02 Arquitetura Em Bambu -Tecnicas Construtivas Na Utilizacao Do Bambu

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    ARQUITETURA EM BAMBU: Tcnicas construtivas na ut ilizao

    do bambu como material arquitetnico.

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    1. INTRODUO

    O ensino e a prtica arquitetnica tm demonstrado uma tendncia cada vez mais

    evidente na busca pela diminuio do impacto ambiental causado pela construo

    civil. Dentro deste processo, a vinculao do projeto arquitetnico sustentvel

    utilizao de materiais renovveis tem se mostrado o caminho mais direto para a

    manuteno do ecossistema, preocupao que envolve o foco de atuao no

    apenas dos arquitetos, mas tambm dos demais profissionais ligados

    construo.

    A compreenso dos processos sustentveis como base para concepo projetual

    fundamental para o desenvolvimento do estudante e do arquiteto. As principais

    referncias sobre arquitetura no Brasil descartam o uso do bambu como elemento

    estrutural e arquitetnico. Sendo assim, o material disponvel sobre o assunto

    escasso e tem obtido pouca repercusso dentro dos cursos de arquitetura.

    Outra tendncia existente na prtica arquitetnica se caracteriza pela crescente

    busca de sistemas construtivos industrializados e pr-fabricados, que se adaptam

    melhor ao ritmo acelerado do mercado imobilirio nas cidades. Este processo tem

    contribudo para a marginalizao dos mtodos construtivos vernaculares, mais

    artezanais e, portanto desconhecidos na indstria da construo.

    O desenvolvimento deste trabalho traz como principal questo a pouca

    expressividade da utilizao da tcnica do bambu dentro do panorama da

    arquitetura brasileira, confrontada com as condies favorveis do solo e clima

    brasileiros para o desenvolvimento de sua cultura. As caractersticas do bambu

    como resistncia, leveza, fcil manuseio, grande proliferao em plantaes e seu

    carter de material renovvel nos levam questo do por qu no utilizar com

    maior freqncia o bambu como matria prima na construo civil.

    Atravs do estudo de algumas das obras mais expressivas deste mtodo

    construtivo, investigaram-se as possibilidades de aplicao do bambu estrutural na

    construo civil, e foram identificadas algumas das tcnicas construtivas

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    existentes mais adaptadas realidade brasileira. As tcnicas utilizadas com

    bambu existentes em outras regies do mundo, principalmente na sia, so

    milenares e a bibliografia sobre o assunto extensa, porm dificilmente encontra-

    se material a respeito no Brasil. As recentes pesquisas publicadas pelas principais

    universidades do pas, embora ainda no acessveis a um pblico mais

    generalizado, revelam o grande potencial do Brasil neste campo de conhecimento

    e produo arquitetnica.

    2. REFERENCIAL TERICO

    Desde a pr-histria o bambu muito utilizado na construo civil, principalmente

    na China e no sul Asitico, na construo de habitaes e pontes. Estas pontes,

    construdas h cinco mil anos, utilizavam cabos feitos de fibras de bambu e tinham

    uma incrvel capacidade de vencer grandes vos.

    O uso do bambu no continente asitico bastante disseminado na construo de

    casas, na confeco de utenslios domsticos e de implementos agrcolas, como

    rao animal, na alimentao humana e, ainda, como medicamento. (RECHT;

    WETTERWALD, 1994)

    Nenhuma planta tem sido utilizada to extensamente e intensamente quanto o

    bambu na sia. Um exemplo milenar referencial na arquitetura em bambu o Taj

    Mahal, que recentemente foi reformado e sua estrutura milenar de bambu foi

    substituda por ao.

    No setor da construo civil, o uso do bambu bastante difundido tambm em

    vrios pases da Amrica Latina, como: Peru, Equador, Costa Rica e Colmbia,

    onde vrios exemplos de edificaes confirmam sua potencialidade como materialde construo civil. Atualmente existe uma busca em tornar o bambu uma opo

    de material construtivo, trazendo-o para alm das tcnicas vernaculares, formas

    de construo tradicionais e artesanais.

    Um projeto contemporneo, e de grande repercusso, foi o pavilho construdo

    para a Expo-Hannover 2000, pelo arquiteto colombiano Simm Vlez na

    Alemanha. Esta construo utilizou o bambu Guadua, a apresenta balanos de at

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    7 metros, com grandes avanos nas tcnicas de unio entre as peas de bambu.

    Com alta flexibilidade a resistncia de suas fibras, o bambu uma planta utilizada

    tambm no desenvolvimento de habitaes prova de terremotos.

    No ano de 1992, foi criado o programa Joint Research Programam on Natural

    Structures por um grupo formado pelo escritrio do arquiteto Renzo Piano de

    Gnova, a Unesco de Paris, e o escritrio de engenharia Ove Arup & Partners de

    londres. Eles realizavam experimentos e pesquisas no Laboratrio

    Unesco/Building Workshop em Vesima na Itlia. Consideravam a natureza como

    referencia nos processos de design e construo, estudando fibras naturais de

    espcies vegetais, seus usos e combinaes com outros materiais. Buscaram

    desenvolver sistemas construtivos novos, leves resistentes e de baixo custo. No

    havia a preocupao de expor resultados conclusivos, mas nesta primeira fase,

    levantaram questes tcnicas sobre a utilizao do bambu. A principal fonte

    utilizada por eles foi o extenso documento Bambus-Bamboo, baseado nos

    estudos de K.Dunkelberg e publicado pelo Institute for lightweight Structures da

    Universidade de Sttutgart, dirigido pelo arquiteto alemo Frei Otto.

    (DUNKELBERG, 1985)

    Algumas caractersticas estudadas pelo instituto, colocadas na citadao a seguir,

    reforam a concepo do bambu como um material vivel e economicamente

    desenvolvedor. Disponvel em quase todo o mundo, adequado a construes de

    baixo custo, o popular bambu pode ser integrado produo moderna de

    edificaes e estruturas. Vigas, arcos, cpulas, prticos, telhados; tendas, casas,

    templos, vilas inteiras so produzidos h centenas de anos por uma arquitetura

    tradicional. Um olhar atento a essa produo pode revelar solues novas, queincorporem tecnologia, como as juntas estruturais desenvolvidas no Joint

    Research Programam on Natural Structures (MORADO, 1994).

    O bambu classificado no campo da botnica como bambuseae, que consiste um

    conjunto pertencente extensa famlia das gramneas, uma planta lenhosa, e

    tambm classificada como angiosperma e monocotilednea.

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    A resistncia apresentada pelo bambu trao maior do que a da madeira e do

    concreto, sendo superada apenas pelo ao. Ao analisarmos as relaes entre

    peso especfico e resistncia trao do bambu, podemos chegar a concluso de

    que este possui uma alta eficincia estrutural, melhor at do que os materiais

    estruturais mais usuais. Portanto, um material de grande leveza e alta resistncia

    mecnica, ...ficando atrs apenas do titnio e do Kevlar. (GLENN, 1950).

    Dentro do conceito de desenvolvimento sustentvel, o bambu se mostra uma

    tima alternativa construtiva em substituio madeira, j que esta cresce muito

    mais lentamente que a primeira, atingindo seu tamanho ideal para corte numa

    mdia de 30 anos ou mais. O bambu a planta que cresce mais rpido, podendo

    crescer at 25 centmetros por dia. Algumas espcies completam seu crescimento

    em 40 dias, mas apenas depois de 3 anos se inicia o processo de lignificao e

    silificao. (MORADO, 1994)

    A palavra bambu possui uma origem misteriosa. atribuda a Ctesias, o mdico

    da corte da Prsia, a autoria dos primeiros escritos sobre o bambu. Uma das

    histrias por ele escrita, cita a cana da ndia como elemento utilizado pelos povos

    da ndia oriental para fabricao de canoas. Outros textos antigos indicam, porm

    que a palavra bambu vem de mambum, nome dado pelos nativos Mambupara a

    planta na regio da ndia.

    Valenovsky sustenta que o bambu tem sua origem na era Cretcea antes da era

    Terceria, onde o homem apareceu. Na pr-histria o bambu fazia parte

    significativa da vida do homem. Um dos principais elementos da idografia chinesa,

    denominado chu a representao em desenho de dois caules de bambu com

    ramos e folhas, figura esta que se estilizou com o tempo. (VIDAL, 2003)

    3. METODOLOGIA

    O presente estudo sobre o uso do bambu na arquitetura, com um foco estrutural,

    passa necessariamente pelo estudo do material e dos processos envolvidos at a

    sua utilizao. A pesquisa foi divididada em trs partes para que se pudesse

    estudar o material com sua devida abrangncia, porm formatada de forma a dar

    um panorama especfico da aplicao deste na arquitetura.

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    A primeira parte do trabalho consistiu ento, a partir de um levantamento de

    dados, na descrio do material e dos processos mais relevantes para a utilizao

    deste na estrutura.

    A segunda parte aqui descrita trata-se de um embasamento terico-prtico, feito

    atravs de ensaios de resistncia, para se comprovar a possibilidade estrutural.

    Os ensaios foram realizados no Laboratrio de Ensaios e Caracterizao de

    Materiais (da Escola de Engenharia de Materiais) com os tcnicos Luis Henrique e

    Maria Liba; e no Laboratrio de Estruturas (da Escola de Engenharia Civil), com

    o tcnico Abner Cabral Neto e com o professor Daniel Bentez Barrios. Os corpos

    de prova foram confeccionados no Laboratrio de Usinagem II da Escola de

    Engenharia Mecnica, e namarcenaria da Faculdade de Desenho Industrial.

    Por fim, na terceira parte, os estudos de caso mostram obras realizadas em

    bambu, como forma de demonstrar a viabilidade tcnica destas construes, e

    explicitar sua linguagem na arquitetura. Atravs disto, pretende-se que possam ser

    utilizadas como referncias projetuais. No primeiro estudo de caso foi realizada a

    visita aos projetos de Simm Vlez no Hotel do Frade & Golf Resort, com o apoio

    do engenheiro agrnomo Carlos V. Rodrigues. O segundo estudo de caso foi o

    pavilho da ONG IBIOSFERA, construo onde foi ministrado curso de Bio-

    Arquitetura pelos arquitetos Edoardo Aranha e Francisco Lima, este, servindo

    como complementao prtica ao trabalho de pesquisa. O terceiro estudo de caso

    foi a visita ao restaurante do Parque Natural Agropecurio da Costa Rica -

    PANACA. Um empreendimento ecolgico, com projeto da arquiteta colombiana

    Maria Mercedes.

    4. RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1. O material bambu, e os processos sign ificativos

    Atualmente acredita-se que no mundo existam aproximadamente entre 1250 e

    1300 espcies de bambu, sendo que delas, 400 so encontradas no Brasil. Os

    bambus so classificados em trs grupos segundo as caractersticas de seus

    rizomas. Estes so os caules subterrneos que crescem e se reproduzem fazendo

    a colonizao do territrio. O grupo paquimorfo ou simpodial, caracterizado por

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    rizomas curtos, grossos, macios, e que apresentam as razes secundrias na

    parte inferior. Estes rizomas curtos originam brotos prximos ao caule original,

    formando touceiras, portanto tambm chamados de entouceirante. O grupo

    leptomorfo ou monopodial caracterizado por rizomas de forma cilndrica ou

    quase cilndrica, geralmente com dimetro menor do que os caules que geram. Os

    entrens so compridos e raramente macios. Os rizomas se ramificam em longas

    distncias, constituindo este grupo tambm classificado como alastrante. O grupo

    Anfipodial possui rizomas com ramificao dos dois tipos dependendo das

    condies de desenvolvimento. Como exemplos dos tipos de rizomas nos bambus

    mais utilizados na construo civil, podemos citar o Dendrocalamus giganteus(chamado de bambu-gigante, bambu-balde) que paquimorfo ou entouceirante.

    Outro bambu, um dos mais utilizados e tambm dos mais resistentes o Guadua

    angustifolia (aqui no brasil conhecido como taquaruu), que leptomorfo ou

    alastrante. Como estrutura bastante utilizado tambm no brasil o bambu

    Phyllostachys pubescens, conhecido como bambu-mos ou bambu-chins. Este

    genero (Phyllostachys) o mais variado, possui um grande numero de espcies,

    alm de colmos dos mais variados tipos, tamanhos, cores e formas.

    A qualidade dos colmos de bambu para sua utilizao em estruturas de grande

    importncia e depende de muitos fatores. Apesar do bambu possuir altos valores

    de resistncia mecnica, principalmente trao e compresso, h muitos

    aspectos que na prtica so dificilmente resolvidos, devendo ser estudados, e

    normatizados, para possibilitar sua aplicao. (CARDOSO, 2000).

    A idade em que o bambu colhido influencia relevantemente, pois a resistncia do

    bambu s atingida aps o perodo de maturidade (ou sazonamento), atingindosua resistncia mxima entre trs e seis anos de idade. O teor de umidade no

    colmo a ser colhido tambm est diretamente relacionado com as propriedades

    fsicas e mecnicas aps a secagem. Com um teor de umidade alto, maior a

    possibilidade do bambu apresentar fissuras ou rachaduras quando seco.

    Relacionado tambm ao teor de umidade est a presena de amido e acares no

    colmo. Portanto os colmos devem ser colhidos na poca de menor pluviosidade,

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    quando os solos esto secos e a atividade de lquidos dentro do colmo menor.

    Desta forma dimunui-se a susceptibilidade ataques de insetos que se alimentam

    de amido, principalmente o Dinoderus minutus, conhecido como broca ou

    caruncho do bambu. Muitas das culturas que utilizam o bambu preservam a

    tradio de colher o bambu principalmente na lua minguante, garantindo colmos

    menos vulnerveis. Este fato foi comprovado cientificamente por Pinzon(2002),

    que relacionou a presena de carboidratos em amostras de Guadua Angustifolia,

    com as fases da lua.

    Os tratamentos fsicos ou qumicos so tambm fundamentais e procuram

    proteger os bambus atravs de trs princpios: retirar , bloquear, ou transformar o

    amido dos colmos. As possibilidades de tratamento diferenciam-se basicamente

    pelo fatores de custo, sustentabilidade e eficincia. So alguns exemplos de

    tratamento: Cura na mata, Cura pela gua, Secagem ao fogo, Secagem ao ar,

    Secagem em estufa, Tratamento por substituio da seiva/transpirao,

    Tratamento sob presso, Tratamento por imerso, Tratamento por banho quente,

    Tratamento em autoclave. Segundo a bibliografia, o bambu pode ter uma vida til

    de at quatro anos quando no tratados e de 20 a 50 anos quando submetidos atratamentos adequados e utilizados corretamente. (NUNES,2005)

    O presente tambm estudou algumas das tcnicas mais utilizadas para as unies

    estruturais de peas de bambu, este tambm um dos assuntos mais relevantes

    na utilizao do material.

    O bambu no resiste s pregaes, devido sua constituio ser basicamente

    composta por fibras paralelas muito longas, com densidade especfica muito alta,

    principalmente nas paredes externas, com grande tendncia ao fendilhamento. As

    ligaes mais indicadas, por proporcionar maior estabilidade, so as parafusadas,

    pois h um corte das fibras, sem o afastamento entre elas, evitando assim as

    fissuras (CARDOSO, 2000).

    As ligaes parafusadas possuem a vantagem de permitir ajustes de acordo com

    a trabalhabilidade do material, j que o bambu apresenta muita variao

    dimensional em funo da umidade relativa do ar, ou ainda, do trmino do

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    processo de secagem de peas utilizadas. Uma das tcnicas utilizadas para evitar

    o cisalhamento so as ligaes com a colocao de peas cilndricas de madeira

    no interior dos colmos (figura 2), tendo como fator negativo a dificuldade de

    produo da pea em larga escala pela variao do dimetro interno dos bambus.

    Uma soluo j consagrada foi criada por Simm Vlez, o qual tem trabalhado

    com bambu por um longo perodo, desenvolvendo uma nova tecnologia para

    conectar os colmos de bambu em suas estruturas. A soluo encontrada,

    conhecida como Ligao Vlez consiste na abertura de um orifcio na parte

    superior do colmo de bambu parafusado onde, aps o travamento da estrutura,

    ocorre a injeo de concreto. Esta soluo visa evitar o cisalhamento, patologia

    que pode ser causada na utilizao dos parafusos para unio e fixao das peas

    estruturais. Com o simples aumento da superfcie de contato do parafuso e da

    parede de bambu, evitam-se as fissuras e o esmagamento, talvez as

    caractersticas mais desfavorveis na utilizao do bambu na estrutura.

    Figura n 3: Esquema da ligao com parafusos. Fonte: HIDALGO (1981)

    Figura n 2: Enrijecimento deligaes.Fonte: HIDALGO(1981)

    Figura n 1: Sequncia deesmagamentoFonte: HIDALGO (1981)

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    4.2. ESTUDOS DE CASO

    Os estudos de caso so anlises de obras realizadas que visam mostrar o que se

    tem feito, principalmente no Brasil com estruturas de bambu.

    4.2.1. Obras do Hotel do Frade & Golf Resort

    As obras do Hotel do Frade em Angra dos Reis, construdas com bambu, surgiram

    partir de uma integrao entre a equipe do arquiteto colombiano Simm Vlez e

    a empresa Bambu-Jungle, conveniada ao hotel. Ela consiste de uma fazenda

    especializada em culturas e comercializao de palmito, grama e bambu, servindo

    ao hotel e tambm a projetos externos. Na execuo destas construes, a equipe

    do arquiteto colombiano precisou formar a mo de obra que seria utilizada,

    ensinando assim os empregados a utilizarem as tcnicas para o trabalho com o

    novo material. Esta mo de obra seria utilizada posteriormente pela Bambu-

    Jungle. A visita, guiada pelo engenheiro agrnomo Carlos V. Rodrigues, foi

    realizada primeiramente nas duas principais construes em bambu do hotel, que

    so o restaurante e a recepo, e posteriormente uma casa projetada por Vlez

    localizada no Condomnio do frade, alm dos quiosques do hotel feitos pela

    Bambu-Jungle.

    4.2.1.1. Recepo do Hotel do Frade & Golf Resort

    Figura n 15: Recepo do Hotel do frade. Fonte: Marquez, 2007

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    O projeto de Vlez para a recepo se constitui de um polgono de oito lados, com

    uma estrutura dividida em duas linhas circulares e concntricas contendo os

    pilares que apiam a cobertura. Esta cobertura uma estrutura espacial, que

    tambm poderia ser chamada de cpula de linhas retas. As peas estruturais so

    dispostas de forma circular e radial, sendo que no encontro delas h o anel de

    rigidez como travamento. A concepo arquitetnica da cobertura uma das

    caractersticas da arquitetura de Simm Vlez.

    Entre a sobreposio dos telhados existe um espacamento vertical que constitui o

    sistema de ventilao natural do edifcio. O bambu utilizado para a construo foi

    o Dendrocalamus giganteus, ou bambu gigante, fornecido pela fazenda do hotel e

    tratado quimicamente em autoclave.

    Os pilares externos so inclinados de forma que suportam um grande beiral.

    Assim, tanto o pavilho aberto quanto estrutura ficam protegidos da chuva. J os

    pilares internos possuem uma inclinao seguindo a direo das cargas atuantes

    advindas da cobertura.

    Figuras n 16 e 17: Recepo do Hotel do frade. Fonte: Marquez, 2007.

    Os elementos que suportam a parte inferior do telhado so dispostos como ramos,

    levando de toda a rea da cobertura as cargas para a disposio dos pilares. No

    anel central da estrutura o arquiteto utiliza as vigas como feixes estruturais, os

    quais so compostos por vrios colmos que so travados por parafusos. Os

    colmos parafusados so preenchidos com concreto nos entrens das ligaes,

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    soluo j reconhecida na literatura, como ligaes Tipo Vlez. Nesta construo

    tambm so utilizadas barras de ao internamente nos colmos de bambu, fazendo

    a ligao de peas, e principalmente a ligao dos pilares fundao. Esta

    tecnologia que foi proposta por Vlez, at ento inovadora, o colocou na

    vanguarda da produo da arquitetura em bambu ao permitir a realizao de

    construes impressionantes, com grandes vos, grandes balanos, e maiores

    cargas na estrutura, na execuo de construes com dois ou mais pavimentos.

    4.2.1.2. Restaurante do Hotel do Frade & Golf Resort

    O sistema que compe toda esta construo projetada por Vlez semelhante ao

    sistema utilizado na recepo do hotel, porm com diferenas no aspecto geral e

    no desenho dos feixes de peas estruturais. O restaurante se constitui de um

    pavilho retangular, com uma estrutura dividida tambm, assim como a recepo,

    em duas linhas principais de apoio contendo os pilares que suportam a cobertura.

    Os pilares perifricos so constitudos de dois colmos de bambu cada, separados

    por um outro segmento de colmo entre eles. Os pilares internos so compostos de

    quatro varas, sendo que uma delas se destina ao apoio da parte inferior da

    cobertura (junto com os pilares perifricos), e as outras trs formam um desenhotriangulado que apoia a parte superior da cobertura, um telhado mais elevado e

    que possui um grande beiral em balano.

    Figuras n 18 e 19: Restaurante do Hotel do frade. Fonte: Marquez, 2007

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    4.2.1.3. Casa no condomnio do Frade

    Esta casa no condomnio do Frade foi o primeiro dos projetos de Vlez em Angra

    dos Reis. A estrutura da casa organizada basicamente em trs prticos grandes,

    que vencem o vo das salas, trs prticos menores, que contm a cozinha e rea

    de servio, e dois anexos laterais, um deles maior contendo quartos. O bambu

    utilizado o Dendrocalamus giganteus, e as ligaes utilizam concreto injetado.

    (Ligao Vlez). Embora no tenha sido possvel aprofundar o estudo de

    construo, por no se encontrarem os proprietrios da casa na data da visita,

    trata-se de uma residncia com um aspecto singular, elevando o atual padro de

    construes com bambu.

    Figuras n 20 e 21: Casa no condomnio do frade. Fonte: Marquez, 2007

    4.2.2. Pavilho Sede da ONG scio-ambiental IBIOSFERA

    A construo do pavilho da IBIOSFERA foi (e tem sido) parte prtica de cursos

    de bio-arquitetura promovidos pela citada ong e ministrados pelos arquitetos

    Edoardo Aranha e Francisco Lima. Toda a construo segue ao mximo os

    preceitos de construo ecolgica, no uso dos materiais de construo, na

    implantao do edifcio no terreno, e no uso dos recursos, principalmente gua e

    tratamento dos efluentes. O projeto, conforme os arquitetos, foi inspirado nas

    construes colombianas. O Pavilho em formato octogonal possui 120 m de

    rea interna e 130m de rea coberta.

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    Figuras n 22 e 23: Sede da Ong IBIOSFERA. Fonte: Marquez, 2007

    A estrutura feita com bambu Phyllostachys Pubescens, ou bambu mos,

    adquirido j tratado e com origem no Rio de Janeiro. Possui oito pilares. Cada um

    dos pilares composto por quatro colmos de bambu, com travamentos entre eles

    em trs momentos. O espaamento entre os colmos do pilar traz a ele uma maior

    inrcia e permite que se faa a ligao com os outros elementos estruturais num

    sistema de sanduche. Cada pilar possui duas mos francesas; uma estruturando

    a viga de cobertura, e outra suportando o beiral. (que nada mais do que uma

    continuao desta ltima) Este desenho, traz equilbrio pea e vir a proteger aestrutura da chuva. A fundao feita em concreto armado e termina elevada do

    solo entre meio um metro. Esta medida tambm protege os bambus da umidade,

    alm de servir de base de apoio para os colmos quando realizada a concretagem

    soldando os pilares fundao. Os pilares possuem em seus primeiros noventa

    centmetros de altura barras de ao internamente, que so preenchidos com

    concreto flido atravs de buracos feitos com serra-copo. Ao contrrio das

    construes de Simm Vlez, apenas a base dos pilares concretada, de acordocom os arquitetos, pela pequena carga que a estrutura ir suportar. A partir desta

    deciso torna-se necessrio um maior cuidado com as unies das peas

    estruturais com parafusos, devido tendncia ao cisalhamento das fibras do

    bambu. Os parafusos foram utilizados com a preocupao de serem colocados

    sempre o mais prximo possvel de um dos ns do colmo de bambu. Foram

    utilizados tambm anis de borracha para aumentar o ponto de contato entre a

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    arruela e a superfcie do bambu, diminuindo as tenses em torno dos parafusos

    nas unies estruturais.

    .

    Figura n 24: Encontro dos pilares com a fundao na Sede da IBIOSFERA. Fonte: Marquez, 2007

    Figura n 25: Detalhe do prtico na Sede da IBIOSFERA. Fonte: Marquez, 2007

    O pavilho se comporta como um sistema fechado, onde quatro dos pilares,

    juntamente com suas vigas de cobertura e suas estruturas para os beirais, formam

    o desenho de prticos, sendo que os outros elementos servem de travamento, ou

    seja, formando o desenho de prticos interrompidos. Essa diferena entre as

    quatro vigas de cobertura contnuas e as quatro vigas interrompidas constitui o

    espao das aberturas laterais da cobertura, que servem para iluminao e

    ventilao natural do pavilho.

    4.2.3. Restaurante do Parque Natural Agropecurio da Costa Rica - PANACA

    A Construo do restaurante do Parque Temtico Agropecurio em San Mateo,

    Costa Rica, foi uma das primeiras obras do empreendimento em fase de

    implantao. Realizada, a obra chama a ateno de quem passa pela estrada

    vinda da capital (San Jos) em direo ao litoral pacfico daquele pas. Todo

    construdo com materiais naturais, o restaurante tem um apelo ecolgico aliado a

    um sistema construtivo diferenciado.

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    Figuras n 26 e 27: Aspecto geral e vista interna do restaurante do Parque Natural Agropecurio da

    Costa Rica - PANACA. Fonte: Marquez, 2007

    O espao foi projetado por Maria Mercedes, arquiteta do empreendimento, que

    tambm como Simm Vlez, colombiana. A estrutura do restaurante se constitui

    de 14 pilares distribudos na periferia de um espao retangular, que possui uma

    modulao de 6 por 3 pilares. A cobertura de fibras naturais apoiada em

    elementos estruturais de bambu. Os pilares so mistos: da fundao de concreto

    at a altura dos beirais so constitudos de troncos de madeira, na altura da

    estrutura de apoio dos beirais, feita a transio; surgem quatro colmos de bambua partir de ranhuras nas toras.

    Figuras n 28 e 29 e 30: Vista interna da cobertura, detalhes do encontro entre peas estruturais.

    Restaurante do Parque Natural Agropecurio da Costa Rica - PANACA. Fonte: Marquez, 2007

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    As mos francesas dos beirais se apiam em ilhs, e estes so presos aos pilares

    de troncos por barras de ao. Assim como nas obras visitadas projetadas por

    Simm Vlez, nesta todas as varas de bambu da estrutura so concretadas

    internamente. O bambu utilizado tem as mesmas dimenses e colorao do

    moss (Phyllostachys pubescens), porm um dos construtores presentes, que

    explicou sobre o empreendimento, no soube confirmar a espcie utilizada. A

    estutura da cobertura aqui tem uma diferena das obras visitadas de Simm Vlez

    por utilizar feixes de colmos de bambu dispostos como vigas, as quais contm trs

    varas sobrepostas cada uma. Estas vigas inclinadas possuem triangulaes como

    reforo. No chegam a ter o desenho de uma trelia, mas vencem o vo dorestaurante com um aspecto bem interessante.

    5. CONCLUSO

    Como concluso deste trabalho, fica clara a inteno de explicitar as

    possibilidades arquitetnicas e estruturais do material. As obras construdas com

    bambu possuem uma linguagem prpria deste sistema, com aspecto de extrema

    beleza e leveza.

    A pesquisa demonstra a grande capacidade de resistncia do bambu e o seu

    potencial para construo. A resistncia do Bambu mos (Phyllostachys

    Pubescens) demonstrou ser trao equivalente resistncia do ao,

    apresentando valor de 249 MPa. Na compresso, a resistncia de

    proporcionalidade mdia foi de 100 MPa. No cisalhamento o bambu apresenta

    seu ponto crtico como material pois sua resistncia chega a ser de 7 MPa . Os

    ensaios apresentados demonstram a influncia do teor de umidade na resistncia

    do bambu. Entretanto, podemos afirmar que parte dos bambus ensaiados

    estavam praticamente secos ao ar, pelo fato de terem sido testados aps um

    longo perodo depois de adquiridos. Tambm podemos apontar para a

    necessidade de se determinar a posio do corpo de prova em relao ao colmo

    de onde foi retirado, alm da certificao da origem e procedncia do bambu

    utilizado.

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    As obras visitadas demonstram sua viabilidade de uso devido a fatores como

    flexibilidade e sua adaptao as diversas formas. Nos projetos em geral os

    arquitetos optaram por trabalhar com as barras em feixes, fato este que diminui o

    nmero de execuo de ns e encaixes, consequentemente diminui a

    possibilidade de ruptura por cisalhamento. A soluo encontrada por Simm

    Vlez para evitar o cisalhamento foi injetar concreto no n, entretanto soluo

    considerada por muitos arquitetos anti-ecolgica, preferindo buscar solues

    alternativas como por exemplo a encontrada pelos arquitetos Edoardo Aranha e

    Francisco Lima, que possuem a preocupao de utilizar parafuso sempre o mais

    prximo possvel de um n do bambu. Mesmo assim ainda utilizam tambm anisde borracha para aumentar o ponto de contato entre a arruela e a superfcie do

    bambu, o que diminui as tenses em torno dos parafusos nas unies estruturais.

    A partir destas concluses entende-se a relevncia das pesquisas com bambu

    continuarem a ser realizadas na universidade, com a correo dos eventuais

    defeitos nos testes, alm da incluso de novas espcies e aprofundamento das

    questes do bambu e da arquitetura.

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    CRUZ, Martha Lissette Snchez. Caracterizao fsica e mecnica de colmosinteiros do bambu da espcie Phyllostachys aurea: Comportamento

    flambagem. 2002. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) - Pontifcia

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    DUNKELBERG, Klaus. Bamboo as a building material , in: IL31 Bambus, Karl

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    Clemson College Engineering Experiment Station. Bul. 4. Clemson, S.C, 1950

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    Cristvo, 2005.

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