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Revista bimestral do Lectorium Rosicrucianum O NASCIMENTO DE UMA NOVA ALMA A VERDADEIRA ARTE DA CONSTRUÇÃO QUAL É A RELIGIÃO DO SÉCULO XXI? EM QUE DIREÇÃO O HOMEM EVOLUI? NOVE VEZES É DITO “BEM-AVENTURADOS...” O SERMÃO DA MONTANHA DESCREVE A VIDA DA ALMA A CANÇÃO DO AMOR O AUXÍLIO DE UMA ESCOLA DOS MISTÉRIOS OU ESCOLA ESPIRITUAL TUDO RECEBER, TUDO ABANDONAR, PARA TUDO RENOVAR DIÁLOGO ENTRE HERMES E T AT O CRESCIMENTO DA NOVA ALMA PentagramA 2003 número 4

PentagramA · nossos conhecidos valores materiais e imateriais foram construídos: Arte, Religião, Ciência, o desenvolvimento do Estado e do sistema social, o siste-ma jurídico

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Revista bimestral do

Lectorium Rosicrucianum

O NASCIMENTO DE UMA NOVA ALMA

A VERDADEIRA ARTE DA CONSTRUÇÃO

QUAL É A RELIGIÃO DO SÉCULO XXI?

EM QUE DIREÇÃO O HOMEM EVOLUI?

NOVE VEZES É DITO “BEM-AVENTURADOS...”

O SERMÃO DA MONTANHA DESCREVE A VIDA DA ALMA

A CANÇÃO DO AMOR

O AUXÍLIO DE UMA ESCOLA DOS MISTÉRIOS OU ESCOLA ESPIRITUAL

TUDO RECEBER, TUDO ABANDONAR, PARA TUDO RENOVAR

DIÁLOGO ENTRE HERMES E TAT

O CRESCIMENTO DA NOVA ALMA

PentagramA2003 número 4

ÍNDICE

2 O NASCIMENTO DE UMA

NOVA ALMA

4 A VERDADEIRA ARTE DA

CONSTRUÇÃO

8 QUAL É A RELIGIÃO DO

SÉCULO XXI?

16 EM QUE DIREÇÃO O

HOMEM EVOLUI?

21 NOVE VEZES É DITO

“BEM-AVENTURADOS…”

24 O SERMÃO DA MONTANHA

DESCREVE A VIDA DA NOVA

ALMA

28 A CANÇÃO DO AMOR

29 O AUXÍLIO DE UMA ESCOLA

DOS MISTÉRIOS OU ESCOLA

ESPIRITUAL

34 TUDO RECEBER, TUDO

ABANDONAR, PARA TUDO

RENOVAR

40 DIÁLOGO ENTRE HERMES

E TAT

42 O CRESCIMENTO DA NOVA

ALMA

ANO 24NÚMERO 4

PENTAGRAMA

T E M A D E S T E N Ú M E R O :

Em que direção

o homem evolui?

Teólogos, filósofos e cientistas se debruçam há

séculos sobre a questão de saber de onde provém a

“vida” e qual é sua finalidade. Novas técnicas de

investigação permitem desenvolver teorias de

evolução que não acabam mais. Tecnicamente, trata-se

de um jogo de azar, uma loteria genética, produzindo

toda espécie de vida, mais ou menos resistentes.

O nascimento de uma nova alma

Neste número da revista Pentagramao leitor encontrará uma série de artigosde alunos da Rosacruz Áurea que des-crevem suas experiências no caminhoespiritual. Ora eles vivenciam aconte-cimentos alegres, ora devem ultrapas-sar obstáculos difíceis. Eles escreveramna esperança de que os leitores de nossarevista internacional possam, a partirdestes artigos, fruir inspiração e força.

possibilidade de um elevado pro-cesso espiritual está presente em todosos seres humanos. Isso é um dom pre-cioso, mas também um desafio. O cres-cimento espiritual é uma elevação queconfere grande compreensão e sabe-doria. Mas é preciso ultrapassar certasdificuldades. Como reconhecer, com-preender e resolver todos os proble-mas, que são diferentes para cada pes-soa? Como construir uma base espiri-tual a partir da qual alcançar uma rea-lidade? Como nós, homens do séculoXXI, podemos em nossa vida diáriadescobrir e vivificar o núcleo espiritualde nosso ser, a respeito do qual não te-mos nenhum conhecimento e de cujaexistência nem sequer suspeitamos?

A chave está oculta no mistério donovo nascimento. Em verdade, em ver-dade, vos digo: se o homem não nascerda Água e do Espírito, não poderá en-trar no reino de Deus (João, 3:5).

O mistério da transfiguração ocupaum lugar central na visão gnóstica mo-derna. Quando falamos sobre o nasci-mento de uma nova alma, partimos daidéia de que há um meio de passar daconsciência comum, limitada, para

uma nova consciência suscetível deultrapassar todos os limites terrestrese chegar a um estado de plenitude e defelicidade sem fim. As palavras deJesus dão testemunho de um estadode alquimia cotidiana e concreta davida. Em outras palavras: de uma sen-da que conduz a uma total transfor-mação interior.

Esse processo segue leis universaisnaturais que devem ser reconhecidas evivenciadas. Tanto no passado comono presente, os gnósticos sempre qui-seram mostrar esse processo para a hu-manidade e dele dar testemunho. Elesjamais deixaram de encorajar os bus-cadores da verdade a descobrir e seguiressa senda de total renovação, a fim deescapar de seu destino inexorável.

O caminho interior é individual.Aquele que segue esse caminho desco-bre a ligação de tudo o que vive. Ohomem é uma célula do corpo dahumanidade. A alma é uma célula docorpo da humanidade-alma. É por is-so que jamais poderá seguir sozinhono caminho de libertação interior, poisele é alimentado, levado e inspiradopor todos aqueles que seguem namesma direção e caminham adiante.As experiências dos outros podem es-timular, sustentar e também auxiliar acompletar e aprofundar a própriacompreensão. Uma pequena janelapode revelar uma ampla paisagem,inspiradora e aconchegante para ocoração. O caminho da nova alma,que se desdobra diante do leitor e tam-bém de nós, conduz pura e simples-mente a tudo o que o ser humanopode alcançar de mais grandioso.

A

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O homem preso

na teia de aranha

do carma, da

herança sanguínea,

da religião, da ciência

e da arte. Ilustração

Pentagrama

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PERGUNTA: Não consigo fazer uma imagem exata do microcosmo. O que é, ao certo?RESPOSTA: A palavra microcosmo sugere uma reprodução em tamanho pequeno do macrocosmo, do universo. Essa palavra significa “pequenomundo”. É uma imagem interior e exterior de tudo o que existe no macrocos-mo, não somente do que foi criado, mas também de tudo que ainda deverá sê-lo. Em seu estado atual, o microcosmo está mutilado. Segundo o ensinamentognóstico da transfiguração, ele pode ser restabelecido e retomar seu lugar original na Criação. É possível imaginá-lo como uma lanterna na neblina: um ponto central luminoso envolto por uma nuvem de bruma. Ampliando essa imagem, a nuvem pode representar o universo onde vivem os homens. O homem é um microcosmo à imagem do macrocosmo, tudo está nele, o que existe e tudo o que ainda deve evoluir e se revelar, o que é biológico e sobretudo o que é espiritual.

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A verdadeira arte da construção

A realização perfeita e a harmonia sãoo fruto de uma atividade criadora au-têntica. Essa intuição acompanha a hu-manidade desde o início de sua históriae exige sempre de novo dela novas rea-lizações. Somos assim sempre impeli-dos para uma constante busca no senti-do da “verdadeira arte da construção”.

ara a maioria da humanidade, a almanatural é a mediadora com cujo auxí-lio é realizada essa tarefa criadora. Aalma natural, princípio animador dapersonalidade, rege uma série de habi-lidades, entre elas: metabolismo e re-produção, percepção e sentimento,movimento no espaço, desejo e von-tade, e finalmente, pensar e falar. Es-sas aptidões foram desenvolvidas nodecorrer da evolução natural e sãocompartilhadas na sua maioria comoutros seres vivos da natureza. Emtodos os homens essas aptidões semanifestam individualmente e sãoinfluenciadas pelas condições sociais,cósmicas e pessoais. Nosso horósco-po, nossa família, nossa educação enosso meio cultural, e também nossaspróprias decisões e ações formamnosso caráter e nosso princípio vital,ou seja, nossa alma natural.

Na alma natural expressam-se de-

terminados impulsos provenientes deseu meio e de outras almas naturais.Através deles, forças são por ela vivifi-cadas, concretizadas e transformadasem pensamentos, sentimentos e formasobjetivas. Com base na alma naturalnossos conhecidos valores materiais eimateriais foram construídos: Arte,Religião, Ciência, o desenvolvimentodo Estado e do sistema social, o siste-ma jurídico e o serviço de saúde, insti-tuições e empresas. Em resumo, todasas conhecidas realizações “culturais”.

Somente o núcleo permanece

Para o gnóstico, porém, essa alma étão somente um estado provisório:uma escola que deve conduzir a almaa seu “renascimento”, a uma transfor-mação fundamental e, portanto, a uma“nova alma”. Uma esplêndida imagemdisso é a da lagarta que se torna crisá-lida para finalmente renascer comoborboleta. É significativo que a pala-vra grega psyche designe de fato e aomesmo tempo “alma” e “borboleta”.

Como pode ser explicada essa me-táfora da borboleta? A borboleta é,sem dúvida, completamente diferenteda lagarta, a começar por sua aparên-cia. Ela possui outros órgãos, outrapercepção, se desloca e se alimenta de

P

forma diferente. Além disso, tem acapacidade de se reproduzir, de con-servar a espécie. A lagarta se alimentade folhas, enquanto que a borboleta sealimenta de néctar. A lagarta rasteja, aborboleta voa. A lagarta tem uma apa-rência compacta e desajeitada, en-quanto que a borboleta é leve, delica-da, um inseto maravilhoso. Através dametamorfose a lagarta se torna crisáli-da: ela abandona toda sua existência esua natureza peculiar para se tornar osolo nutritivo que dará forma à bor-boleta. Os biólogos concluíram que aestrutura da lagarta se liquefaz, torna-se uma substância viscosa constituídade proteínas e outros elementos quí-micos – com exceção de um único nú-cleo, uma célula a partir da qual sedesenvolverá a nova forma.

Sob uma perspectiva gnóstica o sen-tido da metáfora da borboleta se tornaclaro. Em nosso estado natural nosassemelhamos a uma lagarta. Toda aestrutura biológica e psicológica, nos-so metabolismo de substâncias quími-cas, etéricas, astrais e mentais são regi-dos pela conservação de nosso estadoatual. Nossa existência é inteiramentesubmetida às “forças deste mundo”das quais somos totalmente oriundos.Essas forças se expressam em suaforma extrema como medo, ira, astú-

cia, cobiça, preguiça, avareza, inveja eorgulho. Mediante uma cultura apro-priada, essas forças podem de fato serreprimidas até um determinado graude refinamento, mas seu verdadeirocaráter é sempre preservado.

Todavia também está em nós opotencial de uma “nova alma”, de umaalma que tem uma estrutura totalmen-te diferente, construída a partir deuma substância totalmente diferente,evidenciando aspectos biológicos epsicológicos diferentes. Essa “novaalma” é a borboleta. Nosso caminhoem direção a ela não é um refinamen-to da condição de lagarta, porém a“crisálida”, uma troca de forma, umatransfiguração. Nessa transmutaçãoalquímica, nossa existência constitui asubstância, o solo nutritivo para a no-va forma. Porém, para isso, tudo que éantigo deverá ser liquidado, com exce-ção de um núcleo, um átomo que for-

PERGUNTA: O que vocês querem dizer com “nascido da natureza”? Todo mundo não o é?RESPOSTA: De fato, pela sua estrutura biológica o homem é oriundo da natureza dialética. Sua personalidade, composta de quatro corpos, é constituída de elementos da natureza dialética.Mas há o homem nascido da alma, quer dizer, cuja alma foi revivificada e que continua a evoluir.

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A lagarta se torna

crisálida e se

transforma em

borboleta.

Ilustração

Pentagrama

mará o embrião de uma nova alma. OsEvangelhos descrevem esse processoalquímico como “o renascimento daÁgua e do Espírito”.

A alma é um princípio de vida queanima o corpo, estimula o pensamen-to, rege a influência da aura, transfor-ma as forças vitais para adaptá-las aocorpo. Ela tem uma função regulado-ra como a influência que a lua exercesobre todas as forças vitais e os bior-ritmos. Daí provém o fato de ser aalma associada, na linguagem simbóli-ca, com a lua e o metal precioso cor-respondente, a prata. A alma naturalse harmoniza com os ritmos de nossocampo de existência, ao passo que anova alma tem acesso a forças da su-pranatureza, de uma natureza com-pletamente diferente da natureza hu-mana. Ela dispõe de faculdades com-pletamente novas, e a mais nobre delasé a faculdade de pensar, muitas vezestambém considerada como um sinô-nimo da nova alma.

A nova alma é, de fato, a única portade acesso ao Logos. Todas as suges-tões do Espírito devem ser transmuta-das pela luz da alma numa forma assi-milável antes de poderem se tornarativas no corpo. O sol espiritual se re-flete, assim, na alma, que é a lua da

personalidade. O ouro pode desse mo-do se aliar à prata. Porém, somentequando a velha alma se entrega e segueo caminho da metamorfose é que ohomem pode reagir ao chamado espi-ritual e assim recuperar o que perdeunas profundezas do passado. Mas, se ametamorfose não acontece, a almacontinua ligada ao corpo, e a hierar-quia divina original não pode ser res-tabelecida. Então, as ligações conti-nuam invertidas; o corpo, com suasnecessidades, controla a alma ao invésde se deixar guiar por ela.

A veste de núpcias da alma

Uma das mais importantes caracte-rísticas da nova alma é a nova faculda-

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Remold the world!

Reforme

o mundo! Grito

de revolta, mas

também um apelo

a cada um

daqueles que

querem mudar de

rumo. Foto

Pentagrama.

Percorrendo as folhas, como lagarta faminta e comedora da folhagem que atravessa, serpeio na poeira, e assim amadureço.Crisálida, sono ou sepulcro; metamorfose, nela cesso. Sou o casulo que cai. Tu és a sutil borboleta prateada: o vôo.

de de pensar que está aberta aos im-pulsos espirituais que vão germinar eser revelados pela nova alma. É poressa razão que, também na mitologiagrega, a alma é simbolizada por umamulher. Eros, o amor divino, e Psique,a alma receptiva, constituem o casal denoivos na união alquímica. Em umaoutra imagem muito parecida, fala-seda veste de núpcias da alma, o somapsychikon, ou corpo-alma, do qual éenvolvido o homem transfigurado.

A nova faculdade de pensar con-templa o plano de Deus de primeiramão. A descida do Espírito ilumina aalma, e surge um novo foco de cons-ciência, que a filosofia hermética cha-ma de “Pimandro”, ou seja, “pastor dehomens”. Essa consciência é capacita-da, agora, para guiar o corpo, como opastor guia as ovelhas. Essa percepçãodireta, essa visão interior, traz umasérie de conseqüências. O corpo astralage de maneira totalmente diferente, enele se realizam o amor e a criativida-de. Do mesmo modo, a nova capaci-dade do corpo etérico apresenta umaforça e uma energia imperturbáveis.No corpo físico da personalidade, ofogo serpentino e o simpático sofremmudanças.

No livro A Voz do Silêncio de H.P.Blavatsky são descritas as novas quali-dades da alma: amor, harmonia napalavra e na ação, paciência, equanimi-dade diante do prazer e da dor, energiadestemida e sabedoria.

Agora talvez possamos ter umaidéia da profundidade e da beleza al-cançadas com essa renovação espiri-tual, que são como música magnífica,harmonia dinâmica de valores e for-ças, expressão de vida que vai muitoalém de nossa vida conhecida. A novaalma se eleva, então, à estrutura domundo divino e a reconhece, porémpermanece ainda ligada ao nosso cam-

po de vida, sabendo que toda a huma-nidade representa uma unidade, daqual ela faz parte.

E então, ela também busca um mo-do de se expressar em nosso campo devida. Iniciam-se “obras de arte” inspi-radas pelo Espírito. Tais “obras dearte” podem tomar várias formas. Porexemplo, na Arquitetura, nos antigostemplos ou nas construções góticas.Ou como na Poesia, na Filosofia, naMúsica, na Escultura e na Pintura.Mas a “arte da construção” tambémpode se expressar num modo de vida,num gesto, num riso. Ou tambémnuma comunidade que cria para ahumanidade um ambiente no qual ametamorfose do velho no novo podeser dinamizada e confirmada. Dequalquer modo, porém, a respiraçãoda Alma disponibiliza e transmite osimpulsos espirituais. O Logos se tor-na Luz e a Luz se torna Vida. Essa Vi-da é, então, o testemunho de uma ser-viçabilidade espontânea, uma serviça-bilidade a Deus, ao mundo e à huma-nidade.

Nessa obra, ela encontra sua ale-gria, bem-aventurança e plenitude – opleroma. Quando o homem puderpenetrar nesse trabalho das forças doEspírito e novamente se tornar um serígneo autocriador, a “verdadeira artede construção” se abrirá para ele.

PERGUNTA: Qual é o objetivo de todas as expe-riências que fazemos neste mundo tenebroso?RESPOSTA: Encontrar a Luz durante nosso cami-nhar errante neste mundo; vencer o mal graças àLuz que descobrimos; restabelecer o estado divinooriginal. Todos os Mistérios se resumem nisso.Aquele que definitivamente compreende se esforçapara se elevar, para retornar à origem. A diferençaé grande: da ignorância, ele passa ao conhecimento!Ele é como o filho pródigo, o filho perdido e reen-contrado, que decidiu voltar à casa do Pai.

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Nesta ordem mundial dialética, doispontos de vista, duas orientações devida se defrontam face a face. De umlado vemos os agrupamentos religio-sos-ortodoxos com sua declaração: ohomem não é nada e o mundo está nasmãos do maligno; é do além que a feli-cidade eterna nos chama. Do outrolado, vemos o humanitarismo com suapolicromática mescla de aspectos reli-giosos, ateus, esotéricos, políticos esociais, afirmando que o homem ébom, e o mundo é bom, que não se têmsenão resistências a vencer, deforma-ções a corrigir. De uma parte, o maislimitado conservantismo, de outra oelemento progressista.(Dei Gloria Intacta, capítulo XV, J.van Rijcken-

borgh, 1967.)

involução e a evolução levam a hu-manidade a ver claramente qual é oseu lugar na Criação. Muitas religiõesjá desempenharam um papel impor-tante colocando os alicerces de emi-nentes civilizações. Por exemplo, sobo impulso do taoísmo, do hinduísmo,do budismo, do hermetismo e do cris-tianismo, elas determinaram a vida co-tidiana de milhões de pessoas. Elasmostram duas direções: uma via espi-ritual e uma via cultural. A via espiri-tual eleva a humanidade acima de suacondição biológica. A via culturaltransmite normas e valores que permi-tem a vida em sociedade para que fi-nalmente o limite entre mortalidade eimortalidade seja ultrapassado. Envia-dos transmitem o ensinamento e o co-locam em prática: Lao Tsé, Hermes

Trismegisto, Buda, Mani, Jesus e mui-tos outros mostraram o caminho dorestabelecimento da ligação entre omundo divino e a alma extraviada.

Em muitas culturas, a religião estáno centro da vida comum. Tudo o queacontece é explicado como conse-qüência direta das leis de Deus. Otempo, os movimentos da crosta ter-restre, os furacões, as inundações, asepidemias... tudo é sinal do desconten-tamento de Deus com relação à con-duta dos homens, ao passo que os si-nais contrários marcam sua aprova-ção. Nessas condições, a religião de-termina os princípios da vida e o lugardo homem no mundo. Ao viver suareligião, cada um aprende qual deveser o significado de sua vida.

O espírito humano começa a se agitar

Com esses métodos é atraída amaioria dos homens terrestres comseus corpos terrestres. Deus está foradisto. Ele é representado, por exem-plo, com traços de um pai ou de umolho que tudo vê; ou até debaixo deuma cúpula, em um altar, ou no alto deum vitral. Mas quando a pessoa sai docorre-corre cotidiano, viaja e descobreoutros países e sofre a influência deoutras culturas, essa imagem pré-con-cebida que tinha do mundo e de Deus,na qual tinha confiança, começa a sedeteriorar. O espírito humano, enter-rado há séculos sob a neve do dogma-tismo e da teologia, está começando ase agitar. Aqui e ali os influxos espiri-

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Qual é a religião do século XXI?

A

aceita dogmas, se precisa obedecer aautoridades constituídas, a oposiçãocresce. O passado mostra que os gru-pos que queriam reformar as religiõesoficiais foram todos perseguidos.Hoje acontece o mesmo. No entanto,mesmo que o conflito entre tradiçõesmilenares e os impulsos de renovaçãoespiritual chegue a durar anos, ou atéséculos, sempre chega uma hora emque as novas concepções sobrepujama religião dominante, que então desa-parece. Em seguida, esses movimen-tos de renovação se dividem, por suavez, em dezenas de grupos que difi-cultam suas vidas lutando uns contraos outros.

A vocação espiritual inata do homemé manter incessantemente todos ospartidos em movimento. Uns se esfor-çam para atingir seu objetivo agarran-

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tuais originais são revivificados, reno-vados e adaptados à época e à região.Mas trata-se apenas de uma mudançade tática: são novos impulsos paraaqueles que são receptivos a eles e quepodem a eles reagir; mas o que aconte-ce hoje em dia sempre existiu.

Em geral, tal impulso logo se crista-liza num culto, e o culto numa culturaou civilização. A crista da nova ondaperde seus valores espirituais e cai no-vamente na rotina. O impulso da ondaé necessário para revivificar a centelhado Espírito divino original que jazoculta no coração de todos os sereshumanos. Cada civilização recebe, porsua vez, um golpe mortal para que ahumanidade tenha uma nova oportu-nidade de romper com as tradições es-clerosadas e possa alcançar o verdadei-ro objetivo espiritual. O princípio di-vino que habita no homem e que so-mente poderá ser libertado a partir deuma mudança total da consciênciacontinua intacto em meio ao movi-mento das ondas. Ele pode ser deixa-do em segundo plano e reprimido,como por exemplo, sob uma ditadura,autoridades, preocupações do dia-a-dia, mas no fim ele surge mais forteque todas as opressões e é capaz desair de seu aprisionamento.

Uma nova forma se eleva

A história mostra que a humanida-de em seu desenvolvimento segue umcomplicado caminho de altos e bai-xos. Quando a humanidade força suafé, quando arrisca sua vida se não

PERGUNTA: Quem era Mani? Conheço a pala-vra “mania” que tem um sentido pejorativo,mas não é isto que vocês querem dizer.RESPOSTA: Mani foi um dos grandes mensageiros da Luz, da Gnosis. Ele tem seu lugar ao lado deLao Tsé, Buda, Zoroastro e Hermes Trismegisto.Alguns o designam como o “último grande gnós-tico de nossa era”. Segundo a lenda, Mani nasceuna Pérsia em 216 d.C. Ele dizia: “Eu vim do paísde Babel para fazer soar um grito sobre omundo”. Ele fala claramente das duas naturezas: oreino da Luz e o reino das trevas. Segundo ele, acentelha de Luz escondida em todo ser humanoretorna ao reino da Luz e devemos consagrarnossa vida a essa realidade. Era um homem entusiasta que não podia ser facilmente calado. Nofinal, seus adversários o caluniaram e mataram.

do-se a pensamentos e conceitos anti-gos; outros querem jogar tudo forapara recomeçar. Uns são integralistas,outros são revolucionários. Mas am-bos se opõem a todos os que reconhe-cem que não chegarão a nada com ospoderes de suas personalidades.

Fenômenos como estes acontecemem todas as civilizações. Uns come-çam sua busca porque a doutrina espi-ritual oficial os sufoca; outros, que es-tão satisfeitos com ela, querem con-servar seu patrimônio religioso. Parauns, a igreja é uma instituição caducae eles esperam que a ciência e a maté-ria resolvam as questões pendentes.Outros, voltam-se para aspectos maisfilosóficos e humanistas. Mas o fato éque todos estão de tal modo mergu-lhados na matéria que, um dia, com-pletamente asfixiados, acabarão ber-rando por libertação e liberdade. Ahumanidade está à deriva. Muitosprocuram reparar as degradações queo mundo sofre, enquanto que outrosquerem encontrar caminhos total-mente novos. Todos estão procuran-do, com mais ou com menos afinco, osignificado da vida. Os seres humanosse perderam nas profundezas e agoraé preciso que mostrem se sabem nadarou não!

Ainda não chegamos ao final do ca-minho traçado pelo materialismo.Inúmeras disciplinas científicas pro-curam a verdade no universo infinitoe cada descoberta impõe um novodesafio. Esses esforços e tentativas tal-vez sejam lógicos para o homem pen-sante, no entanto não dão nenhumaresposta à questão de saber de fatoquem é o homem e como ele pode al-cançar o objetivo espiritual de sua vi-da. A humanidade, afinal, não está in-teressada seriamente nas soluções prá-ticas que dizem respeito aos detalhesda existência. Somente o conhecimen-

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A nova força magnética não é deste mundo

Não apresenteis nossa Fama Fraternitatis (o Cha-mado da Fraternidade Rosacruz) com uma largaostentação de palavras, nem com bombardeio deidéias, mas fazei-o com a maior simplicidade e des-pretensão. [...] Cuidai para que vossas explanaçõesnão sejam causa de embaraço, deixai que todos selancem nos braços abertos da Fraternidade.Que é a Fraternidade? É diferente do que podeisimaginar, ou do que possais ter ouvido a respeito. AFraternidade é a unidade dos bem intencionados, acomunhão dos filhos de Deus. Todos aqueles que,com a rosa do coração aberta entrarem no novocampo de radiação manifestado, são ligados à cor-rente da Fraternidade. A força desse elo é determi-nada por nós mesmos, pelo nosso próprio estado deser, e ninguém, a não ser vós mesmos, será capaz deimpedir vossa adoção pela Fraternidade. [...] Comodissemos, a nova força eletromagnética que penetrano mundo não pode ser explicada pelos padrões des-ta natureza. Esse fluido da nova vida começa a in-filtrar-se no sistema de vida humano a partir do mo-mento em que o homem abre-lhe seu ser de formaapropriada, e se o número daqueles que agem damesma forma crescer, ele se expandirá qual grandetorrente. As leis cósmicas explicam essa atividade eassim forma-se uma nova atmosfera, que em dadomomento envolve toda a terra e nela penetra. [...]Os membros da Fraternidade Universal da Rosa-cruz Áurea amam profundamente a humanidade.A Fraternidade deseja servir, sem exceção, a todosque o desejem. Ela não distribui iniciações, nemconcede privilégios especiais a pessoas destacadas.Ela não faz distinções, mantendo-se na mais totalobjetividade, sem discriminação de raças ou povos,independentemente de perturbações políticas,sociais e econômicas, isto porque a Fraternidade, emseu serviço à humanidade, não se interessa por estaordem mundial dialética. Consagra-se, isto sim, àpátria original do gênero humano, o reino imutá-vel, o Reino que não é deste mundo. A Frater-nidade consagra-se – dizemo-lo enfaticamente eem toda a sua acepção – ao reino de Cristo.(Um Novo Chamado, proclamado por J. van Rijckenborghem Wiesbaden em 1952.)

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to da própria essência da vida desper-ta interesse e reaproxima as pessoas daverdadeira finalidade da existência: oconhecimento do plano de Deus.

Verdade pessoal ou verdade interior?

Aquele que consegue se libertar doscritérios e princípios estabelecidos étocado por uma Força que vai lhe per-mitir encontrar a verdade última. Eleprecisa estar preparado para ter res-ponsabilidade total sobre sua vida,sem depender de nenhuma forma deautoridade convencional ou religiosa.Muitas pessoas estão mais ou menosconscientes da idéia de que suas vidasdevem servir a um objetivo superior.

Não para “morrer por sua pátria”, massim para permitir o crescimento, den-tro de si, de um ser diferente – de umser espiritual que está isolado de todasas discussões e debates cotidianos.Elas buscam, sem saber exatamente oque, e rejeitam toda intervenção emsua vida interior. Por causa disso, elasdificilmente aceitam deixar-se guiarpor qualquer sistema filosófico, ideo-lógico ou religioso. Em sua desilusão,elas se voltam e se põem a buscar den-tro de si se por acaso não estaria aíescondida a chave da eternidade. Apartir desse momento, sua busca daverdade se transforma pouco a poucoem uma pesquisa de sua verdadeiraidentidade.

Mas quantos, depois de terem se li-

Respondendo ao

chamado das sete

trombetas de Deus,

o arco da nova

aliança deixa o caos

da vida humana.

Ilustração

Pentagrama.

bertado dos sistemas e estruturas exte-riores, voltam-se para o desenvolvi-mento do princípio divino que sentemdentro de si, apesar de continuaremvagando em busca da verdade fora desi? Seu anseio por imortalidade liga-sea realidades exteriores que parecem tero brilho de uma “eternidade temporal”,como as estrelas do cinema, da televi-são, da música popular, ou do esporte,ou até mesmo as gloriosas figuras dopassado. É a mesma coisa: estão semprebuscando a verdade fora de si mesmos.

O vazio interior estimula a busca

As capacidades da nova alma in-conscientemente percebidas comoonipresença e imortalidade, levam opesquisador a aperfeiçoar seu antigo

ser. Ele faz uso de técnicas modernasque lhe dão tão facilmente a ilusão dealcançar essa perfeição. Ora, a verda-deira e completa realização jamais sur-girá nesse caminho, nem tampouco oapaziguamento do eu. Somente surgi-rá uma identidade feita de pedaços efragmentos, desprovida de fundamen-to, sem uma direção clara. Apesar detudo, o fato de vivenciar tantas vezes ovazio interior pode estimular o pes-quisador a procurar e fazer com queele penetre no mais profundo de seuser para aí descobrir de onde vem essatendência eterna para a busca.

Quem reage dessa maneira con-quista a capacidade de se libertar inte-riormente dos falsos valores vigentes.Ele penetra seu verdadeiro ser, quenenhum modelo cultural jamais pode-

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PERGUNTA: Como vocês explicam o fenômeno da “morte”?RESPOSTA: Não há morte. Pense na mônada. É ela outra coisa senão um conjunto de áto-mos viventes ordenados pelo Espírito de Deus mesmo? O átomo é a vida; a mônada, umaconcentração de vida inflamada pelo Espírito de Deus. Essa vida inflamada, de elementosreunidos e cooperantes, com um objetivo único, emana de uma Idéia, de um plano que serealiza por uma irradiação, por uma multiplicidade de forças de Luz. A irradiação queemana da mônada, a irradiação que designamos como a Alma-Espírito, criou no seucampo magnético, no momento apropriado, uma imagem da Idéia. Essa imagem não éoutra coisa que um ajuntamento, uma combinação de átomos viventes, cuja reunião deveexprimir a imagem, a intenção da Idéia. Eles formam, portanto, a encarnação da Idéia.A ideação aí derramada anima essa encarnação. Tudo se passa como se, entre a ideação e aencarnação, a Luz mantivesse a animação. Decorre daí que a encarnação, a imagem daIdéia vivente, deva ser o instrumento destinado a exprimir a Idéia, a confirmá-la. O corponascido da natureza é, portanto, sempre, o que quer que ele seja, Deus manifestado nacarne. Pois, detrás dessa prodigiosa atividade do microcosmo, encontra-se sempre o Espírito de Deus [...] Hermes Trismegisto declara que não há morte, que não poderia haveralgo como a morte, pois cada átomo é e permanece um princípio vivente. A força de umátomo pode enfraquecer, mas ela é sempre revivificada, recarregada pela energia fundamen-tal divina. A morte é corrupção, e a corrupção, aniquilamento; portanto, um tal processoestá absolutamente excluído na manifestação universal, sublinha Hermes energicamente.O que ocorre regularmente e que causa enganos, o que se chama de morte, é a dissoluçãodos corpos compostos. Eles são dissolvidos porque devem reviver, renovar-se. Não hásenão um incessante movimento em todo o universo, uma só progressão eternal de todasas coisas.(Segundo J. van Rijckenborgh, A arquignosis egípcia, v.4, São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1991.)

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rá estruturar. Ele descobre que nem asciências e as artes, nem a teologia e asideologias, nem os conceitos e princí-pios estabelecidos, nem uma boasaúde ou a qualidade de vida lhederam aquilo que ele está buscandointeriormente. Somente uma fé volta-da para o florescimento de sua verda-deira identidade pode apaziguar suaelevada aspiração.

Uma enorme quantidade de forçasconfusas, ambições, convicções easpirações preocupam o homem. Elassão alimentadas por diversas e infini-tas manifestações da criação e estãoligadas a experiências acumuladas nomicrocosmo. Muitos perdem o rumoem meio a esta multiplicidade. Cor-rendo atrás de sua verdadeira identi-dade, correndo atrás da verdade, cor-rem para fora de si mesmos: deixam-se guiar por pretensas autoridadesespirituais. Analisando bem, sua bus-ca é vã. Será que nada é capaz de ali-mentar e preencher seus coraçõesvazios de valores duradouros? Deonde vem essa fome, essa sede do ina-tingível? Por que não podemos saciá-las? Onde está o erro?

As propostas de valor temporário

Nenhuma felicidade terrena substi-tui a felicidade celeste. Nenhuma fécura a chaga eterna que existe nas pro-fundezas do ser interior. Somente po-deremos curar a nós mesmos abrindocaminho para o processo da verdadei-ra cura. Jesus diz: Meu reino não édeste mundo. O que é essencial no serhumano, o que foi depositado no co-ração do ser, em nome de Deus, pode,sem dúvida, ser temporariamente imi-tado, mas essa imitação não consegui-ria durar, pois nada nela é autêntico.As propostas a partir das quais o eu seexpressa também não têm mais do

O cristianismo rosacruz

Importantes influências provêm do veículo etéricodas grandes entidades. Assim emana do corpo eté-rico de Cristão Rosacruz uma poderosa força queage sobre as almas e os espíritos. É nosso deverreconhecer essas forças. E as invocaremos, assimcomo invocaremos a Rosacruz. [...] Quanto menorfor a fé nas autoridades vigentes, mais haverá acompreensão de Cristão Rosacruz. Se realmentepenetrarmos em seu ser, nós o reconheceremos enos tornaremos conscientes de que o espírito deCristão Rosacruz existirá eternamente. E quantomais nos voltarmos para esse espírito, maior será aforça que afluirá sobre nós. [...] Compreenderemostambém o extraordinário fenômeno da enfermida-de de Cristão Rosacruz se trabalharmos e nosaprofundarmos realmente na ciência espiritual. Foino século XIII que esta individualidade viveu emseu corpo físico, que se enfraqueceu até tornar-sequase transparente, de tal modo que ele ficou algunsdias como morto, enquanto, durante esse tempo,recebia a sabedoria dos Doze e revivia o aconteci-mento que se produziu perto de Damasco. [...]Tudo que os diversos movimentos religiosos pode-riam oferecer foi trazido por Cristão Rosacruz e ocolegiado dos Doze. Em algumas semanas, CristãoRosacruz trouxe toda a sabedoria que recebeu dosDoze, mas sob uma forma completamente nova.Essa forma era a mesma que o próprio Cristo ofer-tou. E tudo o que ele revelou, os Doze chamaramde verdadeiro cristianismo e de síntese de todas asreligiões.A ação foi tal que aquilo que cada uma das religiõeslhe transmitira, o objetivo ao qual aspiravam e semantinham fiéis, podia ser encontrado no impulsocrístico. Tal será o desenvolvimento dos três milanos que estão para vir: a propagação e a amplia-ção da compreensão deste impulso crístico. A partirdo século XX, todas as religiões se unificarão nosmistérios da Rosacruz. E isso será possível noperíodo que virá porque já não parecerá necessárioque a humanidade seja instruída por meio de tex-tos. Pela visão do corpo etérico de Cristo ela com-preenderá a visão de Paulo perto de Damasco.(Texto extraído das duas conferências de Rudolf Steiner pronunciadasem 27 e 28 de setembro de 1911 em Neuchâtel, Suíça.)

que um valor temporário e não liber-tam da morte nem a humanidade ter-rena nem a humanidade do além. Elassão incapazes de elevar a alma até oBem Único porque são uma misturade bem e mal humanos. A sementedivina do coração não é libertada dessaforma. A morte continuamente seguea vida e vice-versa: não saímos do cír-culo vicioso dos nascimentos e mortessucessivos.

Que crença religiosa estaria emcondição de libertar a força que estáno centro do microcosmo? Como en-carar uma religião desse tipo? Quaisseriam suas características? Ela deveriaser alicerçada naquilo que há de maisprofundo no coração, ter nascidodisso, e não provir do eu, mas sim dopróprio princípio crístico. Unicamen-

te servindo a Deus dessa maneira épossível restabelecer o microcosmo,libertar a alma prisioneira, religar anova alma ao Espírito, e assim a perso-nalidade poderá cumprir sua verda-deira vocação na criação.

Manifestação do homem-deus

Inúmeras personalidades já habita-ram no microcosmo. Nele, elas deixa-ram seus traços e formaram a persona-lidade que se volta para a eternidade.A sabedoria universal mostra que ohomem não vive para libertar seu eu,mas sim para preparar sua alma para seelevar na Luz. Não se trata, portanto,de uma fé imposta, mas sim de umprocesso de mutação interior, de umatransmutação tão radical que tudo oque já está presente coloca-se a serviçodaquilo que logo vai nascer: um prin-cípio constituído e alimentado pelaeternidade. Não se trata, aqui, de umdesenvolvimento superior do homemterrestre, de sua personalidade. O ob-jetivo de uma religião como essa é amanifestação do homem-deus em simesmo – um completo processo derenovação ao qual o homem terrestredeve se entregar totalmente de plenavontade.

No decorrer desse processo, a cons-ciência purificada de seu egocentrismoainda tem uma tarefa a cumprir: asforças que são liberadas na nova almalevam essa consciência ao seu pontomais baixo onde ela se prepara para seentregar à nova consciência. O “desa-parecimento” da antiga consciênciapermite o surgimento da nova: umaconsciência cuja autoridade própria érestaurada, uma consciência que viveda eternidade, uma consciência inte-grada à oniconsciência.

A religião que tem isto em vista fazcrescer em seus adeptos o grande de-

PERGUNTA: Fala-se hoje em dia de Gnosis, degnosticismo, de doutrina gnóstica. A cada umade minhas perguntas sobre esse assunto as res-postas foram diferentes. O que é a Gnosis exata-mente?RESPOSTA: Há de fato muitas interpretações da pa-lavra “gnosis”. Na antiga filosofia, como transmiti-da pela Rosacruz Áurea, a Gnosis é o alento deDeus, o Logos, a Fonte de todas as coisas. É a forçauniversal que se manifesta enquanto Espírito,Amor, Luz, Força e Sabedoria. A Gnosis é tambémo “saber do coração”, e por extensão, “o viventeconhecimento de Deus”, e pertence àquele que,pelo renascimento de sua alma, obtém uma novaconsciência. A Gnosis apresenta muitos aspectos eefeitos que intervêm em certas situações. Podemoscomparar a Gnosis com a força que faz brilhar osol, mas também com as radiações de uma infinitadiversidade que provêm do sol – pense nos raiosalfa, beta, gama, roentgen, no calor, nos sons, nascores que compõem a luz branca – radiações envia-das a todas as criaturas do sistema solar, que as ali-mentam e mantêm seus processos vitais. A Gnosisopera de maneira específica com todas as criaturas,ainda que nem todas estejam conscientes.

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sejo de realizar este caminho. Mas épreciso que eles o sigam pessoalmenteem suas vidas concretas de todos osdias. Cada um deve aprender a abrireste caminho dentro de si. E não podefazer de outra forma senão abrindoseu próprio caminho com a ajuda dasforças da nova alma. Dessa forma, averdade, a verdade interior, torna-seviva dentro dele.

“A verdade vos libertará...”

Trata-se do caminho do cristianis-mo interior, o cristianismo original –senda liberada pela Gnosis de todos ostempos, para dar a todos os homensuma nova oportunidade de segui-la. Averdade vos libertará (João, 8:32). Esteé o fio condutor espiritual para a hu-manidade do século XXI.

Poderá esse processo reunificar omundo despedaçado? Oferecerá essareligião ao pesquisador todos os con-ceitos e valores necessários para isso?Cada pessoa, em sua vida diária, devebuscar o centro fundamental de seuser que ela ainda não consegue perce-ber. O centro interior é a própria es-sência de sua vida. Esse princípio cen-tral é a Gnosis. Em sua busca peloBem Único, pelo Bem Absoluto, obuscador renuncia progressivamente àverdade concebida por sua inteligênciabaseada no mundo material. As coisasexteriores cada vez menos lhe dizemrespeito. Ele logo descobre que aGnosis suprime todos os conflitos in-ternos e externos a partir do momen-to em que ousa confiar-lhe a direçãode sua vida. Ele se vê mudando, assimcomo seus semelhantes. Desacordos emal-entendidos cedem à compreensão.Sentimentos de solidão e de alienaçãoperdem seu significado ao passo que aantiga consciência vai desaparecendo.

A vida comum torna-se uma escola

de aprendizagem, um auxílio e umaponte. Muitas coisas são esclarecidas etomam seu lugar na criação. E dessacompreensão que se renova a cada dia,desenvolve-se a consciência clara detodos os aspectos da vida. A unidadedo homem e do mundo é vivenciadapouco a pouco, o egoísmo e a igno-rância perdem terreno. E como secomporta alguém que já não aspira agrande conforto, que já não reage àspessoas que o agridem, que rompe ocírculo vicioso da hostilidade e consi-dera todos os seres como seus irmãose irmãs? Assim, como acabamos dedizer! A verdadeira religião – ou seja,a ligação com a origem divina – mudaos pensamentos, os sentimentos, avontade e as ações.

Finalmente, uma maneira de vivermuito diferente decorre da ligaçãocom o Espírito divino, que faz surgirum novo conhecimento, uma novasabedoria e uma nova ciência. E assima terra, alimentadora espiritual da hu-manidade, torna-se apta para elevá-la aum plano superior. As indagações dotipo “Quem sou eu, enquanto ser hu-mano? O que devo fazer para corres-ponder à imagem do homem origi-nal?” exigem respostas exatas e claras.

Em 1825 os

irmãos Weber

fizeram uma

experiência com

um recipiente de

mercúrio.

Deixando cair

gotas de mercúrio

bem lentamente,

eles obtiveram a

magnífica imagem

de um padrão de

ondas que não se

produz apenas no

mercúrio, na

água, no ar, no

som e na luz,

mas também no

carma.

Teólogos, filósofos e cientistas se de-bruçam há séculos sobre a questão desaber de onde provém a “vida” e qualé sua finalidade. Novas técnicas de in-vestigação permitem desenvolver teo-rias de evolução que não acabammais. Tecnicamente, trata-se de umjogo de azar, uma loteria genética,produzindo toda espécie de vida, maisou menos resistentes.

empre se pergunta o que veio pri-meiro, o ovo ou a galinha. Estariam osorganismos unicelulares na origemdas complexas formas de vida que ho-je povoam a terra? Começaram ospeixes a rastejar em terra firme para setornarem animais terrestres? A evolu-ção dá saltos ou é progressiva? O“animal dotado de razão”, segundo aexpressão de Hermes Trismegisto, é ofruto de um desenvolvimento lógicoou de uma mutação fisiológica? Ahumanidade opera coletivamente pa-ra sua evolução e isso incontestavel-mente graças ao progresso da genéticaque intervém aqui e acolá. A evoluçãobiológica faz progredir a autocons-ciência, de tal modo que o homemchega a poder pesquisar sua própriaorigem, e esforça-se por alcançar oaperfeiçoamento de sua natureza bio-lógica. Do ponto de vista da sabedoriauniversal, a evolução é, na realidade,uma involução, uma descida na maté-ria e uma densificação das formas devida. A seguir, a evolução também seencontra relacionada com um proces-so de espiritualização, levando a umabandono da forma.

Quando a involução do homembiológico chega a seu termo, a evolu-ção do homem espiritual pode come-çar. Esta não comporta um desenvol-vimento e um aperfeiçoamento doplano biológico, mas consiste nalibertação e recriação do homem divi-no que soçobrou no homem biológi-co. O anseio por alcançar esse novoestado levou a humanidade a desco-brir uma nova visão e outros concei-tos, tais como a evolução e a involu-ção. A involução, a descida na maté-ria, tem um limite preciso: quando ohomem biológico se torna completo,ele deve servir de base ao renascimen-to do homem-espírito dentro de simesmo. Ele deve, portanto, dar ori-gem a um desenvolvimento superior,de ordem espiritual, correspondente àevolução.

A alma, intermediária entre o Espírito e a matéria

O coração humano contém oponto de interseção de dois mundos,o ponto de contato do terrestre e dodivino. A finalidade da involução é aconstrução de um ser no qual podemcolaborar os dois planos. Eis por queo homem foi criado com a faculdadede conhecer e de refletir. É precisoque ele aprenda a compreender Deusantes de se entregar a Ele. Essa facul-dade é o instrumento que permite aohomem harmonizar-se às leis doprocesso.

Quais são as condições de evoluçãoespiritual necessárias para o plano di-vino? Todos os universos visíveis pas-

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Em que direção o homem evolui?

S

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sam antes por processos de cresci-mento invisíveis. A germinação do di-vino é reativada e levada a termo gra-ças a um instrumentário adaptado,constituído de forças e de materiaisnecessários à manifestação do Espí-rito de Deus. A alma é o instrumentoque serve de intermediário entre oEspírito e a matéria.

A plenitude da criatura humanaexige a presença de um princípio viá-vel do qual pode renascer natural-

mente a alma, como na metamorfoseda lagarta em borboleta. Somente essanova alma pode se harmonizar com odivino, se religar a ele, assimilar etransformar as forças e as inspiraçõesque são derramadas. Esse princípio-alma é o portador de Luz, e a perso-nalidade purificada e curada é a porta-dora da alma. Ao mesmo tempo emque o homem retorna a seu Criador, aalma leva progressivamente à mani-festação a imagem divina original que

O ser humano

é como O infeliz

inventor de

Georges Grosz

(1919); ele cria

para si um

mundo que lhe

traz eternas

interrogações.

lhe é transmitida. Eis o que é a evoluçãoespiritual.

Cada átomo encerra um universo

Cada entidade evolui segundo umplano. Esse plano do vir-a-ser indivi-dual constitui o núcleo fundamentaldo microcosmo, a partir do qual aalma é alimentada, guiada e se desen-volve até se tornar perfeita “comonosso Pai no céu é perfeito”. A alma ea personalidade originais, guiadas pe-lo Espírito de Deus, constituem jun-tas o homem na sua perfeição. Oátomo-centelha do Espírito encerradono coração do homem terreno corres-ponde ao núcleo fundamental do mi-crocosmo. É um átomo que, comotodos os átomos, encerra um universoe se compõe dos mesmos elementos edas mesmas forças do macrocosmo.

O homem terreno, tal como existehoje, não é o homem original que fazparte do plano divino. Como acabou

de ser dito, o homem criado à imageme semelhança de Deus é o homem ori-ginal, e não o homem terreno. O pri-meiro é imortal, é amor infinito e per-feito. O segundo não participa de ne-nhum desses dois aspectos. Ele é umacriatura da natureza, bastante próxi-ma do animal e dispõe de uma cons-ciência biológica restrita. Suas facul-dades desenvolveram-se no decorrerde sua evolução biológica até torná-locapaz de um dia reconhecer seu Cria-dor e seu próprio lugar na Criação. Sóo fato de ser dotado de razão o colo-ca acima do animal. Esse entendimen-to que recebeu dá-lhe o discernimen-to, a faculdade de analisar suas expe-riências, de desenvolver seu pensa-mento e sua argumentação.

A missão do homem é executar oplano de Deus no interior de si mes-mo e para os outros, isto é, de deixarflorescer o homem interior original.Porém, por causa de sua ignorânciado assunto, ele considera o eu como oalvo supremo. Ele o infla, o amplifica

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O ABC da alma

e do corpo.

Rabarama, Pádua,

Itália. Foto

Pentagrama.

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e o protege. O eu é muito atraído pelamatéria do qual ele é, aliás, em suaforma atual, um produto. É por essemotivo que o homem permanece,tanto individual como coletivamente,pleno de egocentrismo, e a distânciacresce entre ele e a onipresença. Eledeve aprender a abandonar o egocen-trismo, que é a soma de seu desenvol-vimento biológico, e que o aprisiona,a fim de dar lugar à nova alma, que oelevará a um plano superior. Para po-der realizar isso, é necessário que ele:

• veja que sua alma é prisioneira doeu, e que o desejo de libertaçãonão emana do eu, porém, da alma;

• descubra no interior de si mesmo afonte da Graça, e a liberte;

• que a deixe agir, correndo às vezeso risco de estar em contradiçãocom os próprios pensamentos eidéias. Ele deve aprender a seentregar em total confiança e amorà realidade purificadora e renova-dora;

• conduza sua vida de modo que aenergia divina socorredora encon-tre a menor resistência possível;

• colabore cheio de alegria nessegrande trabalho de libertação combase unicamente em suas novascapacidades espirituais.

Uma escola espiritual fidedigna de-ve acompanhar e sustentar esses pro-cessos. E quando a nova alma nasce,ela desabrocha como uma rosa na luzespiritual que a acalenta.

Conceitos como involução e evo-lução são muitas vezes confundi-dos. A sabedoria universal fazuma nítida distinção entre os dois.A involução representa a descidado núcleo espiritual em planoscada vez mais densos. Na filosofiaindiana, um texto diz queBrahma tomou um punhado deestrelas e as jogou na matéria. Seugesto inaugurou a involução, aintegração na matéria. As estrelassoçobraram nesses planos e envol-veram-se com uma veste dura.Quando a sabedoria universalfala de evolução, ela tem em vistao processo pelo qual a consciência– adquirida no decorrer da invo-lução – devota-se a guiar a perso-nalidade, o sistema biológico,para levá-la à nova consciência, aconsciência-alma. Neste sentido, aevolução é uma extração parafora da matéria. Porém, tendo emvista que isso não é muito mensu-rável por meios científicos, a exis-tência desse processo continua malconhecida, e a ciência oficial sóleva adiante suas pesquisas noplano de desenvolvimento dasformas de vida visíveis na super-fície da terra.

PERGUNTA: Qual é a diferença entre trans-mutação e transfiguração?RESPOSTA: A transmutação é o processo que permite à quádrupla personalidade tornar-seapta a tomar parte no processo da transfigura-ção. Desde muitos séculos, houve numerosossistemas que visavam desenvolver a personali-dade, pelo menos em parte. Esses sistemaseram necessários para o crescimento da perso-nalidade. Porém, atualmente a humanidadedeve renunciar a essa personalidade em favorda alma divina. Não para substituir algumaspartes, mas para entregar-se inteiramente, paradar lugar a uma personalidade transfigurada,dotada de uma nova consciência e de novascapacidades. Isso é a transfiguração: a elevaçãoprogressiva na vida da Alma-Espírito – portan-to, uma mudança completa.

Apreender algum brilho daRealidade

O pesquisador bem que gostariaagora de ter uma imagem da nova al-ma. É claro. Mas ele percebe rapida-mente que seu entendimento comum,sua consciência e suas faculdades ha-bituais não podem lhe trazer nenhumauxílio. Sua imaginação limitada nãotem condições de conceber a nova eilimitada alma. O coração aberto sen-te algo dela, o mental purificado podeapreender algum brilho dela, porém,para ele, é impossível ter dela umaidéia perfeita porque a nova alma estáfora das leis terrenas. Essa concepçãomental é pouco a pouco vivificada,sua influência cresce, e desse modo aimagem vai se tornando mais precisa.Os antigos alquimistas diziam: “épreciso começar com o ouro para en-contrar ouro”. Quando, no início,não há ouro, não há nenhuma afinida-de nem ligação com a meta almejada.

À medida que a alma desperta ecresce, é produzida uma impressão,uma imagem imprecisa. Impercepti-velmente ela vai ficando mais nítida,desde que a personalidade funcionecomo um instrumento adequado, poiso processo de transmutação da almarequer uma consciência esclarecidaque lhe sirva de sustentáculo. A cons-ciência crescente é função da com-preensão, e é preciso compreenderque tudo se assenta sobre o amor, oamor da nova alma. Sem esse amor, ocrescimento da alma é impossível.

A alma, portanto, se descerra. A cons-ciência desempenha seu papel, o obje-tivo ganha precisão. O velho homempode agora, na Luz, abandonar suasidéias fixas e vetustas. Quando a novaalma revelou-se totalmente, já nenhu-ma imagem mental é necessária. Acausa e o conteúdo tornaram-se unos.

A Luz não conhece fragmentação

É preciso dizer que a alma não éuma abstração, é um ser vivo nascidodo ígneo átomo-centelha do Espírito.Ela é Deus, nascida de Deus. Na lin-guagem sagrada, Deus é Luz. A luznão conhece fronteiras, é livre. Elanão conhece separatividade. A cons-ciência una da luz percebe a essênciade todas as criaturas como luz e, por-tanto, se reconhece na infinidade degradações com as quais se apresentana criação, desde a manifestação maisbruxuleante até a mais fulgurante.

A Luz não é sujeita ao tempo. Anova alma, a alma de luz, não busca aeternidade no tempo. Ela possui aliberdade profunda que ultrapassa to-do entendimento. Mas antes de tudo,ela é amor. Não o amor conhecidopelo homem terreno. Ela é Amor. Odécimo terceiro capítulo da PrimeiraCarta de Paulo aos Coríntios nãodeixa subsistir nenhuma dúvidaquanto a isso.

Tudo o que acabamos de dizer arespeito da nova alma é somente umapista, uma indicação. Mas aquele quejá compreendeu isso compreende aalma, pois o despertar da centelha doEspírito dá início à consciência da al-ma original. E esse primeiro passo tãoimportante sobre a senda da evoluçãoespiritual é uma experiência vivida.

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Nove vezes é dito “Bem-aventurados…”

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É preciso que não se vulgarize asbem-aventuranças. De fato, conformediz Ouspensky, os Evangelhos emgeral – e o Sermão do Monte em par-ticular – não foram escritos para o ho-mem da massa, mas para os partici-pantes de um círculo interior cons-ciente. Com justa razão podemos for-mular a pergunta: pode a Bíblia ouum outro livro santo, conter algumacoisa destinada àqueles que vivem noplano dialético? A palavra do Senhor,livre de qualquer mácula e intromis-sões teológicas, é destinada àquelesque podem ver e ouvir, e que se en-contram em determinado estado deaspiração interior.(Extraído do pequeno livro O misté-rio das bem-aventuranças, contendouma série de alocuções feitas na clan-destinidade em templos escondidospor J. van Rijckenborgh durante aSegunda Guerra Mundial, e publica-do em 1946.)

s bem-aventuranças do Sermão doMonte descrevem o caminho queconduz ao nascimento e ao desabro-char da nova alma. A condição denova alma nasce e cresce a partir dogerme do novo homem-alma deposi-tado no homem e não pode ser pro-vocada por pressões morais. Quandoesse germe desperta, nasce no homemuma inquietante nostalgia por umanova vida, o estado de nova alma. Apartir dessa nostalgia delineia-se es-

pontaneamente um caminho espiri-tual. Por esse motivo, diz a primeirabem-aventurança de modo sintomáti-co: Bem-aventurados os pobres emespírito…

A segunda bem-aventurança mos-tra que a condição de nova alma dife-re radicalmente da condição de ho-mem-eu na qual ela padece submetidaao estado do ego do indivíduo e dahumanidade. Mas, é só agora que,desse padecimento, nasce o desejo desalvação, o anelo pela concretizaçãode um novo estado de alma. Bem-aventurados os que choram…

Desse estado resulta a disposiçãopara acabar com todos os interesses esofrimentos do homem-eu. À medidaque a nova alma se desenvolve, surgea mansidão: o libertar-se de agres-sões, cobiça e crítica. Bem-aventura-dos os mansos… Daí tem origem umanova ordem de vida, a justiça da novaalma. Bem-aventurados os que têmfome e sede de justiça. Quem segue oprocesso de renovação se livra damentira e da vingança. Surge tambémuma nova atitude em relação aohomem e ao mundo, uma atitude decompreensão e de amor, de perdão eproteção. Bem-aventurados os mise-ricordiosos…

Todos esses atributos juntos assina-lam o “coração puro”. Bem-aventu-rados os puros de coração. O homemde coração puro se torna conscienteda ordem do mundo espiritual. Ele“vê a Deus”. Isto significa que a nova

A

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alma tornou-se adulta. A propósito,todos os atributos da nova alma estãopresentes simultaneamente: primeiro,em estado embrionário; depois nas-cem, crescem e amadurecem. Não écomo um “equipamento moral” emque cada atributo moral deve ser de-senvolvido em separado. Não – quan-do um atributo da nova alma está pre-sente, todos os demais também estão.Quando há tranqüilidade, também háentendimento; havendo entendimen-to também há amor; havendo amortambém há conhecimento; havendoconhecimento, também a alegria sefaz presente, pois a nova alma é frutode um mundo não terreno, completa-

mente diferente. Ela vive a partir dasforças da ordem de natureza divina.Nesse fruto, todos os atributos exis-tem simultaneamente, seja num esta-do de maior ou de menor desenvolvi-mento.

O amor deve ser compartilhado

Porém, quando a alma alcança amaturidade pode contemplar a Deus.O Espírito desce e faz nascer a pazque supera toda razão. Alimentadapelo Espírito, ela restabelece a paz.Ela se tornou um “Filho de Deus”consciente, uma Alma-Espírito. Porisso, diz a sétima bem-aventurança:

A volta do Filho

pródigo. Desenho a

pena e pincel, de

Rembrandt

(1606-1669),

Teylers Museum,

Haarlem, Holanda.

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Bem-aventurados os pacificadores,pois serão chamados Filhos de Deus.

A oitava e a nona Bem-aventuran-ças retratam um pacificador comoesse no mundo. Ele é perseguido edifamado porque o homem-eu nãoconsegue compreendê-lo. Deveria aalma, apesar disso, reagir de outraforma senão com tranqüilidade,compreensão, amor, alegria e conhe-cimento do bem e do mal? Como osol, ela não pode fazer outra coisasenão brilhar e propagar luz e ener-gia. Esta é sua característica essencial.O amor precisa compartilhar, poisesta é a razão de sua existência.Porém, assim que, do íntimo, expres-sa paz e dela dá testemunho, ele pro-voca a oposição em todos os que nãoadmitem a natureza de Deus. Jesusdiz: Não vim para trazer a paz, masa espada. Essa espada toca o homemno fundo do coração e ali separa luze treva. Isso ocorre primeiro no indi-víduo que procura pela luz e, emsegundo lugar, em toda a humanida-de que deve reagir ao impulso da luzdivina. As Bem-aventuranças, noentanto, finalizam com as palavrasde consolação: Regozijai-vos e exul-tai, porque é grande o vosso galardãonos céus.

As Bem-aventuranças

Vendo Jesus as multidões, subiuao monte, e como se assentasse,aproximaram-se os seus discípu-los; e ele passou a ensiná-los,dizendo:Bem-aventurados os pobres emespírito, porque deles é o reinodos céus.Bem-aventurados os que cho-ram, porque serão consolados.Bem-aventurados os mansos,porque herdarão a terra.Bem-aventurados os que têmfome e sede de justiça, porqueserão fartos.Bem-aventurados os misericor-diosos, porque alcançarão mise-ricórdia.Bem-aventurados os puros decoração, porque verão a Deus.Bem-aventurados os pacificado-res, porque serão chamadosfilhos de Deus.Bem-aventurados os persegui-dos por causa da justiça, porquedeles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando,por minha causa, vos injuriareme vos perseguirem e, mentindo,disserem todo mal contra vós.Regozijai-vos e exultai, porqueé grande o vosso galardão noscéus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antesde vós.

(Mateus 5, 1-12)

REGOZIJAI-VOS E EXULTAI,

PORQUE É GRANDE O

VOSSO GALARDÃO NOS CÉUS.

Em todos os tempos, a montanha foi osímbolo da esfera sublime do Espírito.Quando Jesus se dirige a seus discípu-los no alto da “montanha” ele fala,evidentemente, como mestre espiri-tual, e o que ele explica é de ordemespiritual. Ele fala da nova alma, daalma espiritual, como ela vive e comoopera.

alma espiritual tem meios de ex-pressão completamente diferentes dosda alma natural com seus estereótiposmentais, sentimentais e intencionais.Ela está presente em cada ser, em esta-do de semente, e quando as pessoas seabrem a ela podem perceber seu signi-ficado. Partindo deste princípio, Jesusfaz a descrição da nova alma a seusdiscípulos. Ele próprio chegou à suarealização: ele é a nova alma e seusdiscípulos aspiram a esse estado. Jesusdescreve as propriedades que a carac-terizam com a finalidade de desenvol-ver a consciência que eles podem ter apartir dela. Como Mestre, ele descer-ra um campo de força dentro do quala energia é tão grande que traz aosdiscípulos um poderoso auxílio noprocesso do nascimento da novaalma.

Velha alma e nova alma

Logo de início, Jesus fala com pre-cisão dizendo que as qualidades danova alma não são absolutamente vir-tudes morais conquistada a partir deuma luta árdua. A nova alma nãodepende, para sua realização, de uma

moral rigorosa. Semelhante condiçãosomente teria como resultado umcomportamento imposto a partir doexterior: “Faça isto! Faça aquilo!” Osimperativos são indispensáveis para apreservação da vida em sociedade epara o desenvolvimento de nossa per-sonalidade, mas de nada servem parao crescimento da nova alma. Chegaum momento em que as normas im-postas do exterior se apagam diantedos valores interiores que procedemdeste novo estado de alma descrito noSermão da Montanha. O ser autênti-co, a essência do homem, agora surgena superfície, cresce e desabrocha. Anova alma não é uma versão melhora-da da velha alma; é uma entidade in-teiramente nova que somente podenascer da semente divina depositadana velha alma. Para ilustrar este fato,Jesus opõe o “Faça isto!” da velha leiao “eu vos digo” da nova alma em queele se tornou.

As propriedades da nova alma

O velho homem, o homem terreno,procura sufocar sua agressividadenatural. Não matarás, diz a lei deMoisés. Aquele que traz em si a novaalma vivente ignora a agressividade.Ele permanece em perfeita calma: asúnicas energias que podem emocioná-lo são as que emanam da naturezadivina. Como poderia aquele que cru-cificou seu interesse pessoal ser susce-tível à mínima maldade? Ele se man-tém nas correntes de força divina uni-versal e se torna uno com elas, comoos raios que fazem parte do sol.

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O sermão da montanha descreve

a vida da nova alma

A

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O velho homem tenta reprimirsuas paixões e desejos. Não cometerásadultério. A nova alma não cobiça osbens de ninguém: ela é isenta dessastendências. A seus olhos, o outro nãoé um objeto, mas sempre um sujeito.Ela aspira a colaborar com as forçasda natureza divina, a realizar o reinodivino dentro dela mesma e para osoutros.

O velho homem se esforça para serleal em palavras e ações. Não darásfalso testemunho. O novo homem nãose preocupa com a lealdade, nem emjurar para provar sua retidão. Ele nãoprecisa jurar sobre absolutamentenada. Suas palavras e seus atos decor-rem de sua submissão às leis da natu-reza divina. Ele se atém à Verdade, eele é a própria Verdade.

Dar nome às coisas

O velho homem, o homem-eu, vivede acordo com o princípio do olhopor olho e dente por dente. Ele acredi-ta que este princípio que pertence aomundo terrestre é legítimo. Mas onovo homem ignora a idéia de repre-sálias. Se ele devolvesse o mal com omal, não estaria na esteira das corren-tes divinas… e, conseqüentemente,não seria um novo homem. Vamossupor que um homem esteja incomo-dado com o ardor dos raios do sol.Iriam esses raios queimá-lo mais for-temente ainda para puní-lo, ou deixa-riam de atormentá-lo? Quem ignora avingança, quem não a exerce, não éescravo da hipocrisia. Ele deve poderfalar abertamente, dar nome às coisas

quando isso for preciso. Como fezJesus diante do sumo sacerdote Anás(João 18:22-24), ou Sócrates em suadefesa diante do Conselho de Atenas.Ele não estava defendendo seus pró-prios interesses, mas sim cumprindosua missão no exercício da justiça di-vina. E ele fez isto com total confian-ça e serenidade.

O homem da antiga natureza amaseus amigos e detesta seus inimigos. Éo interesse pessoal que lhe dita essessentimentos. A nova alma é absorvi-da pelo amor divino e coopera comessa força, como raios que comuni-cam a todos a mensagem e a força dosol. Ela não faz nenhuma diferençaentre pessoas que servem a seus inte-resses e pessoas que se chocam contraeles: afinal, ela é desprovida de inte-resses! Quando o velho homem dá

PERGUNTA: As inúmeras explicações do conceito“alma” que vocês apresentam, aqui e ali, per-manecem para mim muito confusas, como sehouvesse muitas almas diferentes. Podem meesclarecer sobre esse assunto?RESPOSTA: A alma tem muitas interpretações pos-síveis. A Rosacruz Áurea faz distinção entre a al-ma animal e a alma divina. A primeira apresentatodos os aspectos do ser humano. Ela é, de fato, aconsciência edificada no curso da evolução, dife-rente para cada um. Ela reflete as característicasda natureza da qual veio, com todas as suas opo-sições e visa apenas a sua própria saúde. Ao con-trário, a alma divina, a alma imortal, é engendradapela rosa-do-coração, porém, na maioria doshomens ainda está adormecida. Essa alma deve sera intermediária entre o homem e Deus. Uma vezliberta da prisão em que o ser da natureza a retém,ela coloca suas capacidades a serviço de Deus e detoda a Criação. É o mundo das forças contráriasque constitui a alma natural, mortal, ao passo quesão as forças da natureza divina que fazem nascera alma divina, imortal, que vive da Gnosis.

qualquer coisa, ele sempre está espe-rando tirar algum proveito disso – se-ja em campo material, seja em campoimaterial, como, por exemplo, reco-nhecimento, glória, honra, ou atémesmo uma intercessão junto deDeus. São estas as especulações que ovelho homem faz, esse calculadorinveterado! Mas a nova alma distri-bui a plenitude de suas forças e deseus dons. Ela não saberia agir deoutra forma. Sua vida consiste emprodigalizar tudo o que ela recebe doreino divino. Ela somente pode ofer-tar o Bem – ela não pode dar nada decorruptível ou corrompido. Ela tam-bém não junta tesouros terrestres quenão têm valor eterno. Quanto maisela dá, maior é a sua alegria. Dis-tribuir os tesouros celestes comabundância é cumprir a lei divina:tudo receber, tudo dar, e, assim, tudorenovar.

A Fonte inesgotável

O velho homem-eu sempre está in-quieto por sua vida, por seus bens,por seu futuro. E ele bem que tem ra-zão, pois tudo o que sobressai de suaexistência terrestre é, sem cessar, ata-cado e violentado antes de desapare-cer. A nova alma vive da plenitudedivina e mantém-se conscientementenas correntes de energia que jorramda Fonte e não tem medo de que aFonte se esgote. Neste mundo, ela fazsua tarefa exatamente como lhe é exi-gido, levando em conta as leis terres-tres. Ela não prejudica ninguém, nemprocura levar vantagem, pois sabe que

A oportunidade de realizar a nova alma é ofere-cida a todos os homens. Esta é a finalidade últimade toda existência nestes tempos que se anunciam.Em todas as religiões, as cinco propriedades daalma são apresentadas. O próprio Buda ensinou:

• a primeira destas qualidades é a calma, o estadode neutralidade e de harmonia com a naturezadivina, sem agressividade nem cobiça, semmentira nem vingança, sem medo e sem crítica;

• a segunda é a benevolência, que faz reinar aharmonia com as leis da natureza divina e permite a cada homem ter sua parte de respeitoe de compreensão;

• a terceira é o amor: da nova alma emana umacorrente de amor que não exclui nada nem pes-soa alguma e que dá sem contar com retribuição;

• a quarta é o conhecimento do bem e do mal, afaculdade de discernir uma doutrina justa deuma falsa, e uma verdade de uma mentira;

• a quinta é a alegria. Pelo Espírito, o novohomem conhece a suprema criatividade.

As cinco qualidades enumeradas formam o pentagrama que, desde os tempos mais remotos, é o símbolo da nova alma. Ele corresponde aoscinco fluidos da alma – exatamente os cinco fluidos sobre os quais a Escola Espiritual daRosacruz Áurea fala:

• a calma corresponde ao sangue renovado e sintonizado com as vibrações do mundo divino (o novo éter químico);

• a benevolência corresponde ao novo fluido hormonal (o novo éter vital);

• o amor corresponde ao novo fluido nervoso (o novo éter-luz);

• o discernimento do bem e do mal correspondeao fogo serpentino (o novo éter mental);

• a alegria corresponde ao brilho ou irradiação da consciência mercuriana (o éter ígneo).

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não pode acrescentar “nem um côva-do” à duração de sua vida.

O homem terreno critica continua-mente. É fato que não lhe faltam cri-térios. Ele sabe o que são os seres e ascoisas, a que tipo de exigências devemsatisfazer, e avalia sua própria condu-ta de acordo com essas exigências ecritérios. Mas a nova alma observa oque os seres e as coisas são na realida-de, sem ser de forma alguma feridapelos julgamentos restritivos deoutras pessoas. Isto equivale a dizerque ela é isenta de preconceitos. Seujulgamento é infalível como o olhoque, sendo incolor, tem uma percep-ção precisa do que são as cores. Anova alma não aborrece seus seme-lhantes com idéias, critérios, linhas deconduta e críticas. Ela sempre estápronta a servir, a auxiliar os outros abuscar o reino de Deus.

Na nova alma, a Verdade, que é aLei de Deus, está operante. A verda-de é o seu critério de compreensão.Ela discerne o verdadeiro do falso,aquilo que emana do reino divino da-quilo que exalta o egocentrismo doshomens. Ela distingue nitidamente osábio autêntico daquele que faz deconta que é. Sua ação procede daenergia renovadora e da compreensãoque são repartidas com elas, comoherança. A verdade e a vida divinassão unas com ela.

Ela não se vangloria de seus pode-res, pois eles falam por si mesmos. Elaé “a Luz do mundo”, “o sal da terra”,que contribui para a evolução dahumanidade. Nela o Espírito age, e noEspírito reside a alegria suprema.

A velha lei e a nova lei

E Jesus disse:Sabes os mandamentos: Não mata-

rás, não adulterarás, não furtarás, nãodirás falso testemunho, não defrauda-rás ninguém; honra a teu pai e a tuamãe. (Marcos 10:19)

Ouvistes o que foi dito aos antigos:Não matarás; e: Quem matar, estarásujeito a julgamento. Eu, porém, vosdigo que todo aquele que se irar con-tra seu irmão, estará sujeito a julga-mento [...] Ouvistes o que foi dito:Não adulterarás. Eu, porém, vos digo:Qualquer que olhar para uma mu-lher, com intenção impura, no coraçãojá adulterou com ela [...] Tambémouvistes que foi dito aos antigos: Nãojurarás falso, mas cumprirás rigorosa-mente para com o Senhor os teus jura-mentos. Eu, porém, vos digo: Demodo algum jureis: Nem pelo céu, porser o trono de Deus; nem pela terra,por ser um estrado de seus pés; nempor Jerusalém por ser cidade do gran-de Rei; nem jures pela tua cabeça por-que não podes tornar um cabelo bran-co ou preto. Seja, porém, a tua pala-vra: sim, sim; não, não [...] Ouvistes quefoi dito; olho por olho, dente por den-te. Eu, porém, vos digo: Não resistaisao perverso; mas a qualquer que vosferir na face direita, voltai-lhe tam-bém a outra. [...] Ouvistes o que foidito: Amarás o teu próximo e odiaráso teu inimigo. Eu, porém, vos digo:Amai os vossos inimigos e orai pelosque vos perseguem. (Mateus 5:21-44)

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Ainda que eu fale as línguas dos ho-mens e dos anjos, se não tiver amor,serei como o bronze que soa ou comoo címbalo que retine.

inda que eu tenha o dom de profe-tizar e conheça todos os mistérios etoda a ciência; ainda que eu tenhatamanha fé a ponto de transportarmontes, se não tiver amor, nada serei.E ainda que eu distribua todos osmeus bens entre os pobres, e aindaque entregue o meu próprio corpopara ser queimado, se não tiver amor,nada disso me aproveitará.

O amor é paciente, é benigno, oamor não arde em ciúmes, não seufana, não se ensoberbece, não seconduz inconvenientemente, nãoprocura seus interesses, não se exas-pera, não se ressente do mal; não sealegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudocrê, tudo espera, tudo suporta. Oamor jamais acaba: mas, havendoprofecias, desaparecerão; havendo

línguas, cessarão; havendo ciência,passará; porque em parte conhece-mos, e em parte profetizamos. Quan-do, porém, vier o que é perfeito, en-tão o que é em parte será aniquilado.Quando eu era menino, falava comomenino, sentia como menino, pensa-va como menino; quando cheguei aser homem, desisti das coisas pró-prias de menino. Porque agora ve-mos como em espelho, obscuramen-te, então veremos face a face: agoraconheço em parte, então conhecereicomo também sou conhecido. Ago-ra, pois, permanecem a fé, a esperan-ça e o amor, estes três: porém o maiordestes é o amor.

(I Coríntios, 13:1-13)

PERGUNTA: De acordo com a revista, fica evidente que vocês não consideram o personagem de Jesus primeiramente como uma figura histórica. É isso, não?RESPOSTA: Realmente, não encaramos Jesus primeiramente como um personagem histórico. Se Jesus viveu de fato, continua sendo uma controvérsia científica. Mas esse nãoé nosso propósito. O importante para nós não é o personagem histórico de Jesus: nós oconsideramos como um símbolo da nova alma que deve desabrochar no microcosmo.Quando Jesus alcançou o momento em que o Espírito de Deus desceu sobre ele, foi chamado Jesus Cristo, o que significa Alma-Espírito: a nova alma que se religou aoEspírito e está engajada no processo da transfiguração.

A canção do Amor

A

O auxílio de uma escola dos mistérios

ou escola espiritual

Desde a aurora da humanidade sem-pre houve escolas dos mistérios, ouescolas espirituais, para explicar o sen-tido e o objetivo da existência. Elasreaparecem periodicamente, atuandocomo instrumentos a serviço dos bus-cadores da verdade, auxiliando-os areencontrar sua origem divina. Elasoferecem a doutrina da libertação àconsciência daqueles que são recepti-vos e os guiam ao longo de um proces-so de libertação interior e de renova-ção espiritual. Nesta época tão pertur-bada, essas escolas estão em atividade.

m uma escola dos mistérios, trêsimpulsos exercem sua influência apartir do Corpo do Ensinamento, doCorpo da Alegria e do Corpo daTransfiguração. Estes três corpos,campos ou céus, são, para uma fide-digna escola espiritual ou dos misté-rios, o meio de cumprir sua missão.São campos de energia de uma vibra-ção muito alta, não-terrena, por meiodos quais o candidato entra em conta-to com a força crística que se derramapara auxiliá-lo em seu caminho.

Em primeiro lugar, há um toque doCorpo do Ensinamento: um toqueque não se dirige tanto ao entendi-mento, que é muito despreparado pa-ra compreendê-lo, mas sim ao núcleoda alma divina. Ele atrai a atenção docandidato para sua própria origem eobjetivo de sua existência. A forçaviva do Corpo do Ensinamento des-perta a centelha espiritual situada no

centro do microcosmo e a reanima atéque ela se torne uma chama, para queo eu possa se retirar e ser neutraliza-do. Quem aceita o Ensinamento esente interiormente seus efeitos co-nhece a alegria de ver nascer uma no-va consciência. O Corpo da Alegria oenvolve, o guia e o eleva. Para termi-nar, ele penetra no terceiro corpo, queé o Corpo da Transfiguração, no qualrecebe como herança a renovaçãototal de seu sistema microcósmico. OEnsinamento que é constituído peloplano de desenvolvimento do Ho-mem divino se completa. Uma novaveste de alma é elaborada: o objetivo éatingido.

O objetivo do processo de purifica-

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O Corpo do Ensinamento, oCorpo da Alegria e o Corpo daTransfiguração correspondem, oprimeiro, ao Universo e aoCampo do Pai que tudo penetra;o segundo, ao Campo do Filho,que manifesta a Luz; o terceiro,ao Campo do Espírito Santo, quecura e engendra. O Pai nos dá apossibilidade; o Filho nos dá aLuz do Conhecimento; o EspíritoSanto nos traz, na Força de Deuse na Luz do Filho, o único caminho da libertação que tudoengloba.

(Petri, Catharose de, Sete vozes falam, SãoPaulo: Lectorium Rosicrucianum, 1982.)

E

ção e de renovação procede de umplano de ação concomitante dos trêscorpos universais. Para começar, oobjetivo é projetado no candidato.Ele recebe sua imagem e deve ultra-passar os obstáculos mais elementaresque o impedem de seguir adiante. Eleé, por assim dizer, impulsionado, con-frontado com suas possibilidades. Elerecebe ao mesmo tempo todo o auxí-lio necessário para executar o plano –auxílio que consiste na edificação deuma nova personalidade capaz, porsua vez, de servir de instrumento paraos três corpos. Em seu conjunto, o

processo se realiza sobre a base de umlivre consentimento.

O Corpo do Ensinamento

O Ensinamento responde às inda-gações feitas pelo homem: “De ondevenho? Para onde vou?” No interiordesse corpo, ele aprende a se ver comoquem participa de um crescimento:primeiro, submetido a um desenvolvi-mento biológico ou involução, e, emseguida, submetido a um desenvolvi-mento espiritual, ou evolução. A invo-lução provê a personalidade quádru-

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As mônadas

surgem no

universo, onde

devem cumprir

sua tarefa na

Criação. Ilustração

Pentagrama.

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pla de um ego até o momento em queela pode se entregar à evolução doEspírito que nela habita. Quem éconsciente dessa transformação com-preende que o fim de sua involuçãocorresponde ao começo de uma evo-lução definida como “o retorno aomundo do Espírito”. Esta é a verda-deira evolução, o caminho no decorrerdo qual o candidato se transforma atése tornar o homem completo, confor-me quer o Plano divino.

Mediante o Corpo do Ensinamentoo candidato pode ver por que ohomem é chamado de microcosmo. Oprincípio hermético: Assim como é emcima também é embaixo, assim com éno interior, também é no exterioresclarece todos os movimentos e pro-cessos que envolvem o homem e suavida. Seu princípio espiritual é umacentelha do Amor que vivifica o Todo.É então que o candidato, herdeiro deDeus, aprende a reconhecer seu lugarna Criação. O conhecimento que elerecebe serve-lhe de lei interior. A Bí-blia diz muito a propósito: Na mentelhes imprimirei as minhas leis, tam-bém nos corações lhas inscreverei.(Jeremias 31,33)

O Ensinamento não cessa de nosdirigir a essa lei interior. O candidatodeve descobrir em “palavras e em ima-gens” por que é tão importante seguiro chamado do Espírito a partir de seuforo íntimo. No início, nem o autoco-nhecimento, nem a percepção interiorsão suficientes para poder explorarpor si mesmo o caminho. As diretivase os conselhos exteriores são necessá-rios. Eles formam um aspecto exteriorda lei interior. Essa lei “exterior” ser-ve, pois, para guiar o ser humano quenão tem muita experiência. Ela servede painel indicador e de sustentação.Aquele que, por sua própria escolha,

seguir as diretrizes dadas não as consi-derará como dogmas e preceitos. Eum dia, ele descobrirá que elas o aju-daram e que correspondem à lei espi-ritual da nova alma.

O Corpo do Ensinamento é dirigi-do, num momento psicológico, a cadaum, segundo seu próprio nível deconsciência. Esse contato, que se efe-tua de modo perfeitamente incons-ciente, estimula a aspiração à unifica-ção com o campo de vida divino. Osrosacruzes chamam essa aspiração dedesejo de salvação. É esse toque que

PERGUNTA: Por que vocês falam de um princípio crístico e de uma força crística?RESPOSTA: O princípio crístico é a semente ounúcleo de uma nova vivificação, depositada no coração humano. A força crística é a forçauniversal despertada e desenvolvida pelo princípio crístico. A semente do princípio crístico é também denominada de “átomo original”, “centelha do Espírito”, “centelhadivina da rosa do coração”.

Modelo em

madeira do

microcosmo,

segundo o

célebre desenho

de Leonardo da

Vinci. Museu

Leonardo da

Vinci, em Vinci,

Itália. Foto

Pentagrama.

aclara o caminho de retorno e que nu-tre o candidato com uma nova energiaa fim de que ele persevere. Ele é, ago-ra, nascido de Deus. A partir dessemomento, ele já não está orientadounicamente para sua própria liberta-ção, mas também para a de toda a hu-manidade e de seu campo de vida. Es-se campo está em perpétuo movimen-to pois pertence a um universo conti-nuamente em progressão. São essasmudanças que influenciam os proces-sos vitais do ser humano enquantoindivíduo e enquanto humanidade,sob um plano coletivo.

O Corpo da Alegria

De tanto entrar em contato com oCorpo do Ensinamento, o buscadorse encontra diante de uma decisão a

tomar. Afinal, ele quer somente seorientar, continuar um simples ouvin-te? Ou será que ele está disposto aadmitir as implicações de sua existên-cia e a estabelecer uma ligação com oCorpo da Alegria? Será que ele estádisposto a abandonar o eu que está secristalizando cada vez mais e a se con-sagrar à construção da nova alma?Somente então o que foi depositadodentro dele pode se manifestar. So-mente então ele pode se colocar a ser-viço dos processos de renovação tra-çados na Criação. Seu consentimentolhe abre acesso às forças que lhe sãonecessárias.

De onde vêm essas forças? Do cam-po vibratório criado pela ação conjun-ta dos três corpos universais. Umaescola espiritual fidedigna é um orga-nismo vivo que somente pode se ma-nifestar se todos que dela participamcooperam com o plano que está na suabase. Todas as forças partem do cen-tro. Em uma escola espiritual tal comoaqui descrita, o centro é a Gnosis, aFonte que torna todas as coisas inteli-gíveis e novas, a força crística. Estarealidade é representada pelo hexagra-ma – a força divina tríplice penetra nohomem e se une a seus três poderes:pensar, sentir, agir.

A atividade de uma escola espiritualé fundamentalmente diferente da ati-vidade das instituições deste mundo.A energia liberada por ela não perten-ce à natureza dialética. É uma correntede Graça divina que, além de ser oni-presente, vem tocar o coração de cadaser humano, com a condição de queele esteja aberto, a fim de aí se concen-trar e de alimentá-lo. A alma inspira osnovos éteres puros que se derramamem força, vitalidade e alegria espiri-tual. Desse modo, ela se torna comple-tamente una com esse alimento.

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A corda de luz

salvadora desce

nas trevas.

Ilustração

Pentagrama.

Numa comunidade como essa, to-dos carregam o fardo de todos. Elessão iguais, quaisquer que sejam as ta-refas que lhe são incumbidas. Quandoum deles é atingido em sua fraqueza, ocampo coletivo é suficientemente for-te para sustentá-lo e ajudá-lo a ultra-passar sua prova. As qualidades da no-va alma se tornam mais firmes, como aconsciência, a perseverança, a rendi-ção, a comunhão, o amor, o não-lutare o discernimento.

O candidato resoluto morre em Je-sus, o Senhor. Ele sente que as tendên-cias e os desejos de sua alma naturaldiminuem para dar lugar a um novopotencial. Um sentimento de paz, deliberdade, de alegria o invade e o incli-na a se ajustar ao objetivo, em unida-de de grupo. Embora o eu ainda este-ja atuante por um certo tempo, equeira continuar a desempenhar umpapel com suas opiniões, emoções,simpatias e antipatias, sua influênciatende a desaparecer. A nova alma, anova vida da alma, toma as rédeas dapersonalidade. As forças de renova-ção recebidas são ofertadas a todos osque tiverem necessidade delas. Os trêscorpos operam no aluno desde queele esteja aberto para isso. Em outraspalavras: é preciso que sua personali-dade esteja bem preparada para que asforças de renovação possam exercersua ação nela.

O Corpo da Transfiguração

Uma escola espiritual ou escola dosmistérios introduz o candidato em umprocesso de regeneração do microcos-mo. Isto requer um direcionamentoconsciencioso para o objetivo que lhefoi mostrado, e que os aspectos aosquais ele deve se atacar, dentro de simesmo, não sejam falsos. O não-lutar,

a ausência de crítica, a harmonia dospensamentos, sentimentos e ações, oamor ao próximo, são expressões danova alma. O candidato que está nocaminho deixa, por assim dizer, a es-cola da vida dialética para seguir aescola da senda gnóstica. O processoda transfiguração se abre diante de suaconsciência. Ele aprende o “não-agir”como ensinou Lao Tsé.

Sobre esse fundamento uma novapersonalidade é erigida. Uma persona-lidade que, com seus pensamentos,seus motivos e seus sentimentos, levao candidato a novas ações. Uma escolaespiritual indica o caminho que con-duz à total renovação do microcosmohumano. A vida da nova alma não éedificada com base no eu individual,mas sobre a totalidade do ser: a restau-ração do mundo e da humanidade.

PERGUNTA: Os rosacruzes falam de “duas natu-rezas” e de “dialética”. Não existe uma únicanatureza?RESPOSTA: No mundo dialético está o mundo dosopostos: bem e mal, luz e trevas, amor e ódio, etc.Cada um desses termos suscita imediatamente o seuoposto. Experimentamos estas oposições em nossavida diária, experiências essas que desenvolvem aconsciência. A consciência acaba por compreenderque deve existir uma natureza onde não existem essasoposições, uma natureza “estática”, enquanto que anatureza conhecida não tem nada de estático. A na-tureza dialética compreende tudo o que o ser huma-no percebe com seus sentidos. Jacob Boehme, filóso-fo alemão do século XVII, chama esta natureza dialé-tica de “casa da morte”, porque tudo que aqui nasceé fadado à morte. Os rosacruzes consideram estedomínio uma escola de aprendizado onde o homemdeve construir para si uma alma, um instrumento quelhe permite penetrar na natureza imutável, estática.Para poder alcançar o mundo estático, o mundo eter-no, a partir do mundo dialético, o mundo temporal,é preciso seguir o caminho da transfiguração.

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Tudo receber, tudo abandonar,

para tudo renovar

O eu fala à Nova Alma:

Ó Alma, tu, minha misteriosa compa-nheira na senda, por vezes incontáveismeu coração respirou tuas palavras –como brancas aves em vôo para a luz,nascidas no vale da nostalgia, entre asrochas das trevas. Eu escutava e escutava, não queria pararde escutar desde os tempos de criança.

Assim, ouvi o gemido das montanhas, afraca súplica da relva e das flores, olamento dos animais, os embates dovento, o queixume das águas e da noite,o réquiem das estrelas.

Ainda assim, meus olhos procuravampela beleza em toda parte e a descobriamna majestade das montanhas, na dançado vento, no perfume e nos matizes dasfloradas, no tesouro do mundo animal eno infinito brilho estelar do universo,até mesmo nas obras da humanidade eem todo o ir e vir.

Como um salão regiamente adornadocom quadros ricamente guarnecidos,apresentou-se-me o mundo.Todos os meus sentidos estavam pre-parados para captar.Mas, que estranho:quando me deleitava com seus tesouros,sentia amargura.Ao sorrir de alegria, sentia profundatristeza.Quando me achava protegido entre aspessoas, sentia interminável solidão.

Só pouco a pouco aprendi a captar e distinguir entre ti e a voz de tua nostalgiae os meus desejos:enquanto recebia avidamente os tesouros do mundo, tu estavas namaior miséria.Pressenti: tua natureza, teu anseio é deessência completamente diferente.Quem és tu? Quem sou eu? Onde está a luz na qual nos reconhecemos?

Ó, ouve:estou aqui – no deserto da vida, comoum eu eternamente só. Tu, ó Alma, companheira em meu coração, tu, ocultana névoa, estamos distantes um do outrona sombra do mundo terreno.

Mas o suspirar de tua nostalgia abriu um caminho na espessa mata da naturezae, desde a infância, manda-me sua men-sagem.

Aqui estou então, resignado e totalmenteenternecido por ti, como se estivessepleno de vontade de te encontrar, óalma, de perder-me silenciosamente emti, de esvair-me inteiramente em ti e,para sempre, saber-me: sem separação,sem eu, sem tu.

E a Nova Alma responde:

Ó, sim, meu companheiro, as palavrasflamejantes de meu anseio por liberdadeeu fiz arder em teu coração desde o início de tua vida.Mas, será que as compreendes realmente?

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A solidão do

eu duro como

pedra. Foto

Pentagrama.

Não vais prender-me no vale das trevasquando meu amado me chamar paraatravessar o portal da liberdade?Tu não me conheces e também nãoconheces a ti mesmo.Muito menos conheces a Ele, a quemchamo meu amado.

Ele é a razão de meu anseio, meu suspi-ro em teu coração.Ele tem muitos nomes e, no entanto, seunome é impronunciável para todos os seres.

Ele move as estrelas e permanece, elemesmo, imóvel.Uma centelha de Seu amor cria novosuniversos.Ele é a Luz na qual se inflama o meu amor.Ele é Aquilo em que nos conhecemos anós mesmos e a todos os mundos.

Por compaixão pela minha miséria, Ele teescolheu como meu companheiro na senda.Acima do tão misterioso portal da liber-dade, diante do qual Ele nos conduziu,está escrito em sinais ígneos: Tudo rece-ber, tudo abandonar, para tudo renovar.

Para conseguir abrir o portal da liber-dade, tenho de estar de posse de umachave tríplice forjada no braseiro de Seu amor.Fé, esperança e amor são seus atributos!

Essa chave forjei há eões. Agora estaráperto da perfeição, se tu, meu amigo,estiveres preparado e não te intimidaresdiante de tua missão.Nada te peço senão ouvir e seguir a vozque vem das profundezas de teu coração.

Sou a gota que vem do grande oceanode Seu amor.Ouves, meu companheiro, como Ele meconsola?Faze silêncio e escuta bem!

O Espírito do Amor fala à Nova Alma:

Teu suspiro, minha amada, deve trans-formar-se em hino de alegria, teu apri-sionamento em liberdade, tua solidãoem meio aos filhos das trevas terrenasem união fraternal com os filhos da Luz.

O éter que penetra todos os mundosestá preenchido com o meu som.Quem ouve esse som ouve o hino daliberdade.Ele percebe o estremecimento cheio dealegria das montanhas e o crepitar dofogo no ar.Ele sente como correntes de ferro se soltam e almeja asas ígneas que o levematravés de todos os meus amplos céus.

Mas, como poderias, minha amada,receber os tesouros do céu se não re-nunciasses a todos os tesouros da terra?Só podes vestir uma nova veste celestialse tirares a velha veste terrena.

Fica atenta!Luz e trevas são as forças gêmeas destemundo das quais teu companheiro nocaminho vive e com as quais atua.Não permitas que elas te levem ao erro.Medo, preocupação e temor são saltea-dores nos becos das artérias de teu com-panheiro no caminho, nas curvas de seu

cérebro, nas cavidades de cada uma desuas células.Por toda parte eles espreitam para a luta.Verás as tropas do bem e do mal nocampo de batalha de seus sentimentos epensamentos posicionarem-se temerosasdiante de ti, posto que te sentes ligada eencadeada com elas através do longodesatino de teu peregrinar pela terra.

Apoia-te em minha Luz, em meu Amor,e reconhecerás a todas elas como fantas-mas de um mundo de sombras!Minha Luz te ofertará novas asas flame-jantes!

A Nova Alma fala ao Espírito do Amor:

Sinto Tua energia, Tua força inspira-meconfiança.Já repouso no Teu coração infinitamenteamplo.

O Espírito do Amor fala:

Fica atenta para que nada disso te sejaroubado!

A Nova Alma diz ao Eu:

Ó meu companheiro na senda, ouves oSeu chamado?É Seu Fogo que aquece teu coração.É Seu Amor que me atrai para junto de Si.Meu companheiro, não te ergas contra averdade e não lutes contra o amor que éinfinitas vezes maior do que a centelhaque arde por Ele dentro de ti, através daligação comigo.Não te atemorizes diante do Amor queestá em ti!

O Eu responde à Nova Alma:

Não sou eu, mas tu que és filha da Luz.

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Foto

Penta

gram

a

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Mas, que sentimento estremecedor emmeu ser!Pois, apesar de ser dedicado a ti em meucoração, devo reconhecer:todo meu ser se aterroriza diante de teu imenso anseio de salvação, poisa tua liberdade significa meu não-ser-mais.De repente, é como se eu quisesserevoltar-me contra ti e teu Amor.Um furacão de vozes precipita-se sobremeu sentir e meu pensar.São as vozes dos seres que desde o iní-cio dos tempos vêem o mundo comoseu palco.Através deles sou tudo o que sou ecomo sou.Suas vozes soam como mel quandosegredam e sussurram:“Fazemos de ti um rei da terra e do céu.Crê só no que vês e duvida de tudo quenão vês.O visível é a plenitude que dá expressãoe firmeza a tuas mãos.É o espelho no qual reconheces o brilhode tua grandeza.”

Suas vozes soam como açoites na quietude do meu coração quando, porum momento, opto pelo silêncio:

“A tranqüilidade torna-te indolentepara o mundo.Se teus pensamentos silenciarem, perderás tudo o que te é precioso:teu trabalho, tua família, teu pão decada dia... tua vida!O invisível é o vazio.Mostra-nos o deus do qual fala tuacompanheira na senda e prostrar-nos-emos diante dele.Mas, tu não o conheces.Queres viver, queres ser, então vive comtodos os tesouros da terra.Para isso tens inteligência e uma pode-rosa ferramenta: tua vontade.”

Ó Alma, misteriosa companheira nasenda em meu coração, ainda estás emmim, ainda estás comigo?Também ouves as vozes dos sedutores ame falarem?A tentação é grande, pois o medo do va-zio, do não-ser-mais, muito me atormenta.Mas meu ouvido ouviu tua terna voz.Teu anelo capturou um raio de luz dogrande Amor que ilumina meu ser.Assustado, constato:assim como sou, sou teu inimigo!Mas, agora, pergunto-me:Como posso ser uma ferramenta útilpara ti?O que faz meu ouvido fechar-se paratodas as vozes deste mundo?

A Nova Alma responde ao Eu:

Um trecho deste caminho certamenteseguirás comigo, ora discordando, oraconcordando.Até que nos conheçamos inteiramente à luz da verdade.

Foto

Penta

gram

a

Ele te refrigera com nova força e profun-do conhecimento.Vais desmascarar os fantasmas de teuscriadores e criaturas e verificar queeles só se inflamam na ventania de meuanseio.Na luz de teu novo conhecimento redu-zirás suas vozes ao silêncio.

Meu companheiro na senda, não te ate-morizes diante do vazio que, para mim,significa a vida.

Não duvides daquilo que não vês.Crê Nele que abriu novamente meusolhos adormecidos para o brilho de Suaplenitude, para o mundo de meu amado.

O Eu fala à Nova Alma:

Minha companheira, eu sei:com minha vacilação e dúvida tudo setorna claro e escuro, quente e frio, secoe molhado.Então, rápido como um relâmpago, o

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Um pássaro

maravilhoso

de cores

vivas vem

do céu.

Edmond

Dulac,

Picture book

for the

French Red

Cross, 1914.

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mundo, com suas milhares de vozes ecego de fúria, arrancou-nos do abraçodo reconhecimento.

Aqui estou novamente, um eu perdidona solidão – tu estás novamente distante– um Tu escondido na névoa.Porém, teu suspiro, teu chamado plenode anseio de salvação, eleva-se vibranteem ansiosa lembrança, renovado e maispoderoso do que nunca.Finalmente estou preparado para fundir-me em ti, esvair-me inteiramente em ti.

Diante do que meu coração ainda deve-ria assustar-se, se nele tu habitas, se és apreciosa pérola do grande Amor? Eumesmo nunca fui capaz do verdadeiroAmor.Através de ti reluz em mim uma novanoção do que é Amor.Teu amor vai domar meu sentir e meupensar.Quero aprender a silenciar até que euseja apenas silêncio.Através de meu completo silêncio ouvi-rás novamente a canção das estrelas.Tudo o que vive vai estar à escuta conti-go, e minha ação será um testemunhode teu amor.Ó minha jóia preciosa! Tua alegria fazdesabrochar flores douradas em meucoração e transforma todos os meusespaços em Luz.

Só pode voltar para a Luz aquilo que é Luz!

O Espírito do Amor fala à Nova Alma:

Minha amada, não te precipites a cambalear de alegria quando teu com-panheiro assim fala contigo.Põe minha Luz diante de seus pés claudicantes para que ele saiba como

dispor os passos diante de ti.Porque sem mim vocês nada podem.Nada retém para ti; propaga tua Luz.Renuncia sempre ao que recebes demim.Assim, com o ardor de teu anelo, des-truirás tudo o que é treva a teu redor epreencherás todos os teus espaços comminha Luz.Todos os espaços serão ilimitados, todoo tempo será vazio de tempo.Meu alento será teu alento, minha vidateu eterno ser.Enquanto estiveres vinculada a teucompanheiro,mantém firme o teu alvo!Não desistas de tua escolha quando tiveres ouvido o chamado de minhavoz:“Vê, há duas áreas de moradia diante deti, ó Alma: uma região perceptível aossentidos e uma região perceptível ao espírito.Ambas são mostradas a ti. Em ambasacumulaste experiência e a ambas vistecom teus olhos.Agora toma tua decisão.”(Citação de Hermes Trismegisto)

O Eu fala à Nova Alma:

Ó alma, minha cara amiga, segue a Luzque vem ao mundo para que aquele quenela crê não fique em trevas.Eu te atei à cruz de minha natureza, tornei-me um sepulcro para ti, para quenele entres e dele te ergas renovandotudo com teu Amor.

Inscreve os sinais flamejantes de teuamor continuamente em meu coração eincandesce a marca ígnea em minha fronte.Obtém para ti um novo companheiroque não apenas compreenda tuas palavras de Amor, mas que se tornou,ele próprio, uma Palavra vivente.

Tat: De que matriz o homem renascee de que semente?Hermes: Da Sabedoria que pensa nosilêncio, e da semente, que é o BemÚnico, meu filho.Tat: De que semente, de que matriz, ohomem renasce?Hermes: Da Sophia, isto é, da sabedoria.

uitos imaginam que a sabedoriaseja um tipo de conhecimento supe-rior, muito amplo. Fala-se, por exem-plo, do conhecimento da sabedoria.Dessa forma, poderíeis partir da su-posição de que a sabedoria deve serexperimentada racionalmente, de quepode ser conhecida intelectualmente,portanto, que pode ser também aco-lhida no intelecto. Não incorrei nesseerro, tão amplamente difundido. Nadialética, o sábio, o pretenso possuidorda Sophia, é o homem que pesquisaintelectualmente em todas as direções.Quando esgotou todas as fontes paraas quais é orientado até seus funda-mentos, ele estrutura sobre a base deseu conhecimento adquirido umaconcepção própria, uma opinião pró-pria. Opinião que, muitas vezes, podeser formulada de modo elegante; opi-nião que em muitos aspectos pode serchamada de pura e boa, porém que,como estrutura intelectual, permane-ce sempre uma especulação que é esti-mada durante algum tempo, que é

seguida, eleita, como idéia fundamen-tal de vida. Alguns anos depois, apare-ce outro filósofo que contraria a pri-meira concepção, o primeiro produtoda sabedoria dialética, da imaginaçãoe da especulação. Assim, desenvolve-se uma nova moda filosófica.

Essa especulação com a razão, tãoconhecida e freqüentemente tão infru-tífera e errante, não é absolutamenteaquilo que Hermes tenciona quandofala acerca da matriz da Sophia. Aqui,ele está orientado para a esfera de açãodos quatro corpos, as quatro formasde nossa personalidade, a saber: o cor-po material, o duplo etérico, o corpoastral e a faculdade mental. Sabemosque nosso organismo material é con-servado pelos éteres do corpo etérico.Se os éteres fluem fraca e lentamente,nasce sempre uma perturbação e en-fraquecimento do corpo material. Ocorpo material é conservado peloséteres. O corpo etérico é colocado emmovimento pelas radiações astrais docorpo astral.

Assim, o corpo astral deve viver to-talmente da e mediante a faculdademental, em sentido absoluto. Essa fa-culdade intelectual mesma deverá res-pirar totalmente na Sophia, que é umamatéria bem mais refinada e nobre doque a da mente. Contudo, a faculdademental do homem corpóreo aindanão se desenvolveu em nenhum as-pecto, sim, nem mesmo pode-se falar

Diálogo entre Hermes e Tat *

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M

de um corpo mental no que concerneao homem nascido da natureza! Eleexiste apenas de forma elementar, enão pode, do mesmo modo, evoluir,no atual estado de ser do homem cor-póreo. A faculdade mental do homematual não pode desenvolver-se.

Seus órgãos racionais e suas ativi-dades constituem somente a base doverdadeiro, nobre e autêntico corpomental. O pensamento inferior é to-talmente movimentado, em nosso es-tado de ser, pelos três corpos inferio-res de nossa personalidade. Por isso, ohomem corpóreo jamais ultrapassa oestado de seu nascimento natural; seupensamento é e permanece da terra,terreno, e não se trata de nenhumaSophia, pois o homem corpóreo é nu-trido pela matéria astral da naturezada morte.

Possuís aqui em vossa personalida-de dialética: um corpo material, umduplo etérico e um veículo astral. Vos-sa faculdade mental é reconhecida, nomelhor dos casos, como um centromais ou menos luminoso, no alto dosantuário da cabeça. Com o auxíliodessa faculdade mental, não podeissorver a Sophia. Contudo, vossa per-sonalidade deve ser conservada. Porisso, vossa personalidade é nutridanaturalmente pela matéria astral danatureza da morte. Vós não viveis,sois vividos! Estais presos no movi-mento retrógrado a respeito do qualtanto vos falamos. Essa é a realidade.

* (Rijckenborgh, J.van, A arquignosis egípcia,v. 4, São Paulo: Lectorium Rosicrucianum,1991.)

PERGUNTA: Quem foi Hermes Trismegisto?RESPOSTA: Hermes Trismegisto é o nome grego para a personificação de uma série de revelações provindas da sabedoria original do antigoEgito. Nas escrituras egípcias ele também era chamado de Toth.“Trismegisto”, o três vezes grande, é um termo que evoca o estado glorioso, sublime, do espírito, da alma e do corpo. A filosofia hermética,que remonta a milhares de anos, descreve minuciosamente como a nova alma é tocada pelo Espírito e as conseqüências que disso resultam.A arquignosis egípcia, a Gnosis original egípcia, é sempre atual e, para a Rosacruz moderna, uma fonte importante de inspiração.

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Segundo o prólogo do Evangelho deJoão, a nova alma “é nascida de Deus”.Sua origem é o misterioso átomo cen-telha do Espírito, a eterna centelha nocoração do ser humano. A vida de Je-sus, tal como é relatada no Novo Tes-tamento, é uma descrição simbólica docrescimento dessa nova alma.

nova alma, durante seu crescimen-to, torna-se consciente de si mesma,como uma criança que cresce e perce-be que tem seu lugar na vida. A novaalma é diretamente alimentada pelasforças de sua natureza original queprovém do campo de vida divino. Es-sas forças, concentradas na atmosfera,operam em uma escola espiritual au-têntica, mas não podem ser reveladase operantes senão após uma mudançaradical do fogo vital que anima a per-sonalidade.

Essa personalidade começa por sedar conta da desolação de seu am-biente. Não nasceu Jesus em um está-bulo? Na parábola do filho pródigo, aalma extraviada encontra seu alimen-to no chiqueiro dos porcos. A tradi-ção búdica relata que o jovem prínci-pe Gautama descobre que as belezas eriquezas do mundo apenas escondemo sofrimento e a morte. A nova almaexperimenta também as limitações, asforças e as particularidades do campode vida onde nasceu, o quanto se sen-te aí estrangeira, e o quanto se sentelonge de sua verdadeira morada!

Gautama abandona seu rico palácio eos esplendores do mundo para se en-gajar na busca de sua pátria celestial.O filho pródigo dá as costas ao chi-queiro de porcos e parte em busca doreino de Deus.

Como a alma que cresce toma co-nhecimento de seu ambiente? Graçasà ajuda da personalidade que aceitaserví-la! Quem está atento à nova al-ma percebe que esta vê através de seus

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A partida

Eu dei a ordem de tirar meu cava-lo da estrebaria. O empregadonão me compreendeu. Fui eumesmo à estrebaria, selei meucavalo e o montei. Ao longe, ouviuma trombeta e perguntei a ele oque isso queria dizer. Ele nadasabia e nada havia ouvido. Aoportão, ele me parou para me perguntar: — Para onde partis deviagem, meu senhor? Eu respondi:— Não sei. Vou para fora daqui,sempre para mais longe. Somenteassim alcançarei a meta. — Conheceis portanto a meta?, perguntou. — Sim, respondi. Já te disse, é longe daqui. — Não levais nenhuma provisão?— Não tenho necessidade disso. A viagem é tão longa que eu morreria de fome se nada recebes-se no caminho. Nenhuma provisãopode me salvar. (Franz Kafka)

O crescimento da nova alma

A

olhos e ouve através de seus ouvidos.A personalidade é o espelho onde anova alma vê a tarefa que deve cum-prir; ela adquire o conhecimento de simesma através de seus atos e se expri-me por meio da personalidade prepa-rada para isso.

Além disso, o buscador sabe muitobem que sua alma comum, terrena,está numa situação desesperadora. Afi-nal, assim que uma força fundamental-mente diferente o penetrou e lhe disse:“Fui eu que te escolhi, não o contrário”,ele percebe com mais precisão sua in-quietude, assim como sua natureza ca-prichosa, mutável, hesitante. Os as-pectos “luz e sombra” da alma terrenae a incessante alternância do bem e domal se manifestam intensamente. Elevê que sua alma terrena, seu eu, se su-pervaloriza e o domina, que seus la-mentos e dúvidas secretas são desmas-carados. E, em determinadas circuns-tâncias, essa alma constata que velhas

dívidas provenientes de vidas passadasnão foram saldadas. Desanimada, eladescobre que só pode oferecer comomorada à nova alma um “estábulo” aoinvés de um palácio. Todavia, a forçada nova alma impele à renovação pro-vocando experiências radicais. Muitasmudanças acontecem no antigo siste-ma, na antiga vida, e periodicamentesurge um novo caminho, uma abertu-ra para o alto. Mesmo que o buscadorainda tenha muitas dúvidas, ele acabaconfiando nessa força até então desco-nhecida, e suas experiências o confir-mam. Conseqüentemente, ele vaicompreendendo o alcance da nova ta-refa que o aguarda: entrar em resso-nância com essa força, tornar-se o ins-trumento adequado dessa força.

Limites do esforço pessoal

Agora a problemática muda. Não setrata mais de aperfeiçoar a “eficácia da

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A flor do girassol

segue o sol em

seu curso cotidiano

até que, madura e

pesada de sementes,

ela se inclina para a

terra para aí semear

sua riqueza. Foto

Pentagrama.

consciência” ou de se perguntar “oque vamos ganhar com isso”, mas de“saber o que devemos fazer”. No en-tanto, o eu não tem a requerida capa-cidade para responder a essas pergun-tas. Ao chegar nesse ponto, o auxíliode uma escola espiritual é indispensá-vel para guiar e dar o exemplo, princi-palmente porque os homens estão tãoindividualizados que mal podem ul-trapassar seu próprio isolamento e li-mite. A resposta à pergunta “o quedevo fazer?” só é dada quando o bus-cador renuncia a ser mestre e se tornaum aluno, um aluno dos grandes mis-térios da sabedoria universal. Essemomento corresponde ao reconheci-mento interior de que é a Luz quepurifica e regenera. O comportamen-to totalmente novo já não é “progra-mável”, porém, uma obediência es-pontânea e natural à lei da renovação.O aluno se lança ao trabalho com en-tusiasmo. Ele está convicto, decidido,pleno de alegria e de idéias elevadasporque quer satisfazer as exigênciasdessa evolução totalmente nova. Elediz para si mesmo que um “homemalma” tem amor e paciência. Ele auxi-lia incondicionalmente e se dedica aocaminho espiritual.

Mas, enquanto ele se esforça parapreencher todas as exigências, acabase reencontrando frente a frente con-sigo mesmo e, como Jó, derrete deses-

peradamente os miolos para saber porque seus esforços não dão resultado:“Por que não consigo nada? Por quenão sou bem sucedido? Será que façotudo errado?” O que ocorre, porém, éque ele se esforça unicamente com ba-se no arsenal de suas capacidades natu-rais e culturais, enquanto que só podeter êxito com os poderes da nova alma.

Não obstante, esses esforços apa-rentemente inúteis têm conseqüên-cias. Uma delas é que o egocentrismotoma proporções razoáveis. Todo es-forço correto faz com que se dê umpasso à frente. São importantes expe-riências que levam à experiência fun-damental. A purificação realizada pelaforça da nova alma é sempre mais in-tensa, mais segura, mais profunda, detal modo que a alma possa acabar porse libertar de suas correntes. E a cons-ciência percebe cada vez mais clara-mente do que se trata agora: os esfor-ços da vontade já não devem, de mo-do algum, seguir os princípios sobreos quais o buscador refletiu pessoal-mente e adotou. Ele adquiriu um no-vo senso de suas responsabilidades euma segurança pura e simples que oimpelem a se comportar como a novavida o deseja enquanto segue os deve-res de sua antiga vida.

Uma outra conseqüência: seus de-sejos, suas tensões, provocados pelaambição, tranqüilizam-se um pouco.O campo de respiração da alma é cal-mo, silencioso. Os raios de luz o ilu-minam sempre mais fácil e intensa-mente. A nova força vital circula atra-vés da personalidade inteira. E graçasao discipulado de uma autêntica esco-la espiritual, as ondas de emoção, deimpaciência, de dúvida e de inquietu-de, não o submergem mais. Com be-nevolência interior, sem simpatiasnem antipatias, ele faz o que deve, ba-seado numa orientação interior inces-

PERGUNTA: Qual é a relação da alquimia comos alquimistas da Idade Média?RESPOSTA: Para o ensinamento da RosacruzÁurea, “alquimia” é o processo de transmutaçãono decorrer do qual a nova alma renasce e se pre-para para seu encontro com o Espírito. Os antigosalquimistas empregavam uma espécie de linguagemsecreta para falar desse processo: o chumbo eratransformado em ouro, ou seja, a natureza inferiorera transformada em natureza espiritual.

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sante e consciente. Não obstante, in-teresses pessoais vão ainda reclamar aatenção de sua personalidade paranova e sistematicamente mergulhá-lana vida comum. Além disso, a cres-cente neutralidade interior dá cadavez mais a oportunidade de agir à no-va alma, cuja consciência aumenta emclareza. Através das inúmeras impres-sões recebidas diariamente, delineiam-se progressivamente um pensamentoe uma compreensão com linhas preci-sas. E diante do olho da alma reve-lam-se muitos aspectos ainda insus-peitados. A vida cotidiana acaba porse fundir inteiramente na nova alma.

O novo comportamento

Querer harmonizar o novo com-portamento e a vida cotidiana escon-de uma singular contradição. Afinal,enquanto se busca o justo equilíbrio,vemos mais e mais que a nova almanão tem absolutamente nada emcomum com o organismo físico. Asforças da nova alma não sustentam osinteresses e desígnios do eu. Muitopelo contrário: na luz da nova alma osaspectos tenebrosos da consciênciasão desmascarados. A relatividade dascoisas, o que elas têm de efêmero, aalternância dos opostos, mostram deforma pungente os limites da existên-cia terrena. Especialmente porque naconsciência do buscador aclara-secada vez mais a noção de eternidade.

Dois campos de vida influenciam obuscador. A voz da nova vida se fazouvir mais claramente no meio dosturbilhões dos pensamentos e dossentimentos comuns. Um raio doespírito anima o sistema microcósmi-co e o buscador sustenta, com alegria,essa atividade, segundo suas capacida-des. Sua vida vai mudando de rumo.Ele não se comporta de acordo com

uma doutrina aprendida, mas age soba influência do espírito divino. Issosignifica, em primeiro lugar, que osconflitos com os outros vão desapare-cendo. Com efeito, o conflito aparecepor identificação com certos alvosterrenos, para os quais estão voltadosos pensamentos, os sentimentos e avontade. E como perceber as suges-tões da nova alma em meio a situaçõesconflitantes como essas? A luta quedegenera em ira ou ódio inflama umfogo que ruge e faz volatilizar, em pri-meiro lugar, os éteres sutis da novaalma, causando desespero interior.

As experiências e o trabalho sob adireção da nova alma desenvolvemuma crescente confiança que oferece apossibilidade de escapar às redes dassimpatias e das antipatias. No início, ocandidato hesita sobre o maravilhosocaminho. Dúvidas o assaltam, porém,com alegria, ele descobre que dentrode si surgem novas forças, novos pen-samentos. E aprende a confiar na suaconstância. Desse modo, de um “bus-cador da nova força” ele se torna um“aluno da nova força”. Ele aprende aavaliar seus sentimentos, pensamen-tos e ações, a acalmar seu campo derespiração e a abrir todo seu ser naLuz da nova alma. Ele se dá conta deque desviar-se desse caminho provocatensão e inquietude.

Oposição do ser aural

A vida cotidiana oscila entre doispólos. Ela nunca está em equilíbrioperfeito, trazendo sempre inspiraçãoe expiração, atração e rejeição. Aqueleque aspira à Única Luz escapa dessesdois pólos contrários e por isso mes-mo perturba as leis do campo de ener-gia onde a personalidade viveu até en-tão, de modo que, a cada vez, o cam-po de energia natural e o carma devem

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intervir – forçosamente – para neutra-lizar a nova alma. Geralmente aSabedoria universal dá a essa oposiçãoo nome de “ser aural”. Este adversá-rio, o ser aural, sugere a alguém, porexemplo, que sua vida biológica émais importante que sua vida espiri-tual, que sua alma comum é tangível,ao passo que sua dita nova alma é umailusão. E o candidato, o buscador daverdade interior, faz ziguezagues en-tre o tempo e a eternidade. Isso é nor-mal, pois esses dois campos de vidaexistem no microcosmo.

Todos os seres humanos são perse-guidos por ações inacabadas queesperam por realização. Podemosconsiderar essa parte do carma comoa inexecução no passado, ou a execu-ção apenas parcial, de certos deveres.Essas influências constrangem a per-sonalidade a agir em um sentido ououtro a fim de adquirir experiência.Nesse combate cotidiano, a diferençaentre os dois campos de vida é deter-minada, e a escolha entre os dois setorna mais fácil. Essas ações inacaba-das, acumuladas no carma, formam osgermes dos pensamentos e do com-portamento, são os frutos das encar-nações precedentes. Sem preocupaçãode orientação moral ou espiritual, elasbuscam apenas a realização. É assimque o ser aural estimula os pensamen-tos, os sentimentos, e determina osefeitos sob a forma de atos diversos.Esses impulsos cármicos não têm,para cada um, nem a mesma estrutu-ra, nem a mesma cor. Mas eles têmalgo em comum, que é a oposição ànova alma.

São as forças de polarização do seraural, acompanhadas do patrimôniogenético dos ancestrais, que determi-nam a personalidade. O ser aural e ocorpo material representam, no cam-po de vida terrestre, o “pai” e a “mãe”

da personalidade. Talvez por issoJesus tenha dito: Aquele que amamais seu pai e sua mãe que a mim, nãoé digno de mim. A nova alma, quevivifica a Força crística, tem o poderde regenerar a consciência. Ela desin-tegra as forças da alma natural e assubstitui a fim de que esta seja pene-trada das forças da eternidade.

Graças a essa purificação, a essaunificação, a essa serenidade, o candi-dato prova mais claramente a centelhae a irradiação da eternidade; nenhumaperturbação astral da natureza terrenapode detê-lo. Nos mitos, em particu-lar, couraças e escudos simbolizamessa proteção contra todos os ataquesastrais.

A nova força astral da Luz

A nova alma vive de forças perfeita-mente puras do mundo divino. Essasenergias harmoniosas não se misturamjamais às do mundo, que são muitodiferentes. Eis por que aquele que écapaz de experimentar esse puro esta-do se sente elevado à felicidade supre-ma. Em tais momentos ele descobre overdadeiro significado de noções co-mo verdade, alegria ou amor, e que ostrês formam uma única e mesma coisa.E é pungente para ele reconhecer apálida imitação dessas três poderosasforças no mundo dos dois pólos deopostos! Que tristeza o invade quan-do retoma a vida de todos os dias! Poisele aí nada encontra, ou quase nada,desse estado sublime. A distânciaentre a alegria da nova vida e o odorempestado deste mundo é penoso etoca a alma profundamente. Trata-se,aqui, de uma experiência radical susce-tível de incitar a uma busca cada vezmais ativa.

Assim, o campo de vida microcós-mico se ordena e tudo retorna, lenta

mas seguramente, a seu lugar. OTemplo que deve substituir o antigoestábulo deve ser edificado pedra porpedra. É difícil estimar o que falta dereflexão, de paciência e de inteligên-cia. Isso exige uma visão realista e sis-temática do estado pessoal.

A nova força da Luz leva o alunoao estado de equilíbrio interior que dáà consciência a capacidade de seorientar e de adquirir a clareza neces-sária para dar os passos seguintes. Oaluno aprende a empregar as purasforças da alma que recebe, mesmo queseus modos de agir e de pensar habi-tuais a isso se oponham. Isso pode serdifícil, por exemplo, se seus amigos seafastam porque ele não se interessamais por aquilo que os apaixona. Maseles podem também ficar surpresospelo inesperado equilíbrio de seunovo comportamento. A conseqüên-cia é que as forças do ser aural nãopodem mais aprisionar sua personali-dade. Uma parte dela começa a serliberta, pois os murmúrios da voz dosilêncio se fazem ouvir pouco a pou-co; toda a vida se ajusta à energia donovo campo de vida. Com efeito, apartir do momento em que o coraçãoé tocado pelo Amor divino, o alunonão pode mais agir de outro modo! Éessa força que purifica e faz desabro-char o sistema microcósmico inteiro,como a luz do sol revela a beleza dasflores. O ser aprende, no mais pro-fundo de si mesmo, a colaborar com aatividade e com o trabalho abençoadoda nova alma.

O novo comportamento implica namudança de todas as funções da alma,de todos os valores relativos ao cará-ter, à personalidade e ao mundo. Oaluno sente, reconhece, em dadomomento, que ele é uma célula docorpo do mundo, da verdadeiraHumanidade. Pleno de alegria, ele

compreende a importância da suacontribuição para o crescimento dessegrande corpo, e se mantém em perfei-ta harmonia com todas as almas ativasque buscam ardentemente o Espírito.

Os distantes campos da criação seabrem diante de seu olhar interior. Elevê a que ponto a natureza decaiu – ohomem, a criação – até que venha sualibertação. A nova alma reconhece seucaminho. Ela toma a direção da origemdivina. Ela não apenas faz exigênciasincondicionais, mas dá também aenergia para satisfazê-las e todas asindicações para a ação. Ela confere aforça e exige o ato no momento pos-sível. A personalidade se funde intei-ramente na nova alma; daí resulta umaconsciência clara, um sentimento decerteza e uma vontade unida à Oni-vontade. O homem-alma se prepara,assim, para o coroamento do cami-nho, pois, em seguida, graças à novaligação com as forças do Espírito,aparece um homem novo, numa uni-dade perfeita do corpo, da alma e doEspírito.

PERGUNTA: Qual é a diferença entre o ensi-namento esotérico e o exotérico?RESPOSTA: Na doutrina do budismo, o ensina-mento esotérico é chamado de “ensinamento do coração”, e o ensinamento exotérico, de“ensinamento do olho”. O termo “esotérico” se refere a um ensinamento interior que diz respeito às forças e poderes subjacentes aos fenômenos. O ensinamento exotérico se refereao aspecto exterior das coisas, ao que percebe-mos com os sentidos físicos. Existe um terceiroensinamento chamado de gnóstico. É o quemostra o caminho do desenvolvimento, da vivificação da rosa-do-coração. O coroamentoda nova alma revivificada é a descida doEspírito divino. Essa senda gnóstica é a ponteentre este mundo dialético onde vivemos e aEstática, o reino de Deus.

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…essa alma é tão somente um estado provisório:

uma escola, que deve conduzir a alma a seu

“renascimento”, a uma transformação fundamental,

e portanto, a uma “nova alma”. Uma esplêndida

imagem disso é a da lagarta que se torna crisálida

para finalmente renascer como borboleta.

(A verdadeira arte de construção, p.4)