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METODOLOGIA CIENTÍFICA 1 CONHECIMENTO E CIÊNCIA O tema apresenta concepções sobre o conhecimento humano e suas classificações, além de referendar a ciência, seus princípios e suas características. Por fim, apresenta o que é pesquisa científica e seus meios de produção. 1.1 CONHECIMENTO HUMANO Este encontro aborda as concepções sobre conhecimento humano, enfatizando a maneira pela qual ele é produzido. Desta forma, serão debatidas as dimensões que o conhecimento assume para suprir as diferentes necessidades humanas. O conhecimento humano se processa à medida que nos defrontamos com os fatos, fenômenos e objetos no mundo, de maneira direta ou indireta. Segundo Luckesi e Passos (2002), o sujeito cognitivo se apropria diretamente do conhecimento a partir do enfrentamento entre ele mesmo e o mundo exterior mediatizado pela experiência, isto é, o sujeito é desafiado por uma nova circunstância que se apresenta e ele empreende esforços e métodos para desvelar o seu sentido e atribuir significado. Já a apropriação indireta da realidade parte da compreensão inteligível que fazemos sobre esta via entendimento já produzido por outro, isto é, existe um mediador que experimentou e comunicou o conhecimento, revelando a sua interpretação sobre a realidade. Ambas as modalidades de conhecimento são imprescindíveis para a compreensão do mundo pelo homem, são retro-alimentadas mutuamente e estão profundamente relacionadas. A educação é um recurso potencial capaz de proporcionar conhecimento ao sujeito. Entretanto ressalvo algumas experiências educativas inovadoras, o sujeito tem recebido passivamente o conhecimento que, na maioria das vezes, é imposto pela ideologia dominante, através das instituições de ensino. Neste sentido, a prática educativa não deve se restringir apenas à transmissão e manutenção do legado de conhecimentos, sobretudo, incitar o debate sobre as suas construções, relações e implicações, querem de natureza epistemológica, filosófica, histórica, cultural, éticas, morais ou sociais. O levantamento de problemas e a construção de

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METODOLOGIA CIENTÍFICA

1 CONHECIMENTO E CIÊNCIA

O tema apresenta concepções sobre o conhecimento humano e suas classificações, além de

referendar a ciência, seus princípios e suas características. Por fim, apresenta o que é pesquisa

científica e seus meios de produção.

1.1 CONHECIMENTO HUMANO

Este encontro aborda as concepções sobre conhecimento humano, enfatizando a maneira pela

qual ele é produzido. Desta forma, serão debatidas as dimensões que o conhecimento assume

para suprir as diferentes necessidades humanas.

O conhecimento humano se processa à medida que nos defrontamos com os fatos, fenômenos

e objetos no mundo, de maneira direta ou indireta. Segundo Luckesi e Passos (2002), o sujeito

cognitivo se apropria diretamente do conhecimento a partir do enfrentamento entre ele mesmo e

o mundo exterior mediatizado pela experiência, isto é, o sujeito é desafiado por uma nova

circunstância que se apresenta e ele empreende esforços e métodos para desvelar o seu

sentido e atribuir significado. Já a apropriação indireta da realidade parte da compreensão

inteligível que fazemos sobre esta via entendimento já produzido por outro, isto é, existe um

mediador que experimentou e comunicou o conhecimento, revelando a sua interpretação sobre

a realidade. Ambas as modalidades de conhecimento são imprescindíveis para a compreensão

do mundo pelo homem, são retro-alimentadas mutuamente e estão profundamente

relacionadas.

A educação é um recurso potencial capaz de proporcionar conhecimento ao sujeito. Entretanto

ressalvo algumas experiências educativas inovadoras, o sujeito tem recebido passivamente o

conhecimento que, na maioria das vezes, é imposto pela ideologia dominante, através das

instituições de ensino. Neste sentido, a prática educativa não deve se restringir apenas à

transmissão e manutenção do legado de conhecimentos, sobretudo, incitar o debate sobre as

suas construções, relações e implicações, querem de natureza epistemológica, filosófica,

histórica, cultural, éticas, morais ou sociais. O levantamento de problemas e a construção de

hipóteses, a partir de conhecimentos prévios, para além da investigação de teorias, reforçam o

diálogo entre os atores sociais e contribuem para a discussão e reflexão dos fatos.

Neste sentido, se insere a discussão sobre a educação matemática como campo de formação

do sujeito e neste debate importa diferenciar o matemático do educador matemático. O

primeiro, por exemplo, tende a conceber a matemática como um fim em si mesmo e, quando

requerido a atuar na formação de professores de matemática, tende a promover uma educação

para a matemática priorizando os conteúdos formais e uma prática voltada à formação de novos

pesquisadores em matemática, explicam Fiorentini e Lorenzato (2006).

O segundo - o educador matemático – concebe a matemática como um meio ou instrumento

importante à formação intelectual e social de crianças, jovens e adultos e também do professor

de matemática do ensino fundamental e médio e, por isso, tenta promover uma educação pela

matemática. Ou seja, o educador matemático, na relação entre educação e matemática, tende a

colocar a matemática a serviço da educação, priorizando esta última, mas sem estabelecer

dissociação entre ambas (FIORENTINI; LORENZATO, 2006).

O educador, de maneira geral, deve problematizar o conhecimento junto aos estudantes, e

também as disciplinas, os conteúdos, os significados e os significantes. Isso implica

desenvolvimento de um esforço político, autodisciplina e consciência crítica que lhe permita:

a)Questionar toda forma de pensamento único, o que significa introduzir a suspeita sobre

as representações da realidade baseadas em verdades estáveis e objetivas.

b)Reconhecer, diante de qualquer fenômeno, [...] as versões da realidade que

representam e as representações que tratam de influir.

c)Incorporar uma visão crítica que leve a perguntar-se a quem beneficia essa visão dos

fatos e a quem marginaliza...

d)Introduzir, diante do estudo de qualquer fenômeno, opiniões diferenciadas, de maneira

que o aluno comprove que a realidade se constrói desde pontos de vista diferentes, e que

alguns se impõem frente a outros não pela força dos argumentos, mas sim pelo poder de

quem os estabelece [...]. (HERNÀNDEZ, 1998, p. 33).

Se o educador perseguir este pensamento e atitude, não se restringirá, apenas, à transmissão e

manutenção do legado de conhecimentos materializados “pela cultura e pela existência do

homem branco, ocidental, heterossexual e de classe média” (LOURO et al, 2003, p. 42), mas

levaria a efeito a contestação de uma cultura hegemônica e monolítica que silencia, portanto,

nega a sociedade plural, protagonizada por grupos organizados coletivamente em torno de

identidades culturais. Assim, as demandas culturais e os novos paradigmas da educação levam

a efeito uma nova concepção de conhecimento humano.

Muitas são as concepções que demarcam um novo olhar sobre o conhecimento e a educação

na atualidade: não mais a transmissão de conteúdos, e sim a formação de sujeitos cognitivos

com competências e habilidades para enfrentar situações inesperadas, solucionar problemas,

acompanhar o desenvolvimento do conhecimento em suas áreas de interesse e respeitar a

pluralidade cultural planetária. Isso possibilitou uma revisão sobre a função social da educação,

já que a educação, na perspectiva de Brandão (2003), é uma fração da experiência

endoculturativa. Ela aparece sempre que há relações entre pessoas e intenções de ensinar-

aprender.

Sendo assim, devemos considerar que a educação abrange os processos formativos que se

desenvolvem em várias esferas: na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas

instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e

nas manifestações culturais, conforme expressa o artigo 1º da LDB (1996). Já Morin (2001),

afirma que a educação é, ao mesmo tempo, transmissão do antigo e abertura da mente para

receber o novo. Mas o que é o novo? Como se dá o conhecimento, afinal? Vejamos na próxima

seção.

1.1.1 TEORIA DO CONHECIMENTO

O encantamento e a curiosidade do ser humano ao contemplar a Natureza, o Universo, enfim,

as coisas que o cercam, dá início ao processo do conhecimento, que termina por produzir o

saber de forma metódica e organizada. Isto só é possível porque existe o sujeito e o objeto. O

sujeito é aquele que conhece ou está disponível a conhecer e refere-se ao sujeito cognoscente,

inteligível, que possui uma consciência que lhe permite a apropriação e compreensão dos fatos,

fenômenos e objetos ao seu entorno. O objeto, por sua vez, se refere àquele que está

disponível a ser conhecido, ou seja, o cognoscível, caracterizado pelos artefatos da natureza

em geral.

Assim, a relação entre o sujeito e o objeto produz o conhecimento humano e o saber. Portanto,

o termo conhecimento vem do latim e significa cognoscere, conhecer pelos sentidos. O

conhecimento passa a existir quando o indivíduo traduz, pelo pensamento e linguagem, a

experiência vivenciada.

Portanto, o conhecimento e/ou o ato de conhecer se origina na busca de resolução dos diversos

problemas humanos, bem como às inquietações inerentes ao viver.

A teoria do conhecimento é como seu nome indica uma teoria, isto é, uma explicação ou

interpretação filosófica do conhecimento humano. Mas, antes de filosofar sobre um objeto, é

necessário examiná-lo minuciosamente e decompô-lo.

Uma exata observação e descrição do objeto devem preceder qualquer explicação e

interpretação. É necessário, pois em nosso caso, observar com rigor e descrever com exatidão

aquilo a que chamamos conhecimento, esse peculiar fenômeno de consciência. Ao conhecer, o

homem procura apreender os traços gerais essenciais de um dado fenômeno, por meio da

experiência e autorreflexão.

O fenômeno do conhecimento apresenta-se em seus aspectos fundamentais da seguinte

maneira: no conhecimento encontram-se frente a frente o sujeito (consciência) e o objeto

(mundo); o conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes dois elementos; o

dualismo sujeito e objeto pertencem à essência do conhecimento. Vejamos o esquema a seguir:

A relação entre sujeito e objeto apresenta-se como uma correlação. A função do sujeito

consiste em apreender o objeto e a do objeto em ser apreendido pelo sujeito. Daí se origina o

conhecimento, como fruto da razão humana e das experiências vivenciadas e acumuladas pelo

sujeito cognoscente. A crítica é uma ferramenta fundamental para avaliação do conhecimento

existente, consequentemente, para a produção de novos conhecimentos.

Veja, a seguir, um breve esquema sobre a noção de conhecimento nas correntes filosóficas do

racionalismo, empirismos e interacionismo:

1. Racionalismo (RAZÃO) – o conhecimento é inato ao homem. Este já nasce com a razão

pura, com o conhecimento, isto é, com certas noções prévias sobre as coisas que existem no

mundo. O sujeito influencia o objeto.

Pensador: René Descartes.

2. Empirismo (EXPERIÊNCIA) – o homem é semelhante a uma “tabula rasa” e, através da

experiência com as coisas do mundo ele adquire e acumula conhecimentos. O objeto influencia

o sujeito.

Pensador: John Locke.

3. Interacionismo (INTERAÇÃO) – o homem modifica o meio em que vive e, ao mesmo tempo,

é modificado por ele, ou seja, o homem é produto e produtor do meio no qual se insere. Há uma

relação recíproca entre sujeito e objeto, eles se influenciam mutuamente.

Pensador: Immanuel Kant

1.1.2 CONHECIMENTO: CONCEITOS E FUNDAMENTOS

O conhecimento pode ser visto como a apreensão da realidade por meio do pensamento e a

capacidade de tornar lúcido ao pensamento o que se apreendeu. Para Luckesi e Passos (2002,

p.15), o conhecimento pode ser definido como “elucidação da realidade”, isto é, o esforço de

enfrentar o desafio da realidade, buscando o seu sentido, a sua verdade. Já Aranha e Martins

(1993, p.21), definem o conhecimento como “[...] o pensamento que resulta da relação que se

estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido”.

Enfim, conhecimento refere-se, ainda, a uma qualidade humana de interagir ativamente sobre o

mundo a fim de garantir a sobrevivência humana. O homem, utilizando de suas capacidades,

procura conhecer o mundo que o rodeia, produzindo, assim, conhecimentos. A dimensão do

conhecimento abrange o ato de conhecer, representado pela relação que se estabelece entre a

consciência que conhece e o mundo conhecido e o produto, resultado do conteúdo desse ato,

ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem ao longo da história da humanidade.

Se buscarmos a palavra francesa connaissance, podemos observar que o termo conhecimento

é originário da palavra nascer (naissance). Os homens são diferentes dos outros seres

exatamente pela capacidade de conhecer, sua consciência. O conhecimento é uma forma de

estar no mundo, e o processo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais são seres

prontos ou possuem formulações absolutas na medida em que estão sempre nascendo de

novo, descortinar a realidade.

Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero “dar-se conta de”, e significa

a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita

sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se

sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido – que

já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim,

modelos de apreensão – que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros (FRANÇA, 1994,

p. 140).

O célebre educador brasileiro Paulo Freire (1979), explica que o conhecimento não pode ser

visto como um ato, através do qual, um sujeito, transformado em objeto, recebe, passivamente,

os conteúdos que o outro lhe oferece ou lhe impõe. O conhecimento exige uma posição de

enfrentamento e de transformação sobre a realidade, em um percurso constante de busca,

portanto, de invenção e reinvenção. Ele impõe uma reflexão crítica do sujeito sobre o ato de

conhecer a fim de que identifique os condicionamentos a que seu ato está submetido. Já, para

o sociólogo e pensador francês Edgar Morin (1986, p. 16),

O conhecimento é um fenômeno complexo e multidimensional, simultaneamente elétrico,

químico, fisiológico, celular, cerebral, mental, psicológico, existencial, espiritual, cultural,

lingüístico, lógico, social, histórico. Oriundo necessariamente de uma atividade cognitiva,

determina uma competência de ação, constituindo-se no saber que intermédia ambos os

processos.

Na filosofia, conforme as palavras de Abbagnano (1970, p. 45), o conhecimento encontra-se

definido como:

[...] um procedimento operacional, uma técnica de verificação de um objeto qualquer, isto

é, qualquer procedimento que torne possível a descrição, o cálculo ou a previsão

controlável de um objeto; e por objeto de entender-se qualquer entidade, fato, coisa,

realidade ou propriedade, que possa ser submetido a tal procedimento.

Ao materializar-se, o conhecimento assume diferentes formas: do senso comum, da ciência, da

filosofia, da religião. Isto corresponde aos quatro tipos de conhecimentos existentes: o senso

comum ou conhecimento empírico; o conhecimento religioso; o filosófico; e o científico. Estes

são os tipos mais comuns de conhecimento, muito embora alguns autores delimitem outros

tipos, como o intuitivo e o mítico. Entretanto na próxima seção iremos nos ater aos quatro

principais.

SÍNTESE

Nesta seção, vimos que o sujeito é aquele que quer conhecer; e o objeto é aquele a ser conhecido; e que

a relação entre ambos resulta no conhecimento humano. Curioso é que o homem (sujeito cognoscente) é

o único elemento que pode ser sujeito e objeto do conhecimento. Isto porque ele é dotado de uma

consciência que lhe permite investigar e ser investigado, embora em circunstâncias distintas.

Ex.: O cientista (homem) pode estudar outro homem em várias perspectivas: da sociologia, investigar o

homem na interação com os grupos sociais; na medicina, analisar a fisiologia do homem e as reações

químicas do organismo; na biologia, avaliar os impactos do ecossistema no homem etc.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete silva. Introdução à filosofia: aprendendo a pensar. 4. ed.

São Paulo: Cortez, 2002.

INDICAÇÕES DE SITES

http://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei22.htm

http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues/Formacao_do_Educador/Sociedade_re

de_2004.pdf

1.2 TIPOS DE CONHECIMENTO

Este encontro versa sobre os tipos de conhecimento humano, seus conceitos, suas

características, e a importância das várias tradições e maneiras de desvendar a realidade,

enfatizando o conhecimento científico.

Compreender os níveis de conhecimento é um importante instrumento para maior orientação

prática no dia a dia, superação da ignorância e da obscuridade face à realidade, libertação

individual e social, além do uso dos diferentes níveis como suportes para a ação humana.

Com o propósito de explicitar os processos de produção e os modos de apropriação do

conhecimento, se insere o tema em debate. Como já evidenciado, o conhecimento pode assim

ser categorizado: popular, religioso, filosófico e científico. Apesar desta separação didática no

processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito pode penetrar nas diversas categorias,

já que se encontra em contato permanente com tradições distintas de produção do

conhecimento ao longo da história.

1.2.1 CONHECIMENTO POPULAR

O conhecimento popular, também denominado de vulgar, empírico ou senso comum, resulta do

modo espontâneo e corrente de conhecer. É o conhecimento que deu embasamento a todos os

outros. Surgiu no início da caminhada empreendida pelo ser humano através de sua relação

com o mundo na expectativa de sobrevivência e seguirá enquanto o ser humano existir. Para

Ander-Egg (1978), as características do conhecimento popular são: "superficial, sensitivo,

subjetivo, assistemático e acrítico".

É superficial porque não se aprofunda nas observações, acredita no que viu e na maneira como

foi contado o fato. É sensitivo porque se contenta com as aparências e emoções do cotidiano.

É subjetivo porque é o próprio sujeito quem organiza o saber e as experiências, tanto aqueles

que as obtêm por vivência, quanto aos que as aprenderam por "ouvir dizer". É assistemático

porque não sistematiza as experiências e as ideias, nem tampouco a forma como as adquiriu e

nem as tentativas de validá-Ias. Esta característica fundamenta-se na "organização" particular

das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, na

procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta

a transmissão de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. Finalmente, é acrítico porque

sendo verdadeiro ou não, sempre recebe críticas.

O conhecimento empírico não explica o porquê da ocorrência dos fatos ou fenômenos. Ele se

basta por si só, porque se refere à sobrevivência do homem e é passado de geração a geração.

O conhecimento popular, academicamente é tido ainda como, valorativo, por excelência, pois

se fundamenta em uma seleção operada com base em estados de ânimo e emoções; é

também verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se

pode perceber no dia a dia. Finalmente é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e

com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de

hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas.

Barros e Lehfeld (1986), classificam de conhecimento sensível o senso comum e relaciona com

características as mesmas já indicadas. Apenas usa as terminologias, destituído de método,

para assistemático e impregnado de projeções psicológicas para acrítico. Vejamos as

classificações a seguir:

a)Superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar

simplesmente estando junto das coisas, expressando-se por frases como "por que o vi", "por

que o senti", "por que o disseram", "por que todo mundo o diz".

b)Sensitivo, ou seja, referente às vivências, aos estados de ânimo e às emoções da vida diária.

c)Subjetivo, pois é o próprio sujeito quem organiza suas experiências e conhecimentos, tanto os

que adquirem por vivências próprias quanto os "por ouvi dizer".

d)Assistemático, pois esta "organização" das experiências não visa à sistematização das ideias,

nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las.

e)Acrítico, pois verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se

manifesta sempre de forma crítica.

1.2.2 CONHECIMENTO RELIGIOSO

O conhecimento religioso ou teológico sempre foi direcionado no sentido de se compreender a

realidade do homem e do Universo. Não demonstra e nem experimenta. Explica tudo pela fé e

revelação divina. Conforme Lakatos e Marconi (2003), este conhecimento se apóia em

doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo

sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis, e

indiscutíveis (exatas); é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade

e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificáveis: estão sempre

implícitas uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento

religioso parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por

consistirem em "revelações" da divindade.

O conhecimento teológico supõe e exige a autoridade divina; nele se fundamenta e só a ele

atende; a ciência ao contrário, não supõe, não exige, não admite autoridade; a ciência só

admite o que foi provado, na exata medida em que se podem comprovar experimentalmente os

fatos.

Santos (2002), explica que depois do senso comum este tipo de conhecimento é o mais antigo.

Derivou do conhecimento mítico e se confunde com ele na explicação do princípio de tudo.

Nesta fase mítica dois ramos de interpretação se estabelecem. Um admitia a existência de

vários deuses para explicar, o bem, o mal, os fenômenos e as coisas. O outro admitia um só

Deus soberano, criador e sustentador de tudo e de todos; e tudo, escrito, falado e registrado,

era transmitido por revelação de Deus. Os livros sagrados representam este tipo de

conhecimento.

1.2.3 CONHECIMENTO FILOSÓFICO

O conhecimento filosófico como o próprio termo indica é originário da Filosofia. Esta palavra foi

utilizada pela primeira vez por Pitágoras no século VI a.C. Em sentido etimológico, Filosofia

significa devotamento à sabedoria, isto é, amigo da sabedoria, o que significa interesse em

acertar nos julgamentos sobre a verdade e a falsidade, sobre o bem e o mal.

A Filosofia tem como propósito questionar os problemas reais, usando princípios racionais. Ela

procede de acordo com as leis formais do pensamento, tem método próprio, predominante-

mente dedutivo em suas colocações críticas. A filosofia pode ser definida ainda como o

conjunto de estudos ou considerações que se caracterizam pela intenção de ampliar a

compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la em sua inteireza, quer pela busca da

realidade capaz de abranger todas as outras, quer pela definição do instrumento capaz de

apreender a realidade.

Assim, podemos considerar que a filosofia indaga, traça rumos, assumir posições, estruturas

correntes que inspiram ou dominam mentalidades em determinados períodos, mas que, em

seguida, perdem vigor diante de novas concepções, que geralmente hostilizam as anteriores, à

maneira das correntes literárias, das artes em geral ou das religiões.

Para Santos (2002), o conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste

em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipótese filosóficas baseiam-

se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da

experimentação"; por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os

enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não

podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir em um conjunto de

enunciados logicamente correlacionados; é sistemático, pois suas hipóteses e enunciados

visam à representação coerente da realidade estudada, em uma tentativa de apreendê-la em

sua totalidade; é infalível e exato, seja na busca da realidade capaz de abranger todas as

outras, seja na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados,

assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação

(experimentação). Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão

pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado,

unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana.

1.2.4 CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento científico é representado pela Ciência e pode ser definido como o conjunto

organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, obtido mediante a observação, a

experiência dos fatos e um método próprio. Neste sentido, são requisitos básicos do

conhecimento científico: a) que o campo do conhecimento seja delimitado, bem caracterizado e

formulado o assunto que se deseja investigar; b) que existam métodos adequados de pesquisa

para o estudo em questão. Diferentemente do que acontece com o conhecimento vulgar, o

conhecimento científico não atinge simplesmente os fenômenos em sua manifestação global,

mas os atinge em suas causas, na sua constituição íntima, caracterizando-se, desta forma, pela

capacidade de analisar, de explicar, de justificar, de induzir ou aplicar leis, isto é, de predizer

com segurança eventos futuros.

O conhecimento científico visa conhecer pelas causas, isto é, saber cientificamente, é também

ser capaz de demonstrar. O conhecimento científico difere do conhecimento vulgar porque

explica os fenômenos e não só os apreende. O conhecimento científico é crítico, rigoroso,

objetivo, nasce da dúvida e se consolida na certeza das leis demonstradas.

Lakatos e Marconi (2003), caracterizam o conhecimento científico da seguinte forma: é real

(factual) porque lida com ocorrência ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se

manifesta de algum modo". Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou

hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela

razão, como ocorre com o conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber

ordenado lógica-mente, formando um sistema de ideias (teorias) e não conhecimentos

dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as

afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.

Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por

este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas

podem reformular o acervo de teoria existente.

Esse tipo de conhecimento se distingue dos demais tipos apresentados, visto que oferece a

verificação do fato pesquisado, é falível e sistemático. A ciência se preocupa em estabelecer as

propriedades e os padrões interdependentes entre as propriedades, para construir as

generalizações ou as leis. Não se duvida, entretanto que muitas das disciplinas científicas

existentes têm surgido das preocupações práticas da vida cotidiana, como a geometria dos

problemas de medição e levantamento topográfico nos campos; a mecânica de problemas

apresentados pelas artes arquitetônicas; a biologia dos problemas humanos [...] (TRUJILLO,

1982, p. 6). Assim, podemos considerar que a pesquisa científica deve ser orientada para

buscar resolver ou apresentar soluções para os problemas sociais, econômicos, políticos e

científicos existentes.

Conforme o exposto, o conhecimento científico é estruturado, limitado e utilizam-se modelos,

verificáveis, falíveis, aproximadamente exatos. Assim, concluímos que as verdades científicas

são provisórias e nunca absolutas e acabadas.

Barros e Lehfeld (2000, p. 38), destacaram os seguintes princípios sobre o conhecimento

científico:

O conhecimento científico surgiu a partir das preocupações humanas cotidianas e esse

procedimento é consequente do bom senso organizado e sistemático. O conhecimento

científico transcende o imediatamente vivido e observado, buscando a formulação de

paradigmas. O conhecimento científico, considerado como um conhecimento superior

exige a utilização de métodos, processos, técnicas especiais para a análise,

compreensão e intervenção na realidade. A abstração e a prática hão de ser dominadas

por quem pretende trabalhar cientificamente.

Conforme apresentação e descrição dos tipos de conhecimento e suas características

principais, vejamos, de forma breve e resumida, as características apresentadas por Santos

(2002).

SÍNTESE

Para finalizar este encontro, apresentamos, brevemente, a concepção e a classificação de Jean Piaget

sobre o conhecimento e apropriação da realidade. Ele acreditava que o conhecimento só poderia ser

construído através da atuação do indivíduo com o meio ou da interação do indivíduo; e, assim, definiu

três tipos de conhecimento:

Conhecimento físico: conhecimento das propriedades físicas dos objetos e eventos. É um conhecimento

inerente ao objeto (descoberta, através da experiência, da natureza dos objetos), resultante a ação sobre

o ambiente.

Conhecimento lógico-matemático: conhecimento construído pelo sujeito, mediante as experiências com

os objetos. Refere-se aos conceitos elaborados sobre um grupo de objetos; e também é resultante da

ação sobre o ambiente.

Conhecimento social: conhecimento construído a partir de convenções estabelecidas por grupos sociais

ou culturais. É um conhecimento desenvolvido através das interações entre sujeitos.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

SANTOS, Izequias Estevam dos. Textos selecionados de métodos e técnicas de pesquisa científica. 3.

ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002.

INDICAÇÃO DE SITES

http://br.geocities.com/perseuscm/espiritocientifico.html

http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/dad/lpd/download/tiposdeconhecimento.rtf

http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01136/piaget-epistemo.htm

1.3 A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Esta seção de encontros aborda as concepções existentes sobre ciência, considerando seu

contexto histórico e cultural, os elementos que a caracterizam e as suas limitações no cenário

contemporâneo. Analisaremos a importância da estruturação do conhecimento científico na

evolução da sociedade.

1.3.1 A CIÊNCIA E O FAZER CIENTÍFICO

Não podemos abordar o fazer científico sem antes considerar o que é ciência, qual o seu

objetivo e o seu papel na sociedade. Estas questões são fundamentais para compreensão dos

processos científicos que o estudante deve lançar mão para organizar os conhecimentos

adquiridos ao longo de sua vida acadêmica.

Vamos, então, iniciar o nosso debate com o conceito de Ciência. Ele pode ser concebido como

um conjunto de conhecimentos, que se dá através da utilização adequada de métodos

rigorosos, capazes de controlar os objetos, fatos e fenômenos investigados. Relaciona-se esse

conhecimento aos objetos empíricos, passíveis de observação e experimentação.

A etimologia da palavra ciência:

Ciência (scire) é saber, conhecer.

Barros e Lehfeld (2000, p. 41), explicam: “a ciência é também definida como sendo o estudo de

problemas formulados adequadamente em relação a um objeto, procurando para ele soluções

plausíveis, através da utilização de métodos científicos”.

Para Ander-Egg (1978), em sua obra “Introdución a las técnicas de investigación social”, a

ciência é um conjunto de conhecimentos racionais e prováveis, que é obtido de forma metódica,

sistematizada e verificável.

Já Trujillo (1974), a define da seguinte maneira: “a Ciência é todo um conjunto de atitudes e

atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser

submetido à verificação”.

Assim, em todas as áreas do conhecimento humano a ciência através da pesquisa científica

visa descrever, explicar e prever os fenômenos que integram a realidade em questão, tornando

o mundo inteligível mediante interpretações racionais e sistemáticas em que se assegura o

conhecimento científico. Entre os objetivos da ciência estão a busca do controle prático da

natureza, a descrição e a compreensão do mundo e a possibilidade de predição. Estes são

determinados pela necessidade que o sujeito possui de compreender e controlar os fenômenos

que o cercam.

Portanto, é a necessidade do homem por uma compreensão mais aprofundada do mundo, bem

como a necessidade de precisão para a troca de informações, que acabam levando-o à

elaboração de sistemas mais estruturados de organização do conhecimento.

Conforme Trujillo (1974), a ciência manifesta-se através de métodos e construções intelectuais

que:

_ Possibilitam a interpretação e a explicação adequada dos objetos, fatos e fenômenos da

realidade;

_ Visam à verificação dos fenômenos, através da observação e experimentação;

_ Possibilitam a observação racional e o controle dos fatos;

_ Fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento dos princípios e das leis.

Segundo Ferrari (1982, p. 3), o papel da ciência na visão contemporânea é o de proporcionar:

“aumento e melhoria do conhecimento; descoberta de novos fatos e fenômenos;

aproveitamento espiritual, aproveitamento material do conhecimento; estabelecimento de certo

tipo de controle sobre a natureza”.

Assim, é do conhecimento científico e/ou da pesquisa científica que a Ciência se constitui, por

isso buscamos estabelecer a relação entre ambas. A pesquisa científica é um processo que

começa quando se coloca um problema que precisa de solução, e para encontrá-la o sujeito, ou

melhor, o especialista social, deve elaborar um projeto de pesquisa que lhe permita descobrir,

explicar e, se possível, prever determinadas situações, bem como repercussões que a solução

proposta há de ter no social, afirma Soriano (2004).

1.3.2 CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA

Muitos são os conceitos de ciência, pois cada autor imprime sua visão sobre o conteúdo. No

que diz respeito à sua contextualização histórica, podemos dividir a ciência em três períodos,

representados por suas características e paradigmas teóricos, que alteram a visão de homem,

mundo, bem como a ciência e o método. As fases históricas são: a ciência grega, representada

pelo período que vai do século VIII a.C. até o final do século XVI; a ciência moderna, do século

XVII até o início do século XX e a ciência contemporânea que surge no início deste século e

perdura até os dias.

1- Ciência Grega

Na Grécia antiga, a partir do século VIII a.C. e alcançando o século IV a.C. A ciência tinha como

princípios fundamentais a compreensão da natureza e a busca pela verdade e pelo saber e era

conhecida como “filosofia da natureza”. Nesta época, o conhecimento científico era vinculado

ao campo da filosofia, tendo os grandes filósofos como cientistas. Nesta fase, não havia a

distinção entre ciência e filosofia.

A filosofia também conhecida como “mãe de todas as ciências”, foi responsável pela origem dos

diversos ramos do conhecimento, por exemplo, a biologia, a física, a ética, a aritmética, a

metafísica, a antropologia, a medicina e tantas outras ciências. O conhecimento científico

produzido era demonstrado como correto e justificável através de argumentos lógicos. Nesta

fase, não havia um tratamento sistemático do problema, mas sim a preocupação com a

demonstração da tese, tendo como recurso usual o discurso e a lógica.

Anaximandro, Heráclito, Empédocles, Tales de Mileto, Parmênides, Pitágoras, Anaxágoras,

Demócrito – conhecidos como os pré-socráticos; e Sócrates, Platão e Aristóteles são alguns

dos principais filósofos deste período.

2- Ciência Moderna

A ciência moderna, resultante da revolução científica do Renascimento, é caracterizada,

basicamente, pela experimentação científica, o que acarretou mudança na visão de mundo,

especialmente, de ciência, de verdade, de conhecimento e de método. Nesta fase, as tradições

de natureza religiosa, filosófica, ou cultural, foram abandonadas, pois distorciam a verdadeira

visão do mundo.

A verdade passa a ter como critério, na ciência moderna, a relação entre a assertiva dos

enunciados e a evidência dos fenômenos, direcionada pelo experimento científico e seus

métodos rigorosos. Dentre os principais nomes da ciência moderna, estão: Bacon, Galileu,

Newton, Copérnico e Kepler.

Conheça o esquema de método de Galileu Galilei, basilar da ciência contemporânea e,

consagrado neste período, segundo Santos (2002, p. 94):

3- Ciência Contemporânea

Com os teóricos contemporâneos, a exemplo de Einstein, Bohr e Heisenberg, dentre outros, o

mito da pesquisa isenta de influências subjetivas foi desencorajado. A ciência moderna foi

caracterizada, sobretudo, pela proposta de uma interpretação humana sobre a experiência,

mais do que uma simples descrição da realidade. O cientista examina, julga e critica suas

formulações, em um movimento de revisão constante, com o auxílio das novas tecnologias da

informação e comunicação.

No final do século XIX e início do XX, ocorre uma tomada de consciência de que a ciência

necessita de reavaliação, por parte de alguns pensadores, que passaram a colocar em dúvida a

validade dos métodos científicos utilizados naquela época. Desta forma, o próprio conceito de

ciência é questionado, seus critérios, a noção de certeza, da relação entre ciência e realidade e

a veracidade dos modelos científicos na compreensão da realidade.

Além dos pensadores citados, um grande expoente da epistemologia contemporânea é Karl

Popper. Este teórico defendeu a tese de que o cientista deve ocupar-se muito mais com o

possível levantamento de teorias que refutem sua tese, do que com explicações e justificações

que asseguram sua validade.

Depois de Popper, a história da ciência é agraciada com a contribuição de Kuhn. Este teórico

negou a teoria anterior e sustentou que a ideia de que a ciência progride pelo ideal de

refutação, que possibilita a construção de novas teorias. Estas produzem novos paradigmas,

que servem como referência para a produção de outros conhecimentos.

Feyerabend chegou a uma síntese a partir das duas teses anteriores. Ele defendeu o pluralismo

metodológico, desacreditando as posições positivistas, ideia de um método único, capaz de

responder às indagações da pesquisa. Acredita que as normas de pesquisa são violadas, pois o

cientista desenvolve aquilo que mais lhe agrada. Assim, estes três pensadores modificaram

profundamente a noção de ciência como absoluta, previsível, controlável e destituída de

subjetividade por quem a produz.

No contexto atual, marcado pela velocidade de informações, o método científico vem sofrendo

um acentuado processo de mudança. Segundo Santos (2002), o cientista moderno busca

chegar à verdade perpassando as fases a seguir: a) descobrimento do problema; b)

delineamento do problema; c) uso de instrumentos relevantes; d) tentativa de solução com

meios identificados; e) invenção de novas ideias; f) obtenção de uma resposta aproximada; g)

pesquisa das consequências em relação à solução obtida; h) confronto das respostas; i)

correção das hipóteses; e caso a solução for incorreta começa-se um novo ciclo.

Características da Ciência

Barros e Lehfeld (2000), abordam as seguintes características como constituintes da ciência: a)

racionalidade; b) coerência; c) representação do real; d) questionamento sistemático; e)

analítica; f) exige investigação e utilização de métodos; g) agrupa objetos da mesma espécie

para a investigação; h) é comunicável. Vejamos suas definições:

Racionalidade: utilização do raciocínio analítico, lógico e sintético, desconsiderando as

impressões subjetivas e a emoção. Trata-se da racionalização do conhecimento, caracterizada

pela sistematização e coordenação metódica do raciocínio, observação, conclusão e aplicações

frente aos fatos, fenômenos e objetos da natureza.

Coerência: investigação sistemática entre a ideia e o fato, isto é, visa estabelecer concordância

entre o objeto e o conhecimento, procurando aferir a verdade a uma determinada realidade. Em

uma perspectiva crítica visam atingir à objetividade e à mensuração na pesquisa.

Representação do Real: representa um quadro abstrato e codificado do real, isto é, o conteúdo

concreto apreendido pelos sentidos, pelo pensamento sobre a realidade circundante.

Questionamento Sistemático: a ciência, através de seus estudos, busca sempre sua supera-

ção.

Para tanto, lança mão do questionamento contínuo, do debate, das justificativas e das

demonstrações e críticas pondo em dúvida a legitimidade dos argumentos e das razões

fundamentais.

Analítica: delimitação e decomposição do objetivo do estudo. Analisar significa examinar cada

fragmento e/ou parte de um todo. Trata-se de um estudo pormenorizado que se empreende no

exame de cada parte de um todo, tendo em vista conhecer sua natureza, suas proporções,

suas funções, suas relações.

Exige investigação e utilização de métodos: utilização rigorosa de estratégias para pesquisar,

indagar, inquirir o fenômeno estudado. Trata-se de um caminho pelo qual se atinge determinado

objetivo, lançando mão de métodos seguros e confiáveis de se validar o conhecimento.

Agrupa objetos da mesma espécie para a investigação: trata-se da extensão de um princípio ou

de um conceito a todos os casos a que se pode aplicar. Esta característica pode ser entendida

como processo pelo qual se reconhecem caracteres comuns a vários objetos singulares, daí

resulta quer na formação de um novo conceito ou ideia quer no aumento da extensão de um

conceito já determinado que passe a cobrir uma nova classe de exemplos, a fim de facilitar a

investigação científica.

Comunicável: uma vez validadas, as descobertas científicas, são comunicadas à sociedade,

pois servem de estímulo à resolução dos demais problemas individuais e sociais.

Limitações da Ciência: o homem sempre empreendeu esforços para validar como verdade as

descobertas sobre o mundo e, para tanto, utilizou os princípios de objetividade, universalidade e

neutralidade científica para seus experimentos, visando à interpretação e explicação dos

objetos, fatos e fenômenos. Entretanto como produto eminentemente humano, a ciência não se

caracteriza pela perfeição. Por este fato, ela está em constante processo de renovação. Novos

aparatos tecnológicos e procedimentos científicos são desvendados e promovem a descoberta

de novas leis e teorias científicas.

Na visão de Demo (2000, p. 46),

A ciência é edifício bastante frágil: o melhor que pode alcançar é a oferta de apreciação

continuamente cambiante de como as coisas funcionam. Nosso conhecimento é sempre

atacável e provisório. Cada nova teoria científica está condenada a ser objetada sempre

pela seguinte.

Sendo assim, a ciência é tão mutável como quem a produz: o homem. Toda resposta a

questionamentos científicos favorece uma gama de outras discussões. O que significa dizer que

é do conhecimento novo que se originam tantos outros, uma espécie de lapidação da verdade,

basta fazer uma analogia com o processo de lapidação do diamante. Assim também ocorre com

o conhecimento humano. Tosco no princípio, mas aos poucos, torna-se capaz de resolver uma

diversidade de problemas, especialmente, a cura para doenças e revoluções tecnológicas.

A ciência e a tecnologia são os pilares fundamentais para atender aos objetivos de aumento e

melhoria do conhecimento humano, mas elas não poderão ser bem sucedidas senão por uma

integração da ciência e da cultura e, por uma aproximação integrada, que vise sobrepujar a

fragmentação que se encontra o pensamento humano, encabeçado pela concepção

mecanicista do conhecimento. Na visão de Weill (1993), acumulamos conhecimentos em

quantidade. Mas, sem sabedoria para usá-los, podemos destruir-nos e ao mundo no qual

habitamos.

O autor acredita que o homem quebrou a unidade do conhecimento e distribuiu os pedaços

entre os especialistas. Para os cientistas, entregamos a natureza; aos filósofos, à mente; aos

artistas, ao belo; aos teólogos e à alma. Não satisfeitos, fragmentamos a própria ciência,

espalhando-a pelos domínios da matemática, da física, da química, da biologia, da medicina e

de tantas outras disciplinas. O mesmo ocorreu com a filosofia, a arte e a religião, cada um

desses ramos se subdividindo ao infinito.

Entretanto a proposta da ciência contemporânea é de síntese e de integração entre as tradições

construídas pela humanidade ao longo da história, pois devemos ter como princípio, a

reorientação da ciência e da tecnologia em direção das necessidades fundamentais do homem,

considerando não apenas os progressos da informática, da biotecnologia, de engenharia

genética, mas a integração do pensamento e da ação humana, bem como a incorporação de

uma nova consciência para a produção ética de novos conhecimentos.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BARROS, Aidil Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia

Científica: um guia para a iniciação científica. São Paulo: Makron Books, 2000

CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, p.

11-69

CHAUÍ, Marilena. A preocupação com o conhecimento. In:______. Convite à filosofia. 12. ed. São

Paulo: Ática, 2001, p. 109-119.

1.4 PESQUISA CIENTÍFICA

Apresentamos, neste encontro, as concepções epistemológicas da pesquisa científica que

tomaram fôlego ao longo da história e seus princípios teóricos, bem como os pensadores que

as representaram.

As concepções de ciência são marcadas pelo seu contexto histórico e cultural, portanto, a

ciência, em sua evolução, adquiriu concepções diferenciadas e estes paradigmas influenciaram

os processos que envolvem a pesquisa científica. As diversas correntes passaram a agregar a

epistemologia das ciências. Como estamos nos referindo à concepção epistemológica da

ciência, cabe elucidar o conceito de epistemologia; já que o conceito de ciência foi abordado em

seções anteriores.

A epistemologia é um ramo da filosofia que tem por objetivo principal estudar os pressupostos

ou fundamentos do conhecimento científico em geral e de cada ciência em particular.

A "filosofia da ciência" (o mesmo que epistemologia) é um ramo extremamente amplo cujos

principais temas nem sempre estão de acordo com os seus teóricos. A falta de consenso não

deve ser motivo de grande preocupação ou tampouco de desistência por parte daqueles que se

iniciam nas sendas do conhecimento científico. Basta observar que, apesar dos inúmeros

problemas colocados pelos estudiosos da epistemologia, a ciência ocupa um lugar de especial

relevância no mundo contemporâneo. Além do mais, não podemos esquecer que as ciências

estão continuamente em formação. Certos setores ou limites de uma determinada ciência dão

lugar, com o passar do tempo, a ciências novas e a novas correntes científicas.

Os teóricos da ciência (epistemólogos) estudam diversas questões, tais como os diferentes

tipos e evolução das teorias científicas, a lógica da linguagem científica e seus aspectos

metodológicos. Sem dúvida, o primeiro grande tema da epistemologia é definir que tipo de

saber é o científico e quais os paradigmas que o circundam. Várias respostas têm sido dadas a

essa questão e, de uma maneira geral, nenhuma delas é plenamente absoluta. Vejamos, então,

as correntes existentes e uma breve explicação de seus fundamentos.

1.4.1 POSITIVISMO

Encabeçado pelo filósofo francês Auguste Comte, também considerado o pai da Sociologia, o

positivismo representa uma corrente científica que tem como fundamento principal a

experimentação, sob influência das ciências experimentais no início do século XIX. A Ciência é

representada pela maturidade do espírito humano e a imaginação está subordinada à

observação, sendo eminentemente previsível e controlável.

Comte foi o grande expoente do positivismo. Ele defendeu a tese de que o homem, em seu

processo de conhecimento, assume três estágios de explicação: teológico; metafísico; positivo

ou científico. O primeiro é caracterizado pelas explicações mitológicas; o segundo, pelas

explicações místicas; e o terceiro, pelas fundamentações científicas. Este último tem como foco

central a observação; os estudos descritivos; a existência dos fenômenos; utilização de

modelos matemáticos, por isso, o uso de técnicas estatísticas; as relações entre variáveis e

fatos.

Nessa abordagem, o pesquisador necessita observar os fenômenos com cuidado especial, a

fim de quantificar suas variáveis e atingir os resultados, por meio da isenção da subjetividade.

Para tanto, deverá lançar mão de alguns métodos das ciências exatas, transpondo-as às

ciências sociais e humanas, o que certamente reduz a amplitude da análise.

A Ciência, nesse caso, tem como propósito essencial estabelecer relações entre os fatos e

descrevê-los com detalhamento. Apesar de o positivismo ter ganhado grande aderência e

representatividade na segunda metade do século XIX, atualmente, perdeu parte de sua

influência, por causa dos contra-argumentos de outros grupos ou organizações, no século XX.

Apesar de algumas críticas, esta teoria é bastante utilizada nos centros de pesquisas, por se

tratar de uma elaboração sistemática e metódica acerca da realidade, especialmente, pelas

pesquisas de caráter experimental e quantitativo.

Auguste Comte (1798-1857) é apontado como o iniciador da "ciência", especialmente a

Sociológica. Ele foi professor de matemática da Escola Politécnica (Paris) e em 1842 publicou,

em seis volumes, o seu principal livro, Curso de Filosofia Positiva. Sua doutrina seguiu

posteriormente um curso sensivelmente distinto após ter conhecido Clotilde de Vaux. Os

fundamentos dessa nova fase do seu pensamento encontram-se no livro “Sistema de Política

Positiva”, publicado, em quatro volumes, no ano de 1851. Além de se preocupar com questões

práticas e morais, Comte instituiu nessa obra a "religião positivista da humanidade" que,

governada por sociólogos-sacerdotes, deveria oferecer finalmente uma unidade e harmonia de

pensamento, sentimentos e ações entre os homens. Muitos seguidores de Comte romperam

com ele devido a essa proposta.

Este pensador exerceu profunda influência em outros teóricos, principalmente em Herbert

Spencer e Émile Durkheim. Desenvolveu uma teoria ou doutrina conhecida como positivismo ou

filosofia positiva.

1.4.2 FUNCIONALISMO

Entre as décadas de 1930 e 1960, o funcionalismo foi a teoria dominante nas ciências sociais.

Nos fins do século XX, perdeu grande parte de sua representatividade, mas não ficou

desaparecida. Segundo essa cor-rente, a Ciência incorpora uma visão de sistema, portanto, ela

trata de proceder a investigações sobre formas duráveis da vida sociocultural de uma dada

realidade. A ciência social por excelência analisa o desempenho e posições de papéis, normas,

organizações, funções etc.

O sociólogo francês Émile Durkheim é o expoente do funcionalismo. Nesta corrente, à medida

que há ordem, ocorre o progresso. Para ele, cada indivíduo exerce uma função específica na

sociedade e sua má execução compromete o funcionamento desta. Por sociedade, entende um

todo em funcionamento, como um sistema de operação.

Para interpretar a sociedade, realizou estudos sobre o fato social. Este define como elemento

exterior à medida que existe antes do próprio indivíduo; e coercitivo na medida em que a própria

sociedade posiciona suas normas, sem a opinião dos sujeitos dela partícipes.

O método funcionalista toma a sociedade como uma estrutura complexa de grupos ou

indivíduos reunidos em uma trama de ações e reações sociais, isto é, como sistema de

instituições sociais correlacionadas entre si, em uma relação de ação e reação. Assim, a teoria

funcionalista enfatiza a existência de regras e valores comuns essenciais à manutenção

(ordem) de uma sociedade.

Auguste Comte, Herbert Spencer e Émile Durkheim foram os sociólogos que mais influenciaram

o funcionalismo. Todos eles partem do pressuposto de que a sociedade pode ser vista como

um "organismo biológico", constituído de uma estrutura orgânica ou sistêmica. Desta maneira, a

sociedade é concebida como um conjunto composto de elementos que interagem entre si para

a manutenção e harmonia de um todo. Os componentes do sistema contribuem

significativamente para o pleno funcionamento da sociedade.

O filósofo e sociólogo francês Émile Durkheim é um clássico para as ciências sociais. Suas

obras são até hoje lidas e servem como referência para muitos teóricos das ciências sociais.

Foi professor da Sorbonne e o primeiro professor da cadeira de sociologia nessa instituição.

Através da revista por ele coordenada, L'Année Sociologique, influenciou muitas áreas do

conhecimento social, como a antropologia, a história e a linguística. Em 1893 publicou sua tese

de doutorado, A Divisão Social do Trabalho; em 1895, seu principal trabalho, As Regras do

Método Sociológico. Logo em seguida, em 1897, aplicou a sua metodologia no seu livro O

Suicídio, um das pesquisas mais importante na história da sociologia. A sua obra mais famosa é

As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912).

Durkheim é considerado fundador da "Escola Objetiva Francesa", a qual congregava um

conjunto de cientistas sociais que participava da revista L’Année Sociologique, por ele fundada.

O seu pensamento é usualmente classificado como "realismo sociológico", devido a sua

concepção de tratar os fenômenos humanos como dotados de uma realidade específica.

Durkheim também é um dos principais representantes da sociologia sistêmica, na qual há uma

grande ênfase na análise dos desempenhos de sujeitos individuais ou coletivos que interagem

mediante comportamentos específicos (morais, econômicos, políticos, religiosos etc.) previstos

por normas reguladoras. A ideia de sistema social é norteadora nesse tipo de análise

sociológica.

1.4.3 ESTRUTURALISMO

A corrente estruturalista toma a realidade social como um conjunto formal de relações. A

Ciência é entendida como um procedimento teleológico da historicidade e da finalidade a se

atingir, por isso, é construído através de inquisições. Por teleológico entende-se argumento,

conhecimento ou explicação que relaciona um fato à sua causa final.

O método funcionalista foi um dos mais utilizados para analisar a língua, a cultura e a

sociedade. O Estruturalismo é melhor visto como uma abordagem geral com muitas variações

diferentes, entretanto de modo geral, ele visa explorar as inter-relações, isto é, as estruturas,

através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura.

Existem marcadas diferenças entre os autores que compõem essa "escola", mas todos eles

manifestam uma preocupação em analisar as estruturas sociais. Em termos gerais, o

estruturalismo procura as leis universais e invariantes da humanidade que operam em todos os

níveis da vida humana.

Para as ciências sociais, a obra mais importante no estruturalismo foi realizada pelo

antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, nascido no ano de 1908. Ele iniciou sua carreira

ensinando na Universidade de São Paulo. Lévi-Strauss analisou várias sociedades tribais. A

conclusão de Lévi-Strauss é a de que as verdadeiras estruturas fundamentais da sociedade são

as estruturas da mente humana. Em todo o mundo, os produtos humanos têm uma fonte básica

idêntica: o sistema mental. Mas esse sistema não é produto de um processo consciente.

Mais recentemente, os estudos estruturalistas adquiriram novas dimensões com os trabalhos

dos "pós-estruturalistas", também conhecidos como "neo-estruturalistas". O filósofo e cientista

social francês Michel Foucault é a figura mais representativa dessa corrente. A sua produção é

imensa e tem despertado cada vez mais interesse pelos historiadores. Seus principais livros:

História da Loucura, As Palavras e as Coisas, Arqueologia do Saber e História da Sexualidade.

Suas obras têm sido amplamente divulgadas nas pesquisas em educação e sua contribuição

perpassa o entendimento da cultura via as relações de poder.

O filósofo Claude Lévi-Strauss foi um grande teórico do Estruturalismo. Nasceu em Bruxelas,

mas chegou ao Brasil em 1930 para realizar estudos de campo com índios, o que o consagrou

antropólogo.

Em 1955 ganha reconhecimento nos círculos acadêmicos, tornando-se um dos intelectuais

franceses mais conhecidos, especialmente por publicar a obra Tristes Trópicos, livro auto

biográfico sobre seu exílio em 1930.

Após muitas publicações, Lévi-Strauss passou a segunda metade da década de 1960 se

dedicando a sua obra Mythologiques, distribuída em quatro volumes e merecedora de prêmios

no âmbito acadêmico. É doutor honoris causa de diversas universidades pelo mundo e continua

a publicar ocasionalmente volumes temáticos sobre artes, poesia, bem como experiências

pretéritas.

1.4.4 DIALÉTICA

O termo dialética, no mundo antigo, representava a arte do diálogo, do contraste, e ao mesmo

tempo, origem de ideias. A Ciência é definida como sendo o ato de se conhecer a análise do

processo do fenômeno como uma parte do processo de conhecimento, realizada a partir de

uma consciência crítica. A dialética não explica, não dá esquema de interpretação, ela apenas

prepara os quadros da explicação. Assim sendo, a concepção dialética de Ciência reproduz

um sistema de conhecimento em desenvolvimento que permite a elaboração de conceitos

relativos às atividades do indivíduo e, portanto, estabelece previsões a respeito da

transformação da realidade e da sociedade.

Esta abordagem é uma das mais utilizadas em pesquisas nas áreas de ciências humanas e

sociais, incluindo a educação, possuindo maior aplicação nestas ciências, do que em pesquisas

naturais, já que estas últimas são destituídas do fenômeno histórico subjetivo que a caracteriza.

Ela é aplicável nas investigações que utilizam técnicas bibliográficas e históricas com pesquisas

textuais, documentais, de registros e dados empíricos, priorizando a análise do discurso. O

esquema básico desta corrente é a trilogia tese, antítese e síntese. Na perspectiva da dialética

Hegeliana, a combinação de uma tese com uma antítese produz uma síntese, isto é, uma nova

tese. Desta maneira, o ciclo se inicia permanentemente e com ele a produção de novas ideias e

teorias.

Karl Marx fez doutorado em filosofia (1841) pela Universidade de Berlim e estudou

profundamente a teoria de Friedrich Hegel (1770-1831) e os escritos dos socialistas franceses.

Saindo da Alemanha, foi viver na França, onde conheceu Friedrich Engels (1820-1895), que se

tornou seu amigo, sendo benfeitor e colaborador pelo resto de sua vida. Expulso de Paris, Marx

muda-se para Londres (1849), onde permaneceu até sua morte e onde escreveu as obras

marcantes para as ciências sociais e humanas.

Seus principais trabalhos são: Manuscritos Econômico-Filosóficos (1844), Manifesto do Partido

Comunista (em parceria com Engels, 1848), e O Capital (cujo primeiro volume foi publicado em

1867). Antes de resumirmos os fundamentos do marxismo, é necessário chamar atenção para

dois aspectos importantes. O primeiro é que Marx não foi exatamente um sociólogo, embora

muito do seu pensamento se enquadre nos limites da sociologia. A teoria marxista extrapola

esses limites. Marx foi um pensador complexo - foi também filósofo, cientista político,

revolucionário, panfletista, economista - e sua obra teve uma influência marcante em diversas

disciplinas. Outro aspecto é o de que não existe uma teoria marxista, mas várias interpretações

e desdobramentos da obra de Marx.

Nesse sentido, o termo "marxismo" ora se refere ao pensamento de Marx ora a um grupo

variado de doutrinas filosóficas, sociais, econômicas e políticas fundadas em uma interpretação

do pensamento de Marx. Uma questão amplamente debatida é a de saber se houve ou não

"dois Marx". Os que defendem a tese de "dois Marx" dividem seu pensamento em dois

períodos: o primeiro de orientação mais filosófica, seguindo a tradição hegeliana (o METODOLOGIA

chamado "jovem Marx", em que expõe seu pensamento principalmente pelos "Manuscritos

Econômico-Filosóficos”, de 1844); o segundo, o Marx de "O Capital", quando se afasta da

filosofia e dedica-se a edificar uma ciência da economia política.

1.4.5 FENOMENOLOGIA

Na segunda metade do século XX nasce a fenomenologia, como oposição a separação entre

sujeito e objeto do conhecimento. Nesta corrente, a ciência é definida como a proposta da

compreensão representada pela intersubjetividade. A fenomenologia constitui-se em uma pré-

ciência positiva em suas origens, sendo que, após Husserl, outras vertentes fenômeno-lógicas

surgiram, tais como a fenomenologia existencial, a fenomenologia transcendental e a

fenomenologia dialética, que nesta seção, não se inserem como pontos centrais do nosso

debate.

Esta corrente tem como objetivo descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se

apresentam à percepção. Seu método compreende a percepção imediata dos fenômenos que

constituem a consciência humana, em uma direção intencional e produto dos atos humanos.

Alguns dos seus princípois epistemológicos são: observação e descrição do fenômeno, daquilo

que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência; ciência voltada para as

coisas como elas são; possui como elemento central a intencionalidade; estabelece uma nova

relação entre sujeito e objeto, sendo estes visualizados como pólos inseparáveis na construção

do conhecimento e da realidade; desmistifica a visão objetiva do mundo, centrada em uma

ciência neutra despojada de subjetividade, em oposição ao positivismo.

Husserl foi aluno do filósofo alemão Frans Brentano, o qual influenciou fortemente suas ideias

sobre a fenomenologia.

Mais tarde, veio a influenciar o pensamento e as obras de Heidegger, Sartre, Derrida, entre

outros.

Por volta de 1887, converte-se ao cristianismo e passa a ensinar filosofia até que, ao aposentar-

se, continuando ativo nas instituições de Friburgo, é surpreendido com sua demissão por causa

de sua ascendência judia.

1.4.6 MODELO HOLÍSTICO

Esta abordagem, segundo Barros e Lehfeld (2000), toma a natureza como reflexo da

composição de energia, que, por sua vez, se expressa como mediadora e como unidade da

matéria fundante de informações próprias do ser humano. Nesse sentido, o ser humano é

emoção, mente e corpo, garantido por um proces-so progressivo de formação e de

programações que se transfor-mam em objetos vitais entre o plano real e o ideal.

Nos aspectos sociais, mais amplos, essa dinâmica energética é traduzida pela expressão

sociopolítica (vida), pela economia (matéria), por leis, valores e ideologias. Por conseguinte, a

ciência é uma construção do conhecimento sem fragmentação, concebendo toda e qualquer

realidade ligada à perspectiva de totalidade.

2 PESQUISA E TRABALHOS

ACADÊMICOS

Este tema apresenta as diversas metodologias da pesquisa científica, os mecanismos

necessários à elaboração de trabalhos acadêmicos e às normatizações da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre apresentação de trabalhos, citações e referências.

2.1 AS METODOLOGIAS DA PESQUISA

Neste encontro, focamos o estudo sobre a pesquisa científica e seus tipos, sua validade e

importância para a descoberta de novos conhecimentos.

Abordaremos também os elementos necessários à elaboração de um projeto de pesquisa,

buscando instrumentalizá-los na construção de seu trabalho de conclusão de curso. Aproveite

ao máximo!

2.1.1 CONCEITOS SOBRE PESQUISA

Inicialmente, podemos considerar que pesquisar significa buscar respostas para as mais

diversas indagações e problemas humanos, sejam eles individuais ou coletivos.

A pesquisa pode ser vista também como uma atividade eminentemente cotidiana, sendo

considerada como uma atitude, um “questionamento sistemático crítico e criativo, mais a

intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em

sentido teórico e prático” (DEMO, 1996, p. 34).

Gil (1999, p.42), acredita que a pesquisa tem um caráter pragmático, é um “processo formal e

sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é

descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.

PESQUISA É...

Um conjunto de ações proposto para resolução de um problema, que tem por base

procedimentos racionais, sistemáticos e metódicos. A pesquisa é realizada quando se tem um

problema de investigação, isto é, algo ou alguma coisa que se pretende investigar. Não se

esqueça desse princípio!

2.1.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Para realizar uma pesquisa científica é fundamental saber usar os instrumentos adequados

para encontrar respostas, ou seja, formular as hipóteses ao problema levantado.

Na visão de Salomon (1999), podemos graduar as pesquisas científicas em:

_ Pesquisas Exploratórias e Descritivas – têm por objetivo definir melhor o problema, gerar

propostas de solução, descrever comportamentos de fenômenos, definir e classificar fatos e

variáveis. Não atingem o nível da explicação nem o da predição, encontrados nas pesquisas

“puras” ou “teóricas”, nem do diagnóstico e/ou solução adequada dos problemas deparados

nas pesquisas “aplicadas”.

_ Pesquisas Aplicadas – se destinam a aplicar leis, teorias e modelos, na solução de problemas

que exigem ação e/ou diagnóstico de uma realidade.

_ Pesquisas Puras ou Teóricas – têm como intenção ir além da simples definição e descrição

do problema. A partir da formulação de hipóteses claras e definidas, aplicação do método

científico de coleta de dados, o controle e a análise procuram inferir a interpretação, a

explicação e a predição.

Na definição de Gil (2001) e Demo (1996, 2000), encontramos a classificação das pesquisas

com base em seus objetivos e nos procedimentos técnicos adotados. Torna-se importante

determinar a metodologia e os procedimentos adotados que podem auxiliar o pesquisador no

bom andamento da investigação:

1. Classificação que tem como base os objetivos - três grandes grupos: pesquisas exploratórias,

pesquisas descritivas e pesquisas explicativas.

2. Classificação com base nos procedimentos técnicos adotados (para analisar os fatos do

ponto de vista empírico, para confrontar a visão teórica com os dados da realidade, é

necessário traçar o modelo conceitual e operatório): pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental, pesquisa experimental, levantamento, estudo de caso e pesquisa-ação.

Santos (1999), acrescenta à classificação apresentada por Gil, destacando a caracterização

das pesquisas, segundo as fontes de informações, ou seja, pesquisa de campo, pesquisa de

laboratório e pesquisa bibliográfica.

2.1.3 NÍVEIS DE PESQUISA

Em relação aos procedimentos técnicos, Gil (1991), classifica a pesquisa nos seguintes níveis:

Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida a partir de material já publicado, principalmente de livros,

artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Embora em quase

todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas

desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Segundo Lakatos e Marconi

(2003), sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito

ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham

sido transcritos por alguma forma, publicados, ou gravados. A bibliografia pertinente oferece

meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar

novas áreas nas quais os problemas não se fixaram suficientemente. Tem como objetivo

permitir ao pesquisador o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de

suas informações.

Assim, a pesquisa bibliográfica não é apenas repetição do que foi publicado sobre determinado

conteúdo, mas propicia o exame de um tema sob nova abordagem, chegando a conclusões

inusitadas.

Pesquisa-Ação: investigação realizada em estreita associação com uma ação ou com a

resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos

da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Ela tende a

ser vista em certos meios como desprovida da objetividade que deve caracterizar os

procedimentos científicos. A pesquisa-ação não é constituída apenas pela ação ou pela

participação, e sim, de discussão, fazendo avançar o debate das questões abordadas em uma

dada pesquisa através dos seus atores. Caso você se interesse no artigo da autora Selma

Garrido Pimenta, cujo título é “Pesquisa-ação crítico-colaborativa”: construindo seu significado a

partir de experiências com a formação docente.

Pesquisa Participante: segundo Demo (2000, p.21), a pesquisa prática “é ligada à práxis, ou

seja, à prática histórica em termos de usar conhecimento científico para fins explícitos de

intervenção; nesse sentido, não esconde sua ideologia, sem com isso necessariamente perder

de vista o rigor metodológico”. Confere-se a este tipo de pesquisa um componente político e

social que permite debater o processo de investigação a partir da concepção de intervenção na

realidade social. Esta pesquisa se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e

membros das situações investigadas. Conheça o histórico, a definição e a metodologia da

pesquisa participante.

Abordagens da Pesquisa

Pesquisa Quantitativa

Parte do pressuposto de que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números

opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas

estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação,

análise de regressão etc.).

É aplicada quando se deseja conhecer a extensão do objeto de estudo e aplicam-se nos casos

em que se buscam identificar o grau de conhecimento, as opiniões, impressões, seus hábitos,

comportamentos, seja em relação a um produto, sua comunicação, serviço ou instituição. Ou

seja, o método quantitativo oferece informações de natureza mais objetiva e aparente. Seus

resultados podem refletir as ocorrências do mercado como um todo ou de seus segmentos, de

acordo com a amostra com a qual se trabalha.

O questionário, por exemplo, é o instrumento de coleta de dados mais utilizado. Ele pode conter

questões fechadas (alternativas pré-definidas) e/ou abertas (sem alternativas e com resposta

livre). Na pesquisa quantitativa, a fim de comprovar as hipóteses, os recursos de estatística nos

dirão se os resultados obtidos são significativos ou descartáveis.

Este tipo de pesquisa baseia-se em rígidos critérios estatísticos, que servem de parâmetro para

definição do universo a ser abordado pela pesquisa. Como o nome já diz, o método quantitativo

é útil para o dimensionamento de mercados, levantamento de preferências por produtos e

serviços de parcelas da população, opiniões sobre temas políticos, econômicos, sociais, dentre

outros aspectos.

O desenvolvimento e aplicação do método quantitativo têm início com a definição dos objetivos

que o cliente pretende alcançar. Em seguida faz-se o levantamento amostral do universo, ou

seja, o número de entrevistas a ser realizado; elaboração aplicação de pré-teste para validação

do questionário e, posteriormente, a pesquisa em campo; apuração, cruzamento e tabulação

dos dados; e, por fim, elaboração de relatórios para análise estratégica.

Pesquisa Qualitativa

Toma como princípio a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto

é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode

ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são

básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas

estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o

instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados

indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Este tipo de pesquisa se caracteriza por reunir ou abrigar diferentes correntes de pesquisa.

Essas correntes se fundamentam em alguns pressupostos contrários ao modelo experimental e

adotam métodos e técnicas de pesquisas diferentes dos estudos experimentais. Os

especialistas que partilham da abordagem qualitativa em pesquisa se opõem, em geral, ao

pressuposto experimental que defende um padrão único de pesquisa para todas as ciências,

calcado no modelo de estudo das ciências da natureza. Estes cientistas se recusam a admitir

que as ciências humanas e sociais devam se conduzir pelo paradigma das ciências da natureza

e devam legitimar seus conhecimentos por processos quantificáveis que venham a se

transformar, por técnicas de mensuração, em leis e explicações gerais.

A pesquisa qualitativa se diferencia dos estudos experimentais também pela forma como

apreende e legítima os conhecimentos. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que

há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o

sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.

A produção do conhecimento não se reduz aos dados isolados, conectados por uma teoria

explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os

fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está

possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações. O que não

significa dizer que as pesquisas qualitativas não descartam a coleta de dados quantitativos,

principalmente na etapa exploratória de campo ou nas etapas em que estes dados podem

mostrar uma relação mais extensa entre fenômenos particulares.

2.1.4 AS ETAPAS DA PESQUISA CIENTÍFICA

O planejamento e a execução de uma pesquisa fazem parte de um processo sistematizado que

compreende etapas que podem ser detalhadas da seguinte forma:

_ Escolha do tema

_ Revisão de literatura

_ Justificativa

_ Formulação do problema

_ Determinação de objetivos

_ Metodologia

_ Coleta de dados

_ Análise e discussão dos resultados

_ Redação e apresentação do trabalho científico

Escolha do Tema: para selecionar o tema de investigação se faz necessário saber: o que

pretendo estudar? Qual o tema na área de estudo que me interessa e me motiva? Definir um

tema significa eleger uma parcela delimitada de um assunto, estabelecendo limites para o

desenvolvimento da pesquisa. De forma geral, o tema é o assunto que se deseja estudar e

pesquisar. Uma vez definido, o tema deverá ser frequentemente revisto. O pesquisador deverá

levar em conta no momento de decisão do tema de estudo, a sua atualidade e relevância social,

seu conhecimento a respeito. Após definição consciente do tema, o pesquisador deverá

levantar e analisar a literatura já publicada sobre o tema.

Revisão de literatura: nesta fase, o pesquisador deverá se perguntar: o que já foi escrito sobre

este tema? Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto? Que aspectos já foram

abordados? Quais as lacunas existentes na literatura. Assim, pode realizar uma pesquisa mais

consistente. Para tanto, precisa evidenciar o quadro de referência (teorias e/ou autores) no qual

se situam ou os problemas que se deseja pesquisar, através de uma sumária revisão de

literatura.

A revisão de literatura é fundamental, porque fornecerá elementos para você evitar a duplicação

de pesquisas sobre o mesmo enfoque do tema. Favorecerá a definição de contornos mais

precisos do problema a ser estudado. Justifique cientificamente a sua pesquisa e a referende

através de autores e/ou teorias, salientando a contribuição destes para sua proposta, utilizando-

se, inclusive, de citações, conforme prevê os procedimentos para uso de citação, da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – NBR 10520.

Justificativa: o pesquisador deverá refletir sobre “o porquê” da realização da pesquisa

procurando identificar as razões da preferência pelo tema escolhido e sua importância em

relação a outros temas. A justificativa deverá convencer o leitor de seu projeto sobre sua

validade e importância da proposta apresentada. Para tanto, deve expor as razões (pessoais,

profissionais e sociais) para a elaboração da pesquisa. Esse item contribui para a aceitação da

pesquisa por parte do orientador ou da entidade interessada. É necessário lembrar que a

justificativa do tema envolve motivos de ordem teórica e prática.

Formulação do Problema: o problema pode ser caracterizado como uma questão ou um

questionamento, de natureza teórica ou prática, sobre o conhecimento de alguma coisa de real

importância, para a qual se deve encontrar uma solução. Definir um problema significa

especificá-lo em detalhes precisos e exatos. Na formulação de um problema, a pergunta deve

ser clara, concisa e objetiva, além de ser passível de investigação. Geralmente, o problema é

elaborado em forma de pergunta, sendo possível uma investigação sistemática, crítica e

operacional.

Determinação de objetivos: os objetivos da pesquisa podem ser classificados como geral e

específico. Objetivo geral é aquilo que se pretende alcançar, em longo prazo, com o

desenvolvimento da pesquisa. Já os específicos representam a decomposição do objetivo geral,

na graduação de suas etapas. Logo, os objetivos específicos estão contidos implicitamente no

objetivo geral, e são alcançáveis em médio e curto prazo. Ao elaborar os objetivos, não se

esqueça de utilizar o verbo no infinitivo (ex.: verificar, identificar, demonstrar, investigar etc.)

para denotar ação. Os objetivos devem ser claros, compreensivos e adequados ao tema

proposto.

Metodologia: após delimitação do objeto de estudo e seus objetivos, o pesquisador deve

selecionar os métodos e as técnicas mais adequadas ao seu trabalho, levando em

consideração sua proposta. Os procedimentos a serem empregados na pesquisa podem ser

selecionados desde a proposição do problema, da formulação das hipóteses e da delimitação

do universo ou da amostra.

A metodologia é um elemento importante e decisivo para o êxito da investigação, porque ela

define o fazer científico e deve estar em consonância com suas intenções. Nesta etapa, o

pesquisador deverá definir onde e como será realizada a pesquisa. Para tanto, precisará

explicitar o tipo de pesquisa, a população (universo da pesquisa), a amostragem, os

instrumentos de coleta de dados e a forma como pretende tabular e analisar seus dados. Para

maior esclarecimento destes itens, vejamos:

População

Também conhecida como universo da pesquisa, a população é “[...] a segregação de elementos

da qual é de fato extraída a amostra [...]”, afirma Babbie (1999, p. 122). É a totalidade de

indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo e

que representa seu público.

Amostra

Para Lakatos e Marconi (2003, p. 163), “a amostra é uma parcela convenientemente

selecionada do universo (população); é o subconjunto do universo”. Já Babbie (1999),

considera que unidade de amostra é o elemento ou o conjunto de elementos considerados para

seleção em alguma etapa da amostragem. Ela é parte da população ou do universo,

selecionada de acordo com uma regra ou plano.

A amostra pode ser probabilística e não-probabilística. Acompanhe seus tipos e definições:

Amostras não-probabilísticas podem ser:

_Amostras acidentais: compostas por acaso, com pessoas que vão aparecendo;

_Amostras por quotas: diversos elementos constantes da população/universo, na mesma

proporção;

_Amostras intencionais: escolhidos casos para a amostra que representem o “bom julgamento”

da população/universo.

Amostras probabilísticas são compostas por sorteio e podem ser:

_Amostras casuais simples: cada elemento da população tem oportunidade igual de ser incluído

na amostra.

_Amostras casuais estratificadas: cada estrato, definido previamente, estará representado na

amostra.

_Amostras por agrupamento: reunião de amostras representativas de uma população.

Após a identificação da população e da amostra, o pesquisador deve definir os instrumentos

de coleta de dados que utilizará e estes devem corresponder aos objetivos que se pretende

alcançar com a pesquisa. Os instrumentos de coleta de dados convencionais são:

Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos de coleta de dados são artefatos essenciais à realização empírica da pesquisa,

e são pensados no momento em que o pesquisador idealiza um projeto, especialmente, a forma

como irá coletar os seus dados para referendar suas hipóteses de estudo. Dentre os

instrumentos mais utilizados na pesquisa científica, estão: a observação, a entrevista, o

questionário, o formulário e a análise de conteúdo. Vejamos seus desdobramentos.

Observação

Segundo Laville e Dionne (1999. p.176), quando se utilizam os sentidos na obtenção de dados

de determinados aspectos da realidade. A observação pode ser:

_Observação assistemática: não tem planejamento e controle previamente elaborados.

_Observação sistemática: tem planejamento, realiza-se em condições controladas para

responder aos propósitos preestabelecidos.

_Observação participante: técnica pela qual o pesquisador integra-se e participa na vida de um

grupo para compreender-lhe o sentido atribuído às coisas pelo grupo.

_Observação não-participante: o pesquisador presencia o fato, mas não participa.

Segundo Lakatos e Marconi (2003), a observação oferece uma série de vantagens e limitações,

assim como as demais técnicas de pesquisa. Vejamos:

Vantagens:

_ Possibilita meios diretos e satisfatórios para estudar uma ampla variedade de fenômenos.

_ Exige menos do observador do que as outras técnicas.

_ Permite a coleta de dados sobre um conjunto de atitudes comportamentais típicas.

_Depende menos da introspecção ou da reflexão.

_ Permite a evidência de dados não constantes do roteiro de entrevistas ou de questionários.

Desvantagens:

_O observado tende a criar impressões favoráveis ou desfavoráveis no observador.

_A ocorrência espontânea não pode ser prevista o que impede, muitas vezes, o observador de

presenciar o fato.

_ Fatores imprevistos podem interferir na tarefa do pesquisador.

_A duração dos acontecimentos é variável: pode ser rápida ou demorada e 05 fatos podem

ocorrer simultaneamente; nos dois casos, torna-se difícil a coleta dos dados.

_ Vários aspectos da vida cotidiana, particular, podem não ser acessíveis ao pesquisador.

Entrevista

A entrevista oferece maior amplitude do que o questionário, quanto à sua organização: esta não

estando presa a um documento entregue a cada um dos interrogados, os entrevistadores,

permite, muitas vezes, explicar algumas questões no curso da entrevista, reformulá-las para

atender às necessidades do entrevistado, afirmam Laville e Dionne (1999). A entrevista pode

ser visualizada como a obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado

assunto ou problema.

Segundo Santos (2002, p. 223),

Ótimo para entrevistar satisfatoriamente, um indivíduo precisa de preparo antecipado,

como qualquer outro profissional. Esta preparação se refere ao ambiente, horário,

conhecimento e informações sobre o entrevistado, além de estar certo dos objetivos da

entrevista, do que deseja e como vai efetivar o encontro.

A entrevista pode ser:

Padronizada ou estruturada: roteiro previamente estabelecido.

Despadronizada ou não-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Podem-se explorar mais

amplamente algumas questões. O entrevistador apóia-se em um ou vários temas.

Segundo Lakatos e Marconi (2003), a entrevista, como técnica de coleta de dados, oferece

várias vantagens e limitações. Vejamos:

Vantagens:

_ Pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados.

_ Fornece uma amostragem muito melhor da população geral: o entrevistado: não precisa saber

ler ou escrever.

_Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, formular de

maneira diferente; especificar algum significado, como garantia de estar sendo compreendido.

_Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser

observado naquilo que diz e como diz: registro de reações gestos etc.

_Dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e

que sejam relevantes e significativos.

_Há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovadas, de

imediato, as discordâncias.

_ Permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento estatístico.

Limitações:

_A entrevista apresenta algumas limitações ou desvantagens, que podem ser superadas ou

minimizadas se o pesquisador for uma pessoa com bastante experiência ou tiver muito bom-

senso.

As limitações são:

_Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes.

_ Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, que pode

levar a uma falsa interpretação.

_ Possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo

questionador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes, ideias, opiniões etc.

_Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias.

_ Retenção de alguns dados importantes, receando que sua identidade seja revelada.

_ Pequeno grau de controle sobre uma situação de coleta de dados.

_Ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada.

Questionário

Para interrogar indivíduos que compõem determinada amostra, uma das abordagens mais

usuais consiste em preparar uma série de perguntas sobre o tema visado, perguntas escolhidas

em função da(s) hipóteses(s) da pesquisa. Para cada uma das perguntas, oferece-se uma

opção de respostas, definidas por indicadores, marcando a assertiva de sua opinião (LAVILLE;

DIONNE, 1999). O questionário se converte em um instrumento privilegiado de sondagem,

embora seu uso não se limite apenas a este propósito.

O questionário é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo

informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de

instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a

importância da colaboração do informante e facilitar o preenchimento.

As perguntas do questionário podem ser:

_Abertas: “Qual é a sua opinião?”

_ Fechadas: duas escolhas: sim ou não.

_De múltiplas escolhas: fechadas com uma série de respostas possíveis.

Segundo Lakatos e Marconi (2003), o questionário, como toda técnica de coleta de dados,

também apresenta uma série de vantagens e desvantagens. Vejamos:

Vantagens:

_ Economizam tempo, viagens e obtém grande número de dados.

_Atinge maior número de pessoas simultaneamente.

_Abrange uma área geográfica mais ampla.

_ Economiza pessoal, tanto em adestramento quanto em trabalho de campo.

_Obtém respostas rápidas e precisas.

_Há maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato.

_Há mais segurança, pelo fato de as respostas não serem identificadas.

_Há menos risco de distorção, pela não influência do pesquisador.

_Há mais tempo para responder e em hora mais favorável.

_Há mais uniformidade na avaliação, em virtude da natureza impessoal do instrumento.

_Obtém respostas que materialmente seriam inacessíveis.

Desvantagens:

_ Percentagem pequena dos questionários que voltam.

_Grande número de perguntas sem respostas.

_Não pode ser aplicado a pessoas analfabetas.

_ Impossibilidade de ajudar o informante em questões mal compreendidas.

_A dificuldade de compreensão, por parte dos informantes, leva a uma uniformidade aparente.

_Na leitura de todas as perguntas, antes de respondê-las, pode uma questão influenciar a

outra.

_A devolução tardia prejudica o calendário ou sua utilização.

_O desconhecimento das circunstâncias em que foram preenchidos torna difícil o controle e a

verificação.

_Nem sempre é o escolhido quem responde ao questionário, invalidando, portanto, as

questões.

_ Exige um universo mais homogêneo.

Formulário

O formulário refere-se a uma coleção de questões anotadas por um entrevistador em uma

situação face a face com o informante. Ele é usado quando o pesquisador pretende do

informante respostas mais amplas e com maiores detalhes. Para Santos (2002), ele pode ser

visto também como um roteiro para as entrevistas e se aproxima muito do questionário aberto.

Para este e os demais instrumentos da pesquisa, deve preceder a elaboração, a organização

de um plano para ordenar as perguntas e dar sequência lógica ao conjunto de elementos a

serem coletados. O formulário, como os demais instrumentos, deve ter um início, um meio e um

fim, interligados.

O formulário pode ser aplicado a qualquer tipo de informante, o qual não escreve, apenas

responde. É flexível, permite ao entrevistador reformular a indagação, caso seja necessário, e

permite coletar dados mais numerosos e complexos que no questionário. Nele o pesquisador

exerce um papel decisivo como diretor da conversa.

Para Lakatos e Marconi (2003, p. 212), “o formulário é um dos instrumentos essenciais para a

investigação social, cujo sistema de coleta de dados consiste em obter informações diretamente

do entrevistado”.

As autoras pontuam ainda algumas vantagens e desvantagens referentes ao uso do formulário,

a saber:

Segundo Lakatos e Marconi (2003), o formulário, assim como o questionário, apresenta uma

série de vantagens e desvantagens. Vejamos:

Vantagens:

_Utilizado em quase todo o segmento da população: alfabetizados, analfabetos, populações

heterogêneas etc., porque seu preenchimento é feito pele entrevistador.

_Oportunidade de estabelecer rapport, devido ao contato pessoal.

_ Presença do pesquisador, que pode explicar os objetivos da pesquisa, orientar o

preenchimento do formulário e elucidar significados de perguntas que não estejam muito claras.

_ Flexibilidade, para adaptar-se às necessidades de cada situação, podendo o entrevistador

reformular itens ou ajustar o formulário à compreensão de cada informante.

_Obtenção de dados mais complexos e úteis.

_ Facilidade na aquisição de um número representativo de informantes, em determinado grupo.

_Uniformidade dos símbolos utilizados, pois é preenchido pelo próprio pesquisador.

Desvantagens:

_Menos liberdade nas respostas, em virtude da presença do entrevistador.

_ Risco de distorções, pela influência do aplicador.

_Menos prazo para responder às perguntas; não havendo tempo para pensar, elas podem ser

invalidadas.

_Mais demorado, por ser aplicado a uma pessoa de cada vez.

_ Insegurança das respostas, por falta do anonimato.

_ Pessoas possuidoras de informações necessárias podem estar em localidades muito

distantes, tornando a resposta difícil, demorada e dispendiosa.

2.1.5 ANÁLISE DE CONTEÚDO

“O ponto de partida da análise de conteúdo é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita),

gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada” expressa Franco (2005, p.

13, grifo da autora). Recentemente, a análise de conteúdo passou a ser cada vez mais utilizada

para produzir inferências acerca de dados verbais e/ou simbólicos, mas obtidos a partir de

perguntas e observações do interesse de um pesquisador.

As fontes de pesquisa, caracterizadas como documentos, podem ser primárias ou secundárias.

As fontes primárias são os documentos que dão origem a análises para posterior produção de

informações. Podem ser decretos oficiais, fotografias e artigos. As fontes secundárias são as

obras nas quais as informações já se encontram previamente elaboradas (livros, teses e

monografias).

História de Vida

Muito utilizada nos campos da Antropologia, Sociologia, Ciência Política e Educação, a história

de vida constitui um meio de investigação no qual os dados são levantados via entrevista que

exploram aspectos relacionados à vida dos entrevistados, procurando dar significado às

experiências. Também é utilizada quando a pesquisa tem como tema uma pessoa, sendo

necessárias as histórias de sua vivência. Geralmente é utilizada nas pesquisas participantes e

em pesquisas que se utilizam do método dialético, na área de estudos sociais.

Segundo Macedo (2004, p. 175), a história de vida.

[...] não representa nem dados convencionais da ciência social, nem autobiografia,

também não representa um exercício de ficção. Embora o trabalho seja apresentado a

partir do enfoque do pesquisador, ele enfatiza o valor da perspectiva do ator social.

Coleta de Dados

Conforme Lakatos e Marconi (2003), esta etapa da pesquisa se inicia quando o pesquisador

aplica os instrumentos de coleta de dados e suas técnicas, a fim de efetuar a coleta prevista.

Refere-se, portanto, à operacionalização da pesquisa, sendo fundamental a paciência e a

persistência para obter êxito neste processo. Após coleta, o pesquisador necessita selecionar

os dados, de acordo com seus objetivos; codificar, utilizando categorias de análise; e, tabular os

dados, a fim de comunicá-los.

Para tanto, poderá lançar mão de recursos tecnológicos para organizar os dados obtidos na

pesquisa de campo. Atualmente, é comum que o pesquisador opte pelo uso de recursos

computacionais para dar suporte à elaboração de índices e cálculos estatísticos, tabelas,

quadros e gráficos, a fim de obter melhor visualização, análise e interpretação dos achados

empíricos.

Análise e Discussão dos Resultados

A análise dos resultados constitui o ponto central da pesquisa. Nesta etapa você interpretará

e analisará os dados que tabulou e organizou na etapa anterior. A análise deve ser feita para

atender aos objetivos da pesquisa e para comparar e confrontar dados com o objetivo de

confirmar ou rejeitar a(s) hipótese(s) ou os pressupostos da pesquisa. Os dados isolados não

possuem representação alguma na pesquisa, porém se forem colocados de maneira que

forneçam respostas às investigações, eles atingem seu propósito essencial e ganham

legitimidade.

Redação e Apresentação do Trabalho Científico

Última etapa da pesquisa na qual o pesquisador possui condições de sintetizar os resultados

obtidos com a pesquisa, uma vez realizadas as etapas anteriores. Deve-se chegar à conclusão

e explicitar para o leitor se os objetivos foram atingidos, se a(s) hipótese(s) ou os pressupostos

foram confirmados ou refutados, bem como ressaltar a validade e contribuição de sua pesquisa

para o meio acadêmico ou para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia nos dias atuais.

Segundo Lakatos e Marconi (2003), esta etapa se refere a uma exposição geral da pesquisa,

desde o planejamento às conclusões, incluindo os procedimentos metodológicos adotados.

Deve ter pilar basilar a lógica, a imaginação e a precisão e ser expresso em linguagem simples,

clara, objetiva, concisa e coerente.

Para redigir seu trabalho acadêmico, faça uso adequado das normas de documentação da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Elas devem ser consultadas visando à

padronização das referências bibliográficas, das citações e da apresentação gráfica do texto.

2.1.6 PROJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA

O projeto de pesquisa é um momento de sistematização do planejamento, tendo em vista o

objeto, os objetivos e procedimentos delineados pelo pesquisador. Trata-se do registro do que

foi concebido no plano mental. O projeto, se organizado, deverá responder questões básicas de

estruturação da pesquisa científica, a saber: o quê? Por quê? Para quê e para quem? Onde?

Como, com quê, quanto e quando? Quem? Com quanto? Para melhor explicitar estes

questionamentos, descreveremos, a seguir, a estrutura de um projeto de pesquisa.

Santos (2002), recomenda que antes da elaboração do projeto que antecipa a pesquisa, outros

passos são necessários, e entre eles estão os estudos preliminares ou estudos exploratórios,

que visam dar ao pesquisador a ideia exata do estágio em que se encontra a questão a ser

desenvolvida. São, portanto, o ponto de vista teórico de outros estudos de pesquisas já

elaborados no âmbito do tema em questão. A seguir, ainda precedendo o projeto de pesquisa,

a revisão bibliográfica, que consiste na seleção e análise do material colhido em ordem de

importância para a pesquisa. Em seguida, pode ser elaborado um anteprojeto que contenha

dados que integram as diversas partes que se referem aos aspectos teóricos e metodológicos,

bem como a definição de termos. Por último, prepara-se o projeto de pesquisa de forma

detalhada e completa, dentro do rigor científico. Veja, na seção seguinte, a estrutura

apresentada.

Estrutura do Projeto de Pesquisa

O projeto de pesquisa pode ser estruturado de diversas maneiras, entretanto existem alguns

elementos que são indispensáveis e que devem fazer parte da sua construção, a fim de que o

pesquisador adquira clareza quanto ao que deseja pesquisar.

Conforme já visto na seção “as etapas da pesquisa científica”, segue, sucintamente, um roteiro

com os itens relevantes a seu projeto de pesquisa:

Algumas obras que versam sobre a estruturação de um projeto de pesquisa, acrescentam,

ainda, a estes elementos uma seção destinada a custos ou orçamentos, na qual o pesquisador

descreve os materiais gastos, a quantidade, o valor unitário e total dos recursos gastos na

pesquisa. Cabe considerar que a inclusão deste item dependerá do objetivo de seu projeto.

Estrutura do Relatório de Pesquisa

Monografia

Refere-se a um estudo pormenorizado sobre um tema específico, com valor representativo e

que adota rigorosa metodologia para investigação. Investiga determinado assunto não só em

profundidade, mas também em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que

se destina. Tem como base a escolha de uma unidade ou elemento social, sob duas

circunstâncias:

Geralmente, a monografia, que significa abordagem de um tema único (mónos = um só e

graphein = escrever), é desenvolvida pelo estudante ao final do curso de graduação ou de pós-

graduação.

Seu objetivo principal é reunir informações sobre determinado tema/objeto de estudo, portanto,

representa o resultado de um trabalho ou exposição de um estudo científico recapitulativo, de

tema único e bem delimitado em sua extensão.

1) Ser suficientemente representativo de um todo cujas características de análise.

2) Ser capaz de reunir os elementos constitutivos de um sistema social ou de refletir as

incidências e fenômenos de caráter autenticamente coletivo.

São características da monografia:

_Abordar tema delimitado, específico de determinado ramo do saber.

_Uso da análise na compreensão do fenômeno investigado.

_ Trata-se de um trabalho escrito de maneira sistemática e metódica.

_ Estudo minucioso e exaustivo, incluindo diversos aspectos do objeto investigado.

_Uso da metodologia científica em seu conteúdo e forma.

_ Contribui para aumento e melhoria do conhecimento individual e coletivo e para a

evolução científica.

ESTRUTURA DE MONOGRAFIA

A monografia é apresentada, de forma geral, com os seguintes elementos:

Elementos Pré-textuais.

_ Capa, na qual deverá conter apenas os dados indispensáveis à identificação do trabalho:

titulo em destaque na parte superior; o nome do autor em destaque; especificação do trabalho

(dissertação, monografia etc.); dados referentes ao curso; dados referente à instituição

acadêmica com as respectivas localização e data.

_Dorso com o título e nome do autor.

_ Folha de rosto, geralmente sem gravação ou impressão, às vezes utilizada para apresentar

um resumo da obra.

_Após a capa, uma a duas folhas em branco.

_Uma página que repete a capa.

_A página de rosto contém na parte superior, o nome completo do autor, sem abreviaturas, com

seus títulos ou cargos logo abaixo; o título real do trabalho com subtítulos, se houver; indicação

de prefácio ou prólogo ou apresentação com o nome do apresentador (quando não houver

apresentador, esse item não deve aparecer), nome da instituição, cidade e ano.

_ Página de dedicatória, se houver.

_ Epígrafe, ou página destinada a um pensamento, frase, dístico, se o autor achar conveniente.

_ Sumário completo (de todos os capítulos e suas seções) ou sumário (enumeração das partes

principais) com a indicação das páginas iniciais dos capítulos ou partes destacadas.

_ Listas de tabelas e/ou quadros, ilustrações, abreviaturas, siglas, símbolos etc.

_ Prefácio, caso haja.

_Apresentação, caso haja.

Elementos Textuais

_ Introdução.

_Desenvolvimento com a sequência dos capítulos destinados ao corpo do trabalho.

_ Capítulo(s) das conclusões.

Elementos Pós-textuais

_Anexos, elementos que se acrescentam para demonstração, exemplificação ou comprovação

do texto, ordenados de acordo com o desenvolvimento.

_Adendos, dados que se acrescentam para complementação do trabalho.

_Notas, fruto de observações ou aditamentos do texto.

_Apêndices, elementos que se anexam para complementação do trabalho.

_ Bibliografia ou referência bibliográfica em ordem alfabética dos sobrenomes dos autores.

_ Índice de assuntos, nomes de pessoas, nomes geográficos, acontecimentos etc., em ordem

alfabética, com indicação de sua localização no texto.

_Glossário, caso se julgue importante.

_Uma ou duas páginas em branco antes da folha de rosto.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e

aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. (Coleção Ciências da Educação).

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.

ed. São Paulo: Atlas, 2003.

TACHIZAWA, Takeshi; MENDES, Gildásio. Como fazer monografia na prática. 8. ed. Rio de Janeiro:

FGV, 2003.

ATIVIDADE PROGRAMADA:

Desta forma, estabeleça as vantagens e desvantagens no uso das metodologias qualitativas e

quantitativas para a pesquisa em educação e áreas afins. Argumente, e discuta com seus colegas no

Fórum

do AVA da Disciplina.

2.2 SISTEMATIZAÇÃO, REGISTRO E TRABALHOS

ACADÊMICOS

A metodologia da pesquisa científica orienta procedimentos necessários à elaboração

adequada de trabalhos acadêmicos, especialmente a resenha e o artigo científico. De posse

destes conhecimentos, apresentados ao longo desta seção, você garantirá maior organização e

êxito em suas atividades. Mãos à obra!

Antes de abordarmos os trabalhos acadêmicos - resenha e artigo científico - apresentaremos,

de forma breve e sucinta algumas dicas de como realizar sistematização e registro das ideias

centrais do texto ou obra que você se dispôs a analisar. Vamos começar?

2.2.1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

O que devo identificar em um texto?

Tema: ideia central ou assunto tratado pelo autor, o fenômeno que se discute no decorrer do

texto. Em primeiro lugar, busca-se saber do que fala o texto. A resposta a esta questão revela o

tema ou assunto da unidade.

Problema: a apreensão da problemática, que por assim dizer “provocou” o autor, isto é, pode

ser visto como o questionamento de motivação do autor.

Tese: a ideia de afirmação do autor a respeito do assunto. Captada a problemática, a terceira

questão surge espontaneamente: o que o autor fala sobre o tema, ou seja, como responde à

dificuldade ou ao problema levantado? Que posição assume, que ideia defende o que quer

demonstrar? A resposta a esta questão revela a proposição fundamental ou tese: trata-se da

ideia principal defendida pelo autor.

Objetivo: a finalidade que o autor busca atingir. Que mensagem ele espera transmitir com o

texto? O objetivo pode estar explícito ou implícito no texto.

Ideia Central: ideia principal do texto. A cada parágrafo podemos selecionar a ideia central e

as secundárias.

Após a leitura sistemática de um texto ou obra e identificação dos itens acima propostos,

sugerimos a elaboração de um esquema, a fim de que o estudante estruture as informações

essenciais através de um esquema textual, que, por sua vez, favorece a estruturação de um

esquema mental sobre o conteúdo, facilitando a assimilação deste. Faça o teste e comprove!

Para tanto, precisamos saber como se elaborar um esquema. Siga os passos!

2.2.2 TIPOS DE ANÁLISE DE TEXTOS

Segundo Andrade (1995), os diferentes enfoques aplicáveis à análise de textos são:

_Análise textual - leitura que tem por objetivo uma visão global, assinalando: estilo, vocabulário,

fatos, doutrinas, época, autor, ou seja, um levantamento dos elementos importantes do texto.

_Análise temática - apreensão do conteúdo ou tema, isto é, identificação da ideia central e

das secundárias, processos de raciocínio, tipos de argumentação, problemas, enfim, um

esquema do pensamento do autor.

_Análise interpretativa - demonstração dos tipos de relações entre as ideias do autor em razão

do contexto científico e filosófico de diferentes épocas; análise crítica ou avaliação; discussão e

julgamento do conteúdo do texto.

Esquema de Texto

Dicas de elaboração de esquema

Refere-se ao “esqueleto” do texto

Pode ser construído em linha vertical ou horizontal.

Utilização de símbolos diversos (chaves, colchetes, listagem por item, setas etc.).

Subordine ideias e fatos, não os reúna apenas (observar a hierarquia de palavras, frases e

parágrafos-chave).

Características do Esquema

Fidelidade ao original.

Estrutura lógica.

Funcionalidade de conteúdo.

Normas.

Aponte o tema do autor, destaque títulos e subtítulos.

O esquema deve possuir uma interpretação pessoal de quem o produz e não a exposição literal

das palavras do autor

É necessário lembrar que cada parágrafo do texto possui: ideia central e ideias secundárias.

De posse do esquema do texto, você deve organizar seu resumo. O interessante é que você

não precisará voltar ao texto original, pois deve construir o seu resumo a partir de seu esquema.

Lembre-se, o resumo refere-se à interpretação e à apresentação das ideias principais de um

texto ou obra, de forma breve, clara, lógica e sucinta. Bom trabalho!

2.2.3 RESUMO DE TEXTO

Conceito

É a apresentação concisa e seletiva do texto, destacando-se os elementos-chave.

Como Resumir?

Responder a duas questões principais: o que trata este texto? O que pretende demonstrar?

Identificar a ideia central e o propósito do autor.

Identificar as partes em que se estrutura o texto.

Compreender as ideias, exemplos, associar ideias etc.

Distinguir a correlação das partes do texto.

Identificar a articulação entre as ideias (parágrafos).

Segundo Andrade (1995), há vários tipos de resumo e cada um apresenta características

específicas, de acordo com suas finalidades:

_ Resumo descritivo ou indicativo: nesse tipo de resumo descrevem-se os principais tópicos

do texto original, e indicam-se sucintamente seus conteúdos. Portanto, não dispensa a leitura

do texto original para a compreensão do assunto. Quanto à extensão, não deve ultrapassar

quinze ou vinte linhas: utilizam-se frases curtas que, geralmente, correspondem a cada

elemento fundamental do texto, porém o resumo descritivo não deve limitar-se à enumeração

pura e simples das partes do trabalho.

_ Resumo informativo ou analítico: é o tipo de resumo que reduz o texto a 1/3 ou 1/4 do original,

abolindo-se gráficos, citações, exemplificações abundantes, mantendo-se, porém as ideias

principais. Não são permitidas as opiniões pessoais do autor do resumo. O resumo informativo,

que é o mais solicitado nos cursos de graduação, deve dispensar a leitura do texto original para

o conhecimento do assunto.

_ Resumo crítico: consiste na condensação do texto original a 1/3 ou 1/4 de sua extensão,

mantendo as ideias fundamentais, mas permite opiniões e comentários do autor do resumo. Tal

como o resumo informativo, dispensa a leitura do original para a compreensão do assunto.

_ Resenha: é um tipo de resumo crítico, contudo mais abrangente. Além de reduzir o texto,

permiti opiniões e comentários que incluem julgamentos de valor, tais como comparações com

outras obras da mesma área do conhecimento, a relevância da obra em relação às outras do

mesmo gênero etc.

_ Sinopse (em inglês, synopsis ou summary; em francês,'résumé d'auteur): neste tipo de

resumo

indicam-se o tema ou assunto da obra e suas partes principais. Trata-se de um resumo bem

curto, elaborado apenas pelo autor da obra ou por seus editores.

2.2.4 FICHAMENTO DE TEXTO

Conceito

Fichar é transcrever anotações em fichas, para fins de estudo ou pesquisa. Os dados

registrados devem ser transcritos com o máximo de exatidão e cuidado. As fichas permitem ao

pesquisador: identificar a obra, conhecer seu conteúdo, fazer citações, analisar o material e

elaborar críticas.

Composição das Fichas

_ Cabeçalho: título genérico, título específico, número de classificação da ficha, letra indicativa

da sequência.

_ Referência Bibliográfica: deve seguir as normas da ABNT. É necessário fazer consulta à ficha

catalográfica do livro.

_ Texto ou Corpo: o conteúdo que constitui o corpo ou texto das fichas. Varia de acordo com

o tipo da ficha.

_ Indicação da obra: onde poderá ser utilizada (Indicação do público alvo/ área de

conhecimento - estudos ou pesquisas).

_ Local: lugar onde se encontra a obra, caso seja necessário voltar a consultá-la.

Tipos de Ficha

_ Ficha Bibliográfica: serve para indicações bibliográficas; algumas frases sucintas são

suficientes; utilizar verbos ativos para se referir ao autor (analisa, critica, compara).

_ Ficha de Citação: serve para transcrever trechos do texto. A citação deve vir entre aspas,

indicando o nº. da página do livro entre parênteses ao final dela.

_ Ficha de Resumo: apresenta a síntese das ideias do autor, de forma clara e objetiva. Não é

longa; não é transcrição, é uma elaboração pessoal.

_ Ficha de Comentário: interpretação crítica pessoal das ideias expressas pelo autor.

2.2.5 RESENHA

Conceito

É considerada um tipo de resumo crítico, contudo mais abrangente, pois permite comentários e

opiniões, inclui julgamentos de valor, comparações com outras obras da mesma área e

avaliação da relevância da obra com relação às outras do mesmo gênero (ANDRADE, 1995).

Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 264),

Resenha é uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos. Resenha

crítica é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na

crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feito pelos resenhista.

A sua finalidade é apresentar ao leitor, de maneira fiel e objetiva, uma síntese das ideias

fundamentais da obra; estimular o senso crítico, o bom senso e o espírito científico do

resenhista; e, exercitar a pesquisa e a investigação científica, a partir da prática da leitura,

compreensão, análise e interpretação do texto.

É um trabalho acadêmico de grande valor para o pesquisador, pois permite desenvolver uma

percepção mais ampla da realidade empírica através da literatura técnica e científica, bem

como a iniciação na pesquisa científica. Ela pode basear-se em elementos reais, caracterizados

por reuniões, eventos e acontecimentos em geral; ou, em elementos textuais, que se baseiam

em livros, peças teatrais, texto, filme etc.

Para sua elaboração são necessários alguns requisitos básicos, a saber: conhecimento

completo da obra; competência no tema ou área do conhecimento; capacidade de emitir juízo

de valor; independência de juízo; correção e urbanidade e fidelidade ao pensamento do autor,

recomendam Lakatos e Marconi (2003).

Aspectos gerais de construção

_Utilizar a linguagem na terceira pessoa

_ Conduzir o leitor para informações puras

_Assegurar boa síntese e uma análise coerente acerca da obra

_Demonstrar claramente que resenha é diferente do resumo

Estrutura da Resenha

Lakatos e Marconi (2003) apresentam a seguinte estrutura de resenha:

_ Referência

Autor(es)

Título (subtítulo)

Imprensa (local da edição, editora, data)

Número de páginas

Ilustração (tabelas, gráficos, fotos etc.)

_ Credenciais do Autor

Informações gerais sobre o autor Autoridade no campo científico. Quem fez o estudo?

Quando? Por quê? Onde?

_ Conhecimento

Resumo detalhado das ideias principais.

Do que trata a obra? O que diz? Possui alguma característica especial?

Como foi abordado o assunto? Exige conhecimentos prévios para entendê-lo?

_ Conclusão do Autor

O autor faz conclusões? (ou não?)

Onde foram colocadas? (final do livro ou dos capítulos?) Quais foram?

_Quadro de Referências do Autor

_Modelo teórico

Que teoria serviu de embasamento? Qual o método utilizado?

_Apreciação

_ Julgamento da obra:

Como se situa o autor em relação:

Às escolas ou correntes científicas, filosóficas e culturais?

Às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.?

Mérito da obra:

Qual a contribuição dada?

Idéias verdadeiras, originais, criativas?

Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente?

Estilo:

Conciso, objetivo, simples? Claro, preciso, coerente? Linguagem correta?

Ou o contrário?

Forma:

Lógica, sistematizada?

Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?

_ Indicação da Obra:

A quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes?

De forma geral, ao elaborar uma resenha de um texto ou obra, você deve buscar contemplar

ou responder questões chaves, a saber:

_ Qual o assunto, a características e as abordagens desenvolvidas?

_ Quais os conhecimentos anteriores, direcionamento e alcance do texto?

_ Qual o grau de acessibilidade, originalidade do texto?

_ Qual a utilidade, validade e relevância?

_ Que contribuições apresentam?

_ O autor atinge os objetivos propostos?

_ O texto supera o tema abordado em outros autores?

_ Há profundidade na exposição das ideias?

_ A conclusão está apoiada em fatos?

2.2.6 ARTIGO CIENTÍFICO

Artigo, na ABNT (2003), é definido como um “texto com autoria declarada, que apresenta e

discute ideias, métodos, processos, técnicas e resultados nas diversas áreas do conhecimento”.

Ele é a apresentação sintética, em forma de relatório escrito, dos resultados de investigações

ou estudos realizados a respeito de uma questão.

O seu objetivo essencial é ser um meio eficiente e sucinto de divulgar e tornar conhecidos os

resultados de estudos ou pesquisas. Geralmente, aborda questões que são historicamente

polemizadas, quer sejam teóricas, quer sejam práticas.

Artigo científico é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute

ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento. Ele se

divide em:

_Artigo original: apresenta temas ou abordagens próprias. Geralmente relata resultados de

pesquisa e é chamado em alguns periódicos de artigo científico.

_Artigo de revisão: resume, analisa e discute informações já publicadas. Geralmente é

resultado de pesquisa bibliográfica.

Vários os motivos justificam um pesquisador redigir um artigo científico, especialmente quando

se é aluno dos cursos de graduação e pós-graduação, pois os estudos e pesquisas

desenvolvidos ao longo da vida acadêmica podem se converter em uma publicação de

qualidade, sob forma de artigo. Ademais, os pesquisadores redigem artigos quando:

_Não foram estudados certos aspectos de um assunto ou o foram insuficientemente; ou

ainda, se já tratados amplamente por outros, novos estudos e pesquisas permitem encontrar

uma solução diferente.

_ Uma questão antiga, conhecida, pode ser exposta de maneira nova.

_Os resultados de uma pesquisa ainda não se constituem em material suficiente para a

elaboração de um livro.

_Ao se realizar um trabalho, surgem questões secundárias que não serão aproveitadas na

obra.

ELEMENTOS QUE COMPÕEM O ARTIGO CIENTÍFICO

Elementos pré-textuais

Cabeçalho: título (e subtítulo) do trabalho; autor(es); credenciais do(s) autor(es) e local de

atividades.

Resumo: parágrafo na língua do texto que sintetiza os objetivos do autor ao escrever o texto, a

metodologia e as conclusões alcançadas. Composto de frases concisas e objetivas, não

ultrapassando 250 palavras.

Palavras-chave: termos na língua do texto escolhidos para indicar o conteúdo do artigo, abaixo

do resumo, separadas entre si por um ponto e finalizadas também por ponto.

Elementos textuais

Texto composto basicamente por: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Se for divido em

Seções, deverá seguir o Sistema de Numeração Progressiva (consultar a ABNT).

_ Introdução: parte inicial, na qual devem constar a delimitação do assunto, os objetivos da

pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do artigo.

_ Desenvolvimento: parte principal, que contém a exposição ordenada e pormenorizada do

assunto. Divide-se em seções e subseções.

_ Conclusão: parte final, na qual se apresentam as conclusões correspondentes aos objetivos

e hipóteses.

Elementos pós-textuais

_ Título (e subtítulo) do trabalho em língua estrangeira.

_ Resumo em língua estrangeira apresentação do resumo, precedido do título, em língua

diferente daquela na qual foi escrito o artigo.

_ Palavras-chave em língua estrangeira.

_Nota (s) explicativa (s).

_ Referências: lista de documentos citados nos artigos de acordo com norma da ABNT.

_Glossário.

_Apêndice: documento que complementa o artigo.

_Anexo: documento que serve de ilustração, comprovação ou fundamentação.

_Agradecimentos.

_Data de entrega.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 4. ed. São

Paulo: Atlas, 2000.

2.3 NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHO

ACADÊMICO

2.3.1 REGRAS DE APRESENTAÇÃO

Formato

Os textos devem ser apresentados em papel A4, na cor branca, sendo que apenas um dos

lados do papel pode ser utilizado para impressão. Eles devem estar digitados ou datilografados

na cor da fonte preta, excetuando as ilustrações. Somente a folha de rosto tem impressão no

verso, no caso de ter a ficha catalográfica. O tamanho da fonte é 12 para o texto e tamanho

menor para citações com mais de 3 linhas, notas de rodapé, paginação e legendas das

ilustrações e tabelas. O tipo de fonte é, de maneira geral, Arial ou Times New Roman; e o recuo

de parágrafo (1ª linha do parágrafo) é de 1,25cm ou sem o recuo na 1ª linha e com espaço

entre um parágrafo e outro. Ambas as formas estão corretas, porém a opção utilizada deve ser

uniforme ao longo do trabalho.

Os títulos dos capítulos (seções primárias), por serem as principais divisões de um texto, devem

sempre iniciar em uma nova folha, justificados na terceira linha (deve-se deixar 2 linhas em

branco de espaçamento antes) e digitados em letras maiúsculas negritadas, reproduzindo a

formatação gráfica adotada no sumário. Também entre os títulos dos capítulos e seus textos

deve-se deixar 2 linhas em branco de espaçamento.

Já os subtítulos (subseções) devem distanciar-se tanto do texto anterior quanto do posterior, o

equivalente a duas linhas em branco (de tamanho 12 e entrelinhamento 1,5) de espaçamento .

Devem ser justificados e reproduzir a formatação gráfica adotada no sumário.

Se, após sua digitação, não for possível acrescentar pelo menos as duas linhas em branco de

espaçamento e mais três linhas de texto, eles deverão ser transportados para o início da página

seguinte. Nesse caso, na nova página, não serão antecedidos pelas duas linhas em branco de

espaçamento, permanecendo, no entanto, as duas linhas em branco de espaçamento

posteriores.

Margem

As margens esquerda e superior devem possuir 3 cm; e as margens direita e inferior 2 cm.

Espacejamento

Apresentação do texto em espaço 1,5 cm, entretanto deve-se utilizar o espaço simples (1,0 cm)

para: as citações que possuem mais de três linhas, as referências, as notas, as legendas das

ilustrações e tabelas, a ficha catalográfica, a natureza do trabalho, o objetivo, o nome da

instituição a que é submetido e a área de concentração. Já as referências listadas ao final do

trabalho devem também ser separadas entre si por espaço duplo.

Utilizam-se dois espaços para separar os títulos das subseções do texto que os precede ou

sucede. A natureza do trabalho, o objetivo, o nome da instituição a que é submetida e a área de

concentração, tanto na folha de rosto quanto na folha de aprovação, devem ser alinhados à

margem direita, embora o texto esteja justificado.

2.3.2 NUMERAÇÃO PROGRESSIVA

O propósito é proporcionar a construção coerente de um determinado texto e favorecer a

localização de suas partes. As seções primárias são representadas pelos capítulos; as seções

secundárias são representadas pelas subdivisões desses, e assim sucessivamente, até a última

progressão numérica, que é a quinária, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(2003).

Os títulos que constituem as seções primárias são as principais divisões de um texto e devem

iniciar em uma folha distinta. Para o destaque das seções é utilizada a tipologia: o negrito, o

itálico ou grifo; e, redondo, caixa alta ou versal.

O estilo usado no texto deve ser o mesmo usado no sumário. Para a numeração indicativa das

seções são utilizados números arábicos sendo estes separados de seus títulos por um espaço,

não se utilizando nenhum tipo de sinal (ponto, hífen, travessão) nem mesmo após o título.

2.3.3 ALÍNEAS

Caracterizam-se por subdivisões das seções que não contêm títulos. Elas devem ser

apresentadas da seguinte maneira:

_ a) Indicadas com letras minúsculas do alfabeto seguidas de parênteses e reentradas em

relação à margem esquerda.

_ b) O texto da alínea deve começar com letra minúscula e terminar com ponto e vírgula com

exceção da última que deve terminar com ponto final.

_ c) As linhas seguintes da primeira linha da alínea devem começar sob a primeira letra da

própria alínea.

_ d) O texto anterior à alínea deve terminar com dois pontos.

_ e) Em caso de necessidade a alínea pode ser dividida em subalíneas assim apresentadas:

1).Iniciar por hífen, espaço e abaixo da primeira letra do texto da alínea; 2) As linhas seguintes

da subalínea devem começar debaixo da primeira letra da própria subalínea.

Indicativos de Seção

Deve ser alinhado à esquerda, separado de seu título por um espaço de caractere, sem

utilização de ponto ou qualquer outro sinal. O texto referente à seção deve iniciar-se na linha

posterior.

Títulos sem Indicativo Numérico

Referem-se aos elementos não enumerados, tais como: errata, agradecimentos, lista de

ilustrações, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbolos, resumos, sumário, referências,

glossário, apêndice(s), anexos(s) e índice(s) devem ser centralizados.

Elementos sem Título e sem Indicativo Numérico

Estes elementos são: a folha de aprovação, a dedicatória e a epígrafe.

2.3.4 PAGINAÇÃO

A numeração das folhas é feita em algarismos arábicos (localizado a 2 cm da borda superior

direita da folha), sendo que sua contagem inicia a partir da primeira folha da parte textual. As

páginas de elementos pré-textuais, como folha de rosto, folha de aprovação, dedicatória,

agradecimentos, epígrafe, resumos, listas e sumário, exceto a capa, são contadas, entretanto

não recebem a numeração.

Geralmente, quando a obra possui conteúdo muito extenso é dividida em volumes, isto é,

unidades físicas; e devem ter a numeração contínua desde o primeiro até o último volume.

2.3.5 ILUSTRAÇÕES E TABELAS

A fonte original da qual foi extraída a ilustração e/ou tabela deve aparecer logo abaixo desta,

mesmo que não tenha sido publicada anteriormente. Já as ilustrações e/ou tabelas retiradas de

documentos já publicados necessitam ter sua fonte referenciada. Caso a fonte esteja sendo

contemplada, isto é, citada pela primeira vez no trabalho, deve ter a sua referência completa. A

partir da segunda citação faz-se necessário a referência abreviada (autor, título, ano e página).

Ilustrações Mapas, fórmulas, fotografias, desenhos, fluxogramas e quadros são considerados

ilustrações.

As ilustrações têm como propósito exemplificar informações sobre o tema que está sendo

abordado. Elas devem estar mais próximas possíveis da parte do texto que está sendo

ilustrado. A identificação correspondente aparece na parte inferior, iniciando-se com a palavra

designativa, seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto (algarismos arábicos) e

do respectivo título e/ou legenda explicativa.

Tabelas

São utilizadas exclusivamente para representar informações que possuem tratamento

estatístico. Neste caso, o título deve estar disposto na parte superior, precedido de Tabela e de

seu número de ordem, em algarismos arábicos (numeração independente e consecutiva), de

acordo como aparecem no texto.

2.4 NORMAS PARA ELABORAÇÃO DE CITAÇÕES E

REFERÊNCIAS

2.4.1 CITAÇÃO

Citação refere-se às informações retiradas de outras fontes, sejam indiretas ou diretas, que

têm como objetivo fundamentar e/ou esclarecer a ideia do autor do texto produzido. Citação é a

menção de uma informação extraída de outra fonte.

Citação direta é transcrição textual que utiliza as palavras do autor da obra pesquisada,

indicando a(s) página(s) consultada(s). Exemplo: (MEDEIROS, 2001, p. 163).

Citação direta é a transcrição textual de parte da obra do autor consultado.

Procedimentos:

_ Reproduzida entre aspas duplas, exatamente como consta no texto original.

_ Indicar, obrigatoriamente, após a data a página, o volume, conforme consta na obra original.

_Uma transcrição dentro de outra é indicada por aspas simples.

As citações diretas com até três linhas, devem aparecer entre aspas duplas.

Exemplos 1.

O currículo oculto, segundo McLaren (1997, p. 216), “refere-se às consequências não

intencionais do processo de escolarização”.

Exemplos 2.

“As relações sociais na sala de aula tradicional baseiam-se em relações de poder

inextricavelmente ligadas à atribuição e distribuição de notas pelo professor” (GIROUX, 1997,

p. 71).

As citações diretas com mais de três linhas, devem ser destacadas do texto (como se fossem

um novo parágrafo) com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto

(a fonte 10 é a mais indicada), espaço entre linhas simples e sem aspas.

Exemplo:

Morin (2004, p. 31) diz:

Assim como o oxigênio matava os seres primitivos até que a vida utilizasse esse

corruptor como desintoxicante, da mesma forma a incerteza, que mata o conhecimento

simplista, é o desintoxicante do conhecimento complexo. De qualquer forma, o

conhecimento permanece como uma aventura para a qual a educação deve fornecer o

apoio indispensável.

SÍMBOLOS E DESTAQUES USADOS NA CITAÇÃO:

_ Supressões: [...]

_ Interpolações, acréscimos ou comentários: [ ]

_ Ênfase ou destaque: grifo ou negrito ou itálico

a) Exemplo de citação direta com supressões:

Schienbinger (2001, p. 23) explica que as feministas adeptas do Feminismo Liberal “tendem a

ver uniformidade e assimilação como únicos terrenos para igualdade, e isto frequentemente

requer que as mulheres sejam como os homens [...]”.

b) Exemplo de citação direta com interpolações, acréscimos ou comentários:

Stuart Hall (2005, p. 11-12) afirma que:

A identidade [...] preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior”- entre o mundo

pessoal e o mundo público de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades

culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornado-os

“parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares

objetivos que ocupamos no mundo social e cultural.

c) Exemplo de citação direta com ênfase ou destaque:

O estudo de caso

Reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de

coleta de dados [...] com objetivo de aprender a totalidade de uma situação, e

criativamente, descrever a complexidade de um caso concreto (MARTINS; LINTZ , 2000,

p. 6, grifo dos autores).

Citação Indireta: reprodução das ideias do autor sem transcrevê-las, podendo até resumi-las,

interpretando as ideias originais.

Citação indireta é o texto interpretativo baseado na obra do autor consultado.

Exemplo 1.

Quando a perspectiva multiculturalista do currículo não se encontra ignorada pela falta de

conhecimentos de educadores/as, advindos de uma má formação docente, como revela a

pesquisa de Paraíso (2001), percebe-se um esforço enorme em compreender seus meandros.

Exemplo 2.

Segundo Passos (1999), o modelo falocrático, inculca nos homens a ideia de uma supremacia

sobre o sexo feminino, sobre o mundo e o seu destino, e faz com que eles estabeleçam com as

pessoas uma relação de mando, de poder e de garantia e preservação da masculinidade.

Citação de citação: é a menção a um texto ao qual o estudante acessou através da citação em

outro documento, podendo acontecer tanto em citação direta, quanto em indireta. Para indicar a

autoria original do texto utiliza-se a expressão latina apud.

Citação de citação ocorre quando é feita uma citação direta ou indireta de um texto em que não

se teve acesso ao original. Utiliza-se a expressão latina apud para indicar a autoria original.

No caso em que o autor faz parte da frase, deve-se obedecer a seguinte ordem:

Exemplo:

Para Larroyo (1964, p. 52 apud LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 31), a finalidade do seminário é

“pesquisar e ensinar a pesquisar”.

No caso em que o autor não faz parte da frase deve-se obedecer a seguinte ordem:

Exemplos 1.

“Toda leitura cultural tem sempre um destino, não caminha a esmo” (GALIANO, 1979, p. 85

apud LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 15).

Exemplos 2.

Para Galiano (1979 apud LAKATOS; MARCONI, 2001), quem estuda um texto tem como

propósito aprender algo, rever detalhes ou buscar respostas para suas inquietações.

Notas

_Notas de rodapé: indicações e observações feitas pelo autor.

_Notas explicativas: notas usadas para comentário ou explanações, que não possam ser

incluídas no texto.

Exemplo:

a) No texto:

Bourdieu (1995), explica que as hierarquias e desigualdades produzidas entre os sexos não são

naturais, são frutos da herança do patriarcado, que dedicou à mulher uma posição periférica e

uma identidade que lhe foi imposta, cognitiva e socialmente.

b) Em nota:

____________________

1 O patriarcado não designa apenas uma forma de família baseada no parentesco masculino e no poder

paterno. O termo designa também toda estrutura social que nasça de um poder do pai.

2.4.2 SISTEMA DE CHAMADA

As citações podem ser apresentadas por meio de dois sistemas: autor-data e numérico. O

sistema adotado deverá ser respeitado até o fim do trabalho, visando sua uniformização e

deverá estar correlacionado com a listagem de referências e/ou notas de rodapé. A ABNT

determina o uso do sistema autor-data para as citações no texto e do sistema numérico para as

notas explicativas, sendo que no sistema numérico as citações devem estar correlacionadas

com a lista de referências e notas de rodapé, já nos sistema autor-data, as citações devem

estar correlacionadas somente com a lista de referências. Pode-se usar o sistema numérico

para citações no texto, desde que não haja notas explicativas.

Sistema autor-data

O sobrenome do autor é mencionado todo em letras maiúsculas, quando aparece entre

parênteses e apenas com a letra inicial maiúscula quando aparece fora de parênteses. Quando

o autor não é parte da frase, a indicação vem toda entre parênteses.

Exemplo:

“Compreender a identidade é compreender a relação indivíduo-sociedade” (CIAMPA, 1994, p.

19).

Quando o autor é parte integrante da frase, somente o ano e a página (se for o caso) aparecem

entre parênteses.

Exemplo:

Segundo Nóvoa (1991), toda formação encerra um projeto de ação e de transformação e não

há projeto de ação e de transformação sem opções, sem tomada de decisão, sem reflexão e

sem revisão.

2.4.3 FORMAS DE CITAÇÃO

Variam de acordo com o documento em uso bem como de outras condições, tais como o

comparecimento ou não de autoria. Além do que algumas informações são obtidas através de

outros canais informais de comunicação:

a) Citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano: são

diferenciadas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem

espacejamento.

O mesmo procedimento é feito na lista de referência.

Exemplos

a) no texto:

Conforme Freire (2002a)

Conforme Freire (2002b)

b) Exemplos na listagem de referências:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 9.ed.

São Paulo: Paz e Terra, 2002a. 245 p.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água,

2002b. 127 p.

b) Para citação de obra de até três autores:

_ No caso de citação de uma obra de dois autores incluídos na sentença, estes são separados

por “e”. Exemplo: Lakatos e Marconi (2003).

_ Com três autores incluídos na sentença, separa-se o primeiro do segundo por vírgula e o

segundo do terceiro por “e”. Exemplo: Patrício, Casagrande e Araújo (1999).

_ Quando citados entre parênteses, estes são separados por ponto e vírgula. Exemplo:

(PATRÍCIO; CASAGRANDE; ARAÚJO, 1999).

c) Para citações de diversos documentos de mesma autoria, mencionados juntos e publicados

em anos diferentes: a autoria é citada uma vez só para todos os trabalhos, porém com todas as

datas em ordem crescente, separadas por vírgula; Exemplo: (LAKATOS; MARCONI, 2000,

2002, 2003)

d) Para citação de uma obra de mais de três autores: utiliza-se o primeiro seguido da expressão

et al., tanto no caso de estes estarem inseridos na sentença ou não; Exemplo: Rezende et al

(2002), ou (REZENDE et al, 2002)

e) Para citação de obras sem indicação de autoria: utiliza-se a primeira palavra do título seguida

de reticências e o ano (e página se for o caso);

Exemplo: Manual... (1992) ou (A PESQUISA, 1999).

f) Para citação de entidades: utiliza-se o nome da entidade por extenso até o primeiro sinal de

pontuação:

Exemplo:

a) No texto:

Brasil (2000)

b) Nas referências:

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural: orientação sexual. Secretaria

da Educação Fundamental. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

2.4.4 SISTEMA NUMÉRICO

A fonte é indicada por uma numeração única e consecutiva, através de algarismos arábicos,

remetendo-se às notas de rodapé e lista de referências que são listadas, ao final do trabalho

acadêmico, capítulo ou seção, necessariamente na mesma ordem em que estão indicadas no

texto. A numeração indicada no texto pode ser realizada entre parênteses alinhada a ele, ou um

pouco acima da linha, após a pontuação que encerra a citação. Não se deve fazer uso do

sistema numérico para citações no texto quando estas possuem notas de rodapé, conforme a

ABNT.

Exemplo:

a) No texto:

“a qualidade da leitura depende do conhecimento que se tem do vocabulário.” (1) ou , “a

qualidade da leitura depende do conhecimento que se tem do vocabulário.” ¹“o processo de

elaboração de hipótese é de natureza criativa.” ²

b) Na lista de referências:

1 MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 4.

ed. São Paulo: Atlas, 2000.

2 GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

Citação de documentos que se encontra em meio eletrônico

A NBR 10520 da ABNT não menciona os procedimentos para elaboração de citações de

documentos em meio eletrônico. Assim, adotam-se, por analogia, os mesmos padrões de

documentos impressos. Na web, cabe observar, que há uma grande incidência de documentos

com autoria entidade coletiva, obras sem indicação de autoria e sem indicação de data de

publicação.

Exemplo:

a) No texto:

Moraes (2002) relata que no sistema capitalista, as empresas vivem e sobrevivem em função

do lucro, que é legítimo e legal.

b) Nas referências:

MORAES, Anna Maris Pereira de. Administração à brasileira. Disponível em:

http://www.educompany.com.br/texto/biblioteca/annamaris.asp. Acesso em: 20 fev 2002.

Quando houver coincidência de sobrenomes de autores, acrescentam-se as iniciais de seus

pré-nomes; se mesmo assim existir coincidências, colocam-se os prenomes por extenso:

Exemplo:

(BARBOSA, C., 1958)

(BARBOSA, O. 1959)

(BARBOSA, Cássio, 1965)

(BARBOSA, Celso, 1965)

As citações de diversos documentos de uma mesma autoria, publicados em anos diferentes e

mencionados simultaneamente, têm suas datas separadas por vírgula:

Exemplo:

(DREYFUSS, 1989, 1991, 1995)

(CRUZ; CORREA; COSTA, 1998, 1999, 2000)

2.4.5 REFERÊNCIAS

Referência é conjunto padronizado de elementos descritivos que permite a identificação, no

todo ou em parte, de documentos impressos ou registrados nos diversos suportes existentes.

2.4.6 OBSERVAÇÕES GERAIS:

Deverão seguir a NBR-6023 da ABNT e possuir todos os dados necessários à identificação da

publicação original.

Todos os dados necessários à identificação da referência poderão ser encontrados na ficha

catalográfica da obra utilizada.

São alinhadas somente à esquerda, de modo justificado, de forma a se identificar

individualmente cada documento, separadas entre si por espaço duplo.

Devem ser organizadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor.

O título da obra deve sempre estar destacado e o recurso tipográfico para tal destaque é italico

ou negrito ou sublinhado. O padrão adotado deverá ser uniforme.

Podem aparecer em: rodapé, fim do texto ou capítulo, lista de referências ou ainda antecedendo

resumos, resenhas ou recensões.

Autoria:

1) Norma geral SOBRENOME, Nome.

2) Sobrenomes compostos SOBRENOME COMPOSTO, Nome.

3) Sobrenomes de parentesco SOBRENOME (NETO, FILHO), Nome.

4) Sobrenome com partículas SOBRENOME, Nome (de, da).

5) Até três autores SOBRENOME,Nome; SOBRENOME,Nome; SOBRENOME,Nome.

6) Mais de três autores SOBRENOME, Nome et al.

7) Sem autor A entrada deve ser feita pelo título. Não utilizar o termo anônimo.

8) Entidades coletivas NOME de associações, institutos e entidades.

EXEMPLOS:

A) Livro:

GOMES, Antônio Marcos. Novela e sociedade no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

B) Capítulo de livro:

_ 1) Quando o autor do capítulo não for o autor do livro:

ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.; SCHIMIDT, J. (Org.).

História dos jovens 2: a época contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-

16.

_ 2) Quando o autor do capítulo for o autor do livro:

SANTOS, F.R. dos. A colonização da terra dos Tucujús. In: ______. História do Amapá. 2. ed.

Macapá: Valcan, 1994. cap.3, p. 15-24.

C) Periódico como um todo (referência de toda a coleção):

BOLETIM GEOGRÁFICO. Rio de Janeiro: IBGE, 1943-1978.

D) Partes de revista, boletim etc.:

DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Três, n°. 148, 28 jun. 2000.

E) Artigo ou matéria de revista, boletim etc.:

GURGEL, C. Reforma do estado e segurança pública. Política e administração, Rio de Janeiro,

v.3, n. 2, p. 15-21, set. 1997.

F) Artigo e/ou matéria de jornal:

NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999.

Folha Turismo, caderno 8, p. 13.

G) Material Eletrônico:

ALVES, Castro. Navio negreiro. Disponível em: http://www.terra.com.br/ virtualbooks/

freebok/port/Lport2/navionegreiro.htm. Acesso em: 10 nov. 2002.

H) Imagem em Movimento:

OS PERIGOS do uso de tóxicos. Produção de Jorge Ramos de Andrade. São Paulo: CEVARI,

1983. 1 videocassete.

I) Legislação:

BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 9, de 9 de novembro de 1995. Lex:

constituição federal e marginália, São Paulo, v. 59, p. 1966, out./dez. 1995.

Observação: verifique que, em caso de Constituição e suas emendas, entre o nome jurisdição e

o título acrescenta-se a palavra Constituição, seguida do ano de promulgação, entre

parênteses.

Após explicitação das principais referências utilizadas pelo estudante, chamamos atenção para

o assunto que deve ser motivo de preocupação ética de toda uma geração que se dedica à

formação pessoal, intelectual, profissional e social dos sujeitos: o fato de os estudantes,

atualmente, realizarem plágios constantes de informações e documentos em seus trabalhos

escolares e/ou acadêmicos, especialmente com o advento da comunicação em rede - internet.

Para tanto, obtenha maiores informações sobre este tema nos hipertextos a seguir: 1

Recomendações para evitar plágio; 2. Plágio, direito autoral e registro legal de obras; e depois

construa um parágrafo demonstrando suas ideias sobre este tema tão polêmico nas

Universidades nos dias atuais.