-res estejam mais interessadas em fa-zer coisas para um público mais alar-gado. Mas também estamos a assistir a um número muito grande de mu-lheres jornalistas – e acho que essa geração de jornalistas, a médio prazo, vai dar uma geração de escritoras. Se calhar estão à espera da maturidade literária para poder arriscar. Eu, por exemplo, depois de tudo o que li e publiquei, tenho uma timidez muito maior em voltar a publicar um roman-ce.Ia perguntar-lhe isso, porque é uma mulher escritora.Já li e publiquei coisas tão boas que é difícil pensar que sou capaz de fazer algo ao mesmo nível. É esse grau de exigência que vejo nessas mulheres: lêem coisas tão fascinantes que acham que não chegariam lá. Mas acredito que daqui a dez anos possamos ter uma surpresa. Acima de tudo sou lei-tora, não sou escritora. Um escritor vive para escrever, eu sou bastante preguiçosa. Se não escrevesse nada não era infeliz por causa disso. Era infeliz, isso sim, se não me deixassem ler. Presto um serviço melhor, até à nação, como leitora. Há pouco falou em caça-talentos, mas não é bem isso. É destapar o véu e mostrar o que é que tanta gente é capaz de fazer num país com tão poucos recursos. Essa é a minha missão: reconstruir uma literatura nacional. E é uma missão funda-mental: não podemos publicar só “best-sel-lers”, temos de ter escri-tores que façam parte da história da literatura em todas as gerações. Estava-se a cair numa li-teratura muito “mainstream”. Precisamos de renovar, porque os nossos autores não são eternos.

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20 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Tudo começou com uma história de amor: por carta. A mãe da escritora sueca Alexandra Coelho Ahndoril nas-ceu em Cabeça das Mós, num “sítio que ninguém conhece porque é mui-to pequenino”, perto do Sardoal. Quando tinha 12 anos foi viver para Lisboa e, como queria aprender in-glês, colocou um anúncio no jornal a pedir um “pen-pal” para ter alguém com quem se corresponder. “O meu pai, que era marinheiro, respondeu

e ficaram noivos por correspondên-cia”, conta Alexandra, autora do po-licial “O Hipnotista” que escreveu a meias com o marido, o escritor Ale-xander Ahndoril, sob um pseudóni-mo comum: Lars Kepler. “O navio do meu pai passou por Lisboa, estiveram juntos cinco dias e depois casaram. A minha mãe veio viver para aqui. Foi muito romântico, apaixonarem-se por carta”, disse ao Ípsilon, em Estocol-mo.

Foi por causa desta paixão que Ale-xandra Coelho nasceu na Suécia. Cresceu em Helsingborg, foi actriz e abandonou a carreira. Há dez anos resolveu aprender português e estu-dar literatura portuguesa. Está agora a escrever a tese sobre Fernando Pes-soa. Pelo seu primeiro romance, “Cas-tle of Stars” (2003), recebeu o Cata-pult Prize para melhor obra de estreia. Vive em Estocolmo com Alexander Ahndoril, dramaturgo e autor do ro-

mance “The Director”, inspirado em Ingmar Bergman. Quando casaram, passaram a lua-de-mel em Portugal e regressam este mês para promover o livro que escreveram juntos.

Queriam descansar entre os roman-ces individuais e por isso atiraram-se a um policial, “O Hipnotista”, que é o “bestseller” nórdico dos últimos tempos. O projecto Lars Kepler co-meçou porque estavam os dois sem fazer nada: tinham acabado, ao mes-

O segredo por trás de Toda a vida trabalharam em livros que consideravam sérios e foi com o que escreveram para s

e Alexander Ahndoril, os autores por trás do pseudónimo Lars Kepler, se tornaram m

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Alexandra e Alexander não dividiram os capítulos de “O Hipnotista”, escreveram dentro do texto um do outro: “Concor-damos com tudo porque sabemos como é que o Lars Kepler escreve”

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 21

e Lars Keplera se divertir, o policial “O Hipnotista”, que Alexandra

m mundialmente conhecidos. Isabel Coutinho, em Estocolmo

mo tempo, de escrever os romances assinados em nome próprio. “Quando se acaba de escrever fica-se invadido por um vazio, uma melancolia ou de-pressão... temos vontade de perma-necer naquele texto. Já tínhamos fa-lado muitas vezes da possibilidade de escrever em conjunto, mas nunca conseguimos fazê-lo. Começávamos sempre a discutir quando tentáva-mos. Cada um defendia os seus textos e a sua estética. Por isso, tentámos escrever sem ser como Alexandra e Alexander. Quisemos fazer uma coisa completamente diferente, um novo género, uma nova linguagem, noutro tom. E de repente Lars Kepler nasceu! Foi muito estranho”, conta.

“O Hipnotista” tem como persona-gem principal Joona Linna, um comis-sário de polícia judiciária que tem de descobrir quem assassinou violenta-mente uma família inteira. Logo no início do livro, um adolescente de 15 anos de idade, o único sobrevivente desse massacre, é submetido a hip-nose por um médico especialista, Erik Maria Bark, e confessa o crime. É o início da história.

Tudo o que está em “O Hipnotista” é ficção, menos as descrições das téc-nicas de hipnose e o trabalho dos po-lícias, que também segue as regras da profissão. “Queríamos escrever no presente, aqui e agora, e queríamos que o livro se lesse rápido”, explica Alexandra. Alexander tem um irmão que é hipnotista e, num dos seus es-pectáculos, ela e o marido viram as caras das pessoas hipnotizadas – “era como se estivessem a dormir e, ao mesmo tempo, pareciam estar acor-dadas, era assustador e excitante ao mesmo tempo”. Pareceu-lhes que o poder da hipnose era muito interes-sante para usar num livro. “E se ao se hipnotizar alguém chegássemos a res-postas a que nunca se pensaríamos chegar? Num romance policial entra-se na cabeça do culpado.” Exacta-mente como um hipnotista.

Caça ao homemO que apareceu primeiro: o projecto ou o pseudónimo? “O projecto apa-receu primeiro, decidimos escrever como se não fossemos nós próprios. Quando o nome apareceu – Lars Ke-pler –, o tom apareceu com ele [risos] e também a parte aterradora, negra, da história. É muito importante para os autores o som que têm as palavras. O título do livro e o nome do autor fazem parte do sentimento que se tem quando se pega num livro”, argumen-ta Alexandra.

Ao ler “O Hipnotista”, não se con-segue perceber quem escreveu o quê. “Muitos dos escritores que trabalham juntos dividem os capítulos, ou as personagens, entre eles. Nós não fa-zemos assim. Escrevemos dentro do texto do outro. Sempre. Ele começa a escrever uma cena e eu escrevo a minha cena e depois mandamos por e-mail as cenas um ao outro.” Man-dam os textos por email, na mesma casa? Gargalhadas: “Estamos senta-dos mesmo ao lado um do outro. Re-cebo o texto do Alexander e continuo a escrever dentro do texto dele, alte-rando-o.”

Claro que antes de chegarem a essa fase já tinham decidido o “plot”, a intriga. “É muito inspirador escrever assim, temos sempre novos impulsos quando recebemos os textos do outro. Seria muito problemático se eu esti-vesse a escrever como Alexandra Ahn-doril, a escrever da maneira como sinto a língua e como utilizo as metá-foras. Mas neste caso, somos um só autor. Somos o Lars Kepler. Não sei como é que acontece, mas concorda-mos com tudo porque sabemos como é que o Lars Kepler escreve! [garga-lhadas]. É muito estranho.”

Foi na Feira do Livro de Frankfurt que há uns anos se começou a falar de “O Hipnotista”. Não se sabia quem era o autor deste policial, mas dizia-se que podia ter sido escrito por Hen-ning Mankell. “Era segredo na altura. Mandámos o manuscrito do Kepler para a nossa editora sem mencionar os nossos nomes”, conta Alexandra. Por que é que fizeram isso? “Somos autores literários, queríamos que a obra de Lars Kepler fosse lida sem que nos estivessem a ver por trás. Querí-amos mesmo que fizessem uma lei-tura isenta do livro.”

Criaram então um “hotmail” fictí-cio em nome de Lars Kepler, e apre-sentaram-se dizendo: “Eu chamo-me Lars Kepler, sou um pseudónimo. Por favor comuniquem comigo através desta conta de e-mail”.

É difícil tentar publicar o primeiro livro na Suécia, mas ser um policial facilita as coisas. Neste caso, uns dias depois do envio do manuscrito todas

as pessoas da editora já o tinham lido. O editor não gostou de lidar com um autor que ele não sabia quem era. Co-meçou a ficar muito preocupado e a achar que poderia tratar-se de um maluco. Pediu então para saber quem era Lars Kepler. “Respondemos-lhe por e-mail que só poderíamos revelar quem éramos depois de ele ter lido o livro até ao fim.” Só depois da confir-mação de que “O Hipnotista” ia mes-mo ser publicado é que Alexander e Alexandra Ahndoril revelaram a ver-dadeira identidade por trás de Lars Kepler. Na editora, só duas pessoas sabiam do segredo e foram obrigadas a manter sigilo: “A nossa ideia era es-crevermos os livros do Kepler com-pletamente incógnitos.” Mas como, nos tempos que correm, é difícil pro-mover um livro por e-mail, o editor de detestou a ideia.

Quando “O Hipnotista” foi para as livrarias suecas na sua primeira edi-ção, em Julho de 2009, não havia ne-nhuma fotografia do autor na contra-capa do livro. Ninguém sabia quem era Lars Kepler e os jornais partiram à caça do autor misterioso. Os direitos de tradução foram vendidos para 29 países mesmo antes de o livro sair na Suécia, e a curiosidade tinha ganho enormes proporções.

Três semanas depois, o segredo foi descoberto. “Era Verão, não havia muitas notícias, e talvez fosse uma provocação existir alguém que não queria aparecer na media. Os jorna-listas suecos decidiram fazer notícia disso e uma noite apareceram na nos-sa casa de campo a meio da noite com uma lanterna”, diz Alexandra. A fa-mília estava a deitar-se, já estava es-curo lá fora, quando viu pelas janelas uma estranha luz no jardim. “Quando abrimos a porta, apontaram aquele foco de luz para a nossa cara e disse-ram: ‘Admitam. Vocês são Lars Ke-pler.” [gargalhadas]

Os escritores não contaram aos amigos, nem sequer à família, que eram Lars Kepler. Mas não foram to-talmente cuidadosos e por isso um jornal tablóide descobriu a verdade: “Nunca imaginámos que houvesse tal caça ao homem, ao Lars Kepler. Po-deríamos ter sido mais cuidadosos, mas tivemos de criar uma empresa, e de registar o nosso nome para pas-sar os recibos.”

Negaram? “Eu estava muito assus-tada. Seria um crime ter um pseudó-nimo? Não perguntámos nada ao nos-so editor, sabíamos que ele iria ficar contente; no dia seguinte, enviámos um comunicado para todos os jornais. Enfiámos as nossas coisas no carro e regressámos a Estocolmo. Deixámos o frigorífico cheio de comida, foi mes-mo caótico. As crianças tiveram de correr para o carro, outros jornalistas estavam a dirigir-se para lá. Foi muito estranho, muito bizarro.”

Ainda mais estranho quando pen-samos que se trata do mundo dos li-vros. Acontece muitas vezes na ficção, mas poucas vezes na realidade.

O Ípsilon viajou a convite do Ministériodos Negócios Estrangeiros da Suécia

Ver crítica de livros pág. 49 e segs.

“Talvez fosse uma provocação existir alguém que não queria aparecer na media (...). [os jornalistas de um tablóide sueco] apareceram na nossa casa de campo a meio da noite com uma lanterna. Quando abrimos a porta, apontaram-nos aquele foco de luz e disseram: ‘Admitam. Vocês são Lars Kepler” Alexandra Coelho Ahndoril

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22 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Bem podem arder as selvas urbanas da América latina às contas com o tráfico de droga e todas as outras mi-sérias e guerras que daí brotam.

David Toscana (Monterrey, México, 1961) sabe que não faltam felizmente, no México, na Colômbia, escritores que se queimam a lamber essas feri-das e chagas em carne viva. E isso deixa-o mais tranquilo para continu-ar a inspirar-se no vento que vem das paisagens áridas. Em nome de uma certa matriz da literatura dos realis-mos: os mágicos e os outros aparen-tados.

A sua teimosia fê-lo marcar pontos: a sua obra já está traduzida em treze países com destaque para “O Último leitor” já traduzido pela Oficina do Livro.

Em “Santa Maria do Circo” apre-senta-nos a um circo com apenas oito pessoas, em total decadência, que vai no entanto arranjar sonhos e forças para ocupar e governar a cidade aban-donada aonde chega.Não se sente a escrever em contra-corrente? Um teimoso que não quer abandonar o deserto?Aparentemente, escrever sobre ari-dez e desertos tinha passado à histó-ria e tinha sido trocado pelas paisa-gens urbanas. Mas agora assiste-se ao lado da literatura urbana, a um re-gresso à tradição, a uma certa matriz onde Juan Rulfo e o seu “Pedro Pára-mo” desempenham papel ainda cen-tral.

Quando escrevemos, procuramos escutar vozes internas, algo que este-ja intimamente dentro de nós. E as minhas histórias e as minhas perso-nagens situam-se em locais primiti-vos: sem automóveis, semáforos, sem televisão e sem telemóveis.Mas apesar de tudo não é

deserto o que vê quando acorda. Monterrey é uma cidade com tantos habitantes como Madrid.Monterrey é uma cidade de quatro milhões de habitantes, às portas do deserto. Mas o fenómeno urbano en-quanto fonte de inspiração literária não me interessa: nem o tráfico de droga, nem as farmácias que vendem Prozac.

Prefiro frequentar locais e ideias já visitadas na literatura à procura de lhes espremer mais sumo. Qualquer escritor, desde que perceba que há algo novo para dizer, deve persistir.Mas o que resta de um circo, miséria em movimento, não é novidade.O pretexto é o circo, mas a essência do que se vai passar é o que acontece a um grupo de pessoas que chega a um local abandonado. William Gol-ding fê-lo com “O senhor das mos-cas”, José Donoso com “A casa do campo”.

Procurei desmontar preconceitos. Nos monólogos das personagens está patente a necessidade de ir para além das ideias feitas: o anão tem mais pro-blemas para além de ser baixo, o ho-mem forte é mais que simples mús-culos, o mágico não é só um tipo que tira cartas, lenços ou coelhos de um chapéu, a mulher com barba não se preocupa só com o facto de ter a cara coberta de pêlos.Inventou-lhes um mundo maior que as suas próprias vidas. Desdobrou-lhes a personalidade até obter um micro-cosmos social. Com oito pessoas e um cavalo velho e cansado é preciso traduzir a alegoria da realidade e o seu mal-estar. Podem ser oito ou oitenta mil.

O romance aborda também o pro-blema da degradação. “Santa Maria

do Circo” começa como uma ideia de paraíso, mas depois o choque com a realidade faz-nos descer à terra. É uma maquete que traduz uma reali-dade maior, a das grandes sociedades no seu confronto com o racismo, com a homofobia, com a tutela militar dos que ainda procuram o poder. Aspec-tos, fantasmas ainda muito presentes nos países da América Latina. Há ain-da referências à história e aos mitos associados aos fundadores da pátria que também pesam na organização da sociedade. E a degradação convida ao desleixo: uma cidade composta de ruínas engole quem lá chega. Degrada quem tenta começar de novo. É propensa a delírios.De certa forma é o que se passa. Hér-cules é o homem forte que deixa de

ser atractivo à medida que se deixa engordar e Santa Maria do Circo tam-bém é assim. Não há água, nada fun-ciona.

Repare que de todos os animais o homem é o que se degrada mais rapi-damente: não é fácil distinguir entre um cavalo jovem e um cavalo velho, mas é fácil reconhecer e distinguir um homem velho de um jovem.

Eu considero saudável que quem possa invente outra realidade. A dife-rença entre a forma como me vêem e a forma como eu me vejo enquanto pessoa provoca um choque anímico em qualquer romance. Em “Santa Maria do Circo” quando o anão se transforma num padre é outra pessoa que aparece à nossa frente. Está feliz com a sua nova personalidade. Foi isso que me chamou a atenção e que me fez imaginar como seria a vida des-tes eternos ambulantes.Não há, portanto, nenhum ajuste de contas com as suas memórias dos circos que viu, como qualquer um de nós na infância.Não. A mim o que me interessava não era ser enciclopédico, viver com o circo e contar a experiência. A mim chega-me a imaginação. Na literatura o importante é que aquilo que imagi-nemos seja sedutor, emocionante e não tanto real. Por essa ordem de ideias um escritor de ficção científica só poderia escrever depois de viajar pelo espaço. A imaginação é o disfar-ce literário da mentira. Para si o circo já nasceu literatura?Quase. Para mim o mistério do circo é esse. Custa-me acreditar que alguém realmente chegue a gostar dele mes-mo na infância. As habilidades, os malabarismos podem deslumbrar-nos, surpreender-nos, mas o conjun-to instala em cada um uma tristeza e uma angústia. Tive sempre a sensação de entrar num mundo de total ausên-cia de felicidade.Mas não resistiu à ideia do movimento perpétuo. Os seus “oito magníficos” não ficam em Santa Maria do Circo. Voltam ao pó da estrada. Aí a metáfora é outra: levamos uma vida inteira, e às vezes esse tempo parece não chegar, a desprezar o que nos pode salvar. Quando somos jo-vens somos orgulhosos e despreza-mos muitas coisas que mais tarde valorizamos. Aqui, com as minhas personagens, é o que acontece. Em “Santa Maria do Circo” elas despejam-se de preconceitos, ficam mais livres e já podem voltar a partir, com algu-ma, pouca, tranquilidade. É nisso que consiste o seu realismo que definiu algures como “transtornado”?Romântico, transtornado. Quando rompemos com a razão, a linguagem fica mais livre, qualquer um se pode apaixonar por um porco, transformar-se num padre, numa prostituta. As personagens vivem a sua liberdade plena porque já se livraram do estig-ma das palavras.

Ver crítica de livros págs. 49 e segs.

David Toscana: “A imaginação é o disfarce literário da mentira”A matriz da literatura mexicana do século XX feita de desertos áridos e oásis temporários

encontrou um herdeiro desassombrado. Rui Lagartinho

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“Quando rompemos com a razão, a linguagem fica mais livre, qualquer um se pode apaixonar por um porco, transformar-se num padre, numa prostituta. As personagens vivem a sua liberdade plena porque já se livraram do estigma das palavras”

Em “Santa Maria do Circo” David Toscana apresenta-nos a um circo com oito pessoas, em total decadência, que vai arranjar sonhos e forças para ocupar e governar a cidade abandonada aonde chega

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24 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

O inglês James Wood (n. 1965) passou alguns anos da infância e da adoles-cência internado naquela que é, pro-vavelmente, uma das mais distintas, selectas e anacrónicas escolas do mundo, o Eton College, em Windsor, que se orgulha de ter começado a for-mar (ou a formatar!) 18 primeiros-ministros do reino. Por lá passaram, e continuam a passar, os mais dotados membros masculinos da nobreza in-glesa e da família real britânica. De-pois da passagem por Eton, estudou Literatura Inglesa em Cambridge. Mas foi em 1990, ao ser-lhe atribuído o prémio “British Press Young Journa-list of the Year”, que James Wood co-meçou a tornar-se bastante notado, e a partir de então a sua car-reira progrediu em saltos singulares.

Durante três anos (1992-1995), foi o principal crí-tico literário do jornal “The Guar-dian” e da “Lon-don Review of Books” – em 1994, fez parte do júr i do Booker Prize –, até que se mudou pa-ra os Esta-dos Unidos para se tor-nar editor sénior da revista “The New Repu-blic”. Pouco tempo depois, começou a divi-dir com o escritor Saul Bellow as aulas de Lite-ratura na Univer-

sidade de Boston; e, em 2003, foi con-vidado para o cargo de “Visiting Lec-turer” na Universidade de Harvard, onde actualmente é professor de Prá-tica da Crítica Literária. Há algum tempo que é colaborador assíduo da “The New Yorker” (até à morte de Jo-hn Updike, eram ambos as estrelas da crítica daquela revista de culto).

Da teoria à práticaEm “A Mecânica da Ficção”, James Wood reúne mais de uma centena de pequenos ensaios (precisamente 123, assim numerados) que raramente ul-trapassam as duas ou três páginas. É uma colectânea de textos em jeito de “paciente cartilha” para o “leitor co-mum” (o que quer que seja que isso

signifique), pelo que o autor ten-tou aqui reduzir ao mínimo aqui-lo a que Joyce chamava de “ge-

nuíno fedor escolástico”. Depois de reconhecer o va-lor intelectual do forma-lista russo Viktor Chklo-vsky e do formalista-es-truturalista francês Roland Barthes (especia-listas que escreviam pa-ra especialistas), Wood acusa-os de, como críti-cos, terem pensado co-

mo escritores “alienados dos seus instintos criati-

vos” e de recorrerem repe-tidamente à mesma fonte, o estilo literário. Exactamen-te o contrário do que Wood faz nos seus ensaios: ao pen-sar como um escritor, ele vai

dissecar com minúcia criativa – e com isso passar da teoria à

prática, o que justifica o curioso título da disciplina que lecciona em Harvard – os vários aspectos

dos textos, das personagens à lin-guagem, passando pelo ponto de vis-ta, o estilo, a narrativa, o diálogo e a percepção do detalhe. É singularmen-

te curioso o que ele diz sobre este último aspecto: “Usamos o detalhe para focar, para fixar uma impressão, para recordar. E como anzol. (…) A literatura difere da vida na medida em que a vida é homogeneamente repleta de detalhes, e raramente cha-ma a atenção para eles, enquanto a literatura nos ensina a reparar – a re-parar na maneira como a minha mãe, digamos, limpa os lábios antes de me beijar; no som de berbequim de um táxi londrino, quando o seu motor entra flacidamente em ponto morto; (…); na maneira como a neve ‘range’ debaixo dos pés; na maneira como os braços de um bebé são tão gordos que parecem atados com cordéis.”

Nos seus textos, Wood coloca ao leitor perguntas teóricas, mas apre-senta respostas práticas. Questões como “o que é uma metáfora bem-sucedida”, “o que é uma persona-gem”, como é que o escritor faz para lhe soprar a “vida” (assemelhando-se nisto a Deus) ou porque é que a ficção nos consegue comover são respondi-das com múltiplos exemplos práticos que o crítico vai buscar ao seu imen-so manancial de leituras, que vai des-de os clássicos gregos e da Bíblia até Saramago ou os mais recentes David Foster Wallace e Philip Roth. James Wood defende que a ficção é “simul-taneamente artifício e verosimilhan-ça”, e que estes dois predicados são antagónicos apenas na aparência. Os seus pequenos ensaios, por vezes quase em jeito de relatórios ou de fi-chas, tentam conciliar a técnica desse artifício com o mundo real.

Com Wood, a crítica literária trans-formou-se mais num estímulo à re-flexão do leitor comum do que num julgamento de valores (que obvia-mente não está ausente). E é o facto de mostrar, da maneira que mostra (recorrendo por vezes a metáforas), os mecanismos da ficção que o torna tão singular.

James Wood

da literatura

Trouxe a crítica literária para fora do mundo académico e quase lhe deu uma roupagem pop. Revistas como a “The New Yorker” ou a “London Review of Books” não o largam. Por

cá, “A Mecânica da Ficção”, colectânea que reúne ensaios de um dos melhores críticos anglo-saxónicos, acaba de ser traduzida pela Quetzal. José Riço Direitinho

g gfofoi i emem 1 199990,0, a ao o seser-r lhlhe e atatriribubuídído o o o prémio “British Press Young Journa-list of the Year”, que James Wood co-memeçoçou u aa totornrnarar-s-se e babaststanantete n nototadado,o, ee aa papap rtrtirir d dee enentãtãoo aa susuaa cacar-r-reiri a progredidiu em salltos singulares.

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Nas suas críticas, James Wood reduz ao mínimo aquilo a que Joyce chamava o “fedor escolástico” para se dirigir ao “leitor comum”

o grande cirurgião

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26 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

É mais um daqueles discos que nas-ceram no dia a seguir ao juízo final. Vulcões que cospem fogo. Paisagem árida. Restos de civilização industrial. Lixo. Cacos. Uma pilha de computa-dores portáteis. Consolas de jogos vídeo necessitadas de respiração boca-a-boca. E alguns sobreviventes. Entre eles Steve Ellison, 27 anos, mais conhecido por Flying Lotus. E o que faz ele enquanto a terra desaba em redor? Tenta consertar um compu-tador. Quase consegue. Mas, mesmo com um computador avariado, não desiste. Começa a criar música. Cola as peças que tem à sua disposição. E o que sai de lá é um som desengon-çado, titubeante, hip-hop sem ser hip-hop, com qualquer coisa de psi-cadélico, caldeirão borbulhante de alusões cósmicas, andamentos elás-ticos, recorte de sonhos e realida-de.

“Não tenho nenhuma ideia em par-ticular em mente quando parto para um disco”, diz-nos ele, “são esboços,

fantasias, apontamentos, aos quais vou atribuindo sentido. Neste caso aconteceu-me com frequência acor-dar de noite para rabiscar alguns so-nhos, mas diria que eles não têm uma tradução directa no som do disco.” Já perceberam. Steve Ellison é um alquimista do som. Alguém que pen-sa a música a partir de noções como espaço, tempo, temperatura, textu-ras, ideias rítmicas, estruturas que fogem à norma. Sobretudo espaço: “Vejo este disco como se fosse uma ópera espacial, qualquer coisa per-dida num lugar que pode ser recons-truído, idealmente, a cada nova au-dição”.

Na maior parte dos temas que com-põem “Cosmogramma”, o seu tercei-ro álbum (o segundo para a Warp, editora de culto inglesa), não há vo-zes, mas quando há são de gente co-nhecida. Uma dessas vozes é de um admirador – Thom Yorke dos Radio-head, que surge no tema “...And the world laughts with you”, e com quem

andou em digressão há pouco tempo. Para essa faixa, gravou o som dos úl-timos sinais vitais do monitor do hos-pital onde a sua mãe viria a falecer em 2008. “Prefiro utilizar sons origi-nais, nunca antes utilizados, mas se isso não acontecer não é o fim do mundo”, afirma, acrescentando que grava imensos sons concretos – “ando sempre com um pequeno gravador”. A ideia do título foi do próprio Steve. “Era uma canção que me dizia muito, pessoalmente, e fiquei muito satisfei-to por Thom Yorke ter entrado no seu universo sem problemas, adaptando-se a ele e enriquecendo-o com a sua visão.”

A sua música nem sempre entra à primeira. Às vezes nem à segunda. Obriga a algum tempo de habituação. É exigente. “Se tenho consciência disso?”, interroga-se, “de alguma for-ma sim, porque não me interessa fa-zer uma música qualquer, variação do que já foi feito inúmeras vezes, já existe por aí muita gente a fazê-lo”,

continua, referindo-se a grupos rock que foi vendo nos festivais por onde transitou.

Portáteis e Alice ColtraneNos últimos meses, também se fa-

lou de Flying Lotus por ter participa-do no magnífico álbum “A Sufi And A Killer”, do americano Gonjasufi. Ele e Gaslamp Killer – outro dos par-ticipantes nesse disco – constituem o rosto de uma comunidade de artistas que trabalha em Los Angeles, na fron-teira de várias linguagens, entre as electrónicas, o dubstep ou o hip-hop. Utilizam o computador com à-vonta-de, recorrem à biblioteca de sons do mundo, são virtuosos do portátil. Ellison conhece-os a todos, quando referimos nomes como Madlib, Dae-delus, Sa-Ra Creative Partners, Nosaj Thing ou Ras G mas prefere realçar que cada um tem a sua identidade própria, destacando Gaslamp Killer. “É fantástico! Consegue buscar sons que nunca ouvi em nenhum lado.

É o homem de quem se fala em L.A. Motivo: “Cosmogramma”, o disco em que mistura jazz, hip-hop, videojogos e electrónica e nos devolve um mundo novo. Vai haver concertos no

Sónar, na Corunha e em Barcelona. Vítor Belanciano

sica

Flying Lotus, aliás Steve Ellison, integra uma comunidade de artistas de Los Angeles que partem do hip-hop para todos os sons do mundo e têm o portátil na cabeceira

“Quando oiço a minha música, é como se fosse uma espécie de meditação, qualquer coisa que me liga com aquilo que sou e com aquilo que me rodeia. É uma espécie de hipnose”

A ópera espacial

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 27

Consegue quase sempre surpreender, o que não é nada fácil.”

Partilham a mesma cidade, Los An-geles, e, mesmo que não sejam uma família, alguns deles representam a alternativa mais consistente aos pa-drões mais massificados das lingua-gens urbanas. Quase todos emergi-ram no seio da cultura hip-hop, mas a sua perspectiva é ampla. Mais do que a retórica, assimilaram os proce-dimentos criativos. E todas as músi-cas em volta. No caso de Steve, o jazz teve uma importância decisiva na sua formação.

É vizinho do primo Ravi Coltrane, o saxofonista de jazz que participa em três faixas do novo álbum. Mas foi a tia-avó Alice Coltrane, mulher e colaboradora do lendário John Col-trane, e líder da sua própria forma-ção, numa linha jazz cósmica, que mais o marcou. Harpista e pianista, Alice morreu em 2007. “Na verdade oiço mais jazz agora do que quando era mais novo, mas é claro que Alice

é uma referência muito importante”, explica, recordando que ela era capaz de cantar e tocar horas numa igreja. “Gostava que as pessoas a recordas-sem para sempre e, em parte, foi por ela que utilizei uma série de sons de harpa neste disco.”

O título do álbum é, também em parte, uma referência a ela. “Gostava de se referir a uma espécie de mapa do universo do qual faríamos parte. Dizia que o mundo material era ilu-sório e que tínhamos que ser nós a atribuir sentido ao mundo, criando talvez outro, mais ilimitado, no inte-rior de cada um de nós.” A música, para ele, pode ter essa faculdade: “Quando oiço a minha música, é co-mo se fosse uma espécie de medita-ção, qualquer coisa que me liga com aquilo que sou e com aquilo que me rodeia. É uma espécie de hipnose.”

Tal como acontece nos discos, ao vivo Steve é um desses raros manipu-ladores de computador que surpre-endem. Produz um cosmos próprio.

Interage com a assistência. Cria mo-mentos de improviso. “Nunca sei por onde vou”, ri-se, antecipando os con-certos que dará no Festival Sónar da Galiza, na Corunha (19 Junho), e de Barcelona (18 Junho). “Nunca repito combinações de sons, gosto de me pôr em causa, de arriscar; às vezes nem sempre resulta, mas se fosse de outro modo seria uma mentira e a isso não estou disposto. Quem quiser ouvir os meus discos que os oiça. Ao vivo é diferente.”

Em “Cosmogramma”, há um fluxo contínuo de informação. Sons am-bientais, ruídos obscuros, linhas de baixo jazzisticas, orquestrações, vo-zes, desvios súbitos e toques que pa-recem extraviados de jogos vídeo, numa colisão de partículas infinita, recompondo cenários conhecidos ou provocando embates inéditos. No centro, a imaginação transbordante de Flying Lotus.

Ver crítica de discos págs. 46 e segs.

Sónar, agora também em galego

A grande novidade da edição 2010 do Festival Sónar, que se realiza há 17 anos em Barcelona, é a extensão para a Corunha, na Galiza. Entre 17 e 19 de Junho, o mundo das electrónicas, e tudo à volta, vai concentrar-se nessas duas cidades.

O menu é tão vasto e diverso que cada um pode construir o seu festival. Para além de Flying Lotus, há LCD Soundsystem, Air, Hot Chip, Matthew Herbert, Uffi e, Broadcast, Alva Noto & Blixa Bargeld, Delorean, 2ManyDjs, Aeroplane, Caribou, Dizzee Rascal, Joy Orbison, King Midas Sound, Moodyman, Plastikman, Roxy Music ou Zomby. Nos últimos anos, os Buraka Som Sistema, representaram em grande estilo Portugal. Desta feita, vão estar presentes os Octa Push (Corunha) e os Photonz (Barcelona).

Um festival, quando é realmente bom, não se esgota nos dias em que decorre. Deixa uma marca ao longo do ano. Quem tem acompanhado o Sónar sabe que é assim. O seu impacto já não se mede, em exclusivo, pelos acontecimentos musicais, mais ou menos relevantes, mas sim pelo que acontece em redor.

Pelo que provoca. Pelo rasto que deixa. Nesse sentido, o Sónar acompanhou o crescimento da cidade de Barcelona. Impulsionou-o. Deu-lhe sentido, atraindo gente de todo o mundo. Hoje o Sónar é marca universal.

É um evento verdadeiramente internacional, criado para um público não passivo, convidado a criar o seu próprio roteiro, por entre propostas de música, mas também exposições, cinema, arte multimédia ou conferências. Todos os anos o festival se reinventa e permanece o mesmo. A linha programática mantém-se, num compromisso entre os mais recentes rumos da música popular e formas embrionárias, num todo em que convivem fi guras históricas que marcaram o presente e muitas revelações. No fi nal de cada edição, sintetizam-se os últimos meses e lançam-se os próximos.

Em Barcelona, de há alguns anos a esta parte, a procura de bilhetes – para as sessões diurnas – tem sido superior à oferta. A organização tem tentado que o festival não cresça, desvirtuando-se. Também por isso, surge agora este Sónar em versão dupla. V.B.

Este ano, o festival de Barcelona fi ca mais perto: extensão na Corunha, de 17 a 19 de Junho.

de Flying Lotus

Edição 14 INATEL|Teatro

Novos Textos’10

Novos Autores e Novos Valores na dramaturgia portuguesa

• Grande Prémio INATEL – €5000

• Prémio Miguel Rovisco – €2500

(dramaturgos até 25 anos)

Entrega de originais: 1 a 30 Junho 2010Informações: Fundação INATEL – Sede / AgênciasCalçada de Sant’Ana, 180 | 1169-062 LISBOAt. 210 027 141 /150 | f. 210 027 140 | [email protected]

Regulamento em www.inatel.pt

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28 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Óculos com hastes coloridas e Wayfa-rer metidos na cara em plena noite. Um moço com mala Marc Jacobs ver-de fluorescente e um paninho a sair do bolso (não nos perguntem para quê). Mil outros rapazes e raparigas com calças justinhas, ténis brancos ou sapatos de pele impecáveis e ca-belo milimetricamente despenteado. Uma convenção de “hipsters”, de malta com gosto desmesurado pelo “cool”? Sim, mas também música. E em doses generosas: com 240 concer-tos para mais de 100 mil pessoas, a edição 2010 do Primavera Sound (en-tre 27 e 29 de Maio, em Barcelona, Espanha) reforçou o estatuto do fes-tival como um dos maiores eventos indie do mundo.

Montado no Parc del Fórum, espa-ço junto ao mar algures entre o vera-neante e o pós-industrial (há uma piscina natural, uma estrutura gigan-tesca com painéis solares), é uma montra de tendências do mundo mu-sical independente.

Desde a primeira edição, em 2001, tem crescido, procurando misturar os pais do indie, velhas glórias, com os filhos e o sabor do momento am-plificado por publicações como o “si-te” Pitchfork e a revista “Vice”, não por acaso responsáveis por dois dos

seis palcos principais. O bilhete para três noites pode custar até 180 euros, mas muitos espanhóis (e muitos es-trangeiros) não se importam de os pagar e ver numas dezenas de horas mais concertos de topo do que veriam ao longo de um ano.

Prova de que o Primavera não é só um festival de música, mas uma pla-taforma para a afirmação de tendên-

cias noutras áreas. Não por acaso, a Ray-Ban, fabricante dos já referidos Wayfarer, patrocinou um palco gigan-tesco. À entrada, várias tendas ven-diam t-shirts (dos Black Flag aos Real Estate) e vinil, muito vinil. Até a comi-da é indie: havia sandes com os nomes “Wilco”, “Pixies”, “The Fall” e outra iguaria chamada “Ket Shup Boys”.

É um festival para jovens adultos

(não contámos um único adolescente) e crescentemente internacional (a organização estima que 35 por cento dos festivaleiros sejam estrangeiros) - nas “ramblas” e no metro, é fácil descobrir alguém com a pulseira branca e as letrinhas mágicas “Prima-vera”. É também um ponto de encon-tro da indústria, aspecto reforçado este ano com a abertura do Primave-

Os pais e os fi lhos do indie Montado no Parc del Fórum, espaço junto ao mar algures entre o veraneante e o pós-

industrial (há uma piscina natural, uma estrutura gigantesca com painéis solares), o Primavera Sound é uma montra de tendências do mundo musical independente. Houve históricos, como

Pavement e Pixies, mas também o sangue novo do indie. Pedro Rios, em Barcelona

sica

A sucessão de êxitos dos Pavement (melhor momento do festival) e o “best of” dos Pixies: os anos 90 são um filão nostálgico em exploração

Algures entre o veraneante e o pós-industrial (há uma piscina natural, uma estrutura gigantesca com painéis solares), o Primavera Sound é uma montra de tendências do mundo musical independente

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 29

raPro, espaço destinado aos agentes do sector, das editoras às instituições culturais, e que incluiu concertos de banhas espanholas.

De horário na mãoOs três dias de Primavera são um quebra-cabeças. Há quem faça (e par-tilhe na Internet) tabelas com os ho-rários dos palcos lado a lado, para

melhor escolher o que vai ver e deci-dir se vê um concerto do início ao fim ou se abandona uma actuação, cami-nha 200 metros até outro palco para apanhar metade de outro.

Best Coast ou Thee Oh Sees? Broken Social Scene ou Tortoise? O “best of” dos Pixies ou o turbilhão Major La-zer, que misturaram Ace of Base, dubstep e as já de si mestiças canções de “Guns Don’t Kill People... Lazers Do” e ainda puseram Skerrit Bwoy, o animador de serviço, a atirar-se para cima de uma moça? A pop electróni-ca dos espanhóis Delorean (dia 25 de Julho no festival Milhões de Festa, em Barcelos) ou a música de dança pers-pectivada pelos Fuck Buttons?

A sucessão de êxitos dos Pave-ment, glórias do rock independente dos anos 90, ou a pop em frangalhos dos Sleigh Bells, acabados de editar o maravilhoso “Treats”? Engolimos em seco e ficamo-nos pelos Pavement, de regresso aos concertos depois de um hiato de uma década. Aposta ga-nha: foi o melhor momento do festi-val. Stephen Malkmus e companhei-ros estão mais velhos do que nos car-tazes espalhados pelo recinto, mas canções como “Range life” ou “Ste-reo” não perderam ponta da energia pós-adolescente. Com Pavement, Pi-xies, Built to Spill e Superchunk a da-rem nas vistas perante uma multidão, ficou patente que os anos 90 são um filão nostálgico em exploração.

Na quinta-feira, a noite dos Pave-ment, houve também Surfer Blood, esses sim, verdadeiros pós-adolescen-tes. Revelaram no palco Pitchfork o seu rock derivado dos Weezer e dos Vampire Weekend, com um vocalista convictamente beto. Na audiência detectámos um inacreditável “meni-no Tonecas”, boné para trás, calções curtíssimos, óculos garrafais, com t-shirt dos Nirvana.

Os norte-americanos foram um dos exemplos claros da função divulga-

dora do festival, com boa parte do cartaz composto por novos nomes vindos, sobretudo, do outro lado do Atlântico.

Os Best Coast, misto de Ramones, “girl groups” e proclamações de amor à erva, deixaram boas pistas para o que vai ser o seu primeiro disco de maior exposição, “Crazy for You” ( Ju-lho). Em águas não muito distantes mergulharam as Dum Dum Girls, algures entre as Shangri-Las e uns Je-sus and Mary Chain de saias, que con-taram com um discreto Edward Dros-te, dos Grizzly Bear, na audiência.

Os Titus Andronicus transpuseram para o palco Pitchfork o cruzamento da euforia punk rock com a música tradicional irlandesa patente em “The Monitor” (2010), algo muito diferente do psicadelismo de baixa definição dos Ganglians e das canções simples e ve-raneantes dos Real Estate, que estive-ram em Portugal há meses.

Ainda no lote das promessas, o des-taque maior vai para The Drums, que ainda não lançaram o primeiro álbum (têm apenas um EP) e são já uma das certezas da pop independen-te em 2010. Foram conotados com a vaga de pop soalheira que marcou o indie em 2009 (têm culpas no cartó-rio: chamaram ao EP “Summertime!” e o seu maior êxito – utilizado num anúncio de automóveis – chama-se “Let’s go surfing”), mas, para além das “girl groups” e praias, quase om-nipresentesem 2009, metem os New Order e alguns dos maneirismos vo-cais de Morrissey ao barulho. A con-fiança demonstrada em palco impres-siona, sobretudo porque são uma banda formada no final de 2008: é quase garantido que 2010 vai ser (também) deles.

No palco Ray-Ban, os The xx ci-mentaram o estatuto de culto peran-te dezenas de milhares de pessoas (apesar de a sua música e postura, milimetricamente estudadas, não

provocarem a empatia que outros grupos conseguiram) e os Broken Social Scene mostraram porque são uma das bandas definitivas do indie contemporâneo (e com a vénia dos veteranos: Kevin Drew, o vocalista, cantaria uma canção com os Pave-ment, umas horas depois). Os con-certos dos Beach House e dos Grizzly Bear também permitiram confirmar que são candidatos naturais à presi-dência do actual indie rock.

Na noite de sexta-feira, Noah Len-nox (Panda Bear) apresentou peda-ços de “Tomboy”, agendado para Setembro. Sem as projecções vídeo, que teimaram em não arrancar, so-bressaiu a qualidade mais austera das novas canções do músico dos Animal Collective, que incluem um “sample” do que parece um estádio de futebol e mais batidas dançáveis do que no brilhante “Person Pitch”.

Ao mesmo tempo, noutro ponto do recinto, Tim Harrington, o barbu-do vocalista dos Les Savy Fav, filhos do hardcore, irrompia pela multidão para distribuir beijos na boca a ho-mens e mulheres. Harrington – mú-sico e fã - também cantou durante o concerto de Pavement, estremeceu com o ataque virulento dos Shellac e dançou Liquid Liquid na lateral dos palcos e ainda entrou numa canção dos Superchunk.

Se os nova-iorquinos ganharam o prémio de momento mais expansivo de todo o festival, Atlas Sound (actua hoje no Lux), projecto solitário de Bradford Cox, líder dos Deerhunter, protagonizou um dos mais calmos, todo ele contenção, guitarra acústica, harmónica e um músico completa-mente franco.

Foi de Cox – e de Michael Rother a passar pelo património dos eternos Neu! – o último fim de tarde do Pri-mavera. Horas depois, era hora de regressar, descansar os pés e jejuar, por uns dias, de música ao vivo.

Desde a primeira edição, em 2001, tem crescido, procurando misturar os pais do indie, velhas glórias, com os filhos e o sabor do momento amplificado por publicações como o “site” Pitchfork e a revista “Vice”, responsáveis por dois dos seis palcos principais

e celebraram a Primavera

Um festival para jovens adultos

Atlas Sound (Bradford Cox, todo ele contenção, guitarra acústica, harmónica, um músico completamente franco.); The Drums, já uma das certezas da pop independente e Best Coast (misto de Ramones, “girl groups” e proclamações de amor à erva)

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Muitos chamam-lhe “mestre”, mas António Chainho defende-se com a simplicidade de quem sabe que é nas suas mãos que tudo repousa. Mais orgulho do que vaidade. “Tive muita sorte com a minha vida, com a minha carreira. Isto é sorte, não é só o tra-balhar, que realmente trabalhei mui-to. O que eu andei!”

Nascido em São Francisco da Serra (Santiago do Cacém), em 1938, Chai-nho tocou pela primeira vez em pú-blico aos 13 anos. Depois, acompa-nhou nomes como Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Carlos do Carmo, Francisco José, Tony de Matos, António Mourão, Frei Hermano da Câmara, Hermínia Silva. Mas nenhum em exclusivo: “Nunca fui privativo de ninguém. Usava uma agenda (nunca falei nisto) onde tomava nota de tudo, e havia cantores que tinham poucos es-pectáculos. Ora eu tinha um gravador, dos primeiros que apareceram, levava-o para os ensaios e gravava tudo. Quan-do me pediam pa-ra ir a um espectá-culo desses canto-res, eu ouvia tudo outra vez e, quan-

do tocava, diziam-me: ‘Eh pá, você tem uma memó-ria, lembra-se de tudo!’”. E assim chamavam-no sempre. Não era truque,

era trabalho. E a “memó-ria” fazia pela arte.

Há 30 anos, gravou o primeiro disco de

longa-duração em nome próprio: “Guitarra Portu-guesa” (1980). Se-guiram-se “The London Philarmo-

nic Orchestra” (1996), “A Guitarra e Outras Mulheres” (1998), “Lisboa-Rio” (2000) e “António Chainho e Marta Dias ao vivo no CCB” (2003). Isso fê-lo percorrer os caminhos de Portugal, em várias latitudes sonoras, e tam-bém os do Brasil. Mas a irrequietude levou-o à Índia e ao Sri Lanka, há seis anos. Foi tocar, mas também fazer um “workshop”. “A Fundação Oriente tem uma sala que leva umas cem pes-soas, estava repleta. Abriram janelas e portas para se ouvir cá fora. Lem-bro-me de um padre que fez pergun-tas incríveis sobre o fado, sabia muito da nossa cultura. O ‘workshop’ teve tamanho impacto que o espectáculo que íamos fazer a seguir, numa sala para 1400 pessoas, esgotou.”

Voltou mais duas vezes. Conheceu músicos indianos. Ouviu o sitar, e os violinos do Sul: “São uma coisa incrí-vel. Tocam-nos sentados no chão, com o violino preso entre o pescoço e o calcanhar, e as duas mãos direi-tas.” E disse que sim, quando Sérgio Mascarenhas, presidente da Funda-ção Oriente, lhe falou num disco.

Do sitar à guitarra portuguesaA experiência já o levara, em 2004, a tocar em palcos indianos com guitar-ra portuguesa, viola e sitar. “Comecei a conhecer o Remo Fernandes, a So-nia Shirsat [ambos cantores] e pensei

que era interessante fazer alguma coi-sa com eles.” Até que formalmente lhe propuseram a ideia, e as coisas começaram a tomar forma. Chainho gostara muito da sonoridade do sitar. E entre as várias músicas que lhe ar-ranjaram para ouvir, algumas delas clássicos de Bollywood, fez uma se-lecção. “Quis compor coisas que fi-cassem bem no sitar e vice-versa, es-colher coisas que encaixassem bem com a guitarra portuguesa.”

A abrir o disco, há desde logo um toque envolvente e melancólico, “Ao encontro do Oriente”: “Agarrei no fado menor, que dos três fados prin-cipais é o que mais tem a ver com o sentimento português, e fui por ali fora. Depois o [pianista] Carlos Bar-reto Xavier trabalhou bem e o tema tem esse ambiente, mas com um chei-rinho já a Goa.” Doze faixas depois, o disco fecha com “De Mandovi ao Tejo”, viagem no sentido inverso: “Fi-lo como uma balada da Índia para Lisboa, é a ponte de lá para cá.”

Entre Janeiro e Dezembro de 2009, o disco (que veio a ganhar o nome de

um dos seus instrumentais, “LisGoa”) teve gravações em Panjim, Bangalore, Londres e Lisboa. Da Índia, tiveram as vozes de Remo Fernandes e Sonia Shirsat, além de Natasha Lewis, resi-dente em Londres. E em Portugal, para lá de uma quarta voz, a da jovem fadista Isabel de Noronha (que tem acompanhado Chainho nos últimos anos), foram incorporados vários mú-sicos: “Paulo Sousa, que viveu na Ín-dia e aprendeu sitar com os grandes mestres; Raimund Engelhardt, um alemão que viveu 15 anos na Índia, onde aprendeu a tocar tablas; o Car-los Barreto Xavier, pianista e profes-sor, que é filho de goeses e conhece bem a música indiana; e Tiago Olivei-ra, que é quase um concertista de guitarra clássica e toca muito bem fa-do e qualquer género”. Além deles, participaram nalguns temas Ruca Re-bordão, nas percussões, e Rodrigo Ferrão, no contrabaixo.

“Não quero estar na moda”Mas agora que “LisGoa” é lançado em Portugal, Chainho faz as malas direito à China. Na Womex de 2009, em Co-penhaga, a agência do guitarrista pro-curou quem pudesse acompanhá-lo à Expo de Xangai, em Junho. Conhe-ceram um músico alemão casado com uma cantora chinesa, a viver em Ber-lim. A agência mandou-lhe gravações de Chainho e ele gostou de “Voando sobre o Alentejo”, ”Valsinha manda-da”, “Sentir em português”. Em troca, enviou a Chainho quatro ou cinco mú-sicas cantadas por Gong Linna. “Ouvi e pensei: que voz é esta? Ela atinge uns agudos, com uma potência e uma for-ça incríveis, afinadíssima, que grande cantora! Depois é que vim a saber que era também uma grande vedeta”. Há duas semanas, Gong Linna esteve em Portugal, a ensaiar em casa de Chai-nho, já rendido: “Ela vibra, não ‘des-peja’. Mesmo nos ensaios, parece que já está no espectáculo.”

Na China, Gong Linna vai cantar em português parte de um tema de Chai-nho, “Trago ruas no meu peito”, e Isabel de Noronha (que já cantou em concanim, da Índia) vai cantar em chinês. Os concertos começam em Xangai (dia 7), seguindo-se Whuan (8), Pequim, na Cidade Proibida (9), Macau (11) e Shenzen (12). Chainho não vai só: “Comigo vão a Isabel de Noronha e o Tiago Oliveira, que é o pilar do meu trabalho nestes últimos anos. Porque aquilo a que quero estar sempre ligado é ao fado. Foi onde nas-ci e é onde quero morrer. Às vezes perguntam-me porque não faço ago-ra um disco de fado. Sei que está na moda, mas eu não quero estar na mo-da. Talvez o último trabalho seja um disco de fado. Mas nunca sei o que vou fazer amanhã.”

Ver crítica de discos págs. 46 e segs.

“Ouvi [Gong Linna] e pensei: que voz é esta? Ela atinge uns agudos, com uma potência e uma força incríveis, afinadíssima, que grande cantora! Ela vibra, não ‘despeja’”

António Chainho

em Oriente duploUma aventura levou-o à Índia, outra à China. Da primeira saiu um disco, “LisGoa”, agora

editado. Da segunda nasceu um dueto com a cantora chinesa Gong Linna, com quem andará pela China já a partir de dia 7, com partida de Xangai. Nuno Pacheco

“LisGoa” é o cruzamento da guitarra portuguesa de Chainho com o sitar e os violinos do Sul da Índia: uma ponte de lá para cá

isco José, Tony de Matos,rão, Frei Hermano Hermínia Silva. em exclusivo:: vativo deava uma

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 31

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32 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

No final do ano passado, os Dead Combo voltavam a Lisboa para, no Jardim de Inverno do Teatro Munici-pal São Luiz, encerrarem uma digres-são que os havia levado a diversas salas portuguesas. As pequenas di-mensões do país não impediram que só então terminassem o périplo na-cional de apresentação de “Lusitânia Playboys”, álbum de 2008. O registo deste concerto-duplo originou um DVD, “Dead Combo and Royal Or-questra das Caveiras Ao Vivo no São Luiz”, que, logo à noite, terá antes-treia numa outra sala da capital, a terceira do Cinema São Jorge. Já lá vamos, voltemos a Novembro de 2009.

A noite, com lotação esgotada, co-meçou ao som de “Despedida (até sempre)”. Abrir um concerto com semelhante título não causa estranhe-za quando sabemos que estamos pe-rante uma banda sem vocalista. Con-tinuando no álbum que, há dois anos, tanto empolgou a “intelligentsia” por-tuguesa, o ritmo aumenta aos primei-ros acordes de “Sopa de cavalo can-sado”. Até aqui, nada de novo no fi-gurino habitual dos Dead Combo: a guitarra de Tó Trips do costume, o contrabaixo de Pedro Gonçalves do costume. A cartola e os óculos de sol ostentados, respectivamente, por ca-da metade deste duo, também mar-cam presença. Até que surge a prin-cipal novidade.

A condizer com o preto que predo-mina no palco, entra a Royal Orques-tra das Caveiras. Ana Araújo senta-se ao piano e Alexandre Frazão na ba-teria. Ao fundo alinham-se João Ca-brita no saxofone, João Marques no

Caveiras por trás dos Dead Combo

Enquanto trabalham no sucessor de “Lusitânia Playboys”, os Dead Combo lançam em DVD o concerto-duplo que encerrou a última digressão. A antestreia e o novo concerto com a Royal

Orquestra das Caveiras estão marcados para mais logo, no São Jorge. Luís Carlos Soares

O DVD regista o encontro dos Dead Combo com a Royal Orquestra das Caveiras: “Foi a junção de pessoas mais feliz que, até hoje, tivemos na nossa música”

Pedro Gonçalves, o contrabaixo dos Dead Combo, e Tó Trips, a guitarra da dupla

sica

“A história deste lançamento é um feliz acaso”, diz Pedro Gonçalves. A carreira dos Dead Combo está marcada por vários acontecimentos fortuitos

trícia Gonçalves [da editora] é que sugeriu lançarmos um DVD associa-dos a um jornal”, revela o contrabai-xista, a apontar para o primeiro exemplar. A data de lançamento está prevista para terça-feira, com o PÚ-BLICO.

A verdade é que a carreira dos De-ad Combo parece marcada por vários acontecimentos fortuitos. O projecto nasceu quando, no princípio da dé-cada, no final de um concerto do norte-americano Howe Gelb, ao qual ambos tinham assistido sozinhos, Tó Trips pediu uma boleia a Pedro Gon-çalves. Em vão. Acabaram por seguir para o Bairro Alto, numa conversa que levou Tó Trips a convidar Gon-çalves para, no contrabaixo, o acom-panhar numa colectânea sobre Carlos Paredes.

Após a criação dos Dead Combo, seguiu-se o lançamento de quatro dis-cos de originais. O sucessor de “Lusi-tânia Playboys” encontra-se em “pré-produção”. Tó Trips diz que o lança-mento será “entre o final de Setembro e o princípio de Outubro”. Para já, “apesar de as câmaras municipais an-darem todas a choramingar a crise”, pretendem fazer-se acompanhar pelos Royal Orquestra das Caveiras nos mais diversos palcos. O primeiro é hoje, precedendo a antestreia do DVD.

Ver agenda de concertos págs. 44 e segs.

trompete e Jorge Ribeiro no trombo-ne. “Aquela secção de sopros é a sec-ção de sopros em Portugal”, conta, ao Ípsilon, um orgulhoso Pedro Gon-çalves. “Foi a junção de pessoas mais feliz que, até hoje, tivemos na nossa música”.

A primeira faixa tocada pela Royal Orquestra das Caveiras foi “Rodada”, uma das raras excepções num alinha-mento repleto de temas “Lusitânia Playboys”. O regresso a esse disco se-ria feito com “Cuba 1970”. O concer-to desenrola-se ao som da descarga de energia de “Malibu fair”, e a via-gem pelas canções que nos levam aos mais diversos cantos do mundo traz-nos de volta a Portugal, com “Rak song”. Cada aplauso entre canções surge como uma surpresa. As câmaras estão tão focadas nas almas em palco que nos esquecemos que estamos pe-rante um registo ao vivo.

O fime mostra uns Dead Combo iguais a eles próprios: de rostos cer-rados e a soltar apenas as palavras necessárias. Não faziam ideia do que é que este concerto originaria, mas acreditamos que, mesmo que soubes-sem, agiriam da mesma forma.

Acontecimentos fortuitos“A história deste lançamento é um feliz acaso, ideia de um amigo nosso, o [realizador] Daniel Neves. Ele já trabalhou umas mil vezes connosco e, poucos dias antes, sugeriu que era porreiro filmarmos o espectáculo”, lembra Gonçalves. “Esta ideia surgiu bastante tempo depois. Ele andava sempre a perguntar o que queríamos fazer com aquilo. Pensámos em me-ter na net, fazer isto ou aquilo. A Pa-

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ALGO EXCEPCIONAL AGUARDA POR SI EM ABSOLUT.COM

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34 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

16 de Maio de 2007 foi um dia de in-tensa chuva em Bruxelas. A noite foi toda uma outra coisa: parou de cho-ver e um encenador japonês cujo no-me ninguém tinha ouvido e que, exac-tamente por isso, ainda nenhum pro-gramador tinha arriscado apresentar apresentou-se pela primeira vez na Europa com “Five Days in March”. O director do Kunsten Festival, Christo-phe Slagmuylder, tinha visto Toshiki Okada no Japão, e assim começou a aventura de um encenador de 35 anos (mas com ar de ter menos dez) que, mesmo sem falar inglês, passou a fa-zer o pleno dos festivais europeus até chegar, finalmente, ao Alkantara, on-de se apresenta este fim-de-semana, no Teatro Nacional D. Maria II, com “Hot Pepper, Air Conditioner and the Farewell Speech”.

São sete da tarde no Japão quando ligamos a Toshiki Okada, ainda a ma-nhã começa em Lisboa. Está prestes a entrar num ensaio, no mesmo dia em que saiu de cena, em Nova Iorque, a versão norte-americana de “Five Days in March”, tomada agora de as-salto por um grupo local interessado nas analogias possíveis com a vida dos jovens adultos japoneses de Yokoha-ma, grande cidade industrial na cin-tura de Tóquio, durante os dias que mediaram o anúncio da invasão do Afeganistão e a entrada das tropas na-quele território do (sic) “Eixo do Mal”. A vida daquelas pessoas, iguais a tan-tas outras em outros tantos lugares do mundo, não ficou necessariamente marcada por esses acontecimentos concretos, mas eles dão o enquadra-mento necessário a uma “certa infan-tilização dos jovens adultos japoneses em sofrimento com o sistema”, escre-veu Jean-Louis Perrier na revista fran-cesa “Mouvement”, em 2008.

Okada lembra-se mal dessa noite em Bruxelas. Mas ainda sabe o que esperava encontrar: “Não sei se há diferença entre os jovens adultos ja-poneses e os europeus. Nunca tinha estado na Europa. Sabia que aquilo

que estava a fazer dizia respeito à re-alidade que conhecia. Se há uma iden-tificação, isso deve-se a factores exter-nos, como a expectativa em relação às obras, e ao poder do teatro, no ge-ral”. O seu teatro, nessa peça como na que apresenta amanhã e depois em Lisboa, estreada em 2009, revela uma geração perdida, presa entre o que deveria ser “e o que já não é”, diz-nos. Lembramo-nos das notícias dos ado-lescentes japoneses que se fecham nos quartos e cortam laços com a família durante dias, “ou meses e anos”, aler-ta o encenador. “Estamos a falar para essas pessoas ou dessas pessoas?”

No Japão como na Europa, a gera-ção apresentada pelo encenador (que é, aliás, a sua própria geração, da qual nunca se demarca) está “perdida” na “encruzilhada de dois mundos (famí-lia/tribo, trabalho/desemprego, pas-sado/futuro, Oriente/Ocidente)”, su-blinha ainda Perrier. Os jovens adultos do teatro de Toshiki Okada são “os arautos incertos de um Japão incapaz de acelerar a mudança. Revelam as falhas de uma sociedade arquitectada nas suas convenções, na sua rigidez, nas suas hierarquias, na sua história e na sua aparência. Eles desesperam e divertem-se, não sem escândalo, na medida em que aceitam perder doce-mente a face, exibindo relaxadamen-te os seus traços em público, como se se encontrassem sozinhos perante a privacidade do espelho.”

O que mais impressiona nas peças de Okada é o modo como desmonta um certo exotismo que possamos ain-da sentir em relação ao Oriente, e em particular à eficácia da máquina social japonesa, e releva uma agrura social que imaginávamos mas não sabíamos tão presente, e tão premente, numa sociedade hiper-mediatizada que acontece ser japonesa, mas podia ser norte-americana ou da Europa no ei-xo Paris-Bruxelas-Londres-Berlim.

O teatro da normalidade“Hot Pepper, Air Conditioner, and the

Toshiki Okada

e a geração perdVindo do Japão, chega amanhã

a Lisboa um dos mais talentosos encenadores contemporâneos.

Toshiki Okada é tudo aquilo que achávamos não existir no teatro

japonês: toda a verdade sobre nós, deste lado do sol.

Tiago Bartolomeu Costa

Tea

tro

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 35

Farewell Speech”, a peça que Okada traz ao Alkantara, estreou em 2009 em Berlim como resultado de uma extensão de “Air Conditioner”, pe-quena encruzilhada estilística e sú-mula do pensamento de um encena-dor que considera “necessário traba-lhar o que está entre o corpo e a imagem” (“Se o movimento do corpo segue o sentido da palavra, isso não tem nenhum interesse”, resume). Quando escreve, diz-nos Okada, pen-sa “no corpo dos actores”: “As pala-vras, as expressões surgem quando já tenho uma ideia genérica da histó-ria. É a linguagem que se impõe à escrita. A linguagem está em mim. Não sou nem tradutor nem reprodu-tor, mas produtor”, clarifica.

Toshiki Okada entende o teatro, ou “a tradução fictícia da realidade”, como um espaço de pesquisa sobre o real poder de intervenção na socie-dade. “Hot Pepper, Air Conditioner and the Farewell Speech” apresenta corpos sem relação directa com o

texto, numa lógica de diálogo amplia-dor. “São duas coisas que não se se-param e, no entanto, um corpo em palco, feito por um actor que está só a representar, diz mais coisas do que aquelas que o actor sabe”. O teatro, disse à “Mouvement”, está melhor colocado do que a dança para repre-sentar a dimensão social da vida por-que há esta relação entre corpo e linguagem.

As suas personagens são, concor-da, figuras “normais”, em vidas “nor-mais”, a fazerem coisas “normais”. “Há algo de mais teatral do que a nor-malidade?”, pergunta. Essa normali-dade, em Okada entendida como veículo para entrar a fundo nos so-nhos traídos de uma geração sem rumo, é apresentada através de um modelo expositivo, que em nada pa-rece impor uma ordem, e muito me-nos uma solução. Diz-nos em conver-sa que “não acredita que o teatro possa ser um veículo moralizador e muito menos capaz de apresentar um modelo convincente para entender o mundo”.

Será, eventualmente por isso que, nas suas peças, é através do corpo, muitas vezes mudo, que sentimos a velocidade do tempo a passar. São situações do quotidiano: em “Five Days in March”, o pano de fundo era a espera pela guerra, mas as conver-sas das pessoas eram sobre outra coi-sa, sobre nada, e isso dizia tudo sobre a impossibilidade de falar de outra coisa; em “Hot Pepper...”, os corpos falam de ar condicionado, de espaços para festa, de uma hipótese de socia-bilização que nunca vai existir, de uma ideia de mundo falsa, conscien-te dessa falsidade mas ainda assim a tentar sobreviver. São corpos de uma geração que “em tudo gostaria de se assemelhar a algo inacabado, sem an-tecedentes conhecido (...), girando sem cessar num vazio que os aspiras-se se não se obstinassem em vivê-lo”, escreveu Jean-Louis Perrier. “São pes-soas que pertencem a quê?”, pergun-ta-nos Okada.

É isso que quer dos seus actores. Que perguntem e expliquem mesmo

aquilo que não sabem. “Talvez es-teja aí a solução”, diz. Okada pede-lhes “para se afastarem do texto, como contrapeso a uma consci-ência demasiado presente duran-te o discurso. Texto e movimento devem neutralizar-se para darem

lugar a um impulso mais ‘puro’”. É uma estratégia de procura (e,

para nós, de descoberta): Okada a expor a cultura contemporânea japonesa “com as suas experiên-cias severamente intro-vertidas”, escreveu Lieve Dierckx no jornal flamen-go “Rekto:Verso”, depois dessa estreia mítica, de-pois de um dia de chuva intensa, em 2007.

Ver agenda de espectáculos na pág. 38.

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As personagens de Toshiki Okada são figuras “normais”, em vidas “normais”, a fazerem coisas “normais”: “Há algo de mais teatral do que a normalidade?”, pergunta o encenador

Em “Hot Pepper, Air Conditioner and the Farewell Speech”, os corpos não estabelecem uma relação directa com o texto: um actor em palco, acredita Okada, diz mais coisas do que aquelas que sabe que está a dizer

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Ver agenda de na pág. 38.

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ÁUSTRIA 2010

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Junichiro Tanizaki 50 anos depois da sua morte, uma descoberta sumarenta:

“Uma Gata, Um Homem e Duas Mulheres”.Pág. 49

Bonnie Prince Billy Ao vivo em Lisboa e Aveiro, no cinema em “Wendy e Lucy” e “Old Joy”. Págs. 44 e 52

Flying Lotus L.A. é o psicadelismo dele. Pág. 46

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Robert Wyatt Um dos maiores músicos da actualidade, como comprova uma antologia agora editada. Pág. 46

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38 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

Melo. Mas não é assim, é exactamente ao contrário: “O Quarto” (1957) é a primeira peça do dramaturgo inglês. Nela, estão as sementes das peças seguintes. Com “Comemoração”, de 1999, encerra a carreira literária.

Quando escreveu a sua última peça, Pinter decidiu estreá-la juntando-lhe “O Quarto” para “juntar os seus vários fantasmas”. “Era um homem que em 99 já tinha 70 anos, todas as condecorações; mas estava a ver a vida a acabar. Se calhar é isso que a Rose, em ‘O Quarto’, está a ver”, propõe o encenador. É, sublinha, “uma peça muito engraçada por causa dos temas que Pinter vai desenvolver nas peças seguintes: a ocupação do quarto, as pessoas que entram inesperadamente e são ameaçadoras, o tempo a passar, a cegueira, a violência, a morte, e claro, as três paredes”.

Pinter era muito tradicional na sua abordagem do teatro (começou a carreira como actor em companhias tradicionais inglesas): “Se Samuel Beckett escrevia para um palco vazio, Pinter escreve sempre para um cenarinho de teatro, tal e qual como deve ser: mesas, cadeiras, cadeirinhas, janelas, tudo. Excepto em ‘Comemoração’. Liberta-se finalmente, mesmo no fim da vida, dessas coisas. Esta encenação é um jogo sobre as convenções teatrais, o que não é convencional são as narrativas”.

As três paredes são um “mundinho perdido” no grande palco do Teatro Municipal de Almada. “É mesmo para ficar pequenino”, diz Jorge Silva Melo. Ao centro, as três paredes do “Quarto” de Pinter; à volta, “umas sombras ameaçadoras, que põem em causa a segurança da senhora, coitadinha”. A senhora é Rose (Lia Gama), moradora no quarto número sete, o melhor do prédio. Lá, sente-se segura. Até ao dia em que chegam visitas inesperadas.

Na obra de Pinter, estes dois textos são o “princípio e o fim. Ou o fim e o princípio”. Diz Silva Melo que “o mundo visto por dentro começa em ‘O Quarto’, a sociedade vista de fora, culmina na ‘Comemoração’”.

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

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A mãe das peças de PinterHoje nas Caldas da Rainha, e a partir de quarta-feira em Almada, os Artistas Unidos juntam “O Quarto” a “Comemoração”. Quarenta anos de Pinter, tal como ele os quis ver. Clara Campanilho Barradas

O Quarto + ComemoraçãoDe Harold Pinter. Pelos Artistas Unidos. Encenação de Jorge Silva Melo. Com Cândido Ferreira, Daniel Martinho, João Meireles, João Miguel Rodrigues, Lia Gama, Sylvie Rocha, entre outros.Caldas da Rainha. Centro Cultural e de Congressos. R. Dr. Leonel Sotto Mayor. De 4/06 a 5/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 262889650. 7€ a 10€.

Almada. Teatro Municipal - Sala Principal. Av. Professor Egas Moniz. De 9/06 a 20/06. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 212739360. 6€ a 13€.

Três semana depois da estreia do díptico “Comemoração”-“A Nova Ordem Mundial” no Centro Cultural de Belém, os Artistas Unidos fazem outra investida em Harold Pinter: sai “A Nova Ordem Mundial”, e entra “O Quarto”, que se junta a “Comemoração” para uma temporada no Teatro Municipal de Almada, de 9 a 20 de Junho . A antestreia é hoje e amanhã, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. Quarenta anos do teatro de Harold Pinter contidos em duas peças, tal como ele as quis ver: abre o pano, “Comemoração”, fecha o pano, intervalo, abre o pano, “O Quarto”, fecha o pano.

“É exactamente como o Pinter estreou. ‘Comemoração’ primeiro e ‘O Quarto’ depois. Ele dizia com graça: ‘Quero que me digam quem é o autor jovem e quem é o autor velho’. Queria iludir os espectadores, fazendo pensar que ‘Comemoração’ era a obra de um autor jovem e que ‘O Quarto’ era de um autor velho”, diz Jorge Silva

Teatro

EstreiamHot Pepper, Air Conditioner and The Farewell SpeechDe Toshiki Okada. Pela Chelfitsch Theater Company. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. Pç. D. Pedro IV. De 5/06 a 6/06. Sáb. e Dom. às 21h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Ver texto na pág. 34 e segs.

Filho da EuropaA partir de Peter Handke. Encenação de João Garcia Miguel. Com Nuno Cardoso, Sara Ribeiro.Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 4/06 a 5/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€.

FITEI.

Answer MeDe Gerardjan Rijnders. Pelos Dood Paard. Lisboa. Teatro Meridional. R. do Açucar, 64 - Poço do Bispo. De 7/06 a 9/06. 2ª e 3ª às 19h. 4ª às 21h. Tel.: 218689245. 5€ a 12€

Alkantara Festival.

Epílogos: Confessions Sans ImportanceA partir de Max Aub. Pela Compagnie Toujours après Minuit. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De 8/06 a 9/06. 3ª às 21h30. 4ª às 18h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€.

FITEI.

Uma Grosseira Imitação da VidaPelo Théâtre de la Démesure. Porto. Maus Hábitos. R. Passos Manuel, 178. Dia 8/06. 3ª às 23h. Tel.: 222087268. 10€.

FITEI.

DeserveDe Jorge Leon, Simone Aughterlony. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 8/06 a 9/06. 3ª às 21h. 4ª às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Fim de PartidaDe Samuel Beckett. Encenação de Julio Castronuovo. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Avenida Serpa Pinto. De 9/06 a 10/06. 4ª às 21h30. 5ª às 18h. Tel.: 229392320. 5€.

FITEI.

ContinuamECJ # El Jardin de los CerezosA partir de Tchékhov. Pela Rayuela. Porto. Palacete Pinto Leite. R. da Maternidade, 3/9. Até 4/06. 3ª a 6ª, às 23h. Tel.: 222082432. 10€.

FITEI.

C’est du ChinoisDe Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 5/06. 5ª a Sáb. às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Se Uma Janela Se AbrisseDe Tiago Rodrigues.Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Pç. D. Pedro IV. Até 5/06. 4ª a Sáb. às 23h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Mulher MimDe e com Rafaela Santos.Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 4/06. 6ª às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€.

Festivais Gil Vicente.

CrateraDe valter hugo mãe. Pelo Teatro Bruto. Encenação de Ana Luena. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 5/06. Sáb. às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€.

Festivais Gil Vicente.

Uma Família PortuguesaDe Filomena Oliveira, Miguel Real. Pelo Teatro Aberto. Encenação de Cristina Carvalhal.Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 10/06. 5ª às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€.

Festivais Gil Vicente.

Noites BrancasDe Dostoiévski. Encenação de Francisco Salgado.Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. Até 27/06. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às 17h30. Tel.: 213420000.

Dança

EstreiamBoa GoaA partir de Fernando Pessoa. Pela Pigeons International. Porto. Teatro Helena Sá e Costa (ESMAE). R. Alegria, 503 (entrada pela R. da Escola Normal, 39). Dia 6/06. 2ª às 18h30. Dom. às 21h30. Tel.: 225189982. 10€.Lisboa. Teatro Camões. Pq. das Nações. De 9/06 a 10/06. 4ª às 21h30. 5ª às 18h. Tel.: 218923470. 7,5€ a 12€.

FITEI.

Dies Irae, en el Requiem de MozartDe Marta Carrasco. Porto. Teatro Nacional S. João. Pç. Batalha. 7/06. 2ª às 21h30. Tel.: 223401910. 7,5€ a 16€.

FITEI.

Giant City + Evaporated LandscapesDe Mette Ingvartsen.Lisboa.CCB - Pequeno Auditório. Pç. do Império. De 6/06 a 7/06. Dom. e 2ª às 21h. Tel.: 213612400. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

ContinuamVamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamosDe Vera Mantero. Lisboa. Culturgest - Grande Auditório. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. De 7/06 a 9/06. 2ª a 4ª às 21h30. Tel.: 217905155. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Bare SoundzDe Savion Glover.

Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De

4/06 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h. Dom. às 17h. Tel.: 213257650.

5€ a 12€.

Alkantara Festival.

ValeDe Madalena

Victorino. Porto. Museu de Serralves - Auditório. R.

Dom João de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 226156500.

Entrada gratuita.

Serralves em Festa.

Agenda

Mulher MimDe e com Rafaela Santos

mBommmmmMuito BommmmmmExc

FITEI.

C’est du ChinoissDe Edit Kaldor. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 5/06. 5ª a Sáb. às 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€.

AlkantaraFestival.

Se Uma Janela Se AbrisseDe Tiago Rodrigues.Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. Pç. D. Pedro IV. Até 5/06. 4ª a Sáb. às 23h. Tel.: 213250835. 5€ a 12€.

Alkantara Festival.

Tel.: 217905155. 5€ a 12€.

AlkAAAAAAA antara Festival.

Bare SoundzDe DDDDDDDDDDDDD Savion Glover.

Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz.R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De

4/064/4/4/4/4/44444/44 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h.DoDoDoDoDomDoDom.DoDoDDDoDDDoDoDDDDDoDDDDoD às 17h. Tel.: 213257650.

55555€ a55555555 12€.

Alkantara Festival.

ValeDe Madalena

VVVVicVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV torino.Porto. Museu de Serralves - Auditório. R.

DDom DDD João de Castro, 210. De 5/06 a 6/06. 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 226156500.

Entrada gratuita.

SerSSSSSSSS ralves em Festa.

“Deserve” no Alkantara Festival

“Dies Irae”, da coreógrafa catalã Marta Carrasco, no FITEI

“Cratera” nos Festivais Gil Vicente

Mette Ingvartsen no CCB

O “Vale” de Madalena Victorino no Serralves em Festa

Lia Gama, a senhora Rose, vive no quarto número sete, o melhor do prédio

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Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701. 10/06. 5ª às 22h. Tel.: 253424700. 5€ a 7,5€.

Festivais Gil Vicente.

O Argumento - ProductDe Mark Ravenhill. Pela Escola de Mulheres. Encenação de Isabel Medina. Com Hugo Sequeira.Lisboa. Clube Estefânia. R. Alexandre Braga, 24-A. Até 30/06. 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 213542249. 7,5€ a 10€.

Cabeças Falantes - Festival de Monólogos.

Amor com Amor se PagaA partir de Anton Tchékhov, August Strindberg, Henrik Ibsen, Karl Valentin. Pela Companhia Teatral do Chiado. Encenação de Juvenal Garcês. Com Alexandra Sargento, Emanuel Arada, João Carracedo, Manuela Cassola.Lisboa. Teatro-Estúdio Mário Viega/Companhia Teatral do Chiado. Lg. Picadeiro, 40. Até

31/12. 6ª às 22h. Tel.: 707302627. 25€.

Noites BrancasDe Fiódor Dostoiévski. Encenação de Francisco Salgado. Com Sofia Dinger, Bernardo Almeida.Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. Até 27/06. 4ª a Sáb. às 21h45. Dom. às

17h30. Tel.: 213420000.

Os CãesDe Alexander Gerner. Encenação de Alexander Gerner. Com Gonçalo Ruivo, João Saboga, Miguel Telmo, Tiago Fernandes.Lisboa. Teatro Turim. Estrada de Benfica, 723 A. Até 26/06. 4ª a Sáb. às 21h30.

Homens de EscabecheDe Ana Istarú. Pela Seiva Trupe. Encenação de António Feio. Com Joana Estrela, José Fidalgo.Porto. Teatro do Campo Alegre. R. das Estrelas s/n. Até 30/06. 3ª a Sáb. às 21h45. Dom. às

16h. Tel.: 226063000.

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Os sítios de Pedro Cabrita ReisDesenhos de uma casa e um arquivo de imagens fotográficas, ou a inutilidade da biografia perante a arte. José Marmeleira

Uma CasaDe Pedro Cabrita Reis.

Lisboa. Caroline Pagès Gallery. Rua Tenente Ferreira Durão, 12 - 1º Dto. T. 213873376. Até 31/7. 2ª a sáb. 15h às 20h.

Desenho, Fotografia.

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Outros Sítios MaisDe Pedro Cabrita Reis.

Lisboa. Galeria Miguel Nabinho - Lisboa 20. Rua Tenente Ferreira Durão, 18B. T. 213830834. Até 31/7. 3ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb. das 12h às 20h.

Desenho, Fotografia.

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Pedro Cabrita Reis (Lisboa, 1956) é um artista que entende, mesmo que por breves instantes, a sua obra como o mundo todo, e a sua pose ou persona como realidades indissociáveis de um corpo; um corpo que viaja, constrói, trabalha, pinta,

enfim, vive. O seu. É no sentido mais amplo destas conclusões que nos abeiramos da última exposição do artista, dividida (dobrada?) em duas: “Uma Casa”, na Galeria Caroline Pagès, e “Outros sítios Mais”, na Galeria Miguel Nabinho.

Sigamos primeiro para esta última (a título de curiosidade, ambas as galerias se situam na Rua Tenente Ferreira Durão). No interior, fotografias dispostas sobre papel enchem as paredes. Mostram o artista no atelier, em viagens, na praia, em casa. A única figura visível é, quase sempre, o próprio Cabrita Reis, enquanto a família, os amigos, os colaboradores, embora omnipresentes, permanecem fora de campo. Algumas imagens são “classificadas”, identificadas com datas, locais (museus, galerias, casas, projectos), legendas e círculos que assinalam momentos. Um imenso arquivo parcialmente revelado e cuja existência Pedro Cabrita Reis já havia sugerido na conversa com Augusto M. Seabra e o arquitecto Eduardo Souto Moura publicada no catálogo de “Pedro Cabrita Reis: colecções privadas”, exposição de 2008 no Palácio da Galeria, em Tavira.

O auto-retrato e a figura apresentam-se enquanto “assuntos” das fotografias (vejam-se os exercícios com a sombra, as poses, o olhar para a câmara), mas, ao contrário do que acontecia noutras obras de cariz biográfico (“Meus pais deram-me aquilo, alma da sua diversa”, de 1993, “À propos des lieux d’origine”, de 2005-2009), agora são os outros, velados pela objectiva, ou até tornados anónimos pelo esquecimento, que fazem as imagens. Pedro Cabrita Reis limitou-se a coleccioná-las antes de as transformar num corpo de trabalho onde o espectador navega confuso. Repetem-se as cenas, os gestos, as paisagens, o sujeito, sem narrativa,

ficção ou a forma de uma memória plenamente edificada. Apenas uma vertigem absoluta e exasperante, destituída de “punctum”. Dados que ofuscam a visão.

A dimensão (auto)biográfica continua patente na Caroline Pagès – a galeria foi, curiosamente, o lugar onde nasceu e viveu o próprio Cabrita Reis –, embora com outra (convoquemos esta palavra) generosidade. Em desenhos diferentes (pendurados quase como pinturas), a planta da casa é apagada, alterada, redesenhada, reescrita e sujeita a um conjunto de matérias e elementos: o fogo, a tinta, o papel, a mão, o vinho. A abstracção daí resultante é sensual, líquida, violenta, mas não mostra nada para além de si mesma.

Pedro Cabrita Reis furta-se, assim, à revelação ou à representação, mas ao habitar de novo aquela casa, na condição de demiurgo (transformando-a em espaço da obra de arte), permite-nos a possibilidade de as imaginarmos. Os desenhos não são “acessíveis”, nem estão cheios de informação como as fotografias de “Outros Sítios Mais”. Apenas existem, abertos à presença do olhar e da imaginação do espectador.

Fora e dentro de campoEncontro e confronto das obras de Vasco Araújo e Javier Téllez, dois artistas com preocupações comuns e formas de fazer distintas. José Marmeleira

Mais Que a VidaDe Vasco Araújo, Javier Téllez.

Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Avenida de Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 06/09. 3ª a Dom. das 10h às 18h.

Vídeo, Fotografia, Instalação, Outros.

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No texto que Isabel Carlos assina no catálogo de “Mais Que a Vida”, o trabalho com referências do cinema

e a dimensão psicológico-psiquiátrica são apontados como motivos que explicam o encontro das obras de Vasco Araújo (Lisboa, 1975) e do artista venezuelano Javier Téllez (1969) na Fundação Calouste Gulbenkian. Depois de vista a exposição, poderíamos acrescentar mais dois: a apresentação de realidades em que o “ser sujeito” (ou o ser “humano”) é objecto de um discurso, e a produção de histórias, situações, narrativas.

“Mais Que a Vida” é, fundamentalmente, uma exposição de narrativas: melodramáticas, como as vidas sentimentais de várias mulheres (quais Gloria de “Que Fiz Eu para Merecer Isto?, de Pedro Almodóvar) em “Mulheres de Apolo” (2010), de Vasco Araújo; ou inusitadas como a viagem de um rinoceronte embalsamado pelo Pavilhão de Segurança do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, em “O Rinoceronte de Dürer”, de Javier Téllez. É nessa componente narrativa (do documentário à ficção, da citação e da apropriação do cinema à alegoria e ao registo de um performance musical) que se concretiza o confronto, inevitável, entre as propostas dos dois artistas.

Os filmes e as instalações de Javier Téllez entrecruzam, tematicamente, a loucura, a doença e o cinema enquanto mecanismo que regista e projecta imagens em movimento. Pretendem “curar a lucidez do são” – sugeriu o próprio, numa entrevista à publicação americana “Bomb Magazine” – através de uma renovação do acto de ver e olhar. Dessa vontade são exemplares “Caligari and the Sleepwalker” (2008), onde a hipnose é, ao mesmo tempo, um efeito da experiência do cinema e um meio da psiquiatria, ou “La Passion de Jeanne d´Arc (Rozelle Hospital Sydney)”, uma dupla projecção composta pelo filme original de Carl Dreyer, com as legendas reescritas por doentes de um hospital psiquiátrico, e um documentário com os testemunhos de 12 pacientes. Esta é a peça mais complexa e interessante de Téllez: ao escreverem as legendas, num quadro a giz, as doentes introduzem a sua voz na ficção de Dreyer.

Nem todos os trabalhos possuem tal engenho formal. Por vezes a

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“Mulheres d’Apolo” (2010), de Vasco Araújo, uma das narrativas que constituem “Mais Que a Vida”

Pedro Cabrita Reis sujeita a planta da galeria Caroline Pagès (curiosamente, a casa onde nasceu) a uma série de “experiências” (ao lado) e mostra o seu próprio arquivo fotográfi co na Miguel Nabinho (em baixo, à esquerda)

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 41

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InauguramSines Digital (SD’10)De Si Scott, Tavo, António Cerveira Pinto, Seed Studios, entre outros. Sines. Centro Cultural Emmerico Nunes. Largo do Muro da Praia, 1. Tel.: 914827713. Até 10/07. 2ª a Sáb. das 14h30 às 18h30. Inaugura 4/6 às 22h30.

Ilustração, Design, Outros.

Entre-CampoDe Carlos Mélo. Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. Rua António Maria Cardoso, 31. Tel.: 210170765. Até 10/07. 3ª a Sáb. das 14h às 20h. Inaugura 4/6 às 22h.

Fotografia, Desenho, Vídeo, Outros.

En El Escenario Del Tiempo

De Gerardo Sanz. Porto. Centro Português de Fotografia. Campo Mártires da Pátria. Tel.: 222076310. Até 11/07. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Inaugura 4/6 às 18h30.

Fotografia.

The Last CigaretteDe Rita Barros. Lisboa. Ermida de Nossa Sra da Conceição. Trav. do Marta Pinto, 12. Tel.: 213637700. Até 18/07. 3ª a 6ª das 11h às 18h. Sáb. e Dom. das 14h às 18h. Inaugura 5/6 às 18h.

Fotografia, Outros.

Tudo O Que é Sólido Dissolve-Se no Ar: O Social na Colecção BerardoLisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 12/09. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h.

Pintura, Outros.

ContinuamPra Quem Mora Lá, O Céu é LáDe Gustavo Pandolfo, Otávio Pandolfo (OSGEMEOS). Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 19/09. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª, Dom. e Feriados das 10h às 19h.

Pintura, Outros.

German FacesDe Collier Schorr. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 15/08. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h.

Fotografia.

Algumas Obras a Ler - Colecção Eric FabreDe Joseph Kosuth, Isidore Isou, Joseph Wolman, entre outros. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - CCB. Tel.: 213612878. Até 15/08. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h.

Desenho, Outros.

Para o Cego no Quarto Escuro à Procura do Gato Preto Que Não Está LáDe Peter Fischli, David Weiss, Giorgio Morandi, Matt Mullican, entre outros. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h. Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h.

Fotografia, Outros.

Por ParisDe Vieira da Silva, René Bértholo, Lourdes Castro, Vasarely, Christo, Niki Saint-Phalle, entre outros. Algés. Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio dos Anjos. Alam. Hermano Patrone. Tel.: 214111400. Até 19/09. 3ª a Dom. das 11h às 18h.

Pintura, Outros.

Les Limites Du DésertDe João Tabarra. Lisboa. Galeria Graça Brandão. R. dos Caetanos, 26A (Bairro Alto). Tel.: 213469183. Até 26/06. 3ª a Sáb. das 11h às 20h.

Fotografia, Vídeo.

Fotografi a Sem FotógrafoDe Hans-Peter Feldmann, Christian Boltanski, Sol LeWitt, entre outros. Porto. Museu de Serralves - Biblioteca. R. Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 31/08. 2ª a Sáb. das 10h às 18h.

Fotografia, Outros.

A Museum is to Art What a Great Translator is to a WriterDe André Gomes, Bruno Cidra, Carlos Correia, entre outros. Lisboa. Baginski Galeria/Projectos. R. Capitão Leitão, 51/53. Tel.: 213970719. Até 04/09. 3ª a Sáb. das 11h às 19h.

Pintura, Desenho, Instalação, Escultura, Fotografia.

Cornelius Cardew e a Liberdade da EscutaPorto. Culturgest. Av. dos Aliados, 104 - Ed. da CGD. Tel.: 222098116. Até 26/06. 2ª a 6ª e Sáb. das 10h às 18h.

Vídeo, Fotografia, Outros.

Investigations of a DogDe vários autores. Alcoitão. Ellipse Foundation - Art Centre. Alam. das Fisgas, 79. Tel.: 214691806. Até 05/09. 6ª, Sáb. e Dom. das 11h às 18h.

Pintura, Outros.

Espelho (Meu)De Catarina Saraiva. Lisboa. Módulo - Centro Difusor de Arte. Calçada dos Mestres, 34A/B. Tel.: 213885570. Até 05/06. 3ª a 6ª e Sáb. das 15h às 20h.

Instalação, Outros.

Nasreen Mohamedi: Notas - Refl exões Sobre o Modernismo Indiano

Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Ed. da CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h. Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h.

Pintura, Fotografia.

Agenda

“Entre-Campo”, de Carlos Mélo, na 3+1

As “German Faces” de Collier Schorr

// MORADA Praça Marquês de Pombal nº3, 1250-161 Lisboa

// TELEFONE 21 359 73 58

// EMAIL [email protected]

// HORÁRIO Segunda a Sexta das 9h às 21h

DE 15 DE ABRIL A 18 DE JUNHO

/// ENTRADA GRATUITA

ANA BRAGA, INÊS MOURA E SUSANA PEDROSAAPRESENTAM OS TRABALHOS PREMIADOS PELA 5ª EDIÇÃO DO BES REVELAÇÃO.

2009

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42 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

rotação permanente: o veloz movimento do pensamento, sinónimo de uma ideia de progresso.

É, portanto, com as vanguardas do século XX que o artista procura dialogar, criando, contudo, uma distância crítica relativamente a esses períodos. E fá-lo introduzindo não só elementos de derrisão – como a ironia, a sátira ou a paródia -, mas também, e sobretudo, através da inclusão de situação autobiográficas que contaminam quer a pureza de um objecto minimal, quer qualquer estratégia de afastar a arte do quotidiano – e aqui faz todo o sentido recuperar as teorias de Hal Foster expressas em “The Return of the Real”, nomeadamente a análise da dimensão escatológica dos trabalhos de Mike Kelley e John Miller e ainda a tendência para redefinir a experiência em termos de trauma: “Este estranho renascimento do autor, esta condição paradoxal de autoridade ausente, é uma viragem significativa na arte contemporânea.”

A exposição centra-se na dimensão escultórica do trabalho de Fernando Brito, deixando de lado a sua actividade enquanto desenhador, uma das mais significativas do seu percurso. Há outras lacunas, nomeadamente os trabalhos revelados recentemente na mostra “Ich bin ein Baixinher” (Espaço Fidelidade Mundial Chiado 8 Arte Contemporânea, Lisboa), que é já uma das individuais do ano, na qual, através de três instantes, o artista trouxe à tona os falhanços revolucionário, tecnológico e modernista, neste caso através de um exemplo vindo da arquitectura, outra das artes que fazem parte do seu motor de pensamento. Com alguns problemas de montagem – o espaço é bastante complicado, tantas são as janelas e os obstáculos visuais –, a exposição patente no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, sabe a pouco, tornando urgente uma visão retrospectiva desta obra, das mais relevantes das últimas décadas. Assinale-se ainda a publicação, no catálogo, de “Loop”, uma banda desenhada que merece ser vista e revista, lida e relida, depois de anos na gaveta.

forma não resiste ao conteúdo, ao “tema”. Veja-se, a propósito, “Letter on the Blind for the Use of Those Who See”, que documenta as experiências tácteis de um grupo de cegos sobre a pele de um elefante, ou “O Rinoceronte de Dürer”. Nos dois, o conceito não acompanha ou acompanha demasiado depressa a representação.

Desse ponto de vista, as obras de Vasco Araújo logram outra harmonia entre suporte e significado, texto e voz, conceito e imagem em movimento. Sobretudo “Far de Donna” (2005), o seu melhor trabalho na exposição, e “Mulheres d’Apolo” (2010), o mais recente. No primeiro, uma mulher conta, através da linguagem gestual, uma história de ressonâncias edipianas: perdeu a voz no dia em que o filho descobriu ter qualidades vocais de “castrato”. A narração é acompanhada de um ensaio do intérprete masculino, entrecortado pela gestualidade da personagem feminina que descreve, de modo expressivo (quase dramático), a morte (e o renascimento) da sua voz. É uma peça forte e curta, com uma tensão emocional organizada pela música e pelas legendas.

Algo semelhante acontece em “Mulheres d’Apolo”, mas com menos gravidade. Mulheres de meia-idade dançam num salão de baile. Algumas fazem-no sozinhas, saem e entram no plano, na dança. E pelas roupas parecem ser as que depois ouvimos a falar, em “voice-over”, sobre a felicidade, a espera, o papel passivo da mulher. Parecem, pois os seus rostos durante esses testemunhos nunca nos são mostrados. Ficam fora de campo e podem estar – ou estiveram sempre – noutro corpo, noutro sujeito.

O espírito do tempoFernando Brito no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Óscar Faria

Der Geist Unserer ZeitDe Fernando Brito.

Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. Afonso Henriques, 701. T. 253424700. Até 27/6. 3ª a sáb das 10h às 12h30 e das 14h às 19h. Domingo e feriados das 14h às 19h.

Escultura, Pintura, Outros.

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Raoul Hausmann (Viena, 1886 – Limoges, 1971) conheceu, em 1916, o psicanalista Otto Gross e o escritor anarquista Franz Jung. O encontro com estes autores ajudou-o a estabelecer as bases da sua “dádásofia”, que tinha como ponto de partida a ideia de destruição

enquanto acto criativo, uma forma de se estabelecer as condições necessárias para o aparecimento do “homem novo” – neste contexto, é também de assinalar a influência de Friedrich Nietzsche. O artista austríaco foi ainda fundador do Clube Dádá, em Berlim e colaborou com inúmeras iniciativas relacionadas com o movimento, como a organização da primeira feira internacional, a redacção de manifestos ou a edição de revistas. É também autor de uma das obras mais significativas do dadaísmo, a escultura “Der Geist unserer Zeit. Mechanischer Kopf.”

Apelidado de “Dádásofo”, Hausmann realizou esta peça por volta de 1920. O trabalho foi fabricado, segundo o artista, com a ideia de “revelar o espírito do tempo, o espírito de cada um no seu estado rudimentar.” Sobre uma cabeça em madeira para fazer cabeleiras postiças, o dadaísta acrescentou uma série de próteses que procuram traduzir essa dimensão espiritual da existência humana. Crítico de qualquer forma de poder, o autor consegue, com a sua assemblage, produzir uma imagem clara das diferenças entre a natureza do humano e aquilo que a ela se cola, da ciência até à arte académica, burguesa.

“Der Geist unserer Zeit” é também o título da exposição antológica de Fernando Brito (Pampilhosa da Serra, 1957), comissariada por Pedro Cabral Santo. O trabalho de Hausmann é prolongado numa obra homónima, um projecto do artista datado de 1995 e agora materializado – neste caso, o espírito do nosso tempo é uma cabeça de manequim, feminina, com auscultadores, óculos de sol cor-de-laranja e um boné de marca desportiva. Entre os dois trabalhos, um arco que vai das primeiras vanguardas do século XX até ao presente: uma perpétua alienação. Há três anos, na Galeria Presença, no Porto, revelava uma outra cabeça, um auto-retrato de 360 graus, inspirada em “Perfil Contínuo” (1933), escultura em cerâmica do futurista italiano Renato Giuseppe Bertelli que sugere uma visão da cabeça Mussolini em

Exp

osiç

ões

A antológica de Fernando Brito centra-se na dimensão escultórica da sua obra

Vídeo-Arte Vídeos de Lee

Ranaldo e Leah Singer, Phil Niblock e Jeff Keen (na imagem), entre outros artistas, integram a próxima ronda do ciclo “Video Mechanics”,

subordinada às relações entre

a música e a vídeo-arte, que decorre de segunda a quarta-feira (7 a 9) em Coimbra. As sessões integram a mostra internacional Cycle Mechanics e são às 21h30 na Sala-Estúdio do CITAC.

deo-rte VVídeos de Lee

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44 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

No último disco, “The Wonder Show of the World”, gravado com Cairo Gang (Emmett Kely), há também psicadelismo eléctrico a quebrar o silêncio cerimonioso (ouça-se “Teach me to bear you”, com entrada directa para a nata do cancioneiro de Oldham), maravilhosos coros, a mesma sensação de pacificação interior dos seus últimos discos, a milhas do negrume da obra-prima “I See a Darkness” (1999), mas sem as camadas e camadas de instrumentos do penúltimo álbum, “Beware”.

Amanhã, Bonnie actuará num cenário especial, a sala principal da Sociedade de Geografia, com Emmet Kelly, na guitarra e na voz, e Susanna Wallumrod, vocalista de Susanna and The Magical Orchestra, na voz e no piano acústico. Domingo, o trio ruma ao Teatro Aveirense. Susanna Wallumrod actuará sozinha nas primeiras partes.

Experimen-tação bargeldianaBlixa Bargeld cruza-se com Alva Noto na Casa da Música. Luís Carlos Soares

Annb (Blixa Bargeld + Alva Noto)Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de Albuquerque. Amanhã, 5, às 22h30. Tel.: 220120220. 18€.

Clubbing.

A inspiração para o pseudónimo provém de Johannes Theodor Baargeld, mas, na actualidade, o reconhecimento internacional superou o do pintor dadaísta falecido em 1927. Falamos de Blixa Bargeld, cujo nome tendemos a confundir com o dos Einstürzende Neubauten. O equívoco não é completamente descabido. Afinal, há três décadas que, da escrita à interpretação das canções, Bargeld lidera a maior parte do processo criativo da histórica banda alemã. À escala adequada, podemos comparar esta influência com a que Trent Reznor tem, para o bem e para o mal, nos também industriais Nine Inch Nails.

Tal como o norte-americano, Bargeld tem passeado um projecto a solo. Se Reznor, nos How To Destroy Angels, se faz acompanhar da esposa, o alemão tem-se apresentado em público na companhia compositor de música electrónica Alva Noto.

O produto final, que vamos poder ver amanhã em mais um Clubbing da Casa da Música, é o que está a imaginar. Os cenários cantados pela voz compulsiva, perturbada e visceral de Bargeld são reforçados

pela electrónica de Noto. Descrever o que se poderá passar é difícil: resumir tanta experimentação a meia dúzia de palavras será sempre limitador.

Terapia pop

Atlas Sound + AquaparqueLisboa. Lux Frágil. Av. Infante D. Henrique - Armazém A. Hoje, às 22h. Tel.: 218820890. 15€.

Em miúdo, Bradford Cox gravou centenas (literalmente) de cassetes numa máquina de “karaoke” que lhe permitia colar guitarra, voz e outras camadas de som, usando uma técnica artesanal. Encontrou o nome Atlas Sound nessa altura, algures em 1994, mas o primeiro álbum surgiu só em 2008, já depois da estreia da sua banda, os Deerhunter.

Cox já não grava dessa forma, mas continua a compor letras e música à medida que grava, camada sobre camada, até achar que a canção não pede mais nada. É também assim em “Logos” (2009). Panda Bear, dos Animal Collective, e Laetitia Sadier, dos ídolos de adolescência Stereolab, deram uma ajuda, mas “Logos”, como o antecessor, é, sobretudo, um disco de quarto, obra solitária feita com recurso aos instrumentos virtuais de um computador, guitarra acústica e voz.

É uma música entre dois mundos, a pop e o “ambient”. “A música ambiental tende a ser mais emotiva para mim”, explicou à Prefixmag.com. “Mas o que me apela mesmo é quando as coisas coisas se misturam e se gera

uma confusão ou uma bizarria. Acho muito interessante passar um disco de ‘doo-wop’ por um monte de ‘reverb’ até se tornar algo cavernoso e cheio de eco. É pegar em algo, despir-lhe o lado mais directo e deixar apenas uma impressão.”

É impossível desligar o que Cox faz musicalmente e as palavras que canta da biografia atribulada. Sofre da síndrome de Marfan, doença genética associada a deficiências do tecido conjuntivo, passou parte da infância em hospitais, teve problemas de dependências de drogas, temas que aborda, sem complexos, em entrevistas.

A música, aprendeu com a acordeonista experimental Pauline Oliveros, é uma terapia. Hoje, no Lux, com os portugueses Aquaparque a prometerem mostrar novas canções na primeira parte, Cox poderá mostrar por que é que a pop terapêutica que tem feito merece chegar a mais pessoas. Pedro Rios

Clássica

A Metropoli-tana na maioridadeA Orquestra festeja os 18 anos no dia 10 com um grande concerto dirigido por Joana Carneiro, maestrina formada numa das suas escolas. Cristina Fernandes

Orquestra Metropolitana de LisboaDirecção Musical de Joana Carneiro. Lisboa. Centro Cultural de Belém - Grande Auditório. Praça do Império. 5ª, 10, às 21h. Tel.: 213612400. 5€ a 15€.

Obras de Dvorák e Elgar, entre outros.

A 10 de Junho de 1992, a Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML)

dava o seu concerto

inaugural. Não era apenas uma orquestra que

nascia, mas um projecto inovador, que associa a prática musical de nível profissional com o ensino. Passaram 18 anos e, apesar de algumas vicissitudes, a

213540823. Entrada gratuita.

Con

cert

osPop

As máscaras de Will OldhamBonnie “Prince Billy”, uma das personas de um gigante da música moderna, apresenta “The Wonder Show of the World”. Pedro Rios

Bonnie “Prince” Billy & The Cairo Gang + SusannaLisboa. Soc. de Geografia. R. Portas de Santo Antão, 100. Amanhã, 5, às 21h. Tel.: 213425401.15€.

Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. República. Dom., 6, às 22h. Tel.: 234400922. 10€ a 12€.

Bonnie “Prince” Billy nunca é o mesmo. Na verdade, Bonnie não existe se não na música: é o pseudónimo, há mais de dez anos, de Will Oldham, que fala de Bonnie na terceira pessoa, como se fosse um amigo imaginário. Mas quem é Oldham? O músico que é também actor ( já o era antes de fazer um disco), o fã de R. Kelly ou o bardo que, há uns dois meses, apareceu numa remistura dos Hot Chip para “I feel better”?

“Por vezes, de repente, percebo que não há Will ao todo, nem Bonnie ao todo”, disse no ano passado à revista “Wire”, numa das suas raras entrevistas. Logo no primeiro disco, fartou-se que lhe perguntassem “porquê, porquê, porquê?”, quando ele “só tinha feito um disco”.

Oldham pega na tradição americana, mas sem ponta de reverência ou colagem aos tutores, de Young a Cash. Como acontece com os grandes, parte de uma linha histórica identificável, ao mesmo tempo que se solta dela. Nesse processo, encontrou um lugar só seu, algures na intersecção da folk, da country, dos blues e da música independente de guitarras.

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A Orquestra festeja os 18anos no dia 10 com um grande concerto dirigidoJoana Carneiro, maestrinformada numa das suasescolas. Cristina Fernan

Orquestra Metropolitana de LisboaDirecção Musical de Joana CarnLisboa. Centro Cultural de Belém - Grande Auditório. Praça do Império. 5ª, 10, às 21h. Te213612400. 5€ a 15€.

Obras de Dvorák e Elgar, entre outros.

A 10 de Junho de 1992,OrquestraMetropolitana aaaaaaaaaaade Lisboa (O

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inaugural. Nãoapenas uma orquestra

nascia, mas um projectoinovador, que associa a prática musical de nívelprofissional com o ensinPassaram 18 anos e, apede algumas vicissitudes

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Bonnie “Prince” Billy, uma instituição da música americana

Atlas Sound, o rapaz dos Deerhunter, leva a sua pop ambiental ao Lux

A voz visceral de Blixa Bargeld encontra as electrónicas de Alva Noto

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 45

Metropolitana impôs-se pela sua qualidade artística e pedagógica. Actualmente, gere três escolas (Academia Nacional Superior de Orquestra, Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa e Escola Profissional Metropolitana) e três orquestras (Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra Académica Metropolitana e a Orquestra Sinfónica Metropolitana), tendo servido de suporte à formação

de cerca de duas centenas de instrumentistas que

entretanto ingressaram na vida

profissional. Pioneira em

Portugal no ensino da direcção de orquestra, conta, entre os licenciados pela instituição, com a maestrina Joana Carneiro,

actualmente a fazer carreira

internacional e titular da

Orquestra Sinfónica de Berkekey, que irá

dirigir quinta-feira, no Centro Cultural de Belém, o

concerto comemorativo do 18º aniversário. Nesta ocasião, juntam-se à formação habitual da OML professores, alunos e ex-alunos da Metropolitana para interpretar algumas obras famosas do grande repertório sinfónico, nomeadamente a Sinfonia n.º 9, Op. 95, “Do novo mundo”, de Dvorák, e a Marcha Militar n.º 1, Op. 39, “Pompa e Circunstância”, de Elgar. Será um encontro festivo, reunindo várias gerações de músicos e que trará ainda várias surpresas. Antes e depois do concerto, agrupamentos com jovens alunos das diferentes escolas tocarão também algumas peças. “18 Anos – Idade Maior” foi o mote da programação desta temporada, assinalando a passagem para uma nova etapa, marcada por uma maturidade que já começou a manifestar-se em numerosos concertos de óptimo nível e na solidez da formação das novas gerações.

Um novo cravo para BachCristiano HoltzLisboa, Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Av. 5 de Outubro, 6-8. 3ª, 8, às 19h. Tel.: 213540823. 213540823. Entrada gratuita.Entrada gratuita.

Concertos Antena 2. Obras de J. S. Bach.

Gottfried Silbermann (1683-1753) foi um importante construtor

alemão de instrumentos de tecla: cravos, clavicórdios, órgãos e pianofortes. Ficou sobretudo conhecido como organeiro (tal como o seu irmão Andreas) e pelo seu contributo no desenvolvimento do piano, na sequência de algumas trocas de opinião com J. S. Bach, mas foi também autor de cravos com características únicas ao nível do som e da construção. Estes instrumentos são bastante raros, mas em 2009 Matthias Kramer construiu para o cravista Cristiano Holtz uma réplica de um instrumento de Gottfried Silbermann (Saxónia, c. 1740), que se encontrava no museu instrumental de Berlim. Depois de ter sido apresentado num concerto em Hamburgo, este cravo será ouvido pela primeira vez em público em Portugal no dia 8, num recital na Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa, com transmissão directa pela Antena 2. O programa será integralmente preenchido com obras de Bach, incluindo a Fantasia Cromática e Fuga, Tocatas, Prelúdios e Fugas e outras peças, que o cravista irá interpretar “ao sabor do momento”.

Nascido no Brasil em 1972, Cristiano Holtz reside actualmente em Lisboa, onde é professor no Instituto Gregoriano e no Conservatório Nacional. Começou a tocar cravo aos 12 anos e aos 15 foi para os Países Baixos, onde estudou com Jaques Ogg e Gustav Leonhardt. Frequentou também masterclasses com Miklós Spanyi (clavicórdio) e Pierre Hantaï (cravo). Tem tocado na Europa, na América Latina e na Ásia, e participou em diversas gravações para a rádio e a televisão portuguesa e brasileira. Entre os seus discos, destaca-se o CD dedicado às Suites de J. Mattheson (Ramée, 2006), dintinguido com o Preis der Deutschen Schallplattenkritik e com cinco estrelas na revista de música antiga Goldberg. C.F.

Jazz

Valsa jazzUma das poucas formações a cruzar com sucesso as fronteiras do jazz e da clássica contemporânea brilha no Porto. Rodrigo Amado.

Vienna Art OrchestraDirecção Musical de Mathias Rüegg. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque. 4ª, 9, às 22h. Tel.: 220120220. 15€.

Ciclo Jazz Galp - Áustria 2010.

A Vienna Art Orchestra (VAO) é, talvez, a mais importante orquestra internacional de jazz da Europa. Formada em 1977 por Mathias Ruegg e sediada numa cidade feita de música onde o clássico e o contemporâneo se cruzam de forma natural, a VAO tem sido, durante anos, o contexto ideal para desenvolvimento de um ensemble pouco dado a fronteiras estilísticas, que está na origem de uma música sofisticada, profundamente contemporânea e inovadora, respeitando sempre as grandes tradições jazz da Europa e dos Estados Unidos. Responsável, nos anos 80, por gravações de referência como “From No Time To Rag Time” e “A Notion In Perpetual Motion”, cada vez mais conceptual, a VAO abandonou recentemente o formato clássico de big band para assumir uma nova configuração: uma orquestra de câmara que integra naipes de cordas, madeiras e metais e solistas improvisadores. Quarta-feira, mostra-se no Porto, para um concerto integrado no programa que a instituição dedica ao país-tema deste ano, a Áustria.

Ao vivo

A banda dele, os Real Estate, é uma coqueluche indie, mas Matt Mondanile também opera a solo, enquanto Ducktails. No ano passado lançou

dois discos muito recomendáveis, algures entre a “kosmische musik” (tal como seria

vista por um miúdo de dez anos às voltas com o Casio), a new age e a pop de baixa defi nição. Com um gravador barato, guitarra e ritmos básicos da caixa de ritmos,

Mondanile faz música para Verões mitifi cados, férias grandes e outras memórias de tempos mais simples. Actua segunda, dia 7, no Porto (à hora do fecho desta edição, o local era ainda desconhecido), e quarta, dia 9, no terraço da ZDB, em Lisboa.

sexta 4Dead ComboLisboa. Cinema São Jorge. Av. Liberdade, 175, às 23h30. Tel.: 213103400. Entrada gratuita.

Festas de Lisboa’10.Ver texto na pág. 32.

Alice RussellGuimarães. São Mamede - Centro de Artes e Espectáculos. R. Dr. José Sampaio, 17-25, às 23h. Tel.: 253547028. 15€ a 20€.

Tim Berne + Bruno Chevillon Guarda. Teatro Municipal - Pequeno Auditório. R. Batalha Reis, 12, às 21h30. Tel.: 271205241. 5€.

Jean-Luc Guionnet + Seijiro MurayamaCoimbra. Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. R. Barreiras, às 19h00. Tel.: 239801160. 5€.

Jazz Ao Centro.

Cristina Branco + João Paulo Esteves da Silva + Carlos Bica Lisboa. Castelo de São Jorge, às 22h. Tel.: 218800620. 12,5€.

Festa do Fado 2010.

Gli IncognitiDirecção Musical de Amandine Beyer. Funchal. Igreja do Colégio. R. dos Ferreiros, 105, às 21h30. Tel.: 291233534. 10€ (dia) a 50€ (passe).

XXXI Festival de Música da Madeira.

sábado 5Bonaparte + dOPPorto. Fundação de Serralves - Prado. R. Dom João de Castro, 210, às 0h. Tel.: 226156500. Entrada gratuita.

Serralves em Festa.

Alice RussellLisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. Santiago, 19, às 22h. Tel.: 218884503. 20€.

DeolindaTorres Novas. Teatro Virgínia. Largo São José Lopes dos Santos, às 21h30. Tel.: 249839309. 15€.

A Naifa + Celeste RodriguesLisboa. Castelo de São Jorge. Castelo, às 22h. Tel.: 218800620. 12,5€.

Festa do Fado 2010.

JokerCom Nuno Rebelo (guitarra), Drumming - Grupo de Percussão. Viseu. Teatro Viriato. Lg. Mouzinho Albuquerque, às 21h30. Tel.: 232480110. 5€ a 10€.

Samuel ÚriaFaro. Teatro Lethes. R. Portugal, 58, às 21h30. Tel.:

289820300. 7€.

Virgem SutaPortalegre. Centro de Artes do Espectáculo. Pç. da Republica, 39, às 22h00. Tel.: 245307498. 5€.

Sam The KidLisboa. Teatro Municipal Maria Matos . Av. Frei Miguel Contreiras, 52, às 18h30. Tel.: 218438801. Entrada gratuita.

Big Band Hot Clube de PortugalPorto. Fundação de Serralves - Prado. R. Dom João de Castro, 210, às 18h. Tel.: 226156500. Entrada gratuita.

Serralves em Festa.

Orquestra de Guitarras e Baixos EléctricosPorto. Fundação de Serralves - Prado. R. Dom João de Castro, 210, às 15h30. Tel.:

226156500. Entrada gratuita.

Serralves em Festa.

Tim Berne + Bruno ChevillonCoimbra. Teatro Académico de Gil Vicente. Pç.

República, às 22h. Tel.: 239855636. 7€.

Jazz Ao Centro.

Orquestra Sinfónica PortuguesaDirecção Musical de Ira Levin. Lisboa. CCB - Grande Auditório. Pç. do Império, às 21h. Tel.:213612400. 5€ a 20€.

Homenagem a Schumman.

domingo 6Burnt Sugar The Arkestra ChamberPorto. Fundação de Serralves - Prado. R. Dom João de Castro, 210, às 23h. Tel.: 226156500. Entrada gratuita.

Serralves em Festa.

RodrigoLisboa. CCB - Sala Luís de Freitas Branco. Pç. do Império, às 17h00. Tel.: 213612400. 5€.

Festa do Fado 2010.

segunda 7DeolindaPorto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque, às 22h. Tel.: 220120220. 20€.

Pedro BurmesterFunchal. Teatro Municipal Baltazar Dias. Av. Arriaga, às 21h30. Tel.: 291220416. 10€ (dia) a 50€ (passe).

XXXI Festival de Música da Madeira.

terça 8DeolindaLisboa. CCB - Grande Auditório. Pç. do Império, às 21h. Tel.: 213612400. 10€ a 25€.

Son of DaveCoimbra. Teatro Académico de Gil Vicente. Pç. República, às 21h30. Tel.: 239855636. 15€.

Ricardo RochaLisboa. Chapitô. R. Costa do Castelo, 1/7, às 23h. Tel.: 218855550. Entrada gratuita.

Festa do Fado 2010.

Gustav LeonhardtFunchal. Igreja do Colégio. R. dos Ferreiros, 105, às 21h30. Tel.: 291233534. 10€ (dia) a 50€ (passe).

XXXI Festival de Música da Madeira.

quarta 9Ghédalia Tazartès + Calhau!Lisboa. Museu do Chiado. R. Serpa Pinto, 4, às 22h. Tel.: 213432148. 7€.

Elena VorobeyPorto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137, às 21h. Tel.: 223394947. 20€ a 50€.

Emir Kusturica & No Smoking Orchestra + Melech MechayaLisboa. Coliseu. R. Portas St. Antão, 96, às 21h30. Tel.: 213240580. 25€.

TerrakotaLisboa. Cinema São Jorge - Sala 1. Av. Liberdade, 175, às 23h30. Tel.: 213103400. 12€.

Festas de Lisboa’10.

quinta 10Son of DavePorto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, 108, às 22h. Tel.: 222003595. 15€.

Samuel ÚriaLisboa. Maxime. Praça da Alegria, 58, às 22h. Tel.: 213467090.

Aldina DuarteLisboa. Museu do Fado. Largo do Chafariz de Dentro, 1, às 19h. Tel.: 218823470. Entrada gratuita.

Agenda

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A Burnt Sugar The Arkestra Chamber encerra o Serralves em Festa

Cristiano Holtz dá a ouvir pela primeira vez em Portugala réplica de um cravo Silbermann de 1740

Os Deolinda chegam esta semana à Casa da Música, no Porto, e ao CCB, em Lisboa

Ghédalia Tazartès no Museu do Chiado

Os jogos sem fronteiras da Vienna Art Orchestra na Casa da Música

Joana Carneiro, que saiu das escolas da orquestra, dirige a Metropolitana na festa dos 18 anos

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qualquer coisa de dramático mas nunca deixando de procurar a luz. O seu sentido de humor é ácido mas sempre possuído por grande humanidade. A propósito desta antologia, dizia recentemente: “é um autêntico luxo esta compilação, contendo desenhos meus feitos à mais de sessenta anos, não se pode pedir uma retrospectiva mais completa!”

É verdade. A capa, e todo o trabalho artístico no interior, é composto por desenhos da sua autoria, feitos quando tinha seis anos de idade.

Desde que caiu de uma janela, numa festa, e ficou paralisado da cintura para baixo, Wyatt iniciou uma carreira a solo ímpar na alvorada dos anos 70 – depois dos anos como baterista nos Soft Machine na década de 60. Esta antologia contém 17 momentos altos desse percurso, como “I’m a beliver”, “The age of self”, “Memories of you” ou “Shipbuilding”, canções onde a sua voz aguda, vulnerável e acolhedora se deixa ir por entre atmosferas evocadoras, andamentos lentos e um sentido melódico raros. Apesar de não ser um homem do jazz, o seu vocabulário parte de uma ligação profunda com elementos jazzisticos.

São canções à flor da pele, onde a dimensão politica está sempre presente, mesmo quando pensamos que estamos a aceder à sua intimidade. Apesar de ser uma colectânea, as canções fluem, coerentes. Há quatro anos, em entrevista, dizia-nos que aspirava, cada vez mais, ao isolamento, saturado do ruído contemporâneo. Felizmente, temos as canções.

Um outro mundo no computadorDêem-me um computador e eu dar-vos-ei todo um novo mundo, parece dizer Flying Lotus. Vítor Belanciano

Flying LotusCosmogrammaWarp, distri. Symbiose

mmmmn

Dêem-me um gira-discos e uma mesa de mistura e dar-vos-ei o mundo, dizia há anos DJ Spooky, afirmando as técnicas de corte-e-colagem, provenientes do hip-hop, como possibilidade de revelação de novos mundos ao mundo. Hoje a ferramenta é outra. Dêem-me um computador e eu dar-vos-ei todo um novo mundo parece dizer Flying Lotus.

Ao terceiro

álbum, Steven Ellison, ou seja Flying Lotus, projectou um lugar só seu. Até aqui existia a tentação de o colar ao núcleo de produtores pós-hip-hop. Mas nitidamente essa é uma etiqueta cada vez mais redutora. Sim, é verdade, o ponto de partida, a estrutura base do edifício, ainda remete para o legado do hip-hop. Mas cada vez mais o resultado final é qualquer coisa de indefinível, resgatando elementos do jazz, das electrónicas abstractas, da saturação dubstep ou até do som dos videojogos.

Nem sempre é um disco fácil. Há momentos em que é preciso mergulhar nele para sairmos de lá com pontas de inteligibilidade. O jazz é uma das grandes influências, ao nível das estruturas mas também na formatação de sons, em particular a música de Alice Coltrane. Quase todos os temas têm diferentes níveis de leitura, camadas sobrepostas que nem sempre parecem formar um todo coerente num primeiro momento, para de seguida, adquirirem formas perceptíveis.

Mas Steven Ellison nunca facilita. Nem quando ao seu lado está Thom Yorke, dos Radiohead, com a sua voz a ser tratada como qualquer outro instrumento. Algures entre os impulsos rítmicos do falecido J Dilla, as atmosferas nocturnas de Burial e o jazz cósmico de Coltrane, arquitecta um cosmos só seu, num

álbum

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Espaço Público

Este espaço vai ser seu. Que fi lme, peça de teatro, livro, exposição, disco, álbum, canção, concerto, DVD viu e gostou tanto que lhe apeteceu escrever sobre ele, concordando ou

não concordando com o que escrevemos? Envie-nos uma nota até 500 caracteres para [email protected]. E nós depois publicamos.

Dis

cos

Pop

Wyatt totalUm gigante da música popular numa magnífica antologia de canções vulneráveis, com desenhos seus quando tinha seis anos. Vítor Belanciano

Robert WyattHis Greatest MissesDomino, distri. Edel

mmmmm

Originalmente editada em 2004 apenas no Japão, é agora reeditada para o mundo inteiro a antologia

“His Greatest Misses” do veterano Robert Wyatt. Um acontecimento, ou não fosse o inglês um dos músicos maiores do nosso tempo. É uma boa introdução para quem nunca tomou contacto com o seu trabalho e uma boa continuação de aventuras para quem apenas o começou a seguir nos últimos anos (álbuns “Cuckooland” de 2003 ou “Comicopera” de 2007), desde que tem vindo a ser resgatado ao esquecimento pelas novas gerações e pela actividade da editora Domino.

Cantor e músico singular, a sua obra atravessa vários idiomas, folk, pop experimental, psicadelismos ou jazz, mas fixando-se sempre em canções ou baladas vulneráveis, com

pum

dor e eu dar-o um novoarece ng orno

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m gira-discos e uma tura e dar-vos-ei o a há anos DJ Spooky,s técnicas de corte-

provenientes domoe de revelação

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um novo ce dizer .o

arquitecta um cosmos só seu, numálbum

Cantor e músico singular, a obra de Wyatt atravessa vários idiomas, folk, pop experimental, psicadelismos ou jazz

Ao terceiro álbum, Steven Ellison, ou seja Flying Lotus, projectou um lugar só seu

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 47

Jazz

Clássicos e originaisDois álbuns clássicos, gravados em 1957 e 1973, brilham forte na entrada deste novo século. Rodrigo Amado

Sonny RollinsWay Out WestContemporary, dist. Universal

mmmmm

Joe PassVirtuosoPablo, dist. Universal

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Integrados na série Original Jazz Classics Remasters, estes álbuns representam duas visões intemporais do jazz. Na capa de “Way Out West”, numa fotografia famosa da autoria de William Claxton tirada no deserto americano, Sonny Rollins veste roupas de cowboy (coldre de pistolas incluido) e segura na mão o seu saxofone tenor. Uma imagem que se tornou emblemática de um dos registos mais amados do jazz. Ao escutarmos a liberdade das linhas

fascinante, daqueles que prometem sempre novas descobertas a cada audição.

Chunga funkAnos 70, artifício e humor sórdido. É a estreia dos Glimmers na produção, depois de duas décadas de DJing e remisturas. Luís Maio

The GlimmersThe Glimmers Present Disko DrunkardsGlimmers, distri. Popstock

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Primeiro soa familiar. Depois percebe-se que é, ou melhor, só pode ser a gozar. Finalmente dá

vontade de abanar o capacete e dançar até que a casa venha abaixo. É mais ou menos assim “Disko Drunkards”, o primeiro álbum que a dupla belga produz, assumindo um formato parecido com o de uma banda convencional (acompanhados de guitarrista, baixista e percussionista). É uma estreia, mas os autores são tudo menos novatos: Mo Becha (1970) e David Fouquaert (1969) começaram a por discos há mais de duas décadas, lançaram uma pilha de compilações no selo próprio Eskimo e, mais recentemente também remisturas, como a que assinaram para “Querelle” dos Pop Dell Arte e a série DJ Kicks. Verdadeiras enciclopédias pop, os Glimmers têm, porém, uma fixação especial nos anos 70, numa variedade de estilos que vai do funk e do rock progressivo ao punk e ao disco mutante.

É um ramalhete de gosto duvidoso que eles praticam na sua vertente mais barata, plástica e delirante. Os temas funk dominam metade do alinhamento e conjugam baixos oleosos, guitarras chocalhadas e baterias matraquedas com jogos fonéticos desconjuntados. Tanto poderia ser Bootsy Collins com os copos, um animador a gozar com James Brown, uma homenagem a ambos por uma banda japonesa lançada na Brownswood, ou uma K7 compilada por Quentin Tarantino. Pelo meio há uma versão refundida de Olivia Newton-John (“Physical”), uma fusão contra-natura de Gainsbourg com os Kraftwerk (“Who you gonna call”), antes de um punhado de solos de guitarra estridentes à mistura com teclados pomposos, não sem analogias com os Daft Punk. No meio de todo este “name dropping”

é inevitável chamar à conversa os conterrâneos belgas 2 many djs, mas neste caso para marcar as devidas distâncias. Porque se o sentido de humor na revisão do passado pop é comum, já o artifício sórdido com que os Glimmers invocam memórias ligeiras é uma história completamente diferente. Se não veja-se essa prodigiosa comédia softporno que é o teledisco de “Oh!Oh!Oh!”, disponível no You Tube.

António ChainhoLisGoaMovieplay

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Só o simples facto de ter procurado um diálogo entre a guitarra portuguesa e o sitar indiano,

concretizado-o pela primeira vez em “LisGoa”, chegaria para dar relevo a este novo trabalho de António Chainho. Mas ele quis ir mais longe: nesta aproximação, que se segue a experiências com o fado e com músicas de África e do Brasil, procurou algo que não estava em nenhuma das culturas que aqui se cruzam, uma espécie de híbrido improvável. “Ao Encontro do

Oriente”, logo de início, transfigura o fado menor num nocturno, a abrir caminho à guitarra. Que convive, nas faixas seguintes, com tablas, sitar, viola, contrabaixo, percussões, sintetizadores e vozes portuguesas e indianas. Os originais, apesar das letras algo ingénuas de “Beijo de sal” e “Disseste-me”, impõem-se em grande parte pelo lirismo e pelo vigor dos instrumentais: “Alísios”, onde guitarra e sitar rivalizam; “LisGoa”, uma quase-suite; “Bangalore”, onde vibra o fantástico som dos violinos do sul da Índia; ou “De Mandovi ao Tejo”, singela despedida em forma de balada. Isto depois do tradicional “Adeus”, onde Índia e Portugal se enlaçam em harmonias. Ou dos temas marcados pela voz de Natasha Lewis. Nesta viagem pelo Oriente, a guitarra portuguesa não se perdeu, reencontrou-se. Graças a Chainho. Nuno Pacheco

Ana Laíns

Quando lançou o seu primeiro disco, “Sentidos” (2006), Ana Laíns negava ter qualquer pretensão de modernizar o fado. Quatro anos passados, “Quatro Caminhos”

confirma não apenas essa ideia como consolida uma aliança entre o fado e a música tradicional, que é

já inerente à sua expressão artística. E se do ponto de vista vocal há uma evolução clara, nota-se a dificuldade de entrar na pele de certas canções, como da difícil “Da morte não espero nada” (com a marca indelével de Amélia Muge, que assina três temas no disco), isto a par de um maior à-vontade e envolvimento emocional em temas como “Condição”, “Não sou nascida do fado”, “Adeus” (uma revisão em alta, sóbria e actual, do velho tema de Raul Ferrão) ou “Parolagem da vida”, poema de Drummond de Andrade passado inteligentemente a canção por Filipe Raposo (muito bom é também o trabalho de José Manuel David com o poema “A ti”, de Ruben Darío). Já noutra canção de Amélia, “Beijo-de-moça”, é notável a forma como Ana Laíns se molda às exigências dos jogos de palavras e nos oferece uma interpretação singular, para a qual contribui a contenção dos arranjos, que são, aliás, por contraste, um bom exemplo num disco onde várias vezes os instrumentos se acotovelam sem necessidade. Para o ecoar de refrões na plateia vão ficar sobretudo “Quatro caminhos” e “Afinal”, ambas de contornos épicos. Com “Quatro Caminhos”, Ana Laíns abre vários outros. E fica mais perto do que há-de ser. N.P.

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Sonny Rollins: grandioso

The Glimmers: artifício sórdido

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48 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

um notável intérprete mozartiano e tem realizado uma importante carreira no repertório de

Rossini, Bellini e mesmo Puccini. O Barroco tem ocupado pouco espaço no seu percurso, resultando portanto surpreendente que tenha escolhido Handel para o seu primeiro CD a solo. O baixo-barítono italiano recorda que Handel é uma memória de infância, já que o seu pai era organista, e efectivamente a qualidade da música e o seu potencial dramático são um forte atractivo para além de estar na moda. O cantor tem uma voz poderosa e uma técnica sólida, que se adequa bem às árias de carácter mais impetuoso e heróico, e corresponde aos desafios de agilidade do “bel canto” barroco com fluência e desenvoltura. A sua prestação é quase sempre imponente, mas relativamente uniforme, carecendo de contrastes mais acentuados entre as peças, bem como de maior subtileza expressiva (por exemplo na variação do colorido vocal).

Não se trata apenas de uma questão de estilo, mas de descobrir todas as potencialidades emocionais e expressivas da retórica barroca. Se nas óperas de Mozart, Ildebrando d’Arcangelo se move como peixe na água, em Handel flutua por enquanto à superfície. Pelo contrário, a orquestra barroca Modo Antico oferece-nos uma interpretação eloquente, plena de cores e estilisticamente consistente. Com a excepção do célebre arioso “Ombra mai fu” da ópera “Serse”, que foi transposto, as restantes árias seleccionadas (extraídas de óperas como “Agrippina”, “Orlando”, “Siroe”, “Ariodante”, “Rinaldo”, “Ézio”, “Giulio Cesare”, entre outras) foram escritas originalmente para baixo, mostrando uma faceta menos conhecida de uma época que

dava especial atenção às vozes agudas dos

“castrati”. Apesar das reservas, trata-se de um programa a merecer atenção. C.F.

do saxofone de Rollins – grandioso, projectando um centro tonal como poucos saxofonistas alcançaram – é difícil imaginar que o disco tenha sido gravado na década de 50. O contrabaixista Ray Brown e o baterista Shelly Manne formam a secção rítmica que fez de “Way Out West” uma espécie de “blueprint” para todos os trios de saxofone que se lhe seguiram.

Em “Virtuoso”, o guitarrista Joe Pass gravou, sem “overdubs”, aquilo que parecia ser impossível; versões rápidas de clássicos bop como “How High The Moon”, “Cherokee” ou “All The Things You Are”, a solo, na sua guitarra semi-acústica, com uma técnica convencional prodigiosa que lhe permitia tocar simultaneamente o acompanhamento harmónico e as partes solistas. Mas o que é mais extraordinário é que o tenha feito sem que essa técnica se sobrepusesse ao verdadeiramente essencial; a música e as emoções. Uma capacidade notável para manter um fluxo de energia musical constante, mesmo com variações grandes de tempo ou explosões bruscas de fraseados à velocidade da luz, fez de “Virtuoso” um modelo para futuras gravações de guitarra solo e transformou Pass numa estrela internacional.

Clássica

Percussão em technicolorA arte da percussão como cinema num original projecto de Nuno Aroso. Cristina Fernandes

ThechnicolorNuno Aroso (percussão)Obras de ArosoLuís Tinoco, Luís Pena, Mário Laginha, Eduardo Patriarca e Amanda ColeAroso 001CD – SPA

mmmmn

Membro do Drumming-Grupo de Percussão, Nuno Aroso tem desenvolvido paralelamente uma

interessante carreira a solo, bem como várias colaborações que envolvem intercâmbios com outras artes. O seu mais recente álbum (“Technicolor”) é um projecto invulgar, já que o intérprete não se limita a tocar obras previamente concebidas. Foi antes pensado como um trabalho de autor em que o

percussionista lança um desafio a vários criadores a partir de uma ideia base. Não obstante as diferenças de estilo e dos materiais utilizados, a percussão assume uma dimensão cinematográfica que evoca imagens e cores na mente do ouvinte, como se fossem pequenas bandas sonoras para filmes imaginários. Em “Vibraphone Theories”, da australiana Amanda Cole, que trabalha também como “sound designer”, a ideia da imagem toma forma literalmente através da associação ao vídeo. As suas sonoridades subtis, quase etéreas, jogando com os efeitos do vibrafone e dos sons puros, contrastam por exemplo com “Três Quadros sobre Pedra”, de Luís Pena, para percussão e sons pré-gravados. Esta obra constitui uma original exploração de sonoridades, ritmos e texturas obtidas a partir de pedras de diversos tamanhos e formas. Longe de ser um catálogo de efeitos, resulta numa composição minuciosamente elaborada e solidamente arquitectada.

Mas o alinhamento contém ainda outras imaginativas narrativas sonoras: “Samplers’Union”, página de atmosfera inquietante criada numa parceria entre Nuno Aroso e Luís Tinoco; “Frame”, de Mário Laginha, com a sua rítmica contagiante; e “Lux in Tenebrae (the mercy seat)”, de Eduardo Patriarca. No início, no meio e no fim, o próprio Nuno Aroso criou miniaturas — “Intro to Technicolor in Orange”, “Hearts and White”, “Red Cage Intermission” e “Fim” — que revelam o seu talento criativo a par da exímia técnica e expressividade como intérprete que mostra na execução de todas as peças. O trabalho cuidadoso estende-se ao design gráfico do álbum e aos textos de Jorge Castro Ribeiro e valter hugo mãe que o acompanham.

Imponente, mas superficial

HandelIldebrando d’Arcangelo (baixo-barítono)Arie Italiane per bassoModo AntiquoFederico Maria Sardelli (direcção)Deutsche Grammophon 477 8361

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“castrati”. Apesar das reservas, trata-se de um programa a mereceratenção. C.F.

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O percussionista Nuno Aroso

Ildebrando d’Arcangelo

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 49

“Alguns preferem urtigas”, assim como o ensaio “Elogio da sombra” (menciono apenas obras disponíveis em português). É um período em que procede a uma transição dos modelos de inspiração ocidental para os da tradição japonesa, ao mesmo tempo que elege temas e personagens em que os conflitos Oriente-Ocidente e modernidade-tradição, representam os nódulos do seu trabalho.

O erotismo, a possessão, o prazer, o desejo são os temas que deram fama a Tanizaki. No caso português, foi há quase 20 anos que a Assírio & Alvim lhe publicou “Confissão impúdica” (tradução da versão francesa da novela; entretanto, a Teorema publicou “A chave”, tradução da versão inglesa). Quase meio século depois da sua morte, a descoberta da sua obra é ainda sumarenta.

No caso de “Uma Gata…” trata-se de uma sensualíssima articulação de enredos: cada personagem é autor, digamos assim, de uma trama narrativa própria, envolvendo as outras personagens em manipulações que visam uma tomada de posse, e em que só aqueles que triunfam nas suas intenções ganham consciência do preço a pagar, pela perversidade da recompensa e pelos jogos de mentira-e-estratégia necessários para manterem as suas conquistas.

O passado de libertinagem da privilegiada Fukuko redu-la a casar-se com um pequeno lojista influenciável, mas depois tem de disputar a sua atenção à gata da casa; Shinako, humilde costureira, já se casara para ascender um degrau na escala social, mas é humilhada com a expulsão de casa planeada pela sogra; O-rin faz de alcoviteira do filho para conquistar o dote de Fukuko e a sobrevivência financeira da fazenda familiar, mas a paz doméstica tem o tempo de duração do dinheiro oferecido pelo pai da nova nora; quanto a Shozo, mal daria conta pela troca de mulheres, não se desse o caso de perder quem de facto ama…

O amor de Lily é o tema e a poética desta história, que oscila requintadamente entre a paródia erótica e o melodrama patético, com inúmeros pormenores de dedicação e devoção ao ser amado: “Sempre que ia para a cama, Shozo tinha que estender um braço como almofada e depois tentar dormir numa posição estudada e mexer-se o mínimo possível. Assim deitado, usava a outra mão para afagar a zona do pescoço, que é onde os gatos mais gostam de festinhas; e Lily respondia imediatamente ronronando de satisfação. Até podia começar a morder-lhe o dedo, ou deitar-lhe gentilmente as garras, ou babar-se um pouco: tudo sinais de que estava excitada.”

A matéria amorosa concretiza-se

até nos odores fisiológicos: “Ela soltou um traque malcheiroso que o apanhou em cheio na cara. Admitamos que Shozo, por descuido, tinha apertado com ambas as mãos a barriga de Lily, mesmo no ponto onde guardava a refeição acabada de comer. E, infelizmente, o seu ânus estava naquele momento situado logo abaixo da cara de Shozo, de modo que o ‘hálito das tripas’ acertou nele em pleno. O fedor era tal que mesmo uma pessoa como Shozo, com tão grande amor aos gatos, se viu forçada a corrê-la para o chão com um – Ught! –: o proverbial ‘peido de mestre’ deve cheirar assim.”

A intimidade que Shozo melhor conhece é a de Lily: “Sempre que Shozo tinha uma discussão com Shinako por causa da gata, não falhava dizer, sarcasticamente – Vê bem que a Lily e eu somos tão unidos que já cheirámos os traques um do outro!”

O erotismo, em Tanizaki, para além dos perversos jogos de possessão, é também uma estética da subtileza, insinuando-se em maravilhosas descrições paisagísticas, cuja contemplação sugere a lembrança do ser amado.

O frio, a espera amorosa, e a urina são eixos temáticos desta novela desopilante, que parece escolher os motivos mais triviais e risíveis para expressar a composição literária sob o efeito do êxtase. Atentem nos excertos que se seguem do mesmo parágrafo: o reencontro de Shozo com Lily é a descrição de uma atmosfera doméstica, que provoca uma recordação olfactiva e o desenlace do tema da urina. “As cortinas estavam corridas e não deixavam entrar a luz forte da tarde. Shinako, cautelosa como sempre, devia tê-las corrido ao sair. E daí as sombras tornarem o quarto indistinto. Na penumbra, Shozo distinguiu uma braseira de louça de Shigaraki e, ao lado, a sua querida Lily, sentada numa pilha de almofadas (…). Detectou de súbito o cheiro característico, de que se tinha esquecido passadas tantas semanas.

Antigamente, infiltrava-se nos pilares, paredes, chãos e tectos da sua casa; agora, enche este quartinho. A tristeza instalou-se dentro de si e chamou alto – Lily! – com voz estrangulada.”

O livro inclui ainda dois contos, ambos tendo professores como protagonistas. O primeiro, “O pequeno reino”, surpreende pela forma como o autor aborda a corrupção, ou a lógica do surgimento de máfias em sociedades deprimidas pela crise financeira.

Nota final sobre a tradução: é uma pena não haver ainda quem traduza directamente do japonês para o português. A obra de Tanizaki sobrevive ao trânsito de línguas intermediárias, e parece artificial o uso de coloquialismos por parte da tradutora, como “soma jeitosa”, “o que tem que ser tem muita força” ou “amochado”. Palavras como “esbotenada” e “abalone” parecem convites a uma charada. A frase “embora fique à face da estrada nacional” entende-se, mas é mau português.

O circo chegou à cidade“Santa Maria do Circo” mostra como a herança do realismo mágico ainda pesa na literatura mexicana.Rui Lagartinho

Santa Maria do CircoDavid Toscana(Trad. Jorge Fallorca)Oficina do Livro

mmmmn

É difícil aceitar que a chegada de um circo a uma qualquer cidade represente uma novidade. Tudo muda quando esse circo traz em si uma ideia de

refundação, porque o circo comandado pelo velho Alejo

chega afinal a uma terra deserta onde é impossível

vender as almejadas centenas de bilhetes:

“No meio da

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Liv

ros

Ficção

Por amor de LilyDuas mulheres disputam um homem. A vencedora ronrona de prazer. Rui Catalão

Uma gata, um homem e duas mulheresJunichiro Tanizaki(Trad. Telma Costa)Teorema

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“Querida Fukuko”. Esta pequena novela – tão perfeita e deliciosa como uma refeição completa em miniatura – inicia-se com uma carta escrita por uma

esposa abandonada à nova mulher do seu ex-marido. O conteúdo é de uma tal perversidade que hesitamos a quem atribuir a autoria da perfídia maior no resto da história: se à

autora da carta (Shinako), se à sua destinatária (Fukuko), se ao

marido dela (Shozo), se à mãe deste (O-rin), se à personagem principal da história (a lúbrica Lily), se ao pai de todos, que os ensinou a serem erótico-dependentes (falamos, claro está, do escritor japonês Junichiro Tanizaki, 1886-1965).

Publicado em 1936, “Uma Gata, um Homem e

Duas Mulheres” encerra um ciclo de grande

virtuosismo criativo do

escritor, em que

assina

autora da carta (Shinako), se à suadestinatária (Fukuko), se ao

marido dela (Shozo), se à mãe deste (O-rin), se à personagem principal da história (a lúbrica Lily), se ao pai de todos, que os ensinoua serem erótico-dependentes (falamos, claro está, do escritor japonês JunichiroTanizaki, 1886-1965).

Publicado em 1936, “Uma Gata, um Homem e

Duas Mulheres” encerraum ciclo de grande

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escritor, em que

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Shigaraki e, ao lado, a sua queridaLily, sentada numa pilhade almofadas (…). Detectou de súbito o cheirocaracterístico,de que se tinha esquecido passadas tantas semanas.

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É difícil aceitarque a chegada deum circo a uma qualquer cidade represente uma novidade. Tudo muda quando esse circo traz em si uma ideia de

refundação, porque o circo comandado pelo velho Alejo

chega afinal a uma terradeserta onde é impossível

vender as almejadascentenas de bilhetes:

“No meio da

A força de David Toscana está em conseguir ultrapassar o diálogo de surdos entre sombras e sobreviventes na desolação do deserto mexicano para a partir daí inventar um futuro

Quase meio século depois da morte de Junichiro Tanizaki, esta obra marcada pelos temas do erotismo, da possessãoe do desejo continua a ser uma descoberta sumarenta

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50 • Sexta-feira 4 Junho 2010 • Ípsilon

praça erguia-se a estátua de pedra de um homem a cavalo. O animal, com o focinho aberto, apoiava-se nas patas de trás, enquanto o ginete, com a espada a apontar para a igreja, parecia convocar um exército nas suas costas. O pedestal de granito levantava-se no centro do que parecia ter sido a pia de uma fonte, sem pinga de água, cheia de terra e folhas secas, e num dos lados podia ler-se a inscrição: ‘A minha vida pela tua honra’” (p. 57). Está encontrado o território onde o circo Mantécon se vai instalar, não temporariamente mas para ficar.

Oito descamisados que resolvem fundar uma nova sociedade com vícios velhos. Reunidos em assembleia, de um saco preto retiram o nome da sua nova identidade. Entre outras transformações, o anão passa a ser padre, o dono do circo jornalista, o homem borracha apenas um simples negro, e Hércules, másculo e poderoso, chega mesmo a mudar de sexo para conseguir ser uma prostituta convincente. A partir daqui imagine-se o delírio.

“Santa Maria do Circo” encavalita mundos que se atropelam a partir de uma ideia mitológica do espaço literário da literatura mexicana: a do deserto árido, despovoado, onde nem as almas penadas aceitam viver. A força da prosa de David Toscana está no facto de não se ater a um diálogo ao sol entre sombras de pedras e alguns sobreviventes, e de tentar inventar um futuro que pressentimos já não poder ser, mesmo antes de estes candidatos a uma nova identidade abrirem a boca.

Para que a identificação seja mais fácil, nada por aqui tem datas concretas.

Liv

ros

Uma vez descarregados para o nosso telemóvel, os livros ficam ali disponíveis para sempre

Isabel Coutinho

Ciberescritas

Não comecem a fazer caretas. Ler livros no telemóvel é melhor do que não ter acesso a livro nenhum. Na semana passada, a TMN lançou no seu portal centenas de e-books, incluindo títulos em português, que podem

ser lidos em mais de 80 telefones de vários sistemas operativos (na TMN App Store é possível fazer um teste e verificar quais são os telemóveis compatíveis).

Trata-se de uma parceria com a Mobcast Services Limited, a empresa que trata dos direitos de autor dos livros electrónicos que ali estão à venda. Rita Teixeira, responsável e gestora deste novo serviço, contou ao Ípsilon que a Mobcast já está a contactar e a conversar com os editores portugueses para no futuro estarem disponíveis mais livros. Os e-books em língua portuguesa que lá estão agora são quase todos grátis porque estão em domínio público (“A Relíquia”, de Eça de Queirós; “Viriatho”, de Teófi lo Braga; e “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, de Júlio Dinis, a 1,50€). Mas vai haver mais títulos, tanto em inglês como em português. “Somos

a primeira operadora a disponibilizar e-books em Portugal e para todos os clientes”, explica Rita Teixeira (a Vodafone também disponibiliza este tipo de conteúdos, mas só para os clientes 360).

O catálogo de e-books na TMN App Store está organizado por categorias:

romance, “thriller”, humor, clássicos, títulos em português, biografi as, livros grátis, humor, etc. Além dos títulos gratuitos, existem os pagos, entre 1,50€ e 9,99€. Por agora estão disponíveis “best-sellers” em língua inglesa, como a trilogia de Stieg Larsson (“The Girl with the Dragon Tattoo”), o “Angels and Demons”, de Dan Brown, e a saga “True Blood” de Charlaine Harris. Está lá também “Get Skin”, de Mo Hayder; “The Associate”, de John Grisham, o prémio Man Booker “Wolf Hall”, de Hilary Mantel, etc.

Quem quiser experimentar ler um destes livros no seu telemóvel pode fazê-lo gratuitamente. Basta aceder ao portal, por exemplo, através de um computador, escolher um dos títulos gratuitos que existem na loja de aplicações e clicar em comprar. Aparece então um quadro onde nos é pedido para colocar o número de telemóvel para onde queremos enviar o livro. Pouco tempo depois, o telemóvel apita. A mensagem chega: “Aceite, faça o download no seu telemóvel e divirta-se!” Claro que, se o seu telemóvel for daqueles mais ultrapassados, pode não conseguir ler a mensagem, nem clicar no “link”, nem ler o livro.

Outra forma de se aceder à TMN App Store é através da Internet no telemóvel. O e-book fi cará instalado no aparelho telefónico, dispensando qualquer ligação à Internet para acesso ou leitura do mesmo. Os livros estão em formato java e, uma vez descarregados para o nosso telemóvel, fi cam ali disponíveis para sempre. Podemos passar as páginas, andar para a frente e para trás, ir directamente para o capítulo que nos interessa ler. Fiquemos agora à espera das novidades em português.

Portal TMNhttp://www.tmn.pt

Portal internet no telemóvelm.tmn.pt

[email protected]

(Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ciberescritas)

E-books no telemóvel, em português

Prémio

A colecção de livros com a chancela

Minotauro, do grupo Almedina,

recebeu um “silver award” nos European

Design Awards 2010. A medalha de prata do Festival Europeu de Design foi atribuída aos designers portugueses Ana Boavida e João Bicker, responsáveis pela

concepção gráfi ca do projecto. Esta colecção das Edições 70, do grupo Almedina, reúne autores de referência da literatura espanhola contemporânea.

Realismo mais ou menos mágico, a questão é apenas de grau: se intemporal, incomoda mais.

É um mundo sórdido e degradante onde quem encontra uma sanita pode ter um poder até aí insuspeito numa economia paralela, e onde quem aceitou ser prostituta recusa olhar para as marcas do sexo ou do tempo: “Mandrake empurrou a porta e enfiou-se sorrateiro na casa de Hércules. O leve ranger dos gonzos competiu apenas com o jacto de água na praça. Lá dentro, uma luz de vela deixava ver, estendido num catre, o físico mais desleixado do que fora o homem forte, a enxerga encostada num canto e as calças penduradas num prego na parede” (p. 207).

Com um humor corrosivo e de uma fidelidade absoluta ao poder mágico de cada palavra na tradução dos pensamentos, David Toscana desmonta duas metáforas recorrentes na literatura: a dos espaços que pedem para ser reinventados e a do circo como universo em perpétuo movimento carregado de sonhos e contradições. E estamos tão entretidos com este exercício que mal reparamos que estamos afinal a entrar num terreno armadilhado: o que podemos fazer com os nossos sonhos, com as nossa fantasias, quando um dia simplesmente paramos para os olhar de frente?

Vale a pena pôr algo em prática, para confirmar que o pior dos fantasmas negros vence a mais ingénua das ilusões? E, logo a seguir: conseguimos que o mago volte a entrar para a lamparina, que a

caixa de Pandora se feche, que o coelho regresse

à cartola?Aqui o

mundo dos oito circenses cinde-se entre os que sobrevivem, os que partem e os que ficam. O padre e a prostituta: “O anão apertou a mão porque sentiu que Hércules lhe soltava, e puxou-o para a desolação dos bancos vazios, do confessionário sem pecados e de um altar como mesa de sacrifícios” (p. 299).

A poeira levantada pelos que partem encarregar-se-á do resto. Se não for suficiente, com o tempo o vento traz mais.

Feroz insanidadeUm policial sueco, com pouco de “nórdico”, tenta mergulhar o leitor nas águas negras e geladas da mente humana. José Riço Direitinho

O HipnotistaLars Kepler(Trad. Jaime Bernardes)Porto Editora

mmmnn

O romance policial sueco – que mais tarde acabaria por contaminar os seus vizinhos nórdicos – não é uma moda recente na Escandinávia. Tudo começou nos anos 70 com a dupla

Per Wahlöö mesmo antes de estes candidatos auma nova identidada e abrirem a boca.

Para quee a identificaçãç o sejamais fácil, nadapor aqquiu temmdaatas sconcretas..

conseguimos que o mago volte a entrar para a lamparini a, que a

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à cartola?Aqui o

“O Hipnotista” liberta-se da tradição do policial nórdico, recuperando alguns arquétipos do “hard-boiled” norte-americano corporizados na fascinante fi gura do comissário Joona Linna, uma das melhores invenções do romance de Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril, a dupla Lars Kepler

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e Maj Sjöwall, marido e mulher, que criaram a figura do primeiro inspector sueco, ainda muito dentro do cânone do “hard-boiled” norte-americano.

Foi só a partir do final da década de 80 que o “policial” escrito por autores suecos se começou a alterar, e houve uma razão forte para isso: a sociedade sueca não se refez do trauma do assassinato do primeiro-ministro Olof Palme numa rua do centro de Estocolmo, em 1986, quando uma noite regressava a casa a pé com a mulher. (Curiosamente, o facto é mencionado pelo menos três vezes neste “O Hipnotista”, do casal Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril, que assina com o pseudónimo Lars Kepler.)

Os autores suecos quase deixaram de estar interessados em resolver o puzzle constituído pelos factos mais ou menos óbvios de um crime (por vezes há mesmo uma ambiguidade final, o que lhes dá uma singular delicadeza), ou na arquitectura de uma experiência sanguinolenta, e passaram antes a centrar-se nas causas e nos efeitos de um acto violento no tecido social. E surge ainda a ideia de um Estado que se supunha modelar, mas que afinal parece controlado por poderosas e ocultas forças malévolas; nela radica a trilogia “Millennium” do malogrado Stieg Larsson. O “crime nórdico” passou assim a ter quase sempre uma inscrição no campo social; raros são os casos de histórias em que o acto violento é gratuito, passional ou familiar, ou entre sócios desavindos por uns milhares de coroas. Há quase sempre a presença extra de uma qualquer força dificilmente controlável, quer seja política, económica, social ou mesmo religiosa. E, como consequência, as personagens principais deixaram de ser obrigato-riamente os habituais polícias

ou detectives privados, e passaram a ser também os advogados intuitivos, escritores, jornalistas de investigação ou “hackers”.

Estranhamente (ou talvez não), “O Hipnotista” não se inscreve completamente nesta tradição nórdica. Aqueles que o apontam como um “filho” de Stieg Larsson só poderão referir-se ao êxito de vendas já obtido em muitos países, pois no resto há como que uma recuperação de velhos arquétipos: a feroz e insana violência, regada a sangue, o investigador que é polícia (apesar de não ser mais um alcoólico solitário de meia-idade), e a resolução óbvia do puzzle de uns quantos crimes, com a única preocupação de cariz social ou cultural a poder resumir-se a umas quantas linhas sobre o povo sami (que habita a Lapónia): “Dirige um olhar vazio para os gorros lapões. Sente uma certa tristeza por essa cultura milenar de caçadores, que se vê obrigada a ressuscitar na forma de gorros coloridos, com bolas vermelhas, diante de turistas folgazões. O tempo levou consigo o xamanismo dos lapões. Nas casas, o tambor lapão está pendurado na parede, por cima do sofá” (p. 535).

Em “O Hipnotista” conta-se uma teia de histórias (que decorrem durante 16 dias de um mês de Dezembro) que parte de uma série de assassinatos horrendos: um pai é morto e desmembrado no ginásio de um liceu, e de seguida, já em casa, é a vez de uma mãe e de uma criança pequena serem também esquartejadas com requintes sádicos, que vão desde a abertura na barriga da mulher da cicatriz da cesariana até ao desmembramento da criança; mas há um rapaz de 15 anos (da mesma família) que sobrevive na cozinha em estado muito grave, com centenas de facadas no corpo. Falta a filha mais velha, que vive algures. Numa tentativa de a descobrir e proteger, a polícia socorre-se dos serviços de um médico psiquiatra especialista em

traumas agudos, Erik Maria Bark,

que é também um famoso hipnotista que há dez anos jurara publicamente não tornar a praticar a hipnose. Face à hipótese de o rapaz se lembrar

da cara do assassino e de a polícia ter a

possibilidade de salvar a irmã que escapou ao

massacre, Erik aceita hipnotizá-lo. O que se

segue está longe da

sua imaginação, mas ele vai ter de lidar com isso, mais o facto de o seu casamento se estar a desfazer e de o filho hemofílico necessitar de medicação diária.

“O Hipnotista” fascina pelo ritmo vertiginoso da narração (apesar de alguma profusão de pormenores desnecessários), mas sobretudo pela figura do comissário Joona Linna, com os seus tiques de linguagem, um polícia deveras merecedor de uma série de romances.

Poesia

A palavra rasuradaLuís Quintais extrai do negrume uma espécie de eloquência da sombra. Pedro Mexia

Riscava a palavra dor no quadro negroLuís QuintaisCotovia

mmmmn

Uma chave partida, uma fechadura bloqueada, impossível entrar em casa, assim começa este livro de Luís Quintais, um único poema em 33 fragmentos. Mesmo

leitores de poesia experimentados hão-de querer perceber que chave é essa que se partiu, quem bloqueou a fechadura; porém, Quintais habituou-nos a um discurso densamente pessoal, mas pouco confessional. A biografia dita

algumas necessidades, algumas urgências,

e o texto assume isso, mas a

concepção do poema tende aqui para uma certa opacidade, e evita toda a transparência. “O que fazer da biografia, quando ela já não responde?”, pergunta o poeta a

dado passo, e talvez esta sequência de

textos seja sobre isso, sobre a

resposta mútua

da poesia à biografia. Ou a incapacidade de resposta.

O texto está cheio de alusões elegíacas ou apocalípticas, embora menos descritivas do que nos livros propriamente fúnebres de Quintais. O tom é solipsista, quase não há diálogo com terceiros. São assumidamente poemas de desamparo, que têm a sua imagem objectivada na eliottiana “cidade irreal” que conhecemos já de anteriores colectâneas, urbe de metal e asfalto, de consumo e resíduos, de angústia e vazio. Não é por acaso que a ideia de “mapa” aparece tantas vezes, mas é sempre um mapa inútil, como se não houvesse caminho possível para o sujeito perdido na multidão. Baudelaire ainda é convocado, mas Quintais já não acredita na redenção num mundo caído. Talvez nem na redenção pela poesia.

O que é a poesia? Som ou sentido? Reiteração? Imprecisa melancolia? Possivelmente apenas um conjunto de “massas escuras” que foram “tomadas de assalto pela linguagem”. A linguagem é também um muro, um monólito tétrico e ilegível. Na poesia de Luís Quintais, o “real quotidiano” sempre esteve submetido a uma “ideia de ordem” verbalmente construída, como em Wallace Stevens. Mas aqui a própria ordem hesita, soçobra, porque as palavras

foram submergidas por uma vaga angustiante que desfaz o sentido. Daí as definições hesitantes, jogos precários de linguagem como em Wittgenstein, daí as palavras como a “dor” riscada do título, palavras rasuradas que subsistem, que exibem a sua impossível eliminação.

E no entanto, Luís Quintais extrai deste negrume uma espécie de eloquência da sombra, um discurso rigoroso em dísticos elegantes e exigentes, pensantes. Sempre que se nomeiam terceiros, o lirismo respira um pouco, mas é logo abafado por um ambiente inumano, de sonhos desfeitos e futuros incompletos. “Nós somos frágeis, de ossos e consentimento somos frágeis. / Tocamos os dias e os dias tocam-nos, como se fôssemos // dos dias o mapa. Podemos depois enaltecer a espuma / que esses dias fazem na pele, vergões de alguém // espancado, adormecido à nossa porta, sem remissão, / sem entrada. A mente não é a mente não é a mente. // A difusa clareza que a preenche preenche-nos / a sala na antecipação da nossa morte, // e tudo é antecipação do repetível / e do diferente, como imagem, semelhança // de animal ferido. A beleza foi esconjurada / sob o cristal desse território sem som” (p. 23). A poesia não salva? Provavelmente não.

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

coroas. Há quase sempre a presença extra de uma qualquer forçadificilmente controlável, quer sejapolítica, económica, social ou mesmo religiosa. E, como consequência, as ppersonagens principais deixaram de serobrigato-riamente os habituais polícias

estado muito grave, com centenas de facadas no corpo. Falta a filha mais velha, que vive algures. Numatentativa de a descobrir e proteger, apolícia socorre-sedos serviços de ummédico psiquiatra especialista em

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segue está longe da

fechadura; porém, Quintais habituou-nos a um discurso densamente pessoal, mas poucoconfessional. A biografia dita

algumas necessidades, algumas urgências,

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concepção do poema tende aqui para uma certaopacidade, e evita toda a transparência. “O que fazer da biografia, quando ela já não responde?”, pergunta o poeta a

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textos seja sobre isso, sobre a

resposta múmúmúmúmúmmúmúmmmúmúmúmmúmúúmmmmmmmmmmmmmmúúúútutututututuuttuttttuuuuuaaaaaaaaa

A poesia de Luís Quintais é uma poesia do desamparo, cujo lirismo é logo abafado por um ambiente inumano de sonhos desfeitos e futuros incompletos

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oiçamos esse som, o traço ainda possível e visível de algo, personagens e paisagens, que constituiu património cinematográfico americano, mesmo nos tempos da Hollywood clássica, e que já está ao longe, como o silvo dos comboios que se perdem na noite.

Não há como escutá-los, “Wendy e Lucy” e “Old Joy”, filmes em que a realizadora, com uma abordagem próxima do documental, e correndo os riscos de um certo minimalismo (os riscos, isto é, a ameaça de desagragação), expõe actores e um fio de ficção ao Oregon, a paisagem predilecta do seu cúmplice nestas coisas, Jonathan Raymond, escritor de Portland – quer um quer outro filme são adaptados de contos de Raymond.

Falar numa disponibilidade para a escuta – de algo que já não se consegue ver mas do qual conseguimos ainda ouvir o som – não é aqui uma figura de estilo. A “banda sonora” de “Wendy e Lucy” é constituída pelo silvo dos comboios (tal como em “Old Joy” se insinua o som de um programa radiofónico...), e isso Reichardt utiliza como coro ou comentário– vamos escrever “silencioso”, porque nada aqui grita redundância – à fragilidade social da sua personagem, à sua incapacidade de protagonizar o seu destino (logo, de ascender a protagonista do filme) e a um próprio cinema que já não existe.

Eis a delicadeza, e a fragilidade, de “Wendy e Lucy”: a sua natureza de filme-fantasma, também com dificuldade em existir.

Um Funeral à ChuvaDe Telmo Martins, com Sandra Santos, Pedro Gorgia, Alexandre Silva, Hugo Tavares, João Ventura, Luís Dias, Pedro Diogo, Sílvia Almeida. M/16

Mnnnn

Lisboa: ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 17h, 21h35,

00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h30, 21h20, 00h20; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h40, 18h35, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20 6ª Sábado 15h20, 18h20, 21h20, 00h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 16h, 19h, 22h; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h45, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h20, 21h10, 00h05;

Porto: Vivacine - Maia: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h30, 21h10, 00h10; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 18h45, 21h50, 00h35; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 14h30, 17h35, 21h10 6ª Sábado 4ª 14h30, 17h35, 21h10, 00h15;

Não há nada de mal em querer fazer uma versão portuguesa (mesmo que tardia e actualizada para os nossos dias) dos “Amigos de Alex” (1983) de Lawrence Kasdan, com seis antigos colegas de faculdade a reunirem-se para o funeral de um sétimo e a fazer o ponto da situação sobre o modo como as suas vidas mudaram. E deve-se louvar o voluntarismo de fazer um filme em Portugal fora do sistema de produção tradicional, sem subsídios nem produtores, em regime quase de “carolice” - e o trunfo de “Um Funeral à Chuva” é que esse lado “amador” não transparece de uma produção que parece muito mais cara e consegue até ser superior à maior parte do que passa por televisão hoje em dia.

Infelizmente, parecer não chega – é

preciso ser, e este projecto simpático desintegra-se muito rapidamente num guião cheio de banalidades

redundantes e pontas soltas que nunca

ficam resolvidas, que Telmo Martins filma

sem ritmo (duas horas e dez porquê?) e ao qual nem a

evidente cumplicidade do elenco consegue emprestar interesse. “Um Funeral à Chuva” não é, felizmente, um desses produtos formatados televisualmente que se querem fazer passar por cinema, mas também não é suficientemente sólido para ser um bom filme. J. M.

Sexo e a Cidade 2Sex and the City 2De Michael Patrick King, com Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Kim Cattrall. M/16

a

Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h30; Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 13h15, 16h, 18h45, 21h30 6ª Sábado 4ª 13h15, 16h, 18h45, 21h30, 00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h25, 21h25, 00h20; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª Sábado Domingo 15h55; CinemaCity Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h30, 21h30, 00h25; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h25, 21h20, 00h15; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 4: 5ª Sábado Domingo 16h10; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h35, 21h30, 00h25; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 4ª 21h55; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 5ª Domingo 15h, 17h50, 21h30 6ª 4ª 13h35, 16h25, 21h30, 00h20 Sábado 15h, 17h50, 21h30, 00h20 2ª 3ª 13h35, 16h25, 21h30; Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h45, 18h15, 21h30; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h45, 21h30, 00h15; Medeia Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h30, 19h15, 22h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 15h, 18h15, 21h30, 00h25 Domingo 11h30, 15h, 18h15, 21h30, 00h25; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 00h15; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 18h15, 21h15 6ª Sábado 15h10, 18h15, 21h15, 00h20; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h50, 21h20, 00h20; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 16h30, 21h05, 00h20; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 17h30, 21h, 00h10; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h, 18h20, 21h30 6ª 17h, 21h, 24h Sábado 13h30, 17h, 21h, 24h Domingo 13h30, 17h, 21h; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h20, 21h, 00h05; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h30, 21h, 00h25; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h45, 18h40, 21h35, 00h30; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª Domingo 12h40, 15h30, 18h30, 21h30 6ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 Sábado 12h40, 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 2ª 3ª 15h30, 18h30, 21h30; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 4: 5ª Domingo 12h30, 15h30, 18h30, 21h30 6ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 Sábado 12h30, 15h30, 18h30, 21h30, 00h20 2ª 3ª 15h30, 18h30, 21h30; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª Sábado Domingo 12h35, 15h30, 18h30, 21h30, 00h30 6ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; UCI Freeport: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h15, 18h10, 21h15 6ª Sábado 15h15, 18h10, 21h15, 00h10; UCI Freeport: Sala 4: 5ª 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 16h30, 21h10,

00h10; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 17h, 21h20,

00h25;

Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h15, 18h20, 21h40, 00h40; Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h45, 19h30, 22h15; Vivacine - Maia: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h, 20h50, 24h; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h20, 18h20, 21h20,

aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Cin

ema

Estreiam

Crónica de um desa-parecimento“Wendy e Lucy” é o fantasma de um cinema – como dizer: “cinema social”? – que há muito se extinguiu. Vasco Câmara

Wendy and LucyDe Kelly Reichardt, com Michelle Williams, Walter Dalton, Larry Fessenden, Will Oldham. M/12

MMMnn

Lisboa: Medeia King: Sala 2: 5ª Domingo 3ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45 6ª Sábado 2ª 4ª 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 24h;

Lucy, a cadela, desapareceu no Oregon. E Wendy, que estava a caminho do Alasca, vê-se sem carro e sem animal, as posses visíveis de uma existência tão fina como o papel que se o vento soprar mais forte ela vai desaparecer (e Wendy responde à invisibilidade social que parece condená-la com tamanha obsessão pelas suas pequenas coisas que ela própria já não consegue ver os outros.)

A Wendy (Michelle Williams e aquela sua agreste doçura que começa a ser um traço...) de “Wendy e Lucy” é uma progressão, em termos de alienação, das personagens de “Old Joy” (2006), anterior filme de Kelly Reichardt que esta semana também está disponível no mercado português – este em DVD, aquele em sala.

Os filmes são, ambos, crónicas de um desaparecimento: o da paisagem liberal americana, algo de mítico que o vento dos anos Bush arrasou (na entrevista que publicamos neste suplemento, a realizadora assume ter querido fixar um momento no tempo da América). E são, ambos, fantasmas de um cinema – como dizer: “cinema social”? – que há muito se extinguiu, com a sua geografia e a sua paisagem humana. Reichardt consegue fazer com que

Eis a delicadeza, e a fragilidade, de “Wendy e Lucy”: a sua natureza de filme-fantasma,também com dificuldade emexistir.

Um Funeral à ChuvaDe Telmo Martins,com Sandra Santos, Pedro Gorgia, Alexandre Silva, Hugo Tavares, João Ventura, Luís Dias, PedroDiogo, Sílvia Almeida. M/16

Mnnnn

Lisboa: ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 17h,21h35,

Infelizmente, parecer não chega – é

prp eciso ser, e este projecto simpático deddddddd sintegra-sssssessssssss muito rapidamentenum guiãocheio debanalidades

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Cinemas ElDolce Vita T15h10, 18h1500h20; ZONDomingo 2ª00h20; ZONDomingo 2ªLusomundoDomingo 2ª00h20; ZONDomingo 2ªLusomundo3ª 4ª 15h3021h30, 00h35ª 2ª 3ª 4ªSábado 13h321h; ZON LuDomingo 2ªLusomundo2ª 3ª 4ª 13hLusomundoDomingo 2ª00h30; CastDomingo 12h18h30, 21h3021h30, 00h2Lopes - Fóru15h30, 18h3000h20 Sába2ª 3ª 15h30Shopping: S15h30, 18h3018h30, 21h30Domingo 2ª15h15, 18h1000h05; ZONSábado Dom

00h10; ZOSábado D

00h25;

Porto: Domin00h4Dom22hSá20P4

A Wendy (Michelle Williams eaquela sua agreste doçura que começa a ser um traço...) de “Wendy e Lucy” é uma progressão, emtermos de alienação, das personagens de “Old Joy” (2006),anterior filme de Kelly Reichardt que esta semana também está disponível no mercado português – este em DVD, aquele em sala.

Os filmes são, ambos, crónicas de um desaparecimento: o da paisagem liberal americana, algo de mítico queo vento dos anos Bush arrasou (na entrevista que publicamos neste suplemento, a realizadora assume ter querido fixar um momento notempo da América). E são, ambos, fantasmas de um cinema – comodizer: “cinema social”? – que hámuito se extinguiu, com a sua geografia e a sua paisagemhumana. Reichardt consegue fazercomque

“Wendy e Lucy”: crónica da alienação na América de Bush

série ípsilon IISexta-feira,dia 11 de Junho,o DVD “A VidaÉ um Milagre”,de Emir Kusturika

Todas as sextas,

por €1,95. 20anos

+4 DVD

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 53

00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 4ª 15h30, 18h30, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado 4ª 12h40, 15h40, 18h40, 21h30, 00h30 Domingo 2ª 3ª 12h40, 15h40, 18h40, 21h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 13h50, 17h15, 21h30 6ª Sábado 4ª 13h50, 17h15, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h30, 21h30, 00h40; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h10, 21h10, 00h25; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h40, 18h, 21h20, 00h30; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª Domingo 12h50, 15h50, 18h40, 21h20 6ª 4ª 15h50, 18h40, 21h20, 00h10 Sábado 12h50, 15h50, 18h40, 21h20, 00h10 2ª 3ª 15h50, 18h40, 21h20; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 13h50, 17h10, 21h15 6ª Sábado 4ª 13h50, 17h10, 21h15, 00h35; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 17h40, 21h, 00h20;

Qualquer semelhança destas intermináveis duas horas e meia com cinema (ou sequer com a comédia clássica que invoca, qual sacrilégio, em excertos de “Uma Noite Aconteceu”, 1934, Frank Capra, e “O Assunto do Dia”, 1942, George Stevens) é puro acaso. Chamar “filme” a “Sexo e a Cidade 2” é uma conveniência de formulação, porque o que aqui se vê não passa de um episódio da série (e um episódio desinspirado) esticado para lá do ponto de saturação. Não é, atenção, que não haja o gague pontual com piada (quase sempre devido à ninfomaníaca Samantha de Kim Cattrall), nem que haja alguma coisa de mal em querer fornecer uma noite de entretenimento descomprometido. O problema é que “Sexo e a Cidade 2” acha preguiçosamente que basta fazer mais do mesmo em maior para se ter um filme (havia uma razão pela qual a série se limitava a meia-hora semanal). Não há aqui uma única ideia de cinema: tudo é televisão no grande écrã, e televisão mal feita, onde até a

viagem ao Abu Dhabi que serve de pano de fundo à história é filmada como um qualquer exterior de fancaria. A única justificação para a existência deste objecto é a batelada de dinheiro que o primeiro filme rendeu e a batelada que este também vai render – e isso chateava menos se houvesse aqui nem que fosse um grama de cinema. Pior filme do ano, até agora. J. M.

Continuam

Noite e DiaBam gua nat/Night and DayDe Hong Sang-Soo, com Kim Young-ho, Park Eun-hye, Hwang Su-jung. M/12

MMMMn

Lisboa: Medeia King: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h15, 21h30;

A “fuga” – em sentido geográfico e “existencial” – é um tema que vem dos primeiros filmes de Hong Sang-Soo, e normalmente conclui-se em desolação, em regresso ao ponto inicial, pois que tudo é círculo. Em “Noite e Dia” a fuga é apresentada como facto consumado, uma

legenda no genérico: um coreano apanha um avião para Paris para escapar a um imbróglio com a

justiça. E depois é uma saga, uma epopeia

do desenraizamento numa Paris transformada em colónia de coreanos, dias e noites (e sonhos e vigílias) confundindo-se, como se perante a poderosa estranheza do

Polícia Sem LeiThe Bad Lieutenant: Port of Call - New OrleansDe Werner Herzog, com Nicolas Cage, Eva Mendes, Val Kilmer. M/16

MMMMn

Lisboa: CinemaCity Beloura Shopping: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h40, 00h10; Medeia Saldanha Residence: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 10: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, 19h10, 21h45, 00h20 Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h10, 21h45, 00h20; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h20, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 23h50; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h, 23h40; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35, 18h25, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h25, 18h15, 21h10, 23h50; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 00h20;

Porto: Arrábida 20: Sala 9: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h, 16h40, 19h25, 22h05, 00h45 3ª 4ª 16h40, 19h25, 22h05, 00h45; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h40, 00h35; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª

espaço todo o tempo desaparecesse (e tivesse, por isso, que ser marcado obsessivamente, dia a dia, como entradas dum diário). Hong Sang-Soo filma maravilhosamente, como de costume, e é extraordinária a maneira como em cada plano, cada cena, há uma proeza a ultrapassar – reencontrar o caminho de casa debaixo de uma carga de água, resistir a uma ex-namorada em trajos menores, comprar preservativos sem saber falar francês, etc. E, a alimentar isto, a observação de uma psique masculina particular (e de umas quantas femininas), com humor, acidez, e uma “gravitas” servida em rajadas súbitas como aguaceiros (as nuvens são, de resto, o leit-motiv visual). Um filme soberbo, que conviria não tomar pela superficialidade das aparências (Paris…) nem confundir com modelos que não têm, nem tiveram, qualquer relevância especial para o cinema de Hong Sang-Soo.Luís Miguel Oliveira

Cine-Teatro S. PedroLargo S. Pedro - Abrantes

8 ½ FESTA DO CINEMA ITALIANO – 3ª ediçãoProgramação em www.espalhafitas.org 2 a 6/6, 19h e 21.30h

Morrer Como um HomemDe João Pedro Rodrigues, 2009, M/169/6, 19h e 21.30h

Casa das Artes de Vila Nova de FamalicãoParque de Sinçães – Famalicão

O Vale Era VerdeDe John Ford, 1941, M/12 8/6, 21:30h - Pequeno Auditório

O MensageiroDe Oren Moverman, 2009; M/16 10/6, 21:30h - Pequeno AuditórioFundação Cupertino Miranda, Famalicão

RostosDe John Cassavetes, 1968, M/12 4/6, 21:30h

Centro Cultural Vila FlorAv. D. Afonso Henriques, 701 - Guimarães

Fantasia LusitanaDe João Canijo, 2009, M/6 6/6, 21.45h - Pequeno Auditório

Cinemas Ria ShopingEstrada Nacional 125, 100 - Olhão

Bobby CassidyDe Bruno de Almeida, 2009, M/128/6, 21.30h

Cine-Teatro António Pinheiro R. Guilherme Gomes Fernandes, 5 - Tavira

Irina PalmDe Sam Gabarski, 2007, M/12 4/6, 21.30h

Este é o Meu SangueDe Chan-Wook Park, 2009, M/16 6/6, 21.30h

Teatro VirgíniaLargo José Lopes dos Santos – Torres Novas

O Meu Amigo EricDe Ken Loach, 2009, M/12 9/6, 21:30h

Cinema Verde VianaPraça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do Castelo

Tony ManeroRealização: Pablo Larraín, 2008, M/16 10/6, 21.45h

Cineclubes para mais informações consultar www.fpcc.pt

Jorge Mourinha

Luís M. Oliveira

Mário J. Torres

Vasco Câmara

Alma Perdida mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn

Eu Sou o Amor mmmmm nnnnn mmmmn nnnnn

Histórias da Idade de Ouro mmmnn mmmnn mmnnn nnnnn

A Mente dos Famosos mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn

Noite e Dia mnnnn mmmmn mmnnn nnnnn

Polícia Sem Lei mmmmn nnnnn nnnnn mmmmn

Príncipe da Pérsia mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn

Vencer mmmmn mmmnn mmnnn mmnnn

Sexo e a Cidade 2 A nnnnn nnnnn nnnnn

Wendy e Lucy mmmmn mmnnn nnnnn mmmnn

As estrelas do público

a Samantha dee haja alguma r fornecer imento

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bastaem ilme

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legenda no gecoreanano appaarar Paris pum imbróg

justiça.saga

dodentrcoconovigconcompoes

“Sexo e a Cidade 2”: pior fi lme do ano, até agora

“Noite e Dia”: a observação de uma psique masculina particular (e de umas quantas femininas), com humor, acidez

“Morrer Como um Homem” em Abrantes

Seja responsável. Beba com moderação. www.jameson.pt

Para quem leva o riso bem a sério e se aplicana boa disposição, a Jameson preparou umconjunto de festas verdadeiramente divertidas.Entre num caso sério de gosto pela vida.Há poucas oportunidades assim.

Easygoing Irish..

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Sábado 4ª 21h55, 00h45 Domingo 2ª 3ª 21h55; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 13h, 15h55,18h50, 21h45 6ª Sábado 4ª 13h, 15h55,18h50, 21h45, 00h40;

Apesar de Werner Herzog negar a relação de “remake” (ou sequela, ou o que for) entre o seu filme e o de Abel Ferrara, é estimulante ver os dois “Polícia sem Lei”. Comparar, por exemplo, os uivos de angústia de Harvey Keitel com os furores nada religiosos e mais irrisórios de Nicolas Cage que, à medida que o filme progride, vai ficando cada vez mais torto (é o mal das costas...) e mais parecido com o amigo/inimigo preferido de Herzog, o diabólico Klaus Kinski. Isso também é interessante: ver como Herzog faz seu um argumento que serviria às maravilhas o “thriller” urbano dos anos 70 americanos, sendo o mais possível ele próprio, Herzog, mostrando-se como artesão a cumprir eficazmente a encomenda – ou seja, algo de reptilíneo por aqui, o que não é de espantar perante o restante da obra de um cineasta que em 2009 ainda se fez passar (com menos graça) por David Lynch em “My Son, My Son, What Have Ye Done”. Vasco Câmara

Alma PerdidaCold SoulsDe Sophie Barthes, com Paul Giamatti, David Strathairn, Dina Korzun, Katheryn Winnick. M/12

MMnnn

Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 4: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 22h, 00h20 Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h20, 22h, 00h20;

Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h30, 16h55, 19h25, 21h50, 00h20 3ª 4ª 16h55, 19h25, 21h50, 00h20;

Sem ter as subtilezas e as bizarrias de um filme como “Queres Ser John Malkovitch?”, este argumento de Charlie Kaufman pedia uma realização mais imaginativa. “Alma

Perdida” esboça um tom de comédia tresloucada, mas carece de um ritmo imparável que fizesse das suas peripécias disparatadas uma revisita aos lugares mais estimulantes da “screwball”, cruzada com uma espécie de Ficção Científica desregulada, quase surrealista. Falta-lhe estilo e vontade de não se conformar às regras de uma primeira tentativa. Mas para estreante não é pouco: mesmo o lado auto reflexivo e metafísico que pesa na narrativa justifica que se fixe

um nome fácil de reter, por razões extra-cinematográficas – Barthes, Sophie. Mário Jorge Torres

VencerVincereDe Marco Bellocchio, com Filippo Timi, Giovanna Mezzogiorno, Michela Cescon, Fausto Russo Alesi. M/12

MMnnn

Lisboa: Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30;

Marco Bellocchio é um sobrevivente do cinema italiano de autor e isso nota-se no modo como inicia esta ficção histórica, com uma definição segura das personagens e com bom cruzamento entre a narrativa que constrói e as imagens de arquivo que instrumentaliza – a fazer recordar outros tempos de militância. O que limita, então, esta estranha história, baseada em factos verídicos, vindo a lume há pouco tempo sobre o primogénito de Mussollini e a mãe, Ida Dalser? “Vencer” começa bem, com uma espécie de histeria visual em que Bellocchio sempre foi mestre, mas acaba por perder-se em episódios repetitivos, de manicómio em manicómio, num estilo de reportagem melodramática que cansa à força de quer funcionar em vários registos simultâneos, inclusive o operático que lhe não vai a capricho. A fotografia soturna

também não ajuda a fazer “voar” a loucura. Dito isto, Giovanna Mezzogiorno e Filippo Timi valem o filme. M. J.T.

Príncipe da Pérsia: As Areias do TempoPrince of Persia: The Sands of TimeDe Mike Newell, com Jake Gyllenhaal, Ben Kingsley, Gemma Arterton, Alfred Molina. M/12

MMnnn

Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 17h45; Castello Lopes - Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h45 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h45, 24h; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h35, 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h, 18h30, 21h35, 24h; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h35, 19h, 21h35, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h05, 18h30, 21h40, 24h; Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h; Medeia Saldanha Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h50, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, 00h15 Domingo 11h30, 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, 00h15; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 10: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h15, 19h, 21h40 6ª Sábado 13h50, 16h15, 19h, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h50, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h20, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h15, 21h20, 00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 18h10, 21h10 6ª Sábado 15h10, 18h10, 21h10, 00h10; ZON

Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 12h50, 15h40, 18h30, 21h20 6ª 4ª 15h40, 18h30, 21h20, 00h05 Sábado 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h05 2ª 3ª 15h40, 18h30, 21h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h30, 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h40, 21h25, 00h05; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h55, 18h20, 21h15, 24h; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª Domingo 13h20, 16h10, 18h40, 21h10 6ª 4ª 16h10, 18h40, 21h10, 23h40 Sábado 13h20, 16h10, 18h40, 21h10, 23h40 2ª 3ª 16h10, 18h40, 21h10; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 13h, 15h40, 18h20, 21h20 6ª 4ª 15h40, 18h20, 21h20, 24h Sábado 13h, 15h40, 18h20, 21h20, 24h 2ª 3ª 15h40, 18h20, 21h20; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª Sábado Domingo 13h, 15h40, 18h40, 21h40, 00h10 6ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h40, 00h10; UCI Freeport: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h25 6ª 15h40, 18h30, 21h25, 23h55 Sábado 13h20, 15h40, 18h30, 21h25, 23h55 Domingo 13h20, 15h40, 18h30, 21h25; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h35, 18h15, 21h05, 23h45; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h25, 21h30, 00h10;

Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h, 16h35, 19h15, 21h55, 00h30 3ª 4ª 16h35, 19h15, 21h55, 00h30; Arrábida 20: Sala 12: 5ª 15h20, 00h15 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20, 00h15; Cinemax - Cinema da Praça : Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª 15h30, 21h45, 24h Sábado 17h30, 21h45, 24h Domingo 15h, 21h45; Cinemax - Penafiel: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h35 6ª 15h30, 21h35, 00h20 Sábado 15h, 17h40, 21h35, 00h20 Domingo 15h, 17h40, 21h35; Medeia Cidade do Porto: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h25, 21h50; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 15h50, 18h40, 21h40 6ª Sábado 4ª 15h50, 18h40, 21h40, 00h05; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado 4ª 13h15, 16h05, 18h45, 21h20, 00h25 Domingo 2ª 3ª 13h15, 16h05, 18h45, 21h20; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 13h10, 16h, 18h50, 21h40 6ª Sábado

Cin

ema aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“Polícia sem Lei”: o alemão Herzog reinventando-se como artesão do “thriller” americano

“Alma perdida”: falta-lhe estilo... “Vencer”: esta loucura não “voa”

FORMAÇÃO INICIAL EM REPRESENTAÇÃO

PARTICIPAÇÃO: ACTRIZ TERESA TAVARES FORMADORA: ANDREIA DAMAS

INSCRIÇÕES: 96 205 27 15 LISBOA – JUNHO/JULHO PREÇO: 290€

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Ípsilon • Sexta-feira 4 Junho 2010 • 55

Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 00h05 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h15, 00h05;

Habituados que estamos a uma certa pobreza do cinema brasileiro exibido entre nós, não certamente representativa do muito que se faz além-Atlântico ( Júlio Bressane continua ausente da exibição comercial), este “Estômago”, comédia negra bem engendrada e com um olhar bizarro e criativo sobre as contradições sociais do “país irmão”, merecia, apesar de alguma facilidade expressiva (a gastronomia como metáfora carece de maiores ambições narrativas), uma mais cuidada atenção por parte de um público português desconfiado, devido à oscilação entre indigestos “novelões” e insuportáveis demagogias populistas. “Estômago” é um pequeno filme sobre o poder e sobre o fascínio dos pormenores insignificantes, simpático e despretensioso: o suficiente para despertar a curiosidade e o respeito pela diferença. M.J.T.

4ª 13h10, 16h, 18h50, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h20, 24h; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h50, 21h40, 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h10, 21h40, 00h20; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: 5ª Domingo 13h, 15h30, 18h50, 21h40 6ª 4ª 15h30, 18h50, 21h40, 00h15 Sábado 13h, 15h30, 18h50, 21h40, 00h15 2ª 3ª 15h30, 18h50, 21h40; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 14h10, 17h, 21h 6ª Sábado 4ª 14h10, 17h, 21h, 23h55; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 17h55, 21h15, 00h05;

Depois de reinventar o filme de piratas para o século XXI com “Piratas das Caraíbas” (o primeiro tinha graça, daí para a frente foi o descalabro), o produtor Jerry Bruckheimer atira-se às aventuras orientais de capa e espada com esta versão cinematográfica dos jogos de computador criados por Jordan Melcher. O resultado não é desengraçado, em grande parte porque rapidamente o veterano britânico Mike Newell se desenvencilha das grilhetas do video-jogo para instalar um clima de aventura exótica conscientemente fajuta onde não faltam os diálogos em

tom de guerra-dos-sexos/“screwball comedy”. E ter actores que pensam à frente da câmara ajuda – Jake Gyllenhaal e Gemma Arterton divertem-se claramente a invocar os grandes heróis das aventuras clássicas e contribuem grandemente para a eficácia do filme. Mas não se confunda este “ersatz fast-food” do cinema clássico com um grande filme – é apenas um entretenimento despretensioso mastiga-deita-fora, melhor feito do que é habitual... J. M.

Estômago - Uma história nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia EstômagoDe Marcos Jorge, com João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana. M/16

MMnnn

Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 9: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h45, 24h; Medeia Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h50, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 19h10, 00h20;

Sexta, 04Abraço MortalA Double LifeDe George Cukor15h30 - Sala Félix Ribeiro

O Mundo sem SolLe Monde Sans SoleilDe Jacques-Yves Cousteau19h - Sala Félix Ribeiro

L’ora di Religione (Il sorriso di mia madre)De Marco Bellocchio19h30 - Sala Luís de Pina

O NavioE la Nave Va

De Federico Fellini21h30 - Sala Félix Ribeiro

Karagoez catalogo 9,5 + Cesare LombrosoKaragoez catalogo 9,5De Yervant Gianikian, Angela Ricci Lucchi22h - Sala Luís de Pina

Sábado, 05A Manada PerdidaCattle DriveDe Kurt Neumann15h30 - Sala Félix Ribeiro

Fim-de-SemanaWeek EndDe Jean-Luc Godard19h - Sala Félix Ribeiro

True Heart Susie

De D.W. Griffith19h30 - Sala Luís de Pina

Sete MulheresSeven WomenDe John Ford21h30 - Sala Félix Ribeiro

A Comédia do DinheiroKomedie om GeldDe Max Ophüls22h - Sala Luís de Pina

Segunda, 07Abraço MortalA Double LifeDe George Cukor15h30 - Sala Félix Ribeiro

Bom Dia, NoiteBuongiorno, NotteDe Marco Bellocchio19h - Sala Félix Ribeiro

Du Grand Large aux Grands LacsDe Jacques-Yves Cousteau19h30 - Sala Luís de Pina

O Rei das RosasDer Rosen KönigDe Werner Schroeter21h30 - Sala Félix Ribeiro

Zorns Lemma + GloriaZorn’s LemmaDe Hollis Frampton22h - Sala Luís de Pina

Terça, 08Maria Stuart, Rainha da EscóciaMary of ScotlandDe John Ford15h30 - Sala Félix Ribeiro

Il Regista di MatrimoniDe Marco Bellocchio19h - Sala Félix Ribeiro

E era o Mar + A Metafísica dos Chocolates + Cidade + Regresso à Terra do SolA CidadeDe José Fonseca e Costa19h30 - Sala Luís de Pina

O LeopardoIl GattopardoDe Luchino Visconti.21h30 - Sala Félix Ribeiro

Profi t Motive and the Whispering Wind + National Archive V.1De John Gianvito22h - Sala Luís de Pina

Quarta, 09Um Caso de Vida ou de MorteA Matter of Life and DeathDe Emeric Pressburger, Michael Powell15h30 - Sala Félix Ribeiro

TurbilhãoWhirpoolDe Otto Preminger19h - Sala Félix Ribeiro

Viver Não CustaThe Young in HeartDe Richard Wallace19h30 - Sala Luís de Pina

Quintã - MemóriasDe Ricardo Machado.

21h30 - Sala Félix Ribeiro

A Morte e o Diabo + Verteidingung der ZeitTod Und TeufelDe Peter Nestler. 59

min.22h - Sala Luís de

Pina

Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200

Ciclo

“Books Alive” é o nome da retrospectiva

de fi lmes adaptados ou baseados

em obras literárias que

o crítico

de cinema do PÚBLICO, Luís Miguel Oliveira, programou para o FEST – Festival Internacional Cinema Jovem que irá decorrer de 20 a 27 de Junho, em Espinho. “Tempos Difíceis”, de João Botelho; “O Fio do

Horizonte”, de Fernando Lopes; “Sinais de Fogo” de Luís Filipe Rocha e “Amor de Perdição” de Manoel de Oliveira são algumas das obras.

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De Ricardo Mac21h30 - Sala Félix Ri

A Morte e o VerteidingZeitTod Und TeuDe Peter Nest

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O ciclo Marco Bellochio continua na Cinemateca...

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Page 56: fonoteca.cm-lisboa.ptfonoteca.cm-lisboa.pt/mm/IMG/PUBPERIO/jornais/04614/pdf/100604... · 280 FESTIVAL 26 MAIO QUARTA 21H30 Teatro José Lúcio da Silva / Leiria EUROPA GALANTE FABIO